Você está na página 1de 69

1 | 68

2 | 68
3 | 68
4 | 68
Título: Pare e reflita! Uma práctica que vale a pena.
Autor: Euclides Joaquim [arnaldoeuclides10@gmail.com]

Capa: e-company
Design: e-company
Revisão: Joel Miguel e Arnaldo Soba

© 2022, Euclides Joaquim


Data: Julho de 2022
ISBN: 978-989-53373-1-6

O autor não adere ao Novo Acordo Ortográfico, em


conformidade com a posição do Governo de Angola face a
ratificação.
Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a
reprodução desta obra, no todo ou em parte, por quaisquer
meios (mecânicos, fotográficos, electrônicos, gravação,
introdução em base de dados, etc...) sem autorização prévia do
autor.
Seja original, diga não à cópia!

5 | 68
In memory of m'a twinkling star!

6 | 68
“ Estaríamos mecanizados
se vivêssemos somente para ter
sucesso.
Mas, wait a little bit, não
seremos já mecânicos?
Padronizados e, no final do dia,
com objectivos comuns?
Somos escravos de nós mesmos
e ainda não nos tocamos disso.
Não precisamos ser os
melhores, apenas diferentes!”

- Euclides Arnaldo Joaquim

7 | 68
SUMÁRIO

1. PREFÁCIO
2. CAPÍTULO I
3. CAPÍTULO II
3. CAPÍTULO III
4. AGRADECIMENTOS
5. SOBRE O AUTOR

8 | 68
PREFÁCIO

A presente obra “Pare e reflita!”, é o mais recente


fruto de todas aquelas sementes que outrora o jovem
escritor, Euclides Joaquim, tivera colocado em baixo da
terra. Aqui, com o cariz poético, o escritor mergulhou
fundo sobre as ondas da vida e trouxe à superfície a
PESSOA, o cerne das suas próprias decisões, em prol de
uma sociedade melhor. Sem perder a sua essência, dotou
cada verso de conhecimento, fez de cada estrofe um ponto
de reflexão e de cada poema um verdadeiro centro de
informação. Maior parte das vezes os adultos julgam os
jovens, pelo que são, fazem e até mesmo por coisas que
eles, adultos, também fazem, e fazem da pior forma.
Esquecem-se que a juventude de hoje é a geração que bebe
deles, adultos... Alguma coisa não está bem. São problemas
como este, que afligem as sociedades actuais, que o autor
diz-nos PARE E REFLITA!
Para mim, esta é uma obra necessária para os
jovens, fundamentalmente, mas serve para outras faixas
etárias. É convidativo, leva-nos a conhecer um pouco da

9 | 68
imaginação do autor, sua versatilidade e o quão “bom
Miúdo” ele é!
Aqui o leitor terá o prazer de viajar à uma viagem
inimaginável, verá que ROUBAR, os presentes do pai natal,
não é coisa ruim, que sonhos só são SONHOS quando temos
os pés assentes ao chão e que a paz, sim a paz, não devia
necessariamente ser pedida em pleno séc. XXI. Agora, você
tem o nosso convite para mergulhar connosco nesta nova
aventura.
Joel Miguel “Mô cota”

10 | 68
PARE E REFLITA!
--------------------------
CAPÍTULO I

11 | 68
Parei e pensei:
(…) o que quero para mim?

Quais são os meus objectivos afinal?


Tudo bem,
estou aqui,
mas o que é que já fiz?

Estou preocupado com o que é supérfluo,


ou com o necessário?

Se morresse hoje,
quais seriam as lembranças que teriam de mim?

Sou feliz,
ou procuro por felicidade?

Será que tenho amigos,


ou um monte de conhecidos?

Tenho uma boa relação com a minha família,


ou só nos cruzamos em óbitos e festas?
Qual é o testemunho que tenho da minha família?
O que quero para o meu futuro?
12 | 68
O que estou fazendo agora?
Valerá a pena?

Quantas pessoas magoei pelas minhas atitudes egoístas?

