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A revolução da computação em nuvem

nas infraestruturas de TI

Apresentação
A chegada da computação em nuvem fez surgir novos serviços e alterou as características de
outros, adaptando-os às novas demandas dessa modalidade de computação. Um dos exemplos
mais bem acabados de nova caracterização em funções já existentes pode ser encontrado nos
datacenters.

O que antes se constituía em infraestrutura de TI adaptada para suprir necessidades internas de


processamento e armazenamento de dados tornou-se um conjunto complexo de hardware e
software apto a atender serviços próprios do paradigma da computação em nuvem, com suas
necessidades específicas de segurança, compartilhamento de recursos, disponibilidade,
gerenciamento e desempenho.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer as especificidades de um datacenter planejado


para a nuvem e as principais tendências para esse tipo de infraestrutura.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Analisar aspectos de datacenters usados na computação em nuvem.


• Descrever o gerenciamento de infraestruturas de computação em nuvem.
• Determinar implicações e tendências em infraestruturas de nuvem (riscos, automação,
gerenciamento, otimizações).
Desafio
Dependendo do tamanho e da diversidade de equipamentos que comporta, uma infraestrutura de
TI tende a exigir considerável esforço das equipes responsáveis por sua manutenção. A despeito da
boa variedade existente de ferramentas de configuração de servidores, de equipamentos de
armazenamento, de segurança e de rede, as complexidades envolvidas no gerenciamento de
máquinas e serviços ainda requerem mão de obra técnica especializada, e essa premissa se torna
ainda mais verdadeira quando se trata de máquinas e serviços que atendem clientes da nuvem.
Quais providências devem ser tomadas para que as falhas apontadas sejam sanadas?
Infográfico
O gerenciamento da infraestrutura de nuvem não é algo trivial e depende de ferramentas
adequadas para sua boa execução. A adoção da infraestrutura como código torna essa tarefa mais
facilmente realizável por meio de passos simples e repetíveis.

Neste Infográfico, você vai conhecer os passos de implementação e manutenção dessa prática.
Aponte a câmera para o
código e acesse o link do
conteúdo ou clique no
código para acessar.
Conteúdo do livro
Não é sempre que uma inovação ou novo paradigma inserido no mundo da computação alcança
reconhecimento como verdadeira revolução. Se, de modo geral, a computação em nuvem é tida
como prática revolucionária, as mudanças que causou nas infraestruturas de TI não podem ser
entendidas como algo secundário.

Afinal, as configurações de um datacenter convencional precisaram passar por


adequações significativas para atender as novas demandas de processamento, armazenamento,
segurança e redundância, todas com foco na prestação de serviços em nuvem.

No capítulo A revolução da computação em nuvem nas infraestruturas de TI, da obra Infraestrutura


de TI, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai analisar aspectos de datacenters
usados na computação em nuvem, descrever o gerenciamento de infraestruturas de computação
em nuvem e determinar implicações e tendências em infraestruturas de nuvem.

Boa leitura.
INFRAESTRUTURA
DE TI

Roque Maitino Neto


A revolução da
computação em nuvem
nas infraestruturas de TI
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Analisar aspectos de datacenters usados na computação em nuvem.


„„ Descrever o gerenciamento de infraestruturas de computação em
nuvem.
„„ Determinar implicações e tendências em infraestruturas de nuvem
(riscos, automação, gerenciamento, otimizações).

Introdução
Neste capítulo, você conhecerá características e padrões específicos de
datacenters designados para serviços de computação em nuvem, bem
como alguns dos serviços típicos oferecidos por um datacenter de internet.
Além disso, verá que os aspectos do gerenciamento da infraestrutura são
tratados sob a ótica da infraestrutura como código. Por fim, conhecerá
os benefícios da adoção do armazenamento em nuvem e as inovações
a ele aplicadas.

1 Principais aspectos de datacenters


utilizados na computação em nuvem
Uma boa estratégia para assimilar um novo conhecimento é resgatar outro
conhecimento que guarde relação com aquele. Essa percepção torna-se uma
verdade bem consistente quando aplicada à tecnologia da informação (TI).
Por exemplo, para aprender o paradigma orientado a objetos, é provável que
você tenha resgatado conhecimentos do paradigma procedimental; para as-
similar o funcionamento da internet, é provável que você tenha recorrido ao
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seu conhecimento de redes, e, como estes, muitos outros exemplos poderiam


ser desenvolvidos aqui.
Um datacenter projetado para computação em nuvem guarda relação,
em seus fundamentos, com um datacenter tradicional. As empresas que
possuem seu próprio datacenter apoiam nele suas demandas relacionadas com
processamento e armazenamento de dados. No entanto, se esse datacenter se
propõe a prestar serviços de computação em nuvem, ele assume a classificação
de iDC (internet datacenter).
A eficiente prestação de serviços deve ser o principal objetivo a ser atingido
por um iDC. A Figura 1, a seguir, apresenta os tipos de serviços prestados por
um datacenter projetado para demandas próprias da nuvem.

