Você está na página 1de 12

HEBREUS 11 NA VERSÃO FEMININA

Pela fé, Miriã se arriscou a conversar com a princesa, para salvar a vida de seu irmão e
assim promoveu também a libertação de Israel do domínio dos egípcios.
Pela fé, Débora saiu ao lado de Baraque para a batalha e, com a ajuda de Jael, teve a
coragem de lutar contra o capitão Sísera pela liberdade do seu povo.
Pela fé, a menina escravizada contou a sua patroa sobre o profeta Eliseu, fazendo com que
seu patrão, Naamã, fosse curado de uma doença mortal.
Pela fé, Agar andou no deserto com seu filho pequeno e viu o anjo que lhe anunciou a
salvação perto do poço.
Pela fé, Rute deixou seu povo e sua história, para seguir com sua sogra para uma nova terra
e fez parte da linhagem de Davi.
Pela fé, Abigail colocou leite e alimentos sobre um burrinho e foi ao encontro de Davi, para
acalmar o coração dele por causa da loucura de seu marido, Nabal.
Pela fé, Dorcas usou suas agulhas para costurar roupas e sonhos para as mulheres de sua
cidade e sua falta foi tão sentida que as mulheres oraram por sua ressurreição.
Pela fé, Maria, ainda adolescente, aceitou o desafio de ser a mãe do salvador, negando-se a
si mesma e arriscando sua vida e seu casamento pela missão mais sublime de todas.
E que mais direi? Certamente, me faltará tempo necessário para referir o que há a respeito
de Sara, Rebeca, Raquel, Lia, Maria Madalena, Júnia, Priscila, Tamar, Raabe, Trifena e
Trifosa, Ninfa, Lídia, Evódia e Síntique, Joana, a Sunamita, Hulda, Ana, Eunice, Loide, as
parteiras do Egito, as babás do palácio real, Suzanna Wesley, Martha Watts, Anna Francis,
de todas as professoras, educadoras, missionárias, cuidadoras, presidentes de sociedades,
pregadoras, hospedeiras, mães, tias, avós, as quais, por meio da fé, subjugaram reinos,
praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a
violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se
poderosas em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros, salvaram crianças e
povos, testemunharam de Cristo, forjaram caráteres. Algumas foram torturadas, não
aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição...
Todas estas tiveram bom testemunho de sua fé, mas não obtiveram, contudo, a
concretização da promessa, por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para
que elas, sem nós, não fossem aperfeiçoadas.
Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas,
desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com
perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o autor e
consumador da fé, Jesus! (Hideide Brito Torres)
“Quem sabe se não foste elevada a rainha para tal tempo como este?” (Ester 4.14)
A história de Ester parece uma daquelas típicas narrativas de princesa de contos de fadas. A
menina órfã de pai e mãe, criada pelo tio na simplicidade e pobreza, de repente é escolhida
entre muitas para ser rainha. Morar no palácio, viver do bom e do melhor, ao lado do
charmoso rei... mas não é bem assim. O rei é perverso, as condições de vida não são boas, o
povo é oprimido.
Mas Ester também não é a típica princesa. Observo com sobriedade que Mordecai, o tio,
não a deixa recair nos estereótipos esperados. Ele a empodera com palavras, atitudes e
cobranças bastante sérias. E a coloca diante da pergunta fundamental: “Quem sabe?”
Nós, mulheres metodistas, também recebemos um chamado de Deus, como Ester. Podemos
nos esconder atrás das ideias prontas ou podemos perguntar: “Quem sabe?” e descobrir
nosso lugar de servir no Reino de Deus. Servir a todas as pessoas, mas de modo especial
servir às outras mulheres. Desenvolver relações afetuosas e de apoio. Romper os ciclos de
culpabilização e violência. Romper com o esperado e irromper com a vida plena do Reino
de Deus.
Muitas mulheres cristãs são vítimas da violência dentro de casa. De relações injustas no
trabalho. De maus tratos e abusos verbais por parte de patrões. De questões culturais
enraizadas. Não caia no discurso fácil: “Ela mereceu”. “Ela deve ter feito alguma coisa”.
