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Fundamentos de Sistemas Móveis - TET00209

Universidade Federal Fluminense (UFF)


Engenharia de Telecomunicações (TET/TCE)

Tadeu Ferreira, 1/2020


16 de novembro de 2020

NOS SLIDES
Informações Básicas:
Prof. Tadeu Ferreira (tadeu ferreira@id.uff.br)
Terças e Quintas-feiras 20h-22h

1 Conceitos de Cobertura Celular


1.1 Nomenclatura Utilizada
Sistemas móveis de comunicações em geral utilizam uma nomenclatura
bem especı́fica com expressões próprias.
Estação-base é definida como uma estação fixa usada para comunicações
com os móveis. Em geral, são antenas transmissoras e receptoras montadas
em uma torre com uma região de cobertura definida.
O termo “canal” possui significados diferentes de acordo com o contexto
de sua utilização. O canal pode ser o meio escolhido para transmissão dos
dados entre transmissor e receptor. Outro significado possı́vel é o de canal de
radio-frequências, que é uma faixa de frequências disponı́veis para um dado
usuário.
Dos antigos sistemas de rádio e TV analógia, temos a situação represen-
tada a seguir:
Na Fig. 1.1, há uma transmissão em broadcasting (radiodifusão). Nessa
situação, a comunicação é feita da antena para a TV. Apesar de tal sistema
não ser móvel, esse exemplo influenciou váras nomenclaturas dentro da área
de sistemas móveis. Essa transmissão unidirecional caracteriza o sistema
como simplex. Além disso, o canal que vai do sistema (da operadora) para o

1
Figura 1: Sistema de TV analógica em transmissão.

usuário passou a ser denominado “canal direto”, enquanto o canal do usuário


para a operadora, passou a ser denominado “canal reverso”, como visto na
Fig.2.

Canal Reverso

Operadora

Canal Direto Usuario

Figura 2: Canais direto e reverso.

Uma outra nomenclatura surgiu a partir do sistema móvel de comunicação


por satélite, como mostrado na Fig.3.

Figura 3: Sistema de comunicação por satélite.

O satélite se localiza acima do aparelho. Com isso, o canal do satélite até


o usuário ganha a conotação de canal de descida, ou “downlink”, enquanto o
canal do usuário até o satélite é denominado uplink, como na Fig.4.
Antigos sistemas de rádio e TV consistiam em grandes transmissores,
transmitindo em alta potência para usuários em uma grande área de cober-
tura.
Na telefonia celular, esse paradigma de uma única antena foi substituı́do
pelo conceito de células, no qual são utilizadas múltiplas antenas, cada uma
responsável por uma área menor de cobertura. Com isso, há um gasto menor
de energia por parte do móvel, que transmite com menor potência. Essa
mudança de paradigma é vista na Fig.5.

2
Uplink

Operadora

Downlink Usuario

Figura 4: Canais uplink e downlink.

Figura 5: Mudança de Paradigma do sistemas de TV e rádio, à esquerda,


para sistema celular, à direita.

1.2 Reúso de Frequências


O sistema GSM (Global System for Mobile Communications), de segunda
geração, utiliza uma divisão de acesso tanto no tempo quanto na frequência,
consistindo num hı́brido FDMA/TDMA. No FDMA/TDMA, há grande in-
terferência caso dois usuários estejam na mesma frequência na mesma célula.
Tal interferência recebe o nome de CCI (Co-Channel Interference). Essa
denominação está relacionada à nomenclatura de canal como uma faixa de-
limitada de frequências, utilizada no rádio e em TV analógica.
Para se evitar a CCI, deve-se planejar a atribuição de frequências de modo
que células adjacentes não tenham o mesmo conjunto de frequências, num
processo denominado planejamento de frequências.
Um dos problemas relacionados ao planejamento de frequências é definir
qual a geometria da célula a ser utilizada. A primeira restrição é escolher
uma forma geométrica que consiga cobrir toda a área sem sobreposição e sem
deixar área vazia. Isso reduz as escolhas a três formas: triângulo isósceles,
retângulo e hexágono. Considerando que são utilizadas antenas omnidirecio-
nais, é natural que a antena seja colocada no centro da célula. Nesse caso, o
hexágono é a forma em que, para uma distância pré-fixada entre os vértices
e o centro, é coberta uma maior área, como visto na Fig. 6.

d d
d

Figura 6: Comparação entre triângulo equilátero, quadrado e hexágono.

3
A fim de evitar CCI, células adjacentes não podem ter o mesmo conjunto
de frequências. Pode-se então identificar um conjunto de células adjacentes,
e que portanto possuem frequências diferentes, mas que juntas utilizam toda
a faixa de frequências da operadora. Esse conjunto de células é denominado
cluster, como visto na Fig. 7.

B
G C
A
F D
E

Figura 7: Cluster de células.

Na Fig. 8 é mostrado o cluster em meio a outras células.

E
D F
E B B
G C
C A G
F D

B E F
C B
G

Figura 8: Cluster de células em meio a outras células.

Sendo N o número de células num cluster e S o número total de canais


de frequência, então é intuitivo que em cada célula há k = S/N canais.
Para um sistema com M clusters, o número total de canais no sistema é
C = MkN = MS. Outra denominação para N é tamanho do cluster, com
valores tı́picos N = 4, 7 ou 12. Um valor grande de N com M e k mantidos
aumenta o número de usuários do sistema (o que é chamado de capacidade
do sistema).
Em geral, cada célula utiliza canais pré-determinados. Se houver uma
tentativa de chamada num dado momento em que todos os canais estão

4
utilizados, a chamada será bloqueada. Essa estratégia de atribuição é dita
fixa. Numa estratégia de atribuição fixa, pode haver empréstimo de canais.
Quando uma estratégia dinâmica é utilizada para a alocação de canais, um
equipamento controla a alocação de acordo com as solicitações de chamada.
É utilizado um algoritmo de alocação que mantenha restrições de reúso para
células adjacentes. Em comparação com a estratégia estática, a estratégia
dinâmica diminui a possibilidade de bloqueio de chamada.

1.3 Handoff
Como o sistema é celular, para cada instante o móvel está na área de
cobertura de uma célula de um dada operadora. A caracterı́stica móvel do
sistema torna necessário que haja um mecanismo que permita ao usuário
trocar de célula durante sua movimentação. Esse mecanismo é chamado de
handoff ou handover.
Para realizar um handoff, o sistema deve funcionar de uma maneira que
o procedimento não seja percebido pelo usuário. Deve-se evitar que haja
situações de ping-pong, onde o controle do usuário sai e volta para uma mesma
estação em um curto espaço de tempo. O parâmetro tempo de permanência
mede quanto tempo um usuário permanece numa célula.
Uma das grandes questões do projeto do procedimento de handoff envolve
quais parâmetros devem ser levados em conta para se fazer um handoff. A
técnica tradicional mede a potência do sinal do móvel que chega na antena
atual e na antena ”candidata”a recebê-lo. Quando a potência recebida na
antena da nova célula é maior, faz-se o handoff. A situação é exemplificada
na Fig. 9.

Figura 9: Handoff entre células.

Considere que as duas estações da Fig. 9 transmitem com a mesma po-


tência, que não há nenhum obstáculo no meio (como no meio rural) e que o
usuário caminha na linha reta que liga as duas estações. Pode-se considerar
que, a partir de metade do caminho, ou seja, quando d1 > d2 , a estação à
direita estará mais apta a controlar o móvel.
Em geral, o usuário não caminha em linha reta entre as estações, os
ambientes de propagação são variantes no tempo e o número de interferentes
também muda. Nessas situações, o ideal é medir a potência que chega do sinal

5
transmitido para cada estação. Se uma estação diferente da que atualmente
controla o móvel tiver sinal maior que a estação que o controla, ocorre o
handoff.
Considere Pm a potência mı́nima para manter a ligação. O valor da potên-
cia para realizar o handoff precisa ser maior que Pm para o sistema funcionar
e também não pode ser muito pequeno a ponto de qualquer sombreamento
gerar queda de chamada. Por outro lado, a potência para handoff não pode
ser muito grande pois pode haver o efeito ping-pong.
O valor utilizado para comparação com a potência para realizar o handoff,
pode ser a média numa janela de tempo das potência do sinal que chega na
estação. Essa é mais uma medida para diminuir a possibilidade de que rápidas
variações no sinal recebido provoquem handoff.
Um outro tipo de handoff é realizado quando o móvel mede a potência
recebida no downlink pela estação que atualmente o controla e uma esta-
ção candidata a handoff. As informações são então enviadas pelo canal de
controle para o sistema, que decide sobre o handoff. Esse tipo de handoff é
denominado MAHO (mobile-assisted handoff ).
Quando uma célula está na borda da área de um estado, o controle pode
passar para outra operadora, gerando um handoff entre operadoras, ou ainda
mantendo a mesma operadora, mas mudando a tarifação para roaming, caso
seja no Brasil. Outro caso onde pode ocorrer handoff entre operadoras, é
quando o celular entra numa célula sem cobertura de sua operadora, mas em
cobertura de outra operadora que possua acordo com a sua operadora.
Há ocasiões em que células vizinhas da mesma operadora não dão suporte
a gerações diferentes de sistemas de telefonia. Isso ocorre no caso na cober-
tura ainda incompleta do LTE-A (Long Term Evolution-Advanced ), sistema
4.5G no Brasil. Nesse caso, há handoff entre sistemas.
Se um usuário tentar fazer handoff para uma célula em que não há canais
disponı́veis pode haver queda de chamada. A experiência de ter uma queda
de chamada é considerada uma experiência pior do que o usuário não con-
seguir iniciar sua chamada. Então, são reservados alguns canais para serem
utilizados apenas para handoff, o que diminui um pouco a capacidade do
sistema.
Em alguns projetos de cobertura celular, há usuários em alta velocidade
trafegando numa dada célula, o que causaria a realização frequente de han-
doffs. Uma possivel solução seria utilizar células maiores em locais com gran-
des rodovias ou ferrovias, o que seria ruim para a cobertura de pedestres nas
bordas da célula. Uma solução adotada é a célula guarda-chuva, em que cé-
lulas grandes e pequenas coexistem no mesmo espaço, com sobreposição de
cobertura. Ao se detectar um movimento em alta velocidade de um celular,
o próximo handoff é feito para a célula maior. Uma representação de células

6
guarda-chuva é dada pela Fig. 11. Um problema deste tipo de célula é o
redimensionamento dos canais a fim de se evitar CCI nas fronteiras da célula
grande.

D F
E B B
G C
C A G
F D

B E F
C B

Figura 10: Célula guarda-chuva superposta a células normais.

Imagine a situação em que não há obstáculo para um dado móvel e a esta-
ção transmite em alta potência. Aparentemente, a situação é vantajosa para
o usuário que está se comunicando. Imagine que esse usuário entre na célula
vizinha. Talvez não haja handoff pela grande potência da célula original, ou
seja, talvez ele entre na área de cobertura de outra célula ainda controlado
pela célula original. Essa situação é mostrada na Fig.11. É conhecida como
arrasto de célula (cell dragging). Ocorre um aumento da CCI na célula C

B
G C
A
F D
E
C

Figura 11: Arrasto de célula.

abaixo. Seria pior num planejamento onde duas células C fizessem fronteira
com a célula A, podendo inviabilizar algumas transmissões.
Nesta seção foram explicados alguns conceitos básicos de planejamento
celular tendo como foco sistemas FDMA ou hı́bridos FDMA-TDMA, como
o GSM. Para sistemas com base em CDMA, como IS-95 ou o UMTS, o

7
raciocı́nio deve ter como base os códigos, que seriam o recurso de sistema ao
invés de frequências.

