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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS (UFG) - REGIONAL JATAÍ


UNIDADE ACADÊMICA DE ESTUDOS GEOGRÁFICOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

DIVINO JOSÉ LEMES DE OLIVEIRA

O PAPEL DAS COOPERATIVAS NA ORGANIZAÇÃO


SÓCIO-ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE IPORÁ-GO

JATAÍ
2021
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DIVINO JOSÉ LEMES DE OLIVEIRA

O PAPEL DAS COOPERATIVAS NA ORGANIZAÇÃO


SÓCIO-ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE IPORÁ-GO

Tese apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Geografia, da Unidade Acadêmica
de Estudos Geográficos, da Universidade Federal
de Jataí (UFJ), como requisito para obtenção do
título de Doutor em Geografia. Área de
concentração: Organização do espaço nos
domínios do cerrado brasileiro. Linha de pesquisa:
Organização e gestão do espaço rural e urbano
do cerrado brasileiro.
Orientador: Professor Doutor Dimas Moraes
Peixinho.

JATAÍ
2021
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DEDICATÓRIA

Dedico essa tese as pessoas que acreditam em um mundo melhor, aqueles que
acreditam que outro mundo é possível e lutam por mais igualdade, solidariedade
e por justiça para as pessoas mais excluídas. Dedico ainda para pessoas que
defendem e lutam por verdadeira inclusão na educação em todos os níveis.
Dedico também para todos os meus familiares, pares da universidade,
acadêmicos que são e foram meus alunos, das instituições sociais que integro e
especialmente para meus pais, esposa e filhos; todos estes tiveram que conviver
com minha constante ausência, e às vezes presença parcial, ou mesmo com
minha presença aflita, desatenta e temperamental durante todo esse processo de
construção da tese.
E por fim dedico a todas as pessoas que de alguma maneira tiveram participação
na construção dessa tese.
9

AGRADECIMENTOS

Agradeço a aos meus familiares, esposa, filhos, pais e amigos/as que me


apoiaram para que eu conseguisse concluir essa Tese. Agradeço por todo
suporte, paciência e dedicação.
Agradeço ao professor Dr. Dimas Moraes Peixinho por me orientar, pela
compreensão, pela dedicação e zelo, pela partilha de seus conhecimentos.
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Jataí
e aos companheiros e companheiras do LAGER, do Grupo de Dialética, do Alzira
e do LAPPEGEO.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal de Jataí, William, Cabral, Maria José, Dimas, Scopel, Alécio, Eguimar,
Evandro César, Márcio, Frederico, Márcio, Ariovaldo Umbelino, Ivanilton, dentre
outros que me ofereceram a oportunidade de partilha de conhecimentos através
da ministração de disciplinas. Agradeço ainda pela motivação e por terem me
proporcionado essa oportunidade de aprendizado vivenciada tanto no mestrado,
como no doutorado.
Agradeço e faço memória à professora Zilda que teve importante contribuição em
minha formação.
Agradeço aos demais professores/as do Programa de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal de Jataí, que mesmo não tendo oportunidade
de fazer uma disciplina com os mesmos, mas que me acolheram durante todo
esse tempo de formação.
Agradeço ao professor Cristiano Silva e a UEG de Jataí, que me acolheu,
especialmente em momentos de maior dificuldade financeira.
Aos colegas do curso, com os quais compartilhei dúvidas, angústias e às vezes
algumas alegrias.
À UEG, unidade de Iporá, especialmente ao curso de Geografia, sucessivamente
aos meus pares que muito me ajudou para que eu pudesse frequentar as aulas
de doutorado e para realização das demais atividades inerentes ao mesmo.
À FAPEG pelo apoio financeiro.
Agradeço aos diretores e cooperados das cooperativas do município de Iporá,
que dedicaram tempo, dados e informações para realização dessa pesquisa.
Aos cooperados e cooperadas que me acolheram em suas residências,
compartilhando conhecimentos, informações e sentimentos.
10

Agradeço aos amigos Valdir, Thiago, Hyago, Wayrone e especialmente


Washington, pela sensibilidade e colaboração na construção de caminhos
possíveis para realizar essa pesquisa.
11

O meu egoísmo é tão egoísta, que o auge do meu egoísmo é


querer ajudar.
(Raul Seixas)

A cooperação é facilmente evidencianda através da colaboração e


do pensamento coletivo, o que permite atingir um objetivo comum.
E a solidariedade é a condição avançada do cooperativismo; é
possível pratica-la de várias maneiras, mas especialmente através
da vivência em uma cooperativa. A quem não tiver oportunidade
ou interesse em cooperar, seja ao menos, no dia a dia mais
solidário e viverás melhor.
O autor
12

Não me esperem para colheita. Estarei sempre a semear.


Se você é capaz de tremer de indignação diante de qualquer
injustiça no mundo, então somos companheiros.
Ernesto Rafael Guevara.

Jamais houve na história um período em que o medo fosse tão


generalizado e alcançasse todas as áreas da nossa vida: medo do
desemprego, medo da fome, medo da violência, medo do outro.
Milton Santos (2000, p. 58)
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RESUMO

A tese analisa o cooperativismo no contexto de sua origem, e a sua influência na


organização sócio-espacial no município de Iporá. O objetivo desta pesquisa foi
compreender como o as cooperativas agem na organização do município de
Iporá. A tese demonstra que as cooperativas do município de Iporá influenciam na
organização do espaço municipal. A tese demonstra que há alguma relação entre
o espaço construído e o cooperativismo. O trabalho é também uma contribuição
teórica relativa ao cooperativismo e a relação entre o cooperativismo e a
organização sócio-espacial. O cooperativismo é um sistema que interfere em
todas as escalas de organização do espaço, sendo capaz de alterar e intervir em
nível de escala local, regional e nacional. A partir dos dados obtidos em campo e
com base em reflexões teóricas, foi possível constatar que o sistema
cooperativista é um elemento de mudança no município de Iporá, especialmente
nas últimas décadas. Salienta-se ainda que o espaço de Iporá se organiza
especialmente a partir da produção do leite, porém, existem mudanças atuais que
possibilitam a reorganização espacial através do cooperativismo. Trata-se de uma
pesquisa analítico-interpretativa, com base no processamento e análise de dados
e informações, disponíveis e coletadas em campo, a fim de explicar o contexto em
que se insere o cooperativismo na organização sócio-espacial do município de
Iporá.

Palavra-chaves: Organização do espaço. Cooperativas. Desenvolvimento


regional. Solidariedade.

ABSTRACT

The thesis analyzes cooperativism in the context of its origin, and its influence on
the socio-spatial organization in the municipality of Iporá. The objective of this
research was to understand how the cooperatives act in the organization of the
municipality of Iporá. The thesis demonstrates that the cooperatives in the
municipality of Iporá influence the organization of the municipal space. The thesis
demonstrates that there is some relationship between the built space and
cooperativism. The work is also a theoretical contribution related to cooperativism
and the relationship between cooperativism and socio-spatial organization.
Cooperativism is a system that interferes with all scales of space organization,
being able to change and intervene at the local, regional and national level. From
the data obtained in the field and based on theoretical reflections, it was possible
to verify that the cooperative system is an element of change in the municipality of
Iporá, especially in the last decades. It should also be noted that the Iporá space is
especially organized based on milk production, however, there are current
changes that make spatial reorganization possible through cooperativism. It is an
analytical-interpretative research, based on the processing and analysis of data
and information, available and collected in the field, in order to explain the context
in which cooperativism is inserted in the socio-spatial organization of the
municipality of Iporá.

KEY WORDS: Space Organization. Cooperatives. Regional development.


Solidarity.
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LISTAS DE FIGURAS

Figura 1 - Pioneiros de Rochdale e o armazém ....................................................75


Figura 2 - Emblema do cooperativismo ................................................................87
Figura 3 - A evolução da logomarca da COOMAFIR ............................................90
Figura 4 - A logomarca da COOPERCOISAS ......................................................91
Figura 5 - COOPROL e sua logomarca ................................................................92
Figura 6 - Theodor Amstad foi reconhecido como patrono do cooperativismo
brasileiro ..............................................................................................................126
Figura 7 - Número de empregados do gênero feminino continua aumentando ..163
Figura 8 - Distribuição da população do Estado de Goiás e os atuais dados
demográficos do município de Iporá – 2020 .......................................................186
Figura 9 - Planta municipal de Iporá no ano de 1949 e imagem fotografada em
2014 de parte da área Central que corresponde a referida planta .....................194
Figura 10 - Órgãos Regionais instalados em Iporá .............................................200
Figura 11 - Imagens dos prédios de alguns órgãos públicos de caráter regional201
Figura 12 - Imagens referentes às Cooperativas de Iporá ..................................202
Figura 13 - Fachada de hospitais do município de Iporá ....................................204
Figura 14 - Imagens de igrejas e evento religioso ..............................................206
Figura 15 - Algumas instituições educacionais ...................................................209
Figura 16 - Instituições de influência regional .....................................................212
Figura 17 - Imagens de atividades culturais e de lazer e também atrativos
turísticos ..............................................................................................................214
Figura 18 - Paralelo comparativo do IDH geral dos municípios brasileiros ........218
Figura 19 - O IDHM Renda do município de Iporá ..............................................219
Figura 20 - IDH Longevidade referente ao ano de 2010 .....................................220
Figura 21 - IDH Educação referente ao ano de 2010 .........................................221
Figura 22 - Nova sede do SICREDI ....................................................................266
Figura 23 - Área de construção da COMIGO, homenagem ao presidente da
COMIGO e fachada da nova loja ........................................................................269
Figura 24 - Unimed de Iporá ...............................................................................271
Figura 25 - Reunião com diretores da Unimed ...................................................272
Figura 26 - Agência do SICOOB e Quiosque .....................................................273
Figura 27 - Fachada da sede e veículo cadastrado na COOPERTRAS .............274
Figura 28 - Estrutura funcional da COOPROL ...................................................301
Figura 29 - Sede da COOPERCOISAS .............................................................319
Figura 30 - Barraca da COOPERCOISAS na Festa de Maio .............................330
Figura 31 - Cartaz de divulgação do Banco Pequi ..............................................335
Figura 32 - Decreto de nomeação do responsável para o Centro de
comercialização de Iporá ....................................................................................344
Figura 33 - O Centro de Comercialização ...........................................................345
Figura 34 - Feira da Agricultura Familiar .............................................................347
Figura 35 - Escritório da COOMAFIR .................................................................362
Figura 36 - As microrregiões alcançadas pela COOMAFIR ...............................370
Figura 37 - Algumas evidências da intervenção da COOMAFIR ........................383
Figura 38 - Mosaico com os principais parceiros da COOMAFIR ....................386
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Figura 39 - Cooperativas filiadas à CENTROLEITE ...........................................389


Figura 40 - Nota oficial emitida pela COOMAFIR sobre as parcerias estabelecidas
.............................................................................................................................394
FIGURA 41 - Reunião com o Deputado Rubens Otoni .......................................395
Figura 42 - Automóvel adquirido através de parceria – Emenda parlamentar ....395
Figura 43 - Carta de agradecimento ...................................................................396
Figura 44 - Veículo Fiat Strada adquirido através de parceria ...........................397
Figura 45 - Parcerias e convênios estabelecidos junto a COOMAFIR ...............398
Figura 46 - O primeiro convênio com o PAA .......................................................400
Figura 47 - Valores pagos pelo PNAE comparado aos valores pagos no
CEASA/GO e produção disponibilizada ao PAA .................................................402
Figura 48 - Algumas atividades como exposições, cursos e eventos .................411
Figura 49 - Stand da COOMAFIR em uma das maiores festividades da
microrregião ........................................................................................................417
Figura 50 - Nova sede da COOMAFIR em fase de acabamento e ao lado o local
onde será a agroindústria ...................................................................................421
Figura 51 - A Feira semanal ................................................................................431
Figura 52 - Plantação de cana de açúcar realizada em um alqueire de terra ....435
Figura 53 - Galpão da fábrica de farinha do Taquari ..........................................437
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LISTA DE FLUXOGRAMAS

Fluxograma 1 - Procedimentos metodológicos .....................................................40


Fluxograma 2 - Ramos do Cooperativismo ...........................................................93
Fluxograma 3 - Redes de relações e estruturação do sistema cooperativista via
OCB ....................................................................................................................138
Fluxograma 4 - Organização do cooperativismo brasileiro por ramos ................146
Fluxograma 5 - Índices atuais alcançados pelo cooperativismo do Brasil ..........175
Fluxograma 6 - Hierarquia urbana do Brasil segundo o IBGE ............................197
Fluxograma 7 - Centralidade do município de Iporá segundo o REGIC-2007 ....199
Fluxograma 8 - Ramos do cooperativismo goiano ..............................................226
Fluxograma 9 - Sistema representativo e relação organizacional da OCB-Goiás
.............................................................................................................................228
Fluxograma 10 - Os antecedentes para processo de estruturação das
cooperativas locais ..............................................................................................284
Fluxograma 11 - Ramo de atuação das cooperativas locais ..............................290
Fluxograma 12 - A ação prática da cooperativa na vida do produtor .................293
Fluxograma 13 - Ações de intervenção e contribuições do cooperativismo local294
Fluxograma 14 - Algumas Contribuições e ações da COOMAFIR .....................295
Fluxograma 15 - Projeto em andamento e projetos em perspectivas .................303
Fluxograma 16 - Critérios que definem o valor do leite ......................................312
Fluxograma 17 - Cooperados da COOPROL .....................................................314
Fluxograma 18 - Intervenção da cooperativa junto ao cooperado ......................316
Fluxograma 19 - Função trabalhista e tipo de produção dos cooperados
fundadores ..........................................................................................................321
Fluxograma 20 - Os aspectos para inserção da cooperativa ..............................324
Fluxograma 21 - Algumas ações do MDA no Território Rural Médio Araguaia por
meio da integração da COOPERCOISAS e outras instituições ..........................328
Fluxograma 22 - A criação do Banco Comunitário .............................................334
Fluxograma 23 - Disposição funcional do Banco PEQUI ....................................337
Fluxograma 24 - O processo de implantação do Centro de comercialização .....340
Fluxograma 25 - Gestão compartilhada para o Centro de Comercialização ......341
Fluxograma 26 - A nova gestão compartilhada .................................................343
Fluxograma 27 - As vendas na feira ...................................................................355
Fluxograma 28 - Os agricultores familiares que fomentaram a criação da
cooperativa ..........................................................................................................363
Fluxograma 29 - Os produtos comercializados ...................................................366
Fluxograma 30 - Municípios de onde são os cooperados da COOMAFIR .........369
Fluxograma 31 - Ações que contribuíram para o crescimento da COOMAFIR ..373
Fluxograma 32 - A cooperativa na organização da produção dos cooperados ..378
Fluxograma 33 - Estrutura funcional da cooperativa .........................................390
Fluxograma 34 - Aspectos vivenciados pela COOMAFIR através do PAA ........403
Fluxograma 35 - O programa PAA a partir da COOMAFIR ................................406
Fluxograma 36 - Municípios atendidos pela COOMAFIR através do PNAE no ano
de 2019 ...............................................................................................................407
Fluxograma 37 - A venda de hortifrútis através da COOMAFIR e do PNAE ......409
Fluxograma 38 - Ações e perspectivas ...............................................................410
Fluxograma 39 - Orientação aos cooperados para evitar o uso de agrotóxicos na
produção .............................................................................................................419
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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Aumento do número de cooperativas ...............................................132


Gráfico 2 - Número de Cooperativas no Brasil ...................................................148
Gráfico 3 - Evolução do coopertivismo de crédito entre os anos de 1990-2008 .151
Gráfico 4 - Cooperados (associados) no Brasil ..................................................155
Gráfico 5 - Trabalhadores empregados nas cooperativas brasileiras .................161
Gráfico 6 - Desenvolvimento demográfico do município de Iporá ......................188
Gráfico 7 - Dados demográficos 1970 a 2020 ....................................................189
Gráfico 8 - Evolução do emprego em Iporá – 2018 ............................................193
Gráfico 9 - Número de cooperados em Goiás no período de 2013 a 2017 ........242
Gráfico 10 - Unidades rurais em Iporá (1970-2006) ...........................................247
Gráfico 11 - Município de Iporá - Distribuição dos imóveis rurais de acordo com o
tamanho da propriedade – 2006 .........................................................................248
Gráfico 12 - Rebanho Bovino por cabeça no município de Iporá .......................249
Gráfico 13 - Produção de Aves e suínos no município de Iporá .........................254
Gráfico 14 - Médias mensais de chuva em Iporá-GO .........................................257
Gráfico 15 - Perfil de produtores de hortaliças (%) .............................................260
Gráfico 16 - O número de cooperados ................................................................305
Gráfico 17 - Paralelo comparativo da produção de leite .....................................306
Gráfico 18 - Comparação da média de leite /dia produzida por produtor ...........307
Gráfico 19 - Preço médio do litro de leite pago ao produtor entre os anos de 2010
a 2021 .................................................................................................................309
Gráfico 20 - Gênero e idade dos feirantes ..........................................................351
Gráfico 21 - Origem dos produtos ......................................................................353
Gráfico 22 - A produção a partir dos feirantes ....................................................354
Gráfico 23 - Renda mensal .................................................................................356
Gráfico 24 - Participação dos feirantes ..............................................................357
Gráfico 25 - Evolução do número de cooperados 2009-2021 ............................371
Gráfico 26 - Cooperados da COOMAFIR por gênero .........................................375
Gráfico 27 - Jovens que são cooperados ...........................................................377
Gráfico 28 - Acesso a terra para produção .........................................................379
Gráfico 29 - Leite recolhido pela COOMAFIR 2019 (Mil litros/dia) .....................414
Gráfico 30 - Evolução da produção de leite – (mil litros leite/mês) - COOMAFIR
2011-2019 ...........................................................................................................415
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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Número de cooperados de acordo com cada estado brasileiro ..........157


Mapa 2 - Comparativo da área territorial do município de Iporá antes e depois da
perda de território para criação de outros municípios .........................................179
Mapa 3 - Município de Iporá – 1948 ...................................................................181
Mapa 4 - Limites territoriais do município de Iporá – 2019 .................................182
Mapa 5 - Rodovias que incidem em Iporá ..........................................................185
Mapa 6 - Distribuição de cooperativas por mesorregião em Goiás ....................238
Mapa 7 - Distribuição de cooperativas no território goiano por Mesorregião ......241
Mapa 8 - Uso e ocupação do solo - Características de Iporá e algumas relações
com as cooperativas ...........................................................................................244
Mapa 9 - Caracterização do relevo do município de Iporá .................................251
Mapa 10 - Caracterização hidrográfica e altimétrica ...........................................256
Mapa 11 - Estrutura rodoviária de acessibilidade ao município de Iporá ...........261
Mapa 12 - Localização da sede das cooperativas do município de Iporá ..........297
Mapa 13 - A abrangência da cooperativa quanto à residência de seus cooperados
............................................................................................................................. 323
Mapa 14 - Municípios compradores de produtos da Coopercoisas ....................332
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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Abordagens de espaço a partir de Milton Santos ...............................46


Quadro 2 - Possíveis significados para espaço segundo Harvey .........................48
Quadro 3 - As três formas espaciais segundo Lefebvre .......................................49
Quadro 4 - Significado do termo Cooperativismo e suas terminações .................61
Quadro 5 - Referências na construção do cooperativismo ...................................65
Quadro 6 - Referências na construção do cooperativismo ...................................71
Quadro 7 - Princípios do cooperativismo de acordo com o estatuto de Rochdale,
em 1844 ................................................................................................................77
Quadro 8 - Princípios cooperativistas referendados em congressos da ACI .78
Quadro 9 - Conceitos e valores cooperativistas ...................................................81
Quadro 10 - Conceituando as bandeiras do cooperativismo ................................88
Quadro 11 - Algumas influências do sistema cooperativista ..............................112
Quadro 12 - Iniciativas de desenvolvimento econômico de um local .................118
Quadro 13 - Propostas para o Cooperativismo brasileiro ...................................170
Quadro 14 - Estrutura educacional do município de Iporá ..................................208
Quadro 15 - Crescimento do cooperativismo em Goiás .....................................235
Quadro 16 - Utilização das terras do município ..................................................246
Quadro 17 - Preço dos produtos disponíveis para venda ...................................253
Quadro 18 - Caracterização de algumas famílias de comunidades de base ......276
Quadro 19 - Vantagens em cooperar ..................................................................292
Quadro 20 - Principais características das cooperativas locais ..........................299
Quadro 21 - Os primeiros sócios ........................................................................320
Quadro 22 - Algumas ações e projetos ...............................................................323
Quadro 23 - Produtos vendidos pela COOPERCOISAS ....................................329
Quadro 24 - O Diagnóstico da Feira da Agricultura Familiar e da Economia
Solidária ..............................................................................................................349
Quadro 25 - Os Objetivos, missão e valores da Feira ........................................350
Quadro 26 - Caracterização da COOMAFIR ......................................................367
Quadro 27 - Influência da Cooperativa na organização produtiva ......................382
Quadro 28 - Histórico da CENTROLEITE ...........................................................387
Quadro 29 - Os fatores para definição do preço do leite ....................................292
Quadro 30 - Depoimentos a partir de participantes dos projetos Pró-Leite e Balde
Cheio ...................................................................................................................412
Quadro 31 - A intervenção da COOMAFIR ........................................................422
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LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ACI Aliança cooperativa internacional


