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 Disciplina: TEP II Matutino

 Atividade: “Caso Samara”


 Professor: Lucas Matias Felix
 Data de entrega:10/06/2021
 Avaliação: valor: 20 pontos
 Nome dos alunos(as): Anna Clara Boa Sorte, Carolina Oliveira Benardis, Lys Angela, Moane
Milene da Silva Cordeiro, Sulamita C. F. Brito.

 Tendo como base o “Caso Samara”, elabore um plano de Psicodiagnóstico para a paciente.
Observações:
 Individual ou em grupo de até 5 pessoas;
 Utilizem os pressupostos da testagem e todos os temas trabalhados até o momento;
 Atenção a etapa de testagem.

CASO SAMARA

Paciente: Samara (nome fictício)


Sexo: Feminino
Idade: 34
Escolaridade: Ensino Médio Completo (Magistério)
Ocupação: Secretária
Religião: Evangélica

Samara apresentou-se à primeira consulta bastante abatida e com aspecto de cansaço. Iniciou seu
relato dizendo que é muito ansiosa e que isto tem prejudicado a sua vida. Não consegue sair de casa
sozinha, pois tem medo de passar mal na rua e não ter ninguém para socorrê-la. O marido precisa levá-la
e buscá-la em todos os lugares que vai (trabalho, curso de corte e costura, terapia, etc). Esta ansiedade a
acompanha há muitos anos (estima que há cerca de onze anos) e se apresenta no medo intenso de
morrer. Já passou por diversos exames, mas nenhum problema sério de saúde foi detectado. A família
está passando por um momento difícil, pois descobriu que a sobrinha foi vítima de abuso sexual por
parte do pai (cunhado de Samara).
Foi refém de um assalto no trabalho há cerca de quinze dias, mas reagiu com tranquilidade.
Conseguiu ficar calma e definiu a experiência como um “remédio”, pois no dia seguinte estava confiante
e sentindo-se muito bem.
Está freqüentando um curso de corte e costura. No primeiro dia, o marido precisou ficar todo o
tempo na porta do curso. Sente-se insegura por não ter ninguém conhecido por perto. Quando chega na
sala, faz uma espécie de “Guerra Mental” (sic), dizendo para si mesma que nada vai acontecer. Depois,
envolve-se na aula e se distrai. Sua primeira providência neste primeiro dia de aula foi conversar com a
instrutora. Ao descobrir que é psicóloga, ficou mais tranqüila. O marido não mais precisa ficar
esperando a aula terminar. Hoje, apenas vai levá-la e buscá-la ao final da aula.
Há muito tempo faz uso do Cloridrato de Sertralina (50mg), receitado por um psiquiatra para
tratar da ansiedade. Atualmente, toma Rivotril todas as noites para conseguir dormir. Está tendo uma
crise forte de insônia. Na maioria das noites consegue dormir apenas duas horas, sendo que em algumas
noites não dorme absolutamente nada. Vem faltando ao trabalho devido a isto.

