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Os canais de

comercialização da
agricultura familiar:
Frutas do Salgado
Paraense

JOSE ADRIANO MARINI


Copyright © 2015 Jose Adriano Marini

All rights reserved.

ISBN-10: 151164382X
ISBN-13: 978-1511643825
Às minhas filhas Cheyenne Victória e Giovanna Pietra,
luzes da minha vida, amor incondicional.
A Aleandra,
minha força, meu sucesso e meu
grande amor.

À Amazônia e seus habitantes


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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

INTRODUÇÃO

CAPITULO I 16

A agricultura familiar

CAPITULO II 50

A produção de frutas no Estado do Pará e a região do


Salgado Paraense

CAPITULO III 74

A comercialização de frutas

da Agricultura Familiar do Salgado Paraense

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
116

REFERENCIAS 123

APENDICE 127

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JOSE ADRIANO MARINI

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é o resultado de um estudo exploratóri o


sobre as produções e as cadeias de comercialização, os ti pos de
mediação mercantil, as margens de agregação de valor e a
participação dos diferentes el os na formação do preço final das
frutas produzidas pela agricultura familiar na re gião do Salgado
Paraense.
Este trabal ho apre senta sua i mportância nos dias atuais ao
abordar os mercados de frutas da agricultura familiar, tendo em vista
que tais abordagens ainda não foram reali zadas na re gião de estudo.
Considerando a agricultura como uma base fundamental da
sociedade, o seu desenv olvimento é de crucial importância para a
sociedade. Dessa forma, um estudo que demonstre as relações de
mercado exi stentes para os princi pais frutos produzi dos na região do
Salgado Parae nse pela agricultura familiar permitirá estabelecer
linhas norteadoras ao dese nvolvimento rural, procurando estabelecer
uma maior i ntegração entre aqueles produtores e o mercado final de
seus produtos.
A proposta deste trabal ho é a de demonstrar os principai s
canais de comercialização pelos quais passam as frutas produzidas na
região pela agricultura f amiliar e dessa forma fornecer uma
importante ferrame nta de analise e estudo para o meio acadêmico
contribuindo para pesquisas futuras de ntro desta perspectiva e
também servir como uma fonte de informações a todos aqueles
relacionados direta ou indiretamente com a produção em análi se.

Inúmeras são as vari áveis que condicionam ou afetam o


sucesso de um empreendi mento rural, a despeito da região geográfica
de exploração e do ti po de atividade desenvolvida. Uma variável que
pode significar diferenciação e ntre os resultados econômicos obtidos

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por me mbros de um grupo de produtores rurais é a capacidade em


acessar os mercados, o que pode vir a contri buir positivamente para
o sucesso deste.
As relações comerciais pulverizadas entre um grande numero
de produtores de sorganizados e um pequeno numero de
comerciantes, intermediários ou atacadistas pode m gerar ineficiência
devido à assimetria de inf ormações e ao limi tado poder de barganha
por parte dos produtores. De acordo com a ONU/ PNUD (1999) nos
mercados tradicionai s, a maioria das empresas que mantém relações
comerciais com a agricultura familiar aproveita -se da dispersão
territorial dos produtores para estabelecer relações comerciais
desfavoráveis a estes.
Muitas i niciativas de comercialização de produtos oriundos da
produção familiar costumam e nfrentar sérios problemas. Uma das
causas de ssa si tuação c onsiste na falta de conheciment o de mercado
por parte dos e nvolvidos. Muitas vezes, a idéia é simplesmente
“pular” cadeias de comercialização, assim eliminando os
intermediários, sem c ompreender as funções que eles exercem. Além
disso, o fato de existirem ainda poucos estudos de caso que mostrem
mais detalhadame nte as e stru turas de mercado, dificulta a formulação
de estratégias de comercialização para a agricultura familiar (Dürr,
2001).
Diante destas perspectivas, a melhor al ternativa, apontada por
técnicos e pesquisadores, para que a s u nidades de produção familiar
se mantenham no mercado e se dese nvolvam, é o c onhecimento dos
processos e mecani smos dos canai s de comercialização favorecendo
assi m a interlocução e ntre aqueles produtores e os compradores
diretos de sua produção.
O maracujá é uma cultura que, no Estado do Pará, produz
regularmente durante o ano todo, gerando um fl uxo contínu o de
renda e alocando mais adequadamente a mão -de-obra nas u nidades
de produção familiares, uma vez que cerca de 90% da produção é

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

realizada nos estabe lecimentos de até 10 hectares (IBGE/SIDRA,


2007). O campo de influência soci oeconômica do maracujá na região
do Salgado Paraense é ampl o, poi s se este nde para além da unidade
de produção, c hegando às agroi ndústrias, Centrais de Abastecimento
- Ceasa, su permercado e feira livre local e nacional (frutos e polpa),
e internacional (pol pa congelada), daí a importânci a de se estudar a
dinâmica dessa atividade produtiva no que concerne à sua produção e
comercialização.
Junto com o maracujá, este trabalho aborda t ambém as
culturas do abacaxi, cuja recente inserção (2003) no mu nicípio de
São João da Ponta já o coloc ou na 10ª. posição no ranking estadual
de produção em 2006, e da melancia, tradicional mente cultivada pela
maiori a das unidade s de produção familiares ag rí colas localizadas
dentro da área de pesquisa.
Embora o IBGE/PAM (2004) sugira que dentro da área
produtiva deste estudo ocorram também produções significativas de
laranja e coco, os levantamentos efetuados por esta pesquisa
apontam que a laranja deixou de ser atrativa e, no municípi o de
Marapani m, onde se localizava o de staque regional , as lavouras ou
estão em fase de replanti o (substi tuição de plantas velhas por novas)
ou foram abandonados ou foram substi tuídos por outras culturas,
neste ultimo caso pel o plantio de dendê para extração de óleo vegetal
e pelo planti o de maracujá, seguindo a te ndência re gional . A cultura
do coc o encontra-se atualmente restrita a pequenos produ tore s que
abastecem a região das praias, pri ncipal mente nas epocas de grande
movime ntaçao de turistas, nos me ses de julho e dezembro/janeiro.
Este estudo sobre a comercialização de frutas produzidas pela
agricultura familiar da microrregião do Salgado Paraense busc ou
contribuir com inf ormações tanto sobre as formas de avaliação
quanto a s de geração de procedime ntos que visem atingir soluções
ainda não u tilizadas ou suficientemente de senvolvidas na
implantação de mecanismos que promovam uma melhor interação

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entre o agricultor e o mercado comprador. Poderá, portanto, ser um


importante refe rencial para os admini stradores mu nicipais e demais
agentes pú blicos, servindo de instrumento de pl anejamento para
traçar políticas publicas e projetos agríc olas.
A contribuição cientifica concentra -se na organização de
informações, associando a agricultur a familiar e os mercados para
seus produtos.
O presente estudo procura c ontribuir de forma real para a
gestão do desenv olvimento da agricultura familiar pressu pondo -se
que as causas da insuste ntabilidade econômica daq uelas populações
podem ser revertidas por aç ões corretivas, atingi ndo -se melhores
resultados sócio-econômicos.
Partindo-se da hi pótese de que a bai xa sustentabilidade da
Agricultura Familiar, definida em termos de instabil idade economica
e fraco dese mpenho produtivo, deve -se a baixa inserção desta nos
mercados consu midore s e a forma de acesso a e le, problemática
reforçada pelas hipótese s secundárias: a) Os produtore s têm pouco
acesso á i nformações do mercado consumidor e b) Na impl antação e
condução das atividades produtivas, provavelme nte não se leva em
consideração os ri scos do empreendime nto inere ntes à
comercialização.
Neste sentido, o objetiv o geral deste trabalho é identificar e
caracterizar a produção e os canai s de comercialização das pri ncipai s
frutas produzidas pelos agricultores famil iares na microrregião do
Salgado Paraense, e em particular especificamente os agentes
econômicos, atore s sociais e relações e spaciai s da cadeia de produção
e comercialização do maracujá originári o da produção familiar na
região do Salgado Paraense.

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Este trabalho bu scou responder questões centrais tais como,


quais os fatores determi nantes no processo responsável pela inserção
da agricultura familiar nos mercados consumidores e a forma de
acesso a ele alem de compreender o acesso às informações do
mercado c onsumidor e como se considera os risc os do
empreendime nto inerente s à comercialização.na implantação e
condução das atividades produtivas.
O desenvolvimento desta pesquisa i niciou -se com pesquisa
bibliográfica, através do reconhecimento e analise de docum entos e
de banco de dados, no propósito de obter i nformações mai s
abrangentes sobre a produção e comercialização de frutas pela
agricultura familiar, em geral, e na região de estudo, especificamente.
O referencial teórico adotado resul tou da bu sca de conce itos,
levantame ntos sobre a agricultura familiar, dentro do enf oque
macroeconômico e a importância e o papel da agricultura familiar
local em um processo de (re )estru turação produtiva, sendo que esta
ao se inserir no processo de comercialização recebe os r ebatimentos
dos diversos atores do mercado que interagem mesmo estando
posicionados em diferente s escalas. Ai nda atravé s do levantamento
bibliográfico foi possível detectar i nstrumentos que viabilizam a
resistê ncia do agricultor familiar no mercado competi tivo.
No sentido de confrontar a teoria com a prática, buscou -se
apoi o em uma investigação sobre dados da produç ão da agricultura
familiar através de uma pesquisa participativa, vivenciada em
algumas agrovilas 1 do municípi o de Curuçá e também por

1
Agrovila: Modelo de urbanização rural criado pela União Soviética. (Freire, 1982)
Nas agrovilas citadas enste trabalho a estrutura é composta de algunas ruas calçadas
com piçarra, casas de taipa, madeira ou alvenaria, templos Catolico e da Assembléia
de Deus (1 de cada), uma escola de ensino fundamental, um ou dois telefones
públicos, algumas “tabernas” (pequenos mercados para atender as demandas de
alimentos das famílias) e normalmente um pequeno posto de saúde que é utilizado
em campanhas de vacinação. Outro elemento presnte em todas as agrovilas é o
campo de futebol, normalmente todo gramado. Situam-se distante dos centros
urbanos e são circundadas pelas unidades de produção familiares.

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JOSE ADRIANO MARINI

investigaçõe s participativas em agrovilas pertence ntes aos outros


municípios que compõe este objeto de estudo. C om o auxilio dos
Sindicatos de Trabalhadores Rurais dos quatro mu nicípios em e studo
e também dos escritóri os locai s da EMATER/Pa foi possível
contatar tai s produ tore s e, junto com eles, traçar o i nicio das Cadeias
de Comercialização das frutas produzidas e de seus Sistemas de
Produção. Foram vivenciadas realidades de 97 produtores no
município de Curuçá e questionados mai s 63 famílias produtoras nas
outras localidades. Todas as inf ormações obtidas com estas
investigaçõe s in loco estão sintetizadas no Capitulo IV deste trabal ho.
O objetivo desta pesquisa f oi analisar os processos de
comercialização das frutas produzidas pelos agric ultores familiares
localizados na região do Salgado Paraense, em particular nos
municípios de Curuçá e Marapanim, além de Terra Alta,
desmembrada de Curuçá em 1991 e São João da Ponta, desmembrado
em 1995 do município de São Caetano de Odivelas.
A opção por esta região se deu por conta de que não havia até
então estudos científicos a respeito das produções locais, apenas
levantame ntos estatístic os, na maioria das vezes não aprofundadas,
também pelo processo de divisão e criação de novos municípios a
partir da década de 1990, altera ndo as relações de podere s
previamente insti tuídas e consequenteme nte o enfoque das políticas
publicas de incentiv os à agricultura.
Além disso, a região Nordeste Paraense é a pri ncipal produtora
da maiori a das frutas produzidas no Estado do Pará com desta que
para a microrregião do Salgado Paraense. Outro fator a ser
considerado é a recente estruturação de um Arranjo Produtivo Local
voltado a cadeia produtiva e de comercialização das frutas
produzidas na região.
Nesse se ntido a pe squisa sobre a qual se di scorre utilizou-se de
dados plau síveis de serem classificados - segundo a sua natureza -
como quanti tativ os e qualitativos de forma c onjunta e compleme ntar.

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Esses dados estão expressos nos quadros estatí sticos, nos


documentos analisados, be m como nos discu rsos obtidos a parti r das
entrevistas realizadas. Recorreu -se à entrevista, enq uanto técnica de
pesquisa com o obje tivo de obter -se a fala dos atores locais, e assim
compreender-se o e ntendi mento destes sobre o processo ocorrido.
A analise desse s dados está inserida em uma estratégia
analítica, segundo a qual bu sca -se identificar a existê ncia de
suste ntabilidade por parte dos agricultores familiares, ou seja,
responder a seguinte pergunta: esse s agricultores dispõe de uma base
produtiva portadora de capaci dade de atender as demandas da
população, particularmente as relacionadas a comercialização das
frutas por eles produzidas?
Para tanto foi realizado u m estudo econômico que investigou
as implicações econômicas da produção frutífera no desenvolvimento
da agricultura familiar da área de estudo e as margens fi nanceiras
apuradas em cada elo da cade ia de produção.
Para Cardoso (1986), a abordagem qualitativa permite estudar
os fenômenos que envolvem os indivíduos e suas relações sociais,
estabelecidas em diverso s ambientes. Nessa perspectiva, um
fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre
e no qual faz parte, sendo analisado numa perspectiv a integrada. Para
tanto, o pesquisador vai a campo bu scando captar o fe nômeno em
estudo a partir da perce pção das pessoas, considerando todos os
pontos de vista relevantes.
Segundo C hizzotti (1991) , a pe squisa qualitativa, baseada em
opi niões, se nti mentos e motivações, é uma modali dade de pesquisa
em crescimento no Brasil e antes desse tipo de análise era dif ícil
interpretar os resultados das pe squisas e statísticas e suas
implicações, já que a quantitativa é expressa em nú meros que muitas
vezes precisam ser correlacionados para ide ntificar o porquê de sua
ocorrê ncia.

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JOSE ADRIANO MARINI

A escolha dessa abordagem deve -se ao fato de que a pesquisa


qualitativa parte do pressu posto de que as pessoas agem em função
de suas crenças, percepções, senti mentos e valores, e seu
comportame nto te m se mpre u m se ntido, um signifi cado que não se
dá a conhecer de modo imediato, precisando ser desve lado. Assim, a
escolha dessa abordagem junto aos agricultores familiares fica
entendida como essencial para a c ompreensão do fenômeno
estudado.
Para validação estatística desta pesquisa, utilizou -se o método
da Amostragem Aleatória Estratificada, a qual pe rmite su bdividir a
população em estratos homogêneos, segundo a vari ável de interesse,
a partir daí , selecionar uma amostra aleatória simple s de cada estrato.
Neste caso, a estratificação se deu por categorizaç ão de agricultura
praticada. O u niverso da pes quisa é re presentado por todos os
grupos familiare s que trabalham na propriedade rural e que possuam
até 100 ha de área, situados nos mu nicípios de Cu ruçá, Terra Alta,
São João da Ponta e Marapanim.
Para o estabelecimento do tamanho mínimo da amostra (n),
utilizou-se a fórmula dada por:

onde: z = val or critico normal (valor tabelado)


p = probabilidade de sucesso
q = probabilidade de fracasso
e = erro
N = tamanho da população
Para efeitos de cálculo de n, trabalhou -se c om os seguintes
parâmetros:

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

z = 1,28, ou seja, um nível de confiança de 90%


p = 90% de probabilidade de sucesso
q = 10% de probabilidade de fracasso
e = nível de errode 6%. (entre 5% e 10% estão os níveis de erro
aceitáveis)
N = 1.428 Familias na Agricult ura Familiar na area de pe squisa
(Tabela 12).

Aplicando-se os valores na fórmula, chegou -se ao resultado


abaixo:

Como esta pe squisa abordou um numero total de 160 familias


de agricultores, seus parâme tros tornam -na confiável do ponto de
vista estatí stico.

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A AGRICULTURA FAMILIAR

Este capí tulo tem por finalidade introduzir as categorias


concernentes à análise da Agriculutra Familiar. Para isto divide -se,
poi s, em seis partes. Primeiramente , apre senta uma definição
operacional de Agricultura Familiar e discute as caracteristicas dos
agentes participantes. Em seguida, procura alinhav ar uma tipologia
introdutória de classificação entre Agriculutra Fami liar e Agricultura
Camponesa. No terceiro item, busca desvendar a as dicotonomias
entre a Agricltura Familiar e as grande s plantaç ões. Discute na quarta
parte o cerne da nova economia que vislumbra as relações entre os
Agrilcultores Familiares e os mercados. O quinto, o sexto e o séti mo
itens apresentam um quadro situando a Agricultura Fam iliar na
economia do Brasil , do E stado do Pará e nos municípios de ste
estudo. Final mente, o últi mo procura destacar o principais canais
utilizados pelos agricultore s familiares na comercialização de seus
produtos.

Agricultura familiar
A sociedade brasileira, dada as suas carac terísticas históricas,
nasceu no meio rural. Foi a criação sucessiva de núcleos rurais em
diversas áreas, re presentada pel o que pode -se c hamar genericame nte
de “fazendas”, que resultou em expansão geográfica, no sentido da
ocupação da terra, e de mográfica, no sentido do crescimento da
população (SPEYER, 1983). Na época col onial observam-se os
primeiros sinai s da f ormação do campesi nato que, segundo as
relações de posse, trabal ho e uso da terra, podiam diferenciar -se em
lavradore s, mora dore s, forasteiros e posteriormente, posseiros.
A agricultura familiar é um segmento de grande i mportância
econômica e social no meio rural brasileiro, e garante a manu tenção
e recuperação do emprego, contri bui para uma distri buição mai s
homogênea da renda , proporcionando um estado de soberani a

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

alimentar do país na maiori a das culturas, e se orienta para a


construção de uma forma de desenv olvimento mais voltado para o
suste ntável e ecologicamente viável.
Agricultura familiar não significa pobreza. É uma for ma de
produção em que o núcleo de decisões, gerência, trabalho e capital é
controlado pela família.
No Brasil são cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos (80%
do número de estabelecimentos agrícolas), dos quais 50% no
Norde ste. O segmento deté m 20% das te rras e responde por 30% da
produção nacional (IBGE/SIDRA,2007). Em alguns produtos
básic os da dieta do brasileiro - c omo o feijão, arroz, mil ho,
hortaliças, mandi oca e pequenos ani mais - chega a ser responsável
por 60% da produção (Reymão, 2006). Em geral, são agricultore s
com baixo nível de escolari dade que diversificam os produ tos
cultivados para diluir custos, aumentar a re nda e aproveitar as
oportu nidades de oferta ambiental e disponibilidade de mão -de-obra.
Por ser diversificada, a agricultura familiar traz benefícios agro-
sócio-econômicos e ambie ntai s.
Este segme nto tem um papel crucial na economia das pequenas
cidades, poi s, 4 .928 municípi os brasileiros têm menos de 50 mil
habi tantes. Destes, aproxi madamente quatro mil têm menos de 20
mil habitantes. E stes produtores e seus familiares são responsáveis
por i números empregos no c omércio e nos serviços prestados nestas
pequenas cidade s. A melhoria de renda deste segme nto, por meio de
sua maior inserção no mercado, te m impacto i mportante no i nteri or
do paí s e, por conseqüência, nas grandes metrópoles.
A agricultura familiar não é uma categoria social recente nem a
ela corresponde uma categoria analítica nova na Economia e na
Sociologi a Rural. No entanto, sua utilização, com o significado e a
abrangência, que lhe tem sido atribuídos nos últi mos anos, no Brasil,
assu me ares de novidade e renovação. Fala -se de uma agricultura
familiar como um novo personagem, diferente do camponê s

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JOSE ADRIANO MARINI

tradicional, que teria assumido sua condição de produtor moderno;


propõem-se políticas para e stimulá -los, fu ndadas e m ti pol ogias que
se baseiam em sua viabilidade econômica e social dif erenciada.

Agricultura familiar e Agricultura Camponesa


A Agricultura Familiar pode ser e ntendida c omo aqu ela em que
a família, ao mesmo tempo em q ue é proprietári a dos meios de
produção, assume o trabal ho no e stabelecimento produtivo. É
importante insi stir que este caráter familiar não é um mero de talhe
superficial e descritiv o: o fato de uma estrutura produtiva associar
família-produção-trabalho tem conseqüências fundamentais para a
forma como ela age econômica e socialmente.
Homem de Melo (2006) afirma ser inegável a rel evância da
agricultura familiar na agropecuária brasileira, no e ntanto alerta que
não se deve confundir essa agricultura familia r com a agricultura de
subsi stê ncia, camponesa, produtora exclusiva de alimentos para o
núcleo familiar.
O campesi nato e a agricultura familiar são categori as di sti ntas
(RANGEL, 2004), embora o elemento comu m entre ambos seja a
forma de organização da unid ade de produção ou a predominância
familiar no que se refere à força de trabalho que os compõe.
Lamarc he (1993) faz e sta diferenciação de modo bastante
claro: ele vê a exploração familiar como “u ma unidade de produção
agrícola onde a propriedade e o traba l ho e stão intimamente ligados à
família”, e a exploração camponesa como “um conceito de analise
que define um modelo de funcioname nto be m particular de
exploração agrícola”. Assi m o campesi nato é uma modalidade de
agricultura familiar, onde a f ormação soc ial tem suas
particularidades.
Segundo Lamarc he (1993), a exploração familiar tal como a
concebemos, corresponde a uma unidade de produção agrícola onde
o trabal ho está intimamente ligado à família.

