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TÍTULO

VISÃO JUVENIL — COMO DRIBLAR OS DESAFIOS DA


JUVENTUDE, SEM ABRIR MÃO DE SEUS PRINCÍPIOS?

Copyright © 2021 Kamba Editora


& Arnaldo Soba

Primeira Edição em Português: 2021


Colecção: NeA – 2

PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR QUAIS-


QUER MEIOS, SEM A PERMISSÃO POR ESCRITO DOS
EDITORES E DO AUTOR, SALVO EM BREVES CITAÇÕES,
COM INDICAÇÃO DA FONTE.

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www.kambaeditora.wordpress.com Daluka
ARNALDO SOBA
AUTOR DE “TORNEI-ME LICENCIADO: E AGORA?”

VISÃO
JUVENIL
COMO DRIBLAR OS DESAFIOS DA JUVENTUDE,
SEM ABRIR MÃO DE SEUS PRINCÍPIOS?
VISÃO
JUVENIL
COMO DRIBLAR OS DESAFIOS DA JUVENTUDE,
SEM ABRIR MÃO DE SEUS PRINCÍPIOS?
HISTÓRIA POR DETRÁS DO E-BOOK

Quando ainda frequentávamos o ensino médio à época e,


porém, após várias constatações sobre a realidade a qual nos
cercava, apesar de todas as adversidades impostas, um gru-
po de amigos e eu decidimos criar, ousadamente, um projecto
que pudesse ajudar os adolescentes e os jovens1 do bairro onde
vivíamos: Sambizanga. Recordámo-nos de que, na altura, ser
jovem, em si, já constituía um desafio relutante: a delinquên-
cia, a bebedeira, a gravidez precoce, o aborto, as orgias e/ou
prostituição em todos os fins-desemana preenchiam a lista
de coisas as quais todo adolescente e jovem, que estivesse na
“moda”, devessem experimentar ao longo desta delicada fase
da vida. Curiosamente, quem pudesse ter experimentado uma
vida contrária daquela a qual se convencionou chamar “dre-
na”, todovia, quase sempre era visto como uma “ovelha negra”,
uma espécie “incomum” de ser jovem... Ou melhor, tudo, me-
nos jovem “normal”.

Mesmo velejando na contramão, em 20 de Novembro de


2010, criámos o projecto VISÃO JUVENIL (também conheci-
do como “VJ”), um projecto socioreligioso que se propunha a
apontar e a abordar sobre soluções alternativas para um con-
junto de desafios que enfermavam – e até hoje continuam a
enfermar – os nossos contemporâneos: a falta de um projec-
to pessoal de vida, a falta de uma robusta formação voltada à
educação sexual, ao alcoolismo, à deliquência juvenil, ao re-
1 Ao longo do texto, sempre que fizermos referência a jovens, nos referimos,
em simultâneo, a adolescentes e jovens, salvo menção contrária.
Visão Juvenil | 5
lativismo atávico, ao secularismo conservador, à fragilidade
volitiva, dentre outros.

Para a implementação do projecto, eram elaborados e im-


pressos centenas de desdobráveis coloridos com temas diver-
sos, todos embasados no código doutrinário da fé cristã: a
Bíblia. Com periodicidade mensal, numa linguagem positiva,
directa e objectiva, em pouco tempo, os textos contidos na-
queles desdobráveis despertaram a curiosidade de vários ado-
lescentes e jovens, passando de 100 exemplares da primeira à
terceira edição para 500 exemplares na sua quinta edição.

Não obstante os desafios colocados com a sua autossusten-


tabilidade, o projecto durou cerca de 3 anos e veiculou mais de
5 mil desdobráveis (o equivalente a 1 caixa de resmas A4)! É
provável que o caro leitor esteja a questionar-se sobre o por-
quê de tanto trabalho sem o qual houvesse algum retorno ou
retribuição. Entretanto, ei-lo, na altura, o que moveu os seus
protagonistas (jovens) a lançarem-se ao desafio de moldar ou-
tros jovens:

“(1) ajudar os outros jovens a despertarem para uma aná-


lise crítica e independente sobre a sua realidade, moldá-los à
luz dos princípios cristãos para que se tornassem nuns ver-
dadeiros modelos de outros jovens (“shapers”) e, sobretudo,
(2) propuser- lhes uma visão alternativa sobre ‘o que é ser
jovem’.”

Os protagonistas do projecto entendiam que só os jovens


conseguiriam moldar, substancialmente, outros jovens. No
fundo, o desafio era ‘blindar’ a mentalidade dos adolescentes e
dos jovens, na altura, contra um conjunto de pseudo-verdades
propaladas pela própria sociedade e pela media.”

Por consequência a isso, mais do que uma ideia esparsa, a


VISÃO JUVENIL afigurava-se como um projecto pessoal de

Arnaldo Soba | 6
vida dos seus fundadores, o qual, passados mais de 10 anos,
ainda se mostra bastante actual e pertinente.

Por essas e outras razões que autor e criador da iniciativa –


Arnaldo Soba decidiu reapreciar os textos publicados através
do projecto, revisitá-los, ampliá-los e oferecê-los gratuitamen-
te aos seus leitores, maioritariamente adolescentes e jovens,
com efeito mantendo a sua originalidade.

Como na altura, estamos cônscios das vicissitudes com as


quis nos debatemos hoje. Sejamos sinceros: é assaz desafiante
viver a vida de um adolescente ou jovem, mais ainda, ango-
lanos, com todas as suas conhecidas peripécias. Apesar dis-
so, esperamos que as várias ‘visões juvenis’ propostas neste
e-book ainda consigam moldar os vários jovens e adolescentes
da presente década que se inicia.

Boa leitura!

Luanda, 28 de Novembro de 2021


(Data de aniversário do autor)

Visão Juvenil | 7
DEDICATÓRIA

A todos os jovens flagelados pela pressão social, por não terem


uma visão juvenil alternativa para driblar os desafios juvenis que
lhes são propostos e, às vezes, inconscientemente impostos.
AGRADECIMENTOS

Sou profundamente grato a Deus por, de forma imerecida,


conceder-me o dom e o tom da escrita para, através dela, concre-
tizar o meu ikigai, o meu propósito de vida.

Agradeço aos meus pais: Rebeca Gaspar e António Soba (in


memoriam), por todo apoio ao longo da minha jornada exis-
tencial e, sobretudo, pelas fervorosas, pelas poderosas e pelas
incessantes orações.

Aos meus irmãos, pelo incansável companheirismo e inesti-


mável apoio. Agradeço ao Osvaldo Vunge, ademais, pela pron-
ta disponibilidade que teve na preparação dos manuscritos. A
publicação desse e-book (no dia 28 de Novembro de 2021) só
foi possível graças à sua disciplina.

Aos meus eternos amigos-irmãos e correligionários que co-


migo trabalham arduamente no projecto Visão Juvenil, há já
10 anos! Estes textos reflectem a nossa ‘visão juvenil’, ainda
bastante sólida e actual.

À Bela Mubato (“Bels”), ao Mário Fula, à Maria Kassidi-


moko (“Ana Jiuda”), ao Jaime Silva, ao Aurélio Capunga e ao
Generoso Coquela pelo incomensurável apoio proporcionado
ao longo do lançamento deste e- book.

Visão Juvenil | 9
Ao Paulo Muanda pela atensiosa revisão linguística, e ao
Daluka pela cuidadosa edição.

A todos os meus amigos, colegas, parceiros e leitores2, o


meu muito obrigado por toda a ‘garra’ e tamanho carinho de-
monstrado desde a publicação do primeiro livro “Tornei-me
licenciado: e agora? – reflexões fundamentais sobre juventude,
educação, excelência académico-profissional e vida de objectivos”.

2 Só não vos citei porque estava com muito sono, o relógio marcava 03h20
de um Domingo qualquer, a lista de nomes era extensa e o Daluka (editor)
estava por cima de mim porque o cronograma para a confecção do e-book
era curtíssimo.

Arnaldo Soba | 10
ADVERTÊNCIA

Os textos contidos neste e-book traduzem, única e exclusiva-


mente, a ‘visão’ do autor sobre os mais diversos assuntos do uni-
verso jovem e não necessariamente a ‘visão’ da Kamba Editora.

Salvo menção contrária, todas as referências bíblicas citadas


ao longo dos textos são da edição electrónica da Bíblia Católica
v2.0 (Wellington Campos Pinho), também disponível no site
www.bibliacatolica.com.br.
APRESENTAÇÃO

Num contexto, em que a juventude é alvo de inúmeros de-


safios, estímulos que buscam padronizá-lo, Arnaldo Soba, jo-
vem multifacético e criador de vários projectos virados ao de-
senvolvimento dos jovens, compreende que o conhecimento é
a arma poderosa para tornar o homem-jovem num indíviduo
promotor da mudança.
O jovem é um sujeito de acções, atitudes, valores, pensa-
mentos, comportamentos e necessidades singulares; parte da
sociedade e desafiado a contribuir massivamente na sua trans-
formação.
No entanto, assistimos diversos desafios, sobretudo, no
que toca à vida social. Variadas vezes questionamos-nos “qual
é a posição do jovem face a esses desafios?” “Como se compor-
ta, pensa e age?”
Pensar na juventude nessa perspectiva de participação é
muito interessante, a actuação dos jovens no desenvolvimen-
to da comunidade é indispensável.
“Visão Juvenil: como driblar desafios da juventude, sem
abrir mão de seus princípios” é, deveras, um e-book que de-
nuncia diversos problemas com que os jovens enfrentam no
seu dia-a-dia.
Em grande parte, pude observar que diversas razões desses
problemas são fruto de uma não abertura à genuína mudança
e ao comprometimento com a verdade. Essa é precisamente a
proposta: conhecer a verdade e, através dela, libertar-se (João
8,32).

Arnaldo Soba | 12
Os casos mais populares que estão longe da verdade são:
relacionamentos efémeros e suas implicações, uma sexualida-
de adulterada, a perda de identidade pela falta de autoconhe-
cimento, o aborto como consequência da dessacralização do
sexo, a falta de patriotismo e a irresponsabilidade dos jovens
para com os seus propósitos de vida.
Importa que o jovem descubra o sentido da sua existência,
de modo a projectar-se, projectar a vida da sua família e da sua
comunidade.
No ‘desfolhar’ de cada página, o autor consegue levar o lei-
tor a reflectir e a questionar-se sobre sua acções.
Este é um e-book que deve ser lido por jovens e entre os jo-
vens, pois, sendo uma bússola, indica o caminho de como po-
demos lidar com os desafios e driblá-los, fomentar debates de
modo a incrementar a capacidade de reflexão e de construção
de argumentos. Ademais, em todas as reflexões (sexualidade,
namoro, jovens, meio ambiente, festas, projecto de vida) são
apontados desafios, dificuldades e, como sempre, apresenta-
das ‘visões alternativas’, sempre doseadas pela Palavra Divina.

Maria Kassidimoko (“Ana Jiuda”).

Visão Juvenil | 13
1
SEXUALIDADE E NAMORO
1.1. A sexualidade como expressão da di-
mensão físico-sexual e psíquica

Em todas as sociedades, tanto quanto nos é dado saber, a


educação sexual assume, entre mais, normas rígidas de com-
portamentos ligadas à religião, às leis e aos costumes da tra-
dição local. Talvez fosse por esse motivo o qual a sexualidade
se apresenta sob diversas formas de manifestação em cada re-
gião.

Grosso modo, a sexualidade tem que ver com a expressão


da nossa complexa dimensão físico-sexual e psíquica, por isso,
ela traduz-se numa componente positiva para o desenvolvi-
mento da vida, conquanto, na fase mais jovem, possa ter um
carácter esporádico e circunstancial.

Daí ocorrerem copiosas transformações as quais fazem com


que a fase entre a adolescência e a juventudade seja cada vez
mais assustadora. Dessa forma, para se dispuser de uma vida
de dimensão sexual menos conturbada é crucial que se tenha
em conta três aspectos que se auguram fundamentais, tantos
quantos se afiguram, a naturalidade, a responsabilidade e
o respeito.

1. Naturalidade: porque a sexualidade é algo natural e


inerente à pessoa humana;
2. Responsabilidade: porque a prática sexual desregra-
da carrega consigo sérias implicações (desde gravidez a
doenças infecciosas);
3. Respeito: porque a vida sexual de cada indivíduo é algo
gerido pelo prazer e pelo desejo, independentemente
da expressão.

Visão Juvenil | 15
1.2. O namoro e suas implicações
Apesar do espesso tabu à volta do tema, ainda se afirma
que o namoro continua a ser um “tempo” muito importante
no desenlvovimento da vida sexual dos adolescentes e dos jo-
vens. É, sem dúvidas, um tempo de verdadeiro crescimento.
O namoro permite a aproximação de duas pessoas que não se
conhecem, favorecendo que elas entrem em contacto e que se
relacionem ao longo de um tempo suficiente, com a ideia de,
futuramente, passarem a coabitar e formar uma família cen-
trada no casamento, de acordo com o propósito de Deus (cf.
Génesis 2,24; Mateus 19,4- 6; Efésios 5,31).

1.3. Namorar: por quê e para quê?

Alguns jovens por experimentarem, prematuramente, uma


vida sexual activa e, em muitos casos, sem qualquer compro-
metimento ou noção das implicações daí decorrentes, consi-
deram o namoro como uma maneira mais ‘light’ de conhecer
a dimensão sexual da rapariga: de, exclusivamente, sentir pra-
zer e poder gozar fisicamente da componente sexual.

