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OS EFEITOS DA INTEGRAÇÃO DO DIREITO FRATERNO: ACESSO

E PERMANÊNCIA DO DEFICIENTE NO ENSINO SUPERIOR


EFFECTS OF INTEGRATION ON FRATERNAL RIGHT: THE ACCESS AND PERMANENCE OF
DISABLED PEOPLE ON HIGHER EDUCATION

Pedro Henrique Marangoni1


Rafael Guimarães Ribeiro2
Vanessa Carvalho dos Santos3
Perci Fabio Santos Fontoura4
Phelipe Hydemy Saquetto Matimoto5
Luiz Roberto Prandi6

MARANGONI, P. H.; RIBEIRO, F. G.; SANTOS, V. C. dos; FON-


TOURA, P. F. S.; MATIMOTO, P. H. S.; PRANDI, L. R. Os efeitos
da integração do direito fraterno: acesso e permanência do
1
Acadêmico do curso de Direito e participan-
te do PIBIC da Universidade Paranaense – deficiente no ensino superior. Akrópolis Umuarama, v. 23, n. 2,
UNIPAR . p. 125-136, jul./dez. 2015.
E-mail: phmgoni@hotmail.com

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Acadêmico do curso de Direito e partici-
Resumo: Buscou-se com este trabalho, através da pesquisa docu-
pante do PIC da Universidade Paranaense mental e bibliográfica, apresentar um panorama sobre a inclusão de
– UNIPAR. deficientes no ensino superior, revelando as principais dificuldades que
E-mail: rafafatality@outlook.com estas pessoas encontram nestes ambientes de ensino. Pelo pesquisa-
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Acadêmica do curso de Direito e partici-
do notou-se a necessidade de uma melhor formação do corpo docente,
pante do PIC da Universidade Paranaense iniciando em sua grade curricular e pedagógica, pois, em muitos casos,
– UNIPAR o professor mostra-se despreparado para agir frente a um estudante
E-mail: vanessacarvalho1985@gmail.com deficiente. Mostra-se assim que, é indispensável não só a participação
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Acadêmico do curso de Direito e partici-
do Estado, atuando como legislador de normas que garantam e asse-
pante do PIC da Universidade Paranaense gurem direitos e acessibilidade, mas também a participação e a acei-
– UNIPAR tação por parte das pessoas. O fator Cultural e social são tão ou mais
E-mail: fabio_perci@hotmail.com importantes quanto o fator lei. Ainda, remetendo à origem do tripé de
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Acadêmico do curso de Direito e partici-
ideais que impulsionaram a Revolução francesa, Liberdade, Igualdade
pante do PIC da Universidade Paranaense e Fraternidade, buscou-se mostrar a presença deste último na Cons-
– UNIPAR tituição e nas normas do Direito brasileiro, além de sua conceituação,
E-mail: phelipematimoto@hotmail.com que tem sido confundida e deturpada com o passar dos anos.
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Doutor em Ciências da Educação-UFPE,
Palavras-chave: Direito Fraterno; Ensino Superior; Preparação de
Mestre em Ciências da Educação-UNG, professores.
Especialista em: Metodologia do Ensino Su-
perior, Metodologia do Ensino de Filosofia e Abstract: This article aimed to, through documental and bibliographic
Sociologia, Gestão Educacional, Gestão e
Educação Ambiental, Educação Especial:
research, show a view about inclusion of disable people in higher edu-
Atendimento às Necessidades Especiais, cation, revealing the main difficulties that they find inside the institutions
Educação Especial: Com Ênfase na Defi- that offer this level of teaching. By the research, evidenced the need of
ciência Múltipla, Educação do Campo, Gê- a better training of teachers, initiating on their curricular and pedagogi-
nero e Diversidade Escolar e Lengua Cas-
tellana. Atualmente é Avaliador ad hoc MEC,
cal grid, because in many cases, teachers are not prepared to act front
Membro do Comitê Assessor Local de Ini- to a disabled student. Thus, noticed that is indispensable not only the
ciação Científica – CALIC, Professor Titular State participation, acting as legislator of standards that guarantee and
e Pesquisador da Universidade Paranaense ensure rights and accessibility, but also a participation and acceptance
– UNIPAR e Conferencista.
E-mail: prandi@unipar.br
by people. Cultural and Social factors are as important, or even more,
as the Law. Furthermore, referring to the origin of tripod of ideals that
drove the French Revolution, Liberty, Equality and Fraternity, sought to
demonstrate the presence of the latter in the Constitution and Norms
of Brazilian Right, besides its conceptualization that has been confused
and distorted along the years
Keywords: Fraternal Right; Higher education; Professor training.
Recebido em outubro de 2014
Aceito em março de 2015

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PRANDI, L. R.

