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Visão Geral sobre o Êxodo

I) Introdução

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O livro do Êxodo pode ser divido em duas partes:

1- A Libertação (Capítulo 1 ao 18)


2- A Aliança (Capítulo 19 e seguintes)

Para facilitar os apontamentos sobre o livro farei as observações em pontos:

II) Primeira Parte do livro do Êxodo

1- a história começa 400 anos depois da descida do povo hebreu para o Egito. O povo
havia se multiplicado, o número era um sinal da benção de Deus que se propagava por
todo território egípcio.

2- o povo crescia ainda mais, debaixo da opressão que o faraó lhes impôs, ou seja, o
povo ainda era o sinal da benção de Deus mesmo tendo o faraó se esquecido disso.

3- o faraó decide exterminar os meninos, ele acredita ser certo matar para preservar
seu poder, Herodes também fez a mesma coisa ao saber do nascimento de Jesus, esse
episódio ganhou o nome de Massacre dos Inocentes, mais de 10000 bebês foram judeus
mortos, são reconhecidos como mártires do cristianismo, pois foram mortos em razão
da vinda do Senhor. Mas voltando...

4- Dentre os bebês estava um menino levita, que foi colocado no rio num cesto por sua
mãe, que fazia isso na tentativa de salvar a vida do menino, ele foi encontrado pela
princesa egípcia, dali ele foi criado pelos opressores de seu povo, o menino ganhou o
nome de Moisés. Como disse ele era levita, como vimos no livro do Gênesis, Levi e
Rubem ganharam um péssima herança de seu pai Jacó, pois haviam exterminado uma
cidade inteira vingando sua irmã Dina, que havia sido estuprada pelo príncipe de
Siquém, mas Jacó não gostou nada dos métodos usados, então os dois irmãos foram
rechaçados e Jacó ainda disse que não os escutaria nos conselhos. No entanto, Deus
mudou a sorte da casa de Levi, um levita foi escolhido para resgatar o povo e ainda da
tribo de Levi seriam os sacerdotes de Israel. No mínimo, é interessante.

5- Moisés cresce como príncipe, mas pelas Escrituras ele sabia ser hebreu, de modo
que ao ver uma injustiça contra um irmão hebreu, mata o soldado egípcio (muito similar
a reação de seu antepassado Levi no caso de Dina). Os antigos patriarcas judeus dizem,
em sua tradição, que Moisés disse o nome de Deus e o soldado morreu, como sabem os
judeu nunca falam o nome de Deus, Moisés teria que ser alguém escolhido para falar
ele mesmo o nome de Deus e não morrer, assim contam os patriarcas.

6- Depois os hebreus brigam entre si, o que é mais difícil de resolver. Parece uma
antecipação do Moisés haveria de passar.

7- Moisés foge e encontra um sacerdote de Madiã, como vimos no Gênesis, estes são
descendente do filho de Abraão, Madiã, com Cetura, sua segunda esposa que lhe deu 6
filhos, mas a herança ficou com Issac, o filho da promessa, o filho de Sara.

8- Moisés vê a sarça ardente no Monte Horeb, que é o monte Sinai. Deus o chama no
Sinai e lhe dá sua missão no Sinai e é nesse monte que Deus consuma sua aliança, com
os 10 mandamentos.

No Sinai, hoje, esta a Capela da Ss. Trindade, construída em cima da Igreja da Sarça, foi
construída pela imperatriz Helena de Bizâncio. Também existe ali o Mosteiro de Santa
Catarina.

O chamado Caminho de Moisés, entre a base e o pico do monte, tem 4000 degraus e
demora 3 horas para subir.

A Plataforma de Aarão, onde ele e os 70 sábios ficarão, mais para a frente, esperando
Moisés que estava no pico recebendo os mandamentos, fica 750 degraus abaixo do pico,
também nessa altura esta o Retiro de Elias, o lugar onde Deus falou com Elias (1 Reis
19, 8-9).

