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ISSN 2177-3548
[1] Universidade Estadual de Maringá | Título abreviado:Análise do Comportamento, feminismo e amor romântico | Endereço para correspondência: Carolina
Laurenti. Departamento de Psicologia (bloco 118, sala 04). Universidade Estadual de Maringá, Avenida Colombo, 5790 – Jardim Universitário – CEP: 87020-900 –
Maringá-PR | Email: Juliany Oliveira Zanuto - julianyzanuto10@gmail.com | doi: org/10.18761/PAC000655.out21
Resumen: El Análisis de la Conducta explica los sentimientos en función del contexto social,
aunque no explora sistemáticamente la influencia de variables políticas en su génesis desde
una perspectiva de género, como lo hace el feminismo al criticar el amor romántico. Este
trabajo objetivó introducir una perspectiva política en la discusión analítico-conductual del
sentimiento, considerando la crítica feminista del amor romántico. Se desarrolló una inves-
tigación bibliográfica, cuyas fuentes fueron artículos feministas sobre el tema. Fueron selec-
cionados dieciséis artículos para la revisión de la literatura. Del examen y la clasificación del
material resaltó: la caracterización de la cultura patriarcal que produce el amor romántico; el
papel de las instituciones en la transmisión y mantenimiento del amor romántico; los efectos
del amor romántico en la constitución del género y la identidad de género para hombres y
mujeres; y el oscurecimiento de contingencias opresivas por las prácticas del amor román-
tico. Asimetrías de poder entre géneros en relaciones románticas muestra la importancia
de discutir políticamente los sentimientos en el Análisis de la Conducta, sin eso los análisis
funcionales pueden orientar prácticas de mantienen indemnes los sistemas opresores.
Palabras clave: amor romántico; feminismo; patriarcado; análisis de la conducta; senti-
mientos.
O feminismo é um movimento político cujo obje- textual dos sentimentos, elucidando a gênese social
tivo principal é romper com o patriarcado (cultura da aprendizagem de repertórios autodescritivos de
que cede poder aos homens, em prejuízo das mu- sentimentos1. Segundo Tourinho (2009), a aquisi-
lheres), transformando as relações hierárquicas e ção desses repertórios envolve processos verbais
promovendo a igualdade entre os diferentes gêne- dependentes de contingências sociais, que assegu-
ros (Souza, 2016). Além de um movimento político, ram relações específicas entre sentimentos e respos-
o feminismo também se configura como um campo tas verbais mantidas pela comunidade verbal. Dessa
teórico, cujos desideratos correspondem a preocu- forma, interpretar os sentimentos de maneira con-
pações ético-políticas similares às de analistas do textual implica, em última instância, considerá-los
comportamento engajadas(os) com transforma- como “formas de interação do homem (sic) com o
ções sociais: a luta contra controles opressores e a mundo (especialmente, mundo social), e não a en-
construção de um mundo mais igualitário (Silva & tidades com existência independente do sujeito que
Laurenti, 2016). se comporta e do ambiente onde ele está inserido”
As relações entre feminismo e Análise do (Borba & Tourinho, 2009, p. 91).
Comportamento foram exploradas de modo mais A despeito de ter conduzido uma interpretação
sistemático pelos trabalhos de Maria del Rosario contextual dos sentimentos, e de, em alguma me-
Ruiz (1950-2017) (e.g., Ruiz, 1995, 1998, 2009). dida, ter considerado a participação de relações de
Seguindo os passos dessa autora, várias(os) ana- poder nas contingências sociais responsáveis pelo
listas do comportamento brasileiras(os) passaram ensino de repertórios verbais autodescritivos de
a estudar o feminismo e a produzir pesquisas que sentimentos (ver Skinner, 1953/2003, pp. 283-288),
evidenciavam convergências entre esse campo e a Skinner (1989/1991) não parece ter discutido de
Análise do Comportamento (e.g., Couto & Dittrich, que forma essas relações de poder afetam os dife-
2017; Freitas & Morais, 2019; Pinheiros & Mizael, rentes gêneros. Uma análise que considera a rela-
2019; Silva & Laurenti, 2016). ção entre os sentimentos e as desigualdades entre
Um dos resultados desses estudos foi a pos- homens e mulheres pode ser verificada na crítica
sibilidade de compreender e destacar algumas feminista ao amor romântico (Junqueira & Melo,
contribuições do feminismo para Análise do 2014; Silva, 2017).
Comportamento. Segundo Gallo, Morais, Fazzano O amor romântico é uma derivação do amor
e Santos (2019), essas contribuições podem ser – assim como o são o amor pelos amigos, o amor
identificadas considerando-se três elementos de in- pela família, o amor aos animais etc. –, que apa-
vestigação: “(i) sobre a participação das mulheres rece relacionada ao contexto conjugal. Segundo
na Análise do Comportamento; (ii) sobre as ques- Giddens (1993), “frequentemente considera-se
tões negligenciadas na área; e, (iii) sobre como a que o amor romântico implica atração instantâ-
ciência analítico-comportamental poderia questio- nea – amor à primeira vista . . . é um processo
nar seus modos de produção e propor novas formas
de investigação” (pp. 47-48). Nessa perspectiva, 1 Skinner (1945/1999) menciona quatro estratégias por meio
as(os) autoras(es) indicam: (a) a visibilidade dada das quais a comunidade verbal modela e mantém um reper-
ao gênero, (b) a contextualização da produção de tório comportamental descritivo dos sentimentos. Por exem-
conhecimento científico a respeito dessa temática, plo, quanto à aprendizagem de relatos autodescritivos como
(c) o destaque ao sofrimento vivido pelas mulheres, “sentir dor”, tem-se que: a comunidade verbal (1) pauta-se em
estímulos públicos (como hematomas) relacionados ao estí-
(d) e o questionamento da neutralidade do conhe- mulo privado que será ensinado a ser descrito; (2) baseia-se
cimento científico, evidenciando o caráter também em respostas colaterais públicas (como choro, gritos) que re-
político da produção científica. gularmente acompanham uma condição privada; (3) ensina
Este trabalho investiga uma problemática que o indivíduo a descrever o seu próprio comportamento (por
ainda merece ser explorada no exame das con- exemplo, “isso é sentir dor”); e (4) usa como analogia a des-
crição das propriedades de um evento público para descrever
tribuições de reflexões feministas para a Análise um evento privado, com base em propriedades semelhantes
do Comportamento: a questão dos sentimentos. entre esses eventos (dizer, por exemplo, “isso dói como se fos-
Skinner (1989/1991) empreendeu uma análise con- se uma agulhada”).
de atração por alguém que pode tornar a vida de violência, majoritariamente cometida pelos homens
outro alguém, digamos assim, completa” (p. 51). O contra as mulheres – desde silenciamento e humi-
autor ainda cita outras características relativamen- lhação até agressões e morte (Junqueira & Melo,
te conhecidas do amor romântico: o erotismo é 2014). Sobre isso, é possível destacar a importância
colocado em segundo plano devido à primazia da do feminismo, cujas reflexões contribuíram para
idealização dos parceiros amorosos; há uma visão revelar o caráter opressor do amor romântico para
do(a) amado(a) como alguém único e especial; o as mulheres (que é caracterizado por falsas promes-
romance é preenchido de um caráter fantasioso e sas de felicidade, realização social e autonomia).
