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Stand-Up Comedy

THE BOOK

de Judy Carter
Tradução: Emilio Boechat e Aldo Camolez

Stand-Up Comedy – The BookPágina 2 Judy Carter


AS SEIS DESCULPAS ESFARRAPADAS1 PARA NÃO SE SUBIR AO
PALCO

“É CLARO QUE EU SOU ENGRAÇADO EM FESTAS, MAS...”

Desculpa #1: “Eu tenho medo”

O obstáculo número um para se fazer comédia é o MEDO. E esta


é uma reação muito apropriada. Vamos encarar, se ficar de pé
sozinho sobre um palco diante de um bando de estranhos não
amedronta você, então, algo deve estar errado. Consulte um
médico.
Não há problema em ficar nervoso. É muito humano. Todo
“performer” de sucesso luta com o medo, então, não permita que
isso o impeça de correr atrás dos seus sonhos. Em todos esses
anos em que tenho me apresentado, eu não consigo pensar em
uma só vez em que não tenha ficado nervosa. O truque é ir em
frente apesar do sentimento de medo. Normalmente, o medo
desaparece assim que você pisa no palco.
Não entre em pânico. O medo é um assunto tão poderoso
com meus alunos que eu dediquei um capítulo inteiro a este tema,
incluindo exercícios para controlá-lo. Olhe pelo lado bom: ao
menos, se apresentar em público o manterá normal.

DESCULPA #2: “Eu sou tímido...”

Bem, eu também sou. Muitos comediantes que fazem stand-up são


bem tímidos em suas vidas privadas, e subir em um palco é um grande
modo de se liberar. Pessoas tímidas como você tem muita coisa para
extravasar, e o palco lhe fornece uma arena onde libertar suas críticas
reprimidas sobre o mundo. Eu descobri que, quanto mais quieta é uma
pessoa fora do palco, mas ela tem a dizer sobre o palco. Uma vez que
elas tenham uma chance de serem ouvidas, meus alunos tímidos são aqueles
que eu não consigo fazer com que parem de falar.

1
Lame.
Stand-Up Comedy – The BookPágina 3 Judy Carter
DESCULPA #3: “Eu sou apenas um idiota qualquer...”

E daí? Antes de terem uma carreira bem sucedida como comediantes,


Jay Leno era mecânico e Roseanne Barr era uma dona de casa com três
filhos.

“I’ve been married fourteen years and I have three kids.


Obviously, I breed well in captivity.”
“Eu estou casada há quatorze anos e tenho três filhos.
Obviamente, eu procrio bem em cativeiro.”
- Roseanne Barr

Você não tem que ser uma pessoa sofisticada para fazer comédia. As
pessoas não vão a um night club para ouvir ponderações intelectuais. Eles
querem rir. O desafio é encontrar o humor nas suas experiências mais
cotidianas. Ser astuto e esperto ajuda, mas encare, esta é a América, um
lugar onde pessoas totalmente inexpressivas e pouco atraentes conquistam
altos níveis de fama e fortuna.

Desculpa #4: “Eu sou feio, eu sou gordo, eu sou...”

Darryl Hannah talvez seja realmente lindíssima, mas será que ela é
capaz de fazer as pessoas rirem? Ok, quem se importa, certo? Stand-up é
um dos poucos lugares no showbiz que aceita pessoas de todas as formas e
tamanhos. De fato, uma distinção física pode até mesmo ser a base de seu
ato. Phyllis Diller e o falecido e grande Jackie Gleason, entre outros,
construíram suas carreiras no fato de ser gordo ou pouco atraente. A
comediante Geri Jewell desenvolve seu ato em cima do fato de ter paralisia
cerebral:

“I don’t understand why people will go out of their way to drink,


so they can walk like me.”
“Eu não entendo porque as pessoas se embriagam, será que é
para andar como eu?”.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 4 Judy Carter


A característica que a sociedade enxerga como uma imperfeição pode
trabalhar a seu favor. O Capítulo 2 ensina como transformar aquele peso a
mais em risadas a mais.

Desculpa #5: “Eu não sei como escrever material para comédia”

Stand-up não tem nada ver com anotar palavras em uma folha de
papel. Ela tem a ver com dizer palavras – se apresentar. Stand-up é uma
performance ao vivo, não um livro para se passar o tempo. Por esta razão,
eu desencorajo meus alunos iniciantes a escrever seu material. No capítulo 2
existem exercícios sobre como criar seu material gravando suas conversas em
um gravador. Se você não pode falar, você não pode criar material.

Desculpa # 6: “Quando eu fico diante das pessoas, eu tenho vontade de


cuspir.”
Consulte um analista. Stand-up não é para você.

Stand-up é algo difícil e exige um bocado de trabalho duro. Mas a


recompensa de se fazer comédia é imensa. Não existe sentimento maior no
mundo do que sentir que a platéia está do seu lado, que ela o entende, e
o ama. Momentos como estes fazem com que todo o esforço valha a pena.
Andy Warhol uma vez disse que no futuro todo mundo seria famoso
por quinze minutos. Com este livro, quando os seus quinze minutos
chegarem, pelo menos, você não será chato.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 5 Judy Carter


Capítulo 1

COMEÇANDO

O que faz as pessoas rirem?

“Palavras que tem o som de K nelas são engraçadas. Cheesecake é


engraçado. Tomate não é engraçado. Cleveland é engraçado. Maruland
não é engraçado...”

Neil Simon

O que é engraçado?
Eu estou constantemente abismada com as coisas que as pessoas
acham que são engraçadas e com aquelas que elas acham que não são.
Alguns riem de um cara qualquer escorregando em uma casca de banana.
Alguns rirão somente do Hitler escorregando em uma casca de banana.
Então, o que é engraçado? Se alguém ri, é engraçado.
Uma platéia rirá de qualquer coisa, de tudo e de absolutamente nada.
Tentar deduzir o que pode agradar uma platéia é como tentar decidir o que
cozinhar para a sua família. Não importa o que você faça, alguém irá
detestar.
Eu tenho visto muitos comediantes deixarem o palco depois de um
número que arrasou, deprimidos porque tudo o que eles viram foi um cara
na terceira fileira não rir da quarta piada. Todos os que riram na sala foram
afogados pelo silêncio de um único sujeito. E não importa se este cara não
estava no clima para rir porque ele perdeu sua família inteira em um
incêndio e parou ali para um beber um drinque, antes de cometer o suicídio.

Acredite em Você

O empresário Buddy Morra, que descobriu David Letterman e também


Robin Williams e Billy Crystal, entre outros, diz que: “você não deve dar a
uma platéia o que ela quer. Dê a ela o que você quer. A maioria dos
comediantes vai descer ao nível da platéia para fazer o seu número
funcionar, quando de fato, o que você deveria fazer é trazer a platéia para
o seu nível”.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 6 Judy Carter


A primeira vez em que Morra viu David Letterman, ele imediatamente
percebeu que David poderia chegar a ter o seu próprio show porque ele
tinha a sua identidade própria. Morra sente o que separa comediantes que
são especiais dos outros que apenas tentam agradar. Você tem que acreditar
em você mesmo.
É difícil engolir a idéia de que você não pode fazer com que todos
gostem de você. Vale a pena repetir 2: Você não pode e não é capaz de
fazer com que todos amem você. Você tem que subir ao palco com um
desejo apaixonado e a intenção de comunicar seus pensamentos e
sentimentos, e não apenas fazer as pessoas rirem.

Cinco Grandes Segredos para fazer as pessoas rirem

Segredo #1: Não conte piadas.

As pessoas confundem stand-up com contar piadas. Quando eu vou a uma


festa e digo que eu faço stand-up, as pessoas, inevitavelmente, dizem:
“Verdade?... Conte uma piada!” Quando eu digo a eles que eu não
conheço nenhuma piada, eles não entendem. “Mas, você é uma comediante
de stand-up, certo?” Agora, quando eu vou a festas, eu digo as pessoas
que eu faço programa.
Contar piada é um jeito velho de fazer comédia.

“Dois portugueses entram em um bar...”3

O novo estilo de comédia é a comédia pessoal. Seu número é sobre


você: seus dilemas viscerais, seu corpo, seu casamento, seu divórcio, seu
vício...
Tente encontrar piadas no ato de Sam Kinison. Não existe nenhuma
piada.

“Se você alguma vez pensar em se casar, senhor, apenas


lembre-se dessa expressão – ahhhhhhhhh!”.

2
(this one’s worth repeating):
3
“Two Jews walked into a bar…”
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Sam vai de cliente a cliente, cara a cara e grita. O humor de Kinison
vem de uma atitude extrema em relação às mulheres, ao Vietnam e às
crianças famintas. Sua atitude raivosa e consistente é a força que move o
seu sucesso.
Meus alunos, que escolhem tópicos que são verdadeiros e, mesmo,
dolorosos para eles, são muito mais bem sucedidos do que aqueles que
escolhem tópicos que pensam ser engraçados ou esquisitos. A bem da
verdade, quanto mais sincero for o seu material, melhor. As pessoas adoram
rir do sofrimento dos outros. Eu não tenho certeza do porquê. Talvez porque
eles estejam felizes de que isso não esteja acontecendo com eles.
Paula Poundstone, a Silvia Plath da comédia, faz um ‘bloco de piadas’ 4
a respeito de sua desastrada tentativa de suicídio.

“Eu tentei usar monóxido de carbono, mas meu prédio tem uma
garagem subterrânea gigantesca, então, aquilo estava levando
muito tempo. Eu tinha levado uma pilha de livros e alguns
salgadinhos. As pessoas passariam e bateriam na minha janela e
diriam, “Como está indo esse suicídio?” E eu diria, “Está indo
bem, obrigada, eu me senti sonolento hoje mais cedo”.

A desolação de Garry Shandling sobre ser rejeitado pelas mulheres fez


dele um comediante milionário.

“I broke up with my girlfriend. She moved in with another guy,


and I draw the line at that.”
“Eu rompi com a minha namorada. Ele foi morar com outro cara
e eu tenho os meus limites.”

Um dos principais equívocos sobre ser engraçados é que você tem que
ser aquele tipo de pessoa alegre e pra cima o tempo todo. Mentira. É bem
mais interessante assistir alguém lutando com os seus problemas do que um
tipo espirituoso, perfeito e sabe tudo. Você já notou que não há muitos
monges que são comediantes? Lembre-se... quanto mais miserável for a sua
vida, melhor será o seu número. O truque é estar disposto a expor você
mesmo o mais que você puder, sem ser preso.

Segredo # 2: Não conte estórias.

4
chunk
Stand-Up Comedy – The BookPágina 8 Judy Carter
Histórias engraçadas geralmente não funcionam. O erro mais comum que
meus alunos cometem quando eles começam a levantar idéias para o seu
número é contar histórias a respeito de alguma coisa “engraçada” que
realmente aconteceu com eles:

“Não, não, escute... isso é a pura verdade!”

Histórias podem ser verdadeiras, mas elas raramente são engraçadas e,


inevitavelmente, terminam com:

“Bem... eu queria que você estivesse lá.”

Outra razão porque histórias não funcionam é porque a platéia dos night
clubs, muito freqüentemente, está bêbada e sua atenção tem curta duração.
Qualquer piada que seja mais longa que cinco linhas, sem um desfecho
engraçado, está em maus lençóis.
Bob Fisher, proprietário do L.A.’s Ice House e responsável pela agenda
de sete clubes de comédia, não contratará contadores de histórias que falem
por cinco minutos sem criar um desfecho engraçado. “Eu procuro pelo tipo
de comediante que trabalha com preparação e desfecho, ao contrário do
contador de histórias, porque eu preciso de um comediante que dê a platéia
um certo número de risadas por minuto.”
Histórias também não funcionam porque elas são, freqüentemente,
contadas no passado:

“Então, lá estava eu numa loja de departamentos. E essa


senhora caminhou em minha direção e me perguntou se eu
trabalhava lá. Então, eu disse a ela: ‘Sim’, e ‘todos os
televisores estão de graça, hoje.”

Este é o mesmo material contado pelo comediante Bob Dubac, no presente e


não em forma de história:

“Para dar algumas risadas e relaxar, eu recomendo ir a uma loja


de departamentos e fingir que você é um dos empregados.
Quando alguém aparece e te pergunta, ‘Você trabalha aqui?’ diga
a ele ‘Sim’ e só hoje estamos com uma promoção onde você
leva qualquer aparelho de TV inteiramente grátis. Sente-se e
aprecie a diversão”.

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Mantenha distância de histórias. O que é engraçado é simplesmente o jeito
com que você olha mesmo para o mais mundano dos acontecimentos, do
mesmo modo como as observações de Larry Miller a respeito dos fios de
telefone:

“Como esses fios de telefone podem ficar tão enroscados?


Como? Tudo o que eu faço é atender ao telefone, falar, e
desligar. Eu não atendo, dou uma estrela, uma cambalhota e,
então, desligo.”

Segredo #3: Não Tente Ser Engraçado.

“Você não tem que agir como um babaca para conseguir


risadas.”

Se eu disser para você agora “seja engraçado”, o que você faria?


Muitas pessoas, provavelmente, começariam a fazer caretas, pular para cima
e para baixo, e fazer algo que poderia colocá-las em um hospício.
Ser engraçado não tem nada a ver com agir de modo estranho ou
ultrajante. Quando mais estranho você for, menos as pessoas te entenderão,
e ninguém ri quando está confuso. Por mais excêntrico que comediantes
como Howie Mandel e Sam Kinison, sejam, eles fazem um esforço enorme
para comunicar suas idéias de forma clara. Agir de maneira estúpida pode
ser engraçado se você estiver atuando para crianças de cinco anos de idade.
Entretanto, trabalhos em jardins da infância não surgem com freqüência e o
salário é miserável.
Comediantes novatos têm uma tendência a tentar serem engraçados. Vá
a uma noite de amadores e observe esses comediantes. Um cara sobe no
palco com a intenção de ser bacana. Ele fala a sua primeira linha e
ninguém ri. Então, ele se esforça mais para ser engraçado. Ele está falando
mais alto, ele está gesticulando, ele está se tornando um homem em
desespero. De repente, você sente que se você não rir, este cara irá para
casa e cometerá suicídio e será culpa sua. Não é surpresa que daqui por
diante nada que ele faça seja engraçado. Quanto mais forte ele tenta ser
engraçado, mais você reza, ‘Por favor, Deus, faça ele parar!’
Se você está no palco querendo desesperadamente uma explosão de
gargalhadas, uma risada, ou “a tee hee”, você será responsável por não
conseguir nenhuma delas. Nada aborrece mais as pessoas do que quando

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elas pensam que alguém quer algo delas. Não interessa se é amor ou
risadas, isso precisa ser dado gratuitamente. Exatamente como as pessoas
mais desesperadas por amor acabam morando sozinhas em Winnebagos, os
comediantes mais desesperados por risadas terminam tendo que manter os
seus empregos convencionais.

Segredo #4: Seja Sério.

Comédia é um negócio sério.


O ato perfeito é engraçado para a platéia e sério para você. Imagine
que você seja uma prostituta... uma puta comediante. Em outras palavras, o
único que tem que gostar é quem está pagando. Se for engraçado para
você e não para o cliente, então você não fez o seu trabalho direito.
O comediante comprometido com o seu ato pode fazer uma platéia rir
apenas com a força, a intensidade da confidência de um monólogo.
Realmente não importa sobre o que se está falando. Se a discussão é sobre
o papa, ou sobre “pólipo”, ou mesmo a “pólipo” do papa, é o
comprometimento do comediante com o seu material que carrega o seu ato.
O comprometimento em comunicar, de tornar as idéias claras, fornecerá todo
o combustível de que você precisa. À vontade de se comunicar é a única
razão sã para se subir em um palco, sempre.
Por que? Se você não acredita no que você está falando, muito
menos a platéia acreditará. O tópico que você escolher não tem que ser
sério, mas a sua atitude a respeito dele, sim. Seja falando sobre amor, ou
gaze, fale com o seu público como se suas palavras fossem modificar as
suas vidas. Don Rickles faz a platéia vir abaixo simplesmente falando com
empolgação em uma língua que ninguém entende. É a sua atitude
seriíssima sobre o “nonsense” que faz a platéia rir.
O comediante Steven Wright tem levado a seriedade a novas dimensões
com o seu jeito de alguém que acabou de sair da tumba e sua expressão
impassível:

“Eu moro em uma rua de mão única e sem saída. Eu não


entendo como seu cheguei lá.”

Segredo #5: Relaxe

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Lembre-se... é uma comédia o que você está fazendo, não uma
cirurgia do cérebro. Relaxe e divirta-se.

A maneira de fazer as pessoas rirem é:


 Relaxe e seja você mesmo.
 Descubra a importância, a seriedade do seu material
 Divirta-se.

Se você realmente entendeu esses princípios, você está pronto para


começar:

Workshop # 1
ESTUDANDO O TRABALHO DOS COMEDIANTES

Quando você assiste a um bom comediante, você nunca deveria estar


consciente da estrutura de seu ato – você deveria estar muito ocupado rindo.
Bons comediantes aparentam estar falando com espontaneidade e de
improviso. “Eles simplesmente acordaram lá e são engraçados”. O que
muitas pessoas não imaginam todos os comediantes em atuação estruturam
seus atos em fórmulas de comédias muito específicas.
Muitos anos atrás, eu apareci em um especial de novos comediantes
para a HBO. Também na agenda do programa estava um novo comediante
chamado Robin Williams. Eu estava particularmente curiosa para vê-lo
ensaiar, porque, como quase todo mundo, eu tinha a impressão de que seu
número fosse totalmente improvisado. Não era verdade. Durante o ensaio, na
medida em que eu espiava a conversa dele com o diretor, ficou muito claro
que todo o seu número tinha sido bem mapeado.

“Primeiro, eu aparecerei no palco e farei minha “morte do


esperma”, e então, eu faço a minha paródia de Shakespeare, e
depois...”

Robin realmente improvisa durante o seu número, mas um exame de


perto mostra que ele tem um começo, um meio e um fim, e cada parte é
dividida na fórmula da preparação (setup) e desfecho (punch) da piada. O
que faz dele brilhante é sua habilidade para fazer cada bloco de piadas
parecer totalmente improvisado.
Este exercício irá revelar para você que um número de comédia é um
material altamente estruturado onde toda atitude, palavra e grunhidos são

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meticulosamente determinados. Analisar o material de comédia já testado
pode ser uma grande experiência de aprendizado. Entender como funciona a
apresentação de outra pessoa o deixará perto de descobrir a sua própria.
1. Grave um comediante que você gosta. (Assista TV ou alugue fitas de
vídeo apresentadas pelo seu comediante favorito.)
2. Assista a fita várias vezes.
3. Anote as respostas para as seguintes perguntas.
a. Qual é a atitude do começo ao final do show? (isto é, O
comediante é raivoso? Frustrado? Confuso? Preocupado? Etc.).
Anote aqui:

__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
______

b. Liste os tópicos (assuntos) tratados naquela rotina de piadas


(isto é, namoro, casamento, restaurantes, etc.)
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_____________

c. O que você gosta e o que você não gosta a respeito deste


comediante?

__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
______

d. Memorize três minutos do ato deste comediante e o diga em voz


alta.

OBS.: Você não deve NUNCA, eu repito, NUNCA apresentar publicamente o


material de outro comediante. Este exercício é planejado para ajudá-lo a
perceber como soa o material de bons profissionais. Apresente o material de

Stand-Up Comedy – The BookPágina 13 Judy Carter


outra pessoa mesmo para somente uma outra pessoa é roubo e não vai
levá-lo muito longe.
Agora... antes de passarmos a criação do seu próprio ato, existe um
pequeno demônio com o qual devemos tomar cuidado...

Lidando com o Medo

“Lembre-se, comédia não mata.”

As pessoas me dizem, “Eu nunca poderia fazer stand-up. Eu ficaria


amuito assustado.” Bem, o que há de novo? Eu gostaria que essas pessoas
pudessem ver a pessoa miserável e aniquilada que eu era antes de ir em
frente. Em todos esses anos em que eu tenho me apresentado, eu nunca
superei o medo de estar no palco. Não importa se eu estou atuando para
um pequeno grupo de pessoas, em frente de uma multidão enlouquecida de
milhares, ou apenas pensando sobre a minha apresentação, eu ainda tenho
ataques selvagens de ansiedade. Eu me sinto absolutamente petrificada e
convencida de que a minha morte está próxima.
Paula Poundstone, uma bem sucedida comediante que fez incontáveis
aparições no Show de Carson e em especiais da HBO, compara standup
com paraquedismo. “Na primeira vez em que eu pulei de um aeroplano,
algo importante deu errado e eu pensei que fosse morrer. E depois de
aterrissar em segurança, meu primeiro pensamento foi que isto era
exatamente a mesma sensação que fazer o Tonight Show.”
Infelizmente, não existe cura para o medo do palco. A boa notícia é
que, não somente o medo desaparece logo que você aterrissa sobre o palco,
mas que existe uma maneira de tornar o seu medo controlável – e não é
fazendo algo contra a lei.
Antes de aprender a lidar com o meu medo de modo satisfatoriamente,
eu tentei de tudo para cessar o terror que tinha em atuar. Álcool e drogas
foram um desastre. Eles me faziam esquecer o meu número e reter água.
Pode não existir uma cura para o medo, mas existe uma maneira de
não deixar que ele controle a sua vida.
O truque para lidar com o medo é seguir em frente a despeito da
sensação de terror. A primeira vez em que Arsênio Hall ouviu seu nome
sendo anunciado no palco, ele correu aterrorizado porta afora. Mesmo seu
medo tendo persistido, ele de encheu de coragem para tentar novamente.
Anos depois, ele terminou com o seu nome nos letreiros das principais casas

Stand-Up Comedy – The BookPágina 14 Judy Carter


de espetáculos, estrelando filmes com Eddie Murphy e apresentando seu
próprio talk show.
Stand-up requer coragem. É o que distingue os homens dos meninos,
as mulheres da garotas. Isso é o que é chamado popularmente de “colocar
o seu cu na reta”.
No primeiro dia de cada nova classe eu pergunto aos meus
estudantes, “Quantos de vocês morrem de medo de subir em um palco?”
Toda a classe levanta a mão. Eles admitem que estão aterrorizados. Eles
querem a cura. Eu não tenho a cura. Desapontados, alguns alunos
abandonam o curso. Outros querem seu dinheiro de volta. E os corajosos
que restaram, ficam ali pela diversão. Do modo como eu vejo, se você
gosta de montanha russa, você amará stand-up. Lembra-se? Você entra na
fila, pensando que será divertido, quando a fila se move, você começa a
suar. Começa a pensar que aquela foi realmente uma idéia estúpida. Você é
o primeiro da fila. Você entra no carro. Seu coração está pulando. Talvez
você morra. Entra em pânico, quer fugir. Os carrinhos começam a escalar
aquela subida interminável e, então – wheeeeeee! Quando o trajeto termina,
você sai do carrinho e não pode esperar para fazer tudo de novo.
A medicina tem mostrado que o medo e a excitação produzem a
mesma reação física – “caganeira” (diarréia). Pessoas que evitam assumir
riscos (risk-taking) têm vidas desinteressantes. Eles querem se proteger de
sentir medo ou perder o controle. É precisamente esta sensação de perder
o controle que proporciona excitação e faz de uma apresentação interessante
de se assistir. Depois de anos dessa loucura, eu percebi que se eu não
sentia um pouco de medo, não seria excitante. As raras vezes em que subo
ao palco sem sentir medo eu, hoje em dia, fico preocupada. De fato, o dia
em que eu não ficar mais nervosa será o dia em que eu desistirei da
stand-up e assumirei algon realmente assustador – como me casar.
Stand-up é um grande barato se você consegue superar aquela voz
crítica que lhe diz para ficar na cama com um quarto de “Rocky Road”. Se
você for mais do tipo divertido você tem uma consciência (um crítico dentro
de você) que reclama sem parar (yaps away) toda a vez que você tenta
algo novo. Meu crítico interior tem reclamado sem parar nos últimos dez
minutos: “Você não pode dizer ‘pinto’ em um livro. Agora você ofenderá
todo mundo. Pare de escrever e se case já.”
Como você pode imaginar, não é nada agradável de se conviver com
este meu lado crítico (Slash – criticar - como eu gosto de chamá-lo).
Mas, como uma sombra, nós estamos presos um ao outro. Eu cheguei a
conclusão de que eu sempre terei uma consciência que fala comigo como se

Stand-Up Comedy – The BookPágina 15 Judy Carter


eu fosse a escória da terra. Minha salvação tem sido parar de fingir que ela
não existe. Eu, agora, aceito minha consciência e atualmente, descobri que
os seu comentários podem ser divertidos – às vezes. Eu garanto que,
quando você começar a criar o seu material, seu crítico surgirá soprando no
seu ouvido coisas horríveis para que você pare. Este é o momento em que
a mioria das pessoas desiste. Antes de você prosseguir, eu recomendo
enormemente que você faça esse exercício de controle do seu crítico interior.

