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O lucro bruto incluiria todos os gastos não incluídos no valor agregado bruto, como,
por exemplo, depreciação e/ou perdas na produção, custos administrativos, água, luz, aluguel,
impostos, e também os custos de transporte desta produção.
Observou-se ainda, no que se refere ao valor do transporte, que este não se constitui,
no Amapá, num elemento do valor agregado da produção, sendo inteiramente subsidiado pelo
Governo do Estado, não sendo contabilizado assim, no custo dos agricultores familiares e nem
no preço pago pelo varejo urbano local e pelo consumidor final.
A inexistência de uma rede de ligações intersetoriais na economia de base agrária
familiar amapaense, deixa a comercialização restrita apenas a dois setores de mercado: o
principal é a feira do produtor, onde cerca de 8.000 agricultores familiares comercializam
cerca de dois terços do valor bruto da produção diretamente ao consumidor. O restante é
comercializado nos 329 agentes mercantis do varejo urbano local, praticamente sem nenhum
valor agregado a esta produção.
Os agentes de produção familiar comercializaram no varejo urbano local o montante
de R$ 9.777.842,00 (22,8 % do valor da produção total), sendo que este último repassou para
o consumidor final no valor de R$ 15.242.730,89. Ao mesmo tempo estes mesmos agentes
venderam R$16.981.251,09 (39,68 % do valor da produção total) ao consumidor final nas
feiras do produtor.
Mas, para alcançar estas cifras, pode-se constatar que a produção familiar demanda
insumos no valor de R$ 793.657,37 (1,85 % do valor da produção total), perfazendo um
volume negociado no varejo da ordem de R$ 16.036.388,27. Considerando que a receita da
agricultura familiar, comercializada na feira do produtor, diretamente para o consumidor final
é de R$ 16.981.251, mais a receita comercializada no varejo local que é de R$ 9.777.842,00,
perfazem o valor bruto da produção da agricultura familiar, o montante de R$ 26.759.093,09.
No entanto, o valor da demanda de insumos necessários para produzir, na agricultura familiar
amapaense, é de R$ 793.657,37, valor este que representa o consumo intermediário
(embalagens, adubos, corretivos e defensivos agrícolas). Portanto, o valor agregado bruto, da
agricultura familiar, que representa R$ 25.965.435,71 (60,6 % do valor da produção total),
pode ser considerado elevado em relação ao valor da demanda. Ou seja, a diferença entre o
valor do total da produção da agricultura familiar e o valor intrínseco (consumo
intermediário), a qual chega a representar 97%, pode ser considerada bastante alta.
Percebe-se ainda que a receita do varejo urbano local na comercialização para o
consumidor final é de R$ 15.242.730,89, mas o valor intrínseco por estes agentes varejistas é
de R$ 9.777.842,00, valor este que representa, invariavelmente, o consumo intermediário.
Portanto, o varejo agregou valor no montante de R$ 6.258.546,27 nesse ano,
correspondendo a uma margem total neste segmento da cadeia produtiva de 39,02%. Em
outras palavras, essa margem mostra a diferença relativa entre o valor (ou preço) que o
agricultor recebe e o valor (ou preço) que o consumidor final paga no varejo. Vale considerar
que essa margem, dentro da cadeia produtiva, é relativamente boa, apesar de ser notório de
que os produtos em si, não sofrem nenhum processamento para agregação de valor no varejo,
de modo que lhe permita a elevação dos preços.
Portanto, a comercialização nas feiras do produtor se apresentou como uma forte
alternativa de viabilizar um aumento de renda destes agricultores, uma vez que podem
comercializar o excedente da produção diretamente aos consumidores finais, constituindo-se
numa potente ação de abastecimento local, de qualidade e com preços mais acessíveis à
população de menor poder aquisitivo, principalmente. Nesse ponto, concordando com Gazolla
(2004), o qual denota que o mercado se apresenta como esfera primordial e organizadora da
reprodução social dos agricultores familiares. E com Ploeg (1992), o qual ressalta que a
agricultura familiar precisa da integração mercantil, devendo produzir tanto valores de uso
quanto renda monetária, não só para reproduzir sua força de trabalho, mas para reproduzir a
família.
Avaliando-se o multiplicador de produção, observa-se que a quantidade de insumos
requerida pelo setor de base agrária amapaense, para produzir uma unidade de produto final,
de forma a atender ao varejo urbano local é de 1,64, valor este superior ao destinado aos
insumos requeridos para a comercialização direta ao consumidor final na feira do produtor,
que é da ordem de 1,05. Portanto, constata-se ao verificar os dados dos multiplicadores de
produção familiar, que o segmento de varejo urbano local, apresenta potencialmente a maior
resposta a estímulos exógenos. A cada mudança de uma unidade monetária na demanda final,
este segmento multiplica por 1,64 o valor da produção total de todos os demais setores.