idealizado; e os parceiros devem fazer o possível e A crítica das autoras feministas ao amor ro-
o impossível um pelo outro. mântico é caracterizada, então, por um viés políti-
Em um relacionamento amoroso heterossexual co, que abrange temáticas como: relações de poder,
(seja romântico ou não), há expectativas sociais e hierarquia, dominação/submissão, violência con-
demandas mútuas: o homem espera que sua parcei- tra as mulheres, entre outros. Essas considerações
ra se comporte de determinada maneira e vice-ver- parecem sugerir a importância de se contemplar
sa. Porém, no caso do amor romântico, os interes- alguns aspectos que ainda não foram sistematica-
ses, desejos e necessidades dos homens se tornam mente explorados em uma análise comportamen-
mais importantes que os das mulheres, o que gera tal dos sentimentos, considerando o viés de gênero.
uma relação desequilibrada, hierárquica entre o ca- Com base nisso, o objetivo deste trabalho é desta-
sal, em favor do gênero masculino (Souza, 2016). car algumas contribuições da crítica feminista ao
Isso pode ser ilustrado por meio das exigências amor romântico para ampliar a discussão analítico-
com relação à mulher para que ela, em nome do -comportamental dos sentimentos, considerando a
amor, esteja disposta a aceitar, esperar, abnegar-se, conexão entre relações de poder e sentimentos no
compreender e perdoar o parceiro, enquanto este âmbito das assimetrias entre os diferentes gêneros
deve apenas esperar que sua companheira cumpra que ainda se verificam na nossa sociedade.
com esses ideais (Junqueira & Melo, 2014; Zanello,
Fiuza & Costa, 2015).
O amor romântico também contribui com a Método
“reprodução dos padrões de gênero hegemônicos,
que tentam estabelecer modelos e posicionamentos Foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica cujas
‘próprios’ e generalizados para mulheres e homens fontes consistiram em artigos feministas que tra-
se construírem e se relacionarem afetivo-sexual- tavam sobre o amor romântico. Estes textos foram
mente” (Junqueira & Melo, 2014, p. 770). No caso buscados nas bases de dados Scientific Eletronic
das mulheres, espera-se que elas correspondam Library Online e Sociological Abstracts, via Portal
aos desejos sexuais de seu parceiro, sugerindo que da CAPES. Embora essas bases contemplem pe-
a virilidade sexual é uma característica tipicamen- riódicos feministas, foram também consultadas
te masculina; já no caso dos homens, é esperado algumas revistas feministas nacionais, Estudos
que eles protejam e deem apoio financeiro às suas Feministas, Ártemis, Cadernos Pagu, Caderno
parceiras, sugerindo que a fragilidade e a impotên- Espaço Feminino e Revista Gênero, a fim de asse-
cia são características essencialmente femininas gurar que os artigos feministas que abordassem a
(Zanello, Fiuza & Costa, 2015). Assim, os compor- temática em pauta, e que, porventura, não apare-
tamentos exigidos de homens e mulheres eviden- cessem naquelas bases de dados, fossem, de fato,
ciam quais são os estereótipos de masculinidade e recuperados.
feminilidade associados aos gêneros masculino e Cada uma das quatro combinações de palavras-
feminino em uma dada cultura (Silva, 2017). -chave (amor romântico AND feminismo, amor
Quando os comportamentos não correspon- romântico AND feminista, romântico AND femi-
dem ao especificado nas regras, nem sempre cons- nismo, romântico AND feminista) foi inserida nos
pícuas, do amor romântico, surgem conflitos na campos de busca, juntamente com as seguintes es-
relação conjugal, que frequentemente resultam em pecificações: obter artigos científicos (o que exclui-
1. Grossi, M. P. (1994). Novas/velhas violências contra a mulher Influência de crenças românticas na legitimação e perpe-
no Brasil. Estudos Feministas, número especial, 473-483 tuação da violência contra a mulher
2. Malcher, L. F. S. (2002). Mulheres querem amor, homens Como o viés de gênero domina visões de adolescentes a
querem sexo? Amor e masculinidade entre jovens de camadas respeito da denominada “masculinidade” no contexto de
médias urbanas de Belém. Revista Gênero, 3(1), 63-81 relações amorosas
3. Bensusan, H. (2004). Observações sobre a libido colonizada: Maneiras de pensar e viver os desejos em uma socieda-
Tentando pensar ao largo do patriarcado. Estudos Feministas, de patriarcal, tomando a pornografia como exemplo de
12(1), 131-155 análise
4. Neves, A. S. A. (2007). As mulheres e os discursos gende- Implicações dos discursos sociais sobre o amor na vivên-
rizados sobre o amor: A caminho do “amor confluente” ou o cia da intimidade adulta feminina heterossexual
retorno ao mito do “amor romântico”? Estudos Feministas, 15(3),
609-627
5. Fernandes, W. R., & Siqueira, V. H. F. de. (2010). O cinema O papel da produção cinematográfica romântica na for-
como pedagogia cultural: Significações por mulheres idosas. mação das identidades de gênero de mulheres idosas
Estudos Feministas, 18(1), 101-119
6. Bragança, M. de. (2011). Corpo, imagem e registro colonial Reflexão sobre o uso do sentimento como um instrumento
no Corazón Sangrante de Astrid Hadad. Estudos Feministas, de apassivamento e de subalternização das mulheres
19(2), 403-419
7. Bordini, G. S., & Sperb, T. M. (2012). Concepções de gênero Como os estereótipos de gênero perpassam as concep-
nas narrativas de adolescentes. Psicologia: Reflexão & Crítica, ções de adolescentes sobre o que é ser homem e ser
25(4), 738-746 mulher
8. Rudiger, F. (2012). Amor no século XX: Romantismo democrá- Comparação entre o amor romântico e o intimismo tera-
tico vs intimismo terapêutico. Tempo Social, 24(2), 149-168 pêutico, sendo o último mais igualitário para casal
9. Carvalhaes, F. F. de., & Teixeira Filho, S. S. (2012). Histórias Estudo sobre a relação entre AIDS, gênero e ativismo:
de vida de mulheres HIV+ ativistas: Mudanças e permanências. contextos de vulnerabilidade à infecção e mudanças nos
Estudos Feministas, 20(2), 377-398 campos conjugal e maternal
10. Porto, M., & Bucher-Maluschke, M. J. S. N. F. (2014). A per- Discussão sobre algumas motivações para a permanência
manência de mulheres em situações de violência: Considerações de mulheres em situação de violência doméstica, sendo
de psicólogas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 30(3), 267-276 uma delas o amor romântico
11. Assunção, V. (2016). Migrantes por amor? Ciclo de vida, gê- Influências de fatores como idade, maternidade e gênero
nero e a decisão de migrar em diferentes fases da vida. Estudos na tomada de decisão de mulheres sobre migrarem de
Feministas, 24(1), 63-80 país para viverem com seus cônjuges
12. Gonçalves, E. (2017). Solteira, sem filhos: Menos que meia Reflexão sobre a “pressão” social para que mulheres
pessoa? Mediações, 22(2), 479-498 tenham filhos, sendo as solteiras e não-mães vistas como
infelizes
13. Rossi, T. C. (2017). Feminilidade e suas imagens em mídias Crítica à construção de imagens reais ou virtuais do gêne-
digitais: Questões para pensar gênero e visualidade no século ro feminino que naturalizam uma inclinação à afetividade e
XXI. Tempo Social, 29(1), 235-255 à emotividade
14. Vencato, A. P. (2017). Narrativas sobre conjugalidade Análise das dificuldades e conflitos em relação ao gênero
de mulheres que se relacionam com crossdressers. Estudos e à sexualidade vivenciados por casais cujo homem se
Feministas, 25(10), 147-165 monta (crossdressing)
15. Mattos, P. (2018). Desafios do reconhecimento nas relações Discussão sobre o déficit de reconhecimento (pessoal,
íntimas: Um debate com Axel Honneth. Política & Sociedade, profissional etc.) sentido por mulheres no contexto das
17(40), 156-190 relações amorosas heterossexuais
16. Jardim, M. C. (2019). Para além da fórmula do amor: Amor O modo como a cultura do amor romântico e da autoaju-
romântico como elemento central na construção do mercado do da alimenta o mercado de aplicativos de relacionamento
afeto via aplicativos. Política & Sociedade, 18(43), 46-76 (como o Tinder)
Como a tabela indica, as discussões desenvol- O termo “patriarcado” deriva da palavra “pa-
vidas pelas(os) autoras(os) sobre o amor românti- triarca”, de origem grega, sendo que páter significa
co abordam conteúdos diversos que perpassam essa “pai” e arkhé significa “poder”. Assim, uma socieda-
temática: a questão de gênero, a cultura patriarcal, de patriarcal é aquela na qual os homens têm poder.