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

O economi sta russo C hayanov ( in VIEIRA, 1996) disti ngue a


agricultura camponesa como uma economia familiar, tendo sua
concepção de lucro v oltada para o sustento familiar e não para o
acumulo de excedentes. O camponê s e sua família trabal ham segundo
formas, em geral , antilucrativas em uma economia capitalista, u ma
vez que o princi pal objeto da economia camponesa é a satisfação do
nível anual de consumo da família.
Segundo o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar - PRONAF a definição de agricultura familiar
pode ser entendida “(...) como um su bc onjunto da agricultura, cujo
proprietário admi nistra e trabal ha na propriedade, e m conjunto com
a família (...)”.
A agricultura familiar apresenta as seguintes características:

 a preeminência da força de trabalho familiar;


 a unidade , interação e interdepe ndência exi stentes entre a
família e
 a unidade de produção, isto é, não separação entre os
proprietários dos meios de produção e os trabalhadores;
 a não e specialização e divisão clássica, formal e hie rárquica
do trabal ho e entre atividade admi nistrativa e executiva,
isto é, entre trabal hadores diretos e indiretos;
 uma participação solidária e co-responsável de todos os
membros da família na organização e no funci onamento do
conjunto do sistema familia -unidade de produção;

 um projeto (objetivos e finalid ades) orientado,


prioritariamente, para a reprodução das condições e da
força de trabalho familiar;
 uma estratégia vol tada para a garantia da se gurança
alimentar da família, para a redução de riscos, para o
aumento da re nda total da família e garanti a de e mprego da

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JOSE ADRIANO MARINI

mão de obra familiar e ampliação das c ondiç ões de trabal ho


e produção. (FAO/INCRA; 1994)

Para o Insti tuto Nacional de C olonização e Reforma Agrária –


INCRA, a agricultura familiar atende a duas condições: a) a di reção
dos trabal hos do estabeleci mento é exercida pelo produtor, e b) o
trabalho familiar é superi or ao trabalho contratad o (INCRA, 2000).
Segundo Peixoto (1998) deve-se observar que mesmo com
dificuldades de uma pré -definição do fenômeno, pode -se utilizar um
conjunto de aspectos básicos que servirão para nortear um conceito
para a agricultura familiar.
 uso predomi nante da força de trabal ho familiar;
 divisão do trabal ho, revelando papeis produtivos e
gerenciais para o grupo familiar;
 uso de trabalho assal ariado apenas compleme ntar;
 ênfase na diversificação da produção e no uso de insumos
internos;
 decisões imediatas, pela i mprevisi bilidade do processo
produtivo.
Furtado (1977) observa que em uma mesma u nidade de
produção podem c oexistir as duas formas de agricultura, a de
subsi stê ncia (quando a metade ou mais da produç ão se destina ao
consu mo) e a comercial , sendo que esta ulti ma só é considerada
como tal quando pelo menos ¾ da produção se destina ao mercado.
É importante salientar que o fato da pequena produ ção agrícola estar
sobrevivendo às mudanças, não significa que a mesma e steja em
situação cômoda e estável.
Para Denardi (2001) o conceito de agricultura familiar é
relativamente recente, pelo menos no Brasil. Tem, talvez, uns dez
anos. Ante s disso, falava -se em pequena produção e peq ueno
agricultor. Em linhas gerais, os empreendimentos familiares têm

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

duas características princi pais: eles são admi nistrados pela própria
família e neles a família trabal ha diretamente, com ou sem o auxilio
de terceiros. Vale dizer: a gestão é familiar e o trabalho é
predominante mente familiar. Poder -se-ia dizer, também, que um
estabelecimento familiar é, ao mesmo tempo, uma unidade de
produção e de consumo; uma unidade de produção e reprodução
social.
Também importante é a observação de Mota et al (1998)
quando afirma ser necessário ente nder o termo exploração familiar
como equivalente à agricultura familiar e suas di versas situaçõe s,
além de constituir-se um tema de alta relevância por se tratar de um
grupo social que ocupa lugar de destaque na produ çã o agropecuária
brasileira, pela capacidade de produzir, movimentar a economia nos
âmbi tos local e naci onal , utilizar de forma suste ntada os recursos
naturais e gerar postos de trabalho em ocu pações social e
economicamente produtivas.
Homem de Melo (2006) operacionaliza o conceito de
agricultura familiar c omo sendo o universo de propriedades rurai s
com me nos de 100 hectares. Com i sso, e nglobam -se nessa categoria
as chamadas agricultura de subsistê ncia e a pequena produção.
Abramovay (2000) é mais especifico quando trata da mão de
obra afirmando que a agricultura familiar não e mprega trabalhadore s
permanentes, podendo, porem, contar com até ci nco empregados
temporários
Graziano da Silva (1996) c onsegue distinguir no Brasil trê s
grandes grupos de produtor es rurais: os grandes proprietári os e
capitalistas agrários, com propriedade real dos mei os de produção,
que não desempenham nenhuma importância para o desenvolvimento
da agricultura;
As empresas familiare s, unidades que possuem u ma série de
elementos que definem uma empre sa comercial, com a presença de
uma organização contábil e admini strativa, mas mantém ainda alguns

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JOSE ADRIANO MARINI

traços típic os familiares e partici pam com um nu mero variável de


empregados te mporári os e pel o menos um empregado assalariado de
caráter permane nte; a taxa de lucro não é a variável chave no
funcionamento dessas empresas, se ndo mais importante o nível de
rendimento total do proprietári o: a mobilidade do capital é pequena
e, portanto, a bu sca de alternativas produtivas não orienta os
investime ntos, senão simplesmente a obtenção de “resultados
positivos”.
Os produtores familiare s que se distinguem dos ante riores pela
posse de pequenas áreas e pelo trabalho basicamente familiar,
pode ndo ou não ser complementado por assalariados temporários.
Neste gru po, praticamente são obrigados a produzi r durante todo o
ano os mesmos produ tos da região e també m não podem por si só
alcançar outros mercados ficando na maiori a das v ezes a mercê de
comerciantes intermediários.
É neste ultimo grupo que se concentrará o foc o deste trabal ho.
Segundo Lamarche (1993), i ndepe ndente mente de quais sejam
os sistemas sóciopolíticos, as f ormações sociais ou as evoluções
históricas, em todos os pai ses onde o mercado organiza as trocas, a
produção agrícola é sempre assegurada p or explorações familiares,
ou seja, por expl oraç ões nas quais a família participa na produção.
Na categoria dos produ tore s familiares,há indepe ndente do
meio sociocultural em que as pessoas estejam inseridas, unidade s de
produção agrícola, eminentemente fa miliare s, que contam com mão-
de-obra assal ariada temporária para comple tar a sobrecarga de
trabalho em época de intensa atividade na propriedade

Agricultura Familiar e Agronegócio


O Brasil é um paí s em que chavõe s e fal sos c onceitos são
utilizados com tanta freqüência que praticamente se tornam verdades
absolutas. U m dos exemplos mai s notóri os é a fal sa dicotomia que

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

contraporia o agronegóci o à agricultura familiar. O primeiro é


comumente apontado como um se tor eficiente, exportador, que
advoga o livre comércio e seria su postamente comandado pel os
grandes produtores rurais e por grandes corporações de insumos
agropecuários e processamento de alime ntos. Na ou tra ponta estaria
a agricultura f amiliar, representada pel os pequenos produtores e
pequenas agroindú strias a eles acopladas, que seriam melhores
empregadores de mão-de-obra e distribuidores de renda, mas que
careceriam de subsídios e proteções permanentes, j ustificados pelas
suas externalidade s sociais e ambientai s.
Essa fal sa divisão não te m o menor fundame nto. P ara começar,
é necessári o rever o conceito de "agribu siness" de senvolvido por Ray
Goldberg, em 1957, nos EUA, e traduzido, no Brasil, como
"complexo agroindu stri al" ou "agronegóci o" por Ney Bittencourt,
Ivan Wedekin e Luiz A. Pinazza, nos a nos 19 80, com enorme
repercussão nos meios empresariais e acadêmicos. O agronegócio
nada mais é do que um marco c onceitual que delimita os sistemas
integrados de produção de alime ntos, fibras e bi omassa, operando
desde o melhoramento genético até o produto final, no qual todos os
agentes que se propõem a produzir matérias -primas agropecuárias
devem fatalmente se inserir, sejam eles pequenos ou grandes
produtores, agricultore s familiares ou patronais, fazendeiros ou
asse ntados (Jank, 2005)
É no segmento comercial do agronegócio que ac ontecem as
relações de troca essenciais para a reprodução do negócio rural
(Araújo, 2003).
A agricultura familiar é, portanto, apenas um segme nto central
do agronegócio, na medida em que repre senta boa parte da produção
agropecuária brasileira: 84% da farinha de mandi oca, 97% do fumo,
67% do feijão, 58% da carne, 52% do leite, 49% do milho, 40% das
aves e ov os, 32% da soja e 31% do arroz (IBGE/Pesquisa Agrícola
Municipal,2004).

23
JOSE ADRIANO MARINI

A Economia da Agricultura Familiar


São inúmeros os docume ntos que defendem a importância da
agricultura familiar no contexto agropecuári o brasil eiro, atribuindo -
lhe papel fundamental na produção de alime ntos e na geração de
empregos.

O PIB da Agropecuária Familiar, em 2003, apre sentou um


crescimento em relação a 2002 de 14,3%, conforme a Figura 01,
alcançando naquele ano o valor de R$ 55,6 bilhõe s (3,57% do PIB
nacional). O PIB da Agropecuária Patronal em 20 03 situou -se em
5,7% do PIB brasileiro (R$ 88,7 bilhões). Quando se analisa as áreas
ocupadas, tem -se na agricultura familiar u ma ocupação de
107.768.450 hectares em oposição aos 240.0 42.122 hectares
pertencentes aos agricultores patronais., Ressalta -se também a
existência no universo familiar de 2.739.327 hectares com
rendimentos muito baixos ou quase sem re ndas (IBGE/SIDRA,
2007).

F I G UR A 01: E VO L UÇ Ã O DO PIB DA A GR O P E C U ÁR I A F AM I LI AR ,
P AT R O N AL E DO B R ASI L .

Evolução do PIB/Brasil 2002/2003

15 14,3

11,08 PIB Familiar


10 PIB Patronal
PIB Brasil

0,5
0

A contraposição agricultura familiar x agricultura patronal

24
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

também é bastante comum, mas env olvida em muita confusão


conceitual, especialmente com as noções de agricultura de
subsi stê ncia e agricultura comercial. Conforme adve rte Veiga (1996),
a agricultura “comercial” não se opõe à “familiar”, como muitos
pretende m. Ne sse contexto, o oposto de comercial é a subsi stê ncia,
situação que não representa a realidade da agricultura familiar
contemporânea. Algu ns autores, por exemplo, conceituam
“agricultura familiar ou pequena agricultura... como aquela realizada
em propriedades de até 100 ha” (Teixeira et al, 1996), conceito
também compartil hado por Homem d e Melo (2006 ) que delimita a
agricultura familiar “como sendo as unidades produtivas dentro do
limite máximo de 100 ha” confundindo assim o modo de fazer a
agricultura com o seu porte, especialmente porq ue as estatísticas
oficiais não destacam a “agricult ura familiar” como uma categoria
socioeconômica. Embora, muitas vezes, haja u ma associação e ntre
modo e porte, a falta de clareza nas abordagens pode levar a
conseqüências no mí nimo inde sejáveis quando se trata de políticas
públicas.

Com base nos microdad os 2 do IBGE, o Instituto Nacional de


Colonização e Reforma Agrária – INCRA e a Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO iniciaram
em conju nto um projeto para classificar a agricul tura familiar no
país, considerando como sendo o e stabelecimento integrante da
agricultura familiar aquele dirigido pelo próprio produtor rural e que
utiliza mais a mão-de-obra familiar que a contratada.

2
denominação utilizada pelo IBGE para designar os arquivos contendo
os dados individualizados de cada estabelecimento agropecuário

25
JOSE ADRIANO MARINI

A agricultura familiar no Brasil


Considerando a definição anteri orme nte aprese ntada tem -se ,
na Tabela 01, a distribuição dos estabelecimentos c onforme as
categorias socioeconômicas e alguns i ndicadores que dão a medida da
sua importância.

Destaca -se a grande participação da agricultura familiar no


total de estabelecimentos agropecuários do paí s (85,2%) , embora
desproporcional à sua participação na área (30,5%) e nos
financiame ntos (25 ,3%). Por outro lado, os estabelecimentos da
agricultura familiar participam no valor bruto da produção de uma
forma mais significativa (37 ,9%) do que a sua participação no
número de estabelecimentos.

26
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

T A BE L A 01 – B R AS I L - E ST A BE LE C I M E N TOS , Á R E A , V AL OR B R UT O D A
P R OD U Ç ÃO (VBP), S E G U N DO AS C A TE G OR I AS DE A G R IC UL T UR A .
Categorias Estab. % Área % VBP %
Total Estab. Total Área (R$ mil) VBP
s/total (mil ha) s/total s/
total
Familiar 4.139.369 85,2 107.768 30,5 18.117.725 37,9
Patronal 554.501 11,4 240.042 67,9 29.139.850 61,0
Instituições 7.143 0,2 263 0,1 72.327 0,1
Religiosas
Entidade 158.719 3,2 5.530 1,5 465.608 1,0
Pública
Não 132 0,0 8 0,0 959 0,0
identificado
Total 4.859.864 100,0 353.611 100,0 47.796.469 100,0
Fonte : Pesquisa Agricola Municipal, 2004.

A estrutura fundiária da agricultura familiar, de certa forma,


repete a concentração observada na agricultura do país, de uma
maneira geral. C onf orme a Tabela 02 abai xo, 39,8% dos
estabelecimentos familiare s possuem menos de 5 ha e, em conjunto,
detêm tão somente 3,0% dos 107.768 ha re portados na Tabela 2. E m
média, são estabelecimentos de apenas 1,9 hectares. No e xtremo
oposto, 5,9% dos estabeleci mentos concentram 44,7% daquela área,
com uma média de 67,8 ha.

T A BE L A 02 – P AR TI C I P A Ç ÃO NO S E S T A BE L E CIM E NT O S , N A Á R E A E
Á R E A M É DI A , SE G U N D O OS G R UP OS DE Á R E A T O T A L ( E M H A ).
Grupos de Área % nos % na Área Área Média
Total Estabelecimentos
(Hectares)
Menos de 5 39,8 3,0 1,9
5 a menos de 20 29,6 12,2 10,7
20 a menos de 50 17,2 20,4 31,0
50 a menos de 7,6 19,7 67,8
100
Acima de 100 5,9 44,7 198,0
Área média dos agricultores familiares 26,0
Fonte : MDA/INCRA, 2000.

27
JOSE ADRIANO MARINI

Conquanto a agricultura familiar partic i pe, na média, com


37,9% do Valor bruto da produção (participação essa bastante
elevada, considerando-se que conta apenas c om 30,5 % da área total e
o seu exagerado nú mero de estabelecimentos), há produtos nos quais
o papel da agricultura familiar é de mui t o maior importância,
conforme se pode ver na Tabela 03.

As culturas do fumo, mandioca e feijão de spontam c omo quase


que exclusivas da agricultura familiar. C hamam a atenção também os
percentuais alcançados na pecuária de pequenos animai s (suínos e
aves/ov os), para o que deve estar contri buindo o sistema de
produção integrada.

Anali sando-se a questão pelo lado dos agricultores familiares,


dentre os produ tos que mai s contribuem para o seu valor bruto da
produção de stacam-se a pecuária leiteira, aves/ovos, pe cuária de
corte, mil ho e soja (Tabela 04).

28
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

T A BE L A 03 – P E R CE N T U AL DO V A LOR B R U TO D A P R OD U Ç ÃO DE
P R OD U TO S S E L E CI O NA D OS P R O D UZ I D OS NO S E S T A B E LE CI M E N TOS
F AM I LI A R E S .
Produto Participação no VBP Total (%)

Fumo 97
Mandioca 84
Feijão 67
Suínos 58
Pecuária leiteira 52
Milho 49
Aves/ovos 40
Soja 32
Arroz 31
Café 25
Pecuária de corte 24
Fonte : MDA/INCRA, 2000.

É importante notar a discordância dessa cesta com a anterior,


ou seja, os produtos que mai s contribuem para a receita dos
agricultores familiares não são aqueles aos quais a maioria deles se
dedica.

Outra característica da agricultura familiar é a diversidade de


Renda Total entre os e stabelecimentos. Na Tabela 05, verifica-se que
a mai oria dos e stabelecimentos (68,9%), que ocupam 48,9% da área
da agricultura familiar, tem renda igual ou inferior a R$
3.000,00/ano.

29
JOSE ADRIANO MARINI

T A BE L A 04 – P AR TI C I P A Ç ÃO DE P R O D U TO S S E LE CIO N A DO S N O
V A LOR B R U TO D A P R O D UÇ Ã O T OT A L D A A GR IC U L T U R A F A M ILI AR .
Produto Participação no VBP da
Agricultura
Familiar (%)
Pecuária leiteira 13,3
Aves/ovos 10,0
Pecuária de corte 9,5
Milho 8,7
Soja 7,4
Suínos 5,6
Mandioca 5,5
Fumo 4,2
Feijão 3,8
Café 3,5
Arroz 2,7
Outros 25,4
Fonte : MDA/INCRA, 2000.
Nota-se que maiores rendas anuais, acima de R$ 1 5.000,00 é
percebida por apenas 2,5% do total deste s estabelecimentos e rendas
superiore s a R$ 27.500,00 são obtidas por 0,8% das propriedades
familiares, expondo desta f orma os bai xos re ndimentos deste ti po de
agricultura. Em termos me nsai s grande parte dos estabelecimentos
recebe em média R$ 250,00, não alcançando portanto o equivalente a
um salári o míni mo vigente.

30
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

T A BE L A 05 – B R AS I L – A GR I C UL TO R E S F AM ILI AR E S – P E R C E NT A GE M
DE E S T AB E LE CI M E N TO S E Á R E A , S E G U N DO OS G R UP OS D E R E N D A
A GR Í C OL A T O T AL ( E M R E AIS ).
Grupos de Renda % nos Estabelecimentos % na Área
Total
Até 0 8,2 10,8
Mais de 0 a 3.000 68,9 48,9
Mais de 3.000 a 8.000 15,7 23,7
Mais de 8.000 a 15.000 4,6 9,1
Mais de 15.000 a 1,7 4,4
27.500
Mais de 27.500 0,8 3,1
Fonte : MDA/INCRA, 2000.

Convém chamar a atenção para o grupo de renda negativa (até


0). Nele estão os estabelecimentos cujos i nvesti mentos, na é poca das
pesquisas, ai nda não estavam produzindo e os que tiveram prejuízo
naquela safra – ou seja, estes não são necessariamente pobres.
Entretanto, estão também aí os e stabelecimentos nos quais a renda
originada na agropecuária é muito pequena, levando a supor que a
família está se mantendo c om rendas de ou tras origens: as atividades
rurais não-agrícolas ou transferências (como a apose ntadoria rural).

A agricultura familiar no Estado do Pará

De acordo com o Censo Agropecuário 19 95/96 (in


IBGE/SIDRA, 2007), a região Norte do Brasil deté m 9,78% (446.175
propriedade s) dos estabelecimentos rurais do paí s, sendo que no
Estado do Pará encontram -se 4,52% (206.404 propriedad es) do total
de estabelecimentos rurai s brasileiros. Os agricultores familiares da
região Norte participam c om 9,2% do total de estabelecimentos
nacionais e os paraenses compõe 3,77% deste total. Estes val ores
decaem muito quando se analisa as áreas ocupad as pela agricultura

31
JOSE ADRIANO MARINI

familiar no conte xto nacional. A região Norte oc upa uma área de


16,50% do território nacional, sendo que a agricultura familiar possui
apenas 6,18% do território brasileiro nesta região. O Estado do Pará
possui 6,36% de terras totai s no Brasil e espaço da agricultura
familiar reduz-se a 2,46%, Censo Agropecuário 1995/96 (i n
IBGE/SIDRA, 2007) (Tabela 06).

32
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

T A BE L A 06 – A GR I C U L T UR A F AM I LI AR – P AR TI CIP AÇ ÃO P E R CE N T UA L
D A R E GI Ã O N OR TE E DO E S T A DO DO P A R Á N O N ÚM E R O D E
E ST A BE LE CI M E N T OS , Á R E A E V AL OR B R U T O D A P R O D UÇ Ã O (VBP ). *

% Estab. s/
Estab. Total
Categorias

% Área s/
Área total

(em ha)

1000 R$
Total

Total

VBP
85,17

30,47
4.139.369

18.117.725
107.768.450
Agricultura
Familiar

100

47.796.469
4.859.864

353.611.242
Brasil

Total

9,20

6,18
380.895

21.850.960
Agricultura

1.352.656
Familiar

9,78

16,50
446.175

2.321.939
58.358.880
Norte

Total

3,77

2,46
183.596

8.727.343

602.132
Agricultura
Familiar

4,52

6,36
206.404

1.026.711
22.520.229
Total
Pará

Fonte : Censo Agropecuário 1 995/96 (in IBGE/SIDRA, 2007)

* não e ntraram ne stes cálculos os dados agrícol as referente s às

33
JOSE ADRIANO MARINI

Instituições Religiosas e Entidades Publicas e aq ueles declarados


pelo IBGE como Não Identificados.

O Estado do Pará detém 46,26% das unidades de produção


agropecuárias da região Norte do Brasil e 48 ,20% do total de
estabelecimentos familiares desta região. No Estado do Pará há uma
grande incidência de estabelecimentos pertencentes á agricultura
familiar chegando a somar 89% das propriedade s parae nses, no
entanto este numero representa apenas 39% da área ocupada com
agropecuária familiar no setor rural paraense, i ndicando uma grande
concentração de área em poucas propriedades, Censo Agropecuário
1995/96 (in IBGE/SIDRA, 2007) . E sta concentração de áreas não
corresponde ao nível produtivo deste s estabele cimentos poi s a
agricultura familiar, apesar da pouca área ocupada, responde por 59%
do Val or Bruto da Produção (VBP ) estadual ( T O Brasil
aprese nta uma área média por estabelecimento na agricultura familiar
de 72 hectares, a Região Norte fica abaixo deste valor com 57 ha por
estabelecimento agrícola familiar e o Estado do Pará apresenta uma
média de 47 ha (Censo Agropecuário 1995/96 (i n IBGE/SIDRA,
2007)).

A agricultura familiar paraense em sua mai oria ocupa extensõe s


de terras até 50 hectares c om 127.554 estabelecimentos (69,0%)
enquanto que a agricultura patronal destaca -se no i nterval o de mais
de 100 hectares com 8.255 propriedades (59,5%). As mai ores rendas
da agricultura familiar aparecem no intervalo de 2 0 a 50 hectares e
mais de 100 hectares (respectivamente 23,4 e 26,6% da renda total) e
a patronal concentra 80,5% de sua renda nas áreas com mai s de 100
hectares, de acordo com o Censo Agropecuário 1995/96(in
IBGE/SIDRA, 2007).

34
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

No E stado do Pará há 883.925 pessoa s ocupadas c om a


atividade agrícola, correspondendo a 4,92% do total nacional
(17.930.853 pessoas). A grande mai oria dos trabal hadores agríc olas
parae nses encontra-se na agricultura familiar 85,68% (757.423
pessoas), média su perior à situação brasileira, 7 6,85% (13.780.201
pessoas), em oposição aos agricultore s da categoria patronal no
Estado, 10,45% (92.413pessoas) (Ce nso Agropecuário 1995/96 (in
IBGE/SIDRA, 2007)).

É grande no Estado do Pará o numero de trabal hadores


ocupados na agricultura familiar com idade infe rior a 14 anos
(23,10% ou 174.957 pessoas), de acordo com a Tabela 08, mui to
acima da média brasileira de 8,68% (1.196.872 pessoas), sendo
também alto a ocupação destes me nore s na agri cultura patronal
parae nse, 6,63% ou 6.132 pessoas, em relação à média nacional de
2,48% (88.472 trabal hadores) (MDA/INCRA, 2000).

No Brasil a categoria familiar contrata para auxiliar em suas


atividades 474.271 trabalhadore s (12,5% dos trabal hadores agrícolas
brasileiros contratados) enquanto a patronal contrata 3.2 48.121
pessoas, o que corresponde a 85% de toda mão de obra contratada
no setor agrícol a nacional. Curiosame nte, o setor mais pobre da
agricultura familiar (categorizado pelo IBGE c omo quase sem
rendas) é o que mais contrata trabal hadores para auxiliar nas
atividades (149.850 ou 31 ,59%) seguido pelos declarados como
maiore s rendas (138.655 ou 29,23%) (MDA/INC RA, 2000).

Os mai ores empregadores no setor agríc ola no Estado do Pará


são aqueles identificados como agricultores patronai s (77%). OS
agricultores familiare s contratam um total de 18.738 pessoas (20%)
para realizarem trabal hos agrícolas em suas propriedades, muito
acima do percentual nacional desta categoria (MDA/INCRA, 2000).
O grupo que mais contrata trabalhadores dentro da categoria da

35
JOSE ADRIANO MARINI

agricultura familiar no Estado são aqueles que obté m maiore s re ndas


com seu estabelecimento, diferente do comportamento observado
nacionalmente.

Com relação a re nda obtida por pelos estabelecimentos rurai s,


tem-se no Estado do Pará um total de R$ 752 milhões, dos quais
72,39% (R$ 544 milhões) origi nam -se na agricultura familiar e
24,46% (R$ 184 milhões) na patronal (Tabela 09).

Na renda média por e stabelecimento, o Pará alcanç a a cifra de


R$ 3.643, pouco abaixo da renda média nacional de R$ 4.548 por
propriedade; a agri cultura familiar no Pará possui uma renda média
de R$ 2.965 por estabelecimento acima, portanto da média brasileira
de R$ 2.717 por estabelecimento agrícola familiar, mas muito abaixo
da patronal, que alcança R$ 13.256 por propriedade no estado e R$
19.085 no Brasil . Embora o val or por propriedade da agricultura
patronal seja muito su perior ao da agricultura familiar, quando
compara-se o re ndimento por área trabalhada o rendimento da
agricultura familiar supera em 451% os rendimentos da agricultura
patronal no Estado do Pará. (MDA/INC RA, 2000).

