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Compostagem!

O que é e qual a sua utilidade?

O tema dos resíduos (vulgo “lixo”) não é um tema propriamente agradável e


que atraia atenções. Mas, prometo que com este artigo, o primeiro de um
punhado até se esgotar o tema “compostagem”, vai ser diferente. Entreguem-
se à sua leitura, que até momentos de suspense vão encontrar!

O Decreto-Lei n.º 103/2015, de 15 de junho, emitido pelo Ministério da


Economia, que estabelece as regras a que deve obedecer a colocação no
mercado de matérias fertilizantes, tem a seguinte definição:
“«Compostagem», a degradação biológica aeróbia dos resíduos orgânicos até
à sua estabilização, produzindo uma substância húmica, designada por
composto, utilizável como corretivo orgânico do solo.”.

Do processo de compostagem pode formar-se:


a) Composto fresco – Produto resultante do processo de compostagem, em
que a fração orgânica sofreu uma decomposição apenas parcial. Tem de estar
higienizada, mas uma vez que o processo de estabilização não está concluído,
pode ainda ocorrer libertação temporária de fitotoxinas.
b) Composto maturado – Produto resultante do processo de compostagem
aeróbia, em que a fração de matéria orgânica está higienizada e em adiantada
fase de humificação ou de estabilização. A sua biodegradabilidade reduziu-se
de tal forma que é negligenciável o seu potencial de produção de fitotoxinas e
de calor.

Por outras palavras, a Compostagem é um processo de reciclagem de


matéria orgânica, 100% natural, realizado através de microrganismos que
transformam os biorresíduos (no caso dos resíduos urbanos, os das nossas
casas, são os restos de preparação e consumo de refeições, da horta ou
jardim) num material rico em nutrientes, a que se chama composto. Este
processo tem ainda a vantagem de destruir os organismos patogénicos.

Na realidade, a Compostagem é uma inevitabilidade da Natureza. É essa a


forma que ela encontra para fazer a reciclagem, nomeadamente das folhas,
ramos, excrementos de animais, etc., devolvendo, deste modo, os nutrientes
ao solo.
Na verdade, a Compostagem é um processo tão simples que deve ser
utilizado por todas as famílias na reciclagem dos seus biorresíduos.

A compostagem tem sido aplicada, ao longo dos séculos até ao momento, no


tratamento de resíduos biodegradáveis de várias fontes, nomeadamente
agrícolas, agroindustriais, estações de tratamento de águas resíduos (ETAR,
as lamas) etc.

Se “olharmos” para o conteúdo do nosso “caixote do lixo”, facilmente


entendemos o potencial da aplicação da compostagem. Pois, este processo
de tratamento (nas diferentes escalas possíveis, que trataremos aqui noutro
artigo) pode ser uma solução ambientalmente sustentável para cerca de
40% dos resíduos urbanos, das nossas casas. O gráfico seguinte ajuda-nos a
compreender o que foi referido.

Gráfico 1 Resultados da caracterização física média dos RU produzidos no Continente em 2020 (fonte: APA - Agencia
Portuguesa do Ambiente)

Só para terem uma ideia da dimensão da quantidade de biorresíduos


produzidos em Portugal, podemos afirmar que em 2020 foram mais de 2
milhões de toneladas! Os biorresíduos quando depositados em aterros
sanitários vão provocar a libertação de gases causadores de efeito de estufa (o
CH4, gás metano) e contribuir para a produção de lixiviados (líquido altamente
poluente de difícil tratamento), para além de emissão de odores desagradáveis.

Resumindo, a Compostagem permite tratar resíduos orgânicos de várias


fontes, incluído os produzidos nas nossas casas (biorresíduos), evita a emissão
de poluentes (em forma gasosa e líquida) e que no final resulta um produto
higienizado (sem patogénicos) útil para o solo, que pode ser utilizado na horta,
jardins etc. Noutro artigo, oportunamente, vamos explorar ao pormenor todas
as vantagens da compostagem.

O próximo artigo vai ser sobre os fatores imprescindíveis para que o


processo de compostagem aconteça, ou que ocorra da melhor forma
possível. E também como aprendi isso quando vivi na aldeia com a minha avó
paterna (saudades, partiu em 2020), dos 5 aos 11 anos, e que tive
oportunidade de ver uma esterqueira (como se diz na zona de Castelo Branco,
ou estrumeira. Na prática, uma das muitas maneiras de se formar uma pilha de
compostagem) a “parir” pintainhos, que estavam (no ovo) órfãos de uma
galinha poedeira (ficaram confusos? Depois eu explico tudo). Estejam atentos,
pois vão aprender muito de uma forma divertida e prática!

Documentos consultados:
Agência Portuguesa do Ambiente, “Dados sobre resíduos urbanos”,
https://apambiente.pt/residuos/dados-sobre-residuos-urbanos, acedido a 19 de
dezembro de 2021.
CARTEIRO, Pedro; Avaliação da vermicompostagem no tratamento de
resíduos urbanos e a sua influência na qualidade do composto produzido.
Lisboa: FCT - UNL, 2009.
Decreto-Lei n.º 103/2015 de 15 de junho. Estabelece as regras a que deve
obedecer a colocação no mercado de matérias fertilizantes, assegurando a
execução na ordem jurídica interna das obrigações decorrentes do
Regulamento (CE) n.º 2003/2003, do Parlamento Europeu e do Conselho, de
13 de outubro de 2003, relativo aos adubos. Diário da República, 1.ª série —
N.º 114 — 15 de junho de 2015.

Pedro CARTEIRO
(Consultor/Formador)
Licenciatura em Engenha do Ambiente (pré-Bolonha),
Mestrado em Gestão Integrada e Valorização de Resíduos (pré-Bolonha).

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