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Análise Funcional - Lista 06 (Espaços Separáveis)

Marcos L. M. Carvalho - Turma de Doutorado 2018

1 de Junho de 2018

1. Seja E um espaço métrico separável e F ⊂ E . Prove que F é separável.

Solution:
Como X é separável, existe (un )n∈N ⊂ X tal que (un )n∈N é denso em X . Considere (rm )m∈N ⊂
R+ uma sequência tal que rm → 0+ . Dena Brm (un ) a bola centrada em (un ) e de raio rm .
Note que como (un )n∈N é denso em X e M ⊂ X o conjunto A = Brm (un ) ∩ M 6= ∅, seja
(Ym,n ) ∈ A e considere Yp , p = m, n, a sequência de todos os (Ym,n ) ∈ A.
Armação: (Yp ) é denso em M .
De fato, seja x ∈ M e considere Vx uma vizinhança de x de raio . Como rm → 0+ , tome um
rm tal que 0 < 2rm < . Logo, d(un , x) < rm . Por outro lado,
d(Yp , x) ≤ d(Yp , un ) + d(un , x) < rm + rm < .
Portanto, (Yp ) é denso em M e M é separável.

2. Seja E um espa
o vetorial de dimensão nita. Prove que E é separável.

Solution: Suponha que dim E = n, e considere uma base {e1 , · · · , en } para E. Assim, todo
elemento x ∈ E pode ser escrito como
n
X
x= xi ei , /xi ∈ R.
i=1

Como o conjunto Q dos racionais é enumerável e denso nos reais, temos que os elementos y ∈ E
da forma
n
X
y= yi ei , yi ∈ Q
i=1

formam um conjunto denso e enumerável em E . Isso mostra que E é separável.

3. Sejam (E, d) um espaço normado e (xn )n∈N ⊂ E uma sequencia. Prove que F = span{x1 , x2 , . . . } é
separável.

Solution:
n Pk o
Seja L0 = y ∈ F ; y = i=1 qi xi , qi ∈ Q ∀i = 1, . . . , k , temos que é enumerável
pois é união enumerável de conjuntos enumeráveisn (variando o P k ∈ N). Considerando E um es- o
k
paço normado sobre os reais vamos ter que L = y ∈ F ; y = i=1 ri xi , ri ∈ R ∀i = 1, . . . , k

é um conjunto denso em F , logo se x ∈ F e  > 0 então existe y0 ∈ L tal que ||x − y0 || < 2 com
Pk
y0 = i=1 bi xi , b i ∈ R.

1
Como Q é denso em R, para cada i = 1, . . . , k existe ai ∈ Q tal que

|ai − bi | <  Pk .
2 1+ i=1 ||x i ||
Pk
Assim y = i=1 ai xi ∈ L0 e
k Pk
 X   i=1 ||xi ||
||x − y|| ≤ ||x − y0 || + ||y0 − y|| ≤ + |bi − ai | ||xi || ≤ +   < .
2 i=i 2 2 1 + Pk ||x ||
i=1 i

Entao L0 é denso em F , logo F é separavel.

4. Sejam N um espaço normado e E ⊂ N . Prove que E é separável se, e somente se, spanhEi é
separável.

Solution: ⇐) Por Hipótese temos que spanhEi é separável. Como E ⊂ spanhEi, Pelo exercício
1 desta lista E , é separável.
⇒) Por hipótese E é separável, entãoX
existe uma sequência (xn )n∈N , tal que (xn ) = E . Seja
αi ∈ F e xi ∈ (xn ), a combinação αi xi ∈ span(E). Dena a sequência (yi ) = {yi =
i
α1 x1 + . . . + αi xi |αi ∈ F, xi ∈ (xn )}. Temos que (yi ) ∈ span(E), (yi ) é enumerável e pelo fato
que (xn ) = E temos que (yn ) = span(E). Portanto span(E) é separável.

d
5. Sejam E um métrico e F ⊂ E separável. Prove que F é separável.

