Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Alvaro Klein
Luciana Dombkovitsch
Luciane Toss
Ramiro Crochemore Castro
Belo Horizonte
2021
Todos os direitos reservados à Editora RTM.
Proibida a reprodução total ou parcial, sem a autorização da Editora.
CDU 331
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Meire Luciane Lorena Queiroz CRB 6/2233.
ISBN: 978-65-5509-050-5
Editoração Eletrônica e Projeto Gráfico: Editora RTM - Instituto RTM de Direito do Trabalho
Equipe RTM e Gestão Sindical
Capa: Michel de Oliveira Rodrigues Rua João Euflásio, 80 - Bairro Dom Bosco BH -
Editor Responsável: Mário Gomes da Silva MG - Brasil - Cep 30850-050
Revisão: Luciana Dombkovitsch, Luciane Toss Tel: 31-3417-1628
e RTM WhatsApp:(31)99647-1501(vivo)
E-mail : rtmeducacional@yahoo.com.br
Site: www.editorartm.com.br
Loja Virtual : www.rtmeducacional.com.br
Álvaro Klein
Autores
Adriana Letícia Saraiva Lamounier Rodrigues
Advogada sócia no escritório Caldeira Brant. Pós-Doutorado pela Faculdade
de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em
Direito pela UFMG em cotutela com a Universidade de Roma Tor Vergata
(2017). Master em Direito do Trabalho pela Universidade de Roma Tor Ver-
gata. Bacharel em Direito pela UFMG (2011). Endereço eletrônico: adrianal-
slr@yahoo.com.br.
Álvaro Klein
Mestre em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Universidade Feevale
(Novo Hamburgo/RS) e Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS/RS).
Antonio Escosteguy Castro
Formado em Direito pela UFRGS em 1981, assessor de entidades sindicais,
membro do Coletivo Jurídico da CUT/RS, diretor da AGETRA - Associa-
ção Gaúcha da Advocacia Trabalhista e autor do livro Trabalho, Tecnologia
e Globalização.
Benizete Ramos de Medeiros
Advogada Trabalhista; doutora em Direito e Sociologia (UFF); mestre em
Direito (FDC); professora de graduação, pós-graduação latu e stricto sensu;
membro da Escola Superior da Advocacia Trabalhista da ABRAT; membro
da Comissão de Direito do Trabalho do IAB; diretora da JUTRA e professora
convidada da Universidad Internacional Ibero Americana –UNINI.
Bruna Carolina de Oliveira
Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISI-
NOS/RS).
Caroline Ferreira Anversa
Diretora da Associação Gaúcha da Advocacia Trabalhista - AGETRA, sócia
do Escritório Direito Social, especialista em Direito e Processo do Trabalho,
formada pela PUCRS/RS.
Cíntia Roberta da Cunha Fernandes
Advogada especialista em Direito do Trabalho. Sócia do Escritório Mauro
Menezes e Advogados. Mestranda em Direito das Relações Sociais e Traba-
lhistas. Integra o grupo de estudos sobre Trabalho em Plataformas Digitais.
cinta@mauromenezes.adv.br.
Denis Rodrigues Einloft
Advogado. Sócio do escritório CCM ADVOGADOS. Mestre em Direito. Es-
pecialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Especialista em
Direito Processual Civil. Especialista em Direito Previdenciário. Integrante
da REDE LADO. Associado da ABRAT, AGETRA e IARGS.
Hugo Fonseca
Advogado especialista em Direito Material e Processual do Trabalho. Sócio
do Escritório Mauro Menezes e Advogados. Graduado em Direito pela Uni-
versidade de Brasília – UnB. Integra o grupo de estudos sobre Trabalho em
Plataformas Digitais. hugof@mauromenezes.adv.br.
Jaqueline Büttow Signorini
Advogada e assessora sindical. Especialista em Direito do Trabalho e Proces-
so do Trabalho pela Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis. Mestra
em Ciência Política pela Universidade Federal de Pelotas.
Julio Guilherme Köhler
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Advogado.
Luciana Alves Dombkowitsch
Professora, advogada trabalhista, especialista em Direito e Processo do Tra-
balho pela Universidade Castelo Branco, mestre em Direito e Justiça Social
pela Universidade Federal do Rio Grande – Furg, doutoranda no programa
de pós-graduação em Politica Social e Direitos Humanos da Universidade
Católica de Pelotas – UCpel, diretora de interior da Associação Gaúcha da
Advocacia Trabalhista - AGETRA nas gestões 2017-2019 e 2019-2021.
Luciane Toss
Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela UNISINOS, Especialista em No-
vos Rumos do Direito pela Universidad de Burgos (ESP), Direitos Humanos
e Direitos Trabalhistas pela Universidad Castilla La Mancha (ESP), Espe-
cialista em Direito Privado e Constitucional pela UNISINOS, professora da
FEMARGS, integra o corpo docente da Escola da ABRAT, Coordenadora,
professora e fundadora da Escola Trabalho e Pensamento Crítico, sócia e
consultora da Ó Mulheres! Consultoria em Gênero e Direitos Humanos. Ad-
vogada Trabalhista. Vice-presidente da AGETRA e integrante do grupo Femi-
nismo da ABRAT e do Coletivo Advogadas do Brasil.
Maria Emília Valli Büttow
Advogada e assessora sindical. Especialista em Direitos Humanos e Trans-
nacionais do Trabalho pela UCLM. Mestra em Sociologia pela Universidade
Federal de Pelotas.
Meilliane Pinheiro Vilar Lima
Advogada trabalhista no LBS. Mestranda em Direito das relações sociais e do
Trabalho na UDF.
Pedro Carvalho de Mendonça
Advogado trabalhista.
Ramiro Crochemore Castro
Graduado em Direito pela PUCRS. Advogado Trabalhista. Especialista em
Direito do Trabalho pela Universidad de Castilla-La Mancha (UCLM) na
Espanha e pós-graduando em Direito e Processo do Trabalho e Seguridade
Social na Fundação Escola da Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul
(FEMARGS). Mestrando em Direito pela Fundação da Escola Superior do
Ministério Público (FMP-RS) e vinculado ao grupo de pesquisa Transparên-
cia, Direito Fundamental de Acesso e Participação na Gestão da Coisa Públi-
ca coordenado pela professora doutora Maren Guimarães Taborda. Endereço
eletrônico: ramiro@copadvogados.com.br.
Renata Gabert de Souza
Advogada, bacharelada em Estudos Jurídicos e Sociais na UNISINOS em
1987, com especialização e Direito e Processo do Trabalho, pós-graduada em
Filosofia Contemporânea pelo IMED 2018.
Rubens Soares Vellinho
Advogado e assessor sindical. Mestre em Sociologia pela Universidade Fede-
ral de Pelotas e Doutor em Política Social e Direitos Humanos pela Universi-
dade Católica de Pelotas.
Participação Afetiva
Cezar Britto
Advogado e escritor, autor de livros jurídicos, romances e crônicas. Foi pre-
sidente da Ordem dos Advogados do Brasil e da União dos Advogados da
Língua Portuguesa. É membro vitalício do Conselho Federal da OAB, da Co-
missão Brasileira de Justiça e Paz, da Academia Sergipana de Letras Jurídicas
e da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia.
PREFÁCIO
Você não estava aqui: uma história para muito além do algorítmo: a dife-
rencial distribuição da precariedade no mundo do trabalho e na vida de
trabalhadores e trabalhadoras de aplicativos ....................................... 217
Luciana Alves Dombkowitsch
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
Luciane Toss1
1
Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela UNISINOS, Especialista em Novos Rumos
do Direito pela Universidad de Burgos (ESP), Direitos Humanos e Direitos Trabalhistas
pela Universidad Castilla La Mancha (ESP), Especialista em Direito Privado e Constitu-
cional pela UNISINOS, professora da FEMARGS, integra o corpo docente da Escola da
ABRAT, Coordenadora, professora e fundadora da Escola Trabalho e Pensamento Crítico,
sócia e consultora da Ó Mulheres! Consultoria em Gênero e Direitos Humanos. Advogada
Trabalhista. Vice-presidente da AGETRA e integrante do grupo Feminismo da ABRAT e do
Coletivo Advogadas do Brasil.
31
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
“Como se pode buscar objetivos de longo prazo
numa sociedade de curto prazo? Como se pode
manter relações sociais duráveis? Como pode um
ser humano desenvolver uma narrativa de identi-
dade e história de vida numa sociedade composta
de episódios e fragmentos? As condições da nova
economia alimentam, ao contrário, a experiência
com a deriva no tempo, de lugar em lugar, de em-
prego em emprego (...)o capitalismo de curto pra-
zo corrói o caráter dele, sobretudo aquelas quali-
dades de caráter que ligam os seres humanos uns
aos outros, e dão a cada um deles um senso de
identidade sustentável.” (SENNETT, Richard)
1 - INTRODUÇÃO
Introduzindo severas mudanças a partir da finalidade econômica, tanto
na definição quanto nos objetivos, o trabalho contemporâneo desconstrói a
possibilidade de que se desenvolva uma identidade profissional ou uma iden-
tidade relacionada ao trabalho. A precarização, a vulnerabilidade, a efemeri-
dade e a fragmentação do trabalho atuam dificultando a elaboração de uma
significância, de um sistema de pertencimento.
Esta desestruturação se estende para além daquilo que antes era conhe-
cido como o pátio da fábrica (local da prestação de serviços). Há uma impli-
cação direta na organização coletiva do trabalho, em como o trabalho passa a
ser tratado pelo sistema e como as pessoas trabalhadoras adotam uma ética da
sobrevivência como única possibilidade possível.
Este artigo aborda de que forma a flexibilização e a adoção de meca-
nismos de informalidade na prestação de serviços, desconstrói a identidade
das pessoas trabalhadoras e como o sistema avança para a desvalorização e a
desconstrução das pessoas que vivem do trabalho.
2 - CONSTRUINDO A IDENTIDADE A PARTIR DO TRABALHO
A identidade com o e no trabalho nos remonta às subjetividades, às ima-
gens, aos símbolos, as perspectivas e as visões de mundo que cada pessoa
que vive do trabalho tem:
[...] subjetividade não é o ser, mas os modos de ser, não é a
essência do ser ou da universalidade de uma condição, não se
trata de estados da alma, mas uma produção tributária do so-
cial, da cultura, de qualquer elemento que de algum modo crie
possibilidades de um ‘si’, de uma ‘consciência de si’, sempre
provisória... São modos pelo qual o sujeito se observa e se reco-
32
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
nhece como um lugar de saber e de produção de verdade. (Cou-
tinho, apud, Bernardes & Hoenisch, 2007).
33
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
fica dentro e o que fica fora. (DA SILVA, 20042)
2
DA SILVA, T. T. (org.) Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2000, 133 págs. Acessado em: 10.04.2017. Disponível em:
https://www.periodicos.unb.br/index.php/les/article/view/6525/5602.
34
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
36
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Ricardo. A nova morfologia do trabalho e os (des)caminhos
do sindicalismo. Boitempo:São Paulo, 1ª ed, 2015.
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? - Cortez:São Paulo, 8ª ed, 2002.
ANTUNES. Ricardo. O privilégio da servidão. Boitempo: São Paulo. 2020.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro : Jorge Zahar
Editor, 2001.
COUTINHO, Maria Chalfin; KRAWULSKI, Edite; SOARES, Dulce Helena
Penna. Identidade e trabalho na contemporaneidade: repensando articu-
lações possíveis. Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, v. 19, p. 29-37, 2007.
Edição especial. Acessado em: 11.04.2017. Disponível em: https://www.scie-
lo.br/scielo.php?pid=S0102-71822007000400006&script=sci_abstract&tln-
g=pt.
DA SILVA, T. T. (org.) Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos
culturais. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2000, 133 págs. Acessado em:
10.04.2017. Disponível em: https://www.periodicos.unb.br/index.php/les/ar-
ticle/view/6525/5602.
DEJOUR, Cristophe. Entrevista reproduzida pela Revista Caros Amigos,
São Paulo, n. 26, p. 16-17, maio 1999, com tradução de Leda Leal Ferreira e
edição de Ana Maria Ciccacio.
HARVEY, David. Condição pós-moderna - uma pesquisa sobre as Ori-
gens da Mudança Cultural. trad. de Adail Sobral e Maria Gonçalves. São
Paulo: Edições Loyola, 1992.
HARVEY, David. O Neoliberalismo - História e Implicações. TRADU-
ÇÃO Adail Sobral Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
HARVEY, David. 17 Contradições e o Fim do Capitalismo. Tradução Ro-
gério Bettoni. São Paulo : Boitempo. 2016.
KURZ, Robert , O Colapso da Modernização (Da Derrocada do Socialismo
de Caserna à Crise da Economia Mundial) São Paulo: Paz e Terra, 1992.
MAFFESOLI, Michel. O nós comunitário. Em: A Transfiguração do políti-
co: a tribalização do mundo. Porto Alegre : Sulina, 1997, p. 195.
39
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
40
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Advogada sócia no escritório Caldeira Brant. Pós-Doutorado pela Faculdade de Direito
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Direito pela UFMG em
cotutela com a Universidade de Roma Tor Vergata (2017). Master em Direito do Trabalho
pela Universidade de Roma Tor Vergata. Bacharel em Direito pela UFMG (2011). Endereço
eletrônico: adrianalslr@yahoo.com.br.
2
Advogada trabalhista no LBS. Mestranda em Direito das relações sociais e do Trabalho
na UDF.
41
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
“Por trás da aparência da autonomia, esconde-se uma reapropriação pelas direções
e pelas chefias da autonomia dos assalariados.”
(LINHART, 2007)
1 - INTRODUÇÃO
Na sociedade pós-industrial, a informalidade espraia-se em progressão
geométrica. O trabalho formal vem sendo substituído pelas mais variadas
formas de trabalho informal e precarização. Assiste-se a um desemprego
estrutural em escala global com a conseqüente criação de novas vagas na
precariedade e informalidade. Substitui-se o formal pelo informal, num
constante processo de destrutividade (ANTUNES, 2011, p. 2) do emprego,
sob a roupagem de uma ‘benéfica’ flexibilização.
