Você está na página 1de 16

Núcleo de Investigações Transdisciplinares-NIT – Departamento de Educação/UEFS

Ano XIV – Nº 36 – Set./Dez. 2016 – Feira de Santana-BA – ISSN 2179-1139

Crítica da razão cínica


[...] Nós somos esclarecidos, amplo espaço de irracionalidade e A sabedoria não é dependente
nós somos apáticos. Não se fala de programações inconscientes, do estado do domínio técnico do
mais de um amor à sabedoria. que se imiscuem por toda parte de mundo; ao contrário, esse domí-
Não há nenhum saber mais, do maneira enganadora na fala e na nio pressupõe a sabedoria, quan-
qual pudesse ser amigo (philos). ação consciente. do o processo da ciência e da téc-
A consciência não pode se tornar nica se direciona a estados des-
a ser “tola” e ingênua – inocência [...] a burguesia que se tornou vairados – tal como temos hoje
não se restabelece. imperialista utilizou o animal de diante dos olhos. [...]
rapina como o seu emblema políti-
[...] Cinismo é a falsa consciên- co. Com o auxílio das inteligências
cia esclarecida. budistas, taoistas, cristãs primiti-
vas, indianas e
[...] A crítica indígenas não é
moderna à ideolo- possível construir
gia agora aparece nenhuma linha de
sob a peruca séria montagem e ne-
do cinismo e até nhum satélite. No
mesmo no marxis- entanto, no tipo de
mo e, com maior saber moderno se
razão ainda, na acha ressequida
psicanálise, veste aquela lucidez vi-
terno e gravata, a tal, na qual os an-
fim de não lhe fal- tigos mestres da
tar nada à con- sabedoria se inspi-
quista da respeita- raram para falar
bilidade burguesa. de vida e morte,
Guernica - Pablo Picasso
Ela se despiu de amor e ódio, opo-
sua vida como sátira, a fim de No que é “dado naturalmente” sição e unidade, individualidade e
conquistar para si o seu lugar nos há sempre algo humanamente cosmos, masculino e feminino
livros como “teoria”. “acrescentado” [...] [...]

[...] O que Jesus ensina é uma [...] Os professores não são [...] A partir do instante em
autorreflexão revolucionária: co- “confessores”, mas chefes de trei- que a filosofia não é capaz de vi-
meçar consigo mesmo e, então, namento em cursos de aquisição ver o que ela diz senão de modo
caso os outros devam ser efetiva- de um saber distante da vida. hipócrita, é preciso insolência pa-
mente “esclarecidos”, avançar ra dizer o que se vive. Numa cul-
com um exemplo próprio em sua Tão logo as determinações par- tura em que os idealismos empe-
direção. tidárias se coagulam e se transfor- dernidos fazem da mentira a for-
mam em identidades, de tal modo ma de vida, o processo da verda-
[...] O Estado dotado de poder que indivíduos não tomam sim- de depende da existência de pes-
pressupõe sujeitos cegos; ele faz plesmente partido, mas se tornam soas suficientemente agressivas e
tudo o que pode para impedir da partidos [...] livres (“descaradas”) para dizer a
maneira mais efetiva possível que verdade.
forças reflexivas sejam colocadas [...] A compulsão burguesa à
à disposição. seriedade estragou as possibilida- Trechos extraídos do livro
des satíricas, poéticas e irônicas do “Crítica da razão cínica” de
[...] Sob toda racionalidade e irracionalismo. Peter Sloterdijk
toda consciência se estende um
2 FUXICO Nº 36 Setembro a Dezembro de 2016

expediente
Comissão Editorial
sumário
Grazielle Miranda Silva
Juliana de Matos Figueirêdo
Miguel Almir L. de Araújo (Coord.)
Editorial
Romildo Carneiro Alves
Roquenei F. Lima (Cid Fiuza) Informes
Colaboradores Flica 2016 - p. 3
André Costa (UEFS) Ocupação da UEFS - p. 3
André Nunes (Queimadas)
Andrea N. M. Silva (UNEB) Artigos
Andrea Macedo Borges(FSA)
Carlos Silva (Mutuipe) A tirania dos processos de midiotização - Miguel Almir L. de Araújo - p. 4
Cristiano Silva (Sapeaçu) Análise da metaficção em Bufo & Spallanzani de Rubem Fonseca - Raul
Danilo Cerqueira (FSA) Henrique Ortellado - p. 5
Edite Maria da S. de Faria (UNEB) Meditações sociológicas: Sentidos e lutas no contexto do Fórum Vale
Edivania S. de Carvalho (SSA) Educar - João José de Santana Borges - p. 7
Evelly de M. S. Soares (UEFS) Que o teu afeto me afetou é fato: a importância da afetividade no
Fabrício de Souza (SSA) contexto escolar - Romário Sena Oliveira e Rebeca Cerqueira da Silva - p. 11
Humberto Miranda (UNICAMP) Literarte: Sarau poético - musical como instrumento potencializador de
Ivanildo Cajazeira (SSA) leitura - Lisiane Ferreira de Lima e Twyne Soares Ramos - p.12
João José de S. Borges (UNEB)
João Irineu (UEPB) Crônicas
João Paulino (UFR) Olhos de mar - Dênis Moura de Quadros - p. 14
José Alves (UFRB)
Luciano Ferreira (C. de Maria) Poemas
Maria José Firmino (Tucano)
Marcelo Vinicius (UEFS) (Sem título) - Bia Barros - p. 14
Mirian Carvalho Miranda (Araci) A moda é massa - Franklin Ramos - Sobreviventes -
Mynuska de Lima (Camaçari) Lia Sena - Abolição do preconceito - Roberta Nazário - p. 15
Pedro Juarez (Araci) A Estátua - Cecília de Souza - Num Canto Da Tarde / Miopia - Fabrício
Renailda Ferreira (UESB) Brandão - p. 16
Renato Tavares Santana (UESB)
Suzeni N. Belas Silva (UEFS)
Valéria Nancí (SSA)
Weslley M. Almeida - Revisor (FSA)
Conselho Editorial
editorial
Dr. Eduardo Oliveira (UFBA)
Dr. Miguel Almir L. de Araújo(UEFS)
Dr. João José de S. Borges (UNEB) Na sua 36ª edição o Fuxico devemos lutar coletivamente por
Dr. João F. Regis de Morais (UNICAMP) aborda temas diversos que dialogam mais que os desdobramentos destas
Drª. Mirela Figueredo Santos (UEFS) com sua policromia e que transcor- ações sejam imprevisíveis em tempos
Drª. Sandra S. Morais Pacheco (UNEB) rem pela diversidade de saberes, de dissolvência.
Dr. Roberval Alves Pereira (UEFS) abordando sobre as diferentes cultu- No texto “Que teu afeto me
Dr. João Irineu de F. Neto (UEPB) ras e vivências. afetou é fato: A importância da afeti-
Drª Andrea do N. M. Silva (UNEB) No texto “A tirania dos proces- vidade no contexto escolar”, o autor
sos de midiotização” o autor aborda trata acerca da afetividade e como o
Editoração Eletrônica
e critica o contexto de nossa socie- afeto é considerado aspecto impor-
e Web designer dade que tem sua cidadania amea- tante para o processo de desenvolvi-
Grazielle Miranda çada por processos em que grandes mento humano, seja ele em qualquer
Roquenei F. Lima (Cid Fiuza) poderes controlam os artifícios midi- idade, desde o ensino de crianças até
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE áticos que, de modo predominante, os de adultos.
FEIRA DE SANTANA manipulam e cegam as pessoas. No textro "Literarte: Sarau Poé-
No escrito “Análise Da Metafic- tico-Musical como instrumento poten-
Reitor
ção Em Bufo & Spallanzani De Ru- cializador de leitura”, as autoras rela-
Evandro do Nascimento Silva
bem Fonseca” o autor escreve uma tam a importância da leitura realçan-
Diretora do Departamento de resenha crítica literária da obra Bufo do que esta deve ser estimulada de
Educação & Spallanzani, na qual é demonstra- maneira prazerosa. O texto mostra a
Ana Maria Fontes dos Santos da a complexidade da arte do ato de experiência do projeto Sarau Literarte
Coordenador do NIT escrever e os impactos causados que promoveu a socialização da leitu-
Miguel Almir L. de Araújo nos leitores. ra e de outras artes.
Em “Meditações sociológicas: No Jornal também encontramos
Sentidos e lutas no contexto do Fó- poesias, crônicas, cordéis, imagens
Site do NIT rum Vale Educar”, o autor expõe o que nos fazem pensar e sentir sobre
www.uefs.br/nit período de insurgências que está as tranças da vida e refletir as nossas
ocorrendo em nosso país e como passagens.
Setembro a Dezembro de 2016 FUXICO Nº 36 3