9- Deus então dá a missão a Moisés e uma vara. A vara que será chamada Vara de
Aarão é uma relíquia judaica, que ficará posteriormente na história dentro da Arca da
Aliança, é um símbolo do sacerdócio, do pastoreio.

10- Moisés vai ao faraó. Ele, o faraó, esta com o coração endurecido mas ainda tem
escolha, ele poderia se deixar ser piedoso, mas não escolheu, foi assim nas primeiras
pragas, depois vendo Deus que o faraó estava obstinado em não ceder, usou da dureza
de coração do faraó e mais, Ele mesmo endureceu o coração do faraó ainda mais, para
transformar o mal em bem.
11- O povo foi liberto. Moisés levou consigo os ossos de José e o povo atravessa o
Mar Vermelho. Depois canta de alegria.

12- 3 dias depois o povo sente sede e surpreendentemente começa a murmurar contra
Moisés! Deus provê água e maná no deserto de Sin.
Mas eles reclamam novamente e Deus provê água e maná, Moisés dá as fontes o nome
de Massa e Meriba (Provação e Disputa), pois o povo provava a Deus que já havia feito
tanto por eles.

13- Parece que Deus estava treinando o povo na confiança, pois logo depois foram
atacados por amalecitas. Os amalecitas são descendentes do filho mais velho de Esaú,
irmão gêmeo de Jacó. Esaú e Jacó tiveram uma história conturbado, e agora seus
descentes são os primeiros a se levantarem contra os descendentes de Jacó, que
acabavam de ser libertos.
Israel vence com a intercessão incessante de Moisés diante de Deus.

14- Moisés começa a ensinar o povo, em audiências separadas que o cansava


absurdamente.

15- Depois de 3 meses o povo chega ao Sinai, onde o chamado de Moisés começou e
onde ele levava a Deus a tarefa cumprida.

16- Moisés sobe o monte (como disse a subida tem uma duração de 3 horas) e Deus
manda dizer ao povo que "serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa",
ou seja, seriam os representantes de Deus na terra, por eles Deus chegaria a todas as
nações, o amor dispensado a eles chegaria a todas as nações. O povo aceitou a proposta
de Deus.

Deus iria falar com eles, depois de 3 dias de purificação, Deus lhes aparece envolto no
véu de nuvens e o povo não podia se aproximar.

Diferente da manifestação de Deus a Moisés que viu os pés de Deus.

III) Segunda Parte do livro do Êxodo

17- O povo seria moldado pelos mandamentos e outras leis de convivência.


18- Deus manda construir um tabernáculo, com riqueza, querubins, flores, uma
lembrança do Édem se anuncia, um lugar em que Deus e os homens possam estar juntos
em comunhão novamente.

19- Mas enquanto Moisés esta a escutar as orientações de Deus o povo escolhe que
deseja um "deus menor" e incrivelmente não querem esperar os desígnios de Deus, que
acabou de mostrar a Sua Glória envolto em nuvens e trovões . Pois, que por seus
esforços - eles dão o ouro que carregam - fazem um deus da medida e do jeito que
acreditam ser bom, um deus que eles conseguem entender, ver com clareza e que nada
pede deles, tanto que eles começam a festejar de modo nada parecido com um povo de
sacerdotes.

20- Deus se irrita, e com razão, quer dizimar o povo, mas Moisés intercede e detém a
ira de Deus com sua intercessão. O santo patriarca mais honrado, aquele que fala a Deus
com sinceridade, um grande "tsadic", como os judeus chamam as pessoas santas. Ao
contrário do muita gente pensa os judeus possuem muitos santos, inclusive acreditam
que agora nesse momento (e em cada época do mundo) vivem na terra 36 Tsadikim
Nistarim, santos anônimos, e é por causa deles que Deus mantêm o mundo, acreditam
também que todo judeu pode chegar a ser um tsadic, um santo, isso te parece familiar?

21- O povo então quebrou seu sim a Deus referente a aceitar ser um povo de
sacerdotes e Moisés ao ver isso quebra as Tábuas da Lei, escrita pelo próprio dedo de
Deus, foi no mês de Av, que é junho/agosto (muitas outras coisas também ocorrem
nesse mês, vide ponto 17 do texto do Gênesis).

