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TÉCNICA DE TIRO

DO
CAÇADOR

Guilherme Guimarães Ferreira

2003
CAPÍTULO 1

O CAÇADOR

1-1. GENERALIDADES

a. O presente trabalho tem por finalidade difundir conhecimentos técnicos a


respeito do tiro do caçador no âmbito das Organizações Militares do Exército
Brasileiro. Seu conteúdo fornece informações sobre o mais complexo tiro de
armas portáteis no campo de batalha.

b. O caçador é um combatente, perito no tiro com armas longas, nos


procedimentos táticos individuais e na tática dos pequenos escalões, enrijecido
física e mentalmente, que realiza fogo seletivo, a comando ou não, sobre forças
hostis, eliminando alvos escolhidos pela importância de suas funções e pela
dificuldade de serem batidos por outros meios.

c. Para exercer a função de caçador, o militar deve ser hábil em diversas


técnicas e táticas peculiares. Em função da queda da munição durante sua
trajetória, o caçador deve ser capaz de avaliar com precisão a distância para o
alvo. Para isso, faz uso da própria vista e de retículos de equipamentos óticos, tais
como binóculo e luneta de tiro. Com esses equipamentos, e pelas características
das suas missões, o caçador torna-se um importante meio de coleta de
informações e busca de alvos. O caçador prepara e ocupa posições de tiro
perfeitamente camufladas, evitando ser descoberto pelos rastreadores, caçadores
e demais meios de observação das forças inimigas. Em seus deslocamentos, é
extremamente cuidadoso, evitando deixar indícios que denunciem sua presença
na área de operações. Ele é um perito nas técnicas de camuflagem e de
progressão.

d. O presente trabalho irá abordar o que é, certamente, o aspecto que o


diferencia de outros militares: sua capacidade de atingir alvos selecionados a

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longas distâncias. Para isso, ele deve ser capaz de aplicar com perfeição os
fundamentos de tiro de armas longas, conhecer os ramos da balística, empregar
corretamente os sistemas de regulagem de tiro do fuzil e outras técnicas. O
caçador deve conhecer bem seu armamento para poder explorar ao máximo suas
potencialidades.

1-2. SELEÇÃO DE PESSOAL

a. O caçador deve possuir algumas qualidades iniciais que o diferenciam


dos demais combatentes, facilitando o processo de treinamento e formação:
(1) possuir uma boa condição física, que pode ser facilmente avaliada
tendo por base o TAF com menção mínima MB e o desempenho em exercícios no
terreno;
(2) estar apto em avaliação psicológica, direcionada para os atributos da
área afetiva como iniciativa, autoconfiança, autocontrole e persistência;
(3) possuir bom conceito com seus comandantes e um histórico
disciplinar compatível;
(4) possuir inteligência e flexibilidade de raciocínio;
(5) não possuir vícios, como o tabagismo e o alcoolismo;
(6) ter visão perfeita, com ou sem correção (sendo esta última desejável),
tendo em vista a longa distância em que seus tiros serão realizados, e para
permitir uma boa observação e detecção de alvos;
(7) ser habilidoso no terreno, conhecedor de técnicas de orientação,
progressão, sobrevivência e camuflagem;
(8) conhecedor da tática individual e das pequenas frações da Infantaria;
(9) ser excelente atirador de armas longas. Além de ter menção “E” no
teste de aptidão de tiro (TAT), a seleção do caçador pode ser feita através de
competições desportivas em todos os escalões. Elas permitem verificar não só a
boa execução dos fundamentos de tiro, mas também a habilidade em regular o
armamento e o controle emocional do atirador em ambientes de tensão
provocados pelas competições.

ARTIGO I

EMPREGO TÁTICO

1-3. GENERALIDADES

a. Este artigo tem por finalidade expor características do emprego do


caçador, permitindo obter informações gerais sobre suas capacidades e
limitações. Desta forma, o emprego correto da técnica de tiro, a ser apresentada
nos capítulos a seguir, será facilitada.

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1-4. A MISSÃO DO CAÇADOR

a. Missão principal - executar tiros precisos, a longa distância, em alvos


inimigos selecionados, sejam de oportunidade, sejam planejados. Para tal, o
caçador deve eliminar ou neutralizar:
(1) os oficiais, os comissários políticos, os “comandantes” de forças
irregulares e os sargentos inimigos;
(2) os guias e rastreadores inimigos e seus cães;
(3) os atiradores de armas coletivas e o pessoal de comunicações (rádio
operadores e outros) inimigos;
(4) os chefes e motoristas de blindados inimigos;
(5) os pilotos de helicópteros inimigos, pousados ou em vôo pairado;
(6) os observadores avançados;
(6) os caçadores inimigos;
(7) na ausência dos alvos acima, eliminará ou neutralizará qualquer
elemento hostil.
Os alvos acima relacionados não se encontram em ordem de prioridade.
Esta é definida pela situação tática e missão específica atribuída ao caçador.

c. Missão secundária - buscar informes sobre o inimigo e sobre o


andamento do combate, relatando-os ao escalão superior, o mais breve possível.
Para cumprir esta missão, o caçador emprega sua capacidade de infiltrar-se em
área ocupada pelo inimigo, nela permanecendo sem ser visto. O caçador pode
monitorar regiões de interesse para a inteligência (RIPI), realizar reconhecimentos
de pontos ou de pequenas áreas e vigiar um setor, uma via de acesso ou um eixo.

1-5. PRINCÍPIOS BÁSICOS DE EMPREGO DO CAÇADOR

A seguir, estão relacionados nove princípios básicos de emprego, que têm


como objetivo identificar os fatores e requisitos fundamentais para que se possa
combater como caçador ou empregar corretamente este combatente
especializado dentro dos limites da técnica de tiro de seu equipamento.

a. O caçador atira em alvos selecionados - o caçador não atira


indiscriminadamente contra qualquer alvo. Procurará sempre engajar aqueles
alvos que causarão grande transtorno ao inimigo, se forem abatidos, feridos ou
danificados no transcurso do combate.

b. O caçador deve furtar-se da observação inimiga e só atira de uma


distância segura - quando o caçador disparar contra o inimigo, estará
denunciando a sua presença e se for visto atrairá sobre si fogos de diversos tipos
de armas (“fogo atrai fogo”) e a ação de patrulhas e rastreadores, que tentarão
eliminá-lo. Por este motivo deverá estar perfeitamente camuflado, ser capaz de
progredir sem ser identificado e saber preparar uma posição de tiro que se integre
perfeitamente ao terreno adjacente. O caçador é um especialista em camuflagem.
Para aumentar a segurança, o caçador deve evitar engajar alvos que estejam a

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menos de 350m de distância. Quanto mais distante do inimigo estiver a posição de
tiro, maior dificuldade ele terá para localizar o caçador.

c. O caçador trabalha em dupla com o observador - os caçadores são


treinados para combater integrando uma equipe de dois homens, que se apoiam
mutuamente, executando rodízios das funções mais cansativas, como a
observação de um setor utilizando luneta ou binóculo. Auxiliam um ao outro na
avaliação de distâncias, identificação de alvos, aferição da velocidade e direção do
vento, preparação e camuflagem da posição de tiro e a eliminação de indícios. O
observador, ainda, auxilia o caçador na observação e correção do tiro, por
intermédio do acompanhamento do “traço” que o projétil descreve em sua
trajetória. O observador, armado com um fuzil automático, provê a defesa
aproximada da dupla, aumentando a segurança e o poder de fogo.

d. Sempre que possível, o caçador atua protegido pela tropa amiga -


ao identificar a presença do caçador, o inimigo fará grande empenho para eliminá-
lo. Tal empenho se justifica pelos transtornos provocados por este combatente tais
como: a possibilidade de perder-se efetivos importantes e o efeito psicológico
(medo) gerado na tropa, uma vez que qualquer um pode ser abatido quando
menos espera. Para descobrir a posição do caçador e eliminá-lo, o inimigo
empregará patrulhas reforçadas por rastreadores e cães, bem como os mais
diversos e sofisticados meios de detecção visual e eletrônica. Se a posição do
caçador for identificada, o inimigo o baterá com os fogos de todo o armamento
disponível. Pelos motivos acima, o caçador deverá atuar protegido pela tropa
amiga, seja enquadrado em pequenas frações, o que geralmente não é possível,
seja por estar dentro do alcance do apoio de fogo dos morteiros orgânicos da
Unidade ou da Artilharia da Brigada.

e. O caçador deve possuir fuzil, munição e equipamentos específicos -


o desempenho do caçador está vinculado à precisão do seu fuzil e da munição
que utiliza, bem como das características de sua luneta e demais itens de seu
equipamento. São estes fatores que possibilitam a um bom atirador de fuzil
engajar alvos a longas distâncias. Entretanto, não é apenas o equipamento, mas
sobretudo o treinamento que torna o bom atirador de fuzil um caçador. Note-se,
ainda, que se o caçador estiver armado com um fuzil e munição comuns, a
eficácia de seus tiros cairá a um nível incompatível com o desempenho que dele
se espera.

f. O caçador é o maior conhecedor de suas próprias capacidades,


limitações e possibilidades de emprego e deve ser ouvido em relação a isto,
quando a ele se atribuir alguma missão - cada indivíduo tem suas próprias
características físicas e psicológicas que podem ser modificadas, até um certo
ponto, por intermédio do treinamento. É fundamental ouvir o caçador quando se
for empregá-lo em combate, de modo que ele possa opinar sobre o que lhe for
determinado. Certamente, ele é o militar mais capacitado a assessorar o
comandante quando da atribuição de determinada missão, participando de seu
planejamento.

1-4
g. Em determinadas situações, a única defesa contra o caçador
inimigo é o caçador amigo - o caçador adequadamente treinado foi submetido a
uma preparação específica, a qual lhe permite cumprir com eficiência as missões
que lhe são atribuídas. É, justamente, esta preparação que possibilita ao caçador
amigo a visualização e o melhor entendimento das ações que o seu similar inimigo
possivelmente irá realizar. Deste modo, pode-se sair de uma expectativa
defensiva, passando-se a uma antecipação de medidas ofensivas, quando se for
desencadear operações contra-caçador. Haverá, também, situações nas quais
“regras de engajamento” dificultarão ou impedirão o emprego de determinadas
armas contra o caçador inimigo. Nestes casos, será preciso empregar o caçador
amigo, como último recurso, para fazer fogo altamente seletivo contra ele, a fim
de eliminá-lo ou neutralizá-lo. O caçador amigo participa e assessora o comando
no planejamento e execução das medidas de contra-caçador.

h. O ponto focal do emprego do caçador é saber controlar as suas


ações, sem retirar-lhe a liberdade de ação e a flexibilidade - o caçador não
atua como um franco atirador, desvinculado da operação que estiver sendo
desenvolvida pela Unidade a que pertence. Ele deverá estar adequadamente
informado sobre a situação tática e sobre a intenção do comandante. Deve
receber ordens claras sobre a missão que irá cumprir e sobre a forma como está
sendo empregado (ação de conjunto ou reforço). Ao mesmo tempo, é importante
manter-se um elevado grau de liberdade de ação e flexibilidade para o caçador, de
modo que ele possa usar ao máximo sua capacidade de eliminar alvos
selecionados a longa distância, além de agir como um elemento de inteligência.
Por este motivo, deve-se informar ao caçador a finalidade da missão e a intenção
do comandante, possibilitando que ele atue de acordo com as suas características
peculiares.

i. Em princípio, os caçadores começam a atuar de 24 (vinte e quatro) a


48 (quarenta e oito) horas antes do início da operação tática, na qual a
Unidade a que pertencem estiver empenhada - para estarem em condições de
cumprir as suas missões, principal e secundária, é importante que os caçadores
de uma Unidade possam realizar uma infiltração absolutamente sigilosa e que
ocupem boas posições finais de tiro, perfeitamente localizadas, camufladas e
adequadamente preparadas, compatíveis com o tempo de duração da operação
tática que será desenvolvida. Por isto, os caçadores serão lançados com uma
antecedência tal que lhes permita realizar estas ações preliminares sem atropelo,
levando em conta, ainda, que deverão conduzir armas, munições, granadas,
roupas ghillie, binóculos, rádios, ferramentas de sapa e rações que, pelo seu peso,
dificultarão a realização de deslocamentos rápidos.

