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GLT/14

GRUPO DE ESTUDO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO - GLT

DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO DOS ELETRICISTAS À EXPOSIÇÃO DE CAMPOS ELÉTRICOS ELEVADOS


EM PROCEDIMENTOS DE MANUTENÇÃO EM LINHA VIVA

ATHANASIO MPALANTINOS NETO(1); PAULO ROBERTO GONÇALVES DE OLIVEIRA(1);


LUÍS ADRIANO DE MELO CABRAL DOMINGUES(1);CARLOS RUY NUNEZ BARBOSA(1);
CARLOS KLEBER DA COSTA ARRUDA(1)
(1) CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELETRICA

RESUMO

A manutenção de linhas de transmissão energizadas em determinadas situações expõe os eletricistas que se


encontram na torre, com o corpo ou parte dele projetado para fora da treliça, a campos elétricos cujos valores podem
estar no limiar dos limites determinados pela legislação brasileira ou até mesmo a valores que ultrapassam estes
limites. A utilização de roupas condutivas, nesta situação, não é adequada pois as treliças da torre impõem um
desgaste excessivo, reduzindo sua vida útil. O aparato proposto é um equipamento de proteção coletiva fixado
temporariamente na treliça durante a manutenção em linha viva protegendo os trabalhadores, na área onde é fixado,
de campos elevados.

PALAVRAS-CHAVE
Manutenção em linha viva, exposição humana, campo elétrico
1.0 INTRODUÇÃO
A legislação brasileira, através da Lei 11.934 [1] e as sucessivas regulamentações normativas da ANEEL [2-5],
passou a estabelecer limites para os níveis de campos elétricos e magnéticos à exposição humana tanto para os que
circulam fora de suas instalações – exposição para todo o público – como para os presentes dentro das instalações
– exposição ocupacional. Diante disto foram medidos ou calculados os níveis de campos elétricos e magnéticos em
linhas, subestações e usinas para atendimento a legislação, em todo o setor elétrico brasileiro.
Surgiu então a preocupação, dentro das empresas do Grupo Eletrobras e do Cepel, com os níveis de campo elétrico
e magnético ao qual estariam expostos os trabalhadores que atuam na manutenção em linha viva, por estarem em
regiões próximas as fontes de campos.
No sentido de avaliar esta situação foi realizada uma campanha de medições em todas as empresas do Grupo
Eletrobras com as equipes de manutenção em linha viva onde foram executados ou simulados em campo os
procedimentos de manutenção em todos os níveis de tensão, desde o 230 kV até 765 kV CA, envolvendo torres
autoportantes e estaiadas, em treliça, assim como torres de concreto.
Constatou-se que os níveis de campos magnéticos estavam dentro dos limites estabelecidos em lei, porém existiam
regiões onde os níveis de campo elétrico estavam no limiar permitido ou até mesmo superando os níveis
estabelecidos pela Lei 11.934 [1] e pelas resoluções da ANEEL.
Foi desenvolvido pelo Cepel um sistema para atenuação destes campos elétricos, descrito neste artigo, reduzindo
significativamente os níveis a que os trabalhadores estão expostos.
2.0 DESENVOLVIMENTO
2.1 LEVANTAMENTO DOS DADOS
Durante os procedimentos de manutenção em linha viva os eletricistas podem estar ao potencial (contato com os
condutores) neste caso necessariamente usando roupas condutivas, que funcionam como uma gaiola de Faraday,
estarão protegidos da exposição a campos elétricos, ou podem estar realizando trabalho a distância, sem roupas
condutivas, nestes casos podem estar expostos a campos elétricos elevados.
A tabela 1 exemplifica alguns tipos de situações de trabalho em linha viva.

athanasi@cepel.br
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Tabela 1 -. Situações típicas de trabalho em linha viva

