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5rabalhos 'originais
gumadores de <natura Stramonium
e
Dnteresses medico-legais
por

9Torman 9JT. Sefton

NOTA PREVIA

N este modesto trabalho desejamos, antes de mais nada, declarar


que, nem de longe, pr.etendemos haver nêl'e um estudo completo sobre
"Datura Stramonium", quer sob o ponto de vista de suas proprieda.-
eles quimicas, quer sob o ponto de vista de sua ação sobre o org~anis­
lno. Ao contrario, aqui fazemos um ligeiro esboço, salientando ap.enas
ü que de mais c1iréto possa interessar á Medicina I-iegal.
Tam bem queremos deixar dito que, em nossa observação da parte
reconhecemos falhas que deveriamos considerar profundais si não
fôra o fáto da escassez de recursos no local onde foi feita a observa-
nos privarem de completá-la.
Esta observação foi f.eita em 1930, mas somente agora reunimos
OIS pouco,,; dados colhidols para redigirmos est.e pequeno trabalho.
HavianlOs já desanimado de conseguir alguma documentação
mais seg'ura referente a certos sintomas que haviamos observado, quan-
ha poucos dias, encontramos, com, rara felicidade, o que apresen-
tmllo's na V parte destals ligeiras notas.
No capitulo da l\íedicina Legal referente ás intoxicações com re<1-
anti-sociais, muito bem estudados s.eacham os diversos casos ele
crônicas ou agúdas do alcoolismo, morfinismo, cocainismo, etc.
Nada, porém, encontramos nos diversos autores que se relacio-
nai;se com a intoxicação' crônica dos' fumadOl'eis da "Datura Stra-
monium".
São as propriedades desta planta nas crises astmáticas que po-
dem crear ,esta clastse ,de intoxicados. No interior do nosso Estado
este uso é bem propagado.
Os fumadores a llisam em fôrma de cigarros ou em cachimbos e
conhec.em pelo nome de Figueira do Inferno, Erva do diabo, Erva
dOIS feiticeiros .e, na França, o povo a conhece ainda sob a denomüla-
ção de "Pomme épineuse". Estas denominações popularets são oriun-
das quer de sua configuração exterior quer dos .efeitos que ela pro-
duz sobre o organismo.
58 ARQUIVOS RIO GRANDENSES DE MEDICINA

Datura 8tramOllium
rrRABALHOS ORIGINAIS

IjIGEIRA DESCRIÇJlO DA "DUrrURA S'rRA1\10NIU1VI"

i\ Datura Stramonium é da familia das Solanac-eas, muito co-


mum entre nós e na Europa, principalmente em Portugal.
E' encontrada nas margens das estrada,,;, nas depressões de te['-
1'eno, nos entulhos e nos campos, ou áreas de campos, pouco ferteis.
~rem a ltul'a de 1 m. a lm.50, apresenta folhas com formato de
conjunto ovoide, alargadas na sua base, mais estreitadas na extremi-
dade. AÍ"i borda::; são desiguai.s, com saliencias multiplas em forma
triangular com nervuras Inedianas, umas mais proeminente.'3 que as
outra..., e com J](yvas saliencias sobr'e as principais.
.A s folhas venles apresentam um tom escuro na Blla face superior
mais clarc na superficie ventral.
AiS flôres são brancas, grandes e infundibiliform-es e aparecem,
{:Ul nossos climas, entre Novem,bro e Janeiro.
O frúto é uma capsula ovoide eriçada de espinhos pouco resisten-
tes, dividida interiormente ,em quatro septos que contêm grande nu-
m-ero de pequenas sementes ovoicles e arroxada.,,; apensas á saliencias
laterai." nos septos que á,,,; contem -em modo alternaCLo.
'ranto a folha como o frúto tem um cheiro nauseante, fetido, que
aumenta pela atrição e esmagamento e diminui pela dissecação, tor-
:nando-se quasi inodora.
O sabor é acre, amarg10 e deisagradavel, o qual, tam,bem pela dis-
secação, desaparece, tornando-s'e mesmo insipido.
São estes os caracteristico!s principais e suficientes para seu re-
eonh ecimento.