1 INTRODUÇÃO que esclarecem comportamentos e resultados


advindos da sociedade moderna e ao mesmo
Os objetos de estudo desta pesquisa ini- tempo retrógada. Ademais, pensar na pessoa
ciam-se no Direito Fraterno, em que se observa deficiente como “coitado” já está corroborado o
diversos comportamentos abusivos, contrarian- quanto é ultrapassado esse entendimento, visto
do a norma estabelecida constitucionalmente e que, todo ser humano é dotado de capacidade
demais disposições legais que preservam os di- independente da limitação que o corpo ou inte-
reitos de todo e qualquer cidadão, entre outros lecto impõe. Enxergar somente a deficiência em
direitos garantidos por princípios. um ser humano dotado de vida e direitos é um
O intuito deste estudo mostra como o pensamento de preconceituosos que é inadmis-
Direito Fraterno, será escopo em soluções de sível frente ao progresso e globalização atual.
conflitos por meio de ferramentas alternativas Vale destacar, que o Direito Fraterno
para combater as limitações e desigualdades sempre existiu e com o passar dos anos vem
do mundo moderno conforme a necessidade do ganhando força para sua aplicação, entretanto,
caso concreto. Observa-se a necessidade por não tem disposição legal específica para con-
parte do Estado em buscar soluções eficazes ceituá-lo e, que, ainda traga consigo resguardo
para combater conflitos em meio à sociedade de legal literal para a proteção das pessoas exclu-
maneira justa e igualitária. Neste diapasão, vis- ídas de maneira geral. Assim, estudamos a im-
lumbra-se o papel dos educadores, para formar portância do Direito Fraterno implícito na norma
pessoas com entendimento expansivo acerca e as ferramentas necessárias para o fim de com-
da educação inclusiva, o que é Direito Fraterno bater as limitações imposta pela sociedade con-
e sua relevância no meio em que se vive. temporânea para o desígnio de garantir a todo e
O Direito Fraterno existe para combater qualquer cidadão condições de se defender da
a desigualdade, seja ela, social, cultural e eco- desigualdade seja ela qual for.
nômica preestabelecidas pela sociedade como
parâmetros. Entretanto, se faz indispensável a 2 O PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE
elaboração de normas e preceitos gerais que
protejam os direitos do indivíduo em algumas si- O Direito Fraterno que também se deno-
tuações nas quais se sinta inferiorizado, de for- mina como o Princípio da Fraternidade, engloba-
ma que o exclua do meio onde vive. -se em uma tríade juntamente com a liberdade
Contudo, o Direito Fraterno, ultimamen- e a igualdade. Estes três integram-se a uma
te, tenta fazer com que os princípios que estão classificação de princípios denominados como
intrínsecos e extrínsecos a norma sejam respei- axiológicos supremos, do qual possuem esse tí-
tados e amplamente interpretados a favor do tulo por se qualificarem como superiores hierar-
bem comum. Por outro lado, deve-se enfatizar a quicamente, o que os leva a se tornarem como
importância da norma positivada para fazer valer os principais pilares da ordenação jurídica. De-
os direitos das pessoas independentemente de rivam dos Direitos Fundamentais presentes na
suas limitações, sejam elas, físicas, intelectuais, Constituição da República Federativa do Brasil
sociais, culturais, econômicas e outras. de 1988. São subprincípios que desempenham
Quando se fala em Direito Fraterno, por a função de coordenar normas que tem como
mais que a finalidade seja tratar especialmen- base os direitos humanos.
te os aspectos legais, é completamente inad- O Princípio da Fraternidade teve como
missível apartar-se de princípios axiológicos, auge de sua intitulação a partir da Revolução
pois o mediador dos conflitos deverá chegar a Francesa de 1789, porém, com o passar do tem-
um consenso, levando-se em conta para alcan- po, os demais princípios da tríade, igualdade e
çar a justiça os costumes de determinado local liberdade, obtiveram destaque sendo que a fra-
e princípios, devendo estes, ser observados e ternidade acabou se tornando um princípio es-
por meio de normas aplicados no caso concreto. quecido, que foi se mesclando à ideia de solida-
Consequentemente, estaria sendo desconexo riedade. Fraternidade por si abrange um aspecto
aquele que julga tratar excepcionalmente e ape- mais amplo ao de solidariedade, ao passo que
nas o ponto de vista do enfatizado pela norma esta, possui apenas seu valor ético e moral. O
e não aceitar os aspectos que o princípio do Di- direito fraterno, entretanto, também integra es-
reito da Fraternidade abrange, já que são eles ses interesses, porém, abrange um direito jurídi-

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Os efeitos da integração...

co o qual deve ser garantido pelo Estado. sociais, como a acessibilidade e a educação de
O termo “fraternidade” está presente no qualidade. Cultural pela razão de que se exige
preâmbulo da Constituição da República Fe- uma mudança ideológica da sociedade, do qual
derativa do Brasil de 1988 “[...] a igualdade e a busca a internalização do ideal fraterno como
justiça como valores supremos de uma socieda- uma moral e um dever.
de fraterna [...]”. A partir disso deve-se levar em Forma esta que não que só será alcan-
conta fraternidade como uma Matriz-hipotética, çada por meio de uma igualdade formal. Para
como ponto base para o desenvolvimento e cria- isto, não basta apenas leis que igualem a todos,
ção das demais normas constitucionais, logo, mas normas que, observando as diferenças,
servindo como alicerce para toda e qualquer re- equitativamente, construa uma igualdade mate-
gra presente no ordenamento jurídico pátrio. rial, proporcionando uma igualdade que iguala
A busca pela liberdade e igualdade por os iguais e desiguala os desiguais, construindo
muitas vezes não trouxe o resultado desejado, assim uma convivência digna em sociedade.
na maioria das vezes até um resultado fracas-
sado. Isso se dá pela carência da fraternidade 3 NORMAS COM IDEAIS FRATERNOS
como base para a efetivação desses princípios.
Sendo considerada a fraternidade como ponto Para obter determinada condição é pre-
de equilíbrio entre os demais princípios. ciso um real investimento do Estado para que
se possa atingir os objetivos principiológicos da
Mas também a liberdade e a igualdade, que, Constituição da República Federativa do Brasil
no período histórico que se seguiu a 1789, se de 1988. Deste modo, busca-se gerar também
viram muitas vezes competindo entre si, têm normas positivadas efetivas, as quais possuem
na tríade, um significado original e inédito; força para concretizar a fraternidade.
nela, elas são caracterizadas como liberdade
Os princípios constitucionais necessitam
fraterna e igualdade fraterna; os três princí-
pios, unidos na tríade, vivem um dinamismo ser intermediados pelas regras; eles por si só
de relações que cria significados inexplora- não podem atingir diretamente o fato concreto.
dos, que a historia seguinte não consegui- Para garantir que atitudes fraternas sejam co-
ra manter unidos. A tríade será diluída nos bradas pela jurisdição é necessário a criação
conflitos entre seus elementos, mas a tríade de normas com ideais fraternos, fazendo uso da
existiu, ousou anunciar uma época e traçou norma como um canal para a aplicação do prin-
seu horizonte, desaparecendo de cena logo, cípio diretamente no fato, como explica o jurista
quase no próprio ato do anúncio. ( BAGGIO, José Joaquim Gomes Canotilho (1998, p. 1124):
2009. p. 11).
Para distinguir entre regras e princípios, há
O art. 5º da Constituição da República diversos critérios a serem utilizados. Quanto
Federativa do Brasil de 1988 rege sobre os Di- ao grau de abstração, os princípios são nor-
reitos e Garantias Fundamentais dos Direitos e mas com um grau de abstração mais eleva-
Deveres Individuais e Coletivos, no qual afirma do, enquanto as regras têm sua abstração
em seu Caput que a liberdade e igualdade são reduzida. De maneira que, em função dos
Direitos que o Estado deve garantir a todos os princípios serem vagos e indeterminados,
residentes no território nacional. necessitam de intervenções que os concre-
tizem, já as regras, diante de sua precisão,
Para a efetivação do Direito Fraterno
podem ser aplicadas diretamente. Os princí-
não basta somente o apoio governamental por pios estabelecem padrões juridicamente vin-
meio de ações sociais, mas é necessária a co- culantes, estabelecidos em função da justiça
laboração da própria sociedade, com isso se vê ou da própria ideia de direito; as regras po-
possível à vida de um deficiente com igualdade, dem ser normas vinculativas com conteúdo
liberdade e fraternidade. apenas funcional.
Como um novo paradigma constitucio-
nal, o direito fraterno busca um desenvolvimen- A constituição, além de seu poder jurídi-
to sociocultural mediante ações que tem como co, possui um relevante valor político. Ela não é
maior objetivo a dignidade humana. Paradigma apenas um reflexo da realidade, mas detém um
pelo fato de que parte de sua efetivação depen- valor determinante, do qual apresenta força para
der de ações estatais para o avanço de direitos atuar nas relações culturais de uma sociedade.

