Você está na página 1de 65

ESTUDO TERRITORIAL

ESTRATÉGICO DA
PRODUÇÃO DE AMIDO
NO ESTADO DO AMAPÁ

JOSÉ ADRIANO MARINI


Copyright © 2017 José Adriano Marini

All rights reserved.

ISBN-13: 978-1979227476

ISBN-10: 1979227470
DEDITATÓRIA

Aos produtores rurais brasileiros


CONTEÚDO

Agradecimentos i

1 Introdução Pg 04

2 Informações econômicas Pg 06

3 Comercio mundial de fécula Pg 20

4 Evolução dos mercados e produção no Brasil Pg 30

5 Evolução dos mercados e produção no estado do Amapá Pg 41

6 Considerações finais Pg 46
AGRADECIMENTOS

A Aleandra, a Cheyenne , a Giovanna

i
APRESENTAÇÃO

Os estudos territoriais são uma forma moderna de se


apresentar as várias dimensões que contribuem para a
construção de determinados espaços, considerando-se que
os gestores, sejam públicos ou privados, precisam conhecer
as dinâmicas que ocorrem no e pelo território com a finalidade
de interagir e promover seu desenvolvimento.
São nestes espaços, locais de amplas possibilidades, que
ocorrem as diversas relações sociais, as relações de
consumo, de trocas e as econômicas. Então eles tornam-se
objetos de observação e analises, considerando-se que as
políticas públicas geralmente estão circunscritas a territórios,
administrativamente bem delimitados.
Trabalhos deste tipo visam identificar os objetos geográficos,
sua utilização e importância para os fluxos de pessoas e
materiais facilitando a compreensão das dinâmicas sociais,
hábitos e costumes locais, além das interações que estes
aspectos realizam com outros grupos sociais de outros
diversos espaços geográficos.
Neste estudo, muitas informações foram trabalhadas
utilizando-se os bancos de dados tanto da FAO quanto do
IBGE. As informações referentes ao Estado do Amapá foram
aferidas com resultados de projetos da Embrapa Amapá, que
possibilitaram trabalhar com dados mais próximos a
realidade.

3
JOSÉ ADRIANO MARINI

1. INTRODUÇÃO

Fácil produção, grande disseminação territorial e alta


adaptabilidade ao clima do continente sul-americano
propiciaram a extensa incorporação da mandioca aos hábitos
alimentares das populações pré-colombianas. Hoje, o Brasil
figura como o segundo maior produtor mundial da raiz, atrás
da Nigéria (SEBRAE, 2008).
Estima-se que sua plantação intencional pelo homem
começou há cerca de 9 mil anos, o que reforça a tradição do
seu consumo. Relatos de 1573 do cronista Magalhães
Gandavo já faziam menção à existência da mandioca no
Brasil e às suas diversas variedades. Os métodos
razoavelmente uniformes utilizados pelos nativos das
diferentes regiões incluíam um período de descanso do solo,
uma vez que a mandioca absorve mais nutrientes que a maior
parte das culturas tropicais. Uma vez conhecida pelos
portugueses, foi levada à África, servindo de alimentação aos
colonizadores e aos escravos transportados através do
Oceano Atlântico, em direção às Américas (CAMARGO,
2007).
Dentre todos os gêneros do complexo americano, foi a
mandioca o produto agrícola que mais influenciou e
transformou a fisionomia da agricultura da África central. Das
costas angolanas vai ela penetrar cada vez mais
profundamente o coração da África central, desempenhando

4
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

assim um importante papel na história agrária destas


sociedades. (CAMARGO, 2007).
Alguns produtos derivados da mandioca elaborados
pelos índios e logo conhecidos pelos portugueses foram:
mbeu (produto semelhante ao atual beiju); mambeca
(ancestral do pirão); poqueca; curuba; cica; e puba
(CAMARGO, 2007). Os índios processavam a raiz, ralando-
a, comprimindo-a e cozinhando-a (processos que retiram
naturalmente sua potencial toxidade); seu uso principal era
na forma de farinha. Com o aprendizado das técnicas
indígenas, foi também usada pelos bandeirantes como fonte
de alimento duradoura e fácil de transportar durante suas
expedições ao interior do continente (SEBRAE, 2008).
Hoje, no Brasil, ainda existem muitas comunidades que
dependem fortemente da mandioca e da sua farinha para
sobrevivência. Seu cultivo é explorado sob o ponto de vista
comercial e como cultura de subsistência. A conservação de
variedades diferentes é valorizada pelos grupos de
agricultores, dadas as diferenças nutricionais de cada cultivar
(SEBRAE, 2008)

5
JOSÉ ADRIANO MARINI

2. INFORMAÇÕES ECONOMICAS

A mandioca se disseminou rapidamente após sua inserção


no continente africano e atualmente também é uma
importante cultura nos países do sudeste asiático.
Em 2014 o continente Africano produziu 54,73% da mandioca
no mundo sendo o continente que ainda detém grande parte
da produção, seguido pela Ásia que obteve 33,68% e por
último a América Latina com 11,57% das produções da raiz,
conforme visualiza-se no Figura 1. No entanto as altas
produções na Ásia são obtidas por altas produtividades da
raiz (Figura 2), demonstrando um melhor grau de tecnificação
da cultura do que na América Latina e na África.

6
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Produção
160000000
140000000
120000000
100000000
80000000
60000000
40000000
20000000
0
Asia Africa Americas

Figura 01: Comparativo de produtividade de raízes de


mandioca (t/ha) nos continentes Africano, Asiático e
Americano
Fonte: FAO (2016) a.

7
JOSÉ ADRIANO MARINI

Produtividade
25

20

15

10

0
Asia Africa Americas

Figura 02: Comparativo de produtividade de raízes de


mandioca (t/ha) nos continentes Africano, Asiático e
Americano.
Fonte: FAO (2016) b.