Deus que é amor, é também justiça e aqueles que não quiseram obedecer o Senhor, que
os havia libertado, foram passados a fio de espada pelos seus parentes, já que todos
eram de alguma forma parentes.

A Aliança com Deus é maior que os laços de sangue, Jesus se refere a algo similar,
mas de uma forma mais espiritual, quando diz que "não vim trazer paz, mas
espada" (Mt 10, 34, 36).

22- Deus, então, manda o povo seguir, mas Ele não estará no meio deles, por que o
povo era "um povo de cabeça dura", ou seja, não haviam aceitado, de verdade, Deus em
seus corações e diz "e se eu caminhasse com eles os exterminaria", Deus não fica junto
de alguém que escolheu não estar com Ele, que escolheu um caminho em que Ele não
está.

Mas Moisés intercede e Deus caminha com eles, por causa de Moisés (podemos
relembrar aqui o papel e a necessidade de almas santas no mundo).

Depois o texto toma um caráter particular, Moisés quer ver a glória de Deus e para
mostrar como Moisés lhe agrada, Deus lhe concede que veja suas costas, mas não lhe
mostra sua face, ainda havia uma barreira para contemplar a Deus. Que será quebrada
em Jesus, "quem me vê, vê o Pai".

O texto também relata como o rosto de Moisés resplandecia ao fazer a sua visita diária
ao Senhor para receber as suas orientações.

23- O santuário é construído, tudo arrumado, Deus desce sobre a tenda, a glória de
Deus enche o santuário e ... Moisés não pode entrar...
Ainda havia uma barreira entre a santidade de Deus e a iniquidade do povo. Como
Deus solucionou essa distância é o que veremos no próximo livro!

Comentário sobre o Livro do Êxodo

Lendo o Antigo Testamento, uma figura ressalta no meio das outras: a de Moisés,
precisamente como homem de oração. Moisés, o grande profeta e guia do tempo do
Êxodo, desempenhou a sua função de mediador entre Deus e Israel fazendo-se portador,
junto do povo, das palavras e dos mandamentos divinos, conduzindo-o rumo à liberdade
da Terra Prometida, ensinando os israelitas a viverem na obediência e na confiança em
Deus, durante a sua longa permanência no deserto, mas também, e diria principalmente,
rezando. Ele reza pelo Faraó quando Deus, com as pragas, procurava converter o
coração dos Egípcios (cf. Êx 8–10); pede ao Senhor a cura da irmã Maria, atingida pela
lepra (cf. Nm 12, 9-13), intercede pelo povo que se tinha revoltado, amedrontado pela
descrição dos exploradores (cf. Nm 14, 1-19), reza quando o fogo estava prestes a
devorar o acampamento (cf. Nm 11, 1-2) e quando serpentes venenosas faziam
matanças (cf. Nm 21, 4-9); dirige-se ao Senhor e reage, protestando quando o fardo da
sua missão se tinha tornado demasiado pesado (cf. Nm 11, 10-15); vê Deus e fala com
Ele «face a face, como alguém que fala com o próprio amigo» (cf. Êx 24, 9-17; 33, 7-
23; 34, 1-10.28-35).

