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15/10/2009 Som ao Vivo :: Artigos

Cego dirigindo e surdo cuidando de som


A utor: Fernando A. B. P inhe iro

Já imaginaram um cego dirigindo?? Na verdade, não dá para imaginar isso. Mas meu tio era quase
isso. Ele usava um óculos de sol escuríssimo à noite, porque dizia que as luzes dos faróis e postes o
incomodava. Ele acabava enxergando muito mal à noite, e se acidentou com o carro inúmeras vezes,
sempre à noite. Levou alguns anos (e muitas despesas) para descobrir que o errado era ele, que não
poderia dirigir daquela forma.

Nas igrejas, temos um monte de "surdos" cuidando de som. Não surdos por deficiência física, mas
"surdos" porque estão sentados em um lugar em que não conseguem escutar o mesmo som que a
igreja escuta. E assim, posicionados errado dentro da igreja, acabam se tornando "surdos", o que
atrapalha o trabalho, e muito!

Para um operador de áudio regular o som, ele tem que escutar o que você está fazendo. Quanto
melhor escutar, melhor poderá regular. Isso dependerá diretamente do posicionamento do operador (e
por consequência, dos equipamentos) em relação às caixas de som do P.A (no caso, as caixas da
igreja).

A melhor posição possível seria no meio da platéia. Exatamente no meio, tanto no comprimento quanto
na largura do tamanho esperado para a platéia. Nessa posição, o técnico consegue regular o som
perfeitamente. Ele escutará o mesmo som que a platéia, inclusive com as interações do som no
ambiente (a acústica do local). Mesmo quanto ao volume geral, ele conseguirá fazer uma boa
"dosagem". E quem gostar de som com mais volume, ficará à frente dessa posição. Quem gostar de
som com menos volume, ficará atrás. E próximo ao operador, o som estará em um volume "médio".

Existem igrejas em que o som é realmente instalado no meio do templo. Mas são poucas. Onde
acontece isso, tal posição vem desde o projeto e concepção da igreja. Parabéns para as igrejas onde
o som é assim. Mas temos visto inúmeras situações onde o operador de som está em posição ruim,
tão ruim que o resultado é afetado por isso. Vejamos algumas posições possíveis:

a) lá no fundo da igreja, após o último banco.


-Vantagens: dá uma noção ótima do som em toda a igreja. Técnico de áudio não sofre interferência
dos retornos dos instrumentos, que ficaram lá na frente.
-Desvantagens: fica longe dos acontecimentos. Não pode se antecipar aos problemas, não há como
passar um microfone a mais ou acertar alguma coisa caso necessário. Se o som estiver no mesmo
nível que a igreja, a visão dos músicos e cantores também é prejudicada (por isso muitas igrejas
fazem um pequeno mezanino para o som, para ficar mais alto). A parede atrás do operador pode
influenciar negativamente a acústica, por causa de reflexões, principalmente de graves.

Conclusão: nessa posição se escuta muito bem, vê pouco (se tiver mezanino vê bem), nada consegue
fazer em caso de problemas.
Resultado: nenhuma microfonia, excelente regulagem, mas agilidade zero.

Como pode melhorar? Com uma equipe de pelo menos dois membros, em comunicação por rádio.
Um fica atrás, nos equipamentos e outros junto às lideranças da igreja, músicos e cantores, para
resolver problemas que aconteçam. A agilidade será dada pelo operador que estiver na frente. O
resultado será muito bom.

b) lá na frente, rente à parede do altar, próximo dos músicos e dos cantores.


- Vantagem: próximo ao pastor, vê tudo o que acontece com ele e também com os músicos e cantores
(que geralmente situam-se próximos também).Consegue resolver as necessidades: passar mais um
microfone, ligar mais um instrumento, trocar uma pilha do microfone sem fio que acabou no meio da
pregação...
- Desvantagem: não escuta nada. Ou melhor, escuta TUDO de som direto (dos instrumentos, dos
cantores, dos retornos deles) e NADA do que a igreja está escutando. Se torna um operador para os
músicos e cantores, não para a igreja. O pior é que músico gosta de tudo alto. Não escuta a acústica
da igreja.

