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UNIVERSID ADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

DANIEL SOTERO DOS SANTOS

A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO SOBRE QUESTÕES DE


GÊNERO NA CIÊNCIA

São Cristóvão – SE
2022
DANIEL SOTERO DOS SANTOS

A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO SOBRE QUESTÕES DE


GÊNERO NA CIÊNCIA

Monografia apresentada à disciplina Práticas de Pesquisa


em Ensino de Ciências e Biologia II, curso de Graduação
de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Sergipe (UFS), no período letivo 2022.1,
como requisito parcial para obtenção do título de
licenciada em Biologia.

Orientadora: Prof.ª Dra. Livia de Rezende Cardoso

São Cristóvão – SE
2022
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço ao Bom Deus por ter me mantido de pé e realizado em mim


sua incomensurável vontade a qual no estado do meu ser atual não tenho aptidão para
compreender.
Agradeço a minha família, pois, mesmo não sendo o filho, neto, sobrinho, primo... que
realmente merecem, nunca me abandonaram em nenhum momento de minha jornada.
A minha orientadora por que mesmo atarefada nunca deixou de prestar assistência no
decorrer da execução desse trabalho.
A todos os voluntários que participaram de bom grado dessa pesquisa, e me perdoem
por não escrever aqui seus nomes, pois a participação foi anônima e devido a isso não sei o
nome de vocês (Risos). Mas, podem ter certeza que não irei esquecer o rosto de vocês.
À direção e coordenação do Colégio Estadual Armindo Guaraná por ter permitido sem
abstenção a realização dessa pesquisa.
A Robson, Misael, Áquila, Adriano (Boião), Luane e outros incontáveis amigos e
amigas, por terem, cada qual a sua maneira, cuidado de mim.
A Platão e Aristóteles por terem me ensinado, mesmo indiretamente através de suas
obras, a importância de amar desejando o que não tenho e se alegrando com aquilo que vou
conquistando.
Ao quarteto (Gihslaine, Jeverson, João Vitor e Thaynan) que se tornar quinteto em
minha presença, por terem me acompanhado durante toda essa graduação, embora a primeira
formação (quarteto) tenha reinado na maior parte.
A Mário Sérgio Cortela por ter me lembrado que a vida é curta demais para ser
apequenada e que a mediocridade é algo a ser evitado.
A Clóvis de Barros Filho por suas palestras que me proporcionaram momentos de
reflexão sobre o que a vida tem que ter para ser boa.
Àqueles que trouxeram angústia a minha alma, pois sem vocês eu não saberia
reconhecer os momentos de alegria.
E por fim, obrigado novamente a todos que anteriormente mencionou e aqueles que
não lembrei ou não sei o nome, por terem me proporcionado instantes de vida que valeram
apena serem vividos.
RESUMO

Durante muito tempo, a ciência foi concebida como um campo proibida para as mulheres,
devido a crença em suas características intrínsecas não serem compatíveis com o desempenho
das atividades cientificas. Contudo, apesar dos estereótipos, há relatos que demonstram que a
mulher sempre esteve por trás de inúmeras descobertas cientificas. Com o passar dos anos
começaram a se firma cada vez mais e a ganhar espaço em um ambiente, ainda, de visíveis
desigualdades entre os gêneros. O Ensino Superior no Brasil reflete esta realidade, na qual há
divisão, de acordo com o gênero, na escolha de cursos por parte dos estudantes da educação
básica: homens escolhendo e frequentando áreas estereotipadas como masculinas e as mulheres,
áreas historicamente demarcadas como femininas. Este trabalho buscou investigar esta
realidade a nível de Ensino Médio, como também a percepção de discentes sobre o papel das
mulheres na ciência, por meio da realização de um estudo de caso, via aplicação de questionário
em uma turma de alunos e alunas de um colégio estadual no município de São Cristóvão/SE.
Os resultados não demonstram diferenças no interesse entre os gêneros por cursos de uma área
em especial. Contudo, cursos pertencentes as áreas de Ciências Exatas e de Ciências Agrárias
Aplicadas são impopulares entre as mulheres. Ademais, em âmbito colegial, as disciplinas
escolares que demandam conhecimentos matemáticos não despertam tanto interesse em ambos
os gêneros. Ainda, os resultados indicam, novamente, o desconhecimento por parte dos(as)
alunos(as) sobre as contribuições e a presença feminina no campo científico.

Palavras chave: Representatividade, Mulheres Cientistas, Estereótipos.


ABSTRACT

For a long time, science was conceived as a forbidden field for women, due to the belief that
their intrinsic characteristics were not compatible with the performance of scientific activities.
However, despite the stereotypes, there are reports that show that women have always been
behind numerous scientific discoveries. As the years went by, they started to establish
themselves more and more and to gain space in an environment, still, of visible inequalities
between genders. Higher Education in Brazil reflects this reality, in which there is a gender
division in the choice of courses by students of basic education: men choosing and attending
areas stereotyped as masculine and women, areas historically demarcated as feminine. This
paper aimed to investigate this reality at the high school level, as well as the perception of
students about the role of women in science, by conducting a case study, through the application
of a questionnaire to a group of male and female students of a state school in the city of São
Cristóvão/SE. The results show no differences in the interest between genders for courses in a
particular area. However, courses belonging to the areas of Exact Sciences and Applied
Agricultural Sciences are unpopular among women. Furthermore, at the high school level,
school subjects that require mathematical knowledge do not arouse as much interest in both
genders. Still, the results indicate, again, the students' lack of knowledge about the contributions
and the feminine presence in the scientific field.

Keywords: Representativity, Women Scientists, Stereotypes.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Percentual do número de alunos por idade ................................................................ 21


Gráfico 2 - Percentual do número de alunos por gênero .............................................................. 22
Gráfico 3 - Cursos superiores mencionados pelos alunos, e quantidade de menções por cada
curso ..................................................................................................................................................... 23
Gráfico 4 - Quantidade de alunos com interesse em cursos das áreas de Ciências Biológicas e
da Saúde; Ciências Exatas e Tecnologia; Ciências Sociais Aplicadas; Educação e Ciências
Humanas, e Ciências Agrárias Aplicadas........................................................................................ 23
Gráfico 5 - Disciplinas que meninos e meninas indicaram gostar mais ..................................... 25
Gráfico 6 - Disciplinas que meninos e meninas indicaram gostar menos .................................. 25
Figura 1 - Nuvem de palavras com o nome dos cientistas citados pelos alunos ....................... 27
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 7
2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 11
2.1 Questões de gênero na história da ciência .......................................................... 11
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................. 17
3.1 Abordagem metodológica .................................................................................... 17
3.2 Delimitação do campo de trabalho e definição dos sujeitos ............................. 17
3.3 Procedimento de coleta e análise dos dados ....................................................... 18
3.4 Processo de confecção e validação do instrumento de coleta dos dados ......... 19
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 21
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 31
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 32
APÊNDICE A - Modelo do questionário a ser aplicado aos/as estudantes da 3ª série do
Ensino Médio. ....................................................................................................................... 36
APÊNDICE B - Modelo de Termo De Consentimento Livre e Esclarecido a ser aplicado
aos/as estudantes da 3ª série do Ensino Médio. .................................................................... 39
7

1 INTRODUÇÃO

A presença feminina foi fortemente barrada em campos onde a racionalidade e


cientificidade reinam (CASAGRANDE, 2005; SILVA, 2014). Desde a antiguidade, as
mulheres foram idealizadas como sendo o polo mais fraco, o ser facilmente domado por
sentimentos, devendo, portanto, serem governadas pelo outro, o homem (LOPES, 2010).
São inúmeros exemplos de preconceito de gênero durante a história da construção do
conhecimento. Aristóteles, um dos pensadores mais influentes da história, defendia a ideia da
superioridade masculina frente às mulheres. Para o pensador, o universo só “criava” mulheres
quando não mais podia “fabricar” homens, visto a necessidade de manter o equilíbrio cósmico.
Além do mais, por muito tempo, a execução de atividades domésticas esteve fortemente
vinculada ao público feminino. Tais convicções se sustentavam em estereótipos de gênero, onde
o gênero feminino era concebido como sendo mais frágil, delicado e sentimental em
comparação ao seu par. Restando-lhe o envolvimento com tarefas condizentes com suas
singularidades (MADEIRA e ALVES, 2019).
Entretanto, apesar das dificuldades e do preconceito enfrentados ao longo da história,
muitas mulheres se destacaram nas mais variadas áreas do conhecimento, e após triunfar sobre
todo tipo de discriminação, tiveram o devido reconhecimento por suas contribuições à
humanidade (CASAGRANDE, 2005).
Algumas das mulheres que perpetuaram seu nome na história da ciência estão no livro
“As Cientistas: 50 Mulheres que Mudaram o Mundo” de Ignotofsky (2017). A obra conta com
nomes como Hipátia de Alexandria, considerada a primeira mulher matemática do mundo, além
de astrônoma e filósofa; Maria Sibylla Merian, entomologista e ilustradora científica; Wang
Zhenyi, cientista chinesa, astrônoma, matemática e poeta; Mary Anning, paleontóloga e
colecionadora de fósseis; Ada Lovelace, matemática e escritora e Katherine Johnson, física e
matemática afro-americana, sendo responsável por calcular a trajetória da missão Apolo 11 à
lua.
Outra mulher que merece ser mencionada é Marie Curie, um dos nomes mais conhecidos
mundialmente quando o assunto é ciência e principalmente mulher cientista. Ela é considerada
como mãe da física moderna, foi pioneira em pesquisa sobre a radioatividade, descobriu dois
elementos da tabela periódica, polônio e rádio, além de conseguir isolar isótopos destes
elementos. Foi a primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel e a primeira pessoa a receber duas
vezes o prêmio, sendo a única a ter em duas categorias científicas distintas, física e química
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(GIROUD, 1986). Esses feitos citados só reforçam a importância do papel feminino no