Mesmo quando o povo, no Sinai, pede a Aarão que construa o bezerro de ouro, Moisés
reza, explicando de maneira emblemática a própria função de intercessão. Este episódio
é narrado no capítulo 32 do Livro do Êxodo e contém uma narração paralela no capítulo
9 do Deuteronômio. É sobre este episódio que gostaria de meditar na catequese hodierna
e, de modo particular, sobre a oração de Moisés, que encontramos na narração do
Êxodo. O povo de Israel encontrava-se aos pés do Sinai enquanto Moisés, no monte,
esperava a entrega das tábuas da Lei, jejuando durante quarenta dias e quarenta noites
(cf. Êx 24, 18; Dt 9, 9). O número quarenta tem um valor simbólico e significa a
totalidade da experiência, enquanto com o jejum se indica que a vida deriva de
Deus, é Ele que a sustém. Com efeito, o gesto de comer implica a assunção do
alimento que nos sustenta; por isso jejuar, renunciando ao alimento, adquire neste
caso um significado religioso: é um modo para indicar que não só de pão vive o
homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor (cf. Dt 8, 3). Jejuando,
Moisés demonstra que espera o dom da Lei divina como fonte de vida: ela revela a
vontade de Deus e alimenta o coração do homem, fazendo-o entrar numa aliança
com o Altíssimo, que é fonte da vida, é a própria Vida.

Mas enquanto o Senhor, no monte, oferece a Lei a Moisés, aos pés do mesmo monte o
povo transgride-a. Incapazes de resistir à expectativa e à ausência do mediador, os
israelitas pedem a Aarão: «Faz-nos um deus que caminhe à nossa frente, porque a
Moisés, que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu» (Êx 32, 1). Cansado
de um caminho com um Deus invisível, agora que também Moisés, o mediador,
desapareceu, o povo pede uma presença tangível, palpável, do Senhor, e encontra no
bezerro de metal fundido, construído por Aarão, um deus que se torna acessível,
manobrável, ao alcance do homem. Trata-se de uma tentação constante no caminho
de fé: eludir o mistério divino, construindo um deus compreensível,
correspondente aos próprios esquemas, aos próprios programas. Aquilo que
acontece no monte Sinai demonstra toda a insensatez e vaidade ilusória desta
pretensão porque, como afirma ironicamente o Salmo 106, «Eles trocaram a sua glória
pela estátua de um touro que come feno» (Sl 106 [105], 20). Por este motivo, o Senhor
reage e ordena a Moisés que desça do monte, revelando-lhe aquilo que o povo estava a
fazer, e terminando com estas palavras: «Deixa, pois, que se acenda a minha cólera
contra eles e os devore; mas de ti farei uma grande nação» (Êx 32, 10). Como tinha
acontecido com Abraão, a propósito de Sodoma e Gomorra, também agora Deus revela
a Moisés o que pretende fazer, como se não quisesse agir sem o seu consenso (cf. Am 3,
7). Ele diz: «Deixa, pois, que se acenda a minha cólera». Na realidade, este «deixa, pois,
que se acenda a minha cólera» é pronunciado precisamente para que Moisés intervenha
e lhe peça para não o fazer, revelando deste modo que o desejo de Deus é sempre a
salvação. Como para as duas cidades dos tempos de Abraão, a punição e a destruição,
em que se exprime a ira de Deus como rejeição do mal, indicam a gravidade do pecado
cometido; ao mesmo tempo, o pedido do intercessor tenciona manifestar a vontade de
perdão do Senhor. Esta é a salvação de Deus, que implica misericórdia, mas ao
mesmo tempo também denúncia da verdade do pecado, do mal que existe, de
maneira que o pecador, reconhecendo e rejeitando o próprio mal, possa deixar-se
perdoar e transformar por Deus. A prece de intercessão torna deste modo
concreta, no contexto da realidade corrompida do homem pecador, a misericórdia
divina, que encontra voz na súplica do orante e que se torna presente através dele
onde há necessidade de salvação.

A súplica de Moisés está inteiramente centrada na fidelidade e na graça do Senhor. Ele


