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TEORIA CRÍTICA
UMA DOCUMENTAÇÃO
TOMO I
K .V
Publicado t. 1.
ISBN 85.273.038.9
CDD-121
-190
90-1195 -193
Telefones: 885-8388/885-6878
1990
1. Observações sobre Ciência e
Crise
(1932)
de interesses alcançaram uma agudeza tal que até uma visão mediana
pode penetrar a aparência, é que se costuma constituir um aparato
ideológico próprio com tendências autoconscientes. Numa sociedade
ameaçada pelas tensões a ela imanentes, crescem as energias orienta
das para a salvaguarda da ideologia e são afinal redobrados os meios
de preservá-la pela força. Quanto mais o Império Romano era amea
çado por tendências explosivas, mais brutalmente tentavam os impe
radores renovar o velho culto do Estado e, assim, restaurar o minado
sentimento de unidade. As épocas que se seguiram às perseguições
cristãs e ao ocaso do império estão cheias de outros terríveis exemplos
destas decorrências regularmente repetidas. Na ciência de um tal pe
ríodo, o elemento ideológico costuma aparecer menos no que ela
contém de falsos juízos do que na sua falta de clareza, na sua perple
xidade, na sua linguagem esotérica, na sua colocação dos problemas,
em seus métodos, na direção das suas análises e, sobretudo, naquilo
que ela finge não ver.
8. Atualmente, o laboratório de ciência apresenta um retrato da
economia contraditória. Esta é altamente monopolística e mundial
mente desorganizada e caótica, mais rica do que nunca e, ainda assim,
incapaz de remediar a miséria. Também na ciência surge uma dupla
contradição. Em primeiro lugar, vale como princípio que cada um dos
ssus passos tem uma base de conhecimento, mas o passo mais impor
tante, ou seja, a definição da sua tarefa, carece de fundamentação
teórica e parece entregue à arbitrariedade. Em segundo lugar, a ciên
cia está empenhada no conhecimento de relações abrangentes; porém,
é incapaz de compreender na sua vivência real a relação abrangente de
que depende sua própria existência e a direção do seu trabalho, isto é,
a sociedade. Ambos os momentos estão estritamente ligados. No fato
de iluminar todo o processo da vida social está contida a descoberta da
lei que se impõe na aparente arbitrariedade tanto dos empreendimen
tos científicos quanto dos outros; pois também a ciência, segundo a
envergadura e a direção dos seus trabalhos, é determinada não só pe
las tendências que lhe são próprias, mas também, no fundo, pelas ne
cessidades sociais da vida. A dispersão e o desperdício de energias in
telectuais que marcaram, apesar desta regularidade, o caminho da
ciência no último século e sempre foram criticados pelos filósofos
desta época, certamente não podem, tanto quanto a função ideológica
da ciência, ser dominados por mero conhecimento teórico, mas
tfio-somente pela alteração das suas condições reais na práxfe histó
rica.
9. A teoria da conexão entre a desordem cultural e as condições
econômicas e os confrontos de interesses daí resultantes nada informa
nobre o grau de realidade ou sobre a hierarquia dos bens materiais e es
pirituais. Ela se opõe, é claro, ao ponto de vista idealista de que o mun
do de veria ser encarado como produto e expressão de um espírito abso
luto, pois cia não considera o espírito como um ente separável e inde-
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