DADOS FAMILIARES
Samara é muito “achegada” (sic) à família, aos pais e aos irmãos. É a mais velha dos três irmãos
(um homem e duas mulheres). Define seu casamento como estável e feliz. Tem vontade de ter filhos,
mas não se acha preparada para a gravidez, para ser mãe. Nasceu em uma cidade da zona rural até os
sete anos de idade. Tem ótimas lembranças desta época, em que morava com os pais, os avós, os tios e
os irmãos, com quem brincava muito. Quando os pais decidiram se mudar para a cidade, quando tinha 7
anos, Samara sofreu bastante. Sentia muitas saudades dos avós e da vida no sítio. Segundo a mãe, a
partir deste período ela tornou-se uma criança diferente, não tinha amigos, raramente brincava com
outras crianças. A mãe costuma dizer que ela nunca foi uma criança muito “dada e alegre” (sic)
enquanto morava no sítio. Quando se mudaram para Conquista, a mãe passou por uma gravidez de risco,
não podendo cuidar de Samara, que ficou cerca de um mês com os avós. Nos primeiros vinte dias,
Samara chorava muito, mas depois se acostumou. É muito apegada ao pai e, inclusive tem a
“natureza”(sic) mais parecida com a dele: introvertida. Samara sente que sua vida tem uma divisão:
antes dos sete anos, quando morava no sítio, e depois dos sete anos, quando foi para a cidade.
A mãe contou para ela que, quando tinha nove meses, deixou-a com uma vizinha durante um
tempo, enquanto resolvia algo no centro da cidade. Quando retornou, Samara estava em estado de
desespero, ninguém conseguia acalmá-la. A mãe a levou para o médico, que lhe deu um calmante e só
então dormiu. A mãe conta que nunca mais a deixou na vizinha. Samara não foi amamentada. A mãe
disse que ela teve dificuldades para “pegar o peito” (sic) e achou que ela não gostava do leite, que o leite
estava azedo, desistindo de amamentá-la. Relatou também que, aos cinco anos, costumava ir muito à
roça com o pai. Lembra-se de uma ladeira grande e, no final, havia um rio. Certo dia, não quis que o pai
segurasse em sua mão e ela acabou caindo e rolando pela ladeira. O rio tinha muitas pedras e, caso ela
chegasse até lá, certamente haveria um acidente sério. O pai correu desesperado para tentar alcançá-la,
mas não conseguiu. Por sorte, Samara conseguiu se segurar em uma planta. Até hoje, quando vai a
algum lugar com escadaria, como um estádio de futebol, tem a sensação de que vai descer rolando.
Lembra-se com muita nitidez do desespero do pai naquele dia.
A mudança para a cidade, aos sete anos, foi bastante traumática. No dia da mudança, escondeu-
se embaixo da cama e segurou na saia da avó. Chorou durante as seis horas de viagem. Passou dias
chorando, comendo mal. No sítio, a mãe dizia que ela era desobediente, “respondona”. Já na cidade, seu
comportamento mudou: ficou “mais parada” (sic) e muito obediente. Durante um tempo a mãe achou
que ela não estava se desenvolvendo bem fisicamente. Na escola chegaram a suspeitar de raquitismo.
Lembra-se de que era “egoísta”(sic). Os irmãos não podiam sequer pegar em seus brinquedos.
Hoje, se for na rua comprar algo para ela, se sente muito mal e culpada se não comprar algo também
para alguém (seu marido, os irmãos, a mãe, etc). É como se não tivesse o direto de ter algo apenas para
si. Já aconteceu de ela comprar algo apenas para ela, pois não podia levar para outra pessoa e acabou
escondendo o que comprou. Acha que as pessoas vão pensar que ela é egoísta se não trouxer algo. Se
sente a pior pessoa do mundo se fizer isto. Por outro lado, tem dificuldade em receber um presente, fica
sem graça. Caso alguém vá ao centro da cidade e não traga nada para ela, não se incomoda. O
importante é que ela tenha esta atitude com os outros, e não o contrário.