1.4 Capacidade do Sistema em Número de Usuários


Um dos grandes objetivos do planejamento celular é aumentar a quan-
tidade de usuários simultâneos do sistema. Duas caracterı́sticas limitam o
número de usuários: a quantidade de recursos, como canais de frequência, e
o fato de cada usuário ser uma fonte de interferência para os demais. Nesta
subseção será abordada a questão das intereferências presentes.
Um dos tipos mais comuns de interferências é chamado genericamente
de ruı́do, que consiste na soma dos efeitos de várias fontes independentes
e espalhadas no ambiente. O modelo mais utilizado de ruı́do é o chamado
AWGN (additive Gaussian white noise), isto é, o ruı́do é adicionado ao si-
nal, sua distribuição de probabilidade é determinada por uma gaussiana e
é branco. O ruı́do é dito branco quando duas amostras diferentes não têm
a menor relação, ou seja, o fato de aumentar uma delas nada diz sobre um
aumento (ou diminuição) da outra. Uma das formas de se combater o ruı́do
branco é aumentando-se a potência do sinal transmitido, de modo que a razão
sinal-ruı́do na recepção.
Outra interferência importante é a CCI (Co-Channel Interference), que
se refere à situação em que outros usuários estão utilizando o mesmo recurso
(em geral, faixa de frequências) que um dado móvel. No caso de sistemas
CDMA, o recurso seria o código de espalhamento. A presença de CCI limita
o número de usuários do sistema, pelas limitações geográficas impostas ao
uso de um dado canal, como a proibição de uso do mesmo canal em células
adjacentes.
No caso de sistemas que usam FDMA, os usuários são separados por
filtros seletivos em frequência. Esses filtros não eliminam totalmente os sinais
interferentes. Com isso, usuários que utilizam faixas próximas às de um dado
usuário interferem em seu sinal, gerando a chamada Interferência de Canal
Adjacente, como mostrado na Fig. 12. Tanto a CCI quanto a Interferência
de Canal Adjacente serão detalhadas a seguir.

1.4.1 Interferência Co-Canal


Diz-se que uma dada célula tem raio R quando a distância até o seu ponto
mais distante é R. Considere D como a distancia entre os centros das células
co-canais mais próximas, Q = D/R como a razão de utilização co-canal e N
como o número de células em um cluster. É intuitivo que ao se aumentar
a razão Q, a CCI seja reduzida. Um valor grande de Q aumenta o número

8
V

f
Interferencia
de canal adjacente

Figura 12: Interferência de Canal Adjacente.

de usuários do sistema e também gera√uma recepção de um sinal com mais


qualidade. Pode ser provado que Q = 3N para uma célula hexagonal.
A medida da CCI pode ser difı́cil de ser obtida. Uma gradeza relacionada
é a medida de razão sinal-para-interferência (SIR), na qual se mede o valor
da potência do sinal Ps e o valor da potência de todas as interferências,
medida conjuntamente, denominada I. A SIR torna-se então Ps /I. A CCI é
proporcional ao inverso da SIR.
Considere uma situação de CCI no downlink, quando um móvel que se
comunica com uma torre sofre interferência na recepção devido ao sinal de
outra torre. Seja Ii a potência da i-ésima célula co-canal com a célula em
questão. Assim,
Ps Ps
= P . (1)
I Ii
i=1
A fim de se analisar o efeito da distância sobre a potência, usa-se a equação
de perda de percurso, que será vista mais adiante:
 
d
P [dBm] − P0 [dBm] = 10nlog , (2)
d0
onde P e d são a potência e a distância da antena até o móvel. As grandezas
P0 e d0 são a potência e a distância num ponto de referência pré-determinado.
Percebe-se que o decaimento de potência é controlado pelo parâmetro n, que
é conhecido como expoente de perda de percurso.
O caso mais extremo de CCI ocorre nas bordas das células, onde o sinal
recebido pelo móvel é menor, devido à perda de percurso, e o sinal das outras
células é mais forte. Na borda da célula. o valor de SIR é:
Ps R−n
= P , (3)
I (Di )−n
i=1

onde R é o raio da célula em questão, Di é a distância do móvel à i-ésima


estação e i0 o número total de células co-canais com o seu móvel.

9
A influência de cada célula na CCI depende de Di e do expoente n, defi-
nido na Eq. (2). Para espaço livre temos n ≈ 2, enquanto para situações de
obstáculos no meio temos n > 2, o que causa uma perda grande de potência
em relação à distância. Com isso, consideramos apenas as i1 células mais
próximas da célula em questão. Considerando que essas i1 células estejam a
uma distância D, então:
√ n
Ps (D/R)n ( 3N )
≈ ≈ . (4)
I i1 i1
Lembrando que C = MkN, isto é, N = C/(Mk), então o aumento da SIR
leva ao aumento no número de usuários simultâneos do sistema.
Uma aproximação feita por Lee e Jacobson, válida para N = 4 células
em um cluster e considerando apenas as 6 células mais próximas do móvel,
modifica a Eq. (4) para

Ps 1
≈ . (5)
I 2(D − R) + 2(D + R)−4 + 2D −4
−4

Para N = 7 e n = 4, temos SIR = 17 dB, o que é aproximadamente o


mı́nimo de qualidade dos velhos sistemas FDMA, que é de 18 dB. No entanto,
lembre-se que 17 dB é a análise de um usuário na borda, o que é o pior caso.
Portanto, N = 7 continua sendo utilizado.
O planejamento de frequências tratado até aqui diz respeito aos canais de
usuário, onde trafegam os dados propriamente ditos. O planejamento para
os canais de controle seguem um princı́pio parecido. Seus requisitos de SIR
são mais altos, o que obriga o sistema a fazer um planejamento com fator de
reúso mais alto, tipicamente 21. No entanto, como menos de 10% dos canais
são usados para controle, consegue-se fazer esse tipo de planejamento.

1.4.2 Interferência de Canal Adjacente


Imagine uma situação em que dois usuários estão transmitindo dentro de
uma célula. Um deles está próximo à estação e outro está longe, na borda
da célula. Considere que ambos estão transmitindo com a mesma potência.
Com isso, o sinal do usuário mais próximo à estação vai chegar com potência
bem maior que a do usuário que está longe. Essa situação é ilustrada na
Fig.13.
O sinal do usuário mais próximo pode interferir no sinal do usuário mais
distante, gerando o chamado efeito near-far. Nos sistemas com base em
CDMA, todos os usuários estão transmitindo ao mesmo tempo e na mesma
faixa de frequência. O sinal de cada usuário é modulado por um código

10
Figura 13: Efeito Near-far.

de espalhamento diferente. Os códigos são ortogonais entre si. Caso haja


uma diferença de potência muito grande, causada por exemplo por um efeito
near-far, o sinal de um usuário pode interferir no outro usuário para o caso
de haver uma pequena perda de ortogonalidade.
Para o CDMA, a palavra canal, no sentido de recurso de sistema, está
associado a um código de espalhamento. O efeito near-far pode causar inter-
ferência entre usuários com canais diferentes no CDMA, gerando a chamada
Interferência de Canal Adjacente.
No caso de usuários de sistemas de hı́bridos TDMA-FDMA, o efeito near-
far pode causar interferência entre dois usuários que estejam usando faixas de
frequências adjacentes ao mesmo tempo na mesma célula, causando também
a Interferência de Canal Adjacente.
Duas medidas são usadas para diminuir o efeito da Interferência de Canal
Adjacente: utilização de filtros com faixas de rejeição adequadas e um projeto
que evite o uso de faixas contı́guas de frequência na mesma célula. Um filtro
com uma faixa de rejeição adequadamente projetada no seus limites e na
atenuação evita que o sinal do usuário atual vaze para canais adjacentes, já
o projeto que evita canais adjacentes na mesma célula evita a Interferência
de Canal Adjacente, que recai no mesmo caso da CCI.

1.4.3 Planejamento de Entroncamento (Trunking)


Os sistemas celulares são planejados para ter mais usuários que canais
disponı́veis, visto que na maior parte do tempo há poucos usuários no sistema.
A medida da probabilidade de um usuário ser capaz de acessar o sistema é
chamada de Grau de Serviço (GoS).
Quando um usuário solicita um serviço e todos os canais já estão em uso,
há duas possibilidades. O acesso pode ser negado ou é utilizada uma fila para
manter os usuários até os canais ficarem disponı́veis.
Com base nessas duas possibilidades quando não há canais disponı́veis,

11
surgem dois tipos de encontramento. O primeiro caso é chamado de chamadas
bloqueadas liberadas, em que o usuário é desconectado quando não há canais
disponı́veis. O grau de serviço é dado pela fórmula Erlang B:

AC /C!
Pr[Bloqueio] = C
, (6)
P
Ak /k!
k=0

onde A é o tráfego total e C é o número de canais no entrocamento.


No caso de chamadas bloqueadas adiadas, a medida de GoS é a proba-
bilidade de a chamada ser bloqueada após um atraso maior que t. Pode ser
provado que:

Pr[atraso > t] = Pr[atraso > 0] exp(−(C − A)t/H), (7)

onde H é a média de duração de uma chamada e o valor de Pr[atraso > 0] é


dado pela fórmula Erlang C, que calcula a probabilidade de não se ter acesso
imediato ao canal:
AC
Pr[atraso > 0] = C−1
. (8)
A Ak
P
AC + C!(1 − C
) k!
k=0

Tendo estudado o básico da teoria de células e alguns princı́pios de en-


troncamento, vamos passar agora às possibilidades de mudança no número
de usuários do sistema.

1.4.4 Mudando a Cobertura: Microcélulas


O reúso de frequências e o número finito de canais limitam o número de
usuários no sistema. Considerando uma área urbana que esteja em expansão
imobiliária, num dado momento a cobertura celular se tornará insuficiente.
Nessa situação, pode ser realizado um procedimento de divisão celular, como
mostrado na Fig.14.

Figura 14: Processo de Divisão Celular.

12
Considere uma célula hexagonal com distância R até os seus vértices.
É dito que a célula tem raio R. No caso de divisão celular, as novas célu-
las têm raio R/2. Com isso, pode-se diminuir a potência de transmissão,
mantendo-se a SIR. Numa célula com alguns obstáculos, reduz-se a potência
de transmissão em algo em torno de 10 dB, mantendo-se a SIR. As novas
células geradas recebem o nome de microcélulas.
Somente algumas células são divididas a cada vez. Com isso, há con-
vivência de cálulas com tamanhos diferentes e com potências diferentes de
transmissão. Isso gera reflexos na polı́tica de alocação de canais para se evi-
tar a CCI. Em algumas situações, há sobreposição de cobertura entre células
novas e antigas. Usa-se então a abordagem de células guarda-chuva, dando
cobertura dos móveis mais rápidos nas células maiores. Mudanças eventuais
na cobertura da célula podem ser feitas através de modificações no downtilt
da antena na estação.

