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Álgebra Comutativa: Lista I

Jorge Luis Rojas Orbegoso


8 de Abril de 2013

1 Aneis e Ideais
Exercício 1.1. Seja x um elemento nilpotente do anel A. Mostre que 1 + x é invertível
de A. Conclua que a soma de um elemento nilpotente e um invertível é invertível.
Solução. Provemos que 1 + x é invertível.
Forma 1: Como x ∈ Nil(A) ⊆ Jac(A), por 1.9 temos que 1 + x = 1 − (−1)x é invertível.
Forma 2: Como x ∈ Nil(A), existe N ≥ 1 tal que xN = (−x)N = 0, logo
1 = 1 − (−x)N
= (1 − (−x))(1 + (−x) + . . . + (−x)N −1 )
= (1 + x)(1 − x + . . . + (−1)N −1 xN −1 ),
o que prova que 1 + x é invertível.
Provemos que u + x é invertível.
Como Nil(A) é ideal, u−1 x ∈ Nil(A), logo pelo anterior, 1 + u−1 x é invertível, como u
também é invertível, o produto u + x = u(1 + u−1 x) é invertível.
Lema∑1. Sejam A um anel, a0 , . . . , am , b0 , . . . , bn ∈ A e para cada i = 0, . . . , n + m seja
n
ci = j=0 an−j bj (tal que an−j , bj estão definidos). Se cumple que
(c0 , . . . , cn+m ) ⊆ (a0 , . . . , an )(b0 , . . . , bm ) ⊆ r((c0 , . . . , cn+m )).
Demonstração.∑Escrevamos a = (a0 , . . . , an ), b = (b0 , . . . , bm ), c = (c0 , . . . , cn+m ). É
j=0 ai−j bj ∈ ab, o que implica a primeira inclusão. Para provar a
i
claro que ci =
segunda inclusão, basta probar que ai bj ∈ r(c) (já que ab é gerado por esses elementos).
Provemos este resultado por indução sobre i + j.
Se i + j = 0, então i = j = 0, se ve que ai bj = a0 b0 = c0 ∈ c ⊆ r(c). Agora se i + j > 0,
logo temos
(ai bj )2 = ai bj (ci+j + ai bj − ci+j )

i+j
= ai bj ci+j − ai bj al bi+j−l
l=0
l̸=i


i+j

i+j
= ai bj ci+j − (al bj )ai bi+j−l − (ai bi+j−l )al bj
l=0 l=0
l<i l>i

1
Para l < i, temos l + j < i + j e pela hipótese indutiva al bj ∈ r(c). Se l > i, temos que
i + (i + j − l) < i + j e pela hipótese indutiva ai bi+j−l ∈ r(c). Logo


i+j

i+j
(ai bj ) = ai bj ci+j −
2
(al bj ) ai bi+j−l − (a bi+j−l ) al bj ∈ r(c),
|{z} | {z } | i {z }
∈r(c) l=0 ∈r(c) l=0 ∈r(c)
l<i l>i

o que implica que ai bj ∈ r(c). O que termina a prova.

Exercício 1.2. Seja A um anel e A[x] o anel de polinômios em uma indeterminada x


com coeficientes em A. Seja f = a0 + a1 x + . . . + an xn ∈ A[x]. Prove que:

i) f é invertível em A[x] ⇐⇒ a0 é invertível e a1 , . . . , an são nilpotentes.

ii) f é nilpotente ⇐⇒ a0 , . . . , an são nilpotentes.

iii) f é um divisor de zero ⇐⇒ existe a ̸= 0 em A tal que af = 0.

iv) f é dito primitivo se (a0 , a1 , . . . , an ) = (1). Prove que se f, g ∈ A[x], então f g é


primitivo ⇐⇒ f e g são primitivos.

Solução. Notemos que é claro que se a é nilpotente ou invertível em A também é nil-


potente ou invertível respectivamente em A[x] (desde que o produto em A é o produto
restrito de A[x]).

i) Se f é invertível. Seja g = b0 + . . . + bm o inverso de f , então

1 = f g = a0 b0 + (termos de grau ≥ 1 e < n + m) + an bm xn+m

de onde a0 b0 = 1, isto é, a0 é invertível. Também se n ≥ 1 temos que an bm = 0, já


que n + m ≥ 1.
Provemos o resultado pedido para f por indução sobre n = grauf . Para n = 0 temos
que f = a0 o qual é invertível. Suponhamos que o resultado é certo para todos os
polinômios de grau igual a n − 1 ≥ 0. Seja f o polinômio de grau n ≥ 1 e g o inverso
de f .
Afirmação: ar+1
n bm−r para r = 0, . . . , m.

Para r = 0 temos que an bm = 0. Provemos para r e suponhamos válido para 0, . . . , r−


1, como n + m − r ≥ 1, cn+m−r = 0, assim

0 = arn (cn+m−r )
= arn (an bm−r + an−1 bm−r+1 + an−2 bm−r+2 + . . .)
= ar+1
n bm−r + an−1 an
(r−1)+1
bm−(r−1) + an−2 an a(r−2)+1
n bm−(r−2) + . . .)
r+1
= an bm−r + an−1 0 + an−2 an 0 + . . .)
= ar+1
n bm−r

O que prova a afirmação.

2
Fazendo r = m, obtemos am+1n b0 = 0 e como b0 é invertível temos que am+1
n = 0, isto
é, an é nilpotente e assim −an xn também é invertível. Como f é invertível, temos
que
f + (−an xn ) = a0 + . . . + an−1 xn−1
é nilpotente de grau n − 1, e pela hipotese indutiva, a0 é invertível e a1 , . . . , an−1 são
nilpotentes, o que termina a prova.
Reciprocamente, temos que a1 , . . . , an ∈ Nil(A) ⊆ Nil(A[x]), e como Nil(A[x]) é ideal

f − a0 = a1 x + . . . + an xn ∈ Nil(A[x]),

logo pelo exercício anterior, ja que a0 é invertível, temos que f = a0 + f − a0 é


invertível.

ii) Como f é nilpotente, pelo exercício anterior

1 + f = (1 + a0 ) + a1 x + . . . + an xn

é invertível, logo a1 , . . . , an ∈ Nil(A) pelo item i). Agora sabemos que existe N ≥ 1
tal que f N = 0, daqui

0 + (termos de grau ≥ 1),


0 = f N = aN

assim aN
0 = 0 e portanto a0 também é nilpotente.

Reciprocamente, desde que os ai ’s estão em Nil(A[x]) e como Nil(A[x]) é ideal

f = a0 + a1 x + . . . + an xn ∈ Nil(A[x]).

iii) Seja g ̸= 0 de grau mínimo tal que f g = 0. Se g = b0 + . . . + bm xm com bm ̸= 0,


segue-se
0 = f g = (termos de grau < m + n) + an bm xn+m ,
então an bm = 0, logo 0 = an (f g) = f (an g) e

an g = an b0 + . . . + an bm xm = polinômio de grau < m − 1,

e pela minimalidade do grau de g, temos que an g = 0.


Afirmação: an−r g = 0 para todo r = 0, . . . , n.
Por indução sobre r, para r = 0 já temos que an g = 0. Provemos para r e suponhamos
válido para k = 0, . . . , r − 1, então

0 = fg
= a0 g + . . . + an gxn
= a0 g + . . . + an−r gxn−r + 0xn−(r−1) + . . . + 0xn
= (a0 + . . . + an−r xn−r )g
= (termos de grau < m + n − r) + an−r bm xm+n−r

3
então an−r bm = 0, assim 0 = an−r (f g) = f (an−r g) e

an−r g = an−r b0 + . . . + an−r bm xm = polinômio de grau < m − 1,

e pela minimalidade do grau de g, temos que an−r g = 0. O que prova a afirmação.


Então, para k = 0, . . . , n

0 = ak g = (termos de grau < m) + ak bm xm ,

logo ak bm = 0.
Portanto
bm f = bm a0 + . . . + bm an xn = 0,
com bm ̸= 0.
O recíproco é óbvio.

iv) Sejam f = a0 + . . . + an xn , g = b0 + . . . , bm xn , f g = c0 + . . . , cm , a = (a0 , . . . , an ),


b = (b0 , . . . , bm ), c = (c0 , . . . , cn+m ). Do lema anterior temos c ⊆ ab ⊆ r(c). Se f g
é primitivo, temos que A = c ⊆ ab ⊆ a ∩ b, de onde A = a e A = b, isto é, f é g
são primitivo. Reciprocamente, se f e g são primitivos temos que a = b = A, logo
A = ab ⊆ r(c), isto é, r(c) = A, dai c = A, portanto f g é primitivo.

Exercício 1.3. Generalize o execício 1.2 para o anel de polinômios A[x1 , . . . , xn ]em várias
indeterminadas.

Solução. Afirmamos que: coeficientes em A. Seja seja



f= ai1 ,...,in xi1 ,...,in ∈ A[x1 , . . . , xn ],

i) f é invertível ⇐⇒ a0,...,0 é invertível e ai1 ,...,in são nilpotentes para (i1 , . . . , in ) ̸=


(0, . . . , 0).

ii) f é nilpotente ⇐⇒ ai1 ,...,in são nilpotentes para todo i1 , . . . , in .

