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Universidade Federal do Espı́rito Santo

Departamento de Engenharia Mecânica

Transferência de calor I

Dr. Sci. Juan Sergio Romero Saenz


Vitória, novembro de 2021
Sumário

1 Introdução à transferência de calor 1


1.1 Condução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Convecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3.1 Lei de Stefan-Boltzmann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4 Quantificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.5 Energia em diferentes formas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.6 Variação da energia total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.7 Balanço de energia térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.7.1 Potencia elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.8 Balanço de energia em uma superfı́cie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2 Introdução a condução 15
2.1 Condução de calor - Lei de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 Equação diferencial que governa a transferência de calor (difusão térmica) 18
2.2.1 Coordenadas cilı́ndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2.2 Coordenadas esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Condições de contorno e inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

3 Condução uni-dimensional regime estacionário 23


3.1 Parede plana 1D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.1.1 Resistência térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2 Coeficiente global (U) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

i
3.3 Sistemas radiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.3.1 cascas cilı́ndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.3.2 Cascas esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.4 Condução de calor com geração interna de calor . . . . . . . . . . . . . . 36
3.4.1 Parede plana com geração interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.4.2 Sistemas radiais com geração de calor . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.4.3 Corpo esférico sólido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.5 Raio critico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

4 Superfı́cies estendidas 44
4.1 Aletas com área de seção transversal não uniforme . . . . . . . . . . . . . 53
4.2 Seleção e projeto de aletas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.2.1 Efetividade da aleta (εa ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

5 Analise numérico 63
5.1 Equações diferenciais parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
5.2 Série de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5.3 Diferenciação numérica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.4 Método das diferenças finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.5 Métodos numéricos para a solução de sistemas de equações lineares . . . 73
5.5.1 Métodos diretos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.5.2 Método de eliminação de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.5.3 Métodos Iterativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
5.5.4 Normas de vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

6 Condução de calor em regime transiente 76


6.1 Capacitância global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6.1.1 Energia global transferida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
6.1.2 Validade do método da Capacitância global . . . . . . . . . . . . 80
6.2 Analise geral via capacitancia global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
6.3 Efeitos espaciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

ii
6.4 Sistemas circulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
6.5 Transferência total de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

7 Radiação Térmica 96
7.1 Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
7.2 Radiação térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
7.3 Corpo negro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
7.3.1 Lei de Planck e lei de deslocamento de Wien . . . . . . . . . . . 103
7.4 Equação de Stefan-Boltzmann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
7.5 Funções de radiação e emissão de banda . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
7.6 Intensidade de radiação (I) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
7.6.1 Definições Geométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
7.7 Relação entre intensidade de radiação (I) e a potencia emissiva (Eb ) . . . 111
7.8 Irradiação (G) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
7.8.1 A irradiação espectral Gλ (W/m2 µm) . . . . . . . . . . . . . . . . 113
7.9 Emissividade (ξ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
7.10 Propriedades da radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
7.11 Lei de radiação de Kirchhoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
7.12 Absortividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
7.13 Superfı́cie cinza e difusa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
7.13.1 Corpos cinzas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
7.14 Balanço de energia convecção-radiação sobre uma superfı́cie . . . . . . . 121
7.15 Radiação solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124

8 Fator de forma da radiação 128


8.1 Barreiras de Radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

iii
Capı́tulo 1

Introdução à transferência de calor

Termodinâmica: ciência que estuda a energia, a interacção entre energia e matéria, e


os processos de conversão entre as diferentes formas de transferência de energia, sobretudo
o calor Q e o trabalho W . Relaciona a quantidades de energia transferidas através da
fronteira de um sistema (Q e W ) com a variação de energia dentro do sistema. Assenta
sobretudo em dois princı́pios. A 1a Lei diz que a energia se conserva e a 2a Lei impõe
restrições sobre a direcção de transferência do calor (quente para frio).

Transmissão de Calor: ciência que estuda as transferências de energia sob forma


de calor, estando interessada não só na quantidade de calor que é transferida (Q, [J]),
mas também na taxa temporal a que essa transferência decorre (Q, [W ]). Assim, num
problema de transmissão de calor o tempo é uma variável importante, distinguindo-se
a situação em que uma determinada quantidade de calor se transfere num intervalo de
tempo curto daquela em que o mesmo calor demora mais tempo a transferir-se. Na
termodinâmica (clássica) os sistemas em estudo estão em equilı́brio (só assim se podem
definir as propriedades de estado do sistema).
Na transmissão de calor os sistemas em estudo estão inerente-mente em desequilı́brio:
a temperatura tem de variar no espaço para que haja transferência de calor.
Nas aplicações práticas de Transmissão de Calor pode haver dois objetivos:

1. Maximizar a taxa de transferência de calor (permutadores de calor mais eficientes;


superfı́cies de troca de calor com aletas; etc.);

1
2. Minimizar a taxa de transferência de calor (isolamento térmico).

Podem distinguir-se três modos de transferência de calor, que muitas vezes aparecem
misturados, mas que são descritos separadamente como:

1. Condução

2. Convecção

3. Radiação

1.1 Condução
Transferência de energia resultante de fenómenos difusivos devidos à propagação de vi-
brações moleculares, ou outros movimentos a nı́vel atómico, quando moléculas vizinhas
interagem entre elas.
A condução ocorre no seio de qualquer material, mas é mais intensa nos materi-
ais sólidos, diminuindo de intensidade nos lı́quidos, e ainda mais nos gasosos (o que se
entende, considerando as respectivas estruturas moleculares).
Para que haja condução de calor tem de existir uma diferença de temperaturas, e o
fluxo de calor obedece à lei de Fourier:

q00 = −k∇T = −kgrad(T ) [W/m2 ] (1.1)

ou
∆T
Q = kA [W ] (1.2)
L

2
Q: taxa de transferência de calor (potência térmica) [W ];
k: condutividade térmica [W/mK];
A: área da superfı́cie transversal através da qual se dá a transferência de calor [m2 ];
∆T : T1 − T2 : diferença entre as temperaturas aplicadas a cada face [K];
L: distância entre as duas superfı́cies, ou espessura do meio [m];
q: vetor fluxo de calor, cuja magnitude é designada q 00 = Q/A [W/m2].

Figure 1.1: Condução de calor através de uma parede infinita

A condutividade térmica é uma propriedade fı́sica do material, definida como a quan-


tidade de energia térmica transferida por unidade de área e por unidade de tempo, devido
à condução de calor através de uma fatia de material com espessura unitária, quando se
aplica uma diferença de temperatura de 1o C entre cada face.

1.2 Convecção
Define-se a convecção como a transferência de energia pelo movimento global do fluido
(advecção), e pelo movimento aleatório das moléculas do fluido (condução ou difusão),
onde o calor é transmitido de átomo a átomo sucessivamente. Usa-se o termo convecção

3
Figure 1.2:

4
para descrever a transferência de energia entre uma superfı́cie e um fluido movendo-se
sobre a superfı́cie.
Advecção é um mecanismo de transporte de uma substância ou uma propriedade con-
servada com um fluido em movimento. O movimento dos fluidos na advecção é descrito
matematicamente como um campo vetorial, e o material transportado é tipicamente de-
scrito como uma concentração escalar da substância, que está contido no fluido. Outra
caracterı́stica comum da advecção é o calor num fluido, que pode ser transportado pelo
fluido através da advecção.

Lei de resfriamento de newton: Em 1701 Isaac Newton propôs a equação básica


para a transferência de calor por convecção, a lei de Newton do resfriamento, estabelece
que a taxa de perda de calor por convecção de um corpo é proporcional à diferença de
temperatura entre o corpo e seus arredores.

q 00 = h(Ts − T∞ )

onde h é chamado de coeficiente de calor por convecção local, Ts é a temperatura da


superfı́cie e T∞ é uma medida da temperatura do escoamento.
Esta forma de princı́pio de perda de calor por vezes não é muito precisa; uma for-
mulação precisa pode exigir a análise do fluxo de calor, com base na equação de con-
servação de energia.
O movimento do fluido pode ser produzido por uma força exterior ao meio (por
exemplo, uma bomba hidráulica que faz fluir água ao longo de um tubo), ou por diferenças
de temperatura entre elementos do próprio meio fluido que irão, por sua vez, induzir
diferenças de massa volúmica. Elementos de fluido com temperatura mais elevada tendem
a subir por impulsão, e porções de fluido mais frio tendem a descer, gerando-se assim
um movimento do fluido sem que seja necessária uma força motriz externa. Ao primeiro
caso, chamamos convecção forçada, e ao segundo convecção livre (ou natural):

ˆ Convecção forçada: movimento devido ao efeito de uma bomba, um ventilador, ou


outra força motriz externa (com fonte de energia externa);

5
(a) (b)

Figure 1.3: (a)perfis de velocidade; (b) variação da espessura e o coeficiente de trans-


ferência de calor local h

Figure 1.4: Desenvolvimento da camada limite térmica

6
ˆ Convecção livre (ou natural): movimento devido a diferenças de massa volumétrica
num campo gravitacional g (sem fonte de energia externa).

Figure 1.5: Convecção forçada e convecção livre.

1.3 Radiação
Propagação de energia por intermédio de ondas eletromagnéticas, emitidas sempre que
os átomos que compõem um corpo material passam de um estado de não equilı́brio
para um estado de equilı́brio (mecânica quântica). Como qualquer onda, a radiação é
caracterizada por: comprimento de onda (λ ); frequência (ν); e velocidade de propagação
( c ). Tem-se λ = cT = c/ν (o perı́odo T é o inverso da frequência), e a velocidade de
propagação da radiação num meio qualquer está relacionada com a velocidade da luz
no vácuo (uma constante universal) por c = c0 /η (η - ı́ndice de refracção do meio;
c0 = 300000 km/s). A radiação térmica, emitida por qualquer corpo cuja temperatura
seja superior a 0 K, corresponde à radiação na faixa de comprimentos de onda λ = 0.1 a
100µm. A radiação visı́vel tem λ = 0.40 a 0.76 µm (do violeta, pequeno comprimento de
onda e alta frequência, ao vermelho, maior comprimento de onda e baixa frequência), e
corresponde a cerca de metade do espectro da radiação solar, que vai de λ = 0.1 µm (no
ultravioleta, UV) a 3 µm (no infravermelho, IV).
Caracterı́sticas do modo de transferência de calor por radiação:

7
ˆ Calor na forma de radiação térmica é emitido por qualquer corpo que esteja a uma
temperatura maior que zero Kelvin.

ˆ Todos materiais emitem.

ˆ A energia é transportada na forma de ondas eletromagnéticas (fótons), da mesma


maneira que a luz.

ˆ Não é necessária a presença de um meio para a sua propagação (na verdade a


radiação térmica se propaga melhor no vácuo).

1.3.1 Lei de Stefan-Boltzmann

A lei de lei de Stefan-Boltzmann da radiação diz que o fluxo de energia radiante emitido
por um corpo negro (corpo ideal que radia toda a energia que recebe) é proporcional à
quarta potência da temperatura absoluta do corpo:

qr00 = σT 4 [W/m2 ] (1.3)

onde σ = 5.67 × 10−8 [W/m2 K 4 ] é a constante de Stefan-Boltzmann. Importante: T


deve estar em Kelvin. Para um tipo de corpo não ideal, designado por corpo cinzento,
o valor do fluxo de calor trocado por radiação é reduzido por um coeficiente empı́rico, a
emissividade ε :
qr00 = εσT 4 [W/m2 ] com 0 ≤ ε ≤ 1.0. (1.4)

O valor da emissividade é dado em Tabelas. Desta forma a taxa de calor trocado por
radiação entre um corpo cinzento, cuja superfı́cie A está à temperatura Ts , e um meio
envolvente, muito maior, à temperatura Tviz , é:

Qr = Aεσ Ts4 − Tviz


4

[W ] (1.5)

Existem muitas aplicações nas quais é conveniente expressar a troca lı́quida de calor por
radiação através de uma expressão na forma:

qr = hr A(Ts − Tviz ) (1.6)

8
Figure 1.6:

onde em função da equação (7.4), o coeficiente de transferência de calor por radiação hr ,



hr = εσ(Ts + Tviz )(Ts2 + Tviz
2
) (1.7)

Resumo:

Figure 1.7: Tabela 1 – Caracterı́sticas essenciais dos modos de transferência de calor

Radiação incidente sobre uma superfı́cie, pode ser:

ˆ Absorvida.

ˆ Refletida.

ˆ Transmitida.

9
1.4 Quantificação
Para começar a quantificar a transferência de calor, definem-se as seguintes quantidades,
seguidas de suas unidades:

ˆ Q – Calor trocado (ou energia transferida), [J].

ˆ Q̇ – Taxa de transferência de calor (ou vazão de calor), [W ].

ˆ q̇ 00 – Fluxo de calor, [W/m2 ].

O calor é a energia em trânsito que passa espontaneamente dos corpos de maior tem-
peratura para os de menor temperatura. A energia térmica é a energia armazenada no
corpo e constituı́da de várias formas de energia, tais como: energia cinética da molécula,
energia potencial, energia atómica, etc.
O calor total trocado entre dois instantes t1 e t2 pode ser relacionado com a taxa de
transferência de calor através de:
Z t2
Q|tt21 = Q̇dt (1.8)
t1

A taxa de transferência de calor que passa por uma determinada superfı́cie de área As
pode ser calculada fazendo: Z
Q̇n = q̇n00 dA (1.9)
As

onde q̇n00 representa o fluxo de calor normal a cada ponto da superfı́cie considerada.
Aqui vale a pena enfatizar a notação utilizada. O ponto (como em Q̇ ) significa
uma quantidade por unidade de tempo, ou seja, é uma medida de taxa de variação. As
duas linhas em q̇ 00 indicam uma quantidade por unidade de área. De maneira similar,
uma única linha indicaria uma quantidade por unidade de comprimento (ou altura, ou
profundidade) e três linhas indicariam uma quantidade por unidade de volume.
Assim, q̇ 00 é uma quantidade por unidade de tempo e por unidade de área. Em geral,
fluxos são unidades que têm esta caracterı́stica: são taxas de variação temporal (ou
vazões) por unidade de área.

10
1.5 Energia em diferentes formas
A energia total (i.e. em todas as possı́veis formas) associada à um dado volume pode ser
escrita dividida nas seguintes parcelas:

Etot = U + K + Φ + Eoutras (1.10)

onde U corresponde a energia interna térmica, e K e Φ correspondem às energias cinéticas


e potenciais mecânicas. Como as energias de maior interesse em ciências mecânica são as
térmicas e mecânicas, as demais formas de energia são agrupadas no termo Eoutras . Este
termo conteria por exemplo as seguintes formas:

Eoutras = Equi + Enuc + Eelet + ... (1.11)

Define-se então a energia termo-mecânica como as parcelas térmicas e mecânicas:

E = Etot − Eoutras = U + K + Φ (1.12)

Desta forma, uma variação na energia E estará relacionada com variações nas suas parce-
las:
∆E = ∆Etot − ∆Eoutras = ∆U + ∆K + ∆Φ (1.13)

e também, a taxa de variação de E será então dada por:


dE dEtot dEoutras dU dK dΦ
= − = + + (1.14)
dt dt dt dt dt dt

1.6 Variação da energia total


Para que as formas de energia anteriormente descritas sejam não nulas é necessário as-
sociá-las à um dado volume finito de matéria. Uma vez que isto seja feito, observa-se
que para haver variação da energia total Etot é necessário que haja alguma interação com
agentes externos a este volume escolhido. O volume considerado pode ser escolhido de
diferentes formas, mas independente desta escolha, a taxa de variação da energia total
associada a este volume é dada por:
dEtot
= Ėtot,e − Ėtot,s (1.15)
dt

11
onde Ėtot,e e Ėtot,s representam as taxas lı́quidas de energia em todas as possı́veis formas
entrando e saindo do volume considerado. Então, a taxa de variação da energia total é
igual à taxa lı́quida de energia que entra no volume.

1.7 Balanço de energia térmica


um balanço geral de energia térmica, desconsiderando as outras fontes de energia, pode
ser escrito como:
dE
= Ėe − Ė,s (1.16)
dt
fornecendo uma expressão para avaliar-se a taxa de variação da energia termo-mecânica.
As interações Ėe e Ės são fenômenos superficiais pois representam a interação do vol-
ume considerado com os agentes externos, e este contato naturalmente se dá na fronteira
do volume considerado.

1.7.1 Potencia elétrica

A geração de energia térmica devida ao aquecimento elétrico resistivo no interior do


condutor gera uma variação no acumulo da energia térmica. Pela primeira lei da ter-
modinâmica para um volume de controle.

Ėacum = Ėelet − Ėsai (1.17)

isto é
dT
V olρCp 4
= I 2 R − Ah(Ts − T∞ ) − εσA(Ts4 − Tviz ) (1.18)
dt

1.8 Balanço de energia em uma superfı́cie


Uma superfı́cie é uma região que possui área mas não possui volume. Logo esta não
possui massa e portanto, não pode haver taxa de variação de grandezas associadas a
quantidade de matéria de uma superfı́cie. Consequentemente, o balanço de energia em
uma superfı́cie é simplesmente obtido da equação (1.16), zerando os termos de taxa de

12
variação volumétricas:
Ėe − Ės = 0 (1.19)

Ou seja, a taxa de energia que entra em uma superfı́cie deve se igualar a taxa que sai.
Se não há massa cruzando a superfı́cie, a Primeira Lei da Termodinâmica para esta
superfı́cie é dada por:
Q̇e − Q̇s + Ẇe − Ẇs = 0 (1.20)

Se Ẇe,s = 0, então
Q̇e − Q̇s = 0 (1.21)

Com base em una unidade de área, eles são a condução do meio para a superfı́cie de
00 00
controle (qcond ), a convecção da superfı́cie para um fluido (qconv ) e a troca lı́quida de calor
00
por radiação da superfı́cie para a sua vizinhança (qrad ). Assim,

00 00 00
qcond − qconv − qrad =0 (1.22)

A taxa da energia total do corpo ou taxa de energia acumulada, é dada por

dEacum dT dT
= mCp = V olρCp (1.23)
dt dt dt

Figure 1.8: O balanço de energia na superfı́cie de um meio.

13
Exercı́cio:
Calor é transferido por radiação e convecção entre a superfı́cie interna do envoltório
cilı́ndrico de uma turbina eólica e as superfı́cies externas da caixa de engrenagens e
do gerador. Considere que T∞ = Tviz = Ts ( temperatura da superfı́cie do envoltório
cilı́ndrico). A emissividade das superfı́cies do gerador e da caixa de engrenagens é  = 0, 9
e as superfı́cies são: Ace = 6 m2 e Agr = 4 m2 . As eficiências ηce = 0, 93, ηgr = 0, 95. A
turbina produz 2, 5 M W de potencia elétrica. Determine as temperaturas superficiais

14
Capı́tulo 2

Introdução a condução

Em geral, o objetivo de um problema de condução de calor será o de determinar a potência


térmica transferida através duma geometria especificada (parede plana; invólucro cilı́ndrico;
invólucro esférico, etc.), e o campo de temperatura.
A teoria analı́tica da condução de calor ignora a estrutura molecular e usa o modelo
de continuo.