informes
Flica 2016

“A Histórias da gente brasileira”, “100 anos de Zélia


Gattai” e “Do Apocalipse ao Édem com Eduardo Spohr”
foram alguns dos temas que fizeram parte da programa-
ção da Flica 2016 (Feira Literária Internacional de Cacho-
eira) realizada entre os dias 13 e 16 de outubro.
Essa foi a 6º edição do evento e durante os quatro di-
as a população teve a oportunidade de participar de me-
sas-redondas, palestras, oficinas, bate-papos, dentre ou-
tras atividades literárias. De acordo com os organizado-
res, em entrevista a jornais locais, mais de 35 mil pesso-
as participam do evento, número recorde comparado às
outras edições.

Ocupação da UEFS

Foi deliberada em Assembleia Geral Estudantil (AGE) da


Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), ocorrida
no dia 01 de novembro de 2016, a ocupação do Campus da
Universidade. O movimento estudantil, em consonância com
tantos outros no país, manifestou-se contrário à aprovação
da PEC 241 que previu o congelamento de gastos dos recur-
sos públicos em vários setores da sociedade, entre eles, o
da educação.
Os estudantes apresentaram pautas na esfera estadual
que englobam as UEBA’s e outras específicas da UEFS nas
quais reivindicaram por melhorias estruturais, garantias de
direitos já consolidados e de outros a serem conquistados
para a Universidade.
A programação do movimento “Ocupa UEFS” realizou au-
las públicas, atividades culturais, debates, oficinas, além das
rodadas de negociação com a Reitoria .
O movimento decidiu em assembleia no dia 19 de dezem-
bro de 2016, pelo fim da ocupação após 50 dias desta. Co-
mo resultado das reivindicações houve algumas conquistas
referentes às pautas locais.
Luiz Natividade

Orientações para envio de textos etc.


- Recebemos artigos, poemas e imagens com temáticas diversas que sejam relevantes para a humanidade.
- Textos de até três páginas; espaço simples; fonte Times New Roman 12; parágrafo com recuo; colocar
dados do autor após o título.
- Enviar o material para: fuxicojornal@gmail.com

Sugestão de livros Sugestão de filmes

A arte de semear estrelas - Frei Beto Agnus Dei - Anne Fontaine


A louca da casa - Rosa Montero Aquarius - Kleber Mendonça Filho
Crítica da razão cínica - Peter Sloterdijk A guerra de fogo - Jean Jacques Anoud
Meu pé de laranja lima - José Mauro de Vasconcelos Babel - Alejandro G. Inarritu
O profeta - Khalil Gibran O humano: Uma viagem pela vida - Yann Arthus -
A alma imoral - Nilton Bonder Bertrand
4 FUXICO Nº 36 Setembro a Dezembro de 2016

artigos
A tirania dos processos de midiotização
Miguel Almir
Professor da UEFS

Todos sabemos que o papel, a lência simbólica. Esta se proces- mo fetiches por estes meios. Es-
função primal de quaisquer mei- sa de forma difusa e dissimula- sas estratégias mobilizam inten-
os de comunicação (social) afir- da penetrando, com muita efi- samente os instintos e as emo-
madores dos princípios democrá- cácia, nos inconscientes e no ções fomentando nestas pessoas
ticos deve ser registrar e divulgar imaginário de grande parte da apenas suas dimensões pri-
os fatos, as notícias de forma população de modo bastante márias/elementares, sua condi-
responsável informando e escla- disfarçado, vilipendiando-a e ção zoológica. Dessa forma, es-
recendo a população acerca des- levando-a ao estado de aliena- tas são ludibriadas e até impedi-
tes e apresentando-os de modo ção em que passa até a se tor- das de desenvolver suas capaci-
transparente. Sabemos também nar defensora de seus próprios dades cognitivas, sua condição
que os canais de televisão são algozes. Desse modo, esses de seres pensantes, seu espírito
concessões do estado e que, por- conglomerados midiáticos têm crítico. Assim, podem ser reduzi-
tanto, estes têm a obrigação de exercido um poder monstruoso das à condição de meros seres
zelar pelo respeito vegetativos que ape-
para com a cidada- nas obedecem aos di-
nia. tames impostos, aos
Porém, no entra- processos de domesti-
mado das mídias cação de rebanhos;
brasileiras, sobre- que apenas consomem
tudo das grandes o que é forjado como
redes, salvo as ra- necessário e indispen-
ras exceções – se é sável para sua sobre-
que elas existem... vivência vegetativa.
–, a predominância Destarte, essas postu-
das posturas que ras se traduzem, efeti-
desqualificam esses vamente, em proces-
princípios é fla- sos de midiotização
grante e até estar- em que pessoas são
recedora. O que anestesiadas emocio-
tem ocorrido fre- nalmente pelas arma-
quentemente é dilhas das propagan-
quase que o estu- das, das informações
pro da cidadania. uniformizadas e dis-
Os grandes grupos Marcelo Sena torcidas que embotam
econômicos que de- seus sensos percepti-
têm e controlam as mega redes de desqualificação e de violação vos e as impedem de analisar e
dos meios de comunicação, com dos direitos humanos e sociais e discernir criticamente, de formar
a maior facilidade, num toque de da condição de cidadania da po- opiniões minimamente consisten-
mágica e de forma acintosa e cí- pulação. tes que as possibilitam se tornar
nica, convertem as verdades em Através dos mais diversos e cidadãos e cidadãs construtores
mentiras e as mentiras em ver- sofisticados mecanismos de per- e defensores de seus próprios
dades de acordo com os interes- suasão e de sedução as estraté- destinos, de seus direitos funda-
ses mercantis e ideológicos/ gias articuladas pelos veículos mentais, de suas liberdades.
partidários de seus proprietários. de comunicação, sobretudo a Nas tramas capciosas desses
A força bruta desse poderio eco- televisão, penetram, de modo processos de midiotização, as
nômico subordina grande parte muito sutil e invasivo, nos ima- pessoas, ao serem despotenciali-
dos poderes políticos e estes ginários, nos inconscientes de zadas de suas capacidades de
passam a se tornar serviçais da- muitas pessoas anestesiando-as pensar e de discernir criticamen-
quele. para que, negando sua condição te, tendem a ser bestializadas
Esses impérios midiáticos u- de sujeitos, se tornem meros mediante os imperativos da uni-
sam e abusam da forma de vio- objetos consumidores dos pro- formização homogeneizadora e
lência que lhes é peculiar: a vio- dutos e símbolos projetados co- docilizadora. Portanto, como
Setembro a Dezembro de 2016 FUXICO Nº 36 5