II

PROPRIEDADES 'rERAPEUTICAS

.As propriedades terap'euticas que lhe aÜ'ibuem o povo são va-


rias, sendo que em uso externo se registram 'as aplicações das folhas
80bre o rosto no,,,; casos de odolltalgias, cuja propriedade sedativa
acalma as dôres. Esta prop6edade lhe é atribuida tambem nas di-
versa." nevralgias ,e "cólicas", em que é aplicada em forma de eata-
l1hu·anas confeccionadas com o decoto de suas folhas.
Internamente (l) é usada em fumigaçõ€s, cigarros, charutos ou
{~m cachimbos, pela aspiração da fumaça desprendida, como bom cal-
mante nas cri.,;es a.ç;tmáticas. Bste é o s,eu uso mais comum e, justa-
Inente, o que mais perigoso se torna por suas consequencias, como ve-
remos adeante.
ExcluÍinos aqui apreciações sobre o seu uso pela lll-edicina que,
elnpregada em dóses terapeuticas diversas, já beml estahelecidas em
loi'ma de extráto, infuso ou tintura, aproveitando suas propriedades,

(1) Anderson e Trousseau a indicaram para este fim.


DE MEDICINA

que, deste l11üdo, não nos int-eressam neste estudo, visto o seu emprego,
assim, ser, além de racional, muito pouco usado.
Antigamente foi a datura indicada no tratamento de varIaS mo-
l-estias m-entails, como a melancolia, epilepsia, etc.
Ultimamente começam a aparecer inclicações ao tratamento elo
"parldnsonismo".
III
O PRINCIPIO ATIVO DA DArrURA

O principio átivo da "Datura Stramonium" entre outras substan-


cias comuns aos demais vegetais é um alcoloide, a daturina, (I) sub-
stallcia branca, cristaliz'ada, inodóra, amarga, pouco soluvel na agua
fria, mais soluvel na agua em ebulição, facilmellt-e lsoluvel no alcool,
menos soluvel no éter e, formando, com os acidos, sais mais soluv,eis.
Alguns autores consideram a daturina conto resultante duma
mistura d,e atropina com subs:tancia ainda não determinada ou com
a hiosciamina. OutrOIS a reputam como isomerica com a atropina, ela
qual se distingue apenas no modo de cristalização e, que desvia o pla-
no de polarisação para a esquerda (levogira), ao passo que a atropi-
na não influi sobre a luz polarisada. rrambem difére no fáto de sens
sais não pr,ecipitarem sob a ação do cloreto de platina, o que acontece
com os sais ela atropina.
IV
SINTO:lVIArrOLOGIA GERAL

Como a beladona, a da:tura em dóses elevadas produz secura da


gargant1a, disfagia, dilatação pupilar, ta<quicarclIa, taquipnéa, eleva-
ção térmica, hipertensão arterial, diminuição da sensibilidade, e ate-
núa a dór.
Alguns autores chamam atenção para outros sintomas d-e into-
xicação como s,ejam: agitação, vertigens, escurecimento da
leve delirio furioso, sen.sação de constrição na garganta 8, até mesmo,
a amaurose, que póde perdurar varios dias.
Em dóse mortal seguem-se a estes fenomenois o colapso e estu-
por sucedaneos do delirio, convulsões ou paralisia com hipotérmia
que precede a morte.
Apresenta muito.',;; -efeitos semelhantes aos da beladona, da (luál
difére essencialmente:

a) na intensidade do delirio;
b) nas produções extraordinarias de alucinações com visões
fantasticas;
c) na persistencia da midriase e
d) na amauros€, que póde durar até semanas.
Estes sã,o os principais sintomas que conseguimos fornecidos por
varios autores, nos quais não encontramos nenhuma d-escrição sinto-
matologica que vi,e.gJse corresponder á observada por nós em caso que
adeante relatar-emos.

(1) Manquat - Thél'apeutique - Vol. In pago 515.


TRABALHOS ORIGINAIS 61

Já nos sentiamos,assim, nm tanto isolados em no.,>sa observação,


como dissemos acima, quando, após consulta'1'm,os bibliotécas div'er-
sas, inclusive a do Hospital São Pedro, nos deparamos na da ]'acul-
dade de :lVIedicina C0111 duas obras que 110S vier.am elucidar grande-
mente, com descrições muito mais completas da intoxicação pela da-
tura stramonium.
São elas os "Blem€ntos de rroxicologia e de lVledicina I..egal apli-
eadaao Bnvenenamento" por A. Rabuteau, obra publicada em Paris
110 ano de 1873 (l) e "Alcaloides" por B. Dupuy, tambem publicada
lJaquela cidade em 1889.
Os casos são de intoxicação agúda e só pa:slsareuws a descrever
li!'; sintomas que nos possam interessar mais dirétamente.