VIDA ESCOLAR
Samara foi alfabetizada pela mãe, em casa.
Passou a freqüentar a escola por volta dos sete anos, quando mudou-se para Conquista. Sempre foi uma
boa aluna, nunca teve “problemas com notas” (sic). Não teve amigos (ou não se lembra de ter tido)
durante a infância. Brincava muito com os irmãos. Era muito calada na escola.
O ingresso na escola foi difícil, chorava “desesperadamente” (sic), como se nunca mais fosse ver
a mãe. Lembra-se bem do primeiro dia de aula. Tinha medo de ficar naquele ambiente desconhecido,
com pessoas desconhecidas. Ficava sempre no “cantinho da sala”, não brincava e era muito tímida.
Na adolescência, continuou sendo uma aluna dedicada. Contudo, não teve nenhuma amizade
nesta época. Nunca chegou a sair ou passear com nenhum colega, apesar de os pais a incentivarem.
Apenas interagia para fazer os trabalhos escolares e relata que não sentia falta de amigos. A família (os
tios, os irmãos) ocupava este espaço. Os tios eram muito “brincalhões” e as tias muito atenciosas. Na
escola, o excesso de timidez fazia com que ela sentisse alívio pelo fato de os colegas não conversarem
com ela.
Ao cursar o Magistério, precisou interagir mais com os colegas devido aos estágios. Aproximou-
se de alguns por necessidade. No começo, tinha a preocupação com o que eles iriam pensar a seu
respeito, e tal interação vinha acompanhada de um “sentimento de inferioridade” (sic). Com a
convivência, este sentimento passou. De todo modo, a relação com os colegas ficou restrita ao ambiente
do magistério.
Depois que começou a trabalhar, passou a fazer algumas amizades. Hoje, relata que tem alguns
amigos que fazem parte da sua vida: “aquela timidez forte passou” (sic). Hoje, precisa ter alguém que
confie nos lugares desconhecidos. Sempre se aproxima de alguém para se resguardar, caso passe mal.
Dá o telefone do marido para a pessoa e diz que se acontecer algo, é para ligar para o número.

