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A ANAMNESE HOMEOPÁTICA

ANAMNESE: do grego. Anámnesis, “o relato dos padecimentos feitos pelo


doente à cordialidade inquisidora do médico” (MIGUEL TORGA, Diário, ex p. 55-
56). “Informação acerca do princípio e evolução de uma doença até à primeira
observação do médico” (A.B.H.F.).
O médico deve ter: boa vontade; boa disposição; compreensão; respeito à
liberdade do enfermo para expressar-se e paciência.
“O enfermo é o único que tem a chave do medicamento”.
“O médico deve ser um cúmplice, um companheiro”.
“Resgatamos o encontro humano que os aparatos tecnológicos afastaram”.
Atitude do médico = neutralidade com cumplicidade. Fazer sentir ao
paciente o interesse do médico. “O 1º ato do médico é dar a mão”.
Analisar todas as características para proporcionar uma boa relação médico-
paciente.
1) O olhar:
— detalhes da atitude: se acercar do paciente;
— atitude receptiva: intenção envolvente;
— envolver o paciente em uma atmosfera de proteção = olhar
abraçador;
— com o olhar: estou disposto a escutar-lhe, vou ser discreto e
compreensivo, necessito que me fale = olhar inquisitivo.

2) O silêncio e a pausa:
— o silêncio do médico outorga o passaporte para o paciente poder falar;
— tempo para pensar – rebobinar o K-7 de sua vida e ligar de novo;
— permite ao paciente desenvolver seus pensamentos para oferecer ao
seu médico.

3) A Palavra: ama, fere e mata.


— O tom da voz;
— A linguagem deve ser acessível ao paciente;
— A linguagem deve ser pessoal.
4) A escritura:
Escrever com os mesmos termos do paciente, frouxamente, não deixando
de observar as expressões do paciente. “O momento de escrever como de
perguntar é ditado pelo paciente”. Como um jogo de xadrez: 1ª jogada = em que
posso ajudar. Aguardar a jogada do paciente e seguir estimulando até o xeque-
mate = história biopatográfica.
O que o médico deve fazer:
1) Deixar o paciente falar livremente;
2) Escrever cada sintoma ou grupo de sintomas;
3) Os sintomas devem ser escritos na linguagem do paciente;
4) Circunscrever-se a um grupo de sintomas até esgotar tudo;
5) As perguntas devem ser: gerais, amplas, indiretas e vagas.

O que o médico não deve fazer:


1) Interromper o relato do paciente;
2) Insistir em perguntas que não consegue resposta;
3) Formular perguntas: dirigidas – alternantes – sim ou não
*sintomas de determinado medicamento.

A FICHA CLÍNICA:
1) Identificação;
2) Queixas e duração – ouvir, anotar e detalhar ao máximo;
3) Interrogatório sobre diversos aparelhos;
4) Antecedentes pessoas e familiares;
5) Alimentação: Apetite? Desejos e aversões? Sabor? Temperatura;
6) Sede: Como é? Horário? Desejos e aversões?
7) Transpiração como é? Onde é mais? Odor? Mancha?
8) Meteorológicos: Calor? Frio? Sol? Chuva? Campo? Praia? Vento?
9) Períodos: nas 24 horas do dia: menos ou mais disposição?
10) Sono/sonhos: como é? Posição? O que faz durante? Sonha? Repetem?
11) Medos – temores: quais?
12) Mentais – como é sua maneira de ser? Choro? Consolo? Emoções?
Sofrimentos? Afeto? Carinho? Ciúmes? Feliz? Morte?
13) Biopatogrófico: fato(s) que marcaram o paciente profundamente?
14) Exame físico: biotipo – face, pele e anexos – atitudes, etc.

“Verificar tudo para ver se tem os sintomas mentais e a totalidade dos


sintomas característicos com os de algum remédio. O exame individual de um caso
de doença requer, da parte do clínico, isenção de preconceitos, sentidos apurados,
atenção ao observar e fidelidade em anotar o caso de doença.” HAHNEMANN

ORIGEM E CLASSIFICAÇÃO DOS MEDICAMENTOS


HOMEOPÁTICOS

A - Derivados de vegetais: o maior número deles.


