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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO, CULTURA E


AMAZÔNIA

Um estudo sobre a representação de elementos amazônicos na produção de


arte com uso de inteligência artificial generativa de imagem em comparação a
obras de arte digital sem uso dessa tecnologia1

Daniel da Rocha Leite Junior2

Resumo

Considera-se que uma obra de arte é tradicionalmente vista como uma expressão
da experiência e conhecimento do artista. No entanto, a Inteligência Artificial (IA)
generativa de imagem introduz um novo paradigma, em que a criação artística é
delegada a algoritmos que se baseiam em vastos conjuntos de banco de dados, para usar
como referência para criação de uma nova obra de arte digital. Deste modo, a proposta
deste artigo é analisar, comparativamente, a representação de elementos da cultura
amazônica no imaginário da produção artística de fotografias digitais do fotógrafo Luiz
Braga, frente à produção de obras de arte digital feita com auxílio de IA generativa de
imagem criada pelo artista Kenji Ichihara, com o objetivo de examinar as mudanças no
processo de referencialidade e apropriação criativa que esta tecnologia demonstra.

Palavras-chave

Inteligência Artificial – Arte – Imagem – Amazônia – Digital

1.Introdução

A obra de arte sempre foi um reflexo da experiência e conhecimento


humano, uma manifestação da criatividade e da capacidade de expressar emoções,
ideias e perspectivas por meio de diversas linguagens, formas e plataformas. Ou seja,

1
Artigo apresentado como conclusão da disciplina “Imagem, vulnerabilidade e resistência” com o Prof.
Dr. Leandro Lage realizado no Programa Programa de Pesquisa em de Pós-graduação em Comunicação ,
Cultura e Amazônia (PPGCom) da Universidade Federal do Estado do Pará (UFPA).
2
Graduado em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo pela Universidade da Amazônia
(Unama) com pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP)
com, também, título de mestrado no PPGCom da UFPA e atualmente é doutorando no PPGCom da
UFPA.
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tradicionalmente, uma obra de arte é vista como uma expressão direta da trajetória de
vida do artista, haja vista que a arte se configura como um meio pelo qual o artista
compartilha sua visão única do mundo.

No ano de 2022, a internet sofreu transformações a partir da criação dos


primeiros softwares e plataformas de inteligência artificial, como, por exemplo, o
ChatGPT ou Midjourney . Por meio disso, o espaço digital e a cibercultura se
expandiram e passaram a ser utilizados, de forma rotineira, por profissionais de diversos
ramos e áreas do conhecimento humano. Sendo assim, este artigo detectou que a IA
emergiu como um agente disruptivo nesse cenário, pois introduz um novo paradigma no
que tange a criação artística, se olharmos para a modalidade de IA generativa de
imagem, para perceber alterações no processo da criatividade humana, por meio da
intermediação algorítmica introduzida pela IA generativa de imagem que, baseada em
vastos bancos de dados e metadados, modifica o processo de produção estética de obras
de arte digital.
Nesse contexto, é possível sustentar que a internet fundamenta a base para
praticamente todas as ferramentas de comunicação virtual, ou seja, em outras palavras, a
internet se configura como um sistema de informação globalizada que conecta
computadores e inclui múltiplos recursos comunicacionais virtuais via aplicativos e
softwares, enquanto a web é um conjunto de protocolos para acessar informações em
páginas digitais por meio da internet.
Na virada do século XXI, especificamente, nos anos de 2006 e 2007 a
internet ganhou novos recursos tecnológicos, como a banda larga, que possibilitou
maior acesso e mais qualidade na transmissão de dados. Além disso, há a criação de
dispositivos móveis, denominado de smartphone, que passaram a simular um
computador de bolso incluindo câmeras fotográficas digitais de excelente qualidade,
conjuntamente, com os serviços de telefonia. Ademais, importante citar que foi o
período do surgimento e consolidação das primeiras redes sociais online.
Os fenômenos citados anteriormente permitiram que os usuários não se
limitassem somente a visualizar produto informativo, porém, a partir desse momento,
passaram a interagir com a informação, seja no processo de criação do conteúdo
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informacional ou artístico, entre os próprios usuários de uma determinada comunidade


digital.

