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Capítulo

7
Neste capítulo
A Segunda Guerra Mundial

ƒƒ O expansionismo
nazista.
ƒƒ A Europa
em guerra.
ƒƒ A guerra na Ásia.
ƒƒ A reação aliada.
ƒƒ A derrota
do Eixo.
ƒƒ Cultura e
propaganda nos
anos de guerra.

 cidade alemã de Colônia, em 1945, devastada por bombardeios dos Aliados. A grande catedral gótica pode
A
>

ser vista à esquerda.

Ligando os pontos
As motivações políticas e econômicas gança contra as nações que derrotaram
que geraram a Primeira Guerra Mundial a Alemanha na Primeira Guerra era uma
(1914-1918) não foram solucionadas com questão de tempo.
o fim do conflito. O Tratado de Versa- A Itália também adotou um governo
lhes resultou em pesadas imposições à totalitarista, alinhado com o nazismo ale-
Alemanha, causando um sentimento de mão. Na União Soviética, por sua vez, o
revanchismo que colaborou para o sur- governo seguia um totalitarismo de es-
gimento de grupos direitistas. O país querda, liderado por Stalin. O país, apesar
passava por graves problemas econômi- do grande crescimento industrial, empre-
cos, decorrentes da crise de 1929, o que endeu uma intensa perseguição política e
fez muitos alemães depositarem sua o culto à personalidade do líder.
confiança no Partido Nacional-Socialista Já os Estados Unidos defendiam o
dos Trabalhadores Alemães, ou Partido isolacionismo, alheios aos conflitos eu-
Nazista, liderado por Hitler, que assumiu ropeus. O governo de Franklin Roose-
o poder em 1933. velt, por meio do New Deal, procurou
O projeto nazista ancorava-se na pre- minorar os efeitos devastadores da crise
tensa supremacia da “raça ariana”, na de 1929 e impulsionar a economia norte-
conquista de um “espaço vital” no Les- -americana. A crise econômica e o de-
te e na destruição do comunismo. Com clínio do liberalismo marcaram o país na
a ascensão de Hitler, a tentativa de vin- década de 1930.

Sobre a imagem e o texto acima, faça as atividades propostas a seguir.


1. O que a imagem revela? Descreva suas impressões.
2. Levante hipóteses sobre o que poderia ter levado à situação retratada acima.

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O expansionismo nazista
Os nazistas tinham a ambição de construir da como de apaziguamento, não se contra-
uma grande Alemanha, que reunisse toda a pondo aos interesses hitleristas. Pretendia
população germânica da Europa em uma evitar uma guerra fazendo concessões. Ao
única nação. Para isso, era imprescindível a mesmo tempo, os países europeus começa-
conquista do chamado espaço vital, territó- ram a armar-se para um possível conflito.
rios que pudessem ser unificados à Alema-
nha e assegurassem a produção de matérias-
  O Pacto Ribbentrop-Molotov
-primas e alimentos para o novo império. Isolada, a União Soviética (URSS) acre-
A preparação para a guerra tornou-se o ditava que as concessões feitas a Hitler pelo
objetivo primordial do governo. Com isso, Ocidente pretendiam jogar os alemães con-
houve um enorme esforço de modernização tra os soviéticos, tendo em vista que os in-
das indústrias de base e militar. teresses territoriais nazistas situavam-se na
Europa oriental. Após uma fracassada ten-
  O desrespeito ao tativa de aproximar-se da França e da Ingla-
Tratado de Versalhes terra, a URSS resolveu firmar um pacto de
O governo nazista ignorou as limitações não agressão com os alemães.
militares impostas aos alemães pelo Tratado Stalin pretendia adiar ao máximo um
de Versalhes. Em 1935, Hitler instituiu o conflito com Hitler, por mais que isso pa-
serviço militar obrigatório e reocupou a re- recesse contraditório, uma vez que um dos
gião do Sarre, rica em jazidas de carvão, ex- maiores objetivos nazistas era a destruição
plorada pelos franceses como indenização do comunismo soviético. Isso lhe daria tem-
de guerra desde 1919. Um ano depois, re- po para se preparar militarmente. Por outro Você viu
militarizou a Renânia, região entre Alema- lado, a Alemanha desejava evitar o erro da ƒƒ A política
nha e França mantida sem tropas para evi- Primeira Guerra, quando teve de combater expansionista
tar uma nova agressão alemã aos franceses. em duas frentes de guerra. nazista.
O pacto de não agressão foi assinado em ƒƒ A anexação da
Em março de 1938, o governo alemão
agosto de 1939, entre URSS e Alemanha. Áustria e dos
anexou a Áustria, que não resistiu. Essa ação Sudetos.
ficou conhecida como Anschluss (anexação). Ficou conhecido por Pacto Ribbentrop- ƒƒ A política
No mesmo ano, Hitler voltou-se para os -Molotov, nome dos ministros do exterior britânica de
Sudetos, região da Tchecoslováquia habita- dos dois países. “apaziguamento”.
da por uma população de fala alemã. Pres- Entre as cláusulas secretas do pacto, esta- ƒƒ O pacto
sionado a entregar à Alemanha parte de seu va a que previa a divisão da Polônia entre as Ribbentrop-
duas nações. Em 1o de setembro de 1939, os -Molotov e a
território, o governo tchecoslovaco pediu, invasão da
sem sucesso, ajuda à França e à Inglater- alemães invadiram a Polônia. A maior de to- Polônia.
ra. Preferindo contentar Hitler para evitar das as guerras iria começar.
uma guerra devastadora, ingleses e france-
ses aceitaram a ocupação dos Sudetos pela Os Estados europeus em 1939
Alemanha na Conferência de Munique, rea- Cí
rcu
lo
Po
lizada em setembro de 1938. lar
wich

Á rtico

Prosseguindo sua preparação para a guer-


een
e Gr

ra, Hitler firmou um acordo militar com a SUÉCIA


no d

OCEANO
Itália. Em seguida, aproximou-se do Japão, NORUEGA
idia

FINLÂNDIA
ATLÂNTICO
construindo o chamado Eixo Roma-Berlim-
Mer

ESTÔNIA
-Tóquio. Estava feita a aliança para a próxi- LETÔNIA
UNIÃO
SOVIÉTICA
IRLANDA GRÃ-
ma guerra mundial. -BRETANHA
DINAMARCA
PRÚSSIA
LITUÂNIA

  A política de
ORIENTAL
HOLANDA
ALEMANHA POLÔNIA
BÉLGICA

“apaziguamento” FRANÇA
TCH
ECO
SLO
VÁQ
UIA
Por temer uma nova guerra e por esta- SUÍÇA ÁUSTRIA
HUNGRIA
Mar
Cáspio
rem abaladas com a crise econômica, as IUGOSLÁVIA
ROMÊNIA
Mar Negro
PORTUGAL
nações europeias não opuseram forte resis- ESPANHA ITÁLIA BULGÁRIA

tência às ações alemãs. Restringiram-se a ALBÂNIA


TURQUIA
GRÉCIA
ações diplomáticas. Mar Mediterrâneo
ÁSIA
0 577

Na Inglaterra, o primeiro-ministro Neville ÁFRICA km

Chamberlain praticou uma política conheci- Fonte de pesquisa: Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 146-147.

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7 A Segunda Guerra Mundial

A Europa em guerra
Na Polônia, os alemães inauguraram uma Os alemães em pouco tempo dominaram
estratégia de guerra: a Blitzkrieg, que signi- a capital, Paris, derrotando os franceses.
fica “guerra relâmpago”. Ela recorria pri- A França foi dividida em duas regiões: o
meiramente à aviação, com bombardeios norte, ocupado pela Alemanha; e o sul, ad-
intensos, seguida da invasão realizada por ministrado pelo marechal francês Pétain,
blindados e pela infantaria. Com esse rá- simpatizante do fascismo, que organizou um
pido ataque, os poloneses renderam-se em governo colaboracionista. O general fran-
cerca de um mês. cês Charles de Gaulle não aceitou a rendição
França e Inglaterra, que haviam se com- e formou um governo em Londres, onde or-
prometido a proteger as fronteiras polone- ganizou um movimento de resistência.
sas, entenderam que as ambições de Hitler
haviam ultrapassado todos os limites e de-   A Batalha da Inglaterra
Londrinos desabrigados clararam guerra à Alemanha. Vencida a França, restava derrotar a In-
em virtude de Antes de enfrentar seus inimigos, os ale- glaterra. A Luftwaffe, força aérea alemã, pas-
bombardeios caminham mães garantiram a rota de abastecimento de sou a bombardear instalações militares e in-
pela rua com seus
pertences. Durante vinte ferro sueco para a sua indústria bélica, inva- dustriais inglesas, preparando uma grande
semanas os alemães dindo a Dinamarca e a Noruega. invasão naval. Contudo, a Real Força Aérea
bombardearam Londres.
Britânica (RAF) mostrou grande capacida-
Fotografia de 1940.
  A França ocupada de, vencendo os aviões alemães.
>