Anali sando-se o Censo Agropecuário 1995/1996 em


IBGE/SIDRA, (2007), a renda média por unidade de produção da
agricultura familiar no Estado do Pará (R$ 2.965,38 ) situa -se abaixo
da renda média naci onal (R$ 4.548,10), o mesmo ocorrendo na
categoria da agricultura patronal (R$ 13.255,63) qu ando comparado
com a média brasileira (R$ 19.084,58). Apesar do alto rendime nto
monetári o por hectare obtido pela categoria de agricultores
familiares, tanto no Brasil (R$ 104,37) quan to no Estado do Pará (R$
62,38), este valor fica diluído quando é dividido pelas unidade s de
produção. A partir destas informaç ões tem -se que a renda média
mensal das u nidades de produção familiares paraenses alcança R$
246,36 (RM / 12) abaixo, portanto do salári o míni mo nacional (R$

36
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

370,00 em maio de 2007) e inferior a média brasi leira(R$ 379,00).


Embora a média mensal obti da pela agricultura patronal paraense (R$
1.104,63) também si tue -se abaixo da média do Brasil (R$ 1.590,32)
este valor fica muito acima do sal ário mí nimo vigente.

Não se dispõe da i nformação de quantas pe ssoas são


suste ntadas por u m estabelecimento. Adotando -se a aproximação
feita por Jank (2000), de 2,5 pessoas por estabelecimento, vê -se que
as re ndas mone tárias geradas na agricultura fa miliar paraense (R$
98,54) são ai nda muito baixas.

A agricultura familiar nos municípios de Curuçá, Marapanim,


Terra Alta e São João da Ponta.

Os estabelecimentos agríc olas situados nos municípios


abrangidos por e sta pesquisa c orrespondem a 0,78% das
propriedade s parae nses e ocupam 0 ,16% das áreas rurais no Estado,
representando 0,59% do Valor Bruto da Produção no se tor. Quando
analisados sob a ótica da agricultura familiar tem -se uma participação
local de 0,77 dentro das propriedades familiares estaduais e uma área
equivalente a 0,19% da categoria no Estado (MDA/INCRA, 2000).

A região de estudo apresenta como o Estado do P ará, uma alta


concentração de estabelecimentos familiares (8 9%), mas esta
categoria ocupa apenas 48% das áreas agrícol as l ocais. Apesar das
menores áreas ocupadas a agricultura familiar responde localme nte
por quase 61% do Val or Bruto da Produção (MDA/INCRA, 2000).

Destaca -se dentro da área de estudo o mu nicípio de


Marapani m, que possui 67% do total de propriedades familiares na
região, o que corresponde a 40% em área desta cate goria e responde
localmente por 69% do Valor Bruto da Produção. Os municí pios de

37
JOSE ADRIANO MARINI

Curuçá e Terra Alta aprese ntam números bem próximos quanto a


quantidade de estabelecimentos total e familiar, porem a
concentração de área familiar é maior em Curuçá (54,52%). Outro
destaque na área de pe squisa é o município de São João da Ponta,
que participa com ape nas 4% dos estabelecimentos familiares e 15%
da área familiar dentro do grupo, somando ape nas 4,2% do Val or
Bruto da Produç ão agrícola familiar local (Tabela 07) (MDA/INCRA,
2000).

T A BE L A 07: E ST A D O D O P AR Á E M U NI CÍ P IO S DE P E S Q UIS A -
E ST A BE LE CI M E N T OS , Á R E A E V AL OR B R U T O D A P R O D UÇ Ã O (VBP ),
TO T AI S E P E R TE N CE N TE S A A GR I C U L T UR A F AM I LI AR .
Estabeleci Área VBP
mentos (Ha) R$1000
Área de Agr. 1.428 17.356 3.769
Pesquisa Familiar
Total 1.612 36.051 6.041
Curuçá Agr. 209 3.811 530
Familiar
Total 232 6.990 1.233
Marapani m Agr. 953 6.980 2.532
Familiar
Total 1.073 16.735 3.214
Terra Alta Agr. 204 4.045 452
Familiar
Total 242 9.712 1.418
S. J. Ponta Agr. 62 2.520 155
Familiar
Total 65 2.614 176
Pará Agr. 183.596 8.727.3 602.132
Familiar 43
Total 206.404 22.520. 1.026.711
229
Fonte : Censo Agropecuário 1995/96 (in IBGE/SIDRA, 2007).

38
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

As maiores re ndas obtidas pela agricul tura familiar na área de


pesquisa c orresponde aquelas propriedades de até 5 hectares, val or
este fortemente influenciado pela prese nça de Marapanim que
movime nta a media local de acordo com suas caracterí sticas
particulares, poi s possui 78% da re nda famili ar do agrupamento.
Assim, enquanto Marapani m aprese nta 56% de sua renda familiar
localizada naquele interval o espacial, os municípios de Curuçá, Terra
Alta e São João da Ponta apresentam seus maiore s rendimentos no
espaço de área si tuado e ntre 5 e 20 ha.

Os valores negativ os que aparecem para o municípi o de Curuçá


nos intervalos de área corresponde ntes aos interval os acima de 50 ha
são originados de propriedades “quase se m re nda” segundo a
classificação do IBGE e podem significar rendas efetivamente
negativas na época da pesquisa bem como investi mentos agrícolas
que ainda não aprese ntavam produtividade para cobri -los.

O mai or numero de propriedades aparece na fai xa de menos de


5 ha (871), cuja soma é determinada por Marapani m (689
propriedade s), seguida por Curuçá (99 propriedades) e Terra Alta (76
estabelecimentos) enquanto que em São João da Ponta predomi nam
as propriedades nos estratos de área entre 5 e 20 hectares
(MDA/INCRA, 2000).

O município de Marapanim destaca -se com um grande numero


de estabelecimentos c om tamanhos abaixo de 5 he ctares devido ao
grande nu mero de moradore s de Belém que mantém no município
pequenas chácaras para sua estadia durante o período de férias
escolares tendo em vista tratar -se de um municípi o com Na região
desta pesquisa a agricultura familiar conta c om 11,84% de
trabalhadores me nore s de 14 anos, media esta abaixo dos índices
estaduai s, porem ai nda acima da média brasileira de trabalho agrícola
infantil. Isto explica-se pela pre sença dos filhos dos produtores na

39
JOSE ADRIANO MARINI

lavoura, auxiliando nos diversos trabal hos agrícol as necessários e


pela existência de um grande numero de filhos e filhas que os
produtores familiares da região tem (c onf orme dados da pesquisa).

Quando os filhos já e stão crescidos os produtores passam a


contratar, por safra agrícol a, empregados para auxili ar nas atividades
do campo, mas como os rendi mentos são muito bai xos, os índices de
contratação são pequenos (1,74% do total de mão de obra familiar),
restri ngindo-se esta pratica aos moradores externos á área (e que
possuem outras fonte s de renda - conforme informações obtidas pela
pesquisa de campo) áreas litorâneas.

Destacam-se nesta pratica os municípi os de Curuçá e Terra


Alta (2,72% e 2,48% respectivamente, de trabalhadores contratados
frente ao numero de trabalha dore s familiare s) devido principal mente
a cultura do maracujá, predomi nante nestas duas localidades, que
exige a contratação durante seu ciclo de mão de obra adicional para
realizar tarefas de capi na e poli nização dos frutos.

A agricultura familiar respond e de ntro do E stado do Pará por


72% do total da re nda agrícola e a região abordada por este estudo
soma 0,50% do total estadual e 0,69 pelo total da renda familiar
estadual.

Segudo dados do Censo Agropecuário 1995/1996, o municípi o


de Marapani m responde, de ntro da região por 73% da renda total e
77% pela renda obtida nos estabelecimentos familiares. Curuçá
representa apenas 2% da renda total da área de pesquisa devido a
renda negativa obtida pela agricultura patronal no período (R$ - 86
mil), refletindo naqu ela categoria. Da mesma maneira ocorreu na
categoria familiar si tuada nas “menores rendas” um resultado
negativo de R$ 117 mil , que foi compensado pelas categorias si tuadas
como “renda média” e “maiore s re ndas” (R$ 100 mil e R$ 179 mil),

40
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

perfazendo na soma final o resul tado de R$ 186 mil obtidos pela


agricultura familiar. A diferença entre as rendas negativas da
agricultura familiar e da patronal situa -se no ti po da renda obtida,
sendo que na patronal esta renda negativa deu -se no segmento de
“renda não monetária” e na categoria familiar oc orreu dentro do
segmento de “renda monetária” i ndicando claramente um
endividamento financeiro ne ste setor.

A mai or re nda média por estabelecimento de ntro da área


pesquisada foi apontada por Marapani m, o que em u ma média m ensal
indica um rendi mento de R$ 255,75, portanto abaixo do salário
mínimo vigente . Levando-se em conta os postulados de Jank (2005)
tem-se em média em u m estabelecimento a ocupação de 2 ,5 pe ssoas,
de modo que no municípi o de Marapanim tem -se por trabal had or
familiar uma renda me nsal de R$ 102,30, val or este que está acima da
média estadual (R$ 98,83 / trabalhador / mês). A menor média
mensal por trabal hador foi encontrada em Curuçá (R$ 29,66) devido
aos í ndices negativ os de renda obtidos pela categoria fam iliar das
menores rendas.

O rendime nto financeiro por área destaca -se também em


Marapani m, embora os val ores por área da agricultura familiar de
Curuçá e São João da Ponta estejam próximos, deve -se notar que em
Curuçá há um numero muito maior de estabeleci mentos familiares,
que deveria assim produzir mai ores rendas totais na categori a, e
valores próxi mos i ndicam que as poucas propriedades de São João da
Ponta equivalem em rendi mentos as muitas proprie dades de Curuçá.
Estes re ndimentos financeiros por área de Curuçá na categoria de
totais reflete também o desempenho negativo da Agricultura Patronal
no período.

É muito baixo o nível de tecnol ogia empregado nas


propriedade s rurais localizadas o Estado do Pará; o índice daquelas

41
JOSE ADRIANO MARINI

que utilizam apenas a mão de obr a humana c hega a 88% de todas as


propriedade s e 89% quando situadas na categori a da agricultura
familiar, dimi nuindo um pouco na categoria da agricultura patronal
onde si tua-se em 65% das propriedade s. Este uso c oncentra -se mais
nas mai s baixas categori as de rendas dentro da agricultura familiar,
exceção a Marapani m que utiliza um grande contingente de força
agrícola exclusiva humana naquelas propriedade s classificadas como
“renda media” , esta mão de obra é paga pel o proprietário, que
normalme nte ne stas si tuações naquele município é aposentado ou
reformado.

O uso de adubos e corretivos é realizada apenas por 11% das


propriedade s familiares e 12% do total das proprie dades no Estado,
fato que pode ser justificado pelos baixos níveis de assistência
técnica atuantes nestas propriedades, prese nte apenas em 3% das
familiares e 4% do total de estabelecimentos. Esta mesma assessoria
mostra-se um pouco mais prese nte quanto trata -se da agricultura
patronal, cuja presença é marcada em 15% das propriedades desta
categoria de expl oração agrícola.

Os mu nicípios deste trabalho, Curuçá, Marapani m e Terra Alta


aprese ntam uma quase totalidade de uso exclusivo de força humana
nas atividades agrícolas (88%, 93% e 90%, respectivamente do total
de propriedades no mu nicipio) e Sã o João da Ponta apre senta um
índice bem menor (66%) provavelme nte por tratar -se de
propriedade s com novos cultivos e uma participaç ão mai s ativa do
poder publico municipal no de senvolvime nto agríc ola local (Figura
15) (Cf. pesquisa de campo).

Curuçá destaca-se pelo alto índice de uso de adubos e


corretivos em suas propriedades familiares, chegando a 77% de
estabelecimentos com esta prática contra 29%, 44% e 31% de São
João da Ponta, Terra Alta e Marapani m, respectiv amente . Isto se

42
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

justifica pela presença maciça em terras curuçaenses do planti o de


maracujá, cultura que exige aplicação de adu bos para que se consiga
algum rendimento no fi nal das safras e também pela atuação de
agentes mercantis praticando o aviame nto da produ ção (Cf. pesquisa
de campo).

A assistência técnica, embora presente em todos os municípios


pesquisados, esta presente apenas em 33% dos estabelecimentos de
Curuçá e 28% daqueles situados em São João da Ponta, dimi nuindo
ainda mais em Marapanim (9%) e Terra Al ta (21%). Marapani m, por
também ser u ma cidade com f orte característica pesqueira tem sua
asse ssoria técnica oficial mai s focada naquela ativi dade alem de ser
possuir um grande numero de propriedades de uso apenas de lazer
(Cf. pesquisa de campo).

Na época destes levantame ntos, efetua dos pelo IBGE, havia no


Estado do Pará um índice de apenas 7% do total de propriedade s
servidas pela rede elétrica convencional e 6% das propriedade s
familiares atendidas por este serviço. No e ntanto nos últimos anos
intensificou-se a atuação do programa “Luz no Campo” do governo
federal, chegando a atender até 90% de todas as propriedades
parae nses (Cf. pesquisa de campo).

Os canais de comercializaç ão da produç ão familiar rural.


O setor da comercialização de alimentos transforma a matéria
prima produzida pelos agricultores e m alimentos, posteriormente
adquiridos e consumidos pel os consumidore s (em embalage ns e
características adequadas ao gosto de ste). Os custos resul tantes do
armaze name nto, do transporte e do processamento (quando
necessári o) – as transf ormaç ões de comercialização – são uma
compone nte i ntegrante do processo de formação de preços dos
alimentos. Uma vez que o produtor e o c onsumidor são indivídu os

43
JOSE ADRIANO MARINI

tipicamente diferentes, os bens de consumo têm q ue passar de um


dono para outro, e , com freq üência, muitas vezes, antes de c hegarem
á mesa familiar.
Com exceção das economi as de pura su bsi stência, estes três
tópicos enc ontram-se intrinsecamente ligados – as funções
produtivas de comercialização, o papel dos mercados como arena de
trocas e a f ormação do preço dos ali mentos ao qual a troca se
realiza.
Assim como a produção, a comercialização de alimentos
constitui um mei o para atingir um fim. Os objetivos que uma
sociedade pode, razoavelmente, pretender ati ngir no que se refere ao
seu setor de comercialização são idênticos aos quatro objetiv os
básic os do sistema
alimentar no seu todo: um cre scimento econômico eficaz, uma
distri buição mais eqüitativa dos rendime ntos, o bem -estar nu tricional
e a segurança alimentar. Devido ao seu papel de ligação entre os
setores da produção e do consumo, a comercialização pode
contribuir para atingir os quatro objetivos através da eficiência
segundo a qual faz mostrar aos tomadore s de decisão sinai s de
escassez e de abundância.
Os mercados são a are na de duas atividade s i mportantes,
necessárias em todas as sociedades: as funções físicas de
comercialização e a comu nicação aos produtores e consu midore s de
"sinais" relativ os ao custo de adquirir alguma coisa ou aos benefícios
de vendê-la.
Os mercados não funcionam sempre n o melhor interesse da
maiori a dos setores de uma sociedade, particularmente nos paíse s
pobres, onde as c omunicaç ões e a capacidade de transporte são
deficientes, os mercados são al tame nte segme ntados e o acesso dos
participantes no mercado é grandemente re stringi do. A capacidade de
negociação financeira fortemente desigual intervém muitas vezes na
relação entre o comprador e o vendedor.

44
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Segundo F ARINA e MACHADO (2000), o mercado de frutas e


legumes frescos é um dos menos dese nvolvidos no Brasil, e entre os
principais problemas enc ontrados está a falta de garan tia de um
suprime nto regular de produtos de qualidade. Nu ma economia de
mercado, uma escassez de alimentos significa preços mai s elevados,
caso em que apenas alguns (c om di nheiro suficiente) os podem
adquirir.
Na formação de preços, o conhecimento do mercado traduz -se
em poder no mercado. Uma das medidas mai s importantes que os
governos podem tomar para melhorar a equidade da formação dos
preços de mercado, de modo que seja me nos discrimi natória
relativamente ao pequeno agricultor, por u m lado, e ao consumidor,
pelo outro, é a prestação de informaçõe s atualizadas e precisas a
estes indivíduos sobre as condições reais do mercado.
Um maior equilíbrio de conhecimento proporciona uma
distri buição mais equili brada dos ganhos e uma formação de preços
de mercado eficiente.
Para encontrar o número de c omerciantes que operam num
siste ma de c omercialização, e e m que pontos um determinado bem
troca de mãos, torna-se útil esquematizar o seu fluxo através da
cadeia de comercialização. A compe titividade de um mercado e a
estrutura da cadeia de comercialização e stão, obviamente,
relacionadas. Se, em qualquer ponto da cadeia, e xistir apenas um
comprador ou vendedor ú nicos, torna -se provável a ocorrê ncia de
um comportament o não competi tivo. Al ternativamente, a pre sença
de muitos compradore s e vendedore s ao longo de toda a cadeia
transporta c onsigo um forte pressuposto de comportamento
competi tivo e de um desempenho eficiente do mercado.
As margens elevadas de comercializaçã o – o afastamento entre
os preços ao produtor e os preços ao consumidor – podem ocorrer
por duas razões: ou os custos reais de comercialização elevados
determinam que os preços ao consumidor sejam mu ito mais altos do

45
JOSE ADRIANO MARINI

que os preços ao produ tor, ou os elemen tos monopolistas do siste ma


de comercialização estão obte ndo lucros excessivos.
Cada produto agríc ola chega ao consumidor final através de
um canal de comercialização próprio, resultante de características
próprias (perecibilidade, grau de transformação, c aracterísticas
fisiológicas dos vegetais etc.) e das regiões produtoras (infra -
estrutura de apoi o e escoamento da produção, clima, topografia etc.).
Esquematicamente, adotando -se o modelo empregado por
Araújo (2003), com algumas adaptações, pode -se representar o
segmento de comercialização dividido em níveis, compostos de
agentes e canais de comercialização, que demonstram características
próprias e, em muitos casos, interdependê ncia:
O nível 1, segundo Araúj o (2003), é o espaço de produção
primária, onde atuam os produ tore s rurais, suas associaç ões e
cooperativas.
De modo geral, os estratos produ tivos que atingi ram maior
grau de organização tê m acesso a informaç ões mercadológicas,
conseguem melhores re sultados nas vendas de seus produtos.
Entretanto, a mai oria dos produtores rurais tradicionais
entregam os seus produtos para intermediári os (os chamados
"atrave ssadore s"), tendo em vista a precariedade ou inexistência de
canais de comercialização mai s estruturados a nível local e regional.
O nível 2 é representado pel os intermediários 3, que,
hierarquicamente, podem ser classificados como primários,

3
Intermediários são os atores que atuam na comercialização intermediando os
contatos entre o produtor e o consumidor final. Intermediário Primário são aqueles
atores que compram a produção diretamente no meio rural. Intermediários
Secundários são aqueles que compram as produções agrícolas de um Intermediário
Primário e, finalmente, os Intermediários Terciários são aqueles que adquirem as
produções apenas dos Secundários. Estes três níveis podem ou não repassar os
produtos ao consumidor final, dependendo da finalidade para o qual atuam.
Quando em uma cadeia há a presença de Intermediários Terciários (ou superior)
temos normalmente a presença dos “agentes”, que iniciam a cadeia de
intermediação sob tutela destes (ver Nível 4).

46
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

secundários, terciários, depe ndendo do tipo do produto e da infra -


estrutura e peculiaridades regionais.
Os agente s da i ntermediação comercial, na direção diretamen te
proporcional ao volume dos seus negócios, buscam se assenhorear de
informações estratégicas e das tendê ncias de mercado e, quanto mai s
capitalizados, financiam parcela crescente de empreendime ntos
rurais, o que de certa forma determina u ma crescente su b ordinação
do capital agrári o ao capital comercial.
No nível 3 estão canais de comercialização, onde os produtos
oriundos do campo podem ser vendidos de três formas:
 diretamente em "Mercados dos Produtores" aos
consu midore s finai s locais ou a intermediári o s secundári os,
que levam essas mercadori as para outros espaços
geográficos;
 concentradores, que nada mai s são do que grande s
intermediários
 indústrias de transformação primária ou se cundária
(agroindústrias), que, em suas estratégias de compra de
produtos são influenciadas pela sazonalidade da oferta,
variabilidade natural dos produtos e elevada perecibilidade
da matéria -prima e do produ to final
O nível 4, por seu turno, é dividido entre re presentante s,
distri buidore s, vendedores e agente s, que se diferenc iam em função
do porte do negócio, complexidade de relações comerciais e infra -
estrutura operacional e de serviços. Destaca -se neste nível a pre sença
dos “agentes” que intermediam as compras junto aos produtores
familiares sob orientações dos di stri buidore s.
O nível 5, é o mais complexo dentre os canais de
comercialização, por env olver inúmeros atores sociais, em grande
parte dispersos e diferentes modalidades de efetivação de negócios.
Dentre os inúmeros canais de comercialização, pode mos citar:

47
JOSE ADRIANO MARINI

 Atacadi stas: são grandes firmas que mantém i nfra -e strutura


própria voltada à compra de produtos "in natura" ou
processados por agroi ndústrias
 As Centrai s de Abastecimento, que constituem -se em
importante canal de comercialização, pode ndo ser acessadas
por produ tores e suas organizações produ tivas ou então os
agricultores podem comerciar diretamente com os
atacadistas ali estabelecidos, se m, necessariamente, dispor
de infra-estrutura predial
No Nível 6 , estão suas excelências os consumidores, cujos
padrões de exigênci as (inere ntes à aparê ncia, sabor, composição
química, sanidade, preço, procedência, prese nça ou não de resídu os
maléficos à saúde), v ariam e m relação a aspectos culturais, religiosos,
ideológicos e de saúde.
O mercado c onsumidor de fru tas frescas no Brasil apresenta-se
segmentado. Existem consu midore s bastante preo cupados com
preço, nichos de mercado i n teressados tanto em preço baixo quanto
qualidade e, também, nichos i nteressados e m consumir frutas c om
serviços i ncorporados 4. Este nicho de mercado está disposto a pagar
mais por e ste pro duto, pois quer perder pouco tempo pre parando sua
refeição. Em função deste segmento, estão surgindo canai s de
comercialização “sofisticados” de Frutas, Legumes e Verduras (FLV)
tais como: butiques de verduras, “feiras li mpas” e casas
especializadas em comércio de hor taliças frescas (JUNQUEIRA,
1999).
Entre os princi pais canais de comercialização de frutas,
verduras e legumes frescos po de-se citar as feiras livres, os sacol ões
e varejões e os supermercados.

4
As frutas minimamente processadas “são aquelas que após passarem
por algumas etapas de processamento são oferecidas ao mercado
consumidor de forma mais prática e atraente”

48
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Pode-se observar o aume nto da impor tância da seção de frutas,


legumes e verduras (FLV) nos supermercados, onde a seção de FLV
responde , em média, por 10% a 13% do faturamento das grandes
lojas. Esta seção já possui maior importância econômica do que
outros setores, c omo frios, fati ados e charcutaria, e tem desempenho
igual à seção de venda de carne s (JUNQUEIRA, 1999).
As grandes cadeias de varejo passaram a atuar comprando
diretamente do produtor por meio das chamadas Ce ntrais de Compra
(CC). O objetivo de uma CC é canalizar todas as operações
comerciais e fi nanceiras para um único e spaço. De sta forma, a CC
“exerce poder de compra proporcionado pelo au mento da escala”
(BELIK, 2000).
Segundo SOUZA et al . (1998), os grande s supermercados
varejistas montam suas própr ias CC s, poi s funcionam como opção as
Centrais de Abastecimento Estaduai s ( CEASAs), c omprando di reto
do produtor para toda a rede e fazendo a distribui ção para as lojas.
Ao atuar di retame nte comprando dos produtores, atra vés da CC, os
grandes varejistas pode m obter redução dos custos que pode chegar
até 30%. Ainda, segundo SOUZA et al. (1998), as CCs são montadas
pelos varejistas quando se ati nge um volume de compras de horti -
fruti-granjeiros superior a 2 .000 toneladas/mês.