desenvolvimento científico.
Contudo, mesmo atualmente sendo possível averiguar historicamente a presença das
mulheres nas distintas áreas do campo científico. A representatividade feminina ainda é muito
inferior à masculina em diversas frentes, principalmente das ciências duras (HAYASHI, 2007).
De acordo com o relatório do ano de 2020 publicado pela Elsevier intitulado “The
Researcher Journey Through a Gender Lens”, “A jornada do pesquisador através de lentes de
gênero” em tradução livre, as mulheres são maioria em apenas sete áreas: Bioquímica, com
52,7% de mulheres; Odontologia, com 52,4% de mulheres; Imunologia e Microbiologia, com
57,7% de mulheres; Medicina, com 52,7% de mulheres; Neurociência, com 54,3% de mulheres;
Enfermagem, com 73% de mulheres; Farmacologia, com 57,6% de mulheres (DE KLEIJN et
al, 2020).
Vale pontuar que o estudo examinou a participação em pesquisas, na progressão de
carreira e nas percepções em 26 áreas temáticas na União Europeia e em outros 15 países,
inclusive o Brasil. Ademais, segundo o relatório, a participação das mulheres na pesquisa
científica está aumentando, mas as desigualdades permanecem, sejam elas em termos de
resultados de publicações, citações, bolsas concedidas ou colaborações.
Segundo a PUCPR (2022), as mulheres somam 43,7% do total de pesquisadores
científicos no Brasil, com estimativa de se tornarem maioria em uma década. Já em nível global,
a estatística cai para 30%.
Contudo, embora o número de estudantes universitários no Brasil (aproximadamente
59%) sejam mulheres, apenas 41% estão matriculadas em cursos das Ciências Exatas que
favorecem a abordagem STEM - Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (Science,
Technology, Engineering and Mathematics) - na formação educativa. Quando focamos na área
de engenharia o valor se torna ainda menor - 29,3% (OPET, 2020).
Tendo em vista esse cenário de visível desigualdade que se perdura até os dias atuais,
diversas iniciativas foram estruturadas, tendo como objetivos estimular a produção científica, a
reflexão sobre as relações de gênero, mulheres e feminismos no país, além da prestação de
incentivos a fim de uma maior integração das mulheres no campo das ciências e das carreiras
acadêmicas.
O programa Mulher e Ciência lançado em 2005 é um desses exemplos (BRASIL, 2022),
assim como as iniciativas “ELAS nas Exatas”, “Meninas Olímpicas do Impa”, “Tem Menina
no Circuito” (OPET, 2020), ONU Mulheres (ONU, 2022). Dessa forma, criar, lançar e
disseminar de forma integral novas iniciativas, como também ampliar e aperfeiçoar as já
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existentes, se torna um fator importante na busca por melhores condições de trabalho e por
novas oportunidades para o público feminino em carreiras científicas. Ademais, um dos grandes
objetivos do milênio, proposto pela Organização das Nações Unidas, a ser alcançado, é a
redução das desigualdades entre os gêneros.
Portanto, diante de tudo que foi exposto, se torna relevante constatar como a sociedade
contemporânea brasileira, em especial os estudantes, enxerga a mulher e sua relação com a
ciência e o meio acadêmico.
Vale mencionar que no presente trabalho, consideramos gênero como um elemento
construído a longo tempo, baseado em normalidades e divergências referente aos papeis,
funções, estruturas, práticas cotidianas, rituais ou comportamentos julgados socialmente
adequados a cada grupo sexual (LOURO, 2007; SCOTT, 1995). Dessa forma, o gênero não se
refere basicamente a fatores biológicos e físicos como aparelho reprodutor, composição
genética ou o aspecto visual, mas à uma construção histórico-cultural, sendo, portanto, mutável
(SCOTT, 1986 e 1995). Já ao evocar o termo estereótipo de gênero, refiro ao conjunto de
crenças e valores, sejam eles individuais ou coletivos, sobre os variados atributos perfeitamente
considerados pertencentes de forma particular a homens e a mulheres (D’AMORIM, 1997).
Ademais, a ciência, neste trabalho, é compreendida como um discurso estruturado
socialmente e historicamente, permeado por intensa luta entre classes. Onde os agentes sociais
objetivam não só instituir os procedimentos, métodos, saberes, habilidades e “verdades” que
formalizam o que se conhece por campo científico, como também a instauração da própria
definição de ciência e quem pode ser considerado cientista (HENNING, 2008).
Portanto, frente ao cenário de baixa representação feminina nas Ciências, aqui relatada
e que ainda vigora a nível nacional e mundial, o presente estudo visa investigar a possível
réplica, ou não, destas tendências a nível de Ensino Médio, bem como averiguar a noção dos
estudantes sobre a presença e o papel da mulher no campo científico. Insta pontuar, que o alvo
almejado com a realização desse estudo não é esboçar conclusões definitivas ou, ainda,
estatisticamente significativas sobre a questão da representação da mulher na Ciência. Visto
que, será escolhido um pequeno universo de estudo em um único colégio estadual localizado
no município de São Cristóvão/SE. Desta forma, não deve ser tomado como representativo de
toda uma população, seja ela nacional ou mundial. O que se pretende é apenas investigar se os
padrões apresentados neste estudo viriam a se replicar em uma escala menor, isto é, em um
ambiente de universo amostral limitado numericamente, sendo este escolhido de forma não
intencional para a realização deste estudo.
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Em síntese, o objetivo geral do trabalho é analisar a percepção dos estudantes sergipanos


do Ensino Médio acerca de questões de gênero na ciência. Já os objetivos específico são:
Levantamento de algumas informações básicas de autoidentificação dos alunos; Levantamento
de algumas informações gerais pertinentes às preferências acadêmicas dos (as) alunos (as), ou
seja, quais são as disciplinas escolares favoritas e os prováveis cursos de Ensino Superior que
pensam, ou não, em seguir no futuro; Identificar como os discentes enxergam à questão da
representação feminina (se os participantes têm conhecimento de mulheres que fizeram/fazem
parte da história da ciência), e os estereótipos de gênero associados ao mesmo (questionando
qual seria a imagem de estudantes acerca de uma pessoa que trabalhe como cientista).

Por fim, o presente trabalho será subdivido em outras 4 seções. A primeira delas se
refere ao referencial teórico. Nesta, fizemos um breve levantamento do tema à luz das ideias de
outros autores. A segunda seção é a de Materiais e Métodos. Nesta, será descrito a ferramenta
de coleta de dados, o tipo de pesquisa, e o público e local destinado à pesquisa. A terceira seção
se refere aos Resultados e Discussões. Nesta, os dados obtidos com a execução da metodologia
supracitada, serão apresentados e discutidos. Finalmente, a quarta seção é a das Considerações
Finais. Nesta, será apresentada uma síntese dos elementos constantes na pesquisa.
11

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Questões de gênero na história da ciência


Durante muito tempo na história da humanidade, o gênero feminino ficou em segundo
plano (BANDEIRA, 2008; WOITOWICZ, 2008). Consequentemente, desde os primórdios da
construção do conhecimento, as mulheres foram definidas como o ser inferior ao homem, não
estando, portanto, apta ao exercício da racionalidade (LINO, 2016; CHASSOT, 2004). Essa
visão está bem pontuada nas palavras de Chassot (2004, p. 17):
Aristóteles (1995), no livro X da Metafísica, diz que um gênero compreende os dois
sexos. Nas explicações aristotélicas a respeito da participação da mulher no processo
da geração de uma nova vida, essa apenas teria o ventre fecundo para receber o
esperma do homem, com todas as características do novo ser. Este é um dos pontos
de partida, em nossas heranças culturais gregas, para muitas discriminações.
Aristóteles ensinava – e essas concepções se sustentaram pelo menos até o final da
Idade Média – que a semente masculina estaria dotada de todas as características do
novo ser. Qualquer imperfeição que a nova criatura viesse a ter era responsabilidade
da mulher, que não alimentara adequadamente a semente perfeita que lhe fora
depositada pelo homem no vaso nutridor. Se da semente masculina nascesse uma
fêmea, isso se devia a uma impotência de seu pai, que então gera um ser impotente:
uma fêmea. Assim, a mulher é ela própria um defeito. Reduzir o dimorfismo sexual a
desvios mensuráveis é uma operação vantajosa para a lógica do sistema aristotélico e
do ponto de vista macroscópico mensurável nas comparações das aparências entre
machos e fêmeas. Dessa forma nas mulheres são imperfeições: a ausência de pênis,
os músculos peitorais flácidos e porosos onde há leite, o sangue menstrual, menos
voz, ser frágil, são alguns dos exemplos para mostrar um corpo naturalmente
mutilado.

