Você está na página 1de 93

EXPEDIENTE SUMÁRIO

Apresentação ................................................................................ 7
Produção: Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária -
Retomando para não esquecer .................................................. 11
ITERRA, Coletivo Político e Pedagógico do Instituto de Educação
Josué de Castro. I - Princípios pedagógicos e filosóficos ................................... 12
II - Objetivo do IEJC ................................................................ 13
Redaçáo: Paulo Ricardo Cerioli, osfs. Ili - Sujeitos .............................................................................. 14
Método Pedagógico ................................................................... 16
Projeto gráfico: !terra 1 - Engenharia Social .................................................................. 20
1.1 - Alternância ....................................................................... 20
1.2 - Tempos educativos ........................................................... 22
Arte da capa: sobre arte de Rogério Mourrada 1.3 - Trabalho ........................................................................... 27
1.4 - Gestão democrática .......................................................... 30
1.5 ·- Pesquisa ........................................................................... 32
Todos os direitos reservados ao !TERRA. 2 - Arquitetura Social ....................... ......................................... 33
2.1 - Lógica ............................................ :................................. 35
2.2 - Estrutura orgânica ............................................................ 35
l ª edição: dezembro de 2004
2.3 - Organicidade ......................................... ........................... 40
2.4 - Inserção dos educandos e educadores .............................. 41
2.5 - Coletividade ..................................................................... 43
ITERRA - Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária 3 - Ambiente Educativo ............................................................ 51
Rua Princesa Isabel, 373 3. J - Princípio orientativo ......................................................... 53
Cx. Postal 134 3.2 - Jeito de funcionamento ............................. ....................... 54
95330-000 - Veranópolis - RS 3.3 - Tempos educativos ........................................................... 55
Fone/fax: (54) 441-1755 3.4 - Situaçóes de aprendizado ............................ ..................... 59
Endereço eletrônico: i~j_çªg.r.Q.~f.n.~ill.~,.ÇQDJ...b.r. 3.5 - Espaços pedagógicos ................................................. ....... 62
3.6 - Cotidiano ......................................................................... 64
4 - Estudo ............................................................................... ... 66
4.1 - Ênfase na concepção de mundo ....................................... 67
4.2 - Ênfase na aprendizagem ................................................... 69
4.3 - Ênfase na capacitação ...................................................... 70
4.4 - Lógica das didáticas .......................................................... 71
4.5 - Competências ................................................................... 74
4.6 - Elementos do estudo ........................................................ 75
4.7 - Organização do currículo ................................................. 78
5 - Movimento ........................................................................... 79 APRESENTAÇÃO
5.1 - Partir da existência ............................................................ 82
5.2 - Domínio da dialética ......................................................... 84
5.3 - Tensão .................................. ............................................ 90
5.4 - Fases do processo ............................................................. 93
5.5 - Leitura pedagógica do processo ......................................... 98
"Cada pessoa que eduquemos
6 - Acompanhamento .............................................................. 104
deve ser útil à causa da classe (trabalhadora)"
6.1 - Pressupostos ................................................................... 108
Anton Makarenko 1
6.2- Níveis .............................................................................. 109
6.3 - Princípios ........................................................................ 112
6.4 - Interação pedagógica ....................................................... 116
6.5 - Registro e sistematização ................................................. 120 Este texto é uma nova tentativa de reflexão teórica2 sobre
6.6 - Direção político-pedagógica ............................................ 121 o método pedagógico do Instituto de Educação Josué de Castro,
feita a partir das condições práticas (condições objetivas e
7- Personalidade ................................ ...................................... 126
7.1 -Articulação de Projetos ................................................... 130 subjetivas e do desenvolvimento do processo pedagógico) que
7.2 - Convivência .................................................................... 132 exigem a cada momento um retorno à prática com novas
7.3 - Comportamentos ............................................................ 134 interações educacionais.
7.4 - Hábitos ........................................................................... 136
7.5 - Valores ............................................................................ 137
O método pedagógico do lnstituto 3 não é fechado,
7.6 - Emoção .......................................................................... 139 dogmatizado, por ser considerado absolutamente correto ou
7.7 -Mística ............................................................................ 140 pronto, pois está em continua gestação por meio do
8 - OFOC: Oficina Organizacional de Capacitação ............. 142 questionamento e da contribuição dos educadores e educandos
8.1- Condições objetivas ........................................................ 144 que dele participam. Esta teoria está sendo produzida no calor
82
. - p· ,. meto d
nnc1p1os l ' ' . ............................................... 147
o ogICos da vida escolar e em um instituto de educação onde são vividos
83 E d
. - strateg1as pe agog1cas
I. , . .................................................. 150
determinados períodos da vida. Ela acontece em uma escola
8.4 - Objetivo ......................................................................... 153 real, em movimento: é um método que se faz e refaz a partir da
Temos I Nossos Limites ......................................................... 163 Pedagogia do Movimento, como se fosse um "rio" (com seu
Anexos ...................................................................................... 172 leito largo ou estreito por causa da distância entre as suas margens o
A - Acordos ............................................................................ 173 ~
formando estreitos ou "espraiamentos" e com seu declive mais li
B - Histórico ........................................................................... 175
...,"'o
Referências Bibliográficas ............................. .. =-
.. 179
"º'o
~o
w
1
CAPRlLES, René. Makarmko: o na.scimento da pedagogia socialista. p. 97 .
l Iniciadaem janeiro de 2001 com o objetivo de reelaboração do texco "OFOC: Oficina
"'o

3
Organizacional de Capacitação" de dezembro de 2000.
A partir deste momento o termo "Instituto" passa a ser sinônimo de IEJC.
1

3
humano perfeito, com as melhores intenções, e no final produza
ou menos acentuado) onde corre a "água" do cotidiano do
um "ser estranho". Apenas temos uma determinada intenção
processo formativo/educativo. Água essa que é formada pelo
(objetivo) e procuramos ir produzindo um método que nos ajude
"oxigênio" trazido pelos Movimentos Sociais Populares do
a materializá-lo. Sabemos distinguir utopia (perspectiva, sonho)
Campo (MSPdoC)A principalmente o MST - Movimento dos
de projeto humano histórico (realizável, viável). No fundo, somos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, e pelo "hidrogênio" da
um "laboratório" de pensar a formação humana por estarmos
realidade/subjetividade dos seres humanos que nele se inserem
construindo historicamente (há 13 anos) um método, e o esforço
como educandos e como educadores.
daqui bebe no esforço da humanidade.
O porquê o método está assim (o retrato deste texto) só é
possível compreender por meio da historicidade deste processo É bom lembrar que este texto considera que os leitores já
educativo (iniciado em 1990) que nos ajuda a perceber, além das tenham conhecimento de outros dois: "Princípios da Educação
contradições, o movimento do pensamento dos responsáveis no MST" 7 e "Projeto Pedagógico" do IEJC.8
por sua constituição e implementação. Boa leitura!
Aqui, pretendemos apenas apresentar sua espinha dorsal,
a saber, os elementos que o constituem, mas que também já
Coletivo Político e Pedagógico do IEJC
mudaram e podem mudar. O que o determina são os sujeitos
envolvidos e o objetivo desta escola: <<a formação política do Setembro de 2003
cidadão para a construção do socialismo". 5 Apostamos na
"construção de uma sociedade socialista através de uma ciência
dialética (com objetivos práticos/um objetivo político
determinado) chamada pedagogia, construída como parte
integrante de um coletivo de produção social". 6
Quem olhar este texto de fora do processo corre o risco
de ter a impressão de que ele não consegue ser o todo: apenas
junta uma série de questões. De fato, há um limite no descrever
o
todas as relações. Ou talvez seja a tentativa de fazer um ser ~
ª"'
3
o
u
"'o
"";_;
"';:> .9,
.9, o

~
&l
õ
~
Ul

"'oo 4 "'o
A partir daqui utilizaremos a sigla "MSPdoC' para "Movimentos Sociais Populares g
;:::
~ do Campo", como o MST, o MAB, o MPA e assim por diante. 7 Em MST - Caderno de Educação n . 8.
!== 5 E;
Makarenko, em CAPRILES, René. Makarenko: o nascimento da pedagogia sorialista. p. 90 8 Em ITERRA- Cadernos do lTERRA n·2.


~
~


6
CAPRILES, Rcné. Makarenko: o nasc imento da pedagogia socialista. p.35 e 36.
RETOMANDO PARA NÃO ESQUECER

"Um verdadeiro estímulo da vida humana éa afegtia do


amanhã. Na técnica pedagógica esta alegria do amanhã é um dos
objetos mais importantes do trabalho. Primeiro, épreciso
organizar apróptia alegria,f azê-fa viver e convertê-la em
realidade. Em segundo lugar, é necessdrio ir transformando
insistentemente os tipos mais simples de alegria em tipos mais
complexos e humanamente significativos. Aqui existe uma linha
muito interessante: da satisfação mais simples até o mais
profimdo sentido do dever. "9

O Instituto de Educação Josué de Castro, o IEJC,


pertence ao Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da
Reforma Agrária, o !TERRA.
O Instituto é uma Escola do Movimento dos Trabalha-
dores Rurais Sem Terra, MST, com vários cursos, e seus
educandos são por ele selecionados. Também está aberra a
educandos de organizações aliadas e á articulação Via Campesina.

ª
,-;
V

~
~

o
ó
~
8
~
g
i:
é:


9 2:
Capa final do livro Anton Mr1k11rmko: vida e obra -11 pedagogia da revoluçiío.
1- PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS E PEDAGÓGICOS
11) Criação de coletivos pedagógicos e formação permanente
dos educadores e das educadoras.
No Caderno de Educação n.8 temos os Princípios de 12) Atitude e habilidades de pesquisa.
Educação no MST. 10 Aqui passaremos apenas a citá-los. Vejamos: 13) Combinação entre processos pedagógicos coletivos e
a) Princípios filosóficos individuais.
1) Educação para a transformação social.
2) Educação para o trabalho e a cooperação. li - OBJETIVO DO IEJC
Jamais podemos nos esquecer que o IEJC é uma escola a
3) Educação voltada para as várias dimensões da pessoa humana.
serviço dos MSPdoC a qual tem por finalidade formar o ser
4) Educação com/para valores humanistas e socialistas. humano (visa a ensinar e a aprender a sermos humanos: ser
5) Educação como um processo permanente de formação e gente), garantindo a escolarização e, ao mesmo tempo garantindo
transformação humana. "a formação política do cidadão para a construção do
b) Princípios pedagógicos socialismo". 11
1) Relação entre prática e teoria. Como em toda escola ou instituto de educação está presente
um ideal de ser humano e um projeto de sociedade: nos
2) Combinação metodológica entre processos de ensino e de
capacitação. propomos a formar um cidadão participativo 12 para uma
sociedade igualitária.
3) A realidade como base da produção do conhecimento.
No Instituto temos a intenção de contribuir para o processo
4) Conteúdos formativos socialmente úteis. de formação humana, cujo objetio seja a formação de sujeitos
5) Educação para o trabalho e pelo trabalho. sociais que contribuam com a transformação da sociedade.
6) Vínculo orgânico entre processos educativos e processos Procuramos estar em sintonia com a política de formação
políticos. de quadros do MST e contribuir assim, dentro de nossos limites,
7) Vínculo orgânico entre processos educativos e processos na formação de militantes ou lutadores do povo. Temos
econômicos. consciência de que não fazemos tudo.
ê Como ensino médio, nós propomos a contribuir para a
8) Vínculo orgânico entre educação e cultura.
3 formação integral: de gente com uma determinada concepção !!
"'o 9) Gestão democrática. 8
~ de história (de mundo); de pessoas não alienadas, mas
~ 1O) Auto-organização dos estudantes e das estudantes. "'e.
o emancipadas e cidadãs; de personalidades com valores que fazem "';::.
6 2
~ parte de um projeto popular, as quais procuram superar, se têm, o
'6
Ji
~
os desvios de caráter; de seres humanos concretos que se ~
ü:l
f2 e"'
g 2
2
~

10 11
Para compreender melhor cada principio procure o MST. Caderno de Educação n .8. Makarenko, em CAPRILES, René. Makarmko: o mtscimmto da ptdagogia socialista. p. 90 .
12
Antigamente dnhamos o lema "Educando para a Cooperação". ::::.
socializam; de uma identidade campesina que está em formação; Além destes, há pessoas enviadas por outras organizações,
de sujeitos da história felizes. especialmente as participantes da Via Campesina.
Makarenko nos diz: "Estou convencido de que a finalidade Mas esta descrição geral é insuficiente. Nem é suficiente
de nossa educação reside não somente em educar um homem (e saber se ele é um dos nossos, quanto tempo está no MST, se é
uma mulher) de espírito criador, um homem-cidadão capacitado assentado ou acampado, onde mora, o seu sexo, a sua idade e
para praticar com a máxima eficiência na edificação do Estado. outros dados. Nós acreditamos que a realidade onde a pessoa
Nós devemos educar, também, uma pessoa que seja vive é a matriz de onde ele se forma, se constitui como sujeito,
obrigatoriamente feliz" . 13 E ser feliz, para ele, é saber-se como pessoa humana e como militante. Para isto, precisamos
contribuidor para a produção da transformação da sociedade conhecer cada uma das pessoas que estão em nosso processo
porque está realizando o seu papel no processo histórico em educativo: a sua maneira de perceber o mundo; o seu jeito de
andamento. compreender o trabalho; o como ele percebe o seu papel na
história; os saberes e experiências que ele já tem; o seu jeito de se
relacionar com os demais e com o conjunto da natureza; os desvios
111 - SUJEITOS ideológicos que ele introjetou; as qualidades e os defeitos que ele
Trabalhamos com "Sujeitos do Campo", pessoas concretas percebe em si mesmo ou deixa de perceber, e assim por diante.
que moram e vivem na terra, com sua cultura camponesa e "sub- Cada educando e educador que chega ao Instituto, por
culturas" demarcadas pelas regiões. São pessoas históricas, muitas ser um sujeito humano inserido em um processo histórico e por
delas com experiência de serem sujeitos da história, marcadas estar em processo de formação, precisa ser cuidadosamente
pelas contradições da visão de mundo do opressor, que diagnosticado ao longo dos dias, semanas, meses.
introjeraram por vivermos numa sociedade de classes. São Nossa tarefa é ajudá-los a ser dar conta, de forma cada
trabalhadores e/ou filhos de trabalhadores, de ambos os gêneros, vez mais crítica, de como são, como vivem e convivem, como
condicionados pelos meios de produção. trabalham; e outros "como", pois esta é a base para que possam
No início eram acampados e assentados, pessoas mais propor alternativas e procurem se transformar.
maduras, forjadas pela vida e pela luta. Hoje já vêm os que
nasceram nos acampamentos e após o assentamento de sua família:
o eles fazem parte da segunda geração e conhecem o MST apenas o
t':
t':
3 pela narração de histórias e pelos livros, a não ser que seus 3
"'Cl "'o
~ assentamentos continuem com forte vinculo orgânico com o ""
~

.§. Movimento. Vêm também pessoas que estão entrando agora na E..
o
'6 6-
~ luta, algumas procurando voltar para a terra (pois estavam nas ~
lí periferias) e que praticamente não conhecem o MST .§
"'Cl ~
g
ê
i=
i=:
~


]

• 13
.3
CAPRJLES, Rc:né. Makarmko: o nascimmtodapedagogia socialista. p. 49
MÉTODO PEDAGÓGICO II - Relembrando as matrizes pedagógicas que assumimos
1 - Algumas observações preliminares Este método pedagógico é baseado no movimento da
Apresentamos uma sistematização do método pedagógico realidade, dentro e fora do Instituto, e na articulação dialélica
do IEJC. Não é a primeira e nem será a última. É apenas o das seguintes "matrizes" de formação humana:
resultado do que estamos produzindo ao longo de alguns anos a) Educação Popular (Freire) - Entendida como Educação
(desde 1989). do Popular ou Pedagogia do Oprimido, que se reconhece
Para ajudar no entendimento, gostaríamos de lembrar de como tal, 14 assume um compromisso de classe e compromere
que a compreensão deste método depende da absorção das rodo o nosso trabalho com uma metodologia (prática-reoria-
matrizes pedagógicas e da percepção das relações que existem prática) que seja capaz de tornar os membros das classes
entre as partes. Elas são apresentadas separadamente para facilitar populares sujeitos plenos da construção de um Projeto
a descrição, mas na sua implementação fazem parte do mesmo Popular de sociedade.
rodo e se inter-relacionam. b) Formação Político-ideológica (Makarenko/Plekhanov/
Portanto, não devemos ter a pretensão de que estudando Marx) - Compreendida como a formação política do
parte por parte do método, isoladamente, iremos compreender trabalhador cidadão e trabalhadora cidadã para o socialismo,
o todo. O estudo de cada uma das partes implica perceber a sua a partir de uma concepção de história e do papel dos
relação com as demais partes. trabalhadores nesta história como contribuidores na
Como o método está em permanente construção, a transformação da sociedade.
experiência nos leva a alertar para evitar o equívoco de achar c) Trabalho/Economia (Pistrak/Makarenko/Marx) -
que fazendo alterações pontuais, a partir de análises superficiais Compreende o trabalho como a atividade específica do ser
ou de constatações periféricas, é possível qualificar o método: humano, orientada para a transformação da natureza. O
pode-se resolver um aspecto são criados mas ao mesmo tempo, homem, auxiliado por instrumentos de trabalho, para que
problemas maiores. Cada alteração precisa ser antecipada assim possa satisfazer as suas necessidades, mas, que ao
teoricamente e analisada em rodas as suas possíveis implicações. transformar a natureza, transforma a si mesmo, a sua atitude
Mas este texto não concretiza o método, isto é, não diz frente a natureza, freme aos outros seres humanos e frente a
que isto deve ser feito assim e aquilo deve ser feito de outro si mesmo. Mudam suas idéias, seus ideais e sua possibilidade
ê jeito, com os devidos passos, senão deixaria de ser "caminho" e o
3 . (( .
))
de conhecer e transformar a realidade. Pelo trabalho nos ~
"" passaria a ser rece1 ta . :5...
....o Q

ô
--.
Finalmente, este não é um texto para ser lido e guardado "'
o ,§_
~ e assim atuarmos a partir das !em branças que temos dele. Há o
~ 14 ó
~ textos que precisamos ter claros em nossa mente e para isto "A pedagogia do oprimido" não é uma listagem de métodos de como ensinar aos
~
oprimidos e excluídos. Nem uma mecodologia para trabalhar com eles ( ... ). É a .;::;
"'o precisamos voltar a "beber de sua fonte". Este é um texto para pedagogia que os próprios oprimidos aprendem e põem cm prática para recuperar a ;...;.
~
j:::
ç::
ser pesquisado, estudado, debatido, aprofundado e, sempre que humanidade que lhes foi roubada, para serem humanos em condições inumanas. t. a f:
i::
g necess<irio, alterado. pedagogia dos homens empenhando-se {eles) em sua libertação". Cf. ARROYO: p. e;

• 247 .


z
produzimos como sujeitos sociais e culturais (nós nos
história, maior e a formação de sujeitos sociais); de que o
inserimos em uma cultura fazendo). As formas como MSP se dá dentro de um processo histórico maior que tem as
produzimos nos produzem: o como trabalhamos nos forma suas leis próprias; e que a escola (IEJC), entendida como lugar
ou deforma.
de formar sujeitos humanos, pode ter o MSP e o movimento
O trabalho, para ser educativo, exige reflexão sobre o que se
da história como princípios educativos.
faz, o como se faz, o porquê se faz assim ou por que se
organiza o trabalho deste e não de outro modo. Para que
esta reflexão possa acontecer é necessário que haja um Ili - ELEMENTOS DO MÉTODO
tempo/espaço para tal. Entendemos aqui por método pedagógico o jeito de colocar
Faz parte desta matriz a compreensão de que a economia é em movimento a formação humana desde as condições objetivas
mais um pedagogo neste processo educativo. que encontramos em cada momento, curso, turma ou grupo de
d) Coletividade (Makarenko) - Aposta na coletividade, por educandos, e as definições pedagógicas que estão neste projeto.
causa de suas condições múltiplas de interação, das O método pedagógico não tem uma definição ou receita
possibilidades de inter-relações e como espaço educativo prévia à prática. Construir o método de educar é a própria prática
privilegiado do ser humano que vive em uma sociedade dos educadores e dos educandos envolvidos no processo. Mas,
marcada pelo individualismo. Sozinhos, nós não aprendemos pela leitura das práticas que já desenvolvemos ou acompanhamos,
a ser gente: não nos humanizamos. é possível identificar alguns elementos ou aspectos básicos desta
e) Capacitação (Santos de Morais) - Intui diferentes métodos construção. 15 São os seguintes: 16
de formação e aposta na necessidade do exercício prático 1. Engenharia social ou montagem do processo pedagógico.
(aprender fazendo), com base no primado do objeto (numa 2. Arquitetura social ou estratégia de inserção, organização
situação que requeira este aprendizado), como alavanca para e de foncionamento da coletividade do Instituto.
a construção das competências que precisamos aprender para 3. Ambiente educativo ou "cenários" de aprendizagem.
intervir com pertinência na realidade (saber-fazer). 4. Estudo: ênfase na concepção de mundo, na aprendizagem
f) Pedagogia do Movimento (Caldart) - Implica a e na capacitação.
5. Movimento ou o processo em andamento e a leitura/
o compreensão: do Movimento Social Popular (MSP) como
interpretação desse movimento.
3....
o
lugar de formação de sujeitos sociais, pois nele acontecem
processos de formação humana, e como princípio educativo;
6. Acompanhamento ou "ninguém se educa sozinho".
~
ó
·~
~ ....
7. Personalidade: formação do caráter.
-ª-o de que sujeitos sociais se formam e aprendem na dinâmica da o
6- luta social organizada e de que ela é a base material deste 8. OFOC: Oficina Organizacional de Capacitação ou
§ 6
& processo educativo (na ação ele transforma e se transforma); intencionalidade do processo. rJ
.., Jj
o
de que a lura social que forma os sujeitos é aquela que se produz e""
~
i:;
!=
1
e reproduz como práxis revolucionária da sociedade e da vida l)
16
ITERRA- Cadernos do !TERRA n.2. p. 26.
Aqui ele já está diferente do Caderno anteriormente citado. Lá são seis (6) e aqui são ;
• das pessoas (quanto mais estranhamento no movimemo da oito (8) elementos há.~icos constitutivos .


L:
1 - ENGENHARIA SOCIAL b) Tempo Comunidade 19 (TC): É a continuidade do processo
"Que é a vida, senão atividade?" de formação, mantendo o enraizamento com a comunidade
Marx ou coletivo de origem (trabalho na roça), e de participação
no Movimento que o enviou (na organicidade e na luta), ou
A expressão "Engenharia Social" foi retirada do método onde o Movimento que o enviou determinar. 20 É um
do "laboratório experimental" .17 Ela é a com binação dos momento de experimentação, socialização e pesquisa de
elementos básicos que configuram um processo pedagógico, campo, além de atividades orientadas pela escola (leitura).
como o assumido pelo Instituto, e, conseqüentemente, da Para os Sem Terra, o MST é o pedagogo do TC.
montagem dos cursos que nele vão acontecer. Os elementos que
Os cursos, por causa da alternância, estão divididos em
compõem a Engenharia Social formam e determinam o "leito"
Etapas que variam em tamanho (número de dias) e quantidade
onde o método vai acontecer.
(número de etapas) conforme o curso. Em cada etapa existem o
A subtração ou a substituição de um dos elementos forja
TE e o TC.
uma nova configuração, alterando as relações e,
Todos os cursos têm uma Etapa Preparatória, com seu
conseqüentemente, a experiência pedagógica e o aprendizado.
TE e TC, em vista da seleção dos educandos, da inserção no
São parte da Engenharia Social do IEJC:
processo do Instituto e para um resgate do MST (um banho de
Movimento).
1.1 - Alternância
A Escola, local onde acontece o desenvolvimenro do
processo educativo/formativo, funciona no regime ou sistema
de alternância 18 • Cada turma de educandos tem um período em
que a maior influência é a da escola e um período em que a
maior influência é a da comunidade, entendida como ao
Movimento qual pertence (é do MST, por exemplo). Mas, nos
dois períodos ambos influenciam. São eles:

a) Tempo Escola (TE): Acontece principalmente no Instituto


~"'
Q
(em Veranópolis) e também em atividade
promovidas pela escola, em conjunto com os
de campo,
interessados ú
~
~
~
(uma prática de campo ou uma OCAP - Oficina de
...
~ ~
6 Capacitação Pedagógica, por exemplo). ~
<:i
1
g
:É " No inicio este tempo era acompanhado pelos educadores da Escola {iam a campo, ~
~ vi,itando os educandos em suas comunidades de origem), depois passou a ser tarefa "'e.
i2 1
SANTOS DE MORAIS, Clodomir. A capacitnriío ... p. 78. dos Movimentos. f
~ 18
Não confundir com a Pc::dagogia da Alternância, utilizada pelas EFAs - Escolas Família 20
Todos os educandos do IEJC devem ser indicados e asrnmidos pela comunidade:: ou ~
g

• •
Agrícola, por exemplo. coletivo de origem, com aval do Movimento. ~
r------------------------, b) O outro é que "escola não é só lugar de estudo, e menos
Por exemplo: ainda aonde se vai apenas para ter aulas, por melhor que
Atualmente acontecem no IEJC os seguintes cursos: sejam, devam ser. O Instituto é uma escola, um lugar de
a)Normal Médio (ex-Magistério) - MAG = Etap a formação humana, e por isso as várias dimensões da vida
Preparatória (EP) + 6 etapas devem ter lugar nela, sendo trabalhadas pedagogicamente".21
b)Técnico em Administração de Cooperativas- TAC (médio Por isso, além do tempo aula temos outros tempos e, quando
e profissionalizante)= EP + 6 etapas necessário, podem ser criados subtempos dentro dos tempos
c)Técnico em Saúde Comunitária - TSC (médio e ma10res.
profissionalizante) = EP + 7 etapas Concomitantemente, os tempos educativos visam
d)Comunicação Popular - CP (médio) = EP + 6 etapas contribuir no processo de organização (acento maior no tempo
e)Pedagogia da Terra (superior) = EP + 8 etapas escola) e auto-organização dos educandos (acento maior no
tempo comunidade). É um exercício de aprender a organizar o
Também acontecem no Instituto outros cursos e oficinas
tempo pessoal e o tempo coletivo em relação às tarefas necessárias.
(de artes, por exemplo).
É um meio para se garantir os fins que se deseja alcançar, levando-
L------------------------~ os a gerir interesses, estabelecer prioridades, assumir
1.2 - Tempos educativos: sua existência compromissos com responsabilidade. Pois "educar o ser humano
significa capacitá-lo para utilizar adequadamente seu tempo
Os tempos educativos nascem para reforçar dois imediato". 22
princípios importantes de nossa pedagogia: O Instituto pode organizar os tempos que achar melhor
a) Um é a necessidade de mudar a existência dos educandos para o processo educativo que está desenvolvendo. É preciso
(seu jeito de viver e de perceber o mundo), criando assim definir quais tempos educativos e a duraçãó de cada um deles,
uma abertura para o questionamento e a busca de uma nova evitando que o cotidiano fique muito "picado". A duração de
síntese, já que os nossos educandos vêm de uma cultura (ou cada tempo não precisa ser a mesma, pois depende da finalidade
subcultura) em que o tempo é dividido pelas tarefas de acordo de cada um (ver item 3.3).
com o dia, sem levar em conta o tempo cronológico, e por É importante destacar que em rodas as etapas os tempos,
isto nem são vistos como tempo: fica uma espécie de "tempo devem permanecer os mesmos: eles podem ser alterados em
ê
~ natural" gerido pelo espontaneísmo e condicionado pela vista da caminhada de cada educando e do amadurecimento do 8...
ú objetividade da sobrevivência (ter que tratar as vacas e tirar o
Ul
e processo educativo da turma (etapa em que se encontra). O o
.....
~ leite diariamente no início da manhã, por exemplo) .
.Q, mesmo acontece em relação ao grau dos cursos (médio ou ~
o
6-
(j
ã
Propositalmente subdividimos o dia em vários tempos
controlados cronologicamente, o que cria um impacto
s
e

s..,
Ul
e cultural gerado pelo exercício de controles de unidades de e
g r:
~ tempo cobrados pela interação social (o atraso de um ii MST - Caderno de Educação n.9. p. 25 ~
E


atrapalha a vida dos outros); l7 Makarenko, cm CAPRILES, René. Mttkttrmko: o nttsrimmtodtt ped11gogitt socittfisttt. p. 160. 2:


.3
superior). A alteração deve levar em conta o grau, a caminhada Os tempos educativos podem ser diários ou semanais.
de cada turma (etapa em que se encontra), a organização do Quando passam a ser ocasionais é melhor tratá-los como "ourras
conjunto (escola) e deve visar a uma maior auto-organização atividades pedagógicas", tais como: visitas educativas; jornadas
pessoal dos educandos (já no TE). pedagógicas; oficinas de capacitação pedagógica, etc. 21
O processo educativo vai questionar a existência de uns
tempos e os suprimir se perderem a sua finalidade, bem como r------------------------,
propor a existência de ourros.
23 Por exemplo:
Há os educandos que estão fazendo o seu TC no Instituto. Atualmente, para as turmas do médio, temos os
Eles devem participar dos tempos educativos comuns (tempo seguintes tempos educativos:
formatura, por exemplo) e ter os seus tempos educativos próprios: a) Tempo Formatura - Tempo diário de 20 minutos (120
definir quais e sua duração (tempo trabalho e tempo estudo, minutos por semana), de segunda a sábado. É um tempo
do conjunto do IEJC.
por exemplo).
Também há os educadores que devem ter os seus tempos b) Tempo Aula - Tempo diário de 5 horas, de preferência
educaLivos. de segunda a sábado (30 horas ou 1.800 minutos por
Todos os tempos educativos, de todos os educandos, devem semana), por turma. Nele está incluído um momento de
ter o respectivo acompanhamento. intervalo (15 minutos/dia), a combinar.
A experiência nos mostrou ser necessário estabelecer um c) Tempo Trabalho - É um tempo semanal de 15 horas ou
tempo limite dia para a soma dos tempos educativos que não 900 minutos por semana que é distribuído conforme as
pode ultrapassar doze (12) horas/dia (pode ser menos) e um necessidades de funcionamento do Instituto. Nem todos
limite semana de não mais que seis (6) dias por semana ou 72 trabalham ao mesmo tempo.
horas semanais (ou 4.320 minutos) de segunda-feira a sábado (a
d) Tempo Oficina - É de 220 minutos por semana,
princípio o domingo é livre, salvo atividades de sobrevivência),
normalmente dividido em 2 dias.
para garantir o descanso e os espaços subjetivos, pois há o risco
e) Tempo Leitura - É de 180 minutos por semana.
de sufocamento, uma vez que os educadores querem mais tempo,
o Movimento também e o processo também. Nas doze horas/ f) Tempo Estudo - É de 430 minutos por semana.
dias não se conta o tempo das reuniões de gestão (CNBI, g) Tempo Cultura- Tempo de uma vez por semana, de 100
~
Li Conselho Fiscal, Conselho de Disciplina, CNBT, por exemplo), minutos. Pode haver um tempo maior desde que acordado ]
"'o ...."'
. com os educandos. o
nem os tempos de militância (preparação mística, atividades de
"' ~
~ lura, etc). Pode haver atividades extras, desde que sejam oferecidas L------------------------J .2..
o
~ para quem quiser e forem acertadas pelos interessados. 'i}
i5 g
ã cfl
"'oo "'o
t:
g
!:'.
§ r;;
g


Hoje se fala em "tempo de maturação do conhecimenco".


B 24
MST - Caderno de Educação n. 9. p. 43-44. 3
r------------------------, 1. 3 - Trabalho
1h) Tempo Notícias - É de 60 minutos por semana (em uma
1 atividade). Mas todos devem ser desafiados a buscar Entre os nossos princípios filosóficos, temos a "educação
1
1 ~ d"ianamente.
·mrormaçoes
E · para o trabalho e a cooperação" e entre os princípios pedagógicos
"a educação para o trabalho e pelo trabalho" e o "vínculo
1 i) Tempo Reflexão Escrita - Tempo diário de 20 minutos
orgânico entre processos educativos e processos econômicos" 25
: (120 minutos por semana), de segunda a sábado. Mas deve
e, ao mesmo tempo, uma das pedagogias em movimento:
1 acontecer no domingo por iniciativa e organização pessoal.
"pedagogia do trabalho e da produção". 26
1 j) Tempo Educação Física - Tempo de 100 minutos por Nossa concepção de trabalho é de que ele é a atividade
: semana, em duas vezes. específica do ser humano concreto (seu esforço físico e mental)
k) Tempo Núcleo de Base (NB) - Tempo de 200 minutos orientada para transformar a natureza para que satisfaça as suas
por semana, em dois momentos. necessidades. O trabalho é o meio de suprir necessidades e só é
1) Tempo Verificação de Leitura (VL)- Tempo de 90 minutos 1 possível com a ajuda dos instrumentos de trabalho e através de
por semana, em uma vez. esforços coletivos. Para Marx, "o trabalho em primeiro lugar,
Para os educandos em Tempo Comunidade no Instituto um processo entre a natureza e o homem, processo em que este
há os seguintes tempos: realiza e controla mediante sua própria ação seu intercâmbio de
a) Tempo Trabalho - 40 horas semanais (segunda-feira a materiais com a narureza".27 E mais, o trabalho é a possibilidade
de aperfeiçoamento do ser humano que se forma a partir de
sábado).
suas relações com o conjunto da natureza.
b) Tempo Leitura e Estudo - Pelo menos 90 minutos/dia
O Instituto precisa ter um estreito vínculo com o trabalho
(540 minutos por semana).
socialmente útil. "Todos trabalhando", executando o processo
c) Tempo Formatura - O mesmo dos educandos que estão decidido/planejado, é a nossa regra. Cada um deve ter um tempo,
no Tempo Escola (médio). que pode variar (uns estão no TE, outros estão fazendo aqui o
d) Tempo Núcleo de Base (NB) - Tempo de 120 minutos TC, outros vieram para cumprir uma tarefa específica etc.), e
por semana, em dois momentos. Além disso, mais um lugar ou posto de trabalho que faça parte do processo
atividades propostas pelo MST. educativo nele desenvolvido.
o
r= e) Tempo Reflexão Escrita - O mesmo dos educandos No Instituto deve existir trabalho para todos. A existência
8 que estão no Tempo Escola (médio). do trabalho exige de quem dele participa um esforço físico e ~
..."'o 5
f) Tempo Notícias - O mesmo dos educandos que estão mental em vista da transformação e do cuidado do meio em e:
~ '='
o no Tempo Escola (médio). ie
g õ.
.~ Tempo Cultura - O mesmo dos educandos que estão no
1

~ ~ Cf. Princlpios da Educação cicados na p. 7. Ver também Boletim da Educação n. 4 (j


;.,
o
"'o 1 Tempo Escola (médio), mais outras atividades de iniciativa "Esco la, trabalho e cooperação" e Boletim da Educação n. 5 "O trabalho e a UJ
...o
i:! coletividade na educação".
;:: 1 deste grupo de educandos. 2
' MST - Caderno de Educação n. 9. p. 8-9 e 33-37.
g
ç::
~ 1 27
E


!vfarx. C. O Capital. Ohras, t. 23, p. 188.
L------------------------J ~


que vive (todos vivemos) e, ao transformá-lo, nos transforma a O trabalho, para ser útil, exige resultados que precisam
nós mesmos: nos humanizamos. Ao mesmo tempo, através do ser avaliados coletivamente (Desempenho e Gestão no Trabalho
trabalho cultivamos a nossa raiz (somos trabalhadores e nos -DGT, por exemplo) e que são frutos de uma ação coordenada.
orgulhamos disso) e, também alimentamos a nossa identidade Cada grupo de trabalhadores (unidade de produção) deve estar
como integrantes da classe trabalhadora (somos forjadores de sob a responsabilidade e o comando de um trabalhador.
uma sociedade socialista). Vemos o trabalho como um valor e "Um dos nossos desafios é superar a discriminação entre
por isso precisamos ter gosto pelo trabalho, apesar de ele esrar o trabalho mecânico (manual) e intelectual, educando para
atualmenre sendo corrompido por causa da exploração do capital. ambos no mesmo processo produtivo." 29
Mas não basta trabalharmos de qualquer jeito. É imporrante E finalmente, o trabalho implica a necessidade da reflexão
o jeito de trabalhar. Visamos passar do espontaneísmo individual sobre a organização e o jeito do trabalho que deve acontecer,
para a planificação coletiva do trabalho em vista de uma rencaciva de compreender qual o processo produtivo utilizado e todas as
de superação do individualismo, o que exige uma análise do fases/etapas deste processo produtivo, de se envolver no
processo produtivo que está sendo utilizado e o desafio de torná- planejamento da produção e da comercialização, não apenas
lo o mais socialmente dividido possível neste momento do nos momentos de avaliação do trabalho, mas em outros espaços
processo. O horizonte é o Processo Produtivo Socialmenre educativos.
Dividido (PPSD). O trabalho não acompanhado da capacitação, da instrução
Isto exige a qualificação dos trabalhadores, sejam e da educação política e social não proporciona proveito
educandos ou educadores, para que eles possam responder ás educativo. Mesmo sendo um educador natural, o trabalho sem
atribuições de seus postos de trabalho, para que eles tenham a reflexão é insuficiente. É neste processo conjunto que o trabalho
oportunidade de se transmutar de aprendiz para mestre, se torna educativo.
considerando que os mestres em algumas "competências" serão Nem sempre vemos o trabalho como um "dever social" e o
aprendizes de outras. Qualificação que só é possível através do pedagogo do ser humano. Achamos que o trabalho precisa ser
monitoramento e da abertura ao aprender a fazer, e, ao diminuído e, se possível, aumentando os ganhos. A formação
questionar-se sobre o jeito que faz e o como se utiliza as ideológica deve estar vinculada ao trabalho e este deve trazer
ferramentas/equipamentos frente às orientações coletivas de melhorias para a vida social. É impossível construir uma sociedade
produção (o Processo Operacional Padrão - POP, por exemplo). nova ~em trabalho. Ele deve produzir alimentos, embelezar a
s"'
...,e
O Instituto deverá se preocupar com o aprendizado das
pessoas 28 (ser aprendiz) em relação aos postos de trabalho que
moradia, cuidar do meio ambiente, aperfeiçoar os conhecimentos ~
(5
:..>
e superar as limitações. Produzir é trabalhar. Planejar, estudar para
.§, nele existem, para que mais tarde assumam o mesmo posto como dar respostas aos problemas também o é. ~
2.
~ trabalhadores responsáveis e capazes. o