Neste ponto da pesquisa, sinto ser necessário pontuar o trabalho de Pierre


Levy no livro “Cibercultura” de 1999 por ele ter sido pioneiro nos estudos sobre
computação social e tais estudos tenham sido influentes na sua época e ainda sejam
relevantes em alguns contextos introdutórios sobre reflexões em relação a temática da
internet e web.

Mas, é preciso atualizar a pesquisa de Lévy sobre cultura cibernética e


ciberespaço. Uma vez que considero importante reconhecer que o cenário tecnológico e
social mudou desde que ele desenvolveu suas teorias, afinal novas tecnologias como a
IA ,o 5G, a evolução das redes sociais, estão levantando desafios no âmbito da
privacidade e da informação. Além de, principalmente, estar afetando a forma como o
ser humano produz conteúdo informativo ou artístico ou registra e acessa os registros e
memórias.

Portanto, há questões éticas novas que emergiram desde então, e isso pode
afetar a forma como vemos o conceito de computação social postulada pelo autor, ao
pensarmos os processos de referenciabilidade e apropriação criativa que a inteligência
artificial generativa de imagem demonstra praticar. Deste modo, as ideias de Lévy
(1999) devem ser consideradas à luz das mudanças e desafios atuais no campo da
tecnologia e da sociedade, haja vista que muitas das questões que ele levantou referentes
ao debate sobre as tecnologias da informação na estarem se configurando como agentes
promotoras de processos de colaboração e criação coletiva de conhecimento e
informação.

A fundamentação teórica desta pesquisa foi construída pensando conceitos que


dialoguem com pesquisas dentro do campo da tecnologia no que envolve questões no
âmbito da internet e da web. Assim como também, em relação à produção estética no que
tange o fenômeno de criação de obras de arte digital com o auxílio de plataformas de
inteligência artificial generativa de imagem, com o intuito de imergir nos conceitos de
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referencialidade e apropriação criativa executada pelas redes neurais artificias e seus vastos
banco de dados, conectados a todo conhecimento, criação e produto humano registrado na
web. Dessa maneira, compreender quais são as implicações éticas e estéticas que o
surgimento da IA generativa estimula no paradigma da produção artística digital.

Penso que é possível a partir do pensamento do Pierre Levy compreender,


como essas técnicas virtuais e digitais, dentro do ciberespaço criam uma cultura
cibernética e digital que agora experimenta uma revolução no âmbito de sua
programação que desde 2022 tem sofrido interferências conceituais, a partir da
inteligência artificial e sua capacidade de desenvolver algorítimos autônomos que
simulam a inteligência humana e tudo que envolve isso, como comentou o pesquisador
em relação a virtualização do saber que acontecia na internet e na web no fim do
século passado.

Os comentários de Lévy (1999), apesar de precisarem ser atualizados para


o momento atual do ciberespaço e da cultura digital que emerge na primeira metade
do século XXI, tem um valor introdutório se pensarmos a questão referente à
virtualização da estética, tal como ocorre com a virtualização do saber e
conhecimento da humanidade. Deste modo o autor na tentativa de elucidar as
implicações da cibercultura na sua geração afirmou que “é virtual aquilo que existe
apenas em potência e não em ato” (1999, p. 47) e complementa com ‘’é virtual toda
entidade ‘desterritorializada’, capaz de gerar diversas manifestações concretas em
diferentes momentos e locais determinados, sem, contudo, estar ela mesma presa a
um lugar ou tempo em particular” (ibid., p. 47).