“Isso é vitimismo”. Cuidado com esses termos que escravizam a mulher e reforçam
preconceitos. Ao invés disso, seja a discípula de Jesus que diz: “Ninguém te condenou?
Nem eu te condeno. Vá e não peques mais” (João 8.10). Seja imitadora de Jesus, cujo
ministério era sustentado por mulheres (Lc 8.1-3). Sustente outras mulheres, de todo jeito
que puder. Ame sua irmã, sua semelhante, sua igual.
Você, homem, seja como Mordecai. Não limite, mas impulsione. Não se prenda aos
estereótipos, mas liberte. “Quem sabe?” você tenha uma Ester em sua vida: uma mãe, uma
irmã, uma filha, uma esposa, uma amiga... Ou uma Maria, uma Joana, uma Madalena, uma
Pérside, uma Vasti, uma Ana... Seja lá o nome que ela tiver, “é para um tempo como esse”
que Deus a chamou. E sendo ela rainha ou plebeia, em qualquer condição social ou
econômica, é na cooperação entre homens e mulheres comprometidos com Deus e os
valores do Seu Reino, que não é deste mundo, gente como Mordecai e Ester, que este tempo
e lugar podem se tornar, pouco a pouco, “o novo céu e a nova terra nos quais habita a
justiça” (2Pe 3.13).
08 de março: dia de luta, reflexão e ação. Dia Internacional da Mulher.
Bispa Hideide Brito Torres
Oitava Região Eclesiástica
"Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por
herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e
destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos
de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te
hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-
te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes
meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (Mateus 25:34-40)
Já estive muitas vezes nos hospitais e em prisões. Para mim, de toda a tarefa pastoral em
específico, essas duas são as mais difíceis. Esses dias, fiquei com a minha filha no hospital
por uma semana. Na enfermaria de um hospital público, na UTI de um hospital particular.
Nesses dias, vi pela madrugada as macas passando em frenesi pelo corredor, o vigia
gritando: "Ponham as máscaras, gente, vigiem os pacientes! Vamos passar com alguém com
Covid por aqui." E a maca passava, todo mundo vestido com roupas como nos filmes de
pandemia. A seguir, o pessoal da limpeza vinha esfregando paredes, portas... Depois, com a
transferência para o outro hospital, que atendia pelo nosso plano (a dificuldade de fazer o
plano funcionar vale um texto à parte), colocaram minha filha na UTI para monitorar. Na
porta, escreveram: prevenção. Todas as vezes em que as enfermeiras, médicos e outros
profissionais apareciam, eles se paramentavam todos, porque ninguém sabia se havíamos ou
não sido contaminadas na enfermaria. Isso é muito chocante e mexe com a gente.
Também mexe com a gente ver a morte. Duas pessoas morreram na UTI nos dois dias em
que fiquei lá. Uma morreu no plantão do meu marido. Atravessar o corredor para ir ao
banheiro e ver aquelas pessoas, a maioria velhinha, cheia de tubos e monitores, mesmo
testemunhando o zelo do pessoal médico e da enfermagem, corta o coração da gente. Vem o
medo e o desejo de Deus nos levar num rápido ataque cardíaco. É uma não-vida, de algum
modo. Mas isso também é outra conversa. Dizem que escrevo muito... ah, se vocês
soubessem o tanto que eu penso!
Enfim... tudo isso para dizer que no hospital não gostamos de ir para não perceber nossa
fraqueza inerente e nosso potencial para morrer. Na prisão não gostamos de ir porque,
mesmo que neguemos, os presos e presas são nossa outra face, o que poderíamos ser. E
também não queremos ver isso. O mesmo ocorre com quem tem fome, com quem tem sede,
com quem está nu, com quem é estrangeiro. São gentes que refletem no espelho de nossos
temores, de nossas sombras. Atender às necessidades delas como o Rei determina é um
profundo sair de si mesmo, de negar a si mesma.