v
n PORrrUNAS OBSERVAÇÕES A SERBlVI CrrADAS

Rabuteau, em sua observa(~ão n:o 1 do capitulo que estuda a Da-


tura Stramonium, relata que,em 2G de Nov,embro de 1835, uma crian-
ça com 2 anos e 1ueio de idade, enguliu,sem m,astigar, mais de cem
grãos de estramonio. Bntre os sintomas varios que não importa re-
ferir novamente aqui, dev'cmos evidenciar alguns, corno sejam, de
inicio, um estado de embriaguez, e, após uma hora, movimentos des-
coordenadios, congestão ocular, expressão l11ianiaca, palavras incoé-
rentes e rapiclas; esforços para alcançar objétos imaginario.'> e, no mo-
mento €In que dirig'e os olhos para o lado onde os acredita vêr, solta
um grito de terror, recúa e cobre o rosto com as mãos. O furor a
arrebata em seguida, ataca, beHsca e tenta morder tudo que está em
redor. Cerca de duas hora8<:' meia depois começa a perda da voz ou
gritos ,alternadinnente comi to.',;,se sonóra.
O pulso aumenta até 200 pulsações por minuto, acompanhado de
100 respirações no mesmo espaço de tempo ('1).

Por i,;ua vez, 13. Dupuy em sua obra "Alcaloides" (pag. 501 -
VoI. I) diz ter lido nas efemerides dos "Curieux de la N ature" (:3. 0
.n.no pago 303), entre outros sintomas, os que assináhwemos como mais
importantes.
Um individuo com 28 anos de idade, tendo ingerido com certa
bebida algumas spmentes de estramonio, acordou-se durante a noite
.pm sobro..;salto, com proposüos os lnais insensatos, ameaçando sua es-
posa e seus filhos, pedindo que lhe dee:n armas, ag'itando-se furiosa-
mente, entôanda canções e ~anticos impios (~ passaEdo dia." em estado
de completa clemencia. Na noite elo inicio da molestia foram neces-
sarios policiais vigorosos para contê-In.
Dupuy ainda diz que Duguicl tambem registrou um caso seme-
lhante. Em todos êles tambem apareceram taquisfigmia, taquipnéa,
Um outro caso apresentado por Dupuy em sua 3. a observação,
versa sobre uma melancolica-maniaca já ha muito considerada com-

(1) Nesta obra eneontramos o autografo do antigo mestre de 'Iossa Facul-


dade, Prof. Dias Campos.
62 DE MEDICINA
---------
pletamente curada que, estando a passeiar com sua filhinha, ingeriu,
por serem por esta uJ,tima oferecidos, alguns grãos de. estramonio.
Horas depois manifestou varios dos sintomas descritos no capitulo
competente entr,e os quais o furor que a levou a cometer desatinos,
procurando quebrar os objétos que se achavam em seu redor, a ponto
de a julgarem novamente atacada de sua antiga molestia nervosa.
Chamaram, então, o DI'. Bernard, que nã,o só a atendeu, observando
os outros sintomas comuns á intoxicação estramoniana, como ainda
assistiu á sua morte. A presença de sementes de estramonio veio es-
clarecer, plenamente, o diagnostico.
Dupuy, que muito bem estudou as propriedades da Datura Stra-
moniuIll, evidenciou seu uso e suas indicações na ásma, nos usos "per
os", sem falar nos fumadores desta solanacea.
E' nesta parte que êle chama atenção para o fáto de que o uso
constante pelos ásmaticos não mais produz -efeito no fim de certo
tempo nas dôses indicadas, para terminar por reputar de perigoso e
sem valor real em tais casos.
Nenhuma referencia faz este ou outro qualquer autor, por nós
consultados, a estados ele intoxicação crônica pelo estramonio, o que
desejamos fazê-lo, apresentando a observação a seguir, sinão como
certo, ao menos suspeitis.,úmo de tal, como veremos.
VI
Ul\rl CASO DI1JPROVAVEIJ INTOXICAÇÃO

