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Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

Operações Unitárias na Indústria de Alimentos II

SÓLIDOS PARTICULADOS

1.PROPRIEDADES DOS SÓLIDOS PARTICULADOS


O conhecimento das propriedades dos sólidos particulados é fundamental para o
estudo de muitas operações unitárias como a fragmentação, o peneiramento, a
fluidização, a mistura, o armazenamento, as separações mecânicas, o escoamento de
fluidos através de meios porosos e a adsorção.
De um modo geral, as propriedades se dividem em duas categorias: as que só
dependem da natureza das partículas e as que se associam com todo o sistema. Do
primeiro tipo são a forma, a dureza, a densidade, calor específico e a condutividade das
partículas. As da segunda categoria são a densidade aparente, a área específica, as
condutividades, a permeabilidade e o ângulo de repouso natural. Neste segundo caso, a
propriedade passa a ser uma característica do conjunto (ou da amostra) e não mais do
sólido em si.
O que se tem verificado é que as propriedades da segunda categoria, ou seja, as
propriedades do leito poroso constituído das partículas sólidas separadas umas das outras
na amostra, dependem principalmente da porosidade do leito, que por sua vez está
associada com a distribuição granulométrica das partículas, além de outros fatores.

2.CARACTERIZAÇÃO GRANULOMÉTRICA
Tanto a especificação da finura desejada, como o cálculo da energia necessária
para realizar uma operação de fragmentação, requerem a definição prévia do que se
entende por tamanho das partículas do material. A determinação de outras características
do produto moído também exige o conhecimento prévio da granulometria e geometria
das partículas que o constituem. O assunto interessa igualmente a outras operações
unitárias, como a mistura, as separações inerciais e a adsorção, além de ser importante em
processos como a catálise heterogênea. Muitas vezes as propriedades sofrem a influência
marcante do grau de sub-divisão. A toxidez de certas poeiras depende da distribuição
granulométrica, além da composição química.
Distinguem-se pelo tamanho cinco tipos de sólidos particulados. Apesar de não
ser muito nítida, esta classificação é útil por ser descritiva:

-pós: partículas de 1 µm até 0,5 mm (1 µm = 10-6m)


-sólidos granulares: partículas de 0,5 a 10 mm
-blocos pequenos: 1 a 5 cm
-blocos médios: 5 a 15 cm
-blocos grandes: > 15 cm

Consideraremos inicialmente os materiais com partículas de mesmo tamanho,


para depois tratarmos do caso geral de amostras com partículas de tamanhos variados.

2.1.MATERIAIS COM PARTÍCULAS UNIFORMES


Quando as partículas do material são todas iguais, o problema da determinação do
seu número, volume e superfície externa é bastante simples. Consideremos uma partícula
isolada. Seu tamanho poderá ser definido pela dimensão linear de maior importância,
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como o diâmetro, no caso de uma superfície esférica, ou o comprimento da aresta, se ela