1-6. FUNÇÕES ESPECÍFICAS DOS ELEMENTOS DA EQUIPE

É essencial que haja uma perfeita comunicação e entrosamento entre os


integrantes da equipe de caçadores

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a. O Caçador tem as seguintes atribuições:
(1) comandar a equipe;
(2) escolher e preparar uma posição de tiro protegida, camuflada e que
possibilite o cumprimento da missão da equipe;
(3) preencher o roteiro de tiro;
(4) revezar com o observador na observação do setor de tiro;
(5) localizar e identificar o alvo;
(6) avaliar a distância dos alvos;
(7) ajustar o aparelho de pontaria para atingir o alvo identificado;
(8) executar os tiros contra o alvo identificado;
(9) preparar-se para novos disparos, se necessário;
(10) realizar a “esterilização” da posição no caso de retraimento.

b. O Observador tem as seguintes atribuições:


(1) proteger a dupla nos deslocamentos e na posição de tiro;
(2) preparar a sua posição;
(3) auxiliar na avaliação de distâncias;
(4) revezar com o caçador na observação do setor de tiro;
(5) calcular os efeitos das condições climáticas na trajetória balística;
(6) informar os dados de regulagem para o caçador;
(7) observar o tiro do caçador através da luneta;
(8) avaliar o resultado do tiro;
(9) auxiliar na camuflagem e “esterilização” da posição.

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CAPÍTULO 2

SISTEMA DE ARMAMENTO
2-1. GENERALIDADES

a. As exigências das missões do caçador fazem com que seus


equipamentos sejam específicos e peculiares. Por isto, o armamento, a munição,
e demais acessórios que utiliza devem ser perfeitamente dimensionados e
adequados ao trabalho que realiza, funcionando de maneira integrada, como um
sistema, cujos principais componentes serão apresentados a seguir.

b. O conhecimento detalhado do sistema faz-se indispensável para seu


correto uso pelo caçador. Inspeções freqüentes e uma boa manutenção permitirão
um perfeito desempenho e longa vida útil. Torna-se imprescindível que exista um
elo entre o caçador e seu sistema, com o desenvolvimento de confiança no
material empregado, de forma a permitir seu uso em todas as suas
potencialidades.

ARTIGO I

ARMAMENTO

2-2 - FUZIL

a. Para cumprir sua missão principal, o fuzil do caçador deve possibilitar a


execução de tiros precisos a longa distância.

b. O funcionamento da arma pode ser tanto de repetição, como semi-


automático. Observa-se que, de uma forma geral, armas de repetição são mais
aceitas nos exércitos do mundo ocidental.

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c. A escolha por amas de repetição, em tese, de maior precisão no tiro,
pode ser justificada pelos seguintes argumentos:
(1) toda força dos gases propelentes é utilizada para impulsionar o projétil
(nos sistemas semi-automáticos existem perdas e variações devido a tomada de
gases no cano e/ou o recuo das peças móveis);
(2) maior confiabilidade (todas as etapas do funcionamento são
realizadas pela ação muscular do atirador);
(3) maior facilidade de fabricação e manutenção;
(4) menor custo.
A principal desvantagem é o menor poder de fogo, mas, salvo em missões
específicas, a cadência de tiro, não é fator determinante em relação a eficácia do
caçador, já que, na maioria das vezes, ele só terá a chance de executar um único
disparo.

d. A precisão de um fuzil de caçador deve permitir um grupamento de, no


máximo, uma polegada (2,5 centímetros, aproximadamente) de diâmetro a uma
distância de cem metros. Isto representa um minuto de ângulo, unidade de medida
de ângulo consagrada para o trabalho correções no tiro do caçador. Com esta
dispersão, um fuzil de precisão, em condições ideais de emprego, pode atingir
uma silhueta humana a distâncias de até oitocentos metros.

e. O cano, normalmente pesado e mais espesso do que em fuzis


convencionais, deve ser flutuante. Isto significa que nenhuma parte da arma, em
especial a coronha, deve ter contato com ele. Desta forma, suas vibrações não
sofrem variações significativas de um disparo para outro, permitindo uma balística
interna e externa mais constante ao projétil. A fixação do conjunto cano-caixa na
coronha é normalmente feita por dois parafusos fixados com torques de aperto
específicos, que auxiliam também a manter este padrão de vibração.

f. A vida útil de um cano (referente ao calibre 7,62x51mm) é, em média,


cinco mil tiros. Isto não significa que a arma deixará de funcionar após atingir este
limite, mas existe a possibilidade dela não atender mais aos requisitos de precisão
citados anteriormente. Esta vida limitada do cano deve-se a elevada velocidade,
temperatura e pressão dos gases propelentes, que provoca erosão e corrosão
suficientes para gradualmente diminuir as características de precisão da arma.

g. Quanto ao calibre, diversos são utilizados no tiro do caçador. O calibre


mais difundido, que atende aos requisitos do emprego do caçador, tipicamente
militar, é o .308 Win (7,62 x 51mm). Este calibre alia precisão e facilidade logística
para sua obtenção.

h. Além da qualidade e das características do cano, fatores como a


munição, as condições atmosféricas, condições de emprego, a técnica de tiro do
caçador, dentre outros, também devem ser considerados.

i.O gatilho deve ser de excelente qualidade, possuindo suas fases de


acionamento bem definidas, precisas e justas. Deve permitir ainda, se possível,
regulagem de peso com valores entre 1000 e 3500 gramas. O gatilho muito leve

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pode não ser seguro. O mais pesado dificulta a técnica do acionamento devido a
força que o caçador deve imprimir na tecla do gatilho.

j. A coronha deve ser de material resistente e livre de possíveis


deformações, suficiente para suportar as intempéries atmosféricas e as mais
rigorosas condições de emprego em terrenos desfavoráveis (selva, deserto e
montanha). A madeira das coronhas vem sendo progressivamente substituída por
combinações de materiais compósitos que utilizam fibra de vidro e/ou kevlar.
Visando um melhor ajuste às características particulares de cada caçador, deve,
ainda, possuir ajuste em elevação no apoio da cabeça e comprimento da coronha
na soleira da arma. O desenho deve ser anatômico, permitindo facilidade na
condução do fuzil (normalmente o peso é superior ao dos fuzis convencionais), e
tomada das posições de tiro. Deve possuir encaixes para fixação de bipé e zarelho
(para o tiro com bandoleira). O encaixe entre a coronha e a caixa da culatra deve
ser preciso, evitando variações e folgas indesejáveis nos conjuntos.

Fig 2-1.Conjuntos do Fuzil .308 IMBEL – AGLC

ARTIGO II

SISTEMAS DE PONTARIA

2-3. GENERALIDADES

a. As lunetas são dispositivos óticos, utilizados para observação ou pontaria


do armamento sobre o alvo. O sistema de armamento deve possuir também
aparelhos de pontaria metálicos para serem utilizados caso a luneta torne-se
ineficaz.

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b. O conjunto luneta é parte fundamental do sistema de armamento do
caçador. A qualidade e robustez da luneta, seus anéis de fixação e da base são
tão importantes para a precisão do armamento quanto os demais conjuntos.

2-4. PRINCIPAIS CARATERÍSTICAS

a. As características das lunetas em relação à sua qualidade ótica são o


aumento, a clareza de imagem e o brilho.

b. O aumento ou ganho pode ser fixo ou variável. Para o emprego típico do


caçador e as distâncias em que os disparos são realizados, favorece seu trabalho
uma luneta com poder de aproximação fixo em torno 6x a 10x, permitindo
simplicidade na utilização dos recursos da luneta, perfeita observação e pontaria.

c. Os ajustes da luneta permitem obter nitidez no foco do alvo e retículo.


Devem, ainda, possibilitar correções de direção e elevação. Tais correções devem
ser feitas em botões acionados com os dedos da mão, desprezando o uso de
ferramentas, o que traz ao caçador mais presteza em suas ações.

CORREÇÃO EM
ELEVAÇÃO
1 CLIQUE = 1
MINUTO DE
ÂNGULO

CORREÇÃO
FOCO LATERAL
DA IMAGEM 1 CLIQUE = ½
DO ALVO MINUTO DE
ÂNGULO

Fig 2-2.Botões de correção da luneta Leupold Mark 4 M1

d. A paralaxe é o desvio que ocorre quando a imagem do alvo não está


posicionada sobre o plano focal do retículo da luneta. Como qualquer desvio
angular potencializa-se a medida que as distâncias aumentam, a luneta deve
possuir o mínimo de erro de paralaxe.

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e. Anéis de fixação devem permitir que a luneta esteja bem fixa na base.
Qualquer variação mínima que ocorra entre estas partes compromete o tiro, as
correções e “zeros”, tornando o sistema inoperante para a missão do caçador.

Parafusos dos anéis de fixação

Fig 2-3. Anéis de fixação da luneta Leupold Mark 4 M1

f. Os parafusos dos anéis de fixação possuem torque específico de aperto,


da mesma forma que os dois parafusos que unem o conjunto cano-caixa na
coronha. Todos estes parafusos devem ser freqüentemente verificados quanto à
torque exato, através de uma ferramenta denominada torquímetro.

ANÉIS DA LUNETA

BASE DA LUNETA

Fig 2-4. Conjunto da luneta Leupold Mark 4 M1

g. Existem diversos tipos de retículos com características específicas para


a missão a ser cumprida. O caçador necessita de um retículo que lhe facilite a
pontaria, possibilite a avaliação da distância para o alvo e, ainda, possa realizar

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correções em elevação e direção em curto espaço de tempo . Estes requisitos
apontam para o retículo mil-dot, desenvolvido inicialmente para suprir a
necessidade dos snipers do Corpo de Fuzileiros Navais Americano no final dos
anos 70. Este retículo apresenta pontos, distanciados entre si em um milésimo.
Utilizando seus pontos de forma precisa, o caçador treinado obtém uma avaliação
de distância para o alvo com um erro inferior a 5 % , o que não é suficiente para
interferir no local de impacto a ponto de errar o alvo. Com este retículo, o caçador
pode, ainda, estimar as correções laterais e de elevação para tiros subseqüentes,
inserir precessões para alvos móveis e realizar compensações de pontaria em
tempo restrito para alvos a diferentes distâncias ou no caso de ação do vento.
Estes assuntos serão abordados oportunamente.

1 MIL ENTRE OS
CENTROS DE
CADA PONTO

5 MIL

Fig 2-5. Retículo mil-dot

h. O sistema deve possuir também aparelhos de pontaria metálicos, com a


finalidade de suprir uma possível limitação funcional do conjunto da luneta. Estes
devem ser colocados na arma, caso necessário. A rachadura ou quebra dos anéis,
a folga de seus parafusos, problemas com a luneta, dentre outros, fazem com que
os ajustes iniciais sejam perdidos, necessitando nova regulagem para determiná-

2-6
los. Nestes casos, aparelhos de pontaria convencionais podem ser de grande
valia.

2-7
CAPÍTULO 3
FUNDAMENTOS DE TIRO

3-1. GENERALIDADES

a. O caçador deve reunir, dentre outras qualidades, um excepcional

domínio dos fundamentos de tiro. A complexa técnica do tiro do caçador

inicia-se com o requisito básico de ser um bom atirador. Diversos são os

fatores que dificultam o trabalho de tiro deste militar, principalmente, devido

às distâncias que ele dispara. O desconhecimento ou a falta de domínio dos

fundamentos de tiro não podem somar-se a estas dificuldades.

b. O tiro preciso é um conjunto de ações muito simples e interligadas.

Os fundamentos do tiro são aspectos básicos que devem ser perfeitamente

compreendidos neste processo, sendo apresentados na seqüência natural das

ações para realização de um disparo com o fuzil. Se o caçador executá-los

corretamente, terá maior êxito na realização de tiros em alvos de treinamento e


combate. Os fundamentos de tiro são a posição estável, a pontaria, o controle

da respiração e o acionamento do gatilho. Todos os fundamentos devem ser

executados de forma integrada. O caçador deve utilizar a estrutura óssea do

corpo como apoio, procurando amenizar a fadiga precoce dos músculos

envolvidos na posição.

c. Os princípios que regem os fundamentos de tiro empregados pelo


caçador são similares aos ensinados aos combatentes individuais armados de
fuzil. No entanto, a aplicação destes conhecimentos difere entre eles, pois o
caçador deve realizar tiros altamente precisos a longas distâncias. Somente os
principais aspectos dos fundamentos serão abordados, com especial atenção para
as diferenças entre o tiro convencional de fuzil e o tiro do caçador.

d. A seguinte terminologia será utilizada para facilitar o entendimento dos


fundamentos de tiro:
3-1 (1)Cavado do ombro - região côncava localizada entre o ombro e o
peitoral;
(2) Dedos da mão - polegar, indicador, médio, anular e mínimo;
(3) Descanso do gatilho - pequeno deslocamento do gatilho que não
interfere na ação de desengatilhamento da arma (folga longitudinal do gatilho);
(4) Falange - segmento dos dedos: distal (da extremidade), medial (do
meio) e proximal (mais próxima à palma da mão);
(5) Lado da mão auxiliar - é o lado do corpo correspondente à mão
auxiliar;
(6) Lado da mão que atira - é o lado do corpo correspondente à mão que
atira;
(7) Mão que atira - mão que é usada para acionar o gatilho;
(8) Mão auxiliar - mão que não atira;
(9) Punho da arma - parte da arma que é segura pela mão que atira;
(10) Tiro em seco – consiste em disparar a arma, sem munição, usando
ou não cartuchos de manejo, aplicando todos os fundamentos do tiro;
(11)“V” da mão – é a área da palma da mão auxiliar onde o fuzil fica
apoiado. O polegar, em lado oposto aos demais dedos, forma uma curva
semelhante à letra “V”.

e. Os fundamentos de tiro de fuzil serão detalhados nos artigos a seguir.