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PRANDI, L. R.

Normas que enfatizam o ideal Fraterno e que até A efetivação de uma norma está rela-
mesmo por objetivos programáticos tendem a cionada a diversas condições. Para uma norma
buscar a fraternidade, levam as pessoas sujeitas possuir força ela necessita de três fatores: inicia-
a essas leis a se tornarem mais fraternas a partir -se pela validade, quando participa do ordena-
do momento que cumprem o Ordenamento Ju- mento jurídico não contradizendo nenhuma nor-
rídico. Como afirma Konrrad Hesse (1991, p. 7): ma superior hierarquicamente e que atenda seu
processo formal de criação, a norma necessita
Mas, a força normativa da Constituição não ser vigente, sendo válida e podendo ser exigida
reside, tão-somente, na adaptação inteligen- e por último, a eficácia, quando a norma é capaz
te a uma dada realidade. A Constituição jurí- de produzir efeitos baseando-se na aceitação
dica logra converter-se, ela mesma, em força popular, com a possibilidade de ser cumprida e
ativa, que se assenta na natureza singular
ter seus efeitos produzidos. “A eficácia jurídica
do presente (individuelle Beschaffenheit der
Gegenwart). Embora a Constituição não pos- tem relação com o fato de o Estado ter aparato
sa, por si só, realizar nada, ela pode impor jurídico para fazer a norma ser cumprida. Isto é,
tarefas. A Constituição transforma-se em for- se os agentes estatais têm condições de fazer
ça ativa se essas tarefas forem efetivamente a norma ser exigida.” (FRANCISCHINI, 2015, p.
realizadas, se existir a disposição de orientar 1).
a própria conduta segundo a ordem nela es- O Estado tem como objetivo garantir o
tabelecida, se, a despeito de todos os ques- bem de todos, compromete-se com esse desíg-
tionamentos e reservas provenientes dos nio administrando as verbas públicas das quais
juízos de conveniência, se puder identificar derivam dos impostos da população, esta fica
a vontade de concretizar essa ordem. Con-
submetida ao pagamento de tais taxas justa-
cluindo, pode-se afirmar que a Constituição
converter-se-á em força ativa se se fizerem mente para garantir uma igualdade, o Estado
presentes, na consciência geral – particular- distribui a arrecadação na forma investimentos
mente, na consciência dos principais respon- no País. Ampliar a acessibilidade e a inclusão do
sáveis pela ordem constitucional –, não só deficiente com investimentos necessários para
a vontade de poder (Wille zur Macht), mas isso garante a efetivação de uma igualdade fra-
também a vontade de Constituição (Wille zur terna não somente do próprio governo, mas da
Verfassung). população que contribuiu para tal feito.

Em um panorama sistemático do ordena- 4 DEFICIENTES NO BRASIL


mento jurídico e sociológico, o desenvolvimento
da esfera inclusiva acarreta no progresso de ou- No Brasil é um desafio para o jovem de-
tras áreas que tem como causa a dignidade hu- ficiente ingressar na rede regular de ensino e
mana. Isso se dá por conta da estruturação dos abandonar a rede especial, condições precárias
direitos fundamentais serem compostos de uma de pedagogia desencorajam esse estudante de
complementariedade solidária. Contudo, quan- permanecer na escola ou até mesmo ingressar
do se percebe um déficit, se afeta não apenas o na sua educação.
direito do deficiente, mas o de todas as pessoas A permanência do deficiente junto à clas-
daquele ordenamento, já que os direitos funda- se de alunos não deficientes tem como objeti-
mentais em sua estrutura coexistem de maneira vo o desenvolvimento mais amplo e inclusivo,
complementar e solidária. garantindo a ele uma melhor educação e uma
igualdade junto aos demais alunos.
O princípio da complementaridade solidária Condição que busca junto ao aluno sem
dos direitos humanos de qualquer espécie foi condições especiais de ensino a aprender a con-
proclamado solenemente pela Conferencia
viver com o próximo, respeitando e acolhendo.
Mundial de Direitos Humanos, realizada em
Viena em 1993, nos seguintes termos: Todos A quantidade de deficientes no Brasil é
os direitos humanos são universais, indivisí- um número considerável. Não havendo dúvidas
veis, interdependentes e inter-relacionados. da necessidade de alterações de normas com
A comunidade internacional deve tratar dos o objetivo de tutelar essa demanda. Ainda per-
direitos humanos globalmente, de modo jus- cebe-se uma forte desigualdade na relação en-
to e equitativo, com o mesmo fundamento e a tre pessoas com deficiência e o não deficiente.
mesma ênfase. (TIBÃES, 2005, p. 1). Como evidencia o gráfico realizado pelo Censo

