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F ERNANDO N OGUEIRA
25 de Outubro de 2018
2
Conteúdo
2 Átomos hidrogenóides 53
2.1 O modelo atómico de Bohr . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.2 As séries de Lyman, Balmer, Paschen, Brackett e Pfund . . . . . . . . 56
2.2.1 Série de Lyman (n = 1) para o hidrogénio . . . . . . . . . . . . 57
2.2.2 Série de Balmer (n = 2) para o hidrogénio . . . . . . . . . . . . 57
2.2.3 Série de Paschen (n = 3) para o hidrogénio . . . . . . . . . . . 57
2.2.4 Série de Brackett (n = 4) para o hidrogénio . . . . . . . . . . . 58
2.2.5 Série de Pfund (n = 5) para o hidrogénio . . . . . . . . . . . . . 58
2.3 Partı́cula clássica num potencial central . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.4 A equação de Schrödinger para um potencial central . . . . . . . . . . 61
2.5 A equação de Schrödinger radial para um átomo hidrogenóide . . . . 62
2.6 Desvios isotópicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4 CONTEÚDO
5 Moléculas 129
5.1 Bibliografia recomendada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Capı́tulo 1
O espaço vetorial dos vetores estado é um espaço de Hilbert, isto é, é um espaço
vetorial onde está definido um produto escalar e onde os vetores possuem uma
norma finita. Nos espaços vetoriais cartesianos a que estamos habituados, o pro-
duto escalar de dois vetores u e v é representado por u · v e o resultado desta
operação é um número real. Nos espaços de Hilbert da Mecânica Quântica, o re-
1
Para ser mais preciso, o estado do sistema é representado por qualquer vetor que aponte numa
dada ‘direção’, isto é, se um vetor estado for multiplicado por um número complexo qualquer, o vetor
resultante continua a representar o mesmo estado fı́sico.
6 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
c = hΦ|Ψi . (1.1)
A cada ket pode-se fazer corresponder um bra, sendo apenas necessário ter em
conta que:
ca |ai + cb |bi c∗a ha| + c∗b hb| (ca , cb ∈ C) . (1.3)
(Esta “regra” deriva das regras para o produto escalar. . . )
O produto escalar de dois vetores cartesianos ‘clássicos’ permite determinar a
‘projeção’ de um sobre o outro. Sendo v e u dois vetores cartesianos,
v·u v·u
√ ≡ ≡ v̂ · u (1.4)
v·v kvk
c = hΦ|Ψi (1.5)
é a projeção do vetor |Ψi sobre |Φi. Mas convém lembrar que o produto escalar de
dois vetores ‘quânticos’ é, em geral, um número complexo. . . É preciso ‘adaptar’ o
2
Isto significa que pode haver mais bras que kets...
3
Ao definir um espaço vetorial com produto escalar, é necessário indicar como se efetua o produto
escalar nesse espaço e garantir que este obedece a um conjunto de propriedades (ser bilinear, distri-
butivo, comutativo, etc.). Se o espaço vetorial for definido sobre o corpo dos complexos, a propriedade
comutativa do produto escalar não pode ser exigida, visto que isso levaria a que alguns vetores não
nulos tivessem norma nula. . .
1.1 Estados e notação de Dirac 7
significado dado ao produto escalar: se ambos os vetores |Ψi e |Φi possuı́rem norma
unitária, |c|2 representa a probabilidade de encontrar no estado |Φi um sistema
que está no estado descrito por |Ψi, sendo o número c designado por amplitude de
probabilidade.
Quando, na Mecânica Clássica ou no Eletromagnetismo, por exemplo, se lida
com grandezas que são representadas por vetores cartesianos, é muitas vezes con-
veniente/necessário trabalhar com as projeções do vetor sobre um conjunto de ve-
tores especiais, os vetores de uma base do espaço vetorial. Com vetores cartesianos
a três dimensões, a base convencional é o conjunto de versores {x̂, ŷ, ẑ}, e qualquer
vetor deste espaço se pode escrever como
v = vx x̂ + vy ŷ + vz ẑ , (1.6)
em que vx , vy e vz são as projeções do vetor nas direções dos três versores da base.
Ora, como vx = x̂ · v, esta expressão pode-se escrever como
v = vx x̂ + vy ŷ + vz ẑ
= (x̂ · v)x̂ + (ŷ · v)ŷ + (ẑ · v)ẑ
= (x̂)x̂ · v + (ŷ)ŷ · v + (ẑ)ẑ · v
= [(x̂)x̂ · +(ŷ)ŷ · +(ẑ)ẑ·] v . (1.7)
| {z }
1
b
Esta última expressão mostra que o objeto indicado pela chaveta transforma o vec-
tor v em si próprio. Pode-se então escrever
em que b1 indica uma operação que transforma um vetor nele próprio: é o operador
identidade. Usando uma notação diferente para os versores da base, uma maneira
mais compacta de escrever a expressão anterior é:
3
X
(êi ) êi · = b
1. (1.9)
i=1
Esta expressão traduz apenas que {ê1 , ê2 , ê3 } é uma base deste espaço vetorial.
Se {|ϕi i} for uma base discreta do espaço dos estados do sistema4 , pode-se ex-
pandir (isto é, escrever como uma combinação linear dos versores da base) qualquer
vetor desse espaço de modo análogo à expansão acima:
X
|Ψi = |ϕi ihϕi |Ψi . (1.10)
i
4
Os vetores |ϕi i serão então vetores unitários. . .
8 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
O objeto hr|Ψi ≡ Ψ(r) designa-se por função de onda do sistema (na base das co-
ordenadas) e representa a amplitude de probabilidade de encontrar o sistema em
r, ou melhor, |Ψ(r)|2 dr é a probabilidade de encontrar o sistema num elemento de
volume dr em torno de r. Se {|ui i} for uma base discreta do espaço dos estados do
sistema X
|Ψi = ci |ui i . (1.14)
i
Esta expansão do vetor estado pode ser “projetada” sobre os vetores {|ri}, daı́ re-
sultando X
hr|Ψi = ci hr|ui i , (1.15)
i
5
A estrutura |ϕi ihϕi | pode ser vista como um operador (ver secção seguinte) de projeção (um
projetor. . . ) que “extrai” de um certo vetor a parte que é paralela ao vetor |ϕi i. Se
X
|Ψi = ci |ϕi i
i
e
cj ≡ |ϕj ihϕj |
P
então
cj |Ψi = cj |ϕj i .
P
b2
Estes operadores verificam uma relação de idempotência, isto é, P ≡ P . Obviamente, também se
b
tem que P 1 − P = 0.
b b b
6
Definidos mais à frente. . .
1.1 Estados e notação de Dirac 9
⇔ cj = huj |Ψi ⇔
Z
⇔ cj = dr huj |rihr|Ψi ⇔
Z
⇔ cj = dr u∗j (r)Ψ(r) . (1.17)
o que permite escrever a relação de completude da base {|ui i} de uma outra forma:
X
u∗i (r 0 ) ui (r) = δ (r − r 0 ) , (1.19)
i
A representação do bra hΨ| nesta base será então uma matriz linha:
(E é o espaço dos estados do sistema). Este operador pode atuar também sobre um
bra:
(ca ha| + cb hb|) A
b = ca ha|A
b + cb hb|A
b , ∀ ca , cb ∈ C , ∀ ha|, hb| ∈ Ẽ . (1.23)
Numa base {|ui i}, a representação do operador A
b obtém-se notando que:
A|Ψi
b = |Φi ⇒
⇒hui |A|Ψi
b = hui |Φi ⇔
X
⇔ hui |A|u
b j ihuj |Ψi = hui |Φi (1.24)
j
e relembrando que huj |Ψi é um elemento de uma matriz coluna que é a representação
do vetor |Ψi nesta base. Assim, a expressão anterior pode ser lida como um produto
matricial e a representação do operador A b na base {|ui i} é uma matriz quadrada:
hu1 |A|u
b 1 i hu1 |A|u
b 2 i hu1 |A|u
b 3i · · · A11 A12 A13 · · ·
hu |A|ub 1 i hu2 |A|u
b 2 i hu2 |A|u
b 3i · · · A21 A22 A23 · · ·
b→ 2
A = , (1.25)
hu3 |A|u
b 1 i hu3 |A|u b 3 i · · · A31 A32 A33 · · ·
b 2 i hu3 |A|u
··· ··· ··· ··· ··· ··· ··· ···
hΦ|A|Ψi
b = hΨ|Ab† |Φi∗ . (1.29)
† †
Daqui resulta que Ab† = A b e λAb = λ∗ Ab† .
Um operador A b diz-se hermı́tico quando A b† = A.
b Nesse caso, a relação 1.29 fica
hΦ|A|Ψi
b b ∗ , ∀ |Ψi, |Φi ∈ E .
= hΨ|A|Φi (1.30)
Então a matriz que representar um operador hermı́tico numa base {|ui i} terá
números reais na diagonal. Mais ainda: como
b ∗ = hΨ|A
hΨ|A|Ψi b† |Ψi = hΨ|A|Ψi
b (1.31)
A|Ψi
b = λ|Ψi , (1.32)
então
hΨ|A|Ψi
b = λhΨ|Ψi (1.33)
implica que λ também é real. Isto significa que os valores próprios de um ope-
rador hermı́tico são reais. Pode-se ainda provar que vetores próprios de um
operador hermı́tico associados a valores próprios diferentes são ortogo-
nais, isto é: )
A|Ψi = λ|Ψi
b
⇒ hΦ|Ψi = 0 se λ 6= µ . (1.34)
A|Φi
b = µ|Φi
É frequente que haja mais do que um vetor próprio de um operador hermı́tico
com o mesmo valor próprio. Quando tal acontece, diz-se que esse valor próprio é
degenerado e define-se o grau de degenerescência gn como sendo o número de
vetores próprios diferentes (isto é, não paralelos) associados a esse valor próprio:
b ni i = an |Ψni i ,
A|Ψ i = 1, 2, . . . , gn . (1.35)
Mas tal não acontece para vetores próprios associados ao mesmo valor próprio. No
entanto, é sempre possı́vel combinar linearmente os vetores próprios {|Ψni i , i = 1, 2, . . . , gn }
de modo a obter um conjunto de vetores ortogonais entre si. Então:
gn
XX
A|Φi
b = cni an |Ψni i . (1.39)
n i=1
h i
A,
bB b =A
bBb−B
bAb. (1.41)
h i
A,
bB b |ψi = 0 , ∀ |ψi ∈ E . (1.42)
Se A
beB b são dois operadores que comutam e |ψi é um estado próprio de A,
b então
B|ψi
b b com o mesmo valor próprio:
é também um estado próprio de A,
A|ψi
b = a|ψi ⇒ B
b A|ψi
b = aB|ψi
b ⇔A
bB|ψi
b = aB|ψi
b ⇔A
b B|ψi
b = a B|ψi
b . (1.43)
Se |ψi for um estado próprio degenerado, então B|ψi b será uma combinação linear
qualquer de todos os estados próprios com valor próprio (de A. b . . ) idêntico ao do
estado |ψi. Então, se |ψi e |φi forem estados próprios de A b com valores próprios
diferentes, hψ|B|φib = 0 pois, se A b e Bb comutam, B|φib será um estado próprio
de A com valor próprio idêntico ao de |φi. A matriz que representa B
b b na base
{|Ψni i, i = 1, 2, . . . , gn } de estados próprios de A
b terá a seguinte forma (assumindo
14 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
que g1 = 3, g2 = 2, g3 = 1, . . . ):
B11,11 B11,12 B11,13 B11,21 B11,22 B11,31 B11,41 ···
B12,11 B12,12 B12,13 B12,21 B12,22 B12,31 B12,41 ···
B13,11 B13,12 B13,13 B13,21 B13,22 B13,31 B13,41 ···
b → Bni,mj
B21,11 B21,12 B21,13 B21,21 B21,22 B21,31 B21,41 ···
B =
B22,11 B22,12 B22,13 B22,21 B22,22 B22,31 B22,41 ···
B31,11 B31,12 B31,13 B31,21 B31,22 B31,31 B31,41 ···
B41,11 B41,12 B41,13 B41,21 B41,22 B41,31 B41,41 ···
··· ··· ··· ··· ··· ··· ··· ···
B11,11 B11,12 B11,13 0 0 0 0 ···
B12,11 B12,12 B12,13 0 0 0 0 ···
B13,11 B13,12 B13,13 0 0 0 0 ···
0 0 0 B21,21 B21,22 0 0 ···
= . (1.44)
0 0 0 B22,21 B22,22 0 0 ···
0 0 0 0 0 B31,31 0 ···
0 0 0 0 0 0 B41,41 ···
··· ··· ··· ··· ··· ··· ··· ···
A matriz é, portanto, diagonal por blocos, em que cada bloco é na realidade a
representação de B b no sub-espaço próprio associado a um dado valor próprio de
b É fácil imaginar uma operação de diagonalização “local” de cada bloco que leve
A.