ARTIGO I

POSIÇÃO ESTÁVEL

3-2. DEFINIÇÃO

a. É o sistema formado pela empunhadura e a posição de tiro, objetivando


a menor oscilação do conjunto arma-caçador. Sempre que possível, o caçador
deverá procurar utilizar qualquer tipo de apoio para a realização do tiro, pois, além
de permitir uma posição mais estável, poderá servir também de abrigo. Vale
ressaltar que, em algumas situações, o caçador não contará com apoios. Para
manter uma boa estabilidade, qualquer que seja a posição de tiro, é necessário
uma força muscular que sustente o peso da arma e tenha como resultante a
firmeza da arma e da posição de tiro.

3-3. CONCEITOS DA POSIÇÃO ESTÁVEL

a. Arco de movimento – são movimentos constantes do corpo do caçador


que influenciam o grupamento de tiro e são notados durante a pontaria.

b. Estabilidade da posição – situação ocorrida quando, ao assumir a


posição de tiro, o caçador possui um arco de movimento reduzido.

c. Firmeza – é qualquer ação exercida sobre a arma ou musculatura que


resulte em estabilidade. 3-2
d. Contração – é a força muscular exercida sobre a arma ou musculatura
que resulte em instabilidade e fadiga precoce, respectivamente.

e. Ponto natural de pontaria – Ao assumir naturalmente a posição de tiro,


o fuzil do caçador aponta para uma determinada direção. Esta direção apontada
determina o ponto natural de pontaria. Caso este ponto não coincida com o alvo, o
caçador deve corrigir a posição de tiro para que isto aconteça. Se o caçador forçar
a posição de tiro na direção do alvo, diminuirá a estabilidade da posição bem
como a probabilidade de acerto. Quanto mais freqüente for a prática do caçador,
melhor será a capacidade de fazer com que o ponto natural de pontaria seja a
região do alvo ao assumir a posição de tiro. Para verificar o ponto natural de
pontaria basta fechar o olho diretor e relaxar o corpo. Quando o caçador sentir que
está com uma boa posição e relaxado, ele abre o olho e observa onde a arma está
apontando. Se a posição estiver correta, deverá ser o centro do alvo. Esta
verificação deve ser feita freqüentemente, mesmo por caçadores experientes.

3-4. EMPUNHADURA

É o ajuste das partes do corpo à arma, proporcionando firmeza ao


conjunto, facilitando a realização da pontaria e o correto acionamento do gatilho.

a. Pontos de contato do corpo do caçador com a arma


(1)a mão que atira segura o punho da arma e pressiona o gatilho;
(2) a mão auxiliar atua nos sacos de areia (elevando ou abaixando a
soleira para apoiar o fuzil, no caso da posição deitada com apoio),
(3) o cavado do ombro recebe a chapa da soleira;
(4) a cabeça do caçador pende sobre a coronha do fuzil.

Fig 3-1. Pontos de contato na empunhadura

b. O caçador deve buscar


3-3 (1) não comprimir excessivamente a arma com a mão auxiliar, pois
somente a força muscular é suficiente para dar firmeza à posição estável;
(2) manter o fuzil firme no cavado do ombro;
(3) a cabeça pende ereta sobre o delgado da coronha;
(4) a mão que atira empunha a arma com firmeza.
Fig 3-2. Detalhes da empunhadura

3-5. POSIÇÕES DE TIRO

a. Generalidades - a posição de tiro deverá propiciar ao caçador


estabilidade e conforto (este último quando possível), possibilitando assim uma
correta empunhadura e pontaria. Ela reduzirá o arco de movimento do caçador,
permitindo a ele melhores condições para realizar um acionamento correto. A
diminuição do arco de movimento é conseqüência, portanto, da posição de tiro e,
principalmente, do treinamento constante. A escolha da melhor posição de tiro, ou
uma variação desta, será feita em função da situação tática, do terreno, do inimigo
ou dos meios disponíveis para apoio e abrigo.
O caçador deve procurar relaxar ao máximo seu corpo. A contração
muscular gera oscilação da arma e cansaço, indesejáveis para uma boa técnica
de tiro. A oscilação gera ansiedade e inibe o acionamento correto do gatilho.
Se o caçador tomar sua posição de tiro corretamente e obtiver um bom
relaxamento corporal, pela luneta da arma ele estará visando o ponto natural de
pontaria. Ele deve fazer com que este ponto natural de pontaria coincida com o
centro do alvo. Caçadores iniciantes, ao assumir uma posição de tiro, trazem a
pontaria da arma para o alvo utilizando força muscular, saindo do ponto natural de
pontaria. O arco de movimento que a arma apresenta aumenta e o salto da arma
após o tiro torna-se irregular. Se o caçador disparar forçando a arma na direção do
alvo, ao acionar a tecla do gatilho, seus músculos contraídos naturalmente
relaxam e a arma tende a movimentar-se para o ponto natural de pontaria. O
problema é que o início deste movimento ocorre quando o projétil ainda está3-4 se
deslocando dentro do cano do fuzil, fazendo com que o salto e o local de impacto
variem consideravelmente, sem explicação aparente.
Qualquer que seja a posição de tiro, nenhuma parte do cano pode estar em
contato com outros materiais ou superfícies, o que prejudicaria a harmonia e
constância da vibração do cano.

b. Posição de tiro deitada e variações - naturalmente, o caçador deve


atirar de uma posição de tiro que ofereça o maior apoio possível e uma silhueta
reduzida à observação inimiga. Conseqüentemente, a posição de tiro deitada e
suas variações devem ser assumidas sempre que possível. Nesta posição, o
corpo do caçador deve estar alinhado com o cano da arma para diminuir a silhueta
e otimizar o controle do salto. A posição deitada com apoio pode utilizar vários
suportes, como por exemplo:
(1) mochila (corpo ou a base da armação)
Fig 3-3. Posição deitada com apoio
no corpo da mochila

Fig 3-4. Posição deitada com apoio na armação da mochila

(2) bornal de assalto,


(3) sacos de areia,
(4) bipé da arma,
3-5

Fig 3-5. Posição deitada com apoio do bipé da arma

(5) tripé, bipé e forquilha improvisados.


Fig 3-6. Posição deitada com apoio de tripé improvisado

Quando não for possível apoiar, o caçador deve assumir a posição deitada
sem apoio, que possui relativa estabilidade.

Fig 3-7. Posição deitada sem apoio

Havendo disponibilidade, o caçador deve fazer uso da bandoleira,


acessório que pode tornar a posição tão estável quanto se estivesse apoiada.
Para isso, é necessário um bom treinamento nestas condições.
Fig 3-8. Posição deitada com banboleira

A bandoleira deve ser fixada por uma das alças ao zarelho anterior. A outra
alça envolverá o braço (do lado da mão auxiliar), apertando-o somente o suficiente
para que ela não escorregue. A bandoleira passa por trás da mão auxiliar (que
estará empunhando a coronha), até fixar-se no zarelho.

3-7

Fig 3-9. Detalhe da fixação da bandoleira na


posição deitada
c. Posição de tiro ajoelhada – nesta posição, com muito treinamento,
também pode-se chegar a uma pequena oscilação. É uma posição de boa
estabilidade, baseada na correta distribuição do peso do conjunto arma-caçador. A
posição pode ser assumida sem apoio ou com o auxílio da bandoleira, sendo esta
última um pouco mais alta, caso o terreno ou a vegetação não permita a primeira.

Fig 3-10. Posição ajoelhada sem apoio

3-8

Fig 3-11. Posição ajoelhada com bandoleira

d. Posição de tiro de pé – esta posição de tiro deve ser evitada e utilizada


somente como último recurso, já que, de todas, é a que oferece menor apoio e
estabilidade. Ela pode ser tomada com apoio horizontal ou vertical. Em última
hipótese, poderá ainda ser sem apoio.
Na posição com o apoio horizontal, o caçador coloca sua mão auxiliar no
apoio. Nela a coronha da arma será apoiada. A soleira deve estar firme ao ombro.
O corpo fica levemente inclinado para frente.

Fig 3-12. Posição de pé com apoio horizontal


Já no apoio vertical, a palma da mão auxiliar encosta-se ao anteparo. A
coronha do fuzil se apóia na região entre o dedo indicador e polegar. O braço da
3-9
mão auxiliar permanece estendido. A perna que está a frente (do lado da mão
auxiliar) é levemente flexionada, enquanto a outra mantém-se estendida. Desta
forma, o peso do corpo tende a se apoiar na mão auxiliar.
Fig 3-13. Posição de pé com apoio vertical

A posição de pé sem apoio é idêntica à convencional, podendo o caçador


utilizar-se de anteparos como árvores e paredes.

Fig 3-14. Posição de pé (sem apoio)

3-10
ARTIGO II

PONTARIA

3-6. GENERALIDADES

a. A pontaria é o fundamento de tiro que faz com que o caçador direcione


sua arma para o alvo.

b. Apontar para o alvo significa alinhar os aparelhos de pontaria (miras


metálicas ou luneta de tiro) do fuzil corretamente com o alvo.

c. O ser humano possui um de seus olhos com melhor capacidade de


apontar que o outro, denominado olho diretor. Este, sempre que possível, deve ser
utilizado para realizar a pontaria, desde que seja do mesmo lado que o caçador
prefira atirar em função da sua habilidade motora.

d. Caso este lado não seja correspondente ao olho diretor, o caçador deve
escolher sua posição de tiro de acordo com o lado que possui mais coordenação
para disparar, não utilizando o olho diretor para a pontaria.
e. A pontaria sempre será realizada no centro do alvo, por ser o local onde
há maior probabilidade de acerto devido à massa exposta e por ser região vital do
corpo humano.

f. A posição da cabeça, como citado anteriormente, é muito importante


para a consistência da precisão dos tiros. Ela deve estar bem apoiada na coronha
da arma e posicionada o mais verticalmente possível, permitindo uma boa visão
da ocular da luneta. A posição incorreta da cabeça provoca cansaço nos músculos
que movimentam os olhos, causando distorções na pontaria.

3-7. ELEMENTOS DA PONTARIA

a Distância para a ocular - a distância entre o olho do caçador e a ocular


deve ser sempre a mesma, permitindo a observação perfeita, sem sombras, das
lentes e dos retículos. Esta distância é de aproximadamente 7 centímetros, com
pequena variação de caçador para caçador.

3-11

Fig 3-15. Distância do olho para a ocular da luneta de tiro


b. Linha de mira - na luneta de tiro, a definição das bordas da ocular e a
clareza dos retículos representam a linha de mira correta. Isto equivale ao
alinhamento dos aparelhos de pontaria (linha de mira) do fuzil com miras
metálicas. O erro mais comum é não alinhar corretamente o olho diretor à luneta,
formando sombras na ocular. Este erro provoca uma variação angular entre a
luneta e o cano da arma, deslocando o tiro para o setor oposto ao da sombra,
prejudicando a pontaria e a precisão do tiro do caçador.