O próximo passo de Repelido pelos ingleses, Hitler voltou-se


Hitler foi invadir a Fran- para o leste, fonte de importantes matérias-
ça, pela Bélgica, em maio -primas, como o petróleo.
de 1940. Soldados fran-
ceses e ingleses direcio-   O início da guerra no leste
naram-se para aquela Hungria, Bulgária e Romênia aliaram-se
fronteira, mas os alemães aos alemães, que invadiram a Iugoslávia.
abriram uma segunda O governo italiano, que de início mante-
frente. Cruzando a Li- ve uma postura neutra, animou-se com as
nha Maginot, uma rede vitórias alemãs e, em 1940, declarou guer-
de túneis e fortificações ra à Inglaterra e à França. Pretendendo re-
construídas na frontei- criar o Império Romano ao redor do Medi-
ra da França com a Ale- terrâneo, os italianos – que já dominavam
manha, as tropas alemãs a Líbia (1931), a Abissínia (Etiópia, em
cercaram os exércitos da 1935) e a Albânia (1939) – invadiram, sem
França e da Inglaterra sucesso, a Grécia, em outubro de 1940. A
em Dunquerque, próxi- vitória sobre os gregos só se deu com o au-
mo ao Canal da Mancha. xílio alemão.
Conheça melhor

O apoio a Hitler
Em virtude dos lucros auferidos com a guerra e com a produção bélica, grandes empresas e corporações apoia-
ram o projeto hitlerista. O historiador Pedro Tota afirma que:
Assim que Hitler subiu ao poder, o patriarca da família Krupp percebeu a importância do projeto de governo
dos nazistas. Reprimia os movimentos operários, ao mesmo tempo em que desenvolvia uma política de coopta-
ção dos trabalhadores. […] Não é coincidência que as grandes corporações ficassem satisfeitas com a ascensão dos
nazistas. A Krupp e a Thyssen, grandes fabricantes de armas, por exemplo, passaram a receber encomendas lu-
crativas. Alguns números demonstram que, entre 1933 e 1939, houve rápido crescimento na indústria de aviões
de combate e no efetivo militar das Forças Armadas: em 1934 foram construídos 840 aviões; em 1936, 2 530; em
1938, 3 350 e, em 1939, 4 733. A produção bélica em geral havia aumentado mais de 22 vezes entre 1933 e 1940.
Os efetivos das Forças Armadas também cresceram assustadoramente: de pouco mais de 100 mil soldados em
1933, para cerca de 3,8 milhões em 1939, ou seja, mais de 35 vezes.
Tota, Pedro. Segunda Guerra Mundial. In: Magnoli, Demétrio (Org.). História das guerras. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 360.

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  Operação Barbarossa Mas ao longo da guerra os nazistas cria-
Assista
ram um novo tipo de campo, voltado para o A lista de Schindler.
A partir de 1941, a Alemanha começou a
assassinato em massa: os campos de exter- Direção de Steven
preparar-se para invadir a União Soviética, Spielberg, Estados
mínio, como Treblinka e Auschwitz.
com um plano denominado Operação Barba- Unidos, 1993.
Como foi abordado no Capítulo 6, inicial- A história de um
rossa. Tudo levava a crer que a invasão ocorre-
mente os campos de concentração abrigavam empresário alemão
ria em breve, mas Stalin tardou em acreditar. que usou seu
todos os que eram considerados inimigos pe-
Em junho de 1941, soldados alemães, dinheiro e suas
los nazistas, como comunistas, ciganos, ho- conexões para
italianos, romenos, húngaros e finlandeses
mossexuais ou Testemunhas de Jeová. libertar judeus
iniciaram a conquista da URSS. Os exércitos de campos de
Nos campos de extermínio, entretanto,
alemães concentraram seu ataque em três concentração, em
as principais vítimas eram os judeus. plena Segunda
regiões: Leningrado, antiga São Petersbur-
Nas várias regiões dominadas pela Ale- Guerra Mundial.
go, ao norte; Moscou, ao centro; e as regiões
manha, os judeus eram deportados para es-
agrícolas da Ucrânia, ao sul.
ses campos da morte. Os mais jovens e aptos
As primeiras semanas foram devastado-
eram utilizados como escravos, enquanto os
ras. O Exército Vermelho da URSS não con- Leia
mais velhos e doentes eram exterminados.
seguiu fazer frente à Wehrmacht (forças ar- Maus, de Art
Com o tempo, cerca de 6 milhões de judeus Spiegelman São
madas da Alemanha). Os alemães tomaram
foram mortos. Paulo: Cia. das
territórios onde existia importante produ- Letras, 2005.
Nos campos, também ocorriam experi-
ção industrial, além de inúmeras riquezas Em quadrinhos,
mentos científicos que usavam os prisio- o autor conta a
minerais e agrícolas. Os soviéticos desmon-
neiros como cobaias humanas. Foram rea- história de seu pai,
taram muitas dessas indústrias e as instala- sobrevivente do
lizadas experiências cruéis, que causavam
ram a leste dos Montes Urais, para que não holocausto.
danos permanentes ao corpo ou a morte.
caíssem em poder dos inimigos.
Em outubro de 1941, as forças nazistas se
aproximaram de Moscou e de Leningrado.
Você viu
  A instauração da barbárie ƒƒ A Blitzkrieg
alemã.
Os militares alemães receberam ordens ƒƒ A conquista da
de não ter clemência com a população sovi- França.
ética. Eram comuns os assassinatos de civis ƒƒ A Batalha da
e, em algumas cidades, a ordem oficial era Inglaterra.
ƒƒ A Operação
para que toda a população fosse dizimada.
Barbarossa e a
Os nazistas impuseram um clima de ter- invasão da URSS.
ror em todos os territórios ocupados. As ƒƒ O domínio e a
populações locais transformavam-se em tra- exploração das
balhadores compulsórios para o Estado ou  ntrada do campo de extermínio de Auschwitz, na
E regiões invadidas
>

para indústrias alemãs. Os recursos indus- Polônia, onde foram mortos centenas de milhares pelos alemães.
de judeus. No portão, a frase: Arbeit macht Frei ƒƒ O holocausto.
triais, agrícolas e até as obras de arte eram (O trabalho liberta).
saqueados. Os países conquistados deve-
riam servir como fornecedores de riquezas Ponto de vista
à Alemanha.
As pessoas que resistiam eram mortas, e Razões da invasão da URSS
aquelas originárias das raças consideradas O nazismo nunca escondeu o seu projeto de acabar com o co-
inferiores, como judeus e eslavos, sofreram munismo. Porém, para o historiador britânico John Keegan, espe-
ainda mais a ação da barbárie. cialista em história militar, os aspectos ideológicos não foram os
únicos responsáveis pela invasão da União Soviética. As questões
  O Holocausto econômicas teriam sido fundamentais.
Os alemães careciam de muitas matérias-primas e cobiçavam
Os judeus eram confinados em guetos,
os vastos recursos minerais e agrícolas soviéticos. Eles planejavam
locais isolados do restante da sociedade. fazer da União Soviética uma espécie de colônia que forneceria os
Nos guetos, iniciou-se uma política de as- recursos para sustentar a “Grande Alemanha” nazista, o Estado
sassinatos sistemáticos, visando diminuir o mais poderoso do mundo.
número de judeus. Com o passar do tem- 1. Debata com seus colegas quais as formas pacíficas que os povos
po, os nazistas aperfeiçoaram seus métodos possuem para obter as matérias-primas e demais produtos de
assassinos, utilizando caminhões que fun- que necessitam para viver e se desenvolver.
cionavam como câmaras de gás móveis.