~... g
ül
e ...,
o 28 e
~
i::
·Como normalmente há mais educandos que postos de trabalho, os destinados ao ".:
r-
serviço externo podem estar vinculados a determinados postos como aprendizes e
1 ~

29
passariam a lá estar quando nâo houver trabalho a fazer fora ou dentro do Imtituro . MST - Caderno de Educação n.9. p. 33. z


Faz-se necessário um tempo/espaço para refletirmos sobre participar), ainda que o negócio não melhore em nada. A
o trabalho: o como trabalhamos; o porquê organizamos o trabalho participação precisa ser qualificada.
deste jeito e não de outro; e assim por diante. Mas, isto não O desafio é garantir a "radicalização da gestão" através
necessariamente quer dizer que devemos criar um outro tempo da participação real dos educandos (por escolha de
educativo para isto, mas que devemos fazer esta reflexão, em representantes e através da autogestão 30) em todas as fases do
momentos adequados ou criados para isto, nos tempos já existentes. processo (da análise, decisão, planejamento, execução, avaliação)
e em todas as instâncias de gestão.
1.4 - Gestão democrática O Instituto se rege pela co-gestão entre educadores e
A "Gestão democráticá' é um dos princípios pedagógicos educandos, salvaguardando os papéis de cada um, e pela
do MST. "Todos gerindo", no comando do processo, é uma autogestão da coletividade que sofre a influência orçamentária
outra regra nossa. Isto exige que todos, educadores e educandos, do !TERRA e política do MST, bem como da influência
devidamente organizados, participem da gestão do todo o econômica e ideológica da sociedade onde ele está inserido.
processo educativo, inclusive da convivência cotidiana. Não basta É bom lembrar que a gestão democrática está baseada em
refletir e debater sobre a gestão: é necessário vivenciar espaços acordos entre os participantes. Esses acordos são traduzidos
de participação democrática, educando-se para a democracia em normas ou regras, expressas em um documento (um
social (que não é sinônimo da democracia do estado burguês e regimento interno, por exemplo) . Elas são históricas, a saber:
da via eleitoral) . podem ser mudadas quando deixam de responderá necessidade
Pela gestão democrática queremos superar as práticas de do conjunto; e atingem membros que passam a participar do
caciquismo e de presidencialismo (quando um decide por todos), processo após a sua definição e não se dão conta de que o
por um lado, e de assembleísmo por outro (todos se reúnem o documento é fruto de uma decisão coletiva.
tempo todo para tomarem as decisões em conjunto).
A democracia social exige: 1.5 - Pesquisa3 1
a) A decisão coletiva das iniciativas a partir dos princípios Na Pedagogia do Movimento somos continuamente
organizativos e da estratégia política do MST. desafiados a intervir na realidade. Nossa ação se qualifica na
b) A direção coletiva de cada processo pedagógico, mas com medida em que sabemos interpretar a realidade para transformá-
responsabilidade pessoal. la. A radicalidade desta necessidade está na afirmação de Mao
~
s"'
o
c) A participação de todos os envolvidos no processo de gestão,
passando de beneficiários para protagonistas.
Tse Tung de que "sem pesquisa não há direito à palavra" .
Precisamos aprender a "inquirir" sobre os problemas para
u
...,"'o
"'::;, ~
.Q, d) Um alto nível de informação (quantidade) e um claro processo resolvê-los, utilizando a leitura (visão de mundo) mais adequada, .Q,
o o

~
::;,
de comunicação (qualidade) que envolva a rodos os
~o
Jl participantes. UJ

"'o "'o
e) A superação da mania das pessoas acharem que o importante
~
i=i:::
é ter a sensação de estar na gerência do negócio (apenas
30
Espécie de parlamentarismo (cada parte escolhe e controla o seu representante) . ~
~
~

• •
31
Veja Caderno do ITERRA nº 3. p. 7 a 18. 3:
32
e assim ir superando a nossa auto-suficiência de achar que já 2 - ARQUITETURA SOCIAL

conhecemos ou sabemos tudo de tudo. O estranhamento da


realidade (que rompe com a naturalização do olhar), o inquirir/ ''Educar é o aprendizado coletivo
pesquisar deve ser uma postura de vida. das possibilidades de vida"
Precisamos, ao mesmo tempo, desenvolver a nossa reflexão Pedro Tierra
sobre a realidade pesquisada, a partir de categorias, em vista da
elaboração de soluções com seu respectivo método (caminho de Arquitetura Social é a estratégia de inserção, de
implementação). E finalmente, junto com o cultivo da oralidade, organização e de funcionamento da Escola, compreendida
desenvolver a escrita. Isto acontece ao longo das etapas do curso. como uma coletividade.
No Instituto, os educandos deverão fazer, entre outros, Ela inclui a lógica da organização, a sua estrutura orgânica,
um exercício de pesquisa que seja socialmente útil para o e o seu coração: a organicidade necessária para o desenvolvimento
Movimento, através da realização de um trabalho de conclusão do processo pedagógico. Trata, ao mesmo tempo, da inserção
de curso (TCC) ou monografia, bem como a sua defesa pública. dos educandos e educadores nos vários níveis (escala) da
coletividade para que possam viver/participar do mesmo e assim
entender/compreender e se apropriar de cada uma das partes e
da relação entre elas, passando a perceber a sua totalidade.
Em determinado momento da nossa caminhada
confundimos com a "Engenharia Social" apesar de perceber
que era mais: aí forjamos a expressão "Arquitetura Social" que
alguns reduzem, indevidamente, apenas a "estrutura orgânica"
quando não confundem esta com a "organicidade". 33
Organicidade quer dizer coletividade em movimento,
relação entre as diversas partes do todo, entre as tarefas e seus
objetivos, entre as pessoas que participam do processo de
construção da coletividade. Implica fluxo permanente de
informações e ações. É a dinâmica cotidiana que garante a o
e'
s
...,"'Q
continuidade de uma organização coletiva. ú
-~

"'e
~

::>
.§, .§,

~ %
.B
] 32
No Projeto Pedagógico do IEJC aparece como "Inserção na organicidade da escola e "'e
"'
Q

,_.~
g do MST" (p. 27), mas é mais do que isto, por isto volto á denominação "Arquitetura
~ Social" defin indo-a como estratégia de inserçáo, organização e func ionamento. e
"'


2
33
No Caderno de Educação n. 9, p. 12, já alertava para isto. 2:i


Faz parte da Pedagogia do Movimento a dimensão de 2.1 - Lógica
enraizamento das pessoas em coletividades com memória e com O fundamento da Arquitetura Social é a necessidade de
projeto de futuro. Essas coletividades são os acampamentos, os darmos um "salto de qualidade" 35 . O processo exige de nós
assentamentos, a família Sem Terra, o próprio MST. E este condições para enfrentar os desafios que as circunstâncias
enraizamento acontece através de um método específico de históricas apresentam. Precisamos passar, no MST, de um
inserção na dinâmica desta coletividade, ou em sua organicidade. "movimento de massà' para uma "organização de massa".
Este método de inserção diz respeito ao desafio pedagógico de Este é o passo (salto) a ser dado pelo conjunto da
ajudar as pessoas a fazer parte de uma organização que já tem organização. Como Escola temos a tarefa de procurar ser o
objetivos e princípios definidos, que já tem uma história e um "espelho" desta nossa necessidade futura (ser uma organização
acúmulo de experiências. As pessoas que entram precisam de fato), evitando ser um mero reflexo do nosso jeito atual de
assumir, e logo passar a construir como sujeitos. ser na base.
O IEJC considera que é elemento fundamental de seu Como fazemos parte do movimento, nós o trazemos para
método pedagógico uma intencionalidade específica na inserção a escola. Nossa tarefa é irmos construindo no Instituto esta
de seus educandos e educadores em sua própria organicidade, organização para ajudar/contribuir para que o todo o
bem como na organicidade do conjunto do MST. Para isso, são Movimento dê este salto qualitativo. Nosso desafio é sermos
elementos metodológicos importantes a distribuição coletiva das um "espelho melhorado" e não um mero reflexo.
tarefas que dão vida à organização, o acompanhamento e a É um equívoco nosso, como educandos e como
avaliação das tarefas realizadas, e o processo de crítica e autocrítica educadores, achar que temos o direito ou podemos "baixar a
da postura de cada pessoa no processo de construção da guarda", neste processo educativo, no tempo comunidade.
coletividade. A finalidade36 deste salto é termos a capacidade histórica
Enquanto existir algum educando fora ou alheio à de fazer a transformação em nosso país e de ir implementando,
dinâmica do Movimento e da Escola o "sinal de alerta" dos desde já, um Projeto Popular.
educadores deverá permanecer ligado! 34
Para isto é necessário conhecer os educandos e a organização 2.2 - Estrutura Orgânica
(coletividade) onde todos estamos inseridos. A estrutura orgânica é a forma de organizarmos os
educandos e educadores que temos, constituindo assim a "coluna
~
ú

o
vertebral" 37 que garante o funcionamento da Escola. Dela fazem
parte: as instâncias, com as suas funções; as atribuições das
~Lú
o
w w
~ '-'

-ª-º ~
o
'6 '6
g g
s

35
Título de um texto de BOCO, Adernar. O salto de qualidade. 2002.
o
c..t:l

o o
g 3G Aprofundar esta idéia a parcir do livro " O Estado e a Revolução" de Lênin. g
~ Expressão de Ernesto Che Guevara: "Os quadros são a coluna vertebral de uma
7
i'.! ~
t= E.:
organizaçâo" .
.3

• •
34 ~
!TERRA- Cadernos do !TERRA n. 2. p. 27 a 28. Pág: 172.
pessoas; os fluxos de decisão, execução e controle. Estamos falando r------------------------,
de algo vivo, que se move através da estrutura onde está inserido. Por exemplo:
Nós, após vários ensaios, tomamos como base a I - A Democracia Ascendente (escala) é formada pelos
estrutura orgânica do MST, com o seu jeito de funcionamento seguintes coletivos.
e os seus princípios organizativos, adaptada para uma Escola. a) Núcleos de Base (NB)
Não somos um assentamento e nem um acampamento, mas b) Turmas com sua Coordenação dos Núcleos de Base
uma escola de formação de militantes. (CNBT)
Assumimos uma estrutura horizontal de decisão, em c) Instituto com seu Encontro de todos os coletivos e sua
escala, em que se prioriza a organização de toda a base em Coordenação dos Núcleos de Base (CNBI)
Núcleos e nos demais espaços que têm funções bem definidas, d) Coletivo de Acompanhamento Político-pedagógico
em vez de uma estrutura vertical, em níveis, em que se prioriza (CAPP)
a organização da instância superior (Direção), deixando a II - A Democracia Descendente (níveis) é formada pelas
coordenação sem importância, os setores esvaziados e os núcleos seguintes instâncias.
sem saber a sua função. a) Encontro
O Instituto, como organização, tem uma estrutura orgânica b) Coordenação dos Núcleos de Base do Instituto - CNBI
expressa em um organograma com vários espaços que vão dos c) Coordenação Executiva (CE)
Núcleos de Base (NB) até as Unidades com seus Postos de d) Setores
Trabalho. Este movimento é composto de uma "democracia c) Unidades
ascendente" que se completa com uma "democracia d) Postos de Trabalho com suas atribuições (APT)
descendente". 38 O papel de cada um dos espaços está descrito 1

L- -----------------------~
no Regimento Interno.
Entendemos por "democracia ascendente" a que vai dos Por ser uma estrutura horizontal assumimos a democracia
NB, onde estão inseridos todos os participantes, até o Encontro direta (e não a representativa onde se escolhe alguns que passam
(ou Assembléia) de todos os NB. Nela acontecem os debates de a decidir em nome dos demais) 39 , onde os NB escolhem os seus
base e até a tomada de decisão feita pelo conjunto da coletividade. coordenadores e ratificam os Coordenadores das Turmas e os
Entendemos por "democracia descendente" a que vai do Coordenadores do Instituto, bem como opinam e decidem sobre
s w
....o;::;,
Encontro até os Postos de Trabalho. Ela vai da tomada de decisão as questões básicas do processo de gestão. Os coordenadores
devem assumir os interesses da coletividade (Turma ou Instituto),
ú
~
"'o
feita pela coletividade até a implementação da decisão feita por
.Q, "';::;,
o
quem tem a atribuição de a executar. conforme o caso, sem corporativismo. "'
.2.,

j ~;::;,
<ilw
"'o o
§ 39
~
] Não confundir democracia direta com voto d ireto que escolhe pessoas para a democracia ~

• 3


38
Vide "Anexo A". representativa.
Por meio desta prática organizativa ampliamos as necessário participar das instâncias de base sabendo ser este
responsabilidades e o poder de decisão para todos os um espaço privilegiado de auscultar42 as necessidades dos
participantes do processo e, ao mesmo tempo, achegamos ao participantes e perceber a leitura que os mesmos têm do
como método de construção das decisões através da produção processo em andamento. É um momento onde podemos
do maior consenso possível (acordos), em vista do interagir através da prosa informal.
funcionamento 40 e não através de resolver tudo por "votação". d) Centralismo Democrático que passa pelo entendimento
Assumimos os Princípios Organizativos do MST, em de que deve acontecer a máxima democracia no processo de
seu amadurecimento. Eles vão evoluindo em seu conteúdo e leitura, discussão e na tomada das decisões, bem como nas
forma, pois eles são aplicados sobre circunstâncias históricas. avaliações da caminhada. E pela compreensão de que, após a
a) Organizar os trabalhadores na base, para ela se tornar base decisão tomada pelas instâncias da organização, todos devem
de fato, através dos Núcleos de Base. Garantir neles a se subordinar43 a ela, inclusive os que tinham outra proposta,
participação das mulheres e dos jovens e o comando partilhado fazendo o humanamente possível para a sua melhor execução.
de gênero (coordenado por um homem e uma mulher)11 e, ao e) Ter uma Disciplina Consciente que passa pela compreensão
mesmo tempo, um ensaio de coordenação em conjunto. da subordinação pessoal aos princípios e objetivos da
b) Ter uma Direção Coletiva em vez de um "presidente". Isto organização ou movimento que opta participar (ser militante)
implica a construção de uma visão comum do processo, uma e pelo respeito á sua organicidade, implementando as decisões
decisão pela maioria, e a distribuição das tarefas efanções entre coletivas.
os membros de direção. Isto, atualmente, exige envolver a base f) Fazer e seguir um Planejamento em vista da "práxis" (ação
organizada na tomada das decisões e distribuir as tarefas para refletida). Precisamos superar o espontaneísmo.
o conjunto dos participantes. g) Profissionalismo, pois todos devem ser militantes da
c) Vinculação com a massa que exige o acompanhamento organização e, ao mesmo tempo, ser um especialista ou ter o
permanente da caminhada que o povo está fazendo, do seu devido domínio técnico para a realização de suas tarefas/
processo formativo e dos espaços de base. O estar com e onde atribuições e funções. Isto exige de nós a busca de
está a massa é beber das esperanças e temores do povo. É aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo, a busca de qualificação
para responder a outras demandas do Movimento que ainda
] estão a descoberto (polivalência). ]
"'o
...., "'o
:::; 'Ul
40 ::>
.2. 41
Linha da "Consulta Popular" .
-ª-
j Este princípio causa nova contradição, por termos uma realidade diferente dos
Assentamentos e Acampamentos: dos NB não te rem um dos gêneros ou terem ape n as
um representante que automaticamente passa a fazer parte da coorden ação.
42
%
~
"'oo Atualmente, caso não tenha, ou a única pessoa não queira e o NB concorde, o referido
Escutar com a devida atenção.
"'o
Subordinar (subordinação) está relacionado a princípios que assumo como meus
~ NB passará a ter apenas um coordenador, mesmo que prejudique o e nsaio de
ü

(passam a fazer parte do meu projeto de vida). É distinto de se submeter (submissão)


~
] coordenação em conjunto, para manter a linha assumida pelo MST para o seu ~

• conjunto . que está relacionado a pessoas, a saber, quando alguém passa a "mandar" em mim.


2:
h) Dedicar-se ao Estudo, especialmente da "ciência da histórià', Cuidar da organicidade é manter a estrutura em
para compreender o movimento da realidade, entender o seu movimento, evitando possíveis ((tromboses". 44 É zelar pela
funcionamento como um todo e cada parte, e a sua interligação funcionalidade, no cotidiano do processo. Se uma parte vai mal,
e relação. Isto exige de nós formação político-ideológica, o conjunto sofre.
qualificação técnica ou profissional e desvelamento do Ela depende da participação de todos os envolvidos no
conhecimento desenvolvido pela humanidade ao longo dos anos. processo educativo, levando em conta a intencionalidade
i) Participar de momentos de Crítica e Autocrítica como forma pedagógica planificada e assumida pela coletividade, como
de avaliação de nossa prática e de nosso jeito de viver, visando ((militantes" em formação para enfrentar os desafios que as
conhecer e buscar superar os nossos limites, crescer como circunstâncias apresentam em cada momento do processo.
militantes, nos formar como seres humanos.
Assumimos o método de direção do MST, que está em 2.4 - Inserção dos educandos e educadores
reformulação permanente. O dirigente troca o "mando" Os educandos e educadores devem se inserir (sentir-se)
autoritário pelo "comando" democrático (decisão em conjunto co-participantes do processo pedagógico. A inserção deve
em vista de romper com a dependência da base do patrão); o acontecer:
"mando único" pelo "rumo único". Só assim o ((senhor" abre a) No Instituto: Isto significa participar tanto da "democracia
espaço para o coordenador que faz consulta, não impõe; ascendente" (decidir/comandar) como da " democracia
conscientiza, não decreta. E o ((juiz" que decreta sentenças abre descendente" (se subordinar ás decisões coletivas), levando
espaço para o articulador de propostas de superação. O em conta a versão atual do Projeto Pedagógico (PROPED)
"espontâneo" abre espaço para a planificação das atividades do Instituto, este Método Pedagógico e o Regimento Interno.
levando em conta as condições objetivas e subjetivas e os objetivos b) No Curso: Contribuindo na implementação do ((Projew
a serem alcançados. Pedagógico" do Curso (PROPEO-Curso) através do
planejamento de cada etapa via ((Projeto Metodológico" da
2.3 - Organicidade Etapa (PROMET). No PROMET, a partir da Etapa
Entendemos por organicidade a relação entre cada uma Preparatória, os educandos podem contribuir na elaboração
das partes de um todo, como se fosse um corpo vivo, entre si e do mesmo, o quanto antes, e aumentar a sua colaboração
~
()
com o todo. Ninguém pode perder a noção do conjunto e isto com o passar das etapas. o
r=
"'o só é possível quando se sabe como funciona e a finalidade de c) No MSPdoC de origem: Estar interligado a uma instância 3..,
Cl
"'
~
cada uma das partes do todo e qual o seu papel em vista da de base do seu Movimento, bem como a outros espaços de
w
a
.Q, ..Q,
o
'6- realização dos objetivos estratégicos da organização. Embora participação/formação, com tarefas pessoais definidas. o
g '6
as tarefas sejam diferentes, as partes têm a mesma importância. ~
63 e§
u.l
Cl Olhar para a organicidade é pensar nas relações entre os u.l
o
g 44
Formação anormal de um coágu lo nos vasos sanguíneos, provocado por diferences g
i=: espaços/instâncias, em vista do bom funcionamento do í:'.
E causas. A conseqüência é o trancamento ou entupimen to dos vasos e a in terrupção E;
z:


COnJUnto.


da circu lação sanguínea. 3
d) No movimento da história: tendo uma leitura o mais exata resgate do processo em andamento (do Instituto, do Curso e
possível do processo, e, participando das lutas (práxis) e dos encaminhamentos da turma).
realizando as tarefas políticas, seja no tempo escola como no O importante é perceber que .ª inserção não é um
momento, mas um processo que não termina após os primeiros
tempo comunidade.
dias (não confundir apenas com o que acontece na inserção
A inserção dos educandos no Instituto acontece na Etapa
inicial de cada etapa).
Preparatória e a cada novo início de tempo escola (TE). Consta
da divisão dos participantes em vista da constituição dos Núcleos
2.5 - Coletividade
de Base (NB), condição de existência na coletividade; do Não defendemos a centralidade do processo educativo no
reconhecimento do espaço físico (prédio e arredores), do contato indivíduo, pois isto contribui para o crescimento do
com a estrutura orgânica e explicação de seu funcionamento; do individualismo. Nem defendemos o "coletivismo" como algo
conhecimento das regras da casa; da inserção nos postos de que suprime a subjetividade dos participantes. Propomos a
trabalho; no contar dos acontecimentos que marcam o educação das pessoas (educandos e educadores) através da sua
andamento do processo educativo; e da apropriação do projeto inserção em um coletivo, ou melhor, em uma coletividade. Ela é
metodológico. o instrumento de contato com a personalidade.
A inserção dos educadores, especialmente dos que vêm A coletividade, segundo Makarenko, "é um grupo de
para contribuir no acompanhamento das turmas (CAPP), exige trabalhadores livres, unidos por objetivos e ações comuns,
o conhecimento: dos princípios educativos; dos objetivos do organizado e dotado de órgãos de direção, de disciplina e
instituto; do projeto pedagógico; deste método pedagógico; do responsabilidade. A coletividade é um organismo social em uma
projeto pedagógico do curso; do projeto metodológico da etapa; sociedade humana saudável.". 45 Em outro momento, ele diz que
do andamento do processo (compreender a realidade atual da "a coletividade é um organismo social vivo e, por isso mesmo,
escola); de uma visão histórica do processo; do funcionamento possui órgãos, (sistema de) atribuições, (s istema de)
do Instituto e do conhecimento do espaço físico. A finalidade é responsabilidades, correlações e interdependência entre as partes.
ajudá-los a olhar o conjunto: da parte ao todo, com suas relações. Se tudo isso não existe, não há um coletivo, há uma simples
Para isto deverão ser organizados momentos de estudo. multidão, uma concentração de indivíduos". 46 Ela não se reúne
Também deve ser pensado o processo de embarque oure- de maneira casual, mas com objetivos definidos e uma atividade
~""
o
~ embarque num processo em andamento e que nunca pára, conjunta para realizar estes objetivos, com responsabilidade
3 apenas altera o ritmo (retomar: a sistematização do processo
"'o mútua.47 o
w ~
anterior, relatório analítico do TE anterior, etc.).
io Também faz parte da inserção: o conhecimento de suas
~

~ tarefas como CAPP; os postos de trabalho (ou unidade ou setores) ~ó


&l UJ

"'o onde vão atuar; o acompanhamento de um grupo de pessoas "'o


~ 15 MAKARENKO. La coletividady la educacion de la personalidad. p. 6. g
~
(educandos); o acompanhamento de um ou mais Núcleo de 46 CAPRlLES, René. Makarenko: o nascimento da pedagogia socialista. p. 13 e 154.
...'"'
~
~

Base; o acompanhamento de um ou mais tempos educativos; o z


1 7 SC HU KINA, G. J. Teoría y met~ÚJgla de la educación comunista en la escw:la. p. 18.
Portanto, para ser uma coletividade devemos levar em O desenvolvimento de uma coletividade (de base) segue
conta: algumas etapas18, a saber:
a) Haver uma opção dos participantes (formada por a) A coletividade começa com a organização de uma atividade
trabalhadores livres): não pode ser constituída por decreto. concreta, levando em conta as experiências anteriores, que
b) Ter objetivo comum, que é o do Instituto, dado pela une os integrantes porque precisam realizar em conjunto.
Mantenedora. Nesta fase eles precisam de um acompanhamento maior.
c) Ter "ações comuns" em vista da sobrevivência econômica e b) A segunda etapa ocorre quando os membros da coletividade
política. começam a propor atividades e a ajudar no crescimento dos
d) Buscar uma <<movimentação comum" (que não quer dizer seus mtegrantes.
todos fazendo juntos a mesma coisa) através de: órgãos, c) A terceira etapa é o período de florescimento da coletividade,
atribuições, correlação, interligação das responsabilidades e isto é, quando eles propõem atividades em vista da
interdependência entre as partes. coletividade maior, vivem relações humanas e cumprem em
conjunto, de forma organizada, as tarefas a eles destinadas.
e) Ter direção (rumo comum), disciplina consciente (por sentir-
se parte e dependente de um todo) e responsabilidade Uma coletividade não se baseia pelo igualitarismo religioso
(comprometimento mútuo). e nem pela igualdade matemática ou cartesiana. Uma coletividade
f) Fazer prevalecer os interesses sociais (projeto de sociedade) assume o princípio de dar a cada um conforme a necessidade de
aos interesses individuais (projeto de vida), quando for cada um; necessidade esta reconhecida pelo conjunto da
impossível adequar ambos. coletividade.
g) Que apenas a soma mecânica dos indivíduos não é uma Makarenko nos chama a atenção de que "a mais alta
coletividade, nem estar em um grupo para fazer uma missão da coletividade, o princípio básico de sua vida, é a
determinada tarefa (uma reunião, por exemplo). Coletividade preocupação com o indivíduo (a pessoa)" .19 Para isto, "organizou
é um complexo único, na busca da solidariedade de classe. a vida na colônia mediante um sistema de interligação coleriva
das responsabilidades, de forma que os próprios educandos
Enfim, algo planejado/combinado (planificado). Se tudo
sentiam-se parte fundamental do todo" .5°Cria uma coletividade
isto não existe, não há coletivo, há simplesmente um grupo ou
única (IEJC), forte e influente, com formas que obriguem cada
um aglomerado de indivíduos. Uma família nem sempre é uma g
s"' coletividade.
educando a fazer parte da movimentação comum, pois assim
vai desaparecendo a idéia do "indivíduo" e prevalecendo os
3
Cl
"'e
"':::> A coletividade precisa estar em permanente construção <;:<
interesses sociais da comunidade. 51
'ª' e, por isto, em constante avaliação: ser produzida e reproduzida.
.2.
~
o
~
Várias partes simples podem executar tarefas elaboradas e hi
s planejadas. Um componente isolado é incapaz de grandes feitos,
~
"'Cl 48
SCHUKINA, G. I. Teoria y Metodologia de la educación comunista m la escuela. p.32-33. :.:..l
e
~ 49
CAPRJLES, René. Makarenko: o nascimento da pedagogia socialista. p. 7. g
i=: pois dificilmente a parte muda o todo. Mas a coletividade
i:: 5
°CAPRJLES, René. Makarenko: o nmcimentoda pedagogia socialista. p. 85. i:::
!;;
.3 impressiona pela complexidade e pela eficiência .

• •
51 .3
CAPRJLES, René. Makarenko: o nascimento da pedagogia socialista. p. 91 .
Assumimos a coletividade como educadora da Os membros do NB têm como atribuição: conhecer os
personalidade coletiva. Queremos produzir um movimento de membros de seu NB (história de vida, limites e virtudes) e
reprodução do ser humano ou de humanização, pois nos assumir a reeducação de seus membros através do
formamos na luta incessante pela nossa própria humanização. companheirismo (ajuda,) e da crítica cotidiana. Os NB
O objetivo é educar seres humanos: os comandantes 52 da nova permitem que re-eduquemos o nosso olhar pedagógico (ver
sociedade. O processo de humanização implica a formação do os sujeitos concretos, como eles são/estão).
saber (conhecimentos), do fazer (habilidades ou competências) Os NB não podem se transformar em um espaço artificial
e do ser (valores e hábitos que se expressam em comportamentos (com atividades como ir à aula de uma determinada
e posturas). disciplina). Ele é o espaço onde se convive e se organiza o
Na coletividade da escola existe o coletivo dos educadores cotidiano. Nesta coletividade cada um deve saber o que fazer
e o coletivo dos educandos como dois coletivos constitutivos: pelo bem da comunidade (coletividade maior), o como fazer
eles são diferentes, por causa de seus papéis específicos no e o quando fazer, em um trabalho sincronizado e organizado
processo, mas não distintos, pois fazem parte da mesma como se cada um fosse uma célula de um corpo. Além disso,
coletividade da escola e por isto se inter-relacionam. é o espaço da educação da personalidade e da formação
A mesma coletividade (Instituto) está organizada em político-ideológica.
diferentes coletivos que se inter-relacionam horizontalmente Sempre que possível os NB devem ser pedagogicamente
(escala). Makarenko denomina isto de "corte transversal da acompanhados. Eles devem ser um espaço de "ensaio prático"
coletividade" e olha a "coletividade para dentro". Vejamos e de avaliação de camaradagem (companheirismo), de
os coletivos aqui existentes: subordinação entre iguais, etc.
a) A Coletividade Primária: Ela é a coletividade de Base; para Nos NB todos os educandos podem assumir o "comando",
nós, são os Núcleos de Base (NB). A eles cabe esta tarefa escolhidos pelos educandos membros do núcleo e ratificados
educativa e não ás unidades ou aos setores. pela turma, conforme as orientações vigentes no Instituto. 53
Eles devem ser constituídos do modo mais heterogêneo Os coordenadores dos NBs da Turma escolhem os seus
possível (no início levando em conta pelo menos o sexo e a coordenadores que coordenam a Turma, mas devem ser
unidade da federação - UF - ou região dos participantes). pedagogicamente acompanhados.
Os NB têm como função: ser a instância base do processo A permanência dos membros em um NB varia conforme a
~ ~
ô de gestão (da escola e do MST), fazer a formação político- necessidade do processo pedagógico. ú
...,"'Q "'Q
ideológica, implementar as tarefas determinadas pelas
~o
1:3
coletividades maiores (turma < Escola < Movimento).
~ "ª'QoZ').
J:l ~
"'
Q 53
Ser dois coordenadores, um homem e uma mulher, em vista da questão de g<:nero. "'
Q
~
...~
j:: Isto vale para cada NB e para a Turma. Caso a turma tenha poucas pessoas de um
i::: dos gêneros, poderá haver exceções. Evitar que sejam coordenadores de setores e de
si C( o poema d e Betold Brecht que desafia e convoca a todos: " Você precisa ass umir f;;
2

• o comando" . Está no sentido de co-mandar ou de mandar com. unidades, em vista de uma condução mais democrática.


.3
b) A Coletividade Intermediária: Ela é formada pelas interface com as demais coletividades existentes e com a
Turmas 54 de educandos que atuam no Instituto durante o coletividade maior (o MST em sua totalidade).
Tempo Escola. Podemos considerar como se fossem uma Eis os princípios de funcionamento de uma
turma os diferentes educadores que acompanham o processo coletividade:
ou contribuem no funcionamento do Instituto e do !TERRA a)Subordinação entre iguais: Saber obedecer e saber "mandar",
(mesmo que sejam educandos em tempo comunidade). isto é, saber o momento e o como se subordinar56 ao camarada
A Turma é um coletivo mais permanente (seus membros se e saber o momento e como comandar o camarada.
encontram por várias etapas) e por isto ela deve assumir a b)Cada órgão da coletividade deve ter um poder determinado e
tarefa da formação da personalidade de seus membros (que não pode se tornar burocrático, nem autoritário e nem
vai além dos momentos de crítica e autocrítica): uns se demagógico.
tornando os educadores dos outros, sempre se ajudando numa
c)Respeitar as decisões das instâncias: Se achar errada uma
perspectiva de projeto e de construção do companheirismo
decisão, apelar para a instância certa.
(camaradagem).
d)Fazer cumprir cada acordo firmado: Garantir que cada
c) A Coletividade Geral da Escola ou do Instituto: Ela é combinação seja cumprida, sem demora de nenhum tipo.
formada pelo coletivo dos educadores e pelos coletivos das
e)Educandos e Educadores nunca devem se sobrepor às
turmas de educandos que estão no tempo escola. "A escola
instâncias (órgãos) da coletividade e nem resolver o que é de
passa a ser uma coletividade total e t'mica, na qual têm que
incumbência deles, nem mesmo quando a decisão for mais
estar organizados todos os processo educativos, e cada
justa ou mais razoável.
membro dessa coletividade deve sentir forçosamente sua
dependência com relação a ela." 55 f)Procurar, nas intervenções, falar da maneira mais precisa e
Esta coletividade está sempre em construção e é regida por breve possível (educar-se para isto), dificultando assim os
"leis" do inter-relacionamento celular e dividida em núcleos oportu111smos.
de base. A base de uma coletividade (ou organização) está em
Além disso, existe a "coletividade para fora", a saber, as garantir a:
coletividades em que os membros da Coletividade Geral da a) Unidade - Buscar a coesão de todos em torno dos princípios
o
ê Escola participam e ela própria, como Coletividade, está inserida: e da estratégia. Por isso é necessário saber utilizar o método r=
3 8..,
"'o a Coletividade do Movimento. Ela não está isolada e exige a da construção do consenso. o
w
~
Não quer dizer que todos devem pensar igual, nem interpretar .2,
f
os acontecimentos do mesmo jeito. Mas da necessidade da %
~ i5
o
8 54
Na experiência de Makarenko não havia turmas. A Coletividade Geral escava sub-
56
UJ

"'o
"'o dividida em destacamentos (núcleos de base) onde escavam educandos de diferences Entendemos por subordinação a decisão de alguém se ligar, por decisão pessoal, a
§ idades. Ele apostava no cuidado dos maiores com os menores. Outra diferença é que um princípio superior (a estratégia e os princípios do MST, por exemplo) . Não ê
i:: lá era uma escola permanente e aqui ela é de alternância. devemos confundir com submissão, que é aceitar um estado de dependência ou o ~


.3


55 ato de se submeter a alguém (estar sob o domínio ou abaixo de). 2'
CAPRILES, René. Makarenko: o nascimento da pedagogia socialista. p. 31.
leitura e decisão coletiva (diálogo) e da implementação unitária 3 - AMBIENTE EDUCATIVO
das decisões, isto é, do centralismo democrático.
A unidade a ser conquistada é a da ação comum (na prática). "O importante não é o que se aprende,
b) Disciplina - Não a disciplina da inibição, cheia de regras e Mas a forma de aprendê-lo''.
proibições, mas a disciplina que induz a vencer as dificuldades, ''Para que matar o tempo
da aspiração a algo, da luta por algo. A disciplina da luta. A sepodemos bem aproveitd-lo"
disciplina consciente. Provérbio
Para educar é necessário "exigir muito" dos educandos e dos
educadores. Isto só é possível através de uma forte disciplina Trata-se da concretização do movimento pedagógico, que
e de atividades que exigem esforço. Cada indivíduo não pode é também movimento das diversas pedagogias que compõem a
fazer o que ele quer, mas o que a coletividade permite. Cada Pedagogia do Movimento 57, e de sua intencionalidade no
um precisa trabalhar para responder as demandas coletivas. cotidiano das práticas e das situações de aprendizado previstas
O educador não deve abrir mão da resistências à vida coletiva no conjunto da escola e de cada curso; a ação consciente e refletida
e ao trabalho. Quem não trabalha não come. Atividade livre e dos educadores em vista de realizar o projeto pedagógico, pondo
voluntária para se organizar, mas subordinada ao princípio da em movimento sua estrutura orgânica e sua organização
necessidade.Na coletividade os projetos pessoais estão curricular nos detalhes que só aparecem quando a prática começa.
subordinados á coletividade (não posso devorar o outro e nem De nada adianta planejarmos um novo currículo e uma
ser oportunista). nova estrutura de funcionamento para a escola se depois não há
c) Participação - Todos devem se envolver em todas as fases do quem coloque tudo isso em movimento; daí os tempos viram
processo, mas de forma organizada. Exige a superação: do rituais, as instâncias se burocratizam, e as práticas ficam vazias;
basismo, que impede de haver propostas, do assembleísmo logo as pessoas passam a agir no dia-a-dia de acordo com as
(que acha que todos precisam se reunir para decidir tudo); e referências antigas e a existência social não é, de fato, alterada.
do democratismo (que acha que tudo precisa ser decidido pelo Criar o ambiente educativo é mais do que enfeitar o
voto). ambiente físico e as pessoas da escola; também é mais do que
buscar interferir pedagogicamente nas situações e nas relações
Makarenko considerava a busca da "autogestão
o que vão ocorrendo a cada dia; é isso também, mas é mais do que
financeira" como "um pedagogo formidável" da coletividade. g
8"'
o
A experiência nos revela que nos momentos de folga (por estar
isso. É principalmente ser capaz de se antecipar e provocar
relações e situações de aprendizado; influir e tornar cada tempo 3
.... "'o
com as receitas previstas no orçamento já garantidas) de sobra
~o ~
de recursos acontecem desleixos na gestão e no trabalho,
'ª'
'6
g
&l
"'o
enquanto que nos momentos de escassez há um assumir mais
racional da gestão e uma motivação maior para o trabalho.
5
' Pedagogia da luta social. pedagogia da organização coletiva, pedagogia da cerra,
pedagogia do trabalho e da produção, pedagogia da cultura, pedagogia da escolha,
s
i5
Ul

~ "'o
g pedagogia da história. Para aprofundamento destas pedagogias e sua relação com o g
!::; ambiente educativo da escola ver especialmente: MST, "Como fazemos a escola de §
z
• educação fundamental" , Caderno de Educação n. 9, 1999. :2


o mais educativo possível, refletindo e recriando seus conteúdos o cenário e estão engatilhadas as situações desejadas de
e didáticas; construir circunstâncias objetivas que alterem a aprendizagem. E mais do que um mero ajeitamento do espaço
existência social de todas as pessoas envolvidas no processo físico. Implica permitir a possibilidade de escolhas, com
pedagógico, e que criem novas necessidades de aprendizado e aprofundamento de critérios. O que interessa é que a situação
de posicionamento pessoal e coletivo, sempre em vista de fazer de aprendizagem seja real. O ambiente não pode ser idealizado.
acontecer a formação humana pretendida e, em nosso caso, de O ambiente educativo pode abranger o conjunto da
pôr em movimento a pedagogia do Movimento. Escola (a coletividade) ou um Curso (uma turma) ou uma
Esta é a principal tarefa do coletivo de educadores: criar situação que envolva um ou mais educandos.
e dinamizar o ambiente educativo, colocando-se também como Isso exige dos educadores uma sensibilidade que permite
educandos do processo; saber fazer escolhas e tomar decisões captar os limites do já compreendido, a sabedoria de saber
coerentes principalmente com os valores defendidos em nosso aproveitar circunstâncias pedagógicas (frutos do "acaso" e de
projeto, a cada situação que ocorre na escola, em cada um dos contradições secundárias ou espontâneas), a intuição de quem
tempos que constituem nosso dia; mas também saber provocar reorganiza o processo educativo em vista de novos aprendizados,
situações e construir práticas que permitam a vivência destes a paciência de mestre e a cumplicidade de quem também se
valores e a reflexão sobre eles. educa no mesmo processo.
E, no caso do IEJC, o ambiente educativo também precisa Trabalhar com ambiente educativo é superar o
se tornar conteúdo de formação dos diversos cursos, garantindo espontaneísmo, pois nem sempre as situações e experiências
o aprendizado sobre como se pode construir o ambiente educam. É ousar dar intencionalidade pedagógica ao movimento
educativo das diversas práticas ou ações realizadas pelo de aprendizagem.
Movimento junto aos acampamentos, assentamentos e à
3.1 - Princípio orientativo
sociedade em geral. 58
Entendemos por ambiente educativo 59 o que acontece Para Vygotski, a diferença entre o educador e o educando
na vida do Instituto, dentro e fora dele, desde que tenha sido é fundamental e esta diferença deve ser explícita. A diferença
planejado para permitir uma nova interação educativa. Não é entre saber fazer e não saber fazer algo não pode estar tão
próxima que permita o educando agir sozinho, pois se já sabe
apenas o dito; mas o visto, o tocado, o experimentado, o
nada aprenderá. E nem tão distante que impeça o educando de
o realizado, o participado, o produzido.
r= agir, por não conseguir fazer. É importante a interação de algo
8 O ambiente educativo não é simplesmente feito de
(cenário) ou alguém que estimule o educando através de desafios j
~
"'o situações de aprendizado que acontecem cotidianamente ou
""'~ que podem ser superados, passo a passo. "'o
'UJ
.2.. casualmente, que também podem ser aproveitadas e
% A produção de um ambiente educativo parte do princípio ~
potencializadas com sabedoria pelos educadores. O ambiente o
i5 de que nada deve acontecer por acaso, ou sem intencionalidade 6-
~.., ~
educativo é preparado intencionalmente, isto é, foi arquitetado õ
o pedagógica, e da percepção de Vygotsky sobre a existência das U)

~ "'o
~
58
Zonas de Desenvolvimento. Em cada situação de aprendizado g
E; !TERRA - Cadernos do !TERRA n. 2. p. 28 e 29. existe a: i::'.


