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Quando fui trabalhar na implantação do canteiro de obras da Usina de Serra da Mesa, tinha

por incumbência a instalação de linhas telefônicas e redes de energia de alta (138 kV) e baixa
tensão. Estas linhas eram longas, com comprimento de até 2 quilômetros. Os locais a serem
atendidos eram esparsos, de maneira a atender as frentes de serviço. O local tinha muitos
morros e dessa forma, as linhas deviam ser bem planejadas, curtas e com facilidade de acesso
para a construção e manutenção delas.

O equipamento de monocanal telefônico ficava no alto de um morro e a linha, com quase 2 km


descia até o escritório de obras, situado num ponto mais baixo. Por mais que se protegesse
esta linha, com aterramento bem-feito e uso de centelhadores, a ocorrência de defeitos era
alta.

As linhas de 13,8 kV foram estendidas a todos os locais necessários, utilizando o padrão de


postes e distanciamento de cabos usuais nas concessionárias. Nos transformadores, foram
instalados inicialmente para raios de 5 kA, mas estes apresentavam queima quando da
ocorrência de descargas atmosféricas. Foram usados então os de 10 kA, que tinham maior
durabilidade. Na baixa tensão, junto aos transformadores, foram utilizados para raios de baixa
tensão (220 – 127 V).

Quando foi instalada a central telefônica, tipo eletro mecânica (na época ainda não tinha as do
tipo CPA), houve necessidade de instalação de cabos telefônicos com até 50 pares. Eles foram
instalados nos postes, suportados por um cabo mensageiro (de aço). Para minimizar os
defeitos, este mensageiro era aterrado em pontos intermediários do seu percurso,
principalmente onde o terreno apresentava baixa resistividade.

O terreno local era constituído na maior parte por solo oriundo da decomposição do granito,
que era a rocha dominante. Em outros locais, a rocha aparecia na superfície do terreno. Foram
feitos vários furos de sondagem no granito, de modo a se estudar suas propriedades, que
seriam úteis para a construção da barragem. Teve furos com mais de 150 metros de
profundidade. Ao longo de todo o furo, a rocha se apresentava integra, sem fraturas. Somente
em alguns locais onde a rocha aflorava, existiam fraturas, com camadas de poucos centímetros
de espessura,, no primeiro metro de profundidade, chamada pelos geólogos de estrutura em
“casca de cebola”. Nestas fraturas não existia água. Para se ter uma ideia de como a rocha era
de alta resistividade, tinha uma caverna onde se localiza a casa de força, totalmente escavada
na rocha. O teto da caverna estava a 100 metros abaixo da superfície do terreno e a altura dela
era de 70 metros. Dentro desta caverna, era possível ouvir pelo rádio receptor do automóvel,
emissoras de radiodifusão de Brasília (situada a 200 km).

Onde existia o solo, a profundidade deste era variável e podia chegar a 10 metros, com
permeabilidade alta. Na época das chuvas, o solo era saturado e umedecido e nesta condição,
sua resistividade era menor. Quando chegava a época da seca, meses de abril até outubro, não
chovia e a umidade do ar era extremamente baixa (talvez de uns 15 a 20 %) e isto favorecia a
evaporação de água do solo, que ficava extremante seco e consequentemente alta
resistividade.

Em algumas hastes de aterramento, foram usadas misturas químicas, tipo Laborgel e

Ericogel, de maneira a diminuir a resistência de aterramento.

Quando eu trabalhava com projetos de subestações, no início de minha carreira, eu ia juntos


com engenheiros eletricistas, visitar os locais de implantação dessas subestações e as vezes já
existiam linhas de transmissão de 33 e 69 KV implantadas no local. Estas classes de tensão não
são mais comuns atualmente. Eu notava que estas linhas não tinham o cabo guarda ou para
raio. Como eu não entendia de linhas, perguntei a eles o porquê da ausência dele. Eles me
disseram que como o Nível Básico de Isolamento (NBI) da linha era baixo, ele não era
necessário, mas num trecho de umas 10 torres na chegada à subestação, o cabo para raio era
instalado e a explicação era que ele amortecia a crista da onda de uma descarga incidente nas
fases da linha e assim dava mais proteção a subestação. Guardei este conceito.

Em Serra da Mesa, implantei este cabo, que a gente chamava de quarta linha, que ficava
situada a um metro abaixo dos cabos do trifásico. Este procedimento, aparentemente
melhorou o desempenho das linhas e equipamentos.

Outro dispositivo que introduzi na alimentação dos equipamentos eletrônicos (radio, fax,
computadores etc.) foi o filtro de linha, que construí como filtro passa baixa, com dois circuitos
em “pi”. Depois apareceram no mercado os varistores e que acabaram sendo incorporados
nestes filtros e linha.

Com todos os recursos aplicados houve uma sensível melhora no desempenho de todo o
sistema, depois de 16 anos de labuta.

Você que tem mais contatos com os profissionais de Linhas de Transmissão, verifique se este
procedimento que usei é correto.

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