Outro argumento que reforça, ainda mais, essa triste visão histórica que vigorava nas
mentes e nos pressupostos dos pensadores mais influentes da antiguidade, principalmente
daqueles que são considerados “sinônimos” da palavra cientistas, está na obra Systema naturae
de Carolus Linnaeus (SARDENBERG, 2002). Na obra se faz a associação do feminino com a
natureza e do masculino com a mente, no passo que designa a espécie humana como Homo
sapiens (“homem sábio”), e ao mesmo tempo situa essa espécie no grupo dos mamíferos ou
Mammalia (SCHIENBINGER, 1993; 1996).
De acordo Schienbinger (1996, p.144), “na terminologia de Linnaeus, uma característica
feminina (a mama lactante) liga os seres humanos aos brutos, enquanto uma característica
tradicionalmente masculina (razão) marca a sua separação”.
De acordo com Leta (2003), as mulheres se viram privadas de frequentarem as
fervorosas discussões que eram realizadas pelas comunidades e academias científicas, que se
multiplicaram durante o século XVII por todo o continente europeu e tornaram-se instituições
de referência e prestígio científico da recente e pequena comunidade científica global que se
erguia na época. Ainda segundo Leta (2003), no século XVIII, esse cenário pouco se alterou e
o acesso das mulheres em atividades de teor científico, com raras ressalvas, devia quase que
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integralmente ao contexto familiar que estavam inseridas: Sendo esposas ou filhas de algum
homem que exercesse a função de cientista, podiam desempenhar trabalhos complementares e
de suporte, tais como, cuidar de coleções biológicas, limpeza dos equipamentos e vidrarias,
ilustração e registro dos experimentos e tradução de textos.
Continuando ainda no mesmo raciocínio, percebe-se que mesmo em meados do século
XX, onde se notava a crescente participação das mulheres nas carreiras de ciência e tecnologia,
o público feminino continuava sem o devido reconhecimento e prestígio na área (OLINTO,
2011). Segundo Chassot (2004) nas primeiras décadas do século XX, a Ciência ainda
continuava sendo definida como um ambiente indevido para a mulher, de semelhante forma, na
segunda metade do século XX, era ainda comum a separação das carreiras e profissões que
pertenciam a cada um dos grupos biológicos.
Diante disso, para tentar burlar o sistema de opressão e submissão, impostos por uma
sociedade historicamente com fortes traços patriarcais, e conseguir acesso a espaços públicos e
políticos que lhes eram negados, as mulheres utilizaram várias estratégias. A exemplo disso,
temos a utilização de pseudônimos masculinos na publicação de obras em jornais e revistas
científicas. Dessa forma, o que se esperava era aprovação e publicação dos textos, pois a
alcunha masculina gerava maior credibilidade, maximizando as chances de sucesso (SILVA,
2015).
Não obstante, o Nobel, prêmio mais relevante que um ou uma cientista pode receber por
suas contribuições à ciência e ao progresso da humanidade, conta com pouquíssimas
vencedoras (BOLZANI, 2017). Sendo que destas poucas foram premiadas individualmente, ou
seja, sem que houvesse a figura masculina para dividir o prêmio (CORDEIRO, 2013).
Marie Curie, ao receber o Nobel de Química em 1911, se tornou uma das poucas que
foram agraciadas com o prêmio de forma individual por suas descobertas (CORDEIRO, 2013;
BOLZANI, 2017). Entretanto, a mesma, em momento anterior, 1903, acabou dividindo o Nobel
de Física com seu marido, Pierre Curie, e Becquerel (GIROUD, 1986).
Nesse cenário, segundo Schiebinger (2001), a ciência antiga e moderna, de fato, é fruto
de centenas de anos de definitiva exclusão feminina do seu meio. Logo, a efetiva inclusão das
mulheres na ciência exigiu, e continuará exigindo, entranhadas mudanças estruturais na cultura,
nos métodos e nos conteúdos, e, portanto, não se deve estranhar que as mulheres naturalmente
não obtenham sucesso num empreendimento que desde suas raízes foi desenvolvido para
excluí-las. (SCHIEBINGER, 2001).
O conhecimento científico gerado na modernidade assumiu um caráter epistemológico
que teve como base tanto a tradição racionalista, de Descartes, como a tradição empirista, de
13

Bacon (SILVA, 2015; MARCONDES, 1996). Nesse sentido, é a partir do próprio indivíduo de
natureza racional, que as ideias buscam fundamentos para se firmarem como novas teorias
científicas. Assim, a modernidade se qualifica pelo lapso com as tradições anteriores
(MARCONDES, 1996). Dessa forma, é evidente o caráter subjetivo adquirido pela ciência, na
definição do conceito de “verdade”, que estava centrado no ser pensante da época, ou seja, o
homem (SILVA, 2015, COLLING, 2004).
Nesse contexto, como exposto por Lage (2008, p. 195-196)
...foi se processando uma taxionomia sobre a forma de se conhecer o mundo,
colocando de um lado tudo o que é científico e, portanto, relevante e do outro, tudo o
que é não-científico e, portanto, marginal. As consequências desta dicotomia
hierarquizante foram desastrosas sob o ponto de vista da diversidade cognitiva da
nossa humanidade, pois provocou a ocultação e a desqualificação de uma infinidade
de conhecimentos por todo o mundo, segregando-lhes do direito de também se
fazerem verdade (LAGE, 2008, p. 195-196).

Toda essa segregação supracitada, continuava alicerçava na crença ou estereótipos de


gênero, onde se colocava em pauta a “superioridade” do homem, sendo que a mulher era
concebida como um ser que não conseguia controlar seus sentimentos, não sendo guiada,
portanto, pela razão, e nem conseguia ser objetiva, “atributos de um cientista”, e por ser frágil
tanto física como emocionalmente deveria ser precavida de exercer cargos de chefia e de seguir
carreiras que demandam notável capacidade intelectiva e esforço físico como na área das
ciências duras (KANTER, 2008). Esse entrave sobre quem pode ou não fazer ciência,
desencadeou grandes males à construção de sociedades igualitárias, como explica Lage (2018,
p. 198):
A simbiótica relação entre poder e conhecimento tem se traduzido num verdadeiro
holocausto, protagonizado pela ciência, sobre todas as outras formas de
conhecimento. Dentro desta perspectiva inscreve-se a ideia da competição
epistemológica. Uma competição predatória, onde o ocidente civilizado canibaliza
culturas e conhecimentos numa acirrada e desigual disputa por espaços e poder.
Assim, a imposição desta supremacia tem limitado as possibilidades cognitivas do
mundo, na medida em que se constrói como universalidade uma única forma de
conhecimento [...] (LAGE, 2008, p. 198).

Felizmente, diversos estudos como o realizado por Soares (2001), desmentem o grotesco
erro histórico, cultural e social sobre as diferenças entre gêneros. Em sua pesquisa, Soares
destacou que estudantes estadunidenses de sexos diferentes que cursaram as mesmas disciplinas
desde o início de sua formação educativa, e no mesmo período de tempo, não apresentaram
significativa diferença de aptidão para a matemática ou para ciências.
Ademais, de acordo com o relatório “Education at a Glance 2021” da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE (2021), que compara resultados
educacionais tanto de homens como de mulheres em diversos países, inclusive o Brasil, indica
que o desempenho escolar não diverge significativamente em relação ao gênero. Em outras
14

palavras, os dados apontam para equivalência de desempenho entre os gêneros se assegurado


estrutura e condições adequadas para o desempenho das habilidades.
Nesse sentido, como bem pontua Silva (2015, p. 47):
Lutar pela presença, pelo lugar, pelo papel ou pela missão das mulheres na sociedade
é abrir, em simultâneo, o debate acerca de todas as questões pertinentes ao presente,
ao passado e ao futuro de todas as culturas sociais, em todas as classes. Logo, não
devemos tratar a problemática de igualdade de gênero como um direito da minoria,
pois em números as mulheres são mais da metade da população, todavia, ao
refletirmos sobre as relações de poder, nos damos conta de que esse poder não
pertence à maioria no nível social, político e cultural.