Mas os benditos e benditas são os/as que fazem o que as desafia. Fazem o que não querem
fazer, negando suas naturezas, por um princípio superior. São benditos e benditas do Pai
porque imitam o Rei. Esse Rei que desce do trono, abdica da glória e também se torna o
que, se a gente pensar bem, ninguém na posição dele iria querer ser. Jesus teve fome, teve
sede. Jesus ficou nu naquela cruz (eu te lembro que aquele paninho enrolado é coisa pudica
da iconicidade cristã, mas é fake... rs...). Jesus foi estrangeiro no Egito, em Samaria... de
fato, ele era estrangeiro em toda parte, porque seu Reino nem era deste mundo! Jesus foi
preso. E sim, embora os Evangelhos não relatem, é provável e quase certo que pelo menos
uma dor de barriga ou de dente ele deve ter sofrido na vida. Ou não foi gente, certo?
Sim, os benditos e benditas do Pai são aqueles e aquelas que estão dispostos e dispostas a
viver como o Rei, a agir como o Rei e a estar onde e do modo como o Rei esteve. Esses
dias, eu tive mais uma prova, na minha carne, de que é muito difícil. Muito difícil mesmo.
Que alívio chegar em casa, por causa da minha filha e por minha causa também. Que
sensação de escape! Mas não posso ser bendita assim.
Esses dias eu vejo gente desse lado e daquele se engalfinhando e defendendo reinos deste
mundo, que nada valem e passarão, enquanto os que têm fome, sede, falta de roupa, doença
e crimes nas costas continuam sem ouvir a Palavra da Redenção e sem receber a visita dos
benditos e benditas do Pai, que podem mudar tudo. Estamos longe da bênção. É melhor a
gente mudar a rota antes que quem precise dessa visita sejamos nós.
(Bispa Hideide Brito Torres.- Igreja Metodista)
"Rispa (2 Samuel 21) é "toda mãe que vê seus filhos mortos antes do tempo por razões de
Estado, sejam eles em tempo de paz ou em guerra. Tudo o que resta para ela é preservar a
dignidade da sua memória e viver para testemunhar e pedir contas aos governantes do
mundo". (Jonathan Magonet). Davi matou os filhos de Saul para satisfazer a uma situação
estatal. Num acordo com os gibeonitas, o corpo de sete homens, provavelmente jovens,
ficaram pendurados não por um dia ou dois, mas, de acordo com os relatos bíblicos, por um
período de cinco meses.
Por cinco meses, Rispa viu o cadáver dos filhos se deteriorando no tempo e lutou contra
aves de rapina e feras. Eu penso nos meninos e meninas mortos desde há muito. O rabino
Magonet tem razão. Depois que os filhos morrem, as mães precisam lutar contra as aves de
rapina que procuram todos os podres que porventura houverem para menosprezar aquela
morte. A criança estava no lugar errado; a mãe deixou a criança brincar na rua; a mãe não
devia ter levado a criança para a casa da patroa; a criança era aviãozinho de traficante; a
mãe era prostituta.
As mães precisam lutar contra as feras: poderes governamentais que não indenizam e nem
ao menos pedem perdão; advogados e criminalistas que prendem o pobre imigrante que só
queria arrumar uma namorada na nova terra e acaba com um tiro no corpo e uma pena nas
costas; os 80 tiros de fuzil que a gente ainda não entendeu como pode uma coisa dessa... o
medo, maior das feras que nos ataca nesses dias bicudos.
Eu imagino Rispa no alto daquele monte. Por cinco meses, ela deve ter desmaiado sozinha
como as mães que receberam seus filhos mortos ou toparam com eles na esquina,
ensanguentados. Rispa deve ter gritado como aquele pai ao enterrar seu menino que estava
em casa, brincando. Rispa deve ter odiado e dito palavras de ordem e ameaçado quebrar
tudo. E deve ter sido vista como traidora do rei ungido. A Bíblia guardou Rispa para nos
mostrar que o problema da gente também reside a limitar qualquer problema a uma moeda
de dois lados. No mínimo, todo problema é um cubo, uma pirâmide. Tem dois, três, vinte
lados. Muitos podem estar certos e muitos podem estar errados ao mesmo tempo. Por isso, o
diálogo e o amor seguem sendo as únicas armas verdadeiramente vitoriosas e nunca usadas.