Workshop # 2
LIDANDO COM O SEU LADO CRÍTICO

Quando eu tento ignorar o meu lado crítico, sua voz apenas aumenta
de volume. Então, eu fiz um trato com ela. Eu lhe dou um tempo
ininterrupto para falar com uma condição: que ela dê uma volta enquanto eu
estou criando. Funciona.
NOTA: Faça este exercício toda a vez em que você tiver um ataque
de ansiedade, ou um bloqueio de criação. Primeiro, leve o seu lado crítico
para dar uma volta. Permitir que o seu lado crítico se expresse plenamente
pode libertar o medo e restaurar seu processo criativo.
Dê uma volta em torno do quarteirão e critique você mesmo em voz
alta, enquanto caminha (faça isso em um lugar onde você não vai esbarrar
em pessoas que você conhece e ser confundido com um “bagperson” -
vagabundo, drogado, bêbado). Dê um nome ao seu senso crítico. Deixe tudo
“numa boa”.
Ou, você pode dar uma volta e gritar com a sua voz crítica como se
ela fosse uma assustadora pessoinha. Esteja certo de que tudo dará certo.
Faça acordos – barganhe.
“Certo, Slash, eu vou fazer uma dieta, se você, primeiro, me deixar
terminar este capítulo, ok?”
Eu cheguei num ponto em que descobri que o meu lado crítico é
hilário – da mesma forma que eu descobri que todos os psicóticos paranóicos
são cheios de humor.
Então, dialogue com o seu lado crítico. Tirar o seu crítico de dentro do
armário e o conhecer a luz o tornará menos perigoso e, talvez, ainda lhe
forneça material engraçado. Sendo assim, pegue papel e lápis. É hora de
ouvir o que o seu lado crítico tem a dizer. Por três ou cinco minutos:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 16 Judy Carter


 Anote tudo que ele diz, assim como um escrivão de um tribunal –
não avalie nada, simplesmente registre.
 Escreva as suas respostas. Dialogue com o desgraçado. Para
distinguir entre as duas vozes, experimente escrever como o crítico
com a sua mão direita, e como você mesmo com a esquerda.
 Releia o que você escreveu e pergunte a si mesmo:
a) O seu lado crítico soa familiar? Se positivo... com quem ele se
parece? (meu chefe, minha mãe, meu irmão, etc.). Escreva a
sua resposta aqui:

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__________________________________________________________________
____

b) Que tipo de relacionamento você tem com o seu lado crítico?


(mãe e filho, pai e pilha, carrasco e vítima, professor e aluno,
etc.) Anote todos os seus pensamentos. Alguns poderão soar
vagos. Tudo bem.

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c) O seu lado crítico é razoável? Em algum momento ele para de


lhe criticar? Como você lida com ele? Como você faz com que
ele se cale? (Inclua beber e comer se isso faz parte da sua
anestesia.)

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O objetivo deste exercício foi libertar os seus demônios e colocar você


no controle do seu processo criativo. Uma vez que nós relaxamos e paramos
de lutar com nós mesmos, nosso crítico interior pode nos suprir com um
valioso material cômico. O próximo capítulo mostrará como transformar o seu
lado crítico em material cômico.

RESUMO

Lembre-se dessas regras e você e você estará preparado para um bom


começo:
1. Encare com seriedade o que você diz sobre o palco. Se comprometa
com o seu material.
2. Não tente ser engraçado. Não espere nada do público.
3. Não conte piadas ou histórias. Seja você mesmo.
4. Controle o seu lado crítico. Quando estiver com medo, dialogue com o
seu crítico interior.
5. Relaxe. Divirta-se.

Agora, vamos avançar para criar a sua apresentação de morte.

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Capítulo 2

REUNINDO MATERIAL

“Podemos conversar?” “Claro... mas sobre o que?”

Você tem toneladas de material: sua vida

Você não tem que olhar no jornal para encontrar material. Todo o
material de que você necessita está dentro de você. É só o caso de
descobri-lo, colocá-lo para fora e entregá-lo para o público. Mesmo se você
nunca esteve sobre o palco antes, eu tenho certeza de que você já fez um
número. Lembra-se daquela festa onde você começou a falar mal do seu
ex-marido, as pessoas ficaram vidradas em você e rolaram de rir? Ou, que
tal aquela vez na terapia, quando você matou o seu analista de rir,
desesperada com o seu peso, ou divertiu o carteiro reclamando das contas?
Tudo isso poderia servir de material para a sua apresentação.
Neste capítulo, nós iremos reunir seus temas, seu material cru. No
Capítulo 3 nós o transformaremos em rotinas engraçadas. Então, por onde
começar? O modo de começar a desenvolver material é encontrar:
 A sua atitude
 Os assuntos de seu interesse
 E a conexão entre os dois

Descobrindo a sua Atitude

“Ninguém me respeitao...”
- Rodney Dangerfield
-
Quando um cantor canta, ele põe para fora os seus sentimentos. Bons
comediantes não contam piadas, simplesmente, eles se apresentam com uma
atitude emocional muito específica. Atitude é a força vital de um ato. O
material não pode ser emocionalmente neutro. Os temas do seu interesse tem
que te deixar com repulsa, machucar você, deixa-lo excitado, porque o
público não reage a palavras, ele reage a sentimentos.
Stand-Up Comedy – The BookPágina 19 Judy Carter
Toda pequena parte de seu material tem uma atitude específica, tais
como “Eu estou preocupado com...” ou, “EU AMO...” ou “Eu estou
FURIOSO com...” Este pedaço de um ato de Margareth Smith mostra como
ela se sente a respeito de seu empresário.

“I hate my manager. He’s always giving me advices like ‘Wear


red lipstick up there. Look pretty.’ What if I’m not funny and it´s
coming out of these big old red lips? It’s like being a crummy
outfielder with a paisley mitt.”

“Eu detesto o meu empresário. Ele está sempre me dando


conselhos do tipo ‘Use batom vermelho quando estiver no palco.
Você fica bonita.’ E se eu não estou sendo engraçada e o que
eu disser sair de dentro desses grandes e velhos lábios
vermelhos? Minha boca vai parecer uma luva de beisebol de um
arremessador decrépito.”

Uma aluna de Spacy, Valerie Webber, se preocupa com coisas


estranhas:

“Eu fico intrigada com lapelas. Elas têm uma casa para botão,
mas nenhum botão. E para que servem aquelas dobras em “V”?
Se você juntá-las, elas formam um quadrado? Quem inventou
isso, Jean Paul Sartre? Lapelas! Lapelas! Lapelas! A vida é um
grande mistério!”

E a aluna Roseanne Keaton adora ser negra:

“Eu adoro ser Negra porque isso faz com que os meus amigos
brancos sintam-se muito liberais. Eu alugo a mim mesma todos
os dias de Martin Luther King como um suporte áudio visual. Isso
faz com que eu me sinta especial, como a última uva passa em
uma tigela de cereais.”

Atitude não deve ser confundida com persona. A maioria dos


comediantes tem uma atitude diferente para cada trecho de seu material, e
durante o seu número, eles pulam de algo que os deixa com raiva para
alguma coisa da qual eles têm orgulho, e depois para algo que os deixam
preocupados.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 20 Judy Carter


Uma persona é quando o comediante tem uma atitude emocional
específica para todo o seu número e todo o seu material está ligado a isso.
Por exemplo:
Rodney Dangerfield – “Ninguém me respeita...”

Jay Leno – “Aqui está uma coisa estúpida...”

Richards Lewis – “Eu estou sofrendo...”

Todas as “piadas” que eles contam iluminam o modo particular como


eles trabalham o seu ponto de vista. Você pode sempre identificar a persona
de um comediante. Esta é uma ciosa que nunca está ofuscada.

“Eu liguei para o meu médico. Disse a ele que estava com
diarréia. Ele me pôs na espera. A história da minha vida...
nenhum respeito.”

- Rodney Dangerfield

“Eu vi um anúncio estúpido do lançamento de um novo forno


microondas que pode cozinhar uma refeição em dez segundos.
Será que existem pessoas que dizem, ‘Hei, eu já estou em casa
há mais de dez segundos, onde diabos está o meu jantar?. ”

- Jay Leno

“Eu estou sofrendo... Eu deveria produzir um show no Radio City:


A Noite das Cem Ansiedades... Minha mãe trouxe uma antena
parabólica judia, ela capta problemas de outras famílias... Para os
feriados eu lhe comprei um candelabro judeu que acende com
resistência e um forno que reclama da comida...”

- Richard Lewis

Comprar material para comédia antes de você ter uma persona definida
será um desperdício de dinheiro. Quando escritores de comédia criam material
para outros artistas, eles primeiro devem se familiarizar com a persona
daquele comediante. Material que é perfeito para Richard Lewis provavelmente
será um desastre nas mãos de Jay Leno. Pessoas que roubam material

Stand-Up Comedy – The BookPágina 21 Judy Carter


cometem o erro de roubar as piadas de um comediante sem a sua persona.
Eu estava me apresentando numa campanha beneficente para levantar fundos
e esta loira adolescente de olhos azuis tinha memorizado um número de Bil
Cosby palavra por palavra. Ela foi um fiasco. Mesmo que ela tenha dito o
material palavra por palavra, o que estava errado era a atitude de Cosby:
seu entusiasmo quase infantil pelo mundo em que ele vive. Pessoas que
roubam material estão destinadas ao fracasso. Elas evitam o verdadeiro
trabalho da stand-up – cavar fundo dentro delas mesmas e descobrir seu
jeito único e particular de enxergar o mundo.
Muitos alunos querem saber logo qual deve ser a atitude deles.
Infelizmente, sua atitude geral, sua persona sobre o palco, não é algo que
você possa conscientemente planejar. Ao contrário, preferivelmente, ela é algo
que se desenvolve a medida em que você descobre os temas de seu
interesse. Então, por enquanto, não se preocupe com isso.
Na próxima sessão você começará o processo de cavar um monte de
tópicos e testar diferentes atitudes.
Aqui estão alguns tópicos dos meus alunos ao lado das suas atitudes
correspondentes:

TOPICOS ATITUDES
Correntes AMA
Minha pedicure AMA
Bárbara Bush ADORA
Gaze SE PREOCUPA
Liver spots (pedaços de fígado?) SE PREOCUPA
Ser um nerd SE ORGULHA
Cachorros quentes de graça AMEDRONTADO
Biquínis “peludos” (Fur Bikinis) AMEDRONTADO
O alergia de pele de minha mãe ODEIA
Mímica ODEIA
Pessoas que desembrulham balas nos ODEIA
teatros

Escolhendo os seus Tópicos

As coisas mudaram desde Lenny Bruce. Nos dias de hoje, há pouca


coisa que um comediante não possa dizer sobre o palco. Todos nós
sabemos sobre o que não podemos falar na TV. George Carlin fez uma
Stand-Up Comedy – The BookPágina 22 Judy Carter
rotina cômica sobre os sete palavrões. Se você se sente que tem autoridade
para falar de alguma coisa e fala sobre ela com comprometimento, você
pode fofocar sobre qualquer coisa. Não verifique se algum outro comediante
está falando sobre o mesmo assunto. Vá em frente. Se você se sentir
inseguro a respeito de certos tópicos, evite-os. Tudo isso tem a ver com
você se sentir confortável e comprometido com o seu tópico. Aqui vão alguns
conselhos:

Tópicos Que Farão As Pessoas Jogarem Coisas Em Você

1. Piadas racistas. Não fale mal de negros, judeus, hispânicos, orientais e


assim por diante a menos que aconteça de você ser negro, judeu,
hispânico, oriental, etc. O mundo não precisa de mais racismo e você
não precisa de um nariz quebrado. Isso também inclui falar mal dos
homens se você é uma mulher e vice versa. Ao invés de “Mulheres
são difíceis de se lidar...”, tente, “Eu tenho medo de mulheres
fortes...” Expressar seus medos interiores ao invés de reclamar sobre
os outros resulta em material melhor e o torna mais atraente.
2. Doenças. Não use câncer, AIDS, ou outra doença terminal como um
tópico a menos que você queira uma platéia deprimida e com os olhos
cheios de lágrimas.
3. Imagens nojentas. Evite criar metáforas gráficas (graphic imagery) tais
como qualquer coisa que pingue dos orifícios do corpo humano. A
platéia pode estar comendo.
4. Palavrões. Depende de como você os usa. Comediantes como Kinison,
Pryor e Carlin se utilizam deles com bom resultado, mas comediantes
preguiçosos usam palavrões porque eles não conseguem imaginar como
fazer algo ficar engraçado e pensam que palavrões ajudarão. Em muitos
casos, comediantes sem talento usarão palavrões como uma maneira de
camuflar sua falta de paixão.

Um número cheio de palavrões não ajudará a arrumar trabalho.


Proprietários de Clubes de Comédia, tais como Jan Smith do Igby’s
Comedy Club de Los Angeles, fica relutante em contratar um ato obsceno,
especialmente de alguém que vai abrir um show porque isso dá o tom
para o show e tornará as coisas difíceis para os outros que se
apresentarem depois se eles não tem a mesma veia obscena. Ao invés
de termos literais de mal gosto, eu encorajo meus alunos a usar
eufemismos.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 23 Judy Carter


O comediante Jordan Brady tem um bloco de piadas em que ele
substitui por um efeito sonoro a palavra “foda”.

“A única coisa que eu gosto a respeito dos filmes pornôs é


aquele tema musical do início dos anos setenta (diz em ritmo de
jazz): “Bau chick a boom bau”. Quando você ouvia esta música,
sabia o que ia acontecer. A dona de casa está sozinha, o
jardineiro entra para beber água, e... ‘bau chick a boom bau’.
Ele poderia ter bebido da mangueira, mas ele queria um pouco
de: ‘bau chick a boom bau’.”

Essa piada, usada em um show matutino da CBS, mostra um exemplo


de como Jordan trabalha sem “sujeira”.
Palavrões podem se tornar bengalas para o comediante preguiçoso e
desesperado. Mas, se este é o seu estilo e você não quer se apresentar na
TV, pau no cú, use-os.

Quem é Você

A maneira correta de se construir um ato cômico é descobrir o que


você sente efetivamente sobre:
 O seu eu exterior (aparência física)
 O seu eu interior (temas pessoais, isto é, infância, pais,
escola, relacionamentos)
 O mundo em que você vive (comentários sociais, política,
etc.)

Os próximos exercícios tratarão da identificação de seus traços externos e


internos. (Comentário social e humor político é mais complicado e será
abordado no Capítulo 4). Eu lhe farei perguntas muito pessoais. É essencial
que você diga a verdade. Material baseado em coisas verdadeiras estabelece
uma relação pessoal com a platéia. Mais tarde, no capítulo 3, você
aprenderá como exagerar a verdade para torna-la engraçada, mas nesse
momento, seja honesto e crível. A diversão virá mais tarde.
Eu também irei lhe pedir um monte de informações. Preencha tanto
itens quanto puder porque desenvolver material é como alimentar peixes de
briga Siameses. Eles precisam botar dois mil ovos para que apenas dez
filhotes sobrevivam. Não se critique, apenas siga as instruções.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 24 Judy Carter


Traços Negativos de Personalidade

Existe alguma coisa a respeito de sua personalidade que o deixe


embaraçado? Você possui algum traço psicológico, ou um defeito de caráter,
ou alguma fraqueza que você tente esconder. Alguma coisa que você ficaria
envergonhado de revelar em um primeiro encontro? Você é um comedor
compulsivo? Um perdedor? Egoísta?
Aparentemente, traços negativos são solo fértil para bom material. Jack
Benny construiu seu ato inteiro no fato dele não valorizar a si mesmo. Muito
comediantes falam sobre seus fracassos com as mulheres.

“Eu tenho baixa auto-estima. Quando eu estava na cama, eu


fantasiava que EU era outra pessoa.”

- Richard Lewis
Todo mundo tem traços que não são aceitáveis socialmente. Quando
mais embaraçante eles forem, melhores serão as “piadas” que resultarão
deles. As pessoas vão a um clube e pagam no mínimo dois drinques para
escutar coisas que elas simplesmente pensam a respeito. O comportamento
apropriado na vida real é perfeitamente de acordo para o palco.

“Eu pensava que tinha síndrome pré menstrual. Mas, meu médico
disse, ‘Eu tenho boas e más notícias. A boa notícia é que você
não tem síndrome pré menstrual. A má notícia é que você é uma
piranha.”
- Rhonda Bates

Tenha em mente que seus traços negativos precisam ser críveis. Uma
platéia não comprará um homem bonitão falando sobre como ele é mal
sucedido com as mulheres. Nem tão pouco, comprará uma mulher magra
falando sobre quão gorda ela é, a menos que ela diga isso com sarcasmo.
Mesmo que você se ache gordo, ou feio, a menos que os outros também
achem, você confundirá a platéia. Você tem que estabelecer credibilidade com
o público. Você precisa ser autêntico e convincente. Diga a verdade.

“Eu tive que me mudar para Nova Iorque por motivos de saúde.
Eu sou extremamente paranóico e Nova Iorque é o único lugar
onde meus medos são justificados.”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 25 Judy Carter


- Anita Wise

Lembre-se, você não precisa inventar nada porque a verdade é o


suficiente para entreter.

Workshop # 3
TRAÇOS NEGATIVOS DE PERSONALIDADE

Hora de se confessar

Anote a seguir seus traços negativos de personalidade. Quanto mais


negativo, melhor. Tenha em mente que você esta anotando traços
psicológicos. Evite escrever traços físico, como unha encravada (biter nail),
magreza, caspa, e assim por diante.
Aqui vão alguns exemplos de meus alunos: comedor compulsivo,
piranha, CDF, pessoa que fala demais, neurótico, fracassado, alcoólatra,
mentiroso, vagabunda, quadrado, confuso, um filho da puta que só se
preocupa consigo mesmo.

1. ______________________________________________________________
__
2. ______________________________________________________________
__
3. ______________________________________________________________
__
4. ______________________________________________________________
__
5. ______________________________________________________________
__
6. ______________________________________________________________
__

Stand-Up Comedy – The BookPágina 26 Judy Carter


7. ______________________________________________________________
__
8. ______________________________________________________________
__
9. ______________________________________________________________
__
10. ______________________________________________________________
__

Workshop # 4
CARACTERÍSTICAS ÚNICAS

Existe alguma coisa a seu respeito que o torne único? Você tem uma
ocupação incomum? O ato de uma aluna, Belinda Ware, foi baseado no seu
emprego estranho.

“Eu sou coveira no Forest Lawn. Não é tão ruim. Meus clientes
não reclamam.”

A aluna Joan Gibson era “caminhoneira”:

“Algumas pessoas pensam que mulheres não podem dirigir


caminhões. Ei, eu sou capaz de manobrar em vagas minúsculas e
de me segurar para ir ao banheiro por três mil milhas, e minha
bunda pode criar hemorróidas tão grandes quanto as desse cara
aqui.”

Você tem uma religião curiosa?

“Telling your parents you want to be a comedian is rough,


especially they’re Mormons. I remember sitting them down and
saying, ‘Now look, Mom, Dad, Mom, Mom, Mon…”

“Contar para os seus pais que você quer ser um comediante é


dureza, especialmente quando eles são Mormons. Eu me lembro
de pedir para que eles se sentassem e dizer, ‘Agora, olhem,
mãe, pai, mãe, mãe...”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 27 Judy Carter


Você tem alguma deficiência? A surda Katherine Buckley passou para
as semifinais de um concurso de comédia, sua primeira experiência no palco,
em parte porque seu material tratava de forma honesta e aberta com a sua
incapacidade de ouvir, enquanto ela dava um novo tratamento a um tópico
tradicional das comédias, namoros:

“I haven’t had a date in two and a half years, but, maybe that´s
because I haven’t heard the phone ring.”

“Ninguém me convida para sair já há dois anos e meio. Talvez,


isso tenha alguma relação com o fato de eu não escutar o
telefone.”

Ou, existe alguma coisa única a respeito de sua família? A aluna Linda
Adelman baseou seu ato em um tópico muito arriscado, seus pais são
sobreviventes do holocausto:

“... então, eu agrada-los, mas, não importava o quanto eu


limpasse a minha casa, quando eles me visitavam as primeiros
palavras que saíam da boca de meu pai eram ‘Eu sinto cheiro de
gás!’”

O comediante Blake Clark baseia seu ato no fato de ser um veterano


da guerra do Vietnã:

“Estou escrevendo um livro sobre minhas experiências durante a


Guerra do Vietnã que vai se chamar, Um Guia dos Bares e
Tavernas de Montreal.”

Você tem uma característica singular? Se tiver, anote-a aqui:

__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________

Workshop # 5
SEU EU EXTERIOR

Stand-Up Comedy – The BookPágina 28 Judy Carter


Uma ótima maneira de abrir uma apresentação é fazer piada com o
mais óbvio – com o que você se parece. Você é magro, gordo, de alguma
etnia, e assim por diante? Pode ser algo tão simples quanto o seu cabelo.
Uma das minhas alunas tinha cabelo em abundância. Ela subia no palco,
esperava um momento, e então, dizia com nenhuma expressão em seu rosto:

“Eu detesto meu cabelo.”

