Você está na página 1de 21

RICARDO

MAURÍCIO e LUIZ ROBERTO DALPIAZ

ORATÓRIA PARA CRIANÇAS

E-book, 2015.
MAURÍCIO, Ricardo; DALPIAZ, Luiz Roberto. Oratória para crianças [2000]. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2000. Versão para E-
book – Copyright@. 2015.

Editoração e revisão: Cláudia Claas

RICARDO MAURÍCIO: poeta, escritor, ensaísta, declamador e professor. É graduado em Letras, Pós-graduado em Educação e
Administração de Recursos Humanos e Master Practitioner em Programação Neurolinguística.
Quando eu tinha oito anos, fui escolhido pela professora para declamar um poeminha em homenagem às mães. Havia
muita gente no pátio da escola. Pais, professores, alunos, enfim, uma multidão. Quando chegou minha vez de entrar em cena,
estava com o estômago embrulhado e meu rosto mostrava o estado de pânico. Mas consegui, com muito esforço, dizer o versinho:

“Mãe, palavra ditosa,


Que tanto queremos bem,
É tão pura e formosa
Que rimas ela não tem”.

Que experiência! Após aquele dia, descobri que deveria enfrentar as dificuldades sem medo.

(Ricardo Maurício)
6

Era uma vez uma professora chamada Gente, que fazia de tudo
para que seus alunos perdessem o medo de falar em público. Ela ficava
triste, porque cada vez que tinha uma apresentação na escola era aquela
choradeira. Muitas crianças diziam que não queriam participar. Alguns
alunos chegavam a ensaiar o que iriam dizer, mas quando chegava a hora
da apresentação, eles ficavam nervosos, as pernas tremiam, as ideias
ficavam confusas, perdiam a voz, o coração batia forte e parecia que o
chão escapava dos pés. Que sufoco!
7

Isso tudo preocupava a professora Gente. Decepcionada, ela decidiu que isso não poderia continuar:
- Todos os meus alunos são bonitos e inteligentes – disse ela baixinho.
Então, ela decidiu traçar um plano para encorajar seus alunos a falar na frente das pessoas. Quando estava prestes a
terminar uma das suas aulas, disse para a turma:
- Queridos alunos, amanhã será um dia muito especial. Todos vocês terão que vir um pouco mais cedo. Venham todos de
uniforme, perfumados e bem limpinhos, que iremos fazer uma visita a um senhor muito especial.
Surpresos, os alunos preparavam-se para sair da sala de aula quando a professora, com a voz um pouco mais elevada,
falou:
- Ah crianças! Estava me esquecendo de algo muito importante. Por favor, para a aula de amanhã, tragam apenas uma
caixinha vazia. Pode ser... Deixem-me ver... Bem, qualquer caixinha, desde que tenha tampa. Entenderam? – disse ela um tanto
ofegante, mas confiante naquilo que estava fazendo.
8

As crianças mais curiosas foram para junto da professora, para saber mais a respeito da estranha aula do dia seguinte.
Ela não deu ouvidos, apenas um sonoro “passem bem, crianças!”. E lá se foram todos, ainda desconfiados.
No outro dia, antes da hora, lá estavam as crianças, e bem arrumadas. Cada uma trouxe a caixinha, conforme a professora
havia pedido. A professora elogiou todos pela pontualidade.
Ela notou que estavam radiantes. O sorriso estampado no rosto de cada criança denunciava que, naquele dia, iam fazer
algo diferente.
9

Imediatamente, ela convidou-os para acompanhá-la. Todos seguiram em direção a um pequeno ônibus que os aguardava.
Não demorou nenhuma hora e lá estavam todos no local escolhido pela professora. Era um sítio muito bonito, cheio de animais,
aves e árvores. Bem pertinho, tinha um lugar mais alto, de onde podia-se ver muito longe. Mas, para chegar lá, primeiro tinham
que passar por uma velha ponte de madeira. A professora apontou para um local e lá se foram todos. Ao chegarem à ponte de
madeira, todas as crianças recuaram.