Parei e fiz n questões para mim.


Acrescente mais questões se quiseres.
Tenho uma questão para ti:

- Como estás agora?

13 | 68
O meu povo é batalhador
os meus irmãos sofrem muito.
Somos iguais,
mas muitas pessoas não percebem.

As pessoas são más,


matam-nos pela melanina.
Nós não somos diferentes.

Parem de nos julgar.


Preto também é ser humano,
que estupidez pensar que somos diferentes dos outros.
Somos todos seres humanos.

Não somos escravos de ninguém,


nem tampouco inferiores.
Black lives matter.
A base do sucesso da coletividade está na união.
Rebaixar uns para sobrepor outros
é uma versão real de desunião e desamor

Respeitem-nos, o mundo tem de mudar e


isso parte de nós,
de todos nós.

14 | 68
Respeitar-te-ei se me respeitares.
Não estou pedindo muito,
apenas me respeite,
caso queiras que faça o mesmo para ti.

Não seja um covarde,


evite falar de mim pelas costas.
Sabe que mais? Perdes tempo em fazê-lo.

Dou no duro e,
tu vives fazendo fofocas.

Não julgue o outro se não trouxeres alguma solução.


Não seja estúpido!

Alegras-te com a desgraça do teu próximo,


és algum tipo de bruxo? Gostas que só as tuas coisas
sejam vistas.
Sorris tão falsamente,
que triste.

Perdes tempo em ouvir os conselhos que te dão,


abanas a cabeça como sinônimo de que estás a entender,
mas és só mais um ignorante.

15 | 68
Que estupidez!
De onde vem a tua felicidade?
dos problemas dos outros? Que coração é esse?
Que estupidez!

Não seja arrogante como algumas pessoas.


Não corrompa,
por mais urgência que tenhas.

Abstenha-se da hipocrisia.
Não promete aos outros coisas que nunca farás.
Não faça justiça com as próprias mãos.
Aja com racionalidade e,
muita responsabilidade.

Critique para ajudar e,


não para rebaixar os outros.
Pratique as boas intenções.
De pessoas más a sociedade está cheia.

16 | 68
Sonhas demais,
por isso não te realizas.

Quem te disse que,


estando na cama,
as coisas se autorrealizarão?
Não funciona assim e,
espero que compreendas isso.
Reclamas demais,
por isso não vês avanços.

Criticas demais,
por isso não te sentes realizado.

As vezes julgamos a fotografia pelo ângulo errado.

17 | 68
O amor não é sofredor.
O amor não é ciumento.
O amor suporta tudo.
O amor…
Wait,
Tens noção do que leste?
Sabes o que significa amar?

Há anos que as pessoas vêm interpretado mal esse


conceito.
Amor não é sinónimo de escravidão,
amor não é lutar sozinho por objectivos comuns.

Amar vai além de um simples “eu te amo”,


a teoria anda de mãos dadas com a práctica.
Devia ser assim.

Andamos metidos em relações de total escravidão,


já pensaste?
Onde procuramos agradar o outro,
sem mesmo sermos agradados.

Lutamos pela outra parte porque nos sentimos presos.


Presos numa paixão que confundimos com amor.

18 | 68
O amor não sobrevive sozinho,
precisa de ser alimentado.

Para factos não há argumentos,


eu te amo também aborrece.

19 | 68
Mudei e,
já não sou o mesmo.

Mudei,
porque as dificuldades da vida provocaram essa
metamorfose em mim.

A vida é dura demais para se viver reclamando ou no


conformismo e,
aprendi isso do pior jeito.

Mudei e,
já não sou mesmo.

Mudei,
porque as pessoas abusavam do ser que tinha,
penso estar sendo situacional ao julgamento deles.

A vida é dura demais e,


no seu verdadeiro sentido,
não permite que se viva na mesmice.

Mudei e,
já não sou o mesmo.
20 | 68
Mudei,
porque cresci e amadureci,
por isso não sou o mesmo de ontem.