Bni,mj à forma diagonal “perfeita”. Nesta operação para o bloco n, associado ao valor
b o que se está a obter é a mistura dos estados |Ψni i, i = 1, 2, . . . , gn
próprio an de A,
que leva ambas as matrizes (as representações de A b e B)
b a serem diagonais. Esta
operação não afeta, obviamente, a representação do operador A.b . . Isto quer então
dizer que, se dois operadores comutam, é sempre possı́vel construir uma base orto-
normada recorrendo a vetores próprios comuns aos dois operadores.
Dado que o lado esquerdo da equação anterior só depende da coordenada temporal
e o lado direito só depende das coordenadas espaciais, a igualdade entre os dois
membros só pode ser satisfeita se ambos forem iguais a uma constante. Designe-se
essa constante por E. Então a equação de Schrödinger fica
( ( i
i~ dfdt(t) = Ef (t) f (t) = K e− ~ Et
⇔ (1.50)
H(r)ψ(r)
b = Eψ(r) H(r)ψ(r)
b = Eψ(r)
sendo o ı́ndice n o ı́ndice que identifica os vetores e valores próprios. Como o ha-
miltoniano é um observável, qualquer estado do sistema se pode escrever como
combinação linear dos seus vetores próprios:
gn
i
XX
Ψ(r, t) = cnk ψnk (r) e− ~ En t (1.52)
n k=1
é uma grandeza independente do tempo, o que já não sucede, por exemplo, com:
2
− ~i En t − ~i Em t 2 2
cnk ψnk (r) e +cml ψml (r) e = |cnk ψnk (r)| + |cml ψml (r)| +
i i
+ c∗nk cml ψnk
∗
(r)ψml (r) e− ~ (Em −En )t +cnk c∗ml ψnk (r)ψml
∗
(r) e− ~ (En −Em )t . (1.54)
e que
∂ ∂ cos θ cos φ ∂ sin φ ∂
∂x
= sin θ cos φ ∂r + r ∂θ
− r sin θ ∂φ
∂ ∂ cos θ sin φ ∂ cos φ ∂
∂y
= sin θ sin φ ∂r + r ∂θ
+ r sin θ ∂φ
, (1.58)
∂ ∂ sin θ ∂
∂z
= cos θ ∂r − r ∂θ
vem
∂ ∂
L̂x = −i~ − sin φ ∂θ − cot θ cos φ ∂φ
L̂y = −i~ cos φ ∂
− cot θ sin φ ∂ . (1.59)
∂θ ∂φ
L̂ = −i~ ∂
z ∂φ
Então
1 ∂2
2 2 1 ∂ ∂
L = L · L = −~ 2 2
+ sin θ . (1.60)
sin θ ∂φ sin θ ∂θ ∂θ
Os quatro operadores associados ao momento angular orbital acima apresenta-
dos obedecem às seguintes relações de comutação, como se pode facilmente compro-
var7 : h i
2
L , L̂i = 0 ∀ i = 1, 2, 3 (1.61)
e8 h i
L̂i , L̂j = i~ijk L̂k . (1.62)
Isto significa que é possı́vel escolher um (e apenas um) dos operadores L̂i para, com
L2 , formar um conjunto de observáveis de momento angular orbital que comutam.
A escolha convencionalmente recai em L̂3 ≡ L̂z .
Os vetores próprios comuns a ambos os operadores são as funções Y (θ, φ) que
satisfazem simultaneamente as equações
e
L̂z Y (θ, φ) = βY (θ, φ) , (1.64)
7
Os ı́ndices numéricos 1, 2, 3 indicam respetivamente, como é habitual, as componentes x, y e z
de um vetor.
8
O sı́mbolo de Levi-Civita ijk tem o valor +1 sempre que ijk seja uma permutação cı́clica dos
números 123 e o valor −1 sempre que não seja uma permutação cı́clica. Caso algum dos ı́ndices ijk
esteja repetido, o sı́mbolo de Levi-Civita tem o valor 0.
18 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
isto é,
1 ∂2
2 1 ∂ ∂
−~ 2 2
+ sin θ Y (θ, φ) = αY (θ, φ) (1.65)
sin θ ∂φ sin θ ∂θ ∂θ
e
∂
− i~
Y (θ, φ) = βY (θ, φ) . (1.66)
∂φ
Para resolver estas equações vamos primeiro obter alguma informação sobre os
valores de α e β.
e também
β = m~ . (1.83)
Estas equações são a forma generalizada das equações 1.63 e 1.64. Ora,
2
Jˆ+ | · · ·
(
j mi
≥ 0 h· · · j m|Jˆ+† Jˆ+ | · · · j mi ≥ 0
2 ⇔ ⇔
h· · · j m|Jˆ−† Jˆ− | · · · j mi ≥ 0
Jˆ− | · · ·
j mi
≥ 0
( (
h· · · j m|Jˆ− Jˆ+ | · · · j mi ≥ 0 h· · · j m|J 2 − Jˆz2 − ~Jˆz | · · · j mi ≥ 0
⇔ ⇔ ⇔
h· · · j m|Jˆ+ Jˆ− | · · · j mi ≥ 0 h· · · j m|J 2 − Jˆz2 + ~Jˆz | · · · j mi ≥ 0
( (
j(j + 1)~2 − m2 ~2 − m~2 ≥ 0 −j − 1 ≤ m ≤ j
⇔ 2 2 2 2
⇔ . (1.86)
j(j + 1)~ − m ~ + m~ ≥ 0 −j ≤ m ≤ j + 1
−j ≤m≤j . (1.87)
9
Se esta expressão for entendida como uma equação em j para um dado valor de α, facilmente
se verifica que α ≥ 0 implica que a equação tem apenas uma raı́z positiva ou nula.
20 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
o que indica que Jˆ− | · · · j − ji é o vetor nulo. Haverá outros vetores nulos da forma
Jˆ− | · · · j mi, isto é, haverá outros valores de m (m 6= −j) para os quais
2
ˆ
J− | · · · j mi
= 0 ? (1.89)
Vejamos
que só tem uma solução no intervalo −j ≤ m ≤ j: m = −j. Mas isto significa que
Jˆ− | · · · j mi é um vetor não nulo se m > −j. Será este vetor ainda um vetor próprio
de J 2 e/ou Jˆz ? Como J 2 comuta com Jˆ− ,
J 2 Jˆ− | · · · j mi = Jˆ− J 2 | · · · j mi = j(j + 1)~2 Jˆ− | · · · j mi . (1.91)
Mas também
Jˆz Jˆ− | · · · j mi = Jˆ− Jˆz − ~Jˆ− | · · · j mi = (m − 1)~ Jˆ− | · · · j mi . (1.92)
permite escrever:
Jˆ− | · · · j mi =
p
j(j + 1) − m(m − 1)~| · · · j m − 1i . (1.94)
o que indica que Jˆ+ | · · · j ji é o vetor nulo. É o único vetor nulo obtido por ação de
Jˆ+ sobre os estados | · · · j mi, pois
Do mesmo modo que para Jˆ− | · · · j mi, podemos agora deduzir que
Jˆ+ | · · · j mi = j(j + 1) − m(m + 1)~| · · · j m + 1i .
p
(1.99)
Podemos combinar este resultado com o obtido em 1.94:
p
Jb± |j mi = ~ j(j + 1) − m(m ± 1)|j m ± 1i .
Juntando agora toda a informação de que dispomos, facilmente se vê que, par-
tindo de um vetor não nulo | · · · j mi, se pode gerar a sequência de p + 1 vetores
próprios de J 2 e Jˆz
p
| · · · j mi , Jˆ− | · · · j mi , . . . , Jˆ− | · · · j mi , (1.100)
em que p é um número inteiro não pnegativo tal que −j ≤ m − p < −j + 1. Os valores
próprios associados ao vetor Jˆ− | · · · j mi são, obviamente, j(j + 1)~2 e (m − p)~.
Ora, ou este vetor é o vetor nulo, e nesse caso m − p = −j, ou é ainda possı́vel
p+1
obter o vetor Jˆ− | · · · j mi. Mas nesse caso m − p > −j, e como, por hipótese,
−j ≤ m − p < −j + 1, este novo vetor próprio seria ou o vetor nulo ou um vetor não
nulo associado ao valor próprio (m − p − 1)~. Ambos os casos são impossı́veis pois
só é possı́vel obter um vetor nulo por ação de Jˆ− (o vetor Jˆ− | · · · j − ji) e m ≥ −j.
Então m − p = −j. Podemos replicar este argumento substituindo Jˆ− por Jˆ+ . A
conclusão a que chegarı́amos é que existe um número inteiro não negativo q tal que
m + q = j. Combinando estes dois resultados vem:
p + q = 2j , (1.101)
o que implica, visto que p e q são número inteiros não negativos (isto é, positivos ou
nulos), que j é um número positivo inteiro ou semi-inteiro:
1 3 5
j = 0, , 1, , 2, , . . . (1.102)
2 2 2
Outra conclusão que se pode tirar da análise que acabámos de fazer é que os valores
próprios m~ de Jˆz terão de ser, para um dado valor de j:
m~ = −j~, (−j + 1)~, (−j + 2)~, . . . , (j − 1)~, j~ , (1.103)
p
pois só assim se pode garantir que as séries Jˆ± | · · · j mi terminem nos vetores
| · · · j ± ji, respetivamente.
22 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
Com esta fatorização, Φ(φ) são as soluções da equação 1.66, que são, obviamente,
da forma
Φ(φ) = C eiβφ/~ . (1.105)
Como o domı́nio de φ é [0, 2π] e a função de onda tem de ser uma função contı́nua,
Juntando a esta condição para os valores próprios a imposição que o vetor próprio
esteja normalizado, isto é, que
Z 2π
dφ |Φ(φ)|2 = 1 , (1.107)
0
vem
1
Φm (φ) = √ eimφ (m ∈ Z) . (1.108)
2π
A fatorização 1.104 permite re-escrever 1.65 da seguinte forma:
1 ∂2
2 1 ∂ ∂ 1 1
−~ 2 2
+ sin θ P (θ) √ eimφ = αP (θ) √ eimφ ⇔
sin θ ∂φ sin θ ∂θ ∂θ 2π 2π
2
m 1 ∂ ∂
⇔ −~2 − 2 + sin θ P (θ) = αP (θ) (1.109)
sin θ sin θ ∂θ ∂θ
Conjugando o resultado obtido em 1.106 (m é um número inteiro. . . ) com 1.102 e
1.103, conclui-se que
α = `(` + 1)~2 (1.110)
onde ` é um número inteiro positivo ou nulo. A equação 1.109 fica então:
m2
1 ∂ ∂
− 2 + sin θ P (θ) = −`(` + 1)P (θ) . (1.111)
sin θ sin θ ∂θ ∂θ
As soluções desta equação quando ` é um número inteiro positivo ou nulo são os po-
linómios associados de Legendre P`m (cos θ). Na convenção de Condon e Shor-
tley, os polinómios associados de Legendre obtêm-se a partir dos polinómios de
Legendre P` (x) da seguinte forma:
m/2 dm
P`m (x) = (−1)m 1 − x2 P` (x) (1.112)
dxm
(−1)m m/2 d`+m `
= 1 − x2 x 2
− 1 . (1.113)
2` `! dx`+m
1.6 Harmónicos esféricos 23
` m P`m (cos θ)
0 0 1
1
1 −1 sin θ
2
1 0 cos θ
1 1 − sin θ
1 2
2 −2 sin θ
8
1
2 −1 sin θ cos θ
2
1
3 cos2 θ − 1
2 0
2
2 1 −3 sin θ cos θ
2 2 3 sin2 θ
Tabela 1.1: Alguns dos polinómios associados de Legendre de ordem mais baixa.
e
Y`m (π − θ, π + φ) = (−1)` Y`−m (θ, φ) , (1.117)
` m Y`m (θ, φ)
r
1
0 0
4π
r
3
1 0 cos θ
4π
r
3
1 ±1 ∓ sin θ e±iφ
8π
r
5
3 cos2 θ − 1
2 0
16π
r
15
2 ±1 ∓ sin θ cos θ e±iφ
8π
r
15
2 ±2 sin2 θ e±2iφ
32π
r
7
5 cos3 θ − 3 cos θ
3 0
16π
r
21
sin θ 5 cos2 θ − 1 e±iφ
3 ±1 ∓
64π
r
105
3 ±2 sin2 θ cos θ e±2iφ
32π
r
35
3 ±3 ∓ sin3 θ e±3iφ
64π
Figura 1.1: As duas figuras mais à esquerda são duas representações diferentes
do mesmo harmónico esférico, a parte real de Y21 (θ, φ). Na figura do centro, a
função é projetada sobre uma esfera unitária para evidenciar o carácter direcio-
nal do harmónico esférico. A figura da direita mostra, na mesma projeção sobre a
esfera, a parte real de Y52 (θ, φ).