A crescente3 informalização advém do impulso de exponencialização
dos lucros. Interessa cada vez mais ao capital as relações informais. Grandes
empresas “têm mudado a fisionomia do trabalhador na medida em que o
capital se relaciona com seus opositores, como se ao invés de comprar força
de trabalho estivesse comprando mercadoria” (TAVARES, 2002, p.56). Trata-
se de exploração do trabalho na esfera da mais valia absoluta (TAVARES,
2002, p.57).
Porém, para enfrentar o poder das leis, a informalidade teve que se
valer da mobilização de recursos sociais. Sem os “elos comunitários, os
contratos ‘informais’ não seriam possíveis” (NORONHA, 2003, p. 116).
Logo, as redes de informalidade foram capazes de sobrepujar a dita ‘rigidez’
da legislação trabalhista. E tais redes se alastram tanto nos sertões de países
subdesenvolvidos como nos grandes centros dos países mais ricos do mundo.
Notoriamente, verifica-se que também o capital se organiza por meio de
redes, sendo a rede produtiva (ou cadeia produtiva) seu exemplo mais nítido.
Nossa sociedade pós-industrial é uma sociedade em rede (CASTELLS,
2005, p. 2); os problemas são conectados, a sociedade é interligada e tudo se
move por meio de ações articuladas.
3
Crescente porque no presente artigo considerou-se a informalidade em sentido amplo,
incluindo aqui os formais com traços de informalidade. Não se ignorou o fato de que houve
um aumento no emprego formal nos anos 2000 nos países emergentes. Ademais, mesmo com
o significativo aumento da formalidade nesses países, o subemprego continuava presente
de forma expressiva. Como exemplo, tem-se que, entre os anos 2000 e 2005, os países
conhecidos como BRICs - Brasil, Rússia, Índia e China - criaram 22 milhões de novos postos
de trabalho e ainda assim o índice de informalidade permanecia muito alto, chegando a 90%
na Índia (INFOMONEY, 2007).
42
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
2 - INFORMALIDADE
A informalidade, em sua heterogeneidade, desfaz os vínculos de
contratação e regulamentação dos trabalhadores, tal como se estruturou
classicamente.
4
Segundo a Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico - OCDE, no
mundo existem 1,8 bilhão de trabalhadores nesta situação. Disponível em: <http://www.
oecd.org/development/risinginformalemploymentwillincreasepoverty.htm>.
43
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
44
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
45
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
46
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
5
Segundo o dicionário HOUAISS a palavra algoritmo significa: “sequência finita de regras,
raciocínios ou operações que, aplicada a um número finito de dados, permite solucionar
classes semelhantes de problema.”
6
Dado retirado de pesquisa no site da empresa Ifood. https://entregador.ifood.com.br/
abrindo-a-cozinha/transparencia/ acesso em 18 de novembro de 2020.
47
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
7
Projeto de LEI 3478/2020 e 1665/2020.
8
https://entregador.ifood.com.br/abrindo-a-cozinha/transparencia/acesso em 18 de novem-
bro de 2020.
48
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
novas formas de trabalho, ainda não é forte o bastante para excluir a clássica
relação de emprego. Essa tem sido a atual discussão no judiciário e no
meio acadêmico. Algumas decisões já identificam a presença inequívoca do
vínculo de emprego, confirmando a tese de que a tecnologia 4.0 utilizada
pelas plataformas significa “mais do mesmo.”9
Em recente decisão, o TRT da 3ª Região acabou por sinalizar que os
requisitos da relação de emprego são factíveis e implicam no reconhecimento
do vínculo entre trabalhador e plataforma. A decisão colegiada mostra que,
de acordo com o art. 2º da CLT, os aplicativos que se auto intitulam empresas
de tecnologia possuem como finalidade preponderante o frete, entrega de
mercadoria. Isso porque o lucro é extraído de cada entrega feita, sendo que o
percentual entregue ao trabalhador é determinado pelo algoritmo.
O princípio da primazia da realidade foi utilizado com o fundamento pa-
ra desconstituir a ideia de que as empresas não passam de meras agenciado-
ras de mão de obra, ou meras estreitadoras da relação entre o entregador e o
consumidor.
No quesito onerosidade, a decisão destaca que a intenção do trabalhador
ao procurar a empresa, é a de receber dinheiro. Já a empresa se defende alegan-
do que entregador é remunerado pelo cliente, e que a empresa só repassa o
valor entregador. Trata-se de tese descabida, visto que não há desqualificação
da onerosidade, pois a legislação trabalhista prevê que as gorjetas pagas pelo
cliente configuram remuneração paga ao empregado.
A não eventualidade, na decisão em análise, restou configurada sob en-
foque da atividade preponderante da empresa. Isto é, analisou-se a atividade
desempenhada pelo trabalhador em correlação com as atividades normais e
permanentes da empresa, o que acaba por atrair o requisito da subordinação
sem a necessária aferição formal da jornada de trabalho, conforme o art. 6º
da CLT.
Já o critério pessoalidade, esse pôde de ser facilmente constatado pela
interpretação gramatical dos termos de adesão que exigem a pessoalidade e
a exclusividade na utilização do aplicativos sob pena de bloqueio unilateral.
De todos os requisitos analisados pela decisão do Tribunal Regional da
3ª Região, o elemento subordinação é o que mais tem causado discussões,
pois o uso da tecnológica como elemento central no desempenho da força
9
TRT 03. RECURSO ORDINÁRIO: RO nº 0010239-44.2020.5.03.0005. Relator: Desem-
bargador Marcelo Lamego Pertence. DJET: 09/12/2020. Disponível em < https://pjeconsulta.
trt3.jus.br/consultaprocessual/detalhe-processo/00102394420205030005>. Acesso em: 14
fev. 2021.
49
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
10
TST. Processo nº 100353-02.2017.5.01.0066.
50
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
51
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
52
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
53
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
54
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
55
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
56
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, MARIA APARECIDA; TAVARES, MARIA AUGUSTA. A dupla
face da informalidade do trabalho “autonomia” ou “precarização”. In:
ANTUNES, Ricardo. (org.) Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São
Paulo: Boitempo Editorial, 2006. pp. 425-444.
ANTUNES, Ricardo. Os modos de ser da informalidade: rumo a uma nova
era da precarização estrutural do trabalho? Serviço Social e Sociedade,
n.107. São Paulo, julho/setembro 2011.
ANTUNES, Ricardo; FILGUEIRAS, Vitor. Plataformas digitais, Uberização
do trabalho e regulação no Capitalismo contemporâneo. Contracampo,
Niterói, v. 39, n. 1, p. 27-43, abr./jul. 2020, p.29 < https://periodicos.uff.br/
contracampo/article/view/38901/pdf> Acesso em:18 de outubro de 2020.
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de
serviços na era digital. 2.ed. revista/ ampliada. São Paulo: Boitempo, 2020.
ARAÚJO,Angela Maria Carneiro; LOMBARDI, Maria Rosa. Trabalho
informal, gênero e raça no Brasil do início do século XXI. Cadernos de
Pesquisa, vol.43 no.149. São Paulo Mai/Ago. 2013.
BOURDIEU, Pierre. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1997.
CACCIAMALI, Maria Cristina. Globalização e processo de informalidade.
Economia e Sociedade, n. 14, p. 153-174, jun. 2000.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: do Conhecimento à Política.
In: Conferência promovida pelo Presidente da República. Imprensa Nacio-
nal, 2005.
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: Movimentos
sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
CASTILLO, G.; FROHLICH, M.; ORSAHI, A. Union education for informal
workers in Latin America. In: INTERNATIONAL LABOUR OFFICE.
BUREAU FOR WORKERS’ ACTIVIES. Unprotected labour: what role for
unions in the informal economy? Labour Education, Geneva, v. 2, n. 127,
2002.
DEDECCA, Cláudio S.; BALTAR, Paulo. Mercado de trabalho e informalida-
de nos anos 90. Estudos Econômicos, São Paulo, n. 27, 1997.
57
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
58
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
59
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
60
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Advogada Trabalhista; doutora em Direito e Sociologia (UFF); mestre em Direito (FDC);
professora de graduação, pós-graduação latu e stricto sensu; membro da Escola Superior da
Advocacia Trabalhista da ABRAT; membro da Comissão de Direito do Trabalho do IAB;
diretora da JUTRA e professora convidada da Universidad Internacional Ibero Americana
–UNINI.
2
Advogado trabalhista.
61
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
“Se queres prever o futuro, estuda o passado” (Confúcio).
1 - INTRODUÇÃO
A partir da frase de Confúcio e, ao pretender esboçar algum texto sobre
o mundo do trabalho na pandemia de 2020, torna-se necessário, uma volta ao
passado, ainda que superficialmente, sobre a pandemia que assolou o século
anterior, a chamada gripe espanhola e traçar alguma diferença no tratamento
relacionada ao trabalho. Por isso, as pesquisas se dão tanto no contexto atual,
quanto do passado em matérias mais panfletárias e midiáticas com algumas
publicações em livros.
O ano de 2020 é, com certeza, considerado um dos mais críticos da his-
tória recente da humanidade em diversos aspectos, pois a pandemia causada
pelo COVID 19, impactou em todos os segmentos coletivos e individuais.
O mundo do trabalho no Brasil foi sacudido, alterado, transformado, assim
como a saúde publica, a economia e a vida das pessoas no geral. Embora
a história seja melhor entendida posteriormente aos fatos, muitos textos e
pesquisas já vem se mostrando eficiente e, este, é mais um tímido ensaio com
mote nas relações trabalhistas brasileiras.
Assim, o objetivo é analisar as mudanças do contrato de trabalho du-
rante a pandemia global do coronavírus, trazendo recortes históricos sobre
a primeira pandemia mundial (Gripe Espanhola) seguindo nas principais
alterações no mundo do trabalho brasileiro no contexto atual da pandemia
pelo COVID-19 como o trabalho remoto, o desemprego, as suspensões
e alterações do contrato, identificando os setores que foram mais afetados
com o lockdown e que tipos de legislações emergenciais vem sendo editadas
para garantir a vida digna e o mínimo existencial. Para isso, serão analisadas
as MP’s e Leis, principalmente as MP’s 927/020 e 936/020, esta última
transformada na Lei 14.020/020.
2 - A PRIMEIRA PANDEMIA GLOBAL – A GRIPE ESPANHOLA
A história nos confere a notícia de ter havido no inicio do século passa-
do outra grande pandemia que ceifou muitas vidas, mormente por involução
ainda no campo da ciência, foi a chamada da Gripe Espanhola. Apesar do
nome, a gripe espanhola não surgiu na Espanha. Não se sabe exatamente ainda
o local de origem, mas segundo a pesquisadora e professora Christiane Maria
Cruze Souza, os primeiros registros da doença apareceram nos campos de
treinamento Militar na cidade de Crosby, Texas, Estados Unidos, em março
62
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
de 19183.
Pelo fato da Espanha ter sido um país neutro na Primeira Grande
Guerra, a imprensa4, noticiava a praga, enquanto nos Estados Unidos, em
meio a uma guerra, tinha ordens de censura de tais notícias para não afetar o
país em guerra, impedindo assim o alastramento da peste, com a adoção da
teoria de negacionismo.
A doença então se espalhou durante a Primeira Guerra Mundial quando
os soldados americanos foram à Europa e desembarcaram nas costas fran-
cesas, alastrando assim o vírus e comprometendo toda a saúde mundial.
A pandemia da gripe espanhola teve diversos impactos negativos nas
atividades econômicas, assim como no emprego e renda dos países europeus
e nos Estados Unidos da América. Eram noticiados que os trabalhadores no
auge da vida laboral – entre 15 a 49 anos – eram os mais afetados, com a
maior taxa de mortalidade da época.
Na linha da historiadora Liane Bertucci em um podcast5, a gripe
espanhola chegou ao Brasil, no ápice da pandemia que ocorria na Europa. O
Brasil enviou a Missão Médica Brasileira, formada por Médicos e profissio-
nais da saúde que vão à Europa para ajudar na guerra que estava em seu
auge. Há notícias que início de setembro de 1918 vários médicos brasileiros
adoeceram e alguns morrem contaminados, sem um diagnóstico, porque não
se sabia exatamente o que estava acontecendo em termos de saúde pública.
No mesmo mês de setembro de 1918, o navio Demerara vindo de
Liverpool, passando por Lisboa com destino ao Rio de Janeiro, com paradas
em Recife e Salvador, vem trazendo passageiros contaminados com a
gripe. Os que apresentaram sintomas ficaram em quarentena. Contudo, os
assintomáticos, foram liberados para desembarque, havendo nesse grupo
casos de pacientes contaminados, resultando em poucos dias depois desse
desembarque as notícias de pessoas acometidas nas capitais Recife, Salvador
e Rio de Janeiro. 6
3
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702008000400004
Acessado em 21/09/2020.
4
https://saude.abril.com.br/blog/cientistas-explicam/gripe-espanhola-100-anos-da-mae-das-
pandemias/ Acessado em 21/09/2020.
5
https://lehmt.org/2020/04/19/vale-mais-04-a-pandemia-de-1918-e-os-mundos-do-trabalho
Acessado em 14/09/2020..
6
https://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2020/04/04/ha-102-anos-pandemia-chegava-
ao-brasil-escondida-em-um-navio/ Acessado em 14/09/2020.
63
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
7
https://www.360meridianos.com/especial/gripe-espanhola-1918. Acessado em 21/09/2020.
8
https://www.360meridianos.com/wp-content/uploads/2020/04/gripe-espanhola-rio.jpg
Acessado em 21/09/2020.
9
https://www.360meridianos.com/wp-content/uploads/2020/04/crise.jpg Acessado em 21/
09/2020.