I- Plantas inteiras: Belladonna, Aconitum napelus
Partes delas:
• Symphytum officinalis (raízes frescas)
• Sanguinaria canadensis (raízes frescas) Nux vomica (sementes)
• Lycopodium clavatum (esporos)

II- Produtos fisiológicos (SARCÓDIOS)

Ex.: Asa foetida, Terebinthina oleum, Hura brasiliensis, Opium (resinas


vegetais)

III-Produtos patológicos (NOSÓDIOS)


Ex: Secale cornutum (fungo Claviceps purpurea que cresce sobre o grão de
centeio).Ustilago maydis (fungo sobre grão de milho)
Solanum tuberosum aegrotans (fungo que cresce na batata = Solanum
tuberosum).

B - Derivados de animais:
I- Inteiros, partes, frescos ou secos, vivos ou mortos
Ex: Apis mellifica (abelhas vivas)
Cantharis vesicatoria (cantáridas secas)
Tarantula cubensis e Tarantula hispanica (aranhas inteiras)

II-Produtos fisiológicos (SARCÓDIOS)


Ex: Lachesis trigonocefalus, Crotalus horridus, Naja vipera
(venenos de cobras)
Sepia succus (tinta de polvo)
Mephitis putorius (secreção de glândulas anais de um tipo de raposa)
Moschus (musk)
Lac defloratum e Lac caninum (leites) Calcarea ostrearum (pó de cascas de
ostras).

III-Produtos patológicos (NOSÓDIOS), bactérias ou suas toxinas, órgãos


doentes ou suas secreções.
Ex.: Tuberculinum, Syphilinum, Psorinum, Streptococcinum

IV -ORGANOTERÁPICOS, obtidos de órgãos frescos ou secos, ou de suas


secreções, como os hormônios.

Ex.:Thyreoidinum, Ovarium, Insulina, Adrenalina

V- AUTOISOTERÁPICOS ou AUTONOSÓDIOS: produtos fisiológicos ou


patológicos de um doente, utilizados com a finalidade de tratar sua própria doença.
São as “autovacinas homeopáticas”, geralmente preparadas a partir de secreções
do nariz, orofaríngea, sangue (auto-hemoterápicos), pele (eczemas, pus,
carcinomas), urina, fezes, etc.

C - Derivados do reino mineral:


I - Origem natural:
Ex.: Aurum metalicum (Ouro), Kali carbonicum (carbonato de potássio
obtido das cinzas de plantas), Natrum muriaticum (sal marinho não purificado),
Graphites (produto inglês da mina de Borrowdale), Petroleum (da Áustria), Mica
(completamente branca, da

Índia), Sulphur (da Itália).


II-Origem industrial, sintética: sais orgânicos, vitaminas.
Ex.: Sulfanilamida, Mercurius iodatus ruber, diversas penicilinas.

III-Preparações exclusivamente homeopáticas:


Ex.: Hepar sulphuris = cascas de ostras em pó com enxofre Causticum =
mistura de cal em água, com bissulfito de potássio e água fervente
Mercurius solubilis = nitrato de protóxido de mercúrio com amônia
Calcarea acetica = pó de cascas de ostras com vinagre de vinho
D - Imponderáveis: não enquadrados nos casos anteriores.
Ex.:Magnetis polus arcticus, Eletricidade, Raios-X, Raio de sol, Raio de lua.

NOMENCLATURA ATUAL: corretos, porém pouco usados.

Calcium e não Calcarea


Barium e não Baryta
Kalium e não Kali
Natrium e não Natrum

MEDICAMENTOS INSOLÚVEIS: não podem ser aviados como gotas ou


glóbulos até CH3, só como pós ou comprimidos. Ex.: Calcarea carbonica CH 1 pó
ou comprimido MEDICAMENTOS BIOLÓGICOS: bioterápicos. Devem ser aviados
em potência igual ou superior a CH I2, para garantir sua esterilidade. Ex.:
Meningococcinum CH I2.