Para finalizar reafirmo que a opção de usar o pesquisador Lévy (1999) é


motivada pelo extremo valor e nítida relevância dos conceitos de cibercultura e
ciberespaço cunhados e desenvolvidos pelo autor na sua tentativa de contribuir para a
compreensão do debate sobre a web e a internet no final século XX, porém precisamos
adaptar seus insights para ao contexto contemporâneo do início do século XXI.
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Outro ponto que é preciso destacar na proposta deste artigo, como


explicitado nos parágrafos anteriores sobre a escolha da temática e dos sujeitos/objetos
de pesquisa, para aplicação da metodologia interpretante do autor Charles Pierce e que
auxiliará no processo de comparação crítica e analítica das obras de arte digitais dos
artistas paraenses – o fotógrafo Luiz Braga e o artista digital Kenji Ichihara – para
colocar lado a lado a produção fotográfica de Braga e as imagens criadas utilizando a IA
generativa de imagem chamada Midjourney, feita por Ichihara, e que estão anexadas a
trajetória da pesquisa bibliográfica e de campo que foi realizada, para conseguir
executar uma interpretação comparativa que se caracterizasse por ser crítica e analítica
das imagens escolhidas na curadoria.

Por fim, depois do exposto brevemente sobre a problemática, objetivo e


justificativa que move essa pesquisa, pode-se afirmar que o paradigma que surgiu com
os softwares e plataformas de IA generativa de imagem carece de observação crítica em
relação às questões que envolvem o conceito de referencialidade utilizado pelas IA
generativa de imagem, quando a programação da rede neural artificial assume práticas
estéticas de apropriação criativa. E dessa maneira, analisar o entrelaçamento que
acontece entre a criatividade humana e a algorítmica na produção de obras de arte
digital.

2.Comentários sobre a representação de símbolos amazônicos na arte digital.

O isolamento que recobria a Amazônia com o manto do mistério,


distância a intemporalidade, que a impedia de intercambiar seus bens
culturais, contribuiu para que se acentuasse sobre ela uma visão folclorizante
e primitivista. Sendo assim contra essa corrente de pensamento, ao tratar-se
de uma cultura amazônica do caboclo, ela será entendida como expressão da
sociedade que constitui a Amazônia contemporânea à história dessa
sociedade e contemporânea à da ocidental. Uma cultura dinâmica, original e
criativa, que revela, interpreta e cria sua realidade. (PAES LOUREIRO,
2001, pg. 55).
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O empreendimento de uma reflexão analítica e crítica sobre os signos e


símbolos, referente a representações do povo e cultura amazônica, precisa ser
compreendida a partir de contextos que coloquem em ênfase pessoas e elementos da
Amazônia, em representações diversas no âmbito da arte, cultura e sociedade que
envolvem práticas de produção discursivas e imagéticas e, portanto, também, das
sociabilidades amazônicas e, no caso específico, dessa pesquisa estaremos tratando do
imaginário sobre o território e o corpo amazônico paraense.

Segundo Paes Loureiro (2001), acredita-se que as tensões que envolvem a


questão da representação de signos, símbolos, sujeitos ou elementos do território
amazônico não foram absorvidas completamente pela globalização. Sendo assim, não
faz parte do grupo dominante de manifestações culturais cosmopolitas da indústria
cultural, por isso é comum encontrarmos registros sobre o corpo, cultura, sociedade e
natureza da Amazônia sendo representadas por pessoas de fora do próprio território
amazônico. Apesar de que, na metade do século XX, isso tenha começado a sofrer
alterações, tais como a criação de obras de arte e literárias feitas por pessoas que
nasceram e vivem na Amazônia.

Após o citado anteriormente, precisamos, também, incluir o pesquisador


Lage (2021), quando pensarmos que a representação de um corpo que está incluído em
um povo que possui uma identidade cultural singular sempre enfrentará uma
problemática dupla em relação à impossibilidade de construção de um conceito para
classificar de forma concreta a partir de preceitos abstratos, tais como as representações
estéticas de todos os formatos e mídias que possa entregar uma representação dos
símbolos, signos, elementos e corpos amazônicos paraenses, pois nunca será possível
chegar a pensar a uma imagem que represente integralmente o que é o corpo ou a
cultura da sociedade da Amazônia Paraense.

Neste ponto, é importante lembrar que as imagens resistem a qualquer


forma de síntese positiva ou negativa, em função de sua multiplicidade conforme
postulado pelo autor Jacques Ranciére na sua obra o “Trabalho das Imagens” que
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orienta e guia o olhar crítico sobre a questão da representação do corpo e da cultura


amazônico paraense em, obras de arte digital produzidas por dois paraenses de gerações
diferentes como proposto neste artigo.