Elas estavam com medo de cair. Embaixo, corria um riacho de águas cristalinas. Apesar da beleza daquele local, todos
admitiam que o medo de cruzar a ponte fosse grande. Vendo a tensão estampada no rostinho daquelas crianças, a professora
Gente reuniu todos a sua frente e disse:
- Meus alunos. A ponte parece velha, mas é muito segura. Ela está sendo utilizada normalmente pelo povo deste local. É
compreensível que vocês tenham medo.
10

Em seguida, a professora Gente pediu que cada criança levantasse a caixinha à altura do peito.
- Crianças, eu garanto a vocês, a ponte é segura. A partir de agora, imaginem-se passando a ponte e que já estamos do
outro lado, felizes. Pronto!
Nem bem ela terminou de falar, as crianças foram passando pela ponte, sem temer mais nada. Em poucos minutos,
estavam no local indicado pela professora. O dia estava lindo! O sol brilhava incessantemente. As poucas nuvens existentes no
céu pareciam observar aquele estranho movimento lá embaixo. As crianças foram aos poucos se acalmando. Então, a professora
Gente iniciou a aula, para muitos um tanto diferente.
- Muito bem, crianças! A partir de agora, quero que se sentem no gramado e observem tudo. Vejam como a natureza é bela.
Lá longe, colinas verdes, rios e pequenas casas distribuídas ao longo do imenso campo. Sintam a temperatura agradável, o cheiro
da terra, dos animais e das árvores ao nosso redor. Ouçam o canto dos passarinhos, o mugido dos bois, o tilintar dos ramos de
árvore e o assovio do vento. Observem como a natureza não tem medo de nada. Uma folha cai de uma árvore muito alta. A queda
é necessária para que novas folhas nasçam em seu lugar e para que o solo seja adubado e protegido. A folha não tem medo ao
cair. Na natureza, todos se manifestam: as plantas, os animais, o ar, a água, o fogo e o vento. O canto do vento... Hummmmmm...
Ouçam como é lindo!
Tudo o que estamos vendo é obra de Deus... Ele está em todas as coisas que vocês estão vendo agora. Procurem olhar
bem de longe... Mais longe... Mais longe... Vejam como tudo é bonito e sem fim... Por mais que vocês olhem para frente, nunca
verão o fim...
11

A professora Gente ficou surpresa com a reação dos seus alunos. Ela podia sentir o coração de cada um. Batia forte e
descompassado. Pela primeira vez, seus alunos podiam sentir de perto a força do Criador...
Então, aproveitou o momento e pediu que cada um falasse algo para aquele que criara tudo o que elas podiam ver, sentir e
ouvir... Todos ficaram mudos. Não sabiam o que dizer. Uns tinham medo de errar as palavras, outros sentiam vergonha dos
colegas, falta de ar, impotência, mãos trêmulas, boca seca, entre outras coisas.

Imediatamente, a professora Gente ordenou que cada um pegasse a sua caixinha e colocasse à altura do peito.
- Pronto! – disse ela – Agora procurem falar aquilo que sentem. Coragem! Confiem em vocês. Ouçam o que o coração está
dizendo. Agora olhem ao redor... Quem poderia criar tudo isso? Vamos! Dirijam-se a Ele... Comecem falando baixinho... Agora
levantem a cabeça, larguem a caixinha de lado. Ergam os braços... Movimentem-se, aproveitem esta oportunidade, imaginem-se
falando e abraçando Ele. Agradeçam pelo ar que respiramos, pela água, que é a fonte da vida, pelo alimentos, agradeçam tudo...
Prometam que vão cuidar dos animais, das florestas e da escola...
12

Aos poucos, as crianças foram se soltando e falando tudo o que sentiam. Ninguém tinha vergonha de nada. Cada um queria
falar mais que o outro, o importante era falar, dizer o que estava sentindo, agradecer pelas coisas boas, sem preocupar-se com o
que os colegas iriam achar. Todos estavam animados e falando muito e com o coração.
Nesse instante, a professora interrompeu todos com um pequeno sininho:
- Desculpem – disse ela – eu vi que vocês ainda estavam se comunicando com Ele. Parabéns pelo que fizeram. Vocês são
os melhores alunos do mundo.
13

A aula estava terminando e a professora Gente precisava passar a lição de casa. As crianças estavam animadas. Pela
primeira vez falaram tudo o que sentiam. Nesse momento, todos abraçaram-se e iniciaram o caminho de volta. A professora Gente
pediu às crianças que recolhessem suas caixinhas. Ao chegarem à ponte de madeira, ninguém teve medo de passar. Quando
todos haviam feito a passagem, a professora ordenou aos seus alunos que voltassem para a ponte:
- Crianças! – disse ela – Nestas caixinhas estão todos os medos de vocês. Abram-nas e virem-nas para o rio. Imaginem que
os medos que vocês colocaram aí dentro estão sendo despejados no rio e levados pela água corrente. A partir de agora, com
certeza vocês serão crianças de sucesso e de valor, que falarão em todas as ocasiões com coragem e orgulho. A professora subiu
em uma pedra, chamou a atenção de todos e disse:
- Crianças, hoje é o dia mais feliz da minha vida. Vejo que tenho crianças de sucesso. Quando falarem para alguém, por
favor, estejam preparadas. Falem com o coração, entenderam?
- Entendemos, professora Gente! – responderam todos em coro.
Todas as crianças aplaudiram a professora Gente. Ainda em cima da pedra, ela tratou de comunicar todos que aquele era o
último dia de aula. No outro dia, ela partiria para uma comunidade bem distante para ensinar outras crianças a perder os medos e
a falar com o coração. A professora apontou para o ônibus e todos foram entrando e tomando os seus lugares. Quando todos
estavam acomodados, com a voz baixa, ela pediu licença para entregar uma pequena folha enrolada num papel brilhante. Solicitou
às crianças que abrissem o embrulho apenas nas suas casas. Quando o motorista estava prestes a ligar o motor do coletivo, ela
resolveu se dirigir pela última vez aos seus alunos:
- Queridos, hoje vamos ter uma lição de casa diferente!
- Lição de casa? – gritaram todos.
14