for cúbica. No caso de partículas de outras formas geométricas ou irregulares, uma
dimensão deverá ser arbitrariamente escolhida. Geralmente a dimensão imediatamente
abaixo da maior é a preferida, porque é a que mais se aproxima do tamanho obtido
experimentalmente.
O tamanho da partícula pode ser obtido por diversos meios: diretamente ou com o
auxílio de um microscópio, por peneiramento, decantação, elutriação ou centrifugação.
Tanto a medida direta como a microscópica dispensam explicação. No último caso, o
método empregado é o de Rosiwal, que consiste em ir virando a partícula sobre uma
lâmina microscópica e quadriculada de modo a facilitar a medida. Tira-se a média de cem
partículas e depois se compara com a média de duzentas para verificar se os resultados
são concordantes.
O peneiramento consiste em fazer passar a partícula através de malhas
progressivamente menores, até que ela fique retida. O tamanho da partícula estará
compreendido entre a medida da malha que a reteve e a da imediatamente anterior. A
média aritmética das aberturas destas malhas servirá para caracterizar o tamanho da
partícula.
A decantação e a elutriação são métodos indiretos que se baseiam na medida da
velocidade de decantação da partícula num fluido. Estando relacionada diretamente com
as dimensões da partícula, esta velocidade permitirá o cálculo do tamanho, desde que se
conheça a equação que descreve o fenômeno. No primeiro caso, o material é posto numa
suspensão que se deixa em repouso durante um certo tempo, findo o qual o nível dos
sólidos decantados terá descido até uma distância que se mede. A velocidade de
decantação é obtida dividindo a distância pelo tempo e, a partir do valor achado, calcula-
se o tamanho da partícula. Na elutriação, o princípio empregado é o mesmo, porém a
suspensão é mantida em escoamento ascendente através de um tubo. Variando-se a
velocidade de escoamento, será fácil descobrir o valor necessário para evitar a decantação
das partículas. Esta será a velocidade de decantação do material. Muitas vezes a
elutriação é feita com ar, sendo esta técnica particularmente importante para a
determinação do tamanho das poeiras contaminantes.
O método de centrifugação, também indireto, obedece ao mesmo princípio dos
anteriores, porém a força gravitacional é substituída por uma força centrífuga cujo valor
pode ser bastante grande, à conveniência do operador. É útil principalmente quando as
partículas são muito pequenas e, por conseqüência, têm uma decantação natural muito
lenta.
________________________________________________________________________
_
Seja Deq a dimensão característica (ou tamanho característico) da partícula, obtida
por qualquer um destes métodos. Esta dimensão será o diâmetro, mesmo que a partícula
não seja esférica. As características importantes do material poderão ser calculadas em
função de Deq, como segue:

a)Superfície externa da partícula (s)


s = a Deq 2 (1)

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O valor do parâmetro a depende da forma da partícula. Para cubos é igual a 6 e


para esferas é igual a π.
Essa afirmação é verdadeira? Prove matematicamente.

b)Volume da partícula (Vp)


V p = b Deq 3 ( 2)
O valor de b também depende da forma, sendo igual a 1 para partículas cúbicas e π/6
para partículas esféricas.
Essa afirmação é verdadeira? Prove matematicamente.

Seja uma partícula de volume Vp e superfície externa s, podemos calcular o diâmetro


equivalente como sendo:
6
Deq = 3 V p (3)
π

Prove matematicamente a equação (3).

c)Número de partículas da amostra (N)


Numa amostragem uniforme de partículas de diâmetro Deq, o volume total das
partículas é M/ρ, onde M e ρ são a massa total da amostra e a densidade das partículas,
respectivamente. Uma vez que o volume de uma partícula é Vp, o número de partículas na
amostra é:
M
volume total da amostra ρ M
N= = = ( 4)
volume de cada partícula V p b ρ Deq 3

d)Superfície externa total da amostra (S)


a M
S=Ns= (5)
b ρ Deq

Para aplicar as equações (4) e (5) numa mistura de partículas de vários tamanhos e
densidades, a mistura é classificada em frações, cada qual de densidade constante e
tamanho aproximadamente constante. Cada fração pode então ser pesada, ou as partículas
podem ser contadas e medidas individualmente por uma série de métodos. As equações
(4) e (5) podem então ser aplicadas para cada fração e os resultados são somados.

2.2.MATERIAIS HETEROGÊNEOS
Neste caso o material terá que ser separado em frações com partículas uniformes
por qualquer um dos métodos de decantação, elutriação ou centrifugação anteriormente
descritos. O meio mais prático, no entanto, consiste em passar o material através de uma
série de peneiras com malhas progressivamente menores, cada uma das quais retém uma
parte da amostra. Esta operação, conhecida como análise granulométrica, é aplicável a