AABB Associação atlética banco do Brasil
ACCI Associação de combate ao câncer Iporá
ADAP Declaração de aptidão ao programa nacional de
fortalecimento da agricultura familiar
AGRODEFESA Agência goiana de defesa agropecuária
AGROTEC Centro de tecnologia agroecologia de pequenos
agricultores
AMOG Associação de muladeiros do Oeste Goiano
APREIS Atores, práticas e pesquisas europeus e internacionais
pelo desenvolvimento sustentável
APROSANTA Associação de moradores e produtores rurais da região
da cabeceira da Santa Marta
BATAVO Cooperativa agropecuária batavo
BB Banco do Brasil
BCDS Bancos comunitários de desenvolvimento
BNDES Banco nacional de desenvolvimento econômico e social
CAIXA Caixa econômica federal
CAGEL Cooperativa agropecuária de Goianésia
CASTROLANDA Cooperativa agroindustrial
CBCL Confederação brasileira das cooperativas de laticínios
CEASA Centrais de abastecimento
CEBS Comunidades eclesiais de base
CECAF Central das cooperativas da agricultura familiar
CECRED Cooperativa central de crédito urbano
CECOOP Conselho estadual do cooperativismo
CEPEA Centro de pesquisas econômicas da escola superior de
agricultura
CEPMG Colégio da polícia militar de Goiás
CEJA Centro de educação de jovens e adultos
CENTROLEITE Cooperativa central de laticínios de Goiás
CDL Câmara de dirigentes lojistas
CF Constituição federal
CLIMED Clínica médica
CLT Consolidação das leis do trabalho
COAMO Cooperativa agroindustrial brasileira
COAPIL Cooperativa agropecuária mista de Piracanjuba
COCAMAR Cooperativa agroindustrial Maringá
COCAPEC Cooperativa de cafeicultores e agropecuaristas
COMIGO Cooperativa agroindustrial dos produtores rurais do
Sudoeste Goiano
COMSOL Rede brasileira de comercialização solidária
COMVAPI Cooperativa mista do vale do Rio Piranhas
CONFESOL Confederação das cooperativas centrais de crédito
rural com interação solidária
CONSEA Conselho nacional de segurança alimentar e
nutricional
COPERSUCAR Cooperativa brasileira de açúcar e etano
CNR Central de notícias da região
21

CNC Confederação nacional das cooperativas


CNCOOP Confederação nacional do cooperativismo
CONDRAF Conselho nacional de desenvolvimento rural
sustentável
CONAB Companhia nacional de abastecimento
COOLMEIA Cooperativa agroindustrial de desenvolvimento
mercadológico de Goiás
COOPERCAP Cooperativa mista agroindustrial dos agricultores
familiares dos municípios de Caiapônia e Palestina de Goiás
COOPERGUIA Cooperativa mista dos agricultores familiares da
Comunidade nossa Senhora da Guia
COOPERJARDIM Cooperativa mista de agricultores e agricultoras
familiares de bom jardim de Goiás
COOPRALTHO Cooperativa regional dos produtores de leite de alto
Horizonte
COOPERASES Cooperativa agropecuária I.P.F.A. Araguaia e região
COOPECAMPI Cooperativa agropecuária regional de Campinorte
COOPERAFI Cooperativa de agricultura familiar de Itapuranga
COOPER AGRO Cooperativa regional agropecuária de Rubiataba
COOPERNORTE Cooperativa do norte goiano
COOPAOURO Cooperativa agropecuária do córrego do ouro
COOPERSIL Cooperativa agropecuária mista dos produtores rurais
de Silvânia
COOPER BELGO Cooperativa agropecuária de bela vista de Goiás
COVID-19 Doença causada pelo coronavírus
COOPERCOISAS Cooperativa dos produtores rurais de Iporá
COOMAFIR Cooperativa mista da agricultura familiar da região de
Iporá
COOPROL Cooperativa dos produtores de leite da região de Iporá
COOPERTRAS Cooperativa transporte escolar
COOPERCOISAS Cooperativa dos produtores rurais de Iporá
COOPERATIVA ABC Cooperativa Arapoti, batavo, Castrolanda
COOPERGÊNERO Programa gênero e cooperativismo
COOPAVEL Cooperativa agroindustrial
COOPERPRIMA Cooperativa do artesanato costureiras e tecelagem de
Primavera do Leste
CNBB Conferência nacional dos bispos do Brasil
CREDICOCAPEC Cooperativa de crédito rural
CRESOL Cooperativa de crédito rural
CRENHOR Cooperativa de crédito rural de pequenos agricultores e
da reforma agrária do Centro Oeste do Paraná
CRI Clube recreativo de Iporá
CSI Clínica da saúde de Iporá
CUT Central única dos trabalhadores
DEAM Delegacia especializada de atendimento à mulher
DECAM Departamento de cooperativismo e acesso a mercados
DOU Diário oficial da União
ECOSOL Empreendimentos de economia solidária
ECOCUT Escola Centro-Oeste de formação sindical da CUT
EJA Educação de jovens e adultos
EMATER Empresa de assistência técnica e extensão rural
EMBRAPA Empresa brasileira de pesquisa agropecuária
ENEL Empresa de energia elétrica italiana
22

ESSAS Programa economia solidária sustentável na América


do sul
FAI Faculdade de Iporá
FEECOP Federação dos sindicatos e organizações das
cooperativas
FENCOOP Frente parlamentar do cooperativismo
FECOOP Federação dos sindicatos das cooperativas
FESTMUSIC Festival de música
FNQ Fundação nacional da qualidade
FETRAF Federação dos trabalhadores na agricultura familiar
FETAEG Federação dos trabalhadores na agricultura do estado
de Goiás
OCB Organização das cooperativas brasileiras
GDA Programa de desenvolvimento econômico-financeiro
GDH Gestão do desenvolvimento humano
GO Goiás
HEMOCENTRO Banco de doação e coleta de sangue
IPEA Instituto de pesquisa econômica aplicada
IEO Instituto de estética e odontologia
IBAMA Instituto brasileiro do meio ambiente e dos recursos
IBGE Instituto brasileiro de geografia e estatística
IBRACE Instituto Brasil central
IDH Índice de desenvolvimento humano
IDHM Índice de desenvolvimento humano do município
IF GOIANO Instituto federal goiano
IMB Instituto Mauro Borges
INCRA Instituto nacional de colonização e reforma agrária
INSS Instituto nacional de seguro social
IPASGO Instituto de assistência dos servidores públicos do
estado de Goiás
ITALAC Fundação da empresa GoiasMinas
LACTOSUL Lactosul indústria de laticínios
MEG Modelo de excelência da gestão
MAPA Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento
MDL Programa mecanismo de desenvolvimento limpo
MP Ministério do trabalho
MDA Ministério do desenvolvimento agrário
MTE Ministério do trabalho e emprego
NEFROCENTER Clínica de hemodiálise
NESOL Núcleo de economia solidária/SP
NTE Núcleo de tecnologia educacional
OAB Ordem dos advogados do Brasil
OCA Organização cultural, artística e desportiva de Iporá
OCB Organização das cooperativas brasileiras
OCEMG Sindicato e organização das cooperativas do estado de
minas gerais
OCESP Organização das cooperativas do estado de São Paulo
OCG Organização das cooperativas do estado de Goiás
ONU Organização das nações unidas
PNAE Programa nacional de alimentação escolar
PAA Programa de aquisição de alimentos
PDGC Programa de desenvolvimento da gestão das
cooperativas
23

PIB Produto interno bruto


PJ Pastoral da juventude
PJE Pastoral da juventude estudantil
PJR Pastoral da juventude rural
PJMP Pastoral da juventude do meio popular
PROINF Programa nacional de apoio à infraestrutura e serviços
nos territórios
PRONACOOP Programa nacional de fomento às cooperativas de
trabalho
PRONAF Programa nacional de fortalecimento da agricultura
familiar
PSD Partido social democrático
PT Partido dos trabalhadores
PU Pastoral universitária
RAIS Relação anual de informações sociais
RECOOP Revitalização das cooperativas agropecuárias
REGIC Regiões de influência das cidades
SAF Secretaria de agricultura familiar e cooperativismo
SAMU Serviço de atendimento móvel de urgência
SANEAGO Companhia saneamento de Goiás
SENACOOP Secretaria nacional do cooperativismo
SESCOOP Serviço nacional de aprendizagem do cooperativismo
SEBRAE Serviço brasileiro de apoio às micro e pequenas
empresas
SECIP Sindicato dos empregados do comércio de Iporá
SEDUC Secretaria de estado da educação
SEFAZ Secretaria da fazenda de Goiás
SDT Secretaria de desenvolvimento territorial
SICREDI Sistema de crédito cooperativo
SICOOB Sistema de cooperativas de crédito do Brasil
SICRED Sistema de crédito cooperativo
SIF Serviço de inspeção federal
SINTEGO Sindicato dos trabalhadores em educação de Goiás
SENAES Secretaria nacional de economia solidária
SENAR Serviço nacional de aprendizagem rural
SRTR Sindicato rural dos trabalhadores rurais
SUP Sociedade união popular
TECNOSHOW Feira de tecnologia em agronegócio
TG Tiro de guerra
UCEG União das cooperativas no estado de Goiás
UDN União democrática nacional
UDG Universidade católica de Goiás
UEG Universidade federal de Goiás
UFG Universidade federal de Goiás
UFJ Universidade federal de Jataí-UFJ
UMADEGO União de mocidades das assembleias de Deus
UNIMED Confederação nacional das cooperativas médicas
UNICRED União sócio cooperativa de crédito
UNB Universidade de Brasília
UPA Unidade pronto atendimento
UTI Unidade de terapia intensiva
VITTORE Clínica dentista
24

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................27

2 - O ESPAÇO COMO ORGANIZAÇÃO SOCIAL E SUAS MÚLTIPLAS


SIGNIFICAÇÕES ..................................................................................................43

2.1 Conceito de espaço e o espaço Social ...........................................................45


2.2 O espaço: derivações e formas ......................................................................47
2.3 Um olhar para o espaço a partir das relações desiguais ................................51
2.4 A organização sócio-espacial .........................................................................53
2.5 Espaço de Exclusão e de Solidariedade .........................................................56
2.6 Movimentos Sociais como Organizadores do Espaço Social .........................58

3 - SOCIEDADE COOPERATIVAS: CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS


FUNDAMENTAIS .................................................................................................60

3.1 Raízes do cooperativismo em perspectiva: pensadores e referências ...........64


3.2 Princípios Fundamentais do Cooperativismo ..................................................76
3.3 Doutrina Cooperativista: Representações e Interpretações Simbólicas ........80
3.3.1 A simbologia como meio de visibilizar o cooperativismo .............................84
3.4 Classificação dos Ramos Cooperativistas ......................................................93
3.5 Elementos de análise parcialmente conclusivos .............................................98

4 - O COOPERATIVISMO COMO FORMA DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL .......100

4.1 Bases Estruturais do Cooperativismo ...........................................................102


4.2 O Cooperativismo no Processo de Organização Mundial ............................107
4.3 O Cooperativismo em contexto de sua atuação ...........................................111
4.4 Influências do Cooperativismo no processo local .........................................113
4.4.1 Cooperativismo - um instrumento de desenvolvimento local .....................116

5 - CONTEXTUALIZANDO O COOPERATIVISMO NO BRASIL ......................122

5.1 Contribuições do padre Theodor Amstad para o surgimento do cooperativismo


no Brasil ..............................................................................................................125
5.2 A estruturação do cooperativismo a partir da OCB .......................................132
5.3 Contextualizações inerentes ao Cooperativismo no Brasil ...........................142
5.4 Dados que revelam o crescimento do cooperativismo brasileiro ..................145
5.5 A inserção do cooperativismo .......................................................................158
5.6 Os Desafios do Cooperativismo no Brasil .....................................................167
5.7 Propostas para o Cooperativismo no contexto atual ....................................169
25

6 - CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA: O MUNICÍPIO DE IPORÁ – UMA


CENTRALIDADE EM CONSTRUÇÃO ...............................................................177

6.1 Caracterização demográfica do Município de Iporá ......................................186


6.2 Contextualizando alguns elementos do processo de estruturação de Iporá 194
6.3 Estrutura Funcional e Atrativos para Promover Atendimento Regional ........196
6.4 Alguns indicadores do Município de Iporá ....................................................216

7 - RESULTADOS E EVIDENCIAÇÕES A PARTIR DO COOPERATIVISMO EM


GOIÁS E NO MUNICÍPIO DE IPORÁ ................................................................223

7.1 Bases estruturais e originárias do Cooperativismo no Estado de Goiás ......224


7.2 Espacialização do cooperativismo em Goiás ................................................234
7.3 Um olhar para algumas caraterísticas físicas do município de Iporá na relação
com o cooperativismo .........................................................................................243
7.4 Cooperativismo no Município de Iporá ..........................................................264
7.4.1 SICREDI .....................................................................................................265
7.4.2 A presença da COMIGO ............................................................................267
7.4.3 A cooperativa de saúde: UNIMED .............................................................270
7.4.4 A atuação do SICOOB em Iporá ................................................................272
7.4.5 COOPERTRÁS: Uma cooperativa local de transporte ..............................274
7.5 Os antecedentes das cooperativas locais .....................................................275
7.6 Considerações a partir das evidenciações apresentadas .............................287

8 - O COOPERATIVISMO EM IPORÁ ...............................................................288

8.1 As funções e ações resultantes das cooperativas locais .............................298


8.2 COOPROL: Cooperativismo organizador da produção do leite ....................301
8.3 COOPERCOISAS: uma cooperativa com ações voltadas para práticas
solidárias ............................................................................................................318
8.3.1 Banco Comunitário Pequi e moeda social Pequi .......................................333
8.3.2 Centro de Comercialização de Iporá ..........................................................339
8.3.3 Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária ..............................346
8.3.4 COOPERCOISAS: um exemplo aferido ....................................................358
8.4 COOMAFIR: uma cooperativa que influência no processo de organização do
espaço .................................................................................................................361
8.4.1 A memória do processo de mobilização ....................................................365
8.4.2 Algumas contribuições para organização do espaço e outros aspectos que
identificam o perfil da COOMAFIR/cooperados ..................................................368
8.4.3 Organização e ações no contexto da COOMAFIR ....................................380
8.4.4 As parcerias são importantes para as ações da COOMAFIR ....................385
8.4.4.1 A CENTROLEITE, cooperativa externa como parte de cooperativa local,
atuando como influenciadora na venda da produção interna ............................387
8.4.5 Outras parcerias e ações ...........................................................................394
8.4.6 A COOMAFIR em contexto atual ...............................................................404
8.4.7 COOMAFIR: uma possibilidade de organização solidária atual sobre a
construção do espaço local .................................................................................424
8.5 O cooperativismo evidenciado através das cooperativas .............................425
8.5.1 A organização cooperativista .....................................................................425
8.5.2 A função das cooperativas .........................................................................427
8.5.3 Estrutura das cooperativas ........................................................................428
26

8.5.4 Associação Viver da Terra e Feira ZAP como parte do processo de


organização sócio-espacial do município ...........................................................430
8.5.5 Cooperativa do Álcool ................................................................................434
8.5.6 Uma síntese sobre as cooperativas locais .................................................438

9 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................440

10 – REFERÊNCIAS ..........................................................................................449
27
28

Dentre as perspectivas para construção de uma tese, destaca-se a


possibilidade de reflexão, análise e reanálise a partir de uma determinada
temática. Partindo desse entendimento é que se buscou estudar o cooperativismo
no contexto de sua origem-surgimento e a sua influência na organização sócio-
espacial de um determinado lugar. A temática e/ou temas relacionados que se
propõe estudar nessa tese não se configuram como novidade quando buscados
em portais especializados de pesquisa acadêmica, ou em bancos científicos
nacionais e internacionais. Porém, a abordagem a respeito da referida temática
aplicada e relacionada ao local (campo de estudo) escolhido para essa pesquisa
possui caráter totalmente inédito.
Diante disso, o cooperativismo, fenômeno estudado nesta pesquisa,
possibilita pensar e analisar sua capacidade de influência na organização sócio-
espacial do município de Iporá. Faz-se relevante saber que o cooperativismo teve
suas primeiras experiências ocorridas na Europa, mais precisamente na
Inglaterra, no ano de 1844, tendo, dentre seus princípios: “Adesão voluntária e
livre, gestão democrática, participação econômica dos sócios, autonomia e
independência, educação, formação e informação, intercooperação e interesse
pela comunidade” (BRASIL, 2012, Art. 3º). Os princípios do cooperativismo têm
relação direta com ideias fundamentadas em autores como Kautsky (1972) e
Bursztyn (1985). Contudo, muitos pesquisadores, como Oliveira (1979), Bogardus
(1984), Aquino (1993), Pinho (1997), dentre outros, afirmam que pensadores de
orientação socialista, especialmente utópicos, como François Marie Charles
Fourier, Robert Owen e Claude-Henri de Rouvroy, são a base para a
fundamentação teórica dos princípios de solidariedade e cooperativismo.
Um marco importante nesse processo histórico deu-se no ano de 1844,
no bairro de Rochdale, em Manchester, na Inglaterra, com a criação da primeira
cooperativa formal de trabalhadores (28 tecelões). Uma cooperativa de consumo,
resultado de uma luta para superar o capitalismo, sendo que seus princípios
serviram de referencial para o movimento cooperativista no mundo (PINHO, 1966;
RECH, 2000). Portanto, o movimento cooperativo surge como uma forma de
solidariedade entre as pessoas, a partir do século XIX, período da Revolução
Industrial. Nasce como meio para obter melhorias nas condições de vida pessoal
e de promoção do desenvolvimento de uma região ou de um local. Assim, o
cooperativismo se assenta como possibilidade de melhoria da condição de vida
das pessoas de um determinado local, pois permite que os cooperados convivam
e troquem experiências de modo que se tornem donos do próprio negócio,
29

tenham direito de participação de forma igualitária, obtenham ganhos de escala e,


obviamente, participem de negociações em melhores condições, alcançando
ganhos individuais e coletivos, possibilitando, ainda, que contribuam diretamente
na vida em comunidade.
De acordo com Frantz (2002, p. 1), o “[...] associativismo, com o
sentido de cooperação, é um fenômeno que pode ser detectado nos mais
diferentes lugares sociais: no trabalho, na família, na escola etc”. Todavia, a
cooperação é melhor compreendida no sentido econômico, na medida em que
promove a produção e a distribuição de produtos e bens necessários à
sobrevivência.
Pressupõe-se que a participação em uma cooperativa é importante
para o desenvolvimento social e econômico de um grupo de pessoas. Com
relação à produção, o cooperativismo ainda possibilita a redução de custos
econômicos, além da organização coletiva dos envolvidos para se posicionarem
politicamente.
De acordo com Delgado e Romano (2003), o cooperativismo facilita a
união das pessoas para superar diversos problemas sociais. Uma cooperativa é
uma associação autônoma, composta por um mínimo de vinte pessoas que se
unem voluntariamente para atender às necessidades coletivas de cunho social,
cultural e econômico.
O cooperativismo permite combater a exclusão social e o desemprego;
as pessoas cooperadas se opõem ao modelo selvagem de concentração de
renda e de exploração impregnado pelo capitalismo, propondo-se a lutar pelo
desenvolvimento econômico coletivo e solidário. Nesse mesmo sentido, para
Singer (2002), o cooperativismo é um meio de enfrentar as crises oriundas do
capitalismo, praticando a cooperação solidária. Porém, é importante destacar que
essas perspectivas apresentadas não possuem validade geral, pois, o sistema
cooperativo atual assumiu, na maioria dos casos, a forma de empresas
comerciais.
O cooperativismo é um sistema que interfere em todas as escalas de
organização do espaço, sendo capaz de alterar e intervir em nível de escala local,
regional e até nacional. O campo, por exemplo, é uma das melhores
representações de intervenção e organização obtida via ação do cooperativismo,
que é um dos principais responsáveis por organizar os agricultores e modernizar
o manejo produtivo. Já na zona urbana sobram exemplos de interferência do
cooperativismo na organização do espaço. Para melhor esclarecer o que está
30

sendo dito, podem ser citadas as cooperativas de catadores de papel e


recicladores que encontram no cooperativismo uma forma de se ajudarem
mutuamente, produzindo emprego, FONTE de renda e de distribuição, além de
transformarem a paisagem com a retirada de lixo das vias urbanas, provocando a
diminuição dos impactos ocorridos nos lixões.
Esta pesquisa buscou entender, por meio do fenômeno cooperativista,
as inferências e influências possíveis na organização sócio-espacial de um
município. Nesse sentido, foi analisado o espaço por meio da compreensão do
que se concebe por sistema cooperativista; para que fosse possível esse
entendimento foi preciso considerar como valores a democracia, a solidariedade,
a igualdade, a necessidade de se ajudar mutuamente e o compromisso de
responsabilidade social. Esses que são elementos que fazem o espaço
cooperativo diferente de outras formas espaciais, pois a lógica espacial capitalista
está baseada na competição, na valorização da acumulação individual e/ou
empresarial. Todavia, é importante ressaltar que o cooperativismo não é
anticapitalista; ele é, na verdade, uma contraposição que busca oportunizar e criar
melhores condições de igualdade e participação na produção capitalista, ou seja,
é um movimento que apresenta uma forma de organizar as atividades
econômicas, culturais e sociais em um sistema econômico capitalista.
Nesse mesmo viés reflexivo quanto ao cooperativismo e sua influência
na organização sócio-espacial, pergunta-se: é possível, no sistema capitalista,
uma forma de organização espacial que se contraponha à lógica de acumulação?
Ou então, que ao menos possibilite promover a diminuição da acumulação para
promover acesso e distribuição de renda? A resposta é sim, o cooperativismo, por
exemplo, é uma organização social que se contrapõe à ordem lógica de
acumulação capitalista, viabilizando a participação por meio do acesso e da
inclusão no processo de produção, distribuição e repartição de renda. Portanto, o
que diferencia a organização espacial por meio do capitalismo da organização
espacial viabilizada pelo cooperativismo no seu processo de acumulação, é que,
a acumulação numa cooperativa é para o coletivo, e no capitalismo é para o
indivíduo (individual) ou para apenas1 uma classe social. De tal forma, numa
cooperativa não existe lucro e tão somente sobras, que devem ser
regulamentadas no estatuto para que se viabilize a distribuição destas aos seus