MEDICAMENTOS TÓXICOS: não podem ser usados em baixas potências:


Arsenicum album CH 1, Lachesis CH 1, Mercurius solubilis CH 1, tinturas-mãe
tóxicas em uso interno (Belladonna, Arnica Montana, Rhus toxicodendron, etc.
MEDICAMENTOS “PROSCRITOS”: não têm efeito psicotrópico em CH6 e em
CHI2 não têm mais matéria. Ex: Opium, Cannabis sativa, Cannabis indica, Cocaina,
LSD.

VEÍCULOS E EXCIPIENTES

Veículos e excipientes, também chamados de insumos inertes, são


substâncias utilizadas em Homeopatia para realizar diluições, incorporar
dinamizações e extrair os princípios ativos de drogas e na elaboração das tinturas
homeopáticas. Eles são muito importantes, uma vez que chegam a fazer parte
integral do medicamento homeopático, daí a necessidade de atenderem às
condições de pureza exigidas pelas farmacopeias.
Os veículos e excipientes utilizados em Homeopatia são a água, o álcool
etílico, a glicerina, a lactose e a sacarose, bem como os glóbulos, microglóbulos,
comprimidos e tabletes inertes.

ÁGUA
A água utilizada em Homeopatia é a água pura obtida por meio de
destilação, bidestilação, deionização com filtração esterilizante e osmose reversa.
Ela deve apresentar-se límpida, incolor, inodora e isenta de impurezas, como
amônia, cálcio, metais pesados, sulfatos e cloretos. Seu acondicionamento é feito
em recipientes bem fechados, em geral barriletes de vidro ou PVC, devendo ser
renovada todos os dias, pela manhã.
A destilação é o processo mais recomendado para as farmácias
homeopáticas, pois obtemos água teoricamente estéril a baixo custo. A título de
curiosidade histórica, Hahnemann empregava a água da chuva ou da neve
derretida para a preparação dos medicamentos homeopáticos. Hoje, não devemos
utilizá-las pelo alto índice de poluentes encontrados na atmosfera.

ÁLCOOL
O álcool utilizado em Homeopatia é o álcool etílico bidestilado obtido em
alambiques de vidro. Ele deve apresentar-se límpido, incolor, com odor
característico, sabor ardente e isento de impurezas, principalmente aldeídos e
álcoois superiores. Seu acondicionamento deve ser feito em recipientes
herméticos, como bombonas de polietileno que não tenham sido usadas para
outros fins, longe do fogo ou do calor. Hahnemann utilizava álcool de uva,
apresentando o álcool de cereais e o de cana-de- açúcar características quase
idênticas, podendo também ser utilizados.
Empregamos o álcool nas mais diversas graduações para a elaboração das
tinturas e dinamizações homeopáticas.
• Álcool 20%: é empregado na passagem da forma sólida (trituração)
para a forma líquida.
• Álcool 30%: é utilizado na dispensação de medicamentos
homeopáticos administrados sob a forma de gotas.
• Álcool 70%: é empregado nas dinamizações intermediárias.
• Álcool igual ou superior a 70%: é utilizado na preparação de
dinamizações que irão impregnar a lactose, os glóbulos, os comprimidos e os
tabletes, bem como na moldagem de tabletes.
• Álcool 96%: é empregado na dinamização de medicamentos
preparados na escala cinquenta milesimal-LM (proporção 1/50.000).
• Diferentes diluições alcoólicas: são utilizadas na elaboração das
tinturas homeopáticas e na diluição de drogas solúveis, nas três primeiras
dinamizações centesimais (1/100) ou nas seis primeiras dinamizações decimais
(1/10).

