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UM CORAÇÃO ARDENTE

por John Bevere


© 2016 Editora Luz às Nações
Coordenação Editorial | Equipe Edilan
Tradução e Revisão | Equipe Edilan

Copyright © 1999 por John Bevere, todos os direitos reservados. Originalmente


publicado nos Estados Unidos com o título A Heart Ablaze: Igniting a Passion for
God, de John Bevere, por Thomas Nelson, uma divisão de HarperCollins Christian
Publishing, Inc.
Tradução publicada por acordo com Thomas Nelson, uma divisão de
HarperCollins Christian Publishing, Inc.
Publicado no Brasil pela Editora Luz às Nações, Rua Rancharia, 62, parte, —
Itanhangá — Rio de Janeiro, Brasil CEP: 22753-070. Tel. (21) 2490-2551. 1a edição
brasileira: outubro de 2016. Todos os direitos reservados.
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Hoje), SBB e Amplified Bible (AMP) (traduzida livremente).
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

B467c Bevere, John, 1959-


Um coração ardente : acendendo o amor por Deus / John
Bevere. - 1. ed. - Rio de
Janeiro : Luz às Nações, 2016.

3798Kb; ePUB

Tradução de: A heart ablaze : igniting a passion for God

ISBN 978-85-5929-009-7

1. Deus - Adoração e amor. 2. Oração - Cristianismo. 3.


Fé. I. Título.

16- CDD:
248.4
37060
CDU:
27-583
DEDICO ESTE LIVRO A DOIS
HOMENS DE DEUS:

PRIMEIRO, AO PASTOR AL BRICE:


Você tem cuidado de mim e de Lisa como se fôssemos sua
família.
Você tem reconhecido o ministério que Deus nos confiou
como se Ele o tivesse confiado a você.
Você tem orado por nós como se estivesse orando pelas
próprias necessidades. E tem mostrado um amor sem
interesses, como o amor que somente nosso Salvador pode
dar.
E Jônatas fez um acordo de amizade com Davi, pois se
tornara o seu melhor amigo.
1 Samuel 18:3

Obrigado, Al, por ser um verdadeiro amigo. São quase vinte


anos de amizade, e ainda teremos toda uma eternidade juntos!

SEGUNDO, AO SR. LORAN JOHNSON:


Você tem trabalhado comigo e com Lisa neste ministério
sem esperar nada em troca.
Você tem se alegrado com nossas vitórias e orado
diligentemente por nós durante os tempos de necessidade.
Você tem nos amado como um pai.
O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na
adversidade.
Provérbios 17: 17

Obrigado, Loran, por ser um verdadeiro amigo.


SÚMARIO

Agradecimentos
Introdução
Uma Noite Inesquecível
O Propósito da Salvação
Tirando o Egito
A Glória do Senhor
A Passagem para a Montanha
Uma Divindade Controlável
Intenções ou Desejos?
Contracultura ou Subcultura
Graça Salvadora
Dias Difíceis
Ouro, Roupas e Colírio
Aqueles Que Eu Amo...
Fogo Santo Interior
E Verão a Sua Face
Sobre o Autor
AGRADECIMENTOS

Meu mais profundo agradecimento...


À minha esposa, Lisa. Obrigado por ser minha melhor
amiga e apoiadora mais fiel, minha esposa e a mãe dos nossos
filhos. Você é verdadeiramente um presente de Deus para
mim, e eu a valorizo e estimo grandemente. Eu a amo,
querida.
Aos nossos quatro filhos, Addison, Austin, Alexander e
Arden. Vocês trouxeram grande alegria à minha vida. Cada
um de vocês é um tesouro especial. Obrigado por
compartilharem comigo o chamado de Deus e me encorajar a
escrever e viajar.
Aos meus pais, John e Kay Bevere. Obrigado pelo estilo de
vida de temor a Deus que vocês me ensinaram a ter com seu
exemplo. Vocês me amam não somente em palavras, mas
também com suas ações.
Ao pastor Al Brice, Loran Johnson, Rob Birbeck, Tony
Stone e Steve Watson. Obrigado por servirem em nossa
equipe de aconselhamento nos escritórios do ministério nos
Estados Unidos e na Europa. O amor, a bondade e a sabedoria
que vocês têm oferecido livremente têm tocado e fortalecido
nosso coração.
À equipe do John Bevere Ministries. Obrigado por seu
apoio e fidelidade inabaláveis. Lisa e eu amamos cada um de
vocês.
A David e Pam Graham. Obrigado por seu apoio fiel e
sincero em gerenciar as operações do nosso escritório na
Europa.
A Rory e Wendy Alec. Obrigado por crerem na mensagem
que Deus tem colocado em nosso coração. A amizade de
vocês tem muito valor para nós.
A Victor Oliver, Rolf Zettersten e Michael Hyatt. Obrigado
pelo encorajamento e pela fé na mensagem que Deus tem
feito arder em nosso coração.
A Brian Hampton. Obrigado por aplicar suas habilidades de
edição neste projeto. Mas, acima de tudo, obrigado por seu
apoio.
A toda equipe da Thomas Nelson Publishers. Obrigado por
apoiarem esta mensagem e pela ajuda tão amável e
profissional. Vocês são um grupo excelente para se trabalhar.
E, acima de tudo, minha sincera gratidão ao meu Senhor. As
palavras não são suficientes para reconhecer tudo o que tens
feito por mim e pelo Teu povo. Eu Te amo mais do que sou
capaz de expressar.
INTRODUÇÃO

Este livro é uma jornada em direção à verdade. Muitos


buscam a verdade, mas quando são confrontados por ela,
rejeitam, ignoram ou torcem a verdade em benefício próprio.
Esse comportamento tem criado problemas terríveis para
nossa geração, resultando em uma sociedade mergulhada no
engano. Jesus advertiu repetidamente nossa geração
exatamente sobre isso.
O engano constitui um grave problema porque aqueles que
estão em suas garras acreditam que estão andando na verdade.
Paulo descreveu os últimos dias em sua carta a Timóteo:
“Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao
contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres
para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se
recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os
mitos” (2 Tm 4:3-4). Uma definição da palavra grega para
mitos no versículo 4 é “falsidade”. Se o que é falso for
apresentado como verdade durante tempo suficiente, muitos o
defenderão com a própria vida.
Quando a verdade real é revelada por meio da Palavra de
Deus, acaba sendo rejeitada como heresia. Paulo advertiu que
eles não dariam ouvidos à sã doutrina. Uma vez, ouvi um
palestrante dizer: “As doutrinas erradas ensinadas em nossas
igrejas não são mensagens tiradas do catálogo telefônico. São
mensagens tiradas das Escrituras!”. Ele alertava para o fato de
que essas doutrinas são derivadas da Bíblia e, portanto,
amplamente aceitas, embora sejam errôneas.
O autor de Provérbios previu essa situação e escreveu:
“Existem... os que são puros aos seus próprios olhos e que
ainda não foram purificados da sua impureza” (Pv 30:11-
12). Neste livro, aprenderemos que somos nós essa geração.
Se a verdade fosse agradável ao nosso julgamento e fácil de
ser abraçada, o mundo inteiro bateria à sua porta e entraria por
ela. No entanto, Jesus deixou claro que não é esse o caso:
“Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz,
temendo que as suas obras sejam manifestas. Mas quem
pratica a verdade vem para a luz, para que se veja
claramente que as suas obras são realizadas por intermédio
de Deus” (Jo 3:20-21). Somente aqueles que temem a Deus
amam a verdade.
Os dias e tempos que vivemos hoje trazem com eles
questões difíceis. Por que tantos na Igreja não possuem essa
paixão? Por que investimos milhões em mídia, edifícios,
anúncios e inúmeras outras formas de propagarmos o
Evangelho, enquanto tantos na Igreja ainda lutam contra a
luxúria e o desejo pelos prazeres deste mundo? Por que mais
de 80% dos convertidos acabam voltando para um mundo de
trevas? Como os pecadores podem declarar que tiveram uma
experiência de novo nascimento, mas não demonstrar
nenhuma mudança? Creio que a resposta para todas essas
questões pode ser resumida de uma única maneira: a ausência
do fogo e da paixão por Deus.
Se olharmos para aqueles que viveram antes de nós,
poderemos ver claras diferenças. O que deu a Moisés o desejo
de buscar a Deus quando isso lhe custaria abrir mão de uma
vida inteira de realizações? Por que Jeremias, Isaías e tantos
outros continuaram a proclamar as mesmas palavras que lhes
trouxeram perseguição e provações? Por que as pessoas da
Igreja Primitiva foram capazes de abrir mão de suas posses,
seu conforto e até mesmo das próprias vidas por causa do
Evangelho? Que força a Igreja Primitiva tinha que capacitava
seus membros a pregarem ousadamente diante da ameaça de
tortura e morte, enquanto a maior luta que muitas pessoas na
Igreja de hoje enfrentam é simplesmente superar uma
autoimagem negativa? Novamente, a resposta é o fogo de
Deus.
Nós precisamos do fogo de Deus, e ele está disponível a
todo aquele que tem fome da verdade. O fogo de Deus não
vem sem um momento de confronto, mas creio que a maioria
de nós já está farta de tanta falsidade e pronta para mudanças.
O medo de permanecermos o mesmo supera qualquer dor
que possamos sentir como consequência do encontro com a
verdade. Aqueles que assumem essa posição estão
desesperados para ouvir o Senhor da glória. Eles estão
prontos para vê-Lo verdadeiramente glorificado em suas
vidas.
Não importa em que ponto você esteja em sua caminhada
com Deus, sempre há espaço para receber mais do Seu fogo
santo. Se você teme que o fogo esteja quase se apagando,
tenha coragem e esperança, pois Ele já prometeu que:

Não quebrará o caniço rachado,


Não apagará o pavio fumegante,
Até que leve à vitória a justiça.
Mateus 12:20
Que amor cheio de graça nosso Pai tem por nós! Oro para
que este livro revele progressivamente a verdadeira
preocupação do Senhor com a nossa condição. Ele está mais
preocupado com nossa condição do que com nosso conforto,
e nos ama o bastante para nos dizer o que precisamos ouvir.
Nunca estive tão empolgado com uma mensagem quanto
agora, pois essas verdades têm me tocado profundamente.
Este projeto somente reforça a realização Daquele que é seu
verdadeiro Autor. Sou somente um vaso por meio do qual o
Mestre tem propagado Sua mensagem. Quero ter o cuidado
de dar a Ele toda a glória por tudo o que Ele fizer por
intermédio deste livro. Que ele possa acender o santo fogo em
sua vida, e que você nunca mais seja o mesmo. Antes de
começarmos esta jornada, vamos orar:
e
Pai, em nome de Jesus, à medida que eu ler este livro
peço que Tu fales comigo pessoalmente por meio do
Teu Espírito. Não tenho medo da verdade. Eu a desejo.
À medida que eu a abraçar, faça com que o Teu fogo
queime dentro do meu coração. Que a intensidade dela
me consuma, fazendo com que eu ame o que Tu amas e
rejeite aquilo que Tu rejeitas. Durante a leitura, abre
os meus olhos para que eu veja Jesus mais claramente,
como jamais vi. Eu reconheço que Ele é a Palavra de
Deus revelada e a Verdade. Eu Te agradeço
antecipadamente pela mudança que farás em minha
vida por meio da Tua mensagem neste livro. Amém.
e
CAPÍTULO 1
UMA NOITE INESQUECÍVEL
Deus acenderá em Seu povo uma paixão que
queima mais intensamente do que tudo que
jamais conhecemos antes.

E ra o quarto e último culto de uma série de encontros na


Igreja Covenant Love Family, em Fayetteville, Carolina
do Norte. Aquela não era minha primeira vez ali, pois eu já
havia ministrado naquela igreja várias vezes antes. Os cultos
sempre produziam maravilhosos frutos por causa da fome e
do amor genuíno que eles tinham por Deus.
Já era tarde, havia passado do horário em que um culto
normal terminaria. Mesmo assim, eu estava hesitante em
terminar; eu me sentia no meio de um conflito. A mensagem
havia sido clara e breve, e o povo havia respondido com
entusiasmo. Mas eu tinha a sensação de que ainda não era o
fim. Eu costumava terminar uma série de cultos com um
sentimento de realização, especialmente em uma igreja tão
receptiva como a Covenant Love Family. Mas aquela era uma
noite diferente.
Além da sensação de conflito, continuava ouvindo as
palavras que o Espírito Santo havia sussurrado ao meu
coração quando eu estava no avião a caminho de Fayetteville:
“Estes cultos serão os mais poderosos que você já
experimentou nessa igreja”.
Eu já havia estado nessa igreja cerca de sete ou oito vezes ao
longo dos anos, e não hesitaria em incluir aquelas ocasiões na
minha lista dos cultos mais transformadores de todos. Eu me
lembro de haver pensado no avião: Isso já é querer demais.
Enquanto permanecia de pé na plataforma sentia-me
confuso. Aqueles encontros não foram os mais poderosos que
já tive ali. Era difícil não compará-los com os atos
significativos e os testemunhos dos cultos anteriores. Eu
lutava em meu interior contra a tentação de murmurar, mas
sabia que deveria manter o foco no culto que estava
acontecendo diante de mim. Precisava desesperadamente
ouvir a voz de Deus.
Parecia que a presença de Deus estava pairando sobre o
povo. Era quase como se Ele quisesse descer sobre a
congregação de uma forma forte e poderosa, mas de algum
modo estivesse sendo impedido. Havia grupos isolados de
pessoas chorando aqui e ali, mas eu sabia que Deus queria
muito mais. Embora tivesse sentido uma atmosfera
semelhante nas noites anteriores, eu tinha certeza de que, na
última noite, o Senhor iria nos honrar com a Sua presença
restauradora, assim como Ele havia feito no passado. Não
teria outro culto. Por que Deus não está tocando estas
pessoas se eu sinto que Ele quer fazer isso? Eu continuava
perguntando a mim mesmo.
Uma Revelação que Deu Direção

Então ouvi a doce e suave voz do Espírito Santo falar


comigo. Ele me mostrou que algo estava formando uma
barreira nas igrejas daquela cidade, assim como havia uma
barreira naquele culto. Ela não deixava que as igrejas
crescessem além de certo ponto. Quando chegavam a esse
ponto, as igrejas se dividiam ou se tornavam ineficazes e
cheias de religiosidade.
Imediatamente após eu ter compartilhado essa revelação
com a congregação, o pastor pulou para frente e a confirmou.
Ele havia feito estudos sobre a história atual e passada da
cidade, e as estatísticas estavam corretas. Enquanto ele falava,
ouvi novamente a voz do Espírito Santo. Ele me explicou
como essa barreira poderia ser quebrada.
Quando terminou de falar, o pastor me devolveu o
microfone. Eu disse: “Pessoal, Deus me mostrou que um
jejum de quarenta dias quebrará essa barreira”.
Quase podia ouvir os pensamentos do povo: Ficar quarenta
dias sem comida?
Eu prossegui: “Não é necessariamente um jejum de comida,
e na maioria dos casos não é uma abstinência total de comida.
É um jejum daquilo que o impede de buscar ao Senhor. Talvez
seja televisão, vídeos, jogos de computador, jornais, compras
excessivas, conversas ao telefone, e assim por diante”.
Esse é o verdadeiro jejum. Muitas vezes fazemos greve de
fome para ouvir Deus, mas continuamos vivendo nossas vidas
de maneira ocupada e distraída. Esse não é o verdadeiro
jejum, por isso nos beneficiamos tão pouco quando fazemos
isso. O verdadeiro jejum acontece quando nos abstemos com
o propósito de buscar a Deus de uma forma mais intensa.
O povo de Israel se abstinha de comida e perguntava ao
Senhor: “Por que o Senhor não está impressionado?” ou “Por
que o Senhor nem mesmo nota o nosso esforço?”.
Deus lhes respondeu por intermédio do profeta Isaías: “A
verdade é que nos dias de jejum vocês cuidam dos seus
negócios ... Será que vocês pensam que, quando jejuam
assim, Eu vou ouvir as suas orações?” (Is 58:3-4, NTLH).
Devolvi o microfone para o pastor, e ele imediatamente se
comprometeu a fazer o jejum e pediu a toda a congregação
que fizesse o mesmo. Eles uniram seus corações para
buscarem a Deus.
No dia seguinte, percebi que o domingo que viria quarenta
dias após aquele culto estava vago em minha agenda. Eu
compartilhei a informação com o pastor, e ele respondeu:
“Gostaria muito que você estivesse aqui”.
Mantivemos contato ao longo das semanas seguintes. Já
havia testemunhos extraordinários das famílias que estavam
jejuando. Estudantes que antes só tinham problemas na
escola, agora viam suas notas aumentando, chegando até
mesmo a alcançar as notas máximas. Havia relatos de crianças
e adolescentes que estavam se tornando mais obedientes e
respeitosas. As coisas mundanas e o desejo por elas pareciam
estar perdendo a atração e a influência sobre eles. As mulheres
compartilharam com empolgação que seus maridos pareciam
homens diferentes. Pais estavam liderando estudos bíblicos e
orando com suas famílias. Relacionamentos estavam sendo
curados enquanto outras pessoas experimentavam cura física.
Lares eram restaurados à medida que o povo se achegava a
Deus.
Também ouvi do pastor que os cultos estavam se tornando
cada vez mais poderosos, com várias pessoas novas vindo
para o Reino de Deus. Praticamente todas as áreas estavam
sendo afetadas como resultado da obediência da igreja em dar
ouvido à Palavra do Senhor.
Um Dia que Eu Nunca Esquecerei
Seis domingos mais tarde, em 3 de novembro de 1996,
retornei àquela igreja para ministrar. Aquele seria um dia que
eu nunca mais esqueceria. Quando simplesmente entrei no
templo para o culto da manhã, notei que o ar estava denso,
cheio de expectativa. A mensagem que ministrei da Palavra de
Deus foi recebida pelos corações e almas sedentos.
No encerramento do culto, o pastor exortou a congregação
para que chegassem mais cedo para o culto da noite, com a
finalidade de prepararem seus corações em oração. Ele
instruiu aos pais que as crianças também assistiriam ao culto à
noite juntamente com eles; ele queria que todas as faixas
etárias estivessem juntas naquela noite, com exceção daqueles
com menos de seis anos. Eu nunca o havia visto daquela
forma antes. Ele repreendeu os pais: “Se vocês ou seus filhos
perderem este culto, vocês se arrependerão pelo resto de suas
vidas”. O comentário dele me surpreendeu e até mesmo me
assustou um pouco, mas preferi não dizer nada, e fico feliz
por não tê-lo feito.
Naquela noite, o auditório estava lotado, com
aproximadamente mil e trezentas pessoas. Preguei sobre o
temor do Senhor, e a mensagem foi concluída por volta das
nove da noite. O ensinamento foi tão intenso, que daria para
ouvir um alfinete caindo no chão toda vez que eu fazia uma
pausa, mesmo com todas as crianças ali dentro.
No fim da minha pregação, o dirigente de louvor conduziu a
congregação em alguns cânticos de adoração. Então ouvi o
Espírito Santo sussurrar: “Eu quero ministrar a este povo.
Por favor, permita-Me fazê-lo”.
Percebi que, embora estivéssemos cantando músicas de
adoração, aquele não era o direcionamento que Ele desejava.
Então, alertei o povo: “O Senhor acaba de falar ao meu
coração. Ele quer ministrar a nós, então vamos ficar quietos e
nos concentrar Nele”.
Durante os dez a quinze minutos seguintes, podia-se ouvir
várias pessoas chorando mansamente na presença do Senhor.
Aparentemente, tudo indicava que estava acontecendo o
mesmo que acontecera no culto de seis semanas atrás, porém
eu sabia que algo diferente estava prestes a acontecer.
Por volta de nove e quinze, a atmosfera tranquila mudou
subitamente. Eu podia ouvir um som de choro bem agudo
vindo do fundo do auditório. Era fácil identificar esse choro
como o das crianças. Aproximadamente cento e cinquenta
crianças, entre sete a doze anos, estavam sentadas com suas
professoras no fundo do auditório, do lado direito. Eu sabia
que Deus as estava tocando. Eu as convidei a ir à frente,
dizendo: “As crianças; Deus está tocando as crianças. Quero
que todas as crianças que Deus está tocando venham para a
frente do palco”.
Nunca esquecerei o que vi. Alguns de vocês podem pensar
que o que compartilho aqui é um pouco exagerado, e se eu
não tivesse presenciado a cena, junto com as mil e duzentas
testemunhas ali, talvez concordasse com você. Francamente,
não serei capaz de descrever fielmente a grandeza do que
Deus fez naquela noite, mas farei uma tentativa. Quero
ressaltar que aquela era uma igreja bastante conservadora. A
maioria dos membros vinha de denominações que não
costumavam demonstrar as manifestações do poder de Deus,
ou então não havia crescido na igreja, tendo sido salva
naquela igreja. O pastor era um ótimo mestre e não se deixava
levar por extremismos, sensacionalismo ou euforias.
Eu observei as crianças, a maioria com idade entre sete e
nove anos, vindo em minha direção, chorando
incontrolavelmente. Muitas cobriam o rosto com as mãos.
Outras sentiam dificuldade em andar em linha reta. Ao
chegarem ao palco, algumas caíram de joelhos, sem força para
ficarem em pé, mas a maioria caía como se seus joelhos
desistissem completamente de sustentá-las. Elas caíram por
toda parte, algumas por cima de outras. Os obreiros da igreja,
com lágrimas nos olhos, as ajudaram. Dentro de minutos, eu
vi cerca de cem crianças chorando e a maioria delas tremia
fortemente. Elas estavam imersas na presença manifesta do
Senhor.
Essa manifestação não durou somente dois ou três minutos,
mas continuou por cerca de uma hora! Você pode pensar que
ouvir tantas crianças chorando e clamando por um período
longo fosse provavelmente irritante, mas, na verdade, foi
glorioso. A maioria dos adultos estava com os olhos cheios de
lágrimas, enquanto assistia ao que Deus estava fazendo na
vida daquelas crianças. E, ao mesmo tempo, eles estavam
sendo profundamente tocados pela presença poderosa de
Deus. Era como se uma sucessão de ondas da presença de
Deus viesse sobre aquele lugar, uma ainda mais poderosa do
que a outra. Quando parecia que as crianças não conseguiriam
mais chorar, gritar ou tremer, outra onda de Deus vinha e
aumentava a intensidade a outro nível. Havia momentos em
que eu simplesmente só podia baixar minha cabeça sobre o
púlpito por causa do peso da presença de Deus.
Observei uma menina, que não parecia ter mais que sete
anos de idade, sacudindo suas mãos fortemente, como se elas
estivessem pegando fogo. Seu rostinho estava completamente
banhado pelas lágrimas que ela derramava. Podia-se sentir a
presença de Deus tão fortemente nessas crianças que os
obreiros pararam de tocá-las depois de ajudá-las inicialmente.
Eles somente ficaram parados, chorando e observando.
Vários adultos ajoelharam-se com o rosto em terra e ficaram
imóveis. Outros assistiam pasmados com os olhos cheios de
lágrimas. Várias vezes eu olhei para trás de mim e vi o pastor
com as mãos sobre o rosto, chorando. Sua esposa estava em
prantos na plataforma do coral.
Algum tempo depois, o pastor escreveu uma carta,
descrevendo aquela noite, de acordo com seu ponto de vista.
Embora seja parecido com o meu, achei importante termos
outra perspectiva.

Domingo, 3 de novembro de 1996, será um dia que nunca esquecerei. Eu


creio que foi apenas uma pequena demonstração do que Deus fará na Terra.
John ministrou no culto noturno sobre o temor do Senhor e então declarou:
“Precisamos deixar que Jesus seja o mestre em todas as áreas da nossa vida
e agora devemos nos render completamente a Ele como Senhor”.
Nós adoramos por mais um curto período, e então John disse: “Eu sinto
que o Espírito Santo está Se movendo aqui agora”. Nesse momento, ouvi
soluços de crianças, jovens e adultos. Adultos começaram a aproximar-se
do altar, chorando e soluçando. John completou: “Deus está tocando as
crianças e elas serão tocadas poderosamente pelo Senhor”. Ele então
encorajou as crianças que estavam sendo tocadas pela presença de Deus a
irem à frente.
Vi as crianças correndo até o altar, chorando incontrolavelmente, incluindo
meus três filhos e minha filha, e todos estavam ajoelhados, com o rosto em
terra, clamando e gritando por Jesus. Algumas delas tremiam fortemente e
balançavam suas mãos à medida que o fogo de Deus se movia em nosso
meio. Aproximadamente cem crianças lotaram o altar, enquanto ondas do
Espírito de Deus se moviam no santuário. Eu assistia enquanto as crianças
iam caindo uma por cima das outras, sem que ninguém as tivesse tocado.
Elas pareciam dominós. Por uma hora e meia [durou uma hora e quinze
minutos, mas prefiro não mudar o que ele escreveu], ficamos impregnados
pela presença de Deus. Perto do fim do culto, pais e filhos se abraçavam e
choravam juntos enquanto Deus unia seus corações.
Um menino de dez anos de idade nos disse, enquanto
estava deitado no chão, que viu raios brilhantes de luz
entrando pelo teto e caindo sobre todas as pessoas.
Alguns adultos da congregação e do coral repetiam a
mesma coisa. Ninguém conseguiu deixar o prédio
antes das onze da noite. Crianças foram carregadas
enquanto ainda choravam.
Tenho recebido testemunhos de famílias modificadas,
crianças que hoje falam sobre Deus e são obedientes,
etc. Como pastor, eu verdadeiramente posso dizer que
meu lar e meus filhos são diferentes hoje.
Dr. Al Brice
Pastor titular da Igreja Covenant Love Family Fayetteville, Carolina do Norte

Chamou minha atenção o relato feito pelo jovem de dez


anos que viu raios brilhantes de luz descendo pelo teto. No
livro de Habacuque lemos:

Senhor, ouvi falar da Tua fama;


tremo diante dos Teus atos, Senhor.
Realiza de novo, em nossa época,
as mesmas obras, faze-as conhecidas em nosso tempo;
em Tua ira, lembra-Te da misericórdia.
Deus veio de Temã,
o Santo veio do monte Parã. Pausa
Sua glória cobriu os Céus
e Seu louvor encheu a Terra.
Seu esplendor era como a luz do sol;
raios lampejavam de Sua mão,
onde se escondia o Seu poder.
Habacuque 3:2-4

Tenho certeza de que esse jovem não fazia ideia de que


Habacuque havia escrito algo assim tanto tempo atrás. Com
nossos olhos, nós presenciamos o que Joel profetizou: “Os
seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão
sonhos, os jovens terão visões” (Jl 2:28). Esse menino de dez
anos de idade estava descrevendo uma visão similar a outra
visão já descrita na Palavra de Deus sem que ele tivesse
conhecimento disso.
Outro garoto disse com ousadia: “Mamãe, o jejum não pode
acabar”. Não somente suas palavras eram proféticas, mas ele
também verbalizou o desejo de inúmeras outras pessoas.
Esses jovens tinham experimentado a presença do Deus vivo,
e suas vidas foram transformadas. Eles queriam avançar e não
parar mais.
Mais tarde naquela noite, a esposa do pastor compartilhou
conosco alguns versículos que Deus havia falado ao seu
coração, a respeito do que havia acontecido:

“Agora, porém”, declara o Senhor, “voltem-se para


Mim de todo o coração, com jejum, lamento e pranto
[até que cada impedimento for removido e os
relacionamentos quebrados forem restaurados]”.
Rasguem o coração, e não as vestes.
Joel 2:12-13, AMP

Enquanto ela lia esses versículos, meu coração queimava


dentro de mim. A frase “voltem-se para Mim” parecia
descrever a atitude daquela igreja. O povo estava determinado
a buscar o coração de Deus. Eles não queriam retroceder.
Deus nos instrui a rasgarmos os nossos corações e não as
nossas vestes. Tenho visto cristãos e igrejas que por sua
aparência parecem ter tudo certo, mas mesmo assim não
conseguem tocar o coração de Deus como essa igreja o fez. A
razão? Eles podem jejuar, podem ter encontros de oração,
podem se abster de certas coisas, fazendo-os parecerem
ótimos com relação às suas “vestes”, mas por dentro eles
escondem corações desobedientes. Eles ainda vivem para o
próprio prazer, em vez de viverem a serviço dos outros. O
Senhor está mais preocupado com nossa submissão interior
do que com nossa aparência exterior de cristandade. Joel
continuou:

Toquem a trombeta em Sião,


decretem jejum santo,
convoquem uma assembleia sagrada.
Reúnam o povo,
consagrem a assembleia;
ajuntem os anciãos,
reúnam as crianças,
mesmo as que mamam no peito.
Até os recém-casados devem
deixar os seus aposentos.
Joel 2:15-16

O fogo em meu coração aumentava à medida que ela lia.


Aqueles versículos descreviam exatamente o que Deus havia
instruído a igreja a fazer quarenta dias antes. Quando a
palavra profética foi proferida, todos deveriam buscar a Deus.
Desde os líderes até as crianças, ninguém estava isento.
Continuando a série de versículos que ela leu:

E, depois disso,
derramarei do Meu Espírito sobre todos os povos.
Os seus filhos e as suas filhas profetizarão,
os velhos terão sonhos,
os jovens terão visões.
Até sobre os servos e as servas
derramarei do Meu Espírito naqueles dias.
Joel 2:28-29

“E, depois disso.” Já ouvi esse versículo ser citado


repetidamente. Na verdade, desde que fui salvo, tenho ouvido
Joel 2:28-29 ser citado por cristãos e por pastores
frequentemente. Fala-se sobre filhos e filhas profetizando e
tendo visões, juntamente com sinais e maravilhas do Espírito
Santo, porém a palavra “depois” geralmente é esquecida nas
discussões e pregações. Se foi profetizado que algo
aconteceria “depois”, então é porque algo significativo precisa
acontecer antes: a reação da igreja ao som da trombeta, em se
achegar a Deus.
Deus responde poderosamente quando nos achegamos a
Ele. Precisamos nos achegar quando Ele nos chamar. Outro
elemento importante é o tempo. É aqui que muitos cristãos se
perdem. Eu creio que enquanto você lê este livro, perceberá
que, embora cristãos tenham um convite permanente para
virem ao Senhor em oração e comunhão a todo instante,
haverá momentos e tempos em que Ele nos chamará para
propósitos específicos. Durante esses momentos, o tempo é
um fator crucial, e se não respondermos, perderemos a
bênção que Ele tem para nós.
O foco nesses períodos é a obediência e não a nossa
vontade ou o nosso desejo. Deus Se agrada mais em
obediência do que em sacrifícios. Tenho visto igrejas jejuando
regularmente e orando durante horas, seus membros
sacrificando horas de sono para preencher os horários de
oração. Mas isso não garante o poder nem a presença Dele.
Muitas vezes tenho visto que falta a essas igrejas o que a
igreja da qual estou falando tinha em abundância. Elas têm a
maneira de fazer; só não têm o coração.
O mesmo acontece com as pessoas. Tenho visto muitos
jejuarem e orarem religiosamente, mas lhes faltam a liberdade,
o poder e o conhecimento íntimo de Deus, que tenho visto em
outros que não se sacrificam tanto, mas simplesmente
respondem à direção do Espírito de Deus.
Aquela igreja ouviu a voz de Deus chamando. No período
seguinte de um ano e meio, eles dobraram em tamanho. Na
verdade, eles tinham acabado de construir o auditório no qual
nos encontramos naquela noite, e em seis meses tiveram de
começar a planejar outra construção de um espaço maior.
O pastor e eu conversamos frequentemente nos anos
seguintes. Ele disse: “John, nosso segundo culto de domingo
de manhã, que começa às dez horas, continua acabando cerca
de duas ou três da tarde”. Um domingo ele ligou e me contou
que teve de dizer ao povo: “Por favor, vão para suas casas”.
Ele contou que eles ficaram parados olhando para ele, sem
querer ir embora.
Deus cumpriu Sua palavra. Aqueles cultos foram os mais
poderosos que já havíamos presenciado. Por meio da nossa
cooperação com o Espírito Santo e nossa obediência à Sua
direção, Ele fez a Sua vontade. Três anos se passaram, e o
pastor ainda ouve testemunhos sobre aquele culto. O fruto
permaneceu. Eu ministrei ali em várias ocasiões depois desse
acontecimento, e tenho visto sempre um aumento da paixão e
da sede genuína por Deus.
Um Anúncio do Que Virá
Um ano antes, eu estava em Kuala Lumpur, na Malásia,
ministrando na maior escola bíblica da nação durante uma
semana de cultos. No oitavo culto, houve uma experiência
similar, mas durou somente cerca de cinco a dez minutos. O
Espírito de Deus caiu sobre os estudantes e muitos outros que
estavam ali. Esse foi outro culto que nunca esquecerei. Na
manhã seguinte àquele culto, enquanto orava, Deus falou
comigo: “O que você viu ontem, você verá acontecendo em
todos os lugares, pois esse é um dos moveres finais do Meu
Espírito que acontecerá na Igreja”. Ele me mostrou como
esse mover do Seu Espírito produziria frutos de verdadeira
santidade na Igreja e a prepararia para a grande colheita que
está por vir. Deus acenderá em Seu povo um fogo intenso e
contínuo de paixão por Ele, como nunca vimos antes.
Não creio que você está segurando este livro em suas mãos
por coincidência, ao contrário. Creio que você o tem nas mãos
para despertar sua sede e preparar seu coração para o que
Deus está por fazer. Nós precisamos nos preparar para Sua
segunda vinda. O apóstolo João escreveu: “Regozijemo-nos!
Vamos alegrar-nos e dar-Lhe glória! Pois chegou a hora do
casamento do Cordeiro, e a Sua noiva já se aprontou” (Ap
19:7).
Nós somos a noiva de Cristo, e cabe a nós a tarefa crucial de
nos prepararmos para estarmos unidos a Ele. Quero enfatizar
este ponto: cabe a nós nos prepararmos. Trata-se de uma
integração divina. Ele não faz tudo por nós; nós devemos
responder à provisão Dele. Ele provê a graça e nós buscamos
o fogo. Ele não está voltando para uma Igreja manchada e
corrompida pelo mundo. Ele retornará para uma noiva pura,
cujo coração queima com verdadeira santidade.
CAPÍTULO 2
O PROPÓSITO DA SALVAÇÃO
Deus, que criou o universo e tudo que nele há,
expressa Seu desejo de habitar em nós e entre nós.

F requentemente ouço líderes usando a palavra visitação


quando descrevem um encontro com a presença de Deus,
quer seja em uma experiência conjunta, como em um culto na
igreja, assim como o culto descrito no capítulo anterior; ou
em uma experiência individual. Contudo, o desejo do Senhor
não é uma visitação; em vez disso, Ele deseja uma
habitação. Deixe-me ilustrar a diferença: eu tenho vizinhos
que são ótimos amigos, e em inúmeras ocasiões vou à casa
deles para visitá-los por algum tempo. Mas, assim que a visita
termina, eu retorno para minha casa, que é meu lugar de
habitação. Uma das maiores promessas que o Senhor deixou
para nós, cristãos, é esta:

Habitarei com eles


E entre eles andarei;
Serei o seu Deus,
E eles serão o Meu povo.
2 Coríntios 6:16
Que declaração! Deus, que criou o universo e tudo que nele
há, expressa Sua intenção de habitar em nós e entre nós. Em
concordância com essa promessa, Paulo nos diz: “Nele vocês
também estão sendo edificados juntos, para se tornarem
morada de Deus por Seu Espírito” (Ef 2:22). Essas são as
promessas de Deus para nós. Entretanto, cada promessa na
Bíblia é condicional, e se a condição não for cumprida, então
a promessa não se cumpre, não por infidelidade da parte de
Deus, mas da nossa parte. É impossível Deus mentir, mas não
é impossível que o homem anule a Sua palavra (ver Marcos
7:13) ao ignorá-la ou distorcê-la. Isso também inclui a
promessa de Deus de habitar em nosso meio.
Paulo continua:

“Saiam do meio deles


E separem-se”, diz o Senhor.
“Não toquem em coisas impuras,
E Eu os receberei.”
2 Coríntios 6:17

A condição é que nós saiamos do sistema do mundo. Se


cumprirmos essa condição, Deus diz que nos receberá. Da
mesma forma, se não nos separarmos, Ele não nos receberá.
Por que Ele não nos receberá? Para responder a essa questão,
precisamos entender que Deus é pura luz e que Nele não há
trevas. Trevas não podem habitar na presença da pura luz.
À medida que avançarmos nessa leitura, veremos que a luz
de Deus fala da Sua santidade. A Bíblia não diz que Deus tem
santidade; ela diz que Ele é santo (ver Levítico 19:2). O
sistema do mundo é de trevas e aqueles que são atraídos pelas
trevas não podem habitar na luz.
Deus declara: “Consagrem-se, porém, e sejam santos,
porque Eu Sou o Senhor, o Deus de vocês” (Lv 20:7). A
atitude de nos consagrarmos significa recusar um
relacionamento com o mundo. Tiago claramente exortou-nos
na nova aliança: “Se o objetivo de vocês é desfrutar o prazer
pecaminoso do mundo perdido, vocês não podem ser
também amigos de Deus” (Tg 4:4, ABV). Em uma outra
tradução a advertência é ainda mais direta: “Quem quer ser
amigo do mundo faz-se inimigo de Deus” (Tg 4:4, NVI).
Pedro enfatizou o desejo de Deus por um povo puro ao
escrever: “Mas agora, sejam santos em tudo quanto fizerem,
tal como é santo o Senhor, que os convidou para serem seus
filhos. O próprio Senhor disse: ‘Vocês têm de ser santos,
pois Eu Sou santo’” (1 Pe 1:15-16, ABV). Ser santo não é
uma opção. Deus não habitará em nós ou entre nós se
falharmos em dar ouvidos à Sua condição de nos separarmos
do sistema do mundo. Uma versão contemporânea da Bíblia
diz:

“Então, deixem de lado a corrupção e as parcerias,


deixem tudo, de uma vez por todas”, diz Deus.
“Não se associem com os que irão mergulhá-los na
sujeira.
Quero todos vocês para Mim.”
2 Coríntios 6:17, A Mensagem

A magnitude das promessas de Deus em ser nosso Pai e


habitar em nós e entre nós torna ainda mais importante
observarmos cuidadosamente a condição que Ele exige.
Considerando a seriedade dessa condição, Paulo declarou:
“Amados, visto que temos essas promessas, purifiquemo-nos
de tudo o que contamina o corpo e o espírito, aperfeiçoando
a santidade no temor de Deus” (2 Co 7:1).
Esses versículos têm tanto significado que livros e mais
livros poderiam ser escritos sobre eles. Mas o entendimento
da maioria dos cristãos sobre o que está sendo dito é limitado.
Muitos não compreendem sua totalidade porque não
entendem o contexto. Paulo está citando o que Deus dissera a
Israel no Antigo Testamento e, ao fazer isso, ele também
estava deixando claro que Seu desejo para nós não mudou no
Novo Testamento. Precisamos entender as situações e os
eventos que levaram a esses versículos. Quando nós
entendemos o contexto, as palavras têm o impacto espiritual
que Deus deseja que tenham.
Pense sobre um filme no qual o escritor, o diretor e os atores
montaram cuidadosamente um enredo que se desencadeia até
uma cena de clímax no fim. Muitas coisas aconteceram antes
disso e, após ouvir toda a dramatização que levou ao clímax,
você fica maravilhado. Se você tivesse ouvido o ator falando a
mesma frase final sem ver toda a dramatização, ela teria pouco
ou nenhum impacto.
Eu vivi isso quando era mais jovem. Entrei na sala da nossa
casa quando minhas irmãs e meus pais estavam assistindo a
um filme. Eles haviam sido cativados pela história e não
queriam ser interrompidos. A maioria nem percebeu quando
eu entrei. Olhei para a tela no momento em que o ator fez uma
declaração um tanto dramática. Minhas irmãs começaram a
chorar. Mas aquela declaração teve pouco significado para
mim. Pensei: O que há de tão emocionante nessa fala? Eu
não estava a par dos acontecimentos; mas as mesmas palavras
tocaram minhas irmãs e provocaram nelas uma emoção
profunda.
O mesmo princípio se aplica aqui. Muitos cristãos chegam a
essas palavras de clímax vindas da boca de Deus e as leem
diretamente, porque eles não têm o entendimento da
construção dramática anterior a tais palavras. Para realmente
experimentarmos o impacto do que Deus está nos dizendo,
precisamos entender o roteiro da história ou do drama que
levou a tais declarações. Isso levará alguns capítulos para se
desenvolver. Para começarmos, precisamos ir ao livro de
Êxodo.
Vou Ver Isso de Perto

O livro de Êxodo inicia com os descendentes de Abraão em


cativeiro. Eles já haviam estado no Egito por quase
quatrocentos anos. O começo da estada deles ali fora
favorável, mas o tempo passou e eles se tornaram escravos,
sendo brutalmente maltratados.
Moisés, um homem nascido de uma hebreia, escapou
daquele duro tratamento; ele foi levado à casa do faraó
quando bebê e criado como seu neto. Quando tinha a idade de
quarenta anos, contudo, Moisés foi forçado a fugir para outra
terra por causa da ira do faraó, devido à sua lealdade ao seu
próprio povo, os hebreus.
Quarenta anos mais tarde, após a fuga do Egito, enquanto
estava no deserto apascentando as ovelhas de seu sogro, Deus
se revelou a Moisés. A revelação aconteceu no Monte Sinai, o
qual é chamado de Horebe, a Montanha de Deus. O Senhor
apareceu a ele em uma chama de fogo que saía do meio de
uma sarça. Quando Moisés viu que a sarça se queimava, mas
não se consumia, ele disse: “‘Por que a sarça não se
queima? Vou ver isso de perto’. O Senhor viu que ele se
aproximava para observar. E então, do meio da sarça Deus
o chamou” (Êx 3:3-4).
Foi somente após Moisés ter se voltado para se aproximar
da presença do Senhor que alguma coisa entre ele e Deus
aconteceu. A partir do momento em que Deus viu que Moisés
deixou seu interesse pessoal para se aproximar Dele, o Senhor
o chamou para começar a revelar-Se a Moisés, por intermédio
da Sua palavra. Se Moisés tivesse negligenciado aquela cena
como algo que não era digno de atenção, Deus provavelmente
teria Se afastado sem lhe dizer nada. Somos admoestados no
Novo Testamento: “Aproximem-se de Deus, e Ele Se
aproximará de vocês!” (Tg 4:8).
Quem deve se aproximar primeiro? Nós ou Deus? Deus nos
chama, mas somente quando nos aproximamos de Deus é
que Ele Se aproxima com o propósito de Se revelar a nós.
Essa é a mensagem deste livro. Na verdade, esse é o alvo do
nosso destino.

