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O Theodore Dalrymple, pseudónimo de um psiquiatra e escritor britânico, vem demonstrando com as

suas obras que o ressentimento ou “sentimentalismo”, como o autor gosta de chamar, tem impregnado
tanto a esfera social como a política desde o século XVIII, graças a filósofos como Rousseau.

Tenta imaginar isto. Na antiga visão cristã, as pessoas acreditavam que o homem nascia imperfeito e
que o objectivo da sua vida era um caminho rumo à perfeição.

O Tio Rosseau estragou esta equação toda. No seu “Tratado sobre a Natureza”, o Rousseau inventa a
tese de que o homem é naturalmente bom e foi corrompido pela sociedade e pela civilização. É mais ou
menos como aquela pessoa que ouve boa música e quando começa a ir para a discoteca troca tudo por
playlists de Funk Brasileiro.

Mas esta visão do Rousseau, que parte de uma análise da origem da humanidade para a qual ele não
tinha dados minimamente exactos – Darwin, aquele senhor simpático de barbas dos livros de Biologia
aparece bem depois – minou em muito o debate intelectual posterior.

A exibição de vícios, como lhe chama o nosso Dalrymple, transformou-se em prova de maus-tratos e o
que era considerado defeito moral, tornou-se condição de vítima. Quer isto dizer, levado ao extremo,
que se tu que nos estás a ouvir desatares aí a bater nos teus colegas, o foco está menos no teu acto e
mais numa suposta condição que te levou a cometer esse acto violento.

Como descreve Dalrymple: “Nessa época, a visão cristã de que o homem nasceria imperfeito, mas
poderia e deveria buscar pessoalmente a perfeição foi primeiramente questionada e depois trocada pela
visão romântica de que o homem nascia naturalmente bom, mas era corrompido e transformado em
mau por viver numa sociedade má”. Como consequência, “a exibição de vícios tornou-se a prova de
maus-tratos; o que se considerava defeito moral se tornou condição de vítima.” O criminoso que, na
posse de uma faca, comete um crime, torna-se cada vez mais vítima a cada facada que dá. “A faca
entrou”.

E é claro que esta visão traz à forma como avaliamos os problemas sociais e como formulamos políticas
públicas um sentimentalismo nocivo. O sofrimento da pessoa, e não os seus achievements e qualidades,
passa a ser o que a distingue das restantes. Isto dá origem a uma retórica do opressor-oprimido e uma
série de conceitos sem validade científica passa a ser estudados com certificado de seriedade. Já estás a
ver onde estamos a chegar com isto, certo? Claro. Esta narrativa iliba as pessoas das suas
responsabilidades individuais e transforma tudo em problematizações.

Tens algum exemplo actual deste tipo de problematizações? Deixa aqui na caixa de comentários.

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