as assimetrias de poder (dominação masculina e Nesse contexto, há o imperativo de que os homens
submissão feminina), as instituições que transmi- sejam poderosos, fortes, viris e hiperssexualizados,
tem e mantêm o amor romântico (como o cine- enquanto as mulheres devem ser submissas, reca-
ma romântico), a violência doméstica, e assim por tadas, amáveis e servis (Neves, 2007; Rossi, 2017).
diante. Mas, apesar das temáticas variadas, todos os No caso do homem, essas exigências levaram à for-
artigos convergem para a conclusão de que o amor mação de um estereótipo que relegava o masculino
romântico é prejudicial para homens e mulheres. ao domínio público, no qual ele deveria exercer um
Com base nos dados obtidos com a sistemati- trabalho que gerasse renda suficiente para sustentar
zação dos artigos, foram construídos quatro eixos sua esposa e filhos, tornando-o chefe da família; já
temáticos: (a) a caracterização da cultura produto- a mulher foi destinada ao âmbito do lar, onde sua
ra do amor romântico; (b) o papel das instituições tarefa seria a de cuidar da casa, dos filhos e do ma-
na transmissão e manutenção do amor romântico; rido, sendo submissa a ele (Rudiger, 2012).
(c) os efeitos comportamentais do amor românti- A divisão de características, direitos e deveres é
co para homens e mulheres; e (d) o ocultamento feita em função do gênero do indivíduo. Segundo
de contingências opressivas pelo amor romântico. Grossi (1994), “se utilizamos o conceito de gêne-
Cada eixo será tratado em um tópico específico, ro como categoria analítica das relações homem/
cujo desenvolvimento abarcará três momentos: a mulher, é evidente que masculino e feminino são
apresentação das teses feministas sobre um dado construções simbólicas e históricas que inexistem
tema relacionado ao amor romântico, a interpreta- separadamente” (p. 478). Além disso, “o significa-
ção analítico-comportamental a respeito desse tema do de ser homem ou mulher varia de cultura para
e, por fim, uma síntese referente às contribuições da cultura em cada momento histórico determinado”
análise feminista do amor romântico para a discus- (Grossi, 1994, p. 482), portanto, a percepção social
são analítico-comportamental dos sentimentos. do gênero não é única nem universal. Na cultura
brasileira, por exemplo, onde há o domínio da ló-
gica patriarcal, as atribuições aos gêneros mascu-
Discussão lino e feminino são feitas com base nas ideias de
dominação masculina e submissão feminina – que
O amor romântico a favor da cultura se desdobram em situações diversas, como as ante-
patriarcal riormente mencionadas.
Todos os 16 artigos apresentaram discussões sobre A cultura em que os homens detêm poder é an-
a origem do amor romântico, sendo essa gênese tiga e tão disseminada no Brasil (e em outros luga-
compreendida pelas(os) autoras(es) como socio- res no mundo) que atualmente ainda é improvável
cultural. Conforme os artigos examinados, o amor conceber sua erradicação, especialmente quando
romântico emerge como produto de uma cultura são considerados os diversos mecanismos e instru-
de dominação masculina ou patriarcal, como ex- mentos utilizados para a manutenção do patriar-
plica Bensusan (2004): “O amor romântico é um cado, sendo um deles o amor romântico (Neves,
pacote de (níveis de) desejos obrigatórios e de com- 2007). Ao citar Bourdieu, Jardim (2019) explica
promissos em termos já estabelecidos. Parece que o que o amor romântico está inscrito em uma cultura
regime de desejo nos coloca em um jogo – um jogo androcêntrica (isto é, uma cultura cuja tendência é
em que apenas alguns movimentos são permitidos” reduzir a humanidade ao homem). Nessa cultura,
(p. 136). De acordo com a autora, esse “regime he- o poderoso (homem) conquista o subalterno (mu-
teropatriarcal de desejo” (p. 139) afeta a maneira de lher) por meio de expressões de amor espontâne-
pensar e agir das pessoas, formando os estereótipos as e mágicas (como o ato de dar flores à parceira
de gênero (Bensusan, 2004). ou pagar a conta de um jantar). E, “para além da
espontaneidade, o amor romântico seria o ajusta- do que da observação da relação entre esses senti-
mento inconsciente das mulheres a uma estrutura mentos e o contexto como um todo (Carvalhaes &
de dominação, que se expressaria em um discurso Teixeira-Filho, 2012; Fernandes & Siqueira, 2010;
que coloca o amor romântico como norma para a Malcher, 2002; Mattos, 2018). Assim, os homens e
felicidade” (Jardim, 2019, p. 57). especialmente as mulheres relatam que o amor ro-
Assim, se a cultura androcêntrica prescreve mântico (e outros sentimentos e comportamentos
uma maneira de amar que é compatível com a sub- correlatos) é “bom” com base prioritariamente nas
missão feminina, o amor romântico seria, portan- condições corporais descritas como amor, felicidade,
to, “uma forma de violência simbólica, tornando-se completude etc. (Adichie, 2012/2015), tornando-se
um fardo para as mulheres, que passam a conceber alheios às condições desiguais entre gêneros que es-
o mundo afetivo a partir desse sistema de domina- tão na gênese da aprendizagem desses sentimentos.