3' 59 Conceito/texto baseado cm: MST - Caderno de Educação n.9. p. 22-23. E;


2'
a) Zona de Desenvolvimento Real, que são as etapas p O terceiro é garantir que nas Unidades aconteça a
alcançadas e consolidadas pela pessoa, isto é, quando a pessoa continuidade do processo de trabalho, com o devido repasse das
cumpre a tarefa proposta sem nenhum tipo de ajuda. informações correspondentes (entre um turno e outro) .
b) Zona de Desenvolvimento Potencial, que ocorre quando O quarto é garantir que os participantes do processo
a pessoa faz uma tarefa que não consegue fazer sozinha com estejam inseridos no processo de luta do MSPdoC e da classe
trabalhadora (participando de ações), seja no tempo escola como
a ajuda de outra pessoa.
no tempo comunidade. _
c) Zona de Desenvolvimento Proximal, que é a distância
entre as duas anteriores (a real e a potencial) , realizar a tarefa
3.3 - Tempo Educativo
percebendo apenas as motivações do meio.
Antes (na Engenharia Social) explicamos a razão da
Organizar este "meio" é a constituição de um ambiente existência dos tempos educativos. Agora vamos falar da utilização
educativo. O educador deve pensar conscientemente situações/ dos tempos educativos no tempo escola (TE).
ações a partir do que já existe, constituindo assim um ambiente Para cada um dos tempos educativos assumidos deve haver
educativo. a definição da sua finalidade de forma bem concreta, a saber, o
que se quer de fato com ele. Para realizarmos esta finalidade
3.2 - Jeito de funcionamento deve estar claro o seu método Qeito de fazer) e o seu conteúdo (o
O processo no Instituto é real, realizado por pessoas que que será nele tratado ou desenvolvido). Tudo isto levando em
estão situadas em um processo histórico incompleto e nele conta o conjunto do projeto educativo em andamento, seus
convivem e estão se reproduzindo, ou produzindo a si mesmos. objetivos e metas de aprendizado.
O primeiro desafio é fazer a inserção das pessoas que A coletividade precisa também combinar um horário para
vêm de fora para os cursos (educandos e educadores garantir a execução de todos os tempos educativos. A construção
responsáveis pelo acompanhamento), o mais rapidamente deste acordo permite que os participantes possam gerir o tempo
possível e o melhor possível, no processo real, em andamento. do processo educativo a partir de seus objetivos coletivos e
E que elas possam ter o conhecimento de sua historicidade, interesses pessoais, estabelecendo prioridades e assumindo
fazer a leitura desse conhecimento, ter a percepção das compromissos (tarefas e metas) com responsabilidade. Seria
contradições atuais e interagir em vista da funcionalidade e do bom, pelo menos, que o momento destas atividades, com a sua
o
avanço do processo. intencionalidade, já estivesse definido no PROMET da Etapa ~
8"'
o
O segundo é fazer, do modo mais eficaz possível, o de cada Curso.
j
"'o
Ul
::>
Ul
::> processo de reprodução da gestão , garantindo que os
'ª'
o
ó
participantes possam se apropriar/compreender a situação e os 'ª'
o
'6
~
lJ
]
desafios que devem ser assumidos em vista da superação do s
w
o
"'o momento atual do processo.
12 ~
f-
~ i=
i=
3
.3

• •
r------------------------1 r------------------------,
· Por exemplo: 1 as metas estabelecidas e executar o Plano de Atividades 1
1 do IEJC, garantindo a produção para o consumo e também
Atualmente no Instituto temos os seguintes tempos
educativos 60 (previstos para o médio): para o mercado externo e os serviços necessários ao bem-
a) Tempo Formatura - Ele tem por finalidade: apresentar estar da coletividade. Todos estão vinculados a um posto
ao conjunto os coordenadores do dia; motivar as de trabalho (interno no Instituto) ou a uma brigada de
atividades do dia; constatar a presença de todos os trabalho (trabalho externo), coordenada por um
integrantes da coletividade, através da conferência dos responsável. ·
núcleos de base; retomar a caminhada do dia anrerior d) Tempo Oficina - Tem por finalidade o aprendizado e o
através da crônica diária; dar os avisos/informes e desenvolvimento de determinadas habilidades (aprender
comunicar situações e desafios fundamentais para a vida a saber fazer), visando alcançar as metas de aprendizagem
da coletividade para aquele dia; e ter um momento de previstas, sob a orientação de um monitor. Visa também o
cultivo da mística da coletividade, do MST e da classe aprendizado de habilidades específicas aos postos de
trabalhadora (que deve se manifestar também em outros trabalho do Instituto. Não é necessário que todas as
tempos e momentos do dia). pessoas realizem as oficinas no mesmo horário, mas todas
b) Tempo Aula-Período, sob a orientação de um educador, devem se capacitar conforme a necessidade do Instituto,
destinado ao estudo dos componentes curriculares a demanda do MST (atuação geral) e o foco do seu curso.
previstos no Projeto Pedagógico de cada curso (PROPED),
e) Tempo Leitura - Momento destinado à leitura dirigida,
conforme cronograma das aulas de cada etapa previsto individual, conforme orientação da coordenação do curso
no Projeto Metodológico (PROMET), no calendário e e do CAPP. Também podem ser obras de escolha pessoal
no Plano de Formação Política do Instituto. Com a (a partir de determinado momento da caminhada). Se
finalidade de desenvolver os temas, conteúdos e práticas necessário pode ser realizado coletivamente.
previstas para as disciplinas, da melhor forma possível,
em vista das metas de aprendizagem previstas. Neste f) Tempo Estudo - Tem por finalidade garantir um espaço
tempo, em determinados dias, podem acontecer outras para o estudo, visando aprimorar a formação de cada
atividades pedagógicas. sujeito. É destinado: a estudos de reforço de aprendizagem
ou de recuperação; para a preparação de atividades ~
s
Ul
o
c) Tempo Trabalho - Espaço de tempo para realizar as
tarefas necessárias para o bom funcionamento da escola educativas; r~alização de tarefas (inclusive leitura) indicadas ó
Ul
o
~
e garantia de continuidade da existência, visando alcançar pelos professores ou orientados pelo PROMET da Etapa 1 "';:,
~ §_
o e pela Coordenação do Curso. Pode ser realizado nos grupos l o
6.
'6-
g L------------------------~ de estudo, ou ser definido pelo mesmo individualmente. 1 !J
õ
&l w
Ul

g) Tempo Cultura - Momento destinado ao cultivo, á :


Ul
o o
o
~ Go É bom lembrar que, conforme o curso , os tempos podem variar e, conforme: as etapas, ;-
.;;;
socialização, á reflexão sobre expressões culturais diversas
j a finalidade do tempo pode sofrer alterações cm vista da realização do proj eto
1
~
• me todológico . L----------- - --------~---~


r------------------------1 r------------------------,
e á valorização da cultura dos envolvidos no processo j) Tempo Educação Física - Momento pàra a educação
educativo e de resgate da cultura popular, bem como no corporal através de exercícios físicos diversificados:
momento de celebração de momentos significativos, e alongamento; caminhada (ou corrida); e, sempre que
complementação da formação política e ideológica do possível, de exercícios que visam uma ação conjunta/
conjunto da coletividade. Não é necessário que todas as coordenada. O esporte deve ser priorizado para atividades
pessoas estejam realizando a mesma atividade, no mesmo nos finais de semana.
horário (pode ser por turma), mas também é importante
k) Tempo Núcleo de Base (NB) - Tem por finalidade
organizar atividades que envolvam o conjunto do
garantir momentos de encontro do NB para a formação
Instituto. político-ideológica e realização de tarefas (sob a orientação
h) Tempo Notícias - Momento de acompanhar noticiários, do MST), para a participação no processo de gestão,
seja pela televisão, rádio, jornais impressos ou jornais garantindo assim a organicidade da coletividade, e para a
eletrônicos. Espaço pessoal, livre para busca, socialização formação humana dos envolvidos.
e análise crítica de informações sobre o que está 1) Tempo Verificação de Leitura (VL) - Momento destinado
acontecendo no mundo, prioritariamente no país e à verificação e à socialização dos aprendizados produzidos
especialmente nas unidades da federação de origem dos sobre determinadas leituras realizadas durante um
educandos, através de todos os meios disponíveis. E, em determinado período (não coincide necessariamente com
determinado momento, presencial, para um debate sobre as leituras do tempo leitura).
as informações obtidas ou a análise crítica das informações L------------------------J
de um jornal televisivo, por exemplo.
i) Tempo Reflexão Escrita - Tempo pessoal de retomada 3.4 - Situações de Aprendizado /

de um período do andamento (movimento do processo), A partir dos objetivos de cada um dos cursos e d as
em vista do estranhamento das vivências, da percepção necessidades da coletividade acontecem outras situações de
dos aprendizados (em todos os demais momentos) e do aprendizado no tempo escola e como tais devem ser preparadas
registro da sua reflexão sobre o andamento do processo em conjunto, socializadas e avaliadas. Inclusive pode ser planejada
~ educativo vivenciado. O registro deverá ser feito em mais de uma situação em um mesmo roteiro ou ação de o
(:
u caderno pessoal e específico para esta finalidade, e estes aprendizagem. Elas não fazem parte dos tempos educativos, mas 3
"'o "'e::
úl
:::> cadernos serão periodicamente recolhidos pelo CAPP. ocupam espaços que deles seriam. ""':;:,
.2, .2,
Seria interessante que em determinados momentos de O Instituto deve definir as situações de aprendizado que
~ s
o
cada etapa cada turma fizesse a retomada e uma periodicamente serão desenvolvidas, além da existência da
~ õ
"'o socialização dos aprendizados. coletividade (ver item 2.5), com sua complexidade, como a c..u
"'o
f? situação de aprendizagem básica que provoca uma mudança na g
~ @
2 existência dos participantes e contribui para o estranhamento

• L------------------------J

2:
r------------------------1
das relações que eles mesmos vivem a partir da experiência Seminário de Socialização das Aprendizagens; IBC - 1
anterior. Informe com Balanço Crítico; entre outros. l
Quando uma situação de aprendizagem deixa de cumprir
com a sua intencionalidade pedagógica deverá ser re-significada d) Trabalho Voluntário - Momento a ser realizado fora da 1
ou desativada, sempre levando em conta as necessidades do Escola, em vista de exercícios de solidariedade para com :
processo educativo em andamento. os excluídos e da política de relações públicas com a 1
comunidade.
r------------------------, 1
1
1 Por exemplo: e) Contribuição ao Instituto - Momento de trabalho extra 1

1I E.is algumas situaçoes


. -- de aprend.izagem: a partir do foco da turma, da sua capacidade organizativa
e da demanda da coletividade, para melhoria e avanço do
: a) Seminário de Crítica e Autocrítica - Momento de crítica
Instituto. Por exemplo: a turma de saúde construir/manter
1 coletiva e autocrítica pessoal que exige uma "revisão" da um horto medicinal; a turma de comunicação pôr para
vida e da prática de cada um dos integrantes do processo.
funcionar a rádio interna do Instituto.
Conforme a maturidade dos participantes ele pode ser por
NB ou turma e deve crescer em amplitude e aprofundar na f) Mutirões Educativos ou Jornadas Pedagógicas ou Práticas
co-responsabilidade da educação de todos por todos. Cuidar Pedagógicas - Podem ser através de OCAP - Oficina
para não utilizar este tempo para instrução ou de Capacitação Pedagógica, estágios, prática de campo,
conscientização moral. práticas na escola, de mutirões ou de outro jeito (o método
depende do local e da tarefa a ser realizada). Tem a
b) Momento de apropriação do processo pedagógico - finalidade de contribuir com a capacitação de educandos
Através do estudo do Projeto Pedagógico do IEJC, do I em trabalho de base e, ao mesmo tempo, contribuir com
Projeto Pedagógico do Curso (PROPED Curso) e/ou na I a formação do povo na base. I

interação na produção do Projeto Metodológico 1


(PROMET) da etapa e da turma, a partir do anterior, do 1 g) Participação em Eventos-É a participação de turmas em
processo em andamento e da necessidade de produção da 1 Congressos, Encontros e Assembléias, promovidos pelos
coletividade. É o momento de interagir na construção/ MSPdoC ou organizações amigas.
organização do currículo (que é maior que as disciplinas/ h) Viagens de Estudo ou Visitas Educativas - Visa o
~ ~
3..., aula). Também pode ser utilizado para a "entrega teórica'' conhecimento e a socialização de experiências em várias : <5
o
...., sobre aspectos do método pedagógico, conforme a áreas do conhecimento. 1 "'o
....,
::> :o
.2- necessidade de cada momento do processo. .2-0
% i) Semana dos Clássicos - Estudo e socialização realizados : '6
<5 c) Avaliação do processo pedagógico em andamento em vista do conhecimento de pensadores, seja na área 1 g
Jí..., til
o através dos vários espaços oferecidos pelo Instituto, tais política-ideológica, seja na área do conhecimento de cada 1 "'
o
~
como: DGT - Desempenho da Gestão no Trabalho; VS - g
ç: um dos cursos. 1 ;:::
!;; E:;
z Vivência Social; Seminário de avaliação do TE e do TC; L 1

• •
.3
L------------------------~ ------------------------~
r------------------------1 r------------------------1
j) Seminários - São atividades variadas, por exemplo: 1 Por exemplo:
aprofundamento de um determinado assunto; análise de: São espaços pedagógicos do ambiente educativo do
conjuntura; momentos de socialização e avaliação de 1 IEJC:
experiências; partilha de histórias de vida; entre outros. 1
a) Espaço de Leitura61 - Espaço apropriado para socialização
k) Jornada Josué de Castro - São determinados momentos de informações conjunturais impressas (jornais, revistas,
utilizados pelo Instituto para a socialização da vida e da boletins, informativos).
obra de Josué de Castro - personalidade que a escola quer b) Mercado "Produtos !TERRA" - Espaço para a
homenagear ao assumir o seu nome -, bem como da comercialização interna e externa de mercadorias
continuidade de suas idéias. produzidas pelo Instituto e pelos Assentamentos. Visa o
1) Relações públicas com a comunidade - São atividades aprendizado da lógica do mercado e da arte de vendas,
permanentes, como assumir uma contribuição a uma bem como a apresentação dos produtos da reforma agrária
determinada entidade comunitária, ou esporádicas, à comunidade de Veranópolis.
priorizando os trabalhadores e a população mais pobre. c) Rádio Interna - Espaço de comunicação e de educação
musical. Visa também ser uma oficina de aprendizado.
m) Mostra cultural - São momentos de mostra da produção d) Parque Infantil - Espaço para brincadeira das crianças
artística dos educandos, bem como de autores (livros, com orientação pedagógica e de encontro destas com os
fotos). Podem acontecer no salão de atos, no refeitório, adultos. Visa ser também uma forma de incentivar a
nos corredores ou em outro ambiente apropriado. construção de parques infantis nos assentamentos.
L------------------------~
e) Ciranda Infantil - Espaço de organização da educação
infantil e da vivência diária das crianças que estão no
3.5 - Espaços Pedagógicos
Instituto. Visa se~ também uma forma de contribuir com
São os espaços físicos da Escola que serão trabalhados a organização das cirandas infantis no MST.
com intencionalidade pedagógica. Normalmente não são rodos f) Praça (entre a escola e o galpão de artes) -Espaço próximo
os espaços físicos do Instituto. de convivência em contato com a natureza. Visa ser
Estes espaços devem ser definidos e deve ser estabelecida utilizada para lazer e atividades artísticas e de /
o
@ qual a finalidade de cada um deles. A partir desta finalidade deverá confraternização. ~
ú.., á..,
ser estabelecido o seu conteúdo (o que nele deverá constar/ter g) Agroindústria - Espaço prioritário para experiência de o
o
"' a disposição), bem como a sua organização (que inclui até a "':::>
~
::>
organização da produção e do trabalho (a meta é chegar a ~
o posição dos móveis). ter um processo produtivo socialmente dividido). Visa %
~
til
Quando um espaço pedagógico deixa de cumprir a sua também promover oficinas de fabricação.
i5
õ
..,
uJ

intencionalidade educativa, ele deverá ser re-significado ou


"'o L------------------------~ o

~
i':
desativado, sempre levando em conta as necessidades do ~
e;
E: processo educativo em andamento.


Antes este espaço era denominado de "Sala de Leitura" (trocado em agosto de 2~03).
61
~


3
r------------------------1 casa, mas numa casa onde reside, estuda e trabalha uma
h)Galpão de Arte - Espaço para o incentivo de habilidades 1
artísticas e a produção de artesanato. Visa também ser um 1 coletividade. Onde possam surgir práticas criativas, e não ritos
espaço de resgate e socialização da cultura camponesa. : mecânicos. Onde as pessoas possam vivenciar práticas
i) Biblioteca - Espaço de incentivo á leitura, á pesquisa e ao I libertadoras em vez de práticasdominadoras e opressoras.
estudo. Propicia o contato com obras e autores citados na 1 Isto tem a ver com qualidade de vida que pretendemos
vida do Movimento. Nela há uma videoteca. 1 atingir. E está relacionado ao respeito de cada um com os demais
j) Sala de Vídeo - Espaço para a audiência de filmes previstos 1 e á ausência de imposição de gostos e manias que corroem a
no Plano de Formação do Instituto e de programas: vida da coletividade.
televisivos (jornal e documentários). 1 Por fim, visa mostrar aos demais (quem não participa da
k) Marcenaria - Espaço para o aprendizado de restauração 1 coletividade) o cuidado que temos com a casa (moradia), com
de móveis do Instituto e de produção de móveis e artesanato. 1 as pessoas (camaradas/companheiros), com a natureza. Que a
1) Sala de convivência - Espaço de convivência dos: nossa prática, nossa convivência, é testemunha do anúncio de
educandos. 1 um jeito mais humano de viver.
m)Tabuleiro de xadrez-Espaço para incentivar o aprendizado 1
e o aperfeiçoamento deste jogo, pessoal e em grupo. 1 r------------------------,
L------------------------~ 1 Por exemplo: 1
1 1
3.6 - Cotidiano Trabalhamos o cotidiano: 1
O cotidiano envolve a vida das pessoas humanas na sua a) pelo embelezamento dos ambientes da casa (escola e
simplicidade e complexidade, na sua diversidade cultural e moradia) através de painéis, quadros, cartazes, vasos de
unidade, no seu enraizamento desde a família até o convívio folhagens ou de flores, entre outros;
social. Fazem parte do cotidiano todas as atividades por meio b) pelo ajardinamento exterior;
das quais o ser humano reproduz a si mesmo para poder c) pela higiene e "estilo" das pessoas;
reproduzir a sociedade. d) pela limpeza dos espaços de circulação;
Fazem parte do cotidiano os ritos, os sonhos, os gestos e e) com o volume dos aparelhos acústicos e a qualidade da
as expressões, fruto de experiências, ações, lutas, derrotas, programação da rádio, de cinema (vídeo) e de programas
~"' obstáculos, que influem na consciência dos membros da
coletividade. O cotidiano é caracterizado pela tensão entre o
de televisão;
f) pelo conteúdo das noites culturais; ~"'
..,o o
~
2- que é de fato importante manter como prática autônoma dos g) por uma alimentação boa e saudável. "':o
2-
L------------------------~
0
(). integrantes, e o que é próprio das necessidades e decisões coletivas 0
'6
li
:o
J3 da coletividade. O cotidiano é passível de transformações, não o
~
[J.J
"'o está acabado, e nem se apresenta de forma neutra. ti
§ Entendemos aqui por cotidiano o preocupar-se em criar
g
!=:
~ f;


um ambiente no Instituto onde as pessoas possam se sentir em


3
4 - ESTUDO: ~NFASES NA CONCEPÇÃO DE MUNDO, NA
Mas, é importante levar em conta que cada um aprende
APRENDIZAGEM E NA CAPACITAÇÃO
do seu jeito, no seu ritmo, pois cada pessoa é resultado de suas
experiências vividas e assimiladas como aprendizado. A
"Sem estudo aprendizagem depende do meio, das relações e da qualidade
Não vamos a lugar algum"62 dos estímulos/desafios que as pessoas vão recebendo ao longo
de sua vida. Por isso as pessoas desenvolvem diferentes maneiras
Esta parte do movimento pedagógico visa concretizar de pensar e de trabalhar. Para compreendermos o
alguns dos princípios pedagógicos da educação do MST, a saber: desenvolvimento de um educando é necessário considerar: o
"a realidade como base da produção do conhecimento>>; espaço em que ele viveu; a maneira como ele construiu e
"conteúdos formativos socialmente úteis"; "vínculo orgânico assimilou significados; a sua atual visão de mundo; as suas
entre processos produtivos e processos políticos)); "vínculo práticas culturais etc.
orgânico entre educação e cultura,,. Também não podemos nos esquecer de que: "estudar é
Conforme as normas gerais do MST, um dos princípios realmente um trabalho difícil. Exige de quem o faz uma postura
organizativos é o estudo. Somos estimulados ao estudo de todos crítica, sistemática. Exige uma distância intelectual que não se
os aspectos que dizem respeito às atividades dos Sem Terra, pois ganha a não ser praticando-a>>. 64 O estudo, pessoal ou em
"quem não sabe é como quem não vê,,. E quem não compreende conjunto, tem que ser organizado, ter planejamento. Não é algo
a realidade não tem a capacidade de transformá-la. espontâneo e nem voltado para superar questões táticas (uma
O estudo pressupõe um fecundo diálogo entre o prova, por exemplo). Precisamos criar hábito de estudo.
conhecimento científico, aperfeiçoado pela análise e
acumulado pela humanidade em obras que são uma herança a 4.1 - Ênfase em uma concepção de mundo
ser partilhada, e a sabedoria popular, "matutada" ao longo Uma das metas do Instituto- talvez a principal-é contribuir
dos anos à luz da experiência de vida. para que ao longo do seu estudo os educandos percebam a sua
O estudo só encontra seu sentido social quando ele é visão/concepção de mundo e de história, bem como de sociedade,
capaz de partir da realidade, o que implica pesquisa, e após e aprendam/compreendam a concepção de mundo, de história, de
aprofundar esta realidade à luz do conhecimento acumulado sociedade da filosofia da práxis, baseada na teoria marxista do
~ pela humanidade, consegue tirar propostas e encontrar um conhecimento. Assim, eles desenvolvrão uma consciência crítica
c5 método para transformar a realidade pesquisada. 63 e madura ou equilibrada. E, conseqüentemente, compreendam o ~
"'o (}
"'=> seu papel no processo histórico. "'o
.§, "';:,
o
'6 Plekhanov65 nos chama a atenção para as principais .§,

~
i5
=> concepções da história ao longo dos anos: a teológica, a idealista
J3
"'o til
~ "'o
~
] 62
Faixa presente no Encontro Nacional do MST de 1987, Piracicaba, SP. G4 FREIRE, Paulo. Aç-ão Culturnl ... p. 9. §

65
G
3
MST- Caderno de Educação n. 9. p. 38 . Cf. PLEKHANOV O papel do individuo na história. São Paulo: Expressão Popular, e;


2000. -3
(que inclui, por exemplo, o positivismo) e a marxista ou materiais que permitem o amadurecimento de novas relações
materialista (materialismo dialético). Não confundir com o de produção. Por isto, podemos apenas nos propor os objetivos
materialismo econômico - que atribui predominância ao fator que podemos alcançar e que brotam quando já estão em gestação
econômico, em vez de perceber a totalidade-, que continua a as condições materiais para que ela se desenvolva. 67
ser um idealismo histórico, e nem com um materialismo vulgar O desafio do IEJC é, a partir desta concepção de mundo,
(darwinismo político e social), que também ainda é idealista. rransformar a prática educativa em atividade política, tornando-
Cada uma delas apresenta o papel do ser humano na história e, ª cultura entre aqueles que habitam o ambiente escolar. O
conseqüentemente, de compreensão do processo histórico. processo educativo (o conhecimento) deve ser visto como
Na "concepção materialista da história, o momento em atividade humana sensível, como práxis, isto é, aprender a
última instância determinante, na história, é a produção da vida ap ropriar-se da realidade, a compreender os desafios da prática e
real" (a luta que o ser humano trava com a natureza para assegurar da teoria, a confrontar as suas contradições, aplicando as leis da
sua própria existência), o momento econômico não é o único dialética, tendo a finalidade de conhecer para transformar. 68
determinante - influem também as formas políticas da luta de
classe e seus resultados - sobre o curso do processo histórico. 4.2 - Ênfase na Aprendizagem
Mas o momento econômico determina em muitos casos a forma Há vários anos procuramos fazer uma inversão: de
das lutas históricas, bem como a tradição que assombra a cabeça "ensino-aprendizagem" (centrada no repasse de informações,
das pessoas, embora não seja decisivo. Mas a situação econômica mesmo que seja o mais democrático possível, e no despejamento
é a base, pois é ela que consolida cada fase da história (são as de conteúdos), passamos á "aprendizagem-ensino" (preparar o
relações de produção que determinam todas as outras relações cam inho para todos produzirem o seu conhecimento e
que existem entre as pessoas). Nós fazemos a nossa história aprenderem aplicá-lo na vida). Foi a forma de darmos ênfase à
mas com pressupostos e condições muito determinadas. E a aprendizagem. Isto significa uma mudança em quase todo o
história se faz de tal modo que o resultado final provém sempre processo educativo: currículo, tipos de atividades, gestão e assim
de conflitos de muitas vontades - que não alcançam aquilo que por diante.
querem, mas se fundem numa resultante con:i.um: o possível Vygotsky desenvolveu a Zona de Desenvolvimento
naquele momento histórico -, de inúmeras forças que se Proximal para chamar a atenção para a questão da aprendizagem
entrecruzam e delas provêm o resultado histórico, que pode ele e a interação das pessoas em vista da produção do conhecimento.
so"'
próprio, por sua vez, ser encarado como produto de um poder Ela é a distância entre o desenvolvimento real de um educando
(ou seja, um saber fazer/dizer que ele já adquiriu) e um
ú
~
"':.:> que, por sua vez, atua sem consciência e sem vontade. 66 "'o
.§, aprendizado que ele pode alcançar com a ajuda de um educador "'::>
A história não evolui a partir de nossa vontade e nem de ~
~
~
::> uma teleologia (fins que temos), mas pelo avanço das condições e ou de outros educandos que já dominam este aprendizado.
Jl o
"'o U.l

g "'o
§ g
7 ç::
.3 Cf. MARX, Prefácio à Contribuiçiio à Crítica da Economia Política.


' i::
66
2


Cf. Carta de Engels a Joseph Bloch, escrita cm Londres, 21 de setembro de 1890. Ga Cf. BOC O, Adernar. A educação escolar e a fonnaçiio política (mimeo). p. 3-4 .
Um dos passos é fazer periodicamente o resgate do Os processos de aprendizagem envolvidos, por exemplo, no
aprendizado dos educandos das turmas: conteúdos escolares, domínio de determinadas teorias não são exatamente os mesmos
experiências de vida etc. Esta é a base para a produção de novos daqueles envolvidos na construção de habilidades e posturas,
aprendizados que, nesta escola, vão além do que é desenvolvido ainda que se relacionem com a mesma questão. Ou seja,
nas salas de aula. compreender o conceito de cooperação não é a mesma coisa que
O cuidado com o aprendizado nos leva, entre outras saber implementar uma ação cooperativa; embora um
iniciativas: a organizar os grupos de estudo misturando aprendizado possa ajudar o outro, não são a mesma coisa.
educandos com diferentes "níveis" de aprendizagem, para que Essa distinção é importante para adequarmos o método
possa haver a maior interação possível e, de tempos em tempos, ao objetivo real e específico que temos com cada detalhe do
os grupos devem ser reorganizados; a propor a realização de processo educativo: não há como construir, por exemplo, o
trabalhos em conjunto. Mas, sem descuidar da caminhada de aprendizado prático da cooperação sem vivenciar diretamente
cada um em particular. uma experiência de cooperação. Isso nos permite refletir sobre o
A avaliação, neste contexto, só tem sentido se tiver o conjunto das situações pedagógicas e também nos sugere ter
intuito de buscar caminhos para melhorar a aprendizagem, metas de capacitação para cada etapa do processo educativo. 69
levando em conta o conjunto do processo. Nossa opção pela capacitação é na busca de aproveitar o
potencial pedagógico da prática como espaço de formação
4.3 - Ênfase na Capacitação humana. Pois, a prática põe em cheque o conhecimento anterior
No IEJC compreendemos a capacitação como um da pessoa e abre espaço para novas descobertas; "parafusa" o
processo intencional de preparação das pessoas para atuar como profissional em seu fazer e o obriga a buscar novos elementos.
sujeitos de ações e de intervenções concretas na realidade, ligadas Existe, na prática, por causa das condições objetivas, um diálogo
aos objetivos de cada Curso e ao projeto de desenvolvimento entre o novo e o antigo que leva, em mais ou menos tempo, a
social e de formação do ser humano que orientam o trabalho uma síntese: uma nova orientação à prática.
pedagógico do Instituto, da Mantenedora e do MST.
É esta concepção metodológica que nos orienta a pensar 4.4 - Lógica das didáticas: capacitação e ensino
a escola como espaço de práticas e de situações objetivas que No Instituto assumimos duas lógicas de aprendizagem
produzam a necessidade de aprender. Deste conceito mais amplo (didáticas), pois reconhecemos que nem todos os aprendizados
~ se desdobra um jeito de olhar para o conjunto e para os detalhes se constroem da mesma maneira e que nem todas as dimensões ~
d... d
Cl
do processo pedagógico, e uma lógica de organização do próprio da formação humana devem ser trabalhadas pedagogicamente "'Cl
"':..i "'
.2, ambiente educativo, dando prioridade à dimensão do fazer, e do mesmo jeito, ou com o mesmo método. !
Assumimos a compreensão/distinção da aprendizagem %
~
&l
colocando as teorias a serviço das questões da prática.
Trata-se também de reconhecer que nem todos os como capacitação e como ensino. Com isto, não queremos dizer
i5
:..i
Jl
...
"'Cl aprendizados se constroem da mesma maneira e que nem todas
Cl
g
ê i::'.
~ as dimensões da formação humana devem ser trabalhadas ~
~


69
.3 !TERRA- Cadernos do !TERRA n. 2. p. 30.