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partículas de diâmetros compreendidos entre 7 cm e 40 µm. Caso contrário, deve-se


recorrer a um dos métodos descritos anteriormente.
A análise granulométrica é realizada com peneiras padronizadas quanto à abertura
das malhas e à espessura dos fios de que são feitas. Há diversas séries de peneiras, sendo
as mais importantes as do British Standard (BS), do Institute of Mining and Metallurgy
(IMM), no National Bureau of Standards e a Série Tyler, que é a mais comumente
utilizada no Brasil. Esta série consta de quatorze peneiras e tem como base uma peneira
de 200 malhas por polegada (200 mesh), feita com fios de 0,053 mm de espessura, o que
dá uma abertura livre de 0,074 mm. As demais peneiras da série e que são colocadas
acima desta durante o ensaio, apresentam 150, 100, 65, 48, 35, 28, 20, 14, 10, 8, 6, 4 e 3
mesh, respectivamente, como mostrado na Tabela 1. Quando se passa de uma peneira
para a imediatamente superior (por exemplo da de 200 mesh para a de 150 mesh), a área
da abertura é multiplicada por dois e, portanto, o lado da malha é multiplicado por 2 .

Tabela 1: Peneiras da Série Tyler Padrão


Malha Abertura livre (mm) Diâmetro do fio (mm)
3 6,680 1,78
4 4,699 1,65
6 3,327 0,914
8 2,362 0,813
10 1,651 0,899
14 1,168 0,635
20 0,833 0,437
28 0,589 0,318
35 0,417 0,310
48 0,295 0,234
65 0,208 0,183
100 0,147 0,107
150 0,104 0,066
200 0,074 0,053
Panela < 0,074 < 0,053
Fonte: Gomide, R. Operações Unitárias. V1, São Paulo: Reynaldo Gomide, 1983.

O ensaio consiste em colocar a amostra sobre a peneira mais grossa a ser utilizada
(poderá ser a peneira 3 da Tyler normal ou qualquer outra) e agitar em ensaio
padronizado o conjunto de peneiras colocadas umas sobre as outras na ordem decrescente
da abertura das malhas, conforme ilustra a Figura 1. Abaixo da última peneira há uma
panela que recolhe a fração contendo as partículas mais finas do material e que
conseguem passar através de todas as peneiras da série. A fim de padronizar o ensaio, o
conjunto poderá ser agitado ou vibrado mecanicamente.
Terminado o ensaio, as quantidades retidas nas diversas peneiras e na panela são
determinadas por pesagem e as diversas frações retidas podem ser calculadas dividindo as
diversas massas retidas pela massa total da amostra. Se numerarmos em seqüência as

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peneiras utilizadas, começando pela de cima, e representarmos por mi a massa retida


sobre a peneira i e M a massa total da amostra, a fração retida nesta peneira será:
mi
xi = ( 6)
M

Peneiras Massas

m1
1
m2
2
3 m3

i-1 mi-1
i mi

n-1
mn-1
n mn

Figura 1: Frações recolhidas nas peneiras

Esta fração poderá ser caracterizada indiferentemente de dois modos:

1)Como a fração que passou pela peneira i-1 e ficou retida na peneira i. Se estas forem as
peneiras 14 e 20, respectivamente, será a fração 14/20 ou –14+20.
2)Como a fração representada pelas partículas de diâmetro Di igual a média aritmética
das aberturas das malhas das peneiras i e i-1. No caso que estamos exemplificando, será a
fração com partículas de tamanho:
0,833 + 1,168
Di = = 1,000 mm
2

Os resultados de uma análise granulométrica poderão ser apresentados sob a forma de


tabelas ou gráficos através de uma Análise Granulométrica Diferencial (AGD) ou de uma
Análise Granulométrica Acumulada Retida (AGAR) ou de Finos (AGAF).

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Análise Granulométrica Diferencial (AGD)


As diversas frações retidas (xi) e os diâmetros médios das partículas ( Di ) figuram
ao lado dos números das peneiras (i-1 e i) entre as quais acham-se retidas as frações
correspondentes, conforme mostrado na Tabela 2.
Convém lembrar que Di é adotado como sendo igual a média aritmética das aberturas
das malhas das peneiras i-1 e i.