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2010, IBGE: poder público incentivar e fomentar a publica-


ção de livros acessíveis pelas editoras brasilei-
ras.
A nova lei também assegura que as pessoas
com deficiência podem votar e ser votadas, em
igualdade de oportunidades com as demais
pessoas. O projeto prevê a possibilidade de a
pessoa com deficiência ser acompanhada na
cabine durante o voto e a adaptação dos locais
de votação aos diversos tipos de deficiência.
Também são assegurados aos portadores de
deficiência a garantia de participação em pro-
gramas eleitorais. No exercício de cargo públi-
Aumenta cada vez mais o número de co, a pessoa terá assegurado o uso de tecnolo-
deficientes que migram do ensino especializado gias apropriadas, quando necessário.
O projeto aprovado pelos senadores também
para educação de ensino regular, garantindo a
permite que pessoas com deficiência intelectual
igualdade entre os cidadãos brasileiros, isso só casem legalmente, além de formarem união es-
se dá por meio de normas eficazes e boas ações tável. O projeto permite que Fundo de Garantia
governamentais. do Tempo de Serviço (FGTS) seja utilizado para
Como apontam dados descritos no gráfi- a compra de órteses e próteses. (G1, 2015, p.
co realizado pelo MEC em 2010: 1).

Desta forma, a Lei 13.146 de 2015 con-


solida direitos e elimina preconceitos, fruto de ig-
norância da sociedade em lidar com a questão.

5 DIFICULDADE DE PERMANÊNCIA DO DEFI-


CIENTE NO ENSINO SUPERIOR

Dentro dessa perspectiva pode ser inclu-


ído o direito dos deficientes à sua inclusão na
educação, em especial no ensino superior, para
que não seja oferecido a eles apenas uma Uni-
versidade de qualidade com todos os meios de
A diferença apresentada pelo Censo acessibilidade e um corpo docente especializa-
2010 ainda mostra uma enorme diferença entre do, mas também a garantia do respeito de to-
a escolaridade de um deficiente e uma pessoa dos os demais direitos, construindo a partir disso
não deficiente, apresentando que 61,1% da po- uma aceitação do corpo social, em especial com
pulação deficiente não possui o ensino funda- os próprios alunos. Isso só pode ocorrer quando
mental completo ou até mesmo não tem instru- há uma preparação desse aluno que está pres-
ção, descendo para 38,2% para com as pessoas tes a acolher o deficiente, somente dessa forma
sem deficiência. se torna possível conviver com paz em um âm-
Dentre as inúmeras leis que asseguram bito fraterno.
a inclusão do deficiente pode ser citada a Lei Com as devidas mudanças legislativas
7.853, de 24 de outubro de 1889, que preser- e programas governamentais que promovam a
va o direito de inclusão nas escolas públicas e inclusão do deficiente e garantam sua perma-
sua integração social. Agora aprovada a Lei Bra- nência no ensino superior, se obtém um efeito
sileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência de redução das desigualdades, pois aumentam
(13.146/2015), que garante a assistência para as possiblidades de o aluno deficiente conviver
deficientes por meio de mediadores nas escolas. socialmente e demonstrar suas competências
perante uma busca cada vez mais exigente de
Com a aprovação do projeto, as escolas priva-
um serviço qualificado. Conquistando direitos
das ficam proibidas de cobrarem mensalidades
maiores para alunos com algum tipo de defici- a uma classe de pessoas que por vezes acaba
ência. Também foi aprovada a obrigação de o passando despercebida aos olhos de uma so-

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PRANDI, L. R.