Campo de temperatura .
É um campo escalar T = f (x, y, z, t)
são de duas classes

ˆ estado permanente T = f (x, y, z), ∂T /∂t = 0

ˆ estado não permanente ou transiente.

Gradiente de temperatura .
Se todos os pontos de um corpo que tem a mesma temperatura são unidos, obtemos
uma superfı́cie de igual temperatura, chamada de isotérmicas.
O gradiente de temperatura é um vetor normal a superfı́cie isotérmica, e é positiva
na direção do incremento de temperatura.

∂T
∇T = (2.1)
∂n

15
∂T /∂n é a derivada da temperatura na direção n, onde n é o vetor unitário normal as
isotérmicas.

2.1 Condução de calor - Lei de Fourier


A taxa do fluxo de calor é proporcional ao gradiente de temperatura, esta proporcional-
idade é representada pela condutividade térmica k. Assim,

q00 = −k∇T = −kgradT [W/m2 ] (2.2)

q00 vetor taxa do fluxo de calor por unidade de área. ∇ ou grad operador gradiente [1/m],
é um vetor com componentes

∂() ∂() ∂()


∇() = i+ j+ k (2.3)
∂x ∂y ∂z

A condutividade térmica é uma propriedade do material e é importante porque determina


a adaptabilidade de um material para um uso determinado.
Para determinar o fluxo de calor que passa através de uma superfı́cie de um corpo
sólido, é necessário o campo de temperaturas; pelo tanto o problema principal para o
problema de condução de calor é determinar este campo de temperaturas. Para uma

Figure 2.1: Condução de calor através de uma parede infinita

16
parede plana infinita, se o campo de temperatura tem uma distribuição linear, ∇T pode
ser expresso
∆T T2 − T1 T2 − T1
∇T = = = (2.4)
∆x x2 − x 1 L
onde L é a espessura da placa

T2 − T1 T1 − T2
qx00 = −k =k (2.5)
L L

qx = qx00 A [W ]

Condutividade térmica. É um parâmetro fı́sico próprio a cada material. No caso


geral a condutividade depende da temperatura k = k(T ).
Nas aplicações praticas pode-se assumir uma dependência linear da condutividade
com a temperatura
k(T ) = k0 [1 + b(T − T0 )]

k0 é a condutividade a temperatura T0
b cte. determinada experimentalmente.

Condutividade térmica nos gases .


A condução da energia nos gases acontece pelo transporte da energia cinética do
movimento molecular devido a colisão das moléculas dos gases.
A condutividade nos gases aumenta com a temperatura.

W
Kgases ≈ (0, 006 − 0, 6)
mK
em alguns gases como o vapor, depende muito da pressão.

Condutividade térmica nos lı́quidos .


Nos lı́quidos é muito parecido como os gases. Entretanto, é mais complexa pela
distancia intermolecular ser menor.
Na maioria dos lı́quidos a condutividade térmica diminui com a temperatura, exceto
para a água e glicerina.
W
kliq ≈ (0, 07 − 0, 7)
mK

17
Condutividade térmica nos sólidos .
Metais e ligas, a transferência de calor acontece pelo transporte dos elétrons livres.
W
ksol ≈ (16 − 410(metaispuros))
mK
com a mistura a condutividade decai.
Materiais isolantes: A condutividade aumenta com a temperatura, depende muito
da porosidade do material, nos poros temos ar, então, se a temperatura aumenta a
condutividade do ar aumenta.
W
k ≈ (0, 03 − 1.0)
mK

2.2 Equação diferencial que governa a transferência


de calor (difusão térmica)
Hipóteses:

ˆ a) O sólido é homogéneo e isotrópico.

ˆ b) Os parâmetro fı́sicos são constantes.

ˆ c) A deformação do volume causada pela variação da temperatura é desprezı́vel.

ˆ d) A geração de calor interna (q̇) é uniforme-mente distribuı́do no sólido.

Para obter a equação diferencial partimos da lei de conservação de energia. Dado um


volume de controle:

Incremento da energia = energia f ornecida + energia gerada

caso 1D
Energia gerada no interior do volume:

q̇Adx

Fluxo de calor na face esquerda:


∂T
qx = −kA
∂x

18
Incremento da energia interna:
∂T
ρCp Adx
∂t
onde Cp calor especifico do material [J/Kg K].
Fluxo de calor na face direita:
   
∂T ∂T ∂ ∂T
qx+dx = −kA |x+dx = −A k + k dx
∂x ∂x ∂x ∂x

Assim:    
∂T ∂T ∂T ∂ ∂T
ρCp Adx = q̇Adx − kA +A k + k dx
∂t ∂x ∂x ∂x ∂x
ou  
∂T ∂ ∂T
ρCp = k + q̇
∂t ∂x ∂x
No caso geral 3D

dE
= qgerado + qx + qy + qz − qx+dx − qy+dy − qz+dz
dt

onde qgerado = q̇dxdydz.


Assim,      
∂T ∂ ∂T ∂ ∂T ∂ ∂T
ρCp = k + k + k + q̇
∂t ∂x ∂x ∂y ∂y ∂z ∂z
isto é
∂T
ρCp = ∇ · (k∇T ) + q̇
∂t
se k = cte
∂T
ρCp = k∇2 T + q̇
∂t
onde o Laplaciano de T

∂ 2T ∂ 2T ∂ 2T
∇2 T = + +
∂x2 ∂y 2 ∂z 2

ou
1 ∂T ∂ 2T ∂ 2T ∂ 2T q̇
= 2
+ 2
+ 2
+
α ∂t ∂x ∂y ∂z k
k
onde α = é o coeficiente de difusão de calor do material ( difusividade térmica).
ρ Cp
Em certo sentido, a difusividade térmica é a medida da inércia térmica.

19
Se α é grande o calor difunde rapidamente no material. Em uma substância com
alta difusividade térmica, o calor se move rapidamente através dela, porque a substância
conduz calor rapidamente em relação à sua capacidade de calor volumétrica ou “carga
térmica”. Se k é grande o fluxo de calor é alto, e se ρCp é pequeno, o corpo absorve
devagar a energia.
Para um estado permanente

∇ · (k∇T ) + q̇ = 0

Se k = cte

∇2 T + =0
k
e se q̇ = 0 e geometria 2D
∂ 2T ∂ 2T
∇2 T = + =0
∂x2 ∂y 2

2.2.1 Coordenadas cilı́ndricas

Fluxo térmico (Lei de Fourier)


 
00 ∂T 1 ∂T ∂T
q = −k∇T = −k er + eθ + ez
∂r r ∂θ ∂z

equação diferencial do fluxo de calor T = T (r, θ, z, t)

1 ∂T ∂ 2T 1 ∂T 1 ∂ 2T ∂ 2T q̇
= 2
+ + 2 2
+ 2
+
α ∂t ∂r r ∂r r ∂θ ∂z k
∂()
se tiver simetria axial =0
∂θ
1 ∂T ∂ 2T 1 ∂T ∂ 2T q̇
= 2
+ + 2
+
α ∂t ∂r r ∂r ∂z k

Se o fluxo de calor em coordenadas cilı́ndrica é somente na direção radial, T = T (r, t),


a equação de difusão de calor se reduz a
 
1 ∂T 1 ∂ ∂T q̇
= r +
α ∂t r ∂r ∂r k

20
Figure 2.2: Coordenadas cilı́ndricas

2.2.2 Coordenadas esféricas

Fluxo térmico (Lei de Fourier)


 
00 ∂T 1 ∂T 1 ∂T
q = −k∇T = −k er + eθ + eφ
∂r r ∂θ rsenθ ∂φ
equação diferencial do fluxo de calor:

Figure 2.3: Coordenadas cilı́ndricas

     
1 ∂T 1 ∂ 2 ∂T 1 ∂ ∂T 1 ∂ ∂T q̇
= 2 r + 2 + 2 senθ +
α ∂t r ∂r ∂r r sen2 θ ∂φ ∂φ r senθ ∂θ ∂θ k

21
2.3 Condições de contorno e inicial
Para determinar o campo de temperaturas em um corpo, é necessário resolver a forma
apropriada da equação de calor. Tal solução depende de certas condições:
Condições geométricas: são determinadas pela forma do corpo onde se desenvolve o
processo.
Condições fı́sicas: são dadas pela propriedades fı́sicas, tais como ρ, k, Cp .
Condições iniciais: processo transiente apenas uma condição para t = 0 T = T (x, y, z).
Condições de contorno: definem a interação do corpo com o meio que o rodeia. Duas
condições para cada coordenada.
Primeira classe: distribuição de temperatura prescrita no contorno.

Ts = T (x, y, z, t)

Segunda classe: Fluxo térmico prescrito no contorno.

q00s = q00 (x, y, z, t)

ou
−k∇T |s = q00s

se a superfı́cie é isolada −k∇T |s = 0


terceira classe: Condição de convecção na superfı́cie.

−k∇T |s = h(Ts − T∞ )

Quarta classe: uma interface de contacto entre duas superfı́cies.

k1 ∇T · n = k2 ∇T · n

Se existe um perfeito contacto, se assume que: Ts1 = Ts2 .

22
Capı́tulo 3

Condução uni-dimensional regime


estacionário

O objetivo, é determinar expressões para distribuição de temperaturas e para a taxa


de transferência de calor em geometrias comuns, placa plana, cilı́ndrica e esférica, e
apresentar o conceito de resistência térmica, que é similar a resistência em circuitos
elétricos.

3.1 Parede plana 1D


A temperatura só depende de uma coordenada Hipóteses:

ˆ Estado permanente

ˆ Sem geração de calor

Lei de Fourier, relação constitutiva, que relaciona temperatura com fluxo de calor.

dT
q00x = −k
dx

equação de conservação da energia


 
d dT
∇ · (k∇T ) = 0 em 1D k =0
dx dx

23
Figure 3.1: Condução 1D.

Se k = cte
d2 T d2 T
   
k =0→ =0
dx2 dx2
integrando
T (x) = c1 x + c2

utilizando as condições de contorno

x = 0 T = T1 ; x = L T = T2

obtém-se c1 = (T2 − T1 )/L e c2 = T1


substituindo

(T2 − T1 )
T (x) = x + T1
L
Para k = cte, q̇ 000 = 0, a temperatura varia linearmente.
A taxa de transferência de calor (fluxo)
dT k(T2 − T1 ) k(T1 − T2 )
qx00 = −k =− =
dx L L
Fluxo de calor
k(T1 − T2 )
q = qx00 A = A
L

24
Para condições de contorno por convecção, o fluxo de calor por condução é igual ao fluxo
de calor por convecção

Figure 3.2: Condução - convecção.

k(T1 − Ts )
= h(Ts − T∞ )
L
obtem-se
T1 + hL T
k ∞
Ts = hL
1+ k

3.1.1 Resistência térmica

Em analogia a resistência elétrica, podemos considerar uma resistência térmica.


Resistência elétrica (Lei de Ohm)

E1 − E2 V Tensão
Rele = = ≡
I I corrente
k(T1 − T2 )A
Na condução de calor, temos qx =
L
Resistência térmica por condução

T1 − T2 L
Rcond = =
qx kA

Similar para convecção: qx = hA(Ts − T∞ )

Ts − T∞ 1
Rconv = =
qx hA

25
Figure 3.3: Circuito térmico em serie

Circuito térmico equivalente (em serie)


T∞1 − T1 T1 − T2 T2 − T∞2
qx = 1 = L
= 1
h1 A kA h2 A

em termos da diferença de temperaturas globais (T∞1 − T∞2 )

T∞1 − T∞2 T∞1 − T∞2


qx = = 1 L
Rtot h1 A
+ kA + h21A

como o sistema esta em serie e a resistência total é a soma das resistências


X 1 L 1
Rtot = Rtermicas = + +
h1 A kA h2 A

Se a radiação é importante, uma resistência térmica para a radiação pode ser definida.

Ts − Tviz 1
Rrad = =
qrad hr A

onde
2
hr = σ(Ts + Tviz )(Ts2 + Tviz )

As resistências convectivas e devido a radiação em uma superfı́cie atuam em paralelo. Se


T∞ = Tviz , pode-se utilizar uma resistência combinada.

26
Parede composta

Figure 3.4: Parede composta

T∞1 − T∞2 T∞1 − T∞2


qx = =
Rtot 1
h1 A
+ kLAAA + kLbBA + 1
h2 A

Circuito térmico equivalente em paralelo

Figure 3.5: Circuito térmico em paralelo

kA (T1 − T2 ) kB (T1 − T2 ) T1 − T2
q = q A + qB = AA + AB = (kA AA + kB AB )
L L L
Resistência térmica em paralelo
T1 − T2 L 1 1 RA RB
Rpar = = = = =
q kA AA + kB AB kA AA kB AB 1 1 RA + RB
+ +
L L RA RB

27
Exemplo: Se a condutividade térmica dos materiais B, C e D diferem no valor em
forma apreciável, teremos um problema em 2D, neste caso não se aplica a técnica de
resistência térmica equivalente.

Resistência de contato

Em sistemas compostos, a queda de temperatura entre as interfaces do material pode ser


considerável. Essa mudança de temperatura é atribuı́da a resistência térmica de contato.

Figure 3.6: Resistência térmica de contato

00 TA − TB
Rt,c =
qx00

28
3.2 Coeficiente global (U)
Em sistemas compostos é conveniente utilizar um coeficiente global de transferência de
calor. Este coeficiente global esta associado a resistência térmica total. É muito utilizado
no estudo de trocadores de calor.

∆T
qx = U A∆T =
Rtot

onde
1
U=
ARtot
Exercı́cio: Uma área de uma parede composta com as dimensões apresentadas no es-
quema, apresenta temperaturas uniformes de 200 o C e 50 o C nas superfı́cies de esquerda
e da direita respetivamente. Se as condutividades térmicas dos materiais das paredes
forem kA = 70 W/mK, kB = 60 W/mK, kC = 40 W/mK e kD = 20 W/mK.
a) Determine o fluxo de transferência de calor por esta área da parede e as temper-
aturas nas interfaces.
b) Considere uma resistência de contacto Rcont = 0, 1 K/W nas duas interfaces.

29
3.3 Sistemas radiais

3.3.1 cascas cilı́ndricas

Muitos trocadores de calor são constituı́dos por cascas cilı́ndricas, como no caso do tro-
cador de calor conhecido como casco-tubo. Nestes casos, o fluxo de calor não se conserva
como ocorre na parede plana, visto que o gradiente de temperatura depende da posição
radial. Entretanto, a taxa de calor que atravessa a casca deve se conservar pela primeira
lei da termodinâmica.

Figure 3.7: Condução radial numa casca cilı́ndrica.

Considere uma casca cilı́ndrica de comprimento l; de raio interno ri e cuja superfı́cie


interna esteja a Ti . O raio externo é o ro e a temperatura da superfı́cie externa é To . O
fluxo de calor do lado interno é qi00 e do lado externo será o qo00 .
A taxa de calor pode ser calculada se for determinado o fluxo de calor do lado interno,
por exemplo. Esta taxa pode ser estimada como

q = 2πri lqi00 (3.1)

30
O fluxo de calor na direção radial pode ser obtido na forma:
 
00 dT
qi = −k (3.2)
dr r=ri
Pela equação de calor em coordenadas cilı́ndricas, estado permanente sem geração de
calor:  
1 d dT
r =0 (3.3)
r dr dr
sujeita as condições de contorno

T = Ti em r = ri

e
T = To em r = ro

a solução é obtida integrando duas vezes


dT dT C1
r = C1 → = → T = C1 ln(r) + C2
dr dr r
A equação deve satisfazer as condições de contorno

Ti = C1 ln(ri ) + C2

To = C1 ln(ro ) + C2

eliminando C2
Ti − To
C1 =
ln(ri /ro )
subtraindo  
r
T − Ti = C1 ln
ri
Assim, substituindo C1
ln(r/ri )
T (r) = Ti − (Ti − To ) (3.4)
ln(ro /ri )
O gradiente de temperatura pode ser obtido como
dT 1 Ti − To
= (3.5)
dr r ln(ri /ro )
Combinando as equações (3.1) e (3.2) obtém-se a taxa de calor na forma
k Ti − To Ti − To
qr00 = → q = 2πkl (3.6)
r ln(ro /ri ) ln(ro /ri )

31
Pela conservação do fluxo de calor

q = (2πri l)qi00 = (2πrl)qr00

E, portanto, a taxa do fluxo de calor em qualquer raio será


ri 00
qr00 = q (3.7)
r i
Analisando o circuito térmico equivalente
∆T ln(ro /ri )
Rter = =
q 2πkl
No caso de uma casca composta, por exemplo, de três camadas; um fluido escoando pelo
interior e outro fluido pela parte externa, o coeficente global (U ) pode ser expresso em
função da área interna ou externa.
Ti − To
q = Ui Ai (Ti − To ) = Uo Ao (Ti − To ) = (3.8)
Rt
A resistência térmica pode ser calculada como
1 ln(r1 /ri ) ln(r2 /r1 ) ln(ro /r2 ) 1
Rt = + + + + (3.9)
hi Ai 2πk1 l 2πk2 l 2πk3 l ho Ao
Pela combinação das Eqs. (3.8) e (3.9) pode-se demonstrar que
1 1 ri ln(r1 /ri ) ri ln(r2 /r1 ) ri ln(ro /r2 ) 1 ri
= + + + + (3.10)
Ui hi k1 k2 k3 ho ro

1 1 ro ro ln(r1 /ri ) ro ln(r2 /r1 ) ro ln(ro /r2 ) 1


= + + + + (3.11)
Uo hi ri k1 k2 k3 ho
As áreas das superfı́cies interna e externa da casca são definidas por

Ai = 2πri l; Ao = 2πro l

3.3.2 Cascas esféricas

A geometria esférica, pode ser analisada de maneira similar, por notar que quando a tem-
peratura das superfı́cies interna e externa são isotérmicas Ti , To ), a temperatura dentro
da casca pode variar apenas radialmente. Neste caso a equação que rege o problema,
 
1 d 2 dT
r =0 (3.12)
r2 dr dr

32
Figure 3.8: Casca cilı́ndrica composta com transferência convectiva em ambos os lados.

sujeita as condições de contorno

T = Ti em r = ri

e
T = To em r = ro

Multiplicando a Eq. (3.12) por r2 dr e integrando uma vez resulta


dT dT C1
r2 = C1 ou = 2
dr dr r
integrando
C1
T (r) = − + C2 (3.13)
r
A restrição das condições de contorno
C1 C1
Ti = − + C2 ; To = − + C2 (3.14)
ri ro
eliminando C2
ri ro (Ti − To )
C1 =
ri − ro

33
Figure 3.9: (a) Esfera oca; (b) Esfera multi-camadas.

Subtraindo a eq. (3.14.a) de (3.13) e pelo uso de C1


 
ro r − ri
T (r) − Ti = (Ti − To ) (3.15)
ri ri − ro
da qual se se obtém o gradiente de temperatura e a taxa do fluxo de calor qi00 definidos
respetivamente por  
dT ri ro Ti − To
= 2 (3.16)
dr r ro − ri
   
dT ro Ti − To
qi00 = −k =k (3.17)
dr r=ri ri ro − ri
O fluxo de calor pode ser obtida multiplicando a taxa do fluxo pela área de troca, no
caso de uma esfera, Ai = 4πri2 , resultando
 
Ti − To
q = 4πkro ri (3.18)
ro − ri
da equação anterior, a resistência térmica por condução da casca esférica é
 
∆T 1 1 1 1 (ro − ri )
Rt = = − = (3.19)
q 4πk ri ro 4πk ro ri
Resistência térmica por convecção

qconv = 4πro2 h(To − T∞ )

34
∆T 1 1
Rconv = = =
4πro2 h(To − T∞ ) 2
4πro h Ah

35
3.4 Condução de calor com geração interna de calor
Há casos que ocorre geração interna de calor no interior do objeto, por exemplo, por
efeito Joule em fios condutores de eletricidade.