64
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
20
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/200731_cc48_pnad_co-
vid.pdf Acessado em 14/10/2020.
21
https://covid19.ibge.gov.br/pnad-covid/trabalho.php Acessado em 14/10/2020.
22
https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2020/06/19/pandemia-
adiantou-mudancas-no-mundo-do-trabalho-veja-as-10-principais-tendencias.ghtml. Acessa-
do em 21/09/2020
23
http://www.sobratt.org.br/site2015/wp-content/uploads/2018/12/pesquisa-sap-2018-com-
pleta.pdf Acessado em 14/10/2020.
69
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
ção. Dentre as que já praticam tal modelo de trabalho, 25% foram imple-
mentadas há menos de um ano, ou seja, após a reforma trabalhista.
6 - AS MP’S E A LEI. 14.020/2020
Após o surgimento da pandemia foi necessário fazer adequação ao
ordenamento jurídico para manutenção dos empregos e subsidiar os tra-
balhadores informais, autônomos e pequenas empresas. Assim é que du-
rante o mês de abril de 2020, ápice do debate acerca das relações de tra-
balho, alterações contratuais legislação sanitária, economia, divergências do
governo federal, negacionismo e outros desdobramentos, foram publicadas
26 medidas provisórias pelo Governo, à exceção de uma, todas as demais são
relacionadas a pandemia do covid-19, somando-se posteriormente, o numero
de 3524.
Apesar do número massivo de MP’s, muitas são para a criação de
créditos extraordinários, como a MP 924/2020 que em seu 1º artigo estabelece:
Fica aberto crédito extraordinário, em favor dos Ministérios da
Educa-ção e da Saúde, no valor de R$ 5.099.795.979,00 (cinco
bilhões noventa e nove milhões setecentos e noventa e cinco mil
novecentos e setenta e nove reais), para atender à programação
constante do anexo (BRASIL, 2020)
70
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
25
https://www.conversaafiada.com.br/economia/27-3-milhoes-de-brasileiros-ganham-ate-
um-salario-minimo Acessado em 15/10/2020.
71
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
72
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
27
5°: Fica criado o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, a ser
pago nas seguintes hipóteses:
I - redução proporcional de jornada de trabalho e de salário; e
II - suspensão temporária do contrato de trabalho.
73
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
28
MEDEIROS. Benizete Ramos de - ANÁLISE DO JULGAMENTO DO STF na ADI 6363
s/ MP 936/2020 e participação dos Sindicatos profissionais. In https://www.youtube.com/
watch?v=_6zYkaNjZ4A. Acesso, 28.01.2021.
74
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
artigo, cujo prazo somente irá iniciar após a finalização do prazo de que trata
o art. 10, II, b, ADCT, que é de cinco meses após o parto. Nessa esteira, a ga-
rantia provisória do o empregado com deficiência, (inc.V, no art. 17).
Quanto à violação da garantia provisória, o artigo 10, parágrafo 1º,
prevê o valor da indenização que o empregador deverá pagar em caso de
dispensa do empregado sem justa causa no curso da garantia provisória. Para
os empregados com jornada de trabalho e salário reduzidos entre 25% e 50%
o empregador será obrigado a indenizar em 50% do salário que o empregado
teria direito no período; no caso da dispensa do empregado com a redução ou
salario entre 50% e 70%, será devido 75% e por último, no caso do empregado
com salário e jornada reduzidos igual ou superior a 70% ou suspensão do
contrato de trabalho, arcará o empregador com 100% do salário a que teria
direito o empregado durante este tempo de garantia. Nessas hipóteses, ainda
que o empregado esteja recebendo o BEm, faz jus ao seguro desemprego. Tais
multas ou penalidades, não se aplicam às dispensas por justa causa ou pedido
de demissão.
7 - IMPACTOS SOCIAIS EXPERIMENTADOS ATÉ O MOMENTO
As MP’s vieram minimizar os reflexos da pandemia com afastamento
dos postos de trabalho que os trabalhadores e empresas estavam por vivenciar.
Porém, mesmo com essa tentativa, era iminente que o Brasil sofresse uma
recessão, como em qualquer outro lugar do mundo, o desemprego que em
fevereiro/020 atingia 11,6%29 e já era um problema para a sociedade brasilei-
ra se agravou nos meses subsequentes.
Houve nas primeiras MP’s criadas pelo presidente Jair Bolsonaro
um grande alarde negativo, principalmente a MP 927 cujo conteúdo mais
criticado foi a supressão de salários e suspensão do contrato de trabalho por
até 4 meses sem o pagamento do salário. Até então, o presidente defendia que
a suspensão do contrato sem salário como uma forma de preservar o emprego
durante a pandemia do coronavírus.
A referida MP ainda passou por julgamentos no STF. A sessão virtual
do dia 29 de abril julgou e derrubou, acompanhando o relator Marco Aurélio
Mello, sete ações diretas de inconstitucionalidade30 (ADIs) que questionavam
o texto da MP 927. O ministro Alexandre de Moraes acompanhou o relator
29
https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/03/31/desemprego-fica-em-116percent-em-
fevereiro-e-atinge-123-milhoes-diz-ibge.ghtml Acessado em 05/11/2020.
30
ADI: 6.342; 6.344; 6.346; 6.348; 6.349; 6.352; 6.354.
76
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
no voto, porém abriu uma divergência aos artigos 29 e 31, e esta divergência
ocasionou no dia 27 de maio, no plenário do STF, a suspensão de ambos os
artigos.
Após a criação de outras MP’s, era esperada a manutenção de parte
dos empregos e, apesar disso, o que não ocorreu e consequentemente, grande
impacto na economia do país. O desemprego em janeiro de 2020, quando não
existia a pandemia, estava em 11,2% e como acreditado, cresceu rápido já
em abril, chegando a 12,6%31. Mesmo com as medidas tomadas pelo governo
federal e estadual, era iminente que iriamos passar por problemas difíceis e
que a cada mês os números iriam aumentar. O desemprego chegou a mais
um número recorde no trimestre fechado em agosto, alcançando 14,3% de
desempregados, 3% a mais do que no início do mesmo ano.
Apesar do crescente número de desempregados, a divulgação do IBGE
no final do mês de setembro mostra uma estagnação nesse número, tendo
uma variação muito pequena para o final do mês anterior. O início do mês de
setembro houve uma melhora, caindo a 13,7% mas, no final do mesmo mês o
número voltou a subir e parou perto do que já tínhamos em agosto, 14,4%32.
Com tamanha recessão, diversos setores do trabalho sofreram quedas
gigantescas, em sua maioria negativamente. A indústria foi uma das mais
afetadas negativamente, em fevereiro tinha um crescimento de produção
constante de 1% e após esse mês, teve uma queda gigantesca, chegando no
mês de abril a -19,5%, voltando a crescer em maio, com maior número no
ano de 8,7% e teve uma queda constante, porém controlada, finalizando oo
mês de setembro com 2,6% de variação.
O comércio muito afetado, com a queda no mês de fevereiro, o volume
de vendas chegou a incríveis -16,7%, e voltou a crescer paralelamente a
indústria, atingindo seu maior número em maio com 12,7%, mas, caindo
posteriormente. Fechou o mês de agosto com uma variação de 3,4% de
crescimento relativo ao mês anterior.
A área de serviços começou a cair já antes das outras. No mês de
fevereiro já havia uma negativa no seu volume de serviços de 1,1% e chegou
ao seu menor número junto as outras, em abril com -11,9%, voltando porem
31
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-05/taxa-de-desemprego-cresce-
para-126-em-abril-diz-ibge#:~:text=A%20taxa%20de%20desemprego%20no,do%20
trimestre%20encerrado%20em%20janeiro. Acessado em 09/11/2020
32
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,taxa-de-desemprego-sobe-para-14-4-na-
quarta-semana-de-setembro,70003477575 Acessado em 09/11/2020
77
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
mais rapidamente, atingindo seu maior número no ano até então com 5,3%
em junho.
O PIB brasileiro consequentemente sofreu junto com o desemprego
de todos os setores. No primeiro trimestre de 2020, com pouco tempo de
pandemia, houve um recuo de 0,3% e após alguns meses de pandemia e
quarentena chegou ao número recorde de retrocesso, alcançando negativos
11,4%33.
Em uma entrevista ao jornal Nexo, Emerson Marçal, coordenador do
Centro de Macroeconomia Aplicada da EESP-FGV ao ser perguntado sobre o
que o número do PIB do segundo trimestre diz acerca da economia:
A queda foi um pouco mais forte do que o mercado estava
esperando. Essa queda do segundo trimestre não foi tão grande,
se comparada com alguns países, principalmente europeus.
Parte disso vem dos efeitos do auxílio emergencial do governo,
que representou um volume muito grande de recursos e evitou
uma queda ainda maior (MARÇAL, 2020)
79
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
82
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
83
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
84
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Advogada especialista em Direito do Trabalho. Sócia do Escritório Mauro Menezes e Advo-
gados. Mestranda em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas. Integra o grupo de estudos
sobre Trabalho em Plataformas Digitais. cinta@mauromenezes.adv.br.
2
Advogado especialista em Direito Material e Processual do Trabalho. Sócio do Escritório
Mauro Menezes e Advogados. Graduado em Direito pela Universidade de Brasília – UnB.
Integra o grupo de estudos sobre Trabalho em Plataformas Digitais. hugof@mauromenezes.
adv.br.
85
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1 - INTRODUÇÃO
O avanço da tecnologia de comunicação e informação, culminou na
quarta fase da Revolução Industrial denominada Indústria 4.0, que adota a
inteligência artificial e se caracteriza por um conjunto de tecnologias que per-
mite a fusão entre o mundo físico, digital e biológico.
No cenário laborativo, verifica-se a atuação em diferentes modalidades,
como entregadores por aplicativos, transportadores de passageiros, tradução,
programação informática, atendimentos especializados, entre outras ativida-
des, uma vez que há um campo grande e diversificado de execução de ativi-
dades.
Contudo, a despeito das circunstâncias favoráveis em relação à inter-
net e expansão de processos automotivos, no tocante às relações de trabalho
potencializam-se as desigualdades sociais e o crescimento do desemprego de
caráter estrutural.
Diante dessa conjuntura, o presente artigo faz uma abordagem sobre o
contexto histórico da Revolução Industrial, compreendida em quatro fases,
todas marcadas por precarização das condições de trabalho e pela necessidade
de implementação de direitos trabalhistas.
Na atual fase da Revolução Industrial, verifica-se que, apesar da essen-
cialidade do trabalhador, não só os seus direitos, mas a sua identidade tem
sido ceifada numa era de capitalismo digital com a permissão de condições
indignas de trabalho, porquanto as empresas de aplicativos e de plataformas
digitais têm escamoteado os contratos de trabalho com a finalidade de com-
pleta supressão das garantias trabalhistas, legal e constitucionalmente asse-
guradas.
Associada a essa conjuntura fática, muitos trabalhadores estão subme-
tidos ao desamparo dos direitos sindicais, em razão de fatores como: dificul-
dade de enquadramento sindical, enfraquecimento da solidariedade entre os
trabalhadores, receio de retaliação por parte dos empregadores.
O assunto possui significativa importância, visto que, além dos prejuí-
zos aos trabalhadores e trabalhadoras, há impacto direto na sociedade, de fácil
percepção diante de inúmeros trabalhadores adoecidos, da desqualificação e
do crescente desemprego.
Desse modo, mostra-se necessário disseminar a premissa de que a mo-
dernização da tecnologia de comunicação e informação, justamente por se
tratar de uma constante evolução, devem potencializar a valorização do tra-
balho humano e não servir de retrocesso e desregulamentação dos direitos
sociais com a precarização laboral, exploração e coisificação das pessoas.
86
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
87
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
89
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
90
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
91
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
92
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
94
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
96
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
97
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Revoluções Industriais evidenciam uma gradual e constante evolu-
ção das indústrias e de diferentes formas de tecnologia ao mesmo passo que
representa exacerbada exploração da força de trabalho.
Diante da precarização das condições laborativas e do tratamento desu-
mano dispensado aos trabalhadores e trabalhadoras, a união do proletariado
foi fundamental para a implementação de limites e de direitos, de modo que
sem a força coletiva o trabalho estaria relegado à escravidão.
Os direitos trabalhistas conquistados ao longo das fases da Revolução
Industrial, contudo, têm sido submetidos ao retrocesso, tendo em vista a des-
regulamentação de direitos e diante das novas modalidades de trabalho, com
aumento considerável de trabalhadores plataformizados, os quais são consi-
derados autônomos ou até mesmo empreendedores como forma de escamo-
tear o vínculo de emprego existente. O limbo que esses trabalhadores são
submetidos constitui óbices ao reconhecimento de garantias trabalhistas, a
exemplo dos consectários legais e do exercício de direitos sindicais.
Diante disso, a Indústria 4.0 representa um avanço da tecnologia de
comunicação, porém segue em descompasso com a necessária evolução de
direitos trabalhistas, uma vez que muitos trabalhadores precisam se vincu-
lar às plataformas digitais informalmente, submetidos a condições precárias.
Além das questões relacionadas à nomenclatura do trabalho exercido e às cir-
cunstâncias de labor, esse cenário desafia outros direitos fundamentais, como
o enquadramento e a assistência sindical, prejudicados atualmente.
Contudo, as mesmas ferramentas que têm desafiado a classe trabalha-
dora, podem ser utilizadas como forma de organização coletiva e de luta por
melhores condições de trabalho. Dessarte, não se nega a tecnologia e o avan-
ço da automação, das ferramentas telemáticas de comunicação e até de ofe-
recimento de serviços, mas reivindica-se a atenção a respeito da instrumenta-
lização das ferramentas tecnológicas como forma de retrocesso dos direitos
sociais.
A modernização da tecnologia de comunicação e informação, justamen-
te por se tratar de uma constante evolução, devem potencializar a valorização
do trabalho humano e não servir de retrocesso e desregulamentação dos direi-
tos sociais com a precarização laboral, exploração e coisificação das pessoas.