ciedade cada vez mais individualista e, com o rância e preconceito, mas outros simplesmen-
avanço das questões sociais ligadas ao deficien- te acabam por excluir o colega de classe por
te, construir uma sociedade mais solidária. não saber como agir frente a um deficiente.
No que diz respeito ao Ensino Superior Nota-se que, em muitos casos, a partir do nú-
no Brasil, percebe-se que, historicamente, a pre- mero maior de estudantes matriculados no En-
sença nas Universidades sempre foi privilégio sino Superior, amplia-se o fracasso, que se dá
de poucos. Assim, somente aqueles que tinham por meio de retenções ou até do abandono do
condições de arcar com os elevados custos de curso. (FERRARI; SEKKEL, 2007).
Ensino eram os que ingressavam e concluíam o Quanto aos docentes, muito se discute
curso de nível Superior. quanto a sua formação para dar aula, pois, con-
forme define Sanchez (2005 apud Ferri, 2014
No Brasil o ensino superior surgiu de forma p.9) “O educador é o mediador e responsável
pouco expressiva, durante muitos anos era pela construção do conhecimento, interação e
destinado apenas à elite que possuía condi- socialização do aluno com NEE, analisando des-
ções econômicas para arcar com os custos de os casos mais complexos aos mais singelos
desta formação. Mesmo com o surgimen-
[...]”. O que se encontra nas IES são especia-
to das primeiras universidades públicas e,
portanto, gratuitas este nível de formação listas, mestres e doutores que, na maioria dos
permaneceu, durante anos, relegados aos casos, não sabem lidar com o aluno deficiente.
poucos privilegiados do país. (SILVA; RO- Em sua formação, o professor nem sempre se
DRIGUES, 2008, p. 2). depara com uma grade curricular que abranja
uma conscientização e uma reflexão sobre as
Nesse cenário, muitos filhos da Nobreza diferenças e como agir frente a elas. No Ensino
brasileira buscavam o estudo na Europa, desta- Superior nos deparamos com muitos profissio-
cando-se a Universidade de Coimbra, em Por- nais que entendem muito sobre a matéria que
tugal. lecionam, mas nem tanto sobre a metodologia e
Mesmo ingressando por meio de meios a maneira de ensinar.
legais, ou seja, vestibular e processo seletivo, o Os avanços tecnológicos em muito bene-
aluno com deficiência acaba encontrando empe- ficiam os deficientes, principalmente no momen-
cilhos para sua permanência dentro da Institui- to da educação. São exemplos de recursos tec-
ção de Ensino Superior. nológicos utilizados: computadores, adaptados,
Os problemas encarados por esses estu- livros e CD digital, aparelhos que sintetizam a
dantes estão longe de ser somente relacionados fala realizam, aplicativos, entre outros avanços
à natureza física e estrutural da IES, como por pedagógicos relevantes.
exemplo, as rampas demasiadamente inclina- , computadores adaptados, aplicativos,
das, a falta de calçadas com caminho especial programas, aparelhos que sintetizam a fala entre
para os deficientes visuais e os banheiros não outros são avanços pedagógicos importantes.
adaptados para o acesso de cadeirantes. Quan- Uma grande conquista no que tange à
do esse aluno deficiente, já legitimado pelo pro- Legislação e garantia de direitos para as pes-
cesso seletivo da IES, se encontra inserido na soas deficientes foi a criação da Lei 13.146 de
classe de ensino, muitas vezes se depara com 2015, instituindo o Estatuto da Pessoa com De-
professores que assumem uma, entre as duas ficiência. Tendo como autor o Senador Paulo
posturas mais comuns, frente ao estudante “di- Paim (PT-RS) e sendo relator do projeto o tam-
ferente” dos demais: a postura paternalista e bém Senador Romário (PSB- RJ), o Estatuto as-
a excludente. Na primeira, o professor abraça segura, em seus 127 artigos, direitos e garantias
para si aquele aluno mediante uma postura de fundamentais para a pessoa com deficiência.
cunho paternalista e protetora ou ainda procura O artigo 28 do referido diploma, em seu caput
se aproximar mais dele, conforme destaca Fer- assegura que: “Incumbe ao poder público as-
rari e Sekkel (2007). segurar, criar, desenvolver, implementar, incen-
Na segunda postura, o docente aca- tivar, acompanhar e avaliar:”, e esclarece, com
ba por excluir e ignorar o acadêmico deficien- efeito, o inciso XIII: “acesso à educação supe-
te frente aos demais. Outra dificuldade que rior e à educação profissional e tecnológica em
o aluno encontra é a exclusão por parte dos igualdade de oportunidades e condições com as
próprios colegas. Alguns agem assim por igno- demais pessoas. (BRASIL, 2015, p. 101). Com

130 Akrópolis, Umuarama, v. 23, n. 2, p. 125-136, jul./dez. 2015


Os efeitos da integração...

esses dispositivos inseridos no novo Estatuto, fi- acerca da formação dos docentes, das estru-
cam garantidos, mais do que em qualquer outro turas e dos serviços existentes para atendi-
momento na Legislação brasileira, o real direito mento às diferentes demandas. Nesse senti-
que a pessoa deficiente tem de ter acesso não do, cabe aos docentes, além de uma postura
política de aceitação das diferenças, obterem
só ao ensino básico, que já é relativamente bem
os conhecimentos técnico-práticos para sa-
discutido, mas ao Ensino Superior. Passa a ser ber trabalhar com as necessidades educa-
assegurado o direito que o deficiente tem para cionais especiais decorrentes de problemas
cursar em uma IES o curso por ele desejado. de aprendizagem, de deficiências mentais,
físicas ou sensoriais, de altas habilidades,
6 MUDANÇA NO CORPO SOCIAL de síndromes, condutas típicas ou outras.
(PRANDI; FARIA, 2015 p. 5).
Tal possibilidade de inclusão e perma-
nência só pode ser alcançada com a efetiva Desse modo, a adequação do corpo so-
participação do Estado, desde que a legítima cial para a inclusão dos deficientes no ensino
mudança seja fomentada no próprio corpo so- superior deve ser feita por meio dos servidores
cial, dentre estes especialmente os professores do Estado que atuam na área da educação e da
e dos próprios alunos. assistência social, buscando por meio de ações
afirmativas governamentais fomentar no corpo
Quando não há uma proposta educacional estudantil como um todo a necessidade da inclu-
efetiva para atendimento às necessidades são, não por um dever jurídico positivado, mas
educacionais dos alunos com deficiência, sim pela consciência moral individual e coletiva
a inclusão é dificultada, uma vez que esse de que o princípio da fraternidade é o único ca-
processo exige mudanças de atitudes, que
paz de tornar a inclusão realmente igualitária de
não são determinadas/efetivadas apenas
direito e de fato.
por decretos leis, mas por um processo de
reconhecimento e aceitação das diferenças.
(PRANDI; FARIA, 2015 p. 2). 7 EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO ENSINO SU-
PERIOR FRENTE À NECESSIDADE DE ADE-
Os demais alunos da sala de aula exer- QUAÇÃO DO CORPO DOCENTE
cem um papel fundamental na inclusão do aluno
deficiente, de modo que, acolhendo e ajudando Atualmente, o processo de educar vem
em tarefas exigidas em sala possa estar efeti- se mostrando cada vez mais complexo diante
vando as normas vigentes no país e cumprindo da necessidade de aprendizagem contínua por
seu dever de moral, social e cultural diante de tal parte do docente para melhor atender o seu alu-
dificuldade. nado. A sociedade vem pressionando a rede de
Qualquer pessoa sentindo-se excluí- ensino e seus docentes a criar estratégias de
da do seu meio social sentir-se-á rejeitada e ensino inclusivo com o intuito de oferecer edu-
por conta disso terá baixos resultados em sua cação de qualidade e satisfatória.
aprendizagem (ALMEIDA, 2014, p.1) “Enquanto Neste sentido, José Aquino ensina:
a estrutura escolar manter o poder centrado no
professor fica inviável qualquer inclusão”. O professor será aquele que vai passar se-
gurança e motivar a nossa investigação, ou
É fundamental que o investimento não se
seja, ele terá a função de orientar a inves-
subsista somente na acessibilidade ao deficien- tigação, colocar questões para que ela pro-
te, mas também na adequação do corpo social grida, auxiliar com o fornecimento de fontes
para que se torne praticável a inserção do aluno e informações, assim como colocar desafio
deficiente, alcançando assim uma mudança re- para que o aluno perceba as diferentes pers-
almente efetiva. pectivas possíveis do problema. (AQUINO,
2007, p. 81).
A inclusão exige rupturas e a busca de al-
ternativas compatíveis com as necessidades Vislumbra-se ainda, a observância da Lei
dos indivíduos com deficiência. Faz-se ne- de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96-
cessária uma política sólida, comprometida e LDB), e principalmente o disposto em seu art. 1º:
bem instrumentalizada, com as adequações
necessárias, incluindo aí mais investigações
Art. 1º A educação abrange os processos for-