“idiotas sociais”, de modo confor- idiotizar e emburrecer. à esfera das ideologias, dos prag-
mista, passam a aceitar o que é Essas viseiras, viabilizadas matismos imediatos, o que pode
exposto e imposto de forma dis- através dos processos de com- descambar em processos perigo-
torcida e patrulhado ideologica- pulsão instintiva e emocional, sos de despolitização das pesso-
mente como verdades únicas e turvam e cegam os olhares que as. Portanto, confunde-se muito
inquestionáveis tornando-se pre- passam a se sectarizar ficando, ideias com ideologias.
sa fácil dos impérios da mídia e assim, impedidos de articular A tirania desses mecanismos
das corporações como coisa con- ideias vastas e fundas, de elabo- de midiotização estabelecida pelo
sumável, como objeto de consu- rar análises críticas e discernido- poderio dos grandes grupos eco-
mo fácil de produtos e de ideolo- ras sobre a complexidade dos nômicos mancomunados com a
gias. Nesses processos de midioti- fatos. Os jargões, rótulos e cli- política partidária configura o rei-
zação propaga-se e vende-se chês propagados fragmentam e nado do regime de uma razão cí-
muito gato por lebre. enviesam os fatos, as informa- nica que tende a redundar em
Essas lógicas uniformizadoras ções que são projetados de for- práticas fascistas contaminadas
que bestializam as pessoas atra- ma rasa e uniforme desprovidas de um ódio corrosivo que preten-
vés de suas viseiras sofisticadas e de conteúdos razoáveis e sóli- de excluir, silenciar, subjugar e,
sedutoras mediatizam seus pro- dos. se possível, eliminar as pessoas e
cessos de formatação por meio Nos meandros desse emara- grupos que são diferentes, que
dos artifícios sagazes de suas fôr- nhado confunde-se Política como indagam, que incomodam, que
mas domesticadoras, de seus ca- campo de ideias, de ações coleti- exigem respeito aos direitos hu-
brestos invisíveis que são incre- vas fundada na ética, com mero manos e sociais.
mentados perversamente para partidarismo que se circunscreve

Análise da metaficção em Bufo & Spallanzani


de Rubem Fonseca
Raul Henrique Ortellado
Doutorando em História da Literatura - FURG

radoxal e se vê “engessado” tan- Nesse sentido, podemos salien-


O presente trabalho visa anali-
to pela tradição, quanto pelo tar que a metaficção é mais per-
sar a narrativa Bufo & Spallanza-
“ambiente cultural da atualida- ceptível e proeminente na ficção
ni, de Rubem Fonseca, pela ótica
de”. Mas em vez de sucumbir, dos últimos vinte anos, mas não
da metaficcção pós-moderna, his-
ele “bebe” nessa tradição, recu- se trata de uma prática exclusiva
toriográfica, autorreflexiva e pa-
sando o niilismo: dos escritores contemporâneos.
ródica. Analisamos a metaficção
E a metaficção não é, portan- Pelo contrário, é uma prática bas-
em Bufo & Spallanzani e consta-
to, uma invenção pós-moderna, tante antiga. Podemos perceber
tamos que há diversos níveis de
mas uma forma que vários escri- aspectos metaficcionais já em
leitura na narrativa. Sobretudo,
tores contemporâneos julgam Dom Quixote (século XVI). Em
uma abordagem autorreflexiva,
interessante, para não sentirem- Bufo & Spallanzani, entendemos
que é inerente ao estilo de cons-
se sufocados por seus antece- que a apropriação paródica per-
trução metaficcional fonsequiano.
dentes literários e oprimidos pe- mite também uma releitura da
Primeiramente, percebe-se tal
lo ambiente cultural da contem- forma das bases do gênero ficcio-
efeito no trecho seguinte: “Eu a-
poraneidade. (LODGE, 2011, p. nal. É um modo de se repensar o
cabara de publicar Morte e Espor-
14). gênero e a própria tradição literá
te, agonia - como essência e ata-
cando a glorificação do Esporte
competitivo, essa forma de pre-
servação institucionalizada dos
impulsos destrutivos do ho-
mem” [...]. (FONSECA, 1985,
p.9). E mais adiante, percebemos
a problematização do papel de
escritor e da arte na sociedade de
consumo contemporânea: “Eu re-
presentava a literatura, o escritor
da moda servindo de enfeite.
[...]. Mas estava escrevendo so-
bre avareza dos ricos”.
(FONSECA, 1985, p.23). Nesse
contexto, David Lodge alude que
o ficcionista contemporâneo é pa- Marcelo Sena
6 FUXICO Nº 36 Setembro a Dezembro de 2016