ção masculina” (Jardim, 2019, p. 58). Desse modo, A explicação do comportamento centrada nos
ao controlar os corpos, sentimentos e desejos de sentimentos é incompatível com a visão da Análise
homens e mulheres, o amor romântico legitima os do Comportamento: como o aprendizado da des-
estereótipos de gênero, favorecendo a cultura pa- crição e valoração dos sentimentos na sociedade
triarcal (Bensusan, 2004; Carvalhaes & Teixeira- ocorre em função das contingências sociais, são
Filho, 2012; Porto & Bucher-Maluschke, 2014). essas contingências que precisam ser considera-
No âmbito do amor romântico abre-se ainda a das para se explicar tanto o comportamento quan-
possibilidade para a ocorrência de uma violência to os sentimentos que o acompanham (Borba &
doméstica justificada (seja ela física, verbal, patri- Tourinho, 2009). Conforme os sentimentos são
monial ou psicológica), pois há homens que acre- tomados como elementos centrais (mais especifi-
ditam estar munidos de motivações genuínas para camente como causa do comportamento), as con-
terem ferido as parceiras (Grossi, 1994). São elas: tingências opressivas que estão na gênese do amor
crença no adultério (cometido pela parceira), in- romântico podem ser negligenciadas.
timidade da parceira com outro homem (inclusive Um exemplo emblemático é o comportamento
amigos), uso de roupas curtas por ela, divergências emocional ciumento (Gomes & Costa, 2014): ações
de opinião, questões financeiras, alcoolismo (do como checar e-mails e ligações ou tentar impedir
homem), rejeição sexual (da mulher) e até mesmo que a parceira saia com determinada roupa (Gomes
porque a parceira não preparou a refeição no horá- & Costa, 2014) são típicos de parceiros ditos ciu-
rio exigido pelo marido (Grossi, 1994). mentos. Mas, na cultura latina, o ciúme “está fre-
Porém, se essa cultura é prejudicial às mulheres quentemente relacionado ao amor, portanto, aquele
– e, muitas vezes, aos homens, que também pre- que ama deve sentir ciúme e aquele que não o sente,
cisam se acomodar aos padrões hegemônicos de não ama verdadeiramente seu parceiro” (Gomes &
masculinidade, gerando sofrimento (ver Baliscei Costa, 2014, p. 91). Dessa perspectiva, os sentimen-
& Stein, 2016) – por que ela se mantém? Segundo tos são utilizados para justificar as ações, inclusive
Neves (2007), para muitos, principalmente os aquelas em que há o uso de violência por parte do
homens, a cultura patriarcal é conveniente, pois parceiro: “quando comportamentos violentos ocor-
apesar de também sofrerem para se adaptar aos rem em uma relação romântica em um contexto de
padrões de masculinidade, os homens ainda se be- ciúme, o mesmo é associado ao amor e há minimi-
neficiam com todo o poder e privilégios que lhes é zação dos atos violentos, sendo muitas vezes justi-
dado: as possibilidades de acesso a bens, serviços, ficável” (Gomes & Costa, p. 91).
oportunidades de trabalho, lazer e socialização são Dessa forma, comportamentos de caráter
desiguais em relação ao gênero, em prejuízo das opressor (como controlar o dinheiro do cônjuge,
mulheres (Adichie, 2012/2015). dar ordens, monitorar, diminuir a autoestima, fazer
Ademais, a forma como as pessoas são ensinadas ameaças etc.) para o casal – principalmente para a
sobre o amor romântico também contribui para a mulher – são tolerados e até mesmo aceitos como
manutenção do patriarcado: elas aprendem sobre o parte constituinte de um relacionamento conven-
amor romântico mais em função dos sentimentos, cional, pois são justificados “em nome do amor”
(isto é, em nome do sentimento). Sendo assim, mu- é, pessoas que administram as instituições) é asse-
lheres comumente se encontram submetidas a um gurar a sobrevivência da cultura, por meio do for-
controle opressor2 que, muitas vezes, podem não talecimento de práticas culturais que contribuam
reconhecer. Isso reafirma a importância de não to- com este fim. Esse controle produz diversos efei-
mar o sentimento como causa do comportamento: tos benéficos para as culturas que adotam algumas
“os sentimentos não são causas, mas fenômenos práticas culturais que colaboram para a sua manu-
comportamentais que precisam ser explicados e tenção ou evolução (Dittrich et al., 2013). Todavia,
não são a explicação para outros comportamen- como as interações entre os indivíduos são perme-
tos” (Gomes & Costa, p. 91). Tanto os sentimentos adas por relações de poder, os controladores produ-
quanto os comportamentos nomeados “românti- zem e reproduzem comportamentos convenientes
cos” devem ser compreendidos em função das con- com seus próprios interesses, como acontece em
tingências (que, no caso da cultura patriarcal, estão uma cultura onde há hierarquias de poder quanto
permeadas por desigualdades de gênero). ao gênero, como o patriarcado.
É preciso ter em vista que essas contingências Segundo Nicolodi (2020), na cultura patriarcal,
se mantêm vigentes porque as práticas culturais que a dominação masculina é institucionalizada, pois
as constituem são frequentemente fortalecidas na os homens detêm poder (i.e., controle e acesso a
cultura, dentre outras formas, pelo reforçamento reforçadores sociais importantes) em todas as ins-
de operantes compatíveis com essas práticas. Como tituições da sociedade, sendo as mulheres desprovi-
afirmam Dittrich, Melo, Moreira e Martone (2013): das de tal poder. O patriarcado não opera somente
“práticas culturais são compostas por operantes ou na esfera privada (em nível do sujeito), mas tam-
conjuntos de operantes em contingências entrela- bém e principalmente inclui a esfera pública (nível
çadas” (p. 47). As práticas culturais relacionadas social). Dessa forma, “a desigualdade entre gêneros
ao amor romântico, por exemplo, são classificadas é aprendida, estabelecida ao longo das experiências
como práticas de dominação masculina e submis- individuais (ontogenia) e do grupo a que pertence
são feminina e constituem comportamentos que o indivíduo (práticas culturais)” (Nicolodi, 2020, p.
foram estabelecidos como normas na sociedade. A 14). Uma análise similar é feita pelo feminismo em
fim de assegurar sua manutenção, a cultura garante relação ao amor romântico, que considera desde os
a transmissão dessas práticas culturais entre as ge- padrões comportamentais do sujeito até as práticas
rações (Dittrich et al., 2013), como será demonstra- culturais do grupo para explicar o amor romântico.
do no tópico seguinte. Nesse contexto, a visão do feminismo enrique-
As práticas culturais relacionadas ao amor ro- ce o que seria uma concepção analítico-comporta-
mântico ajudam a produzir os “papéis de gênero”, mental do amor romântico: este seria não apenas
que são o resultado final da modelagem do com- um conjunto de comportamentos e sentimentos
portamento empreendida pela comunidade verbal correlatos que surgem em certas contingências so-
(Dittrich et al., 2013). Em tese, o objetivo daqueles ciais verbais, presentes nas relações interpessoais
que gerenciam o funcionamento da sociedade (isto afetivo-sexuais (eróticas). O amor romântico pode
também ser entendido como uma prática cultural,
2 Segundo Nicolodi (2020), o termo “opressão” pode ser ou seja, um conjunto de contingências sociais que
entendido em função da oposição dominados versus subor- regula as práticas de reforçamento e punição que
dinados, como é o caso de um regime patriarcal, onde há a pautam as relações afetivo-sexuais conforme parâ-
sujeição das mulheres aos homens. Em concordância com
Saffiotti, Nicolodi (2020) defende que o patriarcado corres-
metros de uma cultura patriarcal.