Assim, é nesse contexto de busca por representatividade que os movimentos feministas


originados a partir do final do século XIX se destacam (COLLING, 2004), pois, não se
restringiam somente na busca pelo direito ao voto feminino (LOURO, 1997; MEYER, 2004),
mas se expandiam na busca de mais investimentos massivos em produção de conhecimento,
em prol do desenvolvimento sistemático de estudos e de pesquisas que visavam não só
denunciar, mas compreender e explicitar a subordinação social e a invisibilidade política
a que o gênero feminino tinha sido historicamente submetido (MEYER, 2004).
Sobre os estudos, Meyer (2004, p.14) explica:
Incorporando as características do próprio movimento, esses estudos adotaram
perspectivas teóricas plurais e não necessariamente convergentes, aliando-se com
diferentes campos de estudo como, por exemplo, a psicanálise, ou incorporando e
tensionando a teorização marxista ou, ainda, produzindo teorias feministas como a
teoria do patriarcado. Nessa trajetória de institucionalização científica e acadêmica,
as teorizações feministas também questionaram e abalaram, desde o início e de muitas
formas, pressupostos básicos do paradigma de Ciência hegemônico, tais como a
universalidade, a racionalidade, a neutralidade, a objetividade, a prerrogativa de
definir ‘a’ verdade, a ascendência sobre qualquer outra forma de saber que não
compartilhasse de tais requisitos, a suposição de uma essência humana – masculina e
branca - centrada na razão, dentre muitos outros. Tais processos foram (são)
permeados por confrontos e resistências tanto com aqueles e aquelas que
continu(av)am utilizando e reforçando justificativas biológicas ou teológicas para as
diferenças e desigualdades entre mulheres e homens, quanto com aqueles que, desde
perspectivas marxistas, defendiam e defendem a centralidade da categoria de classe
social para a compreensão das diferenças e desigualdades sociais

Contanto, segundo Silva (2015), às discussões feministas em torno da história da


construção do conhecimento científico se fazem necessárias, na proporção que buscam superar,
através da reflexão crítica, a ideia de ciência universal e de uma ciência absoluta, que
historicamente deletou grupos sociais do mundo da ciência, considerando-os como inaptos de
produzir conhecimento válido. Nesse sentido, a concepção feminista de conhecimento constitui
um passo muito significativo para a superação da ciência ginecofóbica e, por conseguinte, o
surgimento de novas moldes de perceber o mundo (SILVA, 2015; COLLING, 2004).
15

A história do Brasil, também é marcada pela opressão às mulheres e pelo apagamento


feminino do campo científico, ou seja, se trata de um reflexo histórico do cenário mundial,
(SILVA, 2015). Felizmente, segundo Rosemberg (2013, p. 337 apud SILVA, 2015):
Apesar das barreiras impostas à educação das mulheres no Brasil, é possível perceber
que algumas se destacaram nesta luta ainda no século XIX. Setenta e nove anos após
a primeira instituição de ensino superior ter sido criada no país, Rita Lobato graduou-
se na Faculdade de Medicina da Bahia 1887, como uma das primeiras mulheres da
América Latina. Um ano antes, duas chilenas receberam o diploma de médica. No
entanto, devemos considerar que estas três mulheres, que alcançaram o diploma
superior naquela época, estavam inseridas na elite de seus países. Quase trinta anos
depois, em 1926, Maria Rita de Andrade, uma mulher negra, obteve o título de
bacharel pela Faculdade de Direito da Bahia e, oitenta anos depois, em 2006, “Maria
das Dores de Oliveira, da etnia pancararu, foi a primeira mulher indígena a obter o
título de doutora, tendo defendido a tese Faye, a língua do povo do mel: fonologia e
gramática, no Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de
Alagoas”.

No Brasil, o número de mulheres em cursos de graduação e pós-graduação é superior,


em números absolutos, ao de homens (BRASIL, 2021). Esta realidade teve como motor a
transformação da grande maioria das instituições de ensino públicas e privadas brasileiras em
mistas, iniciada a partir dos anos 1960, possibilitando, dessa forma, que meninas e meninos
pudessem dividir o mesmo espaço escolar, assim, ambos os sexos poderiam ter trajetórias
similares nos estudos, desde o ensino primário à pós graduação. (AREND, 2013). Contudo, o
número de mulheres que escolhem seguir carreira em cursos de Ciência e Tecnologia é bem
inferior ao seu par (BRASIL, 2021), sendo que, nas ciências da saúde elas voltam a ser maioria.
Entretanto, a remuneração recebida pelo público masculino é superior em ambas as áreas
citadas (BRASIL, 2020; OLINTO, 2011).
Grossi (2016), ao analisar o currículo Lattes de 4970 mulheres que defenderam suas
teses de doutorado entre os anos de 2000 e 2013, constatou um crescimento constante no
número de mulheres que realizaram pesquisas durante o período em questão. Todavia, a
distribuição do público feminino nas distintas áreas do conhecimento se apresentou de forma
heterogênea, sendo as áreas das Ciências Biológicas, das Ciências da Saúde e das Ciências
Humanas as que contam com maior representatividade. Já o inverso se notou nas Engenharias.
Além do mais, a maior parcela das doutoras pesquisadas atuava como docentes, profissão
tradicionalmente associada às mulheres (SILVA, 2015). Dessa forma, mesmo se constatando
avanços na representatividade feminina, ainda perdura a desigualdade de papéis entre mulheres
e homens dentro da ciência, visto que, nesse campo de relações de poder as mulheres estão em
visível desvantagem (LINO e MAYORGA, 2016).
Dessa forma, se faz necessárias sempre novas pesquisas sobre a representatividade
feminina na ciência, em especial a do Brasil, pois, segundo Barroso (2004, p. 578-579), no país
16

as “desigualdades regionais, étnicas e de classe social fazem com que as desigualdades de


gênero pareçam relativamente menos importantes, quando de fato todas as desigualdades se
reforçam mutuamente, agravando exponencialmente seus efeitos”.
17

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Abordagem metodológica


O método de pesquisa utilizado ao longo deste trabalho consistirá, predominantemente,
na abordagem qualitativa em conjunto com a quantitativa, visto que pretende analisar as
concepções dos/as estudantes quanto às questões de gênero na ciência e organizar
quantitativamente os dados a serem obtidos.
Entende-se que a aplicação de ambos os tipos de pesquisa, de forma complementar, se
apresenta como abordagem mais completa e enriquecedora para o desenvolvimento deste
trabalho em particular. Segundo Patton (2014), os métodos quantitativos e qualitativos apesar
de apresentarem pontos positivos e negativos diferentes, podem coexistir em um mesmo estudo,
para benefício do mesmo.
Este trabalho se configura como pesquisa exploratória, pois visa entender um fenômeno
ainda pouco trabalhado ou aspectos específicos de uma teoria ampla (GIL, 2019). Segundo
Santos (1991) a pesquisa exploratória se trata do contato inicial com o tema a ser analisado,
com os sujeitos a serem investigados e com as fontes secundárias disponíveis. Os estudos
exploratórios se baseiam na pressuposição de que através do uso de procedimentos
relativamente sistemáticos, hipóteses relevantes a um determinado fenômeno podem ser
desenvolvidas (TRIPODI et al, 1975; GIL, 2019)
O método qualitativo a ser utilizado é o Estudo de Caso. Este método se configura como
uma estratégia de pesquisa que abarca tudo em abordagens específicas de coletas e análise de
dados (ROBERT, 2001). Conforme Leão (2019), o estudo de caso é um tipo de pesquisa
realizado no estudo aprofundado e exaustivo de um ou de poucos objetos, de forma que permita
o seu amplo e minucioso conhecimento, sendo adotado na investigação de fenômenos das mais
variadas áreas do conhecimento.
Contudo, para interpretação dos dados obtidos, optou-se pela utilização da análise de
conteúdo de Bardin (1997) descrito na seção 3.3.

3.2 Delimitação do campo de trabalho e definição dos sujeitos


O trabalho foi realizado em uma escola integrante da rede pública estadual do estado de
Sergipe que ofertasse o Ensino Médio. O local escolhido foi o Colégio Estadual Armindo
Guaraná (CEAG), CNPJ: 01.935.088/0001-04, situado na R. Gov. João Alves Filho, 129 -
Conjunto - Rosa Elze, São Cristóvão - SE, CEP: 49100-000.
O público-alvo da pesquisa foram estudantes da rede pública de ensino, que estavam
cursando o 3° ano do Ensino Médio até o momento de aplicação do instrumento de coleta. A
18

preferência pelos discentes do 3° ano em detrimento dos demais, teve como fator motivador, o
fato de estarem na última etapa da educação básica. Dessa forma, infere-se que contemplaram
todo ou boa parte dos conteúdos anteriores a essa etapa.
Ademais, por esta ser a última etapa da educação básica, infere-se que os discentes
prestem vestibular para ingressar em uma instituição de Ensino Superior, além de,
possivelmente, estarem imergidos na seguinte questão: “Qual rumo seguir após encerrar o
Ensino Médio?”. Diante disso, escolheu-se os alunos do 3° ano do Ensino Médio para o
desenvolvimento desta pesquisa.