nos livros dos outros, que por sua


vez haviam lido aquilo nos livros
dos outros etc. ad nauseam. O
computador arquivou essa massa
brutal de dados nas inúmeras or-
dens que me interessavam e na
hora de escrever bastou-me aper-
tar uma ou duas teclas para que,
num segundo, a informação que
queria aparecesse no vídeo, no
momento certo. Morte e esporte
não passa de uma imensa colcha
de milhares de pequenos retalhos
que, juntos e bem cozidos, pare-
cem uma coisa origi-
nal” (FONSECA, 1985, p.
178,179).
Portanto, a noção de autoria é
problematizada na Pós-
Modernidade e, segundo Linda
Regina Costa Hutcheon: “Se retira o foco do au-
ria, a partir do alargamento da p. 97). tor (sujeito) em favor da produtivi-
forma canônica. Em síntese a pa- Já a “problematização da ver- dade textual”. “Assim, uma obra
ródia é benéfica para o desenvolvi- dade”, pela ótica de Linda Hut- literária já não pode ser considera-
mento e sobrevivência da ficção. cheon (1991, p. 127), “dialoga” da original; se o fosse, não poderia
Dessa forma, percebemos elemen- com trechos de Bufo & Spallanza- ter sentido para seu leitor. Na con-
tos metaficcionais/paródicos e a ni. Essencialmente, na medida temporaneidade “o próprio sentido
ironia ao mercado literário no tre- em que se aceita o discurso como da originalidade artística é contes-
cho a seguir: “Meu último livro, ‘Os um constructo humano, um siste- tado” (HUTCHEON, 1991 p. 147).
amantes’, conquanto tenha tido ma de significação subjetivo e, Por outro lado, o conceito de ro-
uma excelente repercussão crítica, portanto, sem pretensão à mance histórico, que também é
foi um fracasso de vendas. [...]. “verdade”. Vejamos o trecho a problematizado na pós-
Parece que o público não estava seguir: “Não seja tão convicto! modernidade, é aludido no trecho
preparado para um romance entre Não existem verdades absolutas. fonsequiano a seguir:
uma cega e um surdo mudo”. Eu sei, mas existe a verdade sim- “Orion queria saber por que eu
(FONSECA, 1985, p. 54). Por outro ples, não existe? Se a verdade é não escrevia um romance histórico
lado, Rubem Fonseca, a partir da relativa, a mentira é relati- tendo o duque de Caxias como
década de 80, passa a representar va” (FONSECA, 1985, p.111,112). personagem. Eu tentei explicar a
na sua ficção uma concepção esté- Esse estilo profundamente auto- ele que não gostava de heróis, dos
tica pós-moderna, eivada pela dis- reflexivo de Gustavo Flávio, o es- homens e mulheres poderosas
solução de fronteiras entre cultura critor que narra o romance Bufo & (muito menos dos homens que das
erudita e cultura de massa, e por Spallanzani (1985), nos oportuni- mulheres) que faziam história. Eu
uma associação com o romance za a reflexão sobre a posição do não gostava mesmo da grande his-
policial norte-americano. escritor contemporâneo frente a tória, com H maiúsculo. Mas era
(PRYSTHON, 1999). No trecho a questões inerentes ao nosso tem- capaz de ficar embevecido ante a
seguir, a problematização paródica po, como a noção de autoria e a fotografia de um popular anônimo
da cultura de massa: relação com o mercado e com os no meio da rua”. (FONSECA, 1985,
“Eu odiava novelas. Odiava tele- leitores. Essas questões relativas p. 198.)
visão. (...). Ela via três novelas, tal ao processo criativo na ficção são Nessa linha, Linda Hutcheon
como a Zilda, a partir do momento recorrentes em Rubem Fonseca. (1991) entende que a metaficção
em que chegava em casa às Já Gustavo Flávio, que é o narra- historiográfica leva o leitor a refle-
19:00. Seu sonho era, quando se dor protagonista, tem um blo- tir sobre a não neutralidade de
aposentasse, ver também as vá- queio criativo e não consegue qualquer discurso, questionando,
rias novelas que se passavam no concluir o livro do qual está tra- por exemplo, a pretensa objetivi-
horário diurno. Também gostava balhando. Além disso, num trecho dade da historiografia em contras-
de ver filmes dublados. As vozes do romance, Gustavo Flávio le- te com a liberdade imaginativa da
dos dubladores eram sempre as vanta as discussões, tão atuais, ficção. Por outro lado, aspectos
mesmas e ela gostava disso. sobre originalidade e autoria: metaficcionais-paródicos e inter-
Quando surgia uma voz nova - isso “Um escritor ser bem informa- textuais são encontrados em toda
era raro - ela reclamava. Chegou a do não vale merda nenhuma. Pa- a trama, e por obséquio, ilustrare-
escrever uma carta para a rede ra escrever Morte e esporte – a- mos um trecho ao final deste en-
globo: Não gostei da voz que clo- gonia como essência, eu enchi o saio: “Sentada junto ao caminho,
caram no Burt Reynolds no filme meu computador de milhares de contemplando o carro que sobe em
de quinta-feira”. (FONSECA, 1985, informações – tudo que ia lendo sua direção. Ele pensa: Hoje a
Setembro a Dezembro de 2016 FUXICO Nº 36 7

mãe morreu, ou talvez ontem, não


sei bem. Nunc et hora nostrae a-
mém”.(FONSECA, 1985, p. 258)
Na passagem anterior, fica eviden-
te o intertexto com O estrangeiro
de Albert Camus e sob a ótica da
teoria de Hutcheon podemos supor
que: “O prazer da paródia não pro-
vém do humor em particular, mas
do grau de empenhamento do lei-
tor no vaivém intertextual”.
(HUTCHEON, 1985, p. 45).
Portanto, Bufo & Spallanzani i-
lustra, como procuramos demons-
trar, a metaficção em uma de suas
representações mais visíveis: a
exposição e a reflexão sobre o ato
de escrever, um “artifício muito
valorizado” por escritores pós-
modernos, de acordo com David Marcelo Sena
Lodge. (2011, p. 21). Cabe salien- contemporâneo é ativo e, como lanzani. Rufo Serviços Editoriais
tar, ainda, que essa estratégia es- notamos na análise apresentada, LTDA. Rio de Janeiro. 1985.
tá bastante presente nos textos sua presença é cobrada constan-
modernos, porque já não faz mais temente para que ele comple- HUTCHEON, Linda. Poética do pós
sentido pensarmos em um texto mente o sentido do texto. -modernismo: história, teoria, fic-
que sai completamente finalizado ção. Rio de Janeiro: Imago,
da mão de seu autor, e ao qual o Referências 1991 .
leitor não acrescenta nada. O leitor FONSECA, Rubem. Bufo & Spal-

Meditações sociológicas: sentidos e lutas no


contexto do Fórum Vale Educar
João José de Santana Borges
Professor da UNEB

Norbert Elias (1897-1990) foi aparentemente pontuais, mas macrossocial em que o movimento
um sociólogo de obra singular e que na verdade confluem em um místico ecológico se via imbricado,
fascinante, reconhecido por reali- processo ou em uma cadeia de de onde extraía seus motores e
zar o mérito de lidar com grandes processos de longa duração. Elias lições: ali revisitei algumas teorias
processos sócio-históricos atentan- coloca em algum momento a sobre a globalização, os atores he-
do também para os hábitos e cos- questão do sentido. Qual é o sen- gemônicos e contra-hegemônicos
tumes, para aqueles gestos apa- tido da humanidade? Se há algum envolvidos, bem como as redefini-
rentemente insignificantes, mas sentido pelo qual esperar, apre- ções do papel do Estado e as ven-
que revelam sobremaneira a cone- endemos com Elias, que tal senti- turas e desventuras da democraci-
xão entre as dimensões macro e do não está posto, não advém de a. Demonstrei uma poderosa teia
micro da vida social e das histórias uma essência pré-social, mas é macroestrutural, seguindo as pis-
humanas. Ao menos, duas grandes construído historicamente, cons- tas de autores como Wallerstein e
lições podemos apreender da obra truído pelos homens e mulheres outros, cujo protagonismo hege-
de Elias. A primeira, salientada por em processos de longa duração, mônico era encabeçado por em-
Renato Janine Ribeiro em seu pre- sempre, e ainda, em curso. presas “transnacionais” – evidenci-
fácio ao Processo civilizador Podemos observar, como hipó- ando seu papel na condução de
(1993), consiste em manter a es- tese, que tanto em sua causalida- políticas econômicas dos Estados,
perança ou a fé na humanidade, de, como em suas consequências, bem como seus arranjos institucio-
mesmo ao se deparar com situa- há um sentido se desvelando. Ou nais com agências regulatórias do
ções tão adversas como a vivida pelo menos várias direções se es- capital transnacional – como o
por Elias em plena guerra mundi tabilizando enquanto horizonte de FMI, por exemplo. Seguindo essa
(e como a que estamos vivendo expectativas. A razão sociológica linha de raciocínio, o desmonte do
a t u a l m e n t e ) . apontaria para aquilo que eu a- Estado, representado de forma de-
A outra grande lição consiste em nunciei no primeiro capítulo de finitiva pela PEC 241/55 e seus e-
perceber a conexão de eventos Àrvores e Budas (2015), quando feitos, não passa de um ajuste
aparentemente isolados, de ações busquei analisar a conjuntura conduzido transnacionalmente.
8 FUXICO Nº 36 Setembro a Dezembro de 2016

