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E CUIDADOS
PALIATIVOS
Introdução
A morte é uma experiência universal, e seu entendimento foi construído
de acordo com o período vivido pelo ser humano, dependendo da cultura
e sociedade estabelecidas, criando-se muitas crenças e práticas em torno
desses fenômenos. A humanidade, independentemente do período ou
lugar, procura lidar com ela e sua finitude das diversas maneiras possí-
veis. Já os ritos mortuários são o modo pelo qual se considera a morte,
apresentando várias características sobre o grupo que os aplica e suas
formas de representação no mundo.
Neste capítulo, você estudará a definição de ritos mortuários, sua
importância e seu significado para o mundo, reconhecendo o que a
morte significa para algumas religiões, sobretudo as praticadas no Brasil.
Ritos mortuários
A prática de rituais ocorre desde os primórdios da humanidade e, de acordo
com Dias (2009), possui uma relevância significativa que se encontra em
seu desenvolvimento e sua imposição aos integrantes, tanto em sociedades
simples como complexas.
2 Ritos mortuários nas diferentes religiões
Um exemplo sobre a concepção de auxílio fica evidente, por ser uma atitude atemporal,
na preparação do corpo — ao banhá-lo, ungi-lo ou vesti-lo —, a qual permite à pessoa
prolongar a permanência com o falecido, adiando a separação.
Cada grupo tem suas tradições, nas quais procura uma forma de entregar a
matéria física à natureza e o espírito ao Criador, assim, quando chega a hora,
a natureza requisita o corpo físico do morto, entregando seu espírito a quem
o criou. De acordo com Carvalho e Parsons (2012), alguns grupos preferem
4 Ritos mortuários nas diferentes religiões
o curso das águas, em que o corpo é colocado em uma balsa ou livre ao mar
para achar seu Criador. O elemento água representa o berço da vida, o líquido
amniótico que envolve o embrião; já a balsa é o componente que afasta o
indivíduo da morte e o aproxima do seu próximo caminho e vida, renascendo
em outro local, aqui ou no mundo imaterial.
Outros grupos, por sua vez, preferem a terra, o grande elemento que sustenta
a vida, sendo nela que se repousa o último suspiro. Cada porção de terra que
cobre o corpo físico separa-o mais da morte e encobre a própria fragilidade
inerente ao ser humano, apagando sua mortalidade. Por conseguinte, a terra
oculta o corpo do falecido como se nada tivesse acontecido e, em pouco tempo,
outras vidas surgirão, na constante transformação de que a terra dispõe.
Não obstante, existem aqueles que prefiram o fogo, elemento transforma-
dor e avassalador por essência, que liberta e purifica a matéria. Nesse caso,
a fumaça proveniente do fogo se eleva aos céus, regressando o indivíduo ao
mundo dos espíritos.
Determina-se que os ritos mortuários, além de promoverem um caminho,
um meio para que o falecido chegue ao mundo imaterial, proporcionam aos
entes que ficaram no plano material encontrarem conforto, consolo e capacidade
de presenciar a morte em uma dimensão transcendental.
2000
Espíritas Evangélicos não
1,30 determinados
Outras religiosidades 1,00%
Evangélicos de missão 1,80% Umbanda e
4,10% candomblecistas
Sem religião 0,30%
7,40%
Evangélicos pentecostais
neopetencostais
10,40%
Católicos
73,70%
2010
Espíritas
2,00
Outras religiosidades Evangélicos não
2,70% determinados
Evangélicos de missão 4,90%
4,10%
Sem religião
8,00%
Agora que você já conheceu as religiões mais praticadas no país, cabe rea-
lizar um estudo sobre o rito mortuário que cada uma apresenta, evidenciando
as características que as distingue das demais.
6 Ritos mortuários nas diferentes religiões
Catolicismo
Considerado uma vertente do Cristianismo, é a religião mais praticada no
país, por isso, grande parte dos ritos mortuários católicos são concretizados
de maneira semelhante. De acordo com Dias (2009), o ritual de exéquias,
denominado pela Legislação Diocesana, se trata de um momento de conforto
e esperança.