Fig 3-16. Linha de mira

3-12
Aparelho
de
pontaria
metálico

Ponto de impacto
Linha
de mira
correta

Ponto de impacto

Linha
de mira
Luneta de correta
tiro

Fig 3-17. Linha de mira com aparelho de pontaria metálico


(maça tipo poste) e luneta de tiro

3-13
c. Linha de visada - linha imaginária que se constitui no prolongamento da
linha de mira até o alvo.
Fig 3-18. Linha de visada

Luneta de tiro

Aparelho de pontaria metálico

Fig 3-19. Linha de visada com luneta de tiro e aparelho de pontaria


metálico (maça tipo poste)

d. Ponto de pontaria dos retículos - o local mais fácil de se fazer 3-14


a
pontaria é no cruzamento dos retículos vertical e horizontal. Somente em
situações específicas o caçador poderá usar outros pontos para apontar. O ponto
de pontaria no alvo deverá ser o centro do tronco, desprezando-se a cabeça.
ARTIGO III

CONTROLE DA RESPIRAÇÃO

3-8. FUNDAMENTOS DO CONTROLE DA RESPIRAÇÃO

a. Durante o ciclo respiratório, entre uma expiração e a próxima inspiração,


existe uma pausa respiratória natural, momento em que o diafragma está
totalmente relaxado.

b. Se o caçador respirasse durante a execução do tiro, sua arma se


movimentaria constantemente, na direção 1/7 horas da pontaria (no caso do
caçador destro).

c. Um ciclo completo de respiração dura de 4 a 5 segundos. Inspirar e


expirar o ar dos pulmões leva de 2 a 3 segundos. Há, portanto, uma pausa
respiratória de aproximadamente 2 segundos entre o final da expiração e o início
da próxima inspiração. Este é o momento em que a musculatura envolvida na
respiração está totalmente relaxada.

d. Esta pausa respiratória pode ser ampliada a até aproximadamente 8


segundos. Durante o prolongamento da pausa respiratória o tiro deve ser
disparado.

e. Esta pausa não pode gerar desconforto ao caçador. Se ele demorar


demais para disparar, o organismo sentirá a falta de oxigênio, provocando reações
fisiológicas indesejáveis, como movimentos involuntários do diafragma e
taquicardia. O caçador perde, então, sua capacidade de manter-se concentrado e
sua vista fica cansada, com distorções na pontaria.

f. O processo do tiro, perfeitamente coordenado com os demais


fundamentos, é extremamente simples, devendo levar aproximadamente 5
segundos após o início da pausa respiratória para que o tiro saia. A respiração
deve ocorrer em coordenação com a pontaria e o acionamento do gatilho.

g. Caso o caçador tenha que realizar tiros subseqüentes, ele deve


prolongar a pausa entre eles ou, necessitando de ar, respirar rapidamente e
continuar os disparos.

3-15
Fig 3-20. Controle da respiração

ARTIGO IV

ACIONAMENTO DO GATILHO

3-9. FUNDAMENTOS DO ACIONAMENTO DO GATILHO

a. Durante o acionamento, o caçador deve ter em mente: manter a posição


estável, buscar a linha de visada, prender a respiração e aumentar, suave e
progressivamente, a pressão na tecla do gatilho até momentos após o disparo. O
acionamento pode ser lento ou rápido (dependendo da situação), mas sempre
deve ser progressivo. Isto significa que o caçador aumenta a força do dedo
indicador na tecla de forma gradual, sem arranques ou variações abruptas neste
curso. Desta forma, o tiro deve sair naturalmente. Isto não quer dizer que ele não
saiba o momento aproximado do disparo. Caçadores treinados conhecem
perfeitamente seu gatilho para saber em que ponto o acionamento se encontra,
porém, não interferem no processo com ações prejudiciais. Simplesmente, fazem
com que o tiro seja disparado no momento esperado.

b. Independentemente da posição de tiro e do arco de movimento que sua


arma descreve, o caçador nunca deve comandar o tiro. Mesmo que a oscilação
seja ruim, é melhor acionar corretamente do que ter uma oscilação pequena e
comandar o momento do disparo.

c. O dedo indicador toca a parte central da tecla do gatilho com a região


entre a parte média da falange distal e a sua interseção com a falange medial.

3-16
d. O sentido da força não deve ter vetores laterais. É importante não alterar
a firmeza da empunhadura durante a compressão do gatilho, ou seja, o
movimento do indicador deve ser totalmente independente da empunhadura,
mantendo-se, em conseqüência, a posição estável sem desfazer a pontaria.

CORRETA INCORRETA INCORRETA


Fig 3-21. Sentido da força do acionamento

3-10. ERROS NO ACIONAMENTO DO GATILHO

a. Ao executar a pontaria, é desejável que o caçador permaneça com a


arma sobre o ponto visado, mantendo a linha de visada. No entanto, sempre há
uma pequena oscilação, mais sentida quanto maior a distância do alvo, maior a
instabilidade da posição e menor o treinamento. Esta situação, aliada à ansiedade
de acertar, faz com que o caçador cometa erros no acionamento, obtendo maus
resultados.
(1) gatilhada - o caçador “comanda” o disparo, acionando bruscamente
o gatilho quando julga visualizar a fotografia ideal. Com isso, ao invés de atingir o
alvo no ponto desejado, pode deixar de acertá-lo.
(2) antecipação - outra conseqüência de comandar o tiro é a
antecipação de reações ao disparo. O caçador contrai o ombro, aumenta a
pressão da empunhadura e a força o punho para baixo para compensar o recuo
da arma.
(3) esquiva - pode ainda ocorrer a esquiva, na qual o caçador projeta o
ombro para trás procurando fugir do recuo. Muitas vezes, o caçador chega a
fechar os olhos antes do disparo, perdendo a fotografia.

3-11. ACOMPANHAMENTO

a. É a fase que se inicia após o fuzil ser disparado. O acompanhamento


exige um bom domínio dos demais para ser aplicado corretamente.

b. O acompanhamento consiste nas seguintes ações:


(1) procurar manter a linha de mira;

3-17
(2) continuar a acionar a tecla do gatilho até o final de seu curso, da
mesma forma que vinha sendo feito antes do disparo;
(3) manter o apoio da cabeça na coronha;
(4) manter o mesmo nível de tensão muscular da posição e firmeza
na empunhadura;
(5) evitar qualquer reação ao recuo ou ao estampido do tiro;
(6) liberar a tecla do gatilho somente após a linha de visada ter sido
restabelecida.

c. O acompanhamento é essencial para a boa execução do tiro, permitindo,


ainda, maior facilidade no engajamento de alvos subseqüentes. Se realizado
corretamente, auxilia a concentração na pontaria nos momentos finais do disparo.
O caçador não deve se preocupar em verificar se seu tiro atingiu o alvo ou não.
Esta tarefa é atribuída ao observador. O caçador deve estar somente preocupado
em realizar um bom tiro e acompanhamento. O salto deve ser o mais regular
possível, devendo a arma e o caçador formar um único sistema para o disparo.

ARTIGO V
INDICAÇÃO DO TIRO

3-12. DEFINIÇÃO E EXECUÇÃO

a. Indicar o tiro é a capacidade do caçador saber onde o projétil atingiu o


alvo imediatamente após ter sido disparado. Normalmente, alvos humanos são
fugazes e movem-se após terem sido atingidos. O caçador deve ser capaz de
dizer precisamente o local provável de impacto do tiro para auxiliar na confirmação
do acerto do alvo.

b. O tiro é indicado pela relação entre o local onde o fuzil estava apontado
no momento do disparo e o ponto de pontaria no alvo (a princípio, seu centro de
massa), por meio do processo do relógio, observando a direção e distância.

c. A imagem da indicação do tiro é a fotografia que o caçador observa


imediatamente após o desengatilhamento e antes do início do recuo do fuzil. Caso
a pontaria esteja correta, no centro do alvo, a indicação será a fotografia correta.

d. A partir do momento em que o caçador consegue realizar a indicação


corretamente, significa, também, que está aplicando os fundamentos de tiro de
forma acertada. Quanto mais experiente, mais precisas serão as indicações do
caçador.

e. Inicialmente é uma técnica difícil de ser executada. O acompanhamento


correto do tiro facilita a indicação.

3-18
f. Para o caçador indicar o tiro, o fuzil, logicamente, deverá estar regulado
para acertar o ponto visado na distância em que o caçador estiver disparando.
Somente estando hábil em indicar o tiro, o caçador poderá realizar a regulagem
do armamento.

g. A indicação correta do tiro mostra que o caçador está realizando e


dominando os fundamentos de tiro.

h. A utilização da indicação do tiro para a correção do ponto de impacto


será abordada oportunamente.

ARTIGO VI

AÇÃO INTEGRADA DE ATIRAR

3-13. INTEGRAÇÃO DO TIRO

a. A partir do momento em que o caçador tiver aprendido os fundamentos


de tiro, ele deve saber integrá-los. A ação integrada de atirar é uma seqüência
lógica de medidas que o caçador realiza para melhor harmonizar os fundamentos.

b. É dividida em três fases:


(1) Fase da preparação - nesta fase, o caçador procura assumir a melhor
posição de tiro para realizar o disparo, procurando as melhores condições que o
terreno oferece. O caçador procura o melhor apoio disponível para a sua posição.
Verifica se o ponto natural de pontaria está no alvo e se a posição de tiro está
naturalmente equilibrada. O caçador realiza, nesta fase, as correções na luneta
em função do alcance para o alvo e das demais condições de tiro.
(2) Fase do disparo - Nesta fase, serão coordenadas as ações para o tiro
propriamente dito.
(a) Respirar - o caçador inspira e expira, iniciando, posteriormente, o
prolongamento da pausa respiratória. Verifica se o apoio da face no fuzil está
correto, obtendo a distância de 7 centímetros entre o olho e a ocular. Inicia
também processo de pontaria, procurando identificar o alvo e observar a linha de
mira.
(b) Relaxar - a partir do início da última expiração, o caçador procura
manter a musculatura envolvida firme, estabilizando a posição de tiro, mantendo o
controle do fuzil e a firmeza da empunhadura.
(c) Apontar - ao se iniciar o prolongamento da pausa respiratória, o
caçador deve refinar a pontaria no alvo, procurando manter o centro dos retículos
no seu centro.
(d) Acionar - a pressão exercida na tecla do gatilho é iniciada no final
da expiração. Mantendo a pausa respiratória e a pontaria no centro de massa do
alvo, o caçador aciona progressivamente o gatilho até o momento do disparo.
(3) Fase após o tiro - após o disparo, o caçador realiza o
acompanhamento do tiro e a indicação do local de impacto. O caçador deve

3-19
analisar o tiro imediatamente após o disparo. Se o tiro atingiu o alvo, significa que
a ação integrada de atirar foi realizada corretamente. Caso o alvo não tenha sido
atingido o caçador deve analisar as possíveis causas e dar mais ênfase na
correção destes erros em tiros futuros. Ao disparar, o caçador deve abrir a arma
trazendo lentamente o ferrolho para a retaguarda com a parte anterior do polegar
da mão que atira. Aproximadamente na metade do curso do ferrolho, o dedo
indicador deve apanhar o estojo percutido. O caçador não deve ejetá-lo, evitando
deixar vestígios no terreno para o inimigo. Após isso, completa a ação de manejo
ao carregar novamente a arma, permanecendo pronto para realizar outro tiro, caso
necessário. Este reflexo é adquirido durante todas as sessões de treinamento de
tiro.

c. É altamente recomendado o treinamento do tiro em seco, onde o caçador


tem mais tranqüilidade e capacidade de realizar tiros tecnicamente corretos, já que
o recuo, o estampido e a ansiedade pelo desempenho estão ausentes. Este
treinamento melhora consideravelmente a ação integrada de atirar.

d. A técnica de tiro do caçador somente melhorará com o treinamento


constante e sob orientação de caçadores e atiradores experientes. Inicialmente,
todas as ações serão pensadas e comandadas. O treinamento faz com que o
processo do disparo torne-se cada vez mais automático e livre de incorreções.

3-20
CAPÍTULO 4

REGULAGEM DO SISTEMA DE ARMAMENTO

4-1. GENERALIDADES

a. Em seu treinamento de tiro, o caçador deverá executar diversos ajustes


em seu armamento, particularmente na luneta, para fazer com que seu tiro acerte
o alvo em qualquer distância e situação imposta. Para isto, ele precisa regular os
aparelhos de pontaria.

b. No caso das lunetas, cada clique dado irá provocar um deslocamento no


seu retículo, na horizontal ou na vertical. Esta clicagem irá provocar uma variação
angular entre o cano da arma e a linha de visada.

c. A unidade de valor angular mais utilizada é o minuto de ângulo, em


inglês Minute of Angle , ou, abreviadamente, MOA.

ARTIGO I

MINUTO DE ÂNGULO

4-2. EQUIVALÊNCIA

a. O minuto, como será chamado a partir de agora, equivale a 1/60 de um


grau. Com esta unidade de medida será possível realizar todas as correções
necessárias ao tiro do caçador.

b. Este ângulo “cobre”, a uma distância de 100 metros, uma frente


equivalente a aproximadamente a 2,5 centímetros. Por ser um valor angular,
conforme a distância aumenta, a frente também aumenta.