49
JOSE ADRIANO MARINI

A PRODUÇÃO DE FRUTAS NO
SALGADO PARAENSE

A produção de f rutas no Estado do Pará


Formado pela maioria das frutas de cultivo permanente, na
lavoura frutícola, no Estado do Pará, predomi nam a laranja, a
banana, o maracujá, a melancia, o abacaxi, o mamão e o coco, além
do açaí , que merece especial destaque na economia estadual .
Prevalece, assim, uma fruticultura cultivada em pequenas áreas por
produtores familiares, e extraídas da floresta. A produção das frutas
tradicionais 5 tem carac terística de coleta e au toconsumo, onde o
excedente é destinado às feiras livres, aos restaurantes e lanchonetes
para a produção de sucos e, em alguns mu nicípios, já existem
agroi ndústrias para o processamento de frutas (SANTANA, 2004;
2005). Nos muncipi os abordados por este estudo, na região do
Salgado Paraense, predomi nam marcadame nte na economi a as
produções do abacaxi, do maracujá e da melancia. Existem na forma
extrativista o açaí nas várzeas e o bacuri nas florestas e capoeiras. O
cupuaçu é cultivado nos quintais e pequenas áreas próxi mas às
residências das áreas rurais. Estas três ultimas culturas não entram
neste estudo porque destinam -se exclusivame nte ao c onsumo
familiar, não existindo excedente s para a comercialização.
A agricultura é a quarta pri ncipal atividade econômica do
Estado do Pará, depois do mi nério de ferro, da madeira e da pecuária
e o se tor especifico de frutas regionais é c olocado e m sexto lugar no
desempenho global da economia parae nse (Santana & Filgueiras,
2006). Na pau ta de exportaç ões a agricultura (2 ,3 2%) é precedida
pela exportação de minérios (76%) e de madeira e mobiliário (19%)

5
Frutas tradicionais ou nativas são aquelas de ocorrência natural na região
Amazônica.

50
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

(Santana & Filgueiras, 2006). Do ponto de vista soc ial, entretanto, a


agricultura é a atividade que apre senta o mai or potencial de
distri buição de renda para a população, por envolver milhares d e
pequenos produ tore s, além das indústrias processadoras.
Em 2004, a atividade empregou direta e indiretamente cerca
de 123 mil pessoas e o PIB da fru ticultura regional alcançou o val or
de R$355,4 milhões (Santana & Filgueiras, 2006). É uma atividade
intensiva em mão-de -obra e forte geradora de renda, em fluxo
regular, para toda a cadeia produtiva. A produção é estruturada em
pequenas unidade s produtivas, ou na forma de sistemas
agroflorestai s, quando trata -se do extrativismo das f rutas nativas. Os
principais si stemas de manej o, em que, as frutas são produzidas, no
Estado, são: familiar de subsistência (campesinato), familiar
comercial, comunitário de su bsi stência, comunitário comercial e
empresarial.
Observando o mapeamento feito pel o IBGE (2007) da
fruticultura brasileira do ano de 2005, verifica -se que o Estado do
Pará é o segundo mai or produtor brasileiro de abacaxi ( 268.124 t.,
cultivados em 10.823 ha), vindo logo após ao Estado da Parai ba
(325.612 t e 11.102 ha), seguido por Minas Gerais (2 22.951 t. e 7.233
ha) . Com relação ao maracujá o Pará é o terceiro mai or produtor
(45.297 t colhidos em 4.168 ha.) com uma produtividade de 9.124
kg/ha, sendo o primeiro produtor a Bahia com 139.910 t. e 10.757 ha
seguida pelo Espírito Santo (51.070 t. e 2.097 ha). O Estado ocupa o
9º. lugar na produção nacional de melancia com 60 .719 t. com uma
área colhida de 2.796 ha. Os destaques naci onai s f icam com o Rio
Grande do Sul (422.182 t. colhi dos em 19.570 ha.) e São Paulo
(198.602 t. colhidos em 7.687 ha); neste caso a predominância das
variedades cultivadas são disti ntas, em São Paulo e no Rio Grande do
Sul destacam-se variedades de origem americana, com tamanhos
grandes chegando até a 15 Kg. Nos estados da região Norte, que
utilizam variedades japonesas (princi palmente a variedade Omaru

51
JOSE ADRIANO MARINI

yamato), o tamanho dos frutos é menor, chegando ao máxi mo de 8


Kg por fruto (IBGE/SIDRA, 2007).
A partir dos parâmetros delimitados por Home m de Melo
(2006) e Teixeira et al (1996) que delimitam a agricultura familiar
como se ndo as unidades produtivas dentro do limite máxi mo de 100
ha, c onstata -se que no E stado do Pará existam 169.273
estabelecimentos agropecuários sendo trabalhados pela agricultura
familiar em 2006, o que corresponde a 48% do total de propriedades
da região Norte do paí s (351.900 estabelecimentos) e a 82% dos
estabelecimentos agropecuários do E stado (206.4 04). No entanto,
não é possível definir com precisão as areas destinadas
exclusivamente a atividade agrícola no Estado ou na região do
Salgado Paraense , objeto deste est udo (IBGE/SIDRA, 2007).
A lavoura frutícol a no Estado carac teriza -se pela baixa
integração comercial, elevado grau de informali dade, entretanto,
menor que a informalidade na lavoura temporária. Possui uma forte
utilização de mão-de-obra temporária sem muit a qualificação, onde o
conhecimento tácito predomina sobre o conhecimento codificado.
Há ainda o uso de tecnologia rudimentar, com perspectivas de
evolução da produção através de sistemas agroflore stai s combinando
frutas, culturas indu striai s e essências f lorestais, com agregação de
valores sociais, econômicos e ambie ntai s ao produto (SANTANA,
2004; 2005).
Além das fru tas exóticas 6 (maracujá, melancia, laranja e
abacaxi ), observa-se que existe uma área considerável plantada com
frutas nativas, como o cacau e o cupuaçu além de uma extensa área
extrativista de castanha-do-brasil e açaí. É importante salientar que,
estas frutas possuíam apenas consumo l ocal, e hoje são c onsumidas
em vários estados do Brasil e no exterior.

6
Exotica é a denominação local das frutas que não são nativas da Região
Amazônica.

52
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Existe ai nda, um grande número de outra s frutas nativas com


potencial. A região Amazônica, e em e special o Estado do Pará,
possui uma ime nsa gama de frutas tropicais nos mais variados
nomes, c ores, sabores, pesos, aromas, f ormatos e valores alime ntares
que vêm conquistando mercados, nacionais e i nternacionais. Já
existem frutas que deixaram de ser potencial e são realidade, como:
açaí, babaçu, buriti , cacau, cajá, castanhas, cupuaçu, pequi, pupunha,
guaraná e urucum.

A produção de maracujá no Estado do Pará


A produção do maracujá foi introduzi da no Pará na década de
1960 em Santa Izabel do Pará, para logo após expandir -se para
municípios de f orte prese nça da imigração japonesa. Foram os
japoneses que começaram a plantar maracujá em Tomé -Açu.
Grande parte da produção acabou sendo desti nada, já na
década de 1970, à i ndústria de sorvete s Gelar S/A, que comprav a a
fruto para produção dos concentrados necessários à confecção de
seus produtos alime ntícios.
Com o fechamento da Gelar na década de 1980 , parte da
produção se deslocou para a produção efe tiva de suco. A produção,
segundo Costa (2006), começou a assu mir c aracterísticas de
monocultura devido à alta rentabilidade através do cultivo baseado
no cultivar Gold Star.
O Estado do Pará, em 1992, ano de mai or produção hi stórica
(200.185 t e 10.748 h a), ocupou o primeiro lugar na produção de
maracujá, c om 47 ,86% da produção, i sto é, produziu quase 50%
produção naci onal . A partir desta data, a produção paraense de
maracujá declinou rapidamente e, em 1996 (76.727 t e 7.846 ha), caiu
para o terceiro lugar, perde ndo e spaç o para o Estado da Bahia, que
assu miu a liderança e de São Paulo (2º lugar). Este processo
conti nuou e, em 1999, a produção paraense de maracujá caiu para 5º
lugar (22.858 t e 3.365 ha), perde ndo para Mi nas Gerais (4º lugar),

53
JOSE ADRIANO MARINI

Sergipe (3º lugar), São Paulo (2º lugar) e Bahia que mantém a
liderança. Houve uma queda na produção de 70,21 % e de 57,07% na
área col hida, o que resulta també m em diminuição da produ tividade,
saindo de 9,78 t/ha, em 1996, para 6,79 t/ha, em 1999,
representando uma per da de 30,57% (Santana & Silva, 2002).
Uma das razões para esta queda na produção e área colhida foi
a diminuição dos preços do produto comercializado na Ceagesp - SP,
caindo de US$ 0,32/kg em 1997, para US$ 0 ,15/kg em 1999, em
função do aumento de oferta l ocal, da Bahia, Sergipe e Minas Gerais,
que apresentam custo de transporte mai s compe titivo do que o
maracujá paraense, assim como a maior produtividade obtida nesses
centros produtores (Agrianual, 2003).
A partir da virada do século, a produção paraense e nsaia uma
retomada, com a v olta para o quarto lugar no ranking dos produtores,
fruto da expansão na área pl antada, colhida e na produção física.
Entretanto, o aumento da produção física não te m correspondido
necessariamente a um aumento da rentabilidade co m a cultura.
Grande maioria dos produ tore s de maracujá encontra -se na
categoria dos proprietári os de alguma parcela de terra, possui ndo e m
conjunto um total de 1.445.320 pés da fruta, q uantidade muito
superior aos produtores que declaram -se arrendatários, parceiros ou
ocupantes (2.506, 2 .336 e 328.512 pes, respectivame nte)
(IBGE/SIDRA,2007).
Dentro do Estado, a me sorregiao do Nordeste paraense (onde
os municípi os desta pesquisa estão inseridos) junto com a região
metropolitana de Belém respondem por quase 9 0% da produção
deste fruto, obtendo mai ores destaques os municípios de Curuçá e
Igarapé-Açu (Reymão & Puty, 2006).
Há inegavelmente uma grande concentração da produção de
maracujá na me sorregião Nordeste do Pará conf orme a Tabela 16,
que se somada à Metrop olitana de Belém, repre senta quase 90% da
produção do estado. Dentro desta região, existem alguns municípi os

54
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

que se destacam de ntro do Estado do Pará, como pode ser


visualizado nas Tabelas 08. O municípi o de Curuçá, que faz parte
deste estudo, situa -se na 4ª. posição do Ranki ng de produção
estadual, com u ma produção de 3.682 t col hidos em uma área de 263
ha, re presentando uma produtividade de 14,00 kg/ha (2007). A area
total na região do Salgado Paraense ocupada com a cultura
corresponde a 18,37% das áreas cultivadas com maracujá no Estado
do Pará.

T A BE L A 08: M E S O E M I CR O R R E GI Õ E S P R O D U TOR AS DE M AR AC U J Á N O

E ST A DO DO PA R Á, Q U A NT I DA D E P R O D UZ I D A E V ALO R E S

R E CE BI DO S .

Maracujá
Produção (t) Valor (mil
Abs % ² Abs
reais) % ²
BRASIL 479.8 309.9
Estado do Pará ¹ 45.29
13 9,44 18.11
39 5,84
MESORREGI MICRORREGI 7 4
Metropolitana
ÕES de Belém
ÕES 2.970 6,56 1.094 6,04
Belém 270 0,60 108 0,80
Castanhal 2.700 5,96 986 5,44
Baixo Amazonas 893 1,97 558 3,08
Almerim 182 6,74 111 0,61
Óbidos 363 0,80 227 1,25
Santarém 348 0,77 220 1,21
Sudoeste Parae nse 431 0,95 312 1,72
Altamira 333 0,74 214 1,18
Itaituba 98 0,22 98 0,54
Marajó 18 0,04 7 0,04
Arari - - - -
Furo de Breves - - - -
Portel 18 0,04 7 0,04
Sudeste Paraense 1.605 3,54 618 3,41

55
JOSE ADRIANO MARINI

Conc. Araguaia - - - -
Marabá 30 1,87 11 0,06
Paraupebas 370 0,82 220 1,21
Paragominas 441 0,97 220 1,21
Redenção 24 0,05 3 0,02
S. Félix do Xingu 320 0,71 32 0,18
Tucurui 420 0,93 133 0,73
Norde ste Paraense 39.38 86,9 15.52 85,7
Bragantina 8.7280 19,24 2.7164 14,90
Cametá 10.96 24,27 3.823 21,19
Guamá 7.6929 16,92 5.168 28,51
Tomé-Açu 3.920 8,658 1.257 6,943
Salgado 8.071 17,8 2.561 14,1
¹ Percentuais relativos a participação dentro do Brasil
2 4
² Percentuais relativos a participação de ntro do Estado do Pará
Fonte : SIDRA/IBGE – 2006

A produção de me lancia no Estado do Pará


No E stado do Pará a produção de melancia está presente em
todas as regiões, mai s pelo fato de se manter uma tradição cultural
do que pelo re ndimento da cultura, haja visto que grande parte da
produção ocorre quase simultaneamente nos me ses de julho e agosto.
Dentro do Estado destaca -se a mesorregião do Norde ste
Paraense com uma produção de 20.020 t (33% do total de produção
de melancia no estado), seguido pela região do Baixo Amazonas com
19.597 t (32%) no ano de 2005. No Norde ste Paraense a
microrregião com maior produção é a do Guamá (8.025 t.) seguida
pela microrregiao do Salgado (7 .375 t.) , conforme tabela 3. No
ranking de produção e stadual tem -se como maior produtor o
município de Monte Alegre, l ocalizado na microrregião de Altamira,
na mesorregiao do Baixo Amazonas, com uma produção de 7.968 t.
seguido por São Miguel do Guamá, si tuado na microrregião do

56
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Guamá, dentro da mesorregião do Nordeste Paraense, com 7.000 t.


produzidas. Na microrregião do Salgado, onde situou -se
espacialmente esta pe squisa, observa -se como maior produtor o
município de Marapani m (3.120 t) (6º. lugar no Ranking de produção
de melancia no estado) seguido por Terra Alta (1 3ª. colocação no
Ranki ng com 1.350 t.), como pode ser constatado nas.
Os valore s recebidos pelas produçõe s de mel ancia não
acompanham as curvas de produção regionais, assi m a mesorregião
do Bai xo Amazonas fica em primeiro lugar no rendi mento monetári o
da cultura com aproximad amente R$ 8 milhõe s seguido por Santarém
com R$ 7 ,25 milhões e a mesorregião do Nordeste Paraense bem
atrás no terceiro lugar com R$ 4,71 mil hões.
A mesorregião do Nordeste Paraense ocupa 38% (1.076 ha) das
áreas ocupadas com a cultura da melancia no Esta do do Pará (2.796
ha) e, dentro dela, a região do Salgado Parae nse ocu pa um total de 14
% (385 ha).
Dentre os municípi os com mai ores produções estaduai s
Marapani m, si tuada na área de pesquisa ocupa a 6ª. colocação com
3.120 toneladas anuai s da fruta ape sa r de sua bai xa produtividade, 19
t/ha. O mu nicípio que se destaca em produtividade no estado é Bom
Jesus do Tocanti ns, que consegue obter 60 toneladas por hectare.

57
JOSE ADRIANO MARINI

T A BE L A 18: P R O D UÇ Ã O D E M E L A NC I A S E G U N DO AS M E SO E

M I CR OR R E GIÕE S
DO E S T A DO DO P AR Á
Melancia
Produção (t) Valor (mil
Abs % ² Absreais) % ²
BRASIL 1.637.428 477.805
Estado do Pará ¹ 60.719 3,71 20.369 4,26
Mesorregiõe s Microrregiões
Metropolitana de Belém 3.444 5,67 718 3,52
Belém 144 0,24 58 0,28
Castanhal 3.300 5,43 660 3,24
Baixo Amazonas 19.597 32,27 8.079 39,66
Almerim 750 1,24 300 1,47
Óbidos 1.054 1,74 529 2,60
Santarém 4.000 9,30 1.600 5,59
Sudoeste Parae nse 8.295 13,66 3.751 18,42
Altamira 3.663 6,03 1.897 9,31
Itaituba 4.632 7,63 1.855 9,11
Marajó 290 0,48 132 0,65
Arari - - - -
Furo de Breves - - - -
Portel 290 0,48 132 0,65
Sudeste Paraense 9.073 14,94 2.979 14,63
Conc. Araguaia 88 0,14 34 0,17
Marabá - - - -
Paraupebas 390 0,64 156 0,77
Paragominas 8.325 13,71 2.669 13.10
Redenção 110 0,18 55 0,27
S. Félix do Xingu 60 0,10 15 0,07
Tucurui 100 0,16 50 0,25
Norde ste Paraense 20.020 32,97 4.710 23,12
Bragantina 2.790 4,59 558 2,74

58
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Cametá 540 0,89 193 0,95


Guamá 8.025 13,22 2.036 10,00
Tomé-Açu 1.290 2,12 380 1,87
Salgado 7.375 12,15 1.543 7,58
¹ Percentuais relativos a participação dentro do Brasil
² Percentuais relativos a participação dentro do Estado do Pará
Fonte : SIDRA/IBGE – 2006

A produção de abacaxi no Estado do Pará


As pri ncipai s plantaç ões brasileiras de abacaxi estão
concentradas na região Nordeste do país, embora mais recenteme nte
o Estado do Pará vem se tornando uma importante área produtora,
com o aumento de sua área plantada. Já em 2004, segundo dados do
IBGE (IBGE, Produção Agrícola Municipal, 20 04), a quantidade de
frutos produzidos havia superado a produção da Paraíba, até e ntão o
maior produ tor nacional do fru to, sendo responsável por 17% da
área colhida no paí s (10.823 ha). Porém a produç ao de abacaxi da
Paraíba no ano de 2005 (325.612 t.) v ol tou a su perar a do Pará
(268.124 t.).
Em 2004, o Estado do Pará su perou Minas Gerai s na oferta
brasileira de abacaxi. Nos últimos anos te m -se observado um
crescimento significativo da área plantada em todas áreas do Estado,
inclusive com o surgimento de nov os pólos produ tore s, como é o
caso do município de São João da Ponta, evidenciando retornos
econômicos compesatórios para o produ tor quando a cultura é
conduzida de forma adequada. Este crescimento deve -se as
características rústicas da fruta, adaptada às condiçõe s
edafoclimaticas 7 adversas, ocorrente s em grande parte do estado.
(Reymão & Puty, 2006).

7
Edafoclimáticas refere-se às condiçoes de clima e solo favoraveis ou nao ao
cultivo de uma determinada cultura.

59
JOSE ADRIANO MARINI

Dentro do Estado de staca -se a Mesorregião do Sudeste


Paraense, com u ma produção de 238.591 t., o que corresponde a 89%
da produção estadual de abacaxi. Ne sta messorregião a principal
produtora é a microrregião de Conceição do Araguaia que soma
226.300 t. produzidas, conf orme se constata pelas Tabela 20.
O município de Floresta do Araguai a, no sul do Pará, é hoje o
maior produtor naci onal de abacaxi (162.000 t.), seguido por
Conceição do Araguaia (63.750 t.) no ranking estadual, como pode
ser visualizado pela tabela 21. Atual mente, cerca de 1.200
produtores, e ntre pequenos, médios e grandes vivem da cultura. E m
Floresta do Araguaia são cerca de 6 mil hectares de área plantada e
16 milhões de frutos por safra, o que corresponde a 15% da
produção nacional. O solo com sua topografia plana é bastante
favorável à cultura. O clima, com temperaturas em torno de 28 e 30
graus, e uma precipitação bem di stri buída durant e o ano também
contribuem. No período da safra – de dezembro a junho – cerca de
trinta e cinco caminhões carregados com abacaxi saem da cidade por
dia. Os frutos são levados para os Estados do Sul, Sudeste, parte do
Norde ste e para o Distrito Federal. O Es tado do Pará tem a mai or
produção de abacaxis do país, com uma produtiv idade de 25 mil
frutos por hectare.
Cerca de 80% dos produtores de abacaxi do Estado do Pará
cultivam de um a dez hectares em f orma de arrendados em
latifúndios que são di sponibilizado s para tal fi nal idade. De modo
resumido, durante o ciclo da cultura (16 meses) emprega -se 1,96 h/d,
enquanto que 1,47 h/ha/ano, que pode m ser arredondados para 2,0 e
1,5, respectivamente. No Para, na prática, considera -se um ciclo de
16 meses, porque o abacaxi para o mercado nacional é embarcado
ainda c om a casca verde ou verdosa. No cálculo de empregos
indiretos, costu ma-se fazer a multiplicação dos dire tos por cinco.
Na área cultivada com o abacaxi na microrregião do Salgado
Paraense estão 2 % do total de cultivos no Estado do Pará (226 ha),

60
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

correponde ndo a 1,45 % da produção e stadual (3.8 85 t.). De ntro do


Salgado, o mu nicípio de São João da Ponta, que inic iou recentemente
o cultivo da fruta e , devido a incentivos para aquisi ção de mudas e a
formação de uma rede de assessori a técnica local, j á desponta entre
os 10 maiore s produtores da fruta dentro do Estado, com uma
produção de 952 t em 34 ha, conforme a Tabela 09.
A microrregião de Conceição do Araguaia também é a que mais
obtem re ndimentos c om a cultura do abacaxi, somando um total de
R$ 124,5 mil hoes no ano de 2006, o que significa 88% de todo o
rendimento estadual com a cultura.
Em termos de rendi mentos a mesorregião do Norde ste
Paraense fica com R$ 3 ,9 mil hões e a segunda colocação nesta
categoria, ficando atrás apenas da messoregião do Sudeste Paraense,
que é onde se localiza o municí pio de Conceição do Araguaia.
A microrregião do Salgado Parae nse tem um rendimento
financeiro de R$ 2 ,4 mil hoes ou 1 ,73% do rendime nto estadual c om
o abacaxi.

T A BE L A 09: P R O D U TOR E S D E A B A CA XI NO E S T A DO DO P AR Á
SE GU N D O M E SO E M I CR OR R E GIÕ E S .

Abacaxi
Mesorregiões Microrregiões Produção (t) Valor (mil reais)
Abs %² Abs %²
BRASIL 1.528.313 814.309
Estado do Pará ¹ 268.124 17,54 140.551 17,26
Metropolitana de Belém 2.726 1,02 1.015 0,72
Belém 1.200 0,45 420 0,30
Castanhal 1.526 0,57 595 0,42
Baixo Amazonas 5.536 2,06 2.032 1,45
Almerim 408 0,15 204 0,15
Óbidos 486 0,18 295 0,21
Santarém 4.642 1,73 1.533 1,09

61
JOSE ADRIANO MARINI

Sudoeste Paraense 2.205 0,82 1.404 1,00


Altamira 955 0,36 511 0,36
Itaituba 1.250 0,47 893 0,64
Marajó 11.935 4,45 3.157 2,25
Arari 11.575 4,32 2.994 2,13
Furo de 130 0,05 59 0,04
Portel
Breves 230 0,09 105 0,07
Sudeste Paraense 238.591 88,99 129.029 91,80
Floresta do 162.000 67,89 87.597 62,32
Conc.
Araguaia do 63.750 26,71 34.463 24,51
Marabá
Araguaia 500 0,19 180 0,13
Paraupebas 1.836 0,68 887 0,63
Paragominas 4.390 1,64 1.610 1,15
S. Félix do 590 0,22 295 0,21
Tucurui
Xingu 550 0,21 215 0,15
Nordeste Paraense 7.131 2,66 3.914 2,78
Bragantina 1.595 0,59 750 0,53
Cametá 315 0,12 156 0,11
Guamá 1.066 0,40 441 0,31
Tomé-Açu 270 0,10 135 0,10
Salgado 3.885 1,45 2.433 1,73
¹ Percentuais relativos a participação dentro do Brasil
² Percentuais relativos a participação d entro do Estado do Pará
Fonte : SIDRA/IBGE – 2006

Nem sempre maiores produçõe s corresponde m


necessariamente a mai ores re ndimentos financeiros, isto depe nde
basicamente , como oc orre na regiao deste e studo, aos diferentes
canais de comercializaçao adotados pelos produtores e ao tamanho
do fruto produzido. Assim, temos como exemplo as produçoes de
abacaxi nos mu ncipios de Curuçá (400 t.) proximo a quantidade de
Marapani m (483 t.) e com uma significativa variação no preço obtido

62
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

por kg do produto (R$ 0,80 e R $ 0,50, respectivamente). A


comercialização de tais produções i nserem uma quantidade monetária
importante nos comércios locai s, chegando a 29,60 % a participação
média da fruticultura na economia regional, fre nte a participação da
atividade pe squeira 18,58% e daquelas origi nadas dos serviços em
órgãos públicos que cobrem 44,74% do PIB regi onal (PIB 2003).
Destaca -se neste cenário a atividade agrícola no mu nicípio de Curuçá
que chega a 19,90 % do PIB municipal e no município de Marapanim
que participa com 20 ,63% dentro de seu territóri o. Curuçá ainda
conta com 43,20% da somatória do PIB do APL, seguido por
Marapani m cuja participação fica em 31,75%.