3.4.1 Parede plana com geração interna

O campo de temperaturas pode ser obtido da equação:

d2 T q 000
+ =0
dx2 k

com as condições de contorno


x = −L, T = T1

x = L, T = T2

integrando
q 000 2
T (x) = − x + c1 x + c2
2k
com as condições de contorno

T2 − T1 q 000 2 T1 + T2
c1 = ; c2 = L +
2L 2k 2

36
assim
q 000 L2 x2
 
T2 − T1 x T1 + T2
T (x) = 1− 2 + +
2k L 2 L 2
temos

1. Se T1 > T2

2. Se T1 = T2
q 000 L2 x2
 
T (x) = 1− 2 + T1
2k L

Temperatura máxima Tmax

q 000 L2
 
∂T ∂T 2x T2 − T1 T2 − T1 k
=0→ = − 2 + =0→x=
∂x ∂x 2k L 2L 2L q 000

Considerando um fluxo de calor por convecção nas laterais T1 = T2 = Ts

dT
k = h(Ts − T∞ ) em x = −L
dx
dT
−k = h(Ts − T∞ ) em x = L
dx
partindo da solução
q 000 L2 x2
 
T (x) = 1 − 2 + Ts
2k L
obtém-se
dT q 000
k = q 000 L = h(Ts − T∞ ) → Ts = + T∞
dx x=L hL
assim
q 000 L2 x2 q 000 L
 
T (x) = 1− 2 + + T∞
2k L h

3.4.2 Sistemas radiais com geração de calor

No caso de um sistema cilı́ndrico sólido, a distribuição de temperaturas pode ser obtido


da equação:
1 ∂T ∂ 2T 1 ∂T 1 ∂ 2T ∂ 2T q 000
= + + + +
α ∂t ∂r2 r ∂r r2 ∂θ2 ∂z 2 k
∂() ∂()
Para estado permanente e simetria axial =0e =0
∂θ ∂z

37
∂ 2T 1 ∂T q 000
+ + =0
∂r2 r ∂r k

ou
q 000
 
1 d ∂T
r + =0
r dr ∂r k
Separando variáveis e integrando

q 000 2
T (r) = − r + c1 ln(r) + c2
4k

Com as condições de contorno

dT
T (r0 ) = Ts , e = 0 simetria
dr r=0

substituindo
q 000 r02
c1 = 0, c2 = Ts +
4k
assim,
2 !
q 000 r02

r
T (r) = 1− + Ts
4k r0

Temperatura adimensional

q 000 r02
para r = 0 → T0 − Ts =
4k

38
2 !
q 000 r02

r
e T (r) − Ts = 1−
4k r0
Assim, pode-se definir uma temperatura adimensional
 2 !
T (r) − Ts r
θ(r) = = 1−
T0 − Ts r0

Fluxo de calor por convecção, na superfı́cie externa (r = r0 ):


dT
−k = h(Ts − T∞ )
dr r=r0

Para determinar Ts , energia gerada é igual a energia que sai pela superfı́cie exterior por
convecção
q 000 vol = Ah(Ts − T∞ )

vol = πr02 L, A = 2πr0 L

substituindo e colocando em evidencia Ts


q 000 r0
Ts = + T∞
2h
assim 2 !
q 000 r02 q 000 r0

r
T (r) = 1− + + T∞
4k r0 2h
Temperatura máxima, acontece em r = 0
q 000 r02 q 000 r0
Tmax = + + T∞
4k 2h
ou
Tmax q 000 r02 q 000 r0
= + +1
T∞ 4k 2h
Para um cilindro oco, com fonte de calor uniformemente distribuı́da.
Com as condições de contorno

T = Ti em r = ri superfı́cie interna

T = T0 em r = r0 superfı́cie externa

A distribuição da temperatura é dada


q 000 2  ln(r/r0 ) q 000 2
 
2 2

T (r) = T0 + r −r + r − r + T0 − Ti
4k 0 ln(r0 /ri ) 4k 0

39
3.4.3 Corpo esférico sólido

A equação governante
q 000
 
1 d 2 ∂T
r ++ =0
r2 dr ∂r k
com as condições de contorno
dT
= 0 em r = 0
dr
dT
−k = h(Ts − T∞ ) em r = r0
dr
assim 2 !
q 000 r02 q 000 r0

r
T (r) = 1− + + T∞
6k r0 3h

Exercı́cios
1) Duas grandes placas de aço a temperaturas de 90 o C e 70 o C estão separadas por
uma barra de aço de 0, 3 m de comprimento e 2, 5 cm de diâmetro. A haste é soldada em
cada placa. O espaço entre as placas é preenchido com isolamento que também isola a
circunferência da haste. Devido a uma diferença de tensão entre as duas placas, a corrente
flui através da haste, dissipando a energia elétrica a uma taxa de 12 W . Determine a
temperatura máxima na haste e a taxa de fluxo de calor em cada extremidade. Verifique
os resultados comparando a taxa de fluxo de calor lı́quido nas duas extremidades com a
taxa total de geração de calor. q1 = −4, 6 W, q2 = 7, 4 W

2) Um termopar soldado em suas extremidades com uma emissividade de 0, 8, é


utilizado para medir a temperatura de um gás transparente, que passa por um grande
duto no qual as temperaturas das paredes estão a 227o C. A temperatura indicada pelo

40
termopar é de 527o C. Se o coeficiente de transferência de calor por convecção entre a
superfı́cie do termopar e o gás h é de 140 W/m2 K. Estime a temperatura real do gás.
Tg = 640o C

3.5 Raio critico


Uma aplicação do conceito de resistência térmica é a determinação da espessura anular
que deve ser aplicada sobre a superfı́cie externa de uma parede cilı́ndrica.
A função da camada isolante é reduzir a taxa total de transferência de calor entre o
corpo interno e o fluido ambiente a T∞ , e coeficiente de convecção h.
Circuito térmico
A taxa total de transferência de calor

Ti − T∞
q=
Rt

A resistência térmica
ln(r0 /ri ) 1
Rt = +
2πkL 2πr0 Lh
Para h e k cte. Rt será uma função do raio externo r0 . Quando a resistência térmica

alcançar um mı́nimo a taxa de calor atingira um máximo.

41
quando é máximo ou mı́nimo ?
dRt
=0
dr0
dRt 1 1
= −
dr0 2πkLr0 2πr02 Lh
para se obter o ponto de máximo ou mı́nimo

dRt k
= 0 → r0,cr =
dr0 h

que leva ao resultado de raio critico de isolamento.

ˆ Se Rt é mı́nimo q → máximo

ˆ Se Rt é máximo q → mı́nimo

quando é mı́nimo ou máximo?


d2 Rt d2 Rt
é máximo se < 0 e é mı́nimo se > 0.
dr02 dr02
Assim  
dRt 1 1 1
= −
dr0 2πL kr0 hr02
e
d2 Rt
 
1 1 2
2
= − 2+ 3
dr0 2πL kr0 hr0
k
para r0 = h
h2 2h2
 
d2 Rt 1
dr02
= − 3+ 3
2πL k k
2
1 h2
 
1 h 1 2
= − + = >0
2πL k 2 k k 2πL k 3
d2 Rt k
assim 2
> 0, então em r0,cr = , Rt é mı́nimo.
dr0 h
Se Rt é mı́nimo q → máximo.

ln(k/hri ) + 1
Rt,min =
2πkL
ln(r0 /ri ) 1
Rt,cond = , Rt,conv =
2πkL 2πr0 Lh
k
Conclui-se que, r0,cr = , não é um ótimo, é melhor pensar em termos de um raio critico
h
de isolamento.

42
Exemplo: k ≈ 0.03 W/mK, h ≈ 10 W/m2 K (convecção natural), o raio critico rc =
k/h = 0, 003 m = 3 mm.
Os efeitos do raio critico só são importantes para dimensões pequenas do raio, no caso
fios.
Para fios elétricos, o revestimento funciona como um dissipador de calor, assim é de
interesse que se ri < r0,c , se escolha uma espessura de revestimento tal que r0 = r0,c .
Para uma esfera
2k
r0,c =
h

Exercı́cio:
1) Determine o raio critico para um tubo com asbesto, com k = 0, 208 W/mK, e
o coeficiente de convecção externo é de h = 8, 51 W ?m2 K. O sistema ri = 1, 3 cm,
Ti = 121 o C e T∞ = 21 o C. Qual o raio do isolamento mı́nimo?
rc = 2, 44 cm, rmin ≈ 5, 5cm.
2) Um recipiente metálico esférico de paredes finas com um diâmetro de 0, 5 m, é
utilizado para armazenar nitrogénio lı́quido a 77 K, é coberto com um sistema de isola-
mento de pó de silicia ( k = 0, 0017 W/mK) com 25 mm de espessura, está exposta ao
ar ambiente a 300 K. Considerando que o calor latente de vaporização hf g do nitrogénio
lı́quido é de 2 × 103 J/kg, e o coeficiente de convecção sobre a superfı́cie externa é de
20 W/m2 K. Determine a taxa de evaporação do nitrogénio por hora. ṁ = 23, 4 kg/h.

43
Capı́tulo 4

Superfı́cies estendidas

No projeto de trocador de calor, muitas vezes se torna necessário melhorar a eficiência


do processo de troca, bem como aumentar a troca de calor.
Como aumentar a Transferência de calor numa superfı́cie com convecção ?
Pela lei de resfriamento de Newton:

q = hA(Ts − T∞ )

ˆ h limitado pelo escoamento.

ˆ T∞ limitado pelas condições de ambientais.

ˆ Aumentar a área de troca A, é uma opção interessante. Devido as limitações de


tamanho, por exemplo, uma forma de aumentar a superfı́cie de troca é pelo uso de
aletas, que são superfı́cies estendidas a partir de uma área base. As aletas tem as
mais variadas formas.

Uma superfı́cie estendida (Aleta) aumenta a área.

Cálculo do calor retirado por uma superfı́cie com aleta


A taxa de calor através da superfı́cie sem aletas pode ser calculada por:

q0 = hA0 (Tb − T∞ )

A taxa de calor na superfı́cie aletada (com aletas) é q. O objetivo é ter que q > q0 .

44
Figure 4.1: Configurações de aletas

45
A taxa de calor para a superfı́cie aletada será estimada como

q = qb00 A0,f + hA0,u (Tb − T∞ )

onde A0,f : área total projetada da aleta na superfı́cie base, A0,u é a área da superfı́cie
base sem aletas. A0 = A0,u + A0,f e qb00 é o fluxo de calor médio através da base de uma
aleta.
Uma maneira de medir a melhoria da troca de calor é através da definição “ efetividade
global da área projetada” da aleta.

q q q com aleta
ε= = =
q0 hA0 (Tb − T∞ ) q sem aleta

Aletas de seção transversal constante O fluxo de calor na base da aleta

dT
qb00 = −k
dx x=0

assim precisa conhecer a distribuição de temperatura ao longo da aleta


Balanço de energia em um volume diferencial V ol = dxAc.
Condução nas faces do volume diferencial:

dT
qx = −kAc
dx x
   
dT dT d dT
qx+dx = −kAc = −kAc + dx
dx x+dx dx dx dx

46
Convecção:
qconv = hP dx(T (x) − T∞ )

onde P é o perı́metro.
Fazendo o balanço da energia no volume diferencial
   
dT dT d dT
−kAc = −kAc + dx + hP dx(T (x) − T∞ )
dx x dx dx dx
simplificando:
d2 T hP
2
− (T (x) − T∞ ) = 0
dx kAc
Balanço do fluxo de calor por condução e convecção.
 1/2
hP
Definindo: θ = T (x) − T∞ e m = .
k Ac
A equação diferencial pode ser reescrita como:
d2 θ
− m2 θ = 0
dx2
Condições de contorno:
para x = 0, θ = θ0 = Tb − T∞

47
A outra condição de contorno depende das condições fı́sicas, estas poderiam ser:

ˆ caso 1: a aleta é muito comprida, então pode-se supor que T = T∞ para x = L.


dT
ˆ caso 2: o comprimento L é finito e a área para x = L é isolado. = 0 em x = L.
dx
ˆ caso 3: o comprimento L é finito e tem perda por convecção na parte transversal.

ˆ caso 4: θ = θL temperatura prescrita.

A solução geral da equação diferencial tem a forma

θ = C1 e−mx + C2 emx

Para o caso 1
Cond. de contorno: para x = 0 θ = θ0 x = ∞ θ = 0.
Assim
para x = 0 θ0 = C1 + C2
C1
para x = ∞ 0 = ∞ + C2 e∞ → C2 = 0 e C1 = θ0 .
e
logo:

48
θ(x)
θ(x) = θ0 e−mx ou = e−mx
θ0
isto é
T (x) − T∞
= e−mx
Tb − T∞
A temperatura decai exponencialmente da base para a ponta.
Uma aleta é considerada longa quando seguinte restrição é satisfeita:

tanh(mL) >> 0, 99, ou mL ≥ 2, 65

A taxa de calor na base

dT
qb00 = −k = kmθ0 e−mx |x=0 = kmθ0
dx x=0

Assim  1/2
hP
qb = qb00 Ac = kAc θ0 = (hP kAc )1/2 θ0
k Ac
que mostra como os parâmetros afetam a troca de calor.
Outra forma alternativa para calcular a perda de calor por convecção na aleta
Z L Z L Z L Z L
−mx
qb = hP (T − T∞ )dx = hP θdx = hP θ0 e dx = hP θ0 e−mx dx
o 0 0 0
  L
−1 −mx −hP θ0 −mL
qb = hP θ0 e = [e − em0 ]
m 0 m
como L → ∞
hP θ0
qb = = (hP kAc )1/2 θ0
m
Para o caso 2: aleta de comprimento finito com a ponta isolada.
Muitos projeto não satisfazem o critério de aleta longa, portanto a aleta deve ser
considerada de comprimento finito.
Antes do caso geral, é considerar a aleta com ponta isolada.

dT dθ
= 0 ou =0
dx x=L dx x=L

da solução geral da equação diferencial

θ = C1 e−mx + C2 emx , θ = T (x) − T∞

49
para x = 0, θ = θ0 = Tb − T∞
θ0 = C1 + C2

para x = L, =0
dx

= −mC1 e−mx + mC2 emx
dx
para x = L

= m[−C1 e−mL + C2 emL ] = 0
dx
isto é
C1 e−mL = C2 emL → C1 = C2 e2mL

e
θ0 = C2 (e2mL + 1)

assim
θ0 θ0 e2mL θ0
C2 = 2mL
, C1 = 2mL
= −2mL
e +1 e +1 e +1
finalmente
θ e−mx emx
= −2mL + 2mL
θ0 e +1 e +1
usando funções hiperbólicas
ex − e−x ex + e−x
senhx = , coshx =
2 2
senhx ex − e−x
tanhx = = x
coshx e + e−x
a solução é dada por:
θ cosh(m(L − x))
=
θ0 cosh(mL)
usa-se a expressão
ex + e−x 1 + e−2x
coshx = =
2 2e−x
A temperatura na ponta da aleta
1
θ(L) = θ0
cosh(mL)
A taxa de calor através da base da aleta
 
dT
qb = Ac −k = θ0 (kAc P H)1/2 tanh(mL)
dx x=0
Aplicação para modelar o fluxo de calor em coletores solares

50
caso 3 Transferência de calor por convecção na ponta

A condição de contorno em x = L

− = hθ
dx x=L

A solução da equação geral com as condições de contorno é da forma


θ cosh(m(L − x)) + (h/mk)senh(m(L − x))
=
θ0 cosh(mL) + (h/mk)senh(mL)
Para o fluxo de calor
 
dθ senh(mL) + (h/mk)cosh(mL)
qb = Ac −k = θ0 (kAc hP )1/2
dx x=0 cosh(mL) + (h/mk)senh(mL)
Uma forma alternativa para o calculo da taxa de calor.
A taxa de calor na base pode ser estimada da mesma forma que aleta de ponta isolada,
porem corrigindo o comprimento.
 
dT
qb = Ac −k = θ0 (kAc P h)1/2 tanh(mLc )
dx x=0

51
onde o comprimento corrigido Lc , é dado por

Ac
Lc = L +
P

Para uma aleta plana de espessura t e largura b

Ac = b t, e P = 2(t + b) ≈ 2b

assim
t
Lc = L + aleta plana
2
 1/2
ht
o erro que resulta dessa aproximação é inferior a 8 % quando ≤ 1/2.
2k
Para uma aleta de seção cilı́ndrica de diâmetro D constante, tem-se

D
Lc = L +
4

caso 4 quando θ(L) = θL

θ (θL /θ0 )senh(mx) + senh(m(L − x))


=
θ0 senh(mL)

e
cosh(mL) − (θL /θ0 )
qb = M
senh(mL)
onde M = θ0 (kAc P h)1/2 .

ex − e−x ex + e−x
senh(x) = , cosh(x) = ,
2 2

52
Exercicio:
Um dispositivo experimental que produz calor em excesso é resfriado passivamente.
A adição de aletas de pino ao invólucro deste dispositivo está sendo considerada para
aumentar a taxa de resfriamento. Considere uma aleta de pino de cobre de 0, 25 cm de
diâmetro que se projeta de uma parede a 95o C para o ar ambiente a 25o C, conforme
mostrado na Fig. A transferência de calor é principalmente por convecção natural com
um coeficiente igual a 10 W/m2 K. Calcule a perda de calor, assumindo que (a) a aleta é
“infinitamente longa” e (b) a aleta tem 2, 5 cm de comprimento e o coeficiente no final é o
mesmo que em torno da circunferência. Finalmente, (c) qual o comprimento que a aleta
teria que ter para que a solução infinitamente longa fosse correta em 5%? Considere a
condutividade de cobre k = 396 W/mK.