Já não vejo as coisas como antes via,


fruto da mudança a que me submeti.

Mudei e,
já não sou o mesmo.

Sou o que sou,


mas não gostava de ser assim.

Realidade dura de quem vê a sua vida ganhando um rumo


indesejado, fruto das dificuldades que sobrepõem as
expectativas que criara.

21 | 68
CAPÍTULO II

22 | 68
Lembro-me da primeira vez em que te vi
foi maravilhoso,
era apenas um menino com saudades de uma presença
paterna.

Queria tanto lembrar das conversas que tivemos


mas tudo não passa de lembranças subentendidas.

Meu querido pai,


não me esqueci de ti,
gostaria de poder olhar para ti.

Mas a tua mente estúpida o impediu de continuar comigo,


és feliz?
Sei bem que sim.

Fazes falta para mim?


Sinceramente não sei,
mas gostaria de voltar a vê-lo nalgum dia.

Guardar rancores?
não me posso intoxicar com isso.
Passei por fases em que,
esperava que batesses o portão de casa.

23 | 68
Mas tudo bem, seja feliz onde quer que estiveres.

24 | 68
Roubei os presentes ao Pai natal (…)
Espere, tu precisas entender.

Há uma fase do ano em que nos sentimos estimulados a


fazer muitas coisas:
Comprar presentes,
aumentar o stock, fazer mais visitas e
ser filantrópicos.

Hm, espere,
deixe falar um pouco mais sobre o último ponto.

Famílias sofrem o ano inteiro por falta de comida,


não porque querem,
mas porque as dificuldades são enormes.
Angola está cheia de crianças desnutridas,
e famílias sem grandes nortes.
Dizemos ser filantrópicos,
mas esperamos esta fase para mostrar isso.
Natal Solidário? Não estou julgando ninguém,
a solidariedade deve ser uma práctica contínua.

Crianças morrem por conta da fome,


Famílias se desestruturam.

25 | 68
Tu entendeste? Roubei os presentes ao Pai natal para
distribuir a todas as crianças e famílias
que realmente necessitam.

26 | 68
Não sou melhor do que ninguém e,
muita gente pode realizar grandes feitos.

Não sou orgulhoso e,


ensino a quem quiser aprender.
Não ache que sou arrogante e,
não hesite em perguntar,
ou pedir ajuda.

Tu transformas a tua realidade e,


tudo a sua volta,
ao conhecer o poder da tua mente.

27 | 68
Sinto a tua falta,
o coração aperta quando penso em ti.

A tristeza, as vezes,
torna-se minha amiga.

Mas lembro-me de ti,


Não somente nos momentos tristes,
Mas nos de felicidade também.

Idealizo coisas de que me alegro,


Isso faz-me bem.

Quem sabe? Não sei.


Expresso tudo nos meus escritos.

Não desejo voltar ao tempo,


porque,
pela fase em que me encontrava,
certamente não faria nada,
outra vez.

Mas,
mesmo não me respondendo,

28 | 68
eu falo tudo o que sinto para ti.

Espero que estejas bem aí,


vemo-nos em breve.

29 | 68
Não é bajulação,
talvez precisamos aprender mais
sobre coisas que realmente importam

Desse jeito evitamos a ignorância excessiva

Que tal falar


sobre coisas que conectam a alma?

Bom,
Isso não é coisa doutro mundo.
É sobre assuntos que importam.

Tocar.
Conversar.
Respeitar.

Precisamos destas e outras coisas que


provavelmente julgarás mais importantes

Aprendi em duas décadas que


do mesmo jeito que palavras podem consertar
destroços emocionais,

30 | 68
elas (também) podem deitar ao chão grandes
sentimentos.

Um toque.
Um abraço.
As vezes precisamos disto
para sentirmo-nos bem.
Não precisa de muito.

Crianças merecem respeito


do mesmo jeito que os adultos exigem delas.

Ninguém é melhor do que ninguém.

Tocar.
Conversar.
Respeitar.