Datacenter

Serviços de alta disponibilidade e recuperação a


desastres

Serviços de segurança

Serviços de aplicação

Serviços de Serviços Serviços de


processamento de rede armazenamento

Serviços de vitualização

Serviços de automação e gerenciamento de TI

Figura 1. Serviços típicos de um iDC.


Fonte: Adaptada de Neto (2015).

Os principais tipos de serviços são: de segurança, de processamento, de


rede, de armazenamento e de alta disponibilidade de recuperação de desastres.
Os serviços de segurança em um datacenter incluem precauções em vários
níveis, que se iniciam com a providência mais básica: o controle de acesso de
pessoas à sala em que se encontram os servidores. A providência mais comum
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— que visa ao fornecimento do serviço mais básico em segurança — está


relacionada com a implantação de um firewall. Por se tratar de um agregador
de dados, é natural que a infraestrutura do datacenter seja alvo de tentativas
de invasão, o que justifica plenamente o investimento no equipamento. Além
disso, os recursos de um firewall permitem o controle da navegação do usu-
ário, negando acesso a aplicações e sites desnecessários, além de incorporar
um sistema que permite aos gestores monitorar as atividades de cada usuário
(NETO, 2015).
Os serviços de processamento são utilizados para fins de classificação dos
serviços e estão diretamente ligados ao desempenho do datacenter, e muito da
percepção da qualidade da infraestrutura de TI nasce do nível de performance
que esse processamento entrega. No entanto, há de se ressaltar o caráter relativo
desse desempenho e da percepção transmitida ao usuário: de nada valeria a
adoção de um processador de última geração em um servidor de nuvem se,
associados a ele, uma qualidade adequada de conexão e excelentes níveis de
entrada e saída em disco rígido não fossem oferecidos. Em resumo, o serviço
de processamento é diretamente beneficiado pela qualidade do processador,
mas não pode ser medido apenas por esse item.
Se sem um bom aparato de segurança e sem o desempenho de uma má-
quina adequada a viabilização da computação em nuvem estaria seriamente
comprometida, sem a estrutura de rede ela simplesmente não existiria.
De acordo com Neto (2015), os serviços de rede envolvem a conexão entre
os componentes internos e a conexão destes com o mundo exterior. Nessa
definição, há uma clara separação entre as conexões entre equipamentos do
datacenter e o aparato que viabiliza a conexão das máquinas externas (que
pode ser chamado de clientes) à infraestrutura do datacenter.
Em suma, um datacenter se conecta à internet da mesma forma que qual-
quer outro usuário: por meio de um provedor de acesso (ISP, Internet Service
Provider; ou Provedor de Serviço de Internet, em português). No entanto, em
virtude da criticidade da função e da necessidade de oferecer redundância e
variedade de opções, um datacenter deve possuir conexões com diferentes
fornecedores.
Outro elemento essencial no contexto de serviços de rede é o conjunto de
roteadores e switches, os quais direcionam o tráfego de dados que entram e
saem do datacenter. Eles atuam como nós centralizadores que possibilitam a
ida dos dados de um ponto a outro, sempre pela rota mais eficiente possível.
Se configurados adequadamente, eles podem gerenciar grandes quantidades
de tráfego sem comprometer o desempenho, formando um elemento crucial
da topologia do datacenter. Os pacotes de dados recebidos da internet pública
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encontram primeiro determinados roteadores do datacenter, que analisam a


