Você está na página 1de 184

2

Invasion
3
Invasion
Magic- Ciclo de Invasão - livro I

CAPÍTULO 1

LUTAR COM OS PHYREXIANOS

Nuvens brancas fugiram através dos céus azuis. Os mares cantavam terrivelmente embaixo. Ondas
se amontoavam de ponta a ponta se empurrando. Terras cinzentas curvavam-se até o limite de
Dominaria, se escondendo em véus de nevoas amareladas.
O mal se projetava sobre os céus. Alguma coisa estava vindo, alguma coisa terrível, do ar emergiria
sem aviso.
Ela veio. A coisa cravou uma súbita linha pelos céus. E através dele cortou profundamente. Ele
rasgou a água do ar e lançou chamas brancas. Isto não era um meteoro, nem uma pedra emudecida de
um céu desorientado. Esta coisa fendeu os céus com propósito.
O ar jorrou para longe da proa até a quilha serrilhada. Ele tamborilava com o som de madeira viva e
rugia com o som como se tivesse enormes asas batendo. Isto era um navio, uma nau voadora (do mesmo
tipo que tinha governado os céus de Thrannish). Os linguarudos diziam que era uma nova armada
construída secretamente por Urza para lutar contra os Phyrexianos, mas quem acreditava em Urza?
Quem acreditava na marionete de Urza? Quem tinha alguma vez visto uma simples nau voadora?
Até agora.
Ele era uma brilhante, gloriosa, espantosa coisa, este Bons Ventos. A natureza se encolheu perante
ele. Mas ainda, não era o maligno pressentimento. Alguma coisa mais estava vindo, algo muito mais
espantoso que o Bons Ventos.
Figuras minúsculas permaneciam em seu convés devastado pelo vento, figuras humanas. Atrás de
um brilhante canhão de raios na proa estava um homem com cabelos negros e olhos furiosos.
Ele gritou dentro do duto de comunicação, “Coordenadas, Hanna!”
Uma powerstone incorporada na boca do duto amplificou a voz dele e a enviou a cem pés, da popa
até a ponte enclausurada de vidro. As palavras recaíram sobre uma mulher magra que estava curvada.
Comandos e compassos estavam em uma de suas mãos. E na outra uma pequena régua para cálculos
que eram feitos as pressas.
Um fio loiro recaiu sobre seu rosto e Hanna deu um grito dentro do duto de comunicação,
“Trabalhando nisso Comandante Gerrard!” Dentro da sua sala de navegação compassos e giroscópios se
enroscavam. Os olhos de Hanna rodopiavam enquanto ela os assistia se arrumarem. “Boa sorte para
encontrar outro navegador que possa apontar longitude sem usar as estrelas.”
“Eu não quero outro navegador,” Gerrard respondeu do castelo de proa. Ele lançou de volta um
sorriso pelo tombadilho. “Eu apenas quero que minha navegadora favorita leve-nos para Benália.”
Hanna resumiu três colunas de figuras e designou funções para elas. “Nós ainda estamos a doze mil
milhas de distância neste momento do norte até noroeste”.
“Maldição! Essa é a mais longe das três,” Gerrard disse. “Onde está o problema?”
“Não aqui,” Hanna replicou, confirmando a calibração de seu altímetro.
“Nem aqui também,” reportou outra mulher, que estava no leme. Seus ombros alinhados e pele
negra pareciam parte da roda do navio que ela segurava. “Leme, quilha, aerofólios tudo está
funcionando perfeitamente, inclusive eu.”
“Eu sei, Sisay“ Gerrard respondeu, acrescentando rapidamente, “Capitã. Mas alguma coisa está nos
tirando da rota. Karn é algum problema no motor?”
O chamado ecoou através dos dutos até as vaporosas trevas da sala de máquinas. Uma vasta
unidade do núcleo dominava o espaço. Eletrodutos de mana adicionavam luz verde às opacas e
4
Invasion
reluzentes lanternas. Dois membros da tripulação trabalhavam com uma gigante chave inglesa fechando
uma válvula. Eles não pararam para responder ao comandante. Um terceiro tripulante, que parecia
simplesmente outra peça do motor, falou. Karn era um robusto homem feito de prata, e sua voz parecia
como quedas d’água.
“Não é um problema do motor ainda, mas logo será.”
Suas costas de prata estavam curvadas em direção as máquinas e suas mãos se incorporaram ao
painel de controle. Microfibras se estenderam dos controles até seus dedos, ligando-o a cada canto do
navio. Todo o resto do Bons Ventos tinha resistido bem a tensão da transplanagem, mas o motor estava
começando a superaquecer.
“Nós estamos tendo que apagar os condutos para mantê-los senão derreterão. Está forçando muito,
Gerrard, e você terá um uma poça de lama onde seu motor costumava ficar.”
A resposta cheia de risos de Gerrard ecoou através do duto. “Você me conhece Karn. Eu forço tudo.
Ala dos doentes, como os feridos estão se saindo?”
“Nós todos estamos bem aqui em baixo,” respondeu a curandeira do navio enquanto ela apertava
uma tira sobre um de seus pacientes. Gotas de suor escorreram por sobre sua testa, e ela desamarrou seu
turbante. Cabelos negros e trançados com moedas se espalharam. “A segunda transplanagem deixou
meus pacientes inconscientes. Houve bem menos reclamações desde então.”
“E como você está Orim?” Gerrard perguntou.
“Todos estes lampejos dentro e fora da realidade fazem a meditação ser um tanto quanto
desnecessária,” Orim disse obliquamente.
Outra risada veio de Gerrard. “Essa é minha tripulação. Companheiros com corações robustos e
resmungões, todos eles. Sisay, vamos mudar de direção.”
“Sim, Comandante,” disse à mulher que estava no leme.
“Hanna, aponte para cidade de Benália, a residência dos Capashenos.” Gerrard reflexivamente deu
uma olhadela para o símbolo Capasheno tatuado em seu antebraço esquerdo. Ele provavelmente não
seria bem recebido em seu antigo lar.
“Você tem o nome da rua?” Um ponto de referência?”Hanna provocou enquanto deslizava as
tabelas de longitude e latitude até que elas se alinharam. “Focada, Comandante. Coordenadas
três,dezessete, vinte.”
“Sim,” Sisay concordou. Ela virou a roda, trazendo a proa em direção a grandes nuvens que
deslizavam pelo ar. “Karn iniciar sequência de travessia.”
A voz do homem de prata estava submergida pelas ávidas ondas de barulho que vinham do motor.
“Segurem-se todos,” Sisay gritou.
Atrás de seu canhão de raios, Gerrard se agachou. Ele fortemente agarrou as alças da fuselagem. O
arreio do canhão era suficiente para segurá-lo no lugar em um convés rodopiante no meio de uma briga
de cachorros, mas até mesmo essas tiras foram danificadas pelas travessias planares. Gerrard olhou de
relance por cima de seu ombro, para o canhão de estibordo. Lá, um minotauro atirador se agarrou com
igual fúria. Os dentes de Tahngarth estavam entreabertos em determinação, o mais perto que ele
chegava de um sorriso.
Gerrard também sorriu. Este era seu navio. Esta era sua tripulação. Eles eram os melhores
navegadores e lutadores em Dominaria e Mercádia, em Rath e em Phyrexia. Por anos ele tinha escutado
como ele e seus amigos e este navio estavam destinados a salvar o mundo. Pela primeira vez, ele sentiu
que eles realmente podiam.
Essa não era a única razão para ele sorrir. Não havia melhor lugar para assistir a uma
transplanagem do que amarrado ao canhão do castelo de proa.
Além da balaustrada, a abóbada de Dominaria de repente apareceu à frente. Os céus se estenderam.
Nuvens se afastaram perante o rastro de nevoas. Os céus começaram a se dobrar. Onde antes havia
somente feixes de luz azuis e brancos, agora bordas pretas apareciam nas suturas de separação da

5
Invasion
realidade. Os céus permaneceram juntos somente um momento mais. Ele se despedaçou. Fragmentos de
azul e branco caíram num vento negro.
Estivesse Gerrard além da balaustrada, aquele vento o teria despedaçado. Era caos, puro e simples,
um oceano de potências no qual todos os reais mundos estavam envoltos. Qualquer coisa que tocasse o
vento caótico era dissolvida em centelhas de energia e nada.
O Bons Ventos e sua tripulação foram envolvidos em uma corrente de ar salvadora que morreu
silenciosa ao redor deles. O rugido silenciou-se. Além das energias que o envolviam, tempestades de
força se enfureciam. Dentro disto, somente o motor do Bons Ventos soava.
“Tripulação de comando para o passadiço,” Gerrard ordenou. Ele desfez as tiras dos arreios da sua
arma e atravessou o castelo de proa em direção às escadas que levavam até a meia nau.
Tahngarth o seguiu. O minotauro saltou os degraus e aterrissou na meia nau com uma pancada.
Gerrard se ajuntou a ele, e marcharam através do tremeluzente convés. Da escotilha central à frente,
Orim saiu. Seus pés pisavam suavemente entre casco e bota. Os três se aproximaram do passadiço. Um
quarto tripulante andava rapidamente para alcançá-los.
Gerrard levantou uma sobrancelha. “Desde quando você faz parte da tripulação de comando,
Squee?”
O goblin deu uma pequena estremecida, apesar de ele estar acostumado a levar umas palmadas. Ele
sorriu mesmo assim. “Karn não pode vir. Ele diz Squee falar por ele.”
“Hoje é dia,” Tahngarth estrondou.
Os quatro companheiros subiram os degraus da meia nau até o passadiço. Eles abriram a
escotilha e um a um, subiram através dela. Condutos de mana reluzentes os cercaram.
“Aqui está!” Hanna declarou da sala de navegação. “Veja, aqui três localizações de distúrbios
topográficos.”
Gerrard caminhou em direção a ela e encarou o mapa de Benália. Hanna estava marcando Xs em
um equilátero triângulo sobre a nação.
“Três localizações de?”
“Eu calculei todos eles,” Hanna disse. Seus olhos azuis piscavam impacientemente enquanto ela
batia as costas de sua mão numa pilha de figuras. “Há distúrbios aqui, aqui e aqui. Distúrbios
Geométricos."
“Geométricos.“
“Distorções no tecido da realidade. A geometria alargou-se. Eles nos desalinharam do nosso alvo
como uma gota de chuva sobre uma sombrinha. É por isso que nós não podemos chegar a Benália.”
Os olhos de Gerrard estavam austeros debaixo de sobrancelhas nervosas. “Bom trabalho, Hanna.
Alguma ideia do que possa estar causando essas distorções?”
Ela respirou profundamente, pausando pela primeira vez em horas. “Nós mesmos fazemos um
distúrbio geométrico toda vez que fazemos uma transplanagem. É apenas uma dobra no espaço com
efeitos localizados, duzentas jardas talvez. Estas coisas estão distorcendo o espaço em milhares de
milhas por cada uma.”
“Isso é um pedaço de um navio grande,” Squee falou.
Hanna bateu na cabeça, suas mãos se mexiam outra vez enquanto ela pegava um folio de design de
navios Phyrexianos de debaixo de sua mesa. Eles eram plantas que ela tinha compilado da arruinada
armada base em Mercádia. Ela os espalhou. Os navios descritos eram gigantescos e grotescos. Eles
ficavam de pé com saliências que pareciam chifres. O casco do navio deles pareciam ossos ou carapaças.
“Não, nem o mais largo navio que nós vimos em Mercádia não poderia fazer esse tipo de distúrbio.”
“Segurem-se para reentrada,” Sisay advertiu.
Cada membro se agarrou e observou enquanto a realidade nadava ao redor do navio. Pedaços do
céu e mar serpenteavam densamente além das energias que se dissipavam. O negrume do caos se fechou
atrás da brilhante, sinuosa ordem. Nuvens fugiam, ondas se colidiam cobrindo a terra – pode ter sido o
mesmo lugar que eles partiram.

6
Invasion
“Coordenadas,” Gerrard pediu gentilmente.
“Trabalhando nisso, Comandante,” Hanna respondeu, plantas de navios caiam de cima de sua mesa
enquanto ela anotava novas leituras magnéticas.
Squee se mexeu para pegar as plantas.
“Eles não são navios,” Sisay berrou do leme. Ela guiou o Bons Ventos suavemente através de
nuvens ligeiras. “Navios fariam somente um distúrbio momentâneo. A menos que eles estivessem
continuamente atravessando planos dentro e fora do mesmo lugar, isso não seriam navios.”
“A menos que eles fossem navios portais,” Gerrard disse em uma percepção repentina. Ele tomou os
diagramas esquemáticos de Squee, desenrolou um, e o colocou sobre o gabinete. Mostrava um enorme
navio que parecia uma pinça de caranguejo aberta. “Quando estes tenazes se posicionarem aqui e aqui
girando para baixo, eles criam um portal entre eles.” Ele afastou os esquemas e apontou para as três
localizações no mapa. “Esses são enormes portais aéreos se abrindo sobre Benália. Nós não estamos
falando de três navios Phyrexianos. Nós estamos falando de centenas de navios saindo dos três portais
separados.”
Apesar da lufada de papeis no seu local de trabalho, Hanna terminou seus cálculos. “Nós estamos
mil e duzentos milhas a sudoeste da cidade de Benália.”
Sisay chiou, “Mesmo na velocidade máxima, levaria duas horas para chegar lá.”
Tahngarth socou sua mão com seu punho. “Os navios Phyrexianos já estão vindo.”
“Aponte para o centro de um dos distúrbios,” Sisay ordenou. “Se nós acertamos a sombrinha
exatamente no centro, talvez nós não sejamos lançados para o lado. Talvez nós possamos romper.”
Com sobrancelhas franzidas, Gerrard disse, “Você acha que o Bons Ventos tem força para isso?”
“Eu sei que ele consegue,” Sisay retrucou.
Gerrard deu de ombros. “Ele é seu navio.”
Inclinada sobre o duto de comunicação, Sisay disse, “Karn o que você acha? Mais uma
transplanagem, para dentro do centro de uma dessas coisas?”
A resposta pareceu ter vinda do próprio navio. “Mais uma. Nós podemos fazer mais uma.”
“Coordenadas fechadas, Capitã,” Hanna reportava enquanto ela apertava os parafusos da alavanca
de longitude e latitude.
Os motores rugiram uma vez mais e zuniram com força feroz.
“Segurem-se para travessia!” Sisay gritou.
As pranchas avançavam. Além do tombadilho, o ar corria como se viesse do calor da pressão. Uma
envolvente calmaria cercou o Bons Ventos. Ele deixou para trás os cintilantes mares e céus. Uma vez
mais a realidade se esticou além do seu ponto de rompimento. Suturas negras rastejaram através do céu.
Os céus se desvendaram. Pedaços do mundo fugiram. Então havia somente a vasta negritude.
Essa travessia foi diferente, de certa maneira. Ao invés de planarem através do vazio, o navio
parecia que estava avançando em meio a lodo. A energia envolvente se agitava. Os motores
choramingavam. Tudo parecia borocoxó e quente. Uma barreira de energia apareceu à frente. O caos se
sobrecarregava lentamente até atingir uma momentânea forma. Em segundos, o Bons Ventos bateu
naquela barreira sem fim.
Apesar de eles estarem se segurando bem firmes, a tripulação caiu para frente. Sisay e Tahngarth
mantiveram sua posição. Gerrard cambaleou com um joelho. Squee escafedeu-se embaixo do gabinete
de navegação e se agarrou as pernas de Hanna.
Então eles atravessaram. A realidade se coalesceu outra vez com o caos.
Abaixo, as planícies e bosques de Benália se espalhavam até o horizonte. Acima, os céus estavam
amontoados de nuvens. No vaporoso centro estava suspenso um buraco negro, um buraco nos céus.
“Ai esta seu portal Phyrexiano,” Sisay percebeu rapidamente. “Mas onde esta o navio portal?”
Através dos dentes trincados, Gerrard rosnou, “Do outro lado em Rath ou Phyrexia, ou em qualquer
lugar. Isso o torna impossível de destruí-lo daqui.”
“Esse buraco é grande o bastante para passar três navios lado a lado,” Tahngarth sussurrou.

7
Invasion
Gerrard acenou com a cabeça. “E lá estão eles, vindo através do portal.”
A luz minguou além da borda do portal; de dentro dele, em obscuros carmesins, enormes e terríveis
figuras apareceram. Eles eram navios, navios dragões do tamanho do Bons Ventos, cruzadores com três
vezes o seu deslocamento, e alguns mais largos ainda, coisas maciças cobertas com buracos.
Aqui estava o maligno pressentimento.
“Navios da praga,” Orim rosnou.
“Eles nos viram,” Sisay disse, apontando. “Vejam.”
Dois dos cruzadores farejaram através da brecha. O raiar de Dominaria recaiu sobre eles. Aríetes
espinhosos estavam postos em suas proas, e atrás deles estavam fileiras e fileiras de ossos que pareciam
costelas. Sombras negras se tornaram em sombrias realidades. Os cascos centrais dos navios pareciam
carbúnculos cancerosos empilhados em cima uns dos outros. Em seguida vieram espinhas flamejantes,
asas laminadas, e nuvens de fuligem e óleo. Eles eram navios enormes, do tamanho de cidades
flutuantes.
Como enxames fervilhantes entres eles estavam os Phyrexianos.
“Ações Evasivas?” Sisay perguntou.
“Leve-nos para eles, Sisay. Posição de batalha,” Gerrard respondeu. Ele repetiu a ordem através do
duto. “Posições de batalha!”
Tahngarth puxou de volta a escotilha para frente e desceu até a meia nau até as armas da proa.
Sisay, enquanto isso puxou fortemente o leme. O Bons Ventos inclinou e subiu. Atrás dela, Hanna quase
quebrou em dois um estilete enquanto fazia suas novas calibrações. Ela levou uns segundos até enxotar
Squee de debaixo de sua mesa. O goblin se retirou para a porta do banheiro do convés para se encolher
lá.
“Vá para as armas de trás. Você não é tão covarde assim,” Gerrard disse.
“Quem? Squee?” choramingou o pequeno homem verde.
“Foi você que tirou Volrath do céu, não foi?”
Uma luz alegre brilhou nos olhos do goblin, e ele se apressou em sair de detrás da porta.
“Eu posso saber qual é seu plano, Comandante Gerrard?” Sisay olhou por cima de um ombro.
Ele olhou vitoriosamente, “Lutar com os Phyrexianos.”
Então ele também desceu para a escotilha. Era sua última chance para bravatas. Os navios estavam
se aproximando rapidamente. Gerrard correu com toda velocidade através das tábuas da meia nau,
levantou os degraus da proa, e correu para o dispositivo de artilharia. Mesmo enquanto ele amarrava as
tiras, ele pressionava o pedal que carregava a arma. Um gemido crepitou no metal. Ele estremeceu e
ficou quente. As matrizes de powerstone no centro da arma brilharam com vida.
Através do castelo de proa, Tahngarth manejava o maciço barril do seu canhão de raios. Ele cuspiu
no eixo, observando os raios brancos assobiarem com o impacto.
“Armas de boreste prontas!” ele gritou.
Gerrard também mexeu suas armas para frente e cuspiu nelas.
“Armas da dianteira de bombordo, prontas!”
Da meia nau, Dabis e Fewsteem reportaram de seu envoltório de armas.
“Squee, também,” veio o grito agudo através do duto de comunicação. “Squee, também.”
Os artilheiros do meio e do topo também responderam.
Gerrard gritou para todos eles. “Eles parecem terríveis, certamente, mas eles nunca estiveram numa
batalha. Eles nunca testaram seus navios em batalhas. Mirem nos condutos de energia. Mirem nos
estabilizadores ou em qualquer coisa que faça um tiro valer por dois.”
O Bons Ventos ascendeu aos céus. Seus motores gritavam na subida. Os cruzadores não pareciam
ficar mais perto, somente maiores.
“Eles devem ter umas cinquenta armas por navio,” Dabis ofegou. “Como nós enfrentamos
cinquenta armas?”
“Nós os enfrentamos, e eles caem,” Gerrard disse. “Sisay leva-nos para o meio dos navios.”

8
Invasion
A voz dela parecia estridente na tuba. “No meio deles?”
“Você me ouviu. Rosqueie pela agulha.”
“Você quer dizer, se expor a insanidade,” Sisay rosnou. “Rosqueando a agulha, Comandante.”
Depois da tensão da transplanagem, este tipo de manobra “unhas e dentes” soava como poesia. O
Bons Ventos nunca tinha sido tão poderoso antes. Modelador do céu, Bolha Juju, Ossos de Ramos,
Matriz de Energia, o motor tinha quase dobrado de tamanho desde que eles tinham saído de Dominaria
até Rath. Ele mostrou. O Bons Ventos se ergueu em vingança.
A frente dos dois cruzadores Phyrexianos formou-se paredes de um penhasco como se fosse um
desfiladeiro aéreo.
O Bons Ventos ainda estava acelerando enquanto ele se dirigia entre eles.
“Atirem a vontade!” Gerrard rugiu.
Ele apertou os comandos dos canhões. Um grande raio radiante rugiu em chamas sem fim. Ele
golpeou o ar derretendo-o em plasma vermelho. Um cometa chiado, um flamejante arco através dos
céus. Acertou primeiro a estibordo de uma dos cruzadores. Faíscas e grandes retalhos de metal caíram
do motor. Tahngarth marcou um golpe similar no cruzador ao seu lado. Dabis e Fewsteem também
conseguiram alguns acertos.
Então raios negros vieram como resposta. Eles atiraram da base dos navios, os tiros pareciam teias
de aranha fuliginosas. Estas não eram teias. Eles eram raios de mana, o toque deles trazia morte. Eles
chegaram perto do Bons Ventos.
“Derrubem aqueles!” Gerrard gritou. Seus canhões descarregaram em três rodadas de rápidas
sucessões. Os raios arrancaram os Phyrexianos do ar e os obliteraram.
Os canhões de Tahngarth berraram. Eles comeram um par de teias pouco antes de elas acertarem o
casco do Bons Ventos. Ele atirou uma terceira vez. Este raio se dividiu no ar até golpear o eletroduto de
mana no flanco de estibordo do cruzador.
O ar já estava negro com o fogo oriundo dos cruzadores.
“O que você fez?” Tahngarth rugiu enquanto ele errava uma nova torrente. “Nós nunca
sobreviveremos ao fogo cruzado!”
“Eles nunca sobreviverão ao fogo cruzado,” Gerrard berrou de volta.
Rajadas negras encheram o ar entre os cruzadores. Muito dos tiros pegaram de raspão no Bons
Ventos. Eles continuaram, batendo na embarcação oposta. Os cruzadores Phyrexianos estavam se
autodestruindo.
Uma explosão negra acertou o casco do Bons Ventos, bem embaixo das armas de Fewsteen.
“Esqueçam os navios!” Gerrard gritou. “Eles já eram. Manobras defensivas.”
Sobre o duto veio à voz de Sisay. “Quer que nos tire daqui Comandante?”
“Claro, Sisay. Em frente. Leve-nos através portal!”

9
Invasion
CAPÍTULO 2

VIAGEM DE UM DIA PARA RATH

“Levar-nos para onde?” a voz de Sisay ecoou através do duto de comunicação.


Gerrard já esperava que oferecesse resistência. Ele disparou criando mais duas explosões,
observando o plasma gasoso esbofetear a hélice lateral de um dos cruzadores. O mecanismo derreteu, e
o navio de guerra Phyrexiano se inclinou mais distante.
Apesar do sorriso severo, ele chamou Sisay de volta. “Nós temos que destruir aquele navio portal.
Nós não podemos atirar nele deste lado.”
“No outro lado há uma armada,” Sisay protestou, “e Phyrexianos.”
Gerrard cuspiu com desdém. “Os navios deles são porcaria.” E como prova ele disparou mais duas
vezes. Os disparos soaram como estrelas gêmeas e colidiram através da ponte principal do cruzador. Ele
se iluminou como uma lanterna. “E a tripulação deles não é páreo para a nossa.” ”Eu concordo com você
nisso,” Sisay respondeu.
O Bons Ventos surgiu com nova velocidade em direção ao portal. Os motores rugiam sua
determinação. Karn, embaixo, estava reformulando o rateio dos soquetes de escapamento para
maximizar seu arranco. O Bons Ventos disparou do golfo entre os cruzadores. Um vento subiu da
tripulação, seguido de outro ainda mais alto.
O navio lateral soçobrou e precipitou-se do céu. Ele rolou massivamente, suas armas ainda estavam
disparando. Trilhas de mana se emaranharam sobre a tremeluzente embarcação. Explosões abalaram-no.
A popa se despedaçou, impulsionada por chamas vermelhas. Os corpos dos homens dos cruzadores
apareceram em seção transversal. Ele despencou, se esmagou no chão, e se estilhaçou como um ovo
podre.
Uma terceira aclamação subiu, cortada rapidamente por uma explosão.
O Bons Ventos ainda estava a milhares de jardas do portal quando uma rajada de mana negra
acertou a estibordo da meia nau. Ele comeu o trilho e a parte da balaustrada e varreu em direção ao
canhão de raios de estibordo. Fewsteem, amarrado lá, gritou enquanto suas armas disparavam. Energias
vermelhas perfuraram o centro da massa negra. Não foi o suficiente. Uma morte sombria salpicou o
canhão, e caiu sobre Fewsteem. O metal chiou. A carne apodreceu e se tornou em cinzas brancas. A
arma expeliu fumaças verdes e negras. Fewsteem se fora, nada mais do que um par de pernas debaixo
da nuvem de fuligem.
Sem sua contrapartida, o cruzador Phyrexiano restante estava descarregando seu arsenal.
“Tahngarth, derrube aquele cruzador!” Gerrard gritou. Ele lutou para deslocar sua arma, mas o seu
ângulo de mira não podia alcançar o estibordo.
“Está atrás das asas!” Tahngarth gritou de volta.
Sisay começou uma série de investidas. Viscosas cargas de mana preta se lançaram no ar vazio do
lado e de trás do navio.
Cargas purpúreas investiram do canhão da popa. Squee permaneceu no seu posto, detonando tudo.
Os pulsos dançavam de modo irregular através do ar. Muitos disparos erraram seus alvos. Outros
bateram no fogo do cruzador. Eles se mantiveram por mais duas rodadas através da barragem até que
afundaram o exaustor do motor principal.
A enorme peça soluçou. Ela estremeceu mais uma vez. Seu ataque titubeou.
Numa reluzente chama, ela explodiu. Nacos do navio foram arremessados, deixando um rastro de
fogo. Eles correram em direção ao Bons Ventos duas vezes mais rápido que ele. Se ela estivesse em
espaço aberto, os estilhaços teriam atravessado o Bons Ventos e desmantelando-o. Felizmente foi bem na
hora que atravessaram o portal.

10
Invasion
Felizmente? Os céus azuis de Dominaria deram lugar a nuvens retorcidas em vermelho e preto. As
vastas planícies e as profundas florestas deram lugar a riachos vulcânicos e córregos de lavas
escaldantes. E o pior de tudo era que, ao invés de dois navios Phyrexianos, havia milhares.
Dirigíveis estavam parados no ar. Tão diabólicos quantos eles pareciam em pleno dia, nas sombras
essas embarcações pareciam demônios do inferno. Asas membranosas. Garras gotejantes. Lança chamas.
Uma dúzia de navios era grande como montanhas. Centenas deles eram do tamanho dos cruzadores
que eles já tinham destruídos. Milhares eram do tamanho do Bons Ventos.
“Esqueçam a armada!” Gerrard rugiu. “Mirem no navio portal!”
Fogo respondeu dos seis canhões remanescentes. Uma explosão luminosa de energias escarlates
emergiu do Bons Ventos. Cargas subiram em direção à vasta e metálica garra que estava suspensa nos
céus de Rath. O navio pareceu reluzir embaixo deles, braços impotentes se contorcendo no portal. Um a
um, os disparos impactaram a garra. Painéis despencaram. Fogo chiou adiante. As chamas pareciam
incrivelmente pequenas naquela gigantesca máquina. O Bons Ventos já estava fora do alcance de mais
ataques.
“Eles estão atravessando!” Squee gritou através do duto de comunicação.
Mais dois cruzadores atravessaram o navio portal, em direção à indefesa Benália.
Gerrard gritou. “Vire o navio! Nós temos que pará-los!”
“Virar o navio?” Sisay berrou. Suas objeções foram interrompidas.
O navio portal vomitou fumaça negra. Estava mostrando visões tremeluzentes de Dominaria.
Explosões brotaram na articulação de uma das pinças. Ela se descompôs, gretou-se, e caiu em direção
aos contorcidos chãos de Rath. Como uma bolha de sabão, o portão estalou. A luz do sol morreu. Os
céus de Benália se foram.
Se foram também a frente dos dois cruzadores que foram cortadas. O portal que se fechou
guilhotinou os navios. O guincho e o gemido de metal caindo foi abafado pelo som dos motores
dilacerados. Em seguida os cruzadores, crepitaram fagulhas e fuligem. Eles viraram, caindo por cima
dos outros que esperavam. Numa tempestade de fogo e fumaça, cinco navios se impactaram no solo. O
primeiro núcleo de força foi crítico. Ele enviou uma coluna de energias negras a centenas de distâncias
acima e a uns cinquenta pés até o chão. Pedaços bombardearam a segunda aeronave. Seu núcleo de
energia gretou, e então um terceiro. Mais navios tombaram perante o portal que se fechara.
“Belo trabalho para os dez primeiro minutos de Invasão!” Gerrard gritou para sua tripulação. “Um
portal arruinado e dezenas de navios caídos!”
“E dez mil navios presos deste lado com a gente,” Sisay advertiu. “Nós temos companhia.”
Embora os cruzadores e os navios da praga eram muito lentos para perseguir o Bons Ventos, os
dragões mecânicos não eram. Para olhos destreinados, eles pareciam meros dragões. As construções
sinuosas eram tão ágeis, tão brilhantes, e inteligentes quanto sua raça natural. Debaixo das escalas de
esmaltado titânio havia malhas tão finas que pareciam com peles e músculos. As bestas giraram ao redor
do Bons Ventos como enxames. Eles abriram suas mandíbulas alinhadas como verdadeiras cimitarras e
exalando um ar tão poderoso quanto de um canhão de rajadas.
“Acionar, Karn! Velocidade máxima” Gerrard chamou.
“Já estamos na velocidade máxima,” veio a retumbante voz.
“Manobras evasivas,” Gerrard berrou.
“Essas já são manobras evasivas,” Sisay respondeu.
“Preparar travessia!” Hanna gritou.
“Cancele isso,” Gerrard ordenou. “Ficaremos aqui em Rath. Preparar curso pra o navio portal ativo
mais próximo.”
“Sim Comandante.”
“Uma armada não é suficiente para você reconsiderar?” Sisay perguntou através do duto.
“Nós derrubaremos esta assim como derrubamos aquela.”

11
Invasion
O Bons Ventos denteou, sua quilha esmagou um dragão mecânico que tinha voado por baixo dela.
O metálico wyvern despencou do ar para cair aos pedaços sobre a terra.
“Bela manobra, Capitã!” Gerrard disse.
“Que tal você acertar alguns deles?” ela retrucou.
“Sim, que tal alguns?”
O canhão de Gerrard brilhou. Raios vermelhos cor de sangue dragavam plasma do ar. Ele rugiu
sobre o esôfago aberto de um dragão que se precipitou sobre eles. Os olhos da besta brilharam por um
momento antes de ficarem negros. As asas do dragão mecânico se dobraram, e se desmantelaram.
Mais dois dragões subiram para tomar o lugar do primeiro. Eles cuspiram seu próprio fogo. Eles
cobriram o casco da frente e fizeram a madeira pegar fogo instantaneamente.
Se o Bons Ventos fosse um navio feito de gravetos ele teria pegado fogo como um espantalho. Mas o
Bons Ventos vivia. O casco dele era de madeira viva, seus acessórios de metal Thran cresciam, até
mesmo seu motor era um órgão vivo, capaz de sentir dor ou alegria. O golem de prata acoplado aquele
motor, servia como um tipo de cérebro para a máquina. Juntos, os componentes do Bons Ventos criaram
um ser poderoso, mais do que capaz de se auto defender. Seiva escorria do casco vivido, extinguindo o
fogo e salvando os grãos carbonizados. A coluna lateral sobressaiu de repente, e o navio rolou. Os
fragmentos da coluna de metal se lançaram sobre os dragões mecânicos cortando o peitoral deles. Eles
guinaram, caindo sobre o enxame de seus companheiros.
“Rota fechada,” reportou Hanna. “Umas cem milhas para o próximo portal.”
“Eles estão mirando nas asas!” Sisay gritou em alerta.
O navio manobrou para evitar uma mortífera baforada. Disparos do canhão de Squee destruíram o
atacante. Outro dragão mecânico seguiu inabalável.
Gerrard grunhiu, “Karn, podemos voar sem as asas?”
“Como um foguete, rápido e fatal. Será quase impossível dirigir.”
“Não para Sisay. Dobrem as asas. Lance-nos para o próximo portal.” Gerrard esperou um coro de
divergências. Os outros ou já estavam acostumados com seus pedidos ou estavam pasmados.
As asas se dobraram, se contraindo. Por um momento, o Bons Ventos perdeu elevação. Então suas
entradas de ar se abriram, e seus exaustores se estreitaram lançando jatos.
“Segurem-se!” Gerrard gritou.
Foi inútil. Ele não podia ser ouvido sobre o súbito barulho. Além do mais, qualquer que não
estivesse amarrado ou dentro do navio teria sido lançado para fora do convés.
O Bons Ventos se lançou como foguete da nuvem perseguidora de dragões mecânicos. As entradas
dos exaustores pintaram os mastros dobrados em vermelho. As chamas iluminaram os olhos das
serpentes metálicas. Elas recuaram suas mandíbulas mordendo o nada.
Enquanto a guinada do casco ajeitava sua rota, Gerrard soltou um grito. “Da pra acreditar? Todo
esse tempo eu passei fugindo do meu Legado - se eu soubesse que seria tão divertido -”
“Isso foi uma eventualidade,” Tahngarth lembrou através do duto de comunicação.
“Sim,” concordou Gerrard. Ele deu uma longa respirada e girou para olhar a arma da meia nau de
estibordo. A podridão negra que uma vez cobria seu lugar havia se dissipado, deixando apenas um
vácuo.
A gosma tinha levado o corpo do artilheiro Fewsteem junto, ela tinha até queimado os arreios que o
prendiam. Gerrard sussurrou “Fewsteem. Ela era um homem corajoso. Houve tantas perdas... Sim, É por
isso que eu fugi por tanto tempo.”
Estou verificando que há uma armada bem maior no próximo navio portal, Hanna repostou, sua
voz soou tensa no duto de comunicação. “Nós vamos precisar de cada arma.”
“Alguma chance de consertar o canhão de Fewsteem?” Gerrard perguntou.
Karn respondeu da sala de máquinas. Suas conexões com o navio o permitiam sentir cada fibra
como parte do seu corpo. “Há um simples conduto rompido no campo de suplemento de plasma.
Reponha-o e a arma funcionará outra vez.”

12
Invasion
“Estou dentro,” Hanna disse, se afastando do duto de comunicação antes que Gerrard pudesse
contra ordená-la. Momentos depois, ela desceu do leme até a meia nau, uma parte necessitada de um
lado e um grande arrombo do outro.
Ele tinha que dar risada. Era a clássica Hanna. Seu cabelo loiro se movendo com o vento. Ela
inclinou-se abruptamente para fazê-la ir para frente. Ela parecia tão esbelta lá, contra a contorcida
paisagem de Rath, as cortantes nuvens escarlates. Gerrard estava feliz por ela ter em quem se apoiar. Ela
chegou ao canhão, removeu um trinco do painel, e trabalhou para afrouxar o conduto rompido.
“Essa é a minha garota,” Gerrard disse, maneando sua cabeça em admiração.
“Gerrard, consegue vê sobre o que nós estamos voando?” Sisay perguntou do leme.
Ele não tinha visto. Os olhos que apenas tinham visto Hanna contra o vermelho tumultuoso de
Rath, agora trocaram de foco. Seu rosto escureceu.
Nos indomáveis vales abaixo, um enorme exército Phyrexiano esperava. Suas forças se estendiam
até o horizonte. Não havia cabanas ou colchonetes, pois para estas criaturas não havia necessidade de
descanso ou abrigo. Havia somente fileiras pacientes de tropas e animais alojados para alimentá-las. Sem
acampamentos, pois os Phyrexianos não precisavam de fogo e preferiam sua carne crua, certamente
viva. Não havia um só traço de móveis e sem provisões para conforto, a não ser que círculos de
gladiadores pudessem ser chamados de conforto. Havia somente ordem e total obediência e selvageria.
“Esperando para abordarem em navios, você acha Sisay?” Gerrard especulou.
“Esperando por alguma coisa, mas não navios. Há soldados demais.”
“Armas consertadas,” Hanna anunciou triunfante. Ela reposicionou o painel trincado e cambaleou
sobre seus pés.
Sisay soltou um chiado. “Chegando!”
Uma bomba de praga foi lançada de uma sentinela que sobrevoava. Caiu bem em direção ao Bons
Ventos. O navio tentou recortar por cima e por baixo, mas a bomba detonou no meio do ar. Uma saraiva
de destroços atravessou a meia nau do Bons Ventos. Fragmentos ricochetearam rapidamente contra as
tábuas antes de serem levadas pelo vento.
“Está todo mundo bem?” Gerrard perguntou.
“Apenas uma pequena cicatriz,” Hanna respondeu. Ela apertou seu estômago e sorriu bravamente.
“Me da vontade de usar essa arma.”
“Fique a vontade. Assim que nós sairmos daqui procure Orim para cuidar dessa cicatriz.”
“Fiquem atentos,” Sisay gritou. “Lá vem a próxima armada.”
“Além da proa de imersão do Bons Ventos, uma vasta nuvem negra apareceu. Ela se avolumou
rapidamente até que encheu todo o horizonte. Ao invés de nevoas, esta nuvem era feita de navios,
navios de guerra Phyrexianos.
Havia dragões mecânicos, cruzadores, e navios da praga, mas também centenas de outros. Muitos
tinham sido especificados das plantas que Hanna tinha roubado do hangar de Mercádia. Navios bate-
estacas com sólidos cascos pairavam como barracudas. Gordas barcaças providenciavam laboratórios
flutuantes para os sacerdotes do tonel Phyrexiano. Bombas eram carregadas de praga em asas
semelhantes a morcegos. Fatiadores de hélices permaneciam flutuando por cima, com lâminas giratórias
que poderiam moer exércitos inteiros. Havia navios que pareciam aranhas aladas, com oito lanças
articuladas para empalarem tritões. Havia tipos de navios para massacrar cada criatura em terra, água e
ar. Eles se enfileiraram para subirem através das pinças do navio portal.
“Não vamos dar tempo para atirarem,” Gerrard ordenou. “Karn, mantenha as asas dobradas e os
motores rugindo.”
“Sim.”
“Sisay, nós precisamos de um voo perfeito. Sem colisões e diretamente através do portal.”
“Eu vou arremessar a gente através dele. Você abra caminho e feche o portal atrás de nós.”
“Certo. Tahngarth, Dabis, Hanna nós teremos apenas uma chance de fazer isso.”

13
Invasion
“Não se preocupe. Eu estou chateada”, Hanna disse. Ela se lançou sobre o canhão da meia nau de
estibordo, mirando na proa.
“Espere um minuto. Você não está amarrada.”
“Você não vai se livrar de mim tão facilmente,” ela disse, iluminando-o com um sorriso.
Ele retornou o olhar. “Aqui vamos nós.”
O Bons Ventos atravessou Rath como uma estrela cadente. Seus motores iluminaram o cume das
tropas que lotavam a terra atrás. Seus canhões lançaram luzes incandescentes nos navios que pairavam
amontoados a frente. Plasmas vermelhos respingaram ataques, acertando tudo através de um mural de
máquinas, carapaças rasgadas, matando os assassinos no limiar do mundo.
O canhão de Gerrard latia. Energias escarlates dispararam em uma longa coluna á frente. Ela
acertou os estabilizadores traseiros de um navio bate-estaca à frente. A pesada lataria caiu atropelada
pelo fogo do canhão. O bate-estaca quebrou-se em um navio de tropas bem abaixo. As duas metades do
navio de tropas se despedaçaram. Phyrexianos voaram como pimenta num moinho. O Bons Ventos
decolou através do espaço vago.
Tahngarth, enquanto isso, se alinhou para disparar, as narinas otimistas. Ele atirou. Energias
fumegantes contundiram contra o cruzador de comando. A rajada rasgou a lataria da ponte flutuante. O
resto do navio começou a guinar lentamente como uma semente de acer1 que caia.
“Na mosca!” Gerrard gritou para ele.
O minotauro apertou os olhos e murmurou, “Não fique empolgado.”
O Bons Ventos limpou o rastro dos destroços. O navio portal apareceu à frente, bem visível através
da armada que esperava. Os dois primeiros cruzadores estavam fazendo seu caminho vagarosamente.
“Poupem seus tiros!” Gerrard ordenou. “Cronometrem desta vez.”
Em momentos eles estavam no alcance.
“Mirem... Fogo!”
Seis dos setes canhões de raios podiam suportar o navio portal, e todos eles foram disparados. As
rajadas disparadas pareciam raios numa grande roda de carroça. Cada uma soou infalivelmente para
acertar as pinças do navio. Elas lampejaram e brilharam. Fogo emergiu do navio. Não havia tempo para
ver mais.
O Bons Ventos se atirou através do portal. Céus azuis substituíram os vermelhos. Benália substituiu
Rath.
“Ele fechou? Ele fechou?” Gerrard berrou.
“Negativo,” chamou Sisay. “Os cruzadores estão vindo através -”
Quatro rajadas rápidas vieram da arma lateral. Squee disparou da arma que tinha acabado de ser
consertada. Vestígios se alongaram de volta, acertando a proa do cruzador que emergiu pela metade.
Explosões estalaram pelo casco.
“Grande tiro, Squee!”
O cruzador foi a pique, metade do caminho através daquele buraco no céu. Listado para o
ancoradouro. Seus mastros tombaram ao lado do portal, rasgando a superestrutura. Com uma explosão
repentina como um trovão, o portal foi fechado. As proas dos dois cruzadores Phyrexianos foram
separadas do resto dos navios. Eles tombaram. Os destroços caíram, cheios de centelhas.
Benália recebeu seus invasores de braços aberto com um exército sobre a muralha. Cada destroço
estilhaçou com o impacto.
“Hanna, encontre aquele terceiro portal.”
“Nós temos que aterrissar,” Karn interrompeu ameaçadoramente de lá debaixo. As asas do Bons
Ventos se desdobraram, e seu motor começou a ficar lento. “Nós estamos superaquecendo.”
“Certo – terra - mas leve-nos para a cidade de Benália. Leve-nos a residência dos Capashenos.”

1 Nota do Tradutor: Acer é um gênero botânico podendo ser denominada com o nome comum de bordo.
14
Invasion
CAPÍTULO 3

QUANDO DEUSES VÃO A BATALHA

Num cume elevado ao leste de Benália dois homens estavam de pé. Eles poderiam ser facilmente
confundidos com dois exércitos. Poderosas armaduras envolviam o corpo deles. Metálico, hipertróficos,
venoso, as vestimentas estavam embutidas com powerstones. Capas grossas drapejavam seus ombros.
Aduelas laminadas de batalha se apoiavam em suas mãos. Dínamos flutuantes sobressaiam das pernas e
dos braços. Cristais negros davam um tom de morte às manoplas. Exércitos inteiros haviam sido
derrotados por estes dois homens.
Mas na verdade eles não eram realmente homens. Um deles tinha um milênio de idade, com um
curto cabelo cinza, costeletas, e um par de longos bigodes formando um parêntese ao redor da boca. Ele
manejava os poderes dos mares e dos céus, de campos verdejantes e vulcânicos. A armadura que ele
vestia era uma concepção de seu amigo. Mesmo sem ela, o mago podia trazer abaixo os céus para beijar
a terra. O outro homem era quase um deus. Seu corpo nada era a não ser, uma conveniência de sua
concentração. Nada mais o segurava num só lugar. Ele pisava entre mundos tão facilmente quanto
outros homens pisavam em pedras. Para ele, a armadura era uma vaidade. Ele poderia simplesmente ter
imaginado a vestimenta sendo feita, mas ele adorava construir máquinas.
O planinauta Urza deu uma longa baforada no ar frio. O vento arrastou seu cavanhaque e seu
longo cabelo loiro acinzentado e levantou sua capa atrás dele.
“Você consegue senti-lo Barrin? Você sente o que o Bons Ventos acabou de fazer?”
O mago mestre Barrin acenou com a cabeça. O tempo tinha enrugado sua pele e fechado seus
olhos. Mesmo assim ele ainda parecia um jovem protegido para Urza. Certamente, ele era. Apesar de
que Barrin tinha vivido um milênio, Urza tinha vivido quatro.
“Sim, meu amigo. Eu sinto o que eles fizeram, seu salvador, minha filha e o navio deles.” As
palavras soaram mais afiadas do que ele pretendia. Fez pouca diferença. Urza era esquecido às questões
sociais. “Eles fecharam dois portais.”
“Esplêndido.” Urza raramente sorria, mas ele o havia feito agora. “Gerrard estava se saindo bem.”
Ele olhou para seu amigo. Uma luz brilhou nos olhos de pedras preciosas do planinauta. “Você disse
que foi um erro criá-lo. Você disse que nenhum homem poderia viver ao destino que eu confiei a
Gerrard.”
“Eu disse que nenhum homem poderia suportar o destino de Gerrard.” Encolhendo suas
sobrancelhas, Barrin adicionou, “Nós ainda temos que ver. Eu somente desejava que minha filha tivesse
escolhido outro homem para amar. É um negócio arriscado amar um salvador.”
“Hanna escolheu assim como sua mãe escolheu,” Urza disse sem constrangimento.
Barrin fez uma careta, demonstrando arrependimento em seus olhos. “Ainda há este terceiro
portal.” Como se fosse para banir as memórias, Barrin encarou as vastas planícies. Trigos selvagens
enchiam os campos, balançando as cabeças brancas ao vento. ”Nós devíamos invocar o contingente
aéreo. Em alta velocidade, eles poderiam chegar aqui no momento que o portal se abrir.”
“Não,” Urza disse terminantemente. “Eu os invocarei, mas eles virão lentamente. Eles ficariam
enfraquecidos depois de um voo mais rápido.” Ele ativou as gemas embutidas em seu cajado.
“Melhor em campo muitas tropas adiantadas do que perecer perante tropas mais fortes quando
elas chegarem,” gracejou Barrin.
“A pressa é a inimiga da perfeição. Melhor esperarmos nosso tempo,” replicou o planinauta.
“Se dependesse de você Urza, nós esperaríamos para sempre.”
“Se dependesse de você Barrin, nós faríamos o mesmo.”
“Mas não depende de nós. Depende dos Phyrexianos,” Barrin disse.

15
Invasion
As têmporas de Urza se avermelharam. Ele não tinha necessidade de rubor. As capilares que
infundiram sua carne eram meras ficções de sua mente, mas como ficções, todas elas eram mais
receptivas ao humor de Urza.
“Se formos sucedidos nesta guerra, nada outra vez dependerá dos Phyrexianos,” replicou Urza.
Barrin agarrou o ombro protegido de Urza e apontou em direção ao vasto céu. “Lá vêm eles.”
O céu se abriu. Uma negritude rasgou um buraco no azul. Um portal se abriu amplamente. Nas
profundezas sem luz uma presença maligna os fitava.
A mão de Urza apertou seu cajado de batalha. “Meu velho inimigo. Ele está me encarando.”
“E você está encarando-o.”
“Se não fosse por ele, eu poderia simplesmente caminhar até aquele portal e fechá-lo, mas ele me
conhece. Ele me empurra, mesmo aqui.”
Navios - pequenos, frotas de navios - emergiram do portal que se escancarava. Eles zumbiam e
enxameavam lá, esperando pelo ataque. Alguns eram navios dragões, seus pescoços e caudas se
contorcendo. Outros eram ainda menores, de piloto único, desguarnecidos e controlados a distância.
Todos voaram em formação de interceptação enquanto o primeiro grande cruzador abriu caminho
através do portal.
“Eles aprenderam com as táticas do Bons Ventos,” Urza observou cruelmente. “Nós não
fecharemos esse aqui a maneira de Gerrard.”
“Ele esta empurrando você, Urza,” Barrin disse. “Empurre de volta.”
Assentindo com satisfação, Urza ergueu seu cajado de batalha. “Primeiro, alguns velhos amigos.
Você acha que eles se lembrarão dos meus falcões mecânicos?” Ele pressionou certa pedra.
De entre o trigo que se agitava, coisas de metal surgiram, de repente, em direção ao céu. Havia
dez mil pássaros, poucos maiores do que asas de aço, olhos de pedras preciosas, e narinas que anelavam
óleo brilhante. Em seus arrojados peitorais os falcões possuíam cilindros ocos com fragmentos do metal
Thran. Quando eles golpeavam a carne dos Phyrexianos, os fragmentos emergiam trespassando-os.
Os falcões dispararam em direção ao céu. Suas rêmiges guinchavam na ascensão. Em instantes,
eles alcançaram seus inimigos. Os falcões convergiram para a vanguarda dos navios Phyrexianos.
Muitos racharam através do vidro dos navios saltadores acertando o peito dos pilotos Phyrexianos.
Muitos se atiraram em direção aos cruzadores que se moviam pesadamente acima. Baterias de plasma
responderam dos enormes navios. Os falcões facilmente desviaram. Eles alcançaram os cruzadores, se
lançando em qualquer cavidade presente, e percorriam pelos corredores até as câmaras onde os
Phyrexianos permaneciam em seus postos. Lá, eles se estilhaçavam.
“Você esta se divertindo com isto,” Barrin observou friamente.
“É uma espécie de jogo de xadrez,” Urza respondeu. “Dois inimigos, antigos e poderosos
batalhando por pequenos quadrados de relva.”
A face de Barrin estava desolada. “Dois inimigos não muito diferentes.”
“Ele jogou com seus cavaleiros e bispos. Eu joguei com meus peões. Eles estão enxameando e
destruindo suas peças.”
“O Bons Ventos não é um peão. Aquele navio, Gerrard, e minha filha - ele é seu rei. Você esta
jogando com seu rei.”
Urza gesticulou enquanto navios saltadores caiam numa chuva regular do céu. “É lindo. Como
você não consegue sorrir?”
“Neste jogo de xadrez, mestre Urza, você tem dezesseis peças e ele tem dezesseis mil.”
“Eu tenho dezesseis bilhões,” Urza disse. “Eu tenho cada coração pulsante deste planeta.” Ele
abaixou seu cajado.
De entre os picos rochosos ao redor veio o som ensurdecedor de cabos. Braços de enormes
trebuchet arquearam-se das máquinas escondidas nos ramos cortados. Suas cestas arremessavam tropas
de Metathran em direção ao ar. Os pequenos navios giraram em direção ao céu. Eles eram simples em
design, meras rodas lançadas ao ar. Dentro destas rodas estavam às tropas de choque dos Metathran,

16
Invasion
guerreiros com pele azulada, biogeneticamente criados para esta guerra. Eles eram mantidos contra as
paredes simplesmente pela força centrípeta. Os transportes não possuíam motores. Na área de cada
disco, cinco powerstones das cinco cores da Magia estavam embutidas equidistantes. Em oposição
dinâmica, eles fizeram as rodas em um imã de mana. Ela tragava inexoravelmente a mais poderosa fonte
de mana próxima, onde ela seguraria com mais força. Alcançando a altura dos seus arcos, os transportes
sentiram os cruzadores emergindo acima. Um após o outro, eles giraram em ascendência. Dragões
mecânicos desceram voando para interceptá-los. Uns poucos discos acertaram os dragões, golpeando-os
nas laterais e continuando seu voo ascendente constante. A força da gravidade era nada comparada a
força da magia. Como peixes ao redor de tubarões, os discos nadaram como um cardume ao redor do
cruzador Phyrexiano mais próximo, encurralando-o. Imediatamente, guerreiros Metathran escalaram de
suas rodas, abordando a embarcação inimiga.
“Eles não sobreviverão à batalha,” Barrin comentou. “Eles foram criados para não se importarem
com o que fazem,” Urza disse. “Assim como os Phyrexianos,” Barrin respondeu.
“Então eles serão rivais equivalentes,” Urza divagou. Seus olhos brilharam. Toda vez que ele
olhava atentamente as gemas facetadas em seu crânio apareciam através da glamorosa máscara que elas
vestiam. “Eu só queria ter baterias de canhões de raios. Isso foi meu maior descuido.” “Maior...
descuido,” Barrin ecoou sardonicamente. Urza levantou uma sobrancelha. “Phyrexianos herdaram a
tecnologia das powerstones Thran sem sofrerem alterações. Eles tiveram seis mil anos e um laboratório
mundial para se aprimorarem. Eu tive que escavar destroços Thran de desertos e vulcões, adivinhar
glifos e trabalhar com miseráveis isolamentos.” Ele deu outra batida em seu cajado de guerra. Mais
centenas de transportes de tropas se lançaram em cima. “É claro que eles têm canhões de raios.”
“O Bons Ventos tem canhões de raios Phyrexianos. Você podia estudá-los lá. Suas máquinas
titânicas poderiam usar tais armas.”
“Eu não interferirei com o desenvolvimento da tripulação.” “Eles nem saberiam que você estaria
lá,” Barrin interrompeu com irritação. “Afinal de contas, você é Urza, o planinauta.”
O novo lote de transporte de tropas aglomerou-se num terceiro cruzador, que acabava de
emergir do portal. Os dois primeiros navios, nadando como tubarões lado a lado, mal o caminho ficou
livre os bombardeios de mana preta lançaram destruição de um para o outro. Linhas de energia viscosa
respingaram ao lado de um cruzador, devorando tudo pelo caminho.
Urza acenou com a cabeça. “Pelo que vejo os times alcançaram os controles de disparo.”
O navio atacante inclinou para dentro. Seu casco enorme correu ao lado do navio vizinho. Estacas
laterais afundaram-se como presas dentro do flanco da embarcação ferida. Fagulhas cercaram as goivas,
e óleo escorreu a fora.
“Eles alcançaram o passadiço do navio também,” Barrin comentou.
O cruzador cravou uma profunda fenda ao lado de seu magote, cortando condutos vitais. O
segundo cruzador começou a inclinar.
“Você não precisa de canhões de raios quando você tem estratégia,” Urza pensou em voz alta.
Os leviatãs aéreos pareciam se fundir. Juntos eles cortaram como tesouras, tosquiando o metal
enquanto eles se iam. Uma perda elevada. Chamas foram vomitadas, as duas máquinas enormes caíram
em direção às planícies.
“E agora, eles desligaram as baterias,” Urza disse como um comentário. “Eles deviam estar
retornando para seus transportes. Uma vez que as baterias de mana estão mortas, os transportes se
levantarão.” Seus olhos de gemas seguiram os navios de batalha enquanto eles mergulhavam. Nenhum
transporte tinha se desengatado do casco. “A qualquer momento, eles rodopiarão para atacar o próximo
navio.”
Os navios formaram um enorme V enquanto eles atingiam o solo. Suas proas cavaram fundo. O solo
se amontoou a frente deles e espirrou para fora como água. Os navios se compactaram. O ar que uma
vez residia nessas câmaras oleosas se lançou em assobios furiosos. Painéis foram bombardeados.
Explosões se seguiram. Elas se iniciaram em núcleos de energia arrasados e se espalharam em plumas de

17
Invasion
óleo e incendiaram até as cabeças brancas dos trigos. Então as chamas delirantes foram extintas por uma
explosão negra que sugou ar para dentro de seu ventre vazio
A grama foi arrancada de suas raízes. Árvores foram niveladas em anéis convergentes. O próprio
Barrin teria sido tragado para dentro do vórtice se não fosse à mão de pedra de Urza segurando seus
ombros. O mundo inteiro pareceu ofegar naquele momento. Foi um zunido ensurdecedor. Lentamente o
rugido morreu em um som como de cavalos gritando, então um silêncio repentino.
Soltando seu companheiro, Urza disse com uma voz rouca, “Não foi como eu tinha planejado.”
“Nada será como você tinha planejado,” respondeu Barrin. Para suavizar o comentário, ele disse
“Obrigado por me ancorar.”
“Eu estava somente retornando o favor.” Urza inclinou seu cavanhaque em direção ao céu. “Chega
de observações. Se quer algo bem feito faça você mesmo.”
“Sim,” Barrin replicou.
Os dois se dirigiram para a batalha. Cristais azuis incorporados em suas poderosas armaduras os
ergueram com um furor silencioso de bolhas através da água. Este voou não foi uma levitação, pelo
ponto de vista dos que usavam as vestimentas. Logo o vento deu passagem a eles. Ele rasgou ombros e
arrancou capas. Ninguém devia subir tão rapidamente assim, nem mesmo um mago mestre ou um
planinauta.
Eles tinham planejado maiores afrontas a natureza.
Barrin mexeu seu cajado através de três arcos. Energias azuis formaram uma esfera de proteção ao
redor dele. Mal ele havia terminado quando um grande punho de mana preta acertou o escudo.
Energias negras ricochetearam pela esfera e respingaram ao redor.
Apertando seus lábios com irritação, Barrin girou seu cajado outra vez. Ele descascou a parte de trás
do escudo como se fosse uma casca de laranja. Ele ajuntou os fragmentos negros que gotejavam da
energia azul, misturando as cores. Manejando seu cajado em um amplo arco final, ele arremessou a
reluzente bola em cima da barriga do terceiro cruzador.
A esfera rasgou através das chapas de metal, rasgando até chegar aos alojamentos. Phyrexianos
resvalaram, baratas vindas de um tronco podre.
Enquanto isso, Urza desviava de rajadas vermelhas de um canhão de raios enquanto ele se
aproximava do cruzador.
Os disparos ficaram mais precisos. Os artilheiros trabalhavam com uma fúria frenética. Um dos
atiradores havia sido um ser humano uma vez. Agora era uma coisa torturada de entrecruzados cabos e
implantes de engrenagens. Ele avistou Urza e disparou. Fúrias vermelhas foram expelidas do latente
barril do canhão.
Urza ergue suas manoplas de couro e refletiu o plasma quente como se estivesse arremessando
pingos de cera. Distraidamente, ele se aproximou. Outra saraiva foi vomitada das máquinas. Desta vez,
Urza pegou a coisa mortífera e arremessou de volta ao atirador.
Plasmas gasosos acertaram sua face. Sua cabeça inflou como um balão. Ele caiu nas cintas da
máquina
Urza ficou feliz em ver que o canhão de raios ficou ileso.
O outro atirador nunca foi um humano. Um monstro que nasceu dos toneis, a configuração de seu
corpo era como de um artrópode. Por baixo de uma caveira vermelha um pedaço ocultava uma boca
redonda com presas curvadas. Seus quatro apêndices dianteiros eram venenos farpados, e eles
chicotearam para acertar Urza. O alcance dessas coisas denunciou suas origens não naturais.
O primeiro golpe pegou Urza pelo lado. Ele estava muito distraído, admirando a arma. Agora ele
estava concentrado. Ferrões do tamanho de chifres cortaram através da armadura, afundando dentro do
seu lado, perfurando vísceras, parando no meio dele. Suas presas bombeavam veneno.
Qualquer homem teria sido morto. Talvez fosse por isso que o boca moldada formou um malicioso
sorriso. Urza, contudo, não era um homem qualquer.

18
Invasion
Ele arrancou os ferrões de sua carne. Isso foi uma agonia, mas uma agonia que ele podia sobreviver.
Ele puxou os braços da criatura pela raiz. Veneno escorreu de uma extremidade e um sangue coagulado
de outra. Urza espetou os ferrões dentro da boca atônita do Phyrexiano. Veneno escorreu. O atirador se
debateu brevemente antes de cair ao lado de seu companheiro. Urza arremessou o braço morto para
longe.
Quase que numa questão de segundos, Urza remodelou sua carne, espremendo o veneno para fora
dele. Suas vísceras e músculos cresceram novamente. Até a armadura se reparou, agora uma mera
projeção de sua mente. Enquanto o planinauta pudesse pensar, ele poderia se curar.
Com um poderoso puxão, Urza quebrou o canhão de raios de sua base. A enorme arma soltou da
passarela. Ela pesava facilmente algumas toneladas. Agarrando a arma, Urza flutuou para longe do
cruzador. Ele lentamente virou o canhão para que assim pudesse se engajar aos controles de disparo.
Com um mero toque, Urza compreendeu a máquina. Seus olhos brilhavam enquanto ele fitava. Sua
mão apertou o gatilho.
Plasmas vermelhos dispararam do canhão, primeiro levando outras armas como esta. Próximo,
Urza mirou nos bancos de motores, nas estações de forças, nos estabilizadores. Foi um trabalho rápido
com um simples canhão, aleijar o terceiro cruzador. O enorme navio começou a afundar.
Urza colocou seus pés sobre ele e parou para respirar. Ele não precisava respirar, mas isso o ajudava
a pensar. Este canhão de raios seria muito útil. Ele arrastaria o cruzador até o chão e veria o que mais ele
poderia salvar.
Um gemido veio de cima. Urza levantou os olhos. Um enorme dragão mecânico pairava lá, suas
escamas delineavam com partículas azuis de magia. De trás do dragão, uma figura familiar chamou.
“Eu requisitei uma montaria. Onde você esta indo?” Barrin perguntou.
“Eu estou trazendo este aqui para o chão para ver o que mais eu posso salvar,” Urza disse,
alegremente segurando o canhão de raios. “Agora eu tenho negócios urgentes em outro lugar.”
“Negócios urgentes?” Barrin ecoou incredulamente. Ele gesticulou por cima de seu ombro, onde
mais dois navios emergiram. “Isto sãos negócios urgentes.”
“Sim,” Urza respondeu. Ele apontou além dos cruzadores. Pequenas figuras brancas desciam do
céu, navios de guerra Metathran e anjos alados de Serra. “Mas você tem alguma ajuda nova. Esta batalha
está em boas mãos.”
Barrin só pôde encarar incredulamente enquanto Urza saia de fininho por cima do cruzador. Com
um ódio feroz por seu velho amigo, Barrin selvagemente afundou seus calcanhares nos lados do dragão
mecânico.
“Erga-se agora para lá. Nós temos uma batalha para vencer.”
O dragão não podia resistir ao controle da magia azul de Barrin. Suas asas se avolumaram e ele
escalou pelos céus.
Barrin deu uma tapinha no pescoço metálico. “Você e eu somos iguais, dragão. Encantados.
Conduzidos para a batalha de outro. Algum dia, se nós durarmos o bastante, nós acordaremos.”

19
Invasion
CAPÍTULO 4

VISÕES CEGAS

O Bons Ventos era um ótimo navio, e mais do que um navio. Parte máquina, parte organismo, parte
milagre, ele lutou com todos os nervos e inovações de um grande guerreiro. Quando a batalha acabou,
assim como um grande guerreiro, ela cambaleou para o refúgio mais próximo, para fazer uma
aterrissagem controlada.
“Lá!” Gerrard gritou, de onde ele permanecia na proa. Ele apontou um dedo além das amplas
pastagens para uma metrópole cercada de muros. ”A Cidade de Benália!”
Ele sempre se lembraria do calcário brilhante daquele lugar, finas torres brancas com chapéus
cônicos, janelas altas com elegantes rendilhados, estátuas gigantescas olhando sobre pastagens sem fim.
Gerrard havia treinado lá, tinha se tornado um mestre de armas no exército Benaliano. A Cidade de
Benália havia ensinando-o as diretrizes das lâminas e das políticas. Ele ainda estaria entre esses mestres
das espadas se não fosse à abdução de Sisay. Ele tinha abandonado sua divisão para ajudar a resgatar a
capitã do navio.
“Karn,” Gerrard chamou pelo duto de comunicação, “pode nos levar até lá?”
Não houve resposta do convés de baixo exceto por um chiado que chiou pelo navio inteiro. A voz
de Sisay surgiu em seguida.
“Ele já está utilizando de suas reservas internas para nos manter voando. Ele nos levará lá.”
“Quão grave são os danos?” Gerrard perguntou.
Hanna respondeu, “Ele se curara. Há muita pressão devido ao calor, contatos desgastados, partes
sobrecarregadas. De a ele uma hora ou duas, e ele estará pronto para outra batalha.”
Um alarme soou das grandes muralhas da cidade
“Falando em batalha,” Gerrard sussurrou sob sua respiração.
Nas barracas das feiras, cidadãos olhavam para cima e apontavam em direção ao céu. Soldados
subiam as muralhas para reforçarem a guarda. Besteiros acionavam seus arpões. Espadas brilhavam ao
sol. Estes estavam entre os mais bem treinados guerreiros de Dominaria. Grupos de balistas ajeitavam
suas máquinas de cerco, carregando-as com trinta metros de lanças de abeto. Os arpões com pontas de
ferro podiam abrir a força o caminho através do casco do Bons Ventos. Neste exato momento, dez destas
máquinas apontavam para a proa do navio.
Gerrard ergueu seus braços no estilo Benaliano para sinalizar aliança e negociação. As balistas e as
bestas permaneceram apontadas para o latente navio.
“Paz!” Gerrard gritou numa voz que soou mais como uma guerra.
Com grande graça, o navio se esgueirou por sobre as elegantes torres da Cidade de Benália.
Estandartes estalavam sobre empenas deprimidas. Entre colunatas de calcário permaneciam dignitários
embasbacados, suas vestes se dependuravam por sobre seus braços num assombro mudo. A cidade
inteira piscou maravilhada e amedrontada.
Gerrard respirou fundo e ouviu o som dos arpões. Não vieram traumas de fora, mas de dentro...
uma grande explosão da sala de máquinas lançou um jato de fogo das válvulas de tubulação.
Cidadãos no mercado abaixo gritaram. Um único e simples conflito foi lançado. Ele rachou por fora
da balaustrada ao lado de Gerrard e caiu fora. Foi o único tiro lançado. Os outros arqueiros seguraram
seus ataques, e os civis seguraram sua respiração.
O Bons Ventos tinha encontrado seu refúgio, apesar de não ter sido fácil. As arestas de pouso
sobressaíram do seu casco para o pátio pavimentado. Ela lançou uma sombra por sobre as rochas. Uma
vendedora de maçãs correu para tirar sua carroça do caminho. Maçãs saltitaram do agitado transporte
como crianças saltando de uma carroça de feno.

20
Invasion
O pátio, uma vez lotado de vendedores e compradores, agora estava vazio de todos, exceto por um
simples, louco encarquilhado. Gasto em roupas cinza, ele tinha proclamado morte vinda dos céus. A
grande, fumarenta nau voadora agradavelmente cumpriu suas profecias. Não foi por isso que ele
permaneceu. Olhos envoltos num lenço, o homem cego simplesmente não percebeu que o Bons Ventos
estava prestes a cair por cima dele.
De debaixo de um chapéu de abas largas, o homem continuou seu lamento, “...monstros mais
hediondos do que criaturas nos pesadelos de crianças. Antigo, mau, retorcido, empenhado em destruir
tudo que é justo e lindo. Eles pensam que este é o mundo deles. Ele pensam que nós somos os
usurpadores. Eles querem nos matar, até o último. Eles pensam que estão nos salvando, mas eles
matarão os mais fracos e escravizarão os mais fortes e nos transformarão em monstros. Eles
transformarão você! E você! E você!” O homem cego apontou acusatoriamente. Seus nodosos dedos
falharam ao indicar alguém no pátio vazio. “Arme-se, Benália! Arme-se! Cada uma de nós terá que lutar,
até o idoso, o cego, o louco e eu sou todos os três!” Ele riu friamente, o som terminou em uma tosse seca.
Somente então o homem cego percebeu o enorme navio, chiando enquanto arrumavam suas arestas
de pouso. Ele pareceu não ouvi-lo, mas preferiu sentir a repentina sombra lançada nos ombros.
Um olhar de perplexidade enrugou seus velhos lábios. O casco suavemente empurrou suas costas.
Ele cambaleou para frente enquanto o navio parou bem antes de esmagá-lo.
Se virando com raiva o velho empurrou a lateral do navio. “Cuidado com seu vagão, bom senhor.
Dê-me um lugar ai.”
Soldados com faces cruéis marcharam em linha atrás do homem. Botas estrondavam ferozmente
contra as rochas. Bestas engatilhadas faziam um desconfortável som no ar.
O vidente cego se virou, lábios brancos de raiva. “O que é isto? Vocês vieram para me arrastar?
Minhas advertências são desacreditadas? O anunciador da verdade vai para a prisão?” Ele ergueu seus
braços numa melodramática rendição.
O capitão da guarda olhou através do louco para a balaustrada da nau voadora. “Ho, ai! De me uma
explicação! Quem são vocês, e o que é esta... coisa? Qual é o seu objetivo?”
Uma sarcástica risada veio de cima. Gerrard colocou uma bota por sobre a balaustrada, inclinou-se
sobre seus joelhos, e sorriu. “Eu sou Gerrard Capasheno, prole da primeira casa.” Ele ergueu sua manga
esquerda, exibindo a tatuagem Capashena, uma torre com sete janelas. “Eu aprendi a lutar lá no pátio
mais baixo, e eu aprendi a ter encontros lá na gruta. Este é o Bons Ventos, antiga nau voadora e o maior
defensor de Benália. Meu objetivo é defender vocês da guerra que está por vir.”
“Defender-nos? Contra quem?” perguntou o chefe da guarda.
“Os monstros do céu!” o homem cego choramingou. “Eu tenho falado a vocês vez a por vez, mas
vocês não acreditaram.”
“Cale-se velho,” o guarda avisou.
Gerrard bufou. “Ele está certo, de fato. Este cego realmente vê alguma coisa. Sim, há uma invasão a
caminho, bestas caindo sobre nós, vindas dos céus. Retornem para suas casas. Armem-se. Cada casa
deve se tornar uma fortificação, cada pessoa um guerreiro.”
O capitão da guarda cuspiu na terra. Ele olhou para o vidente cego. “Este voador lunático é seu
filho?”
Acariciando o casco do Bons Ventos, o encarquilhado homem disse, “Bem, por que não?”
“Eu exijo uma audiência com o chefe do Clã dos Capashenos. Eu exijo ser endereçado para os chefes
dos setes clãs.”
“Tudo bem, dessa aqui, Gerrard Capasheno,” o capitão da guarda disse, gesticulando. “E traga sua
tripulação.”
Gerrard chamou pelo duto de comunicação, convocando sua tripulação. Sisay, Hanna, e os outros
deixaram seus postos, vindo à frente.
“Depressa,” o capitão da guarda latiu.

21
Invasion
Uma linha serpenteou abaixo da balaustrada. Gerrard deslizou facilmente para baixo. Tahngarth,
Sisay, Orim, e Hanna seguiram rapidamente em seguida.
“Não esqueça Squee!” veio um chamado de cima. O companheiro verde seguiu seus camaradas
abaixo.
“Nós não esqueceremos você,” o capitão da guarda prometeu enquanto seus homens prendiam
Gerrard.
O comandante Capasheno procurou por sua espada, mas já havia sido tirada de sua bainha. Ele
tentou sacar sua adaga da coxa, mas três homens seguraram seus braços. Em seguida, o som do ferro se
fechando, ele estava sobre seus joelhos.
Sisay, Hanna, e Orim estavam similarmente sobrecarregados.
Tahngarth atirou de volta os homens que o cercaram. Ele desembainhou uma lamina curvada de
seu arnês e a meneou-a ao redor dele, abrindo espaço.
Abaixo da lamina que se movimentava arrojou-se Squee, que correu precipitadamente para as
pernas do minotauro e agarrou-se pateticamente. Tahngarth rugiu, chacoalhando a criatura que se
agarrava. Ajuntando sua coragem, Squee se virou e ergueu suas mãos numa pálida demonstração de um
mestre marcial. Ele até conseguiu um pequeno rugido por conta própria.
O minotauro manteve o navio atrás de si enquanto ele olhava para os soldados. “Qual o significado
disto?”
O capitão da guarda esfregou seu queixo barbeado. Ele pareceu levar em consideração o argumento
de Tahngarth. “Este homem é um desertor do exército de Benália. Eu o estou levando como prisioneiro.
Talvez desertores não sejam desonrados entre os minotauros.”
Um grunhido chiado foi à única resposta de Tahngarth.
“Então certamente você não vai se opor a justa prisão deste homem.”
“E os outros?” Tahngarth retumbou.
“Seu povo... permitiria um navio de guerra, totalmente tripulado, permanecer no centro de uma de
suas cidades?”
Tahngarth mudou de assunto. “Meu comandante fala a verdade sobre a iminente invasão. Nós
lutamos com essas bestas. Você deve escutá-lo.”
“Nós determinaremos isso. Gerrard Capasheno terá sua audiência com o chefe do seu clã, mas até
então, ele e sua tripulação aguardarão em segurança.”
Os nós dos dedos brancos de Tahngarth sobre o punho de sua lamina falaram sobre sua disposição.
Gerrard acenou com a cabeça para ele. “Tahngarth, por favor. Este é meu povo. Você não pode lutar
com eles. Nós resolveremos isto eu prometo a você.” “Eu aposto que sim,” disse o minotauro enquanto
ele rendia sua lamina e submetia seus punhos para serem algemados.
“Squee se rende também,” anunciou o goblin, levantando suas mãos e ficando de joelhos. Soldados
Benalianos o algemaram e então acuaram o resto da tripulação.
O vidente cego rosnou enquanto seus próprios grilhões eram fechados.
“Pelo menos eu terei alguma companhia, para variar.”

*****
A cela militar Benaliana teve a mesma grande reserva como da cidade acima, finas, porém fortes
barras, celas eficientemente arranjadas, guardas tão decorosos quanto estátuas. Era um lugar familiar
para Gerrard. A cidade tinha ensinado-o a lutar, ter encontros e desafiar autoridades. Ela também o
ensinou as consequências.
“É urgente que você entregue minha mensagem para o chefe Raddeus!” Gerrard exigiu.
O capitão da guarda riu sem graça. “Oh, ele será notificado.” Ele fechou a porta para Gerrard e sua
tripulação.
22
Invasion
“É urgente! Milhares de navios cheios de praga estão descendo agora mesmo!” Gerrard insistiu
enquanto ele se agarrava as barras.
“Diga a eles sobre os monstros,” instou o vidente cego. “Diga a eles sobre os monstros!”
“Quieto!” Gerrard gritou. Não importava. O capitão da guarda já havia partido.
Agitando suas mãos em resignação, Gerrard se virou e apoiou suas costas contras as barras. “Por
que eu achei que eu precisava avisá-los?” Ele afundou para se sentar no chão.
“Um descontentamento familiar,” o vidente cego respondeu. Ele caminhou em direção. “Como você
descobriu sobre os monstros?”
Gerrard acenou uma despedida. “É uma longa história.”
O velho sentou-se. Sua face estava encoberta por sombras por causa do chapéu de abas largas que
ele vestia. “Nós temos tempo.”
Respirando com raiva, Gerrard disse, “Eu sei sobre eles desde sempre, mesmo antes de eu saber
como chamá-los. Eu costumava culpar o “Senhor da Ruína” por tudo o que os Phyrexianos fizeram a
mim. Agora eu sei melhor.”
“Tudo o que eles fizeram a você?”
“Sim,” Gerrard respondeu. “Eu sei que isto parece loucura, mas tudo que eu perdi em mim vida, os
Phyrexianos tomaram de mim: meus pais, meus pais de criação, meu irmão Vuel, meu Legado, meus
amigos... Agora eles querem tomar o resto.” Ele apertou a mão de Hanna e a lançou ao redor dele,
envolvendo-a num abraço. “Eles tomariam Hanna, aqui, e minha tripulação do Bons Ventos, Benália,
Dominaria. Eu não permitirei. Eu lutarei por cada um até o último. Eu prefiro me perder para os
Phyrexianos do que perder alguma coisa mais para eles.”
“Não seja tão ávido a se perder,” o vidente cego advertiu.
Gerrard virou seu olhar para o velho homem. “Então, você realmente tem visões?”
A boca do velho estava sombria por baixo da bandagem que enfaixava seus olhos. “Há dois tipos de
cegueira, não ver coisa alguma e ver todas as coisas. Eu sou cego porque eu vejo tudo.”
“Você vê tudo?” Gerrard bufou. “Como você não sabe coisa alguma sobre mim?”
“Se eu me concentrar, eu provavelmente poderia lhe dizer tudo sobre você.”
“Certo,” Gerrard respondeu. “Que tal você se concentrar em de que maneira nós vamos ganhar esta
guerra?”
O homem deu um longo suspiro. “Há algumas coisas que nem eu posso ver.”

23
Invasion
CAPÍTULO 5

BATALHAS PERDIDAS

Como mosquitos ao redor de libélulas, Metathran saltadores zumbiam nos cruzadores


Phyrexianos.
Rápidos, manobráveis, leves, os saltadores eram esferas de vidro e metal polido que
desdenhavam os canhões de fogo e os dardos de plasma. Pequenas asas metálicas projetavam de todos
os lados, articuladas para dobrar contra a embarcação quando necessário. Saltadores podiam se virar no
meio do ar, podiam voar lateralmente ou em direção ao topo e eles podiam disparar explosivos de
qualquer um das doze entradas. Um tiro bem localizado de um saltador podia abrir um buraco de dez
pés na armadura exterior de um cruzador. Os pilotos saltadores eram amarrados ao nó central de sua
embarcação permitindo-os rodar sobre um eixo de duzentos e noventa graus. Eles usavam seus dedos e
dedões para acessar os controles que enchiam a cabine. Os pilotos dividiam sua atenção entre
bombardeios rápidos, miras vetoriais e as recarregas das câmaras. Diretos, como se fossem feitos de
finos cordões de metal, destemidos, e concentrados, eles foram concebidos para esta tarefa. Diferente das
tropas terrestres de Metathran, os voadores não eram torres de músculos. Se Urza tivesse tido tempo ele
teria dado a eles ossos ocos como os de pássaros.
“Formem-se!” Barrin gritou sinalizando das costas do seu dragão mecânico.
Um enxame de saltadores respondeu prontamente ao seu sinal.
A direita destes navios frenéticos, estavam pelotões de anjos. Suas longas e brancas rêmiges
esculpiam o ar com a leveza da graça que faltava aos saltadores. Mesmo assim, estas criaturas eram tudo
menos, lentas. Com um surto de suas asas, os anjos de Serra ultrapassaram os saltadores. Espadas
supremas - um meio termo entre sabres e cutelos – se iluminaram em suas mãos, máscaras de metais
inexpressivas cobertas por faces angelicais. Estas criaturas transcendentais eram refugiadas de um plano
que entrou em colapso. Elas deviam suas vidas a Urza e Barrin e provavelmente pagariam esse debito
hoje.
Barrin sinalizou para um bombardeio rápido. Segurando o fio da crina do dragão mecânico, ele se
agachou sobre o pescoço da criatura e o mandou mergulhar direto como uma flecha.
Os saltadores e os anjos se reuniram depois.
Abaixo, uma dezena de navios Phyrexianos cruzavam por cima das planícies Benalianas. Mais uma
dúzia estava entre destroços e relvas incendiadas. Mesmo que uma embarcação aterrissasse em
segurança, mais do que a relva queimaria. Cada embarcação carregava um exército de Phyrexianos. O
enorme navio em meio à armada carregava alguma coisa muito pior – praga. Acinzentadas, nuvens
putrefatas, a contaminação cascateava lentamente da embarcação. A doença devorava cada coisa viva na
esteira do navio.
O dragão mecânico de Barrin arqueou suas asas. Ele mergulhou. O ar se encolheu sobre a besta que
mergulhava. Anjos e saltadores rodopiaram no seu turbilhão. Anjos prepararam suas poderosas
espadas, e pilotos Metathran giravam numa febril preparação.
A frota Phyrexiana parecia se expandir, eclipsando as planícies. Rajadas de mana preta saltavam das
máquinas.
Barrin assinalou para os anjos e os saltadores partirem para cima do navio da praga. Ele mesmo
voaria por baixo.
Enquanto o esquadrão de ataque se aproximava, saltadores abriram suas asas. Anjos começaram
uma canção fervilhante. Suas vozes despertaram a magia branca que havia no ar. Ela os envolveu
enquanto eles se atiravam num longo ataque.
Uma muralha, de energia negra e plasma vermelho, se ergueu a frente.