1.4.5 Mudando a Cobertura: Setorização


A utilização de uma célula de maneira como está descrito aqui pressupõe
que seja utilizada uma antena omnidirecional, de modo que seu comporta-
mento seja previsı́vel, de acordo com a distancia ao centro da célula. Uma
abordagem alternativa é a instalação de antenas direcionais, dividindo a cé-
lula em setores. Essa abordagem recebe o nome de setorização. Os canais
costumam ser divididos de maneira uniforme na setorização, como visto na
Fig.15.

B
G C
A1 A1
A2 A2
A3 A3
F D
E

Figura 15: Setorização da célula “A” de forma padronizada.

Na Fig.16 é mostrada uma setorização de 120o . A célula “A” é dividida


em 3 setores: A1, A2 e A3. Com o posicionamento padronizado de A1
sempre como superior esquerdo, A2 do lado direito e A3 inferior esquerdo,
mantêm-se as distâncias entre A1s de clusters diferentes, mantendo o nı́vel
de CCI. Em geral, a setorização é feita particionando uma célula em 3 setores
(denominada setorização de 120o ) ou em 6 setores (setorização de 60o ).

13
Como já foi mencionado, na setorização são usadas antenas direcionais.
Imagine que no caso da Fig.15, as antenas estão localizadas no centro da
célula e a antena responsável por A2 seja direcionada para a direita, como
mostrado na Fig.16.

A2e A2d

Figura 16: Antenas direcionais responsáveis pelos setores A2.

Pela Fig.16, o sinal gerado na antena de A2e interfere nos móveis em


A2d. Os móveis em A2e não sofrem interferência da antena em A2d. Gene-
ralizando, tal raciocı́nio, os móveis nos setores A2 só sofrem interferência de
células à sua esquerda, assim como para setores A1, só há interferência de
células localizadas abaixo e à direita.
Uma desvantagem da setorização é o aumento na quantidade de han-
doffs do sistema, pois a cobertura passa a ser reduzida a um setor da célula.
Nas versões mais recentes do GSM, é possı́vel a mudança de setor dentro da
mesma célula sem a intervenção da MSC, tornando o procedimento menos
custoso. A utilização de canais reservados para cada setor também dimi-
nui a eficiência de algoritmos de entroncamento, reduzindo a capacidade do
sistema.
Além da divisão de células e da setorização, a cobertura de um sistema
celular pode ser modificada através da instalação de repetidores, que são
equipamentos com arquitetura simples repetindo o sinal recebido mas com
um ganho em relação ao sinal original, estendendo a cobertura do sistema.
A desvantagem desse esquema é que ruı́do e interferência também são am-
plificados.

1.4.6 Mudando a Cobertura: Zona de Microcélula


Na Zona de Microcélula, há várias antenas posicionadas na borda, todas
ligadas a uma mesma estação-base, como mostrado na Fig.17.
Quando um móvel se movimenta dentro da célula, ele é atendido pela
antena com sinal mais forte. Não há handoff na troca de zona, diferentemente
da setorização. O usuário mantém o mesmo canal de rádio dentro da célula.

14
Seletor de Zona Estacao−Base

Figura 17: Zona de Microcélula.

A redução de CCI não ocorre de forma tão significativa quanto no caso da


setorização.

2 Perda de Percurso
Os sistemas estudados neste curso possuem uma caracterı́stica comum:
apresentam um meio de propagação aéreo, sem fio.
Como não há um guia de onda, o meio aéreo apresenta atenuações num
nı́vel mais forte que no caso dos meios cabeados. Imagine um sistema em
que há duas antenas colocadas à beira de um penhasco, como mostrado na
Fig.19.

Figura 18: Transmissão à beira de um penhasco.

Na situação da Fig.19 há visada direta entre a antena transmissora (es-


querda) e a antena receptora (direita). Pela geografia do local não há reflexões
do sinal original que chegam na antena receptora. Nessa situação, mesmo que

15
a antena de transmissão seja diretiva, há uma perda de potência durante a
propagação do sinal, devido à dispersão da potência transmitida. Esse tipo
de atenuação é modelado pelos modelos de perda de percurso (Path Loss).
Além desse tipo de atenuação, são também modeladas influências de vá-
rios fatores ambientais, como reflexão, difração e dispersão (scattering).
Há vários efeitos localizados no sinal que só perduram por uma distância
curta, ou um intervalo curto no tempo. Esses efeitos são chamados de des-
vanecimento de pequena escala (small-scale fading), cujos modelos analisam
efeitos da ordem de grandeza do comprimento de onda do sinal. Para efeitos
que perduram por uma extensão maior que o comprimento de onda temos o
desvanecimento de larga escala (large-scale fading). O estudo da perda de
percurso corresponde exatamente ao desvanecimento de larga escala e seus
modelos.
A Fig.18 representa uma situação de propagação conhecida como Modelo
de Espaço Livre. Nessa situação, a potência na antena R é função da distância
que separa T e R a partir da equação do espaço livre de Friis:
P t Gt Gr λ 2
Pr (d) = , (9)
(4π)2 d2 L
onde Pt é a potência transmitida em T, Gt é o ganho da antena transmis-
sora Gr é o ganho da antena receptora, λ é o comprimento de onda central
transmitido e L é o fator de perda do sistema, onde L ≥ 1.
O ganho de antena G está relacionado à abertura efetiva Ae da antena
por:
4πAe
G= , (10)
λ2
onde Ae é a abertura efetiva da antena. A abertura efetiva de uma antena
receptora representa uma área perpendicular à direção de propagação por
onde passa uma potência equivalente à recebida. De maneira dual, essa
definição é utilizada para a transmissora.
O parâmetro L reúne o efeito de variadas perdas, como perdas de linha,
no filtro e nos circuitos de aquisição. O valor L = 1 é um indicador quando
não há perdas no sistema.
Considere uma antena que irradia com ganho unitário independentemente
da direção. Essa antena ideal é referenciada como um irradiador isotrópico.
A potência EIRP (Effective Isotropic Radiated Power) representa a potência
de um transmissor na direção de ganho máximo, em comparação com um
irradiador isotrópico, com unidade dBi (ganho em dB em relação à antena
isotrópica).
Uma medida alternativa é a ERP (Effective Radiated Power), que repre-
senta a potência irradiada na direção de ganho máximo em comparação com

16
uma antena dipolo de meia-onda, com unidade dBd. Como um dipolo de
meia-onda tem ganho de 2,15 dB em relação à isotrópica, a ERP será 2,15
dB menor que a EIRP para uma dada antena.
A grandeza perda de percurso (PL) é definida como a razão entre a po-
tência transmitida e a recebida, que representa a atenuação do sinal no meio.

Gt Gr λ 2
 
Pt
PL(dB) = 10 log = −10 log . (11)
Pr (4π)2 d2

Alternativamente PL é definido de modo a não incluir o ganho das antenas:

λ2
 
P Lalt = −10 log . (12)
(4π)2d2

Quanto maior for o valor de PL, maior será a atenuação do meio. Por-
tanto, para uma potência transmitida fixa, menor será a potência recebida
num dado meio.
O modelo utilizado aqui se baseia numa situação de campo distante, ou
região de Fraunhofer. Nessa região, passam a ser válidas uma série de su-
posições sobre o sinal transmitido, como a aproximação de frente de onda
plana. A distância mı́nima para a validade dessas suposições é denominada
distância de Fraunhofer dada por:

2D 2
df = , (13)
λ
onde D é a maior dimensão da antena e λ é o comprimento de onda central
utilizado. São impostas duas restrições sobre df :

df >> D, (14)
df >> λ. (15)

Como já foi visto, existe uma distância de referência d0 a partir da qual
são calculadas as potências. Pela teoria exposta aqui, temos que d0 > df .
Nessas condições, pode-se calcular:
 2
d0
Pr (d) = Pr (d0 ) , d ≤ d0 ≤ df , (16)
d

em escala linear, ou o equivalente em dBm:


   
Pr (d0 ) d0
Pr (d)[dBm] = 10 log10 + 20 log , d ≤ d0 ≤ df , (17)
0, 001 d

17
Area

Figura 19: Relação entre a potência transmitida e a abertura de antena.

2.1 Relação entre Potência e Campo Elétrico


Considere mais uma vez o conceito de abertura de antena visto anterior-
mente. A representação da abertura de antena Ae e da potência transmitida
Pr (d) através de uma certa área podem ser vistas a seguir, na Fig.20.
A relação entre Ae e Pr (d) é feita através do parâmetro densidade de fluxo
de potência ρ que mede a quantidade de potência que atravessa uma dada
área. Em geral, o valor de ρ pode ser obtido através da intensidade do campo
elétrico por:
Pr (d) |E|2 |E|2
ρ= = = , (18)
Ae Rf s η
onde Rf s é a impedância intrı́nseca de espaço livre e η é a impedância de
onda, isto é, a razão entre as componentes transversais dos campos elétrico e
magnético. O valor de Rf s é aproximadamente 376,7 Ω. Com isso, a relação
entre campo elétrico e potência transmitida é dada por:
|E|2Ae |E|2Ae
Pr (d) = = . (19)
Rf s 376, 7

2.2 Fenômenos Relacionados à Propagação


O meio aéreo de transmissão está sujeito a vários obstáculos com carac-
terı́sticas imprevisı́veis e variantes no tempo. A partir da interação entre as
ondas transmitidas e os obstáculos do meio, surge uma série de fenômenos que
descrevem a propagação dos sinais, como a reflexão, difração e espalhamento.

2.2.1 Reflexão
A onda eletromagnética propaga-se num meio de transmissão e atinge
fronteiras para outros meios. O novo meio de transmissão pode ser um obs-
táculo fı́sico no caso do meio aéreo. Ao atingir a fronteira, parte da onda é

18
transmitida, parte refletida e parte absorvida. A onda refletida pode vir a
interferir com a onda transmitida original, o que torna importante seu estudo.
Considere a situação em que uma onda eletromagnética com campo elé-
trico E no plano de incidência atinge um dielétrico, como mostrado na Fig.20.

Ei Er

Hi
Hr

Meio 1 ε1 µ σ
1 1
θi θr

θt

Meio 2 ε2 µ 2 σ
2

Et

Ht

Figura 20: Onda com campo E no plano de incidência.

Os parâmetros ǫ1 , µ1 e σ1 representam a permissividade, a permeabilidade


e a condutância no meio original, respectivamente. Os parâmetros ǫ2 , µ2 e
σ2 representam os mesmos parâmetros no novo meio.
Caso o meio novo seja um dielétrico perfeito, não há absorção no meio.
Com isso, a permissividade será a mesma para toda a faixa de frequências,
dada por ǫ = ǫ0 ǫr , onde ǫ0 = 8, 85 · 10−2 F/m. No caso de o dielétrico não
ser perfeito, temos:

ǫ = ǫ0 ǫr − , (20)
2πf

onde j = −1 e σ é a condutividade do meio.
Parâmetro importante para caracterizar a reflexão é o Coeficiente de Re-
flexão de Fresnel Γ. Para o caso de E no plano de incidência, como na Fig.21,
Γ é obtido por:
Er η2 sin θt − η1 sin θi
Γ= = , (21)
Ei η2 sin θt + η1 sin θi
p
onde η = µ/ǫ é a impedância intrı́nseca do meio. Temos sempre que
Er = ΓEi e Et = (1 + Γ)Ei . Lembre-se que a Lei de Snell da óptica continua
válida para esse sistema: η1 sin( π2 − θi ) = η2 sin( π2 − θr ). Além disso, θi = θr .
Considere agora a situação em que o campo E está normal ao plano de
incidência, como mostrado na Fig.21.
Várias das grandezas descritas para a Fig.21 continuam válidas para o
caso do campo E normal ao plano de incidência. O valor de Γ muda de

19
Ei Er

Hi Hr

Meio 1 ε1 µ σ
1 1
θi θr

θt
Meio 2 ε2 µ 2 σ
2

Et
Ht

Figura 21: Onda com campo E normal ao plano de incidência.

acordo com a equação a seguir.