4-1
Fig 4-1. Variação da frente do minuto de ângulo em função da distância

c. Para maior facilidade de cálculos, os trabalhos de correção e ajuste da


luneta devem ser feitos com valores múltiplos de 2,5 centímetros. Tal valor não é
exato, como já foi dito anteriormente, mas o erro que ele causa é desprezível,
dentro do alcance de utilização.

d. O minuto é utilizado, então, para as correções em alcance e direção,


compensando principalmente a queda do projétil e a ação do vento (a serem
estudados oportunamente), além dos diversos outros fatores que interferem na
balística externa.

e. Os valores do minuto, em cada distância, devem ser memorizados pelo


caçador, possibilitando correções com mais rapidez.

Dist(m) 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600

Frente
2,5 3,8 5 6,3 7,5 8,8 10 11,3 12,5 13,8 15
(cm)
Minuto 1
Tab 4-1. Representação do minuto de ângulo nas
distâncias e frentes correspondentes

f. Quando a arma dispara um projétil que atinge o ponto visado em um alvo


a 100 metros, diz-se que ela está zerada. Em seguida, deve-se obter a regulagem
para distâncias maiores.

4-2
g. Com a arma clicada a 100 metros, dispara-se, por exemplo, num alvo a
distância de 300 metros com a mesma regulagem da luneta e observa-se que o
tiro caiu 41 centímetros abaixo do ponto visado. Nesta distância, um minuto
equivale a 7,5 centímetros. Para trazer este tiro para o ponto visado, o caçador
deverá realizar a seguinte correção:

41 cm = 5,46 minutos, ou, arredondando, 5 ½ para cima


7,5

h. Em outra oportunidade, o caçador está disparando a 600 metros e seus


tiros estão atingindo o alvo cerca de 10 centímetros a esquerda do alvo. Como
cada minuto a 600 metros equivale a 15 centímetros de frente, a correção é:.

10 cm = 0,67 minutos, ou, arredondando, ¾ para a direita


15

ARTIGO II

TABELA DE REFERÊNCIA

4-3. GENERALIDADES

a. A partir destas informações, o caçador pode iniciar os trabalhos de


obtenção da tabela de referência da sua munição. Ele pode ir ao estande e
disparar em todas as distâncias dentro do alcance do fuzil para verificar quanto o
projétil cai e calcular a correção em minutos a ser lançada na sua luneta. Desta
forma, o caçador utiliza o minuto para corrigir os efeitos que agem no projétil.

b. Não existe uma tabela perfeita. O caçador terá apenas uma tabela de
referência para o seu tiro. Como será visto oportunamente, diversos fatores
externos farão com que estes dados coletados provavelmente não expressem os
valores corretos em dias diferentes, mas estejam muito próximo deles. Cabe ao
caçador conhecer o efeito desses fatores, através de constante treinamento, bem
como registrá-los.

c. Para isso, ele deve valer-se da Caderneta do Caçador, onde todos os


trabalhos realizados serão lançados para análise e consulta. A caderneta deve ser
mantida atualizada. O registro permanente dos treinamentos é fator fundamental
para o sucesso e a confiabilidade do caçador. Não registrar corretamente os
dados coletados em todas as sessões de treino constitui desperdício de tempo e
munição.

d. Antes de iniciar os trabalhos, deve-se tentar obter uma tabela de


referência aproximada da munição que está sendo disparada ou de uma com
características semelhantes, o que irá facilitar os cálculos.

4-3
Dist(m) 100 200 300 400 500 600 700

Queda(cm) 0,0 11 42 98 178 315 473


Minutos 0,00 2,25 5,50 9,75 14,25 21,00 27,00
Tab 4-2. Queda e valores de correção da munição Lapua 10,85, Vo 820m/s
Fuzil AGLC IMBEL

e. Caso o caçador venha a trocar o tipo ou lote da munição, deverá realizar


todos os trabalhos para obter, novamente, uma tabela de referência.

4-4. OBTENÇÃO DA TABELA

a. Zeragem - o caçador irá zerar sua arma na distância de 100 metros.


Fará sua pontaria num ponto e realizará três disparos. Possivelmente, se a arma
não tiver sido zerada anteriormente, o centro do grupamento (ponto médio dos
impactos) não coincidirá com o ponto visado. A partir daí, fará a correção da
luneta para trazer o tiro para este local. Nesta oportunidade, o caçador também
deve verificar se o sistema (incluindo o próprio caçador) está dentro do limite de 1
minuto de precisão, ou seja, com o grupamento de 2,5 centímetros.

Fig 4-2. Exemplo de grupamento e correções após primeira


série de tiros em zeragem a cem metros

4-4
(1) A 100 metros de distância, 1 minuto equivale a 2,5 centímetros. Para
corrigir o grupamento da figura acima:

Em elevação: 9 cm = 3,6 minutos ou 3 ½


2,5

Em direção: 7 cm = 2,8 minutos ou 2 ¾


2,5

Fig 4-3. Exemplo de grupamento após segunda série de


tiros em zeragem a 100 m com correções corretas

(2) Se o caçador, após a segunda série, não conseguir zerar a arma, isto
é, obter a coincidência do ponto de pontaria com o centro do grupamento, deverá
executar novas correções e séries até consegui-lo.
(3) A posição dos botões de ajuste em elevação e direção, neste
momento, representam a zeragem da arma. O caçador deve ter este ponto como
referência para todas as outras regulagens da luneta, devendo, portanto, estar
registrado corretamente.
(4) No tiro de zeragem a 100 metros, o caçador deverá disparar em um
ponto preciso, como na figura acima, representado pelo canto inferior direito de

4-5
um quadrado pequeno, de 2,5 ou 5 centímetros de lado, facilitando a observação
da distância para os cálculos.

b. Distâncias subseqüentes - a partir da distância de 200 metros


(inclusive), deverá utilizar alvo de silhueta humana, semelhante ao A2 militar com
1 metro de altura por 50 centímetros de largura. Pode-se, somente neste tipo de
trabalho, colocar um círculo ou quadrado em cor contrastante no centro do alvo
para auxiliar a pontaria e regulagem. Após zerar sua arma, o caçador deverá
percorrer as distâncias múltiplas de 100 metros, até o alcance útil de seu sistema
(200, 300, etc). Após isso, se o tempo e as condições de estande permitirem,
deverá ainda fazer o mesmo nos intervalos (150, 250, 350 etc), de forma a ter um
valor para praticamente todas as distâncias. Caso possua uma tabela de
referência, deverá partir das correções nelas contidas para iniciar a regulagem em
uma distância de tiro desejada.
(1) Supondo que o caçador já tenha realizado suas correções a 500
metros e esteja partindo para 600. Na tabela de referência, o alvo foi atingido com
14,25 minutos a 500 metros e 21 minutos a 600. Logo, a correção de referência
entre estas distâncias é de 6,75 minutos (21 – 14,25).
(2) A 500 metros, em relação ao seu zero inicial, o caçador atingiu o
centro do alvo com 16 minutos de correção em elevação. Para iniciar sua correção
a 600 metros, o caçador deverá partir da elevação 22,75 minutos (16 + 6,75). Se o
caçador não inserir esta correção inicial, seu primeiro tiro a 600 metros passará
quase 1,5 metro abaixo do centro do alvo (ponto de pontaria), dificultando o
trabalho de correção.
(3) Imaginando agora que após inserir uma variação de referência, seu
tiro ainda não atingiu o centro do alvo. O centro do grupamento dos tiros a 600
metros atingiu o alvo 20 centímetros abaixo do ponto visado.

Fig 4-4. Exemplo de grupamento após a primeira


série de tiros a 600 metros

4-6
(4) A 600 metros, 1 minuto equivale a 15 centímetros de frente.

20 cm = 1,33 minuto ou 1 ¼
15

(5) Atingindo o alvo abaixo do ponto visado em 20 centímetros, o caçador


estava com uma elevação de 22,75 minutos. Para atingir o alvo no centro,
conforme o cálculo acima, o caçador deverá então passar sua elevação para 24
minutos (22 ¾ + 1 ¼). Caso não atinja ainda o centro do alvo, deverá repetir os
tiros novamente nesta distância até chegar a uma correção exata para acertá-lo.
(6) O objetivo de todo este trabalho é fazer com que o caçador tenha
dados iniciais atualizados em sua caderneta para poder realizar tiros precisos em
diversas distâncias.

ARTIGO III

TIRO DE CANO FRIO

4-5. CONCEITO

a. Existe uma condição em que o caçador realiza seu tiro em combate que
diferencia-se dos disparados em treinamentos: a temperatura do cano.
Consideram-se os dois primeiros tiros como sendo de cano frio. Os subseqüentes
já são de cano quente. A maioria dos canos das armas apresenta uma diferença
de ponto de impacto entre estes dois tipos de tiro. Não há padrão de valor e
direção para esta mudança, mas ela, juntamente com outros fatores que
interferem no tiro, é suficiente para errar o alvo a longas distâncias. O caçador
deve, portanto, registrar seus dois primeiros tiros como de cano frio a cada dia de
treinamento. Deve procurar, em cada sessão de tiro, iniciar seus disparos em
distâncias diferentes, com o objetivo de obter um valor de correção para todo o
alcance útil de seu sistema. Os canos levam, em média, cerca de 3 horas para
resfriarem-se a ponto de estarem prontos para um novo tiro de cano frio.
Acrescentando seu significado, pode-se denominar de tiro de cano limpo e frio,
condições em que o caçador deve executar o tiro em sua missão. Esta é a coleta
de dados mais importante que o caçador deve realizar.

4-7
CAPÍTULO 5

BALÍSTICA

5-1. GENERALIDADES

a. Para otimizar sua capacidade de engajamento de alvos a longas


distâncias, o caçador deve deter um conhecimento abrangente a respeito da
balística dos projéteis. A execução correta dos fundamentos de tiro, aliados à
compreensão e ao domínio da balística, irão garantir que o primeiro tiro acerte o
alvo inimigo de forma precisa, cumprindo assim sua missão principal.

b. A balística é a parte da Física, compreendida dentro da Cinemática e da


Dinâmica, que estuda o movimento dos corpos projéteis no espaço. Corpos
projéteis são todos aqueles que se deslocam livres no espaço, em virtude de um
impulso inicial recebido.

c. A balística e seus efeitos são parte de um vasto conhecimento sobre o


tiro que o caçador deve dominar em teoria e prática. O treinamento exaustivo, em
condições diferentes, fará com que sua habilidade em compensar os fatores
diversos que agem sobre o projétil melhore gradativamente.

d. A balística pode ser dividida em 3 ramos bem distintos:


(1) a interna, que abrange os fenômenos que ocorrem no interior da
arma, desde a percussão do cartucho até a saída do projétil do cano;
(2) a externa, que compreende o vôo do projétil e seus efeitos desde sua
saída do cano até o alvo, sendo de essencial importância para o tiro do caçador;
(3) a terminal, que estuda os efeitos do projétil sobre o alvo (precisão,
perfuração, incapacitação, etc).

5-1
ARTIGO I

BALÍSTICA INTERNA

5-2. GENERALIDADES

a. Após o acionamento do gatilho o percussor estará livre para realizar seu


movimento, ferindo a espoleta. Este será o iniciador da queima da carga principal
no interior do cartucho.

b. A rápida combustão da pólvora e expansão dos gases que ocorre dentro


do cartucho fará com que eles procurem um caminho de escape. A única direção
possível para os gases (no caso do fuzil de repetição) é a do cano da arma,
impulsionando, desta forma, o projétil.

c. Ao iniciar seu deslocamento, o projétil adquire movimento de rotação


em função das raias existentes no interior do cano. É este movimento que traz
estabilidade na trajetória e precisão do projétil.

d. Pouco após sua saída do cano, os gases deixarão de impulsionar o


projétil.

ARTIGO II

BALÍSTICA EXTERNA

5-3. CONCEITOS

a. Cada munição possui características particulares. Para compreender o


que acontece com o projétil durante seu vôo, torna-se necessário, antes, definir
alguns conceitos básicos dos elementos da trajetória e conhecer os efeitos dos
diversos fatores sobre a mesma.
(1) Velocidade inicial: como o próprio nome já diz, é a velocidade do
projétil ao sair do cano da arma. Ela está intimamente ligada a balística interna,
sendo conseqüência das características da munição, da arma e ambientais.
Certamente, isolando a ação dos demais fatores que interferem na trajetória,
quanto mais regulares forem as velocidades iniciais dos projéteis de um mesmo
tipo de munição, melhor será seu desempenho em termos de precisão.
(2) Linha de tiro: ou linha de partida, é linha reta determinada pelo
prolongamento do eixo cano da arma no momento em que o projétil o abandona.
Esta linha seria a trajetória do projétil se não houvesse o efeito da gravidade e da
resistência do ar (arrasto).