ponde a “um pacto masculino para garantir a opressão das Ao verificar essas contingências, é possível infe-
mulheres” (p. 32) e que a opressão, nesse contexto, se refere a rir que as práticas culturais de amor romântico são
um “sub-produto da soma/mescla do processo de dominação- mantidas por uma comunidade verbal cujos parâ-
-exploração do patriarcado (p. 33). No entanto, não se deve metros de reforçamento e punição reproduzem a
perder de vista que, a despeito de as mulheres representarem
o gênero mais fortemente oprimido, isso não implica que os
dominação masculina nas relações entre gêneros.
homens não possam estar sendo oprimidos também (Baliscei Isso se torna exequível devido ao controle em nível
& Stein, 2016). coletivo, empreendido pelas grandes instituições so-
ciais (como o governo, a religião, a mídia etc.), que ciona o poder da “pressão familiar” (p. 494) sobre
desempenham um importante papel na transmissão as ações de seus membros, que pode ser forte o su-
de práticas culturais como o amor romântico. ficiente para fazer com que uma mulher mude de
ideia e opte por casar-se e ter filhos.
Uma visão institucional do amor romântico De acordo com Porto e Bucher-Maluschke
Dentre os 16 artigos trabalhados, 12 abarcavam dis- (2014), a família estabelece práticas culturais que
cussões sobre o papel das instituições na constru- parecem atender a seus próprios interesses (ou aos
ção, transmissão e manutenção do amor romântico interesses daqueles que controlam a família, como
na sociedade. Essas instâncias monitoram e regu- o governo e a religião). A prática de casar-se e ter
lam a vida dos indivíduos por meio do estabeleci- filhos, por exemplo, permite a perpetuação da li-
mento de regras – como os estereótipos de gênero. nhagem e das tradições familiares. Essas e outras
A família brasileira, por exemplo, é uma insti- práticas são transmitidas às gerações seguintes por
tuição cuja administração é geralmente delegada ao meio de diversos recursos (conversas, brincadeiras,
homem (o pai ou o marido)3, e é interessante para repreensões) ou até mesmo por intermédio de ou-
ele que sua esposa se encarregue das atividades do- tras instituições – como a escola e a mídia.
mésticas e da criação dos filhos, pois assim ele pode Além da família, outras duas instituições foram
se dedicar a outras atividades – laborais ou de lazer citadas pelas(os) autoras(es) feministas como trans-
(Neves, 2007). Nesse contexto, os ideais românti- missoras de ideais do amor romântico: a mídia e a
cos, de que a mulher que ama seu parceiro deve religião. O aparelho midiático foi enfaticamente des-
agradá-lo, servi-lo, compreendê-lo etc., contribuem tacado por Fernandes e Siqueira (2010) em sua re-
para que ela execute as tarefas que lhe foram de- ferência ao cinema romântico hollywoodiano como
legadas. Quando a esposa atende a essa exigência, uma “sutil instância pedagogizante” (p. 110), que en-
a vida familiar não costuma ser conflituosa, mas, sina a seus espectadores (especialmente as mulheres)
quando ela não o faz, pode até sofrer violências fí- o que é um relacionamento amoroso ideal.
sicas por parte de seu parceiro (Grossi, 1994). O cinema romântico, como instituição, repro-
Outras situações em que se pode notar a in- duz a lógica de dominação masculina por meio da
fluência da instituição familiar sobre seus mem- apresentação de cenas em que o homem é retratado
bros diz respeito ao casamento e à maternidade como forte, protetor e provedor, enquanto a mu-
(Assunção, 2016; Bordini & Sperb, 2012; Gonçalves, lher aparece como frágil, sentimental e doméstica
2017). Considerando os estereótipos de gênero as- (Fernandes & Siqueira, 2010). Esse aspecto foi des-
sociados ao amor romântico, é plausível conjectu- tacado no estudo de Fernandes e Siqueira (2010),
rar que uma mulher pode receber apoio da família que discutiu o papel da produção cinematográfica
quando se casa e tem filhos – afinal, um dos pre- romântica na formação das identidades de gênero de
ceitos básicos do amor romântico é que a mulher mulheres idosas. As autoras relataram “a frustração
só alcançará a felicidade quando encontrar o seu [de algumas idosas] de não ter conseguido transpor
“príncipe encantado” e tiver filhos com ele. Porém, para a vida real aquele modelo de homem, de vida
se a mulher recusa o casamento e a maternidade, amorosa apreendida através do filme” (Fernandes &
a família que reproduz práticas patriarcais prova- Siqueira, 2010, p. 115). Sobre isso, elas apresentam a
velmente irá puni-la por não agir conforme essas contraposição entre a relação de prazer vivida na ex-
práticas. Nessa perspectiva, Gonçalves (2017) men- periência fílmica e a dura realidade da vida de uma
das entrevistadas, que afirmava ter deixado de gos-
3 Atualmente é cada vez mais comum haver famílias chefia- tar de filmes românticos, pois seus conteúdos eram
das por mulheres (isto é, mulheres que trabalham e providen- incompatíveis com sua experiência amorosa. Nesse
ciam a renda para o sustento da casa e da família). Ainda as- sentido, Fernandes e Siqueira (2010) afirmam que o
sim, isso não significa necessariamente uma mudança quanto cinema romântico representa uma forma sutil de re-
aos repertórios masculinos e femininos nessas famílias, pois
em muitos casos o homem se apodera da renda de sua com-
produzir e manter o modelo patriarcal, pois propaga
panheira e toma as decisões sozinho, assumindo a posição de os ideais românticos de maneira a ocultar os elemen-
provedor e chefe familiar. tos nocivos desse tipo de relação.
Já no que diz respeito à religião, é possível citar a não criam condições para que os controlados dis-
análise feita por Bragança (2011) sobre o clipe mu- criminem verbalmente a gênese social desse tipo de
sical Corazón Sangrante de Astrid Hadad. O autor controle, mantendo práticas verbais que reforçam
destaca a visão da artista sobre o papel da religião explicações “naturalizantes” (a-históricas) da ma-
cristã na “recodificação de gênero” (p. 414), por meio nutenção de determinados padrões comportamen-
da “elaboração de um território de decência e esta- tais, como aquelas que descrevem que tais padrões
bilidade doméstica [para as mulheres], do qual fo- sempre existiram dessa forma e que, portanto, sua
ram expulsos todos os elementos baixos, . . . o que perpetuação é “correta”.
uma vez mais fez da ‘pureza’ uma responsabilidade É no contexto das contingências sociais orga-
das mulheres” (p. 414). É exigido das mulheres que nizadas pelas agências de controle que se torna
elas sejam decentes e puras (ou seja, que ajam como possível identificar a perpetuação dos interesses
se fossem desprovidas de sexualidade) e que seu da cultura patriarcal: a manutenção de privilégios
ambiente de domínio seja o doméstico – visto que para os homens em detrimento das mulheres.