Er η2 sin θi − η1 sin θt
Γ= = , (22)
Ei η2 sin θi + η1 sin θt
Para haver diferenciação, usa-se Γk para o caso de E no mesmo plano
(Fig. 21) e Γ⊥ para o caso de E no plano normal, como na Fig. 22.
Até o momento, foi a analisada a situação de propagação em dielétricos.
Se a onda transmitida incide sobre um condutor perfeito, a onda é comple-
tamente refletida, sem onda transmitida nem absorvida. No caso de E estar
no plano de incidência, então Ei = Er , ou seja, Γk = 1. No caso em que E
é perpendicular ao plano de incidência, então Ei = −Er , ou seja, Γ⊥ = 1.
Lembre-se que continua sendo válida a condição θi = θr .
Considere agora a situação da Fig. 21, ou seja, E no plano de incidência.
Pode ser mostrado que, para θB tal que
r
ǫ1
sin(θB ) = , (23)
ǫ1 + ǫ2

não há reflexão para o meio de origem. O ângulo θB recebe o nome de Ângulo
de Brewster.
Nesta subseção foi feita uma descrição resumida do fenômeno da reflexão
para ondas eletromagnéticas. A seguir, será descrita uma modelagem com
base na teoria de reflexão estudada.

2.2.2 Modelo de Dois Raios


Em ambientes de comunicações sem fio, é razoável se esperar que a comu-
nicação entre a antena transmissora e uma receptora tenha reflexões no chão.
Convencionalmente, se ambas as antenas se encontram acima do chão por 50

20
m, então é razoável se pensar que só haverá uma reflexão no chão. Nessas
condições, é formulado um modelo de propagação com perda de percurso
em que há entre transmissor e receptor um raio principal em visada direta e
um raio secundário, que reflete no chão e interfere com o primeiro raio. É o
chamado Modelo de Dois Raios, representado na Fig. 22.
Transmissor

E LOS
Receptor

ht hr
Ei
Er = E g

θi θr

Figura 22: Propagação com Modelo de Dois Raios.

Uma hipótese importante nesse modelo de 2 raios é que o chão onde há a
reflexão é considerado plano (a curvatura da Terra e irregularidades não são
consideradas). Na Fig. 22, Ei é o campo elétrico emitido no raio secundário,
ELOS é o campo no raio em visada direta e Er é o campo após a reflexão.
O principal interesse é o cálculo de ET ot , o campo elétrico total gerado pela
interferência de Ei com Er .
Todos os valores de campo elétrico são medidos em relação a um campo
E0 , medido a uma distância d0 a partir do transmissor. Nessa situação, para
uma distância d > d0 , o campo E é dado por:
 
E0 d0 d
E(d, t) = cos(ωc t − ), d > d0 , (24)
d c
onde ωc = 2πfc é proporcional à frequência de transmissão e c é a velocidade
E0 d0
de propagação. Com isso, observa-se que E(d, t) = na distância de d
d
metros do trasmissor.
Pode ser provado que o campo elétrico devido à componente de visada
direta tem o valor:
d′
 
′ E0 d0
ELOS (d , t) = cos(ωc t − ). (25)
d′ c
O componente refletido Er é obtido por:
d′′
 
′′ E0 d0
Er (d , t) = Γ ′′ cos(ωc t − ). (26)
d c

21
Temos ainda: Er = ΓEi e ET ot = (1 + Γ)Ei . Pode ser provado que, para
valores pequenos de θi (ou seja, o raio secundário incide praticamente na
horizontal), a onda refletida tem a mesma magnitude e está 180o defasada
com a onda incidente. Com isso, o campo elétrico total para θi pequeno é
dado por:

d′ d′′
   
E0 d0 E0 d0
ET ot (d, t) ≈ cos(ωc t − ) − ′′ cos(ωc t − ). (27)
d′ c d c

Alternativamente, pode ser usada uma abordagem geométrica para se


descobrir o valor do campo elétrico em cada ponto. No Método das Imagens,
é feita uma construção geométrica auxiliar, espelhando o desenho original de
forma a poder desenvolver um raciocı́nio baseado na geometria. Isso pode
ser visto na Fig. 23.

d
ht− h r

ht
hr
ht + h r
d

hr
ht

Figura 23: Construção de figura auxiliar pelo Método das Imagens.

Percebe-se que, na construção mostrada na Fig. 23, fica bem mais fácil
visualizar e estabelecer relações com d′′ , que é o comprimento do caminho
auxiliar. Considere ∆ como o caminho entre a visada direta e o caminho
secundário, então:
p p
∆ = d′′ − d′ = (ht + hr )2 + d2 − (ht − hr )2 − d2 , (28)

utilizando o Teorema de Pitágoras.


Quando d ≫ ht +hr , pode ser provado que a seguinte aproximação é feita:
2ht hr
∆ = d′′ − d′ = .
d

22
Como já foi visto, o valor da magnitude do campo elétrico em um dado
E0 d0
ponto é calculado por |E(d, t)| = . Quando d ≫ ht + hr , d′′ ≈ d′ ≈ d.
d
E0 d0 E0 d0
Com isso, |E(d, t)| ≈ | ′ | ≈ | ′′ |.
d d
Ao se utilizar a teoria de diagrama fasorial, então pode-se escrever que:
s 2  2
E0 d0 2
E0 d0 E0 d0 p
|ET ot (d)| = (cos θ∆ − 1) + (sin θ∆ )2 = 2 − 2 cos θ∆ ,
d d d
(29)
onde θ∆ representa a diferença de fase entre ELOS e Er . Essa fase θ∆ pode ser
2π∆ ωc ∆
escrita como θ∆ = = . Alternativamente, outra expressão utilizada
λ c
2E0 d0
para o cálculo de ET OT (d) é dada por ET OT (d) = sin(θ∆ /2).
d′
Quando se aumenta o valor de d, os valores de d e d′′ se tornam mais
próximos. Assim, θ∆ torna-se pequeno e sin(θ∆ /2) ≈ θ∆ /2, o que é válido
θ∆
caso < 0, 3 rad. Pode ser provado que essa condição é equivalente a
2
d > 20ht hr /λ. Com isso, o campo recebido ET OT pode ser obtido a par-
2E0 d0 2πht hr k
tir de ET OT (d) = ≈ 2 V/m, onde k incorpora o efeito de
d λd d
h2 h2
4πE0 d0 ht hr /λ. Com isso, a potência recebida é obtida por Pr = Pt Gt Gr t 4 r .
d
A perda de percurso em dB é calculada por P L[dB] = 40 log(d)−(10 log(Gt )+
10 log(Gr ) + 20 log(ht ) + 20 log(hr )).

2.2.3 Difração
Num ambiente sem fio de propagação, a frente de onda transmitida pode
atingir obstáculos. Esses obstáculos podem causar uma zona de sombra para
toda a região obstruı́da, como mostrado na Fig. 24.

Transmissor

Receptor

Zona de Sombra

Obstaculo

Figura 24: Representação de uma zona de sombra causada por um obstáculo.

23
Ao contrário do que é intuitivo imaginar, é possı́vel que haja sinal na
região de sombra. Esse fenômeno é chamado de difração. A difração torna-se
mais perceptı́vel quando obstáculos têm dimensões na mesma ordem de gran-
deza do comprimento de onda transmitido. A teoria que explica a difração
é o princı́pio de Huygens, segundo o qual uma frente de onda se comporta
como se cada um dos seus elementos fosse uma fonte pontual.
Considere que o obstáculo da Fig. 24 tenha apenas uma pequena altura
acima da visada direta entre transmissor e receptor. Nessas condições, os
efeitos referentes à difração são mais pronunciados, gerando o chamado efeito
knife-edge, ou difração por knife-edge. A representação do sistema é mostrada
na Fig. 25.
Transmissor
h Receptor

Obstaculo

d d
1 2

Figura 25: Sistema em que o obstáculo se ergue a uma pequena distância h


acima da visada direta, gerando o efeito knife-edge.

Como se pode observar da Fig. 25, o caminho entre transmissor e receptor


acaba sendo maior do que o caminho se não houvesse obstáculo, correspon-
dente à visada direta. Pode ser provado que a extensão do caminho em ex-
cesso ∆, que mede exatamente essa diferença no comprimento dos percursos,
é dada por:
h2 d1 + d2
∆≈ . (30)
2 d1 d2
Com isso, a diferença de fase entre os percursos é

∆ 2π h2 d1 + d2
φ = 2π = . (31)
λ λ 2 d1 d2
Percebe-se então que a extensão do percurso em excesso é função da altura
do anteparo acima da linha de visada e de suas distâncias para o transmissor
e receptor.

24
2.2.4 Difração e Zonas de Fresnel
A descrição de Zonas de Fresnel relaciona o comprimento de um percurso
secundário, que efetivamente liga transmissor e receptor, à diferença de fase
em relação ao percurso em visada direta. Considere um sistema com apenas
um transmissor e um receptor, com um plano transparente, como mostrado
na Fig.26.
d d
1 2

Transmissor Receptor

Figura 26: Transmissor, receptor e plano transparente com as Zonas de Fres-


nel numeradas.

Na Fig. 26, os cı́rculos concêntricos representam locais no plano (que


funcionam como origens de ondas secundárias) que se propagam entre T e
R de modo que seu percurso é maior que o da visada direta com ∆ = nλ/2,
sendo n inteiro. As sucessivas Zonas de Fresnel apresentam interferência
construtivar e destrutiva, respectivamente. O raio do n-ésimo cı́rculo é obtido
nλd1 d2
por rn ≈ . O raio rn será máximo no caso de o anteparo se localizar
d1 + d2
exatamente no meio do caminho entre T e R, ou seja, d1 = d2 na Fig. 26. A
aproximação de rn acima é válida se d1 >> rn e d2 >> rn .
A difração ocorre quando algumas das Zonas de Fresnel são bloqueadas
por um obstáculo. Com isso, apenas parte da energia alcança o receptor.
A energia recebida será uma soma vetorial das contribuições de energia de
todas as Zonas de Fresnel que não sofreram obstrução no percurso entre T e
R. Voltando à Fig. 26, com um obstáculo pontiagudo entre T e R. Isso pode
ser representado com mais detalhes na Fig. 27.
Na Fig. 27 estão representadas as elipsoides que mostram pontos do
espaço em que a distância de excesso em relação à visada direta ∆ é um
múltiplo de λ/2. Essas elipsoides são as Zonas de Fresnel. Somente as elip-
soides que estão desobstruı́das contribuem para a difração. Caso a obstrução
nao bloqueie nem a primeira Zona de Fresnel (h < λ/2), então não há perda
significativa no sinal devido à difração.