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Presença DA ÁFRICA
Heróis negros nas guerras das Américas
Quando lemos sobre a história do Brasil e dos vitória dos moradores do Rio de Janeiro deveu-se,
demais países americanos, muitas vezes temos a em larga medida, à coragem e à lealdade daqueles a
impressão de que os africanos e seus descenden- quem os jesuítas escravizavam.
tes participaram dessa história unicamente como Durante a Guerra do Paraguai (1864-1870),
escravos. Isso é um grande equívoco, pois essa vi- boa parte das tripulações dos navios de guerra
são nasce do preconceito ainda presente originado brasileiros era constituída por negros. Nas regiões
nas sociedades escravistas. Mas é cada vez maior o do país com grande população de origem africana,
número de estudos nos quais se revela a presença negros e mulatos compunham a maioria dos alis-
das pessoas negras no cotidiano das Américas, em tados no Exército. Houve casos de escravos que
tempos de paz ou de guerra. fugiam para se alistar.
Desde o século XVII houve negros nos confli- Foram diversos os motivos que os levavam a
tos travados no continente, assumindo o papel de colocar a vida em risco. Muitos visavam obter a
combatentes. Isso ocorria por lealdade aos seus liberdade, pois pela lei imperial um escravo que
senhores, por motivações de natureza religiosa, ou havia participado da guerra não podia voltar ao
mesmo pela busca de algum tipo de compensação cativeiro. Outros, para defender a terra em que
financeira. Para muitos, tratados como “coisas” ou haviam nascido, e muitos, sem dúvida, por pre-
sistematicamente desvalorizados nas sociedades ferirem a morte gloriosa na batalha à lenta agonia
escravistas, o combate era o momento de afirmar, nas senzalas.
mais do que a bravura, sua própria condição de Após a guerra, muitos oficiais do Exército se
seres humanos. posicionaram firmemente a favor da abolição. A
No Brasil, durante a guerra de expulsão dos ho- experiência da campanha militar dera a eles um
landeses do Nordeste (1630-1654), na Batalha dos olhar diferente: seus companheiros de armas não
Guararapes, negros escravizados e libertos comba- eram simples mercadorias, mas homens de valor
teram do lado dos colonos de origem portuguesa e e bravura.
de indígenas, organizados em terços (unidades mi- Nos Estados Unidos, soldados negros participa-
litares) constituídos apenas por negros. O mais fa- ram da Guerra de Independência contra os ingleses
moso líder dos terços, Henrique Dias, manteve-se (1775-1783). Quando estourou a Guerra da Seces-
em campanha contra os holandeses ao longo dos são (1861-1865), o presidente Abraham Lincoln
24 anos de duração da guerra. No final, após a vi- autorizou o alistamento de negros como soldados e
tória, foi enviado a Lisboa e recebeu uma pensão marinheiros. Aproximadamente 200 mil afro-ame-
vitalícia e um título honorífico. ricanos participaram da guerra como combatentes.
No século XVIII, em agosto de 1711, uma es- Embora livres, mesmo com sua bravura confirma-
quadra de corsários franceses liderada pelo capi- da nos campos de batalha, tanto nos Estados Uni-
tão Jean-François Duclerc atacou a cidade do Rio dos como no Brasil, os soldados negros eram sem-
de Janeiro. Como ainda era costume na época, os pre, por lei, liderados por oficiais brancos.
corsários desejavam conquistar a cidade, pilhar
seus bens e exigir um resgate para abandonar a Lutando pela vida e pela dignidade
área. Ameaçavam reduzir tudo e todos a cinzas, Na conquista das fronteiras no Oeste dos Esta-
caso esse resgate não fosse pago. Atemorizada, a dos Unidos foi grande o prestígio do Nono Regi-
guarnição portuguesa dos fortes rendeu-se, e o mento de Cavalaria, formado por negros. Conta-se
terço de milícia integrado pelos “bem-nascidos” que os apaches, quando viram pela primeira vez os
fugiu para os morros. soldados negros cavalgando, com o corpo prote-
Os padres da Companhia de Jesus haviam for- gido no inverno por grossos casacos de pele, ape-
mado um terço de milícia integrado pelos religio- lidaram-nos de “soldados búfalos”. O apelido foi
sos, pelos jovens estudantes do colégio e pelos adotado pelos membros do Nono Regimento e, já
escravos pertencentes à Companhia. Os homens no século XX, o compositor e intérprete jamaicano
escravizados mantiveram-se firmes e lutaram ao Bob Marley compôs um reggae intitulado Buffalo
lado dos jesuítas e dos estudantes para defender a soldier. A letra diz que os “soldados búfalos, no
cidade. Honra e solidariedade, valores essenciais coração da América, roubados da África, lutaram
na visão de mundo africana, falaram mais forte. desde a sua chegada e lutaram para sobreviver”.
Os franceses foram derrotados pelo coman- Soldados e marinheiros negros participaram
do militar dos jesuítas e pela população, que lu- ativamente das duas guerras mundiais do século
tou com armas ou caldeirões de água fervendo. A XX. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-

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Quando observamos as fotografias e os do-
cumentários da época, é possível notar que
os negros estavam em toda parte. Esse gran-
de número resultava, em larga medida, do
fato de esses contingentes terem sido recru-
tados entre os segmentos economicamente
menos favorecidos da população. Apesar de
terem ido combater o nazismo na Itália não
exatamente por opção, e sim porque foram
recrutados, isso não os impediu de, tiritando
sob o frio das montanhas italianas e enfren-
tando soldados alemães, que tinham mais
experiência em combate, dar o melhor de si
para sobreviver, ajudar seus companheiros e
contribuir para a vitória dos Aliados.
Alguns escritores afirmaram que os negros,
ao participarem como combatentes das guer-
 oldados afro-americanos assistem a uma apresentação
S ras americanas, estavam lutando as guerras
>

durante a Segunda Guerra Mundial. Inglaterra, 12 de dos brancos. Outros escritores, negros na sua maio-
setembro de 1942.
ria, argumentaram que esses soldados lutaram para
-1918), a França alistou milhares de soldados vin- provar que tinham dignidade e que exigiam que essa
dos principalmente de suas colônias do Senegal e dignidade fosse totalmente reconhecida. O parado-
da Martinica. xo é inegável, já que negros combatiam pela demo-
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os cracia, enquanto em seus países eram considerados
Estados Unidos mobilizaram seus cidadãos ne- gente de segunda classe.
gros para as Forças Armadas. O preconceito racial Entretanto, a brava participação dos afrodescen-
era forte no país, e muitos duvidavam da dispo- dentes nesses conflitos foi um passo importante na
sição dos afro-americanos para lutar. O governo superação do racismo institucional nas Américas.
dos EUA, no entanto, resolveu criar uma unidade Ainda que o preconceito racial continue existin-
de combatentes negros e um esquadrão de aviões do, hoje negros frequentam as academias milita-
de caça inteiramente formado por pilotos negros. res, formam-se pilotos, comandam navios, lideram
No final da guerra, esse esquadrão foi a unidade exércitos inteiros.
de caça que perdeu menos bombardeiros durante Por essa razão, assim como Bob Marley, ren-
as missões de escolta. demos nossas homenagens ao espírito de luta
Muitos dos integrantes da Força Expedicioná- daqueles que, mesmo roubados da África, per-
ria Brasileira, que combateu na Itália, durante a sistiram lutando pela própria vida, lutando por
Segunda Guerra Mundial, eram afrodescendentes. sua dignidade.

Para discutir
A escritora nigeriana Chimamanda Adichie afirma que lia apenas histórias contadas por autores
ingleses ou estadunidenses quando era criança. Por isso, durante muitos anos, acreditou que só seria
possível escrever romances em que os protagonistas fossem brancos, de olhos azuis, comessem
maçãs e ficassem felizes com o sol depois das nevascas. Mas ela morava na Nigéria, onde nunca neva,
e onde a fruta mais comum é a manga. Chimamanda diz que foi preciso ler autores africanos para
que pudesse ter a coragem de escrever sobre o próprio cotidiano.
1. De que maneira, em sua opinião, o conhecimento da atuação de heróis negros interfere no
seu conhecimento sobre o Brasil? Por quê?

Assista
Milagre em Santa Anna. Direção de Spike Lee. EUA, 2008. O filme conta a história de quatro soldados negros que, durante
a Segunda Guerra Mundial, se encontram perdidos atrás das linhas inimigas, quando um deles resolve arriscar a vida para
salvar um menino italiano.
Os soldados búfalos. Direção de Charles Haid. EUA, 1997. História baseada num episódio real. No período da expansão
territorial dos EUA, já no século XIX, um regimento da Cavalaria cai em uma emboscada armada por duas facções de
guerreiros indígenas, e os soldados, para salvar a própria vida, têm de mostrar muita coragem e determinação.