98
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Ricardo. Uberização, trabalho digital e Indústria 4.0 (Mundo
do trabalho). São Paulo: Boitempo, 2020.
ARRUDA, Monique Souza. Indústria 4.0 e meio ambiente de trabalho: o
direito à saúde no contexto das inovações disruptivas e da economia compar-
tilhada. Manaus: Amazon, 2019.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo:
LTr, 2011.
DE STEFANO, Valerio. The rise of the “just-in-time workforce”: On-demand
work, crowdwork and labour protection in the “gig-economy”. Conditions of
Work and Employment Series nº 71, Gevena: International Labour Office,
2016.
FRAGA, Cesar. Contratação uberizada de professores por aplicativo já é rea-
lidade. 07 jan. 2020. Extra Classe. Disponível em: <https://www.extraclasse.
org.br/educacao/2020/01/ contratacao-uberizada-de-professores-por-aplicati-
vo-ja-e-realidade/>. Acesso em: 19 fev. 2021.
GALD, Will. Indústria 4.0: riqueza, cidadania e Estado. Washington/USA:
Amazon, 2018.
KRAMER, Josiane Caldas. A economia compartilhada e a uberização do
trabalho: utopias do nosso tempo? 2017. 128 f. Dissertação (Mestrado em
Direito) – Setor de Ciências Jurídicas, Universidade Federal do Paraná, Curi-
tiba, 2017.
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de Direito Sindical. São
Paulo: LTr, 2009.
OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio. Assalariados digitais e proteção
trabalhista: perspectivas para o direito do trabalho. Projeto de Pesquisa da
linha de pesquisa “Regulação Social do Trabalho” do Grupo de Pesquisa -
CNPq Grupo de Pesquisa - CNPq “Transformações do Trabalho, Democracia
e Proteção Social”. Universidade Federal da Bahia. 2019.
SHIMABUKURO, Igor. Funcionários do Google criam mais um sindica-
to, agora global. 26 jan. 2021. Olhar Digital. Disponível em: <https://olhar-
digital.com.br/2021/01/26/noticias/ funcionarios-do-google-criam-mais-um-
-sindicato-agora-global/>. Acesso em: 19 fev. 2021.
99
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
100
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Formado em Direito pela UFRGS em 1981, assessor de entidades sindicais, membro
do Coletivo Jurídico da CUT/RS, diretor da AGETRA-Associação Gaúcha de Advogados
Trabalhistas e autor do livro Trabalho,Tecnologia e Globalização..
101
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1 - INTRODUÇÃO
No Brasil temos verificado, já há alguns anos, altas e crescentes taxas
de desemprego, que se elevaram ainda mais com a pandemia do coronavírus.
De 6,9% no trimestre jul/set de 2014, o desemprego passou para 11,8% no
mesmo trimestre de 2019 e com a crise advinda da COVID 19 saltou para
14,6% em 2020. Este período de avanço do desemprego foi simultâneo à
chegada no país das plataformas digitais de transporte de passageiros e de
mercadorias. Estas empresas se beneficiaram diretamente do aprofundamento
da crise econômica, credenciando milhões de pessoas a trabalhar em seus
aplicativos, sem lhes assegurar quaisquer direitos. Sem encontrar emprego no
mercado formal, para muitos a única alternativa restante para obter alguma
renda era a Uber, Ifood e congêneres.
A pandemia do coronavírus, agravando a crise econômica brasileira
e ampliando o desemprego, jogou um contingente ainda maior de pessoas
a buscar o trabalho nos aplicativos, levando a uma significativa queda do
rendimento por pessoa. Matéria do jornal Folha de São Paulo em fins de
2020 apontava que 55% dos entregadores tiveram redução de rendimentos no
período da pandemia e porcentagem semelhante trabalhava mais de 8 horas
por dia para auferir um valor mínimo (FOLHA DE SÃO PAULO, 2020). Isto
certamente se deveu à desenfreada entrada de novos trabalhadores num setor
que não tem qualquer regulação e que não garante quaisquer direitos.
A situação foi se tornando cada vez mais grave, levando à mobilização
e a uma pioneira greve dos trabalhadores por aplicativos em 1º de julho de
2020, conhecida como o “ breque dos apps”. O processo de debate deflagrado
por esta greve, que foi ampla, nacional e razoavelmente bem sucedida (e
seguida por diversos outros movimentos, nacionais ou locais), trouxe o tema
da regulação do trabalho nas plataformas digitais para o centro do palco
político.
Diferentemente de outros países, como a Espanha, onde em setembro
de 2020 a Suprema Corte reconheceu a natureza do contrato de um entregador
da empresa Glovo como sendo vínculo empregatício2, o Poder Judiciário
brasileiro tem se mostrado, particularmente em seus tribunais superiores ,
avesso a tal reconhecimento. Até o atual momento, a maior parte das decisões
do TST3 e mesmo do STJ sobre o tema não reconhecem o vínculo de empre-
go e a natureza trabalhista da relação havida entre motoristas, entregadores
2
Para mais informações, ilustra-se com a presente notícia: www.uol.com.br/tilt/noticias/
reuters/2020/09/23/.
3
Por exemplo, RR 1000123-89.2017.5.04.0038, 5ª T, 23/02/21.
102
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
103
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
105
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
106
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
6
Ver julgado STF-RE 466.343/SP, Rel.Min.Gilmar Mendes, 22/11/2006.
109
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
discriminação, privacidade, para citar apenas alguns aspectos,
é ainda mais necessária com a crescente utilização das ferra-
mentas tecnológicas (PAES, 2021).
110
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANT, Danielle; CASTANHO, William. Congresso Propõe uma nova lei
por semana para regular mercado de trabalho em app, Folha de São Paulo,
08 nov. 2020. Disponível: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/11/
congresso-propoe-uma-nova-lei-por-semana-para-regular-trabalho-em-app.
shtml. Acesso em: 25 fev. 2021.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF. Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 26 fev. 2021.
BRASIL. Emenda Constitucional nº 45 de 30 de Dezembro de 2004. Altera
dispositivos dos arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107,
109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição
Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras
providências.Brasília, DF. Congresso Nacional. Disponível em:http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm. Acesso em:
26 fev. 2021.
BRASIL. Projeto de Lei nº 4.172 de 2020. Dispõe sobre a criação de um
novo contrato de trabalho em plataformas digitais de transporte individual
privado ou de entrega de mercadorias. Disponível em:https://www.camara.
leg.br/propostas-legislativas/2259942 Acesso em: 15 fev. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 466.343/
SP, Relator Ministro .Gilmar Ferreira Mendes, 22 de Novembro de 2006.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista nº.1000123-
89.2017.5.04.0038, 5ª Turma, Relator Ministro Breno Medeiros, 23 de fevereiro
de 2021. Disponível em: http://aplicacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/
consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTs-
t=1000123&digitoTst=89&anoTst=2017&orgaoTst=5&tribunalTst=02&va-
raTst=0038&submit=Consultar. Acesso em: 26 Jan. 2021.
CASTRO, Antonio. Trabalho , Tecnologia e Globalização, Ltr, São Paulo,
2006.
FARIA, Luiz Augusto & WINKLER, Carlos. O andar do crustáceo.In: O
Estado do Rio Grande do Sul nos anos 80, Fundação de Economia e Estatís-
tica, Porto Alegre, 1994.
FIORI,José Luiz. Entrevista à Revista “ Teoria e Debate” nº 33,nov/dez 1996.
111
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
112
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
Álvaro Klein1
Bruna Carolina de Oliveira2
1
Mestre em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Universidade Feevale (Novo Ham-
burgo/RS) e Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/
RS).
2
Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/RS).
113
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1 - INTRODUÇÃO
Quando se aborda o tempo de trabalho, estamos tratando da alienação
de parte do tempo das pessoas que trabalham. Alienação, ou prestação de
serviços, efetivamente significa a disponibilização, pela parte trabalhadora,
de suas capacidades físicas e mentais por um período de tempo (jornada de
trabalho) que, por essa entrega, recebe uma contrapartida pecuniária. Esse
é o sinalagma do contrato de trabalho, tácito ou expresso, contornado pelas
complexas obrigações da parte trabalhadora, que entrega sua capacidade
física e mental durante a jornada de trabalho, que são contraprestadas pela
obrigação da parte empregadora, ou contratante, de pagar pelo tempo de
entrega das indigitadas capacidades física e mental.
Desse tempo tem-se: o período efetivo de trabalho, como sendo aquele
em que a pessoa empregada se obriga, assume a obrigação contratual de
prestar serviço ao empregador por um determinado número de horas por dia
ou por semana, sem avançar nos períodos de descanso, alimentação, repouso
e lazer, que não compõem a jornada contratada.
No entanto, os tempos de não trabalho estão sendo invadidos e compro-
metidos com o avanço das novas tecnologias, notadamente pelos aplicativos
de interação social, pelas plataformas de intermediação da contratação do
trabalho humano, e também pelos avanços das necessidades econômicas
e sanitárias (pandemia de COVID-19) de trabalho em home office e em
isolamento social.
O coreano Byunbg-Chul Han (2017) ilustra a sociedade como coativa,
referindo que, para a melhor aderência ao avanço da tecnologia, cada um
carrega seu campo de trabalho, pois explora e é explorado, é detento e
guarda do sistema de otimização de seu próprio melhoramento, tornando a
autoexploração método mais eficiente que a exploração por terceiros, pois é
permeada pelo sentimento de liberdade.
O direito à desconexão, ou a ruptura entre o tempo de trabalho e a
vida social, tempo de não trabalho, está inserido no rol dos direitos humanos
fundamentais (direito ao descanso, ao lazer e à privacidade) – direitos que
com o avanço da tecnologia – relações sociais e de trabalho em ambiente
virtual – estão sofrendo intensas interferências/ataques durante a pandemia
de COVID-19, em virtude da necessária imposição de distanciamento social
e realização de trabalho remoto (home office).
Nessa perspectiva, torna-se essencial o cuidado com o elastecimento
do tempo de trabalho no tempo de vida privada, sob pena de produzir uma
sociedade doente de cansaço físico e mental.
114
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
2 - O TEMPO E O TRABALHO
Lidar com o tema do tempo de trabalho e o tempo de não trabalho
tornou-se uma discussão central da sociedade. Isso é evidente não apenas na
abundância de literatura sociológica, psicológica, filosófica e econômica, mas
também na vida cotidiana e no uso da linguagem. O sentimento de não ter
tempo ou o desejo de usar o tempo efetivamente, se tornaram características
de nossa sociedade.
Durante a Revolução Industrial, a classe trabalhadora estava submeti-
da a condições de vida e de trabalho precários, sem higiene, sem segurança,
sem privacidade e sem dignidade. Na Europa, as longas jornadas de trabalho
(de 16 ou 18 horas diárias) - laboradas, inclusive, por mulheres e crianças
-, acidentes de trabalho, suicídios e uma expectativa de vida de 35 anos das
pessoas que trabalhavam, contribuíram consideravelmente para o início da
mortalidade populacional na segunda metade do século XVIII (OLIVEIRA,
2005, p. 65). Segundo Almeida (2005) e Delgado (2011), essa separação entre
tempo de trabalho e tempo de vida é um fenômeno da modernidade e vem
tornando as horas de trabalho cada vez mais flexíveis, ou seja, permite ao
trabalhador dispor de forma variável do tempo de trabalho.
Os modelos flexíveis de horário de trabalho relacionados à duração e
à localização servem para aperfeiçoar o uso de capital na sociedade 24 horas
por dia, sendo o horário de trabalho variável uma forma de minimizar a
quantidade de trabalho. No entanto, essa flexibilização do tempo de trabalho
perde o controle da sua limitação e passa a se integrar ao tempo de jornada de
trabalho (basta estar conectado através de smartphones, notebook e tablets),
fazendo com que o tempo de trabalho se sobreponha ao tempo de descanso,
destinado ao lazer (PATTERSON, 2020).
Para Vólia Cassar e Leonardo Borges (2017), a expressão flexibilidade
ou flexibilidade do tempo de trabalho atinge dois fenômenos diferentes,
quais sejam: o primeiro relaciona-se à flexibilidade do tempo de trabalho,
reconhecendo a existência de limites máximos inflexíveis ao tempo de tra-
balho; o outro se refere à flexibilidade como revogação de regras inflexíveis.
Tal flexibilidade invoca o renascimento da autonomia da vontade das partes,
ou seja, a possibilidade de o empregador e a pessoa que trabalha fixarem
livremente o tempo de trabalho (CASACA, 2013). Autonomia que integra
ideário liberal, e que de fato é uma ficção.
O tempo de trabalho divide-se em tempo efetivo de trabalho (artigo
58, da Consolidação das Leis do Trabalho), no qual a pessoa que trabalha
desempenha suas atividades laborais ou permanece a disposição para o
115
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
117
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
119
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
3
A COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, que apresenta um
quadro clínico que varia de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves. De acordo
com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a maioria dos pacientes com COVID-19 (cerca
de 80%) podem ser assintomáticos e cerca de 20% dos casos podem requerer atendimento
hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória e desses casos aproximadamente
5% podem necessitar de suporte para o tratamento de insuficiência respiratória (suporte
ventilatório). Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo
agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China. Provoca
a doença chamada de coronavírus (COVID-19).
120
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
121
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
122
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Cinara; JUNQUEIRA, Maiz Ramos. A tripla jornada de trabalho
da mulher em tempos desse “tal de Home Office”. Disponível em http://
www.sindjus.com.br/a-tripla-jornada-de-trabalho-da-mulher-em-tempos-
desse-tal-de-home-office/11175/. Acesso em: 21 ago. 2020.
ALMEIDA, Almiro Eduardo de, e SEVERO, Valdete Souto. Direito à
desconexão nas relações sociais de trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2016.
