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Alunas: Kauane Adrielly do Nascimento Silva e Nicoly Maria Caetano Lima.

A POSSE DE ESCRAVOS POR ESCRAVOS

O historiador brasileiro Robson Pedrosa Costa, no seu artigo Rufina: uma escrava
senhora de escravos em Pernambuco, 1853-1862, faz uma importante análise deste tópico.
Primeiramente, é importante ter em mente que mesmo depois da alforria, ainda assim, essa
liberdade concedida aos escravos possuía muitas limitações. Robson P. Costa diz, no tópico
“Escravizadas e Libertas”:

“Sidney Chalhoub também destacou ‘o problema da liberdade no Brasil escravista’


do século XIX. Ele destacou as limitações impostas à liberdade e as restrições
constitucionais infligidas aos libertos, chamando atenção para o constante perigo de
revogação da liberdade e reescravização ilegal, o acesso limitado à instrução
primária e a suspeita recorrente sobre os livres de cor.” (COSTA, 2018, p. 114-115)

O historiador Sidney Chalhoub, citado por Robson P. Costa, faz uma contribuição de
suma importância ao tema, quando reflete sobre o que ele chama de “precariedade estrutural
da liberdade”. Ele faz uma análise panorâmica sobre o que era essa liberdade e como ela
funcionava.
“Veremos as restrições constitucionais aos direitos políticos dos libertos, a
interdição dos senhores à alfabetização de escravos e o acesso diminuto de libertos e
negros livres em geral à instrução primária, o costume de conceder liberdades sob
condição, a possibilidade de revogação de alforrias, as práticas de escravização
ilegal de pessoas livres de cor, a conduta da polícia nas cidades de prender negros
livres sob a alegação de suspeição de que fossem escravos fugidos.” (CHALHOUB,
p. 34, 2010)

No entanto, por mais que essa liberdade fosse cerceada, ainda assim, foi percebido
que alguns escravos conseguiram juntar posses ao ponto de possuir até outros escravos.
Entre os anos de 1793 e 1865, durante o contexto de debates emancipacionistas, os monges
beneditinos concederam o maior número de alforrias aos cativos, cerca de 119 cativos
receberam as suas alforrias e entre eles 18 ofereceram algum cativo pela sua liberdade, esse
ato era denominado substituição, ou como era intitulado pelos monges “Um escravo por si” .
Vale ressaltar também que o substituto do cativo alforriado não teria que ter necessariamente
os mesmos atributos físicos, os monges avaliavam o cenário para não sair perdendo na hora
da troca, porém em alguns casos necessitava ter uma equivalência. Inclusive, bastante se fala
sobre a prática de alforria, mas pouco se pesquisou sobre a manumissão.
João José Reis ao desenvolver o seu estudos acerca da posse de escravos por libertos
afirma que em uma listagem onde possuíam 304 libertos apenas 64 eram senhores de
escravos e a maioria deles possuía um ou dois cativos no máximo (REIS, 2008, p.298).
Em alguns estudos como os de Carlos Eugênio Soares apontam as mulheres como
maior predominância entre os senhores de escravos, entre 18 casos de pedidos de
substituição, 10 seriam de mulheres pedindo a sua própria alforria ou a de seus filhos, a
diferença é pequena mas a presença da mulher cativa é de grande importância no cenário de
manumissão e também como proprietária de escravos. Sheila Faria (2000, p. 86) evidencia
que as mulheres forras possuíam condições mais favoráveis de serem possuidoras de bens
durante o período escravocrata.
Em suma, essa prática, nada mais era, do que uma forma de perpetuar esse sistema
escravista. O ato de possuir um escravo era a comprovação de uma ascensão social, uma
comprovação da liberdade conquistada e até um afastamento do seu passado. Maria Inêz
Cortez de Oliveira, em sua obra intitulada liberto: seu mundo e os outros, faz uma importante
afirmação: “a vida de cativeiro ensinará ao liberto que ser livre era ser senhor e ser senhor era
possuir escravos que trabalhassem para si. Tal era a verdade do escravismo” (OLIVEIRA, p.
41, 1988).

REFERÊNCIAS:

CHALHOUB, Sidney. Precariedade estrutural: o problema da liberdade no Brasil escravista


(século XIX). História Social, n. 19, p. 33-62, 2010.

COSTA, R. P. Escravos senhores de escravos, Pernambuco, séculos XVIII e XIX. Revista


História & Perspectivas, [S. l.], n. 57, 2018. DOI: 10.14393/HeP-v30n57-2017-6. Disponível
em: https://seer.ufu.br/index.php/historiaperspectivas/article/view/34156. Acesso em: 25 fev.
2023.

COSTA, Robson Pedrosa. Rufina: uma escrava senhora de escravos em Pernambuco,


1853-1862. Revista Brasileira de História, v. 38, p. 109-130, 2018.

FARIA, Sheila de Castro. Mulheres forras: riquezas e estigma social. Tempo, Rio de Janeiro,
n. 9, p. 65-92, 2000

OLIVEIRA, Maria Inês Côrtez de. Liberto: seu mundo e os outros, Salvador, 1790/1890. São
Paulo: Corrupio, 1988.

REIS, João José. Domingos Sodré, um sacerdote africano: escravidão, liberdade e candomblé
na Bahia do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2008

SOARES, Carlos Eugênio Líbano. “Instruído na fé, batizado em pé”: batismo de africanos na
Sé da Bahia na 1ª metade do século XVIII, 1734-1742. Afro-Ásia, Salvador, v. 39, p. 79-113,
2010

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