devem cuidar da casa e dos filhos. A mulher que se Como destacaram as(os) autoras(es) feministas,
recusa a agir dessa forma geralmente é vista como o amor romântico também precisa ser compreen-
“histérica” (Bragança, 2011, p. 416). Assim, a religião dido do ponto de vista do controle institucional.
cristã aparece como uma instituição que se utiliza de Desse modo, além de conceber o amor romântico
ideais românticos (como preservação da pureza da como uma prática cultural que integra um conjun-
mulher) para controlar a sexualidade feminina. to de práticas que constituem uma cultura patriar-
Exemplos como esses evidenciam o papel das cal, o feminismo indica a necessidade de compre-
agências de controle (Skinner, 1953/2003) na per- ender sua relação com as instituições (agências
petuação de contingências sociais que modelam de controle). Como as agências controladoras são
e mantêm formas específicas de se comportar em importantes perpetuadoras de práticas culturais
uma relação íntima em função do gênero. O ter- em uma sociedade, é preciso entender como elas
mo agências de controle foi cunhado para se referir atuam no sentido de ajudar a transmitir e manter
àquelas instituições que estabelecem regras para o o amor romântico.
comportamento humano, sendo “. . . versões refi- Contudo, é preciso ter em perspectiva que o
nadas do controle grupal, cuja organização resulta estabelecimento do amor romântico como práti-
em maior eficácia na gerência do comportamento” ca cultural depende também da reprodução des-
(Dittrich, Todorov, Martone & Machado, 2013, p. sas práticas por meio do comportamento de cada
139). Esse sistema de controle do comportamento indivíduo. Faz-se necessário examinar os efeitos
só é possível porque haveria um reforçamento mú- das práticas culturais de amor romântico no nível
tuo entre controladores e controlados, o que não é ontogenético (ou individual); mais especificamen-
impreterivelmente desfavorável. te, investigar como as práticas culturais patriarcais
No entanto, em algumas culturas (como a pa- perpassam a constituição do gênero e da identidade
triarcal), o reforçamento mútuo entre controladores de gênero.
(representantes das agências) e controlados (mem-
bros cujo comportamento é afetado pelo controle A construção do gênero e da identidade de
das agências) se dá no âmbito de relações hierárqui- gênero no amor romântico
cas e desiguais. Isso significa que os controladores Oito dentre os 16 artigos analisados discutiram
detêm reforçadores e punidores sociais importan- efeitos do amor romântico no que pode ser nome-
tes, e organizam contingências de reforçamento e ado de constituição do gênero – que remete aos es-
punição com a função de manter esse sistema de tereótipos e papéis sociais atribuídos a homens e a
privilégios (Dittrich et al., 2013). Assim, os contro- mulheres em uma dada sociedade (Vencato, 2017)
ladores reforçam os comportamentos que estão de – e da identidade de gênero – o que corresponde-
acordo com os interesses das agências de controle, e ria à forma como o indivíduo vê a si mesmo, como
punem aqueles incompatíveis ou que ameaçam esse percebe e se sente em relação ao gênero que lhe foi
sistema. Além disso, os controladores geralmente atribuído na cultura (Bordini & Sperb, 2012).
Embora a relação entre gênero e identidade de De acordo com a entrevistada, mesmo conhecendo
gênero não seja necessariamente de concordância – informações atualizadas sobre os vetores de infec-
isto é, o indivíduo pode não se sentir e se perceber ção do HIV, ela não propunha o uso de camisinha
de acordo com o gênero designado socialmente –, al- durante as relações sexuais com o parceiro, por-
guns artigos (e.g., Assunção, 2016; Bordini & Sperb, que “o amava” e “ele poderia não gostar” (p. 383).
2012; Carvalhaes & Teixeira Filho, 2012; Gonçalves, Segundo Carvalhaes e Teixeira Filho (2012), “a ca-
2017; Malcher, 2002; Neves, 2007; Vencato, 2017) ex- misinha coloca em xeque o ideal de amor român-
ploraram como as práticas culturais de amor român- tico e a perspectiva de que a mulher que ama deve
tico também podem afetar o modo como homens se entregar incondicionalmente ao parceiro” (p.
e mulheres sentem e percebem a si mesmos (seus 383). Neste caso, a identidade de gênero pode ser
próprios corpos e comportamentos). verificada na percepção da entrevistada de que ela
Aplicando essas designações ao contexto da deve entregar seu corpo (incondicionalmente) ao
discussão do amor romântico, a compreensão do parceiro e abnegar-se da própria integridade física/
gênero pode ser identificada por meio da seguin- emocional em favor das vontades dele.
te pergunta: em uma sociedade regulada por prá- Tratando-se da questão de gênero na parenta-
ticas culturais patriarcais, o que são considerados lidade, Bordini e Sperb (2012) e Gonçalves (2017)
um homem romântico e uma mulher romântica? afirmam que a maternidade é vista de forma radi-
Já em relação à identidade de gênero, a indagação calmente diferente da paternidade em nossa socie-
poderia ser: levando em conta esse mesmo contex- dade. A visão de maternidade frequentemente re-
to patriarcal, como o homem e a mulher se sentem produzida não a identifica como um produto social,
e se percebem como românticos? Essas questões mas como uma condição natural feminina, sendo
puderam ser identificadas no conteúdo dos artigos que o amor materno seria um “sentimento imutá-
especialmente no que diz respeito às relações sexu- vel” (Gonçalves, 2017, p. 494) e superior a quais-
ais e à parentalidade (e.g., Assunção, 2016; Bordini quer outras formas de amor. Já em relação à pater-
& Sperb, 2012; Carvalhaes & Teixeira Filho, 2012; nidade, Bordini e Sperb (2012) afirmam que esta
Gonçalves, 2017; Neves, 2007). geralmente é vista em termos de provisão e prote-
Da ótica do gênero, a questão das relações sexu- ção – afinal, segundo a lógica romântica, o homem
ais aparece de maneira desigual quando se compara deve proteger e cuidar de sua família. Isso significa
a situação do homem com a da mulher (Vencato, que o pai seria responsável por suprir as necessi-
2017). Neves (2007) afirma que geralmente é espe- dades materiais da esposa e dos filhos (fornecendo
rado do homem que ele tome a iniciativa de aproxi- dinheiro para roupas, remédios, estudo etc.). Afeto,
mar-se das mulheres e que acumule diversas expe- educação e conselhos são papéis designados ape-
riências sexuais antes do casamento (Neves, 2007). nas à maternidade. Nesse contexto, o pai costuma
Quando casado, este homem deve ser sexualmente ser uma figura ausente do contexto familiar – o que
ativo e apresentar um alto desempenho no momen- geralmente é visto pela esposa e pelos filhos como
to da relação sexual. Já a mulher deve esperar pelas algo coerente, pois se constrói uma concepção de
investidas masculinas, e precisa aguardar até cer- que sua forma de os amar é trabalhando fora para
ta idade para ter relações sexuais ou, então, deve sustentá-los (Bordini & Sperb, 2012).
