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Ementa - Curso Livre de Folclore e Cultura Popular - Museu de Folclore-CNFCP
Ementa - Curso Livre de Folclore e Cultura Popular - Museu de Folclore-CNFCP
de folclore
e cultura
popular 2020
período 27 a 31 de julho
14h às 18h
apoio realização
os vinte anos da política de patrimônio cultural imaterial
No ano 2000 foi instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, que criou
o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Em 2020, a Política de Salvaguarda do
Patrimônio Cultural Imaterial – que visa o reconhecimento, a promoção e a preservação
de bens culturais que manifestam a diversidade do povo brasileiro – completa vinte anos
de atuação. Ao longo dessas duas décadas, centenas de bens imateriais foram inven-
tariados, dezenas deles foram registrados como Patrimônio Cultural do Brasil, outros
tantos encontram-se em processo de pesquisa ou de Instrução para Registro. O Curso
visa olhar a trajetória dessa política pública a partir da experiência empírica dos atores
envolvidos, desde técnicos e pesquisadores até detentores, para refletir acerca de suas
vitórias, limitações, impactos, dificuldades e desafios.
programação
Ementa
Neste ano de 2020 estamos celebrando duas décadas do Decreto n° 3.551, de 4 agosto
de 2000, que regulamenta um preceito da Constituição Federal de 1988 e que definiu
o Patrimônio Cultural em duas dimensões: material e imaterial. O Decreto estabelece a
implementação do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, trazendo uma perspec-
tiva que já vinha sendo gestada por estudiosos e técnicos da área, em consonância com
debates e experiências no âmbito nacional e internacional. Nesse momento, a definição
de patrimônio cultural é revisada e ampliada para além do histórico e artístico, incluindo
referências culturais das tradições e identidades de coletivos humanos no território nacio-
nal. Essas referências não se reduzem ou se expressam inteiramente em objetos concretos
da cultura material, mas se realizam como processos dinâmicos de intervenção no mun-
do, elaboração, transmissão e atualização cultural, atribuição de significados, afirmação
de identidades. Sob essa perspectiva, os fenômenos expressivos da riqueza e diversidade
cultural, que até então estavam circunscritos à rubrica “folclore” e “cultura popular”, são
apropriados pelos estudiosos e técnicos na área como “patrimônio cultural”. Ao longo dos
últimos 20 anos, o Estado, estados e municípios têm desenvolvido legislações e políticas
para este campo; e os estudiosos têm desenvolvido pesquisas, críticas e análises para e so-
bre as políticas implementadas. Um dos passos mais significativos na construção da política
foi a inclusão de um terceiro segmento de agentes/sujeitos, que entram na cena da política
e da pesquisa na área – os “detentores”, termo associado às pessoas que fazem parte dos
grupos, comunidades, segmentos sociais e nações indígenas onde as referências culturais
são cultivadas. Na política federal desenvolvida, pretende-se que a participação dos de-
tentores das tradições vá para além da consideração deles como performers e informantes
acerca das celebrações, formas de expressão, saberes, lugares tidos como referências cul-
turais patrimonializáveis. São incluídos, portanto, como sujeitos da política, para além do
consentimento prévio e informado já estabelecido até então, como parceiros do Estado
na implementação e gestão da política. Trata-se de um desafio permanente o desenvolvi-
mento da política participativa, na qual o Estado reconhece a relevância de seus saberes
como referências da riqueza do país, e reconhece a eficácia de suas práticas de transmissão
e atualização das tradições até o momento independente do apoio oficial, os detentores.
Nesse sentido, têm sido desenvolvidas experiências diversas nas três esferas do poder pú-
blico, na academia e entre detentores do patrimônio cultural. Na edição de 2020 do Curso
Livre de Folclore e Cultura Popular abordaremos algumas dessas experiências e questões.
Referência bibliográficas
QUEIROZ, Hermano Fabrício Oliveira Guanais. “O registro de bens culturais imateriais como instrumento
constitucional garantidor de direitos culturais”. In: Revista do IPAC/ Instituto Artístico e Cultural da Bahia.
Ano 1. n. 1. Salvador: Secretaria de Cultura/IPAC; Brasília: IPHAN, 2016. Disponível em:
<https://drive.google.com/file/d/0BywHkdwp6kAKT0dPSTNXbXdrS1U/view>. Acesso em: 23 jul. 2020.
quarta-feira | 29/07
14h às 18h
Ementa
Qual o estado da arte dos direitos culturais? Qual a relação do campo do patrimônio com
tais direitos? Nesta aula-palestra, os alunos compreenderão os desafios pelo reconheci-
mento e garantia dos direitos culturais, que são considerados por pesquisadores nacionais
e internacionais como uma categoria negligenciada dos direitos humanos.
