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Sumário

1 Polinômios 2
1.1 Anel dos Polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Algoritmo da Divisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Relação de divisibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4 Zeros de um Polinômio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.5 Critério de Eisenstein . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2 Exercicios 19

1
Capítulo 1
Polinômios

Neste trabalho, K denota um domínio de integridade e K N o conjunto das


sequências f = {ai }i∈N em K . Uma sequência {ai }i∈N é quase nula se existe um
no ∈ N tal que ai = 0, para i > no . Denotando-se por K[X] o conjunto de todas
as seqüências quase nulas em K, um elemento de K[X] é chamado um polinômio
com coecientes em K .

1.1 Anel dos Polinômios

Sejam f = {ai }i∈N e g = {bi }i∈N dois polinômios em K[X].


A soma f + g = {ci }i∈N é denida por ci = ai + bi e o produto f.g = {di }i∈N
i
por di = ap bi−p . Da denição de soma segue (exercício 1.) que
X X
aj b k =
j+k=i p=o
{ci }i∈N ∈ K[X] e para o produto, observa-se que sendo f, g ∈ K[X], existem n1
e n2 em N tais que ai = 0 se i > n1 e bi = 0, se i > n2 e então:

nX
1 +n2 1 −1
nX nX
1 +n2

dn1 +n2 = ai bn1 +n2 −i = ai bn1 +n2 −i + an1 bn2 + ai bn1 +n2 −i .
i=o i=o i=n1 +1

Portanto, dn1 +n2 = an1 bn2 e dk = 0 , para todos k > n1 + n2 , implicando que
{di }i∈N ∈ K[X].
Observe que o polinômio nulo é a sequência 0 = {ai }i∈N com ai = 0, ∀i ∈ N
e o polinômio identidade é dado por 1 = {ai }i∈N com ao = 1 e ai = 0, ∀i ≥ 1.
Obviamente, 0 e 1 pertencem a K[X].
Além disso, dado um polinômio f = {ai }i∈N em K[X], denindo-se −f =
{−ai }i∈N tem-se que −f pertence a K[X] e é chamado oposto ou inverso aditivo
de f . Das observações acima, pode-se mostrar que com essas operações, K[X] é
um anel comutativo, com identidade. (exercício 2.)
Teorema 1.1.1 (K[X], +, ·) é um domínio de integridade.

2
Demonstração. Sejam f 6= 0 e g 6= 0 em K[X] quaisquer. Então existem
m e n em N de modo que am 6= 0 e am+i = 0, ∀i ≥ 1 e bn 6= 0 e bn+i = 0, ∀i ≥ 1
. Um cálculo análogo ao que foi feito acima permite concluir que dm+n = am bn
e dk = 0, para todo k > m + n. Como am 6= 0 e bn 6= 0 e K é um domínio de
integridade, segue que am bn 6= 0. Decorre que dm+n 6= 0, provando que K[X] não
tem divisores do zero.
Observe também que os únicos elementos invertíveis do anel K[X] são os
elementos invertíveis do anel K .

Observação 1.1.2 Observe que K[X] não é um corpo, mesmo que K o seja.
Denição 1.1.3 Seja f = {ai }i∈N ∈ K[X], f 6= 0. Chamamos de grau de f ,
denotado por ∂f , ao maior número natural n tal que an 6= 0, an é chamado
coeciente líder de f e se an = 1, então f é mônico.

Ao polinômio nulo não se atribui grau.

Proposição 1.1.4 Sejam f = {ai }i∈N e g = {bi }i∈N dois polinômios não nulos
em K[X]. Tem-se:
a) se f + g 6= 0, então ∂(f + g) ≤ max{∂f, ∂g}
b) se ∂f 6= ∂g , então f + g 6= 0 e ∂(f + g) = max{∂f, ∂g}.
c) ∂(f.g) = ∂f + ∂g .

Demonstração. Sejam m = ∂f e n = ∂g e f + g = {ci }i∈N , onde ci = ai + bi ,


para todo i ∈ N. Então am 6= 0 e ai = 0, ∀i > m e bn 6= 0 e bi = 0, ∀i > n.
a) Suponha m ≤ n. Então cn = an + bn e ci = ai + bi = 0, ∀i > n. Sendo
f + g 6= 0, o grau de f + g está denido e ∂(f + g) ≤ n = max{∂f, ∂g}.
b) Suponha agora m < n. Então cn = an + bn = 0 + bn 6= 0 e ci = 0, ∀i > n.
Portanto, f + g 6= 0 e ∂(f + g) = n = max{∂f, ∂g}
c) Decorre das observações anteriores que se {di }i∈N = f.g , então dm+n 6=
0, ∀k > m + n. Segue que ∂(f.g) = m + n = ∂f + ∂g .

Denição 1.1.5 O polinômio X = (0, 1, 0, · · · ) em K[X] é denominado inde-


terminada e toda potência X i = (0, 0, · · · , 1, · · · 0, · · · ), i ∈ N é chamado um
monômio.

Segue da denição que se a ∈ K , então aX p = a(0, · · · , 1, 0, · · · ) =


(0, · · · , a, 0, · · · ) = (a, 0, · · · , 0, · · · )(0, · · · , 1, 0, · · · ) ∈ K[X].
Se f = {ai }i∈N é um polinômio em K[X] e m é um número natural tal que
ai = 0, ∀i > m, então f = (ao , a1 , · · · , am , 0, · · · ). Observe que f é a soma dos
polinômios (ao , 0, · · · , 0, · · · ) + (0, a1 , 0, · · · , 0, · · · ) + (0, 0, a2 , · · · , 0, · · · ) + · · · +
m
ai X i .
X
o 1 m
(0, 0, · · · , am , 0, · · · ) = ao X + a1 X + · · · + am X =
i=o

3
m
Daqui para frente será usada a notação f = ao +a1 X +· · ·+am X =
X
1 m
ai X i
i=o
para umXpolinômio em K[X]. Na realidade, um polinômio em X é uma série
formal ai X i , onde se requer que somente um número nito dos coecientes
i≥0

ai sejam não nulos. Um monômio de grau p é uma série formal ai X i tal que
X

i≥0
ai = 0, para todo i 6= p. A família dos monômios {ai X}X i∈N é somável e sua soma
é a série formal ai X . Isto justica a notação formal ai X i para polinômios.
X
i

i≥0 i≥0

1.2 Algoritmo da Divisão

Neste parágrafo considera-se K um corpo.