1
Existe exceção nesse caso para as empresas de capital aberto, que são aquelas que colocam ações
disponíveis ao mercado, geralmente negociadas na Bolsa de Valores. Porém, mesmo o processo de
acumulação permitindo atender o coletivo, continua não sendo igualitária a distribuição, o que as torna
diferentes das cooperativas.
31

respectivos cooperados. Neste mesmo sentido, é preciso que fique bem claro
que o cooperativismo não é uma organização ou fenômeno que não visa ganhos
financeiros, mas esses ganhos não devem vir antes do bem-estar social.
O cooperativismo no Brasil – Faz-se importante rememorar que,
juntamente com o processo da Revolução Industrial, no ano de 1844, em
enfrentamento à exploração imposta por meio do capitalismo, é que surgem as
primeiras iniciativas de organização cooperativista no mundo; as experiências
vivenciadas na Europa, especialmente na Inglaterra, serviram de exemplo para a
difusão-expansão cooperativista, inclusive para que a mesma chegasse ao Brasil.
Porém, somente em 1889 é que foi registrada a primeira cooperativa brasileira,
que atuava no segmento de consumo, no município de Ouro Preto - Minas Gerais
(PINHO, 1982). Posterior à implantação dessa cooperativa, muitas outras foram
surgindo, inclusive em segmentos diferentes, voltadas especialmente para o
cooperativismo de crédito e agropecuário.
Nas primeiras décadas do século XX no Brasil ocorreram sucessivos
resultados econômicos negativos, que serviram como indutores de condições
para proliferação de cooperativas. Salienta-se que em 1908 ocorreu a queda do
PIB per capita de 6,3%. No período de 1930 e 1931 ocorreu a queda de
exportações do café, num patamar de 65%. Em 1942, a inflação chegou a 16,2%
(IPEA, 2015). Esse momento de crise inflacionária ocorreu dentre os diversos
fatores, em função da baixa produção industrial, que, por consequência, acabou
provocando um aumento de excedente de mão de obra. A partir das sucessivas
crises brasileiras que historicamente sempre ocorreram, muitas pessoas foram se
organizando em grupos cooperativistas ou associativistas, como forma de
enfrentar as dificuldades vivenciadas; portanto, muitos grupos se organizaram
com o objetivo de buscar novas alternativas de sobrevivência, especialmente de
natureza econômica, para melhorar as condições de vida e para promover um
novo modelo de desenvolvimento econômico que fosse mais justo e inclusivo.
Como se observa mesmo em situação de crise, concomitantemente, ocorre um
aumento de cooperativas no Brasil; e como isso ocorre e outros dados serão
explorados na discussão desta tese.
Entre os anos de 1929 e 1950, muitas cooperativas “coloniais” foram
criadas pelos imigrantes que objetivavam eliminar os intermediários que
comercializavam os produtos agrícolas; esse período ficou conhecido como a era
romântica do cooperativismo. Posteriormente, com forte incentivo do Estado,
32

muitas cooperativas agropecuárias também foram criadas (PINHO, 2004;


FREURY, 1983).
O processo de expansão do cooperativismo pelo território brasileiro é
considerado tardio se comparado à expansão do mesmo em diversos outros
países. Porém, muito marcante no processo de ascensão-expansão do
cooperativismo brasileiro foi também a criação da Organização das Cooperativas
Brasileiras (OCB), que ocorreu em 02 de dezembro de 1969. Seguidamente, no
ano de 1971, foi melhor definida a normatização para criação de cooperativas no
território brasileiro, que se deu com a sanção da Lei nº 5.764/1971.
Contraditoriamente, a mesma Lei tornou vulnerável a autonomia das
cooperativas. A referida situação só foi superada com a promulgação da
Constituição de 1988, que redefiniu o direito de autogestão às próprias
cooperativas (SILVA, 2006). Daí em diante o movimento cooperativista se
expandiu por todo o território brasileiro e ganhou notoriedade internacional,
sobretudo, no ano de 1995, quando um brasileiro, paulista, Roberto Rodrigues, foi
eleito presidente da Associação Cooperativa Internacional. Notoriamente, o
sistema cooperativista ganhou significativo investimento por meio da inclusão no
sistema S; na ocasião, foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem do
Cooperativismo (SESCOOP), que tinha a função de potencializar e aperfeiçoar a
gestão de cooperativas já existentes e difundir a cultura cooperativa a novos
interessados.
Preâmbulo do cooperativismo no estado de Goiás – O
cooperativismo em Goiás se consolidou tardiamente em relação a muitos outros
estados brasileiros. Muitos fatores justificam esse desenvolvimento tardio, dentre
eles cita-se o fato de o estado ter sido apropriado e povoado mais densamente
somente a partir do planejamento e da interferência do Governo Federal brasileiro
com a Marcha para o Oeste, por meio dos programas de financiamento e de
incentivo voltados para a produção agrícola, e também através da construção da
nova capital. Somente na metade do século XX é que começam a existir as
primeiras ações cooperativistas no Estado de Goiás (SILVA; BELL, 2018).
As primeiras experiências surgiram no ano de 1949, organizadas por
imigrantes italianos e poloneses no município de Rio Verde. Na ocasião se criou
as primeiras cooperativas a fim de atender o governo goiano que objetivava trazer
imigrantes para o estado, e sucessivamente povoar o mesmo, também
incentivava a utilização de técnicas novas de produção para agricultura. Buscava-
se assentar cerca de 5.000 famílias na área de quase 150.000 hectares. Salienta-
33

se que nesse mesmo período foram criadas outras duas cooperativas sendo uma
em Itaberaí e outra na fazenda Córrego Rico, localizada entre Itaberaí e Inhumas.
Houve muitas tentativas de organização de cooperativas, destacando-
se as que eram voltadas para o ramo de consumo, agropecuária e crédito rural.
Porém, a maioria se configurou como tentativas frustradas, de vida curta. O
governo até que realizava muitas ações no sentido de incentivar o surgimento
e/ou a criação de cooperativas; a Constituição do Estado de Goiás oferecia
imunidade tributária para as cooperativas e realizava atividades de formação e
assistência aos interessados. Muitas cooperativas surgiram no período que
compreende os anos de 1949 a 1960, contudo, muitas estavam atreladas ao
Estado, fato que de certa forma influenciava negativamente na independência e
liberdade das mesmas. Entretanto, algumas cooperativas foram sendo
reorganizadas e se desenvolveram ao ponto de pleitearem a criação de uma
associação das cooperativas, criada no estado de Goiás no ano de 1956,
denominada União das Cooperativas no Estado de Goiás – UCEG (SOCBEG,
2016).
A partir de 1970 o cooperativismo goiano passou a contar com
importante estruturação de muitas cooperativas. Mas foi em meados de 1980, que
o cooperativismo em Goiás se estabeleceu mais rapidamente, chegando a um
total de 90 cooperativas. Sequencialmente, foi lançado o “Plano Integrado de
Desenvolvimento do Cooperativismo Goiano”, que foi importante para a
integração das cooperativas goianas e para a expansão do cooperativismo
goiano. De tal modo, Goiás foi marcado pela mecanização e pela modernização
rural, processo que influenciou no aumento das exportações; consequentemente,
muitos produtores e trabalhadores viram no cooperativismo uma oportunidade
para se organizarem e potencializarem seus ganhos (SOCBEG, 2016).
Muitas foram a ações, dentre as quais se pode destacar que em 1987,
foi realizada uma importante parceria com a Associação Goiana de Imprensa,
que, na ocasião, realizou o concurso para premiar os melhores trabalhos
jornalísticos com o tema “A importância do cooperativismo no desenvolvimento
socioeconômico”. Um pouco posteriormente, mas precisamente em 2006, o
número de cooperativas já tinha aumentado significativamente, chegando a 193
cooperativas registradas na Organização de Cooperativas Brasileiras de Goiás,
somando 87.941 associados-cooperados. Essas cooperativas eram distribuídas
de acordo com seus ramos de atuação da seguinte forma: “[...] agropecuário era o
de maior destaque, com 53, seguido pelo crédito (29), trabalho (28), saúde (24),
34

transporte (23), educacional (12), infraestrutura (10), consumo (6), habitacional


(4), produção (3) e mineral (1)” (CENSO, 2006).
De acordo com o Censo 2016 do cooperativismo, o número de
cooperativas em Goiás saltou em um período de 10 anos para 243 (SOCBEG,
2016). Observa-se que os valores citados, referentes ao número de cooperativas
que se estabeleceram a partir de 1980 no estado de Goiás, se comparados a
estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa
Catarina são compatíveis, mas se constata que nesse mesmo período o número
de cooperativas já existentes nos estados do eixo Rio, São Paulo e estados do
Sul eram bem maiores do que no estado de Goiás, o que significa que a
estruturação do cooperativismo ocorreu tardiamente no território goiano.
O cooperativismo contextualizado a partir da organização sócio-
espacial no município de Iporá – Partindo das informações, registros de dados
sobre o cooperativismo no mundo, Brasil e Goiás, buscou-se questionar como
ocorre a participação do cooperativismo no município de Iporá e de que forma o
cooperativismo interfere na organização sócio-espacial do referido município.
Desse modo, foi relevante também indagar: em que medida o cooperativismo
atua na organização sócio-espacial do município de Iporá? O cooperativismo é
um fenômeno de produção sócio-espacial? O cooperativismo é o principal meio
de desenvolvimento e distribuição de renda do município de Iporá? Pode o
cooperativismo contribuir para alterar a distribuição de renda no município de
Iporá?
A resposta para essas questões, não se trata de algo muito simples,
aliás, é bem complexa, pois requer caracterizar e discutir alguns elementos que
evidenciam a presença e a atuação cooperativista no município de Iporá. Diante
disso, pode-se começar considerando que, atualmente, existem quatro
cooperativas locais (de maior porte e atuação) em Iporá: 1 - COOPERCOISAS
(Cooperativa dos Produtores Rurais de Iporá), 2 - COOMAFIR (Cooperativa Mista
da Agricultura Familiar da Região de Iporá), 3 - COOPROL (Cooperativa dos
Produtores de Leite da Região de Iporá), 4 - COOPERTRAS (cooperativa
Transporte Escolar), e também há a forte atuação de uma cooperativa de origem
externa ao município de Iporá, que é a COMIGO (Cooperativa Agroindustrial dos
Produtores Rurais do Sudoeste Goiano). O cooperativismo tem, portanto,
presença em variadas áreas, passando pela produção rural, pela indústria,
educação, saúde, crédito, dentre outras.
35

É importante ressaltar que o cooperativismo é responsável “pelo


manejo de mais de 1/3 do leite produzido em Iporá e é ainda por via dele que se
produz mais de 30% de todos os produtos que são vendidos nas feiras livres”
(Cooperado, membro da diretoria da COOMAFIR) 2. São muitas ações por meio
das quais as cooperativas são as responsáveis por gerir e influenciar o arranjo
espacial do município. Evidenciado a influência do cooperativismo, salienta-se
que a COOPERCOISAS é responsável por realizar, toda quinta-feira, a feira da
agricultura familiar para venda de produtos orgânicos, ação que atende mais de
50 produtores.
Salienta-se que os gestores da referida feira têm desenvolvido o
trabalho de orientação para que cada feirante seja zeloso com relação aos
princípios de comercialização de produtos orgânicos, além ainda da realização de
várias reuniões de orientação coletiva. Porém verificamos que para a
comercialização dos referidos produtos ainda não existe uma certificação de
regulamentação que ateste que os mesmos são realmente orgânicos. A
COOMAFIR é responsável por gerir o Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA), que somente em 2016 movimentou mais de R$ 325.000,00 e envolveu
diretamente 74 produtores, beneficiando 34 entidades (OESTE GOIANO, 2016). A
presença do cooperativismo é tão significativa na região de Iporá que inclusive
provocou a criação de uma moeda local, intitulada PEQUI, uma feira exclusiva
para agricultura familiar, um centro de abastecimento, dentre outras importantes
ações.
Ao verificar esses dados preliminares, pode-se dizer que o sistema
cooperativista é um elemento de mudança no município de Iporá, especialmente
nas últimas décadas. Salienta-se ainda que o espaço de Iporá se organiza a partir
da produção do leite, porém, existem mudanças atuais que possibilitam a
reorganização espacial através do cooperativismo.
Portanto, é um desafio criar uma cultura que considere a necessidade
de desenvolvimento econômico e que se paute pelo respeito às pessoas, pelo
cuidado com a preservação do meio ambiente, pela sustentabilidade, pela
democracia e solidariedade. Nesse sentido, percebe-se que o cooperativismo
pode ser uma opção viável de desenvolvimento econômico e social para o
município de Iporá, local onde predominam pequenas e médias propriedades

2
O mesmo faz parte da referida cooperativa desde a sua fundação, já integrou diversos movimentos sociais
do município de Iporá, foi vereador, e é um dos responsáveis pela gestão de programas como o PAA e o
PNAE. Entrevista concedida em 10 de novembro de 2016.
36

rurais. De acordo com Lima (2016), mais de 80 % das propriedades rurais têm, no
máximo, 100 hectares, e Carvalho (2014, p. 12) afirma que em Iporá “a maioria
dos produtores são agricultores familiares por possuírem pequenas propriedades
e utilizarem mão de obra familiar”. Diante desse contexto, a pesquisa proposta
buscou demonstrar se há uma relação entre a organização espacial de Iporá e o
cooperativismo e, em havendo, como ela se dá. Assim, entende-se que a tese
dessa pesquisa é a de que o cooperativismo ou as ações das cooperativas
participam na organização sócio-espacial do município de Iporá.
Contextualizações estruturais da pesquisa – A partir da busca de
compreensão das relações de influência do cooperativismo, é salutar destacar
que a Geografia procura compreender as formações sócio-espaciais,
contextualizadas nas suas contradições. E por entender que a realidade que
envolve a formação do cooperativismo no município de Iporá é importante para
compreender a organização espacial, especialmente nos últimos 15 anos, se
motivou fazer essa investigação como proposta de tese no Programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás, hoje Universidade
Federal de Jataí-UFJ, dentro da linha de pesquisa: Organização e Gestão do
Espaço Rural e Urbano do Cerrado Brasileiro.
Objetivou-se nesta pesquisa compreender em que medida o
cooperativismo participa da produção e da organização espacial no município de
Iporá, dentro de uma lógica produtiva e competitiva no contexto regional.
Portanto, se buscou analisar a dinâmica espacial por meio das
experiências de cooperativismo no município de Iporá, identificando o papel do
cooperativismo na produção/organização espacial do município. Por fim, verificou-
se que o cooperativismo é um fenômeno que produz uma maior solidariedade na
organização sócio-espacial no município de Iporá.
Esta pesquisa justifica-se por sua relevância, pois busca saber em que
medida há alguma relação entre o espaço construído e o cooperativismo e ainda
suprir considerável deficiência teórica relativa ao assunto, especialmente no
município proposto para o estudo. Além disso, procura demonstrar que existem
diversas pesquisas nesse mesmo viés abordado, mas se diferencia por
demonstrar a realidade, contribuindo geograficamente com esse fenômeno
(cooperativismo) que já existe, mas que pode auxiliar na organização do espaço
em Iporá, podendo, ainda, contribuir para melhorar a compreensão da realidade
local.
37

Entende-se que essa temática tem relevância social, pois busca


entender problemas locais, averiguando se o cooperativismo tem sido uma via de
organização do espaço e se sua funcionalidade provoca melhoria nas condições
sociais das pessoas atingidas. De tal modo, demonstra comprometimento e
aproximação com a comunidade pesquisada.
A partir de literatura nacional e internacional, foi estruturado o
arcabouço teórico-metódico sobre a temática da produção e organização do
espaço, tendo o sistema cooperativista como elemento analítico. Alguns autores
clássicos e contemporâneos que tratam dessa temática, como Maria Tereza
Leme Fleury, Luiz Salgado Klaes, Carlos Marques Pinho, David Harvey, Milton
Santos, Paul Singer, Ruy Moreira, Walter Frantz, dentre outros, foram utilizados
de forma a oferecer sustentação teórica ao estudo e muito contribuíram para a
compreensão da temática “O cooperativismo e o seu papel no contexto da
organização sócio-espacial do município de Iporá”.
Destacam-se entre as principais referências selecionadas: Pinho
(1977), com “Economia e cooperativismo”; Santos (1979, 2007), com “Espaço e
sociedade” e “O espaço do cidadão”, respectivamente; Abramovay (2000), com
“Funções e medidas da ruralidade no desenvolvimento contemporâneo”; Singer
(2000), com “A economia solidária no Brasil”; Veiga (2001), com “Cooperativismo
uma revolução pacífica em ação”; Frantz (2003), com “Caminhos para o
Desenvolvimento pelo Cooperativismo”; Harvey (2005), com “A produção
capitalista do espaço”; e Arroyo e Schuch (2006), com “Economia popular e
solidária: a alavanca para um desenvolvimento sustentável”.
A literatura escolhida teve importante relevância no processo de
estruturação e discussão teórica e serviu como base referencial para melhor
entendimento dos conceitos que a pesquisa se propôs estudar. As proposições de
autores já citados e previamente selecionados possibilitaram, ainda, compreender
a realidade na qual está inserido o município de Iporá e a influência do
cooperativismo no arranjo organizacional desse espaço. Buscou-se, portanto,
relacionar o embasamento teórico ao processo de ocupação e à atual
organização espacial do referido município, de modo que foi feita uma análise
bibliográfica, aplicadas entrevistas semiestruturadas e realizada a observação
direta no local de estudo. Diante disso, a pesquisa pode ser classificada como
analítico-interpretativa.
Procurou-se também sustentar a pesquisa com dados oriundos de
diversas e variadas fontes, como as já citadas, inclusive com as secundárias, tais
38

como: elementos censitários, artigos e publicações em revistas/jornais, relatos de


pessoas (produtores, gestores e coordenações) envolvidas na organização
cooperativista, imagens (fotografias) e informações cartográficas, dentre outras.
Portanto, a presente tese como já especificado trata-se de uma
pesquisa analítico-interpretativa, pois se buscou estudar e avaliar dados e
informações disponíveis e coletados em campo de estudo, a fim de tentar explicar
o contexto em que se insere o fenômeno (cooperativismo) na organização sócio-
espacial do município de Iporá. Procurou-se ainda descrever fatos,
acontecimentos e características a partir das referências bibliográficas e do
campo pesquisado, além de refletir sobre as relações existentes no mesmo.
A pesquisa é também teve um viés exploratório, pois busca
informações a partir de fatos e acontecimentos vivenciados pelas pessoas
pesquisadas, além de procurar esclarecer fatos históricos e geográficos.
Pretendeu-se entender a influência do cooperativismo no processo de
organização do espaço, de modo a desvelar as relações existentes, as
modificações no modo e nas condições de vida das pessoas cooperadas, no
intuito de demonstrar como ocorreu o processo de apropriação territorial do
município de Iporá e como o mesmo influenciou no atual modelo de produção, a
fim de compreender a realidade de pessoas que são cooperadas, assim como
entender como o cooperativismo tem influenciado a organização do espaço local.
Portanto, propôs-se para realização desta pesquisa a seguinte
operacionalização da coleta de dados; um estudo de caráter qualitativo;
fundamentado na utilização de técnicas variadas que possibilitaram coletar
informações, entender e interpretar os fatos (PESSÔA, 2006) que se relacionam à
organização do espaço no município de Iporá. Escolheu-se seguir por esse
caminho de estudo pela possibilidade que o mesmo oferece, como por exemplo,
levantar dados com relativa profundidade, além de oportunizar, quantificar e criar
base de conhecimentos sobre a importância e a influência do cooperativismo no
desenvolvimento e na organização do espaço.
Pretendeu-se ainda utilizar os recursos cartográficos para melhor
representar e espacializar o município de Iporá e as relações existentes nesse
campo de estudo pesquisado. Foi preciso ainda a realização de pesquisa
documental em arquivos da prefeitura, do IBGE, do Instituto Mauro Borges e em
cooperativas.
Considerando as leituras, os estudos efetivados e o conhecimento
prévio adquirido a partir da pesquisa proposta, e também por meio de outras
39

pesquisas já realizadas no campo de estudo proposto, pode-se destacar que o


município de Iporá está localizado numa das microrregiões menos desenvolvidas
do estado de Goiás; a referida microrregião carece historicamente de
investimentos de ordem governamental e o município tem uma presença muito
significativa de pequenos produtores rurais. A FONTE de produção principal é a
agropecuária (OLIVEIRA, 2014).
Também se constatou que o empenho pela busca de alternativas para
o aumento da produção e melhoria de condição de vida sempre foi destaque nas
lutas regionais. Assim, veremos nessa pesquisa que o cooperativismo tem se
apresentado como um fenômeno de re (organização) sócio-espacial do município
de Iporá, o que o coloca como um influente de desenvolvimento econômico e
social.
Considerando esses elementos já citados, salienta-se ainda que o
município de Iporá passou por um processo de apropriação territorial com
algumas especificidades e desvelar as particularidades desse processo de
ocupação é algo relevante. Também se constatou que o cooperativismo tem
ganhado força nos últimos anos, influenciando ou promovendo uma organização
do espaço que merece ser pesquisada. Assim, entender a influência do
cooperativismo na atual organização do espaço e como ocorreu o processo de
apropriação territorial no município de Iporá se fez relevante nesta pesquisa.
As etapas dos procedimentos metodológicos realizados neste estudo
podem ser sintetizadas da seguinte maneira (fluxograma 1):
40

Fluxograma 1 - Procedimentos metodológicos

FONTE: Oliveira (2019).