origem de cada pacote e para onde eles precisam ir. A partir daí, eles entregam
os pacotes aos roteadores principais, que se encarregam da efetiva transmissão
dos dados.
As melhorias aplicadas nos últimos anos nas funções de armazenamento
de dados foram fundamentais para a viabilização da computação em nu-
vem. Os serviços de armazenamento evoluíram em ritmo acelerado para
acompanhar as demandas dos usuários finais, que precisam de capacidade
de armazenamento para seus dados e aplicações, para que sejam entre-
gues de forma segura e com a perspectiva de serem facilmente acessados.
Com cargas de trabalho dezenas ou centenas de vezes maiores do que anos
atrás, a arquitetura de armazenamento utilizada para suportar ambientes em
nuvem se apresenta com uma lista completa de itens obrigatórios, que incluem
discos SSD e outros dispositivos construídos totalmente com memória flash,
designados para o armazenamento dos dados das máquinas virtuais e dos
contêineres.
Os serviços de alta disponibilidade e de recuperação de desastres visam
a garantir que os dados estejam sempre disponíveis e que haja recuperação
do estado anterior da infraestrutura em caso de desastres, o mais brevemente
possível. Esses serviços tratam também de políticas, programas e dispositivos
de backup, restore e replicação (NETO, 2015). Os dados são o ativo mais
valioso das organizações modernas, e quem contrata um serviço em nuvem
espera, no mínimo, que os dados confiados ao provedor sejam apropriadamente
mantidos. Para um provedor de computação em nuvem, perder dados significa
perder receita, tempo, reputação e clientes.
O elemento essencial da recuperação de desastre tradicional está apoiado na
existência de um datacenter secundário, que pode armazenar todas as cópias
redundantes de dados críticos. Esse datacenter possui equipamentos similares
ao tradicional, porém com infraestrutura de rede e servidores secundários
capazes de substituírem adequadamente os principais.
No entanto, a disponibilização de serviços mais específicos não é suficiente
para a completa caracterização de um datacenter utilizado na computação
em nuvem. Ao conceber um datacenter para esse fim, o projetista deve levar
em consideração recomendações da Norma TIA-942, que, embora não tenha
sido escrita especificamente para projetos de datacenter para aplicações em
nuvem, pode ser adaptada para essa finalidade. A abordagem dessa norma,
inclusive, possui relação direta com os serviços de disponibilidade e de re-
cuperação de desastres.
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Uma contribuição importante da Norma TIA-942 é a caracterização de


um datacenter em tiers (ou camadas), levando em consideração a arquitetura,
a estrutura e a telecomunicação, além de aspectos elétricos e mecânicos.
Segundo Neto (2015), a classificação de um datacenter em uma das quatro
camadas da Norma deve ser feita segundo critérios previamente estabeleci-
dos. As camadas são tier 1 (básico), tier 2 (componentes redundantes), tier 3
(manutenção sem paradas) e tier 4 (tolerante a falhas).
Por fornecer serviços de processamento e armazenamento para terceiros,
os datacenters dimensionados para a nuvem devem contar com medidas
efetivas para prevenir a indisponibilidade do sistema. Desse modo, é natural
concluir que, quanto maior a camada do datacenter, mais bem preparado para
a oferta de serviços ele estará.
A menção ao grau de preparação de um datacenter para prestar seus serviços
remete à sua capacidade em crescer conforme a demanda. A escalabilidade
deve ser uma característica de datacenters criados para a própria organização,
mas se aplica principalmente aos utilizados para a computação em nuvem.
Enquanto uma estrutura própria tem seu crescimento mais ou menos planejado,
um datacenter voltado para a prestação de serviços a terceiros cresce conforme
demandas variáveis, o que torna a flexibilidade — expressa na capacidade de
crescer — um aspecto crítico dessas estruturas.

2 Gerenciamento de infraestruturas de
computação em nuvem
Conforme visto na seção anterior, a estruturação de um datacenter para a
nuvem, o provimento dos serviços relacionados a ele, a implantação dos re-
quisitos para seu enquadramento em camadas superiores da Norma TIA-942
e a preocupação com sua escalabilidade são providências essenciais para que
sejam atendidas as demandas dos atuais e futuros clientes. Embora as dificul-
dades dessa fase sejam reais, superá-las não significa o fim das ocupações para
a equipe. Por exemplo, haverá muito do que cuidar quando a infraestrutura
estiver em funcionamento, como monitorar a rede, controlar as licenças dos
programas executados nos servidores, prestar suporte aos usuários e fazer
a gestão dos bancos de dados.
Conforme Morris (2016), as rotinas de gestão e de manutenção de uma
infraestrutura em nuvem podem (e devem) se aproximar, em termos proce-
dimentais, das práticas utilizadas para a construção de um software, o que
o autor chama de infraestrutura como código (infrastructure as code).
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A infraestrutura como código é uma abordagem para a automação de infraestru-


tura com base em práticas do desenvolvimento de software. Ela se apoia em rotinas
consistentes e repetíveis para alterar e automatizar os sistemas e suas configurações.
Assim, o gerenciamento dessa infraestrutura é feito por meio de definições escritas em
arquivos de configurações, as quais são implementadas nos sistemas automaticamente.