Foi escolhida a única turma do 3° do turno da tarde. Havia, segundo informação


fornecida pela direção do colégio, 30 alunos matriculados nessa turma. Contudo, conforme
observado durante as visitas realizadas e pela informação fornecida pelo professor presente na
sala no momento da visita, que no máximo 25 alunos frequentavam regularmente as aulas.
Visivelmente, o público feminino era o predominante.

3.3 Procedimento de coleta e análise dos dados


Como procedimento de coleta dos dados foi aplicado um questionário (APÊNDICE A)
aos estudantes do 3º ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Armindo Guaraná. A confecção
do questionário está detalhada no item a seguir.
Segundo Marconi e Lakatos (2003), na utilização de questionário como ferramenta de
coleta de dados, têm-se como vantagens a economia de tempo e de idas a campo, além de
possibilitar a abrangência de um maior número de pessoas e de uma maior área geográfica.
Os dados obtidos serão interpretados conforme a análise de conteúdo de Bardin (1997).
O método proposto por Bardin (1997), análise de conteúdo, se estrutura em três fases: 1) pré-
análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação.
Segundo a autora, a pré-análise é compreendida por uma fase de organização, tendo
como objetivos a sistematização e operação das ideias iniciais. Dessa forma, o que se espera é
a construção de um plano de análise. A exploração do material se qualifica como uma fase
longa e detalhista, constituindo-se de operações de codificação e enumeração definidas por
regras precocemente elaboradas (BARDIN, 1997). Em Tratamento dos resultados, os resultados
obtidos são interpretados e tratados de maneira significativa e válida por meio da inferência,
tipo de interpretação controlada (BARDIN, 1997).
Antes da efetiva aplicação do questionário, foi realizado uma visita no dia 16 de agosto
de 2022. Durante a visita, foi apresentado aos futuros participantes o objetivo da pesquisa,
entregue, após a leitura, o termo de Consentimento Livre e Esclarecido as dúvidas que surgiram.
19

No dia 22 de agosto de 2022 (segunda-feira), seria aplicado o questionário. Contudo, de


última hora, a turma foi uma das escolhidas a participar, presencialmente na Universidade
Federal de Sergipe, de uma série de palestras sobre astronomia. Dessa maneira, trocou-se o dia
de aplicação para a quinta-feira (25) da mesma semana.
Na quinta-feira foi recolhido os termos e aplicado o questionário. Ao todo, 20 discentes
participaram, que correspondeu a 80% dos alunos frequentes nas aulas. Durante o momento de
aplicação não foram dados esclarecimentos sobre o preenchimento das questões, a fim de evitar
possível influência nas respostas.

3.4 Processo de confecção e validação do instrumento de coleta dos dados


A confecção do instrumento de coleta dos dados (APÊNDICE A) se baseou no trabalho
de Pereira (2018). Com base nas informações que constam no trabalho da autora, foram
elaborados 5 itens, fechados e abertos, para o questionário, mais o cabeçalho de identificação
do respondente.
No primeiro item os participantes devem indicar, com base na lista, 3 opções de cursos
superiores que possuem interesse em cursar. No segundo item, devem indicar, com base na
lista, as 3 matérias que mais gostam. No terceiro item, devem indicar, com base na lista, as 3
matérias que menos gostam. No quarto item, deverão citar nomes de cientistas que conhecem.
No quinto item, será pedido que descrevam, em detalhes, sua visão da figura de quem trabalha
como cientista.
Os itens 4 e 5 foram elaborados em linguagem neutra a fim de não induzir a ação dos
participantes. No cabeçalho de identificação, os alunos deveriam fornecer sua idade, gênero e
o nome do colégio, sendo que, não era obrigatório por parte do participante fornecer
informações que julgasse indevidas.
Os cursos superiores listados foram selecionados com base na lista dos cursos ofertados
pela Universidade Federal de Sergipe – UFS, instituição presente no território sergipano onde
se encontra o público-alvo.
As matérias listadas foram Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História, Física,
Química, Biologia, Artes, Educação Física, Sociologia, Filosofia, Inglês e Espanhol. Estas
disciplinas se encontram na grade curricular da maioria das escolas da educação básica
brasileira, segundo a BNCC.
Para validar o instrumento, o mesmo foi aplicado a duas adolescentes de 17 anos,
estudantes do 3º ano do Ensino Médio. Os dois elementos escolhidos estão em linha com o
20

público-alvo da presente pesquisa. Durante a aplicação, não foram apresentadas informações


referentes a como proceder no preenchimento das questões propostas no questionário.
Verificou-se pelas respostas dadas que as informações presentes não fugiram do escopo
esperado. Ademais, após coleta do instrumento, foi solicitado às voluntárias que dessem opinião
referente à clareza do conteúdo e das perguntas do questionário. Estava explícito pelas falas das
jovens que não sentiram dificuldades em entender o que as perguntas solicitam. Dessa forma,
não foram realizadas alterações no instrumento.
21

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram analisados 20 questionários respondidos por uma turma de estudantes do 3º ano


do Ensino Médio, do turno vespertino. Nas questões objetivas, nas quais era solicitado
determinado número exato de respostas, os alunos assinalaram, geralmente, o número pedido
ou superior. Contudo, nas subjetivas, o inverso ocorria, havendo percentual alto de abstenção.
Em relação à idade do público participante, 15% tinham 17 anos, 55% tinham 18 anos,
25% tinham 19 anos e 5% não indicou essa informação. O gráfico 1 apresenta o percentual de
estudantes que participaram da pesquisa por faixa etária.

Gráfico 1 - Percentual do número de alunos por idade

Gráfico 1 - Percentual do número de alunos por idade

Fonte: Elaborado pelo Autor (2022)

Já referente ao gênero, 25% dos alunos são do gênero masculino e 75% do feminino.
Nenhum participante indicou pertencer a outro gênero. O gráfico 2 apresenta o percentual de
estudantes por gênero.
Sobre as preferências acadêmicas dos participantes, mormente, foi pedido que
escolhessem, a partir de uma lista de cursos de Ensino Superior, três que possuíam interesse em
cursar. Segundo os resultados obtidos, o feminino apresenta forte preferência por cursos das
áreas de Ciências Biológicas e da Saúde, de Ciências Sociais Aplicadas e de Educação e
Ciências Humanas, ambas escolhidas por 73,33% do público em questão. Já os cursos das áreas
22

de Ciências Exatas e Tecnologia e de Ciências Agrárias Aplicadas foram escolhidos, cada uma,
por, apenas, 20% do total desse público.
Gráfico 2 - Percentual do número de alunos por gênero

Gráfico 3 - Quantidade de alunos com interesse em cursos das áreas de Ciências Biológicas e da Saúde; Ciências
Exatas e Tecnologia; Ciências Sociais Aplicadas; Educação e Ciências Humanas, e Ciências Agrárias
AplicadasGráfico 4 - Percentual do número de alunos por gênero

Fonte: Elaborado pelo Autor (2022)

Em menor proporção, mas ainda com certa predominância, as áreas de Ciências


Gráfico 2 - Percentual do número de alunos por gêneroFonte: Elaborado pelo Autor (2022)
Biológicas e da Saúde e de Ciências Sociais Aplicadas eram pretendidas, cada uma, por 60%
do público masculino. Nas áreas de Ciências Exatas e Tecnologia e de Ciências Agrárias
Aplicadas, houve uma pretensão de 40% do total de participantes masculinos. Já a área de
Educação e Ciências Humanas era pretendida por apenas 20% do público em questão. Fato esse
contrário ao observado no gênero feminino. O gráfico 3 traz quantas indicações cada curso
superior recebeu. Já o gráfico 4 mostra o quantitativo de indicações que cada área recebeu.
Nota-se semelhante preferência de ambos os gêneros por cursos de Ciências Biológicas
e da Saúde e de Ciências Sociais Aplicadas. Apesar de certas diferenças, os resultados não
reforçam diferenças significativas na escolha por apenas uma área em ambos os gêneros.
Contudo, percebe-se certo desinteresse por parte das meninas pelas áreas de Ciências Exatas e
Tecnologia e de Ciências Agrárias Aplicadas e nos meninos pela área de Educação e Ciências
Humanas.
Diante disso, cursos que segundo Silva (2015) são ditos como masculinizados:
Engenharias, Física e Ciência da Computação, se mostraram impopulares entre as mulheres. Na
23

mesma medida em que cursos como História, Pedagogia e Psicologia não despertam tanto
interesse nos homens.
Gráfico 3 - Cursos superiores mencionados pelos alunos, e quantidade de menções por cada curso