• pedagogicamente do mesmo jeito, ou com o mesmo método.


que uma é mais importante que a outra. Esta distinção é b)No ensino, o sujeito transforma o objeto (que pode ser uma
importante para adequarmos o método ao objetivo real e coisa, uma relação, um empreendimento, uma situação
específico que temos com cada detalhe do processo educativo: histórica), e na capacitação, o objeto transforma o sujeito, pois
não há como construir, por exemplo, o aprendizado prático da é o objeto que diz qual a informação que a pessoa precisa para
cooperação sem vivenciar diretamente uma experiência de agir (aferramentação). 71 Enfim, são os problemas que criam
cooperação. as necessidades e a cognição é gerada pelas necessidades.
A aprendizagem, compreendida como capacitação, é c)No ensino, ambos (ensino e capacitação) têm a mesma lógica
ter a intencionalidade de preparar as pessoas para atuar como e na capacitação não necessariamente têm que ter a mesma
sujeitos de suas ações e de intervenções concretas na realidade.
lógica.
O espaço privilegiado da capacitação são as oficinas, que vão
d)No ensino, o papel do educador é repassar conteúdo (usando
desde aquelas em vista da aquisição de uma determinada
as formas mais inteligentes ou didáticas possíveis) e na
habilidade até a plena participação na gestão de uma coletividade.
capacitação é criar o ambiente pedagógico repassando os
A escola deve ser pensada como um espaço de práticas e de
insumos. Para gerar cooperação os insumos devem ser
situações objetivas que produzam a necessidade de aprender a
indivisíveis.
fazer. Nesta lógica, as teorias estão a serviço das questões da
prática e são apresentadas após o diálogo do sujeito com as e)O ensino parte da prática sistematizada (de uma versão),
condições objetivas que mostraram a deficiências das habilidades enquanto que a capacitação parte da necessidade, da prática
até e_ntão desenvolvidas. Ela nos sugere ter metas de capacitação real ou dos fatores materiais do objetivo (fatores objetuais).
para cada etapa do processo educativo. f)O resultado do ensino é o aumento do conhecimento, a
A aprendizagem, compreendida como ensino, é baseada apreensão de conceitos, o armazenamento de informações, o
na preocupação do educador em repassar, mesmo que seja o saber; enquanto que o da capacitação é o saber fazer e isto
mais democraticamente possível, tudo o que ele considera muda as pessoas.
necessário que o educando saiba, da sua área de conhecimento Jamais devemos nos esquecer que, sobre o processo de
ou da sua disciplina. O espaço privilegiado do ensino são as aulas. capacitação e o de ensino, devemos levar em conta:
Para ajudar a entender a nossa separação entre ensino e a)Que um pode acontecer sem o outro. Mas, se tiver que
capacitação, vamos tentar diferenciar: acontecer um só que seja a capacitação.
~"'
o
a)No ensino o fenômeno "gnóstico" (compreender) antecede b)Nós buscamos os dois, isto é, o fazer-sabendo. Isto capacita
~
ú
"'o
Ul
::>
o fenômeno "práxico" (fazer), ou a teoria vem antes da prática. as pessoas para agirem racionalmente (práxis). A práxis é uma Ul
::>

'~ª' Na capacitação o fenômeno "práxico" antecede o fenômeno


"gnóstico", ou a prática vem antes da teoria, apesar de serem
atividade que exige teoria. Ela é a atividade que transforma a
sociedade e, ao mesmo tempo, vai transformando o ser
'9ª'
o

JJ o
dois fenômenos integrados. 70 humano sujeito desta transformação. a.J

"'o "'o
~ g
§
~
71
Aferramcntação existe quando os elementos objctuais são fatores aferentes que guiam
j
• •
70
SANTOS DE MORAIS, Clodomir. A capacitação ... p. 87 . o sujeito e determinam novas necessidades no que fazer. Ibi dem. p.85-86.
desenvolvidos através da capacitação ou aprendizado de
c) Existe uma contradição entre o conteúdo e a forma. A todo
habilidades, algumas das quais que exigem treinamento, pois
conteúdo corresponde uma determinada forma (didática) .
cada competência tem uma ou mais habilidades. Em
É mais fácil mudar o conteúdo (o que eu digo, por exemplo)
determinadas situações, por serem originais, as decisões precisam
que a forma (o jeito de fazer ou como eu faço, por exemplo) .
ser tomadas orientadas pela experiência e cada um dos passos da
É mais fácil aprender a forma que o conteúdo.
implementação precisa ser cuidadosamente checado.
d) O que confunde é que, muitas vezes, o ensino capacita sem As competências só podem ser construídas na prática,
querer, no secundário. Por exemplo, para ensinar história o confrontadas de forma permanente com a teoria, em vista da
educador incentiva os educandos a fazer teatro e os educandos construção de um novo saber: o saber fazer. Não basta apenas
aprendem a representar em vez de conhecer a história ou o refletir sobre ou ajudá-los a memorizar conceitos abstratos e fora
educador "passa' os filósofos em vez de ensinar a pensar. do contexto. É preciso que aprendam para que serve o
e) A pessoa não está capacitada se só sabe teoricamente. O teste conhecimento e também quando e como aplicá-lo. Em resumo,
deve ser prático pois é a prática que cria a habilidade. É por aprende-se fazendo, em uma situação que requeira esse fazer
isto que os médicos têm que fazer residência depois de terem determinado.
estudado anos. As competências que queremos desenvolver em nossos
f) Só o objeto capacita, ou melhor, a necessidade do impacto educandos devem ser definidas, bem como as habilidades
do objeto sobre o sujeito. Para se capacitar em organização é necessárias para tal fim.
necessário a pessoa estar em uma ação organizada.
g) A teoria só capacita quando corresponde a necessidades já 4.6 - Elementos do Estudo
criadas pela prática organizada. No IEJC devemos desenvolver nos educandos e
educadores alguns hábitos ou posturas:
a) Vontade de saber: A condição para o aprendizado é o desejo
4.5 - Competências
de aprender algo. Este desejo normalmente está ligado a uma
Entendemos por competência o preparo para a vida
necessidade do educando, pessoal ou coletiva.
através da capacidade de mobilizar conhecimentos para agir de
Faz parte da sabedoria do educador perceber a necessidade
modo pertinente em uma determinada situação, dentro de um real (uma ou mais) dos educandos que ele pode trabalhar em
contexto: a participação social; o compromisso histórico ; a seu espaço educativo e fazer os ajustes necessários em seu g
s"'o
análise e resolução de problemas, por exemplo. Esta mobilização
implica a capacidade de analisar, de fazer uma escolha ou tomar
plano de atividades (aula, por exemplo) para corresponderá 8
"'o
expectativa. '"'::>
'"'
;:;
decisões e na vontade de implementar a decisão feita da melhor
'ª'
o
'6 forma possível. Esta decisão implica valores, isto é, tem uma
b) Curiosidade: O aprendizado começa com a arte de "fazer '6ª'
o
'6
li:::> perguntas" sobre a realidade, a prática que estamos ;:;

Jl dimensão ética que também se aprende ao percebermos o 8


vivenciando ou a partir de alguma intuição. É a curiosidade "'o
"'o significado das escolhas.
i2 que nos leva a aprofundar o conhecimento sobre um ~
f-

~ Estes conhecimentos, capacidades e valores podem já estar determinado assunto ou problema, que transformo em 3
ç:;

z
• na pessoa- fruto da experiência já acumulada- ou precisam ser

questão. A pergunta leva ao questionamento, pois nos coloca compreensão de conceitos, produção de significados, e assim
frente a frente com o conhecimento que já temos e nos leva por diante.
a questionar se estamos com uma informação factual ou se O estudo está ligado a uma inquietação ou a uma questão que
já temos uma síntese de uma análise já realizada. Isto abre a preciso compreender mesmo que para isto preciso "torrar os
possibilidade para aprender mais ou experimentar novas miolos" ou "gastar os fundilhos". É muito mais do que estudar
abordagens do referido tema. para as provas ou elaborar as demandas escolares.
Ensina-se a fazer perguntas sendo um bom perguntador. O estudo exige um ambiente adequado, com boa iluminação
c) Hábito de Leitura: Pode-se utilizar um tempo educativo (de preferência natural e sem sombras). Para conseguir a
(leitura) como tática da construção deste hábito, mas ela concentração necessária, se possível, longe de qualquer
precisa avançar sobre outros tempos e, inclusive, sobre o barulho ou distração. Se não existe um lugar assim ele deve
tempo livre, quando as pessoas lêem por prazer. ser constituído, dentro das possibilidades.
A leitura exige: o reconhecimento da fonte (quem, quando, e) Hábito de Pesquisa: "A pesquisa aqui é compreendida
contexto da obra); a capacidade de detectar as idéias-chave; como compromisso de transformação". 72 As pessoas
armazenar dados (da obra) e registrar idéias (utilizar fichas precisam aprender a inquirir a realidade, entranhar-se nela,
de leitura, por exemplo). compreendê-la em seu movimento (sua essência), p ara
Deve haver motivação para leitura pessoal e em grupo. Leitura realizar uma "práxis": "Ousar e lutar para que as nossas vidas
de textos, de partes de livros ou do livro todo (técnicos, sejam mais dignas" .73
político-ideológicos e de literatura), de cartilhas, de revistas A pesquisa exige que desenvolvamos a capacidade de
e jornais, principalmente dos periódicos do MST. Sempre "estranhamento" do cotidiano e a de transformação do que
que possível as leituras devem ser registradas (ficha
estranhamos em "questões" a serem apro fundadas e
bibliográfica ou ficha de conteúdo) e socializadas. respondidas.
Deve haver o aprendizado sobre os diferentes jeitos de ler e
A pesquisa, já pronta ou por nós desenvolvida, é uma forma
os exercícios de leitura devem ser realizados em voz alta,
de aprendizado. A ausência de avanços é sintoma de falta de
comunicando o conteúdo para os ouvintes.
pesquisa, de busca de compreender os desafios. A pesquisa
d) Hábito de Estudo: Pode-se utilizar um tempo educativo visa a compreensão dos problemas, a busca de alternativas
(estudo) como tática da construção deste hábito. Mas, ele para a superação dos problemas e desafios do MST. Para cada
ê deve ir além do "tempo estudo". A meta é fazer com que ~
ó"· nível educacional, deve-se prever um nível de pesquisa ó
"'o todos, educadores e educandos, tenham o seu plano de orientada pelos educadores e se possível acompanhada. 74 "'o
'Ul
:::>
estudo, e o tempo que sobrar deveria ser dedicado ao estudo. "':::>
-ª' A construção do conhecimento exige esforço (a quem diga -ª'o
%Li
õ
0:::>
cB que dói). Exige: leitura, reflexão/"ruminamento" (ou
&l
"'o "pensando com os meus botões"), anotações, elaboração de "'o
g n JTERRA - Cadernos do ITERRA n. 3. p. 5. g
f:
i::;
esquemas ou resumos, troca de idéias, esclarecimento de 73
Idem. Ibidem. p. 5. j::'

z i::;


dúvidas, pesquisa, tentativa de síntese, maturação, 74
i


Cf. BOGO, Adernar. A educação escolar e a formação política (texto) . p. 4-5.
f) Criatividade: Saber, a partir dos problemas encontrados,
5 - MOVIMENTO
encontrar respostas ainda não dadas ou dar soluções ainda "O verdadeiro movimento
não encontradas. Ter a coragem e a capacidade de propor nunca aparece como oconcebiam
soluções que não sejam "idealistas". aqueles que oprepararam"
(F. Engels, 1857)76
4.7 - Organização do Currículo
A organização curricular deve levar em conta não apenas Um dos aprendizados pedagógicos fundamentais que
as disciplinas, com suas ementas, propostas pelo respectivo curso, construímos no MST é o do movimento como princípio
mas todas as metas de aprendizado (formação político-ideológica educativo. Isso implica algumas concepções básicas:
e humana) e de gestão/produção que a escola e o curso
(formação profissional) visam alcançar,7 5 como o jeito de 1) O movimento, que é a chave da interpretação dialética da
funcionamento da coletividade escolar, com seus tempos e história, também pode ser a chave da interpretação (dialética)
espaços, bem como o processo de avaliação. dos processos de formação humana. E assim como precisamos
O mesmo se concretiza por meio do Projeto compreender a lógica do movimento da história para poder
Metodológico (PROMET) de cada curso elaborado para cada levar adiante e de forma eficaz a nossa luta política, também
etapa e planeja a sua encarnação na coletividade por meio do precisamos compreender a lógica do movimento da
Programa Semanal de Atividades. formação ou do desenvolvimento do ser humano para poder
realizar nosso projeto pedagógico, que é exatamente o de
formar sujeitos da transformação do mundo.
2) O movimento é a chave de leitura do processo educativo
porque também pode ser seu motor pedagógico. No MST, as
pessoas se educam entrando (inclusive fisicamente) em
movimento: movimento da luta social, da distribuição das
tarefas, da construção da organização; movimento do
Movimento. E se pensamos em relação à realidade mais ampla,
podemos afirmar também que as pessoas somente se educam
ª
ú
"'o se entrarem em movimento; ninguém se forma se ficar parado, ú
ª
""
:.:>
~
e a estagnação é exatamente a negação da formação. ..."'o
~

~
.2,
o
~
;::>
J3 g
"'o ~
~ "'o
~ ê[::'.
I=
z 76
APUB KONDER, Leandro. O futuro da filosofia da práxis. 2>. Rio de Janeiro: Paz e

• 75 Para maiores informações consulte: ITERRA- Cadernos do !TERRA n. 2. p. 22 a 26. E;


Terra, 1992. 1':
3) Para que se possa potencializar a dimensão educativa e política de nós jamais seremos iguais a nós mesmos em dois segundos
do movimento é preciso desenvolver a consciência do sucessivos da trajetória de nossos caminhos. 78 O movimento se
movimento e de sua relação com um projeto de sociedade e dá no conjunto da história (exterioridade) e na vida das pessoas.
de ser humano. Cada pessoa e cada coletivo precisam O movimento precisa ser percebido em sua totalidade
compreender que fazem parte de um processo maior e aos (conjunto de vários movimentos) e imobilizado em palavras para ser
poucos ir assumindo a direção do movimento que realizam, comunicado (só assim é possível o diálogo): palavras que são redutoras
passando a impulsionar também o movimento de outras de significados (não dizem tudo o que é e dizem parte do que já foi).
pessoas e de outros coletivos. O movimento precisa ser percebido como um processo
Transformando isto em estratégia pedagógica podemos contínuo, sem recortes estanques, e, ao mesmo tempo,
dizer que faz parte do método de educação do IEJC colocar os permanente. Por trabalharmos com alternância, tendemos a olhar
educandos e toda a escola em movimento, e fazer a leitura a caminhada das turmas e dos educandos como TE e TC, sem
pedagógica deste movimento para impulsioná-lo em vista do prestar atenção na íntima relação que deve existir entre ambos
projeto de ser humano que defendemos. Trata-se de potencializar (fazem parte de um único movimento e fazem parte de um único
a dimensão educativa do movimento da produção material de tempo do processo educativo) e sem perceber que o avanço se
nossa existência, do movimento da construção de nossa dá como resultado desta interação. Em outras palavras, não é só
coletividade, do movimento da produção do conhecimento, do o Instituto que educa e se aprofunda na teoria e nem é só no TC
movimento da inserção na organicidade do MST, do movimento que se faz a prática e se pesquisa a realidade.
das condições da realidade e das transformações que vão sendo O movimento é, ao mesmo tempo:
vividas no coletivo e em cada pessoa. 77 a) Um processo em andamento, dinâmico e contraditório, que
O movimento, por ser fluido (como um rio), fugaz em precisa ser percebido e compreendido como processo em
seus instantes, não pode parar e nem ser parado (nem no espaço mudança (em contínua transformação) e que o próprio ser
e nem no tempo). Tudo é trânsito, mesmo o leitor deste texto: humano faz parte deste processo e também está em
era um antes de ler esta linha e será outro após ler a próxima. transformação.
Heráclito, filósofo grego, dizia que ninguém pode entrar no Temos como princípios do movimento a compreensão de
mesmo rio duas vezes porque, na segunda, já serão outras águas que o ser humano é um ser histórico e de que a sociedade
que por ele estarão passando, já não será o mesmo rio. Crátilo, humana é uma totalidade em constante transformação, a partir
~ de leis que nos permitem perceber o lugar onde temos que
g
ú discípulo de Heráclito, extremava dizendo que ninguém pode 3
"'
Cl
interagir (combater) para que a nossa ação seja mais eficaz, "'Cl
"'::> atravessar o mesmo rio sequer uma única vez, pois as águas estarão ""':o
.2,
sempre em movimento. Augusto Boal extrema Crátilo ao afirmar superando assim a tese de que 1a história muda como fruto .2.o
g das contradições inerentes ao processo (evolucionismo 0
ê5 que a pessoa que entra também está em movimento (mutação), 0
] mecanicista). o
"'Cl e não por estar gesticulando (seria simplista demais): cada um Ul

"'
Cl

~ 18 5
~
f-
Cf. BOAL, Augusto. Conjuntos 11n11/ógicos e conjuntos complementares: um11 teoria pam o teatro l;;

• 77
!TERRA - Cadernos do ITERRA n. 2. p. 26 e 27. subjuntivo. (texto). p. 4. .3
o
b) Uma chave de interpretação do processo histórico, que exige entre o Projeto Histórico (Projeto Pedagógico da escola) e os
de nós uma consciência do movimento e a percepção dos Projetos de Vida de cada uma das pessoas envolvidas (com
projetos em confronto, mas que pode ser utilizada como chave sua dose de oportunismo); do atrito entre a vontade política
de leitura do processo educativo , fazendo uma leitura (por causa do subjetivismo) e as condições objetivas e
pedagógica deste movimento subjetivas para a realização da mesma; por causa da sociedade
Entendemos movimento como um processo e como um onde estamos inseridos (que ainda é capitalista neoliberal).
método de leitura deste processo em vista da compreensão e d)O movimento necessário para a transformação da realidade,
da condução do processo educativo e da transformação da a saber: prática (tendo a materialidade do processo como
sociedade, a saber, a "ciência da história" como método de ponto de partida), ~ teoria (como reflexão e o devido
interpretação científica da história. Ela é uma ciência inexata, aprofundamento teórico) -7 práxis (como ponto de chegada
no sentido de se poderem traçar aspectos e desenvolvimentos e critério da verdade).
gerais, mas não ser possível um conhecimento preciso e Paulo Freire nos alerta que não podemos nos esquecer
detalhado de todas as influências e condições. da íntima relação entre prática e teoria, pois uma não existe sem
c) Um princípio pedagógico que nos leva a assumir a estratégia a outra: são inseparáveis. Toda a prática tem atrás de si uma
de colocar em movimento educadores e educandos. teoria, mesmo que o executor não a perceba, e por isto não é
Para isto levamos em conta os aspectos abaixo: neutra. Toda teoria emerge de uma prática. Podemos perceber
uma separação entre teóricos e verbalistas: os primeiros são
5.1 - Partir da existência práticos e o segundo fica no "blá-blá-blá" ou no falso pensar.
Partir da existência é perceber: Existe também uma separação entre práticos e ativistas: os
a)A historicidade do processo, isto é, perceber o antes primeiros visam a "práxis" e os segundos a ação pela ação. Aos
(história), o agora (a situação atual a partir de uma análise de verbalistas falta a ação e por isto se isolam em uma "torre de
conjuntura) e as tendências (cenários possíveis) em vista d e marfim" e consideram desprezíveis os que estão na "práxis";
nossa interação (para construirmos o cenário mais possível) aos ativistas falta a reflexão crítica sobre a ação e consideram os
a partir de uma visão de raiz (identidade) e de projeto. que pensam sobre a ação e para ela "teóricos", intelectuais
b)A maquinaria social, isto é, o jeito de funcionamento da nocivos que nada fazem senão obstaculizar sua atividade. 79 Quem
sociedade (e da escola). Denominamos maquinaria porque se aliena da prática social se perde. O trabalhador social (educador g
~"'
o
ela não depende mais da vontade particular de alguém (como e educando) deve "conhecer a realidade em que atua, o sistema 3
o"'
um remador solitário a comandar a sua canoa), mas de um de forças que enfrenta, para conhecer o seu 'viável histórico'. "'
;:i
"'
::.
.Q_
.Q_
complexo humano organizado em coletividade (como um
~ navio onde o timoneiro precisa comandar os responsáveis ~
"'
.;:i
]
..,
o
pelas máquinas para alterar a velocidade). "'o
12
~ c)As várias contradições presentes no cotidiano do processo, 79

z~
Cf. FREIRE, Paulo. Ação Culturttlpara tt liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz
~ e Terra, 1976. p. 17.


pois nem todos percebem o mesmo rumo por causa: da tensão


Em outras palavras, para conhecer o que pode ser feito, em que Não é o pensamento que cria a realidade. A realidade
momento dado, pois que se faz o que se pode e não o que se existe independente do pensamento (ela não é lógica, mas
gostaria de fazer". 80 dialética). A dialética está na realidade e não apenas em um
determinado modo de interpretá-la. A dialética é o movimento
5.2 - Domínio da Dialética interno que existe em todas as coisas (processos): nada é estático
O traço fundamental e essencial da teoria marxiana81 do e mdo se relaciona.
conhecimento é a natureza construtiva do conhecimento. O Nenhum fenômeno existe sem forças materiais que o
conhecimento resulta de uma construção efetuada pelo provoquem e o determinem. Mas esta materialidade não pode
pensamento e suas operações (não existe o conhecimento em ser entendida apenas como realidade física (pode ser o
si): consiste em uma representação mental do concreto (não é pensamento de uma época).
uma reprodução ou uma transposição da realidade para o Toda a realidade (social, humana) é histórica e assim deve
pensamento) elaborada a partir da percepção e da intuição. O ser compreendida. O conhecimento da realidade também é
conhecimento é de fato uma elaboração (uma construção histórico; portanto limitado, transitório e sempre inconcluso.
mental) : um produto do cérebro pensante. "Marx, como se sabe, Nenhum fenômeno existe em si mesmo e como dado; a realidade
não chegou a desenvolver sistematicamente o seu método. se produz, é dinâmica, processo, movimento ..A compreensão
Limitou-se em princípio a aplicá-lo. Mas da maneira como o fez está na determinação das relações, através da análise.
[... ] oferece os elementos mais que suficientes para traçar, pelo Existe a necessidade de perceber o processo em andamento
menos em suas linhas gerais e fundamentais, aquilo em que (historicidade), do qual somos e fazemos parte. Por isso se faz
essencialmente consistem seus procedimentos metodológicos". 82 necessário nos apropriar do fio condutor, a saber, das leis da
O materialismo dialético (princípio) e histórico (aplicação) dialética que regem o movimento da sociedade (e da escola):
ou a dialética materislista histórica é uma concepção de mundo a) Movimento - A hipótese fundamental do método dialético
e, portanto, da história (de seu processo), o que implica uma "é de que não existe nada eterno, nada fixo, nada absoluto.
postura, é um método de interpretação da realidade: perceber Tudo o que existe na vida humana e social está em perpétua
onde e como precisamos agir para que a nossa ação seja mais transformação, tudo é perecível, tudo está sujeito ao fluxo da
eficaz e é uma práxis. 83 história". 81
Tudo se transforma o tempo todo - Tudo é movimento (há
~
~"' dinamismo) . A realidade é movimento permanente. Há um
todo (conjunto) que está em movimento (processo). Há um
ú
"'o
...,o "'::;
:.>
dinamismo interno que obriga a sociedade a estar em ~
-ª'
s"'~
o
'(} movimento contínuo. A mudança (trarisformação) é um processo
<J 8
° FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e contínuo. O movimento é contínuo (mas não em um único
~ Terra, 1976. p. 41.
"'o 81
Teoria de Marx. Neste sentido "marxis mo" seria a teoria dos disdpulos de Marx. sentido; a manivela da história pode ser tocada para trás). o
g 82
PRADO Jr., Caio. Teoria marxista do conhecimento e método didlético materialista. (texto)
g
~ f:
·~ Cf. FAZENDA, Tvani (Org.) Metodokgia dd Pesquisa Educacional. 7ª edição. São Paulo:
I=
z 84
i

LÕWY, Michael. Ideologias ... p. 14.
o Cortez, 2001. p. 74 a83.
Está em andamento uma mistura de interações, de ações Perceber as relações - A realidade não é a descrição do que
recíprocas e interpenetrações (elementos de um conjunto). vejo (aparência). A realidade é dada pelas relações que a fazem
Há um encadeamento em relação aos acontecimentos e na assim e leis que nem sempre conhecemos.
dimensão temporal (passado, presente e futuro). A passagem Causa e efeito é apenas uma representação formal. Não há
de um estado a outro obedece a um encadeamento. Há uma lugar para oposições que se excluem (vida e morte, por
coerência sob um aspecto caótico e desordenado. exemplo). Elas se interpenetram (uma está contida na outra).
O movimento não é linear, nem circular e nem apenas espiral . A relação entre o todo e a parte -A totalidade da realidade
O linear dá uma idéia de algo sempre progressivo (começa é maior que a soma dos fatos acontecidos, isto é, o todo não
num ponto e termina em outro) e de que não há variações é igual a soma das partes ou a junção dos elementos que a
possíveis (senão seria uma linha sinuosa). O circular indica constituem (como se fosse a montagem de um quebra-cabeça).
que tudo volta ao ponto de partida. O espiral implica uma A totalidade inclui também as relações que existem entre as
junção de ambas (mas é toda certinha). O movimento se dá partes. E mais, em cada uma das partes há traços do todo. É
como uma helicóide (mais complexa que uma espiral por ser um perigo separar a parte do todo (co ntexto). Quando
uma espiral que diminui a distância entre uma volta e outra na delimito uma parte não posso dizer que o resto não me
medida em que aumenta a sua circunferência) e nele podem interessa (existe uma mediação): delimitar é não limitar.
acontecer saltos ou quedas (passagens de um nível para outro O motor são as contradições - No movimento há uma
sem fazer toda a volta, também denominados "buracos de unidade dentro da totalidade e uma diversidade que conduz a
minhocas" na teoria espacial). desagregação desse conjunto (a entropia). Por isto precisamos
Para melhor compreender a realidade a separamos em ciclos perceber a unidade e a diversidade das coisas contraditórias.
ou ondas, que são separações em vista de significação e que O motor do movimento são as contradições. O motor da
. .
se mteragem no mesmo movimento. história é o interesse contraditório entre os grupos sociais
Podemos mudar o rumo da história - "Para Marx, aplicando (classes).
o método dialético, todos os fenômenos econômicos ou
b) Contradição
sociais, todas as chamadas leis da economia e da sociedade,
No método dialético as contradições são inerentes ao
são produto da ação humana e, portanto, podem ser
processo, movem a realidade e são o motor do processo. As
o transformados por esta ação. Não são leis eternas, absolutas
~ contradições são frutos dos interesses diferentes ou distintos 86 o
~
3 ou naturais. São leis que resultam da ação e da interação, da
e antagônicos dos participantes. As contradições não são 3
...,::;"'
Cl
produção e da reprodução da sociedade pelos indivíduos e,
exteriores ao processo: nas mediações que constituem os ...,"'Cl
~ portanto, podem ser transformadas pelos próprios indivíduos ::;
o ~
zj. o
i)
::;
num processo que pode ser, por exemplo, revolucionário". 85 ô
J3 ~
Cl
"'
Cl
w
"'Cl
~ 86
Compreendemos como "difere n tes" as contrad ições dentro do m esmo P rojeto g
E Histórico (as que tendem a acontecer cm uma coletividade) e como "dis tintas" quando f:'.


.3 85 !;;
LÕWY, Michael. Ideologias ... p. 15.


se dão entre Projetos Históricos contraditórios (aí é luta de classes) . .3
fenômenos estão também os elementos que podem destruí- Podemos explicar assim o movimento da contradição: o
los ou transformá-los. primeiro termo da contradição é uma afirmação (tese). O
Precisamos ter a tranqüilidade para encarar e a sensibilidade segundo termo é uma negação do primeiro (antítese). O
para perceber as contradições no processo, sem as confundir terceiro termo é a negação do segundo ou a negação da
com tensões aparentes (que criam situações de conflito) e negação (síntese). A negação de uma negação anterior
sem cair num dualismo (ver a partir de dois pólos que se corresponde a uma afirmação. Mas, isto não é um movimento
anulam). linear, pois quando o primeiro se afirma o segundo já está
Todas as coisas são contraditórias em si. A contradição é a contido dentro dele.
raiz de todo o movimento e de toda manifestação vital. Na c)Transformação qualitativa no interior do processo
totalidade nós encontramos a diversidade: os membros de O processo se desenvolve por onda (ou ciclos), ou nós o
um grupo social (uma coletividade) formam a coletividade, percebemos (significamos) desta forma para o compreender.
por exemplo, mas cada membro (pessoa) é diferente um do Faz-se necessário perceber o limite ou a estagnação que aponta
outro e cada um deles tende a ter em si contradições. para o término de um ciclo e ao mesmo tempo os elementos,
A contradição é a transformação de determinada coisa a partir já presentes, que permitem a sua superação (abertura de um
da interação de forças contrárias, agindo nela e sobre ela. Há novo ciclo que já existe em gestação).
forças que agem para que continue como está (como um ovo, Tal acontece sempre que seatinge um ponto crítico a partir do
por exemplo), sem que seja transformado em outra coisa, e, qual a mudança é obrigatória. Acontece cada vez que
outras que contribuem para que ele se transforme (se torne modificações quantitativas sucessivas (pequenas mudanças)
um animal, por exemplo). acabam por provocar uma mudança catastrófica e irreversível
Existem, num processo, uma contradição principal na estrutura do sistema. Este salto exige uma acumulação de
(normalmente com sua base) e contradições secundárias. energia (forças) . Na sociedade é uma revolução. Logo após o
Uma contradição decisiva pode alterar a direção do processo. salto começa um novo acúmulo de forças. Não confundir
Ela é decisiva porque todas as outras contradições estão a ela com soma de pequenas mudanças parciais (reformas).
subordinadas. O crescimento não é contínuo. Existem períodos de
Há equilíbrios momentâneos no processo, o que não cessa o crescimento pacífico (coincide com o equilíbrio momentâneo
movimento. das contradições). Períodos de aparente regressão (forças
~ ~
ó Mas apenas a eistência de contradições não educa. Precisamos conservadoras predominam). Mas, sempre chega a um ponto ó
...,"'Q aprender a perceber as contradições existentes, pelo menos crítico onde o equilíbrio é rompido. "'
Q

:::> "'::.
ô
--.
o
no processo em que estamos inseridos. Mais, precisamos Eis algumas leis do movimento: -ª-
t'}.
li:::>
apreender a "agarrar" as contradições com tranqüilidade e %
a) Lei tendencial: Para que o processo não se dê mais rápido õ
J3 saber como lidar com elas em vista da superação, influindo ..,
UJ

"'o para uma síntese possível que nos ajude a ir avançando no devem atuar influências compensatórias que interferem na Q

g
2 ação da lei geral e a anulam, dando-lhe o caráter de uma 5f-
r::: processo. c;


~ tendência (só é possível prever cenários). A tendência (cenário) ~


vitoriosa depende do "jogo de forças" que se dá no interior outra realidade, uma realidade ainda inexistente. Têm,
do processo. portanto, uma dimensão crítica ou de negação da ordem social
b) Causas contrariantes - Nós as percebemos através das existente e se orientam para sua ruptura", assumindo assim
condições objetivas ou objetuais que temos. Elas impedem a "uma função subversiva, uma função crítica e, em alguns casos,
realização de nossa vontade (idealista), pois determinam a uma função revolucionária". 87 A tensão de dá porque alguns
nossa ação através da sua reação. Por exemplo: um bloco de procuram desvelar as contradições do processo em vista de
mármore lasca ou salta um pedaço ao darmos uma sua superação (era uma, agora é outra e pode ser ainda outra),
determinada pancada no cinzel, com um martelo, achando enquanto outros tendem a impedir procurando acomodar as
em fazer apenas uma pequena marca ou saliência, e, esta reação contradições (ficar como está, pois acham que "se tenrar
do objeto (bloco de mármore) nos alerta para alterar a força melhorar estraga").
da pancada, ou o ângulo do cinzel, quando não comunica que
b) Estagnação x Superação - Esta tensão está no próprio
não mais poderemos executar o que tínhamos planejado da
desenvolvimento do processo, que se desenvolve em ondas
forma com que tínhamos planejado. Precisamos conhecer as
(ou ciclos). A estagnação do processo se dá quando um ciclo
condições objetuais, ter domínio sobre elas, para agir levando
chegou ao seu limite e entra em crise. Os participantes devem
em consideração, isto é, utilizando-as em nosso favor. fazer a leitura de cada momento do processo, percebendo se
o ciclo atual está em estagnação (porque é impossível avançar
5.3 - Tensão
no auto-sustento sem garantir um posto de trabalho para cada
Todo processo histórico é marcado pela presença de
educando ou aumentar as vendas sem melhorar a qualidade
determinadas tensões inerentes a ele mesmo e ás pessoas que
de produção, por exemplo) e propor formas de superação. A
dele participam. Chamamos de tensões porque elas não podem superação é compreendida como o entendimento dos
ser superadas de forma definitiva e, quando nos descuidamos,
elementos que apontam para um novo ciclo que pode ser
tornam a aparecer. Vejamos:
desencadeado através de novos desafios. O que impede o
a) Acomodamento x Desvelamento - Esta tensão se dá entre avanço são os limites das condições objetivas (tempo para
os participantes do processo. O acomodamento é dar o salto, que independe de nossa vontade) e a falta de
compreendido como expressão da "ideologia" entendida unidade política na ação (vontade política no momento certo) .
como "o conjunto das concepções, idéias, representações, A mística cotidiana também deve expressar cada onda (ou o
2 teorias, que se orientam para a estabilização, ou legitimação, ciclo) que tivemos e como foi que fizemos a superação e
~
c5
...,"'Cl ou reprodução, da ordem estabelecida" e por isto assumem "'
o
::> qual a onda (ciclo) atual, bem como os desafios de cada ""
-ª'% um caráter conservador: "consciente ou inconscientemente, momento do processo.
ô
o
6 voluntária ou involuntariamente, servem à manutenção da %
s"' ordem estabelecida". O desvelamento é compreendido como ~
Cl
"'
Cl
~ expressão de uma "utopia" entendida como projeto, isto é, g
~ "são aquelas idéias, representações e teorias que aspiram uma 87
Cf. Lowy, citando a distinção de ideologia e utopia de Karl Mannhcin em seu liv ro
>='.
!;,
~

• Ideologia e Utopia. Em LÓWY, Michael. Ideologias ... p. 13 . .3


o
c) Escolarização x Formação - Esta tensão é fruto da forma (dando mais autonomia e exigindo maior
finalidade da escola. A Escolarização visa o desenvolvimento responsabilidade). Esta tensão muda conforme os níveis das
do currículo, incluindo a profissionalização e as pessoas acham turmas (caminhada feita por eles aqui no IEJC) e do nível dos
que estão no Instituto para "estudar". A Formação político- educandos em cada uma das turmas quando chegam, que
ideológica visa a preparação do militante e do ser humano também é diferente (concepção de mundo e nível de
que necessitamos para contribuir no processo de luta da classe consciência, por exemplo).
trabalhadora. Em determinados momentos a tensão aumenta, Um diagnóstico inicial e a leitura permanente do processo
pois ambos querem ocupar mais espaço temporal para a contribuem para perceber o processo de cada turma - e nela
realização de suas atividades. No fundo aparece a tensão entre dos educandos - e as posturas que devemos tomar como
a lógica da produção do conhecimento e a lógica da formação educadores.
da consciência.
d) Trabalho x Estudo - Esta tensão existe entre os educandos 5.4 - Fases do processo
As fases do processo são uma "chave de leiturà' do movimento
ao não perceber a dimensão educativa do trabalho ou achar
que assumimos do método do laboratório experimental.9° No
que estão apenas trabalhando para baratear custos e, por
IEJC, como na vida, há vários processos em andamento, mas
comparar com outras escolas, achar que se encontrar no IEJC
se vivem todos e ao mesmo tempo. A leitura do processo
apenas para estudar (ter aulas em sala de aula).
seria mais fácil se tivesse apenas uma turma no Instituto.
e) Acompanhamento x Desmama88 - Esta tensão aparece As fases são as seguintes: anomia, 91 síncrese, análise e síntese.
quando os educandos acham que não necessitam mais de Vejamos:
acompanhamento. O Acompanhamento, aqui, é entendido
a) Anomia
como uma forma de tutela que existe entre o educador e o
Dá-se no momento inicial do processo (inicia na chegada e
educando, por causa do entendimento do papel do educador.
se desencadeia a partir da inserção ou reinserção), a saber,
A desmama ou ablactação 89 se faz necessária quando as
quando os participantes percebem estar inseridos em conjunto
pessoas envolvidas no processo sentem que têm condições
em uma coletividade em que o destino de cada um está ligado
de avançar sozinhas. E exige-se uma avaliação da capacitação
ao dos demais.
processada por parte dos educadores, mas desmamar não é
o Já a princípio, há a contradição entre o caráter objetivo (dado
3"'
o
deixar de cuidar (alimentar), mas se relacionar com os
participantes em um outro nível, ou melhor, de uma outra
pela existência de uma coletividade que exige o manejo e gestão ~"'
o
"':> social) e a gestão individual que ele~ conhecem (marcada pelo "':>
§, §,
o

1
"'o
~
88
SANTOS DE MORAIS, Clodomir.A cttpacita(áo ... p. 61-62c 81.
90
Aparecem estes elementos como etapas do processo em SANTOS DE MORAIS,
Clodomir. Caderno de Formação n. 11. p. 42.
Tradução de "Apuntes de la teoria de la organización", texto publicado cm 1979.
u.
li
~
"'o
E em SANTOS DE MORAIS, Clodomi r. Capacittt(t'io ... p. 80.
,_~
89
~
Cuidado para não confundir com a desmama do Laboratório Organizaci-:>nal, definida
91
E; como a necessidade de o laboratorista ausentar-se definitivamente e só retornar no SANTOS DE MORAIS, Clodomir. Cttpacita(t'io ... considera a anomia como parte >=
i

• •
.3 integrante da síncrese. A realidade tem nos demonstrado que ela é uma fase distinta.
final do processo.
subjetivismo e pela marca feita em nós pela propriedade dualista/dividida (nós e eles), o que contribui para mascarar
privada) e que garante os interesses individualistas dos (velar) as contradições entre os educandos e, a partir desta
participantes. A partir deste momento se configura, na unidade leitura, reagir guiados pelo coração (mais emoção que análise
de propósitos que os mantém ali unidos por várias semanas, racional da situação) e por uma visão de mundo contraditória
a luta de tendências contrárias que marcará todo o (teológica93 ou idealista x materialista).
desenvolvimento do processo onde estão amalgamados É uma "etapa de levantamento de problemas (dentro do todo
(misturados como os metais de uma liga) os mais díspares processo)" como tentativa de <'destacar certas categorias
(desiguais ou dessemelhantes) interesses pessoais ou de fundamentais de caráter teórico apanhadas da própria realidade
grupos. 92 do grupo e com um objetivo pedagógico" .94
É um momento de falta de ordem, de desconcerto, de Acontece quando os participantes rompem com a anomia
confusão e de embaralhamento, que acontece de forma dando soluções para os seus problemas sem a devida análise
marcante após o ato de abertura e se repetirá, de tempos em para entender o que está acontecendo e sem buscar as
tempos, diante de um grande acontecimento novo. Ele pode categorias necessárias para entender a essência dos problemas.
durar apenas alguns minutos ou várias horas ou dias. Com o Usam o conhecimento dos sentidos ou o conhecimento fruto
desenrolar do tempo, tende a diminuir cada vez mais a sua das experiências até então acumuladas sem uma sistematização
intensidade. ou reflexão devida (empíricos), ou melhor, não usam
Nesta fase, quem participa do processo vê tudo confuso (ou categorias teóricas que os levam a compreender o movimento
enuviado) e por isto tende a se aquietar (fica apenas da realidade (na verdade usam categorias teóricas de forma
observando o desenvolvimento), ao ficar no seu canto inconsciente). Estão mais interessados em se livrar dos
(procurando garantir minimante seu interesse pessoal), ao se problemas. Por isso a sua organização tende a refletir as
acomodar (como mecanismo para sobreviver), por causa do estruturas ideológicas que estão no inconsciente dos
impacto causado por estar em uma existência diferente da participantes e, ao mesmo tempo, revelam a capacidade
sua. Uma outra alternativa é a fuga do processo. organizativa do grupo social envolvido.
No fundo, cada um tenta influenciar a partir da sua experiência
b) Síncrese
pessoal e de situações similares anteriores, muitas vezes agindo
O que caracteriza esta fase é que os participantes do processo
o
por conta própria, ou abandona a responsabilidade nas mãos o
~ passam a "ir contra", acreditando que seus problemas estariam ~
de quem ele escolheu para assumir a direção/coordenação 8..,
3 resolvidos se a existência fosse outra (a que eles dominavam
...o"' do processo. o
:::> anteriormente) e por isso passam a tentar domesticar o "'::;
.2- .2-
processo, garantindo nele os seus interesses individuais ou
~
J3
corporativos (grupais). Passam a ler a realidade de forma ~
o
u.l

o"' "'o
g ?
3
Entendida como a concepção de atribuir a uma divindade tudo o que acontece. g
j:: j:'.
Não confundir com teologia. i::
E;
z

~SANTOS DE MORAIS, Clodomir. Caderno de Formação n.11. p. 42 .