Isso fazia a casa vir abaixo. Nenhuma piada, nenhum desfecho,


simplesmente a verdade nua e crua com uma atitude cheia de honestidade
como “Eu detesto...”
Outro aluno tinha um visual completamente inexpressivo (wimpy-
looking). Suas primeiras palavras no palco eram:

“Ok, eu sou um nerd...”

Então, ele prosseguia falando sobre o seu orgulho em ser um nerd.

“... quem mais levaria você ao aeroporto a uma da manhã?”

Sua atitude era: “Eu me orgulho...”


Outra aluna tinha um visual muito, muito, muito rude. Ela era guarda
de segurança de dois metros com uma cicatriz de corte de faca no seu
rosto. Sua primeiras palavras depois de encarar a platéia por alguns minutos
era:

“Está certo, eu não sou a porra de uma debutante.”

Sua atitude era: “Eu estou zangada...”


Outros itens de traços externos dos meus alunos incluíam: “Eu sou
japonês...”; “Ombros largos...” (um aluno vestindo largas ombreiras); “Eu
sou açougueiro...” (uma garota com visual masculino); “Eu sou negro...”;
“Eu estou na meia idade...”; “Eu sou deficiente...”; “Eu sou alto...”
Agora é sua vez. Qual é a primeira coisa que uma pessoa nota em
você? Existe alguma coisa em você que se destaca visualmente? Se você
não sabe, então, pergunte a um amigo. Pergunte a um colega comediante, a
um amigo ou a estranhos no meio da rua. Estranhos são a melhor fonte de
informação porque eles são como a sua platéia – um grupo de pessoas que
você não conhece. Seja o que for, deve ser verdadeiro e óbvio.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 29 Judy Carter


Aqui estão mais alguns exemplos de meus alunos: gordo, magro,
cabeludo, narigudo, sexy, bonita, mal vestida, Negro, Caucasiano, Latino, etc.
Escreva as suas respostas aqui:
1. ______________________________________________________________
___
2. ______________________________________________________________
___

Esses traços físicos não serão engraçados agora, mas eles serão de
grande ajuda para a criação de material no Capítulo 3.
Se esse exercício sobre traços físicos não tiver resultado em nenhum
material, não se preocupe. Muitos dos meus alunos não têm traços físicos
notáveis o suficiente para se brincar a respeito.

Um Dia na Vida do Seu Eu Interior

Quais são os assuntos pessoais com os quais você está lutando nesse
exato momento? O que você odeia? O que te preocupa? O que o
assusta?
A medida em que o dia passa, observe quais pensamentos parecem
surgir repetidamente em sua mente. Observe o que habita a sua mente.
Sobre que relacionamentos você tem pensado a respeito. Mãe? Pai?
Contador? Cães? O que incomoda você? Temas que são viscerais para
os meus alunos vão da guerra nuclear ao chupão. CARREGUE UM
PEQUENO CADERNO. Não censure ou julgue o que você estiver
pensando, apenas fique atento a eles e tome nota.
Um momento ideal para esta atividade escrita é logo quando você se
levanta. Eu descobri que o que eu escrevo é menos “bloqueado” se é a
primeira coisa que eu faço de manhã. E eu quero dizer a primeira coisa
mesmo, antes de sair da cama, antes de tomar café. Deixe este livro e
uma caneta perto da sua cama. Se você não funciona antes de tomar um
café, então, faça algum à noite, antes de dormir e deixe em uma garrafa
térmica ao lado da cama. Quando você fizer esse exercício, taçvez você
fique perplexo com o que sai de você:

“Eu odeio poeira em agulhas de toca-disco, tíquetes de


estacionamento, circo...”
“Eu tenho medo de absorventes, aviões, escuridão, da
morte...”
Stand-Up Comedy – The BookPágina 30 Judy Carter
“Eu me preocupo com comida com olhos, ficar velho, meu
rosto enrugando...”

Workshop # 6
COISAS QUE VOCÊ ODEIA

Faça uma lista das coisas que você odeia. Coisas que o desagradam.
Escolha tópicos que sejam mais pessoais. Um pai é melhor do que um
tio. Tópicos que tem sido terreno fértil para boas piadas são: cirurgia
plástica, encontros às escuras, homens que cospem, pelos que crescem
em lugarem incomuns, ninfomaníacas (bimbos), proctologistas, o modo
como o meu pai come, a alergia da minha mãe...
Carregue esta lista com você durante todo o dia e anote ao menos
dez coisas que você odeia. Não corte nada. Seja brutal, irreverente, e o
mais específico que puder. Odiar “o modo como minha mãe se levanta da
cama” é melhor do que odiar sua mãe. Odiar Couve de Bruxelas é
melhor do que odiar verduras. Não preencha a lista de uma só vez. Seja
genuíno e tenha paciência enquanto você reúne as sementes de seu ato.

1. Eu odeio
_________________________________________________________
2. Eu
odeio_________________________________________________________
_
3. Eu
odeio_________________________________________________________
_
4. Eu
odeio_________________________________________________________
_
5. Eu
odeio_________________________________________________________
_
6. Eu
odeio_________________________________________________________
_

Stand-Up Comedy – The BookPágina 31 Judy Carter


7. Eu
odeio_________________________________________________________
_
8. Eu
odeio_________________________________________________________
_
9. Eu
odeio_________________________________________________________
_
10. Eu
odeio_________________________________________________________
_

Workshop # 7
COISAS QUE TE PREOCUPAM

Mais uma vez, seja específico o tanto quanto possível. Se preocupar


com manchas na pele é melhor do que se preocupar com envelhecimento
em geral. Anote todas as coisas excêntricas com as quais você se
preocupa.

1. Eu me preocupo com
_________________________________________________
2. Eu me preocupo com
_________________________________________________
3. Eu me preocupo com
_________________________________________________
4. Eu me preocupo com
_________________________________________________
5. Eu me preocupo com
_________________________________________________
6. Eu me preocupo com
_________________________________________________
7. Eu me preocupo com
_________________________________________________
8. Eu me preocupo com
_________________________________________________
9. Eu me preocupo com
_________________________________________________

Stand-Up Comedy – The BookPágina 32 Judy Carter


10. Eu me preocupo com
_________________________________________________

Workshop # 8
COISAS QUE TE ASSUSTAM

Anote todas aquelas coisa que te assustam. Lembre-se que precisam


ser itens que realmente te dão medo. Fique longe das coisas típicas como
guerra nuclear e descubra aquelas pequenas coisa incomuns como bicho
da batata, biquínis peludos, correntes, mecânicos de automóveis, morrer
em um avião...

1. Eu tenho medo de
_________________________________________________
2. Eu tenho medo de
_________________________________________________
3. Eu tenho medo de
_________________________________________________
4. Eu tenho medo de
_________________________________________________
5. Eu tenho medo de
_________________________________________________
6. Eu tenho medo de
_________________________________________________
7. Eu tenho medo de
_________________________________________________
8. Eu tenho medo de
_________________________________________________
9. Eu tenho medo de
_________________________________________________
10. Eu tenho medo de
_________________________________________________

Stand-Up Comedy – The BookPágina 33 Judy Carter


Workshop # 9
ATITUDE

Adicionando Atitude

Antes de você organizar seus itens como material de stand-up, você


precisa captar o sentimento para você irá falar sobre seu tópico com uma
atitude específica.
Até agora você tem várias listas:
 Traços negativos de personalidade
 Características singulares
 Atributos físicos que chamam atenção
 Coisas que você odeia
 Coisas que te preocupam
 Coisas que te dão medo

Como eu disse antes, todos os tópicos devem ser representados com


uma atitude específica. Para captar este sentimento, escreva todo o seu
material em pequenos pedaços de papel e os coloque em uma bolsa.
Pegue um gravador portátil ou uma caneta e papel. Encontre um lugar
reservado onde você possa caminhar e falar com você mesmo sem ficar
constrangido. Tire um tópico da sua coleção de temas e comece a falar
sobre ele o mais rápido que você puder no gravador, ou escrever o mais
ligeiro possível, de maneira que você liberte todo o seu ódio, preocupação,
medo ou orgulho. Exagere esses sentimentos.
Você está zangado com a sua vida amorosa? Grite, expresse todo o
seu ódio no gravador ou escrevendo tudo sobre sua vida amoroso que o
deixa furioso e o porquê. Pergunte a si mesmo, “Porque isso me irrita e
quais seriam algumas conclusões engraçadas?” Solte-se. Por exemplo:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 34 Judy Carter


“Eu estou zangada por ser solteira. Porque todos os príncipes
com quem eu saio viram sapos no final? Estou zangada por ser
uma mulher na casa dos trinta que começa a pensar em ter
filhos enquanto os homens de trinta anos começam a pensar em
sair com meninas que poderiam ser suas filhas. Estou zangada
com Florence Henderson. Eu não sei porque eu passo noites
acordada pensando sobre ela, talvez seja porque ela é tão
normal. Eu tenho raiva de não ser normal. Que, ao invés de ter
dois filhos e um marido, eu tenha dois gatos e um cachorro. Há
alguma coisa de errado com uma mulher que prefere a companhia
de seu cachorro ao invés de sair com um homem? Eu não sei...
talvez eu seja meio humana, meio cachorro. Deveria haver um
livro com o título Mulheres Que Amam Demais Os Cães...”

Permita-se expressar livremente, de forma plena a sua atitude. Se


envolva profundamente. Seja intenso. Seja apaixonado. Não tente ser
engraçado. Grite, fala com todo o sentimento sobre qualquer coisa que
vier a sua cabeça a respeito daquele tópico. Não pense muito. Quando
você esgotar o que tem a dizer, continue repetindo, “Eu odeio (seu
tópico)” de novo e de novo. As coisa boas geralmente surgem quando
você não tem mais o que dizer. Se você está preocupado com alguma
coisa, seja você mesmo, seja autêntico:

“Eu estou preocupado sobre ter trinta e poucos... Envelhecer me


preocupa. Embora eu nunca tenha pensado que eu me
preocuparia em envelhecer já que meu nome é Judy e eu nunca
conheci uma idosa que se chamasse Judy. Agora, isso é uma
realidade. Talvez, alguma coisa aconteça com as garotas que tem
nomes jovens tais como Debby, Judy e Susie. Em uma certa
idade, eles te obrigam a mudar seu nome para Dóris, Edna ou
Mirtes. Eu estou preocupada. Quando isso acontece? Quando é
esse dia em que eu serei considerada velha. Eu me preocupo
que um dia eu acorde e não importa o calor que esteja
fazendo... eu queira vestir um casaco. Eu me preocupo que eu
fique eu fique velha e comece a espalhar potes de balas por
toda a casa. Eu estou preocupada em ter um desejo incontrolável
de comprar uma bolsa preta de vinil. Me preocupa que, um dia,
eu entre no meu carro e o volante seja grande demais. Eu me
preocupo... etc.”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 35 Judy Carter


Atitudes contrastantes

Uma maneira eficiente de criar material é usar uma atitude oposta em


relação a um tema e falar sobre ele com sarcasmo e cinismo. Não existe
nada de engraçado sobre “Eu sou em cara selvagem e louco”. Mas, quando
Steve Martin diz essas palavras com uma atitude forte, ele faz a platéia vir
abaixo.Sua atitude é ter orgulho em ser elvagem e louco. E ele passa essa
informação com um comprometimento exagerado.
David Letterman construiu sua carreira a partir desta técnica de
sarcasmo, cinismo e ironia:

“Oh, sim, teremos um grande show esta noite, um show excitante,


você pode até sentir essa de que alguma coisa extra especial vai
acontecer hoje à noite.”

Nas minha aulas, quando meus alunos empacam, eu sugiro que eles
identifiquem em uma palavra uma atitude improvável para seus temas e falem
sobre ela usando a técnica do sarcasmo. Por exemplo, uma aluna tinha “ser
solteira” em sua lista de “coisas que eu odeio”. Quando ela se expressou
com exagero a respeito de como ela odiava ser solteira, aquilo soou como
se ela estivesse se lamentando e reclamando. O material ficou bem melhor
quando ela mudou a atitude de ódio para adoração e o falou com a técnica
do sarcasmo:

“Oh, eu simplesmente adoro ser solteira... Eu adoro, adoro! É muito


mais divertido por um bracelete sem ajuda de ninguém. E eu tenho
passatempos fascinantes, do tipo tecer e fazer edredons a partir dessas
luvas que a gente usa para tirar coisas do forno.”

Workshop # 10
FALANCO COM SARCASMO

Para ter uma idéia de como isso funciona, experimente usar a atitude
de AMAR para um item que da lista de coisas que você odeia. Grite, se
expresse com intensidade sobre o quanto você ama aquele item em um tom
de sarcasmo, ironia e cinismo. Tente falar sobre isso do jeito que você acha
que o David Letterman falaria.
Stand-Up Comedy – The BookPágina 36 Judy Carter
Workshop # 11
SENTINDO ORGULHO

Outra maneira de criar atitudes contrastantes ou atípicas é adicionar a


atitude de “Eu me orgulho” aos itens de sua lista de traços negativos de
personalidade. A maioria das pessoa se envergonham de serem fracassadas,
mas, quando você finge ter a atitude incomum de “Eu me orgulho de ser
um fracassado”, você liberta o potencial da comédia.

“Eu me orgulho de ser um fracasso... É algo no que eu sou


bom. Ei, pelo menos eu sou confiável. Se você precisa de
alguém que ponha tudo a perder, você pode contar comigo.”

Aqui, o comediante deficiente Gene Mitchener dá um enfoque


absolutamente novo para um tópico difícil:

“Eu me orgulho em ser deficiente físico. Se não fosse por caras


como eu, vocês perderiam o dia todo procurando por uma vaga
para estacionar.”

Pratique esta técnica de ter uma atitude contrária, agregando a atitude de


ter orgulho de seus traços negativos de personalidade e/ ou de suas
características singulares. Por exemplo:

Eu tenho orgulho de __ser um


fracassado_______________________________________
PORQUE: Eu economizo em
telefonemas________________________________________
_______________________________________________________________________

Eu me orgulho de: de só pensar em


mim__________________________________________________
PORQUE: eu não tenho de fingir que eu me interesso pelos
outros______________
_______________________________________________________________________

Stand-Up Comedy – The BookPágina 37 Judy Carter


Eu me orgulho de: ser um
fudido_____________________________________________
PORQUE: Eu consegui uma bolsa para fazer
terapia_______________________
_______________________________________________________________________

Eu me orgulho de: deixar tudo pra mais


tarde___________________________________
PORQUE: isso me livra de me tornar um viciado em
trabalho________________
_______________________________________________________________________.

Agora, escreva você.


Pegue das listas que você fez no exercício #3 e 4 e coloque as
considerações interessantes aqui. Use tanto os seus traços negativos de
personalidade como também suas características singulares. Lembre-se,
ninguém mais vai ler o que você escreveu e não existem respostas certas ou
erradas.

1. Eu me orgulho de
_____________________________________________________
PORQUE:
_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

2. Eu me orgulho de
_____________________________________________________

Stand-Up Comedy – The BookPágina 38 Judy Carter


PORQUE:
_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

3. Eu me orgulho de
_____________________________________________________
PORQUE:
_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

4. Eu me orgulho de
_____________________________________________________
PORQUE:
_____________________________________________________

_____________________________________________________

Stand-Up Comedy – The BookPágina 39 Judy Carter


_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

5. Eu me orgulho de
_____________________________________________________
PORQUE:
_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

Agora, experimente o exercício de falar estes tópicos com vigor e sentimento


o mais rápido que puder usando a atitude “Eu tenho orgulho”. Imagine que
vocês ta falando para alguém. Pratique conversar sobre os seus temas como
se você estivesse defendendo a si mesmo para esta pessoa. Você não tem
que suar literalmente as palavras “Eu tenho orgulho”. Você pode
simplesmente sentir. Por exemplo, “Eu tenho orgulho de ser um CDF!” se
torna “Certo, eu sou um CDF.” A, então, defenda a você mesmo dando
ênfase nas vantagens de ser um CDF assim como fez meu aluno Steve
Guentner:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 40 Judy Carter


“Eu não tenho vergonha. CDF’s tem um monte de qualidades.
Nós somos bons para a economia. Quem mais compra todas
essas calculadoras, meias brancas, óculos, protetores de camisa,
camisas xadrez, réguas de arquiteto, computadores, vídeos do
seriado Jornada nas Estrelas, livros de ficção científica, e blocos
de zona azul? CDF’s! CDF’s prestam serviços valorosos. Quem
se candidata a presidente? CDF’s! Quem lhe dará uma carona
ao aeroporto as três da manhã? CDF’s!”

Misture e Combine

Trabalhe misturando e combinando mais de seus tópicos em atitudes


inusitadas. Se você é um cara, ‘adorar mulheres obesas’ é muito mais
interessante e simpático do que ‘odiar garotas gordas’. Se você é uma
garota e um tema da sua lista de características exteriores são suas coxas,
por exemplo, tente uma atitude improvável de “amor”.

“Eu ano minhas coxas gordas. Elas me mentem aquecida no


inverno e mesmo que eu ficasse isolada no Círculo Ártico, elas
poderiam manter várias pessoas aquecidas. Sim, elas poderiam.
Isso daria a elas algo para segurar...”

Com muita freqüência, meus alunos terão respostas típicas em suas


listas de coisas que eles odeiam, tais como ‘Eu odeio ficar em filas’, ou,
‘Eu odeio receber multas’. Então, o que é novo? Provavelmente, conduzir
para um final engraçado de matar. Mas, agora, troque tudo de lugar, de
modo que fique assim, ‘Eu amo receber multas’ e assista o potencial da
comédia se revelar:

“Eu amo receber multas. Eu acho que eu simplesmente gosto de


ganhar atenção de um homem com uma arma. Isso me faz sentir
notada. Eu gasto todo o meu dia escolhendo uma roupa especial
e, então, saio de casa e acelero. E você conhece aquela
sensação excitante quando você enxerga aquelas luzes vermelhas
no seu espelho retrovisor? Meu coração vai até a boca e me
sufoca. É melhor do que fazer sexo...”

Workshop # 12
MISTURANDO E COMBINANDO ATITUDES
Stand-Up Comedy – The BookPágina 41 Judy Carter
Para praticar, ponha suas mãos para trabalhar em expressar-se com
vigor a respeito dos seguintes tópicos com estas atitudes inusitadas:

1. “Eu odeio sexo”.


2. “Eu tenho medo de clipes”.
3. “Eu me preocupo com “fótons”.

Agora, experimente gritar no seu gravador usando atitudes inusitadas


com os seus tópicos. Se odiar verduras congeladas não funciona para você,
então, experimente outra atitude. Tente “Eu tenho medo de verduras
congeladas’, ou, “Eu me preocupo”, sinta a sensação. Continue falando. Se
nada cier a mente, prossiga repetindo a sua atitude. “Eu estou zangado...
Estou zangado...” Deixe ser apanhado pela paixão do momento. Se você
perceber que está falando sobre alguma coisa totalmente diferente do que
você tinha planejado, tudo bem. Deixe que seu espírito o guie. Vá na onda.
Não tente ser engraçado. Apenas, real e prossiga. Realmente se somprometa
com a atitude e as palavras virão. Se não, continue com outro tópico.

Workshop # 13
ACHANDO AS PÉROLAS NO MEIO DO LIXO

Existe a possibilidade de, no meio de toda a sua falação, existir algum


material engraçado.

1. Escute repetidamente a fita que você gravou e perceba que partes


soam como se fossem engraçadas. Ou, talvez, alguma coisa que você
tenha dito lhe dê uma idéia para algo completamente diferente.
Lembre-se, não conte piadas. Cada pedaço tem de consistir de uma
atitude atrelada a um tópico.

2. Trabalhe com um parceiro. Criar um sistema de ajuda enquanto está


estudando este livro é altamente recomendado. Nas minhas aulas, é
obrigatório para meus alunos trabalhar dez minutos cada manhã em
seus atos eles mesmos e se reunir ao menos uma vez por semana
com um companheiro de curso. Ter alguém para reagir ao seu material
ajudará a aprender o que é engraçado e o encorajará a desenvolver
mais material. Além disso, só o fato de ter alguém para olhar enquanto

Stand-Up Comedy – The BookPágina 42 Judy Carter


você diz o seu material é um passo crucial para falar diante de uma
platéia.

3. Teste seu material no seu trabalho, com amigos, ou com o carteiro.


Aviso: nunca deixe as pessoas saberem que elas estão sendo usadas
como cobaias da comédia. Nunca introduza o seu material com “Você
acha que isso é engraçado?” porque eles não acharão engraçado.
Coloque o seu material sutilmente no meio de uma conversa. O
melhor lugar possível é uma festa, ou um bar onde as pessoas não te
conheçam.
A aluna Jennifer Heath experimentou material na lavanderia:

“Eu me preocupo com essas bolinhas que aparecem nas roupas.


De onde elas vêm? Eu lavo minhas roupas várias vezes e
sempre aparecem essas bolinhas, mas minhas roupas não
diminuem de tamanho. E por que, não importa qual seja a cor
das roupas que você lava, as bolinhas são sempre cinzas?”

4. Se alguém rir, anote palavra por palavra o que você disse de modo a
lembrar-se o que foi dito exatamente da maneira pela qual você obteve
a risada. E parabéns. Você tem o primeiro pedaço do seu ato.

5. Se ninguém rir de nada, continue tentando material diferente ou amigos


diferentes. Não o importa o que você faça, não desista.

Lembre-se que quando uma platéia vê um comediante fazer cinco minutos


no programa do Johnny Carson, o que eles não vêem é todo o material que
ele teve que jogar fora. As vezes, haverá talvez apenas um pequeno
fragmento de idéia em uma das duas gravações ou anotações a respeito de
um tópico que você poderá usar em algum lugar. O comediante Jerry
Seinfeld diz que muito do seu material surge para ele dos hábitos que ele
segue enquanto está no toalete. Você gastará cerca de de uma hora jogando
conversa fora para obter cada três minutos de material – se você tiver sorte.