Esta tese se organiza da seguinte forma: Introdução, oito seções,


considerações finais e referências. A primeira parte se refere à Introdução, em
que se apresenta a temática da tese, buscando especificar alguns problemas
encontrados relativos ao tema, relacionando-os ao objeto de pesquisa. São
apresentados também os objetivos e as justificativas para se realizar a pesquisa.
Foi ainda exposta à metodologia e os principais referenciais utilizados para
sustentar a discussão teórica e embasar as análises.
A seção 2 foi dedicada à caracterização e à conceituação do que é o
espaço. Buscou-se especificar contribuições teóricas realizadas por geógrafos
que se dedicaram a pesquisar a referida temática. A partir da abordagem
realizada, ainda tentou-se relacioná-la como meio de compreensão de ações de
estruturação de movimentos sociais, como o cooperativismo.
41

Na seção 3, foi realizada uma abordagem que evidencia os conceitos,


os fundamentos e as características de uma organização cooperativa, sendo
necessária, para tanto, realizar uma revisão literária do contexto histórico de
surgimento, estruturação de valores e princípios do cooperativismo para entender
o mesmo no contexto atual.
Na seção 4, realizou-se uma reflexão teórica para entender como se
contextualiza o cooperativismo na organização sócio-espacial; para isso, foi
necessário especificar que o cooperativismo exerce um papel de influenciador do
desenvolvimento regional, evidenciado que o mesmo é muito importante para
auxiliar os trabalhadores e produtores no processo de participação, produção e
distribuição.
Na seção 5, é apresentado o processo de criação e de
desenvolvimento do cooperativismo no Brasil. Também é contextualizado como o
mesmo se estrutura e se especializa no território nacional, além, ainda, de se
expor os principais desafios encontrados no processo de expansão do
cooperativismo.
Já a seção 6 se voltou para um levantamento de dados e informações
a fim de caracterizar e evidenciar os elementos constitutivos do município de
Iporá, que é o campo de estudo desta tese. Os resultados nessa seção foram
importantes para demonstrar que o município de Iporá exerce função de
influenciador regional.
A seção 7 é estruturada a partir de breve exposição das políticas
públicas existentes, direcionadas ao cooperativismo; também se buscou
contextualizar os censos mais recentes que se referem ao cooperativismo em
Goiás e também em nível nacional, bem como expor o papel do cooperativismo
para construção e organização da sociedade no contexto atual. Na sequência,
caracterizaram-se as evidências de existência do cooperativismo no município de
Iporá; além ainda de se destacar elementos que permitem visualizar a
interferência do cooperativismo na organização sócio-espacial local.
E, a seção 8, última da tese, foi dedicada à evidenciação dos
elementos constitutivos do município de Iporá, que se relacionam ao processo de
organização e estruturação das cooperativas locais. Para tanto, foi necessário
realizar o levantamento aguçado de dados das cooperativas: COOMAFIR,
COOPERCOISAS e COOPROL; as mesmas têm relação aproximada quanto ao
ramo de atuação.
42

E, por fim, foi completada a pesquisa com as devidas conclusões e


referências que sustentaram as discussões realizadas.
Salienta-se ainda que como ilustração para divisão de cada seção foi
utilizado algumas imagens fotográficas. As mesmas se referem a registros
realizados durante o processo de pesquisa campo. Trata-se, portanto, de imagens
registradas em propriedades de produtores da agricultura familiar, que são
cooperados nas cooperativas locais. Por conseguinte evidenciamos que não se
teve nenhuma intenção metafórica de utilizar essas imagens para analisar ou
relacionar ao subtítulo ou capítulo da sequência. As mesmas têm exclusivamente
a intencionalidade de ilustração.
43
44

Nessa seção, procurou-se problematizar a construção sócio-espacial


como possibilidade para compreender a realidade pesquisada. O espaço como
categoria analítica e como conceito consolidado na geografia é sem dúvida
aquele que, guardadas algumas divergências, é o mais abrangente na abordagem
da geografia. A opção por essa abordagem nos permitiu relacionar as ações e a
coexistência de organizações, movimentos e/ou instituições sociais,
especialmente os/as representados pelo cooperativismo.
Inicialmente, é preciso entender o que é o espaço. Como defini-lo?
Quais formas podem ser utilizadas para melhor caracterizá-lo? Quais referências
teóricas melhor o definem? O que deve ser considerado para explicar o que é o
espaço? Qual relação existe entre espaço e cooperativismo? A partir desses
questionamentos, são apresentadas, nesta seção, respostas para questões
adjacentes às elencadas, dentre outras possíveis que possam surgir.
Hartshorne (1978) apresenta o espaço como o que contém e que
recolhe coisas, ou seja, apresenta uma visão específica e única da realidade;
nesse aspecto, o estudo que o mesmo faz de diferenciação de áreas ou método
regional aponta que os diferentes espaços são subdivididos em classe de área
(parcela da superfície terrestre), de modo que elementos análogos produzem
cada classe e, consequentemente, a descontinuidade dos mesmos acarretaria
divisões de áreas.
Para Hartshorne (1978), os espaços físicos e humanos se integram, ou
seja, os fenômenos (relevo, vegetação, clima, população e outros) se
convencionam na superfície terrestre, de forma que os elementos humanos e
naturais se integram no mesmo viés.
Prosseguindo, no sentido de definir o conceito de espaço, é salutar
especificar que se trata de um termo bastante utilizado, com impregnações
variadas. Com certeza, está entre os termos que mais possuem variantes e
sentidos em dicionários ou enciclopédias. Sem muito aprofundar, pode-se expor o
espaço como contíguo de objetos e relações entre os mesmos, ou melhor,
representa-se através das relações intermediárias entre esses, sendo, portanto,
resultante da ação entre homem-espaço, mediados por objetos de cunho artificial-
natural.
Diferentemente da referência de espaço especificada por Hartshorne, o
espaço pode ser também caracterizado como construção da realidade, que, aliás,
é uma via que torna possível a compreensão do mundo social e de seus
fenômenos; de tal maneira, o que é real se evidencia por meio de atividades
45

humanas absorvidas na consciência por meio do modo de produção da vida


material (SILVA, 2014).
Como se pode perceber, é possível ressaltar, a partir da abordagem
realizada nos parágrafos anteriores que o espaço tem conceito polissêmico, ou
seja, possui várias definições.
Neste sentido, o espaço é tratado por diferentes autores, dentre os
quais são citados alguns, cujas obras foram utilizadas para leitura e compreensão
dessa abordagem: Ana Fani Alessandri Carlos, Roberto Lobato Corrêa, David
Harvey, Henri Lefrebvre e Milton Santos.
Mesmo no campo da Geografia, que tem no conceito de espaço um
dos seus eixos analíticos, há diferentes interpretações nos sentidos das
definições desse conceito e/ou na sua categoria de análise. O espaço pode ser
caracterizado ou conceituado de formas diferentes, dependendo de quem o
caracteriza; o olhar crítico, a situação, a área científica, a ciência ou mesmo o
pesquisador podem apresentar conceitos diversos sobre o espaço, de modo que
a Geografia é uma das principais ciências responsáveis por estudá-lo. Para
melhor entendimento, de acordo com Santos (1985) e Corrêa (1991), o espaço
geográfico pode ser compreendido por meio do Lugar e da Paisagem. Sendo
assim, em poucas palavras, pode-se dizer que o Lugar é real e concreto, parte da
explicação ou compreensão do sujeito; já a Paisagem pode ser concebida como
descrição de um aspecto do espaço, que é representado por elementos naturais e
culturais encontrados no mesmo.
Assume-se, nesta pesquisa, que o espaço é um conceito de
fundamental importância para os estudos procedentes da ciência geográfica,
portanto, o objeto da pesquisa foi analisado a partir da lógica espacial. Na
sequência dos próximos tópicos, pretendeu-se analisar o espaço e refletir sobre
ele, a partir de suas relações analógicas, no intuito de melhor compreender o
cooperativismo como instrumento de organização sócio-espacial.

2.1 Conceito de espaço e o espaço Social

Uma maneira de analisar e conceituar o espaço é perceber o mesmo


enquanto construção social, que decorre do processo de apropriação da natureza
pelo homem, mediado pelo trabalho e pela técnica. É também relevante ressaltar
que o espaço não é estático; ele está em constante alteração e construção, de
forma que muitos fatos e acontecimentos influenciam para que o mesmo seja
46

alterado. Exemplo clássico, especialmente nas últimas décadas, é a agricultura; a


mesma tem papel importante na transformação do espaço. É, portanto,
responsável pela alteração das formas e/ou modos de produção, e também de
ocupação, além ainda de influenciar as relações humanas e o modo de vida das
pessoas.
Pode-se apontar, então, que o espaço é uma construção social criada
pelo homem, e é representado pelas relações sociais. Isso quer dizer que o
homem produz o espaço a partir de suas necessidades; melhor dizendo, o espaço
representa a relação homem-natureza na construção do vivido, que pode ser
solidário ou contraditório, repleto de tensões e contradições espaciais.
Procedente dessa relação entre o homem e a natureza, observa-se
que as mudanças sócio-espaciais, atualmente, ocorrem intimamente relacionadas
ao desenvolvimento técnico. Cada vez mais o homem tem desenvolvido novas
técnicas de transformação e exploração da natureza. Para o geógrafo Milton
Santos, a partir do século XX, o mundo passou por um brusco processo de
transformação, especialmente o terceiro mundo, de modo que ocorreu o processo
de urbanização precedido da metropolização. Tal processo é oriundo da
mundialização planetária que envolve diretamente diversos aspectos da vida
humana e social (SANTOS, 1979). Assim, as metrópoles e/ou cidades, ao serem
concebidas como totalidade, atuam como um sistema de estruturas, que
globalmente é composto por subsistemas de caráter complementar e/ou
interdependente, que se ajustam aos distintos aspectos da modernização e da
globalização.
Milton Santos aprofundou significativamente no sentido de conceituar o
espaço, não puramente no sentido de uma categoria geográfica, mas indo bem
além, como se verifica no Quadro 1:

Quadro 1 – Abordagens de espaço a partir de Milton Santos


Santos O Espaço é um verdadeiro campo de forças cuja formação é
(1978, p.122) desigual. Eis a razão pela qual a evolução espacial não se
apresenta de igual forma em todos os lugares [...]
Santos Consideramos el espacio como una instancia de la sociedad, al
(1986, p.5) mismo nivel que la instancia económica y la instancia cultural-
ideológica. Esto significa que, en tanto que instancia, el espacio
contiene y está contenido por las demás instancias, del mismo
modo que cada una de ellas lo contiene y es por ellas contenida.
Santos [...] é um conjunto de mercadorias, cujo valor individual é função
(1996, p.67) do valor que a sociedade, em um dado momento, atribui a cada
pedaço de matéria, isto é, cada fração da paisagem. O Espaço é a
sociedade [...]
Santos O Espaço seria um conjunto de objetos e de relações que se
47

(1998, p.27) realizam sobre estes objetos; não entre estes especificamente,
mas para as quais eles servem de intermediários. Os objetos
ajudam a concretizar uma série de relações. O Espaço é resultado
da ação dos homens sobre o próprio Espaço, intermediados pelos
objetos, naturais e artificiais [...]
Santos [...] algo dinâmico e unitário, onde se reúnem materialidade e ação
(2008, p. 46) humana. O Espaço seria o conjunto indissociável de sistemas de
objetos, naturais ou fabricados, e de sistemas de ações,
deliberadas ou não. À cada época, novos objetos e novas ações
vêm juntar-se às outras, modificando o todo, tanto formal quanto
substancialmente.
FONTE: Oliveira (2018) adaptado de Santos (1978, 1986, 1996, 1998, 2008).

Averígua-se, no quadro 1, que Milton Santos evidencia que o espaço


pode ser melhor compreendido como um conjunto de formas resultantes das
relações sociais do presente atual e também do passado. Mesmo que haja ideias
diferentes nas referidas definições, a concepção dele gira em torno do espaço
como construção social.
Portanto, o espaço é considerado como um fator social, ou seja, uma
instância que dispõe de certa autonomia, porém, contido pela lei da totalidade,
sendo resultante de processo social que se reproduz via organização do ser
humano, advindo, ainda, de variáveis diferentes, que, por vez, utiliza-se de base
materialista dialética. O espaço é, portanto, social, especialmente por
corresponder ao que se pode considerar como espaço humano, o recinto de sua
própria reprodução, de trabalho, de morada e de vida.

2.2 O espaço: derivações e formas

Como já percebido, o espaço é um tema de acentuada importância


teórica para os estudos de Geografia. Porém, faz-se necessário reforçar que
qualquer progresso epistemológico para a referida temática só é possível a partir
da compreensão de que o mesmo deve ser percebido como dinâmico resultado
do trabalho dos homens na lógica de contínua transformação e de movimento
dialético. É bastante relevante também a compreensão que Henri Lefebvre, Milton
Santos, Ruy Moreira, David Harvey e outros fazem a partir da definição de
espaço, em que o mesmo, no contexto de um mundo de movimento, é visto como
contínuo, tendo a informação e a técnica relevância no processo de construção do
mundo e na articulação da produção espacial.
A percepção do que é o espaço, a partir das obras de Harvey (2002;
2004) e Santos (1979, 1998), possibilita uma discussão teórica que nos oferece
48

condições de compreender e conceituar o mesmo; de forma que esse


entendimento possibilita inclusive a compreensão da sociedade na
contemporaneidade. Nesse sentido, Santos (2008) enfatiza que a compreensão
do espaço pela lógica do meio técnico-científico evidência que existem espaços
que controlam, enquanto outros são subordinados. Expõe também que o espaço
global é composto por diferentes níveis e escalas, por um emaranhado de redes
desiguais; nesse mesmo viés, o mesmo pode ser originado dos fluxos e objetos.
A definição de espaço pode ser verificada por diferentes possibilidades
de entendimento; para melhor compreendê-lo se faz importante considerar a
existência de variabilidades determinadas pela linha de pensamento de cada
pesquisador.
De tal modo, nesse sentido a seguir se especifica a compreensão de
Harvey (2012) que define o espaço como relativo-relacional-absoluto, o que
consiste numa divisão tripartite. No Quadro 2 é apresentada a Caracterização de
cada uma delas:

Quadro 2 - Possíveis significados para espaço segundo Harvey


Espaço relativo No Espaço relativo, existem múltiplas geometrias possíveis de
serem escolhidas, enquanto o quadro-espacial é dependente de
quem o relativiza. Portanto, as geometrias não euclidianas e
Einstein têm ligação direta com o Espaço relativo.
Espaço relacional Representado pela relação entre objetos, tem profunda
aproximação com a aplicabilidade impregnada ao conceito de
forças-poderes-dialética.
Espaço absoluto Refere-se à posição ou localização às barreiras físicas, ou melhor
dizendo, possibilita a representação e localização em pontos fixos
ou em mapas. É, portanto, o Espaço de vivência e de sentidos
abstratos, como emoções e sensações.
FONTE: Oliveira (2018) adaptado de Harvey (2012).

Verifica-se no quadro 2 que Harvey (2012) apresenta uma concepção


tripartite, que representa bem como é possível conceber o conceito de espaço. Se
contextualizado em espaço relativo, absoluto e relacional, como Harvey (2012)
considera, fica passível de melhor compreensão. Para Lefebvre (1991), a ações e
formulações são representações de produção do espaço que derivam das
relações sociais, assim, “tais relações sociais são parte do processo de produção”
que se juntam ao que podemos chamar de relações de poder (LEFEBVRE, 1991,
p. 33).
Buscando aprofundar o conceito e a compreensão de espaço, Lefebvre
(1991) o representa a partir da concepção dialética materialista e pela via das
49

formas espaciais. O espaço representado através das formas espaciais pode ser
apresentado em três pontos, uma tríade, como se vê no Quadro 3:

Quadro 3 – As três formas espaciais segundo Lefebvre


Formas espaciais Conceito
Práticas espaciais ou Espaço percebido Representado por forças de produção-
reprodução em Espaço específico.
Espaço representado ou Espaço concebido Representado pela ordem imposta nas
relações de produção-reprodução.
Espaço imaginado ou Espaço vivido Representado pela incorporação de
símbolos que podem ou não ser
codificados.
FONTE: Oliveira (2018) adaptado de Lefebvre (1991).

Lefebvre (1991), além de formular as três formas espaciais de


representação do espaço, acrescenta que ele pode ser dominado e apropriado;
adiciona ainda que, para Marx e Engels, o trabalho como prática social é capaz
de produzir, ou seja, somente o homem tem a exclusividade e a capacidade de
produzir, transcendendo a oposição entre objeto e sujeito.
As concepções analíticas do espaço a partir da compreensão de
Harvey (2012), Lefebvre (1991) e Santos (1978, 1998, 2008) permitem que seja
lançado um olhar para o objeto de estudo desta pesquisa. Utilizou-se como base
para o olhar teórico os autores citados, especialmente, porque os mesmos nos
permitem uma compreensão diversa e melhor aprofundada na análise em
questão. Permitem, ainda, buscar entender como o cooperativismo se relaciona
ou se condiciona como fenômeno de organização sócio-espacial.
Evidenciou-se, portanto, o conceito de espaço e entende-se que o
mesmo possui significativa relevância, inclusive no contexto atual, como objeto de
estudo geográfico, e que a reflexão relacional sobre ele possibilita
aprofundamento epistemológico e teórico para compreender o cooperativismo em
Iporá. Porém, é salutar ratificar que não se pretendeu ou se teve ambição de
esmiuçar ou discutir toda profundidade ou possibilidade que existe referente a
esse conceito.
Percebe-se também que existe uma aproximação entre o
posicionamento de Harvey (2012) e Santos (1979, 2008), uma vez que ambos
comungam quanto a pouca clareza conceitual para definir o espaço e
sequencialmente colaboram para a superação desta carência conceitual.
Portanto, se busca nesta pesquisa (tese) fazer uso do espaço como categoria
50

analítica, conforme propõe Santos (1996), nesse sentido, a utilização do mesmo


enquanto categoria analítica nos serve como instrumento para a reflexão.
Santos (1979, 2008) propõe o espaço como um conjunto indissociável
de sistemas de objetos, ou seja, como algo que é dinâmico, onde se reúne a ação
humana e a materialidade, pois no contexto atual os atores hegemônicos são
responsáveis por controlar a técnica por meio do uso político, a fim de atender
aos seus interesses, podendo para tanto o período atual se qualificar como
técnico científico e informacional. Havey (2012) também corrobora no sentido de
compreender a existência da necessidade de articular Tempo e Espaço, e como
ocorrem os ajustes espaciais para mitigar crises do capitalismo.
Importante salientar que depois de feito esse breve entendimento
conceitual embasado nos referenciais já citados, definiu-se por seguir o
entendimento e a orientação de pensamento analítico sobre espaço defendido por
Milton Santos; para tanto, foram utilizadas como base de análise dos dados
empíricos e secundários as categorias de análise espacial: estrutura, processo,
função e forma.
Portanto tem-se como entendimento que as definições de espaço como
conceito servem para definir um fenômeno, o espaço é um sistema de ações e de
objetos. Ele é uma construção, é o resultado da apropriação da natureza, utilizada
por meio do trabalho. É, portanto, uma definição que a partir da identificação do
fenômeno permite-se melhor analisá-lo; no caso dessa pesquisa o mesmo é o
cooperativismo organizado e vivenciado por meio das cooperativas do município
de Iporá.
O espaço como categoria analítica faz o movimento, permite a
construção de uma reflexão explicativa. Assim, para refletir uma dada realidade,
tomando o espaço como um sistema de ações e de objetos, é necessária a
identificação de quais são as ações e os objetos que compõem a realidade
pesquisada. Portanto uma ação significa que tem uma intenção que move ela.
Assim, as intenções representam uma dada realidade. No caso desta pesquisa,
busca-se evidenciar as intenções das organizações cooperativas locais do
município de Iporá, através da COOMAFIR, COOPERCOISAS E COOPROL.
O espaço entendido como produção, ou seja, a partir do conceito de
espaço produzido, possibilita compreender que, uma cooperativa junta às
pessoas, as organiza em cooperados, planeja a compra, a produção e a venda.
Nesse sentido, para Milton Santos o espaço é um conjunto de objetos e ações,
que são indissociáveis. De tal forma, esse entendimento ao se aplicá-lo para a
51

análise do cooperativismo, permite entender que a cooperativa é o objeto e ao


mesmo tempo é a realizadora de ações. Seguindo esse viés de entendimento, de
tal maneira é possível se perceber o espaço como uma construção social, que no
caso dessa pesquisa, será evidenciada em seções a seguir através de maneiras
diversas, mas especialmente através das cooperativas e de seus respectivos
cooperados.

2.3 Um olhar para o espaço a partir das relações desiguais

O espaço não deve ser pensado separadamente do tempo, assim


como o tempo não deve ser dissociado do espaço, principalmente se existir
alguns elementos visíveis que se acumulam no transcorrer do tempo (SANTOS,
2009). Assim, é notório que o espaço está em transformação, que ele não é
estático. É possível dizer que o espaço é a produção, de modo que sua existência
e a da produção estão condicionadas à existência de ambos.
De tal maneira, o espaço permanece em constante transformação,
influenciando o homem a adaptar-se às diversas transformações ocorridas no
meio social, cultural, político e econômico. De acordo com Santos (2009), é
preciso pensar o espaço a partir de uma perspectiva mais solidária e humana,
pois, grande parte dos elementos estruturais, como bancos, farmácias, posto de
gasolina, lojas de móveis, livrarias e outros, é delineada para a fluidez do capital e
não para atender o ser humano.
A mudança dos atuais moldes de produção é necessária, a fim de
transformar o modelo vigente de economia, que só prioriza os detentores de
capital financeiro. Diante disso, a reconstrução espacial, desde que não seja
embasada unicamente na economia, poderá possibilitar a diminuição das
desigualdades sociais.
Destarte, o modo de viver e de se organizar está relacionado às
condições de produção capitalista, ou, melhor dizendo, está sujeito ao processo
de produção, circulação e distribuição de mercadorias, cujo alvo principal é, quase
sempre, o lucro. Salienta-se que esse modelo de produção que sustenta o
capitalismo tem um importante aliado, o Estado, o qual se volta sempre para os
interesses comuns e sociais, de uma minoria que acumula ou fica com boa parte
do capital produzido. Assim, é importante ressaltar que, o Estado atua
constantemente em função e/ou em detrimento dos interesses dessa minoria, que
sempre concentra os lucros oriundos dos diversos processos de produção. Dessa
52

maneira, o Estado cumpre o papel de produção do espaço; e o espaço, por


conseguinte, atua como reprodutor do capital.
Existe uma urgente necessidade de a sociedade se organizar e atuar
no cumprimento e efetivação dos direitos de cidadania. De acordo com Harvey
(2005, p. 144), é muito importante que seja elaborada “uma teoria geral das
relações espaciais e do desenvolvimento geográfico sob o capitalismo, que
possa, entre outras coisas, explicar a importância e a evolução das funções do
Estado [...]”. Também é preciso considerar e entender os atenuantes “[...] do
desenvolvimento geográfico desigual, das desigualdades inter-regionais, do
imperialismo, do progresso e das formas de urbanização”. De tal modo, é
relevante a criação de estruturas sociais e de um movimento em que seja feita a
reflexão e dados encaminhamentos, a fim de realizar uma ação política; é preciso
buscar ou encontrar caminhos que contribuam para a mobilização e a
organização da sociedade.
Se olharmos criticamente, a partir de uma leitura de cunho capitalista,
para a evolução humana se faz necessário considerar alguns elementos capazes
de influenciar no desenvolvimento; dentre eles, cita-se: a competitividade e a luta
pela sobrevivência, a adaptação ou acomodação, a cooperação e a colaboração,
as alterações ambientais, além do ordenamento territorial e da organização do
espaço. Harvey (2004) também fala que as escolhas políticas e sociais estão
entre as principais ações que possibilitam a ocorrência da referida evolução
humana.
Faz-se, portanto, relevante ressaltar que a evolução humana nem
sempre é bem compreendida, no sentido de que, para evoluir, é preciso que o ser
humano coopere mais entre si e se aprofunde mais na realização das práticas
sociais. Existe a premissa de que a evolução tem relação também com a
modernização.
Neste sentido, é importante dizer que a modernização, muitas vezes,
tem caráter seletivo e desigual; de certa forma, uma pequena parcela da
sociedade é privilegiada, ou seja, a maioria da população (mais pobres) pouco se
beneficia dos processos de modernização. Comumente, a modernização ocorre
nos setores produtivos, beneficiando os poucos grupos detentores de poder e
controladores de capital financeiro, ao mesmo tempo em que promove uma vasta
expansão da pobreza.
A modernização percebida a partir de elementos políticos, geográficos,
sociais e econômicos, ocorrida nos países economicamente mais pobres,
53

apresenta muitas contradições; enquanto ocorre a modernização das atividades,


também ocorre a vasta ampliação da pobreza. Nesse caso, é fato a ocorrência do
crescimento econômico, que, porém, não representa distribuição de renda e sim
concentração de renda; a grande maioria da população mais pobre é submetida à
exploração da mão de obra e à baixa remuneração, sendo coagida a viver de
forma precária e com baixa qualidade de vida.
Elementos como os evidenciados, relativos à questão do crescimento
econômico em detrimento de beneficiar poucas pessoas, provocando
concentração de renda, desigualdade social e ampliação da pobreza, nos
remetem ao entendimento de que o cooperativismo pode atuar como instrumento
de organização social, capaz de superar algumas dessas situações de
desigualdades.
Quando se busca aporte em organizações cooperativistas para melhor
demonstração de que o espaço se encontra em constante transformação; sem
grandes dificuldades se constata que por meio do cooperativismo ocorre um
intenso movimento de produção e organização social, cultural e política, que
muito colabora para essa referida transformação do espaço. E nesse mesmo viés,
se verifica que organizar a sociedade no sentido de melhor atuar para efetivação
de direitos de cidadania como conferido em Harvey (2005) é bem possível pela
via de estruturação do cooperativismo.