Trata-se de uma violenta investida rarmos por exemplo: 1. O impea- mos, atuamos através de nossos
da hegemonia neoliberal que se chment, encabeçado por aqueles corpos, atravessados por nossas
cristalizou em um pensamento ul- que queriam concretizar o Estado emoções. E nossa academia pro-
tra conservador e pré-fascista, in- mínimo agora em curso, usur- duziu em nós corpos emocionais
crustado no governo atual, em su- pando riquezas nacionais, patri- adoecidos, que pouco ou nada se
as lideranças no Congresso, no mônio natural e humano, a dis- conhecem de si mesmos, cheios
STF, no Ministério Público e na Po- por das grandes empresas de medos e recalques, ira contida,
lícia Federal, sem falar, obviamen- “transnacionais” e o papel insinu- mágoa e complexos de inferiori-
ante do governo ade/ superioridade, choro abafa-
norte-americano do, tristeza mal reconhecida.
neste processo. 2. Os tempos de ferro, que nos
A destruição de em- assombram em pesadelos e proje-
presas nacionais, ções as mais terríveis, demandam
sob pretexto de uma ação consistente de cuidado
corrupção, para as- e fortalecimento de nossos corpos
sim, permitir o in- e emoções. Talvez aí resida o sen-
fluxo do capital tido novo para a ação política, o
transnacional, em sentido oculto por nossas perspec-
um processo já o- tivas acadêmico-político-
corrido em vários científicas: o sentido do corpo em
países periféricos militância. Quantas repressões
ao sistema capita- trazemos em nossa história? So-
lista global. mos bombas relógios prestes a
Mas este não é o explodir, de tanto sofrimento mal
único sentido que cuidado e mal sentido? Os últimos
podemos fazer in- acontecimentos apontam triste-
flamar nossas sen- mente para isso. As mortes que
sibilidades para vamos acumulando, o sentimento
com esse tempo. de insegurança e de desamparo
Há uma insurgência nos clamam por um olhar mais
se manifestando, se atento a nossa humanidade para
renovando, e se que “lutemos feito meninas”, com
apossando, um tan- essa coragem inusitada, com es-
to táctil e febril- ses corpos tão aparentemente frá-
mente da agência geis, mas que ecoam poderosa-
contra-hegemônica mente em uma ação insurgente:
já ocupada por sin- esta sim, a grande novidade-
dicatos e partidos síntese desses tempos de dissol-
políticos de esquer- vência.
da, mas também Voltando a Elias, não sabemos
por guerrilheiros qual o sentido que será desentra-
apaixonados pela nhado da tragédia do Estado Míni-
causa da democra- mo em curso, e que novos senti-
cia e da justiça so- dos de solidariedade serão exigi-
Regina Costa
cial. Quem assistiu dos de nós. Mas escutemos nossos
te, na grande mídia. Mais do que ao documentário “Lute como uma corpos: talvez o corpo aponte ca-
nunca, esta tem protagonizado menina”, poderá sentir na pele minhos novos, inusitados, solu-
uma ação demolidora dos princí- ao que estou a me referir. E ções improváveis, de um destino
pios modernos do jornalismo, u- quando escrevo “sentir na pele”, coletivo que tem sua tragédia,
sando mecanismos de péssimo insinuo um importante ingredien- mas que é também nutrido por
gosto, como difamações, deturpa- te dessa ação insurgente: a sen- uma Vida que não desistirá de e-
ções, perseguições, mutilações sibilidade, a razão sensível, é xistir, apesar de Temer, Moro, Gil-
grosseiras (os antigos recortes e constitutiva da ação política. Não mar, Bolsonaro, e tantos outros
enquadramentos) do real em suas enxergar isso é incorrer em uma que cobrem nosso céu de densas
notícias viciadas, em suas análises espécie de alienação de si que nuvens de chumbo e dor. É preci-
desrespeitosas à inteligência míni- cobrará um alto preço. Sendo a- so, sobretudo e mais do que nun-
ma dos seus espectadores. inda mais contundente, o apelo ca, meditar o sentido de toda essa
Sim, este é um quadro desolador, ao cuidado com as emoções, lon- efervescência que nos religa mais
aqui apenas pincelado em algumas ge de ser uma perda de tempo uma vez na história (e finalmen-
de suas matizes mais evidentes. para o militante empedernido, ou te!) em uma luta coletiva cujos
Os vínculos entre os fatos e forças um luxo para tempos de calmari- desdobramentos são ainda impre-
“transnacionais” são bastante con- a, é um instrumento poderoso de visíveis, mas sobretudo, irreversí-
catenados; sobretudo se conside- luta. Isso porque lutamos, sofre- veis em suas consequências
Setembro a Dezembro de 2016 FUXICO Nº 36 9

Que o teu afeto me afetou é fato: a importância


da afetividade no contexto escolar
Romário Sena Oliveira
Rebeca Cerqueira da Silva
Graduados em Letras Vernáculas - UEFS

Na sociedade contem-
porânea as relações so-
ciais estão mais frias, os
indivíduos são cada vez
mais introspectivos, as
atitudes individualistas
expressam-se, gradati-
vamente, notadas. Ou
seja, as demonstrações
de afeto, fraqueza, in-
certezas ou emoções no
geral, não são aspectos
apreciados, benquistos e
bem vistos. Essa carac-
terística de desvaloriza-
ção dos laços afetivos
também se reflete no
contexto da educação,
em todos os níveis, do
Ensino Básico à Educa-
ção de Jovens e Adultos.
Portanto, é preciso con-
tornar essa condição a-
tual e tornar o processo
de ensino/aprendizagem
mais humano. É preciso,
ainda, perceber a impor- Regina Costa
tância do vínculo afetivo
para uma aprendizagem de quali- acontecer da mesma forma. E vens e adultos, até o ensino supe-
dade, uma aprendizagem bem- isso em qualquer esfera da socie- rior, que muitas vezes pregam um
sucedida e significativa. dade, desde o vendedor da esqui- convívio educacional tecnicista.
O humano é um ser intenso e na, até pessoas com cargos pro- Mas, afinal, o que é afetivida-
sentimental. A sua necessidade de fissionais mais elevados. de? Dantas (1990, p.10) conceitua
viver em grupo é estudada há mui- Quando se fala em educação, é afetividade da seguinte maneira:
to tempo e é, também, muito im- necessário saber como alcançar “afetividade designa [...] os pro-
portante para a compreensão do de forma afetiva os indivíduos, cessos psíquicos que acompanham
processo de afetividade, seja ela pois para obter resultados positi- as manifestações orgânicas da e-
em qual âmbito for. Marina (1996, vos naquilo que se intenciona moção. A afetividade pode bem ser
p. 83) diz que: chegar no contexto educacional, a conceituada como uma das formas
“Os sentimentos modificam o pen- afetividade em qualquer área da de amor”. Com base nos estudos
samento, a ação e o entorno; a vida é fundamental. Compreender da autora, a afetividade é compre-
ação modifica o pensamento, os que tratar bem e de forma afetu- endida como um estado psicológi-
sentimentos e o entorno; o entor- osa um aluno traz benefícios para co, no qual um indivíduo pode ou
no influi nos pensamentos, nos o processo educacional, e isso não ser modificado a partir das si-
sentimentos e na ação; os pensa- proporciona de forma positiva, tuações vividas.
mentos influem no sentimento, na resultados e um retorno positivo Segundo Piaget (1983), tal esta-
ação e no entorno”. para a comunidade escolar, possi- do psicológico é de grande influên-
A mente humana carece de afe- bilitando um trabalho de vias du- cia no comportamento e no apren-
tividade. Saber como tocar as pes- plas. Posto que, em qualquer es- dizado das pessoas, juntamente
soas sentimentalmente é significa- fera da sociedade, a afetividade com o desenvolvimento cognitivo.
tivo. A afetividade em qualquer traduz aquilo que a alma expres- Tendo em vista isso, o afeto é con-
área da vida é fundamental. Saber sa, acontecendo nos mais diver- siderado como aspecto importante
como tratar bem, de forma afetuo- sos contextos sociais e educacio- do funcionamento intelectual, des-
sa e amigável uma pessoa é ne- nais, desde a educação básica, de o ensino de crianças até o de
cessário para que o retorno possa perpassando pelo ensino de jo- adultos.
10 FUXICO Nº 36 Setembro a Dezembro de 2016