.3 92 SANTOS DE MORAIS, Clodomir. A capacitação ... p. 78 e 80.
e) Análise Nesta fase os problemas levantados na fase anterior são
Nesta fase acontece a leitura da totalidade do processo, que compreendidos pelo grupo que já "possui todo um
revela as relações existentes. Esta percepção da realidade em instrumental teórico, que terá que aplicar no desenvolvimento
movimento leva os participantes a somar forças (nós com das atividades que o grupo se propôs a realizar". Esta "atitude
eles) e a propor formas de superação das contradições e a fundamental que o grupo terá que aceitar e assumir durante
apontar métodos de como intervir para dar um salto de todo" o processo, "e que é uma atitude de análise frente a
qualidade no processo ou, pelo menos, mantê-lo avançando. tudo o que está acontecendo, por meio de um elemento que
Os participantes passam a conhecer as exigências do objeto deve ser descoberto e utilizado sistematicamente pelo grupo,
(ou da coletividade com as suas demandas) e passam a ou seja, a crítica" .95
trabalhar com os seus elementos objetais. A vontade dos
d) Síntese
indivíduos passa a dar lugar ou a respeitar (acatar) a condições
Nesta fase os participantes visam, além de analisar, controlar a
do objeto.
situação e assim garantir a continuidade do processo. Chegou
É o momento em que as pessoas envolvidas no processo já
"o momento em que a quantidade se transmuda em
fazem uso de sua racionalidade (no início de forma ainda muito
qualidade". "Nesta fase se evidencia o poder social conduzindo
intuitiva), passam a analisar a realidade (situação atual do
a coletividade". 96
processo, em sua historicidade) a partir de categorias teóricas,
Corresponde ao momento em que a organização se ajusta as
planejam a ação da coletividade em vista da superação dos
suas necessidades. Isto pode significar ajustar o processo de
problemas constatados e, ao mesmo tempo, do avanço do
produção ou uma mudança em sua estrutura ou forma de
processo, e, buscam controlar os desvios ideológicos das
funcionamento, ou uma mudança em seu corpo dirigente, ou
formas artesanais de trabalho presentes nos participantes que,
até chegar ao afinamento de procedimentos.
se deixados de lado, passam a corroer a coletividade. Passam
Neste momento surge um novo equilíbrio interno e,
a analisar os seus desvios artesanais que atrapalham a análise
conseqüentemente, uma nova etapa de operação e
e definição da situação (desvios subjetivistas), como a execução
funcionamento da organização, que revela o seu nível de
dos acordos e tarefas (desvios oportunistas). Passam a
avanço ou de maturidade. Isto só é possível quando o
estimular os mecanismos de controle destes desvios,
conhecimento é racional (prima pela busca da essência) e os
especialmente a "vigilância" e a "crítica". Passam a cobrar
~ participantes são mestres (não auto-suficientes) na condução o
r=
responsabilidade (atrasos, agendas mal feitas, metas de
ó do processo. Para eles, analisar, planejar, distribuir e controlar 3w
"'
Q produção que deveriam ser alcançadas, etc.) e a estimular o Q
Ul
o executado passa a ser normalidade.
::i
repasse de informações. Passam a identificar os desvios "'
-ª'o
"ª''ó0
o
políticos de conduta e a ver formas de os superar. 'iJ.
ô
~w Para contribuir com o desenvolvimento da atitude de crítica ::i
.Bw
Q

f2
e de análise os educadores que acompanham o processo devem Q
o
~ t;
efetuar uma séria de "entregas teóricas", ao longo do processo, 9
~ SANTOS DE MORAIS, Clodomir. Caderno de Formação n. 11. p. 42.
~
r:;
2


96


conforme a necessidade da coletividade. SANTOS DE MORAIS, Clodomir.A capacitação ... p. 80 e 81. 3
Provavelmente, em cada turma, acontecerá mais de uma A experiência das EAPs 97 nos mostrou alguns passos,
síntese dentro de uma etapa (TE+ TC) e várias sínteses ao longo em vista da qualificação da leitura do processo e da intervenção
do processo da existência da turma. O mesmo vale para o no processo, a saber:
Instituto como um todo: haverá mais uma síntese ao longo dos
a) Leitura do processo e reflexão/análise sobre o processo
meses (ou num único mês) e várias sínteses ao longo da existência
Isto exige de todos os envolvidos: clareza dos objetivos da
desta instituição educativa.
escola (rumo), firmeza nos princípios (Msn e coerência entre
É bom lembrar que a totalidade das fases é maior que a
meio e fim (método).
soma das fases e, ao mesmo tempo, todas as fases estão contidas
Os educadores que acompanham o processo precisam criar
em cada uma das fases. Estas fases acontecem no processo de
o hábito de analisar o processo educativo em vários níveis:
cada pessoa, não estando necessariamente todos os participantes
no pessoal (cada um precisa fazer este exercício), nas reuniões
na mesma fase, e no todo do processo quando a maioria dos
do CAPP, através do Informe com Balanço Crítico (IBC) e,
participantes dá o salto qualitativo, arrastando os demais para a
finalmente, nos Seminários de Avaliação do Processo (SAP),
fase seguinte.
de preferência semanais, com esta finalidade.
Para facilitar a análise se faz necessário um processo de
5.5 - Leitura pedagógica do processo
sistematização permanente de todo o processo: através do
É a leitura do movimento educativo em andamento no
registro pessoal nos Diários de Campo dos membros do
Instituto, composto de vários grupos humanos organizados em
CAPP e nos Cadernos de Reflexão dos educandos, bem como
turmas, em núcleos de base, em unidades de trabalho, e de cada
através de uma Crônica Diária e através do registro
um dos participantes, sejam educandos ou educadores. Esta
pedagógico de situações, tudo evoluindo para uma
leitura é um desafio para todos, mas tarefa do Coletivo de
sistematização, não apenas das turmas, mas do conjunto
Acompanhamento Político Pedagógico (CAPP).
do processo educativo.
Para que os participantes do processo, especialmente os
A análise é um exercício intelectual, pessoal, mas sobretudo
ed u cado res e, entre estes, principalmente os que foram
coletivo, sobre as condições objetais do processo (a
designados para o CAPP, percebam a fase de cada processo,
coletividade e seu andamento nas condições pedagógicas ali
bem como o seu ciclo, enfim, o seu movimento a partir de suas existentes) na tentativa de identificar os entraves, as suas causas
contradições, faz-se necessária haver uma leitura, o mais (que normalmente estão nos desvios ideológicos das pessoas),
s
...,
o
permanente possível, do processo educativo em anc-lamento.
Comparam<:_>s este processo educativo a uma partida do
e definir propostas para garantir o avanço e a aceleração do ~
ú..,
"'~ processo. A partir do registro pessoal e sistemático de todos o
.9., "jogo de xadrez", em que há mais de um agente se "'~
os aspectos observados (mais e menos relevantes) buscar .2.,

~
o
movimentando no processo (jogadores coletivos) e em que cada entender o seu porquê, até chegar à essência ou ao âmago 'v-"'
;:> ã
63 situação (momento de peso) exige uma leitura do jogo de forças do processo. Êí
LLl
"'o existente e uma percepção dos cenários (rumos diferentes), com ""o
g
...~
i= todas as suas possibilidades, possíveis desdobramentos e 9
>= ' Empresas de Acompanhamento Pedagógico em que cada uma acompanhava uma
2


!,;;
possíveis conseqüências.

turma. O CAPP é uma evol ução delas. 3
A reflexão do processo é o momento em que deixamos de precisa estar inserida na realidade (situação atual) para
nos satisfazer com a observação e com o conhecimento das perceber as demandas, os desafios, suas contradições e o
causas e das conseqüências dos fenômenos que existem no grau de cada uma delas.
processo por sabermos que o fenômeno é sempre aparência, A correta percepção do processo permite que os educadores
isto é, ele nunca coincide com a sua essência. A essência está possam interagir no processo, sem mandá-lo, mas comandá-
no movimento do fenômeno, ou melhor, no movimento que lo através de insinuações ou, se necessário, de outro
vai reproduzindo o processo de organização que está procedimento pedagógico, levando em conta os "objetivos
acontecendo na coletividade dos Educandos e no próprio pretendidos" pelo processo educativo e a vontade das pessoas
CAPP. Portanto, refletir é buscar a contradição fundamental: que participam do processo, sejam educadores ou educandos,
ser capaz de compreender as contradições e o que leva o ou o seu "objetivo pessoal".
processo a se reproduzir (a se manter como processo). b) Definição de um cenário
Uma reflexão bem feita permite que os educadores percebam, Na basta apenas fazer a leitura do processo a partir das leis
na dialética do processo, a sua linha condutora ou como se do movimento. É preciso organizar a intervenção da
dá "a zona de desenvolvimento proximal", 98 na linguagem coletividade no processo em que ela está inserida.
de Vygotsky, em vez de apenas perceberem coisas ou Esta escolha é feita levando em conta as condições objetivas
momentos isolados. O processo precisa de uma "análise e subjetivas, os objetivos educativos do Instituto e os objetivos
holística" ou percebendo as "atividades totais". Podemos estratégicos da organização de que fazemos parte.
parcelar o todo em unidades, desde que percebamos que as Ela nos dará a direção e o nosso objetivo intermediário para
unidades são "uma parte irredutível do todo", ou seja, a um determinado período.
atividade "em toda a sua complexidade, não em isolamento". e) Definição de Estratégia(s)
Pois os fatos são sempre parte das atividades e cenários, mas Compreendemos por estratégia a linha política de ação ou
apenas ganham significado nos termos de sua organização o como percorrer o caminho que devemos seguir para chegar
ou quando os percebemos como i.nterações sociais integradas ao nosso objetivo final (aqui assumimos os mesmos do MST)
no todo do processo. e os nossos objetivos parciais, perseguidos a cada "etapa"
A análise deve nos levar a perceber as tensões e as do processo educativo aqui em andamento.
contradições (sem as confundir) e a distinguir a contradição Consiste em coordenar entre si as diferentes ações em vista e
ê principal das secundárias. da realização o mais plena possível do objetivo traçado, ~
8 ú
"'o
Ul
Portanto, a reflexão precisa levar em conta a coletividade e trabalhando assim a superação das contradições (desafios/ "'o
:i "':i
& as suas relações interpessoais (internas) e interinstitucionais demandas). Neste sentido o CAPP tem a tarefa de ser o
o
li. (externas) que estão acontecendo (prática atual). Isto é, ela "regente da orquestra" ao visar a harmonia da ação e o "ª'
o
li
:i
&l..., "técnico da partida" ao escalar o time e posicioná-lo em ~o
[.].]

o 98 f perceber o indivíduo dentro da situação social concreta de aprendizagem e de campo e definir as jogadas a serem desenvolvidas, sem se "'o
~
~
desenvolvimento, percebendo, ao mesmo tempo, a interdependência do processo de
descuidar de permitir que o CNBI seja o dirigente do ~
!==: desen volvimento do educando e dos recursos socialmente fornecidos para este ~
3

• •
desenvolvimento. processo em andamento. 3
Podemos ter uma estratégia principal e, ao mesmo tempo, As táticas são determinadas ou condicionadas por questões
definir uma ou duas estratégias secundárias que apenas objetivas ou subjetivas: pelo momento conjuntural
entrariam em ação caso não se consiga implementar a (condicionamento objetivo); pela correlação de forças
estratégia principal e seja necessário descartá-la (por se existente; pelo nosso acúmulo de forças e sua respectiva
constatar falta de condições para sua execução de forma qualificação para a ação; pelo cenário (muda o cenário, muda
satisfatória), passando a secundária a ser a principal. a tática); pelo objetivo geral revolucionário ou objetivo
A estratégia principal pode ter uma ou mais linhas de ação estratégico (condicionamento subjetivo); pela disponibilidade
estratégicas, que se inter-relacionam entre si. Por exemplo: da massa. Ela visa dar racionalidade á ação, evitando o
para avançar na luta escolhemos o caminho das ações de voluntarismo e o espontaneísmo.
massa, feitas com o povo e não para o povo; na formação As táticas se dão na relação em torno de objetivos imediatos
escolhemos o caminho do trabalho de base; na gestão e em torno de objetivos futuros (objetivo final = poder
optamos pela democracia participativa ~través da nucleação político) e da combinação entre ambos.
para nos contraporá democracia burguesa; na consolidação Imediatamente após definir a estratégia, os educadores do
dos nossos valores optamos pelas ações solidárias. A nossa CAPP, bem como os dirigentes da coletividade (CNBI),
estratégia principal é elevar o nível político-ideológico da devem definir as «táticas" ou os passos táticos que serão
nossa base e as demais são linhas de ação que contribuem na utilizados para implementar a(s) estratégia(s) e as ações
perseguição ou consecução de nosso objetivo. secundárias que necessitam ser enfrentadas, procurando
Ao mesmo tempo podem estabelecer, se necessário, as ações implementá-las respeitando as instâncias da coletividade,
secundárias em vista de interagir com situações secundárias, sempre que possível (pode não haver tempo hábil para isto,
mas que não podem ser descuidadas, pois podem atrapalhar por exemplo).
a implementação da estratégia principal. e) Operacionalização
Não podemos nos esquecer que a estratégia precisa ser As táticas devem ser traduzidas em atividades claras ou tarefas
acompanhada e ajustada durante o processo: ''Aprendemos (ações que deverão ser operacionalizadas), divididas entre os
a combater no decurso da própria guerra". sujeitos do processo, e no como fazer cada uma delas, sem
d) Definição de Tática(s) perder o "tempero" que o fio condutor exige (estratégia). São
o
Entendemos por tática as formas concretas de ação (uma as atividades que a coletividade deverá desenvolver de maneira
~
~
3 marcha, uma frente de trabalho, por exemplo) e as formas harmônica em vista de qualificar o processo. l5
""o ""o
"'::> de utilizar as forças na ação (o jeito de fazer) a partir dos Tanto o CAPP como o CNBI são responsáveis pelo comando "'::>
2-o e supervisão das atividades definidas, bem como pelas devidas 2-
V.
acontecimentos, levando em contas as forças acumuladas. É 0
Li.
6 o conjunto de orientações concretas que se formula para pôr correções de rumo. ti
~...
::>

em prática a estratégia. Elas determinam a ação específica, A tarefa do CAPP não é apenas ler a conjuntura, mas J'l...
o o
of- fazer a conjuntura. Não basta ficar apenas administrando g
i2 de acordo com as circunstâncias históricas concretas (e não i::
g pelos desejos subjetivos dos dirigentes). o dia-a-dia. !;;

• z


6 - ACOMPANHAMENTO educadores, que a partir do exercício permanente, e também
auto-educativo, de fazer a leitura do movimento pedagógico, se
" - Não gosto de dizer as coisas no ar, desafia a criar e recriar situações que impulsionem os
falo sempre de propósito. aprendizados nas diversas dimensões da formação humana
O senhorfaz tudo depropósito?
-Absolutamente tudo - respondeu ele a rir. "99 pretendida, para com e pelos educandos.
Durante o Tempo Escola as tarefas de acompanhamento
Enquanto elemento metodológico, o acompanhamento da coletividade e de cada educando são distribuídas entre todas
é compreendido no IEJC como uma função coletiva de orientar as pessoas que no IEJC assumem tarefas de educadores, o que
e fazer junto com os educandos o seu processo de formação. inclui também os educandos, sempre que estiverem em tarefas
Para isso, é preciso ter pessoas (educadores) com a tarefa de monitoria e coordenação.
es pecífica de fazer a leitura permanente do movimento Durante o Tempo Comunidade as tarefas de
pedagógico e político do processo educativo da coletividade e acompanhamento à inserção dos educandos na organicidade do
de cada pessoa, combinada com a leitura do movimento do MST são assumidas pelos militantes e dirigentes mais antigos,
Movimento, para poder criar e dinamizar o ambiente educativo através de encaminhamentos feitos pelo IEJC e pelo Setor
da escola. Isso quer dizer perceber e analisar principalmente as responsável pelo respectivo Curso. 100
contradições, as fases do processo, os momentos de estagnação, Acompanhamento ou a "arte de acompanhar" é um dos
e as transformações da realidade, de cada momento, de cada movimentos do método pedagógico do IEJC. No
situação, da coletividade, das pessoas e de seu contexto, e a partir acompanhamento sempre "existiram preocupações permanentes
daí orientar o movimento pedagógico. com o trabalho pedagógico, organizativo e político de
Sem acompanhamento não há de fato processo acompanhar as pessoas" que por ali passam, em vista da
pedagógico. É preciso acompanhar o desenvolvimento de cada "fidelidade aos princípios e linhas políticas na qual
educando, a realização de cada atividade, o fluir de cada tempo, acreditamos". 1º1
para que se possa potencializar a dimensão educativa de tudo o A meta do acompanhamento é a formação do ser humano
que acontece dentro ou através da intencionalidade do Instituto. (personalidade/caráter/valores), a formação do "militante" que
É preciso também garantir momentos específicos de crítica e o jogo de forças atual exige e a formação do "profissional"
ê autocrítica de todos os coletivos e de todas as pessoas que necessário para o avanço do MST.
8 ''Acompanhar é caminhar juntos (educando e educador). ~
"'o participam do cotidiano do Instituto. ú
"'~ No caminho se dão ambos a conhecer (socializam experiências). "'o
..2,
No IEJC, a função de organizar e refletir sobre o processo ~

de acompanhamento cabe a um co letivo específico de Um já fez o caminho (tem a experiência deste caminho ou de §_
~
o
'6-
&l ~
"'o &l
f2 "'o
j2
100
!TERRA- Cadernos do ITERRA n. 2. p. 29 e 30. g
\:; 99 Conversa entre urna educanda e Makarenko, em MAKARENKO, Anton. B11ndeir11 101 ç::
Cf. STROZAKE, Judite. A arte ... p. l e 2. Este texto contribui para a realização desta
z F,;

• nas Torres, vol. 1. p. 191. parte do método. z



caminhos semelhantes) e o outro está fazendo pela primeira O acompanhamento é uma relação entre pessoas que vivem
vez."102 o mesmo processo educativo, de preferência numa mesma
Acompanhar é "estar em movimento junto com alguém. coletividade, onde umas assumem, naquele momento, o papel
E se usamos esta palavra em relação às tarefas de educação, de educadores e outras a de educandos. Fazem isto para criar
estamos nos referindo ao movimento ou ao caminho da formação perspectiva de crescimento individual e coletivo. E, ao mesmo
humana. Acompanhar em educação é estar junto no processo tempo, por todas fazerem parte da mesma coletividade, torna-se
de formação e humanização de outras pessoas. E, num significado uma questão da coletividade: é um coletivo (uma coletividade
a mais que o próprio dicionário da língua portuguesa nos traz, primária, por exemplo) que acompanha um coletivo ou uma
acompanhar é também participar dos mesmos sentimentos de pessoa que é membro deste coletivo ou de outro coletivo da
alguém [...] acompanhar não é apenas observar o caminho do coletividade.
outro, o processo de formação do outro; também não é conduzir Acompanhar é mais que conviver com os educandos, mais
o outro por um determinado caminho. Se acompanhar é que saber onde eles estão e o que estão fazendo e mais que
caminhar junto, estar em movimento de formação junto com o conhecer as qualidades e os limites de cada um, mais que saber
outro, há algumas sutilezas e uma complexidade maior nesta os gostos e os sonhos. "Acompanhar consiste fundamentalmente
tarefa: se como pessoa tenho a tarefa de acompanhar alguém é em saber e compreender o como o educando pensa, raciocina,
porque o coletivo considera que já fiz uma caminhada, tenho seu processo de assimilação e apropriação dos elementos que
uma experiência a ser partilhada: sou capaz de pegar o outro constituem o coletivo e sua vida pessoal, conhecer o sentimento
pela mão e ajudá-lo a andar. Mas também preciso saber o do educando, cuidar politicamente, pedagogicam ente,
caminho que fiz não é necessariamente o mesmo que deve ser ideologicamente, tecnicamente do educando, afetivamente, as
feito por quem acompanho. Se for assim estarei sendo autoritário atitudes necessárias devem estar voltadas para a formação da
e impedindo que novos caminhos sejam descobertos. Minha consciência, do caráter e personalidade dos educandos". 101
postura precisa ser de diálogo, para que quem começa a caminhar Acompanhar é ter sensibilidade de perceber os detalhes
agora tenha a liberdade de construir um caminho diferente do da vida, do cotidiano. Mas, precisamos cuidar para que o
meu, e com minha ajuda[ ...] Mas há um outro detalhe importante acompanhamento não vire um "consultório sentimental" e nem
para nossa atenção aqui: em educação, acompanhamento tem a um espaço de alisamento (por causa da mania de "passar a mão").
ver com uma relação pedagógica entre as pessoas, seres humanos Para o acompanhamento ser eficaz se faz necessário
~ em diferentes momentos de formação". 103
ê
u conhecer os educandos e os educadores, individualmente, e tratá- 8
"'o los de forma diferenciada, percebendo como eles fazem parte
ul
o
"'::> ~
.2, ou se relacionam com a coletividade. .i
s
Jl
s
i5
u.l
o"' "'oo
g
i:: ~
f-
i:: 10 2
STROZAKE, Judite. A arte ... p. 2. E
1

• 103
Cf. CALDART, em MST - Boletim da Educação n. 8. p. 6 . io-i STROZAKE. Judite. A arte ... p. 3.


3
6.1. Pressupostos para o acompanhamento h) Inflexibilidade frente ao que afeta o coletivo.
Para fazer o acompanhamento se faz necessário aderir a i) Reconhecer os erros. Pois, o educador não é infalível em sua
um conjunto de pressupostos/princípios, a saber: leitura da realidade e nem em seu método de
a) Acreditar na possibilidade de mudança, não apenas da acompanhamento. Num processo educativo, reconhecer o
sociedade, mas do ser humano, isto é, do comportamento erro é tão importante quanto acertar.
de pessoas concretas. j) Domínio dos comportamentos ideológicos e de suas raízes.
b) Partir da realidade das pessoas (jeito de viver) e do processo
onde elas estão inseridas (seu lugar social). As pessoas quando 6.2 - Níveis de acompanhamento
vêm «para a escola carregam junto as raízes de seu local de O acompanhamento é um trabalho permanente, que não
origem, da família, traços das amizades estabelecidas, traz cem tempo cronológico pré-estabelecido (dia e hora) e nem
consigo carga de experiências e história de vida, manias, por espaço físico (lugar). O acompanhamento pode ser feito durante
isso não podemos imaginar ou trabalhar no acompanhamento as vinte e quatro horas do dia, pois estamos lidando com seres
dos educando como se fossem iguais" . 105 humanos que vivem/moram períodos de suas vidas no Instituto
e nem sempre convivem da mesma forma; e se faz em todos os
c) Assumir que «ninguém se educa sozinho", mas as pessoas se
lugares onde eles estão, inclusive fora do espaço físico da escola.
educam entre si. E saber que ninguém se educa pela inércia
Quando cada pessoa passa a fazer parte da Escola,
(deixar ir acontecendo por omissão ou por confiar no impulso
continua a ser responsável pelos seus atos e decisões, enfim,
dado pela coletividade) ou por uma coletividade a deriva (por
pela sua história. Cada um deve assumir as conseqüências do
falta de rumo ou de timoneiro).
que faz e que, normalmente, atingem as outras pessoas e afetam
d) Aceitar que pouco adianta se a(s) pessoa(s) não estiver(em) a compreensão que as pessoas (sociedade) têm da escola. "Neste
disposta(s) a mudar. Ninguém avança se resolver empacar sentido é necessário desenvolver a sensibilidade da autocrítica
(atar o burro). que não necessariamente deva ser num espaço de reunião form al
e) Construir a coletividade e apostar nela como o espaço da [... ], mas incorporar [... ] a necessidade de todo fim de dia fazer
educação (reeducação) permanente das pessoas. uma autocrítica de seus atos, trabalhos, estudos e relacionamentos
e o que fez para avançar enquanto pessoa membro de uma
o
f) Perceber que a formação do ser humano é um processo e o
~ coletividade." 106 ~

8 apostar na reciprocidade dialética e dialógica. 8


Entendemos por educadores: os educadores fixos e os "'o
"'o g) Flexibilidade, sem trair os objetivos políticos do curso, da ~

"':::> que vêm acompanhar as turmas; os professores; os monitores;


.2, Escola e do MST. Paciência histórica e pedagógica.
É_
o
'6-
os trabalhadores do !TERRA; os educandos que estão fazendo o
'i).
i)
:::>
g
o
GJ l=l

"'o "'o
g g_;,
i= ~
F= 06
.3


3 STROZAKE, Judite. A arte ... p. 13.


10 '
5 STROZAKE, Judite. A arte ... p. 2-3.
o seu tempo comunidade no Instituto; os educandos que estão amadurecimento da subjetividade das pessoas "se dá de forma
em tempo escola. E entendemos por educandos: os educandos desigual e desproporcional" . 108
que estão em tempo escola; os educandos que estão fazendo o e) Dos educadores pelos educadores (Educadores e
seu tempo comunidade no Instituto; os trabalhadores do educadoras entre si) - Uma das tarefas do coletivo pedagógico
!TERRA; os monitores; os professores; os educadores fixos e os ou coletivo dos educadores é se ajudar no avanço da sua
que vêm acompanhar as turmas. formação permanente. A educação da postura e d a
Deve haver acompanhamento: personalidade e a formação política-ideológica, inclusive o
a) Dos educandos pelos educandos (educandos e educandas cultivo da mística, devem ser feitas pela inserção em um NB
entre si) - O Núcleo de Base (NB) é a unidade familiar onde específico para isto, caso não esteja no CAPP.
cada um se dá a conhecer (revela as suas contradições pessoais d) Da coletividade (Coletivo Geral da Escola) - Dela fazem
ou é ajudado a reconhecer as que revelou em outros momentos parte todos os educandos e educadores.
do processo) e onde cada um é responsabilizado a cuidar dos
e) Do CAPP (Coletivo de Acompanhamento Políti co
demais membros de sua coletividade primária, pois cada um
Pedagógico) - A sua tarefa de acompanhamento se dá
exerce influências significativas sobre os demais.
especialmente pela leitura e reflexão do processo, pelo
"Se alguém está indo mal nos estudos os próprios educandos
conhecimento e interação com as demais pessoas que dele
são responsáveis, se alguém estiver desgostoso no trabalho o
participam, assumindo o comando pedagógico do processo 109 .
coletivo dos educandos também é responsável, se estão
Fazem parte do CAPP: os educadores designados para
havendo desvios de comportamentos pessoais os educandos
implementar e acompanhar o processo , que têm o
também deverão ser responsabilizados pela reeducação dos
compromisso político e pedagógico de criar as condições e
seus membros e desafiados a buscar formas próprias de
situações que visam educar os participantes do processo; os
resolver os problemas seja do ponto de vista técnico,
educadores acompanhantes das turmas/cursos, enquanto
pedagógico, político-ideológico, organizativo, econômico e de
estiverem no Instituto, deverão contribuir para o aceleramento
valores" . 107
do processo pedagógico e contribuir na análise do processo
b) Dos educandos pelos educadores - Os diferent es educativo em andamento (identificando contribuições e
educadores "fixos" : professores, monitores, trabalhadores do apontando possíveis situações de aprendizado a serem
~ !TERRA, educandos em TC no Instituto, etc. têm a tarefa constituídas) e os coordenadores e dirigentes dos cursos, ~
ú ú
..,"'Cl
política e a autoridade pedagógica de acompanhamento dos quando estiverem no Instituto.
;:,
..,"'Cl
educandos, em vista da formação humana (personalidade) e ;:,

"ª'% da militância (político-ideológica). É bom lembrar que o "ª'


0 %
~ 108
o
UJ
"'Cl STRAZAKE, Judite. A arte ... p. 12. "'Cl
f2 109
ç:
~
Pelo menos estar um passo a frente do restante da coletividade ou ter clareza do passo
seguinte, para não correr o risco de se apavorar e, por busca de seguran ça, tornar-se ~
E;
2


101
ST ROZAKE, Judite. A arte ... p. 12 . um empecilho pedagógico. ~

o
f) Do Movimento (MST/MSPdoC) - A organização nos político, ideológico e organizativo, especialmente no nível
acompanha e nos cobra se estamos realizando a tarefa político organizativo. 110
pedagógica que nos delegaram. Mesmo estando no Instituto - Vigilância Política em uma coletividade se refere ao
o MST dá a linha condutora de nossas práticas de formação, conjunto de decisões tomadas e que cada membro deve
aponta o rumo através de seus objetivos estratégicos e linhas assumir de maneira consciente: planos de produção e de
políticas e nos cobra coerência através dos seus princípios trabalho; plano de estudo; e assim por diante, colocando em
organizativos e de suas normas disciplinares. Os dirigentes, prática as decisões das instâncias do Instituto, como do MST.
coordenadores e militantes, nacionais e estaduais, quando
- Vigilância Ideológica em uma coletividade é a coerência
estiverem nas dependências da escola, colaborem com o
com os valores da organização, a postura dos seus integrantes
«bom exemplo" e com as contribuições que julgarem
que corporificam a organização e assimilação da concepção
necessárias, mas sem atravessar o processo: nos devidos locais
de história dessa organização. No fundo é vivenciar a
Qamais pelos corredores) e com os devidos responsáveis.
"imagem" que devemos passar da coletividade, do Instituto,
Não podemos desconsiderar outros níveis de doMST.
acompanhamento que interferem no processo, principalmente, - Vigilância Organizativa em uma coletividade no cuidado
a família, o coletivo de origem, a comunidade onde vive do cumprimento do conjunto de normas ou de princípios
(assentamento ou acampamento), o setor do MST onde está organizativos que se busca aplicar objetivando que as ações
inserido organicamente, o Núcleo de base de que participa. de cada membro da coletividade com a política e a ideologia
da coletividade: cumprimento das APT; implementação do
6.3 - Princípios do acompanhamento
POP; cumprimento do Regimento Interno, enfim, cada um:
Quem assume esta tarefa no Instituto não pode querer
fazer o que lhe é devido fazer, da melhor forma possível e no
ser sempre querido/amado, mas ser firme e terno, e coerente
prazo estipulado; estar no lugar certo e no momento certo.
com a sua postura de Educador. Ele deve levar em conta os
c) Crítica - Implica conhecer as pessoas mais pelos atos
seguintes princípios pedagógicos da «arte de acompanhar":
(materialidade) do que pelas falas. Evitar ficar nas impressões
a) Acolhida -Acolher é se abrir e, ao mesmo tempo, perceber/ iniciais ou cristalizar momentos de conflito e procurar encarar
conhecer a história de vida de cada um dos educandos. Cada com "naturalidade" os acontecimentos (pois "nada do que é
o o
~ educador deverá conhecer o melhor possível um determinado humano me é estranho", dizia Marx]) transformando os ~
8 grupo de educandos que estará sob a sua responsabilidade. limites em processo de formação humana. E a saber fazer, no 8
...,"'Cl ...,"'Cl
~ b) Convivência - Conviver é estar com, caminhar com. Nós cotidiano, uma "crítica" bem feita. 111 ::.
.Q,
o conhecemos o outro (e através dele nos conhecemos) através -ª'o
~ da convivência e, mais ainda, se fazemos parte de uma
6-
~
~ ~
"'
Cl
coletividade. O educando jamais deve se sentir "espionado" "'Cl
§ e nem «interrogado", mas deve saber que está acontecendo g
;:::
i:
11
° Cf. SANTOS DE MORAIS, Clodomir. Caderno de Formação n.11. p. 37 e 38. E;
.3 um processo de "vigilâncià', discreto e oportuno, no nível

• •
111
Cf. SANTOS DE MORAIS. Clodomir. Caderno de Formação n.11. p. 38 . .3
Uma crítica responsável deve levar em conta o seguinte: que levou o indivíduo a agir assim e se sugerir medidas de
- Justa: Antes de se fazer a crítica deve-se averiguar se houve superação. Sem isto a crítica não deve ser considerada.
mesmo o erro. Se a fizermos e não houve o erro, ela deixou - Fraternal: Isto é, ser de companheiro ou em clima de
de ser crítica e virou um "fuxico". camaradagem. Ela visa ajudar a construir o outro como
- Oportuna: A crítica não pode ser feita em qualquer hora e companheiro. Por isto ela precisa ser TERNA no jeito de
qualquer lugar e, muito menos, na presença de estranhos. Ela fazer e, ao mesmo tempo, FIRME no conteúdo. Nada de
só poderá ser feita em reunião 112 e com o objetivo de ajudar "compadrismo" ou "pena".
os companheiros. A crítica manifestada fora de uma reunião d) Camaradagem - Implica o educador perceber o momento
tem conotação de repreensão (mijada) e, desse modo, cria em que o educando precisa da sua ajuda, sua solidariedade,
atritos pessoais e ressentimentos, que posteriormente afetarão bem como o momento em que precisa <<ser esvaziado" de
a unidade, a disciplina e a participação da coletividade. Mas, sua arrogância e prepotência (salto alto), mas o fazendo sem
se um companheiro estiver em risco de acidente (caso grave), ferir a sua dignidade (o mesmo vale para o educador). Implica
deve-se fazê-la na hora. ser uma presença solidária, que transmite segurança, afeto,
- Cara-a-cara: Ela deve ser feita na PRESENÇA da pessoa. Se carinho, mas saber cobrar, energicamente (sem dó), as
alguém precisa ser avaliado e não está presente, deve ser exigências e obrigações.
chamado (convocado). e) Dialogicidade - Saber educar através do diálogo, que exige
- Séria: Isto é, não emotiva (com raiva, por exemplo). Ela precisa a capacidade de escuta, 111 de colocar-se no lugar do outro (o
ser racional, bem refletida, amadurecida. 113 Ela deve ser feita que faria ou diria se estivesse no lugar dele). Para haver diálogo
com responsabilidade. é preciso haver um interesse verdadeiro pelo outro enquanto
- Organizada: Ao se fazer a crítica é necessário que se faça na outro (alteridade) e um encontro com o outro tal qual ele é
presença do que será criticado e se diga a ele: o fato (o que, (com limites e virtudes), sem projeções. E, ao mesmo tempo,
quando, onde, como), as conseqüências deste fato, a causa me deixar questionar pelo outro no próprio momento que o
interrogo. Implica uma influência recíproca.
112
" Veja bem; é fundamental que esta crítica seja feita dentro da organização e a partir
f) Emulação - Perceber o momento em que a coletividade
de seus interesses e princípios. Os comentários e opiniões feitos nas calçadas, fora das deve dar o seu reconhecimento a um ou mais de seus
s
"'o
reuniões e canais normais do partido se transformam em fofocas e em nada ajudam
à solução dos problemas". (HARNECKER, M. El ... p. 36).
membros, por questões exemplares e em momentos concretos,
a partir de critérios previamente estabelecidos.
s"'o
"" m "A crítica deve ser em primeiro lugar resultado de uma análise bem pensada, w

! amadurecida. O direito de criticar impõe aos militantes a responsab ilidade de evirar


g) Amadurecimento - Perceber que as pessoas crescem e por .2,
~
os pronunciamentos superficiais e gerais. Porque a c rítica não é uma simples o
~
::> enumeraçáo de erros ou deficiências: o fundamental é a análise das causas que originam isto se faz necessário ir alterando o jeito de acompanhar, dando ~
s estes erros ou deficiências. E é difícil encontrar as causas sem um bom co nhecimento ]
o"' do desenvolvimento do trabalho, das lutas ocorridas, sem uma análise perfei ta da "'o
~ g
!=: situação. [... ] Se assim não for feito, a c ritica se transforma em um ato destrutivo que
114 r:::
f':: desintegra o movimento ao invés de levantá-lo. Os erros voltam a ser cometidos, Aprofundar a questão da dialogicidade a partir FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. p. f'::
3 2


77ss.
o porque não se examinou qual era a sua raiz". (HARNECKER, M. E! ... p. 36).
mais autonomia e, concomitantemente, cobrando mais • O próximo passo é acertar o "como fazer", 117 que inclui o
responsabilidade. ('como ser" do educador, a partir do grau de complexidade
de cada insinuação. Os educadores jamais devem se esquecer
6.4 - Interação pedagógica de que eles devem criar as condições (cenários) e não resolver
O educador interage no processo levando os educandos a os problemas.
perceber o objeto (cenário) em ação, pois o contexto no qual a • Tendo claro os passos anteriores, se torna clara a ((logística", o
interação ocorre é de importância crucial, e a necessidade de que vamos necessitar e quando vamos necessitar para
eles interagirem. Este é o princípio fundador do movimento da montarmos os cenários ou para tornarmos o objeto aferente.
"aprendizagem cooperativà'. A logística constitui o ambiente educativo.
Aqui a interação é vista como "insinuação", através de pistas a) Insinuação - É a arte de saber influir indiretamente através
normalmente indiretas (ou diretas se for o caso), e não como de contar "histórias", dar ((pistas" e pelo '(exemplo".
"intervenção" (dizendo como devem agir). A função dos A metodologia de contato entre os coletivos dos educadores
educadores é incentivar e reforçar o desenvolvimento do processo, e dos educandos é a insinuação. 118 Apenas ela permitirá a
evitando interrupções e desacelerações. Os educandos estão construção de um processo baseado na gestão
abertos para ((parceiros mais competentes", 115 na medida em democrática. 119 A insinuação exige que o coletivo dos
que eles percebem que aprendem em um ((processo de educadores aprenda a contar histórias, 120 a responder de
colaboração" e por se darem conta de que eles terão maior forma indireta. 121 O educador não deve e nem pode dar
probabilidade de completar a sua tarefa com êxito. soluções: só dar pistas e luzes. Deve insinuar e, caso
Eis alguns passos que devemos considerar na interação: necessário, induzir (contribuir no convencimento). Jamais
•Perceber que estamos agindo em uma '(situação atual" dinâmica, decidir pelos educandos.
com pessoas autônomas e as suas relações.
• Ter claro o objetivo do processo 11 6 e as contradições existentes 11
São as atividades definidas através da estratégia e das táticas previamente definidas e
-'
(prática atual), pessoais e coletivas. acertadas.
118
Apesar de Makarenko falar em "intervenção" preferimos mudar a palavra para
• Perceber que a ação das pessoas depende de sua vontade (elã)
"insinuação" para preservarmos o seu sentido no método. Intervir sugere fazer um
em participar do processo, bem como da realização de uma corre, se meter, impor o que os educadores acreditam ser o melhor. Insinuar se refere
o

s"'
o
((nova práticà'. Precisa levar em conta a subjetividade de cada
um dos participantes. 119
a dar dicas, informações, permitindo que os educandos dec idam os passos a serem
dados, levando em conta todas as informações necessárias.
Não confundir autogestáo com anarquia ou anarquismo. A autogestão jamais é plena,
3
~