Conclusão: escuta muito mal, vê bem, consegue ter boa agilidade em caso de problemas. Resultado:
muitas microfonias, péssima regulagem (mas instrumentistas gostam), igreja toda reclamando.

somaovivo.mus.br/imp_artigo.php?id… 1/2
15/10/2009 Som ao Vivo :: Artigos
Como pode melhorar: alguns usam fones de ouvido (que devem ser do tipo fechado) para regular o
som e evitar a influência do som direto dos músicos, cantores e pregador. É possível até colocar uma
caixa de som (deve ser sempre igual às do PA) para se ter noção do som que o público recebe. Mas a
melhor idéia é ter uma equipe de pelo menos 2 operadores, em comunicação via rádio. O segundo
operador fica mais recuado, no meio da igreja ou atrás, e passa para o operador as necessidades de
regulagem (aumenta isso, abaixa aquilo, etc).

Lembrando que, nesse caso, quem "manda" na regulagem é quem estiver situado na melhor posição
para ouvir. Se o operador de trás manda abaixar o teclado e o da frente achar que tem que aumentar o
teclado mais, prevalece quem está ouvindo o mesmo som que o público.

c) lá na frente, rente à parede do altar, mas por trás dele, em uma pequena sala, vendo o púlpito por
uma janela, de costas ou lateralmente para o pregador.
- Vantagem: esteticamente é uma das melhores posições, pois se tira os equipamentos de dentro da
igreja. Está próximo ao pastor, vê tudo o que acontece com ele e também com os músicos e cantores,
e ninguém o vê, pois está em posição bem escondida. Se a janela for protegida por vidro, sofrerá
pouca influência do som direto dos dos músicos e cantores e seus retornos. Os equipamentos ficam
muito bem protegidos, já que estarão em sala própria. Dá para pedir um ar-condicionado somente
para a sala (se usar a "desculpa" que é melhor para os equipamentos, consegue).
- Desvantagem: não escuta nada da igreja. Nesse caso, deve haver caixas de som de referência
(caixas de estúdio) para fazer o papel de monitoria do som que a igreja estará recebendo.

Conclusão: escuta muito bem, mas o som é diferente do que a igreja recebe (não há influência da
acústica do local). Posição muito utilizada em igrejas com palco, e que fazem gravações dos cultos.
Boa visão, mas agilidade zero.

Como melhorar: se não houver as caixas de referência, será a pior posição possível para se escutar o
som da igreja. Entretanto, muitas lideranças das igrejas não querem os equipamentos à mostra no
templo e exigem que os mesmos fiquem em outros locais. Uma forma de melhorar é manter uma
equipe de 3 pessoas, duas pessoas com rádio, uma próximo ao púlpito, músicos e cantores, para dar
agilidade e resolver problemas e outra uma pessoa com rádio lá atrás, fazendo o monitoramento do
som e passando para o operador o que fazer.

Conclusão geral.

Cada caso é um caso. Temos igrejas para 50 pessoas e para 2.000 ou mais membros.
Temos lideranças que vão aceitar pessoas com rádios dentro da igreja e outros que não vão aceitar
isso de jeito nenhum. Há situações em que a estética é mais valorizada que a qualidade sonora
(situação infelizmente muito comum). Há casas adaptadas para serem igrejas e há igrejas
construídas desde o início se pensando no som, na acústica. Enfim, há de tudo, e a questão de
posicionamento é realmente complicada. Não é só uma questão técnica, exige "jogo de cintura".

Coloco sempre como necessidade primordial o operador de som ouvir o mesmo som que a igreja
escuta. O mesmo, não de fones, não de caixas acústicas diferentes, etc. Ouvir o som como o público
escuta. Evidente que, para isso, a posição no meio da igreja, citada lá no início, é a melhor de todas,
mas a mais difícil de se conseguir.

A preocupação do operador de som tem que ser tentar convencer as lideranças que conseguirá fazer
um serviço melhor se conseguir um bom posicionamento dentro do templo. E que se isso não for
possível, é necessário tentar solucionar tal situação de outra forma (rádios, caixas de referência, etc). O
que não pode é estar "surdo" e, nessa condição, cuidar do som para os outros.

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Revisado/reescrito em 11/Mar/2008.

somaovivo.mus.br/imp_artigo.php?id… 2/2

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