mo os segundos
pais, não dife-
rentemente do
que pode ocor-
rer em salas de
aula da Educa-
ção de Jovens e
A d u l t o s
(doravante EJA),
uma vez que
esses sujeitos
são inseguros
com o retorno à
sala de aula. Em
casos como es-
te, é necessário
que o professor
possa ser o mais
caloroso possível
com o aluno,
para que o mes-
mo se sinta aco-
lhido e possa ter
a aprendizagem
M. A. desenvolvida
expressiva e
Lev S. Vygotsky (2001) segue demonstra bom humor é um prazerosa.
a linha cognitivista que destaca a bom motivador, o aluno que é Os alunos da EJA são, no ge-
importância da afetividade no incentivado a questionar e acre- ral, pessoas de meia idade ou i-
processo de aprendizagem da cri- ditar nos seus próprios potenci- dosas, as quais provavelmente
ança. Processo esse que, de acor- ais se torna mais interessado e em sua juventude não tiveram a
do com ele, é resultado da inter- produz resultados significativos, oportunidade de estudar, seja por
relação entre fatores biológicos e os quais levam para toda vida. falta de recursos financeiros, ne-
sociais. Para Vygotsky (2001), a Todos têm vontade de apren- cessidade de trabalhar para aju-
construção do conhecimento o- der, mas quando o aluno se sen- dar a família, ou a falta de esco-
corre a partir da vivência em soci- te bem com o professor e com a las na sua comunidade, entre ou-
edade e o professor exerce papel forma que ele apresenta os con- tras coisas. É importante tocar no
fundamental como guia do aluno teúdos, tem muito mais facilida- rompante de que a afetividade
para que este descubra o mundo. de para entender a matéria, e nesse contexto, pois esse alunado
O professor deve criar condições esse o levará à vontade de cres- necessita de muita atenção e cari-
para que a aprendizagem ocorra cer e adquirir cada vez mais co- nho, pois esta relação afetuosa
da maneira mais eficaz. Para Vy- nhecimento. No fim do processo serve como incentivo para não
gotsky (2001) a linguagem, que de aprendizagem o aluno poderá desistirem de voltar à escola,
tem como componente principal a elaborar seus próprios questio- conservando sua autoestima ele-
palavra, é o instrumento funda- namentos e maior habilidade pa- vada e percebendo o quanto são
mental para a socialização dos ra pensar por si só, além de a- capazes, independente da dife-
indivíduos. presentar maior autoconfiança rença de idade que há entre o
A palavra é a manifestação físi- para a vida. professor e ele, ou até mesmo
ca do produto da relação entre o Dantas (1992) revela, em al- entre ele e seus colegas de clas-
pensamento e a linguagem, daí a guns de seus estudos, sobre a se.
notoriedade da sua importância, possibilidade de haver etapas de Independentemente dos moti-
uma vez que ela é a capacidade desenvolvimento da afetividade, vos que levaram ao afastamento
que possuímos de expressar nos- pois expressa uma evolução da desses indivíduos do ambiente
sos pensamentos, ideias, opiniões afetividade que se inicia nos pri- escolar, essa modalidade de ensi-
e, principalmente, nossos senti- meiros dias de vida e se prolon- no tem como objetivo proporcio-
mentos. Portanto, o uso correto ga no processo de desenvolvi- nar a tais sujeitos o usufruto de
dela, proporcionará bons resulta- mento, mostrando de maneira seus direitos, a oportunidade de
do no processo de ensino feito distinta a influência do meio so- superar as barreiras colocadas
pelo professor ao aluno. A manei- cial. Quando a criança é inserida durante suas vidas pelas injusti-
ra como o professor expõe o con- no ambiente escolar precisa ser ças sociais, de reconquistarem
teúdo leva a uma resposta positi- confortada pelos professores suas identidades culturais e, aci-
va do aluno. Um professor que que, muitas vezes, são tidos co- ma de tudo, a tornarem-se cida-
Setembro a Dezembro de 2016 FUXICO Nº 36 11

dãos mais conscientes e com uma


boa autoestima. A forma como o
professor aceita o aluno, seja ele
do ensino infantil, fundamental,
médio, ou ainda da educação de
jovens e adultos, a forma como o
reconhece é fundamental para
que haja uma boa relação entre
eles. Posto isso, é necessário a
interação de maneira amigável
sem, necessariamente, a presen-
ça da hierarquia. Trabalhar afeti-
vamente não significa ser bonzi-
nho, mas, saber lidar com as sin-
gularidades dos alunos e procurar
entendê-las. É necessário que ha-
ja compromisso, princípio e res-
peito, tanto por parte do profes-
sor quanto do aluno, para que se
fortaleça a relação e, consequen-
temente, apresente resultados
significativos do processo de a-
prendizado.
Entender o aluno é, muitas ve-
zes, condicionado pelas impres-
sões que o professor traz da in-
fância; pela maneira como foi
compreendido e amparado quan-
do criança, daí parte a importân-
cia de trabalhar o papel da afeti-
vidade no contexto da educação
infantil. O sujeito que é inserido
num ambiente escolar onde acon-
tece a integração, a compreensão
e o carinho, renderá muito mais
que se acontecesse o contrário.
Os fenômenos afetivos são impor-
tantes em quaisquer ambientes,
em quaisquer faixas-etárias, ou
quaisquer dimensões de ensino.
Saber lidar com as pessoas é fun-
damental para uma melhor vivên-
cia e relação com outro.
É necessário, seja qual for, o
tipo de relação, seja familiar, es-
colar ou profissional que este a-
conteça de forma afetuosa atra-
vés dos sentimentos de aceitação,
compreensão e valorização do ou- Luiz Natividade
tro e de si mesmo. As experiên-
cias vividas nos levaram a conclu- São Paulo: Editora Manole, 1990.
DAVIS, C. Piaget ou Vigotsky. Uma Falsa Questão. Viver mente & cérebro.
ir que no ambiente da sala de au-
Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Segmento-Duetto, v.2, n.2, p.38-49, 2005.
la trocas afetivas positivas são MARINA, J.A. El Laberinto Sentimental. Barcelona : Anagrama, 1996.
importantes para o fortalecimento PIAGET, J. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Editora Za-
da relação e da confiança entre os har; 1983.
educandos e os educadores. RIBEIRO, V. M. M. Educação para jovens e adultos: proposta curricular. 1º seg-
mento. São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001.
Referências
VIEIRA, Adriana Silva. LOPES, Maristela Diniz. A afetividade entre professor e
ARANTES, Valéria Amorim. (org.) Afe- aluno no processo de aprendizagem escolar na educação infantil e séries iniciais.
tividade na Escola: Alternativas Teóri- Adriana Silva Vieira; Maristela Diniz Lopes Lins, 2010. (Monografia)
cas E Práticas. São Paulo: Summus VIGOTSKY, L. S. Estudo do desenvolvimento dos conceitos científicos na infân-
Editora, 2003. cia. In. Vigotski, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo:
DANTAS, Heloysa. A infância da razão. Martins Fontes, 2001.
12 FUXICO Nº 36 Setembro a Dezembro de 2016