A forte entrada dos países do sudeste asiático na produção


de mandioca excluiu os demais países sul-americanos do
ranking dos 15 maiores produtores, sendo a produção
mundial equitativamente dividida entre os países africanos e
asiáticos, com o Brasil fazendo o contraponto do grupo,
conforme visualiza-se no Figura 3. (SEBRAE, 2008)

8
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

PRODUÇÃO
60000000
50000000
40000000
30000000
20000000
10000000
0

Figura 3 – Quinze maiores produtores mundiais de mandioca


(em ton – 2014)
Fonte: FAO (2016) c.

O maior produtor mundial de raízes de mandioca é a Nigéria,


onde são produzidas aproximadamente 54,8 milhões de
toneladas de mandioca, a maior parte consumida no próprio
país in natura. Em seguida situam-se os asiáticos Tailândia e
Indonésia, com 30,0 e 23,43 t anuais. Estes dois países
investem de forma expressiva no aumento da produtividade
agrícola e industrial, tendo como prioridade atender a
demanda asiática por fécula (Felipe, Alves & vieira, 2013). No
Brasil, o quarto maior produtor mundial, a raiz é importante
fonte de alimentação in natura, bem como matéria-prima
agroindustrial. Trata-se de uma cultura de subsistência, que
pela própria rusticidade da planta, sempre teve pouco uso de

9
JOSÉ ADRIANO MARINI

tecnologia para o seu cultivo (Idem). Atualmente porem a


tendência do pais é seguir os rumos de diversos países da
América Latina e do sudeste asiático ao focar sua atuação na
crescente industrialização da mandioca. Atualmente, a
produção brasileira gira em torno de 23,2 milhões de
toneladas da raiz, o equivalente a 42% da quantidade da
Nigéria, no entanto esta alta produção nigeriana não reflete,
como se observará mais adiante, um desenvolvimento ou
tecnificação da cultura, mas sim a utilização de grandes áreas
para o cultivo da mandioca.
Praticamente não há, nos países africanos, indústrias
dedicadas ao processamento da mandioca, sendo o
consumo quase que exclusivamente in natura; ela é
comercializada em pequenas quantidades nas feiras,
mercearias e propriedades produtoras. Esta produção
africana, que pouco se dedica a agregar valor ao produto,
apresentou um crescimento significativo nas últimas
décadas, conforme ilustrado pelo Figura 4 (SEBRAE, 2008).

10
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Produção
160000000
140000000
120000000
100000000
80000000
60000000
40000000
20000000
0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2014

Figura 4: Produção de raízes de mandioca entre 1970 e 2014


no continente Africano.
Fonte: FAO (2016) d.

Na Ásia a forte expansão da cultura da mandioca expõe a


Tailândia e Indonésia como os principais produtores
regionais, seguidos pelo Vietnã, Camboja, Índia e pela China
(Figura 5), estas produções absolutas refletem de certa forma
as áreas utilizadas com a cultura (Figura 6) onde as maiores
áreas com a cultura encontram-se justamente na Indonésia e
na Tailândia. As produtividades (Figura 7) que refletem os
níveis tecnológicos adotados são muito expressivos na Índia,
porem na maioria do países da região do sudeste asiático
todas as produtividades são elevadas, indicando um grande
avanço no desenvolvimento da mandiocultura no local.

11
JOSÉ ADRIANO MARINI

Produção
35000000
30000000
25000000
20000000
15000000
10000000
5000000
0

Figura 5: Produção de raízes mandioca pelos países


asiáticos em 2014 (t)
Fonte: FAO (2016) e.

Area
1600000
1400000
1200000
1000000
800000
600000
400000
200000
0

Figura 6: Área plantada de mandioca pelos países asiáticos


em 2014.
Fonte: FAO (2016) f.

12
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Produtividade
400000
350000
300000
250000
200000
150000
100000
50000
0

Figura 7: Produtividade de mandioca nos países asiáticos em


2014
Fonte: FAO (2016) g.

Na América do Sul o Brasil aparece praticamente isolado na


produção da cultura com mais de 23 milhões de
toneladas/ano, sendo que os produtores mais próximos,
Colômbia e Paraguai, registram 2,6 e 3,0 milhões de
toneladas anuais, muito abaixo portanto das produções
brasileiras (Figura 8), esta situação também se repete na
ocupação das áreas com a mandioca, onde no Brasil são
utilizados mais de 1,5 milhões de hectares (Figura 9), sendo
a grande maioria utilizada pela categoria de Agricultores
Familiares. No entanto, embora com altas produções
absolutas, a produtividade brasileira de mandioca ainda não
supera alguns países como o Paraguai e o Suriname (Figura
10), que alcançam uma média por hectare de 17 e 27

13
JOSÉ ADRIANO MARINI

toneladas, respectivamente, acima das 14 toneladas do


Brasil.

Produção
25000000
20000000
15000000
10000000
5000000
0

Figura 8. Produção sul americana de raízes de mandioca em


2014
Fonte: FAO (2016) h.

14
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Area cultivada
2000000

1500000

1000000

500000

Figura 9. Área cultivada com mandioca pelos países sul


americanos em 2014
Fonte: FAO (2016) i.

Produtividade
300000
250000
200000
150000
100000
50000
0

Figura 10. Produtividade de raízes de mandioca nos países


sul americanos em 2014
Fonte: FAO (2016) j.

15
JOSÉ ADRIANO MARINI

No continente africano quase todos os países produzem


mandioca, principalmente voltada ao consumo in natura. A
Nigéria se destaca como a maior produtora de mandioca em
números absolutos com uma produção anual de 54 milhões
de toneladas, seguida pelo Congo e por Gana com produções
anuais de 16 toneladas cada um (Figura 11)

16
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Produção
60000000
50000000
40000000
30000000
20000000
10000000
0

Figura 11. Principais países produtores de mandioca no


continente africano em 2014.
Fonte: FAO (2016) k.

No entanto, esta alta produção de raízes por parte da Nigéria


não indica necessariamente uma alta tecnificação da cultura
naquele pais, pois observando o Figura 12 nota-se que as
áreas utilizadas pela cultura são imensas, muito superiores a
de qualquer outro pais produtor de mandioca naquele
continente, superior a 7 milhões de hectares, enquanto que
os segundo posto de pais com maiores áreas utiliza pouco
mais de 2 milhões de hectares com a cultura.