Teorema 1.2.1 (Algoritmo da Divisão) Sejam f, g ∈ K[X], f 6= 0, ∂f = n.
Então existe um único par (q, r) de polinômios em K[X] tal que g = q.f + r, com
r = 0 ou ∂r < ∂f .
Demonstração. Primeiramente será provada a unicidade. Para isso, considera-
se (q , r ) um outro par de K[X] tal que g = q f + r , onde r = 0 ou ∂r < ∂f .
0 0 0 0 0 0

Suponha que r − r 6= 0. Como q.f + r = q .f + r , tem-se que r − r = f.(q − q )


0 0 0 0 0

e, portanto, (q − q )f 6= 0. Então ∂[(q − q )f ] = ∂(q − q ) + ∂f ≥ n. Segue que


0 0 0

∂(r − r) ≥ n.
0

Para a prova da existência do par (q, r) de polinômios em K[X] tem-se: se


g = 0, basta tomar q = 0 e r = 0. Se g 6= 0, sejam m = ∂g e bm o coeciente
líder de g . Se m < n, basta tomar q = 0 e r = g .
Considere então m ≥ n e a existência do par (q, r) de polinômios em K[X]
será provada por indução sobre m.
a) Se m = 0 tem-se g = bo e f = ao . Como ao 6= 0 em K , existe a−1
o ∈ K tal
que ao .ao = 1. Então basta tomar q = ao bo e r = 0.
−1 −1
n
b) Suponha agora m > 0 e assuma que para f 6= 0, com ∂f = n, f =
X
ai X i
i=o
e para qualquer polinômio g de grau menor ou igual a m − 1, existam q e r tais
que g = q.f + r, com r = 0 ou ∂r < ∂f .
Tome g ∈ K[X] com ∂g = m e suponha que m ≥ n. Considerando o polinômio
g1 = g − bm a−1n X
m−n
f , tem-se dois casos:
1) g1 = 0. Nesse caso, basta tomar q = bm a−1n X
m−n
e r = 0.
2) g1 6= 0. Observe-se que o grau de bm an X
−1 m−n
f é m e tem como coeciente
líder −bm . Como g tem grau m e coeciente líder bm , o grau de g−bm a−1
n X
m−n

menor ou igual a m − 1, i.é. ∂(g1 ) ≤ m − 1. Da hipótese de indução, existem q e r
tais que g1 = q.f +r, com r = 0 ou ∂r < ∂f . Segue que q.f +r = g−bm a−1
n X
m−n
f;
ou ainda g = (q + bm an X
−1 m−n
)f + r, com r = 0 ou ∂r < ∂f .

4
Observação 1.2.2 O algoritmo da divisão é verdadeiro se g e f pertencem a
A[X], onde A é um domínio de integridade e o coeciente líder an de f é invertível
em A.
Exemplo 1.2.3 A demonstração da existência do teorema anterior fornece um
modo prático de dividir dois polinômios. Por exemplo, sejam g = 8X 4 − 6X 2 +
3X − 2 e f = 2X 2 − 3X + 2 em Q[X].
1o. passo: ∂g = 4 > ∂f = 2. Então q1 = 8.2−1 .X 4−2 = 4X 2 e g1 = g − q1 .f =
12X 3 − 14X 2 + 3X − 2.
2o.passo: ∂g1 = 3 > ∂f = 2. Então q2 = 12.2−1 .X 3−2 = 6X e g2 = g1 −q2 .f =
4X 2 − 9X − 2.
3o. passo: ∂g2 = 2 = ∂f = 2. Então q3 = 4.2−1 = 2 e g3 = g2 − q3 .f =
−3X − 6.
4o.passo: ∂g2 = 1 < ∂f = 2. O processo para e toma-se r3 = g3 .
Conclusão: g = q.f + r, onde r + g3 + g2 − q3 .f = g1 − q2 .f − q3 .f =
g − q1 .f − q2 .f − q3 .f = g − (q1 + q2 + q3 .f . Portanto, g = (q1 + q2 + q3 ).f + r.
Então 8X 4 − 6X 2 + 3X − 2 = (4X 2 + 6X + 2)f + (−3X − 6).
Denição 1.2.4 Sejam f e g em K[X], com f 6= 0. Diz-se que f é um divisor
de g (f | g ) ou ainda f divide g se existe q ∈ K[X] tal que g = q.f . Observe que
pelo algorítmo da divisão, q é único.
Denição 1.2.5 Sejam f e g dois polinômios não nulos de K[X]. Um polinômio
mônico d ∈ K[X] é o máximo divisor comum de f e g , denotado por d = (f, g),
se:
i) d | f e d | g e
ii) para qualquer outro polinômio d que divide f e g , tem-se que d | d.
0 0

Teorema 1.2.6 Sejam f e g dois polinômios não nulos de K[X]. O máximo


divisor comum entre f e g existe e é unico.
Demonstração. Seja A o conjunto dos polinômios não nulos da forma: f α +
gβ, α, β ∈ K[X]. Observe que A é não vazio, pois o polinômio f 2 + g 2 é não
nulo, pode-se portanto tomar um tal polinômio de menor grau, torná-lo mônico
e chamá-lo de d. Então d = f.α + g.β, α, β ∈ K[X] e assim todo divisor comum
de f e g é um divisor de d. Como a divisão de todo polinômio de A por d deixa
resto zero, vê-se que d é um divisor comum de f e de g , satisfazendo a denição
acima.
Corolário 1.2.7 : (Teorema de Bezout) O máximo divisor comum (f, g) = α.f +
β.g , onde α e β pertencem a K[X].

Muitas vezes não é fácil achar o máximo divisor comum, usando a denição
dada acima. Uma forma de facilitar os cálculos é usar o processo das divisões
sucessivas, baseado nos seguintes resultados.

5
Teorema 1.2.8 Sejam f e g dois polinômios não nulos de K[X]. Então (f, g) =
(g, r), onde r é o resto da divisão de f por g .