A Constituição Federal de 1988 reconheceu tais direitos – dentre os quais se inclui o de
preservação ao patrimônio cultural – como um direito fundamental, isto é, um direito in-
dispensável aos cidadãos em razão de sua importância constitucional. Mas como o direito
à preservação do patrimônio se relaciona com outros direitos culturais, como o de acesso
aos bens culturais, o de criação e difusão de bens culturais, fomento e financiamento?
Como as políticas culturais abordam esses direitos, especialmente o direito à memória?
A partir de casos contemporâneos, a aula-palestra buscará demonstrar que, ao passo
em que se busca o reconhecimento pelos direitos culturais, ainda há um longo caminho
para garanti-los, no sentido de que as presentes e futuras gerações possam exercer ple-
namente os direitos culturais.
Referências bibliográficas
CASTRO, Sônia Rabello de. O Estado na preservação dos bens culturais. Rio de Janeiro: Renovar, 1991.
CHAUÍ, Marilena. Cidadania cultural: o direito à cultura. Editora Perseu Abramo, 2006.
COSTA, Rodrigo Vieira. A dimensão Constitucional do Patrimônio Cultural: o tombamento e o Registro sob
a ótica dos Direitos Culturais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
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CUNHA FILHO, Francisco Humberto. Direitos Culturais como direitos fundamentais no ordenamento jurídico
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______. Teoria dos direitos culturais. São Paulo: SESC, 2019.
______. Direitos Culturais no Brasil. Revista Observatório Itaú Cultural / OIC n.11 (jan./abr. 2011) – São Paulo:
Itaú Cultural, 2011.
QUEIROZ, Hermano Fabrício Oliveira Guanais. O registro de bens culturais imateriais como instrumento
constitucional garantidor de direitos culturais. Revista IPAC, ano 1, n. 1, Salvador: Secretaria de Cultura, 2016.
SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. São Paulo: Malheiros, 2001.
quinta-feira | 30/07
14h às 18h
Ementa
Esta aula-palestra aborda o tema Patrimônio e Museus partindo de dois principais enfo-
ques: o primeiro discute a relação entre museus e patrimônios com base nas coleções
abrigadas nestas instituições culturais, buscando entender como as mudanças nas con-
cepções de patrimônio, as atualizações do conceito de cultura e os desafios reflexivos
impostos à museologia contemporânea têm alterado significativamente as práticas mu-
seais. Propondo refletir acerca da inseparabilidade das dimensões material e imaterial,
ou ainda, de como os objetos podem provocar novas leituras em torno das narrativas e
práticas expositivas, apresenta-se um recorte da pesquisa realizada no acervo fotográfico
do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore da Universidade Federal de Alago-
as. O segundo enfoque, em continuidade ao primeiro, propõe discutir o engajamento
dos museus, entendidos aqui desde uma perspectiva que ultrapassa os limites físicos das
instituições. Reconhecendo que vivemos um momento histórico de disputas em torno
das memórias e dos patrimônios, propõe-se um debate sobre o “fazer museal” capaz
de atuar em uma perspectiva da ética social, dos direitos humanos e em defesa da vida.
Referências bibliográficas
ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (orgs). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. 2ª edição. Rio de
Janeiro: Lamparina, 2009.
APPADURAI, Arjun; BRECKENRIDGE, Carol A. “Museus são bons para pensar: o patrimônio em cena na
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CHAGAS, Mario de Souza; PIRES, Vladimir Sibylla (orgs.). Território, museus e sociedade: práticas, poéticas e
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GONCALVES, José Reginaldo Santos. “Ressonância, materialidade e subjetividade: as culturas como patri-
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KUNZLER, Josiane. “Por que Bacurau tem um museu?” Projeto Colabora, outubro, 2019. Disponível em:
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MARQUEZ, Renata. “Davi no museu”. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 11, 2017, p. 02-11.
RECHENBERG, F.; FERREIRA DE SOUZA, I.; ALMEIDA DE PAULA, T. “Da preservação ao compartilhamento:
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Cadernos de Sociomuseologia, 59(15), 2020, p. 53-76.
REIS, Daniel. “Criações e recriações dos museus de culturas populares”. In: CAVALCANTI, M. L.; CORREA, J.
(orgs). Enlaces: estudos de folclore e culturas populares. Rio de Janeiro: IPHAN, 2018. p. 375-407.
Fernanda Rechenberg
Professora Adjunta de Antropologia na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), pos-
sui mestrado e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve e orienta pesquisas nos temas da memória social,
museus e acervos, fotografia, antropologia urbana e cotidiano. Foi diretora do Mu-
seu Théo Brandão de Antropologia e Folclore entre 2014 e 2016. É pesquisadora do
Laboratório Antropologia Visual em Alagoas (AVAL) e do Laboratório da Cidade e do
Contemporâneo (LACC).