VIDA PROFISSIONAL
Seu primeiro trabalho foi na zona rural, quando foi chamada para fazer uma substituição, que
durou seis meses. Recorda-se deste momento como tendo sido muito bom. Morava com uma senhora.
Na época, tinha 18 anos. Quando se lembra desta época, chega a pensar que não era ela: tinha que
caminhar sozinha durante 50 min “no meio do nada” (sic) até chegar à escola e não sentia medo. À
noite, também ministrava aula para uma turma de adultos. Gostava muito de ensinar e o pessoal da roça
tinha muito respeito com ela. Havia outra professora por lá, mas tinham pouca cumplicidade, pois era
uma pessoa mais velha, com métodos antigos de ensino.
Quando voltou para a cidade, surgiu uma oportunidade para trabalhar em um salão de beleza.
Este período foi um “verdadeiro inferno” (sic). O ambiente de trabalho não tinha “nada a ver com ela”
(sic). Era um ambiente muito “fútil”(sic). Ela trabalhava como recepcionista. Era como se estivesse
“vestindo uma capa”(sic). Não podia confiar em ninguém, as pessoas eram “hipócritas”(sic). Presenciou
por diversas vezes clientes falando mal umas das outras e, quando se encontravam, pareciam verdadeiras
amigas. Tinha um bom relacionamento com todas as colegas, principalmente com as que dividiam a
recepção. Trabalhou durante quatro anos neste salão e saiu de lá “doente”. A dona do salão implicava
bastante com a sua aparência. Certa vez, o balcão da recepção, que era baixo, foi trocado por um mais
alto. Na ocasião, a patroa disse a ela que “Quando a contratou, era para que ficasse à altura da empresa,
e não à altura daquele balcão” (sic). A patroa indicava quais roupas deveria usar e a obrigava a usar salto
alto para o trabalho, pois era mais baixa que as outras recepcionistas. A dona do salão dizia que as
colegas, quando levantavam, eram notadas, mas que Samara não. Depois, com o fardamento, melhorou
um pouco, mas ainda assim havia críticas aos acessórios. Isto acontecia com todas as funcionários, não
apenas com ela. Samara nunca “abriu a boca” (sic) para responder às críticas severas e “reclamações
agressivas” (sic) que recebia na frente das clientes. Ela apenas ía ao banheiro e chorava bastante. Não
rebatia ninguém (nem mesmo as clientes, que muitas vezes eram grosseiras com ela). Mas depois,
“desabava” por ter sido agredida e “magoada”. As colegas da recepção eram muito parceiras e até hoje
são amigas.
Samara relata um episódio como tendo sido seu “estopim” (sic): um certo dia, uma cliente saiu
sem pagar a conta. O salão estava muito cheio e Samara não percebeu. Como estava na função de caixa,
a culpa ficou para ela. Chegou a propor à dona que descontasse em seu salário o valor da conta. Uma
semana depois, algumas colegas a chamaram para ajudar na arrumação de uma noiva e ela prontamente
se dispôs a ajudar. De repente, todas foram surpreendidas pela presença da dona do salão, que estava
acompanhada pela cliente que não pagou a conta. A dona disse em bom tom para todos ouvissem:
“Samara, faça o favor. Faça o atendimento desta moça que você não fez na semana passada”.
Imediatamente, todos a olharam, pensando que Samara havia atendido mal a cliente. Neste instante,
começou a passar mal. Pontos vermelhos começaram na aparecer na sua pele, sensação de sufocamento,
parecia que ia explodir. Nem chorar conseguiu. Foi fazer uma caminhada para tentar se acalmar e,
quando voltou, a patroa reuniu todas as funcionárias em uma sala. Disse que estava disposta a abrir mão
dos serviços de Samara. A patroa havia interpretado que Samara colocava as funcionárias contra ela.
Samara começou a desfalecer na maca de depilação, onde estava sentada, chegando a desmaiar. Ao
final, a dona do salão estava arrependida, pediu perdão, disse que foi injusta e que precisava dela.
Samara nunca se sentiu tão injustiçada, pois dava o melhor de si, mas resolveu continuar. A partir daí,
seu “problema de ansiedade” (sic) começou. Já acordava com a sensação de que estava indo para uma
prisão. Um determinado dia, voltando do almoço para o trabalho, estava no ônibus e começou a passar
mal: sentiu o “fôlego apertar”, o coração disparou. Segundo ela, estava infartando. Pediu ajuda a uma
senhora, que a levou até a farmácia. Tomou um calmante, mas seu estado piorou. Foi para o pronto-
socorro e disse ao médico que estava infartando. Tomou uma injeção, dormiu e voltou para casa. Depois
deste dia, nunca mais entrou em um ônibus.
Fez uma bateria de exames, mas nenhum acusou problemas de saúde. Não conseguia mais entrar
no salão. Chegava na porta e passava mal. Depois, começou a passar mal só de passar na rua. Ficou um
tempo de licença e, quando retornou, já não conseguia ir para o trabalho sozinha. Alguém precisava
levá-la e buscá-la. Decidiu deixar o salão quando começou a sentir esgotamento novamente.
Em seguida, ingressou no comércio com serviço de escritório e caixa. Está no atual serviço há
nove anos. Gosta de lá. É a única mulher e acredita que trabalhar com homem é muito mais fácil. São
mais sinceros, verdadeiros, cuidadosos, atenciosos.
Depois da primeira experiência de “quase morte” (sic), o “problema da ansiedade” só foi
piorando. Freqüentemente tem estes “momentos”, em que acha que vai morrer.

 Informações complementares de algumas sessões: Identificação e Reestruturação


de Crenças- Caso Samara

- Não estou mais aguentando o trabalho. Não é só pelo medo de outro assalto, mas é que não estou mais
gostando de ir para lá...

- Você já vinha insatisfeita com o trabalho e o fato de ter acontecido um terceiro assalto agravou essa
insatisfação. É isso mesmo?

- Na verdade, não é nem que eu esteja insatisfeita com o trabalho. Mas é que eu sempre quis trabalhar
para mim (...). Já fiz os cursos de corte e costura, estou comprando os equipamentos. (...) Tenho vontade
abrir meu próprio negócio.

- O que você tem considerado sobre essa alternativa de abrir o próprio negócio?
- É...está tudo encaixado: meu marido me apóia, daria para eu ficar com o seguro-desemprego um tempo
e não vejo a hora de começar a vender as roupas que faço. Só que quando penso em concretizar isso, eu
entro em pânico.