Demonstração. Se d = (f, g), então d | f e d | g e, portanto existem polinômios


α e β em K[X], tais que f = dα e g = d.β . Do algorítmo da divisão, existem
polinômios q e r para os quais f = q.g + r. Logo, r = f − g.q = d.α − d.β.q =
d(α − β.q), ou seja d divide r. Como também d | g , então d | (g, r).
Suponha que d = (g, r), isto é, d | g e d | r. Por um lado, d | (f + h.g),
0 0 0 0

para h ∈ K[X]. Por outro lado, existem polinômios k e l tais que d .k = g e


0

d .l = f + g.h. Logo f = d .l − g.h = d .l − d .k = d (l − k). Portanto, d | f .


0 0 0 0 0 0

Como d | g , então d | (f, g), concluindo-se que d | d e d | d, ou seja, d = d .


0 0 0 0 0

Teorema 1.2.9 Sejam f e g dois polinômios não nulos de K[X] com ∂f ≥ ∂g.
Escreva r0 = f e r1 = g . Se ri+1 não é um divisor de ri , seja ri+2 o resto da
divisão de ri por ri+1 , para i = 0, 1, 2, · · · . Esta sequencia de divisões termina em
um resto nulo; o último resto não nulo, rk , tornado monico, é o máximo divisor
comum (f, g).
Demonstração. Do algorítmo da divisão existem q e r em K[X] tais que f =
q.g + r, com ∂r < ∂g . Do teorema anterior, segue que (f, g) = (g, r) e como

∂r0 ≥ ∂r1 > ∂r2 > · · · > ∂ri+1 > · · ·


formam uma sequência decrescente de números inteiros não negativos e pelo
principio do menor inteiro, existe um ∂rk menor de todos os ∂ri s. Assim rk é um
0

divisor de rk−1 , concluindo-se assim que:


0
(f, g) = (r0 , r1 ) = · · · (rk−1 , rk ) = (rk , 0) = rk
onde rk é rk tornado mônico.
0

Exemplo 1.2.10 Considere-se os polinômios r0 = X 4 − X 3 − 4X 2 − X + 5 e


r1 = X 3 − 3X 2 + X + 1 sobre o corpo Q dos racionais. Para encontrar o máximo
divisor comum (r0 , r1 ) aplica-se o algorítmo da divisão até obter resto zero, isto
é, divide-se ri por ri+1 obtendo ri+2 como resto para i = 0, 1, 2, · · · , então (r0 , r1 )
é o último resto não nulo tornado monico.
Tem-se então:
dividindo r0 por r1 , obtem-se r0 = (X + 2)r1 + r2 , onde r2 = X 2 − 4X + 3,
dividindo r1 por r2 , obtem-se r1 = (X + 1)r2 + r3 , onde r3 = 2X − 2,
dividindo r2 por r3 , obtem-se r2 = 1/2(X − 3)r3 .
Então (r0 , r1 ) = X − 1, pois X − 1 é o último resto não nulo tornado monico.
Substituindo pelo resto cada termo dos restos prévios, determinam-se polinô-
mios α e β em Q[X], com α.r0 + β.r1 = (r0 , r1 ). Neste caso,

6
r3 = r1 −(X+1)r2 = r1 −(X−1)(r0 −(X+2)r1 ) = −(X+1)r0 +(X 2 +3X+3)r1 ,
dando α = −1/2(X + 1) e β = 1/2(X 2 + 3X + 3) e (r0 , r1 ) = 1/2r3 .

O objetivo é estender o Algorítmo da Divisão de forma a fornecer α e β em


K[X] de modo a escrever d = (f, g) como d = α.f + β.g .
Suponha que na sequência dos restos r0 , r1 , · · · , rk+1 tenha-se rk+1 = 0 e,
portanto d = (f, g) = rk , tornado mônico. Seja qn o quociente de rn−1 por rn , ou
seja, rn−1 = qn .rn + rn+1 para n entre 1 e k .
Duas sequências {αk } e {βk } serão construidas de modo que α = (−1)k αk e
β = (−1)k+1 βk sejam os coecientes procurados.
Sejam
α0 = 1, α1 = 0, β0 = 0, β1 = 1,
e dene-se recursivamente:

αn = qn−1 .αn−1 + αn−2 , βn = qn−1 .βn−1 + βn−2 , 2 ≤ n ≤ k + 1


Considere r0 = f e r1 = g .

Teorema 1.2.11
rn = (−1)n αn .f + (−1)n+1 βn .g

Demonstração.
Tem-se que

f = r0 = 1.f − 0.g = α0 .f − β1 .g

g = r1 = 0.f − 1.g = −α1 .f + β1 .g


mostrando que a relação é verdadeira para n = 0 e n = 1.
A prova será por indução sobre n. Seja n ≥ 2 e suponha que a relação é
verdadeira para todo 0 ≤ n ≤ n − 1. Então pela denição dos quocientes qn e
restos rn ,

rn = rn−2 − qn−1 .rn−1

= (−1)n−2 αn−2 .f + (−1)n−1 βn−2 .g

−qn−1 ((−1)n−1 αn−1 .f + (−1)n βn−1 .g)

= (−1)n f (qn−1 .αn−1 + αn−2 ) + (−1)n+1 g.

7
(qn−1 .βn−1 + βn−2 )

= (−1)n f.αn + (−1)n+1 g.βn

Segue em particular, uma representação do máximo divisor comum como com-


binação de f e de g .

Exemplo 1.2.12 f = 2X 4 + X 3 − 6X 2 + 7X − 2 e g = 2X 3 − 7X 2 + 8X − 4
Tem-se que r0 = f e r1 = g, α0 = 1, β0 = 0, q1 = X + 4, α1 = 0, β1 = 1, q2 =
1/7(X − 2), α2 = 1, β2 = X + 4.
Portanto r3 = (r0 , r1 ) = 7f + (−1)3 (X + 4)g .

1.3 Relação de divisibilidade

Neste parágrafo, K denota um corpo. O objetivo principal é estabelecer o


Teorema da Fatoração Única de Polinômios.

Denição 1.3.1 Sejam f, g ∈ K[X]. f é associado a g (f ∼ g) se f | g e g | f .


Lema 1.3.2 O conjunto dos elementos invertíveis de K é K ∗ , que pode ser iden-
ticado com o conjunto dos polinômios constantes não nulos. Então f ∼ g se, e
somente se, ∃ a ∈ K ∗ tal que f = a.g .