Provaremos os seguintes resultados por indução sobre n. Para n = 1 sai diretamente do


exercício anterior item i), ii), iii). Seja n > 1 e suponhamos válido para 1, . . . , n − 1, logo
 
∑ ∑ ∑
f=  in−1  in
ai1 ,...,in xi11 . . . xn−1 xn = fin xin ∈ A[x1 , . . . , xn−1 ][xn ],
in i1 ,...,in−1 in

então usando exercício anterior item i), ii) e a hipótese de indução temos que
∑ in−1
ii) f é nilpotente ⇐⇒ fin = i1 ,...,in−1 ai1 ,...,in−1 ,in xi11 . . . xn−1 é nilpotente para todo
in ≥ 1 ⇐⇒ ai1 ,...,in−1 ,in é nilpotente para todo i1 , . . . , in . O que termina a prova de
ii).

4
∑ in−1
i) f é invertível ⇐⇒ fin = i1 ,...,in−1 ai1 ,...,in−1 ,in x1 . . . xn−1 para todo in ≥ 1 e
i1
∑ in−1
f0 = i1 ,...,in−1 ai1 ,...,in−1 ,0 xi11 . . . xn−1 é invertível ⇐⇒ a0,...,0 é invertível, ai1 ,...,in−1 ,0 é
nilpotente para (i1 , . . . , in−1 ) ̸= (0, . . . , 0) e ai1 ,...,in−1 ,in é nilpotente para in ≥ 1 ⇐⇒
a0,...,0 é invertível e ai1 ,...,in é nilpotente para (i1 , . . . , in ) ̸= (0, . . . , 0). O que termina
a prova de i).
Exercício 1.4. No anel A[x], o radical de Jacobson é igual ao nilradical.

Solução. Sempre temos que Nil(A) ⊆ Jac(A). Agora seja f = ni=0 ai xi ∈ Jac(A[x]),
então
1 − xf = 1 − a0 x − a1 x2 − . . . − an xn+1
é invertível por 1.9, pelo exercício 1.2 temos que a0 , . . . , an são nilpotentes e portanto f é
nilpotente, o que prova a igualdade.
Lema 2. Sejam A ⊆ B aneis, i : A → B o homomorfismo de inclusão, b ideal de B e
bc = i−1 (b) = b ∩ A. Se cumpre que o homomorfismo induzido por i,
ei : A/bc −→ B/b
a + bc 7−→ a + b
é injetivo.
Portanto, podemos identificar a A/bc como um subanel de B/b de forma natural.
Demonstração. Sejam a + bc , b + bc em A/b com a, b ∈ A tal que

a + b = ei(a + bc ) = ei(b + bc ) = b + b,

de onde a − b ∈ b, mas como a, b ∈ A, segue-se que a − b ∈ b ∩ A = bc , logo a + bc = b + bc


e portanto ei é injetiva.
Exercício
∑∞ 1.5. Seja A um ideal e seja A[[x]] o anel das series formais de potencias
n
f = n=0 an x com coeficientes em A. Mostre que
i) f é invertível em A[[x]] ⇐⇒ a0 é invertível em A.

ii) Se f é nilpotente, então an é nilpotente para todo n > 0.

iii) f ∈ Jac(A[[x]]) ⇐⇒ a0 ∈ Jac(A).

iv) A contração de um ideal maximal m de A[[x]] é um ideal maximal de A, e m é gerado


por mc e x.

Solução. i) Se f é invertível, seja g = ∞ n
n=0 bn x o inverso de f , então

1 = f g = a0 b0 + (temos de grau ≥ 1),

então a0 b0 = 1, isto é, a0 é invertível.


Reciprocamente, se a0 é invertível, definimos recursivamente
{ −1
a0 se n = 0
bn = −1
−a0 (a1 bn−1 + . . . + an b0 ) se n ≥ 1

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logo,
(∞ )( )
∑ ∑

fg = an xn bn xn
n=0 n=0


= a0 b0 + (a0 bn + . . . + an b0 )xn
n=1
∑∞
= a0 a0−1 + (a0 (−a−1
0 (a1 bn−1 + . . . + an b0 )) + a1 bn−1 . . . + an b0 )x
n

n=1
∑∞
= a0 a−1
0 + (−(a1 bn−1 + . . . + an b0 ) + a1 bn−1 . . . + an b0 )xn
n=1


= 1+ 0xn
n=1
= 1

Então f é invertível.

ii) Provemos por indução sobre n que an é nilpotente.


Se n = 0, como f é nilpotente existe N ≥ 1 tal que f N = 0, então

0 + (termos de grau ≥ 1),


f N = aN

então aN0 = 0, isto é, a0 é nilpotente. Suponhamos agora que a0 , . . . , an−1 são nilpo-
tentes, então
(∞ )
∑ ∑∞
xn i
an+i x = ai xi = f − a0 − a1 x − . . . − an xn ∈ Nil(A[[x]]),
i=0 i=n

logo existe M ≥ 1 tal que


(∞ )M ( ( ∞ ))M
∑ ∑
xnM an+i xi = xn an+i xi = 0.
i=0 i=0
∑∞ i
∑∞ M
Seja i=0 bi x =(an+i xi ) , logo
i=0
(∞ )M (∞ ) (∞ )
∑ ∑ ∑
0 = xnM an+i xi = xnM bi xi = bi xi+nM ,
i=0 i=0 i=0

de onde bi = 0 para todo i ≥ 0, logo


(∞ )M
∑ ∑

i
an+i x = bi xi = 0,
i=0 i=0
∑∞ i
isto é, i=0 an+i x é nilpotente, então pelo já feito no caso n = 0, temos que o
primeiro termo an é nilpotente, o qual termina a prova.

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iii) Se f ∈ Jac(A[[x]]), dado a ∈ A ⊆ A[[x]] temos que 1 − af é invertível por 1.9, logo
1 − aa0 (o primeiro termo de 1 − af ) é invertível pelo item anterior, novamento por
1.9 temos que a0 ∈ Jac(A).

Reciprocamente, se a0 ∈ Jac(A), seja g = ∞ n=0 bn x ∈ A[[x]], logo vemos que
n

1 − f g = 1 − a0 b0 + (termos de grau ≥ 1)

como a0 ∈ Jac(A) temos que 1 − a0 b0 é invertível e pelo item anterior 1 − f g é


invertível, finalmente por 1.9 segue-se que f ∈ Jac(A).

iv) Como 0 ∈ Jac(A), pelo item anterior temos que

x = 0 + 1x + 0x2 + . . . ∈ Jac(A),

o que implica que todo ideal maximal deve conter ao elemento x.


Como
∑m
c
, x ⊆ m, temos que (mc , x) ⊆ m; para provar a inclusão contraria, seja

f = n=0 an xn ∈ m, então

a0 = f − (a1 + a2 x + . . .)x ∈ m,

e assim a0 mc (já que a0 ∈ A, logo

f = a0 + (a1 + a2 x + . . .)x ∈ (mc , x)

provando assim que m = (mc , x).


Para provar que mc é maximal, vamos provar que o homomorfismo

j : A/mc −→ A[[x]]/m

induzido pela inclusão, que pelo lema anterior é injetivo, é tambem sobrejetivo. Seja
f + m ∈ A[[x]]/m, e f = a + xg com g ∈ A[[x]], e como x ∈ m, temos

j(a0 + mc ) = a0 + m = a0 + xg ∈ m = f + m.

O que que j é isomorfismo. Portanto A/mc é isomorfo ao corpo A[[x]]/m, assim mc é


maximal.

Lema 3. Seja A um anel ̸= 0. Se cumpre:

i) Se e é idempotente, entáo 1 − e também é.

ii) 1 é o único idempotente e invertível.

iii) 0 é o único idempotente em Jac(A).

Demonstração.

i) (1 − e)2 = 1 − 2e + e2 = 1 − 2e + e = 1 − e.

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ii) Seja e idempotente e invertível, então

e = e2 e−1 = ee−1 = 1.

iii) Seja e ∈ Jac(A) idempotente, pelo anterior e 1.9 temos que 1 − e é idempotente e
invertível, logo 1 − e = 1, de onde e = 0.
Exercício 1.6. Seja A um anel tal que cada ideal que não contido no nilradical contém
um elemento idempotente não nulo. Prove que o nilradical e o radical de Jacobson de A
são iguais.
Solução. Sempre temos que Nil(A) ⊆ Jac(A). Suponhamos que Jac(A) ̸⊆ Nil(A), logo
pela hipotese existe um idempotente não nulo em Jac(A), o que contradiz o lema 3.
Portanto Jac(A) ⊆ Nil(A), e segue-se o resultado.
Exercício 1.7. Seja A um anel no qual cada elemento x satisfaz xn = x para algum
n > 1 (dependendo do x). Mostre que todo ideal primo de A é maximal.
Solução. Seja p ∈ SpecA y x + p ̸= p em A/p, logo

x(xn−1 − 1) = xn − x = 0 ∈ p,

de onde xn−1 ∈ p já que x ∈


/ p, então

(x + p)(xn−2 + p) = xn−1 + p = 1 + p,

com n − 2 ≥ 0, logo x + p é invertível, portanto A/p é corpo e assim p é maximal.