Resumo

Até agora você:

 Aprontou as suas listas de tópicos


Stand-Up Comedy – The BookPágina 43 Judy Carter
 Desenvolveu as atitudes para cada tópico
 Desenvolveu as atitudes inusitadas para seus tópicos
 Gravou você se expressando com vigor a respeito de cada tópico
 Trabalhou com um parceiro de comédia
 Testou seu material com amigos e estranhos
 Anotou o material que fez as pessoas rirem

Guarde todo o material escrito e gravado. No próximo capítulo você aprenderá


fórmulas de comédia para transformar este material ainda cru em rotinas
cômicas de matar de rir.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 44 Judy Carter


Capítulo 3

Tornando seu Material Engraçado

As fórmulas

Até o presente momento, você já gravou a si mesmo expressando seus


tópicos com vigor e testou um pouco do seu material. Muito provavelmente,
alguma parte de seu material provocou risadas enquanto outra parte foi
recebida com um frio silêncio. Você, provavelmente, também descobriu que o
material que obteve risadas na primeira tentativa, não funcionou quando
testado novamente. Não se assuste. Neste capítulo, você irá moldar e
transformar tudo o que pos para fora com vigor, em material profissional de
comédia por meio de fórmulas específicas da stand-up.
Você, talvez, esteja resmungando baixinho “Por que ela não me deu
essas fórmulas logo no começo e acabou logo com isso?”. Boa pergunta.
Eu descobri que material baseado apenas em fórmulas soa artificial,
sem alma, e não é engraçado. Falta paixão. E paixão tem de vir em
primeiro lugar. Paixão fornece o combustível, o movimento, a inspiração que
irá guiá-lo através do seu ato. A paixão revela a sua essência – diz quem
você realmente é. Mas, paixão e talento não são suficientes. Você deve ser
capaz de tornar as suas idéias compreensíveis, inteligíveis e fazê-las claras
para a platéia.
Mantenha isso em mente, você agora está preparado para aprender as
fórmulas que o ajudarão a moldar e estruturar idéias de modo que a platéia
entenda exatamente o que você está tentando comunicar.
Eu não posso dizer com certeza absoluta do que uma platéia irá rir,
mas eu posso dizer com certeza ela não achará graça de algo que ela não
entende. Lembre-se, a maioria das pessoas em um night club está bêbada.
Enquanto você está sobre o palco com o material que faz sentido
perfeitamente para você, para a sua mãe e para o seu confeiteiro, a questão
se torna: será claro para algum cara excitado, com duas margaritas agindo
abaixo de sua cintura, que somente está interessado em transar?

Preparação / Desfecho

Stand-Up Comedy – The BookPágina 45 Judy Carter


Todo material de stad-up deve ser organizado na fórmula de preparação
(setup) e desfecho (punch). Se seu material não está organizado desta
maneira, você não está fazendo standup. Talvez você esteja contando uma
história engraçada, recitando uma poesia, fazendo um discurso, mas isso não
é standup. Stand-Up comedy é uma forma muito específica de
entretenimento, e consiste em uma coleção de preparações e desfechos
(setups e punches).
O desfecho é quando a audiência ri. A preparação é aquela linha ou
duas que conduz até o desfecho.

SETUP:
“Minha mãe é uma típica mãe judia. Uma vez ela esteve em um
julgamento e tiveram que mandá-la para casa...”

PUNCH:
“Ela insistiu que era culpada.”

A preparação (setup) é a parte sem graça da piada. É a parte da


piada que contém a informação que introduz a matéria, o tema, o assunto
da piada.

SETUP:
“At my gym they have free weights...”

“Na minha academia eles tem aqueles pesos individuais...”

PUNCH:
“So, I took them home.”

“Então, eu levei os meus para casa.”


- Steve Smith

A preparação cria expectativa. O desfecho entrega a piada.

SETUP:
“I’m into Jewish bondage…”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 46 Judy Carter


“Eu estou interessado pela subserviência judaica...”

PUNCH:
“… that’s having your money tied up an IRA account.”

“... que é ter o seu dinheiro parado em uma conta do SUS.”

- Noodles Levenstein

Mesmo dentro de uma piada de uma linha só existe uma preparação e


um desfecho.

SETUP:
“I used to be a virgin, but I gave it up...”

“Eu acreditava na virgindade, mas desisti...”

“Eu já fui virgem, mas desisti...”

PUNCH:
“… there was no money in it.”

“... ganho muito mais dinheiro sendo uma vagabunda.”

“... não se ganha dinheiro com isso.”

- Marsha Warfield
SETUP:
“Se pessoas que não enxergam usam óculos...”

PUNCH:
“Por que os surdos não usam protetores de orelha?”

SETUP:
“I’m a great lover...”

“Eu sou um grande amante...”

PUNCH:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 47 Judy Carter


“… I bet.”

“... Eu aposto.”

- Emo Philips

Uma preparação bem feita seduz a platéia a prestar atenção em você.


Um bom desfecho força a platéia a ter uma reação. Aqui, Rita Rodner
prepara o desfecho fazendo uma pergunta a platéia que os arrasta em uma
direção:

SETUP:(PERGUNTA)
“Why are women wearing perfumes that smell like flowers?”

“Por que mulheres usam perfumes com fragrância de flores?”

Então, o desfecho é sua inusitada reação a preparação:

PUNCH:
“Men don’t like flowers. I’ve been wearing a great scent. It’s
called ‘New Car Interior’.”

“Homens não gostam de flores. Eu agora uso uma excelente


fragrância. Ela se chama: ‘Interior de Carro Novo’.”

Emo Philips ganha a atenção da platéia usando uma preparação que


choca o público:

SETUP:
“Probably the toughest time in anyone’s life is when you have to
murder a loved one because they’re the devil...”

“Provavelmente, o momento mais duro na vida de qualquer pessoa


é quando você tem que matar alguém que você ama porque ele
é o demônio...”

PUNCH:
“… Other than that, it’s been a good day.”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 48 Judy Carter


“... tirando isso, tem sido um bom dia.”

E o mais importante, o desfecho contrasta com a preparação de uma


maneira inesperada.

SETUP:
“I’m a quadrasexual.”

“Eu sou um ‘trocasexual’.”

PUNCH:
“That means I’ll do anything with anyone for a quarter.”

“Isso significa que eu farei qualquer coisa com qualquer um por


um trocado.”

- Ed Bluestone

Um desfecho sem uma preparação é como sexo sem preliminares.


Imagine quere beijar alguém. Um amante amador se apressa sem se
preocupar em preparar o beijo para o que virá. Um amante mais habilidoso
prepara a situação, primeiramente, talvez, tocando a nuca. Então, tirando
seus óculos. Aproximando-se devagar da sua amada e, então... o beijo.
Você deve ter notado que as piadas acima não contém uma atitude
específica tal como “Eu odeio” ou “Eu me orgulho” e assim por diante.
Quando lapidam seu material no formato de preparação e desfecho, os
comediantes mais profissionais irão interpretar sua atitude ao invés de dizê-la
de forma explícita. Por exemplo, a atitude de Rudner no trecho acima poderia
ser “Eu odeio mulheres que usam perfumes que tem cheiro de flores.” A
atitude da piada de Bluestone poderia ser, “Eu me orgulho de seu um
‘trocasexual’.” A atitude é, então, comunicada na maneira como o comediante
expressa seu material.

Workshop # 14
IDENTIFICAÇÃO DA PREPARAÇÃO E DO DESFECHO

Grave um comediante da TV. Transcreva e analise dois minutos do


material dele ou dela. Responda as seguintes perguntas:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 49 Judy Carter


1. Quais são os desfechos?
2. Quais são as preparações?
3. Conte os desfechos.
4. Em média, quantas linhas têm a preparação de cada desfecho?
5. Você poderia identificar a atitude do comediante em cada preparação?

Descobrindo Seus Desfechos

O primeiro passo na organização de seu ato é identificar quais são as


suas tiradas engraçadas – o desfecho de suas piadas. Assustador, não?
Muitos estudantes perdem a coragem aqui porque eles não pensam que o
que eles dizem tem alguma coisa de engraçado.
Eu repito: Você não está tentando ser engraçado. Você tem que se
expressar com vigor, em voz alta a respeito dos temas e assuntos pelos
quais você se relaciona de maneira apaixonada. Para Woody Allen, não
existe nada de engraçado sobre seu medo da morte.

“I don’t mind death, I just don’t want to be there when it


happens.”

“Eu não me importo com a morte, eu só não quero estar lá


quando ela chegar.”

Para a minha aluna Nancy Wilson, não há nada de divertido em sua


luta com o alcoolismo.

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“I would drink because I wasn’t married...”

“Eu bebia porque não era casada...”

PUNCH:(EXAGERO)
“… and then I would drink because I was married.”

“E, então, passei a beber porque era casada.”

SETUP:(INFORMAÇÃO)
“Then I would drink because I couldn’t find my kids…”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 50 Judy Carter


“Então, bebia porque não conseguia encontrar meus filhos...”

PUNCH:(EXAGERO)
“…and then I would drink because I found them”

“E, então, passava a beber porque eu os encontrei.”

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“Quando eu larguei a bebida eu percebi que eu tinha gêmios
idênticos... Eu sequer tinha me dado conta disso...”

PUNCH:(EXAGERO)
“Eu pensava que todo o tempo eu estava vendo dobrado.”

É engraçado observar alguém envolvido com suas batalhas e interesses.


Até este ponto, você não es´ta necessariamente capacitado a analisar o seu
material. Com o objetivo de descobrir seus desfechos ou tiradas, você precisa
estar disposto a testar o seu material diante outras pessoas. Lembre-se, não
deixe que eles saibam que você está experimentando suas piadas. Apenas
comece a falar do seu corte de cabelo:

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“I just hate my hair. I was out with my boyfriend looking like
some pre Rafaelite dream…”

“Eu simplesmente odeio meu cabelo. Eu saí com o meu


namorado parecendo um sonho renascentista...”

PUNCH:(EXAGERO)
“… I woke up de next morning looking like Don King.”

“...na manhã seguinte, acordei parecendo o Tony Tornado.”

- A aluna Mary Edith Burrel

Ou, para o seu farmacêutico:

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“I hate flavored douches...”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 51 Judy Carter


“Eu detesto banhos aromatizados...”

PUNCH: (EXAGERO)
“… If I was meant to smell like a strawberry, I would have been
born in a basket with a green thing growing out of my head.”

“... se eu estivesse preocupado em cheirar como um morango,


eu teria nascido em uma cesta e teria uma coisa verde saindo do
topo da minha cabeça.”
- A aluna Jennifer Health

Carregue o gravador na sua bolsa e o leve para todo lugar. E eu falo


sério quando digo: TODO LUGAR. Mesmo no meio de uma transa,
comediantes precisam estar preparados para gozar e dizer “ Espere um
minuto, preciso dar um tempo com a sacanagem e dar uma atenção aqui” .
Escute a sua gravação. Onde todo mundo riu, ali está a sua tirada, o
seu desfecho. Você talvez tenha perdido uma transa, mas conseguiu um
pequeno trecho de material.
Lembre-se: Standup exige culhões.

Workshop # 15
DESFECHOS

Ouça a sua gravação e a transcreva para o papel, espaço duplo, no


mínimo três páginas das suas lamúrias. Sublinhe todos os desfechos cômicos,
os lugares onde você espera que as pessoas riam. Então, leia…

Moldando O Seu Ato No Formato de Preparação e Desfecho

“Eu não imaginava que isso seria um trabalho tão árduo. Eu


pensei que comédia fosse supostamente para ser divertida.”

Este é o estágio em minha aula onde os meus alunos querem pular


fora.
Stand-Up Comedy – The BookPágina 52 Judy Carter
É péssimo que escrever comédia não seja a bagunça que aparentava
ser nos shows de TV do Dick Van Dyke. Sally, Rod and Buddy davam a
impressão de que os escritores saiam falando bobagens, rindo uns dos outros
com tiradas preciosas cada vez que abriam a boca. Qualquer pessoa que já
esteve perto de um escritor de comédia de verdade sabe que às vezes, a
procura pela preparação ideal para uma piada sobre roupas íntimas é tratada
com a intensidade e seriedade de uma estratégia de negociação de
armamentos. Algum material surgirá pronto, como um (like a colt), e algum
será parecido com um poema épico ou uma escultura que você segue
lapidando por semanas, meses, ou mesmo anos.
Eu lhe prometo que uma vez que você domine as técnicas deste
capítulo, a diversão aparecerá. Ela vem quando você apresenta um material
que foi tão bem elaborado que a platéia fica na palma da sua mão. Então,
não desista, arregace as mangas e vamos trabalhar no seu ato.

Preparações

O problema mais comum do material iniciante dos meus alunos é que


eles têm preparações muito longas. A melhor preparação é curta. A minha
avaliação científica revela que o tempo de atenção de uma platéia de
alcoolizada é de uma a quatro linhas. Quanto mais rápido você chegar ao
desfecho, mais eficiente será o seu número.Isso não significa que você vai
falar a respeito de cada tópico em apenas cinco linhas. Você pode fazer
trinta minutos a respeito de seu cachorro desde que a sua rotina cômica
esteja organizada em uma coleção de pequenas preparações e desfechos.
Eis um exemplo de uma preparação muito longo do aluno Harry
Redlich:

“Eu simplesmente não entendo esta obsessão por celebridades dos


anos cinqüenta e sessenta. Tipo, Elvis, as pessoas estão
desapontadas porque ele morreu. Ou, Janis Joplin morreu tão
jovem. Eu sei que é trágico, mas eu acho que um monte dessas
lendas se deram bem por terem morrido cedo, porque...”

DESFECHO:
“... eu, pessoalmente não gostaria de ver Janis Joplin como uma
dessas celebridades que aparecem no Qual é a Música.”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 53 Judy Carter


Redlich começa com uma reparação falsa partindo do fato de que o
desfecho não tem nada a ver com Elvis ou com a obsessão por
celebridades. Com o objetivo de preparar o desfecho, eu encorajo meus
alunos para realmente olhar para o que eles estão tentando dizer e onde
eles querem chegar. Redlich está de fato tentando comunicar o modo como
Hollywood banaliza as suas estrelas. Examine como a preparação agora se
torna “um tema geral” e o desfecho vira um “exemplo específico”.

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“Nos dias de hoje é duro ser um astro. Eu estou feliz que
muitas estrelas tenham morrido jovens...”

PUNCH: (EXAGERO)
“... Sério, você gostaria realmente de ver Janis Joplin no Qual
É A Música?”

Você pode ter mais de um desfecho. Muitas vezes uma piada terá um
setup e, então, três desfechos. Jerry Seinfeld é um mestre nisso. Ele faz
uma preparação e, então, um desfecho que faz você rir. Ele faz outro
desfecho e você ri, e quando você pensa que não há mais nada o que
dizer, ele adiciona outro desfecho. (Tome nota da escalada de absurdos dos
desfechos de Seinfeld)

SETUP: (INFORMAÇÃO VERDADEIRA)


“Eu sou de Long Island. Meus pais acabaram de se mudar para
a Flórida ano passado.”

PUNCH: (FABRICADA)
“… Eles não queriam se mudar para a Flórida, mas eles estão
na casa dos sessenta e é o que manda a lei.”

PUNCH: (ABSURDO MAIOR)


“… Existe a polícia para aposentados que chega e te enquadra
quando você vai fazer sessenta anos.”

PUNCH: (MAIS ABSURDO AINDA)


“… Eles andam em carinhos de golf com sirenes, ‘Certo,
Tiozinho, ponha o taco no banco de trás. Largue a pá de neve,
largue!”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 54 Judy Carter


O melhor desfecho é também o que fala a verdade. Dê uma olhada
na piada deste aluno:

SETUP:(INFORMAÇÃO FALSA)
“Eu acabei de perder 20 quilos. Como eu consegui?”

PUNCH:
“… Eu apenas acordei um dia e mandei a minha namorada
passear.”

Este aluno, então, insistiu com um trecho sobre ser modelo masculino.
Mesmo ele nos dizendo “Não, é verdade!” uma vez que nós percebêssemos
que havíamos sido enganados na sua primeira piada, que de fato, ele não
havia perdido peso, nós não estávamos mais dispostos a cooperar com ele
na próxima piada. Evidente, você possa talvez conseguir uma risada com
uma piada como esta, mas você também perderá sua credibilidade. Agora,
não importa o esforço que você faça, a platéia está pensando que todas as
suas preparações são uma fraude. Construa a sua credibilidade a partir de
preparações verdadeiras, honestas e sem complicações. Então, pire nos
desfechos.

Workshop # 16
CONDENSANDO SUAS PREPARAÇÕES

Lembre-se, toda preparação conduz a um desfecho. Se alguma coisa


não é o desfecho, então, tem que fazer parte da preparação. Se não,
elimine-a. Stand-up é parecido com poesia haiku. Não existem palavras
sobrando. Toda sílaba é elaborada, julgada e tem que estar na medida
exata. Observe este trecho revisado do aluno Eric Dickley:

“Eu amo mulheres. Eu gosto em particular das mulheres que


estão em forma, de verdade. Eu entrei numa aula de aeróbica e
conheci esta garota linda. Mas, Mulheres podem ser são
perigosas. Eu estou saindo com esta instrutora de aeróbica e elas
têm um corpo fantástico! Realmente em forma! Nós brigamos
uma vez e ela me deu um pontapé na bunda. Mas, tudo bem.
Eu aprendi como me defender...”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 55 Judy Carter


PUNCH:
“... eu desligo a música.”

Lembre-se que preparações precisam ser verdadeiras. Às vezes, apenas


trocando algumas poucas palavras você dará autenticidade a uma preparação,
exatamente como fez um aluno, George Chase:

SETUP: (falso)
“Eu odeio sinais de trânsito. Eles estão em toda a parte me
dizendo o que fazer: ‘pare’, dê passagem’, ‘ultrapasse’. Minha
mãe, recentemente, arrumou um emprego no departamento de
estradas e eu acho que ela enlouqueceu...”

punch:
“’Ligue para sua irmã’, ‘troque de cuecas’, ‘se case’.”

Esta é uma boa premissa, mas a preparação contém uma mentira nela.
A mãe de Chase não trabalha no departamento de estradas. Isto pode ser
facilmente retificado, mudando-se a frase “Minha mãe recentemente, arrumou
um emprego no departamento de estradas” para “Eu acho que, se minha
mãe trabalhasse no departamento de estradas...”
Agora, experimente você. Você tem datilografadas três páginas de
material e já sublinhou os desfechos. Estude seu material com atenção e:

 Apague todas as palavras redundantes.


 Condense a preparação de cada trecho.
 Reescreva cada preparação deixando-a objetiva e verdadeira.

Contrastando a Preparação com o Desfecho

Um modo poderoso de criar material de stand-up é ter uma preparação


que contraste com o desfecho. A preparação guia a platéia por uma estrada
reta e o desfecho é uma curva brusca a esquerda quando ela menos
espera.
Por exemplo:
Lá está você com alguém que você deseja beijar e você está seguro
“preparando” o beijo, movendo-se sutilmente em direção a ele ou ela, e
então... você espirra. Você não irá transar, mas conseguirá uma risada – e

Stand-Up Comedy – The BookPágina 56 Judy Carter


para a maioria dos comediantes, isso é melhor. Uma boa preparação
manipula a platéia a prever uma coisa e, então, apresenta algo inesperado.
O Humor é criado indo de encontro ao que é previsível.
Uma maneira de criar contraste entre a preparação e o desfecho é ter
uma atitude radicalmente diferente no desfecho. Dê uma olhada nesta típica e
simples piada de Mestre de Cerimônia:

Setup: (amigavelmente)
“Parece que temos uma grande platéia esta noite...”

punch: (hostilidade)
“... exceto por vocês.”

A preparação é dita de forma simples e honesta, com a atitude de


“Eu amo estar aqui...” implícita. Então, o desfecho cria o contraste com a
preparação por meio da atitude de hostilidade, como nesta abertura de Bob
Saget:

SETUP: (AMIGÁVEL, COM SARCASMO)


“Vocês são um grande público. Eu amo vocês!”

PUNCH: (HOSTILIDADE)
“... Eu só queria poder levar todos vocês para um banho de
jacuzzi e deixar cair uma torradeira elétrica dentro da banheira!”

Aqui, Jay Leno diz a preparação com uma atitude neutra, de


informação, então, manda o desfecho com sarcasmo:

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“No Mcdonald eles tem esses brindes de promoções e as placas
dizem, ‘Oferta válida somente para clientes do McDonald’s!”

PUNCH: (SARCASMO)
“... Agora, eles são um grupo fechado!”

Pense na preparação como a parte lógica, informativa da piada e o


desfecho como uma mudança inesperada ou um exagero extremo. Observe
esta tentativa de piada:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 57 Judy Carter


SETUP:(INFORMAÇÃO)
“Meu namorado é do tipo muito egoísta.”

PUNCH: (INFORMAÇÃO)
“... Ele gosta dele mais do que gosta de mim.”

Isto não é muito engraçado porque o desfecho é uma conclusão


previsível da preparação. Mas, exagerar o comportamento do namorado, torna
o material engraçado:

PUNCH: (HOSTILIDADE)
“Quantos homens, você conhece, gritam o próprio nome quando
eles transam?”

Aqui, Ellen DeGeneres prepara sua piada conversando sobre “cabeças


de alces”:

SETUP: (INFORMAÇÃO REALISTA)


“Você pergunta para as pessoas por que elas tem cabeças de
alces penduradas em suas paredes. Elas sempre dizem, ‘Porque é
um animal tão bonito’.”

Então, no desfecho, ela muda para sua “mãe”:

“... Eu acho minha mãe atraente, mas eu guardo fotografias


dela.”

SETUP: (AMIGÁVEL, COM SARCASMO)


“... My girlfriend thinks she’s impressing me because she lifts
weights...”

“... Minha namorada pensa que me impressiona porque ela


levanta pesos...”

“... Minha namorada pensa que me impressiona porque ela puxa


um ferro.”

PUNCH: (INFORMAÇÃO)
“... I tell her, ‘If you want to impress me, pick up this check’.”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 58 Judy Carter


“... Eu digo a ela, ‘Se quer me impressionar, pegue este
cheque.”

“... Eu digo a ela, ‘Se quer me impressionar, puxe a carteira’.”

Aqui, Eric contrasta um objeto pesado com algo leve e, ao mesmo tempo,
expressa o seu ponto de vista.
Aqui vai um exemplo de uma piada onde a preparação fornece uma
informação racional, sana, enquanto o desfecho contrasta por ser
completamente absurdo.

SETUP: (REALÍSTICO)
“Eu fui a uma conferência para bulimicas e anorexicas. Foi um
pesadelo...”

PUNCH: (ABSURDO)
“... As bulímicas comeram as anoréxicas.”
- Monica Piper

Em todas as piadas acima, as preparações (setups) são racionais,


informativas e plausíveis. A platéia é fisgada emocionalmente pela informação
presente na preparação (setup).

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“Eu brinquei muito com o meu avô, quando eu era criança...”

Todos nós brincamos com nossos avós ou conhecemos pessoas que


brincaram. Uma vez que você estabeleça entre você e o público algo real
para ambas as partes, você pode ir fundo no desfecho, de um modo
selvagem.

PUNCH: (INFORMAÇÃO)
“... Embora ele estivesse morto, meus pais o tinham cremado e
coloca suas cinzas no meu Etch-a-Sketch.”
- Alan Harvey

Não esqueça o que falamos sobre atitude. Lembre-se, cada preparação


tem de conter uma atitude. Você pode ter muitas atitudes diferentes em um

Stand-Up Comedy – The BookPágina 59 Judy Carter


ato, mas cada preparação e desfecho tem de ter uma atitude específica. A
atitude não tem de ser expressa literalmente em “Eu amo... Eu odeio...”.
Elas podem estar na sua interpretação. A maneira como você diz certas
palavras será o suficiente para indicar seus sentimentos.
Por exemplo, a atitude de Paul Provenza é: ele odeia pessoas
que fumam cigarros.