Gráfico 7 - Cursos superiores mencionados pelos alunos, e quantidade de menções por cada curso

Fonte: Elaborado pelo Autor (2022)

Gráfico 4 - Quantidade de alunos com interesse em cursos das áreas de Ciências Biológicas e da Saúde; Ciências
Exatas e Tecnologia;
Fonte: Elaborado peloCiências Sociais Aplicadas; Educação e Ciências Humanas, e Ciências Agrárias Aplicadas
Autor (2022)

Gráfico 5 - Cursos superiores mencionados pelos alunos, e quantidade de menções por cada cursoGráfico 6 -
Quantidade de alunos com interesse em cursos das áreas de Ciências Biológicas e da Saúde; Ciências Exatas e
Tecnologia; Ciências Sociais Aplicadas; Educação e Ciências Humanas, e Ciências Agrárias Aplicadas

Fonte: Elaborado pelo Autor (2022)

Gráfico 8 - Disciplinas que meninos e meninas indicaram gostar maisFonte: Elaborado pelo Autor (2022)
24

Ademais, cursos como Enfermagem, Medicina e Psicologia estão entre os mais


almejados entre elas, indo em linha ao contemplado na literatura (OCDE, 2021). Vale
mencionar que o curso de Pedagogia, historicamente associado à imagem da mulher (SILVA,
2015), foi citado apenas uma única vez. Já entre os meninos não houve predomínio de um curso
sobre o outro. Entretanto, vale mencionar que apenas uma única vez houve menção a um curso
da área de Educação e Ciências Humanas, sendo este: História.
Apesar de os cursos associados à prática do magistério não terem tido um número
expressivo de menções entre as mulheres, cabe sempre trazer à discursão a visão de Grossi et
al. (2016). Na visão dela, o magistério foi ofertado às mulheres como tentativa de acalentar a
longa história de exclusão das mulheres do campo científico. Contudo, segundo a autora, o que
se percebe é a tentativa de se juntar duas tarefas, historicamente atribuídas às mulheres, a de
ensinar e a de cuidar.
Seguindo, para Bruschini e Amado (1988), a ideia de vocação feminina para a prática
do magistério estava fundamentada nas características de paciência e cuidado, e na
possibilidade de conciliar a vida profissional e doméstica das mulheres. No fim, o que se
percebe é uma tentativa de "legalização" do androcentrismo científico, dando falsa sensação de
inclusão as mulheres.
Sobre as preferências escolares, os participantes tiveram que indicar as 3 disciplinas que
mais gostavam e as 3 que menos gostavam. Observou-se que as 5 matérias curriculares favoritas
das meninas foram: Português (escolhida por 53,33% das participantes); Inglês e Artes
(46,66%); Educação Física e Matemática (33,33%). Já para os meninos as 5 disciplinas
favoritas foram: Geografia (60%); Educação Física, Matemática, Sociologia e Biologia (40%).
Note-se predomínio da área do conhecimento de Linguagens e suas Tecnologias entre as
mulheres. Em contrapartida, não se pode falar em dominação de uma área sobre as outras para
o público masculino. Contudo, embora não popular no âmbito superior, com apenas uma
indicação, as matérias da área de Ciências Humanas tiveram mais menções do que as outras no
âmbito colegial. Os gráficos 5 e 6 mostram, respectivamente, as disciplinas as quais os
participantes mais gostam e menos gostam.
No outro extremo, em relação às matérias escolares que menos gostam, as 7 (devido ao
empate na última colocação, foram descritas 7 ao invés de 5 disciplinas) mais impopulares entre
as mulheres da amostra foram: Química (86,66%); História (46,66%); Matemática (40%);
Educação Física, Sociologia, Filosofia e Física (20%). As disciplinas de Português, Educação
25

Física, História, Física e Química estão entre as menos populares entre os homens, ambas
escolhidas por 40% deles.

Gráfico 5 - Disciplinas que meninos e meninas indicaram gostar mais

Gráfico 9 - Disciplinas que meninos e meninas indicaram gostar menosGráfico 10 - Disciplinas que meninos e
meninas indicaram gostar mais

Fonte: Elaborado pelo Autor (2022)

Gráfico 6 - Disciplinas que meninos e meninas indicaram gostar menos

Fonte: Elaborado pelo Autor (2022)


26

Diante disso, os resultados parecem apontar para o fato de que, nesse grupo, as
disciplinas associadas a Ciências Exatas não são vistas de forma positiva por ambos os gêneros.
Entretanto, a matéria de Química é majoritariamente "odiada", com desaprovação de 75% do
público total participante. Ademais, apenas uma discente a apontou como uma das que mais
gostava. Dessa forma, embora a literatura qualifique, de forma estereotipada, como
predominantemente masculina as Ciências Exatas, nessa amostra não foi possível verificar isso.
Pereira (2018) realizou semelhante estudo, com participação de 77 estudantes no total,
na qual os resultados também apontaram as disciplinas de Ciências Exatas como não bem-vistas
pelo público da amostra, tanto para os homens, que correspondiam a 48 do total de participantes,
como para as mulheres (29). Outrossim, a disciplina de Química também se figurou como a que
mais apresentava índice de rejeição pelos discentes.
Continuando, as questões que visavam obter as percepções dos discentes em relação à
presença feminina na ciência e a relação desta com àquela, seus resultados refletem, como
relatado na literatura deste trabalho, a sub-representação e a invisibilidade de suas contribuições
à ciência.
Nesta etapa, primeiramente, foi pedido aos participantes que indicassem nomes de
cientistas que conhecessem e por qual meio tiveram conhecimento sobre a personagem. 50%
responderam a essa questão, sendo que nem todos indicaram por qual meio tiveram contato.
A lista taxativa de nomes de cientistas citados pelo público-alvo compreende, apenas, 8
personagens distintos. Dentre eles, apenas uma mulher, Marie Curie, foi citada e por apenas um
voluntário. Os outros cientistas citados foram Albert Einstein, Isaac Newton, James Webb,
Stephen Hawking, Maquiavel, Charles Darwin e Max Planck. A figura 1, representa uma
nuvem de palavras com todos os cientistas mencionados, quanto maior o tamanho do nome,
maior foi o número de menções recebidas pelo cientista.
A pequena extensão de nomes na lista denota uma esterilidade no saber dos alunos.
Ademais, o fato de o maior número de menções por um aluno ter sido 4 nomes (alguns se
limitando a citar apenas 1, sendo em grande parte Albert Einstein ou Isaac Newton) e metade
do público não terem respondido nada, corrobora com essa visão. No trabalho de Pereira (2018),
Albert Einstein e Isaac Newton também foram as personalidades científicas mais lembradas, e
Marie Curie, com apenas 3 menções, foi a única mulher citada.
Dentro os meios/locais mencionados, tivemos: livros, internet, TV, palestras, escola,
cursinho. A presença da palavra livro nessa pequena lista reforça a importância dessa poderosa
(e muito vezes única) ferramenta da qual dispõem os/as alunos(as) para estudarem.
27

Figura 1 - Nuvem de palavras com o nome dos cientistas citados pelos alunos

Fonte: Elaborado pelo Autor (2022)

Ainda, Costa e Fernandes (2017) defendem que o ambiente escolar reforça os


estereótipos de gênero no campo científico, ao permitir a continuidade da ideia de que fazer
ciência não se configura como atividade passível de participação feminina, uma vez que os
livros didáticos relatam, quase que exclusivamente, a trajetória dos homens na ciência. Esse
fato pode ser utilizado para justificar o porquê de os estudantes vincularem, majoritariamente,
o homem a imagem de cientista e o desencorajamento das meninas a seguirem essa profissão,
já que as referências no campo são poucas. Na opinião das autoras:
…os materiais didáticos precisam se apropriar do movimento emancipatório da
mulher na ciência e expor mais exemplos de mulheres cientistas no currículo,
tornando a ciência menos masculina e mais igualitária, para que mais meninas possam
[...] enxergar seu futuro como cientista (COSTA; FERNANDES, 2017, p. 5569)

Assim, bons materiais didáticos que disponham em seu conteúdo de traços da história e
natureza do conhecimento científico podem servir de estratégia para amenizar tal fenômeno de
infertilidade.
A turma participou de uma série de palestras durante a semana na qual foi feita a
aplicação do questionário. Alguns dos voluntários indicaram o nome do cientista James Webb
e que o conheceram em uma palestra na UFS. Esse fato demonstra o poder de influência que
determinados eventos científicos têm sobre os participantes, podendo ser uma experiência
28

benéfica ou não. Dessa forma, deve-se ter cuidado nas informações que são repassadas ao
público, a fim de evitar a propagação e perpetuação de equivocadas e/ou falsas concepções.
Para Spiess (2020), embora muito importantes na comunicação científica, os eventos
científicos ainda são poucos conhecidos na própria comunidade acadêmica. Em sua gênese e
de forma geral, possuem o papel de divulgar as descobertas e promover os cientistas, integrando
dessa forma, e ao mesmo tempo, o contexto social, cognitivo e territorial. Ainda segundo ele:
Do ponto de vista do Programa normativo, os eventos científicos compreendem uma
etapa no processo de integração da comunidade científica. O foco analítico desta
abordagem se concentra na posição social dos participantes e na localização
geográfica dos eventos. Isso significa que os eventos científicos são produzidos e
reproduzem uma estratificação ao mesmo tempo social (entre cientistas) e espacial
(entre comunidades). O efeito combinado deste processo estabelece uma
hierarquização chamada duplo efeito Mateus: I. reflete o reconhecimento (diferencia
os cientistas em função de sua posição na estrutura de comunicação); e II. diferencia
espacialmente: (estrutura os eventos em função da localização da sua realização)
(SPIESS, 2020, p. 464)