5-2
(3) Linha de mira: é a linha reta que une o olho do caçador ao retículo da
luneta de tiro.
(4) Linha de visada: é a linha reta que se inicia no olho do caçador,
passando pelo aparelho de pontaria utilizado e prolonga-se até o alvo visado.
(5) Ângulo de sítio: é o ângulo formado pela interseção da linha de visada
com o plano horizontal. Este ângulo representa o desnível que pode haver entre o
caçador e o alvo.
(6) Trajetória: caminho percorrido pelo projétil da sua saída da arma até
atingir o alvo.
(7) Ordenada balística ou flecha: é o ponto mais alto da trajetória do
projétil. Este ponto deve ser conhecido para que o caçador não atinja nenhum
obstáculo durante a trajetória do projétil, que, aparentemente, pela linha de visada
não oferece risco.
(8) Tempo de vôo: representa a duração que o projétil leva durante sua
trajetória. Este dado da munição para as diferentes distâncias é essencial para
determinados tipos de tiro, como o engajamento de alvos em movimento.
(9) Queda da munição: representa o afastamento que o projétil irá cair
abaixo da linha de tiro nas diversas distâncias. Através destes valores, o caçador
poderá realizar as correções em elevação na luneta para poder engajar qualquer
alvo dentro do alcance do seu armamento.
(10) Ponto de queda ou impacto: é o local onde o ramo descendente da
trajetória do projétil encontra a linha de visada (exceção feita aos tiros a curta
distância, mais comum no tiro policial, em que o projétil encontra a linha ainda no
ramo ascendente). Se o sistema estiver corretamente regulado, o ponto de queda
coincidirá com o ponto visado no alvo.

5-4. FATORES QUE ATUAM NA TRAJETÓRIA

a. Generalidades - o caçador, além de possuir uma excelente técnica de


tiro, deve, também, conhecer perfeitamente os fatores que irão intervir de alguma
forma na trajetória do projétil. Diversos fatores atuam sobre o projétil causando
efeitos sobre a trajetória. Eles são os responsáveis por impedir que o projétil siga
perfeitamente a linha de tiro.

b. Gravidade - imediatamente após o abandono do cano, ela já está agindo


no projétil, puxando-o para baixo. Isto fará com que o caçador tenha que realizar
correções em sua luneta para poder compensar esta queda, que aumenta a
medida que o alvo esteja mais longe.

5-3
POSIÇÃO
DE TIRO

LINHA DE
VISADA

ILUSTRADOS NA FIGURA:
-AS FLECHAS
-AS QUEDAS DOS PROJÉTEIS PELO EFEITO DA GRAVIDADE
-DISTÂNCIAS DE TIRO

Fig 5-1. Representação balística da munição


7,62mm M118 Special Ball

c. Resistência do ar - efeito causado pela atmosfera sobre o projétil. Ela


está diretamente relacionada com a densidade do ar, com o formato e a
velocidade do projétil. A resistência, também chamada de arrasto, faz com que o
projétil perca velocidade. A densidade do ar, por sua vez, é afetada pela
temperatura, altitude, e a umidade.

d. Temperatura - quanto maior for a temperatura, menos denso estará o ar,


oferecendo, desta forma, menos resistência ao projétil. Se há menos resistência, o
ponto de impacto será mais alto, já que a velocidade do projétil diminuirá mais
lentamente. A cada mudança de temperatura de aproximadamente onze graus
Celsius (11º C), o tiro irá variar 1 minuto em elevação. Para facilitar os cálculos,
aproxima-se para 10º C o valor para a correção.

TEMPERATURA CORREÇÃO EM MINUTO


(GRAUS CELSIUS) DE ÂNGULO
40 -2
30 -1
20 0
10 +1
0 +2
Tab 5-1. Correção da elevação da luneta em função
da temperatura ambiente (zeragem a 20º C)

5-4
e. Altitude - quanto maior a altitude, mais rarefeito é o ar, sendo menor sua
densidade. Desta forma, o projétil, encontrando menor resistência, tem seu ponto
de impacto mais elevado.

ALTITUDE EM RELAÇÃO
DISTANCIA PARA
AO NÍVEL DO MAR
O ALVO
800 m 1600 m 3200 m
100 m -0,05 -0,08 -0,13
200 m -0,1 -0,2 -0,34
300 m -0,2 -0,4 -0,6
400 m -0,4 -0,5 -0,9
500 m -0,5 -0,9 -1,4
600 m -0,6 -1,0 -1,8
700 m -1,0 -1,6 -2,4
800 m -1,3 -1,9 -3,3

Tab 5-2. Correção da elevação da luneta (em minutos) em função da


altitude e distância (zeragem a 20º C)

f. Umidade relativa do ar - varia juntamente com a altitude e temperatura.


Quanto maior a umidade, mais denso será o ar, logo, o ponto de impacto do
projétil será mais baixo. Cada 20% de variação na umidade relativa do ar equivale
a um minuto de ângulo de correção. Estes dados, normalmente, não serão
utilizados diretamente no cumprimento de uma missão de tiro do caçador, apesar
desta possibilidade existir.

g. Vento - a ação do vento, certamente, é o maior fator de erro no tiro do


caçador. O conhecimento sobre suas formas de ação é absolutamente necessário
para o caçador ter eficácia em seus disparos. Quanto maior a distância para o
alvo, maior será seu efeito no projétil. Para o caçador estar em condições de
realizar missões de tiro, onde existe forte probabilidade da existência do vento, ele
deve treinar intensamente em todas as condições possíveis. O maior fator de
acerto do tiro, principalmente considerando a variável vento, é a experiência do
caçador. Para se entender melhor os efeitos do vento, deve-se dividir sua ação em
dois elementos: direção e intensidade.
(1) A direção de entrada indica para onde será o desvio do projétil em
relação à sua trajetória padrão.

5-5
Fig 5-2. Sistema do relógio para designação da direção de
entrada e valor relativo do vento

(a) Designa-se a direção do vento através do sistema do relógio. Um


vento, por exemplo, de nove horas, significa que está vindo de nove horas e indo
para três horas, ou seja, da esquerda para a direita em relação à linha de tiro.
Este projétil iria atingir o alvo mais a direita, em relação a um tiro nas mesmas
condições, porém, sem a ação do vento.
(b) O vento que sopra na faixa 10-8/2-4 horas terá ação total sobre o
projétil. O que sopra na faixa 8-7/1-2 e 10-11/4-5 horas terá sua intensidade, sua
força, diminuída pela metade. O vento que sopra na faixa 11-1/7-5 horas não será
considerado para fim de correção. O fato de estar contra ou a favor do sentido de
vôo do projétil não é considerado como efeito significativo na trajetória do projétil.
(2) A intensidade do vento também deve ser observada nos trabalhos da
equipe de caçadores. Para uma mesma distância, um vento forte causa um erro
maior que um vento de fraca intensidade. É importante, também, verificar em que
distância, entre o caçador e o alvo, o vento sopra mais intensamente. Disparando
a longas distâncias, pode-se observar, algumas vezes, ventos com sentidos e
intensidades diferentes numa mesma linha de tiro. O vento que sopra mais
próximo à posição de tiro do caçador provoca um desvio angular que se propagará
por toda a trajetória. Conseqüentemente, a este vento deve ser dada mais atenção
no momento de realizar as correções. No entanto, para poder efetuar estas
correções, o caçador deve ser hábil em coletar esses dados do terreno. Diversos
métodos podem ser utilizados, isoladamente ou de forma combinada. O método
mais eficaz é a leitura da reverberação.
(a) A reverberação é o reflexo das ondas de calor de diferentes
temperaturas e densidades, observadas em dias quentes. Sempre que houver
diferença de temperatura entre o solo e o ar, haverá reverberação. Estas ondas
podem ser vistas utilizando-se a luneta de observação, tarefa esta destinada ao
observador da equipe. A leitura da reverberação permite uma avaliação do
sentido e da intensidade do vento com alta precisão. No entanto, o caçador e
observador devem estar treinados em realizar esta leitura. Como o vento que
sopra curto da metade da distância do alvo tem maior importância para a
correção, o observador, para ler a reverberação, não deverá focar sua luneta no
alvo. Ele deverá focar num ponto imaginário visualizado no meio da trajetória do

5-6
projétil. Se o foco estiver correto, o alvo estará embaçado e a reverberação será
vista claramente.

1-2 m/s 3-4 m/s

TURBULENTA 4-5 m/s

Fig 5-3.Imagem da reverberação vista pelo observador e


velocidades do vento correspondentes

As variações do ventos com velocidade superiores a 6 m/s tornam-se de


difícil leitura pela reverberação. A imagem turbulenta é um caso particular para o
tiro. Quando ela ocorre, o observador enxerga a reverberação vertical, porém
confusa. Isto acontece em duas situações. A primeira delas quando o vento está
se alternando na direção 6/12. A segunda situação é quando o vento está
passando de um sentido para outro, ambos oblíquos à linha de tiro. Cabe ao
observador verificar em cada posição de tiro o padrão do vento para não disparar
em um momento desfavorável e passageiro.
(b)Bandeirolas - a utilização deste método é facilitada em estandes de
tiro. Porém , o caçador não pode se habituar a ele, já que serão raras as vezes em
que o local onde irá cumprir sua missão terá bandeirolas visíveis. Para se obter a
velocidade do vento, basta dividir o ângulo da bandeirola com a vertical pela
constante nove.

Ângulo da bandeirola
Velocidade do vento =
9
5-7
VENTO

45 = 5 m/s
9

45°

Fig 5-4. Avaliação do vento pela bandeirola

Caso não seja possível observar nenhuma bandeirola no terreno, o caçador


deve levantar grama, ou qualquer outro material leve na altura do ombro e soltar.
O ângulo formado entre a queda do material e a vertical também pode ser dividido
por nove para se obter o valor aproximado de sua velocidade em m/s.
(c) Indícios do terreno - o último método de se ler o vento é através dos
indícios coletados no terreno. Ventos de 1m/s, ou menos, dificilmente serão
percebidos. Com 2m/s ele pode ser sentido suavemente no rosto do caçador. Com
3m/s, ele faz com que as folhas das árvores estejam em permanente movimento.
Um vento de 6 m/s faz com que as árvores pequenas balancem.
(3)Cálculo do efeito do vento - Tendo sua intensidade e direção, o
caçador pode então transformar estes dados em correção para sua luneta. A
fórmula geral de vento para a munição 7,62 x 51mm é a seguinte:

correção = distância do alvo(m) X velocidade do vento(m/s)


100 X constante

O valor da correção será em minutos de ângulo, considerando o valor total.


A constante depende da distância do alvo. De 100 a 500 metros de distância para

5-8
o alvo, a constante será 6,7. A 600 metros, a constante será 6,3. De 700 a 800
metros de distância, a constante será 5,8. Por exemplo, um vento que sopra de 1-
2 horas, a 5 metros por segundo, num alvo a 600 metros, será calculado da
seguinte forma:

600/100 x 5 = 4,75 minutos de ângulo, ou 4 ¾


6,3

Como o vento sopra em direção de metade do valor, a correção será


dividida por dois.

4,75 = 2,38 minuto de ângulo, ou 2 ½ aproximadamente


2

Esta correção, 2 ½ minutos a 600 metros, caso não seja realizada pelo
caçador, fará com que o tiro passe a 36 centímetros deslocado do centro do alvo,
à sua esquerda, medida suficiente para não acertá-lo.
(4) Tabela de vento - existem softwares que realizam cálculos específicos
para cada tipo de munição, a partir da sua velocidade inicial, peso do projétil e
coeficiente balístico. Com uma tabela, específica para sua munição, o caçador não
necessita realizar estes cálculos a cada treinamento ou missão de tiro, mas fará
apenas uma rápida consulta à tabela e corrigirá sua luneta.

