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A ESTRUTURA DO SERMÃO DO MONTE

1. Por que Sermão do Monte?


Porque foi proferido sobre um monte, nas proximidades de Cafarnaum, no início do Seu ministério público,
após o Seu batismo e tentação. Depois de uma das suas pregações do novo reino (Mt.4:23-25), chamou os
doze discípulos sobre um monte, e depois que os discípulos se acomodaram, Jesus proclamou o mais
conciso e ordenado código de ética e padrão de conduta, que abrangeu todos os seus ensinamentos, e
que os apóstolos deveriam saber de cor, e deviam observá-lo como regra principal para permanência no
Reino de Deus.

O Sermão do Monte é um dos mais famosos ensinos de Jesus; no entanto, nem sempre é fácil de
interpretar, sendo frequentemente mal-entendido. É radical, revolucionário, provocativo e simples; não
obstante, profundo. Talvez não seja acidental que Jesus comece seu ensino sobre a ética do novo Reino
numa montanha, da mesma maneira que Moisés deu a Lei no Monte Sinai. Ademais, Jesus cita a antiga Lei
neste Sermão, prossegue falando com autoridade sobre ela e a amplia como se Ele estivesse maior
autoridade que Moisés (cf.Mt.5:17,18). Para ensinar, Jesus se senta, e os discípulos e a multidão sentam-se
à sua volta – habitual postura pedagógica dos rabinos naquela época.

Nesse Sermão, Jesus faz uma síntese das leis morais que regem a humanidade. É considerado a
constituição do Reino de Deus, sendo todos os seus dispositivos - capítulos e versículos – pétreos, ou seja,
imutáveis e perpétuos. Não é por acaso que esse Sermão está situado no início do Novo Testamento; essa
posição indica sua elevada importância. Nesse Sermão, o Rei resume o caráter e a conduta esperados dos
seus súditos.

Antes do sermão começar, vemos no capítulo 4 o início do ministério de Jesus, quando anuncia a vinda do
Reino de Deus (Mateus 4:17,23). Para consolidar as leis desse Reino, Jesus transmite este sermão com o
objetivo de tornar claro a conduta esperada dos seus súditos (seus seguidores, os cristãos de todo o
período da graça). Ali se achava tudo o que a alma necessitava saber a respeito de Deus, da criação e da
vida quotidiana, tanto naquela época como nas vindouras. Além dos discípulos, uma numerosa multidão o
aguardava para ouvir o seu verbo redentor. Foi ali que, introdutoriamente, comunicou à humanidade
inteira as oito regras básicas para todo o comportamento dos seus súditos – as Beatitudes (Mt.5:3-12):

3.Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus;

4.bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

5.bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

6.bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

7.bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

8.bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;

9.bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

10.bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus;

11.bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal
contra vós, por minha causa.

12.Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos
profetas que viveram antes de vós.

2. A Estrutura do Sermão do Monte


O Sermão do Monte está estruturado em cinco grandes discursos proferidos por Jesus Cristo e tem como
público-alvo todos aqueles que nasceram de novo em Cristo Jesus. É um discurso que pode ser lido no
Evangelho de Mateus (Caps. 5-7) e no Evangelho de Lucas (fragmentado ao longo do livro). Nesses
discursos, Jesus Cristo profere lições de conduta e moral, ditando os princípios que normatizam e orientam
a vida cristã. Os cinco sermões de Jesus: (a) As Bem-aventuranças (Mt.5:3-12); (b) Sal e Luz (Mt.5:13-16);
(c) Jesus é o cumprimento da Lei (Mt.5:17-48); (d) Os atos de justiça (Mt.6:1-18); (e) Declarações de
sabedoria (Mt.6:19-7:27). Pormenorizando melhor, podemos destacar a estrutura do Sermão do Monte da
seguinte maneira:
2.1. Introdução
a) As Bem-Aventuranças (Mt.5:3-12). Bem-aventurado significa "é feliz aquele". Essa é uma estrutura
comum na poesia e sabedoria hebraica para indicar onde está a felicidade ou quem é feliz e por quê. Jesus
surpreende seus ouvintes no seu ensino sobre a felicidade, porque todos os que são bem-aventurados são
pessoas que estão sofrendo de alguma forma.

b) O sal da terra e a luz do mundo (Mt.5:13-16). A missão básica dos seguidores de Jesus no mundo:
conservar e guiar.

Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta
senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a
cidade edificada sobre um monte (Mt.5:13,14).

c) Jesus cumpre a Lei (Mt.5:17-20). Jesus explica sua própria missão, que não é de revogar ou negar a
Lei de Moisés, mas de colocá-la em prática.

Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir (Mt.5:17).

2.2. O que não deve fazer


a) Homicídio (Mt.5:21-26). Jesus amplia o nível da Lei de Moisés. Antes, o homicídio era o assassinato na
prática; agora, só o ódio já é considerado um homicídio, e quem ofende o próximo está correndo risco de
ser incriminado.

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém,
vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem
proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará
sujeito ao inferno de fogo (Mt.5:21,22).

b) Adultério (Mt.5:27-30). No Sermão do Monte, Jesus dá um tom mais forte a este pecado. Antes,
apenas o adultério na prática era pecado; agora, só de pensar em possuir outra pessoa já é adultério.

Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou
com ela (Mt.5:28).

c) Divórcio (Mt.5:31-32). A vontade de Deus nunca foi que maridos e mulheres se separassem, mas abriu
uma única exceção: o adultério. Todo divórcio que não se deu por esse motivo, é como se não existisse
aos olhos de Deus, e o casal continuasse casado.

d) Juramentos (Mt.5:33-37). Jesus se opõe a má prática de juramento, que estava sendo abusada pelos
judeus. Ao invés de jurarem, Jesus instrui que ninguém jure como forma de validar suas palavras, mas que
cada um sempre cumpra o que disse.

e) Vingança (Mt.5:38-42). Jesus ensina que vingança não é sinônimo de justiça, e que na lógica do Reino
de Deus devemos retribuir positivamente aquilo que recebemos negativamente.

Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe
também a outra (Mt.5:39).

f) Odiar os inimigos (Mt.5:43-48). Subvertendo a ordem de que as pessoas deveriam odiar os seus
inimigos, Jesus instrui que amá-los é o jeito certo de tratar os inimigos. Ele diz, inclusive, para que as
pessoas orem a Deus em favor daqueles que os perseguem – “Eu, porém, vos digo: amai os vossos
inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt.5:44). E mais, ele disse que para sermos filhos de Deus
temos que cumprir este duro mandamento – “para que vos torneis filhos do vosso Pai Celeste....”
(Mt.5:45).

2.3. O que deve fazer


a) Ajudar os necessitados (Mt.6:1-4). A prática de ajuda ou auxílio àqueles que mais precisam é uma
ordem clara de Cristo. Ele adverte, ainda, para que ninguém anuncie isso esperando aprovação das outras
pessoas.

Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra
sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai Celeste (Mt.6:1).
b) Oração (Mt.6:5-15). A oração é a ação mais básica esperada de um cristão, e Jesus ensina seus
discípulos a orarem com a conhecida Oração do Pai Nosso. Sua advertência anterior também está
presente: não anuncie que está orando, mas faça isso em secreto, porque o Pai que vê em secreto assim
recompensará.

c) Jejum (Mt.6:16-18). A terceira prática esperada dos cristãos é o jejum, e a sua advertência continua
presente: não mostrar aos outros que está jejuando.

2.4. Cuidados gerais


a) Os tesouros no Céu (Mt.6:19-24). Quem se preocupa demais com os bens materiais, se preocupa
com aquilo que irá naturalmente se degradar ou se perder. Quem se preocupa com as coisas do céu, se
preocupa com o que é eterno. Jesus ensina que ao invés de nos preocuparmos em acumular tesouros
nessa vida, devemos nos empenhar em acumular tesouros na vida eterna.

b) As preocupações da vida (Mt.6:25-34). Jesus instrui que as pessoas devem se preocupar com as
coisas eternas, em vez de coisas passageiras. O Reino de Deus e a sua justiça deve ser a maior
preocupação do cristão, não bens materiais, que são efêmeros.

buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas
(Mt.6:33).

c) Julgamento ao próximo (Mt.7:1-6). Esse é um trecho muito mal interpretado, pois aqui Jesus não está
proibindo as pessoas de julgarem, mas as instrui para julgarem de maneira correta. Antes de dizer que
alguém está errado ou fazendo algo errado, deve-se investigar a si mesmo para ver se não está
tropeçando na mesma coisa, pois seria hipocrisia.

Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu
irmão (Mt.7:5).

d) Persistência na oração (Mt.7:7-12). Nesse trecho Jesus ressalta a confiança que as pessoas devem
ter em Deus, e que Ele suprirá nossas necessidades. Por isso, devemos continuar orando e pedindo a
Deus.

2.5. A Prática da verdade


a) Porta estreita e porta larga (Mt.7:13-14). Este é um dos discursos mais duros que Jesus já proferiu.
Aqui ele explica que entrar no Reino dos Céus não é algo fácil, e a vida de quem segue a Deus também
não será, mas envolverá perdas e restrições. Por outro lado, o caminho do mundo e da libertinagem é
muito mais fácil, mas certamente não levará ninguém a Deus.

Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são
muitos os que entram por ela) (Mt.7:13).

b) A Árvore e seu Fruto (Mt.7:15-23). Esse trecho serve para saber quem é de Deus e quem não é de
Deus. Pelos frutos se conhece a árvore. Quem possui bons frutos, deve ser uma pessoa boa; mas quem
tem maus frutos, deve ser uma pessoa má. Ainda assim, deve-se ter em vista que Jesus está se referindo,
em especial, aos falsos mestres (Mt.7:15), ou seja, sua maior preocupação é com a qualidade do ensino
que as pessoas estão apreendendo.

c) O Prudente e o Insensato (Mt.7:24-27). Nesse trecho Jesus mostra a importância do seu ensino.
Quem o ouve e pratica os seus ensinamentos é sábio e salva sua vida. Quem o ouve, mas não pratica os
seus ensinamentos, é tolo e encontrará somente perdição.

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente
que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram
com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que
ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua
casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra
aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.

3. A quem se destina o Sermão do Monte


O Sermão do Monte foi dirigido, incialmente, aos seus discípulos (Mt.5:1,2), e a intenção é ser a
constituição, ou o sistema de leis e princípios que governam os súditos do Rei no seu reinado. Portanto,
não é uma apresentação do plano de salvação, nem seus ensinamentos têm como alvo os descrentes. O
Sermão do Monte tem um valor distintamente judaico, como visto nas alusões ao Sinédrio (Mt.5:22), ao
altar (Mt.5:23,24) e a Jerusalém (Mt.5:35); mesmo assim, seria errado dizer que os ensinamentos são
exclusivamente para os crentes israelitas no passado ou futuro; são para todos os que, em qualquer
época, reconhecem Jesus Cristo como Rei. Quando Cristo estava na terra, a aplicação direta do Sermão do
Monte era aos Seus discípulos; agora, que nosso Senhor reina dos céus, aplica-se a todos os que o coroam
como Rei no coração. Enfim, será o código de comportamento dos seguidores de Cristo durante o período
da graça e durante Seu futuro reinado na Terra.

II. AS BEM-AVENTURANÇAS E O CARÁTER DOS FILHOS DE DEUS

1. O que são as Bem-aventuranças?


Há pelo menos quatro considerações sobre as bem-aventuranças: (a) São um código de ética para os
discípulos e um padrão de conduta para todos os cristãos; (b) contrastam os valores do Reino, que é
eterno, com os terrenos, que são temporários; (c) contrastam a fé superficial dos fariseus com a fé real
que Cristo exige; (d) demonstram que as expectativas do Antigo Testamento cumprir-se-ão no Reino de
Cristo.