- Sim. Quero pedir algo muito especial. Cada um de vocês, ao chegar em casa, dirija-se ao pai e à mãe, dê-lhes um beijinho
e fale tudo o que está sentindo... Esta é a lição de todos os dias...
- Todos os dias? – disseram as crianças em coro.
- Todos os dias. – disse a professora Gente, sorrindo.
- Esta é a única forma de aprender a falar com o coração. E quando tiverem oportunidade de falar em público, falem... Hoje
vocês falaram para Deus, então podem tudo... São gente como eu...
Todos olharam-se, estufaram o peito, respiraram fundo e gritaram numa só voz: VIVA A GENTE!

O ônibus partiu de volta para a escola. Ninguém falou mais nada. Ouvia-se apenas o ruído do motor do ônibus. Todos
estavam ansiosos para chegar em casa e abrir aquele estranho papel entregue na última hora pela professora. Ao chegarem em
casa, SURPRESA! O papel continha uma mensagem muito especial e dicas importantes que a professora Gente fez questão de
escrever.
15

Oi!
Desculpe a professora ter que se despedir assim, tão de
repente. Mas tenho certeza que sempre estarei na tua mente.
Nossa aula de hoje valeu mesmo...
Adorei ver você se comunicando.
Tudo começa na palavra. A palavras pronunciadas no
momento certo podem construir coisas positivas e resultados
fantásticos. Você aprendeu que é fácil falar e tudo só depende
da gente. O mundo é um palco, a vida é a arte e você é um
comunicador.
O comunicador alegra-se, estuda, ouve, sorri, dança,
chora, pula corda, joga futebol, brinca... E fala, quando for
preciso.
É GENTE.
16

Dicas da professora Gente

Faça nº 1 –
Diga ao outro aquilo
que espera que ele diga
para você.

Faça nº 2 –
Repita 6 vezes ao dia:
Faça nº 3 –
“EU SOU CORAJOSO”.
Vista-se bem.
Esteja sempre
bem arrumado.
17

Faça nº 4 – Faça nº 5 –
Aprenda um versinho para declamar Sempre que você for fazer uma
quando tiver oportunidade. Veja minha apresentação, ensaie bastante
sugestão: (principalmente na frente do
espelho).
“Minha mãe é tão bonita, sincera como
ninguém, quando dou um beijo nela,
recebo outro também. Meu pai é tão
faceiro, o melhor que tem no mundo, sua
presença é tão boa e o carinho tão
profundo... A vovó é tão risonha, longe de
ser vovó feia, quando estou pertinho dela,
Faça nº 7 –
meu coração incendeia. O vovô é tão
Esforce-se. Nunca
falante, fala pelos cotovelos, mas ele e
Faça nº 6 – desista daquilo que
minha vovó, para sempre quero tê-los”.
Sorrir bastante, sempre você quer.
espontaneamente.
18

Faça nº 9 –
Faça nº 8 – Imagine, sempre que for falar,
Suba em uma cadeira e imagine que que ao seu lado está a pessoa
seus amigos estão olhando para que você mais gosta. Imagine
você. Fale algo para eles. Repita que as pessoas estão
isso pelo menos 2 vezes por adorando você.
semana. Invente um tema pra falar.
Pode ser sobre seu cachorrinho, a
escola, a bandeira, seu esporte
favorito, enfim, o que você achar
melhor. Dê asas a sua imaginação. Faça nº 11 –
Quando errar, não se
perturbe.
Faça nº 10 –
Lembre-se que ao seu lado
Cumprimente os professores,
está alguém que você gosta.
os pais, os avós e os colegas
Você é nota DEZ!
com:
“Bom dia”,
“Boa tarde”,
“Olá”,
“Oi”...
19

Faça você mesmo:

1. Escreva 10 palavras bonitas

____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________

2. Escreva uma frase bonita


20

3. Escreva um poema
21

4. Desenhe você falando em público 5. Desenhe você sorrindo

Você também pode gostar