A adoção dessa abordagem justifica-se pela necessidade de dar aos res-


ponsáveis pelo gerenciamento da infraestrutura condições para promoverem
as mudanças e melhorias mais rapidamente, ajudando, assim, as organizações
(sejam elas privadas ou voltadas à prestação de serviços) a atenderem às suas
necessidades em constante mudança. Mas, afinal, tratar a infraestrutura como
um código satisfaz essa necessidade?
A premissa, aqui, é de que as ferramentas modernas podem tratar a in-
fraestrutura como se ela fosse software e dados. Isso permite que as pessoas
apliquem ferramentas de desenvolvimento de software, como sistemas de
controle de versão (VCS), bibliotecas de teste automatizadas e orquestração
de implantação para gerenciar a infraestrutura. Além disso, isso possibilita
explorar outras práticas de desenvolvimento, como o TDD (Test Driven Deve-
lopment; ou Desenvolvimento Guiado por Testes, em português), a integração
contínua (CI) e a entrega contínua (CD) (MORRIS, 2016).
A infraestrutura como código vem sendo aplicada, e seus resultados são
comprovados nos ambientes mais exigentes. De acordo com Morris (2016),
as organizações que adotam essa abordagem esperam que a infraestrutura de
TI esteja preparada para acomodar mudanças e que elas não se tornem um
obstáculo para o crescimento do aparato tecnológico. Além disso, elas desejam
que o tempo e a reserva de talento da equipe de TI não sejam empregados
apenas em tarefas rotineiras e repetitivas. A aplicação dessa abordagem gera,
ainda, a expectativa de que as equipes estejam aptas a recuperarem rapidamente
a estrutura no caso de ocorrência de falha ou desastre.
É importante salientar que, quando expressões como “problemas”, “mudan-
ças” e “estresse” são colocadas no contexto de gerenciamento de infraestrutura
de TI para cloud computing, o que se pretende é referenciar os desafios que
as equipes enfrentam com esse gerenciamento. Para o correto entendimento
dos princípios da infraestrutura como um código, é preciso abordar alguns
desses desafios.
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A adoção da nuvem e a virtualização podem facilitar o provisionamento de


novos servidores a partir de um conjunto de recursos, o que pode levar o número
de servidores a crescer mais rapidamente do que a capacidade da equipe de
gerenciá-los da maneira que eles gostariam. Quando isso acontece, é normal
que as equipes se empenhem para manter os servidores atualizados, o que, em
alguns casos, pode deixar os sistemas mais vulneráveis a ameaças conhecidas.
Contudo, quando os problemas são descobertos, as correções podem não ser
implementadas em todos os sistemas que poderiam ser afetados por eles.
As diferenças de versões e configurações entre servidores significam que
programas e scripts que funcionam em algumas máquinas não funcionam em
outras, levando à inconsistência entre os servidores, chamada de desvio de
configuração. Esse fenômeno ocorre, por exemplo, quando uma correção é
aplicada ao banco de dados executado em um servidor e o procedimento não
é repetido nos outros servidores. Uma situação semelhante — e com potencial
para prejuízo um pouco maior — acontece quando duas pessoas instalam uma
aplicação em dois servidores diferentes e a configuram de forma diversa.
Em casos mais extremos, o desvio de configuração pode levar à existência
de servidores bastante diferentes na rede, de modo que a replicação desse
servidor se torne bastante difícil. Por si só, uma configuração divergente não
precisa ser encarada como algo nocivo. O problema surge quando a equipe
que mantém o servidor não entende como e por que ele é diferente e não
consegue mais reconstruí-lo. Afinal, uma equipe de operações deve poder
reconstruir com confiança e rapidez qualquer servidor em sua infraestrutura.
Imagine, então, uma escala ampliada dessa situação, em que todos os servi-
dores estivessem com configurações divergentes. O controle, certamente,
seria bastante dificultado.
Uma das formas de se minimizar a ocorrência desses fenômenos relaciona-
dos com a infraestrutura é por meio do uso de ferramentas de automatização
de procedimentos, incluindo a criação de novos servidores ou a alteração
específica de uma configuração.

Pesquise por Um breve comparativo sobre as principais ferramentas DevOps: Puppet vs


Chef vs Kubernetes vs Docker vs Ansible (FERREIRA, 2018) no seu mecanismo de busca
para acessar uma introdução comparativa às mais importantes ferramentas de auto-
matização de configurações.
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No entanto, é comum que os funcionários da equipe de infraestrutura sejam


estimulados — por seus pares e por si próprios — a adotarem a automatização
apenas parcialmente, por falta de confiança nas ferramentas disponíveis.
As situações abordadas prepararam o caminho para a adoção dos métodos
da infraestrutura como código. No escopo desse paradigma, alguns princípios
são levados à condição de verdades inquestionáveis, como os listados a seguir.