Cada bem-aventurança diz respeito a uma bênção de Deus, e abrange três seções: o estado (isto é, “bem-
aventurado”), a condição e a recompensa. Elas não prometem riso, prazer ou prosperidade terrena. Para
Deus, bem-aventurado é aquele que tem uma experiência de esperança e alegria, independentemente
das circunstâncias exteriores. Para encontrar essa forma mais profunda de felicidade, a pessoa precisa
seguir a Jesus a despeito do preço a pagar. Jesus, nas bem-aventuranças, nos dá a receita da verdadeira
felicidade. Ele põe diante de nós o mapa que nos leva a esse paraíso cobiçado. Os tesouros riquíssimos da
verdadeira felicidade estão ao nosso alcance, A felicidade não é uma utopia, mas algo factível, concreto,
tangível, ao nosso alcance. A boa notícia é que a felicidade não é algo que compramos com dinheiro ou
conquistamos com status, mas um presente que recebemos de Deus.

O mundo tem o seu próprio conceito de bem-aventurança, onde feliz é o homem forte, rico, popular e
satisfeito consigo mesmo. Mas, segundo afirma Hernandes Dias Lopes, a felicidade não está nas coisas
que vemos; é uma atitude do coração. Não é um pagamento de nossas virtudes, mas um presente da
graça de Deus. Não é algo que conquistamos pelo nosso esforço, mas um dom que recebemos pela fé. O
que o mundo promete e não consegue dar, Jesus oferece gratuitamente. É importante afirmar que esse
roteiro está na contramão de todas as orientações dadas pelo mundo. Não é algo que o homem faz para
agradar a Deus, mas o que Deus faz para o homem. A verdadeira felicidade não é prêmio, é presente; não
é merecimento, é graça.

2. O Reino de Deus e seu caráter


O Reino de Deus é onde Jesus é rei. Na Bíblia, o Reino de Deus é um reino espiritual que um dia dominará
tudo. Esse reino começou agora, dentro do coração de cada pessoa que aceitou Jesus como seu Senhor e
Salvador. Deus reina sobre tudo, nada acontece sem sua permissão. O mundo todo pertence a Deus,
porque Ele o criou. Mas quando o pecado entrou no mundo, o ser humano se rebelou contra a soberania
de Deus. Deus continua sendo o rei sobre tudo e sobre todos, mas enquanto o ser humano estiver sob o
poder do pecado ele rejeitará a autoridade de Deus sobre ele; torna-se escravo do diabo. Por isso, Deus
enviou Jesus para restabelecer o Reino, através de Sua morte e ressurreição. Quem aceita Jesus como seu
salvador deixa de pertencer ao reino das trevas e se torna cidadão do Reino de Deus (Cl.1:13,14).

O Reino de Deus ainda não foi completamente estabelecido, mas já começou. Jesus explicou isso na
parábola do grão de mostarda - a semente do Reino foi lançada e continua crescendo (Lc.13:18-19). Cada
pessoa que aceita Jesus faz crescer o Reino. Um dia o Reino encherá toda a terra, mas até lá ele cresce
dentro de nossos corações. No fim dos tempos, quando Jesus voltar, o Reino de Deus será restabelecido
para sempre. Será o tempo no qual cumprir-se-á a profecia de Daniel em que os reinos deste mundo serão
destruídos, o mal aniquilado, restabelecer-se-á a comunhão perfeita com Deus e o Senhor reinará com
justiça para sempre. Não será o resultado da utopia socialista, do avanço dos conhecimentos científicos,
da unificação dos credos em uma só religião mundial, nem de qualquer desenvolvimento moral da
sociedade, mas do propósito original para a criação.

Na presente manifestação do Reino de Deus, ser salvo implica a libertação do poder e dos valores do
mundo, em Deus deter o poder de Satanás e dos demônios, mas em sua dimensão escatológica traduz a
ideia da redenção do corpo – “o livramento da mortalidade” – em que o crente redimido assemelhar-se-á
ao próprio Senhor em sua imortalidade. Nessa bendita Era, o inimigo e os seus agentes já terão sido
banidos para o lago de fogo, o inferno. Com a plena ausência do mal e o pleno triunfo do bem, será
também a época em que a comunhão restaurada em sua plenitude terá como símbolo maior o banquete
entre Cristo e a Igreja. Não haverá mais tristeza nem sofrimento, e a justiça e a paz reinarão
(Rm.14:17). Quem aceitar Jesus como seu salvador e não desistir herdará a vida eterna no Reino de Deus.