O Propósito da Libertação de Deus

Deus Se revelou a Moisés e lhe disse para levar Sua palavra


ao faraó, para que ele deixasse Seu povo ir. A despeito da
obstinação e força do faraó, Deus libertou os descendentes de
Abraão com Sua mão poderosa de milagres, sinais e
prodígios.
A libertação de Israel da escravidão egípcia está relacionada
com nossa libertação da escravidão do pecado no Novo
Testamento. O Egito é uma tipologia do sistema do mundo, e
Israel uma tipologia da Igreja. Quando nascemos de novo,
somos libertos do sistema de tirania e opressão do mundo.
Para onde Moisés e os filhos de Israel se dirigiram após
terem sido libertos? Quando faço essa pergunta para o público
nos cultos, as pessoas geralmente respondem: “Para a terra
prometida”.
Mas isso não é verdade. Ele estava indo para o Monte
Horebe, também conhecido como Monte Sinai. As palavras
de Deus para o faraó, por meio de Moisés, foram: “Deixe ir o
Meu povo, para prestar-Me culto no deserto” (ver Êxodo
7:16; 8:1, 20; 9:1, 13; 10:3). Como Moisés levaria o povo à
terra prometida sem antes conhecer o Prometedor? O Senhor
não desejava isso para o Seu povo. Se eles fossem para a terra
prometida sem a revelação de Deus, eles fariam dali um lugar
de idolatria.
Isso é o que tem acontecido na Igreja com muitas pessoas
que foram salvas nos últimos vinte e cinco anos. A ênfase tem
estado em comunicar às pessoas as promessas e provisões de
Deus, em vez de falar de Seu caráter e natureza, na tentativa
de fazer com que as pessoas se aproximem Dele. Nossas
mensagens têm atraído as pessoas a um nível de vida melhor,
acompanhado da segurança eterna, em vez de comunicar a
elas o propósito de conhecer e servir ao Senhor da glória.
Muitos pastores são cuidadosos em entregar uma palavra
positiva que atrairá multidões; eles evitam uma mensagem
forte, exortativa, que trará as mudanças que precisamos para
ter um encontro face a face com um Deus santo.
O encontro com Deus no Sinai mudou Moisés, e ele sabia
que uma experiência similar era essencial para o povo. Se
Moisés não tivesse encontrado com o Senhor na sarça
ardente, ele estaria ainda tentando tirar o povo da escravidão
com suas próprias forças, que foi exatamente o que ele tentou
fazer anos antes e, como consequência, acabou tendo de fugir
do faraó.
Muitos têm sido salvos em razão das mensagens
proclamadas por pastores cuja motivação está no próprio
chamado, em vez de na revelação de Deus. Se temos um
chamado em nossa vida, mas não permitimos que Deus nos
leve para o deserto, para que ali Ele Se revele a nós,
buscaremos a libertação para as pessoas somente pela
motivação de vê-las libertas. Mas nós precisamos libertá-las
com o propósito de que elas venham a conhecer Aquele para
o qual fomos criados.
No livro de Atos, nós lemos que:

Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e


era poderoso em suas palavras e obras. E, quando
completou a idade de quarenta anos, veio-lhe ao
coração ir visitar seus irmãos, os filhos de Israel. E,
vendo maltratado um deles, o defendeu, e vingou o
ofendido, matando o egípcio. E ele cuidava que seus
irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a
liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam.
Atos 7:22-25, ACF

Moisés viu o sofrimento e desejava aliviá-lo. Ele também


sabia que era chamado para libertar o povo de Deus. Isso
estava em seu coração. Mas sem a revelação de Deus, ele não
estaria preparado para liderar e alcançar seu destino. Uma
liderança sem o propósito correto pode ser mais perigosa do
que não haver liderança nenhuma. Moisés era um líder, ele
tinha um propósito, mas seu propósito estava incompleto.
Sem a revelação de Deus, ele os levaria no máximo a uma
terra de provisão, mas sem o propósito real da liberdade: o
conhecimento íntimo de Deus. É por isso que Deus levou
Moisés para as partes mais distantes do deserto, para aquietar
o coração dele do mundo que havia deixado. No deserto ele
poderia responder com desejo à revelação de Deus. Essa
preparação permitiu que ele dissesse: “Vou ver isso de
perto...”.
Nós precisamos entender que nem todo “bom ministério” é
um “ministério verdadeiro”. Aos quarenta anos de idade, a
vontade de Moisés em ver seu povo livre era boa, mas não era
um ministério verdadeiro. Eva foi atraída pelo lado “bom” da
árvore do conhecimento do bem e do mal, não pelo lado mal.
Quando ela viu que “a árvore parecia agradável ao paladar,
era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se
obter discernimento, tomou do seu fruto e comeu-o” (Gn
3:6). Ela foi tentada a ser como Deus. Existe muita coisa que
parece ser boa, e assemelha-se a algo que vem de Deus,
porém vai contra Seu caráter e Sua natureza. Somente quando
temos conhecimento íntimo Dele é que podemos
verdadeiramente discernir o que é bom.
“OS TROUXE PARA JUNTO DE MIM”

Moisés conduziu o povo de Deus para fora do Egito para


que adorasse a Deus no deserto. Mas eles não foram
imediatamente para o Sinai. Levou três meses para que se
fizesse a jornada que poderia ter sido feita em uns dez ou
onze dias. Por que Deus fez isso? A resposta é simples e não é
diferente da situação que aconteceu com Moisés: Deus queria
dar ao povo tempo para acalmar o coração, a fim de que
pudesse receber a revelação de Deus assim como Moisés
recebeu.
Assim que eles chegaram ao pé do Monte Sinai, Moisés
deixou o povo e subiu para onde a presença de Deus estava.
Então o Senhor o chamou da montanha, dizendo: “Assim
falarás à casa de Jacó, e anunciarás aos filhos de Israel...”
(Êx 19:3, ACF).
Antes de continuarmos a ler mais do que Deus disse a
Moisés, preciso ressaltar para quem a mensagem era
direcionada. Não era somente para Arão e seus filhos. Não era
somente para os filhos de Levi. A mensagem de Deus era para
toda a nação de Israel. Era para todas as pessoas que haviam
sido libertas do Egito, da menor até a maior das tribos,
famílias e pessoas.
Agora, ouça a mensagem de Deus: “Vocês viram o que fiz
ao Egito e como os transportei sobre asas de águias e os
trouxe para junto de Mim” (Êx 19:4). A frase “os trouxe para
junto de Mim” fala sobre o verdadeiro motivo de você ter sido
criado! O motivo pelo qual Deus trouxe você à vida e
percorreu um longo caminho para salvá-lo, foi para trazer
você para perto Dele!
Nós vemos essa intenção desde o início da humanidade. Por
que Deus colocou o homem no Jardim? Adão não foi criado
para que tivesse um ministério internacional de libertação. Ele
não foi colocado no Jardim para construir pontes ou arranha-
céus. Não, ele foi colocado no Jardim para andar em
comunhão com o Deus vivo. Daquela comunhão poderiam
surgir os arranha-céus ou ministérios, mas esse não era o
propósito de Deus para a existência do homem.
Nos sete primeiros anos após eu ter sido salvo, frequentei e
depois passei a trabalhar para uma igreja grande que
enfatizava as promessas de Deus e Suas provisões. Era uma
igreja evangelística com uma paixão por alcançar o mundo
com as boas-novas do Evangelho, mas o Evangelho pregado
ali destacava mais os benefícios do Reino do que a glória de
se conhecer a Deus. Pessoas saíam de várias partes do mundo
para ir até essa congregação, pois ela era bem conhecida
internacionalmente. O zelo do líder em ver pessoas sendo
salvas era contagiante. Muitos daqueles que trabalhavam no
ministério de alcance internacional da igreja tinham grande
paixão pelo ministério, e eu certamente era um deles.
Naqueles primeiros anos da minha associação àquela igreja,
eu levantava cada manhã e orava até por uma hora e meia
antes de ir para o trabalho. Eu pedia a Deus para que me
usasse para alcançar os perdidos que estavam morrendo sem
Cristo, para curar os enfermos. Eu pedia pelas nações e pela
libertação dos oprimidos. Eu sempre orava fervorosamente,
até que, em uma manhã, ouvi o Senhor dizer ao meu coração:
“John, suas orações estão incorretas”.
Pensei comigo mesmo: Essa não pode ser a voz de Deus.
Isso só pode ser o inimigo. Mas mesmo assim eu sabia que
era a voz do Senhor. Eu estava desconcertado:
— Senhor, como podes me dizer isso? Estou orando pelo
povo que precisa ser salvo, curado e liberto. Este é o Teu
desejo!.
Mas Deus viu por trás das minhas palavras. Ele viu quão
pouco eu sabia sobre Sua verdadeira natureza, e sem isso Ele
sabia que eu não poderia tirar pessoas da escravidão, ao
contrário, esse ministério acabaria me levando e levando a
outros a uma outra escravidão de idolatria, dentro do contexto
da igreja.
Ele me disse:
— John, o alvo do Cristianismo não é o ministério. Você
pode expulsar demônios, curar enfermos, levar pessoas à
salvação, mas mesmo assim acabar no inferno. —e
acrescentou:
—Judas deixou seu trabalho para Me seguir, ele curou
enfermos, ressuscitou mortos, expulsou demônios, e mesmo
assim ele está no inferno.
Aquelas palavras ficaram cravadas em meu coração.
Nós temos de lembrar que quando os apóstolos saíram com
o poder para curar enfermos, ressuscitar mortos e expulsar
demônios, Judas estava entre eles (ver Mateus 10:1-8).
Eu rapidamente perguntei:
—Então, qual é o alvo do Cristianismo?.
Ele imediatamente respondeu:
—Conhecer-Me intimamente!
Então me lembrei de que Paulo havia dito que considerava
todas as coisas como perda, se comparadas a “conhecer
Cristo” (Fp 3:10).
O Senhor sussurrou ao meu coração:
— A partir desse relacionamento é que vai surgir o
verdadeiro ministério.
Daniel confirmou isso ao dizer: “mas o povo que conhece
ao seu Deus se tornará forte e fará proezas” (Dn 11:32,
ACF).
Jesus disse que “se um cego conduzir outro cego, ambos
cairão num buraco” (Mt 15:14). Isso é verdade para aqueles
que querem trazer libertação a outros cativos, sem que antes
tenham os próprios olhos abertos para ver o Senhor. É por
isso que Paulo orou tão intensamente para que os olhos do
nosso entendimento fossem iluminados pelo conhecimento
Dele (ver Efésios 1:18). É quando estamos na Sua luz que nós
podemos ver (ver Salmos 36:9). Sem a revelação Dele somos
cegos. Aqueles que não O conhecem intimamente podem até
ter boas intenções, mas sem a revelação de Deus, acabarão
levando outros para o mesmo buraco para o qual eles próprios
estão indo.
Isso aconteceu durante meus primeiros anos de
Cristianismo. O pastor mantinha seus olhos mais sobre as
bênçãos da aliança do que sobre o Abençoador. Ele tinha um
estilo de vida de alto nível, que foi conquistado por ele crer e
agir com base nas promessas da aliança com Deus, mas era
vazio da revelação do caráter do Senhor. Então, ele começou a
ir por caminhos errados. Certo dia ele se colocou diante da
congregação e disse que não queria mais viver com sua
esposa, que era a mãe de seus filhos. Ele então disse que
quem não aprovasse, poderia sair da igreja. Aquele pastor se
casou com um uma mulher jovem, cheia de energia e
ambiciosa, que também estava no ministério. Ela se tornou
um grande laço em sua vida. Sua igreja definhou, indo de
milhares para centenas de membros, deixando muitas pessoas
à deriva e fora da igreja. Mais tarde ele acabou se divorciando
novamente e vendendo o espaço da igreja para a cidade.
Moisés sabia o que havia transformado sua vida: seu
encontro e sua comunhão íntima com o Deus vivo. Ele sabia
para onde deveria conduzir o povo. Não era diretamente para
as promessas: era em direção ao Único que podia
verdadeiramente satisfazê-los. Ele reconheceu o propósito
para o qual havia sido criado e viu a necessidade de buscar o
coração de Deus. E o coração de Deus não seria revelado em
Suas bênçãos, mas sim em ouvir Suas palavras face a face.
CAPÍTULO 3
TIRANDO O EGITO
Nossa responsabilidade como Igreja tem sido a de nos
consagrarmos durante esses dois mil anos passados,em
preparação para a Sua vinda!

O propósito de Deus em retirar os filhos de Israel da


escravidão egípcia foi o de trazê-los para Si mesmo,
para que Ele pudesse habitar entre eles. Nós vemos isso nas
Suas palavras a Moisés: “Saberão que Eu sou o Senhor, o seu
Deus, que os tirou do Egito para habitar no meio deles” (Êx
29:46). Lembre-se de que Ele não estava querendo a visitação,
mas a habitação.
Agora, considere as palavras de Pedro no Novo Testamento
(leia-as cuidadosamente): “À medida que se aproximam Dele,
a pedra viva — rejeitada pelos homens, mas escolhida por
Deus e preciosa para Ele — vocês também estão sendo
utilizados como pedras vivas na edificação de uma casa
espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios
espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (1 Pe
2:4-5). Deus deseja um lugar de habitação, o qual Pedro
chamou de Sua casa espiritual. Nós somos pedras vivas desse
edifício no qual o Próprio Deus deseja habitar.
Pedro relaciona nossa missão como casa de habitação de
Deus com o sacerdócio. Por que ele relaciona as duas coisas?
Como seres humanos, somente sacerdotes podiam se
apresentar diante de Deus sem serem consumidos sob
julgamento. Das inúmeras definições de um sacerdote, a que
está acima de todas é que o sacerdote é o único que pode se
aproximar de Deus para ministrar diante Dele (ver Ezequiel
44:13, 15). Aproximar-se de Deus é certamente um
requerimento para sermos o Seu lugar de habitação.
Precisamos ser capazes de permanecer de pé diante da Sua
santa e poderosa presença.
Voltando a 1 Pedro, lemos:

Pelo que também na Escritura se contém:


Eis que ponho em Sião
A Pedra Principal da esquina, eleita e preciosa;
E quem Nela crer não será confundido.
E assim para vós, os que credes, é preciosa,
Mas, para os rebeldes,
A pedra que os edificadores reprovaram,
Essa foi a principal da esquina;
E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo,
Para aqueles que tropeçam na palavra, sendo
desobediente;
Para o que também foram destinados.
1 Pedro 2:6-8, ARC

Uma expressão peculiar aparece nesses versículos: “E assim


para vós, os que credes... mas, para os rebeldes...”. Ele
contrasta a expressão os que credes com a palavra rebeldes.
Nós não fazemos isso hoje. Atualmente, a palavra “crente”
não tem nada a ver com obediência ou rebeldia. É por isso
que muitos dentro da Igreja não enfatizam a obediência.
Contudo, nos dias do Novo Testamento, os escritores se
referiam muito a esse tema. Crer não somente significa
reconhecer a existência de Deus, mas também obedecer-Lhe.
Em outras palavras, se você cresse, você obedeceria; e a
evidência de não crer era uma vida de desobediência, também
chamada de rebeldia. Paulo escreveu sobre Jesus: “... e, uma
vez aperfeiçoado, tornou-Se a fonte da salvação eterna para
todos os que Lhe obedecem” (Hb 5:9).
Obediência é um elemento essencial da salvação. O Próprio
Jesus disse que multidões creriam Nele e O chamariam de
Senhor, e até fariam milagres em Seu nome, mas seriam
rejeitados e não entrariam no Reino de Deus, porque não
faziam ou obedeciam à vontade de Deus (ver Mateus 7:21).
Um Sacerdócio Real Chamado para a Sua Maravilhosa Luz

Os filhos de Israel tropeçaram ou falharam em cumprir


aquilo para o qual foram chamados; eles foram desobedientes
à palavra que lhes fora dita. Mas, então, Pedro continua nos
dizendo: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real,
nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as
grandezas Daquele que os chamou das trevas para a Sua
maravilhosa luz” (1 Pe 2:9).
Nós somos sacerdócio real e nação santa. Deus é o Rei; Ele
é a realeza. Portanto, aqueles que se aproximam para ministrar
diante Dele devem ser sacerdotes reais, pois somente a realeza
pode ministrar e ter comunhão com a realeza!
Aqueles que são Seus sacerdotes foram chamados das
trevas para a Sua maravilhosa luz — não somente luz, mas
maravilhosa luz! Nós temos nos familiarizado com certas
palavras e diminuído seu real valor quando as usamos para
descrever a grandeza de Deus. Maravilhoso é certamente uma
dessas palavras.
Eu fiz um estudo sobre estas três palavras: maravilhoso,
grandioso e esplêndido. Na Bíblia, essas palavras são quase
sempre usadas para descrever Deus, Seus atributos ou Seus
atos. Pense nisto: maravilhoso — “cheio de maravilha”;
grandioso — “cheio de grandeza”; esplêndido — “cheio de
esplendor”. Jesus é de fato chamado de Maravilhoso (ver
Isaías 9:6). Mas hoje as pessoas usam essas palavras para
descrever situações comuns. Elas gostam de um filme e
dizem: “Foi maravilhoso” ou “foi esplêndido”. Quando ficam
impressionadas com um atleta, elas dizem: “Ele é
impressionante”. E quando um pregador se levanta em frente
a essas pessoas e diz: “Deus é impressionante”, pelo fato de já
terem ouvido essas palavras, repetidas vezes, para descrever
um jogador de basquete profissional considerado um dos
melhores, elas não têm a mínima condição de entender o
impacto do que ele está dizendo. Eu oro para que este livro
mude isso!
Quando Pedro diz que fomos chamados das trevas para a
Sua maravilhosa luz, ele está usando uma palavra muito
poderosa para comunicar a grandeza da natureza de Deus.
Pois Deus é absoluta luz e Nele não há treva alguma. Essa
grandiosa luz retrata a Sua glória, a qual a natureza humana é
incapaz de suportar.
Novamente, assim como em 2 Coríntios 6, nós não
entendemos completamente o impacto dessa afirmação
porque não entendemos o contexto. Voltemos a Êxodo para
dar continuidade à nossa missão de descobrir a extensão da
promessa de Deus de habitar entre o Seu povo e dentro dele.
Precisamos Lavar Nossas Vestes
No capítulo anterior, nós aprendemos que Moisés havia
liderado os filhos de Israel para fora do Egito, o que para nós
hoje é uma tipologia da nossa libertação das garras do mundo.
Do Egito ele conduziu o povo para a Montanha de Deus,
chamada de Sinai. Ele os deixou ao pé do monte e subiu para
se encontrar com Deus, onde O ouviu dizer:
Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei
sobre asas de águias, e vos trouxe a Mim; Agora, pois,
se diligentemente ouvirdes a Minha voz e guardardes a
Minha aliança, então sereis a Minha propriedade
peculiar dentre todos os povos, porque toda a Terra é
Minha. E vós Me sereis um reino sacerdotal e o povo
santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de
Israel.
Êxodo 19:4-6, ACF

Agora nós sabemos de onde as palavras de Pedro vieram.


Elas foram originalmente faladas aos filhos de Israel. Deus
não falou essas palavras somente a Arão e a seus filhos. Ele
não falou essas palavras somente para a tribo de Levi. Ele
disse a toda a nação, cada homem, mulher e criança hebreia:
“Vós Me sereis um reino sacerdotal”. Você consegue
perceber que Ele queria que todos entrassem em Sua
presença, assim como Moisés o fez?
E o Senhor disse a Moisés: “Vá ao povo e consagre-o
hoje e amanhã. Eles deverão lavar as suas vestes e
estar prontos no terceiro dia, porque nesse dia o
Senhor descerá sobre o monte Sinai, à vista de todo o
povo”.
Êxodo 19:10-11

Nós precisamos examinar cuidadosamente o significado


desses dois versículos. Primeiramente, todo esse cenário é
profético, e não somente se aplicou a eles, mas é a palavra de
Deus para nós também. Deus disse a Moisés que após dois
dias Ele viria ao povo. Nesse período de tempo, Moisés
deveria consagrá-los, o que envolvia a lavagem das vestes.
Nós lemos em 2 Pedro 3:8: “Não se esqueçam disto,
amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos
como um dia”. E o salmista escreveu: “Porque mil anos são
aos Teus olhos como o dia de ontem que passou” (Sl 90:4,
ACF). Apenas um dia de Deus é como mil anos nossos.
Então, quantos anos há desde que Jesus ressuscitou dos
mortos? A resposta é quase dois dias; nós estamos bem no
fim do segundo dia. Historiadores indicam que Jesus
ressuscitou dos mortos por volta do ano 28 ou 29 d.C.
Estamos muito perto da Sua volta de acordo com o relógio
profético! Nós imediatamente vemos a correlação entre o que
Deus disse a Israel e o que Ele está dizendo a nós. Nossa
responsabilidade como Igreja tem sido a de nos consagrarmos
durante esses dois mil anos passados, em preparação para a
Sua vinda!
O que significa consagrar? Raramente ouvimos esse termo
hoje em dia. Consagrar significa “santificar”, e santificar
significa “separar-se”. Um bom exemplo seria o de uma
mulher escolhida para ser a esposa de um rei. Ela seria trazida
ao palácio, onde os eunucos do rei cuidariam dela. A
responsabilidade dos eunucos seria prepará-la para o rei. Ela
não mais viveria como uma mulher normal, pois seria
consagrada, santificada e separada para ser esposa do rei.
Contudo, se ela fizesse sua parte, a santificação seria um
preço pequeno comparado aos benefícios que ela receberia.
Ela desfrutaria de privilégios íntimos com o rei que ninguém
mais poderia desfrutar. Tudo o que ele tinha seria dela. Em
troca, o que o rei esperaria dela? Ela deveria ser dele, somente
dele. Esse exemplo ilustra perfeitamente o que Deus quis
dizer quando declarou: “Sejam santos, pois Eu, o SENHOR,
Sou santo. E Eu os separei dos outros povos para que vocês
sejam somente Meus” (Lv 20:26, NTLH).
Deus estava dizendo algo a Israel ao declarar que o povo
deveria se consagrar a Ele: “Eu os tirei do Egito. Agora,
tirem o Egito de dentro de vocês. Isso os preparará para a
Minha vinda no começo do terceiro dia”. Ele declarou: “Eles
deverão lavar as suas vestes”. As vestes do povo ainda
tinham resíduos do Egito nelas.
Ainda hoje, Deus nos diz: “Eu tenho tirado vocês do
mundo, agora, retirem o mundo de dentro de vocês! Isso os
preparará para a Minha vinda no início do terceiro
milênio”. Nós devemos nos livrar das sujeiras do mundo
lavando nossas vestes. Lembre-se das palavras de Paulo:
“Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-
nos de toda a imundícia da carne e do espírito,
aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2 Co 7:1,
ACF).
Paulo nos diz para limparmos nossas vestes tanto na carne
quanto no espírito, assim como Moisés disse aos filhos de
Israel para lavarem suas vestes físicas. Eu quero deixar algo
bem claro aqui: nós devemos nos lavar. Não é algo que
devemos deixar para Deus fazer! Paulo não disse: “E o sangue
de Jesus os limpará de toda imundícia, tanto na carne quanto
no espírito, portanto somente creia no Seu amor”. O sangue
de Jesus purifica de todos os pecados? A resposta é um
inquestionável sim! Mas, como veremos na Palavra de Deus,
nós temos de fazer a nossa parte nesse processo de limpeza.
Dois Erros Extremos

Durante os últimos cem anos têm havido dois extremos na


Igreja com relação à santificação e à santidade. O primeiro
enfatiza a santidade como um processo extremamente
exterior. Se uma mulher usa maquiagem, ela não é santa. Se
ela usa um vestido acima do joelho, ela não é pura. Bem, uma
mulher pode usar um vestido longo até o pé, prender os
cabelos em um coque e não usar nenhuma maquiagem, e
mesmo assim ter um espírito sedutor visível em seus olhos!
Um homem pode se gabar de nunca ter cometido adultério ou
nunca ter se divorciado de sua esposa, mas mesmo assim
cobiçar todas as mulheres que passam por ele. Isso não é
santidade. Esse extremo se concentra somente na carne, e
santidade não é uma obra da carne. Essa noção levou muitas
pessoas na Igreja a um comportamento legalista.
O segundo extremo, que tem ganhado destaque nas últimas
décadas, é a crença de que nós não temos a responsabilidade
de nos separar do mundo. A ideia é que os cristãos não são
diferentes das pessoas do mundo, com exceção do fato de
que eles foram perdoados. Recentemente, um artista
evangélico muito popular comentou: “Cristãos procuram
conselheiros, cristãos têm problemas de família e cristãos
viram alcoólatras. A única diferença entre cristãos e não
cristãos é simplesmente nossa fé no nosso Deus Criador, que
nos ama e nos ajuda a cada dia”. Esse tipo de pensamento
tem origem nos nossos ensinamentos que têm nos absolvido
da responsabilidade de nos limparmos do mundo. Mas isso
vai diretamente contra o que a Bíblia ensina. Pedro exorta:
“Mas agora, sejam santos em tudo quanto fizerem, tal como
é santo o Senhor, que os convidou para serem Seus filhos” (1
Pe 1:15, ABV).
A verdade está no meio desses dois extremos. Existe uma
cooperação entre humanidade e Divindade quando se trata de
santidade. Jesus é a nossa santificação (ver 1 Coríntios 1:30).
Porém, “a vontade de Deus é que vocês sejam santificados:
abstenham-se da imoralidade sexual. Cada um saiba
controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa...
Porque Deus não nos chamou para a impureza, mas para a
santidade” (1 Ts 4:3-7). Jesus provê a graça para a nossa
santificação, mas nós precisamos cooperar nos limpando por
meio do poder dessa graça. Dessa maneira, somos capazes de
estar no mundo, mas não sermos do mundo.
Para Que Vivamos em Sua Presença
Deus disse a Moisés para santificar o povo. Eles deveriam se
preparar, porque no terceiro dia, o Senhor viria sobre todos no
Monte Sinai, à vista de todo o povo! Deus vir à vista de todo o
povo significava que Ele viria em Sua glória! O profeta Oseias
também nos dá um calendário de dois mil anos de preparação
para Sua gloriosa vinda. Ele clamou:
Venham, voltemos para o Senhor.
Ele nos despedaçou, mas nos trará cura;
Ele nos feriu, mas sarará nossas feridas.
Depois de dois dias Ele nos dará vida novamente;
Ao terceiro dia nos restaurará,
Para que vivamos em Sua presença.
Oseias 6:1-2

Depois de dois dias, dois mil anos, Ele nos dará vida
novamente, e no terceiro milênio Ele nos restaurará para que
vivamos em Sua presença. Esse terceiro milênio é o milénio
do Reino de Cristo (é quando Cristo virá à Terra para reinar
mil anos com Seu corpo glorificado [ver Apocalipse 20:4]).
Oseias continuou falando sobre a Sua vinda:
Conheçamos o Senhor;
Esforcemo-nos por conhecê-Lo.
Tão certo como nasce o sol, Ele aparecerá...
Oseias 6:3
Sua vinda é tão certa quanto a alvorada. A manhã, ou o
nascer do sol, vem em determinado momento todos dos dias.
Não há nada que você possa fazer para mudar esse momento,
absolutamente nada! Ele vem, quer você esteja preparado ou
não. A vinda de Jesus, em Sua glória, está estabelecida, e nada
mudará esse momento. A questão é: estaremos preparados?
Os filhos de Israel acreditavam estar, mas será que estavam
mesmo? Eles nunca haviam visto a glória de Deus antes. Eles
viram grandes sinais e maravilhas e amaram seus benefícios,
mas a Sua glória seria a mesma coisa? Você poderia estar
confortável em uma atmosfera de milagres, mas ainda assim
estar despreparado para a Sua glória? Prossigamos para
descobrir.
CAPÍTULO 4
A GLÓRIA DO SENHOR
A glória de Deus é tudo aquilo que faz Deus ser Deus.
Todas as Suas características, autoridade, poder e
sabedoria — literalmente, todo o esplendor imensurável
e a magnitude de Deus.

D ois dias separavam o povo de Israel da glória de Deus.


Eles estavam prontos? Eles consideraram a advertência
de Deus para se prepararem com seriedade ou acharam que, já
que haviam visto Seu poder milagroso agindo para libertá-los
tantas vezes seguidas, Sua aparição não seria diferente? O que
mais poderia haver? E além do mais, todas as manifestações
haviam sido favoráveis a eles. Por que Sua aparição seria
diferente? O tempo diria. Será que alguém além de Moisés
pensava que talvez eles tivessem passado a considerar sua
relação com o Deus Santo íntima ou familiar demais?
Dois dias se passaram. A manhã estava a ponto de raiar no
terceiro dia. A atmosfera parecia singularmente quieta. A
assustadora calmaria antes da invasão do Todo-Poderoso era
quase intimidante. A Criação estava mais ciente Daquele que
entraria no cenário do que o próprio povo de Deus.
A luz da manhã estava nascendo, mas não era um nascer do
sol típico. De repente, uma nuvem escura desceu do nada. A
simples visão da nuvem já era suficientemente terrível, mas
precedendo sua aparição ainda houve o soar muito alto de
uma trombeta. Ela soava cada vez mais alto! O que poderia
causar um som tão intenso?
Assim que a nuvem desceu à montanha, dela saíram raios
de luz brilhantes e rugidos de trovões. O trovejar constante era
diferente de tudo o que o povo já havia ouvido. Eles vinham
acompanhados de relâmpagos tão brilhantes que o sol parecia
ter perdido sua intensidade. Os filhos de Israel tremeram de
medo. “O espetáculo era tão terrível que até Moisés disse:
‘Estou apavorado e trêmulo!’” (Hb 12:21).
Apesar de seu medo, Moisés assumiu seu papel de
liderança:

Moisés levou o povo para fora do acampamento, para


encontrar-se com Deus, e eles ficaram ao pé do monte.
O monte Sinai estava coberto de fumaça, pois o
Senhor tinha descido sobre ele em chamas de fogo.
Dele subia fumaça como que de uma fornalha; todo o
monte tremia violentamente, e o som da trombeta era
cada vez mais forte. Então Moisés falou, e Deus lhe
respondeu com um trovão.
Êxodo 19:17-19
A Criação Revela Sua Grandeza

Aquele que desceu na montanha é Aquele que planejou e


criou o universo. Aquele que colocou as estrelas em seus
lugares com os próprios dedos. Aquele que com
conhecimento e sabedoria estabeleceu os fundamentos da
Terra. Aquele que é eterno e sem fim!
Durante anos eu tenho me preocupado com o fato de que
temos perdido a visão da grandiosidade Daquele a quem nós
servimos. Isaías fala frequentemente sobre a grandeza e a
majestade de Deus. O profeta questiona:

Será que vocês não sabem?


Nunca ouviram falar?
Não lhes contaram desde a antiguidade?

Isaías está perplexo com o porquê de Israel ter perdido de


vista a grandeza de Deus. Ele declara:
Ele Se assenta no Seu trono, acima da cúpula da Terra,
cujos habitantes são pequenos como gafanhotos.
Ele estende os Céus como um forro,
e os arma como uma tenda para neles habitar...
“Com quem vocês vão Me comparar?
Quem se assemelha a Mim?”, pergunta o Santo.
Ergam os olhos e olhem para as alturas.
Quem criou tudo isso?
Aquele que põe em marcha cada estrela do Seu exército
celestial,
e a todas chama pelo nome.
Tão grande é o Seu poder e tão imensa a Sua força,
que nenhuma delas deixa de comparecer!
Isaías 40:21-26

Deus criou os Céus com Suas mãos ao estender o universo


como um forro. E Ele foi capaz de medir o universo com a
palma de Sua mão (ver Isaías 40:12)! Pense nisto: com a
distância do Seu polegar ao Seu dedo mínimo, Deus mediu o
comprimento, a largura e a profundidade do universo!
Você já parou para pensar no tamanho do universo? Isso
está além da nossa capacidade mental. Talvez, se tentarmos ter
uma pequena ideia da vastidão do universo, nós chegaremos
um milímetro mais perto da Sua glória. Cientistas estimam
que existam bilhões de galáxias no universo, cada uma
contendo bilhões de estrelas. O tamanho dessas galáxias é
relativamente pequeno se comparado à distância entre elas.
Nosso sol está localizado em uma dessas galáxias. Quando
olha para o céu à noite, você não vê o universo inteiro,
somente uma minúscula galáxia na qual vivemos, chamada
Via Láctea. E você vê somente uma parte dela, pois a maioria
das estrelas nessa pequenina galáxia está longe demais para
ser vista a olho nu.
Então, comecemos apenas com a galáxia na qual vivemos. A
estrela que está mais perto — outra além do sol — está a 4,3
anos-luz. Você deve estar pensando: O que significa anos-
luz? É simplesmente a distância que a luz viaja em um ano. A
luz viaja a uma velocidade de uns 300 mil quilômetros por
segundo. Isso significa cerca de 1.080.000.000 quilômetros
por hora. Compare isso à velocidade dos aviões, que voam
aproximadamente a oitocentos quilômetros por hora. Como
você pode ver, a luz é bem veloz!
Para lhe dar uma ideia do quão rápido é, vamos assumir que
você pudesse voar em um avião jumbo até o sol. Quando eu
fui para a Ásia, que é do outro lado do mundo em relação a
onde eu moro, levei aproximadamente vinte e três horas. Se
eu pegasse o mesmo avião, sem nenhuma parada, até o nosso
sol, levaria cerca de vinte e um anos! Pense em como vinte e
um anos são longos, pense em todo esse tempo. Agora,
imagine-se passando vinte e um anos dentro de um avião
somente para chegar ao nosso sol. Para aqueles que preferem
dirigir, talvez levasse cerca de duzentos anos, não incluindo
paradas para reabastecer ou descansar. Quanto tempo a luz
leva para viajar até a Terra? A resposta é: meros oito minutos e
vinte segundos.
Deixemos o sol e consideremos a estrela mais próxima. Nós
já sabemos que ela está a cerca de 4,3 anos-luz. Se nós
construíssemos um modelo em escala da Terra, do sol e da
estrela mais próxima, o resultado seria o seguinte: em
proporção, a Terra se reduziria ao tamanho de um grão de
pimenta, e o sol seria do tamanho de uma bola de vinte
centímetros de diâmetro. De acordo com essa escala de
medidas, a distância da Terra ao sol seria de quase vinte e
quatro metros. Mas lembre-se de que para atravessar essa
distância de vinte e quatro metros, um avião na mesma escala
levaria mais de vinte e um anos.
Assim, se essa é a proporção da Terra em relação ao sol,
você consegue imaginar a que distância a estrela mais próxima
estaria da nossa Terra de grão de pimenta? Você pensaria em
mil metros, dois mil metros ou talvez três mil metros? Nem
sequer chega perto disso. Nossa estrela mais próxima estaria
6,4 mil quilômetros distante do grão de pimenta! Isso significa
que se você colocar a Terra de grão de pimenta em Miami, na
Flórida, o sol estaria a uma distância de vinte e quatro metros,
e a estrela mais próxima, em nosso modelo em escala, seria
posicionada depois da cidade de Seattle, em Washington, no
oceano Pacífico, mais de mil e quinhentos quilômetros dentro
do mar! Para alcançar essa estrela mais próxima em um avião,
levaria aproximadamente 51 bilhões de anos, sem parar! Mas
a luz dessa estrela viaja até a Terra em apenas 4,3 anos!
A maioria das estrelas que você vê à noite, a olho nu, está
cerca de cem a mil anos-luz de distância. Contudo, você pode
ver umas poucas estrelas, a olho nu, que estão à distância de
quatro mil anos-luz (lembre-se de que essas nem sequer são
as estrelas mais distantes em nossa pequenina galáxia). Não
irei tentar calcular a quantidade de tempo que levaríamos de
avião para alcançar uma dessas estrelas. Mas quando você
olha uma dessas estrelas que está a quatro mil anos-luz de
distância, na verdade você vê a luz que saiu delas no tempo
em que Abraão casou-se com Sara, e essa luz tem viajado a
uma velocidade de 1.080.000.000 quilômetros por hora, sem
reduzir a velocidade ou parar desde então, e somente agora
está chegando à Terra!
Essas são as estrelas da nossa pequenina galáxia, a Via
Láctea. Nós não nos aventuramos ainda em examinar os
outros bilhões de galáxias. E não se esqueça de que existe um
quase imensurável e vasto espaço entre elas. Por exemplo,
uma galáxia vizinha muito próxima é chamada de
Andrômeda. Sua distância de nós é de aproximadamente 2,3
milhões de anos-luz. Pense nisto. Seria necessário que a luz
viajasse a velocidade de 1.080 milhões de quilômetros por
hora por mais de dois milhões de anos para sair daquela
galáxia e chegar à Terra! E essa é a galáxia mais próxima de
nós. Existem bilhões de outras. Será que já chegamos ao
limite da nossa compreensão?
Isaías declara que Deus mediu esse vasto universo com a
distância de Seu polegar ao Seu dedo mínimo! Salomão,
movido pelo Espírito de Deus, declarou: “Mas será possível
que Deus habite na Terra? Os Céus, mesmo os mais altos
Céus, não podem conter-Te” (1 Rs 8:27). Você está tendo um
relance de Quem desceu naquela montanha.
Com Quem Vocês Vão Me Comparar?

Talvez devamos falar de outras coisas que são pequenas para


Deus. Isaías diz que Ele pesou os montes em Sua própria
balança e colocou as colinas nos pratos da balança. Ele mediu
toda a água dos oceanos, mares, lagos, rios e açudes com a
palma de Sua mão. É Ele quem ordena os mares para que não
ultrapassem seus limites (ver Isaías 40:12).
Você já refletiu sobre o poder dos mares? Se um meteoro de
um quilômetro e meio caísse no oceano Pacífico, a algumas
centenas de quilômetros de distância de Los Angeles, na
Califórnia, ele criaria uma onda grande o suficiente para matar
todos os habitantes e destruir a estrutura da costa oeste inteira
dos Estados Unidos, desde San Diego até Anchorage, no
Alasca! Essa onda continuaria ao longo do oceano e destruiria
vários países asiáticos também. Ainda assim, essa onda não
seria tão alta quanto a profundidade do oceano Pacífico.
Então, o que aconteceria se toda a água do oceano fosse
liberada sobre a raça humana? Existe um grande poder nos
oceanos do mundo, mas Deus pesou cada gota dessas águas
na palma de Sua mão!

As Pequenas Coisas São Maravilhosas

Ele fez grandiosas obras de enorme tamanho e proporção, e


o Seu detalhamento é igualmente assustador. Cientistas têm
gasto anos e enormes montantes de dinheiro para estudar o
funcionamento do mundo natural. E eles ainda têm somente
uma pequena parcela da sabedoria que foi aplicada por Deus
na criação do mundo natural. Muitas questões ainda
permanecem sem respostas.
Todas as formas de vida têm por base as células. As células
são os blocos de construção do corpo humano, das plantas,
dos animais e de tudo o que vive. O corpo humano, que em si
mesmo é uma maravilha da engenharia, contém cerca de
100.000.000.000.000 de células — (você consegue ler esse
número?) — dentre as quais há uma variedade imensa. Em
Sua sabedoria, Deus designou essas células para
desempenharem tarefas específicas. Elas crescem, se
multiplicam e, finalmente, morrem na hora certa.
Embora invisíveis a olho nu, as células não são as menores
partículas conhecidas pelo homem. Elas são constituídas por
um grande número de estruturas menores, chamadas
moléculas, que por sua vez são compostas de estruturas
menores ainda — chamadas de elementos — e dentro dos
elementos ainda podem ser encontradas estruturas ainda mais
minúsculas, chamadas de átomos.
Os átomos são tão pequenos, que o ponto no fim desta frase
contém mais de um bilhão deles. Ainda assim, um átomo é
composto quase completamente de espaço vazio. O que resta
do átomo é formado de prótons, nêutrons e elétrons. Os
prótons e nêutrons estão agrupados em um núcleo minúsculo
e extremamente denso, bem no centro do átomo. Pequenos
feixes de energia chamados de elétrons vibram ao redor desse
núcleo à velocidade da luz. Eles são o núcleo dos blocos de
construção que mantêm todas as coisas unidas.
Então, onde o átomo adquire sua energia? E que força
mantém unidas suas partículas energéticas? Os cientistas
chamam isso de energia atômica. Esse é apenas um termo
científico para descrever o que eles não conseguem explicar,
pois Deus já disse que Ele está “sustentando todas as coisas
por Sua palavra poderosa” (Hb 1:3). E nós lemos que: “Nele
tudo subsiste” (Cl 1:17).
Pare e reflita sobre isso por apenas um momento. Esse é o
glorioso Criador a que nem sequer o universo pode conter. O
universo é medido com a palma de Sua mão; contudo, Ele é
tão minucioso nos Seus desígnios em relação à pequenina
Terra e Suas criaturas, que deixa a ciência moderna confusa
mesmo após anos de estudo.
É claro que muitos livros podem ser escritos sobre as
maravilhas e a sabedoria da Criação de Deus. Esse não é meu
objetivo aqui. Meu propósito é despertar espanto e admiração
pelas obras das mãos de Deus, porque elas proclamam Sua
magnífica glória!
Quem É Esse que Obscurece o Meu Conselho?
Agora você pode entender melhor como Jó se sentiu depois
que, após pronunciar questionamentos e declarações tolas aos
ouvidos de Deus, o próprio Deus apareceu para ele em um
redemoinho de vento, e disse:

Quem é esse que obscurece o Meu conselho com


palavras sem conhecimento? Prepare-se como simples
homem; vou fazer-lhe perguntas, e você Me responderá.
Onde você estava quando lancei os alicerces da Terra?
Responda-Me, se é que você sabe tanto. Quem marcou
os limites das suas dimensões? Talvez você saiba! E
quem estendeu sobre ela a linha de medir? E os seus
fundamentos, sobre o que foram postos? E quem
colocou sua pedra de esquina...
Quem represou o mar pondo-lhe portas, quando ele
irrompeu do ventre materno, quando o vesti de nuvens
e em densas trevas o envolvi, quando fixei os seus
limites e lhe coloquei portas e barreiras, quando Eu lhe
disse: “Até aqui você pode vir, além deste ponto não;
aqui faço parar suas ondas orgulhosas”?
Você já deu ordens à manhã ou mostrou à alvorada o
seu lugar, para que ela apanhasse a Terra pelas pontas
e sacudisse dela os ímpios?...
As portas da morte lhe foram mostradas? Você viu as
portas das densas trevas? Você faz ideia de quão
imensas são as áreas da Terra? Fale-me, se é que você
sabe.
Como se vai ao lugar onde mora a luz? E onde está a
residência das trevas? Poderá você conduzi-las ao
lugar que lhes pertence? Conhece o caminho da
habitação delas?...
Acaso você entrou nos reservatórios de neve, já viu os
depósitos de saraiva, que Eu guardo para os períodos
de tribulação, para os dias de guerra e de combate?
Qual o caminho por onde se repartem os relâmpagos?
Onde é que os ventos orientais são distribuídos sobre
a Terra?
Quem é que abre um canal para a chuva torrencial, e
um caminho para a tempestade trovejante, para fazer
chover na terra em que não vive nenhum homem, no
deserto onde não há ninguém...
Você pode amarrar as lindas Plêiades? Pode afrouxar
as cordas do Órion? Pode fazer surgir no tempo certo
as constelações ou fazer sair a Ursa com seus filhotes?
Você conhece as leis dos Céus? Você pode determinar o
domínio de Deus sobre a Terra?
Você é capaz de levantar a voz até as nuvens e cobrir-
se com uma inundação? É você que envia os
relâmpagos, e eles lhe dizem: “Aqui estamos”?
Jó 38:2-35

Quando Deus terminou de falar, um Jó diferente clamou:

Meus ouvidos já tinham ouvido a Teu respeito,


Mas agora os meus olhos Te viram.
Por isso menosprezo a mim mesmo
E me arrependo no pó e na cinza.
Jó 42:5-6

Antes da provação de Jó, Deus disse que ninguém era como


ele em todo o planeta. O Senhor declarou que ele era reto e
íntegro, que temia a Deus e se desviava do mal. Jó tinha não
somente ouvido as palavras de Deus, mas também as havia
ensinado a sua família e seus amigos. Mesmo assim, quando
ele viu Deus, clamou por misericórdia, pois perto de um Deus
santo ele seria, na melhor das hipóteses, um homem
imperfeito.
Isaías foi um homem fiel e temente a Deus, mas quando
contemplou o Senhor em uma visão, ele clamou: “Ai de mim!
Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros...” (Is
6:5). A glória de Deus revela nossa absoluta necessidade da
Sua graça, pois sem ela estaremos eternamente condenados.
Deus é muito maior do que possamos imaginar. Ele é tão
grande, que os anjos que estão ao redor do Seu trono ao
longo dos séculos, ainda clamam em temor: “Santo, Santo,
Santo!”. Esse é Aquele que desceu naquela montanha em Sua
glória perante Israel.
Luz Inacessível

Agora vamos pensar a respeito do que é a glória do Senhor.