Por outro lado, muitas jovens, que na adolescência e até


hoje, vivem a preencher os seus fins-de-semana com inter-
mináveis festas associadas ao excesso de álcool, às drogas e a
outros tipos de substâncias nefastas ao seu próprio desenvol-
vimento físico-psicológico e que hoje vivem a aventura da des-
sacralização sexual, tendem a julgar que o namoro começa e
termina com o sexo, romantizando-o como “a prova de amor”.
Na verdade, muitas delas, talvez nunca tivessem tido um na-
morado que gostasse de dialogar, com quem pudesse aprender
coisas novas, com quem pudesse chorar e contar, sem medo,
os seus segredos, os seus ideais e os seus planos para o futu-
ro…
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1.4. O namoro e o sexo pré-matrimonial
Muitos jovens que se dizem cristãos citam a falta de orien-
tação específica na Bíblia para justificar a aceitação de padrões
seculares relativamente à fornicação, ou também, ao sexo pré-
-matrimonial3. Às vezes, alguns jovens que se afirmam cris-
tãos jogam-se à trilha do namoro sem pensar nos princípios
bíblicos que devessem orientá-los nessa jornada. Desprepara-
dos, facilmente vejam-se agrilhoados nas ciladas que, por as-
sim dizer, a sociedade lhas convencionou e lhas normalizou.
Por causa disso, vêem-se envolvidos em grosseiros comporta-
mentos e socialmente reprováveis, enquanto outros, cegados
pelo ‘indomável espírito juvenil’, namoram de olhos vendados
e comprometem suas escolhas. Infelizmente, em ambos os ca-
sos, as consequências podem ser desastrosas.

1.5. Um namoro com princípios


O namoro é, certamente, uma importante fase de prepara-
ção coabitante de dois seres que se amam. Essa, todavia, con-
situi um período extremamente importante na vida de dois
jovens cristãos e de assaz responsabilidade. O namoro emba-
sado nos princírpios cristãos, regra geral, deve visar o casa-
mento. Esse consititui um período de conhecimento mútuo,
de conhecimento da alma e do coração, ou seja, do que a outra
pessoa é, de facto; pois, será com ela que se passará o resto da
vida. É tempo adequado para, duas personalidades diferen-
tes, se harmonizarem... se conhecerem um ao outro. Na sua
infinita sabedoria, a Bíblia adverte que a dimensão física da
nossa sexualidade, ou seja, o sexo deverá ser reservado, tão-só,
para pessoas casadas (cf. Génesis 2,24; Hebreus 13,4; 1 Tessa-
lonicenses 4,3-5; Colossenses 3,5-6; 2 Timóteo 2,22).
3 Sobre este assunto, talvez pudesse confrontar sua posição com a visão do
Apóstolo São Paulo em 1 Coríntios 6,18.

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Para se começar um namoro na perspectiva cristã, é funda-
mental que se tenha em conta um conjunto de aspectos que,
apesar de nos dias de hoje serem relegados como antiquados,
lhe poderão blindar contra a actual mentalidade secularista4,
como a comunhão com Deus, a maturidade física e espiritual, o
apoio dos pais e, se possível, o apoio de um mentor ou de um asses-
sor espiritual. Deste modo, para que os jovens se possam man-
ter fortes diante dos vários desafios voltados à sensualização
do sexo, sugere-se que cultivem o seguinte:

1. Capacidade espiritual forte: colocar Deus em pri-


meiro lugar, em detrimento das paixões desmedidas do
seu parceiro;
2. Vontade e emoções robustas: alimentar-se de provi-
mentos espirituais, em linha com os princípios de Deus;
3. Aspecto físico sob controlo: treinar-se para ter capa-
cidade de dizer “não” à dessacralização do sexo (cf. 1
Coríntios 6,15-18; Efésios 6,10-12).

4 Sistema ético que não aceita a influência da fé ou da devoção religiosa, pau-


tando-se somente em factos ou experiências resultantes da vida presente.

Arnaldo Soba | 18
2
GRAVIDEZ PRECOCE E O ABORTO
O que faria?

Milton e Paula são dois jovens estudantes


e namorados há já 3 anos. O sonho deles era
de se manterem castos para o casamento.
Por conta da pressão dos seus amigos, os
dois decidiram romper com os seus ideais
conservadores e mantiveram relações se-
xuais. Semanas depois, Paula começa a
sentir enjoos, cada vez mais sentia a neces-
sidade de salivar... e o teste de gravidez dá
positivo. Lamentavelmente, ela apercebe-se
de que está grávida!
2.1. Afinal aconteceu!
Quando os jovens estão na flor da idade, é fácil pensarem
que não existem quaisquer possibilidades de o cenário ante-
rior poder acontecer e a descoberta de que ‘afinal aconteceu’
pode ser devastadora, sobretudo para as jovens/raparigas.
Se a jovem chegar à conclusão de que realmente está grávida,
como sucede, pode ser difícil pensar em qualquer coisa qual se
diga: “devo contar aos meus pais e ao meu namorado?” “E se eles
se recusarem e me ostracisarem?” “Deverei cuidar da gravidez so-
zinha ou abortar?” Além destas, milhares de ideias, até mesmo
abortivas, nascerão facilmente.

2.2. Como se pode entender a gravidez preco-


ce?
Podemos conceituar a gravidez precoce como o estado de
gestação ou concepção em que ocorre “antes da maioridade”
ou mesmo “antes do período convencional” aceito pelas leis
sociais ou culturais de cada região para, portanto, conceber-
-se. Ela ocorre por várias razões, dentre as quais, a sensualiza-
ção e a dessacralização do sexo, ou seja, quando deixamos de
parte as exortações vivas e verdadeiras contidas na Bíblia (cf.
Eclesiastes 11,10).

A Bíblia alerta os jovens que o sexo só encontrará o seu ver-


dadeiro fim último dentro do casamento (cf. 1 Tessalonicenses
4,3-5). Quando a ignoramos, serão visíveis as inúmeras mães
adolescentes em nossas casas, nos nossos bairros, nos grupos
juvenis religiosos das nossas comunidades paroquiais e, claro,
na sociedade em geral.

Visão Juvenil | 21
2.3. Por quê há tantas gravidezes precoces?

Quando os jovens namorados são pouco criativos, nada te-


rão para fazer, conversar, dialogar e criar perspectivas para o
futuro, a sua mente ocupa- se de pensamentos sensuais incli-
nados tendecialmente em relações ocasionais e compromissos
efémeros acabando os dois mergulhados na amargura, ou seja,
de um lance ocasional a uma problemática gravidez (compare
com Eclesiastes 10,1-3).

Outro aspecto, talvez menos visível, mas que também está


na base da proliferação exacerbada das gravidezes precoces,
é a exposição excessiva a conteúdos explícitos por parte dos
adolescentes e dos jovens proporcionados pela televisão, pela
internet (sítios digitais) e pelas redes sociais, em particular,
que vendem o sexo fácil, seguro e sem quaisquer impliações,
através de preservativos. No pano de fundo, nesses meios de
difusão massiva, consta-nos, incentivam a promiscuidade, a
liberalidade e a dessacralização do sexo, o desrespeito à pure-
za, entre outras ameaças à castidade. No fundo, esses meios
vão criando nos adolescentes e nos jovens uma mentalidade
sensualizada, transpondo a ideia segundo a qual “é normal usar
de modo disfuncional a nossa componente sexual e basta ter um
preservativo para fazer isso”. Diante de tais situações, o Após-
tolo Paulo em 1 Coríntios 10,23 é bem explícito: “tudo é permi-
tido mas nem tudo é conveniente, tudo é permitido mas nem tudo
edifica”.

2.4. Consequências e desafios


Uma gravidez indesejada, além de desestabilizar a família
dos namorados, pode trazer consigo sérios problemas de es-
tratificação diversos, tais quais ordem – emocional, físico e fi-

Arnaldo Soba | 22
nanceiro –; visto que os jovens, na maior parte das vezes, não
estão preparados para deixar de ser jovens “normais” para se
tornarem nuns papai e mamãe. Podem sentir-se frustrados e
inseguros quanto ao que o futuro lhes reserva. Nalguns casos,
obrigatoriamente os dois terão de parar de estudar para traba-
lhar e terem mais tempo para o futuro bebé. No final, o gosto à
sua habitual rotina, aos estudos, à Igreja e, até mesmo, o amor
a Deus vão escasseando, perdendo-se com isso a característica
vitalidade juvenil5.

2.5. Abortar: sim ou não?

Agora, falando mais claramente sobre isso, o aborto6 é a in-


terrupção deliberada da gravidez, consumado pela “morte” do
feto ou embrião em qualquer fase da etapa que vai da fecunda-
ção ao momento prévio do nascimento. Nós entendemos que
desde o primeiro dia em que se tem consciência da concepção,
a fecundação (a união do óvulo com o espermatozóide) passa
a ser, literalmente, uma “vida” e não simplesmente no quinto,
sexto... ou nono mês, como vezes sem conta, defensores de
ideologias abortistas vêm a apregoar! O caro leitor não acha
que se nós tomarmos esse conceito sobre a “gravidez” e/ou
sobre a “vida” teremos uma visão dife- rente relativamente à
problemática que se tem colocado sobre o aborto? Assim, por
exemplo, será lógico que se faça uma comparação entre o abor-
to e o quinto Mandamento da Lei de Deus – “Não matarás” –,
conforme descrito em Êxodo 20,13 e Mateus 5,21.

5 Sobre as implicações socioeconómicas das gravidezes indesejadas e, de


forma mais extensiva, da dessacralização do sexo, o leitor poderá ler o In-
sight n.º 11 – Como e por que a dessacralização do sexo tem sido um entrave
para a emancipação financeira feminina? Disponível no meu livro “Tornei-me
licenciado: e agora? – Reflexões fundamentais sobre juventude, educação ex-
celência académico-profissional e vida de objectivos” (2021), publicado pela
Editora Azul e distribuído pela BOOKASSO.
6 Este artigo refere-se exclusivamente ao aborto provocado.

Visão Juvenil | 23
2.6. Não tive outra escolha!
Essa é expressão que muitas jovens e adolescentes (que
abriram mãos de seus valores, princípios e ideais) carregam
dentro de si e respondem às pessoas, com um ar tristonho e
de derrotadas, quando lhes são interrogadas sobre o porquê
de terem decidido abortar. A maior parte dos abortos feitos
por jovens são frutos de uma série de questões, algumas das
quais decorrentes de relaçõe ocasionais, da anulação da res-
ponsabilidade no contexto da liberdade, do conceito “jovial”
– geralmente distorcido – que se tem sobre o sexo e do uso
problemático da nossa sexualidade. Geralmente, questões re-
lacionadas com a gravidez não planeada tendem ao aborto. Às
vezes, para ressalvar a situação em que se encontra, a jovem
decide não “interromper” a gravidez, mas o seu parceiro colo-
ca-a num dilema: “tire a gravidez ou cuidará sozinha”!

2.7. A amargura da ignorância


Se estivesse a caminhar em direcção a uma rua e lhe dis-
sessem que na esquina há uns salteadores, voltaria para pegar
um caminho mais seguro? Acreditamos que sim. Pois, se con-
tinuar, poderá sentir na própria pele as possíveis consequên-
cias negativas desse (im)previsível acontecimento! O mesmo
tem acontecido connosco. Sabemos que a liberalidade sexual
e a dessacralização do sexo acompanhados da falta de respon-
sabilidade só nos levará, algum dia, a uma gravidez precoce e,
como se não bastasse, podemos contrair várias doenças infec-
ciosas como a SIDA, para enquadrar por exemplo.

Sobre essses aspectos, Deus, amante dos jovens, adverte-


-nos: “há caminhos que ao homem parecem rectos, e, no fim,
conduzem à morte... a alegria pode terminar em aflição” – cf.
Provérbios 14,12-13. Vale relembrar que a morte à que a Bí-

Arnaldo Soba | 24
blia se refere não é “simbólica”. Dessa forma, ao ignorar tal
“conselho” podemos experimentar grandes aflições que de outra
forma seriam facilmente evitadas.

2.8. E se abortar não for a melhor saída?


O aborto não é o caminho para desfazer-se de uma gravidez.
O que se deve fazer é aceitar os feitos das nossas acções (com-
pare com Gálatas 6,7). Assim, cuide da gravidez e enfrente os
desafios que dela decorrem, busque ajuda na sua família ou no
seu ciclio de amigos e converse com pessoas idóneas. Os cen-
tros de aconselhamentos e de acompanhamentos, ainda que
pouco divulgados e raros, geralmente disponibilizados por al-
gumas Igrejas e Organizações Não Governamentais (“ONG”)
serão bastante úteis. Nunca deixe que o desânimo lhe suba
pela cabeça. Contra tudo e todos, ore a Deus e peça “Seu Espí-
rito de Fortaleza”– cf. Isaías 11,2.

Em verdade, o aborto só é prejudicial e não um benefício ao


qual todas as mulheres deveriam ter tanto acesso sempre que
quisessem. O aborto só destrói a mulher, ignora os seus direitos
e mortifica a sua dignidade: abusa e degrada. O Aborto não
leva a mulher a sério no seu privilégio único de poder gerar
uma nova vida! Qualquer um que se preocupa com a mulher
sabe ou deveria saber que isso é verdade. É claro que é difícil
cuidar de uma gravidez sozinha. O sentimento de rejeição e
o medo podem deixar a mulher deprimida, mas, no final, a
felicidade duradoura e a sensação de se ter um filho poderão
compensar o facto de ter seguido os princípios de Deus e a
decisão de não ter abortado (cf. Salmos 1,1-3).