Precisamos aprender mais


sobre coisas que conectam a alma.

31 | 68
Eu sou tão doce,
que provoco diabetes.

Tão amargo,
que causo azias.

Tão calmo,
que causo desconfiança e aborrecimento.

Falo tanto,
que as pessoas afastam-se de mim.

Dou tanto de mim,


sou tão intenso,
mas as pessoas não me levam a sério.

As pessoas já me julgaram por ser bom demais.


Por vezes,
as pessoas aproveitam-se de quem tem um bom coração,
para brincar.

32 | 68
Encontrei o amor que há muito procurávamos.
Achei a paz que sempre sonhamos.

Alcançamos a tão almejada democracia.


Finalmente formamos uma sociedade metade socialista e
metade capitalista.

Graças ao esforço comum terminamos com a fome.


Enfrentamos guerras e vencemo-las.

Já não há delinquência.
Corrupção? Nunca mais ouvimos falar dessa gaja.

Promessas? Eles já não fazem porque o povo está,


finalmente, feliz com a sua governação.

Não há mais poluição.


Água potável em abundância,
desconhecemos a desidratação.

Finalmente encontramos a nação de ouro.


Desemprego? What's this?

Já não somos dependentes de um único produto.

33 | 68
Ninguém mais dança a música dos outros,
cada um cria a sua própria melodia.

Já não existem elites.


Temos hoje, também, uma geografia verde.

Há mais liberdade.
A imprensa já não é ameaçada.
A PAZ já não é ameaçada e,
Todos Podem Andar à vontade,
antigamente uns Zombavam da Integridade de Muitos
outros,
Brincavam, também, com suas Origens.

Já não existe o famoso tribalismo.


Revús? Felizmente não vemos mais.

Até parece um sonho.


Agora já podemos almoçar no mesmo restaurante que o
nosso Patrono.

Há anos que não ouvimos o famoso “sabes quem eu sou?”


parece que mudou de continente.
Estamos bem, finalmente…

34 | 68
Mas,
que porcaria vem a ser essa?
Quem disparou ao lado da minha janela?

Esses já não ouvem mais, nessa banda é mesmo assim.


Substituem os galos por disparos.

35 | 68
Na calada da noite
os bruxos revelam-se.

O clima intensifica-se
e o medo toma conta do lugar.

Os demônios mais profundos manifestam-se (…)


revelando-se de distintas maneiras.

Há morcegos por toda parte.


O abismo chama pela alma mais fraca,
as almas perdidas nos desejos sombrios.

Na calada da noite
os bruxos revelam-se.

Os desejos mais obscuros surgem.


A ansiedade toma conta do ser.

Medo ou são só os desejos se manifestando?

Há morcegos por toda parte,


O abismo chama pelas almas perdidas nos desejos mais
sombrios.

36 | 68
Gostava de uma miúda e,
ela não sabia.

Lhe morri mesmo.


Ficava sem jeito sempre que lhe visse a passar na banda.

Contei aos meus amigos e,


me aconselharam a ir ter como ela.
Tinha vergonha,
não fui.

Me falavam sobre sexo,


porque no século XXI,
supostamente,
jovem que nunca fez sexo é boelo.
Eh!

Me fizeram a mente.
Estávamos num boda e,
ficamos, eu e ela,
à sois.

O clima rolou enquanto conversávamos,


fomos a um local mais isolado e,

37 | 68
aconteceu,
aconteceu mesmo.

Passou e,
um dia a dama me disse:
- estou grávida!
(…)
Tenho dezoito anos de idade,
cinco irmãos menores do que eu,
minha mãe também é o meu pai.
Não soube o que lhe dizer,
fiquei malaique.

O que devia ser um motivo de felicidade,


tornou-se de tristeza e incertezas.

Sabe o quê?
Não estamos preparados, vamos abortar esse mambo.

38 | 68
Calei-me quando devia falar e,
falei quando não devia.

Já pus tanta barreira em mim,


que acabei me limitando.