casar-se virgem (isto é, deve “se preservar” para o Quanto à identidade de gênero no caso da pa-
seu marido); quando casada, esta mulher deve es- rentalidade, esta pôde ser observada no texto de
tar sempre disposta a atender aos desejos sexuais Assunção (2016). A autora apresenta algumas en-
do cônjuge, pois isso configura sua devoção a ele, o trevistas feitas com mulheres no contexto de mi-
que seria característico de uma mulher romântica gração – isto é, mudar-se para um novo local ou
(Neves, 2007). retornar ao local de origem – por causa de parcei-
A discussão da identidade de gênero, no âmbi- ros amorosos. Segundo o relato de uma das entre-
to das relações sexuais, foi suscitada no artigo de vistadas, o amor conjugal representa uma forma de
Carvalhaes e Teixeira Filho (2012), que apresentam amor finita e insuficiente para afetar a decisão de
o relato de uma mulher portadora do vírus HIV. uma mulher migrar, e que a única forma de amor
verdadeiro e imutável seria o amor materno. Ela gênero (Silva & Laurenti, 2016). Em uma de suas
ainda afirmava que se sentia totalmente responsável acepções, self “. . . é entendido como um conjunto
pelos filhos e que seu amor por eles era maior do de condições corporais sentido ou introspectiva-
que o amor que ela tinha por si mesma. Outras en- mente observado” pelo sujeito (Lopes, Laurenti &
trevistadas também endossaram a superioridade do Abib, 2018, p. 82) – podendo este se modificar a
amor materno em seus discursos. Essas mulheres depender da organização das contingências. Como
relatavam o amor por seus filhos como algo indis- já foi explicado, a Análise do Comportamento não
cutivelmente natural, como se não houvesse possi- compreende o surgimento desses sentimentos de
bilidade alguma da interferência de circunstâncias maneira mentalista (como estados mentais e cau-
que pudessem mudar esse amor (Assunção, 2016). sadores do comportamento); pelo contrário, estes
Com esses exemplos é possível verificar, por emergem de contingências sociais verbais (Borba
meio do exame dos comportamentos e sentimen- & Tourinho, 2009).
tos correlatos apresentados nesses estudos, a forma Assim, a definição comportamental de self ofere-
como as práticas culturais relacionadas ao amor ro- ce contexto para a discussão feminista sobre a iden-
mântico perpassa a construção do gênero e da iden- tidade de gênero, que foi demonstrada por meio dos
tidade de gênero na sociedade patriarcal. Apesar exemplos no início deste tópico: o homem ou a mu-
de serem basais na literatura feminista, esses dois lher se sentem de determinada forma em relação a
conceitos também são abordados pela Análise do si mesmos (mais especificamente, em relação ao seu
Comportamento, que apresenta definições muito gênero) em função das práticas culturais de domina-
similares às concepções feministas mencionadas. ção masculina e submissão feminina; bem como os
Usando termos skinnerianos para diferenciar sentimentos que surgem nesse contexto ficam asso-
o escopo do gênero e da identidade de gênero, em ciados àquelas contingências que envolvem a ques-
termos analítico-comportamentais, Silva e Laurenti tão gênero (por isso o indivíduo sente-se em relação
(2016) destacaram que a palavra gênero designa a ao seu gênero daquela maneira).
pessoa, isto é, padrões de comportamento ontogené- É nessa perspectiva que os exemplos referen-
ticos, considerados típicos de mulheres e de homens tes às relações sexuais e à parentalidade foram úteis
no contexto de uma dada cultura. Considerando os para identificar como práticas culturais de amor
exemplos mencionados anteriormente (em relação romântico entrelaçam-se com contingências on-
à parentalidade e às relações sexuais), é possível afir- togenéticas. No âmbito dessas contingências são
mar que os comportamentos referentes ao gênero modelados padrões comportamentais definidos so-
envolvem diferentes topografias (como a ação da cialmente em função do gênero; como o indivíduo
mulher de esperar pelas investidas afetivo-sexuais sente e percebe seu próprio corpo (uma fonte de
masculinas, ou o ato do homem de afastar-se da prazer para o outro, no caso da mulher; uma fonte
tarefa de criar/educar os filhos, entre outros), que de prazer para si próprio, proporcionada pelo ou-
foram reforçadas no repertório comportamental tro, no caso do homem); e como observa seu pró-
dos sujeitos conforme determinadas contingências prio comportamento (se está agradando ou não o
sociais (processo de reforçamento dos comporta- homem, no caso da mulher; se o que faz é corres-
mentos considerados adequados). Nesse sentido, ao pondido ou não pela mulher, no caso do homem).
assimilar a noção de gênero à de pessoa, é possível Em suma, apesar de o amor romântico ter sur-
chegar à conclusão de que gênero diz respeito a um gido com a promessa de felicidade para o casal (es-
conjunto de tendências comportamentais aprendi- pecialmente para as mulheres), a análise feminista
das (em função de um processo de reforçamento) e indica que o resultado pode ser outro.
que podem variar topograficamente a depender da
maneira como as contingências sociais estão organi- Amor romântico e opressão
zadas (Silva & Laurenti, 2016). Todos os 16 artigos abordaram a temática da opres-
Já a noção de identidade de gênero remete ao são gerada pelo amor romântico, especialmente o
self, que diz respeito ao modo como o indivíduo se sofrimento vivido pelas mulheres, visto que parece
comporta (pensa e sente) em relação ao seu próprio atingi-las mais do que aos homens. Esse aspecto é
elucidado pelo contexto de origem do amor român- que cerceia seus direitos; o amor que desejavam
tico: é no final do século XVIII, com a invenção do compartilhar com os parceiros tornou-se obrigação
lar e da maternidade, que o amor romântico emerge e subordinação; os sacrifícios em nome do amor
e passa a ser visto como “essencialmente um amor poderiam significar o fim de sua vida em todos os
feminizado” (Giddens, 1993, p. 54), pois faz a fusão sentidos. Ainda assim, muitas mulheres não têm
entre maternidade, feminilidade e a personalidade condições de deixar os parceiros, devido à punição
da mulher. E “apesar do inegável empoderamento que poderiam sofrer (agressões físicas ou psicoló-
financeiro, político e social da mulher no século gicas do parceiro, reprovação por parte dos filhos
XXI, a submissão ao ideário de felicidade ligada ao e/ou dos pais, entre outras), o que gera nessas mu-
mito do amor romântico ainda é uma realidade” lheres sentimentos de medo e impotência (Porto &
(Jardim, 2019, p. 65), o que pode ser verificado nos Bucher-Maluschke, 2014).
exemplos a seguir. A opressão vivida por essas e outras mulheres
No estudo de Fernandes e Siqueira (2010), as indica uma condição de vida em que sua liberdade
entrevistadas se queixavam sobre a indiferença e se encontra ameaçada. Porém, aqui, a noção de li-
ausência de demonstração de carinho por parte berdade não é compreendida como livre-arbítrio.