24
Invasion
Os saltadores perfuraram através, aquela coisa salpicou do metal polido. O plasma pegou alguns
poucos, nas pequenas brechas. Eles foram desintegrados no meio do ar ou destroçados e tombaram dos
céus.
Os anjos passaram incólumes. Eles cantaram a música das esferas, que queimou tudo o que era
impuro. Se ajuntando aos seus reluzentes companheiros, eles desceram sobre o navio portador da praga.
Os saltadores lançaram explosivos no lado do navio. Fogo carmesim escavou seções no casco e no
motor. Membros e caveiras Phyrexianas saltaram dos locais das explosões. Anjos cortaram condutos de
força, fazendo gêiseres de energia vomitaram do navio. Fumaça branca foi expelida para todas as
direções.
Apesar de todos os seus sucessos, os saltadores e os anjos de Serra eram meras abelhas picando uma
marmota. Eles podiam espetá-la, mas não matá-la.
Barrin perdeu de vista o esquadrão. Seu dragão mecânico investiu por baixo do navio da praga. Ele
preparou um feitiço. Energias brancas se ajuntaram por baixo de seus braços. Manuseando-as através do
ar, ele se revestiu de relâmpagos cintilantes e bem a tempo. Nuvens de praga rolaram sobre ele. O ar
rastejou com contaminação. Ele fez pressão sobre a energia que envolvia Barrin e chiou na pele de metal
do dragão mecânico.
Barrin olhou através da nuvem da morte. Ela crescia mais densa à frente. Ele estava se aproximando
da principal válvula da praga abaixo do navio. Sua comporta levaria diretamente aos reservatórios da
doença. Esse era o alvo de Barrin. Se ele pudesse lançar uma rajada através da válvula principal, ele
poderia purgar a doença. Mas qual rajada lançar? Uma bola de fogo ou um relâmpago somente
espalhariam a contaminação. Barrin ajuntou energia branca das vastas planícies abaixo. Ele tinha
preparado estes feitiços para os feridos após as batalhas, o suficiente para centenas de guerreiros
Metathran. Melhor usá-los para salvar milhares de civis.
Uma esfera de energia branca encheu suas mãos. Ela cresceu incandescente bem no meio da nuvem
da praga. Sentindo a válvula se abrindo acima, Barrin lançou a esfera para cima. Ela desapareceu. Um
flash brilhante perfurou a nuvem, mostrando a boca da válvula. Momentos depois, um feitiço de cura
esmagou dentro dos canais da praga. Outra explosão de luz mostrou a energia de mana limpando os
nodosos mecanismos interiores.
“Eu ainda consegui,” Barrin resmungou cansado enquanto o dragão mecânico o carregava para fora
de debaixo do navio da praga. Eles saíram da nuvem.
Magia de cura jorrou do navio da praga. A energia branca sobrepujou a doença negra. O feitiço
tinha esterilizado o navio e agora purificou o ar abaixo dele.
Barrin agarrou-se ao dragão mecânico. Aquele vasto e aglomerado feitiço tinha o deixado exausto,
mas funcionou. Ele salvou milhões.
Enquanto o dragão de metal rugia pelos limpos céus, o navio da praga afundava. Fumaça vertia
dele. Os saltadores e os anjos de Serra fizeram seu trabalho. As feridas se escancaravam através dos
flancos do navio. Se inclinando lentamente, a embarcação tombou. Ele espiralou um tronco num
turbilhão. Phyrexianos foram arremessados do convés. Eles caíram se contorcendo no ar. O navio
também caiu. Ele quilhou, a válvula vazia da praga bocejou pela última vez. Um par de ossudos mastros
acertou o chão primeiro e cavaram sulcos profundos antes de se desprenderem. A fuselagem seguiu.
Conveses se racharam. Os motores explodiram em longas filas. Pilares gêmeos de fumaça se ergueram
numa nuvem em forma de cogumelo.
Barrin se permitiu uma risada cansada. Tinha sido uma salvação não convencional, mas ainda assim
uma salvação.
Sua satisfação silenciosa logo acabou. Sobre as incansáveis asas do dragão, ele vislumbrou outro
navio com praga emergindo do portal. Os Phyrexianos estavam evidentemente transferindo suas forças
através dos portais que Gerrard tinha fechado.
“Onde está Urza?” Barrin chiou por debaixo de sua respiração. “Quais negócios podiam ser mais
urgentes em outro lugar?”

25
Invasion
Ele sabia que não tinha sido surpreendido. Urza tinha o costume de deixá-lo lutando contra todas as
adversidades. Houve um tempo em Tolaria quando Barrin tinha liderado um exército de estudantes e
velhos estudiosos contra as hordas Phyrexianas - tudo sem a ajuda de Urza. Ele quase perdeu aquela
guerra. Era como se Urza não lutasse numa batalha perdida. Ele as deixou para as capazes mãos do
mago mestre.
Ele pensou em sua esposa, Rayne - outra batalha perdida. Sua morte tinha dilacerado seu coração.
Era quase um alivio lutar com os Phyrexianos. Era mais fácil fechar um buraco nos céus do que um
buraco na alma.
Barrin permaneceu sobre a cela, assinalando para os saltadores Metathran e os anjos de Serra se
alinhar atrás dele. Eles vieram com seu costumeiro furor. Ele dirigiu seu dragão mecânico em direção ao
navio da praga. Talvez ele pudesse reunir outro conjunto de feitiços de cura. Talvez ele pudesse obstruir
os canais de contaminação.
Talvez isso não importasse. A batalha de Benália também podia ser uma batalha perdida.
Enquanto Barrin lutava para fechar o buraco nos céus, cruzadores Phyrexianos rugiam pelo chão,
em direção a distante cidade de Benália.

*****
Além das ondas de espigas, colunas de fumaça se erguiam. Elas saiam das novas montanhas, que se
agigantavam no horizonte. Aqueles picos fumegantes não eram vulcânicos, mas Phyrexianos,
montanhas que tinham caído do céu.
Mais montanhas soavam lá. Doze cruzadores Phyrexianos deslizavam sobre as pradarias. Talos de
grãos tremiam com suas vastas sombras. Os ventres dos navios eram achatados e blindados, iguais a
crocodilos. Tão quietos quanto predadores, eles partiram sobre as planícies, procurando um lugar para
se posicionar.
Vinte milhas além do portal os cruzadores se espalharam através do campo amplo. Eles pairaram
até que cada uma das doze embarcações tivesse alcançado seu lugar no arco gigante. Enviando
subitamente jatos de vapor, eles se lançaram ao chão.
As gramíneas se dobravam e se quebravam. O impacto final de cada navio sacudiu Benália. Era
como se doze deuses tivessem pisado no mundo. Portas gigantescas se abriram, rampas se formavam.
No topo deles estavam legiões de Phyrexianos envenenados, prontas a se posicionar.
Eles eram figuras saídas de pesadelos, escamosos e poderosamente cruéis. Presas envenenadas,
chifres perfurantes, sugadores de sangue, ejetores de ácido, proliferação de exoesqueleto, pinças, farpas,
picadas paralisantes, cada adaptação que a natureza tinha dado aos inimigos da humanidade os
Phyrexianos tinham dado a eles mesmos.
A primeira fileira que marchou para fora foram os escudeiros, os Scutas. Eles eram criaturas
inclinadas. Seus crânios tinham sido achatados e alongados dentro de amplos escudos que guardavam
suas pernas ligeiras. Havia pouco espaço para o cérebro naquela coifa ossuda e sem necessidade. Estas
bestas de pés ligeiros foram criadas com o instinto de investirem em territórios desconhecidos e superar
emboscadas. Eles pareciam caranguejos-ferradura gigantes, sem traços humanos a não ser pelos
vestígios do rosto, esticados e vagos, em seus baixos crânios. Ombro a ombro, eles desceram a rampa e
marcharam em direção, fungando com reforçadas cavidades olfativas. Os Scutas eram mantidos com
fome, assim eles procurariam suas vítimas não somente por esporte, mas para sustento.
A próxima fileira foi completamente diferente. Cultivados pela força bruta, vigor, e selvageria, as
crias de sangue tinham uma segunda pélvis e um segundo par de pernas enxertado ao estomago. Eles se
inclinavam para frente perpetuamente como se fosse uma carga maligna. Vigas de aço perfuravam seus
ombros, alargando-os em um metro e providenciando braços de artefatos sobre seu natural par. As crias
de sangue desceram a rampa e se partiram através do campo. Eles eram tão rápidos como lobos e se
26
Invasion
lançavam como rinocerontes. Se os Scutas enfrentassem mais forças do que eles pudessem matar, as
crias de sangue pintariam as planícies com sangue.
Depois da Scuta e das crias de sangue vieram falanges e falanges de tropas Phyrexianas. Essas
tropas nascidas do tonel eram menos especializadas, com configurações e inteligências geralmente
humanas. Eles eram grandes e inclinados, seus ombros eram eriçados com chifres, suas faces tensas
pareciam sacos de couro. As costelas das tropas Phyrexianas tinham sido compactadas dentro de um
dorso encouraçado, e implantes tinham desenvolvidos armaduras subcutâneas através de seus corpos.
Garras mecânicas substituíram mãos e pés. Era impossível dizer onde a carne parava e o mecanismo
começava. Tropas Phyrexianas eram designadas a marchar e a rebocar e cavar tão bem quanto lutar. Eles
também eram designados a seguirem ordens ao invés de instintos.
Ordem e instinto tinham sua mútua apotheosis na figura final que emergiu. Ela não desceu a rampa
junto da horda de Phyrexianos. Ela não fazia parte da ralé. Ela era sua líder, sua deusa. Foi parte da
doutrinação destas tropas que quando eles olhassem para Tsabo Tavoc, eles veriam mãe e governadora e
assassina, tudo de uma vez.
As oito pernas de Tsabo Tavoc ajudavam na imagem. Eles eram mecanismos, prateados e afiados
como navalhas. Mesmo agachados, eles erguiam o torso dela dez pés acima do chão. Completamente
estendidos, eles a faziam mais alta do que uma casa. Entre essas gigantescas pernas, se erguia um
grande, bulboso abdômen. Também era um mecanismo. Um ferrão derramando veneno se projetava por
baixo dele. As Powerstones dentro do seu abdômen ligavam Tsabo Tavoc a cada um de seus asseclas. Ela
podia sentir tudo que eles sentiam.
Sobre tudo isso havia um poderoso tórax, meio humano meio máquina. Vestes marrons envolviam
os quatro ombros maciços e cobriam uma calva, jovem, estranhamente bela cabeça. Tsabo Tavoc uma
vez foi uma bela dama com uma pele de marfim e braços flexíveis. Sua beleza tinha sido, de alguma
forma, somente intensificada pelas modificações torturantes que ela tinha sofrido. Mesmo seus olhos, a
maneira que eles brilhavam era sedutora se eles não fossem tão claramente compostos.
Tsabo Tavoc desceu da proa de seu cruzador comandante. Suas pernas escolhiam graciosamente
entre as ondulantes espigas. Ele assistiu com toda a visão de suas tropas alinhadas sobre as planícies de
Benália.
Tsabo Tavoc os amava. Estes eram seus filhos. Um sorriso quase se formou em seus lábios
segmentados. Ela enviou seus filhos para se ajuntarem a sua vontade.
Bem-vindos meus queridos. Bem-vindos a Dominaria. Este é nosso lar. Vocês sentem em seu sangue como eu
sinto? Vocês sentem como os vales nos chamam? Eles se lembram de quando nós caminhávamos neste lugar. Eles
esperaram pelo nosso retorno. Nós viemos a eles, finalizados e gloriosos, seus verdadeiros governantes.
Mas há outra raça aqui. Eles governaram este mundo por estes seis mil anos, governaram erradamente. Eles
são o nosso remanescente, aqueles que não ascenderiam. Eles permaneceram em miséria e prosperaram somente
porque eles não possuíam predadores naturais.
Nós somos seus predadores naturais. Nós viemos para tomar este mundo de volta dos pele-macia, vermes
covardes que o assolaram. Nós nos alimentaremos deles, como é nosso direito, e proclamaremos domínio sobre
Dominaria, como é nosso destino.
Ponham-se em ordem minhas crianças. Esta é a primeira batalha de muitas. Antes que o sol se ponha neste dia,
nós marcharemos sobre o centro de poder Benaliano. Nós marcharemos sobre a cidade de Benália.

27
Invasion
CAPÍTULO 6

A PICADA DE UMA ARANHA

De cima da cidade de Benália vieram explosões e gritos repentinos. O chão da cela estremeceu. O
ferro retiniu no ferro. Areia escorreu do teto de pedra.
“Você ouviu isso?” Gerrard chamou o guarda da cela. “Essa é a invasão da qual nós falamos. Esses
são os monstros que vieram do céu.”
O vidente cego permaneceu ao lado dele, se agarrando nas barras.
“Eles estarão chamando você num momento,” Gerrard continuou. “Eles precisarão de todo mundo
para lutar. Eles precisarão de nós também. Solte-nos!”
O guarda era jovem e estava pálido. Ele deu um passo em direção à cela, suas mãos estavam nas
chaves ao lado dele. Um grito veio de cima. Ele esticou o pescoço por cima da passagem e ouviu a ordem
estridente. Cada palavra sacudiu seu corpo completamente, como se ele fosse um farrapo na boca de um
cachorro. De repente, ele subiu as escadas.
“Espere!” Gerrard gritou.
Já era tarde. Uma ensurdecedora concussão soou no topo das escadas. O guarda, um mero boneco
de pano agora, rolou abaixo até chegar à base.
“Maldição,” Gerrard rosnou, olhando para o amarrotado jovem. Ele chacoalhou a porta de cela
frustrado. “Nós temos que sair daqui. Não demorará muito para que os Phyrexianos comecem a encher
aqui embaixo.”
Tahngarth se levantou do canto onde ele estava sentado. Farejando ferozmente, ele caminhou pela
cela, agarrou as barras, e as puxou fortemente. Músculos saltaram como cabos de aço. Os nervos de seus
maciços ombros rolaram para baixo de seu mosqueado pelo branco. Gotas de suor rolaram por cima de
sua face bovina. Mesmo assim as barras nem se mexeram. Com um rugido de fúria, ele soltou suas
garras e se ajoelhou ofegante.
Balançando sua cabeça, Gerrard disse, “Que tal você, Hanna? Você poderia abrir está fechadura?”
A magra, loura navegadora encolheu os ombros enquanto ela vinha à frente. “Só porque eu estudei
sobre artefatos não significa que eu sei tudo sobre fechaduras.” Ela se agachou ao lado da porta e espiou
por dentro do buraco da fechadura. “Se isto fosse um dispositivo de powerstone, eu teria uma pista. Pois
eu não tenho coisa alguma para usar para abrir portas.”
“Que tal isso?” se interpôs Squee, de repente ao lado dela. Ele agarrou um objeto branco pontiagudo
“Isso pode servir,” Hanna respondeu, segurando-o antes que ela percebesse que era uma ponta do
chifre de Tahngarth. O minotauro ajoelhado ergueu uma sobrancelha para ela, e ela soltou, sorrindo
como desculpa.
“Estes chifres já derrubaram varias portas, mas nunca as abriram,” Tahngarth bufou.
Outra explosão chocalhou a cela. Mais pedras caíram da cela.
Gerrard bateu nas costas do minotauro. “Eu odeio ter que ter pedir isso, mas eles levaram tudo mais
que nós poderíamos usar para abrir porta. Eles levaram até meu cinto, como se eu fosse estrangular
algum guarda. Eles o deixaram com nossas armas - com sua striva.”
“Tudo bem! Tudo bem!” o minotauro grunhiu. “Use meu chifre! Isso apenas me deixará mais mortal
quando eu sair daqui.”
Hanna gentilmente pegou a ponta e a colocou no buraco da fechadura. “Perdoe-me Tahngarth. Eu
não sou uma especialista nisto.”
“Squee é bom! Squee sabe fazer isso!” o goblin disse enfaticamente. Ele escalou as costas inclinadas
do Tahngarth e saltou nas barras, onde ele se agarrou como um macaco. Ele lançou Hanna de lado,
espiou por dentro do buraco da fechadura, e disse, “Ah sim. Fácil fechadura. Um golpe. Eu faço isso

28
Invasion
fácil.” Ele segurou o chifre de Tahngarth e o empurrou para dentro do buraco da fechadura. O
minotauro preponderou, sua cabeça bateu contra as barras.
Gerrard e Hanna sabiamente se retiraram.
Tahngarth se estabilizou e estava prestes a protestar quando uma cascata de pedrinhas caiu da cela.
Acertando suas escapulas. Ele ia ser realmente mortífero quando ele saísse disto.
Squee contorceu o chifre do minotauro. Ele encolheu deploravelmente no invólucro de metal. O
goblin trocava as mãos com que segurava. Seu pulso se contorceu.
“Não é bom. O ângulo todo errado. Talvez nós quebramos esse chifre!”
“Talvez nós quebramos esse goblin!” Tahngarth rugiu.
Squee estava muito ocupado se agarrando as barras e chocalhando o chifre para perceber que ele
estava num perigo mortal. Exasperado, ele se espremeu através das barras.
“Squee tenta isto pelo lado de fora.”
Ele apoiou seus pés na porta pelo lado de fora da porta e arrancando o chifre de Tahngarth, batendo
outra vez a cabeça de boi dele contra as barras.
“Squee! Squee! Pare! Tahngarth gritou.
“Squee está quase conseguindo!” gritou de volta o goblin.
“Você já conseguiu, seu imbecil! Você está fora da cela! Pegue as chaves!”
“Hu?”
“Do guarda morto! Pegue as chaves!”
Soltando o chifre do minotauro, Squee colocou seus pés sobre o chão de pedra frio. Ele rebateu as
mãos, franziu a testa, e encolheu os ombros.
“Bem, se você acha que será mais rápido.”
“Pegue as chaves! A tripulação do Bons Ventos gritou em uníssono.
Squee se encolheu perante a agressão auditiva e foi para o corpo esparramado que ali estava. Hábeis
mãos retiraram o chaveiro das roupas emaranhadas. Squee as levou de volta para a porta. Segurando a
respiração, ele tentou chave por chave no buraco da fechadura.
“Isto só corta. Squee salva suas peles dezenas de vezes em Mercádia, e agora salva sua pele aqui, e
tudo o que vocês dizem e ‘pega essas chaves, Squee! Pega essas chave!’”
Um grande estrondo soou acima, e um pequeno desmoronamento desceu pelas escadas, soterrando
o guarda.
Gerrard observava febrilmente do outro lado da porta da cela. Quietamente, ele aconselhou,
“Melhor você se apressar Squee!”
“’Rápido Squee! Rápido Squee’” o goblin reclamou.
A fechadura deu um clique. Squee puxou a porta quase a arrancando. Ele girou as barra para trás,
deixando a porta entre ele e os Phyrexianos atacantes.
Tahngarth seguiu porta fora. Ele explodiu da cela com um rugido todo emplumado. Ele ecoou
através da tremula câmara como se a própria cela estivesse gritando.
Com aquele barulho, até os Phyrexianos titubearam. Eles pararam em seu ataque, vislumbrando
uma grande massa de músculos bem a frente do caminho deles.
Tahngarth permaneceu perante os dois Phyrexianos. Chifres que uma vez foram contorcidos nas
câmaras de tortura em Rath acertaram e perfuraram suas primeiras vitimas. Um dourado sangue oleoso
jorrou das bestas enquanto Tahngarth os erguia até o teto. Ele bateu sua cabeça. Os chifres evisceraram
os monstros. Tripas caíram em ambos os lados do minotauro. Parecendo insetos empalados, os
Phyrexianos se contorceram em seus chifres. Um par de seus companheiros emergiu sobre Tahngarth.
Ele lançou as bestas mortas de seus chifres, derrubando os outros.
Gerrard e Sisay correram da cela para o lado do minotauro. Sisay trincou seus dentes em fúria.
“O que nós usamos como armas?”

29
Invasion
Gerrard demonstrou com um soco. Punhos golpearam uma mandíbula Phyrexiana, bem entre um
par de presas venenosas. Os ossos por baixos trincaram. A besta rolou e caiu como uma placa. Sorrindo,
Gerrard falou por entre os punhos.
“Estes, eu suponho.”
Balançando a cabeça filosoficamente. Sisay abaixou as violentas garras de outra besta. Ela o chutou,
quebrando suas pernas na altura do joelho. Quatro Phyrexianos tombaram, mas dezenas mais desciam
as escadas.
“Nós estamos perdidos, você sabe disso?” ela disse suavemente enquanto ela arrancava a cabeça da
criatura que tinha acabado de derrubar.
Antes que ele pudesse responder, Gerrard cravou o focinho de uma das bestas dentro do seu
próprio cérebro. Ele arrancou as garras daquela coisa da própria garganta ensanguentada dela.
“Eu sei.”

*****
Tsabo Tavoc tremia com deleite enquanto ela caminhava através das destruídas muralhas da cidade
de Benália. Cidadãos mortos jaziam em todo lugar. Somente uns poucos ainda não haviam sido
devorados. A maioria deles jazia com olhos semiabertos e bocas congeladas num grito final. Tsabo Tavoc
tinha ouvido os gritos desses através dos ouvidos de suas crianças. Ela tinha experimentado o sangue
deste, e daquele. Era como se ela mesma tivesse matado todos eles. Mesmo agora, mais assassinatos
fluíam sobre ela, como correntes de águas trazidas por um belo vento. Tsabo Tavoc tremia. Havia tanto
êxtase na colheita.
Um grupo de crias de sangue emergiu ferozmente através da brecha da muralha. Eles passaram
através de suas pernas. Tsabo Tavoc ficava deleitada com o toque de suas crias. Ele observou as crias de
sangue convergir sobre soldados Benalianos. Os humanos prepararam suas lanças contra o ataque, mas
estes não eram cavalos com peitos ocos. As crias de sangue correram com carga total para cima das
lanças. As pontas de metal afiadas golpearam ferozmente, cortaram as costelas amplas, e deceparam
ineficazmente os músculos dos peitorais. Tais lesões mutilaram um braço, mas as crias de sangue
possuíam outros três. Com os outros braços eles rasgaram os lanceiros. Era uma visão gloriosa, uma
fonte vermelha jorrando na calçada da praça.
Ah, que estase havia na colheita. Tsabo Tavoc respirou fundo.
Talvez os maiores triunfos do dia tivessem sido capturar o navio voador Bons Ventos. Qualquer
Phyrexiano teria reconhecido aquela estranha e pequena máquina de guerra. Ela tinha causado
destruição em Rath. Ela tinha destruída uma frota Phyrexiana em Mercádia. Todos os Phyrexianos
reconheceram o navio como a ridícula e insignificante criação do Planinauta Urza. Ele era uma mera
vespa pequena e ridícula, mas capaz de causar uma picada dolorosa.
Não hoje. A tripulação se foi. Ele tinha sido guardado por soldados Benalianos. Eles estavam mortos
agora, substituídos por Phyrexianos. Cada câmara do navio havia sido vasculhada, mas onde estava a
tripulação?
Alguma coisa ruim a tinha tocado: o gosto picante da perda. Ele veio de lá, da arruinada enfermaria.
Parecia um lugar de vitória. Uma rajada de canhão tinha arrancado o telhado fora. Uma parede de tijolos
havia tombado. Beliches jaziam capotados. Entre eles estavam fragmentos vermelhos de ossos onde os
habitantes tinham alimentado os Scuta. Até o chefe Capasheno Raddeus e sua mulher Leda tinham sido
surpreendidos lá, visitando os doentes. Eles foram enforcados, alto o suficiente para que as crias de
sangue arrancassem somente um dedão ou dois. Sobre o chão estava à vitória.
Abaixo do chão estava a derrota. Uma profunda cela espreitava lá. Vinte de seus filhos jaziam
mortos, e nem um simples prisioneiro havia sido morto. Que tipo de prisioneiros eram esses?

30
Invasion
Com um repentino calafrio de percepção, Tsabo Tavoc soube. Ela lançou sua vontade. Capturem-nos,
meus filhos. Não os matem. Nem os deixem escapar. Estes são os antigos amigos do mestre. Eles são os salvadores
de Urza.
A resposta veio em seguida, como sempre vinha com graciosa obediência. Os pensamentos eram
transmitidos numa corrente de morte, as mortes de seus servos.
Eu devo ir ver este Gerrard Capasheno por mim mesma, pensou Tsabo Tavoc.
Suas pernas galoparam. Num momento, ela chegou à arrasada enfermaria e permaneceu no topo
das escadas. A agonia a perfurou com ondas requintadas sobre ela. O coração de Tsabo Tavoc martelou
dentro de seu tórax. Ela dobrou seu venenoso abdômen por baixo dela e dobrou suas pernas como uma
gaiola sobre sua cabeça. Metal arranhava a rocha enquanto ela descia os degraus. Ela desceu sobre uma
miserável pilha que estava aos pés da escada. Havia um corpo ainda quente embaixo de seus pés, mas
ela não prestou atenção. Desdobrando suas pernas ela inspecionou a cena.
Seus filhos jaziam, alguns vintes, mortos perante a tripulação do Bons Ventos. Como punhos e
chifres tinham superado presas e garras?
Tsabo Tavoc falou. Era um grave momento quando ela falava alto. A voz dela tinha o som de
cigarras raspando num coral.
“Se renda Gerrard do Bons Ventos. Você não será ferido por mim. Meu mestre quer ver você.
Renda-se e viva.”
O homem de barba negra, a qual ela se direcionou, possuía um incomum sorriso enquanto seus
punhos socavam outro soldado
“Você superestima... o quão afeiçoado eu sou... a vida.”
Raramente Tsabo Tavoc falava alto. Quando ela o fazia, ela sempre obedecia.
Lá naquele apertado lugar, suas pernas arranhavam as celas enquanto ela girava em direção de
Gerrard. Um minotauro - um bovino tolo - se interpôs entre o homem e como um bate estacas golpeou a
barriga de Tsabo Tavoc. A sua própria dor não era tão agradável quanto à dos outros. Com uma mão
magra, ela arrancou aquela coisa torcida de sua carne. O chifre estava coberto de sangue oleoso. Tsabo
Tavoc arremessou o minotauro como se ele fosse um bezerro recém-nascido.
Uma mulher de pele negra chutou a barriga ferida. O pé dela afundou dentro do buraco gosmento.
Tsabo Tavoc contraiu seu tórax e aprisionou o pé. Sua atacante se contorceu em agonia.
Negligentemente, Tsabo Tavoc arrastou a mulher em direção a Gerrard.
Ele deu uma gingada enquanto ele tropeçava. Tsabo Tavoc pegou seu pulso e o ergueu. Ele tentou
se libertar, mas ele era muito fraco. Ele parecia um gatinho sendo esmagado.
Tsabo Tavoc encarou o rosto furioso deste jovem, esta criatura esperou um milênio por sua missão.
Sua voz zumbiu pela cela.
“Você não pode me derrotar, Gerrard, nem meu mestre. Eu tomei seu país. Eu tomarei você
também. Meu mestre tomará seu mundo.”
O que foi isto? Ele cuspiu no rosto dela? Poderia ele ainda desafiá-la?
“Qual é o seu nome para que eu possa me vangloriar quando eu te matar,” o homem barbudo
perguntou.
“Eu sou Tsabo Tavoc,” ela respondeu serenamente, “mas é mais provável que aconteça o oposto.”
Seu abdômen se enroscou por baixo de Gerrard. Um enorme ferrão gotejando veneno. Sacos de veneno
pulsavam. Tsabo Tavoc prendeu o lado de Gerrard
Oh, este seria o maior de todos os prazeres.
De repente, o lugar se encheu de barulho e luz. As pesadas celas se despedaçaram. Ela caiu sobre
todos eles. Cada naco da rocha estava delineado com uma luz vermelha. Os Phyrexianos foram
esmagados. Um pedaço de rocha acertou a mulher de pele negra deixando-a inconsciente. Outro fez um
rasgo profundo do lado de Gerrard. Somente aqueles que estavam na prisão foram protegidos.
Apenas uma rocha realmente importou, um pedregulho mortal. Ele esmagou Tsabo Tavoc no chão.
Seis metros de laje prenderam as pernas do seu lado esquerdo. Ela lutou para se libertar.

31
Invasion
Pior do que isso, Gerrard tinha se libertado. Suas mãos estavam ensanguentadas. Ele levou sua
companheira de pele negra com ele. O pé dela estava gravemente queimado devido ao sangue de Tsabo
Tavoc, mas eles fugiram.
Um grotesco goblin se lançou nas barras e apontou em direção aos céus. “Squee ama Karn! Squee
ama Karn!”
Tsabo Tavoc olhou para cima. Sobrevoando aquela cratera fumegante estava aquele maldito navio.
Alguém tinha permanecido a bordo. Alguém que podia pilotar o navio e ao mesmo tempo usar os
canhões de raios.
“Squee ama Karn! Squee ama Karn!”
Gerrard e sua tripulação subiram para fora da cela, sobre rochas e corpos.
Tsabo Tavoc açoitou com suas pernas direitas.
Os pequenos monstros estavam fora de alcance. Eles subiram pela prisão até a arruinada
enfermaria. O Bons Ventos voava por cima dos destroços. Sua âncora ressoou abaixo, esmagando o que
restava do muro. A tripulação se amontoou sobre a peça de metal que se remexia. Ela lentamente foi
erguida.
Este Gerrard morreria. Não importava o que o mestre queria. Aqui estava um homem que tinha
sorrido perante o desafio, tinha cuspido na cara dela, e tinha vivido para contar história.
E ainda o Bons Ventos tinha escapado.
Tsabo Tavoc ajuntou forças nas pernas presas. Havia somente uma que não podia se mexer. O resto
podia fazer força dando lhe alguma chance. Tsabo Tavoc deu a elas a chance. Ela se ergueu em
liberdade. A interface metálica de uma única perna destruída arrancada para fora de sua cintura pélvica.
Seu próprio sangue cobria as rochas enquanto ela caminhava com suas pernas boas. Isso a deixou
furiosa. Sua própria dor não era tão doce quanto à dos outros.
Por esta e outras injúrias, Gerrard morreria.

32
Invasion
CAPÍTULO 7

COMO A FLORESTA LUTA

Multani acordou aterrorizado.


Ele sabia que estava morrendo. Ele podia senti-lo em sua carne. Havia um câncer repentino, uma
dormência que estava devorando seus sentimentos e substituindo por uma morte viva.
Na noite passada ele estava bem. Ele havia sentido sua consciência em cada broto das copas e em
cada cabelo de raiz que estava abaixo. A grande floresta de Yavimaya era seu corpo. As árvores
magnigote eram seus membros intermináveis, elfos e fadas eram seus pensamentos, a emergente seiva
era o sangue que lhe bombeava. Na noite passada, a floresta estava bem.
Esta manhã, tudo estava diferente. Yavimaya foi de repente carregada com bolsões de escuridões -
um câncer.
Ela desceu dos céus. A contaminação desceu peneirada através do ar puro. Os esporos trilharam seu
caminho através de cada poro em cada folha. Um entorpecido formigamento se seguiu. Ela fluiu a
deriva entre os galhos e ramos e troncos. Ela converteu tudo numa vivida podridão. Ramos inteiros
foram corrompidos.
Era pior que isso. Uma inteligência controlava este câncer. Alguma coisa chamava pelos membros
apodrecidos - alguma coisa negra e faminta. Isto não era apenas uma praga mortífera. Também era uma
praga ressuscitadora. Ela matava e em sequência revivificava a madeira morta para controlá-la. A
gangrena fez uma lenta possessão sobre Yavimaya. A vida da floresta estava se tornando em um pós-
vida alienígena.
Um maligno poder pairou por cima. Sentindo-o, Multani se ergueu através de uma magnigote
milenar. Num momento ele ascendeu a três mil pés acima da árvore. Sua presença fluiu pelas folhas
sadias. Elas eram estruturas de retina, sintonizadas a luz. Através delas Multani podia ver estrelas que
olhos mortais jamais sonhariam.
Agora ele não via estrelas. Ele viu um doloroso céu azul com três imensas fendas nele. Fora destes
buracos se dirigiam enormes carbúnculos negos. Eles eram nodos como madeira podre. Um deles
eclipsou o sol. Ele lançou uma sombra que cobriu milhares de acres. O sol brilhou em forma de coroa ao
redor daquela enorme ferida. Figuras se moviam lá, figuras encarapuçadas - Phyrexianos.
Um milênio atrás, Multani se ajuntou a Urza na luta contra os Phyrexianos. Ele concedeu a Urza a
Semente dos Ventos retirada da arvore mais anciã do centro da floresta, o Coração de Yavimaya. Dessa
semente nasceu o casco vivo do Bons Ventos. Multani tinha ajudado na criação dos defensores perfeitos
para Dominaria. Ele até treinou Gerrard Capasheno na feitiçaria-maro.
Todas essas preparações pareciam insuficientes agora. Perante este massacre, do que adiantava um
exército de Metathran e uma nau voadora viva e um herói relutante?
A mente de Multani se escureceu. Ele escoou através da antiga madeira e espalhou sua alma em
vinhas e ramos emaranhados. Ele desejava residir em cada árvore, cada coração pulsante. Somente
quando ele abrangeu a floresta inteira que ele pôde vislumbrar o mundo divino. Era muito doloroso ser
alongado tão fino, sentir os terrores da floresta. Uma vez que ele havia tocado em cada gavinha, ele
sentiu sua mãe observando.
Géia, você tem conhecimento desta hora sombria muito antes que eu existisse. Você sabia disso em Argoth e
antes, dos Anciães de Halcyon. Eu sou um tolo. Você vê quão pouco eu estou preparado. Salve-me, Mãe. Salve seu
filho. Eu imploro a você. Salve-me.
Não houve resposta da deusa do mundo. Ela nunca respondia.
O silêncio dela era terrível. Multani se encolheu de volta. Ele se retirou não mais através de celulose.
Na retirada, ele perdeu de vista o principio divino e viu no lugar somente o vórtice circular de navios
sobre a floresta.
33
Invasion
Dragões mecânicos, cruzadores, transportadores de tropas, bate-estacas, navios da praga, eles
formavam um horrível redemoinho negro nos céus. O ciclone se alargou. Navios desceram para atacar à
costa. Os outros sobrevoaram a floresta num grande domo de matança. Não haveria escapatória. Não
haveria milagre algum de Géia. Haveria somente uma longa, maligna batalha que Multani teria que
liderar.
Ele enviou sua mente dentro das cidades élficas nas copas. Nos vales naturais, crianças brincavam.
Através de pontes de vinhas, mulheres fabricavam redes aéreas. Em vilarejos de palha, homens
cochichavam. Multani falou a todos eles. Oráculos visionários, de repente, tinham visto o que ele viu.
Guerreiros aprenderam o que ele sabia. Chefes e reis se prepararam para ir à guerra. Multani alcançou
até a mente dos elfos comuns despertando pesadelos.
Ele deu a eles uma nova definição de ódio. A odiosa desconfiança que eles sentiam pela
humanidade era amor comparado a isso. Matar um Phyrexiano era servir ao bem. Morrer matando um
Phyrexiano era se ajuntar a eterna floresta. Cada fada, cada sílfide odiaria, lutaria e mataria por
Yavimaya
Multani enviou sua mente dentro das profundas raízes amontoadas das Magnigote. Lá, nos mares
sem luz, habitavam grandes serpentes e peixes largos como vilarejos. Druidas ergueram seus olhos para
o teto de suas celas de raízes. Multani se contorceu entre seus cantos e suas preces. Ele sussurrou
terrores dentro de suas orelhas e incitou os druidas a dirigirem sua força. Um calor fanático tomou conta
deles. Druidas eram furiosos por natureza, mas solitários eles acalmavam sua fúria. Quando um de seus
deuses unia sua fúria, os habitantes das matas tornavam-se guerreiros.
Como poderia ascetas e druidas se interpuser contra Phyrexia? Do que adiantava canções e poesia
contra praga e veneno.
Com o coração disparando, Multani outra vez alongou sua vontade através da enorme mata, até
cada besta. Estes não eram guerreiros. Os mais ferozes eram meros predadores. Os mais gentis eram
comedores de folhas. Porém encurralados, feridos, com uma inevitável morte, cada criatura atacaria.
Multani os infundiu com a certeza da destruição. Eles lutariam, até o ultimo deles. Preguiças gigantes
arrancariam as cabeças dos Phyrexianos de seus ombros. Javalis verdes se envolveriam em inteiras
falanges e os espremeriam até que óleo brilhante escorresse pelos poros. Símios emergiriam de seus
viveiros e esmagariam os monstros até virarem mingau. Sanguessugas do céu, grandes porcos
selvagens, raptores, formigas de fogo - todos eles lutariam e morreriam lutando.
Era esta a salvação que Géia ofereceu a seu mortal povo: morrer lutando?
Multani observou em profundo terror enquanto tempestades de navios se aprofundavam dentro de
Yavimaya. Motores da praga vomitavam toxinas para as árvores. Insetos Phyrexianos esticavam suas
asas feitas de couro. Quando as copas estavam maduras de podridão, eles saltariam sobre o reino élfico.
Outras tropas de navios se aproximavam da costa. Eles descarregariam exércitos Phyrexianos, os quais
extirpariam sem oposição os milenares troncos de árvores.
Multani respirou estremecidamente através de poros.
Talvez ele devesse ter se tornado um servo de Urza. Talvez ele tivesse obtido navios e monstros
mecânicos para seu próprio uso.
Tropas de navios pairavam sobre as largas costas de Yavimaya. Eles aterrissaram sobre
emaranhados de raízes que alcançavam os mares. Um por um, grandes portas se abriram descendo suas
rampas. Centenas de milhares de tropas apareceram. Eles olhavam em direção de Yavimaya com olhos
que pareciam que tinham sidos cravados na carne. Os invasores desceram pelas rampas, suas garras
retiniam.
Em breve, cada criatura de Yavimaya teria olhos sem vida.
A não ser que Géia tivesse ouvido suas orações. Ela estava quieta, sim, mas ela tinha ouvido.
As raízes emaranhadas, que alcançavam longinquamente o salgado mar se mexeram. Elas
deslizaram através de cada outra como se fossem serpentes. Inextricáveis nós se desfizeram. Raízes se
desenrolaram como dedos que se esticavam. Tudo ao redor da ilha, mãos fibrosas agarraram as tropas

34
Invasion
de navios Phyrexianos. Algumas raízes simplesmente os esmagaram. Outras se lançaram diretamente
através do metal, perfurando as bestas que estavam dentro. Outras ainda acertaram as embarcações
como mãos matando moscas. Nem um simples monstro alcançou a costa com segurança. Aqueles que
sobreviveram à destruição, esmagamento e o ataque devastador, caíram na água. Os Phyrexianos
odiavam água, especialmente água salgada. Ela destruía suas partes de metal. Mas mais do que água
esperava por eles lá embaixo.
Outros defensores de Dominaria se ergueram. Barbatanas se estapeavam e espumas se agitavam.
Tubarões se alimentaram em abundância, sim, mas outras criaturas também - golfinhos e lulas gigantes,
arraias e barracudas. E no meio deles estavam os tritões, seus tridentes perfurando os Phyrexianos. Lado
a lado, o povo do mar se alimentou da carne que foi lançada a eles.
As forças do mar nunca tinham antes ajudado seus antigos inimigos, as forças da floresta. Por que
agora?
Multani entendeu. Géia não era meramente a deusa da floresta. Ela era a deusa do mundo todo. Os
mares eram dela e as criaturas que lá viviam. Enquanto Multani tinha direcionado as bestas da floresta,
ela tinha dirigido algumas outras mentes para ajuntar as bestas do mar.
Era por isto que ele não tinha se aliado a Urza. Esta foi à maneira que a floresta lutou. Exultação
tomou lugar do terror.
Acima, tropas aéreas saltavam de suas naus voadoras. Asas de peles que pareciam cascas seguiam
ao vento. Os Phyrexianos saltaram para baixo em espessos enxames. Eles rodopiaram para baixo em
direção ao reino élfico nas copas.
Multani se ajuntou do perímetro da ilha como o relâmpago se ajuntou pelos céus. Ele saltou para
cima de um núcleo oco de uma árvore Magnigote anciã. No topo dela o maior reino élfico se estendia.
Multani emergiu. Ele tomou sua forma de uma desgrenhada vinha, trazendo com ele mantas de
musgo, plantas parasitas, e uma seção de casca solta. Todas essas coisas, Multani ajuntou numa vasta e
desajeitada forma. Ele não possuía corpo fora desta floresta, mas aqui dentro ele possuía carne. Multani
escalou até o reino élfico. No caminho, ele dragou uma vinha venenosa para dentro do seu ser. Ela se
espalhou por ele, seus espinhos envenenados se posicionaram como presas, chifres e garras.
Os elfos guerreiros já haviam se posicionado com barricadas de espinhos e vigia nos pináculos. Eles
se alinharam como formigas em galhos. Algumas pontes-galhos cruciais já haviam sucumbido à
podridão. Algumas tropas estavam ocupadas embebendo partes apodrecidas com espíritos dos
pinheiros e ateando a elas fogo. Isto era uma visão terrível, elfos botando fogo em árvores.
Multani cavou um pé dentro de um canal de seiva e enviou um sinal para as altas magnigote. Lá,
vastas vagens se abriram prematuramente. Como uma nevasca tão branca quanto à neve e tão
escorregadia quanto o gelo, elas foram lançadas para cima. Aquilo se ergueu para envolver as tropas
aladas dos Phyrexianos. Filamentos oleosos foram dragados através de asas em forma de morcego e
garras. A nevasca encheu bolsões de ar e cegou olhos. Tudo o que ela tocava crescia liso.
Chiando e cuspindo, os Phyrexianos mergulharam para fora da nuvem asfixiante. Eles
mergulharam para as coroas de folhas verdes e convergiram para os ninhos de vigia.
As sentinelas élficas lançaram suas finas setas.
As flechas arrancaram asas e golpearam dentro de peitorais e crânios Phyrexianos. Alguns caíram
do céu. Eles bateram nos galhos em suas longas quedas. Alguns alcançaram os ninhos, diminuindo o
ataque deles. Asas se dobraram. Garras agarraram galhos. Eles deslizaram, perdendo o equilíbrio. As
espadas élficas estavam lá para pegá-los. Empalados, os Phyrexianos se contorciam como insetos num
alfinete. Os elfos mais sábios lançaram suas espadas imundas de suas guarnições. Aqueles que
mantiveram suas laminas perderam suas vidas. As presas Phyrexianas golpearam através de crânios.
Garras Phyrexianas acertavam através do peito e da cabeça. Era impossível dizer quem era o assassino e
o assassinado.

35
Invasion
Embaixo, as massas principais das tropas aéreas aterrissaram no centro do reino. Aqueles que
vieram por cima dos elfos ganharam lanças e flechas dentro de suas barrigas. Elfos se amontoaram em
companhias apertadas e lançaram bestas contras escudos de bétulas.
Um Phyrexiano gigante, parecendo uma gárgula, se lançou sobre um grupo de elfos. Ele cortou um
elfo no meio e lançou sua cabeça para trás para devorar o corpo. Espadas perfuraram o pescoço do
Phyrexiano, sem querer golpeando o corpo que estava dentro. A gárgula ofegou, asfixiado.
Em outro lugar, outro monstro alado se encontrou cercado de vinhas. A madeira viva o perfurou
através da pele com espinhos semelhantes ferrões, cortando os músculos. Musgo se ajuntou na boca da
criatura e em seus pulmões. Cardos transformaram asas em trapos. Vinhas se comprimiram,
estrangulando a besta. Ela caiu sobre os galhos e chiou até ficar em silêncio.
Multani saiu do seu corpo. Ele retirou suas vinhas sanguinárias de sua figura sem forma e se
reagrupou. As flores de cardos gêmeas que eram como seus olhos, o fizeram perceber uma nova
atrocidade.
Crianças élficas fugiam de uma terrível aterrissagem. Eles se apegaram as cascas ásperas e as vinhas
para fugirem de uma turba Phyrexiana.
Multani correu para a turba de criaturas. Ele podia matar uma de cada vez, talvez até dois. Ainda
assim os monstros matariam as crianças.
Uma ideia veio a ele. Ele mergulhou na madeira. Seu corpo vinhoso o deixou numa pilha na
superfície. Multani acelerou em direção das linhas de seiva. Através de um gordo tronco de árvore e um
contorcido cinto ele se foi. Se espalhando por um galho carnudo, ele o possuiu. A coisa se emergiu do
solo, o braço de um colosso.
Ele golpeou a turba Phyrexiana lançando-os contra as árvores.
Multani não teve tempo de admirar seu trabalho. Os Phyrexianos enchiam as copas. Ele ergueu o
galho outra vez e os derrubou para esmagá-los. Folhas se tornaram lâminas. Gavinhas se tornaram
flagelos. Galhos se tornaram clavas. Troncos se tornaram estacas. Tudo respingando com sangue de óleo
brilhante.
Era assim que a floresta lutava.

36
Invasion
CAPÍTULO 8

BATALHAS SOBRE BENÁLIA

O engenheiro Karn aproveitou bem o tempo que permaneceu sozinho a bordo do navio danificado.
Exteriormente, ele se agachou, personificando de um módulo do motor inerte. O truque enganou a
tripulação Phyrexiana. Por dentro, Karn ativou as curas de rotina do navio. Outra vez o Bons Ventos
estiva pronto para o céu, um solavanco da sua decolagem arrancou do chão seus ancoradouros. Karn
chocalhou o navio para arremessar os Phyrexianos do convés. Ele ativou os canhões de raios e
bombardeou o caminho até a prisão. Juntos, ele e o Bons Ventos resgataram a tripulação.
Agora, em cima, Karn provou ser mais poderoso ainda. Em voo, o navio era seu corpo. Dentro dele,
ele correu através dos céus como um puro sangue. Uma matilha de navios Phyrexianos uivou atrás dele,
mas nenhum pôde sequer se aproximar dele.
O Bons Ventos reinava sobre os céus acima da Cidade de Benália. Numa série de ataques
relâmpagos, ele metralhou navios transportadores de tropas e cruzadores, imobilizando-os em seu arco
de preparação. Nenhum deles saiu do chão. As pesadas baterias dos cruzadores foram arremessadas
para o céu, muito lentos para acertar a ágil embarcação. Os Phyrexianos se mexiam entre motores
danificados e canhões derretidos. Eles não eram páreos para a tripulação do Bons Ventos.
Sisay fez sua própria magia no leme. Ela emergiu até a garganta de canhoneiros Phyrexianos,
esperando que o Bons Ventos se afastasse antes que o plasma se espalhasse pelo ar. A coisa
incandescente errou por pouco o navio, ao invés disso, cobriu os perseguidores. Sendo arremessados
para fora do magma, lutadores Phyrexianos colidiram e mergulharam no céu. Eles bateram nos
cruzadores que estavam ancorados a baixo.
Enquanto isso, Hanna apontou para as seções cruciais das embarcações Phyrexianas - controles de
disparo, tanques cheios, condutos de força, passadiço... Ela traçou rotas para disparo que acertariam
diretamente através de numerosos núcleos de motores. Num constante fluxo ela berrou direções e soltou
uma rajada de coordenadas.
“Alvo a trinta graus a bombordo, as válvulas vermelhas da meia nau. Você está perto! Você está
quente! Olhos de touro!”
Enquanto as chamas engolfaram a vasta estrutura, Tahngarth gritou do canhão da proa de
estibordo, ”Pare de chamá-los de olhos de touro2!”
“Sim,” complementou Gerrard de bombordo. “Aquele tiro foi meu!”
“Se preparem para outro,” Sisay advertiu. “Um cruzador está se erguendo.”
Hanna rosnou instruções apressadas. “Três degraus para esquerda, saltar sobre o próximo navio, e
leve-nos para baixo.”
“Por baixo?” Gerrard chamou de volta. “Ele está levantando.”
“Ela está traçando uma rota por baixo dele,” Sisay sugeriu.
Hanna trabalhou nos vetores.
“Por baixo?” Gerrard ecoou.
“Os motores estão expostos na parte inferior. As armas do casco ainda não estarão operando,”
explicou Hanna. “E a rota mais segura e será uma morte certa.”
“E se nós atirarmos tão bem que ela caia sobre nós?”
“Tenha um pouco de fé em Karn,” Hanna replicou, sorrindo asperamente para Sisay. “Três graus
para bombordo, e mergulhar, Capitã.”
O navio mergulhou por cima de montanhas derretidas de um cruzador que tinha aterrissado. O
Bons Ventos correu sobre montanhas negras de mecanismos, corpos espalhados de Phyrexianos, colunas

2
Nota do Tradutor: Bull’s-eye é uma expressão semelhante a “na mosca.” Aqui, Tahngarth faz um trocadilho com
o termo relacionado à sua raça bovina.
37
Invasion
destruídas, e baterias que vomitavam corrupção no ar. O mergulho do Bons Ventos cortou em duas
quilhas através de uma nuvem de esporos empesteada, que pareciam como muros brancos de um
desfiladeiro ao redor do navio. O navio disparou como um foguete para fora do túnel mortífero.
Morte a frente, um cruzador pairava no ar. Ele era um navio montanhoso. Gramas emaranhadas e
torrões de terra choviam por baixo dele.
“Leve-nos para baixo,” Hanna gritou.
Com um angustiante mergulho, o Bons Ventos despencou. Sua própria quilha fatiou as gramíneas.
Ele deixou uma esteira de caules, por detrás dele. Uma onda de seus motores enviou o navio
guinchador para debaixo do enorme cruzador.
O pó chovia das convolutas chaminés. Ele aferroava os atiradores e quem mais estivesse no convés.
O Bons Ventos se posicionou por baixo da enorme concha negra e pairou por cima do enredado chão. O
seu mastro batia ocasionalmente contra a barriga do cruzador. Sua quilha goivou linhas na terra.
“Onde está o motor exposto que você prometeu?” Gerrard gritou pela tuba.
“Você está sentindo-o,” Hanna disse.
Eles estavam. De repente, um incrível calor rasgou pelo convés. Ele irradiava de uma série de
enormes cilindros negros, cada um eriçado com barbatanas térmicas.
“Fogo!” Gerrard ordenou enquanto ele disparava algumas rajadas.
Os disparos pareciam vergalhões contra a escura barriga do navio. Eles rasgaram para fora,
golpeando coluna após coluna. Os enormes cilindros trincados se abriram, seus cascos pareciam tão
frágeis quanto cascas de ovos. Energia pura esvaiu-se do núcleo dos motores. A própria rajada de
Tahngarth misturou energia vermelha com preta, sangue e podridão fundidos.
“Cessar fogo,” Gerrard berrou. “Toda força nos motores!”
O Bons Ventos saltou. Até mesmo suas lanternas de emergências se turvaram.
O cruzador Phyrexiano solavancou, despencando num grande ímpeto. Ele caiu como uma
montanha do céu. O ar preso por baixo dele evacuou em ondas uivantes. O Bons Ventos foi pego por
essas correntes.
Gerrard e Tahngarth se agarraram com vida aos chassis quentes de suas armas. As tiras de couro os
mantiveram no lugar.
O mastro do Bons Ventos arranhou o lado inferior do cruzador. A quilha arou através do chão. Com
um ultimo guincho, o Bons Ventos escapou daquele espaço em colapso. Ele disparou dentro do ar puro.
O arruinado cruzador se espatifou no chão.
O ar não estava mais puro. O chão pulverizado escorreu. Depois disso vieram fragmentos e metais
dilacerados. O cruzador explodiu. Uma energia selvagem criou uma cratera na planície a cem pés
abaixo. Uma bola de fogo foi lançada, derrubando dois navios adjacentes. Eles mergulharam um no
outro. O incêndio estava tão brilhante, que lançou sombras das estrias do Bons Ventos perante o
cruzador.
“Isso vai deixá-los um pouco, fora dos céus!” Gerrard cantarolou. “Vamos dar alguma ajuda as
tropas terrestres.”
“Eu acho que nós estamos um pouco atrasados,” Sisay reportou cruelmente.
A respiração de Gerrard ficou presa em sua garganta enquanto ele olhava além da balaustrada.
“Leve-nos devagar, Sisay!”
A cidade estava destruída. Enquanto o Bons Ventos tinha destruído dez mil Phyrexianos em suas
embarcações de guerra, cem mil tinham invadido a cidade. Cada casa vertia fumaça negra no ar. Cada
porta foi aspergida com corpos. Alguns tinham sido devorados pela metade - as carnes melhores
primeiro. Outros tinham sido terrivelmente queimados para serem consumidos. Eles eram pouca coisa
mais do que peles alcatroadas estendidas sobre ossos negros.
Não eram somente as casas que foram destruídas. Navios bate-estacas tinham derrubado cada torre
e torreão junto com a muralha exterior. Alguns guardas foram reduzidos a uma pasta pelas pedras que

38
Invasion
caíram. Seus companheiros decoraram o que restou da muralha. Soldados foram empalados por suas
próprias armas.
Phyrexianos galopavam pela cidade como cães selvagens. As guarnições estavam dizimadas, as
propriedades senhoriais, a enfermaria...
“Devagar. Abaixe um pouco,” Gerrard disse, vislumbrando um par de forças ao lado das ruínas da
enfermaria. Gerrard permaneceu atrás de seu canhão de raios, lutando contra as tiras para ver.
Lá, pregado a um par de postes altos, estavam o Chefe do Clã Capasheno Raddeus e sua esposa
Leda. As lanças que os atravessaram possuíam doze polegadas de comprimento. Alguma coisa tinha
escalado os postes, e se banqueteado com seus corpos - soquetes de olhos vazios, dentes mostrando
lábios perdidos, uma cavidade roxa por baixo das costelas.
Gerrard virou o rosto, fechando seus olhos. Eu preferiria morrer a perder alguma coisa mais para
eles.
A voz de Sisay foi gentil no duto de comunicação. “Não há nada mais que possamos fazer aqui. Não
sobrou ninguém para defender.”
“Sobraram Phyrexianos para matar,” Gerrard chiou amargamente. “Vire. Leve-nos de volta para os
cruzadores.”
“Haverá outras batalhas, batalhas mais importantes, em algum lugar. Benália está tomada. Um
único navio não pode pará-los. Os Capashenos se foram.”
“Eu sou um Capasheno!” Gerrard rosnou. “Vire!”
“Sim, comandante,” Sisay respondeu.
O Bons Ventos adernou, se afastando rapidamente da devastação. Ele cortou através de colunas de
fumaça negra. Ela foi dragada cobiçosamente através do navio. A cidade devastada encolheu abaixo. A
tropa de Phyrexianos - a uma distância de montanhas no horizonte - se avolumou na outra direção.
Gerrard sentiu uma mão pesada no seu ombro.
“Nós fizemos tudo o que podíamos,” Tahngarth retumbou.
Os olhos do comandante estavam amargos enquanto ele olhava para a demoníaca linha no céu.
“Você é sempre aquele que fala sobre aqueles que eu perdi. Agora eu perdi uma nação inteira.”
“Você não pode salvar todo mundo, Gerrard.”
“O que você está fazendo longe da sua arma? Nós estamos nos preparando para uma corrida de
armas. Com a arma de bombordo da meia nau desguarnecida...”
Tahngarth soltou um rugido repentino e saltou abaixo as escadas do castelo de proa. Ele correu em
direção ao canhão de bombordo situado na meia nau da embarcação. Lá, o artilheiro Dabis jazia embaixo
de uma gigantesca aranha.
Tsabo Tavoc! Ela deve ter embarcado por um dos aerofólios quando o navio pairava sobre a
enfermaria. Apesar da perna faltante e da limosa carne onde tinha sido arrancada, a comandante
Phyrexiana ainda era rápida e poderosa.
Agarrando o atirador Dabis, ela espetou um longo e metálico ferrão dentro de sua barriga. O
abdômen dela bombeou veneno. O atirador convulsionou, caindo no convés. Tsabo Tavoc girou em
direção a Tahngarth. Seu ferrão relutou para sair da ferida negra que estava na lateral do homem. Ele era
um homem morto agora, e Tahngarth podia ser o próximo.
Por impulso, o minotauro alcançou por cima do seu ombro para apanhar sua striva. Suas mãos
agarraram o vácuo. Sua arma permaneceu nos destroços da enfermaria.
Era tarde de mais para parar a carga. Tahngarth mugiu avançando, seus chifres como bate-estacas,
afundaram dentro do tórax da mulher aranha de sete patas. Um dourado, sangue oleoso jorrou.
Tahngarth debatia sua cabeça, rasgando a carne do monstro.
Ela gritou com fúria e se lançou para cima.
Tahngarth ficou pendurado pelos seus chifres. Ele rosnou, chutando. Cascos golpearam ambos os
lados do resistente abdômen da aranha.

39
Invasion
O venenoso ferrão dela se sobressaia por entre os joelhos dele. A ponta estava embebida no sangue
de Dabis. Um buraco do tamanho de uma polegada no fim jorrou veneno.
Tahngarth mexeu sua cabeça. Os chifres se libertaram da cabeça do monstro. Ele se lançou de volta,
para longe do ferrão. O mundo resvalou magnificamente. Seus cascos bateram contra o convés, liso por
causa do veneno. Ele escorregou e caiu de costas.
Tsabo Tavoc era rápida. Ela mergulhou. Três das setes pernas dela deslizaram sobre Tahngarth,
agarrando-o fortemente. Eles se contraíram. Os braços dele estavam presos ao seu lado. Membros
metálicos se fecharam implacavelmente. Tahngarth não podia se mover e mal podia respirar. Tsabo
Tavoc o apertou por baixo do seu tórax. Suas feridas escoavam sobre ele. Por cima de um maciço torso e
um ombro coberto, a esquisita e bela face de Tsabo Tavoc olhava para baixo numa satisfação cruel.
Seu olhar escureceu de repente. Nos olhos compostos uma figura ligeira refletiu.
Gerrard.
Sua espada também estava perdida. Ele apanhou o que ele pôde - uma pua metálica de cabo curto -
e saltou para atacar. O gancho fez um arco por cima da cabeça e afundou dentro da barriga de Tsabo
Tavoc.
Ela recuou, agarrando Tahngarth mais fortemente. Suas quatro pernas remanescentes arranharam a
balaustrada.
Gerrard não a deixaria ir. Se apoiando pelo gancho, ele a escalou. Ele apoiou um pé no chifre
ensanguentado de Tahngarth e meneou a mão livre dele em direção ao rosto dela. Aquela ação quebrou
o queixo dela. Punhos deixaram uma marca cinza na lateral da sua boca segmentada.
Chiando, Tsabo Tavoc deslizou uma das três pernas livres e chegou ao redor de Gerrard.
Ele retorceu o gancho solto e o afundou dentro da carne macia acima da clavícula da mulher aranha.
Cuspindo uma bile preta, Tsabo Tavoc arrancou Gerrard e a pua metálica para longe. O gancho fez
um terrível som através da sua clavícula. Ela arremessou Gerrard brutalmente para o convés.
Ele caiu e rolou todo arrebentado em direção à balaustrada.
A mulher aranha, com Tahngarth sendo rebocado, deslocou-se furtivamente por cima da
balaustrada, preparando-se para saltar.
“Oh, não você não vai,” rosnou Gerrard.
Ele se lançou através do navio bem no momento que Tsabo Tavoc deslizou para baixo. Gerrard
balançou o gancho. Ele dilacerou carne. Ele agarrou a balaustrada e se apoiou. Foi somente então, que
através dos postes da balaustrada, ele viu que o gancho tinha empalado o ombro de Tahngarth. O peso
inteiro do minotauro, que era igual o daquela aranha, pendurado por um simples gancho.
“Você o mata,” Tsabo Tavoc amaciou sua voz como cigarras de verão, “ou eu mato?”
Os ventos levaram suor da testa de Gerrard. Ele olhou dentro dos olhos de Tahngarth. Apesar da
agonia obvia, não havia medo, nem ressentimento no minotauro.
As partes segmentadas da sua boca trabalharam. “De qualquer forma, eu venci. Eu matei sua terra.
E eu matarei seu mundo.”
Gerrard sentiu seu próprio ombro sendo deslocado. Ele apertou seu braço. Ossos contra ligamentos.
“Mesmo que você vença,” ele ofegou, “nós não pararemos de lutar.”
Os compostos olhos de Tsabo Tavoc se tornaram negros como tinta. “Tolo.” Ela ergueu seu
abdômen, ondulando-o para cima em direção ao braço apertado de Gerrard. O trêmulo ferrão gotejou
um veneno branco. Ele se preparou para atacar.
Uma rajada de luz vermelha atravessou o ar. Ela anelou os pelos do braço de Gerrard. A rajada
acertou duas das grandes pernas da aranha. Elas desapareceram num jorro vermelho. Mais energias
foram disparadas contra sua barriga. A ferida do gancho foi imediatamente cauterizada. Ela esquivou
daquela rajada, soltando Tahngarth e derrubando-o. Suas cincos pernas restantes se enroscaram nela.
Saltando, Tsabo Tavoc aterrissou no meio de suas tropas. Guerreiros foram desfeitos pelas suas pernas
metálicas açoitadoras. Pelo menos, ela foi impedida, e lá permaneceu.

40
Invasion
Enquanto isso, Gerrard arrastou Tahngarth por cima da balaustrada. Apesar do peso do minotauro
e dos ventos cortantes, de repente Tahngarth sentiu-se muito leve. Gerrard o pegou pelo braço solto e o
deitou-o no convés.
“Agora, eu sou... um peixe boi,” Tahngarth resmungou.
Gerrard sorriu severamente. “Eu pensei que eu tinha pegado aquela coisa cheia de pernas, não
você.”
“Mas... quem disparou o... canhão de raios?”
Ambos olharam para cima para ver o vidente cego, mãos brancas agarradas ao controle da arma de
Gerrard. Plasma gasoso saiu do açaimo.
Gerrard balbuciou para o homem, “C-Como v-você sabe atirar?”
Por baixo de seu escuro chapéu, o homem simplesmente falou, “Eu sei algumas coisas.”
Orim emergiu da escotilha e rapidamente se ajoelhou ao lado de Tahngarth. Ela pôs suas mãos
sobre o gancho conjurando um encantamento sobre ele. Com um lento, movimento suave, ela puxou o
gancho para fora e estancou o fluxo de sangue.
“Outra coisa eu sei,” disse o vidente cego, descendo os degraus do castelo de proa, “é que vocês
estão desperdiçando energias aqui. Há somente vingança aqui e morte.”
Gerrard encarou os dentes trincados de Tahngarth. “Sim, velho. Eu acho que você está certo.”
“Há uma batalha melhor do que a Batalha de Benália. Há outro exército - heróis da sua mesma
estirpe. Há facilmente milhares deles. Você deve ir e liderá-los.”
Enxugando sua testa, Gerrard disse, “Outro exército? Quem? Onde?”
“As Montanhas Atrivak - Colônia Penal Benaliana.”
“Prisioneiros militares?”
“Deve haver milhares. Guerreiros poderosos, mas incorrigíveis.”
Gerrard deu uma risada seca e balançou a cabeça. “Heróis da minha mesma estirpe.”

41
Invasion
CAPÍTULO 9

O REINO DE TEFERI

Barrin planava através dos céus costeiros de Zhalfir. O dia estava abafado. Nuvens cheias de vapor
permaneciam amontoadas ao redor. Espreitando entre elas estavam mais três portais, recentemente
abertos. Logo hordas negras de Phyrexianos com armaduras apareceriam.
A frota de Metathran de Barrin tinha sido esmagada em Benália. Somente um pequeno esquadrão
de saltadores sobreviveu. O resto se sacrificou derrubando cruzadores e debilitando navios da praga. Os
anjos de Serra tinham se saído melhor, apesar de um a cada dois anjos terem sidos mortos. Pelo menos,
Barrin e suas tropas tinham lutado perto o suficiente do portal para que ele enviasse sua magia de cura
na ferida do céu. Ele o fechou e a batalha aérea terminou, mas ele ficou absolutamente desgastado com o
esforço.
Ele e seus guerreiros sobreviventes se retiraram para o próximo encontro aéreo. Os anjos de Serra
voaram para suas habitações para se reagruparem.
Para Barrin, haveria uma breve noite de estudos e sono antes da próxima batalha aberta sobre a
distante Zhalfir: outra poderosa fonte de mana branca. Ele se teleportou para um ponto ocidental que ele
conhecia bem. A batalha de Zhalfir se desenrolaria tanto quanto a de Benália tinha sido, poucos
defensores se lançando numa fúria suicida contra muitos atacantes. Assim sempre foi o modelo das
batalhas de Urza. Para Urza, sobrevivência não era tão importante quanto a vitória.
Um dia desses, Urza orquestrará uma batalha que nem eu poderei sobreviver, Barrin pensou
amargamente.
Subindo num longo declive de gramas farpadas, Barrin vislumbrou a batalha nos campos que
estavam a diante. Um portal se abriu imensamente no céu. Ele era negro e esfarrapado entre as nuvens,
como se algum deus invejoso tivesse agarrado os céus e rasgando um buraco neles. Daquela lágrima
negra emergiram cruzadores, navios da praga, dragões mecânicos, e uma nova classe de embarcações
curvadas - navios punhais. Lutadores encheram o ar como vespas, zumbindo além dos maiores navios
que zumbiam como zangões.
“Urza e eu contra uma armada,” Barrin, cacarejou.
Ele falou muito cedo. Alguém trouxe defensores para o campo - incríveis, poderosos, defensores
gloriosos. Figuras apareceram nas vastas planícies em meio aos arbustos e árvores frutíferas. Em suas
vestes brancas que drapejavam, eles pareciam crianças, mãos e cabeças erguidas como se estivessem
empinando pipas pelo céu. Na verdade, eles eram arquimagos. Grifos da lua enevoada e águias
gigantes, guerreiros angelicais e pégasos de armaduras - estes eram criaturas invocadas, ideias que se
tornaram reais. Dragões do alabastro e falcões do anoitecer, paladinos alados e unicórnios voadores, eles
eram guiados de baixo em suas batalhas.
Garras brancas fizeram os navios-punhais em pedaços. Espadas angelicais arrancaram os canhões
de raios de suas canhoneiras. Os bicos dos grifos bicaram nos parafusos das balistas arrancando-as e
lançando-as de volta nas nuvens de navios. Até mesmo os chifres dos unicórnios foram postos ao seu
uso original, o implacável ataque frontal. Phyrexianos morreram aos milhares. Assim, também como
estas criaturas invocadas, mas elas não eram seres reais.
Elas eram ideias que receberam carne e sangue por um tempo, concedendo a vontade de lutar, e
ideias nunca morrem.
Barrin sorriu. Esta era uma batalha de uma mente mais justa do que a de Urza. Ideias brancas
confrontaram realidades pretas e a persistência venceu. Em um cume de vista para a savana
permaneciam Urza e aquela mente mais justa - Teferi.
Era um quadro estranho. Teferi permaneceu à frente, contemplando seu exército de feiticeiros. Em
suas vestes azuis o homem de pele negra parecia maior que Urza - mais ousado e mais poderoso. Um

42
Invasion
dos pés de Teferi estava posicionado sobre uma pedra. Ele se inclinou avidamente em direção à batalha
e falou em rápidos timbres. Enquanto isso, Urza permaneceu atrás. Ele nunca permanecia atrás. Seus pés
estavam plantados como postes de uma sebe. Suas mãos pendiam vazias e ociosas ao seu lado.
Barrin se permitiu uma risada à custa de seu velho amigo. Urza nunca era tão miserável quando
alguém mais estava no controle.
Balançando sua capa de guerra como um falcão que pousava, Barrin investiu para a luz na colina
árida. As roupas farfalhantes atraíram os olhos dos homens para cima. O olhar de Urza era tanto
irritante quanto suplicante. O de Teferi era triunfante.
O homem alto de pele do ébano sorriu amplamente e estendeu suas mãos para cumprimentar as de
Barrin. “Ah um prazer vê-los outra vez, e tão cedo.”
“Um prazer!” chiou Urza, em exasperação.
“Bem-vindo, Mestre Barrin, a Zhalfir.”
Barrin estudou a mão estendida com uma precaução fingida antes de apertá-la. “Sem choques
elétricos? Isso é quase um desapontamento, Teferi. Ainda assim, é bom saber que você não retrocedeu
aos seus velhos truques.”
Teferi balançou sua cabeça vigorosamente. “Somente novos truques, Mestre Barrin. Um monte de
novos.”
“Ele não nos deixará ajudar,” Urza disse bruscamente ao invés de cumprimentar.
“Não deixará...” Barrin ecoou incredulamente. Ele vasculhou nos estranhos olhos de Urza,
procurando por sinais de humor. Foi uma busca inútil.
Os olhos de Teferi se encheram de alegria. “Não é que eu não deixarei vocês dois ajudarem, apenas
não deixarei Mestre Urza fazê-lo sozinho. Sem ofensas. Se Tolaria me ensinou alguma coisa, foi que Urza
é um perigo para ele mesmo e para todo mundo, a não ser que ele esteja trabalhando com seu parceiro
de laboratório.”
“O que seria eu,” Barrin disse por meio de lábios apertados. Os dois mestres de Tolaria trocaram
olhares tristes. Teferi sempre foi um brilhante, encrenqueiro de bom coração, simplesmente o que Barrin
e Urza precisavam. “Bem, eu estou aqui, agora. Como nós podemos ajudar?”
Teferi deu uma bela respirada, acariciando o queixo e olhando com orgulho para suas forças. “Essa
é uma boa pergunta. O Corpo de Magos de Zhalfir parece ter as coisas sob controle.”
“Impressionante,” Barrin disse. “Eu nunca vi feitiços serem usados desta maneira antes.”
“Bando de fênix,” Teferi disse. “Uma inovação minha. Isso mantém a batalha no ar, deixa as baixas
para os Phyrexianos. Todos os nossos guerreiros são criaturas de imaginação, ideias de monstros de
batalha. Isso muito me atrai.”
Barrin observou traços de magia de mana branca se erguer, finos e graciosos, de um mago no
empoeirado campo. A energia se espalhou para fora, desabrochando numa grande águia espectral do
tamanho de uma marmota. Suas asas se arquearam. Elas podiam cobrir companhias inteiras. Com um
grito estridente ela voou em direção aos céus, o enorme raptor se chocou contra um cruzador
Phyrexiano. Plumas de pura energia envolveram o navio. A imagem do pássaro se desintegrou. Linhas
de magia se delinearam em cada espinha cortada e suporte farpado do navio. As linhas se solidificaram
em inquebráveis cordões de energia. Eles se contrariaram. A cintilante força branca cortou através de
armaduras. Ela fatiou baluartes e passadiços. Faíscas choveram das marcas dos cortes.
“Por que eles não simplesmente aterrissam, esmagando suas tropas?” Barrin perguntou.
“Observe,” Teferi replicou quietamente.
O cruzador que tinha sido sobrecarregado pela águia espectral começou a se desintegrar. Partes do
navio foram seccionadas e lançadas fora. Embora, estranhamente, as peças não mergulharam em direção
à savana. Ao invés disso, elas se levantaram, resvalando dentro do ar. Os fragmentos abriram sulcos na
barriga da embarcação. Não, não as barrigas. Somente então Barrin percebeu que todos os navios
Phyrexianos flutuavam de cabeça para baixo no céu.

43
Invasion
“É um simples, mas poderoso encantamento, revertendo o pulso de Dominaria,” Teferi disse. “É um
efeito do campo temporal, como aqueles que eu aprendi em Tolaria. Quando o tempo retrocede, o
mundo repele ao invés de atrair objetos. Meteoros saltam no céu, os pés se afastam do chão, e ao invés
de tropeçarem, os ébrios caminham verticalmente. Eu extraí esse simples vetor de movimento e o
estabeleci sobre um amplo espaço sobre a planície. Meus feiticeiros podem permanecer no chão, mas a
centenas de jardas acima de suas cabeças, a gravidade se reversa. Estes navios estão labutando em
direção ao chão assim como eles laborariam no ar. Se algum deles, por acaso, se aproximar do envelope
do campo de reversão, eles se lançariam em sua própria destruição.”
Sobre a massiva frota de navios Phyrexianos ascendia os destroços de centenas de outras
embarcações. Eles flutuavam no empíreo celeste. Muitos deles tinham sido desmantelados pelos bandos
de fênix de Teferi. Outros tinham tido finais mais mundanos.
Um cruzador a meio caminho do portal capotou violentamente. Ele guinou, se espatifando num
navio da praga que estava próximo. Além desses, outro cruzador liberou suas baterias de mana preta
num bando de anjos. Como o campo estava às avessas, o lodo ricochetou num esquadrão de navios
punhais que estavam próximos. Eles caíram no céu. Até mesmo os esporos da praga, mesmo a morte,
não caíram em direção ao chão.
“É interessante que diferença uma simples inversão pode fazer,” Teferi comentou maliciosamente.
Ele inclinou o olho em direção a Urza. “É a vantagem de se ter senso de humor, eu estou acostumado a
pensar como as coisas se parecerem quando elas capotam. Realmente engraçado. Neste caso, fazer as
coisas serem lançadas, realmente é adorável.” Ele olhou em direção ao ciclone de navios naufragados
partindo em direção ao céu.
Barrin suspirou. “Eu acho que ele está certo.”
“Eu tenho senso de humor,” Urza interrompeu com irritação.
“Não, não sobre isso,” Barrin confortou. “Eu acho que ele está certo que ele não precisa de nós -”
“Não foi isso o que eu disse,” Teferi interferiu. “É um feitiço simples, mas ele se esgotará.
Eventualmente um destes navios se chocará contra Zhalfir e a contaminará. Eu preciso de sua ajuda para
fechar o portal.”
“Finalmente - razão!” fumegou Urza o Planinauta.
“O que você sugere?” perguntou Barrin.
“É um principio suficiente. Nós transplanaremos para dentro do portal -”
“Não funcionará,” rosnou Urza. “Rath está em posição contra nós.”
“Nós não caminharemos até Rath. Nós transplanaremos para dentro do portal e então, sairemos
outra vez. Nós repetiremos o processo até que o fluxo do espaço temporal derreta aquela coisa.”
“O repique nos matará,” Urza disse. “Ele nos matará e tudo num raio de centenas de milhas.”
“Eu trabalhei num feitiço para sugar as energias. Um feitiço impressionante. Eu mesmo posso
atestar pela segurança do meu povo. Oh, e você sobrevivera também Urza.”
“Eu pensei que você havia dito que precisava de mim para esta operação?” Barrin o relembrou.
O sorriso de Teferi foi o mais cintilante possível. “Eu preciso de você para forçá-lo a entrar nessa.”
Com os olhos flamejantes e a face tão vermelha quanto o de uma fogueira, Urza latiu, “Vamos
caminhar pupilo.”
Os dois planinautas trocaram olhares. Alguma coisa da solenidade de Urza adentrou na
característica de Teferi, e alguma coisa da arrogância de Teferi infundiu Urza. Abruptamente, ambos se
foram. Somente a erva seca permaneceu. O par aparecia e desaparecia simultaneamente em flashes de
luz. Era como se eles fossem meros garotos, correndo por poço de água. Uma luz caprichosa brilhou em
seus olhos quando eles apareceram.
Por cima, Barrin podia ver o porquê. O portal parecia que estava entrando em ebulição. As energias
daquele espaço negro se cruzavam repetidamente e se revezavam, guerreando contra cada outra. Surtos
de energias negras se rasgavam dentro de bobinas de energias vermelhas. Fagulhas brancas e azuis
esverdeadas lutavam num eixo de força pelo predomínio. Dentes rangentes de magia mastigaram um

44
Invasion
emergente cruzador deixando-o em farrapos. Ele soltou fumaças para baixo e como a chuva, ele
despencou.
Eles brilharam mais rápido, e mais rápidos. Seus sorrisos se aprofundavam.
Barrin balançou sua cabeça, sorrindo também.
Uma luz despertou uma coisa ofuscante. Um novo sol se erguia sobre Dominaria. Ela brilhou,
lançando as sombras das tropas sobre as planícies abaixo. Qualquer navio que ainda labutava no ar
cessou suas lutas, mergulhando para cima como cinzas no calor do fogo.
Barrin estremeceu de volta. A encosta inteira e toda Zhalfir podiam ser consumidos por aquela
súbita chama.
Então, estava consumado. Nem fogo ofuscante nem portal negro brilharam no céu. Nem tropas
Phyrexianas nem tropas de fênix circulavam por lá. Os feiticeiros do Corpo de Magos de Zhalfir
permaneceram na planície, olhos erguidos em direção aos céus e mãos aplaudindo. Era como se eles
tivessem acabado de assistir a um show de fogos de artifícios.
“O que aconteceu?” Barrin perguntou alto.
“Venha,” Teferi disse simplesmente, aparecendo do nada e agarrando o braço de Barrin e o
dragando numa espontânea transplanagem.
O mundo se fechou ao redor de Barrin, girando em caos. Tão rápido quanto Zhalfir tinha
desaparecido, ela retornou, a uma milha abaixo. Barrin levitou nos céus azuis ao lado de Urza
Planinauta e Teferi de Zhalfir.
“Muito impressionante” Barrin limou. “Muito, muito impressionante.”
“Onde você colocou a energia?” Perguntou Urza desconfiado.
Teferi encolheu os ombros. “Eu o guardei para outro feitiço.”
Urza limpou sua garganta, exatamente o mesmo som que ele tinha feito enquanto Teferi liderava.
“Bem, agora que nós o ajudamos a salvar Zhalfir, você deve nos ajudar a salvar o mundo.”
“Salvar Zhalfir?” o homem de pele negra ecoou. “Você acha que fechando um simples portal deixa
Zhalfir salva nesta conflagração mundial?”
“Mais segura do que muitos lugares,” Urza replicou uniformemente, “mas segurança não é a
questão. Derrotar os Phyrexianos é.”
Teferi assentiu. Todo senso de humor sumiu da sua face. “Isto é onde você e eu divergimos, Mestre.
Segurança é a questão. Você nunca quis salvar o seu povo. Você somente quis derrotar seus inimigos,
Mishra, Gix, K’rrik, e agora o próprio Yawgmoth. Você sacrificaria todos nós se você soubesse que o
destruiria.”
“Eu estou disposto a sacrificar a mim mesmo para derrotar Yawgmoth,” Urza respondeu
solenemente. “Eu não tenho simpatia nem paciência pelos outros que não estão.”
O velho, insolente Teferi tinha retornado. “Como eu disse, Mestre, isto é onde nós divergimos.”
“Você não pode salvar seu povo, não sozinho,” Urza disse.
“Oh, eu não o farei sozinho. Eu tive a ajuda de milhares e o consentimento de milhões. Você mesmo
me ajudou a aproveitar a mensura final do poder para completar o feitiço. Ele esta desencadeando bem
agora abaixo de nós.”
Abaixo, Zhalfir estremeceu. Alguma coisa passou por cima dela, não por cima, mas através dela. As
mesmas energias que tinham fervido através do portal arruinado, agora, disparavam através da terra.
Cada riacho estava forrado com fitas de energias escarlates. Cada campo estava traçado de um branco
trêmulo. As linhas das costas brilhavam com onda de um fogo azul, e veios de cada bosque brilharam de
um verde esverdeado. Então tudo foi absorvido num grande perímetro incolor, era como se a terra e as
plantas, os animais e as pessoas, tivessem sido pegas num vasto esboço.
“Se feitiços podem trazer ideias a realidade, eles podem transformar realidades em ideias,” disse
Teferi rapidamente.
A transformação recolheu cada partícula de Zhalfir. Linhas se fundiram. Grades emergiram. Por um
momento deslumbrante, todas as cores se combinaram num esplendor ofuscante. Com um flash, Zhalfir

45
Invasion
se foi. Onde ela ficava somente uma pós-imagem vermelha permaneceu nos olhos de Barrin. Então veio
uma explosão como centenas de milhares de trovões em sintonia.
Barrin piscou, fazendo força para ver. Os ventos o dilaceravam, mas a magia de Teferi o segurou no
lugar. O brilho vermelho onde estava minguou para preto, uma ferida preta do tamanho da terra. Era
um leito de rocha. Teferi tomou a península inteira, uma milha de ar acima dela, e uma milha de rochas
abaixo dela.
O oceano permaneceu por um momento com muralhas de admiração ao redor. Então suas bordas
verdes se tornaram brancas. Águas cascatearam sobre o rasgo. A barriga do oceano. O primeiro jorro
esmagou o leito de rocha e chocalhou avidamente através da rocha seca. A ponta da inundação estava
excedida por novas ondas, as quais coroaram os ombros das águas depressivas e despejaram dentro do
caldeirão.
Urza olhou em silenciosa consternação para o mar que debatia.
Barrin embasbacou. “O que você fez?”
“Eu salvei o meu povo. Eles agora residem em ideias imutáveis,” explicou Teferi.
“V-você os matou!” Barrin gaguejou.
“Não. Eles retornarão quando o mundo for salvo outra vez. Para eles, nem um momento terá
passado.”
“Eles serão maremotos,” Urza disse sombriamente. “Milhares morrerão.”
“Milhões foram salvos,” Teferi replicou. “É assim como eu salvo o meu povo. É dessa forma como
você e eu divergirmos.”
“Sim,” Urza respondeu. “É dessa forma que nós divergimos.”

46
Invasion
CAPÍTULO 10

HERÓIS DA MESMA ESTIRPE

Gerrard tinha sérias desconfianças a cerca deste plano. Seu uniforme de comandante Benaliano não
se encaixava. Ele não usava aquela vestimenta desde que ele havia abandonado sua divisão há um ano e
meio. As mangas acolchoadas contraiam seus bíceps. O colete de cor castanho-avermelhado e as
bandoleiras salientavam através seu peitoral. A chaveta desta gambiarra de destruição era as ordens
oficiais forjadas pelo homem cego.
O Vidente cego sentou-se à mesa de navegação de Hanna. Ele fixou um pedaço de pergaminho por
baixo da mão. A outra segurava uma pena.
Com força e pinceladas irregulares, ele escreveu: Por esta ordem, o comando da Colônia Penal
Militar Benaliana será entregue para o Comandante Gerrard Capasheno.
“Isto não vai dar certo,” Gerrard queixou-se, balançando as mãos. Ele virou-se para Sisay. “Seria
melhor nós abortamos, Capitã.”
“Tarde demais, Comandante,” Sisay respondeu placidamente do leme. “Eles já nos viram.” Ela
gesticulou além do passadiço.
Como uma silhueta contra o pôr do sol, a Colônia Penal Benaliana parecia um diadema negro acima
das Montanhas Atrivak. Altas muralhas de pedra encurralavam as alas internas. Torres de guarda
permaneciam em cada extremidade. Guaritas de bestas se eriçavam por baixo da noite que caía. No
centro do pátio, uma magra torre de madeira presidia sobre todos, e dela um sino de alarme soou.
“Nós não conseguiremos uma segunda chance nisto,” Gerrard murmurou. Ele se abaixou, se
esgueirando até o pergaminho. Seus olhos aberto em contemplação. O documento parecia convincente,
bem ordenado e com um impressionante relevo de selo. Gerrard leu alto.
Para: Capitão Benbow, Diretor da Prisão em Atrivak
De: Chefe Capasheno Raddeus
Saudações,
No perigo iminente que tem se instalado através de nossa nação, eu requisito a força de luta de cada
guerreiro debaixo do meu comando. Eu enviei meu guarda, Comandante Gerrard Capasheno,
recentemente retornado de épicas batalhas contra nossos inimigos, para ajuntar prisioneiros sob sua
custódia e liderá-los em combate. Por favor, providencie a ele cada assistência para liberação, exército, e
provisões de tropas aprisionadas em suas instalações.
Bênçãos, Chefe Raddeus.
Gerrard meneou a cabeça, molificado. “Talvez nós realmente tenhamos uma chance.” Ele olhou
para baixo em direção ao velho. “Há mais em você do que os olhos podem ver.”
“Sim,” o vidente cego disse suavemente, “desde que nada encontre meus olhos.” “Passe-me aquele
tubo de mapa,” Gerrard disse achegando-se a mesa.
Da prateleira de pergaminhos, Hanna pegou o tubo. Gerrard colocou o seu quepe e o ergueu. Ao
seu lado um mapa detalhado da Cidade de Benália. Nem uma simples estrutura, tão cuidadosamente
feita no mapa, permaneceu de pé.
Rangendo seus dentes sombriamente, Gerrard enrolou o documento forjado, colocou um pique de
cera de vela sobre ele, e imprensou a cera com seu próprio anel Capasheno. Ele deslizou o rolo dentro do
tubo de mapa e ergueu seus olhos em direção à janela dianteira da ponte.
O sol parecia uma chama dentro da prisão. Torres de guarda e paliçadas que pareciam agulhas
lançavam suas sombras em forma de unhas sobre o convés do Bons Ventos. Logo, o navio seria engolido
pelas sombras. A cela perfilada pairava espectralmente acima. Bem abaixo jazia uma saliência natural de
rochas, escondida pelo olhar das montanhas ocidentais.