O diálogo e o amor conseguem dar razão ao filho mais velho e ao filho mais novo ao
mesmo tempo e ainda assim priorizar quem precisa mais naquele momento.
O diálogo e o amor evitam a secura, a morte da esperança, a depressão social e a angústia.
Mas tem gente que não quer diálogo. Tem gente que ignora a morte, que faz pouco caso da
dor, que coloca isso na normalidade.
Cinco meses e Davi não ouviu esse grito. A resiliência tem que ir muito além. Rispa sacode
os braços para as aves e acende fogueiras contra as feras. E ainda lida com as chuvas, com a
seca... cinco longos meses.
Então, Davi não tem mais como negar a ela a justiça de enterrar seus filhos. O protesto
começa a incomodar o palácio. É dito a Davi o que uma concubina estava fazendo. Um
protesto na periferia, fora da cidade, incomodando porque a injustiça começa a doer em
todo mundo.
Filhos sepultados e a praga que estava sobre a terra se aplacou. É estranho. Se fosse
realmente só por causa dos gibeonitas, não era para a praga ter cessado quando os filhos de
Rispa e Merabe morreram? Mas não. A praga cessou quando a justiça veio para os
desprezados filhos da concubina e da princesa destronada. A praga cessou quando o rei saiu
do seu trono, ausentou-se das suas representações de grandeza, desceu do cavalo e sepultou
os que morreram por causa do trono. Aí a praga cessou. Só aí a praga cessou..." (Bispa
Hideide Brito Torres)
"De que tipo de pessoas a igreja precisa? A Igreja precisa de pessoas com discernimento,
que reconheçam que a vergonha de um ministério não exige a condenação de todos os
outros. O inimigo quer que os santos comecem a desacreditar uns dos outros e a sufocar a
obra de Deus perante um mundo cheio de espírito crítico. Satanás, e não Deus, é o autor da
confusão. (...)
A igreja também precisa de pessoas devotadas a Jesus Cristo. Sei que parece um chavão;
mas haverá maneira melhor de expressar a ideia? A pergunta que dirigiu a Pedro, Jesus faz
a nós hoje: "Amas-me mais do que estes?" (Jo 21.15). A coisa mais relevante sobre o povo
de Deus não é que amemos as almas perdidas ou mesmo os irmãos no Senhor. O mais
importante é que amemos a Jesus Cristo. Somente então é que estamos aptos a alimentar
suas ovelhas, cuidar do seu rebanho e combater os lobos. "Reavivamento é a renovação do
amor da igreja por Jesus Cristo, escreveu Van Havner. "Amamos a nós mesmos, amamos a
nossa turma e pode ser que amemos nosso fundamentalismo, mas não amamos ao Senhor".
(Wiersbe, Warren. Crise de integridade, p. 100-101)
Venha antes que o inverno chegue (2Tm 4.21, com base no sermão de Sundo Kim,
bispo metodista na Coreia do Sul)
Paulo escreveu a Timóteo, pouco antes de sua morte, por decapitação, em Roma, para
que o seu amigo íntimo e discípulo viesse visitá-lo, trazendo livros e uma capa, antes do
inverno. Em meio ao pedido, suplica para que ele venha depressa, reclama do abandono
de amigos, da perseguição dos inimigos e da solidão ocasionada pela enfermidade de
uns e envio de outros ao campo missionário. Os livros deviam ser queridos, a capa, no
frio da prisão, necessária, mas Paulo precisava mesmo era do amigo. Segundo Kim,
estudiosos do NT entendem que Timóteo, porém, chegou tarde demais. Procurando
pelas prisões pelo amigo, qual teria sido sua reação ao perceber que Paulo já se tinha ido
para sempre? Nunca saberemos. Mas para nós, hoje, esse pedido - Venha antes do
inverno - possui ao menos três vertentes importantes...