25
d d
1 2

Transmissor Receptor
h

Foco 1 Foco
das das
Elipses
Elipses 2

Figura 27: Transmissor e receptor com obstáculos e Zonas de Fresnel obs-


truı́das.

2.2.5 Difração em Modelos Knife-Edge


Assim como no caso da reflexão onde foi estudado o modelo de dois raios,
agora será estudado um modelo que pressupõe a presença de difração. Aqui
será visto o modelo de difração de gume de faca (knife edge). O caso knife
edge corresponde a uma situação em geral mais simples que as encontradas
na prática.
Voltando à Fig. 27, a intensidade do campo no receptor, localizado dentro
de uma zona de sombra corresponde à soma vetorial de todas as “fontes
secundárias”, geradas pelas elipsoides acima do knife-edge, como mostrado
na Fig. 28, onde um obstáculo está impedindo a visada direta no caminho
entre T e R.
d d
1 2

Fonte Secundaria

Transmissor Receptor
h

Foco Foco
das das
Elipses
Elipses

Figura 28: Fonte secundária, gerada pela Zona de Fresnel desobstruı́da.

Considere a extensão de caminho em excesso ∆ como o menor caminho


desobstruı́do entre T e R. Será um caminho em linha reta de T até o ponto

26
mais alto do obstáculo e de lá até R. Pode ser provado que
h2 d1 + d2
∆= . (32)
2 d1 d2
A diferença de fase para a visada direta é dada por:
2πh2 d1 + d2
φ= . (33)
2λ d1 d2
Normalizando-se φ, obtém-se:
s
2(d1 + d2 )
ν=h , (34)
λd1 d2

onde ν é conhecido como parâmetro de Fresnel-Kirchoff.


A razão Ed /E0 = F (ν), conhecida como integral de Fresnel, é uma função
tabelada para valores distintos de ν. A integral de Fresnel F (ν) representa
o ganho de difração devido à presença do knife-edge em comparação com o
campo E0 .
Em algumas situações, há ambientes de propagação com múltiplos obstá-
culos do tipo knife-edge. Nessas situações, em geral, recorre-se à equivalência
por fórmulas matemáticas entre a presença de múltiplos knife-edges e de um
knife-edge com altura calculada. Isso torna o modelo de difração de knife-
edge ainda mais importante.

2.2.6 Espalhamento
Em geral, percebe-se que o sinal medido em um ambiente de propagação
de rádio é mais forte que o previsto nos modelos com reflexão e difração.
Quando uma onda de rádio se choca com uma superfı́cie dita áspera, sua
energia é espalhada, devido a uma reflexão difusa, sem direção especı́fica.
Aqui denominaremos este fenômeno como espalhamento.
Considere a situação da Fig. 29. Como pode ser visto, raios de uma
mesma frente de onda refletem em partes diferentes da superfı́cie. Pode ser
provado que a diferença de fase da nova “frente de onda” é dada por:
4π∆h sin θ
∆φ = . (35)
λ
sendo ∆h a diferença de altura entre a protuberância mı́nima e a máxima,
enquanto θi é o ângulo de incidência. Se ∆h << λ então a diferença de fase
∆φ será muito pequena, ou seja, os dois raios estão em fase, compondo uma
mesma frente de onda. Isso caracteriza uma reflexão direcional e não difusa.

27
Figura 29: Situação de superfı́cie áspera com reflexão difusa.

Um critério adotado é de que para ∆φ > π/2 tem-se uma reflexão difusa.
Nesse caso,
4π∆h sin θ π λ
∆φ = > → ∆h > (36)
λ 2 8 sin θ
Com isso, uma superfı́cie é considerada áspera, ou seja, os efeitos da
dispersão não podem ser desprezados para determinado ângulo θi se ∆h >
λ
.
8 sin θ
Para superfı́cies ásperas, o coeficiente de reflexão Γ deve ser multiplicado
pelo fator de perda de dispersão ρs . Essa variável pode ser modelada por:

ρs = exp[−8(πσn sin θ/λ)2 ], (37)

onde σn é o desvio padrão na altura da superfı́cie.


Um parâmetro ligado ao espalhamento é a seção cruzada de radar (RCS),
definida como a razão entre a densidade de potência do sinal disperso na
direção do receptor pela densidade de potência da onda incidente.

2.2.7 Modelo de Espalhamento com RCS


Um modelo de espalhamento contendo RCS é utilizado para sistemas de
radar. A perda de percurso encontrada é definida por:

Pr [dBm] = Pt [dBm] + Gt [dBi] + 20 log(λ) +


RCS[dB ṁ2 ] − 30 log(4π) − 20 log(dt ) − 20 log(dr ), (38)

onde dt é a distância do objeto onde ocorre a dispersão em relação ao trans-


missor. Essa distância deve ser tal que o objeto esteja no campo distante
do transmissor. Além disso, dr é a distância até o receptor. RCS pode ser
aproximada pela seção de área do objeto que causa espalhamento, medida
em escala dB com referência 1m2 .

28
2.3 Link Budget
No projeto de um sistema de comunicações sem fio, deve-se projetar
quanto um dado enlace entrega de potência ao receptor fazendo-se uma con-
tabilidade de ganhos e perdas de potência ao longo do percurso. Esse tipo
de projeto recebe o nome de Link Budget.
O projeto de link budget pressupõe a utilização de modelos de propagação
que têm por base expressôes analı́ticas consagradas, e utilizado sobre dados
experimentais.
Os modelos de perda de percurso fornecem uma modelagem de quanto
é a principal perda de potência no ambiente. Serão vistos a seguir alguns
modelos utilizados para calcular perda de percurso em link budget.

2.3.1 Modelo de Log-Distância


Em geral, a perda de percurso em um dado ambiente é proporcional à
distância com expoente n, isto é, a média da perda
 nde percurso P L(d) na
d
distância d de percurso é proporcional à razão , onde n é o expoente
d0
de perda de percurso. No espaço livre, temos n ≈ 2.
Em escala logarı́tmica, a equação de perda de percurso é obtida por:
d
P L(d)[dB] = P L(d0 )[dB] + 10n log( ). (39)
d0
A distância d0 de referência deve ser escolhida no campo distante de
modo que os efeitos de campo próximo não alterem a percepção de perda.
O expoente n descreve as perdas do ambiente. Quando há visada direta, a
tendência é temos n menor. Por outro lado, áreas de sombreamento geram
n grande.

2.3.2 Sombreamento Log-Normal


Nos ambientes sem fio, há efeitos de sombreamento de curta duração.
Esses efeitos causam mudanças aleatórias na potência. Com isso, a potência
recebida passa a ser modelada como uma variável aleatória, ou seja,
 
d
P L(d)[dB] = P L(d0 )[dB] + 10n log + Xc , (40)
d0

onde Xc é uma variável aleatória na escala dBm com distribuição gaussiana,


média zero e desvio padrão σ. Os valores dessas variáveis são geralmente
encontradas a partir de dados experimentais.

29
Na equação acima, os dois primeiros termos são valores determinı́sticos
não-nulos. O terceiro é uma distribuição gaussiana com média zero e desvio
padrão σ. Com isso, P L(d) torna-se uma variável com média não-nula e
desvio padrão σ.

2.3.3 Link Budget em Planejamento de Cobertura


No planejamento de cobertura celular, por vezes é interessante descobrir
a área que está com sinal abaixo de um patamar γ pré-determinado. Essas
áreas demandam um reforço de cobertura.
Considere um cı́rculo de cobertura de raio R a partir de uma estação.
Estamos interessados em calcular U(γ), que é o percentual da área em que o
sinal recebido tem potência maior que γ. Com isso, U(γ) é calculado por:

1
Z
U(γ) = P (Pr (r) > γ)dA, (41)
πR2

onde Pr (r) denota a potência recebida no cı́rculo de raio r e P (Pr (r) > γ) é
a probabilidade da potência recebida no cı́rculo de raio r ser maior do que γ.
A expressão para P (Pr (r) > γ) é dada em função de Q, ou erro comple-
mentar erfc():
γ − P¯r (d)
 
P [Pr (d) > γ] = Q (42)
σ
¯ 
Pr (d) − γ
e P [Pr (d) < γ] = −P [Pr (d) > γ] = Q .
σ
A função Q() é dada por:
Z∞
1
Q(y) = erfc(y) = √ exp(−x2 /2)dx. (43)

y

2.4 Modelos de Perda de Percurso em Ambientes Outdoor


Nesta subseção serão apresentados modelos para perda de percurso em
ambientes outdoor englobando efeitos dos fenômenos de reflexão, difração e
dispersão, mostrados anteriormente.

2.4.1 Modelo de Longley-Rice


O modelo de Longley-Rice, também conhecido como Irregular Terrain
Model (ITM), é um modelo empı́rico para comunicações ponto-a-ponto na
faixa entre 40 MHz e 100 GHz em diferentes tipos de terreno.

30
Quando um perfil do terreno está disponı́vel, os parâmetros do caminho
são especificados e a estimação é feita no chamado modo ponto-a-ponto. Caso
o perfil de caminho não está disponı́vel, Longley-Rice oferece algumas esti-
mativas no “Modo de área”. O modelo original foi modificado para modelar
propagação em áreas urbanas. O modelo sofre de alguma limitações quanto
à modelagem de múltiplas reflexões e de difração.
O método de Durkin é uma das implementações utilizadas para o modelo
de Longley-Rice, onde a propagação é modelada como tendo apenas a visada
direta e algumas difrações. Na variação encontrada no algoritmo de Edwards-
Durkin, a propagação é modelada como tendo a visada e mais duas arestas
de difração.

2.4.2 Modelo de Okumura


O modelo de Okumura foi originalmente desenvolvido para previsão de
sinal em áreas urbanas. É um modelo aplicado a antenas cuja altura na
estação-base esteja entre 30 m e 1 km, para um campo a uma distância a
partir de 1 km e frequências na faixa entre 150 MHz e 1,9 GHz.
Okumura realizou uma série de medidas para antena da estação-base a
200 m de altura e antena no móvel a 3 m. Foram então medidas atenuações
para o espaço livre na faixa entre 100 MHz e 1,9 GHz e distâncias entre 1
km e 100 km. Com base nos dados Okumura calcula o valor das medianas
Amu (f, d) em função da frequência e distância.
O modelo de Okumura é dado por:
L50 [dB] = LF + Amu (f, d) − G(hte ) − G(hre ) − Garea , (44)
onde L50 representa a mediana de percurso, LF é a perda de percurso no
espaço livre, G(hte ) é o fator de ganho da altura da antena transmissora na
estação-base, G(hre ) é o fator de ganho na antena do móvel e Garea é o ganho
devido ao tipo de ambiente. Todas as grandezas são calculadas em dB. O
valor de hte é calculado por:
 
hte
G(hte ) = 20 log , 30m < hte < 1000m. (45)
200
Enquanto isso, G(hre ) é dado por:
(
10 log(hre /3), hre < 3m,
G(hre ) = (46)
20 log(hre /3), 3m < hre < 10m.
O fator de correção Garea depende do tipo de terreno, sendo maior para
áreas abertas e menor para áreas suburbanas. O modelo de Okumura em
geral não é utilizado para áreas rurais, sendo mais usado em ambientes ur-
banos.