ALMEIDA. Lucilde D’Ajuda Lyra de. Trabalho em domicílio: histórico e
perspectivas – o teletrabalho. Juíza do Tribunal Regional do Trabalho da
Terceira Região. Mestre em Direito pela PUC/MG. Rev. TST, Brasília, vol.
71, nº 2, maio/ago. 2005.
AMADO, João Leal. Tempo de trabalho e tempo de vida: sobre o
direito à desconexão profissional. Revista do Tribunal do Trabalho
da 15ª Região, n.52, 2018. Disponível em: https://juslaboris.tst.jus.br/
handle/20.500.12178/141951. Acesso em: 07 ago. 2020.
BARROS, Carlos Juliano. Gamificação: como o trabalho vira uma gincana
viciante e até perigosa. Disponível em https://economia.uol.com.br/colunas/
carlos-juliano-barros/2021/03/08/gamificacao-como-o-trabalho-vira-uma-
gincana-viciante-e-ate-perigosa.htm. Acesso em: 08 mar. 2021.
BRASIL. Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/portaria/DLG6-2020.htm#:~:text=
DECRETO%20LEGISLATIVO%20N%C2%BA%206%2C%20DE,18%20
de%20mar%C3%A7o%20de%202020. Acesso em: 07 ago. 2020.
BRITO, Luiza Prado Lima Santiago Rios. O direito à desconexão nas
relações de trabalho. Conteúdo jurídico, Brasília-DF, 2018. Disponível em:
http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/51242/o-direito-a-
desconexao-nas-relacoes-de-trabalho. Acesso em: 07 ago. 2020.
CARELLI, Cássio Casagrande Rodrigo. Reforma Trabalhista. Reflexões
críticas. Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2018.
CASACA, S. F. As novas dinâmicas laborais e os desafios da articulação
com a vida familiar. Sociologia, Problemas e Práticas, nº 72, 2013.
CASSAR, Vólia Bomfim; BORGES, Leonardo Dias. Comentários à
Reforma Trabalhista. São Paulo: Método, 2017.
123
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
124
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
125
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
126
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Advogada e assessora sindical. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho
pela Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis. Mestra em Ciência Política pela Uni-
versidade Federal de Pelotas.
2
Advogada e assessora sindical. Especialista em Direitos Humanos e Transnacionais do Tra-
balho pela UCLM. Mestra em Sociologia pela Universidade Federal de Pelotas.
3
Advogado e assessor sindical. Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Pelotas
e Doutor em Política Social e Direitos Humanos pela Universidade Católica de Pelotas.
127
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1 - INTRODUÇÃO
128
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
129
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
131
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
dá-lhes forma jurídica nos seus interesses comuns, organizando
a vida dispersa desses indivíduos que exercem, por força mesma
da necessidade de ganharem para o seu sustento, uma determi-
nada ocupação econômica. Daí também o objetivo moral e inte-
lectual do sindicato em relação à profissão. (MORAES FILHO,
1978, p. 68)
132
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
de sindicalismo”, pois embora se tenha vulgarizado a ideia de
que existe crise, nem todas as crises atingiram o mesmo grau
de intensidade e muito menos caraterísticas totalmente comuns
(ESTANQUE; COSTA; DA SILVA, In FREIRE, 2015, p. 5)
Nessa linha, COSTA (2018) afirma que o “velho ator social” (o sin-
dicato) enfrenta uma crise que, aliás, não é nova e está relacionada a outros
tipos de crise: a) a crise da economia mundial; b) a crise da transição da fase
industrial para a sociedade de serviços; c) a crise desencadeada pela adoção
de políticas neoliberais; d) a crise dos projetos político ideológicos relacio-
nados a ideia de contra poder; e e) o declínio da forma como os partidos de
esquerda se relacionam com o movimento sindical principalmente quando
estão no poder, etc.
Para PASTORE (2005), o estado letárgico do movimento sindical não
consegue canalizar as insatisfações dos trabalhadores com as mudanças an-
tissociais, de tal modo, que o sindicato perdeu sua força mobilizadora. No
momento em que o sindicalismo se fixou em lutas mais corporativistas vin-
culadas a questões setoriais da economia e da produção, o seu potencial de
combatividade perdeu vitalidade.
Mas não se pode perder de perspectiva de que o papel do sindicato é
de representar as forças que bloqueiam o avanço desenfreado do mercado e
da economia em detrimento dos direitos trabalhistas e sociais. Ditos retroces-
sos sociais estão reivindicando uma atuação audaz e unitária do movimento
sindical como forma de arregimentar simpatias e força capazes de oferecer
resistência e reação contra toda esta insanidade.
É fato que, neste novo cenário, o retrocesso social é nutrido pelo medo
do desemprego, tornando-se fator de docilidade dos trabalhadores que jun-
tamente com a falta de atuação sindical participam “em certa medida daqui-
lo que se poderia descrever como sua própria exploração” (BOLTANSKI;
CHIAPELLO, 2009, p. 284). Assim, a falta de unidade coletiva torna-se “am-
biguidade paralisante dos novos dispositivos” (BOLTANSKI; CHIAPELLO,
2009, p. 300) empresariais que afetam a atuação sindical.
Daí a necessidade de o movimento sindical denunciar que a economia e
o mercado estão ocupando o espaço da política, da cidadania e da dignidade
da pessoa humana. Os sindicatos devem buscar sua unidade na luta como
forma de restringir a liberdade empresarial e proteger os trabalhadores contra
os riscos laborais, o desemprego e o estado de necessidade.
Conforme ESTANQUE (2009), a crise de representação e de legitimi-
dade exige dos sindicatos algumas tarefas como forma de recuperar o seu
133
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
134
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
135
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos do Estado: nota sobre os apa-
relhos ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.
BAYLOS, Antonio. ¿Para qué sirve um sindicato? Instruciones de uso. Ma-
drid: Catarata, 2012.
BAYLOS, Antonio. Direito do Trabalho: modelo para armar. São Paulo:
LTr, 1999.
BAYLOS, Antonio. La accion sindical ante el fenómeno de la economía su-
mergida. In: PÉREZ, José Luis Monereo; QUESADA, Salvador Perán (dir.).
Derecho social y trabajo informal: implicaciones laborales, económicas
y de Seguridad Social del fenómeno del trabajo informal y de la economía
sumergida en España y Latinoamérica, Granada/España: Editorial Comares,
2016.
BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Ève. O novo espírito do capitalismo.
São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
COSTA, Hermes Augusto. O sindicalismo ainda conta? Poderes sindicais em
debate no contexto europeu. Lua Nova, São Paulo, n. 104, 2018, p. 259-285.
EDELMAN, Bernard. A legalização da classe operária. São Paulo: Boitem-
po, 2016.
ESTANQUE, Elísio. A reinvenção do sindicalismo e os novos desafios eman-
cipatórios: do despotismo local à mobilização global”. In: SANTOS, Boa-
ventura de Sousa (org.). Trabalhar o Mundo: os caminhos do novo interna-
cionalismo operário. Porto: Afrontamento, 2004, p. 357-401.
ESTANQUE, Elísio. Sindicalismo e movimentos sociais: ação coletiva e re-
gulação social no contexto europeu e português. Revista Lutas Sociais, São
Paulo, n.23, p.55-67, 2º sem. 2009.
ESTANQUE. Elísio; COSTA, Hermes Augusto; DA SILVA, Manuel Carva-
lho. O futuro do sindicalismo na representação sociopolítica. In: FREIRE,
André (org.). O Futuro da Representação Política Democrática. Lisboa:
Editora Nova Veja, 2015. p. 119-142.
HYMAN, Richard. Los Sindicatos y la Desarticulación de la Clase Obre-
ra. Revista Latinoamericana de Estudios del Trabajo, ALAST, Cidade do
México, ano 2, n. 4, 1996.
136
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
137
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
138
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Vale do Rio dos
Sinos - UNISINOS. Advogado.
139
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1 - INTRODUÇÃO
Este trabalho propõe uma breve análise da “Indústria 4.0”, também
chamada de “A Quarta Revolução Industrial” ou “Revolução 4.0” e as
consequências no mundo do trabalho. As inovações tecnológicas fazem
parte da vida cotidiana das pessoas e provocam resultados em inúmeras
áreas diferentes. O mundo do trabalho não está imune, ao contrário, vem
sofrendo profundas alterações nos métodos de organização dos trabalha-
dores.
Nos últimos 20 anos observa-se que as novas tecnologias, de infor-
mação e comunicação, estão afetando os postos de trabalho, reduzindo a
privacidade dos trabalhadores e aumentando a vigilância e controle do
empregador sobre o empregado. A indústria emergente transformada pela
tecnologia, já não mais oferece os empregos necessários à ocupação da
mão de obra disponível. Assim, o grande desafio é combinar os avanços
tecnológicos com a melhoria do bem comum.
Nesse contexto, a modalidade de trabalho em plataformas digitais cres-
ce no mundo e no Brasil, de forma acelerada, principalmente no ambiente de
crise econômica em que se vive. A quantidade de trabalhadores entregadores
que se enxerga nas ruas, se deslocando de um lado para o outro, utilizando
uma bicicleta ou uma motocicleta e carregando nas costas uma caixa colori-
da, estampada com o logo de grandes empresas, é uma forma de trabalho e de
sobrevivência para um número expressivo de pessoas.
Este trabalho, conectado a uma plataforma digital, facilitado pelo uso
da tecnologia, implica em uma relação desigual e assimétrica que conduz a
precarização do trabalho. Dito isso, a questão social não pode ser deixada de
lado. É neste sentido que, em janeiro de 2019, a Comissão Global Sobre o Fu-
turo do Trabalho (2019), criada pela Organização Internacional do Trabalho,
produziu importante relatório, tendo em vista uma agenda para o futuro do
trabalho, que seja centrada no ser humano.
Nesse sentido, pretende-se contextualizar o conteúdo, produzido em
2019, pela Comissão Global Sobre o Futuro do Trabalho da Organização
Internacional do Trabalho com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável das Nações Unidas (2015).
2 - A INDÚSTRIA 4.0 E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
As Três Revoluções Industriais, podem ser resumidas da seguinte
forma: a primeira, entre 1760 e 1840, ocorrida na Grã-Bretanha é marca-
da pela construção de ferrovias, invenção da máquina a vapor e produção
140
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
142
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
143
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
Infelizmente, algo diferente e ao mesmo tempo mais som-
brio está acontecendo: a Economia do Compartilhamento
está propagando um livre mercado inóspito e desregulado
em áreas de nossas vidas que antes estavam protegidas. As
companhias dominantes do setor se tornaram forças grandes
e esmagadoras, e, para ganhar dinheiro e para manter suas
marcas, estão desempenhando um papel mais e mais invasi-
vo nas trocas que intermedeiam. À medida que a Economia
do Compartilhamento cresce, está remodelando cidades sem
considerar aquilo que as tornava habitáveis. Em vez de tra-
zer uma nova fase de abertura e confiança pessoal a nossas
interações, está criando uma nova forma de fiscalização, em
que os prestadores de serviço devem viver com medo de ser
delatados pelos clientes. (SLEE, 2017, p. 22-23).
144
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
145
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
146
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
employment classification, workers have the right to orga-
nise in collective bodies, and platforms should be prepared
to cooperate and negotiate with them.2 (FAIRWORK, 2020)
2
Tradução livre. 1. Pagamento justo: Os trabalhadores, independentemente de sua classifi-
cação profissional, devem ganhar uma renda decente em sua jurisdição de origem, levando
em consideração os custos relacionados ao trabalho e as horas ativas trabalhadas. Eles de-
vem ser pagos em dia e por todo o trabalho concluído. 2. Condições justas: As plataformas
devem ter políticas para proteger os trabalhadores dos riscos fundamentais decorrentes dos
processos de trabalho e devem tomar medidas proativas para proteger e promover a saúde e
a segurança dos trabalhadores. 3. Contratos justos: Os termos e condições devem ser trans-
parentes, concisos e sempre acessíveis aos trabalhadores. A parte que contrata o trabalhador
deve estar sujeita à legislação local e deve ser identificada no contrato. Os trabalhadores são
notificados das mudanças propostas em um prazo razoável antes que as mudanças entrem em
vigor. O contrato está livre de cláusulas que excluem injustificadamente a responsabilidade
por parte da plataforma e que impedem os trabalhadores de buscarem reparação por quei-
xas. Os contratos devem ser consistentes com os termos de engajamento dos trabalhadores na
plataforma. 4. Gestão Justa: Deve haver um devido processo documentado para as decisões
que afetam os trabalhadores. Os trabalhadores devem ter a capacidade de apelar das decisões
que os afetam, como ações disciplinares e desativação, e ser informados das razões por trás
dessas decisões. O uso de algoritmos é transparente e resulta em resultados equitativos para
os trabalhadores. Deve haver uma política identificável e documentada que garanta equidade
na forma como os trabalhadores são gerenciados em uma plataforma (por exemplo, na con-
tratação, disciplina ou demissão de trabalhadores). 5. Representação Justa: As plataformas
devem fornecer um processo documentado por meio do qual a voz do trabalhador pode ser
expressa. Independentemente de sua classificação profissional, os trabalhadores têm o direito
de se organizar em órgãos coletivos e as plataformas devem estar preparadas para cooperar
e negociar com eles.
147
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
Standing complementa:
As políticas que promovem a flexibilidade de emprego des-
gastam os processos de interação relacional e de pares que
são vitais para a reprodução de habilidades e atitudes cons-
trutivas no trabalho. Se você espera mudar o que está fazendo
durante quase todo o tempo, mudar de ‘empregador’ a curto
prazo, mudar os colegas e, acima de tudo, mudar a maneira
pela qual você chama a si mesmo, a ética do trabalho se tor-
na constantemente contestável e oportunista. (STANDING,
2017, p. 37)
148
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
149
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
150
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
ponsáveis e inclusivas em todos os níveis; e
17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar
a parceria global para o desenvolvimento sustentável.
(NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2021)
151
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
8.6 Até 2020, reduzir substancialmente a proporção de jovens
sem emprego, educação ou formação;
8.7 Tomar medidas imediatas e eficazes para erradicar o tra-
balho forçado, acabar com a escravidão moderna e o tráfico
de pessoas, e assegurar a proibição e eliminação das piores
formas de trabalho infantil, incluindo recrutamento e utili-
zação de crianças soldado, e até 2025 acabar com o trabalho
infantil em todas as suas formas;
8.8 Proteger os direitos trabalhistas e promover ambientes de
trabalho seguros e protegidos para todos os trabalhadores, in-
cluindo os trabalhadores migrantes, em particular as mulhe-
res migrantes, e pessoas em empregos precários;
8.9 Até 2030, elaborar e implementar políticas para promover
o turismo sustentável, que gera empregos e promove a cultura
e os produtos locais;
8.10 Fortalecer a capacidade das instituições financeiras na-
cionais para incentivar a expansão do acesso aos serviços
bancários, de seguros e financeiros para todos;
8.a Aumentar o apoio da Iniciativa de Ajuda para o Comércio
[Aid for Trade] para os países em desenvolvimento, particu-
larmente os países menos desenvolvidos, inclusive por meio
do Quadro Integrado Reforçado para a Assistência Técnica
Relacionada com o Comércio para os países menos desen-
volvidos;
8.b Até 2020, desenvolver e operacionalizar uma estratégia
global para o emprego dos jovens e implementar o Pacto
Mundial para o Emprego da Organização Internacional do
Trabalho [OIT]. (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2021).
152
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
153
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABÍLIO, Ludmila Costhek. Sem maquiagem: o trabalho de um milhão
de revendedoras de cosmético. São Paulo: Boitempo, 2014.
ABRAMOVAY, Ricardo. Prefácio. In: SLEE, Tom. Uberização: a nova
onda do trabalho precarizado. Tradução de João Peres. São Paulo: Elefan-
te, 2017.
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de
serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
ANTUNES, Ricardo. Trabalho intermitente e uberização do trabalho
no limiar da Indústria 4.0. In Ricardo Antunes (Organizador). Uberiza-
ção, Trabalho Digital e Indústria 4.0. São Paulo: Boitempo: 2020.
CASTEL, Robert. A insegurança social: O que é ser protegido? Tradução
de Lúcia M. Endlich. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
COMISSÃO GLOBAL SOBRE O FUTURO DO TRABALHO. Trabalho
Para Um Futuro Mais Brilhante – Escritório Internacional do Trabalho
– Genebra: OIT, 2019. URL: https://sinait.org.br/docs/relatorio_oit_por-
tugues_2019.pdf. Acesso em: 20 jan. 2021.
DECLARAÇÃO DE FILADÉLFIA. Constituição da Organização Inter-
nacional Do Trabalho (OIT) e seu Anexo. 1944. Disponível em <https://
bit.ly/3ml6eKo>. Acesso em 20. jan. 2021.
DIGI LABOUR. Por que as plataformas devem seguir princípios de
trabalho decente 03 ago. 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3kgeOrJ>
Acesso em 20 jan. 2021.
FAIRWORK. Principles. 2020. Disponível em https://fair.work/princi-
ples/ Acesso em 20 jan. 2021.
NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável. 2015. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/91863-a-
genda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentavel. Acesso em: 20 jan.
2021.
OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio. Formas de contratação do traba-
lhador na prestação de serviços sob plataformas digitais. In Rodrigo de
Lacerda Carelli, Tiago Muniz Cavalcanti, Vanessa Patriota da Fonseca
(Organizadores). O futuro do trabalho: os efeitos da revolução digital
154
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
155
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
156
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Graduado em Direito pela PUCRS. Advogado Trabalhista. Especialista em Direito do Tra-
balho pela Universidad de Castilla-La Mancha (UCLM) na Espanha e pós-graduando em
Direito e Processo do Trabalho e Seguridade Social na Fundação Escola da Magistratura do
Estado do Rio Grande do Sul (FEMARGS). Mestrando em Direito pela Fundação da Escola
Superior do Ministério Público (FMP-RS) e vinculado ao grupo de pesquisa Transparência,
Direito Fundamental de Acesso e Participação na Gestão da Coisa Pública coordenado pela
professora doutora Maren Guimarães Taborda. Endereço eletrônico: ramiro@copadvogados.
com.br
157
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1 - INTRODUÇÃO
Se toma como verdade, e como pilar principiológico, epistemológico
e hermenêutico da normativa internacional do Trabalho que este não é mer-
cadoria, tal qual exposto na Declaração da Filadélfia (OIT, 1944). Há de se
questionar a razão pela qual, no Brasil e no mundo, cada vez mais formas
de trabalho se tornaram mercadorias puras e simples, tendo suas questões
dirimidas na justiça Comum e submetidas à toda forma de contratos draco-
nianos, que sequer obedecem o exposto no Código Civil. Ademais, diga-se
de passagem que o direito do trabalho e os Estados Nacionais não se impor-
taram durante o século XX em regular e conceder direitos para o trabalho
não-remunerado, mas fundamental para a manutenção do modo de produção
capitalista, como o cuidado com a casa, com os filhos, com os doentes e com
os idosos, atividades estas geralmente realizadas pelas mulheres.
Cabe aqui explorar brevemente a etimologia e significado do léxico.
Uma interpretação recorrente é a de que a palavra desde cedo esteve rela-
cionada com castigo e pena, por derivar do latim Tripalium, uma ferramenta
utilizada para a tortura. Há múltiplas significações para o termo, com varia-
ções culturais, políticas, ideológicas, históricas, como fenômeno complexo
que é. Para além do viés econômico, o trabalho possui impacto e sentidos nos
âmbitos psicológicos, sociais, fisiológicos, espirituais, religiosos, e caráter
coletivo e individual. É um fenômeno em constante construção, sempre passí-
vel de ressignificação e da criação de novos paradigmas (FINCATO, 2013). O
Trabalho, aqui entendido como atividade humana, sempre existiu e vai exis-
tir, pois é aquilo que realizamos e com nosso esforço modificamos a natureza
e/ou o estado de coisas e sistemas ao nosso redor. O trabalho é inerente ao ser
humano, é dotado de significado e traz realização, um senso de pertencimen-
to, de identidade, nos permite criar laços como seres relacionais que somos
e traz uma noção de solidariedade que se estende posteriormente a noção de
classe trabalhadora. Em suma, trabalho é diferente de emprego, e o trabalho
em si não é alienante ou precário por natureza, mas é estruturado desta forma
dentro do capitalismo objetivando a coisificação do mundo e do homem, que
afasta o homem do fruto de seu trabalho (MARX, 2004), pois confunde-se
em seu estágio atual com a noção de trabalho obrigatório, forçado, para a
subsistência e para existir enquanto cidadão e ser de direitos (mínimos) na
sociedade de produção capitalista.
O presente estudo pretende debater se o atual patamar da legislação
laboral brasileira faz jus ao papel preponderante que as disposições constitu-
cionais garantiram ao trabalho humano, como pilar que estrutura a sociedade
158
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
159
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
160
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
161
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
163
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
165
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
3
1. Los trabajadores autónomos económicamente dependientes a los que se refiere el artícu-
lo 1.2.d) de la presente Ley son aquéllos que realizan una actividad económica o profesional
a título lucrativo y de forma habitual, personal, directa y predominante para una persona
física o jurídica, denominada cliente, del que dependen económicamente por percibir de él,
al menos, el 75 por ciento de sus ingresos por rendimientos de trabajo y de actividades eco-
nómicas o profesionales.(ESPANHA, 2007)
166
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
168
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIAVASCHI, Magda. O Direito do Trabalho No Brasil: A construção do
sujeito de direitos trabalhistas. São Paulo: LTr, 2007.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Bra-
sília, DF. Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
BRASIL. Lei nº 8.078 , de 11 de Setembro de 1990 (Código de Defesa
do Consumidor). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8078compilado.htm. Acesso em: 08 fev. 2021.
BRASIL.Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943 (Consolidação das
Leis do Trabalho). Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: coletâ-
nea de legislação: edição federal, São Paulo, v. 7, 1943.
BRASIL. Projeto de Lei nº 5491/2019. Institui o Fundo Nacional de Garan-
tia do Emprego- FNGE, para assegurar o pleno emprego com estabilidade
de preços e redução das desigualdades sociais e regionais, bem como o de-
senvolvimento econômico, social e ambiental. Disponível em: https://www.
camara.leg.br/propostas-legislativas/2224946. Acesso em: 07 fev. 2021.
BRASIL. Projeto de Lei nº 4.943/2020. Institui o Programa Trabalho e Ren-
da Para Todos. Disponível em: https://www.camara.leg.br/propostas-legisla-
tivas/2264373. Acesso em: 07 fev. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF 132, Tribunal Pleno, 5 maio
2011. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?doc-
TP=AC&docID=628633. Acesso em: 27 jan. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tema 550. Recurso Extraordinário
606003, Tribunal Pleno. 14 out. 2020. Disponível em: http://www.stf.jus.
br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?inciden-
te=3797518&numeroProcesso=606003&classeProcesso=RE&numeroTe-
ma=550. Acesso em: 28 jan. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADC 66, 21 dez. 2020. Disponível
em:http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5794122. Acesso
em: 25 jun. 2021.
CAGED 2020. Principais Resultados. Disponível em: https://app.power-
bi.com/view?r=eyJrIjoiNWI5NWI0ODEtYmZiYy00Mjg3LTkzNWU-
169
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
tY2UyYjIwMDE1YWI2IiwidCI6IjNlYzkyOTY5LTVhNTEtNGYxO-
C04YWM5LWVmOThmYmFmYTk3OCJ9. Acesso em: 07 fev. 2021.
CASTRO, Antonio Escosteguy. Trabalho , Tecnologia e Globalização, Ltr,
São Paulo, 2006
DIEESE. A situação do Trabalho no Brasil na primeira década de 2000.
Disponível em: https://www.dieese.org.br/livro/2012/livroSituacaoTraba-
lhoBrasil.pdf. Acesso em: 08 fev. 2021.
ESPANHA. Estatuto del Trabajo Autónomo, 20 jun. 2007. Disponível em:
https://www.boe.es/buscar/pdf/2007/BOE-A-2007-13409-consolidado.pdf.
Acesso em: 26 jan. 2021.
FINCATO, Denise; NASCIMENTO, Carlota B. Teletrabalho e direitos fun-
damentais: Entre a modernidade sólida e a pós-modernidade líquida,
2013. Disponível em: http://dfj.emnuvens.com.br/dfj/article/view/246. Aces-
so em: 27 jan. 2021.
GENRO, Tarso. Doutrina dos direitos fundamentais mínimos. Revista Ltr:
legislação do trabalho, São Paulo, SP, v. 82, n. 1, p. 19-24, jan. 2018.
GENRO, Tarso; COELHO, Rogério; DANÉRIS, Marcelo. Segunda Renda:
programa de renda mínima garantida ao trabalhador formal subocupa-
do parte I. Disponível em:http://www.dmtemdebate.com.br/segunda-renda-
-programa-de-renda-minima-garantida-ao-trabalhador-formal-subocupado-
-parte-i/. Acesso em: 26 jan. 2021.
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Tradução de Gilmar
Mendes, Porto Alegre, 1991.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua
2019. Rio de Janeiro: IBGE MPOG, 2019. Disponível em : https://www.
ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/17270-pnad-continua.html?edi-
cao=26413&t=publicacoes Acesso em: 26 dez. 2020.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua
2020. Rio de Janeiro: IBGE MPOG, 2020. Disponível em :https://www.ibge.
gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa-nacional-por-amostra-de-
-domicilios-continua-mensal.html?edicao=27774&t=destaques. Acesso em:
16 jan. 2020.
170
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
171
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
172
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Advogada, bacharelada em Estudos Jurídicos e Sociais na UNISINOS em 1987, com espe-
cialização e Direito e Processo do Trabalho, pós-graduada em Filosofia Contemporânea pelo
IMED 2018.
173
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
Ôôôô
Liberdade, Senhor
Passava a noite, vinha dia
O sangue do negro corria dia a dia
De lamento em lamento
De agonia em agonia
Ele pedia o fim da tirania
1 - INTRODUÇÃO
A globalização, o capitalismo financeiro, a produção de bens e as rela-
ções daí decorrentes, em especial no que diz respeito ao trabalho vêm sofren-
do transformações importantes e em muitos casos, irreversíveis. É crescente
a robótica substituindo a força de trabalho humano. O desenvolvimento de
tecnologias nos leva a uma série de novos serviços que não mais dependerão
do trabalho humano, a exemplo de automóveis inteligentes que dispensarão o
condutor ou motorista. Cresce significativamente o trabalho através de plata-
formas que convencionamos denominar ‘uberização’ do trabalho.
Economistas, juristas, sociólogos, filósofos têm se dedicado ao estudo
e discussões das relações que surgem dos “tempos modernos’. A atenção nes-
te artigo está voltada às relações de trabalho e emprego.
Em 2015 os Juízes do Trabalho do TRT4 em comemoração aos 50 anos
da AMATRA IV lançaram a CLT COMENTADA, em cujo ‘Comentários à
Exposição de Motivos’ apresentado por Magda Barros Biavaschi, refere que
em 2013 a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, havia completado 70
anos, a sobreposição desta à criação da Justiça do Trabalho no Brasil, referin-
do, ainda, o que no momento é condição significativa: a existência ou não da
Justiça do Trabalho e da Legislação Trabalhista, se a rigidez de suas normas
são ou não compatíveis com os “tempos modernos” à razão de incremento
da produtividade ou sua flexibilização que proporciona competitividade dos
bens produzidos no Brasil em relação ao demais produtores . Contextualiza a
“criação da CLT”.
A contemporaneidade impõe a importância dessa discussão, não só para
as relações de trabalho e emprego, mas para a sociedade brasileira muito além
de sua economia.