"'o
"'::> pois ela é influenciada pelas relações com outros coletivos e com acordos (contratos) "";:,
.2, ~
o firmados. Caso o coletivo dos educandos decida romper os acordos ou regra~ o
ti. estabelecidas o mesmo deve ser informado sobre os limites e conseqüências desta ti.
~ g
~ 120
decisão, sem necessariamente exigir a mudança de postura. &
"'o 11
$ Interagindo com pessoa menos competente, o resultado dessa interação pode ser a Narrar casos similares dando pistas de como eles superaram determinados limi tes, "'o
~ regressão ou a descapacitação. mas sem fazer uma ligação exp licita. g
i= 116
121
Responder através de perguntas que levem o interlocutor a refletir ou através de f::
i:: No caso do TAC, a formação de militantes/quadros políticos/orgânicos do MST e, E;
z ao mesmo tempo, técnicos em administração de empreendimentos associativos. fontes onde podem ser encontradas pistas para a solução. 3:

o G
Quando os educandos começam a pedir o que eles devem qualidade. Se a dosagem for equivocada, seja a menos ou a
fazer, jamais devemos responder diretamente ou dar a mais (neste caso há um engasgamento), torna nula a iniciativa.
solução. O que devemos fazer é insinuar, repassando Após a entrega pode haver um tempo para perguntas em
informações preciosas através de histórias. Mas o nosso vista da compreensão. Mas, deve-se evitar a tendência de ela
principal papel é o questionamento. A nós cabe orientar, se tornar uma instância que tome decisões. Se surgirem
alertar sobre certas convenções, mas não tomar a decisão propostas em vista da superação dos problemas existentes, as
por eles. A melhor resposta é outra pergunta. A gente vai mesmas devem ser encaminhadas pelos canais da
perguntando e esclarecendo o que eles querem saber. O ato organicidade.
de eles pedirem algo pode revelar uma dependência muito A nossa experiência tem demonstrado que ela surte mais
grande. Cabe aos educandos aprender a lidar com as situações. efeito quando é realizada por um(a) educador(a) que não
Nós precisamos dar apoio e compreensão. O ato deles de acompanha o cotidiano do processo. Isto evita a tendência
jamais pedir revela auto-suficiência. de partir imediatamente para um debate com demarcamento
O domínio da informação é muito importante. Quando de posições.
alguém está mal informado ou torna-se ingênuo (por achar c) Seminários - É criar um espaço para o debate de questões
que sabe o que está acontecendo) ou está cheio de dúvidas que precisam ser aprofundadas e superadas. De preferência
(não sabe o que fazer, o que dizer), o educador deve ter o deve haver uma análise; um aprofundamento teórico,
cuidado de não entregar todas as informações ao mesmo estudado anteriormente. As propostas que surgirem devem
tempo para evitar que a coletividade dos educandos se ser encaminhadas através das instâncias.
"engasgue" ou "embuche". Ela visa ir ajudando as pessoas a d) Instrução - Implica simplesmente comunicar a alguém
irem entendendo o processo, sem grandes teorizações. como agir: proceder (postura, comportamento) ou fazer
Na dúvida não devemos fazer nada em relação aos educandos, alguma coisa (um POP, por exemplo), seja verbalmente ou
mas devemos fazer tudo para enxergarmos o amanhã do por escn to.
processo. Temos que estar razoavelmente seguros do que
e) Demonstração - É fazer a ação, na presença de alguém, para
estamos fazendo. Se for necessário, diga que precisa pensar
mostrar como se faz e solicitar ou não que ele continue a
sobre o assunto e que responderá mais tarde. Se necessário
fazer. É agir de forma "exemplar".
o pergunte a outro, mas discretamente. O educador jamais
~ f) Assistência- Implica dar dicas, a alguém, durante o processo o
~
ú pode enrolar ou mentir. O importante é que a resposta brote
a
w
que ele está desenvolvendo. Visa ajudar na busca do 8
"':::> como resultado da reflexão dos educandos, ou melhor, do a"'
aperfeiçoamento da ação e em ajudar a corrigir pequenas "':::>
-ª'o coletivo deles.
falhas. -ª'
'6

s
iS
:::>
b) Entrega Teórica - É saber repassar, para o conjunto dos
educandos ou para uma turma, elementos teóricos que são g) Colaboração - É fazer em conjunto, como parceiros, ~
a
"'a trocando informações sobre o como fazer e se ajudando
UJ
w
~ necessários para eles compreenderem o processo, levando D
g
~ mutuamente.
E:
3i
em conta a caminhada realizada, e assim darem um salto de §
o .3


Os participantes precisam, com o tempo, criar mecanismos
h) Intervenção pedagógica -7 Fazer no lugar de alguém,
para que todos possam participar da reflexão sobre o processo
afastando-o da ação.
que está acontecendo (o jeito de fazer e de ser).
Só deve acontecer quando o coletivo dos educadores esgotar
a sua capacidade de insinuação pedagógica. Ela rompe com • Um espaço indireto e limitado é o Caderno de Reflexão
a interação e faz um corte no processo. para os educandos (ou Diário de Campo para os educadores:
CAPP), em que no primeiro momento todos são convidados
6.5 - Registro e Sistematização a escrever como sentem o processo em s1 mesmos e como se
O acompanhamento do processo também é realizado através sentem no processo. Em um segundo momento, como sentem
do registro do processo e de sua sistematização. Ele deve ser: o processo na coletividade e como sentem a relação das pessoas
entre si. O objetivo último é ir sistematizando as lições pessoais
a) De pessoas - Cada membro da coletividade deverá fazer
que estão tirando do processo. Esta reflexão precisa passar
um registro pessoal do processo (seu e da escola), relatando
por partilhas (aprendizados da etapa) e aprofundamento que
os acontecimentos marcantes, as contradições percebidas,
podem terminar em momentos de crítica e autocrítica. Outro
os encaminhamentos feitos e os seus resultados, bem como
caminho de socialização é através da Reflexão do Dia
seus aprendizados (em um Caderno de Reflexão se for
colocada no mural.
educando e em Diário de Campo se for educador).
• Outro espaço é o Registro de Acontecimentos Diários 123
b) Por Turma - Cada turma deverá fazer o registro de cada
(RAD) onde são registrados, por alguém que recebe da
uma das etapas e, através de seminários, elaborar a
coletividade esta tarefa, os principais acontecimentos (fatos
sistematização da mesma na etapa subseqüente. No final
marcantes ou relevantes) do Instituto (envolvendo todas as
deveria fazer uma sistematização de todo o processo do curso,
turmas), fazendo uma descrição do processo e registrando as
percebendo os ciclos, ou melhor, os saltos qualitativos (não
contradições constatadas, os conflitos ocorridos e as tensões
confundir com as etapas).
percebidas. Ela não tem o sentido da crônica jornalística. A
c) Do IEJC - A escola deverá realizar o registro do processo crônica diária é socializada no tempo formatura.
procurando fazer uma sistematização de toda a coletividade
• Um terceiro são as Crônicas periódicas ou ocasionais que
a partir de um recorte pré-definido (o tempo entre uma
registram eventos especiais (uma formatura, uma OCAP, um
reprodução da gestão e outra, por exemplo). Uma segunda
passeio, uma manifestação, entre outros), ou relatam o o
sistematização poderia ser feita por ano. Uma terceira seria t
3"'
o interessante, por ciclo do processo 122 (sem levar em conta a
cotidiano, a vivências das pessoas no Instituto. Essas crônicas ó..,
o
são socializadas através do mural. ....=>
"'=> divisão cronológica do tempo).
.2, io
o

~ g
].., s
o "'
o
o
g !;
~ D:s Antes o RAD era denominado de "Crônica Diária" (trocado o termo em agosto de f--
i=
i=
.z g


2003) .

• 122
Isto até agora não foi feito. Ficou-se em apenas alguns pré-ensaios.
6.6 - Direção Político Pedagógica124 c)Ter uma leitura do processo - O CAPP deve perceber o
O responsável pela Direção do processo político processo em andamento como um todo. Não basta ter uma
pedagógico é o CAPP: Coletivo de Acompanhamento Político leitura da conjuntura, precisa "fazer" a conjuntura, pois é o
Pedagógico. Ele não é uma instância do Instituto, mas tem a "técnico" do jogo, o "regente" da orquestra. Se os educandos
tarefa política de, com olhar pedagógico, fazer a leitura do tiverem esta capacidade, e o CAPP, não, ele perdeu a sua
processo educativo (respeitando as especificidades), elaborar e finalidade e deve se "autodetonar". O CAPP precisa ter os
propor a estratégia para o avanço da coletividade e fazer o devido "pés no chão" para perceber até onde o Instituto pode contribuir
acompanhamento das instâncias e das pessoas, mantendo a no processo educativo das pessoas: não podemos fazer nada a
continuidade (evitando a mania de querer reinventar tudo) e a mais das condições que temos, mas devemos fazer todo o
unidade (evitando a fragmentação e cultivando a coesão) e possível. Jamais podemos nos esquecer de que o MST nos educa
incentivar a disciplina consciente e a ação comum. A sua antes, durante e depois da passagem por este Instituto.
finalidade é formar pessoas humanas e militantes, isto é, provocar d) Dar ritmo ao processo - Ser o "motor" que garante, através
experiências pedagógicas e criar as condições para que os da estratégia, o ritmo do processo que não poderá ser mais
envolvidos possam refletir sobre elas. devagar que o necessário, evirando assim o acomodamento, e
Para o cumprimento desta atribuição ele deverá: nem mais rápido que o possível, para não gerar uma crise
a)Constituir-se como um coletivo - Este coletivo deve ser desnecessária e evitar o desânimo dos envolvidos.
perpassado por relações "empresariais" (formais) e e) N ão permitir o retrocesso - Ser como um "trator de esteira"
"com unitárias" (solidárias) e se preocupar com a formação que encosta a lâmina e impede o recuo dos participantes do
política-ideologica, pedagógico-metodológica e mística de seus· processo e como um "rolo compressor" que, por causa de
integrantes. E isto dentro de uma coletividade maior. sua vibração, sugere que elas se coloquem em movimento
Makarenko nos lembra de que "a prática pedagógica é a criando assim a necessidade do avanço. Isto se torna possível
organização do coletivo, para a organização da personalidade através de uma ação coletiva de cobrança das decisões tomadas
no coletivo e, somente, através do coletivo". 125 pela coletividade, que precisa aprender os limites de suas
b)Manter o código genético - Evitar que qualquer um dos decisões. Cuidar para não "atropelar" ninguém.
elementos constitutivos deste método pedagógico se perca e, f) Assumir-se como dirigente - Ser o "ventre" que gesta o
~ ao mesmo tempo, aprimorá-los, garantindo assim o
3
UI
o
movimento da coletividade. O espaço de elaboração deste
rumo e o método dos passos pretendidos e domina a arte de
comandar (mandar com) através da justeza da leitura do úª
l.r.

UI
o
w
;::. código é o Coletivo Político Pedagógico do IEJC. processo e da clareza das propostas. w

'ª' !
~
6l
g) Ser um pedagogo - Olhar todo o processo como um
pedagogo preocupado com a formação humana de sujeitos é
6
i5
t.Ll
"'o sociais, coerentes com as matrizes de formação e com este ã
r2 ' 24 A Direção Política Pedagógica não é uma "instâncià' do lEJC, mas uma "função" g
~ método pedagógico e por isto construindo permanentemente ç'.
i:: exercida pelo CAPP.
g !;;

• métodos e didáticas que ajudem o processo educativo avançar.



~
12
5 Makarcnko, cm CAPRILES, René. Makrmnko ... p. 35.
É bom relembrar que todo coletivo precisa ter um(a) Não querer ser o centro e nem buscar ser a referência, como
"timoneiro" (alguém que tenha clareza do rumo a ser seguido), pessoa: a referência deve ser a coletividade.
como articulador(a) dos demais educadores e "Co-mandanre" f) Saber agir como coletivo (para mover a coletividade) e através
(capaz de construir o consenso e se necessário da última palavra) da coletividade (ter o domínio de sua organicidade).
de um "rumo único". Evitar confundir com "mando único". g) Procurar viver a pedagogia do exemplo (ser o primeiro). Os
O CAPP, assumindo o princípio organizativo da direção educandos tendem a ser um retrato (ás vezes piorado) dos
coletiva, com responsabilidades pessoais, está organizado em educadores. A experiência mostrou que os educandos nem
"escalà': tem um núcleo fixo; tem o CAPP responsável pelo sempre se orientam pelos acertos do CAPP, mas sempre
acompanhamento de turma; e tem educadores fixos que fazem copiam seus equívocos (erros). O coletivo dos educandos
parte do CAPP. vai constituindo a "imagem e semelhançà' do coletivo dos
Os responsáveis pelo acompanhamento precisam ir educadores.
adquirindo um determinado perfil, a saber: h) Ser um estudioso capaz de organizar um plano de estudo
a) Procurar compreender sempre mais o projeto e o método pessoal que venha ao encontro da caminhada da coletividade.
pedagógico do IEJC, estudando-o através do confronto entre
o movimento (prática real) e a teoria e questionando, tanto a
prática (em relação á teoria) como a teoria (em relação á prática).
b) Ser um intelectual orgânico, organizador do processo
educativo. Para isto é necessário se. inserir no processo
educativo e ter uma leitura o mais ampla (buscar a totalidade),
profunda (percebendo as relações e contradições) e atual
possível do processo (jamais se esquecer de que o movimento
está em movimento).
c) Ter uma responsabilidade pessoal: cumprir sempre com a
sua parte no desenvolvimento da estratégia e na
implementação das táticas e evitar questionar educadores e
o o
debater limites do processo em momentos e locais
s...
(:

inconvenientes. Em outras palavras, ter a maturidade de


8
o
....;;:> "'o
~
"'
.2,
assumir as regras do processo, vivenciando-o e a partir daí ~

s
o o
refletir sobre ele.
l"'o
g
d) Saber educar através da arte de interagir, a partir do
acompanhamento, da formação da consciência e,

""o
g
principalmente, através da constituição de costumes (ser
j ~


socialista).

.3
7 - PERSONALIDADE: FORMAÇÃO DO CARÁTER qu e sejam praticados sem se dar conta (hábitos). São
características que conferem sua subjetividade (cada um é um).
A personalidade se forma conforme a nossa concepção
"É preciso luttzr todos os dias
p11ra que esse amor à humanidade existente de ser humano, em um ser social (só existe em relação com os
se transforme em fotos concretos, ourros e o mundo), concreto (é Pedro, Maria), situado (em
em atos que sirvam de exemplo e mobilizem" determinado lugar e em determinado tempo), histórico (está
Che Guevara em continua transformação e percebe esta transformação em si
mesmo, na sociedade e no conjunto da natureza), criativo (resolve
Isto está articulado aos princípios filosóficos da nossa um problema concreto de uma forma inédita), sexuado,
proposta de educação. Há a "educação com/para valores condicionado (pelas necessidades, pelo estado das forças
humanistas e socialistas'', bem como a "educação como um produtivas, pelas condições tecnológicas e pela classe a que
processo permanente de formação/transformação humana. E pertence), contraditório (vive na tensão entre o que é e o que
entre os princípios pedagógicos há a "combinação entre gostaria de ser, entre atitudes de libertação e de opressão) e com
processos pedagógicos coletivos e individuais". 126 capacidade de se alienar, isto é, negar a si mesmo (sua criatividade,
Para Makarenko, "devemos falar não somente sobre a sua h istoricidade).
formação profissional da nova geração, senão também sobre a O ser humano precisa aprender a ser "ser humano". Os
educação de um novo tipo de conduta, dos caracteres, traços e demais animais (uma aranha, por exemplo) vivem como animais
qualidades da personalidade que são necessários no Estado {aranha), sabem ser animais (aranha). Os outros animais não
127
(socialista)" ou, diríamos nós, para a formação de miliranres conseguem se colocar no lugar do outro (atitude ética): isto é
capazes de o implementar, desde já, como contradição ao Estado próprio do ser humano.
burguês. Este aprendizado começa pelo trabalho, que é, em
O processo de formação da personalidade, no marco do primeiro lugar, um processo entre a natureza e o ser humano,
desenvolvimento do indivíduo, exige esforços consideráveis do processo em que este realiza e controla mediante $ua própria
sujeito em formação e da coletividade onde ele está inserido. ação e seu intercâmbio de materiais com a natureza. O trabalho
Formar a personalidade do indivíduo, em relação aos demais, e é a atividade específica do ser humano, orientada para
o a manter coerente até a última hora é uma das principais tarefas transformar a natureza para que satisfaça as necessidades do
~ e
(5 da educação, da auto-educação e, também, da escolarização. mesmo. Tal objetivo não se pode realizar sem a ajuda dos ~

"'o A personalidade é junção dos hábitos, componamcnros, instrumentos de trabalho (que guarda para ser utilizado em outro 3
""
o
~
~ inreresses, sentimentos adquiridos no ambiente (meio social) e momento) e mediante ações coletivas. A personalidade se forma ~

neste processo de desenvolvimento pessoal, inserido no seu ~


6 que constituem uma maneira de ser/viver, sentir, agir, mesmo
~
..9
desenvolvimento histórico. s
~ As relações determinantes da essência humana não se "'
o
f2 g
§ dão de uma vez para sempre, para todas as épocas e todos os
12 r.;
_g <· Cf Prindpios da Educação citados na p. 7 . e
povos: as relações são his tóricas, mediatizadas pelas coisas e
• 127
CA PRILES, Rcné. Makarmko: o nascimmto da ped11gogit7 socialista. p. 95 e 96 . .3


pela intencionalidade, mesmo inconsciente, das pessoas de praticamos ao longo de cada dia, e mais, a compreensão dos
dominação ou de libertação. Numa sociedade em transformação, critérios que utilizamos para definir as nossas opções. Só assim
muda a atitude do ser humano frente a natureza, frente aos outros avançaremos para uma atuação nossa mais consciente.
seres humanos e frente a si mesmo mudam suas idéias, seus Isto exige dos educadores a percepção do que está
ideais e sua possibilidade de conhecer e transformar a realidade. acontecendo com cada um dos educandos (ou pelos menos com
Para educarmos a personalidade, nossa e dos outros, os que deve acompanhar), a sensibilidade humana para os
precisamos conhecer a regularidade objetiva da transformação acolher, a sensibilidade pedagógica para atuar, a paciência de
das atitudes do ser humano frente ao mundo circundante, mestre disposto a caminhar em conjunto, partilha de sua
determinar a base material em que se forma e desenvolve 0 experiência e a cumplicidade de quem também se educa no
"mundo espiritual" do ser humano. Isto está ligado á abrangência mesmo processo.
do mundo de cada um e das relações que existem (que vai do Sabemos que não existe modelo (ideal), apenas "posturas
tamanho do lote até os extremos do universo). amais" que necessitam ser trabalhadas em vista do que estamos
Na formação da subjetividade, não podemos nos esquecer projetando para superar os nossos limites e assim ir nos
de superar o dualismo entre liberdade e necessidade e de perceber humanizando.
que não existe o abismo entre elas que se supõe. Conforme nos Apostamos que a formação do caráter se dá através da
lembra Engels, "a liberdade é a inteligência da necessidade'', 128 a convivência (importância das pessoas estarem em uma
saber, a transformação dialética da necessidade em liberdade. coletividade), de comportamentos, da criação dos hábitos
Em outras palavras, para quem entendeu o processo, "a livre necessários, da vivência de valores e do cultivo da mística.
atividade se transforma em expressão consciente e livre da Não basta os educandos saberem elencar uma relação de
necessidade". 129 valores e nem fazer discurso sobre o como forjaremos cada uma
Nosso desafio é perceber e trabalhar a subjetividade (de deles em nós. Não basta os educandos saberem descrever com
cada um) no processo, sabendo que ela também é fruto da cultura, desenvoltura os comportamentos. O que precisamos é perceber
tendo em vista a tensão entre a situação atual (levando em conta os valores, as posturas e assim por diante pelo jeito de viver de
a sua raiz) e o projeto que estamos construindo, que se materializa nossos educandos e educadores. O que buscamos é a formação
na formação do comportamento socialista (militante). A tentativa do caráter do ser humano socialista.
de implementação do novo como vivência denominamos de A pessoa humana é uma totalidade (razão, afeto e vontade)
~
ó
"'o
"revolução cultural"
Precisamos trabalhar, a partir dos limites de cada pessoa,
que carrega a sua história, a sua cultura, as suas características, as
suas limitações. O afeto é emoção e se traduz em vivência e sua
~"'
o
"':::> "'
.Q, o nosso jeito de viver, de se relacionar, de ser humano. Isto exige predominância gera sentimentalismo. O intelecto é razão e se ~
~
o
a percepção das muitas escolhas que fazemos e gestos que traduz em "proclamação" de conhecimento e sua predominância 6
:::> ~
Jl..., gera racionalismo. A vontade é a força de decidir (optar) e se õ
<.:.l
o
g traduz em vivência e sua predominância gera voluntarismo. O "'o
i= E?
f;; 1211
No Anti-Düring, em LENIN, Vladimir. As três fontes. p. 16.
desafio é contribuir neste equilíbrio, que nos permite maior >::'.
E;
z:

• liberdade.


.3
129
PLEKHANOV Opapel ... p. 114 .
E ela está dentro de uma totalidade maior (a sociedade, por pessoa se transforma a si mesma. Na base deste processo está a
exemplo), e em relação a outras pessoas (que também são totais). relação "sujeito-objeto", articulada com a visão de mundo.
Entre as pessoas não existe complementaridade (preciso Temos convicções quando percebemos a "justeza de
encontrar a minha cara metade, se diz por aí), apenas alteridade nossas idéias". Idéias aqui são objetivos vitais e decisivos e a
(ao perceber o outro como outro e com a mesma dignidade que clareza deles revela a nossa maturidade e é indicador da nossa
possuo). Neste texto separamos os itens que seguem para socialidade. O subdesenvolvimento deles revela o nosso
procurar os entender melhor, mas todos eles fazem parte de infantilismo e de que permitimos que os estímulos exteriores
cada pessoa e estão inter-relacionados. dominem a estrutura interna de nossa personalidade. Convicções
são as redes das quais não podemos escapar sem que se parta o
7.1. Articulação de Projetos próprio coração (deixamos de nos sentir inteiros e nos
O sentido da vida de uma pessoa está na articulação entre percebemos divididos). Não as podemos vencer, apenas nos
o seu Projeto Pessoal, um Projeto Coletivo ou de um grupo subordinar a elas. A convicção é uma das condições mais
social (de uma coletividade) e um Projeto histórico de sociedade importantes da atividade teórica e prática.
(Projeto Popular, por exemplo). Na medida em que percebo que Temos necessidades. A necessidade é um imperativo
o meu projeto pessoal depende dos demais projetos, passo a para a vida. A necessidade leva (estimulante interno) à atividade
perceber a minha liberdade como necessidade, se me reconheço e exige um plano (um como fazer, que já faz uma antecipação
como sujeito da história. do fim). As necessidades nos acompanham toda a vida e são
Esta articulação implica uma opção que precisa ser feita, produtos do desenvolvimento da sociedade e das relações sociais
amadurada e cultivada, e exige rumo, firmeza no caminhar e (por isto elas mudam e se transmudam) e ao mesmo tempo são
vontade de sacrificar a sua vida na realização dele. condicionadas por elas (dependem de muitos fatores). Nós nos
O primeiro passo é nos conhecer. Todos temos uma visão humanizamos quando percebendo as necessidades de rodos
de mundo concreta (percepção, interpretação, concepção). Ela somos capazes de renunciar a algumas nossas no interesse da
é inseparável da atividade humana. A visão de mundo é um coletividade.
sistema de idéias que a pessoa humana concreta tem do mundo Precisamos forjar em nós as capacidades p ara
e de seu próprio lugar no mundo; é um conjunto de credos e concretizar os projetos. Capacidades são características,
idéias científicas, filosóficas, éticas, religiosas e estéticas. A visão qualidades, habilidades. Elas se formam durante roda a vida e
~
o
dependem do meio circundante e da educação: nós n ão ~
ú de mundo determina aspectos da personalidade. Ela é a medula 3
...,"'o da personalidade, isto é, o núcleo onde se concentram seus nascemos, mas nos fazemos "gênios" e precisamos criar as "'o
:i w
:;.
.§, princípios e suas ações, seus ideais e seus objetivos vitais. condições para termos inspiração (idéias). São capacidades .§,
% Este primeiro passo implica a consciência de si mesmo e do criadoras: a capacidade de ver a tarefa proposta; a rapidez e o
j.
li
:..> ~
&l que faz no mundo e de suas relações com o outro. A pessoa ativa flexibilidade do pensamento; a independência dos juízos; a õ
l..ú
"'o capacidade de gerar idéias e a generosidade em sugerir idéias; a "'e.
percebe o mundo como se estivesse dividida em duas: o "eu" e o
~
F= "não-eu''. Mais, influenciando a natureza, transformando-a, a capacidade de raciocinar por analogias (dedução hipotética); a ~
f::'.
z capacidade de síntese; ver o extraordinário no cotidiano. Entre
~


.3
o
as faculdades do "gênio" está o trabalho (1 % inspiração e 99% manter o que nos ajuda a avançar e a mudar o que precisa ser
suor); a tenacidade e a paciência. m udado através de "ensaios práticos".
Um outro desafio é tratarmos da questão de gênero
7.2 - Convivência compreendendo-a como o que questiona o que "normalmente''
O desafio é levarmos os educandos e educadores a perceber ou "naturalmente" se entende por "feminino" e "masculino" e
as suas relações de convivência, a resgatar a sua experiência de nos ensina que estes conceitos são construções, ou seja, mudam
vivência das relações humanas em família e em comunidade e de acordo com o contexto histórico, cultural e social e político.
de convivência com o meio ambiente. É saber conviver (viver Is to implica redefinir os elementos constitutivos do
com) com os demais e se ajudar a superar os limites em vista de comportamento masculino (condutas de homem) e feminino
nos humanizar cada vez mais. (condutas de mulher), numa ótica de classe, e combinar como
Conviver é viver em comum, com outrem, em intimidade, eles serão vivenciados. Ainda temos dificuldade em desenvolver
com familiaridade. A convivência mexe com a relação de poder uma educação das relações afetivas que passam da convivência
(expressas especialmente pelo "mando" do patrão que existe em á amizade que implica camaradagem e cuidado mútuo (me
nós e pelo desejo de receber as coisas prontas), revela os nossos preocupo com o outro) e pode chegar a erótica (educação sexual) ,
preconceitos (racismo, machismo, entre outros) e desvela o nosso que envolve: a relação mútua entre as pessoas; a educação da
comportamento ideológico (oportunismo, personalismo, auro- cul tura dos sentimentos, afetos, amizade e amor; a compreensão
suficiência, entre outros). científica sobre o desenvolvimento humano (busca de
É , acima de tudo, o que pode ser realizado pelas maturidade) e as questões biológicas e sociais que envolvem o
educadoras e pelos educandos, como intervenção consciente sexo; o desenvolvimento da feminilidade e da ma5':ulinidade
sobre os jeitos de ser, de se relacionar e de produzir. É saber humana a partir dos valores da igualdade e do respeito mútuo; a
aproveitar os limites das pessoas para aprofundar o nosso jeito preparação dos jovens para a constituição de uma família saudável
de viver, de ser humano. É perceber as múltiplas escolhas e gestos e feliz. Para Makarenko "a educação sexual consiste precisamente
130
que acontecem a cada dia. na educação do amor, o sentimento mais grande e profundo" .
Não podemos nos esquecer de que a convivência traduz O s sentimentos também precisam ser educados.
para o cotidiano o paradigma da sociedade, consciente ou Um outro desafio, ainda praticamente intocado, é
inconscientemente, isto é, agimos de forma diferente se tratarmos da questão de raça que subjaz em nossa cultura com
~ ê
ú compreendemos, por exemplo, a terra (roça) apenas como local a marca de aproximadamente 350 anos de escravidão. Junto com 8
...,"'o da produção e por isto eu a aproveito ao máximo ou como local isto trabalhar na superação dos preconceitos. "'o
:.:> ~
.2, de reprodução da vida, de geração em geração, e por isto me ~
o o
'6 preocupo com o seu cuidado. 6
6 ~
:.:> õ
c33 Um dos desafios é tratarmos do jeito de ser/viver do uJ
""
Q "'o
g camponês. Após superar a "visão romântica" e "preservacionista" g
~
i= urge fazermos uma crítica ao seu estilo de vida e se d esafiar a ~
3


°Cf. SCHUKTNA G. I. Teoria y metodología de la educación comunista en la escueifl. p. 258 .

13 ~
Um outro desafio é o cuidado com a infância que no Ao mesmo tempo, o processo do ensino no Instimto,
IEJC deve ter um Projeto Pedagógico e um método pedagógico inserido na produção social, é o que determina a personalidade
próprio. do indivíduo. 131 Para Makarenko, a prática pedagógica é a
Para isto podemos, entre outros: construção do coletivo, para a educação da personalidade no
coletivo e, somente, através do coletivo. 132 E continua, "apenas
a) Manter um internato com ambos os sexos, o que permite
quando educamos o coletivo podemos contar com a forma de
determinadas vivências, e ter uma ciranda infantil para a
organização em que a personalidade individual possua, ao mesmo
educação das crianças (filhos e filhas de educandos).
tempo, a maior disciplina e a mais ampla liberdade" .133
b) Trabalhar as relações mútuas de convivência no estudo, no Isto implica traços que precisamos ir imprimindo em nós
trabalho, na moradia, nos núcleos de base, em atividades de mesmos, em vista da formação de nosso caráter, de nossa
militância, artísticas e esportivas. Trabalhar a cortesia mútua, a personalidade, assumindo assim uma postura de militante.
delicadeza (cuidado), a camaradagem, as "boas maneiras" etc. Vejamos! Pode ser:
c) Organizar momentos para as pessoas se conhecerem melhor a) Refletir sempre o como nos produzimos (ou reproduzimos),
onde cada um é desafiado a mostrar os seus talentos e suas nos formamos (assumir esta chave de leitura da realidade), a
capacidades e, conforme a maturidade, socializar os seus saber, perceber a nossa historicidade (raiz + práxis + projeto).
limites.
b) Utilizar adequadamente o tempo imediato, tendo como referência
d) Organizar passeios, frentes de trabalho e outras atividades o projeto, isto é, utilizar o seu tempo em fünção da transformação
que exijam colaboração mútua e entre-ajuda para ajudar de si, da coletividade, do Movimento, da sociedade.
alguns a superar as dificuldades.
e) Ser disciplinado e, ao mesmo tempo, possuir a mais ampla
e) Analisar posturas (negativas ou positivas) encontradas em liberdade.
peças de teatro, filmes, livros e se questionar sobre a postura
d) Não esconder as contradições e nem os conflitos de interesse,
mais humana (socialista) e a como ir construindo ela nas
mas buscar a superação de forma ética ou sem subterfúgios.
pessoas.
e) Perceber ou construir o método mais adequado a ser utilizado
para cada situação em vista de realizar os objetivos
7.3 - Comportamentos
estabelecidos.
o
~
Comportamento é a maneira de proceder, de se exprimir
f) Respeitar a caminhada e o jeito de caminhar (das pessoas, da ~
ú através de determinados costumes ou práticas (ter estilo). Inclui óuJ

base). Mas, respeitar não quer dizer concordar e nem se omitir e


Ci
~ o que denominamos de postura. ~

-º'l).o A construção do socialismo não é um ideal, mas um


em contribuir para avançar. -º'o
ó
j
6 movimento real, desde já, que leva a transformação do estado ;,:
] atual e das pessoas que se inserem neste processo. Cada pessoa
ü3
..,
o
"'o 111 o
~ deve ser e sentir-se útil á causa da classe trabalhadora. CAPRILES, René. Makarmko ... p. 49. t:
,_.
j:: 1 2
j CAPRILES , René. Makarenko ... p. 35. !;;
i:::


.3
2 n 3 CAPRILES, René. Makarenko ... p. 89.


7.4 - Hábitos 7.5 - Valores 134
Os hábitos culturais são disposições adquiridas, fruto de Valores são orientações axiológicas que influenciam na
vivências freqüentemente repedidas do mesmo ato, gesto, uso, condução, no processo de produção do caminho para alcançar
costume, mesmo que seja de questões sem grande importância os nossos objetivos. Valor é apenas o que expressa o interesse
(como ser pontual, por exemplo), e da insistência pessoal social e satisfaz as demandas sociais.
mesclada com a pressão da coletividade. Tornam-se hábitos Trabalhar os valores é contribuir na passagem do
quando os realizamos de forma inconsciente. individualismo para uma pessoa que tenha desenvolvido um
Precisamos habituar, isto é, ir desenvolvendo novos espírito de coletividade e não apenas conviva em um coletivo.
hábitos e os contraindo, através de pequenos gestos assumidos Só é possível perceber a vivência destes valores no cotidiano.
pela coletividade, a saber: Trabalhar os valores é aprender a cultivar as convicções que são
a) Cuidado com o corpo (saúde, alimentação, higiene). Por inegociáveis e se concretizam no cotidiano pela nossa coerência.
exemplo: escovar os dentes após todas as refeições; comer Entre os objetivos do MST está a vivência de valores
salada; tomar banho todos os dias; lavar a roupa; humanistas e socialistas. Estes valores se contrapõem aos valores
anti-humanos da sociedade capitalista, especialmente em sua
b) Cuidado com a habitação (embelezamento, limpeza). Por
versão neoliberal: individualismo, consumismo, egoísmo. Os
exemplo: não jogar nada no chão e, se perceber algo no
valores humanos precisam ser cultivados e alimentados.
chão, recolher e colocar no lugar devido;
Para que um valor possa ser incorporado na vivência das
c) Cuidado com o meio ambiente. Por exemplo: cuidar das
pessoas ele precisa ser observado pelos educandos na convivência
fontes e dos córregos (das águas); cuidar da terra e da vida
das educadoras. Por isto é importante o testemunho, isto é, o
que está na terra (agroecologia); cuidar das plantas e das
jeito de ser e de se relacionar da educadora também faz parte da
sementes; cuidar dos animais; não esparramar lixo ou cuidar
sua prática pedagógica. Precisa ser vivenciado coletivamente e aí
onde o coloco Qogar o lixo no lixo devido se não der para
compreendido. Valores não são meros conteúdos teóricos. São
reciclar);
vivências que precisam ser amadurecidas e corrigidas em suas
d) Respeito as combinações coletivas (hodrio, metas, imperfeições, através do exercício da crítica e da autocrítica.
procedimentos). Por exemplo: ser pontual nas várias
De um modo especial precisamos aprender a estabelecer
atividades assumidas; procurar se esforçar para garantir as
e a seguir as combinações de vivência coletiva e a prática de
~ metas estabelecidas. valores, entre eles: ~
ó 8
"'
Cl
a) a solidariedade, para combater o egoísmo estimulado pelo "'o
'"':..> '"'
.2, capitalismo, e a camaradagem; á
%
Li
::> ~
iS
G3 U.l
""o ""o
134

~
E;
Consulte: CONSULTA POPULAR-Cartilha n. 09. Valores de uma prátieamilitante.
São Paulo: 2000. especialmente o capítulo III: "Valores que deve cultivar um lutador
,..t
>=
i
• •
.3 do povo", de Adernar Bogo (1999) .
b)o espírito de sacrifício que exige rent'lncia e dedicação ao p) a persistência no cumprimento das tarefas e na manutenção
projeto popular; do rumo.
c) a capacidade de indignação diante das injustiças, da exploração
e do sofrimento do povo; 7.6 - Emoção
d) a valorização da vida do conjunto da natureza em vista da Emoção é o estado íntimo da personalidade e pode ser
vida do ser humano; agradável (causar prazer) ou desagradável (causar desgosto) . Ela
e) o gosto de ser povo e de ser povo trabalhador, classe é uma necessidade inata. Dela fazem parte as emoções primitivas
trabalhadora; (o medo, por exemplo), os sentimentos ou emoções sociais
(amor, ódio, vergonha, consciência do dever, honra) e as paixões
f) o sentido do trabalho voluntário em favor dos excluídos e em
ou sentimentos profundos (raiva, desespero, terror, sentir-se
vista de uma nova sociedade;
pleno ou inteiro). Aspiramos ao que é agradável e procuramos
g) o valor do estudo para compreendermos os rumos da hisrória eVitar o que é desagradável.
em sua dimensão de projeto; Procuramos nos preparar para enfrentar as fortes emoções
h) a esperança que nos impede de aceitar o fim da história, através de filmes, de livros, do teatro, o jogo, entre outros, pois,
mergulhados no caos social e humano a que nos levou o sem a superação, vira doença. Sentimos tensão e ficamos agitados
capitalismo; por falta de clareza do que esçá prestes a acontecer. Sentimos
i) a confiança na capacidade do povo em construir o seu destino, ansiedade por perceber agora o que vai acontecer depois (perceber
rompendo com o complexo de inferioridade que procuram já a água rompendo um dique) ou apenas por imaginar o que pode
imbuir no povo; provavelmente acontecer. Sentimos paixão que é a força que nos
j) a coerência com os princípios organizativos do MST (lealdade move a agir (força da água que déí nova forma ou deforma o leito).
a eles e capacidade de defendê-los) e com o movimenw da Sentimos angústia quando nos percebemos em uma situação sem
história; saída. Sentimos ânimo quando percebemos que podemos
k) o compromisso com os propósitos amadurecidos e enfrentar a situação, mesmo que seja uma percepção aparente.
assumidos coletivamente; O jogo (de xadrez, por exemplo) desenvolve a fantasia,
1) a alegria das pequenas conquistas que vislumbram a bem como o raciocínio, ensina a sonhar e a compreender o ponto
~ de vista do outro. O teatro desenvolve a capacidade de
possibilidade da vitória final; ~
ú compenetração (sentir-se o outro) e estimula o pensamento ú
...o 5
m) a ternura pela dignidade dos ser humano que permite superar independente (pensar com a cabeça do outro). A educação
"';:;; ""
§_
o
o ódio; 1-' 5 proporciona o material para a reflexão e ajuda a desenvolver o .2.
o
(5. ó
g n) a fidelidade aos compromissos assumidos; próprio modo de pensar. A educação não pode ser vista apenas i:i
&l iS
"'
o o) a integridade; como superação da ignorância, pois ela ajuda o ser humano a UJ
Q
perceber a sua cultura e a encontrar o seu próprio lugar na vida, g
ê
i; na história.
i:::
(;;