4.1 Aletas com área de seção transversal não uni-


forme
A analise do comportamento térmico de aletas se torna mais complexo, já que a seção
transversal varia Ac = 2πrt, sendo r variável. A área superficial As = 2π(r2 − ri2 ).
Fazendo um balanço de energia

qr = qr+dr + qconv

onde
dT dqr
qr = −k2πrt , qr+dr = qr + dr qconv = 2(2πrdr)h(T − T∞ )
dr dr

53
 2 
dqr dT dT
= −k2πt r 2 +
dr dr dr
Substituindo, a equação geral se reduz
d2 T 1 dT 2h
2
+ − (T − T∞ ) = 0
dr r dr kt
 1/2
2h
com m = e θ = T − T∞ . assim
kt

d2 θ 1 dθ
+ − m2 θ = 0
dr2 r dr
A solução geral tem a forma

θ(r) = C1 I0 (mr) + C2 K0 (mr)

onde I0 e K0 são funções de Bessel modificadas de ordem zero.


Condições de contorno

ˆ para r = r1 θ(r1 ) = θb

ˆ e se for isolado para r = r2 =0
dr
a distribuição da temperatura tem a forma
θ I0 (mr)K1 (mr2 ) + K0 (mr)I1 (mr2 )
=
θb I0 (mr1 )K1 (mr2 ) + K0 (mr1 )I1 (mr2 )
onde I1 e K1 são funções de Bessel modificadas de primeira ordem.
Para a aleta
dT dθ
qb = −kAc = −k2πr1 t
dr r=r1 dr r=r1

54
K1 (mr1 )I1 (mr2 ) − I1 (mr1 )K1 (mr2 )
qb = 2πkr1 tθb m
K0 (mr1 )I1 (mr2 ) + I0 (mr1 )K1 (mr2 )
Este resultado pode ser utilizado para uma condição de convecção na extremidade (r =
r2 ) desde que o raio da extremidade r2 seja substituido por um raio corrigido com a forma
de
t
r2c = r2 +
2

Exercı́cio
Qual é a taxa de transferência de calor por metro de tubo com 12 aletas?
T∞i = 90 o C, T∞e = 20 o C, hi = 1200 W/m2 K, he = 5 W/m2 K, k = 54 W/mK,
N = 12.

55
4.2 Seleção e projeto de aletas
O objetivo da aleta é aumentar a transferência de calor de um corpo para um fluido.
Da tabela (4.1) fica evidente que o uso de aletas é maior quando o fluido é um gás, e a
transferência de calor na superfı́cie é por convecção natural. Se aletas devem ser usadas
em uma superfı́cie que separa um gás de um liquido, elas geralmente são instaladas no
lado gás.

Eficiência de aleta (ηa )


Define-se a eficiência da aleta como a razão entre a taxa real de calor transferido e a
máxima taxa que uma aleta poderia transferir. 0 < ηa < 1.0.

qb Taxa real de transferência de calor


ηa = =
hP Lθb Máxima taxa de transferência de calor

onde θb = Tb − T∞ .
A máxima taxa é quando toda a superfı́cie da aleta está na temperatura da base
θ(L) = θb .

Para uma aleta de secção transversal retangular de comprimento L, espessura t e no


extremo isolado
   1/2
dT 1/2 hP
qb = A c −k = θb (kAc hP ) tanh(mL), m=
dx x=0 kAc

qb qb θb (kAc hP )1/2 tanh(mL) tanh(mL)


ηa = = = =
hAa θb hP Lθb hP Lθb mL

56
onde Aa = P L, a área superficial da aleta sem considerar a área do extremo.
Aleta com convecção na ponta.
Se uma aleta retangular é comprida, larga e fina P/Ac ≈ 2/t e a perda de calor na
aleta pode ser calculada aproximando

Ac t
Lc = L + ≈L+
P 2
D
Lc = L + , (aleta cilindrica )
4
Aproximando Ap = Lc t, área corregida do perfil da aleta
 1/2  1/2
2h 2h
mLc ≈ Lc ≈ Lc3/2 .
kt kAp

Assim, a eficiência para uma aleta com convecção na ponta pode ser aproximada
como:
tanh(mLc )
ηa =
mLc
O erro que resulta desta aproximação será menor que 8% quando
 1/2
ht 1

2k 2

57
4.2.1 Efetividade da aleta (εa )

Razão entre a taxa de transferência de calor da aleta e a taxa de transferência de calor


que existiria sem a presença da aleta.

qb Taxa total de transferência de calor da aleta


εa = =
hAc θb Taxa de transferência de calor na ausença da aleta

isto é εa > 1 para aumentar a taxa de transferência de calor.


Só se justifica quando εa > 2.

Efetividade global
Uma maneira de medir a melhoria da troca de calor sobre uma superficie, é através
da definição de “ Efetividad global da área projetada” da aleta

q q q q com aletas
ε= = = =
q0 hA0 (Tb − T∞ ) hA0 θb q sem aletas

onde
q. = qb00 A0,f + hA0,u θb
q 00 A0,f
onde A0 = A0,f + A0,u como εa = b .
hA0,f θb

Assim,
εa A0,f A0,u
ε= +
A0 A0

58
Table 4.1: Processo de convecção
h(W/m2 K)
gás lı́quido
convecção natural 2-25 50-1000
convecção forçada 25-250 50-20000

Eficiência global da superfı́cie (η0 ) A eficiência global da superfı́cie (η0 ) carateriza


um conjunto de aletas e a superfı́cie base na qual ele está fixado.
qt qt
η0 = =
qmax hAt θb
qt é a taxa total de transferência de calor na área superficial.

At = N Aa + Ab , N : número de aletas

A taxa total de transferência de calor por convecção das aletas e da superfı́cie sem aletas

qt = N ηa hAa θb + hAb θb

qt = h[N ηa Aa + (At − N Aa )]θb


N Aa
qt = hAt [1 − (1 − ηa )]θb
At
substituindo
N Aa
η0 = [1 − (1 − ηa )]
At
Assim, tendo η0 , pode-se calcular a taxa de transferência de calor total

qt = η0 h At θb

Em função da resistência térmica


Resistência térmica de uma aleta
θb
Rt,a =
qb
Resistência térmica da base sem aleta
θb
Rt,b =
hAc θb

59
pela definição da efetividade da aleta

qb θb /Rt,a Rt,b
εa = = =
hAc θb θb /Rt,b Rt,a

Assim, para aumentar εa é necessário reduzir Rt,a .


Para o conjunto de aletas
θb 1
Rt,0 = =
qt η0 hAt
na pratica, em trocadores industriais, as aletas podem muitas vezes, ser utilizadas em
ambos os lados da superfı́cie de transferência.
Com base na superficie externa total, parede tubular

1
U0 = .
1 A0
+ Rk +
ηt0 h0 ηti Ai hi
A eficiência de aletas 2D, podem ser obtidas de gráficos.

Figure 4.2: Eficiência de aletas retas com perfil retangular, triangular e parabólico

60
Figure 4.3: Eficiência de aleta anular com perfil retangular,

Exercı́cio
Para aumentar a dissipação de calor de um tubo de 2, 5 cm de diâmetro externo, aletas
circunferenciais de alumı́nio (k = 200 W/mK)são soldadas na superfı́cie externa. As
aletas são de 0, 1 cm de espessura e tem um diâmetro externo de 5, 5 cm. Se a temperatura
do tubo é 100 o C, a do ambiente 25 o C e o coeficiente de transferência de calor por
convecção entre as aletas e o ambiente é de 65 W/m2 K. Calcule a taxa de perda de calor
de uma aleta.

Exercı́cio
O cilindro do pistão do motor de uma motocicleta é construido em liga de alumı́nio,
tendo uma altura H = 0, 15 m e um diâmetro externo D = 50 mm. Sob condições tı́picas
de operação, a superfı́cie externa do cilindro está a uma temperatura de 500 K e encontra-
se exposto ao ar ambiente a 300 K, com um coeficiente convectivo de 50 W/m2 K. Aletas
anulares são fundidas integralmente com o cilindro para aumentar a transferência de calor
para a vizinhança. Considere cinco destas aletas, com espessura t = 6 mm, comprimento

61
L = 20 mm e igualmente espaçadas. Qual é o aumento na taxa de transferência de calor
devido ao uso das aletas?

Exercı́cio
Um fluxo continuo de ar frio a 10 o C, é dirigido sobre uma placa plana que esta à
160 o C. A distribuição de temperaturas no ar, em uma posição x0 ao longo da placa,
segue a relação mostrada:
P rU∞ y
T (y) − Ts −
=1−e ν
T∞ − Ts

onde y é a distancia perpendicular à superfı́cie e U∞ = 0, 08 m/s é a velocidade externa


do ar.
Calcule o fluxo de calor para a posição x0 , bem como o coeficiente de troca de calor
por convecção. P r = 0, 7 e ν = 20, 9 × 10−6 m2 /s.

62
Capı́tulo 5

Analise numérico

Solução analı́tica : existem soluções fechadas para alguns problemas com determi-
nadas geometrias e condições de contorno, mas em aplicações praticas na Engenharia,
os problemas de condução de calor não tem solução analı́tica, devido a complexidade da
geometria e condições de contorno. Para estes casos utiliza-se os métodos numéricos que
aproximam a solução.
Principais métodos:

ˆ Método das diferenças finitas (MDF)

ˆ Método dos volumes finitos (MVF)

ˆ Método dos elementos finitos (MEF)

ˆ Método dos elementos de contorno

ˆ Método de transformada integral (semi-analı́tico), etc.

As equações diferenciais de maior interesse na transferência de calor:

ˆ Equação de Laplace
∇2 T = 0

ˆ Equação de Poisson
Q
∇2 T + =0
k

63
Solução analı́tica: permite determinar a temperatura em qualquer ponto do domı́nio
T (x, y), é uma solução continua.
Aproximação numérica: permite determinar a temperatura em pontos discretos do
domı́nio T (xi , yi ).

Discretização do domı́nio
Primeiro passo em uma analise numérica, é discretizar o domı́nio, em pontos nodais,
volumes ou elementos. Este processo é chamado de geração da malha, ou seja obter as
coordenadas espaciais dos pontos nodais (xi , yi ), i = 1, .., n

Método das diferenças finitas


Para a equação de Laplace em 2D

∂ 2T ∂ 2T
∇2 T = + =0
∂x2 ∂y 2

A discretização e aproximação para as derivadas será feita em cada nó interno da malha

Método dos Volumes finitos


Para a equação de Laplace em 2D, na forma integral
Z Z
∇ · (k∇T )dv = k∇T · ndS = 0
V S

as variáveis estão localizadas no centro do volume.

64
Método dos elementos finitos
Para a equação de Laplace em 2D, na forma integral
Z Z Z
∇ · (k∇T )wdv = k∇T · ∇wdV − kw∇T · ndS = 0
V V S

a integral é realizada no elemento, as variáveis estão localizadas nos nós.

5.1 Equações diferenciais parciais


Equações diferenciais lineares de segunda ordem
Forma geral para duas variáveis independentes:

∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
A 2 +B +C 2 +D =0 (5.1)
∂x ∂x ∂y ∂y

onde A, B e C são funções de x e y, e D é função de x, y, u, ∂u/∂x e ∂u/∂y. Dependendo


dos valores dos coeficientes A, B e C as E.D.P. de segunda ordem são classificadas em:
Elı́pticas, hiperbólicas e parabólicas, de acordo com o valor da expressão c = B 2 − 4AC

65
ˆ c < 0 → equações elı́pticas

∂ 2u ∂ 2u
+ =0 Equação de laplace (estado permanente)
∂x2 ∂y 2

∂ 2u ∂ 2u
+ = f (x, y) Equação de Poisson
∂x2 ∂y 2

ˆ c > 0 → equações hiperbólicas

∂ 2u 1 ∂ 2u
= Equação da onda (unidimensional)
∂x2 v 2 ∂t2

ˆ c = 0 → equações parabólicas

∂ 2u ∂u
k 2
= Equação de condução de calor (unidimensional)
∂x ∂t

Soluções analáticas: Método de separação de variáveis, e uso das transformadas de Fourier


e laplace.
Aproximações numéricas: discretização → diferenças finitas, volumes finitos e ele-
mentos finitos.

5.2 Série de Taylor


Se a função f (x) for conhecida e suas n + 1 derivadas são continuas no intervalo [x0 , x],
ela pode ser escrita em termos de uma série de Taylor, finita.

f 00 (x0 ) f 000 (x0 )


f (x) = f (x0 ) + (x − x0 )f 0 (x0 ) + (x − x0 )2 + (x − x0 )3 + ...
2! 3!
f (n) (x0 ) (5.2)
+(x − x0 )n + R(x)
n!
= pn (x) + R(x)

O resto R(x) é dado por:

f (n+1) (ξ)
R(x) = (x − x0 )n+1 , sendo x0 < ξ < x (5.3)
(n + 1)!

A série de Taylor fornece meios para aproximar o valor de uma função em um ponto em
termos do valor da função e de suas derivadas num outro ponto.

66
ˆ Aproximação de ordem zero:

f (xi+1 ) ≈ f (xi ) (5.4)

ˆ Aproximação de primeira ordem:

f (xi+1 ) ≈ f (xi ) + (xi+1 − xi )f 0 (xi ) (5.5)

ˆ Aproximação de segunda ordem:


f 00 (xi )
f (xi+1 ) ≈ f (xi ) + (xi+1 − xi )f 0 (xi ) + (xi+1 − xi )2 (5.6)
2!

ˆ Aproximação de ordem n:
f 00 (xi ) f (n) (xi )
f (xi+1 ) ≈ f (xi )+(xi+1 −xi )f 0 (xi )+(xi+1 −xi )2 +...+(xi+1 −xi )n +Rn
2! n!
(5.7)
sendo
f (n+1) (ξ)
Rn = (xi+1 − xi )n+1 (5.8)
(n + 1)!
ˆ para pontos igualmente espaçados, define-se h = xi+1 − xi
f 00 (xi ) f (n) (xi )
f (xi+1 ) ≈ f (xi ) + hf 0 (xi ) + h2 + ... + hn + Rn (5.9)
2! n!

5.3 Diferenciação numérica


Na pratica nem todas as derivadas são necessárias (geralmente somente a primeira e a
segunda) derivam-se formulas de aproximação das primeiras derivadas, denominadas ”

67
diferenças aproximadas”. Essas diferenças aproximadas e seus respectivos erros podem
ser obtidos utilizando-se a expansão de Taylor como mostrado a seguir: Consideremos

inicialmente a diferença aproximada para primeira derivada. Sendo fi0 = f 0 (xi ) função
fi = f (xi ) e fi+1 = f (xi+1 ), a expansão de Taylor de fi+1 em torno de xi é:

h2 00 h3 000 h4 0000
fi+1 = fi + hfi0 + f + fi + fi + ... (5.10)
2 i 6 24

isolando fi0 , tem-se:


fi+1 − fi h 00 h2 000
fi0 = − fi − fi − ... (5.11)
h 2 6
que pode ser reescrita como
fi+1 − fi
fi0 = +E (5.12)
h
onde o primeiro termo é chamado de ” diferença aproximada progressiva” e E é o
erro de truncamento representado pelo seu termo dominante, ou seja:

h
E ≈ − fi00 (5.13)
2

Assim o erro é aproximadamente proporcional ao valor de h, e à segunda derivada.


Os demais termos decrescem mais rapidamente como o valor de h, e portanto não são
dominantes no valor do erro.
A ”diferença aproximada regressiva” é obtida de forma similar escrevendo-se a ex-
pansão de Taylor em torno de fi−1 :

h2 00 h3 000 h4 0000
fi−1 = fi − hfi0 + f − fi + fi + ... (5.14)
2 i 6 24

68
isolando fi0 , a diferença aproximada regressiva vale:
fi − fi−1
fi0 = +E (5.15)
h
onde
h 00
E≈ f (5.16)
2 i
A diferença aproximada central é obtida subtraindo-se as expressões das expansões de
Taylor de fi+1 e fi−1 , descritas acima respectivamente. Obtem-se:
1
fi+1 − fi−1 = 2hfi0 + h3 fi000 + ... (5.17)
3
Note que fi00 foi automaticamente eliminado. Isolando-se fi0 , tem-se:
fi+1 − fi−1
fi0 = +E (5.18)
2h
onde
h2 000
E≈− f (5.19)
6 i
Portanto o erro depende de h2 . Dessa forma, a formula de diferença aproximada central
é mais precisa do que as diferenças regressivas e progressivas na aproximação da primeira
derivada.
No entanto, se mais pontos estão disponı́veis, formulas mais precisas podem ser de-
duzidas para a primeira derivada.
Diferenças aproximadas para a segunda derivada podem ser obtidas da mesma forma.
Assim pode se obter fi00 em função de fi+1 , fi , fi−1 . Somando as expansões de taylor de
fi+1 e fi−1 tem-se:
h4 0000
f−+1 − 2fi + fi−1 = h2 fi00 + f + ... (5.20)
12 i
e portanto a diferença central aproximada de fi00 é igual à:
fi+1 − 2fi + fi−1
fi00 = +E (5.21)
h2
onde
h2 0000
E ≈ − fi (5.22)
12
No caso de derivadas parciais, segue-se o mesmo raciocı́nio. Considerando a função bi-
dimensional f (x, y), a diferença aproximada da derivada parcial com relação à x por

69
exemplo, pode ser derivada fixando y igual a constante y0 e considerando f (x, y0 ) como
uma função uni-dimensional. Assim, as diferenças aproximada progressiva, central e
regressiva são iguais a:

∂f f (x0 + ∆x, y0 ) − f (x0 , y0 )


≈ (5.23)
∂x ∆x

∂f f (x0 + ∆x, y0 ) − f (x0 − ∆x, y0 )


≈ (5.24)
∂x 2∆x

∂f f (x0 , y0 ) − f (x0 − ∆x, y0 )


≈ (5.25)
∂x ∆x
Derivada segunda (diferença central)

∂ 2f fi+1,j + fi−1,j − 2fi,j


2
=
∂x ∆x2
∂ 2f fi,j+1 + fi,j−1 − 2fi,j
=
∂y 2 ∆x2

5.4 Método das diferenças finitas


O método das diferenças finitas aproxima as derivadas parciais utilizando as “diferenças
aproximadas” obtidas pela serie de Taylor.