Que estranho!
Passei por uma fase em que,
julgava que devia calar-me por tudo.

Coloquei certos limites de expressão.

Senti muita coisa e,


engoli muitas palavras quando devia expressar-me.

Decidi não falar,


quando certas decisões dependiam da minha intervenção,
tive receio.

Agora procuro falar o que penso e,


não coloco limites de expressão.
desse modo não sofro por dentro.

39 | 68
Fui morto.

Até eu dar sinais,


as coisas entre eles estavam boas.

Eram ambos felizes e,


tudo estava muito bom.
Nem sequer ligavam para a proteção,
gostavam da sensação.

Lutei contra muitos da minha espécie e,


venci.
Depois do resultado do teste as coisas aqueceram.
Ela ficou assustada.

Contou ao parceiro,
desesperado,
viu que a única solução seria me aniquilar.
Tchê!

Prontos,
a decisão deles se fez cumprir.

Estão a ver o que estão a causar?

40 | 68
Não pedi para existir e,
até por isso fui morto.

- palavras de um aborto.

41 | 68
CAPÍTULO III

42 | 68
Sabe?
Eu não lembro como foi,
mas sei que houve amor.

No primeiro olhar,
no primeiro toque,
no primeiro abraço.

(...) só não lembro, mas sei que houve.

Eu não lembro como foi,


mas sei que houve amor.
É este amor que me move todos os dias,
mesmo não estando, eu sei que sempre estarás
Heeeeey! I´m here.

Aprendendo a voar com as minhas próprias asas


Why you crying?
I´m here for you.
A gratidão é um órgão há mais no meu corpo,
ontem eu bebi no teu peito, hoje do teu intelecto.
Ontem eu dormi no teu peito, hoje eu preciso do teu leito.
Heeeeey, mom!
És a minha serenidade diante da agressividade do mundo,

43 | 68
a água que arrefece o meu peito nos dias mais
turbulentos.
A minha inspiração nos dias menos inspiradores do
mundo.

“É dedicado a todas as mães, para as que já partiram e


deixaram a sua obra, bem como para as que
incansavelmente, independentemente do dia, buscam
lapidar-nos a fim de nos tornar homens.”

Escrito por: Joel Miguel “Mô Cota”.

44 | 68
Guardar rancores?
Não me posso intoxicar com isso.

As pessoas sempre farão mal umas as outras,


sempre decepcionarão,
sempre entristecerão umas as outras.

Como mudar isso?


Não sei!

Como lidar com isso?


Preparando a mente.

Talvez sejamos hipócritas ao tentar mudar os outros,


quando não mudamos primeiro.

Seres humanos magoam,


nós magoamos.

Então,
guardar rancores?
Não me posso intoxicar com isso.

45 | 68
Quando puto queria ser cientista.
Queria ser astronauta.

Mas os pensamentos incutidos na minha cabeça,


mostraram-me o quão difícil é ser coisas que não existem
no país em que estamos.

Cresci com o pensamento de que não conseguiria ser o


que eu tanto sonhei aqui,
e pelas dificuldades que a sociedade apresenta eu teria de
me ajustar.
Tudo bem!

Eu queria ser professor,


mas me incutiram que os professores não são valorizados
como deviam,
ok!

Eu queria ser Gestor,


Gestor de empresas,
mas de tudo o que já vi e me falaram,
qual empresa eu vou gerir?
Serei só mais um dentre um leque de gestores que se
adaptaram.

46 | 68
Cresci com ideias incutidas na minha cabeça de que,
não conseguiria ter aquilo que sempre sonhei,
porque o local em que estou não me possibilitaria.

Sonhei com tanta coisa,


e hoje nem sei se gosto do que faço.
Aprisionei-me nas ideias das pessoas,
e deixei de parte aquilo que realmente quero.
Me readaptei às dinâmicas que hoje-em-dia vivemos.

Eu quis ser tanta coisa,


e hoje nem sei o que sou.