31
2.4.3 Modelo de Hata
O modelo de Hata contém algumas modificações na modelagem de Oku-
mura a fim de dar suporte a uma quantidade maior de situações. Sua fórmula
básica é:

L50 [dB] = 69, 55dB+26, 16 log(fc )−13, 82 log(hte )−a(hre )+(44, 9−6, 55 log(hte )) log(d),
(47)
onde fc é a frequência central utilizada na transmissão, enquanto d é a dis-
tância de separação, em km, entre transmissor e receptor.
O parâmetro a(hre ) representa um fator de correção para altura efetiva
da antena do móvel que é uma função da área de cobertura. Para cidades
grandes, temos:
(
8, 29(log(1, 54hre )2 ) − 11[dB], fc ≤ 300MHz,
a(hre ) = 2
(48)
3, 2(log(11, 75hre ) ) − 4, 97[dB], fc < 300MHz.

Para cidades menores, usa-se a(hre ) = (1, 1 log(fc )−0, 7)hre −1, 56 log(fc )+
0, 8[dB].
A equação básica do modelo de Hata modela regiões urbanas. Para mo-
delar regiões suburbanas, a equação de Hata é modificada para:

L50 [dB] = L50,urb − 2(log(fc /28))2 − 5, 4, (49)

onde L50,urb é o L50 do cálculo para o modelo urbano.


No caso de regiões rurais, temos:

L50 [dB] = L50,urb − 4, 78(log(fc ))2 + 18, 33 log(fc ) − 40, 94. (50)

O grupo de trabalho europeu COST-231 estendeu o modelo de Hata para


2 GHz em ambiente urbano, fazendo algumas modificações na equação para
L50,urb .

L50,urb [dB] = 46, 3+33, 9 log(fc )−13, 82 log(hte )−a(hre )+(44, 9−6, 55 log(hte ) log(d)+CM ,
(51)
onde CM = 0dB para cidades médias e CM = 3dB para cidades grandes.
Para este caso, fc fica entre 1,5 GHz e 2 GHz, hte entre 30 m e 200 m, hre
entre 1 m e 10 m e d entre 1 km e 20 km.

2.4.4 Modelo de Walfisch-Bertoni


O modelo de Walfisch-Bertoni considera um ambiente de transmissão con-
sistindo de uma fileira de prédios, como mostrado a seguir.

32
Figura 30: Ambiente urbano com prédios, tı́pico do modelo Walfisch-Bertoni.

Nesse tipo de ambiente, a interferência predominante é a difração no


telhado dos prédios. Com isso, a perda de percurso L em escala linear é dada
por L = P0 T P1 , onde P0 é a perda de percurso no espaço livre, T é a perda
devido à geometria dos telhados dos prédios e P1 é a perda de difração no
telhado dos prédios. Na escala dB, tem-se L[dB] = P0 [dB] + T [dB] + P1[dB].
O termo P1 recebe o nome de perda de difração multiscreen.

2.5 Modelos Indoor


Nos grandes centros urbanos, existem muitos ambientes fechados, no quais
as condições de propagação são bastante diferentes dos ambientes outdoor.
Em geral, um modelo utilizado para perda de percurso em ambientes indoor
é a função log-normal:
P L[dB] = P L(d0 ) + 10n log(d/d0) + Xσ , (52)
onde n depende do ambiente e Xσ é uma variável aleatória gaussiana, em
escala dB, com média zero e desvio padrão σ.

2.5.1 Modelo de Seidel


O modelo de Seidel (ou modelo de fator de atenuação) para propagação
em ambientes indoor é mostrado a seguir:
P L[dB] = P¯L(d0 ) + 10nsf log(d/d0 ) + F AF [dB] +
X
P AF [dB], (53)
onde nsf é um expoente de atenuação de propagação dentro de um andar.
O parâmetro FAF (full atenuation factor) mede a atenuação quando há obs-
trução total, enquanto PAF (partial atenuation factor) considera obstáculos
que bloqueiam parcialmente o sinal. Por exemplo, a atenuação através de
um piso é 12,9 dB. O valor de nsf fica em geral em torno de 2,5 a 3.
Uma variação do modelo de Seidel considera uma dependência com a
distância.
P L[dB] = P¯L(d0 ) + 20 log(d/d0 ) + αd + F AF [dB] +
X
P AF [dB], (54)

33
onde fixou-se em 2 o valor do expoente de atenuação dentro do andar e α
designa uma atenuação multiplicativa na escala log em relação à distância.
Seus valores tı́picos ficam entre 0,2 e 0,7 dB/m.
A penetração do sinal de RF nos prédios é um problema a ser considerado.
Há várias situações em que as perdas são muito severas, da ordem de dezenas
de decibels. As perdas costumam ser maiores para frequências pequenas e
menores para altas frequências.

3 Desvanecimento em Pequena Escala


No caso da perda de percurso, a dispersão de uma onda eletromagnética
gerada por uma fonte pontual é predominante. Neste capı́tulo serão estu-
dados efeitos gerados pela interferência entre ondas eletromagnéticas, por
vezes provenientes de uma mesma fonte. Basicamente, são estudados três
efeitos: variações rápidas na intensidade do sinal, modulação na frequência
de transmissão variante no tempo e dispersão no tempo do sinal transmitido.
Alguns fatores fı́sicos ocorrem no ambiente de propagação influenciando o
funcionamento do sistema. A propagação com múltiplos percursos é uma de-
las. Versões do mesmo sinal defesadas no tempo interferem entre si, gerando
variações no nı́vel do sinal e também distorcendo o sinal original. Movimentos
relativos entre estação-base e móvel causam variações na frequência recebida
através do efeito Doppler. Movimentos de objetos dentro do canal modificam
a percepção de resposta do canal. Um sinal pode ser transmitido por um ca-
nal que possua uma banda menor que a do sinal, o que gera modificações no
formato do sinal recebido.
Considere a situação em que uma fonte de sinal S transmite em visada
direta para um passageiro de um carro que esteja se deslocando.
S

∆l

X θ ~ θ
=

Figura 31: Cenário de transmissão com carro em movimento, podendo causar


Efeito Doppler.

34
Considerando que o carro trafegue entre X e Y, a diferença nas extensões
de caminho é ∆l = d cos θ = v∆t cos θ, onde ∆t é o tempo que o móvel
demorou entre X e Y, e os ângulos com a distância até S são aproximadamente
iguais, dada a grande distância até a fonte. A mudança de fase no sinal
recebido é dada por
2π∆l 2πv∆t
∆φ = = cos θ. (55)
λ λ
A frequência angular percebida no receptor é exatamente ω = ∆φ/∆t.
Considerando que f = ω/(2π), então o desvio Doppler fD :
1 ∆φ v
fD = = cos θ. (56)
2π ∆t λ

3.1 Resposta ao Impulso de um Canal


Pelas caracterı́sticas gerais dos canais de comunicação sem fio, o sistema
pode ser modelado por um filtro com resposta ao impulso variante no tempo.
A natureza variante no tempo surge a partir da movimentação relativa entre
transmissor e receptor.
Considere uma pessoa no cenário da Fig. 32, caminhando a uma veloci-
dade constante v se afastando da torre. Considere a transmissão pelo lado
do downlink.

Figura 32: Pessoa se afastando da torre com uma velocidade v constante.

Para uma dada posição d, o canal entre a torre e o móvel é representado


por um sistema linear invariante no tempo. Nesse sistema são considerados
os múltiplos percursos, que são ondas que chegam ao móvel com atrasos após
reflexões. Cada sistema linear invariante no tempo depende então da posição
d e dos atrasos no tempo dos multipercursos. Por isso, a resposta do canal é
modelada como h(d, t).
O sinal transmitido x(t) não depende da posição em que está o móvel.
O sinal recebido pelo móvel y(d, t) é o resultado da convolução entre x(t) e

35
h(d, t), ou seja,
Z∞
y(d, t) = x(t) ∗ h(d, t) = x(τ )h(d, t − τ )dτ. (57)
−∞

Lambrando que v é constante temos que d = vt. Considerando também


que o sistema é causal, isto é, h(d, t) = 0 para t < 0, então:

Zt
y(vt, t) = x(τ )h(vt, t − τ )dτ = y(t), (58)
−∞

onde a última igualdade foi feita ao se considerar que v é uma constante,


isto é, y não depende da posição do móvel. Com isso, a resposta ao im-
pulso do canal passa a ser uma função apenas do tempo t e dos atrasos de
multipercurso τ . Com isso,
Z∞
y(t) = x(τ )h(t, τ )dτ = x(t) ∗ h(t, τ ). (59)
−∞

Sinais em banda passante possui um equivalente complexo em banda bá-


sica. Considere c(t) como o equivalente complexo a x(t), ou seja, x(t) =
Re{c(t) exp(j2πfc t)}. Pode ser provado que existe uma resposta ao impulso
hb (t, τ ) que seja equivalente em banda básica para h(t, τ ). Para essa situação,
1
r(t) = c(t) ∗ hb (t, τ ). O fator de 1/2 que aparece na equação ocorre por uma
2
normalização de energia, devido ao fato de x(t) ser equivalente a apenas à
componente real de c(t) exp(j2πfc t). Pode ser provado que a potência média
de x(t) é metade da potência de c(t).
Considerando a resposta em banda básica hb (t, τ ), é realizada uma sim-
plificação para se caracterizarem os multipercursos do sistema. Considera-se
que τ = 0 seja o instante de tempo em que se detecta a chegada do sinal no
receptor, em geral devido à propagação em visada direta. É então definida
uma janela de atraso com largura ∆τ e um atraso em excesso τi = i∆τ .
Cada janela de tempo representada por um τi é chamada de componente de
multipercurso. Considera-se que há N janelas de multipercurso de modo que
o máximo atraso em excesso seja dado por N∆τ .
Com o uso das janelas de tempo, cada i-ésimo componente de multiper-
curso possui uma amplitude ai (t, τ ) com atraso em excesso τi (t) e fase φi (t, τ ).
Com isso, a resposta do canal em banda básica hb (t, τ ) pode ser aproximada

36
por:
N
X −1
hb (t, τ ) = ai (t, τ ) exp[j(2πfc τi (t) + φi (t, τ ))]δ(t − τi (t)). (60)
i=0

Nessa configuração, os valores da amplitude e fase dos componentes de


multipercurso são variantes no tempo. Os valores de hb (t, τ ) para cada τi e
cada instante de tempo é mostrado na Fig. 33.

h (t,τ ) t
b

t2
τ (t 2)

t1
τ (t1 )

t0
τ (t 0)

τ0 τ τ τ3 τ4 τ
1 2 5

Figura 33: Resposta ao impulso em banda básica hb (t, τ ) variante no tempo,


para 3 instantes de tempo.

Em algumas situações, a resposta ao impulso hb (t, τ ) varia pouco ao longo


do tempo. Nessas situações, podemos aproximar hb (t, τ ) por uma resposta
hb (τ ) invariante no tempo. Nessas situações, podemos aproximar a resposta
ao impulso por:
N
X −1
hb (τ ) = ai exp(jθi )δ(τ − τi ). (61)
i=0

A medição da resposta hb (τ ) não é trivial. Em geral, é utilizado um pulso p(t)


que aproxima uma função δ(t): p(t) ≈ δ(t − τ ). É medido o perfil de atraso
de potência dado pela média |hb (t, τ )|2 . Genericamente, P (τ ) = k|hb (t, τ )|2 ,
onde k depende da energia do pulso p(t).
A medição da resposta ao impulso do canal do perfil de atraso de potência
são denominadas de sondagem de canal.

