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A CARNAVALIZAÇÃO EM FANFICTIONS: um novo ethos digital

Vinícius Viana Busatto1


Márcia Helena de Melo Pereira2

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

GT3: Filosofia da Linguagem e suas interfaces

Resumo: Com a ascensão da rede mundial de computadores na contemporaneidade,


novas formas de produção e recepção de texto vêm à tona cotidianamente, a exemplo
dos tweets, posts do Instagram, fanfictions etc. Na iminência de se compreender e
atuar face a uma sociedade amplamente fugaz e instantânea, a internet configura-se
enquanto um importante fator de interação, o que, com efeito, acarreta a propagação
e consequente adaptação dos diversos gêneros discursivos presentes nas inúmeras
esferas de atividade humana. Neste resumo, abordaremos as fanfics (narrativas
escritas, editadas e publicadas por fãs), as quais, por sua dinamicidade, têm
despertado o interesse de variadas faixas etárias, com destaque para o público juvenil,
servindo, por exemplo, como ponte entre o universo literário e a produção textual.
Nesse ínterim, os ficwriters (escritores de fanfic, em tradução literal) apropriam-se de
personagens e enredos de obras preexistentes (livros, séries, filmes e afins), para, em
seguida, criar um roteiro próprio, um mundo alternativo em que a interação e a
liberdade imperam. Nesse contexto, os “fanfiqueiros” publicam suas criações no que
estamos chamando de “a nova praça pública”: a internet, o que nos levou a fazer uma
aproximação entre as fanfics e o conceito de carnavalização postulado por Bakhtin
em sua tese de doutoramento, na qual o filósofo russo descreve o carnaval medievo,
uma manifestação popular repleta de rituais e celebrações que enalteciam o
sentimento de liberdade, os opostos, o contato familiar, o sagrado e o profano, entre
outros, de modo que pessoas de diferentes origens, costumes e ideologias pudessem
se reunir em praça pública para construir um mundo às avessas, no qual conseguiam
experienciar, mesmo que temporariamente, universalidade, liberdade, igualdade e
abundância. Objetivamos, com isso, investigar elementos de carnavalização em uma
fanfic, atentando-nos ao modo como esses elementos carnavalizados se apresentam
no texto, bem como averiguar características composicionais do gênero, a elaboração

1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Linguística — PPGLin — da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia — UESB. Contato: filipe.guerra16@gmail.com.
2
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade Estadual de
Campinas — UNICAMP. Professora titular do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários —
DELL — e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia — UESB. Contato: marciahelenad@yahoo.com.br.
de seu enredo e o emprego da linguagem na fic selecionada, qual seja: Memórias de
Héctor, escrita pela ficwriter Miss Viegas e publicada no Nyah! Fanfiction. Como aporte
teórico, utilizamos os postulados de Bakhtin em A cultura cômica popular na Idade
Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (1996), assim como a
obra Problemas da Poética de Dostoiévski (2018). Nossa metodologia consistiu em
capturas de tela do exemplar na plataforma. A análise evidenciou um texto bastante
carnavalizado, posto que está repleto de ideais carnavalescos em sua construção,
desde a ambivalência à presença de mésalliances. A obra, inspirada no filme Coco,
apresenta o Mundo dos Mortos, o que faz alusão à temática pós-vida, cuja
ambivalência se torna primordial para a teoria de carnavalização. Há, ademais, um
forte clima de alegria, riso e festejos, as dicotomias morte/vida, velhice/juventude,
contato familiar etc. Portanto, podemos comprovar a tese de que, de fato, o gênero
fanfic é também imbuído de carnavalização, haja vista a presença da cosmovisão
carnavalesca de um mundo à parte, no qual a liberdade impera, o que se sustenta
desde a produção das obras (que são publicadas independentemente nas
plataformas) até a linguagem utilizada.

Palavras-chave: carnavalização; fanfics; gêneros do discurso.

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