- Imaginemos que você inicie o negócio. O que de pior poderia acontecer para deixar você com esse
sentimento?

- Olha...eu tenho muito medo de não dar certo.

- E se realmente não der certo? O que aconteceria com você?

- Ah...eu ficaria frustrada. Talvez voltasse para o comércio depois e deixasse as roupas só para lazer
mesmo. Mas também pensaria que pelo menos eu tentei.

- Então, você entra em pânico quando pensa em abrir o negócio por medo de não dar certo, não é?

- Isso mesmo...é o que me desanima.

- E voltar para o comércio, deixando as roupas apenas como lazer, lhe soa como algo muito ruim?

- Na verdade não...eu gosto do comércio, de trabalhar com venda. Não seria o fim do mundo.

- Sim..vamos considerar, então, a outra possibilidade, de o seu negócio dar certo. Como você se
imagina vivendo isto?

- Ah, eu estaria feliz. Quando penso nisto, acho que tem tudo para dar certo. Todo mundo elogia minhas
roupas, estou com os equipamentos...Não sei porque estou com esse sentimento ruim...(silencia; olhar
perdido; muda a feição)

- No que você está pensando agora?

- Acho que tive um pensamento automático. Me vi indo ao centro amanhã, e pensei que preciso comprar
alguma coisa para minhas tias e meu marido.

- Você disse que precisa comprar algo para eles. Você encara isto como uma espécie de dever ou é um
prazer?

- Ah, é um prazer, eu gosto. Mas não deixa de ser também uma obrigação. Me sinto mal quando ganho
presentes, elogios...Mas me sinto bem quando dou. É como se eu não tivesse o direito de ter, mas tivesse
o dever de dar.

- É como se você não tivesse o direito de ter ou viver coisas boas?

- É, exatamente.

- Você acha que esse pensamento pode ter relação com o medo de abrir o seu negócio?
(Longo silêncio. Choro)

- Na verdade, quando eu imagino dando certo, o movimento aumentando, o sentimento que tenho, no
fundo, não é de felicidade. Eu me sinto mal, me vem uma culpa. É isso. É como se eu não tivesse o
direito de dar certo no meu negócio.

- O medo que sente é de dar certo, e não de dar errado, não é?

- É...é como se eu não tivesse o direito de ser feliz, de ser bem-sucedida

- Se você está se dando bem em sua profissão, no que isto lhe incomodaria tanto?

- Me incomodaria porque se eu recebo coisas das pessoas. Eu nunca acho que mereço receber.

- Como você acha que essas pessoas veriam você?

- Acho que elas sentiriam pena de mim..talvez elas comprem as roupas só pra me ajudar.

- Quando você oferece os presentes que compra quando vai ao comércio, você também sente pena das
pessoas que recebem?

- Não...não é esse o sentimento que tenho.

- E o que você espera que essas pessoas façam, quando oferece um presente?

- Eu dou na tentativa de fazer com que elas gostem de mim. Não quero que elas me rejeitem.

 SE ALCANÇO ALGO DE BOM, É PORQUE OS OUTROS ME AJUDARAM, PORQUE


SENTIRAM PENA.

 EU DESPERTO PENA NAS PESSOAS

 AS PESSOAS NÃO GOSTAM DE MIM, ELAS ME REJEITAM

Colher de chá: exemplo de uma sessão a partir das anotações do terapeuta.