Algumas pessoas na Igreja já descreveram a glória de Deus
como uma nuvem, ou uma manifestação similar, e os cristãos
costumam dizer: “A glória do Senhor desceu naquele culto”.
Mas essa afirmação limita e obscurece o conselho de Deus
com palavras sem conhecimento (ver Jó 38:2).
Primeiro, a glória de Deus não é uma nuvem. Você pode
perguntar: “Então por que uma nuvem é mencionada quase
toda vez que a glória de Deus era manifesta na Bíblia?”. Deus
precisa Se esconder em uma nuvem, pois Ele é magnífico
demais para ser contemplado. Se uma nuvem não cobrisse a
Sua face, toda carne ao Seu redor seria consumida e morreria
instantaneamente. Quando Moisés pediu para ver a glória de
Deus, a resposta do Senhor foi firme: “Você não poderá ver a
Minha face, porque ninguém poderá ver-Me e continuar
vivo” (Êx 33:20).
A carne humana não pode suportar a presença do Santo
Senhor em Sua glória. Ele é fogo consumidor e Nele não há
treva alguma (ver Hebreus 12:29; 1 João 1:5). Paulo escreve
sobre Jesus: “Ele é o Bendito e Único Soberano, o Rei dos
reis e Senhor dos senhores, o Único que é imortal e habita
em luz inacessível, a Quem ninguém viu nem pode ver” (1 Tm
6:15-16).
Essa luz é diferente de tudo que já se viu na Terra. Um
amigo meu é pastor no Estado do Alabama. Há alguns anos
ele estava em uma igreja em construção. Houve um acidente e
alguns materiais de construção pesados caíram sobre ele,
quebrando-lhe o crânio, o pescoço e a coluna. Os
paramédicos disseram que ele estava morto quando chegaram
ao local, e o cobriram.
Eu estava jogando golfe com ele alguns anos atrás, quando
lhe pedi que me contasse sua experiência com Jesus. Eu
estraguei o jogo dele, pois ele chorou sem parar desde o
décimo quarto buraco até o décimo oitavo buraco, enquanto
me contava a história.
Ele disse:
— John, eu vi uma grande luz a certa distância de mim, e fui
em direção a ela rapidamente. Quanto mais perto eu me
achegava, mais intensa a luz se tornava. A luz era tão brilhante
e tão branca, que é impossível compará-la a qualquer coisa
que eu consiga descrever. Era tão brilhante que eu mal podia
olhar. Por causa da intensidade da luz eu não podia ver as
feições de Jesus, mas sabia que era Ele.
— Tudo o que eu conseguia ver era uma luz brilhante quase
que inacessível. O que mais me chamava atenção era Sua
santidade. O fogo parecia revelar isso. Eu tinha certa
consciência de que todas as células do meu ser estavam
expostas a Ele. Senti como se a luz do Seu ser estivesse me
limpando. À medida que essa luz me limpava, comecei a ver
Seus traços, primeiro vi os Seus olhos. Aqueles olhos eram
fortes e penetrantes, mas mesmo assim cheios de amor.
Finalmente Jesus lhe mostrou que sua obra na Terra não
estava terminada, e que ele deveria voltar. Ele já havia sido
declarado como morto e coberto pelos paramédicos. Quando
retornou ao corpo e começou a se movimentar debaixo do
lençol, ele deixou aterrorizados todos os que estavam por
perto. Hoje, ele é um homem que tem amor e zelo pela oração
e tem um estilo de vida de grande temor a Deus.
Paulo diz que Jesus habita em luz inacessível, a qual
nenhum homem pode ver. O salmista declara que o Senhor Se
cobre de luz como se fossem Suas vestes (ver Salmos 104:2;
meu amigo pastor pôde ver o Senhor porque não estava em
seu corpo físico). Paulo experimentou uma medida dessa luz
inacessível a caminho para Damasco. Ele relatou ao rei
Agripa: “Por volta do meio-dia, ó rei, estando eu a caminho,
vi uma luz do Céu, mais resplandecente que o sol, brilhando
ao meu redor” (At 26:13).
Paulo não viu a face de Jesus; viu somente uma luz que
emanava Dele, que brilhava mais do que o sol em pleno meio-
dia no Oriente Médio. Eu vivi na Flórida por doze anos, que é
chamado de o Estado do Sol. Lá, eu nunca tive de usar óculos
de sol. Contudo, quando viajei para o Oriente Médio, tive de
usá-los. Nessa região, o sol parece muito mais forte, por ter
um clima mais seco, desértico. O sol não era tão forte às oito
ou nove da manhã, mas de onze até duas da tarde, era muito
forte. Mesmo assim, Paulo disse que a luz de Jesus brilhava
ainda mais! Nós ensinamos aos nossos filhos a não olharem
para o sol porque sua luz é muito forte para os nossos olhos.
Imagine se tentarmos olhar para o sol do meio-dia em nossa
própria região. Seria difícil, a menos que houvesse nuvens o
cobrindo. A glória do Senhor excede em muito esse brilho.
Ambos, Joel e Isaías, enfatizaram que nos últimos dias a
glória do Senhor seria revelada, e o sol se tornaria em trevas:

Vejam! O dia do Senhor está perto...


As estrelas do Céu e as suas constelações
Não mostrarão a sua luz.
O sol nascente escurecerá,
E a lua não fará brilhar a sua luz.
Isaías 13:9-10

Quando nós andamos em noite clara, o que podemos ver?


Estrelas em todo lugar. Mas quando o sol aparece de manhã, o
que acontece? Não há mais nenhuma estrela! As estrelas
esperam o sol desaparecer para voltarem para o céu? Não. A
glória das estrelas tem um nível, mas a glória do sol tem um
nível imensamente superior. Quando o sol sai, por ser muito
mais brilhante do que as estrelas, ele as escurece. Quando
Jesus retornar, por Sua glória ser muito maior do que a do sol,
Ele escurecerá o sol de forma que não mais o veremos,
mesmo que ele ainda esteja brilhando! Aleluia!
A glória do Senhor sobreporá a todas as outras luzes. Ele é
perfeito e Se veste de luz. É por isso que em Sua segunda
vinda os homens de toda a Terra:
Fugirão para as cavernas das rochas
E para os buracos da Terra,
Por causa do terror que vem do Senhor
E do esplendor da Sua majestade.
Isaías 2:19
Tudo o que Faz Deus Ser Deus

O que é a glória do Senhor? Para responder, voltemos ao


pedido de Moisés para ver a glória de Deus: “Então disse
Moisés: ‘Peço-Te que me mostres a Tua glória’” (Êx 33:18).
A palavra no hebraico para “glória” é kabowd. Ela é definida
pelo dicionário Bíblico de Strong como “o peso de algo, mas
somente de modo figurado em um bom sentido”. Sua
definição também fala sobre esplendor, abundância e honra.
Moisés estava pedindo: “Deixa que eu Te vejo em toda o Seu
esplendor”. Leia com atenção a resposta de Deus: “Eu farei
passar toda a Minha bondade por diante de ti, e
proclamarei o nome do SENHOR diante de ti” (Êx 33:19,
ACF).
Após Moisés ter pedido para ver toda Sua glória, Deus Se
referiu a ela como “toda a Minha bondade”. A palavra em
hebraico para “bondade” é tuwb, que significa “bom, no
sentido mais amplo”. Em outras palavras, nada é retido.
Deus continuou: “proclamarei o nome do SENHOR diante
de ti”. Antes que um rei entre na sala do trono, os servos
anunciam seu nome. As trombetas soam, e então ele entra na
sala do trono em todo o seu esplendor. A grandeza do rei é
revelada, e na corte não há nenhuma dúvida de quem é o rei.
Contudo, se o monarca estivesse usando roupas normais e
andando em uma cidade de sua nação sem seus servos, talvez
as pessoas passassem por ele sem ao menos o reconhecer.
Resumindo, foi exatamente isso que Deus fez por Moisés. Ele
estava dizendo: “Eu proclamarei Meu nome e passarei diante
de você com todo o Meu esplendor”.
A glória do Senhor é revelada na face de Jesus Cristo (ver 2
Coríntios 4:6). Muitos dizem ter contemplado visões de Jesus
e visto a Sua face. Isso é bastante possível, mas não em toda a
Sua glória. Paulo escreveu: “Agora, pois, vemos apenas um
reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face
a face” (1 Co 13:12). Sua glória é coberta como em um
reflexo obscuro, pois nenhum homem é capaz de olhar para
Sua glória e permanecer vivo.
Os discípulos olharam para a face de Jesus após Sua
ressurreição dos mortos, mas Ele não revelou abertamente a
Sua glória. Algumas pessoas viram o Senhor, mesmo no
Antigo Testamento, mas Ele não Se revelou em Sua glória. O
Senhor apareceu para Abraão nos carvalhos de Manre, mas
não em Sua glória (ver Gênesis 18:1-2). Jacó lutou com Deus,
mas não em Sua glória (ver Gênesis 32:24-30).
Josué olhou para a face do Senhor antes de invadir Jericó
(ver Josué 5:13-15). O Senhor apareceu a ele como um
homem de guerra. Josué não O reconheceu, pois perguntou
quem Ele era: “Você é por nós, ou por nossos inimigos?” (v.
13). O Senhor respondeu que Ele era o Comandante do
exército do Senhor e que Josué deveria retirar as sandálias dos
pés, pois o lugar onde ele pisava era santo. Lembre-se do
exemplo do rei, não em sua glória, mas vestindo roupas
comuns em uma rua do seu reino. As pessoas poderiam
passar por ele sem reconhecer sua identidade. Isso retrata o
que aconteceu com Josué.
O mesmo é verdade em relação aos acontecimentos após a
Ressurreição. Maria Madalena foi a primeira pessoa com a
qual Jesus falou, mas ela pensou que Ele fosse o jardineiro
(ver João 20:15-16). Os discípulos comeram peixe com Jesus
na praia (ver João 21:9-13). Dois discípulos andaram com
Jesus no caminho para Emaús, “mas os olhos deles foram
impedidos de reconhecê-Lo” (Lc 24:16). Todos eles viram Sua
face porque Ele não revelou abertamente a Sua glória.
Por outro lado, João, o apóstolo, viu o Senhor no Espírito e
teve um encontro totalmente diferente daquele em que ele
comeu peixe na praia com Jesus, pois João O viu em Sua
glória. Ele descreveu Jesus:

Um semelhante ao Filho do Homem, vestido até aos


pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos
com um cinto de ouro. E a Sua cabeça e cabelos eram
brancos como lã branca, como a neve, e os Seus olhos
como chama de fogo; E os Seus pés, semelhantes a
latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa
fornalha, e a Sua voz como a voz de muitas águas... o
Seu rosto era como o sol, quando na sua força
resplandece. E eu, quando vi, caí a Seus pés como
morto.
Apocalipse 1:13-17, ACF

“Seu rosto era como o sol, quando na sua força


resplandece”. Como João pôde olhar para Ele? Ele estava no
Espírito.
A glória do Senhor é tudo aquilo que faz Deus ser Deus.
Todas as Suas características, Sua autoridade, Seu poder e Sua
sabedoria — literalmente, todo o esplendor imensurável e a
magnitude de Deus. Nada é escondido ou encoberto. Esse é
Aquele que desceu naquela montanha no terceiro dia.
Israel estava preparado? Como esse povo reagia a Sua
glória? E nós, estaremos preparados no terceiro milênio?
Como reagiremos à vinda da Sua glória?
CAPÍTULO 5
A Passagem para a Montanha
Deus está nos chamando para a Sua
montanha, para que O conheçamos intimamente.
A passagem para essa montanha é a santidade que
nasce de um coração temente a Deus.

M uitos dos filhos de Israel provavelmente pensaram que


estavam prontos para a terceira manhã. Eles tinham
visto o poder libertador de Deus trabalhando em seu favor
inúmeras vezes. Mas eles nunca tinham visto a Sua glória
revelada. A resposta deles foi como eles imaginaram que
seria?

Vendo-se o povo diante dos trovões e dos relâmpagos, e


do som da trombeta e do monte fumegando, todos
tremeram assustados. Ficaram a distância e disseram
a Moisés: “Fala tu mesmo conosco, e ouviremos. Mas
que Deus não fale conosco, para que não morramos”.
Êxodo 20:18-19

O povo tremeu e ficou a distância. Eles não queriam ouvir a


voz audível de Deus nem desejavam permanecer de pé na Sua
gloriosa presença. Os filhos de Israel tinham visto alguns dos
maiores milagres que qualquer geração presenciou. Quantos
pregadores você já viu abrindo um lago, para não falar de um
mar? Quantos pregadores oram o suficiente para que caia pão
dos Céus para alimentar três milhões de pessoas? Estudiosos
estimam que o maná necessário para alimentar aquele povo
era suficiente para encher os vagões de dois trens, cada um
com cento e dez vagões!
Retirando-se da Sua glória

O povo não era tão diferente da nossa Igreja Moderna. Com


relação à salvação, eles saíram do Egito, o que tipifica a
experiência do novo nascimento. Com relação à libertação,
eles experimentaram a libertação de seus opressores. Nesse
mesmo aspecto, “Ele nos resgatou do domínio das trevas e
nos transportou para o Reino do Seu Filho amado” (Cl
1:13). Com relação aos milagres, eles viram os benefícios dos
milagres de Deus, assim como muitos veem hoje na Igreja.
E quanto à prosperidade? Eles experimentaram a riqueza do
ímpio que Deus acumula para o justo: “Ele tirou de lá Israel,
que saiu cheio de prata e ouro” (Sl 105:37).
E o que dizer da cura? A Bíblia registra: “Todos eram fortes
e cheios de saúde” (Sl 105:37, NTLH). Moisés deixou o Egito
com três milhões de pessoas fortes e saudáveis. Você
consegue imaginar uma cidade com três milhões de habitantes
sem que ninguém estivesse doente ou no hospital? Os
israelitas haviam sofrido durante quatrocentos anos. Imagine
os milagres e as curas que aconteceram quando eles comeram
do cordeiro pascal!
O povo não desconhecia a salvação, a cura, o milagre nem o
poder libertador de Deus. Eles celebravam com entusiasmo
quando Deus Se movia miraculosamente em favor deles. Eles
dançavam e louvavam a Deus como nós fazemos na Igreja
hoje (Êx 15:1,20). Então é interessante notarmos que eles se
achegavam às Suas manifestações miraculosas porque se
beneficiavam delas, mas se afastaram e estremeceram quando
Sua glória foi revelada.
Por que o povo se sentia confortável e até mesmo
entusiasmado na atmosfera de milagres, mas se sentiu
desconfortável a ponto de se retirar na presença da Sua glória?
Porque na atmosfera de milagres eles podiam esconder o
pecado.
Uma multidão dirá a Jesus: “‘Senhor, Senhor, não
profetizamos em Teu nome? Em Teu nome não expulsamos
demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então Eu lhes
direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de Mim
vocês, que praticam o mal!’” (Mt 7:22-23). A multidão estava
familiarizada com os sinais e prodígios de Deus, e alguns até
mesmo os realizavam, mas durante todo esse tempo eles
mantiveram pecados escondidos em suas vidas. Mas ninguém
pode esconder pecados quando está na presença da Sua
glória, pois a Sua luz expõe todas as coisas.
Jesus nos diz no Novo Testamento:

Meus amigos: Não tenham medo dos que matam o


corpo e depois nada mais podem fazer. Mas Eu lhes
mostrarei a quem vocês devem temer: temam Aquele
que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar
no inferno. Sim, Eu lhes digo, Esse vocês devem temer.
Lucas 12:4-5

Por que Jesus disse isso? A razão aparece nos versículos que
antecedem a exortação para temermos a Deus: “Não há nada
escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que
não venha a ser conhecido. O que vocês disseram nas trevas
será ouvido à luz do dia” (Lc 12:2-3).
Nós podemos viver com pecados escondidos quando
estamos envoltos pela atmosfera do miraculoso, mas o pecado
não se esconde na luz da Sua glória revelada! Adão e Eva se
esconderam da glória do Senhor no Jardim do Éden após
terem desobedecido. Houve um tempo em que andavam com
Ele qundo soprava a brisa do dia (ver Gênesis 2-3). Jesus
explica: “Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima
da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas” (Jo
3:20).
Moisés incitou o povo: “‘Não tenham medo! Deus veio
prová-los, para que o temor de Deus esteja em vocês e os
livre de pecar’. Mas o povo permaneceu a distância, ao
passo que Moisés aproximou-se da nuvem escura em que
Deus Se encontrava” (Êx 20:20-21).
Você deve estar pensando: Moisés se aproximou da nuvem
escura, e não à luz. Lembre-se de que Deus é tão brilhante
que Ele precisa Se cobrir com uma nuvem escura. Moisés se
aproximou à luz de Deus, enquanto o povo se retirou. Alguns
versículos de Deuteronômio mostram a reação do povo: “O
Senhor, o nosso Deus, mostrou-nos Sua glória e Sua
majestade, e nós ouvimos a Sua voz vinda de dentro do
fogo” (Dt 5:24). Você pode imaginar o que aconteceria se a
nuvem não fosse espessa e escura? Sua face era tão brilhante
que eles O descreveram como um fogo consumidor, embora
Ele estivesse coberto por uma nuvem espessa e escura!
Moisés rapidamente advertiu o povo: “Não tenham medo”,
encorajando-o a voltar à presença de Deus, de onde a vida
verdadeira emanava. Ele disse ao povo que Deus viera para
testá-lo. Por que Deus nos testa? Para ver o que há em nós?
Não, Ele já sabe. Ele nos testa para que nós saibamos o que
há em nossos corações. Os filhos de Israel precisava
reconhecer se eles temiam ou não a Deus. Se eles temessem a
Deus, não pecariam. O pecado é o resultado que surge todas
as vezes que nos afastamos Dele.
Moisés disse: “Não tenham medo”, e então enfatizou que o
Senhor viera “para que o temor de Deus esteja em vocês”.
Ele claramente estabeleceu a diferença entre ter medo de Deus
e temer a Deus. Moisés temia a Deus, mas o povo amava a si
mesmo. Temer a Deus é amá-Lo acima de todas as coisas! É o
desejo de obedecer a Deus mesmo quando parece mais
vantajoso realizar o próprio desejo e desobedecer à Sua
Palavra. Aqueles que amam a si mesmos não podem temer a
Deus. Esta é uma verdade comprovada: se não temermos a
Deus, teremos medo Dele e da revelação da Sua glória, e nos
retrairemos diante dela. Lembre-se de que o povo se afastou
da glória do Senhor, mas Moisés se aproximou a ela.
O livro de Deuteronômio registra o que aconteceu anos
depois, com a geração posterior antes que entrou na terra
prometida. Ele revela um ponto que Êxodo não nos mostra.
Moisés lembrou ao povo o que aconteceu quando a glória de
Deus se manifestou na nuvem escura. Eles pediram a Moisés:
“Aproxime-se você, Moisés, e ouça tudo o que o Senhor, o
nosso Deus, disser; você nos relatará tudo o que o Senhor, o
nosso Deus, lhe disser. Nós ouviremos e obedeceremos” (Dt
5:27).
Eles queriam que Moisés ouvisse por eles, e prometeram
ouvir tudo que Deus dissesse por meio dele. Assim, eles
poderiam continuar em contato com Deus, mas sem ter de
lidar com as trevas e os pecados escondidos em seus
corações. Boas intenções nem sempre produzem resultados
corretos, pois essa nação tentou esse caminho durante mil e
quinhentos anos, mas isso não lhe deu a capacidade de andar
nos caminhos de Deus.
Quantos de nós somos como eles? Recebemos a Palavra de
Deus por intermédio de outros, mas nós mesmos nos
afastamos da montanha de Deus? Será que temos medo de
ouvir Sua voz que expõe a condição do nosso coração? Será
que nossa preocupação é que, se chegarmos perto demais,
alguma coisa que preferiríamos que continuasse em segredo
possa ser revelada? Se isso continuar em segredo, não
teremos de confrontá-lo, e nós nunca queremos confrontar
algo de que ainda gostamos.
A Hora Mais Obscura Deles
Moisés ficou desapontado com a resposta de Israel. Ele não
podia entender a falta de sede da presença de Deus que eles
tinham. Como eles podiam ser tão tolos? Como podiam ser
tão cegos? Por que alguém recusaria ter um encontro com o
Deus vivo?
Moisés trouxe sua profunda preocupação perante o Senhor
na esperança de uma solução. Mas ouça o que aconteceu
entre ele e o Senhor: “O Senhor ouviu quando vocês me
falaram e me disse: ‘Ouvi o que este povo lhe disse, e eles
têm razão em tudo o que disseram” (Dt 5:28).
Moisés deve ter ficado espantado com a resposta de Deus.
Ele certamente pensou: O quê? Eles estavam certos? Será
que pelo menos uma vez eles estavam certos? Ele deve ter
clamado em seu coração a Deus: “Por que eles não podem vir
até a Sua presença, como Tu desejas que eles façam?” Antes
de Moisés terminar, Deus respondeu, e nós podemos sentir a
tristeza em Suas palavras: “Quem dera eles tivessem sempre
no coração esta disposição para temer-Me e para obedecer
a todos os Meus mandamentos. Assim tudo iria bem com
eles e com seus descendentes para sempre!” (Dt 5:29).
O Senhor queria que eles viessem à Sua montanha santa
para contemplá-Lo. Ele queria revelar-Se a eles, mas faltava-
lhes o que é necessário para habitar em Sua presença: santo
temor. Agora, nós podemos realmente sentir a tristeza de
Deus quando Ele diz a Moisés: “Vá, diga-lhes que voltem às
suas tendas” (Dt 5:30).
Que momento tão decepcionante! Essa foi a hora mais
obscura deles! Muitos pensam que a pior hora deles foi
quando eles apresentaram um relatório negativo que os
deixou de fora da terra prometida, ou quando eles
construíram um bezerro de ouro. Não, meus amigos, essa foi
a pior hora deles. Se eles tivessem santificado seus corações,
teriam sido capazes de entrar na presença gloriosa de Deus.
Então o bezerro de ouro e o relatório negativo que os privou
de entrar na terra prometida nunca teriam acontecido.
Isso acontece ainda hoje. A pior hora de um homem não é
quando ele vai para cama com uma mulher que não é sua
esposa ou rouba dinheiro de seu patrão. É quando ele recusa o
convite do Senhor de deixar os desejos deste mundo e ir até o
recôndito do Rei para ter comunhão com Ele. Se tivessem se
aproximado a Ele, nada daquilo teria acontecido.
A pior hora de um jovem não é quando ele fica bêbado ou
drogado. Não é quando ele é preso por roubo. É quando Deus
o chama para se aproximar, mas manter sua popularidade
entre os amigos sobrepõe-se ao convite do Rei. Externamente,
não parece ser algo tão obscuro, mas todo o Céu chora
quando o chamado de Deus é ignorado.
Deus disse aos filhos de Israel para que voltassem a suas
tendas, mas Ele disse àquele que O temia: “Tu, porém, fica-te
aqui comigo, Eu te direi todos os mandamentos” (Dt 5:31,
ARA).
Moisés podia permanecer com Deus e ouvir Suas palavras
por causa de seu temor ao Senhor. Qualquer outra pessoa
poderia ter ficado ali também, se tivesse se limpado da
imundícia do Egito com o temor do Senhor. Moisés lhes disse
mais tarde: “O Senhor falou com você face a face, do meio do
fogo, no monte. Naquela ocasião eu fiquei entre o Senhor e
você para declarar-lhe a palavra do Senhor, porque você
teve medo do fogo e não subiu o monte” (Dt 5:4-5).
Eles acreditavam que não conseguiriam ver seus corações
expostos à luz da Sua glória, então se retiraram para um lugar
em que se sentiriam seguros. Se eles tivessem decidido se
aproximar, a luz de Deus teria simplesmente curado o que
fosse revelado, mas eles amavam a condição em que estavam
e não queriam mudar.
Vamos dar um passo atrás e olhar para o quadro completo a
partir da perspectiva de Deus. Deus fez coisas indescritíveis
para libertar Seu povo do cativeiro da escravidão através de
milagres, sinais e maravilhas. A Bíblia conta que Ele fez tudo
isso com forte mão e com braço estendido. Ele
cuidadosamente os guiou e os preparou para o Seu propósito
principal, que era trazê-los para Si mesmo. Ele disse a cada
um deles que Seu desejo era que eles fossem sacerdotes
diante Dele e que Ele habitaria entre eles, que Ele seria seu
Deus, e que eles seriam o Seu povo escolhido. Que plano
amoroso Ele arquitetou! Mas quando Ele os trouxe para Si
mesmo, todos eles fugiram!
Quando Ele se tornou Pai? Quando Jesus nasceu? Não! Ele
sempre teve um coração paterno. Você pode imaginar como o
coração de Deus ficou, quando Ele cuidadosamente guiou o
povo até Si Próprio, para Se revelar a eles, e todos eles
fugiram? Foi de partir o coração!
Um Relance da Glória

Agora que vimos a partir do registro de Deuteronômio a


razão pela qual o povo se retirou, voltemos para a cena em
que Deus desceu sobre a montanha. Assim que o povo se
retraiu, Deus determinou que se iniciasse o sacerdócio. Ele
selecionaria um homem que viria até Sua gloriosa presença
em favor do povo. Ele escolheu Arão para que fosse esse
sacerdote. Depois de escolher Arão, “o Senhor respondeu [a
Moisés]: ‘Desça e depois torne a subir, acompanhado de
Arão (Êx 19:24).
No entanto, Arão não se aproximou da presença de Deus.
Em vez disso, ele permaneceu a distância juntamente com o
povo (Êx 20:21).
Deus veio novamente a Moisés e disse: “‘Subam o monte
para encontrar-se com o Senhor, você e Arão, Nadabe e
Abiú, e setenta autoridades de Israel. Adorem à distância.
Somente Moisés se aproximará do Senhor; os outros não. O
povo também não subirá com ele’” (Êx 24:1-2).
Deus chamou Arão, seus filhos e os líderes de Israel, entre
os quais estava Josué. Deus não chamou Arão para ir até o
cume do monte; ele deveria ir a um lugar da montanha acima
do acampamento. Ele já havia se retirado da presença de Deus
uma vez porque não temeu ao Senhor, portanto, ele só seria
capaz de adorar de longe. Muitos hoje adoram ao Senhor de
longe, porque isso é seguro. Essas pessoas evitam santificar
seus corações, mas satisfazem a necessidade interior de adorar
ao Senhor.
Em sua adoração, esses homens viram o Deus de Israel: “E
viram o Deus de Israel, sob cujos pés havia algo semelhante
a um pavimento de safira, como o Céu em seu esplendor”
(Êx 24:10). Um comentário de Matthew Henry diz algo que eu
creio que aconteceu:
Eles viram o Deus de Israel (v. 10), isto é, eles tiveram
algum tipo de relance da glória de Deus, em luz e fogo,
embora nunca tenham visto algo semelhante. Eles
viram o lugar onde o Deus de Israel estava (de acordo
com a Septuaginta), e o compararam com algo que
tinha alguma semelhança, mas não era bem isso. Seja
lá o que for que eles tenham visto, certamente foi algo
do qual não se poderia fazer nenhum desenho ou
imagem, mas mesmo assim os satisfez suficientemente
e os assegurou de que Deus certamente estava presente
ali.

Os homens tiveram um relance, mas eles não tiveram


permissão para entrar na presença gloriosa de Deus. O temor a
Deus que Moisés tinha foi a chave para que ele fosse
convidado a se aproximar da presença do Senhor. Deus o
convidou: “Suba o monte, venha até Mim, e fique aqui” (Êx
24:12).
Oh, como eu amo o que Deus disse a Moisés! Esse é o lugar
secreto onde Deus revela Seus pensamentos mais íntimos e
Seus caminhos. Esse é o lugar onde Seus tesouros são
encontrados. Isaías nos anuncia:
O Senhor é exaltado, pois habita no alto...
Ele será o firme fundamento nos tempos a que você
pertence,
Uma grande riqueza de salvação, sabedoria e
conhecimento;
O temor do Senhor é a chave desse tesouro.
Isaías 33:5-6

Há uma chave que abre o tesouro de conhecer a Deus. Nós


lemos que “Ele revelou os Seus planos a Moisés e deixou que
o povo de Israel visse os Seus feitos poderosos” (Sl 103:7,
NTLH). Moisés conheceu os caminhos de Deus; ele os
aprendeu na montanha. O restante do povo somente pôde
conhecer a Deus pelos milagres e feitos que Ele operou em
suas vidas. Ah, quantos hoje conhecem o Senhor somente
pelos milagres que Ele tem feito em suas vidas? Eles podem
ter experimentado cura física, necessidades supridas,
reviravoltas financeiras ou terem tido outros pedidos
concedidos. Mas essas pessoas não foram até a montanha
para aprender os caminhos de Deus, pois elas desejam o que
este mundo pode lhes oferecer. Elas não temem ao Senhor.
Deus está nos chamando para Sua montanha, para que O
conheçamos intimamente. A passagem para essa montanha é
a santidade, que nasce de um coração que teme a Deus. Ele
claramente nos diz: “O Senhor confia os Seus segredos aos
que O temem, e os leva a conhecer a Sua aliança” (Sl 25:14).
CAPÍTULO 6
UMA DIVINDADE CONTROLÁVEL
Se subir à montanha, você é mudado.
Se permanecer ao pé dela, como Arão fez,
a imagem que você tem de Deus é que muda.

O que acontece quando o povo ao qual Deus libertou do


mundo aprende a viver satisfeito longe da presença
Dele? Neste capítulo, descobriremos o resultado trágico desse
afastamento.
Espere Até Que Nós Voltemos

Deus enviou o povo de volta para suas tendas no


acampamento ao pé da montanha. Moisés, Arão e os setenta
líderes subiram até certo ponto para adorarem de longe. Após
algum tempo de adoração, Deus disse a Moisés que somente
ele se aproximasse do cume da montanha, onde Ele estava.
Moisés escolheu Josué para ir um pouco mais longe com ele,
mas deu uma diretriz precisa para Arão e os demais líderes:
“Esperem-nos aqui, até que retornemos” (Êx 24:14). Então
Moisés foi para o cume da montanha para o meio da nuvem e
ficou lá por quarenta dias e quarenta noites. Josué esperou em
algum outro lugar entre onde os líderes estavam e o cume,
onde Moisés estava. E o povo estava no acampamento, bem
mais abaixo, ao pé da montanha.
Como vimos antes, Deus originalmente havia requisitado
que Arão subisse com Moisés. Por que ele não foi? Ele achou
mais confortável ficar na presença do povo do que na
presença de Deus. Como eu sei disso? Por causa das inúmeras
vezes em que ele se afastou da glória do Senhor. Na próxima
vez que Arão é mencionado, o que aconteceu enquanto
Moisés ainda está na montanha durante os quarenta dias, ele
está de volta ao acampamento, e os demais líderes estão com
ele!
O acampamento retrata familiaridade. É a Igreja que foi
liberta do Egito (do mundo) e está ao pé da montanha de
Deus, mas longe o suficiente da Sua presença para que seus
corações não sejam expostos. Chamo isso de familiaridade
porque não era um retorno ao Egito, e aparentava todas as
maneiras de servir e caminhar com Deus, mas, na realidade
estava longe do coração do Pai. Arão retrocedeu. Quantas
pessoas não fazem o mesmo hoje?
Mudando a Imagem de Deus

Podemos ver na vida de Arão o que acontece quando


alguém que foi liberto do mundo pelo poder de Deus escolhe
não andar na presença Dele. Vamos ver o desenrolar dessa
história trágica.
O povo, ao ver que Moisés demorava a descer do
monte, juntou-se ao redor de Arão e lhe disse: “Venha,
faça para nós deuses que nos conduzam, pois a esse
Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos
o que lhe aconteceu”.
Êxodo 32:1

Moisés estava na montanha há um bom tempo. Não havia


nenhuma atividade próxima ao pé da montanha, então o povo
fez o que pessoas religiosas sempre fazem quando Deus
parece não estar agindo: eles se juntam para fazer uma
reunião. Embora essas reuniões sejam realizadas em nome do
Senhor, elas sempre produzem o que é extremamente contra o
coração de Deus, como veremos.
O povo se ajuntou e foi a Arão, o homem que inicialmente
deveria estar com Moisés, mas não estava. Ele deveria estar
em um nível que lhe havia sido determinado e esperar por
Moisés, mas também não o fez. Por que o povo foi até esse
homem? Porque ele lhes daria o que queriam!
Arão tinha o dom chamado liderança. A liderança é um dom
de Deus (ver Romanos 12:8). Esse dom traz algumas
qualidades, e uma delas é a de atrair pessoas como um ímã. E
essa qualidade sempre atrairá pessoas, quer esse líder tenha
estado na montanha ou não! Isso explica como um homem
pode ter uma igreja de cinco mil pessoas e Deus simplesmente
não aparecer nela! Ele usa os dons dados por Deus para
realizar os desejos do povo, e não os de Deus. Esse homem
não foi à montanha para ouvir de Deus, mas mesmo assim
possui muitos seguidores como resultado do dom que tem! É
um pensamento preocupante, não?
O povo pressionou Arão: “Venha, faça para nós deuses que
nos conduzam, pois a esse Moisés, o homem que nos tirou
do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu”. Eles não
disseram: “Quanto a esse Deus, não sabemos o que Lhe
aconteceu”. Na verdade, eles queriam desqualificar ou
desmerecer Moisés.
Ao estudar o que o povo disse na língua original, algumas
vezes penso que os tradutores ficaram um pouco nervosos
com relação ao significado verdadeiro da palavra em
português, e decidiram usar a palavra deuses. A palavra em
hebraico para “deuses” é elohiym. Essa palavra é encontrada
aproximadamente 2.250 vezes no Antigo Testamento. Cerca
de duas mil vezes se referem ao Deus Todo-Poderoso, ao qual
servimos. Ela ocorre trinta e duas vezes em Gênesis 1. Por
exemplo, no primeiro versículo temos: “No princípio Deus
[elohiym] criou os Céus e a Terra” (v. l). Nesse versículo,
elohiym é traduzida como “Deus”. E todas as outras vezes
que a palavra “Deus” aparece no capítulo, a palavra no
original é elohiym.
Aproximadamente 250 vezes no Antigo Testamento,
elohiym é usada para descrever um falso deus. Nós sempre
temos de ler o contexto para entender a referência.
Arão disse a eles: “Tirem os brincos de ouro de suas
mulheres, de seus filhos e de suas filhas e tragam-nos a mim”
(Êx 32:2). Todo o povo tirou os brincos e trouxe a Arão. “Ele
os recebeu e os fundiu, transformando tudo num ídolo, que
modelou com uma ferramenta própria, dando-lhe a forma de
um bezerro” (Êx 32:4). Nesse versículo, a palavra “modelou”
é a palavra em hebraico yatsar. Ela significa “moldar em
formato de algo” (Dicionário de Strong).
A partir do momento que ele moldou o ouro em um bezerro,
todo o povo se ajuntou, “Eis aí o seu deus, ó Israel, que tirou
vocês do Egito!” (Êx 32:4). A palavra hebraica para “deus” é
novamente elohiym. Você provavelmente está começando a
entender o que está acontecendo.
“Vendo isso, Arão edificou um altar diante do bezerro e
anunciou: ‘Amanhã haverá uma festa dedicada ao Senhor’”
(Êx 32:5). A palavra em hebraico para “Senhor” aqui é Jeová
ou Yahweh. Yahweh, a palavra mais sagrada do Antigo
Testamento, é o nome próprio do único e verdadeiro Deus.
Ela nunca é usada para descrever ou dar nome a falsos deuses.
A palavra é tão sagrada, que os escribas hebreus se recusavam
a escrevê-la completamente. Eles tiravam as vogais e
escreviam YHWH. Essa forma de escrita é chamada da
tetragrama sagrado, as quatro letras indizíveis. Era o nome
não mencionado, o nome santo guardado da profanidade na
vida de Israel.
Em essência, Arão e os filhos de Israel fizeram um bezerro
de ouro, apontaram para ele e disseram: “Contemplai Yahweh,
o único verdadeiro Deus, que nos tirou da terra do Egito”.
Eles não disseram: “Contemplai Baal, que nos trouxe da terra
do Egito”. Nem atribuíram a libertação deles a nenhum outro
falso deus. Eles chamaram esse bezerro pelo nome do Senhor,
reduzindo Sua glória ao nível de uma imagem de um bezerro
dourado. Eles reconheceram que Yahweh os salvou e os
libertou do Egito; eles não negaram o poder de Deus. Eles
reduziram a glória Dele!
“SURGIU ESSE BEZERRO!”

Enquanto isso, Moisés estava na montanha com Deus, sem


qualquer conhecimento das atividades do povo. Deus o
ordenou: “Desça, porque o seu povo, que você tirou do
Egito, corrompeu-se” (Êx 32:7). A ira de Deus estava bem
intensa nesse ponto. Ele os chamou de “seu povo” e não de
“Meu povo”.
Deus disse que o povo “corrompeu-se”. A palavra
corromper literalmente significa “decair”. Quando nós
brincamos de igreja ao pé da montanha de Deus, iremos
acabar decaindo, pois tudo que se distancia do coração Dele
certamente irá se deteriorar.
Mais tarde, Deus disse sobre Israel:

O Meu povo cometeu dois crimes:


Eles Me abandonaram, a Mim, a Fonte de Água Viva;
E cavaram as suas próprias cisternas, cisternas
rachadas
que não retêm água.
Jeremias 2:13

Ele é a Fonte da Vida. Se tentarmos nos segurar ao que Ele


nos deu no passado e brincarmos de igreja em um lugar que
está distante do Seu coração, nós iremos retroceder e nos
perder. Foi por isso que Jesus enfatizou: “Se alguém quiser
acompanhar-Me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a
sua cruz e siga-Me” (Lc 9:23). Nós precisamos ir até a
montanha diariamente!
Moisés desceu da montanha. Quando ele entrou no
acampamento e viu o bezerro, sua ira se acendeu. Ele
questionou Arão: “Que lhe fez esse povo para que você o
levasse a tão grande pecado?” (Êx 32:21).
Arão se defendeu: “Não te enfureças, meu senhor; tu bem
sabes como esse povo é propenso para o mal. Eles me
disseram: ‘Faça para nós deuses [elohiym] que nos
conduzam, pois não sabemos o que aconteceu com esse
Moisés, o homem que nos tirou do Egito’”. O que ele falou
era a verdade, mas ele acrescentou: “Então eu lhes disse:
‘Quem tiver enfeites de ouro, traga-os para mim’. O povo
trouxe-me o ouro, eu o joguei no fogo e surgiu esse bezerro!”
(Êx 32:22-24).
“Surgiu esse bezerro!” Você consegue acreditar que ele
disse isso? Nós lemos antes que ele trabalhou o ouro com
uma ferramenta própria! Ele mentiu. Uma coisa é mentir
quando Deus não está irado, outra coisa é mentir quando a ira
Dele já está acesa.
Eu orei sobre isso: “Senhor, não que eu quisesse que ele
fosse julgado, mas não entendo. Como ele conseguiu escapar
com essa mentira mais lavada sem que a terra se abrisse para
engoli-lo? Parece que o Senhor não fez nada a respeito”.
A resposta do Senhor causou um grande impacto em minha
vida e fez nascer a visão para este livro. O que Ele me falou
abriu um entendimento totalmente novo para o que tem
acontecido nas igrejas hoje. Deus disse: “John, Arão não
subiu até o topo da montanha. Ele não me contemplou nem
habitou ali como Moisés fez. Portanto, a imagem interna
que ele tinha de Mim era a que foi moldada pela sociedade
na qual ele cresceu. E foi isso que saiu de dentro dele”.
Arão havia passado todo o tempo de sua vida, até aquele
período, cerca de oitenta anos, no Egito. Ele foi criado lá; seus
pais nasceram e morreram nesse lugar. Ele estava cercado pela
cultura egípcia, e o Egito tinha muitos objetos de culto. Pelo
fato de não ter subido até a montanha e não ter tido
comunhão com Deus, nem O ter contemplado, como Moisés
fez, para Arão, a imagem de Yahweh foi forjada pela
sociedade na qual ele cresceu. Arão olhou para o Senhor de
longe, e viu os pés de Deus. Mas ele não entrou na presença
Dele, como Moisés fez.
Jesus falou sobre “ver” o Reino e “entrar” no Reino (ver
João 3:3-5). Nós temos de nascer de novo, o que significa
sermos libertos do mundo, para ver o Reino. Mas não
podemos parar por aí; fomos chamados para entrar. Paulo
disse a homens e mulheres que já eram salvos das cidades de
Listra, Icônio e Antioquia: “É necessário que passemos por
muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (At
14:22). Deus prepara as pessoas já salvas para o que elas terão
de enfrentar para entrar no Reino.
Arão foi liberto do Egito, o que simboliza o nascer de novo,
mas ele não conhecia Deus intimamente. Ele brincou de igreja
ao pé da montanha, o que resultou em uma redução da
imagem de Deus ao que ele havia absorvido da sociedade.
Um Jesus Diferente?