3. Os súditos do Reino de Deus


Os súditos do reino de Deus são os justos, os redimidos, aqueles que obedecem e praticam o código de
ética e padrão de conduta estabelecido por Jesus. Jesus disse que se a justiça dos discípulos não
excedesse em muito a dos escribas e fariseus, jamais eles entrariam no Reino de Deus, ou seja, não
seriam súditos do Reino (Mt.5:20). Jesus deixa claro que os escribas e fariseus, que torciam a lei e
oprimiam o povo com um discurso legalista, ostentando uma santidade aparente e uma justiça apenas
exterior, estavam foram do reino de Deus. Para entrar no Reino de Deus é necessário não ostentar, mas
ser humilde de espírito. É necessário não se gabar de sua justiça, mas chorar pelos seus pecados. É
necessário não defender seus direitos, mas ser manso. É necessário ter fome não de prestígio, mas de
justiça. É necessário não oprimir os necessitados e indefesos, mas ser misericordioso. É necessário não
agasalhar hipocritamente toda sorte de imundícia no coração, mas ser limpo de coração. É necessário não
criar contendas e odiar as pessoas em nome de Deus, mas se dispor a sofrer por causa da justiça. Essa é a
justiça que excede em muito a justiça dos escribas e fariseus.

III. SOMOS BEM-AVENTURADOS

1. A beatitude na vida dos salvos


Beatitude significa Bem-aventurança; estado de plenitude, de felicidade profunda, experienciada pela
presença de Deus na vida. As Beatitudes descrevem como os seguidores de Cristo devem viver. O salvo
em Cristo vive as beatitudes do Sermão do Monte de maneira sincera e obediente. Cada uma das
Beatitudes mostra como o crente pode ser bem-aventurado. Ser bem-aventurado significa ter mais do que
felicidade; significa receber o favor e a aprovação de Deus. De acordo com os padrões mundanos, os tipos
de pessoas descritos por Jesus não parecem ser particularmente abençoados por Deus. Mas a forma de
vida que agrada a Deus geralmente contradiz a forma de vida do mundo. Os súditos do Rei certamente
receberão a recompensa pelo modo de viver explicitado no Sermão do Monte. A consumação final de
todas as recompensas se encontra no futuro, na plenitude do Reino de Deus. Entretanto, os crentes já
podem compartilhar o Reino (que já foi revelado), vivendo de acordo com as palavras de Jesus.

2. A prova de que o cristão é bem-aventurado


A prova que o cristão é bem-aventurado pode ser inferida quando o seu caráter cristão é aprovado por
Deus. John Stott afirma que as bem-aventuranças enfatizam oito sinais principais da conduta e do caráter
cristãos, especialmente em relação a Deus e aos homens. Assim como o fruto do Espírito (Gl.5:22)
expressa o caráter do cristão, e não as diversas facetas dele, de igual forma as bem-aventuranças são oito
atributos do mesmo grupo de pessoas. Um cristão maduro tem todas essas oito qualidades, e não apenas
algumas delas. As oito qualidades (fruto do Espírito) juntas constituem as responsabilidades; e as oito
bençãos (as bem-aventuranças), os privilégios, a condição de cidadãos do Reino de Deus. Portanto, um
cristão bem-aventurado é resultado de um estreito relacionamento com Deus, consigo mesmo e com o
próximo. As oito bem-aventuranças apontam para esse quádruplo relacionamento: atitude em relação a si
mesmo (Mt.5:3,4); em relação ao pecado (Mt.5:5,6); em relação a Deus (Mt.5:7-9); em relação ao mundo
(Mt.5:10-12). Contudo, é bom enfatizar que as bem-aventuranças não são qualidades inatas ou adquiridas
pelo esforço humano. Nenhuma pessoa poderia possuir essas bem-aventuranças à parte da graça de
Deus.

CONCLUSÃO

“O Sermão do Monte é a base ética do Reino de Deus. Nele, constatamos o lado divino de uma atitude
amorosa do cristão para com Deus, bem como para com o próximo. Se cada crente fizesse do Sermão do
Monte o seu norte ético de vida, as polêmicas não teriam lugar entre nós, não haveria espaço para meras
opiniões intelectuais, visto que o propósito desse Sermão é que cada crente seja como Deus quer que ele
seja” (Pr. Osiel Gomes).

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