(a) Trabalho ao potencial

(b) Trabalho à distância

(c) Trabalho em posições intermediárias

As roupas condutivas, que são equipamentos de proteção individual (EPI), são utilizadas em procedimentos de
manutenção em linhas de transmissão energizadas. Os EPIs consistem em uniformes, protetor facial, luvas,
capacetes, calçados e bolsas para a proteção aos riscos gerados por campos elétricos durante operação em torres
de energia.
Além disso, o procedimento de manutenção em linha viva é operado na própria estrutura metálica, tendo como base
o princípio da gaiola de Faraday, em que o campo elétrico em seu interior é nulo. Assim, com o uso do EPI e a
proteção da estrutura metálica, o operador pode realizar a manutenção em linha viva.
No entanto, a manutenção em linha viva, em determinadas situações, expõe os eletricistas que se encontram na
torre, com o corpo ou parte dele projetado para fora da treliça, a campos elétricos elevados, nestas situações a
utilização de roupas condutivas, além do elevado custo destas, não fornece uma condição de trabalho adequada aos
eletricistas, tendo em vista que as treliças provocam um desgaste excessivo nas roupas condutivas fazendo com
que, rapidamente, percam a efetividade de sua proteção, expondo o eletricista aos riscos causados por campos
elétricos elevados.
Foram realizadas medições (2014-2015) para avaliação dos valores de campo elétrico nas diversas estruturas e
níveis de tensão durante os trabalhos em linha viva. [6]
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As figuras 1 a 3 mostram um resumo dos valores de campos elétricos em pontos das estruturas onde podem estar
presentes trabalhadores no momento da manutenção. Pode ser verificado que em algumas situações os valores de
campo elétrico superam os limites permitidos

Figura 1 – Manutenção em estruturas de LTs de 238kV

Figura 2 – Manutenção em estruturas de LTs de 500kV

Figura 3 – Manutenção em estruturas de LTs de 750kV


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2.2 SOLUÇÃO PROPOSTA


Com base na exposição a campos elétricos elevados e na perda rápida da efetividade das roupas condutivas devido
ao desgaste excessivo provocado pelas treliças, desencadeou-se a necessidade de desenvolver uma solução
operacional que demandasse extensão da proteção oferecida no interior da treliça, que funciona como uma gaiola
de Faraday, para a área de atuação dos eletricistas fora da treliça, levando ao desenvolvimento de uma EPC –
equipamento de proteção coletiva. Esta EPC consiste em dois anteparos a serem fixados um de cada lado da área
a ser protegida.
Estes anteparos reduzem o comprimento do cabo que participa na composição do valor do campo elétrico na região
de interesse, figura 4. A campo será atenuado, na região a ser protegida, quanto mais próximos os dois anteparos
estiverem e quanto maior o comprimento L, figura 4.
As dimensões ótimas são aquelas que não interfiram nos procedimentos de manutenção, respeitem as distâncias de
segurança, sejam de fácil manuseio (transporte, instalação e robustez) e que atenuem o campo para limites dentro
da legislação

Figura 4– Atuação dos anteparos na blindagem da área de trabalho

Para o estabelecimento das dimensões ótimas, foram feitas simulações utilizando o programa TRICAMP do Cepel,
baseado no método de simulação de cargas, onde foram representadas a lateral de uma torre e a fase lateral,
inicialmente, sem anteparos e depois com os anteparos variando as dimensões H e L, figura 4, verificando a eficiência
da atuação dos anteparos. Chegou-se as dimensões ótimas de H e L como 1,0m e 0,6m, consecutivamente.
2.3 ENSAIOS EM LABORATÓRIO
Foram construídos dois protótipos de anteparos para fins de simulação no laboratório de alta tensão do Cepel, figura
5, para comprovação de sua eficiência e posteriormente foram desenvolvidos os anteparos em material mais leve e
de melhor manuseio, figura 6, para ser utilizado em campo, de forma que o manuseio, transporte e instalação fosse
facilitado.
O sistema de fixação no laboratório consistia em dois ganchos metálicos e um arame lateral para que ficassem na
posição correta. Para os anteparos definitivos foi desenvolvido um sistema de fixação que pudesse se adaptar as
diversas posições das cantoneiras da treliça da torre ou outras estruturas que pudessem estar presentes e que
permitissem posicionar os anteparos corretamente.
O sistema desenvolvido consiste em um suporte em cantoneira com um parafuso de sustentação e um rasgo circular
de 180o com um parafuso de ajuste de ângulo para posicionamento dos anteparos, figura 6. Este suporte pode ser
fixado ã estrutura por um sargento, por exemplo, figura 6.
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Figura 5 – Ensaio no laboratório de alta tensão do Cepel

Figura 6 – Versão final dos anteparos com o sistema de fixação

2.3 TESTE EM CAMPO

A seguir aos testes em laboratório foram desenvolvidas atividades com o objetivo de aprimorar os anteparos no
sentido de portabilidade e praticidade:
• • A portabilidade tem a ver com o peso dos anteparos, já que o primeiro protótipo, feito de ferro, foi
considerado muito pesado;
• • A praticidade refere-se ao processo de fixação dos anteparos nas estruturas de linhas de transmissão,
que deve ser simples e robusto, não impactando significativamente a atividade de manutenção. Considerou-se ainda
que nas diferentes situações no campo as treliças podem estar em diferentes angulações e inclinações dos perfis
“L”.