No Novo Testamento, Paulo trata desse assunto:

Pois desde a Criação do mundo os atributos invisíveis


de Deus, Seu eterno poder e Sua natureza divina, têm
sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio
das coisas criadas, de forma que tais homens são
indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não
O glorificaram como Deus, nem Lhe renderam graças.
Romanos 1:20-21

Eles não O glorificaram como Deus. Em outras palavras,


eles conheciam a Deus, mas não Lhe davam a honra que Ele
merece. Os filhos de Israel reconheceram a libertação de
Yahweh, mas não Lhe deram a honra, a reverência e a glória
que Lhe eram devidas. Bem, as coisas não mudaram muito.
Paulo continuou, falando acerca das pessoas que viviam nos
tempos do Antigo Testamento:
E mudaram a glória do Deus incorruptível em
semelhança da imagem de homem corruptível, e de
aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
Romanos 1:23

A imagem gloriosa do único e verdadeiro Deus é reduzida a


imagens de insetos, pássaros, animais e homens mortais. Por
acaso nossa cultura ocidental adora pássaros, quadrúpedes e
répteis? Certamente não! Se criássemos uma imagem de um
bezerro de ouro e colocássemos na fachada da nossa casa, as
pessoas provavelmente ririam e diriam: “Derreta isso, faça
algumas joias e venda-as!”.
O que nossa cultura adora? A resposta é o eu, que é o
homem corruptível! O povo de Israel estava cercado por uma
sociedade que adorava imagens de animais e insetos. A Igreja
Moderna está cercada por uma cultura que adora o próprio eu,
ou seja, o homem corruptível. Quando Arão e o povo se
retiraram da gloriosa presença de Deus, a imagem de Deus foi
formada a partir do que o Egito adorava: um animal. Hoje,
quando cristãos se retirem da montanha de Deus, a imagem
que eles têm de Deus é formada pelo que a nossa sociedade
adora: o eu ou homem corruptível.
Um pensamento que não consigo evitar tem estado em
minha mente há alguns anos: nós temos servido a Jesus a
partir da imagem que criamos Dele. Nós O chamamos de
Senhor; nós reconhecemos o Seu poder salvador, curador e
libertador. Mas nosso Jesus é o mesmo que está assentado à
direita da Majestade nos Céus, ou é um Jesus que temos feito
de acordo mais com a imagem que nós temos, e ainda assim o
chamamos de Senhor?
Uma Divindade Controlável

Idolatria é uma forma muito conveniente de adoração. Um


ídolo dá a seu criador aquilo que ele quer — os desejos do
próprio coração, pelo fato de ter sido ele quem o criou. E, ao
mesmo tempo, satisfaz a necessidade interna de adorar a um
ser maior. Se o criador do ídolo tem desejo por prazeres
sexuais, então o ídolo lhe dará ordenanças que gratificarão
esses desejos. O Senhor deixou isso claro quando disse por
meio de Isaías: “Quem é que modela um deus e funde uma
imagem, que de nada lhe serve?” (Is 44:10).
Vamos considerar essa motivação em relação ao que Israel
fez, voltando ao ponto em que Arão criou o bezerro de ouro.
Ele e o povo olharam para o bezerro e o consideram como a
imagem de Yahweh, o qual os havia libertado do Egito. “Na
manhã seguinte, ofereceram holocaustos e sacrifícios de
comunhão. O povo se assentou para comer e beber, e
levantou-se para se entregar à farra” (Êx 32:6).
No dia seguinte eles foram para o culto da igreja ao pé da
montanha de Deus. Eles declararam o amor e a grandeza de
Yahweh. Eles trouxeram ofertas, cantaram hinos e pregaram
seus sermões. O Yahweh deles lhes deu uma mensagem que
eles amaram ouvir, pois satisfazia os desejos deles. Eles se
assentaram para comer, e depois se levantaram para se divertir.
O divertimento deles era de satisfazer os desejos da sua carne.
Quando Moisés chegou até eles, eles estavam desenfreados
(ver Êxodo 32:25).
Esse cenário nos dá um grande entendimento da raiz da
idolatria, que é a rebelião. E a Palavra de Deus afirma isto:
“Porque a rebelião é como... iniquidade e idolatria” (1 Sm
15:23, ACF).
Tudo o que os egípcios tinham de fazer era construir um
bezerro e chamá-lo por algum nome, e ele lhes daria o que
sabiam em seus corações ser contra os desejos do Criador.
(Todos os homens conhecem os desejos Dele, pois Paulo diz:
“Deus, entretanto, mostra do Céu a sua ira contra todos os
homens pecadores, maldosos, que repelem a verdade. Pois a
verdade sobre Deus é revelada entre eles instintivamente;
Deus pôs esse conhecimento em seus corações ” [Rm 1:18-
19, ABV]).
Para os israelitas que saíram do Egito, o conceito básico é o
mesmo, mas devemos observar uma pequena modificação.
Os israelitas sabiam o nome de Yahweh e já haviam sido
tocados pelo Seu poder. Se eles não quisessem abrir mão de
seus caminhos rebeldes para tomarem os caminhos do
Senhor, então uma maneira de satisfazerem tanto a sua
consciência quanto seus apetites, era criar uma imagem
representando Yahweh, que lhes desse o que eles desejavam.
Isso foi feito muito sutilmente, sem que eles estivessem
plenamente conscientes disso.
Paulo advertiu a Igreja de Corinto:

O que receio, e quero evitar, é que assim como a


serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês
seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura
devoção a Cristo. Pois, se alguém lhes vem pregando
um Jesus que não é Aquele que pregamos, ou se vocês
acolhem um espírito diferente do que acolheram ou um
Evangelho diferente do que aceitaram, vocês o toleram
com facilidade.
2 Coríntios 11:3-4
Gosto de uma versão contemporânea do versículo quatro:
“Porque vocês suportam com alegria qualquer um que chega
e anuncia um Jesus diferente daquele que nós anunciamos.
E aceitam um espírito e um evangelho completamente
diferentes do Espírito de Deus e do Evangelho que
receberam de nós” (NTLH).
Se nós ainda desejamos o estilo de vida do mundo, o qual é
diferente do modelo de autoridade de Deus, podemos estar
seguindo-o inconscientemente ao servirmos ao “nosso Jesus”,
cuja vontade está em concordância com nossos próprios
desejos. Sem percebermos, nós temos uma espécie de
divindade controlável! Trata-se de um engano sutil, e não de
uma mentira descarada.
Em nosso engano nos confortamos em dizer “Jesus é meu
amigo”, ou “Deus conhece meu coração”. É verdade que
Deus entende nosso coração muito mais do que podemos
entender a nós mesmos. Mas geralmente, quando fazemos
esse comentário, queremos nos justificar de ações que
contradizem a aliança com Ele. O fato é que isso é rebelião.
Nossos lábios O honram, mas nosso temor a Ele foi
aprendido de acordo com os preceitos dos homens: “O
Senhor diz: ‘Esse povo se aproxima de Mim com a boca e
Me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de
Mim. A adoração que Me prestam é feita só de regras
ensinadas por homens’” (Is 29:13).
Filtramos a Palavra e os mandamentos de Deus através do
nosso modo de pensar influenciado pela cultura. A imagem
que temos da Sua glória é formada pelas nossas percepções
limitadas em vez de ser formada pela Sua verdadeira imagem
revelada por meio da Sua Palavra viva na montanha.
Um Contraste Claro Entre
Duas Pessoas na Igreja

Permita-me dar a você alguns exemplos. Uma mulher me


ligou e confessou que estava em um relacionamento de
adultério com um homem de sua igreja. Seu esposo não era
cristão e era verbalmente (não fisicamente) abusivo com ela
em relação à sua fé. Em outras palavras, ele a perseguia.
Ela e o outro homem interromperam o relacionamento. Seus
“amigos cristãos” a aconselharam a se divorciar do esposo e
se casar com esse belo homem cristão que a amava, porque
Deus a chamou para a paz. Minha pergunta é: a que “Jesus”
esses amigos dela servem? Certamente não é Àquele que está
assentado à direita de Deus. A imagem que têm Dele foi
moldada pela sociedade, porque a sociedade é inclinada ao
divórcio. Muitos do que se divorciaram não planejaram isso.
Eles desejam uma vida feliz com base em seus interesses
egoístas. A aliança que fizeram com seus cônjuges é
significante apenas quando não interfere em sua felicidade.
A mulher perguntou minha opinião sobre sua situação. Na
verdade, tudo que ela buscava era a permissão de um líder
para concretizar a decisão que já havia tomado. Seu esposo
não havia sido moralmente infiel; eu disse a ela que Deus
odeia o divórcio porque ele dilacera o espírito das pessoas e as
cobre com violência (ver Malaquias 2:16) De acordo com o
Novo Testamento, o Senhor ordena que a esposa não se
separe do marido, e se ela se separar, não deve se casar de
novo (ver 1 Coríntios 7:10-11). A mulher me ouviu, apenas
mentalmente, porém mais tarde recebi a notícia de que ela
havia se divorciado do esposo e se casado com o outro
homem. Ela deve estar feliz, mas o povo ao pé da montanha
também estava, até Moisés descer!
Por outro lado, conheci muitas mulheres tementes a Deus
que continuaram casadas com homens não cristãos, porque
elas tinham o coração de Deus. Elas não estavam buscando
prazeres; estavam buscando servir. Muitos dos esposos
acabaram sendo salvos por causa do estilo de vida temente a
Deus de suas esposas. Devo acrescentar que alguns foram
salvos após anos de oração de suas esposas e por elas serem
um testemunho vivo diante deles.
Uma situação diferente envolveu outra mulher que irradia o
caráter de Deus. Após vários anos de casamento, ela
descobriu que seu esposo era homossexual. Por dez anos ela
viveu uma vida terrivelmente difícil. Ele foi preso uma vez por
convidar um policial disfarçado para relações sexuais, e o filho
mais velho do casal recebeu a ligação informando que o pai
estava na cadeia.
A esposa orou constantemente por ele. Quando a caminhada
parecia muito difícil, ela perguntou ao Senhor se devia se
divorciar dele. O Senhor respondeu: “Você tem bons motivos
para se divorciar dele, e se você escolher fazer isso, Eu a
abençoarei. Mas se você permanecer e lutar em oração por
ele, Eu o trarei de volta e você será duplamente abençoada”.
(Não estou dizendo que Deus sempre diria isso em uma
situação moralmente infiel.) Ela escolheu permanecer e lutar, e
isso levou algum tempo. Seu esposo foi gloriosamente liberto
e está livre há quinze anos. Agora, ele é um pastor muito
compassivo e dedicado. Eu preguei na igreja deles, e devo
dizer que ela é uma das mulheres mais tementes a Deus que já
conheci.
Qual das mulheres foi à montanha para ser transformada?
Uma se divorciou do marido por acreditar que Jesus queria
que ela tivesse paz, ainda que a Palavra de Deus claramente
mostrasse que o desejo de Deus para ela era permanecer com
ele. A outra tinha fundamentos bíblicos para se divorciar, mas
escolheu abrir mão de seus direitos para lutar pela vida de seu
esposo. Jesus abriu mão de Seus direitos para vir a esta Terra e
morrer por nós! Qual das mulheres tinha mais o coração de
Deus? Por quê? Ela subiu a montanha!
Uma das duas coisas irá acontecer na vida de um crente: ou
ele irá se conformar à imagem de Jesus permitindo que a
Palavra de Deus, falada na presença do Senhor, o mude, ou
ele irá conformar Jesus à imagem do que o seu coração dita.
Se você for à montanha, você muda. Se permanecer ao pé da
montanha, como Arão fez, a imagem de Deus em você é que
muda.
Quando Moisés desceu do monte após quarenta dias e
quarenta noites com Deus, ele estava transformado e sua face
brilhava: “Ao descer do monte Sinai com as duas tábuas da
Aliança nas mãos, Moisés não sabia que o seu rosto
resplandecia por ter conversado com o Senhor” (Êx 34:29).
A mulher que lutou por seu marido não tem consciência de
sua pureza. Todas as vezes que eu falo com ela, ela revela
como Deus está trabalhando em sua vida para transformá-la.
Ela não sabe o quanto resplandece. O mesmo é verdade para
todos os que vivem em verdadeira santidade. A Bíblia declara:
“Os que olham para Ele estão radiantes” (Sl 34:5). Aqueles
que são capazes de olhar para Ele são aqueles que removeram
os desejos do Egito de seus corações. Eles têm somente um
desejo: conhecer o Senhor da glória. Agora, então, precisamos
olhar para nós mesmos e nos perguntar: “O Jesus que nós
servimos é Aquele que está assentado à direita da Majestade,
ou é um Jesus diferente, que foi moldado de acordo com os
desejos da sociedade na qual vivemos?”.
CAPÍTULO 7
INTENÇÕES OU DESEJOS?
Precisamos colocar nossos desejos em submissão à Cruz.

T udo o que abordamos até agora é uma grande introdução


à palavra conformar. O Dicionário de Webster a define
como “reduzir à semelhança em maneiras, opiniões e
qualidades morais”. A palavra de Deus instrui: “Não se
amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela
renovação da sua mente” (Rm 12:2).
Para entendermos melhor o que o Espírito de Deus está
comunicando, vamos ao texto original. “Conformar” nesse
versículo é a palavra grega suschematizo. A definição de seu
significado dá uma ideia ainda melhor para essa palavra. O
Dicionário de Strong a define como “amoldar de maneira
similar, isto é, conformar ao mesmo padrão
(figurativamente)”. O Dicionário de Vine também define a
palavra como “moldar ou dar forma a algo como outro”.
Ambos os dicionários enfatizam o pensamento de moldar
uma coisa para deixá-la semelhante à outra.
Arão “moldou” o ouro que lhe foi dado na forma de um
bezerro. A atitude exterior foi somente um reflexo do que
estava em seu interior. As influências do Egito, das quais ele
obviamente não havia se limpado, estavam forjadas em sua
alma. O que estava dentro dele se manifestou no exterior. Ele
havia sido conformado de acordo com o Egito e, como vimos
no capítulo anterior, é visível que ele não desejou se
aproximar da presença gloriosa de Deus para ser
transformado, como Moisés o foi. E o povo seguiu o exemplo
de Arão. Deus disse sobre eles:

As suas impudicícias, que trouxe do Egito, não as


deixou; porque com ela [Israel] se deitaram na sua
mocidade, e eles apalparam os seios da sua virgindade
e derramaram sobre ela a sua impudicícia.
Ezequiel 23:8, ACF

De acordo como o dicionário, a palavra impudicícia


significa simplesmente “desejo”. A Bíblia na versão
Amplificada ressalta esse significado: “Eles derramaram
sobre ela seus desejos pecaminosos” (tradução livre). O
desejo é o fator motivador para os seres humanos. Nós
sempre o seguiremos.
Desejos e Intenções Não São a Mesma Coisa

Desejos e intenções são duas coisas diferentes, embora


muitos creiam que seja a mesma coisa. Você pode ter
intenções muito boas, mas elas podem não ser seus desejos
verdadeiros. Várias pessoas já me disseram que queriam se
afastar das influências do mundo e se aproximar de Deus, mas
não é isso que fazem. Elas não estão em contato com seus
desejos verdadeiros, pois Tiago declara que “cada um, porém,
é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado
e seduzido” (Tg 1:14). O desejo é um caminho que uma
pessoa seguirá, não importando quão boa sua intenção venha
a ser. Por essa razão, Tiago continua dizendo: “Meus amados
irmãos, não se deixem enganar” (Tg 1:16). (É claro que existe
um aspecto positivo no desejo, mas, nesse caso, estamos
lidando com o lado negativo.)
Foi um comediante, e não Deus, quem disse: “O diabo me
fez fazer isto”. O diabo não pode fazer um cristão fazer nada.
Ele somente pode seduzir, mas você não pode ser seduzido
por algo que não deseja. Se oferecessem uma trilha de cocaína
ou algumas bolinhas de LSD para os cristãos, a maioria não
hesitaria em recusar, pois eles não têm desejo por isso;
portanto, eles não podem ser seduzidos. Contudo, muitos
cristãos, assim como Israel, não exterminaram os desejos que
o sistema do mundo lhes transmitiu quando eles ainda não
eram salvos. Por essa razão, eles são facilmente seduzidos por
essas coisas.
Nós precisamos trazer nossos desejos em submissão à Cruz:
“Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com
as suas paixões e os seus desejos” (Gl 5:24). Não é algo que
Deus faz por nós; é algo que nós precisamos fazer! Nós não
podemos fazer isso sem a graça de Deus, mas, mesmo assim,
somos nós quem devemos fazê-lo! Nós podemos ser
seduzidos por qualquer desejo errado que ainda não foi
colocado sob a Cruz. Se não deixarmos de lado nossos
desejos pelas coisas do mundo, então poderemos facilmente
escorregar de volta para os seus caminhos, assim como fez
Israel. Por essa razão, Paulo confessa: “o mundo foi
crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6:14).
Após eu ter pregado uma mensagem de arrependimento em
uma igreja da Califórnia, o pastor me levou para almoçar e
compartilhou um testemunho pessoal. Quando ele foi salvo,
deixou para trás muitos pecados que o prendiam. Contudo,
ele não conseguia largar o hábito de fumar dois maços de
cigarros por dia. Ele disse: “John, eu fiz tudo o que a Bíblia
me manda fazer para me livrar desse vício. Orei, jejuei,
confessei a Palavra e pedi a outros que orassem por mim. Na
verdade, respondi a todos os chamados ao altar para receber
oração de cada um dos pastores convidados que vieram
ministrar em nossa igreja. Eu confessei meu vício e pedi a eles
que orassem pela minha libertação. Eu fiz isso durante dois
anos”.
Após dois anos de luta, ele levou um amigo para um culto
evangelístico em sua igreja. Seu amigo não era salvo, e ele
também era viciado em cigarro e fumava uns dois maços por
dia. Naquela noite, seu amigo respondeu ao chamado da
salvação, e quando o evangelista orou por ele, ele foi
gloriosamente salvo e instantaneamente liberto do vício do
cigarro.
O pastor continuou: “John, eu fiquei feliz pelo meu amigo,
mas muito triste com Deus. Levei meu amigo para sua casa e
expressei minha felicidade com relação à sua salvação da
melhor maneira que pude. Depois fui para casa e disse a Deus
o quão triste estava. Eu sentei na sala da minha casa e disse:
‘Deus, eu jejuei, orei, me humilhei diante da minha igreja e de
todos os pastores que vieram à nossa igreja, mas o Senhor
não me libertou. Nesta noite eu levei meu amigo, e o Senhor o
salvou e o libertou instantaneamente do vício do cigarro. Por
que o Senhor não me libertou?’.”
Então ele me contou: “John, quando eu disse isso, Deus me
respondeu de forma audível. Se eu O ouvi com meus ouvidos
internos ou externos eu não sei, mas eu sei que foi Ele.
Quando perguntei a Ele: ‘Deus... por que o Senhor não me
libertou?’ eu O ouvi dizer firmemente: ‘Porque você ainda
gosta disso!’.”
O pastor continuou: “Eu olhei para o cigarro que estava em
minha mão e joguei fora, e nunca mais toquei em um desde
então!”.
Durante aqueles dois anos o pastor disse a si mesmo e aos
outros o quanto queria ser liberto, mas esse não era seu desejo
verdadeiro, somente sua intenção. É por isso que ele era tão
facilmente levado ao que dizia não querer. Então Deus expôs
seus desejos verdadeiros. Assim que ele se arrependeu desse
desejo, colocando-o debaixo da Cruz, a graça de Deus pôde
libertá-lo. A libertação foi um processo de cooperação entre
ele e Deus.
Esse exemplo se aplica diretamente a Israel e os padrões,
caminhos e maneiras de ser do mundo que estão dentro da
Igreja de hoje. Lembre-se de que Israel é uma tipologia da
Igreja. Deus disse que Israel não havia deixado a prostituição
que começou no Egito durante a mocidade, quando ela se
deitou com homens que apalparam os seios da sua virgindade
e derramaram sobre ela o seu desejo. O povo poderia ter
aberto mão disso, como Moisés, mas eles não queriam fazê-
lo.
O Desejo do Mundo
De todos os que foram libertos do Egito, Moisés era o que
estivera mais emaranhado em seus caminhos. Ele foi criado na
casa do faraó, foi ensinado segundo a sabedoria egípcia e
todos os seus amigos eram egípcios. Os outros homens e
mulheres hebreus pelo menos estavam rodeados pela própria
comunidade dentro do Egito. Eles eram maltratados pela
sociedade, mas Moisés era bem tratado em razão de seus
tesouros e sua sabedoria. Eles não haviam se envolvido com
todo o sistema no nível em que Moisés havia se envolvido.
Então, se alguém pudesse dizer o quão difícil foi para se
libertar dos desejos do Egito, esse alguém seria Moisés.
Mesmo assim, ele não tinha desejo nenhum por nada do
Egito, enquanto os filhos de Israel continuavam circulando ao
redor dessas coisas.
Hoje, nós suavizamos a mensagem da Cruz para aqueles
que vêm de Hollywood, dos esportes profissionais, da vida
pública ou de outra área da vida extremamente emaranhado
com o sistema do mundo. Nós fazemos concessões para eles
e os justificamos por suas maneiras e seus caminhos segundo
os do mundo. Quando fazemos isso, estamos cooperando
para o mal deles, e não para o bem. Quando pregamos um
Evangelho mais suave para eles, nós bloqueamos seu
caminho até a montanha do Senhor. Eles começam com
empolgação, mas gradualmente passam a circular de volta
para o mundo. E quando não voltam para ele totalmente, eles
criam um “Jesus” que não tem nada a ver com Aquele que
está assentado à direita de Deus. Eles podem confessar que
são salvos e que desejam conhecer o Senhor, mas não estão
em contato com seus desejos verdadeiros. O desejo
verdadeiro deles é o sistema do mundo. Eles são cristãos
declarados conformados com o mundo.
Israel confessava o desejo de conhecer a Deus e de andar
com Ele. Como você se lembra dos capítulos anteriores, antes
que o Senhor revelasse a Sua glória ao povo na montanha, Ele
disse a Moisés que informasse ao povo que o Senhor os havia
trazido para Si. Se eles obedecessem à Sua voz e guardassem
os Seus mandamentos, seriam para Ele um reino de
sacerdotes. Moisés desceu da montanha para informar as
condições de Deus para o povo. Aqui está a resposta deles:

Moisés voltou, convocou as autoridades do povo e lhes


expôs tudo o que o Senhor havia-lhe mandado falar. O
povo todo respondeu unânime: “Faremos tudo o que o
Senhor ordenou”. E Moisés levou ao Senhor a resposta
do povo.
Êxodo 19:7-8
A resposta deles foi sincera, mas sabemos o que aconteceu.
Eles retrocederam, e a glória do Senhor foi mudada em seus
corações e suas mentes. Eles falaram de suas intenções e não
de seus desejos. Eles não conheciam seus desejos
verdadeiros, os desejos do Egito, os quais os impediriam de se
aproximar a Deus.

Um Exemplo de Dois Grupos Dentro da Igreja

Por que o povo de Israel, que estava menos entrelaçado com


o sistema do Egito do que Moisés, sempre se movia de volta
para ele, enquanto Moisés não mostrava nenhum desejo de ter
nada daquilo de volta? Por que aquele que estava mais
emaranhado com o mundo se interessava menos por ele?
Se examinarmos os dois, encontraremos a diferença. E
também teremos uma imagem bem clara de dois grupos
distintos de pessoas que existem na Igreja hoje, sendo que
Moisés representa um grupo e os filhos de Israel, o outro. Nós
veremos por que muitos na Igreja hoje se conformam ao
mundo, enquanto outros, embora muitas vezes tenham vindo
de um passado muito mais emaranhado com a escravidão do
mundo, não têm nenhum desejo de retornar a ele.
Durante séculos, os filhos de Israel oraram e pediram
libertação de seus opressores egípcios. Eles queriam retornar
para a terra da promessa. Deus enviou o seu libertador,
Moisés. O Senhor disse a Moisés: “Desci para livrá-los das
mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa e
vasta, onde há leite e mel com fartura” (Êx 3:8). Deus então
lhe deu Suas palavras e sinais para que o faraó deixasse Seu
povo ir.
Moisés entrou novamente no Egito pela primeira vez em
quarenta anos para levar a Palavra de Deus ao faraó. Contudo,
ele foi primeiro ao povo de Israel e lhes proclamou a
mensagem de libertação do Senhor. Quando eles ouviram as
notícias, a Bíblia relata: “e eles creram. Quando o povo soube
que o Senhor decidira vir em seu auxílio, tendo visto a sua
opressão, curvou-se em adoração” (Êx 4:3).
Você pode imaginar os sentimentos naquele encontro? Eles
haviam sido escravos durante toda a vida. Seus pais, avós e
bisavós haviam sido escravos. A promessa de libertação e de
uma terra própria havia sido esperada por cerca de
quatrocentos anos. (Como ponto de referência, os Estados
Unidos têm somente uns duzentos e cinquenta anos de
existência). E agora eles estavam olhando para o seu
libertador.
O povo experimentou uma alegria contagiante. Eles viram
os sinais que Moisés fez e creram entusiasmados naquele
anúncio. Eu posso ouvi-los chorando, gritando e bradando:
“Que notícia maravilhosa! Finalmente aconteceu! Deus irá
nos libertar!”. O louvor e a ação de graças deles os levaram a
inclinar suas cabeças e adorarem a Deus.
Moisés saiu daquele ambiente e foi ao faraó, e proclamou a
mesma mensagem do Senhor. Ele ordenou que o faraó
deixasse “Seu povo ir”. Mas o faraó respondeu aumentando
ainda mais o sofrimento do povo. A palha não mais seria
providenciada para os incontáveis tijolos que os israelitas
produziam por dia. Eles teriam de trabalhar de dia e colher de
noite. O número total de tijolos não seria diminuído, embora a
palha não lhes fosse mais oferecida. A Palavra de Deus sobre
a liberdade havia aumentado a adversidade e o sofrimento
deles.
A atitude dos filhos de Israel começou a mudar. Eles
reclamaram e disseram a Moisés: “Deixe-nos em paz e pare
de falar com o faraó; você está tornando nossa vida ainda
mais difícil”. Esses eram os mesmos que haviam adorado a
Deus alguns dias antes, quando Moisés trouxera a notícia.
Quando Deus finalmente os libertou do Egito, o coração do
faraó se endureceu novamente, e ele foi atrás dos israelitas no
deserto com seus melhores cavalos e cavaleiros. Vendo que
estavam sendo perseguidos pelos egípcios e estavam presos
diante do Mar Vermelho, os hebreus novamente murmuraram:
“Não é esta a palavra que te falamos no Egito, dizendo:
Deixa-nos, que sirvamos aos egípcios? Pois que melhor nos
fora servir aos egípcios, do que morrermos no deserto” (Êx
14:12).
“Pois que melhor nos fora...”
Na verdade, eles estavam dizendo: “Por que nós fazemos o
que você diz que Deus mandou, quando isso está somente
tornando nossas vidas mais miseráveis? Nós estamos piores, e
não melhores”. Eles eram rápidos em comparar o estilo de
vida anterior com sua condição atual. Sempre que algo não
saía bem, os israelitas queriam voltar. Eles desejavam
qualquer coisa que parecesse trazer melhores resultados mais
do que desejavam cumprir a vontade de Deus. Ai, como eles
precisavam do verdadeiro desejo por Deus, em vez do amor
pelas próprias vidas!
Deus dividiu o mar, e os filhos de Israel o cruzaram a pés
secos e viram seus opressores se afogando. Eles creram e
celebraram a bondade de Deus dançando e louvando perante
Ele: “Então Miriã, a profetisa, irmã de Arão, pegou um
tamborim e todas as mulheres a seguiram, tocando
tamborins e dançando” (Êx 15:20). Você pode imaginar um
milhão de mulheres dançando e tocando tamborins? Que
culto de louvor!
Eles eram crentes firmes e nada poderia atraí-los a voltar
atrás. Eles estavam certos de que nunca mais duvidariam da
bondade de Deus! Mas eles não conheciam seus corações —
suas intenções, sim, mas não seus desejos. Outro teste surgiria
e novamente exporia a infidelidade deles. Três dias mais tarde
eles murmuraram, pois não queriam água amarga, mas doce
(ver Êxodo 15:22-25). Seus pensamentos já estavam
retornando para todas as coisas que eles tinham no Egito e
que não tinham no deserto de Deus.
Alguns dias mais se passaram, e os filhos de Israel
murmuraram pela falta de comida: “Quem dera a mão do
Senhor nos tivesse matado no Egito!” (Êx 16:3). Eles
incluíram Deus nas suas murmurações sobre a própria
vontade Dele. Que atitude religiosa! Você pode ver a
hipocrisia deles?
O mesmo comportamento continuou até alcançar seu ponto
máximo quando Deus os levou ao deserto de Parã. Lá o
Senhor instruiu Moisés a enviar doze líderes de cada tribo,
para que investigassem a terra que Ele havia prometido. Os
líderes foram a Canaã e ficaram ali por quarenta dias, e dez
deles trouxeram de volta um relatório muito ruim: “Não
podemos atacar aquele povo; é mais forte do que nós” (Nm
13:31).
Embora um líder, Calebe, tenha discordado firmemente dos
outros (com o apoio de Josué), a congregação deu ouvidos ao
relatório negativo e chorou e murmurou durante toda a noite:
“Por que o Senhor está nos trazendo para esta terra? Só
para nos deixar cair à espada? Nossas mulheres e nossos
filhos serão tomados como despojo de guerra. Não seria
melhor voltar para o Egito?” (Nm 14:3). Eles murmuravam
sempre que encontravam situações que não os agradavam.
Enquanto as coisas estavam boas para eles, eles cumpriam a
Palavra de Deus e pareciam desejá-Lo. Mas se a obediência
significasse ir em uma direção que não agradava sua carne, os
israelitas murmuravam. “Não seria melhor?” — essas
palavras nos dão uma imagem clara de seus corações. “Pois a
boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12:34). O que era
sua motivação principal ficou evidente por meio de seu
comportamento e das palavras faladas sob pressão: as
motivações eram eles mesmos. O foco deles estava em suas
próprias vidas, não no coração de Deus.
Um Foco Diferente

Moisés era bem diferente. Após ter se tornado grande no


Egito, ele escolheu sofrer com o povo de Deus em vez de
desfrutar dos benefícios do Egito. Os filhos de Israel não
escolheram as suas aflições, mas Moisés foi presenteado com
o melhor de tudo que o mundo podia oferecer, e recusou tudo
aquilo: “Por amor de Cristo, considerou sua desonra uma
riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque
contemplava a sua recompensa” (Hb 11:26).
Tendo rapidamente esquecido a opressão que sofrera, o
povo de Israel queria retornar ao Egito (o mundo). Eles
somente se lembravam das coisas que lhes davam prazer lá, as
quais faltavam no deserto da provação de Deus. Moisés, por
outro lado, escolheu as dificuldades “porque contemplava a
sua recompensa”.
O que era aquela recompensa? A resposta é encontrada
quando Deus o presenteia com uma oferta de que daria a ele e
ao povo a promessa que esperaram por quatrocentos anos: a
terra prometida. (Isso aconteceu antes da saída dos líderes
para espionar a terra. O povo estava ainda procurando
ansiosamente pela terra.)
O Senhor disse a Moisés:

Saia deste lugar, com o povo que você tirou do Egito, e


vá para a terra que prometi com juramento a Abraão,
a Isaque e a Jacó, dizendo: Eu a darei a seus
descendentes. Mandarei à sua frente um anjo e
expulsarei os cananeus, os amorreus, os hititas, os
ferezeus, os heveus e os jebuseus.
Êxodo 33:1-2

A promessa que eles tanto esperavam estava diante deles.


Após quatrocentos anos em uma terra estrangeira, a oferta de
uma terra próspera havia sido colocada diante do líder. Mas
havia uma condição. Deus continuou: “Vão para a terra
onde há leite e mel com fartura. Mas Eu não irei com vocês,
pois vocês são um povo obstinado, e Eu poderia destruí-los
no caminho” (Êx 33:3).
Deus disse a Moisés para levar o povo para a terra que Ele
havia prometido, a terra pela qual esperaram quatrocentos
anos para possuir. Deus até mesmo prometeu a Moisés que
enviaria um anjo para ir adiante deles, embora Ele mesmo não
os acompanhasse.
Moisés rapidamente respondeu: “Se não fores conosco, não
nos envies” (Êx 33:15). Moisés não hesitou ou vacilou em
responder. Ele preferiria permanecer no deserto, lugar de tanto
desconforto, com a presença de Deus, do que ir para uma
terra de vinhas, árvores frutíferas e casas bonitas, mas sem a
presença de Deus.
Fico feliz que a opção de entrar na terra prometida sem Deus
não foi dada aos filhos de Israel. Eles continuamente
murmuravam por causa das dificuldades encontradas e
preferiam retornar. E se eles voltariam para o Egito mesmo
sem Deus, certamente teriam ido felizes com o anjo para sua
própria terra. A recompensa deles era qualquer coisa que os
beneficiasse mais. (É assim que o mundo vive também,
interessado em “o que é melhor para mim?”.)
Para Moisés, a promessa não significava nada sem a
presença de Deus. Ele recusou a oferta de Deus porque,
embora tê-la aceitado resultaria em uma vida muito mais
confortável, seria vazia daquilo pelo qual seu coração batia.
Ele desejava acima de tudo conhecer a Deus: “Se me vês com
agrado, revela-me os Teus propósitos, para que eu Te
conheça” (Êx 33:13).
Ele não pediu por terra, prosperidade, honra ou qualquer
outra coisa tangível. Ele teve tudo isso no Egito e percebeu
que essas coisas não traziam satisfação verdadeira.
Imediatamente depois de recusar a oferta da terra prometida
sem a presença de Deus, seu coração clamou: “Peço-Te que
me mostres a Tua glória” (Êx 33:18).
Moisés tomou uma firme decisão. Ele perseguiu a
recompensa de conhecer a Deus. Abster-se do mundo não
significa um preço tão grande assim em comparação com a
recompensa da glória de Deus. Pelo fato de haver decidido
abandonar as recompensas do sistema do mundo, ele foi
capaz de se achegar a Deus na montanha. O povo, contudo,
não podia se aproximar de um Deus de santidade. Os desejos
do Egito ainda habitavam dentro deles. Eles não haviam se
separado do mundo em seus corações, o que resultou na
incapacidade deles em separar o que era do mundo e o que
era de Deus.
Se você deseja tanto o mundo quanto um relacionamento
íntimo com Deus, a imagem que você tem de Deus começa a
ficar distorcida. Você não O conhece verdadeiramente; você
conhece um Jesus diferente. O povo de Israel queria a
libertação de Deus, mas eles desejavam o Egito também. É
por isso que o povo “não abandonou a prostituição iniciada
no Egito” (Ez 23:8). Eles estavam conformados aos padrões
do mundo, os desejos do Egito estavam dentro deles. Embora
o forte poder de libertação de Deus os tenha tirado do Egito,
eles não tomaram a decisão de tirar o Egito de dentro deles.
A Motivação Principal para a Vida

O fator que distinguia Moisés do povo de Israel era sua


motivação interior de viver. Moisés queria Deus e pagaria
alegremente qualquer preço para conhecê-Lo. O povo de
Israel queria o que era melhor para eles. Se eles fossem
beneficiados ao andarem no caminho de Deus, então eles
alegremente o fariam, mas se não fossem, eles passavam a se
mover de volta para os que lhes parecia ser melhor. Conhecer
os caminhos de Deus sempre resultará no melhor para nós,
pois Deus é o perfeito amor. Contudo, muitas vezes esse
conhecimento não é evidente aos nossos sentidos naturais.
Moisés amava a Deus por quem Ele era; Israel amava a
Deus pelo que Ele podia fazer por eles. Se o que Deus estava
fazendo não supria os desejos deles, eles se moviam em
direção ao que lhes parecia melhor. A visão que Israel tinha da
vida não era diferente do principal fator motivador do mundo.
João declarou: “Pois tudo o que há no mundo — a cobiça
[desejo] da carne, a cobiça [desejo] dos olhos e a
ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo”
(1 Jo 2:16).
Aqueles que estão no mundo desejam aquilo que lhes
agrada e satisfaz seus sentidos ou status. Era assim que Israel
vivia, e se obedecer a Deus mostrasse benefícios imediatos,
eles alegremente obedeciam.
Moisés e Israel ilustram perfeitamente os dois grupos de
pessoas que constituem a Igreja de hoje. Essa diferença
fundamental é a linha que divide a Igreja, a qual revela os
adoradores genuínos e aqueles que professam Jesus como
Senhor, mas são egoístas.
Agora nós podemos entender mais claramente as palavras
de Jesus no Novo Testamento:
Então Ele chamou a multidão e os discípulos e disse:
“Se alguém quiser acompanhar-Me, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser
salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua
vida por Minha causa e pelo Evangelho, a salvará”.
Marcos 8:34-35

A Cruz representa a morte completa dos nossos desejos e


das nossas vontades. Aqueles que abraçam a Cruz confiam
que Deus é fiel, justo e o Criador e Mestre amoroso. Eles
sabem que toda a vida procede Dele, e fora Dele não há vida
verdadeira.
Moisés enxergou o quadro maior; Israel podia ver somente a
si mesmo. Moisés entendeu que Deus é Santo e para se
aproximar Dele é necessário abrir mão completamente do
mundo e de sua própria forma. Ele entendeu que ao negar a si
mesmo, ganharia o conhecimento de Deus. Paulo também
enxergou o quadro maior, e podemos vemos sua principal
motivação de viver nestes comentários a duas igrejas:

Quanto a mim, não permita Deus que eu me gabe de


coisa alguma, a não ser da Cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo. Por causa dessa Cruz meu interesse por todas
as coisas atraentes do mundo já foi morto há muito
tempo, e o interesse do mundo em mim também há
muito está morto.
Gálatas 6:14, ABV

Mas o que para mim era lucro, passei a considerar


como perda, por causa de Cristo. Mais do que isso,
considero tudo como perda, comparado com a
suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus,
meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as
considero como esterco para poder ganhar Cristo.
Filipenses 3:7-8

Paulo não estava enganado. Ele não tinha desejo pelo


mundo. O preço de abandonar os prazeres e benefícios não
era nada comparado com a grandeza sublime de conhecer e
andar com Aquele que é a própria Vida.
CAPÍTULO 8
CONTRACULTURA OU SUBCULTURA?
Nós não devemos imitar os padrões
e as maneiras do mundo
nem agir como o povo deste mundo.

O povo não pôde suportar a manifestação de Deus no


topo de Sua montanha. Antes da glória de Deus ser
revelada, o povo professava desejá-Lo, mas isso não era
verdade. Em seus corações, eles não haviam se separado do
Egito; não tinham abandonado seus desejos pelas coisas do
Egito. Mas quando lhes foi oferecido “Deus” em uma
embalagem similar aos modos de viver e padrões de Egito, foi
maravilhoso, eles pensaram, pois poderiam ter Deus e ao
mesmo tempo seu desejo verdadeiro: o Egito. Eles poderiam
permanecer conformados aos padrões do Egito e aos de
Yahweh também!
Inúmeros padrões e maneiras de viver são moldados pelo
espírito do mundo (satanás é chamado de “príncipe do poder
do ar” [Ef 2:2], e “deus desta era” [2 Co 4:4]). Se nós não
escolhermos abandoná-los, em troca da recompensa de nos
achegarmos à presença de Deus, nós continuaremos a
constantemente nos mover de volta às influências do espírito
que governa o mundo. Mas Deus ordena: “Não procedam
como se procede no Egito, onde vocês moraram... Não sigam
as suas práticas” (Lv 18:3).
Nós não devemos imitar os padrões e as práticas de vida do
mundo nem agir como o povo deste mundo. Paulo reforça
esse ponto: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas
transformem-se pela renovação da sua mente” (Rm 12:2).
O Reino de Deus e o curso deste mundo correm em duas
direções opostas. Não existe harmonia entre os dois, como
Jesus advertiu: “Se o mundo os odeia, tenham em mente que
antes Me odiou. Se vocês pertencessem ao mundo, ele os
amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do
mundo, mas Eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o
mundo os odeia” (Jo 15:18-19).
Jesus nos escolheu e nos retirou do padrão de vida do
mundo, e Ele explica que é por isso que o mundo nos odeia.
Mas será que ele realmente nos odeia? É quase como se a
Igreja tivesse passado décadas tentando provar que as
palavras de Jesus aqui estavam equivocadas. Nós temos nos
esforçado ao máximo para nos encaixar. Nós temos
inconscientemente crido que podemos ter a aprovação de
Jesus e a do mundo também! Mas Jesus diz que o mundo
somente nos amaria se nós pertencêssemos a ele. Então, será
que temos lutado para pertencer a um lugar no qual, na
verdade, não deveríamos nos encaixar?
A Igreja Primitiva Comparada à Atual

Tenho lido bastante sobre a Igreja Primitiva, principalmente


sobre a Igreja dos séculos segundo e terceiro, e tenho
descoberto uma grande diferença entre elas e nós. A
característica mais marcante das igrejas desse período é seu
modo de viver separado. Não se pode encontrar maneiras de
ser, métodos e caminhos do mundo entre elas. Elas eram
completamente diferentes da sociedade que as cercava, pois
viviam sob um conjunto de princípios e valores totalmente
diferente. A Palavra de Deus verdadeiramente as moldava.
Os relatos sobre os fiéis dos primeiros tempos feitos por não
cristãos dizem que os cristãos que viviam na comunidade
eram como visitantes, que embora vivessem na carne, eles não
viviam segundo a carne. Eles obedeciam às leis prescritas,
mas, ao mesmo tempo, eles ultrapassavam o que a lei exigia
com seu modo de vida. Tinham pouco interesse em prazeres,
esporte e diversão. Eles amavam a todos os homens, mas
também eram perseguidos por todos eles. Eram desonrados,
mas, nessa mesma desonra, eram glorificados. E aqueles que
os odiavam eram incapazes de descrever a razão de seu ódio.
Nos dias atuais, aqueles que nos odeiam não têm de
procurar muito tempo para encontrar razões válidas para seu
ódio. Esses relatos sobre os cristãos primitivos podem ser
aplicados somente a um pequeno segmento da Igreja de hoje.
Nós temos visto inúmeros escândalos em todos os níveis do
ministério. Esses incidentes trágicos têm ocorrido por causa
dos nossos desejos egoístas. Não somente líderes, mas muitos
nas igrejas vivem uma vida materialista em busca dos prazeres
e tesouros deste mundo. Nós não paramos para refletir no fato
de que estamos na fila para assistir aos mesmos filmes,
divertimentos e prazeres que o mundo persegue.
Cipriano era um romano muito rico que entregou a vida a
Jesus, aos quarenta anos. Ele estava tão feliz por ter
encontrado a Cristo que vendeu todos os seus pertences e deu
todo o dinheiro aos necessitados. Depois ele se tornou um
obreiro da Igreja. Cipriano escreveu:

A única tranquilidade confiante e pacífica, a única


segurança que é sólida, firme e que nunca muda, é
esta: um homem se desviar das distrações deste mundo
e ancorar-se firmemente no solo da salvação, e
levantar seus olhos da Terra para o Céu (a montanha
de Deus)...
Aquele que é maior do que o mundo não pode ansiar
nada nem desejar nada deste mundo.
Carta de Cipriano a Donato, século 14

Os cristãos primitivos criam que este mundo e o próximo


eram inimigos; portanto, não podemos ser amigos dos dois.
Tiago afirma sem meias-palavras: “Adúlteros, vocês não
sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus?
Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus” (Tg
4:4).
Por que ele chama de adúlteros os cristãos que querem ser
amigos deste mundo? Um adúltero tem aliança com um, mas
busca relacionamento com outro. Nós, como cristãos, temos
uma aliança com Deus, então por que desejamos possuir os
padrões, modos de ser e caminhos do mundo? Será que não
somos diferentes de Israel, que não podia abrir mão dos
desejos do Egito pelo privilégio de conhecer a Deus?