17
JOSÉ ADRIANO MARINI

Area cultivada
8000000
7000000
6000000
5000000
4000000
3000000
2000000
1000000
0
Côte d'Ivoire

Zambia
Comoros

Malawi
Mauritius
Benin

Réunion

Burkina Faso
Angola

Liberia
Ghana
Central African Republic

Gabon

Niger
Guinea-Bissau

Sao Tome and Principe


Seychelles
Somalia
Togo
Cameroon

South Sudan
Figura 12. Área cultivada com mandioca nos países africanos
em 2014.
Fonte: FAO (2016) l.

A tecnificação da mandiocultura no continente é refletida


principalmente pelos índices de produtividade, onde poucas
áreas podem responder por altas produções. Neste sentido,
o Figura 13 nos mostra que a produtividade de Malawi é a
maior da África, com 23 toneladas por hectare, seguida por
Gana e Níger com 18 toneladas. O Figura confirma a baixa
utilização de tecnologias pela Nigéria onde as produtividades
situam-se abaixo da média do continente com 7,7 toneladas

18
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

por hectare de raiz.

Produtividade
250000
200000
150000
100000
50000
0
Central…

Sao Tome…
Côte d'Ivoire
Angola

Ghana

Zambia
Comoros
Benin

Liberia

Mauritius
Malawi

Réunion

Burkina Faso
Gabon

Seychelles
Somalia
Cameroon

Niger
Guinea-Bissau

Togo

South Sudan
Figura 13. Produtividade de mandioca nos países africanos
em 2014
Fonte: FAO (2016) m.

19
JOSÉ ADRIANO MARINI

3. COMERCIO MUNDIAL DE FECULA

Apenas 8,9% da produção mundial de fécula é exportada.


Dominam as exportações mundiais de fécula os países do
sudeste asiático, principalmente a Tailândia e o Vietnam,
onde os cultivos de mandioca são exclusivamente voltados a
este comércio, conforme ilustrado no Figura 14. Estes dois
países dominam 95% do comércio exportador de fécula
mundial, sendo que em 2014 a Tailândia exportou 5,8
milhões de toneladas e o Vietnam 1,6 milhões de toneladas.

Exportadores de Amido
7000000
6000000
5000000
4000000
3000000
2000000
1000000
0
Honduras
Philippines
Costa Rica

Sri Lanka

Fiji
Thailand
Viet Nam
Indonesia

Italy
Netherlands

India
Mexico

Ecuador
Uganda

Nicaragua

Belgium
Portugal
Cambodia

United States of America


Paraguay

Figura 14. Vinte maiores exportadores mundiais de fécula de


mandioca
Fonte: FAO (2016) n.

20
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

O destino destas exportações são outros países da Ásia,


notadamente os mais industrializados como a China
continental e a Coreia do Sul, sendo que a China, de acordo
com a FAO (2016) importa 85% da fécula dos mercados
mundiais. No ano de 2014 este pais importou 7,3 milhões de
toneladas do produto enquanto se o segundo colocado nas
importações comprou pouco mais de 500 mil toneladas.

Importadores de amido
8000000
7000000
6000000
5000000
4000000
3000000
2000000
1000000
0

Figura 15. Principais importadores mundiais de fécula de


mandioca.
Fonte: FAO (2016) o.

No continente africano a Uganda é o principal exportador de


fécula, com 8,8 mil toneladas exportadas em 2014, segundo
dados da FAO (Figura 16) enquanto que no lado oposto, o
maior importador do produto no período foi a Ruanda com 29

21
JOSÉ ADRIANO MARINI

mil toneladas (Figura 17).

Amido exportado
10000
9000
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0

Figura 16. Principais países africanos exportadores de fécula


de mandioca.
Fonte: FAO (2016) p.

Amido importado
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0

Figura 17. Principais países africanos importadores de fécula

22
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

de mandioca
Fonte: FAO (2016) q.

No continente americano, o maior exportador de fécula é a


Costa Rica que, em 2014 exportou 91 mil toneladas do
produto, seguido pelo Paraguai com 16 mil toneladas
exportados (Figura 18). Em outro lado, o maior importador no
continente são os Estados Unidos com o montante de 93 mil
toneladas importadas no período, seguido pelo Brasil com 11
mil toneladas e depois pelo Canadá com 4 mil toneladas
importadas (Figura 19)

Amido exportado
100000
90000
80000
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
0

Figura 18. Países americanos exportadores de fécula de


mandioca
Fonte: FAO (2016) r.

23
JOSÉ ADRIANO MARINI

Amido importado
100000
90000
80000
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
0

Figura 19. Países americanos importadores de fécula de


mandioca
Fonte: FAO (2016) s.

Entre os países que compõem o continente asiático e que são


exportadores de fécula, a Tailândia e o Vietnam se destacam,
assim como também se sobressaem no cenário mundial,
seguidos pela Indonésia com exportações de 127 mil
toneladas e pelo Camboja com 59 mil (Figura 20). A China
continental, a maior importadora de fécula de mandioca tanto
do continente quanto em nível mundial, é seguida localmente
pela Coreia do Sul com importações de 577 mil toneladas e
pela Tailândia com importações de 472 mi toneladas, todas
em 2014 (Figura 21)

24
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Amido exportado
7000000
6000000
5000000
4000000
3000000
2000000
1000000
0

Figura 20. Principais países asiáticos exportadores de fécula


de mandioca
Fonte: FAO (2016) t.

Amido importado
8000000
7000000
6000000
5000000
4000000
3000000
2000000
1000000
0

Figura 21. Principais países asiáticos importadores de fécula


de mandioca
Fonte: FAO (2016) u.