2.4 A organização sócio-espacial

Para Santos (1979), o espaço é dividido e organizado, basicamente,


como uma espécie de sistema, em que cada um tem um papel. Ele pode ser
dividido de acordo com as classes sociais, em que existe uma condição de
seleção do Espaço de maneira sequencial e contínua, pois o sistema vai
moldando o Espaço de acordo com as classes sociais.
Essa lógica perversa se estabelece em todos os países, mas fica mais
evidente nos países em desenvolvimento; explicitamente, é possível observar
como o espaço é dividido conforme as classes sociais.
As cidades, principalmente as grandes cidades e metrópoles, servem
como um observatório natural de como o espaço se divide e de como o sistema
econômico “dita as regras”, ou seja, vai direcionando os indivíduos para as partes
das cidades de acordo com a sua renda.
54

Essa divisão do espaço não acontece somente nas cidades; no campo,


isso também fica bem evidente, com os latifúndios de um lado, que, reiterando,
produzem muito pouco, e, contrapondo-se aos latifúndios, há as pequenas
propriedades como uma forma de contrabalançar esse modelo que divide o
espaço conforme o poder econômico do indivíduo. As pequenas propriedades de
trabalhadores rurais trazem uma divisão mais igualitária, tanto do ponto de vista
geográfico, quanto do ponto de vista econômico, uma vez que os indivíduos que
ocupam esses ambientes têm como principal finalidade a sua subsistência e de
sua família.
Para Santos (1979), a formação sócio-espacial pode ser estudada
como uma categoria de análise; a partir dessa condição, percebe-se a existência
de dois subsistemas de fluxo econômico que são interdependentes e
complementares, e são oriundos do sistema global; ressalta-se que os mesmos
são concebidos nos países que estão em desenvolvimento e também nas
grandes cidades. Ao ponderar, mediante a noção de circuitos econômicos,
percebe-se que, nas cidades, há, aparentemente, uma verticalidade do espaço
produzido a partir de escolhas obtidas via circuito superior e econômico. Também
são percebidos os domínios de horizontalidade do espaço social, onde as
pessoas vivem coletivamente e é onde incide a ocorrência de ricos e pobres, de
quem controlam e de quem são subordinados a quem tem poder.
A sociedade organiza-se espacialmente, algumas vezes, no sentido
contraditório ao que seria a lógica adequada e mais coerente, pois o espaço
deveria ser (re) produzido de forma a atender a todos de forma justa e inclusiva.
Para melhor compreender as nuances da relação entre sociedade e
espaço, e como a sociedade se especializa, são tomadas como referência as
cidades grandes, pois, nessas metrópoles, há uma complexidade maior entre a
organização social e as relações sócio-espaciais.
A maioria dos estudos e pesquisas (BUKHARIN, 1933; HARVEY, 2004;
SANTOS, 1979) sobre esse tema converge para uma realidade em que a
organização sócio-espacial está intrinsecamente ligada à questão econômica.
Se contextualizada a questão econômica, relacionada aos variados
ambientes, principalmente nos centros urbanos, distribuídos em uma espécie de
casta, é possível observar, claramente, setores distintos destinados a quem
pertence à classe “A” até à classe “D”.
A divisão e a organização sócio-espacial também se dão por meio do
grau de instrução do indivíduo. Os que podem estudar e obter uma formação
55

superior, consequentemente, ocupa uma função, principalmente em uma área


que está diretamente ligada à classe social dominante, têm sempre um lugar ou
função de destaque, enquanto aqueles que não tiveram meios para fazer um
Curso Superior culturalmente ligado às classes “A” e “B”, como Medicina,
Engenharia, Direito, Odontologia etc., estarão relegados a viverem em condições
mais precárias, em um ambiente mais periférico.
Embora essas premissas sejam uma realidade quase que inconteste,
há também setores nos centros urbanos em que as classes “B”, “C” e “D” se
misturam.
Faz-se importante destacar que mesmo em espaço de segregação
social existe, contraditoriamente, uma espécie de solidariedade entre as pessoas
que vivem nesses locais. Mas, para falar de solidariedade sócio-espacial, é
preciso ter compreensão das relações humanas ocorridas em sociedade, que
perpassam os grupos familiares, tribos e outros.
As pesquisas realizadas sobre a sociedade principalmente nas
sociedades ocidentais, capitalistas e contemporâneas, demonstram que a
solidariedade quase não aparece em ambientes em que as classes “A” e “B”
predominam, ou seja, dentro das grandes cidades; mais precisamente nos bairros
de alto padrão e nos condomínios fechados, essa palavra (solidariedade)
praticamente inexiste, pois, nesses ambientes urbanos o que prepondera é a
“frieza” nas relações humanas, isto é, num condomínio fechado, por exemplo,
onde as pessoas deveriam estreitar relacionamentos, fazendo com que esses
ambientes fiquem bem mais próximos, não é o que acontece na maioria dos
casos.
Nos bairros de alto padrão há um vazio nas ruas, denotando, de
maneira muito clara, que não há oportunidade ou interesse pela prática de
solidariedade nesses ambientes. A solidariedade está mais presente nos bairros
frequentados por classes sociais como as “C” e “D”, pois, nesses locais,
praticamente não há “espaços vazios”, a densidade demográfica é muito maior e
há uma interação direta entre esses moradores, formando, na maioria das vezes,
entre as famílias que ali residem, verdadeiros “clãs”. Nesses ambientes, pode-se
falar em “solidariedade sócio-espacial”, pois cada pedaço é valorizado, os
vizinhos são mais próximos, mais familiares.
Esses ambientes frequentados pelas classes mais desprovidas
financeiramente, como “C” e “D”, acabam formando uma cultura peculiar de
solidariedade, visto que a condição de vida de seus moradores os une por um
56

objetivo comum - a sobrevivência - e, sendo assim, pode-se dizer que, nesses


ambientes, tem-se, sim, uma verdadeira solidariedade.

2.5 Espaço de Exclusão e de Solidariedade

O que se pode chamar de espaço de exclusão também pode ser


caracterizado como espaço de solidariedade. A seguir, é especificado porque
essa colocação que expressa um sentido contraditório se conflui. Para melhor
especificar essa colocação, é preciso que se compreenda que o Estado nem
sempre realiza as medidas adequadas e necessárias para resolver as questões
de exclusão social ou para que existam condições adequadas de sobrevivência.
Não raramente ocorre que o Estado, em busca do bem-estar social de uma
minoria, aplica medidas como a de facilitar a ação da natureza, no sentido de
potencializar a mortalidade, como, por exemplo, ceder moradia aos mais
segregados socialmente em lugares desprovidos de boas condições de vivência,
em que os mesmos, por vezes, ficam expostos às condições de maior
vulnerabilidade. Nesse sentido, o Estado, em diversas situações, é o responsável
também por ampliar os espaços sem cidadão, ou seja, os espaços de exclusão.
A sociedade é composta por “homens capazes de se autodestruírem”
(OLIVEIRA, 1993, p. 94), e, portanto, essa mesma sociedade é composta por
seres indiferentes e semelhantes. Indiferentes pela insensibilidade, pelo egoísmo
e pela individualidade, mas semelhantes pelo que é idêntico, pelas necessidades
comuns, inclusive pelas fragilidades e pelas situações de segregação e exclusão
vividas. Consequentemente, também é no espaço de exclusão que comumente
se percebe o surgimento do espaço Solidário. Espaço composto por seres
humanos comuns, pobres, miseráveis e marginalizados; não raramente, nesse
espaço, emergem ações de reinvenção para sobrevivência, e diluição do espaço
de exclusão para o surgimento do espaço de solidariedade.
Num processo-tempo tardiamente lento, as desigualdades vão
diminuindo, especialmente em decorrência de diversas formas de intervenções
realizadas por movimentos sociais e culturais, no sentido de conscientizar e exigir
a criação e a aplicação de leis que visem à coibição-inibição das práticas de
exclusão. Paralelamente à realização de diversas ações-intervenções, a fim de
suprimir as desigualdades e preconceitos, notadamente essas transformações
tendem a demorar, perpassando muitas gerações futuras, pois, visivelmente os
processos culturais de exclusão têm raízes e marcas profundas que o sustentam.
57

A partir dessa colocação, é preciso ressaltar que numa sociedade de classe não
se deve culpabilizar as pessoas mais pobres e marginalizadas como responsáveis
pelas suas próprias pobrezas e miséria, porque essa é uma condição de
exploração imposta. Diante disso, as ações de se ajudarem mutuamente se
relacionam à condição de sobrevivência. Outra questão é o fato de que as ações
de inclusão, de solidariedade e de enfrentamento à exploração e à exclusão, por
mais eficientes e por mais que se ampliem e se efetivem, jamais eliminará todas
as situações de exploração e exclusão, porém, podem amenizá-las e diminuí-las
com o passar do tempo.
Existem diversas formas de manifestação e materialização da
exclusão. Dentre os exemplos de exclusão, pode-se citar a exclusão verbal, que
se materializa e se constitui por décadas, aliás, séculos, por meio de piadas
preconceituosas sobre gays, nordestinos, mulheres, negros e outros. Nesse
sentido, percebe-se que, mesmo inconscientemente, o espaço constituído e
construído tem atuação constante sobre as pessoas.
A cidade é bastante complexa e interessante como exemplo de
entendimento, em razão de que, por meio de seus objetos culturais e até naturais,
é capaz de possibilitar o convívio entre diferentes tipos de pessoas, fato que
possibilita a mudança de concepção e a necessidade de realizar ações que levem
à superação da exclusão por meio da convivência. Mas, nesse mesmo espaço,
existem as tensões em função das discordâncias ideológicas.
Na cidade também se potencializa a visualização de diversas situações
que remetem ou decorrem da exclusão. Um exemplo está nos bairros que têm
melhor infraestrutura, em que para ocupá-los é necessária uma quantidade mais
vultosa de dinheiro, permitindo assim a ocorrência da ocupação somente pelo
segmento social mais elitizado; em contrapartida, existem os bairros desprovidos
de infraestrutura, que acabam sendo ocupados pelas pessoas mais excluídas e
com menor acesso ao capital financeiro. Outro bom exemplo são os elevadores
de condomínios ou de prédios, diferenciados pelo acesso e pelas condições de
beleza e acabamento, em que o patrão ou os proprietários usam um tipo de
elevador, e o empregado, o serviçal, deve utilizar outro elevador.
Igualmente, é possível citar inúmeras outras situações de segregação e
exclusão, facilmente detectadas através do desmazelo e descuidado por parte do
Estado com relação aos espaços públicos, de lazer e convívio coletivo, em
detrimento do surgimento-substituição de novos ambientes, porém privativos e
limitados apenas a uma pequena parcela elitizada da sociedade.
58

As alternativas de superação da exclusão emergem a partir da


perspectiva de ações e intervenções de solidariedade. Assim, quanto mais se
debate publicamente, quanto mais se investe em conscientização, em programas
e ações de inclusão, melhores resultados são obtidos no sentido de superação da
exclusão. Contudo, é extremamente importante que se evidencie como já
especificado anteriormente, que por mais eficiente que sejam as ações de
inclusão e solidariedade, a superação da exploração, da exclusão e da
marginalização só é possível a partir da efetiva distribuição de renda e,
consequentemente, da diminuição da concentração de renda nas mãos de
poucas pessoas.
Essa abordagem referente aos espaços de exclusão e solidariedade se
relacionada especificamente ao cooperativismo indica que o mesmo aparece
enquanto estratégia de inclusão a um grupo ou pessoas que se encontram à
margem. É, portanto, uma forma de solidariedade entre grupos sociais e/ou
econômicos que não são contemplados pelos benefícios que o capital pode
proporcionar.
Nesse mesmo sentido, o cooperativismo é absorvido como uma ação
de resistência, uma estratégia de embate social.

2.6 Movimentos Sociais como Organizadores do Espaço Social

Ao longo da história, tanto o espaço rural como o urbano vêm sendo


marcados por diversas ações tipificadas como lutas sociais. Esses são espaços
caracterizados pela ocorrência de diversos conflitos e interesses decorrentes da
relação entre capital e trabalho. Ressalta-se que, tanto na zona rural quanto na
urbana, é evidente uma organização espacial desigual, marcada por intricada
divisão técnico-social do espaço.
E são justamente nesses espaços de conflitos-interesses que surgem
diversos grupos-movimentos sociais; esses movimentos têm entre seus objetivos
aglutinar forças e unificar pessoas em torno da obtenção de soluções para
problemas ou necessidades coletivas. Usualmente, são criados movimentos que
se representam através de associações, sindicatos, cooperativas e outros.
É nesse contexto de contradições que o Estado se incumbe de
fornecer ou criar ações e equipamentos para o consumo coletivo; Esse mesmo
Estado atua também como legitimador dos dominantes e das desigualdades, pois
não se interessa em atuar de forma uniforme e contemplar todos os anseios e
59

necessidades de toda a população. Os movimentos sociais surgem então como


grupos e/ou instituições que têm um papel importante e significativo no processo
de transformação social e de organização espacial, visto que permitem entender
que o alvo de questionamento e enfrentamento devem ser os proprietários dos
meios de produção e sucessivamente o Estado que estejam em função dos
mesmos, ou seja, permitem entender que a exploração e os flagelos vivenciados
são decorrentes do capitalismo e seu aparelhamento organizacional. Além disso,
possibilitam compreender o conceito de unidade da totalidade social do espaço, e
que é necessário promover mudanças na organização social e espacial,
assumindo, por vez, a função de agente do próprio destino, modelador do espaço.
Como já mencionado, as organizações e movimentos sociais assumem
o papel importante de modelador do espaço. As cooperativas, por exemplo,
apresentam-se como um relevante agente de representação da sociedade civil na
organização sócio-espacial. Uma cooperativa pode desenvolver ações e também
exercer juridicamente atividades de cunho econômico com o objetivo de promover
distribuição de renda, emancipação e empoderamento aos seus cooperados. A
partir desse tipo de ação, dentre outras, as cooperativas oferecem a possibilidade
de outra dinâmica de reorganização do espaço em que atuam ou coexistem,
podendo, ainda, promover alterações nos fixos e fluxos que se relacionam a
esses locais.
Buscou-se nessa seção, intitulada: “espaço como organização social e
suas múltiplas significações”, apresentar um breve entendimento quanto ao
conceito de espaço. Para tanto, foram realizadas algumas interpretações do que é
o espaço e de como ele pode ser entendido no contexto da organização da
sociedade. Dentre os vários autores que abordam e analisam o espaço, procurou-
se exemplificar com mais detalhes algumas formas de interpretação crítica,
especialmente a partir de Milton Santos, pois, entende-se que as referidas
interpretações possibilitam entender melhor as conexões referentes à exploração
e a necessidade de organização e representação social por meio de movimentos
sociais, os quais podem impulsionar o surgimento do cooperativismo, e
consequentemente atuam como possibilidade de superação de desigualdades e
mazelas sociais.
60
61

O cooperativismo já se encontra estabelecido em quase duas centenas


de países. Dados no sentido de demonstrar e evidenciar como se especializa o
cooperativismo pelo mundo e como se representa podem ser obtidos,
especialmente, junto à Aliança Cooperativa Internacional (ACI), que é uma das
principais organizações internacionais que possibilitam regulamentar, orientar e
acompanhar as cooperativas.
A seguir, apresenta-se como o cooperativismo se organiza, seus
princípios, origem e fundamentação, porém, primeiramente, tem-se a definição do
que é cooperativismo, considerando que existem diferentes variações para a
terminologia e/ou nomenclatura que se relaciona ou se assemelha ao significado
de cooperativismo, conforme se depreende do Quadro 4:

Quadro 4 - Significado do termo Cooperativismo e suas terminações


Terminologia/ Significado Referência
nomenclatura
Cooperativismo [...] são sociedades de pessoas, com forma e Lei nº
5.764/71,
natureza jurídica próprias, de natureza civil, não
sujeitas à falência, constituídas para prestar artigo 4º da
serviços aos associados. legislação
brasileira
Cooperativismo Baseia-se na participação dos associados nas Dicionário
atividades econômicas sendo um movimento informal
econômico e social. (2018)
Cooperativismo [...] é uma filosofia de vida que busca transformar (OCB,
o mundo em um lugar mais justo, feliz, 2018)
equilibrado e com melhores oportunidades para
todos. Um caminho que mostra que é possível
unir desenvolvimento econômico e
desenvolvimento social, produtividade e
sustentabilidade, o individual e o coletivo. Tudo
começa quando pessoas se juntam em torno de
um mesmo objetivo, em uma organização onde
todos são donos do próprio negócio. E continua
com um ciclo que traz ganhos para as pessoas,
para o país e para o planeta.
Cooperativismo [...] é entendido como o método de ação pelo qual Reisdorfer
indivíduos ou famílias com interesses comuns se (2014)
propõem a constituir um empreendimento no qual
os direitos de todos são iguais e as sobras
alcançadas são repartidas somente entre os
associados, de acordo com a sua participação na
atividade societária. É uma forma de trabalho
que, de forma coletiva, planejam-se os serviços,
produção, comercialização e outros necessários
ao alcance dos objetivos do grupo. Isto significa
unir e coordenar meios e esforços de cada um
para a realização de uma atividade comum,
visando alcançar um resultado procurado por
62

todos.
Cooperativismo Sistema que considera estar a solução do Dicio
problema social na generalização e (2018)
desenvolvimento da cooperação; cooperativismo.
Cooperativismo [...] o conceito de cooperativismo consiste na Cooperforte
sistematização da prática colaborativa, enfatizada (2018)
como filosofia, princípios e valores. Desse modo,
fazer parte de uma cooperativa é ser
colaborativo, tanto com a sociedade em geral
quanto consigo mesmo. A premissa de que a
união faz a diferença pode ser percebida em
vários aspectos sociais, como o voluntariado e as
iniciativas de inclusão social, quanto
empresariais, como as cooperativas de crédito e
trabalho, além da ascensão da economia
colaborativa.
Cooperação [...] é uma ação que decorre de um ato de Reisdorfer
vontade política de pessoas que passam a se (2014)
identificar a partir de necessidades ou interesses
comuns, em um determinado contexto social.
Passam a pensar e agir de uma forma articulada
e esclarecida, associando-se em um propósito: a
realização de seus objetivos.
Cooperar [...] é agir ou trabalhar junto com outro ou outros Michaelis
para um fim comum; colaborar. Agir (2018)
conjuntamente para produzir um efeito; contribuir.
Unir-se a outros com o objetivo de obter
benefícios econômicos comuns.
Cooperar Prestar cooperação, operar simultânea ou Aurélio
coletivamente; colaborar. (2018)
Cooperar [...] Meio para alcançar um objetivo comum. Sebrae
Para isso, é preciso trabalhar em conjunto. (2017)
Cooperar Operar juntamente com alguém; contribuir Dicio
ajudando, auxiliando outras pessoas; colaborar, (2018)
Ex: todos cooperam para o desenvolvimento
intelectual; depois de muita insistência para o
projeto, o prefeito acabou cooperando.
Cooperar De acordo com o latim cooperor, - aris. Prestar Priberam
cooperação. Operar simultânea ou coletivamente; (2018)
colaborar. Palavras relacionadas: Cooperação,
cooperado, colaboração, cocriar, cooperativismo,
sinergia, cooperativismo.
Cooperativa Etimologia (origem da palavra cooperativa). Do Dicio
francês coopérative; forma Der. de coopératif. (2018)
Sociedade cujo capital é formado pelos
associados, não sujeita à falência, e que tem a
finalidade de somar esforços para atingir
objetivos comuns em benefício de todos.
Cooperativa É uma organização constituída por membros de Sebrae
determinado grupo econômico ou social que (2017)
objetiva desempenhar, em benefício comum,
determinada atividade. As premissas do
cooperativismo são: Identidade de propósitos e
63

interesses; Ação conjunta, voluntária e objetiva


para coordenação de contribuição e serviços;
Obtenção de resultado útil e comum a todos.
Cooperativa Cooperativa é uma associação autônoma de (OCB RR
pessoas que se unem, voluntariamente, para 2018)
satisfazer aspirações e necessidades
econômicas, sociais e culturais comuns, por meio
de uma empresa de propriedade coletiva e
democraticamente gerida.
Cooperativa [...] uma associação autônoma de no mínimo Brasil
vinte pessoas, unidas voluntariamente para (2008)
atender necessidades econômicas, sociais e
culturais comuns, por meio de uma empresa de
propriedade coletiva e de controle democrático
dos associados.
Cooperação Ato de agir com outros, similar ao que se refere a Lexico
agir em cooperação. Um exemplo clássico de (2018)
cooperação internacional é o ato de ajudar um
país.
FONTE: Aurélio (2018); Brasil (2018); Cooperforte (2018); Dicio (2018); Dicionário
informal (2018); Lexico (2018), Michaelis (2018); Priberam (2018); Reisdorfer (2014);
Sebrae (2017); Ocb (2018); Ocb RR (2018). Organizado por Oliveira (2018).