Visão Juvenil | 25
3
OS PERIGOS DA MODA
3.1. Que mal tem em gostar de moda?
É verdade que, em maior ou menor grau, todos gostam de
moda. Entretanto, os jovens, em particular, parecem gostar
em maior grau e, que se lhos diga, constantemente preocupa-
mo-nos em saber se estamos ou não na moda7. Em boa verda-
de, isso, até certo ponto, é normal, atendendo ao facto de nos
querermos manter em boa aparência e, às vezes, querermos
mostrar a nossa elegância através do nosso ego materialista.
Talvez seja por esse motivo que vários jovens chegam a ex-
perimentar, o que nós chamaríamos depressão à moda; por se
sentirem tão diferentes dos outros ao ponto de acharem que
suas roupas não se encaixam às tendências actuais, acabando,
ademais, por se afastarem de seus amigos, dando-se como es-
tranhos porque, para eles, a sua insubstituível identidade não
expressa a identidade de seus grupos sociais.

3.2. A moda
Em todos os tempos e lugares, o jovem sempre foi o fer-
mento da sociedade. Por isso, o dinamismo ou a estagnação
das sociedades sempre foi motivado pela vivacidade juvenil,
sendo esses os grandes “culpados” pelo nascimento da moda
nas várias determinadas épocas históricas – recordemo-nos
da cultura semba, samba, hippie, punk, hip hop, rock e, bem
mais recente, millennials.

A Wikipédia, a enciclopédia livre, conceitura a moda como


sendo “Moda, comportamento de uma dada época histórica. É um
sinónimo de “costume”. A palavra provém do termo latino modus,
através do francês mode. Em sentido estrito, porém, “moda” costu-
ma se referir especificamente aos diversos estilos de vestuário que

7 Apesar de este artigo voltar-se à moda na vertente vestimentária ela poder


ser replicado para outros cenários.

Visão Juvenil | 27
prevalecem numa dada sociedade numa dada época histórica.”8.
Em estatística, moda é o “elemento que mais se repete”.

Grosso modo, moda é todo o praticado numa determinada


sociedade ou grupo social, num determinado período, às ve-
zes, nem sempre aceite por minoria ou por maioria. Para esses
grupos, a moda é tão importante que constitui um elemento
fundamental e nobre, um símbolo de identificação entre os
seus membros. Outros ainda entendem a moda como sendo a
arte de estar e de se realizar, de acordo com as ideias e tendên-
cias de uma determinada epóca histórica que exprime usos e
costumes da sociedade em que nasce, com a possibilidade de se
universalizar. Portanto, a moda expressa sentimentos, gostos,
desejos, necessidades e ideais; ela enfatiza a vontade dos que
a consomem, por isso, reflecte também suas personalidades.

3.3. Moda local vs moda estrangeira?

Como dissemos anteriormente, cada moda representa há-


bitos, costumes, sonhos, ideais, convicções e valores de cada
sociedade ou grupo social, numa determinada época. Assim
sendo, cada moda é única e carrega consigo traços únicos. Nes-
te sentido, a marca local inspira o conhecimento cultural nacio-
nal, não precisa de interpretações porque é genuína e repre-
senta a nossa identidade, por isso, a moda é bastante dinâmica
e inventiva.

A moda estrangeira rufa muitas interpretações, traduz cul-


turas alheias, reduzindo ou ampliando os pressupostos sub-
jacentes a nada. Noutros termos, aquele que não é nativo da
cultura ou moda que absorve, corre o risco de interpretá-la
fora do seu contexto, isto é, o risco de acrescer ou reduzir de-

8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Moda

Arnaldo Soba | 28
terminados valores que assumiriam significados diferentes do
grupo ou da sociedade em que a moda nasceu.

3.4. "Não tenho roupas novas..."


“Será necessário estarmos constante e freneticamente a acom-
panhar as últimas tendências da moda?”

É óbvio que não! Mas, liminarmente, vemos muitos jovens


a se auto- aniquilarem, a se auto-abalarem, a sentirem-se “ET”
no seio dos seus amigos, simplemente porque acham que suas
roupas já não servem para firmar sua indentidade, ou seja,
para se encaixarem aos ideiais identitários do seu grupo.

Já lá se foi o tempo em que, quando éramos mais novos,


os nossos pais precisavam de renovar o nosso guarda-fato na
véspera da quadra festiva ou no início do ano lectivo para que
revigorássemos a nossa auto-estima e a nossa motivação pelos
estudos. Talvez, por causa disso, fosse necessário, porém hoje
nem tanto… aliás, roupas não passam de rótulos, conforme
uma estória sobre as roupas de Einstein.

Conta-se que o físico Albert Einstein e sua esposa iriam receber


em casa um político alemão. A mulher pediu, então, que Einstein
trocasse de roupa. Einstein disse: “Se ele me quiser ver, aqui estou
eu. Se ele quiser ver minhas roupas, abra o armário e mostre a ele
os meus ternos”.

Essa necessidade é uma das lógicas que se enquadra muito


bem nos nossos dias, em que as aparências (os rótulos) pare-
cem ter mais valor do que o próprio conteúdo.

Essa necessidade neurótica de sempre estar na moda de-


monstra o quanto vamos perdendo a capacidade de ser simples
humanos e, a uma velocidade absurdamente assustadora, oxi-
dando as nossas opções humana (horizontal) e transcendental

Visão Juvenil | 29
(vertical).

Através do apego excessivo à moda, podemos ir deprecian-


do o nosso amor com Deus, podemos vir a substituir Seus
princípios por outros bem mais frágeis e desprovidos de ver-
dadeiros valores. Porém, os perigos do apego excessivo à moda
não param por aí…

3.5. De amantes a escravos

Como já nos referimos, é normal gostar de moda (cf. 1 Co-


ríntios 6,12). Ela dá-nos a possibilidade de acompanhar a evo-
lução sociocultural de uma sociedade. Acompanhar as inova-
ções e os seus pormenores é um aspecto intrínseco à natureza
humana, afinal, seres sociais. Não?!

Diferente dessa detência natural, e o que é preocupante,


são as pessoas não conseguirem viver sem trajarem as últimas gri-
fes¸ou ostracizarem aquelas que não se encaixam nos padrões
que convencionou chamar últimas tendências. Esse prazer qua-
se que mórbido, em muitos casos, pode ser determinante para
a auto-exclusão, se não mesmo para uma profunda obsessão.
Sim, um vazio existencial por conta de uma peça de roupa, um
rótulo. Dessa forma, aos poucos, super ou hiperdimensiona-
mos tais rótulos que acabamos por nos tornar não amantes,
mas escravos delas – “Todos últimos modelos não podem passar
sem que eu os tenha” – dizem alguns jovens.

Diante deste cenário, muitos até chegam a fazer o impos-


sível – uns vendem sua dignidade, honra e princípios como
moeda de troca, alguns fazem desafiantes sacrifícios para
emagrecerem e se ajustarem às roupas; outros, os mais ou-
sados, vendem seus órgãos, tendem à delinquência juvenil, à
prostituição estrutural ou conjuntual, à promiscuidade, enfim

Arnaldo Soba | 30
– só para alcançarem seus objectivos tidos como verdadeiros
ideais.

3.6. Na moda hoje... ultrapassado amanhã


As peças de roupas ou quaisquer outras tendências da
moda, devem ser encaradas como um complemento, um ador-
no para realçar a nossa aparência e não necessariamente algo
que se devesse prestigiar. O mundo fashion é bastante com-
plexo, contínuo, aparente e incrivelmente mutante. Mas quão
mutante é! Faz-nos lembrar das palavras da Bíblia: “(...) a figu-
ra deste mundo passa” – 1 Coríntios 7,31. O que está na moda
hoje pode tornar-se no antiquado amanhã, com surpreenden-
te repentinidade. As cinturas sobem e descem, as pernas alar-
gam-se e afunilam-se, tudo para o benefício de empresários
e de estilistas de roupas que colhem amplos lucros com um
público facilmente manipulado.

Lembre-se de que, com efeito, roupas de última moda po-


dem deixar deslumbradas algumas pessoas, mas não atraem
verdadeiros corações, nem fazem verdadeiros amigos. Isso só
é conseguido por se vestir o homem interior – por, cada dia,
aprimorar suas qualidades, ou seja, aquilo que é no íntimo (cf.
2 Coríntios 4,16; 1 Pedro 3,4). Quem é lindo por dentro será
atraente pelos outros por mais que as suas roupas não sejam
da última moda ou tatuadas com etiquetas frívolas de marcas
famosas.

Seja você mesmo! Preocupe-se em estar bem consigo pró-


prio, entretanto, não deixe que a moda seja a coisa mais im-
portante da sua vida, evite roupas de estilos passageiros ou
trajes que só realcem a sua sensualidade… Atenha-se ao lado
conservador, não sendo o primeiro – nem necessariamente o
último – a aderir à moda. Procure obter roupas de boa qualida-
de, duráveis, que não saiam rapidamente da moda. Certifique-

Visão Juvenil | 31
-se de que suas roupas enviam a “mensagem correcta”; apresen-tando,
não uma imagem criada pela media ou pelos seus amigos, mas seu ver-
dadeiro eu!

Arnaldo Soba | 32
4
OS DESAFIOS DE SER
UMA JOVEM MULHER
4.1. Jovens-mulheres: um pouco de suas
realidades9
Ainda é comum vermos nos nossos bairros muitas jovens
grávidas, vítimas de falsas promessas e de relações sem quais-
quer compromissos. Algumas para preservarem seus princí-
pios (por exemplo, não abortar), decidem cuidar da gravidez
e do futuro bebé. Despreparadas, são obrigadas a largar seus
estudos e a exercer actividades precárias que, na maior parte
das vezes, não compensam o árduo sacrifício empreendido.

Várias jovens, desde muito cedo, arriscam o seu futuro,


preenchendo todos os seus fins-de-semana com ‘drena’, ál-
cool, chichas e orgias. “Se não há festa ou bar de rua na minha
‘banda’, vou procurar noutra. Geralmente encontro sempre e a
entrada para as mulheres é grátis. Essa é a única maneira de me
sentir verdadeiramente jovem” – dizem algumas delas, às vezes,
com tamanha inocência.

Ter dois, três ou mais namorados parece estar “normaliza-


do” ou “naturalizado”, dando chances à promiscuidade (prosti-
tuição conjuntural) e à prostituição (estrututal) para subven-
cionarem seus caprichos ou até mesmo necessidades, regra
geral, meramente consumistas e tão imediatistas. Esses são
alguns dos vários desafios que as inúmeras jovens- mulheres
enfrentam no seu quotidiano, sem contar com outras situa-
ções ligadas à própria natureza feminina (a menarca, o primei-
ro namorado, o primeiro casamento, a perda da virgindade, a
primeira gravidez, etc.), outras decorrentes do meio envolven-

9 É bastante complexo fazer uma abordagem cabal, sobre a mulher em todos


os domínios da sociedade. O que nos coube foi fazer uma síntese conden-
sada e razoável sobre suas realidades, desafios e projecções de suas acções; e
o mais importante: fundar alicerces para que cada dia possam renovar suas
esperanças olhando para orientações confiáveis e dignas a serem seguidas,
contidas na Bíblia; aqui, reflectidas numa perspectiva estrictamente juvenil.

Arnaldo Soba | 34
te social em que vivemos.

4.2. Desafios e dificuldades


São tantos os desafios e as dificuldades que as jovens-mu-
lheres se deparam no seu dia-a-dia: machismo, preconceitos,
discriminação a todos os níveis, assédio e violência sexual, de-
sigualdade de direitos, crimes e agressões passionais.

A interpretação menos correcta da “Lei Natural” sobre


a mulher, por parte de alguns jovens ou delas próprias, tem
vindo a afastá-las dos seus espaços de actuação. A pobreza as-
sustadora no seio das famílias contribui em grande parte para
a construção de jovens-mulheres desorientadas e emocional-
mente debilitadas. Para, tanto quanto nos é dado saber, agra-
var ainda mais esse cenário e devido às constantes pressões, a
formação académica – e integral – fica em último plano, crian-
do um enorme fosso cheio de constrangimentos, de dificulda-
des, de desilusões e de frustrações…

4.3. Vítimas ou culpadas?

Muitas jovens não são culpadas pelos seus feitos e por toda
a fornalha de problema por que passam. “De facto, elas são ape-
nas vítimas da ignorância” – como nos contou-, em entrevista,
Irmã Helena, uma Madre Católica. “Porque elas se iludem com
quase tudo e raras vezes recebem formações próprias para a ida-
de delas. As redes sociais e os meios de comunicação social criam
um mundo irrea- lista, mostram atalhos para a falsa felicidade...
Então, elas vislumbram a realidade de forma embaciada e quando
não se realizam ficam frustradas (pela não concretização dos seus
sonhos); trazendo consigo gravidezes precoces, doenças graves e

Visão Juvenil | 35
destruição dos seus projectos de vida. Destroem todo o seu futuro
como vítimas, sem terem a noção dos perigos. Tudo isso, por falta
de orientação e programas sérios visando o crescimento sadio dos
jovens. A família, a escola, igreja e outros grupos sociais, às vezes,
nem sempre oferecem tais recursos!” – continuou a Irmã.

Apesar de algumas serem vítimas


ou culpadas, será este o motivo para
não lutar pela vida? Pelo contrário,
quando perceberem isso será uma
oportunidade para revidar contra
tudo e todos e tornarem-se genui-
namente nas jovens-mulheres.

4.4. O que é ser uma jo-


vem-mulher?