Sou fruto dos meus objectivos,


ou das ideias dos outros?
Não sei!

47 | 68
Nasci no seio de uma família
que instruiu-me a ser um bom homem.

Acatei todos os conselhos,


e busquei não me frustrar com as injustiças desta
sociedade.

Nunca deixei de acreditar


que um dia as coisas ficariam bem,
e ainda acredito que poderão melhorar.

Muitos dos meus sonhos


foram frustrados,
mas mesmo assim tive de adaptar-me.
Na expectativa de que tudo haverá de melhorar.

Hoje sou um jovem formado,


e desempregado.
Eu não estou triste,
estou desapontado.
Desapontado com a realidade que vivemos.

Tornei-me um empregador,
mas nem todos tiveram o mesmo destino.

48 | 68
Mas, sei lá,
talvez ainda acredite que as coisas ficarão bem,
já não tenho tanta certeza.

Obrigado pela atenção,


eu sou um licenciado!

49 | 68
Paz,
estou pedindo paz.
Isso não é muito.

Vivo numa sociedade que me amedronta.


Na verdade,
meus pertences já nem sabem se são meus.
Porque a qualquer momento pode aparecer um segundo
dono,
que horror.

Nem mesmo durante o dia estamos seguros,


somos bonecos?
Até já me pareço com folha de tanto que tremo.
Não me retire aquilo que tanto lutei para obter.

Paz,
estou pedindo paz.
Isso não é muito.

50 | 68
Por que motivos tu culpas os outros pelos teus insucessos?

Não te consideras adulto demais para isso?

Dizes sempre que é culpa do fulano,


sicrano,
beltrano e,
até do t(h)anos.

Alguém,
por acaso,
te telecomandou para fazeres as merdas que fizeste?

Aquele que está na televisão foi teu colega,


nós já sabemos disso.

Talvez estarias aí se soubesses agarrar as melhores


oportunidades.

51 | 68
Cresci envenenada
mas, tive de me permanecer calada.

Vou contar-vos um pouco da minha história…

Aos seis anos de idade


meus pais separaram-se e
fui morar com o meu pai.

As coisas estavam normais porque frequentava,


também,
a casa da minha mãe.

Meu pai trazia sempre moças em casa.


Entravam bonitas,
cheias de peito e bunda e,
saiam com as perucas meio que despenteadas e
a coxear ligeiramente.

Eu não sabia do que se tratava,


estava na minha pura inocência.

Aos meus oito anos de idade meu pai ficou desempregado


e passou a morar connosco o meu tio.

52 | 68
O irmão mais novo dele.

Passaram meses e,
tio estás a olhar-me tanto porquê?

Meu pai voltara das suas andanças


e eu não conseguia fazer absolutamente nada.

Foi tudo muito rápido e sangrento

Sim, fui alvo de uma tentativa de estupro mal feito.


Doeu muito
mas, nada melhor do que chocolates, e outros mimos para
banzelar uma criança, não é assim?

Meu pai saia sempre


e, sempre que meu tio fosse dar-me banho
consumava o maldito acto.

Quanta maldade,
o que vê numa criança inofensiva? De onde vem o prazer?

Fui alvo de mais de oito tentativas de estupro


e meus pais não sabem porque fui ameaçada,

53 | 68
aos doze anos de idade,
caso contasse para eles.

Que nojo.
Como alguém é capaz disso?

Para que serve o meu corpo de tanto que fui abusada?

Agora que sei bem do que se tratava


sinto muito nojo de mim e, muito ódio.

Vê o que tu fizeste comigo, estás feliz aí onde estás?


Espero que queimes no inferno.

54 | 68
Nós éramos felizes,
meu pai tinha um emprego,
e minha mãe tinha o negócio dela.

Tal como algumas crianças,


eu também estudava.

Éramos felizes.
Meus irmãos, de 4/5 anos,
estavam quase a estudar também.

Mas meu pai começou a beber cerveja,


e por isso perdeu o emprego de segurança.
Ficou cunanga.