„„ Os sistemas devem ser facilmente reproduzidos: deve ser possível,


sem muito esforço e de forma confiável, reproduzir (ou reconstruir)
qualquer elemento da infraestrutura. Essa facilidade diminui bastante
o risco inerente ao procedimento, de modo que eventuais obstáculos
podem ser rapidamente superados.
„„ Os sistemas devem ser “descartáveis”: um dos benefícios do ge-
renciamento dinâmico da infraestrutura é que os recursos podem ser
facilmente criados, destruídos, substituídos, redimensionados e movidos.
Para tirar proveito disso, os sistemas devem ser projetados para assumir
que a infraestrutura sempre estará mudando.
„„ Os sistemas devem ser consistentes: dados dois elementos de infra-
estrutura que fornecem um serviço semelhante (p. ex., dois servidores
de aplicativos em um cluster), os servidores devem ser quase idênticos.
O software e a configuração do sistema devem ser os mesmos, exceto,
por exemplo, os endereços IP.
„„ Os processos devem ser repetíveis: com base no princípio da re-
produtibilidade, qualquer ação executada na infraestrutura deve ser
possível de ser repetida. Esse é um benefício imediato do uso de scripts
e ferramentas de gerenciamento de configuração em substituição ao
método manual.

Na verdade, tratar de infraestrutura de TI abrange todo o procedimento


operacional que a manutenção dessa infraestrutura requer. A aproximação do
gerenciamento da infraestrutura com aspectos metodológicos do desenvolvi-
mento de software prepara o caminho para a menção ao DevOps, termo que
deriva da junção das palavras “desenvolvimento” e “operações” e que traduz
o esforço para integrar as duas frentes.
Portanto, o DevOps remete à necessidade de integração entre as equipes
de desenvolvimento de software e operações, sugerindo a necessidade de se
ter uma melhor comunicação e maior confiança entre essas equipes. Além
disso, ele foca em pessoas e em como melhorar a colaboração entre os times
de desenvolvimento e operações (ROSA, 2017).
A revolução da computação em nuvem nas infraestruturas de TI 9

Se dois setores tão importantes tendem a ser integrados com as práticas do


DevOps, é compreensível e necessário que exista uma coordenação entre as
atividades que eles exercem. Os processos que organizam e sincronizam essas
atividades recebem o nome de orquestração. De acordo com Rosa (2017),
a nuvem traz grandes ganhos para a TI no que diz respeito às possibilidades
de automatização da gestão e da operação dos serviços de TI, seja por meio
da automatização de aplicações, seja pelo monitoramento e a orquestração
dos serviços na nuvem.
Se comparado ao gerenciamento de uma infraestrutura convencional,
o gerenciamento da infraestrutura de computação em nuvem agrega especifici-
dades em seu escopo, incluindo facilidades, dificuldades extras e, naturalmente,
inovações e tendências.

3 Implicações e tendências em
infraestruturas de nuvem
Após percorrer o caminho dos serviços típicos de uma infraestrutura de nuvem
e estabelecer um panorama dos aspectos específicos de seu gerenciamento,
faz-se necessário conhecer as tendências e implicações da computação em
nuvem, ainda no contexto da revolução que ela tem proporcionado nas infra-
estruturas de TI.
Embora o armazenamento em nuvem não seja o tema específico desta seção,
vale revisitar o assunto em uma das particularidades que mais se relaciona com
inovação: suas vantagens em relação ao armazenamento tradicional. Contudo,
há de se registrar que esses benefícios variam significativamente com base
na infraestrutura de armazenamento que a organização possui. A nuvem de
armazenamento pode ajudar as empresas a obter funcionalidades mais eficazes
a um custo menor, melhorando a agilidade dos negócios e reduzindo riscos
próprios do projeto. Segundo Coyne et al. (2016, p. 75):

Uma das principais vantagens da nuvem de armazenamento é a escala dinâmica


em sua capacidade de armazenamento, também conhecida como elasticidade.
Uma infraestrutura dotada de elasticidade possibilita que os recursos de
armazenamento possam ser alocados dinamicamente (redimensionados) ou
liberados (reduzidos) com base nas necessidades dos negócios.
10 A revolução da computação em nuvem nas infraestruturas de TI

O Quadro 1, a seguir, identifica diferenças básicas entre o modelo tradicional


de TI e o modelo de armazenamento em nuvem.