Demonstração. De fato, f | g e g | f implicam que ∃ b ∈ K[X] e ∃ c ∈ K[X]


tais que g = b.f e f = c.g . Logo b.c = 1, i.é. são invertíveis, o que acarreta
b, c ∈ K ∗ .
Reciprocamente, se existe a ∈ K ∗ tal que f = a.g , então g | f . Além disso,
sendo K um corpo e a ∈ K ∗ , existe a−1 ∈ K ∗ tal que a.a−1 = 1. Então a−1 f = g
e g | f.
Em particular, se f e g são mônicos, então f ∼ g se, e somente se, f = g
(exercício 3.).

Teorema 1.3.3 ∼ é uma relação de equivalência em K[X].


Demonstração. As propriedades reexiva e simétrica são imediatas. Para a
prova da propriedade transitiva, considere f ∼ g e g ∼ h em K[X]. Então
existem a ∈ K ∗ e b ∈ K ∗ tais que f = a.g e g = b.h. Isto implica que f = (a.b).h,
com a.b ∈ K ∗ , ou seja, f ∼ h.

A classe de equivalência de f denida por essa relação, denotada por f.K ∗ , é


dada por

8
f.K ∗ = {g ∈ K[X], g ∼ f } = {g = a.f, a ∈ K ∗ }
Como para todo polinômio f 6= 0, existe um único polinômio mônico, a saber,
a .f , onde a é o coeciente líder de f , que é associado a f , este polinômio será
−1

tomado como o representante da classe de equivalência de f.K ∗ .


Seja I o conjunto de todos os polinômios mônicos de K[X]. Então
[
K[X] = {0} ∪ f.K ∗ .
f ∈I

Lembrando que U (K[X]) = K , os divisores impróprios de f 6= 0 são a e a.f ,


com a ∈ K ∗ .
Denição 1.3.4 Um polinômio não constante p ∈ K[X] é irredutível se p =
f.g implica ou f ou g constante. Caso contrário, diz-se que p é redutível. Um
polinômio irredutível e mônico é chamado polinômio primo.
Observe que se p é irredutível e p = f.g , então ou f ∼ p ou g ∼ p e se f ∼ g ,
então f é irredutível se, e somente se, g é irredutível.(exercício 4.)
Assim, para estudar a redutibilidade ou irredutibilidade basta estudar apenas
os polinômios mônicos.
Teorema 1.3.5 Um polinômio mônico não constante f ∈ K[X] é redutível se,
e somente se, existem polinômios mônicos g e h em K[X] tais que f = g.h e
0 < ∂g < ∂f e 0 < ∂h < ∂f .

Demonstração. Supondo f redutível, tem-se f = g.h, com g, h ∈ K[X] e


∂h ≥ 1 e ∂g ≥ 1.
Como K[X] é um domínio de integridade, segue que ∂f = ∂g + ∂h ≥ ∂g + 1 >
∂g e ∂f ≥ ∂h + 1 > ∂h.
Reciprocamente, se f = g.h com 0 < ∂g < ∂f e 0 < ∂h < ∂f , segue que g e
h são não constantes e f = g.h.

Corolário 1.3.6 Um polinômio mônico não constante p ∈ K[X] é irredutível se,


e somente se, para todo divisor mônico f de p, tem-se f = 1 ou f = p.
Exemplo 1.3.7 X − a em K[X] é irredutível, pois se fosse redutível, existiriam
polinômios mônicos g e h em K[X] tais que X − a = g.h e 0 < ∂g < 1 e
0 < ∂h < 1.

Denição 1.3.8 Sejam A um anel comutativo, com identidade e a ∈ A. O ideal


gerado por a é denido por:

(a) := {r.a, r ∈ A}.

9
Um ideal gerado por um elemento é chamado ideal principal.
Um domínio de integridade tal que todo ideal é principal é chamado Domínio
de Ideais Principais.(PID).

Observação 1.3.9 A relação de divisibilidade em K[X] pode ser expressa em


termos de ideais principais:
f | g ⇐⇒ (g) ⊂ (f )
ou ainda f ∼ g ⇐⇒ (g) = (f ).

(exercício 5.)

Teorema 1.3.10 Seja I[X] um ideal de K[X], onde K é um corpo. Então I[X]
é principal, isto é K[X] é um PID.

Demonstração. Como K é um corpo, tem-se que K[X] é um domínio de inte-


gridade. Seja I[X] um ideal qualquer de K[X]. Se I[X] = 0, então I[X] = (0).
Caso contrário, existe um polinômio p ∈ I[X] não nulo, que é tomado o de menor
grau. Para cada f ∈ I[X] aplica-se o algorítmo da divisão e obtem-se q e r em
K[X] tais que f = p.q + r, onde r = 0 ou ∂r < ∂p. Como p ∈ I[X], então
p.q ∈ I[X] e como f ∈ I[X], tem-se r = f − p.q ∈ I[X]. Mas p é o polinômio de
menor grau em I[X], logo, r = 0. Então f = p.q , o que implica I[X] ⊂ (p). A
outra inclusão é imediata. Portanto, I[X] é principal.

Observe que no teorema anterior pode-se tomar como gerador do ideal não
nulo de K[X] um polinômio mônico.

Teorema 1.3.11 Se f e g são dois polinômios e se d = (f, g), então (f ) + (g) =


(d). Em particular, tem-se o já mencionado teorema de Bézout: Se f e g são
dois polinômios e se d = (f, g), então existem polinômios r e s em K[X] tais que
d = r.f + s.g .

Demonstração. Seja (d) = (f ) + (g). Basta vericar que d = (f, g). Tem-se
que (f ) ⊂ (d) e (g) ⊂ (d), o que implica d | f e d | g .
Seja d outro divisor comum de f e de g . Então (f ) ⊂ (d ) e (g) ⊂ (d ), o que
0 0 0

implica (f ) + (g) ⊂ (d ). Então (d) ⊂ (d ) =⇒ d | d.


0 0 0

Corolário 1.3.12 f e g são relativamente primos se, e somente se, existem


polinômios r e s tais que r.f + s.g = 1

Teorema 1.3.13 Se p é um polinômio irredutível e se p - f , então p e f são


relativamente primos.

10
Demonstração. Seja d = (p, f ). Então d | p e, como p é irredutível e d mônico,
segue que d = 1 ou d = a−1 .p, onde a é o coeciente líder de p. Se d(X) = a−1 .p,
então a−1 p seria um divisor de f , contradição. Logo d = 1.