1. Dê ajuda antes que o inverno chegue. Haverá tempo que aquele pedido feito por
alguém não poderá mais ser atendido. Esteja presente, dê o seu melhor, esteja disponível
a quem precisa, antes que o inverno chegue.
2. Demonstre gratidão antes que o inverno chegue. Agradeça às pessoas que fizeram a
diferença em sua vida. Deixe quem foi importante saber que você reconhece. Valorize
as pessoas significativas. Porque sua palavra de gratidão pode ser necessária a elas hoje.
Amanhã pode ser muito tarde.
3. Responda a Deus antes que o inverno chegue. Deus tem chamados a você que são
sistematicamente recusados. Oportunidades que não são acolhidas. Responda "no tempo
que se chama hoje", atenda à convocação divina. Antes que você esteja em idade
avançada, com doenças debilitantes, com situações insuperáveis... enfim, antes que o
inverno chegue.
Nada machuca, fere ou incapacita mais que o remorso. Deus quer prevenir em nós as
dores que esse sentimento provoca. Devemos atentar que os avisos divinos colaboram
para nosso bem. Então, antes que o inverno chegue, faça o que é mais importante.
Atenda ao chamado urgente. "Venha depressa"!

Todas as reações:
92Aglaé Pinto de Souza, Antonio Carlos Santos e outras 90 pessoas

Há uma canção antiga que começa assim:


"Estava a velha em seu lugar
Veio a mosca lhe fazer mal
A mosca na velha e a velha a fiar"
A canção é enorme e se baseia no fato de que havia alguém em seu lugar e outro lhe veio
fazer mal. Quanto mais a canção cresce, mais vemos o desequilíbrio das relações, a
hierarquia, o fatalismo... parece uma canção de criança, uma brincadeira de memória, mas
também é uma denúncia social. A velha é a única na história que não faz mal a ninguém e
segue a fiar.
Talvez a velha seja o tempo. Ela está a fiar as relações. Ela demonstra que não adianta a
gente brigar uns com os outros. Não adianta querer ser o maioral. É o gato no rato hoje. É o
cachorro no gato amanhã. É a vida normal deste mundo.
Para mudar essa roda tem que entrar outra dinâmica, outra mentalidade, outra forma de ver
o mundo. Uma em que cada um não fica no seu lugar, essa ideia de que nada muda. Sim,
tudo muda. Basta eu sair do meu lugar.
Quando eu saio do meu lugar, eu desequilibro. A mosca tem que voar mais. Daí a aranha
não tem mais teia, porque eu mudei e fui para o meio, ao invés de encostar na parede, sei lá.
E se a aranha não pode pegar a mosca, então o efeito borboleta acontece.
A velha a fiar pode parecer imutável, pois o tempo a ninguém pode conter. Mas as histórias
em torno do tempo mudam. Tornam-se significativas. Quando eu saio do meu lugar eu me
vejo e vejo o outro e a outra. Eu olho outras paisagens. Meu coração se encanta. A velha a
fiar e eu a viver. A velha a fiar e eu a aprender. A velha a fiar e eu a sorrir. A velha a fiar e
eu compondo no ritmo do zumbido da mosca. A velha a fiar e eu sabendo que posso
aguentar a mosca, pois tenho mais tempo que ela, afinal de contas. Tudo muda quando eu
mudo. E eu posso mudar.
Porque do fio que a velha fia eu conheço o artesão. Ele põe cor no tempo. Ele alonga o fio.
Ele o retorce. Ele dá uma receita de tapete para a velha a fiar. Ou lhe orienta a fazer um
chapéu. Um casaco. E o tempo me veste.
O tempo me veste de branco. Começa nos cabelos e vai lentamente vestindo minha alma.