Tabela 2: Análise Granulométrica Diferencial


Peneiras Abertura Di (mm) Fração xi
Di (mm) i-1/i
3 6,680 -
4 4,699 5,689 3/4 0,0251
6 3,327 4,013 4/6 0,1250
8 2,362 2,844 6/8 0,3207
10 1,651 2,006 8/10 0,2570
14 1,168 1,410 10/14 0,1590
20 0,833 1,000 14/20 0,0538
28 0,589 0,711 20/28 0,0210
35 0,417 0,503 28/35 0,0102
48 0,295 0,356 35/48 0,0077
65 0,208 0,252 48/65 0,0058
100 0,147 0,178 65/100 0,0041
150 0,104 0,126 100/150 0,0031
200 0,074 0,089 150/200 0,0072
Panela < 0,074 < 0,074 -200 -
Fonte: Gomide, R. Operações Unitárias. V1, São Paulo: Reynaldo Gomide, 1983.
xi

Di

Figura 2: Análise Granulométrica Diferencial

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A curva da Figura 2 dá uma idéia da distribuição de tamanho das partículas na


amostra. Indica, entre outras características do material, o intervalo de variação dos
diâmetros, bem como as dimensões predominantes na amostra. Um pico acentuado na
curva caracteriza a predominância de determinado tamanho de partícula.

Análise Granulométrica Acumulada Retida (AGAR) ou de Finos (AGAF)


A Tabela 3 apresenta as análises granulométricas acumuladas do mesmo material
da Tabela2.

AGAR: esta análise apresenta, em função de cada Di (abertura da peneira i), a fração
acumulada retida nessa peneira ou a fração acumulada de grossos (ϕi) que se calcula
somando à fração retida na peneira i as frações retidas em todas as peneiras anteriores.

ϕi = x1+x2+...xi

O valor ϕi representa, assim, a fração da massa total da amostra que não consegue
passar através da peneira i. Se a peneira i for a 20, será a fração +20. É evidente que, para
a mistura toda, ϕi é igual a um, assim como xi.

AGAF: esta análise relaciona Di com a fração acumulada que passa pela peneira i, ou
seja, 1-ϕi. O valor 1-ϕi representa a fração da massa total da amostra ensaiada que
consegue passar pela peneira i, ou seja, a fração da massa total que é formada de
partículas mais finas do que Di. No caso da peneira 20, será –20.

Tabela 3: Análises Granulométricas Acumuladas


Malhas Di (mm) Fração Fração
Acumulada Acumulada de
Retida (ϕi) Finos (1-ϕi)
3 6,680 - -
4 4,699 0,000 1,0000
6 3,327 0,0251 0,9749
8 2,362 0,1501 0,8499
10 1,651 0,4708 0,5291
14 1,168 0,7278 0,2721
20 0,833 0,8868 0,1131
28 0,589 0,9406 0,0594
35 0,417 0,9616 0,0384
48 0,295 0,9718 0,0282
65 0,208 0,9795 0,0205
100 0,147 0,9853 0,0143
150 0,104 0,9894 0,0106
200 0,074 0,9925 0,0075
-200 - 1,0000 0,0000
Fonte: Gomide, R. Operações Unitárias. V1, São Paulo: Reynaldo Gomide, 1983.

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ϕi
1-ϕ
ϕi

Di

Figura 3: Análise Granulométrica Acumulada de Retidos (ϕi) e de Finos (1-ϕi)

A forma das curvas da Figura 3 também dá uma indicação da distribuição das


partículas da amostra. Para outros exemplos e maiores esclarecimentos, leia o Capítulo 2
do livro do Gomide (ver Referências).