Considere o conjunto quociente A/I := {a + I, a ∈ A}, onde I é um ideal de


um anel A. O objetivo é denir duas operações em A/I de modo a torná-lo um
anel.
Sejam ⊕ : A/I ×A/I −→ A/I , denida por ⊕(a+I, b+I) = (a+I)⊕(b+I) =
(a+b)+I e ⊗ : A/I ×A/I −→ A/I , denida por ⊗(a+I, b+I) = (a+I)⊗(b+I) =
(a.b) + I .
Essas duas operações dão a A/I uma estrutura de anel que é comutativo,
com identidade, se A é comutativo com identidade, respectivamente. Esse anel é
chamado anel quociente de A por I .
Exemplo 1.3.14 Seja n um inteiro qualquer. Então Z/(n) com as operações
dadas por a + (n) ⊕ b + (n) = a + b + (n) e a + (n) ⊗ b + (n) = a.b + (n) é o anel
dos inteiros módulo n, (Zn , +n , .n ).
Observação 1.3.15 Assuma I um ideal não nulo de um anel comutativo, com
identidade A e a ∈ / I . Seja (I, a) o ideal gerado por I ∪ {a}, ou seja , (I, a) :=
{i + r.a, i ∈ I, r ∈ A}. Então um ideal I é maximal de A se, e somente se, I 6= A
e (I, a) = A, para todo a ∈ / I .De fato, I ( (I, a) ⊂ A. Então se I é um ideal
maximal, (I, a) = A. Por outro lado, suponha J um ideal tal que I ( J ⊂ A.
Então existe a ∈ J e a ∈ / I e I ( (I, a) ⊂ A. Como (I, a) = A, temos que
1 ∈ (I, a). Logo 1 = i + ra, i ∈ I, a ∈ J . Logo 1 ∈ J , o que implica que J é
maximal.
Teorema 1.3.16 Um ideal próprio I[X] é maximal em K[X], com K um corpo
se, e somente se, I[X] é primo.
Demonstração. Sejam f, g ∈ K[X] quaisquer tais que f.g ∈ I[X] e assumindo
que f ∈/ I[X], mostra-se que g ∈ I[X]. Como I[X] é maximal, então (I[X], f ) =
K[X]. Logo existem i ∈ I[X], h ∈ K[X] tais que 1 = i + h.f . Observe que f.g e
i estão em I[X], então g = (i + h.f )g = i.g + h(f g) ∈ I[X]. Segue que I[X] é
primo.
Para a recíproca, seja I[X] um ideal primo em K[X], que é um P.I.D., logo
I[X] é principal. Seja I[X] = (f ), para algum f ∈ K[X]. Seja J[X] qualquer
outro ideal tal que (f ) ( J[X] ⊂ K[X], onde J[X] = (g). Mas f ∈ J[X] = (g),
logo f = h.g , para algum h ∈ K[X]. Como por hipótese, I[X] é um ideal primo,
h ∈ I[X] ou g ∈ I[X]. Se g ∈ I[X], é uma contradição, (g) ⊂ (f ); então
h ∈ I[X] = (f )). Logo h = α.f , para algum α ∈ K[X]. Então f = h.g = α.f.g ,
ou seja, f (1 − α)g = 0 e como f 6= 0 e K[X] é de integridade, segue que 1 =
α(X)g(X). Isto implica que 1 ∈ J[X], logo J[X] = K[X]. Segue que I[X] é
maximal.

11
Teorema 1.3.17 Seja f um polinômio não nulo em K[X], onde K é um corpo.
São equivalentes:
a) f é irredutível.
b) O ideal principal (f ) é maximal (primo).
c) O anel quociente K[X]/(f ) é um corpo.
Demonstração. Provemos que a condição a implica b : Seja J[X] = (g) um
ideal qualquer tal que (f ) ( (g) ⊂ K[X].Então f ∈ (g) e portanto f = h.g, h ∈
K[X]. Mas como f é irredutível, então ou h = c 6= 0 ou g = d 6= 0. Sendo K um
corpo, segue-se h = c, então g = a−1 f (contradição) . Logo g = d 6= 0 e portanto
1 ∈ (g). Então (g) = K[X], pois 1 = d−1 .d = d−1 .g . Logo (f ) é maximal.
Para provarmos que a condição b implica c, basta provar que todo elemento
não nulo de K[X]/(f ) tem inverso. Seja g + (f ) 6= (f ), com g ∈ K[X]. Então
g∈/ (f ). Logo (f ) ( ((f ), g) ⊂ K[X]. Como (f ) é maximal, tem-se que ((f ), g) =
K[X], portanto 1 = α.f + β.g . Segue que 1 − β.g = α.f , o que implica 1 − β.g ∈
(f ). Então, 1 + (f ) = β.g + (f ) , ou seja 1 + (f ) = (g + (f )) ⊗ (β + (f )). Portanto
g + (f ) tem inverso.
Provemos agora que c implica a, completando assim as equivalências. Suponha
f redutível. Então f = g.h, com ∂g ≥ 1 e ∂h ≥ 1. Logo, g.h ∈ (f ), ou seja,
g.h + (f ) = (f ), o que implica g + (f ) ⊗ (h + (f )) = 0 + (f ). Observe que se
g + (f ) = (f ) ⇐⇒ g ∈ (f ) ⇐⇒ g = α.f . Logo f = h.g = (1 − α.h)f = 0
e como K[X] é de integridade e f 6= 0, tem-se que 1 = α.h e, portanto α e h
são invertíveis, o que dá uma contradição. Se α é inversível, (g) ⊂ (f ) e se h
é inversível, então h = cte 6= 0. O mesmo ocorre se h + (f ) = (f ). Portanto
K[X]/(f ) não seria um corpo.

Teorema 1.3.18 Todo polinômio não constante f ∈ K[X] admite pelo menos
um fator mônico irredutível.
Demonstração. De fato, seja S o conjunto dos polinômios p ∈ K[X] tais que p
é polinômio mônico e não constante e p | f . Tem-se que S 6= ∅, pois a−1 f ∈ S ,
onde a é o coeciente líder de f . Segue que existe em S um polinômio p de grau
mínimo. Se g é um divisor não constante e mônico de p, então ∂g ≤ p e g | f ,
logo g ∈ S e, então ∂g = ∂p. Segue que g = p e, portanto p é um fator irredutível
e mônico de f .