1.7 Adição de momentos angulares 25
Tabela 1.3: Alguns dos harmónicos esféricos reais de ordem mais baixa.
reais:
√i Y`m (θ, φ) − (−1)m Y`−m (θ, φ)
2
se m < 0
Y`,m (θ, φ) = Y`m (θ, φ) se m = 0 (1.118)
√1 Y −m (θ, φ) + (−1)m Y m (θ, φ)
se m > 0
2 ` `
quais se construa o conjunto completo de observáveis que comutam) para uma base
em que os vetores são vetores próprios do momento angular total. No caso de se
terem de considerar dois tipos diferentes de momento angular (orbital e intrı́nseco)
da mesma partı́cula, os vetores próprios “convencionais” da base serão da forma
{|k ` m` i ⊗ |s ms i} (1.119)
J = J1 ⊗ b 11 ⊗ J2
12 + b (1.122)
J = J1 + J2 . (1.123)
e11
J 2 = (J1 + J2 )2 = J12 + J22 + 2J1 · J2 . (1.125)
Obviamente, 1.124 implica que
h i
Jbi , Jbj = i~ijk Jbk , (1.126)
o que significa que apenas se pode considerar um dos operadores Jbi para construir
um conjunto completo de observáveis que comutam. A escolha recai, como é habi-
tual, em Jb3 ≡ Jbz . Ora,
h i h i h i h i h i
2 2 2
Jz , J1z = Jz , J2z = Jz , J = Jz , J2 = Jz , J1 = 0 ,
b b b b b b b (1.127)
o que significa que este operador se pode adicionar diretamente ao conjunto inicial
de observáveis que comutam. No entanto
h i h i
J 2 , Jb1z = J12 + J22 + 2J1 · J2 , Jb1z =
h i h i h i h i h i
= J12 , Jb1z + J22 , Jb1z + 2 Jb1x Jb2x , Jb1z + Jb1y Jb2y , Jb1z + Jb1z Jb2z , Jb1z =
h i h i h i
= 2 J1x , J1z J2x + J1y , J1z J2y + J1z , J1z Jb2z =
b b b b b b b b
= 2i~ −Jb1y Jb2x + Jb1x Jb2y . (1.128)
o que indica que J 2 não pode ser adicionado ao conjunto de observáveis que comu-
tam a menos que desse conjunto sejam retirados Jb1z e Jb2z . Ficamos então com dois
conjuntos possı́veis de observáveis de momento angular que comutam:
n o
J12 , Jb1z , J22 , Jb2z (1.130)
ou n o
2 2 2 b
J1 , J2 , J , Jz . (1.131)
O conjunto de vetores próprios associado ao primeiro forma a base
{|j1 m1 j2 m2 i} (1.133)
11
Como J1 e J2 atuam em espaços vetoriais diferentes, [J1 , J2 ] = 0.
1.7 Adição de momentos angulares 29
M = m1 + m2 , (1.138)
|j1 j2 J = j1 + j2 M = j1 + j2 i (1.139)
M = j1 + j2 , j1 + j2 − 1, . . . , j1 − j2 , (1.140)
m1 m2
j1 −j2
j1 − 1 −j2 + 1
j1 − 2 −j2 + 2
··· ···
j1 − (2j2 − 1) j2 − 1
j1 − 2j2 j2
M gM
j1 + j2 1
j1 + j2 − 1 2
j1 + j2 − 2 3
··· ···
j1 − j2 + 1 2j2
j1 − j2 2j2 + 1
m1 m2
−j1 j2
−j1 + 1 j2 − 1
−j1 + 2 j2 − 2
··· ···
−j1 + 2j2 − 1 −j2 + 1
−j1 + 2j2 −j2
Para M < −j1 + j2 sucede o inverso do que foi exposto acima: sempre que M
desce uma unidade, o grau de degenerescência desce também uma unidade até
que se atinge o valor mı́nimo de M (M = −j1 − j2 ), que é de novo um estado não
degenerado em M . A tabela com os graus de degenerescência fica então
1.7 Adição de momentos angulares 31
M gM
j1 + j2 1
j1 + j2 − 1 2
j1 + j2 − 2 3
··· ···
j1 − j2 + 1 2j2
j1 − j2 2j2 + 1
j1 − j2 − 1 2j2 + 1
j1 − j2 − 2 2j2 + 1
··· ···
−j1 + j2 + 1 2j2 + 1
−j1 + j2 2j2 + 1
−j1 + j2 − 1 2j2
−j1 + j2 − 2 2j2 − 1
··· ···
−j1 − j2 + 1 2
−j1 − j2 1
que coincide, como não podia deixar de ser, com o número de estados identificado em
1.137. Resta agora encontrar os diferentes valores de J associados a este conjunto
de valores de M . Como não há qualquer valor de M superior a j1 + j2 , o maior valor
de J possı́vel é precisamente J = j1 + j2 e só há um conjunto de estados com este
valor de J (os estados |j1 j2 J = j1 + j2 M = J, . . . , −Ji), pois gj1 +j2 = 1. Baixando
em uma unidade o valor de M , encontramos dois estados possı́veis. Com estes
dois estados é possı́vel formar apenas duas combinações lineares independentes.
Uma delas será o estado |j1 j2 J = j1 + j2 M = j1 + j2 − 1i. A outra combinação
linear destes estados terá portanto de fazer parte de um outro conjunto de estados:
|j1 j2 J = j1 + j2 − 1 M = J, . . . , −Ji. Pode-se prosseguir raciocinando desta forma
enquanto gM crescer com a diminuição de M , isto é, até M = j1 − j2 . Daı́ em diante
todos os estados estão já associados a um certo valor de J. Ou seja, os valores
32 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
J = j1 + j2 , j1 + j2 − 1, . . . , j1 − j2 + 1, j1 − j2 . (1.142)
J = j1 + j2 , j1 + j2 − 1, . . . , j2 − j1 + 1, j2 − j1 . (1.143)
j1 + j2 ≥ J ≥ |j1 − j2 | , (1.144)
{|j1 m1 j2 m2 i} (1.146)
pois estas duas bases cobrem o mesmo espaço vetorial. Isto é, como
j1 j2
X X
|j1 m1 j2 m2 ihj1 m1 j2 m2 | =
m1 =−j1 m2 =−j2
j1 +j2 J
X X
= |j1 j2 J M ihj1 j2 J M | = b
1 , (1.147)
J=|j1 −j2 | M =−J
então
j1 j2
X X
|j1 j2 J M i = |j1 m1 j2 m2 ihj1 m1 j2 m2 |j1 j2 J M i . (1.148)
m1 =−j1 m2 =−j2
hj1 m1 j2 m2 |J M i = 0 (1.150)
hj1 j1 − 1 j2 j2 |j1 + j2 j1 + j2 − 1i =
s s
j1 (j1 + 1) − j1 (j1 − 1) j1
= = (1.158)
(j1 + j2 ) (j1 + j2 + 1) − (j1 + j2 ) (j1 + j2 − 1) j1 + j2
e que
hj1 j1 j2 j2 − 1|j1 + j2 j1 + j2 − 1i =
s s
j2 (j2 + 1) − j2 (j2 − 1) j2
= = . (1.159)
(j1 + j2 ) (j1 + j2 + 1) − (j1 + j2 ) (j1 + j2 − 1) j1 + j2
34 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
e
hj1 j1 j2 j2 − 1|j1 + j2 − 1 j1 + j2 − 1i . (1.162)
H|ni
b = En |ni (1.163)
O valor expectável do hamiltoniano no estado |ψi pode ser calculado através de:
X
hHi
b = hψ|H|ψi
b = |cn |2 En . (1.165)
n
1.8 Método variacional 35
Ora,
X X
|cn |2 En ≥ |cn |2 E0 , (1.166)
n n
e, obviamente,
X
|cn |2 E0 = E0 . (1.167)
n
Então
hHi
b = hψ|H|ψi
b ≥ E0 , ∀ |ψi ∈ E . (1.168)
Isto quer dizer que, qualquer que seja o estado escolhido, o valor expectável do
hamiltoniano nunca será inferior à energia (exata) do estado de menor energia
do sistema. Pode-se então desenhar um processo de busca do estado fundamental
“exato” assente na busca do estado para o qual o valor expectável do hamiltoniano
seja mı́nimo:
Pode-se mostrar que este método conduz ao estado fundamental do sistema ana-
lisando o impacto de variações da função de ensaio no valor expectável calculado.
36 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
hψ|H|ψi
b
hHi
b = ⇔ hψ|ψihHi
b = hψ|H|ψi
b (1.169)
hψ|ψi
Calculando a variação desta equação quando |ψi varia, resulta em:
δ hψ|ψihHi = δ hψ|H|ψi ⇔
b b
⇔ hδψ|ψihHi
b + hψ|δψihHi
b + hψ|ψiδhHi
b = hδψ|H|ψi
b + hψ|H|δψi
b ⇔
⇔ hψ|ψiδhHi
b = hδψ| Hb − hHi
b |ψi + hψ| Hb − hHi
b |δψi ⇔
⇔ hψ|ψiδhHi
b = hδψ|φi + hφ|δψi (1.170)
onde |φi = H b − hHib |ψi. Esta expressão relaciona a variação no valor expectável
do hamiltoniano com variações da função de ensaio. O método variacional con-
siste precisamente em variar a função de ensaio (variando os parâmetros livres ou
substituindo-a por outra forma funcional) e calcular o resultado dessa variação no
valor expectável do hamiltoniano. O processo de busca de uma solução termina
quando já não é possı́vel melhorar a solução entretanto encontrada, isto é, quando
qualquer variação da função de ensaio não conduz a diminuição do valor expectável
do hamiltoniano (δhHi b = 0). Quando isto ocorre:
H b (0) + H
b =H b (1) . (1.173)
b (0) ,
Assume-se que se conhece a solução exata do hamiltoniano H
e procura-se a solução de
b n i = En |ψn i
H|ψ (1.175)
introduzindo Hb (1) como uma perturbação do sistema que conduz a uma correção
b (0) . O método só funcionará se essa correção
aos valores e vetores próprios de H
for pequena... Note-se que este método difere do método variacional num aspeto
fundamental: não há qualquer garantia que a correção seja no sentido de
diminuir a energia!
H b (0) + λH
b =H b (1) , (1.176)
e
En = En(0) + λEn(1) + λ2 En(2) + · · · (1.178)
onde os ı́ndices (0) , (1) , (2) indicam uma ordem decrescente de importância da correção.
A equação de Schrödinger exata
b n i = En |ψn i
H|ψ (1.179)
fica então:
b (0) + λH
b (1) |ψn(0) i + λ|ψn(1) i + λ2 |ψn(2) i + · · · =
H
= En(0) + λEn(1) + λ2 En(2) + · · · |ψn(0) i + λ|ψn(1) i + λ2 |ψn(2) i + · · · . (1.180)
= En(0) |ψn(0) i + λ En(0) |ψn(1) i + En(1) |ψn(0) i + λ2 En(0) |ψn(2) i + En(1) |ψn(1) i + En(2) |ψn(0) i + · · ·
(1.181)
38 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
Pode-se agora exigir que esta equação seja verificada ordem a ordem, isto é, pode-se
re-escrever 1.181 sob a forma de um sistema de equações:
(0) (0)
b |ψn i = En(0) |ψn(0) i
H
b (0) |ψn(1) i + H
b (1) |ψn(0) i = En(0) |ψn(1) i + En(1) |ψn(0) i
H
(1.182)
b (0) |ψn(2) i + H
H b (1) |ψn(1) i = En(0) |ψn(2) i + En(1) |ψn(1) i + En(2) |ψn(0) i
···
A primeira destas equações é a equação de ordem zero que não é mais do que a
equação 1.174. A segunda equação permite obter as corrreções de primeira ordem,
a terceira leva às corrreções de segunda ordem...
hψn(0) |H
b (0) |ψn(1) i + hψn(0) |H
b (1) |ψn(0) i = hψn(0) |En(0) |ψn(1) i + hψn(0) |E (1) |ψ (0) i ⇔
n n
(0) (0) (1) (0) b (1) (0) (0) (0) (1) (1) (0) (0)
⇔ En hψn |ψn i + hψn |H |ψn i = En hψn |ψn i + En hψn |ψn i ⇔
⇔ En(1) = hψn(0) |H
b (1) |ψn(0) i , (1.184)
A correção de primeira ordem à função de onda pode ser expandida na base formada
pelas soluções do problema não perturbado
X
|ψn(1) i = (0)
cnm |ψm i. (1.186)
m
m
X
(0) (0) (0) b (1) (0)
En(0) (0)
|ψn i + En(1) δ`n .
