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Qual a Melhor Tradução da

Bíblia?
 Daniel Conegero

A melhor tradução da Bíblia é aquela que se conserva fiel ao texto original, e


ao mesmo tempo consegue transmitir o sentido principal pretendido por
ele. Em boa parte dos casos as diferentes versões disponíveis do texto bíblico
cumprem esse quesito de forma satisfatória.
Pelo fato de existir uma grande variedade de versões, muitas pessoas ficam em
dúvida sobre qual a melhor tradução da Bíblia disponível a qual devemos
adotar. Para tentar responder a essa pergunta, vamos considerar alguns pontos
importantes sobre as traduções bíblicas.

As traduções da Bíblia
O texto bíblico foi traduzido desde muito cedo. Ainda nos tempos do Antigo
Testamento, alguns textos das Escrituras já eram traduzidos para atender
necessidades específicas da época. A primeira grande e importante tradução bíblica
foi a Septuaginta, que traduziu o texto do Antigo Testamento do original hebraico
(e alguns trechos em aramaico) para o grego.
Pela predominância do idioma grego, e por ter sido composta no período
intertestamentário, a Septuaginta foi a principal tradução da Bíblia utilizada pela
Igreja Primitiva, inclusive sendo citada pelos escritores neotestamentários em suas
epístolas.
Depois, na era cristã, surgiram várias outras traduções bíblicas para atender os
idiomas em que o Evangelho se expandia. Sem dúvida a tradução mais significativa
desse período foi a Vulgata, que é a tradução da Bíblia para o latim feita por
Jerônimo, e que com o tempo se tornou a principal versão utilizada no Ocidente.
Já no período da idade média, algumas pessoas também se dedicaram a traduzir os
textos bíblicos para idiomas mais específicos, como foi o caso de John Wycliffe, que
a partir da Vulgata Latina organizou um projeto de tradução para o inglês.

Martinho Lutero também traduziu a Bíblia para o idioma alemão, começando pelo
Novo Testamento e concluindo com a tradução do Antigo Testamento num projeto
bem mais complexo.
Para o idioma espanhol, foi feita a conhecida versão Reina-Valera, assim como para
o português surgiu a tradução Almeida. Em 1611, surgiu também a importante
versão da Bíblia em inglês, a King James Version, que combinou alguns textos já
traduzidos por Wycliffe e Tyndale.

As traduções da Bíblia e os textos originais


Não existem mais os textos originais escritos diretamente pelos escritores dos
livros bíblicos. No entanto, cópias fieis foram feitas ao longo do tempo para
replicar o próprio texto e também para preservá-lo, visto que as próprias cópias
naturalmente se desgastavam com o uso.
Então, copistas fizeram copias dos originais, e depois cópias foram feitas de cópias,
e assim por diante. Com base nisso, existe uma questão interessante relacionada ao
texto grego do Novo Testamento e que é fundamental para se entender melhor os
detalhes que diferenciam as traduções bíblicas disponíveis na atualidade. Na
verdade, basicamente existem dois textos gregos:

1. O texto crítico: com base nos manuscritos mais antigos que se tem


conhecimento;
2. O texto majoritário: com base na maioria dos manuscritos antigos, mas que
datam de um período bem mais recente.
A grande pergunta a ser respondida é: qual desses dois textos é mais fiel aos
originais? É bastante difícil responder a essa questão, especialmente porque não se
sabe o motivo exato pela qual os manuscritos mais antigos foram preservados,
visto que isso pode ter ocorrido ou porque eram muito fieis aos originais e por isso
a Igreja os preservou, ou então por que eram discrepantes, e por isso foram
guardados para que não fossem utilizados.