Vel +/-1 m/s +/- 3 m/s +/- 5 m/s +/- 7 m/s


Cm Min Cm Min Cm Min Cm Min
50m 0,1 cm 0 0,4 cm ¼ 0,6 cm ½ 0,9 cm ¾
100m 0,5cm 0 1,5 cm ½ 2,5 cm 1 3,5 cm 1¼
150m 01 cm ¼ 03 cm ¾ 06 cm 1½ 08 cm 2
200m 02 cm ¼ 06 cm 1 10 cm 1¾ 14 cm 2½
250m 03 cm ½ 09 cm 1¼ 16 cm 2¼ 22 cm 3¼
300m 04 cm ½ 13 cm 1½ 22 cm 2½ 31 cm 3¾
350m 06 cm ½ 18 cm 1¾ 31 cm 3¼ 43 cm 4½
400m 08 cm ¾ 24 cm 2 39 cm 3½ 55 cm 5
450m 10 cm ¾ 30 cm 2¼ 51 cm 4¼ 71 cm 5¾
500m 12 cm 1 37 cm 2½ 62 cm 4½ 86 cm 6
550m 15 cm 1 45 cm 3 76 cm 5 106 cm 7
600m 18 cm 1 53 cm 3¼ 88 cm 5¼ 124 cm 7¼
Tab 5-3. Desvio do tiro e correção do vento em função da velocidade
e distância para a munição 7,62 Lapua 10,85

5-9
(5) Um erro comum em iniciantes é não realizar a correção, ou
subestimar a ação do vento. O medo de corrigir diminui com a prática freqüente
em diversos tipos de ventos e distâncias. O caçador que não realizar corretamente
as correções de vento não obterá sucesso nas missões de tiro.

h. Tiro em ângulo - o treinamento de tiro normalmente é feito em estandes


de tiro, onde o ângulo de sítio é próximo ao nulo, ou seja, o caçador e o alvo estão
na mesma altura.
(1) O emprego do caçador em terrenos acidentados, montanhosos e
urbanos faz com que alvos mais altos ou baixos do que a posição de tiro devam
ser engajados.
(2) Em ambos os casos, se o caçador não corrigir a luneta, terá o
impacto de seu tiro acima do ponto visado.
(3) O caçador deve recorrer à tabela de tiro em ângulo, e realizar as
correções em sua luneta antes de realizar o disparo.

Dist 5º 10º 15º 20º 25º 30º 35º 40º 45º 50º 55º 60º
100 0,01 0,04 0,09 0,16 0,25 0,36 0,49 0,63 0,79 0,97 1,2 1,4
200 0,03 0,09 0,2 0,34 0,53 0,76 1 1,3 1,7 2 2,4 2,9
300 0,03 0,1 0,3 0,5 0,9 1,2 1,6 2,1 2,7 3,2 3,9 4,5
400 0,05 0,19 0,45 0,76 1,2 1,7 2,3 2,9 3,7 4,5 5,4 6,3
500 0,06 0,26 0,57 1 1,6 2,3 3 3,9 4,9 6 7,2 8,4
600 0,06 0,31 0,73 1,3 2 2,9 3,9 5 6,3 7,7 9,2 10,7
700 0,1 0,4 0,9 1,6 2,5 3,6 4,9 6,3 7,9 9,6 11,5 13,4
800 0,13 0,5 1 2 3 4,4 5,9 7,7 9,6 11,7 14 16,4
Tab 5-4.Correção em minutos para o tiro em ângulo
da munição M118 Special Ball

i. Ao chegar em uma nova área de operações, o caçador deve iniciar todo o


trabalho de preparação e determinação das quedas e correções, partindo dos
dados em referência nas tabelas.

ARTIGO III

BALÍSTICA TERMINAL

5-5. GENERALIDADES

a. A balística terminal representa o que ocorre a partir do momento em que


o projétil atinge o alvo.

b. O objetivo do tiro do caçador é atingir qualquer parte do alvo humano,


preferencialmente, em uma região vital. Devido às distancias em que seus
disparos são realizados, o objetivo é provocar uma baixa, retirando o inimigo do
combate e, se possível, eliminando-o.

5-10
c. Caso o caçador receba missões específicas de eliminação, ele irá se
posicionar a uma distância onde possa disparar e atingir o alvo com precisão em
uma região vital, preferencialmente, na caixa torácica, que oferece uma maior área
e probabilidade de acerto. Portanto, o ponto de pontaria no alvo inimigo, via de
regra, é o centro de massa do tórax. Alvos próximos, a distâncias inferiores a 300
m e com boas condições de tiro, podem ser engajados na cabeça, visando uma
incapacitação imediata.
d. Alvos que utilizam vestes balísticas devem ter como ponto de pontaria a
região pélvica, altamente irrigada, com chances, ainda, de se atingir a base da
coluna.

5-11
CAPÍTULO 6

CONDUÇÃO E CORREÇÃO DO TIRO

6-1. GENERALIDADES

a. O caçador trabalha em dupla com o observador. Ambos devem ser


caçadores treinados. Esta forma de emprego aumenta a segurança da equipe, a
certeza das avaliações de distâncias e condições atmosféricas, elevando a
possibilidade de eliminar o inimigo selecionado como alvo.

b. É essencial que haja um perfeito entrosamento entre os integrantes da


equipe. A comunicação entre observador e caçador deve ser feita com disciplina e
correção. Deve ser treinada para que não ocorra passagem de informações
incorretas ou confusas. O tiro do caçador, por si só, já envolve uma série de
pressões psicológicas, que normalmente tem conseqüências na técnica de tiro. A
comunicação deve ocorrer de forma rápida e automática.

c. Cada integrante da equipe possui missões específicas. O desempenho da


equipe depende do trabalho de ambos.

ARTIGO I

TRAÇO DO PROJÉTIL

6-2. DEFINIÇÃO

a. Uma das principais missões do observador é fazer a correção do tiro


disparado por intermédio da visualização do traço do projétil.

b. Ele é o efeito visual criado pela onda de choque do projétil supersônico


(velocidade inicial maior que 340m/s ). Estas ondas comprimem subitamente o ar

6-1
na superfície do projétil, fazendo com que o vapor d’água se condense
momentaneamente, tornando-se visível.

Fig 6-1. Representação gráfica do traço

6-3. POSICIONAMENTO DA EQUIPE

a. O observador deve posicionar-se a 4 ou 5 horas da posição do caçador


(caso este seja destro) para enxergar o traço.

Fig 6-2. Posição da equipe (visão lateral)

Eles não podem se tocar ou estar muito próximos, para que um não dificulte
o trabalho do outro.

6-2
Fig 6-3. Posição da equipe (visão frontal)

6-4. TÉCNICA DE OBSERVAÇÃO

a. Adquirindo experiência nesta atividade, o observador poderá


acompanhar toda a trajetória do projétil, verificando ainda o local de impacto no
alvo, informando com precisão ao caçador as correções nos tiros subseqüentes.

Fig 6-4. Representação gráfica da trajetória do traço

b. A distâncias a partir de 600 metros, o traço passa a ser difícil de ser visto
na munição 7,62 x 51mm. Com treinamento constante em todas as distâncias do
alcance do sistema, o observador consegue verificar pela flecha da trajetória do
projétil se a elevação está correta ou não para a distância aferida. O traço é mais
fácil de ser visto lateralmente do que verticalmente.

6-3
c. Pontaria da luneta de observação - o observador deve apontar sua
luneta para o alvo, permanecendo com ela o mais apoiada e imóvel possível. O
foco da luneta de observação deve ser feito num ponto imaginário a 2/3 da
distância para o alvo.

Fig 6-5. Representação gráfica do traço


na visão da luneta pelo observador

d. Tiro com flecha elevada - caso o caçador esteja disparando a


distâncias que exijam trajetórias com flechas elevadas (a partir de 500 metros), o
observador deve, ao invés de colocar o alvo no centro do seu campo de visão,
apontar sua luneta de observação pouco acima do alvo, para que a flecha da
trajetória não saia do campo de visão do observador.

Fig 6-6. Representação gráfica do traço


na visão da luneta pelo
observador com flecha elevada

6-4
e. O observador que não enxerga o traço desde o início da trajetória,
dificilmente consegue informar ao caçador o local do impacto e as correções
devidas, muito menos, afirmar se o alvo inimigo foi eliminado.

f. Mesmo que os estandes de tiro ofereçam sistemas de marcação do local


do tiro no alvo, o observador deve procurar, em todas as oportunidades, treinar
sua observação do traço do projétil, pois assim será em uma situação real.
Sistemas de marcação podem ser utilizados para confirmar se os trabalhos de
observação de traço e local do impacto estão corretos.

ARTIGO II

CONDUÇÃO DO TIRO

6-5. COMUNICAÇÃO DA EQUIPE

a. No momento do disparo, após terem sidos detectados os alvos, feita a


avaliação de distância, aferição e correção das condições atmosféricas, a equipe
desencadeará o engajamento dos alvos.

b. O caçador informa ao observador que está pronto para realizar o tiro,


estando com sua posição e ponto natural de pontaria verificados.

Caçador: “Caçador pronto”

c. O observador, após ter apontado e focado a luneta para enxergar o


traço, informa ao caçador que também está pronto para observar o tiro.

Observador: “Observador pronto...Fogo”

d. O “fogo” não é um comando de tiro, onde o observador dá a ordem para


que o caçador atire. É somente a informação de que está pronto.

e. Neste momento, o caçador iniciará a pausa respiratória ampliada e o


acionamento do gatilho. Após o tiro, fará o acompanhamento. O observador
verifica o traço, e solicita ao caçador que lhe diga o local onde ele acha que o tiro
deve ter ido.

Observador: “Indique”

f. Se no momento em que o tiro saiu o caçador estava com sua linha de


visada no centro do alvo (o que deve acontecer na maioria dos tiros de um bom
caçador), ele irá informar ao observador. Isto representa a indicação do tiro.

Caçador: “Centro”

g. Iniciam-se os trabalhos de correção do tiro, se for o caso.

6-5
ARTIGO III

CORREÇÃO DO TIRO

6-6. MÉTODOS DE CORREÇÃO

a. O observador sempre irá informar ao caçador o local onde o tiro


realmente atingiu o alvo (ou passou próximo dele em caso de erro). Para designar
o local, o observador usa o sistema do relógio. Ele pode utilizar três métodos,
conforme o exemplo a seguir:

Fig 6-7. Exemplo de tiros subseqüentes para correções

(1) O primeiro método é, através do processo do relógio, informar o local


do tiro em relação ao centro do alvo.

Observador:

Tiro nº 1 - “9 horas, 20 centímetros”


Tiro nº 2 - “7 horas, 50 centímetros”

Tiro nº 3 - “1 horas, 45 centímetros”


Tiro nº 4 - “6 horas, 90 centímetros”

6-6
(2) A segunda forma de informar ao caçador o local do tiro só deve ser
utilizada por uma equipe experiente, onde o observador é hábil e rápido em
cálculos, em função de treinamento. O observador, neste caso, irá passar ao
caçador a correção que deve ser inserida nos botões de correção da luneta. A 700
metros de distância, 1 minuto de ângulo equivale a 17,5 centímetros.

Tiro nº 1 - “Direita 1 minuto” ou apenas “Direita 1”


Tiro nº 2 - “Acima 2 ½ , direita 1”
Tiro nº 3 - “Abaixo 2, esquerda 1”
Tiro nº 4 - “Acima 5”

Em ambos os métodos já citados, o caçador efetuaria correções em sua


luneta, mantendo sua pontaria no centro de massa do alvo.
(3) Caso o caçador tenha errado o alvo, ou, mesmo acertado, sinta
necessidade de realizar um segundo disparo para confirmar a neutralização do
inimigo, o observador irá utilizar a terceira maneira de assessorar o caçador. Esta
será utilizada sempre que houver premência de tempo para engajar o alvo
novamente. Neste método, o observador corrige o tiro do caçador passando a ele
um novo ponto de pontaria no alvo (ou fora dele), em função do ponto de impacto
do primeiro tiro. Este ponto, naturalmente, será o oposto ao primeiro tiro em
relação ao centro do alvo. Para o segundo tiro, serão feitas correções no ponto de
pontaria, e não mais regulagens na luneta de tiro. As figuras não representam
proporção real entre os retículos e o alvo, para facilitar a visualização do ponto de
pontaria a ser corrigido.
Tiro nº 1 - ”3 horas, 20 centímetros”

Fig 6-8. Novo ponto de


pontaria do tiro (1)

6-7
Tiro nº 2 - ”1 hora, 50 centímetros”

Fig 6-9. Novo ponto de


pontaria do tiro (2)

Tiro nº 3 - ”7 horas, 45 centímetros”

Fig 6-10. Novo ponto de


pontaria do tiro (3)

6-8
Tiro nº 4 - ”12 horas, 90 centímetros”

Fig 6-11. Novo ponto de


pontaria do tiro (4)

b. Cabe ressaltar que estas correções somente devem ser seguidas da


maneira descrita se o caçador tiver realizado um disparo tecnicamente perfeito. Se
o caçador indicou um tiro “5 horas, 10 centímetros” ao invés de centro, por algum
motivo, e o tiro atingiu o alvo neste local, isto significa que as regulagens da luneta
estão corretas. O erro, provavelmente, está nos fundamentos de tiro do caçador.
Estes sim devem ser corrigidos.