47
Invasion
“Nós vamos aterrissar aqui, onde o Bons Ventos estará protegido dos olhares Phyrexianos e de
bombas. Nós não queremos ficar encurralados.”
“Sim, Comandante,” respondeu Sisay. Ela facilmente contornou por cima da saliência.
“Quanto mais longe melhor. Vamos esperar que Benbow caísse nesta farsa.”

*****
“Guardas!” Capitão Benbow gritou. A voz do diretor ecoou através da casa muralhada. Ele
contemplava Gerrard e sua tripulação. As mãos carnudas de Benbow amassaram a carta forjada, e suas
sobrancelhas vermelhas se acentuaram. “Guardas!”
Eles vieram com uma inundação. Guardas eram muito comuns na Prisão Militar Benaliana. Um
campo de placas e tabardos amarelos, os guerreiros cercaram Gerrard e sua tripulação.
“Esperem!” Gerrard objetou. “Você tem que acreditar em nós. Benália precisa de cada braço de
guerra. Uma invasão está a caminho.”
“Acorrente-os nos grilhões!” Benbow berrou. Os guardas convergiram.
Gerrard uma vez se rendeu as forças de Benália e a cidade de Benália foi destruída enquanto ele
ficou sentado na cela.
“Atacar!” Ele gritou.
Tahngarth bufou em aprovação. Ele lançou uma cadeira de madeira embaixo do queixo do guarda
mais próximo. O homem rosnou e caiu para frente, aterrissando por cima da cadeira que o tinha
nocauteado.
Hanna não foi tão afortunada. Um guarda a agarrou por detrás aplicando uma “chave de pescoço”.
Ele respirava com fúria na orelha dela. Mais como amante do que como guerreiro. Hanna virou a cabeça
e os lábios dele se encontraram com os dela. O contato quente fez com que o aperto do homem ficasse
repentinamente fraco. Hanna pulou para frente e ergueu o calcanhar no ângulo que muitas vezes é
induzido pelo beijo. O guarda tombou, agarrando-se.
Sisay jogou o tabardo do seu oponente sobre seu rosto e o girou para atacar um de seus próprios
companheiros. Enquanto ele lutava, ela casualmente derrubou um guerreiro que estava prestes a agarrar
Squee.
De sua parte, o goblin deteve guarda após guarda se rendendo a eles, permitindo-os prenderem
grilhões em seus braços magérrimos, e depois os deslizava para fora.
Gerrard foi o mais pressionado de todos eles. Ele sacou sua espada e adaga do seu cinto. Com a
lâmina menor, ele agarrou e lançou de volta grilhões que vinham na direção dos seus punhos. A
corrente fez sangrar o nariz do guarda.
O homem cambaleou, sentando por baixo de um dossel de lâminas ruidosas.
A espada de Gerrard chicoteou num golpe para tentar intimidar. A lâmina cortou através do falso
edital e ameaçou a desgrenhada cabeça do diretor Benbow.
Benbow era um lutador experiente, e sua espada estava pendurada na parede atrás dele.
Esquivando-se da guinada de Gerrard, Benbow rolou rapidamente para longe de seu assento. Ele lançou
seus pés por de trás dele e, com uma graça que contradizia sua circunferência, ele arrebatou sua espada
da parede.
Gerrard pulou sobre a mesa. Ele trouxe a sala abaixo com uma grande investida.
Benbow bloqueou o golpe. Metais tiniram. Ele arremessou a espada do seu inimigo para o lado e
rodopiou. A lâmina do diretor varreu a mesa num golpe que poderia ter cortado os pés de Gerrard por
baixo dele. Gerrard pulou entre uma enxurrada de mandados de prisão. Ele lançou sua espada num
segundo ataque. Este conseguiu atravessar, mas foi fraco. Ele acertou com força a cabeça bronzeada de
Benbow. O diretor cambaleou para trás, dando a Gerrard uma segunda chance para pleitear.
“Você tem que acreditar em mim. Eles estarão aqui em horas, em instantes.”
48
Invasion
“Quem? Seu parente mais próximo?” Benbow rosnou, oscilando sua espada mais alto.
Gerrard esperou outra vez, evadindo do golpe. “Não, os Phyrexianos!”
“Phyrexianos?” Benbow gritou de volta incredulamente. “Homens-máquinas? Monstros de contos
de fadas?” Sua terceira pancada foi mirada para cortar o membro mais importante.
Gerrard bloqueou o ataque, enquanto isso ele chutou para abrir a gaveta da mesa.
Ela voou para fora tão rápido quanto uma vareta. A pesada gaveta acertou o diretor. Benbow gritou
de dor e se dobrou.
Pouco antes que o enorme homem fosse abatido pela gaveta, Gerrard visualizou um largo molho de
chaves caindo ao lado dele. Suas mãos se abaixaram.
Benbow pressupôs as intenções de seu inimigo. Apesar de sua agonia, Benbow se lançou para frente
para acertar a gaveta com seus quadris. Rolamentos escondidos perfuraram. Pouco antes que a madeira
se fechasse, Gerrard arrebatou as chaves.
Benbow não foi tão rápido. Ele urrou em agonia.
Gerrard se virou, localizando Tahngarth na disputa, e gritou, “Tahngarth, leve estas chaves. Liberte
os prisioneiros!” Ele arremessou o molho sobre uma enxurrada de lâminas.
Espadas se ergueram para interceptar as chaves. Uma lâmina as lançou para o lado. Uma segunda
pegou-as, girando-as por um momento. A terceira não era uma lâmina de maneira nenhuma, mas sim
uma vara. O molho de chaves ressoou ao redor da contorcida madeira para trepidar sobre as mãos do
vidente cego.
“Eu os libertarei,” o velho prometeu.
“Tahngarth, vá com ele!” Gerrard gritou.
O minotauro assentiu. Decisivamente, ele chutou para o lado um par de lâminas e desceu o seu
punho sobre as cabeças de guerreiros que estavam por perto.
“Eu, também,” Squee se voluntariou. Ele conseguiu acorrentar três guardas juntos e os prendeu a
barra de uma janela. Eles xingaram enquanto ele marchava alegremente em direção ao minotauro e ao
vidente cego.
“Eu estou livre,” Sisay se ofereceu, vislumbrando um guerreiro que jazia prostrada aos seus pés.
Suas pernas estavam presas debaixo de um canto da mesa.
Hanna ainda estava lutando. Ela era uma hábil guerreira quando sua fúria era despertada, mas
normalmente ela não tinha estômago para isso. Agora mesmo ela brandiu um enorme cabide de bronze
contra um esgrimista.
“Parece que eu permanecerei... a não ser que -”
Ela atacou o homem repentinamente, agarrando seu colarinho blindado com um gancho. Com uma
poderosa erguida, ela o lançou. O soldado ficou impotente sem poder desembainhar sua espada para
aparar.
Limpando suas mãos, Hanna recuperou sua lâmina caída e disse, “estou dentro.”
“Excelente,” Gerrard respondeu. Os vinte e poucos guardas tinham sido derrubado de uma maneira
ou de outra, nenhum deles sofreu algo pior do que uma concussão. O diretor Benbow ainda jazia sobre a
mesa, lutando para se libertar.
“Eu realmente espero que você se recupere rapidamente, diretor. Nós poderíamos usá-lo fora
daqui,” Gerrard disse, saltando da mesa. Ele sorriu, gesticulando para sua tripulação. “Vamos andando.
Nós temos um exército para libertar.”
Pela porta eles saíram em fila. Tahngarth levou consigo uma lâmina nua. Ele não a usaria em
batalha e tão pouco tinha intenção de matar com ela, mas um minotauro com uma espada faz
maravilhas para inspirar o senso de autopreservação dos humanos. O próximo na fila era Squee, cujo
próprio senso de autopreservação o tinha atraído para tal defensor. Hanna era a terceira, guiando o
vidente cego. A outra mão de Hanna se contraía como se desejasse que ela ainda tivesse o cabide.
Gerrard veio pela retaguarda. Ele trouxe uma cadeira com ele, e fechou a porta da delegacia, e
posicionou a cadeira por baixo da maçaneta.

49
Invasion
“Isso deve segurá-los.”
“Gerrard,” veio a trepidante voz de Hanna. “Gerrard!”
Ele vislumbrou, vendo-a puxar uma sangrenta mão do lado dela. Gerrard correu ao encontro dela.
“Um daqueles bastardos fez isso com você?”
Virando-se para ele, ela disse, “Não.” Ela retirou a túnica carmesim do seu lado. “Isto é essa ferida.
Aquela do estilhaço em Rath.”
Gerrard se ajoelhou ao lado dela. “Você disse que tinha sido somente um arranhão!” Hanna
ruborizou-se. “Era pouco mais que isso. Orim limpou e a envolveu-a dessa maneira. A magia de cura
não funcionou...” Ela olhou por baixo da atadura ensanguentada. A ferida estava necrótica. Sangue fluía
do seu centro, mas a pele e os músculos ao redor estavam tornando-se pretos. Dedos de corrupção
alcançavam fora daquele lugar.
“É a praga Phyrexiana,” disse o vidente cego friamente. “Não há cura.”
Os olhos de Hanna se escureceram. Ela olhou do velho para Gerrard.
Fazendo um sorriso o qual ele não sentia, Gerrard disse, “Você sabe de muitas coisas, velho, mas
você não conhece Orim. Ela encontrará a cura. Enquanto isso vamos estancar essa hemorragia.” Ele se
ajoelhou, arrancando a manga da sua jaqueta de comandante. “Maldita coisa, era muito curta mesmo.”
Enquanto ele cuidava da ferida de Hanna, Tahngarth continuou descendo o corredor para a
primeira cela.
O prisioneiro lá tinha ouvido sua aproximação e estava xingando, pois ele esperava que fosse outro
guarda. Quando ele viu o gigantesco homem-touro e sua espada afiada, ele se alvoroçou por de trás das
barras.
Ele tagarelou, “O que pelas Nove Esferas você está -?”
“Cale a boca,” Tahngarth advertiu. O homem aquiesceu. “Se vocês prometerem lutar por nós, nós
libertaremos vocês de suas celas.”
“E-E se eu quiser permanecer aqui?” O homem perguntou.
“Você será provavelmente morto quando a prisão for tomada.”
“Tomada? Por quem?”
“Por Phyrexia.”

*****
Uma coisa sobre promessas é: Homens honestos não precisam jurá-las, e desonestos homens não
hesitam em jurá-las. Claro, Tahngarth não teria percebido isto. Um minotauro desonesto era um
oximoro, ou pelo menos um touro imbecil. Era compreensível a surpresa de Tahngarth quando os
primeiros quinhentos prisioneiros liberados por Gerrard se rebelaram contra ele.
A tripulação estava atravessando o pátio principal quando os prisioneiros libertados os cercaram.
Apesar de Gerrard e sua tripulação terem sido pareôs para vinte guardas, eles não eram pareôs para
quinhentos guerreiros. Estes guerreiros em particular deram uma nova definição ao termo “irregular.”
Muitos nem eram humanos - trambolhos ambulantes que pareciam com rochas animadas, homens
lagartos vestindo os ossos de suas vítimas, minotauros com chifres tosquiados e pernas mecânicas.
Humanos, elfos, anões... A prisão tinha moldado a todos em uma simples espécie - assassinos. Em
poucos segundos, a tripulação foi conquistada, suas armas foram recolhidas. Ninguém estava ferido
naquela breve luta - Tahngarth estava muito aturdido para lutar e Gerrard estava muito acostumado
com ironia reversa.
Com um cântico grosso, os prisioneiros libertados escoltaram seus libertadores para a torre de
guarda no centro do pátio. Eles foram forçados a subir as escadas da enorme estrutura de feixes. Os
prisioneiros mais pertos usaram as próprias armas da tripulação contra eles mesmos. Aqueles que
estavam mais distantes usaram qualquer coisa que veio a mão - correntes, canos, potes quebrados,
50
Invasion
placas estilhaçadas... Desarmados e acorrentados Gerrard e sua tripulação subiram aquela montanha
russa de degraus. Derrota tomou lugar de vitória em seus rostos.
Eles subiram, um a um através da escotilha do topo das escadas e para dentro da plataforma coberta
que estava acima. Mal Gerrard atravessou a escotilha ela se fechou, e as barras caíram no seu devido
lugar.
Apesar de Gerrard ter conseguido um lábio cortado pela sua tentativa de explicar, ele escalou até a
janela da torre de guarda e tentou outra vez.
“Escutem-me! Escutem!” Ele gritou para os prisioneiros eufóricos. “Nós libertamos vocês. Por que
vocês lutam contra nós? Nós somos iguais. Não importa o que vocês fizeram uma vez. Mesmo traição!
Até assassinato! O que quer que tenha trazido vocês aqui é nada comparado com os atos cometidos
pelos nossos verdadeiros inimigos. Eu revoco suas sentenças! Vocês devem revocar a nossa. Eu retorno
sua liberdade! Retornem a nossa! Juntos nós lutaremos contra o verdadeiro inimigo. Juntos nós
lutaremos contra Phyrexia!”
Enquanto Gerrard falava, a euforia cessou, e a turba ficou quieta. Enquanto suas últimas palavras
saiam, um silêncio temoroso tomou conta do pátio.
Estava tão quieto, que a tripulação pôde ouvir um homem entre os prisioneiros quando ele disse,
“Libertem-nos.”
Acenos de olhos arregalados vieram dos prisioneiros, escancarados para cima. Um homem subiu
rapidamente a montanha russa de degraus e destrancou a escotilha.
Gerrard sorriu incredulamente e se virou para seus companheiros. “Eu nunca realmente me
considerei como um orador, porém desta vez eu... eu consegui prender a atenção deles.”
Sisay balançou sua cabeça gravemente. “Você não,” ela disse, apontando para os céus. “Alguma
outra coisa prendeu.”
Lá, no âmago da noite, as luzes de centenas de navios Phyrexianos fizeram medonhas novas
constelações.

51
Invasion
CAPÍTULO 11

ALIADOS DE VELHOS INIMIGOS

A batalha dos Túmulos Mori decidiria o destino de Yavimaya. Multani lutou ao lado de seu povo,
reis elfos despojados, enxames de sílfides furiosas, clãs de grandes símios, ninhadas de aranhas gigantes,
e um punhado de druidas com fogo nos olhos. Estes últimos ascenderam das cavernas vulcânicas que
crivavam as rochas sob os vastos túmulos.
Lógico que os Phyrexianos escolheram aterrissar seus esquadrões invasores perto dos Túmulos de
Mori. Esse era o ponto mais alto de Yavimaya.
Suas árvores se erguem quinhentos pés acima de seus vizinhos. Os extensivos ramos
providenciaram plataformas de aterrissagem para os cruzadores Phyrexianos. Dessas coroas, os
Phyrexianos podiam comandar as copas e se infiltrar para dominar a terra. Mas era muito mais do que
isso. Os Phyrexianos foram levados aos Túmulos de Mori porque era uma cicatriz que eles mesmos
haviam deixado no mundo.
Os Túmulos Mori eram uma fratura nos ossos milenares de Yavimaya - uma ferida aberta pelo
evento em Argoth. A explosão mundial que Urza havia liberado para destruir os Phyrexianos há quatro
milênios tinha rachado a plataforma continental sob Yavimaya. Ela pressionou as metades quebradas
contra elas mesmas. Eles foram plantados juntos e cresceram. Os Túmulos Mori se ergueram como
montanhas. Eles são formados de trezentas milhas de cordilheiras, cento e cinquenta pés de altura. Eles o
arrancharam como se fossem pontos maciços. Mesmo assim a fenda se alargou. De vez em quando o
mundo jorrava do seu sangue e exsudava em lava e vapor. Mesmo a força verde de Yavimaya não pôde
curá-lo. Alguma coisa fervia por baixo.
Por isso ela atraia os Phyrexianos, assim como uma chaga aberta atrai larvas. Era por isso que
Multani temia esta batalha. Aqui era onde Géia era mais fraca.
Os Phyrexianos já haviam corrompido as copas. A ferida no mundo abaixo era refletida nas copas a
três mil milhas acima. Aqui os navios Phyrexianos se agruparam, derramando esporos sobre a noite
tempestuosa. Folhas mofaram e macrófagos de celulose que, antes eram orgulhosas espigas verdes, se
tornaram em negras e podres. Em poucos minutos lagartas mecânicas devastaram as folhas. Insetos
mecânicos afundaram seus brilhantes pés nos caules e extraíram magnésio, ferro, e zinco para usarem no
crescimento de suas asas laminadas. Enxames de moscas de guerras se levantaram para esfolar
armaduras e pele e músculos dos ossos. Outras máquinas, esteiras perfurantes e nas suas partes
dianteiras havia bocas que eram semelhantes a armadilhas de ursos, eles devoraram toda carne que eles
encontraram, armazenando-as para teste dentro dos cruzadores. Phyrexianos possuíam um maldito
interesse na fisiologia de seus inimigos.
Pestilência e máquinas e monstros forçaram os elfos a abandonarem seus reinos. Eles fugiram para
dentro da escuridão, buracos úmidos e abrigos. Uma parte do acampamento era refúgio, a outra parte
era bélica preparando postos, os campos se alvoroçavam dia e noite. Outros defensores conscientes
também vieram, sílfides, druidas, grandes símios, e claro, aranhas gigantes. Estas ágeis bestas, uma vez
inimigas de seus vizinhos elfos, se aliaram com eles agora. Elas até se ofereceram como montarias para
carregar magos élficos para o combate.
Foi num conselho de guerra de tais magos, realizada numa ampla e elevada genitália de uma
magnigote, que Multani tomou forma. Ele ajuntou seu corpo de uma colônia de cupins e de madeira
dessecada de onde eles vieram. Sua carne literalmente rastejava com grandes insetos brancos. Ele se
levantou, com doze pés de altura e nefasto, em meio ao turvo círculo.
O povo na genitália da árvore ficou momentaneamente perplexo, eles haviam esperado pelo espírito
da floresta. Eles deram boas-vindas a ele, se curvando. Lanternas de fogo-fátuo balançaram das mangas
dos feiticeiros elfos, enviando um brilho verde para dentro. A luz brilhou através das espadas e das

52
Invasion
flechas dos elfos guerreiros e das asas ovais de enxames de fadas. Os grandes símios se agacharam para
frente, piscando de forma inteligente na escuridão. Atrás disso tudo aranhas gigantes espreitavam - seus
múltiplos olhos pareciam uvas penduradas num caramanchão.
“Nossas forças estão reunidas, Mestre Multani. Nós estamos prontos,” disse o mago mais velho,
olhos cintilando por baixo de um manto de cabelos brancos. “Qual é o nosso objetivo?”
A voz de Multani veio de um sussurro farfalhado de milhares de cupins. “Os campos de
desembarque Phyrexianos. Nós mataremos os guardas e tomaremos de volta os ramos.”
Franzindo a sobrancelha, o mago disse, “Agora é uma coisa de corrupção negra. Como pode ser
retomado?”
“Deixe isso comigo,” Multani disse de forma ameaçadora. Ele se derreteu para dentro dos galhos
das árvores.
Foi um breve conselho - não havia tempo para palavras.
Os magos montaram seus corcéis aracnídeos e avançaram através da folhagem. Suas mangas leves
deslizavam nas folhas. Os elfos arqueiros - um povo jovem com os olhos afiados durante a noite - não
precisavam delas. Eles se dividiram, alguns se agrupando nos galhos, outros se balançando das vinhas
para os troncos adjacentes. Os druidas partiram com o mesmo silêncio arcano quanto o próprio Multani.
Os símios ultrapassaram todos eles com graça silenciosa. Eles se lançaram através dos galhos, seus
braços eram quase que iguais aos ramos que os carregavam.
Os defensores de Yavimaya se ergueram em direção ao dossel corrompido. As raízes emaranhadas
abaixo e os galhos emaranhados acima se ajuntaram a cada árvore vizinha, fazendo de Yavimaya um
grande organismo. A floresta era uma coisa pensante, e Multani era seu promontório consciente. Se
erguendo através dos galhos, se dividindo e se recompondo, ele conhecia a vontade de Yavimaya:
Conduza os Phyrexianos de volta para os galhos mortos e destrua-os com seus navios.
Multani ascendeu. Ele sentiu os pés de uma aranha gigante causando-lhe cócegas. Por baixo de suas
pernas farpadas, havia feitiços de proteção lançados pelas mãos dos magos elfos. Eles ajuntaram grandes
quantidades de magias da escuridão verde que os cercava. Elfos arqueiros sentaram nas forquilhas
próximas, encaixando as flechas nos arcos e testando suas pontarias. Símios enormes escalaram as copas
onde eles podiam se lançar sobre as cabeças dos Phyrexianos. Nuvens de sílfides dispararam como
dardos no ar. Elas carregavam lanças, espadas, e adagas e tinham adotado a tática das moscas de
guerras. Elas podiam descascar um Phyrexiano em segundos.
As forças convergiram para um enorme galho que fervilhava de Phyrexianos. Era um campo de
pouso por baixo de um cruzador que aterrissava. O navio era tão enorme e negro quanto uma nuvem de
tempestade. Ele era suspenso por galhos que tinham sido corrompidos pelos contágios Phyrexianos e
ressuscitaram como uma madeira morta-viva. Não haveria nenhum ataque deles para com o navio. A
madeira havia se tornado um monstro. Este campo de pouso, apesar de tudo, era uma madeira viva. Os
Phyrexianos não tiveram tempo para corrompê-la, mas eles já tinham preparado contaminações para
despejar dentro da fissura e da genitália.
Multani se permeou por dentro do vasto galho. Ele deslizou por baixo da casca. Lá, dentro da
árvore, os olhos do nó da madeira eram abundantes. Eles eram sua primeira arma, minas por baixo de
monstruosos pés.
O resto de suas forças estava pronto. A batalha começaria com Multani.
Se espalhando através do vasto ramo, ele desencadeou a dilatação dos milhares de olhos de nó de
madeira. Eles abriam a boca largamente. Garras e presas se lançaram dentro desses olhos de nó de
madeira. A madeira se fechou para prender as pernas.
Repentinamente pegos, milhares de Phyrexianos foram debulhados.
Uma chuva pesada começou. Não era água que caía, mas sim flechas. Suas cabeças duras iguais
pedras foram esmagadas através da carapaça junto com seus peitorais e gargantas e tripas. Os sucos que
escorriam pelas setas foram embalados pela magnigote. Ela inchou massivamente. Numa sucessão
estrondosa, Phyrexianos explodiram. Eles explodiram como insetos. Suas placas voaram. Organelas

53
Invasion
cinza eram expelidas para fora. Cabeças eram deslocadas dos ombros. Pernas eram separadas dos torsos.
Escamas eram rasgadas, peles eram descartadas.
Onde monstros caíram, Multani os libertou. Os corpos destruídos foram lançados fora. Mais bestas
escalonaram dentro dos buracos abertos e foram pegas. Multani enviou hastes de bombeio através da
casca. Eles prenderam pernas em gavinhas tenazes, os quais se alargarem dentro de galhos inescapáveis.
Por cima dos seus torsos eles foram pressionados. Como salsichas espetadas, os Phyrexianos
explodiram.
O último dos raios explosivos encontrou seu marco. Phyrexianos caíram e deslizaram do galho
assassino.
Afora da negra noite, sombras tomaram forma. Sobre pernas gigantes eles vieram. Olhos globulares
brilhavam. Mandíbulas gotejavam veneno. Estas eram aranhas gigantes. Atrás delas feiticeiros estavam
montados - magros, elfos, seus dedos dançando com poder. Feitiços rugiam. Encantamentos iluminavam
as pernas que pareciam como hastes que enchiam o vazio. Uma luz verde iluminou o galho e desatou
sobre os Phyrexianos. Esporos verdes se agarram em cada tecido.
As plantas se enraizaram por elas mesmas. Líquen devorara armaduras. Ervas daninha destruíram a
raiz principal da planta, transformando-a num fluxo de sangue. Brotos fenderam músculos e ossos.
Flores desabrocharam enchendo o ar. Os invasores da floresta foram em instantes invadidos pela
floresta. Em montes de folhas e vinhas, mais monstros morreram.
Uma nova chuva começou - músculos ao invés de flechas. De suas posições elevadas, grandes
símios vieram a centenas. Eles lançavam Phyrexianos vivos sobre os mortos. Eles arrancavam os
membros das tropas Phyrexianas e pequenos nacos das cabeças dos Phyrexianos.
Tudo isto foi nos primeiros momentos, antes que houvesse um inimigo para lutar. Estes foram
apenas alvos, flechas e feitiços através da noite. Apesar da chegada dos símios e da cavalaria aracnídea
de magos, a batalha mudou. Phyrexianos sabiam como lutar com tais criaturas. Com uivos de fúria e
fome, os monstros atacaram.
Os horrores de Yavimaya eram nada comparados ao terror de Phyrexia. Crânios alongados, bocas
com presas embargadas, chifres com pontas articuladas, braços com garras, pernas semelhantes a
vagens, tentáculos, garras, ferrões. A maré negra se colidiu contra a cavalaria de magos. Nos primeiros
momentos só houve carne de inseto. Então as aranhas foram retalhadas, e carne de elfo e de símio foi
lançada aos ventos sombrios. Feitiços falharam. Magia selvagem jorrou das copas. Ela se lançou contra
as sombras dos Phyrexianos.
Multani adentrou nas vinhas, lançando-as através dos monstros. Ele as colheu e as arremessou do
galho. Não foi suficiente. Ele não podia abrir nós de madeira, não com elfos e símios entre os monstros.
Ele não podia fazer crescer sugadores para agarrar o que quer que esteja lutando acima do chão. Por
detrás do massacre de magos estava o desordenado exército da infantaria élfica. Eles morreram tão
rápidos e certos quanto os elfos. Não havia maneira de parar estas bestas.
Mesmo enquanto ele lutava, Multani direcionou sua mente para Géia. Massacre. Eles não podem ser
detidos. Nós devemos nos retirar.
Géia não falou com ele. Ele sabia o que ela diria para ele. Se você se retirar agora, eles nunca serão
detidos.
Ajude-nos. Socorra seus filhos. Traga os outros. Traga cada filho que está debaixo de seu dossel. Do contrário,
nós estaremos perdidos.
Por que os mortais sempre oram? Multani perguntou a si mesmo. Por que os deuses nunca
respondem?
Os elfos estavam morrendo como elfos. Inabaláveis, eles sacrificaram séculos de vida.
Corpos das tripulações Phyrexianas seguiram a onda das linhas de avanço. Eles arrastaram grossas
correntes com longos ganchos nas pontas. Onde quer que os monstros encontrassem um corpo, morto
ou vivo, eles pressionariam a farpa através da carne macia do artelho. Quatro ou cincos elfos caberiam

54
Invasion
num único gancho antes que os corpos da tripulação balançassem por baixo do cruzador. As correntes se
dobraram para cima. Os espécimes seriam carregados para o navio para estudo.
Os deuses podiam nunca responder, mas Multani responderia.
Ele emergiu da árvore. Ele tomou sua forma do galho. Uma enorme encosta de madeira viva,
Multani lançou seus dedos como lanças de madeira. Eles perfuraram os Phyrexianos aos montes.
Os monstros se contorceram como baratas. Multani os agarrou, rasgando-os no meio. Isto era pura
vingança. Enquanto ele matava vários em seus punhos, centenas passavam por ele.
Ele estava perdendo a Batalha dos Túmulos Mori. Ele estava perdendo a guerra de Yavimaya.
Então novos aliados vieram. Das cavernas vulcânicas de debaixo de Yavimaya, eles galoparam a
frente. Nunca antes a mente de Multani havia chegado a tais criaturas. Eles espreitavam eternamente no
mundo sombrio embaixo da floresta - meio verde, meio vermelho. A pele deles era parte escama parte
rocha, o corpo deles era parte sáurio parte preguiça-terrestre. Eles tinham dentes de tigre e faces de
buldogue e nos pés havia garras e cascos ao mesmo tempo. O menor deles era do tamanho de um
homem, e o maior era do tamanho de dois elefantes. O mais impressionante de tudo eram suas línguas -
mais compridas, mais poderosas, mais expeditas do que trombas de elefantes. Eles galopavam acima dos
troncos das árvores como se estivessem atacando através de terreno plano.
Os druidas os invocaram. Seus encantamentos tinham despertado os lagartos adormecidos. Kavu.
Estas coisas eram chamadas de Kavu - uma palavra anciã druida que significava “sempre vigilante” e
“esculpido da rocha”.
Sobre cada tronco, Kavus emergiriam. Num piscar de olhos, eles jorraram das trevas e esmagaram
as linhas Phyrexianas. As línguas dos lagartos chicoteavam, arrebatavam as carapaças dos monstros, e
os dragavam para bocas cheias de presas. Eles os mastigaram. Mal um Phyrexiano era engolido num
segundo outro era pego, e outro...
Phyrexianos se retiraram para o galho. As centenas que haviam passado por Multani agora fugiam
para o outro lado. Ele arrebatou um punhado deles e os esmagou. Os Kavus pegaram o resto. Logo era
uma retirada em larga escala.
Perdoe meus terrores mortais, Géia, Multani pensou. Eu devia saber que você possuía defensores além de
mim. Você é a mãe do mundo, não a mãe da floresta.
Géia não respondeu. Ela nunca falou com Multani, mas ele sentia o que ela diria. Você tem outros
defensores também, aliados de velhos inimigos.
Sim, Multani disse em percepção, aliados de velhos inimigos.
Muitos dos Phyrexianos tinham voltado para o galho onde seu cruzador esperava. Ele era sua praça
de armas, seu refugio de onde eles podiam lançar novos ataques, ou era o que eles acreditavam.
As mãos de madeira de Multani alcançaram os céus. Uma garganta se abriu nele. Encantamentos
saíram antigos e sombrios como aqueles que haviam invocado os lagartos. Palavras encheram os céus
negros e chamaram um mais poderoso, e mais venerável inimigo.
Raios relampearam do céu negro. Estrondaram através de um pairado navio portador da praga,
atravessando-o. A energia emanou do seu topo e por fora da quilha. Ela se lançou a frente, através de
mais dois navios antes que sua mortífera mão alcançasse as copas. O raio cintilou através de uma nuvem
de moscas de guerra. Elas caíram, flamejando, do ar. Com intencionalidade clara o golpe relampejante
bateu com força no cruzador encalhado. Fumaça emergiu de cada sutura. Chamas explodiram da
madeira apodrecida.
Presos pelas chamas, Phyrexianos transpiraram óleo brilhante de incontáveis cortes. Seus corpos
pegaram fogo. Eles foram derrotados.
O raio agarrou o galho negro como uma mão. Ele não soltou, ele não desceu sobre a árvore como
um raio normal desceria. Ao invés disso, ele segurou e abalou o galho. Queimando os Phyrexianos. A
madeira dessecada pegou fogo. O cruzador desabou e rachou.
Bem-Vindos a Yavimaya, meus velhos inimigos, Multani pensou. Bem-vindo fogo e relâmpago!

55
Invasion
O galho apodrecido e explodiu. Nacos de madeira e metal e carne Phyrexiana foram lançados
dentro da noite.

56
Invasion
CAPÍTULO 12

NA TEIA DE TSABO TAVOC

Cruzadores Phyrexianos encheram o céu escuro acima do pátio da prisão. Navios pairavam a
centenas de pés acima das muralhas. Eles pairaram tão baixo que Gerrard podia ver os locais de
descargas onde os Phyrexianos jogavam seus dejetos.
Ele lançou uma mão algemada por fora da janela da torre, agarrou a lanterna que queimava lá, e a
rompeu de seu invólucro. Ele lançou aquela coisa flamejante na barriga do navio. Ela acertou a borda da
escotilha de detritos e colidiu contra o gotejamento. O óleo da lâmpada se espalhou pela base negra do
navio. Um jato escarlate de fogo emergiu do depósito de detritos, o metano se inflamou, e lançou uma
explosão que inchou o trem de pouso do navio. Incandescentes pedaços de carne de inseto gotejaram do
local.
Os salteadores no pátio gritaram, unidos pela ação de Gerrard. A esperança deles era curta, mas
viva.
Centenas de cordões negros se desenrolaram dos corrimões dos cruzadores. Eles pareciam os
terríveis tentáculos de enormes águas-vivas negras. Os cabos se desenrolaram para pender bem acima
das faces que estavam erguidas da multidão de prisioneiros. Descendo por estes filamentos, deslizaram
os Phyrexianos. Implacáveis e mortíferos, avatares da morte, eles precipitaram-se sobre sua presa.
“Libertem os outros!” Gerrard gritou enquanto as bestas caiam entre os prisioneiros. “Lutem por
suas vidas. Lutem pelo navio.”
Navio! Aquela simples palavra alvoroçou o pátio. Havia esperança para escaparem.
Phyrexianos clamaram por suas vítimas mesmo antes das garras tocarem o chão. Garras agarraram
cabeças e as esmagaram como se fossem ovos. Caudas cobertas de espinho perfuraram e ergueram os
prisioneiros pela garganta. Ferrões adentraram os olhos e bombearam negrume. Centenas de
prisioneiros morreram nos primeiros segundos.
Outras centenas lutaram em resposta. Do arsenal dos guardas, dardos de bestas se ergueram,
perfurando as negras hordas que caíam dos céus. Os prisioneiros que possuíam espadas as usaram,
cortando pernas de debaixo dos monstros. Outros usaram os grilhões ou barras de ferro que antes os
mantinham cativos. Até mesmo os tijolos das prisões se tornaram mortíferos. Archotes batiam como
estacas na boca dos Phyrexianos. Pedaços de vidro cortavam gargantas. O que quer que viesse a mão se
tornava uma arma, até mesmo as garras mortas dos assassinos, até a areia do pátio.
Alguns prisioneiros lutaram de mãos nuas. Punhos racharam templos quitinosos. Dedos golpearam
os olhos. Dentes mordiam através de garras estranguladoras. Pés esmagaram troncos. Phyrexianos eram
arremessados, pisoteados e espancados, estrangulados e eviscerados. No terrível borrifar de óleo e
sangue, prisioneiros e Phyrexianos eram quase indistinguíveis.
Gerrard e seus companheiros tinham seus próprios problemas. O homem que estava subindo para
libertá-los foi morto no meio do caminho. Monstros aterrissaram no telhado da torre. Ele se dobrou por
causa do peso deles. Dois quebraram as janelas para lutarem com a tripulação algemada.
Gerrard esquivou da garra em forma de foice do primeiro. Ele deu uma cambalhota através do chão
da torre e se ergueu atrás da segunda besta. Ele era um monstro pesado, no topo havia uma cabeça que
uma vez foi humana, um corpo lupino equipado com acessórios de aço. Felizmente, o pescoço da coisa
não era canino. Gerrard envolveu suas algemas ao redor da garganta da coisa. As correntes pungiram. A
besta agonizou. Gerrard a usou para bater contra os próprios companheiros dela. O Phyrexiano
estrangulado golpeou seus companheiros. Gerrard manteve sua posição. Suas algemas bateram contra
vértebras, e a besta lupina caiu morta.
Rapidamente Tahngarth acabou com outro monstro. Mãos o agarram por trás, Tahngarth chutou
seu inimigo fazendo o rodopiar, e em seguida afundou seu casco em suas costas esfarrapadas.

57
Invasion
O Phyrexiano convulsionou e se moveu com rapidez e violência, caindo no chão.
Tahngarth afundou mais seu casco. Ácido sibilou em sua perna e verteu por ela.
O minotauro cuspiu raivosamente. “Isso queima!”
“Você deve ter perfurado o baço,” disse Gerrard, apontando para o corpo. “Pelo menos baço é como
eu chamaria.”
Sisay se ajoelhou ao lado do Phyrexiano, agitando suas correntes na coisa barulhenta. “Você não
acha-” Ela retirou suas mãos de perto, e os elos se despedaçaram feito vidro. “Maldito seja.”
“Espero que você não seja,” Gerrard respondeu. Ele usou suas próprias algemas para raspar ácido
da perna de Tahngarth que estava na carne-viva. Suas correntes também ficaram frágeis. Ele as partiu.
“Eu tenho um terrível palpite...” Colhendo um pouco do sangue oleoso Phyrexiano, ele lavou a perna de
Tahngarth. A fumaça chiante cessou.
Hanna observou atentamente. “O sangue deles neutraliza o ácido?”
Gerrard deu de ombros. “Se eu tivesse essa coisa dentro de mim, eu desejaria alguma coisa que
pudesse neutralizá-la.”
O minotauro quebrou suas próprias correntes. “Agora enquanto o chão não afunda.”
De repente Phyrexianos romperam através da viga. Eles caíram feito uma tempestade negra
frenética acertando o chão onde os corpos jaziam. A madeira enfraquecida sibilou por um momento. Ela
se quebrou e se abriu lançando as bestas abaixo através da garganta da torre.
Se agarrando ao parapeito, a tripulação observou enquanto o grupo de Phyrexianos despencava
rumo a uma morte distorcida no colapso da escada abaixo.
“Isso foi miraculoso,” Gerrard ofegava.
Sisay observava sombriamente para baixo. “Nós precisaremos de uma dúzia mais de milagres para
chegarmos até o navio.”
Se segurando com uma mão e agarrando seu lado sangrento com a outra, Hanna disse, “e mais uma
dúzia quando nós estivermos abordo de volta.”
Os olhos de Gerrard estavam absortos. “Orim fará um milagre.” Ele girou em direção a Hanna.
Aquele movimento foi desafortunado. A escadaria de dentro da torre provia não somente acesso,
mas estabilidade. Com os degraus despedaçados, a torre cambaleou nos quatro postes. Parecia que havia
somente um caminho para baixo, um caminho muito rápido, um caminho muito horrível.
“Segurem-se!” Sisay gritou.
Gerrard balançou para parar. A plataforma balançou também. Pregos choramingaram em aviso.
Lentamente juntas se abriram.
“Nós vamos cair, não vamos?”
Todos em volta acenaram com suas cabeças de forma ameaçadora.
Sisay disse, “A questão é se nós podemos sobreviver.”
“A questão é se nós podemos aterrissar sobre os Phyrexianos,” Tahngarth interrompeu.
Olhando em direção ao telhado arruinado, Gerrard sorriu. “A questão é se nós podemos fazer os
dois.”
Ele cautelosamente escalou a parede da torre até que ele pudesse passar sua cabeça através do
buraco molambento do telhado. Avançando de forma abrupta, ele empurrou alguma coisa abaixo, um
emaranhado de cordas pretas deixado pelos Phyrexianos que aterrissaram no telhado. Gerrard se
pendurou por elas, seus pés se balançado livremente no centro dos destroços.
Através de dentes trincados, ele disse, “nós poderíamos... levar vantagem de... algumas pontas
soltas.” Ele mexeu até soltar uma das cordas. Se deparando com o muro, ele arremessou uma corda para
Tahngarth. “Este é seu velho truque... se pendurando por baixo do Bons Ventos em Rath.”
Enrolando a corda ao redor do seu braço, o minotauro balançou livremente. “Vamos esperar que os
Phyrexianos sejam pilotos melhores.”
“Hei!” Gerrard protestou. Ele arremessou uma corda para Sisay. “Eu salvei vocês, não salvei? Eu
salvei todos nós e voei para -”

58
Invasion
“Para colidir em Mercádia,” Sisay lembrou enquanto ela soltava o caibro que entrava em colapso.
“Eu livrei nós de lá também,” Gerrard se defendeu enquanto saltava para a muralha ao lado de
Squee.
O goblin escalou por cima dos ombros de Gerrard. “Squee matou Volrath.”
Um lamento agudo veio da torre devastada. Gerrard se lançou através da dobradura. Ele envolveu
Hanna em seus braços e deu mais dois paços rápidos sobre o muro inclinado. Squee subiu assustado
sobre os ombros dele e também soltou um chiado agudo. Gerrard se lançou junto com seus passageiros
para fora do telhado devastado. E agora apontando para o lado, e para o ar empesteado de demônios.
Sisay veio bem atrás dele, e Tahngarth veio pela retaguarda.
Eles se penduraram por baixo de um dos grandes cruzadores negros que eclipsavam os céus.
Abaixo deles, espessas turbas de Phyrexianos enchiam o pátio. Foi sobre a cabeça deles que a torre de
vigia caiu.
Ela tombou como uma gigantesca clava. Os monstros olharam para cima e se encolheram. A torre os
esmigalhou. Madeiras se trincaram. Estruturas se fenderam. Vigas voaram numa tempestade mortífera.
“Eu sempre fui bom em esmagar as coisas”, Gerrard disse enquanto eles investiam sobre o pátio. Ele
ergueu seu olhar dos destroços abaixo. “Falando em esmagar.”
Com uma pancada violenta, Gerrard, Hanna, e Squee se lançaram sobre os Phyrexianos restantes. O
grupo superior dos três heróis abaterem os monstros. Pernas que pareciam como as de caranguejo eram
chutadas até se despedaçarem. Conchas eram trincadas amplamente.
Tahngarth executou um ataque similar. Seus quatro nós dos dedos nunca tinham dado tal soco. O
primeiro cruzado do minotauro furou o casco do crânio de um monstro. Ele morreu instantaneamente.
Tahngarth deu um coice na besta e se lançou para frente, golpeando outra besta. Liberando a primeira
linha e transferindo seu peso para outros, ele fez um circuito rápido através dos cabos, se movimentando
em direção as muralhas da prisão. Cada pancada valia por duas, punhos seguidos de manilhas. Cada
morte gerava outra enquanto as enormes criaturas eram esmagadas por cima de seus companheiros.
Sisay conseguiu o mesmo efeito com um pouco mais de classe. Ela usou um fragmento do ácido
gotejante de suas algemas para queimar cordões adjacentes. Monstro após monstro seprecipitaram
abaixo dela. Os poucos que sobraram.
Phyrexianos deslizaram em linha para o súbito vazio. Ela virou-se para Gerrard, Hanna, e Squee.
Agarrando uma nova corda, ela gritou “Então, para o navio?”
“Para o navio. Segurem-se,” Gerrard disse aos companheiros.
Ele também trocou de cabo. Descer naquele pátio seria morte certa. A única esperança era balançar
de fio em fio até que eles alcançassem a muralha e descer até onde o Bons Ventos estava ancorado.

*****
Primeiro, eu lutei com você num buraco no chão, Tsabo Tavoc pensou alegremente, e lá você
escapou de mim. Eu não sou uma criatura para buracos no chão. Então eu lutei com você abordo do seu
próprio navio, e você me lançou fora. Eu deveria saber que eu não deveria atacar o herdeiro do Legado
dentro do seu próprio Legado. Mas agora, ela estalou suas novas pernas no penhasco rochoso onde ela
permanecia - pernas mais fortes, embutidas com lâminas nas suas articulações - Agora você caiu em
minha teia, Gerrard.
Tsabo Tavoc passou com dificuldade através de bandidos fugitivos. Eles pareciam achar que havia
salvação para eles além do penhasco, ou pelo menos havia destruição no final. Não fazia diferença para
Tsabo Tavoc. Num outro campo de batalha, numa outra hora, ela permitiria a si mesma caminha por
cima da maré de agonia que suas tropas criariam. Disso ela tinha certeza. Apesar disso esta batalha era
diferente. Benália foi garantida a ela, mas um guerreiro Benaliano pensou que a deteria. Ela não se
importava com as outras ovelhas. Ela se importava somente com aquele estranho homem criado para
59
Invasion
servir Urza em sua guerra. Tsabo Tavoc teve uma criação similar, terrivelmente e maravilhosamente
criada.
Ela trilhou seu caminho em direção à prisão. Alguns dos prisioneiros estavam cegos de pânico que
eles fugiram em direção a suas pernas, que despedaçou o cérebro deles. Tsabo Tavoc desmembrou
alguns, sem intenção, mas sem evitar também. Ela deve ter cuidado. O sangue deixaria seu aperto mais
fraco, e numa teia, mesmo a sua própria, agarrar era vida.
Alcançando a base da muralha da prisão, ela marchou para cima da diáfana face das pedras
cortadas e se lançou no ar. Ela agarrou um dos cabos que balançavam acima do pátio sangrento e subiu
em direção daquelas patéticas criaturinhas. Ela escalou em direção a Gerrard.

*****
Orim permaneceu na prancha de desembarque do navio. Tinha sido ela quem a abaixara, depois
que os cinquenta primeiros prisioneiros ensanguentaram seus dedos arranhando para tentar subir a
bordo. Eles lutaram entre eles. Um que escalou foi cortado com uma garrafa quebrada. Outro tinha
sofrido uma espontânea amputação da sua perna esquerda abaixo do joelho. Incontáveis pernas foram
dilaceradas pelas mãos que estavam abaixo. Orim tinha tentado estancar todo aquele sangue. Quando
ela não pôde, ela deixou o convés se cobrir de vermelho, e baixou a prancha de desembarque para que
não houvesse mais sangue.
Agora haveria mais sangue. O Bons Ventos já havia pego seiscentos prisioneiros. Eles encheriam
todos os porões e se agachariam nas estivas enquanto ela corria para longe. Gerrard veio para ajuntar
um exército. Ao invés disso, ele ajuntou refugiados. O Bons Ventos não suportaria mais. Os outros
lutariam. Haveria mais sangue.
O pior de tudo, Gerrard não estava em lugar algum para ser visto.
“Soltar a prancha,” veio uma voz por cima do ombro de Orim. Era uma voz antiga, uma voz sábia.
Uma voz que não admitia questionamento.
Orim girou, olhando para o vidente cego. “Eu não posso sentenciá-los a morte.”
“Você não os sentenciará,” ele disse. “Você garante moratória para estes outros. Mas se você não
soltar aquela prancha agora, mesmo esses que você salvou morrerão.”
Ela estava pálida. “E Gerrard, Sisay, Hanna, Tahngarth-?”
“É por isso que você deve soltar a prancha,” o vidente disse. “Se você não o fizer, eles morrerão.
Gerrard salvou todos quanto podia. Ele tem seu exército. Em outro lugar, batalhas gritam por este
exército. Vamos salvar seus amigos e o mundo.”
Orim deu um suspiro profundo. Ela fechou seus olhos, levando seu interior para aquele lugar de
paz que ela tinha descoberto na floresta dos Cho-Arrim. Com uma felicidade infundindo-a, ela se
abaixou e jogou fora a prancha.
Entre os berros de fúria e gritos, ela calmamente caminhou para o duto de comunicação, abriu-o e
disse, “Karn leve-nos para cima.”

*****
Gerrard se pendurou acima do pátio. Ele tinha quase alcançado a muralha - ela jazia a cinquenta pés
abaixo e cinquenta pés à frente.
De repente, uma enorme, ágil coisa se ergueu perante ele. Ele a reconheceu rapidamente.
“Tsabo Tavoc,” ele chiou.

60
Invasion
A mulher aranha era um gigantesco conjunto de pernas e veneno. Sua bela face fez uma mancha
pálida na noite.
“Estou feliz que você se lembra.”
Gerrard se deslocou, puxando Hanna com força contra ele. Ela estava ficando fraca pela perca de
sangue e estava dormindo. “Você não pode vencer.”
“Eu já venci. Benália é minha.”
“Você não pode derrotar toda Dominaria.”
“Eu não posso, mas meu mestre pode, e ele irá.”
“Você não pode me derrotar,” Gerrard respondeu com fúria nos olhos.
“Eu já derrotei.”
Tsabo Tavoc guinou. Suas pernas farpeadas acertaram Hanna, arremessando-a para longe. Sem
barulho, Hanna caiu. Gerrard se esforçou para segurá-la. A mulher aranha interveio. Ela agarrou o cabo
com quatro pernas e arremessou Squee para fora com mais três. Com a última, ela envolveu Gerrard
enquanto ela tinha envolvido Tahngarth. Desta vez, as juntas das suas pernas ouriçavam com lâminas.
“Eu não sei o que fazer, levar você de volta para meu mestre, ou... se divertir eu mesma com você.”
Gerrard inclinou sua cabeça. “Eu decidirei por você.” Ele comprimiu seu pulso algemado na junta
da perna dela. A braçadeira forçou a perna a abrir. Gerrard puxou seu braço livre e se soltou dela.
Os membros de Tsabo Tavoc se inclinaram para agarrá-lo no ar, mas ela era muito lenta. Pouco
importava. Ele morreria na queda...
Exceto que o Bons Ventos pairava abaixo, pegando-os todos. Silenciosamente, a embarcação de
refugiados tinha se esgueirado por baixo deles. Agora, com sua tripulação abordo com segurança, o
Bons Ventos zarpou.
Tsabo Tavoc olhou para o navio. Não haveria captura para eles.
Mesmo assim, Gerrard estava derrotado, fugindo com o rabo entre as pernas. Benália era dela. Seus
objetivos foram alcançados. O mestre dela a recompensaria com o maior comando de guerra - Koilos.
Se Gerrard se atrevesse a aparecer lá, ele seria dela.

61
Invasion
CAPÍTULO 13

O DESPERTAR DOS METATHRAN

Urza e Barrin caminhavam sobre uma encosta Tolariana, em direção à proeminência rochosa
chamada de Cabeça do Gigante. Enquanto batalhas rugiam ao redor do mundo, esta ilha era um lugar
de calmaria. Tolaria era uma ilha minúscula, distante das rotas de comércio. Ela jaz dentro de um
emaranhado de ventos que a torna impossível de se encontrar. Enlaçada com magia e patrulhada por
helionautas, Tolaria está entre os lugares mais seguros de Dominaria. Era também o lar de Urza e Barrin.
Por um milênio eles trabalharam aqui, treinando novas gerações de artífices e se preparando para a
presente invasão. Aqui, eles ensinaram o precoce Teferi, o qual agora era um planinauta. Jhoira de Ghitu
também aprendeu aqui. Multani havia vindo para Tolaria para fazer crescer o casco do poderoso navio
Bons Ventos. Até Xantcha residiu aqui, na pedra coração que agora reside na cabeça de Karn. Esta ilha
deu a luz a cada grande artefato e artífice de Dominaria. Ela também deu a luz a legiões de guerreiros
biomecanizados, os Metathran.
Era por isso que eles haviam vindo naquele dia, para despertar os dois comandantes Metathran
que liderariam os exércitos de Dominaria na Batalha de Koilos.
O planinuata e o mago chegaram à Cabeça do Gigante. Barrin ofegava. Ele estava numa soberba
forma para um velho de milhares de anos, parecendo estar somente entre seus cinquentas. Mas uma
subida a Cabeça do Gigante faria um homem de trintas anos ofegar. A falta de ar de Barrin veio devido
às memórias deste lugar - do desfiladeiro profundo e sombrio abaixo, uma vez repleto de Phyrexianos.
Ele tinha lutado sua primeira invasão Phyrexiana deste morro, ele tinha voado bem baixo num
ornitóptero por cima de uma fenda de tempo acelerado para salvar a vida do Planinauta Urza.
Urza não ofegava. Ele nem respirava. Ele estava muito aprofundado nos pensamentos. Seus
olhos de pedras preciosas brilhavam vivamente enquanto eles varriam o horizonte. Atrás dele jazia a
vasta expansão do colégio de artífices de Tolaria - telhados de azulejos azuis acima de muros brancos
curvados. Perante ele se estendia o deserto do tempo eviscerado.
Tolaria tinha sofrido uma explosão cataclísmica que a transformou num lugar de cicatrizes
temporais. Eles eram chamados de Talhos de tempo, abismos temporais profundos onde o tempo corria
a passos de lesmas e altos platôs temporais onde o tempo fugia para a eternidade. Urza causou o
cataclismo, claro, ele subsequentemente havia achado uma maneira de se aproveitar dele. Ele preparou
laboratórios nas colinas de tempo acelerado, onde semanas de pesquisas podiam ser feita em dias, onde
gerações de guerreiros biomecanizados podiam se reproduzir a cada ano. Enquanto para os charcos de
tempo retardado, eles eram mais usados para estocar comida, artefatos, e até mesmo criaturas.
“Lá”, disse Urza apontando em direção a uma série de conchas de tempo hermeticamente fechadas.
Algumas estavam quase negras, zonas de tempo acelerado onde a luz do dia era rapidamente engolida.
Outras estavam iluminadas de branco o tempo desacelerado gerava radiação dobrada e redobrada. “As
Cortinas do Tempo. Foi onde nós guardamos os comandantes Metathran.”
“Thaddeus e Agnate,” Barrin respondeu. “Você deve se lembrar de que apesar de ter sido um século
para nós, para eles, terá sido apenas alguns minutos. Eles esperarão que nós lembremos o nome deles.”
Urza virou seu olhar iluminado para o mago mestre. “E você deve se lembrar de que estes dois são
perfeitamente desenvolvidos para seus papeis. Eles não possuem outras expectativas a não ser aquelas
que eu dei a eles.”
Barrin encolheu os ombros, escondendo o gesto e acenando para baixo para o lado da Cabeça do
Gigante, em direção das Cortinas do Tempo. “Vamos pegá-los.”
Descer a Cabeça do Gigante era sempre mais fácil do que subi-la. O caminho era macio, desgastado
por milhares de anos de pisadas. Ele levava para um caramanchão de uvas silvestres e acima em direção
a Angelwood, um suave paraíso de tempo desacelerado. Urza e Barrin saíram do caminho, cortando

62
Invasion
através de um matagal de amoreiras. Adiante, eles se aproximaram de uma brilhante muralha branca.
Ela cintilava brilhante, uma barreira de energia. Na prega mais brilhante daquela cortina, os
comandantes Metathran esperavam. Lá, quase não havia existência.
Os olhos de pedras preciosas de Urza ficaram negros. Ele podia moldar e colorir seu corpo de
qualquer maneira que ele quisesse. Para Barrin, proteções eram um pouco mais elaboradas. Ele mexeu
uma mão ao redor dele mesmo, evocando um manto de escuridão que se afundou dentro dos olhos e da
pele. Ele parecia um homem da meia-noite, suas roupas personificando o vazio.
Os dois caminharam, lado a lado, para pararem perante o lugar mais iluminado. Através de uma
visão enegrecida, eles podiam apenas vislumbrar duas cápsulas brancas dentro do brilho. Cada uma
tinha dez pés de altura e seis pés largura, um sarcófago vivo que protegeu os comandantes de um século
de luz solar. Cargas explosivas destruiriam as portas da cápsula - e os homens presos a elas - trazendo-
os de volta ao fluxo de tempo principal.
Urza permaneceu de um lado, e Barrin do outro lado. Seria morte certa permanecer diretamente em
frente às essas cápsulas quando as cargas explodissem.
“Você está pronto?” Barrin perguntou.
“Solte os comandantes.”
Foi um feitiço simples, sem gestos, sem palavras, sem componentes para serem cronometrados. Tais
efeitos teriam sido estancados dentro da cortina do tempo. Ao invés disso, o feitiço foi tão rápido
quanto um pensamento, e tão imediato quanto um reconhecimento.
Ferrolhos explodiram. Eles superaram as portas numa radiação que brilhava mais do que o sol.
Dentro da fenda temporal, a rajada foi instantânea, mas no fluxo de tempo normal, a rajada se espalharia
através do ar como alvejante se espalharia num pano. Ela formou uma auréola brilhante por cima dos
caixões. As portas soltaram suas armações. As brechas haviam sido arrombadas. Grossas chapas de aço
apareceram. As figuras presas às portas surgiram. Enormes e cobertos de fogo, Thaddeus e Agnate
foram lançados, as faces pressionadas contra a acolchoada porta interior. Os Metathran tinham dois
metros e quarenta de altura, pele azulada, e músculos poderosos. Eles pareciam demônios furiosos
quando rugiram fora da cortina do tempo.
A primeira porta atravessou o campo temporal. Sua face metálica explodiu a zona e dragou o tempo
normal em vórtices ao redor dela. A porta trouxe com ela o ensurdecedor estrondo da explosão. Então
veio o estrépito do campo temporal se fechando, água após um mergulho. Com a mesma ferocidade, a
segunda porta se chocou com a muralha temporal. Vastas energias colidiram contra e reentrada. Isto foi
projetado, para que as portas não voassem por quilômetros, matando seus projetores. Bem além da
cortina do tempo, as portas caíram lado a lado. Elas acertaram o chão num par de terríveis baques.
Vapor e fumaça chiaram em círculos ao redor delas, momentaneamente escondendo seus ocupantes.
Barrin conjurou um segundo feitiço. Ventos saltaram de seus dedos, correndo por baixo dos pedaços
fumegantes de metal, e lentamente erguendo-os no ar. O feitiço afastou as portas da voraz cortina do
tempo. O ar veio puxando e cortando através do matagal de amoreiras, e seus ocupantes saíram para
descansar no caminho para Angelwood.
Barrin e Urza seguiram em frente. Enquanto eles iam, eles desfizeram suas proteções ebâneas que
tinham feito. Enquanto eles estavam no caminho, eles recuperaram seus comuns aspectos. A grinalda de
fumaça se dissipou, revelando os dois comandantes que liderariam os exércitos de Dominaria.
Eles eram gigantes. Cada comandante pesava cento e trinta e cinco quilos de músculos e ossos. Sim,
eles eram humanos, mas somente um pouco. Suas caixas torácicas eram tão fortes quanto às de
rinocerontes, seus braços tão poderosos quanto o de gorilas, suas pernas tão fortes quanto de cavalos.
Eles não possuíam somente corpo. Estes dois eram mentes brilhantes, treinados em cada estratégia de
guerra, apuradas desde o começo para sua tarefa.
Thaddeus se levantou primeiro. As cintas que o prendiam contra a explosão da porta não eram
páreas para seus braços flexíveis. Elas estalaram, açoitando o caminho rochoso. Levantando-se do
estofamento, o grande gladiador se ergueu. Duas vezes mais alto do que a maioria dos homens, ele

63
Invasion
parecia maior por causa do cabelo branco prateado que parecia como uma chama em cima de sua
cabeça. Emblemas Thran estavam tatuados em sua face e testa, anunciando seu nome e geração. Ombros
azuis com armaduras se ergueram sobre Barrin. Olhos brilhantes olhavam por baixo de uma testa que se
sobressaia.
“A invasão começou?” Thaddeus perguntou com sua voz tão profunda quanto o rugido de um
urso.
“Sim,” Urza respondeu simplesmente.
Thaddeus assentiu em compreensão. Seu maxilar se mexeu. “Meus exércitos estão prontos?”
“Sim,” Urza repetiu.
Os olhos do comandante se direcionaram para onde Barrin se ajoelhou ao lado da outra porta. “E
Agnate?”
O Mago Mestre ergueu sua cabeça, retirando sua mão do pescoço do homem. “Ele não está
respirando. Não há batimento cardíaco. Talvez a explosão fosse muito...”
Thaddeus caminhou em direção. Com dois passos ele chegou lá. Com seus pés ele trouxe a porta
abaixo, e com suas mãos ele soltou as cintas. Com o mesmo movimento rápido ele libertou seu sósia e o
deitou sobre a rocha. Thaddeus socou com seu punho pesadamente no peitoral do homem.
O corpo de Agnate se balançou com o assalto, mas ele não se movia.
Thaddeus respirou fundo e forçou o ar para dentro da boca aberta de Agnate.
“Ele deve viver,” o gigantesco homem grunhiu enquanto acertava o peito de Agnate outra vez. A
não ser pela rajada, não havia vida nele.
“Que estranho,” Urza meditou, contemplando a cena. Realmente era estranho. A musculatura de
Agnate era perfeita, sua figura era o resultado de oitocentos anos de pesquisa. Ele parecia uma escultura,
impecável, mas fria. “Se passaram apenas alguns minutos desde que ele foi colocado naquela cápsula. O
que poderia tê-lo matado?”
“O choque da explosão pode tê-lo feito,” Barrin disse, se ajoelhando ao lado da figura sem vida
enquanto Thaddeus trabalhava. “Ou talvez a cápsula falhasse e os raios solares -”
“Nós poderíamos confiar os dois exércitos para um comandante,” Urza pensou alto.
Thaddeus se ergueu. “Eu não posso lutar sem ele. Todo o nosso treinamento... não, mais do que
isso... nossas vidas –“ ele golpeou o peitoral outra vez - “nós compartilhamos a mesma carne, a mesma
mente. Nós somos geneticamente idênticos. Nós pensamos os pensamentos do outro. Eu não posso lutar
sem ele.” Ele lançou outra rajada para dentro dos pulmões dele.
“Estou vendo uma falha em seu projeto,” Barrin disse para Urza.
Agnate de repente se contraiu, era como se seu espírito tivesse pulado de volta para seu corpo. Ele
arfou e pressionou sua mão sobre o pulso de Thaddeus. Os olhos de Agnate se abriram, aqueles mesmo
olhos azuis. Uma consciência os encheu e a percepção do momento.
Ele se sentou. Thaddeus o colocou de pé.
“A invasão começou,” Agnate presumiu.
Olhando atentamente para os olhos de seu sósia, Thaddeus maneou a cabeça e sorriu. “Sim.”
“Nossos exércitos esperam por nós?”
“Sim.”
Urza deu um olhar conhecido para Barrin. “O que você estava dizendo sobre falha?”
Barrin encolheu os ombros. “Eles não tem que lutar sozinhos agora, mas e daqui a uma semana? Um
mês? Um ano? Talvez eles tenham.”
“Talvez você tenha que lutar sem mim,” Urza respondeu, “ou eu sem você.”
Agnate se virou, se curvando rapidamente para Urza. “Mestre Malzra, por onde nossa batalha se
estenderá?”
“Um deserto, um lugar perfeito para posicionar tropas. Eu mesmo uma vez lutei lá. Todo mundo
uma vez já lutou lá. Nós enfrentaremos as tropas terrestres Phyrexianas para tomar de volta as Cavernas
de Koilos.”

64
Invasion
*****

Tsabo Tavoc chegou a Koilos.


Ela virou-se dentro da sua própria cabine de pilotagem em sua embarcação pessoal. A aeronave foi
projetada por ela mesma - uma embarcação para somente uma pessoa equipada com arreios aéreos que
permitiam a ela acesso as powerstones de controle com todas as suas oito pernas mecânicas e com ambos
os seus braços humanos. Ela voava mais rápida do que qualquer outra embarcação Phyrexiana, possuía
mais armadura, e possuía um canhão de raios em cada uma das suas pernas. Seu corpo principal era a
cabine da mulher aranha. O resto era um núcleo de unidade e metais mortíferos. Quando ela liderou a
armada aérea, a embarcação arreganhou o cruzador de comando, substituindo o passadiço tradicional.
Tsabo Tavoc substituiu a tripulação tradicional.
Apesar disso ela aterrissou sem sua armada. Eles estavam ocupados caçando os últimos vermes de
Benália. Eles não precisavam mais dela, pois sua vitória foi completa. Seu mestre estava satisfeito. Os
outros comandantes ainda estavam envoltos em combates em Yavimaya e Shiv, em Jamuraa e Keld. Eles
nem tinham encontrado Tolaria ainda. Benália foi a primeira grande vitória nesta precoce guerra, e
Tsabo Tavoc foi feita a segunda em comando em toda a invasão. Seu mestre foi sábio em promovê-la, e
mais sábio ainda em enviá-la para longe dele. Viúvas negras tinham uma maneira de devorar seus
companheiros.
Logo Koilos também seria de Tsabo Tavoc. Ela permaneceria perante seu mestre e ascenderia ao
trono. Então ela conquistaria até mesmo Lorde Crovax.
A embarcação saltou levemente por cima de um riacho do deserto e mergulhou dentro de uma
oblíqua escuridão do outro lado. As pernas de Tsabo Tavoc se mexeram com precisão dentro da cabine
do piloto. O navio saltou com seu toque. Ele deslizou dentro da barriga de um terreno escuro, seguido
de um buraco ancião.
Ela sabia que este era um lugar histórico. Ele tinha sido chamado uma vez de, Desfiladeiro
Megheddon, a rota mais certa por terra para a cidade Thran de Halcyon. Abaixo deste buraco, quando
ele foi um vale estreito, os Thran marcharam em sua guerra contra os Phyrexianos. Eles tinham sido
absolutamente destruídos nessa guerra, graças a grande sabedoria do Inefável. De alguma forma, eles
conseguiram expulsá-lo de seu mundo, de Dominaria.
A embarcação de Tsabo Tavoc subiu por penhascos exorbitantes para dentro das vastas, e planas
planícies de Koilos. Um distante afloramento apareceu no horizonte.
Foi tudo o que sobrou da outrora imponente expulsão que Halcyon tinha presenciado. As cavernas
que afloravam abaixo foram chamadas de Cavernas dos Malditos, possuíam um portal permanente para
Phyrexia. Esse foi o portal que foi fechado para o Inefável quando ele foi banido de Dominaria seis mil
anos atrás. Esse era o portal aberta outra vez por Urza e seu irmão Mishra no inicio da Guerra dos
Irmãos há quatro mil anos. Ele foi fechado outra vez pela traidora Xantcha e permaneceu assim, o
Inefável assim o quis, até que a invasão começasse. Agora o portal estava amplamente aberto, o único
portal terrestre na guerra. Ele pertencia a Tsabo Tavoc.
Ela tinha que mantê-lo aberto, para trazer através da vasta terra exércitos oriundos da primeira
esfera de Phyrexia. Mais importante, ela estava para enfrentar Urza, o Planinauta, o qual
inevitavelmente traria suas forças para fechar o portal.
Com algumas pancadas finais de suas farpadas pernas, Tsabo Tavoc enviou sua embarcação
gritante por cima das cavernas de Koilos. Uma bela visão se abriu perante ela. Grupos sobre grupos
esperavam por sua chegada - tropas Phyrexianas, bruxas mecânicas, dragões mecânicos,
neutralizadores, gargantuas, tropas de choque, sacerdotes do tonel, caranguejos de areia, raptores... Cem
mil deles, eles encheram o deserto com uma colheita espinhosa que se espalhavam pelo horizonte.
Enquanto a embarcação de Tsabo Tavoc sobrevoava por cima, eles a receberam com um terrível
guincho de alegria. A líder deles havia chegado sua grande mãe. “Tsabo Tavoc!”
65
Invasion
CAPÍTULO 14

ESTRANHOS SALVADORES

Na hora mais sombria de Yavimaya, Multani visitou um lugar sem luz. O Coração de Yavimaya era
o mais antigo e a maior Magnigote da floresta, uma árvore de cinco mil pés de altura. Seu bulbo raiz
cobria as copas próximas. Folhagens se espalhavam em quatro vastas plataformas sobre seu tronco
distribuidor. A coroa da árvore era enorme, uma elevada floresta em seu próprio direito. Normalmente
este era um lugar perene e de luz sagrada, mas não agora. O Coração de Yavimaya agora era um campo
de batalha devastado.
Por dois dias, transportes de tropas Phyrexianas pairaram sobre as copas. Por linhas que pareciam
teias, os monstros deslizaram. Eles desciam de suas cordas em cima do Coração de Yavimaya.
Era um lugar sagrado, tão largo quanto uma cidade. Em tempos antigos, Multani cortou um pedaço
do núcleo da árvore, presenteando Urza o Planinauta. Daquela cunha da árvore cresceu o casco do
grande navio de Urza, Bons Ventos. Nenhuma criatura pensante ousava viver no Coração de Yavimaya -
nem elfo nem fada nem druida.
Aquela casca, tão sagrada para os pés de um vidente, foi profanada pelas garras dos Phyrexianos.
Cada galho se tornou uma estrada para o exército demoníaco. Phyrexianos empestearam-no, sujeitando
cada fibra da coroa com o peso negro deles. Eles arrancavam as folhas. Eles removiam as gavinhas
verdes. Eles lançaram estacas mortíferas dentro da madeira viva. Enquanto eles lutavam por toda a
floresta, os Phyrexianos transformavam vida em morte-vida.
Perder esta árvore - a árvore mais sagrada - seria perder tudo.
Nenhum defensor pensante residia no Coração de Yavimaya, então a árvore defendeu-se. Ela
transformou as estacas dentro dela, infundindo-a com antigo poder verde. As flechas mortíferas
ganharam vida. Preto e verde se misturaram e se combinaram. As estacas que haviam sido cravadas nos
vastos galhos da árvore de repente foram lançadas. Cada estaca era tão afiada quanto uma lança, tão
resistente quanto um arpão. Elas se lançaram através dos Phyrexianos que estavam acima. A madeira do
ébano empalou os monstros. Os primeiros a morrer foram aqueles que estavam sentados acima ou
aqueles que espalharam as estacas. Os próximos a morrer foi todo o restante. As estacas cresciam
violentamente. Eles sobressaiam da parte saudável da árvore. Uma vez que os segredos da morte foram
aprendidos pelo Coração de Yavimaya, eles foram sussurrados através de cada grão.
A cidade Phyrexiana se tornou de repente numa necrópole.
Vitória.
Multani caminhou no campo de batalha entre as bestas que se contorciam. Nenhum Phyrexiano
permaneceu livre. Até o último deles havia sido espetado. Eles se dependuravam acima. Seu sangue
oleoso escorria quieto e dourado através da plataforma. Pernas farpadas tirlintavam em agonia. Garras
apertavam o ar.
Multani caminhou para frente. Ele se aproximou de uma perna que parecia humana, o pé
transpassado de um que uma vez fora homem. Acima da anca da criatura estava o desgrenhado corpo
de um carneiro. Ao invés de pelo, embora, a coisa estava coberta de espinhos que gotejavam veneno
como suor. O torso bestial do monstro parecia estranho acima destas fortes pernas humanas.
Multani o alcançou-o, lançando sua mão fibrosa nos pés despedaçados. Através da carne febril, sua
mente tocou a mente dele.
Ele teve a visão de outro lugar. A besta olhava com horror através de um diferente campo de morte.
Ele não viu copas, mas um convoluto resvalar de um chão negro e vermelho, como músculos que jaziam
expostos. Os céus pareciam um reflexo do chão - uma massa escarlate de energia que turbilhonava.
Entre o chão e o céu pendiam dez mil empalados. Eles não eram Phyrexianos. Eles eram homens, e

66
Invasion
mulheres, e crianças. Os Phyrexianos que estavam lá caminhavam entre o povo moribundo. Entre eles
estava sentado um insano. Ele sorria e sorveu de uma delicada taça e cantava canções para ele mesmo.
Da mente do Phyrexiano, Multani arrancou o nome deste terrível mundo – Rath - e o nome do louco
- Crovax.
Este era o inimigo deles. Este era o homem, o monstro, que tinha reunido os exércitos da invasão.
Crovax tinha assassinado dez mil homens e elfos em seu próprio mundo. Por eles, o Coração de
Yavimaya tinha exigido vingança.
Multani soltou o pé da besta moribunda. Sua mente perdeu o contato. A cena de horror em Rath
havia dado lugar à cena de horror em Yavimaya. Havia pouca diferença. O Coração de Yavimaya tinha
se tornado tão infernal quanto uma encosta em Rath. A vida havia aprendido os truques da morte.
“Talvez isto seja o que deve acontecer,” Multani divagou sombriamente consigo mesmo. “Talvez
para derrotar estes inimigos tenhamos que nos tornar como eles.” Que vitória era essa? Uma vez que
eles tenham se tornado como seus inimigos, os Phyrexianos realmente teriam vencido.
Uma grande tristeza inundou Multani. O Coração de Yavimaya estava terrivelmente desfigurado.
Tudo o que era verde foi retalhado. Tudo o que era macio se transformou em espinhos. A coroa da
árvore mais sagrada de Yavimaya se transformou num cemitério.
Sentindo-se fraco, Multani se ajoelhou. Sua mão em forma de vinhas adentrou a casca torturada. Sua
mente correu para dentro, através das fibras. Ele sentiu a agonia da árvore. Cada espinho que havia
crescido violentamente para fora também cresceu violentamente para dentro. Quando a vida verde se
aliou com a morte negra, ela criou um câncer que degenerou a carne viva. O Coração de Yavimaya
estava morrendo, empalado pelos mesmos espinhos que mataram seus inimigos.
Multani cambaleou.
Derrota.
O Coração de Yavimaya estava morrendo. Ele estava se tornando Phyrexiano. A floresta não podia
ser salva.
Géia ouça-me. Para derrotar estes monstros, nós nos tornamos monstros como eles. A floresta está perdida,
assassinada como a antiga Argoth, de madeira viva tornou-se morta.
Géia não falou com ele, mas ele sentia que ela também estava morrendo.
Isso encheu Multani com um novo sentimento: fúria. Yavimaya e Géia seriam salvas por ele se elas
fossem salvas em tudo.
Multani ajuntou uma fúria vermelha. Ele tinha se aliado ao vermelho antes - com raio e fogo, com os
lagartos Kavu e lava. Eles não tinham destruído a floresta. Eles tinham se moldado ao poder da vida.
Ah, lá – lá estava a grande diferença. O Coração de Yavimaya tinha se adaptado ao poder da morte.
Ao invés disso, ela tinha transformado seus inimigos com o poder da vida.
Multani sorriu. As raízes aéreas que formavam seus dentes eram um emaranhado medonho. Ele
sabia o que ele devia fazer para salvar a floresta.
Fechando seus olhos cardo-flor, Multani afundou na casca. Seus dedos se entrelaçaram
profundamente adentrando as fissuras. Sua mente seguiu adentro da madeira agonizante. Ele derreteu.
Seu corpo de vinhas se transformou num lamaçal do lado de fora do enorme galho.
A dor se espalhou por Multani. Ela podia tê-lo matado se não fosse pelo fato de ele ter escoado o
poder dela. Ele usou a agonia para alcançar a coroa cancerígena dentro do imemorial tronco. Multani
desceu feito uma cascata no tronco. Ele levou a fúria com ele. Cinco mil pés abaixo, ele alcançou as raízes
e espalhou mais dela. Através de centenas de árvores que circundavam esta floresta gigante, ele foi -
através de milhares que tocavam acima dele, e milhões adiante. Para cada um, ele conduziu sua fúria
pela morte do Coração de Yavimaya.
Eles os invocou, a vasta e interminável floresta. Ele os invocou.
Vamos ensinar a estes monstros negros o caminho da vida, ele disse a eles. Deixe que a morte seja engolida
pela vitória!

67
Invasion
A floresta despertou ao seu chamado. Os espíritos de dentro de cada árvore tomaram a fúria dele
para eles mesmos. Almas anciãs se agitaram pela primeira vez desde que Urza o Planinauta fora
aprisionado dentro delas. Uma gigantesca força nascente - a própria floresta - despertou. Yavimaya
sempre foi sensível, mas agora ela estava acordando. Pequenas folhas de desejo se uniram. Surtos
individuais de energia se ajuntaram numa única coluna de força verde.
O lócus daquele ciclone de mana era o próprio Coração de Yavimaya. Sua madeira lampejava
florescente. Sua casca brilhava com energia que permeava os vincos. Energias verdes rodopiavam
através da árvore agonizante. A madeira apodrecida despertou para uma nova vida. Partes que estavam
perdidas pelo tempo se renovaram. O surto de força brotou da árvore, explodindo dentro da coroa de
espinhos.
A força verde emanou através dos espinhos que estavam cravados. Ela inundou os talos e lavou
toda a escuridão. A magia pressionou cada canto, cada tecido. Nenhum lugar permaneceu corrompido.
Os espinhos se tornaram saudáveis e completos.
Multani rugiu para o Coração de Yavimaya, feliz pela sua salvação. O que ele sentiu nos próximos
momentos, embora, estava além dos seus sonhos.
O poder não cessou nas pontas daqueles espinhos. Ele fluiu para as criaturas que estavam
empaladas lá. Através do óleo brilhante e da linfa ácida, ela passou. Bem no momento em que a alma da
floresta avivava outra vez a madeira morta, ela animou os monstros que estavam presos lá. Eles se
contorceram. Eles soltaram rugidos medonhos. A floresta ainda não tinha terminado com eles. Ela
formou paredes celulares. Ela engrossou o óleo brilhante em seiva. Ossos se transformaram em
durâmen. Músculos ficaram rápidos. Pele se transformou em casca. Os guerreiros de Phyrexia
lentamente se transformaram em bestas de madeira.
A floresta estava convertendo seus inimigos.
Um a um, um novo exército de guerreiros de madeira saiu dos espinhos que anteriormente os
empalará. Eles desceram. Até o último deles agora era feito de madeira. Era como se Multani trouxesse a
existência um exército de seu próprio rebento.
A necrópole Phyrexiana se transformou numa verdadeira cidade.
O Coração de Yavimaya foi salvo.
Da corrupção, uma raça sagrada nasceu.
Multani se levantou. Ele se ajuntou das folhas descascadas e galhos despojados. Um feixe de
trepadeiras encheu seu torso. O poder que ele tinha ajuntado emanava em cada folha. Sua aura atraiu a
ele grandes massas de folhagens. Multani ficou gigante. Ele se elevou acima dos guerreiros de madeira,
que permaneciam lá, vigilantes ao lado dos espinhos que uma vez os matará.
O homem gigante se ajoelhou, pondo sua mão em um dos guerreiros. Sua consciência saltou para
dentro do homem de madeira. Ainda havia o fanatismo Phyrexiano aqui e a vontade de lutar, mas isso
foi tudo o que sobrou. Esta criatura se tornou uma filha do bosque, um lócus do espírito e vontade de
Yavimaya.
Multani se retirou. Ele inspecionou os outros, um exército sagrado. “Vocês uma vez foram os
condenados. Uma vez vocês foram Phyrexianos. Não mais. Agora vocês são nascidos de Yavimaya. A
floresta trouxe vocês da morte para a vida. Ele que trouxe vocês à vida não é mais o seu pai. Ela que
trouxe vocês a um segundo nascimento, ela é sua verdadeira mãe. Para vocês, Yawgmoth não é mais, e
Géia é tudo.”
Milhares de punhos cerrados - feitos de vigorosas cascas - se ergueram em direção ao céu com um
grito. “Géia.”
“Lutem por ela agora. Enfrentem o mau que uma vez vocês foram, para salvar o bom em que vocês
se tornaram, Lutem por Géia!”
“Géia!”

68
Invasion
*****
Phyrexianos estavam em grandes quantidades no reino élfico de Civimore. Eles estavam em
grandes quantidades em todo lugar. Os grandes lagartos Kavu engordavam com a carne dos demônios.
Os Phyrexianos estavam em tão grandes quantidades que uma besta não podia bocejar sem que um
caísse sobre ela.
O rei, obviamente, estava morto. Metade dos súditos dele também estavam mortos. A outra metade
fez o que pôde para se esconder. Ocasionalmente eles atacaram para morrer, gritando juramentos para
seus amores e mães - melhor do que morrer com pleitos poltrões. Isso era uma coisa que a floresta não
faria. Ela morreria, mas não imploraria pela vida dela.
Não havia sinal de término. Ou esses diabos de crânios cinza herdariam Yavimaya, ou estes lagartos
de escamas vermelhas herdariam. Enquanto para povo da floresta - elfos e símios, druidas e homens-
verdes - eles eram meramente deslocados para a base da cadeia alimentar. Morte desceu sobre cada um,
extinção para todos eles.
O que eram estas novas bestas? Eles encheram o tronco e se conectaram através da coroa. Mais
Phyrexianos? Eles pareciam com eles, com suas frontes cheias de espinhos e ombros pontiagudos por
chifres. Por que, então, eles caíram sobre sua própria raça? Por que aquelas garras por baixo da carapaça
foram substituídas por raízes?
Os Phyrexianos foram atacados. Eles investiram contra seus aparentes irmãos. Presas se lançaram
sobre cabeças, mas elas não podiam morder mais do que elas tivessem mordido uma árvore. Ferrões
golpearam barrigas e espalharam seu veneno impotente na superfície. Garras fizeram pouco mais do
que arranhões na endurecida pele das bestas. Omissos, os guerreiros de madeira mataram seus irmãos.
Então, o que eram aquelas estranhas coisas? Por fora eles pareciam Phyrexianos, mas por dentro
eram filhos da floresta. Eles lutaram como asseclas da morte, mas eles lutaram pelos asseclas da vida.
Grinaldas entrelaçavam seus crânios nodosos. Os ramos saíam por entre suas garras. Havia até mesmo
pequenos bagos aqui e ali - bagos doces que explodiam dentro da boca dos Phyrexianos quando eles
pensavam em experimentar cérebros. Mortíferos e doces, tenros erigidos - estes realmente eram
estranhos salvadores.
E o que era aquela gigantesca montanha instável no meio deles? Ela fora menor, podia parecer com
Multani, mas esta coisa era colossal! Ela pisoteou Phyrexianos as dezenas. Ela bateu neles as centenas.
Ela os destruiu aos milhares.
Vitória?
Podia ser que a floresta não morresse e que ela matasse os assassinos? Quem poderia ser agradecido
por tal vitória?
Não havia nome algum para estas bestas loucas. Tais coisas não tinham sido vistas no mundo desde
que os Phyrexianos partiram há seis milênios. A única palavra próxima que veio para descrever estes
estranhos monstros era o nome que eles cantavam baixo em todos os seus lábios de vinhas.
“Géia.”