Teorema 1.3.19 Todo polinômio não constante f ∈ K[X] é igual a um pro-


duto de uma constante por polinômios mônicos irredutíveis. Esta decomposição
é única, a menos da ordem dos fatores.
Demonstração. A prova será por indução sobre o grau n de f . Se n = 1, então
f = aX + b = a(X + ba−1 ), que é irredutível. Suponha verdadeiro para todo

12
polinômio de grau menor que n e tome f de grau n. Se f é irredutível, basta
fatorar pelo seu coeciente líder. Se f é redutível é possível escrever f = g.h,
onde g, h ∈ K[X], 0 < ∂g < n e 0 < ∂h < n. Da hipótese de indução, vem:

g = a1 .g1 . · · · gr

h = a2 .h1 . · · · hs
onde a1 e a2 são elementos não nulos de K e gi e hi são polinômios mônicos.
Assim,

f = (a1 .a2 ).g1 . · · · gr .h1 · · · hs


é uma fatoração que satisfaz o teorema.
A unicidade será provada também por indução sobre n = ∂f . Se n = 1, então
a1 (X + b1 ) = a2 (X + b2 ), com a1 6= 0 e a2 6= 0, então a1 = a2 e a1 b1 = a2 b2 , donde
segue que b1 = b2 .
Seja n > 1 e suponha que

f = cp1 · · · pr = dq1 · · · qs
são duas fatorações de f .
Observe que c = d, pois ambos são o coeciente líder de f .
Além disso, p1 divide o produto q1 · · · qs ,e então divide um dos membros, por
exemplo q1 . Como são mônicos e irredutíveis, então q1 = p1 . Temos então

f 1 = p2 · · · pr = q 2 · · · qs
Mas agora ∂f1 < n, então segue da hipótese de indução que a fatoração é
única, a menos da ordem.
Juntando cp1 = dq1 , completa-se a prova.

Corolário 1.3.20 Se f ∈ K[X], então existem p1 , p2 , · · · , pm mônicos e irre-


dutíveis , k ∈ K e inteiros α1 , α2 , · · · , αm tais que:

f = k.pα1 1 · · · pαmm

Demonstração. Seja a o coeciente líder de f . Pelo teorema anterior, pode-se


armar que existem em K[X], polinômios mônicos irredutíveis p1 , p2 , · · · , ps tais
0 0 0

que
0 0 0
f = k.p1 .p2 · · · ps .
Observe que os polinômios p1 , p2 , · · · , ps não são necessariamente distintos
dois a dois. Usando-se uma notação conveniente, segue o resultado.

13
1.4 Zeros de um Polinômio

Considere F (R) o conjunto constituído por todas as funções f : R −→ R tais


que existem números reais ao , a1 , · · · , an , com n ∈ N, de modo que

f (t) = ao + a1 t + · · · + an tn ,
para todo t ∈ R. Observe que cada uma destas funções é completamente deter-
minada pelo natural n e por ao , a1 , · · · , an . Essas funções são chamadas funções
polinomiais. As operações

(f + g)(t) = f (t) + g(t) e (f.g)(t) = f (t).g(t), ∀t ∈ R


dão a F (R) uma estrutura de anel. (exercício 6)
Neste parágrafo, B denotará um domínio de integridade e A um subanel de
B tal que 0A = 0B .
n
Denição 1.4.1 Sejam f = ai X i ∈ A[X] e x ∈ B . O valor de f no elemento
X

i=o
n
x, denotado por f (x) é dado por f (x) = ai xi ∈ B .
X

i=o

Observação 1.4.2 Observe que se X é a indeterminada e se x = X , então


n
ai X i = f , justicando a notação f (X) para indicar o polinômio f .
X
f (X) =
i=o

Denição 1.4.3 Um elemento x ∈ B é uma raiz ou um zero de f se f (x) = 0.


Exemplo 1.4.4 Considere f = X 2 + 1 em R[X]. Observe que i e −i são raízes
de f , porém f não possui raízes em R.

Teorema 1.4.5 ( Teorema do resto) Se f ∈ A[X] e se a ∈ A, então f (a) = 0


se, e somente se, X − a |f . ( Dizer que X − a |f é equivalente a dizer que a
divisão de f por X − a é exata).

Demonstração. Segue do algoritmo da divisão que existem q e r em A[X] tais


que f = (X − a).q + r, com r = 0 ou ∂r < ∂(X − a) = 1. Note que a condição
f (a) = 0 é equivalente a r = 0, pois f (a) = (a − a).q(a) + r = r.
Segue que f (a) = 0 se, e somente se, X − a | f .

Denição 1.4.6 O elemento a ∈ A é uma raiz de f ∈ A[X] de multiplicidade


m se (X − a)m | f e (X − a)m+1 - f .

14
Denição 1.4.7 Dado um polinômio f ∈ A[X], a função polinomial sobre B
determinada pelo polinômio f é a aplicação fB : B −→ B denida por fB (x) =
f (x), para todo x ∈ B .

Uma importante operação algébrica com polinômios é a derivação.


n
Denição 1.4.8 Dado um polinômio f = ai X i ∈ A[X], onde A é um
X

i=o
domínio de integridade, dene-se a derivada de f , como sendo o polinômio
n−1
ai X i .
X
f0 =
i=1

Observe que há uma grande semelhança com a derivada de uma função, mas
neste caso a denição é puramente algébrica e não envolve conceitos do Cálculo
Diferencial. Considerando-se a função D : A[X] −→ A[X] dada por D(f ) = f 0 ,
vê-se que D(X n ) = nX n−1 , n = 1, 2, · · · ao passo que se g é constante, então
Dg = 0 e D(gf ) = gD(f ). Logo:

Xn n−1
X
0 i
f = D( ai X ) = ai D(X i )
i=o i=1

Teorema 1.4.9 i) D(f + g) = D(f ) + D(g);


ii) D(f g) = D(f )g + f D(g).
O seguinte corolário pode ser provado por indução sobre n.(exercício 7.)
Corolário 1.4.10 Para todo n, tem-se D(f n ) = nf n−1 D(f ).
Há uma conexão entre a solução de equações polinomiais e a derivada, dada
pelo teorema a seguir.
Teorema 1.4.11 Seja α um zero de um polinômio f em A[X], onde para qual-
quer m ≥ 1, ma 6= 0 para a 6= 0 em A. Então α é um zero de multiplicidade m
se, e somente se, é um zero de multiplicidade (m − 1) de f 0 .
Demonstração. Seja α um zero de multiplicidade m de f .Então f = (X −
α) q e q(α) 6= 0.
m

Segue que
f 0 = m(X − α)m−1 q + (X − α)m q 0 = (X − α)m−1 (mq + (X − α)m q 0 )
e mq(α) + 0.q 0 (α) 6= 0. Logo α é um zero de multiplicidade (m − 1) de f 0 .
Reciprocamente, todo zero do polinômio f é um zero m-uplo para algum
m, (teorema 2.4.15 a seguir) e se é um zero k -uplo de f 0 , então mostramos que
m − 1 = k.