Literarte: Sarau poético - musical como


instrumento potencializador de leitura
Lisiane Ferreira de Lima - Mestranda em Letras da FURG
Twyne Soares Ramos - Mestre em História da Literatura da FURG

de nós mesmos e do mundo, atra-


vés do olhar do outro. A linguagem
é o ponto que entremeia a relação
de conhecimento entre nós e o ou-
tro. A fala é um processo natural,
um desenvolvimento de aspectos
cognitivos inerentes à criança, já a
leitura, exige um processo de ins-
trução, ou seja, o reconhecimento
de sons fonéticos em letras, social-
mente convencionalizados.
Entretanto, à medida que tal
processo de instrução se aprofun-
da, ele avança numa dimensão
cultural. Essa dimensão envolve
não apenas a aquisição de um co-
nhecimento de mundo, mas tam-
bém a possibilidade de se interferir
nesse mundo, reinterpretando os
processos sociocognitivos.
Para Paulo Freire (2009), ler
não é caminhar sobre as letras,
mas interpretar o mundo e poder
lançar sua palavra sobre ele; inter-
ferir no mundo pela ação. Ler é
tomar consciência e a leitura é,
antes de tudo, uma interpretação
do mundo em que se vive. Ler é
também representar o mundo pela
linguagem escrita, falar sobre ele,
interpretá-lo, escrevê-lo. Ler, den-
tro desta perspectiva, é, também
Valéria Nancí
libertar-se. Nesse sentido, leitura e
escrita são dimensionadas como
Tendo em vista o contexto sócio p. 47). Assim, é importante que o prática de liberdade. Apesar de sua
-educacional, sabemos que é cada estímulo à leitura seja importância, a leitura ainda encon-
vez mais importante despertar o desenvolvido, buscando instigar, tra entraves socialmente, seja no
prazer da leitura, pois ela amplia a cada vez mais, a leitura literária. seu valor sociocultural ou no valor
consciência e promove uma visão A sociedade acredita que a financeiro que o livro, um de seus
crítica acerca do mundo em que leitura é um processo de instru- mais notórios instrumentos, obtém
vivemos. Conforme afirma Eagle- ção sistemático/estruturado, con- no mercado.
ton (2003, p. 47), “considerando forme aponta James Paul Gee Assim, surge o projeto de ex-
do ponto de vista das outras (2004). Entretanto, ler não é uma tensão “Literarte: literatura em
disciplinas, parece ser a leitura atividade natural como o falar. movimento”, que envolve a área
literária aquela que, unicamente, Por outro lado, a aquisição da lei- da Literatura e outras artes, tais
dá ao homem sua condição tura não parece ser apenas um como dança, desenho, fotografia,
humana”. Além disto, mensuramos processo de instrução estrutura- música e teatro. As atividades são
que “esta distinção estabelece uma da. Segundo Gee, a leitura envol- coordenadas pelos professores Ar-
oposição aos leitores e não ve, também, o processo cultural. tur Vaz, Adriana Gibbon, Lisiane de
leitores, deixando a estes últimos Ainda que necessite de uma ins- Lima, Mairim Linck Piva e Twyne
o caráter de seres embrutecidos trução estruturada, ou seja, a de- Ramos, vinculados à Universidade
por que não leram Homero, não codificação das letras, a leitura de Federal do Rio Grande (FURG). Ini-
conhecem Machado de Assis, ou textos é uma experiência prática cialmente, o projeto organizou sa-
não reconhecem um poema com e contínua que nos permite de- raus realizados no espaço Café
valor estético.” (EAGLETON, 2003, senvolver conhecimentos acerca Cultural, da FURG e, posteriormen-
Setembro a Dezembro de 2016 FUXICO Nº 36 13

Valéria Nancí
ção entre a literatura e diferentes
te, visou ser realizado em outros
artes, contribuindo para desen-
locais, promovendo a socialização
volvimento da leitura e funcio- Referências
da literatura e de outras artes.
nando como um espaço no qual
Desta maneira, as ações propostas
a comunidade pode acercar-se da BAPTISTA, Anna Maria Haddad.
pelo projeto permitem que a co-
arte e, inclusive, socializar traba- Literatura e Ensino: duas propos-
munidade possa tanto ampliar,
lhos autorais. tas para reflexão. Disponível em:
quanto socializar suas referências
Assim, além de estimular a lei- http://www.uninove.br/PDFs/
culturais e artísticas.
tura no âmbito acadêmico, o Sa- Mestrados/Educa%C3%A7%C3%
O Sarau Literarte está vinculado
rau Literarte possui também uma A 3 o / I I I E N C O N T R O /
ao projeto 'Socializando a leitu-
abrangência social e artística, u- AnaHaddad.pdf. Acesso em 02 de
ra' (ILA/FURG), que tem como ob-
ma vez que promove um encon- jan. de 2016.
jetivo geral promover a prática da
tro entre artistas e admiradores BRAGA, Regina; SILVESTRE, Maria
leitura e o estímulo à formação de
da arte da universidade e da co- de Fátima. Construindo o leitor
consciências críticas advindas des-
munidade em geral. O projeto competente: atividades de leitura
sa prática. Além disso, o atual pro-
possibilita, além da visibilidade a interativa para a sala de aula. São
jeto dialoga com a 'Oficina de con-
autores consagrados pela crítica Paulo: Peirópolis, 2002.
tação: a formação de leito-
literária, a difusão de textos auto- COELHO, N.N. Literatura: arte, co-
res' (ILA/FURG) e com o projeto
rais de seus participantes. Além nhecimento e vida. São Paulo: Pei-
'Troca de livros' (ILA/FURG), cujas
disso, destaca-se o fato de que o rópolis, 2000.
presenças vêm se ampliando no
“Literarte” permanece aberto a EAGLETON, Terry. Teoria da
Município de Rio Grande/RS. As-
participações durante sua realiza- Literatura: uma introdução.
sim, as ações desenvolvidas no
ção, caso seus espectadores de- Tradução de Waltensir Dutra. São
Sarau Literarte buscam proporcio-
sejem participar de variadas for- Paulo: Martins Fontes, 2003
nar a ampliação do trabalho de
mas. FREIRE, Paulo. Pedagogia da auto-
mediadores de leitura, tanto para
Nesse sentido, o Sarau age co- nomia: saberes necessários à prá-
profissionais já envolvidos em ati-
mo um instrumento estimulador tica educativa. São Paulo, Paz e
vidades docentes, como para me-
de práticas literárias e artísticas, Terra, 1996.
diadores em formação.
buscando a propagação da leitura ______. A importância do ato de
Além disso, o sarau enseja a
e da arte no ambiente acadêmico, ler: em três artigos que se comple-
possibilidade de incentivar a leitura
uma vez que a ampliação de co- tam. 50.ed. São Paulo: Cortez,
através da troca de livros, propor-
nhecimentos e a reflexão sobre os 2009.
cionando, assim, a oportunidade
caminhos da literatura e da pro- GEE, J. P. Situated language and
de o leitor adquirir mais conheci-
dução escrita como processo são learning: a critique of traditional
mento, sem custos com novos li-
pertinentes para a atuação de schooling. London: Routledge,
vros. Dessa forma, o projeto auxi-
mediadores de leitura na contem- 2004.
lia na formação de leitores de dife-
poraneidade, bem como para a
rentes condições socioeconômicas,
formação de cidadãos críticos.
intensificando o desejo de intera-
14 FUXICO Nº 36 Setembro a Dezembro de 2016