SETUP: (NORMAL)
“Vocês sabem o que me incomoda? Pessoas que fumam em
restaurantes...”

PUNCH: (LUNÁTICO)
“É por isso que eu carrego sempre uma pistola de água
carregada com gasolina.”

Marsha Warfield odeia mulheres esqueléticas:

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“Eu odeio mulheres esqueléticas, especialmente quando elas dizem
coisas como ‘Às vezes eu esqueço de comer’.”

PUNCH: (REAÇÃO HOSTIL)


“... Agora, eu já esqueci nome de solteira da minha mãe e as
minhas chaves, mas você tem que ser um tipo especialmente
estúpido para esquecer de comer.”

Note que nos exemplos acima, os comediantes verbalizam suas atitudes:


“Eu odeio”. Eis um material de Roseanne Barr onde a atitude não é dita
verbalmente, mas mostrada pelo tom de voz, expressão facial e linguagem
corporal. O que é engraçado é sua atitude diametralmente oposta. Leia esta
piada com se ela tivesse orgulho de ser mãe.

“Da maneira que eu vejo, se meus filhos ainda estão vivos


quando meu marido chega do trabalho, então, eu fiz a minha
parte.”

- Roseanne Barr
Workshop # 17
CRIANDO CONTRASTE ENTRE A PREPARAÇÃO E O DESFECHO

Stand-Up Comedy – The BookPágina 60 Judy Carter


Até o momento você tem:
 Várias páginas datilografadas de suas considerações, ditas com vigor e
atitude
 Desfechos sublinhados
 As preparações condensadas

Agora, observe cada preparação/desfecho e responda as seguintes


perguntas:
1. Cada preparação é plausível, carrega uma informação e está escrita
de forma simples e clara?
2. Cada desfecho contrasta com a preparação seguindo uma dessas
formulas:

SETUP (preparação) PUNCH (desfecho)


Informativo Exagero
Tema geral Exemplo específico
Sadio Insano
Realista Fantasioso
Ponto de vista adulto Ponto de vista infantil
Fato Ficção

3. Cada trecho contém uma atitude? Qual é? (Lembre-se, você não


precisa dizer a atitude em palavras, você pode mostrá-la em sua
voz, expressão do rosto e corporal. Mas, você precisa saber qual é
a sua atitude em cada trecho. Lembre-se, atitudes podem mudar de
trecho para trecho. Você pode ir direto de “Eu odeio...” para “Eu
amo...” sem nenhuma transição).

Workshop # 18
USANDO SARCASMO COM A SUA LISTA DO EU EXTERIOR

No Capítulo 2 você escreveu itens que eram fisicamente óbvios em


você. (Veja o Workshop #5 Seu Eu Exterior) Dizer o que é o oposto do
óbvio é uma maneira confiável de fazer as pessoas rirem. Por exemplo, aqui
estão algumas observações sarcásticas que tem funcionado:
Um aluno muito gordo conseguiu uma enorme gargalhada abrindo seu
ato com

Stand-Up Comedy – The BookPágina 61 Judy Carter


“Olá, meu nome é Al Barlaan e, sim, eu sou um deus do sexo
das Felipinas.”

Outra aluna, Ruth Reyerson, era loira e estava acima do peso. Ela
subiu ao palco e disse,

“Eu sei o que vocês estão pensando... Barbie.”

Quando a risada diminuiu, ela prosseguiu:

“Eu sou como a Barbie, cabalos loiros, olhos azuis, exceto por
uma coisa. A Barbie não come.”

A aluna Beverly Jackson, uma maravilhosa loira de seios fartos, abriu


com:

“Eu sei o que os homens estão pensando... Mais uma cientista


da Nasa! Os homens olham para mim e todos pensam a mesma
coisa. ‘Você é tão... brilhante’.”

Em todos esses exemplos, a preparação é a respeito de sua aparência


física e o desfecho é uma reação sarcástica. Pelo fato da preparação ser
implícita, seu traço físico tem de ser muito óbvio.
Na pagina (...) você selecionou duas características físicas que se
sobressaem (isto é, gordo, baixinho, macho, etc.). Copie-as em baixo e
escreva vários antônimos (opostos). Seja sarcástico o tanto quanto possível.
Se você se esquecer, experimente um dicionário de sinônimos e antônimos
ou um de palavras correlatas (Thesaurus).
Por exemplo:
Característica.
1.esquelética___________________________________________

Opostos (antônimos):
Machão, amante
latino_______________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
________

Stand-Up Comedy – The BookPágina 62 Judy Carter


Característica 2.gorda_______________________________________________
__

Opostos (antônimos):
anoréxica_________________________________________________________
___
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
________

Agora, experimente você com seus próprios traços físicos:


(OBS.: Se você não tiver nenhum traço físico fora do normal, e a maioria
dos meus alunos não tem, simplesmente pule para o próximo exercício)

Característica 1._____________
___________________________________________

Opostos (antônimos):
__________________________________________________________________
____
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
________

Característica 2._____________
___________________________________________

Opostos (antônimos):
__________________________________________________________________
____
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
________

Característica 3._____________
___________________________________________

Stand-Up Comedy – The BookPágina 63 Judy Carter


Opostos (antônimos):
__________________________________________________________________
____
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
________

Ser sarcástico a respeito de seus próprios atributos físicos pode servir


como uma boa maneira de abrir o seu show. Escreva algumas linhas e veja
se alguns dos atributos escritos acima lembra algo engraçado para você. Se
a resposta for sim, tenha em mente para a sua abertura.

Seis Formulas adicionais de comédia

Cada trecho de seu material precisa ter uma preparação, um desfecho


e uma atitude. Estas seis fórmulas adicionais são opcionais. Elas são
ferramentas que lhe ajudarão a dar clareza e humor ao seu material.
As seis ferramentas adicionais são:
 Comparações
 Figuras de linguagem (metáforas)
 Observações
 Imitações
 Listas
 Bordões (call backs)

Comparações

Comparar um assunto a outro é simples e uma forma muito eficiente


de organizar o seu material. Por exemplo, se um dos seus tópicos é sobre
os seus pais, então compare a geração deles com a sua.

SETUP:(GERAÇÃO DOS PAIS)


“Meu pai tinha três empregos e freqüentava a escola à noite...”

PUNCH: (SUA GERAÇÃO)

Stand-Up Comedy – The BookPágina 64 Judy Carter


“... Se eu vou a lavanderia e ao banco no mesmo dia... eu
preciso de uma soneca.”
- Larry Miller

O cômico nascido na Rússia Yakov Smirnoff compara seu país aos Estados
Unidos:

SETUP: (COMEDIANTES AMERICANOS)


“Comediantes americanos podem dizer qualquer coisa que eles
quiserem...”

PUNCH: (COMEDIANTES RUSSOS)


“... Na Rússia, você tem que ser muito seletivo sobre que piadas
contar. Se você disser, ‘Leve minha mulher, por favor’, quando
você chegar em casa, ela desapareceu.”

Aqui, Lótus Weinstock compara suas convicções atuais com suas


convicções do passado:

SETUP:(PASSADO)
“Uma vez eu já quis mudar o mundo...”

PUNCH: (AGORA)
“... agora, eu só quero deixar este recinto com alguma
dignidade.”

Aqui, Bill Maher compara suas religiões:

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“Minha mãe é judia e meu pai é católico. Eu fui educado como
católico – com uma mente de judeu.”

PUNCH: (EXAGERO)
“... Quando eu vou me confessar, eu sempre levo meu advogado
comigo: ‘Me abençoe, Padre, porque eu pequei e acho que já
conhece meu advogado, Mr Cohen’.”

Mais uma vez, observe que em todas essas piadas, cada punch
(desfecho) é um exagero, uma torcida, ou uma mudança de direção da

Stand-Up Comedy – The BookPágina 65 Judy Carter


preparação (setup). A preparação (setup) é séria e lógica, e a preparação
(punch) revela a platéia que você está brincando. A preparação estabelece
a realidade coletiva e o desfecho (punch) comunica sua visão particular do
mundo, seu ponto de vista distinto.

Workshop # 19
COMPARAÇÕES

Neste exercício você vai escrever comparações usando alguns dos temas
listados nos exercícios do Capítulo 2. Estude com atenção as suas listas de
’Eu odeio’, ‘Eu me preocupo’ e ‘Eu tenho medo’ e veja se algum desses
tópicos que você listou poderiam ser conduzidos para esta fórmula. Por
exemplo, se você tinha ‘política’ em uma das suas listas, compare lados
opostos de uma discussão ou escola filosófica:

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“Liberals feel unworthy of their possessions...”

“Liberais sentem-se indignos de suas posses...”


“Liberais se sentem culpados de ter posses...”

PUNCH: (EXAGERO)
“... Conservatives fell they deserve everything they’ve stolen.”

“... Conservadores sentem que merecem tudo o que eles


roubaram.”
“... Conservadores se acham dignos de possuir tudo o que eles
roubaram.”

- Mort Sahl
Observe com atenção outros workshops no Capítulo 2. Se na sua lista
de características singulares você tem listado que você é uma mistura de
religiões e raças, então as compare:

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“Minha filha é metade negra e metade judia...”

PUNCH: (EXAGERO)

Stand-Up Comedy – The BookPágina 66 Judy Carter


“... isso quer dizer que se estivéssemos na Segunda Guerra
Mundial, ela teria que se esconder e limpara a casa.”

- A aluna Roseanne Katon

Agora, faça você. Procure nos exercícios do Capítulo 2 e veja quais os


tópicos se encaixariam nesta fórmula e preencha as lacunas:

1. Item da lista:
___________________________________________________
Um lado:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

Outro lado:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

2. Item da lista:
___________________________________________________
Um lado:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

Outro lado:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

3. Item da lista:
___________________________________________________
Um lado:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 67 Judy Carter


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

Outro lado:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

4. Item da lista:
___________________________________________________
Um lado:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

Outro lado:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

5. Item da lista:
___________________________________________________
Um lado:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

Outro lado:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________

Stand-Up Comedy – The BookPágina 68 Judy Carter


Se você empacou, esqueceu, aqui estão alguns tópicos adicionais que
você pode usar em comparações:
 Compare sua cidade natal com onde você vive agora
 Compare seus medos atuais com os medos que tinha quando era
pequeno, ou enquanto crescia
 Compare a geração dos seus pais com a sua
 Compare a vida de seu cachorro com a sua
 Compare as vantagens e desvantagens de ser casado, ou de ser
solteiro
 Compare sua vida sexual com a de sua avó.

Figuras de Linguagem – Metáforas - Analogia

“Sexo é como o ar...


... você não sente falta até que você não tenha.”

Uma metáfora é quando um objeto é comparado com outro. Na


comédia, analogias são ferramentas muito poderosas porque elas criam
imagens. Comediantes comparam o que eles estão falando com uma
referência comum da cultura popular, ou com uma experiência que todos nós
já tivemos. Analogias são geralmente introduzidas com um “Isto é como...”
Analogias podem ser usadas em uma preparação:

“There’s this guy sitting next to me... looks like a squid in strech
pants… So you know, I’m ready to spawn… so then, he starts
puffin’ on a cigar the size of God’s ego… And I said, ‘Excuse
me, but if I wanted to shorten my life, I’d date ya!’”

“Tem esse cara sentando perto de mim... que parece um polvo


dentro de calças de moleton... Então, vocês sabem, eu estou
pronta para ovular... Ai, ele começa a dar baforadas em um
cigarro do tamanho do ego de Deus... E, eu digo, ‘Me desculpe,
mas, se eu quisesse encurtar minha vida, eu sairia com você’.”

- Judy Tenuta

Ou, analogias podem ser utilizadas como o desfecho:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 69 Judy Carter


“A Princesa Di, ela cuidou direitinho da sua vida, não cuidou?
Esse Charles, ele é como um Cartão Gold Visa com orelhas.”

- Carol Montgomery

Estes são exemplos de boas analogias, onde o comediante cria uma


imagem extrema, absurda usando referências comuns. Eis alguns exemplos de
algumas analogias ruins.

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“In bathing suits, those Chippendale dancers look like they
have...”
“Em roupas de banho estes dançarinos de Chippendale parecem
ter...”

PUNCH: (DESFECHO SEM GRAÇA)


“... a large package.”
“... um grande pacote.”

Uma boa analogia pode realmente endireitar uma frase:

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“In bathing suits, those Chippendale dancers look like they
have...”
“Em roupas de banho estes dançarinos de Chippendale parecem
ter...”

PUNCH: (DESFECHO REVISADO)


“... a bag of marbles in Vaseline.”
“... uma bolsa de bolas de gude na valesina.”

Quanto mais fora do normal a comparação, mais engraçado poderá ser


o material. Pense em termos da criação de uma figura que leve a platéia a
uma mini viagem de ácido.

SETUP:
“Sexo quando você se casa é como ir ao 7-Eleven...”

PUNCH:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 70 Judy Carter


“... Não existe muita variedade, mas às três da manhã, está
sempre lá.”

- Carol Leifer

SETUP: (INFORMAÇÃO REALISTA)


“I put my clothes in the cleaners and then don’t have the money
to get them out again…”
“Eu coloquei minhas roupas para lavar e agora não tenho dinheiro
para tirá-las de lá novamente...”

PUNCH: (EXAGERO EXTREMO)


“... it’s like they’re in jail waiting on me to spring’em… I have to
go in there every so often and say, ‘Can I just see the
pants?’.”
“... É como se elas estivessem na cadeia esperando que eu as
libertasse... Eu tenho que ir lá com freqüência e digo, ‘Será que
posso ver pelo menos as calças?’.”

- Paula Poundstone

Workshop # 20
ANALOGIAS

Exercite suas mãos criando imagens por meio de analogias. Por


exemplo:

SETUP: Você está me encarando...


PUNCH: como uma lava lamp____________________________________

SETUP: A garçonete era tão lerda que ...


PUNCH: ela parecia uma lesma que tomou um valium __________

Stand-Up Comedy – The BookPágina 71 Judy Carter


Agora, tente você. Lembre-se que isto é apenas um exercício prático.
Anote qualquer coisa que lhe venha a cabeça. Não existem respostas certas
ou erradas.

1. Setup (preparação): Chicago é tão quente:


Punch (desfecho):

_________________________________________________________________

2. Setup (preparação): Minha mãe é tão gorda, ela parece::


Punch (desfecho):

_________________________________________________________________

3. Setup (preparação): Meu quarto é tão bagunçado, ele parece:


Punch (desfecho):

_________________________________________________________________

4. Setup (preparação): Sexo gostoso para Dr. Ruth é como:


Punch (desfecho):

_________________________________________________________________

5. Setup (preparação): Sexo gostoso para Dr. Ruth é como:


Punch (desfecho):

_________________________________________________________________

Eis algumas das analogias que alguns comediantes tem usado com as
preparações anteriores:

1. Setup (preparação): Chicago é tão quente:


Punch (desfecho):

É como o traseiro de alguém sobre o seu peito lambendo a sua


cara.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 72 Judy Carter


- A aluna Ellen Totleben

2. Setup (preparação): Minha mãe é tão gorda, ela parece::


Punch (desfecho):

Um Balão inflável na Parada do Dia de Ação de graças da Macy.


Shelley Winters e Orson Wells no mesmo vestido.

- A aluna Carrie Williams

3. Setup (preparação): Meu quarto é tão bagunçado, ele parece:


Punch (desfecho):

O lixão da cidade num dia calmo.


- A aluna Carrie Williams

4. Setup (preparação): Sexo gostoso para Dr. Ruth é como:


Punch (desfecho):

Um bom vinho com queijo cottage.

- George Wallace

5. Setup (preparação): Ela estava me olhando como:


Punch (desfecho):

Um mongolóide assistindo um número de mágica.

- David Spade

Observações do cotidiano

“Ever wonder why there’s a permanent-press selection on a


iron?”
“Morro de curiosidade de saber porque os ferro de passar tem
uma seleção para permanente?”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 73 Judy Carter


No dicionário, a definição para uma observação é “exame cuidadoso,
especialmente de fenômenos naturais.” Observações são onde o comediante
tenta dar sentido a um mundo que não faz sentido.

“Have you ever noticed that your garbage weighs more than your
groceries?”
“Você já notou que o seu lixo pesa mais do que os seus
mantimentos?”

É trabalho do comediante observar o mundo em que ele ou ela vive e


tecer comentários a respeito. Observações cômicas são observações
específicas vistas através de sua perspectiva única sobre até mesmo o mais
ordinário dos elementos das nossas vidas. Repare como as seguintes
observações são todas comentários a respeito dos absurdos encontrados em
nossa vida cotidiana:

“Have you ever notice that mice don’t have shoulders?”


“Você já notou alguma vez que os camundongos não tem
ombros?”
- George Carlin

“Why is it that in Seven Eleven stores, they’ve got $10,000


worth of cameras watching 20 cents worth of Twinkies?”
“O que é isso nas lojas do Seven Eleven, eles gastam 10 mil
dólares em um sistema de câmeras para vigiar chocolates de 20
centavos?”
- Jay Leno

“What is it about American fathers as they grow older that makes


them dress like flags from other countries?”
“O que há com os pais americanos a medida em que eles
envelhecem que faz com que eles se vistam como bandeiras de
outros países?”
- Cary Odes

“Did you ever notice when you blow in a dog’s face he gets
mad at you, but when you take him in a car, he sticks his head
out the window?”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 74 Judy Carter


“Você já reparou que quando você sopra na cara de um cachorro
ele fica furioso, mas quando você o leva para passear de carro,
ele estica a cabeça para fora da janela?”
- Steve Bluestein

Observações podem ser curtas, de uma linha apenas, mas é preferível


usar a observação como preparação e sua reação espontânea a observação
como o desfecho. Usando esta técnica, uma observação pode se estender
para criar uma rotina inteira, como no caso da rotina criativa de Jerry
Seinfeld a respeito das bolas de algodão:

SETUP: (OBSERVAÇÃO)
“Ladies, what’s the deal on cotton balls?”
“Senhoritas, qual é lance com as bolas de algodão?”

PUNCH: (REAÇÃO)
“... I have no cotton balls, I’m getting along just fine. I’ve never
had one, never bought one, never needed one, I’ve never been
in a situation where I thought to myself, ‘I could use a cotton
ball right now’.”
“... Eu não tenho bolas de algodão e estou lidando muito bem
com isso. Eu nunca tive, nunca comprei, nunca precisei de uma
bola de algodão. Eu nunca estive em uma situação onde eu
pensasse ‘Eu poderia usar uma bola de algodão nesse exato
momento’.”

SETUP: (OBSERVAÇÃO)
“… Women need millions of cotton balls every single day.”
“... Mulheres precisam de milhões de bolas de algodão, todo
santo dia.”

PUNCH: (ANALOGIA)
“... They buy these bags like peat moss bags, and two days
later they’re all out…”
“... Elas compram essas bolsas do tipo (peat moss bags), e
dois dias depois, elas estão completamente vazias.”

SETUP: (OBSERVAÇÃO)

Stand-Up Comedy – The BookPágina 75 Judy Carter


“… The only place I ever see them is at the bottom of your little
wastebasket…”
“... O único lugar onde eu as vejo é no topo daquelas suas
pequenas lixeirinhas.”

PUNCH: (REAÇÃO)
“... There’s always two or three that look like they’ve been
through some horrible experience…”
“... Há sempre duas ou três que parecem ter passado por uma
experiência horrível...”

SETUP: (OBSERVAÇÃO)
“… I once went out with a girl left a ziplock baggy of cotton
balls over my house…”
“... Uma vez, eu sai com uma garota que esqueceu na minha
casa uma bolsa de zíper cheia de bolas de algodão..”

PUNCH: (ANALOGIA)
“... I took them out and put them on the kitchen floor like little
tumbleweeds. I thought maybe the cockroaches would see it, figure
that this is a dead town, ‘let’s move on’.”
“... Eu tirei as bolas da bolsa e as coloquei no chão da cozinha
como se fossem pequenas bolas de feno (que vemos nesses
filmes antigos do velho oeste). Eu pensei que, talvez, as baratas
veriam aquilo e imaginassem que estivessem em uma cidade
fantasma, ‘Vamos para outro lugar’.”

“… Or when I go to the doctor, before he gives me the shot he


puts the alcohol on me with a cotton ball, so I give him one of
mine, just trying to get rid of it. Then he gives me the
prescription…”
“... Ou, quando eu vou ao medico, antes dele me aplicar a
injeção, ele põe um pouco de álcool em uma bola de algodão,
então, eu lhe daria uma das minhas, tentando me livrar logo
dela. Então, ele me dá o remédio...”

PUNCH: (ANALOGIA)
“... I take it home, open up the bottle, there’s another cotton ball
in there. You can’t get out of this rat race.”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 76 Judy Carter


“... Eu o levo para casa, abro o vidro e lá está outra bola de
algodão. Você não consegue sair deste círculo vicioso.”

Workshop # 21
OBSERVAÇÕES

Transformando o Cotidiano em Material de Comédia

Eu descobri que é simplesmente impossível sentar e escrever material


proveniente de observações. Observações são fragmentos de dados que
circulam através de seus pensamento enquanto você está envolvido no
cotidiano da vida. Carregue um caderno aonde você for e anote essas
observações no momento em que elas lhe ocorrem. Então, experimente-as
com as pessoas com a preparação: “Você já notou que...”
Pratique escrever observações sobre estes tópicos:

Observações sobre compras:


Você já notou que:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________

Observações sobre seu animal de estimação:


Você já notou que:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________

Observações sobre seu corpo:


Você já notou que:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Stand-Up Comedy – The BookPágina 77 Judy Carter
__________________________________________________________________
____________

Imitações

“... e deixe me apresentá-los ao meu alter ego.”