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7 A Segunda Guerra Mundial

A guerra na Ásia
O Japão possuía um parque industrial Porém, o expansionismo japonês choca-
em crescimento desde a segunda metade do va-se com os interesses norte-americanos
século XIX. Entretanto, precisava de maté- no Pacífico. O governo dos Estados Unidos
rias-primas para manter sua indústria, dan- estabeleceu, então, sanções econômicas ao
do início, por esse motivo, a uma política Japão, trazendo dificuldades para a econo-
de dominação da região asiática. Em 1931, mia japonesa.
invadiu a Manchúria, e poucos anos depois
ocupou outros territórios da China.   Pearl Harbor
Na época, o Japão desenvolveu uma ide- Os japoneses necessitavam das matérias-
ologia fortemente militarista e nacionalista, -primas existentes no Pacífico. Portanto, a
Você viu
ƒƒ O expansionismo acreditando na superioridade dos japoneses presença dos norte-americanos na região
japonês na Ásia. em relação aos outros povos da região. Apro- era uma ameaça para eles.
ƒƒ O ataque a Pearl veitando a situação de guerra e o enfraque- Para conter o controle norte-americano
Harbor. cimento das nações europeias, o país con- do Pacífico, em dezembro de 1941 o Japão
ƒƒ A virada norte- atacou de surpresa a maior base naval nor-
tinuou a expansão em direção às colônias
-americana.
inglesas, francesas e holandesas na Ásia. te-americana na região, Pearl Harbor, no Ha-
vaí. O ataque destruiu grande parte da frota e
A guerra no pacífico matou milhares de soldados estadunidenses.
Até então os EUA tinham se mantido neu-
UNIÃO SOVIÉTICA Império japonês em 1930 tros, embora abastecessem os ingleses com
Aleutas Império japonês em 1942
Aliados
armas e alimentos. Depois de Pearl Harbor,
MANCHUKUO 1943
(MANCHÚRIA) Limites do império
japonês em 1930
entretanto, os Estados Unidos estabelece-
Pequim Máxima expansão ram uma aliança com a Inglaterra e a União
japonesa em 1942
CHINA
COREIA JAPÃO
Hiroshima Tóquio Ofensiva aliada Soviética, e passaram a formar o núcleo cen-
Nagasaki
Okinawa
OCEANO
PACÍFICO
Avanço soviético em 1945
Principais batalhas
tral dos países aliados.
  A Guerra no Pacífico
45

Midway
19

Formosa Iwo Jima


Trópico de Câncer (3-6-1942)
BIRMÂNIA
Hong Kong Havaí
1945 BRITÂNICA
19

(RU)
Depois do bem-sucedido ataque a Pearl
45

Marianas Pearl Harbour


FILIPINAS (7-12-1941)
INDOCHINA
FRANCESA
1945 Mar das
Filipinas
(1944)
Guam
1944
Harbor, os japoneses ampliaram a ofensi-
44
Marshall
1945 1944
194
4 19
Carolinas 1944
va na Ásia, dominando a Indochina france-

LA

1944 1943
sa e a Birmânia e Cingapura inglesas. Aos
CA

1944
Bornéu
Equador
Sumatra
Célebes No
va
poucos, outras regiões foram incorporadas,
Gu
ÍNDIAS HOLANDESAS

Java
iné
Salomão como as Filipinas.
OCEANO Mar de Coral
(1942)
1943
Guadalcanal
(7-8-1942) Como os japoneses temiam, os norte-
ÍNDICO
-americanos reconstruíram rapidamente a
AUSTRÁLIA

Trópico de Capricórnio
0 1 402 frota naval no Pacífico. Em 1942, após as
km
batalhas do mar de Coral e de Midway, os
Fonte de pesquisa: Franco Jr., Hilário; Andrade Filho, Ruy de O. Atlas História Geral. EUA tomaram a frente, recuperando as ilhas
São Paulo: Scipione, 1995. p. 73. do Pacífico.

História e Geopolítica
A Geopolítica é um campo de estudos que leva em consideração várias ciências, como História, Geografia, Eco-
nomia e Ciência Política, entre outras.
O seu objeto de estudo é o poder, exercido pelos Estados-Nações por meio do controle de determinados espaços,
obtido com estratégias convenientes aos seus interesses.
Buscando transformar-se em potências regionais ou mundiais, os Estados-Nações participam de determinadas dis-
putas que, muitas vezes, levam à guerra. A Geopolítica também se preocupa com a compreensão desses conflitos.
No início do século XX, os interesses das nações industrializadas eram a busca por matérias-primas e mercado
consumidor para seus produtos, obtidos nas colônias. Privada de colônias na África e Ásia, a Alemanha esperava
consegui-los na própria Europa, reordenando a geopolítica da região.
1. Faça uma pesquisa sobre a geopolítica no mundo atual. Verifique quais são as principais disputas e quais as na-
ções envolvidas.

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A reação aliada   Os Aliados se reúnem
Em 1941, diante do sucesso da Blitzkrieg Os soviéticos comba-
alemã, muitas pessoas acreditavam que o tiam sozinhos os alemães
nazifascismo dominaria o mundo. Contu- na Europa. Para desviar
do, a expulsão dos exércitos alemães das as tropas alemãs de seu
cercanias de Moscou pelo Exército Verme- país, Stalin pressiona-
lho, em dezembro de 1941, marcou uma va seus aliados ingleses
nova fase da guerra. Foi a primeira derrota e norte-americanos para
dos alemães. que fosse aberta uma
frente no oeste. Ao vi-
  Stalingrado sitar Moscou, em 1942,
Repelido em Moscou, Hitler voltou-se o primeiro-ministro bri-
para Stalingrado. Se conquistasse essa cida- tânico, Winston Chur-
de, controlaria o rio Volga, importante via chill, prometeu uma se-
de transporte, e dominaria os campos pe- gunda frente na Itália.
trolíferos da região do Cáucaso. Entretanto, Havia certa desconfiança por parte de  destino da
O

>
Aliança foi selado
apesar da superioridade em armamentos e Stalin de que os ingleses também pretendes- na Conferência de
número de soldados, as tropas nazistas en- sem a destruição da URSS, embora quises- Teerã, em 1943. Por
contraram uma feroz resistência soviética. sem a derrota dos alemães. Por outro lado, três dias, Stalin (à
esquerda), Roosevelt
Quando apenas uma pequena parte de o ódio de Hitler por todos os Estados, socia- (ao centro) e
Stalingrado ainda se encontrava sob o po- listas ou liberais, facilitou a aliança. Churchill (à direita)
der soviético, os russos enviaram um po- Para alcançar a vitória definitiva, era ne- discutiram planos
para a derrota de
deroso exército em socorro da cidade si- cessário que os aliados se reunissem para Hitler e dos países
tiada. O 6o Exército Alemão, com mais de dissipar as desconfianças, discutir as estraté- do Eixo.
300 mil soldados, foi cercado. Embora Hi- gias da guerra e pensar na situação do mun-
tler ordenasse a luta até a morte, o mare- do após o fim do conflito. O primeiro desses
chal alemão Friedrich von Paulus, sem ter encontros ocorreu em Teerã, capital da Pérsia
como alimentar seus soldados, rendeu-se (atual Irã), em novembro de 1943, quando
em janeiro de 1943. se reuniram Stalin, Churchill e o presidente
Muitos historiadores consideram que o dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt.
início da derrota alemã começou em Sta- No encontro em Teerã, Stalin insistiu para
lingrado, em cuja batalha os alemães per- que a segunda frente fosse aberta na Fran-
deram mais de 250 mil homens. Os so- ça, que, no seu entender, caracterizava um
breviventes foram levados a campos de objetivo estratégico muito mais importante
prisioneiros, e poucos retornaram à Ale- que a Itália. Para o líder soviético, a proxi-
manha após a guerra. midade do norte da França com o território
A vitória em Stalingrado marcou o iní- alemão forçaria Hitler a mobilizar grandes
cio do avanço soviético. As tropas do Eixo contingentes para a região, facilitando a re-
começavam a ser empurradas para o oeste. cuperação do Exército Vermelho no leste.
A Alemanha organizou ainda um contra- A tese foi aceita pelos governos da In-
-ataque em Kursk, configurando a grande glaterra e da França, e a invasão do nor-
batalha de tanques. Mas os soviéticos ven- te da França pelos Aliados começou a ser
ceram novamente. planejada.

A luta no interior da
cidade de Stalingrado
foi de uma violência sem
precedentes. Na imagem,
de 26 de janeiro de 1943,
soldados do Exército
Vermelho posicionam-se
contra o inimigo entre as
ruínas.
>

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7 A Segunda Guerra Mundial

  A guerra no norte da África da Sicília, no sul da Itália, em julho de 1943.