rrrata-se de ;J. lu casado, com 60 anos de idade, branco, natural


deste Estado, anteriornHmte fôra guarda-livros e, ultimamente, por
razões varias, emprega sua átividade como professor de primeiras le-
trai';, percorrendo diversas estancias onde oferece seus serviços' para
lecionar os filhos de pessôas que residem" como se vê, longe dos re-
cursos es-colares. .
Homem de e•...,tatura mediana, já um pouco encurvado pelo peso
dos annos, mas, relativamente á sua idade e saúde, é bem conservado.
Nada informa de interesse para o nosso estudo sohre seu passa-
do morbido, aliás escasso, a não •...,er a ásma tipo -essencial que de ha
muitos anos o atormenta. Nega molestias venereas anteriores. Não
fuma, nem faz uso do alcool.
As informações sohre ascendentes e colaterais nada rev-elam de.
interessante. Nega molestias nervosas nas pessôas de sua familia.
Apenas um caso de tuberculose em um colateral. Seus filhos e sua
esposa gosam saúde e são bem equilihrados no que diz respeito ao es-
tado mental. Não apresenta passado venereo.
Temperamento calmo, bondoso e até mesmo muito paciente para
com seus aluno.~, apezar de tão "inervante", ser, ás vezes, sua profis-
são átuaL
O unico mal de que se queixa é sua ásma que não o abandona.
Aliás pela ausculta, notam-se sinais evidentes do mal.
No €xame somatico ainda devemos anotar uma ligeira taquicar-
dia (80 pulsações) e diminuição da visão, que não pudemos aquilatar
por falta de aparelhagem no local onde o observamos.
ORIGINAIS 63

Como se trata, no caso, de um homem de certa instrução, nnlito


daramente tudo nos informou, com bom discernimento € fiel relato
do que indagamos.
T-levou-nos ao exame acima a circunstancia de ter o pacieI~te ,-.;e
queixado de sofrer de certos "ataqu€s". Para Hl€lhor compreen...,ão,
descreveremos, em primeiro lugar, o que vimos, para, depois, 'r~pro-
duzirmo.s a descrição dacla dos sintomas subjetivos. '
Gerta vez, elstalldo em grupo de palestra e apreciando o "(;hi-
marrão", foi o nOSISo paciente atingido por um de Beus "ataques" o
Qual foi por nós presenciado.
"Pazia alguns minutos que J. L. se calára e começára a fazer
movÍlnentos d€sorclenados de cabeça, segurando-se com as mãos con-
vulsas no banco (mele se achava sentado. Isto levou-nos a indagar
o que ,sentia, ao que êle com dificuldade nos respondeu, peeFndo que
o cuidasse, que o socorrelSse, pois, sentia ser aos poucos arrebatado
pelo seu" ataque". rrillha a face contraída, com expres.<:;ão angustioha.
Os olhm., largamellteabertos tomam um aspéto de pavôr, as nülos
tornam-se mais crispadas, o corpo vae lelltanWnte, tomando uma ati-
tude agressiva. Confu,sas exclama,ções que, até então, eram de la-
mento, passam a ser de furor. Não responde mais ao que se lh,e per-
gunta e, repentinamente, desvairado, atira-se a um tronqo de madei-
Ta para0 qual ha muito dirigia o olhar, procura, com furor desmedi-
espancá-lo e logo tudo cessa. Cal em ligeiro estado de imobilidade,
eonl> os olhos fechados, face ligeiramente contraída, e ao contáto de
nossa mão, para encontrar um pulso taquicardico e pequeno, abre
novamente as olhos, com expressão de tristeza € desalento, recusa o
auxilio prestado, levanta-se quasi por si e procur~ sentar-r:;e afim de
descansar, dizendo .sentir-.se muito fatigado. (1)
Por duas vez'es a.inda tivemos oportunidade de nssistir a (·:·ises.
11ão tão completas, no espaço de 50 dias.
Vejamos o que nos informou o paciente do que sentira ern taIS
oeasiõe~

VII

ALGUNS ESCLAl\;ECTl\IENTOS DID Il\IPOHTANGLA..


Informou-nos .T. L. que pressentia perfeitamente a aproximação
da cris,e, tanto que, tendo horror dela, ainda conseguia pedir socorro
~:ws circunstantes. O que se seguia, entretanto, não o permitia lllaÜ.,
fnlar. Tornava-s,e presa de um terror crescente, mas, (dizia êle), jus-
tificad(), pois, sempre o que lhe estava fronteiro, um tronco. um obj€--
to {IUalquer ou m8lsmo uma pessôa, estes passavam, para êle, por Ullla
metamorfose inimaginavel; pareciam se tornar um "monstro", uma
cousa horrivel" (sic) que lhe causava tal pavôr que só a agressão e o
despedaçamento do que via é que, naquêles momentos, poderiam tirá-
lo daquela situação em que tanto lhe assaltava a medo a ponto de
~tingir ao desespero (sic). Agr€dia, pois, por det'Sespero, por desvai-
ramento. la, enfim, do terror ao pavôr.