15
Exemplo 1.4.12 1) A função polinomial determinada pelo polinômio constante
a ∈ A é denida por fB (x) = a, ∀x ∈ B .
2) Sejam f = X 3 − X ∈ Z3 [X] e B = Z3 . Então f (0) = f (1) = f (2) = 0.
Segue que a função polinomial fB é a função nula fB (x) = 0, ∀x ∈ B . mo 3)
Considere os polinômios f = X 3 + 1 ∈ Z3 [X] e g = X + 1 ∈ Z3 [X] e Z3 . Tem-se
que f (0) = g(0); f (1) = g(1); f (2) = g(2). Então fB = gB , porém f 6= g .
Denição 1.4.13 Sejam f, g ∈ A[X]. Diz-se que f é idêntico a g (f ≡ g) se, e
somente se, f (x) = g(x), ∀x ∈ A. Quando f ≡ 0, então f é identicamente nulo.
Teorema 1.4.14 Sejam K um corpo e f ∈ K[X], f 6= 0. Então f tem no
máximo ∂f raízes em K .
Demonstração. A demonstração será por indução sobre n = ∂f .
Se n = 1, então f = αX + β , onde α, β ∈ K e α 6= 0. Se a ∈ K é tal que
f (a) = 0, então αa + β = 0, donde se conclui que a = −β.α−1 , ou seja, f tem
uma única raiz.
Suponha que o resultado é verdadeiro para todos os polinômios de grau menor
que n e seja f em K[X], com ∂f = n.
Se f não tem raízes em K , então o resultado está provado, pois tendo zero
raízes, tem no máximo n raízes.
Suponha assim que f tenha uma raiz a ∈ K e que a tenha multiplicidade m.
Segue que m ≤ n, pois (X − a)m | f . Então f = (X − a)m .q , onde q ∈ K[X] e
∂q = n − m.
Desde que (X −a)m+1 -f , então (X −a) -q , pois se (X −a) |q e como (X −a)m |f
implicaria que (X − a)m+1 |f .
Segue do Teorema do resto que q(a) 6= 0, i.é, a não é raiz de q . Agora, se
b 6= a é uma raiz, em K , de f , então 0 = f (b) = (b − a)m q(b).
Como K é um corpo e b 6= a, então q(b) = 0, ou seja, b é uma raiz de q em K .
Logo, qualquer raiz de f , em K , diferente de a, é raiz de q . Como ∂q = n−m < n,
segue da hipótese de indução que q tem no máximo n − m raízes, em K .
Mas, a é uma raiz de multiplicidade m de f . Então f tem no máximo m +
(n − m) = n raízes em K , o que completa a indução e prova o teorema.

1.5 Critério de Eisenstein

Conforme observado anteriormente a vericação da irredutibilidade de um


polinômio sobre um corpo é um problema difícil. Um resultado muito importante
na teoria de transformadas polinomiais é o critério de Eisenstein, que dá condições
sucientes para que um polinômio em Q[X] seja irredutível em Q. Primeiramente
considera-se polinômios com coecientes inteiros.
Teorema 1.5.1 Seja f = an X n + an−1 X n−1 + · · · + a1 X + ao um polinômio em
Z[X]. Se r/s é uma raíz racional de f com (r, s) = 1, então r | ao e s | an

16
Demonstração. De fato, se r/s é uma raíz racional de f , então multiplicando
f (r/s) por sn , temos a equação:

an rn + an−1 rn−1 s + · · · + a1 rsn−1 + ao sn = 0


Segue que r |ao sn e s |an rn , assim r |ao e s |an , desde que (r, s) = 1.
Denição 1.5.2 Um polinômio com coecientes inteiros é um polinômio primi-
tivo se o máximo divisor comum de todos seus coecientes é 1.
O polinômio f = 15X 2 + 12X − 9 pode ser escrito como 3(5X 2 + 4X − 3),
onde 5X 2 + 4X − 3 é um polinomio primitivo.
Lema 1.5.3 (Lema de Gauss) O produto de dois polinômios primitivos é um
polinômio primitivo.
Demonstração. Sejam f = {ai }i∈N e g = {bi }i∈N dois polinômios primitivos em
Z[X].
Se f.g não é primitivo, então algum número primo p seria um divisor de cada
coeciente de h = f.g Sejam ak e bl os coecientes, de menor indice, não divisíveis
por p, em f e g , respectivamente. Então cada termo do lado direito da equação
abaixo:

ck+l = ao bk+l + a1 bk+l−1 + · · · + ak−1 bl+1 + ak bl + · · · + ak+l bo


é divisível por p, com exceção de ak bl . Isto implica que ck+l não é divisível por p,
uma contradição.

Teorema 1.5.4 Seja h ∈ Z[X] irredutível sobre Z[X]. Então h é irredutível


sobre Q.
Demonstração. Seja h ∈ Z[X] e suponha que h = f.g onde f, g ∈ Q[X]. Fato-
rando pelo mínimo multiplo comum dos denominadores e máximo divisor comum
dos numeradores dos coecientes, pode-se considerar que h) = (m/n)f ∗ .g ∗ , onde
(m, n) = 1 e f e g são polinômios primitivos, com mesmo grau de f e de g ,
respectivamente. Se di é qualquer coeciente de f ∗ .g ∗ , então n | mdi , pois h tem
coecientes inteiros, assim n | di dado que (n, m) = 1. Pelo Lema de Gauss, f ∗ .g ∗
é primitivo, assim tem-se que n = 1 e portanto h se fatora em h = (mf ∗ )g ∗ , com
f ∗ , g ∗ ∈ Z[X]. O resultado geral, para um numero qualquer de fatores, prova-se
por indução.
Teorema 1.5.5 (Critério de Eisenstein) Para um dado número primo p, seja
f = ao + a1 X + · · · + an X n ∈ Z[X] tal que

an−1 ≡ an−2 ≡ · · · ≡ ao ≡ 0(mod p)


mas an 6≡ 0(mod p) e ao 6≡ 0(mod p2 ). Então f é irredutível sobre Q.