Os italianos, cansados de tantas derrotas,
O Exército italiano sofreu inúmeras der-
estavam dispostos a se render. O Conselho
rotas na Segunda Guerra Mundial, só alcan-
Fascista depôs Mussolini para tentar nego-
çando êxito nas situações onde houve a in-
ciar com os aliados.
tervenção da Alemanha.
Hitler, contudo, não poderia perder a Itália
Mussolini ordenou a invasão do Egito,
para seus inimigos e ordenou que o Exérci-
mas foi derrotado pelos ingleses. Os alemães
to alemão ocupasse o país. Com o auxílio da
enviaram, então, um exército conhecido
Alemanha, Mussolini instaurou um governo
como Afrika Korps, sob o comando do gene-
ral Erwin Rommel, para auxiliar os italianos. no norte da Itália, a República de Salò.
A ofensiva de Rommel, que ficou conhe- Os exércitos aliados conquistaram a pe-
cido como “a raposa do deserto”, recon- nínsula Itálica a partir do Sul, encontrando
quistou diversos territórios. Contudo, os feroz resistência dos alemães. Essa etapa da
britânicos, liderados pelo general Bernard guerra contou com a participação de solda-
Montgomery, derrotaram o Afrika Korps na dos brasileiros.
Batalha de Al-Alamein. Milhares de solda-   O desembarque na
dos alemães e italianos foram aprisionados.
Al-Alamein foi a primeira grande vitória
Normandia
do Exército britânico contra os nazistas, e O dia 6 de junho de 1944 ficou conhe-
Você viu marcou o início da conquista aliada no nor- cido como o Dia D. Uma gigantesca força-
ƒƒ A aliança entre te da África. -tarefa composta por milhares de soldados
EUA–Grã- britânicos, norte-americanos, canadenses e
-Bretanha–URSS.   A invasão da Itália franceses, navios, tanques e aviões desem-
ƒƒ O Dia D e a vitória
Partindo de bases sólidas conquistadas no barcou na Normandia.
aliada.
norte da África, os aliados invadiram a ilha As praias da região, de difícil acesso, eram
protegidas pelos alemães. No entanto, os alia-
Expansão do Terceiro Reich alemão (1938-1942) dos conseguiram tomar as posições. A partir
30°O 10°O 0° 10°L 30°L 50°L 70°L daí, outras regiões foram conquistadas.
60
°N Com a ajuda da resistência francesa, os
Círc
ulo Po
lar Ártico aliados conseguiram libertar Paris. Depois, foi
a vez da Bélgica e da Holanda. As cidades ale-
NORUEGA FINLÂNDIA
mãs passaram a sofrer grandes bombardeios.
SUÉCIA UNIÃO SOVIÉTICA
Leningrado
Mar do
áltico

MOSCOU °N
Norte 50
B

DINAMARCA
ar
M

IRLANDA GRÃ-
-BRETANHA Minsk
Voronez
LONDRES BERLIM Lago
HOLANDA
OCEANO POLÔNIA Stalingrado Aral
BÉLGICA ALEMANHA
Lvov Kiev
ATLÂNTICO PARIS LUXEMBURGO
TCHECOSLOVÁQUIA
FRANÇA Odessa Mar
SUÍÇA ÁUSTRIA HUNGRIA Cáspio
N
ROMÊNIA 40°

IUGOSLÁVIA Mar Negro


PORTUGAL ESPANHA ITÁLIA BULGÁRIA
ROMA ALBÂNIA
Alemanha em 1938 TURQUIA
Anexado pela Alemanha em março de 1938
GRÉCIA ÁSIA
Ocupado pela Alemanha de setembro
de 1939 a junho de 1941
Ocupado pela Alemanha de junho CHIPRE
Mar Mediterrâneo
de 1941 a novembro de 1942
 oldados norte-americanos desembarcam no litoral
S
>

Aliados da Alemanha 0 623


Inimigos da Alemanha norte da França, na região da Normandia, em 6 de
km
Países neutros ÁFRICA junho de 1944.
Fonte de pesquisa: Arruda,
José Jobson de A. Atlas Conheça melhor
histórico básico. 17. ed. São
Paulo: Ática, 2007. p. 30.
Os movimentos de resistência
Em diversos países formaram-se movimentos de resistência contra a ocupação nazista.
Seus integrantes — os partisans — utilizavam táticas de guerrilha, no campo e nas cidades,
para lutar contra a barbárie alemã.
Alguns movimentos foram organizados por liberais, outros por comunistas. Suas ações
consistiam em espionagem, sabotagem ou, ainda, na proteção aos judeus, remetendo-os
para fora das zonas ocupadas pelos nazistas.

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A derrota do Eixo
Hitler não aceitava a derrota iminente. em falta. Os membros da SS puniam com a
Assista
Agia como se alguma arma secreta pudes- morte qualquer suspeito de deserção. A queda: as últimas
se ser construída ou algo que levasse a uma Em fevereiro de 1945, na cidade de Yal- horas de Hitler.
vitória milagrosa dos seus exércitos pudesse ta, na Crimeia, os chefes dos Estados aliados, Direção de Oliver
Hirschbiegel,
acontecer. Para ele, a guerra deveria ser le- Stalin, Churchill e Roosevelt, encontraram-se Alemanha, 2004.
vada às últimas consequências. Assim, para em uma nova conferência. Os debates con- O filme é uma
o líder nazista a rendição estava fora de co- centraram-se nos preparativos para o final da interpretação dos
últimos dias de vida
gitação. Sua ordem era para que o povo ale- guerra e na possível realidade produzida após de Hitler em seu
mão lutasse até o último homem. o seu término. Também foi discutida a parti- bunker, em Berlim,
Para evitar a capitulação, alguns oficiais cipação da União Soviética na guerra contra cercado pelas
tropas soviéticas
do Exército alemão tentaram assassinar Hi- o Japão, após a derrota de Hitler. que avançam
tler. Com isso, pretendiam tornar viável sobre a cidade.
uma negociação com os aliados. Porém, os   O fim da guerra na Europa As perversões do
regime nazista e
atentados fracassaram. Na Itália, Mussolini foi vencido, encer- a participação de
Com os ataques soviéticos, do lado les- rando-se a República de Salò. Em sua ten- pessoas comuns
são representadas
te, e dos norte-americanos, dos ingleses e tativa de fuga, foi preso, julgado e fuzilado com fidelidade pelo
demais aliados, do lado oeste, os exércitos pela resistência italiana. diretor.
alemães foram aos poucos empurrados de Em 28 de abril de 1945, Hitler casou-se
volta ao seu país. com sua companheira, Eva Braun, e, dois
dias depois, ambos se suicidaram. Seus cor-
  O recuo nazista pos foram incinerados.
Na Polônia, com a aproximação do Exér- Em 9 de maio de 1945, a Alemanha ren-
cito Vermelho, ocorreu o Levante de Var- deu-se incondicionalmente aos aliados. O
sóvia. Contando com o auxílio soviético, os “sonho” de Hitler, de uma Alemanha senho-
poloneses rebelaram-se contra a dominação ra do mundo, estava terminado.
alemã. No entanto, o levante foi brutalmen-
te sufocado. Posteriormente, os poloneses   Consequências materiais
acusaram a URSS de não tê-los apoiado. Além da assombrosa perda de vidas hu-
Grande parte do
Finlândia, Romênia e Bulgária assinaram manas, as perdas materiais na Europa fo- patrimônio cultural,
acordos de paz com a URSS. Já a Hungria foi ram enormes. artístico e material
conquistada à força. Todas as nações envolvidas acabaram da Europa perdeu-
-se na guerra. A
Na frente ocidental, em dezembro de por esgotar seus recursos econômicos, hu- cidade de Dresden,
1944, os alemães tentaram uma ofensiva na manos e materiais. A exceção foram os Es- na Alemanha, em
região montanhosa de Ardenas, entre Bélgi- tados Unidos. Os norte-americanos con- fotografia de 1945, foi
praticamente destruída
ca, França e Luxemburgo. Era uma tentativa seguiram manter intacta sua capacidade pelos bombardeios dos
de forçar os aliados a recuar. Embora vitorio- industrial e financeira. Aliados.
sos no início, os alemães acabaram derrota-
>

dos por dois motivos: a chegada de reforços


nos exércitos aliados e uma grande ofensiva
soviética no leste, que obrigou a Alemanha a
enviar tropas para o local.
  O Terceiro Reich agoniza
Pouco a pouco, a população alemã dei-
xou de confiar na propaganda de guerra
de Joseph Goebbels, Ministro do Povo e da
Propaganda, que veiculava notícias de uma
possível vitória. Após milhões de mortes e
inúmeras cidades arrasadas por bombar-
deios, a derrota estava evidente.
O Terceiro Reich agonizava. Foram for-
mados grupos de crianças e idosos para de-
fender a cidade de Berlim, cercada pelos
russos. Combustíveis e munição estavam