Quarta Sessão

Agenda
 Ensinar a identificação dos Pensamentos Automáticos
 Atividade terapêutica para a semana: Registro de Pensamentos disfuncionais (RPD)

Relato da Sessão

Samara relatou que está conseguindo dormir melhor. Ao longo da semana, teve insônia apenas na
quinta-feira, conseguindo dormir cerca de três horas apenas. Está fazendo a técnica de respiração e
relaxamento muscular todas as noites antes de dormir.
Relatou uma experiência positiva que ocorreu durante a semana: uma colega do curso de corte-
costura a convidou para ir a sua casa estudar um tipo de bordado. Samara ficou surpresa consigo mesma,
pois conseguiu ir para o apartamento da colega, mesmo sabendo que ficaria sozinha durante todo o
tempo, em um lugar que nunca foi, com uma pessoa que conhecia pouco. Samara ainda conseguiu subir
de elevador (o apartamento estava no 14° andar). Relatou que ficou muito ansiosa antes de ir para o
apartamento da amiga, achando que poderia ter uma crise. Contudo, decidiu “se forçar” (sic)” e foi.
Apenas no elevador, precisou realizar o exercício de respiração.
Explicou-se à paciente sobre o que são pensamentos automáticos, dando exemplos de seu próprio
repertório: em sua última crise de insônia, foi “invadida” por imagens e palavras da irmã se suicidando 1.
Discutimos o ciclo Situação - Pensamentos Automáticos – Reações. Um outro exemplo discutido foi a
sensação de fome. Samara é bastante intolerante à sensação física da fome, sempre tendo na bolsa algo
para lanchar, de forma a evitar tal sensação, que é interpretada como um prenúncio de uma crise, sendo
acompanhada por imagens de que está em uma maca de hospital.
Falei que existe um padrão de pensamentos que está sustentando o seu problema e que precisa
ser reestruturado. Ela perguntou se tais pensamentos eram a causa do transtorno e expliquei que não
necessariamente. Após a explicação ela comentou que estes pensamentos estavam servindo como o
“combustível” (sic) para o seu transtorno, confirmando que compreendeu adequadamente.
Samara comentou que existe algo que a deixa muito intrigada: não consegue ficar sozinha com a
mãe. Disse que só de pensar nesta situação passa mal. Tem certeza que teria uma crise, talvez a mais
forte que pudesse ter, caso venha a ficar na companhia apenas da mãe. Ao passo que existem pessoas
que a deixam segura e tranquila, como o marido, os irmãos, as tias, etc, a mãe lhe causa pânico, medo.
Não entende o porquê disto, pois a relação das duas é boa, gosta de conversar com a mãe quando vai na
casa dos pais. Samara se refere a ela como sendo bastante atenciosa, preocupada e presente em relação
aos seus problemas.
Ao final, foram dadas as instruções para o preenchimento do Registro de Pensamentos
Disfuncionais, solicitando que ela fizesse, ao menos uma vez por dia, um registro.

1
A irmã de Samara está passando por uma crise financeira e, antes do dormir, conversou ao telefone com a mesma. Apesar
da irmã ter demonstrado estar bem e tranqüila, Samara não conseguiu dormir com as imagens que vinham da irmã se
suicidando. Em sua família, há um histórico de suicídios, o que a deixa perturbada.
Hipóteses e testes sugeridos para o caso de Samara

O psicanalista John Bowlby desenvolveu a Teoria do Apego com as contribuições de Mary Ainsworth,
essa fala sobre a importância dos vínculos construídos entre o bebê e seu cuidador, e como esses laços
afetivos podem influenciar nas relações interpessoais futuras. Samara aos nove meses precisou ser
medicada para se acalmar quando sua mãe a deixou com uma vizinha, levando a uma crise duradoura de
choro. A dificuldade que Samara tem de ficar a sós com sua mãe pode ter relação com o que aconteceu
em sua infância. Quando ocorreu a mudança da localidade, a mãe de Samara passou por uma gestação
complicada e a mandou para a casa dos avós, deixando a relação entre mãe e filha com maiores
dificuldades na convivência. Para essa hipótese vamos aplicar os testes de Entrevista Familiar
Estruturada (EFE) e o Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF), que se encontram de acordo
as necessidades do caso de Samara, como a idade dos fatos ocorridos.