70
Para a equação de condução de calor em 2D, estado permanente e k cte.

∂ 2T ∂ 2T Q
k∇2 T + Q = 0 → 2
+ 2
+ = 0 em Ω
∂x ∂y k

sem geração de calor


∂ 2T ∂ 2T
+ = 0 em Ω
∂x2 ∂y 2
Condições de contorno:
T = T0 em Γ1

−k∇T = q0 em Γ2

−k∇T = 0 em Γ3

−k∇T = h(Ts − T∞ ) em Γ4

pela aproximação para a derivada segunda diferença central

∂ 2T Ti+1,j + Ti−1,j − 2Ti,j


2
=
∂x ∆x2
∂ 2T Ti,j+1 + Ti,j−1 − 2Ti,j
2
=
∂y ∆x2
substituindo na equação sem geração de calor e isolando Ti,j

∆y 2 Ti+1,j + ∆y 2 Ti−1,j + ∆x2 Ti,j+1 + ∆x2 Ti,j−1


Ti,j =
2(∆x2 + ∆y 2 )

Aplicação das condições de contorno

1. Temperatura prescrita em Γ1 , Ti+1,j = T0

71
2. Fluxo de calor q0 em Γ2 , isto é,
∂T
−k = q0
∂x
aproximando a derivada
∂T Ti+1,j − T i, j ∆x
≈ → Ti+1,j = Ti,j − q0
∂x ∆x k

3. Adiabático (isolado) em Γ3 , q0 = 0
∂T
−k =0
∂x
Aproximação de primeira ordem

Ti+1,j = Ti,j

Aproximação de segunda ordem


∂T h2 ∂ 2 T
Ti,j = Ti+1,j − h +
∂x Γ3 2 ∂x2 Γ3

∂T ∂ 2T
Ti−1,j = Ti+1,j − 2h + 2h2
∂x Γ3 ∂x2 Γ3
fazendo a diferença para eliminar a derivada segunda
∂T
4Ti,j − Ti−1,j = 3Ti+1,j − 2h
∂x Γ3

colocando em evidencia Ti+1,j


4Ti,j − Ti−1,j
Ti+1,j =
3

4. Fluxo de calor por convecção −k∇T = h(Ts − T∞ ), onde T∞ é a temperatura do


fluido que esta em contato com a superfı́cie sólida.

Aproximação de primeira ordem


k
(Ti+1,j − Ti,j = h(Ti+1,j − T∞ )
∆x
colocando em evidencia Ti+1,j
∆xhT∞
Ti,j +
Ti+1,j = k
∆xh
1+
k
Temperaturas nas quinas T = (T1 + T2 )/2.

72
5.5 Métodos numéricos para a solução de sistemas
de equações lineares
De maneira geral, os métodos numéricos para resolver sistemas de equações lineares são
agrupados em métodos diretos, iterativos e de otimização. Na escolha de um determinado
método para resolver um sistema linear A x = b, dois aspectos são importantes

ˆ i) a propagação dos erros de arredondamento, isto é, a estabilidade numérica do


método, com relação a sua sensibilidade à acumulação de erros de arredondamento,

ˆ ii) a questão do armazenamento da matriz A deve estar de acordo com a sua


estrutura.

5.5.1 Métodos diretos

Diz-se que um método é direto quando, na ausência de erros de arredondamento, deter-


mina a solução exata do sistema por meio de um número finito de passos previamente
conhecidos. O custo computacional em termos de tempo de processamento num método
direto pode ser estimado por meio de números de operações que ele envolve.
entre os principais métodos diretos podemos mencionar:

ˆ Método de eliminação de Gauss

ˆ Método da decomposição L U

ˆ Método de Cholesky

5.5.2 Método de eliminação de Gauss

O Método da Eliminação de Gauss é um dos mais importantes métodos para a resolução


de sistemas. A ideia básica está em combinar as distintas equações para ir eliminando
incógnitas de forma sistemática e obter finalmente, um sistema triangular fácil de resolver.
Estas transformações são feita pelo seguinte algoritmo

73
1. para k = 1, 2, .., n − 1, i = k + 1, k + 2, ..., n e j = k + 1, k + 2, ..., n + 1

Akik
mik = akkk 6= 0 (5.26)
Akkk

Ak+1
ij = Akij − mik Akkj (5.27)

2. Após n − 1 passos, a matriz dos coeficientes, aumentada do vetor constante, passa


a ter estrutura triangular, ficando, portanto, eliminados os coeficientes que estão
abaixo da diagonal principal.

3. para i = n, n − 1, ..., 1 obtêm-se as incógnitas xn , xn−1 , ..., x1 por meio de

Aii n+1 − nk=i+1 Aiik xk


P
xi = , i = n, n − 1, ..., 1 (5.28)
Aiii

Para assegurar a estabilidade numérica no método de eliminação de Gauss, frequente-


mente é necessário trocar linhas e/ou colunas não somente quando o pivô é nulo, mas
também quando ele é próximo de zero, ou o que é mais comum deve-se a cada passo procu-
rar levar para a k-ésima linha e k-ésima coluna, para ser o pivô, o elemento de maior
valor absoluto. Esse procedimento de trocas de linhas e colunas denomina-se pivotação.

5.5.3 Métodos Iterativos

Nesta seção trataremos da resolução de sistemas de equações lineares utilizando-se métodos


iterativos. Para estes métodos busca-se uma solução a partir de tentativas sucessivas de
aproximação. Os principais métodos descritos são:

ˆ Método de Jacobi

ˆ Método de Gauss-Seidel

ˆ Método da Sobre-Relaxação

ˆ Método dos Gradientes Conjugados

74
Método de Gauss-Seidel

Um outro método iterativo de resolução de sistemas de equações lineares é o chamado


Método de Gauss-Seidel. Este método consiste na aplicação das mesmas equações do
Método de Jacobi, com a atualização dos valores das variáveis já obtidas durante uma
iteração na própria iteração.

i−1 n
!
1 X X
xk+1
i = bi − Aij xk+1
j − Aij xkj i = 1, 2, ...n (5.29)
Aii j=1 j=i+1

5.5.4 Normas de vetores

Com o propósito de analisar os erros ao resolver sistemas de equações lineares, consider-


aremos como ”norma” ( ou medida) de um vetor:

1
kxkp = (xp1 + xp2 + ...) p 1≤p≤∞

dois casos particulares são de interesse:

1
ˆ kxk2 = (x21 + x22 + ...) 2 (norma Euclidiana)

ˆ kxk∞ = maxi |xi | (máximo valor absoluto)

75
Capı́tulo 6

Condução de calor em regime


transiente

Muitos problemas de transferência de calor na Engenharia são dependentes do tempo,


problema não estacionários ou transientes, surgem quando as condições de contorno de
um sistema são funções do tempo.
Exemplo: Dada uma distribuição de temperatura inicial de um corpo, se existe uma
mudança nas condições de contorno, vai existir uma transferência de energia no interior
do corpo até alcançar um estado estacionário.
Para determina a distribuição de temperatura de um corpo ao longo do tempo, pre-
cisamos resolver a equação diferencial de conservação de energia.

∂T
ρCp = ∇ · (k∇T ) + q 000
∂t
     
∂T ∂ ∂T ∂ ∂T ∂ ∂T
ρCp = k + k + k + q 000
∂t ∂x ∂x ∂y ∂y ∂z ∂z
se k = cte
1 ∂T ∂ 2T ∂ 2T ∂ 2T q 000
= + + 2 +
α ∂t ∂x2 ∂y 2 ∂z k
onde α = k/ρCp é a difusividade térmica (m2 /s).
A obtenção do campo de temperaturas através da solução analı́tica ou numérica destas
equações geralmente tem um custo elevado. Vamos estudar técnicas aproximadas.

76
6.1 Capacitância global
Quando os gradientes de temperatura no interior do corpo são pequenos, podem ser
desprezı́veis. Assim, podemos usar um procedimento simples chamado de capacitância
global.
Essa simplificação é justificada quando a resistência térmica externa entre a superfı́cie
do sistema e o meio envolvente é tão grande em comparação com a resistência térmica
interna do sistema ( condução) que ela controla o processo de transferência de calor.
Dado um processo de tempera (resfriamento brusco) Para t = 0 T (x, y, z) = T0 , isto

Figure 6.1: Resfriamento brusco

é, para t = 0 o corpo tem uma distribuição de temperatura uniforme.

Hipótese da Capacitância global


A distribuição espacial da temperatura no corpo é uniforme em qualquer instante de
tempo, isto é
∇T ≈ 0 em Ω

Então, não podemos utilizar a equação diferencial da equação de conservação de energia.


A resposta transiente da temperatura é analisada pelo balanço global de energia no
volume de controle (corpo)

dEac
= Ėac = Ėg + Ėe − Ės
dt
dT
onde Ėac = mCp
dt

77
ˆ Eac : energia acumulada

ˆ Ėg : Taxa de energia gerada.

ˆ Ėe : Taxa de energia que entra pelo contorno.

ˆ Ės : Taxa de energia que sai pelo contorno.

se Ėg = Ėe = 0 então


−Ės = Ėac

Se a taxa de energia que sai pelo contorno é por convecção

Ės = hA(Ts − T∞ )

Assim,
dT
ρV olCp = −hA(Ts − T∞ )
dt
Ts = T (t), ( T (t): temperatura no corpo).
Introduzindo a variável diferença de temperatura

dθ dTs (t)
θ = Ts − T∞ , =
dt dt

substituindo
ρV olCp dθ
= −θ
hA dt
separando as variáveis e integrando
Z θ Z t
ρV olCp dθ
=− dt
hA θi θ 0

onde θi = Ti − T∞ , T = Ti para t = 0, integrando


 
ρV olCp θi
ln =t
hA θ

t é o tempo requerido para o corpo alcançar a temperatura T ou


 
θ T − T∞ hA
= = exp − t
θi Ti − T∞ ρV olCp

Conclusão; a diferença de temperatura entre o sólido e o fluido cai exponencialmente.


Assim, podemos calcular o tempo necessário para o corpo atingir uma dada temperatura.

78
 
ρV olCp θi ρV olCp
da equação: ln = t. O termo pode ser interpretado como uma
hA θ hA
constante de tempo térmica (τt ).
 
1
τt = (ρV olCp ) = Rt Ct
hA

onde
1
ˆ Rt = : Resistência térmica de transferência de calor por convecção.
hA
ˆ Ct = ρV olCp : Capacitância térmica global do corpo.

Se aumenta Rt ou Ct o corpo responder mais lentamente a mudanças no seu ambiente


térmico.
1 1
− t
θ = θi e Rt Ct

6.1.1 Energia global transferida

Para determinar a energia global transferida integramos no tempo, isto é


Z t Z t
Q= qdt = hA θdt; θ = T − T∞
o 0
Z t
Q = hA θi e−t/τt dt
0

79
integrando
Q = hAθi (−τt ) e−t/τt − 1 = hAθi τt 1 − e−t/τt
h i h i

Z x
1
ecx dx = ecx |x0
0 c
substituindo τt
−t/τ
h i
Q = ρV olCp θi 1 − e t

Se

ˆ Q(+) processo de têmpera (esfriamento)

ˆ Q(−) processo de aquecimento.

6.1.2 Validade do método da Capacitância global

Dado um caso estacionário, mas pode ser ampliado para um caso transiente.

Balanço de energia na interface sólido-fluido

kA
(Ts,1 − Ts,2 ) = hA(Ts,2 − T∞ )
L
Ts,1 − Ts,2 L/kA Rcond hL
= = = = Bi
Ts,2 − T∞ 1/hA Rconv k

80
Número de Biot (Bi) A simplificação que o gradiente da temperatura no interior do
corpo é desprezı́vel, é justificada quando a resistência térmica externa entre a superfı́cie
do sistema e o meio envolvente é tão grande em comparação com a resistência térmica
interna do sistema ( condução) que ela controla o processo de transferência de calor.
Uma medida da importância relativa da resistência térmica dentro de um corpo sólido,
é o número de Biot (Bi), que é a relação entre a resistência interna e externa , pode ser
definida como:
Rinterna hL
Bi = =
Rexterna k
onde h é o coeficiente de transferência de calor por convecção médio, L é um comprimento
caracterı́stico, obtido pela divisão do volume do corpo por sua área de superfı́cie e k é a
condutividade térmica do corpo sólido.

V ol
L=
A

Número de Biot (bi) relaciona a queda de temperatura ao longo do sólido em relação a


diferença de temperatura da superfı́cie do sólido a do fluido.

Ts,1 − Ts,2
Bi =
Ts,2 − T∞

Quando Bi  1 a distribuição de temperatura em um corpo sólido permanece uniforme


em qualquer instante de tempo.

81
Quando utilizar Capacitância global
Para corpos cuja forma se assemelha a uma placa, um cilindro ou uma esfera. O erro
introduzido pela hipóteses de que a temperatura, em qualquer instante, é uniforme será
inferior a 5% quando a resistência interna for inferior a 10% da resistência externa, isto é
hLc
bi = < 0, 1
k
Lc : comprimento caracterı́stico.
V ol
Para formas complexas Lc = .
As
r0
Para um cilindro infinitamente longo raio r0 , Lc = .
2
r0 D
Para uma esfera de raio r0 , Lc = = .
3 6
hL
Para placa infinita largura 2L, Bi = .
k

πD3 4
Vesf era = = πr3 , A = πD2 = 4πr2
6 3

Numero de Fourier (Fo)


partindo da equação de distribuição da temperatura ao longo do tempo
hA
− t
θ = θi e ρV olCp
V ol
do expoente e considerando Lc = .
As
hA h h 1 hLc k t hLc αt
t= t= t= 2
=
ρV olCp ρlc Cp Lc ρCp k ρCp Lc k L2c
k
onde α = a difusividade térmica. Assim,
ρCp
hLc αt
= BiF o
k L2c
αt
onde F o = número de Fourier (tempo adimensional).
L2c
finalizando
θ T − T∞
= = exp[−Bi F o]
θi Ti − T∞
Os números de Fourier (Fo) e Biot (Bi) caracterizam os problemas transientes de condução-
convecção.

82
Exercı́cios

ˆ Uma barra de aço carbono de 0, 6 cm de diâmetro a 38 o C, é subitamente imersa


em um liquido a 93 o C com h = 110 W/m2 K. Determine o tempo requerido para
que ela se aqueça até 88 o C.

propriedades do aço: k = 43 W/mK, ρ = 7801 kg/m3 , Cp = 473 J/kgK, α =


1, 172 × 10−5 m2 /s.

ˆ Quando um termopar é movido de um meio para outro meio a uma temperatura


diferente, a ele deve ser dado tempo suficiente para entrar em equilı́brio térmico
com as novas condições, antes de uma leitura ser tomada.

Considere um fio de termopar de cobre de 0, 10 cm de diâmetro originalmente a


150 o C. Determine a resposta de temperatura quando este fio for subitamente
imerso em

– a) água a 40 o C (h = 80 W/m2 K)

– b) ar a 40 o C (h = 10 W/m2 K)

para T = 67 o C.

Propriedades do cobre: k = 391 W/mk, ρ = 8930 kg/m3 , Cp = 383 J/kgK

6.2 Analise geral via capacitancia global


No processo de transferência de calor transiente, alem do fluxo de calor pela convecção,
podem existir outros processos de transferência de calor como geração, radiação e fluxo
de calor por outros mecanismos.
Aplicando conservação de energia

Ėac = Ėg + Ėe − Ės

dT 00 00 00
ρV olCp = Ėg + qs Asup,a − (qconv + qrad )Asup(c,r)
dt

83
dT 00
ρV olCp = Ėg + qs Asup,a − (h(T − T∞ ) + σ(T 4 − Tviz
4
))Asup(c,r)
dt
Equação diferencial ordinária não-linear de primeira ordem não homogénea, não tem
solução analı́tica.
Simplificação da equação diferencia ordinaria.

Somente radiação

ˆ sem geração de calor Ėg = 0

ˆ não existe fluxo de calor por convecção ou desprezı́vel em relação a radiação.

00
ˆ não tem fluxo de calor entrando pela superfı́cie qs = 0

Assim,

dT
ρV olCp = −σ(T 4 − Tviz
4
)Asup(c,r)
dt
separando variáveis e integrando
Z T t
σAsup(c,r)
Z
dT
4 4
= dt
Ti (Tviz − T ) ρV olCp 0

efetuando as integrais
     
ρV olCp Tviz + T Tviz + Ti −1 T −1 Ti
t= 3
ln − ln + 2 tan − tan
σAsup(c,r) Tviz Tviz − T Tviz − Ti Tviz Tviz

84
obtemos o tempo necessário para atingir a temperatura T no corpo, mas não da para
inverter a equação para determinar T para um determinado tempo t.
Para o caso de Tviz = 0 (espaço)
 
ρV olCp 1 1
t= 3
− 3
3σAsup(c,r) T Ti

Considerando a radiação desprezı́vel

dT 00
ρV olCp = Ėg + qs Asup,a − (h(T − T∞ )
dt
introduzindo a variável θ = (T − T∞ ) assim
dT dθ
=
dt dt
a equação ordinária se reduz

= aθ − b
dt
onde
hAsup,c qs00 Asup,a + Ėg
a= , b=
ρV olCp ρV olCp
introduzindo uma nova variável
b
θ0 = θ −
a
assim
dθ dθ0
=
dt dt
substituindo
dθ0
+ aθ0 = 0
dt
separando variáveis e integrando
θ0
= e−at
θi0
b
como θ0 = θ − → θi0 = Ti − T∞ − b/a e θ0 = T − T∞ − b/a
a
assim
T − T∞ − b/a
= e−at
Ti − T∞ − b/a
ou
T − T∞ b/a 
= e−at + 1 − e−at

Ti − T∞ Ti − T∞

85
Exercı́cios

ˆ Um longo fio com diâmetro D = 1 mm esta submerso em um banho de óleo que


se encontra a T∞ = 25 o C. O fio possui uma resistência elétrica por unidade de
comprimento de R0 = 0, 001 Ω/m. Se uma corrente elétrica de I = 100 A passa pelo
fio. Qual é a sua temperatura em regime estacionário ? O coeficiente convectivo
h = 500 W/m2 K. A partir do instante em que a corrente é aplicada, quanto tempo
é necessário para que a temperatura no fio seja 1 o C inferior ao valor do regime
estacionário.

ρ = 8000 kg/m3 , Cp = 500 J/kgK, k = 20 W/mK.

ˆ Antes de ser injetado no interior de uma fornalha, carvão pulverizado é pré-aquecido


com a sua passagem através de um tubo cilı́ndrico cuja superfı́cie é mantida a
Tviz = 1000 o C. As partı́culas de carvão ficam suspensas no escoamento de ar e
se movem a uma velocidade de 3 m/s. Aproximando as partı́culas por esferas com
1 mm de diâmetro e supondo que elas sejam aquecidas por radiação da superfı́cie
do tubo, qual deve ser o comprimento do tubo para que o carvão seja aquecido até
600 o C?