⇔ cnm Em − δ`m + cnn E` − En δ`n = −hψ` |H
m6=n
(1.187)
1.9 Teoria de perturbações independente do tempo 39
(No desdobramento do somatório, note-se que H b (0) é hermı́tico e pode atuar sobre o
bra à sua esquerda ou sobre o ket à sua direita.) Se ` = n, esta equação resume-se
à equação 1.184. Se ` 6= n, a equação fica:
X (0) b (1) (0)
(0)
− En(0) δ`m = −hψ` |H
cnm Em |ψn i ⇔
m6=n
(0) (0) b (1) (0)
⇔ cn` E` − En(0) = −hψ` |H |ψn i , (1.188)
de onde se obtém
(0)
b (1) |ψn i (0)
hψ` |H
cn` = (0) (0)
. (1.189)
En − E`
n o
(0)
Esta expressão pressupõe que os estados |ψn i são não degenerados em ener-
gia. Caso haja estados degenerados é necessário obter as correções de teoria de
perturbações de outra forma. Falta determinar cnn para poder escrever a expansão
(1)
de |ψn i. A sua inclusão na expansão pode ser lida da seguinte forma:
X X
|ψn i ≈ |ψn(0) i + |ψn(1) i = |ψn(0) i + (0)
cnm |ψm i = (1 + cnn ) |ψn(0) i + (0)
cnm |ψm i . (1.190)
m m6=n
(0)
Ora, |ψn i é um estado normalizado. Mas o mesmo já não se passará com |ψn i, pois
a correção de primeira ordem altera a norma. Nesse caso, será preciso normalizar o
estado após a introdução da correção e tanto as constantes cnm como o fator (1 + cnn )
serão afetados por essa operação. Voltando a introduzir o fator λ para tornar mais
evidente a ordem da correção, tem-se:
X
|ψn i ≈ (1 + λcnn ) |ψn(0) i + λ (0)
cnm |ψm i, (1.191)
m6=n
Assim, para que o estado se mantenha normalizado, mesmo após a correção (até
à mesma ordem em λ), basta requerer que cnn seja nulo ou seja um imaginário
puro. Se for um imaginário puro, como é um número pequeno (truncando a série
na primeira ordem assume-se implicitamente que cnm são números pequenos que
representam pequenas correções), o fator 1 + cnn pode ser aproximado por ei|cnn | .
Esta fase pode-se fazer “desaparecer” incluindo-a nos outros fatores cnm . Isto signi-
fica que se pode ignorar cnn ... o que até faz sentido: corresponde a dizer que não se
(0)
corrige |ψn i adicionando-lhe um pouco mais de si próprio!
40 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
En ≈ En(0) + hψn(0) |H
b (1) |ψ (0) i
n (1.193)
(0) b (1) (0)
X hψm |H |ψn i
|ψn i ≈ |ψn(0) i + (0) (0)
(0)
|ψm i. (1.194)
m6=n En − Em
(0) (0)
X hψ (0) |H (0)
b (1) |ψm (0) b (1) (0)
ihψm |H |ψn i
E` hψ` |ψn(2) i + `
(0) (0)
=
m6=n En − Em
(0) b (1) (0)
X hψm
(0) |H |ψn i
= En(0) hψ` |ψn(2) i + hψn(0) |H
b (1) |ψ (0) i
n (0) (0)
δ`m + En(2) δ`n . (1.196)
m6=n En − Em
Se ` = n, resulta que
(0) b (1) (0) 2
X hψm |H |ψn i
En(2) = (0) (0)
, (1.197)
m6=n En − Em
enquanto se ` 6= n vem:
(0)
(0)
X hψ (0) |H
b (1) |ψm(0) (0) b (1) (0)
ihψm |H |ψn i
E` − En(0) hψ` |ψn(2) i + `
(0) (0)
=
m6=n E n − E m
(0) (0)
b (1) |ψn i
hψ` |H
= hψn(0) |H
b (1) |ψn(0) i
(0) (0)
. (1.198)
En − E`
(2) b (0) , vem12 :
Se se expandir |ψn i na base dos estados próprios de H
X
|ψn(2) i = (0)
dnm |ψm i (1.199)
m6=n
é ainda um estado próprio de Hb (0) com o mesmo valor próprio (En(0) ). Este estado
(0)
pode ser “corrigido” perturbativamente da mesma forma que os estados |ψn i:
e o valor próprio do hamiltoniano a ele associado pode também ser expandido per-
turbativamente:
Ẽ = Ẽ (0) + λẼ (1) + λ2 Ẽ (2) + · · · (1.207)
(0)
onde Ẽ (0) ≡ En . A equação de Schrödinger exata fica então:
b (0) + λH
H b (1) |ψ̃ (0) i + λ|ψ̃ (1) i + λ2 |ψ̃ (2) i + · · · =
(0) (1) 2 (2) (0) (1) 2 (2)
= En + λẼ + λ Ẽ + · · · |ψ̃ i + λ|ψ̃ i + λ |ψ̃ i + · · · . (1.208)
42 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
H b (0) + H
b =H b (1) , (1.216)
(0)
e designe-se por |δn i a correção (em todas as ordens...) ao estado |ψn i:
e
1−M
Pb = b 1 − |ψn(0) ihψn(0) | .
c=b (1.220)
b n i = En |ψn i ⇔
H|ψ
⇔ Hb (0) + H
b (1) |ψn i = En |ψn i ⇔
⇔ En − H b (0) |ψn i = H
b (1) |ψn i . (1.221)
(0)
Multiplicando agora, de novo à esquerda, por hψn |, fica:
En − En(0) = hψn(0) |M
cHb (1) |ψn i ⇔
⇔ En = E (0) + hψ (0) |H
n n
b (1) |ψn i . (1.223)
13
Não se assume nada quanto à normalização do estado |ψn i...
44 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
b n i = En |ψn i ⇔
H|ψ
b (0) + H
b (1) |ψn i = En |ψn(0) i + |δn i ⇔
⇔ H
b (0) |ψ (0) i + |δn i + H b (1) |ψn i = En |ψ (0) i + |δn i ⇔
⇔H n n
(1) (0)
(0) (0)
⇔ H |ψn i − En − En |ψn i = En − H
b b |δn i . (1.224)
1
|ψn i = |ψn(0) i + b (1) |ψn i =
PbH
b (0)
En − H
1 1
= |ψn(0) i + PH
b b (1)
|ψn(0) i + b b (1)
P H |ψn i =
b (0)
En − H b (0)
En − H
1 1 1
= |ψn(0) i + b (1) |ψ (0) i +
PbH n
b (1)
PbH PbHb (1) |ψn i ≈
En − H b (0) En − H b (0) En − H b (0)
1 1 1
≈ |ψn(0) i + b (1) |ψn(0) i +
PbH b (1)
PbH PbHb (1) |ψn(0) i (1.228)
En − Hb (0) En − Hb (0) En − Hb (0)
En = En(0) + hψn(0) |H
b (1) |ψn i =
1
= En(0) + b (1)
hψn(0) |H |ψn(0) i + (1)
P H |ψn i =
b b
En − H b (0)
1
b (1) |ψn(0) i + hψn(0) |H
= En(0) + hψn(0) |H b (1) PbHb (1) |ψn i ≈
En − H b (0)
1
≈ En(0) + hψn(0) |H b (1) |ψ (0) i + hψ (0) |H
n n
b (1) b (1) |ψ (0) i (1.229)
PbH n
En − H b (0)
14 b (0) ...
Basta que En não coincida com qualquer dos valores próprios de H
1.9 Teoria de perturbações independente do tempo 45
1
En ≈ En(0) + hψn(0) |H
b (1) |ψn(0) i + hψn(0) |H
b (1) PbH b (1) |ψn(0) i
En − H b (0)
X 1
= En(0) + hψn(0) |H
b (1) |ψ (0) i +
n hψn(0) |Hb (1) Pb|ψm(0)
ihψm (0) b (1) (0)
|H |ψn i
E − H (0)
n
b
m
X 1
= En(0) + hψn(0) |H
b (1) |ψ (0) i +
n hψn(0) |H
b (1)
(0)
|ψm(0)
ihψm (0) b (1) (0)
|H |ψn i
m6=n E n − E m
Esta equação tem agora de ser lida não como uma expressão para a energia “corri-
gida”, mas sim como uma equação em En , visto que En surge em ambos os membros
da equação.
Repare-se que, para esta expansão perturbativa, não é necessário impôr que
os estados não perturbados não sejam degenerados. É claramente uma vantagem...
Mas a equação 1.230 é uma equação implı́cita em En , o que a torna mais complicada
que a equação correspondente da expansão de Rayleigh-Schrödinger...
Este conjunto de equações pode agora ser lido como uma “receita”: i) resolve-se
(0) (0)
a primeira equação para obter En e |ψn i; ii) de seguida resolve-se a segunda
(1)
equação, que é uma equação diferencial não homogénea em |ψn i, usando os resul-
(1) (1)
tados obtidos no passo anterior e obtendo assim En e |ψn i; iii) a terceira equação
(2) (2)
permite obter En e |ψn i partindo dos resultados da resolução das equações ante-
riores...
d
H(t)|Ψ(t)i
b = i~ |Ψ(t)i , (1.233)
dt
desde que seja possı́vel particionar o hamiltoniano numa parte independente do
tempo e noutra parte explicitamente dependente do tempo (que será tratada como
uma perturbação):
H(t)
b =H b (0) + H
b (1) (t) . (1.234)
Para simplificar a notação, esta equação vai ser escrita da seguinte forma:
i
X
|Ψ(t)i = cn |ni e− ~ En t , (1.237)
n
em que
n a soma sobre
o o ı́ndice n indica uma soma sobre todos os estados e o con-
i
junto |ni e− ~ En t pode ser visto como uma base do espaço dos estados do sistema.
Pode-se então assumir que as soluções exatas da equação de Schrödinger 1.233 são
também combinações lineares dos vetores desta base. Para introduzir o efeito da
1.10 Teoria de perturbações dependente do tempo 47
onde
Em − En
ωmn = . (1.241)
~
A equação 1.240 é exata (assumindo que a expansão 1.236 é válida). Para a
resolver, suponha-se que os coeficientes cn (t) se podem expandir numa série pertur-
bativa:
cn (t) = c(0) (1) 2 (2)
n (t) + λcn (t) + λ cn (t) + · · · (1.242)
d (0)
cm (t) + λc(1) 2 (2)
m (t) + λ c m (t) + · · · =
dt
i X (0)
cn (t) + λc(1) 2 (2) b (1) (t)|ni eiωmn t . (1.243)
=− n (t) + λ c n (t) + · · · hm|H
~ n
Repare-se agora que a primeira equação de 1.244 garante que a ordem zero dos
coeficientes da combinação linear é constante no tempo, isto é, que
c(0) (0)
n (t) = cn (t ≤ 0) = δna . (1.247)
i t 0
Z
(1)
cf (t) = − dt hf |Hb (1) (t0 )|ii eiωf i t0 , (1.250)
~ 0
F (ωf i − ω, t)
t2
ωf i − ω
− 4π
t − 2π
t
2π
t
4π
t
III.A — III.E
VI.A — VI.D, AVI
X.A — X.C, AX — BX
XI.A — XI.C, EXI
XIII.A — XIII.C
• Atomic Physics
Christopher J. Foot
Oxford University Press (2005), ISBN 978-0198506966
2.1
Apêndice A
4.4
• Quantum Chemistry
Ira N. Levine
Pearson Education (2014), ISBN 978-0321803450
3.1 – 3.3
52 Revisões de conceitos de Mecânica Quântica
5.1 — 5.4
7.1 – 7.10
8.1
9.1, 9.2, 9.5, 9.6, 9.8
Capı́tulo 2
Átomos hidrogenóides
1 Ze2
Ep = − . (2.4)
4πε0 r
1 Ze2
E = Ec + Ep = − . (2.5)
4πε0 2r
` = me vr = n~ (n = 1, 2, 3, . . .) . (2.6)
e4 me Z 2
Ec,n = (2.8)
32π 2 ε20 ~2 n2
e4 me Z 2
Ep,n = − (2.9)
16π 2 ε20 ~2 n2
e4 me Z 2
En = − . (2.10)
32π 2 ε20 ~2 n2
(raio de Bohr) e
e4 me ~2
Eh = = = 4,359744650(54) × 10−18 J = 27,21138602(17) eV . (2.12)
16π 2 ε20 ~2 m e a0 2
e2
=1 me = 1 ~=1, (2.17)
4πε0
e
Eh = 1 (a.u.) (2.19)
1 e2
α= = 7,2973525664(17) × 10−3 , (2.21)
4πε0 ~c
1
c= = 137,035999139(31) (2.22)
α
é também uma constante adimensional. Por vezes recorre-se a outra unidade de
energia, o rydberg (1 hartree=2 Ry).