A região do Salgado Paraense: Caracte rização s ócio -economica


e Institucional.
Localizado ao norte do Estado do Pará, limitando -se com o
Oceano Atlântico, o territóri o do Salgado P araense é uma
Microrregião pertencente a Mesorregião do Nordeste Paraense (Fig.
02) e é composta por 11 mu nicípios (Fig. 03). A referencia espacial
de anali se empírica foram os mu nicípi os de Curu çá e Marapanim,
além de Terra Al ta, de smembrada de Curuçá em 1991 e São João da
Ponta, de smembrado em 1995 do mu nicípio de São Caetano de
Odivelas. Estes municípios e stão di stri buídos numa área
correspondente a 1.867 km 2 , totalizando uma populaçã o de 72.869
mil habitantes (IBGE , 2006), dos quais 6 mil agricultores familiares
(MDA/INCRA, 2000). O PIB regional para o ano de 2004 foi de 145
milhõe s de reais (0,5% do PIB estadual ) (SEPOF, 2006).
Esta pesquia realizou grande parte de suas aç ões dentro da área
de Reserva Extrativista criada pelo INC RA em 20 05 e que abrange
grande parte do municípi os de Curuçá e uma pequena área em
Marapani m e São João da P onta por estarem adjacentes as estas áreas

63
JOSE ADRIANO MARINI

protegidas. Mesmo sendo transformada em uma área de Rese rva, a


pratica das atividades rurai s locais não sofreu quaisquer alterações.

F I G UR A 02: A M I CR OR R E GI Ã O DO S A L G A DO P AR AE NS E

Fonte : Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará – SEMA,


2006

64
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

F I G UR A 03: M U N I CÍ P I OS Q UE C OM P ÕE A R E GI Ã O DO S A L G A DO
P AR AE NSE

Fonte : Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará – SEMA,


2006
.
Os municípios integ rantes deste estudo

A escolha dos mu nicípios que fizeram parte deste e studo deu -


se pelo fato de entre eles há uma forte predominânc ia pela produção
agrícola voltada a fruticultura, destacando -se C uruçá com uma
produção de maracujá de 3.682 toneladas ocupando a quarta
colocação no ranking produtivo e stadual , Marapani m com uma
produção de 3.120 toneladas de melancia e a se xta col ocação na
produção da fruta no es tado e São João da Ponta com uma produção
de 952 toneladas de abacaxi e a décima posição no ranking, apesar de

65
JOSE ADRIANO MARINI

ter iniciado bem recentemente seus cultivos da fru ta. Também estes
municípios possuem uma historia sóci o -cultural muito próxi ma,
vindo a favorec er um estreito intercambio entre si, além de estarem
interligados pela rodovia PA 136 vindo a i nte nsificar e aprofundar o
nivel das varias relacoes sócio-economicas- insti tucionais que se
estabeleceram. Este intercambio é dificultado c om outros municípi os
vizinhos por não haver nenhuma f orma de ligação direta com eles, a
exceção de Castanhal, onde se inicia a rodovia.

O município de Curuçá
A origem do municípi o de Curuçá está relacionada á presença
dos missionários da Companhi a de Jesu s na região às margen s do ri o
Curuçá, durante o século XVII, a parti r do estabelecimento de
missões religiosas naquele territóri o. Pri meiramente, os padres
jesuítas ficaram acampados na localidade hoje conhecida por Abade,
mas c omo o lugar não l hes provia das condi ções básicas de
sobrevivência (água escassa e ruim), partiram em busca de um lugar
melhor. Às margens do ri o Curuçá, encontraram uma feitoria de
pesca e, no mesmo l ocal, acabaram por fundar uma fazenda,
batizando-a com o mesmo nome do rio (que na lí ngua tupi significa
“cruz”), denomi nação esta que perdurou até 1755. A fazenda, erguida
sob a dev oção de Nossa Senhora do Rosári o, posteriormente, deu
origem à atual cidade de Curuçá. Com a expulsão dos jesuítas, em
decorrência da Lei Pombali na de 1755, o Governador e Capitã o-
General do Grão- Pará, Francisc o Xavier de Mendonça Furtado,
elevou a Fazenda Curuçá à categoria de Vila, com o nome de Vila
Nova D’El Rei, constitui ndo, assim, o Municípi o (SEPOF,2006).
A sede municipal tem as seguintes coordenadas geográficas:
00º 43’ 48” de latitude Sul e 47º 51’ 06” de longi tude a Oeste de
Greenwich. Limita-se ao Norte com o Oceano Atlântico, ao Leste
com o mu nicípio de Marapanim, ao Sul com o Município de Terra
Alta e a Oeste com os mu nicípios de São Caetano de Odivelas e São

66
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

João da Ponta. Localizado em uma área de 673,30 km ², possui uma


população de 29.705 habi tantes, sendo que destes 11.290 eram
caracterizados como população urbana e 18.415 estavam situados
dentro da classificação rural , seu PIB no ano de 2004 foi de R$
58.575 (em mil reai s) deixando -o na 88º posiçao estadual e o IDH -M
ficou em 0,708 (SEPOF, 2006).
Em 1991, pela Lei nº 5 .709, de 27 de dezembro de 1991,
Curuçá teve parte de seu território desme mbrado para a criação do
município de Terra Alta. Atual mente, o mu nicíp io de Curuçá está
integrado pelos distritos de Curuçá (sede), Lauro Sodré, Muraj á e
Ponta de Ramos.
A area total dos estabelecimentos agropecuários no município
corresponde a 6.990 ha.

O município de Marapanim
O nome Marapanim vem da língua Nheengatu que, na tradução
para o português, significa “borboleti nha da água” ou “borboletinha
do mar” e era a denomi nação que os índios da região dav am a um rio
que ali corria, em cujas margens encontrava -se grande nú mero de
pequenas borboletas.
A origem do municípi o d e Marapanim também está relacionada
à prese nça dos missi onários da Companhi a de Jesus na Região do
Salgado parae nse. Naquela região, os padres jesuítas fundaram uma
fazenda, que chamaram de Bom Intento. Com o c onfisc o dos be ns
dos jesuítas, em decorrência da Lei Pombali na de 1755, já referida, a
propriedade f oi entregue a particulares, chegando ao domíni o do
padre José Maria do Valle, que dela separou uma parte, dando -a para
criação de uma freguesia, conhecida como Freguesia do Bom Inte nto
(SEPOF, 2006).
A sede municipal tem as seguintes coordenadas geográficas:
00o 2’42” de latitude Sul e 47o 41’45” de longi tude a Oeste de
Greenwich. Limita-se ao Norte com o Oceano Atlântico, ao Leste

67
JOSE ADRIANO MARINI

com os municípi os de Magalhãe s Barata e Maracanã, ao Sul com os


municípios de São Francisco do Pará e Igarapé -Açú e a Oeste com os
municípios de Curuçá e Terra Alta. O territóri o possui 795,6 km²,
onde re sidem 27.618 habi tantes, se ndo que deste s 10.613 pessoas
residem na área urbana e 17.015 nas áreas rurai s, seu PIB (2004)
ficou em R$ 49.826 (em mil rais), ocupando a 9 7º colocação no
ranking estadual e o IDH -M em 0,700 (SEPOF, 2006) .
Atualme nte Marapanim conta com quatro distritos: Marapani m,
como sede municipal, Marudá, Matapiquara e Monte Alegre do Maú.
A area total dos estabelecimentos agropecuários no município
corresponde a 16.735 ha.

O município de Terra Alta


O município de Terra Al ta foi criado através da Le i nº 5.709,
de 27 de dezembro de 1991, tendo sido desmembrado do municípi o
de Curuçá, com sede na localidade de Terra Alta, que passou à
categoria de cidade, com a me sma denomi nação.
Sua latitude é de 01º02 '28" Sul e a l ongi tude 47º54'27" Oeste,
estando a uma al titude de 35 metros. A sede do município dista da
capital, aproxi madamente 98km, sendo que a cidade mais próxi ma é
Castanhal, que fica a 28km de distância. A cidade está localizada às
margens da Rodovia PA -136, que a liga a Castanhal e aos mu nicípios
de Curuçá e Marapani m. Seus limites geográficos são ao Norte o
município de Curuçá, ao Le ste o municípi o de Ma rapani m, ao Sul os
municípios de São Francisc o do Pará e Castanhal e a Oeste os
municípios de São Caetano de Odivelas e São João da Ponta(SEPOF,
2006).
Possui uma população estimada, pelo IBGE, para 2005, de
10.128 pessoas, divididas entre a dimensão urba na (4.526) e a rural
(5.602), i nseridos em uma área de 206.50 km², o PIB em 2004 foi de
26.842 corresponde ndo a posiçao de numero 132 no ranking estadual
e seu IDH-M ficou em 0,711 (SEPOF, 2006).

68
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Podemos ainda destacar no município uma base de pesquisa e


desenvolvimento da Embrapa Amazônia Oriental, denominada de
Base Física, vinculada a um Campo Experimental, onde as princi pais
atividades dese nvolvidas são a instalação e condução de
experimentos, realização de dias de campo, ate ndi mento de vi sitas,
produção de mudas, cursos práticos de aperfeiçoamento profi ssi onal,
implantação e condução de unidades demonstrativas e de observação,
além de comercialização de serviços e produtos excedentes de
pesquisa.
A área dos estabelecimentos agropecuários corresponde a
9.712 ha.

O município de São João da Ponta


O município de São João da Ponta foi criado atravé s da Lei nº
5.920, de 27 de dezembro de 1995, sancionada pelo e ntão
governador Dr. Almir José de Oliveira Gabriel, tendo sido
desmembrado do municípi o de São Cae tano de Odivelas, com sede
na localidade de São João da P onta, que passou à categoria de cidade,
com a mesma denomi nação (SEPOF, 2006).
Limitando-se ao Norte com o municípi o de São Caetano de
Odivelas, ao Leste com os municí pios de Terra Al ta e Curuçá, ao Sul
com os mu nicípios de São Caetano de Odivelas e Terra Alta e a
Oeste também c om São Cae tano de Odivelas, São João da Ponta
possui em seus 196 k m² u ma população de 3.934 habi tantes, 1.025
residem no núcleo urbano e o restante, 2.909 nas áreas rurais, se u
PIB em 2004 ficou em R$ 9 .942 (em mil reais) deixando -o na ultima
posiçao (143) do ranki ng estadual, seu IDH -M em 2004 ficou em
0,671 (SEPOF, 2006).

A distribuição territorial das propriedades


A di nâmica da distribuição terri tori al das u nidades produt ivas
agrícolas no Salgado Parae nse é extremame nte homogênea (exceção

69
JOSE ADRIANO MARINI

faz-se à região das praias) devido á sua col onização, onde cada
agrovila f oi formada por u ma, duas ou no máximo três grupos
familiares que, com seus descendentes, hoje pov oam as referidas
agrovilas. As áreas produ tivas, que via de regra circundam as
agrovilas, eram a pri ncipi o grandes posses de florestas destes
mesmos colonizadores haja vi sto que no período de ocupação não
havia quem as reclamasse. Com o tempo estas áreas foram sendo
divididas para os filhos e posteriormente estes fi lhos dividiam -na
com os netos, que é a geração predominante em todas as agrovilas
pesquisadas. Com esta divisão, hoje o tamanho das propriedade s
ficam em tono de 10 ha e muito raramente estes grupos possuem
algo maior que esta área. Tamanhos maiores que os 10 ha aparecem
apenas sob a guarda da geração dos pais, que ainda não repartiram
oficialmente com os filhos suas áreas de produção. Mesmo que estes
descendentes possuam áreas maiore s, o excedente aos 10 ha ou são
mantidos como reservas de floresta para extração de madeira quando
precisarem ou cedem-na a parentes (geralmente pri mos e sobrinhos)
que por algum motiv o já não possuem terras; os filhos que não
possuem propriedade s trabal ham nas mesmas áreas que os p ais. Isto
se explica pela atividade produtiva que usa estritamente a mão de
obra da família, sem empregados assalariados (mesmo que
temporários) e pri ncipalme nte sem o auxili o de qualquer tipo de
maquinári o.
Áreas maiore s e produções maiore s do que a médi a
microrregional ficam a cargo dos “novos moradores”, comumente
reformados das forças militares ou pensi onistas e aposentados dos
serviços públicos que ou ainda moram e m Belém ou cidades
próximas ou mudaram -se em definitivo para suas áre as nos chamados
“interiores”, quando dedicam-se a atividade agrícola.
Dessa forma, os limite s territoriais oficialmente estabelecidos
não são percebidos na vida quotidiana de seus moradores. Apenas as
agrovilas e a sede dos mu nicípios c onstituem -se em marcos de

70
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

localização espacial, alem das rodovias que ligam toda a região ao


município de Castanhal e deste a Belém ou a rodovia federal BR 316.
Embora Teixeira et AL (1996) e Homem de Melo (2006)
operacionalizem o conceito de agricultura familiar como as
propriedade s com menos de 100 hectares, tal abordagem não se
aplica à grande maioria das propriedades existente s na Microrregião
do Salgado Paraense, cujas áreas agrícol as trabalhadas
exclusivamente pela família do produtor, sem o au xilio de quaisquer
tipo de maquinários, não ultrapassam os 10 ha., havendo casos em
que o tamanho da área devidame nte regularizada j unto ao Instituto
de Terras do Estado do Pará (ITERP A) chegue até 25 ha.

A situação das instituições locais


Todas as prefeituras pesquisadas (Curuçá, Terra Al ta, São João
da Ponta e Marapani m) possuem uma Secretari a de Agricultura.
Conforme pode ser constatado pelas entrevistas, excessão ao
município de São João da Ponta, as Secretarias de Agricultura são
inoperantes, ou seja, exi stem, há um secretári o que responde por ela,
poré m não atuam no campo junto aos produtores. O único serviço
oferecido pelas prefeituras é o e mpré sti no de uma patrulha agrícola
(tratores com impleme ntos agrícolas – arado e grade) que atende a
uma fila de espera pré determinada, mas na mai ori a das vezes quando
chegam às propriedades o tempo agricola de preparo das áreas
(pri ncpal função da patrulha) já passou. O agricultor que fizer uso
dos tratores, que são manobrados por motoristas da prefeitura, ainda
são obrigados a abastecer as maquinas.
O serviço de extensão rural oficial, EMATER, também deixa a
desejar no cumprime nto de suas obrigaç ões. No municípi o de
Marapani m o foc o é voltado para a atividade pesqueira. Nos
municípios de Curuçá e Marapanim, embora existam técnic os
capacitados para o atendi mento ao se tor produ tivo rural , estes
mostram-se inoperantes, ause ntes do campo (segundo os produtores

71
JOSE ADRIANO MARINI

pesquisados, nunca f oram visi tados por algum técnico e m sua


propriedade ). Os relatos afirmam que, quando procu ram a assi stencia
na sede do munic ípio, ou o e scritorio e ncontra -se fechado ou não
são atendidos porque os funcionários estão o tempo integral
confeccionando projetos de financiame nto para o PRONAF,
categorias C e D, que repassa 10% dos recursos financiados ao
escritóri o. Nestes dois muni cípi os o ulti mo concurso para
provi mento de cargos (2005) priorizou ape nas o setor pesqueiro. O
município de São João da P onta, de poi s de firmado uma parceria
entre o poder publico l ocal e a EMATER, conse guiu com que os
técnicos visitem peri odicame nte as p ropriedades, levando
informações técnicas importantes aos produtores do municipio.
Quase a totalidade dos produtores familiares pesquisados
encontram-se sindicalizados no Sindicato dos Trabalhadores Rurais,
poi s segundo os me smos, isto os habilita a receb erem be nefícios e
aposentadorias. Embora possuam terras, produzam e comercializam
estas produções, eles não se se ntem e nquadrados na categoia de
“produtores rurai s” e não se filam ao Si ndicato dos Produtores por
medo de perderem os benefícios concedidos pe la Previdência Social.
Tal instrução é di ssemi nada constanteme nte junto a estes produ tore s
pelos dirigentes destes si ndicatos.

72
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

A COMERCIALIZAÇÃO DE FRUTAS DA
AGRICULTURA FAMILAR DO SALGADO
PARAENSE
Este capítulo foi elaborado com base nas observa ções colhidas na
região do Salgado Paraense junto aos núcleos agrícolas familiares;
observações e stas siste matizadas em 160 questionários respondidos
por 97 famílias de agricultores nas agrovil as perte ncentes
geograficamente ao território de Curuçá e mais 63 famílias
localizadas em agrovilas perte ncentes aos ou tros municípi os
abrangidos por este estudo. Também fazem parte deste capi tulo as
informações obtidas com os agentes responsáveis pela aquisição das
frutas produzidas no Salgado Paraense, com os distr ibuidores
varejistas situados nos municípios de Belém e Castanhal e também
aquelas colhidas junto aos permissionários sediados nas CEASAS dos
municípios de São José do Rio Preto, Ri beirão Preto e Campinas, no
interior do Estado de São Paulo além daqueles s ituados na
CEAGESP da capital paulista.
Cada familia que contribuiu para esta pesquisa possui entre 6 e
11 membros, tendo-se maiores núcleos familiares na região de
Marapani m, na média há, na região de estudo, 8,5 pessoas que
constituem este núcleo. Com exceção da mãe e de alguma filha mais
nova, todos as pe ssoas da familia que residem na mesma casa
trabalham nas mais variadas atividades agrícolas dentro da unidade
de produção, exceção a esta regra é Marapanim, que por ser uma
cidade litorânea, faz com qu e muitos membros da familia deixem a
área rural para trabal har de venderor ambulante nas praias. Desta
forma há em média por gru po familiar constituí do na região de
pesquisa 5,75 pessoas que residem na casa e trabalham no campo
(Tabela 10).

73
JOSE ADRIANO MARINI

T A BE L A 10 N ÚM E R O DE M E M BR OS D AS F AM Í LI A S P E S Q UIS A D A S E DE

M E M BR OS F AM I L I A R E S Q UE T R A B A LH AM N A A G R IC U L T UR A N OS

M U NI CÍ P I O S D E C UR U Ç Á , M AR AP A NI M , T E R R A A L T A E S ÃO
J O ÃO DA PO NT A.
Nº. Total de Membros Nº. de pessoas da
por família pesquisada familia que
trabalham na
agricultura

Curuçá 8 6

Marapani m 11 4

Terra Alta 9 8

S. J. Ponta 6 5

Média 8,5 5,75

Fonte : Pesquisa de Campo

Existem 138 agrovilas nos municipi os pesquisados (incluindo


aquelas voltadas a agricultura – 128 e as v oltadas exclusivamente
para a atividadde pe squeira – 10), ficando Curuçá com a mai oria
delas (53) e São João da Ponta com o menor nu mero porque foi
criado recenteme nte (1992) e na divisão terri torial sua área abrangia
apenas 8 destes agru pame ntos. Como a criação das agrovilas ocorre
naturalmente por parte de antigos moradores que alem de ocupar
uma parte da mata para fazerem suas re sidências, re partiam as terras
ao redor entre si para praticarem agricultura, não há hoje mais
espaços físicos para a criação de outros agrupamentos. De sse total ,
27% foram visi tadas durante a fase de pesquisa, procurando -se
buscar o grau de homogeneidade ou he terogeneidade entre elas em
relação a comercialização e produção de frutas.

74
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

O numero de agricultores familiares existentes na região fica


perto de 6.500 pessoas, de acordo com o IBGE (1996). Destes foram
ouvidos aproxi madamente 920 trabal hadores (14% ), levando -se em
conta que foram execultados 160 questionari os familiares e que, de
acordo com a Tabela 11, existe por núcleo familiar 5,75 pessoas
efetivamente ocupadas com trabal hos na área rural.

T A BE L A 11: N UM E R O DE A G R O VI L A S E P R O D U TOR E S F AM I LI AR E S NO S

M U NI CÍ P I O S D E C UR U Ç Á , M AR AP A NIM , T E R R A A L T A E

S Ã O J O ÃO DA P O NT A

Nº. de Famílias
Nº. de Agrov.

Pesquisados³
Agricultores

Nº Total de
Nº. total de

Familiares²

Produtores
% s/ total

% s/ total
Agrov.¹

Pesq.

Pesq.
53

14

97
698
26,4

79,9
557,75
Curuçá

49

36

207
18,3

4.732

4,37
Marapani m

37

604

14
24,3

80,5

13,3
Terra Alta

75
JOSE ADRIANO MARINI

08

459

13
62,5

74,75

16,2
S. J. Ponta

37

920
138

26,8

160
6.493

14,1
Totais

¹ Fonte: Secretarias Municipais de Planejamento

A cultura do maracujá

A produç ão de maracujá na região do Salgado Parae nse pela


Agricultura Familiar

Em cada agrovila pertencente a região do Salgado parae nse


existe em média 22 pequ enos produtores da fruta, e em cad a
município estudado (com exceção do mu nicípio de São João da Ponta
que optou por trocar todo o cultivo de maracujá pelo abacaxi )
existem e m torno de 50 agrovilas (53 em Curuçá, sendo 3 de stas
voltadas exclusivamente para atividade s pesq ueiras; 49 em
Marapani m, com 16 voltadas para a pesca e 37 em Terra Alta), te mos
um universo de 4.300 familias produtoras com u ma produção real
perto de 4.700 toneladas de frutos, o que dá em média 0,95 toneladas
de maracujá produzidos por cada propriedade fami liar em uma ár ea
média de 1,4 hectares.
A área destinada a cultura do maracujá não c ostuma ultrapassar
os 3 ha, sendo mai s comum e ncontrar -se entre 2 e 3 tarefas com a
cultura (0,6 a 1 ha), pois como não há mecanização nas lavouras e
mão de obra disponível para poli ni zar as flores quando abrem,

76
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

tamanhos maiore s tornam a atividade inviável para os agricultores


familiares (Tabela 12).

T A BE L A 12. N UM E R O DE A G R O VI L A S V OL T A D AS A A T IVI D A DE

A GR Í CO LA ,.

familiar (ha)
de Maracujá

de maracujá

por unidade
/ Agrovila ¹

Área média
agricultura

Nº total de
Produtoras

produtoras
voltadas a
Agrovilas

Famílias

famílias
50Nº. de

65

3
3.650
Curuçá

33

264

1
Marapani m

37

12

444

0,6
Terra Alta

08

24

1
S. J. Ponta

4328

-
88
128
Totais

¹ Fonte: Secretarias Municipais de Agricultura e EMATER


locais

77
JOSE ADRIANO MARINI

Neste tamanho de área (1 ha) a produ tividade fica em torno de


900 kg/ha, muito distante daquela apontada pel o IBGE/SIDRA
(2007) quando c ontabilizou uma produção de 3.682t e uma
produtividade média de 14 t/ha. Esta discrepância de informaç ões
justifica-se pelo acumul o de produções pel os intermediários, que
colocam grandes volu mes como tendo sido produ zidas nas poucas
unidades agrícolas que possuem inscrição no CNPJ ( Tabela 13).