3.2 Relação entre Largura de Banda e Potência Recebida


Considere um sistema de sondagem que utilize um sinal RF da forma:

x(t) = Re(pT (t) exp(2πjfc t)), (62)

37
onde pT (t) é um trem de pulsos de banda base com largura de pulso Tbb muito
pequena e o perı́odo de repetição TREP >> τMAX , onde τMAX é o maior atraso
em excesso no canal. O trem de pulsos pT (t) é ilustrado na Fig. 34.
Trep

T
bb

Figura 34: Trem de pulsos pT (t) que é a representação em banda básica do


sinal RF a ser transmitido.

O pulso pT (t) é estreito no tempo, o que causa uma banda muito larga na
saı́da. Com isso, a resposta do canal ao pulso pT (t) se aproximará de hb (t, τ ).
Além disso, para se normalizar a energia do pulso, considere que a amplitude
de pT (t) seja:
( p
2 τMAX /Tbb 0 ≤ t < Tbb ,
pT (t) = (63)
0 Tbb ≤ t < TREP .

Lembrando que hb (t, τ ) é a resposta ao impulso do canal em banda bá-


sica, então essa resposta para uma entrada trem de pulsos pT (t) é dada
por r(t) = pT (t) ∗ 12 hb (t, τ ). Pela definição de hb (t, τ ), temos hb (t, τ ) =
NP−1
ai (t, τ ) exp[j(2πfc τi (t)+φi (t, τ ))δ(τ −τi )] para canais invariantes no tempo
i=0
−1
NP
se torna: hb (t, τ ) = ai exp(jθi )δ(τ − τi ).
i=0
Com isso, a resposta do canal em banda básica r(t) é dada por:
NP−1
r(t) = pT (t) ∗ 21 hb (t, τ ) = 12 ai exp(jθi )p(t − τi ) = (64)
i=0
NP−1
 
τMAX τi 1
r
1
=2 ai exp(jθi ) ret t − − , (65)
i=0 Tbb Tbb 2

onde ret[] é um pulso retangular com largura dada pelo seu argumento, tal
que: (
0, |t| > 1/2,
ret(t) = (66)
1, |t| ≤ 1/2.

38
Deseja-se obter a potência recebida em um determinado tempo t0 . É
então medida a potência |r(t0 )|2 , que é descoberta ao se somar as potências
de múltiplo percurso. Com isso,
τZ
MAX
1
|r(t0 )| 2
= r(t)r ∗ (t)dt =
τmax
0
τZ
MAX "N −1 N −1 #
1 1 XX
= Re ak (t0 )ai (t0 )p(t − τk )p(t − τi ) exp(j(θk − θi )) dt =
τmax 4 k=0 i=0
0
Z −1
N N −1
!
1 1 X
= a2m (t0 )p2 (t − τk )dt =
τmax 4 m=0
m=0
Z −1
N τZ
MAXr  2
1 τmax t − τi 1
= a2m (t0 ) ret − dt =
τmax Tbb Tbb 2
m=0 0
N
X −1
= a2m (t0 ), (67)
m=0

onde foi considerado que |τk − τ − i| > Tbb , ∀k 6= i e onde pode ser provado
que:
τZmaxr  2
τmax t − τi 1
ret − dt = τmax . (68)
Tbb Tbb 2
0

Com isso, percebe-se que a potência recebida total é dada pela soma das
potências dos componentes individuais de múltiplo percurso. Esse resultado
continua sendo verdadeiro mesmo se uma modelagem de processo aleatório
for utilizada para o sinal.
No caso de se transmitir um sinal modulado em onda contı́nua (CW),
pode ser provado que a potência média recebida obedece à equação:
N
X −1 N
X −1 X
N
Ea,θ [Pcw ] = ā2i +2 rij cos(θi − θj ), (69)
i=0 i=0 j6=i

onde Ea,θ denota a média estatı́stica em relação as variáveis [a, θ], enquanto
a barra sobrescrita denota a média amostral. Além disso, rij = E[ai aj ]
representa a correlação cruzada entre os componentes de múltiplo percurso.
Caso θ seja uma variável independente ou descorrelacionadas ou caso ai sejam
descorrelacionados entre si, recai-se no caso anterior de sondagem por pulso.

39
3.3 Técnicas para Sondagem
Como visto anteriormente, a medição da resposta do canal e do seu perfil
de atraso é denominada sondagem. Há 3 métodos principais para realização
de sondagem.

3.3.1 Sondagem por Pulso RF


A primeira técnica de sondagem é bastante próximo ao que já foi descrito
anteriormente, e é denominada Sistema por Pulso de RF. Um pulso de largura
Tbb e repetido a cada TREP , como já visto.
No receptor, o sinal é passado por um filtro passa-faixas, um amplificador
e um detector, como mostrado na Fig. 35.

~ BPF Detector Osciloscopio


Amp.

Gerador
de
Pulso

Figura 35: Sistema de Sondagem por Pulso de RF

O filtro passa-faixas no receptor tem uma banda de passagem de 2/Tbb .


A demodulação é realizada por um detector de envoltória e sua exibição é
feita no osciloscópio no qual é visto o perfil de atraso médio de potência.
A utilização de um sistema em banda larga, com filtro passa-baixas com
uma faixa de passagem mais larga, fazem deste tipo de sondagem um sistema
sucetivel a ruı́dos e interferências.

3.3.2 Sondagem por Espectro Espalhado


A fim de se ter um sistema mais robusto a interferências e ao ruı́do am-
biente, foi desenvolvido um outro sistema de sondagem. Seu princı́pio tem
semelhanças com o espalhamento espectral utilizado em sistemas CDMA,
recebendo então o nome de sondagem de canal por espectro espalhado.
Neste tipo de sondagem, o sinal de uma senoide é espalhado utilizando
um gerador de sequência pseudo-aleatória (PN) numa taxa denominada de
taxa de chip Rc . No receptor, o sinal adquirido é filtrado por um passa-faixas
com banda de passagem larga. É então desespalhado e passa por um filtro
passa-faixas de banda estreita. O sinal é demodulado por um detector de

40
envoltória e depois armazenado em um osciloscópio com armazenamento de
dados.
Gerador
de
PN

Sinal x BPF x BPF Detector Osciloscopio


Amp.
Banda Banda
Larga
Estreita
Gerador
de
PN

Figura 36: Sistema de Sondagem por Espectro Espalhado

O filtro de banda larga no receptor tem banda 2Rc . O desespalhamento


é feito numa taxa Rx > Rc num sistema conhecido como correlacionador
deslizante. O ganho de processamento é a razão entre a taxa do sistema antes
do desespalhamento para a taxa em banda básica, ou seja, P G = 2Rc /Rbb .
Pode ser mostrado que o PG é a razão da SNR fora do receptor pela SNR
do sinal recebido.
A resolução no tempo ∆τ dos componentes de multipercurso usando o sis-
tema de espectro espalhado é dado por ∆τ = 2/Rc . Com isso, o sistema pode
resolver dois componentes em multipercurso desde que estejam afastados no
tempo por mais que 2/Rc .
As diferentes taxas utilizadas no sistema distorcem a escala de tempo
percebida no osciloscópio. O tempo observado no osciloscópio tosc se relaciona
β

com o tempo na escala real tr através de tr = 1 − α tosc , onde β é a taxa de
chip no receptor, enquanto α é a taxa de chip no transmissor. Esse efeito de
distorção na escala de tempo por diferença de taxas é denominado dilatação
no tempo. Essa distorção é uma das desvantagens do método que pode exigir
um tempo maior para realizar as medições.

3.3.3 Sondagem no Domı́nio da Frequência


Outro método para realizar sondagem de canal utiliza uma estimação
no domnı́io da frequência. Esse sistema utiliza um analisador vetorial de
rede para realizar estimações dos parâmetros S (S de Scattering). Esses
parâmetros medem as razões entre ondas refletidas, transmitidas e incidentes
a partir da modelagem do sistema em duas portas. O analisador de rede é
colocado com porta 1 no transmissor e porta 2 no receptor. O parâmetro
a ser medido é o S21 , conhecido como forward voltage gain, que dará uma

41
aproximação da resposta em frequência do canal. A resposta ao impulso do
canal é obtida através da IDFT (inverse discrete Fourier transform) do S21 .

3.4 Parâmetros de Canais Móveis


A sondagem de canal fornece uma estimação de perfis de potência ao
se realizar a propagação por um canal. Com base nos perfis de atraso de
um canal, consegue-se aferir um conjunto de parâmetros que servem para
caracterizar o canal em questão.

3.4.1 Parâmetros de Dispersão no Tempo


Um dos efeitos de um canal sobre o sinal propagado é um atraso em sua
transmissão. Um dos parâmetros utilizados para medir esse atraso é a média
do atraso em excesso, representada por τ̄ e calculada por
P 2
a τk
τ̄ = Pk k 2 , (70)
k ak

onde τk é o atraso de tempo do k-ésimo multipercurso.


O parâmetro espalhamento de atraso RMS σt é definido como a raiz
quadrada da variância de τ . Seu valor gira em torno de dezenas de ns a
dezenas de µs.
Outro parâmetro encontrado é o máximo atraso em excessso em X dB,
que é o atraso τX para se encontrar uma energia de multipercurso em X dB.
Dependendo do valor de X, o parâmetro τX é também chamado de difusão
por atraso em excesso. De modo similar, o espalhamento de atraso RMS
pode ser chamado de difusão de atraso RMS.
Mesmo sem sinal transmitido, em geral há uma detecção de sinais com
potência até X dB, devido ao ruı́do ambiente. Esse valor em uma dado
experimento é denominado patamar de ruı́do, abaixo do qual qualquer sinal
será interpretado como ruı́do.
Há uma série de parâmetros relacionados aos vistos nesta subseção que
são descritos quando se observa o domı́nio da frequência, conforme será visto
na próxima subseção.

3.4.2 Parâmetros na Frequência: Banda de Coerência


Quando um canal tem uma resposta em frequência aproximadamente
plana, o formato do sinal no domı́nio do tempo se mantém aproximadamente
inalterado. O efeito do canal passa a ser de apenas uma atenuação sobre o
sinal original.

42
A ideia da banda de coerência Bc é medir em qual faixa de frequências
o canal é estatisticamente uniforme, num efeito próximo ao de uma resposta
plana em frequência. A banda de coerência representa uma faixa na qual a
amplitude de duas componentes de frequência possuem alta correlação.
Um critério adotado para a banda de coerência é um intervalo no qual a
amplitude das componentes de frequência estão 90% correlacionadas, então
1
Bc = 50σ t
, onde σt é o espalhamento de atraso RMS. Outro critério utilizado
é de 50% de correlação. Nesse caso, Bc = 5σ1 t . Alguns outros critérios
experimentais podem ser utilizados.