Ao utilizar a análise granulométrica diferencial deve-se supor que todas as


partículas de uma dada fração apresentam o mesmo tamanho, que é da média aritmética
das aberturas das malhas das duas peneiras entre as quais a fração ficou retida. Já o uso
das análises acumuladas não requer esta hipótese.

2.3.CÁLCULOS BASEADOS NAS ANÁLISES GRANULOMÉTRICAS


A seguinte nomenclatura será adotada para deduzir as expressões a serem
utilizadas nos cálculos:

M = massa total da amostra


ρ = densidade das partículas (será admitido que todas as partículas apresentam a mesma
densidade)
s = superfície externa de uma partícula
Vp = volume da partícula
Deq = diâmetro equivalente
D = diâmetro das partículas (com índices que servirão para indicar a peneira sobre a qual
estão retidas)
Di = diâmetro médio das partículas (com índices que servirão para indicar o tipo de
média)
S = superfície externa total da amostra
N = número de partículas da amostra
ϕi = fração acumulada da massa da amostra que fica retida na peneira i
1-ϕi = fração da massa da amostra que passa pela peneira i
a, b = parâmetros que dependem da forma da partícula e que relacionam o diâmetro com
a superfície externa e com o volume, respectivamente (será admitido que a e b são os
mesmos para todas as partículas)
n = número de frações obtidas (desde a peneira utilizada até a panela)

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a) Número de partículas da amostra (N)


O número de partículas presentes na massa M da amostra é calculado somando os
números de partículas de todas as frações obtidas. Assim sendo, utilizando os dados da
análise granulométrica diferencial, a equação (4), usada para computar o número de
partículas de cada fração, será reescrita de maneira a computar a população total numa
massa única de amostra através da seguinte somatória:
n
M xi
N= ∑ ρ bD 3
i =1 i

Sendo M, ρ e b constantes:
n
M xi
N=
ρ b ∑D
i =1 i
3
( 7)

xi
A somatória terá que ser obtida somando as parcelas para todas as frações da
Di3
amostra, inclusive a presente na panela.

b) Superfície externa total da amostra (S)


Com as mesmas hipóteses anteriores pode-se escrever, com base na análise
granulométrica diferencial, a partir da equação (5):
n
aM xi
S= ∑D (8)
ρ b i =1 i

c) Diâmetros médios das partículas


Vários tipos de média podem ser definidos para um dado material constituído de
partículas irregulares. De fato, a amostra ensaiada apresenta características como a massa,
o volume, a superfície externa e o número de partículas, que não podem ser
simultaneamente representadas pela mesma função de uma dada dimensão linear média.
Assim sendo, não é possível definir um diâmetro médio que, isoladamente, represente a
mistura sob os diversos aspectos que a caracterizam. Se, por exemplo, o diâmetro médio,
ao ser multiplicado pelo número de total de partículas da amostra, der como resultado a
soma dos diâmetros de todas as partículas, é óbvio que esse mesmo diâmetro não servirá
para calcular a superfície externa total pela simples multiplicação da superfície externa da
partícula média pelo número total de partículas da amostra. Idêntico raciocínio aplica-se
ao volume total e à massa. Apenas uma propriedade da mistura poderá ser representada
por um dado diâmetro médio. As demais terão que ser representadas por outros tantos
diâmetros médios.
Dos diferentes critérios que têm sido adotados para obter diâmetros médios, um
que se tem revelado útil pela rapidez de determinação é o utilizado por Bond para avaliar
a energia consumida na redução de tamanho. O diâmetro médio da amostra é adotado
como sendo igual à abertura da peneira através da qual passam 80% do material. Em

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outras palavras, é o diâmetro correspondente a 1-ϕi = 0,8. Os diâmetros médios utilizados


em análises granulométricas estão apresentados a seguir.

c.1) Diâmetro médio aritmético ( D a )