56 Átomos hidrogenóides
1 1
hν = Em − En = 1− 2 m = 2, 3, 4, · · · (2.31)
2 m
1 1 1
hν = Em − En = − 2 m = 3, 4, 5, · · · (2.32)
2 4 m
1 1 1
hν = Em − En = − 2 m = 4, 5, 6, · · · (2.33)
2 9 m
~2 2 Ze2
− ∇ − Ψ(r) = EΨ(r) , (2.54)
2me 4π0 r
∂2
2 1 ∂ 2 ∂ 1 1 ∂ ∂
∇ = 2 r + 2 2 + sin θ . (2.55)
r ∂r ∂r r sin θ ∂φ2 r2 sin θ ∂θ ∂θ
~2 1 ∂2
∂ 2 ∂ 1 ∂ ∂
− r + + sin θ R(r)Y (θ, φ)+
2me r2 ∂r ∂r sin2 θ ∂φ2 sin θ ∂θ ∂θ
Ze2
− R(r)Y (θ, φ) = ER(r)Y (θ, φ) , (2.57)
4π0 r
que se pode re-escrever como:
~2 ∂ Ze2
2 ∂
Y (θ, φ) − r − − E R(r) =
2me r2 ∂r ∂r 4π0 r
~2 1 ∂2
1 ∂ ∂
= R(r) + sin θ Y (θ, φ) . (2.58)
2me r2 sin2 θ ∂φ2 sin θ ∂θ ∂θ
2
Um potencial central em Mecânica Quântica é representado por um operador Vb tal que
hr |Vb |ri ≡ V (r)δ (r − r 0 ).
0
3
Se se considerar que a massa do núcleo, M , é finita, então me deverá ser substituı́do por µ onde
M me 1
µ= = me .
M + me 1 + me /M
uk` (r)
Rk` (r) = , (2.68)
r
com a consequente simplificação de 2.67:
Veff (r)
`=1
`=2
`=0 r
~2 d2 `(` + 1)~2 A
− 2
r+ 2
+ ε Crδ = Ek` Crδ ⇔
2me r dr 2me r r
2
~ `(` + 1)~2 δ−2
⇔− δ(δ + 1)Crδ−2 + Cr + ACrδ−ε = Ek` Crδ . (2.73)
2me 2me
Se ε < 2, os termos dominantes perto da origem são os termos em rδ−2 . Para que
estes termos sejam nulos
`(` + 1) = δ(δ + 1) . (2.74)
2.5 A equação de Schrödinger radial para um átomo hidrogenóide 65
Isto significa que, para um certo valor próprio Ek` , há duas soluções linearmente in-
dependentes da equação de Schrödinger que, perto da origem, se comportam como
r` Y m (θ, φ)
r→0 `
Ψk`m (r) −−→ . (2.76)
1 m
`+1
r
Y ` (θ, φ)
onde r
2me Ek`
λk` = − (2.79)
~2
(recorde-se que estamos apenas interessados nas soluções para as quais Ek` < 0. . . ).
Como a função de onda tem de ser normalizável, excluı́mos a primeira parcela
e concluı́mos que, quando r → ∞, as soluções radiais decaem exponencialmente,
sendo a “constante de decaimento” proporcional à raı́z quadrada da energia do es-
tado.
Podemos agora, finalmente, encarar a resolução completa da equação 2.67, im-
pondo às soluções os comportamentos assimptóticos acima estudados. Mas não
o iremos fazer aqui. . . A solução detalhada pode ser encontrada, por exemplo, no
capı́tulo VII.C do livro de Claude Cohen-Tannoudji mencionado na bibliografia. Al-
gumas das soluções da equação podem ser consultadas na Tabela 2.1 (ver também a
Figura 2.3 e a Tabela 2.2). Note-se que, quer nas tabelas quer na figura, as soluções
são designadas por Rn` (r) e não por Rk` (r). Acontece que a solução da equação con-
duz a um conjunto de valores próprios discretizados
e4 me Z2
Ek` = − , (2.80)
32π 2 ε20 ~2 (k + `)2
66 Átomos hidrogenóides
k ` n
1 0 1
2 0 2
3 0 3 ?
···
1 1 2
2 1 3 ?
3 1 4 ◦
···
1 2 3 ?
2 2 4 ◦
3 2 5
k=2 k=1
n=2 (2×0+1)+(2×1+1)=4
k=1
n=1 2×0+1=1
Figura 2.2: Diagrama dos primeiros nı́veis de energia dos átomos hidrogenóides. A
coluna da direita indica o grau de degenerescência do nı́vel em questão.
68 Átomos hidrogenóides
Rnl (r)
R20 (r)
3/2
1 Z
2 a0 R10 (r)
3/2
1 Z
4 a0
R30 (r)
3/2
1 Z
6 a0
3/2
1 Z
8 a0
R31 (r) R21 (r)
R32 (r)
r
a0 3a0 5a0 7a0 9a0 11a0 13a0
Z Z Z Z Z Z Z
n ` Rn` (r)
3/2
Z
1 0 2 e−Zr/a0
a0
3/2
Z Zr
2 0 2 1− e−Zr/2a0
2a0 2a0
3/2
1 Z Zr −Zr/2a0
2 1 √ e
3 2a0 a0
3/2
2Zr 2Z 2 r2 −Zr/3a0
Z
3 0 2 1− + e
3a0 3a0 27a02
√ 3/2
4 2 Z Zr Zr −Zr/3a0
3 1 1− e
9 3a0 6a0 a0
3/2 2
4 Z Zr
3 2 √ e−Zr/3a0
27 10 3a0 a0
Olhando agora para as expressões das várias funções de onda radiais é fácil
verificar que o número de zeros (excluindo um eventual zero na origem) depende
dos números quânticos n e `, ou melhor, do número quântico k:
# zeros = k − 1 = n − ` − 1 . (2.84)
n ` m Ψn`m (r)
3/2
1 Z
1 0 0 √ e−Zr/a0
π a0
3/2
1 Z Zr
2 0 0 √ 1− e−Zr/2a0
2 2π a 0 2a 0
3/2
1 Z Zr −Zr/2a0
2 1 0 √ e cos θ
4 2π a0 a0
3/2
1 Z Zr −Zr/2a0
2 1 ±1 ∓ √ e sin θ e±iφ
8 π a0 a0
3/2
2Zr 2Z 2 r2 −Zr/3a0
1 Z
3 0 0 √ 1− + e
3 3π a0 3a0 27a02
√ 3/2
2 2 Z Zr Zr −Zr/3a0
3 1 0 √ 1− e cos θ
27 π a0 6a0 a0
3/2
2 Z Zr Zr −Zr/3a0
3 1 ±1 ∓ √ 1− e sin θ e±iφ
27 π a0 6a0 a0
3/2 2
1 Z Zr
e−Zr/3a0 3 cos2 θ − 1
3 2 0 √
81 6π a0 a0
3/2 2
1 Z Zr
3 2 ±1 ∓ √ e−Zr/3a0 sin θ cos θ e±iφ
81 π a0 a0
3/2 2
1 Z Zr
3 2 ±2 √ e−Zr/3a0 sin2 θ e±2iφ
162 π a0 a0
# nodos = n − ` . (2.87)
É também fácil verificar que as únicas funções de onda que não são nulas na
origem são as associadas a ` = 0, como tı́nhamos estabelecido ao estudar a forma
assimptótica das mesmas. O valor dessas funções na origem é
1 Z3
|Ψn00 (0)|2 = |Rn0 (0)|2 = , (2.88)
4π πa03 n3
Se olharmos para o potencial efetivo reparamos que, para ` = 0, o termo centrı́fugo
é nulo, o que já não acontece para outros valores de `. Como o termo centrı́fugo
funciona como uma barreira que impede o acesso à origem, as soluções para ` = 0
são as únicas que podem não ser nulas na origem. Para todos os outros valores do
momento angular, a barreira centrı́fuga “obriga” a função de onda radial a ser nula
na origem. . .
Anotemos agora algumas expressões que podem ser úteis no futuro. Defina-se
Z
hr in`m = dr Ψ∗n`m (r) rk Ψn`m (r)
k
Z ∞ Z π Z 2π
= dr dθ dφ r2 sin θ |Rn` (r)|2 |Y`m (θ, φ)|2 rk
Z0 ∞ 0 0
Então
n2
1 `(` + 1)
hrin`m = a0 1+ 1− , (2.90)
Z 2 n2
4
2 2n 3 `(` + 1) − 1/3
hr in`m = a0 2 1 + 1− , (2.91)
Z 2 n2
n6
3 3 27 1 35 10
hr in`m = a0 3 1+ 1− 2 − (` + 2)(` − 1)
Z 8 n 27 9
1
+ 4 (` + 2)(` + 1)`(` − 1) , (2.92)
9n
1 Z
= , (2.93)
r n`m a0n2
Z2
1
= (2.94)
r2 n`m a02 n3 (` + 1/2)
e
Z3
1
= . (2.95)
r3 n`m a03 n3 `(` + 1/2)(` + 1)
72 Átomos hidrogenóides
Ora, nenhuma destas hipóteses é verdadeira, embora sejam uma excelente aproximação
em quase todas as situações.
M me 1
µ= = me . (2.96)
M + me 1 + me /M
µ ∞ 1 me ∞
EnM = En = En∞ ≈ 1 − En , (2.97)
me 1 + me /M M
o que indica que o efeito da massa finita é uma ligeirı́ssima “subida” dos nı́veis de
energia (recorde-se que En∞ < 0). Então
∞ hc hc me ∞
∆λn→m = λM
n→m − λn→m = − ∞ = λ , (2.98)
M
Em M
− En ∞
Em − En M n→m
Ora apenas as funções de onda radiais dos estados com ` = 0 são não nulas na
origem, logo, atendendo a 2.88,
(
Z 4 R2 e2
(1) 10π0 a03 n3
, `=0
En ≈ . (2.106)
0 , ` 6= 0
A análise deste resultado mostra que este efeito é mais notório nos átomos hi-
drogenóides de maior Z e nos nı́veis mais baixos (menor n). Também é evidente da
expressão que o desvio isotópico é maior para os isótopos de maior raio.
Como seria de esperar, visto que o raio de Bohr é 207 vezes mais pequeno em
átomos muónicos, é nestes sistemas que este desvio isotópico é mais notório, pois
há maior probabilidade de um muão “atravessar” o núcleo.
1.6 — 1.7
2.6
3.1 — 3.6
5.3 (parte final)
Apêndice 2
0.4
3.9 — 3.14
Further information 8 — 9
• Atomic Physics
Christopher J. Foot
Oxford University Press (2005), ISBN 978-0198506966
1.2 — 1.3
2.1
6.2
2.8
3.4
5.1
76 Átomos hidrogenóides
• Quantum Chemistry
Ira N. Levine
Pearson Education (2014), ISBN 978-0321803450
6.1 — 6.7
Capı́tulo 3
1
Dados extraı́dos da página do “National Institute of Standards and Technology”, https://
physics.nist.gov/PhysRefData/ASD/lines_form.html.
78 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
em que as transformações
(
V (r, t) V (r, t) − ∂χ(r,t)
∂t
(3.2)
A(r, t) A(r, t) + ∇χ(r, t)
conduzem aos mesmos campos seja qual for a função escalar χ(r, t). Chama-se a
esta invariância uma invariância de padrão (ou invariância de gauge). Esta in-
variância dá-nos a liberdade de escolher uma gauge particular, visto que os campos
fı́sicos não se alteram qualquer que esta seja. Iremos explorar esta propriedade
mais tarde.