69
Invasion
CAPÍTULO 15

DESTINOS SOMBRIOS

Gerrard estava no convés do Bons Ventos. O navio subiu ao longo dos portos Benalianos através de
enroscados canais de nuvens. Erguendo sua luneta ele olhou a frente.
Outros navios estavam aqui, estranhos e pequenos navios - os remanescentes de quaisquer defesas
aéreas antigas que Benália um dia teve. Eles foram atraídos para o Bons Ventos como patinhos para sua
mãe. Gerrard não tinha conhecimento de que havia outros navios voadores em Dominaria. Ele quase
teve o primeiro navio bombardeado antes que ele fizesse o símbolo dos Setes Clãs. Então mais vieram.
Enquanto o Bons Ventos cruzava Benália, fugindo com seu exército de refugiados da armada
Phyrexiana, ele reuniu esta frota de irregulares. Muitos dos outros navios eram pequenos, combatentes
para apenas uma pessoa. Uns poucos possuíam tripulação. E alguns raros possuíam espaço suficiente
para levar alguns da brigada da prisão. Um sorriso sem graça iluminou o rosto de Gerrard. Quem teria
pensado que ele se tornaria o comandante de uma armada aérea, líder de um pequeno exército, defensor
de Benália, exterminador de mulheres aranha? Sem tentar, ele se tornaria o que todo mundo queria que
ele se tornasse. Eles não queriam um santo. Eles queriam um guerreiro honesto - alguém que visse o mal
e tentasse dar o seu melhor para combatê-lo.
Mesmo assim, seu melhor não tinha sido suficiente para Benália. Tsabo Tavoc tinha subjugado-a.
Algumas vezes, o melhor de um guerreiro não era o suficiente.
“Talvez tivesse sido melhor ser um salvador infalível,” Gerrard divagou sombriamente, “expulsar
demônios e curar doenças-” Uma pontada de culpa atravessou-o. Curar os doentes...
Afastando-se de sua armada desordenada, Gerrard prendeu sua luneta no cinto, caminhou para a
escotilha, e desceu as escadas que desciam. Os motores do Bons Ventos faziam um zunido através da
madeira ao redor. As lanternas no salão reluziam vívidas sobre os guerreiros adormecidos. Gerrard
passou por eles em direção à porta que irradiava luz para o corredor. Abaixando sua cabeça, ele
caminhou para a ala dos doentes.
Ela estava sobrecarregada. Nos beliches e nas esteiras jaziam cidadãos lesionadas na batalha da
prisão. Estes eram os piores casos - amputações, traumatismos cranianos, feridas purulentas, lacerações,
contusões múltiplas. Outros, uns soldados enfermos dormiam em cima de caixas no porão. Orim voltou-
se e andou entre os vinte e poucos pacientes, dando toda ajuda que ela podia. Muitos estavam
inconscientes, ou por causa da agonia ou pelos soporíficos. Gerrard caminhou direto através da ala dos
doentes para um único beliche.
“Hanna,” ele respirou, segurando a mão dela e retirando os cabelos da sua face suada. “O
sangramento parou?”
Ela olhou para ele com uma nuvem de dor. “Eu não estou certo. Sim. Orim o enfaixou com força.”
Ela tentou sentar-se. “Eu não devia estar num destes beliches -”
“Deite-se,” Gerrard falou, aliviando-a. “Orim não pode cuidar de você a menos que você esteja aqui.
Você está aqui por causa dela e não por sua causa.”
“Eu devia estar navegando.”
“Não,” Gerrard insistiu. “Sisay pode fazê-lo. E além do mais, nós não transplanaremos. Nós
perderíamos nossa armada.” Ele deu uma pequena risada. “Sobre isso, nós não estamos exatamente
certos sobre onde devemos ir. Eu estava contando com os conselhos do velho, mas ninguém consegue
encontrá-lo. Ele provavelmente esgueirou-se para algum lugar. Nós podemos usar o tempo para
descansar, todos nós - um pequeno velejo antes da próxima batalha.”
Hanna se contorceu num espasmo de dor. Ela apertou seu estômago.
Gerrard segurou sua mão, olhando para as pálpebras cerradas. “Orim! Aqui, alguma coisa está
acontecendo.”

70
Invasion
Orim olhou para o homem que ela estava cuidando, uma dupla amputação nos joelhos. Os olhos
dela estavam sombriamente decididos por baixo do turbante que ela vestia. Em seu cabelo preso,
moedas Cho-Arrim brilhavam. Apertando uma fita sobre os dois torniquetes, Orim passou pela lotada
ala dos doentes.
Ela deu a Gerrard um sorriso de desculpas. “Nós estamos fazendo nosso melhor. Não há espaço
suficiente, nem recursos suficientes -”
“Alguma coisa está errada,” Gerrard a interrompeu. Ele gesticulou para Hanna, se contorcendo na
cama. Seus olhos eram suplicantes.
Orim acenou com a cabeça e se ajoelhou ao lado da cama. “Ela tem feito isso nessa última hora. Eu
limpei a ferida e apliquei ópio. Eu temo dar a ela mais, para não envenená-la. Eu tentei cada feitiço e
meditação. Nem mesmo a magia Cho-Arrim e párea para esta praga.”
“Eu estou bem, sério,” Hanna falou através de dentes cerrados. Com um grande esforço ela se
endireitou. “Eu preciso voltar ao passadiço.”
“Deixe-me ver a ferida,” Gerrard disse.
“Não é nada,” Hanna interrompeu, “apenas um pouco de sangue, apenas uma pequena infecção.”
Orim ficou boquiaberta. “Eu vou colocar de volta a gaze. De qualquer forma é hora de checar a
ferida.”
Hanna concordou, lágrimas brotaram em seus olhos.
Com movimentos rápidos e profissionais, Orim retirou as roupas de cama, e expondo a seção do
meio do seu osso do quadril para a primeira costela. A bandagem mostrava um pequeno sorriso de
sangue. Além do pano, a pele de Hanna estava macia e rosada.
“Isso não parece tão mau,” Gerrard disse esperançosamente.
Orim puxou a gaze. Ela veio relutante. Sua urdidura e tecido agarravam a pele que descascava. Um
grande muco se soltou. Sangue carmesim e putrefação negra estavam misturados na faixa. Orim a
colocou de lado sobre uma bandeja de prata.
A feriada formou uma cavidade no estômago de Hanna. Talvez três centímetros de profundidade, a
infecção cravou paredes toscas através da pele e músculos. Uma membrana cinza e brilhante se esticava
através da base da ferida. A corrupção devorou sua carne abaixo, até o topo daquela membrana.
“Esse é o peritônio,” Orim disse. “Ele protege os órgãos dela. Se a doença se espalhar, além disso -”
“Nós temos que pará-lo,” Gerrard murmurou intensivamente. “Você não pode cortar a carne
infectada?”
Orim balançou a cabeça. “É por isso que ficou tão grande - eu cortei a putrefação, mas ela retornou.
As raízes da infecção são muito longas. Veja” Ela tirou mais da roupa. Por baixo da pele rosada de
Hanna, gavinhas cinzentas de corrupção se espalhavam por fora, até o pescoço, ao redor da espinha, e
por baixo da espinha.
“Nós temos que pará-la. Você tem que encontrar a cura.”
“Sim,” Orim respondeu quietamente, enrolando a ferida. “Sim, eu sei.”
“Muito bem,” Hanna disse. “O show acabou. Eu ficarei bem. Orim é a melhor curandeira de
Dominaria. Ela –“ Ela parou, agarrando seu lado.
Gerrard retirou a mão dela e apertou com força. “Você está certa. Você ficará bem. Orim curará
você. Eu pedi a ela. Nós estamos destinados a ficar juntos.”
Hanna riu. “Você nunca soube para o que você estava destinado.”
Sorrindo, Gerrard acenou coma cabeça. “Você está certa. Mas eu sempre soube o que eu quis, e eu
sempre quis você.”
Enquanto ela terminava de enfaixar a ferida, Orim disse, “Gerrard sempre consegue o que ele quer.”
“Correto.”
Uma voz familiar veio através do duto de comunicação. “Orim, Gerrard está ai embaixo?”
Ele respondeu com uma leveza que ele não sentia, “Ah, a terceira deusa convoca. O que é Sisay?”
“É melhor você subir aqui. Alguma coisa está para acontecer.”

71
Invasion
“Já estou a caminho,” Gerrard respondeu. Ele se inclinou, beijando Hanna. “Durma um pouco.
Orim dará a você alguma coisa. Eu preciso que você descanse. Quando você acordar. Nós estaremos a
meio caminho da cura.” Virando-se, ele abriu caminho através da lotada ala dos doentes em direção ao
salão.
Além dos murmúrios dos doentes, o zunido dos motores do navio era onipresente. Era um som
reconfortante - um poder honesto. Perante aquele rugido, nenhum obstáculo parecia insuperável. Como
podia uma pequena doença resistir a tal poder?
Gerrard chegou ao convés e subiu o castelo de proa. Além da proa estava uma estranha visão.
Bem abaixo, acima das espumantes ondas, um cruzador Phyrexiano voava. Ele parecia uma ilha ao
invés de um navio, a não ser pela velocidade. A massa negra do cruzador deixava o mar revolto em seu
rastro, ondas recuavam perante a força de suas enormes turbinas.
“O que eles estão fazendo tão baixo?” Tahngarth perguntou. Ele encostou-se na balaustrada.
Gerrard ergueu sua luneta, a estendeu, e olhou para baixo. “Parece que eles estão pescando.”
Junto do corrimão mais baixo do cruzador Phyrexiano estavam baterias de arpões. Tripulações
escamosas maneavam-nos. Eles trabalhavam diligentemente. Entalhes longos e brancos explodiam das
armas, pareciam serpentear no ar enquanto eles desciam em direção ao mar. Eles deslizavam na água
com movimentos de mergulho. Por baixo da superfície vítrea, eles surgiram. Quatro disparos brancos
convergiram sobre um cardume de golfinhos que fugiam.
“Dessa forma que os Phyrexianos matam golfinhos,” Tahngarth chiou.
Gerrard balançou sua cabeça cruelmente. “Assim os Phyrexianos matam tritões.”
Através de sua luneta ele viu. Os arpões abaixo rasgavam adentro das ondulantes nadadeiras dos
tritões que fugiam. Estes disparos pareciam que de alguma forma eram teleguiados. Cada um deles
atravessava diretamente a espinha da criatura. Toda vida fugia dos corpos. Os corpos arpoados
flutuaram na superfície e ficaram a toa sobre as ondas. O cruzador se dirigiu, bem acima deles, sem
aparente tentativa de recuperar os mortos.
“O que eles estão fazendo?” Tahngarth bufou “Eles não desperdiçariam um cruzador inteiro apenas
para pescar, desperdiçariam?”
“Esses não são arpões normais.”
Gerrard apontou a luneta para a tripulação que estava nas armas. O que quer que estivessem
carregando naqueles lançadores se retorcia como serpentes - serpentes não, centopeias. Pernas longas e
finas se estendiam do corpo. Eles avidamente apertavam os braços da tripulação que os carregava. Um
atirador arrastou o punho para baixo do comprimento de uma centopeia achatando suas pernas contra
seu corpo ossudo e endireitando a besta inteira. O atirador então jogou a coisa dentro do lançador. Um
segundo depois, a centopeia voou do navio para dentro da água e acertou um tritão, cravando-se sobre
sua espinha.
“Implantes espinais,” Gerrard disse quando percebeu, “assim como aquele que Volrath usou para
controlar Greven. Eles estão matando os tritões e então -”
Antes que ele pudesse dizê-lo, a luneta percebeu o movimento entre os tritões mortos. Suas cabeças
estavam erguidas. Seus membros estavam horríveis. A coisa morta virou-se e olhou com veneração para
o vasto navio. Suas costas eram longas, feridas estavam onde a antiga espinha foi excluída. A carne
estava tão dilacerada e corrompida quanto o rasgo no estômago de Hanna.
“Oh, então é isso,” Gerrard cuspiu, fechando a luneta. Ele bateu no peito de Tahngarth. “Vamos
para as armas. Nós afundaremos aquele mata-tritão, fazedor de zumbis, bolha negra navio de escravos.”
Erguendo uma eloquente sobrancelha, Tahngarth disse, “Se você está dizendo.”
“Posições de batalha!” Gerrard berrou entre suas mãos em forma de concha. Falando pelo duto de
comunicação que fica ao lado do canhão de raios de bombordo, ele repetiu o comando, “Posições de
Batalhas! Sinalizar a frota. Nós desceremos e faremos uma instância de metralhas. Qualquer navio com
armas siga o Bons Ventos!”

72
Invasion
A voz de Sisay respondeu, “Sim, Comandante. Eu pensei que você teria alguma coisa a dizer sobre
isto. Quão perto você quer que passemos?”
“Perto o suficiente para podar os chifres deles,” Gerrard respondeu de volta enquanto ele se
amarrava atrás do canhão.
Tahngarth esfregou seus próprios chifres. “Assim está perto.”
“Empurre-os para o mar. Deixe-os enferrujarem abaixo das ondas. Que eles alimentem os tubarões.”
“Sim,” foi tudo o que Sisay disse.
O navio se armou incisivamente em direção. Sua proa mergulhou através nuvens brancas. O
cruzador negro apareceu bem à frente. O ar se espalhou pelas amuradas. O Bons Ventos afundou num
mergulho. Seus motores galgaram rastros de bobinas de vapor. As válvulas rugiam. Os aerofólios
estavam bem posicionados. O vento gritava perante sua extremidade aerodinâmica. Todo esse barulho
podia ter alertado os monstros abaixo, mas o navio arrebentou através do seu próprio som,
ultrapassando-o.
O Bons Ventos era um machado a frente descendo rapidamente para fender o enorme navio abaixo.
Ao lado dele e atrás dele estava a frota de irregulares. Até a última arma zuniu, liberando seu ataque.
O mar azul-esverdeado reluzia abaixo. O cruzador negro também. Sua saliência preenchia o mundo
inteiro. Somente quando cada arma estava preparada e cada conduto se iluminou através da horrível
coisa foi que Gerrard deu a ordem.
“Fogo!”
Rajadas vermelhas saltaram do seu canhão. Plasma golpeou contra a caixa dos motores, rachando
através da armadura e liberando gêiseres de enxofre. A arma de Tahngarth disparou duas vezes. O
primeiro ataque arregaçou uma seção inteira das muralhas. O segundo pintou o convés dos arpões com
fogo mortífero. Phyrexianos e suas malditas espinhas de centopeia se contorciam em agonia enquanto as
rajadas os reduziam a nada.
Os canhões da meia nau acrescentaram sua fúria à batalha. Rajadas vermelhas saíram de todos os
lados do Bons Ventos. Enquanto ele investia contra o cume inflamado do cruzador, até sua arma da
retaguarda veio à vida. Squee se agarrou lá com um júbilo selvagem. Ele liberou uma barragem de fúria
que despojou a resposta de fogo dos Phyrexianos. O resto da armada disparou também.
Explosões arruinaram o escudo exterior. Incêndios saltaram de dentro para fora.
“Subir!” Gerrard ordenou enquanto o Bons Ventos tomava a distância de um tiro da embarcação.
“Leve-o para o alto num giro reverso. Preparem-se para o segundo ataque.”
O navio se lançou em direção aos céus. Ele subiu com a mesma ávida velocidade com a qual ele
desceu. O resto da armada se lançou dentro da corrente de ar dele.
Gerrard olhou por cima da balaustrada. O cruzador estava repleto de destruição. Uma fumaça
escura subia do seu casco. Por todo ele, Phyrexianos jaziam mortos.
“Isso vai ensiná-los a não atacarem tritões indefesos!” Gerrard piou.
Sisay controlou o navio até o fim fazendo o rolar por cima, subindo-o tempo todo.
“Não tão indefesos quanto você pensa,” rugiu Tahngarth.
Gerrard olhou para baixo outra vez.
Enormes colunas de água se ergueram das profundezas. Elas cercaram o navio avariado,
excedendo-o. Os arcos de água se quebraram e caíram dos enormes ganchos e cabos grossos. Um lençol
de spray se lançou por cima, carregando uma enorme rede. Com uma força inimaginável, cada linha que
dificultava o cruzador ficou tensa. O navio lutou em vão para permanecer acima. A força debaixo era
muito grande. A proa da embarcação se espatifou nas ondas. Ele foi tragado com uma velocidade
sobrenatural. Raios dispararam através do cruzador quando as células de energia entraram em contato
com a água. Surtos de energia abriram mais fissuras no casco arruinado. A pressão dos mares alongou
essas fissuras. As explosões subaquáticas fizeram montanhas de água.
Nas profundezas do mar fervente, o cruzador afundou com todos abordo.
Gerrard olhava estupefato. Ele balbuciou, “Uh, c-cancele o próximo ataque.”

73
Invasion
Uma pesada mão caiu sobre seus ombros. A voz de Tahngarth ribombou. “Os mares podem tomar
conta de si mesmos.”
Balançando a cabeça entorpecida, Gerrard falou pelo duto de comunicação. “Capitã vamos manter
uma altitude elevada. Nós não vamos querer chegar muito perto daquelas redes.”
“Sim.”

74
Invasion
CAPÍTULO 16

UM HOMEM ESPERADO

Vitória.
Desde o Coração de Yavimaya até os mares havia vitória por toda a floresta. Elfos encheram as
coroas, suas canções se entrelaçando com ventos refrescantes. Fadas vagavam em enxames tão espessos
que eles pareciam candelabros de madeira iluminados. Druidas caminhavam por caminhos antigos entre
raízes profundas. Suas canções de alegria eram como zangões que reverberavam através de grutas
lacrimejantes. Por baixo deles, nas cavernas vulcânicas dos Túmulos de Mori, os lagartos Kavus
adormeciam. Eles se empanturraram de Phyrexianos e estariam saciados por anos.
Muitos Phyrexianos haviam encontrado seu fim nas barrigas dos Kavus ou dos leviatãs que
habitavam as águas profundas. Outros haviam sidos explodidos pelos feitiços dos druidas ou
despedaçados por enxames de fadas com lanças, ou arrombados pelas flechas dos elfos. Os restos deles
agora estavam sendo limpos da floresta. Os elfos cuidavam das piras que transformavam até o ultimo
dos monstros em cinzas. Ferretes flamejantes botavam fogo na podridão que crivou as magnigote. Anéis
de fumaça negra levavam o fedor do sangue oleoso dos Phyrexianos para longe das copas.
Yavimaya não perderia totalmente o gosto destas criaturas. Elfos e fadas naturalmente purgaram o
tanto de trevas que eles puderam, mas a floresta tinha propositalmente tomado parte do mal para ela
mesma. Yavimaya conseguiu um pouco de imunidade. Ela perfurou as memórias de Phyrexia e conhecia
suas fraquezas.
A batalha final havia sido conduzida por homens de madeira, o povo que uma vez havia sido
Phyrexiano. Eles combinaram o poder fanático de sua herança com a força paciente da floresta.
Defensores eternos. Uma vez que a batalha havia terminado, os homens de madeira se agarraram aos
vastos troncos da floresta. Eles se delongariam lá, imóveis por dias ou semanas. Eles respiravam por
uma abertura folhosa e se alimentavam somente de luz do sol e da chuva. Rebanhos de cabras arbóreas
passavam por eles despercebidos. Aranhas de madeira anexavam suas teias sobre suas cabeças nodosas.
Se algum Phyrexiano descesse para dentro da floresta, os homens de madeira despertariam para
assassinar.
Vitória. Multani podia respirá-la. Ele frequentemente requereu a Géia durante esta guerra, sempre
recebendo uma silenciosa, mas inegável resposta. Agora era tempo de louvores, não de petições. Multani
lançou sua mente para dentro da grande árvore onde ele se ajoelhou. Sua consciência se espalhou. A
identidade individual deu lugar à alma coletiva, ao arquétipo, a divindade. Ele formou um corpo da
floresta. Cada árvore era uma única fibra muscular, cada vinha um neurônio na vastidão, de
pensamentos de agradecimento. Antes disso o pensamento era pleno, embora, uma ideia se irrompeu.
Uma criatura perfeita caminhava sobre a terra. Ele não caminhava em Yavimaya, mas em outra
floresta antiga através do mar – Llanowar. Uma criatura perfeita, o espírito dela foi forjado numa grande
fornalha vermelha e foi temperado na guerra.
Multani nunca havia sentido tal criatura, nem em todos os bilhões de criaturas rastejantes de sua
floresta. Aqui estava um homem – um elfo – com a implacável perfeição de um sonho, mas ele era real.
Géia o que é esta visão errante?
Multani sabia que ele tinha de ficar parado e quieto, para sentir esta criatura em Llanowar através
do mar.
Entre os vigilantes espinhos-negro de Verdura, este ser perfeito apareceu pela primeira vez. Há um
mês, ele veio à existência do ar, arrastando o fedor dos espaços Phyrexianos. Da corrupção ele nasceu
incorruptível. Alto, com um cabelo longo e argênteo com numerosas tranças, olhos de aço, armadura de
aço, o elfo estava coberto de óleo brilhante e sangue. O pó o cobria. Ele caiu sobre seus joelhos. O escape
de sua antiga prisão foi desesperador.

75
Invasion
Eladamri era seu nome, chamado de Korvecdal em Rath – um unificador entre seu próprio povo.
Atrás dele veio uma mulher. Ela parecia que caminhava num canto invisível. Ela nasceu do mesmo
útero sombrio que ele, mas era humana. Com cabelos vermelhos flamejantes e músculos empilhados
sobre uma silhueta esguia, ela era uma criança das fornalhas Phyrexianas. O elfo a tinha salvado do
inferno que ela residia. O nome dela era Takara, prisioneira de Volrath, filha de Starke.
Do outro lado de Eladamri permanecia outra mulher. Tão fatigada quanto seus companheiros, ela
não se sentou. Uma mulher de guerra, ela manteve sua arma – uma lâmina e uma corrente chamada de
totem-vec – pronta no ar pulsante. Seus olhos e seus cabelos eram negros, seu rosto intenso, sua silhueta
uma coalizão tensa de músculos e ossos. Ela, também era uma órfã criada em Rath. Pais malévolos
fazem monstros de uns e heróis de outros. Esta aqui era uma heroína, Lin Sivvi era seu nome. Ela
guardaria seus companheiros até a morte.
Géia, estes não são um povo perfeito. Estes são heróis, verdade, mas não são divinos. Este Eladamri não é mais
puro do que um Kavu, gerado de folhas e chamas em igual mesura. Esta Takara está amargada pelo seu longo
aprisionamento. Esta Lin Sivvi – correntes e lâminas já são incontáveis em Dominaria. O que faz destes três
divinos?
Ele sabia que devia ficar quieto e parado e senti-los. Sobre Verdura eles marcharam. Eles
procuraram pela floresta – Llanowar. Os viajantes contaram a eles. Em cada vilarejo eles entraram, as
pessoas perguntavam a eles onde estiveram, como eles chegaram a Verdura. Eladamri contou sua
história, simples e certa. Ele os avisou do reino infernal que estava por vir, dos demônios que jorrariam
das nuvens de tempestades, e do cataclismo que dilaceraria Dominaria. No começo, ele parecia um tolo
desmiolado, vagando no pó com outras duas lunáticas.
Então boatos vieram de demônios descendo das nuvens sobre Benália e Yavimaya, sobre Zhalfir e
Shiv e Keld.
Os aldeões se ajuntaram a Eladamri. Se este homem tinha conhecimento dos monstros que estavam
por vir, certamente ele saberia como enfrentá-los. Eladamri realmente sabia. Ele disse a eles o que fazer,
como fazer flechas que perfurariam crânios encarapuçados, como misturar o óleo brilhante venenoso,
como apunhalar todos os corações dos vampiros. O povo escutou cada palavra. Quando ele disse que ele
não podia se delongar na estrada para Llanowar, eles entenderam que ele tinha uma missão messiânica
lá. Eles o seguiram. Eles o precederam. Batedores foram enviados para os reinos da floresta, contando as
glórias do elfo que estava vindo, o qual tinha erguido um exército pela estrada e enfrentaria os demônios
que viriam para destruir Llanowar.
Fhedusil, Rei de Staprion, enviou guerreiros da Lâmina de Aço para interceptar este homem e seu
exército. Tosados e tatuados, elfos se agacharam na cornija da floresta. Eles passaram pelos olhos-
vendados Freyalisanos, arqueiros observaram o homem que se aproximava.
Eladamri permaneceu inflexível. Suor brilhava sobre sua testa. Olhos faiscavam por baixo. Takara
permanecia ao seu lado direito, permitindo que um a um os peticionários se aproximassem do homem.
Lin Sivvi permanecia à esquerda, segurando o resto da multidão.
Os elfos da Lâmina de Aço emergiram da floresta para barrar o caminho. Eles foram imediatamente
cercados pela multidão de crentes. Isto é suficiente para amedrontar muitos homens, mas estes eram
elfos. No nome do Rei Fhedusil, eles ordenaram que Eladamri segurasse seu exército humano e os
mandasse de volta para Verdura. Seus seguidores ficaram indignados.
O próprio Eladamri não se indignou. Ele somente disse isso: “Que vocês possam sobreviver à praga
vindoura.” Ele se virou para partir.
Os Lâminas de Aço não o permitiram. Eles ordenaram no nome do Elfilar Staprion que Eladamri os
acompanhasse para ver o Rei Fhedusil, mas ele devia mandar de volta seu exército de humanos. Outra
vez, os seguidores de Eladamri ficaram indignados.
Outra vez, Eladamri não se indignou. Ele disse a seus seguidores, “Partam para defender seus lares.
Eu tenho meu próprio exército esperando aqui.” Ele apontou para as árvores, onde os guerreiros da
Lâmina de Aço se amontoavam em sua multidão, perscrutando através de seus óculos estilizados.

76
Invasion
Naquele momento, os sentidos de Multani viajaram para entre a multidão de elfos. Eles residiam
entre colunatas de imponentes árvores. Eles subiam em escadas em espiral que feriam os troncos ao
redor.
Acima, bem abaixo das orgulhosas coroas verdes, se espalhavam vilarejos e cidades de madeira,
com torres cônicas e largas praças curvadas, postos de vigias e cabanas acolhedoras. No centro estava o
exaltado palácio do Chefe Staprion.
“Eu devo partir também, Géia. Eu devo ver este salvador dos elfos.”
Se movimentar através do mundo era mais difícil do que se movimentar por Yavimaya. Em cada
limite da floresta, um oceano cobria a terra.
Multani saltava pelas ondas espumantes, cavalgando pelas correntes de pólen. A vida rarefeita
destes minúsculos esporos mal podia carregá-lo. Era um longo salto até a próxima aterrissagem.
Abaixo apareceu a grande selva de algas. Multani saltou para fora dos polens, evitando atravessar
as plantas. Suas folhas cobriam o topo das ondas, dez milhas de descanso salgado antes que ele surgisse
outra vez dentro dos polens nos ventos alísios.
Terra apareceu à frente, uma linha negra muito fina para ser água. Onde havia terra, havia verde.
Num pensamento Multani a alcançou. Ele mergulhou no topo dos bosques como uma criança num
monte de folhas.
Esta não era Llanowar. Estes bosques eram apenas matagais no limiar dos campos, quebra-ventos e
nada mais. Mesmo assim, Llanowar não estava distante. Um retalho de nogueiras, sumagres se
espalhavam através dos ondulantes campos. Multani saltou por eles. Ele se moveu com a velocidade das
ondas marulhantes. Além dos carvalhos e dos pinheiros, o qual levou por sua vez aos juníperos e aos
abetos. Llanowar pairava no horizonte. Multani estaria lá num momento.
Ele respirou outra vez. Estar entre estas árvores gigantes – este emaranhado de raiz, esta colunata e
coroa - ela parecia com sua própria Yavimaya. Magnigotes foram substituídas por cegonhas, Géia por
Freyalise, os vulcânicos Túmulos de Mori pelas Cavernas Oníricas, do contrário, está poderia ter sido
Yavimaya.
Exceto que Llanowar possuía seu próprio espírito. Reservado, refinado, reticente, a alma de
Llanowar encarou Multani através das folhas.
Perdoe-me esta intromissão, honrado Molimo – Por que você veio aqui, Multani de Yavimaya?– veio um
pensamento que era tanto uma acusação quanto uma pergunta.
Circulando através da casca da grande floresta, Multani podia sentir a fúria no durâmen. Eu venho
para ver este homem, este Eladamri.
Assim como todos os forasteiros, ele é nada, veio à resposta.
Ele é nada, mas Géia fez dele alguma coisa, disse Multani. Eu venho a pedido dela. Isso foi somente um
excesso de menosprezo.
Ao nome de Géia, um estrondo conturbado veio da mente de Molimo. Freyalise governa Llanowar, não
Géia.
Géia governa toda Dominaria, mesmo que seus elfos não reconheçam, respondeu Multani. Freyalise não é
uma deusa. Ela não passa de uma planinauta.
Então, seja rápido Multani! Veja o que você deve. Faça o que você deve, e parta.
Sim, Molimo. Como você desejar.
Sorrindo por dentro, Multani continuou seu caminho. Molimo agora sofreria com sua presença
porque ele não tinha outra escolha. Ele sofreria mais tarde quando demônios começassem a cair do céu.
Enquanto Multani atravessava o oceano, Eladamri e sua comitiva tinham quase alcançado as copas.
Não havia como errar o caminho que ele tomou. Cada raposa recuou da trilha da multidão; cada coelho
que perambulava saiu da frente deles. Eladamri marchou em frente na companhia dos guerreiros da
Lâmina de Aço e seus lustrosos cães de caça.
Agora mesmo, eles ascendiam ao palácio do Rei Fhedusil.

77
Invasion
Multani se enroscou através de vastas vinhas, algumas gordas como árvores em outro lugar. Ele
surgiu na alta corte do Elfilar de Staprion.
Era um palácio glorioso de madeira branca, crescido através de complexas mágicas oriundas da
coroa da árvore. O galho da árvore se espalhava largamente, uma enorme mão suspendendo o palácio.
Folhagens se amotinavam através dos murais do bosque e se erguiam pelas altas torres com telhados de
palha viva. Galhardetes verdes se posicionavam entre as folhas. Largos pátios, segurando jardins,
florescendo caramanchões – era uma corte linda nas copas. Yavimaya não possuía tais salões construídos
magicamente. Um elfo da terra natal de Multani podia pensar que tudo era pretensão, apesar de que
hoje parecia simplesmente magnífico.
Multani permeou pelas folhas da árvore e viu tudo.
Eladamri caminhou por baixo de um portão de vinhas entrelaçadas e saiu no pátio principal. A sua
mão direita caminhava Takara. Seus olhos eram rígidos por baixo dos seus chamativos cabelos
vermelhos. A sua mão esquerda permanecia Lin Sivvi, agarrando seu totem-vec a sua cintura. Ao redor
deles marchavam guerreiros tatuados. Eles caminharam com ele como se fossem seus guarda-costas.
Seus cabelos tingidos e brilhantes fizeram um jardim selvagem ao redor de Eladamri. Ele continuou seu
sinuoso caminho em direção a alta corte.
As portas dos altos salões balançaram amplamente. Mais guardas, a elite do Rei Fhedusil, ficou de
lado para permitir que os visitantes passassem.
Multani se retirou das folhas, e deslizou para dentro da palha viva do telhado do grande palácio, e
olhou para baixo.
A alta corte interior era opulenta e moldada na madeira, inserida com ouro e prata. No fim, acima
de um tapete vermelho e apoiado por uma parede de vidro, estava um enorme trono negro. Lá sentava
Rei Fhedusil. Antigo, mas poderoso o chefe possuía cabelo branco que estava cravado dentro de sua
coroa. Seus membros eram finos e longos, com a mesma força vigorosa das raízes da árvore. Através de
um nodoso dedo ele usava um anel da nobreza de Staprion.
Rei Fhedusil encarou pacientemente distraído, para o homem que tinha sido chamado de Semente
de Freyalise.
Eladamri entrou na sala do trono. Takara e Lin Sivvi o acompanharam assim como o grupo de
guerreiros da Lâmina de Aço. O resto manteve a turba negra atrás da parede de lanças.
Eladamri se aproximou do estrado do rei. Ele gesticulou para Takara e Lin Sivvi para permanecerem
atrás. Elas aquiesceram, e se voltaram para os elfos que as escoltavam. Sozinho, Eladamri permaneceu
sobre um denso tapete vermelho e azul perante o trono. Ele se ajoelhou em frente à Fhedusil.
“Eu venho para servi-lo, Majestade.”
Um queixoso olhar encheu a face do Rei de Staprion. “Por tudo o que eu tenho ouvido, eu pensei
que você esperasse que eu me curvasse a você.”
Eladamri ergueu seus olhos e encarou sem vacilar para o governante. “Eu nada espero isso de você
exceto que você lute quando os demônios caírem dos céus.”
Sorrindo ironicamente, o elfo ancião suspirou. “Ah, sim, as profecias -”
“Elas não são profecias. Elas são apenas relatórios. Eu não sou um profeta, somente um homem que
viu os exércitos que estão vindo. No meu antigo mundo, eu uni três tribos e os liderei numa rebelião
contra estes assassinos Phyrexianos. Aqui, eu não desejo comandar ninguém, somente providenciar
qualquer ajuda que eu puder contra um inimigo comum.”
“Realmente?” o rei respondeu. “E que tipo de ajuda você pode ser?”
“Eu posso dizer a você como eles lutarão. Eu posso dizer a você que somente guerreiros devem
permanecer acima. O resto deve abandonar este palácio. E todas as outras grandes estruturas nas copas
serão atacadas primeiro.”
Multani estava impressionado. Talvez este Eladamri não fosse tão puro quanto os elfos sonharam
que ele fosse, mas ele era honesto e ousado.
“Abandonar o palácio?” ecoou o rei incredulamente. “Todos devem descer?”

78
Invasion
“Sim. Eu permanecerei aqui com seus guerreiros, mas você e os outros devem descer para
sobreviver,” Eladamri respondeu.
Rei Fhedusil acenou pela última vez. Então ele se pôs de pé. Com um simples gesto, ele mandou
seus próprios guardas que estavam do lado de sua cadeira para prender Eladamri. Simultaneamente, os
guardas prenderam Lin Sivvi e Takara. A multidão além da alta corte caiu num silêncio profundo.
Nesse silêncio, o rei falou. “É uma hora negra para nosso mundo, sim, Eladamri. Mas mais negra
ainda quando um homem que tem um traço de presciência a usa para se elevar ao topo da nação. Usar
fragmentos de boatos para se tornar um falso profeta -”
“Eu nunca reivindiquei ser um profeta,” objetou Eladamri enquanto ele se debatia contra seus
captores.
“Talvez não um profeta, mas um aproveitador de guerras,” exclamou o chefe. “Você não é da
Semente de Freyalise, como tem sido dito de você.”
“Eu não disputo nada disso,” alegou Eladamri. “Eu sou um guerreiro, puro e simples. Eu fui
sonhado por este povo para alguma coisa que eu não sou.”
De repente, Multani entendeu. O povo de Llanowar precisava de um líder, e Rei Fhedusil, por todas
as suas eras e sabedoria, não seria suficiente para esta tarefa. Géia encontrou um homem, um homem
suficiente, e o estava elevando a divindade.
“Nós estamos fartos de sonhos,” o rei insistiu. “Nós estamos fartos de ouvir tolos ociosos. Nós não
abandonaremos nossos palácios no céu. ‘O reino do Inferno está às portas! ’ você diz. Nós não
seguiremos você!”
Multani viu antes de qualquer um. Ele o viu pela numerosa visão da palha viva. Portais se abriram
sobre Llanowar. Milhares de pequenos portais. Através deles dez mil bombas de praga foram lançadas.
Deslizando da palha para dentro de um grande galho no canto da alta corte, Multani tomou forma.
Sobrancelhas folhosas e lábios eriçados, cabelos feitos ramos e olhos cheios de esporos – Multani
avançou para o meio da assembleia.
“Eu sou Multani de Yavimaya. Escute este homem. Agora mesmo, portais se abrem acima.
Demônios estão caindo dos céus.”
“Guardas! Prendam esta aparição!” o chefe gritou, dedos apontando em direção a Multani. “Levem-
nos para a prisão!”
“Nós devemos descer” Eladamri e Multani gritaram em coro. Os guardas se lançaram sobre eles.
Alguma coisa perfurou através do telhado de palha. Vislumbrado numa lufada de palha, ela parecia
um pequeno meteoro, apesar de que era uma coisa construída - uma esfera mecânica. Uma bomba de
praga aterrissou. Ela arrebentou o chão de madeira de lei como se fosse uma casca de ovo. A bomba
acertou o Rei Fhedusil, matando-o instantaneamente. Ela bateu na parede e acertou violentamente a
câmara do rei. Um momento de silencioso terror se seguiu. Então, do buraco da parede, nuvens brancas
de esporos foram lançadas.
“Desçam para as raízes! Desçam da coroa! Nós devemos descer!”

79
Invasion
CAPÍTULO 17

A PINÇA METATHRAN

Thaddeus permanecia à frente de seu exército de Metathran e olhava fixamente através do deserto
de Koilos.
Koilos. Este era um lugar sagrado. Aqui os Phyrexianos foram pela primeira vez expulsos de
Dominaria. Aqui, Urza e seu irmão permitiram que eles voltassem. Estes dois eventos foram pai e mãe
para os Metathran – os únicos pais que eles teriam. Quando a sede de sangue dos Phyrexianos se
misturou com o terror dos Dominarianos, os Metathran foram gestados. Ao longo dos últimos mil anos,
eles foram nascendo um a um – tão forte quanto rinocerontes, tão incansáveis quanto formigas de fogo,
tão leais quanto cães de caça, tão estéreis quanto mulas. Os Metathran foram criados até a maturidade,
treinados em armas naturais e diferentes, e depositados como um estoque de exércitos. Nas cavernas do
tempo lento, ciclos temporais, e crio-câmaras, eles foram mantidos. Estes foram berços frios, tornados
menos frios por causa dos sonhos deste deserto quente e da batalha sobre este lugar sagrado, Koilos.
Aqui, os Phyrexianos seriam expulsos outra vez.
Thaddeus respirou profundamente. O pó de Koilos entrou em seus pulmões e de lá, em seu sangue.
O cheiro do óleo brilhante dos Phyrexianos encheu aquele alento.
Em companhias bem ordenadas, os exércitos Phyrexianos enchiam o vasto deserto abaixo. Scuta,
crias de sangues, e combatentes permaneciam em conjuntos nas cercanias, prontos para um ataque total.
Atrás deles permaneciam os acampamentos principais, fortificados com quilômetros de trincheiras. Os
fossos foram cavados por vormes Phyrexianos gigantes. Atrás de tudo estava Koilos – um largo, sombrio
platô de pedra acima de uma caverna ampla. Aquela garganta descia até a barriga do mundo. Dela
escorriam constantes marés de monstros. Belos monstros.
Thaddeus sofreria ao matá-los. Ele entendia e apreciava seus inimigos. O corpo deles era tão enorme
e soberbamente torcido quanto o dele. O próprio peitoral sagital de Thaddeus e sua testa-cume foram
projetos que Urza tinha modelado de crânios Phyrexianos. Estas modificações tornaram a cabeça uma
arma e permitiram poderosos músculos na mandíbula que podiam dar uma mordida avassaladora. O
rosto de Thaddeus foi aumentado com fortes ossos, músculos saltados, e dentes afiados. Seu peitoral e
braços possuíam os poderosos benefícios da arquitetura. Implantes de equinos fortificaram suas pernas.
Thaddeus e seu exército eram tão bestas não naturais quantos os Phyrexianos tinham sido projetados
para matar. Havia somente uma diferença. Os Metathran pensavam no bem. Os Phyrexianos pensavam
no mal. Do contrário, eles podiam ter sido irmãos.
Erguendo suas mãos em uma viseira sobre brilhantes olhos azuis, Thaddeus olhou além das
Cavernas de Koilos. Lá, Agnate e suas tropas Metathran se ajuntavam. Agnate era seu verdadeiro irmão.
Ele e Thaddeus eram biologicamente idênticos, treinados juntos, designados para lutar como um par em
oposição.
Apesar de centenas de quilômetros de deserto e centenas de milhares de Phyrexianos a separá-los,
Thaddeus podia ouvir os pensamentos do seu irmão como se eles fossem seus. Avançar?
Balançando a cabeça em consentimento, Thaddeus ergueu sua mão num longo arco. “Avançar!”
Ele caminhou pelo dique do deserto. Suas botas tocaram o chão. O pó se ergueu. No próximo
momento, quarenta mil outras botas pisaram em marcha. O chão tremia debaixo de seu pisar. O tremor
rolou ladeira abaixo e por baixo dos pés dos Phyrexianos que aguardavam. No meio deles, uma onda de
barulho se chocou contra outra onda enviada do exército de Agnate. Os Phyrexianos seriam pegos numa
guerra de duas frontes, na Pinça Metathran. Eles se contorceriam nessa garra, mas nunca escapariam.
Eles morreriam.
Thaddeus marchou no meio de sua guarda pessoal – oito guerreiros, quatro de cada lado. Cada um
carregava uma lança de powerstone, que perfuraria até metal espesso, perfuraria qualquer carne por

80
Invasion
baixo, e atravessaria limpa do outro lado. Espadas de powerstone balançavam em seus quadris para o
combate corpo-a-corpo. Adagas em suas ancas aguardavam por combates mais próximos. Similarmente
tropas Metathran se espalhavam por toda linha de frente. Eles poderiam receber um ataque total se os
Phyrexianos fizessem algum movimento.
Até agora, os monstros permaneciam em seus postos através do centro do deserto. Eles eram
espertos. Eles não queriam atacar subindo uma ladeira ou já se espalhar. Mesmo assim, Thaddeus e
Agnate cobriam terreno de ambos os lados. O laço se apertava.
“Parem!” Thaddeus gritou quando eles alcançaram a base da colina, bem no alcance dos arcos.
“Arqueiros à frente!”
O grito ecoou linha abaixo. A marcha parou a repentina quietude. Arqueiros vieram à frente. Eles
formaram duas linhas, os postos da frente se ajoelharam. De ombros poderosos eles retiraram arcos
robustos que podiam atirar por mais de um quilômetro. As flechas que eles engataram tinham seis pés
de comprimento e com pontas que possuíam powerstones que serviam como chips para procurar o
sangue oleoso Phyrexiano.
“Prontos?” Thaddeus chamou. “Atirem!”
Dez mil cordas de arco se estremeceram. Dez mil flechas encheram os céus. Elas gemiam enquanto
elas partiam. Suas flechas grossas ascenderam avidamente acima. Em instantes, aquelas enormes flechas
negras estavam tão altas que pareciam estorninhos. As flechas atingiram as alturas e desceram numa
violenta saraiva. Elas rugiram para baixo em direção das cabeças erguidas dos monstros que se
amontoavam. Logo dez mil deles seriam empalados.
As flechas entraram numa nuvem argêntea. Num piscar de olhos, elas se dissolveram.
“O que é isso?” Thaddeus pensou alto.
A nuvem argêntea se ergueu, seguindo o caminho que as flechas fizeram. Ela se ergueu acima do
deserto e desceu como uma serpente em direção ao exército Metathran. O enxame brilhava enquanto
vinha. Ele desceu com a mesma velocidade das flechas.
“Moscas de Guerra!” Thaddeus avisou. “Erguer escudos!”
A ordem se dissipou entre as tropas. Thaddeus e sua guarda pessoal arrancaram os escudos de suas
costas e se agacharam por baixo deles. As moscas de guerra desceram. Onde havia carne exposta, as asas
de metal das bestas fenderam. Orelhas e narizes e dedos foram cortados. Asas como navalhas
deslizaram através de testas e se enterraram nos crânios abaixo. Ombros foram mastigados. Metathran
que foram despertados depois de quinhentos anos morreram em instantes. Os momentos seguintes
foram cheios de enxames mortíferos e tremeluzentes.
Thaddeus lançou suas mãos enluvadas para fora do escudo e esmagou as moscas de guerra como se
elas fossem mutucas. Os Metathran vivos ao redor fizeram o mesmo. Logo, o enxame estava tão
diminuído que os guerreiros de Dominaria se puseram de pé e esmagaram as criaturas com suas botas.
“Avançar!” Ordenou Thaddeus, apontando sua espada através do deserto.
Deixando seus bravos caídos onde eles estavam o exército Metathran emergiu em direção seus
inimigos que aguardavam. As lacerações por todos os seus rostos só aumentavam o apetite deles pelo
sangue Phyrexiano. Golpeando as últimas moscas de guerra que os seguiam, os guerreiros marcharam
duplamente. Lanças e espadas estavam vermelhas. Logo, elas estariam douradas.
“Por que eles não se mexem?” Thaddeus pensou através de dentes trincados.
Subitamente ele teve uma resposta.
O chão irrompeu por baixo dele. Parecia que um vulcão havia explodido o deserto rachado. Lodo se
lançou como um borrifo. Do meio daquela fonte de terra emergiu alguma coisa enorme. Ela possuía um
couro preto e os cabelos sobressaiam fortes e afiados como adagas. Uma boca enorme, formada de três
lábios triangulares, na frente do vorme gigantesco.
Pedaços de rochas viraram areia naqueles lábios e deslizaram inexoravelmente para dentro. Pior,
mais cinco bestas gigantes apareceram ao lado, estendendo como uma muralha perante os Metathran
atacantes.

81
Invasion
Estas eram as bestas que tinham cavado as trincheiras Phyrexianas. Agora, eles cavariam os
próprios Metathran.
Um dos guardas pessoais de Thaddeus, correndo com a espada bem erguida, atacou a besta antes
deles. Sua lâmina afundou dentro do lábio mucosos da coisa. A arma desapareceu até o punho. Um som
violento se seguiu. O guerreiro desapareceu com ele. Aquela boca, a qual podia pulverizar rochas e pó,
engoliu o homem até que ele não passasse de um borrão vermelho em lábios negros.
O vorme se lançou para frente, seus cabelos que pareciam adagas se dirigiam pelo chão. Um
segundo guarda, talhando o lábio inferior da coisa, caiu por baixo do monstro que avançava. Cabelos o
perfuraram em centenas de lugares. Sua vida jorrou para fora. Quando a besta o atropelou, ele se
arrebentou.
Thaddeus rugiu. Ele lançou sua lança de powerstone dentro do lábio sangrento da coisa. A arma
golpeou para valer. Sua cabeça possuía músculos fortes para poder dragar seu caminho mais profundo.
Ele cavou através lábios e cartilagem oral. O cálamo escapuliu depois de a lâmina ter roído a cabeça.
“Usem suas lanças!” Thaddeus ordenou.
Mais três armas afundaram no vorme perante ele. Cada uma perfurou e cavou fundo adentro. A
besta guinou, urrando através de lábios arruinados. Um hálito quente e sangrento saiu dela.
Thaddeus deu um passo para trás. Se este vorme fosse como cada outro, seu cérebro arreganharia
seu tubo digestivo. Era só uma questão de tempo antes que as lanças alcançassem-no.
O vorme entrou num convulsão repentina. Sua cabeça acertou os guerreiros que se amontoavam ao
redor. Os Metathran caíram. O monstro espalhava gosma enquanto tombava. Por toda a linha, vormes
estavam morrendo. Um a um, eles lançavam suas últimas arfadas e caíam imóveis.
“Alinhem-se! Gritou Thaddeus, passando uma mão sobre seu rosto que estava vermelho. Ele
apontou para a alameda entre as fileiras de mortos.” Alinhem-se! Avancem!”
Thaddeus liderou suas tropas através de muralhas que pareciam adagas. Adiante, as forças
Phyrexianas ainda aguardavam. Eles eram covardes, se escondendo atrás de moscas de guerra e vormes.
O que os incentivaria a atacar? Talvez eles simplesmente esperassem até que os Metathran os
sobrepujassem. Thaddeus estava feliz em compelir.
A primeira enxurrada de Metathran tinha somente limpado o campo dos vormes mortos quando o
movimento começou entre as linhas Phyrexianas. Sua linha de frente atacou.
Oh, mas que covardes! Mesmo agora eles não enviaram verdadeiros Phyrexianos. Aquela linha de
coisas avançando – um brilho metálico. Criaturas artefatos, máquinas - e que máquinas estranhas! Eles
possuíam, talvez, quatro pés de comprimento, com um corpo semelhante a uma serpente formado de
nódulos de metal em linha. As coisas avançavam rapidamente sobre pernas metálicas, suas caudas se
mexiam acima deles como se fossem escorpiões. Eles pareciam centopeias mecânicas – bestas com um
protótipo simples, sem nenhum aparente arsenal exceto pelo ferrão farpado. Milhares delas partiram das
fileiras Phyrexianas e avançavam onduladamente.
Thaddeus caminhou ao encontro deles. Sua lança de powerstone se fora, devorando o caminho
através das fileiras dos vormes mortos. Sua espada de powerstone foi desembainhada. Ela brilhou em sua
mão enquanto ele atacava. Por toda linha Metathran, lâminas reluziam.
Estas criaturas não pareciam muito com centopeias, mas com colunas de espinhas metálicas...
As linhas convergiram. Com gritos de gozo, os Metathran encontraram bestas com as quais eles
finalmente podiam lutar.
Thaddeus não gritou. Ele estava muito ocupando desviando. Uma centopeia lançou seu ferrão no
rosto dele. Ele gingou sua espada. O aço brilhou, acertando o inseto gigante por detrás do ferrão. O
golpe acertou contra o metal resiliente, deslizando, e acertando os cabos macios de cobre que os
prendiam juntos. Com um clarão de um poder arcano, a lâmina separou o ferrão de seu corpo escamoso.
O momento pareceu eterno. Botões de controle colidiram contra o peito de Thaddeus, derrubando-o a
um passo atrás. Espinhos por todas as costas da centopeia açoitaram seus ombros e pescoço. A criatura
artefato tombou em duas contorcidas metades no chão.

82
Invasion
Ao redor de Thaddeus, o deserto estava vivo com pedaços de centopeias que se contorciam. Entre
eles jaziam muitos, muitos Metathran mortos. Suas bocas foram cortadas e abertas, e sangue era expelido
delas. Os corpos se contorciam como se alguma coisa se arrastasse através deles.
Não havia tempo para ver mais. Outra centopeia lançou seu ferrão em Thaddeus. Ele foi mais lento
dessa vez. Rangendo seus dentes em fúria, ele puxou sua relutante lâmina diante dele. Ela deslizou no
ar. A besta desviou da espada e acertou o rosto de Thaddeus.
A rajada fez sua visão ficar branca. Houve uma aguda, frouxidão estranha em seu lábio inferior. No
momento seguinte, sua visão retornou. Com ela veio sangue - seu próprio sangue - numa nuvem
vermelha.
Deslocando sua lâmina para cima numa defesa desesperada, Thaddeus talhou a centopeia no meio.
Ela rodopiou, inutilizada, no ar e caiu aos seus pés. Thaddeus cortou a coisa rodopiante e a fatiou em
mais três pedaços.
Gotejando, Thaddeus se ergueu. Seu rosto sangrava profusamente. A centopeia tinha deslizado pelo
seu lábio inferior. Sua gengiva estava cortada e aberta, expondo as raízes dos seus dentes. Ele se curaria
rápido o suficiente com hipercoagulação, carne regenerativa, e bolsas de sangues estocados, mas a ferida
o irritava.
Thaddeus despedaçou outra centopeia, mas já era tarde. A coisa se lançou num Metathran que
estava perto. O guerreiro berrou com o ataque. Arremessando para trás sua espada, a centopeia lançou
sua cauda farpada dentro da boca do guerreiro. Com pernas que pareciam chicotes, ela se impulsionou
profundamente. O guerreiro arregalou os olhos em espanto enquanto a criatura serpenteava
rapidamente para dentro de sua garganta. Em segundos, a cabeça da coisa agarrou os lábios separados
do homem. Olhos escureceram-se, o Metathran se ajoelhou e caiu de bruços. Seu corpo se contorcia e sua
boca jorrava um sangue pastoso.
Por que alguém, mesmo os Phyrexianos, criariam tais máquinas monstruosas? Havia maneiras mais
fáceis para matar um homem do que lançar uma criatura goela abaixo.
De repente, um estalo veio dos homens caídos. Espinhos assombrosos saíram da pele por todas suas
costas. A centopeia Phyrexiana havia substituído à espinha do guerreiro. Morto como um pedaço de
carne, o Metathran se moveu e se ergueu. Terrivelmente, ele se ergueu.
“Zumbis,” Thaddeus balbuciou através de seus lábios rasgados.
Eles estavam todos ao seu redor. Thaddeus rodopiou. Sua espada adentrou em um dos zumbis, um
antigo membro de sua guarda pessoal. A lâmina de Thaddeus cortou um naco da barriga do guerreiro,
mas não foi suficiente. Ele deu um paço para trás e avançou outra vez. O limite da cabeça do zumbi
estava livre. Nenhum sangue veio, já havia sido sugado. No golpe limpo, Thaddeus podia separar
esôfago, traqueia e cortar a centopeia que se tornara a espinha do guerreiro.
“Zumbis!” Thaddeus gritou em advertência para os outros Metathran que estavam atrás dele.
“Matem eles!”
A ordem se espalhou rapidamente pela linha. Metathran vivos despedaçaram os não vivos. Estes
guerreiros foram gerados para seguir ordens, e eles seguiam, destruindo seus antigos companheiros sem
misericórdia. Mesmo agora, as emoções não foram arrancadas deles, e estes guerreiros, cada um, sentia o
terrível pavor do massacre.
Eu uma vez acreditei que nós éramos como os Phyrexianos,Thaddeus pensou, enviando sua ideia através
do campo de batalha para seu irmão distante. Ele parou para fender o cérebro corrompido de um de
seus próprios homens. Agora eu sei quão verdadeiramente diferente nós somos.
Não veio resposta direta, mas Thaddeus sentiu que seu sósia concordava. Agnate e suas forças
naquele momento lutavam a mesma terrível batalha, batalha desesperada.

83
Invasion
*****
Com o coração alegre, Tsabo Tavoc assistiu a carnificina. Era esquisito sentir o mergulho da ruptura
da espinha descer através da carne. Era delicioso divagar na mente morta dos Metathran que possuíam a
espinha enxertada.
Havia duas destas criaturas azuis, dois viventes, cujos pensamentos chamavam um ao outro. Era
uma coisa suficientemente simples para Tsabo Tavoc alcançar e colher os pensamentos no ar.
Sim, Thaddeus, ela suspirou para si mesma. Você é nada parecido conosco, como você logo
aprenderá, dolorosamente. Na minha vez, eu também aprenderei. Eu analisarei cada tecido seu
Thaddeus dos Metathran.

84
Invasion
CAPÍTULO 18

UM HERÓI NASCE, OUTRO MORRE

Naquele primeiro momento depois que a máquina da praga entrou no Palácio Staprion, a corte de
Llanowar estava paralisada. Seu líder estava morto. Seu salvador foi acusado de falsidade. Um estranho
homem verde se formou, gritando sobre demônios dos céus. Então vieram os esporos da praga, saltando
no ar.
Somente Lin Sivvi manteve sua cabeça. Ela estava acostumada à solidão da decisão. Realmente, era
uma coisa simples. Correndo para o trono do líder, ela puxou seu totem-vec do seu cinto. Um pé pisou
no braço da cadeira e o próximo nas costas da cadeira. Ela saltou a parede. Uma pequena base final num
buraco a enviou alto o suficiente para arremessar o totem-vec. A corrente fez seu trabalho sem
problemas, e a lâmina cortou o canto superior de uma antiga tapeçaria. O canto precipitou-se abaixo
dela. Lin Sivvi montou-o como um ladrão na Guerra de Miragem. Ela chutou a franja a frente dela. O
carpete se espalhou com uma bela precisão sobre o buraco na parede. Ele cobriu o local,
temporariamente cobrindo a nuvem da praga de esporos.
Mas é claro, nenhum plano é absolutamente perfeito. O contágio que já tinha se infiltrado no palácio
estava sendo lançado para fora. Ele se espalhou através dos elfos. Ele passou por cima de Lin Sivvi
também, apesar de que esta era uma praga para elfos. Enquanto ela ardia sua pele, derretia a deles.
Virulência brotou pelos poros deles. Carne se enrubesceu e tornou-se gelatinosa. Os elfos derretiam
como se fossem criaturas de cera. Eles escorriam juntos através do piso de mármore. Aqueles que
estavam atrás tumultuaram e fugiram, atropelando outros em sua escapada.
Lá fora, pragas de bombas perfuravam através das copas das árvores.
“Fujam para baixo!” Lin Sivvi gritou. Ela viu sua própria carne inchar com brotoejas. Caminhando
para eles, ela urrou, “Sigam Eladamri até embaixo!”
O homem verde desfez suas folhagens para deslizar dos guardas que o prendiam. Ele se virou,
batendo um ombro de madeira contra um alto conjunto de portas duplas. Elas recuaram, latindo contra
as paredes de uma escura câmara além.
Um guarda rugiu, lançando sua lança através da barriga do homem verde, tão inútil quanto golpear
um arbusto. “Somente o rei e sua guarda podem descer aqui.”
Eladamri arrancou a lança da barriga de Multani e urrou para o guarda. “O rei está morto. Nós
também estaremos a menos que você me siga abaixo. Venha! Rápido.” A lança se ergueu alto, ele
caminhou através da porta e desceu além da melancólica lanterna acesa.
Mesmo assim, o povo hesitou.
Lin Sivvi rosnou, “Vocês o ouviram!” Ela girou seu totem-vec.
A multidão ondeou para a porta. Eles seguiram Eladamri.
Lin Sivvi pegou um brilhante escudo pendurado sobre a parede – o encantado escudo de armas da
casa real de Staprion. Ela caminhou em direção a um candelabro pendurado por uma corda, ela agarrou
a linha, e a cortou-a. Um enorme candelabro no centro da câmara despencou. A corda a arrancou junto
com a parede. Com uma mão, Lin Sivvi segurou a corda enquanto seus pés corriam pela superfície lisa.
Ela arrebatou o escudo de sua montagem. Brandindo a coisa por cima da sua cabeça, ela continuou a
subir a parede. A corda a arremessou até as vigas. Lin Sivvi saltou dentro de um feixe de martelos e
soltou a corda. Uma terrível colisão veio abaixo. O candelabro se espatifou perante o trono. Sem pensar
duas vezes, Lin Sivvi escalou as vigas negras, alcançando o telhado de palha. Três cortes do seu totem-
vec abriram um buraco largo o suficiente para ela rastejar por ele. Um quarto permitiu que o escudo
viesse após ela.

85
Invasion
Lin Sivvi escalou o telhado de uma árvore. Ele estava nitidamente armado, todos os lados
unificados com as folhas das copas. Acima do pico coberto, o céu azul estava coroado com pequenos
portais abrindo e se fechando.
Enquanto cada portal se avolumava em sua existência, uma máquina de praga precipitava-se
através. Mal tinha a massa limpado o dispositivo ele já se fechava outra vez. Por toda Llanowar,
máquinas de praga desciam dos céus. Elas gemiam no ar e aterrissavam através das copas das árvores e
arrebentavam os troncos de árvores arcanas.
Lin Sivvi fungava lamentando-se. Os malditos Phyrexianos não desejavam nem tomar a floresta,
somente destruí-la. Típico. Ela tinha vivido sua vida inteira nas sombras daqueles sem coração,
estúpidas, desalmadas baratas. Ela sabia como eles viriam, e ela sabia como pará-los.
Uma máquina de praga caiu do seu portal e abismou-se diretamente pelo telhado.
Com outra bufada, Lin Sivvi apressou-se até o declive verde, escudo em mãos. Se aquela máquina
entrasse na sala do trono, milhares morreriam. Um golpe direto podia cortar através da espessa madeira,
mas e uma rajada? Olhando para cima, ela saltou para o cume do telhado. Por um momento, ela perdeu
a máquina que se precipitava no sol. Erguendo sua mão para bloquear a luz, ela ainda podia perceber a
esfera da morte. Seu gemido crescia num grito ensurdecedor. Somente a crescente sombra do dispositivo
dizia a ela que ela estava no lugar certo. Ela balançou o escudo para um lado e se apoiou sobre a viga
real do palácio.
Um tinido semelhante a um sino gigante soou. Lin Sivvi foi esmagada contra o telhado. A esfera se
rachou, e girou em direção a uma árvore ao derredor.
Se erguendo tremulamente, Lin Sivvi arrastou os dedos dormentes da alça do escudo e os sacudiu.
Outro grito veio - outra esfera se precipitou. Envesgando-se para o céu para encontrar seu alvo, Lin
Sivvi trotou em direção ao local. “Malditos Phyrexianos.”

*****
“Malditos Phyrexianos!” Takara chiou.
Ela puxou um elfo da sangrenta poça onde o amigo dele jazia - osso e gelatina vermelha. As
próprias pernas do elfo se transformaram em nada. Artérias vazias atrás dele. Seus olhos se mexeram
pela última vez – olhos que viram centenas de anos de paz em Llanowar. Eles morreram vendo isto.
Soltando-o, Takara respirava ofegante. Seu cabelo feroz estava colado na sua testa, e suas costas
doíam excruciantemente.
Esta praga era a pior que ela tinha visto, mais rápida, mais virulenta do que outras. Sem dúvida este
contágio foi desenvolvido nos experimentos nos incontáveis elfos de Skyshroud. A própria Takara foi
um objeto de teste para a praga humana. Estes minúsculos pontinhos do vírus dos elfos cresciam
largamente, uma infecção cinza pelas suas costas.
Sim, Takara estava morrendo pela praga. Ela esteve morrendo quando Eladamri e Lin Sivvi a
resgataram de Rath. Seus companheiros sabiam, porém ninguém mais sabia. Cada noite eles tratavam as
chagas, esterilizando-a com espíritos de centeio e tranquilizando sua dor com aloés. Mesmo assim, ela
ainda se espalhou.
Quando a bomba golpeou, o primeiro impulso de Takara foi de fugir para baixo com os outros. Mas
por quê? Ela estava condenada de uma maneira ou de outra. Aqui em cima, ela podia ajudar algumas
pessoas antes que ela fosse devorada até sobrar nada. Takara não estava sendo nobre. Ela estava
salvando elfos tanto quanto ela estava escolhendo sua hora de partir.
Na desordem através do piso coberto de sangue, ela pegou uma criança élfica. Uma garotinha,
talvez não mais do que dois anos, permanecia bem além da multidão. Ela berrava. Lágrimas escorriam
pelas suas bochechas brancas. Takara ergueu a criança em seus braços e a segurou com força,

86
Invasion
sussurrando conforto em suas orelhas. Ela não conhecia este dialeto Élfico, mas consolação soava a
mesma em qualquer linguagem.
Assim como essa criança, ela também já foi. Seu pai foi um grotesco servo do mal. Seu lar foi
inundado pelos céus carmesins de Rath. Ela não tinha vivido por duas décadas antes que ela estivesse
morrendo pela praga - uma criança berrando em caos por toda a vida.
“Pegue-a!” Takara ordenou, agarrando um elfo que empurrava entre a multidão. “Pegue-a!”
Ele começou a pleitear, seus velhos olhos cheios de um medo mortal. Este era um elfo ancião, talvez
um elfo milenar, que viveu muito além de criar seus filhos. Mesmo assim, ele pegou a garota. Ele
arrulhou, acariciando a garota que soluçava. Com um novo propósito, o elfo cavou seu caminho pela
multidão.
Através da sua dor, Takara sorriu. Se esta criança era uma miniatura dela, berrando em caos por
toda a sua vida, então a salvando era o mais perto que Takara chegaria de salvar a si mesma.
Ela voltou por entre os feridos. A qualquer momento outra bomba explodiria. Então ela e todo
mundo que ficaram na câmara morreriam.
Takara percebeu com surpresa que ela sentiria falta de Eladamri e Lin Sivvi. Os três fizeram um
bom time. Mais surpreendente ainda, era que ela esperava que eles sentissem falta dela também.
Lin Sivvi foi muito lenta para desviar da quinta bomba de praga. Ela veio do coração do sol. Ela
sabia somente por causa do assobio que se tornou um agudo lamentar. O sol estava cegando-a. A
sombra da bomba se agitava através do telhado inclinado. Lin Sivvi se lançou por baixo daquela sombra
e preparou o escudo acima da cabeça dela.
A bomba acertou de um lado. Ela perfurou o telhado como se fosse ar. Ela esmagou a viga do rei. O
telhado afundou massivamente por baixo dos pés de Lin Sivvi. Uma trovejante explosão veio de
debaixo, com um frágil, som de estalos. O chiado dos esporos da praga era inconfundível. Assim
também eram os gritos dos elfos.
Apesar disso, a praga não teve tempo de matá-los. Uma parede da alta corte desabou e caiu para
dentro. Centenas de toneladas de madeira desabaram como folhas mortíferas. Lascas de adagas
golpearam abaixo posteriormente.
O telhado se dobrou e ruiu. Ele se rompeu como uma nota musical.
Lin Sivvi montou na maré verde. Ela não podia fazer mais nada. Vigas se esmagaram no chão. Nós
gigantes caíram sobre pudins de sangue que uma vez foram elfos. Brancos, esporos mortíferos se
infiltraram esfumaçados em cada rachadura. Lin Sivvi caiu de joelhos sobre o telhado tremeluzente e se
apoiou.
A parede mais distante se amarrotou debaixo do peso do teto que afundava. Vigas rugiam enquanto
elas tombavam uma por cima da outra. Em quatro seções, o telhado de palha esmagou o piso da
arruinada alta corte.
De repente um silêncio encheu o ar. Sem mais desabamentos. Sem mais gritos. Perante Lin Sivvi
estava à alta porta onde mesmo agora o último dos refugiados fugia. Atrás dela permaneciam em
silêncio os destroços da alta corte. Nem um simples gemido veio das ruínas. Todos os elfos foram
devorados pela praga. Não havia humanos exceto por -
Lá estava ela, o cabelo vermelho emaranhado entre a palha. Um caibro trincado havia golpeando-a,
lanceando a podridão cinza que enchia suas costas.
Lin Sivvi apoiou sua cabeça. Takara foi uma companheira digna. Morrer desta maneira, duas vezes
morta, no meio de estranhos... Ela havia escolhido seu tempo.
“Adeus, Takara,” Lin Sivvi disse. “Sentiremos sua falta.”
Outro assobiou agudo veio de cima.
Respirando irregularmente, Lin Sivvi bateu nas portas gigantes e adentrou as trevas resinosas
interiores. Ela desceu após Eladamri.

87
Invasion
*****
Eladamri liderou os refugiados pela passagem real. Nenhum rei esteve nessas profundezas em
séculos. Nenhuma lamparina iluminava o caminho exceto pelos buracos nas paredes mais altas. As
escadas irregulares, cravadas dos durâmenes mortos, que espiralavam abaixo ao redor de um vasto
vazio. Uma queda traria morte por longas lascas de lanças que estavam no caminho. Isto era certo...
provado diversas vezes sem conta.
Gritos começaram acima. Os refugiados sabiam o que isso significava. Eles se apertaram
miseravelmente contra as paredes e esperaram pelo corpo precipitar-se. E ele o fez, por pouco uma
mulher elfo e seu filho caíram. Dentro do abismo sombrio um homem caiu. Seus gritos cresceram ocos.
Eles eram interrompidos por impactos súbitos e encerraram finalmente em morte.
“Para baixo,” Eladamri comandou suavemente, liderando o caminho.
Em tempo ele alcançou uma região onde teias gigantes haviam pegado vários corpos. Eladamri
avançou, cortando e libertando as figuras macabras, para que a presença deles não trouxesse aranhas
famintas.
“O que eu estou fazendo aqui?” ele ponderou por baixo de sua respiração, segurando alto uma
lanterna cintilante para olhar uma das vitimas ensanguentadas. “Por que eu estou liderando este povo?”
Acima, mais berros interromperam seus pensamentos. Ele olhou para cima, agarrando a parede. As
lanternas mostraram a subida espiralada. Eles ergueram para ver o que veio do fuste. Vozes se
ajuntaram aos gritos agonizantes. Alguma coisa bateu numa parede, ricocheteou, desceu através do
vazio, e bateu contra a parede oposta. Ela acertou o povo que estava lá, pareceu ficar um momento sobre
os corpos pulverizados, e tombou para baixo outra vez.
“Uma bomba de praga!” Eladamri chiou em terrível percepção.
Uma vez que ela tenha parado, seus painéis se abririam e lançariam contaminação. Ela contaminaria
todos eles e até mesmo as cavernas abaixo, onde eles esperavam se abrigar. Tudo estava perdido, a não
ser que a contaminação pudesse ser contida...
Deixando sua lanterna na escada, Eladamri desembainhou sua espada ao longo dos degraus. A
lâmina cortou através de gordas teias de aranhas. Ele as ajuntou em uma rede em sua mão livre. Uma
vez que houvesse cordões suficientes, embainharia sua espada e experimentaria espalhar as teias. Seu
tempo teria que ser perfeito.
Se tão somente ele fosse o homem perfeito que ele sonhava em ser.
O casulo da praga saltou abaixo, seguido de uma lufada de corpos em queda.
Eladamri trincou seus dentes e arremessou a rede para fora. Ela envolveu o globo. Suas espessas
faixas embrulharam ao redor do painel de esporos do lado dele. A esfera rasgou por ela. Eladamri a
soltou, apesar das pegajosas faixas arrastarem ciumentamente sua mão. Ele se agachou para evitar ser
arremessado no vazio. A agitada bola quase arrancou sua mão fora antes que as faixas a soltassem. Além
do limite da escada, Eladamri vislumbrou a esfera enquanto ela precipitava-se através de teias e trevas.
Talvez as teias aguentassem. Talvez os esporos não emergissem. Eladamri havia feito tudo o que ele
podia, e teria que ser o suficiente.
Corpos ficaram para trás, molhados, conglomerados.
Eladamri pegou sua lanterna e abriu seu caminho descendo a escada espiralada. “O que estou
fazendo aqui?”

*****
Multani se moveu através de Llanowar despertando grandes aranhas. Suas teias salvariam o
bosque. Suas teias e a perspicácia deste Eladamri. Havia mais neste elfo do que ele próprio percebia.
88
Invasion
Enquanto Multani corria de árvore a árvore, ajuntando os defensores de Llanowar, ele sentiu um
novo poder surgir dentro dele. Era Molimo. Em seu reticente e relutante caminho, o espírito de
Llanowar emprestou sua força para este espírito forasteiro. Multani sorriu com dentes de cogumelos. A
floresta precisava de campeões, mortais e imortais, e ela os estava fazendo – ambos Eladamri e Multani.

89
Invasion
CAPÍTULO 19

BOMBAS PARA PHYREXIA

“Lá está, vê?” disse o vidente cego um pouco absurdamente. Ele apontou um ressecado dedo velho
além da proa. Os ventos rasgavam seu cabelo branco e velhas vestimentas. “Llanowar.” “Sim,” Gerrard
respondeu inexoravelmente. A vasta floresta se espalhava em todas as direções por baixo do arco do
Bons Ventos. A coroa de Llanowar que uma vez foi verde estava negra com a corrupção Phyrexiana.
Figuras araneiforme se moviam em massa através da grande copa. Acima, no céu azul e nuvens brancas,
enormes formas negras se agrupavam. Delas caiam milhares de bombas. Não havia defensores aéreos
aqui. Com impunidade, os monstros choveram praga sobre a floresta.
Gerrard se apoiou no duto de comunicação da proa. “Posição de batalha, todo mundo. Sinalizem
para a frota. Preparem para atacar estes... o que quer que estes navios sejam.”
Virando-se para o vidente cego, Gerrard disse, “Obrigado pela dica. Com a queda de Benália,
Llanowar precisará de nossa ajuda.”
“Ajude-os, e ajudará a você mesmo,” o velho homem disse enigmaticamente das sombras do seu
largo chapéu.
As sobrancelhas de Gerrard se envergaram. “Nós podíamos ter estado aqui horas mais cedo se nós
pudéssemos ter te encontrado. Onde você estava?”
“Eu vivo metade na verdade, e metade nos sonhos,” o homem respondeu uniformemente. “Quando
eu não posso ser encontrado em um, eu posso ser encontrado no outro.”
Gerrard suspirou, balançando sua cabeça enquanto ele caminhava em direção à porta do lado do
canhão de raios. “Você desperdiçou tempo.”
O vidente deu uma longa suspirada e murmurou, “Eu nunca desperdiço tempo.”
Gerrard se amarrou nos arreios de atirador. Ele energizou a máquina e a ligou através dos três eixos.
Através do castelo de proa Tahngarth fez o mesmo. Os dois atiradores do meio subiram até suas
posições. A tripulação tumultuou através do convés em direção ao passadiço.
Virando-se em seus arreios Gerrard olhou através da ponte. Ele viu uma figura familiar subir em
direção ao assento do navegador.
“O que...!” ele chiou dentro do duto de comunicação. “Hanna! O que você está fazendo aí?”
“Meu trabalho.” A resposta dela veio cortada através do duto. “Você chamou para as posições de
batalha, Comandante.”
“Você não pode navegar em sua condição.”
“Leve-nos para cima, Sisay!” Hanna chamou de repente. “Isso não são navios!”
Gerrard se virou, vendo a negra, massa pairando nas nuvens. Não, eles não eram navios. Eles eram
nada afinal de contas, buracos abrindo e fechando no céu.
O Bons Ventos se inclinou para trás e se ergueu. O conjunto de formas se encolheu em uma longa,
fina linha no horizonte. Eles pareciam à superfície de lagos, visto da margem enquanto o navio emergia
de debaixo. O Bons Ventos ressoou mais alto. Por baixo dele, a linha se espalhou em um conjunto de
formas inconstantes.
“O que são eles?” Gerrard perguntou.
“Portais,” Hanna disse de volta. “Pequenos portais. Milhares deles. Eles são fracos, não como
aqueles que nós vimos antes. Cada um cria uma suave distorção temporal. Juntos, o efeito é maciço.”
O Bons Ventos passou por cima dos portais. De cima eles não apreciam tanto como buracos na
realidade como áreas borradas, pareciam energias térmicas oscilantes de carvões cinza. Por baixo desses
lugares cintilantes, esferas mecânicas eram arremessadas. Lá, elas caiam e despejavam cargas de
doenças.

90
Invasion
A voz de Hanna veio outra vez. “Cada um deles pode transportar talvez algumas centenas de quilos
de material antes que se fechem. Juntos, eles destruirão a floresta com praga.”
Aquela palavra nos lábios dela fez Gerrard ficar furioso. Ele respirou fundo e trincou os dentes.
“Deem sinal à frota. Abrir fogo!”
Sua própria arma foi a primeira a rosnar. Energias carmesins explodiram do focinho vaporoso, tão
brilhoso quanto sangue e tão quentes quanto lava. Um plasma gasoso surgiu para esmagar o campo das
esferas cintilantes. Ele engolfou uma dezena de pequenos portais e rompeu através dos espaços entre
eles.
O fogo também falou pela arma de Tahngarth, os dois canhões do meio, a arma da barriga, e a
artilharia de Squee na cauda. Linhas de energia fluíram por baixo do Bons Ventos, os surtos se
ajuntaram com os múltiplos ataques de sua armada. Saltadores dispararam um fogo laranja, helionautas
dispararam azuis. Rajadas de plasma, explosões de raios, campões de interrupção – energia vertia pelos
portais.
Gerrard deu um brado, descarregando tiro após tiro. Ele se sentia bem em estar lutando outra vez,
disparando contra os invasores.
“Não está nada bem, Comandante,” Hanna gritou pelo duto de comunicação. “Os portais não
existem deste lado. Nós não podemos destruí-los de cima. Nós teríamos que voar por baixo e arriscar se
contaminar com a praga. Daqui de cima, nós só estamos destruindo a floresta.”
Acompanhando seus traços, Gerrard olhou para baixo por cima do trilho. A artilharia antiaérea de
seus disparos comeu a copa, vaporizando a madeira e colocando fogo na floresta.
“Cessar fogo!” Gerrard gritou. “Sinalizar a frota! Cessar fogo!”
Enquanto seu canhão se escurecia, o humor de Gerrard assim o fazia. Como ele podia lutar com um
inimigo que ele não podia atirar? Estes portais eram muito pequenos para se voar através, muito
numerosos para se fechar, muito intermitentes para se predizer, muito mortais para se voar por baixo.
Os Phyrexianos aprenderam como derrotar Gerrard. Eles pagaram com óleo brilhante por Benália, mas
eles a compraram. Agora, eles comprariam Llanowar sem derramar uma gota.
Sua voz estava pesada enquanto ele se reclinava sobre o duto de comunicação.
“Sugestões?”
“Como, Comandante?” Sisay perguntou por todos.
“Sugestões. Eu quero sugestões. Como nós podemos lutar contra estes portais?”
Somente o silêncio veio do duto de comunicação. Por baixo do Bons Ventos, o mar lustroso de
portais deslizava. Somente o fúnebre vento e o lamentar dos motores da frota falaram na quietude.
“Quer que nós traguemos a frota por outra passagem?” Sisay perguntou quietamente. “Ou quer que
naveguemos para outra batalha em algum outro lugar?”
“Eu não sei,” Gerrard respondeu. “Eu não sei.”

*****
Orim estava de pé no tombadilho, olhando a proa. Ela tinha escalado até aqui em cima na esperança
de trazer Hanna de volta para seu posto. A impossibilidade dessa tarefa estava clara. “Traga-nos de
volta,” a voz de Gerrard veio pesadamente através do duto.
“Traga-nos de volta,” a voz de Gerrard veio pesadamente pelo duto. “Deve haver alguma coisa que
nós estamos deixando escapar.”
Orim balançou sua cabeça em empatia. Ela havia repetido aquelas mesmas palavras incontáveis
vezes enquanto confrontava a putrefação que estava matando Hanna. Deve haver alguma coisa que eu esteja
deixando escapar. Era a própria batalha impossível de Orim. Sem Hanna, como o navio encontraria seu
caminho? Como Orim e Sisay encontrariam seu caminho? E Gerrard – ele ficaria absolutamente perdido.

91
Invasion
Eles já estavam perdidos. O navio rugiu por cima de Llanowar, arrastando sua fiel armada atrás.
Eles cruzaram por cima do campo de portais. Nenhuma arma disparou contra estes dispositivos. Eles
pareciam formar um plácido e ilimitado mar.
Água. Isso despertou memórias de um lugar bem distante, de Cho-Manno, os Cho-Arrim, e suas
águas mágicas. Quando ela havia deixado seu amado, ela jurou que levaria o poder das águas com ela.
Orim olhou para os portais cintilantes. Como ela podia encontrar força em tais águas negras? Se pelo
menos ela pudesse meditar, retirando de suas forças internas, talvez ela pudesse encontrar a cura para
esta praga.
Orim olhou para baixo para a desolação daqueles portais.
De repente, Orim soube. Era uma coisa simples, o tipo de coisa que Hanna e Sisay entenderiam
inquestionavelmente.
Disparando sobre seus calcanhares, Orim correu para a porta da ponte. Ela a deixou para trás e
desceu.
O apertado quarto zumbia com atividade. Gerrard tinha descido da ponte para se consultar com
Sisay no leme. Relatórios saíam do duto de comunicação aqui e acolá. A voz metálica de Karn perguntou
sobre o estado de ataque; o oficial da frota retransmitiu a dúvida dos outros navios. Estandartes subiam
através da mais baixa escotilha e voltavam.
Hanna era a mais ocupada de todos. Ela trabalhava fervorosamente sobre seu gabinete de
navegação. A bússola e a agulha que caminhavam através do mapa de Llanowar denunciavam uma
linha vermelha em seu rastro. Seus dedos estavam atados de vermelho onde ela segurava a ferida em
sua barriga.
A respiração de Orim parou com aquela visão. O sangue não a incomodava. Suas implicações sim –
especialmente estas implicações. Correndo para Hanna, Orim se ajoelhou, segurando o braço de sua
amiga.
“Hanna você tem que descer-”
“Eu não posso,” ela estalou, sua voz soou mais exausta do que contrariada.
“Você pode, assim que nós nos livramos destes portais.”
“Se livrar destes-”
“Nós não pudemos fazer a transplanagem para Benália por causa dos três portais sobre ela. Você
disse que eles causavam uma distorção de espaço temporal que nos fechou do outro lado.”
“Sim, mas o que isso tudo tem a ver...”
“Nossa própria travessia é muito mais forte do que qualquer um destes. Mesmo em velocidade
normal, nós deixamos um rastro nos portais abaixo. Se nós estivéssemos -”
“Sim,” Hanna disse. Apesar da terrível palidez de sua face, uma breve e linda cor veio em suas
bochechas. “Sisay! Capitã! Leve-nos para cima!”
Sem questionar, Sisay voltou para o leme. O Bons Ventos respondeu como se fosse parte do corpo
dela. Até mesmo Karn cessou suas perguntas lá embaixo, parecendo entender.
Somente Gerrard foi pego de surpresa. Ele caiu de joelhos e se esborrachou contra a ponte de
estações. Seu rosto bateu contra a antepara.
Sacudindo sua cabeça, Gerrard grunhiu “O que é? Perigo?”
Hanna riu secamente, “Somente para os Phyrexianos.”
Permanecendo placidamente no leme, Sisay gritou sobre seu ombro. “Qual é o seu plano Hanna?”
“Um voo picado,” a navegadora retornou, “direto através do mar de portais. Vamos ver quantos
nós podemos tragar em nosso vácuo.”
Um enorme sorriso iluminou a face de Sisay. “Eu gostei! Gerrard é melhor você chamar de voltar à
esquadra. Diga a eles a voarem em círculo e esperarem pelo nosso retorno.”
Arranhando pelo seu caminho, Gerrard coçou sua barba. “Espere um minuto. O que vocês três estão
planejando?”