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PRANDI, L. R.

mativos que se desenvolvem na vida fami- necessário analisar a realidade local que o alu-
liar, na convivência humana, no trabalho, nas nado vive e frequenta e consequentemente após
instituições de ensino e pesquisa, nos movi- este estudo os docentes poderão instituir pa-
mentos sociais e organizações da sociedade drões de ensino de qualidade e criar um Proje-
civil e nas manifestações culturais.
to Político Pedagógico que adeque toda a parte
física e pedagógica da Instituição para que seja
Para que se possa atender expectativas
precisamente satisfatória na educação de todo e
e necessidades de uma comunidade é impres-
qualquer aluno.
cindível para o docente um preparo continuado
de todo o corpo docente nas Instituições de En- [...] a forma como entendemos a sociedade
sino Superior, ante a relevância da educação em que vivemos, são as crenças que orien-
inclusiva de alunos com deficiência e/ ou neces- tam a nossa ação. É constituída pela leitura
sidades especiais. que fazemos, nossa ação no mundo em que
A deficiência não pode ser limitação para vivemos e pelos ideais que temos em relação
o acesso à educação inclusiva, sendo que é de como o mundo deveria ser. (GANDIN; GAN-
extrema importância para o aluno que busca DIN, 2001, p. 82).
aprender e se profissionalizar para concorrer no
mercado de trabalho de maneira justa e iguali- De tal modo, a Lei de Diretrizes e Bases
tária. da Educação (Lei 9394/96- LDB), enfatiza em
Ocorre que, nem sempre, as instituições seu art. 53 in verbis:
de ensino superior dispõem de docentes devi-
damente preparados e materiais de apoio para Art. 53. No exercício de sua autonomia, são
asseguradas às universidades, sem prejuízo
a melhor aprendizagem do aluno deficiente ou
de outras, as seguintes atribuições:
com necessidade especial.
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede,
Neste entendimento, Maria Adelaide cursos e programas de educação superior
Pessini et al. (2002, p. 66) doutrina: “Há falta de previstos nesta Lei, obedecendo às normas
um ensino personalizado que respeito as suas gerais da União e, quando for o caso, do res-
“limitações”. Há falta de material didático adap- pectivo sistema de ensino; (Regulamento)
tado e de recursos materiais.” Assim o alunado II - fixar os currículos dos seus cursos e pro-
deficiente é visto pela sociedade como o “coi- gramas, observadas as diretrizes gerais per-
tado”, uma vez que, as barreiras encontradas tinentes;
por estes alunos são imensuráveis em seu dia III - estabelecer planos, programas e projetos
de pesquisa científica, produção artística e
a dia, dificultando assim, o acesso ao ensino e a
atividades de extensão;
profissionalização de maneira igualitária para o
IV - fixar o número de vagas de acordo com
mercado de trabalho. a capacidade institucional e as exigências do
Contudo, surge assim a necessidade de seu meio;
elaborar um sistema de aprendizagem inclusiva V - elaborar e reformar os seus estatutos e
que permita a todo e qualquer aluno com defici- regimentos em consonância com as normas
ência de maneira justa. gerais atinentes;
Igualmente, acerca do assunto Susan VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
Stainback (1999, p. 81) ensina: “Educar eficien- VII - firmar contratos, acordos e convênios;
temente alunos com diferentes níveis de desem- VIII - aprovar e executar planos, programas e
projetos de investimentos referentes a obras,
penho requer que os educadores usem várias
serviços e aquisições em geral, bem como
abordagens de ensino para satisfazer às neces-
administrar rendimentos conforme dispositi-
sidades de seus alunos”. vos institucionais;
Nota-se que, o professor necessitará IX - administrar os rendimentos e deles dis-
respeitar e se adequar a realidade do alunado, por na forma prevista no ato de constituição,
de acordo com a sua necessidade, e deverá ser nas leis e nos respectivos estatutos;
criado e disponibilizado aos seus alunos mate- X - receber subvenções, doações, heranças,
riais específicos para sua melhor compreensão legados e cooperação financeira resultante
e aprendizagem. de convênios com entidades públicas e pri-
Conforme o art. 205 da Constituição da vadas.
Parágrafo único. Para garantir a autonomia
República Federativa do Brasil de 1988 se faz
didático-científica das universidades, caberá