Exercício 1.8. Seja A um anel ̸= 0. Mostre que o conjunto de ideal primos de A tem
elemento minimal com respeito à inclusão.
Solução. Devido a que A ̸= 0, existe m maximal por 1.3, isto garante que Spec(A) ̸= ∅.
Agora provemos a existencia do elemento minimal usando o ∩ lema de Zorn. Seja (pi )i ⊆
Spec(A) família não vazía totalmente ordenada e seja p = i pi , este p é cota inferior
(como conjunto com a inclusão) da família (pi )i , devemos provar que p ∈ Spec(A) para
aplicar o lema de Zorn.
Afirmação: p é ideal. Sejam x, y ∈ p e a ∈ A, segue-se que x, y ∈ pi ∀i, como pi é ideal
temos que x + y, ax ∈ pi ∀i, isto é, x + y, ax ∈ p. Isto prova a afirmação.
Afirmação: p é primo: como os pi ’s são primos, eles não contém a o elemento 1, de onde
1∈/ p, isto é, p é próprio. Sejam a, b ∈ A tal que a ∈ p, suponhamos que a ∈ / p, logo
ab ∈ pi para todo i e a ∈
/ pj para algum j. Agora seja q ∈ (pi )i , como (pi ) é totalmente
ordenado temos dois casos
a) Se q ⊆ pj , como a ∈
/ pj , então a ∈
/ q e como ab ∈ q, temos que b ∈ p.

b) Se pj ⊆ q, como a ∈
/ pj e ab ∈ pj , então b ∈ pj ⊆ q.
En qualquer caso b ∈ q para todo q ∈ (pi )i , isto é, b ∈ p. O que prova a afirmação.
Assim todo família não vazía totalmente ordenada tem cota inferior em Spec(A), logo
Spec(A) tem elementos minimais.

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Exercício 1.9. Seja a um ideal ̸= (1) em um anel A. Mostre que a = r(a) ⇐⇒ a é uma
interseção de ideais primos.
Solução. Por 1.4 ∩
a = r(a) = p.
p∈SpecA
a⊆p

Reciprocamente, seja T ⊆ SpecA tal que a = p, notemos que cada ideal primo de T
p∈T
contem ao ideal a, isto é,
T ⊆ {p ∈ Spec(A) / a ⊆ p},
então segue-se que ∩ ∩
r(a) = p⊆ p = a ⊆ r(a).
p∈SpecA p∈T
a⊆p

e portanto r(a) = a.
Exercício 1.10. Seja A um anel. Mostre que as siguentes são equivalentes:
i) A tem exatamente um ideal primo;

ii) cada elemento de A ou é invertível ou nilpotente;

iii) A/Nil(A) é corpo.


Solução.
i)⇒ii) Já que todo ideal maximal é primo, como temos um único ideal primo, esse ideal
primo é o único ideal maximal e por 1.8 é igual a Nil(A). Logo dado x ∈ A existem dois
casos diferentes:
a) x ∈ p = Nil(A) : o que equivale a que x é nilpotente,

b) x ∈
/ p = Nil(A) : o que equivale a que x é unidad por 1.6 (lembremos que Nil(A) é o
único ideal maximal).
ii)⇒iii) Seja x + Nil(A) não nulo em A/Nil(A), isto é x ∈/ Nil(A), daqui x é invertível (se
−1
fosse nilpotente pertenceria a Nil(A)), então existe x ∈ A, logo x + Nil(A) é invertível
em ANil(A). Portanto A/Nil é corpo.
iii)⇒i) Por 1.8 Nil(A) esta contido em todo ideal primo, e como A/Nil(A) é corpo temos
que Nil(A) é ideal maximal, por isto todo ideal primo de A é igual a Nil(A) e portanto
Nil(A) é o único ideal primo de A.
Exercício 1.11. Um anel A é Booleano se x2 = x para todo x ∈ A. Em um anel Booleano
A, mostre que:
i) 2x = 0 para todo x ∈ A;

ii) cada ideal primo p é maximal, e A/p é corpo com dois elementos;

iii) cada ideal finitamente gerado em A é principal.

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Solução.

1. Seja x ∈ A, temos que

2x = x + x = (x + x)2 = x2 + 2x2 + x2 = 4x2 = 4x,

de onde 2x = 4x − 2x = 0.

2. Sejam p ideal primo de A e x ∈ A arbitrario, temos que

x(x − 1) = x2 − x = 0 ∈ p,

logo x ∈ p ou x − 1 ∈ p, então x + p só pode ser p ou 1 + p. Portanto

A/p = {p, 1 + p} ∼
= Z2

que é un corpo com dois elementos e daqui p é ideal maximal.

3. Seja a = (a1 , . . . , an ), provemos que a é principal por indução sobre n. Para


n = 1 é óbvio, suponhamos que o resultado seja válido para n − 1 ≥ 1 agora
seja a = (a1 , . . . , an ), por indução temos que o ideal (a1 , . . . , an−1 ) (gerado por n − 1
elementos) é igual a (b) para algum b ∈ A e denotemos a an por a, logo

a = (a1 , . . . , an ) = (a1 , . . . , an−1 ) + (an ) = (b) + (an ) = (a, b),

seja c = a + b − ab, é claro que (c) ⊆ (a, b); agora como

ac = a(a + b − ab) = a2 + ab − a2 b = a + ab − ab = a
bc = b(a + b − ab) = ab + b2 − ab2 = ab + b − ab = b

daqui temos que (a, b) ⊆ (ca, cb) ⊆ (c); de onde obtemos a = (a, b) = (c), isto é, a é
principal. Portanto todo ideal finitamente gerado é principal.

Exercício 1.12. Um anel local não contém idempotentes ̸= 0, 1.

Solução. Seja (A, m) um anel local (m = Jac(A)). Seja x ∈ A idempotente, temos dos:

i) Se x ∈ m = Jac(A), temos que x = 0 pelo lema 3.

ii) Se x ∈
/ m = Jac(A), temos que x é invertível (já que m é o único ideal maximal, m
contém todos os não invertíveis) e pelo lema 3 temos que x = 1.

Portanto A não contém idempotentes ̸= 0, 1

Exercício 1.14. No anel A, seja Σ o conjunto de ideais no qual cada elemento é um


divisor de zero. Mostre que Σ tem elementos maximais e cada elemento maximal de Σ é
um ideal primo. Portanto o conjunto de divisores de zero de A é união de ideais primos.

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Solução. Usemos o lema de Zorn. Como 0 ∈ Σ temos Σ ∪ ̸= ∅. Seja (ai ) família não
vazía totalmente ordenada de elementos em Σ e seja a = i ai . É claro que a é ideal e
os elementos de a são divisores de zero, já que todos os elementos dos ai são divisores de
zero. Assim a ∈ Σ e pelo lema de Zorn, Σ tem elementos maximais.
Seja p ∈ Σ elemento maximal, provemos que p é ideal primo. Como 1 não é divisor de
zero, 1 ∈
/ p. Sejam x, y ∈ A tal que xy ∈ p e x ∈ / p, pela maximalidade de p temos que
(x) + p ∈
/ Σ, logo existe a = a1 x + a2 ∈ (x) + p com a1 ∈ A, a2 ∈ p tal que a não é divisor
de zero, então
ay = (a1 x + a2 )y = a1 xy + a2 y ∈ p.
Seja d = p + by ∈ p + (y) com p ∈ p, b ∈ A, logo

ad = ap + aby = ap + b(ay) ∈ p,

então existe z ∈ A não nulo tal que zad = a(dz) = 0, como a não é divisor de zero, temos
que dz com z não nulo, então todos os elementos de p + (y) são divisores de zero, assim
p + (y) ∈ Σ e pela maximalidade de p, segue que p = p + (y), de onde y ∈ p. O que prova
que p é ideal primo.
Provemos que ZdvA é união de ideais primos. Seja a ∈ ZdvA, então (a) ∈ Σ, seja pa
elemento maximal de Σ (é ideal primo) tal que a ∈ pa , segue-se

ZdvA ⊆ pa ⊆ ZdvA,
a∈ZdvA

portanto ZdvA = a∈ZdvA pa , o que implica el resultado.

O espectro primo de um anel


Exercício 1.15. Seja A um anel e seja X o conjunto dos ideais primos de A. Para cada
subconjunto E de A, V(E) denotará o conjunto dos ideais primos de A os quais contém
a E. Prove que:
i) Se a é o ideal gerado por E, então V(E) = V(a) = V(r(a)).

ii) V(0) = X, V(1) = ∅.

iii) Se (Ei )i∈I uma família e subconjuntos de A, então


( )
∪ ∩
V Ei = V(Ei ).
i∈I i∈I

iv) V(a ∩ b) = V(ab) = V(a) ∪ V(b) para ideais a, b de A.


Estes resultados mostram que os conjuntos V(E) satisfazem os axiomas para conjuntos
fechados em um espaço topológico. A topologia resultando é chamada topologia de Zariski.
O espaço topológico X é chamado espectro primo de A, e é escrito Spec(A).
Solução. Notemos que V inverte o ordem. Com efeito, se E ⊆ F ⊆ A, já que todo ideal
(primo) que contenha a F vai conter a E, segue-se que V(F ) ⊆ V(E).