De qualquer forma, as diferenças entre o texto crítico e o texto majoritário


podem ser consideradas como sendo mínimas, visto que tais diferenças não
afetam de forma alguma os principais pontos da fé cristã e da teologia bíblica.
Como exemplos de tais diferenças, podemos citar: a frase final de Mateus
20:16, “porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”, que não aparece nos
manuscritos mais antigo; a parte final do último capítulo do Evangelho de Marcos;
a narrativa sobre a mulher adúltera no Evangelho de João, e diferenças no capítulo
5 de 1 João.
As traduções da Bíblia e os métodos de
tradução
Quando se fala na melhor tradução da Bíblia, também é preciso saber que
existem dois métodos de tradução utilizados para traduzir a partir dos idiomas
originais:
1. Equivalência formal: esse método traduz palavra por palavra do texto original
adotando seu equivalente exato no novo idioma.
2. Equivalência dinâmica: esse método traduz a frase original adotando a
expressão equivalente de forma dinâmica no novo idioma, ou seja, diferente do
método de equivalência formal, esse método traduz o sentido da frase e não
palavra por palavra.
Ambos os métodos possuem seus pontos positivos, e talvez a melhor solução seja
uma combinação cuidadosa de ambos. O problema em se adotar apenas a
equivalência formal é que muitas vezes na tentativa de ser fiel ao texto original
acaba-se perdendo justamente sua fidelidade, pois não traduz de forma correta o
sentido real que o autor pretendia passar.

Um exemplo disso é Colossenses 3:12, onde o apóstolo Paulo escreve: “Revesti-vos,


pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de
benignidade, humildade, mansidão, longanimidade”.
A palavra grega traduzida como “entranhas”, splagchnon, realmente significa
“tripas”, “intestinos”, etc., e era muito utilizada, visto que naquela época as
entranhas eram consideradas como sendo a fonte das emoções mais profundas e
extremas.
Todavia, em nosso idioma, a melhor tradução para essa palavra seria algo como
“profundos afetos de misericórdia” no sentido de se ter um coração pleno de
compaixão.

Por outro lado, quando se usa apenas a equivalência dinâmica de forma excessiva,
sem ser podada com a os princípios da equivalência formal, corre-se o risco de
também se obter traduções que se distanciam dos originais, ou mesmo de se
perder o sentido principal de determinadas palavras.

Por exemplo, o livro do Apocalipse possui muita linguagem simbólica, e traduzir


tudo de forma dinâmica pode prejudicar terrivelmente o sentido principal do texto,
visto que é fundamental se preservar algumas designações do próprio texto a fim
de compreendê-lo.
Além disso, o uso maciço da equivalência dinâmica dá origem não apenas a uma
tradução, mas a uma paráfrase do texto bíblico, que tenta expressar o conceito
original na linguagem mais popular possível.

Qual a melhor tradução da Bíblia em


português?
Considerando tudo o que foi apresentado acima, pode-se dizer que isso dependerá
do objetivo da leitura. Algumas traduções bíblicas disponíveis em português se
baseiam no texto crítico, enquanto outras se baseiam no texto majoritário. Umas
utilizam o método de equivalência formal e outras o método de equivalência
dinâmica.

De forma geral, em português, as traduções da Bíblia mais conhecidas são: as várias


Almeidas (Corrigida, Fiel, Atualizada, Revisada), a Nova Versão Internacional (NVI), a
versão da King James em português, e as paráfrases Nova Tradução na Linguagem
de Hoje (NTHL), Viva e A Mensagem.

Tentando localizar onde essas versões da Bíblia se encaixam nos parâmetros de


tradução discutidos acima, pode-se dizer, de forma bem simplificada, o seguinte: a
Almeida Corrigida utiliza a equivalência formal de forma bastante extrema, ao
contrário da Almeida Atualizada, que adota um método bem mais equilibrado.

Depois da Almeida Atualizada, podemos posicionar a NVI, como sendo uma


tradução que tenta combinar a equivalência formal e a equivalência dinâmica. Já
utilizando muito da equivalência dinâmica, temos a NTLH, e de forma bastante
extrema, as versões Viva e A Mensagem.

Com base nessa classificação, cada leitor deve decidir qual a melhor tradução da
Bíblia deve ser adotada de acordo com os objetivos pretendidos. Por exemplo,
acredito ser muito complicado utilizar a tradução NTLH ou Viva para fazer a
exposição do texto bíblico num sermão.
Particularmente, prefiro uma tradução que utiliza de forma equilibrada os dois
métodos de equivalência, como é o caso da Almeida Atualizada. Com relação ao
tipo de texto grego, também prefiro uma tradução que se baseia no texto critico,
embora não considero que esse seja um ponto determinante.

Uma boa opção que também se aproxima dessas condições é a NVI. No entanto,
também acho interessante que se tenha uma tradução da Bíblia numa linguagem
mais popular, como a NTLH, especialmente para compará-la com traduções mais
formais, como a Almeida Corrigida e a Almeida Fiel.

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