2 - CAPITAL, TRABALHO E TRABALHADOR
A obra máxima de Karl Marx O CAPITAL assim denominada e vulgar-
mente conhecida, é uma crítica. O título original da obra é “Value, Price and
Profit. Das kapital – Kritik der Politischen Ökonomie” (Valor, Preço e Lucro.
174
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
176
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
tema que referencia, todas as coisas passam, então, a ser objeto de consumo,
e nesse ideal de Marx, a distinção entre trabalho e obra desapareceria, “toda
obra se tornaria trabalho, uma vez que todas as coisas seriam concebidas não
em sua qualidade objetiva, mundana, mas como resultados da força viva do
trabalho e como funções de processo vital”.
De acordo com Marx , não importam as distinções do trabalho, se qua-
lificado ou não. O que vale é a “força de trabalho”, que a grande maioria dos
homens possui de forma semelhante. É a força de trabalho que é comprada
e vendida no mercado. As relações sociais se dão a partir do trabalho do ho-
mem, como identificação, ele é o que ele trabalha, o empregado e a sua força
de trabalho.
Questões sociológicas importantes: o trabalho humano dá ao homem,
nas sociedades modernas, valor, personalidade, dignidade e oportunidade. A
partir do momento em que o trabalho humano passa a ser valor de dignida-
de, os embates por conquistas de respeito às necessidades e objetivos estão
presentes entre duas forças que se impõem, o empresariado capitalista de um
lado, os trabalhadores do outro. Neste processo surgem conquistas para os
trabalhadores, os sindicatos propiciam reconhecimento de categoria e forta-
lecimento. Iniciam os regramentos objetivando a solução de conflito entre as
categorias. Assim nascem direitos como a jornada de 8 horas, a regulamenta-
ção do trabalho da mulher, a idade mínima para o trabalho de crianças, para
recordarmos marcos históricos. Falamos do século XIX.
A Organização Internacional do Trabalho nasce com o pacto de Versa-
lhes, em 1919, século XX, nas negociações que findam a I Grande Guerra.
A OIT é marco definitivo da formação e reconhecimento internacional do
Direito Social, em cuja constituição solidifica o sentimento de justiça e huma-
nidade, a busca da paz social mundial e duradoura deve estar assentada sobre
a justiça social.
Nas palavras de Magda Biavaschi:
“Tendo na dignidade humana o ponto de partida e acentuando
a condição humana do trabalhador como tema central de seus
fundamentos, o Direito do Trabalho marcou diferença ao unir o
elemento humano, pessoal, ao social, coletivo, imbricando-os,
situado na contramão de um liberalismo que não se poderia dar
conta da Questão Social. Talvez nenhum outro ramo do Direito
se apresente com tal fisionomia ao garantir direitos objetivos aos
homens que trabalham. Não à toa, esse Direito e as instituições
aptas a dizê-lo têm sofrido duros golpes em tempos de regresso
liberal.”
177
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
178
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
181
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
182
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
184
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
185
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fato é que uma sociedade se constrói com pessoas, uma sociedade boa
para se viver é aquela onde as pessoas podem vislumbrar felicidade, para isso,
necessitam de condições básicas de habitação, alimentação, saúde, educação,
entretenimento. Cabe aos juristas uma parte importante dessa construção. A
escolha de comandarmos os algoritmos ou sermos comandados por eles, a
importância de ser, de querer ser, e escolher, liberdade, não a liberdade que
de há muito vem sendo imposta pelo sistema do capital, mas àquela que o
povo revolucionando em França pediu ventos novos de Liberdade, Igualdade
e Fraternidade.
O filósofo italiano Antônio Negri tem se dedicado a discussões na seara
social, entende ele que é preciso transformar os conceitos, clarear os signifi-
cados, e compreender que o empreendedorismo pode ser uma forma de asso-
ciação entre a multidão na produção social. O comum a ser compartilhado; o
trabalho transformado em prol do comum em sistemas cooperativados a título
de exemplo, mas deixa claro que o sistema capitalista vigente que apenas
aumenta a desigualdade e o empobrecimento de parcela importante da popu-
lação não há de permanecer.
O labor da e a vocação Advocacia, estão sintetizadas nos 10 Manda-
mentos deixados por Santo Ivo no Séc. XIII. Eduardo J. Couture dedicou aos
mandamentos ‘gotas de sabedoria’, onde nos deixou lições como:
“Son decálogos del deber, de la cortesía o de la alcurnia de la
professión. Aspiran a decir en pocas palabras la jerarquía del
ministerio del abogado. Ordenan y confortan al mismo tiempo;
mantienen alerta la conciencia del deber; procuran ajustar la
condición humana del abogado, dentro de la misión casi divina
de la defensa.
Pelo la abogacía y las forma de su ejercicio son experiencia his-
tórica. Sus necesidades, aun sus ideales, cambian en la medida
en que pasa el tiempo y nuevos requerimientos se van haciendo
sucesivamente presentes ante el espíritu del hombre. De tanto
en tanto es menester, pues, reconsiderar los mandamientos para
ajustarlos a cada nueva realidad.
Hoy y aquí, en este tiempo y en este lugar del mundo, las exi-
gencias de la libertad humana y los requerimientos de la justicia
social constituyen las notas dominantes de la abogacía, sin las
cuales el sentido docente de esta profesión puede considerarse
frustrado. Pero a su vez, la libertad y la justicia pertenecen a un
orden general, dentro del cual interfieren, chocan y luchan otros
valores.”
186
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
187
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
-17-sobre-trabalho-remoto-gt-covid-19-e-gt-nanotecnologia-1.pdf; e https://
mpt.mp.br/pgt/noticias/nota-tecnica-19-parecerjuridico_2798-2020_gerado-
-em-23-10-2020-18h21min31s.pdf, acessadas em 15/02/2020.
NEGRI, Antônio e Michael Hardt. Assembly. ed Politeia. São Paulo. 2018.
--------- . Bem Estar Comum. ed. Record. 2016.
OIT Convenção. Disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/pu-
blic/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/documents/genericdocument/
wcms_336918.pdf, acessada em 10/02/2021.
PLITT, Laura. Covid-19 não é pandemia, mas sindemia: o que essa pers-
pectiva científica muda no tratamento. 10/out/2020 https://www.bbc.com/
portuguese/internacional-54493785, acessado em 20/01/2021.
RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. ed LTR.
1997.
SEVERO, Valdete Souto. Por que patrões não querem estender os di-
reitos trabalhistas ao teletrabalho? Entrevista por RUY, Marcos Aurélio.
CTB entrevista direito do trabalho. Publicado em 25/01/2021, atualizado em
26/01/2021, disponível em: https://ctb.org.br/direito-do-trabalho/por-que-
-patroes-nao-querem-estender-direitos-trabalhistas-ao-teletrabalho/?fbclid=-
IwAR0JVHFV_ICUZ8tUTiNRlR9cKEfYwztTjQZ0BdHi5ff61R9HGmo-
x3KyW1p4, acessada em 20/02/2021.
SOUZA, Rodrigo Trindade, coordenador Márcio Lima do Amaral, Rubens
Fernando Clamer dos Santos Júnior, Valdete Souto Severo, organizadores.
CLT COMENTADA. LTr ed. São Paulo, 2015.
188
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Advogado. Sócio do escritório CCM ADVOGADOS. Mestre em Direito. Especialista em
Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Especialista em Direito Processual Civil. Es-
pecialista em Direito Previdenciário. Integrante da REDE LADO. Associado da ABRAT,
AGETRA e IARGS.
189
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1 - INTRODUÇÃO
O movimento sindical representa a força social organizada dos
trabalhadores para avanços e resistência sobre as forças do capital as quais,
por seu turno, pretendem fragmentar, suprimir e/ou reduzir conquistas no
campo dos Direitos Sociais. As raízes do sindicalismo no associativismo de
proteção ao longo dos anos ganha uma envergadura política de instituição
representativa classista com espaço nos demais Poderes.
A formação embrionária, ainda com senso de mutuo auxílio, evolui para
um movimento organizado de luta pela cidadania social e assistencialista/
cultural2 nos primórdios do século XX3, especialmente no Brasil, em que
as deficiências ou limitações do Estado eram complementadas pela ação
sindical. São do período os serviços de saúde, sistemas de aposentadoria
e financiamentos sociais para construção, por exemplo. Nesse passo, a
conjugação política traz para o movimento a ideia de financiamento Estatal
como elemento de sustentação financeira do modelo sindical.
A CLT positiva a sustentação financeira obrigatória com participação
do trabalhador na manutenção da estrutura do sindicalismo pelo imposto
sindical4 sendo a tônica que se mantém vigente como alternativa e pilar de
estruturação da grande maioria das entidades sindicais até novembro de 2017
quando a Lei 13.467 prometendo a modernização do movimento sindical5
2
Em que pese comum subestimar o movimento operário do início do século dando conota-
ção meramente assistencialista, Luna Ramacciotti, refere que o movimento dos trabalhadores
antes de 1930 foi essencial para a materialização das normas trabalhistas subsequentes.
RAMACCIOTTI, Luna. Crises e desafios do sindicalismo brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen
juris, 2020, p. 9.
3
FAUSTO. Boris. Trabalho Urbano e Conflito Social. 2ª ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2016, p. 205.
4
José Carlos Arouca traça crítica contumaz sobre o modelo de sustentação implantado à
época quando afirma: "Na verdade, o imposto prestou-se para manter os diretores "oficialis-
tas" e "pelegos" em seus postos, cobrindo as despesas de manutenção da sede e naturalmente
seus salários e vantagens, dispensados, assim, de estimular a filiação, de representar a classe,
mobilizando-a e comandando os movimentos reivindicatórios." AROUCA, Jose Carlos.
Comentários à Legislação Sindical. São Paulo: LTR, 2018, p. 146.
5
A justificativa do Projeto de Lei 6787/2016 (Acessível em: https://www.camara.leg.br/
proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=E4EF23B721956937B7093DB8A575007
2.proposicoesWebExterno1?codteor=1520055&filename=PL+6787/2016) que se transfor-
mou na Lei Ordinária 13.467/2017 é um arauto das aparentes boas intenções com o
Sindicalismo, em que expressamente busca a valorização da negociação coletiva e ação
sindical como elemento de essencial na relação capital trabalho. Entretanto, não passou de
escárnio, eis que a leitura do texto legal claramente demonstra o intento de supressão do
190
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
191
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
192
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
12
Ricardo Antunes propõe identificar quem seja a classe trabalhadora nesse novo momento
(ANTUNES, Ricardo. Op. Cit. . p. 87-94) que se mostra mais “ampla, heterógena, complexa
e fragmentada do que o proletário industrial do século XIX e do início do século XX."
13
OLIVEIRA, Thiago Barison de. A estrutura sindical de estado e a reforma trabalhista. In
Reformas Institucionais de Austeridade, Democracia e Relações de Trabalho. São Paulo: Ltr,
2018. p. 160.
193
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
195
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
valor da Contribuição de Negociação Coletiva. Os percentuais
de repasse dos valores referentes à Contribuição de Negociação
Coletiva para as entidades sindicais e para o Fundo Solidário de
Promoção Sindical são: centrais sindicais: 10%; confederações,
5%; federações, 10%; sindicatos, 70%; e fundo solidário, 5%.
Devem ser extintas, de forma gradativa e ao longo de três
anos, a contribuição sindical obrigatória (imposto sindical) e as
contribuições confederativa e assistencial15.
15
OSTROWSKI. Antonio et al. Reforma Sindical - Reflexões sobre o relatório final do
Fórum Nacional do Trabalho. Textos para discussão 10. Acessível em https://www12.
senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td-
10-reforma-sindical-reflexoes-sobre-o-relatorio-final-do-forum-nacional-do-trabalho.
16
RAMACCIOTTI, Luna. Crises e desafios do sindicalismo brasileiro. Rio de Janeiro:
Lumen juris, 2020, p. 91.
196
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
17
Identificamos algumas organizações embrionárias de defesa dos interesses dos trabalha-
dores em plataformas digitais como: SeliganaLiga – www.seliganaliga.com.br -; AMPARS
(www.ampars.org); AMPRITEC – facebook.com/ampritec e o mais atuante ALMA-RS
Associação Liga dos Motoristas de Aplicativos do Rio Grande do Sul que, a despeito da
nomenclatura, expressa o mais claro movimento sindical organizado desde a formação
de consciência de classe até a oferta de serviços. De igual sorte, também, a fundação do
Sindicato dos Motoristas de Transporte Privado Individual de Passageiros Por Aplicativos do
Rio Grande do Sul - Simtrapili – Rs com apoio da estrutura sindical da CUT/RS.
197
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
199
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
20
RAMOS FILHO, Wilson. O fórum nacional do trabalho e o sistema sindical brasileiro:
algumas críticas sobre o modelo de conflitos coletivos. Acessível em https://www.migalhas.
com.br/arquivo_artigo/forum_nacional_do_trabalho_e_o_s.htm.