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7 A Segunda Guerra Mundial

  A frente do Pacífico   O legado da guerra


No Oriente, a guerra estendeu-se por O volume de recursos e o número de sol-
Leia mais alguns meses, devido à obstinada re- dados mobilizados para a vitória dos aliados
Hiroshima, de John
Hersey. São Paulo: sistência japonesa. foram tão grandes que especialistas denomi-
Companhia das Além de atacar as forças japonesas nas nam esse processo de guerra total. Milhões
Letras, 2002. ilhas da Oceania e combater a frota imperial de pessoas foram envolvidas nos exércitos e
Grande reportagem
que faz um no Pacífico, os norte-americanos bombarde- nas fábricas de armamentos.
retrato de seis avam constantemente cidades do Japão. Os O conflito envolveu o mundo todo,
sobreviventes da japoneses, por sua vez, utilizavam pilotos mesmo que indiretamente, pelos seus efei-
bomba atômica
um ano depois da suicidas, os camicases, para afundar porta- tos econômicos.
explosão. Quarenta -aviões inimigos. Durante a guerra, alguns países tiveram a
anos mais tarde, o Sob o argumento de que seriam neces- população drasticamente reduzida. Até hoje
repórter reencontra
seus entrevistados. sários muitos recursos para conquistar as não se sabe ao certo qual foi o real número de
ilhas japonesas, os norte-americanos re- vítimas. Estima-se, entretanto, que tenham
solveram utilizar a recém-desenvolvida morrido mais de 50 milhões de pessoas, sen-
bomba atômica. do cerca de 20 milhões de soviéticos.
Alguns historiadores, porém, formulam O número de vítimas foi e continua sen-
outras hipóteses. Uma delas é que Harry do o mais alto da História. A tecnologia –
Truman, que assumiu a presidência após fundamental para a vitória, principalmen-
a morte de Roosevelt, queria demonstrar o te a utilizada no desenvolvimento de novos
seu poder aos soviéticos, antevendo a situa- armamentos – produziu enorme força des-
Em Nagasaki, apenas os
ção do pós-guerra. trutiva. Entretanto não foi a potência das
prédios com estrutura Os EUA lançaram, então, duas bombas bombas a única causa das mortes. A política
de concreto resistiram atômicas em 1945: uma sobre a cidade de de extermínio nazista, a fome e as doenças
parcialmente à bomba
atômica. Na imagem, o
Hiroshima, em 6 de agosto, e outra sobre a contribuíram enormemente para o exagera-
Hospital da Faculdade de cidade de Nagasaki, três dias depois. Cerca do número de baixas.
Medicina de Nagasaki, de 200 mil pessoas morreram nos bombar- A mudança no traçado das fronteiras eu-
localizado a 800 metros
do local da explosão.
deios e, entre os sobreviventes, as sequelas ropeias levou a um novo equilíbrio geopolí-
Fotografia tirada se fazem sentir até hoje. tico mundial. A Alemanha voltou aos limites
poucos dias depois do No dia 2 de setembro, o Japão se rendeu, de 1918, mas sem os territórios do leste, hoje
bombardeio.
colocando fim na Segunda Guerra. parte da Polônia e da Rússia. Além disso, foi
>

dividida em quatro zonas controladas pelos


aliados. A União Soviética sagrou-se vencedo-
ra na Europa oriental, onde conduziu o esta-
belecimento de governos comunistas. A Itália,
por sua vez, perdeu territórios para a Iugos-
lávia e a Grécia, além da Albânia e de suas
colônias africanas. Quanto ao Japão, além de
perder sua influência na Ásia, foi ocupado e
administrado pelos norte-americanos.
A decadência da Europa, arrasada pela
guerra, fez com que logo a União Soviética e
os Estados Unidos emergissem como novas
potências mundiais.
Conheça melhor
Você viu
ƒƒ A derrota alemã.
Os genocídios na história
ƒƒ As bombas Quando, em 1945, os soldados aliados libertaram os campos de concentração nazistas, o
atômicas e a mundo conheceu a barbárie do Holocausto, o maior genocídio da História Contemporânea.
derrota japonesa.
O genocídio, isto é, o ato de provocar a morte em massa de pessoas de um mesmo grupo
ƒƒ O legado de
étnico, cultural ou religioso, ocorreu, porém, em outros momentos da História, motivado pela
mortes e
ambição, pelo ódio e pelo preconceito.
destruição da
Segunda Guerra A ação dos europeus na América e na África, dizimando povos inteiros, ou o massacre de ar-
Mundial. mênios pelo exército turco na Primeira Guerra Mundial são trágicos exemplos de genocídio.

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Cultura e propaganda 1

nos anos de guerra


A mobilização para uma guerra total necessitava do convencimen-
to de grandes parcelas da sociedade. Nesse sentido, a propaganda de
guerra foi fundamental nos países envolvidos para incentivar a produ-
ção bélica, a resistência dos civis e o alistamento militar. Para isso, fo-
ram utilizados diferentes meios de comunicação, como rádio, jornais
impressos, cartazes, cinema, etc.
  A propaganda norte-americana
Nos Estados Unidos, havia uma tradição de isolacionismo diante dos
conflitos europeus. Era fundamental, portanto, que o governo demons-
trasse à opinião pública a necessidade de entrar na guerra.
Para obter a simpatia da população, o governo estadunidense apre-
sentava a democracia e a liberdade como ideais ameaçados. A luta se-
ria, assim, pela manutenção desses valores e contra a tirania.
Os grandes estúdios cinematográficos de Hollywood colaboraram 2
para uma imagem positiva da guerra, além de produzir documentários
que incentivavam os soldados a lutar.
Além de mobilizar a opinião pública interna, o governo norte-ame-
ricano procurou obter a simpatia de outros países da América. Com o
argumento de que a segurança do continente deveria ser compartilhada
e com o objetivo de minimizar possíveis aproximações com o Eixo, os
EUA conquistaram aliados para a guerra.
Para isso, foi criado um escritório, dirigido pelo magnata Nelson Ro-
ckefeller, que financiou projetos para a América Latina. O cineasta Walt
Disney, por exemplo, patrocinado pelo governo dos EUA, visitou países
da América produzindo personagens exclusivas para o Brasil, a Argentina
e o México. Assim nasceu Zé Carioca, malandro amante do samba que es-
trelou os filmes Alô, amigos (1943) e Você já foi à Bahia? (1944).
Outros cineastas também visitaram o Brasil, como John Ford e Or-
son Welles. Por outro lado, artistas brasileiros fizeram sucesso nos EUA,
como ocorreu com Carmem Miranda.
Essa política da boa vizinhança incluía programas radiofônicos ela-  s cartazes foram amplamente
O
>

utilizados durante a Segunda


borados em Nova York e veiculados no Brasil. Em As Américas em guer- Guerra, em virtude do forte
ra, buscava-se a simpatia pela causa da guerra. impacto visual que causavam.
Com esse relacionamento cultural, os norte-americanos buscavam O cartaz 1, produzido pelo governo
estadunidense, mostra um
aumentar a sua influência no continente, disseminando o american way militar japonês e outro nazista
of life e exportando muitos de seus produtos culturais. se aproximando do território
Os principais países envolvidos na guerra, até mesmo o Brasil, preo- dos Estados Unidos. O texto diz:
“Cuidado! Nossos lares estão em
cuparam-se com a questão da propaganda. Em todos eles a fórmula era perigo agora!”.
a mesma: desenvolver o sentimento patriótico e convencer sobre a ne- O cartaz 2, produzido pelo governo
cessidade de vencer o inimigo, retratado como um “bárbaro”. nazista, exibe um soldado alemão
subjugando um dragão vermelho,
  A propaganda nazista que representa a URSS comunista.
A legenda diz: “Liberdade da
Os argumentos principais utilizados no incentivo à guerra eram a re- Europa”. Nos dois cartazes, os
vanche às perdas da Primeira Guerra e a pretensa “superioridade” ra- inimigos são representados
cial alemã. como animais grotescos ou
conquistadores insanos.
Em 1917, foi fundada a Universum Film AG (UFA), que se transfor-
mou na maior produtora de filmes da Alemanha. Com a ascensão de Hi-
tler ao poder, a UFA passou a ser controlada por Goebbels, interessado no
potencial propagandístico do cinema. Os nazistas possuíam, assim, uma
larga produção cinematográfica com o intuito de influenciar o povo.
A propaganda alemã foi intensificada a partir de 1943, diante das su- Você viu
ƒƒ As estratégias da propaganda de guerra
cessivas derrotas sofridas pelo país. Por meio dela, o governo tentava
nazista e norte-americana.
convencer a população de que o esforço de guerra deveria ser mantido.