(1) Apezar <lo enIor reinante e dos esforços feitos não houve a menor
trHJlssudtH:;1().
RIO GRANDENSES DE MEDICINA

Guardava lembrança de tudo até ao momento ele perder comple-


tamente os sentidos. Sómente a "entourage" não o impressionava
mais. Depois, de certo ponto, pois, parecia ficar absorvido pelo ter-
ror que o dominava.
Não ]106 sentíamos em condições de dar um diagnostico a este
estado de nosso paciente.
Por mero acaso, entretanto, o vimos fumar cachimbo e. interpe~
lanclo-o sobre que estava a fazer, pois ncs havia asseverado que Jl~tO
usava ü fumo, êle explicou-nos que "aquilo não era fumo e sim UIna
"erva" chamada Figueira do Inferno que, muito hem lhe fazia fi ás-
ma". (8ic).
Imecliatamente nCí3 ocorreu que ))'JclEsse haver correlação entl'e
este uso e, mesmo, abu(';;o de tal planta. eom os sens ataques.
Indagamos mais e soubemos que (~!e fumava diariamente um ca·
(~himbo ac' 111,enos, para. evitar as crises de ásma cc>. quando estas. mes-
mo assim se apresentavam com certa intem.;iclacle, fumav,} ;5 e G ca·
chimbadas por dia.
Determinamos que abanc1OIH1G;-.;e tal habito que reputavamos co-
mo responsavel peloG seus males.
I~oi o suficientt' para que êle ahandonasse o uso do cachiInbo.
IYassamos a fazer a medicação adequada á ásma.
Dias depois ainda sentiu um estado de certa ansiedade que não
foi por nós presenciado.
Tres mê,<.;es aiIic1a tivemos em convivio proximo a .1. 1,. Xada
mais lhe havia acontecido. Após isto perdemo-lo de vista.
Antes de terminar esta parte, queremos ressaltar aqui que .1. L.
dizia temer lrnensamente que algUIn dia pudesse vir a agredir in V (1-
luntariamente alguem, pois, por d11as vezes, se dirigira (inconsciente-
mente, já se vê)" para umapeSt,;ôa. Felizmente,c1izia ele. 11l1l1Ca sou-
be porque, nada 'de maior aconteceu. Note-se tambem que .1. L., a pe-
sar de ser homem que vivia n~) campo, nunca usava 'arma alguma,
pois 'não era de seu habito. .

VIn

CONSIDEHAÇÕES SOBHE O ESTADO lVIENTAL - CONCLUSAO

Do complexo sintomatologico exibido nos diversos casos citados,


devemos evidenciar. para interesse medico-legal. as perturbações
mentai~
A ilusão, a alucinação e o delil:io alegre ou furioso hão encontra,..
elos, quasi que de maneira constante.
A tendencia á agres.são é presente em quatro dos casos descritos.
A criança de 2 anOl3 e meio chegou a ponto de agredir de maneira a
mais intensa, com sejam a tendencia a morder, arma muito natm'al
de que as crianças lançam mão. O individuo de 28 ano,'..; exigiu mes-
Il1'O uma arma rnra tentar completar de mó do mais violento sna agre8~
são. No caso da maniaca vimos o despedaçamento de. tudo que a' ro-
deava. O nosso paciente consumou uma agressão.
65

lIa semelhança e verdadeira identidade de sintomas no decorrer


das intoxicações quer agúdms, quer crônicas, sendo que a responsabi-
lidade do toxico nestes casos, não carece duvida.
De fáto, o ilustre psiquiatra Dl'. J. Godoy, tomando conhecimen-
to dos fenomenos psiquicos apresentados pelo nosso ohservado, opinou
de que o quadro é o de confusão mental alucinatoria tf'rrificante.
comparaveL perfeitanwnte, ao~s ,epifsodios sub-ag:údos da intoxicação
alcoolica.
Aqui ficamos lSem mais comentarios. Parece-nos, porém, conHU1S
as intoxicações ,crônicas ou agúdas, pela Datura Stramonium os es-
tados psiquicos de real interesse médico-legal, por s'erem os mais pro-
picios aos crimes irresponsaveü;;: ilusão, delirio alucinatorio e excita-
ção psico-motora.

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