Ao analisar os conceitos e as terminações da palavra cooperativismo a


partir de diversos autores, dicionários e instituições cooperativistas, constata-se
uma analogia entre os mesmos. Portanto, percebe-se que são definições
modernas e que não apresentam grande variação. Mediante as pesquisas
realizadas sobre o referido termo, despertou-se o desejo de saber se o mesmo
muda de significado em outras línguas ou em outras culturas. A princípio, foi
pensado que haveria bastante variação para o significado desse termo em outros
países, em outras culturas e em outras línguas. Porém, ao tentar avançar no
sentido de encontrar respostas para essa questão, constatou-se que o significado
se assemelha no mundo todo. O que mais se difere são os arranjos e formas de
organização que sempre são influenciados pelo contexto econômico, social e
cultural de cada local.
Ainda ao verificar o esse Quadro, depreende-se que o conceito de
cooperativismo e suas correlações, como cooperativa, cooperar, cooperação e
cooperado, pode ser entendido como MODELO SOCIOECONÔMICO, como
fenômeno, doutrina e/ou movimento econômico e social, que é constituído de
forma colaborativa, através de uma junção de pessoas que almejam ou têm
objetivos comuns e semelhantes, especialmente o de obterem algum benefício
econômico a partir de sua organização social e produtiva. Ratifica-se que a
etimologia da palavra não varia entre as línguas, a origem é o que define. No caso
64

da palavra Cooperar vem do latim que significa “COOPERARI, “trabalhar junto”,


de COM, “junto, com”, mais OPERARI, “trabalhar“. Assim o que mais interessa
não é a etimologia da palavra, mas o sentido de cooperar entre os grupos
culturais (OCB, 2018).
No cooperativismo, as técnicas de trabalho são usualmente coletivas;
nesse viés, as cooperativas podem ser entendidas como organizações
econômicas e sociais. O cooperativismo é concebido como uma doutrina
econômica que tem como base a cooperação e a atuação ocorre através do
trabalho, com ajuda mútua no sentido de promover justiça social (BRAÚNA,
2016).
O cooperativismo é melhor entendido como uma prática e/ou doutrina
social, com capacidade de organizar socialmente os associados pela via da
distribuição de renda, da democracia participativa, da promoção da justiça social e
econômica, da capacidade de gerar emprego e renda, e da regularização e
organização de mercado.
Mas, é especialmente no campo econômico e de trabalho que o
cooperativismo melhor se manifesta, sobretudo pela possibilidade de organizar e
condicionar os grupos pequenos, para que os mesmos se instrumentalizem de
certo poder em relação às questões econômicas e de mercado, e,
consequentemente, obtenham acesso a bens comuns de necessidades básicas,
que proporcionam a percepção e a condição de inclusão social e econômica.

3.1 Raízes do cooperativismo em perspectiva: pensadores e referências

O cooperativismo é resultante de articulações e interações sociais, da


agregação de pessoas que têm interesses e/ou necessidades comuns, que
buscam, por meio da união de indivíduos e da unificação de ações, possibilitar o
fortalecimento coletivo via instrumentalização e organização com a finalidade de
obter conquistas, sobretudo no campo econômico.
De acordo com a ideologia cooperativista, é possibilitado aos
cooperados se desenvolverem econômica, cultural e socialmente. O
cooperativismo se viabiliza por meio da cooperação que, consequentemente,
germina das necessidades que são análogas entre as pessoas, especialmente da
relação estabelecida entre si na busca pela sobrevivência.
Na busca pela promoção de dignidade e de vida mais justa, e como
forma de atenuar as consequências do aumento do nível de exploração advindas
65

da revolução industrial, é que germinaram as concepções e aporte teóricos para o


surgimento do cooperativismo. Para melhor compreender o cooperativismo, faz-
se necessário conhecer a relevância e a contribuição dos precursores da sua
formulação ideológica. Foram pensadores que idealizaram, escreveram e até
experimentaram iniciativas que se baseavam na busca de implementação da
fraternidade, da solidariedade e da justiça. Os principais idealizadores do
processo epistemológico do cooperativismo, que inclusive influenciaram e ainda
continuam influenciando a constituição do cooperativismo, estão destacados no
Quadro 5, apresentado a seguir:

Quadro 5 - Referências na construção do cooperativismo

Precursor Temporalid Contexto biográfico Referência


es ade s

Peter 1620 a 1700 Foi um holandês que teve a iniciativa, Valadares


Corneliszo de por meio da cooperação, eliminar a (2005); Arce
on competição, ou seja, por meio da (2015)
Plockboy eliminação da exploração, buscou criar
várias associações, como a de:
artesãos, agricultores, professores e
de marinheiros. De acordo com
Valadares (2005, p.13), o mesmo se
embasava fundamentalmente “[...] na
tradição popular, na moral cristã e na
ideia libertadora do homem, alicerçada
na igualdade e destino comum [...]”.
Peter Plockboy é tido como uma das
principais referências para o
surgimento do cooperativismo, tanto
que “[...] aparecieron posteriormente
las Repúblicas de la cooperación de
Plackboy, asociaciones o pequenas
repúblicas de base comunitária y
funcionamento cooperativo, que
pretendían hacer felices a los pobres y
pronto se extendieron por toda
Inglaterra. Em este caso sí se trataba
de comunidades com funcionamento
cooperativo, por lo que a este
pensador se le reconoce como el
patriarca de la cooperación” (ARCE,
2015, p. 53).
John 1654 a 1725 Nascido em Londres, Reino Unido, foi Oliveira,
Bellers um economista, teórico-educacional. 1979; Klaes
Foi um precursor de ideias (2007)
cooperativistas, especialmente as de
trabalho. De tal modo, sugeriu a
66

eliminação de indústrias capitalistas e


a criação de associações para atender
às necessidades das pessoas mais
pobres. Foi, portanto, o autor de
proposta de reformas sociais por meio
de projetos utópicos. Pensava na
perspectiva de geração de riquezas
pela via do trabalho, em que os
cooperados deveriam trabalhar de
forma colaborativa e se ajudando
mutuamente.
Robert 1771 a 1858 Socialista utópico, nascido em Hugon
Marcus Newtown, País de Gales-Reino Unido, (1992);
Owen ficou conhecido como profeta ou pai Motta
do cooperativismo do qual foi (1987)
fundador; defendeu a ideia de formar
cidades-cooperativas como meio de
resolver questões sociais no sentido
de tornar a vida das pessoas melhor.
Tinha dentre as metas a eliminação de
injustiças sociais, abolindo a
concorrência-lucro e eliminando a
divisão social entre patrão e
trabalhadores. Buscou ainda, por meio
de atuação prática, experienciar ações
de cooperação que possibilitasse a
promoção de bem-estar e dignidade
humana. Em algumas ocasiões
realizou experimentos, mas não se
obteve o sucesso esperado,
especialmente em função das
dificuldades econômicas. Em síntese,
Owen tinha como proposta, por meio
da propriedade comunitária e de
trabalho coletivo, constituir uma
organização social que fosse mais
justa, através da abolição das
diferenças sociais e econômicas.
Dentre as ações e pensamento,
buscou incentivar a criação de
cooperativas de consumo, que
possibilitariam a aproximação entre o
produtor e também o consumidor.
François 1772 a 1837 Socialista utópico, economista, político Petitifils
Marie e filósofo nascido em Besançon na (1978);
Charles França, considerado um dos pais do Konder
Fourier cooperativismo. Acreditava que (1998)
mesmo diante de desigualdades
sociais e econômicas existentes entre
ricos e pobres era possível viver com
justiça e harmonia, pois Deus é quem
faz todas as coisas e tudo que o
mesmo faz é bem feito. Fourier ficou
67

conhecido também por idealizar as


comunidades designadas de
falanstérios, onde trabalhadores
deveriam trabalhar de acordo com sua
vocação-paixão em um ambiente de
harmonia, especialmente através do
cooperativismo autossuficiente. Foi,
portanto, o criador da comunidade
cooperativa chamada de Fourierismo.
Salienta-se ainda que o mesmo foi um
crítico do capitalismo, da
industrialização e do liberalismo.
William 1786 a 1865 Nascido na Inglaterra, é considerado o Oliveira
King pai da cooperação na Grã-Bretanha. (1979);
Médico. Idealizou o intitulado Crúzio
cooperativismo de consumo. Em 1827, (2003);
foi o fundador de uma cooperativa de Lambert
consumo e também da Revista The (1975)
Cooperator. Foi responsável por
propor ideais-teorias que visavam que
cooperativas fossem autossuficientes,
além de estimular a prática de
autoajuda. King teve consistente
atuação no período pré-Rochdale no
sentido de suprimir a pobreza, criando
movimento de incentivo aos
trabalhadores, para criarem suas
próprias fábricas. De acordo com
Crúzio (2003, p. 23), William King ficou
conhecido como “[...] médico dos
pobres, defendia princípios de
equidade, liberdade e fraternidade
como base da democracia nas
cooperativas. Segundo ele, tais
princípios são interdependentes:
nenhum pode funcionar bem
isoladamente [...]”. Para King, a
cooperação só se efetiva
eficientemente quando as pessoas
forem educadas para isso, e defende,
ainda, que a cooperação tende a
acontecer pela via do voluntariado.
Philippe 1796 a 1865 Francês, historiador, médico, sociólogo Goerck
Josepnh e político. Foi quem recomendou a (2005);
Benjamins criação de cooperativas operárias de Klaes
Buchez produção industrial, onde os operários (2007)
deveriam se organizar através de uma
cooperativa com objetivo de produzir e
vender coletivamente. Buchez foi
quem propôs a constituição de capital
social, possivelmente o primeiro a usar
esse termo, o que correspondia-
deveria decorrer da arrecadação-
68

contribuição dos cooperados, de modo


que estes permitissem a ocorrência de
acumulação de excedentes para
realização de melhorias na
cooperativa; e para que os operários
cooperados não dependessem do
estado.
Louis Jean 1811 a 1882 Nasceu em Madrid-Espanha. Ficou Reis (2006);
Joseph conhecido como um político socialista Klaes
Charles e historiador francês. Foi quem propôs (2007)
Blanc a criação do movimento intitulado
“oficinas sociais (oficinas nacionais)”,
onde reuniria operários de atividades
de produção e que por meio de uma
associação iriam cuidar dos interesses
coletivos-próprios. Objetivando a
derrubada da monarquia, Louis Blac
teve seus conceitos ideológicos
bastante utilizados na “Revolução de
1848”, sobretudo porque propôs a
associação entre socialistas e liberais.
Portanto, tinha entre suas prioridades-
foco as cooperativas de trabalhadores
de grandes indústrias. Indicou que as
associações tivessem autonomia e
democracia; para tanto, inicialmente,
deveriam contar com ajuda inicial do
estado que posteriormente deveria ser
reembolsado.
Friedrich 1818 a 1888 Hamm (Sieg), Alemanha. Foi um Pinheiro
Wilhelm militar, funcionário público, político. É (2008);
Raiffeisen considerado um dos pioneiros do Bialoskorski
cooperativismo. Era apaixonado pela Neto (2006)
agricultura e foi criador do crédito
agrícola ou crédito mútuo rural; tornou-
se o estimulador-influenciador do
cooperativismo de crédito, responsável
pelo que é conhecido no contexto atual
como capital social. Publicou o livro:
“Loans Societies as a Means to
Eliminate the Poverty Amongst the
Rural Population and Urban
Craftssmen and Workers”, que serviu
como guia para estruturação do
cooperativismo de crédito. Um dos
princípios orientadores de vida era que
o auxílio mútuo e o amor ao próximo
eram a fundamental solução para as
questões sociais.
Charles 1847 a 1932 Professor universitário, socialista, Pinho
Gide economista e historiador do (1982)
pensamento econômico, nascido em
Uzès na França. Defensor dos
69

princípios da solidariedade, fazia parte


do movimento de pensamento
cooperativo francês e defendia o
cooperativismo como forma de
emancipação de seus membros, e a
democracia como forma de
participação e atuação. O mesmo foi
um teórico-escritor-pensador de obras
conhecidas internacionalmente, em
que se abordam, especialmente, três
assuntos, que são: cooperativismo,
economia e política. Salienta-se
também que o mesmo foi um
motivador do cooperativismo prático e
um dos idealizadores da criação da
Aliança Cooperativa Internacional.
Gide estimulou a criação das
cooperativas de consumo, chamadas
de movimento da Escola de Nimes;
ainda foi um dos principais
responsáveis pela sistematização-
elaboração da doutrina cooperativista.
Ernest 1882 a 1942 Foi advogado, político e socialista. Vílchez
Philippe Nasceu em Mortain-França. Foi (1986);
Auguste secretário nacional das cooperativas Pinho
Poisson de consumo. Defendia a soberania dos (1966)
consumidores e tinha esperança-
acreditava no trabalho das
cooperativas, mesmo sabendo das
diversas dificuldades existentes, pois
“Demostró Poisson mucho entisiasmo
y esperanza com respecto a las
cooperativas de trabajo, asociaciones
de produtores a quienes se confia la
organizacíon del trabajo [...]” Vílchez
(1986, p. 181). Salienta-se ainda que
Poisson foi uma das principais
referências da Escola de Nimes.
Bernard 1884 a Economista francês nasceu em Nîmes. Lavergne
Lavergne 1975) Realizou uma carreira universitária, (1962);
onde inclusive defendeu em sua tese Buttenbend
“O Regime Cooperativo”. Defendeu o er (2008)
direito do consumidor de pedir a
socialização do capital e esperava que
o sistema capitalista fosse substituído
pelo cooperativismo. De acordo com o
próprio Lavergne (1962, p.27) “El
sistema que rige a las cooperativas
distributivas, diferente al de las
empresas capitalistas que persiguen
utilidades, y al de las cooperativas
obreras que también procuran obtener
benefícios monetários para sus socios;
70

en cambio, las Cooperativas


distributivas reembolsan las utilidades
a los consumidores, que son a la vez
acionistas de la sociedad”. Salientou
também que é importante que não
somente economistas e sociólogos
entendam o valor e a relevância dos
benefícios que o cooperativismo de
consumo gera, mas que a sociedade
em geral também compreenda.
Georges 1902 a 1985 Oriundo de Genebra-Suíça, publicou Franke
Lasserre diversos livros sobre o cooperativismo, (1985);
dentre eles: “O cooperativismo, El Pinho
hombre cooperativo, Co-operative (1966)
Enterprises, Les entreprises
coopératives, dentre outros.” O mesmo
pode ser identificado como um
socialista, advogado, economista e
professor com especialização-atuação
voltada para a cooperação. Mesmo
reconhecendo o capitalismo como
dificultador da difusão do
cooperativismo, almejava e acreditava
na possibilidade de implementar a
República Cooperativista.
FONTE: Oliveira (2018) adaptado de: Lavergne (1962); Pinho (1966); Lambert (1975);
Petitifils (1978); Oliveira (1979); Pinho (1982); Franke (1985); Vílchez (1986); Motta (1987);
Hugon (1992); Konder (1998); Crúzio (2003); Goerck (2005); Valadares (2005);
Bialoskorski Neto (2006); Reis (2006); Pinheiro (2008); Klaes (2007); Buttenbender (2008);
Arce (2015).

Os precursores do cooperativismo tiveram fundamental importância


para o surgimento e a estruturação das primeiras experiências de cooperativas,
como já verificado no quadro anterior. Salienta-se que tiveram importância e
continuam exercendo influência nas cooperativas atuais, ocorridas em contextos
diferentes. De tal maneira, o cooperativismo foi gestado a partir de diferentes
pensadores, ou seja, ele foi, gradativamente, sendo constituído. A princípio, a
ideia de cooperativismo partiu do interesse em propor uma alternativa
(econômica-social-cultural e política) ao capitalismo. Como já citado no quadro
anterior, socialistas como Peter Corneliszoon Plockboy, John Bellers,
Robert Marcus Owen, François Marie Charles Fourier, William King, Philippe
Josepnh Benjamins Buchez, Louis Jean Joseph Charles Blanc, Friedrich Wilhelm
Raiffeisen, Charles Gide, Ernest Philippe Auguste Poisson, Bernard Lavergne,
Georges Lasserre, dentre outros, foram os primeiros a realizar ações no sentido
de estruturar o cooperativismo. Ressalta-se ainda que a Alemanha e a Inglaterra
são os países que concebem originalmente o surgimento da doutrina
71

cooperativista, porém, o processo de sistematização ocorre sequencialmente,


através do professor Charles Gider, na França. Um pensamento que foi elaborado
por teóricos do socialismo utópico.
A partir do processo ideológico de construção do cooperativismo,
muitas participações continuaram ocorrendo no sentido de estruturar, ampliar e
reformular esse pensamento. Dentre os nomes que podem ser destacados nesta
continuidade processual do cooperativismo, cita-se (Quadro 6):

Quadro 6 - Referências na construção do cooperativismo


Referência Periodicidade Referencial teórico/e ou ação
Pioneiros do cooperativismo
A Sociedade dos Probos 1844 Cooperativa de consumo fundada em
de Rochdale 1844 na Inglaterra. Foi responsável por
instituir os princípios de Rochdale.

Friederich Wilhelm 1818-1888 Atuou junto aos agricultores alemães,


Raiffeisen criando as sociedades de auxílio mútuo,
organizadas por meio das Cooperativas
de Crédito, inicialmente conhecidas por
“loan societies”. Publicou vários livros,
dentre eles, “Die Vereinigungen der
Darlehensfonds” em 1866.

Hermann Schulze-Delitzch 1808-1883 Publicou diversos livros, porém um


deles em destaque é o livro: “Capitel zu
einem deutschen Arbeiterkatechismus:
sechs Vorträge vor dem Berliner
Arbeiterverein” (1863). Hermann
Schulze-Delitzch atuou junto aos
artesãos criando Bancos Populares.

Luiggi Luzzatti 1841-1927 Publicou várias obras, dentre elas, cita-


se o livro “Liberté de Conscience et
Liberté de Science” (1910) e “A difusão
do crédito e o Banco Popular” (1863).
Na Itália, especificamente a partir de
1864, criou os Bancos Populares.
Portanto foi um dos idealizadores do
Cooperativismo de Crédito.
Alphonse Desjardins 1854-1920
Dentre os livros publicados, destaca-se:
“The Cooperative People‟s Bank: La
Caisse Populaire”. Alphonse Desjardins
é referência no pioneirismo
cooperativista especialmente em função
da criação de mais de 140 Caixas
Populares. Foi, portanto, um dos
criadores do cooperativismo de crédito e
Theodor Amstad 1851-1938 de economia.

Responsável por criar, no ano de 1902,


no município de Nova Petrópolis-RS, a
primeira cooperativa de crédito
72

brasileira; a mesma teve como base o


modelo Raiffeisen. Entre os anos de
1902 a 1923 atuou diretamente na
criação de 15 cooperativas e
posteriormente contribuiu na criação de
outras 26 cooperativas.

Precursores-historiadores do cooperativismo
George Jacob Holyoake 1817-1906 Foi uma referência na atuação junto ao
cooperativismo voltado para os
trabalhadores. Tendo, portanto,
publicado diversas obras, dentre as
quais cita-se: “History of the Rochdale
Pioneers”, publicado em 1857, outra
obra, publicada em 1875, foi “The
History of Co-operation in England” e em
1891 publicou “The Co-operative
Movement of To-day”.
Grozmoslav Mladematz -
Responsável por contar a história do
cooperativismo que se consolidou na
década de 1930 e estudioso sobre a
formação da doutrina cooperativista.
Dentre os livros publicados se evidencia
o “Historia de las Doctrinas
Cooperativas” publicado em 1969.
George Davidovic -
Dentre suas obras, destaca-se o livro
publicado em 1976, em Espanhol,
intitulado: “Hacia un Mundo
Cooperativo”.
Preceptores/doutrinadores
Charles Gide 1847-1932 Foi autor de diversas obras, dentre as
quais destaca-se “Consumers‟Co-
Operative Societies” (1921) e
“Productive Co-operation In France”
(1899). Tinha o sonho de criar uma
República Cooperativa. Foi uma
referência para o cooperativismo de
consumo. De tal modo propôs
inicialmente fundar armazéns de
atacado com grande porte e realizar
vendas em grande escala. Foi um dos
organizadores no processo de
sistematização da doutrina do
Martha Beatrice Potter 1858-1943 cooperativismo.
Webb
Britânica socialista e historiadora que
contribuiu para a formulação da teoria
econômica e política do cooperativismo.
Escreveu muitas obras, dentre elas, cita-
se: “The co-operative movement in
Great Britain” (1891), além de diversas
obras públicas em parceria como: “The
73

Cooperative Movement” (1914) e “The


Consumer's Cooperative
Paul Lambert - Movement” (1921).

Professor, natural da Bélgica; tem entre


Bernard Lavergne 1884-1975 suas obras a “La Doctrina Cooperativa”
publicado em 1975.

Professor francês, economista influente


no cooperativismo da França. Escreveu
muitos livros, dentre eles, cita-se: “La
George Larsene - révolution coopérative” (1949) e “Le
socialisme à visage humain” (1971).

Georges Fouquet 1873-1953 Estudioso e um dos construtores da


fundamentação da doutrina
cooperativista.

Responsável pela fundamentação inicial


Moisés Michael Coady 1882-1959 para criação de cooperativas
combinadas entre o social e o
econômico, ou seja, empresa e
associação.

Professor, padre, que atuou na


educação de adultos e no
desenvolvimento de cooperação
econômica. Publicou livros como:
“Masters of Their Own Destiny: The
Story of the Antigonish Movement of
Adult Education Through Economic
Cooperation” (1939) e “Donos do seu
Próprio Destino” (1939).
FONTE: Oliveira (2019), adaptado de Lunkes (1996), Oliveira (1979), Pinho (1982),
Pinheiro (2008), Reisdofer (2014) e Silva (2006).