17
Demonstração.
Suponha que

f = (bs X s + · · · + bo )(ct X t + · · · + co ).
Pelo teorema anterior, pode-se assumir que ambos os fatores são polinômios
com coecientes inteiros. Pode-se assumir também que ou bo ou co não é divisível
por p, pois bo co = ao não é divisível por p2 . Assumindo que p - ci , para algum i,
desde que por hipótese an = bs ct não é divisível por p, seja m o menor índice tal
que cm não é divisível por p. Então da equação

am = bo cm + b1 cm−1 + · · · + bm co
vê-se que am não é divisível por p, pois cada termo da direita é divisível por p,
com exceção de bo cm . Assim m = n, pois ai é divisível por p, para i < n, logo f é
irredutível porque não pode ser fatorado em um produto de polinômios de grau
menor.

Observação 1.5.6 No critério de Eisenstein, a condição


an−1 ≡ an−2 ≡ · · · ≡ ao ≡ 0(mod p)
pode ser substituída por: p é um divisor do máximo divisor comum destes coe-
cientes. Observe porém que o critério nem sempre pode ser aplicado. Considere,
por exemplo, o polinômio f = 3X 3 + 5X 2 − 3X + 4. O m.d.c entre 5, 3, 4 é 1,
logo não existe nenhum primo p que o divida, porém f é irredutível. De fato, se
r - 4, então r = 3 e se s - 3, então s = 2. Temos (2, 3) = 1, logo f não tem raiz
racional.

Observação 1.5.7 Para provar que um polinômio h é irredutível é suciente


provar que h(X + c) é irredutível para algum inteiro c, pois se h = f.g , então
h(X + c) = f (X + c).g(X + c). Por exemplo, considerando-se h = X 2 + 1, não
se pode aplicar o critério de Eisenstein, porém para h(X + 1) = (X + 1)2 + 1 =
X 2 + 2X + 2, pode-se aplicar usando p = 2 e concluindo que h é irredutível sobre
Q. Uma maneira de escolher c para fazer a substituição de X por X + c é usar a
fórmula de Taylor.

18
Capítulo 2
Exercicios

1. Prove que se f = {ai }i∈N e g = {bi }i∈N são dois polinômios em K[X] e,
denindo-se a soma f + g = {ci }i∈N por ci = ai + bi , tem-se que {ci }i∈N ∈ K[X].
2. Prove que K[X] com as operações de adição e multiplicação denidas em
2.1. é um anel comutativo, com identidade.
3. Sejam f, g ∈ K[X]. Mostre que se f e g são mônicos, então f ∼ g se, e
somente se, f = g .
4.Se p é irredutível e p = f.g , então ou f ∼ p ou g ∼ p e se f ∼ g, então f é
irredutível se, e somente se, g é irredutível.
5. Mostre que a relação de divisibilidade em K[X] pode ser expressa em
termos de ideais principais:
f | g ⇐⇒ (g) ⊂ (f )
ou ainda f ∼ g ⇐⇒ (g) = (f ).
6. Considere no conjunto F (R) constituído por todas as funções polinomiais
f : R −→ R, as operações

(f + g)(t) = f (t) + g(t) e (f.g)(t) = f (t).g(t), ∀t ∈ R.


Mostre que essas operações dão a F (R) uma estrutura de anel.
7. Para todo n, tem-se D(f n ) = nf n−1 D(f ).
8.Encontre o m.d.c entre f e f 0 , sobre Q.
a) f = X 4 − X 3 − X + 1
b) f = X 3 + 2X 2 − X − 2
9. Seja p = an X n + an−1 X n−1 + · · · + a1 X + a0 um polinômio com coecientes
racionais. Mostre que p é irredutível sobre Q se, e somente se, q = a0 X n +
a1 X n−1 + · · · + an−1 X + an é irredutível sobre Q.
10. Liste todos os polinômios mônicos irredutíveis de grau menor ou igual
a 3 sobre Z3 . Escreva cada um dos polinômios abaixo como um produto de
polinômios irredutíveis.
a) X 2 − 2X + 1
b) X 4 + 2X 2 + 2X + 2

19
11. Mostre que existem exatamente (p2 −p)/2 polinômios mônicos irredutíveis
de grau 2 sobre Zp .
12. Seja f /g uma função racional, onde f, g ∈ R[X].
a) Mostre que se g(X) = h(X)k(X), com (h(X), k(X)) = 1, então existem
polinômios s e t tais que

f /g = s/h + t/k
b) Mostre que se h(X) = p(X)m , onde p é irredutível, então existem poli-
nômios q, r0 , r1 , · · · , rm−1 tais que para cada i ou ri = 0 ou deg(ri ) < deg(p)
e
s/h = q + rm−1 /p + · · · + r0 /pm
.
c) Mostre que f /g pode ser expresso como um polinômio mais uma soma de
"frações parciais"da forma:
c/(X + a)m ou c(X + d)/(X 2 + aX + b)m .
Dica: Se p e q são relativamente primos, então existem polinômios a e b com
a.p + b.q = 1. Portanto
1/(p.q) = a/q + b/p.
13. Mostre que se o inteiro positivo n não é um quadrado perfeito, então para
algum primo p e algum inteiro k , tem-se: √
X 2 −n/p2k satisfaz o critério de Eisenstein. Conclua que n não é um número
racional.
14. Seja f = an X n +an−1 X n−1 +· · ·+a1 X +a0 um polinômio com coecientes
racionais. Mostre que se b 6= 0 e b é uma raiz de f , então 1/b é uma raiz de
g = a0 X n + a1 X n−1 + · · · + an−1 X + an .
15. Encontre os fatores irredutíveis de X 6 − 1 sobre Q.
16. Prove que R[X]/ < X 2 + 1 > é isomorfo a C. √
17. Prove que Q[X]/ < X 2 − 2 > é isomorfo a Q( 2).

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