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Seja o Historiador

Analisar a propaganda política impressa


como documento histórico
A propaganda é a atividade de divulgar ideias, conceitos e valores sobre questões políticas, cívicas,
religiosas, filosóficas, artísticas, sociais, etc. A propaganda não possui uma finalidade comercial direta, e
por isso é diferente da publicidade, que visa basicamente estimular a venda de produtos e serviços.
O estudo da propaganda permite conhecer a maneira como os vários grupos que compõem a socie-
dade se estruturam e que valores e ideais procuram praticar. Por isso, a propaganda é muito estudada
por vários tipos de profissionais, como sociólogos, cientistas políticos, comunicólogos, etc.
Os historiadores também se interessam pelo estudo da propaganda, que é uma importante fonte de
informação sobre as ideias e os projetos das instituições e grupos de opinião do passado.

A propaganda política
Entre os vários tipos de propaganda, a propaganda política é aquela praticada por grupos e partidos,
dentro ou fora do Estado, ligados ao governo ou à oposição.
A propaganda política tem por objetivo interferir na forma como o poder político é repartido e exer-
cido na sociedade. A atividade política é, por definição, coletiva, portanto esse tipo de propaganda tem
o potencial de interferir, positiva ou negativamente, na vida de um grande número de pessoas.
Ao longo da História, os grupos que atuam na política passaram por transformações, produzindo nesse
processo um tipo de propaganda adaptado aos tempos que viviam. Os historiadores analisam esse processo
de transformação, procurando identificar os elementos que compõem o pensamento político do passado.
A análise da propaganda política efetuada pelos historiadores segue, em linhas gerais, os passos des-
critos a seguir.

Identificar as características básicas


É necessário inicialmente identificar as características básicas da peça de propaganda política a ana-
lisar, tais como: a identificação do tipo de peça (discurso, cartaz, manifesto, panfleto, etc.); o local onde
foi produzida; o grupo político que a produziu e a data de produção.
Usaremos como exemplo a peça de propaganda reproduzida abaixo.

Cartaz de propaganda de bônus


de guerra, chamados “bônus da
vitória”, elaborado em 1942 por
G. K. Odell para o governo do
Canadá, então um domínio da
Inglaterra. Na parte superior,
à esquerda, lê-se: “Mantenha
essas mãos distantes!”. O texto
da base diz: “Compre os novos
bônus da vitória”.
>

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1. Que tipo de peça de propaganda está reproduzido na imagem?
2. Em que local a peça foi produzida?
3. Que grupo político a produziu?
4. Qual é a época em que foi produzida?

Pesquisar sobre o contexto histórico


Determinada a origem, a data de produção e o grupo responsável pela elaboração da peça propa-
gandística, o próximo passo é conhecer o contexto histórico no qual a peça de propaganda está inseri-
da. Esse passo é importante para o entendimento dos motivos que geraram a produção do documento
analisado.
A pesquisa do contexto histórico não deve se limitar às questões políticas. Também os acontecimen-
tos econômicos, culturais e sociais devem ser pesquisados.
Para conseguir essas informações, podem-se consultar enciclopédias, jornais e a internet.
5. Pesquisar os principais fatos políticos que ocorreram na data de produção do exemplo
apresentado.
6. Pesquisar informações relacionadas à instituição que produziu o documento analisado.

Descrever o conteúdo do documento


Após contextualizar a produção do documento, é o momento de analisar o seu conteúdo. A análise
do conteúdo vai depender do tipo de documento escolhido.
No caso de documentos escritos (discurso, panfleto, manifesto, etc.) deve ser feita uma leitura aten-
ta, anotando as ideias principais.
No caso de documentos que possuam representações ou elementos iconográficos (desenhos, retra-
tos, medalhas, estátuas, etc.), como os cartazes, é necessário prestar atenção aos elementos gráficos uti-
lizados, fazendo uma descrição objetiva do documento e pesquisando o significado dos símbolos que
possam estar representados.
7. No caso do documento proposto como exemplo, fazer uma descrição dos aspectos iconográficos,
anotando também o texto existente no documento.
8. Pesquisar o significado dos símbolos representados no documento.

Elaborar uma conclusão


Depois da identificação das características básicas, do contexto histórico e da descrição do conteú-
do, é o momento de analisar o significado da propaganda política. Para realizar essa análise adequada-
mente, todas as informações obtidas nas etapas anteriores devem ser reunidas e organizadas de maneira
a facilitar a elaboração da conclusão.
A base é o contexto histórico, com a caracterização e localização do grupo que produziu o documen-
to em relação aos outros grupos sociais e políticos, bem como em relação aos eventos que estavam ocor-
rendo naquele período. Essas informações devem ser utilizadas para explicar de forma clara e objetiva
o significado do conteúdo exposto no documento.
As questões básicas a serem tratadas são as seguintes.
• Qual a motivação do grupo ou instituição para produzir a propaganda analisada?
• Qual o significado dos elementos de texto ou iconográficos utilizados na propaganda?
• Qual a finalidade da propaganda?
9. Analisar o documento proposto como exemplo utilizando as questões fornecidas acima,
escrevendo um texto contendo as conclusões.

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Ontem e hoje
Energia nuclear, medo e poder
No início dos anos 1940, os norte-americanos desenvolveram a primeira arma nuclear.
Desde então, alguns países passaram a produzir e acumular armas nucleares, buscando obter poder no mundo.
Essa tecnologia é objeto do desejo de muitas nações.

Carta de Albert Einstein ao presidente Roosevelt, datada de agosto de 1939


Senhor: ção e o grupo de físicos trabalhando nas reações em cadeia,
Algumas obras recentes de E. Fermi e L. Szilard […] me na América. […]
levam a esperar que o elemento urânio possa ser transfor- Entendo que a Alemanha tenha recentemente suspendi-
mado em uma nova e importante fonte de energia, num do a venda do urânio das minas da Tchecoslováquia, das quais
futuro próximo. Certos aspectos expostos dessa situação pa- ela se apoderou. O fato de ter ela tomado essa decisão tão re-
recem exigir nova consideração e, se necessário, rápida aten- cente talvez possa ser explicado pela hipótese de que o filho do
ção da parte da Administração. Portanto, creio ser meu dever Subsecretário de Estado Alemão, Von Weizsacher, esteja liga-
levar à sua atenção os seguintes fatos e recomendações: do ao Instituto Kaiser Wilhelm, de Berlim, onde alguma coisa
Ao longo dos últimos quatro meses, tem-se tornado da obra americana está sendo agora repetida.
provável, apesar da obra de Jolliot na França, bem como da Sinceramente,
de Fermi e Szilard, na América, ser possível realizar uma re- Albert Einstein
ação nuclear em cadeia, numa grande massa de urânio, atra- Traduzido pelos autores. Disponível em: <http://hypertextbook.com/>.
vés da qual vasta soma de poder e grandes quantidades de Acesso em: 27 nov. 2009.
novos elementos semelhantes ao radium poderiam ser gera-
dos. Agora é quase certo que isso poderia ser alcançado num
futuro próximo.
Esse novo fenômeno também conduziria à construção de
bombas e é concebível – embora não totalmente certo – que bom-
bas extremamente poderosas desse tipo pudessem ser construí-
das. Uma só bomba desse tipo, carregada em barco ou explodida
num porto, poderia muito bem destruir todo o porto, junto com
algum território ao redor dele. […]
Os Estados Unidos possuem apenas muito escassas re-
servas de urânio e em quantidades moderadas. Existem algu-
mas boas reservas no Canadá e na Tchecoslováquia, embora
as fontes mais importantes estejam no Congo Belga.
Tendo em vista tal situação, talvez o Sr. considere dese- Centro da cidade de Hiroshima destruído pela bomba atômica.
jável manter algum contato permanente entre a Administra- Fotografia de setembro de 1945.