Parece ser embaraçoso fazer uma descrição sobre o que é


ser realmente jovem-mulher. Pois, devido a uma diversidade
de qualidades que lhes são bem características, limitar-se a
uma breve definição seria bastante injusto. Mas, para a nossa
compreensão, tendo em vista o realismo poético...

• “Ser mulher é ser a prova viva da vitalidade; é ser a tes-


temunha visível da beleza da vida. Mulher é o reflexo da
sensibilidade, a tradutora da linguagem do amor.
• Ser jovem mulher é ter uma ilimitada capacidade de dar;
compreender como ninguém os defeitos de alguém; ter inge-
nuidade e pureza... e muitas vezes por piedade mentir.
• Ser mulher é saber sentir, nunca magoar. Fazer-se bela e
desejável; é ser amável; seu namorado proteger, por ele até
‘roubar’!

Arnaldo Soba | 36
• Ser mulher é ser frágil no amor e forte na dor. É viver de
esperanças e longe das falsas ilusões”.

Numa sociedade como a nossa, ainda é possível encontrar


jovens com predicados acima descritos? Caso não, o que se
deve fazer para construirmos verdadeiras jovens mulheres?

4.5. Seja verdadeiramente jovem!

Com a democratização do acesso à infor mação, as jovens já


não deveriam sentir-se vítimas dos desafios juvenis. Há um
conjunto de informação colocada à disposição de todos à dis-
tância de um ou dois cliques (esse e-book é um exemplo prá-
tico). Agora como nunca, devem esforçar-se para concretiza-
-rem seus sonhos e projectos.
Tudo isso não depende de um simples querer, mas de uma
vontade forte, inabalável e flexível.

Jovens-mulheres como Fernanda Reneé, Malala Yousafzai


e Anne Frank, por exemplo, não se deixaram vencer pelos de-
preciativos preconceitos, pela descriminação ou pelas limita-
ções com que se deparam; antes, lutaram até ao fim, pelas suas
aspirações, apesar das dificuldades desafiadoras. Mulheres,
por natureza, são batalhadoras, carinhosas, sensíveis, vaido-
sas e lindas. Não acha que tais atributos devem ser “razões
suficientes” para tornarem-se, cada vez mais, numas “verda-
deiras jovens-mulheres”? Aposte seriamente na sua formação,
valorize-se e deixe-se valer; enfrente de cabeça erguida os seus
desafios. Não viva de aparências e seja o que é. Busque direc-
trizes que lhe tornarão nma “mulher incomum”!

Visão Juvenil | 37
5
O QUE É SER JOVEM?
5.1. Ser jovem é difícil, acredite!
Nota-se cada vez mais que os jovens se detêm em dilemas,
sofrem pressões de toda ordem, confrontam-se com situações
que desafiam os seus princípios morais e religiosos; e muitos
deles, despreparados, deixam-se levar pelos ventos à deriva.
Esse capítulo vem justamente apresentar uma “visão juvenil”
alternativa a tais adversidades; procurando munir os jovens
de ferramentas como a fé, a razão e o discernimento ético
(Efésios 5,8-10), para saberem lidar com maestria “esse tempo
crítico” e tomar uma posição firme em defesa das suas reais
convicções, ou seja, naquilo que, no fundo, sempre acredita-
ram ser o mais correcto. (2 Macabeus 7,1-40; Daniel 3,12-18)

Ser jovem é difícil, acredite! Mas pode tornar essa aparen-


te conturbada etapa da vida numa experiência viril, especial e
única. Para isso, terá de pensar na contramão – repensar o seu
conceito de drena e questionar-se sobre se ser jovem se resume
a uma vida cheia de circunstâncias letais (festas, drogas, sexo,
moda, álcool) e apegar-se com todo o seu coração e com todas
as suas forças aos conselhos grátis que Deus tem para si no seu
código doutrinário, a Bíblia (Provérbios 4,1-5; Gálatas 5,13;
Eclesiastes 12,1-8).

5.2. Uma visão errónea?

Quase grande parte dos jovens concentra em si um concei-


to superficial sobre “o que é ser jovem”. Naturalmente, como as
fontes de molde de seus valores não são tão ‘confiáveis’ assim
e porque muitos deles ainda estão distantes do caminho para
uma educação de fé que encontra na formação da consciência
uma passagem obrigatória, vivem a gratuitidade da vida como
simples “aventura”, esvaziam-na do seu significado... conso-

Visão Juvenil | 39
mem sua vitalidade em arrasantes festas, álcool, relações de-
senfreadas, esquecendo-se da urgência de projectar o seu fu-
turo a partir de hoje e com base na experiência do passado.
Certamente, o influxo de elementos característicos dessa fase,
a forte carga emotiva, a fragilidade volitiva também tem con-
tribuído para que nós, jovens, apreendamos valores vazios,
tornando fraca o senso crítico nos momentos decisivos, con-
cebendo uma visão falseada de Deus e, claro, da maravilhosa
etapa da vida. Não obstante, pode viver a juventude de forma
alegre e não frustrante – adquirindo uma nova mentalidade –
cf. Romanos 12,2.

5.3. Afinal, o que é ser jovem?


Ser jovem é lutar por um ideal, sonhar com algo nobre e belo.
É acreditar, ter esperança que amanhã será melhor e nunca
descansar enquanto no mundo houver ódio, inveja, guerra e
situações que nos colocam abaixo da dignidade e jamais dar-
se por vencido (cf. 1 Macabeus 2,50-60). É tudo isso e muito
mais! É almejar felicidade duradoura e viver em prol dos outros
(2 Timóteo 2,6-7); usar das nossas habilidades e criatividade,
ferramentas de mudança e impulso à verdadeira fonte da vida em
abundância – João 10,10.

Um jovem, formado em plenitude (cf. Efésios 4,13), não se


deixa guiar pelo livre curso dos seus instintos; ‘deixa de so-
nhar’ e acorda para a realidade presente. Ser jovem é tomar uma
forte posição em defesa daquilo que acredita; é viver de sólidas con-
vicções – Tiago 4,4.

Arnaldo Soba | 40
5.4. Sete ‘dicas’ de Deus para si
• Lembra-te do teu Criador nos dias da tua juventude, antes
que venham os dias maus e cheguem os anos dos quais di-
rás: “não sinto neles prazer algum” (cf. Eclesiastes 12,1).
• Jovem, regozija-te da tua mocidade e alegra o teu coração
na flor dos teus anos. Segue os impulsos do teu coração,
mas sabe que, de tudo isso, Deus te pedirá contas (cf. Ecle-
siates 11,9).
• Escutai, meus filhos, a instrução paterna, estai atentos
para adquirirdes a inteligência. Porque é boa a doutrina
que vos ensino, não abandoneis os meus ensinamentos
(cf. Provérbios 4,1-2).
• Foge das paixões juvenis. Procura a justiça, a fé, o amor e
a paz com todos os que invocam o Senhor de coração puro.
Abstém-se de discussões estúpidas, pois sabes que só le-
vam a conflitos (cf. 2 Timóteo 2,23).
• Aquele que atira uma pedra aos pássaros, fá-los fugir;
aquele que insulta o seu amigo, desfaz a amizade (cf. Ecle-
siástico 22,20)10.
• Revesti-vos da armadura de Deus, para terdes a capaci-
dade de vos manterdes de pé contra as tentações do diabo
(cf. Efésios 6,11).
• Honra teu pai e tua mãe (Mateus 19,19).

1⁰ O livro Eclesiástico ou Bem Sirá é um livro tipo como “deuterocanónico”


(não constante do cânone tradicional) por parte do católicos e “apócrifo”
(não inspirado) por parte dos não-católicos, motivo pelo qual não consta da
tradicional Bíblia destes últimos que têm menos 7 livros dos 73 que constam
da Bíblia Católica.
Visão Juvenil | 41
5.5. Driblando dois dos desafios da juven-
tude11

 DESAFIO 1 – Inclinação às más acções


Filmes, vídeo-clips e revistas fazem parecer o álcool mais
aliciante. Lamentavelmente, muitos jovens ‘embriagados pela
ilusão’ tomam doses acima do normal e envolvem-se em ac-
ções que os colocam em situações extremas; trazendo conse-
quências drásticas para si e para seus pais. Outros vivem qua-
se toda a sua juventude sob valores frívolos, desperdiçam sua
vitalidade juvenil e criam um mundo ilusório sobre atracções
que ‘normalizámos’ chamar “drena”.

 DRIBLE 1 – Elabore o seu projecto de vida


Se tenciona ser um grande futebolista, deverá treinar re-
gularmente. Se quiser ser uma modelo de renome, deverá ter
finos cuidados com a sua aparência... Lembrar que um pro-
jecto de vida sólido e concreto dependerá, em grande parte,
da qualidade dos materiais com que ele será construído. Um
projecto de vida com ideais bastante realísticos ajudará a ter
auto-domínio e a escapar de solicitações fáceis tidas como ar-
madilhas; uma vez que todas as suas intenções e convicções
serão redireccionadas àquilo que verdadeiramente constituem
as bases para a sua realização pessoal e não ao que o exterior
lhe propõe. Enquanto almejar o seu projecto, evite gastar suas
energias em vão. Fixe-se apenas em seus reais alvos! A propó-
sito, quais são os seus alvos de curto, médio e longo prazo? O
que tem feito para alcançá-los?

11 O estimado leitor pode ir identificando outros desafios e você próprio ou


em grupo de amigos podem discutar, desenhar e desenvolver os respectivos
dribles.

Arnaldo Soba | 42
 DESAFIO 2 – Pressão para fazer sexo
Na escola, no grupo de amigos, na rua, em alguns grupos
juvenis e noutras esferas onde são concentrados os jovens é,
sem dúvida, forte a pressão para namorar e ter relações pré-
-matrimoniais. Para muitos é esquisito não ter namorado(a) e
virgindade e castidade são duas expressões ‘proibitivas’ no di-
cionário juvenil, aliás, são dois termos cuja pronúncia muitos
nunca sequer ouviram dizer. A família está a desestruturar-se e
a pressão dos demais agentes sociais onde o jovem passa gran-
de parte do seu tempo é tão forte que, até, somos arrastados
ao câmbio de nossos verdadeiros valores e à fácil envolvên-
cia em relações desligadas de qualquer compromisso afectivo
(compare com 1 Coríntios 6,18-20).

 DRIBLE 2 - Apegue-se aos padrões de Deus


Se é religioso (e não necessariamente cristão), seus de-vem
concentrar- se em agradar a Deus. Para tal, e para vencer os
desafios actuais, é necessário criarmos bases sólidas fundadas
nos seus princípios (cf. Salmos 119,9). Só assim estaríamos a
ser gratos para com a vida gratuita que Ele nos concedeu. Ape-
gar-se aos seus padrões ajudará a si a “fazer frente” diante das
pressões que a sociedade vai-lhe impondo. Jesus Cristo soube
lidar com as tentações porque esteve preparado para combater
o bom combate! (cf. Lucas 4,1-12).

Visão Juvenil | 43
6
DESAFIOS NA RELAÇÃO AMOROSA
6.1. Todos querem namorar
Na sociedade contemporânea, o desejo de encontrar al-
guém especial – ou que acha especial – tem tomado conta dos
corações dos jovens. “Todos querem namorar” – essa é uma
verdade indubitável –, mas nem todos querem assumir uma
relação verdadeiramente a dois.

Em verdade, muitos jovens, lamentavelmente, ainda estão dis-


tante daquilo que talvez fosse
“o namoro ideal”. Porém, exis-
tem também relações frutífe-
ras, sérias e estáveis. Todavia,
há muito que fazer! A família,
a igreja, a escola e o próprio
Estado devem ser protago-
nistas activos dessa tarefa –
como nos recorda Provérbios
22,6 – “Ensina ao jovem o ca-
minho que deve seguir; mesmo
quando envelhecer não se desviará dele”.

“Deus é Amor” (1 João 4,8). Como seres humanos criados


a Sua imagem e semelhança (Génesis 1,26-27) precisamos de
ser amados [...]. Desde que nascemos até ao momento em que
morremos, toda a nossa vida gira em torno do Amor, como
recorda-nos o Apóstolo Paulo: “Ainda que eu fale as línguas dos
homens e dos anjos, se não tiver Amor, nada sou” (1 Coríntios
13,1- 2). Portanto, amar e querer ser amado é próprio da fase
juvenil (cf. Eclesiastes 11,9). Essa necessidade empolgante na
flor da juventude deve ser bem orientada (Provérbios 4,1-5),
relativamente à escolha da pessoa ideal que se deseja passar
juntos o resto da vida. Tal busca incessante deve ser como que
uma porta aberta a uma relação madura e flexível e não como

Visão Juvenil | 45
“uma venda que cega a consciência” impulsionando-nos a opções
que podem ser amargas.

6.2. Desafios na relação amorosa


A grande dificuldade dos jovens, no que às relações toca,
isto é, ao namoro, é mantê-la estável, equilibrada e sólida. Re-
cordar que mantê-la equilibrada é tarefa dos namorados. É de-
ver dos dois criar condições para que a relação continue firme,
que atinja os planos individuais – e de ambos – tanto de curto
como de longo prazo.

Discórdias e inflexibilidade podem ser maus sinais, indica-


dores de que a relação está a um perigo iminente! No entanto,
algumas vezes é normal e tais situações mostrarão a [vossa]
capacidade de cooperar e solucionar os percalços juntos (cf.
Gálatas 6,2). Saiba que até mesmo os casamentos mais aplau-
didos também são acompanhados de desavenças. Contudo,
fique tranquilo(a) caso estejam aparecendo alguns daqueles
sinais (compare com Tiago 1,2-3).