É o diâmetro da partícula de tamanho médio. É importante no estudo da filtração
de partículas sólidas através de malhas ou tecidos. Multiplicando o diâmetro desta
partícula pelo número total de partículas, obteremos a soma de todos os diâmetros da
amostra. Sejam N1, N2, ...., os números de partículas presentes nas diversas frações
recolhidas durante a análise, de tamanhos D1 , D2 , ..., respectivamente, o diâmetro
aritmético será:
n

N 1 D1 + N 2 D 2 + ... + N n D n ∑N i Di
Da = = 1
( 9)
N 1 + N 2 + ... + N n n

∑N 1
i

Utilizando os dados da análise granulométrica diferencial, resulta:


n n
M xi xi
∑bD 3
Di ∑D 2
Da = 1
n
i
= 1
n
i
(10)
M xi xi
∑bρ D
1 i
3 ∑D 1 i
3

c.2)Diâmetro médio superficial ( Ds )


É o diâmetro de partícula de superfície externa média, que é a partícula cuja
superfície externa, ao ser multiplicada pelo número de partículas da amostra, fornece a
superfície externa total. Este diâmetro é importante para caracterizar materiais como os
adsorventes e catalisadores sólidos, cuja atividade depende da superfície externa. É
também o diâmetro apropriado para o estudo do escoamento de fluidos através de leitos
porosos e para calcular velocidades de dissolução, energia de moagem e difusão da luz.
Pode ser calculado com os dados da AGD a partir da definição:
S=N s
n
N a D s2 = ∑N 1
i Di2

n n
M xi xi
∑bρ D 3
D i2 ∑D i
Ds = 1
n
i
= 1
n
(11)
M xi xi
∑bρ D
1 i
3 ∑D 1 i
3

c.3)Diâmetro médio volumétrico ( DV )


É o diâmetro da partícula de volume médio, isto é, multiplicando o volume desta
partícula pelo número de partículas da amostra, obtém-se o volume total do sólido. Isto

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quer dizer que o volume desta partícula é a média aritmética dos volumes de todas as
partículas da amostra. Como a densidade foi admitida igual para todas as partículas, DV
será também o diâmetro médio ponderal. Pode ser calculado com os dados da AGD como
segue:
n
N b DV3 = ∑N
1
i b Di3

n n n
M xi
3
∑ N i Di3 ∑bρ D 3
D i3 ∑x i
DV = 1
=3 1
n
i
=3 n
1
N M xi xi
∑bρ D
1 i
3 ∑D
1 i
3

1
DV = n
(12)
3 xi
∑D
1 i
3

OBS: os mesmos resultados poderão ser obtidos utilizando a curva contínua da AGAR.
Entretanto, neste caso as somatórias são substituídas por integrais que devem ser
calculadas graficamente, a menos que a relação entre ϕi e D seja conhecida.

2.4.PROPRIEDADES DOS SÓLIDOS PARTICULADOS


De maneira geral, vimos que as propriedades pertencem a dois grupos:

1º) As que caracterizam as partículas individualmente


2º) As que caracterizam o leito poroso formado pelo sólido granular

A forma das partículas é determinada pelo sistema cristalino dos sólidos naturais,
ou pelo processo de fabricação, no caso de produtos sintéticos. Para fins de cálculo de
processo, a forma é uma variável importante. De fato, certas características como a
porosidade e a permeabilidade dependem da forma das partículas. Os parâmetros de
forma geralmente utilizados para calcular algumas características dos sólidos granulares
são os seguintes:

a) Esfericidade (φ): a forma da partícula pode ser expressa pela esfericidade que mede o
afastamento da forma esférica e é independente do tamanho da partícula.

superfície externa da esfera de mesmo volume que a partícula


Φ= (13)
superfície externa da partícula
2
sesf π Deq b2 / 3
Φ= = 2
esfera
= 4,836 (14)
s a Deq a
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Prove matematicamente a equação (14).