92
Invasion
“Apenas salvar Llanowar,” Sisay disse levemente. “Mais força Karn.” Ela dirigiu o navio a uma
escalada quase vertical. O ar ficou fino ao redor. As nuvens foram dragadas pelos aerofólios inclinados
do Bons Ventos. “Você pediu por sugestões.”
Com um aceno triste, Gerrard agarrou o duto de comunicação e berrou, “Sinalizem a frota! Diga a
eles para circularem até receberem mais ordens!”
“Esse é o espírito,” disse Sisay. “Hanna como está nossa posição?”
Apontando através das matrizes de visão que projetavam sobre sua mesa de navegação, Hanna
respondeu, “Guinada de quatro graus a bombordo, e deixe a quilha cortar por outros mil pés, e nós
estaremos prontos para o mergulho.”
“Nós teremos a velocidade para travessia?” Sisay perguntou.
“Velocidade não será o problema. É se nós vamos conseguir tempo entre os portais e as copas antes
que colidamos,” Hanna respondeu calmamente.
Sisay riu. “Esse é o tipo de problema que eu gosto. Aqui vamos nós.” Ela empurrou com força o
leme para proa.
Os motores do Bons Ventos cessaram por um momento. Ela pendeu para cima num arco leve,
rolando sua popa em direção ao céu. Dominaria foi varrida suavemente da ré para frente.
Squee, ainda amarrado à arma da popa, grunhia enquanto seus pés eram varridos em direção ao sol.
Então, avidamente e inexoravelmente, Dominaria agarrou o Bons Ventos e o empurrou abaixo.
Rangidos corriam da haste até a popa. A proa parecia que se repuxaria do meio do navio da ponte e do
mastro. Os aerofólios se fecharam apertadamente junto com a central, derramando ar ao invés de agarrá-
lo. O Bons Ventos mergulhou.
Squee ainda estava gritando. Mesmo assim, sua visão dos céus não era tão aterrorizante quanto
vista de todos pela terra. Llanowar parecia um leopardo, agachado para saltar.
Os motores do Bons Ventos se engataram. As entradas de ar deram um longo suspiro. Fogo
explodiu dos exaustores. Da velocidade terminal do navio veio uma força impaciente, abalroando-o para
baixo.
Llanowar ficou para trás. A floresta rugiu como se fosse engolir o navio. Suas copas negras e
apodrecidas tocavam os céus. O mar de portais parecia somente uma membrana fina sobre o local
alcançado. Em momentos, o Bons Ventos se esmurraria através dos portais e das copas das árvores.
“Deslocar para onde?” Sisay gritou acima do ronco dos motores.
“O curso está estabelecido em,” Hanna respondeu de volta. “Um lugar para as bombas
Phyrexianas.”
Não havia tempo. O Bons Ventos se colidiu com os portais planares. Eles foram arrastados da proa
até popa num piscar de olhos. O espaço-temporal se fechou sobre o convés como uma garra. Bombas,
emergidas pela metade, se penduravam em incontáveis portais, muito lentas para serem apanhadas pelo
Bons Ventos. Squee e as asas dobradas limparam os portais.
“Deslocar!” Sisay gritou, olhando para o chão enquanto ele subia ao encontro deles.
O navio se precipitou com toda a rapidez. Os ventos rasgavam seus corrimões. As copas negras se
tornaram galhos individuais, e as casas arruinadas naqueles galhos, e as figuras fugitivas entre eles. Um
salto brotou da dianteira. Ele varreu uma grande esteira, abrangendo milhares de portais.
“Deslocar!” Sisay gritou pela última vez.
Um gigantesco ramo veio de encontro a frente do Bons Ventos, exceto pelo fato de que não sobrou
galho algum. Preto e verde deram lugar a tremulação cinzenta.
Além da balaustrada do navio, o ar se agitava. Ele segurava o chiado, resplandecendo o vazio entre
os mundos. Caos se agitava e rodopiava. Formas de pesadelos alcançavam suas mentes escurecidas e se
dissolviam outra vez antes que eles estivessem tolamente criados. Linhas irregulares se afastavam em
recursivos arco-íris. Parecia não haver lugar mais horrível em todo o Multiverso...
Até que o caos se transformou pela última vez, se solidificando no tortuoso Rath.

93
Invasion
Sobre suas cabeças, nuvens vermelhas se mexiam como sangue fervente. Abaixo, riachos vermelhos
se contorciam como músculos esfolados. Alinhados através destas colinas infernais estavam exércitos
após exércitos de Phyrexianos, aguardando para invadir.
O bolsão de ar da transplanagem do Bons Ventos se dissolveu ao redor dele. Calor e fumaça foram
lavados da sua proa. Aerofólios se abriram para puxar um pouco mais de ar. Ele desacelerou, deixando
em seu fervente rastro um campo de portais.
Desses cambaleantes, dispositivos rodopiantes, bombas de pragas saraivavam. Elas caíram entres as
tropas que estavam alinhadas lá. Dispositivos feitos para assassinar elfos caíram ao invés disso entre os
monstros que os fizeram. Muitos foram esmagados debaixo delas. Outros foram ceifados enquanto as
esferas ricocheteavam através do campo. Bombas rolavam até parar e vomitavam esporos brancos pela
estridente horda.
“Belo trabalho senhoras!” Gerrard gritou, bradando.
Orim estava segurando o sangramento de Hanna, uma inconsciente figura em seus braços. “Tiro-
nos daqui! Leve-nos de volta para Llanowar!”
Gerrard cambaleou através do breu do convés em direção as duas mulheres. ”Vocês a ouviram!” ele
rangeu, se ajoelhando perante Hanna e a envolvendo-a em seus braços. ”Transplanar!”

94
Invasion
CAPÍTULO 20

OS FOGOS DE SHIV

Caindo de cabeça para baixo, Barrin foi lançado nos céus vermelhos de Shiv. Ele estava no meio de
uma batalha perdida em Keld quando ele foi arrancado pelos alertadores – artefatos que farejam óleo
brilhante. Eles saíram massivamente. Uma invasão em larga escala estava começando sobre Shiv. A terra
vulcânica era a única fonte do mundo de powerstones manufaturadas. Se os Phyrexianos capturassem ou
destruíssem as plataformas de mana de Shiv, Urza não poderia mais construir máquinas de guerra.
Mesmo assim, era rudeza ser literalmente arrastado de uma batalha e arremessado em outra.
Barrin se endireitou. Brisas de enxofre voaram para dentro de seu manto, levando embora o último
fedor da batalha de Keld e substituindo-o com o fedor de Shiv. Ele olhou para a terra.
Aqui, a carne do mundo não passava de uma frágil crosta, supurando com lava. Em todas as
direções jaziam caldeiras e coroas de fumaça, mares de magma, ventos chiantes, bobinas viscosas de
rochas, desfiladeiros de basalto, obsidianas retorcidas, pedras-pomes, cinzas, enxofres....
Em meio a feroz desolação elevava-se o aparelho de mana. Ele era gigante, uma antiga fábrica,
parecida como uma coroa em uma pedra tumular de basalto. Um enorme prato de metal envolvia a
extremidade do aparelho de mana. Uma asa estava ancorada ao chão. A outra se colocava de pé sobre
uma enorme perna articulada sobre o mar de lava. Acima destes pratos, grandes domos repousavam.
Entre eles corria um largo salão, construído acima do pórtico templo de algum deus esquecido. Da
estrutura, tubos venosos corriam abaixo da ribanceira, direto para o mar de lava. Os tubos conduziam o
magma vermelho incandescente para dentro da estrutura, lá transformava o calor do mundo em
powerstones e metal vivo – armas para matar os Phyrexianos.
Um portal gigante - maior do que aqueles em Benália, Zhalfir, Yavimaya ou Keld - permanecia
boquiaberto nos céus. Os três primeiros cruzadores Phyrexianos avançaram das trevas. Shiv pintou seus
arcos de vermelho. Cada navio era do tamanho das plataformas de mana. Centenas mais vieram por
detrás.
“Onde está Urza?” Barrin chiou, arrancando o broche alertador de sua manga e lançando fora a
coisa brilhante.
Como se fosse uma resposta, o ar ao lado de Barrin brilhou. Uma criatura se formou dos ventos
espectrais. Os olhos de pedras preciosas de Urza brilhavam em seu crânio materializado. Uma figura foi
crescendo e se tornando numa estola de guerra com armadura, feito de insígnias cintilantes. Um feixe de
radiação se formou em sua mão. Ele se tornou em um grande cajado de guerra. Urza ergueu sua outra
mão, agarrando o broche brilhante a sua própria manga, e vaporizando a coisa.
“Fico feliz que você tenha conseguido,” Barrin disse numa ironia quieta.
Urza ergueu uma eloquente sobrancelha. “Exigências da guerra e tudo o mais.”
Barrin gesticulou. “Aqui está uma exigência para você.”
Balançando a cabeça solenemente, Urza disse, “Os navios Metathran estão a caminho. Até que eles
cheguem. Somos você e eu, amigo. Nós não podemos esperar que goblins e Viashinos lutem contra-”
“Veja!” Barrin disse, apontando em direção aos emergentes navios.
Os três cruzadores queimavam com chamas repentinas. Gigantes dragões de fogo voavam ao redor
dos navios, cuspindo destruição através deles. Apesar de eles serem enormes, os wyrms pareciam
pequenos contra as enormes embarcações negras. Mesmo assim, havia centenas de serpentes. Suas
batidas de asas arremessavam de volta os raios de mana de preta. Suas presas dilaceravam a tripulação
Phyrexiana. Seu hálito incendiário foi somente aumentado pelo óleo brilhante. Chamas explodiam de
suas bocas e se espalhavam através do casco dos grandes navios. Balaustradas se derretiam. Condutos se
romperam. Células motores se trincaram.

95
Invasion
“Rhammidarigaaz,” Barrin disse admiradamente enquanto ele observava o líder dos dragões de
fogo. Um milênio atrás, o jovem varão lutou ao lado de Urza e Barrin em uma guerra com anjos.
Certamente, Barrin havia montado nele naquela batalha. Hoje, antigo e enorme, Darigaaz lutaria ao lado
deles em uma guerra com demônios. “Ele ajuntou seu povo.”
“Uma benção, sim,” disse Urza, “mas eles não serão suficientes.” Ele apontou para abaixo dos
navios.
Dragões se derretiam em gosma preta, caindo dos céus. Alguns se debatiam por todo o caminho
abaixo até caírem em lagos de fogo. Outros eram mortos mesmo antes deles caírem, cortados ao meio
pelas rajadas dos canhões de raios ou eram devorados pelas máquinas de corrupção. Sozinhos, estes
dragões não podiam destruir os navios. Eles seriam destruídos, até o último deles.
Rhammidarigaaz viu a futilidade. Ele alardeou uma chamada e liderou seu povo num mergulho
para longe dos navios. Esquadrões de dragões seguiram em uma fita rodopiante. Asas de couro os
levaram para longe do fogo mortífero.
Queimando e soltando fumaças de fuga, os cruzadores deslizaram desimpedidos pelo portal.
“Agora é conosco meu amigo,” Urza disse severamente.
Lado a lado, o mago mestre e o planinauta voaram em direção aos emergentes navios. Eles
preparam feitiços e invocações, energias bruxuleavam por seus mantos de guerra. Barrin ergueu suas
mangas, invocando centelhas azuis como um enxame ao redor de suas mãos. O cajado de guerra de
Urza irradiava com raios tremeluzentes.
Apesar disso, uma coisa incomodava Barrin. Darigaaz não teria ajuntado seu povo para um ataque
tão mortífero somente para cessá-lo momentos depois... a não ser que ele estivesse conseguindo tempo
ou criando uma distração para mascarar um ataque maior...
Um movimento abaixo foi percebido pelos olhos de Barrin. Painéis no topo de um dos domos das
plataformas de mana mudaram de lado e deslizaram para baixo sendo guardados. Barrin conhecia o
lavatório intimamente. Nunca houve aquela seção no telhado quando ele trabalhara nele.
... criando uma distração para mascarar algum ataque maior...
Barrin lançou seu braço contra o peito de Urza, tentando pará-lo. As mãos do mago estavam cheias
de uma centelha azul, a qual agitou toda a figura de Urza, descarregando uma miríade de choques. O
erro teria matado um mero homem. Urza não estava nem perto disso.
Com sobrancelhas fumegantes, o planinauta disse, “O que é?”
“Alguma coisa está acontecendo lá embaixo,” Barrin disse, indicando quatro enormes tubos que se
projetaram lentamente a partir das lacunas do domo das plataformas de mana. “Um ataque de algum
tipo. Poderá ser perigoso voar a caminho de tal -”
A explicação de Barrin foi interrompida. Lava irrompeu em quatro ferventes colunas dos tubos. Isto
não foi uma labareda de um simples vulcanismo, mas um gêiser focado de coisas. Tão direto e quente
quanto um aço novo forjado, a rocha líquida apunhalou os céus.
Um jato se ergueu bem em frente à Barrin. Ele e Urza fugiram como reflexo, mas não antes que a
coluna tivesse evaporado suas barbas. O manto de Barrin queimou-se. A estola de guerra de Urza ardia
em chamas.
Como retribuição pelo toque chocante, Urza agarrou seu amigo flamejante. De repente, água
encharcou as roupas e o cabelo de Barrin. Ele lançou água para trás e fez uma carranca para agradecer.
O jato de lava que tinha brevemente incendiado-os se ergueu até o topo. Ele fez um arco por cima e
a rocha derretida choveu acima do cruzador líder. O fogo se deflagrou abordo do navio, e
subsequentemente, explosões lançaram lava. Mais lava empilhou-se. Seções do casco derreteram e
afundaram. Os Phyrexianos membros da tripulação correram com pás. Eles pegaram fogo em
espontâneas chamas e explodiram. Suas carapaças e ossos se tornaram estilhaços, matando aqueles que
vieram em seguida. Phyrexianos queimaram igual pipoca.
O peso abrupto da rocha derretida sobrecarregou os motores do navio. Seu lado de bombordo caiu
em sucessivos solavancos. O navio caiu em espiral. Virando e deslizando, soltando fumaça e gotejando

96
Invasion
lava, o cruzador caiu como um saca-rolha. Um rugido emergiu. Vapores assobiaram dos motores
arruinados. Inumeráveis juntas se desfizeram. O cruzador augurou num campo de destroços.
Os outros dois navios tinham sofrido similarmente por causa do bombardeio de lava. Um
estremecia enquanto seu núcleo de poder estava em estado crítico. Ele explodiu como uma bola de fogo,
arremessando sucatas e ossos, magma e músculos numa estrela explosiva. As concussões fizeram o
mundo saltar. Visíveis ondas de energia rolaram em esferas das chamas.
A terceira embarcação já estava atravessando quando a explosão rachou os céus. Ondas de energia o
lançaram com rapidez ao chão. Ele caiu através de uma cordilheira vulcânica e se rachou como um ovo.
A proa caiu de um lado da cordilheira e a haste caiu para o outro lado. Ambos os lados pegavam fogo
através das seções. Escabrosas figuras saltaram delas.
Outras criaturas, escondidas nas fendas rochosas, emergiram. Eles pareciam crocodilos atacando
sua presa. Eles ergueram clavas de guerra e machados, descendo-os nas costas dos Phyrexianos.
Selvagemente, eles mataram os invasores. Selvagemente, eles lançaram os mortos dentro de caldeirões
chiantes. Seus corpos pegaram fogo em instantes e depois se desfizeram. Os poucos monstros que
escapavam da matança pelos homens lagartos foram cercados e maltratados por outros defensores -
raquíticos e pequenos.
Barrin acenou com a cabeça, impressionado. “Parece que os Viashinos e as tribos goblins estão bem
preparados para esta batalha.” Ele esfregou uma inexistente costeleta. Cachos de cabelos chamuscados
vieram em seus dedos. “Enquanto as plataformas de mana puderem disparar colunas de magma,
cruzadores e máquinas de praga não tem chance alguma. Talvez nossa intromissão não seja necessária.”
“Os Phyrexianos tem mais truques na manga,” disse Urza, parecendo quase afrontado pelo sucesso
das plataformas de mana. Ele piscou concentrado e fez recrescer seu cavanhaque queimado.
Ele estava certo. No momento seguinte, o portal negro que estava boquiaberto derramou
esquadrões de navios menores e mais rápidos - bate-estacas e navios-adagas e dragões mecânicos. Eles
pareciam uma cachoeira, cascateando com uma fome avassaladora de dentro do buraco dos céus. Em
alguns momentos, eles colidiriam com as plataformas de mana abaixo.
“Interceptar!” Urza gritou. Ele piscou para fora da existência.
“Você podia ter me levado,” Barrin resmungou para o ar vazio. Dos cantos obscuros de sua mente,
ele puxou seu último feitiço de teleporte. Era uma magia azul, mas não havia uma pitada de água em
centenas de milhas. Com base em suas memórias da distante Tolaria, Barrin carregou o feitiço. O espaço
se fechou ao redor dele e se abriu outra vez.
Repentinamente Barrin estava ao lado de Urza. Ambos flutuavam bem acima da cúpula aérea das
plataformas de mana. Navios Phyrexianos mergulharam em direção a eles.
Urza já estava descarregando seu arsenal. Foguetes saltavam de suas manoplas. Eles subiam
guinchando e se chocavam com as embarcações que mergulhavam. Cada foguete abria buracos
profundos em seu alvo antes de explodir. Dragões mecânicos e navios-adagas pegavam fogo e viravam
estilhaços. Navio após navio explodiam. Através do fogo e da fumaça, mais embarcações caiam.
Os bate-estacas foram mais difíceis de destruir, era quase metal sólido. Os foguetes de Urza podiam
somente cavar pequenos buracos neles.
Barrin transformou a força deles em fraqueza. Ele retirou um diapasão de Serra das pregas de sua
veste, ele invocou um amplo campo de mana, e bateu o diapasão em seu cajado de guerra. Ele ressoou
seus tons absolutamente puros. O som dobrou e triplicou, se erguendo imaculado até os navios bate-
estacas acima. Ele se espalhou pelo metal sólido e estremeceu cada fibra. Os navios tocaram como sinos
gigantes. Rachaduras correram através deles. De repente, eles se desintegraram em limalhas de ferro.
Mesmo assim, mais navios mergulhavam do céu.
Soltando bolas de fogo e tempestades de fogo, feitiços de estilhaçamento e imolações, Barrin e Urza
dissolveram os motores antes que eles alcançassem o dispositivo. O céu estava cheio de chamas e
fumaça. Metal derretido chovia ao redor. A batalha estava inebriante - e também muito intoxicante.

97
Invasion
Enquanto Barrin e Urza lutavam num céu decadente, uma nova ameaça se aproximava. Tão
silencioso e sorrateiro quanto um tubarão negro, um cruzador Phyrexiano encostou ao lado das
plataformas de mana. Seus canhões de plasmas se iluminaram.
O disparo apunhalou o dispositivo. Paredes se dividiram, passarelas descolaram, estações entraram
em colapso.
O bombardeio de mana preta do cruzador soltava corrupção.
O metal Thran derretia e o contraforte caia.
“Lá!” Barrin berrou através da tempestade de fogo.
Feitiços chicoteavam do planinauta e do mago Tolariano. Relâmpagos tumultuavam pelo cruzador,
rachando sua armadura. Pedras afogueadas saraivavam o casco. Não foi o suficiente.
Os canhões e o bombardeio Phyrexiano continuaram seu fogo mortífero.
Um assobio acima anunciou que um par de navios-adagas flamejantes tinha deslizado através do
feitiço. Lado a lado eles mergulharam de impacto ao domo do dispositivo.
Explosões gêmeas arrancaram o teto. O domo tremeu e afundou. Metade do lavatório se afundou
em direção a beira do penhasco.
“Isso não é bom!” Urza gritou enquanto ele pulverizava um dragão mecânico. ”Eles estão
rompendo!”
O domo e colunata central se romperam do resto do dispositivo.
“Eles estão destruindo-o!” Barrin rugiu. Feitiços invadiram seus dedos.
Apesar disso, a seção cortada do dispositivo não caiu no penhasco. Ao invés, elas ser ergueram em
vastas, pernas articuladas. O domo não estava caindo. Ele estava se separando para lutar por conta
própria. Ele parecia um louva-deus gigante. Pernas maciças saíram de debaixo dele. Eles pegaram e
apertaram a proa do cruzador e a arrancaram brutalmente.
O navio Phyrexiano afundou. Sua proa se chocou contra o penhasco de basalto. O metal se afivelou
e guinchou. Pedregulhos partiram do afloramento e escorreram sobre o cruzador. Uma pedra gigantesca
caiu como se fosse um punho sobre a ponte, quebrando-a. Centelhas e fumaça saíram do metal
torturado. O navio deslizou para baixo. Seu casco bateu contra o penhasco enquanto caia. Com cada
impacto, nacos de sua armadura se desfizeram. Eles tombaram separadamente para dentro da lava e
pegaram fogo. Então todo o naufrágio se dispersou num esquecimento carmesim.
“Impressionante!” Barrin gritou.
“Sim,” Urza respondeu através de uma tempestade de magia. “Mas até que o portal esteja fechado-”
Rochas ferventes subitamente se ergueram dos tubos de lava atrás deles. Barrin arremessou Urza e
ele mesmo para longe da erupção. O ar se transformou em vapor em antecipação. O suor nos poros de
Barrin chiava. Suas roupas reacenderam. Pilares de fogo passaram.
A lava rolou em direção aos céus, batendo contra os navios remanescentes e respingando mais alto
ainda. Ela jorrou para dentro da garganta do portal. Ela encheu o gigantesco dispositivo como água num
buraco raso. Ronronando fumaça, o portal bateu com força e se fechou.
Navios arruinados caiam se afastando de cada outro e se dirigindo como pregos nas encostas
vulcânicas. Onde eles caiam, eles abriam buracos até o núcleo quente das montanhas. A lava escorria.
De repente, houve quietude. O portal se fora. Os Phyrexianos se foram. Somente a infernal Shiv
permaneceu.
Seu cavanhaque havia pegado fogo pela segunda vez em menos de uma hora, Urza bufou. “Eu
pareço ter subestimado os preparativos do dispositivo.”
Barrin sorria enquanto ele dava um tapinha nas chamas de suas vestes. “Parabéns são bem-vindos.”
“Parabéns,” Urza disse terminantemente.
“Não para mim,” Barrin respondeu com uma risada. “Ao cabeça do dispositivo, sua antiga aluna -
Jhoira.”

98
Invasion
Urza afirmou com a cabeça, descendo em direção ao que havia sobrado das plataformas de mana. A
seção que havia sido cortada agora caminhava sobre as rochosas cordilheiras de Shiv. Parecia um cão de
guarda esperando por uma briga.
“Eu pensei que eu sabia tudo sobre estas plataformas de mana.”
“Eu também,” Barrin disse encolhendo seus ombros num tom sarcástico. “Parece que Jhoira
aprendeu alguns novos truques. A propósito, você pode talvez desejar arrumar seu cavanhaque antes de
vê-la outra vez.”
Um irritante som sibilante investiu sobre Urza, restaurando sua barba, sobrancelha, cabelos, e as
vestes ao seu impecável melhor. Ele olhou arrogantemente para o mago que queimava.
“E você? Você tem alguma magia de lavar? Algum feitiço de remendar?”
Espalhando vestes carbonizadas, Barrin respondeu, “Não em mim. O que você vê é o que eu tenho.”
Urza acenou silenciosamente, rangendo seus dentes. Os dois desceram, observando os tubos de lava
se retirar para dentro do domo do dispositivo. Chapas deslizaram de seus bolsos e lentamente
rastejaram de volta sobre as aberturas. Com um chocalho e tinido, eles se instalaram no local.
Barrin e Urza caíram entre as torres do lavatório. A magia de voou os liberou. Botas descansaram
sobre uma varanda em arco de metal liso. Vestes imponentes e trapos esfarrapados se puseram no local.
Barrin suspirou enquanto ele sentia a quente solidez do metal por baixo de seus pés. “Onde você
acha que encontraremos Jhoira?” Ele supôs alto.
“Bem aqui.” A voz veio de um arco alto em metal entrelaçado. Dentro dele estava à própria Jhoira.
Sempre jovem, cabelos escuros, olhos escuros a mulher Ghitu vestia um macacão de trabalho e um cinto
sobrecarregado de ferramentas. Ela também tinha uma expressão sardônica. “Eu imaginei que vocês
apareceriam para ver os fogos de artifício.”
“Muito impressionante minha cara,” Barrin disse genuinamente, se aproximando dela. Ele estendeu
seus braços. “Você se importa com um pouco de pó?”
Jhoira o abraçou. “Nunca me importei,” ela disse em suas orelhas. “É bom vê-lo, Mestre Barrin.”
“E você também Jhoira,” ele respondeu. “É bom também ver as melhorias que você fez na defesa do
dispositivo.”
“Eu tive alguma ajuda,” Jhoira disse, gesticulando par trás dela.
Através do arco de metal veio uma enorme, robusta figura. O dragão andava verticalmente sobre
poderosas garras, equilibrado por uma cauda serpenteante. Um cinto talismã e um colar eram as únicas
roupas que ele vestia em sua barriga escamosa, apesar de suas asas dependurarem atrás dele como
vestes reais. Chifres se erguiam como uma coroa de sua face antiga.
“Darigaaz!” Barrin disse alegremente.
Jhoira tossiu em suas mãos. “Lorde Rhammidarigaaz dos Dragões de Fogo de Shiv.”
“Certamente,” Barrin respondeu, se curvando. “Obrigado Lorde Dragão pela valorosa ajuda sua e
de seu povo.”
Com uma voz que parecia com rochas estrondosas, Darigaaz simplesmente respondeu, “Este é meu
lar.”
Urza se curvou para o dragão também. “Shiv é seu lar e Dominaria é o lar de todos nós. Nós
esperamos poder contar com sua ajuda em defesa do mundo inteiro.”
O dragão pareceu quase sorrir. “Eu já comecei tais esforços. Eu estou ajuntando a nações dos
dragões. Nós lutaremos por Dominaria.”
“Excelente,” Urza disse. Ele se virou para Jhoira. “Você fez bem, minha cara. Notavelmente bem.
Mas esta não foi à última tentativa Phyrexiana sobre Shiv. Eu acredito que você tenha feito preparativos
em caso dos Phyrexianos apareceram além de seus tubos de lavas.”
“Ela realmente fez,” veio uma nova voz. Teferi saiu das sombras do arco. O delgado, homem de
olhos faiscantes caminhou calmamente.
Ao lado de Jhoira ele se curvou para cada uma de seus antigos mestres. “Shiv não cairá nas garras
dos Phyrexianos. Eu a salvarei, assim como salvei Zhalfir.”

99
Invasion
Urza avançou subitamente. Ele respirou – um sinal de concentração- e seu rosto ficou vermelho.
“Você não pode levar este dispositivo. Ele é meu.”
“Ele pertenceu aos Viashinos antes de você, e aos Thran antes deles,” Jhoira disse. “Além do mais,
nós não estamos levando o dispositivo. Nós estamos levando Shiv. Nós estamos salvando meu lar.”
“Você nos privaria das powerstones? Do metal Thran?”
“Não,” Jhoira respondeu, se colocando entre os dois planinautas. “Nós deixaremos para você a
parte móvel do dispositivo. Agora mesmo, ela rasteja para uma distância segura. Ela permanecerá para
você usá-la. Esta parte, aqui, e todos os nossos lares, embora – estes irão conosco.”
“Vocês estão condenando Dominaria,” se enfureceu Urza.
Teferi balançou sua cabeça placidamente. “Não. Você é quem está fazendo isso, meu amigo.”
Os olhos de Urza flamejaram. A Might e a Weakstone apareceram claramente. “Eu salvarei nosso
mundo.”
“Você não promete isso,” Teferi disse. “Você prometeu somente destruir os Phyrexianos, a qualquer
custo. Nossos lares não farão parte do custo.”
“Você não levará esta terra. Eu o proíbo!” Urza rugiu.
Teferi encolheu os ombros. “Proíba se você quiser. Agora mesmo, nós estamos saindo de fase. Um
planinauta não pode caminhar pelo tempo, Urza. A não ser que você parta agora, e leve Barrin e
Darigaaz com você, você ficará preso aqui conosco por dezenas ou centenas de anos. Você é quem
escolhe.”
Urza estremeceu, sem se pronunciar.
“Agora, mestres,” Jhoira disse. “Partam agora ou fiquem presos por séculos. Adeus.”
“Adeus, Jhoira, Teferi,” Barrin disse. “Adeus.”
Sem dizer coisa alguma, Urza furiosamente agarrou a mão de Barrin e a garra de Rhammidarigaaz.
Os três se afastaram do dispositivo. Eles mergulharam nas Eternidades Cegas.

100
Invasion
CAPÍTULO 21

GRANDE PESCARIA EM RATH

“Preparar para transplanar!” chamou Gerrard, se ajoelhando com seus braços ao redor de Hanna.
A navegadora jazia inconsciente bem ao lado de seu gabinete. Sua ferida no estômago gotejava
sangue.
Orim trabalhava diligentemente nela, impondo suas mãos no local. Uma magia argentada envolvia
suas mãos.
“Minha magia não funcionou antes nesta praga, mas...”
Sisay permanecia perto do leme. Ela manobrava o navio através de Rath, por cima e para longe das
tropas Phyrexianas que acabaram de ser bombardeadas.
“Nós precisamos de um navegador para transplanar.”
“Maldição,” Gerrard rosnou. Ele saltou sobre o duto de comunicação acima da mesa de Hanna.
“Karn, faça a travessia de volta para Llanowar.” “Ele levará tempo,” Sisay advertiu.
“Então permaneça nas alturas, e vamos esperar que estes bastardos não tenham nenhum dirigível
por perto.”
“Navios avistados!” Tahngarth berrou da arma de estibordo. “Um esquadrão de abatedores - talvez
com dois pilotos!”
Com asas negras curvadas e canhões de raios flamejantes, os Phyrexianos vieram. Fachos mortíferos
de energia saíram dos convergentes abatedores e iluminaram ao lado do Bons Ventos. Um dos disparos
atravessou a balaustrada de estibordo bem ao lado de Tahngarth. Ele esculpiu um sulco através do
castelo de proa, depois fez um arco no ar na meia nau, e tosquiou o leme.
“Evasão!” chamou Gerrard.
“Sim, sim! Claro, evasão!” Sisay exclamou. Ela rolou com força a roda para estibordo.
O Bons Ventos inclinou. Os ventos ardentes de Rath se colidiram contra a quilha virada e se
derramaram contra as duas amuradas. Suas válvulas sugaram o ar quente. Os motores batalharam para
conter o vento. Outra rajada de raio de fogo passou. Um raio atingiu o casco bem abaixo do motor
principal, ele queimou o casco, e ferveu um barril de vinho no porão. Se não tivesse sido por aquele
vinho, o raio teria rachado o núcleo de força. Como se sentissem sua morte eminente, os motores
dispararam, lançando o Bons Ventos de volta pelo caminho que ele tinha vindo.
O navio se ergueu violentamente daquela virada, se encontrando subitamente em companhia letal.
Abatedores Phyrexianos o cercavam. Eles investiram, suas asas tão afiadas quanto garras. Squee no
canhão de popa lançou raios de fogo neles. A maioria dos disparos reluzentes deslizaram, resvalando no
ar. Um dos abatedores era muito lento. Squee o explodiu. O navio saltitou e fulgurou. Ele afundou e
abriu um longo sulco na rochafluente abaixo
Os Phyrexianos revidaram fogo. Suas armas reluziam, raios saltavam após o Bons Ventos,
devorando a pele de seus aerofólios.
“Destrua essas coisas, Karn,” Sisay gritou, “enquanto nós ainda podemos destruí-los!”
As asas se dobraram com um estalido furioso como ossos se quebrando. Os motores rugiram para
manter o navio a cima. Ele fogueteou acima dos riachos reverberantes de Rath. Por um momento ele
deixou o enxame de navios para trás.
A repentina arrancada de velocidade fez Tahngarth grunhir e agarra-se a sua arma. O vento fendia
seus olhos. O minotauro deu uma bufada. Ele olhou turvamente além da balaustrada. Os portais da
praga lampejavam lá atrás. Eles ainda choviam bombas sobre as tropas Phyrexianas. Seus lábios se
curvaram em um sorriso de escárnio, o qual desapareceu logo em seguida.
“Eles não estão morrendo!” Tahngarth gritou no duto de comunicação. “Eles nem estão sendo
devorados. A praga não possui efeito nos Phyrexianos!”

101
Invasion
A voz de Sisay soou irritada através do duto. “Sem mais más noticias, Tahngarth!”
Os olhos do minotauro se arregalaram. “Más notícias, Sisay! Mais navios. Uma armada inteira.
Morte à frente.”
Sisay olhou além da trovejante proa do Bons Ventos. Lá, navios se espalhavam como um grosso
cobertor acima do chão. Eles se ergueram gradualmente em um grande eixo negro. As máquinas
voadoras pareciam uma horrenda árvore saindo do chão escarlate para os céus retorcidos. Havia dez mil
navios.
“Gerrard eu preciso de você em sua arma!” Sisay berrou.
Ainda agachado ao lado da mesa de navegação, Gerrard retorquiu, “Hanna precisa de mim aqui.
Vire o navio!”
“Sim, sim, evasão!” Sisay replicou através de dentes serrados. Ela resmungou, "Você quer tentar
manobras evasivas com aerofólios dobrados e sem navegador.” Um sorriso negro se espalhou pelos seus
dentes. “Aqui está suas manobras evasivas!” Ela empurrou o leme para frente.
O Bons Ventos mergulhou por cima de colinas desniveladas. Seus perseguidores se aproximaram de
seus flancos. Disparos vermelhos rasgaram seu casco. Desatento, o navio fendeu para dentro de uma
estreita trincheira na encosta.
Os abatedores atacaram como enxames. O navio mais baixo calculou errado. Uma rocha deformada
se ergueu como um punho para se esmagar contra sua barriga. A embarcação ricocheteou. Ela rodopiou,
cuspindo faíscas, cortando através dos batedores próximos. O outro ricocheteou para fora da rocha, e
impactou ao lado da ravina, e sacudiu para trás e para frente por mais de uma milha. Os navios
remanescentes, uns trinta, se amontoaram dentro do turvo vácuo do Bons Ventos. Raios dos canhões de
fogo encheram o ar. Eles rasgaram suportes e painéis de asas e vidro do Bons Ventos.
“Isso não bom. Squee mostrar seus merdas!” Berrou Squee.
Ele disparou. Os disparos adentraram diretamente nas entradas de ar da frente dos batedores e foi
sugado para o motor. Ele produziu uma explosão repentina de velocidade, fazendo a embarcação bater
como um bate-estaca no batedor atrás dele. Ambos os batedores explodiram de dentro para fora.
No leme, Sisay sorriu. Ela elevou o Bons Ventos acima do término repentino da fenda. Os batedores
Phyrexianos colidiram contra a muralha de rocha - um, dois, três, quatro. Admirando sua obra, Sisay
dirigiu o navio através do planalto que estava além.
O Bons Ventos voou por baixo da tropa Phyrexiana. Havia pouco espaço entre os cruzadores e o
terreno amarrotado. Se os aerofólios tivessem sido estendidos, teriam raspado em navios e no solo.
Algumas tropas de batedores Phyrexianos os perseguiram através da brecha. O apertado espaço os
forçou se espalhar pela balaustrada do Bons Ventos, trazendo-os ao alcance das armas da meia nau.
Raios dispararam. Duas vezes, o plasma roubou o raio de fogo Phyrexiano do ar. Uma terceira vez, a
energia esmagou o batedor, iluminando cada console do navio e incendiando os ossos do seu piloto. Eles
brilharam através de músculos e cascas até que o monstro cozido caiu em seu assento. O navio afundou.
O piloto do batedor, distraído pela bola de fogo que florescia abaixo, dirigia muito perto de uma coluna
de pouso de um cruzador. O metal maciço bateu contra a cabine do piloto e escavou o piloto como se
fosse mingau. O Batedor girou sobre seu eixo três vezes antes de cair e explodir.
A maior parte dos pequenos navios se agarrou a proa do Bons Ventos. Seus disparos ferroaram
cruelmente. Eles abriram buracos no castelo de proa, vaporizando seções do casco, e despedaçaram
extensões da balaustrada. Um tiro bem disparado destruiu a arma de estibordo da meia nau.
Sisay puxava com força o leme. A proa angulada ia em direção ao teto dos cruzadores Phyrexianos.
Eles foram amontoados nos céus. Era precisamente o tipo de obstáculo que Sisay precisava. Ela
permaneceu na extremidade do navio. O Bons Ventos espiralava em sua ascensão. Ele rugiu
atravessando o casco de estibordo do primeiro cruzador. As armas da meia nau do Bons Ventos
fulguraram, cortando uma linha da superestrutura.
Os motores guincharam, os batedores seguiram a propelente embarcação. Metade deles não
sobreviveu à primeira guinada, colidindo contra a barriga negra do cruzador. Oito explosões em

102
Invasion
sequência destruíram o casco lá. Mesmo enquanto o cruzador mergulhava vomitando fuligem, os outros
batedores passaram por cima da pilha de embarcações.
Entre cascos gigantescos, Sisay dirigia. O navio se ergueu com uma velocidade furiosa. Fogo e mana
preta saltaram dos cruzadores Phyrexianos. Os tiros eram lentos errando o Bons Ventos, mas cobrindo
os batedores em sua trajetória.
Berrando, o Bons Ventos disparou para o topo da coluna. Na rota, ele passou de raspão em outros
cincos batedores. Enquanto Sisay rolava o navio para um nível melhor, ela sorriu.
“Não foi um mau voo, se eu posso dizer isso de mim mesma”. Ela lançou o Bons Ventos num
mergulho magistral, rápido como um falcão, escapando de seus perseguidores.
“Ta vindo um grandão atrás de nós!” Squee berrou através do duto.
Os cruzadores se afastaram da sua pilha aérea, se aproximando do limite da balaustrada do Bons
Ventos.
“Como anda a transplanagem Karn?” chamou Sisay.
A voz do homem de prata retumbou como um trovão distante. “Transplanar a qualquer momento
que você estiver pronta.”
“Espere!” Orim gritou de repente de onde ela atendia Hanna. “Primeiro nos leve para baixo.
Metralhem aquelas tropas Phyrexianas!”
Gerrard a encarara incredulamente. “O que?”
“Eu tive uma ideia para a cura. Eu tive uma ideia para salvar Hanna.”
“Leve-nos para baixo!” Gerrard ordenou.

*****
Sua magia de cura não podia combater essa maldita praga. A magia sibilou desesperadamente de
seus dedos, incapaz de afundar dentro da ferida e purgar o negrume. Mesmo assim ela tentou, se
agarrando a batentes e cadeiras enquanto o navio deslizava em sua trajetória. Como os Phyrexianos
criaram uma contaminação que destruía toda carne a não ser a deles.
“Toda carne a não ser a deles,” Orim sussurrara em percepção enquanto ela se curvava acima de
Gerrard e Hanna. “Toda carne a não ser a deles!”
Se ela pudesse somente colher algumas daquelas carnes Phyrexianas, imunes aos efeitos da praga,
ela poderia extrair do sangue dos monstros o fator de imunidade. Ela poderia destilá-lo, e fazer dele um
soro que garantiria imunidade para qualquer um.
“Transplanagem a qualquer momento que você estiver pronta.”
“Espere!” Orim gritou de repente de onde ela atendia Hanna. “Primeiro leve-nos para baixo.
Acertem aquelas tropas!”
Levou pouca coisa para convencer Gerrard, apenas duas palavras - “cura” e “Hanna.”
“Fique aqui com ela,” Orim disse, dando um apertão na mão de Gerrard. Seus dedos deixaram uma
impressão sangrenta nas articulações dos dedos. “Ela precisa de você. Eu não posso ajudá-la aqui, mas lá
em cima,” ela acenou com a cabeça em direção a proa, “Eu posso.”
O Bons Ventos afundou num mergulho mais íngreme, colocando Orim facilmente de pé. Parecia
que alguma mão divina a erguera, impelindo-a para a proa. Agarrando a balaustrada da ponte, Orim
encontrou o caminho para o convés. Além do vítreo confins do passadiço, o mergulho do Bons Ventos
era uma coisa vertiginosa. O céu escarlate sugava sua barriga musculosa para longe das embarcações
ruidosas. O chão escarlate se inchava até engolfa-lo. Por todo o mundo arfante, tropas Phyrexianas
esperavam, fileira após fileira, preparados para marchar.
Atrás do Bons Ventos, enormes cruzadores de guerra rompiam em perseguição.
Inclinando-se para o fantástico movimento da embarcação, Orim foi da meia nau para o castelo de
proa. Com cada passo o Bons Ventos desaparecia abaixo dela. Ela sentia-se como se estivesse se
103
Invasion
lançando em direção a uma nuvem. Ela alcançou a arma de estibordo onde o irado minotauro estava
amarrado a ela.
“Eu preciso de você, Tahngarth. Hanna precisa de você .”
Ele ergueu suas mãos em submissão. “Sim. Eu não posso fazer bolhas nos navios atrás de nós.”
Empurrando as fivelas e as correias e se desenroscando dos arreios. “Nós devemos fazer a
transplanagem a qualquer momento.”
Orim balançou sua cabeça, o vento tilintava as moedas trançadas em seu cabelo “Não até nós
concluirmos uma tarefa.” Ela gesticulou para que ele a seguisse. Eles foram para o cabrestante. “Nós
temos que soltar a âncora.”
“Soltar a âncora?”
“Apenas um grande anzol para nós pegarmos grandes peixes,” Orim disse. “Eu preciso pegar
alguns Phyrexianos. Eles possuem a cura para esta praga em seu sangue.”
Sem mais palavras Tahngarth empurrou a alavanca de trava.
O cabrestante girou. Correntes rangeram. A âncora do Bons Ventos mergulhou da sua proa.
Orim a observava enquanto ela descia. Cinquenta pés, cem pés, cento e cinquenta pés. “Bom!”
Tahngarth jogou a alavanca. Os rolos espremeram as rodas do cabrestante. As catracas estalaram,
lentamente e pararam a corrente. A âncora sacudiu quando parou, oscilando acima das fileiras das
tropas Phyrexianas.
“Excelente,” Orim emendou enquanto Tahngarth subiu ao lado dela. Ela se virou, sinalizando para
Sisay ir com calma a descida do navio. O Bons Ventos mergulhou gentilmente, trazendo a âncora baixo
do exército inimigo. Orim sinalizou para manter a altitude.
A âncora deslizou suavemente sobre a cabeça cheia de armadura dos Scuta. Além deles estavam
combatentes Phyrexianos. A âncora acertou uma de suas cabeças e a salpicou. Timbres de sinos se
seguiram enquanto o resto do contingente era acertado. Os braços da âncora dragaram linhas paralelas
de destruição através das fileiras, mas nenhuma besta foi pega no seu golpe. Os impactos a mandaram
de volta para a corrente.
“Nós temos que descer mais,” Orim disse.
“Se nós agarramos a terra o navio se rasgará no meio,” Tahngarth notificou.
Orim examinou os campos à frente e sinalizou para Sisay descer mais.
O Bons Ventos desceu. A âncora se arrastou abaixo da quilha. Ela rodopiou ao redor da haste. Os
golpes giraram como uma broca nas tropas abaixo. Ela rasgou neles, golpeando, cortando, moendo,
macerando. Centenas de Phyrexianos foram feitos em farrapos pela coisa giratória.
“Ótima arma,” Tahngarth aprovou.
“Eu preciso de corpos inteiros,” Orim disse sem rodeios.
O estoque bateu contra uma rocha, lançando a âncora a retinir contra a barriga do Bons Ventos.
“Isto não está funcionando,” Orim resmungou.
“Espere,” Tahngarth disse, “veja.”
O golpe no navio acalmou a âncora. Lentamente se movimentou fácil, ela desceu nas tropas
Phyrexianas. Suas contas empalaram um par de Phyrexianos, dirigindo os ataques através deles e para o
outro lado. As duas bestas se contorciam pela goela da âncora enquanto uma terceira e uma quarta eram
empaladas.
“Levantar!” Orim gritou, gesticulando para Sisay. ”Levantar!”
O Bons Ventos se ergueu das planícies tombadas. A âncora o seguiu em direção aos céus, trazendo
quatro Phyrexianos empalados. Tahngarth enfiou um pino dentro do cabrestante e o inclinou contra ele.
Orim colocou o seu próprio pino e o empurrou também. Outros dois membros da tripulação viram a
situação e ajudaram.
Um maciço disparo de mana preta surgiu acima de suas cabeças, errando o navio e acertando a
encosta abaixo. A carga abriu um profundo abismo na terra.
Cinco cruzadores perseguiram o Bons Ventos. O primeiro navio disparou outra rajada de mana.

104
Invasion
Uma quase imperceptível onda se espalhou na gurupés do Bons Vento pelo ar. O salto o envolveu e
os quatro Phyrexianos capturados sacudindo ao seu lado. Ela se espalhou de proa a proa e se fechou
bem antes da rajada de mana preta chegar. Rath se fechou e deslizou para longe, deixando somente o
chiante espaço entre os mundos.

105
Invasion
CAPÍTULO 22

A TEIA DE TSABO TAVOC

Agnate estava lá fora. Ele e suas forças golpearam contra uma muralha imóvel de Phyrexianos. A
linha de frente era um matadouro.
O sangue Metathran – vermelho do ar que o impregnava – enlouquecia pelo chão em profundas
poças até a altura dos tornozelos. Mais alto do que tornozelos ele se erguia, acima de panturrilhas de
armaduras, coxas maciças e estômagos poderosos. Os Metathran foram batizados em seu próprio
sangue. Eles deram tanto quanto eles podiam. Machados de batalhas com powerstones ajuntaram-se no
céu se arrojando como águias, e fendendo as cabeças dos Phyrexianos. Com o sangue Metathran se
misturou o humor de Phyrexia. Óleo brilhante, massa cinzenta, ácido laranja, veneno negro, linfa rosa,
bílis amarela – os Metathran haviam rachado cada tecido e órgão nas vis criaturas. Eles tinham feito seu
caminho diretamente através disso tudo, mas eles não podiam ganhar terreno.
“Avançar!” Agnate rosnou enquanto ele lançava seu machado de batalha de baixo para cima.
A lâmina arrancou um pedaço de um escudo cranial de um Scuta. Ela encontrou um grude dentro –
somente uma camada rasa do nervo vestigial. O machado golpeou mais profundo, deslizando entre
placas ósseas. Ela macerou uma substância branca, mas não parou de cortar a besta. Não havia
receptores de dor no órgão, e o motor córtex jazia profundo abaixo da crista nodosa. A Scuta se
movimentou, um gigantesco caranguejo ferradura, e colidiu com Agnate.
Ele caiu em cima do escudo de caveira da Scuta. Sangue escorreu, ele teria escorregado para não ser
comido se não fosse por seu machado. Empurrando o punho, Agnate escalou a besta. Ele chutou o ponto
de apoio na face vestigial. Agnate se ergueu e soltou seu machado.
A Scuta cambaleou, lutando para jogá-lo fora. Agnate se agachou e pegou uma pega na ferida óssea.
Ele balançou seu machado de powerstone outra vez. Ele cravou dentro da cabeça da coisa. O metal se
grudou aos ossos. Era bem o que ele queria. Agarrando o punho do machado com ambas as mãos,
Agnate se lançou pelas costas da besta. Ele se lançou com força na arma. O machado estremeceu na
fenda óssea, mas não se soltou. O peso de Agnate virou a criatura. Suas pernas finas golpearam o ar,
esforçando para rolar.
É assim que se mata um inseto desagradável.
Uma vez que seu machado estava atolado na besta, Agnate desembainhou sua espada. Ele cortou
entre as linhas da perna. Vísceras interiores jorraram em preto. Pernas espasmaram em agonia. Agnate
golpeou outra vez, fatiando através da carne e atrás para moer ao longo do crânio. Um ataque final
dividiu a besta retorcida ao meio. Agnate caminhou através do meio cortado. Através do córrego de
lama ele alcançou seu machado e o puxou para fora.
Foi uma vitória, duramente conquistada, mas Agnate não havia ganhado uma polegada de terreno
com ela. Scuta jaziam ao redor. Em seu meio jaziam Metathran mortos. Qual era a vantagem de tal
massacre?
Talhando um infante Phyrexiano, Agnate sentiu uma jubilação súbita. Ele ergueu sua cabeça acima
do terrível tumulto e viu uma visão gloriosa.
Thaddeus e seu comando tinham atravessado. Eles correram num grupo espesso através das fileiras
internas dos soldados Phyrexianos, matando enquanto eles avançavam.
O grunhido de Agnate se transformou em júbilo. Ele podia matar eternamente nesta batalha
abominável se tão somente Thaddeus pudesse avançar.

106
Invasion
*****
O ataque foi glorioso. Thaddeus correu a frente de centenas de seus melhores lutadores.
A maioria dos guerreiros eram membros de sua guarda pessoal. Eles haviam sobrevivido aos
vormes da trincheira, centopeias espinais, e o ataque dos zumbis Metathran ao lado de seu comandante.
Outros foram granadeiros saltitantes os quais puxaram bombas de mão das faixas de seus ombros e as
lançaram em sua linha de ataque. Eles abriram caminho com destroços de Phyrexianos. O resto era
infantaria pesada – enormes Metathran criados com ampliadas tíbias, tampões de joelhos, bacias,
costelas, assim seus próprios ossos formaram uma armadura subcutânea.
Além dos guerreiros Metathran estavam às máquinas de guerra de Urza. Corredores Tolarianos
galopavam como se fossem emus3 de metal disparando querelas explosivas dos orifícios laterais.
Guerreiros su-chi martelaram em seu meio, com mãos poderosas o suficiente para rasgar mecânicas
patas dianteiras das crias de sangue Phyrexianas. Falcões mecânicos guinchavam em ondas acima,
impactando monstros, moendo suas tripas, explodindo através do outro lado, e se erguendo para
arrebatar abaixo sobre outras bestas.
Foi um ataque glorioso. Estas centenas de guerreiros e estes dois lotes de máquinas foram retirados
do exército principal, sim, mas eles rasgaram a barriga das fileiras Phyrexianas. Cada um deles matou
centenas. Cada Phyrexiano morto trouxe dez deles mais perto das Cavernas de Koilos.
Lá, jazia o comando Phyrexiano central. Nestes confinamentos apertados, cem Metathran seriam
iguais a dez mil Phyrexianos. Thaddeus e suas tropas se precipitariam através do núcleo do comando,
matariam os líderes dos exércitos terrestres, e pressionariam para fechar o portal. Este negócio sangrento
seria concluído nos próximos dias.
“Para as cavernas!” Thaddeus gritou, erguendo alto uma de suas espadas que ele carregava.
“Romper para as cavernas!” Suas tropas ouviram o chamado.
Uma onda de Phyrexianos jorrou em direção a eles, talvez quinhentos fortes. Falcões mecânicos
gritaram em seu meio empalando um a cada cinco. Eles caíram ao chão enquanto seus componentes
eram destroçados. Mais quatrocentos afluíram para frente. Granadeiros lançaram suas bombas em
grandes arcos acima. O dispositivo bruto caiu no meio da onda em execução. Uma fumaça cinzenta foi
expelida, estilhaços rasgaram através das fileiras Phyrexianas. Muitos foram feitos em pedaços. Outros
pelejaram com tocos de pernas ou braços escorrendo dourado. Mais duzentos vieram, sem terem sido
afetados.
Assim, seria dois para um. Thaddeus sorriu. Seus dentes estavam pintados de carmesim. Era para
lutas como esta que ele trazia duas espadas.
A primeira lâmina acertou uma cria de sangue atacante. Thaddeus desviou do ataque. Sua espada se
lançou com a precisão de uma flecha de um atirador de elite. Ela cravou entre costelas achatadas e
espetou através do coração da cria de sangue. A besta abriu sua boca para gritar. Somente sangue
emergiu. Ela caiu para frente, morta enquanto corria. Suas patas mecânicas dianteiras não precisavam de
um coração para viver, e elas lutavam. A cabeça da cria de sangue caiu ao chão, e foi pisoteada pelos
baques de seus próprios cascos.
A outra espada se emaranhou com um soldado Phyrexiano. Mais lento, mais parecido com um
humano, este guerreiro criado do tonel era astuto, treinado na arte do trabalho com a espada. Lâminas
atacaram. Ombros chifrudos caíram. Ambos os guerreiros interromperam seu ataque, incapaz de vencer.

3Nota do Tradutor: O emu , "Corredor da Nova Holanda" em latim) é a maior ave nativa da Austrália e, depois
do avestruz, a segunda maior ave que vive hoje. Ele habita a maioria das áreas menos povoadas do continente,
evitando apenas a floresta densa e o deserto severo. Como todas as aves do grupo das Ratitas, não pode voar, mas,
distintamente de alguns, tem pequenas asas escondidas sob as penas .

107
Invasion
Aço arranhou aço. Com olhos de cobra sem profundidade, o infante estudou seu inimigo. Através de
uma boca segmentada, ele chiou. Alguma coisa que cheirava como creosoto limoso de lábios quitinosos.
Thaddeus arremessou a coisa de volta com uma espada e trouxe a outra para sustentar. O
Phyrexiano bloqueou o ataque com uma rápida aparada. Thaddeus seguiu o bloqueio com uma estocada
que devia ter eviscerado a besta. Ela rodopiou facilmente para o lado. Thaddeus mergulhou para frente,
acertando o nada. O Phyrexiano se virou, espada erguida, trazendo-a abaixo para fender Thaddeus.
Espadas gêmeas pegaram a lâmina no ar e a lançaram para longe. As duas lâminas caíram como um
movimento de tesoura, pegando cada lado do pescoço da criatura e cortando-a. A cabeça do monstro
pendia livre.
Thaddeus avançou. Ele tinha ficado para trás em sua coluna.
Eles esculpiram através da onda de morte, perto de romper. Thaddeus ansiava estar na vanguarda.
Saltando os mortos, ele gritava outra vez, “Para as cavernas! Para as cavernas!”

*****
Acima das Cavernas de Koilos, Tsabo Tavoc havia preparado uma espécie de festa de chá. Não
havia tal coisa como chá entre os Phyrexianos, claro, e nenhuma noção de festa, por isso a mulher aranha
tinha pegado emprestado um termo humano para sua experiência. Para sentar neste local alto –
respirando o fedor da batalha, vendo compostas mortes em olhos compostos, testemunhando a morte de
seus filhos e o assassinato deles – isso era um banquete de sensações que só podia ter sido semelhante a
um excelente chá e uma agradável brincadeira.
Aquele, lá– Tsabo Tavoc pensou, olhando para baixo as lâminas salpicadas enquanto elas se erguiam
e caíam no ataque de abertura – aquele homem monstro Thaddeus, ele me dá maior diversão do que qualquer um
de vocês, minhas crianças. Eu gostaria que ele viesse até mim. Eu gostaria que ele ganhasse seu caminho até as
cavernas.
Foi um simples desejo. Para Tsabo Tavoc, desejos se tornavam realidade. Sua vontade correu pelos
seus filhos, seus assassinos. Eles levaram comandante Agnate e seu contingente a um lote de terra, se
lançando suicidamente dentro desse moedor de carne apenas para manter o moedor de carne no lugar.
Perante Thaddeus os Phyrexianos se derretiam, a vontade deles se curvando a vontade de Tsabo Tavoc.
Eles lutaram como eles lutaram porque queriam o que ela queria.
Ele veio. Reunindo cinco tropas de seus guerreiros, ele rompeu e atacou, bem como ela desejara.
Tsabo Tavoc sentiu cada rajada de sua espada. Sua consciência espreitava no interior de cada um
daqueles cérebros. Ela fugia nos momentos de morte, somente par surgir outra vez em outro guerreiro.
Ele a matou incontável vezes, cada morte recentemente excruciante. Normalmente, Tsabo Tavoc
saboreava a angústia dos outros, o assassinato, mas com este ela saboreava a morte. Sua mente varreu
através de seu povo como uma onda, batendo claramente contra Thaddeus e seus guerreiros e então, se
retirando perante ele. Ela o canalizou interiormente. Cada assalto foi seguido por uma inexorável ressaca
que o dragava mais profundamente.
Havia tal prazer na batalha. Tsabo Tavoc estava inundada de arrependimento enquanto ela puxava
sua mente da carnificina
Por que chamar a mosca quando a teia não está pronta?
Minhas crianças. Eu chamo vocês.
A resposta deles veio em pulsos acelerados, em respirações profundas nas entranhas das cavernas.
Seus asseclas no portal ergueram suas cabeças. Tsabo Tavoc viu o que eles viram, a ampla câmara do
portal negro. Ele se centralizava sobre uma rocha levemente inclinada, que brilhava como um espelho. A
reluzente rocha irradiava fios no teto. Mecanismos que energizaram há seis mil anos ainda se
amontoavam na vastidão negra.

108
Invasion
Este local foi dividido pelo próprio Inefável em dias antigos, quando ele ainda não era um deus,
mas somente um Thran. De um lado dos frontões brilhantes, as trevas estavam repletas de tropas
Phyrexianas em divisões e fileiras. Eles marcharam em direção à ascensão e a batalha. Do outro lado se
abria o enorme portal. Phyrexia jazia lá, bela e verdejante sob um céu flamejante. Campos de grama
metálica carregavam grandes exércitos.
Tsabo Tavoc não solicitaria por mais guerreiros. Ela desejava habitantes mais poderosos. Sua
vontade se amontoou pelo portal e afundou no chão. Ela desejava criaturas que viviam nas profundezas
da Quarta Esfera de Phyrexia, em meio a fornos altos que vomitavam fogo. Ela os avistou.
Eles eram anormalmente altos, anormalmente magros, sua carne pegajosa parecia papel velho para
os ossos. Em mantos vermelhos, as criaturas caminharam por trilhas de metal. Eles mergulharam longas
estacas em poços e despejaram carnes arrancadas de dentro dos toneis, alimentando peixes
demasiadamente grandes. Estes eram sacerdotes do Tonel. Eles finalizavam cada novo newt4,
transformando-o em máquinas de guerra.
A esferas e mundos de distância, Tsabo Tavoc sorria.
Seus sacerdotes do Tonel ergueram as cabeças.
Já estava simplesmente feito. Ela somente precisava colocar a imagem de Thaddeus em suas mentes.
Ela sentiu a saliva escorrer por suas mandíbulas secas. Eles obedeceriam a sua convocação. Os
sacerdotes do Tonel enviariam suas mentes sanguinárias até Koilos para dar uma olhada em Thaddeus.
Satisfeita, a consciência de Tsabo Tavoc peneirou de volta para cima. Sua mente se retirou para
dentro das Cavernas de Koilos. Quando o Inefável caminhara no mundo como um Thran, essas haviam
sido chamadas de Cavernas dos Condenados. Enquanto ela retornava para a deliciosa batalha, Tsabo
Tavoc pensou o quão certo aquele nome estava.
Certamente para Thaddeus, elas seriam outra vez as Cavernas dos Condenados.

*****
Minha espada desfez outra. Eu vejo a ponta das costeletas através da barriga das coisas. Ela corta
como se cortasse uma blusa. Um derramamento estranho, negro, formas úmidas. O monstro se desfez
em pedaços. Parece que eles nem têm vontade de viver.
Eles não podem me matar. Era quase brutal matar desta maneira. Eles não eram páreo para mim e
os meus. Matar estes Phyrexianos é como cortar grama. É como cortar dentes de leão, exceto que estas
flores berram e jorram.
Outro tombou. Parece estarem quase se curvando a mim. Eu dividi suas costas. Minha espada
cortou através, separando carne dos ossos como se filetasse um peixe. Eu ataquei através do estrume
dele. Meu pé esmagou um pulmão ofegante.
Eu fui muito bem desenvolvido. Urza trabalhou muito para me construir. Ele havia afastado a
humanidade, conhecendo seus inimigos, eles destruiriam tudo o que era humano. Urza me aperfeiçoou
com a desumanidade assim eu poderia lutar com os Phyrexianos e não seria destruído. Eu sou um
monstro maior do que estas coisas que eu mato. Eu sou um monstro nascido do Tonel cuja correia é
segurada por Urza ao invés de Yawgmoth.
A espada dilacerou através do escudo de um Scuta e dos nós dos ossos abaixo. Cérebro respingou
nos meus pés e costelas através da espinha do monstro. A criatura caiu acima de pernas fugitivas.
Nuvens de poeira subiram ao redor da besta liquidada. Eu saltei sobre ela e cortei um soldado

4
Nota do Tradutor: Newt é a salamandra na fase juvenil. O termo aqui é usado para a forma primária de vida
Phyrexiana.

109
Invasion
Phyrexiano. Ele ficou tão surpreso pelo meu assalto que permaneceu, embasbacado, apesar de seus
ombros terem sido cortados de baixo até o esterno.
Eu fui muito bem desenvolvido.

*****
Thaddeus e suas centenas entraram. Eles adentraram como demônios através das hostes
Phyrexianas.
Agnate ainda estava atolado no matadouro da frente ocidental. Ele lutou em meio a exorbitantes
corpos. Metathran mortos jaziam em assustadores envolvimentos com Phyrexianos mortos. Pernas e
artrópodes projetavam montes, parte redutos, parte perigosos. Matando outra besta, Agnate perscrutou
além do corpo da coisa.
Thaddeus lutava numa grande distância. Oh, batalhar naquela velocidade, tão rápido e livre! Deve
ter sido glorioso.
Agnate conectou sua mente com a de seu sósia. Acima do barulho insano, ele requisitou. Em toda
aquela loucura assassina, Thaddeus estava perdido. Agnate não podia tocar seu companheiro. Uma
presença maior enchia o campo de batalha – uma mente maior em possessão ciumenta.
Pouco importava. Thaddeus prevaleceria. Eles conheciam a mente de cada um mesmo quando eles
não podiam tocar. Thaddeus estava muito ocupado na corrente batalha.
Deve ter sido glorioso.

110
Invasion
CAPÍTULO 23

AS CAVERNAS ONÍRICAS

Este lugar não era adequado para os elfos de Llanowar. Eles estavam acostumados com as colunatas
das árvores, as vinhas dependuradas nas vastas estradas, as folhas entre as nuvens e os dias sob o sol.
Este lugar não possuía árvores, mas colunas de pedras de suplício. Não tinha vinhas, porém havia
serpentes gigantes e cegas que rastejavam no solo da caverna. Nos lugares celestes havia virilhas de
rochas. Ao invés da luz do sol havia escuridão. Era pior do que isso. Amontoados aqui nestas cavernas
assombradas, os elfos sabiam que agora mesmo árvores e vinhas e céus estavam sendo dizimados. Este
lugar podia não ser adequado para elfos, mas já nem era mais o lar deles.
Eladamri caminhou por entre a multidão de refugiados. Eles se sentaram lado a lado na larga,
escura caverna. Lin Sivvi caminhou em silenciosa vigilância atrás de Eladamri. Ela se mantinha distante
dos refugiados, que fervilhavam ao redor dele em terror. Eles temiam vir aqui. Era um lugar que vivia
em sua mente comum – As Cavernas Oníricas, o submundo lar dos mortos.
É bem verdade, que desde que eles chegaram, estranhos espíritos agonizantes voavam ao redor
deles.
Eladamri não era profeta. Ele era um guerreiro. Para ele isto não era um submundo, mas sim uma
casamata, não um lugar de mortos e sim de vivos.
Eram estes os únicos sobreviventes em Llanowar? Podiam eles ser considerados sobreviventes?
Talvez uma centena houvesse morrido no palácio. Talvez mais uma centena houvesse morrido na
descida. Como estes milhares morreriam? Fome? Não, eles não durariam tanto. Eles morreriam num
estouro atropelador.
Um velho elfo, segurando uma criança berrante, resumiu todos os medos deles – “As Cavernas
Oníricas... trazem os pesadelos... a vida!”
Os refugiados trouxeram uma riqueza de pesadelos com eles. Visões de bombas de praga
arremessadas brilharam em seus olhos. A vergonha de deixar seus nobres mortos... anéis reais não
reivindicados em dedos paralisados...
Talvez as Cavernas Oníricas possuíssem esse poder. Aqui, abaixo de milhas de raízes, o ar estava
carregado de mana verde. Apenas respirá-lo induzia a um sono de vigília. As rochas cantarolavam em
simpatia com o coração do povo. Talvez estas cavernas realmente colhiam pensamentos de suas mentes
e os enviava através do ar.
Um terror pessoal de um homem desfilava perante famílias inteiras. A morte real de centenas acima
estava combinada com a morte surreal de centenas de milhares abaixo.
Os refugiados escalonavam sobre as cavernas, retorcendo suas mãos e se lamentando. Outros
pensaram em seus companheiros, pensando neles como fantasmas. Fugindo, gritando ainda mais para
dentro dos lugares mais profundos. Eles caiam em ninhos de serpentes brancas, as quais acordavam
para encontrar carne quente. Eles tropeçavam dentro de poços que mergulhavam para dentro do núcleo
fervente do mundo. Eles fugiram para os múltiplos estômagos de Dominaria, onde ela devorava suas
próprias crias.
O terror tornou-se realidade.
Eladamri tinha que parar aquilo. Ele ainda não tinha salvado este povo. Ele os trouxera de uma
morte para outra.
Não por muito tempo. Se eles podiam sonhar com horrores, eles podiam sonhar com belezas.
Erguendo alto a lanterna que ele trouxera de lá cima, Eladamri caminhou com certeza e passo certo
entre seu povo. Ele se dirigiu para uma proeminente rocha do outro lado da caverna. Para alcançá-la, ele
passaria através da massa principal de refugiados. O palco era perfeito, como se ele tivesse sonhado para

111
Invasion
que ele existisse. Enquanto Eladamri caminhava, ele cantou uma antiga balada dos elfos de Skyshroud,
seu povo de Rath:

Eu caminho nos bosques de Damherung.


Abaixo de um sol manchado vou eu
E canto sobre a ruína de Volrath
Abaixo de um brilhante céu.

Oh floresta, segura teu filho errante,


Apesar de medos assaltarem a porta.
Oh folhagem, cubra teu devastado,
Em vestimentas cortadas para a guerra.

Os refugiados não conheciam este hino, mas eles pensariam que o conheciam. As cavernas
conduziram a voz dele entre eles como uma brisa que prometia chuva. A música engoliu gritos
recordados. Ecos se tornaram memórias. Eles conheciam este hino, e enquanto ele caminhava entre eles,
eles colocaram de lado terrores estridentes para cantar.

Pois o que são folhas senão incontáveis lâminas


Para lutar com incontáveis inimigos nas alturas,
E o que são galhos senão conjuntos de lanças
Para matar os monstros dos céus?

Oh floresta, segura teu filho errante,


Apesar de medos assaltarem a porta.
Oh folhagem, cubra teu devastado,
Em vestimentas cortadas para a guerra.

Os murmúrios da canção se ergueram, afogando o último dos gemidos e dos gritos. Até mesmo Lin
Sivvi, caminhando atrás dele, cantou. Vozes se ajuntaram, se fortificando, crescendo, até que parecesse
que a garganta do mundo cantava com eles.

Apesar de a morte ter astúcia e longos poderes,


Apesar da sede de sangue governar as marés fumegantes,
É a vida que luta sem armas de hora em hora
E finalmente permanece.

Oh floresta, segura teu filho errante,


Apesar de medos assaltarem a porta.
Oh folhagem, cubra teu devastado,
Em vestimentas cortadas para a guerra.

Pelo tempo que ele tinha alcançado o nó da rocha, a caverna inteira cantava - alguns estridentes,
alguns quietamente, alguns apenas em zumbidos suaves. Os refugiados observavam este elfo que eles
tinham visto pela primeira vez na copa das árvores, de quem eles se lembraram de séculos a séculos.
Eladamri ergueu seu rosto. A luz da lanterna brilhou através dela. Ele não era velho para um
elfo, em meio a seu segundo século, mas seus olhos profundos e nariz proeminente e queixo projetado

112
Invasion
dava a ele uma aparência de sábio. No brilho da lanterna, ele parecia à única coisa sólida no mundo das
sombras. Eladamri falou.
“Llanowar se erguerá outra vez,” ele disse simplesmente, sem preambular. As palavras golpearam o
ar e fizeram visões da floresta. “Folhas verdes cresciam do solo preto. Disparos verdes se erguiam da
madeira carbonizada. Momentos de derrota foram engolidos por um milênio de triunfo.”
Estas palavras não eram suficientes. Ele precisava falar não com palavras e sim com visões.
“Eu vejo pássaros reluzentes se lançando entre os galhos que se espalham. Crianças se balançando
nas vinhas que se penduram aqui. Frutas vermelhas explodem de dobras floridas. Brisas mornas
arrancam o orvalho das folhas e o carregam em frescas filas de névoas através da coroa. De cada buraco
vem o som de canções e risos.”
Um suave murmúrio de alegria se moveu entre o povo. Eles se alegraram com esta árvore dos
sonhos.
“Sim,” Eladamri continuou, “nós estamos aqui. Todos nós. Nós habitamos nas nuvens, amigos do
sol. Este dia não passa de uma memória triste. Será devorado pela vida de alegria. Nós estamos aqui,
descansando nas alturas. Deitem-se meus amigos. Inclinem suas cabeças para a casca quente da árvore.
Respirem seu doce pólen e durmam por enquanto.”
Com o sussurro de roupas esfarrapadas e o murmúrio de almas cansadas, os refugiados sentaram-se
no chão. Um a um eles suspiravam em sono e sonhos de uma árvore perfeita.
Eladamri sorriu ao ver isso. Pelo menos eles podiam descansar. Pelo menos eles cessariam de
atropelar um ao outro e se lançar a destruição. “Muito bem feito,” disse Lin Sivvi atrás dele. “Alguém
tinha que fazer alguma coisa,” Eladamri suspirou. “Sim,” veio uma nova voz, trêmula e ofegante,
“alguém tem de fazer alguma coisa.”
Eladamri se virou para ver um elfo ensanguentado emergir do próximo túnel. O homem era um
camponês, sua camisa estava queimada e seu ombro estava empolado da queimadura. Ele não tinha
descido com os refugiados da Alta Corte.
Soltando um suspiro ele disse “Você deve vir conosco. Você deve fazer o mesmo por nós! Nós
viemos do chão da floresta. Nosso vilarejo foi destruído. Há quinhentos. Você deve vir nos ajudar como
você ajudou estes aqui.”
Os olhos de Eladamri brilharam sombriamente na luz da caverna. Este homem desesperado
interpretaria esse fato como um mistério e poder. De fato, Eladamri sentiu uma dúvida que beirava ao
pânico. Ele havia feito o que ele pôde por este povo desesperado - o trabalho, não de um salvador, mas
sim de um guerreiro compassivo. Ele não havia feito mais do que qualquer outro faria.
Por que então ninguém mais o havia feito? “Eu verei o que eu posso fazer.”
Uma luz perfurou o terror da face do elfo. Ele parecia respirar pela primeira vez desde que ele tinha
falado. Ele fez uma profunda reverência. Eladamri podia ouvir a pele queimada do seu ombro crepitar
com o movimento. O agradecido homem respirou vivificado.
Na escuridão total, até mesmo a mais fraca brasa parecia um sol brilhante.
Eladamri era essa fraca brasa. Seu brilho havia iluminado povos, e enquanto eles se curvavam, sua
respiração esperançosa atiçava o fogo dentro dele. Eles precisavam de um salvador. Eles estavam
criando um salvador. Ele somente podia receber sua adoração e usá-la para salvar tanto quanto ele
podia.
Talvez tudo isso era o que um salvador sempre foi.
“Leve-me até eles,” Eladamri disse, segurando a mão do elfo e o erguendo de sua reverência. “Eu
irei onde você me levar. Pegue minha lanterna. Deixe que ela o guie.”
O elfo balançou sua cabeça. ”Fique com sua lanterna. Eu quero que eles o vejam. Eu quero que eles
vejam quem eu trouxe.” Ele comprimiu seus agradecimentos e se virou para levar Eladamri.
“Eles não suportarão sua ausência por muito tempo, Eladamri,” Lin Sivvi disse por detrás dele.
“Eles procurarão por você.”

113
Invasion
Enquanto ele seguia seu guia abaixo por um eixo estreito de pedra inclinada, Eladamri respondeu,
“Vamos esperar que nós não nos ausentemos por muito tempo.”
“Eu não posso mantê-los afastados, você sabe,” Lin Sivvi disse. “Meu totem-vec pode afastar
inimigos, mas não amigos. Esse era o trabalho de Takara.”
Eladamri prendeu a respiração. O bombardeio no palácio foi um caos - a trajetória descendente, o
terror dos pesadelos coletivos... Ele tinha esquecido sobre sua companheira. “Ela não...”
“Não,” Lin Sivvi retorquiu simplesmente.
Eladamri se apoiou, colocando uma mão febril na rocha fria. A rocha drenou seu calor. Perante ele, a
passagem descia para a profunda escuridão. O ar gelado rastejava vindo de espaços abaixo. Parecia que
Dominaria estava respirando. Parecia que sua respiração era fria.
“Apenas um pouco mais adiante,” o elfo assegurou. Ele era pequeno e tinha o passo firme, como um
grilo da caverna.
Eladamri e Lin Sivvi escolheram seu caminho através de um campo de escombros aonde pedaços de
pedra vieram do exorbitante teto. Adiante, a passagem se endireitava parecendo quase uma mina
lavrada de rochas. Os passos de Eladamri ecoavam em sussurros ao redor dele. Ao final do corredor, o
elfo permaneceu perante uma vasta caverna. A lanterna de Eladamri mal brilhava na escuridão.
Ele olhou para a lanterna. Seu pavio não era mais do que uma pequena saliência. Pegando o colar da
sua vestimenta, Eladamri agarrou o seu colar e o rasgou com força. O tecido se soltou facilmente. Ele
abriu a lanterna, acendeu a faixa do material, e o colocou no lugar do pavio. O colar se encheu de óleo. O
fogo queimou. Eladamri fechou o painel e ergueu uma lanterna luminosa.
Sua luz brilhou por toda uma caverna repleta de figuras agachadas. Os olhos deles se iluminaram.
Eles não olharam para a luz, mas sim para o portador dela.
“Vamos descer até eles,” Eladamri disse. “Sim,” o elfo disse, lutando pela encosta. Enquanto
Eladamri descia Lin Sivvi falou, “Nós devíamos voltar.” “Eu não posso voltar,” Eladamri disse. “Eles
vislumbraram esperança. Se eu partisse isso os mataria.”
“Você não pode cantar para este povo e fazer discursos bonitos. Olhe para eles, Eladamri. Olhe para
eles.”
Ele olhou. Seu coração gelou em seu peito. Não era simplesmente a escuridão que os envolvia. Era
morte. Eles estavam apodrecendo. Sua carne fervilhava nos ossos. Dentes apareciam através de trapos
de lábios. Olhos lacrimejavam em buracos sem pálpebras. O ar entrava e sai por traqueias crivadas. Os
ossos dos ombros se mostravam brancos através da carne descamada. “Eles ainda estão vivos,” Eladamri
disse.
“Mas por quanto tempo?” Lin Sivvi retorquiu apertando o ombro dele. “Você não pode salvá-los.”
Com olhos endurecidos, Eladamri se afastou dela. “Estas são as Cavernas Oníricas. Eu não posso
salvar este povo, mas seus sonhos podem.”
Ele desceu o passo final da encosta e ficou entre eles.
Eladamri ergueu sua lanterna, espiando alegria através das hordas.
“Contemplem, filhos de Staprion o terror desceu dos céus, mas a esperança se ergue do mundo.
Géia não os esqueceu. Freyalise me enviou a vocês. Ela quer que vocês se ergam inteiros, para a luz.
Venham a mim, irmãos e irmãs. Venham. Creiam. Sejam curados. Nós nos ergueremos. Nós salvaremos
nossa terra natal. Venham!”
Lin Sivvi permaneceu no declive, suas mãos suavam no cabo do totem-vec. Ela não devia cortar
aliados, e nem vítimas da praga. Ela podia somente assistir enquanto eles cercaram Eladamri,
pressionando-o, engolindo-o em sua podridão. Em momentos, ele se foi. Até mesmo a luz de sua
lanterna foi eclipsada naquele clamor de cabeças e mãos.
Agora, só havia trevas, trevas e morte e o lamento dos mortos.
De repente, a lanterna reluziu novamente. Ela se ergueu, segurada por uma mão saudável. Seus
raios se espalharam por cima de mais carne saudável. Onde houve cabeças escamosas e braços

114
Invasion
esqueléticos agora havia fluxos e jovens músculos. Onde houve apodrecimento agora havia vitalidade.
Era como se a própria luz estivesse curando-os, reconstruindo corpos, renovando espíritos.
No centro daquele brilho estava Eladamri. Suas vestes pareciam iluminadas por dentro.
Mãos procuravam por ele, tocando-o, voltando inteiras.
Lin Sivvi soltou sua arma. Ela esfregou os punhos em seus olhos. Isto era outra ilusão das Cavernas
Oníricas?
Ondas de energia, de crença, varriam em visíveis anéis de Eladamri.
Isto não era um sonho. Isto era verdade.
Com a boca aberta, Lin Sivvi se ajoelhou.
Eladamri cantou alegremente para seu povo:

Apesar de a morte ter astúcia e longos poderes,


Apesar da sede de sangue governas as marés fumegantes,
É a vida que luta sem armas de hora em hora
E finalmente permanece.

Oh floresta, segura teu filho errante,


Apesar de medos assaltarem a porta.
Oh folhagem, cubra teu devastado,
Em vestimentas cortadas para a guerra.

115
Invasion
CAPÍTULO 24

REUNIÃO DE HERÓIS

A enfermaria de Orim parecia um zoo. Ratos e esquilos voadores se mexiam em gaiolas


improvisadas. Por toda sua mesa havia pilhas do que pareciam ser ovos de peixes, guardados em frascos
herméticos. Quatro Phyrexianos jaziam mortos ao lado. Eles pareciam baratas gigantes derrubadas.
Somente um paciente verdadeiro permanecia - Hanna. Ela esvaia-se em um sono febril no lado mais
distante do quarto. Era por causa dela que o zoológico existia. Foi para salvar aquela humana que Orim
trabalhara tão incansavelmente nos cadáveres Phyrexianos.
Destes cadáveres, Orim aproveitou cada fluído que pudesse encontrar - óleo brilhante, bílis verde,
saliva, suco gástrico, veneno, linfa, fluído cefalorraquídeo, até mesmo líquidos cardíacos. Felizmente,
estas criaturas nascidas do tonel não possuíam fluídos reprodutivos. Usando uma centrífuga e águas
mágicas Cho-Arrim, Orim separou cada fluido em suas partes dos componentes. A linfa e o sangue
continham muito dos compostos de combate à doença, e comparando os materiais comuns a eles,
permitiu a Orim estreitar as substâncias de imunidade. Então, era apenas questão de aplicar destilações
de cada parte da fauna e flora de Llanowar infectada pela praga.
A armada aérea Benaliana tinha provado bastante intrepidez em ajuntar cobaias.
A substância de imunidade, como se viu, era uma plaqueta suspendida em óleo brilhante. Ela não
podia reverter à doença, mas ela prevenia de se espalhar. Folhas não infectadas tratadas com a
substância tornavam-se imunes a praga. Folhas infectadas não pioravam, mas também não melhoravam.
Sem cura, isto, pelo menos preveniria a doença de se espelhar, carne para carne e pessoa para pessoa.
Squee tinha ajuntado ratos no porão - bestas saudáveis que tinham se banqueteado com biscoitos do
mar e cerveja. O material negro foi devorado avidamente pelas bestas. Em alguns momentos elas se
provaram imunes. Esquilos voadores infectados da floresta também gostaram do sabor da imunidade
Phyrexiana, e sua doença cessou de avançar.
Agora, era com Orim. Ela não testaria esta substância em pessoa alguma até que tivesse testado nela
mesma. Após dissecar cadáveres Phyrexianos, Orim tinha pouco estômago para o caviar curativo, mas
ela faria qualquer coisa por Hanna. Respirando fundo, ela ergueu a massa negra sacudindo-a até sua
boca. A colher deslizou relutantemente sobre seus dentes.
Minúsculas, esferas frias se fixaram na sua língua. Eles pareciam miúdos grânulos de vidro,
deslizando abaixo por detrás de seus dentes. Eles tinham gosto de óleo. Ela não ousou mastigar, somente
engoliu. As plaquetas rastejaram por dentro de sua garganta. Deslizaram até sua barriga. Ela sentiu um
calafrio escuro. A sensação se espalhou do seu estômago para seu sangue. Será que era apenas sua
mente, ou isto parecia como uma pequena invasão? Um estremecimento se espalhou por ela, uma frieza
se espalhou por baixo de suas roupas e pelas pontas dos seus dedos.
“Isso deve ser tempo suficiente,” Orim suspirou.
Ela ergueu uma faca da sua mesa de trabalho, colocou a ponta em seus bíceps, e afundou a lâmina
num breve, mas profundo corte. Foi quase indolor, a faca era muito afiada. A lâmina se afastou. Uma
gota carmesim brotou do corte. Abaixando a faca, Orim pegou uma folha infectada, abriu o corte, e ruiu
a corrupção negra dentro da ferida. Cada instinto que ela tinha - não somente como uma curandeira,
mas como um ser vivo - estremeceu a vista daqueles flocos negros aderindo à carne cortada.
Apertando um pano sobre o local, Orim fechou os olhos e chiou. Esta luxação da praga era
virulenta o suficiente para deixar a carne necrosada em minutos. Ela somente precisava esperar por estes
minutos para ver se ela tinha inventado um soro ou se ela estaria embarcando com Hanna para a estrada
da morte.
Afastando o pano, Orim abriu a ferida. Ela olhou para a perfeita, carne vermelha. Uma profunda
respiração de agradecimento a encheu. Ela agradeceu em silêncio pelo poder da cura e das águas.