A utilização do método de capacitancia global é justificável ?

Ti = 25 o C.

Propriedades do carvão:

ρ = 1350 kg/m3 , Cp = 1260 J/kgK, k = 0, 26 W/mK,  = 1, 0, σ = 5, 67 ×


10−8 W/m2 K 4 .

86
6.3 Efeitos espaciais
Em alguns problemas de condução de calor transiente, a temperatura no interior do
sistema não é uniforme.
Um exemplo é o fluxo de calor transiente em uma placa infinita, neste caso, somente
uma coordenada espacial é necessária para descrever a distribuição interna da temper-
atura. Sem fontes de calor e propriedades constantes. A equação geral de condução de
calor se reduz a forma:
1 ∂T ∂ 2T
= 0≤x≤L
α ∂t ∂x2
Para resolver a equação, precisamos de uma condição inicial e duas condições de contorno.

ˆ Condição inicial
T (x, o) = T0

ˆ Condição de contorno
∂T
= 0 (condição de simetria)
∂x x=0

∂T
−k = h(T (L, t) − T∞ ) ( convecção)
∂x x=L

define-se uma nova variável


θ(x, t) = T (x, t) − T∞

Assim
1 ∂θ ∂ 2θ
=
α ∂t ∂x2

87
θ(x, 0) = θ0
∂θ
(0, t) = 0
∂x
∂θ
−k (L, t) = hθ(L, t)
∂x
Utilizando o método de separação de variáveis, e fazendo

θ(x, t) = X(x)τ (t)

substituindo
1 dτ d2 X
X =τ 2
α dt dx
arrumando os termos
1 1 dτ 1 d2 X
= = λ2
α τ dt X dx2
τ é independente de x, X é independente de t.
Assim

= ατ λ2
dt
e
d2 X
= λ2 X
dx2
A solução geral da primeira equação
2t
τ = Aeαλ

isto indica que a temperatura da placa se tornaria inifinitamente alta com t aumentando,
portanto

= −ατ λ2
dt
e
d2 X
= −λ2 X
dx2
a constante λ2 tem que ter sinal negativo.
A solução geral da equação
2t
τ = Ae−αλ

e
X = Bcosλx + Csenλx

88
A solução geral para θ(x, t)

2
θ(x, t) = X(x)τ (t) = e−αλ t (M cosλx + N senλx)

onde M = AB e N = AC.
Aplicando a primeira condição de contorno (condição de simetria)

∂θ 2
(0, t) = e−αλ t λ(−M sen0 + N cos0)
∂x

para que a expressão seja verdadeira N = 0, assim

2
θ(x, t) = M e−αλ t cosλx

Aplicando a condição de convecção

2 2
kλM e−αλ t senλL = h(M e−αλ t cosλL)

eliminando termos iguais, obtém-se

h hL 1 Bi
tanλL = = =
kλ k λL λL

Esta equação determina os valores apropriados de λ, esta equação é transcendental e há


um numero infinito de λ, chamados valores caracterı́sticos.
h
Define-se λ1 , λ−2, ..., λn cada valor de λ que satisfaz a equação tanλL = , a solução

particular é da forma

2
θn (x, t) = Mn e−αλn t cosλn x, 1≤n≤∞

existem um número infinito de soluções particulares.


A solução completa é formada pela soma das soluções particulares.

2
X
θ(x, t) = Mn e−αλn t cosλn x
n=1

deve-se determinar o valor de Mn , aplicando a condição inicial



X
θ(x, 0) = θi = Mn cosλn x
n=1

89
multiplicando ambos os lados da equação por cosλm x e integrando
Z L Z L ∞
X
θi cosλn xdx = cosλn x Mn cosλm xdx
0 0 n=1

Pela condição de ortogonalidade, todos os termos no lado direito desaparecem, exceto


aqueles que envolvem o quadrado da função caracterı́stica cosλn x

Z L  = 0 se m 6= n
Mn cosλn xcosλm xdx =
0  6= 0 se m=n
isto é Z L Z L
θi cosλn xdx = Mn cos2 λn xdx
0 0
assim Z L
cosλn xdx
0 2sen(λn L)
Mn = θi Z L
= θi
λn L + sen(λn L)cos(λn L)
cos2 λn x
0
a solução final para θ(x, t)

θ(x, t) X −αλ2n t sen(λn L)cos(λn x)
= 2e
θi n=1
λn L + sen(λn L)cos(λn L)

definindo n = λn L

θ(x, t) X −2n (αt/L2 ) sen(n )cos(n (x/L))
= 2e
θi n=1
n + senn cosn

Pela definição do número de Fourier F o = αt/L2 e x∗ = x/L



θ(x, t) X −2n F o sen(n )cos(n x∗ )
= 2e
θi n=1
n + senn cosn

(solução similar a obtida por Incropera).


Pode-se demonstrar que para valores de F o ≥ 0, 2, a solução em serie infinita pode
ser aproximada pelo primeiro termo da serie, isto é
θ(x, t) 2
= C1 e−1 F o cos(1 x∗ )
θi
onde
2sen1
1 = λ1 L, C1 =
1 + sen1 cos1
os valores para 1 e C1 são fornecidos na tabela 5.1 (Incropera) para valores de Bi.

90
A solução utilizando a temperatura adimensional no plano central
como definido anteriormente
T − T∞ T0 − T∞
θ = T (x, t) − T∞ , θi = Ti − T∞ , θ∗ = θ0∗ =
Ti − T∞ Ti − T∞
onde Ti é a temperatura inicial e T0 é a temperatura no plano central
2 2
θ∗ = C1 e−1 F o cos(1 x∗ ), θ0∗ = C1 e−1 F o

ou
θ∗ = θ0∗ cos(1 x∗ )

6.4 Sistemas circulares


Para um cilindro infinito, a equação diferencial
1 ∂θ ∂ 2 θ 1 ∂θ
= 2+
α ∂t ∂r r ∂r
onde θ = T (r, t) − T∞ .
Solução aproximada para F o > 0, 2, por um único termo
2 r
θ∗ = C1 e−1 F o J0 (1 r∗ ), r∗ =
r0
ou
θ∗ = θ0∗ J0 (1 r∗ )

onde
2
θ0∗ = C1 e−1 F o

J0 : funções de Bessel de primeira espécie (Tabela B.4).


Para uma esfera, a equação diferencial
 
1 ∂T 1 d 2 dT
= 2 r
α ∂t r dr dr
solução aproximada
2 1
θ∗ = C1 e−1 F o ∗
sen(1 r∗ )
1 r

91
92
Figure 6.2: a) placa plana b) cilindro infinito ou esfera

ou
1
θ∗ = θ0∗ sen(1 r∗ )
1 r∗
onde θ0∗ representa a temperatura adimensional no centro da esfera, e tem a forma

2
θ0∗ = C1 e−1 F o

6.5 Transferência total de energia


Placa plana
Para um tempo t > 0
∆Eacum = Eent − Esai

para
Eent = 0

Q = Esai , ∆Eacum = E(t) − E(0)

Q = −[E(t) − E(0)]
Z
Q = ρCp [T (x, t) − T0 ]dV

considerando a energia disponı́vel no corpo no tempo t = 0

Qi = ρCp V [Ti − T∞ ]

93
onde T = Ti em t = 0.
O corpo esta cedendo calor se Ti > T∞ , assim

 
(T (x, t) − Ti ) dV T − T∞
Z Z
Q 1
= − = 1− dV
Qi (Ti − T∞ ) V V Ti − T∞
θ
para θ = T − T∞ , θi = Ti − T∞ , θ∗ =
θi
Z   Z
Q 1 θ 1
= 1− dV = (1 − θ∗ )dV
Qi V θi V
2
pela equação θ∗ = C1 e−1 F o cos(1 x∗ ), dV = LAd(x/L) = V dx∗

Z
Q 1 2
= V (1 − C1 e−1 F o cos(1 x∗ ))dx∗
Qi V
simplificando e integrando

ˆ (placa plana)
Q sen(1 ) ∗
=1− θ0
Qi 1

ˆ cilindro infinito
Q 2θ∗
= 1 − 0 J1 (1 )
Qi 1

ˆ esfera
Q 3θ∗
= 1 − 30 J1 (1 )[sen(1 ) − 1 cos(1 )]
Qi 1

94
Exercı́cios

1. Uma grande parede de concreto de 50 cm de espessura esta inicialmente a 60 o C.


Um dos lados da parede esta isolado, o outro lado esta subitamente exposto a gases
de combustão quente a 900 o C, por meio de um coeficiente de tranferencia de calor
de 25 W/m2 K. Determine

ˆ o tempo requerido para a superficie isolada alcançar 600 o C

ˆ a distribuição da temperatura naquele instante

ˆ o calor transferido durante o processo.

k = 1, 25 W/mK, Cp = 837 J/kgK, ρ = 500 kg/m3 , α = 0, 30 × 10−5 m2 /s

2. Estime o tempo requerido para aquecer o centro de um assado de 1, 5 kg em um


forno de 163 o C para 77 o C, para uma temperatura inicial de 20 o C. Indique suas
suposições cuidadosamente. (2, 5)

(Considere: h = 18 W/m2 K; ρ = 1000 Kg/m3 ; Cp = 4000 J/KgK; k = 0, 5 W/mK)

3. Um longo cilindro de cobre de 0, 6 m de diâmetro e inicialmente a uma temper-


atura uniforme de 38 o C é colocado em um banho de água a 93 o C. Assumindo
que o coeficiente de transferência de calor entre o cobre e a água é 1248 W/m2 K,
calcule o tempo necessário para aquecer o centro do cilindro a 66 o C. Como uma
primeira aproximação, despreze o gradiente de temperatura no interior do cilin-
dro; em seguida repita o seu cálculo sem esta hipótese simplificadora e compare
seus resultados. (2, 5) Propriedades do cobre: k = 396 W/mK; ρ = 8933 kg/m3 ;
Cp = 383 J/kgK, α = 1, 166 × 10−4 m2 /s

95
Capı́tulo 7

Radiação Térmica

7.1 Conceitos
Quando um corpo é colocado em um recinto cujas paredes estão a uma temperatura
abaixo da do corpo, a temperatura do corpo diminui mesmo que o recinto seja evacuado.
O processo pelo qual o calor é transferido de um corpo em virtude de sua temperatura,
sem a ajuda de qualquer meio intermediário, é chamado radiação térmica.

Figure 7.1: Resfriamento radiante de um sólido aquecido.

Ao contrário da condução e da convecção, a transferência de calor por radiação pode


ocorrer entre dois corpos, mesmo quando estão separados por um meio mais frio que

96
ambos.

O mecanismo fı́sico de radiação não é ainda completamente compreendido. A energia


radiante é vista algumas vezes como transportada por ondas eletromagnéticas, outras
vezes como transportada por fótons. Nenhum desses pontos de vista descreve completa-
mente a natureza de todos os fenômenos observados. Sabe-se, entretanto, que a radiação
viaja com a velocidade da luz c, igual à cerca de 3 × 108 m/s no vácuo. Essa velocidade
é igual ao produto da frequência e do comprimento de onda da radiação, ou

c = λν (7.1)

onde λ = comprimento de onda ( m), e ν = frequência s−1 (número de oscilações por


segundo).
A unidade de comprimento de onda é o metro, mas é geralmente mais conveniente
usar o micrómetro (µm), igual a 10−6 m [1µm = 104 A] (angstroms) é mais conveniente.
Na literatura de engenharia, o mı́cron (igual a um micrómetro) também é usado e é
indicado pelo sı́mbolo µ.
A fundamentação teórica da radiação foi criada em 1864 pelo fı́sico James Clerk
Maxwell, que postulou que cargas aceleradas ou variações de correntes elétricas criam
campos elétricos e magnéticos. Esses campos em movimento rápido são chamados on-
das eletromagnéticas ou radiação eletromagnética e representam a energia emitida pela

97
matéria, como resultado das mudanças nas configurações eletrônicas dos átomos ou
moléculas. Em 1887, Heinrich Hertz demonstrou experimentalmente a existência das
ondas. As ondas eletromagnéticas transportam energia da mesma forma que outras, e
todas as ondas eletromagnéticas, no vácuo, viajam na velocidade da luz.
Revelou-se útil visualizar a radiação eletromagnética como propagação da coleção de
pacotes discretos de energia chamados fótons ou quanta, como proposto por Max Planck
em 1900, em conjugação com sua teoria quântica. Nesta visão, considera-se que cada
fóton de frequência v tem energia de
hc
e = hν =
λ
onde h = 6, 626069 × 10−34 J s é a constante de Planck. Observe na segunda parte
da Equação anterior que a energia de um fóton é inversamente proporcional ao seu
comprimento de onda. Portanto, a radiação de onda curta tem maior energia de fóton.
Assim, por segurança tentamos evitar as radiações de ondas muito curtas, como raios
gama e raios X, que são altamente destrutivas.

Definições importantes Radiações são ondas eletromagnéticas ou partı́culas que se


propagam com uma determinada velocidade. Contêm energia, carga eléctrica e magnética.
Podem ser geradas por fontes naturais ou por dispositivos construı́dos pelo homem. Pos-
suem energia variável desde valores pequenos até muito elevados.
A radiação é uma ferramenta comum e valiosa na Medicina, pesquisa e indústria.
Está presente em sistemas de saúde para realização de diagnósticos e, em altas doses,
para tratar doenças como o câncer. Além disso, é usada para matar bactérias nocivas
em alimentos e prolongar a vida útil de produtos frescos.
O corpo humano emite radiação no domı́nio do infravermelho, ao qual os nossos olhos
não são sensı́veis, mas que pode ser detectada com sensores apropriados.

7.2 Radiação térmica


Embora as ondas eletromagnéticas tenham as mesmas caracterı́sticas gerais, ondas de
comprimento diferentes diferem significativamente em seu comportamento.

98
Diferentes tipos de radiações eletromagnéticas são produzidos por vários mecanis-
mos. Por exemplo, raios gama são produzidos por reações nucleares; raios X, com bom-
bardeamento de metais com elétron de alta energia; micro-ondas, por tipos especiais
de eletrónica, como tubos klystrons e magnetrons; e ondas de rádio, com excitação de
cristais ou fluxo de corrente alternada através de condutores elétricos.
O tipo de radiação eletromagnética pertinente à transferência de calor é a radiação
térmica, emitida como resultado das transições de energia de moléculas, átomos e elétrons
da substância. A temperatura é uma medida de importância dessas atividades no nı́vel
microscópico, tendo em vista que a taxa de emissão de radiação térmica aumenta com o
aumento da temperatura.
A radiação térmica é um tipo de radiação eletromagnética associada com um intervalo
de temperatura contido entre 30 a 30000 K e com um comprimento de onda contido no
intervalo de 0, 1 a 100 µm.
Para a maior parte das aplicações em Engenharia, contudo, o interesse reside em
uma faixa de radiação cujo comprimento de onda varia de 0, 4 µm ( contido na região do
ultravioleta) a 15 µm (contido na região do infravermelho).

Figure 7.2: Espectro da radiação eletromagnética.

Os fenómenos de radiação são geralmente classificados por seu comprimento de onda.


A radiação térmica fica aproximadamente entre 0, 1 a 100 µm, ela é subdividida em

99
ultravioleta, visı́vel e infravermelho.
O que chamamos de luz é simplesmente a parte visı́vel do espectro eletromagnético,
que se situa entre 0, 40 e 0, 76 µm. A luz não é caracteristicamente diferente de outras
radiações eletromagnéticas, exceto pelo fato de que aciona a sensação da visão no olho
humano. A luz ou o espectro visı́vel consiste em faixas estreitas de cor que variam do
violeta (0, 40–0, 44 µm) ao vermelho (0, 63–0, 76 µm).

Figure 7.3: Faixas de comprimento de onda de diferentes cores

A quantidade de radiação emitida por unidade de comprimento de onda é chamada de


“radiação monocromática”, ela varia com o comprimento de onda, e a palavra espectral
é usada para denotar essa dependência.
A distribuição espectral depende da temperatura.
O sol com uma temperatura de ∼ 5800 K emite 99 % de sua radiação em comprimen-
tos de onda mais longos de que 3 µm.
O corpo que emite alguma radiação na frequência visı́vel é chamado fonte de luz. O
Sol é, obviamente, nossa principal fonte de luz. A radiação eletromagnética emitida pelo
Sol é conhecida como radiação solar, e quase toda ela se encontra na faixa de comprimento
de onda de 0, 3 a 3 µm. Quase metade da radiação solar é luz (ou seja, está na faixa
visı́vel), sendo o restante ultravioleta e infravermelha.
O dióxido de carbono absorve radiação no espectro solar, menos energia escapa. Isso
causa o aquecimento global, chamado de “ efeito estufa”.
Fornos de micro-ondas utilizam radiação eletromagnética na região de micro-ondas
do espectro, gerada por tubos de micro-ondas chamados magnetrons. As micro-ondas,

100
Figure 7.4: Espectro da radiação solar.

no intervalo de 102 a 105 µm, são adequadas para utilização na culinária, uma vez que
são refletidas por metais, transmitidas por vidros e plásticos e absorvidas por moléculas
dos alimentos (especialmente a água). Assim, a energia elétrica convertida em radiação
no forno de micro-ondas finalmente se torna parte da energia interna do alimento. O co-
zimento rápido e eficiente em fornos de micro-onda tornou esse recurso um dos principais
aparelhos modernos em cozinha.
Radares e telefones sem fios também utilizam radiação eletromagnética na região das
micro-ondas. O comprimento de onda das ondas eletromagnéticas utilizadas em rádio e
televisão normalmente varia entre 1 m a 1.000 m na região de ondas de rádio do espectro.
A radiação emitida pelos corpos na temperatura ambiente está na região infravermelha
do espectro, que se estende de 0, 76 a 100 µm. Os corpos começam a emitir uma radiação
visı́vel perceptı́vel para temperaturas acima de 800 K. O filamento de tungstênio da
lâmpada deve ser aquecido a temperaturas acima de 2.000 K antes de emitir qualquer
quantidade significativa de radiação na faixa visı́vel.