11
1. Temos que E ⊆ a ⊆ r(a), então V(r(a)) ⊆ V(a) ⊆ V(E). Agora seja p ∈ V(E),
como p é ideal e contém a E, p deve conter ao ideal gerado por E, isto é, a ⊆ p,
logo tomando radicais e por 1.13 temos que r(a) ⊆ r(p) = p,; como p contém a r(a),
segue-se que V(E) ⊆ V(r(a)).
Portanto V(E) = V(a) = V(r(a)).

2. Como todo ideal contém sempre a 0, segue-se que V(0) = X. Também, todo ideal
primo (por ser próprio) não contém a 1, segue-se que V(1) = ∅.
∪ (∪ )
3. Como Ej(∪ ⊆ i∈I )Ei para
∩ todo j ∈ I, obtemos V i∈I E i ⊆ V(E
∩ j ) para todo j ∈ I,
então V i∈I Ei ⊆ j∈I V (Ej ). Reciprocamente, seja p ∈ j∈I V(Ej ), vemos Ej
∪ (∪ )
esta contido em p∩para todo j ∈ I,
(∪logo p)vai conter i∈I Ei , isto é, p ∈ V i∈I Ei ,
daqui se ve que i∈I V(Ei ) ⊆ V i∈I Ei . De onde segue-se a igualdade.

4. Por 1.13 temos,

V(ab) = V(r(ab) = V(r(a ∩ b)) = V(a ∩ b).

A igualdade V(a ∩ b) = V(a) ∪ V(b), obtem-se do seguinte

p ∈ V(a ∩ b) ⇐⇒ a∩b⊆p
⇐⇒ a ⊆ p ou b ⊆ p (por 1.11 ii))
⇐⇒ p ∈ V(a) ou p ∈ V(b)
⇐⇒ p ∈ V(a) ∪ V(b)

Lema 4. Sejam a, b ideais no anel A. Se cumpre que:

i) V(a) ⊆ V(b) ⇐⇒ r(b) ⊆ r(a);

ii) V(a) = V(b) ⇐⇒ r(b) = r(a).

iii) V(a) = Spec(A) ⇐⇒ r(a) = r(0) ⇐⇒ a ⊆ r(0).

iv) V(a) = ∅ ⇐⇒ a = A.

Demonstração.

i) Se V(a) ⊆ V(b), por 1.4 temos


∩ ∩
r(b) = ⊆ = r(a).
p∈V(b) p∈V(a)

Reciprocamente, como V inverte o ordem e pelo exercício 1.15

V(a) = V(r(a)) ⊆ V(r(b)) = V(b).

ii) Pelo i), temos que V(a) ⊆ V(b) ⇐⇒ r(b) ⊆ r(a) e V(a) ⊇ V(b) ⇐⇒ r(b) ⊇ r(a),
segue-se o resultado.

12
iii) Pelo item ii).

iv) Pelo item ii) e 1.13 iv).

Exercício 1.17. Para cada f ∈ A, Xf denotará o complementar de V(f ) em X =


Spec(A). Os conjuntos Xf são abertos. Mostre que formam uma base de abertos para a
topologia de Zariski, e que:

i) Xf ∩ Xg = Xf g ;

ii) Xf = ∅ ⇐⇒ f é nilpotente;

iii) Xf = X ⇐⇒ f é invertível;

iv) Xf = Xg ⇐⇒ r((f )) = r((g));

v) X é quase-compacto;

vi) mais geralmente, cada Xf é quase-compacto;

vii) um subconjunto aberto de X é quase-compacto se e só se é união finita de conjuntos


Xf .

Os conjuntos Xf são chamados abertos básicos de X = Spec(A).

Solução. Seja U aberto em X, seja V (E) o complementar de U em X, segue-se que


( )
∪ ∩
V(E) = V {f } = V(f ),
f ∈E f ∈E

pasando ao complementar temos ∪


U= Xf .
f ∈E

O que prova que (Xf )f ∈A é uma base para a topologia de Zariski.

i) Pelo exercício 1.15


V(f ) ∪ V(g) = V((f )(g)) = V(f g),
e aplicamos complementar para obter o resultado.

ii) Xf = ∅ ⇐⇒ V(f ) = X ⇐⇒ f ∈ p ∀p ∈ Spec(A) ⇐⇒ f ∈ Nil(A). Esta ultima


equivalencia é devido a 1.8.

iii) Temos que Xf = X ⇐⇒ V(f ) = ∅ ⇐⇒ f ∈


/ p ∀p ∈ Spec(A).
Se f fosse não invertível, f por 1.6 pertenceria a algum ideal maximal (todo ideal
maximal é primo), o que contradiz a equivalencia de Xf = X, portanto f é invertível.
Reciprocamente, se f é invertível o ideal gerado por f é todo A, é assim f não esta
contido em nenhum ideal primo (já que eles são próprios), portanto se cumpre a
equivalencia de Xf = X.

13
iv) Passando ao complementar e aplicando o lema anterior

Xf = Xg ⇐⇒ V(f ) = V(g) ⇐⇒ r((f )) = r((g)).

∪ f )f ∈E para algum E ⊆ A, um cubrimiento por abertos (básicos) de X, isto é,


v) Seja (X
X = f ∈E Xf ; pasando ao complementar vemos que
( )
∩ ∪
V(1) = ∅ = V(f ) = V {f } = V(E) = V(a),
f ∈E f ∈E

pelo lema anterior r(a) = r((1)) = (1), por 1.13 temos que a = (1). Então 1 pertence
ao ideal gerado por E, logo existem f1 , . . . , fm ∈ E, a1 , . . . , am ∈ A tal que

1 = a1 f1 + . . . + am fm ∈ (f1 , . . . , fm ),

de onde (f1 , . . . , fm ) = (1). Logo temos que

∅ = V(1) = V (f1 , . . . , fm ) = V (f1 ) ∩ . . . ∩ V(fm )

e pasando ao complementar X = Xf1 ∪ . . . ∪ Xfm para alguns f1 , . . . , fm em E. O


que prova o resultado.

vi) A prova é parecida. Seja (Xg )g∈E para algum E ⊆ A tal que Xf ⊆ g∈E Xg , pasando
ao complementar vemos que
( )
∩ ∪
V(f ) ⊇ V(g) = V {g} = V(E) = V(a),
g∈E g∈E

pelo lema anterior r((f )) ⊆ r(a), como f ∈ r((f )) ⊆ r(a) temos que existe N ≥ 1
tal que f N pertence ao ideal gerado por E (o ideal a), logo existem g1 , . . . , gm ∈ E,
a1 , . . . , am ∈ A tal que

f N = a1 g1 + . . . + am gm ∈ (g1 , . . . , gm ),

é claro que f ∈ r((f N )), de onde

r((f )) ⊆ r(r((f N ))) = r((f N )) ⊆ r((g1 , . . . , gm )),

Logo temos que

V(f ) = V(r((f ))) ⊇ V(r((g1 , . . . , gm ))) = V(g1 , . . . , gm ) = V (g1 ) ∩ . . . ∩ V(gm )

e pasando ao complementar Xf ⊆ Xg1 ∪ . . . ∪ Xgm para alguns g1 , . . . , gm em E. O


que prova o resultado.

vii) Seja U um aberto quase-compacto de X, então U é tem um cubrimientos por aberto


básicos Xf e como U é quase-compacto, é tem uma subcubrimento finito do cum-
brimmiento anterior, isto é, U é união finita de abertos básicos.

14
Reciprocamente, provemos primeiro a seguinte afirmação:
Afirmação: Sejam U, V quase-compactos ∪ em X, então U ∪ V é quase compacto.
Com efeito, seja (Ui )i tal∪que U ∪ V ⊆ i Ui , como U, V estão contidos em U ∪ V ,
U, V estão contidas em i Ui , por ser U, V quase-compactos existem Ui1 , . . . , Uin ,
Uj1 , . . . , Ujm tal que

U ⊆ Ui1 ∪ . . . ∪ Uin , V ⊆ Uj1 ∪ . . . ∪ Ujm ,

segue-se que
U ∪ V ⊆ Ui1 ∪ . . . ∪ Uin ∪ Uj1 ∪ . . . ∪ Ujm ,
e portanto U ∪ V é quase-compacto, o que prova a afirmação.
Seja U = Xf1 ∪ . . . ∪ Xfn . Provemos por indução sobre n que U é quase-compacto.
Para n = 1 aplicamos a parte vi). Seja agora n ≥ 1, como os Xfi são quase-
compactos (novamente por vi) ), o conjunto Xf1 ∪ . . . ∪ Xfn−1 , que é união de n − 1
quase-compactos, é quase-compacto pela hipotese de indução. Logo U é a união dos
quase-compactos Xf1 ∪. . .∪Xfn−1 e Xfn , pela afirmação anterior U é quase-compacto,
o que termina a prova.