Minha mãe foi assaltada


e levaram todo negócio dela.
Naquele mesmo dia
os donos decidiram levar o dinheiro também.

No dia seguinte,
estávamos a pedir ajuda nos vizinhos.
Tio Tony e mana Antónia ficaram cunangas.

55 | 68
Parei de estudar,
porque minha mãe já não conseguia pagar as propinas.
Não entrei na escola do Estado,
porque não temos padrinho da cozinha.
Tio Tony e mana Antónia ficaram cunangas.
Vem nos ver aqui na mutamba,
nos tiraram da casa do Danjarrê [Dangeroux];
estamos aqui a pedir esmolas.

Por favor, Tio,


me dá só lá 50 kwanzas para eu,
e a minha família comermos alguma coisa.

Nos ajuda só, por favor!

56 | 68
Pelas cinco horas da manhã já me encontro preparada,
Certifico-me de que as coisas estão como devem estar.
Meus filhos estão a dormir,
por cima da mesa cansada estão os seiscentos kwanzas.

Não me implico com ninguém,


estou a ir zungar para dar aos meus filhos o que comer.
Sim, sou zungueira.

Compradores preguiçosos evitam comprar na praça,


então eu me arrisco todos os dias a vender à beira da
estrada.
Não faço porque quero, eu vou até aos clientes.

Por favor não leve as minhas coisas,


tenha piedade, batalhei muito para ter isso, papá.
Por favor não atire minhas coisas ao chão.

Fiscais lutam connosco e fazem de nós seus brinquedos.


Por favor, tenha piedade de nós.
Zungueira é mãe, é filha da pátria.

Nós não somos estrangeiras, não nos tratem mal,


corruptos que promovem o combate a corrupção.

57 | 68
De vocês não quero falar.

Os polícias estão a nos matar,


minha colega levou um tiro na cabeça.
Devem nos proteger ou nos exterminar?

Estamos com medo,


não pedimos para ser zungueiras.
As dificuldades da vida, nos remeteu a isso.

Meu companheiro passa o dia a beber,


o que fazer? Meus filhos precisam comer e estudar.
Valorizem-nos,
Nós não somos trapos e nem asfaltos para sermos
pisadas

58 | 68
Não respeito os mais novos,
mas exijo que estes me respeitem.

Tchê, meu puto, estás maluco né?

Detesto ajudar,
mas quero que as pessoas me ajudem sempre que for
precisar.

Sou contra o aborto,


mas consumei vários abortos.

Por quê as pessoas namoram com mais de duas pessoas?


Não sei explicar muito bem as coisas que faço.

Sorrio com os meus próximos,


mas me irrita vê-los a singrar na vida.
Não gosto que as pessoas falem mal de mim,
mas faço-o na maior normalidade.

Dinheiro? Dói-me dar,


mas de receber coço.
Pensar duas vezes porquê se só tenho um cérebro?

59 | 68
Não gosto que gritem comigo,
mas sinceramente não me lembro da última vez que falei
bem com alguém.
Estanho? Afinal de contas quem sou eu?
Não faço a mínima ideia.

Tens noção de quantas pessoas,


até este momento,
pensaram em suicidar-se?
Dentre estas,
tens a mínima noção de quantas fizeram o que
pensaram?
Por vezes,
julgamos os outros sem sequer saber das suas
motivações.

Até este exacto momento,


muita gente perdeu alguém próximo,
tens noção disso?

Acreditas que,
um dos piores momentos que o homem pode passar é a
quando da perda de alguém próximo?
Podemos tentar sentir o que o outro está a sentir,

60 | 68
mas nunca chegaremos ao dito sentimento.

Pare e reflita!
Várias vezes magoamos as pessoas pelas atitudes
egoístas que tomamos.

Pelo menos hoje houve mais do que cinco acidentes,


dentre estes alguém deve estar gravemente ferido.
Dá para acreditar em como as coisas podem ser
imprevisíveis?
Aposte naquilo que agrega valor a ti,
abstenha-se das coisas que te impedem de crescer.