6.3. Por que muitos namoros não duram?


Salomão, um dos grandes instrutores dos tempos bíblicos
responde: “O insensato não se interessa por compreender, mas so-
mente por manifestar os seus sentimentos”. (cf. Provérbios 18,2)

De igual forma, grande parte das relações terminam repen-


tinamente por falta de atenção aos interesses do outro, de co-
municação e de diálogo. Sabe-se que numa relação é necessá-
rio que os namorados partilhem dos mesmos ideais (compare
com 2 Coríntios 6,14; Filipenses 2,2-4).

Outro engenho explosivo que mina as relações é a falta de


flexibilidade e de ciúme excessivo. Através desses, relações só-

Arnaldo Soba | 46
lidas, hoje, terminam destruídas. Além disso, são raras as rela-
ções enraizadas no genuíno amor. A simulação dessa preciosa
qualidade, bem como a sua instrumentalização tende a au-
mentar o nível de separações abruptas – o que envenena uma
relação é o querer dominar o outro, possuí-lo em vez de aco-
lhê-lo e entregar-se. Sejamos sinceros: “Quantos namorados
amam- se de verdade?” Assim, urge a necessidade de sabermos
distinguir o amor genuíno das meras atracções, as paixonites.

Uma jovem disse-nos: “terminei porque já não sinto mais nada


por ele”. Impulsionada por opiniões erróneas e, sobretudo pelo
coração (cf. Jeremias 17,9), não olhou além das aparências.
Aliás, muitos vêem o relacionamento como uma diversão e o
parceiro como um mero acessório para ser bem visto e aumen-
tar a estima, situações essas que pioram a situação.

Outro ponto a assinalar é a falta de preparação. Jovens há,


que incapazes de cultivar amizades e conversar francamente
com o(a) seu(a) parceiro(a), põem, a priori, entraves para uma
sólida relação – afinal, um bom namoro, tanto quanto se lho
disse, é resultado da amizade de dois bons amigos12.

6.4. O que se pode fazer


Em primeira instância, é necessário que os parceiros sin-
tam-se atraídos em ter um relacionamento sério e honroso.13

Os namorados devem ser bastante achegados, ter um con-


tacto íntimo, conhecerem-se mutuamente e envolverem-se pro-
12 Muitos pontos poderiam ser arrolados aqui. O objectivo não é apresentar
uma lista exaustiva de razões que levam as relações a terminarem, mas bus-
car reflectir, a partir destas, caminhos para a edificação de namoros frutífe-
ros e agradáveis aos olhos de Deus.
13 A Bíblia desaconselha a prática de namorar sem intenções de se casar (cf.
1 Coríntios 7,8-9) e aconselha-nos a mudar este tipo de consciência (cf. 1
Tessalonicenses 4,3-5; Romanos 12,2).

Visão Juvenil | 47
fundamente um com o outro (Efésios 5,31). Também é vital, que
trabalhem arduamente para se criar uma atmosfera de rela-
cionamento saudável. Cada parceiro deve desenvolver senti-
mentos optimistas sobre a relação e defender os seus valores e
sua autovalorização (cf. Mateus 10,31). O respeito, a aceitação
pelos objectivos na vida de cada um deve ser uma prioridade
essencial. (compare com Efésios 5,33)

É necessário que se estabeleçam limites claros de condu-


ta: converse com o(a) seu(a) parceiro(a) sobre que tipo de
expressões de afecto são apropriados (cf. Provérbios 13,10).
Uma comunicação aberta sobre os ideais e valores de cada um
é uma excelente terapia e a melhor forma de evitar potenciais
desconcertos (compare com Colossenses 3, 9; Efésios 4,25).
Procure, sempre que possível, realizar actividades recreati-
vas juntos que fortaleçam o “amor”, o vosso vínculo de união
(compare com 1 Coríntios 16,13-14). Dediquem, pelo menos,
um dia na semana, algumas horas para estudarem a Palavra de
Deus (compare com Actos 2,42.46).

Se tiverem discórdias, não se desanimem nem se enganem


em poder resolver sozinhos. Orem a Deus (Tiago 4,8-10), pe-
çam ajuda (Tiago 5,14- 15) e estejam dispostos em reconstruir
o vosso namoro (Eclesiastes 4,9- 12). Em suma, sejais verda-
deiros um com outro e, sobretudo flexíveis; pois, o amor tudo
suporta (cf. 1 Coríntios 13,7). Lembre-se que não existe namo-
ro perfeito, pois todos nós falhamos com frequência (cf. Tiago
3,2).

Arnaldo Soba | 48
7
JOVEM, PROTEGEI O MEIO AMBIENTE
7.1. Pela vida na terra
No dia 7 de junho de 1997, o Programa das Nações Unidas
para Ambiente (UNEP) comemorou o Dia Mundial do Meio
Ambiente subordinado ao lema: “Pela vida na terra”. Foi uma
chamada de atenção a todos os estados do mundo para a pro-
tecção do meio ambiente através de medidas práticas relativa-
mente à situação de cada país.

A questão ambiental é uma problemática mundial, mas que


interpela a atenção individual de cada um de nós! “Pela vida na
terra” faz-nos pensar num ‘temporizador da Terra’ a marcar as
suas últimas horas e é fundamental que nós, jovens, sejamos
agentes participativos dessa causa. Precisamos de reflectir
sobre como as nossas atitudes antiecológicas estão a destruir
aos poucos o nosso Planeta – a Terra. Portanto, ela está a cla-
mar por intervenções urgentes e práticas de todos.

Para dar passos gigantes neste desafio precisamos de come-


çar por passos pequenos. Assim, alistamos uma série de medi-
das práticas para a preservação do meio ambiente ao alcance
de todos nós. Então, está disposto a salvar a Terra?

7.2. O que é meio ambiente?


Meio ambiente, comummente chamado apenas ambiente,
envolve todas as coisas vivas e não-vivas ocorrendo na Terra,
ou em alguma região dela, que afectam os ecossistemas e a
vida dos humanos. É o conjunto de condições [...] de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a VIDA
em todas as suas formas.14

14 Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) brasileira, estabelecida pela


Lei 6938 de 1981
Arnaldo Soba | 50
O conceito pode ser compreendido também
como:

Completo conjunto de unidades ecológicas que funcionam


como um sistema natural mesmo com uma massiva interven-
ção humana..., incluindo toda a vegetação, animais, micro-or-
ganismos, solo, rochas, atmosfera e fenómenos naturais que
podem ocorrer em seus limites.

Na Conferência das Nações Unidas sobre o meio Ambiente


celebrada em Estocolmo (Suécia), em 1972, definiu-se o meio
ambiente da seguinte forma: O meio ambiente é o conjunto
de componentes físicos, químicos, biológicos [...] capazes de
causar efeitos directos ou indirectos, em um prazo curto ou
longo, sobre os seres vivos e as actividades humanas.

7.3. Uma realidade preocupante


Vista do espaço, a Terra parece uma bela jóia azul e branca.
Mas basta uma olhada mais de perto para ver que nosso “lar”
está passar por problemas. Porquê? A resposta é simples: os
humanos têm sido péssimos inquilinos – eles estão a arruinar
a Terra! Chuvas ácidas, aquecimento global, desertificação e
outras respostas da natureza às acções predadoras humanas
já estão a trazer vida cara para alguns países, incluindo para
o nosso país. São vários os problemas ambientais, desde o tão
temido aquecimento global, chuvas ácidas, desflorestação, efeito
estufa, conforme descrevemos a seguir.

* Aquecimento global: corresponde ao aumento


anormal da temperatura da Terra.
* Chuvas ácidas: precipitações que contêm substân-
cias ácidas como ácido sulfúrico e ácido nítrico.
* Desflorestação: diminuição da cobertura vegetal
por meio do corte de árvores, incêndios ou pela ac-
ção das chuvas ácidas.
Visão Juvenil | 51
* Perfuração da camada do Ozono: o enfraqueci-
mento da camada do Ozono levará ao aumento do
cancro da pele.
* Clima urbano: este clima resulta da morfologia
urbana, ruas estreitas ladeadas por edifícios altos
que impedem a circulação do ar, intensa circulação
automóvel que liberta gases poluentes, que ficam
“presos” em pequenas áreas devido à deficiente cir-
culação de ar.
* Degelo: o degelo é um problema actual devido ao
aquecimento global da terra. Este problema tem
como consequência inundações e o avanço das
águas. Segundo alguns cientistas, nos próximos
tempos, muitos países (sobretudo os países baixos)
e Ilhas, estarão totalmente submersos.
* Efeito estufa: corresponde à retenção de calor nas
baixas camadas da Atmosfera, na Troposfera, devi-
do à concentração de gases, provocando subida de
temperatura na Terra.

Já houve várias inicitivas levadas a cabo pela Organização


das Nacções Unidas (ONU), pelo Fórum Económico Mundial
(“WEF”) e por vários blocos de países, em particular, para con-
tornar os vários problemas ambientais ao redor do mundo ou
nalguma região do globo, em específico.

Em 2015, por exemplo, na Convenção-Quadro das Nações


Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), mais de 191
países ratificaram o que ficou conhecido como o “Acordo de
Paris” onde os Estados, grosso modo, comprometeram-se a
“reduzir a emissão gases do efeito estufa” e “limitar o aumento
da temperatura a até 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais”15.
15 Angola ratificou o acordo em 16 de novembro de 2020, com uma per-
centagem de corte de gases de efeito estufa para ratificação de 0,17% (vide
https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_de_Paris_(2015)#Ratificaram_ou_
aderiram_a o_Acordo).

Arnaldo Soba | 52
Neste ano, 2021 (entre os dias 31 de Outubro e 12 de
Novembro de 2021), no seguimento da aceleração da acção
climática para cumprir o Acordo de Paris “Acordo de París”,
realizou-se em Glasgow (Reino Unido), a COP2616, onde re-
presentantes de cerca de 200 países comprometeram-se em
engajar-se no cumprimento dos acordos alcançados. Durante
o encontro, os países realçaram a “urgência e as oportunidades
para avançar em direcção a uma economia neutra em carbono”17.
Os principais acordos estabelecidos na COP26 são:

* Reduzir a temperatura global em até 1,5 ºC18;


* Reduzir o carbono e eliminar os subsídios fósseis inefi-
cientes;
* Ter um budget para financiamento climático em até
100 bilhões de dólares (antes de 2025)19.

7.4. Dez medidas práticas para a preserva-


ção do meio ambiente

* Use transportes públicos: o uso destes transportes


fará com que deixe de usar o seu automóvel pessoal
e, consequentemente, ajudará na redução de gases de
efeito estufa;
* Reduza o consumo de embalagens: essa medida re-
16 Dentre as várias actividades da cerimónia, fez-se a apresentação do pro-
jecto ambiental “Sonangol Carbono Azul”, dinamizado pela Sonangol, em
parceria com a Otchiva (uma ONG encabeçada pela ambientalista Fernanda
Reneé).
17 https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/contra-mudancas-clima-
ticas/cop26.
18 Para isso, é imprescindível reduzir as emissões em 45% - em relação aos
níveis de 2010 - em 2030 e chegar a zero emissões líquidas em 2050 (Iber-
drola, 2021).
19 Pode consultar outros compromissos firmados na COP26 em https://
www.iberdrola.com/sustentabilidade/contra-mudancas-climaticas/cop26.

Visão Juvenil | 53
duzirá consideravelmente resíduos que perduram por
muito tempo para se decomposerem;
* Reutilize os materiais sempre que possível: é mais
económico e ganhará maturidade ecológica;
* Separe os resíduos: facilita o processo de recolha e re-
ciclagem;
* Poupe energia em casa: essa medida dá algum traba-
lho, mas o planeta e a factura ao fim do mês agradecem;
* Poupe água;
* Racionalize nos electrodomésticos;
* Retire os carregadores das tomadas;
* Plante árvores;
* Reutilize, recicle e reduza.

7.5. Como Deus estará se sentindo?


Até aqui foi suficiente para percebermos que os seres hu-
manos não têm sido gratos com o “belo presente” que lhes foi
posto à sua disposição por Deus.20 Eis o que disse o Criador
aos primeiros humanos da terra: “crescei, multiplicai-vos, enchei
e submetei a Terra...” (Génesis 1,28). Será que temos cumpri-
do com essas básicas orientações? Evidentemente, não! Infe-
lizmente como base da desobediência dessas directrizes são
visíveis catástrofes naturais, algumas aparentemente inexpli-
cáveis, cada vez mais frequentes em quase todo o mundo –
incêndios florestais, tsunamis, furacões, tornados em chuvas
ácidas, seca, cheias e inundações, maremotos. Como se não
bastasse, ainda somos afligidos pela crise ecológico-moral. En-
tão, como Deus está se sentindo? Sem sombras de dúvidas,
triste, assim como já Se sentiu no passado remoto (cf. Génesis
6,7).
20 O autor deste e-book é defensor da teoria criacionista, a qual afirma que
o mundo veio a existir por conta da graça imerecida de um Ser Superior,
Omnisciente, Omnipotente e Omnpresente – YHWH.

Arnaldo Soba | 54
8
FESTAS: QUAIS OS LIMITES?
8.1. Uma realidade sombria?
Verifica-se, nos últimos tempos, que as festas têm invadido
quase todos os fins-de-semana dos jovens e a sua proliferação
supersónica – às vezes nefastas – é uma realidade concreta.
Parece que ninguém quer ousar, abordar essa questão com
toda a sinceridade que se impõe, colocar em cheque os riscos
que os jovens podem correr, nos vários tipos de recreações so-
ciais como as festas, nas suas mais diversas variantes.

