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Uso terapêutico

dos cogumelos
“mágicos”
@ferramentadecura
“SEI QUE DESPERTEI e que ainda durmo.
O meu corpo antigo, moído de eu viver,
diz-me que é muito cedo ainda...
Sinto-me febril de longe.
Peso-me não sei por quê...
Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo,
estagno, entre um sono e a vigília,
num sonho que é uma sombra de sonhar.
Minha atenção bóia entre dois mundos
e vê cegamente a profundeza
de um mar e a profundeza de um céu;
e estas profundezas interpenetram-me, misturam-se,
e eu não sei onde estou nem o que sonho.”

(Fernando Pessoa)
SUMÁRIO

Apresentação
Legislação
Histórico
Enteógenos
Cogumelos mágicos
Uso terapêutico
Relatos
Mais informações
Referências
1. APRESENTAÇÃO
O presente material visa informar, esclarecer e
desmistificar o uso dos cogumelos “mágicos”,
propriamente os do Gênero Psilocybe, usados como
enteógenos ou de forma terapêutica como
ferramenta de cura.
A proposta que será descrita aqui visa uma
(re)conexão profunda do ser humano-animal
compreendido em seus campos de vida e imerso
em um todo maior que influencia cada um, mas
também é afetado por todos nós.
É através dessa reconexão entre as dimensões
biológicas, psíquicas, sociais e espirituais que cada
um pode experienciar a própria vida, seus desafios
e exigências, de um modo mais saudável.

2. LEGISLAÇÃO
Para fins de ritualística, não há precedente ou
crime vinculado ao uso dos cogumelos citados de
acordo com a Convenção de Viena, das Nações
Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971,
citada na Lei 11.343 de 2006 sobre a política
pública de drogas.
3. HISTÓRICO
Os estudos com os cogumelos desse gênero
iniciaram no século passado entre as décadas de
30 e 40 especialmente com o trabalho
exploratório e vivencial dos pesquisadores Roger
Heim, Richard Schultes e Gordon-Wasson em suas
excursões ao México, onde as culturas tradicionais
já praticavam as ritualísticas milenares fazendo o
uso desses cogumelos ou a “carne dos deuses”,
como é chamado por esses povos.
Foi a partir da década de 60, com o emergir do
movimento hippie e da contracultura que
infelizmente muitas pesquisas passaram a ser
interrompidas e excluídas com o movimento
proibicionista e a política de guerra às drogas
iniciada pelos EUA, ao exemplo da expulsão de
Harvard dos professores e psicólogos Timothy
Leary e Richard Alpert.
Difundida no ocidente e alimentada com os
discursos da igreja católica e da medicina
clássica, buscou-se patologizar os comportamentos
ligados ao uso das substâncias psicoativas e as
alterações de consciência, sendo punidas sob a
óptica de uma “verdade científica”, se alastrando
assim entre as pessoas.
Só a partir da década de 90 as pesquisas com
psicodélicos em humanos foram reiniciadas e hoje
a medicina almeja através das pesquisas dessas
substâncias torná-las parte da sua nova revolução
psiquiátrica após o boom do Prozac nos anos 80.
4. ENTEÓGENOS
A palavra enteógeno significa “manifestação
interior do divino” e é uma expressão utilizada
para denotar o uso das substâncias alteradoras
da consciência em prol desses próprios fins e
em respeito as culturas tradicionais que as
utilizavam em suas ritualísticas de caráter
espiritual.
5. COGUMELOS “MÁGICOS”
A história de uso dos cogumelos “mágicos” ou
enteógenos pode remeter a até 7 mil anos em
tribos antigas do norte da África e escritos do
Egito antigo, presentes também em pinturas
rupestres. Esses fungos estão presentes e
disponíveis na natureza sendo organismos vivos
primitivos e parte intrínseca do ecossistema. Seu
uso tradicional está documentado como parte de
ritualísticas de Xamãs de forma sacramental,
terapêutica ou mesmo como uso recreativo em
culturas como a dos Astecas e dos Maias, estando
presentes também em artefatos como itens de
adoração.
Em geral, a expressão cogumelos “mágicos” se
refere ao gênero dos psilocybe (que contém pelo
menos 116 espécies).
Os Cubensis, uma de suas espécies mais utilizadas,
é chamado pelo povo Mazateca por Di-shi-tjo-le-
rra-já, que significa o “cogumelo divino do
estrume”, por sua facilidade em ser encontrada
em pastos e têm como principais substâncias
psicoativas a psiloscibina e a psiloscina.
Importante mencionar que os princípios
psicoativos psicodélicos não determinam os seus
efeitos per si, mas sim a localização dos
receptores de ação dessas substâncias, que agem
principalmente nos receptores serotonérgicos (da
serotonina, 5-HT) nos quais as estruturas neurais
têm a sua função alterada mediante o
desbalanceamento químico dos neurotransmissores.
6. USO TERAPÊUTICO
Partindo-se do uso dessas substâncias psicodélicas
como enteógenos, têm-se três pilares que
sustentam e orientam esse uso:
contexto X indivíduo X substância
Sendo o primeiro relacionado ao contexto de uso,
como aspectos ambientais, culturais e sociais; o
segundo, a dimensão individual, como aspectos
psicológicos, expectativas do uso, etc; e o último a
própria substância e seus efeitos neuroquímicos.
As pesquisas a respeito da psiloscibina e sua
utilização terapêutica têm crescido ao longo
desses últimos anos, revelando ser uma ferramenta
potencial no auxílio ao sofrimento humano ao
reencontro com a própria essência, com adendo
positivo a sua baixa toxidade e ausência de efeitos
de adicção em humanos.
Assim como os cuidados anteriores e durante o
uso, é indispensável ao final da experiencia o
momento de integração como parte do processo
terapêutico vivido.
Possíveis benefícios:
Atualmente, têm sido objeto de pesquisas em que
se investiga o seu uso na melhora de quadros de
depressão crônica, transtornos de ansiedade e uso
abusivo de drogas.
Usuários que relataram suas experiências com
diferentes dosagens apontam sobre os efeitos e
benefícios a partir da ampliação consciencial
promovida pelos cogumelos:

- Maior apreciação da vida


- Melhora do humor
- Maior abertura de si ao decorrer do tempo
- Aumento da criatividade
- Mais energia
- Reencontro com a própria essência
- Melhora da relação com o próprio corpo
- Maior contato com a própria espiritualidade
- Maior senso de pertencimento com o todo
7. RELATOS
A seguir, alguns recortes de relatos com o uso dos
cogumelos:
"[...] Comecei a “dançar” com essa energia. Tudo fluía
como dentro de uma matéria líquida, fluida. A
sensação era como estar apaixonada, encantada,
seduzida, da forma mais gostosa possível. Sentia o
“corpo” (não físico), a essência dele. Percebi que a
vida é tão maior que tudo isso que vemos! [...]"
(Clara M.)

"[...] Foi bem leve, uma paz profunda e os sentidos


bem aguçados. A percepção de tempo muda, fiquei
mais contemplativa e minha experiência olfativa foi
incrível. Não tive efeitos visuais e nem alucinação, o
que me deixou bem mais segura pra aumentar a
dosagem na próxima vez [...]"
(Fernanda S.)

"[...] É MÁGICO! Você se sente leve sem julgamentos


internos e ao mesmo tempo consegue ter clareza
sobre suas ações, destrava problemas internos e te
inspira. Filosofa um pouco e se sente viajando
literalmente. Eu particularmente me senti tão bem
que era como se eu tivesse apaixonado. Acho que
nunca me senti tão bem em toda minha vida.
Lembrei de momentos da infância e adolescência,
lembrei de relacionamentos passados e tirei a culpa
total de mim por eles terem acabado [...]"
(Jonas P.)
Observações:
Lembre- se sempre que não existem substâncias
milagrosas. A mudança SEMPRE virá de dentro e,
portanto, não pode existir remédio ou qualquer
substância que assuma esse lugar.
Felizmente existem formas de potencializar e
aliviar algumas condições, como as que foram
discorridas anteriormente. As medicinas da
natureza estão dispostas para quem deseja sentir
o seu poder de cura e conexão com o que há de
mais íntimo em cada um.
A magia não vem dos cogumelos, vem de dentro de
nós!
Atenção: O uso dos cogumelos é contraindicado
para algumas pessoas em determinados momentos
de vida. A preparação para experiência é essencial
ao processo, por isso a busca por orientação
especializada é fundamental.

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REFERÊNCIAS (e sugestões):

- BUENO, M. E. História das Ervas Mágicas e


Medicinais. Madras editora, 2009.

- ESCOBAR, J. A. C.; ROAZZI. A. Substâncias


Psicodélicas e Psilocibina. Núcleo de Estudos
Interdisciplinares sobre Psicoativos-NEIP, 2010.
Disponível em: www.neip.info

- JOHNSON MW.; GRIFFITHS RR.; Potential


Therapeutic Effects of Psilocybin.
Neurotherapeutics. Jul;14(3):734-740, 2017.

Documentários:
- Dosed (2019)
- Fungos Fantásticos (2019)

Material elaborado por:


Filipe Buraneli, psicoterapeuta e
estudante das medicinas da natureza

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