Contracultura ou Subcultura?

A Igreja Primitiva era uma contracultura. Hoje, a maioria das


igrejas são uma subcultura. Qual é a diferença? Uma
contracultura é um grupo de pessoas cujo estilo de vida
rejeita ou se opõe aos valores e padrões de comportamento
dominantes na sociedade. Um conjunto de leis
completamente diferentes governa suas vidas. A Igreja
Primitiva demonstrava isso. Pedro diz aos primeiros
convertidos: “Salvem-se desta geração corrompida!” (At
2:40). A versão da Bíblia A Mensagem reforça o significado
das palavras de Pedro: “Saiam enquanto podem! Saiam desta
cultura doente e vazia!”.
Uma subcultura, por outro lado, é um grupo distinto de
pessoas que ainda é parte de uma cultura total existente.
Embora haja alguma característica diferente nas pessoas desse
grupo, ele ainda está conectado ao restante da sociedade. A
Igreja de hoje se enquadra nessa descrição. Nós temos nossos
rótulos de “nascido de novo” ou “salvos”. Nós nos afiliamos
a grupos ou círculos específicos: evangélicos, pentecostais,
carismáticos, denominacionais, e por aí vai. Mas estamos
muito bem presos à sociedade.
Nossa sociedade engloba pessoas com estilos de vida muito
diferentes. Se desenhássemos um gráfico dos estilos de vida
dos norte-americanos, teríamos, em um extremo, liberais; e
em outro extremo, conservadores, com muitas variações entre
os dois extremos. No extremo liberal, encontramos pessoas
como estrelas do rock, celebridades e outros que vestem
roupas incomuns, sendo que alguns até vestem o que o sexo
oposto veste. Essas pessoas vivem uma vida
excepcionalmente anormal, tendo atitudes indecentes, tanto
particular quanto publicamente. Alguns pintam seus cabelos
de preto e branqueiam a pele. Outros vivem uma vida
pervertida. Nós os consideramos um segmento extremo da
sociedade, ao qual a maioria na Igreja nunca busca imitar.
Do outro lado, temos os norte-americanos conservadores.
Aqueles homens e mulheres que vivem aquilo que chamamos
de vida normal. Embora esse segmento da sociedade veja a si
mesmo como “bom”, ele está perfeitamente ligado ao restante
da cultura, que anda sob a influência do príncipe do poder do
ar. Ás vezes o “bom” é o pior inimigo de Deus. Lembre-se de
que a escolha de Eva, que parecia ser boa, era totalmente
contra o caminho de Deus.
Em vez de nós, cristãos, vivermos uma vida totalmente
separada, com base na autoridade governamental do Reino de
Deus, muitos de nós vivemos uma vida igual, que não difere
em nada da vida dos não cristãos conservadores. Nós dizemos
que não somos deste mundo, mas para muitos de nós isso é
uma teoria, e não uma realidade. Pelo fato de estarmos
conectados, à medida que as linhas que delimitam a sociedade
se movem, nós nos movemos com ela.
A Palavra de Deus instrui os cristãos: “Afastem-se de toda
forma de mal” (1 Ts 5:22). E somos exortados do seguinte
modo: “Não participem dos prazeres indignos do mal e das
trevas mas, ao invés disso, denunciem publicamente e
reprovem esses prazeres. Seria vergonhoso até mencionar
aqui esses prazeres das trevas aos quais os ímpios se
entregam” (Ef 5:11-12, ABV). Mas será que temos dado
ouvidos a essas advertências?
Hoje a indústria cinematográfica estabelece uma
classificação para os filmes. A maioria dos cristãos, até os
conservadores, não pensa nada sobre ver filmes de
classificação doze anos, desde que o filme não contenha
obscenidade ou nudez excessiva. Contudo, muitos desses
filmes, embora não tenham essas características, são cheios de
desrespeito, ira, ódio, violência ou relacionamentos
extraconjugais. Muitos cristãos assistem a tais
comportamentos ímpios sem pensar duas vezes.
Vamos escolher um desses filmes de classificação doze anos
e mostrá-lo para pessoas da década de 1940. Qual seria a
reação delas? A maioria teria ficado horrorizada com o
conteúdo! O que aconteceu? As linhas divisórias
conservadoras foram se movendo aos poucos, e a Igreja foi se
movendo juntamente com elas. O que teria assustado os
cristãos nos Estados Unidos dos anos 1940 é considerado
normal pela maioria dos cristãos da Igreja de hoje. Nós temos
sido governados pelo Reino de Deus ou temos sido
influenciados pelos desejos do Egito?
Os meios e padrões do Reino de Deus são consistentes, pois
Deus não muda. A Bíblia declara que não há sombra de
variação Nele. Quando Deus nos ordena evitarmos toda forma
de mal, e diz que é vergonhoso o simplesmente falar sobre
coisas que os ímpios fazem, por que nós formamos filas e
pagamos para ver tais atitudes, modos de ser e padrões que
foram moldados segundo a geração perversa na qual
vivemos? Um amigo me disse que estava em um período de
profunda oração quando ele ouviu o Senhor entristecido
perguntando: “Por que Meu povo se entretém com as mesmas
coisas que colocaram aqueles pregos em Minhas mãos?”.
Será que a indústria do entretenimento tem discernimento?
Os executivos e aqueles que tomam decisões conhecem os
frutos que Deus procura em Seu povo? Então, por que nós
acreditamos nas classificações da indústria e não no
discernimento? Será que Deus mudou com o passar dos anos
e Se acomodou às tendências desta geração? Certamente não!
Se os padrões de Deus não mudaram, por que a maioria dos
padrões dos cristãos mudou? Nós estamos ligados à cultura, e
não ao Reino, com nosso estilo de vida. Nós não
abandonamos os desejos do Egito. Esse padrão é evidente em
todas as áreas da nossa vida: modo de vestir, cortes de cabelo,
no modo como lidamos com dinheiro e negócios, perspectiva
política, etc.
O povo da Igreja Primitiva era capaz de rejeitar atitudes,
padrões e entretenimentos que não eram de Deus, porque a
cultura deles era conformada segundo o Reino de Deus. Eles
eram uma igreja sedenta, que desejava conhecer seu Redentor
mais do que desejava conforto e prazeres. Os enlaces da
cultura não tinham poder sobre a maioria deles; por causa da
paixão que tinham pelo Senhor. O custo de abandonar essas
coisas não se comparava com a recompensa de conhecer o
Redentor. Eles não somente reconheciam isso, mas viviam
isso também. O estilo de vida produzia uma disciplina
saudável entre eles.
Diferentemente de algumas denominações e grupos que
surgiram depois, a Igreja Primitiva geralmente não tentava
criar leis para a santidade através de regras excessivas e
regulamentos. Eles dependiam da doutrina sã, da direção
genuína do Espírito, do exemplo de temeridade a Deus e um
firme compromisso de servi-Lo. Igrejas que dependem de
regulamentos extremos para promover a santidade,
geralmente acabam gerando legalistas religiosos. A Igreja
Primitiva enfatizava a importância de um coração
transformado, o qual produzia um estilo de vida santo.
Maneirismos externos eram considerados inúteis se não
revelassem o que estava acontecendo no interior da pessoa.
Estamos Provocando o Ciúme do Senhor?
Hoje, temos convidado o mundo para entrar em nossos lares
através da televisão, dos vídeos, das revistas e dos jornais, e
por aí em diante. Muitas vezes tenho chorado ao ver pôsteres
de atletas, fotos de estrelas do cinema penduradas nas paredes
dos quartos de crianças, e revistas das estrelas de Hollywood e
ídolos da sociedade nas casas de cristãos. Por que temos
idolatrado esses homens e mulheres venerados pela
sociedade?
Falando sobre ídolos, Paulo disse: “Vocês não podem beber
do cálice do Senhor e do cálice dos demônios; não podem
participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.
Porventura provocaremos o ciúme do Senhor?” (1 Co 10:21-
22). Por que estamos tão interessados no que interessa ao
mundo?
Durante anos minha família tem tido contato com um
lutador profissional famoso. Sua família foi tocada
profundamente por Deus de muitas maneiras. A mãe, o filho e
um parente foram salvos. O lutador também ouviu o
Evangelho através de nós; ele sabe que há um preço a ser
pago para seguir a Jesus e não quer deixar tudo para segui-Lo.
Em certo sentido, eu respeito sua honestidade, pois hoje
muitos na Igreja dizem que abandonam tudo para seguir
Jesus, mas não cumprem a palavra.
Eu tenho usado esse lutador como uma analogia quando
falo sobre força espiritual em minhas mensagens. Relato esse
exemplo em conferências e igrejas ao redor do país. Meu
coração quase se parte quando pessoas vêm até a mim com
entusiasmo dizendo que sabem de quem estou falando.
Quando isso acontece, tenho vontade de gritar: “Por que você
deveria saber quem ele é? Por que você tem assistido a isso?”.
Pelo risco de parecer legalista, eu deixo de falar. Talvez eu
devesse falar. Eu me preocupo bastante com ele, mas não
consigo assistir-lhe na televisão, pois o ato que ele pratica é
cheio de escuridão. Eu penso: como um cristão pode assistir
a isso regularmente? Onde está o zelo pela presença de
Deus?
Um Chamado A Despertar

Algum tempo atrás recebi um chamado para despertar que


acendeu minha paixão por esta mensagem. Eu havia
ministrado em uma igreja sobre buscar a Deus. O culto
poderoso tocou profundamente muitas pessoas.
No dia seguinte, foi um dia de descanso para mim. Eu estava
viajando com minha esposa e meus filhos, e naquele
momento já estávamos fora de casa há algum tempo. O pastor
convidou todos os líderes para um momento de comunhão.
Nós comemos, conversamos, e a maior parte da conversa foi
sobre o toque de Deus naquele culto do dia anterior. Após a
refeição, decidimos assistir a um filme. Alguém ali tinha o
vídeo de um filme muito popular. Eu achava que o ator
principal era muito talentoso e, embora fosse classificado para
doze anos, eu disse que queria assistir.
No começo do filme havia uma forte cena de assassinato.
Fiquei perturbado com aquilo, mas decidi continuar
assistindo. Embora o filme não tivesse mais assassinatos,
aconteceram muitas lutas, ódio, ira, raiva e engano. À medida
que eu assistia, sentia preocupação em meu coração. Eu
continuava pensando no que havíamos falado sobre as coisas
de Deus, sentindo luz e vida, e agora nós estávamos nos
abrindo para as trevas. Senti que estava sendo uma péssima
testemunha.
Então um dos meus filhos entrou na sala no momento em
que o ator relembrava a cena do crime. Meu filho ficou
horrorizado. Ele correu até o quarto e ficou tão perturbado,
que ele e seu irmão mais velho foram até minha esposa (que
havia saído dali no começo do filme) buscando conforto. Ele
não podia entender como seu pai podia assistir a tal filme. Ele
perguntou: “Mamãe, aquele filme é realmente para doze anos?
Por que Papai está assistindo àquilo?”.
Quando o filme acabou, eu me senti violado. Sabia que tinha
feito uma tolice. Eu me despedi dos líderes. Aquela foi a
última vez que os vi naquela viagem. Que maneira de me
despedir! Pedi desculpas à minha esposa, que me contou
sobre o comentário do nosso filho. Eu me desculpei com eles
no dia seguinte e disse-lhes o quão errado eu estava. Eu tinha
pecado contra Deus, contra eles e contra aqueles líderes. Eles
foram graciosos e me perdoaram, mas continuaram ainda
processando o que havia acontecido.
Em outra cidade, nós ficamos hospedados com um casal
muito abençoado que eram nossos amigos muito íntimos.
Quando eu fui salvo, no final dos anos 1970, eles foram meus
mentores. Ele era um dos pesquisadores da Universidade de
Purdue. Ele já levou muitos a Deus e tem ajudado estudantes
a crescerem no Senhor. Ele ama conversar sobre as coisas do
Reino.
Meu filho contou a esse casal sobre o filme que eu havia
assistido na casa de um pastor. Minha esposa mais tarde me
contou que ele havia feito isso. Eles eram tão puros que me
senti envergonhado e profundamente triste por meus velhos
amigos ficarem sabendo o que eu havia feito.
Imediatamente fui ao Senhor em oração. Deus falou comigo
de maneira a não deixar dúvidas, e me mostrou que aquilo era
um chamado para que eu despertasse. Se eu fiquei tão
preocupado ao saber que aquele casal ouvira sobre o que eu
tinha feito, como eu imaginava que Deus Se sentiu quando eu
submeti a mim mesmo, que sou templo do Espírito, a tão
grandes trevas? Fui tomado de arrependimento. Graças a
Deus, Ele é gracioso e misericordioso em perdoar!
Uma Revelação Esclarecedora

O Senhor usou esse incidente para me mostrar a Sua


verdade acerca da nossa responsabilidade de nos separarmos
do mundo. Sua revelação, como sempre, reformulou minha
maneira de pensar e viver. Dias depois, na mesma semana, o
Senhor usou a vida de Ló, sobrinho de Abrão, para ilustrar
ainda mais essa verdade.
Deus disse a Abrão para deixar seus pais, seus parentes e a
casa de seu pai, pois Ele faria de Abrão uma grande nação e o
abençoaria. Abrão partiu, e seu sobrinho Ló foi com ele. A
partida deles é uma analogia da salvação, assim como a saída
de Moisés e Israel do Egito. Abrão deixou sua casa por causa
da revelação de Deus; mas Ló, não. Abrão tinha as mesmas
motivações de Moisés, enquanto Ló se parecia muito mais
com o povo de Israel.
O resultado da partida de Ló, junto com Abrão, era que ele
participaria das bênçãos de Deus. Abrão prosperou e era rico
em gado, prata e ouro (Gn 13:2). E Ló, “que acompanhava
Abrão, também possuía rebanhos e tendas” (Gn 13:5).
Contudo, sempre que alguém busca benefícios próprios e
segue alguém que busca Deus, um conflito acontecerá, pois a
carne sempre resistirá e finalmente contenderá contra o
espírito. E então sabemos que “... surgiu uma desavença
entre os pastores dos rebanhos de Abrão e os de Ló” (Gn
13:7). Sendo alguém segundo o coração de Deus, Abrão disse
a seu sobrinho:

Não haja desavença entre mim e você, ou entre os seus


pastores e os meus; afinal somos irmãos! Aí está a
terra inteira diante de você. Vamos separar-nos. Se
você for para a esquerda, irei para a direita; se for
para a direita, irei para a esquerda.
Gênesis 13:8-9

O coração de Abrão era segundo o coração de Deus. Seu


interesse em ganho pessoal não era maior que a força que
movia sua vida. O que o mundo poderia oferecer não lhe
importava, porque “ele esperava a cidade que tem alicerces,
cujo Arquiteto e Edificador é Deus” (Hb 11:10). Seus olhos
estavam postos sobre o que é eterno, portanto escolher a
melhor terra não era o que importava para ele.
Aqueles que foram salvos, mas que lhes falta uma paixão
por Deus, como os filhos de Israel, buscarão seus melhores
interesses no sistema do mundo, pois é onde a recompensa
deles está. Abrão deu preferência a Ló ao dar-lhe a escolha da
terra.

Olhou então Ló e viu todo o vale do Jordão, todo ele


bem irrigado, até Zoar; era como o jardim do Senhor,
como a terra do Egito. Isto se deu antes de o Senhor
destruir Sodoma e Gomorra. Ló escolheu todo o vale
do Jordão e partiu em direção ao leste. Assim os dois
se separaram: Abrão ficou na terra de Canaã, mas Ló
mudou seu acampamento para um lugar próximo a
Sodoma.
Gênesis 13:10-12

A terra que Ló escolheu era bem convidativa. Ele podia ver


prosperidade e conforto esperando por ele naquelas planícies.
Ele estava familiarizado com o território, pois já havia passado
por aquela área antes (ver Gênesis 13:3). Ele provavelmente
sabia que “os homens de Sodoma eram extremamente
perversos e pecadores contra o Senhor” (Gn 13:13). Talvez
isso explique a “olhada” que ele deu. Eu imagino que ele
tenha pesado na balança a bênção da terra e a iniquidade que
a acompanhava. Mas seu desejo por uma “boa vida” era mais
forte do que o amor por Deus, que era o que Abrão tinha.
Portanto, Ló ignorou a iniquidade da terra. Ele provavelmente
pensou que poderia permanecer não influenciado por tudo
aquilo.
Creio que ele “mudou seu acampamento para um lugar
próximo a Sodoma” para se desviar do centro da sociedade
ímpia. Ele comportou-se como muitos cristãos hoje,
pensando: eu posso me envolver um pouco com o sistema do
mundo, longe desses segmentos perversos, e não me deixar
ser sugado por ele. Esses são pensamentos no mínimo tolos!
O mundo possui uma força atrativa em si chamada sedução, e
se você tiver algum desejo por ganho egoísta, ele o atrairá,
assim como um ímã atrai certos metais, e não atrai outros.
As intenções de Ló podem ter sido boas em ficar afastado
da cidade de Sodoma, porém, mais tarde, ele já não morava
mais em um acampamento perto da cidade. Ele havia se
mudado para uma casa dentro das portas da cidade de
Sodoma! (ver Gênesis 19:1-3) Ele foi atraído a ela. Eu tenho
certeza de que os benefícios o atraíram, mas lemos no Novo
Testamento que sua alma justa foi influenciada pela conduta
iníqua dos ímpios: “Pois, vivendo entre eles, todos os dias
aquele justo [Ló] se atormentava em sua alma justa por
causa das maldades que via e ouvia” (2 Pe 2:8).
Eu nunca me esquecerei do que Deus me revelou naquela
semana. As palavras “as maldades que via e ouvia” saltaram
aos meus olhos. Ao ver e ouvir suas obras iníquas, Ló
atormentou sua alma justa.
Você deve estar pensando: Eu vejo e ouço maldades todos
os dias. Eu as vejo e ouço no trabalho, na escola, na rua.
Como posso me privar de atormentar minha alma? O
Senhor me mostrou a chave. Quando você vai ao trabalho, à
escola ou a qualquer outro lugar para exercer suas atividades
diárias necessárias, você está indo para seu campo
missionário. Deus o está enviando como luz para o meio das
trevas. Você pode alcançar pessoas ali testemunhando da
ressurreição de Jesus, pessoas que talvez nunca pisarão em
um culto evangélico. Ao ver suas maldades, sua alma não será
atormentada.
Ló, por outro lado, escolheu habitar entre os iníquos para o
próprio benefício e prazer. Quando você, como cristão,
escolhe assistir a um vídeo cheio de maldades, ler uma revista
banhada pelo espírito do mundo ou escolhe ir a um lugar de
diversão e entretenimento que possui obras iníquas em si,
você escolhe atormentar sua alma. Mas, pior que isso, você na
verdade abandona o privilégio de poder se aproximar à
montanha do Senhor.
Onde Encontramos Descanso
para Nossas Almas?

Você pode protestar: “Mas Jesus foi capaz de comer com


pecadores”. Sim, é verdade. Ele se encontrava com eles para
alcançá-los, algo que nós devemos fazer. Mas Ele não foi lá
para Se entreter ou relaxar. Você pode perguntar: “Então, onde
um cristão pode ir para descansar?”. Jesus ia para lugares
desertos (ver Marcos 6:31). Isso significa um lugar longe do
sistema do mundo.
Meu lugar favorito para descanso costumava ser a praia.
Mas agora eu raramente encontro uma praia calma. Na
maioria das praias, pessoas desfilam com seus corpos quase
nus, com o espírito de sedução em ação. (Imagino o quanto as
roupas indecentes e minúsculas de hoje teriam assustado
outros na década de 1940. Elas teriam chocado e assustado até
mesmo os não crentes conservadores! Eu não estou tentando
de forma alguma ser legalista ou antiquado, mas me pergunto
se estamos conectados como subcultura mais do que nós
mesmos percebemos.) Em vez de ir a praias, eu vou para as
montanhas, lugares muito arborizados ou regiões de lagos
para férias. Nessas áreas eu posso ficar longe do sistema do
mundo e verdadeiramente descansar minha alma.
Por que alguns cristãos precisam se divertir ou buscar
descanso em lugares onde o modo de ser e os padrões do
mundo são mais evidentes? Estamos tentando ficar longe da
presença de Deus para descansar ou vamos nos acalmar para
poder desfrutar Sua presença tão maravilhosa? Será que não
percebemos que a promessa da Sua presença espera por
aqueles que se separam e se achegam a Ele?1

1Alguns dos meus comentários neste capítulo foram inspirados nos capítulos 3 e 4
do livro de David W. Bercot, Will The Real Heretics Please Stand Up? (Os
verdadeiros heréticos poderiam, por favor, ficar de pé?) (Tyler, TX.: Scroll
Publishing, 1989).
CAPÍTULO 9
GRAÇA SALVADORA
Graça é definida como a capacidade de viver
livre da iniquidade e dos desejos do mundo.
É a essência do poder de viver uma
vida de santidade diante de Deus.

O Antigo Testamento certamente não contém passagens


ultrapassadas. Ao contrário, Jesus disse: “Não pensem
que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas
cumprir” (Mt 5:17). Como podemos saber o que Jesus
cumpriu ou ainda cumpre sem entender essa Lei? Agora que
desenvolvemos um entendimento do Antigo Testamento e do
desejo de Deus de habitar entre o Seu povo, voltemos à
declaração de Paulo na Nova Aliança:

Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois


o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que
comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia
entre Cristo e Belial? Que há de comum entre o crente
e o descrente? Que acordo há entre o templo de Deus e
os ídolos? Pois somos santuário do Deus vivo. Como
disse Deus:
“Habitarei com eles
E entre eles andarei;
Serei o seu Deus,
E eles serão o Meu povo”.
2 Coríntios 6:14-16

Deus faz três promessas distintas. Primeiro, Ele habitará no


nosso meio e andará entre nós. Segundo, Ele será o nosso
Deus. Terceiro, nós seremos o Seu povo. Essas são as Suas
promessas, mas elas não se originaram no Novo Testamento.
Paulo simplesmente repete o que o Senhor disse a Israel; Seus
desejos para nós são os mesmos. Em uma ocasião, Suas
palavras exatas a Israel foram: “Andarei entre vocês e serei o
seu Deus, e vocês serão o Meu povo” (Lv 26:12). Esse tem
sido Seu desejo desde o início.
Como aprendemos, Ele está falando sobre Seus desejos de
habitar entre nós em Sua glória. O Espírito Santo, por meio do
apóstolo Paulo, reafirma as mesmas palavras aos cristãos do
Novo Testamento. Ainda assim, como foi para Israel, existe
uma condição:

Portanto, “saiam do meio deles


E separem-se”, diz o Senhor.
“Não toquem em coisas impuras,
E Eu os receberei
E lhes serei Pai, e vocês serão Meus filhos e Minhas
filhas”,
Diz o Senhor Todo-Poderoso.
2 Coríntios 6:17-18

A condição não é diferente daquela dada a Moisés e aos


filhos de Israel. Nós devemos nos separar do sistema do
mundo. Se obedecermos, Deus nos receberá e Se revelará a
nós! Mas se não nos separarmos, nosso destino será pior do
que o destino dos hebreus.
Deus disse a Moisés para que consagrasse o povo. Ser
consagrado a Ele lhes permitiria contemplar a glória do Pai.
Nós recebemos a mesma instrução de nos separamos.
Parafraseando, Deus está dizendo: “Eu os livrei do mundo.
Agora, retirem o mundo de dentro de vocês!”. Obedecer a
esse mandamento nos preparará para a glória do Senhor.
Moisés instruiu Israel a “lavar suas vestes”. Eles deveriam
se limpar da iniquidade do Egito. A mesma coisa nos é dita:
“Amados, visto que temos essas promessas, purifiquemo-nos
de tudo o que contamina o corpo e o espírito, aperfeiçoando
a santidade no temor de Deus” (2 Co 7:1).
Nós devemos aperfeiçoar a santidade ao nos limparmos das
impurezas da carne e do espírito do mundo, que ainda estão
em nós. Assim como foi com Israel, devemos nos lavar da
imundície do mundo e tirá-la de nós. Paulo não nos diz:
“Deus os limpará”, ou “o sangue de Jesus dará conta de
limpar vocês”. O significado é ainda mais claro na linguagem
original. A palavra grega para a expressão “aperfeiçoando” é
epiteleo. O Dicionário Grego de Thayer define a palavra como
“tomar sobre si a obrigação de terminar, aperfeiçoar, executar
ou completar algo”. Isso coloca sobre nós a responsabilidade
de iniciar o processo de limpeza e cuidar para que sejamos
purificados.
É claro, nunca poderíamos fazer isso sem a graça de Deus,
pois a graça do Senhor nos concede a capacidade de fazer o
que Sua verdade exige. Ela nos dá poder para obedecermos às
Palavras de Deus. Isso explica por que Paulo diz:

Como cooperadores de Deus, insistimos com vocês


para não receberem em vão a graça de Deus.
2 Coríntios 6:1

Receber algo em vão seria como não usar o que recebeu em


seu potencial pleno. Digamos que eu viva em uma montanha
vulcânica. É anunciado que o vulcão entrará em erupção nas
próximas vinte e quatro horas. Sem meios de transporte, eu
não poderia escapar, pois não chegaria longe o suficiente da
montanha se saísse a pé, em um período de vinte e quatro
horas. Sem um automóvel eu estaria condenado. Ao ver
minha necessidade, uma pessoa generosa e amável bate à
minha porta e oferece-me um carro, coloca as chaves em
minhas mãos e diz: “O carro é seu, agora você está salvo”.
Eu me alegro porque fui salvo. Pelo fato de estar sem
dinheiro, nunca teria comprado um carro. Essa pessoa
voluntariamente me deu um automóvel que me levará a um
lugar seguro.
Cheio de entusiasmo, ligo para meus amigos e digo: “Eu fui
salvo! Não vou mais morrer! Uma pessoa muito compassiva
me deu um carro para escapar do desastre. Não é
maravilhoso?”. Então eu procuro meus mapas, e até leio um
livro para aprender a dirigir melhor.
Entretanto, durante as vinte e quatro horas seguintes, eu
permaneço dentro da casa. Eu não entro no carro para
escapar. Assim, o vulcão entra em erupção e eu sou
aniquilado pela destruição. O presente que me traria vida foi
providenciado, mas eu somente celebrei e não segui nenhuma
ação. Mais tarde, todos aqueles que sabiam do meu problema
e do que eu havia ganhado, diriam: “Ele ganhou um carro em
vão!”.
Da mesma forma, receber a graça de Deus em vão significa
que Ele nos deu poder para andar em liberdade dos esquemas
deste mundo através da santidade, mas não fizemos uso dela.
Uma Graça Antibíblica

Um pensamento enganador está presente na Igreja de hoje.


Esse pensamento foi concebido e propagado por
ensinamentos desequilibrados sobre a graça. Frequentemente,
refere-se à graça para desculpar ou encobrir uma vida
mundana. Falando mais claramente, ela é usada como uma
justificativa para uma maneira de viver egoísta e carnal.
Muitos grupos cristãos têm enfatizado excessivamente a
bondade do Senhor e negligenciado Sua santidade e Sua
justiça. Esse desequilíbrio tem feito com que muitos tenham
um entendimento deturpado sobre a graça de Deus. Assim,
muitos acabam recebendo-a em vão.
A graça de Deus não é uma mera cobertura. Sim, ela nos
cobre, mas vai além disso: ela nos capacita e nos dá poder
para viver uma vida de obediência. No sermão da montanha
(ver Mateus 5), Jesus repete as palavras: “Vocês ouviram o
que foi dito aos seus antepassados... mas Eu lhes digo...”
(vv. 21-22). Esse padrão continua até o final do capítulo por
mais quatro vezes (vv. 27-28, 31-32,33-34, 43-44). O que Jesus
está fazendo? Ele cita a exigência da Lei de Moisés: “Vocês
ouviram o que foi dito...”. E então Ele introduz o que Deus
busca no crente que está debaixo da Nova Aliança: “Mas Eu
lhes digo...”. Ele contrasta a Lei Mosaica com a graça e a
verdade.
João diz: “Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a
graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo”
(Jo 1:17). Jesus introduz a dimensão da graça que transmite a
capacidade de Deus dentro de nós, que nos liberta da fórmula
morta da Lei. A Lei consiste em comportamento exterior,
enquanto a graça é a transformação interior.
Muitas vezes eu ouço cristãos e pastores reclamarem sobre
as duras exigências da Lei, e então expressarem seu alívio por
estarem sob a graça, com uma vida não tão rígida. Bem, eu
também me alegro grandemente porque não vivo sob a Lei.
Mas não porque, agora, descobri que os padrões de santidade
de Deus se tornaram mais permissivos. O oposto é que é
verdadeiro. Foi porque eu acredito que o nível que Ele impõe
sob a graça é maior ainda!
Vejamos melhor a comparação de Jesus no Sermão da
Montanha:

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e,


Quem matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que
todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será
réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu
diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do
fogo do inferno.
Mateus 5:21,22, AA

A palavra Raca significa “cabeça oca”. Era um termo de


repreensão muito usado entre os judeus nos tempos de Cristo.
Se alguém se irasse a ponto de chamar seu irmão de tolo,
Jesus disse que ele seria sujeito ao inferno. A palavra Tolo
também significa “sem Deus”. “Diz tolo em seu coração:
‘Deus não existe’” (Sl 14:1). Chamar um irmão de tolo era
uma acusação séria. Ninguém poderia dizer isso sem que sua
ira já não tivesse se transformado em ódio. Dizer “Raca” ou
“Tolo”, é comparável a alguém dizer hoje: “eu odeio você”.
No Antigo Testamento, uma pessoa era culpada por
homicídio se tirasse a vida física. Sob a graça do Novo
Testamento, Deus iguala o ódio a um irmão à seriedade de se
cometer homocídio: “Quem odeia seu irmão é assassino, e
vocês sabem que nenhum assassino tem a vida eterna em si
mesmo” (1 Jo 3:15).
Sob a Lei, você precisa passar a faca em alguém para ser
culpado. Sob a graça, se você recusar perdoar seu irmão ou
permitir que a ira ou qualquer forma de ódio reine em seu
coração, é evidente que a graça de Deus não habita em você
ou que você a negligenciou, portanto, recebeu a graça em vão.
Então, será que Jesus descreve a graça como justificativa ou
Ele a revela como Seu poder que nos capacita a viver uma
vida santa?
Aqui está outra comparação que Jesus fez:

Vocês ouviram o que foi dito: “Não adulterarás”. Mas


Eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher e
desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração.
Mateus 5:27-28

Um julgamento de culpa, na Aliança Antiga, acontecia


quando alguém cometia o ato de adultério físico. Em
contraste, sob a Nova Aliança, Deus considera um homem em
adultério quando ele meramente olha para uma mulher com
desejo em seu coração. Sob a Lei, você teria de praticar o ato
para ser culpado; sob a graça, tudo o que é necessário é que
você simplesmente queira fazer isso! Por acaso parece a graça
que tem sido vivida e ensinada em nosso meio? Será que isso
soa como uma grande cobertura, ou como a capacidade dada
por Deus para se viver uma vida santa?
Se a graça é uma mera cobertura, então pareceria que Jesus
contradisse a graça que Ele veio dar. Mas isso não é verdade:
“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os
homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às
paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e
piedosa nesta era presente” (Tt 2:11-12). A graça é definida
como a capacidade de viver livre da iniquidade e dos desejos
do mundo. É a essência do poder de viver uma vida de
santidade perante Deus.
O escritor de Hebreus nos exorta a “retenhamos a graça,
pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência
e piedade” (Hb 12:28, ACF). Novamente, graça é definida
nesse versículo não como uma cobertura, mas como uma
força que nos permite servir a Deus de modo agradável. A
graça que recebemos em vão resulta em um coração não
transformado, voltado para as impurezas do mundo. Portanto,
o fruto da santidade é a prova da nossa salvação.
Salvo por Obras?

Algumas pessoas podem argumentar: “Mas a Bíblia diz:


‘Nós fomos salvos pela graça por meio da fé, não por nossas
próprias obras; isso é um dom de Deus’” (Ef 2:8-9, paráfrase
do autor).
Sim, isso é verdade. É impossível viver uma vida digna de
herdar o Reino de Deus pela própria força, pois todos nós
pecamos e falhamos em viver de acordo com o padrão justo
de Deus. Ninguém nunca será capaz de permanecer diante de
Deus e dizer que suas obras, atos caridosos ou vida correta lhe
deram o direito de herdar o Seu Reino. Todos nós
transgredimos e merecemos o lago de fogo eternamente.
A resposta de Deus para nossas falhas é a dádiva da salvação
por meio do dom da Sua graça! Uma dádiva não pode ser
conquistada. Romanos 4:4 nos diz: “Ora, o salário do homem
que trabalha não é considerado como favor, mas como
dívida”. Você não pode viver uma vida correta o suficiente
para merecer ou comprar a graça. Você poderia dedicar toda a
vida a sacrifícios e obras de caridade, mas ainda assim não
conseguiria merecê-la. É uma dádiva, e você somente a recebe
por meio da fé em Jesus.
Vamos completar o estudo e não parar por aqui. Lembre-se
do exemplo da pessoa ameaçada pela explosão de uma
montanha vulcânica, a quem foi dado um carro de presente. O
carro não poderia ter sido comprado; em nosso exemplo, a
pessoa não tinha dinheiro para isso. Mesmo assim, quando
recebeu o presente, ela não usou seu potencial pleno. Suas
ações ou obras em dirigir para longe daquela área a teriam
salvado. Do mesmo modo, nenhum de nós poderia comprar
nossa própria graça. Ela foi dada a nós como uma dádiva, pela
qual nunca poderíamos pagar. Mas precisamos usar todo o
seu potencial.
É por isso que Tiago disse aos fiéis: “Assim também a fé,
por si só, se não for acompanhada de obras, está morta” (Tg
2:17). Tiago não está contradizendo Paulo. Ele está detalhando
e esclarecendo a mensagem de Paulo. Ele está salientando
que, assim como nosso amigo poderia ter sido salvo se tivesse
dirigido o carro, da mesma forma a graça, sem as obras
correspondentes, não tem efeito. Ela teria sido recebida em
vão.
Ele continua: “Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho
obras’. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a
minha fé pelas obras” (Tg 2:18). Tiago diz que uma vida de
santidade é a evidência de que a pessoa recebeu a dádiva da
graça de Deus por meio da fé. A graça, portanto, fornece o
desejo de obedecer e a capacidade de obedecer. É por isso que
Paulo diz: “Fiel é esta palavra, e quero que você afirme
categoricamente essas coisas, para que os que creem em
Deus se empenhem na prática de boas obras” (Tt 3:8).
Alguém que diz ser cristão e constantemente desobedece à
Palavra de Deus, não recebeu verdadeiramente a graça de
Deus, ou a recebeu em vão.
Tiago enfatiza: “Vejam que uma pessoa é justificada por
obras, e não apenas pela fé” (Tg 2:24). Uau, que declaração!
Eu me atrevo a dizer que poucos fiéis evangélicos ou
carismáticos estão cientes de que esse versículo existe na
Bíblia.
Há pouco tempo, iniciei a pregação de uma mensagem com
a leitura isolada desse versículo. O auditório ficou bem quieto
após eu ter feito a leitura. O povo estava tão acostumado com
mensagens que não exigem obras, que levou alguns minutos
para que eles digerissem o significado do versículo. E, claro,
em seguida eu o li em seu contexto, mas os corações estavam
abertos e a atenção deles já havia sido captada.
Tiago dá início a esse comentário usando Abraão, o pai da
fé, como exemplo:

Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por


obras, quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar?
Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam
atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras.
Cumpriu-se assim a Escritura que diz: “Abraão creu
em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça”.
Tiago 2:21-23
O Que Jesus Busca em Nós

Há pouco tempo, enquanto eu estava em oração, o Senhor


falou comigo e fez afirmações tão contrárias ao que tem sido
ensinado em nossas igrejas, que me assustaram. Na verdade,
eu questionei se aquela havia sido de fato a voz de Deus. Mas
identifiquei na Bíblia o que Ele me disse.
Antes de compartilhar com você essas afirmações, preciso
descrever qual era o assunto em questão. No início do livro de
Apocalipse, Jesus dá sete mensagens diferentes para sete
igrejas. Essas são igrejas históricas, mas Deus nunca teria
colocado essas mensagens em Sua Palavra se elas não
tivessem uma aplicação profética. Em outras palavras, as
mensagens se aplicam a nós ainda hoje.
O primeiro comentário que o Senhor compartilhou comigo
em oração foi: “John, você notou que as primeiras palavras
que saíram da Minha boca em todas as cartas às sete
igrejas no livro de Apocalipse foram ‘conheço as tuas
obras’”? Encontrei as seguintes falas de Jesus no livro de
Apocalipse:
Primeira Igreja: “Escreve ao anjo da igreja que está
em Éfeso... Conheço as tuas obras” (Ap 2:1-2, ACF).
Segunda Igreja: “E ao anjo da igreja em Esmirna,
escreve... Conheço as tuas obras” (Ap 2:8-9, ACF).
Terceira Igreja: “E ao anjo da igreja que está em
Pérgamo escreve... Conheço as tuas obras” (Ap 2:12-
13, ACF).
Quarta Igreja: “E ao anjo da igreja de Tiatira
escreve... Eu conheço as tuas obras” (Ap 12:18-19,
ACF).
Quinta Igreja: “E ao anjo da igreja que está em
Sardes escreve... Conheço as tuas obras” (Ap 3:1,
ACF).
Sexta Igreja: “E ao anjo da igreja que está em
Filadélfia escreve... Conheço as tuas obras” (Ap 3:7-
8, ACF).
Sétima Igreja: “E ao anjo da igreja que está em
Laodiceia escreve... Conheço as tuas obras” (Ap
3:14-15).
“Conheço as tuas obras” são as primeiras palavras que
saíram de Sua boca para todas as sete igrejas. Eu pensei: Será
que nos distanciamos tanto do que Jesus enfatiza e do que
Ele procura em nós?
Enquanto eu ponderava sobre isso ouvi o Senhor me dizer a
segunda afirmação, que foi a que me assustou: “Você notou
que Eu nunca disse para nenhuma das igrejas: ‘Conheço os
seus corações’”?
Eu me lembrei de quantas vezes estava sentado em uma
reunião ou em um encontro para aconselhamento com um
cristão, que estava vivendo uma vida impura ou mundana, e o
ouvi dizer a seguinte frase com a maior convicção de
inocência: “Bem, Deus conhece meu coração!”.
Jesus não está olhando para nossas intenções, nossos
desejos ou nosso conhecimento do que é certo. Ele está
olhando para nossas obras! Será que estamos permitindo que
a graça de Deus produza em nós uma vida santa ou temos
recebido essa graça em vão?