Exercício 1.18. Por razões psicologicas algumas vezes é conveniente denotar aos ide-
ais primos de A por letras tais como x ou y quando pensemos neles como pontos de
X = Spec(A). Quando pensemos em x como ideal primo de A, o denotaremos como px
(logicamente, de fato, é a mesma coisa). Mostre que:

i) O conjunto {x} é fechado em Spec(A) ⇐⇒ px é maximal;

ii) {x} = V(px );

iii) y ∈ {x} ⇐⇒ px ⊆ py ;

iv) X é um espaço T0 .

Solução. ii) É claro que {x} ⊆ V(px ). Seja V(a) fechado contendo a x, isto é, a ⊆ px , o
que implica que V(px ) ⊆ V(a). Isto prova que V(px ) é o menor fechado que comtem
a x, portanto {x}.

iii) De ii), y ∈ {x} ⇐⇒ py ∈ V(px ) ⇐⇒ px ⊆ py .

i) De ii), {x} é fechado ⇐⇒ V(px ) = {px } = {x} ⇐⇒ px é primo e não esta contido
própriamente em algum ideal primo ⇐⇒ px é maximal.

iv) Sejam x, y ∈ X diferentes, temos dois casos:


Se px ̸⊆ py ; então px ∈
/ V(py ) e assim o complementar de V(py ) é um aberto de X
contendo a px e não a py .
Se px ̸⊆ py ; neste caso, igual ao anterior, o complementar de V(px ) aberto de X
contendo a py e não a px .
Em qualquer caso existe um aberto contendo um ponto e disjunto do outro. Portanto
X é um espaço T0 .

15
Um espaço topológico é dito irredutível se X ̸= ∅ e cada par de abertos não vazíos em X
tem interseção não vazía.
Agora vamos melhorar o resultado do item ii) do exercício 1.17 e vamos provar um caso
mais geral do exercício 1.19.
Lema 5. Seja A um anel e a um ideal de A. Se cumpre:
i) Xf ∩ V(a) = ∅ ⇐⇒ f ∈ r(a).

ii) V (a) é irredutível se e só se r(a) ∈ Spec(A).



Solução. Lembremos que r(a) = p∈V(a) p.

i) f ∈ r(a) ⇐⇒ f ∈ p, ∀ p ∈ V(a) ⇐⇒ p ∈ / Xf , ∀p ∈ V(a) ⇐⇒ Xf ∩ V(p) = ∅.


Este resultado do exercício 1.17 segue-se con facilidade,

Xf ∩ V(0) = Xf = ∅ ⇐⇒ f ∈ r(0) = Nil(A).

ii) Provemos que r(a) é primo. Como r(a) é irredutível, r(a) é não vazío e portanto a é
ideal próprio de A. Agora sejam f, g ∈ A tal que f g ∈ r(a), pelo item anterior temos

(Xf ∩ V(a)) ∩ (Xg ∩ V(a)) = (Xf ∩ Xg ) ∩ V(a) = Xf g ∩ V(a) = ∅,

pela irredutibilidade de V(a), um dos abertos (em V(a)) Xf ∩ V(a), Xg ∩ V(a) tem
que ser igual ao vazío, isto é, f ∈ r(a) ou g ∈ r(a) (pelo item anterior); o que prova
que r(a) é primo.
Recíprocamente, como r(a) é ideal primo, temos que p é próprio e assim V(a) =
V(pr(a)) é diferente do vazío. Sejam U, V abertos náo em V(p), como (Xf ∩ V(a))f ∈A
é base para a topologia de V (a), logo existem abertos Xf ∩ V(a) ⊆ U, Xg ∩ V(a) ⊆ V
não vazíos, e pelo item anterior f, g ∈
/ r(a); como r(a) é primo temos que f g ∈
/ r(a),
novamente pelo item anterior o conjunto

(Xf ∩ V(a)) ∩ (Xg ∩ V(a)) = (Xf ∩ Xg ) ∩ V(a) = Xf g ∩ V(a)

é não vazío e também subconjunto de U ∩ V , assim U ∩ V é não vazío e portanto


V(a) é irredutível.
Exercício 1.19. Mostre que Spec(A) é irredutível se e só se o nilradical de A é ideal
primo.
Solução. Fazendo a = 0 no lema anterior item ii) sai imediatamente.
Exercício 1.20. Seja X um espaço topológico.
i) Se Y é um subespaço irredutível de X, então o fecho Y de Y em X é irredutível.

ii) Cada subespaço irredutível de X esta contido en um subespaço irredutível maximal.

iii) Os subespaços irredutíveis maximais de X são fechadas e cubrem X. Eles são cha-
madas componentes irredutíveis de X. Quais são as componentes irredutíveis de um
espaço de Hausdorff ?

16
iv) Se A é anel e X = Spec(A), então as componentes irredutíveis são os fechados V(p),
onde p é um ideal primo minimal de A.
Solução. i) Sejam A, B abertos não vazíos em Y , segue-se que A ∩ Y, B ∩ Y são abertos
não vazíos em Y , e como Y é irredutível, temos que A∩B ∩Y = (A∩Y )∩(B ∩Y ) ̸= ∅.
Logo A ∩ B é também não vazío. Portanto Y é irredutível.

ii) Seja Y subespaço irredutível e seja

Σ = {Z ⊆ X/Z é irredutível e contém a Y }

O resultado pedido e o mesmo que provar que Σ tem elementos maximais. Vamos
∪ de Zorn. Seja T = (Zi )i ⊆ Σ familia não vazía totalmente ordenada e
usar o lema
seja Z = i Zi . Temos que provar que Z ∈ Σ. É imediato que Z contém a Y , já que
cada Zi comtém também a Y . Provemos que Z é irredutível, sejam A, B abertos não
vazíos de Z, logo existem Zi , Zj tal que Zi ∩ A, Zj ∩ B ̸= ∅, seja Zk o conjunto maior
entre Zi e Zj (já que T é totalmente ordenado), logo

∅ ̸= Zi ∩ A ⊆ Zk ∩ A, ∅ ̸= Zj ∩ B ⊆ Zk ∩ B,

então Zk ∩ A, Zk ∩ B são abertos não vazíos em Zk e como Zk é irredutível

Zk ∩ (A ∩ B) = (Zk ∩ A) ∩ (Zk ∩ B) ̸= ∅,

então A ∩ B é não vazío, pois contém ao conjunto não vazío Zk ∩ (A ∩ B). Assim Z
é irredutível e portanto é cota superior em Σ da familia T . Pelo lema e Zorn Σ tem
elementos maximais.

iii) Seja
Ω = {subespaços irredutíveis maximais de X}.
Seja x ∈ X, o único conjunto aberto não vazío de {x} é ele próprio {x}, portanto {x}
cumpre trivialmente a condição de irredutibilidade. Pelo item anterior existe Zx ∈ Ω
tal que x ∈ Zx , logo temos
∪ ∪ ∪
X= x⊆ Zx ⊆ Z ⊆ X,
x∈X x∈X Z∈Ω

portanto X = Z∈Ω Z, isto é, os subconjuntos irredutíveis maximais cubrem X.
Seja Z ∈ Ω, para provar que Z é fechado, notemos que pelo item i) temos que Z
é irredutível e contém a Z, mas como Z é irredutível maximal, debe acontecer que
Z = Z, isto é, Z é fechado em X.
Seja X um espaço de Hausdorff e seja Z um subconjunto de X que tem ao menos
dois elementos, digamos x, y, como X é Hausdorff temos que Z é Hausdorff, logo
existem Ux , Uy ⊆ Z vizinhanças abertas de x, y respectivamente tal que Ux ∩ Uy = ∅,
mas isto contradiz a definição de irredutibilidad. Portanto os únicos subconjuntos
irredutíveis de X são os conjuntos unitarios (lembremos que todo irredutível é não
vazío por definição), isto implica que as componentes irredutíveis em um espaço de
Hausdorff são os subconjuntos unitarios.

17
iv) Seja Y componente irredutível, como Y é fechado e pelo lema 5 temos que Y é da
forma V (p) com p ∈ Spec(A). Provemos que p é primo minimal. Seja q ∈ Spec(A)
tal que q ⊆ p, então V(p) ⊆ V(q) e V(q) irredutível, logo V(q) e V (p) são iguais (V(p)
é irredutível maximal), o que implica pelo lema 4 (e também que p, q ∈ Spec(A))
p = r(p) = r(q) = q,
portanto p é primo minimal.
Reciprocamente, seja V(p) com p primo minimal, pelo lema 5 V(p) é irredutível, pelo
item ii) deste exercício e a primeira parte desta prova , V(p) ⊆ V(q) com q primo
minimal, implica que (p, q são primos)
q = r(q) ⊆ r(p) = p,
como p é primo minimal, p = q; logo V(p) = V(q) é componente irredutível de X.
Lema 6. Sejam A1 , . . . , An aneis, A = A1 × . . . × An o anel produto e πi : A → Ai as
projeções canonicas. Prove que:
i) a é ideal de A ⇐⇒ existem ideais a1 , . . . , an de A1 , . . . , An respectivamente tal que
a = a1 × . . . × an .
ii) Dado ai ideal de Ai para cada i, temos que
A A1 An
ψ : −→ × ... ×
a1 × . . . × an a1 an

(a1 , . . . , an ) 7−→ (a1 , . . . , an )