Eu envelheço e me dispo. Coisas que achava importantes agora não são, pois a roupa do
tempo que me aquece me lembra que já estou não-sendo. E um não-ser depois de ter sido é
o que pode me preparar para a ressurreição e o tempo além do tempo.
Por enquanto, a velha fia. Está cada coisa em seu lugar. Mas não esperarei a canção acabar
com tudo acabando. Não quero a coisa em seu lugar. Quero, como Agostinho, a coisa no
lugar que Deus fez para a coisa estar. O lugar em que ela está não é o seu lugar. Precisa ir
para o seu lugar que é próprio. Agostinho diz: "O corpo, devido ao peso, tende para o lugar
que lhe é próprio, porque o peso não só tende para baixo, mas também para o lugar que lhe
é próprio. Assim o fogo encaminha-se para cima, e a pedra para baixo. O azeite derramado
sobre a água aflora à superfície; a água vertida sobre o azeite submerge-se debaixo deste:
movem-se segundo o seu peso e dirigem-se para o lugar que lhes compete. As coisas que
não estão no próprio lugar agitam-se, mas quando o encontram, ordenam-se e repousam. O
meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva. O vosso Dom
inflama-nos e arrebata-nos para o alto. Ardemos e partimos."
Eis porque estar no seu lugar enquanto a velha fia só gera morte, que é o fim da canção.
Preciso me mover para onde o amor me move. Meu lugar próprio é para cima! (Hideide
Brito Torres)

Há uma canção antiga que começa assim:


"Estava a velha em seu lugar
Veio a mosca lhe fazer mal
A mosca na velha e a velha a fiar"
A canção é enorme e se baseia no fato de que havia alguém em seu lugar e outro lhe veio
fazer mal. Quanto mais a canção cresce, mais vemos o desequilíbrio das relações, a
hierarquia, o fatalismo... parece uma canção de criança, uma brincadeira de memória, mas
também é uma denúncia social. A velha é a única na história que não faz mal a ninguém e
segue a fiar.
Talvez a velha seja o tempo. Ela está a fiar as relações. Ela demonstra que não adianta a
gente brigar uns com os outros. Não adianta querer ser o maioral. É o gato no rato hoje. É o
cachorro no gato amanhã. É a vida normal deste mundo.
Para mudar essa roda tem que entrar outra dinâmica, outra mentalidade, outra forma de ver
o mundo. Uma em que cada um não fica no seu lugar, essa ideia de que nada muda. Sim,
tudo muda. Basta eu sair do meu lugar.
Quando eu saio do meu lugar, eu desequilibro. A mosca tem que voar mais. Daí a aranha
não tem mais teia, porque eu mudei e fui para o meio, ao invés de encostar na parede, sei lá.
E se a aranha não pode pegar a mosca, então o efeito borboleta acontece.
A velha a fiar pode parecer imutável, pois o tempo a ninguém pode conter. Mas as histórias
em torno do tempo mudam. Tornam-se significativas. Quando eu saio do meu lugar eu me
vejo e vejo o outro e a outra. Eu olho outras paisagens. Meu coração se encanta. A velha a
fiar e eu a viver. A velha a fiar e eu a aprender. A velha a fiar e eu a sorrir. A velha a fiar e
eu compondo no ritmo do zumbido da mosca. A velha a fiar e eu sabendo que posso
aguentar a mosca, pois tenho mais tempo que ela, afinal de contas. Tudo muda quando eu
mudo. E eu posso mudar.
Porque do fio que a velha fia eu conheço o artesão. Ele põe cor no tempo. Ele alonga o fio.
Ele o retorce. Ele dá uma receita de tapete para a velha a fiar. Ou lhe orienta a fazer um
chapéu. Um casaco. E o tempo me veste.
O tempo me veste de branco. Começa nos cabelos e vai lentamente vestindo minha alma.
Eu envelheço e me dispo. Coisas que achava importantes agora não são, pois a roupa do
tempo que me aquece me lembra que já estou não-sendo. E um não-ser depois de ter sido é
o que pode me preparar para a ressurreição e o tempo além do tempo.