O lagrangiano de uma partı́cula carregada de massa me e carga q em interação
com um campo eletromagnético é:
1
L(r, v, t) = me v 2 − qV + qA · v . (3.3)
2
por exemplo):
d ∂L ∂L d ∂V ∂Ax ∂Ay ∂Az
= ⇔ (me vx + qAx ) = −q +q vx + vy + vz ⇔
dt ∂vx ∂x dt ∂x ∂x ∂x ∂x
∂Ax ∂Ax ∂Ax ∂Ax ∂V ∂Ax ∂Ay ∂Az
⇔ me ax +q vx + vy + vz + = −q +q vx + vy + vz ⇔
∂x ∂y ∂z ∂t ∂x ∂x ∂x ∂x
∂V ∂Ax ∂Ax ∂Ay ∂Ax ∂Az
⇔ me ax = −q + −q − vy − q − vz ⇔
∂x ∂t ∂y ∂x ∂z ∂x
⇔ me ax = qEx + qBz vy − qBy vz ,
onde
∂L(r, v, t)
p= ≡ ∇v L(r, v, t) . (3.6)
∂v
Neste caso,
∂ 1 2
p= me v − qV + qA · v = me v + qA , (3.7)
∂v 2
donde se conclui que
p − qA
v= . (3.8)
me
Então
H(r, p, t) = v · p − L(r, v, t)
2
p − qA 1 p − qA p − qA
= · p − me + qV − qA ·
me 2 me me
(p − qA)2
= + qV . (3.9)
2me
Vamos considerar que há duas contribuições distintas para o campo eletromagnético:
um potencial escalar eletrostático que descreve a interação de um eletrão com o
núcleo de um átomo hidrogenóide de carga Ze e uma onda eletromagnética que per-
turba o sistema. Vamos ainda assumir, sem perda de generalidade, que o potencial
escalar associado à onda eletromagnética é nulo. Assim a equação de Schrödinger
ficará " #
∂ (−i~∇ + eA)2 e2 Z
i~ Ψ(r, t) = − Ψ(r, t) . (3.11)
∂t 2me 4π0 r
Ora,
(−i~∇ + eA)2 = −~2 ∇2 + e2 A2 − ie~∇ · A − ie~A · ∇ . (3.12)
Mas
∇ · AΨ ≡ ∇ · (AΨ) = A · (∇Ψ) + (∇ · A) Ψ . (3.13)
∇ · A(r, t) = 0 , (3.14)
Se o campo produzido pela onda eletromagnética que incide no sistema não for
muito intenso, podemos desprezar o termo em A2 . Nesse caso estaremos a igno-
rar processos de absorção/emissão simultânea de mais de um fotão. A equação de
Schrödinger que teremos então de resolver é
2
e2 Z ie~
∂ −~ 2
i~ Ψ(r, t) = ∇ − − A · ∇ Ψ(r, t) . (3.18)
∂t 2me 4π0 r me
Para resolver esta equação, vamos tratar o termo em A como uma perturbação
dependente do tempo, isto é, vamos re-escrever a equação como
∂ h i
i~ Ψ(r, t) = Ĥ0 + Ĥ1 (t) Ψ(r, t) , (3.19)
∂t
3.3 Potencial vetor para ondas monocromáticas 81
onde (
−~ 2 2
e Z
Ĥ0 = 2m ∇2 − 4π 0 r
e
ie~
. (3.20)
Ĥ1 (t) = − m e
A · ∇
De acordo com a teoria de perturbações dependente do tempo, conjugando as equa-
ções 1.238 e 1.249, a função de onda pode-se aproximar por
(0)
− ~i Em t
X
δma + c(1)
(0)
Ψ(r, t > 0) ≈ m (t) Ψm (r, t) e , (3.21)
m
(0) (0)
onde se assume que o sistema está inicialmente (para t < 0) no estado Ψa (r, t), Ψn
(0)
e En indicam, respetivamente, o n-ésimo vetor e valor próprio do hamiltoniano Ĥ0
e Z t
e 0
(1)
cm (t) = − dt0 hm|A · ∇|ai eiωma t . (3.22)
me 0
Recorde-se que
(0)
~ωma = Em − Ea(0) (3.23)
(0)
e que Ψn (r, t) = hr, t|ni.
em que
A0 (ω) cos (k · r − ωt + δ(ω))
A(r, t; ω) = 2ˆ (3.25)
(assumindo que a polarização ˆ e a direção de propagação k̂ são as mesmas para
todas as componentes, embora se admita que a fase δ(ω) de diferentes componentes
possa não ser igual. . . ) Outra forma, mais conveniente, de escrever o potencial
vetor é
A0 (ω) e−i(k·r−ωt+δ(ω)) .
A(r, t; ω) = ˆA0 (ω) ei(k·r−ωt+δ(ω)) +ˆ (3.26)
É esta a forma que iremos usar. . . Repare-se que
∇ · A = 0 ⇒ k · ˆ = 0 . (3.28)
82 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
Os campos elétrico e de indução magnética descritos por este potencial vetor são,
respetivamente,
(
E = −2ωA0 (ω)ˆ
sin (k · r − ωt + δ(ω))
. (3.29)
B = −2A0 (ω)(k × ˆ) sin (k · r − ωt + δ(ω))
Ex = −2ωA0 (ω) √12 sin (kz − ωt + δ(ω))
Ey = 2ωA0 (ω) √i2 sin (kz − ωt + δ(ω))
E =0
z
i
⇔
Bx = −2A0 (ω)k √2 sin (kz − ωt + δ(ω))
By = −2A0 (ω)k √12 sin (kz − ωt + δ(ω))
B =0
z
Ex = −2ωA0 (ω) √12 sin (kz − ωt + δ(ω))
Ey = 2ωA0 (ω) √12 cos (kz − ωt + δ(ω))
E =0
z
⇔ 1
. (3.31)
B x = −2A0 (ω)k √2 cos (kz − ωt + δ(ω))
By = −2A0 (ω)k √12 sin (kz − ωt + δ(ω))
B =0
z
B(t + ∆t) y
B(t) E(t)
E(t + ∆t)
Vamos analisar, para já, apenas a primeira parcela desta expressão. A probabi-
lidade de transição do estado |ai para o estado |mi quando o sistema é perturbado
é dada por
2
= e A20 (ω) hm| eik·r ˆ · ∇|ai2 F (ωma − ω, t) ,
2
Pm←a (t) = c(1)
m (t) (3.40)
m2e
ωma − ω ≈ 0 , (3.41)
logo
Aab − ~ω ba
ρ(ωba ) = e kB T . (3.51)
Bba
Mas a lei de Planck estipula que, havendo equilı́brio termodinâmico entre os átomos
e o campo de radiação,
~ω 3 1
ρ(ω) = 2 3 ~ω , (3.52)
π c e kB T −1
que é incompatı́vel com 3.51.
A solução proposta por Einstein foi inclui um termo extra em 3.46:
dNa←b
= Aab Nb + Bab Nb ρ(ωba ) . (3.53)
dt
Este termo é um pouco estranho... Fisicamente, representa um processo de emissão
de radiação e consequente desexcitação do nı́vel b. Mas é um processo em que
há emissão apenas se estiver previamente presente um fotão igual ao que vai ser
emitido na desexcitação (é esse o significado do fator ρ(ωba )). Para distinguir este
processo do processo “normal” de emissão, diz-se que esta é emissão estimulada,
por oposição à emissão “normal” (dita espontânea). Com este termo adicional,
dNb←a dNa←b
= ⇔ (3.54)
dt dt
⇔ Bba Na ρ(ωba ) = Aab Nb + Bab Nb ρ(ωba ) ⇔ (3.55)
Aab Nb
⇔ ρ(ωba ) = = (3.56)
Bba Na − Bab Nb
Aab
= Na
= (3.57)
Bba N b − Bab
Aab
= ~ωba . (3.58)
Bba e kB T
−Bab
Para obter a expressão de Planck para a densidade de radiação, basta que os coe-
ficientes de Einstein satisfaçam as relações
(
Bab = Bba ≡ B
~ω 3 (3.59)
Aab ≡ A = π2 cba3 B .
abs e2 2 ik·r
2
Pm←a (t) = A (ω) hm| e ˆ
· ∇|ai F (ωma − ω, t) (3.61)
m2e 0
em est e2 2 −ik·r
2
Pm←a (t) = A (ω) hm| e ˆ
· ∇|ai F (ωma + ω, t) (3.62)
m2e 0
1
e±ik·r ≈ 1 ± ik · r − (k · r)2 + · · · (3.64)
2!
Qual é o valor tı́pico do número de onda para os casos que nos interessam? Vejamos:
para radiação visı́vel (400 − 700 nm), 0,9 × 107 < |k| < 1,6 × 107 m−1 . Para radiação
ultra-violeta com energia da ordem da energia de ionização do átomo de hidrogénio,
|k| ∼ 8 × 107 m−1 . Então, atendendo a que as funções de onda hidrogenóides de-
caem exponencialmente para zero numa região da ordem de alguns raios de Bohr,
é seguro dizer que |k · r| < 10−2 . Podemos pois desprezar todos os termos exceto
o primeiro na expansão em série da exponencial. Esta aproximação corresponde
a assumir que a radiação incidente no átomo tem um comprimento de onda muito
superior às dimensões deste. Pode-se portanto considerar que a onda incidente está
na mesma fase em toda a região ocupada pelo átomo. Assim,
Esta aproximação designa-se por aproximação dipolar elétrica, por razões que
veremos mais à frente. Ora,
i
∇= p. (3.66)
~
Recordemos que, na representação dos momentos,
r = i~∇p . (3.67)
Vamos passar para a representação dos momentos para calcular o seguinte comu-
tador: i p2 p2
h i~
r, Ĥ0 = r, + [r, V (r)] = i~∇p , = p. (3.68)
2me 2me me
Então
me h i
hm|ˆ
· ∇|ai = hm|ˆ · 2 r, Ĥ0 |ai =
~
me (0) (0)
= 2 Ea − Em ˆ · hm|r|ai =
~
me
= − ωma ˆ · hm|r|ai =
~
me
= ωma ˆ · hm|π|ai , (3.69)
e~
onde π = −er é o operador momento dipolar elétrico. Podemos então finalmente
escrever, na aproximação dipolar elétrica, que, na absorção,
2
ωma
abs
Pm←a (t) = · hm|π|ai|2 F (ωma − ω, t)
A2 (ω) |ˆ (3.70)
~2 0
e que, na emissão estimulada,
2
ωma
em est
Pm←a (t) = 2
· hm|π|ai|2 F (ωma + ω, t) .
A20 (ω) |ˆ (3.71)
~
Estas duas expressões mostram que, se estiverem reunidas as condições para os
processos ocorrerem, estes são igualmente prováveis. Foi esta precisamente a con-
clusão de Einstein: os coeficientes de Einstein, que são a probabilidade por unidade
de tempo de o processo a eles associado ocorrer, são iguais para a absorção e para
a emissão estimulada (ver 3.59). Repare-se que a probabilidade de ocorrer emissão
espontânea pode ser obtida recorrendo às relações entre os coeficientes de Eins-
tein. . .
Repare-se ainda que o elemento de matriz hm|π|ai é a peça “fundamental” destas
expressões: se for nulo, as transições em causa têm probabilidade nula de ocorrer,
isto é, são transições proibidas. Ou melhor, são transições dipolares elétricas
proibidas. . . Só serão verdadeiramente proibidas se hm| e−ik·r ˆ · ∇|ai for nulo! Se
este elemento de matriz não for nulo, mas hm|π|ai = 0, estaremos na presença de
3.6 Regras de seleção 89
uma transição dipolar magnética, ou quadrupolar elétrica, ou. . . Embora seja uma
transição permitida, será, seguramente, muito menos provável que as transições
dipolares elétricas permitidas. Isto refletir-se-á no espetro experimental por um
pico muito pouco pronunciado quando comparado com os outros. Vamos então des-
cobrir algumas regras que nos permitam, rapidamente, dizer se o elemento de ma-
triz do momento dipolar elétrico é nulo ou não.
Comecemos por considerar uma reflexão em torno da origem: r −r. Sendo r
uma variável (muda) de integração, o resultado não deve mudar, isto é,
Caso o resultado seja −1, a função integranda é ı́mpar e o integral é nulo. Portanto,
para que o elemento de matriz não seja nulo, a soma `+`0 +1 tem de ser um número
par, isto é, ` + `0 tem de ser ı́mpar. Por outras palavras: os estados |mi e |ai têm
de ter paridades diferentes. . .
Vamos agora fazer a seguinte transformação, recorrendo aos harmónicos esféricos2
e aos versores de polarização introduzidos na secção 3.3,
ˆ · hm|π|ai =
Z ∞ Z π Z 2π
0
= dr dθ dφ r2 sin(θ)Rn∗ 0 `0 (r)Y`m
0
∗
· r) Rn` (r)Y`m (θ, φ) . (3.77)
(θ, φ) (−eˆ
0 0 0
Centremo-nos no integral em φ. Só os harmónicos esféricos dependem desta variável.