refere-se em primeiro lugar à história de redenção à qual Deus deu início com a saída de
Israel do Egito, para depois fazer memória da antiga promessa feita aos Pais. O Senhor
realizou a salvação, libertando o seu povo da escravidão egípcia; para que então — pede
Moisés — «os egípcios possam dizer: “Fê-los sair com a malícia, para os deixar morrer
nas montanhas, para os fazer desaparecer da face da terra”?» (Êx 32, 12). A obra de
salvação começada deve ser completada; se Deus fizesse perecer o seu povo, isto
poderia ser interpretado como o sinal de uma incapacidade divina de completar o plano
de salvação. Deus não pode permitir que isto aconteça: Ele é o Senhor bom que salva, o
garante da vida, é o Deus de misericórdia e de perdão, de libertação do pecado que
mata. E assim Moisés apela-se a Deus, à vida interior de Deus, contra a sentença
exterior. Mas então, Moisés argumenta com o Senhor, se os seus eleitos perecerem,
mesmo que sejam culpados, Ele poderia parecer incapaz de derrotar o pecado. E isto
não se pode aceitar. Moisés fez uma experiência concreta do Deus de salvação, foi
enviado como mediador da libertação divina e agora, mediante a sua oração,
torna-se intérprete de uma dupla inquietação, preocupado com o destino do seu
povo, mas ao mesmo tempo também preocupado com a honra que é devida ao
Senhor, pela verdade do seu Nome. Com efeito, o intercessor deseja que o povo de
Israel seja salvo, porque é o rebanho que lhe foi confiado, mas inclusive a fim de
que naquela salvação se manifeste a verdadeira realidade de Deus. Amor aos
irmãos e amor a Deus compenetram-se na prece de intercessão, são inseparáveis.
Moisés, o intercessor, é o homem contendido entre dois amores, que na oração se
sobrepõem num único desejo de bem.

Em seguida, Moisés apela para a fidelidade de Deus, recordando-lhe as suas promessas:


«Recorda-te de Abraão, de Isaac e de Israel, teus servos, aos quais juraste por ti mesmo
e disseste: “Tornarei a tua posteridade tão numerosa como as estrelas do céu, e toda esta
terra, da qual te falei, dá-la-ei aos teus descendentes, que a possuirão para sempre”» (Êx
32, 13). Moisés faz memória da história fundadora das origens, dos Pais do povo e da
sua eleição, totalmente gratuita, em que só Deus tivera a iniciativa. Eles não receberam
a promessa por causa dos seus méritos, mas pela livre escolha de Deus e do seu amor
(cf. Dt 10, 15). E agora, Moisés pede que o Senhor continue na fidelidade à sua história
de eleição e de salvação, perdoando o seu povo. O intercessor não apresenta desculpas
para o pecado do seu povo, não enumera méritos presumíveis, nem do povo nem seus,
mas apela para a gratuidade de Deus: um Deus livre, totalmente amor, que não cessa de
procurar quem se afastou, que permanece sempre fiel a Si mesmo e oferece ao pecador a
possibilidade de voltar para Ele e de se tornar, mediante o perdão, justo e capaz de
fidelidade. Moisés pede a Deus que se mostre até mais forte do que o pecado e a
morte e, com a sua oração, suscita este revelar-se divino. Mediador de vida, o
intercessor solidariza com o povo; desejoso unicamente da salvação que o próprio
Deus deseja, ele renuncia à perspectiva de se tornar um novo povo agradável ao
Senhor. A frase que Deus lhe tinha dirigido, «de ti farei uma grande nação», nem
sequer é tomada em consideração pelo «amigo» de Deus, que ao contrário está
pronto a assumir sobre si mesmo não só a culpa do seu povo, mas todas as suas
consequências. Quando, depois da destruição do bezerro de ouro, ele voltar ao
monte para pedir de novo a salvação de Israel, dirá ao Senhor: «Rogo-te que lhes
perdoes agora este pecado! Senão, apaga-me do livro que escreveste» (v. 32). Com
a oração, desejando a vontade de Deus, o intercessor entra cada vez mais
profundamente no conhecimento do Senhor e da sua misericórdia, tornando-se
capaz de um amor que chega até ao dom total de si mesmo. Em Moisés, que está no
alto do monte face a face com Deus e que se faz intercessor para o seu povo e se
oferece a si próprio — «apaga-me» — os Padres da Igreja viram uma prefiguração
de Cristo que, no alto da cruz, realmente está diante de Deus, não apenas como
amigo, mas como Filho. E não só se oferece — «apaga-me» — mas com o seu
coração trespassado faz-se cancelar, torna-se como diz o próprio são Paulo,
pecado, carrega sobre si os nossos pecados para nos salvar a todos; a sua
intercessão é não só solidariedade, mas identificação conosco: traz todos nós no seu
corpo. E assim toda a sua existência de homem e de Filho é um clamor ao Coração
de Deus, é perdão, mas perdão que transforma e renova.