Por enquanto, a velha fia. Está cada coisa em seu lugar. Mas não esperarei a canção acabar
com tudo acabando. Não quero a coisa em seu lugar. Quero, como Agostinho, a coisa no
lugar que Deus fez para a coisa estar. O lugar em que ela está não é o seu lugar. Precisa ir
para o seu lugar que é próprio. Agostinho diz: "O corpo, devido ao peso, tende para o lugar
que lhe é próprio, porque o peso não só tende para baixo, mas também para o lugar que lhe
é próprio. Assim o fogo encaminha-se para cima, e a pedra para baixo. O azeite derramado
sobre a água aflora à superfície; a água vertida sobre o azeite submerge-se debaixo deste:
movem-se segundo o seu peso e dirigem-se para o lugar que lhes compete. As coisas que
não estão no próprio lugar agitam-se, mas quando o encontram, ordenam-se e repousam. O
meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva. O vosso Dom
inflama-nos e arrebata-nos para o alto. Ardemos e partimos."
Eis porque estar no seu lugar enquanto a velha fia só gera morte, que é o fim da canção.
Preciso me mover para onde o amor me move. Meu lugar próprio é para cima! (Hideide
Brito Torres)
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação
produz a paciência, E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança
não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi dado. (Romanos 5:3-5)
Ah, se eu soubesse que estar neste emprego hoje seria tão difícil. Ah, se ao menos eu
imaginasse que perder esta pessoa doeria tanto. Ah, quem me dera se eu pudesse fugir a esta
responsabilidade que agora pesa sobre meus ombros... Você já se sentiu assim? Eu sinto
muitas vezes. Vontade de sumir pra Nárnia. Vontade de ir pra Pasárgada. Vontade de morar
no céu... Fugas.
Mas toda vez que alguém na Bíblia tentou fugir ao invés de enfrentar, deu pau. Elias andou
40 dias no deserto só pra ter de andar mais 40 de volta. Jonas teve de tomar muitos banhos
pra perder o cheiro de vômito de peixe. Pedro teve de desnegar três vezes.
Mas para além de ter de pagar pau sobre as fugas, quero me fortalecer hoje no fato de que,
para que eu estivesse aqui hoje, já enfrentei e venci muitas batalhas antes. Já vivi perdas
anteriores que me parecem pequenas hoje, e elas me prepararam para suportar e vencer a
perda de hoje, por mais impossível que ela me pareça neste exato momento. Eu tenho
experiência.
Eu tenho experiência e a experiência é que me garante que este não é o fim. Porque eu já
achei que era o fim antes e não foi, então agora, quando eu penso que é o fim uma dúvida
me bate na alma e depois vira uma esperança e depois vira uma certeza de que não era
mesmo o fim.
Eu tenho paciência para esperar o que antes eu não tinha. E por mais que ainda tenha
rompantes doidos, eles são cada vez menores e mais concisos, tendem a ser mais precisos e
seguros porque agora eu escolho melhor a hora de surtar, pelo menos.
E a vontade de fugir, que obviamente nunca me abandona, torna-se mais domável. Embora
o desafio de hoje seja maior, os desafios menores foram me preparando. Pode ser que dê
tudo errado. Ter esperança não é garantia de que vai dar certo. Mas é garantia de que eu
posso aguentar, mesmo se der tudo errado.
Eu tenho experiência. Mas não é qualquer experiência. Tenho a experiência de um pai
doente quando eu era criança. Tenho a experiência de um casamento em crise. Tenho a
experiência do pastoreio que deu errado. Tenho a experiência do emprego perdido, da falta
de dinheiro no final do mês. Tenho a experiência do diagnóstico de morte. Tenho a
experiência da morte. Meu Deus, como tenho tido a experiência da morte.