Por fim, os discentes foram solicitados a descreverem sua imagem da figura e dos
atributos de quem trabalha como cientista. Apenas 40% (8 voluntários) responderam a esse
item. 6 dos respondentes descreveram com teor generificado, associando de forma explícita a
imagem de cientistas ao público masculino, seja por citar a palavra "cara" (culturalmente sendo
sinônimo informal de pessoa do sexo masculino), ou por citar traços marcantes da fisionomia
masculino como, "barba grande" e adjetivos que remetem ao gênero. Abaixo segue as respostas
dos alunos e/ou alunas que demonstram tal ponto de vista:
ALUNA B: “Um cara alto, com jaleco branco, tem jeito de nerd, introvertido.”
ALUNO C: “Todo de Branco e com luvas brancas.”
ALUNO D: “Todo desajeitado, cabelo grandão, barba grande, baixo e inteligente.”
ALUNA E: “Um cara alto, com cabelos brancos, considerado NERD (pessoa com
capacidade de inteligência elevada), intelectual e introvertido.”
ALUNA F: “É mais introvertido, está sempre estudando e sempre querendo
descobrir coisas novas.”
ALUNO L: “Eu tenho os caras como um gênio.”
Nesse ponto cabe citar um estudo feito por Rosenthal e Rezende (2017) com alunos do
6° ano do Ensino Fundamental de uma escola pública no município de São Paulo/SP. No estudo
foi realizado uma atividade, a qual basicamente consistia em apresentar, de forma anônima e
sem indicar o gênero, a trajetória de vida de Rosalind Franklin (uma das muitas mulheres
expressivas no campo científico, com contribuições na elucidação da estrutura do DNA, mas,
assim como outras, teve sua história silenciada por longo tempo) e depois solicitar que os
participantes desenhassem a personagem anônimo.
29

A análise dos desenhos demonstrou que 72% do discentes acreditava que a personagem
se tratava de um cientista masculino, com características específicas do estereótipo apresentado
pela mídia: usando óculos e jaleco e aparência de "louco". Dessa forma, os resultados
demostram a existência de estereótipos de gênero associado a imagem do profissional da
ciência, na medida que aponta que a maioria acredita que a pessoa relatada na biografia se
tratava de um homem.
As autoras ainda reforçam, como já defendido aqui, a importância de se promover
eventos que tenham como objetivo despertar o interesse e inserir o público feminino na e pela
carreira científica.
Já na fração restante, não há como dar julgamento definitivo sobre o gênero devido à
utilização de linguagem neutra na qual nas frases se torna impreciso determinar o gênero do
referente, conforme pode ser contemplado, logo a seguir, pelos fragmentos de respostas:
ALUNA G: “Uma pessoa com cabelos brancos, usando jaleco e óculos.”
ALUNA N: “Uma pessoa muito inteligente”
Diante disso, por lógica, insta pontuar que nenhum dos participantes mencionaram ou
associaram, explicitamente, a figura feminina à imagem de cientista, mesmo a maior parte da
amostra sendo composta por mulheres. Apesar dos homens serem minoria, correspondiam em
média, aproximadamente, a 45% dos que optaram por se manifestar nessas duas últimas
questões. Somente 20% dos homens não contribuíram em nada nas questões subjetivas. O
percentual de não contribuição em nenhuma das etapas subjetivas sobe para 46% nas mulheres,
possível indicativo de falta de interesse pela temática.
Destarte, que todos os que optaram por responder listaram certas características e
objetos associados aos mesmos (cientistas) que vão de encontro à imagem de cientista
disseminado em produções audiovisuais (filmes, séries, novela etc.) (REZNIK, 2017): "cabelo
branco", "jaleco branco", "luvas", "óculos". Essa percepção, segundo Osborne et. al (2003),
envolve traços sobre a Natureza das Ciências em conjunto com valores, conhecimentos e
experiências anteriores, que são moldadas socialmente e culturalmente, por conseguinte,
incorporados pelos sujeitos.
Outrossim, parte considera como traço central de cientistas a inteligência muito acima
da média e o anseio por descobrir coisas novas e pela inovação. O adjetivo introvertido também
foi mencionado. Em grande parte, é utilizado para se referir a alguém reservado. Mas, pode
indicar que os participantes enxergam os/as profissionais como individualistas em seus serviços
laborais.
30

Sobre tudo isso, a visão apresentada por Konflanz e Scheid (2011) em um de seus
trabalhos, vai ao encontro aos resultados aqui contemplados, que nas escolas ainda são comuns
concepções ingênuas sobre o que é ciência, como realizá-la e sobre a imagem e papel dos
cientistas. Nas quais a ciência é vista por muitos como uma atividade para pessoas com mentes
privilegiadas, com intelecto distante da normalidade, decorrente de um método científico único,
infalível e neutro.
Kosminsky e Giordan (2002, p. 17) mencionam que:
…o desconhecimento sobre como pensam e agem os cientistas impede a aproximação
dos alunos à cultura científica. Consequência imediata deste impedimento é a tentativa
de transferência acrítica dos valores prezados pela cultura científica para os
estudantes. (KOSMINSKY; GIORDAN, 2002, p. 16)

Cunha et al. (2014), em um estudo com a participação de 1034 estudantes do Ensino


Médio, divididos entre as 5 regiões geográficas brasileiras, demostrou que o quantitativo de
estudantes com interesse em seguir carreira como cientista é bem baixo. Segundo os autores, a
falta de interesse pela carreira científica, transparece uma educação precária, na qual o foco é
apresentar os conteúdos programáticos prontos e "mastigados", sem se importar com a criação
de um senso crítico e imersão adequada dos alunos no tema. No fim, o fruto dessas práticas é a
falta de desejo por seguir no ramo. Ainda mais, os autores apontam que os docentes necessitam
criar meios que estimulem desejo e curiosidade nos alunos. Como também inserir na rotina
didática, a apresentação e discursão de feitos de mulheres na história das ciências, contribuindo
de certa forma na redução da visão distorcida aqui apresentada. Contudo, segundo Santos (2017,
p. 370):
...é preciso ultrapassar os limites da história da ciência factual dos livros didáticos,
embasada somente em curtas biografias dos cientistas mais famosos e das teorias
aceitas hoje para que de fato, a História e Filosofia da Ciência cumpra seu papel. Seu
enfoque em sala de aula precisa derrubar estas barreiras, se quisermos que ela seja um
instrumento importante e profícuo na construção do conhecimento e de um ambiente
propício a reflexão e criticidade.
Por fim, diante de tudo que foi exposto, vale suscitar novamente a importância de se
implementar desde cedo na educação básica, mesmo que em pequena escala, a história, filosofia
e natureza das ciências nas aulas, a fim de contribuir em algum grau na mudança da definição,
equivocada, da palavra cientista que vigora até os dias atuais.
31

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estereótipos identificados e supracitados na literatura aqui relatada tenderam a se


repetir na amostra, a nível de Ensino Médio, analisada.
A baixa representatividade feminina na ciência está retratada na deficiência da maioria
dos participantes não citar mulheres cientistas, como também, do público feminino participante
da pesquisa, mesmo sendo maioria na amostra, não conseguir se ver desempenhando atividades
inerentes à profissão. Realidade essa que reflete o estigma ainda prevalente na sociedade: As
funções de cunho científico estão destinadas majoritariamente aos homens. Logo, apesar da
literatura relatar, em parte, ascensão e maior proatividade feminina em algumas áreas, não se
pode falar em maior visibilidade social para esse grupo.
Conquanto, tendo em vista a vasta gama de estudos realizados e já publicados sobre a
temática, esse trabalho tem como pretensão mostra a importância de se ampliar e aprofundar os
estudos sobre o tema, visto a acentuada lacuna social associado aos gêneros no campo científico
ainda existente e, chamar a atenção para a necessidade de se repensar as práticas pedagógicas
quanto a abordagem dos temas e assuntos científicos nos ambientes formais e não formais de
ensino. Também, visa-se contribuir, em algum grau, na estruturação dos novos currículos
escolares e, por conseguinte, em uma formação mais adequada para os futuros docentes, a fim
de combater as velhas, mas ainda atuais, visões quanto ao cientificismo e seus agentes.
Por fim, o desfecho desta obra requere, como futuros professores de ciências e biologia,
a reconhecermos nossa parcela de responsabilidade pelos conteúdos que são ministrados e os
não ministrados. Contudo, uma vez cientes do fato, poderemos efetivamente agir para combater
o fenômeno e assim possibilitar que avancemos na redução das desigualdades de gênero e a um
mundo onde todos possam decidir, sem impedimento de qualquer natureza, a carreira que quer
seguir.
32

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36

APÊNDICE A - Modelo do questionário a ser aplicado aos/as estudantes da 3ª série do


Ensino Médio.