E dependem de uma forma simples:
Y`m (θ, φ) = f (θ) eimφ . (3.78)
Então, o integral nesta variável é apenas
Z 2π
0
dφ e−im φ c+ e−iφ −c− eiφ +cz eimφ ,
(3.79)
0
onde c+ = ˆ · ˆ+ , c− = ˆ · ˆ− e cz = ˆ · ẑ e se usou a expansão 3.76 para escrever o
operador momento dipolar elétrico. Como tanto m como m0 são números inteiros,
Z 2π
0
dφ e−im φ c+ e−iφ −c− eiφ +cz eimφ = c+ δm,m0 +1 − c− δm,m0 −1 + cz δm,m0 , (3.80)
0
o que permite dizer que só há transição se m = m0 ou se m = m0 ±1. Mas, mesmo que
estas condições sejam satisfeitas, pode acontecer que o integral em θ seja nulo. . . Os
harmónicos esféricos formam uma base completa para as funções angulares, isto é,
qualquer função que dependa apenas das coordenadas angulares pode ser escrita
como uma combinação linear de harmónicos esféricos. Podemos pois olhar para
os produtos de harmónicos esféricos que resultam do produto do momento dipolar
elétrico pelo estado |ai na expressão 3.77 como um caso particular de uma função
das coordenadas angulares. Esses produtos são da forma:
Y10,±1 (θ, φ)Y`m (θ, φ) . (3.81)
Ora isto significa que, na expansão destes produtos em harmónicos esféricos, só
vão aparecer termos Yqp (θ, φ) em que p = m, m ± 1 e |` − 1| ≤ q ≤ ` + 1. Mas ainda
0∗
falta multiplicar por Y`m0 (θ, φ) e integrar em θ e φ. Como os harmónicos esféricos
obedecem à relação de ortogonalização 1.115, este integral só vai ser não nulo se
`0 = q (e m0 = p, como já vimos). Mas a regra deduzida acima (na análise da
paridade da função integranda) proı́be que ` seja igual a `0 . . . Juntando então todas
estas regras, chegamos às
∆` = ±1
∆m = 0, ±1
3.6 Regras de seleção 91
∆` = 0
∆m = 0, ±1
3
Estas regras estão incompletas, pois não faz sentido falar de transições magnéticas sem consi-
derar o spin do eletrão. As regras corretas serão apresentadas mais tarde.
92 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
∆` = 0, ±2
∆m = 0, ±1, ±2
abs 4π 2 α~2 2
σm←a = 2
hm| eik·r ˆ · ∇|ai (3.92)
me ωma
e
4π 2 α~2 2
em est
σm←a = 2
hm| e−ik·r ˆ · ∇|ai . (3.93)
me ωma
Para calcular a taxa de transição por emissão espontânea, na aproximação di-
polar elétrica, podemos partir de 3.90
πωma
Rem est
m←a = N (ωma ) |ˆ · hm|π|ai|2 . (3.94)
~0 V
O fator N (ωma ) indica a densidade de radiação, isto é, o número de fotões presentes.
Como na emissão espontânea esse número não se conserva, é lı́cito assumir que
πωma
Rem
m←a = · hm|π|ai|2
(N (ωma ) + 1) |ˆ (3.95)
~0 V
94 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
x i
fma = (ha|p̂x |mihm|x̂|ai − ha|x̂|mihm|p̂x |ai) . (3.103)
3~
Como os estados |mi formam uma base,
X
x i
fma = (ha|p̂x x̂|ai − ha|x̂p̂x |ai)
m
3~
i
= ha| [p̂x , x̂] |ai
3~
1
= . (3.104)
3
Obtemos assim a regra de soma de Thomas-Reiche-Kuhn:
X
fma = 1 . (3.105)
m
ou seja,
Na (t) = Na (0) e−t/τa , (3.107)
96 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
Estado τ (s)
2s 0,13
2p 0,16 × 10−8
3s 16 × 10−8
3p 0,54 × 10−8
3d 1,56 × 10−8
4s 23 × 10−8
4p 1,24 × 10−8
4d 3,65 × 10−8
4f 7,3 × 10−8
Tabela 3.1: Tempos médios de vida de alguns estados excitados do átomo de hi-
drogénio.
hA(t)i
b = hΨ(t)|A(t)|Ψ(t)i
b . (3.114)
L(ω)
1 ~
πΓ
ω
Γ Γ
ωma − 2~ ωma ωma + 2~
1 Γ/2~
Figura 3.2: Gráfico de uma distribuição lorentziana L(ω) = π (ω−ωma )2 +(Γ/2~)2
.
ou, se o operador A
b não depender explicitamente do tempo,
d b i hb b i
hA(t)i = h H, A(t) i . (3.116)
dt ~
Esta equação é o análogo quântico da equação de Hamilton clássica que relaciona
a variação temporal de uma grandeza fı́sica A com o hamiltoniano
dA ∂A
= {A, H} + (3.117)
dt ∂t
(onde {, } são os parênteses de Poisson). Assim, no quadro de Heisenberg5 , seria
ainda possı́vel escrever
dA
b 1 h b b i ∂Ab
= A, H + (3.118)
dt i~ ∂t
e, se o observável A
b não dependesse explicitamente do tempo,
dA
b 1 h b bi
= A, H . (3.119)
dt i~
5
O quadro de Heisenberg é uma formulação da Mecânica Quântica em que os estados não depen-
dem do tempo, sendo a evolução temporal dos mesmos associada exclusivamente a uma dependência
explı́cita no tempo dos vários observáveis.
3.8 Tempos de vida de estados excitados 99
Estas duas equações são apenas a expressão, no quadro de Heisenberg, das equações
3.115 e 3.116.
Definamos agora um vetor
h i
|ui = r A − hAi + i H − hHi |Ψi ,
b b b b (3.120)
Ora, como a norma de um vetor é um número real positivo, a expressão acima pode
ser lida como uma inequação do segundo grau
h i
2 2 2
r (∆A) + (∆E) + irhΨ| A, H |Ψi ≥ 0
b b (3.122)
1 d b
(∆E) (∆A) ≥ ~ hAi . (3.124)
2 dt
Podemos agora interpretar esta equação como uma relação entre a variação tem-
poral do valor expectável de um certo operador e a incerteza na sua medida. É
claro que, para se detectar a variação do valor expectável de um operador qual-
quer A, b esta tem de ser pelo menos comparável à incerteza ∆A. Para tal aconte-
cer, é necessário que decorra algum tempo. . . Se for preciso esperar muito tempo
para detetar a evolução do estado, então ele estará num estado quase estacionário.
Nesse caso, como os estados estacionários são estados próprios do hamiltoniano, a
100 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
~
∆E∆t ≥ . (3.126)
2
Se um certo estado excitado tem uma vida média τa e decai para o estado fun-
damental, a aplicação do princı́pio da incerteza tempo-energia indica que há uma
incerteza ∆E ≈ τ~a na posição do nı́vel do estado excitado, o que significa que a risca
associada a esta transição terá uma largura
~
Γ= .
τa
Caso o estado final do sistema não seja o estado fundamental, é necessário entrar
em conta também com o seu tempo médio de vida. Nesse caso, a largura da risca
será
~ ~
Γ= + .
τa τm
A análise das riscas do espetro de absorção ou emissão permite assim obter informação
sobre o tempo de vida dos estados excitados.
Mas pode haver influência externa no decaimento de um estado excitado: se
a amostra não for um gás extremamente rarefeito, poderá haver colisões entre
átomos que induzam o decaimento de um átomo de um estado excitado para um
outro estado de menor energia ou a sua excitação para um outro estado excitado de
maior energia. Podemos contabilizar o efeito desses processos na largura das riscas
do espetro se soubermos o número Pc de colisões por unidade de tempo que condu-
zem a uma desexcitação não radiativa do sistema. Nesse caso, o número total de
transições por unidade de tempo do estado excitado para um outro estado qualquer
será
1
Rtotal = Pc +
τ
e a largura da risca será
1
Γ = ~ Pc + . (3.127)
τ
3.8 Tempos de vida de estados excitados 101
Para reduzir a largura das riscas bastará portanto reduzir a pressão do gás, de
modo a diminuir o número de colisões por unidade de tempo.
Um outro fenómeno que contribui para a largura das riscas do espetro é o efeito
Doppler. Se o átomo que decai se deslocar numa certa direção com uma velocidade
(não-relativista) v, o comprimento de onda da radiação por ele emitida quando decai
será v
λ = λ0 1 ±
c
sempre que o observador se encontre na direção de propagação do fotão emitido (λ0
é o comprimento de onda natural da radiação emitida, isto é, o comprimento de
onda da radiação emitida se o átomo estivesse em repouso). Se assumirmos que a
amostra de átomos é um gás a uma temperatura constante T , a probabilidade de
encontrar um átomo com velocidade entre v e v + dv numa certa direção será dada
pela distribuição de velocidades de Maxwell
2 /2k T
dN = N0 e−M v B
dv
este efeito conduzirá a um alargamento Doppler das riscas que é bem descrito
por 2 ω−ω0 2
Mc
− 2k
I(ω) = I(ω0 ) e BT ω0
, (3.128)
·104
Secção eficaz (unidades arbitrárias)
2,5
1,5
0,5
0
486,15 486,1
λ (nm)
onde B = ∇ × A, σ é o vetor
σ = σx x̂ + σy ŷ + σz ẑ (3.131)
Comparando 3.10 com 3.130 saltam à vista duas diferenças: a equação 3.130 tem
um termo adicional, envolvendo um campo magnético, e a função de onda tem duas
componentes. Ambas as diferenças resultam do spin do eletrão, que não foi consi-
derado até este ponto mas que surge naturalmente da equação de Dirac. As duas
componentes do vetor função de onda (designado por spinor de duas componen-
tes) são as funções de onda associadas aos dois estados possı́veis de spin do eletrão,
genericamente identificados como |αi e |βi, que correspondem aos habituais estados
“spin up” e “spin down”. A equação 3.130 pode assim ser entendida como um sis-
tema de equações diferenciais acopladas, uma para cada canal de spin. O termo que
envolve σ · B descreve a interação do eletrão com o campo magnético externo. Esta
interação deve-se ao seu spin, isto é, devido ao seu momento magnético intrı́nseco.
O operador de spin do eletrão é
~
S= σ (3.133)
2
104 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
e~ 2 1
σ · B = µB S · B = − 2µs · B −µs · B , (3.136)
2me ~ gs
Esta fatorização pode aliás ser aproveitada para, adicionalmente, redefinir o zero
da energia. Para isso basta escrever o spinor como
! !
ψα (r, t) ψα (r) i i 2
= e− ~ Et e− ~ me c t . (3.141)
ψβ (r, t) ψβ (r)
(que representa o estado de spin down). Estes dois vetores formam uma base do
espaço dos estados das partı́culas com spin 21 . A base “completa” dos estados des-
critos pela equação de Pauli é então o conjunto dos vetores
{|n ` mi ⊗ |s ms i} . (3.146)
Note-se que estes vetores são na realidade uma combinação de vetores de espaços
vetoriais diferentes. . . Esta base é muitas vezes indicada numa notação mais sim-
ples em que a existência de dois espaços vetoriais diferentes é omitida:
{|n ` m s ms i} . (3.147)
106 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
onde E = −∇V e B = ∇ × A.
Se o potencial elétrico for o potencial esfericamente simétrico devido a uma
carga pontual Ze na origem, como num átomo hidrogenóide,
Ze ∇×E =0
V (r) ≡ V (r) = ∇ · E = Ze
0
δ(r) . (3.149)
4π0 r Ze
(−i~)E × ∇ = 4π0 r3 L
onde H
b 0 é o hamiltoniano da equação 2.54. Deviam-se agora calcular os elementos
de matriz desta perturbação
hn `0 m0 s0 m0s |H
b 1 |n ` m s ms i (3.153)
∆Ecinet = hn ` m s ms |H b 1 |n ` m s ms i =
2
Ze2
1
= − hn ` m| H0 +b |n ` mi =
2me c2 4π0 r
2
2 2 !
1 Ze 1 Ze 1
= − 2
En2 + 2En +
2me c 4π0 r n`m 4π0 r2 n`m
2
Zα 3 n
= −En − , (3.154)
n 4 ` + 1/2
O acoplamento spin-órbita
Ze2 1
H
b2 = S·L. (3.155)
8π0 me c r3
2 2
• L2 só envolve derivadas das coordenadas angulares e por isso comuta com
χ(r);
J =L+S (3.157)
Ora, tal como se viu na Secção 1.7, como J 2 , L2 , S 2 e Jbz comutam todos entre
si, é possı́vel construir uma base com os vetores próprios comuns a todos estes
operadores: {|n ` s j mj i}. Mais, como H b 2 só envolve os operadores J 2 , L2 e S 2 ,
este operador é obviamente diagonal na base {|n ` s j mj i}. Fica então resolvido o
problema de diagonalizar a perturbação. . .