25
JOSÉ ADRIANO MARINI

A Europa não tem tradição no cultivo da mandioca,


principalmente devido ao clima adverso ao desenvolvimento
da cultura, desta forma o maior exportador, a Holanda, ainda
consegue colocar no mercado pouco mais de 6 mil toneladas
do produto, este número certamente relaciona-se com
carregamentos oriundos do porto de Roterdã e revendidos
pela Holanda, considerando-se não haver no pais condições
climáticas favoráveis ao desenvolvimento da cultura (Figura
22), esta mesma situação (revenda) ocorre com a Bélgica e
com o Reino Unido. No entanto Portugal (3º. exportador) e
Itália (4º. exportador) possuem, embora limítrofes, condições
para o cultivo de mandioca e consequentemente a extração
de amido.

Amido exportado
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0

Figura 22. Países europeus exportadores de fécula de


mandioca
Fonte: FAO (2016) v.

26
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Os maiores compradores de fécula no continente Europeu


são a Holanda (10 mil toneladas), Espanha (7 mil toneladas),
França (4,6 mil toneladas) e Reino Unido (3,4 mil toneladas).

Amido importado
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0

Figura 23. Países europeus importadores de fécula de


mandioca
Fonte: FAO (2016) w.

As informações referentes ao consumo interno da mandioca


e derivados no continente africano, mostram claramente os
índices de aproveitamento interno da cultura, evidenciando o
papel da mandioca como alimento de segurança nacional
para estas populações (Figura 24), evidenciando que
praticamente toda a produção do tubérculo é consumida
dentro do próprio pais e que este consumo acompanha a
curva de produção indicando também que não há consumos

27
JOSÉ ADRIANO MARINI

de importados em substituição a produção. O fluxo de


importação e exportações é praticamente insignificante frente
aos altos índices produtivos.
O Figura 25 fazendo o levantamento das produções e
consumo interno no período compreendido entre os anos de
2000 e 2014 nos principais países produtores da raiz de
mandioca no continente africano levanta uma importante
constatação ao mostrar que o consumo dos países,
independente de qual seja, está estritamente relacionado à
produção. Considerando que este é um consumo para
alimentação, pois retornando ao Figura 17 vê-se que a
exportação de derivados da cultura são muito baixos, e que a
população tem as mesmas necessidades alimentares
independente do período, conclui-se que em anos de baixa
produção as populações locais veem-se privadas de alguma
quantidade do alimento para a satisfação de suas
necessidades.

28
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Produção e Consumo interno

60000000
40000000
20000000
0
Angola
Chad
Côte d'Ivoire
Kenya
Madagascar
Mozambique
Consumo interno

United Republic…
Nigeria
Zimbabwe
Senegal

Burkina Faso
Zambia
Consumo interno Produção

Figura 24. Produção e consumo interno da mandioca e seus


derivados nos países africanos no ano de 2014.
Fonte: FAO (2016) x.

Uso domestico e produção


60000000
40000000
20000000
0
Mozamb…
Mozamb…

United…
Madaga…

United…
Côte…

Burkina…
Burkina…
Senegal
Benin

Nigeria

Zambia
Kenya
Kenya

Zimbabwe
Zimbabwe
Angola
Angola

Ghana
Ghana
Chad
Chad

Gabon

Ano Uso Domestico Produção

Figura 25. Produção e consumo interno da mandioca e seus


derivados nos países africanos no período de 2000 a 2014
Fonte: FAO (2016) y.

29
JOSÉ ADRIANO MARINI

4. EVOLUÇÃO DOS MERCADOS E PRODUÇÃO NO


BRASIL

A mandioca é um alimento básico de milhões de brasileiros e


é utilizado como um dos principais produtos de subsistência
por grande parte da população. Além de sua utilização na
alimentação, constitui-se em matéria prima de amplo e
diversificado emprego industrial, e é uma excelente fonte de
forragem proteica (parte aérea) e energética (raízes) (Lorenzi
e Dias, 1993). A despeito de sua importância, ainda é muito
cultivada de forma tradicional, em pequenas propriedades,
cuja mão de obra utilizada na execução das tarefas,
concernente ao processo produtivo é predominantemente
familiar e sem uso de tecnologia adequada, apesar dela existir
e estar disponível para os produtores.
Assim, apesar do grande potencial da cultura no país, na
grande maioria das regiões são detectadas baixas
produtividades, em função, principalmente, do uso de
variedades suscetíveis à pragas e doenças, além do baixo
potencial produtivo em consequência da não adaptação às
condições de solos e da própria característica genética dos
cultivares utilizados. Apesar dos esforços da pesquisa em
todo o pais, na seleção de novas variedades de mandioca
com maior potencial produtivo e resistência a pragas e

30
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

doenças, grande parte das novas variedades não foram


adotadas pelos produtores, e as mais comumente utilizadas,
ainda são as mesmas que vem sendo plantadas na maioria
das regiões há muitos anos. (Fukuda et al, 2000).

Este quadro descrito por Fukuda é claramente ilustrado pelos


Figuras 26, 27 e 28. No período compreendido entre os anos
de 1961 e 2014 as áreas cultivadas com a raiz tiveram um
aumento significativo entre os anos de 1970 e 1995 quando
se chegou a utilizar no período aproximadamente 2 milhões
de hectares com a cultura. A produção de raízes, no entanto,
após o pico produtivo de 1970 quando alcançou 29 milhões
de toneladas iniciou um decréscimo, estabilizando-se a partir
de 1980 e chegando em 2014 com 23 milhões de toneladas
produzidas, demonstrando uma certa estabilidade produtiva
nos últimos 35 anos. No entanto, a intensificação da cultura,
seja de forma sustentável ou não, obtidas com a adoção de
novas tecnologias como variedades mais produtivas,
mecanização, introdução de variedades resistentes a pragas
e doenças, entre outras, que pode ser nitidamente observada
pelos indicadores de produtividade (Figura 28) demonstra
que, excetuando-se a década de 1970, os índices produtivos
mantêm-se praticamente os mesmos. Enquanto que em 1961
as produtividades médias da cultura ficavam em 13 toneladas
por hectare, em 1965 em 14, 2 ton./ha, em 2014
encontramos a média de 14,8 ton./ha, praticamente a mesma
obtida na década de 1960.
31
JOSÉ ADRIANO MARINI