Um Mal Entendido da Palavra “Crer”

Uma das razões pela qual temos nos desviado para tão longe
do verdadeiro significado da graça são nossos ensinamentos
incorretos sobre a palavra crer. Nos dias de hoje, essa palavra
está reduzida a um reconhecimento mental. Multidões fizeram
a oração de arrependimento porque acreditaram que Jesus
existe e foram tocadas emocionalmente por mensagens não
confrontadoras que não incluíam um chamado ao
arrependimento. Mas elas não deixaram seu estilo de vida de
buscar o que o mundo busca. Continuam vivendo para si
mesmas, confiando na salvação intelectual ou emocional, que
não é verdadeira.
Na Bíblia, crer significa não somente reconhecer a
existência de Jesus, mas também obedecer à Sua vontade e à
Sua Palavra. Em Hebreus 5:9 lemos: “E, uma vez
aperfeiçoado, tornou-Se a Fonte da salvação eterna para
todos os que Lhe obedecem”. Crer é obedecer. A prova da fé
de Abraão estava ligada aos seus atos de obediência. Dando
ouvidos ao chamado de santificação, ele deixou sua família,
seus amigos e sua nação. Depois ofereceu o que lhe era mais
precioso: seu filho. Absolutamente nada, nem mesmo seu
filho, significava mais para ele do que obedecer a Deus. Essa é
a fé verdadeira. É por isso que ele foi honrado como o “pai de
nós todos” (Rm 4:16). Será que vemos essa fé evidente na
Igreja de hoje? Como pudemos ser tão enganados?
Simplesmente dizer que você tem fé não prova sua salvação.
Como a fé pode ser real sem que haja atos de obediência
correspondentes a ela, os quais produzem a verdadeira
santidade? Vamos ouvir novamente as palavras de Tiago:
“Vejam que uma pessoa é justificada por obras, e não
apenas pela fé”.
“Nem Todo Aquele Que Me Diz: ‘Senhor, Senhor’”

Nós conhecemos um verdadeiro cristão não pelo que ele


professa, mas por seu “fruto... que leva à santidade” (Rm
6:22). Jesus esclarece isso ao dizer: “Assim, pelos seus frutos
vocês os reconhecerão! Nem todo aquele que Me diz:
‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas apenas
aquele que faz a vontade de Meu Pai que está nos Céus” (Mt
7:20-21).
Permita-me colocar essas palavras de maneira mais
moderna: “Você saberá quem é um cristão e quem não é, não
pelo que a pessoa professa, mas por sua submissão à
vontade do Pai. Nem todo aquele que diz: ‘Eu sou cristão’ e
‘Jesus é meu Senhor’, entrará nos Céus, mas somente
aqueles que obedecem à vontade do Meu Pai”.
Jesus novamente diz: “Muitos Me dirão naquele dia:
‘Senhor, Senhor, não profetizamos em Teu nome? Em Teu
nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos
milagres? Então Eu lhes direi claramente: Nunca os
conheci. Afastem-se de Mim vocês, que praticam o mal! ”
(Mt 7:22-23).
Na nossa linguagem moderna: “Um grande número de
pessoas Me confessará como Senhor e orará a oração de
arrependimento. Muitos deles se considerarão
‘pentecostais’. Sim, mesmo aqueles que fizerem milagres e
expulsarem demônios em Meu nome, ficarão surpresos com
o que acontecerá naquele dia. Eles esperam entrar no Reino
dos Céus, mas somente Me ouvirão dizer: ‘Afastem-se de
Mim, os que não obedeceram à vontade de Meu Pai’.”
Essas não são minhas considerações ou minhas palavras.
Não é prazeroso pensar que muitos que proclamam o
senhorio de Cristo terão acesso negado ao Reino dos Céus.
Sim, até mesmo os que expulsaram demônios e fizeram
milagres em Nome Dele!
Alguns comentaristas tentaram argumentar que Jesus Se
referia aos que não acreditavam Nele. Contudo, essa
interpretação é incorreta, pois aqueles que nunca professaram
a salvação em nome de Jesus não podem realizar obras
sobrenaturais em nome Dele. Um exemplo de alguns que
tentaram fazer isso está em Atos. Os sete filhos de Ceva
tentaram invocar o nome do Senhor sobre alguns que tinham
espíritos malignos dizendo: “Em nome de Jesus, a quem
Paulo prega, eu lhes ordeno que saiam!” (At 19:13). O
espírito maligno que estava no homem respondeu: “‘Jesus, eu
conheço, Paulo, eu sei quem é; mas vocês, quem são?’.
Então o endemoninhado saltou sobre eles e os dominou,
espancando-os com tamanha violência que eles fugiram da
casa nus e feridos” (At 19:13-16).
No fim dos anos 1980, enquanto estava em oração, recebi
uma visão espiritual. Vi uma multidão de pessoas, grande
demais para ser numerada, de uma grandeza que eu nunca
havia visto antes. O grupo estava amontoado em frente às
portas celestiais, aguardando para entrar e esperando ouvir do
Mestre: “Venham, benditos de Meu Pai! Recebam como
herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do
mundo” (Mt 25:34). Mas, em vez disso, eles ouviram o Mestre
dizer: “Nunca os conheci. Afastem-se de Mim” (Mt 7:23).
Você pode questionar: “Se Jesus disse que nunca os
conheceu, como eles puderam expulsar demônios e fazer
milagres em nome Dele?”. A resposta é que essas pessoas se
achegam a Jesus por causa dos benefícios da salvação.
Embora O tenham aceitado para serem salvas, assim como os
filhos de Israel, elas não buscaram conhecer o coração de
Deus; somente buscam Sua provisão. Buscam a Deus para
benefício próprio; seu culto tem motivação egoísta, não é
motivado pelo amor.
Na declaração de Jesus: “Nunca os conheci”, a palavra
conhecer vem do grego ginosko. No Novo Testamento ela é
usada para descrever a relação sexual entre homem e mulher
(ver Mateus 1:25); portanto representa intimidade. Jesus está,
na verdade, dizendo: “Eu nunca os conheci intimamente”.
Moisés conheceu intimamente a Deus, mas Israel somente O
conheceu pelos milagres que Ele fez em suas vidas. Não é
diferente de hoje.
Nós lemos em 1 Coríntios 8:3: “Mas quem ama a Deus, este
é conhecido por Deus”. Aqui a palavra conhecido é a mesma
palavra grega ginosko. Deus conhece intimamente aqueles
que O amam. Eles abrem mão de suas vidas por causa Dele
(ver João 15:13). Somente aqueles que fazem isso podem
obedecer à Palavra de Deus. Jesus ressalta essa verdade:
“Aquele que não Me ama não obedece às Minhas palavras”
(Jo 14:24).
A verdadeira evidência do amor por Jesus não é o que é dito,
mas o que é vivido. João explica:

Sabemos que O conhecemos, se obedecemos aos Seus


mandamentos. Aquele que diz: “Eu O conheço”, mas
não obedece aos Seus mandamentos, é mentiroso [está
enganado], e a verdade não está nele. Mas, se alguém
obedece à Sua palavra, nele verdadeiramente o amor
de Deus está aperfeiçoado. Desta forma sabemos que
estamos Nele.
1 João 2:3-5 (grifo do autor)

Judas se achegou a Jesus. Ele parecia amá-Lo e deixou tudo


para segui-Lo. Judas permaneceu com Jesus durante
perseguições, não O deixando mesmo quando outros
discípulos o deixaram (Jo 6:66). Ele expulsou demônios,
curou enfermos e pregou o Evangelho. Sim, está escrito que
“reunindo os Doze, Jesus deu-lhes poder e autoridade para
expulsar todos os demônios e curar doenças, e os enviou a
pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos” (Lc 9:1-2). O
versículo não fala de apenas onze discípulos. Está escrito
doze; portanto, Judas estava incluído.
Contudo, as intenções de Judas não estavam certas desde o
início. Ele nunca se arrependia de seus caminhos egoístas.
Seu caráter é revelado na frase: “O que me darão se eu...” (Mt
26:15). Ele mentiu e enganou para ganhar vantagem (ver
Mateus 26:25), ele pegou o dinheiro da tesouraria do
ministério de Jesus para uso pessoal (ver João 12:4-6), e a lista
de desonestidades continua. Ele nunca conheceu Jesus,
embora tenha andado três anos e meio em Sua companhia!
Quantos são como Judas hoje? Eles fizeram sacrifícios por
causa do ministério, pregaram o Evangelho e talvez até
operaram nos dons do Espírito, mas não O conhecem
intimamente. Todo esse trabalho é realizado a partir de
motivações egoístas.
Jesus perguntou: “Por que vocês Me chamam ‘Senhor,
Senhor’ e não fazem o que Eu digo?” (Lc 6:46). “Senhor”
nesse versículo vem da palavra grega kurios. O Dicionário
Grego de Strong define essa palavra como “supremo em
autoridade ou mestre”. Jesus explica que muitos O
confessariam como Senhor, mas Ele não é a suprema
autoridade para eles. Eles vivem de maneira não condizente
com o que confessam, obedecem à vontade de Deus quando
ela não está em conflito com os desejos de seu coração. Se a
vontade de Deus está em uma direção diferente do que
desejam, eles escolhem um caminho próprio, mas ainda assim
chamam Jesus de “Senhor”.
Frequentemente o sucesso no ministério é medido
meramente por números. Essa mentalidade tem feito com que
muitos façam o que for preciso para encher seus altares de
“convertidos” e suas igrejas de “membros”. Para conseguir
isso, essas pessoas têm pregado Jesus como Salvador, mas
não como Senhor. A mensagem implícita tem sido: “Venha
até Jesus e receba salvação, paz, amor, alegria, prosperidade,
sucesso, saúde e tudo o mais!”. Sim, Jesus é o cumprimento
de todas essas promessas, mas os benefícios têm sido tão
enfatizados, que o Evangelho puro foi reduzido a uma
resposta para todos os problemas da vida, juntamente com
uma garantia de entrada no Céu.
Esse tipo de pregação apenas atrai os pecadores. Eles ouvem
uma mensagem sobre vir a Deus vazia de arrependimento:
“Dê a Deus uma chance. Ele lhe dará amor, paz e alegria!”.
Ao fazermos isso, estamos distorcendo o arrependimento para
ganharmos um “convertido”. Os convertidos se juntam à
Igreja, mas de que tipo eles são? Jesus confrontou os pastores
dos tempos em que viveu: “Vocês... percorrem terra e mar
para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o
tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês” (Mt
23:15). Convertidos são facilmente arrebanhados, mas são
eles homens e mulheres com corações que seguem a Deus ou
às promessas? Nós temos visto a diferença entre Moisés e os
filhos de Israel.
Jesus deixou claro à multidão: “Então Ele chamou a
multidão e os discípulos e disse: Se alguém quiser
acompanhar-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas
quem perder a sua vida por Minha causa e pelo Evangelho,
a salvará” (Mc 8:34-35). Tudo o que você deve fazer é
“querer” salvar sua vida, e você a perderá. Ele não disse: “Se
alguém quiser perder sua vida por amor de Mim”. O simples
“querer” perder a própria vida não é suficiente. Jesus não está
procurando por boas intenções.
O jovem rico queria apaixonadamente ser salvo. Ele veio
correndo a Jesus e se ajoelhou perante Ele suplicando pela
vida eterna. Mas seu desejo emocional não era suficiente.
Jesus disse a ele: “Falta-lhe uma coisa” (ver Marcos 10:17-
22). O jovem rico se afastou quando percebeu o preço da
Cruz. Ao menos podemos respeitar sua honestidade!
Milhares que não estão na Igreja receberiam alegremente os
benefícios da salvação, se eles simplesmente pudessem
manter o controle de suas vidas. De alguma forma eles
parecem perceber o que muitos na Igreja não estão cientes: é
necessário se pagar um preço para seguir a Deus. Eles são
honestos com Deus; eles não querem pagar esse preço. Por
outro lado, existem aqueles que estão enganados. Eles vão à
igreja, chamam Jesus de “Senhor” e declaram submissão a
Seu senhorio, enquanto, na realidade, não se submeteram.

Duas Mensagens Diferentes

Espero que você tenha visto a diferença entre a graça que


Jesus prega e a que nós temos crido. A mensagem dos dias de
hoje geralmente diz: “Creia em Jesus, ore a oração do
arrependimento, confesse-O como seu Salvador, e então você
entrará no Reino dos Céus”. Existe pouca menção a negar-se
a si mesmo e ao mundo. Depois, quando as pessoas passam a
fazer parte da igreja, pouco é dito sobre o poder que a graça
nos dá para vivermos vidas santas.
Após as pessoas terem se convertido e sido ensinadas dessa
maneira, acreditam que qualquer modo de viver impuro ou
desobediência serão cobertos pela mal compreendida graça de
Deus. Será que essa situação é a razão para a falta do fogo de
Deus e do Seu poder em nossas igrejas?
Espero que você ouça esta mensagem no espírito em que ela
deve ser recebida. Eu amo o povo de Deus e desejo que ele
prospere tanto quanto prospera sua alma. Portanto, sinto-me
impelido em proclamar a verdade de Deus. Eu sei que
doutrinas e ensinamentos podem moldar a vida e a crença de
um indivíduo. Meu coração se parte por causa das multidões
nas igrejas que têm sido levadas a uma vida morna, ausente
do fogo de Deus.
Paulo instruiu a Timóteo: “Atente bem para a sua própria
vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois,
agindo assim, você salvará tanto a si mesmo quanto aos que
o ouvem” (1 Tm 4:16). Nós precisamos dar ouvidos a essa
advertência. A verdade distorcida pode parecer boa, e até
mesmo apela para nossos sentidos e nossa razão, mas nos
levará ao engano.
A verdade da Palavra de Deus irá alimentá-lo e fortalecê-lo.
Ela o treinará para discernir entre o pensamento correto e o
incorreto. A verdade distorcida o desqualificará. É por isso
que Deus nos admoesta a dar atenção completa à Sua palavra,
para que possamos compreendê-la corretamente. Este
capítulo produz ao mesmo tempo advertência e
encorajamento. A advertência: não permita que doutrinas
incorretas sobre a graça o desqualifiquem, por recebê-la em
vão. O encorajamento: existe força para viver uma vida de
santidade por intermédio da graça de Deus. Que a graça do
Senhor Jesus Cristo esteja com você.
CAPÍTULO 10
DIAS DIFÍCEIS
A partir deste amor por Ele é que vem o
fogo que alimenta sua paixão.
Eles se deleitam em obedecer a Ele.

Esforcem-se... para serem santos; sem santidade


ninguém verá o Senhor. Cuidem que ninguém
se exclua da graça de Deus...
— Hebreus 12:14-15

S em santidade ninguém verá ao Senhor. Será que temos


crido nessas palavras, ou elas têm sido para nós apenas
uma boa citação da Bíblia? Será que a Igreja as vê como
mandamento ou meramente uma declaração de motivação
poética que nos ajuda a desejá-la como um alvo de estilo de
vida, que certamente é inatingível nestes dias? E o que o
escritor de Hebreus queria dizer com “cuidem que ninguém se
exclua da graça de Deus”? Como alguém poderia se excluir
da graça de Deus, que tem sido pregada nas igrejas nesses
últimos vinte e cinco anos? Será que isso seria somente uma
declaração “exagerada” de Deus para nos fazer temer e nos
manter longe de problemas? Está claro que não!
Cristãos Que Não Foram Transformados
Como eu disse no capítulo anterior, para muitas pessoas, a
graça representa uma grande cobertura, que tem praticamente
absolvido os cristãos de qualquer responsabilidade de andar
em obediência e santidade. Mas essa crença tem novamente
provado estar em contradição com a Bíblia quando
comparada a esse versículo, pois alguém ser excluído da graça
de Deus significa não andar em seu potencial completo.
Significa receber a dádiva de Deus em vão ao permanecer sem
ser transformado.
Paulo previu esse acontecimento, de que, nos últimos dias,
inúmeros cristãos permaneceriam os mesmos, sem mudar. Ao
descrever esses dias, ele disse que seriam “dias difíceis”. É
interessante ouvi-lo dizer isso em relação aos nossos dias de
liberdade religiosa, enquanto ele foi apedrejado, afligido com
chicotes, preso, algemado e açoitado por causa de sua firme
posição em favor do Evangelho. Mesmo assim ele escreveu
que nossos dias seriam difíceis, pois muitos que se dizem
cristãos amariam a si mesmos e ao dinheiro, e buscariam mais
aos prazeres do que a Deus. Alguns seriam orgulhosos; outros
ingratos; outros, ainda, não perdoariam. Entre os cristãos
haveria aqueles que seriam desobedientes e impuros, e muitos
que não teriam domínio próprio. Outros seriam obstinados.
Paulo diz que esses homens e mulheres teriam a aparência
de cristãos: “parecerão ser seguidores da nossa religião,
mas com as suas ações negarão o verdadeiro poder dela” (2
Tm 3:5, NTLH). Eles não permitiriam que o poder da graça os
transformasse de pessoas que amam dinheiro e prazeres, em
pessoas que amam a Deus e ao povo. Permaneceriam impuros
e receberiam a graça de Deus em vão.
Ele então continua dizendo que esses “cristãos” “estão
sempre aprendendo, e jamais conseguem chegar ao
conhecimento da verdade” (v. 7). Hoje, nós temos mais
ensinamentos cristãos do que em qualquer época da história e
mais que em outros países. Muito dinheiro tem sido gasto
para difundir o Evangelho por meio de livros, mensagens em
áudio, vídeos, programas de televisão via satélite, sem
mencionar inúmeros cultos de igrejas e conferências. Mas,
ainda assim, temos cultivado uma igreja mundana, que não se
separou dos desejos do Egito. Paulo não descreve seus dias de
perseguição física como difíceis, mas sim os nossos dias de
mundanismo na Igreja!
Almoçando com um amigo pastor, ouvi sobre sua viagem a
uma nação da África, que é predominante muçulmana.
Atualmente eles torturam e matam cristãos nessa região. Ele
me contou que conheceu homens que haviam sido torturados,
mas que ainda assim tinham paixão por pregar o Evangelho a
seus conterrâneos. Quando meu amigo ia pregar para os
cristãos, todos os dias, ele passava dirigindo em frente à forca
usada para assassinar cristãos. Ele disse: “John, eu gostaria de
saber quantos norte-americanos continuariam a pregar o
Evangelho se eles passassem diariamente em frente ao lugar
onde poderiam um dia ser enforcados por causa de sua
crença”. Então, ele fez um comentário que se alinha com o
que Paulo disse: “John, existe algo nos Estados Unidos que
nós não temos aqui, que é liberdade religiosa. Mas aqui nós
temos liberdade espiritual. Algo que não existe nos Estados
Unidos”.
De acordo com Paulo, os últimos dias não seriam difíceis
por causa da perseguição aos santos, mas sim por causa do
mundanismo na Igreja. Será que nós estamos usando nossa
liberdade de maneira incorreta?
Em uma conferência na qual eu era um dos palestrantes,
sentei em uma mesa, em frente a uma pastora que acabara de
retornar de uma visita a um país comunista na Ásia. A
perseguição na região era tão severa que os fiéis tinham de se
encontrar em segredo. O pastor que organizava os cultos e
seus líderes já haviam sido presos inúmeras vezes. Na prisão,
eles continuavam a pregar o Evangelho para os criminosos, e
muitos eram salvos. As autoridades ficavam tão iradas que os
colocavam em uma cela isolada. O pastor já havia sido preso
mais de cem vezes e tinha passado mais de dez anos na
prisão.
Eles fizeram seus cultos sem serem perturbados, até o
último. A polícia acabou descobrindo o lugar onde se
encontravam, e se não estivessem em alerta, eles teriam sido
presos. Antes de se despedirem, concordaram em se encontrar
em um lugar remoto, na manhã seguinte, antes de a pastora os
deixar e voltar a seu país. Na manhã seguinte eles apareceram
e pediram oração. A pastora me disse: “John, senti que eles
que deveriam ter orado por mim, e não eu por eles. Mas eu
sabia que Deus honraria a fé deles”. No fim desse culto, o
pastor começou a chorar. Quando ela perguntou a razão, ele
respondeu que estava preocupado com o povo. Com lágrimas
nos olhos, ele disse:
— Eu temo a nossa liberdade.
A ministra ficou perplexa.
— Por que você teme a liberdade? — ela perguntou. —
Você tem sido perseguido, caçado e preso muitas vezes. Pense
em todas as coisas que você poderia fazer se você e seu povo
fossem livres!
Ele continuou:
— Eu temo que estas pessoas se tornem materialistas e
mundanas quando tiverem liberdade, e se desviem como
outros fizeram em tantas igrejas ocidentais.
Como ela poderia argumentar com ele, vendo sua pura
devoção a Deus e ao povo de que ele cuidava? Seria essa a
dedicação típica que ela havia encontrado no mundo
ocidental? Nós vemos esses santos que são perseguidos como
os que vivem dias difíceis, mas quem, de acordo com a Bíblia,
está vivendo tempos difíceis? Paulo diz que somos nós, que
temos liberdade religiosa e mundanismo na Igreja.
A liberdade religiosa não nos faz mundanos, embora crie
uma atmosfera que cultive os desejos já existentes em nós,
que nos fazem desviar. Nosso verdadeiro problema, assim
como foi anteriormente com Israel, é a nossa falta de desejo
pela glória de Deus. Assim como aconteceu com Israel, esse
problema é originado por nossa atração pelos prazeres e
apetites carnais.
A Mensagem de Jesus à Sua Igreja nos Últimos dias

No capítulo anterior, abordamos brevemente as sete cartas


às igrejas históricas do livro de Apocalipse, que tinham em si
mensagens proféticas. Muitos teólogos concordam que as sete
igrejas representam um padrão cronológico da Igreja de uma
forma geral, progredindo da Igreja Primitiva dos primeiros
séculos, até a Igreja que antecede a segunda vinda do Senhor.
Embora não conheçamos a hora da segunda vinda do
Senhor, Jesus disse que saberíamos a estação. Muitos
estudiosos concordam que estamos vivendo na estação do
Seu retorno. Portanto, a exortação à última igreja, Laodiceia,
se aplica profeticamente a nós: “E ao anjo da igreja que está
em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a Testemunha Fiel e
Verdadeira, o Princípio da criação de Deus” (Ap 3:14,
ACF).
Jesus chama a Si mesmo de Testemunha Fiel e Verdadeira.
“Fiel” significa que Ele é constante. “Verdadeira” significa
que Ele fala somente a verdade, mesmo que ela não seja
prazerosa. “Fiel” e “Verdadeira” significa que Ele será
constantemente verdadeiro, independentemente da reação ou
da pressão.
Uma testemunha falsa mentirá e bajulará. Ela lhe dirá
somente aquilo que você deseja ouvir, à custa do que você na
verdade precisaria ouvir. Um homem de negócios querendo
seu dinheiro lhe tratará bem e lhe dirá exatamente o que você
quer ouvir. Mas o propósito dele é se aproveitar de você.
Como Igreja, temos abraçado pastores que nos têm dito
somente o que queremos ouvir. Queremos ouvir somente
coisas boas e maravilhosas, e negligenciamos a verdade que
precisamos ouvir.
Jesus conforta e edifica, mas não deixa de nos dizer a
verdade. Ele ama e perdoa, mas também exorta e corrige!
Observe Suas palavras: “Conheço as suas obras, sei que você
não é frio nem quente” (Ap 3:15).
Ele diz “obras” e não “intenções”. O caminho para o inferno
é pavimentado por boas intenções. Como Ele conhece a
condição das igrejas? A resposta é clara: por suas obras ou
ações.
As ações de pessoas frias são aquelas que claramente
desobedecem a Deus. Elas não fingem ser alguém que não
são; elas estão perdidas e sabem disso. Elas sabem que não
estão servindo a Deus. Elas servem a outros deuses como seu
dinheiro, seus negócios e a si mesmas. Elas vivem para o
prazer do momento, em farra e desordem. É a vida do pecador
e daquele que admite estar desviado.
Do outro lado, estão aqueles que são considerados quentes,
os que são consumidos pela paixão por Deus. Eles se
purificam para que possam se achegar bem perto da presença
Dele. Santidade é o desejo dessas pessoas; sem isso elas
sabem que não podem ver o Senhor. Jesus é o centro de seus
corações e de suas vidas. O amor que essas pessoas têm por
Ele origina o fogo que alimenta essa paixão. Elas se deleitam
em obedecer-Lhe. Elas também reconhecem sua verdadeira
condição.
Jesus adverte que a Igreja dos últimos tempos estaria em
uma condição que não é fria nem quente. Então Ele diz:
“Melhor seria que você fosse frio ou quente!” (Ap 3:15).
O significado dessa frase me incomodou durante anos. Por
que Jesus disse para a Igreja, “Melhor seria que você fosse
frio ou quente”? Por que Ele não disse: “Melhor seria que
você fosse quente”? Ele nunca fala de maneira desonesta ou
exagerada, então isso significa que a sua condição atual
(morna) é pior do que ser frio. Como um pecador ou desviado
assumido pode estar em melhor condição do que esses
“cristãos da Igreja”?
Ele responde na declaração seguinte: “Assim, porque você é
morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da
Minha boca” (Ap 3:16). Pessoas mornas são quentes demais
para serem frias e frias demais para serem consideradas
quentes. Elas são quentes o suficiente para se misturar com os
quentes e ficarem despercebidas, e são frias o suficiente para
se misturarem com os frios e ficarem também despercebidas.
Pessoas mornas se tornam como aqueles que estiverem ao seu
redor. Ao redor dos seguidores de Jesus, elas se misturam a
eles. Conhecem a Bíblia, cantam as músicas e falam como
devem falar.
Ao redor dos seguidores do mundo, podem até não beber
ou fumar, mas pensam e conduzem suas vidas de maneira
mundana, isto é, egoísta. Obedecem a Deus somente quando
isso lhes é prazeroso ou lhes traz benefícios. Mas, na verdade,
são motivados pelos próprios interesses.
Jesus disse: “estou a ponto de vomitá-lo da Minha boca”.
Por que ele escolhe essa analogia tão vívida? Nós vomitamos
o que o corpo não consegue assimilar. Um dia, há anos,
durante um almoço, dois de meus filhos pediram um
hambúrguer. Depois de uma hora, ambos vomitaram o
almoço, pois havia sido feito com uma carne estragada. O
corpo deles rejeitou a comida, pois seria prejudicial se a
assimilassem. O hambúrguer “ruim” parecia exatamente
como os hambúrgueres “bons” que eles já haviam comido
inúmeras vezes antes. Jesus, na verdade, está dizendo: “Eu
vomitarei do Meu Corpo aqueles que dizem que pertencem a
Mim, mas que, na verdade, não Me pertencem”.
Nem o frio nem o quente estão enganados com relação ao
seu relacionamento com Deus, mas os mornos estão
enganados. Eles pensam que a condição deles é algo que
realmente não é. Acham que pertencem a Jesus. É por isso
que eles são piores do que se fossem pecadores assumidos.
Pecadores sabem que não estão servindo a Deus; por isso eles
são mais fáceis de serem alcançados. Pessoas mornas acham
que estão servindo a Deus. Elas confessam sua salvação, mas
estão fora da graça de Deus que professam. Elas são mais
difíceis de serem convencidas.
Se as pessoas acham que estão salvas, elas não veem
necessidade de salvação. Jesus entra em detalhes sobre a
verdadeira condição dessas pessoas: “Você diz: ‘Estou rico,
adquiri riquezas e não preciso de nada’. Não reconhece,
porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e
que está nu” (Ap 3:17).
As pessoas dessa igreja se gloriavam em serem abastadas e
não precisarem de nada. Elas se confortavam com o que
pensavam que eram as bênçãos de Deus. Essa poderia ser
uma imagem das nossas igrejas? Será que temos usado nossa
liberdade e nossa riqueza para intensificar nosso culto a Deus?
Ou temos permitido que essa liberdade e essa riqueza nos
enganem? Acredito que a maioria das igrejas ocidentais se
encaixa na segunda opção.
Contudo, tenho encontrado pessoas fiéis nas igrejas
ocidentais que possuem uma verdadeira paixão por Deus e
que buscam se santificar. Elas são a minoria, e não a maioria.
Essas pessoas são verdadeiros soldados, que conhecem o
campo de batalha e seu inimigo. A paixão que elas possuem é
visível através de suas obras, e não somente por suas palavras.
Jesus declara aos que são mornos na Igreja: “Dou-lhe este
conselho: Compre de Mim ouro refinado no fogo, e você se
tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir
a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus
olhos e poder enxergar” (Ap 3:18).
Ele enfatiza que devemos comprar algo Dele, algo que
obviamente não é obtido simplesmente por meio do
reconhecimento do Seu senhorio. Lembre-se, a igreja
professava a salvação em Seu Nome. Mas lhes faltava algo
que os verdadeiros cristãos deveriam possuir. Mas como
compramos algo de Jesus?
Deus nos diz em Provérbios 23:23 (ACF): “Compra a
verdade, e não a vendas”. Por intermédio de Isaías, o profeta,
Ele diz:

Venham, todos vocês que estão com sede,


Venham às águas;
E vocês que não possuem dinheiro algum,
Venham, comprem e comam!
Isaías 55:1
Assim como na fala de Jesus, o foco está em comprar algo
pelo qual o dinheiro não pode pagar.
Jesus fala do Reino dos Céus aos Seus discípulos: “O Reino
dos Céus também é como um negociante que procura
pérolas preciosas. Encontrando uma pérola de grande valor,
foi, vendeu tudo o que tinha e a comprou” (Mt 13:45-46).
Para comprar essa pérola tão cara, que representa o Reino, foi
necessário vender tudo para ter o suficiente para pagar por ela.
Em outras palavras, dê sua vida completamente para servir a
Ele e à Sua causa, sem reter nada para si mesmo; viva
completamente para Deus. Paulo diz isso do seguinte modo:
“E Ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não
vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles
morreu e ressuscitou” (2 Co 5:15).
A Prudente e a Insensata

Algumas das parábolas de Jesus ilustram esse ponto. Uma


delas é encontrada nos primeiros doze versículos de Mateus
25. O Reino dos Céus é comparado a dez virgens que
tomaram suas candeias e saíram para encontrar o Noivo,
Jesus. Todas elas eram virgens, e todas elas o chamavam de
“Senhor”. Todas elas tinham suas candeias, que simbolizam a
luz, representando aqueles que receberam a dádiva da vida
eterna. Todas elas esperavam ir com Ele em Sua segunda
vinda. Ele não está falando sobre pessoas que nunca ouviram
o Evangelho ou nunca reconheceram crer Nele. Em outras
palavras, Jesus não está falando sobre os frios!
Das dez virgens, cinco eram prudentes e cinco eram
insensatas. A proporção é significativa. Jesus está falando de
uma porção considerável da Igreja.
O que distingue as prudentes das insensatas? As insensatas
tinham somente as candeias. As prudentes tinham vasilhas
que continham grande quantidade de azeite, para manter
continuamente suas candeias acesas. À meia-noite ouviu-se o
clamor de que o Noivo chegara e as virgens deveriam
encontrar-se com Ele. Mas as candeias das virgens insensatas
estavam se apagando. Elas imediatamente disseram às
prudentes: “Deem-nos um pouco do seu óleo, pois as nossas
candeias estão se apagando” (v. 8).
As prudentes disseram: “Não, para que não nos falte a nós
e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e comprai-o” (v.
9, ARA).
Eu já ouvi diferentes pastores falando sobre essa parábola,
mas ainda sentia que não havia compreendido seu verdadeiro
sentido. Então, uma manhã, enquanto estava em um lugar
retirado, em oração, eu fervorosamente clamei: “Senhor, por
favor, ajuda-me a entender essa parábola!”.
Naquele mesmo dia, Deus mostrou-me que a frase-chave
dessa parábola estava nas palavras das virgens prudentes às
virgens insensatas: “Ide, antes, aos que o vendem e comprai-
o”. Imagine isto: dez virgens, cinco prudentes e cinco
insensatas, entram em uma loja. As insensatas vão até o
balcão, tiram algum dinheiro e dizem ao vendedor: “Dá-me
uma destas candeias. Eu quero ser salva. Eu não quero ir para
o inferno. Eu quero a bênção de Deus”. Cada uma delas deixa
o lugar com uma candeia queimando e diz: “Graças a Deus,
estou salva!”.
As virgens prudentes vão até o vendedor, tiram de seus
bolsos tudo o que têm. Elas liquidaram tudo o que tinham,
trouxeram o dinheiro que guardavam e investiram. Elas dizem
ao vendedor: “Isto representa tudo o que eu possuo, cada
centavo que tenho. Eu não tenho nada além disso. Por favor,
dá-me uma candeia, e use cada centavo restante para comprar
todo o azeite que eu puder pagar”. Cada uma delas deixa a
loja com uma candeia e com uma grande quantidade de azeite
para alimentar a candeia.
A diferença é que as prudentes deram suas vidas inteiras e as
insensatas deram somente o que era necessário para serem
salvas. Elas reservaram para si uma parte de suas vidas.
Embora elas tenham saído com suas candeias acesas, e a luz
delas pudesse ser vista, não demoraria a chegar ao fim. Nessa
parábola, as lâmpadas começariam a apagar à meia-noite. Na
hora mais obscura, quando a tribulação alcançou o nível mais
intenso, elas não puderam mais continuar. É por isso que
Jesus frequentemente diz: “Aquele que perseverar até o fim
será salvo” (Mt 24:13).
As virgens insensatas imediatamente saíram para comprar
mais azeite, mas enquanto elas estavam fora, o Noivo chegou.
As prudentes estavam prontas e entraram com Ele para as
bodas, e as portas foram fechadas. Ao retornarem, as virgens
insensatas clamaram: “Senhor! Senhor! Abra a porta para
nós!” (v. 11). Mas Ele respondeu, dizendo: “A verdade é que
não as conheço!” (v. 12).
Novamente, o Senhor diz: “Eu não os conheço” àqueles que
confessam Seu senhorio. Os mornos não entregaram suas
vidas completamente. Estas palavras de Jesus certamente se
aplicaram a eles: “E quem não toma a sua cruz e não Me
segue, não é digno de Mim” (Mt 10:38).
Por que nós cremos em um Evangelho que nos dá provisões
vindas do poder da ressurreição, mas sem a Cruz? Esse
Evangelho tem nos levado a um estado de mornidão. Ele tem
roubado de nós o fogo de Deus que precisamos ter
queimando em nosso coração. Será que temos procurado
entre os mortos por Aquele que vive? Será que temos nos
esquecido de Suas palavras, que tão claramente nos dizem:
“Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro
lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si
mesmo por Minha causa terá a vida verdadeira” (Mt 16:25,
NTLH)?
CAPÍTULO 11
Ouro, ROUPAS E COLÍRIO
O processo de santificação é um esforço cooperativo
entre Deus e nós.

Dou-lhe este conselho: Compre de Mim ouro refinado


no fogo, e você se tornará rico; compre roupas brancas e
vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre
colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar.
Apocalipse 3:18

J esus aconselha àqueles que não possuem um coração


ardente por Ele a comprarem três coisas: ouro, roupas
brancas e colírio para os olhos. Vamos examinar cada uma
dessas coisas separadamente.
Ouro Refinado no Fogo

O profeta Malaquias nos diz que nos últimos dias o Senhor


viria à Sua Igreja como um fogo que refina: “Ele Se assentará
como um refinador e purificador de prata; purificará os
levitas e os refinará como ouro e prata. Assim trarão ao
Senhor ofertas com justiça” (Ml 3:3).
A palavra levitas se refere profeticamente ao “sacerdócio
real” (1 Pedro 2:9) que, como abordamos anteriormente, é a
Igreja. O profeta não tinha as terminologias do Novo
Testamento. Ele não era capaz de dizer: “Ele purificará os
cristãos”, porque esses termos ainda não haviam sido criados.
Deus compara esse refinamento com o processo de
refinamento do ouro e da prata, então, precisamos entender as
características do ouro e da prata e como eles são refinados.
Jesus focou o ouro, portanto nós nos concentraremos nele
também.
O ouro é amplamente distribuído na natureza, mas sempre
em pequenas quantidades. Raramente o ouro é encontrado
em seu estado puro. Em sua forma mais pura, o ouro é
maleável, macio e livre de corrosões e de outras substâncias.
Quando o ouro se mistura com outros metais (por exemplo,
ferro, cobre ou níquel), ele se torna mais duro, menos
maleável e mais corrosível. Essa mistura é chamada de liga.
Quanto maior for a porcentagem de cobre, ferro, níquel ou
outro metal, mais duro o ouro se torna. Da mesma forma,
quanto menor for a porcentagem da liga, mais macio e
maleável é o ouro.
Imediatamente percebemos o paralelo que Jesus
estabeleceu: um coração puro diante de Deus é como o ouro
puro que foi refinado. Um coração puro é macio, tenro e
maleável. Paulo adverte que o coração é endurecido pelo
engano do pecado (ver Hebreus 3:13). O pecado, que é o
mesmo que a desobediência aos caminhos de Deus ou à Sua
autoridade, é a substância adicionada, que transforma nosso
ouro puro em liga, endurecendo o coração. Essa falta de
maleabilidade cria uma perda de sensibilidade que nos impede
de ouvir a Sua voz. Infelizmente, um número muito grande de
pessoas na Igreja tem aparência de santidade, mas sem um
coração maleável. Seus corações não mais queimam por
Jesus. Seu amor incandescente por Deus foi substituído por
um amor próprio frio, que busca somente o próprio prazer,
conforto e benefício. O seu ‘temor a Deus’ é um meio de
benefício pessoal (ver 1 Timóteo 6:5), eles buscam somente os
benefícios das promessas e excluem Aquele que faz a
promessa. Enganados, eles se deleitam com o mundo,
esperando também receberem o Céu. Eles são mornos dentro
da Igreja. Contudo, Tiago admoesta que o verdadeiro e puro
cristianismo é “não se deixar corromper pelo mundo” (Tg
1:27). Jesus está voltando para uma Igreja que é pura, sem
ruga, sem mácula, mancha ou qualquer impureza (ver Efésios
5:27), uma Igreja cujo coração não foi contaminado pelo
sistema do mundo!
Outra característica do ouro é sua resistência à corrosão.
Embora outros materiais se manchem como resultado das
mudanças atmosféricas, as mudanças da atmosfera não fazem
com que o ouro puro fique manchado. O latão (uma liga
amarelada de cobre e zinco), embora se pareça com o ouro,
não se comporta como o ouro. O latão se mancha facilmente.
Ele tem a aparência do ouro, mas não possui suas
características. Quanto maior for a porcentagem de
substâncias estranhas no ouro, mais suscetível ele é à
corrupção e corrosão.
Nos dias de hoje, o sistema do mundo tem contaminado a
Igreja. Nós temos sido infiltrados por seus modos de vida, e
temos sido manchados. Na igreja ocidental nossos valores são
poluídos pelo mundanismo. Temos buscado nossos apetites
carnais e os chamamos de bênçãos de Deus. Ao pensar que
estamos ricos com essas bênçãos, tornamo-nos insensíveis e
não percebemos nossa necessidade de purificação.
Malaquias mostra que Jesus refinará Sua Igreja, limpando-a
da influência do mundo, assim como se refina o ouro. No
processo de refinação, o ouro moído é então misturado com
uma substância chamada fundente. Os dois são colocados em
uma fornalha e derretidos com a intensidade do fogo. As
impurezas são atraídas pelo fundente e sobem à superfície. O
ouro, que é mais pesado, permanece no fundo. As impurezas
ou escórias (tais como cobre, ferro, zinco junto ao fundente)
são então removidas.
Observe o que Deus diz através de Isaías, o profeta: “Veja,
Eu refinei você, embora não como prata [ou ouro]; Eu o
provei na fornalha da aflição” (Is 48:10). A fornalha que Ele
usa para nos refinar é a aflição, o sofrimento, os problemas, e
não uma fornalha literal, de fogo físico, como aquele em que
o ouro e a prata são refinados. Pedro afirma isso ao dizer:

Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco


de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de
provação. Assim acontece para que fique comprovado
que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o
ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é
genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando
Jesus Cristo for revelado.
1 Pedro 1:6-7

O fogo do Senhor, que refina, são as provações e


tribulações. Seu calor destaca as impurezas, separando-as do
caráter de Deus em nossas vidas.
Cresci em uma igreja denominacional que ensinava que
tudo que era preciso para ser salvo era aspergir água sobre sua
cabeça quando criança, frequentar os cultos e seguir as leis da
igreja. Quando eu fui salvo em minha fraternidade, na época
em que cursava a faculdade em 1979, imediatamente comecei
a frequentar uma igreja independente que enfatizava as
bênçãos de Deus. A santificação não era ensinada nessa igreja
nem na igreja denominacional que eu frequentara no passado.
Em 1985, Deus começou a lidar comigo em oração sobre a
necessidade de pureza, o que criou uma sede em minha vida.
Eu pedia a Deus apaixonadamente para que purificasse minha
vida. Após alguns meses Ele respondeu. Em dezembro
daquele ano, Ele me disse que iria me ensinar como negar a
mim mesmo, tomar a minha cruz e segui-Lo. Ele me mostrou
que faria um trabalho de santificação em minha vida.
Animado, eu disse à minha esposa: “Deus vai remover de
mim toda impureza”. Continuei dizendo a ela todas as coisas
que Deus iria tirar de mim. A maioria delas eram excessos
relacionados à gula por certos alimentos, muito tempo de
televisão e excesso de foco nos prazeres. Porém, durante os
três meses que se seguiram, nada aconteceu. Na verdade, as
coisas pioraram. Era como se eu tivesse me tornado duas
vezes mais carnal.
Eu perguntei ao Senhor:
— Por que esses maus hábitos estão piorando e não
melhorando?
Ele respondeu:
— Filho, Eu disse que iria purificá-lo. Você tem tentado
fazer isso com sua própria força. Agora, Eu farei isso da
Minha maneira.
Daquele ponto em diante, passei por provações intensas, às
quais nunca havia experimentado! E no meio de tudo aquilo,
Deus parecia estar a milhões de quilômetros de distância,
embora não estivesse. Defeitos em minha personalidade que
antes ficavam escondidos vieram à superfície, e a raiz de
todos esses defeitos podia ser resumida em uma só palavra:
egoísmo! Eu era rude e duro com os mais próximos de mim.
Às vezes gritava com minha esposa e meus filhos sem motivo.
Eu murmurava sobre quase tudo. Eu não era uma companhia
agradável. Não demonstrava amor por minha família, meus
amigos e meu pastor, e os tratava como se eles fossem a razão
da angústia na minha alma. Eles começaram a me evitar por
causa da minha atitude e do meu comportamento.
Finalmente, clamei ao Senhor:
— De onde toda essa ira está vindo? Ela não estava aqui
antes!
Ele me mostrou na Bíblia Sua Palavra sobre purificação, em
seguida respondeu minha pergunta:
— Filho, quando eles purificam o ouro, o colocam em uma
fornalha muito quente, e intensificam o calor para que ele se
torne líquido. Uma vez feito isso, as impurezas aparecem na
superfície.
Ele me levou a olhar para minha aliança de casamento de
ouro. Ela possui quatorze quilates de ouro, o que significa que
quatorze de vinte e quatro partes da aliança eram de ouro,
porém dez partes eram de outros metais. Isso significa que
aproximadamente 60% dessa aliança era de ouro.
Então Ele me fez as seguintes perguntas que mudaram
minha vida:
— Esse anel parece ser de ouro puro para você?
Eu respondi:
— Sim.
Ele retrucou:
— Mas ele não é de ouro puro, é?
Eu respondi:
— Não, Senhor.
Ele continuou:
— Você não pode ver as impurezas do ouro antes que ele
seja colocado no fogo, mas isso não significa que elas não
estejam lá.
Eu respondi, dizendo:
— Sim, Senhor.
Então, Ele fez uma declaração que impactou meu coração
como uma bomba:
— Quando Eu coloco Meu fogo sobre você, essas
impurezas vêm à tona; embora estivessem despercebidas a
seus olhos, elas eram visíveis a Mim. Agora a escolha é sua;
sua reação ao que for exposto é que determinará seu futuro.
Você pode permanecer irado, culpar sua esposa, seus
amigos, seu pastor ou as pessoas com as quais você
trabalha por sua condição. Você pode permitir que as
impurezas permaneçam, dando justificativas para seu
comportamento. Mais tarde, quando as provações
diminuírem, elas se esconderão novamente. Ou você pode
ver sua condição como ela é, arrepender-se, pedir perdão, e
Eu, com as Minhas Mãos, removerei essas impurezas de sua
vida.
Deus não as removerá contra nossa vontade. Paulo sabia
disso e nos advertiu: “Amados, visto que temos essas
promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina o
corpo e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de
Deus” (2 Co 7:1). E ele escreveu a Timóteo sobre esse
assunto:

“Afaste-se da iniquidade todo aquele que confessa o


Nome do Senhor”. Numa grande casa há vasos não
apenas de ouro e prata, mas também de madeira e
barro; alguns para fins honrosos, outros para fins
desonrosos. Se alguém se purificar dessas coisas, será
vaso para honra, santificado, útil para o Senhor e
preparado para toda boa obra.
2 Timóteo 2:19-21

O processo de santificação é um esforço cooperativo entre


Deus e nós. Ele providencia a graça, mas nós precisamos
querer e pedir por Sua purificação. Então, quando Ele começa
o processo, nós precisamos cooperar por meio de humildade e
obediência. Na minha vida, eu podia ver somente os meus
excessos externos como o mau hábito de comer demais, ver
televisão demais, muita diversão, e assim por diante. Mas
Deus podia ver as raízes mais profundas, e depois que Ele
tratou delas, as outras coisas se alinharam. A purificação é um
processo constante, contínuo e muitas vezes doloroso, mas
sabendo o que é produzido como resultado, devemos dar
boas-vindas a esse processo.
Outra característica do ouro em seu estado mais puro é a
transparência: “A rua principal da cidade era de ouro puro,
como vidro transparente” (Ap 21:21). Quando é purificado
pelo fogo das tribulações, você se torna transparente! Um
recipiente transparente não traz nenhuma glória para si
mesmo, e sim glorifica o que contém em seu interior. Quanto
mais somos refinados, mais claramente o mundo pode ver
Jesus em nós. Aleluia!
Davi, que tinha um coração segundo o coração de Deus,
clamou: “Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-
me dos que desconheço!” (Sl 19:12). Que esse seja o nosso
clamor. Se pedirmos a Deus para purificar nossos corações,
Ele irá remover as impurezas que estão ocultas aos nossos
olhos. Deus conhece nossos pensamentos e nossas intenções
mais íntimas, até mesmo aqueles que nós desconhecemos. Ao
sermos refinados, serão fortalecidas as coisas boas que temos,
e serão removidas as coisas que nos prejudicam ou nos
enfraquecem. Por essa razão, Jesus aconselha a Igreja dos
nossos dias a comprar Dele ouro refinado no fogo para que
nos enriqueçamos, não com aquilo que o mundo busca, mas
com o que dura eternamente.