Faz-se relevante reforçar que o pensamento cooperativista tem raízes


relacionadas ao período da primeira Revolução Industrial, mas precisamente em
1844, pois foi após a passagem do Sistema Feudalista para o Sistema Produtivo
Capitalista que ocorreu a chamada Revolução Industrial - momento de amplas
transformações sociais, políticas, culturais e principalmente econômicas.
Simultaneamente, surgem algumas experiências cooperativistas, decorrentes da
influência do posicionamento de socialistas utópicos que se opunham ao
capitalismo industrial, que, logicamente, pautavam-se nas condições-percepções
econômicas e sociais enfrentadas e vivenciadas no referido período.
Ressalta-se experiências diversas que podem ser relacionadas com
iniciativas cooperativistas, dentre as quais podem ser citadas as compras
coletivas realizadas pelos “operários das docas navais de Chatham e Woolwich,
já nos finais do século XVIII, as cooperativas do modelo William King, lançadas
74

desde 1827, em Brighton” (SCHNEIDER, 2015, p. 101). Mas, foi embasado no


pensamento ideológico de Robert Marcus Owen que se originou a principal
influência para o surgimento, em 1844, da primeira cooperativa, que, assim como
tantas outras que posteriormente surgiriam, tinha a função de abarcar
trabalhadores que se encontravam excluídos do sistema econômico vigente da
época. A referida cooperativa objetivava possibilitar o consumo e também a
distribuição de alimentos aos seus associados, eliminando os vendedores
intermediários e possibilitando a compra direta dos fabricantes. A mesma nasceu
a partir dos Pioneiros de Rochdale e era composta por uma mulher e outros 27
homens (HOLYOAKE, 1933).
Salienta-se que a criação da cooperativa de Rochdale surgiu a partir da
relação direta com as condições sociais, econômicas e políticas que os
trabalhadores tecelões vivenciavam; a maioria vivia em condições precárias,
sendo que alguns se encontravam em miséria. Foi após a tentativa de
organização de greves fracassadas e diversas reuniões na busca por soluções
que se chegou à definição de que a estruturação de uma cooperativa por via de
um armazém para consumo popular poderia ser o melhor caminho. Assim, por um
período aproximado de um ano, os trabalhadores tecelões juntaram suas
escassas economias a fim de possibilitar a efetivação do referido armazém
(HOLYOAKE, 1933).
A seguir, na Figura 1, tem-se uma fotografia com parte dos pioneiros
de Rochdale e a imagem do armazém.
75

Figura 1 - Pioneiros de Rochdale e o armazém

FONTE: Decoopchile (2019, p. 1). Organizado por Oliveira (2019).

A cooperativa foi registrada como “Rochdale Society of Equitable


Pioneers/Sociedade dos Probos de Rochdale” e a maioria dos membros era
76

formada por tecelões. A cooperativa ficava numa rua conhecida como “Beco do
Sapo”, que se localizava no bairro de Rochdale, em Manchester, na Inglaterra
(HOLYOAKE, 1933).
Muitos erros e acertos comumente ocorrem no início ou na criação de
uma cooperativa; assim, para evitar erros ou fracassos, os trabalhadores tecelões
(pioneiros de Rochdale) definiram trabalhar com vendas de maneira leal e
honrada, ou seja, desprovidos de enganação ao cliente, sem confrontação aos
lucros e somente com as vendas à vista. Inicialmente, o propósito cooperativista
dos pioneiros de Rochdale, que se embasava em fundamentações socialistas, fez
com que eles não obtivessem incentivos e nem apoio por parte do governo, da
igreja e nem dos industriais; qualquer apoio e incentivo dessas instituições só
aconteceu posteriormente, por meio da evidenciação de que o que se propunham
atendia aos ideais da economia de mercado capitalista (HOLYOAKE, 1933).

3.2 Princípios Fundamentais do Cooperativismo

Concomitante à criação da primeira cooperativa, os pioneiros de


Rochdale criaram sete princípios, chamados de regras de ouro, que,
posteriormente, foram sendo revisados em congressos da Aliança Cooperativa
Internacional (ACI); as revisões ocorreram nos anos de 1937, 1966 e 1995
(SCHNEIDER, 1999). Assim ficaram definidos, como exposto no Quadro 7:
77

Quadro 7 - Princípios do cooperativismo de acordo com o estatuto de Rochdale,


em 1844

FONTE: Oliveira (2019), adaptado de Pereira (2012).

Como se verifica, os pioneiros de Rochdale criaram os princípios


cooperativistas que intencionavam promover a manutenção dos valores da
igualdade e da democracia. Mas, é importante destacar que, com o tempo, foi
sendo necessário avigorar e robustecer esses princípios cooperativistas, de tal
maneira que os mesmos foram sendo alterados, ou melhor, readaptados, de
acordo com o desenvolvimento e as mudanças ocorridas no mundo. Portanto, faz-
se importante destacar que ao primeiro estatuto social foram incorporados os
princípios cooperativistas na data de 1844. Posteriormente, a Sociedade dos
Probos de Rochdale os reformulou nos anos de 1845 e também em 1854.
Salienta-se que esses princípios têm a função de orientar a ação prática das
cooperativas (SCHNEIDER, 1999).
De acordo com Schneider (1999), a Aliança Cooperativa Internacional
(ACI), criada em 1895, com a função de conservar, zelar, preservar e defender o
cooperativismo e os seus princípios, no ano de 1921, no décimo Congresso
realizado no município de Basileia, na Suíça, assumiu os princípios criados pelos
pioneiros de Rochdale. Sequencialmente, nos anos de 1937, 1966 e 1995, esses
princípios foram revisados e adaptados às situações-necessidades de cada
momento, como se averigua a seguir, no Quadro 8:
78

Quadro 8: Princípios cooperativistas referendados em congressos da ACI


Local: Paris-França, ano de 1937
Princípios essenciais de fidelidade aos pioneiros
1 – Adesão aberta;
2 – Controle ou gestão democrática;
3 – Retorno pro-rata das operações;
4 – Juros limitados ao capital;
5 – Compras e vendas à vista;
6 – Promoção da educação;
7 – Neutralidade política e religiosa.

Local: Viena-Áustria, ano de 1966


1 – Adesão livre (inclusive neutralidade política, religiosa, racial e social);
2 – Gestão democrática;
3 – Distribuição das sobras:
a. Ao desenvolvimento;
b. Aos serviços comuns;
c. Aos associados pró-rata das operações.
4 – Taxa limitada de juros ao capital social;
5 – Constituição de um fundo para a educação dos associados e do público em geral;
6 – Ativa cooperação entre as cooperativas em âmbito local, nacional e internacional.

Local: Manchester-Inglaterra, ano de 1995


1 – Adesão voluntária e livre;
2 – Gestão democrática;
3 – Participação econômica dos sócios;
4 – Autonomia e independência;
5 – Educação, formação e informação;
6 – Intercooperação;
7 – Preocupação com a comunidade.
FONTE: Oliveira (2019), adaptado de Pereira et al. (2002).

Como se pode verificar neste quadro, ocorreram alterações em três


congressos da Aliança Cooperativa Internacional. O primeiro aconteceu no ano de
1937, em Paris, o segundo em 1966, em Viena, na Áustria, e o mais recente foi
em Manchester, na Inglaterra, no ano de 1995. Essa última alteração evidenciou
sete princípios cooperativistas de uma maneira bem objetiva e clara, buscando
expô-los de modo que servissem como referência para todos os tipos de
cooperativas e para qualquer lugar do mundo (MEINEN e PORT, 2014).
O primeiro desses princípios é a “Adesão voluntária e livre”. O mesmo
quer dizer que todas as pessoas podem se tornar membros de uma cooperativa,
sendo essa uma decisão de cunho individual; portanto, não se deve existir
nenhuma forma de discriminação, seja de caráter social, sexual, político, religioso
ou racial. Todos os membros que queiram se integrar a uma cooperativa devem
seguir os princípios orientadores e admitir as responsabilidades que competem a
um cooperado. Salienta-se, ainda, que o caráter voluntário é base de uma
organização cooperativa.
79

O segundo princípio é a “Gestão democrática”. Toda cooperativa é uma


organização de caráter democrático, que deve ser controlada pelos seus
membros, que têm direito de voto com peso igual a todos. Todos devem
participar ativamente e gerir a cooperativa, de acordo com as necessidades
coletivas e com os objetivos definidos em assembleia geral. Portanto, todos os
membros têm os mesmos direitos e poder de decisão.
A “Participação econômica dos sócios” é o terceiro princípio. Todos os
membros, de forma igualitária, fazem contribuição para compor o capital da
cooperativa e, logicamente, controlam-no de forma democrática. Esse princípio se
submete à ideia de que todos os cooperados são donos, de maneira que qualquer
excedente deve ser destinado-definido pelos sócios cooperados, que têm a opção
de destiná-lo ao desenvolvimento da própria cooperativa ou ao incremento das
reservas de caixa, ou mesmo de distribuí-lo entre os sócios.
O quarto princípio é o da “Autonomia e independência”, o que quer
dizer que toda cooperativa é independente do controle privado e estatal; é
autônoma e de ajuda mútua, devendo ser controlada, sempre, pelos seus
membros. Importante ressaltar que, mesmo quando se busca relacionar ou fazer
alguma parceria externa a fim de obter acesso a recurso financeiro, é essencial a
manutenção da democracia e da autonomia de decisões.
Já o quinto princípio é o da “Educação, formação e informação”. As
cooperativas têm a função de promover educação e formação tanto dos seus
membros como também de trabalhadores e gestores que, de alguma forma, estão
interligados ao trabalho das mesmas. Como se constata, a preocupação de
educar e promover formação tem forte ligação com a objetividade de promover
capacitação profissional e desenvolvimento cultural aos seus membros e
familiares atendidos. A informação é mais no sentido de realizar ações-atividades
para informar quanto a vantagens e à relevância de se inserir em uma cooperativa
e também de informar aos seus associados cooperados quanto às suas
operações-movimentações. Esse princípio é muito importante, especialmente pela
sua relevância social, mas também por ser uma via que possibilita o crescimento
coletivo de todos os cooperados que compõem uma cooperativa, além disso,
quanto mais a sociedade se cooperativar, a tendência é que melhor as pessoas
podem viver, com mais dignidade, justiça e prosperidade sustentável.
“Intercooperação” é o sexto princípio. Com o objetivo de que os
cooperados obtenham ascensão cultural, social e econômica, a ajuda mútua é
fundamental como prática cotidiana; assim, a integração entre cooperativas em
80

nível local, regional, nacional e internacional é essencial por diversos motivos,


dentre os quais destaca-se que a integração permite a vivência e a troca de
experiências. Possibilita, ainda, a intervenção-partilha no campo organizacional e
funciona como apoio no processo de venda e compra; nesse sentido, a
intercooperação horizontal permite a ajuda mútua entre cooperativas de outros
ramos e até de atuação no mesmo segmento, especialmente pela via de
atendimento e até de realização de feiras e exposições partilhadas. A
intercooperação também pode ocorrer no sentido vertical, por meio de ações
diversas, como o compartilhamento e a potencialização do uso de mídias, a
realização de eventos conjuntos, o uso de equipamentos sistematizados e até a
integração de uso de espaços físicos, permitindo que esses benefícios conjuntos
possibilitem ganhos de escala e uma economia de escopo (MEINEN; PORT,
2014).
E o sétimo princípio é “Preocupação com a comunidade ou interesse
pela comunidade”. Para que esse princípio se efetive é preciso que os
cooperados aprovem-realizem políticas que levem as cooperativas a atuarem no
desenvolvimento da comunidade. A atuação das cooperativas deve ter um caráter
de viabilização de um desenvolvimento sustentável, que pode ser concretizado
através da prestação de serviços solidários, da geração de emprego e renda, da
venda de produtos a preço de custo, e também do cuidado, zelo e conservação
ambiental. Ressalta-se que uma cooperativa tem, entre suas funções, a obrigação
de promover a valorização das particularidades locais e o fortalecimento dos
potenciais socioeconômicos. Assim, ela deve influenciar o desenvolvimento local,
possibilitando o crescimento de forma harmônica, equilibrada e sustentável.

3.3 Doutrina Cooperativista: Representações e Interpretações Simbólicas

O cooperativismo surgiu como forma de atender às necessidades ou


interesses dos seres humanos; ao mesmo tempo, é atribuída ao mesmo a função
de possibilitar acesso social, econômico e cultural. Isso quer dizer que, ao invés
de ter a economia ou o capital como prioridade, tem o ser humano como principal
referência, ou seja, ele ocupa o centro das atenções; nesse sentido, a igualdade
social e a democracia são fundamentais para que qualquer pessoa seja incluída e
cooperada, independentemente de qualquer característica que se tenha. Assim,
para melhor aprofundar nos conceitos da doutrina cooperativista é necessário que
se evidencie os valores cooperativistas, que têm a cooperação como cerne
81

existencial, em que o desafio permanente é o de substituir as ações


individualizadas por ações cooperativadas.
Veja no Quadro 9 alguns valores essenciais ao cooperativismo:

Quadro 9: Conceitos e valores cooperativistas


Dentre estes valores, evidencia-se o princípio de “Solidariedade”, que pressupõe a
necessidade de que cooperados se apoiem mutuamente, ajam coletivamente,
estabelecendo vínculos sociais e solidários por meio de empreendimentos em comum.
Este é um valor essencial e fundamental para ser um associado em uma cooperativa.
A “Democracia” também, como já expressado anteriormente, é essencial no
cooperativismo; pois é o que permite, mesmo diante de divergências de ideias e de
pretensões diversas, que cooperados se respeitem e tenham direito de participar, opinar
e decidir de forma igualitária.
Nesse mesmo viés, a “Equidade” tem importância como forma de aplicação de direitos
a todos de uma maneira mais justa possível. Por meio desse valor (equidade) é que no
viés econômico de uma cooperativa se permite garantir a distribuição proporcional de
todos os resultados, de acordo com a participação de seus membros. Já no campo
social de uma cooperativa se executa o auxílio a todos os cooperados, sem nenhuma
forma de discriminação. No viés associativista da cooperativa, se abonam
igualitariamente os mesmos deveres e direitos.
A “Igualdade” é um valor relevante ao cooperativismo e é assegurada pelos princípios
do cooperativismo. De tal maneira, é passível de entendimento que um cooperado deve
ser subordinado sempre ao direito de igualdade de todos os demais cooperados.
Um valor especial é a “Universalidade”; trata-se do apreço e zelo pelo atendimento e
inserção de todos os cooperativados, sem nenhuma discriminação ou distinção de
religião, cor, etnia, raça ou classe social. Nesse sentido, o acesso às ações e serviços
de uma cooperativa deve prezar sempre por atender às necessidades coletivas e a
todos sem discriminar ninguém.
Muito importante também é a “Liberdade”, pois é o que permite que a escolha de ser
cooperado seja livre de fato. É também o que proporciona a possibilidade de escolha
das regras que visem ao bem comum de todos e todas; importante ressaltar que a
liberdade no cooperativismo precisa ser essencialmente bilateral, ou seja, todos os
cooperados têm os mesmos deveres e direitos. Esse valor (liberdade) se limita às regras
e normas de comportamento que são definidas em grupo pelos próprios cooperados; é
também o que possibilita a um cooperado entrar e se integrar ou não em uma
cooperativa, e é o que permite livremente definir, ficar e cooperar o tempo que convém
ou que o interessa.
“Justiça social” no cooperativismo pauta-se no sentido de relacionar o incremento
econômico ao social, à qualidade de vida, às questões educacionais e culturais. É,
82

portanto, a ação que se realiza no sentido de constituir e atuar politicamente, e


moralmente embasados na perspectiva de promover solidariedade e igualdade.
“Honestidade” é um importante valor ao cooperativismo. Desde o surgimento das
primeiras cooperativas, especialmente a dos pioneiros de Rochdale, já se prezava muito
esse valor, pois o entendimento é que as relações interiores no cooperativismo e
também exteriores deveriam sempre ocorrer da forma mais honesta possível, a fim de
que se consiga mais crédito e cresça no sistema cooperativista.
O “Humanismo” é um conceito relevante ao cooperativismo, pois se trata de uma
filosofia de vida e moral que tem o ser humano como figura central; atribui-se assim aos
seres humanos como sujeitos dotados de racionalidade, com capacidade de se postar
ou agir sempre com atitude ética, que preza por promover o respeito e a dignidade.
A sensatez embasada na razão e na factualidade deriva da “Racionalidade”, ou
melhor, é uma perspectiva de construção humanística de uma sociedade mais justa e
inteligente.
A “Participação” é um dos valores do cooperativismo também. É o que possibilita aos
cooperados se organizar, refletir e planejar; além de ser o instrumento que permite com
que sejam sempre definidos coletivamente os objetivos a serem alcançados.
FONTE: Benato (1995); Irion (1997); Reisdorfer (2014). Adaptado e organizado por
Oliveira (2018).

Os valores são essenciais para sustentar a existência do


cooperativismo; servem como base de estruturação desse modelo de
organização. Importante salientar que valores são sempre o que precede ou que
serve como meio de originar princípios. Além de essenciais, os valores “[...] são
permanentes e os princípios ao interpretar os valores podem ser adaptados às
circunstâncias relativas ao local e ao tempo em que é posta em prática a doutrina
cooperativista” (IRION, 1997, p. 47). Diante disso, vê-se que as ações, as
atividades, a prática e a organização cooperativista são potencialmente
influenciadas por esses valores já citados. Admite-se assim que os valores são
“[...]experiências morais, de caráter permanente, que se constituem no arcabouço
do pensamento e da conduta dos cooperativistas” (IRION, 1997, p. 49). Do
mesmo modo, os valores se fazem significativos e importantes para viabilizar a
sustentação do sistema cooperativista. Destaca-se que não existe um ementário
ou uma quantidade conclusiva de valores do cooperativismo, mas, dentre eles,
merecem destaque: solidariedade, democracia, equidade, igualdade,
universalidade, liberdade, justiça social, honestidade, humanismo, racionalidade e
participação.
83

Antecedente ainda à criação dos valores cooperativistas, Charles Gide,


estudioso e um dos principais responsáveis pela estruturação organizacional do
cooperativismo, almejava ou tinha como perspectiva que o cooperativismo deveria
passar por três fases; primeiramente, seriam implantadas as cooperativas de
consumo para, posteriormente, ampliar a atuação para o cooperativismo industrial
e, sequencialmente, o cooperativismo agrícola. O resultado desse processo
possibilitaria alcançar uma República Cooperativista (PINHO, 1966).
Um fato histórico que deixou marcas, inclusive na manutenção de
aspectos influenciadores e no contexto atual cooperativista, e também na
perspectiva de fundamentar a doutrina cooperativista, foram as doze virtudes
formuladas por Charles Gide.
A primeira delas é “viver melhor”, para isso, faz-se necessário buscar
soluções de forma mútua e coletiva, com o objetivo de melhorar as condições de
vida ou de satisfazer as necessidades comuns aos cooperados. Já a segunda é
“pagar a dinheiro”, com essa virtude, objetiva-se evitar dívidas que podem causar
escravidão e/ou dependência. “Poupar sem sofrimento” é a terceira virtude,
segundo a qual, para se estabelecer e para se ampliar o cooperativismo, é
preciso investimento; nesse sentido, os cooperados devem ser estimulados a
poupar de acordo com as possibilidades individuais, e, com a devolução de lucros
e/ou ganhos, os excedentes devem ser utilizados como forma de retorno e como
meio de melhorar o acesso à satisfação das necessidades.
A quarta virtude é “Suprimir os parasitas”, que é o mesmo que eliminar
das negociações de compra e venda de produtos e serviços os intermediários, ou
seja, os atravessadores. A quinta virtude trata de “Combater o alcoolismo”, que
tem caráter educativo, com vistas a conscientizar quanto à importância de viver
de forma saudável, com saúde, evitando vícios, especialmente o alcoolismo.
“Integrar as mulheres nas questões sociais” é a sexta virtude e refere-se à
relevância da inserção das mulheres, sobretudo porque elas eram as principais
responsáveis por cuidar do lar e por fazer compras; tais fatos culminavam na
necessidade de tornar acessíveis ao conhecimento feminino os problemas de
ordem de consumo. Como sétima virtude, cita-se “Educar economicamente o
povo”, trata de utilizar a educação como meio de ensinar e de educar o homem
para se desenvolver possibilitando que os homens e mulheres se emancipem
empoderem-se e se capacitem, de forma que tenham condições de administrar
política e economicamente.
84

A oitava virtude é “Facilitar a todos o acesso à propriedade”; através de


atitudes e ações coletivas, pretende-se com esforços mútuos do grupo conquistar
os meios de produção (capital). Já a nona virtude é “Reconstituir uma propriedade
coletiva”, objetivando superar o individualismo, a fim de sobrepor os interesses
coletivos e, consequentemente, estruturar ou criar um patrimônio coletivo. Em
décimo evidencia-se “Estabelecer o justo preço”, que se refere a praticar e definir
o preço ou pagar pelo trabalho de forma justa, eliminando qualquer tipo de
especulação. “Eliminar o lucro capitalista” é uma virtude muito relevante - é a
décima primeira - que busca atender e contemplar homens e mulheres por meio
da efetivação e da satisfação de suas necessidades, as quais, por fim, devem se
sobrepor aos interesses de se obter lucro. Completando a décima segunda
virtude, cita-se “Abolir os conflitos”; para implementação dessa virtude, é preciso
trabalhar e tomar decisões sempre embasadas no voto e na escolha da maioria,
devendo o diálogo sempre prevalecer, no intuito de deter qualquer disputa ou
discordância.
Como se pode constatar, o cooperativismo é uma doutrina, ou seja, um
modelo socioeconômico capaz de equilibrar fatores sociais, culturais e
econômicos; trata-se, portanto, de um fenômeno doutrinal, de cunho econômico,
que preza pelo zelo e pelo cuidado com as questões assistenciais, culturais e
sociais. A doutrina cooperativista realiza-se em uma cooperativa somente quando
se atenta ao princípio da democracia, que permite a constituição de capital não
com fim no lucro, mas com objetivo de incluir, de se ter acesso, e de poder
participar da distribuição embasada nos princípios da justiça social. Assim,
considerando essas colocações especificadas, acredita-se que é admissível dizer
que, por meio do cooperativismo, é possível reorganizar a sociedade em seus
mais diversos aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos.