ElBaradei crê que Irã quer tecnologia para ter armas nucleares
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atô- Para ElBaradei, o exemplo mais claro disso é a Coreia do
mica (AIEA), Mohamed ElBaradei, disse acreditar que o Go- Norte, país que, apesar de ter armamento nuclear, é convida-
verno do Irã está desenvolvendo sua tecnologia nuclear com do a se sentar em uma mesa de negociação, enquanto o Ira-
a intenção de construir um arsenal atômico. que de Saddam Hussein, sem ter esse tipo de recurso bélico,
Em declarações à “BBC”, ElBaradei disse ter “a sensação foi “pulverizado”.
de que o Irã gostaria de ter a tecnologia que lhe permita ter Segundo o diretor-geral da AIEA, a solução para evitar
armas nucleares”, acrescentando que os iranianos “querem que o Irã [...] obtenha armamento atômico é manter uma
mostrar para seus vizinhos e ao resto do mundo que ‘conos- boa relação política e diplomática com Teerã, fazendo o país
co não se brinca’ ”. […] se sentir parte da comunidade internacional.
O diretor-geral da AIEA argumentou que os iranianos
não estão errados, já que as potências nucleares não são tra- Artigo publicado em 17 jun. 2009. Disponível em: <http://ultimosegundo.
tadas da mesma forma que os outros países. ig.com.br/>. Acesso em: 27 nov. 2009.

Reflita
1. Em sua opinião, como a sociedade e os cientistas devem se comportar diante de pesquisas que, apesar de terem
uma utilidade prática e pacífica, podem também ser usadas para fins militares, caso da tecnologia nuclear?
2. Debata com seus colegas sobre o motivo pelo qual os poucos países que atualmente detêm a tecnologia
nuclear procuram impedir que outros países desenvolvam essa tecnologia.

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Dossiê
As guerras na História
As guerras são tão antigas quanto as civilizações. Elas provocada pelos turcos marcaria o fim da Idade Média.
ocorrem quando povos, Estados ou instituições procu- Muitos países elevaram à categoria de heróis nacionais
ram impor violentamente seus interesses em detrimento pessoas que construíram sua fama em guerras, como, por
do interesse de outros. exemplo, Joana d’Arc na França, George Washington nos
Ao longo da História, as guerras tiveram motivações Estados Unidos, almirante Nelson na Inglaterra, Simon
e características diferentes. Algumas foram vencidas em Bolívar na Venezuela e Ho Chi Minh no Vietnã.
uma única batalha, outras em campanhas que duraram Para cada povo, em um tempo e espaço específicos, as
anos. Em algumas morreram poucos soldados, em ou- guerras possuíram um caráter distinto. Os Tupiniquim,
tras, milhões de pessoas. As guerras ocorreram entre di- por exemplo, praticavam-na não para conquistar ou es-
versas nações ou se constituíram como guerras civis; cravizar outros grupos, mas porque fazia parte da cultura
ocorreram em nome do poder, da arrogância, do amor masculina. Mas, para outros povos, a guerra mostrou-se
ou, ainda, em nome de Deus. um excelente negócio, possibilitando enormes lucros por
parte das empresas especializadas em armamentos.
Os vários sentidos da guerra Grandes obras literárias também se valeram das guerras
O fato de as guerras fazerem parte da história da hu- como pano de fundo. A Ilíada, de Homero, Henrique V, de
manidade não quer dizer que a destruição e a matança Shakespeare, ou Guerra e paz, de Leon Tolstoi, são consi-
sejam características inerentes ao ser humano e que não derados clássicos mundiais atemporais.
possamos lutar por um mundo sem guerras. Na realida- Por meio dos conflitos armados, instituições coloca-
de, a paz tem sido uma das grandes preocupações mun- ram à prova a sua hegemonia e poder. Até mesmo as
diais, e muitas organizações multilaterais e ONGs foram religiões já abençoaram as guerras, como foi o caso do
formadas para zelar por sua preservação. cristianismo nas Cruzadas.
Entretanto, as guerras muitas vezes modificaram os ru- Outra característica bélica é o fato de a ambição cau-
mos do processo histórico e, por isso, tornaram-se balizas sar a queda de muitos impérios que não colocaram li-
cronológicas. Os historiadores consideram, por exemplo, mites em suas conquistas. Isso ocorreu com os assírios,
a conquista de Roma pelos bárbaros como marco do fim com Alexandre da Macedônia, com Napoleão Bonaparte
da Idade Antiga, enquanto a queda de Constantinopla e com Hitler.

 o longo do tempo, as estratégias de guerra transformaram-se, assim como a forma de organização dos exércitos e os armamentos
A
>

tecnológicos usados. À esquerda, soldados romanos representados em relevo, lutando contra os gauleses, c. século I a.C. À direita, soldado
estadunidense consulta aparelho de GPS durante ataque a Tikrit, Iraque, em 2003.

Discussão sobre o texto

1. Pode-se dizer que as guerras ao longo da História tiveram sempre objetivos parecidos? Por quê?
2. No seu entendimento é possível um mundo sem guerras no futuro? Como? Formule hipóteses.
3. Escolha duas entre as guerras citadas no texto. Escreva o que foi estudado sobre elas.

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7 A Segunda Guerra Mundial Atenção: não escreva no livro.
Responda a todas as questões
em seu caderno.
Atividades
Verifique o que aprendeu 12. Leia o que Rudolf Höss, comandante do campo de
concentração de Auschwitz, escreveu em suas me-
1. Winston Churchill afirmou que a Segunda Guerra mórias e responda às questões a seguir.
Mundial era a continuação da Primeira. Por que ele
fez essa afirmação? Depois de minha prisão, fizeram-me notar que
eu podia ter me recusado a executar as ordens, ou
2. O que foi a política de “apaziguamento” adotada
mesmo, se necessário fosse, liquidado Himmler.
pela diplomacia inglesa? Pode-se dizer que ela foi
Não creio que uma tal ideia pudesse aflorar no es-
bem-sucedida? Por quê?
pírito de um único oficial dentre os milhares de SS
3. Explique os motivos que levaram Hitler a obter vá- [...]. Em sua qualidade de Reichsführer, Himmler era
rios sucessos militares seguidos até o ano de 1942. intocável [...]. A partir do momento em que se proce-
4. Apesar dos conflitos ideológicos entre Inglaterra, deu ao extermínio em massa, não me senti feliz em
Estados Unidos e União Soviética, explique como Auschwitz. Eu estava descontente comigo mesmo.
foi possível a aliança entre esses três países. Estafado de trabalho, não podia confiar em meus su-
bordinados, e não era compreendido e sequer ouvido
5. Por que a invasão da Polônia marcou o início da por meus chefes hierárquicos. Eu me encontrava re-
Segunda Guerra Mundial? almente numa situação pouco invejável, ao passo que
6. Quais foram os motivos que levaram os japoneses todo mundo dizia que “o comandante tinha uma vida
a atacar os Estados Unidos em Pearl Harbor? das mais agradáveis” [...]. Nunca fui cruel e nunca me
deixei arrastar a sevícias [...]. Eu era uma engrenagem
7. Qual foi o significado do Dia D para a derrota dos
inconsciente da imensa máquina de extermínio do 3o
alemães na Segunda Guerra Mundial? Explique.
Reich. A máquina se quebrou, o motor desapareceu,
8. Por que, apesar das várias derrotas que vinha sofren- e, devo fazer o mesmo. O mundo assim o exige.
do, a Alemanha demorou a render-se aos aliados? Citado por Vincent, G. Guerras ditas, guerras silenciadas e o
enigma identitário. In: Prost, Antoine; Vincent, Gerard (Org.).
9. Esclareça a importância dos movimentos de resis-
v. 5. História da vida privada: da primeira guerra a nossos dias.
tência nos países invadidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 228-229.
10. Descreva as características da propaganda de a) Qual é a imagem que o autor procura passar de
guerra nos países beligerantes. Quais eram seus si no seu relato?
pontos em comum? Quais eram as especificidades
b) De que maneira ele procura retirar de si a
da propaganda nazista?
responsabilidade pelas mortes no campo de
concentração?
Leia e Interprete c) O autor considera que poderia ter agido dife-
11. Observe a charge abaixo e responda às questões. rentemente, contestando as ordens de seus
superiores?
d) O que ele procura exprimir com “A máquina se
quebrou, o motor desapareceu, e, devo fazer o
mesmo. O mundo assim o exige.”?
13. O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu o
poema “Carta a Stalingrado”, publicado original-
mente no livro A rosa do povo. Leia um trecho des-
se poema e responda às questões.
Stalingrado…
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes
[cidades!
Charge russa representando a coalizão contra o nazismo.
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de
a) Que países aparecem representados na gravura? [pólvora,
b) A que momento da guerra a gravura se refere? e o hálito selvagem da liberdade
c) Que elementos gráficos usados pelo autor repre- dilata os seus peitos, Stalingrado,
sentam o esfacelamento do poderio alemão? seus peitos que estalam e caem,
d) Por meio da análise da charge, é possível perce- enquanto outros, vingadores, se elevam.
ber qual o posicionamento do autor com relação […]
aos países envolvidos? Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,

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