Roupas Brancas

Após aconselhar essa igreja a comprar ouro refinando, Jesus


a aconselha a comprar Dele roupas brancas, para que a
vergonha da sua nudez não seja revelada. Deus exorta Israel
em termos similares quando Isaías clama:
Desperte! Desperte, ó Sião!
Vista-se de força.
Vista suas roupas de esplendor,
ó Jerusalém, cidade santa.
Isaías 52:1

Sião é uma tipologia da Igreja. Deus não disse: “Eu a vestirei


com suas roupas”; Ele disse: “Vista suas roupas de
esplendor”. De maneira semelhante, Paulo diz à Igreja:
“Revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem
premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm
13:14). Esses apelos são feitos porque ninguém se achegará ao
Senhor sem essas roupas brancas (ver Apocalipse 7:9).
Contudo, o ponto-chave em todas as três passagens é que
somos nós quem devemos vesti-las.
Novamente, Sua graça providencia para nós a capacidade de
comprar essas roupas. Não poderíamos providenciá-las por
nós mesmos, porque todos os “nossos atos de justiça são
como trapo imundo” (Is 64:6). Mas, como o profeta diz:

É grande o meu prazer no Senhor!


Regozija-se a minha alma em meu Deus!
Pois Ele me vestiu com as vestes da salvação
E sobre mim pôs o manto da justiça,
Qual noivo que adorna a cabeça como um sacerdote,
Qual noiva que se enfeita com joias.
Isaías 61:10

O Senhor providencia as vestes de salvação e as joias; nós


nunca poderíamos providenciar isso para nós mesmos. Mas,
novamente, essas provisões podem ser recebidas em vão. A
noiva precisa enfeitar a si mesma.
Considere este exemplo: uma mulher pobre é pedida em
casamento pelo filho de um grande rei. Ela não tem dinheiro e
não tem condição alguma de conseguir recursos para se
preparar para o casamento. Ela tem apenas farrapos, e não terá
sua entrada permitida na corte do rei se não estiver usando a
vestimenta apropriada. Em seu grande amor, o filho do rei dá
a ela o necessário para comprar um bonito vestido e joias para
que ela use no dia da cerimônia. Mas ela não usa nada do que
recebeu para o casamento; ela gasta o dinheiro com seus
próprios prazeres. É um insulto ao grande rei e a seu filho
quando ela aparece para o casamento sem as vestes
apropriadas. A capacidade de conseguir as vestes foi
graciosamente dada a ela, mas ela recebeu a provisão em vão.
Ela não se preparou para o casamento.
Se ela tivesse usado o que ele lhe deu para comprar as vestes
para o casamento, então ela se orgulharia no rei. Ela teria
declarado: “Ele me vestiu com este vestido de casamento”.
Embora tenha recebido um presente pela graça, ela seria capaz
de vestir a si mesma. Teria sido algo dado totalmente pela
provisão do rei. Mas ela teria de se preparar ao comprar o traje
e colocá-lo em si mesma.
Esse exemplo relata muito bem nossa preparação para o
retorno do Noivo. João descreve a cena que viu e ouviu:

Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos e dar-Lhe glória!


Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a Sua
noiva já se aprontou. Para vestir-se, foi-lhe dado linho
fino, brilhante e puro. O linho fino são os atos justos
dos santos.
Apocalipse 19:7-8

A palavra grega para “atos de justiça” no versículo 8 é


dikaioma. O Dicionário de Strong define essa palavra como
“um feito justo”. De acordo com o Dicionário de Vine, essa
palavra significa “um ato de justiça, uma expressão concreta
de retidão”. Deus nos dá Sua graça para que possamos
produzir obras de justiça. De acordo com a Palavra de Deus,
esses atos compram as roupas brancas com as quais podemos
nos vestir para as Bodas do Cordeiro. Mas será que temos
recebido essa graça em vão? Se são nossos atos de justiça que
produzem nossas roupas para as Bodas, então muitos de nós
seremos encontrados praticamente nus! A maioria das igrejas
ocidentais não possui obras suficientes para uma minissaia,
quanto mais para um vestido de casamento! Novamente, isso
explica e confirma o comentário de Tiago (colocado em forma
de pergunta): “Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem
obras é inútil?” (Tg 2:20). Será que perdemos de vista essa
verdade na igreja ocidental moderna?
Tiago dá dois exemplos que ilustram a verdadeira fé. Ele diz:
“Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras,
quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar?” (v. 21).
Alguns podem dizer: “Pensei que fôssemos justificados pela
fé”. Nós somos. Mas não pela fé e pela graça que têm sido
pregadas no mundo ocidental nas últimas décadas. A fé não é
real, a menos que haja obras correspondentes, e sem a graça
de Deus não poderá haver atos correspondentes.
Tiago continua:

Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam


atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras.
Cumpriu-se assim a Escritura que diz: “Abraão creu
em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça”, e ele
foi chamado amigo de Deus. Vejam que uma pessoa é
justificada por obras, e não apenas pela fé.
Tiago 2:21-24

Na segunda ilustração, Tiago escreve: “Caso semelhante é o


de Raabe, a prostituta: não foi ela justificada pelas obras,
quando acolheu os espias e os fez sair por outro caminho?
Assim como o corpo sem espírito está morto, também a fé
sem obras está morta” (Tg 2:25-26). Outra tradução diz:
“Assim também a fé sem ações está morta” (NTLH).
A fé não é fé de fato se não for acompanhada por obras. Nós
podemos proclamar nossa fé, como a Igreja de Laodiceia fez,
mas será que temos as obras correspondentes que confirmam
essa fé?
Vamos considerar duas parábolas que Jesus conta
imediatamente após a parábola das dez virgens. Lembre-se de
que o ponto central na parábola das dez virgens é que as
insensatas não entregaram suas vidas por inteiro, mas ainda
assim chamavam Jesus de “Senhor”. A entrada delas nas
Bodas foi negada.
A parábola seguinte é com relação a um homem rico que fez
uma longa viagem. Esse homem rico representa Jesus. Ele
chamou todos os seus servos e lhes deu dinheiro para que
investissem para ele enquanto estivesse fora. Ele deu a eles
quantidades diferentes, de acordo com a capacidade deles, e
então partiu. Dois dos servos trabalharam diligentemente e
dobraram a quantidade que lhes foi dada. O terceiro, que
havia recebido menos, cavou um buraco no chão e escondeu
o dinheiro que o senhor lhe dera, para mantê-lo protegido. Ele
não usou o que lhe foi dado; ele recebeu em vão.
Após um longo tempo, o senhor retornou de sua viagem e
os chamou para que prestassem conta do que haviam feito. O
senhor elogiou e recompensou os dois primeiros servos, que
trabalharam diligentemente com o que lhes havia sido
confiado. Então o servo que recebeu a menor quantia, disse:
“Senhor, sei que o senhor é um homem duro, que espera
receber algo a troco de nada, por isso fiquei com medo e
escondi seu dinheiro na terra. Aqui está ele” (paráfrase do
autor). O senhor respondeu: “Servo mau e preguiçoso!” (Mt
25:26, AA).
Ele diz “servo”. Ele não usa palavras como ímpio,
estrangeiro, forasteiro ou inimigo. Aqueles que não
receberam Sua graça é que são inimigos (ver Romanos 5:10).
Aqueles que não foram salvos é que são estrangeiros (ver
Efésios 2:19). Aqueles que não creem em Deus é que são
ímpios. Esse homem não é chamado por nenhum desses
nomes, mas de servo do senhor. Jesus deixou claro: “Pois a
quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade.
Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt
25:29).
O julgamento do senhor para seus três servos se
fundamentou em como eles usaram o que lhes foi dado. O
julgamento não tinha nada a ver com o fato de crerem ou não
que o mestre existia. É claro que o terceiro servo acreditava
que ele existia, pois havia recebido dele. Ele também sabia
que o senhor retornaria, pois escondeu o dinheiro para mantê-
lo a salvo. Contudo, ele viveu com uma atitude de ignorar a
volta do Senhor. Ele não redimiu o tempo; ele não fez atos de
justiça. O senhor pronunciou o julgamento desse servo inútil:
“E lancem fora o servo inútil, nas trevas, onde haverá choro
e ranger de dentes” (Mt 25:30).
Embora essa parábola fale de investir dinheiro e não de
comprar vestes, o mesmo princípio se aplica a ela: não houve
atos de obediência. O julgamento pronunciado ao servo
preguiçoso está relacionado ao julgamento que Jesus deu à
igreja de Laodiceia. Eles estavam nus, pois suas obras (e não a
crença na existência de Deus) eram mornas.
A parábola que Jesus conta em seguida está relacionada ao
Último Julgamento, que acontecerá quando Ele vier para
julgar todos os povos. Ele os separará como um pastor separa
ovelhas de bodes.
Então o Rei dirá aos que estiverem à Sua direita:
“Venham, benditos de Meu Pai! Recebam como
herança o Reino que lhes foi preparado desde a
Criação do mundo. Pois Eu tive fome, e vocês Me
deram de comer; tive sede, e vocês Me deram de beber;
fui estrangeiro, e vocês Me acolheram; necessitei de
roupas, e vocês Me vestiram; estive enfermo, e vocês
cuidaram de Mim; estive preso, e vocês Me visitaram”.
Então os justos lhe responderão: “Senhor, quando Te
vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te
demos de beber? Quando Te vimos como estrangeiro e
Te acolhemos, ou necessitado de roupas e Te vestimos?
Quando Te vimos enfermo ou preso e fomos Te
visitar?” O Rei responderá: “Digo-lhes a verdade: o
que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a
Mim o fizeram”.
Mateus 25:34-40

Jesus está Se referindo não somente aos enfermos, famintos


ou presos fisicamente. Ele está falando dos espiritualmente
fracos também. Na maior parte de Seu ministério, Jesus
cuidou dos espiritualmente pobres. Ele deu de comer aos que
tinham fome espiritual (ver Mateus 5:6). Ele deu de beber aos
que tinham sede espiritual (ver João 4:10). Aos doentes e
aprisionados, Jesus disse:
O Espírito do Senhor está sobre Mim,
porque Ele Me ungiu
para pregar boas novas aos pobres.
Ele Me enviou para proclamar liberdade aos presos
e recuperação da vista aos cegos,
para libertar os oprimidos.
Lucas 4:18

Se Ele estivesse Se referindo somente a obras físicas nessa


parábola, então os doze apóstolos não teriam dito à Igreja:
“Não é certo negligenciarmos o ministério da Palavra de
Deus, a fim de servir às mesas” (At 6:2). De maneira alguma
essa afirmação implica desmerecer o cuidado com os pobres
ou doentes fisicamente; ambas as coisas são importantes.
O ponto-chave é fazer a obra de Jesus. Jesus é nosso Mestre
e Senhor, mas Ele não veio para ser servido ou viver Sua vida
em prazeres. Ele veio para servir e dar a Sua vida em favor de
muitos (ver Mateus 20:28). Os santos justos que foram
recompensados nessa parábola são os que deram a vida em
favor da obra de Jesus. Suas obras eram quentes, e não
mornas.
Então Ele dirá aos que estiverem à Sua esquerda:
“Malditos, apartem-se de Mim para o fogo eterno,
preparado para o diabo e os seus anjos. Pois Eu tive
fome, e vocês não Me deram de comer; tive sede, e
nada Me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês
não Me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não
Me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não Me
visitaram”. Eles também responderão: “Senhor,
quando Te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro
ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não
Te ajudamos?”. Ele responderá: “Digo-lhes a verdade:
O que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais
pequeninos, também a Mim deixaram de fazê-lo. E
estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a
vida eterna”.
Mateus 25:41-46

Nessa parábola, a única diferença entre os dois grupos é o


que fizeram e o que não fizeram. Em outras palavras, a única
diferença foram as obras. Aqueles que receberam um galardão
agiram na graça que lhes fora dada e produziram obras de
justiça. As pessoas que foram julgadas eram formadas por
dois grupos: aqueles que eram ímpios e os que eram servos,
mas que não fizeram nada com a graça que lhes foi dada. Eles
não produziram atos de retidão; eles receberam a graça de
Deus em vão.
Ocasionalmente, faço perguntas durante minhas pregações
em grandes congregações e ouço respostas de partir o
coração. Por exemplo, eu pedi às mães viúvas e solteiras que
se levantassem — e há muitas delas — e lhes perguntei: “As
pessoas da igreja chegam até você no final do culto de manhã
e perguntam: ‘Você e seus filhos gostariam de vir à nossa casa
para almoçar conosco? Nós sabemos que seus filhos não têm
um pai e precisam ver um exemplo de bom pai’”. A resposta
mais positiva que consegui ouvir até hoje foi de duas pessoas
em uma congregação de quase mil pessoas.
Eu continuo: “Se sua máquina de lavar, ou outro
eletrodoméstico importante em sua casa, quebra, você
telefona para alguém de uma das famílias da igreja e pede por
ajuda e no mesmo dia esses irmãos se oferecem para ajudar,
certo?”. Elas olham para mim, espantadas, algumas com
lágrimas nos olhos, pois, sem saber, eu falei de uma situação
que passaram. Novamente, nenhuma resposta positiva. Outras
questões de cuidado básico têm a mesma reação.
Eu enfatizo ao povo que esse cuidado e carinho não são
responsabilidade dos pastores. A responsabilidade deles é de
“preparar os santos para a obra do ministério, para que o
Corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4:12).
Então eu mudo de assunto e pergunto à toda a congregação:
“Quantos de vocês ministram em uma prisão pregando o
Evangelho?”. Cinco a oito pessoas geralmente se levantam em
uma grande congregação. Quando eu pergunto: “Quantos de
vocês visitam hospitais ou asilos?”. Recebo a mesma resposta.
Quando eu pergunto: “Quantos de vocês vão aos bairros
marginalizados para levar a Palavra de Deus às pessoas?”.
Vejo a mesma reação. A razão para uma resposta tão pequena
é porque cerca de 80% da maioria das congregações vive
basicamente em função de si mesmas e de suas famílias. Mas
os incrédulos é que fazem assim!
Por outro lado, quase todas as pessoas que não
responderam certamente iriam a um culto milagroso onde um
“profeta” lhes diria que elas iriam prosperar nos negócios e ser
bem-sucedidas em seus ministérios. Elas dirigiriam milhares
de quilômetros para receber “uma unção dobrada” ou ir a um
“culto de renovação”. Por quê? Na maioria das vezes não para
ser mais útil para Jesus, e sim para descobrir mais benefícios
para si mesmas.
Recentemente assisti a um evangelista popular da televisão
ensinando uma enorme multidão sobre a unção. Ele
compartilhou o preço da unção e o povo ouvia atentamente.
Não era difícil detectar a paixão que eles tinham pelo poder de
Deus. Alguns olhavam para ele como se tivessem fogo nos
olhos. Contudo, eu senti um incômodo em meu espírito, o
que foi confirmado quando um homem colocou um cheque
nas mãos desse evangelista. Era uma “oferta”. Eu me lembrei
de Pedro, quando lhe ofereceram dinheiro por causa da
unção, no livro de Atos. Eu me senti aliviado ao ver que o
evangelista devolveu o cheque ao homem.
Imediatamente fui para um lugar mais silencioso para orar.
— Senhor — eu questionei — sinto um incômodo. Eu acho
que sei o porquê, mas quero que o Senhor me explique.
Sua doce e suave voz falou ao meu coração:
— John, eles têm paixão pelo Meu poder, mas pelas razões
erradas. O poder pode fazer com que as pessoas se sintam
importantes. Ele lhes dá autoridade, valor ou lhes traz
dinheiro. Eles o desejam não para servir, mas para terem
sucesso.
As palavras de Jesus à multidão no Dia do Julgamento
vieram à minha mente. Eles professavam Seu senhorio pelo
fato de terem feito milagres, expulsado demônios e
profetizado em Nome Dele. Mas Jesus virou-se para eles e
disse: “Afastem-se de Mim, vocês que não fazem a vontade
do Meu Pai” (Mt 7:21-23, paráfrase do autor).
O Senhor continuou:
— John, eles não disseram: “Senhor, Senhor, nós
visitamos os que estavam na prisão em Teu Nome, nós
alimentamos os famintos e vestimos os nus em Teu Nome”.
Eu respondi:
— Não, Senhor, eles não disseram.
A partir disso eu pude ver dois grupos de pessoas, que
constituem uma grande parte da Igreja. Um grupo, o maior
dos dois, vem para a igreja, mas vive sua vida buscando
sucesso no mundo. O outro grupo vem à igreja buscando
sucesso em seus ministérios. Um terceiro grupo muito menor
é constituído por aqueles que buscam apaixonadamente
agradar a Jesus, servindo Seu povo e alcançando os perdidos,
com corações puros!
Ai, povo de Deus, você pode ver os caminhos perigosos
tomados pela igreja ocidental? Quando muitos vêm às nossas
igrejas, ouvem um sermão uma ou duas vezes por semana, e
então vão para casa para viverem em função de si mesmos no
restante da semana, que tipo de vestes ele têm? É como se a
única forma de arrastar esses “crentes” para a igreja, além dos
dias usuais, é dizer que haverá uma bênção que os beneficiará
de uma forma egoísta. Eles usam sua energia e seu esforço em
buscar ganho e recompensa próprios. A maioria dessas
pessoas sabe as coisas certas a dizer e parece ser amável, mas
não está vivendo para o Mestre. O que eles farão no Dia do
Julgamento, quando forem chamados para prestar contas da
graça que lhes foi dada? Estarão nus ou estarão vestidos de
atos de justiça e retidão?
Paulo clamou:

Por isso, temos o propósito de Lhe agradar, quer


estejamos no corpo, quer o deixemos. Pois todos nós
devemos comparecer perante o tribunal de Cristo,
para que cada um receba de acordo com as obras
praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer
sejam más. Uma vez que conhecemos o temor ao
Senhor, procuramos persuadir os homens.
2 Coríntios 5:9-11

Será que temos considerado o temor do Senhor? Ou


zombamos de Sua santidade ao ignorarmos o Dia do
Julgamento? Será que temos confiado em palavras vazias e
sem nexo? Isso nos leva à terceira coisa que Jesus aconselha
aos mornos que comprem Dele.
Colírio para os Olhos

Após aconselhar à igreja para que compre ouro refinado e


roupas brancas, Jesus os aconselha a comprarem Dele colírio
para os olhos, para que possam enxergar. O colírio é um
umectante para os olhos, composto por várias substâncias e
aplicado com propósitos medicinais. A escola de medicina de
Laodiceia era famosa por causa de seu colírio.
Considerando que o povo da cidade estava familiarizado
com colírio para os olhos, Jesus usou-o para fazer a analogia
de que aquela igreja precisava de cura para sua cegueira
espiritual. Embora essa seja uma igreja histórica, isso tem uma
aplicação profética. Muitos teólogos acreditam que essa fala
se aplica ao período imediatamente anterior à volta de Jesus,
que são os nossos dias. A igreja alega que vê, mas Jesus
identifica sua realidade e diz: “Não reconhece, porém, que é
miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e que está nu”
(Ap 3:17).
Paulo escreve aos cristãos: “Oro também para que os olhos
do coração de vocês sejam iluminados” (Ef 1:18). Ser
iluminado é enxergar claramente. Nós precisamos ver ou
enxergar da maneira que Jesus vê. E somente podemos fazer
isso ao passarmos tempo na presença Dele, ouvindo Sua
palavra, e servindo a Ele.
Esse princípio geral se aplica aos líderes naturais. Você
aprende qual é a visão de um líder ao servi-lo e passar tempo a
seu lado. Minha esposa passou mais tempo comigo do que
qualquer outra pessoa que trabalha conosco em nosso
ministério. Ela é uma mulher de Deus; ela se alegra em ser
minha esposa e em servir a Deus sob a minha autoridade. Ela
é a pessoa que mais se dedica ao trabalho em minha equipe.
Já houve inúmeros incidentes em nosso ministério durante os
quais os membros da equipe precisavam de uma decisão
enquanto eu estava ausente, e ela foi capaz de dar uma diretriz
correta em todas as vezes.
Moisés passou mais tempo na presença de Deus do que
qualquer pessoa em seus dias: “Moisés tinha cento e vinte
anos de idade quando morreu; todavia, nem os seus olhos
nem o seu vigor tinham se enfraquecido” (Dt 34:7). Ele
também se deleitou em servir a Deus mais do que qualquer
outra pessoa, e Deus o chamou de “Meu servo... fiel” (Nm
12:7).
O povo de Israel, por outro lado, não tinha essa paixão pela
presença de Deus; eles desejavam somente Suas bênçãos.
Eles somente O serviriam se vissem os benefícios. Portanto,
eles não viam as coisas do modo como Deus as via.
Eles foram repetidamente corrigidos por causa de
percepções errôneas. O problema chegou ao auge quando os
líderes entraram na terra prometida. Ao retornarem, dez dos
líderes disseram à congregação: “éramos aos nossos olhos
como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos”
(Nm 13:33, ACF).
Calebe e Josué viram a situação de forma diferente. Eles
disseram ao povo: “Não sejam rebeldes contra o Senhor. E
não tenham medo do povo da terra, porque nós os
devoraremos como se fossem pão. A proteção deles se foi,
mas o Senhor está conosco. Não tenham medo deles!” (Nm
14:9). Por que esses homens eram tão diferentes quanto à
maneira de ver a situação? Josué tinha paixão por passar
tempo com Deus. Josué foi o mais perto que lhe fora
permitido subir à montanha (ver Êxodo 24:13).
Mais tarde, antes que o tabernáculo fosse construído,
Moisés ergueu uma tenda longe do acampamento e a chamou
de tenda do encontro. Se alguém quisesse buscar ao Senhor,
deveria ir para fora do acampamento, até a tenda do encontro.
Além de Moisés, a Bíblia não menciona mais ninguém indo à
tenda, a não ser Josué. Quando Moisés foi ao lugar de
encontro, todos se levantaram e ficaram de pé à porta de suas
tendas e adoraram de longe. Eles o respeitavam por buscar a
Deus, mas não se achegavam mais perto, pois seus corações
seriam revelados. Mas a Bíblia diz que quando Moisés
retornou ao acampamento, “Josué, filho de Num, que lhe
servia como auxiliar, não se afastava da tenda” (Êx 33:11).
Duas coisas são evidentes aqui. Primeira, Josué tinha paixão
pela presença de Deus. Josué permanecia ali, mesmo quando
Moisés deixava a tenda. Segunda, Josué era o servidor de
Moisés. Ele, também, era um servo fiel do Senhor; seus atos
correspondiam à sua fé. A percepção de Josué era clara, pois
ele passava tempo com Deus e produzia atos de justiça e
retidão.
Hoje, algumas pessoas passam horas em oração, mas não
são servidoras. Elas estão sempre criando problemas em suas
igrejas por causa de sua cegueira. Elas são pessoas
superespirituais que não produzem frutos verdadeiros para o
Reino. Elas são cegas, pois não são pessoas que servem. É
necessário tanto passar tempo com o Senhor quanto ser um
servidor.
Assim como a visão de Moisés era correta, a de Josué
também. Ambos passavam tempo com Deus e eram servos
que mostravam atos de justiça. Os filhos de Israel se viam
como gafanhotos, e diziam que o inimigo também os via da
mesma forma. Josué e Calebe disseram que a proteção e a
força dos inimigos haviam sido retiradas. Quem conseguiu ver
corretamente? Quarenta anos mais tarde, quando Josué
enviou dois espiões à mesma terra, um dos habitantes disse
aos espias:
Pois temos ouvido como o Senhor secou as águas do
mar Vermelho perante vocês quando saíram do Egito, e
o que vocês fizeram a leste do Jordão com Seom e
Ogue, os dois reis amorreus que vocês aniquilaram.
Quando soubemos disso, o povo desanimou-se
completamente, e por causa de vocês todos perderam a
coragem, pois o Senhor, o seu Deus, é Deus em cima
nos Céus e embaixo na Terra.
Josué 2:10-11

Josué viu perfeitamente, enquanto a percepção dos outros


líderes estava completamente equivocada. Essa situação é
semelhante à do servo preguiçoso, que recebeu a graça de seu
senhor em vão. Quando seu senhor retornou, o servo o viu
como um homem duro, que esperava receber algo do nada. A
percepção dele estava completamente enganada.
Provavelmente, sua percepção errada cresceu e piorou à
medida que ele não produzia as obras que seu senhor lhe
havia ordenado fazer.
Como mencionei antes, hoje existem dois grupos de
pessoas na igreja, cuja visão é obscurecida; eles não veem do
modo como Jesus vê. O primeiro grupo inclui os que não
buscam a Deus como deveriam. Eles respeitam pregadores
que buscam a Deus e trazem a mensagem dos Céus, mas não
vão para fora do acampamento para se encontrar com Jesus.
Eles não deram a atenção necessária à exortação: “vamos
para perto de Jesus, fora do acampamento” (Hb 13:13,
NTLH). As obras deles são mornas.
O segundo grupo inclui aqueles que buscam a Jesus, mas
não são pessoas que servem. Eles O buscam por causa do que
Ele pode fazer por eles. Falando francamente, eles geralmente
são aqueles que trazem mais dores de cabeça aos pastores
tementes a Deus do que qualquer outro membro! Eles têm um
comportamento “religioso” ou “espiritual”, mas suas obras
são mornas.
Ai, povo de Deus, nós não precisamos de reavivamento ou
renovação na Igreja. Nós precisamos de reforma! A renovação
revigora o que já existe. A reforma traz uma mudança
completa no que já temos. Uma reforma é um chamado a uma
mudança completa na maneira de ver e viver. Nós temos
acreditado por muito tempo em uma falsa graça que leva
nossas igrejas a um estado de mornidão. Você pode ensinar
algo errado por tanto tempo que acaba crendo que é verdade.
Então, quando a verdade é dita, você a rejeita, chamando-a de
extremo ou erro. A renovação, ou o reavivamento, somente
fortalecerá o que está errado em nossa percepção. Nossos
olhos precisam ser abertos para vermos como Ele vê! Como o
salmista diz: “Na Tua luz, vemos a luz” (Sl 36:9, ARA).
CAPÍTULO 12
AQUELES QUE EU AMO...
Se quisermos ser como Jesus quando Ele retornar,
então um de nós vai ter de mudar.

C omo vimos no capítulo anterior, Jesus diz à igreja de


Laodiceia para que compre Dele ouro refinado pelo
fogo, roupas brancas e colírios para os olhos. Depois disso,
Ele diz: “Repreendo e disciplino aqueles que Eu amo” (Ap
3:19).
É por causa do Seu amor que Ele nos repreende e disciplina.
O escritor de Hebreus explicou assim:
Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor,
Nem se magoe com a Sua repreensão,
Pois o Senhor disciplina a quem ama,
E castiga todo aquele a quem aceita como filho.
Hebreus 12:5-6

Disciplinar significa “corrigir ou doutrinar”. Castigar


significa “punir”. Na verdade, a palavra grega para castigar é
mastigoo. Essa palavra aparece somente sete vezes no Novo
Testamento. Em todas as outras locais a palavra significa
castigar fisicamente com um chicote. Nosso Pai certamente
não usa um chicote para nos castigar; contudo, Sua disciplina
pode ser severa. É por isso que o escritor nos alerta a não
desprezarmos a disciplina. Algumas vezes, quando estava
sendo corrigido por Ele, senti como se fosse morrer por causa
da dor interior, mas, ao me submeter, o resultado sempre foi
para o meu bem e aumentou a chama da santidade dentro do
meu coração.

Filhos de Deus

Mesmo os filhos de Deus mais dedicados precisam de


correção. Embora Deus possa permitir que outros continuem
no erro ou no pecado não detectado, Ele não permitirá isso a
Seus filhos e Suas filhas. Assim como um pai sábio nunca iria
ignorar as falhas dos próprios filhos, mesmo que venha a fazer
isso com os filhos de outros, assim o Senhor não permitirá
que os Seus filhos continuem naquilo que lhes trará ruína.
A permissão em continuar a pecar sem correção ou
disciplina é um sinal alarmante do afastamento de Deus. A
Bíblia afirma claramente que aqueles que não experimentam
Sua correção são filhos ilegítimos; não são verdadeiros filhos
e filhas de Deus. Eles podem chamá-Lo de Pai, mas essa
declaração tem origem em uma falsa conversão.
Eu tenho pregado mensagens fortes que vêm do coração de
Deus, e posteriormente visto duas reações completamente
diferentes. Muitas vezes uma pessoa recebe a correção do Pai;
enquanto outra permanece intocada, pois não era um
verdadeiro filho de Deus. Um incidente aconteceu em uma
família. Após eu ter pregado em um domingo de manhã, mais
da metade da congregação respondeu ao chamado de
arrependimento ao altar no final. O pastor e sua esposa me
levaram à casa de um dos membros para almoçarmos após o
culto. A dona da casa não parava de comentar como Deus a
havia corrigido através da Sua Palavra durante o culto. Seu
semblante deixava evidente que ela havia tido um encontro
com o Senhor. O Espírito Santo a havia disciplinado
fortemente. Mas, durante a conversa, ela comentou comigo
com um ar intrigado: “Minha filha falou comigo após o culto:
‘Mãe, aquele homem fala alto, e a mensagem dele não fez
sentido nenhum’”.
Eu havia percebido, quando entrei na casa, que a filha dela
não era verdadeiramente salva. As palavras de sua mãe
simplesmente vieram a confirmar o que eu havia pensado
antes. A mãe, que amava ao Senhor profundamente, recebeu a
disciplina, assim como a maioria dos que estavam lá naquela
manhã. Mas a filha, que se sentara ao seu lado durante o
culto, permaneceu intocada — embora obviamente houvesse
insubordinação em sua vida. As palavras e o comportamento
da jovem confirmaram que ela não era uma verdadeira filha de
Deus. Contudo, se eu tivesse perguntado à filha se ela era
cristã, ela teria respondido: “Sim”.
Deus disciplina os Seus. Seu primeiro desejo é falar-nos de
forma suave através da Sua Palavra, como no exemplo dessa
mulher. Mas se nós não estamos ouvindo, Ele usará a aflição e
a dificuldade para trazer correção. O salmista declara:
Antes de ser castigado, eu andava desviado,
Mas agora obedeço à Tua Palavra...
Sei, Senhor, que as Tuas ordenanças são justas,
E que por Tua fidelidade me castigaste.
Salmos 119:67, 75

Paulo diz em relação à disciplina do Pai: “É por isso que


muitos de vocês estão doentes e fracos, e alguns já morreram.
Se examinássemos primeiro a nossa consciência, nós não
seríamos julgados pelo Senhor. Mas somos julgados e
castigados pelo Senhor, para não sermos condenados junto
com o mundo” (1 Co 11:30-32, NTLH).
Deus preferiria que déssemos ouvidos às Suas palavras de
correção; mas não importa como Ele nos corrige, o fato é que
nenhum método é prazeroso quando isso acontece. O escritor
de Hebreus confirma: “Nenhuma disciplina parece ser
motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza” (12:11).
Deus está mais preocupado com nossa condição do que com
nosso conforto. O escritor observa que Deus nos corrige
“para o nosso bem, para que participemos da Sua
santidade” (v. 10). O processo de santidade é o propósito da
Sua correção.
O escritor continua: “Portanto, fortaleçam as mãos
enfraquecidas e os joelhos vacilantes. Façam caminhos retos
para os seus pés, para que o manco não se desvie, antes,
seja curado” (vv. 12-13). As mãos simbolizam serviço ou as
obras que produzimos para o Senhor. Os joelhos simbolizam
nosso caminhar ou a maneira que vivemos. Fortalecer é não
adular; é falar a verdade em amor. Jesus não estava
enfraquecendo a igreja de Laodiceia com Suas palavras de
advertência e correção. Ele estava dando aquilo que
reacenderia o fogo neles. Ele estava trazendo correção para
que eles pudessem compartilhar da Sua santidade. É claro,
isso ocorreria somente se eles recebessem a correção.
Por que temos nos retirado e evitado fortalecer o fraco na
Igreja? Por que não temos falado mensagens na mesma
maneira que Jesus falava? Por que a maioria das mensagens
pregadas e escritas nas igrejas ocidentais é sobre paz,
prosperidade e felicidade, quando desesperadamente
precisamos ser confrontados pela verdade? Deus falou por
intermédio de Jeremias sobre os pregadores de seu tempo, os
quais estavam suavizando as mensagens ao pregá-las para as
pessoas mornas:
Se estivessem estado no Meu conselho,
Então teriam feito o Meu povo ouvir as Minhas
palavras,
E o teriam feito voltar do seu mau caminho,
E da maldade das suas ações.
Jeremias 23:22, ACF

Será que estamos conduzindo e voltando os corações do


povo para a justiça e preparando nossa geração para se
encontrar face a face com um Deus santo, ou estamos
acariciando seus ouvidos com palavras que não chamam a
uma mudança no sentido de temer a Deus?
Pacificador ou Apaziguador?

Nós lemos em Hebreus: “Esforcem-se para viver em paz


com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá
o Senhor. Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus”
(12:14-15). A primeira coisa que o escritor declara é que
devemos estar em paz com todos.
Jesus nunca disse: “Bem-aventurados os que mantêm a
paz”. Ele disse: “Bem-aventurados os pacificadores” (Mt
5:9).
Você pode perguntar: “Existe diferença?”.
Muita diferença! Uma pessoa que tenta manter a paz, tenta
mantê-la a qualquer custo. Assim, ela compromete a verdade
para evitar o confronto. Um apaziguador, portanto, não trará
as palavras do coração de Deus para que haja mudança
quando for necessário, como Jesus fez quando precisou falar
com a maioria das igrejas no livro de Apocalipse. Então as
pessoas continuarão confortáveis em sua atual condição,
quando, na verdade, precisam de uma mudança que as faça
temer ao Senhor.
Um pacificador, por outro lado, busca a verdadeira paz, e se
for necessário, ele insistentemente confronta as pessoas com a
verdade ou a justiça, a fim de produzir a paz verdadeira. Um
pacificador ama a justiça e odeia o pecado. Ele não recua. Ele
chama o pecado por seu verdadeiro nome: pecado, e não de
erro ou fraqueza. Sua repulsa pelo pecado vem do amor que
ele tem por Deus e por Seu povo. Seu desejo verdadeiro é que
venha sobre o povo o que lhes é melhor, não necessariamente
o que lhes deixa feliz. Ele está mais preocupado em trazer o
que irá lhes ajudar, e não em ser popular ou agradável aos
olhos deles. Ele não tem interesse em ter ganho pessoal. Ele se
deleita na verdadeira misericórdia e justiça. Ele ama a
santidade: seu coração queima por ela, pois seu coração
queima por Deus!
Fortalecendo o Fraco para Possuir a Santidade

O escritor de Hebreus exorta aos leitores que possuam


santidade, porque “sem santidade ninguém verá o Senhor”.
Anteriormente aprendemos que os filhos de Israel
confessaram o desejo de se aproximar de Deus, que, na
verdade, não existia. Essa era a intenção, e não o verdadeiro
desejo deles. Eles não podiam se aproximar de Deus, como
Moisés fez, pois não removeram os desejos que o Egito havia
transmitido a eles. Se eles tivessem se aproximado de Deus,
suas impurezas seriam reveladas, o que eles não queriam.
O escritor de Hebreus esclarece o que Deus tem dito a Seu
povo através dos anos. Isaías escreveu algo similar:
“Fortaleçam as mãos cansadas, firmem os joelhos
vacilantes” (Is 35:3).
Após as mãos e os joelhos serem fortalecidos, o profeta do
Antigo Testamento anuncia que os olhos dos cegos serão
abertos e os ouvidos dos surdos se abrirão. O deserto se
tornará terra frutífera, tudo porque Seu povo foi fortalecido a
andar em santidade! Isaías declara:
E ali haverá uma grande estrada, um caminho
Que será chamado Caminho de Santidade.
Os impuros não passarão por ele;
Servirá apenas aos que são do Caminho;
Os insensatos não o tomarão.
Isaías 35:8

Os caminhos de Deus são mais altos que os dos homens.