Para os católicos, o significado da morte é visto como uma passagem,
uma entrada para a ressurreição, sendo que essa religião considera somente
os vivos e ressuscitados, marginalizando os mortos. Segundo Dias (2009),
a funerária faz a preparação do corpo do defunto e encaminha-o para um
local a ser velado, onde permanece para visitação de familiares, amigos e
conhecidos. Vela-se o corpo com orações, como o pai-nosso e a ave-maria,
já um padre ou ministro realiza a celebração para entregar sua vida às mãos
de Deus, podendo utilizar elementos como vela, incenso, água benta e flores.
O velório pode ser realizado tanto na casa do morto como no cemitério
que será enterrado ou cremado, e, ao lado do caixão, colocam-se velas que
representam a luz de Cristo ressuscitado e a vida que se esvai, mas que sempre
brilhará como as chamas. Caso seja em local distinto do enterro, dele segue-se
o cortejo fúnebre para o cemitério, acompanhando o carro que leva o corpo.
Geralmente, o enterro ocorre em até 24 horas do velório.
Outro hábito comum é a vivência ao luto. De acordo com o catolicismo,
deve-se passar pela tristeza da perda de um ente querido, assim, muitos vestem
um traje preto para simbolizar que perderam um amigo ou um familiar. Durante
esse processo de despedida, realiza-se celebrações em memória do falecido no
sétimo dia de sua morte, no primeiro mês e ano — tal procedimento precisa
existir para que as pessoas que permaneceram no mundo físico possam lidar
da melhor forma com a morte.
Evangelismo
Para os evangélicos, segundo Novaes (1983 apud SILVA, 2011, p. 2), o ritual
funerário é caracterizado pela ideia de que a morte não deve ser presenciada
como um momento de tristeza e sofrimento, mas, sim, a realização do ideal
da salvação.
Na maioria dos casos, o velório inicia-se antes mesmo do corpo do morto
chegar à capela e, apesar de ser caracterizado como o momento de salvação,
existe o sentimento de tristeza, pesar e solidariedade que permanece por dias,
sendo uma fase de luto para aqueles que ficam. É comum que os presentes
Ritos mortuários nas diferentes religiões 7
Espiritismo
Segundo os estudos de Carvalho e Parsons (2012), no espiritismo, logo que
acontece a morte, a alma do falecido retorna ao mundo dos espíritos, de onde
saiu temporariamente para realizar outra reencarnação. Assim, a morte não
existe e é apenas uma passagem, porque se acredita na eternidade do espírito,
sendo o corpo material apenas um elemento; já a reencarnação tem o propósito
8 Ritos mortuários nas diferentes religiões
Tradições afro-brasileiras
De acordo com as tradições afro-brasileiras, a esfera da natureza e o mundo
espiritual estão incorporados, por isso, os ritos caminham também segundo
Ritos mortuários nas diferentes religiões 9
CANDOMBLÉ: Axexê Vida e Morte: parte 3. Juntos no Candomblé, [s.l.], mar. 2011. Dis-
ponível em: <https://www.juntosnocandomble.com.br/2011/03/candomble-axexe-
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CARVALHO, R. T.; PARSONS, H. A. (Orgs.). Manual de cuidados paliativos ANCP. 2. ed. São
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DIAS, P. R. C. Ritos e rituais: vida, morte e marcas corporais: a importância desses símbo-
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas do censo demográfico
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REZENDE, A. L. M. et al. Ritos de morte na lembrança de velhos. Revista Brasileira de
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SILVA, A. V. Rituais interacionais: o enterro evangélico. Revista Intratextos, Rio de Janeiro,
n. esp. 2, p. 1–16, 2011. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/
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Ritos mortuários nas diferentes religiões 11
Leitura recomendada
RIOS, R. Mavutsinim e o Kuarup: guia de leitura para o professor. São Paulo: SM,
2008. 47 p. Disponível em: <http://educavalores.edicoessm.com.br/wp-content/
uploads/2013/05/292-Guia-de-leitura-Mavutsinim-e-o-Kuarup.pdf>. Acesso em: 7
dez. 2018.
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