3.4.3 Espalhamento Doppler e Tempo de Coerência


Nas subseções anteriores, vimos a natureza dispersiva no tempo para a
propagação do canal. Os parâmetros de atraso em excesso e de banda de
coerência, no entanto, não fornecem informações sobre a natureza variável
com o tempo, ou seja, de como o canal varia quando há um movimento
relativo entre estação móvel e estação base.
Um móvel se movimenta em relação à estação-base, transmitindo com
frequência central fc . O espectro do sinal recebido irá variar entre fc − fd e
fc + fd , onde fd é o deslocamento Doppler.
A banda do sinal recebido pode ser diferente da banda do sinal trans-
mitido. A diferença entre a banda recebida e a transmitida é o chamado
espalhamento Doppler representado por Bd . Em geral, o valor de Bd é de-
pendente de fd . No caso da banda do sinal transmitido ser muito maior
que Bd , diz-e que o canal tem atenuação lenta. Nesse caso, os efeitos do
espalhamento Doppler são desprezı́veis no receptor.
O chamado máximo desvio Doppler é dado por fm = v/λc , enquanto
seu inverso é chamado tempo de coerência Tc . Uma definição alternativa é
9
dada por Tc = 16πf m
. Essas duas possı́veis definições refletem a definição da
grandeza Tempo de Coerência Tc , que mede o intervalo de tempo sobre o
qual a resposta ao impulso do canal é praticamente invariante no tempo.
No caso de ser usada a definição tradicional Tc = 1/fm do tempo de coe-
rência, podemos interpretar o tempo de coerência como um parâmetro limite
se comparado ao inverso da banda do sinal, a partir do qual há distorção do
9
sinal ao chegar no receptor. No caso de se utilizar a definição Tc = 16πf m
, Tc
é o perı́odo no qual a correlação supera 50%.
Um terceiro critério é utilizar a média geométrica dos dois anteriores,
resultando em Tc = 0, 423/fm.

43
3.5 Tipos de Desvanecimento em Pequena Escala
Os efeitos do desvanecimento em pequena escala ocorrem basicamente
em dois domı́nios: tempo e frequência. Há dois efeitos básicos no desvaneci-
mento: a dispersão que tem como significado a ocupação de um espaço maior
que a do sinal original e a seletividade, que tem como significado a ocupadção
dum espaço menor que a do sinal original. Os dois efeitos ocorrem simulta-
neamente, cada um em um domı́nio. Os efeitos de cada combinação entre
efeito e domı́nio rendem diferentes situações. As tabelas 1 e 2 resumem os
efeitos.

Desvanecimento Plano Desv. Seletivo em Frequência


Banda do Sinal < Banda do Canal Banda do Sinal > Banda do Canal
Espalhamento < Perı́odo Espalhamento > Perı́odo
de Atraso de Sı́mbolo de Atraso de Sı́mbolo

Desvanecimento Rápido Desvanecimento Lento


Tempo de < Perı́odo de Tempo de > Perı́odo de
Coerência Sı́mbolo Coerência Sı́mbolo
Variações de Canal Variações de Canal
mais rápidas que mais lentas que
variações de sinal variações de sinal

3.5.1 Efeitos do Desvanecimento por Atrasos no Domı́nio do Tempo


Considere primeiramente uma transmissão em que, perceptivelmente, só
um escalamento na amplitude do sinal recebido, ou seja, não há uma distor-
ção no formato do sinal. Esse tipo de desvanecimento gera uma atenuação
variante no tempo mas sem causar perdas nas caracterı́sticas espectrais do
sinal, visto na figura a seguir. Tal tipo de desvanecimento é denominado
plano. Nessa situação, o canal tem um ganho constante e resposta de fase
linear em uma largura de banda maior que a largura de banda do sinal e a
resposta ao impulso em banda básica hb (t, τ ) do canal se aproxima de um
impulso.
Nessa situação temos a banda do sinal muito menor que a banda de
coerência do canal, isto é, Bs << Bc e o perı́odo de sı́mbolo do sinal muito
maior que o espalhamento de atraso RMS, ou seja, Ts >> στ .
Se, por outro lado, o canal apresentar um ganho variável dentro de sua
banda ou se a fase do canal for linear num trecho menor do que a banda

44
do sinal, então temos a situação de canal seletivo em frequência. A resposta
ao impulso hb (t, τ ) não se concentra em um único instante de tempo e é
modelado por um filtro digital.

Nesse tipo de situação, o sistema está sucetı́vel à ocorrência de interfe-


rência intersimbólica (ISI). Verifica-se que Bc > Bs e que Ts < στ .

3.5.2 Efeitos do Desvanecimento por Variabilidade do Canal


Um canal pode apresentar diferentes variações em suas caracterı́sticas.
Uma variação muito acentuada em suas caracterı́sticas em geral é percebida
como desvios em frequência. Se a resposta ao impulso do canal variar durante
o perı́odo de sı́mbolo, temos um canal com desvanecimento rápido. Nesse caso
ocorre dispersão de frequência, ou seletividade no tempo. Com isso, o tempo
de coerência do canal é menor que o perı́odo de sı́mbolo, ou Ts > Tc . Em
outra medida, o espalhamento Doppler deve ser maior que a banda do sinal,
isto é, Bs < Bd .
Essa maior variabilidade no canal ocorre ou por movimento no transmis-
sor, receptor ou de obstáculos no canal em alta velocidade ou por mudanças
abruptas em condições ambientais.
Por outro lado, no caso do desvanecimento lento, a resposta ao impulso
do canal é praticamente invariante dutante alguns perı́odos de sı́mbolo. O
tempo de coerência do canal é muito maior que o perı́odo de sı́mbolo, ou seja,

45
Tc >> Ts e o espalhamento Doppler é muito menor que a banda do sinal,
Bd << Bs .
As classificações do canal a respeito de atrasos no domı́nio do tempo e
de sua variabilidade são independentes. É possı́vel haver 8 tipos de canais
diferentes com base no que foi visto até aqui e mostrado na figura a seguir.

3.6 Modelos de Desvanecimento em Pequena Escala


A partir do que foi exposto anteriormente, são descritos alguns modelos
tradicionais para canais com desvanecimento em pequena escala.

3.6.1 Desvanecimento Rayleigh Plano e em Multipercursos


A distribuição de Rayleigh é bastante utilizada para modelar a envoltó-
ria do sinal. Lembrando-se que o sinal em geral é transmitido modulado e
contendo componentes em quadratura, a envoltória por vezes não representa
fisicamente nenhum dos sinais envolvidos.
A função densidade de probabilidade (pdf) de Rayleigh é definida como:
2
 
 r exp − r

, r≥0
σ2 2σ 2 (71)
0 r < 0.

46
onde σ é o valor RMS do sinal antes da detecção de envoltória.
Pode ser provado que o valor médio do sinal é dado por 1,25σ, enquanto
sua mediana é calculada por 1,17σ. A distribuição de Rayleigh é vista a
seguir.

3.6.2 Desvanecimento Rice para Multipercursos


Em algumas situações de multipercursos, a potência recebida em visada
direta é bem maior que a potência recebida pelos percursos secundários. Diz-
se nessa situação que a componente em visada direta é dominante.
A função densidade de probabilidade de Rice é dada por:
 2 2
  
 r exp − r + A I Ar , r ≥ 0

0
σ2 2σ 2 σ2 (72)
0 r < 0.

À medida em que a componente em visada direta vai se enfraquecendo, A


diminui e a função pdf de Rice tende à função de Rayleigh. Outra forma
de caracterizar a pdf de Rice é através do parâmetro K = A2 /(2σ 2 ). Para
A = 0, temos Rice degenerando em Rayleigh. A distribuição de Rice é vista
a seguir.

3.6.3 Modelo de Clarke


O modelo de Clarke prevê o campo elétrico recebido a uma certa distância
em campo distante do transmissor numa modelagem de desvanecimento plano
com efeito Doppler.
Considere uma antena transmissora polarizada verticalmente e o receptor
captando N diferentes versões atrasadas do sinal transmitido, cada uma com
amplitude Ci , 1 ≤ i ≤ N. Então o campo elétrico recebido pode ser expresso

47
por:
N
X
Ez = E0 Ci cos(2πfc t + θi ), (73)
i=1

onde E0 é o valor médio de amplitude do campo elétrico gerado na trans-


missão e θi é uma variável aleatória que representa a fase do i-ésimo sinal
recebido. Alternativamente, o campo elétrico recebido pode ser representado
como contendo uma componente em fase e outra em quadratura:

Ez = Tc (t)cos(2πfc t) − Ts (t)sen(2πfc t), (74)

onde
N
X
Tc (t) = E0 Ci cos(2πfi t + φi ),
i=1
XN
Ts (t) = E0 Ci sen(2πfi t + φi ),
i=1

onde θi = φi + 2πfi . Além disso, Ts e Tc são variáveis aleatórias gaussianas


mutuamente descorrelacionadas. Com isso, Ez é caracterizada como tendo
uma distribuição Rayleigh.
Ao se considerar o Efeito Doppler, pode ser provado que a densidade
espectral de potência do sinal recebido obedece a seguinte expressão:

A[p(α)G(α) + p(−α)G(−α)]
S(f ) = q 2
, (75)
fm 1 − ( f f−f
m
c 2
)

onde p(α) representa uma densidade de potência ao longo da variável de área


α e G(α) é o ganho direcional da antena receptora para uma variável de área

48
α. Desta forma, a potência recebida Pr :
Z 2π
Pr = AG(α)p(α)dα. (76)
0

3.6.4 Modelo de Rayleigh em Dois Percursos


É um modelo com base em Rayleigh para dois percursos, usado em am-
biente outdoor, com resposta ao impulso dada por:

hb (t) = α1 exp(jφ1 )δ1 + α2 exp(jφ2 )δ(t − τ ), (77)


onde τ é o atraso relativo entre os percursos, enquanto α1 e α2 seguem uma
distribuição Rayleigh.

3.7 Parâmetros em Pequena Escala


Alguns parâmetros em pequena escala permitem caracterizar o sinal para
algumas questões dentro do contexto dos modelos em pequena escala. Esses
parâmetros são utilizados no projeto de codificadores de canal e em esquemas
de transmissão e recepção em diversidade.

3.7.1 Level Cross Rate


A taxa de cruzamento de nı́vel (Level Cross Rate, LCR) é definida com
a taxa esperada em que uma envoltória com distribuição Rayleigh cruza um

49
dado nı́vel de sinal R. É obtido por:
Z∞ √
Nr = r ′p(r, r ′ )dr ′ = 2πfm ρ exp(−ρ2 ), (78)
0

onde r ′ é a derivada temporal de r(t) no valor de R, que é o nı́vel em questão.


Além disso, fm é a frequência máxima de Doppler e ρ é R normalizado pelo
valor RMS da envoltória.

3.7.2 Duração Média de Desvanecimento


A duração média de desvanecimento define o intervalo de tempo em que
o sinal fica abaixo de um nı́vel R pré-especificado, ou seja,
1
τ̄ = P (r ≤ R). (79)
Nr
Pode ser provado que:

exp(ρ2 ) − 1
τ̄ = √ . (80)
ρfm 2π
Essa duração média de desvanecimento pode prever quantos bits serão
perdidos numa transmissão. Note que depende da velocidade do móvel, pois
é influenciado pelo Efeito Doppler.

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