dos parceiros. Afirmavam que seus maridos não De acordo com essa visão tradicional, o ser huma-
eram românticos e que sequer utilizavam palavras no é livre para fazer o que quiser, quando quiser
carinhosas para com elas. Uma das entrevistadas e onde quiser. A Análise do Comportamento não
descreve ter deixado de exibir comportamentos ro- compactua com essa concepção, pois não entende
mânticos em relação ao marido porque estava des- a liberdade “como o produto da ação ou da vontade
perdiçando o seu tempo com isso (já que não era de um agente interior, que pensa, delibera e decide
retribuída). O estudo em pauta evidencia o contras- independentemente das condições do ambiente na-
te entre o comportamento carinhoso da mulher e o tural e social” (Laurenti, 2009, p. 263).
comportamento insensível do homem, que deve ser Para compreender a visão skinneriana de liber-
o padrão em um relacionamento, pois uma mulher dade, é preciso primeiramente contemplar a tese
não-amável é vista como negligente com o parcei- comportamentalista radical que afirma que todo
ro, enquanto o homem amável com sua parceira é comportamento humano é controlado. No âmbito
considerado fraco, emotivo. dessa discussão, o termo “controle” descreve que o
No entanto, por vezes surgem consequências comportamento humano não ocorre em um vácuo
mais explícitas e mais danosas para as mulheres, ambiental, mas é influenciado pelo contexto social
como apresentam Carvalhaes e Teixeira Filho (2012), e não-social. Ao mesmo tempo, o próprio compor-
ao trazerem relatos de mulheres que foram infectadas tamento individual controla o ambiente no qual
pelo vírus HIV por terem se relacionado sexualmente está inserido. Isto é, “os seres humanos estão em
sem proteção com parceiros infectados. Uma delas uma relação de interdependência com seu ambien-
explica que havia sido infectada pelo vírus do HIV te” (de Paula & Laurenti, 2020, p. 26). O problema
quando tinha apenas dezessete anos. No início das surge quando há “o uso deliberado de controle para
relações sexuais com o parceiro, ela afirmou que pe- alterar o comportamento das pessoas, de modo a
dia a ele para que usasse preservativo, mas que este se estabelecer ou a manter relações desiguais, com be-
negava e ficava zangado, dizendo que aquilo não era nefícios aos controladores e prejuízos, a curto ou
necessário e a questionava se ela não confiava nele. longo prazo, aos controlados” (de Paula & Laurenti,
Ela deixou, então, de solicitar o uso do preservativo, 2020, p. 26). É o que se nomeia de “controle opres-
como forma de evitar sofrer violências psicológicas e sor” em termos analítico-comportamentais. Dessa
físicas (Carvalhaes & Teixeira Filho, 2012). perspectiva, o sujeito que não é livre é aquele que
Levando em conta a descrição desses relatos, é se encontra submetido a um controle opressor, que
possível concluir que os efeitos do amor romântico gera exploração e desigualdade no acesso a reforça-
para as mulheres não condizem com o que é usu- dores (Laurenti, 2009).
almente descrito por essa forma de amor: o “prín- Essa opressão pode ocorrer de duas formas:
cipe encantado” que deveria protegê-las é aquele uma oriunda de estimulação aversiva direta e ou-
tra de reforçamento positivo com consequências romântico em função de uma interface com a dis-
aversivas tardias, com a função de manter relações cussão política do feminismo: um amor permeado
desiguais de poder (Skinner, 1971/2002). No pri- por desigualdade de gênero marcada por assime-
meiro caso, a identificação é mais facilitada, pois trias de poder entre homens e mulheres.
esse tipo de controle opressor costuma ser explícito,
como é o caso da violência física sofrida por uma
mulher que fez algo que desagradou o parceiro. Já Considerações finais
no segundo caso, as condições são mais difíceis de
serem identificadas como tais (opressivas), pois A despeito de ter destacado a gênese social dos
além de existir reforçamento positivo, as conse- sentimentos, Skinner (1953/2003, 1989/1991) não
quências aversivas são tardias. Um exemplo disso parece ter discutido as diferenças nas contingên-
são relacionamentos em que eventuais comporta- cias sociais relacionadas ao ensino de repertórios
mentos de proteção/cuidado, declarações de amor verbais autodescritivos de sentimentos entre os
e entrega de presentes (potenciais reforçadores po- diferentes gêneros. Assim, com base na crítica fe-
sitivos imediatos) por parte do parceiro mascaram minista ao amor romântico – que discutiu de for-
comportamentos possessivos (como regular roupas ma sistemática o papel das relações de poder na
e amizades da parceira), mas que, com o passar do constituição do amor romântico –, o objetivo deste
tempo, geralmente se intensificam e podem culmi- trabalho foi ampliar a discussão analítico-compor-
nar em violência física contra a mulher (consequ- tamental dos sentimentos considerando a conexão
ência aversiva tardia) (Gomes & Costa, 2014). entre relações de poder e sentimentos, no âmbito
Assim, se a opressão é incompatível com a li- das assimetrias entre os diferentes gêneros presen-
berdade, ser livre, portanto, significa ser livre de tes em uma cultura patriarcal.
controles opressores, tanto aqueles por estimulação Para tanto, foi empreendida uma revisão siste-
aversiva imediata quanto aqueles por reforçamento mática de literatura com o propósito de construir
positivo com eventos aversivos tardios (Laurenti, categorias de análise que destacassem alguns as-
2009). Porém, como já foi assinalado, quando en- pectos de caráter político na discussão feminista
volvem reforçamento positivo, os controles opres- do amor romântico, e que poderiam ser conside-
sores nem sempre são fáceis de identificar, como rados em uma interpretação analítico-compor-
acontece nos casos que envolvem sentimentos tão tamental dos sentimentos. A crítica feminista
valorizados como o amor. ao amor romântico contribui para a Análise do
É o que ocorre no amor romântico: os compor- Comportamento expandir suas análises do senti-
tamentos reforçados positivamente nesse contexto mento, visto que: (a) problematiza em qual cultura
(comportamento com função de submissão e ab- o sentimento se constitui (neste caso, a patriarcal);
negação por parte da mulher, e de dominação no (b) indica o papel das agências de controle na per-
caso dos homens) contribuem para a manutenção petuação de contingências sociais patriarcais que
de formas opressivas de controle. No entanto, o regulam o ensino e manutenção de repertórios
sentimento classificado como “amor”, que emerge verbais autodescritivos de sentimentos amorosos
de contingências de reforçamento positivo, dificulta no âmbito de relações afetivo-sexuais; (c) confere
a identificação dessa forma de controle opressivo, elementos para entender os efeitos da construção
contribuindo para a manutenção dos amantes em do gênero e da identidade de gênero no contexto
uma situação de controle assimétrica. da cultura patriarcal, e (d) ressalta como a discus-
Com isso, confirma-se a importância de uma são das diferenças entre gêneros com foco na ques-
análise contextual do comportamento e dos sen- tão dos sentimentos pode eclipsar contingências
timentos, visto que a presença de um sentimento opressivas, principalmente quando o controle por
classificado socialmente como bom (neste caso, o reforçamento positivo está em pauta. A existência
amor) não implica necessariamente na ausência de de assimetrias de poder entre os gêneros nos re-
opressão. Tal aspecto ganhou visibilidade em uma lacionamentos românticos dá relevo à importância
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