132 Akrópolis, Umuarama, v. 23, n. 2, p. 125-136, jul./dez. 2015


Os efeitos da integração...

aos seus colegiados de ensino e pesquisa precisam preparar e adaptar seu corpo docente
decidir, dentro dos recursos orçamentários de maneira inclusiva, para que o acesso à edu-
disponíveis, sobre: cação pelo acadêmico seja totalmente eficaz.
I - criação, expansão, modificação e extinção
de cursos;
8 TECNOLOGIA ASSISTIVA COMO UM MEIO
II - ampliação e diminuição de vagas;
III - elaboração da programação dos cursos;
DE INCLUSÃO
IV - programação das pesquisas e das ativi-
dades de extensão; A inserção do deficiente no ensino fun-
V - contratação e dispensa de professores; damental e médio no modo regular encontra al-
VI - planos de carreira docente. gumas dificuldades, pensar na possibilidade de
inclusão do deficiente no ensino superior parece
O art. 53 da LDB elenca as atribuições ainda mais dificultoso. Mesmo que possua corpo
das instituições de ensino superior (IES) em re- docente especializado, técnicas e meios didáti-
lação ao acesso educacional do aluno. cos e pedagógicos que lhes permitem um acom-
A inclusão de pessoas deficientes por panhamento mais eficaz do conteúdo, mesmo
meio dos projetos no ensino superior, em regra, assim, pode se deparar com dificuldades ao
é documento indispensável para elaboração e executar tarefas que exigem certa autonomia.
adequação das IES, porém, não é possível afir- Pelos princípios constitucionais brasilei-
mar que será totalmente eficaz sua execução, ros, em especiais os axiológicos supremos, a
por isso é indispensável estudos internos e ex- igualdade, liberdade e fraternidade, e pela Lei
ternos para verificação das necessidades local e 7.853/89 o Estado deve dispor de meios para
cultural a serem adequadas de maneira inclusi- garantir universalmente esses direitos com o ob-
va nas Instituições de Ensino Superior. jetivo de assegurar o mínimo indispensável ao
Cita-se como exemplo o Programa de pleno progresso humano, tendo como obrigação
Aperfeiçoamento do Magistério Superior (PRO- garantir a possibilidade desse desenvolvimento
MAGISTER) existente na Universidade Para- através de instrumentos eficazes para alcançar
naense - UNIPAR que é uma ferramenta para determinada concepção, promovendo o bem de
preparar adequadamente o docente de maneira todos, sem qualquer tipo de discriminação, para
contínua e atualizada, valorizando as habilida- que assim se possa garantir uma vida mais dig-
des específicas do alunado, primando assim, na do homem. Apesar disso, pelo princípio da
pela ética profissional. proporcionalidade que tem como base a neces-
Neste escopo, Ilma Passos Alencastro sidade ou exigibilidade, a escolha desses meios
Veiga e Marilia Fonseca (2008, p. 59) instruem: de inclusão deve-se levar em conta a decisão
“Toda e qualquer organização que pretenda im- mais eficaz, sendo aquela que traz um benefício
plantar e desenvolver prática de natureza partici- e desenvolvimento maior do deficiente. Como
pativa deve ter por base o exercício do diálogo”. também a menos onerosa, quando analisa-se a
Preparar o docente para ensinar de ma- proporcionalidade com o resultado da eficácia.
neira igualitária os alunos deficientes ou com Ao deficiente, a barreira se torna ainda
capacidade limitada ou reduzida, significa pro- maior ao ingressar no ensino superior, o uso de
porcionar a estes materiais pertinentes para sua atividades práticas, a diversidade de autores e a
aprendizagem de acordo com o ensino que é exigência de uma quantidade de estudo superior
proposto aos demais acadêmicos. ao ensino médio requerem cada vez mais a de-
Além disso, o aluno deficiente tem direito dicação do aluno, circunstância esta que vai se
a obter todo seu material devidamente adapta- tornando mais árdua a uma pessoa que neces-
do, ou seja, que as IES juntamente com seus sita de um mediador para sua produção escolar.
professores disponham de materiais específicos Buscando meios como a tecnologia as-
para seu alunado conforme a necessidade es- sistiva, cujo é um conceito moderno, que pos-
pecífica de cada um, pois a Educação Inclusiva sibilita a inclusão e a autonomia do deficiente
dos deficientes no Ensino Superior é fundamen- na área pedagógica ou até mesmo social, ela
tal para a formação do indivíduo em meio à so- se compõe de todo conjunto de meios tecno-
ciedade, pois, é indiscutível o potencial do aluno lógicos que proporcionam ou aprimoram habi-
com necessidades especiais. lidades funcionais de pessoas com deficiência,
Assim, as Instituições de Ensino Superior qualificando-se como uma nova alternativa de

Akrópolis, Umuarama, v. 23, n. 2, p. 125-136, jul./dez. 2015 133


PRANDI, L. R.