T A BE L A 13: Q U A N TI D A DE DE M AR AC U J Á P OR CL A SSIF IC AÇ ÃO , P OR

U NI D A DE F AM I LI AR E T OT A L P R O D UZ I D O N OS M U NI C ÍP IOS DE

C UR UÇ Á , M AR AP A N I M , T E R R A A L T A E S Ã O J O ÃO DA P ON T A .

Quantidade Produzida (t)

Classificação dos frutos


Produzido
Total por
Campeão

unidade
familiar
Borréia

Total
AAA

AA
400

415

1,10
2.000

1.200

4.015,00
Curuçá

125

75

25

25,8

0,95

250,80
Marapani m

78
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

200

120

50

29,6

0,90

399,6
Terra
Alta

10

1,20

2,00

7,2

0,85

20,40
Ponta
S. J.

-
477,00

477,60

4.685,8
2.335,00

1.396,20
Totai s

Fonte : Pesquisa de campo

A diferença entre a quantidade apontada por esta pesquisa e


aquela informada pelo IBGE dá -se pelo fato de q ue muitos destes
CNPJ pertencem a unidade s produtoras localizadas no mu nicípio de
Castanhal, desta forma a produção passa a ser contabilizada como
tendo sido produzida naquele município.
A cultura do Maracujá regionalme nte caracteriza -se pelo bai xo
nível técnico nos cultivos (Figura 05). Durante o ciclo produtiv o das
culturas há o uso apenas de i nseticidas e fungicidas, cujas marcas
comerciais são as mesmas há muitos anos. Não há regi stros na
pesquisa de campo do uso de herbicidas por qualquer família, sendo
o controle de plantas invasoras feito manualmente pela familia do
agricultor com o uso da enxada. Um ciclo de cultura consome
apenas um litro de inse ticida na forma liquida e um quilograma de
fungicida na formulação de concentrado solúvel.

79
JOSE ADRIANO MARINI

F I G UR A 05. P L A NT I O T Í P I C O DE M AR A C UJ Á N A R E GI Ã O DO S A L G A DO
P AR AE NSE , LO C ALI D A D E DE BO A VIS T A, M U NIC ÍP IO DE M AR AP A NIM .

Foto: José Adriano Marini

As semente s obtidas para os cultivos iniciai s, tanto do


maracujá quanto da melancia, são obtidas junto às diversas casas
agrícolas existentes no municípi o de Castanhal, que adquire lotes
grandes das variedades c omerciais existente s no Estado de São
Paulo. As mudas matrizes de abacaxi, inseridas no m unicípio de São
João da P onta, vieram do Estado de Minas Gerais. Atual mente
muito poucos produtores com plantios estabelecidos buscam
semente s ou mudas, poi s é hábito obterem suas próprias sementes e
mudas para plantios futuros retiradas daqueles frutos c om melhor
aparê ncia e maior tamanho dentro do lote produzido.

Caracte rização dos canais de distribuição do maracujá


Apesar da grande diversidade, o si stema da cadeia de
comercialização do maracujá da região do Salgado P araense aprese nta
quatro tipologias básicas: a u nidade familiar de produção, a unidade

80
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

de intermediári os, a unidade atacadi sta e final mente a cadeia


varejista. Essa ti pol ogia está levando em consideração as
interconexõe s entre a origem da mão -de-obra, o nív el tecnológico, a
participação no mercado e o grau de i nte nsidade do uso de capi tal na
atividade de comercialização.
Nos mu nicípios estudados predomina a u nidade doméstica na
produção de frutas, que é caracterizada por usar mão -de-obra
familiar, não u tilizar tecnologi as modernas, pou co part icipar do
mercado e dispor de capital de exploração de bai xa intensidade.
O segmento inicial de comercialização do maracujá no Salgado
Paraense oc orre ai nda dentro das u nidades produtoras, quando os
chamados intermediários realizam um mi nucioso trabalho de
percorrer todas as propriedades e m todas as agrovilas nos quatro
municípios abordados por este estudo, tendo em vista que não há em
nenhu ma parte da região alguma cooperativ a ou armazém
concentrador da produção. Muito comumente o inte rmediário já saiu
de cena e esta primeira fase també m é realizada pelo atacadi sta de
São Paulo, através de seus agente s. Esta primeira movime ntação
torna-se um trabalho gigantesc o quando notamos que todo o
processo de recolhi mento deve dar -se apenas em um curto perí odo –
três semanas no máximo, na época das safras, e é realizado por muito
poucos comerciantes, basicamente pelos escri tórios atacadistas
Paulista e Monte Verde (este representante de um permissionári o da
CEAGESP de São Paul o), sediados no mu nicípio de Castanhal e em
menor escala por uma pequena produtora que por possuir caminhão
(a única em toda a região do Salgado) completa su a lotação com o
maracujá dos vizi nhos e o envia dire tame nte para o CEAGESP na
capital paulista. Nesta etapa o fluxo de caminhõe s do ti po truca do,
mais comumente Mercedes Bens e Ford, percorre ndo as agrovilas é
intenso durante as 24 horas do dia e todo o maracujá colhido é
encaixotado e fica na beira dos ramais esperando sua vez de
embarcar, sempre com o produ tor ao lado. Um mesmo produtor

81
JOSE ADRIANO MARINI

embarca em média de 70 a 90 caixas de 13 kg por safra, divididas


geralmente e m quatro e mbarques espaçados de 7 a 8 dias, quando o
caminhão retorna do entre posto atacadista na capital de São Paulo.

F I G UR A 06: R AM AL DE UM SI TI O O N D E S Ã O CO LO CA D AS AS C AI X AS DE

M AR A C UJ Á A BE I R A D A E S T R A D A N A A GR O VIL A DE B E LA V IS T A ,
M U NI CÍ P I O DE M AR AP A NIM

Foto:José Adriano Marini

82
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

F I G UR A 07: E S TR A D A VI C I N AL P OR O N DE E SC OA A P R OD U Ç ÃO DE

M AR A C UJ Á SI T U A D A E N T R E A S A GR O VIL AS DE N AZ A R É
DO T I JOC A E ÁGUA BO A, N O M U N ICÍP I O D E C UR U Ç Á

Foto: José Adriano Marini

Neste processo, todas as caixas embarcadas na região do


Salgado parae nse são identificadas com uma etiqueta adesiva
fornecida pelos transportadores c om C NPJ de empresas de
Castanhal, assim todo o maracujá passa oficialmente como tendo
sido produzido naquele município.
Quase todo o maracujá nesta fase é ainda col hido no pé e
possui a classificação de “Campeão”, cujo tamanho e aparência
destacam-se do restante da produção (e também por possuí rem um
valor mai or na comercialização). Por serem ai nda apanhados no pé, é
freqüente o envio junto aos maracujás maduros de frutos ainda
verdes, inadequados para o consumo, o que vem ocasionar u ma
diminuição no valor pago aos produtores. Ainda são enviados

83
JOSE ADRIANO MARINI

aqueles classificados como AAA e AA (cujos valores decaem


gradativamente). Na di stribuição produtiva, o tipo Campeão
corresponde a 50% dos maracujás produzidos, o ti po AAA responde
por 30% da produção, o ti po AA por 10% e os 20% restantes são
completados por aqueles que não possuem características visuai s
adequadas ao gosto do consumidor fi nal, de nomi nados l ocalmente
por “borréia 8”, sendo então destinados às i ndústrias processadoras
de frutas existente s no municípi o de Castanhal (Sucasa) ou Benevides
(Nova Amafrutas).
Terminado o grande fluxo do maracujá para exportação, como
é denomi nado pelos produ tore s, segue -se a etapa de recolhime nto da
“borréia”, que são aqueles frutos caídos no c hão, muito pequenos, j á
murchos ou com pequenos defeitos (verrugose ou antracnose) que
são então ensacados em telas e, da me sma forma que os maracujás
para exportação, são colocados á beira dos ramai s a espera agora dos
caminhões das indú stri as processadoras, Sucasa e Nova Amafrutas, a
unidade de comercialização destes també m são os 13 Kg, embora seu
valor seja muito inferior àqueles que já foram comercializados
anteri orme nte.
Os produtores que perdem o pri meiro fluxo de vendas,
geralmente pel o atraso na maturação dos frutos, são obrigados a
comercializar toda a produção como se ndo “borréia” para as
indústrias, já que não há diferencial nos val ores pagos. Aqueles que
também perdem este fluxo das indú strias têm que tentar inserir seus
frutos na CEASA e nas feiras de Belém e concomitante
comercializarem nas ruas das cidade s (Cas tanhal e Belém). Este é o
único caso em que as etapas de produção, distribuição e as vezes
comercialização é realizada por um único ator.
Por uma caixa embarcada o produ tor recebe pelo Campeão um
valor de R$ 20,00, pelo tipo 3A R$ 19 ,00 e pelo 2A R$ 17,00 (em

8
Designação dos frutos que não se prestam para a comercialização in natura.

84
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

valores bru tos). De stes valores são desc ontados pel o i ntermediário o
valor de cada caixa de madeira e ntregue (de smontada) fixado e m R$
2,00, o kilo do prego R$ 3 ,50 (que dá para fechar 20 caixas, e ntão R$
0,175 por cai xa) mai s R$ 2,00 por descarga de cada caixa na
CEAGESP-SP (o val or real desta operação na C EAGESP fica em
torno de R$ 0,29 por caixa), e a comi ssão do atacadista, que fica em
torno de 15% segundo i nformaçõe s col hidas in loc o. Acrescenta -se a
isto u m frete de R$ 3,00 por caixa ( Tabela 14). Tem-se um total de
descontos em torno de R$ 10,175 por caixa, o que dá em valores
líquidos R$ 9,825 pelo campeão, ou R$ 0,755 por kilo da fruta.
Todos os débitos são pagos com 30 a 45 dias de prazo.

T A BE L A 14: C A TE G OR I AS DE DE S CO N T OS P OR C AI X A DO M AR A C UJ Á

TI P O CA M P E ÃO P R O D U Z I DO N A R E GI AO D A P E SQ UIS A E E N VI A DO

P AR A C OM E R CI ALI Z A Ç ÃO N A CEAGESP/SP.

Descontos por caixa (R$)


montar a caixa

Salgado a São
Madeira para

Descarga na

Comissão¹
CEAGESP

Frete do
Pregos

Paulo

Total
3,00
0,175

2,00

2,00

3,00

10,175
Valore s

¹A c omissão corresponde a 15% sobre o val or bru to pago por caixa,


no caso do tipo campeão este valor fica em R$ 3,00.

85
JOSE ADRIANO MARINI

Para fidelizar os produtores, os intermediári os recolhem


pedidos de insumos que eles necessitam para utilizar nas plantaçõe s
(geralmente adubos químicos, cama de frango e torta de mamona,
além de um inseticida e um fungicida), compram e entregam nas
propriedade s, nesta operação também cobram o frete para e ntrega
(R$ 2,00 por unidade ) e esti pulam os val ores dos insumos acima dos
praticados pelo mercado (em torno de 20%). Desta forma o produtor
fica obrigado a fornecer toda a produção para aquele intermediári o e
tem descontado e m sua conta final tudo o que foi fornecido.
Quando algum produtor solicita uma quantidade de insumos maior
do que aquela sabidamente necessária exclusivamente ao uso no
maracujá, para utilizar em outras lav ouras paralelas, estes não são
atendidos na totalidade, se ndo entregue ape nas a quantidade precisa
para a fruta. Neste caso o produtor acaba divi dindo o u s o das
encomendas e ntre o maracujá e o que estiver produzindo
concomitanteme nte.

F I G UR A 08 : F L U XO GR AM A DOS P R I N CI P AIS C A N AIS DE

COM E R CI ALI Z AÇ ÃO DO M AR AC U J Á P R O D UZ I D O NO S A L G A DO
P AR AE NSE

86
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

O primeiro canal de distribuiç ão: São Paulo


Com a carga completa, que varia entre 220 a 240 c aixas de 13
kg (2.860 kg a 3.120 kg), os cami nhões seguem para os entrepostos
atacadistas de São Paulo. Recentemente também estão i niciando
desembarque em outras cidades do interi or de São Paulo (aqueles
cujo transporte não é realizado pelo própri o atacadista da
CEAGESP) como Campi nas e Ribeirão Preto, por estes estarem na
rota para a capi tal (Via Anhanguera) e, em menor escala no
entreposto de São José do Ri o Preto, também pela facilidade de
acesso rodoviári o (BR 136 ), apesar das precári as condições de
tráfego na estrada que liga aquele município à região Norte do paí s.
Em todos os entrepostos si tuados no interior do Estado de
São Paulo, os caminhões chegam sem um desti no certo, ficando nas
filas para de scarregarem p ara aqueles permi ssi onári os que desejarem
a carga. Não são feitos c ontatos prévios ou quaisquer tipos de
acertos. Já no entreposto da capital paulista os caminhões chegam
com destino certo cuja quase totalidade é c omercializada pela
“Monte Verde Hortifrutigranjeiro Ltda”, cujo proprietário, sr.
Roberto Harada, possui u m escritóri o no mu nicípio de Castanhal,Pa
para compra das frutas e pagamento aos produtores.
Excetuando -se este atacadi sta, todos os outros permissionári os
do CEAGESP -SP que comercializam mar acujá o fazem quase que
exclusivamente com aqueles produzidos em Teixeira de Freitas, no
estado da Bahia, e em menores quantidades com aq ueles produzidos
no Vale do Ri beira, em São Paulo e em Livrame nto, no Espírito
Santo.
Isto se dá pela bai xa qualidade v isual do maracujá embalado na
região do Salgado, cuja falta de cuidados do produtor com as frutas
no pós col heita, deixando -as muito arranhadas e com aparência
opaca, apesar de aprese ntar o mesmo tamanho dos produzidos nas
outras regiões. Outro fato que e xclui a preferência do maracujá

87
JOSE ADRIANO MARINI

parae nse é a forma de comercialização em caixas de madeira, quando


as ou tras regiões já c omercializam em caixas de pape lão (Figuras 08 e
09), que entre outros be nefícios, protege os frutos da exposição ao
clima durante o tra nsporte, evitando danos, principalmente na
aparê ncia dos mesmos. Isto explica também a tentati va de penetração
em outros entrepostos no i nterior, já que o marac ujá paraense está
sendo preterido pel os comerciantes paulistas. Por outro l ado, muitos
permissionári os já contam com escritóri os estabelecidos em Teixeira
de Freitas para c ompra de maracujá e outros também já possuem
propriedade s produtoras na região, como é o caso da “BS
atacadista”, cujo proprietári o produz na região semanalmente de 12 a
15 caixas, na época das safras. A rejeição do maracujá paraense tende
a aumentar c om a transformação dos varejões e pequenos varejistas
em “Lojas de Frutas”, onde a aparência passa a ter mais importância
e com a crescente diminuição das feiras livres nas ruas das ci dade s.
F I G UR A 09: C AI X AS DE M AR AC U J Á OR I GI N A DO S D O S AL G A D O
P AR AE NSE DI SP O NÍ VE I S P A R A C OM E R CI ALIZ A Ç Ã O E M UM

P E R M I SSI O N ÁR I O N A CEAGESP/SP

Foto: José Adriano Mari ni

88
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

F I G UR A 10: C AI X AS DE M AR AC U J Á OR I U N DO S DE T E I XE IR A DE

F R E I T AS (B A ) D I SP O NÍ V E I S P AR A COM E R CI A LIZ AÇ Ã O E M UM

P E R M I SSI O N ÁR I O N A CEAGESP/SP

Foto: José Adriano Mari ni


Outro fator agravante para os frutos paraense s é a baixa
quantidade de polpa dentro dos frutos, cujas c aixas de 13 kg
vendidas pelo sr Roberto na Monte Ver de frequentemente
aprese ntam entre 8 a 10 kg. Como toda a produção é vendida para
pagamentos futuros, esta diferença no peso é descontada pelos
compradores.
Da CEAGESP-SP os frutos são di stri buídos por diferentes
canais de comercialização varejistas, super mercados, feirantes, “lojas
de frutas” até outros distri buidores. Um fato intere ssante levantado
na pesquisa, é que, dentro do própri o entreposto, existem centrai s de
compras, onde os comerciante s se especializaram em comprar os
frutos, embalá -los após fazerem as devidas seleções, excluindo os
frutos machucados ou doe ntes e vende -l os a hotéi s, restaurantes ou
exporta -los para outros l ocais do país. Ne ste proc esso também não
entram os maracujás paraenses, excluídos devido a sua aparência

89
JOSE ADRIANO MARINI

final, mas muitos do s frutos ali comercializados são de stinados ao


estado do Pará, mais precisame nte para supermercados nos
municípios de Tucurui, Marabá, Redenção, Paragominas e até mesmo
Belém, além do Acre, Roraima e interi or do Estado de São Paulo,
conforme nos inf ormou o sr. Antoni o Carl os Souza, proprietário de
uma destas distribuidoras (Castor Alime ntos Ltda).
Outro grupo de compradores de maracujá e que também atua
dentro da CEAGESP são os comerciantes de polpas que compram os
frutos, levam-nos as i ndústrias e depois d e envasados retornam ao
entreposto. Neste processo há o env asamento apenas da própria
pol pa e o da polpa processada, sem sementes. Todos apre sentam -se
em embalagens de 1kg e são comercializados congelados.
Normalme nte utilizam-se de 12 a 15 frutos para cad a quilo de pol pa,
no entanto os frutos paraenses aumentam esta quantidade para 18 a
19 frutos.
Segundo dados coletados i n loc o, os pri ncipais c ompradores
do maracujá produzido no Estado do Pará são aq ueles grupos que
processam a polpa para algum outro fim e não destinam o produto
para a venda in natura, como os fabricante s de sorvete e
proprietários de pequenas lanchonetes que vendem o suco da fruta
em copos para seus clientes.
Os permissionári os da CEAGESP revendem os frutos sob doi s
valores básicos: aquel es embalados em caixas de papelão, cuja carga
comporta 13 kg e possuem uma aparê ncia melhor para mesa e
quantidade de pol pa interna volumosa são comercializados entre R$
22,00 até R$ 26,00 (valores de janeiro de 2007) enquanto que aqueles
comercializados e m caixas de madeira têm seu valor restri to no
intervalo de R$ 12,00 a R$ 15,00. Quando se comercializa o
maracujá paraense , este sofre um decréscimo no valor, podendo
chegar até a R$ 8 ,00 a caixa depe ndendo do bai xo volume de pol pa
interna, o que contri bu i para a di minuição no peso total da cai xa,
alem daquelas caixas que conte m muitos fru tos ai nda não maduros.

90
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Tal comércio chega a ser desvantaj oso ao atac adista. Todas as


transaç ões financeiras ali realizadas també m são pagas em 30 dias,
rarame nte ocorrem transaçõe s em dinheiro no local ( Tabela 15).
Nas centrais de compras, onde os frutos são selecionados,
embalados e revendidos em cai xas de 13Kg, o val or por kg não sai
por me nos de R$ 2,50 ou R$ 32,00 a caixa. Já as processadoras de
pol pa vendem o kg a R$ 4,50 indepe ndente de se tratar de polpa pura
ou já processada. Os pequenos mercados que adquirem os fru tos
parae nses pagam em média R$ 12,00 por caixa e a revendem
fracionada por R$ 15,00 a R$ 17,00 (margem de lucro entre 20 a
25%).
Para finalizar este tópico é conveniente esclarecer que todos os
imprevistos que ocorrerem com o transporte dos f rutos é repartido
entre o transportador e os produ tore s, j á houve casos em que o
caminhão capotou na estrada, perde ndo toda a carga, e como
conseqüência os valore s a serem pagos tiveram um desconto em 50%
para cobrir o prejuízos do transportador, haja visto que não existem
quaisquer garantias de recebimento dos pagame ntos por parte dos
produtores.

91
JOSE ADRIANO MARINI

T A BE L A 15: O P R I M E I R O C A N AL DE CO M E R C I A LIZ A Ç ÃO P AR A Q U AL É

DE STI N A D O O M AR AC UJ Á P R O D UZ I DO N A R E GI ÃO DE P E SQ UI S A :

V AL OR E S DE C OM P R A E V E N D A , U NI D A DE DE CO M E R CI AL IZ A Ç ÃO E

V AL OR E S P A GO E DE VE N D A P OR K G D O F R U TO .

pago(R$) / kg

venda(R$) /
Come rc. p/

Come rc. p/
Unidade de

Unidade de
agric. R$ ¹

kg de fruto
Compra do

Vende R$

de fruto
compra

venda

Valor

Valor
Caixa/13 kg

Caixa/13 kg
Atacadi sta

10,00

15,00

0,769

1,15
Distribuidor

Caixa/13 kg

Caixa/13 kg
15,00

32,00

1,15

2,50
Despolpador

Caixa/13 kg

Sache/1 kg
15,00

1,50²
4,50

1,15

¹ Valores líquidos

² A relação kg f ruta/kg polpa é 3:1

Fonte : Pesquisa de campo

92
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

O segundo canal de come rcializaç ão do maracujá


O segundo canal de comercialização compreende aqueles
frutos enviados ás agroindústrias parae nses (Sucasa em Castanhal e
Cooperativa NovaAmafrutas em Benevides); normalmente os frutos
de finais de safra, porém também com um grande volume de vendas,
chegando por safra até 60 toneladas (nestes quatro mu nicípios do
Salgado).C om os val ores fi xados entre R$ 0 ,45 e R$ 0,55 o quilo de
fruta, uma tela de 13 kg é comercial izada por R$ 5,8 5 a R$ 7,15 (este
valor depende do Brix da fruta e, segundo as proce ssadoras, o valor
pago ao maracujá do Salgado sempre é o me nor). Daí explica -se a
preferência dos produ tore s em vender para mercados atacadistas de
outros estados.
Cessado o fluxo de cami nhões recol hendo caixas para
“exportação” i nicia-se outro tráfego, me nos intenso, dos cami nhões
das agroi ndústrias, recolhendo a “borréia” dos produtores. O
período de operação desta vez é menor tendo em vista que todo o
maracujá já está no ponto de ser comercializado (a grande maioria
são aqueles caídos naturalmente), faze ndo com que o tempo de
comercialização seja ape nas aquele necessário para o desembarque
nas i ndustrias e o retorno dos cami nhões para o campo.
A Sucasa processa em torno de 600 toneladas de frutos por
safra, (muito inferior a capacidade total de proc essame nto desta
agroi ndústria, segundo a proprietária, Sra Sol ange) , comercializando
a pol pa dos fru tos em tambore s de metal , dentro de sacos duplos de
polietileno, c om capacidad e de 190 kg, no caso de pol pa ou suco
integral, ou 240 kg no caso de concentrado com 50º brix .
Normalme nte os mercados de desti no fazem parte do conti nente
europeu, especialmente a Alemanha, Suiça e Holanda. O valor do
produto exportado sai por US$ 3,00 o quilo se concentrado e a US$
1,70 se integral . Para cada tambor contendo pol pa ou suco i ntegral
são necessários 665 frutos e 2.880 frutos no caso de concentrado
(Tabela 16).

93
JOSE ADRIANO MARINI

T A BE L A 16: O SE G U N DO C A N A L DE COM E R CI AL IZ AÇ ÃO P AR A Q U AL É

DE STI N A D O O M AR AC UJ Á P R O D UZ I DO N A R E GI ÃO DE P E SQ UI S A :

V AL OR E S DE C OM P R A E V E N D A , U NI D A DE DE CO M E R CI AL IZ A Ç ÃO E

V AL OR E S P A GO E DE VE N D A P OR K G D O F R U TO .