Penso que devemos meditar sobre estas realidades. Cristo está diante do Rosto de
Deus e reza por mim. A sua oração na Cruz é contemporânea a todos os homens,
contemporânea a mim: Ele reza por mim, sofreu e sofre por mim, identificou-se comigo,
assumindo o nosso corpo e a nossa alma humana. E convida-nos a entrar nesta sua
identidade, fazendo-nos um corpo, um só espírito com Ele, porque do alto da Cruz Ele
não trouxe novas leis, tábuas de pedra, mas trouxe a si mesmo, o seu corpo e o seu
sangue, como nova aliança. É assim que nos faz consanguíneos com Ele, um corpo
com Ele, identificados com Ele. Convida-nos a entrar nesta identificação, a estar
unidos com Ele no nosso desejo de ser um corpo, um só espírito com Ele. Oremos
ao Senhor, para que esta identificação nos transforme, nos renove, porque o
perdão é renovação, é transformação.

Gostaria de concluir esta catequese com as palavras do apóstolo Paulo aos cristãos de
Roma: «Quem poderia acusar os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem
os condenará? Cristo Jesus, que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à direita
de Deus, é quem intercede por nós! Quem nos separará do amor de Cristo? [...] nem a
morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados [...] nem qualquer outra criatura
nos poderá separar do amor que Deus nos testemunha em nosso Senhor Jesus Cristo»
(Rm 8, 33-35.38.39).

Papa Bento XVI, Audiência Geral, Praça de São Pedro, 1 de junho de 2011

Lendo o Antigo Testamento podemos ver que as intervenções de Deus na história


do povo que Ele escolhe para Si e com o qual estabelece aliança não são eventos
que passam e caem no esquecimento, mas tornam-se «memória», constituem juntos
a «história da salvação», conservada viva na consciência do povo de Israel através da
celebração dos acontecimentos salvíficos. Assim, no Livro do Êxodo o Senhor indica a
Moisés que celebre o grande momento da libertação da escravidão do Egito, a Páscoa
judaica, com estas palavras: «Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com
uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição
perpétua» (12, 14). Para todo o povo de Israel, recordar o que Deus realizou torna-
se uma espécie de imperativo constante, para que o transcorrer do tempo seja
marcado pela memória viva dos acontecimentos passados, que assim formam, dia
após dia, de novo a história e permanecem presentes. No Livro do Deuteronômio,
Moisés dirige-se ao povo, dizendo: «Cuida de nunca esqueceres o que viste com os teus
olhos, e toma cuidado para que isso nunca saia do teu coração, enquanto viveres; e
ensina-o aos teus filhos, e aos filhos dos teus filhos» (4, 9). E assim diz também a nós:
«Cuida de nunca esqueceres o que Deus fez por nós». A fé é alimentada pela descoberta
e pela memória do Deus sempre fiel, que guia a história e constitui o fundamento seguro
e estável sobre o qual apoiar a própria vida. Também o cântico do Magnificat, que a
Virgem Maria eleva a Deus, é um exemplo excelso desta história da salvação, desta
memória que torna e mantém presente o agir de Deus. Maria exalta o agir
misericordioso de Deus no caminho concreto do seu povo, a fidelidade às promessas de
aliança feitas a Abraão e à sua descendência; e tudo isto é memória viva da presença
divina que nunca esmorece (cf. Lc 1, 46-55).