200
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
federação independentemente do número de representados ou
de sindicatos a ela vinculados). O eixo das negociações (e das
formas institucionalizadas de solução de conflitos) no modelo
atual está centrado nas negociações conduzidas pelos sindicatos
de base com a contraparte patronal (sindicato de empresas ou
empresas). O novo sistema, ao prever a organização nacional por
setores e por ramos de atividade desloca esse eixo possibilitando
negociações coletivas de âmbito nacional cujos resultados
haverão de se aplicar a todos os empregados naquele ramo, em
todo o território nacional, como se verá mais adiante.
c) A terceira modificação paradigmática, decorrente das
anteriores, por ser sistêmica, é o reconhecimento das Centrais
Sindicais como interlocutores privilegiados não apenas da
concertação social que possibilitará a implantação do novo
sistema, mas de todo o mencionado tripé que estrutura o direito
sindical brasileiro.
d) A quarta modificação paradigmática é que resta abandonada a
noção de necessária unicidade sindical característica do modelo
sindical brasileiro desde os anos trinta. Os consensos obtidos
no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho possibilitaram a
construção de um novo sistema com pluralidade nas instâncias
superiores com a possibilidade de unicidade ou pluralidade
de representação nos sindicatos de base, segundo deliberação
dos próprios trabalhadores, e segundo alguns requisitos e pres-
supostos que serão oportunamente analisados.
e) A quinta modificação significativa é que o novo modelo
não prevê a necessidade de simetria entre a representação dos
trabalhadores e a representação dos empregadores.5
f) A sexta inovação paradigmática se refere ao novo modelo
de negociação coletiva que se engendrou, possibilitando
negociações articuladas desde os níveis mais gerais aos mais
específicos (nas empresas);
g) A sétima grande novidade paradigmática é a que, incluindo
parâmetros para a negociação coletiva, avança para a con-
figuração dos chamados atos antisíndicas (no sentido de fo-
mentar as negociações) e a uma reconfiguração do direito de
greve6, com significativas mudanças quanto à sua compreensão
como fenômeno social;
h) Por fim, a derradeira grande alteração no paradigma até
hoje vigente localiza-se na valorização dos chamados meios
alternativos de solução de conflitos coletivos, com a eleição da
arbitragem compulsória destes por parte da Justiça do trabalho,
em substituição ao Poder Normativo, segundo os princípios
gerais da arbitragem, o que será objeto de crítica parcial neste
trabalho.
201
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta retoma a necessidade de um espaço associativo e coletivo
que atenda às necessidades imediatas da classe trabalhadora precarizada,
assumindo um papel de articulação e apoio, buscando a conscientização de
seu papel e organizando a atividade sindical de luta por melhores condições
de trabalho.
Com isso as propostas de uma sustentação por contribuição associativa
e outra negocial, a partir das demandas coletivas como classe trabalhadora
organizada em ramos de atividade identificadas por pontos de similaridade.
Antes de formalizar medidas alternativas concretas de incremento da
receita, há que se compreender a extensão das mudanças sociais que per-
passam o mundo do Trabalho e o intento das últimas reformas que visam
a supressão completa do sindicato como agente interlocutor de voz da
coletividade de classe trabalhadora.
Os valores da meritocracia, individualidade, tecnologia e oportunidade
para um segmento de trabalhadores, aliado a falta de interlocução e linguagem
própria do atual sindicato com o atual trabalhador são elementos necessários
de revisão para, então, repensar as formas de sustentação financeira que
dialoguem com o atual cenário de ataques aos direitos sociais.
Apreender a linguagem e as necessidades da classe trabalhadora é
elemento essencial que precede a compreensão das formas de sustentação
financeira do movimento sindical. O desconto na remuneração, puro e simples
pode não traduzir o espaço de legitimação para a manutenção do sindicalismo,
deve, nos tempos atuais buscar compreender os anseios e necessidades para
então se apresentar como um espaço de construção e defesa dos interesses.
Exemplos ainda incipientes estão sendo experimentados com os
trabalhadores de aplicativos de transporte, com centros de convivência e
oferta de serviços como lanche, higiene e repouso. Em mesmo sentido, alguns
sindicatos superam os aspectos formais de representação para um exercício
de identificação dos trabalhadores em condição precária, terceirizados,
autônomos ou sem vínculo formal algum, buscando a conscientização e a
melhoria da sua condição de trabalho e, por consequência de vida, sem que
isso passe necessariamente pela discussão inicial do vínculo de emprego, mas
de melhoria da condição efetiva de trabalho.
Resultado desse movimento é a possibilidade da cobrança de um valor
por serviço, um valor por associativismo e a clássica remuneração decorrente
das negociações de classe, sejam por acordos / convenções coletivas ou pelo
exercício da negociação em prol de um grupo de trabalhadores.
202
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão. O novo proletariado de
serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
AREND. 1951 apud STANLEY, Jason. Como funciona o fascismo: a
política do “nós” e “eles”. Porto Alegre: L&PM, 2020.
AROUCA, Jose Carlos. Comentários à Legislação Sindical. São Paulo:
LTR, 2018.
FAUSTO. Boris. Trabalho Urbano e Conflito Social. 2ª ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2016.
OLIVEIRA, Thiago Barison de. A estrutura sindical de estado e a reforma
trabalhista. In Reformas Institucionais de Austeridade, Democracia e
Rela-ções de Trabalho. São Paulo: Ltr, 2018.
OSTROWSKI. Antonio et al. Reforma Sindical – Reflexões sobre o relató-
rio final do Fórum Nacional do Trabalho.
RAMACCIOTTI, Luna. Crises e desafios do sindicalismo brasileiro. Rio
de Janeiro: Lumen juris, 2020.
RAMOS FILHO, Wilson. O fórum nacional do trabalho e o sistema
sindical brasileiro: algumas críticas sobre o modelo de conflitos coletivos.
Acessível em https://www.migalhas.com.br/arquivo_artigo/forum_nacional_
do_traba-lho_e_o_s.htm.
SANTOS, Fábio Luis Barbosa dos. Uma história da onda progressista sul-
americana (1998-2016). São Paulo: Elefante, 2018.
STANLEY, Jason. Como funciona o fascismo: a política do “nós” e “eles”.
Porto Alegre: L&PM, 2020.
203
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
204
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Diretora da Associação Gaúcha da Advocacia Trabalhista, sócia do Escritório Direito
Social, especialista em Direito e Processo do Trabalho, formada pela PUCRS/RS.
205
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1 - INTRODUÇÃO
As alterações abruptas nas rotinas e formas de trabalho apresentaram a
uma parcela dos trabalhadores os mecanismos e facilidades do denominado
home office. Sistema onde com a subordinação do trabalho e o desempenho
das funções com coordenação do empregador, as atividades que antes eram
assumidas pelo empregado e desempenhadas na sede da empresa, passam a
ser realizadas no ambiente de trabalho.
Consolidada esta alteração regulamentada pela inclusão de um artigo na
Consolidação das Leis do Trabalho - inserido com o contexto de viabilidade
econômica e supressão dos direitos sociais da alteração legislativa denomina-
da reforma trabalhista – está caracterizada a adequação de um conceito de
realidade laboral cada vez mais dissociada das garantias constitucionais de
dignidade do trabalhador.
Inobstante a grave expansão desta modalidade, impelidos pela urgên-
cia efetiva do isolamento social, estamos diante de novas discussões, que
exigem novos parâmetros, mas que sigam mantendo os alicerces das garantias
do trabalho e dos princípios estruturais dos direitos elencados na legislação
trabalhista.
A utilização de mecanismos disponíveis para o desempenho das fun-
ções laborais e os sistemas necessários compõe um dos muitos recortes
essenciais do estudo e da compreensão das alterações da rotina de trabalho
e impacto na relação de emprego dentro do contexto atual de trabalho e dos
avanços tecnológicos já existentes.
Essencial que se aprofunde o conceito de aplicação sistemática e
interpretativa da legislação que regulamenta o teletrabalho, considerando que
o novo sistema de emprego, distante da sede das empresas, para que este não
corresponda a uma alternativa econômica de transferência de responsabilida-
des de forma absoluta ao trabalhador, incluída a responsabilidade de arcar
com despesas de manutenção e estrutura física para que os sistemas telemá-
ticos sejam implementados.
2 - O CONCEITO DE TELETRABALHO
Conceitualmente, o teletrabalho surge no contexto de novas formas de
trabalho diante das metamorfoses e fragilidades das relações de trabalho e
da globalização neoliberal, culminando com a produção crescente de meios
tecnológicos que possibilitam a inserção no contexto mundial atual.
206
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
5
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-Lei nº 5.442, de 01.mai.1943.
Disponível em:. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm) Acesso em:
03.03.2021
210
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
211
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
213
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
214
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº 12.551, de 15 de dezembro de 2011. Altera o art. 6o da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no
5.452, de 1o de maio de 1943. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 dez.
2011.
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-Lei nº 5.442, de
01.mai.1943. Disponível em:. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htm Acesso em: 03.03.2021.
BRASIL. Lei nº 13.467/2017. Reforma Trabalhista. Brasília, DF,
Novembro 2017.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho.12ª ed. São
Paulo: Saraiva Jur. 2020.
DELGADO, Mauricio Godinho e Delgado, Gabriela Neves. A Reforma
Trabalhista no Brasil. São Paulo: LTR. 2002.
ENUNCIADO 70, aprovado na II Jornada Nacional de Direito Material e
Processual do Trabalho, promovida pela Anamatra entre os dias 09 e 10 de
outubro de 2017 em: https://www.anamatra.org.br/attachments/article/27175/
livreto_RT_Jornada_19_Conamat_site.pdf.
LACOMBE, Francisco José Masset. Recursos Humanos: princípios e
tendências. São Paulo: Saraiva, 2011.
OIT. Organização Internacional do Trabalho. Alternativas que podem
facilitar a conciliação entre o trabalho e a família. Disponível em: https://
www.ilo.org/brasilia/publicacoes/WCMS_229656/lang--pt/index.htmodem
facilitar a conciliação entre o trabalho e família (ilo.org). Acesso em:
03.03.2021.
VECCHI. Ipojucan Demétrius. Direito Material: noções introdutórias,
relações de emprego e contrato de trabalho. Curitiba: Juruá, 2016.
VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa: um estudo econômico das
instituições. Tradução de Olívia Krahenbuhl. São Paulo: Nova Cultural,
1987.
215
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
216
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1
Professora, advogada trabalhista, especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Uni-
versidade Castelo Branco, mestre em Direito e Justiça Social pela Universidade Federal do
Rio Grande – Furg, doutoranda no programa de pós-graduação em Politica Social e Direitos
Humanos da Universidade Católica de Pelotas – UCpel, diretora de interior da Associação
Gaúcha da Advocacia Trabalhista - Agetra nas gestões 2017-2019 e 2019-2021.
217
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
1 - INTRODUÇÃO
Este capítulo tem como objetivo problematizar a subalternidade e a di-
ferencial distribuição da precariedade no mundo do trabalho e na vida de
homens e de mulheres trabalhadoras de aplicativos, tendo como ponto de
partida o longa-metragem do Reino Unido-Bélgica-França Você Não Estava
Aqui2, filme que conta a história de Ricky e sua família, que na busca desespe-
rada por uma vaga de trabalho, acaba aceitando uma proposta que o tornaria
empresário. Há muito tempo desempregado e morando de aluguel, Ricky vai
trabalhar em uma empresa de entrega de encomendas, no entanto, tal relação
de trabalho se dá de forma autônoma, sem qualquer espécie de proteção tra-
balhista.
Ricky precisa então, adquirir o veículo para o transporte das merca-
dorias, assinado o contrato, que o gerente da empresa chama de “franquia”,
Ricky recebe uma rota e uma maquineta, uma espécie de pager com o qual,
tanto a transportadora, quanto os clientes conseguem controlar Ricky em tem-
po real, chegando a acionar um bip, caso o motorista fique mais de duas horas
fora do veículo. Para a aquisição do veículo, Abby, esposa de Ricky teve que
vender o seu carro, veículo que utilizava para se locomover entre as diversas
casas de pessoas idosas, já que trabalha como home care, potencializando as
péssimas condições de trabalho que enfrenta.
Ricky e Abby trabalham em torno de 12/14 horas por dia, seis vezes
por semana, deixando suas vidas e a de seus filhos em uma condição cada vez
mais frágil, potencializando o adoecimento coletivo da família. Ricky aceita
o trabalho na empresa entregadora, com a falsa promessa de que estaria se
tornando um empresário, com total liberdade e flexibilidade na execução das
tarefas.
No entanto, a realidade se mostra completamente diferente e a dita li-
berdade serve apenas para fundamentar o fato de que Ricky acaba suportando
todos os riscos do negócio, já que é responsável pelo veículo, pelo combus-
tível, pela sua manutenção, suportando inclusive os prejuízos em relação às
mercadorias e ao computador de mão pelo qual “franquia” controla a produ-
tividade do trabalhador.
A obra traduz histórias e narrativas de vida de milhares de trabalha-
dores e trabalhadoras por aplicativos, que partem em busca de seus sonhos
profissionais em detrimento de seus afetos e desejos, em negação a sua pró-
2
Longa metragem do Reino Unido-Bélgica-França, dirigido por Ken Loach, lançado em
2018. Principais personagens: Ricky, Abby, Liza Jane e Sebastian.
218
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
3
Woodcock, Jamie; O panóptico algorítmico da Deliveroo: mensuração, precariedade e ilu-
são do controle. In Antunes, Ricardo. (org.) Uberização, trabalho digital e indústria 4.0. 1ª
ed. – São Paulo: Boitempo, 2020.
219
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
Você não estava aqui, apresenta uma crítica ao direito e à forma como
a sociedade tem se organizado para explorar o trabalho humano. O mundo do
4
Trecho de um diálogo entre os protagonistas do filme Você não estava aqui.
5
Lei 13.467/2017.
220
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
6
Sinopse do filme extraída do site adoro cinema, acessado em 01/03/2021 em http://www.
adorocinema.com/filmes/filme-264872/criticas-adorocinema/.
221
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
222
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
223
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
224
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
A ideia de liberdade e flexibilidade (trabalhar quando e onde
quiser) propagada pelas empresas constitui, na verdade, a trans-
ferência deliberada de riscos, para aumentar o controle sobre os/
as trabalhadores/as, pois essa liberdade significa ausência de sa-
lário garantido e incremento de custos fixos, que se convertem
em responsabilidade dos/as trabalhadore/as. (FILGUEIRAS e
ANTUNES, 2020, p.66)
225
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
226
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
227
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
228
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
governados. A racionalidade neoliberal tem como característica
principal a generalização da concorrência como norma de con-
duta e da empresa como modelo de subjetivação. (DARDOT e
LAVAL, 2016, p.17)
229
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
230
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
231
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
232
Muito Além do Algorítmo: O Direito do Trabalho no Séc. XXI
233