Solution: Como F ⊂ E é separável, implica que existe D ⊂ F denso e enumerável em F . Sendo


d d
assim, como D ⊂ F é enumerável, resta mostrar que D é denso em F , para isso, considere o
d d
conjunto aberto U ⊂ F , então para qualquer x ∈ U segue que U ∩ F 6= ∅ pois x ∈ F . Como
U ∩ F é aberto em F e D é denso em F segue que U ∩ D = U ∩ (F ∩ D) = (U ∩ F ) ∩ D 6= ∅.
d
Logo D é denso em F .

6. Dena base de Schauder de um espaço normado N e prove que todo espaço normado que possui
base de Schauder é separável.

Solution: Seja N um espaço vetorial normado. Uma base de Schauder para N é uma
sequência {en }n∈N ⊂ N tal que, para todo x ∈ N , existe uma única sequência de escalares
{xn }n∈N satisfazendo
Xn

x − x j j −→ 0 quando
e n → ∞.

j=1

X
Neste caso, escrevemos x = xj ej .
j=1

Como exemplo, temos que {en } é uma base de Schauder para `p , se 1 ≤ p < ∞, onde en =
(δkn )n∈N . E pelo exercício 5., juntamente com este, teremos que `∞ não possui base de Schauder.
Vamos então a uma solução do exercício. Faremos a demonstração para N sobre R. O caso em
que N é C−espaço vetorial é feito de maneira inteiramente análoga.

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Seja então {en }n∈N ⊂ N uma base de Schauder para N . Considere
( n
)
X
X := pi ei ∈ N ; pi ∈ Q .
i=1

É claro que X ⊂ N , e, como a aplicação



[
Qn −→ X
n=1
n
X
(p1 , · · · , pn ) 7−→ pi ei
i=1

é sobrejetora e tem domínio enumerável, segue que X é enumerável.


Armamos que X é denso em N ; e com isso mostramos que N é separável.
Note inicialmente que {en /ken k} também é uma base de Schauder para N , de modo que, sem
perda de generalidade, supomos en unitário para todo n.

X
Seja x = xi ei ∈ N e tome  > 0. Devemos mostrar que B (x) ∩ X 6= ∅. Fixe δ > 0. Para
i=1
cada i ∈ N, considere pi ∈ Bδ/2i (xi ) ∩ Q. Tome n ∈ N sucientemente grande, de modo que
n

X
x − xi ei < δ


i=1

Então, n
n
X X n X Xn
x − p i ei ≤ x − xi ei + xi ei − pi ei


i=1 i=1 i=1 i=1
X n
≤ δ+ |xi − pi |kei k
i=1
n
X
< δ+ δ/2i
i=1
< 2δ.
n
X
Tomando δ = /2, obtemos pi ei ∈ B (x) ∩ X , como queríamos.
i=1
Observação: Existem espaços de Banach que são separáveis e no entanto não possuem base
de Schauder. (ver: Eno, P. (1973), A Counterexample to the approximation property. Acta
Math. 130, 309-317.)

7. Use e Questão 3 para provar que `p , onde 1 ≤ p < ∞ é separável.

Solution: Note que a sequência (ei ) denida da seguinte maneira

e1 = (1, 0, 0, ...)
e2 = (0, 1, 0, ...)
..
.

é uma base de Shauder para `p . Tome um x ∈ `p . Para esse x existe uma sequência (xk ) tal que

X
x = (x1 , x2 , x3 , ...) = xi ei .
i=1

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Observe que essa sequência é única, pois caso contrário existiria pelo menos um j ∈ N em que
fosse possível trocar o xj da sequência por um yj 6= xj , mas assim a j-ésima entrada de x
seria diferente. Tendo isso, temos que (ei ) realmente determina uma base de Shauder para `p .
Portanto, pelo exercício 3, `p é separável.