Enquanto que a cada mudança de uma unidade monetária na demanda final na
comercialização direta ao consumidor final praticada na feira do produtor, este segmento
multiplica apenas por 1,05 o valor da produção total de todos os demais setores.
Verificando-se os dados dos multiplicadores da produção vegetal, observa-se que o
varejo urbano amapaense, representado pelos comércios, box, mini box e supermercados,
apresenta potencialmente a maior resposta a estímulos exógenos. Para cada unidade monetária
que aumenta na demanda final, este setor produz um pequeno efeito multiplicador de 1,64
unidades monetárias em todos os segmentos do referido setor.
Deve-se atentar ainda para o fato, de que o varejo urbano local apresentou margens de
comercialização medias para os produtos de base agrária (MTCR de 42,18% para hortaliças,
35,05% para culturas de subsistência, 42,78% para frutas, 42,90% para polpas de frutas e 65%
para pimenta do reino).
Embora o segmento de comercialização praticado na feira do produtor, apresente
multiplicadores de produção pouco significativos (1,05), observa-se que o mesmo setor
apresenta margens totais de comercialização relativas elevadas (MTCR de 100% para todos
os produtos). Portanto, estes dois setores têm prioridade em ações governamentais que
pretendam melhorar o desempenho da produção e da comercialização de produtos vegetais.
O efeito de interligação na comercialização para trás (backward linkage), apresenta
um valor inferior à unidade (0,78), o que denota pouca dependência pelo setor de base agrária
por insumos produzidos por outros setores da economia, em resposta às mudanças unitárias da
demanda final. Assim, considera-se que o segmento produtivo agrícola familiar não dinamiza
a economia de base agrária, não se distinguindo como importantes compradores de bens e
serviços. Este mesmo efeito é maior que a unidade (1,22) quando se avalia a cadeia que vai do
varejo urbano local para o agricultor, ressaltando a dependência do varejo urbano local em
relação a certos produtos da produção agrícola familiar do Estado, como são as hortaliças e o
carvão. Tema que será abordado adiante com mais detalhes. Portanto, o varejo urbano
dinamiza a economia de base agrária, apresentando-se como um importante comprador de
bens do segmento produtivo.
E, quando se avalia o efeito para frente (forward linkage), observa-se um efeito de
interligação positivo (1,22) entre a produção familiar e a comercialização nas feiras do
produtor, um indicativo de uma moderada capacidade deste setor para atender a mudança
unitária da demanda final desta economia de base agrária. Todavia, é notório o reduzido efeito
de interligação para frente (0,78) entre o varejista urbano local e o consumidor final. Tal
resultado denota que mesmo havendo pouco encadeamento para frente neste último segmento
varejo/consumidor final, mesmo assim, este comércio subsistirá tendo em vista a necessidade
da produção agrícola familiar ser fundamental para o atendimento da demanda alimentar,
dentro de uma gama de produtos que o varejo urbano local e extra local oferece ao
consumidor final.
A produção de base agrária familiar no Estado é muito diversificada, sendo que o
valor bruto da produção é distribuído entre 46 produtos distintos. Destacando-se ainda, que o
maior valor bruto da produção é concentrado com a farinha de mandioca (32%), seguido pelas
hortaliças e frutas tropicais, principalmente cheiro verde (mix de cebolinha e coentro - 9%),
pimenta de cheiro (6%), quiabo (5%), alface (4%), banana (4%), melancia (3%), couve (3%),
Limão (3%) e farinha de tapioca (3%). Este conjunto de produtos representa 78% do valor
bruto da produção comercializada na feira do produtor e no varejo urbano local. A
comercialização de macaxeira ou mandioca de mesa alcança apenas 2,94% deste montante.
Tabela 01 - Valor Bruto da Produção – VBP por produto, no Estado do Amapá (2016).
Quantidade VBPtotal Participação %
Produtos (kg) R$ no VBP
Farinha mandioca 4.749.559,00 13.898.398,23 32,48
Farinha tapioca 524.688,00 1.406.574,94 3,29
Macaxeira 304.763,00 1.259.626,01 2,94
Goma tapioca 324.502,00 760.226,74 1,78
Fonte: Dados de pesquisa (2018)
Gráfico 1 - Valor Bruto da Produção de culturas alimentares no setor de Base Agrária Familiar
no Estado do Amapá, 2016.
14,000,000
VBP Total
VBP Produtor
12,000,000
VBP Varejo
10,000,000
Va lo r em 1 0 0 0 R$
8,000,000
6,000,000
4,000,000
2,000,000
0
Arro z Fa rinha Fa rinha Feijã o Go ma M a ca x eira M ilho M ilho Verde Tucupi
M a ndio ca Ta pio ca Ta pio ca
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