Uma nova versão dos painéis foi então construída – em alumínio – atendendo plenamente o requisito de peso, e um
sistema de acoplamento universal foi projetado, construído e testado no laboratório e numa linha de transmissão (LT)
real, em operação. O teste de campo foi realizado na LT Adrianópolis – Terminal Rio I, figuras 7 e 8
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Figura 7. Peça de fixação para qualquer ângulo da treliça e içamento do anteparo

Figura 8 – Utilização dos anteparos.

O teste de campo foi bem-sucedido, tendo os anteparos sido aprovados pela equipe de manutenção de Furnas.
Finalmente O conjunto anteparo + fixação está em processo de registro de patente.

3. CONCLUSÕES
A solução do uso de anteparos para redução dos níveis de campo elétrico elevados nas regiões onde os eletricistas
estavam expostos se mostrou eficiente nas simulações numéricas, no laboratório e no campo. É uma solução com
formato simples, de fácil manuseio e o sistema de fixação eficiente em todos os locais (cantoneiras da treliça da
torre) onde foi instalado.
Finalmente, não causou interferência relevante nos procedimentos de manutenção, usualmente adotados, sendo
aprovado pela equipe de manutenção de Furnas. O conjunto anteparo + fixação está em processo de registro de
patente.

4. REFERÊNCIAS
[1] Lei 11934 - Limites a exposição a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos - 5/5/2009
[2] ANEEL Resolução Normativa, nº 398. março de 2010.
[3] ANEEL Resolução Normativa, nº 413, novembro de 2010.
[4] ANEEL Resolução Normativa, nº 616, julho de 2014.
[5] ANEEL Resolução Normativa ANEEL nº 915, fevereiro de 2021
[6] L. A. M. C. Domingues et al. Análise de Procedimento de Manutenção em Linha Viva e Desenvolvimento de
Soluções para Aumento de Segurança dos Eletricistas, XXV SNPTEE, GLT 16, Belo Horizonte, 2019.
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DADOS BIOGRÁFICOS

ATHANASIO MPALANTINOS NETO


Graduação em Engenharia Elétrica - Sistemas de Potência pela Universidade Federal Fluminense (1987) e
mestrado em Engenharia Civil - Modelagem Numérica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005).
Sou pesquisador no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica - CEPEL - desde 1987. Tenho experiência na
área de Engenharia Elétrica com ênfase em linhas de transmissão, medições e modelagem numérica de
campos eletromagnéticos em linhas, subestações e equipamentos e na área de exposição humana a campos
eletromagnéticos de baixa frequência.

(2) PAULO ROBERTO GONÇALVES DE OLIVEIRA


Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Veiga de Almeida (1991). Atualmente é pesquisador
do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em
Medições de Campos Eletromagnético na frequência industrial (60 Hz) em Usinas, Subestações e Linhas de
Transmissão de Energia Elétrica e Descargas Parciais em Equipamentos de Alta Tensão.

(3) LUÍS ADRIANO DE MELO CABRAL DOMINGUES


Engenheiro Eletricista formado em 1980 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestrado em
Engenharia de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).Trabalha como
Pesquisador no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica em temas ligados ao cálculo e medição de campos
eletromagnéticos e estudos de confiabilidade. Tem diversos trabalhos publicados em Seminários Nacionais e
Internacionais, em especial sobre exposição humana a campos elétricos e magnéticos. Desde 2009 representa o
Brasil no Conselho Consultivo do Projeto Campos Eletromagnéticos da Organização Mundial da Saúde (IAC-
WHO).

(4) CARLOS RUY NUNEZ BARBOSA


Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal Fluminense (1987) tendo feito o mestrado em
Engenharia Civil pela COPPE/UFRJ (2005). Atualmente é pesquisador III do Centro de Pesquisas de Energia
Elétrica. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, atuando principalmente nos seguintes temas:
modelagem, cálculo e medição de campos eletromagnéticos aplicado a equipamentos elétricos, subestações,
linhas de transmissão e na geração de energia.

(5) CARLOS KLEBER DA COSTA ARRUDA


Formado em Engenharia Industrial Elétrica pelo CEFET-RJ (1999), mestrado e doutorado em Engenharia Elétrica
pela UFRJ (2003, 2012). Atualmente é pesquisador do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica. Tem experiência
em pesquisa de modelos computacionais aplicados em linhas de transmissão e equipamentos de alta tensão,
campos eletromagnéticos, aterramento, descargas atmosféricas e confiabilidade. Membro do Cigre Brasil, atuante
nos comitês B2 (Linhas Aéreas) e D1 (Materiais e Tecnologias Emergentes) e secretário do WG B2.83 (Mitigation
of induced noises by corona activity in overhead AC and DC lines). Secretário do comitê de norma ABNT NBR
5422.

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