101
A radiação ultravioleta inclui a extremidade de baixo comprimento de onda do es-
pectro da radiação térmica, e o comprimento de onda situa-se entre 0, 01 e 0, 40 µm.
Os raios ultravioletas devem ser evitados, uma vez que podem matar microrganismos e
causar sérios danos a seres humanos e outros seres vivos. Cerca de 12 % da radiação
solar está no intervalo ultravioleta, e seria devastadora se chegasse à superfı́cie da Terra.
Felizmente, a camada de ozônio (O3 ) na atmosfera atua como uma capa protetora e
absorve maior parte dessa radiação ultravioleta. Os raios ultravioleta que permanecem
na luz solar ainda são suficientes para causar graves queimaduras solares. A exposição
prolongada à luz direta do Sol é a principal causa do câncer de pele, que pode ser letal.
Um aquecedor de resistência elétrica começa a irradiar calor logo após ser ligado,
e podemos sentir a energia de radiação emitida mantendo nossas mãos em frente ao
aquecedor. Mas essa radiação está inteiramente na região do infravermelho e, portanto,
não pode ser detectada pelos nossos olhos. O aquecedor parece avermelhado quando
sua temperatura atinge cerca de 1.000 K e começa a emitir uma quantidade detectável
(cerca de 1 W/m2 µm) de radiação vermelha visı́vel nessa temperatura. À medida que a
temperatura sobe ainda mais, o aquecedor parece vermelho brilhante, chamado vermelho
quente. Quando a temperatura atinge cerca de 1.500 K, o aquecedor emite uma radiação
suficiente em toda a faixa visı́vel do espectro para parecer quase branco e é chamado
branco quente.
A cor da superfı́cie depende das suas caracterı́sticas de absorção e reflexão, sendo
devida à absorção e à reflexão seletiva da radiação visı́vel incidente proveniente de uma
fonte de luz, como o Sol ou uma lâmpada incandescente. Uma peça de roupa que contém
um pigmento que reflete vermelho, enquanto absorve as partes restantes da luz incidente,
parece “vermelha” para os olhos. As folhas parecem “verdes” porque suas células contêm
o pigmento clorofila, que reflete fortemente o verde, enquanto absorve outras cores.

7.3 Corpo negro


Por definição, um corpo negro é um perfeito emissor e absorvedor de radiação. Toda
radiação incidente sobre um corpo negro será absorvida, assim, todo corpo negro é um

102
Figure 7.5: A superfı́cie que reflete o vermelho, enquanto absorve as partes restantes da
luz incidente, parece vermelha para o olho.

perfeito emissor de radiação térmica, isto é, um corpo negro, emite e absorve a quantidade
máxima possı́vel de radiação em qualquer comprimento de onda. O corpo negro é um
conceito ideal, já que toda substancia reflete alguma parcela de radiação.
A energia de radiação emitida por um corpo negro por unidade de tempo e porunidade
de área foi determinada experimentalmente por Joseph Stefan em 1879 e expressa como

Eb (T ) = σT 4

onde σ = 5, 670 × 10–8 W/m2 K 4 é a constante de Stefan-Boltzmann e T é a temperatura


absoluta da superfı́cie em K. Essa relação foi verificada teoricamente em 1884 por Ludwig
Boltzmann. A Equação anterior é conhecida como lei de Stefan-Boltzmann, e Eb é
chamada potência emissiva do corpo negro.

7.3.1 Lei de Planck e lei de deslocamento de Wien

A emissão espectral de energia radiante por unidade de área, de tempo, de um corpo negro
no comprimento de onda λ, será denotado por Ebλ . A quantidade Ebλ normalmente é
chamada de potência emissiva monocromática do corpo negro
De acordo com a lei de Planck (1900) um radiador ideal à temperatura T emite

103
radiação de acordo com a relação:

C1
Ebλ = (7.2)
λ5 [exp(C 2 /λT ) − 1]

onde Ebλ : é a potencia emissiva monocromática de um corpo negro a uma temperatura


absoluta T (W/m2 m).
λ: comprimento de onda (µm).
C1 = 2πhc2 = 3, 742 × 108 [W µm4 /m2 ] = 3, 7415 × 10−16 W m2 , primeira constante
de radiação.
C2 = hc/k = 1, 439 × 104 (kµm) = 1, 4388 × 10−2 mK, segunda constante de radiação.
c velocidade da luz no vazio.
h = 6, 625 × 10−34 [Js], é a constante de Planck.
k = 1, 381 × 10−23 [J/K] a constante de Boltzman.
A potencia emissiva monocromática para um corpo negro a diferentes temperaturas,
é representada na figura como uma função do comprimento de onda.
É de interesse conhecer o comprimento de onda correspondente a máxima intensidade
de radiação de um corpo negro. Diferenciando a distribuição de Planck e igualando a
zero, obtém-se o comprimento de onda correspondente para o máximo da distribuição.
Isto leva a lei de deslocamento de Wein:
 
dEbλ d C1
= =0
dλ dλ λ5 [exp(C2 /λT ) − 1] T =cte

assim
λmax T = 2897, 8µm K

7.4 Equação de Stefan-Boltzmann


A lei de Planck nos da a distribuição espectral da radiação de um corpo negro, mas para
os cálculos na Engenharia é mais interessante ter a energia total. Pela integração da lei
de Planck sobre todos os comprimentos de onda, obtem-se a energia total emitida por
unidade de área por um corpo negro.

104
Figure 7.6: Potencia emissiva monocromática de um corpo negro.

105
Z ∞
Eb (T ) = Ebλ dλ = σT 4
0

onde σ é a constante de Stefan-Boltzmann e é igual a 5, 6697 × 10−8 W/m2 K 4 .

7.5 Funções de radiação e emissão de banda


Para cálculos de Engenharia envolvendo superfı́cies reais, é importante conhecer a energia
irradiada em um comprimento de onda especifico, ou em uma banda finita de compri-
mentos de onda especı́ficos, como λ1 e λ2 , ou seja
Z λ2
Ebλ (T )dλ
λ1

A qualquer temperatura dada, a potencia emissiva monocromática é máxima no compri-


mento de onda
2, 898 × 10−3
λmax =
T
assim
C1 T 5
Ebλmax (T ) = 5 C2 /0,002898
= 12, 87 × 10−6 T 5 (W/m3 )
0, 002898 (e − 1)
dividindo a potencia monocromática Ebλ (T ) pela potencia máxima Ebλmax (T )
5 
2, 898 × 10−3 e4,955 − 1
 
Ebλ (T )
=
Ebλmax (T ) λT e0.014388/λT − 1

λ esta em µm e T em K, a relação anterior é só função de λT .

106
Exercı́cio
Determine

ˆ a) O comprimento de onda na qual a potencia monocromática de um filamento de


Tungsténio a 1400 K, tem um máximo

ˆ b) A potencia emissiva monocromática naquele comprimento de onda.

ˆ c) A potencia emissiva monocromática para λ = 5 µm.

Muitas vezes é necessário determinar a fração de emissão total do corpo negro em


uma banda espectral entre os comprimentos de onda λ1 e λ2

Z λ1
Eb (0 → λ1 , T ) = Ebλ (T )dλ
0

na forma adimensional
R λ1 R λ1 Z λ1
0
Ebλ (T )dλ 0
Ebλ (T )dλ Ebλ (T )d(λT )
F0−λ1 = R∞ = =
0
Ebλ (T )dλ σT 4 0 σT 5
Para determinar a quantidade de radiação emitida na faixa entre λ1 e λ2 para uma
superfı́cie negra a temperatura T.
Z λ2 Z λ1
Ebλ (T )dλ − Ebλ (T )dλ = Eb (0 → λ2 , T ) − Eb (0 → λ1 , T )
0 0

a fração
Eb (0 → λ, T )
F0−λ =
σT 4
pode ser determinado por tabela (Tabela 12.2 Referencia:Incropera).

107
Exercı́cio
Um vidro de sı́lica transmite 92 % da radiação incidente na faixa de comprimento de
onda entre 0, 53 e 2, 7 µm e é opaco em comprimentos de onda mais longos e mais curtos.
Calcule a porcentagem de radiação solar que o vidro transmitira. Pode-se considerar que
o sol irradia como um corpo negro a 5800 K

7.6 Intensidade de radiação (I)


Emissão Ebλ é a quantidade de energia radiante por unidade de área da superfı́cie emitida
por um corpo.
A radiação é emitida por todas as partes de uma superfı́cie plana em todas as direções
do hemisfério acima da superfı́cie. A distribuição direcional da radiação emitida (ou
incidente) geralmente não é uniforme. Por isso, precisamos de uma quantidade que
descreva a amplitude da radiação emitida (ou incidente), em uma determinada direção
no espaço. Essa quantidade é a intensidade de radiação, denotada por I.
A direção da radiação que passa por um ponto é mais bem descrita em coordenadas
esféricas, em ângulo de zénite θ e em ângulo de azimute φ A intensidade de radiação é
utilizada para descrever a forma como a radiação emitida varia de acordo com os ângulos
de zénite e de azimute.
Antes de definir a intensidade, precisamos quantificar o tamanho da abertura no

108
espaço.

7.6.1 Definições Geométricas

Define-se o ângulo sólido diferencial dw, medido em esterorradiano (sr), como o ângulo
com o vértice no centro de uma esfera e que subentende na superfı́cie deste esfera uma
área dAn , medida pelo quadrado do raio da esfera. Assim,

dAn
dw = (7.3)
r2

Tome-se como referência um elemento de área dA1 , emitindo radiação em uma determi-
nada direção. Essa direção de emissão pode ser definida através dos ângulos de zénite e
azimutal, θ e φ, respetivamente em um sistema de coordenadas esféricas. A área retan-
gular dAn é normal à direção (θ, φ). Assim,

dAn = rdθ × rsen(θ)dφ = r2 sen(θ)dθdφ (7.4)

O ângulo sólido fica então definido como:

An
dw = = sen(θ)dθdφ (7.5)
r2

Quando a área infinitesimal dA1 for plana, a radiação pode ser emitida em qualquer
direção definida por um hemisfério hipotético que envolve esta área. O ângulo sólido

109
para este exemplo pode ser obtido integrando a equação (7.5) nos limites φ = 0 a φ = 2π
e θ = 0 a θ = π/2. Assim, o ângulo sólido, em esterorradianos (sr), fica:
Z Z 2π Z π/2 Z π/2
w = dw = sen(θ)dθdφ = 2π sen(θ)dθ = 2π sr (7.6)
0 0 0

As pequenas superfı́cies visualizadas a partir de relativamente grandes distâncias po-


dem ser tratadas aproximadamente como áreas diferenciais nos cálculos de ângulo sólido.
Por exemplo, o ângulo sólido subtendido por uma superfı́cie plana de 5 cm2 quando visto
a partir de um ponto situado a uma distância de 80 cm ao longo da normal da superfı́cie

An 5 cm2
w∼= 2 = = 7, 81 × 10−4 sr
r (80 cm)2
Se a superfı́cie é inclinada de forma que a normal da superfı́cie faz um ângulo de α = 60o
com linha que liga o ponto de visão ao centro da superfı́cie, a área projetada seria
dAn = dAcosα = (5 cm2 )cos60o = 2, 5 cm2 , e o ângulo sólido, nesse caso, seria apenas a
metade do valor determinado.
A taxa de fluxo de calor de radiação por unidade de área superficial que emana de um
corpo em uma determinada direção pode ser medida pela determinação da radiação por
um elemento na superfı́cie de um hemisfério construido em torno da superfı́cie irradiante.
A intensidade de radiação Ib (θ, φ) é a taxa na qual a radiação é emitida na direção
(θ, φ) por unidade de área da superfı́cie emissora normal a essa direção
dqr
Ib (θ, φ) = (W/m2 sr)
dA1 cos(θ)dw

110
onde dqr é a taxa na qual a radiação emitida a partir de dA1 passa por dAn
A intensidade da radiação baseia-se na área projetada, portanto o cálculo das emissões
da radiação da superfı́cie envolve a projeção da superfı́cie.

Exercı́cio
Uma superfı́cie negra plana de área A1 = 10 cm2 emite 1000 W/m2 sr na direção
normal. Uma pequena superfı́cie A2 tendo a mesma área de A1 é colocada em relação a
A1 como mostrado a uma distancia de 0, 5 m.
Determine o ângulo sólido sub-tendido por A2 e a taxa na qual A2 é irradiado por
A1 .

111
7.7 Relação entre intensidade de radiação (I) e a po-
tencia emissiva (Eb)
Dada a superfı́cie de uma semi-esfera que intercepta os raios que emanam da superfı́cie.
A quantidade total de radiação que passa através da superfı́cie semi-esférica é igual a
potencia emissiva.

dqr
= Ib (θ, φ)cosθdw, dw = senθdθdφ
dA1
substituindo e integrando
q Z 2π Z π/2
= Ib (θ, φ)cosθsenθdθdφ
A r 0 0

para pode integrar a equação anterior Ib (θ, φ) deve ser conhecida, assumindo que não
varia com θ e φ, a intensidade é difusa (independente da direção)
q Z π/2
= Ib sen2θdθ2π
A r 0

ou
q Z π/2
1 π/2
= 2πIb sen2θdθ = −2πIb cos2θ|0
A r 0 4
isto é
q
= πIb = Eb
A r

Assim, para uma superfı́cie negra, a potencia emissiva é igual π vezes a intensidade.

112
O conceito de intensidade pode ser aplicada à radiação total sobre todo o espectro de
comprimento de onda, bem como a radiação monocromática.
Z ∞
Ib (θ, φ) = Ibλ (λ, θ, φ)
0

também
Ebλ = πIbλ

Radiação incidente
A intensidade da radiação incidente Ii (θ, φ) é definida como a taxa na qual a energia
de radiação incide na direção (θ, φ) por unidade de área da superfı́cie receptora normal
para esta direção e por unidade de ângulo sólido sobre esta direção.

Aqui,θ é o ângulo entre a direção da radiação incidente e a normal da superfı́cie.

7.8 Irradiação (G)


É a exposição à radiação isto é, radiação incidente na superfı́cie, que pode ser originada
da emissão e da reflexão em outras superfı́cies.

113
7.8.1 A irradiação espectral Gλ (W/m2 µm)

é definido como a taxa na qual a radiação monocromática no comprimento de onda λ


incide em uma superfı́cie por unidade de área dessa superfı́cie
Z 2π Z π/2
Gλ = Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ
0 0

Z ∞ Z ∞ Z 2π Z π/2
G= Gλ (λ)dλ = Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφdλ
0 0 0 0
Se a radiação incidente for difusa, Se Ii for independente da direção

G = πIi

7.9 Emissividade (ξ)


A emissividade de uma superfı́cie representa a razão entre a radiação emitida pela su-
perfı́cie em uma determinada temperatura e a radiação emitida por um corpo negro na
mesma temperatura.
A emissividade da superfı́cie é denotada por ξ, e varia entre 0 e 1, 0 ≤ ξ ≤ 1. A
emissividade é a medida de quanto a superfı́cie se aproxima de um corpo negro, para o
qual ξ = 1.
A emissividade de uma superfı́cie real não é constante. Pelo contrário, varia com a
temperatura da superfı́cie, o comprimento de onda e a direção das radiações emitidas.
Por isso, diferentes emissividades podem ser definidas para uma superfı́cie em função dos
efeitos considerados.
Na prática, geralmente é mais conveniente trabalhar com propriedades de radiação
médias em todas as direções, chamadas propriedades hemisféricas.
A emissividade espectral hemisférica pode ser expressa como
Eλ (T )
ξλ =
Ebλ (T )
A emissividade hemisférica total é definida pela energia de radiação emitida em todos os
comprimentos de onda e direções como
E(T ) E(T )
ξ= =
Eb (T ) σT 4

114
A emissividade hemisférica total para uma superfı́cie
Z ∞
ξλ Ebλ (λ, T )dλ
E(T ) 0
ξ(T ) = = Z ∞
Eb (T )
Ebλ (λ, T )dλ
0

Para realizar essa integração, precisamos conhecer a variação da emissividade espectral


com o comprimento de onda na temperatura especificada. O integrando normalmente é
uma função complexa, e a integração tem de ser realizada numericamente. No entanto, a
integração pode ser realizada com bastante facilidade por meio da divisão do espectro em
um número suficiente de faixas de comprimento de onda, considerando que a emissividade
permanece constante durante cada faixa.

Figure 7.7: Aproximando a variação real da emissividade com o comprimento de onda


por uma função passo.


 ξ = constante, 0 ≤ λ < λ1
 1


ξλ = ξ2 = constante, λ1 ≤ λ < λ2


 ξ = constante, λ ≤ λ < ∞

3 2

Então, a emissividade média pode ser determinada quebrando a integral em três partes
e utilizando a definição de função de radiação do corpo negro como
Z λ1 Z λ2 Z ∞
ξ1 Ebλ dλ ξ2 Ebλ dλ ξ2 Ebλ dλ
0 λ1 λ1
ξ(T ) = + +
Eb Eb Eb

115
Exercı́cio
A emissividade hemisférica de uma tinta com alumı́nio é de aproximadamente 0, 4
em comprimentos de onda abaixo de 3µm, e 0, 8 em comprimentos de ondas maiores.
Determine a emissividade total dessa superfı́cie a uma temperatura de 300 K e 800 K.
Porque os valores são diferentes ?

7.10 Propriedades da radiação


Quando a radiação incide em uma superfı́cie na taxa G, uma parte do total da irradiação
é absorvida no material, outra parte é refletida pela superfı́cie e o restante é transmi-
tida pelo corpo. A absortividade, refletividade e transmissividade descrevem como a
irradiação total é distribuı́da.

ˆ A absortividade(α) de uma superfı́cie é a fração da irradiação total absorvida pelo


corpo.

ˆ A refletividade (ρ) de uma superfı́cie é definida como a fração da irradiação que é


refletida da superfı́cie.

ˆ A transmissividade (τ ) de um corpo é a fração da radiação incidente que é trans-


mitida.

Fazendo um balanço de energia sobre uma superfı́cie,

G = αG + ρG + τ G

ou
α+ρ+τ =1

Para corpos negros idealizados que são perfeitos absorventes, ρ = 0 e τ = 0, a equação


anterior se reduz para α = 1.
Para superfı́cies opacas, como a maioria dos sólidos e lı́quidos, τ = 0, então

α+ρ=1

116
Para a maioria dos gases a refletividade está ausente, ρ = 0, e a equação se reduz

α+τ =1

As duas equações precedentes são importantes relações de propriedade, pois o conheci-


mento de uma propriedade implica o conhecimento da outra propriedade.
Essas definições são para propriedades hemisféricas totais, uma vez que G representa
o fluxo de radiação incidente sobre superfı́cie de todas as direções do espaço hemisférico
e de todos os comprimentos de onda. Assim,α, ρ e τ são propriedades médias do meio
para todas as direções e todos os comprimentos de onda.
Da mesma forma, a absortividade monocromática hemisférica de uma superfı́cie, αλ

Gλ (T )(absorvida)
αλ =
Gλ (T )

um balanço de energia em uma base monocromática

αλ + ρλ + τλ = 1

7.11 Lei de radiação de Kirchhoff


Afirma, em essencia que a emissividade monocromática é igual à absortividade monocromática
para qualquer superficie. Suponha um corpo negro dentro de um envoltorio negro, cujas
paredes estão a temperatura T , no equilibrio térmico, a energia emitida pelo corpo é
iguala energia absorvida pelo corpo.