é isomorfismo de aneis.
iii) p ∈ Spec(A) ⇐⇒ existe pi ∈ Spec(Ai ) para algum i tal que p = πi−1 (pi ) = A1 ×
. . . × pi × . . . × An .
Demonstração. Escreveremos 0i , 1i aos elementos zero e um do anel Ai respectivamente.
Também denotaremos wi = (01 , . . . , 1i , . . . , 0n ).
i) Se a é ideal de A, seja a1 = π(a) ideal em Im πi = Ai . Provemos que a = a1 × . . . × an .
Seja a = (a1 , . . . , an ) ∈ a, entáo πi (a) = ai ∈ ai , segue-se que a = (a1 , . . . , an ) ∈
a1 × . . . × an . Agora, seja a = (a1 , . . . , an ) ∈ a1 × . . . × an , como ai ∈ ai existe bi ∈ a
tal que πi (bi ) = ai . Seja b = w1 b1 + . . . + wn bn ∈ a, logo temos que
πi (b) = πi (w1 )πi (b1 ) + . . . + πi (wi )πi (bi ) + . . . + πi (wn )πi (bn )
= 0i πi (b1 ) + . . . + 1i ai + . . . + 0i πi (bn )
= ai
então temos que a = (a1 , . . . , an ) = b ∈ a. Com isto provamos o pedido. Reciproca-
mente, Sejam a = (a1 , . . . , an ), b = (b1 , . . . , bn ) ∈ a, c = (c1 , . . . , cn ) ∈ A, daqui temos
que ai , bi ∈ ai , e como ai é ideal, temos que ai bi , ai ci ∈ ai , logo temos que
a + b = (a1 + b1 , . . . , an + bn ), ac = (a1 c1 , . . . , an cn ) ∈ a1 × . . . × an = a
isto prova que a é ideal.

18
ii) É rutinário.

iii) Seja p ∈ Spec(A), no caso que n = 1 não temos nada que provar. Se n > 1, pelo
anterior existem pi ideal de Ai para cada i, algum de eles próprio já que p é próprio,
tal que p = p1 × . . . × pn . Logo
A ∼ A1 An
= × ... × ,
p p1 pn

no caso que tiveramos pi , pj próprios para i ̸= j, teriamos que A/pi , A/pj são aneis
não nulos e assim teriamos elementos não nulos em A1 /p1 × . . . An /pn

a = (01 , . . . , 1i , . . . , 0n ), b = (01 , . . . , 1j , . . . , 0n ),

tal que o produto ab é zero. Isto contradiz que p é primo (que A/p ∼
= A1 /p1 ×. . . An /pn
não é dominio integral). Segue-se que p = A1 × . . . × pi × . . . × An para algum pi
próprio. Provemos agora que pi é primo.
Temos que
A ∼ A1 An ∼ Ai Ai
= × ... × = 0 × ... × × ... × 0 ∼
= ,
p p1 pn pi pi
Como p é primo, A/p ∼
= Ai /pi é dominio integral, é assim temos que pi é primo.
Reciprocamente se p tem a forma A1 × . . . × pi × . . . × An com pi primo em Ai para
algum i, temos de novo que A/p ∼= Ai /pi , é dominio integral, é portanto p é ideal
primo.

Exercício 1.21. Seja ϕ : A → B homomorfismo de anel. Seja X = Spec(A) e Y =


Spec(B). Se q ∈ Y , então ϕ−1 (q) é ideal primo de A, iste é, um ponto de X. Portanto ϕ
induz a função ϕ∗ : Y → X. Mostre que

i) Se f ∈ A então (ϕ∗ )−1 (Xf ) = Yϕ(f ) , e portanto ϕ∗ é contínuo.

ii) Se a é un ideal de A, então (ϕ∗ )−1 (V(a)) = V(ae ).

iii) Se b é um ideal de B, então ϕ∗ (V(b)) = V(bc ).

iv) Se ϕ é sobrejetivo, então ϕ∗ é um homeomorfismo de Y sobre o subconjunto fechado


V(ker ϕ) de X. (Em particular, Spec(A) e Spec(A/Nil(A)) são naturalmente home-
omorfos).

v) Se ϕ é injetivo, então ϕ∗ (Y ) é denso em X. Mais precisamente, ϕ∗ (Y ) é denso em


X ⇐⇒ ker(ϕ) ⊆ Nil(A).

vi) Seja ψ : B → C outro homomorfismo de aneis. Então (ψ ◦ ϕ)∗ = ϕ∗ ◦ ψ ∗ .

vii) Seja A um dominio integral com um único ideal primo p, e seja K o corpo de quoci-
entes de A. Seja B = (A/p) × K. Definamos ϕ : A → B por ϕ(x) = (x, x), donde x
é a imagem de x em A/p. Mostre que ϕ∗ é bijetiva mas não é homomorfismo.

Solução.

19
i) p ∈ (ϕ∗ )−1 (Xf ) ⇐⇒ ϕ−1 (p) = ϕ∗ (p) ∈ Xf ⇐⇒ f ∈ / ϕ−1 (p) ⇐⇒ ϕ(f ) ∈ / p
∗ −1
⇐⇒ p ∈ / Yϕ(f ) . O que prova que (ϕ ) (Xf ) = Yϕ(f ) . Notemos que a imagem inversa
mediante a função ϕ∗ de um aberto básico em X é um aberto básico em Y , portanto
a função ϕ∗ é contínua.

ii) p ∈ (ϕ∗ )−1 (V(a)) ⇐⇒ ϕ−1 (p) = ϕ∗ (p) ∈ V(a) ⇐⇒ a ⊆ ϕ−1 (p) ⇐⇒ ϕ(a) ⊆ p
⇐⇒ ae ⊆ p. Usamos na prova, a ⊆ ϕ−1 (ϕ(a)), ϕ(ϕ−1 (p)) ⊆ p.

iii) Dado p ∈ ϕ∗ (V(b)) existe q ∈ V(b) tal que p = ϕ∗ (q) = ϕ−1 (q), logo

bc = ϕ−1 (b) = ϕ−1 (q) = p,

então p ∈ V(bc ), assim ϕ∗ (V(b)) ⊆ V(bc ) e segue-se ϕ∗ (V(b)) ⊆ V(bc ) = V(bc ).


Reciprocamente, se V(bc ) ∩ Xf ̸= ∅, pelo lema 5 item i) temos f ∈ / r(bc ) = r(b)c , isto
é, ϕ(f ) ∈
/ r(b), então existe q ∈ V(b) tal ϕ(f ) ∈ / ϕ (q) = ϕ∗ (q) e
/ q, logo f ∈ −1

ϕ∗ (q) ∈ Xf ∩ ϕ∗ (V(b)),

portanto Xf ∩ ϕ∗ (V(b)) ̸= ∅, o que prova V(bc ) ⊆ ϕ∗ (V(b)). Isto termina a prova.

iv) Provamos que ϕ∗ é uma função fechada. Seja V(b) fechado em Y com b ideal de B,
seja p ∈ ϕ∗ (V(b)) = V(bc ), então p ⊇ bc , logo b ⊆ ϕ(p) ∈ V(b) (a imagem de um
ideal primo, é um ideal primo na imagem) e

ϕ∗ (ϕ(p)) = ϕ−1 (ϕ(p)) = p + ker ϕ = p,

então p ∈ ϕ∗ (V(b)), o que prova que ϕ∗ (V(b)).


Provemos que ϕ∗ é injetivo. Sejam p, q ∈ Y tal que ϕ∗ (p) = ϕ∗ (q), isto é ϕ−1 (p) =
ϕ−1 (q), e aplicando ϕ, pela sobrejetividade de ϕ temos que

p = ϕ(ϕ−1 (p)) = ϕ(ϕ−1 (q)) = q.

Provemos que Im ϕ∗ = V(ker ϕ). Dado p ∈ Im ϕ∗ existe q ∈ Y tal que ϕ∗ (q) = p,


então
p = ϕ∗ (q) = ϕ−1 (q) ⊇ ϕ−1 (0) = ker ϕ,
assim p ∈ V(ker ϕ). Reciprocamente, dado p ∈ V(ker ϕ), se cumpre que ϕ(p) ∈ X e
ϕ∗ (ϕ(p)) = p (provado anteriormente). O que prova Im ϕ∗ = V(ker ϕ).
Assim temos a bijeção contínua ϕ∗ : Y → V(ker ϕ), que e também fechada, portanto
é um homemorfismo.

v) Se ϕ é injetivo, fazendo b = 0B no item iii), temos

ϕ∗ (Y ) = ϕ∗ (V(0B )) = V(0cB ) = V(ker ϕ) = V(0A ) = X.

No caso geral, fazendo b = 0B no item iii) e pelo lema 4 item iii), temos

X = ϕ∗ (Y ) = ϕ∗ (V(0B )) = V(ker ϕ) ⇐⇒ ker ϕ ⊆ r(0A ).