Não se pode, na análise do indicador de produtividade, deixar


de realizar comparações com outros países que também
destacam-se no cenário mundial na produção da raiz. Assim,
considerando-se que as três maiores produtividades da
África, um continente com pouco acesso a tecnologias,
situam-se entre 23 e 18 ton/ha, nota-se que o Brasil está,
neste parâmetro, muito aquém tecnologicamente daquele
continente no desenvolvimento desta cultura. Comparando o
Brasil com os países asiáticos, onde os cultivos ocorrem
também sob condições familiares, porem com o uso de
tecnologias produtivas, visualiza-se que a produtividade na
Índia alcança 35 ton./ha, na República Democrática do Lao
26,9 ton./ha, na Indonésia 23 ton./ha e na Tailândia 22
ton./ha, ilustrando claramente o atraso técnico do pais nas
práticas culturais da mandioca pois, segundo os Figuras
apresentados pela FAO, em mais de 50 anos de analises
praticamente nada, ou muito pouco, mudou em relação a
estas práticas (indicados pelos índices produtivos) da
mandioca no Brasil.

32
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Área cultivada
2500000

2000000

1500000

1000000

500000

0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Figura 26. Área cultivada com mandioca no Brasil no período


de 1961 a 2014.
Fonte: FAO (2016) a.

Produção
35000000

30000000

25000000

20000000

15000000

10000000

5000000

0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Figura 27. Produção bruta de raízes de mandioca no Brasil


no período de 1961 a 2014.

33
JOSÉ ADRIANO MARINI

Fonte: FAO (2016)

Produtividade
160000
140000
120000
100000
80000
60000
40000
20000
0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Figura 28. Variação da produtividade da mandioca no Brasil


entre os anos de 1961 e 2014.
Fonte: FAO (2016)

Dentre as regiões brasileiras, as maiores quantidades


produzidas de mandioca situam-se primeiramente no Norte,
que responde por 34,58% da produção nacional, seguida
pelas regiões Nordeste (24,38%) e Sul (24,02%), conforme
ilustra a Figura 29.

34
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

23.242.064
PRODUÇÃO

8.037.507

5.668.126

5.583.682
2.524.993

1.427.756
BRASIL NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-
OESTE

Figura 29. Produção total de mandioca nas regiões brasileiras


em 2014.Fonte: IBGE (2016) a

Não obstante as produções absolutas, as maiores áreas


cultivadas com a mandioca concentram-se na região
Nordeste do Brasil onde estão 37,21% do total das áreas com
a cultura no pais, seguida de perto pela região Norte com
33,27% destas áreas. A região Sul, terceira maior produtora
da raiz detém menos da metade de cada uma destas regiões,
com 15,8% de suas áreas destinadas a cultura.

35
JOSÉ ADRIANO MARINI

1.567.683 ÁREA PLANTADA

583.474
521.715

249.258
137.710

75.526
BRASIL NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-
OESTE

Figura 30. Área cultivada com mandioca nas regiões


brasileiras em 2014.
Fonte: IBGE (2016) b

Esta grande diferença entre produção Norte/Nordeste e Sul e


área plantada é melhor esclarecida pelo Figura 31, onde são
mostrados os indicadores de produtividade, que é a relação
produção/área e um determinante do grau tecnológico
utilizado para a cultura na região. Desta forma conhecemos
que as tecnologias empregadas na região Sul fazem com que
sua produtividade alcance até 22,4 ton/ha de raízes, sendo
assim a maior do pais e em oposição as produtividades Norte
(15,4 ton/ha) e Nordeste (9,7 ton/ha) situam-se nas últimas
colocações neste parâmetro de análise, indicando mais uma
vez uma grande deficiência na utilização de tecnologias
produtivas para a cultura naquelas regiões.

36
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

PRODUTIVIDADE

22.401

18.904
18.336
15.406
14.826

9.714

BRASIL NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-


OESTE

Figura 31. Produtividade de mandioca no Brasil e em suas


regiões em 2014.
Fonte: IBGE (2016) c

Entre os municípios brasileiros que mais produzem mandioca


na forma de raiz estão aqueles situados nas regiões Norte e
Nordeste, especialmente nos estados do Pará e Amazonas,
sendo que dos vinte maiores produtores apenas um é externo
a região (Araruana, PR) (Figura 32). Todos os municípios
nortistas listados entre os vinte maiores produtores nacionais
situam-se em áreas distantes dos grandes centros
consumidores, mostrando assim a grande importância da
cultura para as comunidades interioranas e
consequentemente da renda obtida com a transformação da
raiz.

37
JOSÉ ADRIANO MARINI

379.000
264.000
PRODUÇÃO
261.240
240.000
230.315
207.765
183.260
180.000
180.000
153.900
144.000
144.000
140.000
136.202
135.000
132.880
124.740
120.000
120.000
120.000
Figura 32. Maiores produções de mandioca nos municípios
brasileiros em 2014.
Fonte: IBGE (2016) d.

Ainda a região Norte e em menor proporção a região


Nordeste concentram as maiores áreas com a cultura
destacando-se no estado do Pará os municípios de Juruti,
Acará e Santarém, conforme demonstra o Figura 33.

38
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

ÁREA

30.000
25.200
21.770
17.314
15.000
12.310
11.900
10.400
10.000
10.000
9.330
9.000
9.000
8.100
8.000
8.000
8.000
7.500
7.000
7.000
Figura 33. Maiores áreas com mandioca nos municípios
brasileiros em 2014.
Fonte: IBGE (2016) e.

As maiores produtividades municipais por sua vez deslocam-


se do eixo Norte/Nordeste e concentram-se nos estados do
Sul e Sudeste, destacando-se então os municípios de
Senador José Bento (MG), Reginópolis (SP), Marechal
Candido Rondon (PR), Lajeado Grande (SC), Agudo (RS),
Jacutinga (RS) e Santa Inês (PR), todos campeões de
produtividade da mandioca com 40 toneladas por hectare
produzidas em 2014, de acordo com as informações do
Figura 34.
Dentre os vinte municípios com maiores produtividade
encontramos apenas um da região Norte (Monte Negro, RO)
com 36,5 mil toneladas produzidas naquele ano.