Assim como no século XX, a tecnologia alterou a forma como o homem se


relaciona com a imagem artística, a partir de transformações que envolveram a
introdução da fotografia e do cinema como pesquisou o autor Walter Benjamin (1936)
no seu texto a “Obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica” em relação a
questão da produção e circulação de obras de arte estar sofrendo alterações que geravam
implicações pertinentes sobre o tema da arte.

“Em sua essência, a obra de arte sempre foi reprodutível. O que


os homens faziam sempre podia ser imitado por outros homens.
Essa imitação era praticada por discípulos, em seus exercícios,
pelos mestres, para a difusão das obras, e finalmente por
terceiros, meramente interessados no lucro” (BENJAMIN,
1936, pg. 166).

A mesma coisa que Benjamin (1936) percebeu no seu tempo, está


acontecendo na primeira metade do século XXI, pois a humanidade está presenciando e
atravessando um momento de intensa revolução tecnológica, por meio do fato de a
inteligência artificial que está acelerando o processo de digitalização do mundo e neste
artigo analisamos criticamente a questão que envolve a criação de obras de arte a partir
de recursos que envolvem a digitalização do sensível, no caso específico a esfera
criativa que está inserida na produção de estética digital.

Agora vemos a criação estética sendo envolvida por algorítmicos


inteligentes que, de forma autônoma, fazem conversão de metadados para criar imagens
digitais absorvidas pelo público como autênticas. Porém, como veremos nesta pesquisa
é preciso compreender esta autenticidade a partir das implicações que envolvem a
apropriação criativa e processo de referenciabilidade executada pela máquina, na figura
da tecnologia de inteligência artificial generativa de imagem. Portanto, esse novo
paradigma desta modalidade de IA citada neste texto, precisa ser analisado para a
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compreensão destas novas configurações de produção estética em diversas camadas do


fazer artístico dentro do âmbito digital.

3.Comparação interpretante das fotografias digitais do fotógrafo Luiz Braga e das


obras de arte digital do artista digital Kenji Ichihara sobre o corpo e cultura de
aparelhagem do território amazônico paraense.

Neste capítulo foi concretizada, também, uma breve pesquisa de campo


onde entrevistamos o artista digital paraense Kenji Ichihara e foi feita a tentativa de
contato com a assessoria do fotógrafo digital paraense Luiz Braga via e-mail, porém não
houve resposta. Entretanto, no intuito de ouvir o artista falar sobre suas obras, no caso
específico dele fotografias digitais, foi executado um levantamento de entrevistas já
realizadas no passado para escutar todos os sujeitos estudados neste artigo que
ofertaram suas obras de arte digitais ou tiveram suas criações artísticas selecionadas no
processo de curadoria concebido na pesquisa.

A escolha de usar um aspecto do conceito de metodologia interpretante


neste artigo, para execução de uma análise comparativa crítica das obras de arte digital
selecionadas e que refere-se à questão de que para Peirce a informação essencial que um
símbolo carrega não está relacionada ao intérprete, mas ao interpretante, ou seja, o foco
é a questão da interpretabilidade de um signo conforme observado em Neiva (1993) ao
comentar sobre as obras de Peirce.

Sobre a análise comparativa e interpretante, realizada entre as imagens


escolhidas, foi feita uma opção por emparelhar a Imagem 1 e 4 para comparação e,
consequentemente, fazer o mesmo procedimento com a Imagem 2 e 3 contidas no anexo
deste artigo. Sendo assim, a realização deste processo não foi uma escolha movida por
alguma questão específica em relação à estética, pois foi tão-somente motivada pela
facilidade mais eminente em realizar o processo analítico de comparar as imagens em
dupla e, deste modo, conseguir executar com mais aprofundamento a análise
comparativa interpretante nas obras de arte digital dos artistas paraenses Luiz Braga e
Kenji Ichihara.
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Em relação aos signos, símbolos e elementos da cultura amazônico paraense


da aparelhagem e, também, sobre a forma como está representada na Imagem 1 e 2 de
Luiz Braga demonstra implicitamente que os signos são apresentados tais como são sem
alteração nas formas e dimensões, porém o fotógrafo paraense faz uso de edição digital
no que tange a questão das cores.