(R$) / kg de

(R$) / kg de
Valor ve nda
Come rc. p/

Come rc. p/
Unidade de

Unidade de
agric. R$ ¹
Compra do

Valor pago
Vende R$

compra

venda

fruto

fruto
Concentrado

Tela/13 kg

Tambor

240 kg
6,00²
5,85

0,55

2,50
Tela/13k

Tambor

190 kg
Polpas

2,40²
5,85

0,45

4,84
g

¹ Valores líquidos

² Respectivamente US$ 3,00 e US$ 1,70 (Dólar em maio/2007=R$


2,00)

Houve no ano de 2006 uma tentativ a de fidelização com os


produtores pela NovaAmafrutas, onde mesmo recebendo menos por
caixa, a mesma adiantava todos os insumos necessários ao cultivo da
fruta e em c ontrapartida os produtores enviariam todo o maracujá
produzido para aquela indústria. Segu iram esta f orma de
comercialização produtores de maracujá si tuados na abrangê ncia do
município de Marapanim, e localizados em regiões fora da área
abordada por este estudo. Também seguiram este canal de
comercialização os produ tore s dos municípi os de Marac anã e
Magalhães Barata. Este processo afastou todos os intermediários e

94
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

compradores da região naquela safra. A indústria buscava com isto


ter matéria prima suficiente para ocupar todo se u maquinário de
processamento, constanteme nte ocioso pela falta de mat éria pri ma.
No entanto justame nte na época das grandes safras a indústria abre
falência, deixando de comprar as produções já contratadas. Como os
produtores já haviam perdido o ciclo das exportações para outros
estados, não tiveram para quem vender seus f rutos, ficando se m os
rendimentos das col heitas e ainda com dividas com a indústria por
conta dos insumos adquiridos. A perda no ano de 2 006 foi de 1.500
toneladas e m Marapanim e 2.000 em Maracanã, não temos no e ntanto
os dados de Magalhães Barata.

O terceiro canal de come rcialização do maracujá


O ultimo dos canais de comercialização do maracujá dá -se por
conta da venda direta pelo produtor na CEASA de Belém e nas ruas
de grande s cidades (notadamente Castanhal e Bel ém). Isto ocorre
poré m em me nor escala qu e os doi s outros canais previame nte
descritos.
Nas ruas das cidades o saco telado (origi nalmente utilizado
pelos atacadistas no comercio de cebola) com aproximadame nte 20
kg (Figura 10) é comercializado a R$ 40,00 o que dá ao produ tor uma
renda de R$ 2,00 por quilo. No entanto tal comércio dá -se em
pequenas proporç ões pois a população não está habituada a adquirir
grandes quantidade da fruta de uma ú nica vez. Todos os pequenos
comerciantes que atuam no varej o procuram adquirir as frutas
diretamente no merc ado da CEASA em Belém. Este canal procura
atender alguns compradores fixos estabelecidos no mercado Ver -o-
Peso, e nas feiras dos bairros do Entroncame nto e do Marco (este
ultimo em e scala bem reduzida), todas na capi tal paraense, e também
nas ruas de Casta nhal , na chamada “Ceasa”, que é um ajuntamento
de varejistas de fruta l ocalizados em instalações pre cárias. E m todos
estes l ocais as frutas são repassadas ao consumidor final por R$ 2,00

95
JOSE ADRIANO MARINI

o Kilo da fruta, j á embalados em pequenas telas. A f ruta chega até al i


curiosame nte por meio de ônibu s particulares (sem os bancos)
destinados exclusivamente para o transporte de produtos agrícolas
das agrovilas até Belé m e o frete nestes casos sai por R$ 3,00 o
volume. Quando e stes feirantes vão até o campo buscar o marac ujá o
valor da tela cai para R$ 4,00 ou R$ 0,20 o Kilo.

F I G UR A 11: S AC A DE M AR A CU J Á N A A GR O VI L A N AZ A R É DO T I JOC A -
C UR UÇ Á , E M B A LA D O P A R A VE N D A A V AR E JI ST A S .

Foto: José Adriano Marini .

Na CEASA de Belém o valor da tela de 20 Kg sai por até R$


18,00 a serem pagos com 30 a 45 dias de prazo, após desc ontados a
comissão do permissionári o que é fixada em 13% ( Tabela 17)

96
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

T A BE L A 17: O TE R CE I R O C A N AL DE C O M E R CI ALIZ A Ç ÃO P AR A Q U AL É

DE STI N A D O O M AR AC UJ Á P R O D UZ I DO N A R E GI ÃO DE P E SQ UI S A :

V AL OR E S DE C OM P R A E V E N D A , U NI D A DE DE CO M E R CI AL IZ A Ç ÃO E

V AL OR E S P A GO E DE VE N D A P OR K G D O F R U TO .

Come rc. p/

Come rc. p/
Unidade de

Unidade de

pago(R$) /
agric. R$ ¹
Compra do

kg de fruto

venda(R$)
Vende R$

/ kg de
compra

venda

Valor

Valor

fruto
Saco/20
12,00
Ruas

2,00
kg
-

-
Saco/20 kg
Feirantes²

Tela/1 kg
12,00

20,00

0,60

2,00
Saco/20 kg

Tela/1 kg
20,00
4,00

0,20

2,00
Ceasa/Belém

Saco/20 kg

Saco/20 kg
18,00

15,50

0,775

0,90

¹ Valores Liquidos
² Produto entregue no l ocal de venda

o na unidade produtora

97
JOSE ADRIANO MARINI

As grande s cadeias de supermercados locais além de possuírem


seu próprio stand de compras na CEASA também, na grande mai oria
das vezes, possuem sua cadeia de produtores já estabelecida e atua
com contratos de compra. Já houve tenta tivas, tanto do grupo
Y.Yamada como do gru po Líder em adquirir as produções dos
produtores da região do Nordeste Paraense, incluindo -se ai a região
do Salgado, no entanto mesmo c om contratos assinados e preços de
compra pré estabelecidos, tais documentos n ão eram seguidos pelos
agricultores, que ainda enviavam seus frutos para “exportação”,
ainda que da i ncerteza dos valores a serem re cebidos em tai s
operaç ões e pelos prazos longos de pagame ntos (geralmente 45 dias),
deixando para os mercados l ocais ape nas a “borréia”, cuja aceitação
pelos consu midore s é muito baixa.
Dentre as possíveis ju stificativas para a rejeição dos
produtores em col ocar seus frutos nas cadeias de supermercados
poderia -se citar a exigê ncia do “enxoval” que consi ste em u m
fornecimento gratuito à cadeia de supermercados pelo prazo de uma
semana, após a qual o gru po decidiria sobre a manutenção ou não do
produtor com base na aceitação dos consumidores, ou os bai xos
preços oferecidos por este canal de vendas, ou ai nda a exigência em
se oferecer produtos com ótima aparência a valores inferiores
aqueles percebidos de outros setores, principalmente em épocas de
promoç ões porém, de acordo c om a pe squisa de campo, a rejeição no
fornecimento aos supermercados dá -se pelo fato da exigência da
constância no ate ndimento às demandas, o que nos níveis técnicos
atuais e xiste ntes nas áreas rurais do Salgado P araense não é possível
de ser atendida pelos agricultores familiares. Assim, prefere -se a
incerteza em v alores e pagame ntos, enviando os frutos para a
chamada “exportação” que é o envio a CEAGESP de São Paulo.
A colocação de maracujá nos mercados locai s da região do
Salgado Paraense é pequena devido a baixa procura pelo fruto,
causada por: 1) a renda média da maioria das famíli as é muito baixa

98
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

(geralmente fica em torno de 1 salário mínimo), inviabilizando a


compra de frutas que não a polpa de açaí e a maçã (quando houver
crianças na residência) e 2) quase a totalidade das famílias da zona
rural produzem maracujá e trazem a fruta para pare ntes que resi dem
nas sedes dos municípi os.

A cultura da melancia

A produção de melancia na região do Salgado Paraense pela


Agricultura Familiar
Com exceção dos produ tore s localizados nas agrovilas
pertencentes ao municípi o de São João da Ponta, todas as agrovilas
da região do Salgado Paraense praticam o cultivo da melancia nos
meses de maio a ju nho para sua comercialização em
agosto/setembro.
As variedades cultivadas por quase todos os produtores são as
de origem japonesa, cuja carac terística é a de se ter como prod uto
final um fruto redondo, de c or verde clara com até 40 cm de
diâmetro e também apre sentam baixa resi stência a antracnose e a
murcha-fusariana, além de serem me nos saborosas que as do tipo
americanas. Tai s variedades são utilizadas desde o inicio da ativ idade
nas agrovilas, em meados da década de 1970 e justificavam -se por
aprese ntarem uma alta resi stência ao transporte por longos períodos,
tendo em vista que as estradas de escoame nto das produções
surgiram ape nas em meados do inicio dos anos 1990 e sua
pavimentação para melhorar a eficiência nos transporte s de maneira
geral e do escoamento das produções de maneira mais especifica deu -
se já no inicio deste século.
O período de produção fica restrito aos mese s de mai o
(quando se planta) a agosto (quando se colhe) devido as condições
pluviometricas locais favorecerem os cultivos apenas neste período.
Devido a sua alta fragilidade apre sentada para resi stência a doenças,

99
JOSE ADRIANO MARINI

quaisquer cultivos iniciados do inicio do ano até maio poderiam


acarretar uma perda total d as produçõe s pelo intenso ataque de
patógenos f avorecido pelos altos índices pluviométricos anotados na
microrregião. Já a partir de agosto inicia -se o c hamado “verão” pelas
populações locai s (climaticamente é o inicio do inverno no
Hemisfério Sul do plane ta) cuja principal característica é a
diminuição ou a ausê ncia total de chuvas, inviabilizando desta forma
quaisquer cultivos temporários. O intervalo de tempo aprese ntado de
maio a agosto favorece sobremaneira o cultivo não apenas da
melancia mas de todas as demais cucurbitáceas por aprese ntar uma
pluviosidade constante poré m não mui to intensa, facilitando o
desenvolvimento das culturas mas não oferecendo condições a um
aumento considerável no aparecimento de doenças. Alguns
produtores desta região adi anta m os cultivos até abril vi sando
atender a de manda origi naria das praias no período das férias
escolares de julho (entre elas Marudá, Algodal, Romana e Crispim),
quando conseguem melhores preços pelo produto.
Devido ao acumul o de oferta no período compreen dido entre o
final de julho até o final de agosto, há em um primeiro momento
uma queda drástica nos val ores das fru tas, seguida pelo surgi mento
de um excedente sem c ompradores obrigando os produtores a levar
alguns frutos de ôni bus ou bicicleta (depe ndendo da distância) até
localidades mai s pov oadas na esperança de se recuperar ao menos os
investime ntos gastos na produção e que precisam ser pagos na época
das safras.
Neste sistema não há o aviltame nto prévio, embora exista a
atuação de alguns intermediário s fixos que em toda safra percorrem
as agrovilas e m bu sca do produto. Isto justi fica -se pela não
necessidade em se fidelizar o produtor, pois haverão muitos tentando
comercializar suas produçõe s, també m pela queda dos preços nas
safras, o que dá um forte poder de persuasão por parte do
comprador e também pela i ncerteza de que a safra comercializada

100
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

por um determinado produtor consiga ao me nos cobrir os custos de


produção, o que fatalmente resultaria em prejuízos para o aviltador.
Por ser uma atividade cujo objetivo seja mais tradicional do
que financeiro, há um grande continge nte de produtores nas áreas
rurais dos mu nicípios p)rodutores. Do total de agricultores familiares
residentes na região (6.493) 45% dedicam -se ao cultivo da fruta
(Tabela 18).

T A BE L A 18: N UM E R O DE A G R O VI L A S , F AM ÍL IA S P R O D U TOR A S DE
M E L A NCI A P OR A GR O VI L A E T O TA L DE F A M ÍLI A S Q UE P R O D UZ E M
M E L A NCI A P OR A GR O VI L A LO C ALI Z A DA S N OS M U NIC Í P IOS DE
C UR UÇ Á , M AR AP A N I M , T E R R A A L T A E S Ã O J O ÃO D A P ON T A .

de melancia
Melancia /
agricultura

Nº total de
Produtoras

produtoras
voltadas a
Agrovilas

Famílias

Agrovila

famílias
Nº. de

de
50

22

1.100
Curuçá

33

41

1.353
Mara
pani
m
37

10

370
Terra
Alta

08

12

96
Ponta
S. J.

-
128

2.919
Totais

Fonte : Secretarias Mu nicipais de Agricultura e EMATER


locais

101
JOSE ADRIANO MARINI

Existem basicame nte doi s tipos de produ tore s de melancia:


aqueles chamados pequenos e uma minoria mais voltada para o
cultivo na forma empresarial. O segundo grupo compreende apenas
8% de todos os produ tores de melancia na região da pesquisa e
produz 8,2% do total de melancia, porem consegue obter
rendimentos médios 258% acima dos produtores integrantes do
primeiro grupo (Tabela 19)

T A BE L A 19: N UM E R O DE P R O D U TOR E S , P R O D UÇ ÃO E V AL OR M É D IO
R E CE BI DO P E LOS P R O D U TOR E S E M D U AS É P OC A DIF E R E N TE S D E
P LA N TI O D E M E L A NC I A

Época de Plantio

Maio Outro
Nº. de Unidades
recebido (R$)

recebido (R$)
Valor médio

Valor médio
Produtoras¹

% s/ Total
Familiares
% s/ total

Prod. (t)²

Prod. (t)²
Produtoras¹
Nº. total de

Familiares
Unidades

2.168,1
Curuçá

216,8
1000

0,60
0,25

100
90

10
Mara

1290

139,
pani

2.85

0,50

1,00
0,7
95

63
m

2
Terra

821,6

150,5
0,25

0,80
Alta

320

86

50

14
Ponta

288,9

0,25
S. J.

100
96

¹ Fonte: Secretarias Municipais de Agricultura e EMATER locais

² Fonte: Pesquisa de Campo

102
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

O primeiro grupo, cujo pla ntio da fruta e stá i ntimamente


ligado ao fator tradição e são extremamente resistentes a mudança de
cultivares ou alterações na época de planti o (q uando condições
climáticas favorecem o cultivo ou quando há a presença local de
siste mas de irrigação). Nossa pesquisa detectou que a grande mai oria
dos produtores de melancia da microrregião do Salgado Paraense
(92%) enquadram-se nesta tipologia e , me smo te ndo conhecimento
da possibilidade de troca de cultivo por outra cultura que, exigindo
os mesmos tratos culturais, área e dispêndi o de insumos, possam
oferecer um rendimento econômic o maior, como o melão, não abrem
mão do cultivo da melancia por se tratar de uma atividade que vem
de seus pais e avós, invariavelmente pioneiros na colonização da
agrovila em que o produtor se enc ontra, ape sar de enfrentar todo
ano os mesmos problemas na comercialização e nos re sultados
econômicos negativos.
Este grupo também caracteriza -se pela bai xa produção e
produtividade, alem de disponibilizarem uma pequena área para o
cultivo da fruta pois trabalham em sistema familiar e não utilizam
aqui nenhu ma mão de obra adicional já que todos os trabal hadores
locais estão env olvidos com a mesma atividade no mesmo período.
O segundo grupo, f ormado por “estrangeiros” na mi crorregião,
também tem seu cultivo restrito ao período de mai o a agosto, mais
pelo fato de não possuírem u m siste ma de irrigação que possibilite
uma troca de período do que pela manu tenção de q ualquer tradição.
São estes produtores que estão iniciando os plantios em abril visando
atender ao grande fluxo de pessoas que deslocam -se invariavelmente
da região metropolitana de Belém e Castanhal para a região das
praias do Salgado Paraense no mê s de julho. Este grupo caracteriza -
se pela presença de um mínimo de escrituração contá bil , com
anotaçõe s de custos e re ndime ntos das culturas, sendo o embrião de
futuras empre sas rurais de fato. Também são aqueles que produzem

103
JOSE ADRIANO MARINI

em áreas mai ores, conseqüentemente com uma produção maior para


colocar no mercado, o que também justifica o adianta mento nos
plantios para o mês de abril, possi bilitando a c olocação de seu
produto no mercado antes dos agricultores tradicionalistas.
Embora seja uma cultura tradicional se ndo objeto de produção
de 45% dos agricultores familiares na região de pesquisa, a á rea
média cultivada por familia fica próximo a 1 hectare poi s este cultivo
exige um grande di spê ndio de horas de trabalho nas fases i niciais de
desenvolvimento, alem de necessi tar de insu mos (inseticidas,
fungicidas, adubos) que na maioria das vezes não es tão di sponíveis
em quantidades suficientes para a realização de grandes plantios.
A produtividade da melancia varia muito de ntro dos quatro
municípios pesquisados, tendo por um lado um extremo altamente
produtivo (3.010,4 kg/ha) e m São João da P onta e out ro abai xo da
média regional que é Curuçá (2 .168,1 kg/ha). Tais caracterí sticas
refletem exatame nte o nivel tecnológic o empregado no campo,
enquanto em Curuçá há uma grande care ncia de assessoria técnica e
introdução de inovações em São João da P onta com o apoi o da
prefeitura municipal e da rede de assessoria formada para atuação no
abacaxi , há tecnologia suficiente para auxiliar os produtores no
cultivo da melancia. As produçõe s totais não ac ompanham a curva
de produtividade regi onal , princi palmente devido ao objetivo dos
plantios, enquanto em São João da Ponta e Terra Alta fica mais
restrito a agricultores antigos sem a busca pri ncipal pelo lucro, em
Marapani m há a necessidade de planti os para atender as demandas
das prai as, assi m as quantidade s produzidas , bem como as áreas
unitárias e totais são as mai ores da região ( Tabela 20).

104
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

T A BE L A 20: Á R E A M É D I A P OR U N I D A D E F A M ILI AR , Á R E A TO T AL P O R

M U NI CÍ P I O , P R O D U TI VI D A DE E TO T A L P R O D U Z I DO D E M E L A N CI A NOS

M U NI CÍ P I O S D E C UR U Ç Á , M AR AP A NI M , T E R R A A L T A E S ÃO J O ÃO DA

P ON T A .

Área Total (ha)


Área média por

Produtividade

Produzido (t)
familiar (kg)
familiar (ha)

Total por
unidade

unidade

kg/ha

Total
1

1.100

2.385
2.168,1

2.168,1
Curuçá

2.706

2.990
2.209,9

1.104,9
Marapani m

370

950
2.567,5

2.567,5
Terra
Alta

96

289
3.010,4

3.010,4
Ponta
S. J.

4272
-

6.614
1.548,2
Totais

Fonte : Pesquisa de Campo

105
JOSE ADRIANO MARINI

Os canais de comercializaç ão da melancia


No inicio do mês de julho de todos os anos inicia -se o fluxo
de atravessadores nas agrovilas l ocalizadas na microrregião do
Salgado Paraense em busca de melancia para revenda. Ante s, no mês
de maio, já foi feito c ontato c om os produtores para firmar
verbalmente um acordo de compra e venda sem, no entanto, pré -
definição de preços.
Os cami nhões percorrem as agrovilas várias v ezes no perí odo
da safra, recol hendo aqueles frutos maduros diretamente dentro da
propriedade, já que torna -se difícil para os produ tore s desl ocarem
suas produçõe s até os ramai s das estradas principai s. Ao
completarem a carga do cami nhão (10 toneladas) ele s deslocam-se
para a CEASA da capi tal paraense . Estes i ntermediários tem sua
origem tanto no municípi o de Castanhal e municípios vizinhos
quanto na própria região do Salgado Paraense e em sua mai oria são
proprietários de pequenos caminhõe s (das mai s v ariad as marcas e
anos) que possuem como princi pal função econômi ca a atividade de
intermediar a compra e venda de produtos agrícol as junto a pequenos
agricultores familiare s.
Nos anos de 2005 e 2006 os valores ficaram no mesmo nível,
sendo pago por este s intermediári os R$ 0,25/Kg de melancia no
inicio de julho e caindo até R$ 0,20/Kg do fi nal de julho até o mês
de agosto. Os clientes destes compradores são invariavelmente os
produtores tradicionais, cujas produções são pequenas e não dispõe m
de recursos para fre tar veículos e colocar seus produtos no mercado.
O destino destas produçõe s é a chamada “pedra” na CEASA de
Belém, onde teoricame nte os pequenos produ tore s apresentam seus
produtos a eventuais compradore s. No local os v alores variaram nos
anos citados de R$ 0,40/Kg a R$ 0,35/Kg (no i nicio e final de safra,
respectivame nte). O tamanho míni mo para este ti po de transação não

106
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

é inferior a 6 Kg por fruta, c hegando a um máxi mo de 10Kg, porem


a grande mai oria fica entre 6 e 7 Kg, Tabela 21.
Para aqueles que comercializam nas prai as, tanto produtores
quanto i ntermediários, os valores se estabilizaram nos anos de 2005 e
2006 em R$ 0,50/Kg, daí a preferência em se ate nder este tipo de
publico, além de ser tradicional mente muito alto o consumo de
melancia pelos verani stas no mês de julho. No l ocal, os produ tore s
que comercializam sua produção ve ndem -na diretame nte ao
consu midor fi nal, seja armando uma pequena barraca seja
percorre ndo as ruas com u ma espécie de carri nho de mão oferecendo
as frutas de casa em casa. Já o s intermediári os, por possuírem um
volume mai or, entregam a pequenos mercados q ue repassam ao
consu midor final não mais por peso mas por “cabeça” ou unidade,
que fica em torno de R$ 4,50 a R$ 6,00.
Outro cami nho seguido pelos grandes produtores é a entreg a
na CEASA em Belém, vendendo diretame nte a pe rmissionári os ali
localizados, que acabam repassando para os mercados v arejistas.
Estes produtores tem capacidade de lotar sozinhos u m cami nhão
com capacidade de carga de 10 toneladas, cujo frete neste caso sai
por conta deles (R$ 400,00 por viagem da microrregião do Salgado
Paraense até Belém). Normal mente são necessárias duas viagens para
atender cada um deste s produ tore s. O valor pago pelos
permissionári os na Central foi de R$ 0,20/Kg em 2005 e 2006.
Dentro do universo de agrovilas pesquisado encontrou -se uma
média de 1 a 2 destes produtores por localidade, como tem -se um
universo de 50 agrovilas por municípi o pesquisado, tem -se um total
de 300 grandes produtores, com u ma comercialização média de 4,5
toneladas, cujo rendi mento bruto (se entregue todo na CEASA) fica
em torno de R$ 900.000,00 ou R 3.000,00 por produtor. O período
da cultura no campo é de 75 dias até 90 dias, desde o plantio até a
colheita, possibilitando fi nalmente um re ndimento bru to por
produtor de R$ 1.000,00 mensai s.

107
JOSE ADRIANO MARINI

O destino dos frutos com tamanho inferior a 6 Kg (e que não


são aceitos para comercialização na CEASA de Belém é a venda na
beira das rodovias (PA 318 e PA 136) em rudi mentares barracas
construídas para este fim . Ali o preço cobrado é por unidade e fica
em R$ 1,00 a peça.
Não consegue-se estimar a produção ou produtividade média
de melancia dos pequenos agr icultore s mas te ndo como base o lucro
total de cada um, que em média é de R$ 500,00 por safra e levando
em conta que estas produções ocorre m a um mesmo te mpo, quando
os val ores são menores (R$ 0,20), temos uma produção de 2.500 kg
por familia.