Segundo observações, antes do ambiente pandémico da


COVID-19, só na zona periférica de Luanda, são visíveis gru-
pos de jovens a organizar, em média, duas a quatro festas (com
orgia à mistura) por mês. Apesar da observação não parecer tão
assustadora, ela espelha, no fundo, uma realidade sombria e
triste do jovem do século XXI.

Não é objectivo de este fazer apologia contra quem goste


de quaisquer tipos de festas (cf. Lucas 6,37). É nosso desígnio
fazer uma ‘radiografia’ a tais eventos, cada vez mais atraen-
tes, como nos demais tópicos, apresentar uma visão juvenil al-
ternativa e ajudar os jovens a optarem por recreações sociais
mais saudáveis (Provérbios 31,8), que resguardem sua saúde
e integridade físico-espiritual para uma vida mais prazerosa e
longânime – cf. Salmos 1,1-3; Provérbios 28,26.

8.2. As festas na bíblia


A Bíblia não faz menção de festas semelhantes as dos dias
de hoje. Mas, há já muito tempo, nos tempos bíblicos, há
evidências de ‘reuniões sociais’ que podem ser consideradas
como festas, na perspectiva contemporânea – cf. Job 1,4; João
2,1-12. Porém, a Deus nem todo tipo de reuniões sociais é
agradável aos Seus olhos (compare com Génesis 6,11-12; Ma-

Arnaldo Soba | 56
teus 14,1-11). Por exemplo, “a cerimónia” que alguns israelitas
fizeram ao deus-bezerro apenas fez inflamar a ira de Deus (cf.
Êxodo 32,8-10).

Por outro lado, as festas judaicas, como a Páscoa, o Pente-


costes e a Festa das Tendas (cf. Deuteronómio 16,1-15), des-
de sempre foram agradáveis e mostram a gratidão desse povo
para com a misericórdia de Deus.

Entretanto, fique claro que, apesar de a Bíblia ‘não conde-


nar encontros ou festas modestas’, Ele alerta contra as orgias
ou farras! – cf. Gálatas 5,19-21.

8.3. Diversões: breve diagnóstico


Os jovens de hoje parecem ter mais opções de diversão do
que os da geração anterior. Mas vê-se que as opções por si es-
colhidas carecem de um rigoroso discernimento. Pois, o tipo
de diversão que escolhe pode influenciar seu modo de pensar
e, com isso, as suas acções. Em breves palavras, pode moldá-lo
(compare com Gálatas 6,8)! Se assim for, é viável que esteja
treinado(a) o suficiente caso deseje decidir em divertir-se. (cf.
1 Pedro 3,16)

8.4. Porque não posso ir?


É provável que já se tenha perguntado: “serão as festas tão
influentes assim?” Seria bom recordarmos que as diversões
por si só não se revelam positivas ou negativas, influentes ou
não-influentes. Elas ganham adjectivos em função do tipo de
pessoas que as protagonizam, seus organizadores e participan-
tes. Porém, não significa que se deva cair ao indiferentismo:
modéstia à parte, existem festas que se participar só corrom-

Visão Juvenil | 57
perão as suas boas atitudes: “Não vos deixeis enganar: Más com-
panhias corrompem bons costumes.” – diz a Bíblia em 1 Coríntios
15,33. Assim como o Apósotolo Paulo exortou aos cristãos de
Corinto a terem um conceito equilibrado sobre a vida, tradu-
ziríamos também, suas palavras, aos jovens de hoje: “Tudo é
permitido, mas nem tudo me convém. Tudo é permitido, mas
nem tudo edifica”. (1 Coríntios 10,23; 1 Coríntios 6,12)

Se pensa que as todas as farras e as actuais maratonas são


simplesmente inofensivas, então, tem boas razões para se
preocupar: em quase todas elas promovem-se bebedeira, pro-
miscuidade, a depravação dos bons valores e, como já afirmá-
mos no início, estão a moldar-lhe a vida21! Geralmente, essas
recreações concebem uma visão falseada sobre os princípios
de moral cristã, sobre a juventude e, abusivamente, sobre
Deus (compare com Génesis 6,11-12); e, como se não bastas-
se, infelizmente, muitos apreciadores de tais diversões até vi-
vem como se Deus não existesse (cf. Isaías 5,12)!

8.5. O lado sombrio das recreações


Apesar de todo o glamour e reverência, as festas encer-
ram em si “lados sombrios”. Muitas das recreações propostas
para os jovens actuais são propícias para muitos jovens tor-
narem-se nuns objectos de sedução e de imoralidade sexual,
são ocasiões oportunas para muitos, ao ritmo da combustão
música-álcool alienarem seus corpos em troca de moedas injus-
tas ou até mesmo de mão beijada. Tais recreações, aplaudidas
por muitos, têm sido palcos favoráveis para situações ainda
desagradáveis: muitas raparigas são alvos fáceis de quaisquer
predadores sexuais que por aí ladeiam. É triste ainda saber que
muitos jovens “escusam-se de saber” dos perigos e limitam-
21 Algumas músicas propostas nesses ambientes geralmente traduzem, de
forma explícita, o comportamento dos seus participantes e promotores.

Arnaldo Soba | 58
-se a divertir sem pensar nas consequências. O mais doloroso
nisso tudo é que os efeitos de muitas acções lá praticadas são
irreversíveis e podem tatuar-nos pelo resto da vida (cf. Gálatas
6,7).

Essas observações traduzem a necessidade de fazermos sé-


rias e radicais mudanças (cf. Romanos 13,13; Romanos 12,2),
pois se assim não for, a nossa e as próximas gerações viverão
numa ‘era’ existencial agravada por uma crise de valores sem
precedentes por culpa de “nós próprios”!

8.6. Tenha um conceito equilibrado

Caso seja um frequentador assíduo de recreações aponta-


das anteriornente, o que fazer? Diz o Apóstolo São Paulo na
sua carta aos cristãos de Éfeso: “Não volteis a proceder como pro-
cedem os gentios, no vazio da sua mente (…) tornados insensíveis,
a si mesmos se entregam à libertinagem, até chegarem a praticar
toda a espécie de impureza, na ganância (…)” Efésios 4,17- 24).
Então, a atitude mais adequada é ser selectivo e, gradualmen-
te, ir se abstendo desses tipos de eventos. Vale recordar que a
Bíblia deixa bem claro a possibilidade de uma pessoa partici-
par ou não de festas. Cabe-nos, aqui, apenas recordar dos seus
perigos (Gálatas 5,19-21).

Existem diversões dignas de vênia e que pode um jovem in-


comum pode participar sem quaisquer objecções de consciên-
cia. Se não existissem outras formas de diversões puras, como,
então, se divertem a grande maioria dos jovens? Lembre-se que
algumas pessoas (até mesmo tidas como suas referências) po-
dem estranhar com a sua atitude: por se apegar com todas as
suas forças aos elevados padrões de moral da Bíblia no que se
refere a tais tipos de diversões. Mas, saiba que, o que realmen-
te conta não é o que eles pensam, e sim o que Deus pensa (cf.

Visão Juvenil | 59
Actos dos Apósto- los 5,29)! Deus quer que você se divirta o
máximo. Mas, que tudo seja feito com responsabilidade, tem-
perança e, acima de tudo, de forma equilibrada (1 Coríntios
10,31.33).

Arnaldo Soba | 60
9
FOFOCA: SERÁ TÃO RUIM ASSIM?
9.1. Porque a fofoca é tão frequente?

Se olharmos à nossa volta e estiver atentos aos convívios


juvenis, ser- nos-á fácil perceber que em conversas deles não
têm faltado dizeres informais que prejudiquem ou deitem abai-
xo a reputação de alguém que não esteja presente. Porque a
‘fofoca’ é tão frequente? De alguma forma pode-se dizer que é
por falta de frontalidade e coerência de quem a protagoniza;
alguns, talvez façam, porque escondem a inveja. Mas, na maior
parte das vezes, tem acontecido porque, nos dias de hoje, está
difícil fazer verdadeiros amigos (cf. Provérbios 18,24).

Portanto, é objectivo deste capítulo lapidar seus valores, re-


formular seu conceito de fofoca; fazer-lhe resfriar a língua an-
tes de comentar sobre alguém e para que, em vez de se tornar
numa ‘arma mortífera’, seja, antes, fonte de “palavras sempre
amáveis...” (cf. Colossenses 4,6).

9.2. O que é mesmo ‘fofoca’?

Em verdade, depende muito da apreensão que cada um faz


do conceito. Há quem considere apenas como uma simples
conversa descontraída que, em algumas situações, é favorável.
Embora se desconheça sobre a etimologia do termo, apraz-nos
dizer-lhe que “fofoca” corresponde a conceitos pejorativos, ou
seja, transpõe a ideia de uma “necessidade anormal de querer
‘saber e contar a outras pessoas’ sobre a vida dos outros”. As-
sim, ela pode ser vista como uma ‘conversa informal’ que pode
manchar a reputação de alguém – aliás, grande parte dos que a
protagonizam pautam por esse desprezível objectivo. Apesar
de ela ser vista como inofensiva, a nossa realidade mostra cla-
ramente o contrário e a Bíblia a compara como uma espada (cf.
Provérbios 12,18) que apunhala seus alvos pelas costas sem

Arnaldo Soba | 62
quaisquer possibilidades dos alvos se autodefenderem. Se as-
sim for, quem a pratica – o(a) fofoqueiro(a) – é um(a) covarde,
um(a) homicida silecioso(a) (compare com Provérbios 12,6).

9.3. Fofocas podem ferir

Assim como palavras podem curar (cf. Lucas 7,7), trazer


saúde e paz espiritual (Tiago 5,15)22, enfim, transformar uma
vida para melhor também elas podem ferir! “A língua – diz a
Bíblia – ...é um mal incontrolável, carregado de veneno” – Tiago
3,8. Às vezes, por meio de mensagens instantâneas (sobretu-
do por conta das redes sociais), um jovem com más intenções
pode manchar a reputação de alguém sem sequer dizer palavra
alguma. Em poucos minutos “a pessoa” gozará de má fama que
levará anos para recompor. Pensa nas consequências trágicas?!

O fofoqueiro, por vezes, age como tal “pensando estar fa-


zendo o bem”, pensa que está a fazer um ‘serviço à socieda-
de’; julga-se um detective nato, um repórter frustrado que
não tendo chances para uma carreira profissional exerce-a de
um modo tanto quanto doméstico. Se alguém pensa, talvez
devesse reconsiderar. Uma comunicação deve ser objectiva e
verdadeira. Disse Jesus, o Grande Mestre: “Seja este o vosso
modo de falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que fôr além disso,
procede do espírito do mal” (cf. Mateus 5,37); ou seja, do Dia-
bo – o Pai da Mentira – cf. João 8,44.

9.4. Tenha autodomínio

O autodomínio é um dos frutos do Espírito Santo (cf. Gála-


tas 5,23) e é dessa qualidade de que se precisa caso se sinta
tentado a contar uma fofoca. Além disso, deve mostrar capaci-

22 Essa referência bíblica lembra-nos sobre o poder da oração.

Visão Juvenil | 63
dade de mudar rapidamente de assunto caso a tentação esteja
movendo à fofoca. É difícil, mas não é impossível. Saiba que
depois que falamos, não temos mais o domínio sobre as pala-
vras; pois, elas adquirem ‘asas’ e escapam de nós. Porém, seria
capaz de recolher “todas as penas soltas ao vento”? É óbvio
que não! Contudo, esse e outros motivos são mais que sufi-
cientes para pensarmos cautelosamente no que vamos dizer
antes de falar. (cf. Tiago 1,19; Eclesiástico 19,6-7.10)

Às vezes, é reconfortante colocar a vida dos outros em jogo;


pois, como diz um provérbio, “o mal do outro alivia o nosso”,
em contraste disso, mostra que ainda somos pouco maduros
e juízes dos outros (cf. Tiago 4,11-12). Interessar-se pelos ou-
tros não significa, necessariamente, bisbilhotar – ou difamar–
a vida pessoal de alguém. Pode demonstrar esse carinho ou
afeição de modo correcto sem que passe aos olhos de muitos
como “especialista em fofocas”!

Antes de falar sobre alguém, que tal fazer o exercício das 3


(três) peneiras?

1ª Peneira: “Será mesmo que estou a par dos factos?”


2ª Peneira: “É tão importante contar essa informação?”
3ª Peneira: “Como isso vai afectar a minha reputação?”

Em súmula, se não for verdade, nem necessária, tão pouco


benévola, então, é melhor não passar a informação!

9.5. Não dê ouvidos a tudo o que se diz

Caso for uma vítima de fofoca, a melhor atitude é manter-


-se calmo(a), apurar os motivos e conversar pessoalmente com
quem contou a fofoca (compare com Efésios 4,31-32); nunca

Arnaldo Soba | 64
fazer recurso à lei da retaliação – fofoca com fofoca, “mal com
o mal” (cf. 1 Pedro 3,9) porque “o amor cobre uma multidão
de pecados” – 1 Pedro 4,8. Aconselha o livro de Eclesiastes 7,9
“não sejas fácil em irar-te...”. Assim, “não dê muita importância
em tudo o que se diz...” – Eclesiastes 7,21-22. Por vezes uma
reacção exagerada pode trazer consequências piores que a pró-
pria fofoca. Deixe que o seu proceder fale por si próprio (cf.
Eclesiástico 19,30). E antes que se precipite, confira as sábias
orientações de Deus, úteis para os(as) protagonistas de fofo-
cas, bem como para as suas vítimas:

“Pergunte ao seu amigo: talvez ele não tenha feito o que estão
dizendo dele; ou, se fez, não continuará fazendo. Pergunte ao pró-
ximo: talvez ele não ele tenha falado o que estão dizendo; ou, se fa-
lou, não o repetirá mais. Pergunte ao inimigo; porque muitas vezes
se trata de calúnia. Não acredite em tudo o que se diz. Às vezes,
a pessoa escorrega sem querer. Quem nunca pecou com a língua?
Pergunte ao seu próximo antes de ameaçá-lo, e assim você estará
observando a lei do Altíssimo” (Eclesiástico 19,13-17).