ARTIGO IV

COMPENSAÇÃO DE PONTARIA
EM TEMPO RESTRITO

6-7. PROCEDIMENTOS PARA A COMPENSAÇÃO

a. Necessidade de utilização - existem situações em que o caçador deve


engajar diversos alvos em distâncias diferentes, e a situação no momento não lhe
fornece tempo suficiente para ajustar os botões de correção da luneta (em
especial o de elevação) entre um alvo e o outro, particularmente, entre um tiro e

6-9
os subseqüentes. Neste caso, o caçador deve realizar uma compensação de
pontaria em tempo restrito. Conhecendo a queda de sua munição, mudará o ponto
de pontaria para as diferentes distâncias, de acordo com o valor conhecido de
queda entre elas.
Dist(m) 100 200 300 400 500 600 700
Queda(cm) 0,0 11 42 98 178 315 473
Minutos 0,00 2,25 5,50 9,75 14,25 21,00 27,00
Tab 6-1. Queda e valores de correção da munição Lapua 10,85g,
Vo 820m/s, Fuzil AGLC IMBEL

b. Execução da compensação - de acordo com a tabela acima, observa-


se que, por exemplo, de 300 para 400 metros o projétil desce 56 centímetros (98 –
42). Entre 400 e 500 metros, a queda é de 80 centímetros (178 – 98).
Conhecendo-se a altura aproximada do alvo, o caçador pode mirar num local
acima ou abaixo do seu centro de massa para atingir alvos em distâncias
diferentes. Supondo que o caçador regule sua luneta para disparar a 400 metros
e, com estas correções, ele dispara a 300. O tiro passará 56 centímetros acima do
centro de massa do alvo. Portanto, para acertar o alvo a 300 metros com
regulagem de 400, ele deverá apontar 56 centímetros abaixo do seu centro. Da
mesma forma, se disparar a 500 com regulagens de 400 metros, seu tiro passará
baixo 80 centímetros do alvo. Para atingir o alvo a 500 com regulagem de 400, o
caçador deverá fazer sua pontaria 80 centímetros acima do centro de massa do
alvo.

Fig 6-12. Ponto de pontaria 56 centímetros abaixo do centro


de massa a 300 metros (tronco e cabeça de 1 m altura)

6-10
Fig 6-11. Ponto de pontaria 80 centímetros acima
do centro de massa a 500 metros

O ponto de pontaria a 400 metros seria o centro do alvo. Usando esta


técnica, o caçador poderá engajar alvos a distâncias diferentes com rapidez e boa
precisão, caso a situação imponha. Se houver tempo suficiente antes dos
disparos, o caçador poderá transformar os valores da queda em centímetros para
milésimos, obtendo um ponto preciso de pontaria na luneta.

6-11
CAPÍTULO 7

TIRO EM ALVO MÓVEL


7-1. GENERALIDADES

a. O caçador deve procurar, dentro da situação imposta pela sua missão,


disparar nas melhores condições possíveis. No entanto, certamente ele deverá
realizar tiros de características especiais.

b. No combate moderno, o caçador, freqüentemente, irá se deparar com


alvos em movimento e deverá estar em condições de engajá-los.

c. Existem diversas técnicas de engajamento de alvos em movimento. Três


delas abrangem a maior parte dos tipos de alvos que irão se apresentar ao
caçador, como serão vistas posteriormente.

ARTIGO I

PRECESSÃO

7-2. DEFINIÇÃO

a. Para compreender as técnicas de engajamento de alvos em movimento,


o caçador deve previamente saber calcular e atirar realizando uma precessão no
alvo.
b. Preceder é colocar o centro do retículo da luneta num ponto à frente da
direção de movimento do alvo, com o objetivo de compensar o tempo que o
projétil leva para chegar ao alvo enquanto ele se desloca. O valor desta
compensação chama-se precessão.

7-1
7-3. FATORES A CONSIDERAR

a. São quatro os fatores a serem considerados para calcular a precessão.


(1) Velocidade do alvo - quanto maior ela for, maior será o deslocamento
do alvo durante o vôo do projétil. Conseqüentemente, a precessão deve ser maior
para compensar esta velocidade.

Velocidade do alvo
Patrulha lenta 0,3 m/s
Patrulha rápida 0,6 m/s
Homem lento 1,2 m/s
Homem rápido 1,8 m/s
Tab 7-1.Velocidade de referência dos alvos
para cálculo de precessão

(2) Direção (ângulo) de movimento - quanto mais próximo de 90º for o


ângulo formado entre a linha de tiro e a direção de deslocamento do alvo, maior
será a precessão. Em relação à posição de tiro do caçador, um alvo se
deslocando a 90º da linha de tiro parecerá estar mais rápido do que se estivesse
numa direção de 45º (embora a velocidade de deslocamento seja a mesma).

Precessão Precessão Meia


precessão(45º)
Total(90º) Nula(0º)

Fig 7-1. ângulo de deslocamento do alvo e precessão correspondente

Caso o alvo esteja se deslocando a 60º, o caçador deve preceder 2/3 do


valor total (equivalente a 90º). A 45º, 1/2 do valor total. A 30º, 1/3 do valor total.
Quanto menor o ângulo de deslocamento, maior será sua silhueta. Um alvo se
deslocando a 90 º apresenta uma largura de aproximadamente 25 centímetros, o
que o torna ainda mais difícil de ser engajado.
(3) Distância para o alvo - quanto mais longe o alvo, maior será o tempo
de vôo do projétil até atingí-lo. Quanto mais tempo para atingir o alvo, maior será

7-2
seu deslocamento até ser atingido. O caçador deve avaliar a distância para o alvo
no ponto onde será realizado o disparo, e não na posição de detecção ou de
início de deslocamento.

Distância do alvo Tempo de vôo


100 m 0,13 seg
200 m 0,27 seg
300 m 0,43 seg
400 m 0,60 seg
500 m 0,79 seg
600 m 0,99 seg
700 m 1,23 seg
800 m 1,50 seg
Tab 7-2.Tempo aproximado de vôo do projétil em função da distância

(4) Ação do vento – este fator deve ser considerado da mesma forma que
ocorre com alvos estáticos. O caçador deve realizar as correções de vento na sua
luneta para depois calcular a precessão do alvo móvel.

b. Cálculo da precessão - o primeiro passo para calcular o valor da


precessão é determinar quanto o alvo se desloca durante o vôo do projétil através
da fórmula:

v(m/s) = e(m) / t(seg)

Nela, “v” representa a velocidade do alvo, “e” o espaço percorrido e “t” o


tempo de vôo do projétil. Supondo que o caçador deva disparar no comandante de
uma patrulha (que se desloca rapidamente, da esquerda para a direita em relação
ao caçador), a uma distância de tiro de 600 metros e um ângulo de deslocamento
de 90 º.

e = 0,6 m/s X 0,99 seg

Durante os 99 centésimos de segundo do tempo de vôo do projétil, o alvo se deslocará


aproximadamente 60 centímetros. Portanto, o caçador realizará seu disparo num ponto 0,6 metro
a frente do centro de massa (da área exposta) do comandante da patrulha. Até que o projétil
alcance a distância do alvo, este já estará na posição em que o caçador realizou sua pontaria e tiro.
Caso a luneta possua algum tipo de graduação, o caçador pode utilizá-la para definir com precisão
a precessão equivalente no seu retículo. No caso do retículo mil-dot, apresentado anteriormente, a
distância entre cada ponto é de exato um milésimo. O caçador pode transformar este valor de
precessão de 0,6 metro em um ângulo, já que a frente e a distância são conhecidas, utilizando a
fórmula do milésimo, onde d (m) = 1000 x e (m) / n (mil).

7-3
n = 1000 x 0,6 / 600

A precessão será de um milésimo. Isto significa que o caçador deverá


disparar quando o centro de massa do alvo estiver passando exatamente no
milésimo a frente do alvo. No exemplo abaixo, o alvo se desloca da esquerda para
a direita.

Fig 7-2. Ponto de precessão no retículo


da luneta (tipo mil-dot) em 1 mil

Caso este alvo estivesse se deslocando a 45º, o caçador, após realizar os


cálculos para 90º, iria simplesmente multiplicar o número de milésimos
encontrados por 0,5 (45/90 = 0,5, ou 50% do valor total), obtendo ½ milésimo de
precessão.

7-4
Fig 7-3. Ponto de precessão no retículo
da luneta (tipo mil-dot) em 0,5 mil

c. Disparando no ponto correto de precessão, o alvo será atingido quando


estiver passando pelo centro dos retículos. Esta será uma das poucas situações
em que o caçador não utilizará o centro dos retículos para a pontaria. O caçador
poderia transformar estes valores em minutos de ângulo e corrigir no botão de
regulagem em direção, porém, iria inserir mais um cálculo, passível de erro, sem
muitas vezes ter tempo disponível para tal. Com a prática freqüente em diversas
distâncias e o registro na Caderneta do Caçador, é possível ter dados prontos
para grande parte das situações. Não haverá desta forma necessidade de cálculos
no momento do disparo, mas sim uma rápida consulta à caderneta para se obter o
ponto de precessão na luneta. Como este tiro muda os padrões comumente
treinados, em função do caçador estar disparando utilizando pontos diferentes do
centro dos retículos, deve haver um grande volume de treinamento no tiro em alvo
móvel.

d. Fundamentos de tiro em alvo móvel - nos momentos próximos ao


disparo, o caçador deve olhar fixamente para o ponto de precessão dentro de sua
luneta. Olhar para o alvo, acompanhando seu movimento, constitui um erro grave,
que deve ser evitado. O acionamento deve ser feito progressivamente, mesmo
que seja rápido. O caçador não pode tentar acionar o gatilho no momento em que
o alvo estiver no ponto certo, mas sim iniciar seu acionamento previamente, de

7-5
forma que o tiro saia de maneira natural, sem arranques. Para isso, o caçador
deve conhecer perfeitamente seu gatilho. O caçador deve manter-se muito
concentrado no tiro de alvo móvel. O estresse da situação e a possibilidade de
erro geram conseqüências indesejáveis na correta execução da técnica de tiro. A
fugacidade do alvo não deve fazer com que o caçador e observador deixem de
verificar também as condições atmosféricas, particularmente, a correção do vento.

ARTIGO II

TÉCNICAS DE TIRO

7-4. EMBOSCADA EM PONTO À FRENTE

a. É a técnica ideal para se engajar alvos móveis. Neste caso, o caçador


irá observar a conduta e o deslocamento do seu alvo, procurando pré-determinar
um ponto no terreno onde o alvo inimigo irá passar e que lhe permita estar em
condições de disparar. Neste ponto, o caçador fará sua pontaria e irá aguardar até
que o alvo atinja o ponto de precessão calculado no retículo de sua luneta.

b. Nesta técnica, a posição do caçador será absolutamente estável,


permitindo um tiro tecnicamente mais preciso. Ele pode escolher o local e o
momento do disparo. A emboscada em ponto a frente é ideal para patrulhas se
deslocando em caminhos ou trilhas.

Fig 7-4. Alvo móvel em deslocamento numa trilha em


emboscada de ponto a frente

7-6
7-5. ACOMPANHAMENTO DO ALVO

a. Nesta técnica, o caçador movimenta sua posição de forma a manter o


alvo dentro de sua linha de mira durante o deslocamento, fazendo ainda a
precessão correta. Esta técnica não é recomendada, já que o caçador deve
mover-se durante o processo do disparo, tornando ainda mais difícil realizar o tiro
tecnicamente correto.

7-6. TIRO DE OPORTUNIDADE

b. Esta técnica refere-se a um alvo que se comporta de forma regular. O


caçador observa que o alvo está em constante movimento, mas em determinados
momentos ele realiza uma pausa, permanecendo estático por um pequeno espaço
de tempo (3 a 5 segundos). Neste caso, ao observar este padrão, o caçador opta
em não realizar o tiro durante o movimento do alvo. Ele fará o acompanhamento
do alvo e, no momento em que o alvo parar, realiza seu disparo, sem necessitar o
uso de precessão. Este é o tiro de oportunidade.

7-7
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