A mudança de cidade que ocorreu na infância de Samara contribuiu para uma transformação em sua
personalidade, Samara que antes era uma criança extrovertida e comunicativa passou a se tornar
introvertida, calada, tímida, com dificuldades em interação social, não tinha amigos na adolescência,
carregava um sentimento de rejeição e tinha uma baixa autoestima. Para essa hipótese sugerimos utilizar
a Bateria Fatorial da Personalidade ( BFP ), que é um teste que avalia a personalidade no modelo dos
Cinco Grandes Fatores ( CGF ), e se encaixa perfeitamente na idade, nível escolar, e nas observações
sobre a personalidade de Samara.

Samara tem dificuldade para aceitar presentes, pois em sua infância foi taxada de egoísta por não dividir
os brinquedos com seus irmãos, cresceu acreditando que se não compartilhasse seus objetos e conquistas
com as pessoas ao seu redor, como o marido, familiares ou amigos, ela não se sentiria bem e tinha o
medo constante de não agradar as pessoas. Pois em sua visão, é muito bom poder dar presentes e
acredita que se comprar algo, e não dividir, as pessoas vão achar que ela está escondendo. Tem medo de
não ser boa o suficiente para o trabalho e tinha o sonho de ser empresária, porém desistiu por acreditar
não ser merecedora de realizar esse sonho. De acordo ao que foi citado, o teste apropriado para o caso é
a Escala de Autoeficácia no Trabalho (EAE-T)

Samara adoeceu no ambiente de trabalho, sofreu preconceito e discriminação com sua aparência no
salão de beleza, foi humilhada em público, chorou e desmaiou no trabalho. Esse episódio foi quando
começou a ansiedade. Iremos utilizar a Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT),
para entender melhor como o trabalho de Samara pode ser um ambiente que a deixa doente.

Samara sofre de ansiedade há 11 anos, tem muito medo de morrer, sofreu 3 assaltos, se sente insegura
em ambientes novos e com pessoas desconhecidas, faz uso de medicação para insônia e ansiedade, falta
ao trabalho com frequência por conta das constantes insônias. Sabemos que a ansiedade é um
desencadeador para a depressão, aplicaremos o Teste Inventário de Depressão de Beck (BDI-II).

Obs.: Todos os testes aplicados no caso são compatíveis com a idade da cliente/paciente.

Teste Psicológico Habilidades/Traços avaliados Objetivo da testagem (o que


pretendemos responder com o
resultado deste exame?)
Escala de Autoeficácia no Trabalho Crenças, Valores e Atitudes Avaliar o complexo de
(EAE-T) inferioridade e o sentimento de
culpa, assim como a necessidade de
Samara em está sempre oferecendo
algo para as pessoas. E desconstruir
a crença que ela tem de si mesma,
onde acha que as pessoas têm o
direito de conquistar e ela não.
Entrevista Familiar Estruturada Relações Familiares Identificar como a falta da
(EFE) convivência direta com a mãe de
Samara a afetou, e deu ênfase para
que seus relacionamentos
interpessoais fossem abalados
diretamente.

Inventário de Percepção de Suporte Percepção de suporte familiar em Avaliar o quanto Samara percebe
Familiar (IPSF) relação a afetividade, autonomia e sobre as relações familiares em
adaptação em relações familiares termos de afetividade, autonomia e
adaptação entre ela e a mãe.
Bateria Fatorial de Personalidade Personalidade Instrumento utilizado para a
(BFP) avalição do caso de Samara, a partir
dos fatos relacionados desde a
extroversão até a abertura para
novas experiências
Escala de Vulnerabilidade ao Vulnerabilidade ao Estresse Avaliar como Samara enxerga o
Estresse no Trabalho (EVENT) trabalho e as influências do mesmo
diante sua fragilidade exposta no
caso.
Inventário de Depressão de Beck Depressão Instrumento de aplicação cujo
(BDI-II) objetivo é medir a intensidade dos
sintomas descrito no caso de
Samara.

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