Imitação não significa ser Rich Little, quando você faz menção a
celebridades. Significa copiar, interpretar as pessoas sobre as quais você está
falando. Torne-se elas. Imite suas vozes, sua linguagem de corpo. Lembre-
se, stand-up é visualmente tediosa. Em muitos Clubes de Comédia tudo o
que a platéia tem para olhar é uma cortina preta, um foco de luz forte e
você. Desde o momento em que o visual dos Clubes parece ter sido
desenhado por Kafka, quanto mais vozes, expressões faciais e movimento de
corpo você trouxer para o seu ato, mais visualmente atrativo ele se tornará.
As pessoas adoram transformações. Ao invés de ficar falando sobre sua
mãe na terceira pessoa, fale sobre ela como se você fosse a sua mãe.
Interprete-a. Imite o seu estilo, postura e voz. Não precisa ser exatamente o
jeito que ela fala. A menos que ela seja uma estrela de cinema, ninguém
vai saber exatamente como é a voz da sua mãe. O aluno Howard Gluss
tinha escrito em sua lista de “coisas que eu odeio” que odiava o jeito de
sua mãe sair da cama. Ele estendeu isso a uma rotina histérica de
interpretação.
Você não tem que se limitar a imitar apenas pessoas. Se você está
falando sobre Deus, como minha aluna Loretta Colla fez, seja Deus:

“I wonder if God is chubby, his son is anorexic… Could


you imagine Him at an Overeaters Anonymous
meeting: (IN A DEEP VOICE-OVER) ‘Hi, my name is
God, and I’m an overeaters and overachiever’. ‘Hi,
God!”.
“Eu imagino se Deus fosse obeso, e seu filho anoréxico... Você
conseguiria imaginar Deus na reunião dos Comedores Compulsivos
Anônimos: (FAZENDO UMA VOZ SOTURNA) ‘Oi, meu nome é
Deus e eu sou um comedor compulsivo e um cara bem sucedido
demais’. ‘Oi, Deus!’.”.

A comediante Mônica Piper faz um bloco de piadas em que ela finge


ser seu cachorro examinando seus namorados:
Stand-Up Comedy – The BookPágina 78 Judy Carter
“So you got a job? Oh, yeah, how long? Eight-six to
eighty-eight? Okay, that’s fourteen years, that’s good.
You’re not one of those guys who just pretends to
throw a ball, are ya? I hate that. She didn’t give you
that line about you’re the only one, huh? Wish I had a
Milk Bone for every guy she’s dragged back here
(SNIFFING) Oh, I see you still got yours. She made me
get rid of mine.”
“Então, você tem um emprego? Oh, sim, há quanto tempo? De
oitenta e seis a oitenta e oito? Certo, quatorze anos, isso é bom
(?). Você não é um desses caras que apenas fingem que
jogam a bola, é? Eu odeio isso. Ela não disse pra você aquela
frase sobre você ser o único, hem? Quisera eu dar um ossinho
para cada sujeito que ela arrasta pra cá. (CHEIRANDO) Oh, eu
vejo que você ainda tem os seu. Ela fez com que eu me
livrasse do meu.”

Comunicar-se com a sua voz e seu corpo é uma técnica poderosa que
mostra imaginação.

Workshop # 22
IMITAÇÃO

Tornando-se outra pessoa.

Veja novamente seu material escrito ou gravado com vigor e muita


expressividade:
 Quem são as pessoas as quais você menciona?
 Interprete um dialogo com este pessoa.
 Transforme-se nelas, fisicamente e verbalmente:
o Como elas agiriam se estivessem com muita raiva/ Se elas
estivessem apaixonadas?
Stand-Up Comedy – The BookPágina 79 Judy Carter
o Como elas andam, comem?
o Que hábitos elas possuem que você possa imitar?

Fazer listas
Criar Listas Que Façam As Pessoas Rirem

Listas criam bons desfechos. Existem diferentes maneiras de você utilizar


as listas para fazer as pessoas rirem. A primeira maneira é com a “Lista de
Três”. A fórmula da comédia funciona da seguinte maneira: as duas primeiras
coisas da lista têm alguma coisa em comum (preparação) e a última é algo
inesperado (desfecho).
Por exemplo:

SETUP: (COMUM)
“Eu gosto de pensar em mim mesma como uma mulher de
influência européia: (1) maquiagem por Germaine Monteil (2)
unhas por Fabergé...”.

PUNCH: (INESPERADO)
“... (3) corpo por Häagen-Dazs”.

Na lista de três, a preparação inclui os dois primeiro itens da lista.


Eles são racionais e lógicos. O desfecho é o terceiro item, que é a
mudança de direção.

SETUP:(RACIONAL)
“Sendo árabe, eu tenho os mesmos interesses que vocês. Quando
eu vou comprar um carro, eu procura pelas mesmas coisas: (1)
cor (2) estilo...”.

PUNCH: (INESPERADO)
“... (3) quantos reféns cabem no porta-malas”.
- o aluno May Rahal

Workshop # 23
FAZER LISTAS
Stand-Up Comedy – The BookPágina 80 Judy Carter
Aqui está um exemplo tirado do material de começo de curso de um
dos meus alunos:

SETUP: (RACIONAL)
“Eu não consigo entender porque minha mulher me deixou: (1)
Talvez tenha sido porque eu largava minhas roupas pelo chão
(2) Talvez tenha sido porque eu deixava a tampa do vaso
levantada...”.

PUNCH: (NOT FUNNY)


“... (3) ou, talvez, tenha sido porque eu lia por horas trancado
no banheiro”.

O problema neste trecho é que o terceiro item não contrasta com os


dois primeiros. Desde que os dois primeiros são ordinários, para fazer
funcionar, o último item precisa ser significante. Sendo assim:

PUNCH: (NOT FUNNY)


“... (3) ou, talvez, tenha sido a aeromoça”.

Examine atentamente o seu material e veja se há algum desfecho que


possa ser quebrado em uma lista de três.

Referência / Bordões (Callbacks)

Um “call back” é quando você faz referência, mais tarde em seu


número, a algo que você disse anteriormente.
Ellen DeGeneres usa “call backs” em seu ato. No começo de sua
apresentação, ela faz uma série de piadas sobre a sua avó:

SETUP: (INFORMAÇÃO)
“Cachorros detestam quando você sopra na cara deles. Eu lhe
digo quem realmente detesta isso – minha avó...”.

PUNCH: (EXAGERO)
“... o que é estranho, porque quando nós estamos andando de
carro, ela adora esticar a sua cabeça para fora da janela”.
Stand-Up Comedy – The BookPágina 81 Judy Carter
Mais tarde, em seu ato, DeGeneres faz uma referência (um “call
back”) a sua avó.

SETUP: (INFORMAÇÃO / IMITAÇÃO)


“I think everybody has a philosophical side to them. I grew up
that way because of my grandmother. At a very young age she
said to me, ‘Life is like a blender. You have so many different
speeds, you have mix, blend, stir, puree, and you never use
them all. In life you have so many different abilities and you
never use them all.”
“Eu penso que todo mundo tem um lodo filosófico em relação a
si mesmo. Eu cresci deste jeito por causa da minha avó. Quando
eu era muito nova, ela me disse, ‘A vida é como um
liquidificador. Você tem tantas velocidades diferentes, misturar,
bater, agitar, purê, e você nunca usa todas elas. Na vida, você
tem tantas habilidades diferentes e você nunca usa todas elas.”.

PUNCH: (CALL BACK)


“I said, ‘Grandma’ and then I just blow in her face… I don’t
really like her.”
“... Eu disse, ‘Vó’, e então, simplesmente sopro na sua cara...
Eu não gosto dela, realmente.”

“Call Backs” são populares com a platéia porque eles ajudam o


comediante a desenvolver uma intimidade especial com o público. Sua mãe
está fazendo um “call back” toda vez que vocês estão juntos e ela lembra
da noite em que você queimou as suas panquecas. Ou, toda vez em que
você e seu primo estão juntos e você recorda (”call back”) como avó de
vocês esconde seu dinheiro na jarra de biscoitos.

Workshop # 22
CALLBACKS (BORDÕES)

Examine o seu material e veja se existe algum assunto, emoção, ou


frase que você possa usar em um “call back”, ou seja, como uma
referência reincidente, ou bordão.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 82 Judy Carter


Se você usar “call backs” (referências), lembre-se, a piada original
precisa ter obtido uma boa risada e funcionar sozinha. Se você puder
trabalhar alguns “call backs”, você descobrirá que a platéia realmente os
aprecia.

Uma Nota Final:


Você não tem que incorporar todas essas ferramentas em seu ato. E
acho que muitos alunos são mais bem sucedidos em uma técnica ou outra.
Você, talvez, descubra que faz listas, naturalmente, ou que a maioria do seu
material é de observações do dia a dia, ou que você fala em imagens.
Trabalhe repetidamente em seu material escrito e nas suas “digressões
a respeito dos seus tópicos” moldando e expandido-os por meio destas
ferramentas:

COMPARISONS
 Você tem assuntos onde pode ponderar dois lados?

ANALOGIAS
 Examine seu ato atentamente em busca de qualquer coisa que você
tenha mencionado – como a casa onde você cresceu, seu chefe,
qualquer coisa- e faça uma imagem e descreva, a partir de uma
analogia. Compare com alguma coisa bem visual e compreensível.
Adicione quantas analogias forem possíveis.

OBSERVAÇÕES
 Mantenha seus olhos abertos e observe os mais cotidianos absurdos da
vida.

IMITAÇÕES
 Se você menciona alguma pessoa, ou animal, ou mesmo objetos
inanimados, pratique transformar-se neles ao invés de falar sobre eles.
Teste as possibilidades de se tornar outras pessoas. Seu ato deveria
conter uma série de personagens de sua vida. Interprete-os. Você não
tem que ser um grande ator ou sentir qualquer coisa. Faça uma
caricatura deles. Divirta-se e grave o que sair de sua boca.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 83 Judy Carter


FAZER LISTAS
 Três é o número mágico na comédia.

“CALL BACKS” (REFERÊNCIAS)


 Faça referência a alguma coisa que você mencionou anteriormente em
seu número.

Resumo:

Até este momento você tem:


 Um esboço escrito de seu ato
 Seu material organizado no formato de preparação (setup) e desfecho
(punch).
 Todas as palavras desnecessárias apagadas.
 Seu ato construído a partir de uma ou mais dessas técnicas:
o Comparações
o Analogias
o Observações
o Imitações
o Listas
o “Call backs” (referências)

Parabéns por ter completado todos os exercícios até aqui. Relaxe, a


parte mais difícil já terminou, e o resto é velejar tranqüilamente. No próximo
capítulo você aprenderá vários estilos de comédia provenientes de alguns dos
maiores comediantes.
Capítulo 4

ADQUIRINDO ESTILO

Criando Seu Próprio Estilo

“Não outra galinha de borracha!”

Stand-Up Comedy – The BookPágina 84 Judy Carter


Até agora, nós mantivemos o foco na criação da stand-up a partir de
seus temas pessoais: descobrindo os assuntos do seu interesse, ou assuntos
que refletem o mundo que o cerca, formatando-os em preparação e
desfecho, e comunicando-os verbalmente para uma platéia. Puristas acreditam
que esta é a única forma de stand-up. Existem, entretanto, muitos
comediantes de sucesso que empregam outros estilos de comédias, incluindo:
 Adereços5.
 Humor político
 Imitações de pessoas famosas6
 Personagens
 Música

Eu comecei fazendo truques de mágica. No começo, eu estava


petrificada para falar com a platéia, então, eu me escondia atrás dos meus
adereços de mágica7. Rasgar um jornal, ter alguma coisa “para fazer”,
ajudava a reduzir o meu medo, mas era o truque que recebia os aplausos,
não eu. À medida que minha confiança crescia, eu comecei a criar truques
de mágica que eram a expressão de meus dilemas; truques que eram, de
fato, metáforas para o que estava acontecendo dentro de mim mesma. Tendo
obsessão por dietas, eu criei a “Levitação do Talo do Aipo”, que eu comia
enquanto ele flutuava. Como uma expressão da minha rebeldia, eu fazia o
desafio-mortal: “A Escapada da Cinta 8 da Minha Avó”. E durante meu
período de fúria, como meu número final, eu apresentava ”Serrando um
Homem ao Meio” com uma serra Black And Decker. À medida que os anos
passavam, entretanto, eu senti a necessidade de expressar sentimentos mais
complexos, sentimentos que não podiam ser expressos em truques de mágica.
Conseqüentemente, eu comecei a falar mais e fazer menos mágica. Então,
uma noite, eu subi ao palco totalmente desprovida de qualquer adereço 9. Isso
não foi resultado de um ato de coragem, ao invés disso, foi o resultado da
minha chegada ao clube, enquanto a minha mala ia para New Jersey.
Muitos comediantes de sucesso usam adereços. Gallagher fez uma
carreira a partir de melancias espatifadas com seu “sledge-amatic”. Bruce
Mahler usa uma galinha morta como um fantoche. O selvagem Gary Mule
Deer carrega uma lata de lixo cheia de adereços para o palco, incluindo:
uma galinha de borracha, uma máquina de escrever, um snorkel e

5
props
6
impressions
7
magic props
8
girdle
9
propless
Stand-Up Comedy – The BookPágina 85 Judy Carter
nadadeiras, um babador com a figura de uma lagosta gigante 10, um mata
moscas gigante, um cavalo de brinquedo, um rifle, montes de sapos de
brinquedo, o laço de uma forca, um cão empalhado, Dorito Chips (ele toca
guitarra com os salgadinhos), abacates de verdade, e hambúrgueres siameses
grudados a um bolo11. E isso é apenas para a abertura de cinco minutos do
seu ato.
Adereços podem enriquecer o seu ato, mas, utilizados de maneira
imprópria, eles podem ofuscar a pequena coisa em que você quer que a
platéia preste atenção: você. É você que precisa conquistar a risada, não o
adereço. Alguns comediantes iniciantes usam adereços para se esconder por
detrás deles, como se dissessem, “Não olhe para mim, olhe para estas
engenhocas”. Se você decidir usar adereços, lembre-se de que todas as
regras da stand-up ainda se aplicam. Não é suficiente segurar algum item
ridículo e dizer, “Isto não é estúpido?” Você precisa ter uma atitude a
respeito do que você está apresentando. A engenhoca tem que ter alguma
coisa a ver com você e sua visão da vida.

Humor Político

Se você está interessado em humor político, o jornal é a sua grande


fonte de material. Onde quer que a magnífica lente da mídia decida descer,
sempre haverá uma piada. O problema é que escrever material político neste
mundo de passos largos pode ser um exercício inútil; sua melhor risada pode
desaparecer a medida em que as manchetes mudam. Alguém pode estar na
mídia todos os dias por um mês e, duas semanas mais tarde, o nome dele
ou dela não ser sequer mais reconhecido. Você se recorda do nome do
candidato que concorreu à eleição com Gerald Ford?
Quando se está fazendo material rapidamente perecível, é necessário
encontrar um lugar onde você possa se apresentar semanalmente, quando
não, diariamente. O comediante político Will Durst trabalhava praticamente
todas as noites da semana, mudando seu número, diariamente.

“This is the same Justice Department that suspects the Teamsters


are linked to the mob. Suspects. They’re also inclined to believe
that fire is hot, but they’re note sure.”

10
a giant lobster bib
11
Siamese quarter-pounder hamburgers joined together at the bun
Stand-Up Comedy – The BookPágina 86 Judy Carter
“Este é o mesmo Departamento de Justiça que acha que o
Sindicato tem ligação com a máfia. Suspeitas. Eles também estão
inclinados a acreditar que o fogo é quente, mas eles não estão
absolutamente certos”.
- Will Durst

Durst sente que, se alguma coisa acontece e ele não lida com ela,
naquele dia, sobre o palco, ele é uma farsa como comediante social
contemporâneo.
Outros comediantes políticos eminentes incluem Dennis Miller do Saturday
Night Live, que faz uma sátira aos noticiários, e o comediante de sátira
política e pianista Mark Russell, que tem o seu próprio show no Russell
Hotel em Washington, D.C. assim como na National Public Television.
Além de escrever material atual, a maior parte dos comediantes de
sátira política tem um material básico e sólido de trinta minutos que pode
sobreviver ao teste do tempo e onde todas as regras da preparação e
desfecho ainda se aplicam.

SETUP: (INFORMATIVO)
“Charles Manson appeared at his latest parole hearing with a
swastika carved into his forhead...”
“Charles Manson se apresentou em sua última audiência da
condicional com uma suástica tatuada em sua testa...”

PUNCH: (RESPOSTA SARCÁSTICA)


“… what better way to show the board you’re putting your act
together?”
“… que jeito melhor de mostrar a comissão que você está
colocando a sua cabeça em ordem...”.

- Dennis Miller

Quando estiver fazendo humor político, lembre-se de que, não importa


o quão engraçado seja uma piada, para rir, a platéia precisa concordar com
seu ponto de vista político. Por exemplo:

SETUP: (INFORMATIVO)

Stand-Up Comedy – The BookPágina 87 Judy Carter


“I don’t understand these ‘Right-to-Lifers’. Have you noticed that
they are the same people who are for the death penalty? Now,
figure that?”
“... Eu não entendo estes caras que defendem o direito a vida
(e, por isso são contra o aborto)! Já reparou que eles são os
mesmos que defendem a pena de morte? Agora, imagine uma
coisa dessas?”

PUNCH: (EXAGERO)
(IMITANDO-OS) “… ‘save the fetus, wait until you’re sure it’s a
human being, then electrocute that bastard to death’!”
(IMITANDO-OS) “… ‘salvem o feto, esperem até ter certeza de
que ele é um ser humano, então, eletrocute o desgraçado até a
morte”.

Com esta piada, eu matei de rir a platéia em uma festa beneficente


em prol do movimento pelo Direito de Escolha (Pro-Choice) e consegui uns
apupos fora do palco num banquete Batista. Isto não significa que você
fundamenta seu material nas necessidades dos sentimentos da platéia. Ao
contrário, ser vaiada não me impediu de usar a piada do aborto. Eu descobri
que material polêmico pode não fazer a platéia rir, mas a desperta. Mark
Russell também acredita em assumir riscos: “... quando você é conhecido
como um sacana12, eles esperam não concordar com você. Eles querem esta
(carne vermelha) “red meat”.
Russell, que chama a si mesmo de um “ofensor dos direitos iguais”,
acredita que não há problema em aborrecer a platéia, desde que você bata
em ambos os lados de um dilema. Se você está se apresentando para um
grupo específico, tipo a Organização Nacional das Mulheres, ‘você pode
escapar com um material que aborda um ponto de vista de apenas um lado
da questão’13.

SETUP: (INFORMATIVO)
My mother is against abortion for another reason…”
“Minha mãe é contra o aborto por outra razão...”

PUNCH: (CONTRASTE)

12
satirist
13
you can get away with a one-sided slant to your material.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 88 Judy Carter


“… … she doesn’t fell it’s fair to kill the fetus and let the
father live”
“… ela não sente que seja justo matar o feto e deixar o pai
vivo”.
- John DeBillis

Para estabelecer credibilidade, um comediante político precisa descobrir o


equilíbrio em seu ponto de vista. Russell escreve material do mesmo modo
que a legislação é escrita: ele faz concessões, tira um pouco de um lado, e
um pouco do outro.
Johnny Carson é o mestre da opinião equilibrada. Se ele bate nos
Democratas, ele equilibra batendo também nos Republicanos. A platéia precisa
sentir uma noção de jogo limpo e Carson dá isso a ela. Entretanto, você
jamais encontrará Carson fazendo piadas que pegam pesado com dilemas
delicados tais como aborto, racismo, e assim por diante. Quando estiver
apresentando material político para a televisão, é necessário, freqüentemente,
fazê-lo de modo seguro agarrando-se a um material que está em sintonia
com a opinião nacional, tal como:

SETUP: (INFORMATIVO)
“Weight lifters are now taking steroids and male hormones…”
“Levantadores de peso estão, atualmente, tomando esteróides e
hormônios masculinos...”

PUNCH: (EXAGERO)
“… one guy had so much male hormone in him, he had to be
classified as an East German woman!”
“… um cara tinha tanto hormônio masculino dentro dele que ele
teve que ser classificado como uma mulher da Alemanha
Oriental”.
- Carl Wolfson

Esta piada irá funcionar na televisão porque ela ridiculariza um país


que, àquela época, era emocionalmente neutro. Se esta piada estivesse
ridicularizando Israel, por exemplo, ela teria tido momentos difíceis passando
pelos censores da rede de TV.
Do mesmo modo, um número político precisa estar equilibrado com
material sobre você. Se você vai criticar e atacar as imperfeições do
presidente, dê um tempo igual aos seus próprios defeitos. Um pouco de

Stand-Up Comedy – The BookPágina 89 Judy Carter


humor auto depreciativo faz com que você parece humano, falível para a
platéia e faz com que eles riam mais confortavelmente. Políticos usam esta
técnica porque eles sabem que ridicularizar as próprias falhas faz com que
eles pareçam mais humanos, e elegíveis.
Eu desencorajo novatos em stand-up a fazer humor político. É mais
fácil obter risadas com material baseado em seus dilemas pessoais. Quando
você está fazendo material a respeito de você mesmo, ninguém vai questionar
a sua credibilidade. Mas, quando você está fazendo humor político, não é
suficiente ter uma atitude forte. A menos que eles sejam Walter Conkite (um
famoso repórter político norte americano), comediantes de stand-up que
fazem comentários a respeito de outras pessoas precisam estabelecer suas
qualificações por meio de um material especialmente inteligente e habilmente
construído.

Dicas E Recomendações Para Fazer Humor Político

 Leia o jornal diariamente.


 Habitue-se a escrever algumas linhas todos os dias.
 Equilibre o seu ponto de vista.
 Tenha algum material que seja auto depreciativo.
 Mantenha um estoque de material que passe pelo teste do tempo.
 Nunca abra com o seu material novo. Abra com suas piadas infalíveis,
frases versáteis que você sabe que irão “prime the pump” e faça os rir
e, então, introduza as coisas novas.
 Organize o seu material no formato de preparação e desfecho.
 Se você está se apresentando fora da cidade, peça para que lhe
enviem antes matérias dos jornais, de maneira que você conheça quais
são os dilemas daquele local. Mark Russell descobre três ou quatro
coisas extremamente óbvias que estão acontecendo localmente – itens a
respeito dos quais a população da cidade está interessada, tais como
buracos nas rodovias, tráfego, as pequenas faltas do xerife, e daí por
diante.
 Saiba sobre o que você está falando.