desenvolvimento do deficiente na sua educação. sino superior, desde da falta de estruturas físicas
Segundo a Secretaria da Justiça e dos Direitos até o despreparo do corpo docente.
Humanos (2013, p. 9). “Para a maioria das pes- Conclui-se que necessita-se de uma
soas, a tecnologia torna a vida mais fácil; para efetiva mudança, partindo do corpo social, que
as pessoas com deficiência, a tecnologia torna compreende os alunos e os próprios professo-
a vida possível". res, estes através de estratégias que garantam
Como define o Comitê de Ajudas Técni- um ensino adequado e aqueles acolhendo e aju-
cas - CAT (200, p. 9): dando o aluno deficiente.
Meios como o da Tecnologia assistiva
Tecnologia Assistiva é uma área do conheci- permitem um melhor desenvolvimento do aluno
mento, de característica interdisciplinar, que com necessidades, possibilitando que através
engloba produtos, recursos, metodologias, da tecnologia diminua a dificuldade do deficien-
estratégias, práticas e serviços que objeti- te, oportunizando a ele uma maior autonomia.
vam promover a funcionalidade, relacionada
à atividade e participação de pessoas com
deficiência, incapacidades ou mobilidade re- REFERÊNCIAS
duzida, visando sua autonomia, independên-
cia, qualidade de vida e inclusão social. ALMEIDA, M. S. R. Receber o aluno com
deficiência na sala de aula não significa
A Tecnologia assistiva se desenvolve por inclusão. Disponível em: http://www.
meio de serviços e recursos, estes se caracteri- institutoinclusaobrasil.com.br/informacoes_
zam por serem objetos, softwares e computado- artigos_integra.asp?artigo=151. Acesso em: 20
res que possibilitam a acessibilidade. Aqueles se jun. 2015.
classificam como sendo meios pedagógicos de
AQUINO, J. O aluno, o professor e a escola.
aplicar a tecnologia assistiva, geralmente feita
Prática de ensino de Geografia e estágio
por professores especializados.
supervisionado. São Paulo: Contexto, 2007. p.
78 a 86.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
BAGGIO, A. M. O principio Esquecido. São
O Princípio da Fraternidade faz parte Paulo: Cidade Nova, 2009. 261 p.
de do rol dos princípios axiológicos supremos,
dentre estes incluem-se a liberdade e igualda- BRASIL. Constituição (1988). Constituição da
de. A Fraternidade, porém, tornou-se um direito República Federativa do
abandonado, por conta disso, afetou certa parte
do nosso ordenamento jurídico, sendo que para Brasil: promulgada em 8 de outubro de 1988.
haver harmonia dentre os princípios, necessita 36. ed. São Paulo: Secretaria Especial de
da completa efetividade da Igualdade, Liberdade Editoração e Publicação, 2012. 103 P.
e Fraternidade.
A Fraternidade por si, busca tanto uma _____. Estatuto da Pessoa com Deficiência nº.
mudança no meio normativo, quanto no meio so- 13146, de 6 de julho de 2015.
cial, cujo compreende os indivíduos e sua cultu- Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
ra. A mudança no meio normativo gera um efeito com Deficiência. Diário oficial República
que, com o passar do tempo, é capaz de trans- Federativa do Brasil, Brasília. 101 p.
formar a consciência dos indivíduos de uma na-
ção. O quadro de deficientes no Brasil apresenta _____. Senado Federal. Lei de Diretrizes e
uma grande evolução em relação aos deficien- Bases da Educação Nacional: nº. 9394/96.
tes que migraram do ensino especializado para Brasília: Senado Federal, 1996.
o ensino regular, isso se dá por conta de normas
que visam a incentivar essa mudança, a fim de _____. Lei nº. 7.853 de 24 de outubro de
obter uma maior igualdade e fraternidade entre 1989. Disponível em: < http://www.planalto.gov.
os brasileiros. br/CCIVIL_03/leis/L7853.htm>. Acesso em: 16
Apesar desse progresso, o deficiente se de jan. 2016.
depara com inúmeras dificuldades de perma-
_____. Lei nº. 13.146 de julho de 2015.
nência no ensino regular, especialmente no en-

134 Akrópolis, Umuarama, v. 23, n. 2, p. 125-136, jul./dez. 2015


Os efeitos da integração...

Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ socioeducacional. Umuarama: Universidade


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DEL DERECHO FRATERNO: ACCESO Y
GANDIN, D.; GANDIN, L. A. Temas para um PERMANENCIA DEL DISCAPACITADO EN LA
projeto político-pedagógico. 4. ed. ver., ampl. ENSEÑANZA SUPERIOR
e atual. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. p. 82.
Resumen: Se ha buscado con ese estudio, a través
de investigación documental y bibliográfica, presen-
HESSE, K.A Força Normativa da tar un panorama bajo la inclusión de discapacitados
Constituição. Alemanha: Sergio Fabris, 1991. en la enseñanza superior, revelando las principales
15 p. dificultades que estas personas encuentran en estos
ambientes de enseñanza. Por lo investigado, se ha
PESSINI, M. A et al. Um estudo qualitativo: percibido la necesidad de mejor formación del cuerpo
alunos portadores de deficiência no ensino docente, iniciando en su plan curricular y pedagógico,
superior. Porto Alegre: Akrópolis, 2002. pues en muchos casos, el profesor se muestra des-
provisto para actuar frente a un estudiante discapaci-
PRANDI, L. R; FARIA, W. F. As marcas da tado. Así que, es indispensable no solo la participaci-
inclusão educacional no projeto politico ón del Estado, actuando como legislador de normas
pedagógico dos cursos de pedagogia que garanticen y aseguren derechos y accesibilidad,
e sua relação com o desenvolvimento sino la participación y la aceptación por parte de las
personas. El factor cultural y social son tan o más

Akrópolis, Umuarama, v. 23, n. 2, p. 125-136, jul./dez. 2015 135


PRANDI, L. R.

importantes como el factor ley. Todavía, remitiendo al


origen del trípode de ideales que impulsaron la Revo-
lución Francesa, Libertad, Igualdad y Fraternidad, se
ha buscado mostrar la presencia de este último en la
Constitución y en las normas del Derecho brasileño,
además de su conceptuación, que ha sido confundi-
da y deturpada a lo largo de los años.
Palabras clave: Derecho Fraterno; Enseñanza Su-
perior; Preparación de Profesores.

136 Akrópolis, Umuarama, v. 23, n. 2, p. 125-136, jul./dez. 2015

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