8. Prove que `∞ não é separável.

Solution: Suponha por absurdo que `∞ contenha uma sequência (xn )∞ n=1 enumerável e densa.
∞ ∞
Para cada n ∈ N, escrevamos xn = (an )
j j=1 . Seja y = (b j )j=1 a sequência denida por bj = 0 se
|ajj | ≥ 1; e bj = ajj + 1 se |ajj | < 1. Como |bj | < 2 para todo j , temos que y ∈ `∞ . Da densidade
da sequência (xn )∞ n=1 existe n0 ∈ N tal que ||y − xn ||∞ < 1. Mas

||y − xn ||∞ = sup{|b1 − an1 |, |b2 − an2 |, . . . , |bn − ann |, |bn+1 − ann+1 |, . . . } ≥ |bn − ann |

Como a norma |bn − an n n n n n


n | é igual a |0 − an | se |an | ≥ 1 e igual a |an + 1 − an | se |an | < 1, temos
n
que |bn − an | ≥ 1 para todo n ∈ N. Logo, ||y − xn ||∞ ≥ 1, uma contradição.

9. Use o Teorema de Stone-Weierstrass para mostrar que C[a, b] é separável.

Solution:
Primeiro note que

Φ : C[0, 1] → C[a,
 b]   
t−a
f 7→ f˜ : [a, b] 3 t 7−→ f ∈ R
b−a
se trata de um isomorsmo linear entre os epaços vetoriais envolvidos e ainda, que

kΦ(f )k∞ = sup |f˜(t)|


t ∈ [a,b]

 
t−a
= sup |f |
t ∈ [a,b] b−a

= sup |f (t)|
t ∈ [0,1]

= kf k∞

para toda f ∈ C[0, 1]. Usaremos este fato para montarmos nosso argumento sobre o intervalo
unitário e ainda assim garantir sua validade para o caso geral.
Para toda f ∈ C[0, 1] e todo  > 0 arbitrariamente xados pode-se encontrar n ∈ N suciente-
mente grande de modo a se ter

|f (x) − f (y)| <
3
sempre que |x − y| 6 1/n em [0, 1] (`f contínua e [0, 1] compacto =⇒ f uniformemente
contínua'). De posse da partição P = {k/n : k = 0, . . . , n} ⊂ [0, 1] considere a função poligonal
g : [0, 1] → R dada por
 
k
g(t) = f (k/n) + n t − (f ((k + 1)/n) − f (k/n)) ,
n

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para todo t ∈ [k/n, (k + 1)/n], k = 0, . . . , n − 1. Tal função é obviamente contínua e satisfaz

2
|g(t) − f (t)| <
3
para todo t ∈ [0, 1]. Daí segue que

2
kg − f k∞ = sup |g(t) − f (t)| 6
t ∈ [0,1] 3

e portanto, pela arbitrariedade dos elementos f e  > 0, o conjunto das funções poligonais é denso
em (C[0, 1], k·k∞ ). Observe que o conjunto de tais poligonais é não enumerável. No entanto, uma
pequena modicação na construção de g nos permite permanecer sobre um conjunto enumerável
de funções poligonais que ainda é denso em C[0, 1]. De fato, tome h : [0, 1] → R numa construção
exatamente análoga à de g porém, satisfazendo h(k/n) ∈ Q ∩ (f (k/n) − /6, f (k/n) + /6),
k = 0, . . . , n. Segue que

|h(t) − g(t)| = |h(k/n) + n (t − k/n) (h((k + 1)/n) − h(k/n)) −


(f (k/n) + n (t − k/n) (f ((k + 1)/n) − f (k/n))) |

 2
< + n(t − k/n)
6 6
 1 2 
< +n =
6 n 6 3
para todo t ∈ [0, 1] de onde se conclui que kh − gk∞ 6 /3. Logo,

kh − f k∞ 6 kh − gk∞ + kg − f k∞ 6 3/3 = .

Como observação nal, notamos apenas que o conjunto das poligonais com vértices racionais
pode ser identicado a um subconjunto de

[
(Q × Q)n ,
n=0

onde
Q = {((a1 , b1 ), . . . , (an , bn )) : a1 , b1 , . . . , an , bn ∈ Q}
para todo n ∈ Z, n > 0. Segue daí que (C[0, 1], k · k∞ ) é um espaço separável.

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