Impressões14

14
Impressions: A humorous imitation of the voice and mannerisms of a famous person done by an entertainer.
(Impressões: uma imitação humorística da voz e maneirismo de uma pessoa famosa, feita por um artista).
Stand-Up Comedy – The BookPágina 90 Judy Carter
Impressionistas como Rich Little, Fred Travalena e Marilyn Michels obtém
seus aplausos da transformação de suas vozes, aparência e linguagem
corporal, na de celebridades que são instantaneamente reconhecidas.
Levando em conta que celebridades vem e vão, estes profissionais tem um
grupo de, no mínimo, setenta e cinco diferentes figuras públicas e estão
aprendendo novas vozes constantemente. A maioria dos impressionistas 15
copiará perfeitamente a voz de uma celebridade e aspectos físicos e as
colocará em situações inusitadas, como, “E se o Senhor Roger fosse
Presidente? Ou “E se John Wayne tivesse uma conversa com a Doutora
Ruth?”.
Paródias de filmes são muito populares com comediantes que fazem
figuras públicas. Michael interpreta O Mágico de Oz inteiro em três minutos e
“E o Vento Levou” em dois minutos, fazendo todos os papéis. Fred
Travalena faz um tributo ao Super-homem, onde Louis Lane é Doutora Ruth,
Jim Nabors é Jimmy Olson, e Super-Homem se transforma em Elvis Presley.
Impressionistas também imitam cantores. A estreante Valery Pappas faz
Cher, Liza Minelli, e uma imitação perfeita de Phoebe Snow cantando “The
Poetry Man”. Pappas cria suas “impressões” ouvindo uma canção uma vez
após outra, até que ela seja capaz de re-criar cada suspiro, cara nuance,
e, então, ela exagera isto. Pappa diz:“Impressionistas precisam acentuar as
qualidades peculiares das estrelas. Quando eu faço Liza Minnelli, eu exagero
o modo como ela se entusiasma e “torna aquela canção atrativa para a
platéia”16. Se Liza interpreta17 a canção em cinqüenta porcento, eu tenho que
torná-la atrativa em 100 porcento.
Existe também o nascimento recente 18 de uma “nova onda” de
‘impressionistas’ tais como Mark McCollum, ganhador de 100 mil dólares no
concurso Star Seach (Em Busca de uma Estrela), que saltou as usuais
caricaturas de estrelas, para imitar personagens de cartoons cantando músicas
de rock. Seu ato inclui Yosemite Sam à frente da Silver Bullet Band, a voz
profunda e cavernosa (foghorn) de Leghorn nascida para o rap, e Porky Pig
completa com reverb cantando alto e com vigor uma versão de Pride In The
Name Of Love, do U2.
Se você tem talento para o canto ou para “imitar pessoas famosas” 19,
faça as pessoas que são mais facilmente reconhecíveis. Você pode adicionar
algumas imitações obscuras apenas por diversão, mas imitar pessoas famosas

15
(comediantes que imitam pessoas públicas)
16
(sells it)
17
sells
18
hip Breed
19
(speaking impressions)
Stand-Up Comedy – The BookPágina 91 Judy Carter
é um negócio, e como qualquer outro, ‘você tem que fazer algo que as
pessoas possam identificar20’. Travalina sugere que novatos tenham uma
preferência especial pelas pessoas do dia de maior apelo popular (top Box-
office people of the day), e tentem descobrir os seus próprios cinco ou seis
que serão a sua especialidade. Deve ser desencorajador para um novato ver
“impressionistas” que tem visibilidade fazendo cinqüenta ou cem vozes e
pensar, “O que eu vou fazer? Há somente quatro ou cinco celebridades que
nenhum deles ainda faz e estes são aqueles que você vai dar preferência. É
deste jeito que você será notado“.
Você também não precisa ter o talento para imitar vozes para fazer
imitações de pessoas famosas. Existem comediantes que incorporam imitações
de objetos inanimados em seus números. Bill Kirchenbauer imita objetos
inanimados fazendo uma “impressão” histérica de um caminhão de lixo
barulhento às seis da manhã, assim como imita um chiclete sendo mascado
contorcendo seu corpo e terminando no acento de uma cadeira.
Você pode ter uma idéia desse tipo de “impressões” praticando
tornar-se coisas como:
 Um parquímetro
 Um cachorro numa casa velha
 Um par de óculos de sol barato conversando com um par de Ray-
Bans.
Uma vez que você ‘perca a sua inibição’21 em uma imitação, o elemento
mais importante se torna o comprometimento. Se comprometa totalmente a
sua imitação ‘se atirando nela com todo o seu ser’ 22.

Caracterizações (Personagens)

Fazer caracterizações é a mesma coisa que fazer imitações de


celebridades, exceto pelo fato de você imitar uma pessoa que não é famosa,
mas que, preferivelmente, seja um esteriópito que reconhecemos da vida
cotidiana: um nerd vendedor de linóleo, uma desorientada 23 Valley Girl, um
cara grosso em um bar de solteiros. Todos nos reconhecemos a Ernestine
de Lily Tomlin, a operadora de telefone ‘mau humorada’ 24, e a Fontaine de
Whoopi Goldberg, a drogada recuperada.
20
(you have to do something that people can relate to)
21
get down
22
jumping into it with all tour being
23
spacey
24
surley
Stand-Up Comedy – The BookPágina 92 Judy Carter
Muitos atores que fazem caracterizações discordam 25 do formato
preparação / desfecho. Tomlin interpreta suas caracterizações como se ela
estivesse fazendo a cena de uma peça. Como no teatro, existe uma parede
imaginária entre ela e a platéia. O personagem, em muitos casos, não
conversa com o público, como acontece na stand-up, mas, ao invés disso,
fala com outro personagem imaginário. Em razão da natureza teatral disto,
muitas pessoas que fazem caracterizações se apresentam em cenários 26
teatrais, mais preferivelmente do que em clubes de stand-up.
Quando você está fazendo um one-woman show (show de uma
mulher), como Tomlin faz, você se dá ao luxo de fazer longos trechos de
um personagem onde você tem tempo para criar momentos dramáticos. Para
um especial da HBO, Whoopi Goldberg permaneceu em sua personagem
Fontaine em toda à uma hora de show. Entretanto, em um clube de
comédia, o proprietário não está interessado em arte dramática. Ele está
interessado em manter seus clientes rindo. Por esta razão, comediantes de
stand-up que fazem caracterizações às mantém curtas e as ‘trabalham27
dentro de suas rotinas’. Robin Williams é um mestre nisso. Para um
segmento de três minutos em um “Comic Relief ’88” que discutia tudo sobre
o ‘contra-gate’ para o Golfo de Hormuz, Williams saltava de uma persona e
voz para outra, incluindo um apresentador de talk-show, um pastor de TV,
um chefe da máfia, Ollie North, Humphrey Bogart, um hippie ‘viajandão’ 28,
George Wallace, e um iraniano.

25
deviate
26
settings
27
weave them into their routine
28
zonked-out
Stand-Up Comedy – The BookPágina 93 Judy Carter
Usando Preparação e Desfecho (Setup-punch)

A fórmula da preparação e do desfecho ainda se aplica quando


fazemos caracterizações. A preparação, normalmente, inclui informação sobre a
personagem, e o desfecho é a interpretação deste personagem. Ir direto de
um personagem a outro, sem nenhuma preparação, às vezes, confunde a
platéia a respeito de quem está falando. Quando o comediante Joey Camen
introduz seu personagem racista, “Cliford Fletcher”, ele prepara seu
personagem com:

“I’m against racism, but I met this guy...”


“Eu sou contra o racismo, mas eu conheci esse cara…”

Com esta preparação, a platéia se dá conta de que não é Camen que


é racista, mas seu personagem ‘provinciano e conservador’ 29. Esta introdução
cria um contexto para o personagem criar vida. Durante a preparação você
se conecta com a audiência, o que é esperado em um Clube de Comédia,
e no desfecho, você interpreta o personagem, se desconectando da platéia.

Criando uma Personagem

Você pode descobrir personagens a partir de observação das pessoas


que você conhece, como um professor memorável, um membro da família, ou
a mulher por trás do caixa da lavanderia. Marsha Meyers, membro e criadora
do Grupo de Improvisação War Babies e professora de improvisação, sugere
que personagens podem se desenvolver a partir de um pensamento, uma
observação, ou uma idéia psicológica como “... este cara é exatamente como
o uma lâmpada incandescente”.
Você poderia fazer tudo o que o uma lâmpada de bulbo faria e
improvisar um personagem, muito elétrico, um tipo excêntrico.
Quando criar uma caracterização:
 Rotule em sua própria mente em que categoria o seu personagem
se encaixa ( isto é, mendiga, ciclista, bibliotecária, ...).
 Pergunte a você mesmo que maneirismos são típicos do
personagem que você escolheu. Por exemplo, se a sua

29
red·neck (rµd“nµk”) n. Offensive. Slang. 1. Used as a disparaging term for a member of the
white rural laboring class, especially in the southern United States. 2. One who is regarded as
having a provincial, conservative, often bigoted sociopolitical attitude.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 94 Judy Carter


personagem é uma bibliotecária, maneirismos típicos poderiam ser
o fato dela ser quieta, sistemática, e por ai vai.
 Dê ao seu personagem um exagero nos maneirismos que nós já
esperamos. Dê a ele, ou ela, um monte de características
excêntricas. Por exemplo, não apenas faça a bibliotecária do tipo
quieta, mas ela ficar com enxaqueca mesmo com a queda de um
alfinete.
 Descubra maneirismos excêntricos30 e frases que você possa usar
como bordão (referência) 31. Por exemplo, todos nós
32
reconhecemos a frase “Oh, com certeza!” da ‘Garota do
33 34
Vale’ , ou a risada impertinente de Ernestine.
 Dê um ponto de vista ao seu personagem. ‘Faça uma ligação’ 35
dos maneirismos do seu personagem com um dilema. Por
exemplo, e se um ciclista entra em uma biblioteca? Qual é a
opinião da bibliotecária a respeito do ciclista e como isso poderia
mudar o seu comportamento? Você precisa saber como o seu
personagem se sente a respeito de diferentes assuntos, e é
importante ser específico.
o Em quem ele ou ela votaria?
o Qual é a sua religião? Etc.
o Como ele ou ela se comporta em diferentes situações?
o Onde ele ou ela mora?
o Com quem ele ou ela está falando?

Chynthia Szigeti, que dá aulas de improvisação na Groundlings


Improvisational School, de Los Angeles, lugar onde nasceram Pee-Wee
Herman, Laraine Newman, e Phil Hartman, do Saturday Night Live, ajuda
seus alunos a criarem personagens fazendo o que ela chama “Exercício de
Ruminação”:
 Sente-se em uma cadeira e faça o seu personagem falando como ele
tão rápido quanto possível, sem pensar e sem pausas.
 Diga tudo o que você sabe a respeito de seu personagem. Se o que
você tem a dizer se esgotar, simplesmente, prossiga falando. Depois de
cinco minutos, você muito provavelmente terá consumido todo o seu
material.

30
quirky
31
call backs
32
“Oh, for sure!”
33
“Valley Girl”
34
snortty
35
hook up
Stand-Up Comedy – The BookPágina 95 Judy Carter
De acordo com Szigeti, é quando você esgota o seu material, que o seu
personagem começa a falar e quando as boas coisas surgem. Algumas
vezes, é como se você estivesse se “transmutando”36 naquela pessoa.

Música

Paródias, quando um comediante coloca uma nova letra em uma canção


reconhecida, são uma grande maneira de fazer as pessoas rirem. Dale
Gonyea (cantor, compositor e comediante), um jovem Victor Borge,
conseguiria boas risadas mudando:

“You must remember this, a kiss is still a kiss.”


“Você tem de lembrar-se disso, um beijo é sempre um beijo.”
Para:

“You must remember this, a quiche is still a quiche”


“Você tem de lembrar-se disso, um queijo é sempre um queijo.”

E em suas mãos, “Downtown” se torna “Groundround”.


Paródias de canções, entretanto, são profissionalmente limitadas porque
você nunca será o autor delas, deste modo, você não poderá fazê-las na
TV. Mais tarde, em sua carreira, Gonyea descobriu que ele precisava surgir
com canções totalmente originais, assim como as letras. Aqui está um trecho
de sua canção original “Name Dropping”:

“Is Shelley Long or Short? Was John Gielgud Good all day?
What did Ernest Heming Weight? Is Glenn Close? Is Jamie Farr?
Did Tommie Tune his own guitar? And what did Stevie Wonder?”

Um aluno, Jessie Goldberg, descobriu que cantar era a melhor maneira de


expressar a sua simpatia por sua ex-mulher em sua canção, “Tudo de bom
pra você”37:

“I hope you get fat, and get wrinkles on your face. And you lose
all your hair and your teeth fall out of place.

36
transchanneling
37
“All the Best to You”
Stand-Up Comedy – The BookPágina 96 Judy Carter
And I hope that you fail in everything you do. Otherwise ll the
best to you.”
“Espero que você engorde, e que rugas em seu rosto cresçam.
Que seus dentes caiam da boca e seus cabelos desapareçam.
Desejo que em tudo o que fizer, você fracasse pra valer. Por
outro lado, eu desejo tudo de bom para você”.

Se você tem um talento musical, incorpore isso em seu ato. Os pais


de Judy Tenuta lhe compraram um acordeão e aulas de um vendedor de
porta em porta, quando ela era uma criança; agora, ela usa-o em seu
número, batendo nas teclas para enfatizar:

“He Said, ‘Judy, Judy, I must possess you’ – ta da da – he


had an accordion, too.”
“Ele disse, ‘Judy, Judy, você tem de ser minha’ – ta da da -
um acordeão ele também tinha”.

E Tenuta canta canções off-kilter, como a Country & Western em


tributo ao papa:

“I just want a cowboy in a long white silky dress.”


“Eu apenas quero um vaqueiro em um longo vestido branco de
seda”.

Charlie Fleischer toca instrumentos de música abstratos inventados por


ele mesmo e termina o seu ato tocando a Quinta de Beethoven... em uma
harmônica.
Então, eis aqui a chance de, finalmente, fazer aquelas aulas de oboé 38
valerem a pena. Tire-o de dentro do armário e veja se pode encaixá-lo em
seu ato.

39
Descobrindo o seu ’Dom’

Mais cedo ou mais tarde, meus alunos automaticamente gravitam para o


seu dom “cármico”. Não é como se eles tivessem feito uma escolha

38
French horn
39
schtick
Stand-Up Comedy – The BookPágina 97 Judy Carter
intelectual sobre se eles querem usar adereços ou cantar em seus atos. Isso
se desenvolve naturalmente. Quase como se eles não pudessem evitar. Um
aluno escolhia adereços no seu caminho para a aula. No momento em que
ele chegava na classe, ele tinha uma sacola de papel repleta de coisas
esquisitas e intenções40 que ele não podia esperar para nos mostrar. Outra
aluna, apenas fazia comentários sobre coisas que ela lia nos jornais,
enquanto outra aluna, não importava o quanto ela resistisse, continuava
fazendo caracterizações.
Seu estilo é normalmente formado na infância e você não pode escapar
dele. Quando criança, Charilie Fleischer era bom em arte, então, em seu
ato, ele dava vozes para as suas esculturas em “foam rubber”. Arco e
flecha era a única coisa em que Gary Mule Deer tirou um ‘A’ no colégio.
Isto se tornou o encerramento do seu show, quando ele usava sua guitarra
como um arco e flecha para acertar um cigarro aceso na boca de uma
galinha de borracha. Mark Russell começou tocando piano quando criança, em
Washington, D.C., então, era natural que ele prosseguisse tocando piano
em um hotel do outro lado da rua do Senado e conversar sobre o que
estava acontecendo no congresso dos EUA41. Victoria Jackson fez uma
primeira aparição explosiva no Tonight Show, fazendo material acompanhado
por números muito hábeis de ginástica, que ela aprendeu quando era criança.
Ao invés de tentar escapar da sua infância, abrace-a e coloque-a em seu
ato.
Se até este ponto você não está certo de que coisas deve incorporar
ao seu númerop, não se preocupe. Seu estilo será revelado a você. É uma
descoberta de quem você já é – do que você foi moldado 42 para fazer. Este
processo de descoberta pode acontecer do dia para a noite, ou, mais
comumente, pode levar meses ou anos.

Resumo

Não seja rápido demais para rotular ou limitar você mesmo. Muitos
comediantes fazem do jeito mais simples, usando o formato da preparação e
desfecho básico. De todo jeito, não lute contra as suas tendências naturais.
Se você tem um desejo de tocar tuba, fazer cantos de passarinhos, cantar
uma canção, ou passar roupas, faça.

40
ends
41
Capitol Hill
42
cut out
Stand-Up Comedy – The BookPágina 98 Judy Carter
Seja paciente, seja verdadeiro com você mesmo, siga as suas
inclinações naturais, e seus dons divinos se revelarão para você.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 99 Judy Carter


Capítulo 5

GETTING IT READY

Sua abertura é a parte mais importante do seu ato. Dentro de dez


segundos a platéia irá se decidir se gosta ou não de você. Se você criar
uma má primeira impressão, você gastará o resto de seu ato tentando
consertar os estragos.
Uma boa abertura conecta você com a platéia. Uma boa abertura tem os
pés da realidade. Aqui estão algumas considerações no momento da escolha
de seu número de abertura.

 Faça um comentário sobre algo que é verdadeiramente perceptível em


você, como um nariz grande, cabelos rebeldes, e daí por diante. Tente
abrir o seu ato com um dos itens da sua lista de características
físicas.

“Eu estou preocupado que o meu cabelo cresça, fique maior do que
eu e me leve a lugares onde eu não quero ir...”.

- da estudante Jennifer Heath

 Abra com alguma coisa que reflita sua “persona”. Uma boa abertura
define quem você é e permite a platéia saber o que ela pode esperar.
Um número de uma de minhas alunas era sobre sua vida noturna.

“Oh, um banquinho de bar... Me sinto como se estivesse em casa”.

Se você fará truques de mágica, comece com um troque. Se você irá


demonstrar fúria, na maior parte de seu ato, comece sendo raivoso. Por
exemplo, Judy Tenuta abre seu ato berrando:

“Olá, porcos!”.

A abertura rude e corajosa de Tenuta prepara a audiência para a sua marca


de humor irreverente e hostil.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 100 Judy Carter


 Se você não consegue encontrar nada óbvio a seu respeito, abra com
alguma coisa que é óbvia para a platéia. Um comediante para uma
platéia pequena:

“Vocês todos vieram no mesmo carro?”

Quando eu percebi que estava atuando para uma platéia somente de


brancos, eu abri com:

“Olá, gente, não somos todos caucasianos?”.

Abra com um tópico que você e a platéia tenham em comum, como a


cidade onde você vive, o tráfego de lá, a comida do clube, e assim por
diante.
Quando Robin Williams atuou no Metropolitan Opera House, ele abriu
seu ato comentando sobre o enorme candelabro que a platéia podia ver
levantando os olhos para o teto.

“I would like to thank Imelda Marcos for her earings. I wonder if


Pavarotti is over at the Improv going ‘Two Jews walked into a
bar’… ”
“Eu gostaria de agradecer a Imelda Marcos pelos seus brincos.
Eu imagino se o Pavarotti terminasse uma apresentação no
Improv43 mandando aquela piada dos dois portugues...”

“Olá, Santa Fé, eu gosto de sua cidade! O uniforme da polícia


daqui lembra o da assistência técnica da Brastemp! Eles mandam
você encostar e você diz: O que? Minha geladeira quebrou de
novo?”.

- Paul Rodrigues

Comece seu ato com alguma coisa corriqueira da vida daquelas


pessoas, algo que acabou de acontecer (ou, você pode fingir que acabou
de acontecer). Por exemplo, se você está fazendo uma rotina sobre o
tráfego, diga que isto aconteceu no caminho para o clube, naquela noite.

43
nome de um Clube de Stand-up nos Estados Unidos.
Stand-Up Comedy – The BookPágina 101 Judy Carter
“No caminha pra cá, na Via Expressa de Hollywood, eu vi uma
placa indicando: ‘Instituto de Braile – próxima saída à direita’.
Agora, para quem é esta placa? Ela cria um terrível
engarrafamento. Há cantores de blues, cachorros e bengalas por
toda a estrada”.

- Arsênio Hall

 Não comece com Hitler. Isso deixa as pessoas de mau humor. Guarde
assuntos controversos para mais tarde, quando a platéia estiver com
você.
 Não comece com ‘Ei, como estão todos vocês?’ Há tantas maneiras
originais de começar um ato, por que começar com um clichê?
 Não comece com “Ei, esta coisa está ligada?” Ou... “É tão claro
aqui”. Ou... “Rapaz, eu estou nervoso.” Chamar a atenção para seus
medos no começo de sua apresentação fará somente com que eles
aumentem a medida em que você prosseguir. Isso deixa todo mundo
do lugar nervoso.
 Não comece com um material que dará a platéia uma falsa impressão
a seu respeito (sobre quem você é). Uma de minhas alunas começou
sua apresentação com uma atitude durona e muito agressiva, que lhe
rendeu uma boa risada. Entretanto, ela perdeu a platéia porque o
grosso de seu material não era agressivo, mas simpáticas e refinadas
observações sobre ser mãe. Então, não dê a platéia uma falsa
expectativa. Abra com algo que você possa manter pelo resto da sua
apresentação.
 NÃO abra sua apresentação com material referente a sexo. Você não
quer que a platéia chegue ao clímax nos seus primeiros dez segundos
e, depois, adormeça pelo resto do seu número.

Além disso, saiba qual é a sua atitude. Manter o foco em como você se
sente a respeito do que você está falando ajudará você a superar o medo
do palco e atravessar essa parte difícil de seu número.

Workshop # 25
A ABERTURA

Stand-Up Comedy – The BookPágina 102 Judy Carter


Pesquise seu material e selecione o melhor material possível para uma
abertura:

 Material a respeito de sua aparência física


 Material que reflita a sua persona.
 Material sobre a platéia.
 Material sobre um tópico comum, cotidiano.
 Material sobre alguma coisa que tenha muito a ver com a sua vida.

Esboce seu material de abertura aqui:

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A respeito das Transições

Não se preocupe com transições. O tempo na TV é tão precioso que


um comediante precisa se mover de um pensamento para outro sem perder
tempo com transições estúpidas como:

“E, falando de bananas, eu estava no mercado outro dia e...”

Na América, nós somos tão sofisticados em relação as stand-ups que


a platéia reconhece quando um comediante está fazendo uma transição e isso
soa artificial. Letterman e Carson tiram sarro deles mesmos quando eles
fazem transições. As próprias transições têm se tornado piadas elas mesmas.
Como diz o comediante Barry Sobel:

Stand-Up Comedy – The BookPágina 103 Judy Carter


“Platéia tola, transições são para crianças.”

Na vida real, as pessoas pulam de um assunto para outro na medida


em que os pensamentos lhes ocorrem. Uma mulher pode falar sobre seu
cachorro doente e, no meio da frase, lembrar-se que tem de passar na
lavanderia. De repente, mudar de tópicos é o que proporciona um engraçado
e inesperado nonsense. Pense no que acontece quando uma bola quica em
uma parede. Ela vai a uma direção e, então, abruptamente, muda para uma
outra direção. Minha aluna, Patty Louise Iacobello, pula de um tópico a
respeito de ser uma católica piranha, para falar “Ei, saio com um sem-teto”
e, de repente, diz “Certo... agora eu gostaria de cantar uma canção...”
Num quadro na TV, o comediante selvagem Bobcat Goldthwait fez seu
monólogo sobre uma cama de ‘carvão em brasa’ 44 com um pedaço de carne
crua amarrado em seu tornozelo:

“Dois caras entrando em um bar... aiiee!”

Depois da rápida performance, Bobcat abriu um leve sorriso e, sem


nenhuma transição, continuou:

“Deus me disse que me daria oito milhões de dólares se eu matasse


Oral Roberts.”

Você descobrirá que certos tópicos naturalmente conduzem a outros. De


qualquer maneira, se eles não conduzirem, não force a barra. Termine um
bloco de piadas. Pare... respire, e comece um novo tópico com energia e
entusiasmo.