T A BE L A 21: V A LOR DE C OM P R A E VE N D A , Q U A N TI D A DE

COM E R CI ALI Z A DA E R E N D I M E N TO TO T AL DOS C A NA I S DE

COM E R CI ALI Z AÇ ÃO D A M E L A N CI A
alizada /
Valor de

Rendime
Come rci
Valor de

Safra (t)
Quantid
(R$/kg)

(R$/kg)
Compra

Venda

Total
(R$)
ade

nto
400.000
Interme

2.000
diários

0,20

0,40

500.000
1.000
0,50

0,75
Praias

Permissi n
CEASA –

300.000
Venda a

1.500
0,20

0,40
ários

108
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

CEASA –

Produtor

360.000
0,40

900
Direta
Venda

-
pelo
Rodovia

30.000
0,30

100
-
s

222.800¹
Comerci
alizadas

1.114
-

-
Não

1.367.200
6.614
Total

Fonte : Pesquisa de Campo

A Cultura do Abacaxi

A produção de abacaxi na região do Salgado Paraense pela


Agricultura Familiar
O município de São João da P onta vem se destacando no
cenário estadual pelo av anço no cultivo e produção de abacaxi ,
incentivado pelo governo municipal em su bstitu ição as culturas
tradicionais de maracujá e melancia. Em todas as u nidades de
produção familiares do mu nicípio coexi stem as culturas da mandi oca
e do abacaxi , embora ainda de encontre cultivos inexpre ssivos do
maracujá e mais raramente da melancia, exceção para a época de sua
safra.
A implantação da cultura iniciou -se com incentivo pessoal do
Prefeito Municipal, també m produtor, que após ser persuadido pelos
dirigentes da Cooperativa e processadora “Nova Amafrutas” iniciou
o cultivo do abacaxi em sua propriedade, no ano de 2003, com um

109
JOSE ADRIANO MARINI

stand inicial de 2 milhões de pé s, segundo inf ormações do própri o


prefeito, Sr. Orleandro.
Após os primeiros plantios, o poder publico munic ipal tomou
iniciativas para e sti mular a expansão da cultura na área do municí pio,
que incluíam o financiamento de mudas e produtos que seriam
utilizados nos primeiros cultivos, pela pró pria Nova Amafrutas ou
pelo prefeito, no caso de fornecimento apenas de mudas, e a
formação de uma rede de assistência técnica formada pela Secretaria
de Agricultura local, pela Emater do município e por técnicos da
Cooperativa Nova Amafrutas. Tais financi amentos, disponibilizados
aos produtores após um contrato de exclusividade no f ornecimento
da produção, seriam divididos em três parcelas anuais, descontadas
do pagamento das frutas pela Cooperativa.
Atualme nte (março de 2007) existem na região de abrangê ncia
do município de São João da Ponta 120 famílias produtoras de
abacaxi e um total de 238 familias na área de abrangência dos quatro
municípios desta pesquisa (Tabela 22).
TA BEL A 22: N UM E R O DE F A M ÍLI AS P R O D U TOR AS DE A B AC A XI P O R

A GR O V IL A E N UM E T O T O TA L DE F A M ÍLI AS P R O D UT O R AS DE A B AC A XI

N A R E GI ÃO DE C UR UÇ Á , M AR AP A N IM , TERR A A L TA E S ÃO JO Ã O DA

PON T A.

Nº. de Famílias Nº total de


Agrovilas Produtoras famílias
voltadas a de Abacaxi / produtoras
agricultura Agrovila de abacaxi

Curuçá 50 - 35

Marapani m 33 - 53

Terra Alta 37 - 30

S. J. Ponta 08 15 120

110
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

Totais 128 - 238

Fonte: Pesquisa de Campo

Uma unidade familiar de produção típica da região de São João


da Ponta tem em media 6 hectares cultivados com abacaxi , com um
stand de 16.000 plantas por hectare o u 96.000 plantas por unidade de
produção. Normalme nte são necessári os 500 pés para se alcançar a
produção de u ma toneladas de frutos, de sta forma cada propriedade
do municipi o tem uma produção total aproximada de 192 toneladas
(Tabela 23)
T A BE L A 23: Á R E A M É D I A P OR U N I D A DE F A M IL AIR , Á R E A TO T AL DE

P R O D UÇ ÃO , P R O D UÇ Ã O TO T A L P OR U N I D AE F AM ILI A R ,

P R O D UT I V I D A DE E TO T A L P R O D UZ I D O D A C U L T U R A DO A B AC A XI N OS

M U NI CÍ P I O S D E C UR U Ç Á , M AR AP A NI M , T E R R A A L T A E S ÃO J O ÃO DA

P ON T A .
Área Área Prdução Produtividade Total
média Total Total Produzido
por (ha) por t/ha (t)
unidade unidade
familiar familiar
(ha) (t)

Curuçá 0,3¹ 10,5 9,6 32 336,0

Marapani m 0,3 15,9 9,6 32 508,8

Terra Alta 0,3 9,0 9,6 32 288,0

S. J. Ponta 6 720 192 32 23.040

Totais - 755,4 - - 24.172,8

Fonte : Pesquisa de Campo

111
JOSE ADRIANO MARINI

A primeira grande safra da fruta na região do mu nicípio de São


João da Ponta deu -se em 2006, quando a Nova Amafrutas iniciaria a
comercialização das produçõe s, segundo os contratos estabelecidos
com os produ tore s, alem de i niciar os desco ntos dos financiame ntos
das mudas, defensiv os e demais insumos utilizados nos primeiros
plantios. Neste ano a C ooperativa Nova Amafru tas mais uma vez
abre falência, ficando impossi bilitada de cumprir seus contratos de
compra, fazendo c om que grande parte da produção local f osse
perdida.
Os plantios de abacaxi no ano de 2006 começam a expandir -se
para ou tras agrovilas dentro da região do Salgado Paraense, o que é
facilitado pela proximidade das agrovilas e pelos laç os familiares e de
amizade que existe entre os diversos moradores do Salgado. Desta
forma as mudas para nov os plantios são obtidas ou a preços muito
baixos (R$ 0,10 a muda) ou doadas pelos produtores de São João da
Ponta, geral mente e ntre 100 e 300 plantas. P orém, como nos outros
municípios não há o apoi o do poder pu blico loc al e da rede de
asse ssoria técnica estadual, estas novas culturas são conduzidas sem
o conhecimento pelos agricultores de quaisquer técnicas agricolas de
manejo (Figura 12).

112
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

F I G UR A 12: C U LT U R A DE A B AC A XI N A A GR O V IL A DE P IQ UI A TE U A ,
M U NI CÍ P I O DE C UR UÇ Á ,
C OM O M A TO DOM I NA N D O O P L A N TIO .

Foto: José Adriano Marini

Os canais de comercializaç ão do abac axi


A comercialização efetivamente iniciou -se no final do ano de
2006, com grande parte das produções sendo adquiridas pela
processadora de frutas Sucasa, si tuada no município de Castanhal .
Enquanto os contratos com a Nova Amafrutas fi xavam um valor
bruto das produções e m R$ 240,00 a tonelada, a Sucasa paga
atualmente R$ 290,00 por tonelada, neste caso já de scontado o val or
do transporte ate a unidade processadora.
Outra vertente para a distribuição das frutas fica a cargo do
escritóri o atacadista Ati baiense (situado em Castanhal) que paga aos
produtores o val or liquido de R$ 0,80 a unidade com

113
JOSE ADRIANO MARINI

aproximada mente 2,0 Kg e R$ 0 ,50 a unidade com peso inferior


aquele índice, não incidindo para o produtor os custos com
transporte. E ste di stri buidor repassa os frutos nas feiras de Belém e
também no mercado Ver -o-Peso ao preço de R$ 1,00 a unidade e
nestas feiras são repassadas a até R$ 2,00 a unidade daqueles frutos
maiore s (pesando mai s de 1,5Kg). Nesta operação a quantidade de
frutas comercializadas não passa de 1 tonelada ( Tabe la 24)

T A BE L A 24: V A LOR DE C OM P R A E VE N D A DE A B AC A X I P E LOS C A N AI S

DE C OM E R CI ALI Z A Ç ÃO E XI S TE N TE S N A R E GI Ã O DE P E SQ U IS A .

Valor de Valor de Venda


Compra (R$/kg) (R$/kg)

Agroi ndústria 0,29

Atacadi sta 0,40¹ 0,50¹

Venda Di reta 1,00

¹ Valores referentes a frutos com peso médio de 2 kg

Fonte : Pesquisa de Campo

Outro canal existe nte par a a distri buição das frutas consi ste na
venda direta ao consumi dor, quando os produ tore s ou seus familiares
montam bancas da fruta nos pri ncipais centros consumidores (e mai s
populosos). Ne stes locai s o val or por unidade é de R$ 1,00
principalmente por se tratar de frutos me nores, c ujo peso unitário
fica em torno de 1 Kg. O transporte dos produ tores e das fru tas
ocorre por conta da prefeitura municipal de São João da Ponta, sem
quaisquer ônus para o agricultor.
Nas agrovilas pertencente s aos ou tros municí p ios cujas
produções iniciaram no ano de 2006 o ú nico canal de distri buição até
então, é a venda a um único i ntermediário, Sr. Cleidson, que possui

114
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

uma rede de bancas de frutas em Castanhal, Santa Isabel e Belém.


Este pagou naquele ano R$ 1,00 a unidade , em valores líquidos, e
repassou em suas bancas ao c onsumidor fi nal por R$ 2,00 a unidade .
Como não foram feitas vendas em 2007, estes produtores não sabem
o quanto receberão pela venda de suas produções.

115
JOSE ADRIANO MARINI

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A orga nização do setor frutícola na região é precária e são


muitos os desafi os que os produtores de frutas no P ará e em especial
na região do Salgado Parae nse precisam enfre ntar para c onsolidar o
grande potencial da exploração de frutas na região. De f orma gera l
pode-se enumerar os pontos mais urgente s :
 Pesquisa para buscar o cultivo si stematizado das frutas
através de um manejo sustentável e adaptaç ão das
plantaçõe s aos Sistemas Agroflorestai s, visando preservar
os solos locais (latossol o amarelo) da degradação físico-
química,
 Divulgação nacional e internacional dos produtos nativos
gerados pela fruticultura da região equatori al,
 Participação em feitas naci onai s e internacionais,
 Criação de um padrão de qualidade e identidade das frutas
produzidas no Estado.
Contudo, muitos de safios devem ser enfre ntados para o
desenvolvimento e consolidação da fruticultura na região do Salgado.
No campo da pesquisa agríc ola, maciços inv estimentos
precisam ser canalizados para programas de mel horamento genétic o
das fruteiras nativas e das exóticas cultivadas localmente visando
melhore s produtividade, qualidade e maiore s resistências às doenças
equatoriais.
A incerteza quanto aos caminhos dos financiame ntos v oltados
ao beneficiamento e à comercialização de produtos agrícol as e às
flutuações quanto ao volume de recursos disponíveis, exigências
burocráticas e a carência de assistência técnica constituem algumas
das limi tações que precisam ser revertidas para o de senvolvime nto da
fruticultura no Pará.

116
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

No que se refere a crédito e fina nciamento, em te se a região


conta com o apoio das linhas própri as oferecidas pelo Banco da
Amazônia e com os recursos do Fundo Consti tucional de
Investi mento do Norte e, desde 2006, da linha de financiamento do
Banco do Brasil , denomi nada BB Fruticultura, assi m sendo, o
Sistema Agroalime ntar das Frutas poderão recorrer aos recursos
acima me ncionados, desde que as linhas sejam melhor adequadas às
peculiaridades e necessidades da fru ticultura praticada no Estado do
Pará.
As ameaças ao desenv olvimento e evoluç ão da fru ticultura no
Estado e em especial na região de estudo podem ser sintetizadas
como:
 Desvantagens comparativas em relação à proximidade dos
maiore s centros de consumo no paí s,
 A inexistência de um sistema de defesa fitossanitária para
proteger os cultivos, pri ncipalme nte o cultivo do abacaxi
que está se mostrando extremamente compe titivo e m várias
áreas da região pela ausência de doenças graves a esta fruta.
 A iniciativa em grande parte ai nda desordenada e sem base s
negociais sólidas para a comercial ização pelos produtores e
o frac o nível de organização dos mesmos poderão provocar,
se não reestru turados, u ma perda de competitivi dade do
setor no mercado interno e externo,
 O baixo nível de recursos humanos nos vários níveis de
escolaridade para suportar as várias cadeias frutícolas que
iniciam seu desenv olvimento c omeça a apresentar -se como
um gargalo importante e,
 Dificuldade de acesso ao crédito, muitas vezes ine xiste nte,
devido á baixa capacidade de garantias do frutic ultor da
região.

117
JOSE ADRIANO MARINI

Os produ tore s fa miliares da região do Salgado Paraense,


portadores de uma base produ tiva de bai xa intensidade, não são
capacitados a operar com i nformações mercadologias e gerenciais,
levando a sua dependê ncia comercial de intermediários na venda de
suas produções. Esta situação, em que não há por parte do
agricultor um domínio sobre a formação de preços de seus produtos,
faz com que os valores recebidos via de regra não cubram os custos
de produção, acarre tando uma de scapi talização que aumenta a cada
nov o ciclo das cultu ras, fazendo com que este produtor se torne
refém do aviltamento frente aos agentes intermediaristas, até que,
não c onseguindo mais se manter neste processo acaba sendo excluído
do sistema produtivo.
A assistê ncia técnica, embora exista em todos os munic ípios
pesquisados, não é atuante junto aos agricultores, q ue ainda utilizam
técnicas de cultivos herdadas de seus pais e em alguns casos av ós.
Não há a prática de anali se de solos nem indicaçõe s de adubações e
correções adequadas aos cultivos, ou incorpora ç ões de materiais
orgânicos capazes de melhorar as condiçõe s físico -químicas dos
sol os l ocais. Além di sso, a microrregião do Salgado não di spõe de
variedades de frutas, seja o maracujá, melancia ou abacaxi,
melhoradas geneticamente para adaptarem -se as condições locai s
edafoclimáticas, haja vista que as sementes para plantios iniciais
normalme nte são compradas em casas especializadas no mu nicípio de
Castanhal, que por sua vez adquirem lotes produzidos em ou tras
regiões do País. Mesmo no caso das mudas de ab acaxi, cujas matrizes
vêm de fornecedores externos ao Estado do Pará.
Esta au sência efetiva de assistê ncia técnica aliada à
insensibilidade dos órgãos de pesquisa públicos em atender as
demandas deste setor produtivo vem acarretando u ma perda
crescente de mercados junto aos princi pais centros consu midore s, A
baixa qualidade do maracujá produzido na região, principalmente a
aparê ncia externa e a pouca quantidade de pol pa i nterna re sulta do

118
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

uso de variedade s não adaptadas à região e também do


desconhecimento de técnicas adequadas de polinizaç ão no perí odo de
abertura das flores. Também não há técnicos locai s capacitados para
atendime nto a situaç ões que envolvam marketing e mercado,
impossibilitando a penetração das produções em nov os nichos ou
introduzindo novas f ormas de embalage ns (p.e. cai xas de papelão).
Este ultimo fator também é importante no planejamento de mercado
para as produções de melancia, evitando -se su per-produções em
curtos períodos do ano, ocasionando queda de preços e saturação de
mercados.
Falta também ao agricultor da região do Salgado Paraense
reconhecer-se como categoria produtiva, papel este que deveria ser
desempenhado pelos si ndicatos de trabalhadore s rurais locai s, mas
estes limi tam-se a servirem de apê ndice entre o associado e a
previdência social para concessão de benefícios ou aposentadorias,
incentivando u ma su bordinação dos trabal hadores ao sistema
sindical.
Assim, torna-se mai s fácil a todos os atores responsáveis pelo
desenvolvimento nas produçõe s agrícolas esc onderem -se sob
afirmações edaf oclimáticas desfavoráveis ou “produção rural
concentrada e homogênea” para ausentare m -se de su as obrigaçõe s.
Há muitas perguntas a serem respondidas, mas todas levam a
uma conclusão, a ausência de assessoria técnica leva a praticas
produtivas rudimentare s, ocasionando bai xas produções e sem
qualidade aceita pelos grandes mercados consu midores; soma -se a
este a atuação maciça de agentes i ntermediários, determinando
preços sem levar em conta o mercado ou até me smo os custos de
produções. A ausê ncia do auto-reconhecimento como produtor rural
impede que se busquem quaisquer aç ões publicas direcionadas ao
campo. E stes fatores levam a descapi talização dos produtores, cujo
destino é o abandono do setor produtivo no campo e a ocupação de
áreas periféricas nos grandes centros urbanos.

119
JOSE ADRIANO MARINI

Recomenda -se, pri ncipalme nte, uma reavaliação das funções


exercidas localme nte pelos poderes públicos municipais e pela
assi stência técnica oficial (EMATER) e regional mente pelas
insti tuições de pesquisa, para que atuem junto aos produtores
familiares incre mentando novas técnicas de produção e
comercialização, inserindo novas variedade s adaptadas as condições
edafo-climáticas da região e aos si ndicados de trabalhadores rurai s
no senti do de embutirem no agricultor familiar sua f unção social
como categoria produtiva, e não o caráter submi sso na espera do
auxilio da Previdência Social Brasileira.
Sugere-se para a efetivação das recomendações propostas as
seguintes açõe s:
 Maior atuação dos técnicos responsáveis pela assessoria
técnica oficial junto aos agricultores das regiõe s onde
atuam;
 Criação de linhas de projetos regionai s a serem
acompanhados pelos técnicos da EMATER, i ncluindo
alimentaç ões de banco de dados que permitam o
acompanhamento das ações, objetivos e metas visados e o s
resultados das interferências.
 Construção de Pak -Hou ses nos mu nicípios produtores de
fruas para viabilizar a realização de processos de seleção de
frutos e embalage m possi bilitando que os frutos c heguem
ao consu midor sem danos ocasionados pelos meios de
transporte;
 Consolidação de parcerias por meio dos poderes públicos
locais no sentido de estabelecer uma rede de asse ssoria e m
marketing e comercialização;
 Criação de um Banc o de Dados, assessorado pelas
prefeituras ou sindicatos (de produtores ou trabalha dores),

120
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

insti tuindo canai s de comercialização permane nte s entre


distri buidore s finais e produtores locai s;
 Criação de uma rede de pesquisas pela E mpre sa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA e pela Univ ersidade
Federal Rural da Amazônia - UFRA voltada à seleção e
melhoramento genético das pri ncipai s espécies frutíferas
cultivadas na região do Salgado Parae nse, com vistas a
introduzir na região variedades adaptadas às c ondições
edafo-climáticas particulares do l ocal.
 Fortalecimento das pesquisas e a difusão do conhecimento
gerado, estabelecendo uma rede de parcerias de modo a
promover o dese nvolvimento suste ntado deste setor na
região, te ndo como base seus diferentes ecossistemas.
 Adotar práticas que permitam o dese nvolvime nto da infra -
estrutura necessária para dar o devido suporte ao
desenvolvimento progressivo da fruticultura na região,
especialmente aquelas voltadas para a captação,
armaze name nto e distribuição de água nos períodos de
estiagem.
 Incentivar a implantação de agroindú strias rurais comer ciais
na região, com ênfase para produtos de v alor agregado e
inovadores.
 Promover e apoiar programas massivos de trei namento e m
todos os segmentos produtivos da cadeia da fruticultura.
 Mudança de obje tivos por parte dos Sindicatos de
Trabal hadores Rurais dos municípios deste estudo,
diminuindo a forte característica de filiais da Previdência
Social e iniciando ações de conscientização dos
trabalhadores como verdadeiros produtores rurais e,
 Depoi s de resolvidos todos estes problemas funcionais das
intituições, sugere-se a Estru turação de um Arranj o

121
JOSE ADRIANO MARINI

Produtivo Local de Fruticultura na região do Salgado


Paraense.

122
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

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126
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

APENDICE

Proposições e indicações para o desenvolvimento da cadeia


produtiva da f ruticultura na região do Salgado Paraense

Os indicadore s da fruticultura no estado mostram sua potencialidade


em termos de produção e comercialização. Essa importância deve -se
tanto à capacidade de g eração de renda e emprego, q uanto ao uso das
frutas na alime ntação das populações locai s e na indústria,
especialmente de produtos ali mentícios.

No entanto, a participação paraense no merc ado nacional e


internacional de frutas é muito inferior à suas poten cialidade s, à
semelhança da participação do Brasil no comércio mundial de frutas,
que ele exporta me nos do que poderia.

Os dados sobre essa cadeia apontam crescimento na produção, para


atender a enorme demanda de seus produtos. Entretanto, como as
demandas dos mercados naci onal e internacional de frutas são
altame nte exigentes, a elevação da competitividade do estado ne sse
mercado e m expansão exige a formulação de polí ticas que permitam
sua inserção e permanência nesse mercado.

Nesse sentido, aprese nta -se nessa parte fi nal do e studo u ma análi se
das fraquezas, ameaças, forças e oportunidades da fruticultura no
Pará.

Fraquezas e ameaças da fruticultura na região do Salgado


Paraense

127
JOSE ADRIANO MARINI

Considerando-se as pri ncipais características da f ruticultura local,


pode-se apontar como pontos fracos:

a) A existê ncia de falhas de mercado, como a assimetria de informação ,


dado o baixo nível de informação dos produ tore s sobre o mercado, e
um desequilíbrio entre a oferta (inferior) e a demanda, o que
caracteriza o mercado incompl eto, com tendê ncia para se agravar;

b) Irregularidade na oferta de matéria -prima para a indústria, o que


agrava o problema de mercados inc ompletos e prejudica sua imagem
diante do mercado consu midor;

c) Alta perecibilidade dos frutos e i nexistência de armazéns


frigorificados nas proximi dades das regiões produ toras de frutas;

d) Pouco planejamento da produção, necessário para viabilizar uma


maior articulação da indústria com produtores diretos e cooperativas
proprietárias de indú strias de processamento.

e) Inadequação no processamento das frutas posto que, muitas vezes,


se observam deficiências quanto à higiene na manipulação de
alimentos e à qualidade da água utilizada, o que dificulta seu acesso
ao mercado internacional, dada a existência de barre iras sanit árias;

f) Custo elevado de insu mos para os produtores;

g) Escassez de crédito, o que agrava o problema da existência de


instalações i ndustriais com defasagem tecnol ógica ou bai xa
capacidade i nstalada e de escassez de capi tal de giro dos
empreendime ntos;

h) Insuficiência na formação de pessoas para atuar na indústria e na


gestão de empreendime ntos;

i) Assistência técnica insuficiente e pouco eficaz junto aos

128
CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

produtores.

Forças e oportunidades da fruticultura na região do Salgado


Paraense

Os pontos forte s da fruticultura regional pode m assi m ser resumidos:

a) Disponi bilidade de terras férteis e matérias -pri mas;

b)Estimulo à organização dos produtores em coope rativas, bu scando


a sistematização de competi tividade, com a melhora na qualidade dos
produtos e acess o a mercados, especialme nte no caso do abacaxi e do
maracujá, frutas em que os produtores l ocais e ncontram maior
concorrência de empresas de outros estados, por estarem a mais
tempo no mercado e melhor estruturadas;

c) Crescimento da capacidade instalada d as agroi ndústrias no estado,


o que mostra a busca pelas oportu nidades de mercado;

d) Potencial para conquistar o mercado de orgânicos, posto que os


consu midore s vêm, crescentemente, procurando alimentos mai s
seguros. Na cadeia produtiva da fruticultura tro pical, esse fator,
associado ao aumento da c onsciência ecológica dos consu midores,
vem transf ormando a agricultura orgânica, nos últimos anos, num
disputado nicho de mercado. Nele, os produtores de frutas regionais
possuem c ondições de atender as exigência s técnicas, mas ai nda se
deparam com dificuldades, especialmente de ordem financeira, para
obter a certificação orgânica.

e) Sazonalidade complementar do abacaxi, maracujá e cupuaçu, o que


aponta para rentabilidade do produtor e possi bilidade de
diversificação, ao permitir a inte nsificação da indu strialização dessas
frutas se m conc orrer com o açaí de forma direta e concomitante por

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JOSE ADRIANO MARINI

fatore s de custo, trabalho e capital ;

f) Sinalização de formalização de parcerias com as Universidades e


outras instituiçõe s de ensino e pesquisa, buscando atuar tanto na
formação de pessoas quanto na elaboração de trabalhos de pesquisa
para a cadeia.

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CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: FRUTAS DO SALGADO PARAENSE

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José Adriano Marini é Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual


Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP (1996), Mestre em Engenharia
Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2002) e
Mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável pelo Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará –
UFPA (2007), Doutor Desenvolvimento Sócio Ambiental pelo Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará
(2014). Exerceu de 2007 a 2010 a Coordenação de Arranjos Produtivos
Locais - APLs da Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e
Tecnologia do Pará - SEDECT e a docência em Agronegócio na Faculdade
de Castanhal - FCAT. Atualmente é Pesquisador da EMBRAPA na área de
Desenvolvimento Rural Sustentável da Agricultura Familiar.

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