Quadro 1. Benefícios em se deslocar o armazenamento do meio tradicional para a nuvem

Valor entregue Do tradicional Para a nuvem

Provisionamento de Semanas Minutos


armazenamento

Acesso contínuo aos dados Centralizado A qualquer momento


e de qualquer lugar

Capacidade de Estática Dinâmica (elasticidade)


armazenamento

Custos de administração — Economia de mais de 50%

Custos com energia elétrica — Acima de 36%

Crescimento da utilização A partir de 50% Acima de 90%


do armazenamento

Fonte: Adaptado de Coyne et al. (2016).

A primeira linha do Quadro 1 expressa o tempo médio que a organização


precisa para obter mais capacidade de armazenamento nos dois contextos,
o tradicional e o de nuvem. A segunda linha, identificada pelo valor “Acesso
contínuo aos dados”, aborda o meio de acesso ao dado: feito, via de regra, de
forma centralizada no modo tradicional e a partir de múltiplas localidades e
momentos no armazenamento em nuvem. Já a terceira linha trata da capacidade
de armazenamento, normalmente flexível no armazenamento em nuvem.
Por fim, as linhas seguintes expõem vantagens relacionadas com custos de
manutenção da estrutura.
De modo geral, as tendências em infraestrutura de nuvem estão fortemente
ligadas aos avanços experimentados pelas tecnologias que compõem essa infra-
estrutura e à popularização da nuvem como meio seguro de armazenamento e
processamento de dados. Os itens listados a seguir explicam essas tendências.
A revolução da computação em nuvem nas infraestruturas de TI 11

„„ Aumento da capacidade dos meios de armazenamento: de tempos


em tempos, o padrão unitário de armazenamento se altera. Por exem-
plo, antigamente, 1TB de espaço era algo impensável para um disco
rígido, porém, nos dias atuais, essa capacidade pode ser encontrada com
frequência até mesmo em discos de uso pessoal. Uma matéria publicada
na revista Computerworld relata que uma empresa de dispositivos de
armazenamento pretende lançar HD de 100TB até o ano de 2025 (COM-
PUTERWORLD, 2018). Na mesma tendência do aumento da capacidade,
são verificadas quedas no preço da unidade de armazenamento.
„„ Popularização da computação em nuvem: quanto mais popular se
torna o uso da cloud computing, mais os provedores reúnem condi-
ções para investir em novas tecnologias e serviços. No mesmo sentido,
quanto mais clientes pagam pelos serviços, maior a tendência em haver
barateamento desses serviços.
„„ Aumento da velocidade e da qualidade da conexão: os aprimoramen-
tos aplicados às conexões de dispositivos eletrônicos com a internet têm
fornecido mais argumentos para a adoção da computação em nuvem.
Se, há alguns anos, a decisão de se usar serviços de um provedor de
nuvem podia ser adiada em virtude da falta de confiabilidade na conexão,
atualmente, essa questão não assume mais um caráter preponderante.

Como consequência das projeções de maior uso da cloud computing e


do esperado avanço da tecnologia envolvida, um cenário bastante factível se
desenha: a adoção em maior escala do serverless computing (ou computa-
ção sem servidor). De acordo com Kumar (2010), trata-se de um modelo de
computação no qual o provedor dos serviços de nuvem fornece e gerencia os
servidores. Nesse caso, o cliente confia ao provedor não apenas seus dados,
mas suas aplicações e configurações gerais, livrando-se, assim, dos custos
de aquisição, configuração e manutenção do hardware, além de não investir
em licenças de software.
Contudo, há de se destacar a potencial confusão que o nome “computação
sem servidor” pode causar. O servidor, na verdade, está presente no pro-
cesso, mas está localizado em um provedor de serviços, o qual é responsável
por gerenciar e provisionar sua capacidade conforme a carga de trabalho.
A principal função desempenhada por uma plataforma sem servidor é simular
um sistema de processamento de eventos, conforme mostrado na Figura 2
(BALDINI et al., 2017).
12 A revolução da computação em nuvem nas infraestruturas de TI

Edge Master
Worker

UI function mais(){ code


return [payload:

Event Queue
‘Hello World’];
code

Dispatcher
}

API Gateway

Cloud
Event Worker
Soucers code code

Figura 2. Arquitetura de um serviço de serverless computing.


Fonte: Adaptado de Baldini et al. (2017).