The Set List45

Agora que você já tem a sua abertura, o meio do seu material deve
ser organizado em uma set list: uma lista com a ordem de suas piadas.
Uma lista de sets é uma lista de palavras chave de sua apresentação. Assim
como os músicos fazem com a lista de canções que eles cantarão,
comediantes fazem uma lista dos blocos de piadas que eles planejam contar:
“Primeiro, eu vou falar sobre encontros, então, vou falar sobre ficar velho...”

44
Hot coals
45
um pedaço de papel onde está a ordem de suas piadas
Stand-Up Comedy – The BookPágina 104 Judy Carter
A lista de sets é uma maneira rápida e pessoal de um comediante ter
uma palavra ou frase que, quando é olhada por ele, lhe faz lembrar
imediatamente do seu ato. Muitos comediantes organizam seu material por
assuntos. Quando você ensaiar seu material, você descobrirá que certos
tópicos naturalmente se movem para outros tópicos. Eu sugiro começar com
os tópicos menos pessoais e terminar com os mais pessoais. Lembre-se,
entretanto, que todo o seu material deve ser a respeito de você.
Aqui está uma velha lista de sets de uma apresentação para um show de
15 minutos:

Namoro
Medo de dormir sozinha
Namoro pelo computador
Cão
Ficar velha
Ginástica
Cinderela
Relacionamentos

Eu comecei com um bloco de piadas sobre namoro porque havia muitos


casais na platéia e minha falta de sucesso em encontros amorosos é uma
introdução natural para o meu bloco a respeito de dormir sozinha.

“Assim que eu apago as luzes, minha casa se transforma em um


livro do Stephen King. Eu penso que há um homem em baixo da
cama, um homem escondido no armário, um homem atrás da
porta. Eu quero dizer, onde eles estavam na noite do baile de
formatura, quando eu precisava?”.

E, então, eu faço um pequeno pedaço sobre meu frustrado namoro


pelo computador.

“... ele tinha um ‘Wang’ realmente legal e eu era ‘user friendly’


a respeito disso, mas eu precisava de um cara com um hard
disk, nada desse negócio de disco flexível!”.

Logicamente, isso me levava a minha preocupação a respeito de meu


relacionamento com o meu cachorro.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 105 Judy Carter


“Talvez, eu seja de duas espécies. E estou lendo um livro...
Mulheres Que Amam Demais os Seus Cães...”

E daqui, eu viajo até a minha preocupação em ficar velha.

“... um dia eu vou acordar e, não importa quão quente esteja,


eu vou querer usar um casaco...”

Então, eu faço um pedaço sobre ginástica onde eu falo como estou


lutando contra o envelhecimento, mas:

“Essas academias são todas freqüentadas por ambos os sexos,


você tem de usar um diafragma para entrar na jacuzzi 46. Uma
garota ficou grávida no aparelho para as coxas”.

Nesse ponto, eu sinto que a platéia me conhece melhor e eu me torno


mais íntima, como quando eu falo sobre meu desejo de encontrar um bom
relacionamento e meus desapontamentos:

“Cinderela mentiu para nós. Deveria existir um ‘Betty Ford Center’


onde eles desprogramassem você te colocando em uma cadeira
elétrica. Toca ‘Algum Dia Meu Príncipe Virá’, te dão um choque
e vem, ‘Ninguém virá... Ninguém virá... Ninguém Virá...”

DICAS NA HORA DE USAR A SUA ‘SET LIST’

 Organize a sua lista de modo que os assuntos fiquem cada vez mais
pessoais.
Ficar em frente de uma platéia é como sair em um primeiro encontro.
Eles não conhecem você, então não os afugente abrindo seu show com uma
rotina sobre seus pelos pubianos. Muitos comediantes preferem organizar seus
números numa ordem crescente de intimidade. Comece com tópicos seguros
como coisas referentes ao trabalho, namoro, comida, e assim por diante.
Então, a medida em que você e a platéia se conhecem, prossiga com
tópicos mais pessoais como relacionamentos e sexo.

 Não leve a sua lista para o palco.

46
banheira de água quente.
Stand-Up Comedy – The BookPágina 106 Judy Carter
A não ser quando os comediantes estão testando material novo, eles
raramente levam suas listas para o palco. Uma aluna estava tão preocupada
em esquecer seu número que ela escreveu a sua lista de piadas na palma
de sua mão. O único problema é que ela suava tanto que gastou a maior
parte de sua apresentação tentando ler a palma da mão. Uma platéia que
paga um “couver” e dois drinques no mínimo gostaria de pensar que o
comediante fez um esforço para memorizar seu número. Seria como assistir
a uma sitcom com os atores segurando seus roteiros. Só por desencargo de
consciência, eu sempre escrevo minha lista poucas horas antes de eu
começar, escolhendo que material eu quero fazer aquela noite e onde colocar
as coisas novas.

 Use a lista de piadas como uma ferramenta de memorização.


Geralmente, só o ato de escrever a minha lista de blocos de piadas me
ajuda a lembrar meu número e me dá uma idéia geral da ordem do material
porque isso me força a visualizar meus blocos de piadas. Anotar as palavras
código da minha apresentação envia uma imagem ao meu cérebro do meu
ato inteiro.
Organizar o material de acordo com o fluir lógico da sua emoção faz com
que memorizar a ordem seja quase desnecessário. Você pode ver, a partir
da minha lista, como cada assunto está conectado emocionalmente com o
que veio antes. Minha lista é desenhada a partir da maneira como meu
cérebro relaciona as minhas preocupações a respeito das coisas. É muito
natural para mim, ir da minha preocupação a respeito de não namorar, para
a minha preocupação sobre dormir sozinha. As palavras código da lista,
então, acionam o gatilho da memória para o que eu já sei instintivamente.

 Você não tem que ser perfeito.


Eu nunca segui a minha lista ao pé da letra. Existem sempre coisas que
surgem inesperadamente da minha boca e coisas que eu edito enquanto eu
faço minha performance. A lista é uma sugestão de rota, mas não fique
acorrentado a ela. O caminho mais curto de Los Angeles para São Francisco
é a Interestadual 5. Mas, seja um viajante que deseja sair da estrada
principal e pegar desvios. Mesmo que você saiba para onde está indo e
você tenha mapeado o melhor caminho para chegar lá, aproveite a
oportunidade para explorar as estradas remotas. Quando você se perder, você
saberá que pode sempre voltar para a estrada principal e atingir o seu
destino.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 107 Judy Carter


Workshop # 26
SUA LISTA DE SETS

Limitando-se a uma palavra ou frase, anote os tópicos de sua


performance.

Primeiro Esboço

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Agora, reorganize seu material indo do menos íntimo para o mais


pessoal. Não force a barra para que os tópicos se relacionem uns com os
outros, a não ser que eles se conectem naturalmente. Lembre-se, você pode
saltar de um tópico para outro.

Segundo Esboço

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Stand-Up Comedy – The BookPágina 108 Judy Carter


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Agora, para fixar a lista de sets na sua cabeça, acomode-se


confortavelmente, feche os olhos e imagine uma platéia na sua frente. Sem
olhar para nenhuma anotação, comece a fazer o seu número e deixe a
ordem de seu material surgir, naturalmente.

Escreva o último tratamento da sua lista de sets aqui:

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Stand-Up Comedy – The BookPágina 109 Judy Carter


O Fechamento

“Deixe-os rindo...”

Você precisará modificar a sua lista de sets de maneira que o material


que você sabe que irá arrasar esteja no final de sua apresentação. Se você
está perto do final de seu número e receber uma grande gargalhada, saia do
palco. Alguns comediantes recebem uma boa gargalhada perto do final de
seus números, então, tentam superar aquela piada e acabam com uma
“queda”47. Deixe-os querendo mais. Ao invés de fazer tudo o que está na
sua lista, se você obtiver uma grande gargalhada perto do fim do show, diga
“Obrigada e boa noite”, e saia correndo dali.

Workshop # 27
O FECHAMENTO

Qual material você acredita que obterá a maior risada? Anote-o aqui:

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Já que é difícil saber exatamente quão longo será o seu número e que
partes arrancarão as reações mais animadas, é melhor estar preparado para

47
thud
Stand-Up Comedy – The BookPágina 110 Judy Carter
dois finais diferentes, um mais cedo que o outro. Nesse caso, quando seu
tempo acabar, você pode encerrar com uma risada e não ter que correr
atrás da “grande risada” antes que o seu tempo se esgote.
Possíveis finais de antecipação:
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Como Ensaiar Seu Ato

“Hey, mãe, escute essa.”

Muitos comediantes não ensaiam seus números. Apesar deles


escreverem seu material, eles esperam estar diante de uma platéia para
dizê-lo em público.
Jerry Seinfeld sente que não há necessidade alguma para ensaios, que
você tem que aprender a moldar o material à sua platéia e não há nada
que você possa fazer por sua conta. De acordo com Seinfeld, “Uma boa
apresentação cômica não é um monólogo, é um diálogo e a platéia faz
parte, e você tem que equilibrar os dois juntos”.
Minha sugestão para iniciantes é memorizar seu número atuando com
atitude e sentimento em frente a seu “parceiro na comédia” (comedy
buddy) e não em frente a um espelho.
O maior medo de um “performer” é que ele ou ela esqueça seu ato.
Conseqüentemente, a partir deste medo, comediantes memorizam demais o
seu material e tornam-se comediantes robôs. Não importa o que aconteça
sobre o palco, eles atuam como planejado. A garçonete derrubou uma
Stand-Up Comedy – The BookPágina 111 Judy Carter
bandeja de drinques, os cliente estão fazendo uma guerra de comida, e o
microfone falhou, ainda assim, o “performer” prossegue como se nada
estivesse acontecendo. Ser perfeito talvez faça você receber um “A” em
álgebra, mas ser perfeito não tem nada a ver com ser engraçado. Algumas
vezes, a melhor parte do número de um comediante é quando ele esquece
o texto. As pessoas adoram observar outras pessoas em situações
constrangedoras. Por que você pensa que as pessoas pagam para assistir
acrobatas se equilibrando em uma corda? É a possibilidade de que eles
caiam que nos mantém ligados. Um bom equilibrista da corda bamba fingirá
perder o equilíbrio somente para deixar a platéia mais excitada.
Memorize o seu material, mas, sempre desejando livrar-se dele para
que você possa lidar com o que está acontecendo no momento.
Lembre-se:

NÃO teste material com parentes. Você não praticaria um striptease com
o seu bibliotecário. Não pratique stand-up com a sua mãe.

TESTE seu material com o seu companheiro de comédia (comedy


buddy), ou, colocando sutilmente no meio de uma conversa, mas
nunca deixe ninguém saber que você está testando o seu material.
Material que arrasa em uma cozinha, pode fracassar em um clube.

NÃO ensaie o seu material sem, primeiro, entrar em contato com a


sua atitude e visualizar o que você está dizendo. Se você não fizer
isto, seu material vai soar como coleção de palavras sem vida. As
pessoas não respondem a palavras simplesmente; eles reagem a
sentimentos e as imagens por trás das palavras. A imaginação é uma
ferramenta poderosa. Isso obriga você a vivenciar sobre o que você
está falando. A primeira vez que você conta uma história, você,
naturalmente, cria uma imagem na medida em que você a relembra. A
segunda vez em que você conta a história você, provavelmente, estará
mais concentrado em tentar conseguir uma reação e menos em tentar
entrar em contato com os seus próprios sentimentos. Você estará mais
focado em seus sentimentos se você visualizar sobre o que você está
falando. Isso manterá o seu material vivo e espontâneo.

NÃO ensaie demais. Conheça o seu material, mas não o molde em


concreto, porque você terá de modificar seu número dependendo da
platéia. Você não está se apresentando no vácuo. Coisas que estão

Stand-Up Comedy – The BookPágina 112 Judy Carter


além do seu controle acontecerão. Na vida real, pessoas da platéia
falarão com você. A garçonete derrubará copos. Você precisa querer
deixar seu material aberto, talvez, abandonar alguma coisa que você
planejou para responder as circunstâncias imediatas.

Eu aprendi isso da maneira mais difícil. Eu fui convidada para atuar em


um acampamento para crianças deficientes. Eu estava nervosa por ter de
atuar para crianças. Como diz o comediante que faz mágicas, Tom Mullica:
“Atuar para crianças é como atravessar um safári de leões vestindo um
pedaço de carne”.
A partir do momento em que eu não tinha nenhum material apropriado
para crianças, eu decidi fazer mais truques de mágicas. Eu ensaiei e ensaiei.
Eu cheguei ao acampamento, muito preparada, até descobrir que era um
acampamento para crianças cegas. Demais para os meus truques de mágica.
Eu subi no palco e disse para a platéia que eu estava lá semi nua e
comentei sobre o frio que estava fazendo. Bem, o que você teria feito?
Stand-up, como dança de salão, é uma forma de entretenimento
interativa e pessoal. Quem está na platéia sempre afeta o seu número. Se
apresentar diante de uma platéia com a mesma idade que você é diferente
de se apresentar diante de uma platéia com a idade dos seus pais. O
número de uma das minhas alunas era baseado no fato dela ser lésbica.
Seu número foi muito bem recebido no Festival do Orgulho Gay, mas ela se
sairia bem diante de uma platéia careta? Por não saber como uma platéia
reagiria a ela, ela tinha que se manter flexível. Depois que ela revelou que
era lésbica, uma mulher na fila da frente deixou escapar um: “Arg!” Ela se
utilizou da reação careta e negativa da mulher para improvisar um material
adicional.

“You might want to consider the advantages of being a lesbian:


You don’t have to worry about the toilet seat being up, you don’t
have to worry about disease, and… you never have to sleep in
the wet spot.”
“Você deve considerar as vantagens de ser lésbica: você não tem
que se preocupar se o acento da privada está levantado, você
não tem que se preocupar com doenças e... você nunca tem que
dormir em um lençol melado”.

Foi a sua flexibilidade que fez com que ela se saísse tão bem. E
conseguisse um jantar romântico.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 113 Judy Carter


Então... conheça o seu material, mas esteja pronto para fazer
mudanças.

Workshop # 28
O FECHAMENTO

Memorize seu ato, fazendo-o diversas vezes.

 Pratique seu material em blocos de piadas.


 Apresente seu material expressando sempre atitudes fortes.
 Visualize sobre o que você está falando.
 Pratique seu material como se você estivesse se apresentando para:
o Um grupo de amigos
o Uma convenção dos taxistas de Nova York
o Um grupo de dentistas

Se você perceber que está tendo problemas com a memorização de


certos blocos de piadas, pergunte a si mesmo:

1. Qual é a sua atitude naquele bloco?


2. Você pode visualizar sobre o que você está falando? Você consegue
criar imagens para o que você está falando?
3. A sua preparação para a piada (setup) é simples ou é muito
complicada?

Bom material sai facilmente de sua boca. Se o seu material está ficando
confuso, se livre dele. O material talvez esteja sem graça e estranho por
causa de:

 Um problema de linguagem – a sua escolha de palavras é formal e


muito rígida.
 Uma atitude que não combina – experimente uma nova atitude e volte
a (ranting and raving) vomitar coisas a respeito daquele assunto com
uma atitude diferente como sublinhado no capítulo 2.
 É redundante – encurte seus setups.
 Falta de comprometimento – você está simplesmente entediado com
aquele tópico. Livre-se dele e descubra assuntos que interessem você
de verdade.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 114 Judy Carter


TIMING/ DELIVERY

“Tempo é tudo...”
- George Burns

“Timing” é tão difícil de ensinar - é algo que você tem que sentir,
como no jazz. Há vezes sobre o palco em que meu “timing” é tão bom, eu
estou tão em sincronismo com o universo que eu não posso fazer nada de
errado. E há vezes em que meu “timing” está tão por fora que, não
importa o quanto eu me esforce, eu não consigo achar um ritmo para o
meu número48. Existe um ritmo da comédia 49; quando você ganhar mais
experiência, você saberá quando o tiver atingido, e será capaz de deslizar
dentro dele mais e mais. Até lá, aqui vão algumas dicas de técnicas que
ajudarão você com o tempo da comédia e de dizer a piada.

Emocional Tags (Reação ao Punch)

Os pequenos fragmentos de sua emoção 50 é o que você improvisa


depois do desfecho da piada. É a sua resposta genuína e espontânea ao
que você acaba de dizer, e cria uma sensação de intimidade entre o
comediante e a platéia. Pode ser tão simples como:

“ ‘Yup!’ ‘É isso aí’ ‘Eu sei... eu sei’.”

Da mesma maneira que o arremessador de beisebol tem que


acompanhar o desfecho da jogada depois que a bola parte de sua mão, um
comediante tem que acompanhar o desfecho da jogada51, depois que o punch
(desfecho da piada) sai de sua boca. Um fragmento 52 é uma maneira de
você ir até o fim em sua atitude a respeito do que está sendo dito. Você
tem a sua preparação, então, o desfecho da piada, e, então, o fragmento
final (reação). É o que você faz enquanto as pessoas estão rindo, ou não.
Você nunca se sentirá da mesma forma no final de cada desfecho de
piada. Desta forma, esse fragmento de reação sempre será diferente – nunca
será algo permanentemente fixo. Serve unicamente para aquele momento.

48
get my act on the groove.
49
comedy groove.
50
emotional tags.
51
follow-through
52
tag emotional
Stand-Up Comedy – The BookPágina 115 Judy Carter
Deixe espaço para essas reações ao final de cada “punch”, mas não as
ensaie. Não tente ser engraçadinho, apenas reaja. “Sim... essa é minha
mãe!” ou, apenas um “Viva!” fará bem o serviço. Essa reação também
pode ser acompanhada de alguma expressão em seu rosto. A idéia é não
planejar essas reações, mas deixar espaço para que elas aconteçam.
Depois da reação ao desfecho, não se esqueça de respirar. Eu sei que
isso parece estúpido de ser lembrado, mas você ficará surpreso. Primeiro a
preparação (setup), depois o desfecho da piada (punch), em seguida a
reação ao desfecho e, então, respire, dê uma pausa. Não corra com seu
material emendando uma coisa na outra. Tudo bem ter momentos de silêncio
em seu ato, é até necessário. Eu tenho visto grandes piadas não obterem
uma reação porque o comediante não deixou sequer um momento para a
platéia reagir. Freqüentemente a reação depois do desfecho da piada é o
que causa a risada. “It honks to them”.

Workshop # 28
REAÇÃO APÓS O DESFECHO DA PIADA

A reação ao desfecho da piada não pode ser ensaiada. Elas são


porções espontâneas e genuínas de seu ato, que funcionam naquele
momento. Mas tenha uma sensação de como elas parecem, fazendo um
pedaço de seu número e reagindo a ele, pensando alto depois do
desfecho. Uma reação pode ser sobre como você se sente em relação ao
que acaba de dizer: “Rapaz, essa foi uma idéia idiota”. Ou, pode ser
apenas um ruído: “Uh!” Ou, simplesmente concordar com um aceno de
cabeça. David Letterman costuma usar essa técnica. Depois de uma piada
que não funciona e não obtém uma resposta do público, ele diz:

“Ei, essa é a piada, pessoal!”.

Acostume-se a deixar um espaço para adicionar pensamentos depois de


um desfecho, tomar fôlego e valorizar esse instante (creating a moment).
Isso é o que vai criar seu ritmo e tornar a sua apresentação mais parecida
com uma conversa onde se dá e recebe.

Resumo
Stand-Up Comedy – The BookPágina 116 Judy Carter
Até agora você tem:

 Escrito a sua abertura


 Esboçado uma lista de piadas por assunto, ou tema
 Decidido qual será o seu encerramento
 Ensaiado o seu número

Todo trabalho que você fez o conduz a um lugar: atuar em frente a uma
platéia de verdade. O próximo capítulo o levará pela mão através da
experiência de uma performance.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 117 Judy Carter


Capítulo 6

SUBINDO NO PALCO

“Dying is easy, comedy is hard.”


“Morrer é fácil, comédia é difícil...”.

- Edmund Kean, nineteenth-century actor

É claro que se apresentar é assustador. Mas, você não deveria gastar


um mês fazendo um barco e nunca colocá-lo dentro da água. Agora é
hora de fazer seu ato diante de uma platéia e ver se ele não afunda.
Mesmo que você não esteja considerando uma carreira como
comediante, é imperativo que você experimente seu ato em um clube de
comédia em uma noite de amadores. Você não pode entender de verdade
os princípios para se fazer rir a menos que se apresente em um lugar
aonde as pessoas vão para rir. Uma vez que você tenha se apresentado
em um Stand-up Club, adicionar humor a um discurso, fazer uma torrada
ou vender piche será moleza. (Veja o Capítulo 9)
Por hora, você tem uma lista de blocos de piadas de três a vinte
minutos de material. Neste capítulo, eu lhe darei exercícios para reduzir o
seu medo, assim como, dicas de alguns dos maiores nomes da comédia
para guiá-lo através da experiência de se apresentar em público. Mas,
primeiro, você precisa encontrar um lugar para se apresentar.

Arrumando um Trabalho

(Só vale para os EUA).

Duas horas para começar o show

“O que eu devo usar?”.

Use algo confortável. Evite fazer grandes declarações com as suas


roupas. Se suas roupas forem mais engraçadas do que você... você está
com problemas.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 118 Judy Carter


Mulheres: não se vistam de maneira sexy, a menos que esteja de
acordo com a sua persona (à la Mae West). Evite vestidos apertados e
colados, decotes e assim por diante. Sexo e comédia geralmente não se
misturam. Não se fie na minha palavra: a próxima vez em que estiver
fazendo amor, tente contar uma piada e veja o que acontece.

“Hey, Fred, that looks like a pênis... only smaller.”


“Ei, Fred, isso parece um pênis... só que menor”.

Vesta-se confortavelmente e de forma atraente. Acentue o seu cérebro


e não a seu corpo.
Meia hora para o Show

Informa-se

Verifique com a pessoa no comandoe decubra quanto tempo de palco


você tem. Seja você um amador ou um profissional, sempre pedirão a você
que seu ato fique dentro de um certo período de tempo.
Noites amadoras em clubes de comédia dão aos comediantes de
qualquer lugar de três a quinze minutos. Descubra se o clube tem uma
maneira de sinalizar quando seu tempo de esgotou. Seja uma luz vermelha
nos bastidores ou o Mestre de cerimônias acendendo uma luz na sua cara,
saia do palco quando seu tempo terminar se quiser ser convidado para
voltar.

Verifique a Platéia

 Quantos anos eles tem?


 Quão bêbados eles estão?
 Qual é a etnia ou gênero sexual predominante na platéia?
 Existe algum grupo de uma grande organização?

Observando o público, ou por meio de uma rápida pesquisa, você terá


uma idéia do tipo de platéia que eles são e que material você deve
acrescentar ou cortar. Da mesma maneira que eu não fiz truques de
mágica pala uma platéia de cegos, você não deveria apostar grande
naquela piada do clitóris para um grupo de bibliotecárias mórmons.

Stand-Up Comedy – The BookPágina 119 Judy Carter

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