• •
~ z
115 MST Caderno de Educação n. 9. p. 21 .
Empatia é compenetração (pôr-se no lugar do outro e capaz de destacar o valor de ser Sem Terrinha (sem hífen, sem
ver o mundo com os olhos do outro) e compartilhamento (alegria "s" e com letra maiúscula de nome próprio), herdeiros da
ou desespero do outro, por exemplo). Implica busca de pontos identidade Sem Terra. Será um dos espaços onde se resgata a
de contato. Sem ela não há indignação. Ele é recepção emocional memória de eventos importantes da classe trabalhadora e revela
da vida humana (da miséria, por exemplo), que nos torna os seus grandes lutadores e lutadoras.
solidários. A mística é mais do que um tempo, é uma energia que
Incluímos aqui a necessidade de perceber o belo (gosto perpassa o cotidiano. Por isso precisamos dela presente no início
estético). de grandes atividades e resgatada em vários momentos do dia. Ela
É praticamente impossível educar uma personalidade que é a forma de já ir concretizando, no aqui e agora, a nossa utopia.
capte o melhor que a humanidade vem gerando ao longo dos A mística se expressa através da poesia, do teatro, da
séculos. Ajudamos a educar levando as pessoas a participar ao expressão corporal, de palavras de ordem, da mú sica, do canto,
m <íximo de experiências humanas e a refletir sobre elas. Inclusive dos símbolos do MST, das ferramentas de trabalho, do resgate da
com os equívocos e as derrotas podemos aprender. O jeito é ~ emória das lutas e de grandes lutadores e lutadoras da
assumirmos tarefas difíceis pois elas nos dão resultados maiores humanidade ... vira celebração e visa envolver rodos os presentes
. . . .
que as obtidas com os resultados fáceis e o cumprimento de em um mesmo movimento, a v1venc1ar um mesmo sennmenro, a
tarefas fúteis. se sentir membros de uma identidade coletiva de lutadores e
lutadoras do povo que vai além deles mesmos e vai além do MST.
7. 7 - Mística Ela irriga, pela paixão, a razão, nos ajudando a ser mais
A mística deve ser pessoal e coletiva. É aquilo que nos humanos, dispostos a desafiar coletivamente os nossos limites; nos
ajuda a enfrentar e superar os nossos desafios. impulsiona a ir além do esperado, alimenta os valores e nos faz
A mística é a alma de um povo. A mística do MST é a sem ir que somos parte de uma grande família: somos Sem Terra.
alma do sujeito coletivo Sem Terra que se revela como uma paixão Ela pode se manifestar em diferentes momcnros do
contagiante, que nos ajuda a "sacudir a poeira e dar a volta por cotidiano, mas de forma mais force em momentos especiais e
cima", que nos coloca no caminho de aprender e estabelecer datas significarivas dos Sem Terra e dos trabalhadores e das
objetivos a serem alcançados, aprender a formular métodos para trabalhadoras deste país e do mundo todo. 136
o transformar a realidade e a empenhar-se na tarefa de realizar os
~ ~
ú rumos traçados. A mística é a alma da identidade Sem Terra. 3
~
"'
o Uma Escola do MST tem a tarefa de resgatar o amor ao "'e
~

io trabalho e a pertença do educando e da comunidade Sem Terra ~


iS
j. à classe trabalhadora, porque é ela que transforma a narureza g
<S
com a sua sabedoria e seu esforço físico. A escola pode ajudar a
g
:E... i:.:J
o
~
despertar a pertença a uma organização, o MST, e o respeito aos g""
i=
r: seus símbolos; fazer aflorar o amor ao MST, a ser Sem Terra, a ~
1 O

MST _Caderno de Educação n. 9. P· 23 e 2/i1. -
z
pertencer à terra, a ser parte da terra. Um a Escola do MST é •k
8 - OFOC: ÜFICINA ÜRGANIZACIONAL DE CAPACITAÇÃO organização. O método da OFOC inclui todos os elementos do
método pedagógico descrito até aqui, só que organizados e
'/.1 gente aprender a capinar, dinamizados dentro de uma lógica própria aos seus objetivos
capinando"137 específicos, e com uma atuação de educadores preparados para
isso.139
A OFOC é um método de capacitação massiva em A OFOC é "um ensaio prático e ao mesmo tempo real no
organização desenvolvido pelo MST, entre os anos de 1991 e qual se busca introduzir em um grupo social a Consciência
1995, com a finalidade de criar as condições necessárias para O rganizativa que necessitam para atLJar em forma de empresa
que pudesse acontecer esta capacitação nos cursos formais e legais. ou ação organizada". 140 Só que no IEJC é um ensaio longo,
Foi elaborado a partir de experiências de adequação para a com duração de até três anos, com interrupções ou atenuação
realidade escolar dos diversos métodos de formação 138 realizados nos tempo comunidade. Isto a princípio parece muito difícil,
nos assentamentos de Reforma Agrária visando a capacitação mas após meses se torna fácil ~após um ano se torna simples e
das famílias Sem Terra para o desenvolvimento de projetos de com um tempo pode se tornar um hábito. Aí aparece a tradição.
cooperação agrícola. Neste ensaio prático em que as pessoas se formam em um
No IEJC, trata-se de uma intencionalidade específica (uma processo real - se for artificial a conduta das pessoas também o
espécie de tempero) dentro do método pedagógico mais amplo, é, ficando na justificativa e nos pedidos de desculpas - a
com o objetivo de dar ênfase ao desenvolvimento da consciência coletividade vai se forjando paulatinamente durante o transcurso
organizativa de seus educadores e educandos. da atividade prática e da inter-relação de seus membros. É a
Trata-se de planejar o processo pedagógico de modo a con strução de um saber-fazer coletivo, que respeita a
radicalizar o princípio da alteração da existência social das pessoas subjetividade, mas não aceita os fenômenos que buscam
envolvidas, criando um ambiente educativo como característica desintegrar o todo-orgânico em construção, ou seja, a
ou componentes diretamente voltados para a capacitação em coletividade, nem pela acomodação e nem pelo oportunismo
que gera a exploração entre os seus membros.
Entendemos por capacitação um processo planejado e
137
MST. O que queremos com as escolas ®s assentamentos. São Paulo: 1991 . p. 7 . posto em prática para preparar os sujeitos (as pessoas) para atuar
138
O ponto de partida foi o método dos Laboratórios Organizacionais ou Experimentais, em um programa econômico-social. Este processo implica,
~ inruído pelo professor Clodomir Santos de Morais a partir das Ligas Camponesas e
ú
"'a
"':>
desenvolvido na América Central, especialmente Honduras, na sua versão de
Laboratório de Curso, também conhecido como TDC- Técnico em Desenvolvimento
necessariamente, uma relação entre o sujeito e o objeto com o
qual se deseja capacitar, por meio da qual (da relação) o sujeiro ª
8
...:>"'a
§, Cooperativo. Ele foi adaptado para a realidade de um movimento popular no campo adquire conhecimentos e desenvolve atitudes e habilidades §,
§. que luta pela reforma agrária e busca a transformação da sociedade. Um coletivo de o
'0
6:> estudo sobre o método passa a desenvolver a OFOC. Este coletivo de estudo começou l':.:>.í
a a atuar quando os seus membros pertenciam á Coordenação Pedagógica do a
w
"'ao Departamento de Educação Rural da Fundação de Desenvolvimento, Educação e 139 a"'
!TERRA: Cadernos do ITERRA n. 2. p. 30 e 31.
~ ~
Pesquisa da Região Celeiro (FUNDEP-DER). Como a FUNDEP oficialmente não 110
l= assum iu este método, apesar de ter sido publicado no livro Coragem de Educar, o O conceito é de C lodomir Santos de Morais, cm SANTOS DE MORAIS, C. Caderno
.3 ~

• coletivo continuou a trabalhar em vista dos Cursos do MST. de Formação n. 11. p. 40. .3
o
necesséírias para exercer o controle do objeto. Em um programa A heterogeneidade favorece. É um erro pensar que a
de desenvolvimento, a capacitação é a que permite que os sujeiLos homogeneização dos participantes facilitaria o processo.
assumam a condução plena dos processos de produção, b) Materialidade - Ela é dada pela utilização de insumos
organização empresarial e prestação de serviços. 141 indivisíveis (meios de produção e de habitação, com seus
A metodologia de capacitação massiva em organização não respectivos equipamentos) que estabelecem condições
é uma técnica. Aqui entendemos por técnica a aplicação de passos objetivas e pelo repasse de meios de consumo que precisam
metodológicos sem a devida análise, isto é, a aplicação de um ser repostos (alimentos, materiais didáticos) e algum
"rito". Esta limitação, apesar de ser degeneradora do método, numerário (inferior ás necessidades reais) com o propósito
em ocasiões específicas tem dado certo, por causa de fatores de que seus participantes mobilizem suas capacidades e
objelivos e subjetivos que o facilitaram. Mas isto é exceção. iniciativas em vista de buscar as melhores condições para a
Normalmente se transforma em mais um curso de transferência realização de seus objetivos. 113
de conhecimentos, não acontecendo a capacitação. Ela é um Eles funcionam como o aglutinador genérico, isto é, é em
método por ser um processo de capacitação que parte de uma torno deles que os participantes se unem (associam) e passam
análise acertada da realidade por parte dos educadores, e, exige a conslirnir uma coletividade que lhes permita alcançar os
que os mesmos conheçam e sobretudo se guiem pelos princípios seus objetivos superando as contradições encontradas.
e dominem o sentido pedagógico mais profundo dos Eles devem ser indivisíveis. Se o indivíduo pode satisfazer as
procedimentos para garantir o êxito do processo de capacitação suas necessidades individualmente não rem sentido rodo o
e obter o máximo de rendimento. processo. Por serem indivisíveis, eles permitem o surgimento
de uma coletividade de propriedade social ou coletiva (onde
8.1 - Condições objetivas para a realização rodos são donos) e de produção social de bens e serviços (onde
Além da construção de uma empresa/organização ou de rodos trabalhem) pois cada um não pode pegar uma parte e
uma coletividade, são imprescindíveis os seguintes requisitos: 112 transformar em várias "propriedades" individuais. A
a) Complexidade / heterogeneidade - Ela é dada pelo coletividade deve ter o cuidado para evitar o risco de ter
número de participantes culturalmente diferentes com hímpen entre eles, pois tendem a viver nas costas dos demais.
experiências diversas. A coletividade é mui to débil no início. Aos poucos os
o
~
Os participantes, pelo menos mais de 40, devem esrar interesses individuais passam a ser imeresses coletivos. A (';

~
8 organizados em uma coletividade. Quanto maior for o coletividade passa a exigir uma complexidade maior (PPSD) ('j
"'o ...
~ número de participantes melhor, porque eles exigem uma para responder às suas demandas internas e às demandas ....o
.2. maior complexidade do processo e aceleram as contradições. geradas pelas atividades necesséírias, 144 que criam as condições
~

.f.,
.

~
cB
:s~
õ
""'
~

•H Cf. SANTOS DE MORAIS, Clodomir. A mpr1cittlfiÍO ... p. 57 e 58. p


1~ 1 face conccico é de Miguel Sobrado, cm SOBRADO, M . C1p11citr1cion ydiscr1pr1ott1rion ... •« Pode ser a necessidade de garancir as rdeiçócs diárias ou uma demanda de mercado ê

3;


•ii Cf. SANTOS DE MORAIS, Clodomir. Caderno de Formação n 11. p. 40. que permitirá o ingresso de valores monecários ou outra ou todas ao mesmo cempo .
e aceleram os participantes a alterar a sua existência e, ou um educador) e a possibilidade da escolarização (ter um
conseqüentemente, por autopressão (e não pela pressão de canudo) como elementos que potencializam o processo.
um feitor ou de um patrão), a sua consciência.
c) Autonomia, com responsabilidade das decisões - Para 8.2 - Princípios metodológicos
ser autônoma, todos os envolvidos no processo precisam A OFOC se desenvolve levando em conta os seguintes
assumir a plena responsabilidade pela guarda e utilização do princípios metodológicos 145 :
patrimônio (meios de produção e de consumo) posto á a) Necessidade da mudança da existência - Quanto maior
disposição para a realização do processo educativo, bem como for a mudança, melhor, e, a organização do trabalho só se
a realização dos objetivos que os levaram até a escola (do torna compreensível pela sua vivência, o que pressupõe a
MST, do setor que propôs o curso, de quem o escolheu e nossa inserção.
designou para fazer o ·curso e os pessoais). É necessário mudar a existência do sujeito para transformar
Os únicos limites da gestão dos participantes são as "regras" a sua consciência pois a existência é "cimentada" pelo
iniciais, embora todo o processo deve ocorrer dentro do marco processo produtivo em que a pessoa humana está inserida e
da legalidade. Os participantes devem ter a gestão democrática percebida com a ajuda de uma coletividade em construção,
do seu processo e deve-se eliminar a tendência de introduzir vinculada ao processo produtivo.
a co-ges tão. Precisamos criar as condições para que uma pessoa humana
Os participantes precisam responder coletivamente ás acostumada a trabalhar sozinha (PPU), ou com a mínima
necessidades apresentadas, para que cada indivíduo possa divisão social do trabalho, seja forçada, pela realidade
alcançar o seu objetivo pessoal. Isto precisa ser feito sem o objetivada, a reorganizar as suas relações de trabalho com os
auxílio direto de terceiros (tem que buscar as respostas entre outros seres humanos que estão condicionados à mesma
os participantes). Este é um processo real, prático e vivencial. realidade objetivada e precisam estar inseridos no mesmo
Deste processo participa quem quiser e cada um pode sair processo produtivo (PPSD).
no momento que quiser. Não é possível o ingresso de Esta nova existência põe em cheque todo o conhecimento
indivíduos após o início do processo até o momento da acumulado de quem trabalha sempre sozinho, põe em cheque
primeira consolidação para não atrapalhar o andamento da as suas relações e exige ao mesmo tempo, uma nova prática
o coletividade.
~ que precisa ser elaborada, testada e que sofre a crítica do o
3 ~
d) Potencialização dos interesses individuais - Cada coletivo. ú
"'
o
..., "'o
participante só pode realizar os seus objetivos, inclusive os Este novo processo produtivo vai forjando, apesar das "';:.
.2, .2,
o pessoais, através da coletividade (eles só podem ser realizados contradições entre o anterior e o novo, um novo o
'6 ><(
v
iJ
::> em conjunto). O processo educativo deve utilizar a conhecimento, um novo comportamento, uma nova g
Jl 6l
"'
o necessidade de sobrevivência (o querer comer, dormir, ·beber "'o
g
!=! e tomar banho, ter lazer), o desejo de formação (tornar-se f2
i:'.
~ 5 Cf. CERIOLI, Paulo. OFOC: Oficina Organizacional de Capacitação. 2000. Texto que
1
~ i;:
Z; um militante), o sonho da profissionalização (ser um técnico
o

tem por base o terceiro capítulo de CERTO LI, P. R. Educnçiío para 11 coopemçiío ... ~
consciência, uma nova existência, que, com o passar do tempo objeto é a aferramentação dos fatores materiais do objeto
passa a ser predominante. É neste momento que o processo frente ao sujeito que está em relação. Objeto é o "diálogo"
de passagem se rende a uma nova existência. resultante da prática do sujeito que ausculta os fatores
b) Primado da materialidade - Reconhecer que é o objero materiais do objeto; ele "tem vida", "fala", isto é, passa
(através de seus fatores objetuais) quem nos capacita. informações para o sujeito e estas informações confirmam
Entendemos por objeto aquilo sobre o qual a pessoa humana ou questionam a sua prática e o seu conhecimento até então
atua para transformar. Não são coisas, mas realidades acumulado.
objetivadas ou atividades objetivadas. São as suas relações, Apesar de ser, não é apenas o primado do práxico (aro de
por isto podemos compreender a coletividade com o objeto fazer ou exercício refletido) sobre o gnóstico (reflexão sobre a
que capacita, com a sua realidade objetivada ou atividade prática a partir do conhecimento acumulado). É mais que
o~jetivada (fatores objetuais) e suas normas "rígidas", em isto. É a arte de o sujeito tornar-se sensível (estar atento com
vista de uma nova postura. rodos os sentidos) para o que diz o objeto, sabendo que este
O que faz o sujeito mudar são os fatores objetais ou objetuais, sempre tem razão (por causa dos fatores materiais) e não o
isto é, os fatores materiais do objeto. São eles que criam sujeito com o seu subjetivismo.
necessidades e estas se "fixam" na cabeça das pessoas. É a A teoria é muito importante para o avanço da prática. Mas é
atividade objetivada que opera na transformação do o objeto que capacita o sujeito, queiramos ou não. É fazendo
comportamento ideológico. que se aprende. É caindo na água que se aprende a nadar, ou
Isto é fruto da maquinaria. Em uma canoa é a pessoa que melhor, é dentro de uma quantidade de água suficiente
trabalha para alterar a natureza e é a pessoa que diz o que vai (objeto) que se encontra o ambiente propício para desenvolver
ser feito (PPU). Em um navio é a maquinaria que rrabalha a habilidade de nadar. Sem o contato com a água podemos
para alterar a natureza e a pessoa só vigia. Nele quem decide saber tudo de natação, mas não sabemos nadar.
são os fatores materiais do objeto e não mais a pessoa, pois ela No Instituto assumimos o primado da coletividade sobre os
é parte. Aqui não há mais espaço para caprichos pessoais. É seus membros, a partir das necessidades de todos. A
preciso ter controle para funcionar bem. coletividade faz a aferramentação dos fatores materiais levando
O objeto também pode empurrar para trás (aí descapacira). em conta a sobrevivência e a subordinação dela ao Projeto.
o
~ Para avançar não adianta ficarmos apenas no ensino (discurso). d) Aproveitar as contradições existentes - As diferenças e
ó g
o"'
c) O primado do objeto sobre o sujeito - Reconhecer o contradições equilibram e impulsionam o processo. 3w
"':::. processo vivido pela coletividade, o movimento, como o É no processo que a pessoa humana descobre a prática o
2-, ~

o
(). objeto. objetivada, com as suas relações, através das distintas e .Ro
i5 diferentes experiências e interesses de todos os participantes l}
:::.
&l
Este primado não visa colocar o sujeito (pessoa) em segundo f5
do mesmo processo. Durante o processo elas tendem a entrar õ
"'o plano para valorizar as coisas, como alguns pensam e por isto <=-!
e w
~eagem contra sem chegar a entender. Aqui não podemos
o
~ em conflito (contradição). Os participantes tendem a buscar g
!==
3 confundir objeto (atividade objetivada) com coisa. Aqui permanentemente a superação destas contradições. A nova ê
o i


relação estabelecida pelos participantes, correta ou não, Continuidade do processo - A continuidade é garantida
necessariamente, criará novas contradições. pela inserção e pelo processo de reprodução da gestão.
É necessário haver um equilíbrio entre os interesses (que As entregas teóricas são feitas por um educador,
podem ser objetivos ou subjetivos) e o nível de contradição. principalmente na primeira fase do processo. Elas visam
Negar-se a superar as contradições é aceitar morrer, é se acelerar indiretamente o processo através do nivelamento de
fechar, alienar-se, negar a sua historicidade. rodos os participantes sobre alguns elementos de Teoria da
Anular as contradições, seja por paternalismo ou qualquer Organização e de exemplos que dêem elementos que levem
outra razão, sem superá-las, também é negar a historicidade os participantes a superar as contradições básicas que estão
e não permitir que as pessoas se reeduquem com o auxílio de enfrentando.
um coletivo. Elas nunca devem ser uma reflexão direta sobre o processo
Este processo permanente leva os participantes a buscar em andamento. Elas devem ser uma reflexão indireta (fala-se
superações cada vez mais precisas, superando as emoções deste processo dizendo que foi em outro lugar, em outro
através de análises racionais que buscam a essência que gerou tempo). Isto evita que as pessoas se fechem e, ao mesmo tempo,
as contradições. Quando chegam a esta racionalidade, passam permite que se sintam os construtores de seu processo, pois
da consciência crítica para a consciência organizativa. eles chegam ás soluções de seus problemas a partir de suas
Superar as contradições não é "costurar" uma falsa conclusões e não de receitas de um "especialista".
harmonização. Precisamos perceber o conflito como normal e As entregas teóricas visam resgatar a coletividade dos Educandos
produzir formas de superá-lo através do diálogo, de propostas da anomia, desenvolvendo a atitude crítica e de análise dos
claras e da busca do consenso (método distinto do utilizado participantes da OFOC. Eles precisam entender os complexos
com o inimigo). Uma votação não constrói a unidade. fenôm enos que ocorrem no surgimento espontâneo e no
desenvolvimento de um processo organizativo.
8.3 - Estratégias Pedagógicas Elas precisam assumir um ar de palestra, seguidas de um
O processo, para ser acelerado, depende da implemen- espaço de questões para esclarecimento. Deve-se evitar que
tação de algumas estratégias pedagógicas. Vejamos: se torne um espaço de análise do processo atual e vire uma
a) Todos trabalham e todos decidem - Por isto todos devem instância de decisão do processo.
o e) Necessidades objetivas - Articular os interesses dos
E: estar vinculados a um posto de trabalho com as suas o
ó"' ~
atribuições e todos devem estar devidamente informados participantes na realização de metas, especialmente de metas ó
"'
Q
"'
'U)
'.::> sobre o andamento do processo (e sobre sua historicidade) de produção. Os instrumentos para embasar a articulação Q

~
-ª' para que possam contribuir com a sua gestão a partir das são a realização do orçamento (aponta para as necessidades -ª'o
% 6
Li instâncias de base (Núcleos de Base). futuras) e na prestação de contas (revela os resultados
'.::>
s ~
Estes dois elementos constituem o "código genético" que alcançados), com os pareceres devidos. Q
:...:
'o"'
Q
"'
Q
>-
i:: gera e mantém uma coletividade. Não podemos nos esquecer de que as necessidades ~
r: i::'.
.3 humanas interferem no processo pedagógico. Elas são


E::
.3
e
subjetivas quando vêm da vontade ou dos desejos de um ou Mas isto é insuficiente se não houver uma vinculação real
mais participantes do processo (lazer, "hobbies", sonhos) e com o mercado. É o mercado que dá caráter real da existência
são objetivas quando vêm das condições de sobrevivência do processo. Não é possível ter aqui um faz -de-conta ou
do ser humano (alimentação, abrigo - roupa e casa - e uma tutela. Os participantes precisam ter uma vinculação
espaço). Elas também podem ser de origem psicossocial. real, pois o mercado é, também, o objeto. E um objeto que
As necessidades são o motor e o ponto de partida do pode acelerar o processo da coletividade dos participantes.
processo. Se a pessoa não percebe a possibilidade de sanar a e) Ritmo do processo - O ritmo do processo reflete no ritmo
sua necessidade, ela normalmente, abandona o processo. Só da vida das pessoas envolvidas no processo.
permanecerá no processo se descobrir nele nova necessidade A velocidade do processo deve ser estabelecida pelos próprios
pessoal. Elas abastecem continuamente o processo, pois elas participantes. O que no início parece intransponível, com o
geram contradições que obrigam os seres humanos a se desenvolvimento do processo, passa a não ser tão difícil ou
organizar, a colocar-se a caminho. É a necessidade que motiva passa a ser fácil. Para o bom êxito deve-se buscar sempre
o processo. Mas não qualquer necessidade. As que contam aumentar o ritmo e a complexidade do processo.
são aquelas mais fortes, as que tocam na sobrevivência das No início do processo a nova existência estabelecida pelos
pessoas. insumos indivisíveis é exigente e, às vezes, até, dura. Mas
É a busca da resposta a uma necessidade que incentiva os buscar suavizar o processo apenas permite o adiamento das
seres humanos a se capacitarem e, conseqüentemente, a contradições e o surgimento de problemas desnecessários.
adquirirem novos conhecimentos. Eles não apenas retêm
conceitos, mas passam a dominar a lógica das coisas. 8.4 - Objetivo da OFOC
d) Contato com o mercado - O funcionamento do mercado Como vimos anteriormente, uma OFOC "busca
é uma objetividade que questiona a subjetividade e determina introduzir em um grupo social a Consciência Organizativa" e,
uma ação objetiva através do uso da lógica raciona l em nosso caso, desenvolver ao mesmo tempo a "consciência
econômica. política" dos participantes.
Makarenko nos lembra que somente a organização do Bogo nos lembra de que "é através da relação social que
processo formativo (escola) como uma função econômica o o ser humano desenvolverá seus atos e adquirirá conhecimentos.
tornará socialista. 116 Os atos e os conhecimentos, por sua vez, se converterão em
~ ~
ú
Ul É necessário favorecer as relações sociais entre os participantes duas molas mestras da vida social e política do indivíduo que se c5
o
w
compõe de um emaranhado de relações conscientes e não "'
o
::> e o trabalho produtivo através das relações de produção. Os "'::>
.2, conscientes". 147 .2,
o insumos indivisíveis vão exigir uma divisão técnica do
%
~
8
trabalho, ou melhor, um processo produtivo socialmente g
o
"'o dividido. c.r.J

"'o
12 g
i:: ;::
e; ~


.3


147 2;
i
4c CAPRILES, René. Makarenko ... p. 92 . CONCRAB - Caderno de Cooperação Agrícola n. 7. p. 9.
a) Cultura - "Como cultura podemos entender todos os Marx nos lembra de que "não é a consciência dos homens
movimentos que a pessoa faz para produzir e garantir sua que determina seu ser, mas, inversamente, o seu ser social
existência. Sendo que de todas as atividades humanas a que determina a consciência" .149 Como ele diz em O Capital:
principal é o trabalho, que se sobrepõe a todas as outras "Acuando assim sobre a natureza externa modificando-a, ao
atividades. Dirão os precursores do marxismo que 'foi 0 mesmo tempo modifica sua própria natureza ... " .15º
trabalho quem criou o homem'. É no desenvolvimento desta A consciência das pessoas está estreitamente vinculada com
atividade produtiva que o ser humano vai adquirindo a sua "concepção de mundo" ou de história - teológica,
conhecimentos e instituirá seu próprio comportamento."11s idealista e marxista (materialista dialética), na classificação
Cultura, em outras palavras, é o jeito de viver. É o jeito de de Plekanov151 - e com a sua experiência de "organização do
trabalhar (mudar a natureza) para garantir a existência trabalho", seja quanto a sua divisão - DNT (Divisão Natural
presente e futura. É o modo de vida que as pessoas vão do Trabalho), DST (Divisão Social do Trabalho), DTT ou
construindo e enraizando coletivamente através do seu DSPP (Divisão Técnica do Trabalho ou Divisão Social do
trabalho e das relações com o conjunto da sociedade: desde Processo Produtivo) - seja quanto ao processo produtivo -
valores, comportamentos, costumes, tradições, jeito de ver o PPU (Processo Produtivo Úriico) e PPSD (Processo Produtivo
mundo e de tomar posição diante das questões da realidade. Socialmente Dividido). 152
Mas cultura não é algo pronto, é um "palco de negociações" Podemos dividir a Consciência em Social, que visa a
onde as pessoas estão em constante movimento de recriação reprodução da existência, e em Consciência Política, fruto da
e de reinterpretação (resignificação). "solidariedade de classe".
O modo de produção da vida material condiciona a vida a) A Consciência Social "é o ato de refletir sobre a realidade
social, política e espiritual do ser humano. Do ponto de vista viva. A reflexão é a assimilação desta realidade se
'aas classes sociais existe uma distinção básica entre o modo transformando em consciência social, haja visto que ela é
de vida burguês e o modo de vida da classe trabalhadora: fruto da convivência estabelecida entre as pessoas." 153 Em
trata-se da concepção das relações sociais. Na cultura outras palavras, "é aquela formada pela sociedade. Está
burguesa a base é o individualismo e na cultura da classe relacionada ao ato de refletir sobre a existência social,
trabalhadora é a coletividade. assimilando os aspectos imediatos que envolvem a vida das
b) Consciência - O ser humano tem uma consciência [Cl] e
s"'
Q
vive em um 1ugar social [LS 1], e faz parte dela. Através de
pessoas em relação ao trabalho, á convivência, á forma de
d
~
"'o
w
::> sua ação planejada (práxis) altera o lugar social [LS2] e esta "'::>
~
ao ser alterada modifica o entendimento das pessoas: a sua
~
149

::>
consciência [C2] . 150
CONCRAB - Caderno de Cooperação Agrícola n. 7. p. 12.
MARX, KARL. O Capital. P. 2002 cm CONCRAB - Caderno de Cooperação Agrícola
"ª'go
(}

J3 n. 7. p 11. ~
"'
Q 151
Cf. PLEKANOV. O papel do indivíduo .. . p. 11 a 50. "'o
f2 152
j::
!;;
Cf. SANTOS DE MORAIS, Clodomir. Caderno de Formação n. 11. p. 5 a 1O e §
25, 26 e 47 a 51. ~


.3


153
148
CONC RAB - Caderno de Cooperação Agdcola n. 7. p. 9. CONCRAB - Caderno de Cooperação Agrícola n.7. p. 9 e 1O. 2'
pensar, crenças, 154 á forma de se relacionar com o conjunto ao fatalismo ou destino (estava escrito nas estrelas); á
da natureza, etc. natureza (o coitadinho , fraquinho mesmo); a vontade
temperamental de alguma divindade (ele queria ter mais
A Consciência Social ou dos grupos sociais 155 pode ser assim
classificada: um anjinho). Como a causa é falsa, a solução que
encontram para os problemas também é falsa. Ficam na
• Consciência Ingênua (e mítica) - Está por trás dela
resignação sistemática (pobre é para sofrer) e tendem a
uma visão teológica da história e o processo produtivo
ficar esperando o comando de alguém (acham que
único (PPU) através da Divisão Natural do Trabalho
precisam de autorização para agir). Ou na esperança da
(DNT) ou a atividade econômica tradicional e habitual
vida eterna (no céu será melhor). Ou na morte (suicídio).
própria das economias domésticas e camponesas. Têm
esta Consciência as pessoas que se dão conta dos • Consciência Crítica - Está por trás dela uma visão
problemas, da miséria, (por exemplo, a morre de uma idealista da história e o processo produtivo único (PPU)
criança), mas, não identificam os fatores responsáveis, isto que evoluiu para uma divisão social do trabalho (DST) e
é: as causas. 156 Por isto acabam atribuindo o que acontece a atividade lucrativa que aparece com a economia
monetário-mercantil e evolui gradativamente para o passo
154
155
CONCRAB - Caderno de Cooperação Agrícola n. 7. p. II. seguinte. Têm esta consciência as pessoas que se dão conta
A formação da consciência está ligada diretamente à ampliação dos laços produtivos
e sociais, ao aumento das necessidades humanas, condicionadas socialmente, e o dos problemas, das misérias; identificam os fatores
desenvolvimento dela (a consciência) avança desse modo , pela linha da formação e responsáveis, as causas, (a criança morreu por causa da
aperfeiçoamento do pensamento abstrato e lógico, condicionado pela exigência de
um posterior desenvolvimento da prática soc ial e produtiva, pela necessidade de fome ou desnutrição, fruto da má distribuição da renda
penetrar na essência das coisas. Foi necessário o desenvolvimento da Economia que existe em nosso país); identificam quem é o responsável
Mercantil para que se criasse no século XIV a Contabilidade por Partida Dobrada
(com seu caráter "sistémico" de entrada e saída) em razão da qual podemos tornar por esta situação; mas ficam apenas na crítica, na revolta,
consc iência ou noção de sistema e assim intuir o conceito de gravi cação e da circulação na raiva, na indignação, na denúncia (cartazes de mortos),
do sangue desenvolvido nos séculos subseqüentes.
156
Supõe-se que o grau d e Consciência Ingênua se manifesta entre os indivíduos no protesto. E isto acaba não alterando a realidade, pois
dedicados ou vinculados à produção de valores predominantemente de uso (produção no fundo esperam que alguém resolva por eles.
para o consumo), enquanto a Consciência Crítica emerge entre os indivíduos que
estão inseridos no âmbito da produção e circulação de mercadorias. Karl Kautsky • Consciência Organizativa 157 - Por trás dela está uma
estabelece essa diferença, grosso modo, entre o artesão (camponês) e o comerciante.
Ao primeiro atribui certa limitação meneai, determinada pela limitação especial do
visão materialista da história (ou uma visão idealista
trabalho em que está empenhado: ele está quase que exclusivamente interessado na
~ ~
7
natureza peculiar de seu trabalho (trabalho útil concreto), na peculiaridade do material •s O surgimento e a magnitude da consciência organizativa são diretamente proporcionais
0..., que tem que manipular. Enquanto as atividades do comerciante produ:a:m nele um ao grau de Divisão Técnica do Trabalho (divisão social do processo produtivo). Seu 0...,
o efeito completamente diferente do que produzem as do artesão: apesar do grande grau de cficiencia é determinado pelo nível de desenvolvimento do marco econômico Q
u;
"'::> valor dos produtos e do mercado cm que esteja relacionado, o comerciante se interessa, que varia desde a Economia Natural até a etapa em que os meios de produção e a ~
.§, em última análise, apenas pelas condições dos preços; em outras palavras, nas força de trabalho dão forma à empresa de tipo grande. De fato, é a empresa capitalista
o
o
% condições das várias quantidades de trabalho humano abstrato, ou seja, nas relações que permite a passagem da atividade tradicional e costumeira para a atividade lucrativa j.
g numéricas abstratas. Por conseguinte, o comércio tem que estimular o pensamento racional, cujo objetivo único e exclusivo é a obtenção de recei tas monetárias. Isso rJ
e;
~
..., matemático e ao mesmo tempo, o pensamento abstrato. Não é a agricultura e o impõe que todos os objetivos se submetem a um único fim: o ingresso cm dinheiro. u..l
o artesão (cujo êxito está estritamente limitado pela capacidade individual) e sim 0 A visualização de um único objetivo conduz naturalmente à utilização racional dos "'a
~
i:: comércio (cujo êxito não conhece limites) quem desenvolve aquelas.faculdades meneais meios para alcançá-lo, e deste modo o indivíduo passa a distinguir facilmente o r:
i::: que constituem a base do estudo científico: a filosofia se desenvolveu unicamente nos fundamental do secundário conseguindo sistematicamente hierarquizar as ações. (Cf. MST ~
2 g

• grandes centros comerciais (MST - Caderno de Formação n. 11 p. 49-50) . - Caderno de Formação n. I l. p. 25).


pragmática) e o processo produtivo socialmente dividido das misérias; identificam os fatores responsáveis, as causas;
(PPSD) presente na divisão social do processo produtivo identificam quem são os responsáveis por esta situação;
(DSPP) e o tipo de atividade racional cujo marco conseguem criar estruturas orgânicas eficientes e capazes
organizativo ou organizacional complexo impõe tanto a de superar em parte ou totalmente os problemas,
racionalidade objetiva como a metodológica. 158 Têm esta atingindo as causas e conseguem responder aos objetivos
consciência as pessoas que se dão conta dos problemas, do grupo a que pertencem. Por isto eles: criam uma
organização; distinguem o fundamental do secundário;
hierarquizam as ações; buscam implementar as decisões
Lange primeiramente estabelece uma divisão da atividade econômica em atividade
doméstica e atividade lucrativa. Explica que na economia monetário-mercantil tanto tomadas, com eficiência e controle.
o fim como os meios da atividade lucrativa rompem com a tradição: a atividade
b) A Consciência Política é a consciência que se forma, na
lucrativa vem a ser urna atividade baseada no raciocínio, se transforma em urna
atividade racional. A passagem da atividade econômica tradicional e habitual esfera da reflexão, a partir de "conhecimentos científicos"
(economia natural) para a atividade econômica lucrativa racional (a racionalização (Movimento) que permite interligar a realidade local com a
da atividade econômica) se efetua progressiva'mente, à medida que vão se
desenvolvendo as relações mercantis e monetárias. Lange acrescenta que, no domínio
realidade global. Aqui a consciência se transforma em ação
da produção e da distribuição, a atividade tradicional permanece apenas na economia política, firmada sobre as contradições e o movimento interno
camponesa, naquelas que mesmo sob regime capitalista mantêm elementos de que existe em todas as coisas.
economia natural em grande medida e acrescenta mais adiante que a atividade
costumeira e tradicional continua prevalecendo no âmbito da economia doméstica, A consciência política pode ser assim classificada:
tanto no modo de produção capitalista como no socialista. A diferença entre a • Consciência de Simpatizante - São as pessoas que por
economia doméstica e a atividade para o lucro (que consiste em produzir mercadorias,
assim como em vendê-las e em revendê-las, figurando entre elas a força de trabalho),
sensibilidade decidem contribuir (financeiramente) e
segundo Lange, está nas duas diferentes estruturas dos objetivos buscados: a) na
economia doméstica, os objetivos da atividade continuam estando diretamente
determinados pelas necessidades; b) enquanto na atividade para o lucro, têm um
ún ico e exclusivo objetivo, a obtenção de entradas em dinheiro. (MST - Caderno de tradição e chega a ser o objetivo de uma atividade tradicional e usual. Por outro lado
Formação n. 11 p. 50). o fato de que na atividade para o lucro o fim seja único e além disso, absolutamente
158
O grau de desenvolvimento da Consciência Organizativa conduz a pessoa à necessário, e que codos os meios estejam subordinados a este fim único, simplifica a
racionalização metodológica e por conseguinte ao manejo da categoria econômica atividade ao torná-la fácil de analisá-la. A integração dos meios pelo fim da atividade
dos resultados que, finalmente, responderá pela eficiência das ações. O lucrativa os arranca da engrenagem da tradição e do costume, pois esta integração
desenvolvimento de uma estrutura dos objetivos da atividade econômica torna exige que a utilidade de um meio determinado seja avaliada sempre do ponto de vista
impossível a manutenção integral de caráter tradicional desta atividade. Com relação do fim da atividade para o lucro, ou seja, da obtenção de uma entrada em dinheiro.
A atividade lucrativa vem a ser uma atividade baseada no raciocínio, se transforma
~
~...
aos fins, o caráter costumeiro e tradicional pode se manter e em geral se mantém,
dentro da atividade doméstica, porque nela, tais fins estão determinados pelas cm uma atividade racional. Distinguem-se, além disso, duas espécies de ações racionais úw
condições tradicionais de cultura, status social e seu correspondente estilo de vida. da atividade: a racionalização objetiva e a racionalidade metodológica. A primeira se o
a !!'
Os fins da atividade lucrativa, ao contrário, impõem-se de forma inevitável pelas manifesta quando a escolha dos meios corresponde à situação verdadeira (que existe
"'~ objetivamente), se refere à adequação do conhecimento em que se baseia tal atividade §.
.2. relações econômicas da relação rnercan til e das trocas monetário-mercantis. A obtenção o
e é sinônimo de eficiência. A racionalidade metodológica significa que a ação é racional
§ de uma entrada em dinheiro constitui na economia monetário-mercantil uma
necessidade econômica independente das tradições culturais de uma sociedade. Na do ponto de vista dos conhecimentos adquiridos pelo sujeito que atua (significa que
l).

