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MATTERN, Shannon. Introduction: Cities, Trees & Algorithms.

In: A City is Not a


Computer: Other Urban Intelligences. New York: Princeton University Press, 2021 (p.
1-17).

● Quem fala?
Shannon Christine Mattern é, atualmente, professora em Media Studies and Art
History na Universidade da Pensilvânia (Filadélfia, EUA). Trabalhou durante mais de
18 anos na The New School, em Nova York, onde fez parte do corpo docente tanto
no Departamento de Antropologia como na Escola de Estudos de Mídia. Desde
2018, é presidente do conselho do Metropolitan New York Library Council, e
contribui para o design público, projetos e exposições interativas.

O livro "A City is Not a Computer: Other Urban Intelligences" é resultado de uma
série de publicações que a autora fez enquanto tinha uma coluna permanente sobre
dados urbanos e infraestruturas mediadas no "Places Journal", uma revista digital
com foco em arquitetura, urbanismo e paisagem. O artigo de mesmo nome foi
publicado nesta revista em 2017 e, desde então, a autora foi se consolidando como
acadêmica e escritora.

Outras publicações: The New Downtown Library: Designing with Communities; Deep
Mapping the Media City; and Code and Clay, Data and Dirt: 5000 Years of Urban
Media, publicados pela University of Minnesota Press.

● Tese central do artigo e principais argumentos

A autora defende que modelos computacionais "inteligentes" de urbanismo


promovem uma compreensão empobrecida do que se pode saber sobre uma
cidade, bem como do que vale a pena saber (p.12), reflete que é necessário novas
epistemologias, metodologias e ontologias no pensar e em aplicar tecnologias nas
cidades para além do conceito de "smart cities", indicando éticas compatíveis com
essas novas perspectivas que levam em consideração as injustiças existentes e que
tem se ampliado também no uso das tecnologias urbanas.

Na introdução do livro "A Cidade não é um Computador" de título "Cidades, árvores


e algoritmos", são apresentados dois conceitos abstratos de estruturas urbanas: a
"Cidade-Semireticulada" (semilattice city) e a Cidade-Árvore (tree city) com base na
obra do arquiteto Christopher Alexander. A primeira, empresta o conceito da álgebra
para se referir à uma fabricação complexa e espontânea/orgânica da cidade. A
segunda, caracteriza uma estrutura mais simples pois é artificial, planejada, e
formalista (p.01).

Destaca que tanto a computação quanto o urbanismo usam "árvore" como


linguagem e como estrutura, sendo que as metáforas que as utilizam revelam uma
lógica formal, descrevendo processos de derivação, protocolos de conexão e
estabelecem hierarquias de controle (p. 02). E a apropriação dessa metáfora se
traduz em promessas de que a tecnologia pode ser utilizada para entregar novas
conveniências e eficiências urbanas, além de remover ineficiências e falhas do
trabalho humano e do processo deliberativo (p.03).

"Quando pensamos em termos de árvores (...) estamos trocando a humanidade e a


riqueza da cidade viva por uma simplicidade conceitual que beneficia apenas
designers, planejadores, administradores e desenvolvedores" (p. 04 - tradução
minha).

Um conceito central no desenvolvimento da introdução é o "enxerto" (grafting) que,


como metáfora, vem emprestado da botânica para indicar uma prática na qual um
galho-mestre "é fundido" com um outro galho, produzindo derivações. No que tange
a cidade, essa prática não é nova, considerando que a mesma é um palimpsesto,
como exemplo pode-se citar quando antigas cabines telefônicas são substituídas
por novos quiosques wi-fi (p.05).

"O 'urbanismo inteligente' é em si uma marca sinalizando novidade e melhoria, e é o


produto de uma espécie de enxerto: a incorporação de tecnologia digital em coisas
e ambientes com o propósito de 'coleta de dados, conectividade em rede e controle
aprimorado' " (p. 05 - tradução minha).

Ao longo do texto a autora discorre sobre como essa prática pode ser oportunista,
"não-natural" e presunçosa, fixada em controlar e manipular a natureza para servir o
mercado ou para atender a padrões de desempenho particulares (p.07). Também
reflete que, se a enxertia é uma prática milenar e pode ser utilizada de forma ética,
como os Quirquistaneses fazem, aprendendo com o conhecimento popular e
respeitando o local, reflete sobre a necessidade de novas epistemológicas,
ontologias e éticas na utilização da tecnologia no urbanismo. Conclama o conceito
de "justiça do design" como estrutura para examinar os desequilíbrios de poder e
assegurar a distribuição mais equitativa dos benefícios e encargos (burdens) do
design nos processos de construção da cidade (p.9, 11, 14).

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