O presente trabalho procura discutir como as pesquisas psicanalíticas de
fenômenos sociais usam mão de narrativas e quais são as suas potencialidades. Para tanto, foi feita uma pesquisa nos indexadores Scielo e Pepsic, no campo da psicologia e áreas afins, utilizando os descritores “psicanálise” e “narrativa”, com o recorte temporal de 2000 a 2018. Foram encontrados 29 artigos que contemplam pesquisas brasileiras orientadas pela perspectiva da psicanálise, mas que se realizam para além do setting tradicional de tratamento, e que se utilizam de alguma forma de narrativa no seu processo investigativo ou de análise. Tais pesquisas apresentaram os mais variados temas, com diferentes recortes teóricos e metodológicos. O que permaneceu foi a narrativa como uma forma de acessar as experiências pessoais dos participantes do estudo e, juntamente com a psicanálise, como uma forma de elaboração da experiência humana. Metodologicamente, as narrativas puderam ser observadas em diferentes fases dos trabalhos, sendo elaboradas de maneira escrita ou discursiva, pelos participantes dos estudos ou pelos pesquisadores. Um exemplo é a utilização de pequenas narrativas fictícias, realizadas pelos pesquisadores, para servirem como gatilho para a fala de determinado assunto, em grupos ou de maneira individual. Por outro lado, a utilização da psicanálise como aporte teórico privilegiado para análise reafirma sua vocação para além da clínica, mas sem jamais perder o sujeito de vista. Assim, concluímos que a narrativa, enquanto forma de expressão humana, é capaz de ser aplicada nas suas diferentes formas em pesquisas que se utilizam da psicanálise aplicada enquanto método capaz de ir ao encontro do sujeito, ao mesmo tempo em que permite desvelar o subentendido e trazer à tona uma outra verdade sobre o texto.