Agora, sobre as Imagens 3 e 4, do artista digital Kenji Ichihara, é possível


destacar sobre como está representado os elementos, símbolos e signos da cultura
amazônico paraense como a aparelhagem retratada como grandes máquina sonoras de
arena e, também, em relação ao tipo e a forma do corpo do povo paraense retratada nas
obras de arte digital criada a partir do manuseio do Midjourney, plataforma de
inteligência artificial generativa de imagem, que a IA representou o corpo do paraense
de forma estereotipada a partir da figura do índio na Imagem 4, enquanto, na Imagem 3
percebemos corpos e vestimentas que sugerem corpos de pessoas de classe social de
baixa renda, ou seja, sujeitos da população paraense periférica.

O emparelhamento das imagens para comparação demonstrou que os


processos utilizados por cada artista foi feito de forma diferente, ou seja, Luiz Braga
como fotógrafo digital precisou ir presencialmente ao local em que os corpos dos
sujeitos do povo paraense vivem. Assim como, também, em relação aos elementos que
envolvem a cultura da aparelhagem presente no território amazônico paraense. Portanto,
houve uma experiência presencial junto aos signos que estão presentes nas duas
fotografias digitais de Luiz Braga.

Por outro lado, as duas obras de arte digital do artista Kenji Ichihara foram
criada com o uso da IA generativa de imagem chamada Midjourney e isto implica que o
artista não esteve presencialmente nos lugares e com as pessoas que representou e,
também, afirmou em entrevista concedida para a pesquisa que nunca teve nenhuma
vivência com a cultura da aparelhagem paraense, apesar de ter nascido e viver no
Estado do Pará.
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4.Considerações finais sobre quais as implicações do uso de IA generativas de


imagem na representação de elementos amazônicos na produção de obras de arte
digital.
A tentativa de fazer uma comparação analítica e crítica sobre a Imagem 3 e
4, anexadas neste artigo do artista digital paraense Kenji Ichihara, conjuntamente com a
Imagem 1 e 2 do fotógrafo digital paraense Luiz Braga a partir de uma metodologia
interpretante, é um desafio que durante a pesquisa houve a certeza que aqui neste texto é
entregue um dos muitos ângulos possíveis de interpretação das obras de arte digital de
ambos os artistas paraenses.

[...] será necessário, portanto, dialetizar o visível: fabricar outras


imagens,outras montagens, olhá-las de outra maneira, e introduzir a divisão e
o movimento associados, a emoção e o pensamento combinados. Esfregaros
olhos, em resumo: esfregar a representação com o afeto, o idealizado com o
reprimido, o sublimado com o sintomático. (LAGE, 2021, pg. 35)

Qualquer compreensão do sentido que envolve a representação estética de


signos como corpo, cultura e sociedade amazônica, no caso específico deste artigo a
Amazônia Paraense seu povo e cultura, precisa ser observado a partir das implicações
que envolvem o processo interpretante desses símbolos dentro do âmbito da produção
estética de obras de arte. Pois, como detectado na pesquisa sobre a questão do processo
de referenciabilidade e apropriação criativa de signos, corpos e cultura da aparelhagem
realizada por cada artista paraense observado e analisado criticamente.

O processo que envolve a criação estética de Kenji Ichihara demonstra


claramente que o artista delega a questão da referenciabilidade e da apropriação estética
a plataforma de IA que, programada por algoritmos conectados a extensos bancos de
metadados, entrega resultados que demonstraram a reprodução estereotipada do povo e
da cultura da aparelhagem no território amazônico paraense. Enquanto, por sua vez,
encontramos nas fotografias digitais de Luiz Braga um procedimento de
referenciabilidade e apropriação criativa que envolve processos que precisam da
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presença do artista junto aos signos e elementos que deseja representar esteticamente em
uma obra de arte.