117
Eemitida = Gabs

como Gabs = ασT 4 e Eemitida = ξσT 4 , conclue-se que

ξ(T ) = α(T )

Isto é, a emissividade hemisférica total da superfı́cie na temperatura T é igual a sua


absortividade hemisférica total para radiação proveniente do corpo negro na mesma tem-
peratura.
Essa derivação também pode ser repetida para a radiação em determinado compri-
mento de onda para a obtenção da forma espectral da lei de Kirchhoff:

ξλ (T ) = αλ (T )

7.12 Absortividade
A absortividade total de uma superfı́cie pode ser obtida em base a definições básicas.
Considere uma superfı́cie a temperatura T , sujeita a radiação incidente de uma fonte
em T ∗ , é dada por Z ∞
G= Gλ (λ∗ , T ∗ )dλ
0

onde ( ) é usado para denotar as condições da fonte. Se a variação da absortividade
monocromática com comprimento de onda da superfı́cie receptora é dada por αλ (λ), a

118
absortividade total é Z ∞
αλ Gλ (λ∗ , T ∗ )dλ
α(λ∗ , T ∗ ) = Z
0

Gλ (λ∗ , T ∗ )dλ
0
A absortividade total de uma superfı́cie depende da temperatura e das caracterı́sticas
espectrais da radiação incidente. Portanto, os valores totais da absortividade e emissivi-
dade são, em geral, diferentes para superfı́cies reais.

7.13 Superfı́cie cinza e difusa

A radiação é um fenômeno complexo, e a consideração da dependência do compri-


mento de onda e da direção nas propriedades, supondo que existam dados suficientes,
a torna ainda mais complicada. Por isso, aproximações de superfı́cie cinza e difusa são
muitas vezes utilizadas em cálculos de radiação. Uma superfı́cie é dita difusa se suas pro-
priedades são independentes da direção, e cinza se suas propriedades são independentes
do comprimento de onda. Por isso, a emissividade de uma superfı́cie hemisférica cinza
e difusa é simplesmente a emissividade hemisférica total dessa superfı́cie, por causa da
independência da direção e do comprimento de onda.

7.13.1 Corpos cinzas

Corpos cinzas são superfı́cies com emissividade monocromáticas e absortividade, cujos


valores são independentes do comprimento de onda.
Para corpos reais se aproxima por uma emissividade e absortividade media apropri-
ada.
ξλ = ξ¯ = ᾱ = αλ = ξg = αE

onde o subscrito g indica cinza.


A energia emissiva Eg é dada por:

Eg = ξg σT 4

119
Figure 7.8: Comparação da emissividade (a) e da potência emissiva (b) de uma superfı́cie
real com uma superfı́cie cinza e um corpo negro na mesma temperatura.

Assim, se a emissividade de um corpo cinza for conhecida em um comprimento de onda,


também serão conhecidas as emissividades total e absortividade total.

Exercı́cio
A tinta com alumı́nio do exemplo anterior, é usada para cobrir a superfı́cie de um
corpo mantido a 27o C.
Esse corpo é irradiado pelo sol (5800 K) e por outra fonte a 527 o C. Calcule a ab-
sortividade eficaz da superfı́cie para ambas as condições.

Caracterı́sticas de superfı́cies reais


A radiação de superfı́cies reais difere em vários aspectos da radiação de corpo negro ou
cinza. Qualquer superfı́cie real irradia menos que um corpo negro à mesma temperatura.
Superfı́cies cinzas irradiam uma fração constante ξg da potencia emissiva monocromática
de uma superfı́cie negra à mesma temperatura T ao longo de todo o espectro.

Ereal = ξg σT 4

Comparação da emissão monocromática hemisférica para um corpo negro, um cinza

120
(ξg = 0, 6) e uma superfı́cie real.

Exercı́cio
A emissividade espectral hemisférico de uma superfı́cie pintada, é mostrada na figura.
Usando uma aproximação cinza seletiva.

ˆ a) Calcule a emissividade efetiva sobre todo o espectro.

ˆ b) a potencia a 1000 K

ˆ A percentagem da radiação solar que essa superfı́cie absorveria.

121
7.14 Balanço de energia convecção-radiação sobre uma
superfı́cie
Considere a superfı́cie exterior da fuselagem de um avião em voo, recebe radiação do sol,
recebe calor transferido por condução do interior e perde calor por radiação para o céu e
recebe por convecção, isto é
Gsol + qi = qr + qconv

onde
Ti − Ts 1 e
qi = , onde RT,p = +
RT,p h k
qr = σξ(Ts4 − Tceu
4
)

e
qc = h(Ts − T∞ )

Para um caso simplificado, não há ganhos de energia por condução e do sol, isto é

−qc = qr

h(T∞ − Ts ) = σξ(Ts4 − Tceu


4
)

onde Ts é a incógnita do problema.


Pode-se obter a solução pelo método de Picard ou newton Raphson.
Método de Newton-Raphson
f (x) = 0

Utilizando aproximação de primeira ordem


f (xk+1 ) − f (xk )
f 0 (xk ) =
xk+1 − xk
f (xk )
xk+1 = xk −
f 0 (xk )
para a equação
σξ 4 4
f (Ts ) = (Ts − Tceu ) − (T∞ − Ts )
h
derivada de f
df σξ 3
f0 = = 4T + 1
dTs h s

122
Assim
σξ
((Tsk )4 − Tceu
4
) − (T∞ − Tsk )
Tsk+1 k
= Ts − h
σξ
4(Tsk )3 + 1
h

Exercı́cio
O vidro de um carro a radiar para o céu numa noite sem nuvens, onde T∞ = 5 o C =
278 K, Tceu = 200 K (céu limpo) , h = 10 W/m2 K, a emissividade do vidro ξ = 0, 95.
Determine a temperatura da superfı́cie do vidro. considere que só tem radiação e con-
vecção.

Exercı́cio
Um termopar soldado em suas extremidades com uma emissividade de 0, 8 é utilizado
para medir a temperatura de um gás transparente que passa por um grande duto cujas
paredes estão a uma temperatura de 227 o C. A temperatura indicada pelo termopar é
de 527 o C. Se o coeficiente de transferência de calor por convecção entre a superfı́cie do
termopar e o gás é de 140 W/m2 K, estime a temperatura real do gás.

Exercı́cio
Calcule a temperatura de equilı́brio de um termopar em um grande duto de ar se a
temperatura do ar for 1367 K, a temperatura da parede do duto é 533 K, a emissividade
do termopar for de 0, 5, e o coeficiente de transferência de calor por convecção hc , for de
114W/m2 K.

123
Exercı́cio
Repita o Problema anterior com a adição de uma blindagem contra radiação com
emissividade ξs = 0, 1.

124
7.15 Radiação solar
A radiação solar sofre certas transformações ao incidir sobre a atmosfera, de modo que
é necessário lidar com alguns conceitos especı́ficos para os vários tipos de radiação. As
seguintes definições ajudam a esclarecer esses conceitos.

ˆ Radiação direta: que se recebe diretamente do sol, sem sofrer qualquer dispersão
atmosférica. A radiação extraterrestre é, portanto, a radiação direta. Geralmente
usa-se o ı́ndice “b” para indicar radiação direta, do termo usado em Inglês: beam
(raio, feixe).

ˆ Radiação difusa: é a que se recebe a partir do Sol, depois de ter sido desviada por
dispersão atmosférica. É radiação difusa que se recebe através das nuvens e a que
provem do céu azul. De não ter radiação difusa, o céu seria preto, mesmo durante
o dia, como sucede por exemplo na lua. Normalmente utiliza-se o sub ı́ndice “d”
para a radiação difusa.

ˆ Radiação terrestre: que provém de objetos terrestres, exemplo, o que reflecte uma
parede branca, uma piscina ou um lago, etc.

ˆ Radiação total: A soma da radiação direta, difusa e terrestre que recebe-se sobre
uma superfı́cie. Por exemplo, sobre uma parede ou uma janela, incide a radiação
directa do Sol, a difundida pelas nuvens e o céu e também pode entrar alguma luz
refletida por outro objeto frente a parede ou janela. Um caso particular, mas de
grande interesse prático no estudo da energia solar, é medir a radiação total sobre
uma superfı́cie horizontal “vendo” para cima. Neste caso, pode ser considerado que
não há radiação terrestre e também é conhecido como radiação global. Portanto, a
radiação global é a soma da radiação direta mais a difusa.

Se parte da irradiação em uma superfı́cie por unidade de área e de tempo, for difusa Gd
e outra parte direta Gb segundo um ângulo θ com a normal à superfı́cie

G = Gd + Gb cosθ [W/m2 ]

125
O sol tem uma temperatura equivalente do corpo negro de Tsol = 5762 K, e segundo
a lei de Wein λmax ≈ 0, 5 µm
Os comprimentos de onda correspondentes ao poder emissivo espectral máximo do
sol estão na zona central da luz visı́vel

λvisivel = [0, 40 − 0, 76]µm

Comprimentos menores que 0, 40 µm correspondem a zona de ultra-violeta.


Comprimentos de ondas maiores que 0, 76 µm correspondem a à zona de infra-vermelho.

Constante Solar: A constante solar, F sol, é o total de energia que atinge o limite da
atmosfera. Seu valor, se medido fora da atmosfera da Terra e com um detetor perfeito,
seria F sol = 1390 W/m2 .
Calculo da constante solar:

ˆ distancia sol - Terra: R = 1, 496 × 1011 m,

ˆ diâmetro do sol Dsol = 1, 3927 × 109 m,

ˆ temperatura do sol Ts = 5, 778 × 103 K,

ˆ Constante de Stefan-Boltzman σ = 5, 6697 × 10−8 W/m2 K 4 .

σ ∗ Ts4 ∗ π ∗ Dsol
2
= q 00 ∗ 4 ∗ π ∗ R2

q 00 ≈ 1.369 W/m2 .

Exercı́cio
De acordo com sua distribuição direcional, a radiação solar que incide sobre a su-
perfı́cie terrestre pode ser dividida em duas parcelas. A parcela direta, que é constituı́da
por raios paralelos que incidem em um ângulo de zênite fixo θ, e a parcela difusa, formada
por radiação que pode ser aproximada como sendo distribuı́da de forma difusa em relação
a θ.
Considere condições de céu claro nas quais a radiação direta incide com um ângulo
00
θ = 30o , com um fluxo total (com base na área normal aos raios) de qdir = 1000 W/m2 ,

126
e com uma intensidade total da radiação difusa Idif = 70 W/(m2 sr). Qual é o valor da
irradiação solar total na superfı́cie terrestre?

A reflexão pode ser:

ˆ Especular: O ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência (como um espelho)

ˆ Difusa: Espalhada igualmente em todas as direções.

Radiosidade (Radiança) J Radiação total por unidade de área e de tempo que deixa uma
superfı́cie.
Ji = Ei + ρi Gi (superf icie i)

Para uma superfı́cie cinzenta α = , e opaca (τ = 0), isto é α + ρ = 1.

Ji = i Ebi + (1 − i )Gi
Ji − i Ebi
Gi =
(1 − i )
A transferência de energia radiante liquida em uma superfı́cie genérica i ( radiação que
sai, menos a radiação que entra, a irradiação) é dada por

Qi = Ai (Ji − Gi )

Exercı́cio
Um pequeno objeto metálico, inicialmente a Ti = 1000 K, é resfriado por radiação em
uma câmara de vácuo a baixa temperatura. Uma das duas finas camadas de revestimento
pode ser aplicada no objeto. As suas emissividades hemisféricas espectrais variam com
o comprimento de onda como mostrado na figura. Com qual revestimento o objeto irá
atingir mais rapidamente a temperatura de Tf = 500 K?

127
128
Capı́tulo 8

Fator de forma da radiação

Transferência de calor por radiação entre superfı́cies depende da orientação das superfı́cies
entre si, bem como das suas propriedades de radiação e temperatura.
Para levar em conta os efeitos da orientação sobre a transferência de calor por radiação
entre duas superfı́cies, vamos definir um novo parâmetro chamado fator de forma, que é
uma quantidade puramente geométrica e independe das propriedades e da temperatura
da superfı́cie. É também chamada fator de visão, fator de configuração e fator de ângulo.
As superfı́cies mais industriais podem ser tratados como emissores difusos e refletores
da radiação. Em problemas de transferência de calor por radiação entre superfı́cies, um
aspecto importante, é a determinação da fração da radiação total difusa deixando uma
superfı́cie e sendo interceptada por outra e vice-versa. A fração da radiação distribuı́da
difusamente que deixa a superfı́cie Ai e alcança a superfı́cie Aj é chamada de fator de
forma da radiação Fi→j .
O fator de forma de uma superfı́cie i para uma superfı́cie j é denotado por Fi→j ou
apenas Fij , definido como:
Fij = fração da radiação que deixa a superfı́cie i e atinge diretamente a superfı́cie j.
O fator de forma F12 representa a fração da radiação que deixa a superfı́cie 1 e atinge
a superfı́cie 2 diretamente, e F21 representa a fração da radiação que deixa a superfı́cie 2
e atinge a superfı́cie 1 diretamente.
Considere as duas superfı́cies negras A1 e A2 . A radiação que deixa A1 e chega a A2

129
Figure 8.1: A troca de calor por radiação entre superfı́cies depende da orientação das
superfı́cies entre si, e essa dependência da orientação é representada pelo fator de forma.

130
q1→2 = Eb1 A1 F1−2

e a radiação que deixa A2 e chega A1

q2→1 = Eb2 A2 F2−1

Como ambas superfı́cies são negras, toda a radiação incidente será absorvida e a taxa
liquida de troca de energia q12 , é

q12 = Eb1 A1 F1−2 − Eb2 A2 F2−1

Se ambas as superfı́cies estão a mesma temperatura Eb1 = Eb2 , portanto q12 = 0.


desde que nenhuma das áreas nem fatores de forma sejam funções da temperatura:

A1 F1−2 = A2 F2−1

Equação conhecida como teorema da reciprocidade.


A taxa liquida da transferência entre quaisquer das duas superfı́cies negras A1 e A2
pode ser escrita de duas formas

q12 = A1 F12 (Eb1 − Eb2 ) = A2 F21 (Eb1 − Eb2 )

Como o resultado final é independente da escolha da superfı́cie de saı́da, seleciona-se a


superfı́cie cujo fator de forma pode ser determinado mais facilmente.
Para determinar a fração da energia deixando a superfı́cie A1 que atinge A2 , con-
siderando área diferencial
q1→2 = I1 cosθ1 dA1 dw1−2

ˆ q1→2 é a taxa em que a radiação de dA1 é recebida por dA2 .

ˆ I1 é a intensidade da radiação de dA1 .

ˆ dA1 cosθ1 : projeção do elemento de área dA1 conforme visto a partir de dA2 .

ˆ dw1−2 ângulo sólido subentendido pela área dA2 receptora quando visto por dA1

dA2
dw1−2 = cosθ2 , Eb1 = πI1 ( emissão difusa)
r2

131
Substituindo  
cosθ1 cosθ2 dA2
q1→2 = Eb1 dA1
πr2
O ultimo termo é a fração da radiação total emitida por dA1 que é interceptada por dA2 .
Por analogia  
cosθ2 cosθ1 dA1
q2→1 = Eb2 dA2
πr2
A taxa liquida de transferência de calor radiante entre dA1 e dA2 é
 
cosθ2 cosθ1 dA1 dA2
q12 = (Eb1 − Eb2 )
πr2

Para determinar q12 a taxa liquida da radiação entre as superfı́cies A1 e A2 , devemos


integrar sobre ambas superfı́cies.
Z Z
cosθ2 cosθ1
q12 = (Eb1 − Eb2 ) dA1 dA2
A1 A2 πr2

podemos representar A1 F12 ou A2 F21 como


Z Z
cosθ2 cosθ1
A1 F12 = dA1 dA2
A1 A2 πr2

onde F12 é chamado de fator de forma com base na área A1 , e F21 é chamado de fator de
forma avaliado em base a área A2 .

8.1 Barreiras de Radiação


Barreiras de radiação construidas com materiais de baixa emissividade ( elevada refletivi-
dade) pode ser usadas para reduzir a transferência radiante liquida entre duas superfı́cies.

Exercı́cio
Determinar o fator de forma geométrica para um disco A1 muito pequeno e um disco
A2 paralelo grande, localizado a uma distancia L.

132
Figure 8.2: Cavidades particulares com duas superfı́cies cinzas e difusas

133
Revisão

Capacitancia global : Quando os gradientes de temperatura são desprezı́veis.

Exercı́cio Uma esfera de metal inicialmente a uma temperatura de Ti = 1150 K, é


submergido em um fluido a uma temperatura de T∞ = 325 K. Qual o tempo necessário
para atingir a temperatura de = 400 K. D = 12 mm, h = 20 W/m2 K, k = 40 W/mK,
ρ = 7800 kg/m3 e Cp = 600 J/kgK.

Efeitos espaciais

Exercı́cio
Durante a operação transiente de um motor de foguete feito em aço, não deve exceder
uma temperatura máxima de 1500 K quando exposto a gases de combustão com T∞ =
2300 K e h = 5000 W/m2 K. Para estender o perı́odo de duração da operação do motor,
propõe-se a aplicação de um revestimento protetor térmico cerâmico (k = 10 W/mK,
α = 6 × 10−6 m2 /s) sobre a superfı́cie interna do ejector.
Para um revestimento cerâmico com 10 mm de espessura inicialmente a uma temper-
atura de 300 K. Estime a máxima duração do motor permitida.
Considere: condução 1D (placa infinita). Desprezı́veis: capacitancia térmica do aço,
resistência térmica de contato aço/cerâmica e radiação.

Exercı́cio
Bilhas de aço, que foram aquecidas uniformemente até 850 o C são endurecidas pelo
resfriamento em um banho de óleo mantido a 40 O C, o diâmetro da esfera D = 20 mm e
h = 1000 W ?m2 K. Se o resfriamento deve prosseguir até que a temperatura superficial
das esferas atinja 100 o C, quanto tempo devem as esferas permanecer no banho de óleo
? qual a temperatura no centro das esferas no instante da conclusão do perı́odo de res-
friamento? k = 22, 2 W/mK, ρ = 7900 kg/m3 , Cp = 579 J/kgK, α = 4, 85 × 10−6 m2 /s.

Radiação

134
Exercı́cio
A absortividade hemisférica espectral de uma superfı́cie opaca e a distribuição espec-
tral da radiação que incide sobre a superfı́cie estão mostrados na figura.

ˆ Qual é absortividade hemisférica total da superfı́cie ?

ˆ Se a superfı́cie esta a 1000 K. Qual é a sua emissividade hemisférica considerando


ξλ = αλ

ˆ Qual é o fluxo radiante liquido para a superfı́cie?

135

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