20
vi) Seja p ∈ Spec(C), então

(ϕ∗ ◦ ψ ∗ ) (p) = ϕ∗ (ψ ∗ (p)) = ϕ−1 (ψ −1 (p)) = (ψ ◦ ϕ)−1 (p) = (ψ ◦ ϕ)∗ (p),

de onde ϕ∗ ◦ ψ ∗ = (ψ ◦ ϕ)∗ .

vii) Como Spec(A) = {0, p} e Spec(K) = {0}, temos Spec(A/p) = {0}, pelo lema anterior
Spec(B) = {0 × K, (A/p) × 0}. Notemos que dado x ∈ A, temos

x ∈ ϕ−1 (0 × K) ⇐⇒ ϕ(x) = (x, x) ∈ 0 × K ⇐⇒ x = 0 ⇐⇒ x ∈ p,

x ∈ ϕ−1 ((A/p) × 0) ⇐⇒ ϕ(x) = (x, x) ∈ (A/p) × 0 ⇐⇒ x = 0,


segue ϕ∗ (0 × K) = p, ϕ∗ ((A/p) × 0) = 0. Portanto ϕ∗ é bijetivo.
Temos que {0} não é fechado em Spec(A) já que 0 ⊃ p, logo a topologia de Spec(A)
não é a topologia discreta, ao contrário de Spec(B). Portanto ϕ∗ não pode ser home-
omorfismo.

Lema 7. Dado f elemento idempotente em um anel A. f A, (1 − f )A são também aneis


eA∼= f A × (1 − f )A.
Demonstração. O elemento f é o elemento um de f A, com efeito, seja h = f g ∈ f A
com g ∈ A, logo f h = f 2 g = f g = h. As outras propriedades de anel são cumpridas
trivialmente por f A. Como 1 − f é também idempotente, temos os aneis f A, (1 − f )A.
Definamos homomorfismo
T : f A × (1 − f )A −→ A
(g, h) g+h

(já que T (f, 1 − f ) = f + (1 − f ) = 1, leva elemento um no elemento um).


É sobrejetiva, já que dado a ∈ A, temos (f a, (1−f )a) ∈ f A×(1−f )A e T (f a, (1−f )a) =
f a + (1 − f )a = a.
É injetivo, já que se T (f a, (1 − f )b) = 0, então f a + (1 − f )b = 0. Multiplicando por f e
1 − f temos
0 = f (f a + (1 − f )b) = f 2 a + f (1 − f )b = f a,
0 = (1 − f )(f a + (1 − f )b) = (1 − f )f a + (1 − f )2 b = (1 − f )b,
portanto (f a, (1 − f )b) = (0, 0).
O que termina a prova.

Exercício 1.22. Seja A = ni=1 Ai o produto direto de aneis Ai . Mostre que Spec(A)
é união disjunta de subespaços abertos (e fechados) canónicamente homeomorfo com
Spec(Ai ).
Reciprocamente, seja A um anel. Mostre que as seguintes propriedades são equivalentes:

i) X = Spec(A) é desconexo.

ii) A ∼
= A1 × A2 onde A1 , A2 são aneis diferentes do zero.
iii) A contém um idempotente ̸= 0, 1.

21
Em particular, o espectro de um anel local é sempre conexo.

Solução. Sejam π : A → Ai a projeção e Xi = V(ker πi ) = {πi−1 (p)/p ∈ Spec(Ai )} para


cada i = 1, . . . , n. Pelo lema 6, temos que X é union disjunta dos fechados X1 , . . . , Xn .
O complementar de Xi é fechado já que é união dos fechados X1 , . . . , Xi−1 , Xi+1 , . . . , Xn ,
portanto temos que Xi tamb́em é aberto para cada i = 1, . . . , n. Agora pelo exercício
1.21 iv) como πi : A → Ai é sobrejetiva, Xi = V (ker ϕi ) é homeomorfo a Spec(Ai ) para
cada i = 1, . . . , n.
Provemos as equivalencias.
ii)⇒i) Como A1 , A2 são aneis não nulos,

X1 = {p × A2 /p ∈ Spec(A1 )}, X2 = {A1 × p/p ∈ Spec(A2 )}

são abertos não vazíos de X, tal que X é união disjunta de X1 e X2 . Portanto X é


desconexo.
i)⇒iii) Como X é desconexo, da definição e pasando ao complementar, existem ideais
radicais a, b de A tal que V(a), V(b) são fechados não vazíos de X e

V(a + b) = V(a ∪ b) = V(a) ∩ V(b) = ∅, V(a ∩ b) = V(a) ∪ V(b) = X = V(0).

Logo pelo lema 4 temos

a, b ̸= A, a + b = A, a ∩ b = r(0).

Logo existem a ∈ a, b ∈ b tal que 1 = a + b, devemos ter que a ∈/ r(0) ou b ∈


/ r(0), já que
no caso contrário 1 = a + b ∈ r(0), assim 1 = 0, contradizendo A ̸= 0. Suponhamos que
a∈/ r(0), no caso b ∈
/ r(0) procede-se igual. Como ab ∈ a ∩ b = r(0), existe N ≥ 1 tal que
N N N
(ab) = a b = 0. Logo

1 = 1N = (a + b)N = aN + bN + (ab)z,

para algum z ∈ A. Como ab ∈ r(0), pelo exercício 1.1 aN + bN = 1 − (ab)z é invertível,


então existe u ∈ A tal que u(aN + bN ) = 1, como a esta contido no ideal próprio a e
não é nilpotente, aN não pode ser invertível não nulo, e como u é invertível temos que
uaN ̸= 0, 1, e
(uaN )2 = (uaN )(1 − ubN ) = uaN − u2 aN bN = uaN .
o elemento procurado.
iii)⇒ii) Seja f ∈ A idempotente ̸= 0, 1, então 1 − f é também idempotente ̸= 0, 1, sejam
A1 = f A, A2 = (1 − f )A conjuntos não nulos (f ∈ A1 , 1 − f ∈ A2 ), pelo lema anterior
A1 , A2 são aneis não nulos e A ∼
= A1 × A2 .
Se A é anel, pelo exercício 1.12, A não tem elementos idempotentes ̸= 0, 1, e usando o
recíproco de iii)⇒i), Spec(A) é conexo.

Exercício 1.23. Seja A anel Booleano, e seja X = Spec(A).

i) Para cada f ∈ A, o conjunto Xf é simultaneamente abierto e fechado em X.

ii) Sejam f1 , . . . , fn ∈ A. Mostre que Xf1 ∪ . . . ∪ Xfn = Xf para algum f ∈ A.

22
iii) Os conjuntos são os únicos subconjuntos de X o qual são simultaneamente abertos e
fechados.

iv) X é um espaço Hausdorff compacto.

Solução.

i) Sabemos que Xf é aberto. Provemos agora que Xf = V (1 − f ), e assim teriamos que


Xf é também fechado. Logo p ∈ Xf ⇐⇒ f ∈ / p ⇐⇒ 1−f ∈ p (f (1−f ) = f −f 2 =
0 ∈ p, como f ∈
/ p, 1 − f ∈ p; recoprocamente, se f ∈ p, então 1 = f + (1 − f ) ∈ p, o
que contradiz que p é primo) ⇐⇒ p ∈ V(1 − f ). O que termina a prova de i).

ii) Pelo exercício 1.11 iii), existe f ∈ A tal que (f ) = (f1 , . . . , fn ), logo

Xf = X\V(f1 , . . . , fn )
= X\(V(f1 ) ∩ . . . ∩ V(fn ))
= (X\V(f1 )) ∪ . . . ∪ (X\V(fn ))
= X f1 ∪ . . . ∪ X fn

iii) Seja Y aberto e fechado em X. Como X é quase-compacto, então Y é quase-


compacto, também Y é união de abertos básicos, logo Y = Xf1 ∪ . . . ∪ Xfn para
alguns f1 , . . . , fn ∈ A. Então, pela parte ii) Y = Xf para algum f ∈ A.

iv) Sejam x, y ∈ Spec(A) diferentes, temos dois casos:


Se px ̸⊆ py , existe f ∈ px e f ∈
/ py , assim temos os abertos disjuntos Xf , V (f ) (item
i)) tal que x ∈ V(f ), y ∈ Xf ; igualmente para py ̸⊆ px . Portanto X é Hausdorff
compacto (X já é quase-compacto).

Lembremos resultados de topologia.


Um espaço topológico é normal se para todo par F, G de fechados não vazíos disjuntos,
existem U, V abertos não vazíos disjuntos contendo a F, G respectivamente.
Todo espaço Hausdorff compacto e todo espaço metrizável é normal.
Lema de Urysohn: X é um espaço topológico normal se e só para todo par F, G de
fechados não vazíos existe uma função contínua tal que f (F ) = {1} e f (G) = {0}

Exercício 1.26. Seja A um anel. O subespaço de Spec(A) formado pelos ideais maximais
de A, com a topologia induzida, é chamado o espectro maximal de A e denotado por
Max(A). Para um anel arbitrario o conjunto Max(A) não tem as bonitas propriedades
funtoriais de Spec(A) (ver exercício 1.21), porque a inversa de um ideal maximal mediante
um homomorfismo de aneis não é necessariamente maximal.
Seja X um espaço Hausdorff compacto e C(X) denotará o anel de todas as funções com
valores reais sobre X (com a soma e a multiplicação de funções definida pontualmente).
Para cada x ∈ X, seja mx o conjunto de todos os f ∈ C(X) tal que f (x) = 0. O ideal mx
é maximal, porque é o kernel de um homomorfismo (sobrejetivo) C(X) → R o qual leva
f em f (x). Se X e denota Max(C(X)), temos portanto definido a função µ : X → X, e a
saber x 7→ mx . Mostraremos que µ é um homeomorfismo de X sobre X. e

23
i) Seja m um ideal maximal de C(X), e seja V = V(m) o conjunto dos zeros comunes
das funções em m: isto é,

V = {x ∈ X : f (x) = 0 para todo f ∈ m}.