Esse elevado caminho de santidade simboliza o caminho da
vida, o qual Jesus diz que é estreito (ver Mateus 7:13-14). Isso
fala do caminho mais elevado da santidade. Nós alcançamos
esse caminho de santidade somente quando estamos abertos
para receber a correção do Pai.
De acordo com o profeta, o insensato não andará por ele.
Um insensato é alguém que vê seus próprios pensamentos e
sua vida como um exemplo de sabedoria. Provérbios 12:15
diz que “o caminho do insensato parece-lhe justo”. E
novamente vemos em Provérbios que o insensato “é
impetuoso e irresponsável” (14:16). Provérbios 18:2 declara
que “o tolo não tem prazer no entendimento, mas sim em
expor os seus pensamentos”. Um tolo ou insensato, portanto,
está enganado. Provérbios 14:8 diz que “a insensatez dos
tolos é enganosa”.
Os membros da igreja de Laodiceia estavam enganados.
Eles acreditavam que eram abençoados e prósperos. Mas lhes
faltavam as verdadeiras riquezas da vida: caráter, obras de
justiça, a capacidade de ver como Jesus vê. As palavras de
repreensão, disciplina e correção de Jesus, embora duras, os
livrariam do caminho da insensatez e os dirigiria ao caminho
da santidade. Ele estava fortalecendo suas mãos cansadas e
firmando seus joelhos vacilantes.
O Caminho para o Monte Sião

Aqueles que hoje não dão ouvidos à correção perderão o


único caminho que leva à Sua glória. A santidade não vem
facilmente. Existe a correção de ser refinado, purificado e
limpo, mas todos esses processos não produzem nenhum
efeito se não houver arrependimento. Por essa razão, Jesus
disse à igreja de Laodiceia: “Por isso, seja diligente e
arrependa-se” (Ap 3:19).
O verdadeiro arrependimento é a mudança da mente e da
atitude com relação ao pecado e suas causas, não somente
com relação às consequências do pecado. Nós temos
aprendido a nos arrepender por causa das consequências do
pecado, sem, contudo, abandonarmos sua natureza. Ser
diligente, como Jesus ordenou à igreja, é desejar
incansavelmente a mudança da nossa condição atual para Sua
natureza gloriosa. Vamos diretamente ao ponto: se nós
pretendemos ser como Jesus quando Ele retornar (ver 1 Joao
3:2), então um de nós vai ter de mudar, e esse alguém não é
Ele! Somente por meio de Sua correção e disciplina seremos
conformados segundo a imagem Dele.
Isaías diz que aqueles que não permanecerem insensatos e
receberem a correção de Deus, serão resgatados pelo Senhor e
“voltarão. Entrarão em Sião com cantos de alegria;
duradoura alegria coroará sua cabeça” (Is 35:10). A
referência a Sião é importante.
O escritor de Hebreus desenha uma imagem vívida: “Vocês
não chegaram ao monte que se podia tocar, e que estava em
chamas, nem às trevas, à escuridão, nem à tempestade, ao
soar da trombeta e ao som de palavras tais, que os ouvintes
rogaram que nada mais lhes fosse dito” (Hb 12:18-19). Essa
é a montanha sobre a qual falamos nos capítulos anteriores
deste livro. Novamente ouvimos o triste testemunho de que o
povo de Deus implorou para que Ele parasse de falar. Eles
rejeitaram Sua correção, pois ela expunha seus corações. Que
tolos!
Sofonias declara a respeito de Israel:

Não ouve a ninguém,


E não aceita correção.
Não confia no Senhor,
Não se aproxima do seu Deus.
Sofonias 3:2
Deus lamenta, dizendo: “Em vão castiguei os vossos filhos;
eles não aceitaram a correção” (Jr 2:30, ACF). Se eles
tivessem buscado santidade, estando abertos à correção e se
arrependendo de seus caminhos, então poderiam ter se
achegado a Deus na montanha.
Nós agora temos a mesma oportunidade, embora não
tenhamos de ir a uma montanha visível ou palpável. Mas nós
iremos a uma montanha diferente, da qual Isaías fala: Mas
vocês chegaram ao monte Sião... à cidade do Deus vivo.
Hebreus 12:22

Ele ainda está em uma montanha, mas não na montanha


física chamada Sinai. É uma montanha eterna e ainda mais
real, chamada Sião. O único caminho é o caminho da
santidade! Moisés andou por esse caminho; ele renunciou ao
Egito em seu coração e rapidamente recebeu as Palavras de
Deus, as quais incluíram correção. O povo de Israel implorou
para que Deus não mais falasse, pois eles não desejavam Sua
Palavra, pois ela exporia seus corações e traria correção. À luz
de suas ações somos admoestados:
Cuidado! Não rejeitem Aquele que fala. Se os que se
recusaram a ouvir Aquele que os advertia na Terra não
escaparam, quanto mais nós, se nos desviarmos
Daquele que nos adverte dos Céus?
Hebreus 12:25

Deus falou na Terra a partir do monte Sinai; hoje Ele fala da


Sua montanha celestial chamada Sião. Que assustadoras
palavras de advertência ouvimos nessa exortação! Se o povo
de Israel não escapou quando Deus falou Sua palavra do
monte Sinai, que deveria trazer disciplina e correção a eles,
muito menos nós escaparemos se falharmos em darmos
ouvidos às palavras que também trarão correção e disciplina,
quando Ele falar do Monte Sião.
Os filhos de Israel não quiseram ouvir às palavras que Deus
falou em meio a Sua glória, pois elas teriam trazido à luz ao
que poluía seus corações, e então, eles recuaram. Porém, mais
tarde, quando Moisés estava no monte, eles criaram um
“Jeová” que lhes falaria através dos profetas somente aquilo
que queriam ouvir — palavras suaves que seriam agradáveis
aos seus ouvidos e lhes concederiam seus desejos carnais.
Durante todo o tempo em que permaneceu no cume da
montanha, Moisés estava ouvindo a verdadeira Palavra do
Senhor, que o transformou. Quando ele desceu do monte, sua
face brilhava por causa da radiante luz de Deus.
Para Moisés, as palavras de Deus significavam
transformação. Para os filhos de Israel, Suas palavras
sacudiram a montanha e o chão sobre o qual pisavam,
abalando-os ao ponto de recuarem. O escritor de Hebreus
continua:
Aquele cuja voz outrora abalou a Terra, agora
promete: “Ainda uma vez abalarei não apenas a Terra,
mas também o Céu”. As palavras “ainda uma vez”
indicam a remoção do que pode ser abalado, isto é,
coisas criadas, de forma que permaneça o que não
pode ser abalado.
Hebreus 12:26-27

As palavras de correção de Jesus abalaram a igreja de


Laodiceia. Eles estavam confortáveis em seu cristianismo,
tudo parecia estar bem, mas a verdadeira Palavra do Senhor
abalou seus fundamentos. Deus novamente abalará Sua igreja,
e então as nações. O abalo remove o que não está construído
sobre um fundamento adequado. Ele remove o que está
morto ou não é bom. Ele purifica, a fim de que o que é puro e
vivo permaneça. Os únicos que precisam temer o abalo de
Deus são aqueles que não temem o Senhor.
Isaías fala sobre isso:

Em Sião os pecadores estão aterrorizados;


O tremor se apodera dos ímpios:
“Quem de nós pode conviver com o fogo
consumidor?”.
“Quem de nós pode conviver com a chama eterna?”.
Aquele que anda corretamente e fala o que é reto,
Que recusa o lucro injusto,
Cuja mão não aceita suborno,
Que tapa os ouvidos para as tramas de assassinatos
E fecha os olhos para não contemplar o mal,
É esse o homem que habitará nas alturas;
Seu refúgio será a fortaleza das rochas;
Terá suprimento de pão,
E água não lhe faltará.
Isaías 33:14-16

Ele não diz “os pecadores no Egito”, e sim os pecadores


“em Sião”. Ele está se referindo aos que estão na igreja e que
não têm o temor do Senhor e não buscam santidade. Eles não
estão seguros e serão abalados. Esse terror somente tomará
conta deles quando Deus revelar Sua glória! O fogo
consumidor e eterno se refere a Deus.
O escritor de Hebreus conclui o capítulo: “Por isso,
recebendo nós um Reino inabalável, retenhamos a graça,
pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com
reverência e santo temor, porque o nosso Deus é fogo
consumidor’” (Hb 12:28-29, ARA). Nosso Deus é fogo
consumidor! Embora muitas passagens do Antigo Testamento
tenham sido citadas neste livro, eu tenho, pela graça de Deus,
tentado trazer essa mensagem com base em passagens do
Novo Testamento. Nosso Deus é amor, mas também é fogo
consumidor.
A descrição da Sua gloriosa presença não é algo para ser
considerado levianamente, como muitos de nós temos feito.
Para confirmar Sua glória maravilhosa, o escritor de Hebreus
comenta: “O espetáculo era tão terrível que até Moisés
disse: ‘Estou apavorado e trêmulo!’” (Hb 12:21). Isso
corresponde ao que o apóstolo João testemunhou quando viu
Jesus: “Quando o vi, caí aos seus pés como morto” (Ap
1:17).
Para que Sejamos Santos

Sim, Ele nos ama com um amor maior do que nossas


mentes podem compreender. Mas esse amor não diminui de
modo algum Sua santidade. É por isso que o escritor de
Hebreus nos diz: “Retenhamos a graça, pela qual sirvamos a
Deus de modo agradável, com reverência e santo temor” (Hb
12:28, ARA). Ai, como precisamos da graça de Deus para
andarmos no temor do Senhor; para que sejamos santos
como Ele é santo (ver Levítico 19:2, Mateus 5:48, 1 Pedro
1:16)!
Como aprendemos, somente os que temem a Deus e
buscam a santidade são capazes de habitar em Sua gloriosa
presença. Retornemos aos versículos que citamos no segundo
capítulo deste livro:
Pois somos santuário do Deus vivo. Como disse Deus:
“Habitarei com eles
E entre eles andarei;
Serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo”.
Portanto,
“Saiam do meio deles
E separem-se”, diz o Senhor.
“Não toquem em coisas impuras,
E Eu os receberei”
E lhes serei Pai,
E vocês serão Meus filhos e Minhas filhas”,
Diz o Senhor Todo-Poderoso.
Amados, visto que temos essas promessas,
purifiquemo-nos de tudo o que contamina o corpo e o
espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.
2 Coríntios 6:16-18; 7:1

Agora você conhece o contexto. Você não entrou nessa


história no meio do clímax, perdendo o contexto. Espero que
o entendimento dessa história tenha se tornado claro para
você. Seu coração arderá de paixão se você desejar a glória de
Deus mais do que qualquer outra coisa.
CAPÍTULO 13
FOGO SANTO INTERIOR
Somos chamados para sermos consumidos
com o fogo da Sua glória, assim como Moisés, Isaías,
Jeremias, João, Paulo e outros.

T odo o povo de Deus necessitou de Sua correção de uma


forma ou de outra, desde os santos profetas até os
apóstolos do Novo Testamento. O mesmo acontece hoje. A
chave, contudo, é o que faremos com essa correção. O
orgulho nos priva de recebermos a correção de Deus; então,
nós abrimos mão do benefício do processo de Sua santidade.
Mas se nós nos humilharmos e aceitarmos a Sua correção,
seremos capazes de ouvir a voz Dele com mais nitidez e ver
com maior clareza, posicionando-nos para alcançar maior
maturidade em nosso relacionamento com Deus. Habacuque
escreveu:
Sobre a minha guarda estarei,
E sobre a fortaleza me apresentarei
E vigiarei, para ver o que falará a mim,
E o que eu responderei quando eu for arguido.
Habacuque 2:1, ACF
Esse homem literalmente se posicionou para receber a
correção de Deus sabendo que isso lhe daria melhor visão e
entendimento do coração e dos caminhos de Deus. Então ele
seria um servo ainda melhor.
No Ano em que Morreu o Rei Uzias

Isaías, também, estava em posição de aceitar o que o Senhor


lhe diria. Ele relata: “No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi
o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de
Sua veste enchia o templo” (Is 6:1).
Há alguns anos, enquanto eu estava em oração com relação
a esse trecho da Palavra de Deus, o Senhor falou comigo. Eu
estava meditando no fato de que Isaías viu o Senhor em Sua
glória. Eu pensei: a Igreja precisa ter uma nova visão de
Jesus em Sua glória.
Então ouvi o Senhor dizer: “Não é assim que comecei este
versículo”. Intrigado, retornei à minha Bíblia e li: “No ano em
que o rei Uzias morreu...”. O Senhor me parou e disse: “O rei
Uzias teve de morrer antes que Isaías tivesse uma visão de
Mim!”. Ele continuou: “Antes que a Igreja tenha uma nova
visão de mim, Uzias precisa morrer!”.
Eu pensei: Quem é este homem, Uzias, e que relação ele
tem com vermos Jesus? Procurei em uma concordância, e
encontrei diferentes referências a ele. Depois li os relatos
sobre sua vida e então descobri uma revelação significativa.
Uzias era um descendente do rei Davi. Ele foi coroado rei
aos dezesseis anos de idade. No início, ele buscava a Deus
diligentemente. Você também o faria, se fosse instituído rei de
uma nação aos dezesseis anos. Provavelmente ele estava
entusiasmado e humilde ao ver a magnitude daquela tarefa.
Está escrito: “Enquanto buscou o Senhor, Deus o fez
prosperar” (2 Cr 26:5).
Pelo fato de que Uzias dependia completamente de Deus,
ele foi grandemente abençoado. Ele guerreou contra os
filisteus, derrotando-os em várias cidades, assim como árabes,
meunitas e amonitas. A nação se tornou cada vez mais forte,
tanto econômica quanto militarmente. O povo prosperou sob
a liderança dele.
Seu sucesso era resultado da graça de Deus em sua vida.
Mas algo mudou. O excesso de confiança substituiu a
humildade: “Entretanto, depois que Uzias se tornou
poderoso, o seu orgulho provocou a sua queda. Ele foi infiel
ao Senhor, o seu Deus, e entrou no templo do Senhor para
queimar incenso no altar de incenso” (2 Cr 26:16).
Não foi quando Uzias estava fraco, mas sim quando ele
estava forte, que seu coração se encheu de orgulho. Quando
ele viu a prosperidade e o sucesso que acompanhavam seu
domínio, seu coração cessou de buscar ao Senhor. Ele podia
fazer por si próprio; ele sabia como fazer. Suas realizações
cresceram, então ele achou que Deus abençoaria tudo o que
fizesse; antes, ele era abençoado porque humildemente
buscava a Deus.
Isso não aconteceu da noite para o dia, e pode acontecer
facilmente com qualquer um. Deus me advertiu: “John, a
maioria das pessoas do Reino que caíram geralmente não o
fez em momentos difíceis, e sim, em momentos de
abundância”. Por quê? Porque quando nós alcançamos
grandes realizações, torna-se mais fácil perder de vista o fato
de que Ele é quem nos tem dado todas as coisas.
Muitas pessoas acabam caindo nesse padrão de ação.
Quando são salvas, elas têm sede por conhecer o Senhor e
Seus caminhos. A humildade que possuem é evidente porque
elas buscam a Deus e confiam Nele para tudo. Elas chegam à
igreja com sede em seus corações. “Senhor, eu quero Te
conhecer!”. Elas se submetem à autoridade direta de Deus e à
autoridade delegada por Ele. Em verdadeira humildade, elas
recebem correção, não importa como ou quem Deus usa para
corrigi-las. Mas elas chegam a um ponto em que já
acumularam conhecimento e se envaideceram por meio das
experiências e das realizações, então a atitude delas muda. Em
vez de ler a Bíblia com a intenção de pedir: “Senhor, revela-Te
a Ti mesmo e os Teus caminhos a mim”, elas a usam para
estabelecer doutrinas e ler o que elas acreditam. Elas não mais
ouvem a voz celestial de Deus na voz de seus pastores; elas se
sentam com os braços cruzados em uma atitude de “Vejamos
o que ele sabe”. Elas são especialistas em Bíblia, mas abriram
mão de sua humildade e mansidão de coração. A graça de
Deus se esvai, pois o orgulho a substitui (ver Tiago 4:6).
Esse problema parece acontecer muito facilmente nas igrejas
ocidentais, pois existem tantos ensinamentos disponíveis a
nós. Nós lemos em 1 Coríntios 8:1: “Sabemos que todos
temos conhecimento. O conhecimento traz orgulho, mas o
amor edifica”. O amor não busca os próprios interesses, mas
abandona sua vida pelo seu Mestre e por aqueles aos quais é
chamado para servir. O orgulho busca seus próprios interesses
por trás de uma máscara de religião. Deus explicou que o
conhecimento adquirido sem amor resulta em orgulho.
Vamos fazer uma pergunta importante sobre o rei Uzias.
Quando o orgulho entrou em seu coração, ele se tornou mais
religioso ou menos religioso? A resposta assustadora é que ele
se tornou mais religioso! Seu coração se ergueu e ele entrou
no templo para adorar. O orgulho e o espírito religioso andam
de mãos dadas. Um espírito religioso pode fazer com que uma
pessoa pense que é humilde em razão de sua aparência de
falsa espiritualidade. E a verdade é que ela é orgulhosa. Por
outro lado, o orgulho mantém uma pessoa algemada por um
espírito religioso, pois ela é orgulhosa demais para admitir que
é! O orgulho fica bem camuflado na igreja porque ele se
esconde atrás de uma máscara religiosa, carismática,
evangélica ou pentecostal.
Uzias foi então confrontado com a verdade:

O sumo sacerdote Azarias, e outros oitenta corajosos


sacerdotes do Senhor, foram atrás dele. Eles o
enfrentaram e disseram: “Não é certo que você, Uzias,
queime incenso ao Senhor. Isso é tarefa dos
sacerdotes, os descendentes de Arão consagrados para
queimar incenso. Saia do santuário, pois você foi
infiel e não será honrado por Deus, o Senhor”.
2 Crônicas 26:17-18

Deus trouxe correção a Uzias por meio desses homens


corajosos, e a resposta dele certamente não foi santa: “Uzias,
que estava com um incensário na mão, pronto para queimar
o incenso, irritou-se e indignou-se contra os sacerdotes; e
na mesma hora, na presença deles, diante do altar de
incenso no templo do Senhor, surgiu lepra em sua testa” (2
Cr 26:19).
Uzias ficou irado. O orgulho sempre irá se justificar. A
autodefesa sempre virá acompanhada da ira. Uma pessoa
orgulhosa culpa todo mundo enquanto se isenta. Uzias dirigiu
sua ira aos sacerdotes, mas o problema estava na verdade
dentro dele mesmo. O orgulho o havia cegado! Em vez de se
humilhar para receber a correção de Deus através daqueles
homens, ele permitiu que a ira fosse combustível para o seu
orgulho. Lepra surgiu em sua testa, onde todos podiam ver. A
lepra, nesse caso, era uma manifestação da condição interior
dele, e sua fonte era o orgulho.
O mesmo é verdade hoje. A lepra no Antigo Testamento é
um símbolo do pecado no Novo Testamento. Muitas vezes o
pecado externo não é nada mais do que uma manifestação do
orgulho que vem de dentro, que cega e impede que uma
pessoa receba a correção de Deus.
Após ouvir o que Deus disse ao meu coração quando estava
pesquisando sobre a vida de Uzias, eu percebi que o orgulho
nos cega e nos impede de ver Jesus. Nós precisamos vê-Lo,
pois a Bíblia declara que à medida que nós O contemplamos,
somos transformados à Sua imagem: “E todos nós, que com a
face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo
a Sua imagem estamos sendo transformados com glória
cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito” (2
Co 3:18).
Nós precisamos vê-Lo para que sejamos moldados
conforme a imagem Dele, e assim receberemos a capacidade
de ver como Ele vê. O orgulho nos impede de vermos a Deus,
cegando-nos e nos colocando em uma arena perigosa de
engano. O povo da igreja de Laodiceia pensava que era
espiritual, mas a correção do Senhor mostrou o contrário. Eles
tinham uma forma de cristianismo, mas lhes faltavam as obras
de Jesus correspondentes a esse cristianismo.
Santo, Santo, Santo!

Isaías viu o Senhor em Sua glória. Nós sabemos que foi uma
visão espiritual, pois nenhum homem em seu corpo carnal
veria a face de Deus e viveria. Quando Isaías viu o trono de
Deus, ele não pôde deixar de notar os anjos imensos, aos
quais chamou de serafins. Ele escreveu que cada um deles
tinha seis asas, com duas delas cobrindo suas faces. E eles
clamavam uns aos outros:
“Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos,
A terra inteira está cheia da Sua glória”.
Ao som das suas vozes os batentes das portas
tremeram, e o templo ficou cheio de fumaça.
Isaías 6:3-4
Os anjos não estavam cantando um hino. Existe uma
música que se baseia nesse versículo, mas geralmente as
pessoas a cantam com uma voz monótona. Não, esses seres
angelicais estavam respondendo ao que viam, até mesmo com
suas faces cobertas. Cada momento em que outra faceta da
glória de Deus era revelada, eles clamavam: “Santo!”. Eles
clamavam tão alto, que a arquitetura dos Céus era abalada! É
difícil imaginar a arquitetura da Terra sendo abalada por um
barulho, imagine então a dos Céus. Os anjos não estavam
cantando músicas, pensando: Eu já estou aqui perto do trono
de Deus há trilhões de anos. Eu gostaria de ter um intervalo
para visitar as outras partes dos Céus. Não, eles não
queriam estar em nenhum outro lugar, pois o Criador é muitas
vezes mais maravilhoso do que Sua criação. O salmista
proclamou que preferiria estar à porta da casa de Deus do que
nas tendas dos ímpios, onde a presença de Deus não habita
(ver Salmo 84).
Por que os anjos clamavam: “Santo, Santo, Santo”? Por
que três vezes? Esse uso representa um estilo literário
encontrado nas formas de escrita hebraicas. A repetição é uma
forma de ênfase. Quando nós queremos enfatizar a
importância de uma palavra ou frase, nós temos vários
métodos de fazê-lo. Nós podemos colocar em negrito, em
itálico, sublinhar, usar maiúscula ou adicionar um ponto de
exclamação.
Um escritor judeu somente podia usar ênfase repetindo as
palavras. Geralmente, suas palavras eram repetidas duas
vezes. Por exemplo, Jesus disse: “Nem todo aquele que me
diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus” (Mt 7:21).
Jesus não disse “Senhor” duas vezes; mas sim, colocou
ênfase na palavra “Senhor”, algo que o escritor quis ressaltar.
Somente algumas referências na Bíblia são enfatizadas três
vezes. Uma ocasião ocorre quando o anjo pronunciou o
julgamento contra aos habitantes da Terra no livro de
Apocalipse: “Ai! Ai! Ai!” (Ap 8:13). A mensagem incluída
nessas repetições é que os julgamentos que já haviam
acontecido tinham sido terríveis, mas o que estava por vir ia
além da compreensão.
Contudo, somente uma vez na Bíblia um atributo de Deus é
mencionado três vezes seguidas. Esses anjos não estavam
clamando: “Poderoso, Poderoso, Poderoso!”. Nem estavam
dizendo: “Amor, Amor, Amor!”. Nem mesmo: “Fiel, Fiel,
Fiel!”. Sim, Deus é poderoso, Deus é amor, e Deus é fiel, mas
a característica que está acima de todas as outras é a Sua
Santidade. É nessa santidade que encontramos a maravilha de
Sua pessoa e do fogo de Deus!
Ai de Mim!

Ao vê-lo, Isaías não disse: “Uau, aí está Ele!”. Em vez disso,


ele disse:
Ai de mim! Estou perdido!
Pois sou um homem de lábios impuros
E vivo no meio de um povo de lábios impuros;
Os meus olhos viram o Rei,
O Senhor dos Exércitos!
Isaías 6:5

A palavra ai já perdeu força na linguagem de hoje. Essa é a


palavra usada para pronunciar o maior dos julgamentos de
Deus. Como foi dito, quando o anjo pronunciou os “ais”
sobre os habitantes da Terra, na verdade ele estava dizendo:
“O julgamento mais severo está prestes a vir sobre você”.
Jesus usou essa palavra com relação a Judas. A palavra é tão
grave, que Ele disse: “Melhor lhe seria não haver nascido”
(Mc 14:21). Era algo raro um profeta pronunciar a palavra ai
sobre a vida de uma pessoa. O que é mais assustador é o fato
de um homem de Deus, como Isaías, pronunciar essa palavra
sobre si mesmo!
Imediatamente após seu pronunciamento de julgamento
sobre si mesmo, Isaías diz: “Estou perdido!”. Estar perdido
significa sem estrutura. Isaías estava diante de um Deus
Santo. Pela primeira vez em sua vida, ele realmente entendeu
quem era Deus, e pela primeira vez em sua vida ele realmente
entendeu quem ele era.
Naquele momento único, toda sua autoestima se
despedaçou. Toda confiança em si próprio e na humanidade
foi aniquilada. Se havia algum orgulho, ele não poderia mais
ser encontrado. Isaías se prostrou com o rosto em terra, na
sala do trono. Cada fibra de seu ser tremia e estava exposta.
Ele procurou um lugar para se esconder, mas não pôde achar.
Ele viu, mais do que nunca, sua extrema necessidade de
misericórdia e graça para que pudesse sobreviver, e ainda mais
diante de um Deus Santo, que é Senhor de tudo e de todos!
Limpeza, Culto e Clareza de Visão

Quando sentiu que não podia suportar nem mais um


momento, Isaías descreve o que aconteceu em seguida:
Logo um dos serafins voou até mim trazendo uma
brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz.
Com ela tocou a minha boca e disse:
“Veja, isto tocou os seus lábios;
Por isso, a sua culpa será removida,
E o seu pecado será perdoado”.
Isaías 6:6-7
Deus concede misericórdia e graça ao humilde. A brasa viva
purificou e refinou Isaías. Após ser purificado, ele ouviu a voz
de Deus dizendo: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” (Is
6:8).
Por haver sido purificado, ele pôde ouvir a voz do Senhor
claramente: “Quem irá por nós?”. Em outras palavras:
“Quem produzirá atos de justiça e retidão?”. Isaías
imediatamente respondeu: “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6:8).
Isaías ouviu as palavras vindas do coração de Deus:

Vá, e diga a este povo [que era o Seu povo]:


“Estejam sempre ouvindo, mas nunca entendam;
Estejam sempre vendo, e jamais percebam”.
Isaías 6:9-10 (grifo do autor)

Incluindo no povo que Deus dizia ser cego e surdo, estavam


os profetas e mestres das Escrituras. Eles não estavam falando
o que Deus estava dizendo, pois não podiam ouvir
claramente.
Deus está falando, mas será que estamos realmente
ouvindo? Esses versículos me lembram de uma conversa com
uma pessoa de Deus, um amigo meu. (Falei anteriormente
sobre ele, o homem que me discipulou na faculdade.) Ele me
buscou no aeroporto quando viajei até o local em que ele
mora. Ele estava meditando e orando por horas antes da
minha chegada. Ele me disse, chorando: “John, Deus tem
tanto para dizer, mas Ele não tem encontrado pessoas com
quem possa falar”. Meu coração ardia com suas palavras; eu
sabia que eu estava longe de ser um embaixador do Senhor.
Imediatamente me lembrei de Isaías. Assim que ele foi
purificado e refinado, a voz de Deus se tornou mais clara e ele
foi capaz de proclamar o coração de Deus, não somente os
princípios. Eu pensei: Não é que não existem pessoas que
podem falar dos princípios verdadeiros da Palavra. A
verdadeira questão é: será que existem homens e mulheres
que se separarão e se humilharão para que o processo de
purificação de Deus aconteça, para que ouçam
perfeitamente o coração de Deus, a fim de proclamá-Lo?
Ceando com Jesus

Voltemos à igreja de Laodiceia, que profeticamente nos


representa. Jesus firmemente corrige a igreja, e então lhe dá
um conselho. “Seja diligente e arrependa-se”. Depende do
povo. Ou deveria dizer depende de nós? Será que daremos
ouvidos à correção de Deus, ou seremos tão tolos quanto os
filhos de Israel?
Jesus continuou: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém
ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele,
e ele comigo” (Ap 3:20). Ai, ouça Suas palavras à Igreja dos
Últimos Dias! Ele diz ao povo que prega e ensina: “Se alguém
ouvir a Minha voz...”. Será que isso não parte seu coração?
Será que temos sido tão impuros em nosso relacionamento
com Ele devido ao nosso amor por prazer e interesses
pessoais, que não temos ouvido o Seu coração? Será que
temos sido tão influenciados pelo padrão do mundo e seus
desejos que nos tornamos um povo que diz ouvir Sua voz,
quando, na verdade, está longe do clamor de Seu coração?
Lembre-se de que Jesus disse à igreja que comprasse ouro
refinado, roupas brancas — que representam os atos de
justiça — e colírio, para que pudessem ver como Ele vê.
Podemos ver esse mesmo padrão no testemunho de Isaías.
Quando se humilhou para receber a correção de Deus, ele foi
refinado. Após essa experiência, ele tinha paixão em produzir
atos de justiça ou obras de santidade. Em seguida, ele
proclamou que o povo não estava vendo corretamente; eles
estavam cegos! Eles precisavam de colírio. Deus havia
removido o véu dos olhos de Isaías através de sua humildade,
da correção e da purificação do Senhor, e também da
disposição de Isaías em produzir frutos de justiça.
Observe novamente as palavras de Jesus: “Se alguém ouvir
a Minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele
comigo”. Essa frase tem uma aplicação dupla. Sim, essa é a
igreja anterior à Sua Segunda Vinda, e, portanto se refere à
volta de Jesus. Lucas registra palavras similares de Jesus:
Estejam prontos para servir, e conservem acesas as
suas candeias, como aqueles que esperam seu senhor
voltar de um banquete de casamento; para que,
quando ele chegar e bater, possam abrir-lhe a porta
imediatamente. Felizes os servos cujo senhor os
encontrar vigiando, quando voltar. Eu lhes afirmo que
ele se vestirá para servir, fará que se reclinem à mesa, e
virá servi-los.
Lucas 12:35-37

Nosso Mestre nos servirá, embora sejamos nós quem


deveríamos servi-Lo eternamente. Ele é um servo no sentido
verdadeiro da palavra. Ele não tem nenhuma dívida para
conosco, e sim, nós é quem temos para com Ele, mas mesmo
assim Ele deseja servir aos Seus fiéis. Ele nos servirá nas
bodas do Cordeiro.
Existe uma segunda aplicação. Quando Jesus disse:
“entrarei e cearei com ele, e ele comigo”, Ele não está
falando somente das bodas do Cordeiro, mas sim de nos dar o
verdadeiro maná, que é a revelação de Si mesmo. Ele declara:
“Eu sou o pão vivo que desceu do Céu” (Jo 6:51). Ele é a
Palavra viva de Deus, que nos sustenta (ver Deuteronômio
8:2-3).
Jeremias fala do mesmo tema da seguinte maneira:

Achando-se as Tuas palavras, logo as comi,


E a Tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu
coração .
Jeremias 15:16, ACF

Jeremias foi alguém que, assim como Isaías, passou pelo


processo de purificação de Deus. E, como Moisés, ele não
tinha nenhum desejo pelo sistema do mundo. Ele havia se
separado para que pudesse conhecer a Deus. Seu prazer era a
Palavra de Deus; ela era seu alimento. Mas porque ele pregava
o coração de Deus para um povo que havia se desviado,
Jeremias era perseguido:
Por isso a palavra do Senhor trouxe-me
insulto e censura o tempo todo.
Mas, se eu digo: “Não O mencionarei
nem mais falarei em Seu nome”,
É como se um fogo ardesse em meu coração,
um fogo dentro de mim.
Estou exausto tentando contê-lo;
já não posso mais!
Jeremias 20:8-9

João Batista foi outra pessoa que teve sede pela Palavra de
Deus. Ele havia se separado do mundo e da hipocrisia
religiosa. Sua herança era ser treinado em Jerusalém com
outros filhos de sacerdotes para ser um líder. Ele abriu mão do
que os homens haviam planejado para ele e obedeceu a Deus.
No deserto, a Palavra do Senhor veio a ele. Ele, também, foi
alguém que comunicou aquilo que estava no coração de Deus.
Jesus disse sobre ele: “era uma candeia que queimava e
irradiava luz, e durante certo tempo vocês quiseram
alegrar-se com a sua luz” (Jo 5:35).
Nós fomos chamados para arder com o fogo da glória de
Deus, assim como Moisés, Isaías, João, Paulo e tantos outros.
Mas isso nunca acontecerá se nós não nos separarmos dos
desejos do mundo. Nós fomos chamados para viver como
peregrinos e estrangeiros neste mundo. Nossa verdadeira
santificação virá somente quando estivermos com nossos
corações ardendo pela Sua Palavra, a ponto de ela ser nossa
meditação durante todo o dia. Então o fogo de Deus arderá
fortemente dentro e sobre nós. Quando homens e mulheres se
apaixonam, ninguém precisa dizer a eles: “Pense em seu
amado ou sua amada o dia inteiro”. Não é preciso, pois a cada
momento livre eles estão pensando naquele ou naquela que
amam.
Malaquias viu dois tipos de pessoas na Igreja dos últimos
dias. Ambos passaram pelo processo de refinação, que já
discutimos nos capítulos anteriores. O primeiro grupo irá
reclamar, dizendo: “Que benefício temos ao servir a Deus, se
os ímpios se divertem mais do que nós? Nós servimos a
Deus e continuamos passando por provas e tribulações” (Ml
3:14-15, paráfrase do autor).
A declaração do segundo grupo é diferente:

Depois, aqueles que temiam o Senhor conversaram uns


com os outros,
E o Senhor os ouviu com atenção.
Foi escrito um livro como memorial na Sua presença
Acerca dos que temiam o Senhor
E honravam o Seu nome.
Malaquias 3:16

Eles amavam a Palavra de Deus e Seus caminhos mais do


que qualquer tipo de sofrimento pudesse ofuscar. Mas o
profeta falou sobre o que irá acontecer:
“Pois certamente vem o dia,
Ardente como uma fornalha.
Todos os arrogantes e todos os malfeitores serão como
palha,
E aquele dia, que está chegando, ateará fogo neles”,
Diz o Senhor dos Exércitos.
“Não sobrará raiz ou galho algum.
Mas para vocês que reverenciam o Meu Nome,
O Sol da Justiça Se levantará
Trazendo cura em Suas asas.
E vocês sairão
E saltarão como bezerros soltos do curral.
Depois esmagarão os ímpios,
Que serão como pó sob as solas dos seus pés,
No dia em que eu agir”,
Diz o Senhor dos Exércitos.
Malaquias 4:1-3

Ele não está falando do “Filho da Justiça”, mas do “Sol da


Justiça”. O sol é uma bola maciça de fogo. É assim que Jesus
manifestará a Si mesmo nos últimos dias àqueles que O
temem. Eles meditarão em Sua palavra por causa do amor
puro que têm pelos caminhos do Senhor. O fogo da Sua glória
se acenderá sobre eles e serão vistos pelos povos que habitam
nas trevas. Como nunca antes, uma colheita de almas se dará,
como resultado da ministração desses cujas candeias estão
queimando e brilhando. Seus corações estarão ardentes por
Sua Palavra, e nenhuma treva se apoderará deles.
Nós vemos um vislumbre disso com dois dos discípulos de
Jesus, após a Ressurreição do Senhor:
Naquele mesmo dia, dois deles estavam indo para um
povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de
Jerusalém.
No caminho, conversavam a respeito de tudo o que
havia
acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o
próprio
Jesus Se aproximou e começou a caminhar com eles.
Lucas 24:13-15

Uau! Eles estavam vivendo tempos difíceis, mas eles


falavam das coisas de Deus. Ao falarem, Jesus se aproximou.
Quando conversamos sobre nosso temor e amor pelo Senhor,
Ele se achega. Após Jesus ter Se aproximado, veja o que
aconteceu: “E começando por Moisés e todos os profetas,
explicou-lhes o que constava a respeito Dele em todas as
Escrituras” (Lc 24:27).
Que banquete! Ai, como eu anseio ter uma maior revelação
de Jesus! Ele é a satisfação dos desejos da minha alma.
Enquanto conversavam sobre o que haviam refletido, Jesus se
aproximou e abriu seus olhos, para que pudessem vê-Lo nas
Escrituras: “Então os olhos deles foram abertos e O
reconheceram” (Lc 24:31). Ai, Pai, abra nossos olhos para
vermos Jesus!
Eles perguntaram um ao outro: “Não estava queimando o
nosso coração, enquanto Ele nos falava no caminho e nos
expunha as Escrituras?” (Lc 24:32). Quando foi que o
coração de Moisés queimou e sua face brilhou? Quando ele
ouviu a Palavra de Deus na Sua presença. O que lhe deu
capacidade de ouvir a Palavra diante da Sua gloriosa
presença? A decisão de Moisés de se separar do Egito e
obedecer Àquele a quem ele ansiava conhecer. Ele
considerava a repreensão de Cristo mais valiosa do que os
tesouros do Egito, pois olhava para a recompensa. Ai, minha
esperança é que um anseio por Ele seja profundamente
despertado dentro da sua alma!
CAPÍTULO 14
E VERÃO A SUA FACE
Eles se colocarão de pé diante Dele, livres das
manchas do mundo, com seus corações
acesos com um desejo santo.

N ossos melhores dias ainda estão por vir. Deus tem


reservado um povo para Si. Eles ouvirão o clamor do
Seu coração e andarão em santidade diante Dele. Eles serão a
verdadeira personificação dos cristãos: aqueles que ouvem e
obedecem à voz do Senhor sem duvidar. Eles se colocarão de
pé diante Dele, livres das manchas do mundo, com seus
corações acesos com um desejo santo. Assim como Ele tem
ciúmes do Seu povo, o Seu povo terá ciúmes Dele. Por
intermédio do Seu povo, Ele revelará Sua glória ao mundo
perdido e moribundo.
Na vida de Jacó, neto de Abraão, encontramos um
prenúncio do que Deus fará para aqueles que O honrarem.
Deus disse a Jacó: “Suba a Betel e estabeleça-se lá, e faça um
altar ao Deus” (Gn 35:1). Betel significa “casa de Deus”. Em
outra ocasião, Jacó havia encontrado com Deus ali. Deus o
convidou: “Jacó, aproxime-se de Mim, e Eu me aproximarei
de você”. Jacó respondeu e deu instruções aos que estavam
em sua casa:
Livrem-se dos deuses estrangeiros que estão entre
vocês, purifiquem-se e troquem de roupa. Venham!
Vamos subir a Betel, onde farei um altar ao Deus que
me ouviu no dia da minha angústia e que tem estado
comigo por onde tenho andado.
Gênesis 35:2-3

Eles deveriam se livrar “dos deuses estrangeiros”. Lembre-


se, um ídolo é para quem damos nossa força e afeição, acima
de Jesus. A idolatria da igreja de Laodiceia era a ambição
deles, que lhes roubou a paixão necessária para produzir
frutos eternos (ver Colossenses 3:5). A instrução de Jacó
“purifiquem-se e troquem de roupa” reafirma a importância
da pureza e da cobertura apropriada. Jesus falou à igreja de
Laodiceia de uma maneira similar.
Jacó e seu povo se achegaram a Deus: “Quando eles
partiram, o terror de Deus caiu de tal maneira sobre as
cidades ao redor que ninguém ousou perseguir os filhos de
Jacó” (Gn 35:5). O temor do Senhor os cobriu a tal ponto que
o terror se espalhou pelas cidades vizinhas por onde eles
passavam em sua jornada. Quando nós nos consagramos a
Deus, a autoridade da Sua presença nos acompanha e se torna
evidente aos que nos rodeiam.
Entregue a Deus

Charles Finney era completamente entregue a Deus. Sua


consagração estava acima de qualquer outra coisa em sua
vida. Era possível vê-la por meio das mensagens de pureza
que ele pregava. Por exemplo, certa vez ele visitou uma
fábrica de aproximadamente três mil empregados. O
proprietário e a maioria dos funcionários não eram salvos.
Finney tinha realizado uma cruzada na região, e uma mulher o
reconheceu e fez um comentário depreciativo. Imediatamente,
a convicção de Deus caiu sobre ela e se alastrou sobre todos
os que pararam o serviço para consolá-la. Dentro de minutos,
toda a produção foi parada, enquanto os funcionários e o
proprietário foram cativados pela pregação da Palavra de Deus
feita por Charles Finney. Em algumas horas a maioria deles foi
salva. Finney vestia a presença de Deus como uma roupa, e
isso era evidente a todos os que estavam a seu redor, quer
fossem cristãos ou ímpios.
Por que a Igreja não tem tido a autoridade desse tipo de
presença há várias décadas? Durante tanto tempo o mundo
tem insultado a Igreja e escarnecido dela, dizendo: “Onde está
o seu Deus?”. Se nós temos sofrido perseguição é por causa
de nossos próprios defeitos e mundanismo. Mesmo assim eu
creio que Deus novamente terá um povo totalmente
consagrado a Ele. Meu coração arde por isso. O seu, não? O
Senhor habitará entre eles e os cercará de uma forma evidente
e poderosa. Novamente o temor de Deus se apoderará de
Seus filhos assim como nos dias da antiguidade.
Ao longo deste livro eu me referi a Moisés e aos filhos de
Israel. A primeira geração não abriu mão dos desejos do Egito.
Contudo, a geração seguinte de hebreus vagou por desertos
estéreis e se consagrou ao Senhor. Foi a geração que seguiu
Josué. No livro de Josué, encontramos somente um incidente
de desobediência e idolatria, que envolveu apenas uma
família, e toda a nação se levantou contra eles, em oposição
(ver Josué 7).
Quando eles se prepararam para atravessar o rio Jordão e
enfrentar seus inimigos, Moisés conta:

Ouça, ó Israel: Hoje você está atravessando o Jordão


para entrar na terra e conquistar nações maiores e
mais poderosas do que você, as quais têm cidades
grandes, com muros que vão até o Céu. O povo é forte
e alto. São enaquins! Você já ouviu falar deles e até
conhece o que se diz: “Quem é capaz de resistir aos
enaquins?”. Esteja, hoje, certo de que o Senhor, o seu
Deus, Ele mesmo, vai adiante de você como fogo
consumidor. Ele os exterminará e os subjugará diante
de você. E você os expulsará e os destruirá, como o
Senhor lhe prometeu.
Deuteronômio 9:1-3

Será que somos uma geração como a de Josué? Estamos


dispostos a andar em tal pureza a ponto de Deus nos ungir
para que o mundo não nos vença? Que essa seja a nossa
oração!
Uma Igreja Vencedora

A Igreja Primitiva andava na gloriosa presença de Deus. A


Igreja orava e os fundamentos se abalavam. Ananias e Safira
trouxeram uma oferta enganosa diante de Pedro e caíram
mortos. A presença de Deus era tão forte e evidente que a
Bíblia diz:

Dos demais, ninguém ousava juntar-se a eles, embora


o povo os tivesse em alto conceito. Em número cada
vez maior, homens e mulheres criam no Senhor e lhes
eram acrescentados, de modo que o povo também
levava os doentes às ruas e os colocava em camas e
macas, para que pelo menos a sombra de Pedro se
projetasse sobre alguns, enquanto ele passava.
Atos 5:13-15

O mesmo não acontece hoje. Os impostores facilmente se


infiltram entre os verdadeiros porque nos faltam o temor e o
fogo de Deus. A morte do casal alertou a sociedade para que
não brincasse com Deus nem com Seu povo, e multidões se
converteram (ver Atos 5:16). Aqueles que tinham sede de
Deus O reconheciam entre os cristãos, mas os hipócritas se
afastavam com medo.
A Igreja Primitiva era uma igreja vencedora. Jesus prometeu
à igreja de Laodiceia, que é tão similar à Igreja de hoje: “Ao
vencedor darei o direito de sentar-se comigo em Meu trono,
assim como Eu também venci e sentei-Me com Meu Pai em
Seu trono” (Ap 3:21).
A igreja que recebeu a mais forte exortação no Apocalipse
também recebeu a maior promessa. O salmista pediu para que
pudesse estar somente à porta da sala do trono de Deus. Mas
Jesus fez um convite não somente para entramos à sala, mas
também para nos assentarmos com Ele em Seu trono! Talvez
possamos agora entender melhor as palavras de Paulo:

Se perseveramos,
Com Ele também reinaremos.
Se O negamos,
Ele também nos negará.
2 Timóteo 2:12

Como alguém que professa Jesus como seu Senhor pode


negá-Lo? Nós encontramos a resposta neste versículo: “Eles
afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos O negam”
(Tt 1:16). Novamente vemos que as ações falam mais alto do
que as confissões. Paulo nos encorajou: “Se perseverarmos,
com Ele também reinaremos”.
A santidade envolve um compromisso de correr até o fim.
Nós temos a abençoada promessa que Deus nos deu a Sua
graça para perseverarmos e obtermos vitória! Esses são os
vitoriosos, e Deus promete a eles: “Eles verão a Sua face, e o
Seu Nome estará em suas testas. Não haverá mais noite.
Eles não precisarão de luz de candeia, nem da luz do sol,
pois o Senhor Deus os iluminará; e eles reinarão para todo
o sempre” (Ap 22:4-5).
Moisés desejou acima de tudo ver a face de Deus. Aqueles
que vencerem verão Sua face ao reinar com Ele para todo o
sempre. Você está segurando este livro em suas mãos porque
esse é o seu desejo mais profundo, e é também o maior
convite do Senhor. Abrace esse chamado, deixe que a chama
seja acesa e contemple-O. Que a graça do Senhor Jesus Cristo
seja abundante sobre você. Amém.
SOBRE O AUTOR
JOHN BEVERE e sua esposa Lisa são os fundadores do
Messenger International. Pastor e autor de bestsellers, John
prega mensagens sobre a verdade sem concessões, com
ousadia e paixão. Seu desejo é apoiar a igreja local e oferecer
recursos aos líderes independentemente de sua localidade,
idioma ou posição financeira. Com esse objetivo, seus
materiais têm sido traduzidos para mais de noventa idiomas, e
milhões de exemplares têm sido distribuídos a pastores e
líderes em todo o mundo. Quando está em casa, John tenta
convencer Lisa a jogar golfe e passa tempo com seus quatro
filhos, sua nora e seus netos.

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