39
32.000
34.000
36.000
38.000
40.000
Senador José… 42.000
Reginópolis -…
Marechal…
Lajeado…
Agudo - RS

Fonte: IBGE (2016) f.


Jacutinga - RS
Santa Inês - PR
Boa…
Borborema -…

40
municípios brasileiros em 2014.
Terra Roxa -…
Santo Inácio…
Produtividade

Monte…
JOSÉ ADRIANO MARINI

Jesuítas - PR
Garopaba - SC
Vila Maria - RS
Registro - SP
Nepomucen…
Santa…
Mercedes - PR
Flores da…
Figura 34. Maiores produtividades de mandioca nos
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

5. EVOLUÇÃO DOS MERCADOS E PRODUÇÃO NO


ESTADO DO AMAPÁ.

Dentre os municípios do estado do Amapá, o maior produtor


de mandioca, de acordo com os dados do Figura 35, é o
Oiapoque onde concentram-se 18,63% da produção
estadual. Logo após estão os municípios de Tartarugalzinho
(10,34%) e Pedra Branca do Amapari (9,62%). Opostamente
encontram-se os municípios de Cutias e Itaubal,
respondendo cada um por 1,45 e 1,70 % das produções da
cultura no estado.

PRODUÇÃO
29.750

16.523
15.368

13.240
12.780
12.130
10.125
8.900

8.340
7.784
7.140

5.120
4.150
3.250

2.730
2.320

Figura 35. Produção de mandioca (kg) nos municípios


amapaenses em 2014.Fonte: IBGE (2016) g.

41
JOSÉ ADRIANO MARINI

As áreas com a cultura refletem os índices produtivos sendo


que no Oiapoque estão 16,45% das áreas com a cultura,
seguidos por Pedra Branca do Amapari e Tartarugalzinho,
ambos com 9% das áreas estaduais de mandiocultura. Cutias
e Itaubal detém, relativamente as áreas da cultura estaduais,
1,9 % cada, como pode ser visualizado no Figura 36.

ÀREA COLHIDA
3000
2500
2000
1500
1000
500
0

Figura 36. Área colhida de mandioca nos municípios


amapaenses em 2014.
Fonte: IBGE (2016) h.

As produtividades da cultura da mandioca no estado do


Amapá não sofrem grandes variações em função das
localidades onde são praticadas, alcançando os municípios
mais produtivos a média anual de 13, 24 ton/há no Pracuuba,

42
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

12,4 ton/há no Oiapoque e 12,1 ton/há em Serra do Navio


enquanto que em Cutias esta média situa-se 8,1 ton/há,
ficando 25% abaixo da média estadual de produtividade,
situada em 10, 6 ton/ha, conforme Figura 37.

Produtividade
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
0

Tartarugalzinho -…
Pedra Branca do…

Ferreira Gomes -…

Laranjal do Jari -…

Mazagão - AP

Estado do Amapá
Amapá - AP

Calçoene - AP
Cutias - AP

Itaubal - AP

Macapá - AP

Porto Grande - AP
Pracuúba - AP
Serra do Navio - AP

Oiapoque - AP

Vitória do Jari - AP
Santana - AP

Figura 37. Produtividade de mandioca nos municípios


amapaenses em 2014.
Fonte: IBGE (2016) i.

Embora as produções de raízes de mandioca mantinham-se


estáveis ao longo de toda a primeira década de 2000, a partir
de 2011 estas começaram a apresentar ligeira alta, sendo
este fator mais visível no Oiapoque, conforme visualiza-se
pela figura 38. Este fator é explicado pela seca prolongada
nos anos anteriores que ocorreu na região do Nordeste
brasileiro causando uma queda na produção regional. Assim,
boa parte da farinha que viria para o Amapá de outras

43
JOSÉ ADRIANO MARINI

localidades teve seu destino desviado causando um aumento


nos preços, tanto no Nordeste quanto na região Norte.

35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007


2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Figura 38. Variação na produção de mandioca entre os anos


de 2000 a 2014 nos municípios amapaenses maiores
produtores da raiz.
Fonte: IBGE (2016) j.

Acompanhando assim este crescimento, o valor das


produções da raiz também seguiu esta tendência, como
demonstram as figuras 39 referente ao total estadual e 40
referente aos principais municípios produtores.

44
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Estado do Amapá
120.000

100.000

80.000

60.000

40.000

20.000

Figura 39. Variação nos valores de produção da mandioca no


Estado do Amapá, entre os anos de 2000 e 2014.
Fonte: IBGE (2016) k.

25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007


2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Figura 40. Variação nos valores de produção de mandioca


nos municípios maiores produtores da raiz, entre os anos de
200 e 2014.
Fonte: IBGE (2016) l.

45
JOSÉ ADRIANO MARINI

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mandiocultura é um tradição decenal, junto com a


fabricação da farinha. Sua produção não acompanha as
oscilações de valores ou de procura, sendo praticamente
estável há décadas com picos de produção de farinha bem
estabelecidos nos finais de início dos anos quando iniciam-se
novos plantios, sendo assim obrigatório ao agricultor a
colheita para ter novas manivas para o plantio, quando então
tem-se abundancia de matéria prima para a farinha.
A produção de amido não faz parte da tradição local,
sendo assim o pouco excedente utilizado para a fabricação
da farinha de tapioca, em sua grande parte apenas para o
consumo da família.
Considerando-se uma média de rendimento em torno
de 30% de amido para as raízes de mandiocas, tem-se de
inicio um potencial produtivo instalado de 30 mil toneladas do
produto, caso a cultura fosse integralmente direcionada para
esta finalidade.
Porém observa-se uma tendência no estado do Amapá
na industrialização dos produtos do campo. Algumas
indústrias já instaladas localmente embalam a vácuo raízes
limpas de mandioca de mesa (com baixos teores de HCN)
para o comércio varejista e preparam-se para iniciar a
industrialização da farinha.