116
Invasion
“Oh, Hanna,” Orim disse, apesar de ela saber que sua paciente ainda dormia. “A primeira
esperança. Não pode salvar você, mas pode salvar outros. Eu continuarei trabalhando até que eu
encontre a cura.” Lágrimas escorreram dos seus olhos, Orim pegou um frasco de plaquetas e o
aproximou de Hanna.
Ela sentou ao lado dela, joelhos dobrados sobre a ferida da barriga que a estava matando.
Sentada no seu beliche, Orim estendeu a mão gentilmente para passar a mão nos cabelos de sua
amiga. Hanna estava tão magra. Sua face parecia uma pele esticada sobre uma caveira. Seus olhos
estavam visíveis sob tampas translúcidas. Seu pescoço era um feixe de cordas esticadas. Somente seu
cabelo estava como tinha sido – um córrego dourado. Afetuosamente, Orim afundou seus dedos nos
fios.
“Hanna acorde. Eu tenho uma coisa para você.”
Uma respiração trêmula veio de Hanna. Ela rolou para suas costas. Ela aliviou suas pernas para
baixo. Elas pareciam finas como gravetos embaixo dos cobertores. Tampas azuis foram puxadas de olhos
sangrentos. Orim mordeu seu lábio para ver a dor crônica ali.
Hanna murmurou fracamente, “Uma coisa... para mim?”
“Não é uma cura, mas ele impedirá a doença de avançar.” Orim ergueu o frasco. “Ela impedirá uma
pessoa saudável de pegar a doença.”
“Obrigada,” Hanna disse, alcançando-o. Ela não agarrou o frasco, mas o braço de Orim. “Use-o em
alguém que possa ser salvo.”
Os olhos de Orim ficaram turvos. “Há suficiente. Eu quero que você tome isto. Ganhará tempo.”
Sem soltar o braço da amiga, Hanna afastou a roupa. As ataduras que circulavam sua barriga
pareciam frouxas, como se ela tivesse encolhido. Mesmo além do limite destas ataduras, sua pele estava
cinza do ombro até a coxa. Gavinhas de corrupção se aprofundavam do cotovelo ao joelho.
“Tempo para o que?” Ela se cobriu outra vez. “Por favor, de a alguém que possa ser salvo.”
Orim tristemente acariciou as bochechas da amiga. “Gerrard ordenou. Agora, abra.”
Com o olhar duro e furioso, Hanna tomou a colherada.
“Eu não desistirei, Hanna. Eu vou encontrar a cura.”
“Obrigada, Orim,” Hanna disse quietamente. “Obrigada... eu preciso dormir.”
“Sim,” respondeu a curandeira. Ela puxou os cobertores até os ombros dela. Um calafrio correu por
sua espinha. Um dia, cedo ou tarde, ela estaria puxando estes cobertores até o rosto de Hanna. “Durma,
doce garota. Durma.”
Se virando, Orim se ausentou da sua mesa de trabalho. Hanna respirava num repouso tranquilo
enquanto Orim ajuntava a prateleira de frascos. Ela empurrou a porta e subiu as escadas. Os pequenos
potes chacoalhavam enquanto ela subia.
Aqui, além dos cadáveres Phyrexianos e as cobaias enjauladas, o Bons Ventos cessava de ser um
laboratório e se transformava num navio de guerra. Um alferes corria acima da escada de escotilha,
lendo de páginas na sua mão os nomes daqueles que eram os próximos a comer. Orim continuou até que
ela alcançou a escotilha da meia nau. Ela subiu até o convés.
Gerrard agachava-se no convés, trabalhando com a tripulação que estava facilitando a reparação do
canhão de bombordo e a sua amarração. Ele estava nu da cintura para cima e transpirava, apesar de uma
constante brisa vir de cima da proa para ele.
Orim se aproximou, erguendo a prateleira de frascos. “Eu tenho, soro suficiente para todo o
complemento do navio e mais alguma sobra.”
Da poça de graxa de onde ele estava ajoelhado, Gerrard olhou para cima. “Você tem? A cura?”
“Não a cura. Eu tenho um soro de imunidade.”
Ele ficou de pé. “Isso ajudará Hanna?” Orim balançou sua cabeça lentamente.
Uma linha de raiva cortou a sobrancelha de Gerrard, mas ele resolveu dizer, “Bom trabalho. Você
nos salvou.”
“Muitos de nós.”

117
Invasion
“Administre o soro. Uma vez que todos estejam tratados, eu quero que você separe o resto - tanto
quanto você puder guardar - para um presente.”
“Um presente?” ela perguntou.
“Nós estamos aterrissando nas copas das árvores. Não a armada inteira, apenas o Bons Ventos e sua
imune tripulação. O próprio navio deveria ingerir de alguma forma um pouco do soro, para deixar seu
casco impenetrável. Eu perguntarei a Hanna como-”
“Pergunte a Karn,” Orim sugeriu.
Balançando a cabeça rigidamente, Gerrard disse, “Eu quero levar o resto do soro para quem quer
que possa ter sobrevivido lá, como símbolo da nossa aliança. Nós aterrissaremos no centro da
devastação - há um palácio arruinado lá embaixo - e nós procuraremos até que nós encontremos
nativos.”
Os olhos de Orim brilharam. “Bom. Talvez nós encontremos mais Phyrexianos. De me mais
Phyrexianos, e eu te darei mais soro.”
Gerrard assentiu, seus olhos pareciam punhais. “Eu te darei mais Phyrexianos.”

*****
Não era tarefa fácil para Multani encontrar os refugiados, abaixo nas profundezas. As Cavernas
Oníricas jaziam abaixo de um lençol freático de Llanowar. A maioria das raízes afundou não mais do
que este mar subterrâneo. As Cavernas Oníricas se escondiam abaixo. Os Phyrexianos não podiam tê-los
encontrados lá, e nem mesmo Multani teria se não fosse pela orientação de Molimo. Ele mostrou o
caminho. Apesar das maiorias das raízes não ter tocado o lençol freático e rachado a concha de granito,
algumas raízes perpendiculares o haviam feito.
Uma árvore que se erguia a milhares de pés acima da mesma maneira afundava nas profundezas.
Ainda assim, o caminho não era fácil. Multani espiralou por uma árvore que pulsava com agonia.
A coroa da árvore havia sido devorada pela praga. Nem uma simples folha havia restado. Metade dos
galhos foi destruído. A praga apodrecida circundava o tronco da árvore em cinco anéis separados. Se
mover através de madeira morta era aterrorizante. Cada impulso clamava para que Multani escapasse.
Ao invés disso, ele se percorria mais baixo, abaixo do humus fecundo, através do frígido mar
subterrâneo, através mesmo dos granitos até as cavernas.
Multani emergiu das raízes perpendiculares precisamente onde os refugiados estavam. Ele ajuntou
um corpo para ele das gavinhas albinas e brilhantes líquenes. Os grilos das cavernas se tornaram seus
olhos e baratas brancas seus dedos e dedões. Era uma forma espectral, venenosa e brilhante, mas era a
única vida que ele podia ajuntar nestas profundezas. Certamente, ele não estaria mais horripilante do
que os próprios refugiados. Ele seguiu suas pegadas.
Uma coisa estranha – uma brisa fresca e quente rolou da passagem em direção a ele. Pareciam as
macias marés de ar que traziam a chuva da primavera. Cheirava a relâmpago. Aqui, a três mil pés
abaixo do mundo, brisas perfumadas sopraram com vida. Isso era impossível, ou pelo menos
miraculoso.
Certamente que a brisa circundava a Semente de Freyalise.
Multani a seguiu. Através de caminhos sinuosos, ele se foi. Ele não mais perseguia uma trilha de
sangue e lágrimas, mas agora um sopro de esperança.
Ele alcançou uma caverna ampla. O povo lá não simplesmente respirava esperança. Eles a
cantavam. Em círculos de fogo eles se ajuntaram, cantando e falando, comendo e curando. O fogo era
impossível. Não havia combustível, nem ventilação. Mesmo assim eles queimavam. A comida também

118
Invasion
era cômica – vinho Grappa5, maçãs secas, pão trançado, manteiga de mel, caramanchão de uvas, cebolas,
cebolinhas e galinhas. Alguns círculos possuíam um fogo menor, meros traços de ração, e outros se
alimentavam com enguias e queijos e da mesa do rei. Era uma comida dos sonhos. Mesmo assim, os
nutria tão certamente como os fogos aqueciam e iluminavam. Aqueles que acreditaram na saúde eram
curados. Aqueles que acreditaram na felicidade tornavam-se alegres.
Um homem os havia ensinado a sonhar com belezas, e eles o sonharam com glória. Ele estava bem à
frente, caminhando entre a multidão. As mãos de Eladamri se prolongavam sobre as deles e a saúde
despertava.
Multani se aproximou. Mesmo na multidão encantada, um homem feito de raízes e gavinhas era
uma visão estranha. O povo se afastou perante ele.
Eladamri ergueu os olhos para contemplar um homem com olhos de grilos da caverna.
Multani se curvou, um sorriso irônico sobre lábios de musgo branco. “Saudações Semente de
Freyalise. Eu trago noticias da floresta.”
Os olhos do homem estavam mudados. Ele não era mais um simples elfo agora. Ele era alguma
coisa mais. Forças divinas haviam conspirado para transformá-lo numa ferramenta, e ele havia
permitido se tornar uma.
“Não me conte aqui, entre a multidão. Eu não permitiria que suas notícias reverberassem
desnecessariamente através das Cavernas Oníricas.”
Ele era sábio. Palavras de atrocidades de cima podiam despertar atrocidades abaixo.
Multani simplesmente disse, “Você não escapará desta multidão, e então –“ ele tomou as mãos de
Eladamri. Através do toque ele sentiu seus pensamentos.
O palácio da árvore está destruído, com todos que permaneceram acima. Isto é, apesar do incessante trabalho
das aranhas gigantes em conter a contaminação. Assim também, a praga devasta a casa de comércio de Kelfae e o
porto de Wellspree de Jubilar. Por toda a floresta, a morte está avançando descontroladamente.
Eladamri encarou sombriamente o homem galho. Isto não é novidade. Nós sabíamos que tudo que estava
acima foi destruído pelas bombas.
É pior. O primeiro navio aterrissou nas ruínas do Palácio de Staprion. O cheiro do sangue oleoso impregna o
navio e a tripulação. Eles desceram dentro da árvore do palácio, seguindo a rota que leva até aqui. Você deve tomar
partido de guerra para combatê-los.
Sim, Eladamri simplesmente respondeu.
Você é o salvador deles agora. Você deve salvá-los.
E eu era um guerreiro antes. Eu lutarei alegremente contra estes monstros.

*****
Gerrard liderou Tahngarth, Sisay, e um grupo de guerreiros abaixo ao coração tortuoso da árvore.
Numa mão, ele segurava uma lanterna e uma botija que carregava o último soro de Orim. Na outra mão,
ele segurava uma espada. Morte numa mão e vida na outra.
Gerrard bufou, arrancando uma teia de aranha que cobria o caminho perigoso. Ele parou, olhando
para escuridão abaixo.
“Alguém desceu ali.” Ele ergueu a lanterna. Sua luz se irradiou contra o oco quebradiço da árvore,
traçando as escadas em espirais.
Ela mostrou mais teias, e elfos mortos dependurados nelas. “Alguém vivo desceu aqui. Eu posso
sentir.”

5Nota do tradutor: A grappa ou graspa é uma bebida alcoólica de origem italiana. Tradicionalmente, é feita a partir
de bagaço, um subproduto do processo de vinificação.
119
Invasion
Tahngarth olhou por cima do seu ombro e ergueu uma eloquente sobrancelha. “Você pode...
sentir?”
“Há uma presença. Um poder que eu não consigo descrever.”
O minotauro retumbou quietamente. “Desde quando você é um místico.”
“Eu também sinto,” Sisay disse atrás dele. “Um poder sobrenatural.”
Embainhando sua espada, Gerrard levou a mão à boca. “Nós viemos em paz. Nós viemos com soro
para parar a praga.”
Uma voz vinha debaixo, ressonante como a voz da própria madeira. “Desde quando Phyrexianos
veem em paz.”
“Nós não somos Phyrexianos.”
“Vocês cheiram a Phyrexianos.”
“É o tratamento da praga,” Gerrard replicou. “Sua imunidade deriva do sangue dos Phyrexianos.
Nós fomos tratados. Nós trouxemos mais para vocês.”
A voz era dúbia. “Nós encontramos a nossa própria cura, uma que não nos faça exalar como
Phyrexia.”
“Sua floresta está curada? Não parece para mim. Vocês preferem o cheiro de morte e podridão do
que o cheiro do sangue oleoso?”
A voz estava furiosa. “Quem é você?”
“Eu sou o Comandante Gerrard Capasheno do Bons Ventos, aqui com Capitã Sisay e o Imediato
Tahngarth.”
Uma risada respondeu. “Oh, sim, Gerrard - o Korvecdal.”
“O Korvecdal?” Gerrard também riu. “Não, eu não sou um Unificador, apenas um honesto
lutador.” Ele deu um longo respiro. “Como você sabia?”
“Eu sei porque eu sou o verdadeiro Korvecdal, o verdadeiro Unificador.”
Mesmo enquanto a figura imponente ascendia dentro do brilho da lanterna, Gerrard percebeu.
“Eladamri de Skyshroud! O que você está fazendo aqui?”
“É uma longa história,” disse o elfo. Um séquito de elfos guerreiros veio atrás dele. “Vamos
simplesmente dizer que você e eu trocamos de lugar. Uma vez você foi tido como o Unificador e eu o
herói comum. Agora, é como é. Vamos confiar que poderes maiores compreendam esta partida de
xadrez.”
“Eu não confio em poder algum a não ser em minha espada e nestes amigos.”
“O que outra vez, é como devia ser.”
“E um destes amigos concebeu este soro,” ele disse, segurando alto a botija. “Ele salvou a tripulação
do meu navio. Pode parar a praga entre seu povo.”
Os olhos de Eladamri pareciam mais iluminados do que a lanterna. “Meu povo, agora, está a salvo
da praga. É a floresta que definha.”
“Então, de este soro para qualquer druida ou espírito da natureza que possa usá-lo para curar a
floresta.”
Repentinamente, uma figura tomou forma entre os dois homens. Ele era um homem verde, feito de
lascas e vinhas. Seus olhos eram um par de vagens, seus dentes eram uma linha de cogumelos.
Outros homens podiam ter recuado da estranha criatura, mas o próprio Gerrard tinha aprendido a
feitiçaria-maro de tal homem.
“Mestre!” Gerrard disse em um reconhecimento repentino. Seus joelhos se dobraram. Seus dedos
tornaram-se fracos ao redor da botija de soro. Ela deslizou livremente, mergulhando em direção ao oco
da árvore.
Os braços de vinha de Multani dispararam, pegando a botija no ar. “Obrigado Gerrard.”
“Eu-eu temi que você... eu temi que você estivesse morto,” gaguejou Gerrard.

120
Invasion
“Eu temi o mesmo por você diversas vezes,” Multani respondeu, colocando Gerrard de pé. “é bom
saber que medos nem sempre prevalecem.” Ele espalhou braços fibrosos através da escuridão. “Bem-
vindo, Gerrard e Bons Ventos... Bem-vindos a Llanowar.”

121
Invasion
CAPÍTULO 25

A BATALHA DE URBORG

“Saia de Keld,” Urza disse, aparecendo repentinamente de lugar nenhum.


Barrin nem se surpreendeu. Ele não se importava mais o suficiente para se surpreender. Ele tinha
sido humilhado aqui além do fiorde, assistindo águas frígidas montar na maré ascendente. As espumas
roubaram por diversas vezes através das barras de areia e beijaram os calcanhares das embarcações
Keldonianas. Em menos de uma hora, os barcos de guerra ficariam em vinte pés de água. Então Barrin e
seus antigos inimigos, os Keldonianos – velejariam juntos para mais guerras em Keld Ocidental. “Saia de
Keld,” Urza repetiu.
Barrin olhou para ele. “Como você ousa? Você me disse que essa batalha era tudo. Você me disse
que eu devia somente esquecer o que estes... estas bestas fizeram a Rayne. Então eu fiz. Eu fiz conforme
você disse. E agora você, alegremente, me chama para partir?”
Urza olhou de volta, seus olhos pareciam velas gêmeas. Ele permanecia sobre um punho negro de
basalto além do fiorde e parecia apenas outra extrusão pedregosa. Abaixo dos céus de lã, seus mantos de
guerra estavam escuros exceto onde os flocos de neve grudavam.
“Esta batalha já não é mais tudo.”
“Maldito seja você, Urza,” Barrin disse implacavelmente.
A água do mar se ajuntou atrás do planinauta. “É o exército, não a batalha. É por isso que você tinha
que esquecer sua esposa. Eu precisava deste exército. Eu preciso deles para uma batalha superior.”
“Que batalha superior?” Barrin perguntou exaustivamente.
“Urborg.”
Barrin ladrou uma risada. Ele não podia ter imaginado uma resposta mais cômica. “Urborg? Uma
fossa de liches e fantasmas e zumbis, enxofre e malária? Sim, oh, sim, essa era uma batalha superior.”
“Urborg é a chave para a próxima fase do plano Phyrexiano. Eles não podem ser permitidos de
ganharem-na.”
Balançando sua cabeça desanimadamente, Barrin disse, “Por que não? Urborg os merece. Eles
provavelmente se sentiriam em casa lá.”
“Exatamente, esta é a razão. Eles estariam em casa,” Urza replicou uniformemente. “Koilos e
Urborg. Se Yawgmoth conseguir suporte lá ele pode escarranchar o mundo.”
“Melhor acertá-lo na virilha,” Barrin rosnou. Ele arremessou uma lasca de basalto para pular através
da inundação espumante.
“Você parece zangado meu amigo,” Urza disse. Ele desceu da rocha e se aproximou. “Estes climas
nortenhos estão afetando você.”
Barrin se pôs de pé. Ele olhou para uma onda cinza que acertou o banco de cascalho e lançou rochas
em direção as margens.
“Benália está perdida. Zhalfir e Shiv se foram. Agora Keld está caindo também. Eu pensei que eu
poderia esquecer Rayne na guerra, mas não quando a guerra berra – Derrota! Derrota! Derrota!”
O planinauta balançou sua cabeça. Ventos gelados rasgavam através de seu cabelo loiro
acinzentado. “Nem tudo esta perdido. Yavimaya venceu. Llanowar venceu.”
“Llanowar!”
“Sim. Eu compreendo que sua filha foi instrumental para a vitória.”
“Hanna,” Barrin respirou. Ele fechou seus olhos, imaginando seu sorriso brilhante. A face que ele
viu, apesar, foi a de Rayne. “Eu devia ir dar lhe os parabéns.”
Uma estranha sombra passou através dos olhos de pedras preciosas de Urza. “Logo, meu amigo,
mas ainda não. Urborg espera por nós. Eu quero que você convença os Keldonianos a velejarem para

122
Invasion
Urborg em melhor tempo e se encontrem com você lá. Enquanto isso, você estará ajuntando os anjos de
Serra que sobreviveram à queda de Benália. Nós precisaremos do exército angelical deles.”
“Anjos de Serra e Keldonianos?” Barrin olhou chocado. “Alianças estranhas.”
“Estranhas e mais estranhas,” Urza concordou. “Dominaria não será salva a não ser que todos os
Dominarianos lutem. Eu estou providenciando uma grande coalizão entre as nações do globo. Aqueles
que permanecerem sozinho cairão. Aqueles que se unirem conquistarão.”
Barrin olhou reconhecidamente para seu amigo. “Eu nunca pensei que ouviriam Urza Planinauta
admitir que precisasse da ajuda de alguém.”
Urza encolheu os ombros em relação ao comentário. “Claro que Lorde Windgrace e seus guerreiros
panteras se ajuntarão a nós. Estarei trazendo elfos guerreiros de Yavimaya e helionautas de Tolaria –“
“Helionautas,” Barrin interrompeu. “Tolaria estará vulnerável sem eles.”
“Todos nós precisamos fazer sacrifícios,” Urza disse.
Barrin encolheu os ombros, olhando para a maré que subia. Duas das embarcações Keldonianas já
boiavam niveladas na inundação. Guerreiros Keldonianos marchavam sobre pranchas com caixas
carregadas nas costas.
“Tudo bem. Eu farei como você pede. Os Keldonianos e os anjos de Serra estarão lá em melhor
tempo. Nós lutaremos sua batalha por você. Nós expulsaremos os Phyrexianos e deixaremos o lugar
para os liches.”
“Ótimo,” Urza disse simplesmente enquanto ele começava a desaparecer. “Eu procurarei por você
lá.”

*****
Barrin voava no meio de uma hoste angelical. Suas asas brilhavam brancas acima do mar. O
vento silvava do perfeito aparar de asas e das canções cantadas no ar.
Era assim que os anjos de Serra voavam – enredados em músicas. Era por isso que o esquadrão
de ataques deles era chamado de coro. Cada criatura conhecia sua parte. Cada voo em precisa sincronia
com os outros. Como peixes num cardume, que sente o movimento do todo em pontos de pressão pelos
lados, anjos sabiam pela harmonia e dissonância aonde eles voariam, como lutariam, e quem eles
matariam.
Barrin se sentia em casa ao lado destes gloriosos inumanos. Ele cavalgava a frente deles, por de trás
de um cavalo alado conjurado do fino ar. A criatura parecia uma coisa feita de nuvem – branca e
brilhante, metade sólida e metade névoa. Mesmo assim, ainda era poderosa. Asas se abriam amplas no
vento. Com cada golpe que surgia, o pescoço da besta se dobrava. Seus cascos se agitavam no ar como se
saltasse em campanários.
Certamente, Barrin não necessitava de um corcel alado. Ele podia voar com um mero pensamento,
mas ele havia sido inspirado pela revoada de fênix de Teferi. Havia alguma coisa atrativa em cavalgar
para uma batalha montado numa criatura de pura imaginação. Este cavalo não se fatigaria. Não
sangraria. Não espumaria ou cuspiria ou morreria – todas as coisas nojentas que uma verdadeira besta
fez vez após vez nas últimas semanas.
Tão glorioso quanto o coro angelical atrás dele, tão magnífico quanto à criatura ideal embaixo dele,
Barrin não podia manter seu espírito de derrota. Ele estava farto da guerra, farto da morte. Ele não se
importava em matar Phyrexianos. Ele se importava em assistir Phyrexianos matarem anjos e
Keldonianos, elfos e Metathran e humanos. Ele se importava em saber que aquelas vidas eram meras
peças de xadrez numa partida entre Urza e Yawgmoth.
Barrin estava cansado de ser um peão.
“Lá,” ele murmurou, vendo a morte à frente. Apesar de ele ainda estar a centenas de milhas de
distância, um olhar encantando trouxe cada detalhe em uma claridade cristalina para seus olhos.
123
Invasion
Além das asas de alabastro de sua montaria, Urborg assomava-se ao mar. Era uma negra e
abominável cadeia de ilhas. Vulcões adormecidos chiavam ventos sulfúricos no ar. Pântanos pestilentos
se estendiam por baixo da floresta de árvores mortas. O ar acenava com calor nauseante e sacudia com
bilhões e bilhões de insetos. O único chão sólido era lodo. A única água estava envenenada. Os únicos
habitantes vivos eram aliados, ou escravos, ou presas para os mortos. Carniçais, liches, zumbis,
aparições – todos os horrores necromânticos.
Este era o aspecto normal de Urborg. Desde que os Phyrexianos tinha se mudado para a vizinhança,
as coisas tinham ido significantemente para baixo. Agora, os céus fervilhavam com dragões mecânicos e
serpentes zumbis. Como raios diabólicos, eles vagavam em círculos preguiçosos ao redor das ilhas –
guardiões e cães de guarda das forças abaixo. Havia uma abundância de forças abaixo. Três cruzadores
Phyrexianos haviam aterrissado. Eles sentaram-se em cima de longos pilares afundados nos pântanos.
Estes eram o centro de comando. Transporte de tropas às centenas também haviam desembarcado,
descarregando Phyrexianos especialmente criados para combates em pântanos. Os oficiais destas
unidades montavam pequenas embarcações aéreas através dos pântanos, carruagens em forma de cunha
com aerofólios de asa de morcego.
Apesar das melhores intenções de Urza, os Phyrexianos já governavam Urborg. Agora Barrin e seus
anjos lutariam com demônios pela possessão do inferno.
Mais do que Barrin e seus anjos...
Ele vislumbrou oitos trapos de vela estendidos no vento. Embarcações Keldonianas. Eles rasgaram
linhas paralelas através de um mar furioso. Alcançando carga total, eles pareciam planejar um ataque
certeiro na própria ilha principal. Conhecendo os Keldonianos, isto era certeza. Eles levariam seus
navios tão longe quanto fosse possível, talvez mil jardas dentro dos salgados pântanos, esmagando
qualquer embarcação Phyrexiana em terra que eles encontrassem, subindo sobre os conveses, e matar,
matar, matar.
Ah, sim, os Keldonianos teriam um grande dia hoje.
Acima deles, parecia quase que o reflexo deles no céu, soava um esquadrão de aeronaves –
helionautas Tolarianos. Cada um parecia um galeão, sua frente e meados do convés envolto em um
domo de vidro e ferro. Do centro do convés da popa erguia-se um braço mecânico coberto de lâminas
rodopiantes. Uma espinha defensiva se eriçava da proa, amurada e inflexível. Três pulsos de armas em
forma de pivôs na frente e atrás, mas as verdadeiras armas do navio eram as lâminas rodopiantes.
Estas lâminas seriam provadas agora. Se arremessando para baixo com a velocidade de águias, os
helionautas Tolarianos empesteariam a ilha.
Dragões mecânicos se ergueram para batalhar. Crânios se esticaram para trás para cuspir fogo.
Garras mecânicas se mostraram. Caudas flagelavam o ar. Em asas de couro, dragões mecânicos
Phyrexianos saltaram para dentro do céu e banharam seus inimigos num rio de fogo.
Os helionautas mergulharam dentro da flamejante inundação. Chamas lambiam através do metal
polido. O fogo deixou um rubor de vapor no para-brisa. Os pilotos Tolarianos afastaram a condensação
e atiraram através das chamas. Pulsadores cuspiam fluxos de fogo. As cargas entalhadas cruzaram
através do céu até impactar os dragões mecânicos. Energias azuis piscaram e dançaram através de suas
carcaças de metal. Isto os segurava numa garra paralisante, apenas o tempo suficiente para as lâminas
retalharem.
Com foices rodopiantes, os helionautas fatiaram através dos dragões mecânicos. Os ventos
sopraram abruptamente das bestas. Cabeças rolaram soltas. Até mesmo costelas se desfizeram em
pedaços e pó. Pedaços dos dragões mecânicos caíram do céu.
Mesmo assim não estava tão fácil como aparentava. De um vento vulcânico debaixo, mais dragões
mecânicos chegaram como disparos de vapor. Estas bestas eram mais largas. Os outros eram apenas
sentinelas aguçadas. Estes dragões mecânicos foram projetados para guerra. Eles jorraram direto em
direção aos céus sob os helionautas. Asas surgiram uma vez mais e se dobraram abaixo de ombros
terríveis. Os dragões golpearam contra os cascos dos helionautas.

124
Invasion
Metais aplainados se dobraram. Articulações falharam. Grandes buracos foram feitos nas laterais
dos navios. A tripulação caiu e mecanismos foram arruinados. Uma embarcação foi golpeada com tanta
força que ela saltou para cima e mastigou a barriga de outra. Ambos caíram dos céus. Um terceiro
helionauta começou a rodopiar embriagadamente sob suas foices giratórias. Ele desviou como um
giroscópio e caiu, destruindo um dragão mecânico em seu caminho ao solo.
Os helionautas remanescentes encheram os céus com rajadas pulsantes. Disparos perseguiram
dragões mecânicos através do céu. A energia os segurava, paralisando-os por um momento. Antes que
os navios pudessem despedaçá-los outros dragões mecânicos atacavam. Helionautas caiam como
saraiva.
De repente Barrin se arrependeu do olhar encantado. Qual era a vantagem de ver uma batalha que
ainda estava à milhas de distâncias?
Então, tudo mudou. Dragões mecânicos começaram a se despedaçar.
Barrin piscou, ponderando o que ele vira. De repente, ele soube.
Descendo sobre os dragões mecânicos Phyrexianos rugiram verdadeiros dragões – Rhammidarigaaz
e sua nação de dragões. O wyrm ancião de Shiv liderou outros quatro dragões lordes, um para cada uma
das cores da magia. Eles voaram de asa a asa, de uma única vez, inimigos se tornaram sólidos aliados.
No rastro destes cinco grandes dragões voava nações serpentinas inteiras. Eles se derramaram do céu
enquanto os Phyrexianos jorravam como gêiser do chão.
Darigaaz voava na vanguarda. Bolas de fogo saltaram de suas garras e assava dragões mecânicos.
Lava era cuspida de sua garganta e os derretia em pleno ar. Ao seu lado voava o dragão lorde verde
arrastando esporos. Eles se agrupavam nos mecanismos Phyrexianos e cresciam violentamente,
despedaçando suas juntas. O lorde dos dragões brancos seguiu. Num único voo, suas asas puras
fendiam através dos Phyrexianos como a luz perfurava pesadelos. Enquanto isso o dragão lorde azul
soltava feitiços para cortar o ar abaixo de asas escabrosas. O dragão negro e seu povo eram os mais
verazes de todos. Eles esmagaram o topo de seus irmãos malignos e os rasgavam com garras nuas.
Nacos de dragões mecânicos caiam para baterem espetacularmente nos pântanos.
Mais coisas bateram nos pântanos. Longas embarcações Keldonianas - navios adagas com suas
grandes velas soltando seus estabilizadores – deslizando com velocidade surreal através de pântanos
salgados. Remos dividiam árvores mortas no caminho. As grandes espadas Keldonianas rachavam as
tropas Phyrexianos que escalavam a bordo. Flechas jorraram do convés, desta distância ondas se
espalhando da proa.
“Flechas?” Barrin se perguntou.
A primeira longa embarcação finalmente encalhou, a milhares de jardas do interior. Da balaustrada
saltaram Keldonianos enormes a suas centenas, mas também outros – ágeis, rápidos, delgados. Elfos.
Urza deve de alguma forma ter arranjado sua passagem com os guerreiros Keldonianos de Barrin.
Estranhas coalizões. Musculosos e magricelos, arrogantes e elegantes, Keldonianos e elfos correram lado
a lado na batalha.
Além de suas linhas, tropas de choque Phyrexianas se ergueram de grutas rochosas para matar. Eles
eram grossos como larvas em corpos e excediam em número os Keldonianos e elfos em cem para um. Na
liderança, deslizando no ar, a bordo de carruagens em forma de cunha, cavalgavam comandantes com
armaduras negras.
“Eles precisarão de ajuda lá embaixo,” Barrin decidiu. Helionautas e dragões governavam os céus,
mas Phyrexianos comandavam o solo. Barrin ergueu sua mão em sinal de ataque e enviou seu corcel
alado para um mergulho íngreme.
Anjos mergulharam atrás dele. Sua canção se levantou em um oitavo num assobio estridente. A
música não perdeu nada de sua glória, apenas se tornou mais desumana.
Em segundos, eles desceram dos céus azuis para os pântanos negros. Árvores mortas iluminaram o
caminho em listras cinza. Anjos dispararam como lâminas de pratas em seu meio. Águas superficiais
desnataram abaixo dos cascos do corcel de Barrin.

125
Invasion
À frente, um comandante Phyrexiano rugia em cima de sua carruagem de ar.
Barrin ajuntou o poder das ilhas e mares e enviou um encantamento azul de seus dedos. Ele torceu o
ar e agarrou a carruagem. A embarcação capotou e se dirigiu para baixo, lançando seu motorista direto
para um aterro de esterco. A carruagem galgou até se chocar contra uma árvore e chocalhar até o chão.
Somente as pernas do motorista projetavam do monte, e mesmo assim elas estavam quebradas.
As tropas de choque continuaram seu ataque.
Anjos atacavam perante Barrin. Suas espadas magnas cortaram Phyrexianos. Lâminas batiam em
ombros espetados e cortaram através de pernas curvadas. Eles fendiam cabeças e evisceraram peitorais.
Espadas magnas saltavam negras e douradas com vísceras e óleo. A canção angelical havia se tornado
uma coisa sangrenta, parte hino de batalha, parte réquiem.
Barrin atacou com um arco-íris de feitiços. Seu primeiro feitiço lançou os Phyrexianos um contra o
outro. Seu próximo feitiço infectou mais centenas com carbúnculos de ferrugem. Segurando sua
respiração, Barrin liberou uma simples, mas efetiva bola de fogo, derretendo metal e ossos e carne.
Enquanto ele reunia outro encantamento, o corcel de Barrin pisoteava com os cascos a cabeça dos
Phyrexianos.
Mesmo assim, ainda havia muitas tropas de choque – muitíssimas. Phyrexianos se erguiam de cada
buraco e de cada queda mortal. Garras infectadas com praga cortavam a garganta de anjos. Pinças
arrancavam asas de seus lugares. Ferrões injetavam veneno em corações puros. Os anjos de Serra caiam
como traças.
Com os Keldonianos foi ainda pior. Eles mantiveram um cume próximo, mas foram cercados pelos
Phyrexianos golpeadores. Flechas élficas faziam nada contra as bestas de metal, cheias de pernas e
lâminas. Espadas Keldonianas apenas ressoavam inutilmente contra eles. Lado a lado, os estranhos
aliados estavam sendo moídos em pedaços.
“Forçar caminho!” Barrin gritou para os anjos de Serra. “Forçar caminho até os Keldonianos!”
A batalha se deslocou. Anjos ajuntaram atrás do corcel alado. Barrin e suas tropas sitiadas se
ergueram dos pântanos. Feitiços de mana preta os seguiram, reivindicando mais dois anjos de Serra. O
resto escapou. Era um grupo esfarrapado furioso e ferido, que atravessou de uma esmagadora batalha
para entrar em outra. Eles já haviam perdido tantos companheiros e perderiam mais em momentos.
O corcel alado de Barrin perfurou através de cortinas de musgo. Asas de anjos rasgaram o resto em
fitas. O lamaçal a frente zunia de mosquitos. Sombras de couro se moviam sombriamente nas águas.
Talvez eles impedissem os Phyrexianos de perseguir.
A floresta morta deu lugar ao lago fedorento, além do cume estavam os Keldonianos e elfos
cercados.
Barrin liderou suas unidades aéreas através das águas escuras. Eles estariam muito atrasados.
Tropas de choque e golpeadores estavam pertos. Mesmo agora, os portos borbulhavam com figuras
negras se levantando para se ajuntar as fileiras Phyrexianas. Eles surgiram avidamente atrás do exército
que pressionava e emprestaram suas garras pútridas para matar.
Exceto que eles estavam matando Phyrexianos.
Carniçais subiram a centenas das águas. Os restos de suas antigas roupas e peles e músculos
esfarrapados de seus esqueletos. Eles cambalearam com uma fome entre as tropas Phyrexianas e se
empilharam entre eles. Chifres perfuraram sua carne apodrecida. Não importava. Lâminas cortavam
membros de seus corpos. Não fazia diferença. Os carniçais subiam nos Phyrexianos, colando em cada
junta, sufocando cada garganta, enterrando cada besta.
Abrindo a boca em um maravilhado horror, Barrin divergiu suas tropas para cima e para longe da
carnificina. Anjos subiram em direção ao céu atrás do corcel alado. Enquanto Barrin olhava para baixo o
estranho quadro, ele vislumbrou, na crista de um toco podre, o necromante vestido de negro que tinha
levantado os carniçais. Sua face era uma miscelânea de carne dissecada sobre ossos brancos. Era um lich,
uma criatura morto-vivo, mas era de Dominaria. Ele ajuntou seus asseclas para lutar contra os
Phyrexianos.

126
Invasion
Um pouco antes que o corcel alado carregasse Barrin para além do grupo de árvores, ele vislumbrou
um pequeno, reconhecido aceno do lich, do tipo dado para companheiros no meio da batalha.
Estranhas coalizões.
Barrin se inclinou contra o brilhante pescoço de sua montaria e a agarrou, ofegante.

127
Invasion
CAPÍTULO 26

UM BRINQUEDO PARA TSABO TAVOC

Eles não esperavam que nós penetrássemos tão longe assim, Thaddeus disse para si mesmo.
Ele escalou um aterro de restos e se lançou contra uma nova onde de Phyrexianos. Sua espada
afundou dentro das mandíbulas de uma besta. A lâmina deslizou para cima ao lado da presa até a raiz.
Com uma violenta, guinada molhada, o dente foi puxado do seu lugar e caiu nas garras de Thaddeus.
Lançando a coisa para cima, ele agarrou a raiz como o punho de uma espada.
O Phyrexiano rolou para Thaddeus. Rolando de costas, Thaddeus cravou a espada e o dente lado a
lado no tórax da criatura. Ela foi empalada nas estacas gêmeas. Em meio a um jorro de óleo brilhante,
Thaddeus chutou e arremessou o monstro. O corpo resvalou encosta abaixo. Thaddeus se levantou
espada numa mão e dente na outra.
Eles não esperavam que penetrássemos tão longe. Sem trincheiras, paliçadas, sem baterias
defensivas. Tudo o que eles tinham era estes esquadrões suicidas, lançando seus ossos sobre nós. Isso
não será suficiente.
“Avancem!” Thaddeus ordenou com o dente erguido alto. Sua espada perfurou a cavidade olfativa
de outro monstro, talhando dentro do cérebro. A coisa escorreu como pudim cinza do eixo nasal e verteu
sobre Thaddeus. A besta tombou. Além dos ombros cortados, a caverna apareceu. “Para as cavernas!”
Caminhando sobre o destroço caído, Thaddeus dilacerou a cabeça de um Phyrexiano que parecia
uma serpente e correu por cima de seu corpo que se contraía. Sua milícia o seguiu, talvez cinquenta
guerreiros. Ele havia perdido metade de suas tropas no louco, extenso ataque às cavernas. Os
Phyrexianos perderam centenas. Os Metathran que restaram eram os melhores guerreiros que Thaddeus
possuía. Eles cavariam seu caminho até o núcleo de comando e direto para o portal plantariam bombas
suficientes para selá-lo. A vitória em Koilos estava perto.

*****
Thaddeus e sua força de ataque eram nada, a não ser elmos cintilantes na distante batalha. Eles não
podiam ter penetrado tão longe. Alguma coisa estava errada.
Agnate perscrutava a cena de cima de uma pilha de mortos. Mais morriam a cada momento
adicionando ao dólmen de carne. Phyrexianos e Metathran lutavam ferozmente, derramando cada um o
sangue do outro, e tombando lado a lado como irmãos – enormes e distorcidos irmãos. Os adversários
neste dia pareciam descendentes da primeira rixa dos irmãos que lutaram sobre este mesmo torrão de
terra há seis mil anos.
Um soldado Phyrexiano escalou a pilha de mortos. Ele parecia humano, seu torso curto atingido
com estruturas de metal que reforçavam sua espinha biológica. Músculos cinzentos se contorciam entre
engrenagens. Ele sorria enquanto vinha, dentes como uma fileira de ossos.
Com um bramido Agnate trouxe seu machado abaixo sobre a cabeça do soldado. Ele esperava pelo
ataque. Ele lançou um ombro com armadura sobre a lâmina. O aço encontrou aço ao invés de carne. A
lâmina de Agnate se agarrou a parte magnetizada do ombro. O soldado guinou para trás, arrancando o
machado das garras de Agnate.
Ele agarrou o punho e brandiu a lâmina com uma guinada.
O comandante Metathran sacou uma adaga e a arremessou. A faca fez um som estridente contra o
suporte magnético e se agarrou lá estremecendo.
“Mais armas?” a besta zombava agarrando a adaga.
Agnate deu um passo para trás e desceu a colina da morte e a encarou incredulamente. “Ele fala.”
128
Invasion
“E pensa também. E planeja. E usa suas armas contra você.” A coisa armada de quatro braços se
lançou sobre ele, gingando o machado e a adaga num ataque dual.
Agnate abaixou-se sob o machado – a pior das duas lâminas – mas pegou a adaga no ombro.
Fechando sua mão sobre o punho da arma e as garras da besta, Agnate correu por baixo dos braços do
Phyrexiano até a colina. A adaga ancorou no braço do monstro forçando suas articulações a se alinharem
de uma maneira não natural. O pulso estalou primeiro, então os ossos gêmeos do antebraço se
quebraram, o cotovelo foi arrancado das articulações e o ombro separado da estrutura de metal. Um
último surto, e o braço caiu completamente.
Agnate rodou, puxando a adaga do ombro dele e arremessando o braço separado para longe.
O Phyrexiano se agachou no topo da pilha de morte, sua vida se esvaindo da amputação. Mesmo
assim, dentes que pareciam ossos brilharam com um sorriso.
“Comandante Thaddeus está condenado. Tsabo Tavoc o quer. Tsabo Tavoc fica com ele.”
Agnate friamente se aproximou da criatura e cravou sua adaga no crânio da coisa. Dedos se
soltaram do machado de Agnate e ele o recuperou.
E pensa... e planeja... e usa suas armas contra você...
De pé Agnate chiava. A coisa toda era uma armadilha. Thaddeus estava sendo atraído para aquilo, e
sua força de ataque dizimada e ele...
Tsabo Tavoc o quer... Tsabo Tavoc fica com ele...
Levando um momento para cortar seu machado dentro do flanco de outro Phyrexiano, Agnate
lançou sua mente através do campo de batalha. Ele buscava por Thaddeus, um instinto desde o
momento da criação deles. Gêmeos, idênticos em corpo e mente, eles tinham sempre lutado em equipe.
Sempre, eles conheceram a mente do outro.
Agora nesta batalha. Uma mente maior havia se interposto entre eles. Agnate somente podia
golpear seus pensamentos contra aquela presença sólida e sem sutura.
Tsabo Tavoc o quer... Tsabo Tavoc fica com ele...

*****
Ele luta belissimamente, magnificamente. Ele luta como um leão.
Tsabo Tavoc deu um profundo e satisfeito suspiro. Pálpebras se fecharam sobre olhos compostos.
Ela não tinha desejo de ver a caverna que a abrigava. Era a batalha que estava além que ela assistia com
olhos interiores. Distantemente, ela havia experimentado o massacre de milhares de Metathran e sentira
o assassinato de milhares de suas próprias crianças. Naquela proximidade, ela sentia exércitos de
guerreiros chegando através do portal, sacerdotes do tonel com vestes vermelhas entre eles. A meia
distância, ela sentia Thaddeus.
Ele matava com tal prazer sombrio.
Tsabo Tavoc deslocou suas pernas. Um tremor de êxtase se mexeu através dos mecanismos
enquanto Thaddeus cravava a cabeça de um gargantua. Ela não pretendia sacrificar aquele ali.
Gargantuas eram coisas debruçadas de músculos cinzentos, seus pés eram largos como raízes de
árvores. Carne semelhante à de rinocerontes escondiam dorsos blindados. Garras em foice podiam
dividir um homem em cinco pedaços. Grotescas saliências de ossos cobriam suas cabeças bulbosas. No
interior ocultavam-se cérebros que foram construídos para sanguinolência e obediência. Levou um
século para a gargantua crescer – e mais um século para implantar dez espécies diferentes. Thaddeus a
matou em segundos. Foi uma perda extravagante – e mesmo assim tudo continuou estimulante por
causa disso.
Thaddeus e seus quarenta invadiram a entrada da caverna. O guarda do portão estava alinhado
perante eles, garras e dentes estavam prontos. Ela não tornaria as coisas fáceis. Se Thaddeus devesse
ganhar seu caminho até o interior, ele precisaria ganhá-lo honestamente.
129
Invasion
Tsabo Tavoc empurrou outra gargantua perante Thaddeus.
Ela estirou suas garras para fora e agarrou Thaddeus como se ele fosse um gafanhoto. Um simples
aperto e-
Tsabo Tavoc deu uma trêmula respirada enquanto ela sentia a espada de Thaddeus cortas os
tendões do pulso da besta. Flexores se contorceram por baixo do cotovelo e extensores, esguelhando as
garras inutilmente para trás. Foi um golpe glorioso. A dor era intensa.
Thaddeus caiu no chão.
A gargantua tinha outro braço. Ela segurou Thaddeus. Ela apertou seu punho. Haveria um breve
borrifo e um borbulhar de carne entre as garras -
Exceto que duas daquelas garras foram arrancadas pelo Metathran. Ele saltou através do espaço
sangrento e subiu pelo braço escameado da gargantua.
Tsabo Tavoc sorria. Ele era bom. Qual seria o próximo? Coração? Espinha? Garganta? Cérebro?
As garras da gargantua morta se debateram em Thaddeus. Elas o cortaram superficialmente.
Ele alcançara o ombro da besta. Havia alguma coisa em sua mão – longa, branca, e curvada. Ela
brilhou na ponta por um momento antes que o dente mergulhasse dentro do olho da gargantua. Ele
afundou através da córnea até o nervo ótico. O dente afundou até o cérebro, rachando até o crânio.
Tsabo Tavoc não se retirou da gargantua enquanto ela caía morta. Ela queria sentir aquele dente
através da sua mente, aquela maré negra de morte jorrando em cada tecido. Ela queria sofrer a vitória de
Thaddeus. Isso faria com que o triunfo dela fosse mais doce.
Thaddeus estava dentro da caverna. Ele e vinte dos seus guerreiros abriram caminho. Eles atacariam
pelo núcleo de comando. Todos eles morreriam, menos um. Thaddeus seria dela.
Ah, a guerra era uma gloriosa empreitada.
Tsabo Tavoc abriu seus olhos compostos. Ela se colocou de pé sobre pernas ansiosas e trotou para
dentro da caverna.

*****
As gargantuas eram bestas terríveis, mas elas morreram como os vormes da areia, centopeias
espinais, Metathran zumbis, Scutas, crias de sangue, e as tropas de choque. As centenas de Thaddeus
haviam sido reduzidas a uma simples tropa, mas eles cavaram seu caminho adentro da fortaleza
Phyrexiana. Agora era somente uma questão de descobrir o coração da fortaleza, destroçá-la e celebrá-la.
“Reúnam-se!” ele gritou. As Cavernas de Koilos pegaram sua voz e a lançaram de volta para ele.
Thaddeus sorriu. O som era bom.
Enquanto eles avançavam, os vinte guerreiros convergiram para Thaddeus. “Nós nos dirigiremos
para o portal. Uma vez fechado, nós limparemos o centro de comando. Quantas lanças restam?” Quatro
dos guerreiros ergueram alto suas lanças. “Bom. Leve a vanguarda. Machados peguem a retaguarda.
Espadas peguem os flancos. Matem apenas aquelas bestas que desejarem lutar. Esta é a praça de arma
deles. Eles a defenderão furiosamente. Não se afastem do grupo central e do objetivo principal – o
portal. Quantas granadas?”
Dezoito de vinte tinham bandoleiras.
“Excelente. Isso enterrará o pódio do espelho em meio milha de rochas. Para baixo.”
A última palavra não foi dita antes que lanças se eriçassem na vanguarda e machado reluzentes na
retaguarda. O próprio Thaddeus pegou o flanco direito, sabendo que a primeira volta o lançaria num
canto cego. Muscular e viciosa, a força de ataque correu para a abertura. Lanças cercaram o canto, com a
intenção de acertar qualquer coisa que estivessem além.
Carne jazia além – carne e chifre e presas. Lanças afundaram na barreira gritante de monstros.
Empalados eles foram.

130
Invasion
Mandíbulas tão grandes quanto uma armadilha de urso agarraram a cabeça de um lanceiro. Dentes
triangulares convergiram, fechando-se em uma inescapável mordida. Com um trincar, eles separaram a
espinha do homem. O corpo dele se despedaçou, mãos ainda segurando o cabo.
Um homem na vanguarda soltou sua lança, sacou sua espada, e golpeou. A lâmina afundou na
barriga de uma besta. Ela deslizou através de escamas e músculos e mergulhou dentro de algum órgão
negro abaixo. O Phyrexiano gritou. Ácidos jorraram de seu estômago. Eles devoraram a mão do homem
e o braço até o cotovelo. Ele morreu sob seu inimigo que tombava.
O monstro que resvalava caiu de lado, esmagando um terceiro lanceiro.
O quarto saltou a besta e puxou sua espada para dentro da cabeça de outro. O aço rachou ossos e
cérebros. O monstro – que parecia um gigantesco bicho preguiça, mas podia ter sido qualquer coisa na
escuridão – não estava impressionado. Seu punho socou sua própria cabeça, esmagando o lanceiro e
afundando a espada mais profundamente.
A vanguarda se fora, e somente dez pés foram ganhos dentro da caverna.
“Avancem!” Thaddeus ordenou, assumindo a vanguarda.
Sua espada cortou dois enormes olhos. Eles se descascaram em lados opostos numa divisão de
semblante. Thaddeus chutou um ponto de apoio nas cavidades nasais seccionadas e saltou sobre a besta
que chiava. Ele escalou a coisa.
“Avancem!”
A espada de Thaddeus alisou o caminho através das bestas. Alisado com o óleo brilhante, suas botas
tocaram o chão. Ele avançou na escuridão.
Os sons de batalha de repente ficaram abafados. Thaddeus girou. Até a luz da entrada se fora. Era
como se a porta tivesse se fechado silenciosamente atrás dele.
Thaddeus manteve sua espada pronta. Ele tocou seu cinto, agarrou um sinalizador, e quebrou a
coisa no meio. Uma chama vermelha disparou em cada canto. A luz brilhou vagamente sobre as paredes
de pedra lisa.
Como eu me separei?
Ele girou, vislumbrando um movimento pelo canto dos olhos. Se virando completamente, ele
avistou as sombras contra a parede escura. Ninguém estava lá.
Ele devia ter olhado para cima.
Uma perna de aranha metálica lançou sua espada para longe. O peso do esmagamento o fez cair de
costas. Seu sinalizador saltou furiosamente pelo chão. Thaddeus pelejou para agarrar uma granada. Não
foi uma boa ideia. Suas mãos estavam imobilizadas. Ele estava preso.
Na meia luz sulfúrica, uma voz falou. Ela era tão onipresente e forasteira quanto um coral de
cigarra: “Tsabo Tavoc quer você. Tsabo Tavoc terá você.”

131
Invasion
CAPÍTULO 27

ELA É TÃO LEVE

Onde uma vez podridão e morte abundaram nas copas das árvores, agora música e vida reinavam.
Claro que as devastações da guerra remanesciam – coroas inteiras foram devoradas, vilarejos
inteiros destruídos, famílias inteiras foram varridas de Dominaria. As elevações de Llanowar foram
talhadas ao céu aberto. Ela nunca seria a mesma. Mesmo após os sugadores crescerem até os ramos e
galhos e varas, a floresta carregaria para sempre o gosto do óleo brilhante. Era a maldição da cura.
Os celebrantes não eram cegos a tudo o que tinham perdido. Esse conhecimento apenas
aprofundava sua alegria. A doença tinha sido contida. Uma cura veio debaixo, da Semente de Freyalise,
e outra veio de cima com a Prole de Benália. Gerrard garantira imunidade àqueles que estavam
saudáveis, e Eladamri curara aqueles que estavam doentes. Entre os dois, eles salvaram Llanowar.
O banquete se espalhou através das oito copas onde uma vez o Elfilar de Staprion se estendia. Cada
última gota de corrupção tinha sido depurada. Muitos galhos estavam nus. Tenras cascas novas
pelejaram para se aproximar das seções expostas. Com a ajuda de Multani, galhos brotaram, folhas
farfalharam no ar. Redes de videiras enviaram gavinhas para os alcances arruinados. A luz do sol
fulgurou dentro do coração ancião da floresta.
O que permaneceu do antigo palácio foi derrubado e transformado em um altar e templo para
aqueles que haviam sucumbido. Elfos que tiveram seus lares destruídos teceram ninhos nas raízes
aéreas. Aranhas gigantes emprestaram suas fiandeiras para tecerem tecidos diáfanos por longas milhas
através das copas.
Talvez Llanowar nunca mais fosse à mesma. Talvez fosse melhor assim. Tudo isso por causa dos
três forasteiros – um de uma floresta diferente, outro de uma diferente nação e o terceiro de um mundo
diferente.
Multani, Gerrard, e Eladamri permaneceram lado a lado sobre a curva de um alto galho. O sol do
meio-dia aquecia seus ombros. Abaixo, no amplo colo da árvore, se apinhava os sobreviventes de
Staprion. Sobre os finos caminhos estavam de cada lado os fiéis de Jubilar. Outros elfos, de mais longe
nas árvores adjacentes, chegaram de lugares tão longínquos quanto Kelfae e Hedressel. Todos vieram
para vislumbrar os rumores élficos sobre a Semente de Freyalise e para observar seus estranhos e
poderosos companheiros de longe. Todos vieram para brindar e foliar.
As adulações tinham dado aos homens poucas chances para trocarem palavras. Desde que
alcançaram esta tolerância, eles estiveram muito ocupados com acenos de mãos, sorrisos, e sinais.
Gerrard estava indisposto para continuar se demorando. Ele se estendeu para Multani, uma mão de
carne apertando uma mão de vinha. A multidão amou o gesto, o rugido deles saltando alegremente.
Acima do tumulto Gerrard disse, “Eu estou feliz, após todos estes anos, saber que você está vivo,
Mestre Multani.”
O homem verde sorriu com dentes de conchas de caracol se amostrando entre lábios de pétalas de
rosas. “Não é uma coisa fácil matar um feiticeiro-maro. Nós vestimos e descartamos nossos corpos como
vocês fazem com suas roupas. Eu não morrerei, não verdadeiramente, enquanto Yavimaya viver.”
Acenando em consentimento, Gerrard disse, “Verdade, então os últimos meses o deixaram quase a
morte.”
“Sim,” Multani replicou. Seus olhos – peixes gêmeos nadando em buracos iguais piscinas –
tremularam na lembrança da dor. “A Batalha de Yavimaya está vencida, assim como a Batalha de
Llanowar, graças a você e Eladamri.”
Eladamri virou-se para seus companheiros, apertando suas mãos. Outra vez, os foliões gritaram de
alegria.
“Eu sou apenas uma ferramenta de poderes elevados,” disse Eladamri humildemente.

132
Invasion
“Como todos nós somos,” Gerrard disse com uma risada.
“Como todos nós somos,” Multani concordou. “Mesmo assim, Llanowar deve a vocês um grande
débito.”
Dando um longo suspiro, Gerrard disse, “Eu gostaria de saldar esse débito.” Seus companheiros
olharam surpresos, mas Gerrard dispensou sua preocupação. “É o menor dos preços para você e a
floresta, mas é o tesouro mais querido que eu possa pedir.”
Eladamri encarou seriamente para seu amigo. “Qualquer coisa que você quiser.”
“O que quer que esteja em nosso poder.”
“Está em seu poder,” Gerrard disse. “Leve-nos para o Bons Ventos. Eu explicarei lá.”
Sem um momento para parar, os braços de vinha de Multani cercaram seus companheiros,
envolvendo-os. Mais talos e caules se insinuaram através da armação do espírito da natureza. Seu corpo
crescia. Longos braços ramificaram de seus ombros. Gavinhas se ergueram até alcançarem galhos que
circularam sobre suas cabeças. Multani saltou livremente do local onde eles estavam. Com ramos
emparelhados abaixo dos galhos que pendiam, Multani carregou os dois salvadores de Llanowar sobre a
cabeça da multidão.
Abaixo, o povo gritava com entusiasmo emocionante.
Multani parecia uma aranha balançando seus milhares de pernas e pegando suas presas no caminho
pelas copas.
Acima, O Bons Ventos descansava na larga curva de uma árvore. Mesmo ao meio-dia, o navio
brilhava como uma caixa de joias. Em adicional as lanternas, ele tinha sido coberto com luzes festivas
para a celebração. A brigada da prisão apinhou-se no convés bebendo vinho élfico e celebrando. Um
contingente de ex-xenofóbicos guerreiros da Lâmina de Aço se ajuntou a eles, trocando histórias de
guerra. Acima de tudo isso, nos céus do meio-dia, a armada aérea de Benália voava. Eles pareciam fogos
de artifícios vivos, circulando alegremente.
Com estranha solenidade, Multani trouxe Gerrard e Eladamri para longe do povo festivo.
Enquanto eles se aproximavam, os berros e os juramentos silenciaram. O vinho deixou de subir aos
lábios, o qual se transformou num respeitoso silêncio. Todo mundo abordo do Bons Ventos conhecia o
peso do coração de Gerrard. Eles sabiam qual seria a benção que ele pediria a Multani e Eladamri. A
multidão se afastou enquanto o homem-verde chegou.
Multani se abaixou no meio do povo e soltou seus passageiros.
Gerrard botou suas botas na prancha familiar. “Para baixo,” ele disse simplesmente. Ele gesticulou
abaixo da escotilha e liderou o caminho abaixo.
Com o maxilar sombrio, Eladamri seguiu. Sobre pernas de madeira entrelaçada, Multani desceu em
seguida. Eles desceram dentro dos caminhos dos companheiros abandonados do navio, abaixo uma
única sala que brilhava com a luz de uma lanterna leve. Apesar de possuir diversos beliches, todos
estavam vazios, exceto por um. Numa cadeira ao lado do beliche, Orim a curandeira se delongava. Seus
olhos estavam cansados por baixo da negra toca de cabelos. Mãos morenas moviam-se afoitamente junto
com os lençóis.
Outra mulher jazia sob aqueles lençóis – esta parecia um esqueleto. Sua face estava seca e ossuda.
Seus olhos fechados estavam cinzentos. Mesmo seus lábios estavam tensos com dor, fazendo um careta
de morte.
Gerrard se ajoelhou como se suas pernas tivessem sido cortadas debaixo dele. Ele agarrou a mão
dela – tão leve e retorcida como um galho morto.
“Hanna. Você pode me ouvir? Eu trouxe alguns amigos, um salvador e... e um deus?”
Os olhos de Eladamri estavam sombrios por baixo de suas sobrancelhas erguidas. Multani se
delongou em silêncio bem atrás dele.
“Eles vão levar você para um lugar onde você possa ser curada. Cavernas abaixo da floresta.
Milhares foram curados lá, curados com um toque. Eles vão nos levar para baixo onde você será
completa outra vez.”

133
Invasion
Engolindo cruelmente, Eladamri disse, “Você deve entender, Gerrard, é uma questão de crer. As
cavernas fazem a crença se tornarem realidade.”
O olhar de Gerrard estava aceso de fúria. “Eu acreditarei em você. Eu acreditarei em qualquer coisa.
Apenas faça-a ficar melhor.”
“Sim,” Eladamri replicou pesadamente. “Se há poderes maiores em nosso favor, ela será curada.”
Não havia mais palavras a serem ditas depois disto. Multani parou. Cada talho fibroso crescia uma
repentina seda através dele. Seus dedos se abriram como vagens de serralha. Seus braços se tornaram
uma cobertura de algodoeiro. Gentilmente, ele alcançou por baixo da forma imobilizada de Hanna e a
ergueu de seus cobertores dobrados.
“Ela é tão leve,” Multani murmurou antes que ele parasse.
Os olhos de Gerrard se nublaram. “Leve-a acima de nós. Eladamri nos guiará – Orim e eu –
desceremos as cavernas. Leve-a e deixe as cavernas trabalharem nela. Deixe-os começarem seu
trabalho.” Uma trágica esperança iluminou seu rosto. “Se há justiça neste Multiverso, ela me
cumprimentará quando eu chegar lá.”
Sem palavras, Multani levou Hanna da ala dos doentes do Bons Ventos. Ele escalou o convés,
seguido por Gerrard, Eladamri, e Orim.
O silêncio os cercou. Se os três homens eram os salvadores de Llanowar, a mulher que eles
carregavam em seu meio – um esqueleto puro de lençóis brancos – era o mártir. As devastações da praga
estavam pintadas simplesmente através dela, e mesmo assim sua antiga beleza brilhava. Aquela era o
amor de Gerrard e foi sussurrado entre a brigada da prisão e os elfos da Lâmina de Aço. Um a um, os
foliões se ajoelharam – um a um e então de dez em dez. Eles viram na face de Hanna as filhas e irmãs e
mães que eles mesmos haviam perdido.
Gavinhas brotaram de Multani, agarrando de uma rede próxima de vinhas. Sem uma pausa, ele
saltou com Hanna suavemente sobre a balaustrada e começou a descer.
Gerrard observou seu olhar mergulhando mais baixo e mais baixo até que ela desaparecera de sua
vista. Um trêmulo suspiro moveu-se nele.
Uma mão pousou sobre seu ombro, estornando-o. Ele se virou, vendo a face solene de Eladamri –
nariz e queixo proeminente, olhos profundos e penetrantes. Não era mistério que os elfos tinham
encontrado um líder neste homem.
“Escolha os dez que mais acreditam em você. Eu levarei Lin Sivvi e os nove que mais acreditam em
mim. A fé deles ajudará.”
Acenando entorpecido, Gerrard se encostou à balaustrada, encarando.
“Eu ficaria... honrado em ser incluído nesta comissão,” veio um estrondo solene do seu lado.
Gerrard virou-se para ver Tahngarth, não mais do que uma sombra ameaçadora naquela brilhante
companhia.
Uma vez, o minotauro considerara Gerrard como um mimado, egoísta, e furioso homem. Em algum
lugar ao longo da trajetória a opinião do homem touro mudou – talvez fosse porque Gerrard havia
mudado.
Ele segurou a mão de quatro dedos do minotauro. “Eu ficaria honrado.”
“Você teria que me afastar com uma vara,” Sisay se voluntariou, saindo por detrás do minotauro.
“Squee também,” o goblin disse do seu outro lado. Ele se agachou atrás do olhar desolado de
Gerrard, erguendo sua mão como se ele esperasse uma vara cair a qualquer momento.
“Sisay, Squee, Orim, Tahngarth – sim, obrigado a todos vocês.” Gerrard disse gratamente.
Alguma coisa maciça se movia entre os soldados ajoelhados. Eles se mexiam de um lado para o
outro. Uma arfada correu pelo grupo. No meio deles se ergueu um espectro fumegante. Silvando para
longe o calor descascado de músculo de prata.
“Alguém gostaria de um passeio no ombro?” Karn perguntou.

134
Invasion
*****
Gerrard, Eladamri, e seus companheiros desceram dentro do Palácio da Árvore. Eles, pouco a pouco
deixaram para trás os sons do festival. Primeiro veio o ranger da madeira crescente, então o esparrinhar
do mar subterrâneo além das paredes de raízes. Finalmente, o silêncio pétreo permaneceu.
Durante todo o tempo, as lanternas do grupo banharam o tortuoso caminho na bruxuleante luz.
Lascas irregulares se projetaram de cada parede. Enormes teias de aranhas enlaçavam o caminho espiral.
Os corpos foram removidos, mas mesmo assim ainda era um lugar assombrado.
Eladamri abjurou da companhia para banir a dúvida e abraçar a esperança. Ele cantou um ciclo de
canções élficas. Seu povo se ajuntou a ele, todos menos a sempre alerta Lin-Sivvi.
Gerrard e a tripulação do Bons Ventos trocava histórias de suas viagens enquanto isso – de Hanna
guiando o navio através dos fractius de Rath, do seu heroísmo dentro da Fortaleza, de seu conhecimento
enciclopédico do Bons Ventos, da sua navegação, da sua tímida sagacidade, da sua risada. Eles falaram
sobre coragem, força, e sabedoria, não de doença e morte.
Finalmente, o caminho se abriu. A canção de Eladamri crescia mais alta enquanto ele prosseguia
abaixo de uma série de arcadas com nervuras e descendo para dentro das Cavernas Oníricas. Lindas
visões fluíram da boca dos cantores e serpentearam no ar ao redor deles.
Eladamri ergueu sua lanterna. A luz alcançou através da caverna e respingou tepidamente sobre as
figuras abaixo.
Multani se formou em um grande, altar de madeira embalando a mulher doente. Hanna parecia
uma figura deitada numa pira funerária. Estava claro que ela não tinha sido curada nem um pouco.
Gerrard parara em sua trilha, arquejando. Ele fechou seus olhos e parou, colocando as mãos em seus
joelhos como se tivesse levado um murro na barriga.
Eladamri se aproximou. “Você deve trazê-la de volta Gerrard. Traga-a para dentro de suas mentes –
completa e saudável e feliz.”
Recuperando o ar, Gerrard se pôs de pé. Uma Luz frenética veio ao seu rosto. Ele sorriu um sorriso
sem ânimo. Ele ergueu o pavio da sua lanterna para que seu rosto se iluminasse brilhantemente.
“Eu já te contei, Eladamri, sobre a mulher que eu amo?”
Um olhar de aprovação veio nos olhos do elfo. “Não. Não o suficiente. Conte-me sobre ela.”
“Ela tem o cabelo mais bonito,” Gerrard disse, piscando. “A cor do trigo – fios dourados. Ela nem
faz nada com ele. Ela apenas o prende para trás. Ela não precisa fazer coisa alguma com ele –“
“Ela põe graxa nele,” Squee soltou.
Gerrard deu uma risada, um pouco severa. “Sim, graxa de rolamento e óleo do motor e fuligem da
caixa de carvão – este é o seu kit de maquiagem. Ela sempre parece gloriosa.” Imagens de Hanna se
formaram no ar – o sorriso dela, seu olhar feliz, sua pequena figura se ajoelhando ao lado de alguma
ferramenta.
“Sim,” Eladamri disse. “Eu a vejo. Conte-me mais.”
Gerrard agarrou o ombro de Eladamri e disse fervorosamente. “Eu te contei que ela salvou minha
vida em Mercádia? Ela fingiu ser um ascensor mecânico. Ela se vestiu com roupas dos trabalhadores de
Mercádia. Ela tentou parecer gorda, encardida, mas ela era muito alta, muito escultural, e mesmo com
graxa e fuligem ela parecia à criatura mais limpa do Multiverso.”
Perante os olhos de Tahngarth inundavam visões daquele dia grandioso, Hanna e Squee e o garoto
Atalla conspirando para libertar os cativos.
“Mais. Conte-me mais,” Eladamri insistiu.
“Ela sabotou aquela jaula muito bem. Ela a fechou por uma semana. O fato foi que a próxima vez
que nós deixamos a cidade, nós voamos com asas de roupas, como anjos...” Gerrard gaguejou em suas
palavras. Ele se voltou para seus companheiros. “Ela era a mais esperta abordo, vocês não acham? –
treinada em Tolaria. O pai de Hanna é o Mago Mestre Barrin, mas ela o supera em conhecimento sobre

135
Invasion
artefatos. Lembram-se dela reconstruindo o motor em Mercádia? Lembram-se dela colocando o alfinete
sobre Benália? Lembram-se?”
Visões brilharam perante os olhos de seus companheiros.
“Venham!” Gerrard disse. “Vejam por vocês mesmo. Vejam-na com a pele perfeita, suas bochechas
vermelhas – o sorriso mais doce que vocês já viram. Venham aqui, deixem-me que mostre a vocês. Tão
magra, tão forte, saúde perfeita. Deixe-me apresentar a vocês.”
Arrastando Eladamri, Gerrard liderou o grupo rapidamente, excitadamente para o lugar onde
Hanna jazia. As visões os seguiram. Espíritos aéreos circundaram a mulher, acariciando-a. A primeira
vista eles pareciam ser vestimentas sagradas e então carne saudável. As névoas embalaram seus
músculos atrofiados e os encheu. A fé cobriu seu quadro magro em força. O grupo sombrio dos seus
dentes deu lugar a um sorriso, os buracos dos olhos se tornaram iluminados olhos azuis. Era a antiga
Hanna – forte e feliz e completa.
“Vocês veem?” Gerrard gritou. “Vocês veem?”
“Sim!” Eladamri replicou. “Eu vejo!”
Gerrard deslizou suas mãos por baixo de Hanna e a ergueu. “Vocês veem?”
O glamour não veio com ela. A ilusão da saúde descolou de sua pele. Músculos místicos se
dissiparam num quadro de enfermidade. Os olhos que pareciam abertos estavam fechados agora, nunca
se abriram. Sua beleza era uma caveira.
“Oh!” Gerrard disse em choque repentino. “Oh!”
Eladamri apertou seu braço. “Está tudo bem. Está tudo bem.”
“Não, não está tudo bem! Nada está bem!”
“Você fez tudo o que você pôde,” Eladamri acalmou. “Nossa crença não podia curá-la – eu percebo
isso agora. Era somente sua crença que podia curá-la. Se ela pudesse acordar do coma, ela podia ter se
salvado. Do contrario... você fez tudo o que você pôde.”
“Oh!” Gerrard repetiu, caindo de joelhos. Ele olhou piedosamente para seus companheiros. “Ela é
tão leve!”

136
Invasion
CAPÍTULO 28

POR QUE HERÓIS LUTAM?

Thaddeus acordou amarrado por baixo da mulher aranha Tsabo Tavoc. Seus olhos compostos
brilhavam como pedras gêmeas em sua pálida face. Os segmentos da boca dela se contorciam em
concentração enquanto ela o encarava. O maciço peso do corpo dela o pressionava em oito pés com
pontas de espiga. Acima da sua cabeça, um teto de pedra lisa brilhava com miríades de lanternas. Elas
enviavam ramos de fumaça através da parede para ajuntar e se retorcer na câmara. A rodopiante
fuligem fez uma auréola negra sobre a cabeça da mulher aranha.
“Ele desperta,” ela disse em Phyrexiano.
Desde o nascimento Thaddeus aprendeu idiomas humanos e inumanos. Ele era fluente em
Thrannish e então pôde entender Phyrexiano.
Um sorriso aparente se formou através do segmento da boca de Tsabo Tavoc. Ela se retirou
lentamente de cima dele. Suas pontas do dedo estavam sangrando. Um bisturi em sua mão correu com
sangue. A coisa vermelha coagulou no frio, úmido ar da caverna.
Outra vez veio sua voz de inseto. “Que admirável!”
A comandante Phyrexiana ajuntou suas pernas abaixo dela e se afastou. Seu peso terrível
permaneceu sobre ele. Somente então ele percebeu que não era ela que o prendia. Eram aranhas.
Conduzidas através dos pulsos e tornozelos, ombros e quadris, elas o prendiam a uma mesa de exame.
Thaddeus se contraiu sobre o bloco de aço. Articulações se ergueram inutilmente contra as cabeças
das aranhas. Nenhuma se mexeu.
Thaddeus chiou. Ele devia ser capaz de arrancar as aranhas. Seus braços, de alguma forma, não
respondiam. Uma dolorosa fraqueza encheu seu peito. Erguendo sua cabeça, Thaddeus vislumbrou a
razão.
Sua carne azul jazia aberta em entranhas vermelhas. De um entalhe em sua garganta até os
processos anelares de sua pélvis, ele havia sido cortado. Cada camada de carne viva – pele e músculos e
tendões – foram meticulosamente esfolados um por um. Pinos identificavam estruturas importantes.
Etiquetas similares repousavam sobre seus órgãos. Numeradas tiras de papel se agarravam ao seu
fígado, baço, pâncreas, estomago, vísceras. Tsabo Tavoc tinha até serrado uma após outra de suas
costelas, revelando pulmões cinzentos e um coração batendo.
“Você vê quão rapidamente ele discerne sua condição?” Tsabo Tavoc perguntou com sua voz
semelhante um inseto. Ela se aproximou. O bisturi sangrento rodopiou habilmente em sua garra.
“Despertado há alguns segundos, e ele entende o que nós estamos fazendo aqui, entende que ele nunca
mais será completo outra vez. Ele morrerá, e ele sabe disso. Vê quão rápido ele se acalma?
Verdadeiramente, ele é o pináculo da humanidade.”
Thaddeus tentou responder. Tudo o que emergiu foi um borrifo vermelho através de sua garganta.
Ele não podia reproduzir som algum, não podia sentir o ar entre os lábios.
Tsabo Tavoc se elevou sobre ele. “Você está sentindo falta de alguma coisa?” ela perguntou,
segurando uma laringe. “Um artifício muito caro, este. Uma baixa caixa de voz permite que você fale,
mas com o risco de se engasgar. É uma pena que seu mestre sentiu-se tão amarrado à fisiologia humana,
retendo tais fraquezas como esta. Certamente, você não precisa se preocupar mais com engasgamento.”
Chiados de aprovamento vieram das figuras reunidas no limiar da caverna.
Virando sua cabeça, Thaddeus perscrutou pelas partes dissecadas e aparatos experimentais para
vislumbrar os observadores. Cinco sacerdotes do tonel com mantos vermelhos permaneciam em fileira
ao redor da caverna. Eles se inclinaram avidamente em direção a Thaddeus. Seus olhos brilhavam por
baixo das pregas de seus capuzes. Carne ressecada agarrada a cabeças que pareciam caveiras. Mãos
escabrosas pendiam frouxas por baixo das mangas dos sacerdotes.

137
Invasion
Tsabo Tavoc fez um grande corte na coxa de Thaddeus.
Ele se contraiu enquanto cada sucessivo neurônio era partido. Seus olhos rolaram em sua cabeça. Ele
não teria chorado mesmo que ele tivesse cordas vocais para fazê-lo, mas um suspiro emergiu do orifício
de sua garganta.
“Aqui, embora, é um significante melhoramento,” Tsabo Tavoc disse, ordenadamente recuando
dobras de pele para revelar músculos e sua rede neural. “Vocês vem à mielina bainha nestes feixes de
nervos. Eles aceleram impulso. Este cacho de nervo viaja até a base da espinha, onde jaz o córtex que
processa a informação motora e sensorial para as pernas. Na base da espinha resta a inovação – um
segundo cerebelo encaixado no cóccix. Sua velocidade de tempo de resposta, permitindo ao Metathran
extraordinária agilidade. Também previne da paraplegia. Um Metathran pode lutar apesar de uma
coluna quebrada. Um pensamento menor controla os nós dos braços.”
Havia genuína admiração entre os sacerdotes do tonel. Eles produziram um som não humano, a
meio caminho de um ronronar de gato e o silvo de uma barata.
“Comparem ao design original,” Tsabo Tavoc disse, se retirando da mesa onde Thaddeus jazia. Suas
pernas clicavam através do chão pedregoso.
Thaddeus virou sua cabeça para vê-la. Ela alcançou outra mesa onde jazia outra forma – uma
mulher humana. Ela havia sido amarrada ao invés de presa por aranhas, mas ela estava similarmente
aberta. A mulher estremeceu em terror com a aproximação da Phyrexiana.
Tsabo Tavoc pegou um dos bisturis e fatiou uma longa, profunda linha abaixo da perna da mulher.
“Aqui, nós temos depósitos mais largos do tecido adiposo. Estes não estão pretendidos a energizar o
esqueleto muscular, mas sim prover o corpo inteiro com comida em caso de haver escassez. É outra
concessão para capacidade de reprodução. Se esta mulher estiver carregando um bebe, ele precisará de
depósitos extras de gordura. O tecido adiposo a faz uma guerreira mais lenta. Sua pélvis é
ineficientemente larga, como nós vimos, e este feixe de neurônios de perna não alcança a base da espinha
dela, mas do cérebro. O útero – inclinado a inúmeras doenças e colapsos crônicos – ocupa uma excessiva
porção do abdômen. Contudo, este é um design bruto, designado para portadoras de crianças e não para
guerra.”
“Os machos não são melhores. Eles carregam genitálias externas que são extremamente vulneráveis
para atingir. Ambos os sexos estão sujeitos a intermitentes loucuras causadas por estes sistemas.
Humanos e todas as autóctones criaturas de Dominaria ainda contam com reprodução sexual. Assim é o
caminho de tais criaturas que vivem além da salvação de Yawgmoth.”
“Somente estes Metathran ascenderam. Eles estão mais próximos dos Phyrexianos do que qualquer
outra criatura. Eles são, em algum sentido, nossos primos perdidos. Urza os fez assim.” Tsabo Tavoc
ergueu seu olhar do músculo sangrento da coxa. Ela ergueu o bisturi pensativamente e colocou a ponta
vermelha em sua própria bochecha. “Eu me pergunto, se nós não tivéssemos lançado esta invasão,
quanto tempo teria levado para Urza transformar todos os Dominarianos em Phyrexianos?”
Distraidamente colocando a faca na mesa, Tsabo Tavoc passeava no meio do chão. Seus olhos
brilhavam filosoficamente sobre a luz da lanterna. “Aqui está a grande ironia.” Ela lançou uma mão
sangrenta em direção a Thaddeus. “Este pináculo de glória foi criado não para sua própria segurança.
Os Metathran foram criados para defender a humanidade – esquálida, imperfeita, larva imperfeita.” Ela
acenou em direção a mulher deitado ao seu lado. “Urza projetou um guerreiro que pode ser espetado
nos pulsos e ombros, tornozelos e quadris, pode ser aberto sem anestesia, pode resistir a múltiplas
colunas quebradas e ainda lutar. Toda a razão para esta criatura existir, apesar, é para defender seres
muito fracos para escapar de simples laços de corda, criaturas que devem ser pesadamente drogadas
para suportar o rigor da vivissecção. O ápice da humanidade veio à existência para defender seus
resíduos.”
Tsabo Tavoc não podia ter antecipado o que aconteceu depois. Mesmo com seus olhos compostos,
ela não viu.

138
Invasion
A mulher esfolada encontrou o bisturi que Tsabo Tavoc deixou. Ela o usou para cortar os laços de
seus braços. Ela deu uma guinada para cima da mesa de examinação. Com um movimento rápido, ela
cortou aqueles ao redor das pernas. Rugindo, ela pulou fora da mesa, o bisturi se ergueu para apunhalar.
Foi um gesto fútil. Ela não podia ter suposto que sozinha mataria Tsabo Tavoc. Ela mal podia ficar
de pé com uma perna rasgada. Não importava. A mulher carregava uma fúria que não podia ser negada.
Um sacerdote do tonel a segurou antes que ela pudesse alcançar Tsabo Tavoc.
Gritando, ela bateu seu bisturi dentro do crânio do sacerdote do tonel. Foi seu ato final. Seu
abdômen se dobrou sobre o pé com garras do sacerdote. Ele entrou em colapso. Juntos, o aprimorado
Phyrexiano e a subdesenvolvida mulher caíram mortos ao chão.
O silêncio se estabeleceu. Tsabo Tavoc olhou para baixo com ameno interesse para os corpos. As
suas fendas branquiais laterais respiraram lentamente enquanto ela tragava o aroma da morte. “Como
primitivos e ineficientes são estes humanos, eles lutam mesmo sem razão. Pouco importa. Eles morrerão
mesmo assim.”
Thaddeus lutou contra suas estacas, incapaz de escapar.
Tsabo Tavoc virou outra vez sua atenção para ele.

*****
Gerrard gentilmente deitou Hanna em seu leito na enfermaria. Não era bom para ela permanecer
temporariamente na escuridão. Gerrard estava muito pior. A esperança havida fugido dele. Se Orim não
pôde ter salvado Hanna, se Eladamri e Multani não puderam, ela não seria salva.
“Como eu lutarei se você não estiver comigo?” ele sussurrou, beijando-a levemente. Os lábios dela
eram tão secos quanto papel. “Pelo o que eu lutarei?”
Hanna era mais do que seu amor. Ela era seu coração, sua coragem. Ele lutava por ela. Antes de
ela ter entrado em sua vida, Gerrard havia sido um jovem amargo. Se ele a perdesse agora, o que ele
seria? Haveria nada a não ser fúria. Não haveria diferença entre Gerrard e os Phyrexianos.
“Oh como eu os matarei,” Gerrard disse amargamente enquanto ele agarrava a mão esquelética
de Hanna. “Eu serei minha própria praga. Eu os apodrecerei. Eu tive o suficiente de portais de guerra e
soros. Eu quero uma luta, a luta verdadeira. Eu quero dentes contra murros e narizes quebrados contra
facas nos olhos.”
“Eu tenho uma batalha para você,” veio uma voz velha da porta da enfermaria. O vidente cego
mancou lentamente para dentro da câmara. “Não eu, mas Dominaria. Você perdeu Benália, e salvou
Llanowar. Agora há Koilos.”
“Koilos? Um buraco no deserto,” Gerrard chiou.
O velho encolheu os ombros. “Mais do que isso. Em Koilos os Phyrexianos foram pela primeira vez
expulsos deste mundo. Em Koilos eles retornaram na época de Urza. Agora, é o único portal terrestre
deles. Se aquele buraco no deserto for perdido, tudo estará perdido.”
Gerrard sacudiu sua cabeça tristemente, olhando para Hanna. “Tudo está perdido.”
“A dor pode esperar,” o velho replicou. “Koilos não pode. Os Metathran foram derrotados. Um de
seus comandantes está capturado e perto da morte. Eles precisam de você e do seu navio. Eles precisam
da frota aérea Benaliana, a brigada da prisão, tropas de choque dos elfos, e do seu líder Eladamri.”
“Eladamri?” Gerrard soltou. “Ele tem uma nação para reconstruir. Ele não irá.”
O vidente cego suspirou. Ele se aliviou para sentar num beliche. “Ele irá. Salvadores não são
construtores. O herdeiro de Staprion deseja que ele vá. Não, o trabalho de Eladamri está terminado aqui,
mas não em Koilos. Ele e seus guerreiros de elite irão. Multani, também irá.”
“Multani!”
“Ele estava presente no nascimento deste navio vivo. Ele providenciou o casco do Coração de
Yavimaya. Ele vai conosco, na madeira do Bons Ventos. Ele curará cada uma de suas feridas. De certa
139
Invasion
forma, este navio é dele.” O velho sábio ergueu uma sobrancelha. “De certa forma, você também é.
Multani treinou você. Ele quer ver como seu velho aluno trabalha. Você não pode culpar seus antigos
mestres por ter interesses em seus feitos.
“Meus feitos?” Gerrard ecoou.
“Sim. Seus feitos. Koilos é sua batalha, Gerrard.”
Gerrard olhou para a forma moribunda de sua amada. “Certo. É uma batalha que Hanna
aprovaria.” Sua boca se achatou numa linha amarga. “E além do mais, em Koilos há muitos Phyrexianos
para matar.”