]
~
] economia natural existe grande diversidade de fins paralelos, a.~sim como uma grande a inferência lógica que decide pela escolha dos meios é correta no marco dos w
conhecimentos do sujeito, que deixa de lado a questão de saber se estes conhecimentos a
a"' diversidade de meios; certos meios estão adaptados de forma específica a fins definidos
~ (por exemplo, o pão para a alimentação) outros podem servir para fins variados (por correspondem ou não com a situação objetiva) e constitui uma propriedade da ação ~
f-
i: considerada corno modo de comportamento. (MST - Caderno de Formação n. 1 1 p. i;;
exemplo, a madeira para construção de casas, fabricação de veículos, construção de
~

.3

• pontes, calefação). Esta estrutura complicada de fins e de meios se estabelece pela 25-26e50-5 1).
assumem a defesa ética da causa de uma determinada planificados que desenvolvem a cultura a partir dos
organização ou movimento. interesses de classe, podendo servir para elevar a qualidade
• Consciência de Militante - São as pessoas que adquirem de vida ou para alienar as pessoas.' Implica projetar as
um elevado nível de desenvolvimento político (consciência) relações (como viver, trabalhar) e a ocupação do espaço
que permite orientar-se por conta própria na aplicação das (como morar). Tanto a cultura espontânea quando a cultura
linhas políticas de sua organização e transmiti-las para as planificada possuem aspectos positivos e negativos
massas, fazendo com clareza e disciplina todas as tarefas. (ingênuos, alienantes). A tarefa da escola é percebê-los e
(Conceito de quadro). Existe a tendência a ser corporativista. replanificá-los para que contribuam no trabalho de
• Consciência Revolucionária (ou de Classe) - São as pessoas formação da consciência. Isto se dará por meio de ações
que se percebem como parte de um todo (classe planificadas que visem a superação dos aspectos "ingênuos"
trabalhadora), mesmo sabendo que a totalidade dos que prejudicam a compreensão dos acontecimentos; dos
membros não percebe o todo. Ela passa a assumir princípios aspectos "críticos" que estão descolados do processo, dos
organizativos e uma estratégia política de transformação aspectos "alienantes" da cultura camponesa (fruto do
que vai além da sua organização. espontâneo), para estabelecer as bases da consciência
Passamos agora à relação entre Consciência e Cultura. política e desenvolvê-la por meio de um processo
A consciência é a reflexão que se faz sobre a ação (cultura) "planificado" de "revolução cultural" (que já vai gestando
e a sua assimilação. O ato de cooperar faz parte da cultura, minimamente uma nova cultura).
mas o "acreditar" na cooperação faz parte da consciência. O nosso desafio é irmos passando da consciência social
Cultura e consciência estão intimamente ligadas e se para a consciência política. Isto permitiria passarmos da
desenvolvem em plena unidade. Desta íntima relação entre ação de reprodução da existência para uma ação política,
cultura e consciência podemos caracterizar uma situação bem como da cultura espontânea (natural) para a cultura
de dupla conformidade e de dupla desconformidade: 159 planificada ou programada a partir dos interesses de classe.
•A Consciência Social está relacionada com a Cultura Implementar a planificação exige o desenvolvimento da
Espontânea (ou natural): são os atos que se desenvolvem consciência organizativa.
em torno da produção da existência, naturalmente, sem Não podemos nos esquecer da ingerência do
planejamento. Agimos assim sem saber o porquê ("sempre Comportamento Ideológico sobre a consciência. Ele "consiste e
~
ª
ú
....
...,
Q

::>
foi assim").
•A Consciência Política está relacionada com a Cultura
em um complexo de valores culturais, morais, religiosos e
políticos, determinados pelo papel que desempenha dentro de
e:
=
e:
.2,
Planificada (ou programada a partir dos interesses da
um determinado processo produtivo" .160 s
~
(

Ao estudarmos os aspectos que formam a cultura e a e:


::> organização ou os interesses de classe): são aspectos
J3 consciência social do camponês destacamos, entre outros, a sua e:=
"'Q
~
~
~
• •s9 Cf CONCRAB-Cadcrno de Cooperação Agrícola n. 7. p. 10 . •Go SANTOS DE MORAIS, C lodomir. Caderno de Formação n. 11. p. 12.
G
relação com a propriedade privada da terra e uma forma subjetiva Nossos Limites
A experiência nos mostrou até agora que existem riscos,
de olhar para o mundo que tem como matriz o processo
produtivo que adota no seu lote. 161 Isto gera desvios ideológicos lacunas ou "limites pedagógicos" no método que adotamos e
de origem oportunista ou subjetivista. O oportunista se estamos construindo e tende a ser cada vez mais complexo,
manifesta como um reflexo de uma subideologia gerada pela exigindo um maior preparo dos educadores que nele atuam.
propriedade provada dos meios de produção. O subjetivismo se O método utilizado ainda não responde ao que
manifesta como um reflexo de um sub ideologia gerada pela visão gostaríamos quando avaliamos os resultados alcançados. Não
idealista determinada pelas formas artesanais de trabalho. A partir estamos satisfeitos.
destas duas origens surgem vários desvios ideológicos que Eis os limites já constatados:
precisam ser identificados e superados através de mecanismo a) Público - Com o passar dos anos a maioria dos educandos
de combate ou de inibição. 162 passou de militantes, escolhidos "a dedo", para uma
Entre os mecanismos de combate ou de inibição dos "garotadà' que vem logo após o término da educação
desvios ideológicos, podemos destacar: fundamental. Isto começou a alterar o nível de exigência
• A vivência em uma coletividade, por opção pessoal, em (leitura, estudo, TCC) e a exigir que trabalhemos o
conhecimento do MST (Etapa Preparatória) e o
vista de ir forjando uma nova existência que rompa com o
autoconhecimento. Outra novidade é que atualmente
isolamento e o individualismo ao ir organizando a
trabalhamos com três tempos diferentes: educação média,
convivência social.
educação superior e educação fundamental (apenas
• A planificação das ações (não apenas as produtivas).
iniciando).
• Utilizar a terra em cooperação e ir educando a nova
b) Formação humana- Corremos o risco de no IEJC falarmos
geração para renegar a propriedade privada.
de tudo, nos preocuparmos com conteúdos, leitura da
realidade, concepção de história, aprendizados, capacitação,
competências, bem como dos tempos e dos espaços para isto,
e nos esquecemos de falarmos deles (dos educandos) e com
eles, sobre eles e sobre como nos humanizamos (incluindo
o
o educador). ~
~"' Precisamos conhecer mais sobre o ser humano: como d
"'o
o
funcionam; qual o tipo de atividade mais apropriada (idade "'::;
"'::> .2,
.2,
§
::>
e horário); qual a função do sono; como a emoção contribui
ou dificulta o aprendizado; como devem se alimentar (para sõ
..,
u.J
s trabalhar os hábitos alimentares), e assim por diante. o
o"' g
12 Nem sempre estamos preocupados com o como se sentem §
~ os educandos que chegam aqui e que, de repente, precisam 1


161 Veja mais em CONCRAB- C aderno de Cooperação Agrícola n. 7. p. 12 a 18.
~


162 SANTOS DE MORAIS, Clodomir. Caderno de Formação n. 11. p. 27 a 39 .
e) Falta de educadores permanentes - O grupo que toca o
coordenar uma tarefa, um NB, uma Unidade (procuram fazer,
dia-a-dia não é muito grande e nem todos se apropriaram do
como se tivessem experiência, e nem sempre percebemos a
método pedagógico, da concepção de história (mundo)
experiência real que têm). O risco é tudo se tornar mais
desejada e da história do processo. Em vista das tarefas
importante que o acompanhamento pedagógico.
cotidianas deixam de aprofundar o processo e passam a gerir
c) Capacitação de Educadores - Percebemos que os
0 método como uma técnica (receita do que fazer).
educadores assimilam este método quando passam a conviver
f) Complexidade/Padronização - No IEJC há vários
com o processo educativo em andamento. A capacitação se
processos em andamento (um de cada grupo que está no
dá no aprender fazendo, por meio de uma "osmose" que
Instituto), com amadurecimentos diferentes. Nem sempre
aumenta por meio da reflexão da prática á luz da teoria e ao
respeitamos as fases e os níveis dos educandos de cada curso
mesmo tempo questionando/aprofundando a teoria. A
(etapas), e tendemos a padronizar as ações porque, em tese,
prática dá os engates para que os educadores se apropriarem
facilita o funcionamento. Faz-se necessário ser um bom
da teoria. O estudo e a reflexão sobre o processo são vitais.
observador e analista para saber como agir pedagogicamente
Há diferentes concepções e percepções entre quem vem aqui
dentro dele, percebendo e respeitando os vários momentos.
contribuir.
Não é fácil se achar no todo do processo, por causa de sua g) Moradia - A prática tem demonstrado que não é salutar
complexidade. Na visão de quem chega há: posto de trabalho; para os educadores permanentes habitar dentro do Instituto,
educandos a acompanhar; funcionamento de unidades a já que eles ficam o tempo todo lá. A vida deles acaba se
observar; e assim por diante. Há um monte de grupos: esgotando ou girando em torno do processo educativo, e
núcleos, turmas, colegas de quarto. Não conseguem perceber isto ajuda a "encucar" as pessoas e as estressa. A exceção é
o conjunto. Corre o risco de viver tudo, mas aos pedaços, para quem é responsável para a moradia.
sem perceber as relações que ligam as partes ao todo. h) Tempo parcial - O método envolve os educandos com
A angústia dos educadores que vêm contribuir no processo mais força no Tempo Escola (os educandos tendem a relaxar
educativo em determinados momentos é não ter clareza de no Tempo Comunidade). E o método é aplicado a apenas
onde se quer chegar e nem de como caminhar para lá. uma faixa da vida (juventude). Tempo ainda insuficiente para
d) Espaço físico - Temos um espaço físico apertado, apesar a consolidação.

~
o
de ser um casarão com quatro pavimentos. Um dos dilemas i) Anomia cíclica - Por termos a variável das entradas e saídas ~
ú úw
w é conseguir todos os espaços necessários para o processo ir das turmas, de tempos em tempos, corremos o risco de Q
Q Ul
Ul
::> avançando, mesmo tendo ampliado a área física ocupada permanecer em anomia. As fases da compreensão do processo ::>

~ ~
desde 1995. Há momentos de superlotação e outros em que (anomia -7 sícrese -7 análise -7 síntese) podem voltar atrás, o
'i)
% ~
i'.'.i
::> a vida se torna mais tensa por causa do clima. A falta de mesmo antes de chegar ao final. Atualmente, antes de Q
c.iJ
J:l chegarmos à análise, por causa da troca de turmas, voltamos
"'o espaço tende a desumanizar (as pessoas precisam de um "'
Q

~ á anomia. E a saída dela depende da eficácia do processo de ~


i='.
determinado espaço) . f-
f:::
f:::
inserção. 3
~

• •
j) O engessamento da estrutura - Quando caímos no passam a criar contradições desnecessárias, atrapalhando
equívoco de apenas enquadrar as pessoas na estrutura, assim o processo educativo.
cortamos as· iniciativas e levamos as pessoas a perder a Dogmatismo - Acontece quando os educadores entendem
naturalidade. Isto pode levar as pessoas a achar que dogmaticamente o método dialético: ficam nas categorias
criatividade e iniciativa são algo que vem de fora. Precisamos
(ambiente educativo, arquitetura social, coletividade) sem
ter uma estrutura mais flexível Qeito do MST) . O medo é de
entender a relação dialética que existe entre eles.
que as pessoas se acostumem a uma estrutura (a naturalizem)
Descompasso-Acontece quando as pessoas decidem alterar
e a uma forma de comando e, por isto, não saibam mais
. .. . o processo ou a forma de lidar com ele, mas se esquecem de
tomar a m1c1anva.
encaminhar todos os ajustes necessários. Querem o novo,
k) Sala de aula - Entre uma etapa e outra se faz necessária a
mas continua sendo referência o antigo.
retomada do que foi trabalhado. Pode ser sinal de que não
M ecanicismo - Acontece quando os responsáveis pelo
aprenderam. Os educandos não costumam se preparar para
processo (educadores) não administram os seus tempos
a continuidade de uma disciplina (retomar o passado) e nem
educativos, por isto não sobra tempo para estudar, nem para
estudam como poderiam (pelas aulas serem juntas e pela
refletir sobre o processo em andamento, nem para fazer o
avaliação no durante). Não se retoma o que passou. Falta
acompanhamento das pessoas (educandos) e do
aprofundar a didática em sala de aula.
funcionamento das unidades (trabalho). Gastam o tempo
l) Deformação dos educadores - Percebemos que o Instituto administrando o cotidiano (o que poderia ser um tempo) e
passa a ser uma "máquina de moer" gente quando os nele se perdem: passam, por pragmatismo, a navegar ao sabor
educadores acabam se esquecendo de que eles também são da conjuntura. Por não conseguir fazer uma análise do
educandos. O desafio é ensinar e aprender a sermos humanos processo e nem ter uma estratégia (ter um rumo e saber os
(a ser gente) e sujeitos sociais que cultivam uma identidade e passos para se chegar lá) ficam presos a uma visão tática
estão construindo um Projeto Popular. Precisam de tempo (operacional). Deixam de ver o todo e perceber as relações
para o estudo, a reflexão sobre o processo, o olhar pedagógico que existem. Ficam apenas administrando os problemas do
sobre os educandos e sobre a caminhada dos educadores, por cotidiano para manter um bom funcionamento. Aos poucos
exemplo. o p rocesso vai se degenerando e, com o tempo, se afastam
o o
~ m) Tempo Comunidade - Falta aprofundar o que queremos das linhas políticas (MST). ~
3 de fato com o TC. 8
"'o r) Interrupção - Isto acontece quando os educadores não têm
~ ..,"';::.o
.ª- Eis as lacunas já percebidas: a leitura do processo, por isto perdem o movimento e passam
.ª-
% n) Infantilismo - Acontece quando as pessoas, educadores a interagir com a realidade causando uma reação contrária º
li-
li::> ~
ou educandos, passam a agir sobre o processo a panir de ao tocado até então. Ou por "inexperiêncià' passa-se a agir
Jl ~
"'o seus desejos ou de experiência em outros lugares, de forma isolada e por isto não se consegue levar o processo "'o
g g
~ desconsiderando o processo em andamento e sem uma lei cura a dar o salto de qualidade necessário. Ou por "apavoramento," f:'.
!;:
.2

• passam a dar um novo rumo ao processo, desconhecendo a


e tal processo. Ao utilizar técnicas descoladas do processo, z
sua historicidade, baseados nas suas experiências pessoais a noção de cuidado, gestão de recursos naturais, e de ter
realizadas em outros lugares.
uma visão sistêmica e orgânica.
s) Mutualismo - Isto acontece quando faltam condições Criticismo - Acontece quando as pessoas ficam na crítica
objetivas para passar do processo produtivo único (PPU) para de situações na esperança de que alguém resolva os problemas
o processo produtivo socialmente dividido (PPSO). As para elas, e o Instituto não consegue ajudar a dar o salto para
pessoas, mesmo tendo postos de trabalho com as suas que elas passem a propor soluções em vista da superação.
atribuições, tendem a desconsiderar e começam a trabalhar Os participantes compreendem o que está acontecendo, mas
todas juntas (estilo mutirão).
não conseguem traduzir para a prática, e isto demonstra que
t) Sobrecarga - Acontece quando damos tarefas extras para o aprendizado não "colou" na vida.
serem realizadas, além dos tempos educativos, que não são Também temos um risco, a saber, a descapacitação. Todo
nem atividades de militância (lura real) e nem de gestão do o processo de capacitação contém elementos descapacitadores.
processo (preço a pagar para quem quer ser sujeito). Não Capacitação e descapacitação são os dois lados de uma mesma
conseguimos ainda administrar pedagogicamente os tempos moeda. Eles estão vinculados congenitivamente. Quando mais
educativos (perceber quais as atividades que de fato deveriam acontece uma menos acontece a outra. Não existem processos
acontecer dentro de cada um deles, naquele momento do pedagógicos absolutamente capacitadores: sempre existe algo que
processo). E, quando o fazemos, agimos mais por impulso deve ser melhorado. Tampouco existem processos absolutamente
do que como educadores.
descapacitadorcs: sempre se apreende alguma coisa por mais
u) Esquecimento - Acontece quando deixamos de estar péssima que tenha sido a experiência. Os extremos só são
atentos às "necessidades" dos educandos, pois deixamos de teoricamente possíveis.
os perceber como sujeitos. Eles revelam as suas necessidades Entendemos por descapacitação o processo no qual a
pessoais e grupais, por exemplo, a sair da escola para fazer relação entre o sujeito e o objeto é tal que atrofia a capacidade
alguma atividade (praticar esporte, ir dançar, entre outras). do sujeito para conduzir o objeto. Ela gera diminuição do
v) Controle - Acontece quando o fazemos de forma mecânica potencial dos sujeitos de um programa de desenvolvimento, para
(registro e "punição"). Precisamos avançar mais na leimra dos o manejo técnico ou desempenho na vida econômica e social. 163
o acontecimentos e de seus significados no processo (uma falra Isto acontece quando o processo pedagógico deixa de funcionar
t; pode ser também um rompimento com um acordo assumido razoavelmente bem. o
ó r=
"'o como coletividade, a saber, coloco meus interesses subjetivos A descapacitação acontece quando permitimos que o 3
~
~ acima das necessidades objetivas da coletividade) e na utilização assistencialismo (paternalismo ou maternalismo) assuma o lugar ~
o
~
õ das informações para qualificar o processo educativo. da capacitação, por desconhecimento de que o fenômeno
i5
]
"'o
x) Contato com a terra - Se faz necessário garantir que rodos "práxico" antecede o fenômeno gnóstico ou por quebra (ou
desobediência) dos princípios e desrespeito por seu potencial
s-
o

~ os educandos e educadores permanentes possam ter um ~


§ contato com atividades agrícolas e possam ir cultivando as g
;::
1


!;;
suas raízes camponesas. Também se faz necessário desenvolver


16
.1 Cf. SOBRADO, M . C11p11cit11cion y desc11p11cit11cion m los proyetos de desarrol!o. 3:
pedagógico. O assistencialismo ajuda as pessoas sem estimular a demais. Neste clima não há espaço para a reflexão, apenas para
sua participação, isto é, faz pela pessoa e esta se torna um assistente grandes debates de como responder a problemas pontuais.
do processo ou um mero ajudante cumpridor de ordens. A insegurança cresce na relação entre os educadores,
A descapacitação também acontece quando a instrução tensionada pela falta de uma leitura comum do processo (com
assume o lugar da capacitação. Neste momento eu reduzo a o devido estranhamento) e da combinação e concretização de
apenas um dos fenômenos: o gnóstico. Passo a dar conteúdo um a mesma estratégia. A vivência e a convivência não
(ou receitas de como se faz) em vez de levar as pessoas a despertar contribuem para a formação permanente entre os educadores.
habilidades. Isto é motivado por razões que aparentemente estão O risco aumenta quando entre os educadores falta
encobertas: ou por querer evitar que o outro se habilite como o humildade e compreensão consigo mesmo e com os demais.
mestre e passe a ser igual ou melhor (por isto posso até habilitar, Também temos algumas dúvidas, tais como:
mas sonego ou dificulto determinadas experiências) mantendo Estamos engrandecendo o papel da escola na formação
assim o distanciamento; ou por querer manter a dependência humana. Será que não estamos dando muito poder para a escola?
que permite a manutenção do clientelismo político que exige Podemos cair numa visão idealista, pois ela não tem força material
que a pessoa não se habilite para não sair da área de domínio; para mudar tudo o que queremos. Ela não deveria fazer apenas
ou pela prática institucional cotidiana por transformar a OFOC um a parte, isto é, dar conta apenas das tarefas da escola
em um roteiro de ritos por deixar de analisar permanentemente (formação humana)? A escola não nasceu para formar militantes?
o processo motivado pela facilidade ou para fugir das cobranças Ela sozinha não dá conta de formar militantes e nem é o único
dos participantes; ou por pressa pois tenho medo de que vão espaço de formação.
perder dinheiro e por isto intervenho, etc.
Em uma OFOC, descapacitar é impedir que os
participantes se tornem sujeitos do processo, mesmo que ele
seja demorado. Capacitar é permitir que as pessoas construam a
sua consciência organizativa por se habilitar na arte da percepção
ou leitura da realidade em processo, na análise desta mesma
realidade e na proposição de medidas eficazes que serão
assumidas coletivamente por rodos.
~ O conjunto destes limites cria um clima de insegurança @
ó Li...
"'o
...., que leva os educadores a implementar este método pedagógico ...e
::i
~
.2, de forma ritualista (ficamos mecanicistas) e nos escondemos arrás ~
o
% das normas ou das instâncias superiores (caímos numa espécie ô
6:o ~
cil de burocratismo). A base desta insegurança é o não-domínio i5
"'...e"
"'oo do rodo e a não-percepção das relações entre as partes.
t-: êf:
~ Aparentemente, rodos estão muito ocupados e preocupados t:=
.3

• •
.3
Anexo A - Acordos Anexo B - Histórico
O IEJC é uma escola em movimento e do Movimento.
Existem acordos que são feitos ao longo do processo, que
não alteram o método. Eis alguns: Na tentativa de recuperar o movimento do método
pedagógico apresentamos um breve histórico do método que
a) Para garantir a sistematização do processo de cada turma, a
teve a sua origem em 1989, amadureceu no Departamento de
coordenação do curso deverá indicar educandos, através da
Educação Rural da FUNDEP, em Braga, de 1990 a 1994, e no
PROMET ou combinando com o CAPP, para realizar esta
!TERRA, em Veranópolis, de 1995 até hoje.
tarefa, atuando na Unidade de Sistematização. Caso não haja
No método pedagógico do IEJC, ao longo dos anos,
demanda o tempo todo os educandos deverão atuar em o urro
priorizando alguns elementos para uma leitura, podemos
posto (no serviço exterior, por exemplo).
perceber:
b) Na prestação de serviços externos deve-se evitar esforço
a) O objeto, que era o trabalho (a partir de 1990), passou a ser
físico que torne inviável o estudo e garantir complementação
a organização (a partir da metade de 1991), depois a produção
alimentar, se for o caso.
ou o econômico (no segundo semestre de 1993), passando
c) O Tempo Trabalho pode ser reduzido (número de horas para o conteúdo político (início de 1996) e depois para o
semanais), sempre que for constatado que os educandos processo de produção da coletividade (por 1999).
garantem o funcionamento do IEJC e as metas definidas
b) A referência da estrutura organizativa era dividir em grupos
pela coletividade. As horas reduzidas deverão ser transferidas
(1990), passando para a CPA (1993), depois para a CPPS ou
para o tempo estudo e ou para o tempo leitura.
CR (1996), passando para uma empresa associação (1998) e
está no jeito do MST em vista de um "modelo" de assentamento.
c) A base pedagógica partiu da inserção da Educação Popular
na escola (1990), passando para o Laboratório Organizacional
(1991) e depois para a OFOC (1993), chegando finalm ente
ao método dialético (2001), passando a OFOC a ser apenas
uma parte (o tem pero).
d) A estratégia pedagógica começou com o envolvimento o
o ~
~ da turma na gestão (1990), passou para o entendimento de
8 8
"'o
uma turma como uma empresa (1993), passando a escola a "'Cl
'W
:.-
"':::> ser uma única empresa (1998) e se transformando em uma i
-ª' coletividade. 3.
~ e) A gestão teve início com uma ajuda dos educandos á escola
~
~
Jí "'Cl
"'
o (1990), passando a uma co-gestão sob o mando dos o
~ 5
i='. monitores (1991) , passando para a autogestão (1993), ....
~
~
z 2


passando a uma nova forma de co-gestão (1998), ensaiou

uma nova forma de autogestão interna, passou por uma Os cursos têm o seguinte movimento:
período de "mando único". a) Magistério/Normal Médio
f) O foco passou do coletivo ( 199 3) para a cooperação ( 1997), Turma 1 {ou A), que aconteceu de janeiro de 1990 a janeiro
depois indo para a formação política (... ) e hoje está na de 1992 (?),com educadores dos municípios e do MST.
formação humana ou do caráter. Turma2 {ouB), que aconteceu de janeiro de 1990 a janeiro de
g) O fim (finalidade) era de uma escola a serviço do MSP e de 1991, com educadores do município do MST e era apenas
prefeituras (1990), passando a estar a serviço do MSP para de complementação em magistério.
filhos e filhas de trabalhadores rurais (1991) e depois de cursos Turma 3 {ou C), que aconteceu de janeiro de 1991 a janeiro de
organizados e dirigidos por um Movimento (1993), passando 1993, com educadores dos municípios, do MST e da PJR.
a se abrir para os Movimentos que fazem parte da Via Nesta turma começou a PAE (prática de aprendizagem
Campesina (2002). ensino).
h) O Trabalho era visto como uma questão cultural (1990), Turma 4 {ou D), que aconteceu de janeiro de 1992 a janeiro
passou a ser de entre-ajuda (1991), se tornou um desafio de de 1994, com educadores do MST dos estados do sul do
produção tendo um foco no econômico (1993) em vista da Brasil. Nesta turma foram introduzidos alguns elementos do
sobrevivência. Atualmente o econômico como educativo é Laboratório Organizacional, dando mais espaço as atividades
apenas uma estratégia da OFOC (uma parte) . educativas além sala de aula/disciplinas.
i) O Processo Produtivo começou como mutirão (1989), passou Turma 5, que aconteceu de junho de 1994 a julho de 1996.
a ser organizado por grupos (1990), equipes (1991), setores Turma nacional. Começou com uma OFOC e termina com
de produção (1993), unidades de produção com postos de a defesa do TCC.
trabalho (1998), mas jamais chegou a um processo produtivo Turma 6, que aconteceu de janeiro de 1997 a dezembro de
socialmente dividido salvo em algum ensaio temporário. 1999. Primeira turma no !TERRA. Começa com Etapa
Estamos incorporando elementos, ao mesmo tempo em Preparatória.
que vamos transmutando outros. Turma 7, que aconteceu de julho de 1999 a julho de 2002.
Também percebemos algumas lições que foram nos Começa com a Semana dos Clássicos.
caracterizando: Turma 8, que aconteceu de agosto de 2000 a setembro de o
r:
ª
8
Ul
o
úl
::>
a) Os tempos educativos tiraram a centralidade da sala de aula.
b) A experiência de gestão, seja financeira, de planejamento,
2003. Turma mais regional.
Turma9,
8
""o
""
::>
~
-ª'o de controle e de organização do trabalho, passou a influenciar b) ADR o
'6
'6 ti
ti nos conteúdos das disciplinas (sala de aula). Turma 1 que aconteceu de outubro de 1991 a maio de 1993.
~ ~
Ul
o
c) A ênfase na capacitação (saber fazer). Começou com elementos do Laboratório Organizacional. Ul
o
f2 g
i= Turma 2 que aconteceu de novembro de 1991 a ... ;::
E; E::
z

e) TAC .3


Turma 1, que aconteceu de junho de 1993 a janeiro de 1996. TAA
Começou com uma OFOC e tendo como matriz uma CPA. Turma 1, que acontece de outubro de 1998 a maio de 2001,
Desde o início estava previsto o TCC. Veio para o !TERRA que funcionou com um método pedagógico diferente (não
em março de 1995. OFOC). Os educandos pediram para ser inseridos no mesmo
Turma 2, que aconteceu de outubro de 1993 a março de 1996. método.
Veio para o !TERRA em janeiro de 1995. g) TSC
Turma 3, que aconteceu de junho de 1995 a. Visava preparar Turma 1, que acontece de maio de 2001 a ...
pessoas para as CPS ou CR. Começa a ter duas turmas no h) Comunicação Popular
Instituto e repasse de patrimônio direto entre as turmas Turma 1, que acontece de maio de 2002 a ...
(1995). O processo educativo vivido a partir deste método tem
Turma 4, que acontece de janeiro de 1996 a junho de 1998. algumas fases características (recortes de tempo), a saber:
Turma 5, que acontece de outubro de 1997 a agosto de 2000. a) Dos mutirões educativos (1989).
Turma 6, que aconteceu de março de 1999 a fevereiro de b) De organizar o curso com a participação dos educandos em
2002. seu processo de gestão e do engajamento deles no trabalho
Turma 7, que acontece de maio de 2000 a .... Primeira com (1990 a 1991), a partir dos princípios da Educação Popular.
A primeira crise aconteceu em janeiro de 1991 por causa da
Etapa Preparatória.
"cartilha azul": estamos fazendo o jogo deles.
Turma 8, que acontece de março de 2002 a . Nova fase do
e) Da tentativa de abrir para uma maior participação dos
curso.
educandos (1991 a 1993), aproveitando elementos do
Turma9,
laboratório organizacional de campo.
d) Pedagogia da Terra d) Da formação de empresas (por turma) a partir da OFOC
Turma na UNI]UI (Convênio), que acontece de janeiro de (ensaios em 1992) e dos educadores permanentes se
1998 a julho de 2001 (com método pedagógico próprio). perceberem como uma empresa de assessoria pedagógica
Turma 1, que acontece de março de 2002 a ... Turma da Via (EAP), mas limitados no econômico (1993 a 1994). Surge a
Campesina. Convênio UERGS. OCAP (1993).
o
r= Turma2, e) Da formação de empresas (por turma) a partir da OFOC, ~
3 úuJ
uJ
o e) CEACOOP com ajuda da EAP, desafiando na busca da auto-sustentação o
!:'
"';;; (1995 a 1998) com produção rural (área dos Maristas de
.Q, Turma 1, que acontece de março de 1998 a ... no !TERRA. ~
o
% Turma 2, que acontece de dezembro de 1999 a ... no !TERRA e 1995 a 1999) e instalação de oficinas de produção. Cada 'õ-
0
i'.i
::>
&l com Etapa Preparatória. (Em abril decidem não continuar no empresa procurava avançar através da tentativa de exploração õ
UJ
uJ
uJ o
o
Instituto por causa das dificuldades em se adaptar ao método)· das demais, o que levou á reflexão sobre a "pedagogia da o
~ t;
cooperação" (1997). A mantenedora funcionava como um ...i:::
~ Turma3, g
.3

• •
banco . Maior preocupação com a formação política- Referências Bibliográficas
ideológica (1996 a ... ).
f) Da formação de uma única empresa (1998 a ...) , eliminando _ARROYO, Miguel G. Oficio de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis:
a EAP (todos no mesmo processo de gestão), procurando Vozes, 2000.
separar o espaço da gestão (democracia ascendente) através -CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais do
dos núcleos de base, do espaço do trabalho (democracia que escola. Petrópolis: Vozes, 2000.
descendente), com a criação de postos de trabalho. Nesta -CERIOLI, Paulo R. Educação para a cooperação. Sáo Leopoldo: UNISINOS,
época havia uma falsa tensão entre «os de dentro" e "os de 1997. (Monografia)
r ,, _ CO N CRAB - Caderno de Cooperação Agrícola n. 7 Enfrentar os desafios da
rora .
organização nos assentamentos. São Paulo: 1998.
g) Preocupação com a reprodução da gestão e com a inserção
(1999 a ...), alterando técnicas do método (sai o organizem- - ENGELS. E!papelde! trabajo em la tmnsformadón de! mono en hombre. Moscú:
Progressio, 1979.
se) e constituição do CAPP.
- ITERRA - Cadernos do ITERRA n. 1. ITER.RA: Memória cronológica.
h) Começa o debate sobre a Pedagogia do Movimento (2000) e Veranópolis: 2001.
a preocupação com a construção de uma coletividade.
ITERRA- Cadernos do ITERRA n. 2. Instituto de Educação Josué de
i) Percebe-se que o método do IEJC é maior que a OFOC Castro: Projeto Pedagógico. Veranópolis: 2001.
(2001) ITERRA - Caderno do ITERRA n. 3. O MST e a Pesquisa. Veranópolis:
2001.
- FREIRE, Paulo. Ação culturalpara a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1976.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 29ªed. Rio de Janeiro: PazeTerra,
1987.
- FUNOEP. Coragem de educar: uma posposta de educação popular para
o meio rural. Petrópolis: Vozes, 1994.
- HARNECHER, Marca. El partido: su organización. Madri: de la Torre,
1977.
- ]ARA, Oscar. Como conhecer a realidade para transformd-la?Tcxto de apoio
~
ó...
o
nº 10. São Paulo: CEPIS, 1986. .
- JARA, Oscar. Concepção dialética da educação popular. Texto de apoio n.2 .
~
ul
o
~ São Paulo: CEPIS, 1985. ~
.2, .2,

1 - KIRILENKO G. e KÓRSHUNOVA L. Que es la personalidad? ABC de o


'6
conocimentos socio-politi.cos. Moscú: Progrcso, 1989. g
...o - LABRA, Ivan. Pçicologia Social- responsabilidady necessidad. Santiago: LO M,
s
ul
o
g
~ 1993.
;::
E !;;


3


3
-LANE, SilviaT. M. e CODO, Wandcrley (Org.). Psicowgiasocial: o homem - SCHUKINA, G. I. Teoria y metodologia de la educación comunista en la escuela.
em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1992. Habana: Pueblo y Educación, 1978.
- LENIN, Vladim ir. As três fontes. Cadernos de Expressão Popu lar n. 4. - SOBRADO, Miguel. Capacitacion y discapacitacion en losproyetos de desarrollo
São Pau lo: Expressão Popular, 2001. (Texto).
- LEONTIEV, Alexei N. Atividad, consciência, personalidad. Habana: Pucblo - STROZAKE, Judite. A arte de acompanhar: uma necessidade histórica.
y Educacion, 1983. Veranópolis: IEJC, 2000. (Texto)
- LÔWY, Michael. Ideologias e Ciência Social elementospara uma análise marxista. - VI GOSTSKY, L. S. e LURIA, A R Estudo sobre a história do comportamento
15ª edição. São Paulo: Cortez, 2002. humano: o macaco, oprimitivo e a criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
- LUEDEMANN, Cecília da Silveira. Anton Makarenko: vida e obra - a VYGOTSKY, L. S. E outros. Linguagem, desenvolvimento e aprendiz.agem.
pedagogia da revolução. São Paulo: Expressão Popular, 2002. São Paulo: fcone: EDUSP, 1988.
- MOLL, Luis C. i:Jgotsky e a educação: implicações pedagógicas da psicologia
sócio-histórica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
- MST - Boletim da Educação n. 4. Escola, trabalho e cooperação. São Pau lo:
1994.
MST -Boletim da Educação n. 5. O trabalho e a coletividade na educação. São
Paulo: 1995.
MST - Boletim da Educação n. 8. Pedagogia do Movimento Sem Terra:
acompanhamento às escolas. São Paulo, 2001.
MST - Caderno de Educação n .8. Princípios da Educação no MST. São
Paulo: 1996.
MST - Caderno de Educação n. 9. Como fazemos a Escola de Educação
Fundamental. São Paulo: 1999.
- NEWMAN, Fred e H O LZMAN, Lo is. Lev 17gostsky: cientista revolucionário.
São Paulo: Loyola, 2002.
- O UVEIRA, Marta K. de. 15igostsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo
sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997.
- PIST RAK. Fundamentos da Escola do trabalho. São Paulo: Expressão Popular,
o
2000.
~
~
J..,
- PLEKHANOV. O papel do indivíduo na história. São Paulo: Expressão Cl
"'
Cl
Popular, 2000.
Ul
:;,
"':::>
.§,
o - SANTOS DE MORAIS, Clodomir. Elementos sobre a teoria da organização -ª'o
6
~:::> no campo. Caderno de Formação nº 1 1. São Paulo: MST, 1986. ~
5
cil SANTOS DE MORAIS, Clodomi r. A capacitação massiva: uma proposta para ..,
'"'1

Cl
"'Cl odesenvolvimenton1.ral. Porto Velho: EMATER-RO, 1989. g
§ §
!;; - SÉVE, LUCJEN. Marxismo ea teoria da personalidade. Volumes I. II e III.
.3


3'
Lisboa: Horizontes, 1979.
o
Esquema Estudo 7 ênfases
Método Pedagógico do 1EJC 4.1. Ênfase naco ncepção de mundo 7 materialismo dialético
1. Engenharia Social 7 montagem do processo (elementos e histórico
básicos) 4.2.Ênfase na aprendizagem
1.1. Alternância 7 Tempo Escola + Tempo Comunidade ::: 4.3.Ênfase na capacitação
Etapas 4.4.Lógica das didáticas: capacitação e ensino
1.2.Tempos educativos (quais e para quê) 4.5.Competências
1.3. Trabalho 4.6.Elementos do estudo
1.4. Gestão democrática 4.7. Organização do currículo
1.5. Pesquisa
5. Movimento 7 Processo histórico e Pedagogia do Movimento
2. Arquitetura Social 7 estratégia de inserção, organização e 5.1.Partir da existência
funcionamento da coletividade 5.2.Domínio da dialética
2.1.Lógica 7 organização de massa 5.3.Tensão (não confundir com contradição)
2.2.Estrutura Orgânica 7 horizontal (escala) e vertical 5.4.Fases do processo 7 anomia+ síncrese +análise+ síntese
(níveis) + princípios organizativos 5.5.Leitura pedagógica do processo 7 análise + cenários +
2.3. Organicidade estratégia + tática + operacionalização
2.4.Inserção dos educandos e dos educadores
2.5. Coletividade 7 base + etapas + escala + princípios + 6. Acompanhamento 7 de pessoas, em uma coletividade,
base estando num processo
6.1.Pressupostos para o acompanhamento
3. Ambiente Educativo 7 Cenários e situações de aprendizado 6.2.Níveis de acompanhamento
(ir além da sala de aula) 6.3 .Princípios do acompanhamento
o
3.1.Princípio Orientativo 7 ZDP 6. 4 .Interação pedagógica ~
~ 3.2.Jeito de funcionamento 7 inserção + reprodução da
ó
w
Ul
o 6.5.Registro e sistematização o
u;
~
""i;; gestão + repasse dos PT + luta
.2.
o
6 .6.Direção Político Pedagógica 7 CAPP (e CPP) -ª'o
'6 3.3.Tempos educativos (utilização) '6-
li ~
::>
3.4.Si~uações de aprendizado (para além dos tempos) 7. Personalidade 7 formação do caráter (ser humano) .§
&l uJ
Ul o
o
g 3.5.Espaços pedagógicos 7.1.Articulação de projetos 7 pessoal e coletivo g
~
~ 3.6.Cotidiano 7 .2.Convivência 7 relações
E;


.3 3:


7.3. Comportamentos ~ postura
7.4. Hábitos
7.5.Valores
7.6.Emoção
7.7.Mística

8. OFOC: Oficina organizacional de capacitação ~ tempero


(pimenta)
8.1.Condições objetivas
8.2.Princípios metodológicos
8.3. Estratégias pedagógicas
8.4.0bjetivo

su.l
o
"'~
..Q,

j
u.l
o
f2
j::

~

Você também pode gostar