GLICERINA
A glicerina utilizada em Homeopatia é a glicerina bidestilada obtida em
alambiques de vidro para evitar a presença de metais. Seus principais
contaminantes são a acroleína, compostos amoniacais, glicose, sulfatos, cloretos,
metais pesados, ácidos graxos e ésteres. Ela deve apresentar-se clara, incolor, na
consistência de xarope, com odor característico e sabor doce, seguido de sensação
de calor. Deve ser acondicionada em recipientes bem fechados (vidro ou plástico),
pois é higroscópica.
Empregamos a glicerina nas tinturas homeopáticas preparadas a partir de
órgãos e glândulas de animais superiores, nas três primeiras dinamizações
centesimais (1/100) e nas seis primeiras dinamizações decimais (1/10), a partir
de tinturas-mãe, e na preparação de certos bioterápicos. Ela é utilizada misturada
com água na proporção 1:1; com água e álcool na proporção 1:1:1 ou em outras
proporções de acordo com as monografias citadas nas farmacopeias
homeopáticas.

LACTOSE
A lactose utilizada em Homeopatia é a obtida a partir do leite de vaca. Ela
deve ser usada pura, livre de impurezas como o amido, a sacarose e a glicose.
Sua purificação consome quatro litros de álcool etílico para cada 1.000g. Deve
apresentar-se na forma de pó cristalino, branco, inodoro, com leve sabor doce, e
ser acondicionada em recipientes bem fechados, pois absorve odores rapidamente.
A lactose é utilizada nas dinamizações feitas a partir de substâncias insolúveis
(trituração) e na confecção de comprimidos, tabletes e glóbulos inertes. Pode ainda
ser impregnada com dinamizações líquidas, para a obtenção da forma
farmacêutica sólida de uso interno, chamada “pós”.

SACAROSE
A sacarose utilizada em Homeopatia é o açúcar purificado obtido da cana-
de- açúcar, especialmente. Suas principais impurezas são os metais pesados, o
cálcio, os cloretos e os sulfatos. Ela deve apresentar-se na forma de cristais ou
massas cristalinas, incolores ou brancas, ou pó cristalino branco, com sabor doce
bastante característico. Deve ser acondicionada em recipientes bem fechados. A
sacarose é utilizada na fabricação dos glóbulos inertes.

GLÓBULOS INERTES
Glóbulos inertes são pequenas esferas compostas de sacarose ou mistura
de sacarose e pequena quantidade de lactose. São obtidos industrialmente a partir
de grânulos de açúcar mediante drageamentos múltiplos. Apresentam-se com
pesos medianos de 30 mg, 50 mg e 70 mg, na forma de grãos esféricos,
homogêneos e regulares, brancos, praticamente inodoros e de sabor doce. Devem
ser acondicionados em recipientes hermeticamente fechados. Os glóbulos inertes
são impregnados com dinamizações líquidas, para a obtenção da forma
farmacêutica sólida chamada “glóbulos”.

MICROGLÓBULOS INERTES
Microglóbulos inertes são pequeníssimas esferas compostas de sacarose e
amido obtidos industrialmente pelo processo de fabricação semelhante aos
glóbulos. Eles são comercializados na padronização de 63 mg para cada cem
microglóbulos. Apresentam-se na forma de grãos esféricos, homogêneos e
regulares, brancos, praticamente inodoros e de sabor doce. Devem ser
acondicionados em recipientes bem fechados (frascos de vidro âmbar, por
exemplo). Os microglóbulos são utilizados na preparação de medicamentos na
escala cinquenta milesimal.

COMPRIMIDOS INERTES
Os comprimidos inertes utilizados em Homeopatia são pequenos discos
obtidos pela compressão de lactose ou mistura de lactose e sacarose, com ou sem
granulação prévia. Eles apresentam-se na forma discoide, homogêneos e
regulares, com peso compreendido entre 100 e 300 mg, brancos, inodoros e de
sabor levemente adocicado. Devem ser acondicionados em recipientes bem
fechados. Os comprimidos inertes são impregnados com dinamizações líquidas,
para a obtenção da forma farmacêutica sólida chamada “comprimidos”.

TABLETES INERTES

Os tabletes utilizados em Homeopatia são pequenos discos obtidos por


moldagem da lactose em tableteiro. Eles apresentam-se na forma discoide, não
tão homogêneos e regulares quanto os comprimidos, com peso compreendido
entre 100 e 300mg, brancos, inodoros e de sabor levemente adocicado. Devem
ser acondicionados em recipientes bem fechados.

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