Mas tenho tido outra experiência ainda. Tenho tido a experiência de Deus. A experiência da
oração respondida. Do anjo enviado nas estradas. Do telefonema encorajador. Da palavra de
ânimo de um desconhecido. Do milagre. Do perdão. Experiências que só tenho porque
escolhi, durante a tribulação, não abrir mão da amizade com Deus. A experiência com Deus
no meio das experiências de tribulação.
Só essa experiência pode me dar esperança para o exato momento gravíssimo que vivo no
dia de hoje. Isso parece enorme hoje. Parece impossível. Tendo ao medo. Engulo em seco.
Mas a experiência é uma memória em ação. Viverei para contar esta experiência amanhã.
Mas se morrer, alguém a contará por mim. E a esperança seguirá. A confusão se dissipa.
Respiro fundo. Deus conosco. (Bispa Hideide Brito Torres)
"Antes de ser afligido, eu andava errado, mas agora guardo a tua palavra. Foi-me bom ter
sido afligido, para que aprendesse os teus decretos" (Salmo 119.67, 71)
"A linha que separa o bem do mal não passa através de estados, nem de classes, nem entre
partidos políticos, mas através de todos os corações humanos" (Alexander Solzhenitysin).
No livro "Dê-me ânimo", Charles Swindoll afirma que "a crise esmaga. E, no esmagar,
muitas vezes ela refina e purifica" (p. 53). Não é fácil aprender com os golpes da vida,
sejam eles justos ou injustos. O problema é que muitas vezes, mesmo quando talvez fossem
justos, nosso primeiro clamor é considerarmo-nos vitimados por eles. Não gostamos nem
queremos admitir a quantidade de vezes em que o saibro sobre o nosso lombo é resultado de
nossa própria arrogância e incompetência, orgulho ou presunção. Às vezes, de nossa própria
burrice e petulância mesmo.
Tenho ouvido muitas vezes as pessoas pedindo pela misericórdia de Deus. Eu mesma peço.
Mas às vezes eu não creio nesta oração. Não me entenda mal, não é que Deus não tenha
misericórdia para dar. Ele tem. Não é que ele não quer dar. Ele quer. Mas a gente costuma
pedir misericórdia pelas misérias nas quais nos metemos, muitas vezes de modo consciente.
Nosso pedido é para que não paguemos as consequências de nossos erros e não o resultado
de um arrependimento genuíno. Se não houvera consequências, talvez não houvesse pedido
por clemência. O erro seguiria sendo cometido. A injustiça sendo praticada.
Deus quer mais do que conceder sua misericórdia. Deus quer dar livramento, que é sequer
caiamos na armadilha de ninguém, nem nossa própria. Ele avisa antes: "Não coma da
árvore. Não cobice as coisas do próximo. Não mate". Mas atrás de uma pretensa
independência, de uma falsa liberdade, se esconde o cerne do nosso motim. Não
desobedecemos a Deus porque a ordem era ruim, perversa ou inadequada. Desobedecemos
porque queríamos provar quem tinha razão. Esse velho conto nos pega toda vez.
Obediência não é sinônimo de ignorância, mas de sabedoria. Porque isso significa escolher
não apenas a que obedecer, mas a quem obedecer. Sobre isso, vale o exemplo de Afonso
Romano de Sant'anna, que diz: "A sociedade atual diz o tempo todo: transgrida! E aí surge
o paradoxo: se a transgressão virou uma norma, não transgredir passou a ser a exceção. Se
se diz atualmente “seja livre”, esta afirmativa é uma condenação".
Então, se quisermos fazer o que deve ser feito, como pessoas de boa consciência, como
cristãos, cristãs; como Igreja, é nos curvar à ordem: "Arrependei-vos". É para todas as
pessoas, especialmente para aquelas que já possuem o conceito profundo e teológico do
arrependimento e não o confundem com remorso ou receio da responsabilidade. Que a
aflição nos purifique e nos aprimore. Caso contrário, poderemos ser destruídos por ela, pelo
desespero que decorre de buscar a Deus quando não se pode mais achá-lo. (Bispa Hideide
Brito Torres)

Você também pode gostar