O serviço recebe um evento do usuário vindo por HTTP, coloca o evento


em uma fila, determina para qual instância deve ser enviada o evento e aguarda
uma resposta. Na sequência, disponibiliza a resposta ao usuário e interrompe o
processo quando não houver mais eventos. Essa plataforma apresenta variações
e será implementada com base em dimensões, como custo, escalabilidade e
tolerância a falhas. Portanto, o cliente deve estar atento a essas características
quando adquirir o serviço.
Em virtude de ainda não ser uma prática plenamente amadurecida, não
é possível projetar o grau em que as organizações a adotarão. O certo é que,
sob certas circunstâncias, o serverless computing pode ser uma ótima opção
para empresas que não desejam (ou não podem) investir em servidores locais.

BALDINI, I. et al. Serverless computing: current trends and open problems. In: CHAU-
DHARY, S.; SOMANI, G.; BUYYA, R. (ed.). Research advances in cloud computer. Singapore:
Springer, 2017.
COMPUTERWORLD. Seagate prevê HD de 100 TB em 2025. 2018. Disponível em: https://
computerworld.com.br/2018/11/06/seagate-preve-hd-de-100-tb-em-2025/. Acesso
em: 22 abr. 2020.
COYNE, L. et al. IBM private, public, and hybrid cloud storage solutions. 5th ed. [S. l.]: IBM, 2016.
A revolução da computação em nuvem nas infraestruturas de TI 13

FERREIRA, G. Um breve comparativo sobre as principais ferramentas DevOps: Puppet vs


Chef vs Kubernetes vs Docker vs Ansible. 2018. Disponível em: https://www.realcloud.
systems/single-post/2018/04/14/Quais-as-principais-ferramentas-DevOps-Puppet-vs-
-Chef-vs-Kubernetes-vs-Docker-vs-Ansible. Acesso em: 22 abr. 2020.
KUMAR, A. Cloud computing essentials: terms and tools. [S. l.: s. n., 2010].
MORRIS, K. Infrastructure as code: managing servers in the cloud. Sebastopol: O'Reilly
Media, 2016.
NETO, M. V. S. Computação em nuvem. Rio de Janeiro: Brasport, 2015.
ROSA, D. Cloud computing: planejando a sua jornada. [S. l.: Publicação do Autor], 2017.

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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
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local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do professor
O IBM Cloud Orchestrator é uma ferramenta que permite o gerenciamento da infraestrutura de TI
voltada à prestação de serviços para a nuvem. Ela fornece meios automatizados de integrar a
nuvem com a infraestrutura do cliente, considerando os processos, as políticas, os procedimentos
de backup, o monitoramento e a segurança. Diferentes domínios podem ser gerenciados em
sintonia, ou orquestrados, como sugere o nome da ferramenta.

Além disso, sua interface intuitiva permite a definição e implementação das regras de negócio da
organização e de suas políticas de TI.

Nesta Dica do Professor, você vai conhecer um pouco mais dessa ferramenta de gerenciamento de
recursos e serviços em nuvem.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Exercícios

1) Considerando as características e especificidades do gerenciamento de infraestrutura como


código, analise as afirmações que seguem.

I. Os arquivos de configuração são o meio pelo qual se efetiva o gerenciamento da


infraestrutura como código em ambiente de nuvem.
II. O gerenciamento da infraestrutura como código vem ajudando a aprimorar as técnicas de
desenvolvimento de software, principalmente os testes automatizados.
III. Embora seja apropriado para gerenciamento de infraestruturas grandes, esse paradigma
não é recomendado para ambientes de processamento em nuvem que experimentam
mudanças regulares em suas configurações.
IV. O gerenciamento da infraestrutura como código não permite a automatização da
configuração de servidores, pois cada elemento novo da infraestrutura requer um arquivo
distinto de configuração.

É verdadeiro o que se afirma em:

A) I apenas.

B) I e III apenas.

C) III e IV apenas.

D) I, II e IV apenas.

E) I, II, III e IV.

2) Carlos planeja propor à direção da empresa em que trabalha a adesão a serviços de


computação em nuvem e, para embasar a proposta, tem levantado informações de várias
fontes que julga confiáveis. Na condição de profissional que atua no datacenter da empresa,
conhece bem as dificuldades relacionadas à configuração e manutenção da infraestrutura, o
que confere a ele conhecimento que excede ao de um usuário comum. Ao levantar
informações sobre a nuvem, Carlos deparou-se com o seguinte:

I. O provisionamento dos recursos de hardware deve ser feito pelo contratante do serviço
em nuvem, o que significa vantagem para provedor e contratante.
II. Embora sem impacto direto na qualidade do fornecimento do serviço, o gerenciamento da
infraestrutura em nuvem não pode ser feito utilizando recursos automáticos.
III. A depender da quantidade e abrangência dos serviços contratados, a adoção da cloud
computing pode desobrigar o contratante de ter um servidor em suas instalações.
IV. Os valores dos equipamentos de TI que integram um datacenter em nuvem,
especialmente os meios de armazenamento, tendem a experimentar acréscimo, o que
deverá encarecer os serviços a médio prazo.