Visão Juvenil | 65
10
O QUE FAZER DA MINHA VIDA?
10.1. A falta de um projecto…

Porque, nos últimos tempos, muitos jovens vão tendo cada


vez mais atracções com um nível de letalidade tido como ab-
surdo? Com uma velocidade assustadora, valores então tidos
como basilares são descartados a nosso bel-prazer sem quais-
quer questionamentos ou razões aparentemente que justifi-
quem tais critérios de descarte. Tudo tornou antiquado, fora de
contexto, conservador e relativo… Aos poucos, a tradicional figu-
ra de Deus, profundamente enraizada na nossa cultura angolana,
vai sendo substituído por outros “deuses”, tais quais o (amor
desenfreado ao) dinheiro, as orgias, a bebedeira, o ocultismo, etc.
Em face de tal cenário, é provável que já se tenha questionado:
“O que realmente está a acontecer?” “Será a iminência do fim
dos tempos?” (cf. 2 Timóteo 3,1-5) A resposta a essas pergun-
tas pode ser surpreendente para muitos!

Nós entendemos que o que realmente está a acontecer é


apenas a ponta do iceberg, ou seja, o que está por detrás de
tudo isso é a falta de objectivos, de uma verdadeira orienta-
ção (acádemica, psicossocial e religiosa). Noutros termos, os
jovens vão demonstrando uma gritante falta dum Projecto Pes-
soal de Vida (“PPV”).

A vida, tal como o mundo, foi criada para um objectivo


(como qualquer um faz alguma coisa para certo fim), para ser-
mos “especiais”. (cf. Romanos 12,6-8), uma vez que cada um
lhe foi imposto uma missão: “servir e deixar o mundo um pou-
co melhor do que deixou”, tal como nos sugere Dom Bosco,
Santo Católico e patrono da juventude, “O Senhor colocou-nos
neste mundo para os outros”.

10.2. O que fazer então?


Visão Juvenil | 67
Não existe uma resposta taxativa a essa questão, porém
muita coisa se pode fazer – desde a (re)construção dos ideais
dos seus amigos, fazer da sua formação académico-profissio-
nal um instrumento de emponderamento da sua comunidade
ou simplesmente, usar da sua própria vida como um exemplo
de resilência, de persistência, de abnegação, de determinação em
busca do seus sonhos como nos recorda um velho adágio: “uma
palavra convence, mas um exemplo arrasta multidões” (cf. Lucas
10,33-35).

10.3. Descubra o seu propósito de vida

Enquanto escrevíamos o e-book, num dia qualquer, um ami-


go com o qual nos conhecemos ainda “miúdos”, curiosamente,
encheu o meu chat do Facebook Messenger com um turbilhão
de questionamentos como23:

— “Qual é o seu próposito de vida?


— “O que é que lhe deixaria realizado?”
— “Qual é o seu fim último?”

Antes mesmo de ele começar a colocar tais questionamos,


estupefaciado, evidenciou os nossos esforços em prol dos ou-
tros, demosntrou-nos como a simplicidade, a humildade e o
altruísmo são essenciais para a construção de uma comunida-
de cada vez mais forte, coesa e desenvolvida nos vários domí-
nios da sociedade. Discorreu ainda sobre como a promoção de
valores como o altruísmo, por exemplo, pode ser o “antídoto”
contra o câncer da corrupção, do individualismo, da falta de
compromisso social e contra, ainda, uma cultura predominan-
23 Foram vários os questionamentos, alguns dos quais bastante singulares
que, por motivos óbvios, fizemos questão adaptá-los antes de transpô-los
neste livro.
Arnaldo Soba | 68
temente hedonístico-materialista24.

Comecei por dizer-lhe que, enquanto “jovens incomuns”


e “jovens de valores”, os nossos gestos devem traduzir a pre-
missa do já citado Dom Bosco (Santo Católico e patrono da
juventude): “O Senhor colocou-nos neste mundo para os outros”,
transpondo a ideia de que nós estamos aqui para os outros
(sobretudo para os mais frágeis e marginalizados) e não ne-
cessaria- mente apenas para nós mesmos. Não tivemos receios
em demonstrar a nossa decepção relativamente àqueles jo-
vens que, estando em condições de puder ajudar, conseguem
ter um sono reparador quando ainda vemos nossos familiares
amigos (de forma mais concreta) passarem por várias limita-
ções impostas por um conjunto de circunstâncias conjuntu-
rais e estrururais.

— “Eu acredito piamente que nós viemos à existência para


fazermos algo mais grandioso do que ficarmos quase a vida toda
atrás de ‘bons carros’, de ‘grandes e belas casas’, de ‘casamentos e
de filhos’, de uma ‘conta bancária com uns tantos bilhões de dóla-
res’; ou seja, “Se a educação formal for apenas para ter um salário
mais rechonchudo, uma grande e bela casa e um carro norte-ame-
ricano, adeus o sonho da Nova Angola’.” – Desabafei. “Espero que
um dia essa minha filosofia de vida esteja redondamente incorrec-
ta” – Sorri ironicamente, trazendo uma lufada de ar fresco ao
clima bastante séria que ia instalando.

— “Todos nós deveríamos preocupar-nos com a construção de


um mundo melhor (mas não de forma utópica), a começar pela sua
casa, sua ‘banda’, sua escola, sua igreja, seu local de serviço. Preci-
samos de ser ‘mais humanos’ e menos ‘seres vivos’. De outra forma,

23 A cultura hedonístico-materialista preocupa-se simplesmente com o


“prazer material”, ou seja, com uma “aparente felicidade” onde o “eu” e o
“material” é centro de tudo.
Visão Juvenil | 69
de que adiantará termos deixado a nossa marca existencial no uni-
verso cósmico? Como é que a vida fará sentido?” – Finalizámos,
indagando-nos a nós mesmos.

Assim, nós entendemos que o primeiro passo para tornar-


mos objectiva a nossa vida é descobrir o seu porquê, a razão da
sua existência, o seu Ikigai25, a sua paixão, missão, vocação e
profissão, ou seja, o seu chamado para o mundo, para os ou-
tros – cf. Actos 9,1-18; Lucas 19,1-10. Dessa forma, a nossa
começa a ganhar sentido quando percebermos que todos nós
fomos chamados à existência por um ‘gesto de amor’, fazendo
da vida uma “eterna vocação”, uma autêntica maneira de mos-
trarmos a “centelha divina” infundida nos nossos corações no
acto da criação.

Perseguir o seu Ikigai, numa perspectiva juvenil, significa


escolher entre os padrões que o ‘mundo’ propõe-lhe (às vezes,
impõe-lhe) e as suas incorruptíveis convicções, forjadas nos
padrões de Deus. Perseguir o seu Ikigai pressupõe compreen-
der que as nossas aspirações, sonhos e planos só encontrarão
a sua realização se colocarmos Deus no centro da nossa exis-
tência humana (cf. Mateus 6,33).

10.4. Sirva com altruísmo26


25 Ikigai é um termo japonês que descreve a razão por que alguém levanta
da cama todos os dias, ou seja, sua motivação para viver. Na terra do Sol
Nascente, a palavra é bastante conhecida e tem um significado dinâmico,
que envolve uma procura constante por actividades que provocam satisfação
individual e colectiva. Partindo dessa noção, especialistas e autores difundi-
ram o Ikigai como uma verdadeira filosofia de vida, com base na premissa de
que, para viver mais e melhor, é necessário encontrar um ou mais propósitos.
Fonte: https://fia.com.br/blog/ikigai/.
26 Sinónimo de egoísmo, amor ao próximo.
Arnaldo Soba | 70
A primeira impressão que nos vem à mente quando fala-
mos em partilha é de que devemos repartir os nossos bens ma-
teriais e, por razões pouco conhecidas, esquecemos-nos, por
exemplo, que o nosso carácter, a nossa personalidade, a nossa
inteligência, a nossa imaginação, a nossa curiosidade, a nos-
sa criatividade, os nossos dons, os nossos talentos também
podem ser partilhados. Já alguma vez perguntou-se “e se com
as minhas habilidades pudesse ajudar as pessoas a tornarem-se
melhores do que elas são?”27 Essa expressão mágica além de ser
o fermento para a aguçar a imaginação, a criatividade e, com
isso, a veia empreendedora, também é uma questão-chave
para que a nossa vida seja uma verdadeira doação, uma autên-
tica encarnação da Filosofia Africana Ubuntu28, uma perfeita
transliteração da solidariedade para iluminar a vida dos mais
dos mais desfavorecidos.

A solidariedade faz-nos colocar em acção as nossas habili-


dades ao serviço dos outros – sabia que esse o caminho mais ‘na-
tural’ para vender o seu produto conhecimento para quem precisa?
– faz-nos mostrar o “nosso original EU”, dá-nos um sentimen-
to voltado para os mais carenciados e dá-nos ainda a sensação
de que podemos agregar sempre algum valor aos outros... No
entanto, perceba quando viver para melhorar a vida das outras
pessoas, indirectamente você melhora também a sua. Como
diz um provérbio chinês: “Na mão que oferece rosas resta sem-
pre um resquício do perfume das flores” (compare com Mateus
2⁷ Você sabia que a expressão “E se?” é o ingrediente-chave para a curiodade,
para a criatividade e para a inventividade?
2⁸ A Filosofia Ubuntu resgata a essência de ser uma pessoa com consciência
de que é parte de algo maior e coletivo. Para isso, de acordo com os fun-
damentos da Filosofia Ubuntu, somos pessoas através de outras pessoas e
que não podemos ser plenamente humanos sozinhos, sendo feitos para a
interdependência (https://periodicos.ifsertao-pe.edu.br/ojs2/index.php/se-
miaridodevisu/article/view/1094).
Visão Juvenil | 71
10,39).

Gestos concretos de solidariedade como visitar lares de me-


ninos em situação de risco, lares da terceira idade, trabalhar como
voluntário em uma comunidade do interior, criar projectos para
resgatar os jovens do álcool, da delinquência, da gravidez precoce,
do aborto, etc., dão uma nova dinâmica a nossa vida deixando
de ser rotineira e sem conteúdo para uma vida cheia de objecti-
va, cheia de iluminada e altruísmo.

Lembra-se da Parábola de Jesus sobre os talentos? (Mateus


25,14-30) Você não acha que os seus dons e a sua incrível in-
teligência podem ser úteis para os outros, então, por que não
os utiliza? Por que fica o todo tempo a esconder-se? Até quan-
do fugirá da sua própria história? Sobre isso, o poeta inglês
William Blake, sobre isso, já dizia: “Nenhum ser vivo vive sozi-
nho, exclusivamente para si”. Aqui está a semente do objectivo
supremo da vida!

Se percebermos isso durante o nosso percurso nesta terra,


a vida trilhará o seu ‘verdadeiro destino’ e no final, com certe-
za, seremos mais felizes. Nunca se esqueça disso!

10.5. O que fazer da minha vida?

1. Arranje sempre um “tempinho” para [falar com] Deus.


Antes de contar-Lhe os seus problemas, agradeça pelo dom da
Vida!
2. Lembre-se de que todos temos uma ‘Missão’ cravada no
peito e a nossa vida só encontrará a realização plena quando
passarmos a viver para os outros. Portanto, é seu dever desco-
brir “o seu porquê”!29
2⁹ Quando nascemos, foram as outras pessoas quem cuidaram de nós.
Quando adoecemos são as outras pessoas quem cuidam de nós e quando
Arnaldo Soba | 72
3. Estabeleça alvos. A inutilidade, muitas vezes, é conse-
quência da falta de objectivos.
4. Coloque-se à disposição dos outros: “é muito mais alegre
servir do que ser servido”.
5. Avalie o que lhe faz sentir inútil. Reconsidere o ponto 3.
No final, faça uma comparação entre o ‘antes’ e o ‘depois’.
6. Fortaleça-se através de um grupo juvenil de voltunraria-
do. Crie uma poderosa rede de contactos (networking).
7. Nunca deixe que atracções fúteis, passageiras e desregra-
das retorçam seus princípios e substituam o lugar de Deus na
sua vida.
8. Estabeleça um Projecto Pessoal de Vida30 para dinamizar
a sua vida. Saiba aonde quer chegar, pois, caso não saiba, qual-
quer proposta (ainda que desprovida de valor) lhe servirá.
9. Ser jovem é um oásis, mas também um deserto. Apesar
disso, não se desanime, seja resiliente e, por favor, nunca de-
sista dos seus sonhos.
10. Lembre: cada dia é um presente de Deus e menos um
dia para descobrir o que lhe move, o que o acorda todos os dias
e o faz continuar a viver (cf. Eclesiastes 12,1-8).

