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Tadeu Sarmento
Meteoro
os telefones gritam
isoladas criaturas caem no nada
os órgãos de carne falam morte morte doce carnaval de rua do fim do mundo
eu não quero elegias mas sim os lírios de ferro dos recintos
há uma epopeia nas roupas penduradas contra o céu cinza
e os luminosos me fitam do espaço alucinado
quantas lindas garotas eu não vi sob esta luz?
Roberto Piva
A máquina de matar o tempo
Aqui nós investimos contra a alma imortal dos gabinetes. Procuramos amigos que
não sejam sérios: os macumbeiros, os loucos confidentes, imperadores
desterrados, freiras surdas, cafajestes com hemorroidas e todos que detestam os
sonhos incolores da poesia das Arcadas. Nós sabemos muito bem que a ternura
de lacinhos é um luxo protozoário. Sede violentos como uma gastrite. Abaixo as
borboletas douradas. Olhai o cintilante conteúdo das latrinas.
Roberto Piva
POST SCRIPTUM
nosso espaço
é o espaço do terrível
o pântano
varrido por ventos mornos
atravessando os flautins de sargaços
a noite definitiva e o grito congelado
penetremos aos poucos
neste jardim de negações
onde a palavra pede mais espaço
não há mais muita vida
sobre a face deste planeta
talvez em algum lugar
ainda se ouça o vento soprar entre as árvores
vozes ao longe preenchendo o vale
latidos de cachorros na distante encosta da montanha
transformemo-nos em planta
em raiz
ou minério bruto
para que seja possível conversar
O apanhador de desperdícios (Manoel de Barros)