46
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Esta tendência vai, com o tempo, alterar a base


produtiva local, criando especializações produtivas, o que
pode certamente contribuir para o aumento efetivo das
produtividades pela especialização do trabalho. Inicialmente,
como já se pode visualizar em comunidades rurais da região
do distrito macapaense de São Joaquim do Pacui, a
consolidação de grupos e associações para o fornecimento
de raiz de mandioca para uma indústria.
Consolidando-se esta mudança, não espera-se que os
produtores venham a ser os fornecedores de amido para as
indústrias mas sim que continuem sendo os mandiocultores,
conforme suas tradições, e forneçam as raízes para que
outras industrias possam transforma-las em amido e inseri-
las nos mercados, como já acontece com os países do
sudeste asiático ao suprirem as necessidades das industrias
chinesas por amido.
De início certamente esta profissionalização vai
diminuir drasticamente os rendimentos familiares com a
atividade, porém a especialização produtiva vai suprir esta
defasagem com os incrementos produtivos nas lavouras,
desde exista o suporte tecnológico eficiente e adequado, não
apenas dos órgãos oficiais do estado, mas também da
própria indústria na forma de parcerias de produção.
Com a industrialização ocorre a formação inicial de
complexos agroindustriais, onde os produtores passam a ser
administrados pelas indústrias, que irá orientar e fornecer

47
JOSÉ ADRIANO MARINI

adubos e defensivos necessários ao aumento da


produtividade no campo, além de difundirem variedades mais
produtivas oriundas dos institutos oficiais de pesquisa.
Finalmente, este processo tende a acentuar
drasticamente a divisão entre os produtores agregados de
alguma forma a indústria e aqueles que ficarão as margens
do processo. Assim, é interessante que os órgãos
responsáveis pelo desenvolvimento rural façam intervenções
visando fortalecer estes agricultores, seja através da difusão
de tecnologias já desenvolvidas, seja através do estimulo ao
cultivo de diferentes culturas para atender novas lacunas dos
mercados. Também se pode, considerando as aptidões
tradicionais no cultivo da mandioca, focalizar a agregação de
valor em outros tipos de derivados da mandioca, onde ainda
há muitos nichos de mercados a serem preenchidos.
De forma geral, independente do processo a que o
território está submetido, torna-se necessário, devido à
importância econômica e social que a cultura da mandioca
representa, a criação local de uma Câmara Técnica ou a
estruturação de um Arranjo Produtivo Local, onde
representantes de todos os atores da cadeia possam interagir
e encontrar soluções para o desenvolvimento mutuo tanto
social quanto econômico.

48
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

REFERENCIAS

CAMARGO, Maria Thereza L. de A. Estudo etnobotânico da


mandioca (Manihot esculenta Crantz – Euphorbiaceae) na diáspora
africana. In: Herbarium – estudos de etnofarmacobotânica.
Disponível em: <http://www.aguaforte.com.br/herbarium>.
Acesso em: 17 mar. 2007.

CEPEA/ESALQ-USP. Levantamento semanal de preços (produtor).


Disponível em:
<http://www.cepea.esalq.usp.br/mandioca/?page=470>
. Acesso em: 11 mai. 2016..

EMATER. Processamento artesanal da farinha de mandioca. Belo


Horizonte, MG. s/d. Disponível em:
<http://emater.mg.gov.br/doc%5Csite%5Cserevicoseprodutos%5
Clivraria%5CAgroind%C3%BAstria%5CProcessamento%20artesana
l%20da%20fabrica%C3%A7%C3%A3o%20da%20farinha%20de%20
mandioca.pdf>. Acesso em: 27 mai. 2016.

FAOSTAT.(a-m) Faostat database. Disponível em: <


http://faostat3.fao.org/download/Q/QC/E> Acesso em: 06 maio
2016.

FAOSTAT.(n–w) Faostat database. Disponível em:


http://faostat3.fao.org/download/T/TP/E

FAOSTAT. (x, y) Faostat database. Disponível em:


http://faostat3.fao.org/download/FB/BC/E

FELIPE, I. F., ALVES, L.R.A., VIEIRA, R.M. Produção na Tailandia


versus Brasil. Revista Agroanalysis, março, 2013.

FUKUDA, W.M.G. ;FUKUDA, C.; CALDAS, R.C.; CAVALCANTI, J.;


TAVARES, J.A.; MAGALHÃES, J.A.; NUNES, L.C. Avaliação e seleção
de variedades de mandioca com a participação de agricultores do

49
JOSÉ ADRIANO MARINI

semi-árido do nordeste do Brasil. Cruz das Almas, CNPMF, 2000.

IBGE (a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l). Sistema IBGE de Recuperação


Automática. Banco de Dados Agregados. Tabela 1612: Área
plantada, área colhida, quantidade produzida, rendimento médio e
valor da produção da lavoura temporária [Rio de Janeiro, 2014].
Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1612&z
=t&o=1&i=P > Acesso em: 13 mai. 2016

IBGE (m, n). Sistema IBGE de Recuperação Automática. Banco de


Dados Agregados. Tabela 3048: Aquisição alimentar domiciliar per
capita anual por classes de rendimento total variação patrimonial
mensal familiar e grupos, subgrupos e produtos [Rio de Janeiro,
2014]. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=3048&z
=t&o=1&i=P> Acesso em: 20 mai. 2016

IBGE (o, q). Sistema IBGE de Recuperação Automática. Banco de


Dados Agregados. Tabela 2393: Aquisição alimentar domiciliar per
capita anual por grupos, subgrupos e produtos [Rio de Janeiro,
2014]. Disponível em:
<
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=2393&z=
t&o=1&i=P>
Acesso em: 23 mai. 2016

IBGE (p). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009. Tabela


5.6.1: Aquisição alimentar domiciliar per capita anual, por forma de
aquisição, segundo os produtos - Amapá - período 2008-2009 [Rio
de Janeiro, 2014]. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaod
evida/pof/2008_2009_aquisicao/default_zip_uf.shtm> Acesso
em: 27 mai. 2016

IBGE (r). Sistema IBGE de Recuperação Automática. Banco de

50
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Dados Agregados. Tabela 3047: Aquisição alimentar domiciliar per


capita anual por situação do domicílio e grupos, subgrupos e
produtos [Rio de Janeiro, 2014]. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=3047&z
=t&o=1&i=P>
Acesso em: 13 mai. 2016

IBGE. Estimativas da população residente no Brasil e Unidades


da Federação com data de referencia em 1º. de julho de 2014.
Rio de Janeiro, 2016. Disponível em:
<hftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_de_Populacao/Estimativas_20
14/estimativa_dou_2014.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2016.