Se: φ = 1 esfera
φ<1 qualquer outra forma 0 ≦φ≦ 1

Exemplos de valores de esfericidade:

-mica = 0,28
-pó de vidro moído = 0,65
-pó de carvão = 0,73
-areia arredondada = 0,83
-fuligem = 0,89

b) Densidade (ρ): Serve para separar os sólidos nas seguintes classes

-leves (ρ<0,5 t/m3) = serragem, turfa, coque


-médios (1 ≦ ρ ≦ 2 t/m3) = areia, pedregulho, minérios
-muito pesados (ρ > 2) = minérios de ferro ou chumbo

c)Dureza: esta propriedade costuma ter dois significados. A dos plásticos e metais é a
resistência ao corte, enquanto a dos minerais é a resistência que eles oferecem ao serem
riscados por outros sólidos. A escala de dureza que se emprega neste último caso é a de
Mohs, que vai de um a dez e cujos minerais representativos são (cada um é riscado pelo
que vem depois): 1.talco, 2.gesso, 3.calcita, 4.fluorita, 5.apatita, 6.ortose(feldspato),
7.quartzo, 8.topázio, 9.córidon, 10.diamante.

Previsões aproximadas podem ser feitas com base nos seguintes valores para
sólidos comuns:
-unha seca = 2,5
-moedas = 3,0
-esmalte dentário = 5,0
-lâmina de barbear = 5,5
-vidro comum = 5,8

d)Fragilidade: mede-se pela facilidade à fratura por impacto. Muitas vezes não tem
relação com a dureza. Os plásticos são moles, mas não são frágeis. O carvão é mole e
frágil.

e)Aspereza: determina a maior ou menor dificuldade de escorregamento das partículas.

Este documento é parte integrante do material didático da disciplina Operações 12


Unitárias na Indústria de Alimentos II. Professor Abraão Peixoto, agosto de 2011.
Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
Operações Unitárias na Indústria de Alimentos II

f)Porosidade (ε): é definida pela relação a seguir (equação (15)) e é a propriedade que
mais influencia as demais propriedades do segundo grupo, como a densidade aparente, a
condutividade e a superfície externa.

volume de vazios (poros) da amostra


ε= (15)
Volume total (partículas + poros)

Quanto mais a partícula se afasta da forma esférica, mais poroso será o leito.

Existem gráficos que relacionam a porosidade com a esfericidade e/ou com a


relação entre o diâmetro das partículas e o diâmetro do recipiente (D/Dp).

g)Densidade aparente (ρa): é a densidade do leito poroso, ou seja, a massa por unidade de
volume do sólido particulado. Pode-se calcular por balanço de massa a partir das
densidades do sólido e do fluido, que muitas vezes é o ar.
De modo geral, representando por ρp a densidade do sólido e ρf a densidade do
fluido, tem-se:
ρ a = (1 − ε) ρ p - ε ρ f (16)

Exemplo: qual a densidade aparente de uma areia cujo sólido tem densidade 2,65 t/m3 e
porosidade 0,42 em leito denso?

Solução: a densidade do fluido, o ar, é calculada a partir da lei dos gases com T = 20ºC e
1 atm

PM 1,0 ( 29) kg 1t t
ρf = = = 1,207 3 ∗ = 0.001207 3
ZRT 1,0 (0,082) ( 293) m 1000 kg m

Logo:
t
ρ a = (1 − ε) ρ p - ε ρ f = (1 − 0,42) 2,65 − 0,42 (0.001207) = 1,5365
m3

REFERÊNCIAS

Gomide, R. (1983). Propriedades dos sólidos particulados. In Operações Unitárias. V1,


São Paulo: Reynaldo Gomide, 14-44.

McCabe, W.L., Smith, J.C., Harriott, P. (1993). Section V: Operations involving


particulate solids. In Unit Operations of Chemical Engineering, 5a edition, ed. McGraw-
Hill Book Company, New York, 925-935.

Este documento é parte integrante do material didático da disciplina Operações 13


Unitárias na Indústria de Alimentos II. Professor Abraão Peixoto, agosto de 2011.

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