140
Invasion
CAPÍTULO 29

BATALHAS VENCIDAS E PERDIDAS

O Bons Ventos pairava sobre uma cordilheira de areia nas planícies de Koilos e disparou ladeira
abaixo. Os arreios da artilharia de Gerrard o prenderam no lugar enquanto o convés afundava por baixo
dele. “Lá estão os insetos,” ele grunhiu. À frente e por milhas no horizonte se acampavam tropas
Phyrexianas.
“Formação de ataque!” Gerrard berrou pelo duto de comunicação. “Sinalizar a armada.
Bombardeiem as tropas. Canhões de raios, jatos de plasma, bombas goblins. Matem-nos com qualquer
coisa que vocês consigam. Deixe que saibam que a vingança de Benália chegou.”
Um brado subiu da brigada da prisão. Eles lotaram o convés, arcos élficos se agarraram a mãos
ansiosas. Entre eles havia a tropa dos Lâmina de Aço. Seu líder, Eladamri, permanecia na proa. Ele
ergueu alto seu arco, engatando uma flecha flamejante, e lançando a flecha para longe. Ela correu à
frente do Bons Ventos e cantou entre as tropas Phyrexianas. A flecha colidiu por entre escalas negras. Ela
perfurou dentro do óleo brilhante. A criatura pegou fogo, chamas azuis. Elfos e prisioneiros gritaram
excitados.
“Fogo!” Gerrard gritou. “Fogo!”
Por todo o convés, elfos e homens dispararam flechas de potes de piche flamejante. Eles puseram
entalhe nas cordas e dispararam. Do Bons Ventos, anéis de fogo se espalharam. Onde estas ondas
flamejantes tocavam o chão, Phyrexianos ardiam e queimavam e explodiam.
Gerrard disparou seu próprio fogo. Explosões vermelhas de energia saltaram do barril de seu
canhão de raios. Eles apunhalaram mais rápido do que flechas. Os disparos rasgavam por entre os
monstros e seus chiqueiros adormecidos, rasgando até os vormes de trincheira, explodindo entre os
currais de comida viva. Da arma de Tahngarth, outro raio rugiu. Ele cortou paralelamente ao ataque de
Gerrard. Cada linha de energia derrubou centenas de Phyrexianos, mas eles eram centenas de milhares.
O assalto Benaliano mergulhou junto aos disparos do Bons Ventos. Eles dispararam seu próprio
arsenal, não tão brilhante, mas a sua própria maneira, mortífero o suficiente. Dos troncos de escotilha
dos barrigudos bombardeiros, bombas de goblin cinzas rolaram. Elas caíram em linhas contorcidas.
Fumaça subia como um latido onde elas acertavam. Nacos de escalas e ossos resvalaram pelos montes
de fumaça. Saltadores atacaram como se fossem serpentes sobre os exércitos. Suas querelas se atiraram
para baixo feito uma chuva mortal.
Gerrard disparou outra saraiva de raios do canhão. Ele olhou com prazer para a linha ampla de
destruição que sua armada cortou através das tropas Phyrexianas.
“Eles não tem navios aéreos. É como atirar em peixes dentro do barril!”
Ele falou muito cedo. As bestas podiam não ter navios aéreos, mas eles tinham trazido canhões.
Fogo saltou de baterias arraigadas. Escarlates e negros os disparos soaram pelos céus.
Um tiro acertou um grupo de bombas goblin que caía. Elas pegaram fogo. No meio do ar, elas
detonaram. Cada nova explosão desencadeou uma segunda e terceira. Como um fusível, a linha de
bombas carregou suas explosões acima até a direção da haste dos bombardeiros. Estilhaços rasgaram
dentro da fuselagem. As detonações se completaram. Uma chama branca irrompeu do navio. Milhares
de explosões ecoaram. Pedaços do navio despencaram.
Outro disparo ondulou por uma linha de combatentes. Um após o outro, eles voaram para dentro
da radiação e foram partidos em dois. Metades espiralaram abaixo como destroços ígneos.
Um terceiro disparo – este estava bem mais posicionado – se colidiu contra os aerofólios de
bombordo do Bons Ventos. Os mastros se ascenderam com o fogo. As velas se transformaram em nada.
O Bons Ventos se inclinou para bombordo e começou a rolar.

141
Invasion
“Leve-o para cima!” Gerrard chorou mesmo enquanto seu último disparo acertava as linhas
inimigas.
“Eu sei! Eu sei!” Sisay berrou de volta pelo duto de comunicação.
Os aerofólios de bombordo se bateram para fechar, e os motores do navio começaram a rugir. O
Bons Ventos pendeu verticalmente e disparou em direção aos céus.
“Sinalizar a tropa! Cessar o ataque!” Gerrard ordenou. Ele se agarrou a carcaça quente da arma. O
Bons Ventos gingou para cima através de uma prateleira de nuvens. “Se encontrar no acampamento
Metathran. Terra e reparo!”
Ele respirara um pouco mais. O navio ascendeu como um cometa. Gerrard e sua tripulação e seus
exércitos fugitivos se seguraram firmes contra o artifício meteórico. Ele saltou bem a frente do canhão de
fogo, ultrapassando as mortíferas pontas flamejantes. A retardatária armada Benaliana subiu em direção
ao céu no despertar do grande navio.
Em desfiladeiros de nuvens ocultas, O Bons Ventos se nivelou. Gerrard deu um tempestuoso
suspiro.
“Vamos esperar por uma melhor recepção dos Metathran.”

*****
Dentro de sua tenda, comandante Agnate olhava tristemente para os mapas táticos de Koilos. Eles
jaziam numa enlameada pilha sobre sua mesa de campo. Uma vez, eles haviam sido guardados
ordenadamente, cada um em seu próprio tubo. Uma vez, Thaddeus e Agnate passearam seus compassos
facilmente através das linhas da topografia. Agora, os mapas carregavam os lamuriantes, infrutíferos
rabiscos de um comandante em um inútil compromisso.
Agnate estava preso. Suas tropas foram vencidas horrivelmente até o último, um desastroso assalto.
Cinquenta mil Metathran marcharam para batalha atrás dele, e vinte mil haviam fugido. Eles fizeram
acampamento aqui, a vinte milhas além das cavernas – fora do alcance dos monstros. Membros do
exército de Thaddeus lentamente se ajuntaram a eles. O campo estava perdido. Os Metathran estavam
em derrota completa. As tropas de Thaddeus foram igualmente reduzidas. Trinta mil deles
remanesciam, mas eles haviam perdido seu comandante.
Thaddeus era facilmente superior a dez mil tropas.
Ele é digno mais do que isso, Agnate meditou amargamente. Thaddeus era a outra metade de sua
mente. Mesmo a distância não podia bloquear seus pensamentos compartilhados – até Tsabo Tavoc. Ela
sabia do elo deles e mirou nele. Ela rompeu o ponto do compasso, deixando somente o bico da pena
para virar, inutilmente sozinha.
Agnate não podia pensar sem Thaddeus. Juntos, eles planejaram um assalto de centenas de milhares
de Metathran sobre milhares de centenas de Phyrexianos. As fileiras Metathran foram divididas, e as
fileiras Phyrexianas foram dobradas. Agnate posicionou tropas em diversos arranjos por toda a larga
planície. Mesmo com um taxa de morte de quatro para um, nenhum Metathran conseguiria manter o
campo. Seria suicídio atacar agora e mais rápido e mais certo suicídio com as horas que passavam.
Um som adentrou no devaneio sombrio de Agnate. Ele havia bloqueado os sons do acampamento –
crepitar do fogo, conversas, o dedilhar de liras – e então o rugido de montagem lenta o surpreendeu
deixando-o em alerta. Se levantando de seu banco, Agnate bateu sua cabeça no teto da tenda do
tamanho de um homem. Com um rosnar, ele abaixou e emergiu. Os retalhos estapearam juntos atrás
dele.
Trovões enchiam o poeirento céu. Era inconfundível – o aproximar dos navios aéreos. Os
Phyrexianos estavam trazendo máquinas aladas para destruí-los.
Agnate balançou sua cabeça sinistramente. Eu não podia ter feito uma maldita decisão por mim
mesmo, e agora eles decidiram por mim.
142
Invasion
Ao redor, as tropas de Agnate permaneciam chocadas, olhando para o alto. Sua indecisão tinha
infectado até eles.
“As armas! As armas!” Agnate uivou. “Preparem as armas! Acordem! É hora de morrer!”
Soldados apreensivos erguiam suas espadas e lanças. Eles prepararam balistas. Eles se esbarraram
para abrir as coberturas dos canhões e rodas. Blocos de pólvora deslizaram dos barris de
bombardeamento. Cargas de powerstones se ajuntaram dentro dos canhões de raios. Berros enchiam o ar.
Era um som que animava Agnate após dias de medo silencioso e indecisão.
“Você pode não querer disparar nestes,” venho uma voz abrupta do seu lado. “Estes são seus
reforços.”
Agnate virou-se, espada saltando, ele se encontrou olhando para o semblante sombrio do
Planinauta Urza. A face do homem estava enfadada da batalha. Seu cabelo cinza loiro estava
desgrenhado e chamuscado – apesar de que alguns momentos de atenção os deixariam perfeitos. Urza
não tinha um momento para poupar.
“Mestre,” Agnate disse sem ar, se ajoelhando.
“Chame de volta seus atiradores!” Urza replicou com quieta urgência.
“Atiradores, baixem as armas!” Agnate comandou sem se erguer. Sua ordem correu pelas linhas.
Para Urza, ele disse, “Reforços?”
“Forças da Coalizão. Navios aéreos, um exército de Benália, uma força de ataque élfica, e um
substituto para Thaddeus,” Urza disse simplesmente.
“Nunca haverá um substituto para Thaddeus.”
“Veremos.”
De repente, o céu foi dividido por um navio arremessado. A embarcação fendeu o ar em
desfiladeiros de escape branco. O navio era lustroso e largo, inconfundível para qualquer olho dos
Metathran. Este era o Bons Ventos – o anjo de Urza. Suas linhas foram entalhadas dentro das mentes
oníricas de todos os filhos de Urza. Suas linhas significavam salvação.
Era uma salvação irregular. Um aerofólio se queimara, e os outros estavam dobrados como uma
mão em oração. Marcas de queimadura marcavam seu casco. Faces amedrontadas enchiam a
balaustrada. No rastro do navio veio um pouco menos impressivo, um enxame de embarcações. Todas
eram pequenas. Algumas soltavam fumaça. Outras choramingavam como mosquito.
O Bons Ventos cortou seu impulso de estibordo e espalhou seu aerofólio remanescente. Ele
lentamente aterrissou, começando um longo círculo ao redor do acampamento Metathran. Se ele
pudesse aterrissar sem bater, seria um milagre. Os Metathran estavam de pé para acreditar no milagre
do Bons Ventos.
Se levantando dos seus pés, Agnate observou o pássaro de guerra ferido em seu voo inexperiente.
“Quem é este substituto para Thaddeus?”
“Seu nome é Eladamri. Ele é um elfo de Skyshroud de Rath. Ele é a Semente de Freyalise.”
“O que é uma Freyalise?”
“Ele é minha escolha para substituir Thaddeus.”
“Ele não é minha escolha, nem a escolha das tropas de Thaddeus,” Agnate replicou quietamente.
“Ele não é bom até que nós o tenhamos escolhido.”
“Eu sei.”
“E se ele falhar no teste?”
“Então Koilos está perdida.”

143
Invasion
*****
A aterrissagem do Bons Ventos teria sido melhor descrita como um acidente controlado. Foi
controlado porque Sisay estava no leme, e ela está entre os melhores aviadores no Multiverso. Também,
seus motores recebem ordens de um golem de prata – sem dúvida alguma o melhor engenheiro em
qualquer lugar. O resto da tripulação fez o melhor que pôde – o que significa se agarrar a alguma coisa
que não se mexeria e informar aos seus deuses que eles poderiam logo precisar de acomodações no pós-
vida. À parte destes esforços, a aterrissagem foi simplesmente um acidente.
A aterrissagem do Bons Ventos deslizou-se sobre uma duna de areia. Eles se atiraram por cima
do grão como se estivesse na água. O casco colidiu com o chão. Ele gemeu sobre seu próprio peso e
saltou brevemente em cima outra vez. A areia entrava de uma coluna estropiada. O navio beijou o topo
da próxima duna e bateu contra o pico. A quilha serrou pó antes de se desligar sobre uma camada de
cascalho. O Bons Ventos se armou a frente. Ele deslizou no largo lado da duna. A areia empurrou sua
lateral. Arremessando um manto de coisas, o Bons Ventos veio a descansar do lado natural de uma bacia
no deserto.
Arquejando em seu equipamento de disparo, Gerrard cuspiu areia de seus dentes e disse, “Isso não
foi tão ruim.”
De repente, as dunas nuas zumbiram com os soldados Metathran. Lanças, espadas, e machados
brilhavam em suas mãos enquanto eles chegavam ao topo das colinas. Eles continuaram vindo –
centenas, milhares, dezenas de milhares. Suas faces azuis eram inexoráveis, e suas botas levantavam
nuvens de pó agourentas na sombra do grande navio voador.
“Tudo bem,” Gerrard admitiu enquanto ele se retirava do emaranhado de traços. “Talvez a parte
ruim ainda esteja por vir.”
Em todas as circundantes fileiras de soldados, havia uma única alameda. O comandante dos
Metathran marchava lá, acompanhado de seu séquito pessoal. Vestido em uma armadura de batalha de
prata e portando uma espada nua, o comandante possuía uma solenidade que beirava a beligerância.
Mostrando seu sorriso mais vencedor – apesar de que agora estava cheio de areia – Gerrard veio à
balaustrada e chamou pelo comandante, “Salve, Amigo de Dominaria. Eu sou Gerrard Capasheno. Eu
vim para ajuntar minhas forças com as suas.”
“Eu sei quem você é,” gritou secamente o comandante. “E eu sei porque você veio. Onde está
Eladamri?”
“Eladamri?” ecoou Gerrard inexpressivamente.
“Sim. Eladamri. A Semente de Freyalise. Ele deve tomar o comando de metade do meu exército.”
Gerrard balançou a cabeça estupefato, mas resolveu não repetir as palavras. “Como você sabe de
tudo isso?”
“Um deus me contou.”
“Estou cheio disso,” interrompeu o elfo de Skyshroud da meia nau. “Eu sou Eladamri.”
“Venha,” acenou o comandante Metathran. “Você deve ser provado perante mim e minhas tropas.”
“Eu estou cheio disso também,” replicou Eladamri. “O que eu devo fazer?”
O comandante replicou como o aço. “Derramar meu sangue antes que eu derrame o seu.”

*****
Era um duelo como tantos outros. Esta fora uma era de duelos – Urza e Mishra, Xantcha e Gix,
Gerrard e Volrath, e agora Eladamri e Agnate. Parecia que o mundo inteiro veio à existência entre pares
de adversários disputando de cada lado da mesa, trazendo cada arma, cada feitiço, cada aliado que eles
ajuntaram ao longo dos anos e lutando um duelo até a morte. Agnate e Eladamri não lutariam até a
144
Invasion
morte, certamente – mas até o primeiro sangue. Havia pouca diferença quando ambos os homens eram
mestres de armas e ambos lutavam com armas.
Enquanto os gladiadores lutavam, Gerrard assistiu de um lugar lotado. Ao lado dele estava Lin
Sivvi, a companheira mais perto de Eladamri. Suas narinas queimavam com cada golpe de espada. Com
mãos cheias de nós brancos, ela agarrou o cabo do seu totem-vec. Estava claro que ela desejava descer
até aquela batalha. Ela não era a única. Elfos da Lâmina de Aço observavam avidamente, ombro a ombro
com guerreiros Benalianos e com a própria tripulação do Bons Ventos.
Além do navio, os Metathran encheram as dunas de areia. Era uma arena natural, e os Metathran
eram naturalmente uma multidão sedenta por sangue.
Eladamri avançou. Ele era o mais rápido dos dois. Ele conhecia os entalhes e simulações ensinados
por homens selvagens e sobreviventes. Sua lâmina principiou em direção ao intestino de Agnate. Teria
sido um movimento mortífero se tivesse acertado. Foi bem colocado. Se Agnate esquivasse ou
bloqueasse a espada para cima, baixo, ou para outro lado, a ponta pegaria sua carne e teria dado o
primeiro sangue.
Um viva se levantou do convés do Bons Ventos.
Agnate não tentou acertar a lâmina para o lado ou tentou esquivar. Ele meramente agarrou a espada
na mão enluvada. Ele era o mais forte. Sua formação clássica o deixou com um olhar afiado e eficiente.
Com um puxão poderoso, ele arremessou a lâmina, bem acima de sua própria espada. Eladamri devia
soltar ou se desequilibrar e se esparramar sobre a espada de seu inimigo.
Os Metathran berraram seu louvor do coliseu de duna de areia.
Exceto, que Eladamri saltou sobre sua própria lâmina presa. Ele usou a própria força de Agnate para
carregá-lo em um arco acima de ambas as espadas. Eladamri virou, aterrissando sobre seus pés atrás do
guerreiro Metathran e libertando sua espada.
Tanto no navio quanto na duna de areia, os observadores vibraram.
Eladamri balançou sua espada num golpe visceral.
O comandante Metathran não estava mais lá. Um passo o levou para além da lâmina do elfo. Um
segundo passo o trouxe de volta, quando Eladamri estivesse indefeso. A espada de Agnate golpeou ao
lado dele.
Eladamri deslizou para o lado. O golpe acertou armadura, mas não a carne. Eladamri chutou a arma
para longe. Seu pé levantou uma faixa de areia que temporariamente cegou o guerreiro imponente.
Agnate cambaleou para trás. Este seria o golpe vencedor de Eladamri.
Vivas do convés do Bons Ventos se misturaram com grunhido das tropas Metathran.
Ambas caíram num silêncio repentino.
Eladamri deu um passo para trás, esperando seu oponente limpar seus olhos.
No silêncio, as palavras de Agnate foram ouvidas por todos. “Você seria um tolo por deixar um
Phyrexiano limpar seus olhos.”
Eladamri respondeu ironicamente. “Você, amigo, não é um Phyrexiano.”
O rugido da multidão se uniu com o navio e dunas de areia.
Gerrard estava feliz. Eladamri estava fazendo outra vez. Ele estava trazendo pessoas distintas à
união.
Uma voz quebrou a ovação, a voz de um velho, muito cansado. “Ela está perguntando por você,
Gerrard.”
Aplaudindo o escape de Agnate de uma facada nas costas, Gerrard disse distraidamente, “Quem
está?”
“Hanna.”
Rodopiando, Gerrard encarou incredulamente para o vidente cego. “El- ela está acordada?”
O velho homem assentiu, com sua face escura pela aba larga do seu chapéu. “Mas não por muito
tempo.”

145
Invasion
Gerrard cavou seu caminho através do convés. Ele chegou à escotilha da meia nau e desceu. Levou
apenas alguns momentos para descer as escadas da ala de enfermos. Pareceram horas. Gerrard saltou
através da sala, se ajoelhando ao lado de Hanna.
“Você está acordada! Hanna! Você está acordada!”
Ela sorriu um pálido sorriso através de lábios sorridentes. ”O velho. Ele fez alguma coisa.”
“Ele está curando você!” Gerrard engasgou-se, apesar de ele saber que isso era uma esperança falsa.
“Não. Ele está nos deixando dizer adeus.”
“Não diga isso!”
Apesar das devastações da praga, ela estava de alguma forma bela naquele momento. “Eu preciso, e
você também.”
Gerrard agarrou seus ombros, sentindo somente ossos gelados em suas mãos, e soltou. “Como eu
posso viver sem você?”
“Você viveu sem mim por vinte e seis anos,” Hanna disse tristemente.
O sorriso de Gerrard foi pesaroso. “Nós todos nos lembramos do quão inútil eu era.”
Um grande viva chocalhou as areias além do navio.
“O que está acontecendo?”
“Um duelo,” Gerrard disse. “É nada. Alguém perdeu seu companheiro...”
“É um novo mundo nascendo, Gerrard,” Hanna respondeu melancolicamente. “É um novo mundo,
e os companheiros dos antigos devem dizer adeus.”
“Não.” Seus olhos brilhavam intensamente. “Não. Eu não direi.”
“Então, eu morrerei sem ouvi-lo...”
“Você não morrerá. Você não pode...”
“Eu posso, e eu irei,” Hanna disse. Suas tampas deslizaram lentamente por sobre seus olhos azuis.
“A magia do velho sábio não durará muito. Adeus, Gerrard.”
“Eu direi que eu amo você. Eu direi que você é tudo para mim. Mas eu não direi...”
Ela tremeu pela última vez. Seu último suspiro partiu em um longo, doce suspiro.
Uma ovação rugiu pelos céus, chocalhando as grandes vigas do navio.
“Não, Hanna,” Gerrard gemeu. Ele se inclinou, deslizando seus braços por baixo dela. Uma lágrima
caiu sobre suas bochechas brancas. Ele a ergueu. Havia nada em seus braços, nada de nada. Ela se fora.
“Não, Hanna. Não. Eu não direi. Eu não posso dizer.”
Uma voz veio da porta – alta e excitada, com um sotaque Benaliano. “Ele conseguiu! Eladamri
venceu o Metathran!”
Apertando aquela concha sem vida ao seu peito, Gerrard simplesmente sussurrou, “Adeus, Hanna.
Adeus.”

146
Invasion
CAPÍTULO 30

OS NOVE TITÃS

Urza permanecia sobre uma duna de areia vigiando a arena de duelos. Sua capa ondeava com as
brisas da noite. Uma mão segurava seu cajado de guerra. A outra estava irrequieta na orla de sua capa.
Era uma hora momentosa.
Abaixo, guerreiros apinhavam a arena arenosa e o convés do navio atolado. Eles gritavam seus
excitamentos para os céus. No meio deles estava Eladamri, vitorioso sobre o tombado Agnate. A espada
do elfo arrancou sangue Metathran. Ele cortara uma fatia rasa do lado do bíceps do guerreiro – um
humano poderia se curar em uma semana e um Metathran em um dia. Significava nada e mesmo assim
tudo. Eladamri comandaria metade do exército Metathran, liderando guerreiros que acreditavam nele.
Talvez mais importante, ele completaria Agnate. Eladamri jamais poderia substituir Thaddeus,
certamente, mas ele poderia trazer a luta de volta a estes soldados abatidos. Isso seria suficiente.
Vitória na arena e derrota no navio. Mesmo de onde ele permanecia, Urza podia sentir a morte de
Hanna. Planinautas podiam curar muitas doenças com um pensamento, porém não uma praga
Phyrexiana. Um lamento fútil percorreu Urza, um desejo que ele houvesse estudado processos de
doenças ao invés de artefatos. Era tolice. Suas máquinas salvariam milhões de vidas – elas não podiam
ser razoavelmente trocadas por esta simples vida. Mesmo assim, isto era uma perda. Hanna ancorara
Gerrard. Sem ela, ele seria um homem diferente, um homem menor. Urza somente esperava que Gerrard
fosse suficiente para o papel dele.
“Eu terei que contar a Barrin sobre a morte de sua filha,” raciocinou Urza, “uma vez que ele tenha
ganhado a batalha de Urborg.”
Vitória na arena e derrota no navio. Era uma hora momentosa. O próprio labutar de Urza nos
próximos minutos seria crítico. Dando um último suspiro do pó de Koilos – um cheiro que o levou de
volta aos dias com seu irmão – Urza transplanou para longe da duna.
Ele não adentrou para o caos entre os mundos. Esse era um lugar para mortais. Urza não teria que
viajar por esse caminho, apesar de que algumas vezes ele visitara as Eternidades Cegas quando ele
precisava de tempo para pensar.
Não agora.
Urza apareceu no crepúsculo da noite de uma encosta florestada. Ele estava sobre a terra natal dos
minotauros. Na-Havva jazia abaixo, mas ele possuía interesses nas cidades dos minotauros. Uma
simples cabana residia sobre a colina. Era pitoresca – o que parecia uma mera cabana de caça. Um
caminho de pedras não esculpidas levava entre flores silvestres. Cepos trincados estavam suspensos
sobre uma pilha de palha. Uma estranha pequena chaminé constantemente lançava fumaça no ar. Ela
parecia ser singular e minúscula. Seu dono construíra uma cabana que era mais larga dentro do que fora.
Urza caminhou por cima do caminho de pedras não trabalhadas. Através das solas de suas botas ele
sentia as pedras frias. Elas estavam reportando sua aproximação para o homem que estava dentro.
Alguns intrusos caiam mortos pelo caminho. Aqueles que roubavam as flores silvestres caiam em
profundo sono que se provava ser eterno. Urza não era suscetível para tais proteções. Nem ele desejava
circundar a propriedade e incorrer o ressentimento de outro planinauta.
A porta era coberta e robusta. Urza bateu nela com a cabeça brilhante do seu cajado de guerra.
“Boa noite, Taysir. A hora chegou.”
Sem som, a porta abriu repentinamente para dentro. Um baixo, homem magro permanecia lá, suas
sobrancelhas espessas se erguiam em dúvida. Apesar de ser careca no topo, o homem possuía uma juba
regular de cabelo branco, e sua barba estava cilhada na parte externa. Ele piscou profundamente, olhos
queixosos, e sua voz soava com intensidade acadêmica.
“Hora? Hora?”

147
Invasion
“Sim,” Urza replicou. “A hora chegou. Dominaria está na balança.”
“Não está sempre?” Taysir responde secamente.
“Quem é pai?” perguntou uma jovem mulher que apareceu ao lado de Taysir. Ela parecia uma
tatara-tatara-neta dele. Seu cabelo na altura dos ombros estava negro ao lado da trança dele, seu rosto
macio e brilhante perto do semblante sombrio dele. Ela viu Urza e fez uma careta. “Oh, é você.”
Se desculpando com um sorriso, Urza fez uma reverência vazia para a mulher. “Olá, Daria. É a hora
de o seu pai sair para defender o mundo.”
“Se você vai levá-lo, eu vou com vocês.”
O rosto de Urza escureceu. “Isto nunca foi parte do acordo.”
“Agora é,” Taysir disse quietamente. Ele friccionou sua garganta, dobrando a pele por baixo da
barba. Mais alto, ele passou. “Nós concordamos. Nós vamos juntos ou não iremos de forma alguma.”
“Você não discutiu isso comigo,” Urza quietamente protestou.
“Você precisa de planinautas,” Taysir disse. “Ela é da nossa mesma laia e poderosa desde quando
ela era jovem.”
Urza considerou. “Eu realmente preciso de alguém para substituir Teferi.”
Taysir sorriu. “Teferi puxou Teferi?”
Xingando irritado, Urza disse, “Fechem as portas. Assopre as velas. Apaguem seus fogos. Vocês
dois vem comigo.”
Daria deu um sorriso relutante e abraçou seu pai. “Eu pegarei nossas coisas,” ela disse, voltando
porta adentro.
O brilho da janela da cabana se tornou sombrio. A súbita onda de vapor da chaminé cheirava a
cinzas. Um momento depois, Daria apareceu. Um par de pacotes jazia sobre seus ombros. Eles pareciam
pequenos, mas como com Taysir em todas as coisas, eles eram mais largos por dentro do que por fora.
Daria enxotou seu pai da porta e emergiu dentro do brilho triste da encosta.
Arquejando levemente, ela disse, “Nós estamos prontos, Urza Planinauta.”
“Você está pronta, Daria Planinauta?” zombou Urza, suas sobrancelhas erguidas ironicamente.
“Leve-nos, então, para o reino de Freyalise.”
Inclinando sua cabeça para a lateral, Daria estendeu suas mãos. “Segurem-se.”
Os dois planinautas anciãos descansaram suas mãos na dela. O crepúsculo da montanha se derretia
como aquarelas correndo por uma página. A realidade se turvou e se ergueu outra vez.
Ela se espalhou em um novo projeto, o que parecia uma vasta explosão estrelar. Era de fato uma
enorme flor de cardo. Verde e dourado se estendiam por um núcleo dourado. Brisas sussurravam entre
vagens de sementes. Ocasionalmente um caule se soltava para deslizar. Rapidamente outro tufo flutuou
para fora e outro cresceu.
Além dessa vasta flor, os três planinautas flutuavam, tão minúsculos quanto muriçocas.
“O Santuário Interno,” Urza disse, piscando para o enorme cardo. “Eu não sou bem-vindo aqui.”
“Nós somos,” replicou Daria com um sorriso. Colocando as mãos ao redor da boca, a jovem mulher
gritou. “Freyalise, está na hora.”
Não houve mudança para o cardo mamute. Nenhuma porta se abriu, embora uma presença
emergisse do núcleo da flor. Nenhum simples tufo se alterou. Mesmo assim, fora da moita deles uma
estátua de uma mulher se formou com delicadeza, quase que com características de outro mundo. Seu
cabelo loiro era podado e curto e tingido na forma emulada dos elfos da Lâmina de Aço. Pelo seu rosto
tatuagens intricadas e enroladas lembravam a floresta – folhas e flores os quais os caules se estendiam
descendo sua garganta e por baixo da blusa branca que ela vestia. Um anel cintilava em uma narina, e a
luz a cobria como um manto.
Freyalise sorriu. Seus lábios carregavam tanto do mesmo capricho quanto os de Daria. Estava claro
que estas duas se tornaram aliadas o que Urza chamaria de travessura. Mesmo assim, Freyalise era
anciã. Ela era protetora de Fyndhorn e a deusa da Ordem do Zimbro, salvadora dos Elfos de Llanowar e
a Dama Patrona da Ordem dos Lâmina de Aço. Ela também não era amiga particular de Urza.

148
Invasion
“Hora, é?” perguntou Freyalise, piscando como se acordasse de um sonho.
“Isso foi o que Daria disse,” Taysir ressaltou.
“Sim, está na hora,” Urza respondeu. “Uma batalha crítica se aproxima, uma corrida seca pelo nosso
alvo final -”
Ignorando Urza, Freyalise estendeu suas mãos em direção à de seus amigos e as pegou em suas
mãos.
“Como seus estudos estão indo, garota? Seu pai é um mestre severo – os minotauros o deixaram
assim. Não, isso não é verdade. Ele era severo antes dos minotauros. Eles apenas arredondaram suas
arestas.” Se virando para Taysir, ela disse, “E falando em arredondar arestas, adivinhe quem venho me
visitar?”
Os olhos do velho se mexeram. Ele disse com infinita resignação, “Kristina.”
“Sim!” Freyalise disse alegremente. “Oh, não me diga que você ainda não a superou.”
“Não. Os Antepassados de Anaba tomaram conta disso também. Eles disseram que eu não podia ter
meu corpo de volta até que eu me desligasse da rotina. Eu fiz isso. Desliguei-me. Da rotina.”
Freyalise riu.
“Ahem,” Urza interrompeu, tossindo em sua mão.
Freyalise se virou. Sua sobrancelha erguida. “Oh, é você.”
“Foi isso o que eu disse também!” Daria respondeu alegremente.
“Planejando outra Era Glacial, Urza?” Freyalise cutucou.
Urza retraiu-se. “Eu devo lembrá-la que seu feitiço para acabar com a Era Glacial foi tão devastador
quanto o meu – e lançado com o mesmo desprezo.”
“Você dois...” Taysir disse.
Urza continuou, “Eu compreendo que você não possui amores por mim. Eu aceito nenhum. Mas
você tem amor pelo mundo e suas criaturas, e é por isso que eu vim. Nós juramos – até mesmo o
bastardo Szat – lutar por Dominaria. É por isso que nós viemos juntos.”
Freyalise caminhou facilmente pelo ar até que ela se deparasse com ele. “Eu não me lembro de você
jurar lutar por Dominaria, somente contra Phyrexia.”
“Não há diferença,” Urza disse.
Veio uma risada outra vez. “Se você tivesse algum indício do porque disso soar engraçado, você
poderia entender o porquê de nós termos tão pouco amor por você.” Ela encolheu os ombros. “Oh,
muito bem. Está na hora.” Seus olhos se fecharam por um momento. O ar ao redor dela começou a
cintilar com uma silenciosa conversa. “Kristina servirá.”
“Kristina?”
“Você precisa de oito planinautas para energizar estas engenhocas suas, certo?” Freyalise
perguntou. “Kristina é uma planinauta. Livre-se de Szat.”
Urza balançou sua cabeça. “Não, eu preciso de Szat. Eu me livrarei de Parcher. Ele é um pouco
lunático.”
“Um pouco?” disse Freyalise e Daria juntas. Elas trocaram olhares, e Freyalise disse, “Isto será mais
engraçado do que eu pensei.”
Outra presença cintilou em seu ser. Kristina tinha uma pele profundamente bronzeada e um longo
cabelo marrom amarrado com pérolas. Ela possuía a angular intensidade de um mago e a presença de
um oráculo. Tomando forma ao lado de Taysir, ela tomou a mão dele nas suas. Sua voz era melíflua e
baixa.
“Tão bom ver você outra vez, Taysir. Nós nos veremos muito nestes próximos meses.”
Ele se curvou no ar. “Nada me deixaria mais feliz.”
Se sentindo vagamente enojado, Urza mexeu seu braço em um gesto amplo sobre a assembleia
flutuante de planinautas. A lanugem de cardos do Santuário Interno desapareceu.
Uma brisa salgada e dura explodiu sobre eles, se atirando de uma onda de cinquenta pés. Além da
balaustrada, o mar era negro sob a tremeluzente Lua. Nuvens arrastavam trapos através do céu. Um

149
Invasion
convés de madeira robusta e solidificada estava por baixo da companhia. O navio corria sem leveza
através do mar da meia-noite. O navio pirata foi imediatamente reconhecido por todos eles.
“Bo Levar” Freyalise perguntou duvidosamente. “O contrabandista de charutos?”
Urza piscou, seus olhos de pedras brilhantes cintilaram na escuridão. “Ele prefere ‘mercador
interplanar.’ Além do mais, as leis de embargo continental não se estendem entre mundos.”
“Qualquer que seja seu título, ele é um patriota,” Taysir disse, lambendo os lábios. “Espero que ele
tenha um engradado maduro de Urborg.”
“Pode apostar,” disse Bo Levar, saltando do castelo de popa para brilhar entre os planinautas. Ele
possuía o aspecto de um jovem, com cabelo arenoso e um bigode e um cavanhaque decorativo. “Você
pode ter dois. O resto está destinado a Mercádia. Os Ramosianos criaram um verdadeiro apreço por ele.”
“Está na hora,” Urza disse.
“Se você está dizendo,” Bo replicou, balançando sua cabeça. “Era fácil furar um bloqueio Benaliano,
mas estes navios de praga Phyrexiano não são tão amigáveis.” Ele suspirou. “Mesmo assim, os negócios
não podem esperar. Eu levarei estes para o Mar Exterior de Mercádia, darei instruções para minha
tripulação, e encontrarei vocês – onde?”
“Em Tolaria, na fenda Phyrexiana.”
Bo fez uma cara de chiste. “Você ainda está trabalhando naquele buraco fedido?”
“É o tempo acelerado,” Urza respondeu defensivamente. “Eu consigo dez dias dentro dele para
cada um do lado de fora.”
“Sim, mas fede,” Bo disse. “Levarei um engradado de velas para encher o ar.”
Urza agarrou o ombro dele genuinamente. “É bom ter você conosco.” Lançando seu braço ao redor
dos outros, ele disse, “Nós nos veremos lá daqui a pouco.”
Mesmo enquanto Bo Levar respondia, o céu e o oceano da meia-noite se avolumaram e o navio entre
eles desvaneceu na existência.
No seu lugar, uma grande biblioteca se formou. Prateleiras correram em direção ao infinito. Suas
margens curvadas em um azul distante. Era dito que se alguém caminhasse em uma linha direta através
da biblioteca do Comodoro Guff acabaria caminhando sobre seus próprios passos. Mais assustador
ainda, cada volume naquele espaço infinito era a história de algum lugar do Multiverso, e o velho
Comodoro tinha lido todos.
Enquanto os planinautas se materializavam entre os livros o próprio Comodoro Guff apareceu. Ele
possuía uma balsa de cabelos louros avermelhados, uma barba e sobrancelhas agressivas, e um intensivo
olho por trás do seu monóculo. O vidro caiu do seu olho para dentro do livro que ele segurava. Ao
mesmo tempo a boca do Comodoro Guff se abriu.
“Você está aqui para pegar emprestado ou devolver?”
“Está na hora,” Urza simplesmente disse.
Comodoro Guff franziu o cenho. “Não...” Da vestimenta vermelha que ele vestia, o homem fisgou
um relógio de bolso – um dispositivo que o jovem Urza havia moldado como um aprendiz em Yotia.
“Bem, incômodo. Está na hora.”
Daria deu a ele um olha duvidoso. “Você nem sabe do que nós estamos falando.”
“Ah, você se engana, jovem dama,” o Comodoro bufou. “Nós estamos falando sobre tempo, e eu sei
tudo sobre tempo. Eu sei o que está supostamente para acontecer nele e o que verdadeiramente acontece
nele. Eu sei a diferença entre história e realidade. Eu tenho dedicado minha vida para tornar a realidade
o mais próximo possível da história.” A expressão de Daria apenas se tornou mais impressionante.
“Como pode haver história para as coisas que nem aconteceram ainda?”
Um dedo se agitou ao lado de sua peluda orelha, Comodoro Guff disse, “E eu perguntaria a você
como coisas podem acontecer a não ser que haja história.”
“Maldição,” Urza disse, se tornando irado. “Nós estamos desperdiçando tempo.” “Sim! Maldição,”
Comodoro Guff disse, fechando seu relógio de bolso. “Maldição! Maldição!” Ele deslizou o dispositivo
para dentro do bolso da veste, parecia que ele se perdera, e acariciou furiosamente. Irritado, ele olhou

150
Invasion
para cima. “Você sabe o que Teferi fez? Tirou de fase Zhalfir e Shiv! Levará quase um século para
resolver isso – pequeno gatuno.” “Uma coisa de cada vez,” Urza disse tentando acalmar o homem.
“Sim” Comodoro Guff afirmou com a cabeça, quietamente acrescentando, “Maldição...” “Tudo bem,
uma parada final,” Urza disse, varrendo seus companheiros junto com ele em uma repentina viagem
planar. A infinita biblioteca do Comodoro Guff deixou de existir, apesar do cavalheiro de colete ainda
agarrar um livro dela. Ele bateu com força o volume, percebendo que seu monóculo estava faltando, e
deu uma tapinha em suas vestes outra vez.
A tripulação chegou numa escuridão total. O enxofre perfumava o ar. Normalmente, planinautas
podiam ver dentro dos cantos mais escuros. Onde a vista era negada a ele, era negada por um da sua
própria laia.
Este era aquele que os circundava agora mesmo. Sua presença era titânica. Sua carne era gélida e
dura. A dica veio de um longo tentáculo que deslizou para dentro das trevas. Um ombro escamoso
apareceu e depois se fora. Um olho maligno os observava a todos. Então veio a nítida impressão que
dentes lançados em um sorriso de navalha.
“Incômodo!” disse o Comodoro Guff, se embasbacando na escuridão.
“Tevesh Szat? Dede quando ele deseja fazer Dominaria algo além de um cubo de gelo?”
A voz que respondeu fervilhava com prazer. “Você me conhece. Sim. Eu uma vez tentei congelar o
mundo – não graças a você, Freyalise – somente desejei preservá-lo em um memorial perfeito. Eu luto
por Dominaria. Como ela pode ser preservada se for invadida por... baratas?”
O Comodoro fungou. “Você mesmo teve negócios com estas baratas.”
“Sim,” a voz concedeu quietamente. “Quando os negócios me favorecem. Perder o mundo para
Yawgmoth não me favorece.”
“Nós todos estamos de acordo com isso,” Urza disse. “Szat será nosso agente interno. Ele conhece
Phyrexia melhor até do que eu.”
“Você falou de oito guardiões de Dominaria, além de você mesmo Urza,” Taysir apontou. “Quem é
o último?”
“Lorde Windgrace. Agora mesmo, ele ajuda Barrin na batalha de Urborg. Eu chamarei por ele
quando as ilhas estiverem seguras. Quanto ao resto de nós...” o gesto não pôde ser visto, apesar de ter
envolvido até mesmo o envolvido no escuro Tevesh Szat.
De repente eles estavam sobre um profundo, escuro cânion. Suas paredes e chão eram de um escuro
basalto. Um domo de energia cintilante brilhava acima. Um vulcânico platô dominava o centro da
fissura. Naquela proeminência repousava uma estranha cidade feita de obsidiana. Uma vez, este vale
esteve repleto de Phyrexianos, aprisionados numa fenda de tempo acelerado. Eles foram construídos – e
purgados da – Cidade de K’rrick. Desde então, o desfiladeiro se tornara o laboratório privado de Urza.
Dentro dele, nove novas maravilhas tomaram forma.
“Eu os chamo de Titãs,” Urza disse, respirando alegremente.
Contra as paredes do cânion estavam nove figuras monumentais. Elas pareciam guerreiros enormes,
dormindo em descanso. Cada colosso era uma vestimenta de armadura de poder. Armamentos pesados
se eriçavam das mãos e dos ombros e dos pés das máquinas – canhões de raios, baterias de plasma,
balistas de powerstones, bombardeio de energias, e incontáveis outras inovações.
“Incômodo,” Comodoro Guff disse, paginando através do livro que carregava. “Não há uma
simples palavra escrita nestes ainda.”
“Nestas vestimentas, nós lançaremos nosso ataque a Phyrexia. Primeiro, apesar de que, nós
daremos assistência aos exércitos da Coalizão dos Metathran, elfos, e Benalianos na Batalha de Koilos.”
Daria zombou, “Levaria meses para ensinar a usar estas vestimentas.”
“Felizmente, nós temos meses – dois para ser mais exato. As forças de Coalizão planejam um ataque
as Cavernas de Koilos em duas semanas em tempo normal. Nós estaremos prontos até lá.”
“Está na hora,” Comodoro Guff disse decisivamente. “Maldição, está na hora.”

151
Invasion
CAPÍTULO 31

SARCÓFAGOS NO CÉU

Barrin travara uma batalha fútil, a luta de um homem sobre Urborg.


A princípio, a coalizão de Urza aguentou com força, mas os Phyrexianos eram muitíssimos, muito
cruéis. Eles mataram os Keldonianos e os Metathran. Eles fizeram os anjos de Serra e elfos e guerreiros
panteras recuarem das ilhas. Quando os custos da batalha se amontoaram, o próprio Urza invocou
Darigaaz e as nações dragão para Koilos, e recrutou Lorde Windgrace para sua companhia de titãs. Na
batalha de Urborg, ele deixou um único guerreiro –“Meu exército de um homem.” O Mago Mestre
Barrin flutuava alto sobre o centro de um vulcão inflamado. Ele examinava os destroços do mês passado.
Helionautas queimavam no chão. Longas embarcações afundaram na salmoura. Anjos jaziam mortos
nos pântanos de água da chuva e elfos em charcos de água salgada. Metathran foram crucificados em
árvores de cipreste. Keldonianos apodreciam em leitos de algas. O lodo os fazia parecer como porcos
assassinados. Insetos do tamanho de peixes se alimentavam deles – coisas piores também. Phyrexianos
subiam como baratas sobre os mortos.
Houve vitórias, é claro. Dois cruzadores Phyrexianos formavam montes de destroços. Os asseclas do
lorde lich rastejaram para dentro dos cascos como larvas em corpos. Carniçais e povos escamotadores
levaram o que eles podiam e brandiam garras e presas com os Phyrexianos lá. Barrin os deixou se
aniquilarem.
Uma batalha pior assomava-se. Esta manhã, uma frente de tempestade tinha se formado sobre o
mar ocidental. As nuvens se aproximavam com confiança. Durante todo o tempo, elas ajuntavam vapor
e fúria sobre o mar revolto. A tempestade havia se formado dentro de milhas de distância antes que
Barrin visse o que ela escondia. Juntamente com o avanço de sua margem apareceu a proa negra de sete,
oito... doze cruzadores Phyrexianos.
“Se eu lutar essa batalha sozinho, eu perderei as ilhas e a vida,” Barrin ponderou. “Se Urza quer este
pântano fedorento salvo – por qualquer insondável razão – ele terá que me garantir mais ajuda.”
Fechando seus olhos, Barrin deu um longo, profundo suspiro de ar enxofre. Ele explorou as
memórias de outra ilha, da azul e linda Tolaria. O poder surgiu através dele, as energias azuis de
manipulação de magia. O espaço se fechou. Barrin saltou de um rebordo para outro. Urborg
desapareceu abaixo dele, deixando um envelope de calor sufocante. Koilos se formou, igualmente
quente, mas tão seca quanto uma fornalha.
Barrin pairou sobre as dunas de areias e sulcos de rocha. Na distância abrupta, Phyrexianos
enchiam o mundo. Eles perfuravam e descansavam, lutando pela melhor comida e devorando-a,
montavam vormes de trincheira e queimavam seus próprios mortos. Na distância próxima, exércitos da
coalizão acampavam – Metathran, Benalianos, e elfos, com dragões adormecidos no seu meio.
Urza estaria bem além deles, abaixo daquela longa linha de lona. O tecido escondia uma vala
profunda talhada na rocha por máquinas artefatos. Era o abrigo secreto de Urza, mil pés de
profundidade, dois mil pés de comprimento, e cem pés de largura. Dentro do abrigo, ele mantinha suas
armas secretas – as máquinas titã.
Se dirigindo lentamente em direção à lona, Barrin mexeu sua mão sobre ele mesmo Ele se tornou
momentaneamente insubstancial e deslizou através da lona.
Sombrias frias enchiam o abrigo. As máquinas titãs jaziam contra a parede, parecendo guardiões em
uma tomba anciã. Em algumas das máquinas, planinautas manuseavam, finalizando as configurações de
seus comandos.
Na base da trincheira, Urza trabalhava. Ele havia fechado sua mesa dobrável de viagem, um enorme
espaço de trabalho que estava compacto dentro de um fino painel de madeira. Mapas de Koilos jaziam

152
Invasion
ordenadamente em conjunto perante o mestre artífice. Ele escrevia linhas confidentes através deles,
projetando ângulos de ataque.
Barrin desceu ao lado de seu velho amigo. Mantos de guerra queimados jaziam sobre os artelhos do
mago. Como Dominaria retornava sua força sobre ele, Barrin soltou um suspiro involuntário.
“Olá, Urza.”
O planinauta olhou para cima, seus olhos brilharam naquela melancolia. “A batalha de Urborg está
concluída?”
Barrin se eriçou perante aquela saudação. Ele respondeu curto e igualmente. “Não. Eu preciso de
reforços.”
Olhando de volta para baixo em direção aos mapas de Koilos, Urza disse, “Não há.”
Encolhendo os ombros, Barrin apertou os lábios. “Então Urborg está perdida.”
Urza bufou, “Então está perdida.”
“Então é isso?” Barrin perguntou calorosamente. “Há um mês, Urborg tinha que ser salva a
qualquer custo, e agora você a perde com um dar de ombros?”
Erguendo seu olhar, Urza disse, “É um local estrategicamente importante, perdendo somente para
Koilos. Mas é o segundo depois de Koilos. Se Urborg não pode ser mantida sem reforços – e nós não
temos reforços para enviar – então Urborg está perdida.”
Lançando suas mãos em rendição, Barrin disse, “Sim, perdida.” Ele se encostou contra a parede da
trincheira e fechou seus braços. “Eu vejo que você tem suas últimas peças trabalhando aqui – seus
exércitos, suas máquinas de guerras, seus navios voadores e dragões e titãs. Aquele que eu vi era o Bons
Ventos ?”
“Sim,” Urza simplesmente replicou.
“Bom,” Barrin estalou. “Eu vou ver minha filha-”
“Não,” Urza interrompeu. Alguma coisa como tristeza – ou culpa – encheu seus olhos.
“O que você quer dizer com não?”
“Hanna morreu há duas semanas.”
“O que?” Barrin latiu, rindo incredulamente. “O que você disse?”
“A praga tomou conta dela. Nada havia que alguém pudesse fazer.”
Balançando sua cabeça em descrença, Barrin disse, “Hanna? Minha Hanna?”
“Nada havia que alguém pudesse fazer.”
A face do mago mestre se tornou branca doentia. Ele se apoiou sobre a mesa de Urza, amarrotando
os mapas lá. Ele olhou inexpressivamente para aqueles planos arruinados. A cor voltou repentinamente
para suas feições – sangue.
Ele falou em uma quieta, trêmula voz. “Havia uma coisa que eu podia ter feito, Urza. Eu podia ter
segurado sua mão. Eu podia ter mexido no seu cabelo...” Sua voz falhou, mas seus olhos firmes
encaravam suplicantemente para Urza. “Por que você não me convocou?”
“Urborg tinha que ser salva.”
“Não diga isso! Nem por um momento diga isso!” Barrin replicou, liberando as lágrimas de seus
olhos. Ele atacou, arremessando os mapas da mesa de Urza. Eles se chocalharam num furioso rebanho
de papel e caíram no pó. “Claro que você não me chamou. Seu trabalho sempre foi à coisa mais
importante. Claro que eu não estava lá quando minha filha morreu. Eu não estava lá quando ela viveu.
Você a roubou de mim, e isso não é o pior – eu deixei você roubá-la de mim! Yawgmoth dos Noves
Infernos!”
“Não diga esse nome -” Urza disse urgentemente, erguendo suas mãos em direção aos titãs –“não
aqui,”
“Onde ela está?” Barrin ordenou. “Onde ela está?”
“Gerrard a enterrou. Ela jaz nas areias de Koilos.”
“Ela não teria desejado isso. Este deserto era nada para ela. Tolaria sempre foi seu lar. Estou
levando-a para Tolaria, para ser enterrada ao lado de sua mãe.”

153
Invasion
“Não,” Urza disse, pegando os mapas do pó. “Tolaria, também está perdida. O ajuntamento de
planinautas atraiu os Phyrexianos. Eles atacaram furiosamente. Nós escapamos com as máquinas titãs e
cada dispositivo profícuo, e detonamos os outros. Agora mesmo, os Phyrexianos consolidam seu
domínio sobre a ilha.”
“Consolidam seu domínio?” Barrin perguntou num assombro furioso. “Então, alguns dos alunos e
estudiosos ficaram?”
“Toda batalha tem suas perdas -”
“E eu me tornei uma, Urza,” Barrin disse. Toda a fúria havia partido de sua voz. Somente o claro
terror permaneceu. “Eu gastei minha vida lutando batalhas que eu não acreditava porque eu acreditava
em você. Não mais. O custo foi muito alto. A crença foi muito cara. Eu fui um tolo. Eu lutei por coisas
que eu não amava e deixei o que eu amava escapulir – primeiro minha esposa, e então minha filha, e
agora eu mesmo. Estou farto. Estou levando Hanna de volta para Tolaria. Estou lutando pelo meu lar e o
lar dela e o túmulo de minha esposa. Eu vou finalmente lutar uma batalha na qual eu acredito – eu vou
lutar uma batalha final na qual eu acredito.”
Franzindo a testa, Urza simplesmente disse, “Você não pode.”
“Adeus, meu amigo,” Barrin respondeu, e ele se fora.
Ele nunca havia se teleportado em matéria sólida antes. Não era aconselhável, claro. Barrin estava
farto de conselhos – ele estava farto de quase tudo. O Mago Mestre de Tolaria se materializou abaixo da
areia da costa próxima. Ele tomou forma, seus braços ao redor do corpo enterrado de sua filha. Quando
ela nasceu, Barrin a tinha carregado assim, e lançara sobre ela um farol de encantamento. Permitia que
ele a encontrasse onde quer que ela estivesse. Ele o levou até ela, até seu túmulo.
“Por que eu não usei o encantamento há um mês? Por que não há um ano? Por que não em todos
estes dias de infância quando ela estava construindo quites de caixas e represando os riachos de
Tolaria?”
“Hanna,” Barrin sussurrou com seu último suspiro, trazendo o frio interior do abrigo de Urza.
A simples, quieta palavra emergiu com a força de uma ventania azul. Ela explodiu a areia,
disparando através do solo pressionado. Grãos foram cuspidos do túmulo. O vento redobrou. Um
vórtice despojou partícula após partícula. A luz do sol apunhalou através do solo espesso. O eixo de
rotação se alargou, cavando pelo túmulo. Ele depurou a face de Barrin. Ele encheu a capa ensanguentada
dele e limpou as mortalhas brancas que envolviam sua filha. Mirra de Hurloon foi usada nas roupas, e
exalava o cheiro da tristeza.
“Hanna,” o velho mago chorou.
O redemoinho de vento rompeu a última areia de sepultamento. Sem o peso dela pressionando-o,
Barrin se admirou o quão leve ela estava. Isto não havia sido uma morte repentina, mas uma longa
agonia que veio de uma crônica negligência.
Como eu pude estar ao mundo de distância enquanto ela morria lentamente? “Hanna!”
Através da tempestade furiosa, Barrin se levantou. Ele carregou sua criança em seus braços. Além
do círculo de cortinas de pó, ele viu a tripulação do Bons Ventos. Eles correram para o local do túmulo
quando eles viram a tempestade de areia iniciar. Tahngarth era o mais próximo, seu machado erguido
para matar qualquer besta que pudesse emergir. Sisay e Orim olharam com descrença para o túmulo
violado de sua velha amiga. A poeira colou lágrimas em seus rostos. Somente Gerrard, entre todos eles,
entendeu. Ele viu, não a tempestade, mas o homem na tempestade. Ele viu os olhos de Barrin e a culpa
neles. Gerrard entendia. Ele compartilhava daquela culpa. Hanna havia morrido enquanto os dois
homens que ela mais amava estavam ocupados lutando com Phyrexianos.
Era mais do que Barrin podia suportar. Com um aceno para Gerrard, ele levou Hanna para longe do
lugar arenoso.
O rugido do ciclone foi substituído pelo rugido do oceano. As areias de Koilos foram remodeladas
nos penhascos pedregosos de Tolaria. Foi o teleporte mais simples que Barrin já havia conjurado. Ele

154
Invasion
conhecia o lugar intimamente – o desmarcado túmulo de sua esposa, perto do mar. Aqui, a jovem Jhoira
uma vez escapou dos rigores da Academia. O teleporte foi tão simples quanto voltar para casa.
Barrin permanecia sobre a laje de pedra onde jazia sua esposa. Ele sofria por colocar sua filha para
repousar ao lado dela. Ele ansiava em morrer com elas. Lágrimas corriam pelo seu rosto, Barrin deixou
cair sua cabeça para trás. O céu acima estava escuro, não com nuvens de tempestade, mas com navios
Phyrexianos. Havia uma frota de cruzadores e tantos outros navios de praga. Embarcações menores se
afastavam da frota principal para perseguir refugiados Tolarianos em barcos minúsculos. Abaixo da
pilha de frotas, colunas de fumaça negra se erguiam da arruinada Academia. Talvez os Phyrexianos
tivessem bombardeado os edifícios até o esquecimento. Talvez fora Urza. Seus trabalhos eram
constantemente indistinguíveis. “Eu fui um tolo,” Barrin disse a si mesmo.
Sem por sua filha no chão, Barrin conjurou um simples feitiço de água.
Ao lado do túmulo de sua esposa jazia outra cripta natural na rocha. Barrin sempre havia acreditado
que ele jazeria ali quando seu tempo chegasse. Ele nunca imaginou a morte de sua filha. Abaixo da
tampa de pedra da cripta, o feitiço tomou forma. Pequenos jatos de água borbulharam, erguendo a
tampa e a deslizando lentamente para o lado. A água jorrou abaixo das paredes de pedra da tumba. No
momento que a tampa deslizou para o lado, uma pequena poça clara jazia além das pedras.
Respirando fundo, Barrin abraçou o corpo de sua filha. “A última vez que eu te vi você estava indo
para Rath. Nós discutimos, eu me lembro. Eu sinto muito. Nós também dissemos adeus. Eu não
imaginei que esse adeus seria nosso último. Eu estava errado sobre tudo. Tudo.” Gentilmente descendo-
a para dentro do túmulo, ele suspirou profundamente. “Adeus meu anjo.”
Ele permaneceu, observando solenemente enquanto a tampa deslizava de volta sobre a cripta. As
trevas lentamente engoliram sua filha. O resto da água transbordou pelos limites da tampa. Ela raspou
quietamente pelo lugar.
“Sarcophagus.” Barrin sussurrou a velha palavra Thran enquanto ele olhava para o local.
“Devorador de carne.”
Ele encontraria seu próprio sarcophagus no céu.
Barrin subiu em direção ao ar pela última vez em sua vida.
Em dias antigos, Urza perdeu seu irmão para Phyrexia. Em sua fúria, ele havia liberado uma
explosão de um artefato chamado sylex. Aquela explosão afundou continentes e remodelou Dominaria.
Ela também fez de Urza um verdadeiro deus.
Barrin não era um deus. Ele não tinha o sylex. Ele não desejava afundar continentes, mas ele
conhecia o feitiço que Urza havia conjurado. Seria suficiente.
Acima dele, navios gigantescos flutuavam como leviatãs. Barrin não fez questão de se esconder. Um
único homem se erguendo através de um céu esfumaçado era difícil o suficiente para se visto, e estas
máquinas montanhosas eram gigantescas para uma ameaça tão pequena. Barrin ascendeu no meio delas.
Mortíferas coisas negras. Eles não saberiam o que as atingiu.
Fechando seus olhos, Barrin sugou poder da sua fúria. Lava. Enxofre. Fogo. Ele pensou em Shiv e
em Rhammidarigaaz. Ele pensou nas plataformas de mana jorrando pedras vermelhas como um coração
gigante. A ira brotou nele. Ele era seu conduto. O ódio moldou o feitiço, mas ele precisava de mais
poder.
Barrin sugou mana de Tolaria abaixo dele. Ele se lembrou do nascimento de Karn na primeira
Tolaria. Ele se lembrou da guerra com K’rrick na segunda Tolaria. Ele se lembrou de Jhoira e Teferi,
Bons Ventos e os Metathran, Rayne e Hanna. Enquanto a mana azul corria para ele, Barrin se utilizou de
outras terras também – a verdejante Yavimaya, a militante Benália, a morta Urborg. Ele drenou todo o
poder para dentro dele mesmo e se tornou um sylex vivente.
Suas entranhas fervilhavam. Disparos saltaram de seus olhos e da ponta dos seus dedos. O poder
solicitado escapava por cada extremidade. Ele arrastou seu caminho pelas pernas, através do rosto e do
peito. O cabelo estava de pé soltando energia de suas pontas. Os poros se abriam e disparavam. Cada

155
Invasion
ferida já feita em seu corpo explodia se abrindo e brilhando. Sua carne não podia conter o esplendor.
Logo, Barrin brilharia como um segundo sol.
Aqueles não eram raios de luz, embora, mas raios de energia. Eles rugiam vermelhos dele. O ar
chiava com eles. Rajadas acertaram os navios. Elas cortaram metal como se fosse água. Elas
transformaram armaduras Phyrexianas em pudim e carne Phyrexiana em cinzas. Eles perfuraram os
núcleos dos motores e trincaram powerstones.
Cruzadores e navios de praga vomitaram fumaça através de milhares de buracos repentinos.
Motores entraram em pane. Uma máquina explodiu. Seu próprio estilhaço se derreteu na energia que ela
liberou. Quatro cruzadores adjacentes cambalearam e explodiram. Eles inclinaram na extremidade. A
luz do dia peneirou através dos cascos crivados. De navio a navio, a destruição se espalhou.
Nenhum canhão foi disparado, nenhuma explosão de plasma foi liberada, mas havia um fogo
purificador nos céus. Abaixo, era o mesmo. Oceanos fervilhavam. Árvores pegavam fogo. Rochas
derretiam.
Quaisquer criaturas que residiam em Tolaria eram cegadas pela luz, e ensurdecidas pelo abalo, e
desmantelados pela energia pura. Phyrexianos, tutores, alunos, corças, pulgas – tudo morreu naquele
momento. Sua peleja estava terminada. Seus corpos se foram. Até mesmo o chão o qual eles estavam se
transformou em cera.
Somente Rayne e Hanna estavam salvas, seladas dentro de seus sarcófagos.
Assim como Urza fez com Barrin
Finalmente, a explosão cessou. Ela deixou um buraco no céu. Nenhum navio sobrou. Nem nuvens
também. O sol radiante parecia escuro e cinza.
Ondas de frio se chocaram no oceano fervente. Sorvedouros jaziam nas nuas profundezas do
oceano. A água agitava o lodo vermelho como sangue.
Onde uma vez havia sido uma verdejante ilha agora era uma derretida laje de rocha, chiando dentro
do mar. Tolaria se fora por toda a eternidade.
E assim também seu único senhor, o Mago Mestre Barrin.

156
Invasion
CAPÍTULO 32

A JUNÇÃO DA BATALHA

Eladamri permanecia à frente do seu exército, e Lin Sivvi ao seu lado. Ele vestiu a armadura élfica e
as vestimentas dos seus guerreiros da Lâmina de Aço. Ele carregava uma lança de powerstone, assim
como os dez mil Metathran que marchavam atrás dele. A crença havia feito de Eladamri o salvador dos
elfos e o comandante dos Metathran.
Erguendo alto sua lança de powerstone, Eladamri gritou, “Atacar!” Seu povo concordou com o grito.
Ele se tornou um feroz grito de guerra, mortais invadindo os portões do inferno. Aqueles portões eram
bem guardados. O deserto perante Eladamri estava empesteado de Phyrexianos. Para uma milha em
cada direção, os monstros se enfileiravam. Em trincheiras profundas espreitavam gargantas Phyrexianas
– estômagos vivos que engoliriam qualquer um que tentasse atravessá-los. Pelas frestas de estrondos e
bombardeios, atiradores Phyrexianos testavam sua pontaria e distância. Em torres de magia, feiticeiros
preparavam magias de mana preta. Em sacrários, sacerdotes, guardavam devoradores de carne. Eles
esperavam avidamente.
Nem todos esperaram. Outras bestas marcharam à frente. Lado a lado falanges avançaram. Suas
garras e cascos arremessaram brilhantes nuvens de pó salgado em seu caminho. A vanguarda se eriçava
com os Scuta. Seus escudos cranianos reluziam sua negritude sob um sol impiedoso. Em seguida vieram
as crias de sangue. Seus metálicos cascos dianteiros destroçavam o chão. Tropas de choque Phyrexianas
enchiam o corpo principal do exército, os lutadores mais malignos de todos. Todos eles avançaram – não
marchando, mas atacando.
Eladamri ergueu sua lança de powerstone. Sua mandíbula se cerrou. Seus olhos brilharam como
punhais gêmeos.
Lin Sivvi preparou seu totem-vec.
As duas linhas se aproximaram – uma azul e prata e a outra preta e de ferro.
Um choro se ergueu atrás da divisão de Eladamri. O barulho se intensificou até virar um guincho. O
ar acima repentinamente se aglomerou com pássaros reluzentes – falcões mecânicos. Eles cortaram os
céus como fitas. Flexionados bicos afiados como navalhas apontaram para as linhas Phyrexianas, os
pássaros mergulharam. Um crepitar múltiplo se seguiu enquanto os falcões se chocavam contra os
escudos dos Scuta. Dos buracos que eles deixaram vinha um zunido de gêiseres da carne macerada.
A linha de frente Phyrexiana desabou. Por cima de suas costas escamosas, as crias de sangue
galoparam furiosamente. Elas não carregavam escudo, salvo pela armadura de ossos por baixo da pele.
Elas não carregavam armas, salvo pelas garras em forma de cimitarra que brotava de seus dedos. Suas
gargantas caninas estavam cheias de bramidos enquanto elas se trombavam contra Eladamri e seu
exército.
Lanças de powerstone bateram como bate estacas dentro das barrigas das crias de sangue. As armas
se rasgaram através de armaduras ósseas até afundarem. As crias de sangue fizeram seu caminho por
cima das hastes que as empalaram. Lanças mastigaram as espinhas Phyrexianas. Suas patas traseiras
coxearam. Patas dianteiras mecânicas rasgaram as criaturas à frente. Elas desembainharam garras em
forma de cimitarra dentro da face dos elfos e dos pescoços dos Metathran.
O próprio Eladamri quase foi feito em pedaços. Ele soltou sua lança – atolada dentro da barriga de
uma cria de sangue – e esquivou por baixo de um par de garras violentas. Com um chute, ele afundou
de volta as garras em seu próprio dono. A cria de sangue empalou seu próprio olho e cortou seu pescoço
amplamente. Óleo brilhante se espalhou numa nuvem dourada.
Coberta pelo próprio sangue do monstro, Eladamri tirou sua espada da bainha. Com um golpe no
pescoço, a cria de sangue caiu perante ele. Sua lança de powerstone encontrou seu caminho pelas costas
do monstro. Eladamri escalou por cima da besta e retirou sua lança.

157
Invasion
Uma criatura terrível saltou à frente de Eladamri. Parecia um caranguejo gigante. Uma enorme
pinça agarrou Eladamri, erguendo-o do solo. A carapaça o cortava pelos lados. Reprimindo a agonia, ele
arremessou sua lança de powerstone na barriga da coisa. A arma caiu para fora da quitina e chocalhou
inutilmente abaixo de pernas bambas.
A garra apertou. Eladamri sentiu sua anca estourar. Ele golpeou contra a junta da garra. A ponta da
espada estava encaixada entre as placas em forma de tesoura. Puxando para o lado dele, Eladamri
alavancou as pinças ligeiramente para se abrirem. Ele não podia escapar, mas nem o monstro podia
cortá-lo ao meio.
Um soldado de infantaria Phyrexiano escalou as costas do caranguejo para arrancar a cabeça de
Eladamri de seus ombros.
De repente fogo jorrou dos céus. O soldado e infantaria se foram, desmantelados por uma rajada de
canhão. A carapaça da criatura também foi devorada. Suas vísceras expostas em uma branca seção
transversal por baixo da crosta destruída. A rajada cortou para frente. Ela esculpiu uma linha latente
profunda no meio das tropas Phyrexianas.
Por trás daquela rajada veio uma visão bem-vinda, o rugir do casco do Bons Bentos. Outro disparo
de canhão emergiu do outro lado da embarcação. As rajadas do Bons Ventos passavam por cima da
cabeça. Suas armas faziam sulcos arados através dos monstros. Diretamente ao lado do enorme navio de
guerra voava uma frota irregular de lutadores menores. Alguns dispararam de seus próprios canhões.
Mais uma saudação de disparos desceu por cima de cabeças monstruosas.
Caindo da garra morta de seu captor, Eladamri ergueu alto sua espada e soltou o grito de guerra de
Skyshroud.
Em gargantas de elfos e de Metathran, o berro ecoou através do campo sangrento.

*****
Gerrard ouviu o grito de guerra subir, e ele endureceu seu coração furioso.
A arma perante ele já estava devastadoramente quente. Ele soltou outros disparos. Uma rajada
rugiu do focinho fumarento. Ele soou como um grande punho e bateu contra as colunatas Phyrexianas.
As armas abaixo se liquefizeram em cima de seus atiradores.
Gerrard os observou se contorcerem. Ele cuspiu entre dentes cerrados. Sua saliva chiou por cima do
canhão. Se colocando outra vez no local do atirador, ele espremeu para fora uma linha de fogo. O
disparo se lançou abaixo dentro de uma longa, baixo seteira. Ela brilhantemente iluminou o espaço de
dentro. Figuras brilharam por um momento, silhuetas no fogo. O telhado explodiu amplamente. Uma
grande gota cinza de fumaça foi expelida da cicatriz.
A cicatriz. Uma cratera negra enorme, com gavinhas cinzas irradiando através da carne que uma
vez fora saudável.
Ele vomitou fogo abaixo nas baratas. Ele rasgou suas conchas negras e observou a carne branca
escorrer por baixo. Ele arrancou seus ninhos e pisoteou os vermes vis. Eles eram parasitas. Pior, eles
eram podridão viva, eles eram nacos de praga ambulante.
O canhão de Gerrard falou outra vez. Quatro pulsos saltaram. O primeiro veio ao chão com tanta
força que rolou através dos Phyrexianos, movendo-os abaixo em uma linha de milhares de
comprimento. O segundo atingiu um tiro ascendente de um bombardeio que estava oculto. As energias
rasgaram as bombas do céu, transformando-as em fogos de artifício. O terceiro borrifou chamas através
de todo o regimento dos monstros. O último disparo navegou acima do chão e colidiu com a entrada da
Caverna de Koilos.
O Bons Ventos parou bruscamente. Este tinha sido o plano deles – o plano de Gerrard – cortar para
Eladamri uma avenida de destruição através das forças Phyrexianas. Eladamri lideraria através da terra

158
Invasion
latente e iria direto para as cavernas, cortando uma das bordas de defesa Phyrexiana. Então, o navio
voaria até o contingente de Agnate e cortaria um trilho similar para eles.
O Bons Ventos se ergueu até o limite de sua corrida. Ele trovejou pelos céus.
Gerrard distraidamente agarrou as cintas de atirador. Ele devia ter ordenado à manobra. Ele não o
fez. Sisay sabia o que estava fazendo. O navio saltou alto sobre colunatas de Phyrexianos. Disparos os
seguiram pelo alto. Suas línguas tépidas lamberam as máquinas gritantes. Um dos disparos acertou o
novo mastro, que Multani havia feito crescer. A seiva assobiou, porém ele não pegou fogo. O motor
roncou. O Bons Ventos saltou em direção ao céu, abafando o fogo com um estrondo abafado.
“Preparem-se para a segunda corrida de disparos!” Sisay berrou através do duto.
O Bons Ventos superou sua ascensão, deslizando para o lado para elevar-se. A frente jazia Koilos. O
ar se derramou através do casco. O mundo subiu repentinamente por baixo do navio. As fileiras de
batalha estavam lá, bem à frente. Agnate e suas tropas lutavam.
O Bons Ventos mergulhou fundo em direção a sangrenta fronte. Gerrard gingou sua arma para
baixo. A máquina tremia enquanto fazia sua recarga. Ele mirou em direção a uma linha de vormes de
trincheira. O canhão vomitou energia. O tiro fez um rodopio enquanto ele descia, acertando feito um
saca-rolha o enorme vorme, fritando-o.
... Quando ele era criança, Gerrard e Vuel espetavam lagartas com varas observando-as se
contorcerem para andar...
Outro lampejo verteu de sua arma, rolando sobre as hordas Phyrexianas e assando-os em suas
próprias conchas.
... Ele e Vuel costumavam derramar óleo de lâmpada sobre um formigueiro e botar fogo nele...
O terceiro disparo acertou o chão bem em frente ao recuo do canhão. Ele pulverizou o chão. O
canhão caiu para frente, liberando seu veneno de volta as suas próprias criaturas.
... Vespas emitiam um tufo acre de fumaça bem antes de a lupa rachar seus abdomens...
Agnate seria capaz de direcioná-los sobre este trilho. O Bons Ventos e o resto da armada
pavimentaram a estrada com corpos. Certamente, montes de canhões Phyrexianos e bombardeios
permaneceram, mas Sisay e seus outros atiradores poderiam cuidar deles com subsequentes ataques.
Gerrard se desatou. Ele possuía outra tarefa à frente.
... Levou o dia todo e dois galões de óleo de lâmpada para cavar o formigueiro, mas quando eles
encontraram a rainha, todas as mordidas valeram a pena. Eles abriram seu abdômen e puxaram para
fora os ovos brancos e os esmagaram e observaram todos os trabalhadores tentando carregá-los para
longe. Eles riram com aquele último incêndio, a rainha se arrastando sobre ele, colhendo os ovos mortos
enquanto seu abdômen aberto se encrespava e fritava...
Tsabo Tavoc. Ela havia feito isto. Ela trouxe estes insetos, estes vermes aqui. Ela trouxe podridão e
praga. Gerrard a encontraria e a abriria como ela havia aberto Hanna. Ele arrastaria para fora seus ovos e
os esmagaria e a mataria lentamente, do mesmo modo como Vuel havia mostrado a ele.
Uma enorme presença emergiu atrás dele. Tahngarth. Os céus ficaram para trás. Os olhos do
minotauro eram graves. Gerrard viu seu reflexo, pequeno e palpitante, naqueles olhos.
Tahngarth disse, “A equipe de ataque está pronta.”
Gerrard assentiu se afastando do lugar de disparo. Outro atirador esperava nervosamente ao lado
do minotauro, ele se deslizou para seu lugar e retomou fogo. Gerrard o encarou sem expressão.
“Nós estamos chegando ao local de desembarque,” Tahngarth incitou. “Você precisa colocar sua
cota de malha e se armar.” Tahngarth bateu o punho de sua espada contra a armadura de batalha
Hurloon que ele vestia.
Acenando entorpecido, Gerrard ergueu um peitoral e deslizou para dentro dele.
“Você está certo que está preparado para isto? A morte de Hanna -”
Os olhos de Gerrard incendiaram. “Sim. É isso não é? A morte de Hanna. Sim. É isso.”
Se virando, ele caminhou para a proa. Ele cavou seu caminho através da equipe de ataque de
Benália. Gerrard espiou acima da balaustrada do navio, vendo que Sisay colocou o navio bem no limite,

159
Invasion
acima das cavernas. Canhões Phyrexianos se esforçavam para se virar e atirar contra o navio que
pairava. Com a mesma rapidez, os próprios atiradores do Bons Ventos cavaram trincheiras.
Do duto de comunicação, a voz de Sisay guinchou, “Não posso segurá-lo aqui por muito tempo.”
Sem responder, Gerrard saltou o bloqueio cabrestante. Como correntes que sacudiam, Gerrard
saltou sobre a balaustrada. Ele aterrissou com seus pés sobre os braços da âncora e cavalgou sobre ela
puxando seu peso para baixo. A brigada da prisão deu um viva ao ver seu ousado líder avançar. Eles
também se lançaram pela borda a fora, se agarrando a corrente. Ela caiu perante a boca bocejante da
Caverna de Koilos.
Fora dessa desembocadura pesada havia uma enorme figura – um escavador Phyrexiano.
A âncora desabou em cima dele. A enorme cabeça do monstro foi esmagada pela coroa da âncora. A
besta entrou em colapso, e Gerrard saltou para o chão. Ele saltou livre da âncora e do escavador,
arrancando a cabeça do manipulador da besta. Se virando, ele golpeou através de um soldado
Phyrexiano que correu a ele. Tahngarth desceu ao lado dele, puxando sua espada. Os dois amigos
afastaram os monstros, alargando o círculo.
Um a um, o pequeno exército de Gerrard aterrissou. Duzentos guerreiros de Benaliana desceram em
cima do brutamontes morto. Gerrard os liderou. Ele e seus companheiros se moveram, matando
enquanto eles avançavam. Eles pareciam uma praga, se espalhando de um único ponto para infectar um
organismo inteiro.
Gerrard gostou da imagem. Ele gostava de matar esses monstros. Vuel teria gostado também. Pobre
Vuel. Pobre Hanna. Gerrard havia perdido muito. Ele havia perdido tudo.
De alguma forma, Tahngarth não parecia estar se divertindo. Ele certamente lutava, e matava, mas
parecia não haver alegria nisso.
Gerrard deu de ombros com esse pensamento. Ele agarrou a garra de um monstro em sua espada, e
a cortou fora, e perfurou o crânio da besta. Ele avançou para dentro das cavernas.
Tahngarth teria diversão quando encontrássemos Tsabo Tavoc e a abríssemos e esmagássemos seus
bebes.

*****
Ele era esquisito. Igual a um matador furioso.
Mortes desceram feito cascatas de água pura, através da mente de Tsabo Tavoc. Elas a refrigeraram-
na, avigorando-a. Elas fizeram seus dentes coçarem.
Este aqui seria fácil de capturar, Tsabo Tavoc disse a si mesma. Imprudente, furioso, cego. Ele seria
fácil de pegar e divertido de dissecar. Ele é, afinal de contas, o salvador bioengenhario de Urza. Se
Thaddeus é uma obra de arte, este Gerrard é uma obra-prima.
Tsabo Tavoc se debandou em sua própria caverna profunda até que ela capturasse sua presa.

160
Invasion
CAPÍTULO 33

A LUTA INTERIOR

O Bons Ventos ressoou por cima. Ele cuspiu fogo sobre os Phyrexianos. Seus canhões fulguravam.
Proa, meia nau, popa, e quilha, a destruição florescia dele.
O fogo varreu um contingente de Phyrexianos. A carne sob a quitina se desfez em uma fumaça
cinza. Escamas e ossos permanecerem de pé por mais um momento enquanto os corpos se desfaziam
pelo vento em fantasmas de fuligem. Centenas de monstros tombaram. Suas conchas superaquecidas
desmoronaram a pólvora branca. O Bons Ventos liberou outra tempestade de fogo, criando crateras no
campo de batalha. O vidro se espirrou até envolver os Phyrexianos em cobertores incandescentes.
Rochas derretidas ao meio bombardearam as criaturas. A carne foi limpa a partir dos corpos. Outros
canhões lavavam hectares com chamas. Os Phyrexianos marcharam através do holocausto tão longe
quanto podiam. Pelo menos, seus núcleos alcançaram o limiar da combustão. Eles explodiram. Uma
chama acendeu uma segunda e terceira. Onde uma vez marchou um regimento inteiro agora jazia uma
estrada pavimentada com fuligem.
Agnate atacou sobre aquele caminho. Ele agarrou um machado de batalha em ambas as mãos. A
larga lâmina caiu com fúria de vingança. Ela se fendeu dentro de uma boca segmentada de um soldado
Phyrexiano. A lâmina acertou a goela, dividindo mandíbula e paleta.
A besta continuou lutando. Suas garras se apertaram sob a couraça de Agnate, perfurando buracos
do seu lado. Dedos se cerraram. Órgãos decepados e sangrando.
Soltando seu machado de batalha, Agnate agarrou as garras empaladoras com uma mão e o
cotovelo da besta com a outra. Torcendo-se rapidamente, ele bateu o cotovelo, quebrando as juntas. Ele
estalou ruidosamente, e ossos e cartilagem se separaram. Mais um puxão, e o braço caiu, despejando
sangue oleoso.
Não desencorajado, o Phyrexiano se lançou com seu braço bom.
Agnate puxou o braço morto do seu lado e arremessou sua garra sangrenta sobre ele. O Phyrexiano
agarrou o braço decepado, dando a Agnate a chance para arrancar seu machado de batalha. Ele o
balançou em um amplo círculo e arrancou fora a cabeça da coisa.
O corpo gingou por um momento, incerto se estava morto, antes de tombar ao chão.
Agnate passou por cima dele. O cabo do seu machado parecia estranho em sua mão. Não era apenas
o óleo brilhante e a substância branca Phyrexiana. Alguma coisa estava errada. Seus dedos estavam
entorpecidos, zunindo. Seus braços estavam molengas.
Ele havia estado somente lutando – não lutando para alguma coisa. Este Eladamri era seu igual, era
digno de liderar o exército Metathran, mas ele não era Thaddeus. Agnate podia lutar ao lado deste
salvador dos elfos, mas não para ele.
Oh Thaddeus, na sua morte, você me matou, pensou Agnate tristemente enquanto seu machado dividia
o peito de uma cria de sangue. Se você pelo menos estivesse vivo, eu poderia lutar.
Eu estou vivo... Agnate... Eu vivo...
O pensamento era fraco ao vento, mas estava lá. Ele entrou em Agnate como uma brisa refrescante,
soprando vida dentro dele.
Ele vive. Eu ainda posso lutar. Ele vive.
Agnate ergueu seu machado. Arrancando a vida dos Phyrexianos, ungindo Agnate e suas tropas
com óleo.
“Para as cavernas!” ele gritou, assim como Thaddeus havia feito em seu primeiro assalto em Koilos.
“Para as cavernas!”
O machadou desceu, colhendo mais óleo brilhante.

161
Invasion
Agnate lutava com fúria. Havia nada a perder agora. Ou ele lutaria ao lado de Thaddeus, ou ele
morreria tentando.
De qualquer forma, a luta terminaria com gozo.