Suponhamos que V é não vazía. Então para cada x ∈ X existe fx ∈ m tal que
fx (x) ̸= 0. Desde que fx é contínua, existe uma vizinhança aberta Ux de x em X
sobre o qual fx não zera. Pela compacidade temos um numero finito de vizinhanças,
digamos Ux1 , . . . , Uxn , cubrendo X. Seja

f = fx21 + . . . + fx2n .

Então f não zera sobre X, é portanto é invertível em C(X). Mas isto contradize
f ∈ m, portanto V é não vazío.
Seja x um ponto de V. Então m ⊆ mx , portanto m = mx porque m é maximal.
Portanto µ é sobrejetiva.

ii) Pelo lema de Urysohn as funções contínuas separam pontos de X. Portanto x ̸= y


⇒ mx ̸= my , e portanto µ é injetiva.

iii) Seja f ∈ C(X); seja


Uf = {x ∈ X : f (x) ̸= 0}
e seja
ef = {m ∈ X
U e : f ∈ m}

Mostre que µ(Uf ) = Uef . Os conjuntos abertos Uf (resp. U


ef ) formam uma base da
e e portanto µ é um homeomorfismo.
topologia de X (resp. X)
Assim X pode ser reconstruido do anel de funções C(X).

Solução.

i) Não há nada que provar.

ii) Como X é Hausdorff compacto, X é normal e os pontos de X são fechados, logo pelo
Lema de Urysohn, existe f : X → R contínua tal que f (x) = 1 e f (y) = 0, isto é,
f∈/ mx e f ∈ my . O que prova que mx e my são diferentes.
ff ⇐⇒ f ∈ mx ⇐⇒ f (x) ̸= 0 ⇐⇒ x ∈ Uf . Isto prova µ(Uf ) = U
iii) µ(x) = mx ∈ U ef .
Provemos que {Uf }f ∈C(X) é base da topologia. Seja U aberto em X, dado p ∈ U ,
temos que {p}, X\U são fechados, logo pelo lema de Urysohn, existe fp ∈ ∪
C(X) tal
que f (p) = 1 é fp (X\U ) = {0}, então f ∈ C(X) e Uf ⊆ U , então U = p∈U Ufp .
Portanto {Uf }f ∈C(X) é base da topologia.
Provemos que {U ff }f ∈C(X) é base da topologia de X.
e Seja Y = Spec(C(X)), sabemos
que {Yf }f ∈C(X) é base da topologia em Y , notemos que Yf ∩ X e = Uff , portanto
ff }f ∈C(X) é base da topologia de X.
{U e
Isto prova que µ, µ−1 levam uma base em base, portanto µ é um homeomorfismo.

24
Variedades algébricas afins
Exercício 1.27. Seja k um corpo algébricamente fechado e seja

fα (t1 , . . . , tn ) = 0

um conjunto de equações polinomiais em n variables com coeficientes em k. O conjunto


X de todos os pontos x = (x1 , . . . , xn ) ∈ k n os quais satisfazem essas equações é uma
variedade algébrico afim.
Consideremos o conjunto de todos os polinômios g ∈ k[t1 , . . . , tn ] com a propriedade tal
que g(x) = 0 para todo x ∈ X. Este conjunto é um ideal I(X) no anel de polinômios, e é
chamado o ideal da variedade X. O anel quociente

P (X) = k[t1 , . . . , tn ]/I(X)

é o anel das funções polinomiais sobre X, porque dois polinômios g, h definem a mesma
função polinomial sobre X se e só se g − h zera sobre cada ponto de X, isto é, se e só se
g − h ∈ I(X).
Seja ξi a imagem de ti em P (X). Os ξi (1 ≤ i ≤ n) são funções coordenadas sobre X: se
x ∈ X, então ξi (x) é a ith coordenada de x. P (X) é gerado como k-álgebra pelas funções
coordenadas, e é chamado anel coordenado (ou álgebra afim) de X.
Como no exercício 1.26, para cada x ∈ X seja mx o ideal de todos os f ∈ P (X) tal que
f (x) = 0; ele é um ideal maximal de P (X). Portanto, se X e = Max(P (X)), assim temos
definido a função µ : X → X, e a saber x 7→ mx .
É fácil provar que µ é injetivo: se x ̸= y, devemos ter que xi ̸= yi para algum i (1 ≤ i ≤ n),
e portanto ξi −xi esta em mx mas não em my , de modo que mx ̸= my . O que é menos óbvio
(mas é certo) é que µ é sobrejetiva. Esta é uma das versões do Hilbert’s Nullstellensatz.

Solução. Não há nada que provar.

Exercício 1.28. Sejam f1 , . . . , fm elementos de k[t1 , . . . , tn ]. Eles determinam uma fun-


ção polinomial ϕ : k n → k m : se x ∈ k n , as coordenadas de ϕ(x) são f1 (x), . . . , fm (x).
Sejam X, Y variedades algébricas afins em k n , k m respectivamente. Uma função ϕ : X →
Y é chamada regular se ϕ é a restrição de uma função polinomial de k n em k m .
Se η é uma função polinomial sobre Y , então η ◦ ϕ é uma função polinomial sobre X.
Portanto ϕ induze um homomorfismo de k-álgebras P (Y ) → P (X), a saber η 7→ η ◦ ϕ.
Mostre que desta forma obtemos uma correspondencia um a um entre as funções regulares
X → Y e os homomorfismo de k-álgebras P (Y ) → P (X).

Solução. Dado ϕ : X → Y função regular , definimos o k-homomorfismo

ϕ∗ : P (Y ) −→ P (X)
η 7−→ η ◦ ϕ

Provemos que a função

Φ : {X → Y, funções regulares} −→ {P (Y ) → P (X), k-homomorfismos}


ϕ 7 →
− ϕ∗

25
Φ é injetiva. Com efeito, sejam ϕ = (ϕ1 , . . . , ϕm ), ψ = (ψ1 , . . . , ψm ) : X → Y funções
regulares com ϕi , ψi ∈ K[x1 , . . . , kn ] tal que Φ(ϕ) = ϕ∗ = ψ ∗ = Φ(ψ), logo temos
ϕi = (yi + I(Y ))(ϕ) = ϕ∗ (yi + I(Y )) = ψ ∗ (yi + I(Y )) = (yi + I(Y ))(ψ) = ψi ,
o que implica que ϕ = ψ, isto é, Φ é injetivo.
Φ é sobrejetiva. Com efeito, seja T : P (Y ) → P (X) um k-homomorfismo, seja fi +I(X) =
T (yi + I(Y )) ∈ P (X) e definamos
ϕ : X −→ Y
P 7−→ (f1 (P ), . . . , fn (P ))
O qual é claramente uma função regular. Provemos a boa definição ϕ, isto é, que não
depende dos representante de fi + I(Y ) e que Im ϕ ⊆ Y .
Seja gi ∈ fi + I(Y ), então fi , gi definem a mesma função polinomial sobre X, assim
fi (p) = gi (p) ∀p ∈ X. Assim∑
ϕ não depende dos representante de fi + I(Y ).
Agora, sejam f ∈ I(Y ), f = ai1 ,...,im y i1 . . . y im e P ∈ X, logo
f (ϕ(P )) = f (f1 (P ), . . . , fn (P ))

= ai1 ,...,im (f1 (P ))i1 . . . (fn (P ))im
(∑ )
i1 im
= ai1 ,...,im (T (y1 + I(Y ))) . . . (T (ym + I(Y ))) (P )
(∑ )
= T ai1 ,...,im (y1 + I(Y ))i1 . . . (ym + I(Y ))im (P )
(∑ )
= T ai1 ,...,im y i1 . . . y im + I(Y ) (P )
= T (f + I(Y )) (P )
= T (0 + I(Y )) (P )
= (0 + I(X))(P )
= 0
Dai ϕ(P ) ∈ V(I(Y
∑ )) = Y , io1 que iprova a boa definição de ϕ.
Logo, seja η = ai1 ,...,im y1 . . . ym + I(Y ), então
m

ϕ∗ (η) = η(ϕ)
= η(f1 , . . . , fn )

= ai1 ,...,im f1i1 . . . fm im
+ I(X)

= ai1 ,...,im (f1 + I(X))i1 . . . (fm + I(X))im

= ai1 ,...,im (T (y1 + I(Y )))i1 . . . (T (ym + I(Y )))im

= T( ai1 ,...,im (y1 + I(Y ))i1 . . . (ym + I(Y ))im )

= T( ai1 ,...,im y1i1 . . . ym
im
+ I(Y ))
= T (η)
assim temos Φ(ϕ) = ϕ∗ = T .
Isto termina a prova.

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