Pare e Reflita!

61 | 68
VEMO-NOS NOUTRAS
VIBES

62 | 68
AGRADECIMENTOS

Há uma verdade incontestável que paira por aqui: a


poesia une vidas.
Por meio da poesia, felizmente, sinto que consegui
aproximar pessoas com base aos temas que tenho
abordado.
Orgulho-me de mim mesmo por conta disso, porque
aprendi que antes mesmo de agradarmos os outros
precisamos agradar-nos a nós mesmos.
Alegro-me e sou muito grato às pessoas que sempre
me motivaram e permitiram que eu continuasse. Tenho
agora vinte anos de idade e, sinto que pude mostrar o que
quis quanto a arte poética.
Arrumo as malas para os escritos poéticos e rumo
para uma “vibe” que nunca antes mergulhei.
Nunca escrevi por fama ou reconhecimento, se desse para
ser um ghostwriter não faria mal nenhum para ser sincero,
os meus escritos são por gosto e sinto que é isto que os
torna diferente.

63 | 68
Não sou dono das palavras mas procuro fazer bem
o uso delas. Já, uma vez, alguém disse que se não tens voz
para gritar use a escrita para se comunicar.
Gratidão eterna ao meu Criador porque sem Ele eu
nem sequer existiria. Obrigado, Senhor, pelo seu amor que
nunca acaba.
As minhas queridas mães, Arminda Santos (de feliz
memória), Marcelina Santos e Marta Massaco. De igual
modo agradeço ao meu amigo, irmão e companheiro José
Gaspar por tudo quanto tem feito em prol do meu
crescimento. As minhas irmãs, Maria Fernanda e Eufânia
Catarina, pelo eterno amor.
Aos meus fiéis leitores e, agora, amigos, tenho com
vocês o compromisso de abrilhantar-vos com a minha
escrita… sempre numa versão cada vez mais aperfeiçoada.
Aos membros do meu “Clube”; Yuri Cangolo,
Marivaldo Jorge “M'jay”, Joel Miguel “Mô Cota”, Jerse
Camoxi “Camoxadas”, Malaquias Licumbi “Mr. Licumbi”,
Dilma Castro, Ivanilde Tavares e Ester Daniel… muito
obrigado pelo apoio que me têm proporcionado.
Agradeço igualmente ao meu mentor, aka “padrinho
literário”, Arnaldo Soba pelos insights.

64 | 68
Seria ingrato se não falasse de ti porque sempre
estiveste do meu lado, deixando, as vezes, de fazer as suas
coisas para me aturar: Emona Maria, muito obrigado!
Por último mas não menos importante, a Evolution,
especificamente ao Aurélio Capunga e Ilda Capitão pelo
suporte.
A estes e muitos mais que, por falha de memória,
não citei a minha eterna GRATIDÃO!

A nossa jornada não termina por aqui!

65 | 68
SOBRE O AUTOR
Euclides Arnaldo Joaquim, nascido aos 10 de maio
de 2002 (20 anos) em Luanda, Angola. Escritor, orador e
designer por ocasião. Formado em Estatística e
Planeamento pelo Instituto Médio de Economia de Luanda
(IMEL – 2021); É, também, co-founder do projecto de
desenvolvimento interpessoal Metamorphosis e da Startup
Youngest Club. Atualmente estudante universitário de
Gestão Financeira pela Faculdade de Economia da
Universidade Agostinho Neto (FEC-UAN). O seu amor pela

66 | 68
escrita começou a quando da adolescência, mas somente
em Setembro de 2020 lançou o seu primeiro livro
(Semeando Pensamentos – 1ª edição). Este é o seu terceiro
livro.

(Luanda, Julho de 2022)

“Não precisa ser o melhor, apenas diferente!”

67 | 68
Antes que tudo termine…

E SE AS PROSTITUTAS SE
TORNASSEM FREIRAS?

68 | 68

Você também pode gostar