*****
Tsabo Tavoc caminhava pacientemente ao redor da mesa onde Thaddeus estava preso. O homem
estava amplamente aberto. Qualquer ser humano teria morrido há muito tempo. Não um Metathran.
Seus órgãos visivelmente se regeneravam. Eles possuíam uma infinita capacidade para dor e nenhuma
para desespero. Eles não possuíam instintos a não ser lutar com os Phyrexianos. Mesmo em coma,
Thaddeus estava lutando com Tsabo Tavoc. Ele estava enviando seus sonhos para seu companheiro.
Cruelmente ociosa Tsabo Tavoc alcançou uma de suas delgadas mãos dentro do abdômen aberto do
homem. Ela pegou seu baço. Ela o apertou, cortando o órgão em quatro cunhas.
“Isso levará algum tempo para curar,” a mulher aranha disse em sua voz de cigarra. Ela sorriu.
Placas se deslocaram para trás de dentes limados. “Enquanto isso, continue lutando comigo, Thaddeus.
Continue chamando seu amigo. Traga-o aqui. Encha-o com uma esperança insana. Eu o colocarei ao seu
lado. Vocês morrerão juntos. Não é por isso que vocês esperam? Não há melhor esperança para o povo
de Dominaria do que morrer com aqueles que amam.”
Tsabo Tavoc se endireitou. Ela respirou bem satisfeita com seu trabalho. Lançando um olhar para os
sacerdotes do tonel que estavam de plantão, ela pensou, Não o deixem se curar. Então, ela partiu pelo
portal. Aquele era o local onde Gerrard esperava alcançar. Aquele era o local que a sua surpresa estaria
esperando.
Os pés da mulher aranha fizeram sons alegres enquanto ela deixava a câmara.

*****
Urza se dependurava dentro de sua armadura titânica. Este devia ter sido seu refúgio. Ocultado no
coração de sua maior invenção, cercado por dez mil toneladas de máquina e armadura e armamentos –
Urza devia estar entusiasmado.
Seu corpo inteiro estava entrelaçado com cada fibra de sua vestimenta de guerra. Seus pés moviam
os pés da máquina; seus dedos fizeram a máquina agarrar e esmagar. Com um pensamento, ele podia
lançar falcões mecânicos no ar das costas da sua vestimenta. Com um capricho, ele podia disparar
canhões de raios que circulavam os pulsos do titã ou acender os raios de plasma encaixados nos olhos do
titã. Cada um de seus passos mataria centenas. Cada respiração ardente incendiaria milhares. Nesta
vestimenta, ele podia pisotear com oportunidade as Cavernas de Koilos e abri-la como um garoto abre
um formigueiro.
Urza devia estar ansioso, mas suas mãos estavam dormentes. Ele não conseguia parar de engolir.
Era absurdo. Seu corpo físico era meramente um projeto conveniente de sua mente. Ele não precisava
sofrer nenhuma doença física no mundo – a não ser que, certamente, ela tivesse suas raízes em sua
mente.
O que está errado comigo? Urza ponderava enquanto ele embutia os últimos condutos a suas
pálpebras. Talvez fosse todo o negócio de Barrin.
Seria isso? Certamente que não.
Barrin havia sido um bom homem – um bom amigo. Planinautas habitualmente evitavam amizades
com mortais devido à inevitabilidade da perda. Através do uso da água de tempo lento, Barrin se
tornara funcionalmente imortal. Ele fora uma excelente escolha de amigo, se um planinauta se
162
Invasion
permitisse tais coisas. A morte de Barrin foi uma grande perda, certamente, mas Urza esperava por
grandes perdas. A guerra tem suas baixas. Ele estava disposto a perder a si mesmo se isso significasse
derrotar Phyrexia.
Então, por que esta melancolia? Não podia ter base fisiológica. Urza não possuía uma fisiologia
verdadeira. Só podia ser que ele estava triste porque alguma parte perdida de sua mente desejava estar
triste – uma estranha e não completamente satisfatório mecanismo, a mente.
A batalha está sendo travada, Urza, falou uma mente maliciosa dentro dele. Era Tevesh Szat. A cabine
do seu próprio titã fora especialmente projetada para se adaptar a forma de deus-demônio que ele
preferia. Quando é que vamos começar a ir para a matança?
Tendo um suspiro desnecessário, Urza retornou o pensamento. Está todo mundo pronto?
Dos outros – Taysir, Daria, Freyalise, Kristina, Lorde Windgrace, Bo Levar, e Comodoro Guff, cada
um em seu próprio titã especialmente projetado – vieram respostas afirmativas.
Szat pensou irritado, Está na hora. Seus Metathran já estão vadeando seu próprio sangue pela cintura.
Então, nós devíamos vadear em nós mesmos. O coração de Urza subiu até a goela. Ele falou estas
mesmas palavras para Barrin no início da guerra. Vamos.
O desfiladeiro que mantinha os noves titãs foi repentinamente preenchido com o gemido de
hidráulicas e o arranhar de motores. O titã de Szat chegou por cima. Seus enormes dedos, cada ponta em
espadas grandes como arados, apertaram a lona que estava suspensa lá. Ele a rasgou abaixo, o espesso
pano se rasgou como lenço de papel. A luz do sol golpeou para dentro da trincheira. Ela espirrou através
dos ombros do metal Thran e do armamento eriçado. O colosso acolchetou a beira da trincheira,
afundando seus dedos profundamente. Eles chutaram para fora os apoios dos pés feitos de rocha sólida.
Gigante, mas ágil, eles escalaram da cripta que os mantinha.
A três milhas de distância, Phyrexianos vislumbraram esta impressionante chegada. Onde antes
havia somente dobras de seda do deserto, agora apareciam figuras gigantescas – verdadeiros deuses.
Eles projetavam sombras largas como vilarejos. Eles estavam cobertos com a luz do sol. O tempo parou
quando eles despertaram. Cada mortal respirou silenciosamente. Cada coração pulou uma batida.
Szat pulou primeiro da trincheira. Seu titã era tão escuro quanto sua alma, tão sombria que parecia
uma sombra viva. Ele aterrissou, sacudindo o chão, e olhou para sua figura gloriosa.
Com uma profunda, risada demoníaca, Szat empinou sua cabeça para trás e jorrou fogo para os
céus. Da boca de sua vestimenta saíram tiros de chamas altas o suficiente para queimarem buracos nos
céus. Szat pisoteou – torres socando o deserto. Largos anéis de pó se enrolaram ao redor dele. Szat
golpeou com vastos murros seu peitoral de metal Thran. Dele veio um profundo barulho semelhante ao
lamento de um sino.
Era exultação suficiente. Uma vez que ele havia sido o primeiro a começar o treinamento no
desfiladeiro Phyrexiano, Szat queria lutar com a vestimenta. Ele queria sangue. Szat atacou através do
deserto vazio. Cada uma de suas passadas enviava tremores através do chão.
Phyrexianos e Metathran, que pararam sua luta, cairam de joelhos. As sacudidas arrancaram o chão
de debaixo deles. Canhões de raios Phyrexianos giravam loucamente para trazer esta nova ameaça para
a mira. Raios vermelhos saltaram em direção ao titã trovejante. Muitos se cortaram amplamente e
saltaram para frente para cortar através de nuvens a centenas de milhas de distância. Alguns poucos
disparos se chocaram contra a gigante armadura e foram refletidos. Eles deslizaram como se ele fosse
feito de espelhos.
Szat atirou de volta. Seu pulso de armas brilhou cheio de vida. Disparos floresceram diante dele.
Eles se rasgaram dentro das trincheiras, pulverizando aqueles que estavam dentro. Os raios rasgaram
através das fileiras e esculpiram colunatas. Cascas mortas de Phyrexianos ricochetearam pelo ar.
Szat correu para cima das linhas Metathran. Parecia que ele esmagaria seus próprios aliados. Pelo
menos, ele saltou. Sua figura enorme saltou acima com todo o peso silencioso de um meteoro. Limpando
a fronte, ele esmagou o chão no meio das tropas Phyrexianas. Suas botas bateram primeiro, matando
centenas. Seus joelhos bateram em sequência, esmagando mais centenas. Suas mãos abalroaram sobre o

163
Invasion
recuo do canhão. Garras araram através do pó. Elas afundaram profundamente, trincando fundações de
rocha, e se retesaram ao redor de armas quentes. Empurrando, ele arremessou as armas para longe. Ele
os arremessou para se chocarem, queimando e explodindo, entre as tropas inimigas.
Rindo, Szat cuspiu outra chama em direção aos céus.
Isto não está como eu tinha planejado, Urza enviou para os outros setes titãs. Ele correu em direção ao
outro lado do campo de batalha. Eles, também, estavam correndo, mas não em direção à briga. Cada
planinauta foi designado para um limite do campo de batalha em quarenta degraus de arco. Cada um
deles devia alcançar a sua posição antes que o esquadrão completo de titãs avançasse. A questão era
criar uma armadilha inescapável, e enervar as bestas antes de atacar. Isto não estava como eu planejei.
Freyalise, cuja vestimenta fora tingida de verde de componentes vivos implantados no metal,
respondeu pelos demais – Você devia ter planejado que Szat seria Szat.
De sua própria vestimenta branca como a neve, Urza respondeu, Isto altera em nada. O resto de vocês
ataque como planejado. Eladamri e suas tropas podem cortar através de qualquer criatura que Szat permita passar.
Taysir chegou ao seu local atribuído. Pés mecânicos bateram em parada. O pó girou ao redor da
enorme, figura curvada. Powerstones de cada cor piscavam através das nuvens. Estou pronto.
Assim como eu, respondeu Kristina.
Parece que todos nós estamos, Bo Levar replicou.
Eu perdi um canhão!Comodoro Guff interveio. Droga! Como em resposta, um tiro saltou
repentinamente de sua armação, cortando cinquenta pés adentro da rocha onde ele jazia. Não, aí está ele.
Atacar!Urza berrou.
Como um, os oito titãs se inclinaram em seus passos e romperam em uma corrida tectônica.
Koilos tremeu como um tambor batido por incontáveis marretas.
Urza liberou uma torrente de tiros de canhão e saltou as tropas Metathran. Enquanto ele voava, ele
atirava, e enquanto ele atirava, ele gritava – Atacar!

*****
Estes titãs eram uma surpresa agradável, Tsabo Tavoc pensou. O massacre do seu povo se moveu
através dela. As mortes se amontoavam em um grande bater de ondas que agrediram seu coração. Era
uma sensação emocionante, de certa forma, e se permanecesse por muito tempo, a deixaria sem exército.
O Inefável possuía milhões mais, certamente, mas Crovax franziria as sobrancelhas sobre o excessivo
massacre de suas tropas – a não ser que, é claro, fosse ele quem o fizesse. Não, tão delicioso quanto estes
titãs fossem, eles deviam ser detidos.
Despertem, meus filhos. O tempo de se alimentar chegou.
Urza não era o único a ter alguns truques escondidos na manga.
Tsabo Tavoc sentiu as vastas, criaturas anciãs se levantarem dos túmulos empoeirados de onde elas
dormiam.
Bruxas mecânicas. Elas eram mecânicas, sim, mas estavam vivas, tão carnais quanto qualquer ser
biológico. Sem cabeça, sem expressão, as enormes figuras consistiam meramente de um corpo central
gigante eriçado de espinhos. Das suas costas debruçadas e desgrenhadas caíram tempestades de areias.
Elas se ergueram sobre impressionantes membros finos, brancos como os mil tentáculos de uma
água viva. Elas não usavam suas pernas para se permanecerem de pé – os monstros veneráveis podiam
flutuar ou voar – mas ao invés de rasgarem navios dos céus e erguer pelotões com suas bocas cheias de
presas. O melhor de tudo, as bestas podiam se regenerar tão rápido quanto as feridas podiam ser feitas.
Sim, meus filhos. Bem-vindos ao banquete.
Através de olhos compostos de sua mente coletiva, ela viu os guardiões arcanos agigantar-se e voar
em direção aos titãs de Urza.

164
Invasion
CAPÍTULO 34

A MORTE DE UM GUERREIRO

“O que diabos é aquela coisa?” Sisay gritou para ninguém. Hanna se fora, Orim cuidava dos
prejuízos no convés, e Gerrard e Tahngarth lutavam nas cavernas. Havia ninguém para com quem
berrar, mas algumas coisas deviam ser berradas. “O que diabos é aquela coisa?”
O Bons Ventos se inclinou, subindo rapidamente para um lado de um elevado montículo de terra de
espinhos eriçados. Era uma criatura, um monstro Phyrexiano tão enorme quanto uma nuvem. Por baixo
do corpo branco e felpudo pendiam milhares de pernas longas. Com suas pernas, a besta arrancou o
campo de batalha. Formas retorcidas – Metathran, elfos e humanos – lutavam em presas farpadas. Os
membros os lançaram para cima para dentro de bocas sob a criatura.
Sisay se encolheu. “O que quer que seja, está prestes a morrer.” Ela virou o Bons Ventos com força.
A quilha do navio deslizou no ar pesado, segurando com força, ela cortou apertado, e limpou um
semicírculo.
A criatura eriçada foi varrida perante o arco.
Se dirigindo em seu novo percurso, o Bons Ventos brilhou com vida. Sues motores roncavam.
Squee caminhou para o canhão de raios da proa de estibordo. Ele latiu. Energias rugiam em eixos
superaquecidos da arma. Raios saltavam do arco, lutando para escapar do navio. Eles colidiram na
massa espinhosa.
Nuvens de fumaça branca se ergueram. Plumagens se erguiam em forma anelar. Peles rosa jaziam
abertas a uma massa muscular que pareciam se contorcer de vermes. Inundado em sangue amarelo, os
músculos cheios de vermes refluíam para pedaços irregulares de ossos.
“Morra, monstro!” Sisay rosnou entre dentes trincados.
Não era bom. A maré amarela de sangue brotou sobre o osso. Nacos brancos de músculos se
fundiram.
“Aqueles parasitas são máquinas,” murmurou Karn através do duto de comunicação. “Eu os vejo
através das luzes de movimento. Eles se fragmentam para absorver o dano e então, se reúnem para
regenerar a carne.”
O Bons Ventos nem havia passado pela besta quando a carne rosada se fechou. Novos espinhos se
projetaram obscenamente da cicatriz. Tentáculos se estapearam contra a popa do navio.
“Maldição!” rugiu Sisay. “Como nós poderemos matar aquela coisa?”
Do duto de comunicação veio um berro – Orim, no convés com alferes feridos. “A âncora. Nós
colhemos Phyrexianos com ela antes. Fisgue aquela besta, e nós poderemos arrastá-la.”
“Ou ela pode nos arrastar,” replicou Sisay.
“Faça-o,” disse Karn. “Os motores vão aguentar. As correntes vão aguentar.”
Sisay sacudiu a cabeça dela. “Ela romperá o casco ao meio.”
Outra presença falou com Sisay vinda do relevo em madeira do forro da ponte. “Faça-o,” Multani
ecoou. “O casco aguentará. Ele se curará.”
Havia alguém mais falando. Sisay sorriu ansiosamente. “Sim. Vamos fazer isto. Orim, se você ficar
naquele canhão estabilizado e se amarrar, eu poderia usá-la no cabrestante.”
“Já estou a caminho.” Além do vento, Orim fez seu caminho pela proa.
O Bons Ventos cortou um longo arco suave sobre o campo de batalha. Em seu despertar, canhões
Phyrexianos vomitaram fogo para os céus. Alguns disparos acertaram, abrindo buracos no casco.
Multani trabalhou rapidamente para fazer crescer novamente as seções. Onde a energia chicoteou
nos motores, Karn curou os locais com metal Thran. Durante todo o tempo, Orim se agachou pelo trilho.
O navio urrou pelo seu novo caminho de voo. À frente, a bruxa mecânica se erguia. Suas pernas se
estendiam em direção ao Bons Ventos.

165
Invasion
“Nós teremos somente uma chance nisso,” Sisay alertou. “Nós já a deixamos louca. Isto a deixará
furiosa.”
“Isto a deixará morta,” Orim chamou de volta pelo duto de comunicação. “Eu aprendi um pouco
sobre pesca com moscas entre os Cho-Arrim.”
Sisay bufou. “Lançar âncora.”
Orim puxou o pino do cabrestante. Ele girou. As correntes rangeram em voz alta. A maciça âncora
do navio mergulhou abaixo através do ar fervente. Dez braças, quinze braças, vinte braças.
“Lance a catraca naquilo, Orim!” Sisay chamou. A curandeira puxou dura a alavanca do cabrestante,
e a estridulante corrente resmungou ao silêncio. “Karn, eu vou precisar de seus olhos neste aqui. Eu
quero afundar as fascíolas6 no coração de vermes do monstro. E ajude-me a manter o navio em
guarnição. Essa coisa poderia nos virar sobre a extremidade.”
Ao invés de palavras, Karn respondeu num aumento dos motores. O Bons Ventos saltou mais alto
dentro dos céus enrolados.
Um disparo do canhão tosquiou a amurada de estibordo, abrindo uma calha através dele. Outro
rasgo se abriu do lado da porta do aerofólio. O navio mergulhou, calcando para estibordo.
“Dobre-os!” Sisay ordenou a Karn. Ela apontou a proa para o torso da besta e segurou seu curso.
“Dobre os aerofólios. Nós vamos à carga total.”
Com uma salva de palmas alto, as asas se dobraram. Os motores do navio trovejaram. O Bons
Ventos saltou à frente de saraiva de explosões. Ele cravou o ar como um machado, ultrapassando até a
chuva de fogo. A âncora se balançou por baixo da quilha.
“Leve-nos para baixo!” Sisay ordenou. O navio mergulhou.
Abaixo, a bruxa mecânica inchou grotescamente. Ela tinha levantado. Suas incontáveis bocas
rangiam os corpos de suas últimas vítimas. Braços brancos apalparam o Bons Ventos.
Squee disparou uma série de explosões. Elas abriram um rasgo através da floresta de pernas
serpenteantes. O navio desceu por aquela avenida. Mais fogos queimaram da arma de Squee. Nacos de
pernas brancas decepadas choveram no convés. Bocas cheias de dentes silvavam vapores fétidos na
embarcação fugitiva. A âncora afundou, se chocando com mandíbulas duras.
“Consegui uma mordidela!” Orim berrou.
Sisay saltou de volta para o leme. O Bons Ventos arrebatou para cima. A âncora mergulhou, se
afundando profundamente em uma das bocas do monstro. Ela fundou para longe.
“Transforme isso numa mordida!”
Elos golpearam através da carne branca molhada da coisa. Na tempestade de vermes das entranhas
da besta, pelo menos a âncora se alojou em alguma coisa sólida.
O convés de proa se avolumou sob a tensão. Mana verde fluiu pela madeira, reforçando-a com a
dureza do aço.
“Vamos lançá-los!” Sisay latiu.
O Bons Ventos saltou sobre a cabeluda, terrível besta. As correntes açoitaram firmemente contra a
massa do monstro. O metal explodiu a carne e serrou mais profundo. A bruxa mecânica rugiu de suas
miríades de bocas. O Bons Ventos se lançou em direção ao chão. A corrente da sua âncora cortou
brutalmente, espalhando as paredes da laceração amplamente cortada. A quilha do navio disparou para
frente, bem acima do desfiladeiro de larvas que ele abriu. Ela rugiu.
As pernas se agitaram nos céus, a bruxa mecânica lentamente foi derrubada. Suas costas espinhosas
se viraram sobre o campo de batalha. Disparos de canhão do Bons Ventos se esmagaram contra o
monstro despedaçado. Canhões que estavam direcionados para o Bons Ventos acertaram ao invés disso,
o monstro fendido.

6Nota do Tradutor: Fascíola é um verme achatado, parasita dos canais biliares do boi, ovelha, cabra, porco e,
raramente, do homem.
166
Invasion
Localizando os exércitos Phyrexianos que estavam além, Sisay empurrou o leme todo para frente. O
navio mergulhou avidamente, arrastando seu cativo abaixo.
“Vamos ver como você regenera isto,” Sisay rosnou. O Bons Ventos desceu dos céus como uma
avalanche. Ele parecia que estava prestes a colidir com o campo de batalha quando ele freou
bruscamente. Sua quilha esmagou a cabeça dos Phyrexianos. Projetando suas arestas de pouso, mais
cabeças de bestas foram fatiadas. Aqueles que foram lavrados ao meio pela corrida aérea tiveram sorte.
O resto permaneceu no caminho de uma enorme bola hirsuta.
Na sua primeira levante, as pernas da bruxa mecânica foram retalhadas. Seções de músculos
despencaram sobre os Phyrexianos, esmagando-os. No segundo levante, a bruxa pisou sobre seu povo
transformando-os em pasta. No terceiro levante, a corrente da âncora serrou através dela.
Duas metades iguais do monstro se separaram um do outro e rolaram através do campo de batalha,
espalhando destruição. As larvas mecânicas foram arremessadas. Elas atacaram os monstros no chão. As
metades rasgadas da sua pele se esvaziaram. A última substância da bruxa mecânica tamborilou
inutilmente para longe.
Sisay se lançou de volta para o leme. O Bons Ventos escalou para dentro dos céus. “É assim que se
corta! Bom trabalho Orim!”
A curandeira sorriu sombriamente. “Eu poderia enrolar a âncora.”
“Deixe-a como está,” Sisay disse. “Eu não terminei de pescar.”

*****
Vocês viram aquilo? Bo Levar enviou para os outros planinautas. Ele estava ocupado arrancando
pernas de outra bruxa mecânica. O monstro gigante fazia crescer as substituições mais rápido do que ele
podia arrancá-los. Ele subiu por sua armadura titã multicolorida. Vocês viram o que o Bons Ventos fez?
Certamente!Comodoro Guff replicou. Uma bruxa mecânica montou nos ombros de seu titã. Centenas
de bocas roíam os condutos de energia. Porcaria de insetos!
Nós não podemos esperar que o Bons Ventos nos salve, Urza respondeu. Três das vastas bestas o
cercavam. De seus pulsos cheios de foguete, explosões de canhões os rasgavam. As feridas se fechavam
rapidamente.
Impaciente, Bo Levar rugiu, Vamos abri-los. Eles podem regenerar enquanto as larvas mecânicas estiverem
juntas. Abra-os e escavem as máquinas. Estas bestas são como cigarras – sem seus envoltórios, eles se desfazem.
Ele lançou seus dedos cheios de garras a fundo na bruxa mecânica que estava perante ele. Com um
rugido poderoso, ele arrancou a pele da coisa, dividindo-a ao meio e derramando bilhões de máquinas
que se contorciam. O rasgo se aprofundou. Larvas brancas serpenteantes choveram sobre o titã.
Ignorando-os, Bo continuou rasgando até que as duas metades peludas se descascaram para longe uma
da outra. Ele arremessou as metades vazias sobre as hordas Phyrexianas.
Bom trabalho.Urza disse, abrindo um dos seus atormentadores em pedaços. Parece que nós podemos
aprender com o Bons Ventos e sua tripulação.
Onde antes as bruxas mecânicas haviam ameaçados os titãs, agora um dilúvio de larvas jazia no
chão.
Szat queimava as bestas enquanto elas caiam. Ele drapejou os pedaços mortos sobre seus ombros
como troféus. Nada pode nos deter agora! Veem? Até mesmo os insignificantes mortais estão se dirigindo para a
boca da montanha. A vitória está perto. Ele gralhou, despejando vermes em sua boca e os vomitou adiante
em chamas. Nada pode nos deter!

167
Invasion
*****
Larvas mecânicas se precipitaram em uma densa cascata a frente.
Rhammidarigaaz inclinou-se bruscamente para dentro do ar limpo. A nação dos dragões –
vermelho e preto, azul e branco e verde – seguiram-no.
Estrondos de plasma foram lançados cobrindo de fogo em direção deles. Parecia uma seda escarlate
se desdobrando ao vento. Em momentos, ela mataria todos.
Darigaaz liderou seu povo num mergulho íngreme em direção as divisões Phyrexianas abaixo. Os
canhões cessaram seus disparos Nem mesmo os Phyrexianos não vaporizariam suas próprias tropas.
Rhammidarigaaz o fez por eles. Ele espalhou chamas na vanguarda Phyrexiana. Ela os devorou.
A nação dos dragões disparou sobre o corpo principal do exército Phyrexiano. As baforadas
cozinharam os insetos em suas próprias conchas. Garras rachavam os crânios Phyrexianos. Asas
arremessavam monstros como folhas.
Havia feitiços também. Darigaaz puxou força vulcânica de seu cetro de cristal. A lava se desnatou
no interior do vidro puro. Ela se ajuntou dentro de um rodopiante vórtice. A luz tornou-se
incandescente e o enxofre saraivou para fora. Os ferozes pedaços de pedra assobiaram enquanto caiam.
Eles acertaram carne cinza e queimaram pelo seu caminho.
Os Scuta estremeciam, se contorcendo para lançar fora as coisas ardentes. Tropas de choque eram
derrotadas enquanto o magma se afundava em suas costelas. Crias de sangue caíam mortas ardendo em
chamas sobre pernas que ainda atacavam. Onde quer que a lava, ar e óleo se encontravam, bestas
explodiam.
Isto não era Urborg. A coalizão estava vencendo desta vez. Darigaaz podia senti-lo. O Bons Ventos e
o Círculo de Dragões governavam os céus. Metathran e os elfos da Lâmina de Aço governavam o
mundo. Gerrard e sua brigada de prisão governavam o subsolo. Enquanto isso, Urza e seus titãs
fechavam o círculo ao redor de Tsabo Tavoc.
Com um silvo de vapores vulcânicos, Darigaaz saltou em direção aos céus. Seus dragões
rodopiaram como um mortífero véu atrás dele. Enquanto o plasma se amontoo sobre os canhões,
Darigaaz e seu povo se afundaram em outra corrida de disparos.
Fogo jorrava abaixo. Phyrexianos se transformavam em cinzas.
Isto não era Urborg.

*****
Agnate e suas tropas lutavam avançando sobre um caminho de fuligem. O Bons Ventos abriu
aquele caminho. Bestas ferventes e campos de vidro levavam até as cavernas. O exército de Agnate
marchava com uma fúria sombria. Eles tomaram conta deste caminho. Eles limparam os Phyrexianos
como se fosse ervas daninha. O machado de guerra de Agnate estava ficando cego – ele havia dividido
tantos crânios, tanta quitina. Mesmo assim, ele era uma clava mortífera, e a fúria de Agnate o
transformou em um relâmpago. O machado esmagou o crânio de um Phyrexiano. Os chifres que
estavam por cima se dobraram para dentro. O monstro cambaleou. Agnate deu um chute em sua
barriga. Ele andou a passos largos sobre a coisa.
Outro dilúvio de vermes começou. Os mecanismos serpenteantes rompiam contra elmos e ombros.
Eles caíram sobre um pérfido campo perante os Metathran, que os chutaram para o lado. Qualquer um
que caía era cercado e sufocado pelas larvas.
“Avançar!” Agnate berrou por cima da saraiva de criaturas.
Eles já quase alcançavam a boca da caverna. O lugar já parecia uma capela mortuária. Gerrard e sua
força de ataque da prisão foram brutais. Eles chacinaram centenas. O sangue oleoso dos Phyrexianos
168
Invasion
formou um pântano raso. Corpos jaziam como tijolos em um vasto piso. Mesmo agora, um pelotão da
brigada da prisão guardava os portões. Eles saudaram Agnate e suas tropas enquanto eles atravessaram.
Eladamri, Lin Sivvi, e os guerreiros da Lâmina de Aço, e as outras divisões de Metathran se
aproximaram pelo oposto caminho de morte. Os titãs caminhavam inexoravelmente. Os Phyrexianos
pegos entre aquelas duas garras seriam fatiados em pedaços. Aqueles que estivessem do lado de fora
seriam pisoteados sobre os pés dos titãs.
Após tanta matança, após impossíveis legiões de demônios, parecia estranho assim tão de repente
apressar-se ao lado de seus próprios companheiros. Exércitos que passaram horas embainhando espadas
e machados agora se abriam em saudações alegres. As partes que estavam separadas do longo exército
Metathran se reuniram perante os portões do inferno.
Agnate não se permitiu a luxuria do regozijo. Ele percebeu que nem Eladamri permitiria. Os dois
comandantes convergiram num passo, se aproximando da ponta do contingente da prisão. Os
defensores de Dominaria estavam um trapo e ensanguentados, mas um sorriso soturno enchia o rosto
deles.
“Bem-vindo a Koilos, comandantes,” o desgrenhado líder Benaliano disse. “Gerrard e o resto de
nossa brigada estão fechando as cavernas internas. Nós temos impedido incursões Phyrexianas de cima.
Eu gratamente renuncio meu comando a você.”
“Obrigado,” Agnate disse com um aceno. Virando-se para Eladamri, ele disse, “E eu renuncio meu
comando a você. Lidere este exército adentrando após Gerrard. Ele precisará de cada braço de espada
que ele puder ajuntar.”
O comandante elfo olhou assombradamente para Agnate. “Eu estava prestes a oferecê-lo a você.”
Agnate balançou sua cabeça. “Eu tenho negócios mais urgentes. Lidere estas tropas.”
Sem mais palavras, Agnate marchou através dos soldados, para dentro da caverna bocejante. Ele
lançou para o lado o machado de guerra. Ele retinol contra uma parede de pedras. Ele seria inútil no
apertado espaço dentro das cavernas. Agnate puxou sua espada e adaga.
Gerrard trabalhou bem. Corpos de Phyrexianos se espalhavam pelo chão, com somente alguns
corpos humanos entre eles. Os paióis foram queimados, as estações de guarda esmagadas, e os
esconderijos investigados. Ele foi minucioso – furiosamente. Agnate aprovou.
... Agnate... afaste-se... uma fraca voz disse em sua mente... eles estão atraindo vocês... é uma armadilha...
Eu sempre procurarei por você, Agnate respondeu. Ele caminhou por corredores queimados em
direção daquela voz. A armadilha está desmantelada. Gerrard está matando os assassinos. Não sobrou ninguém
para me pegar.
... Eu sei. Ele esteve aqui. Ele esteve... os matou... A pressão sobre a mente de Thaddeus disse que ele
estava por perto, bem perto.
Então ele o libertou!
... Gerrard não pôde... libertar-me. Ninguém pode. Não me procure...
Agnate balançou sua cabeça furiosamente. Eu estou quase aí. Espere por mim.
... Não, Agnate. Não me... é uma armadilha...
Ele estava bem atrás daquele canto. Agnate precipitou-se pela escura virada. Além dali havia uma
porta quebrada e a câmara onde Thaddeus jazia.
O que sobrara dele... Ele estava cravado sobre uma mesa inclinada. Seus membros se foram,
esfolado tecido por tecido. Tudo isso armazenado em frascos de soluções nas prateleiras atrás dele. Eles
cortaram sua pélvis também, e sua coluna, osso por osso, até a curva lambar. Órgãos abdominais
ocupavam varias bandejas de prata. Pinos se projetavam a partir deles. Sacerdotes do tonel jaziam em
sangrenta ruína abaixo das amostras.
Somente a caixa torácica de Thaddeus permanecia. A aorta foi habilmente saturada, permitindo seu
coração manter a pressão através da parte superior do corpo. Uma larga rocha foi apoiada contra seu
diafragma para pressionar o músculo em direção aos pulmões. Ele respirava através de um orifício cheio
de casca em sua garganta. Seus olhos, em total desespero, observaram Agnate se aproximar.

169
Invasion
“O que eles fizeram?” Agnate engasgou surpreendentemente, indo em direção ao homem
arruinado.
... Eu disse a você... ver-me desta maneira... é uma armadilha que você jamais escapará...
Agnate balançou sua cabeça. “Não, Urza construirá para você um corpo. Você não morrerá desta
maneira. Novas pernas, novos braços, novos órgãos.”
... Eu estou farto de lutar por Urza Planinauta... eu estou farto de lutar...
“Eu não,” Agnate declarou, olhando para os lacrimejantes olhos de Thaddeus. “Eu matarei milhares
de Phyrexianos para vingá-lo.”
... Você não compreende? Nós somos Phyrexianos... lute o quanto quiser, Agnate... você estará lutando
somente contra você mesmo...
Os olhos Metathran estavam pesados em seu crânio azul. “Por que Gerrard o deixou em agonia?”
... Ele me disse... você estava vindo. Ele disse que você... queria me ver...
“Ele estava certo.”
... Eles o prenderam... para sempre...
Agnate olhou para suas trêmulas, sangrentas mãos e as armas que ele carregava nelas. “Sim. Você
estava certo. Você estava certo sobre tudo – exceto por uma coisa. Eu posso libertá-lo.”
... Sim... liberte-me...
Agnate deixou cair sua faca. Ela caiu ao lado do corpo de um sacerdote do tonel. Com ambas as
mãos, ele ergueu alto sua espada.
“Adeus meu amigo.”
... Adeus...
A espada caiu. Thaddeus estava livre.
Agnate se virou e se ajoelhou. Sua espada caiu no chão rochoso. Ele afundou seu rosto em mãos
sanguíneas.
Agnate fora duplamente aprisionado. Ele nunca esqueceria os olhos de súplica de Thaddeus,
sofrendo em sua carne arruinada. Nem ele jamais esqueceria o golpe que fechou aqueles olhos para
sempre.

170
Invasion
CAPÍTULO 35

A MÃE DE SETE PERNAS

Tsabo Tavoc deu um longo suspiro através de espirais avolumadas.


A morte de Thaddeus foi intoxicante. Ele morreu lentamente, conscientemente. Foi a melhor morte,
um ramalhete perfeito – intenso, quieto, virtuoso, paciente, condenada. A espada de Agnate deu uma
picante explosão de emoção – arrependimento, amor, terror, alívio. O único perfume que faltou naquela
morte foi o ódio – ódio puro e rijo.
Agnate a exsudou agora. Sua espada sugou todo desespero nascente através de seu punho e o
transformou num novo homem. Lá, ele se transformou em ódio. A morte de Thaddeus foi intoxicante,
mas o ódio de Agnate foi emocionante.
Tsabo Tavoc respirou o alegre fedor daquilo.
Agnate não era a maior pessoa com ódio nas cavernas. Gerrard é quem era. Sua fúria foi forte na
boca da caverna. Ela cresceu mais poderosa com cada cabeça que ele arrancou, cada galão de óleo
brilhante que ele derramou. Gerrard lutou como se ele enfrentasse a própria Morte. Ele era um tolo.
Ninguém podia derrotar a morte, a não ser Yawgmoth. O ódio de Gerrard o levaria para o Inefável.
Todas as coisas se concretizaram bem como Tsabo Tavoc planejara.
Deixe pensar que estão ganhando. Deixe Urza e seus titãs esmagarem o resto dos andrajos do
exército terrestre de Koilos. Deixe Eladamri colocar seus guardas nas cavernas pintadas de sangue que
ele ganhou com unhas e dentes. Deixe Gerrard avançar em direção ao portal, acreditando que ele
poderia expulsar a morte dele mesmo e de todos os Dominarianos.
Na verdade, ele será arrastado por ela, Tsabo Tavoc pensou alegremente, o primeiro de uma
colheita de almas. Ele será sugado por ela, e todos eles serão também.
A um grande custo, os Dominarianos ganharam um poço fundo. Gerrard não poderia fechar o
portal. Nem Taysir. Nem Urza. Enquanto ele permanecesse, Phyrexia manteria Koilos. Dominarianos
lançariam seus filhos e filhas dentro do poço, os chamando de guerreiros e lutadores da liberdade, mas
na verdade eles seriam sacrifícios humanos a implacável Morte. Eles lutariam contra uma incessante
maré de Phyrexianos, sem perceber que o útero não pode manter o ritmo com o Tonel. Koilos não estava
perdida. Ela foi transformada em uma máquina de comer que engoliria milhões.
Tsabo Tavoc sorriu. Placas deslizaram em sua boca segmentada, recuando de dentes afiados.
Ela derrotou Benália. Agora, ela estava ganhando Koilos. Sua coroa de glória, apesar de que, seria o
momento que ela presentearia o salvador de Dominaria, o campeão de Urza, para Yawgmoth. Ele a
recompensaria. Ele destituiria o Mestre Crovax e daria a Tsabo Tavoc o comando da sobreposição de
Rath.
Algemado e transbordando de ódio, Gerrard será seu até o fim dos tempos, Grande Lorde Yawgmoth.

*****
Este sentimento era bom – matá-los desta maneira. Deixá-los para trás em pedaços. De alguma
forma, quando os monstros eram picados e largados no chão da caverna, eles pareciam mais limpos do
que quando respiravam, afundavam e caminhavam. Assim era como ele se imaginava – limpando as
cavernas.
As tochas se erguiam altas, Gerrard e seu contingente circularam um canto.
Dois monstros se lançaram das trevas à frente. Eles não lutavam mais em falanges. Agora eles
lutavam como cães acuados.

171
Invasion
A tocha de Gerrard caiu. Sua espada bateu contra o peito de um dos corredores. O aço perfurou
entre costelas obscenas. Ele afundou, rompendo o coração. O óleo se esparramou nos limites da lâmina.
Mesmo morrendo, a coisa continuou lutando. Seus braços nodosos o prenderam como braçadeiras.
Suas garras perfuraram seus lados.
Gerrard bramiu, puxando a espada para o lado. A lâmina atravessou as costelas e rasgou limpa.
A besta caiu, inclinando-se bêbada sobre ele antes que tombasse para o lado. Gerrard lançou os
braços dela para o lado.
A luta havia terminado. Três Benalianos mataram a outra besta – ao preço de suas próprias vidas.
Seus corpos se esparramaram em um lado da caverna.
Gerrard encarou os dois Phyrexianos. Suas carnes estavam apodrecidas, cinzas e nojentas.
Trincando seus dentes, ele golpeou com sua espada. Ela rachou a face de um dos monstros mortos. A
lâmina se ergueu. Caiu outra vez. Ele cortou o crânio da coisa no meio. A espada cortou outra vez. Ela
cortou o rosto da besta ao lado da mandíbula. Gerrard ergueu sua espada para outro golpe.
Uma mão caiu sobre seu ombro – a mão de Tahngarth. “Guarde seu ódio. Há mais deles à frente.”
Gerrard partiu o pescoço da besta e chutou sua cabeça pela câmera. “Eu tenho ódio suficiente para
todos eles.” Ele começou o trabalho sobre o outro corpo.
Tahngarth soltou o ombro dele. Enquanto Gerrard cortava em pedaços, ele estava vagamente
consciente dos soldados ao redor dele, trabalhando para enterrar seus companheiros como convinha.
Somente quando eles terminaram foi que Gerrard abriu seu caminho através das sobras dos Phyrexianos
e ergueu seu olhar.
“Vamos. O portal não deve estar tão longe.”

*****
Multani controlou para que o mastro danificado crescesse o suficiente para permitir ao Bons Ventos
uma aterrissagem mais graciosa do que sua última. Mesmo assim, o navio veio ao chão como uma caixa
de rochas.
Era mais do que isso. Dois canhões de raios haviam superaquecido e derretido. Um terceiro havia
explodido. O casco estava crivado com rupturas que nem mesmo Multani poderia fechar
completamente. Os motores rugiam vermelhos e quentes e soltaram fumaça cinzenta quando Karn os
desligou. Ele puxou suas mãos dos soquetes de controle onde elas haviam sido enterradas e
mergulhadas em uma coisa brilhante dentro de um balde d’água. Ele não voaria outra vez, não por
horas, e talvez não lutasse por alguns dias.
Felizmente, ele não precisaria. O navio havia aterrissado bem ao lado da boca da caverna – agora
nas mãos dos Dominarianos. Os Phyrexianos acima do solo estavam derrotados, pisoteados aos milhares
por titãs esmagadores. As cavernas estavam repletas com defensores de Dominaria. Todos os relatórios
indicavam vitórias decisivas. Eladamri e seu exército desceram até o portal.
Coberto de vapor, Karn subiu da sala de motores. Ele emergiu, gigantesco e emburrado, sobre o
convés. Sisay chegou ao convés no mesmo tempo, descendo da ponte.
Os velhos amigos falaram em uma acidental concordância absoluta. “Eu vou ajudar Gerrard.”
Sisay sorriu, com carinho ela passou a mão sobre a maciça mandíbula de Karn. “Estou feliz de ter
você ao meu lado.”
Outra figura veio debaixo. No calor da enfermaria, Orim descartou seu turbante. Seu cabelo coberto
com pequenos objetos brilhantes pingando de suor. Ela enxugou sua sobrancelha com um pano e o
dobrou em seu capote de curandeira. Um suprimento já pronto de talcos, pomadas, e ataduras
aguardavam no bolso daquele capote. Seu intento era claro.
Vendo seus companheiros, Orim caminhou até eles. “Todo mundo está estável ai embaixo. Haverá
muito mais feridos nas cavernas.”
172
Invasion
Em emulação ao gesto de Sisay, Karn lançou um dedo aquecido por baixo do queixo da curandeira.
“Todos nós vamos atrás dele.”
Os olhos da curandeira se fecharam em lamento. “Nem todos nós. Não aquela que Gerrard desejava
ver mais.”
Sisay colocou um braço ao redor do ombro de sua amiga. “Você fez tudo o que você pôde. Nós
todos sentimos falta dela.”
O silêncio que se seguiu foi quebrado pelo som de uma carreira e um grunhido agudo.
“Squee vê ele, também!” O homenzinho verde saltou do arco da arma e deu as mãos aos seus
amigos.
Karn estendeu a mão, envolvendo o grupo em um abraço poderoso que os ergueu de seus pés. Ele
caminhou propositadamente através do convés e saltou sobre a balaustrada. Ele se sentia leve, mas
aterrissou como um martelo sobre a bigorna. O povo em seu apoio sorriu com dentes trepidantes
enquanto ele caminhava em direção as cavernas.
Sisay resolveu falar por todos eles. “Obrigado, Karn, mas eu preciso me exercitar.”
Considerando, Karn parou, desceu seus amigos, e gesticulou acima dele.
“Pelo menos deixe-me liderar. Eu posso não ser um lutador, mas eu sou um bom escudo.”
“Um escudo?” Sisay disse, eloquentemente olhando-o de cima a baixo. “Você é mais do que uma
muralha.”
Squee saltou sobre as costas do golem de prata. “Vamos nessa, Karn. Você lidera, contanto que eu
monte aqui.”
Satisfeito, o enorme homem caminhou pesadamente para dentro das Cavernas de Koilos.

*****
Este foi particularmente um duro 7cul-de-sac. Gerrard perdera dez soldados somente para quatro
Phyrexianos. Como anteriormente, ele tirou sua fúria do corpo das bestas.
Tahngarth e os outros, enquanto isso, arrumaram os corpos dos bravos tombados. Uma tocha
iluminou suas cabeças. Já não havia mais roupas suficientes para cobrir os rostos. Os dez jaziam deitados
encarando o teto. As estalactites pingavam sobre eles.
A espada de Gerrard fatiou outra vez dentro de escama e carne. Tahngarth não tentou mais parar as
mutilações. Talvez ele entendesse. Gerrard estava apenas fazendo a estes corpos o que a praga havia
feito a Hanna.
Sem palavras e sombrio, Tahngarth liderou o resto do contingente para fora do matadouro. Eles
atravessaram a estreita saída em direção à passagem à frente. Suas vozes fizeram ecos lacrimejantes
enquanto eles se aprofundavam dentro da caverna. Com eles se foi à luz raivosa das tochas.
Gerrard foi deixado com sua própria tocha e com aquela que protegia os caídos.
A escuridão fria o cercou. Era mortífera. Gerrard estava em casa entre coisas mortíferas. O cheiro do
óleo brilhante o envolvia. Posicionando a tocha nas cabeças dos quatro Phyrexianos, Gerrard ergueu sua
espada. Ela se pendurou como a cauda de um escorpião. A lâmina caiu. A cabeça de um monstro rolou
solta com um som semelhante de rocha rangendo em rocha...
Gerrard voltou.

7Nota do Tradutor: Cul-de-sac é uma expressão de origem francesa e de outras línguas românicas, tais como
normando, occitano, catalão, etc., que se traduzida literalmente, significaria fundo de saco. É característica
dos subúrbios anglófonos. O termo também é utilizado com a função de designar "beco sem saída" e "ruas sem
saída".

173
Invasion
Uma enorme, pedra redonda rolou por um trilho atrás da porta. Com um estampido, ela selou a
única saída da câmara.
Gerrard correu para a pedra. Ele agarrou suas laterais geladas e a levantou. Ela nem se mexeu do
seu lugar. A passagem adiante estava silenciosa e vazia.
Um ligeiro som veio de detrás de Gerrard. Ele girou. Alguma coisa vasta caiu de entre as
estalactites. Numerosas pernas enervadas se esboçaram na luz da sua tocha. Era uma aranha gigante –
Tsabo Tavoc.
Ela aterrissou sobre a tocha, extinguindo-a com seu abdômen. Na escuridão repentina, as pernas
estalavam.
Gerrard deu uma guinada, deslizando através do chão sangrento da caverna até seus companheiros
caídos. Ele arrebatou a segunda tocha e levantou-se em um agachamento. Ele acenou com a tocha
perante ele. Os seus dedos flamejantes eram muito tépidos para alcançar todo o espaço da câmara.
Gerrard arremessou a tocha, até a extremidade final. Ela caiu sobre a cabeça do Phyrexiano morto. O
fogo saltou para a poça de óleo brilhante. Com o súbito baque, a minúscula tocha se tornou um grande
incêndio.
Protegendo seus olhos da iluminação intensa, Gerrard examinou a escuridão. Espreitando além do
fulgor, encoberta pela escuridão, permanecia Tsabo Tavoc. Ela assistia os corpos em chamas com
fascinação. Seus olhos compostos lançavam de volta a luz delirante.
Gerrard permaneceu firmemente em direção a terrível aparição, chamando por ela. “Eu estou vendo
você, destruidora. Estou te vendo, Tsabo Tavoc. Você tomou meu país. Você matou meu amor. Agora,
eu matarei você.”
Sua voz soou como asas de inseto. “Quanto ódio delicioso. Você se tornará um excelente
Phyrexiano.” Ela se retirou para a mais profunda escuridão. Somente o mais fino brilho seguiu suas
pernas. Ela parecia um mero fantasma.
Gerrard caminhou destemidamente para frente. Ele mesmo havia se tornado uma criatura de
sombras. “Você a matou.”
Sua espada atacou. Ela pegou uma das pernas da mulher aranha nos condutos por detrás do joelho.
Puxando seu braço, Gerrard serrou a perna. Ela se chocalhou contra o chão de pedra.
Tsabo Tavoc retornou para as sombras. A luz dos corpos em chamas estava titubeando. A parte
posterior alcançava a caverna que estava totalmente escura. “Você é poderoso. Destemido.”
“Você a matou!” Gerrard aferrolhou na escuridão.
Ele vislumbrou uma barriga branca perante ele e lançou sua espada dentro das tripas de Tsabo
Tavoc. Sangue, negro na escuridão, vergava por baixo da lâmina empaladora. Ele guinou, pretendendo
cavar a espada mais profundamente.
As pernas de Tsabo Tavoc o lançaram para longe.
Gerrard agarrou sua espada com força. Ela se soltou do corpo da mulher aranha. Ele caiu de ponta
cabeça. Pedras bateram nele enquanto ele rolava. O sangue da mulher aranha voou sobre ele.
Esparramando-se contra a parede da câmara, Gerrard arfava.
Ele ria. Seu polegar limpou um pouco da mancha quente de sua espada, ele o experimentou.
Salgado, ácido – seu sabor era bom.
Gerrard se arrastou sobre seus pés e deu um feliz suspiro. “Sabe essa ferida que eu lhe fiz – é
exatamente onde a bomba de praga acertou em Hanna. Aí é o lugar onde a putrefação começou – a
putrefação que a devorou.” Ele permaneceu na escuridão, a espada erguida perante ele. “Eu vou te fazer
em pedaços do mesmo modo como você a fez em pedaços.”
Tsabo Tavoc se lançou sobre ele com tamanha velocidade e força, que ele foi lançado de costas
contra o chão. Sua espada ressoou e deslizou. Três pernas da mulher aranha se enrolavam sobre ele,
contraindo-o firmemente. Ela pressionou o peito dele contra seu tórax. As lâminas em suas articulações o
cortaram.
Gerrard pelejava. Era uma prensa inescapável. O sangue de sua barriga chovia sobre seu rosto.

174
Invasion
Tsabo Tavoc o encarou friamente. Seus olhos compostos cintilavam na última luz dos corpos
flamejantes.
“Você tem a alma de Phyrexia, Gerrard, uma alma de ódio. Ela te faz poderoso, mas infinitamente
maleável.”
Ele sentiu uma súbita, dor agonizante nas costas. Alguma coisa o perfurou. Ela bateu como um
punção em sua espinha e derramou uma quente, chiante substância. A substância inundou Gerrard.
Seus membros sacudiram. Sua pele ardia com fogo. Sua visão ficou aguçada – furiosas linhas negras
cortaram tudo ao redor.
Era o óleo brilhante, ódio líquido sendo infundido em sua espinha. Ele nunca conhecera paixão tão
poderosa. Ele queria despedaçar Tsabo Tavoc, matar todo mundo, se matar, mas seu corpo não era dele.
O ódio queimava seus nervos até que ele pendeu desesperado, fervilhando com a paralisia.
Bom, minha criança, Tsabo Tavoc ronronou diretamente em sua mente. Agora você compreende o que é
ser um de nós. Você será meu troféu, eu teria montado você com uma espinha mimética, aqui e agora. Você não
pertence a mim, apesar, mas a Yawgmoth. Esta infusão te faz meu até que nós nos apresentemos perante ele.
Gerrard estava pendurado por baixo dela, incapaz de se mover. Ele pertencia aqui, aprisionado
pelas pernas de sua mãe.
Ela caminhou alguns passos para frente. Seus passos eram lentos, como se ela estivesse pensando.
Pense em sua amada, Gerrard. Pense em Hanna, e como eu a matei.
As pontadas de ódio cortavam profundamente, matando Gerrard.
A mãe estava satisfeita. Ela propositalmente atravessou a caverna, deixando para trás os
Phyrexianos em chamas e os Benalianos mortos. Alcançando a porta, ela rolou para trás a pedra como se
fosse um seixo e carregou Gerrard para longe, dentro das entranhas de Koilos.

*****
Karn, Sisay, Orim e Squee seguiram o caminho de destruição cavado pela brigada Benaliana.
Levando-os sempre para baixo, para finalmente, uma câmara profunda.
Lá, Eladamri e sua tropa Metathran se ajuntaram com Tahngarth e a brigada Benaliana. Juntos, eles
enfrentaram uma horda de Phyrexianos. A cada momento, mais bestas chegavam. Eles entraram por
meio de um enorme, brilhante portal no lado oposto da caverna. Os Dominarianos eram excedidos em
número em dois para um, e logo em três para um. Enquanto o portal permanecesse aberto para
Phyrexia, não haveria esperança de manter Koilos.
Ao lado do portal, cercado por centenas de Phyrexianos, estava um pedestal espelhado. Sobre ele
repousava um livro gigante de vidro e metal. Linhas de poder irradiavam do local, se dirigindo para
dentro do portal.
“Onde está Gerrard?” Sisay perguntou-se enquanto ela erguia sua espada.
“Perdido, ou morto,” supôs Orim, sacando sua lâmina de madeira.
“Nós devemos destruir o pedestal,” Karn disse. “Nós devemos fechar o portal.” Ele avançou para
dentro da batalha junto de Orim e Sisay.
Sobre suas costas, Squee berrou, “Que ce tá fazendo, Karn? Você não luta.”
Com uma voz semelhante a uma distante cascata, Karn rosnou, “Eles não sabem disso.”

175
Invasion
CAPÍTULO 36

NOS PORTÕES DO INFERNO

Tsabo Tavoc se afundou na vastidão negra de Koilos.


Daqui para frente era simples. Gerrard era dela. Ele não podia se mover, apertado por três de suas
pernas e agarrado nos implacáveis braços do ódio. Ele estava indefeso agora, igual a um recém-nascido.
Ele não causaria mais problemas.
Pense em sua amada, minha criança. Pense em Hanna.
As outras crianças de Tsabo Tavoc estavam longe de estarem indefesas. Eles enchiam as cavernas
abaixo, levando os Dominarianos de volta do portal. Suas crianças ficariam felizes em sentir sua
aproximação. Eles abririam uma avenida através da hoste de Dominarianos. Suas crianças pressionariam
ambos os lados, e Tsabo Tavoc caminharia, intocada, pelo centro da batalha. Qualquer outra pessoa teria
chamado isso de desafio, com inimigos e morte em cada lado. Para Tsabo Tavoc, era um desfile de
coroação. Na ponta final jazia Phyrexia e sua grande recompensa.
Pense em Hanna. Você a perdeu para mim, e ela o perdeu para Yawgmoth.

*****
Era uma luta inútil. Phyrexianos jorravam para fora do seu mundo para dentro das cavernas. Eles
vinham pelo do portal, distorcido como visões através do calor crescente. Além daquele portal
tremeluzente, milhares mais avançaram. Lado a lado, eles se direcionaram para o moedor de carne.
Eladamri era uma das lâminas daquele moedor. Ele e Lin Sivvi lideravam os elfos da Lâmina de Aço
em um impulso furioso para o pedestal espelhado. A espada de Eladamri tangia semelhante um sino
enquanto ele abria seu caminho. O totem-vec de Lin Sivvi girava em círculos mortíferos. Os elfos faziam
o seu melhor, lutando pela Semente de Freyalise como se Eladamri fosse a própria Freyalise. Por toda
sua fúria, embora, Eladamri e suas tropas podiam fazer pouco mais do que matar. Os corpos dos
Phyrexianos faziam muros perante eles.
Através da câmara havia outra lâmina do moedor. A espada de Tahngarth abria a barriga dos
monstros. Entranhas caiam como uma cascata. A besta pisava neles e deslizava. Tahngarth se virava e
cortava a cabeça de outro bruto. Os testas-chifrudas não eram páreo para o aço de Hurloon. O minotauro
arrancava sua espada livremente, simultaneamente ele lançava seu cotovelo no olho de uma terceira
besta. Ele caiu no chão e derrapou perante Sisay.
Ela lutava ao seu lado com igual valor, apesar de que com menos sede de sangue. Uma eficiente
espada gingava, Sisay conseguia tempo para se defender e ajudar Orim. Apesar de possuir o coração de
uma curandeira, Orim podia matar Phyrexianos, mesmo com sua espada de madeira Cho-Arrim. Ela
tinha que somente pensar em Hanna. Ao redor de Orim os irregulares de Benália lutavam, muitos
armados somente com seus punhos e pura vontade.
Os defensores de Dominaria trouxeram morte a centenas de Phyrexianos, mas havia milhares. Por
meia hora, eles lutaram nesta ofegante, inútil batalha, e não conseguiram avançar nem uma polegada em
direção ao pedestal espelhado.
Karn havia feito mais a esse respeito. Sem esmagar uma cabeça ou quebrar uma espinha – ambas as
quais ele era fisicamente capaz de fazer – Karn tinha simplesmente vadeado para dentro das tropas
Phyrexianas. Eles levaram apenas alguns momentos para descobrir que eles não podiam matá-lo. Eles se
aglomeram em torno dele. Ele estava a meio caminho da caverna antes do peso dos corpos atolarem-no
no lugar. Por baixo de uma pilha viva de demônios, Karn e seu passageiro goblin foram soterrados.
Indefesos.
176
Invasion
Nos momentos seguintes, a batalha ficou pior. Os Phyrexianos lutaram com um repentino,
propósito unânime. Eles empurraram de volta a brigada Benaliana e os seus aliados elfos e Metathran.
Um caminho limpo se abriu no meio deles. Numa extremidade dessa avenida, o portal cintilante
permanecia, expelindo seus exércitos. Na outra extremidade, na entrada da caverna, apareceu Tsabo
Tavoc.
A mulher aranha supervisionava a cena. O júbilo resplandecia em seus estranhos olhos. Sua boca
cheia de placas formou um sorriso sereno. Uma ferida chorava negramente na sua barriga. Ela agarrou
alguma coisa ao seu tórax, alguma coisa que pendia como uma carne desossada.
“Gerrard!” Sisay se engasgou quando percebeu. Ela lutou em direção a ele.
Orim seguiu o rastro dela. Sua espada dardejou com igual sede.
Tahngarth fechou a retaguarda. Talvez eles não pudessem lutar seu caminho até o pedestal
espelhado que energizava o portal, mas eles podiam lutar até Gerrard.
Tsabo Tavoc pareceu ver os três companheiros. Ela sorveu profundamente a essência da batalha.
Sobre quatro pernas, ela dardejou velozmente para o canal de seus guerreiros.
Rosnando, Sisay rachou a cabeça de um soldado Phyrexiano. Ela escalou seu corpo em queda, uma
rampa até a parede de demônios. Garras açoitaram suas pernas. Orim cortou os membros fora. Um
Scuta se empinou para bloquear seu caminho. Ela simplesmente se lançou sobre seu rosto em forma de
escudo, afundando sua espada de madeira nos olhos da coisa. Ele tombou. Orim escalou o rosto
ensanguentado. Tahngarth escalou em seguida. Tsabo Tavoc fugiu pelo caminho.
Sisay saltou da muralha de Phyrexianos no rastro da mulher aranha. Sisay se atirou atrás da aranha
em fuga. Tsabo Tavoc era muito veloz. Sisay mergulhou, estendendo seu braço de espada. Ele varreu
abaixo, fatiando o abdômen obsceno. Ele se alojou por detrás do ferrão da aranha e rasgou a coisa pela
sua raiz.
Tsabo Tavoc não emitiu grito de dor, mas seus seguidores o fizeram. Incontáveis garras prenderam
Sisay e arremessaram para longe como se ela fosse venenosa. Ela velejou pelo ar e se chocou contra uma
parede da caverna.
Orim, cortada pela súbita maré de bestas, saltou para longe, correndo para ajudar Sisay.
Tahngarth não foi facilmente detido. A multidão de monstros se aglomerou ao rastro de Tsabo
Tavoc, protegendo sua mãe ferida. Eles estavam pressionando fortemente como ovelhas em um corredor
de abate. Tahngarth correu por cima de suas cabeças. Seus cascos martelaram crânios, atordoando
alguns, esmagando outros. Se eles morressem, morressem. Seu verdadeiro objetivo era a mulher aranha.
Ele pode não ter pegado-a pelo fato de que ele corria por uma multidão que também corria.
Se lançando dos seus ombros, Tahngarth saltou sobre as costas de Tsabo Tavoc.
Ela se agachou, afundada pelo peso repentino.
Tahngarth balançou sua espada num golpe decapitador.
Antes que o metal pudesse acertar a carne, uma das pernas da mulher aranha se ergueu. Ela
bloqueou a lâmina e a fendeu.
Tahngarth não soltou a espada – nenhum minotauro verdadeiro soltaria - mas ele não era páreo
para a força mecânica de Tsabo Tavoc. Ele foi arremessado para longe como se fosse um mero bezerro.
Tahngarth se chocou contra a parede oposta da caverna. Gemendo, ele deslizou para baixo ficando
quieto.
Havia ninguém para detê-la agora, cercada por suas crias. Nem mesmo Eladamri podia lutar para
atravessar aquela massa de monstros.
Tsabo Tavoc estremeceu com a parada súbita. Uma perna parecia estar presa.
Karn se ergueu, magnífico, debaixo de uma pilha de Phyrexianos arranhando. Elas pareciam
somente baratas vorazes se atolando sobre seus ombros. Em uma enorme mão, o golem de prata agarrou
a perna de Tsabo Tavoc. Sua outra mão se libertou dos monstros que o cercavam, e agarrou outra perna
da mulher aranha. Com um poderoso arquejo, ele arrancou uma dos mecanismos do corpo dela.

177
Invasion
Fagulhas estouraram dos soquetes. O óleo brilhante correu. A perna quebrada se convulsionava nas
garras de Karn. Ele a soltou no meio da horda estridente. Eles pegaram o membro numa agonia lúgubre.
Karn agarrou outra perna, rangendo, soltando-a. A carne onde ela esteve inserida fez uma sucção,
um som de arranque enquanto ela se soltava.
Sobre duas pernas somente, Tsabo Tavoc cambaleou. Ela tirou uma perna de Gerrard, colocando-o
diante dela e lutando para se libertar do aperto do golem.
Karn era implacável. Acima dos berros dos Phyrexianos, sua voz de trovão soou.
“Não mais. Se eu preciso matar o culpado para salvar o inocente, então eu matarei!”
Ele arrancou outra perna da mulher aranha. Antes que ele conseguisse outro aperto, Tsabo Tavoc
saltou.
Ela soltou outra perna de Gerrard e caminhou para longe do golem de prata. Seu cativo pendia mole
preso por um único membro.
Karn lutou para perseguir, mas a turba de criaturas o derrubou. Ele se sentiu como uma porta de
aço, se impactando ao chão com um barulho retumbante.
Tsabo Tavoc se deslizou para o brilhante portal. Suas tropas verteram ao redor dela – crianças fiéis
em todo lugar. Ofegante, a mulher aranha se virou para olhar para o campo de batalha. Ela sorriu.
Segmentos se eriçaram em seu rosto. Seus olhos reluziram com um lustroso brilho de uma dor esquisita.
Subindo sobre o pedestal espelhado e o livro de vidro, Tsabo Tavoc gritou, “Você está acabada,
Dominaria. Você lutou comigo bravamente e perdeu. Nenhum mortal pode derrotar Morte. Eu sou a
Morte. Abracem-me, e eu liderarei vocês para a morte e se erguerão outra vez em uma vida imortal.”
“Vocês acham que somos os destruidores. Vocês estão errados. Nós somos os salvadores. Vocês nem
são larvas e sim pupas – brancas e incompletas larvas. Até que vocês morram, vocês não podem se
tornar mais. Nós trazemos a vocês sua morte. Nós trazemos a vocês uma vida maior.”
“Agora, lute se for preciso, Dominaria. Fuja se você puder. De qualquer forma, será o mesmo. Nós
arrastaremos você para a morte e salvaremos você...”

*****
Palavras gloriosas. Gloriosas, minha mãe, pensou Gerrard, pendurado em sua garra. Pelo menos, eu perdi tudo
para você. Pais, pais adotivos, família, mentores, amigos, e agora eu mesmo. Somente agora eu entendo. Eu a amo,
Mãe. Eu a amo com cada fibra em mim. Obrigado por isto. Obrigado por me matar e me fazer magno.
Ele nunca conhecera tamanho amor. O fez fraco. O deixou louco. O fez querer apunhalá-la, arrancar
seus olhos, ceifar seu cérebro. Se somente o seu corpo respondesse, ele abriria seu caminho até ela.
Ele nunca conhecera tamanho amor!
Uma vez, ele pensou que conhecera. Hanna era seu nome. Ele se lembrava tanto dela – cabelo
dourado, olhos brilhantes, sorriso quieto – mas nada de querer matá-la. Ele não deve ter amado-a – não
como ele amava Mãe.
Ela matou Hanna, a Mãe. A Mãe havia assassinado tantos, alguns com garras, alguns com asseclas,
alguns com doença. Foi assim que Hanna morreu. A Mãe havia amado-a o suficiente para enviar suas
minúsculas máquinas rastejarem sobre ela. Hanna ficou furiosa. Ela não desejava transcender. Ela não
desejava...
A mente de Gerrard labutou para reunir o pensamento.
Hanna não desejou... Ela não desejou... morrer.
Aquele pensamento proibido se espalhou através de sua mente.
Hanna não desejou morrer.
Aquela simples verdade matou as múltiplas verdades que empesteavam sua cabeça. Amor era o que
ele sentira por Hanna. Ódio era o que ele sentiu pela Mã..., por Tsabo Tavoc. O resto foi tudo mentiras,
foi o óleo brilhante.
178
Invasion
A verdade se espalhou por sua, uma vez envenenada espinha, e ao longo de milhões de ramos
neurais e dentro dos tecidos que eles tocavam. Eles lhe devolveram sua mente e seu corpo.
Ele ainda pendia lá, sua força estava retornando. Ele podia sentir a perna de Tsabo Tavoc ao redor
dele, podia ouvir o zumbido da cigarra em seu discurso. Ela já não estava mais em sua mente. Como
escapar? Seria necessária uma força monumental para romper o domínio mesmo de uma perna.
“Pssst,” veio um som perto da orelha de Gerrard.
Ele lentamente virou sua cabeça e viu um rosto lindo – verde e com nariz enrugado, com pequenos
olhos fervorosos e pedaços farpados de insetos entre dentes amarelos. Squee. Não era de se admirar que
ele houvesse passado despercebido entre os monstros na câmara – terrivelmente lindo como ele era.
“Aqui,” o goblin disse, empurrando para frente o cabo da espada. A mente de Gerrard era dele –
seu braço, seus dedos. Eles agarraram o pomo. Não houve hesitação. Ele lançou a lâmina para cima, por
entre as pernas, atravessando o tórax, passou até pelo primeiro corte que ele havia feito na barriga
branca de Tsabo Tavoc. Sua lâmina bateu contra pele e músculos. Ela cortou dentro de vísceras,
cortando-o e abrindo-o.
As palavras de Tsabo Tavoc se cortaram no ar. Suas crianças observaram em grande horror. Ela
sacudiu e olhou para baixo, estupefata.
“Por Hanna!” Gerrard berrou. Ele ergueu a espada outra vez dentro da barriga de Tsabo Tavoc,
rasgando-a largamente.
A mulher aranha convulsionou. Sangue jorrou quente dela. Ela arquejou, agarrando a imunda
laceração.
Seus asseclas se estremeceram em uma agonia compartilhada. A perna que segurava Gerrard
estremeceu, soltando. “Deixe a morte te aperfeiçoar,” Gerrard rosnou. Ele lançou a ponta da lâmina
dentro soquete da perna que o prendia.
Fios cortados. Centelhas voaram. A perna ficou mole, derrubando Gerrard. Ele se sentiu glorioso
caindo daquela maneira, para longe do metal febril, para longe da horrível mãe dos monstros.
Ele caiu em cima do livro de vidro e metal, em cima do pedestal espelhado.
Tsabo Tavoc chiou. Suas três pernas boas se ajuntaram para investir.
De repente, o portal estalou e desapareceu. Uma parede de pedra estava onde uma vez esteve a
porta para Phyrexia. Os monstros que estavam marchando através daquela porta foram cortados no
meio. Nacos de escamas e carne tamborilaram abaixo num granizo medonho.
Tsabo Tavoc girou. Sua rota para Yawgmoth se fora – sua legião de demônios, sua saída. Ela nem
possuía membros suficientes para manter Gerrard e caminhar.
Gerrard se mexeu para longe do livro gigante, gingando sua espada perante ele para limpar o
caminho.
O portal reapareceu. Sem nem olhar de volta para sua presa, seus exércitos, Tsabo Tavoc se lançou
pelo local.
“Volta para o livro! Squee guinchou. “Feche a porta!”
Gerrard mergulhou.
Tsabo Tavoc trotou sobre os corpos de suas próprias tropas Ela se arremessou através do portal.
Gerrard aterrissou sobre o livro.
O portal se fechou. Somente o muro em branco da caverna permaneceu – e a bochecha direita
cortada e o braço de Tsabo Tavoc. Os dois nacos de carne caíram no chão ao lado de uma bulbosa seção
do seu abdômen. O resto dela estava do outro lado, em Phyrexia.
“Ela escapou,” Gerrard chiou furiosamente.
Os Phyrexianos, por tanto tempo enfeitiçados pelas palavras da mãe deles, agora pareciam acordar
de um sono de repouso. Ela se fora – eles souberam aquilo primeiro – e ferida e além do alcance deles...
Mas somente enquanto o portal permanecesse fechado...
Uma parede de penugens, presas, e garras se ergueram para afastarem Gerrard do livro. Em massa,
os Phyrexianos se lançaram sobre ele.

179
Invasion
CAPÍTULO 37

HERÓIS DE DOMINARIA

Gerrard balançou sua espada. Quatro bestas voaram de volta, arremessadas para o teto. Duas foram
empaladas pelas estalactites. Mais duas foram despedaçadas pelo impacto. Antes que Gerrard pudesse
balançar outra vez, outra besta saltou para frente atravessando o pedestal, seu torso foi despedaçado por
alguma forma incrível.
Balbuciando, Gerrard ergueu seus olhos para ver a incrível força. “Karn!”
O amigo mais velho de Gerrard e o guardião de mais longa data respondeu com um aceno. O golem
de prata usou seus braços enormes como vassoura e agarrou mais cinco Phyrexianos. Ele os envolveu
em um abraço que os quebrou como uma nós num quebra-nozes.
Enquanto ele soltava seus corpos desleixadamente no chão, ele ribombou, “Por você, Gerrard, eu
matarei.”
O homem sobre o livro acenou de volta, cortando sua lâmina através de bestas. Lado a lado, Gerrard
e Karn lutaram com os asseclas de Phyrexia.
A brigada de prisão ergueu suas espadas em um brado e as trouxeram abaixo numa saraiva de
matança. Phyrexianos caiam como sucata. Um grito de guerra élfico ululou pela caverna. Os guerreiros
da Lâmina de Aço lutaram com uma nova vingança. Lâminas Metathran se cravam em carnes
monstruosas.
Desprendidos de sua mãe e sua terra natal, os Phyrexianos morreram. Não havia mais provisões.
Não havia escape. Dominarianos marcharam pelas câmaras acima, e eles não fizeram prisioneiros.
Chifres cobertos de sangues respigaram no óleo brilhante. Braços segmentados se contorceram sobre
sangue. Ferrões bombearam veneno de dutos partidos. Espinhas naturais foram quebradas em duas.
Espinhas não naturais se retorceram em corpos agonizantes.
Sisay reembolsou suas batidas duras podando a cabeça de um soldado de infantaria Phyrexiano.
Orim fatiou entre os monstros como se ela estivesse cortando cana. Tahngarth açoitou seus chifres num
arco mortífero. Gerrard escarrou uma besta pelo cume. Karn era um tornado de prata, esmagando e
arremessando Phyrexianos. No frenesi da batalha. Squee sabiamente escalou o ombro do golem, antes
que ele fosse confundido com um monstro.
Em momentos brutais, cada costa escamada e cabeça espinhosa tombou. Um a um, os últimos
Phyrexianos morreram. Uma a uma, espadas se ergueram no ar. Não havia mais carne sobrando para
rachar.
Poderia a batalha de Koilos estar terminada? Poderia a batalha ter sido vencida? Tropas de
Dominaria inundaram abaixo procurando inimigos para matar.
“Nós conseguimos,” Gerrard sussurrou sem fôlego. “Karn, nós conseguimos!”
Karn estudou suas mãos ensanguentadas. “Sim,” ele disse pesadamente. “Está terminado.”
Montando sobre os ombros do golem, Squee soltou um grito de celebração.
Sisay abraçou Orim. “Às vezes os mocinhos vencem.”
Tahngarth somente permaneceu, olhando sombriamente para todos os destroços ao redor.
Os elfos da Lâmina de Aço ergueram Eladamri sobre seus ombros e marcharam com ele pelo campo
de batalha.
Uma caverna que, momentos antes, ecoava com sons de batalha repentinamente repercutia com
celebração.
Foi de curta duração. Alguém chegou das cavernas acima, alguém cuja aura possuía o mesmo poder
estranho de Tsabo Tavoc.
Sons e berros se aquietaram. Todo mundo na caverna olhou para cima para ver quem chegara.

180
Invasion
Foi o vidente cego – mas de alguma forma, ele havia mudado. Suas costas estavam endireitadas. A
faixa se fora de seus olhos, os quais brilhavam como joias gêmeas. Seu cabelo de fiapos brancos foi
substituído por fios dourados. Toda a idade decrépita se fora. No seu lugar, havia um manto de um
poder antigo. Ele desceu para dentro da caverna pela mesma rota que Tsabo Tavoc caminhou.
Corpos jaziam prostrados perante ele. Guerreiros vivos observavam em admiração.
Reverentemente, eles se ajoelharam. Enquanto o vidente cego abriu caminho em direção ao pedestal
espelhado, até a última criatura caiu em obediência.
Somente Gerrard e Karn permaneceram de pé. De cabelos dourados e vestes brancas, o grande
homem se aproximou do pedestal espelhado.
Até mesmo Karn se ajoelhou.
Gerrard, seu sangue escorrendo sobre o vidro e o livro de metal, olhou incredulamente para o golem
de prata.
A espada ainda desembainhada, ele sussurrou, “Você o conhece?”
“Eu o conheço. Eu conheço – de certa forma – Eu sei que ele me criou.”
Gerrard olhava de boca aberta entre Karn e o vidente cego. “Ele criou você?”
“Sim, eu criei,” o homem disse. “Eu criei Karn e o resto do Legado. Eu criei até mesmo você.”
Os olhos de Gerrard se estreitaram. “Quem é você?”
“Eu sou Urza Planinauta.”
“Você é o que?”
“Eu sou Urza Planinauta.”
“Você é Urza Planinauta?” Gerrard ecoou incredulamente. Ele olhou para Karn, cuja cabeça
permanecia curvada.
“Sim. Eu sou aquele que começou tudo isto. Eu sou o início. Você é o fim. Eu criei você e seu Legado
para este momento.”
Gerrard balançou sua cabeça. “Do que você está falando?”
Um sorriso estranho iluminou o rosto do homem. “Eu observei você lutar, Gerrard. Eu vi você
comandar seu navio, sua tripulação. Você esteve em todo lugar que eu imaginei e além. O resultado é
este – a vitória de Koilos.”
O cintilante homem gesticulou para o livro. “Eu fui o primeiro a abrir este portal removendo a
powerstone que o fechava. Mesmo agora, as duas metades daquela pedra residem aqui, dentro do meu
crânio. Elas fizeram de mim aquilo que eu sou – Urza Planinauta.”
“Eu fiz de você o que você é – meu oposto, minha contraparte. Assim como as pedras que uma vez
abriram este portal são parte do meu ser, seu próprio ser tem o poder para fechá-lo.”
“Você é o planinauta,” Gerrard disse em um espantado silêncio. Ele suspirou exaustivamente.
“Então, eu tenho que permanecer aqui, sobre este livro, por toda eternidade?”
“Não,” Urza Planinauta replicou. “Eu tenho o poder para abrir este portal, e você para fechá-lo.
Juntos, nós temos o poder para destruí-lo.”
Urza se estendeu para seu cinto em suas vestimentas brancas e sacou uma poderosa espada. Ela
brilhava como relâmpago em sua mão. Ele a ergueu acima de sua cabeça.
“Devemos?”
Gerrard ergueu sua entalhada e ensanguentada lâmina. As duas espadas pairaram no meio do ar.
Então, ambas caíram numa corrida cantada. Juntas, as lâminas esmagaram o livro.
Ele se despedaçou, arremessando vidro sobre Gerrard. Ele permaneceu, inteiro e são, no meio da
tempestade de laceração. Espirais de fumaça subiram das linhas de metal que salientaram através do
livro. Então, elas também foram destruídas. O metal correu feito mercúrio, deslizando pelos limites do
pedestal e sangrando pelos lados. Até o pedestal espelhado perdeu seu brilho. A vida saiu daquela
poderosa e antiga construção. Com um sopro final de fumaça, o livro e o pedestal ainda cresceram.
Urza embainhou sua espada. Sua voz ressoou pela sala. “Agora e para sempre, o portal de Koilos
está fechado.” Ele estendeu a mão para a mão de Gerrard. “Venha.”

181
Invasion
Uma pequena irregularidade, Gerrard pegou a mão estendida e saltou para o lado do planinauta. A
parede da caverna permanecia escura. O portal para Phyrexia foi destruído.
Gerrard olhou assombradamente para os olhos de pedra preciosas do planinauta. “Você me fez para
isto? Você criou meu Legado, tramou meu destino?”
“Eu fiz, Gerrard Capasheno,” Urza replicou quietamente.
“Eu odeio você,” Gerrard disse bruscamente.
“Perdoe-o, Mestre Urza,” Karn retumbou, ainda curvado. “Ele foi envenenado pela mulher aranha-“
“Não,” Gerrard interrompeu. “Eu quis dizer aquilo. Eu realmente odeio você. Não foram os
Phyrexianos que levaram tudo de mim. Foi você. Desde o início da minha vida, você me destinou a
perder tudo.”
“Se você cumprir seu destino, em perder tudo, você ganhará tudo.”
“Não, você está errado,” Gerrard disse. “Eu serei seu campeão, seu herói, sim. Eu lutarei a batalha
para o qual eu estou destinado. Mas durante todo este tempo, eu odiarei você.”
Os olhos de Urza pareceram se turvar um pouco com isso. “Eu sei. Eu contarei isso como uma das
minhas maiores perdas.” Naquele momento, ele não parecia o grande, antigo, planinauta louco, mas ao
invés disso, um velho e solitário homem.
Soltando um suspiro trêmulo, Urza passou a dizer, “Obrigado pela vitória em Llanowar, e a vitória
aqui.” Urza ergueu o braço de Gerrard alto no ar.
“Levante-se, fiéis de Dominaria,” Urza gritou. “Ergam-se em vitória!”
O brado que veio em resposta chacoalhou Koilos como o pisar de uma bota de titã.

*****
Uma semana depois, as Cavernas de Koilos foram verdadeiramente limpas. Até a última gota do
óleo brilhante foi esfregado para longe, até o último corpo Phyrexiano foi queimado. Gargantuas e
bruxas mecânicas, vormes de trincheira e Scuta formaram um pira que queimou até os céus por seis dias.
Enquanto isso, com a devida e solene cerimônia, os Dominarianos mortos foram enterrados no deserto.
Guerreiros da Lâminas de Aço jaziam ao lado de Metathran e ao lado de Benalianos lutadores. A
coalizão de Dominaria se ajuntou para lamentar.
Agora que lamento e luto foram feitos. O tempo do festival chegou.
Armaduras foram polidas até que elas brilhassem sob a Lua Tremeluzente. Espadas foram afiadas.
Sangue e óleo foram alvejados da melancolia.
Até mesmo as máquinas titãs foram limpas. Nenhuma escama Phyrexiana sobrou nos pés de
mamute que os esmagara. Nenhuma marca chamuscada turvou as placas da armadura. Canhões de
raios brilhavam como se eles nunca houvessem disparado. Sem seus pilotos planinautas, os titãs agora
permaneciam em um amplo círculo que se esticava das cavernas até englobar uma grande mancha do
deserto. Estes colossos marcavam os limites do terreno do festival. Dentro do círculo deles se
aglomeravam forças da coalizão em suas dezenas de milhares. Elfos, Metathran, Benalianos, dragões –
aqueles que venceram em Koilos comiam e bebiam, festejavam e dançavam diante das cavernas.
No meio do círculo de titãs e acima da multidão feliz pairava o navio que fora a esperança de todos.
O Bons Ventos estava resplandecente no céu noturno. Cada uma de suas lanternas brilhava,
lançando um brilho feliz sobre os foliões. As luzes do festival sobre seu casco curado e seus aerofólios.
Seu convés carregava um banquete glorioso – faisão e javali, enguia e salmão, tábuas de pão de aveia e
guisado de cebolas, bolos e pudins e pasteis de carne. Tudo isso foi trazido por Urza Planinauta para
banquetear os comandantes de sua vitória.
Em seu melhor cerimonial, os dignitários se misturaram.
Tevesh Szat animadamente narrava suas façanhas para Comodoro Guff, que se esforçava para
escrever cada palavra em seu livro de história oficial. Próximo, Daria, Taysir, e Lin Sivvi sorviam vinho
182
Invasion
de copos de vidro redondos. Bo Levar trouxe caixas de cigarros sortidos, um deles aparentemente
datava de antes da Era Glacial e outro rolo de tabaco cultivado por Teferi em Tolaria. Freyalise e Kristina
discutiam assuntos em Llanowar com o cabeça dos guerreiros da Lâmina de Aço. O guerreiro pantera
Lorde Windgrace trocava histórias com Tahngarth sobre “insensatez humana.”
O resto da tripulação de comando do Bons Ventos se deleitava com o banquete também. Sisay
dividiu seu tempo entre o leme e a mesa de banquete.
Karn entre os motores e conversações, e Multani entre o casco do navio e os convidados. Orim, em
uma roupa Cho-Arrim e com o cabelo com touca de moedas, escutava educadamente enquanto Squee
descrevia como ele salvara “o rabo de todo mundo desde o começo até agora.” O riso somente
encorajava o goblin – riso e comida e vinho. Eles fluíam em abundância no convés da meia nau do Bons
Ventos.
Um grupo mais quieto permanecia na sua popa. Sobre charutos e espíritos de centeio que se
ajuntavam os quatro homens que lutaram mais arduamente e mais perderam nesta guerra. Eladamri,
Agnate, Gerrard e Urza se delongavam na companhia do outro. Eles diziam muito pouco. Eles não riam
de maneira nenhuma. O divertimento abaixo era como música para eles. Eles ouviam e apreciavam, mas
não aderiam. Uma alegria triste os agarrava do tipo que precisava de poucas palavras.
Urza falou aquelas poucas palavras. Erguendo sua taça, ele disse, “Um brinde por tudo o que nós
perdemos, e um brinde a nós.”
Quatro taças se ergueram. Juntas elas tilintaram quietamente. Os quatro heróis de Dominaria
beberam.

*****
Os três dias de festival se acabaram. Os foliões dormiam em suas cabanas. Apenas um punhado de
guardas permanecia acordado aquela manhã – eles e o homem verde de Yavimaya.
Multani ouviu um som, um estranho ribombar. Havia movimento no deserto – vasto movimento.
Multani se ergueu entre as madeiras do grande navio Bons Ventos. Ele reuniu um corpo para ele
mesmo dos estilhaços vivos e dos fragmentos de madeira que ele encontrou pelo caminho. No convés, as
peças se empilharam como pernas, um torso, braços, e uma cabeça. Dois buracos se transformaram em
olhos. Com eles, Multani olhou para fora.
Além das tendas, na manha de deserto de Koilos, estranhas, formas distorcidas estavam se
impondo. Colinas se pareciam como músculos esfolados. Campos de vermelho suplício. Por estas terras
se reuniam exércitos enormes – Phyrexianos.
Parecia uma visão - este espumante mundo vermelho - uma premonição do mal. A terra já
emaranhada parecia tão sólida, tão real.
Multani havia visto tal mundo uma vez antes. Ele vislumbrara-o na mente de um Phyrexiano morto
em Yavimaya. Aquele monstro possuía um nome para o mundo que agora cobria lentamente
Dominaria.
Rath.

183
Invasion
184
Invasion

Você também pode gostar