O processo de referencialidade e apropriação criativa no contexto da IA


generativa é fundamental para compreensão dos desafios e as implicações éticas,
estéticas e conceituais encontradas quando uma IA generativa de imagem assume o
papel de criadoras. A produção de obra de arte digital por, meio de inteligências
artificiais generativas de imagem representa uma área emergente e intrigante na
interseção entre arte e tecnologia, pois é necessário haver mais estudos e
aprofundamentos sobre a questão da referencialidade no processo de criação de imagens
artísticas digitais, com auxílio de inteligência artificial generativa de imagem. Pois, esta
tecnologia está incorporando novas formas de criação de imagens e de estética e
transformam referências por meio de treinamento algorítmico.

É possível afirmar a partir de observações e análises realizadas sobre o a


questão do paradigma de produção de imagens artísticas está sendo alterado pela
tecnologia de IA generativa de imagem, haja vista que seu funcionamento depende de
redes neurais artificiais que são alimentadas por vastos conjuntos de banco de dados que
permitem que o processo de aprendizado de máquina incorpore uma complexa rede de
referências em seu processo criativo, que podem incluir elementos de obras de arte
históricas ou dados da cultura contemporânea, em outros termos, informações sobre
todo conhecimento registrado na web.

Percebe-se que o processo de referencialidade não é apenas uma mera


imitação, mas sim uma reinterpretação a partir de obras de artistas pré-existentes na
internet, que passaram por um processo algorítmico de apropriação criativa e
referenciabilidade estética que são renderizadas pelo algoritmo da inteligência artificial
Midjourney na criação de uma obra de arte digital.

Ao comparar as obras de arte digital de ambos artistas paraenses, Braga e


Ichihara, ficou nítido que a questão que envolve o processo de produção das obras
interfere no resultado estético final. Uma vez que, o fotógrafo digital esteve
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presencialmente junto aos signos que representou esteticamente, enquanto, o artista


digital não dialogou presencialmente com os signos que escolheu para serem
representados esteticamente com auxílio de uma IA generativa de imagem, pois o
resultado final de suas obras de arte digitais foram criadas por meio da apropriação
criativa e processos de referenciabilidade que envolve algoritmos e bancos de
metadados, ou seja, como detectado durante a pesquisa, a IA só possui representações
de simulacros referentes aos signos da cultura e do povo da Amazônia Paraense.

5,Referências Bibliográficas

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre


literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.

DUBOIS, Philippe. Máquinas de imagens. In: DUBOIS, Philippe. Cinema,


vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

FOGLIANO, Fernando. Arte interativa e o inconsciente maquínico.


DATJournal, v. 3, n. 1, 2018.

LAGE, Leandro Rodrigues (Org.). Imagens da resistência: dimensões


estéticas e políticas. Salvador: EDUFBA, 2021.

MONDZAIN, Marie-José. Imagem, sujeito, poder. outra travessia, n. 22, p. 175-192,


2016.

NEIVA, Eduardo. Imagem, história e semiótica. Anais do MuseuPaulista (nova série),


n.° 1, 1993.

LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura Amazônica- uma poética do


imaginário. São Paulo: Escrituras Editora, 2001.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.

RANCIÈRE, Jacques. O trabalho das imagens. Trad. Ângela C. S. Marques. Belo


Horizonte: Chão da Feira, 2021.
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SANTAELLA, Lucia. O método anticartesiano de C.S. Peirce. São Paulo:


Editora UNESP, 2004.

6.Anexos

Imagem 1 – Fotografia digital do ano de 2004 intitulada “Homem e aparelhagem


em Mosqueiro” – Luiz Braga

Imagem 2 – Fotografia digital do ano de 1988 intitulada “Homem azul e


aparelhagem” – Luiz Braga.
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Imagem 3 – Obra de arte digital criada a partir da Inteligência Artificial


generativa de imagem chamada Midjourney no ano de 2023 intitulada Um evento
de aparelhagem paraense – Kenji Ichihara

Imagem 4 - Obra de arte digital criada a partir da Inteligência Artificial


generativa de imagem chamada Midjourney no ano de 2023 intitulada “Pessoas
curtindo uma aparelhagem paraense” – Kenji Ichihara

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