Para Israel, o Êxodo é o evento histórico central em que Deus revela o seu agir
poderoso. Deus liberta os israelitas da escravidão do Egito, para que possam
regressar à Terra prometida e adorá-lo como Senhor único e verdadeiro. Israel
não se põe a caminho para ser um povo como os outros — para ter também ele
uma independência nacional — mas para servir Deus no culto e na vida, a fim de
criar para Deus um lugar onde o homem lhe é obediente, onde Deus está presente e
é adorado no mundo; e, naturalmente, não só para eles, mas para o testemunhar no
meio dos outros povos. Celebrar este evento é torná-lo presente e atual, porque a obra
de Deus não desfalece. Ele é fiel ao seu desígnio de libertação e continua a
persegui-lo, a fim de que o homem possa reconhecer e servir o seu Senhor e
responder com fé e amor ao seu agir.

Portanto, Deus revela-se não só no gesto primordial da criação, mas entrando na


nossa história, na história de um pequeno povo que não era o mais numeroso, nem o
mais forte. E esta Revelação de Deus, que continua na história, culmina em Jesus
Cristo: Deus, o Logos, a Palavra criadora que está na origem do mundo, encarnou em
Jesus e mostrou o verdadeiro rosto de Deus. Em Jesus realizam-se todas as
promessas, nele culmina a história de Deus com a humanidade. Quando lemos a
narração dos dois discípulos a caminho de Emaús, escrita por são Lucas, vemos como
sobressai de modo claro que a pessoa de Cristo ilumina o Antigo Testamento, toda a
história da salvação, e mostra o grande desígnio unitário dos dois Testamentos, indica o
caminho da sua unicidade. Com efeito, Jesus explica aos dois viandantes confusos e
decepcionados, que Ele é o cumprimento de todas as promessas: «E começando por
Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se fora dito em todas
as Escrituras» (24, 27). O evangelista cita a exclamação dos dois discípulos depois de
ter reconhecido que aquele companheiro de viagem era o Senhor: «Não ardia o nosso
coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» (v. 32).

O Catecismo da Igreja Católica resume as etapas da Revelação divina, indicando


sinteticamente o seu desenvolvimento (cf. nn. 54-64): Deus convidou o homem desde
os primórdios a uma comunhão íntima consigo, e até quando o homem, pela sua própria
desobediência, perdeu a sua amizade, Deus não o quis abandonar ao poder da morte,
mas ofereceu muitas vezes aos homens a sua aliança (cf. Missal Romano, Oração
eucarística IV). O Catecismo repercorre o caminho de Deus com o homem, desde a
aliança com Noé depois do dilúvio, até à chamada de Abraão, a sair da sua terra para
fazer dele pai de uma multidão de povos. Deus forma Israel como seu povo, através do
evento do Êxodo, a aliança do Sinai e o dom, por meio de Moisés, da Lei para ser
reconhecido e servido como o único Deus vivo e verdadeiro. Com os profetas, Deus
guia o seu povo na esperança da salvação. Conhecemos — através de Isaías — o
«segundo Êxodo», o regresso do exílio da Babilónia para a própria terra, a refundação
do povo; mas ao mesmo tempo, muitos permanecem na dispersão e assim tem início a
universalidade desta fé. No final, já não se espera apenas um rei, David, um filho de
David, mas um «Filho do homem», a salvação de todos os povos. Realizam-se
encontros entre as culturas, primeiro com a Babilónia e a Síria, depois também com a
multidão grega. Assim vemos como o caminho de Deus se amplia, se abre cada vez
mais para o Mistério de Cristo, Rei do universo. Em Cristo realiza-se finalmente a
Revelação na sua plenitude, o desígnio de benevolência de Deus: Ele mesmo faz-se um
de nós.

Detive-me a fazer memória do agir de Deus na história do homem, para mostrar as


etapas deste grande desígnio de amor testemunhado no Antigo e no Novo
Testamento: um único desígnio de salvação dirigido à humanidade inteira,
progressivamente revelado e realizado pelo poder de Deus, onde Deus reage sempre
às respostas do homem e encontra novos inícios de aliança quando o homem se
perde. Isto é fundamental no caminho de fé.

Papa Bento XVI, Audiência Geral, 12 de dezembro de 2012

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