IBGE (s). Sistema IBGE de Recuperação Automática. Banco de


Dados Agregados. Tabela 1612: Área plantada, área colhida,
quantidade produzida, rendimento médio e valor da produção da
lavoura temporária [Rio de Janeiro, 2014]. Disponível em:
<
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1612&z=
t&o=1&i=P>
Acesso em: 03 mai. 2016

LORENZI, J.O.; DIAS, C.A.C. Cultura da mandioca. Campinas: CATI.


1993.

MATTOS, P. L. P. de; FARIAS, A. R. N.; FERREIRA FILHO, J. R.


Mandioca: o produtor pergunta, a Embrapa responde. EMBRAPA.
Cruz das Almas, Ba, 2006. Disponivel em:
https://www.embrapa.br/mandioca-e-fruticultura/busca-de-
publicacoes/-/publicacao/643719/mandioca-o-produtor-
pergunta-a-embrapa-responde Acesso em 02 jun. 2016.

SEBRAE. Estudo de mercado sobre a mandioca. SEBRAE/ESPM. São


Paulo. 2008.

51
JOSÉ ADRIANO MARINI

52
SOBRE O AUTOR

José Adriano Marini, paulista de São José do Rio Preto,


Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual Paulista -
UNESP, Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade
Estadual de Campinas – Unicamp, Mestre em Planejamento do
Desenvolvimento pela Universidade Federal do Pará – UFPa e
Doutor em Desenvolvimento Sócio Ambiental pela Universidade
Federal do Pará – UFPa. Atualmente é pesquisador nas áreas de
Agricultura Familiar e Sócio Economia da EMBRAPA.
Também é autor dos best-sellers Os Canais de Comercialização:
frutas do Salgado Paraense; Diversidade e Estilos de Agricultura
Familiar e Efeito das políticas públicas sobre a agricultura familiar.

53
JOSÉ ADRIANO MARINI

OUTRAS OBRAS DO AUTOR

As relações de mercado
existentes para os principais
frutos produzidos na região do
Salgado Paraense pela
agricultura familiar permitirá
estabelecer linhas norteadoras
ao desenvolvimento rural,
procurando estabelecer uma
maior integração entre aqueles
produtores e o mercado final de
seus produtos

O ponto referencial desta análise


são os agricultores familiares dos
assentamentos rurais induzidos
do Estado do Amapá, suas
praticas agrícolas e suas
interações com o meio em que
estão inseridos, tendo como
contraposição os assentamentos
tradicionais do Estado do Amapá.

Este estudo relata as diversas


formas de auxilio fornecidos pelos
governos federal e estadual do
Amapá aos agricultores familiares
e seus impactos na renda familiar e
na produtividade agrícola.

54
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Logística é o processo de gerir


estrategicamente a aquisição,
movimentação e estocagem de
materiais, partes e produtos
acabados (com os
correspondentes fluxos de
informações) através da
organização e de seus canais
de marketing, para satisfazer
as ordens da forma mais
efetiva em custos

Gestão Ambiental é o conjunto


de metodologias e práticas, que
concorrem para a preservação
da qualidade do meio ambiente
saudável. Promove a
elaboração de alternativas de
gestão ambiental, que
constituem modelos de
desenvolvimento estruturados
no controle social da produção
e no respeito ao meio ambiente.

Coronelzinho relata a saga de


uma tradicional família dos
sertões paulista, suas
intrincadas relações com os
bandoleiros e a sociedade da
época e seus desfechos
surpreendentes

55
JOSÉ ADRIANO MARINI

Imigranti relata a saga dos


primeiros italianos que partiram
de seu pais para ajudarem a
construir o Brasil, contando a
história de uma família que fugiu
da fome do Século XIX para se
aventurar e construir com sua
coragem e dedicação o próspero
Estado de São Paulo.

Em Nome do Filho é a história de


superação e conquistas de um
compositor na Alemanha Nazista,
sua tentativa para salvar uma
família de judeus do holocausto e a
superação para conquistar seu
grande sonho.

Mon PETIT Amour é uma linda e


envolvente história erótica sobre o
amor vivo e sem fronteiras. Vale a
pena mergulhar neste mundo de
aventuras vividos por um casal no
sul da Itália.

56
Estudo territorial estratégico da produção de amido no Estado do Amapá

Este livro apresenta os principais


mecanismos de comercialização
utilizados em sistemas agrícolas e
agroindustriais possibilitando
assim a elaboração de estratégias
de comercialização. Também
apresenta procedimentos para
analises de mercados de futuros e
de opções, utilizados para a
redução do risco de preços.
.

Mercados é a esfera de
influência onde ocorrem
as transações comerciais,
e constitui parte
integrante dos diferentes
processos por meio dos
quais se transfere a
propriedade dos bens e
serviços.

Um sistema agroindustrial deve ser gerido de


forma eficiente e eficaz. A eficiência de um
sistema agroindustrial pode ser entendida
como a capacidade que ele possui de atender
às necessidades do consumidor. Para isso, é
fundamental que todos os agentes que o
compõem conheçam profundamente os
atributos de qualidade que os consumidores
buscam nos produtos e serviços
disponibilizados por este mesmo sistema

57
JOSÉ ADRIANO MARINI

Para os pequenos agricultores de mandioca,


que se dedicam à agricultura de subsistência,
ocupam áreas marginais e têm pouco ou
nenhum acesso a novas tecnologias, os
programas de melhoramento convencional
não têm demonstrado os impactos desejados
pela pesquisa. Este livro vai orientar como se
proceder a técnicas de melhoramento da
cultura de forma que seja aceita e adotada por
todos os agricultores

58
59

Você também pode gostar