As informações que Carlos deve usar para fundamentar seus argumentos junto à diretoria
são:

A) II e III, da forma exata como foram colocadas.

B) apenas a III, da forma como foi colocada.

C) apenas a IV, mas mudando a expressão “médio prazo” para “curto prazo”.

D) apenas a I e III, da forma exata como foram colocadas.

E) apenas a I, da forma como foi colocada.

3) Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas do texto que segue.

A abordagem de infrastructure as code foi criada, entre outras razões, para reduzir
___________ na operação diária dos sistemas. Essa abordagem visa a facilitar a aplicação de
mudanças ________________ da _______________, tornando-as menos traumáticas para as
equipes envolvidas. No mesmo sentido, uma situação de _____________ poderá ser mais
facilmente revertida.

A) a rotina, no downtime, configuração, falha.

B) o desenvolvimento, no dimensionamento, infraestrutura, rotina.

C) o provisionamento, na configuração, rotina, provisionamento.

D) o upgrade, no provisionamento, rotina, falha.

E) o downtime, na configuração, infraestrutura, falha.

4) Um dos fatores mais críticos no gerenciamento de um datacenter em nuvem é a


padronização da configuração dos servidores, levando em conta o eventual (e provável)
crescimento em suas quantidades e a variedade de serviços que prestam. Considerando
aspectos próprios do gerenciamento da infraestrutura em nuvem, analise as afirmações que
seguem:
I. Manter todos os servidores da infraestrutura de nuvem absolutamente iguais em
configuração é condição obrigatória para o funcionamento de um datacenter.
II. A falha no gerenciamento das configurações dos servidores pode levar à existência de
configurações diferentes na rede, de modo que a replicação de servidores seja dificultada.
III. Uma das formas de se minimizar a ocorrência de falhas de gerenciamento da
infraestrutura é pela utilização de ferramentas de automatização de procedimentos para a
criação de novos servidores ou para alteração específica de uma configuração.

É verdadeiro o que se afirma em:

A) II apenas.

B) I e III apenas.

C) III apenas.

D) II e III apenas.

E) I, II e III.

5) A possibilidade de contratação de serviços oferecidos em nuvem tem, cada vez mais, feito
parte das ações estratégicas de organizações que desejam obter vantagens da conveniência
que a cloud computing pode oferecer.

Assinale a alternativa que contém apenas expressões diretamente relacionadas às vantagens


de se adotarem serviços em nuvem.

A) Facilidade de codificação de scripts de gerenciamento, redução geral nos custos, mitigação de


riscos.

B) Retorno de investimento mais favorável, menor investimento em infraestrutura própria,


investimento zero em conexão à internet.

C) Facilidade em mudar a área de atuação da organização, agilidade na alteração do espaço de


armazenamento de dados, facilidade de codificação de scripts de gerenciamento.

D) Aplicação mais imediata das inovações, alocação e disponibilização de recursos conforme a


necessidade de organização, menor investimento em infraestrutura própria.

E) Facilidade em mudar a área de atuação da organização, desobrigação da contratação de


pessoal de TI, menor investimento em infraestrutura própria.
Na prática
Gerenciar a configuração da infraestrutura de TI significa manter servidores, redes e meios de
armazenamento funcionando de modo padronizado, conhecido e apto a ser reproduzido. Para um
provedor de nuvem, a correta manutenção de seu ativo de TI é fundamental para a boa prestação
de serviços a seus clientes.

Neste Na Prática, você vai conhecer aspectos conceituais e práticos do Puppet, uma ferramenta
criada para centralizar, padronizar e automatizar o processo de gerenciamento de configurações
aplicáveis à infraestrutura de TI.
Aponte a câmera para o
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Sem cloud não há DevOps?


Neste vídeo, o Microsoft MVP Ramon Durães explica a relação entre o mundo cloud e a prática do
DevOps. De quebra, trata um pouco de orquestração e gerenciamento de infraestrutura de TI.

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Como funciona o armazenamento em nuvem?


Neste vídeo, o professor Manoel Veras trata, entre outros assuntos, da flexibilidade proporcionada
pela nuvem na contratação de recursos para os fins da organização.

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Cloud computing e a transformação no comportamento dos


profissionais de TI
A revolução causada pela computação em nuvem não se restringe apenas a questões de
infraestrutura, mas alcança também o perfil do profissional responsável por seu gerenciamento.
Neste link, você vai saber mais sobre essa transformação.

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