Um exemplo ‘Corrente’

Simith Corrente é um jovem trabalhador, viciado em livros


e em auto- formação. Segundo soube, grande parte da sua ren-
da disponível é destinada a livros e a formações, sem dúvidas,
um investimento de longo prazo com uma incrível propabili-
dade de retorno. Conhecemo-nos em 2011, há cerca de 10 dez
anos, quando ainda éramos calouros da Faculdade de Econo-
mia da Universidade Agostinho Neto. 4 anos depois, em 2015,
morrerermos serão as outras pessoas quem cuidarão de nós!
30 O site https://arnaldosoba.com/ dentre outros, dispõe de um curso sobre
Projecto Pessoal de Vida (“PPV”), sobre como descobrir o seu propósito, o
seu Ikigai, o seu Insight, para dar uma nova guinada na vida.

Visão Juvenil | 73
cada um seguiu o seu percurso profissional, não tão distinto,
aliás, desde lá para cá, continuámos no mesmo sector de acti-
vidade, trocámos experiência, criámos conteúdos para 3 pági-
nas de redes sociais voltadas à nossa área do saber e, com isso,
aprendemos muito um com o outro.

Em 2020, bem antes do lançamento da minha anterior


obra “Tornei-me licenciado: e agora?”, eu havia publicado no
meu story do WhatsApp um vídeo com uma mensagem incri-
velmente emocionante. Trata-se do extracto do discurso de
formatura do Curso de Medicina da Universidade Federal do
Amazonas, feito pelo neo-Médico Lucas Ximenes, da Turma
de alegria e de luto. Ao finalizar, Ximenes deixou ficar para to-
dos, um dos vários ensinamentos do Papa Francisco (que ficou
conhecido por sua simplicidade) que diz:

“Os rios não bebem sua própria água,


As árvores não comem seus próprios frutos,
O Sol não brilha para si mesmo e,
As flores não espalham sua fragância para si.
Viver para os outros é uma regra da natureza.
A vida é boa quando você está feliz,
Mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por
sua causa!”

Quando Simith viu essa mensagem, reviu-se imediatamen-


te na mensagem e pediu que eu a enviasse. Sem perguntar
quais razões, apenas atendi ao seu pedido. Semanas seguintes
deparámo-nos com outro vídeo surpreendentemente interes-
sante.

Num vídeo amador, Simith é flagrado, numa manhã de Do-


mingo, a abrir a bagageira do seu Hyindai Elantra a oferecer

Arnaldo Soba | 74
embrulhos de sandes e sumos a crianças em situações de vul-
nerabilidade. De acordo com pessoas próximas a si, esse gesto
é replicado em Domingos ou noutros dias, quando a sua des-
fiadora agenda permite. O que me surpreende em tudo isso é
que, até hoje, nunca tinha visto Simith publicar uma só foto
sobre esse seu generoso e memorável gesto. Como ele mes-
mo diz quando lhe é questionado sobre isso, “Em muitas situa-
ções, ninguém precisa de saber o bem que fazemos”, fazendo juz à
exortação de Jesus em Mateus 6,3-4 quando diz “v.3. Quando
deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direi-
ta. v.4. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê
o escondido, recompensar-te-á.”. Mais tarde também soube das
razões da sua paixão pelo mundo das ideias e pelos livros. Há
anos, ele vem desenvolvendo uma Biblioteca Comunitária no
seu bairro, Prenda, com o objectivo de democratizar o acesso
ao livro e o fomento à letiura. Assim como Simith, nos últimos
tempos vamos testemunhando várias iniciativas levadas cabo
por vários jovens um pouco por todo o mundo. Portanto, “se
tiver oportunidade, torne grande os pequenos”!

Olhando para a experiência, cheguei também a conhecer


uma menina angolana, católica, chamada Leila, poliglota, por
conta do seus pais que eram diplomatas. Infelizmente, aos
seus 15 anos, sua família experimentou a dor do luto quando
sua filha foi vítima de leucemia (câncer do sangue). Apesar da
sua fisionomia aparentemente frágil, Leila continua a ter um
grande legado, deixando traços marcantes na vida de quem
com ela se cruzou ao longo do seu breve parêntesis existencial.
Sua jornada era tão interessante que, depois da sua morte, foi
alvo de destaque num periódico internacional num artigou
que ficou conhecido como “The Leila Legacy”.

Segunda-feira: visitava uma casa de meninos em situação

Visão Juvenil | 75
de vulnerabilidade e transmitia o seu amor por eles. Como seu
génio poliglota, nesse dia de semana, Leila ensinava línguas
estrangeiras como o Inglês, Francês e Espanhol.
Terceira-feira: contava histórias para idosos de um lar da
terceira idade, na hora da cesta.
Quarta-feira: ia aos ensaios com o seu grupo de teatro.
Quando não tivessem ensaios, à tarde, ensinava alguns tru-
ques de decoração às meninas do seu bairro.
Quinta-feira: com apoio de alguns colegas e amigos, de-
pois da Escola, criava espaços de debate na sua comunidade,
com o objectivo de sensibilizar os seus contemporâneos, jo-
vens e até pais, sobre as várias implicações da dessacralização
do sexo e de uma vida sexual activa (precoce) em adolescentes
e jovens.
Sexta-feira: indo de casa em casa recolhia roupas, calçados
e alimentos para os meninos que visitava às segundas-feiras.
Sábado: ia à catequese. Sempre que possível e com a per-
missão dos pais, convidava as crianças que não tivessem aces-
so à pastoral catequética.
Domingo: ia à Missa e à reunião de seu grupo. À noite, pre-
parava a semana seguinte e antes de domir fazia leitura orante
da bíblia (lectio divina) sobre o Evangelho do dia.

Hoje, o exemplo de Leila é partilhado em várias conferên-


cias de adoles- centes e de jovens para mostrar como a vida,
apesar de breve e desafiadora, pode ser um verdadeiro encan-
to, uma vida de acção e doação.

Para encerrar esse capítulo, compartilhamos, a seguir, uma


mensagem da poetisa e contista brasileira, Cora Coralina, a vi-
são sobre a vida:

“Não sei se a vida é curta ou longa para nós. Mas, sei que nada

Arnaldo Soba | 76
do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser colo que acolhe, braço que envolve, palavra
que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima
que corre, olhar que acaricia e amor que promove. E isso não é coisa
de outro mundo, é o que dá sentido à vida, é o que faz com que ela
não seja nem curta nem longa demais, mas que seja intensa, ver-
dadeira e pura enquanto durar.”

Visão Juvenil | 77
APÊNDICE
MANIFESTO JOVEM CONTRA A PRESSÃO SOCIAL
PREDATÓRIA

Os 20 e poucos anos estão a matar-nos, tornar-nos ansiosos e


depressivos. Essa ideia de ter ou ser “sucesso” entre os 20 e os 30
anos de idade é esgotante!
Terminas o ensino médio, dizem-te que não tens faculdade.
Consegues um diploma de faculdade, criticam-te por não teres
um emprego. Consegues um emprego, criticam-te por “ganhares
mal”.
Passas a “ganhar [relativamente] bem, criticam-te por não
“vestires nada”.
Constróis uma familia, criticam-te por não teres casa própria...
Assim sendo, os 20 e poucos anos continuará a fazer muitas ví-
timas...
Mal começas a entender o sentido da vida, agora passam a
cobrar-te casamento, filho, idioma e carro; mas ninguém te diz
o quanto isto custa e em que medida eles estariam dispostos a
apoiar-te nestes desafios.
O tempo vai passando e, quando abres as redes sociais, parece
que a vida de todo mundo está melhor que a tua.
De repente, a ansiedade e a depressão começam a tomar conta
de ti. Nos teus pensamentos vais-te martelando, a dizer que tens
pouco tempo, que estás aquém do nível de vida de “todo mundo” e
que tens de correr...

Visão Juvenil | 79
E, então, começa a febre neurótica de te comparares com os ou-
tros e, inevitavelmente, vai se disseminado a inveja... no teu inte-
rior.
Os 20 e poucos anos não são tão bons assim (como pensávamos
quando mais novos). Infelizmente, ninguém quer (e ninguém vai)
saber da tua saúde mental.
As pessoas não se importarão se estás infeliz, ansioso ou depres-
sivo. O que lhes importava era saber “se tu és alguém” para, assim,
puder ponderar se és digno ou não de merecer o respeito deles.
Enquanto, apesar de todas as adversidades, vamos nos supe-
rando cada dia e lutando por dias melhores para nós mesmos, nos-
sa família e, por extensão, para o país; o nosso “Eu” vai esmorecen-
do por ser/ter/fazer “tanta coisa” e, ainda assim, “ninguém dar a
mínima por isso”.31

31 Texto original de Luiz Gui Prado (ligeiramente adaptado).

Arnaldo Soba | 80
POR FAVOR, FIQUE SOLTEIRA!

“Fique solteira até que você conheça um ‘cara’ que não faça jo-
guinhos. Fique solteira até que encontre um ‘cara’ que seja ‘Homem
de Palavra’, que lhe honre e lhe respeite, que valoriza o que você faz
por ele... Que valorize o tempo que você gasta se arrumando para
encontrar-lhe. Fique solteira, mas não fique com um ‘cara’ que você
tenha que cobrar amor ou atenção.

Fique solteira até encontrar alguém que ame a Deus sobre todas
as coisas. Um ‘cara’ apaixonado pelo Evangelho, apaixonado por
Jesus. Se ele não amar a Deus fique solteira, mas, pelo amor de
Deus, não fique com um ‘tarado’ que lhe ignora, que só lhe procura
quando precisa de cama e sexo. Que lhe coloca para baixo e lhe faz
se sentir inferior a ele.

Repito: fique solteira até conhecer um ‘cara’ honesto que queira


dividir o futuro com você. Ao contrário, não perca seu tempo com
‘caras’ assim. Além de perder tempo, você perde a oportunidade de
conhecer um ‘Homem Incomum’”.32

32 Texto original de Lázaro Rethiel, "O Melhor de Mim" (ligeiramente adap-


tado).
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POR FAVOR, FIQUE SOLTEIRO!

“Fique solteiro até que você conheça uma ‘girl’, que não faça jo-
guinhos. Fique solteiro até que encontre uma ‘girl’ que seja uma
‘Mulher Incomum’, que lhe respeite, lhe compreenda, que valorize o
sacrifício diário que você faz por ela; que valorize o tempo que você
gasta ‘trabalhando duro’ para ajudá-la em todas as suas dimen-
sões. Fique solteiro, mas não fique com uma ‘girl’qualquer, que você
tenha que mendigar amor, respeito ou atenção.

Fique solteiro até encontrar alguém que ‘ame a Deus sobre to-
das as coisas’, uma ‘girl’ apaixonada por assuntos espirituais, pela
vida, pelo Evangelho e apaixonada por Cristo Jesus... ‘se [ela] não
se respeita’, ‘não tem amor próprio’ e não amar a Deus continue
solteiro. Mas, pelo amor de Deus, não fique com uma ‘tarada e inte-
resseira’, que lhe ignora, que só liga-lhe ou procura quando precisa
(do seu dinheiro) ou está aflita... que lhe coloca para baixo e lhe faz
sentir-se inferior a ela... sobretudo, académica ou profissionalmen-
te.

Repito: fique solteiro até conhecer uma ‘girl’ séria, de valor, uma
‘girl’ desinteressada, fiel, que queira dividir o futuro com você. Do
contrário não perca seu tempo com ‘miúdas desprovidas de valor e
educação’. Além de perder seu tempo e dinheiro, você perde a opor-
tunidade de conhecer uma mulher que merece todo o seu amor — a
mulher dos seus sonhos!”33
33 Spin-off do texto original de Lázaro Rethiel, "O Melhor de Mim" (ligeira-
mente adaptado).
Arnaldo Soba | 82
A HISTÓRIA DA MULHER34

Conta uma lenda que no princípio do mundo quando Deus deci-


diu criar a Mulher, viu que havia esgotado todos os materiais sóli-
dos no homem e não tinha mais o que dispor:
Diante deste dilema e depois de uma profunda reflexão, fez o
seguinte: Pegou a forma arredondada da lua e
As suaves curvas das ondas,
O trémulo movimento das folhas e A forma esbelta da palmeira,
A nuance delicada das flores e O amoroso olhar da pomba,
A alegria dos raios do sol e As gotas do choro das nuvens,
A inconstância do vento e a fidelidade do cão,
A timidez da tartaruga e a vaidade do pavão,
A suavidade da pena do cisne e a dureza do diamante,
A doçura da manga e a crueldade do tigre,
O ardor do fogo e a frieza da neve,
A paciência do caracol e a persistência do pica-pau,

Misturou ingredientes tão diferentes, formou a mulher e deu ao


homem…
Depois de uma semana veio o homem e disse a Deus:

“Senhor, a criatura que me deu faz-me desgostoso, quer toda a


minha atenção. Nunca me deixa sozinho, fala demais, chora sem
motivo e se diverte em me fazer sofrer. Por isso, vim devolvê-la por-
que NÃO POSSO VIVER COM ELA!”

3⁴ Suplemento do capítulo 4 — "Os desafios de ser uma jovem mulher".

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“Está bem” – disse Deus e levou a Mulher.
Se passou outra semana, o homem voltou e disse:
“Senhor, me encontro muito sozinho desde que eu devolvi a cria-
tura que fizeste para ser minha companheira”.
“Ela cantava para mim e brincava ao meu lado, me olhava com
ternura e o seu olhar era uma carícia, ria e o seu sorriso me conta-
giava – era uma música bonita de se ouvir. Deixava-me inebriado a
suavidade do seu tacto.”
“Por favor, Deus, eu lhe imploro devolva-ma porque NÃO POS-
SO VIVER SEM ELA!”

Arnaldo Soba | 84

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