Universidade Federal de Sergipe


Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Departamento de Biologia

Projeto: A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO SOBRE QUESTÕES DE


GÊNERO NA CIÊNCIA

Caro(a) estudante, este questionário faz parte de uma pesquisa que tem como objetivo
analisar suas concepções quanto às questões de gênero na ciência. O referido estudo é parte
integrante do meu trabalho de conclusão de curso de graduação em Ciências Biológicas
Licenciatura da Universidade Federal de Sergipe. As informações coletadas serão mantidas no
mais absoluto sigilo, não havendo necessidade da sua identificação. Solicitamos que responda
a esse questionário de forma completa e sincera. Desde já agradecemos a sua colaboração.

Questionário para o/a estudante da Educação Básica

Nome do Colégio:
Gênero: ( ) feminino ( ) masculino ( ) outro:_____________
Idade:

1) Quais dos seguintes cursos listados abaixo você possui ou teria interesse em cursar? (Escolha
3 opções)
( )Administração ( )Biblioteconomia e Documentação
( )Agroindústria ( )Ciência da Computação
( )Arqueologia ( )Ciências Atuariais
( )Arquitetura e Urbanismo ( )Ciências Biológicas
( )Artes Visuais ( )Ciências Contábeis
( )Astronomia ( )Ciências da Religião
37

( )Ciências Econômicas ( )Física Médica


( )Ciências Sociais ( )Fisioterapia
( )Cinema e Audiovisual ( )Fonoaudiologia
( )Dança ( )Geografia
( )Design ( )Geologia
( )Direito ( )História
( )Direito ( )Jornalismo
( )Ecologia ( )Letras Espanhol
( )Educação Física ( )Letras Inglês
( )Enfermagem ( )Letras - Língua Portuguesa
( )Engenharia Agrícola ( )Letras - Português e Espanhol
( )Engenharia Agronômica ( )Letras - Português e Francês
( )Engenharia Agronômica ( )Letras - Português e Inglês
( )Engenharia Ambiental e Sanitária ( )Matemática
( )Engenharia Civil ( )Matemática Aplicada e Computacional
( )Engenharia de Alimentos ( )Medicina
( )Engenharia de Computação ( )Medicina Veterinária
( )Engenharia de Materiais ( )Museologia
( )Engenharia de Pesca ( )Nutrição
( )Engenharia de Petróleo ( )Odontologia
( )Engenharia de Produção ( )Pedagogia
( )Engenharia Elétrica ( )Psicologia
( )Engenharia Eletrônica ( )Publicidade e Propaganda
( )Engenharia Florestal ( )Química
( )Engenharia Mecânica ( )Química Industrial
( )Engenharia Química ( )Relações Internacionais
( )Estatística ( )Secretariado Executivo
( )Farmácia ( )Serviço Social
( )Filosofia ( )Sistemas de Informação
( )Física ( )Teatro
38

( )Turismo ( )Outro:_____________(Especifique o
nome do curso)
( )Zootecnia

2) Quais das seguintes matérias escolares você mais gosta? (Escolha 3 opções)
( )Português ( )Química ( )Filosofia
( )Matemática ( )Biologia ( )Inglês
( )Geografia ( )Artes ( )Espanhol
( )História ( )Educação Física
( )Física ( )Sociologia

3) Quais das seguintes matérias escolares você menos gosta? (Escolha 3 opções)
( )Português ( )Química ( )Filosofia
( )Matemática ( )Biologia ( )Inglês
( )Geografia ( )Artes ( )Espanhol
( )História ( )Educação Física
( )Física ( )Sociologia

4) Cite nomes de cientistas que você conhece e onde conheceu.


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5) Descreva, em detalhes, sua visão da aparência e dos atributos/características de quem
trabalha como cientista.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
39

APÊNDICE B - Modelo de Termo De Consentimento Livre e Esclarecido a ser aplicado


aos/as estudantes da 3ª série do Ensino Médio.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do estudo: A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO SOBRE QUESTÕES


DE GÊNERO NA CIÊNCIA

Responsável pela pesquisa: Daniel Sotero dos Santos

Instituição/Departamento: Universidade Federal de Sergipe

Telefone e endereço postal completo: (79) 998623753, Travessa do Campo, nº 34, São Bento,
Salgado – SE.

Local da coleta de dados: Colégio Estadual Armindo Guaraná (CEAG), CNPJ:


01.935.088/0001-04, R. Gov. João Alves Filho, 129 - Conjunto - Rosa Elze, São Cristóvão -
SE, 49100-000.

Eu, Daniel Sotero dos Santos, responsável pela pesquisa A PERCEPÇÃO DOS
ALUNOS DE ENSINO MÉDIO SOBRE QUESTÕES DE GÊNERO NA CIÊNCIA, o
convido a participar como voluntário deste meu estudo.

Através desta pesquisa pretende-se analisar a percepção dos estudantes sergipanos do


Ensino Médio acerca de questões de gênero nas ciências. Acreditamos que ela seja importante
porque frente ao cenário de fraca representação feminina nas Ciências, notado em nível
mundial, o presente estudo visa investigar a possível réplica, ou não, destas tendências a nível
de Ensino Médio, bem como averiguar a noção dos estudantes sobre a presença e o papel da
mulher no campo científico.

Para o desenvolvimento deste estudo será feito o seguinte: Aplicação de um questionário


ao público alvo (Alunos), em seguida será recolhido os questionários e em dia posterior será
feita a análise dos dados contidos nos mesmos, afim de levantar informações sobre questões de
40

gênero nas ciências. Sua participação constará em responder um questionário com o total de
cinco (5) questões, sendo que, Três (3) delas são objetivas e as outras duas (2) subjetivas.

Sendo sua participação voluntária, você não receberá benefício financeiro. Os gastos
necessários para a sua participação na pesquisa serão assumidos pelos pesquisadores.

Não há visíveis desconfortos ou riscos envolvendo a pesquisa. Contudo, fica garantido


o seu direito de requerer indenização em caso de danos e constrangimentos comprovadamente
decorrentes da participação na pesquisa.

Os benefícios que esperamos com o estudo são: Identificar como os discentes enxergam
à questão do papel feminina nas ciências (se os participantes têm conhecimento de mulheres
que fizeram/fazem parte da história da ciência), e os estereótipos de gênero associados ao
mesmo, como também, identificar as preferências acadêmicas dos discentes, contribuindo, em
certo grau, para tomada de decisões que visem melhorar e corrigir visões históricas inadequadas
sobre o papel feminino na sociedade.

Você tem garantida a possibilidade de não aceitar participar ou de retirar sua permissão
a qualquer momento, sem nenhum tipo de prejuízo pela sua decisão.

Durante todo o período da pesquisa você terá a possibilidade de tirar qualquer dúvida
ou pedir qualquer outro esclarecimento. Para isso, entre em contato com algum dos
pesquisadores ou com o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

As informações desta pesquisa serão confidenciais e poderão ser divulgadas em eventos


ou publicações, sem a identificação dos voluntários, a não ser entre os responsáveis pelo estudo,
sendo assegurado o sigilo sobre sua participação.

Autorização

Eu,_______________________________________________________, após a leitura


ou a escuta da leitura deste documento e ter tido a oportunidade de conversar com o pesquisador
responsável, para esclarecer todas as minhas dúvidas, estou suficientemente informado, ficando
claro para que minha participação é voluntária e que posso retirar este consentimento a qualquer
momento sem penalidades ou perda de qualquer benefício. Estou ciente também dos objetivos
da pesquisa, dos procedimentos aos quais serei submetido, dos possíveis danos ou riscos deles
provenientes e da garantia de confidencialidade. Diante do exposto e de espontânea vontade,
41

expresso minha concordância em participar deste estudo e assino este termo em duas vias, uma
das quais foi-me entregue.

___________________________________________________________________

Assinatura do voluntário/Responsável Legal

____________(Cidade), ____(UF), ____ de _________ de 2022

Eu______________________________________________________, declaro que


obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste voluntário
ou representante legal para a participação neste estudo.

___________________________________________________________________

Assinatura do responsável pela pesquisa

____________(Cidade), ____(UF), ____ de _________ de 2022

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