A correção perturbativa, em primeira ordem, associada à interação spin-órbita
é então
∆ESO = hn ` s j mj |H
b 2 |n ` s j mj i =
1
2 `
,j =`+ 2
(Zα)
= −En 0 ,`=0 (3.159)
2n`(` + 12 )(` + 1) 1
−` − 1 ,j =`−
2
O termo de Darwin
∆EDarwin = hn ` m s ms |H b 3 |n ` m s ms i =
e~2 Ze
= hn ` m s ms | 2 2 δ(r)|n ` m s ms i =
8me c 0
e~2 Ze
= |Ψn`m (0)|2 =
8m2e c2 0
(Zα)2
= −En (se ` = 0) . (3.160)
n
Juntando agora todas as contribuições, conclui-se que as correções relativistas
se podem resumir a:
110 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
Isto acontece apenas nos átomos hidrogenóides, onde as três parcelas têm valores
comparáveis. Em átomos com mais de um eletrão a interação spin-órbita sobrepõe-
se às outras duas correções relativistas, sendo estas habitualmente ignoradas.
A figura 3.4 mostra o efeito das várias correções relativistas no estado n = 3 do
átomo de hidrogénio. Note-se que as correções relativistas conduzem a um levanta-
mento parcial da degenerescência dos nı́veis dos átomos hidrogenóides, que passam
a ter energias diferentes para diferentes valores de j, sendo a correção maior para
os nı́veis com menor valor de j. Para um dado valor de n, os valores possı́veis de j
são
1 3 5 1
j = , , ,··· ,n − , (3.163)
2 2 2 2
havendo dois valores possı́veis para ` em todos os casos exceto quando j = n − 12 .
Recorde-se que estes nı́veis continuam ainda a ser degenerados, sendo 2(2j + 1) o
grau de degenerescência do nı́vel Enj para j 6= n − 12 e 2j + 1 para j = n − 21 . Assim,
os 18 estados degenerados com n = 3 (não esquecendo o spin), reagrupam-se agora
em 4 estados degenerados com j = 12 (` =0 ou 1), 8 estados degenerados com j = 32
(` =1 ou 2) e 6 estados degenerados com j = 25 (apenas ` =2). Este grupo de estados
designa-se por multipleto de estrutura fina para n = 3. A notação usada para
indicar estes estados é a seguinte:
|n ` s j mj i n λj , (3.164)
onde λ significa que o momento angular orbital é indicado usando letras (s, p, d, f , g,
h, i, etc.) e não números inteiros (que seriam, respetivamente, ` = 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, . . .).
Assim, os estados degenerados |3 1 12 32 mj i, por exemplo, são designados por esta-
dos 3p3/2 , sendo ignorado o valor de mj visto a energia não depender deste número
quântico (o número quântico s é omitido apenas porque o seu valor, para os átomos
hidrogenóides, é sempre o mesmo: 21 ). A figura 3.4 representa, de novo, o multipleto
3.9 Efeitos relativistas 111
`=0
`=1,j=3/2
`=2,j=5/2
`=0,1,2 `=1,2
n=3 j=5/2
`=0,j=1/2
`=2
`=2,j=3/2
j=3/2
`=1 `=1,j=1/2
j=1/2
`=0
Enão rel Enão rel + ∆Ecinet Enão rel + ∆ESO Enão rel + ∆EDarwin Erel
E
3s, 3p, 3d
n=3 3d5/2
3p3/2 , 3d3/2
3s1/2 , 3p1/2
En Enj
de estrutura fina para o nı́vel n = 3, mas desta vez apenas com a correção completa
e usando a notação acima descrita para os estados.
A energia total dos átomos hidrogenóides (com as correções relativistas) em uni-
dades atómicas é
Z2 Z 4 α2
n 3
Enj = − 2 − − , (3.165)
2n 2n4 j + 12 4
o que nos permite concluir que, para um certo valor de Z, as correções relativistas
serão menos importantes para valores elevados de n, e que, para um certo valor
de n, serão mais importantes para valores elevados de Z. Os nı́veis em que estas
correções serão mais importantes serão, por isso, os nı́veis de menor energia (n
baixo) dos átomos hidrogenóides com Z elevado. O facto das correções de estrutura
fina serem proporcionais a α2 é a razão para o nome desta constante.
Os nı́veis de energia (medida a partir da energia em repouso do eletrão) re-
sultantes da solução analı́tica (exata) da equação de Dirac para um átomo hidro-
genóide são dados, em unidades atómicas, pela expressão
vu 1
2 u
Enj = c u 2 − 1 , (3.166)
√ 12
t Zα
1+ 1 2
n−j− 2 + (j+ 2 ) −(Zα)
∆` = ±1
∆j = 0, ±1
∆mj = 0, ±1
∆` = 0
∆j = 0, ±1
∆mj = 0, ±1
• como os nı́veis 3d3/2 e 3p3/2 são degenerados, assim como os nı́veis 3p1/2 e 3s1/2 e
os nı́veis 2p1/2 e 2s1/2 , as sete transições apenas geram cinco riscas diferentes.
Note-se que se considerarem outras transições da série de Balmer, isto é, transições
de nı́veis com n > 3 para os nı́veis com n = 2, vão-se encontrar sempre apenas cinco
riscas. O espaçamento entre estas riscas é fundamentalmente determinado pela
separação entre os nı́veis 2p3/2 e 2p1/2 /2s1/2 , pois a separação entre os nı́veis de
estrutura fina ndj , npj e nsj diminui com o aumento de n. Isto leva a que a série
de Balmer do hidrogénio seja, à primeira vista, um conjunto de dubletos. Só após
inspeção cuidada se percebe o desdobramento adicional devido ao nı́vel superior.
do visı́vel e ultravioleta associada às transições “óticas” das séries de Lyman, Bal-
mer, etc. (entre 40 e 3000 THz). Como o alargamento Doppler é proporcional à
frequência da risca (ver 3.129), a escolha destas transições reduz enormemente o
impacto do alargamento Doppler, ao ponto de poder ser mesmo ignorado. Por ou-
tro lado, uma frequência baixa implica uma baixa probabilidade de transição por
emissão espontânea (proporcional ao cubo da frequência, como se pode ver nos coe-
ficientes de Einstein da equação 3.59). A solução é recorrer à emissão estimulada,
procurando induzir transições entre os nı́veis que se querem estudar irradiando os
átomos com radiação com a frequência apropriada. No entanto, a probabilidade de
ocorrer emissão estimulada é igual à probabilidade de ocorrer absorção (consultar
de novo a equação 3.59) se as populações dos nı́veis envolvidos forem as mesmas.
Para efetuar estas medidas é por isso necessário garantir que os nı́veis envolvidos
estão muito diferentemente populados. Ora o estado 2s1/2 é meta-estável, com um
tempo de vida muito longo, muito mais longo que o dos estados 2p3/2 e 2p1/2 . . . A
proposta de Willis e Retherford foi assim produzir uma amostra de átomos de hi-
drogénio no estado 2s1/2 e induzir transições destes para os estados 2p3/2 e 2p1/2
bombardeando-os com micro-ondas.
A medida do desvio de Lamb foi então efetuada do seguinte modo:
• foram produzidos átomos de hidrogénio por aquecimento e consequente disso-
ciação de hidrogénio molecular numa fornalha a 2500 K;
• o feixe de átomos foi bombardeado com eletrões cuja energia cinética era ligei-
ramente superior à diferença de energias entre os nı́veis 1s e 2s do átomo de
hidrogénio (∼ 10, 2 eV), excitando assim uma pequena fração dos átomos para
os nı́veis 2s1/2 , 2p3/2 e 2p1/2 ;
• como os tempos de vida dos estados 2p3/2 e 2p1/2 são cerca de 1, 6 × 10−9 s, os
átomos nestes estados decaı́am para o estado 1s1/2 a 1, 3×10−3 cm da fornalha,
nunca atingindo a placa;
116 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
2p3/2
8 MHz
2p3/2
1040 MHz
2p1/2
m=+1, ms =+ 12
µB B m=0, ms =+ 21
µB B m=±1, ms =∓ 12
np
µB B m=0, ms =− 21
µB B m=−1, ms =− 12
B=0 B 6= 0
m=+2, ms =+ 21
m=+1, ms =+ 21
m=0, ms =+ 12 | m=+2, ms =− 12
m=±1, ms =∓ 21
n0 d
m=−2, ms =+ 12 | m=0, ms =− 12
m=−1, ms =− 21
m=−2, ms =− 21
m=+1, ms =+ 21
m=0, ms =+ 12
m=±1, ms =∓ 21
np
m=0, ms =− 12
m=−1, ms =− 21
B=0 B 6= 0
Figura 3.8: Transições entre nı́veis Zeeman (se ms = + 12 as transições estão indica-
das a preto, se ms = − 21 estão indicadas a vermelho).
3.11 Efeito Zeeman 121
δE = hn ` m s ms |χ(r)L · S|n ` m s ms i =
1 b b
= hn ` m s ms |χ(r) Lz Sz +
b b L+ S− + L− S+ |n ` m s ms i =
b b
2
= hn ` m s ms |χ(r)L
bz Sbz |n ` m s ms i =
Z 2 α2 m ms
= −En (se ` 6= 0) . (3.183)
n `(` + 12 )(` + 1)
A correção total aos nı́veis de energia neste regime obtém-se combinando ambas
as perturbações (termo paramagnético e termo de spin-órbita)
onde
Z 2 α2 1
λn` = −En 1 . (3.185)
n `(` + 2 )(` + 1)
As riscas que se observam no efeito Paschen-Back são
µB
hn ` s j m0j | Lz + 2Sz B|n ` s j mj i =
b b
~
µB b
= hn ` s j m0j | Jz + Sbz B|n ` s j mj i =
~
µB
= µB Bmj δm0j mj + Bhn ` s j m0j |Sbz |n ` s j mj i . (3.187)
~
Não é tarefa fácil, pois os estados |n ` s j mj i não são estados próprios de Sbz . Mas
podemos rapidamente concluir que esta matriz é diagonal. Com efeito, os estados
(“relativistas”) |n ` s j mj i são uma combinação linear dos estados (“não relativis-
tas”) |n ` mj − 21 s 12 i e |n ` mj + 12 s − 12 i, visto que mj = m + ms . Como Sbz só atua no
6
Note-se que, se só se considerar o termo de spin-órbita, a única degenerescência que não é
levantada é a degenerescência em mj ...
3.12 Bibliografia recomendada 123
hj mj |(V · J )J |j mj i
hj mj |V |j mj i = , (3.189)
j(j + 1)~2
hn ` s j mj |(S · J )Jbz |n ` s j mj i
hn ` s j mj |Sbz |n ` s j mj i = =
j(j + 1)~2
2 2 2
hn ` s j mj | J +S2 −L Jbz |n ` s j mj i
= =
j(j + 1)~2
j(j + 1) + s(s + 1) − `(` + 1)
= mj ~ . (3.190)
2j(j + 1)
em que
j(j + 1) + s(s + 1) − `(` + 1)
g =1+ . (3.192)
2j(j + 1)
Vê-se facilmente que a separação dos nı́veis não é a mesma para cada multipleto
(os fatores g podem ser diferentes...), o que significa que os tripletos de Lorentz não
aparecem neste caso, isto é, que o número de riscas em que se desdobra cada risca
do espetro quando é aplicado o campo magnético não é o mesmo. Por isso, este
efeito é conhecido como efeito de Zeeman anómalo.
7
Um operador vetorial V possui três componentes na direção de três eixos ortogonais, Vbx , Vby e
Vbz , que se transformam numa rotação como as componentes de um vetor.
124 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
EII
HIII , KIII
AIV
DVII
XII.A — XII.C, BXII , EXII
AXIII
4.1 — 4.7
5.1 — 5.2
6.1 — 6.2
Apêndices 6 e 7
6.17 — 6.18
7.1 — 7.7, 7.19 — 7.21
Further information 16 — 21
• Atomic Physics
Christopher J. Foot
Oxford University Press (2005), ISBN 978-0198506966
5.2 — 5.10
7.1 — 7.4
3.12 Bibliografia recomendada 125
• Quantum Chemistry
Ira N. Levine
Pearson Education (2014), ISBN 978-0321803450
6.8
9.9
10.1 — 10.2
126 Espetroscopia dos átomos hidrogenóides
Capı́tulo 4
Átomos poli-eletrónicos
7.1 — 7.6
8.1 — 8.2, 8.5
9.2, 9.6
Apêndice 8
7.8 — 7.18
• Atomic Physics
Christopher J. Foot
Oxford University Press (2005), ISBN 978-0198506966
128 Átomos poli-eletrónicos
3.1 — 3.3
4.3
5.1 — 5.4
• Quantum Chemistry
Ira N. Levine
Pearson Education (2014), ISBN 978-0321803450
Moléculas
GXI
9.1 — 9.2
10.1.1 — 10.1.3
130 Moléculas
• Quantum Chemistry
Ira N. Levine
Pearson Education (2014), ISBN 978-0321803450
13.1 — 13.9