crônicas
Olhos de mar
Dênis Moura de Quadros
Dom Pedrito - RS

Era alguém comum. Acordava esse amor impossível devia estar -Sou seu Anjo querido...
sempre às 7h em um rigoroso coti- morto, mas estava latente e vivo Mas eu não posso pensar, eu
diano que não havia a necessidade e a cada minuto voltava doendo o não quero lembrar que... Mas a
de despertadores ou de outros me- peito no espaço onde diziam ha- moça estava ali, parada, risonha e
canismos eletrônicos. ver o coração. Parece que é ver- doce, olhando pra ele com aqueles
Todos os dias às 7h, acordava e dadeira a luta entre a razão e a olhos que lhe lembravam o mar, a
de um salto saía da cama, vestia a emoção. serenidade do mar.
camisa de linho branco, presente A imagem já nítida estava ao Tentando escapar desse amor,
de sua esposa, ou ex-esposa, es- seu lado direito, nas costas: a dessa dolorosa paixão que o per-
sa, outra história de amor mal re- moça doce e sensível que vivia seguia, não havia outra alternati-
solvido. Calçava seus tênis e ia to- um conto de fadas com seu prín- va. Junto à moça de seus pensa-
mar o café. Um dia comum de al- cipe encantado, que não era ele. mentos faz uma despedida; na-
guém comum que, parece, adora- Nesse momento, contudo, sua quele momento sem cartas, nem
va a chata e monótona vida. imagem se materializava trazida adeuses, fez-se poesia afogado
Naquele dia comum, tentando por um perfume, gostos, absor- naqueles olhos de mar.
esconder o interior de seu ser foi vente de ipê roxo florescendo na
surpreendido, em sua mesa de tra- primavera.
balho, por um perfume adocicado
com notas florais. Era como se o
pequeno espaço que compreendia
sua mesa e a estante de livros fos-
se preenchido completamente pelo
êxtase daquele perfume que, va-
garosamente, tomava conta de
seus pensamentos.
Em seu íntimo sabia que não
deveria afastar-se de sua linda e
bela vida construída pelo suor e
obstinado sonho de uma vida co-
mum e, ao que parece, próspera.
O perfume o foi levando ao sonho,
aquelas adocicadas notas pintavam
uma imagem brilhosa e ao mesmo
tempo: conhecida e estranha.
Já absorto nos pensamentos que
não deveria nutrir, nem tê-los, a
imagem tornava-se mais nítida.
Mas não devia ser, não podia ser, Regina Costa

poemas

Alguma dor chegou Que mais parece cachorro quando A matar-me lenta e impiedosa-
Misteriosa e calma geme de fome mente
E eu, náufraga de rasa água, Bicho que ao crepúsculo é terrível E que nesses dias rebeldes e ardis
Com uma agonia mansa gigante Dorme em alguma secretíssima
caverna.

Bia Barros
São Paulo - SP
Setembro a Dezembro de 2016 FUXICO Nº 36 15

A moda é massa Sobreviventes

O modismo é subverter Ornar a velocidade pétrea dos viadutos


A moda não tem cota e debulhar em flores
Não aceita vale refeição o espetáculo impune
Mas a moda é ser de esquerda do que foi salvo das manhãs.
Mesmo que a minha esquerda Cravar a faca em todo peito
seja a sua direita — alicerçado na maldade nossa de cada dia —
quando te olho nos olhos preencher artérias e veias
Ninguém sabe o que é com migalhas de humanidade perdidas
Nem para que serve o espelho pelos cantos.
Eu também quero ser do contra
Mesmo contra o contrário Salvaguardar essa pequena centelha de loucura
Daqueles que contrariaram por mim sobejo dos vivos
A anarquia é intelectual delírio que é arte.
E os intelectuais ditam estilos, Lia Sena
Modas, governos... situação Itabuna - BA
Manobrando as massas
Avolumando os berros
Com o apoio dos sem voz
Esses que corroboram os ditames
Verticalizados que nunca chegarão
Em suas panelas vazias e barulhen-
tas
O velho que volta é o renovo maqui-
ado
Na caminhada contra o ultrapassado
Ode ao protesto, abaixo a ditadura
E depois
A permanência de quem financiou
Mais uma moda a ser derrubada
Verter por baixo das ideias
A rebeldia de caminhar por si
De não ir por aí
Podendo ir
Se decidir

Franklin Ramos
Marcelo Sena
Porto Seguro - BA

Abolição do preconceito

A negritude presente em minha O preto lutou para se assumir


alma, e não desistiu, como Zumbi:
grita por liberdade, mas me acal- Grande idealizador, guerreiro e
ma amigo,
ao mostrar sua força e resistência que ajudou seus irmãos a se es-
que luta com coragem, conderem num abrigo.
combatendo a desigualdade, que Simples, sem outros andares, e
age com persistência. sim
Hoje! Tenha consciência negra, era o quilombo dos Palmares.
é para você pensar na importân- Por isso vamos evoluir de verdade,
cia Não na teoria, mas na prática,
do cabelo duro, da pele preta, Vamos abolir o preconceito assim
do nariz largo e dos lábios carnu- como
dos a escravidão e mostrar quem em
que são tratados com intolerân- Nosso peito, bate um coração.
cia,
pela ignorância de atos absurdos. Roberta Nazário
Pobre sociedade! Desvaloriza o Feira de Santana - BA
negro agora
e desvalorizava outrora.
Valéria Nancí
16 FUXICO Nº 36 Setembro a Dezembro de 2016

miopia

se absorvo tua fala


agora entre os nós da carne
é porque sei brincar
molduras de sempre

se me contento a tudo
ofereces-me ventos errantes
desses que envergam edifícios
sem aviso aparente

se me trazes até aqui


não existe um sequer acaso
tudo são verdades caducas
num passo insano de repetição

Linda Côrtes

Linda Côrtes

Num Canto Da Tarde


A Estátua
Esgotar a pilha de canções do poetinha,
Enquanto se espera alguém chegar.
Ó, estátua sem vida! Entre versos e planos,
Quem habita em tua negrura? É bom ter a cabeça apoiada no inverso da cama.
Não sei onde acho a saída Os xamãs que percorrem o quarto
Para esta minha amargura Incensam preces disfarçadas em poemas de amor.
A gente que anda por aqui agora
Ó, estátua sem alma Faz companhia aos círculos de fogo acesos no chão da mente.
Quem habita em tua dimensão? Ainda uma cidade de bons tons atravessando janelas.
Estou sem paz e sem calma Há cor no cheiro daquele que fica.
Perdida nesta solidão
Fabrício Brandão
Quem habita em ti? Ilhéus - BA
Ó, estátua negra e fulgurosa
Tu és a única a me ouvir
Nestes momentos de depressão
Mas como?
Se não podes chorar e nem sorrir
Não tens nem mesmo um coração

Mesmo assim eu desabafo


Tu és minha única companheira
No caminho dos meus passos
Tu és minha amiga verdadeira
Não me inveja
Não me agride
Estás sempre em prontidão
Para que quando eu precisar,
Possa abrir meu coração

Cecília de Souza
Rio Grande - RS

Marcelo Sena

Você também pode gostar