3.3.1 A simbologia como meio de visibilizar o cooperativismo

Partindo da necessidade de sensibilizar e motivar as pessoas,


especialmente os jovens, além da intencionalidade de expor a importância do
papel social do cooperativismo, anualmente, no primeiro sábado do mês julho, é
celebrado, principalmente por associados cooperativistas, o dia internacional do
cooperativismo. A definição de um dia de memória, celebração e mobilização foi
realizada no Congresso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), que ocorreu
no ano de 1923. Posteriormente, mais precisamente no ano de 1994, por ocasião
85

dos 100 anos do cooperativismo, a Organização das Nações Unidas (ONU)


confirmou a decisão da ACI, referendando o dia do cooperativismo. No dia
internacional do cooperativismo, entre seus objetivos, destaca-se: buscar,
despertar e disponibilizar informações à sociedade quanto aos benefícios e
valores-princípios do cooperativismo; é um momento de celebração, em que se
enaltece a relevância do trabalho conjunto-mútuo.
E neste mesmo viés de se contextualizar socialmente e na busca de se
evidenciar para a sociedade, o cooperativismo utiliza recursos simbólicos. Assim,
para entender a ideologia contida nos símbolos, buscou-se relacionar a referida
questão ao cooperativismo, de modo que os símbolos são uma forma de
proporcionar a interação e a uniformização de cooperativas de diferentes
naturezas e lugares; é, portanto, uma ferramenta de estabelecimento de controle,
ou também uma forma de se fazer ser visto e aceito.
Para especificar melhor essa questão dos símbolos no cooperativismo,
inicialmente se faz necessário falar de representação semiológica; por
conseguinte, é preciso compreender que a semiologia se dedica a estudar os
sinais, ou seja, trata-se da ciência dos signos. Melhor especificamente, a mesma
busca a compreensão dos sistemas de significação por meio dos signos. Assim, a
combinação entre Significado, Significante e Referente são o que se pode chamar
de signo. Pode-se chamar de Significante a parte material do signo (o que é
perceptível-concreto) e de Significado o conceito ou a ideia; já o Referente é o
que foi construído mentalmente, ou melhor dizendo, o objeto da relação entre o
significado e o significante (SANTAELLA, 2003).
De acordo Nöth e Santaella (2017, p. 7, grifos dos autores), “A palavra
semiótica (originalmente semeiótica) vem do grego antigo, onde seméion significa
„signo‟. Desde o século XVIII, semiótica e semiologia (ou semeiologia) eram
termos alternativos para a mesma ciência dos signos em várias línguas
europeias”. As nomenclaturas semiologia e semiótica ainda são consideradas
como sinônimos por muitos pesquisadores, porém, essa questão depois de
bastante debate por pesquisadores e escolas de estudos semióticos foi superada;
as escolas europeias utilizavam a nomenclatura de semiologia e já os norte-
americanos de semiótica. Porém, há quase cinco décadas o termo semiótica é o
que tem se evidenciado como estudo de signos. Para Nöth e Santaella (2017, p.
7):
86

(...) a semiótica é a ciência dos sistemas e dos processos sígnicos


na cultura e na natureza. Ela estuda as formas, os tipos, os
sistemas de signos e os efeitos do uso dos signos, sinais, indícios,
sintomas ou símbolos. Os processos em que os signos
desenvolvem o seu potencial são processos de significação,
comunicação e interpretação.

Como se verifica dentre os objetos de estudo da semiótica estão os


signos, ou seja, os sistemas de signos; ressalta-se que os mesmos possibilitam
expressar vontades, pensamentos e/ou sentimentos. Observa-se, ainda, que a
semiótica é uma ciência que assume em seus estudos a função de entender
como o ser humano faz a interpretação dos elementos da linguagem e das
possíveis reações que são oriundas dos mesmos. Assim, a semiótica é uma
alusão ao estudo de como se constitui um significado, igualmente, é o estudo dos
sistemas que não são linguísticos. Para melhor exemplificar, é o estudo da
significação de comunicação e também dos processos de simbologia/signo.
Assim sendo, a simbologia é tratada como uma ciência, que tem por
função estudar a origem e também fazer interpretação; além disso, essa ciência
assume a função de criação de símbolos. Salienta-se que por meio da
representação simbólica é possível se apropriar do mundo ou mesmo representar
uma realidade. Exemplificando, simbólico é parte da linguagem de comunicação
dos seres humanos; nesse sentido, é compreensível que o simbólico são as
coisas representadas por meio de símbolos. Mas o que são os símbolos? Uma
representação gráfica, gestual ou oral, plausível de representar algo ou expor um
ponto de vista, ou mesmo uma ideia.
Os símbolos são uma relevante forma de comunicação não verbal,
portanto, um tipo de linguagem conotativa. Esse tipo de linguagem sempre foi
bastante utilizado, porém, nem sempre foi tão valorizado como tem ocorrido
atualmente. A linguagem por meio de símbolos no contexto atual tem sido muito
utilizada em diferentes ambientes-locais; um exemplo crescente do uso desse tipo
de linguagem tem ocorrido nas redes sociais, especialmente por meio dos
emotions. De acordo com diversos registros históricos se constata que o homem
na pré-história realizava comunicação através de formas variadas, dentre elas,
cita-se as pinturas rupestres, uma forma de linguagem não verbal, ou seja, um
indicativo de linguagem simbólica (PARELLADA, 2009).
A linguagem simbólica tem fundamental relevância para o pensamento
e para o intercâmbio social; esse tipo de linguagem emerge por meio dos
símbolos, que também podem ser considerados ferramentas da mente, que
87

admitem a realização de uma comunicação consciente e mais profunda


(SEVERINO, 1992).
E justamente a partir das possibilidades existenciais de uso dessa
linguagem simbólica é que se insurge ou se percebe uma tradição simbólica do
cooperativismo, porém, antes de abordar detalhes sobre a significação dos
elementos que compõem os símbolos do mesmo, optou-se por rememorar que o
conceito da palavra simbologia na sua origem grega se relaciona com o termo
símbolo. No grego, symbolon é uma representação de algo que seja semelhante,
uma espécie de continuidade representativa de algo ou de alguma coisa. Mais
detalhadamente, é possível dizer que a representação simbólica é uma
possibilidade de aproximação e apropriação de algo existencial, concreto ou
imaginário, abstrato, com característica ideológica ou materialista. Mesmo sem
uma análise mais detalhada e/ou profunda da relevância dos símbolos, facilmente
se afiança que “[...] os símbolos parecem tão inocentes e sem importância.
Embora seja exatamente o contrário [...]” (COUTO, 2017, p. 1). Os símbolos são
importantes meios de comunicação.
O cooperativismo tem um símbolo internacional, em que cada parte
remete a vários significados (Figura 2).

Figura 2: Emblema do cooperativismo

FONTE: Coamo (2018, p. 1).

Trata-se de um símbolo em que se observam os seguintes significados:


o “círculo”, sem um horizonte final, remete ao sentido de eternidade da vida, não
tendo começo e nem fim. É como se indicasse a união do movimento
cooperativista, baseado na imortalidade dos princípios e na preservação de seus
de seus ideais-valores. Já a “cor verde escuro” faz lembrar as plantas e as folhas,
88

uma menção à natureza, que nos fornece a ideia de extensão da vida. Os “dois
pinheiros” remetem à memória de palavras como cooperação, solidariedade e
união. Além disso, seu formato intenciona a perspectiva de crescimento, ou seja,
de subir cada vez mais. Com relação ainda ao “pinheiro”, tem-se a memória de
que essa árvore, pela sua durabilidade e resistência, quer referenciar
perseverança, vitalidade, fecundidade e imortalidade, especialmente por que é
capaz de se multiplicar e sobreviver mesmo em solos de pouca fertilidade. A “cor
amarela” faz uma alusão ao sol, que nos dá a ideia de energia, luz, calor e
riqueza.
Objeto simbólico do cooperativismo também é a bandeira. O francês e
socialista Charles Fourier é um dos idealizadores da bandeira do cooperativismo;
inicialmente, a mesma tinha uma relação com o arco-íris, em que foram utilizadas
as sete cores, remetendo à ideia de união da diversidade. Mas, somente após a
tentativa de Bernardot de criar e oficializar uma bandeira única do cooperativismo
é que, posteriormente, por intermédio de Charles Gide, na cidade de Gante, na
Bélgica, no ano de 1932, o Comitê Executivo da ACI acatou a proposta de criação
de uma bandeira. Porém, essa bandeira comumente era confundida em função da
semelhança com bandeiras de outros movimentos sociais. Assim, no ano de
2001, em Roma (Itália), foi realizada uma reunião administrativa da ACI, ficando
definida, na ocasião, a criação de uma nova bandeira (CHAVES, 2008).
No quadro 10, podem-se verificar essas bandeiras:

Quadro 10: Conceituando as bandeiras do cooperativismo


A primeira bandeira é representada pelas cores do arco-íris.
A cor vermelha representava a coragem, o alaranjado
remetia à visão de futuro, já o amarelo representava os
desafios na família e na comunidade, a cor verde significava
a representação do crescimento tanto individual como
pessoal e com o coletivo como cooperado. O azul
representava a necessidade de contribuir, de ajudar os mais
necessitados e carentes através da união. A cor anil tinha a
representação da necessidade de através do cooperativismo
ajudar os outros e a si mesmo. E por fim a cor violeta com a
representação do coleguismo e do calor humano.
A bandeira do cooperativismo foi alterada, porém, o arco-íris
foi mantido, mas com apenas seis cores; assim, no ano
centenário da Aliança Cooperativa Internacional, mais
precisamente em 1995, ocorreu a aprovação do logotipo, em
que a sigla da ACI foi inserida na sétima cor (violeta).
Posteriormente, no ano de 2001, em Roma, na Itália, em
uma reunião do Conselho da ACI, ficou definido que bandeira
teria a cor branca, com o logotipo da ACI impresso no centro,
abaixo do arco-íris, de onde, sequencialmente, surgem ou
emergem algumas pombas coloridas, representando a paz e
a união dos membros da Aliança Cooperativa Internacional.
89

Em Cabo (África do Sul), no ano de 2013, foi realizada a


conferência mundial da ACI, na ocasião ocorreu o
lançamento de uma nova bandeira que ganhou a cor violeta,
acompanhada do símbolo na cor branca. A palavra coop
ficou definida como novo símbolo do cooperativismo mundial;
a palavra recebeu uma criação gráfica em que foi desenhada
como elo de uma corrente, com objetivo de representar a
união e também a força cooperativista. Essa logomarca foi
criada para ser utilizada na nova bandeira e também como
possibilidade de uso por qualquer cooperativa assim
pretendida; a mesma foi criada a partir da realização de
diversas pesquisas e opiniões de cooperativistas de 86
países, foi pensada por uma cooperativa inglesa, chamada
Calverts, mas contou com a parceria de uma consultoria da
Espanha, a Guerrini Island Design.
FONTE: (COAMO, 2018, p. 1); (SICOOB, 2018, p. 1). Organizado e adaptado por
Oliveira (2018).

Como se verifica, a simbologia cooperativista não é algo estático e


engessado. Sempre passou por processos de transformações e alterações. As
alterações ocorridas consecutivamente foram realizadas no sentido de melhor
abranger e ampliar a atuação do cooperativismo. Os processos de decisão-
alteração do símbolo e da bandeira, realizados pela ACI, foram criteriosamente
feitos com significativo zelo para que se fortalecesse a participação democrática
do maior número de cooperativas. Outro elemento que se evidencia é o
significado simbólico de cada elemento da bandeira e do símbolo do
cooperativismo, que foi sendo atualizado no sentido de adaptar e abarcar os
novos contextos de inserção cooperativista, além de ininterruptamente ter
contribuído para reforçar os princípios e valores do cooperativismo.
As cooperativas de Iporá, sem nenhuma distorção do uso do
simbolismo, como forma de agregar valor e identificação institucional, têm
também seus respectivos logotipos simbólicos e representativos.
Dentre as cooperativas locais, a COOMAFIR é a que mais procurou
investir na criação e adequação simbólica a cada tempo histórico, ou seja, de
acordo com discussões realizadas em assembleias e por seus respectivos
dirigentes é que a logomarca da mesma foi sendo alterado, assim como se
verifica na figura 3:
90

Figura 3: A evolução da logomarca da COOMAFIR

1° logomarca

2° logomarca

3° logomarca

FONTE: Oeste Goiano, (2016, 2018); Arquivo da COOMAFIR (2019). Organizado por
Oliveira (2018).

Como verificado, a logomarca da COOMAFIR sempre seguiu as


orientações que institucionalizam e fundamentam a existência do cooperativismo.
A preocupação que se teve foi em adequar algo que melhor representasse o
movimento cooperativismo da região, representado por pequenos produtores
91

oriundos da agricultura familiar, que se encontram fixado na região Oeste de


Goiás.
Já a logomarca da Coopercoisas traz em si visivelmente características
nacionais, que se relacionam às especificidades locais, assim como os ramos de
atuação da referida cooperativa.
Trata-se de evidenciar o nome da cooperativa, que sempre buscou em
sua essência valorizar os diversos agentes de produção local. A Coopercoisas se
representa por organização mista de agricultores familiares, que tem na economia
solidária a sua principal base ideológica de organização. Veja na figura 4 a
logomarca dessa cooperativa:

Figura 4: A logomarca da COOPERCOISAS

FONTE: Oeste Goiano, (2018).

Não diferente da Coopercoisas, a Cooprol em sua logomarca (figura 5),


que evidencia a sua principal característica local aliada às orientações de base
ideológica do cooperativismo. Observa-se ao fundo os tradicionais pinheiros,
precedidos da imagem em primeiro plano do animal base de produção da referida
cooperativa, que é a vaca leiteira.
92

Figura 5: COOPROL e sua logomarca

FONTE: Oeste Goiano, (2015).

Como se verifica nessa imagem da logomarca da Cooprol e nos demais


especificados existe uma clara evidência de consonância entre eles, advinda
obviamente das bases similares propostas pela ideologia cooperativista.
As cooperativas locais evidenciam através de seus cooperados que é
importante ter uma logomarca da cooperativa com forma de identificação e de
divulgação da cooperativa. Em entrevista a um cooperado 3 da COOPERCOISAS,
ele destacou que o símbolo da COOPERCOISAS em período de evidência da
referida cooperativa foi importante para promover aceitação dos produtos,
especialmente e porque a “marca” COOPERCOISAS tinha sido bastante
divulgada entre a população regional. Já em visita a uma cooperada 4 da
COOMAFIR, entrevistamos a mesma, e ela salientou que a logomarca da
cooperativa é uma forma de materialização ideológica, nesse sentido ela reforçou
que com essa identificação os cooperados sentem mais acolhidos e
representados, pois a logomarca é algo que destaca visualmente a cooperativa
para a comunidade e serve como forma de demonstrar a todos que existe uma
organização social, possível de ser imaginada através da referida logomarca.

3
Cooperado desde a o primeiro ano de fundação da COOPERCOISAS. Entrevista concedida em 13 de abril
de 2020.
4
Cooperada desde na COOMAFIR. Faz parte também de uma associação que se encontra meio paralisada.
Entrevista concedida em 10 de abril de 2020.
93

3.4 Classificação dos Ramos Cooperativistas

O cooperativismo, desde o seu surgimento, na intencionalidade de


melhor se adaptar às necessidades sociais e na perspectiva de atender às
exigências oriundas de questões culturais, políticas, econômicas e trabalhistas,
sempre se inseriu em contextos de transformações e adequações. Não somente
os símbolos, brasão e bandeira, passaram por diversas transformações e
alterações, da mesma forma, as nomenclaturas dos ramos do cooperativismo
também foram sendo criadas, recriadas e adaptadas.
Veja a seguir no Fluxograma 2 os treze principais ramos do
cooperativismo:

Fluxograma 2: Ramos do Cooperativismo

FONTE: Oliveira (2018).

Dentre os seus ramos, destaca-se o “Ramo Agropecuário”, que é um


dos mais importantes do cooperativismo, pois se apresenta como bastante
relevante, em razão de ter muita expressão econômica. O mesmo congrega
produtores rurais, pescadores, produtores da agricultura familiar, ou seja, são as
94

cooperativas ligadas à criação-cultura rural. Tem uma atuação especialmente


relacionada ao manejo de animais e à agricultura.
O “Ramo do consumo” concentra as cooperativas de abastecimento,
que podem ser abertas e/ou fechadas; essa é uma caraterística desse ramo,
podendo, portanto, ser aberta quando se admite a entrada de qualquer pessoa
que tenha interesse, porém, pode ser fechada quando se admite somente
pessoas de um estabelecimento, de um comércio, uma empresa ou um segmento
profissional. É importante relembrar que a primeira cooperativa foi criada na
Inglaterra, no ano de 1844, pelos pioneiros de Rochdale e era uma cooperativa de
consumo, em que os trabalhadores tecelões fundaram uma espécie de armazém
de secos e molhados. Os produtos são vendidos na condição ou preço à vista e
com uma margem de, no máximo, 4%. As cooperativas de consumo, conhecidas
também por cooperativas de compra comum, são formadas pelo agrupamento de
pessoas que definem comprar em conjunto, a fim de obter preços mais acessíveis
(CARDOSO, 2014).
O “Ramo de infraestrutura” se volta para as questões de energia,
telecomunicações, telefonia rural, internet, mecanização agrícola, limpeza pública
e serviços. Nesse segmento, destacam-se muito as cooperativas de eletrificação
rural, que atendem os pequenos e médios produtores.
Também muito expressivo é o “Ramo educacional”. Comumente, as
cooperativas ligadas a esse ramo são criadas com a intenção de oferecer, por um
preço mais justo, um ensino de melhor qualidade. Muitas dessas cooperativas
surgem especialmente em momentos de profunda crise educacional e a partir da
necessidade de obter acesso a um ensino que não tenha tão alto custo. A maioria
dessas cooperativas é criada por grupos de pais, alunos e/ou professores.
Caracterizam-se por valorizar a cooperação e a democracia, que são
fundamentais para esse segmento, além de ser muito prezado o cuidado, a fim de
evitar a incitação da competitividade. Esse tipo de cooperativa pode atuar em
qualquer fase do ensino, ou seja, busca sempre atender às necessidades dos
cooperativados. Além das escolas que atendem ensino fundamental e/ou ensino
médio, muitas têm um caráter funcional voltado para a profissionalização, outras
são voltadas para a educação do campo, especialmente as escolas agrícolas.
“Ramo de Produção” tornou-se independente, no sentido de que
provém do ramo agropecuário, e muitas cooperativas desse ramo são
organizadas por trabalhadores com o intuito de recuperar ou retomar a
capacidade de produção de indústrias que faliram. São cooperativas produtoras
95

de bens e produtos voltadas especialmente para a indústria e a agropecuária, em


que tanto a propriedade como os meios de produção pertencem àqueles que nela
trabalham, nesse caso, os cooperados.
Outro ramo é o “Habitacional”, que tem a função, via cooperativismo,
de realizar ações e encontrar alternativas para viabilizar moradia aos cooperados.
As cooperativas desse ramo não visam ao lucro e buscam construir casas por
preço inferior ao praticado no mercado, por um preço justo.
O “Ramo do cooperativismo de crédito ou financeiro” tem crescido
aceleradamente nas últimas décadas, e atualmente é o que mais se evidenciou.
Existem algumas justificativas para o referido crescimento, dentre as quais se
destacam: 1 - as taxas de juros bem mais baixas, chegando a ser a metade das
que são ofertadas pelos bancos convencionais; 2 - o direcionamento de crédito
voltado para o agronegócio; 3 – a expansão geográfica possibilitando atender até
pequenos municípios onde não há nenhum outro banco; 4 – o cooperado poder
decidir e participar dos resultados na condição de dono do negócio (EXAME,
2018). O cooperativismo de crédito tem entre seus objetivos facilitar as condições
de acesso dos cooperados ao mercado financeiro. Os bancos cooperativistas
oferecem basicamente os mesmos serviços e produtos que os bancos
tradicionais, como seguros, aplicações, empréstimos, débito, cartões de crédito e
consórcio. Um diferencial significativo desse ramo é que os cooperados são
sócios, mas, para ocuparem essa função ou obterem esse direito, é preciso que
façam, inicialmente, um pequeno investimento, chamado capital social. Uma vez
sócio, é relevante a informação de que as cooperativas desse ramo não têm fins
lucrativos, mas, como trabalham com taxas de lucros muito baixas, é possível
obter alguns ganhos financeiros, caso em que as sobras são devolvidas aos
sócios. Anualmente, é realizada uma assembleia geral, na qual é definida a
destinação das sobras, e geralmente essas sobras são devolvidas aos sócios, de
acordo com a movimentação bancária que cada um realizou.
O cooperativismo crédito se destaca em diversos países, sendo que
25% dos ativos financeiros na Alemanha são movimentados pelo cooperativismo
financeiro, mas especialmente na França é que o mesmo mais se destaca, pois
as instituições cooperativas de cunho financeiro são responsáveis por movimentar
60% de todos os recursos financeiros; aliás, é da França a maior instituição
financeira cooperativa do mundo, o banco Credit Agricole. No Brasil são mais de
1.100 cooperativas desse ramo e as regiões Sul e Sudesse são as que
concentram a maioria delas. Dentre as principais instituições se destacam:
96

CONFESOL (que representa as centrais Cresol, Ecosol e Crenhor), SICOOB,


SICREDI, UNICRED e CECRED (PORTAL, 2018). Os maiores do Brasil são o
SICOOB e o SICREDI, cujas instituições se fazem presentes no município de
Iporá.
“Ramo de saúde” é um cooperativismo oriundo do desmembramento
do ramo do trabalho, que teve as primeiras iniciativas em terras brasileiras e
rapidamente se expandiu pelo mundo. Dentre seus objetivos funcionais,
destacam-se: valorizar e melhor remunerar os profissionais cooperados desse
segmento, evoluir e oferecer condições adequadas de realização do trabalho, e
avançar e melhorar o atendimento das pessoas-pacientes. Obviamente, é um
ramo do cooperativismo voltado para aquelas pessoas-profissionais da área de
saúde que se propõem a se dedicar na realização de ações voltadas para a
promoção da saúde humana. Importante explicitar que essas cooperativas
também permitem a participação de usuários.
“Ramo da mineração” destaca-se principalmente em locais onde
existem as médias ou pequenas jazidas; é formada por garimpeiros que buscam
obter melhores condições de vida, trabalhar com mais segurança e reduzir a
exploração do trabalho ocasionada por grandes mineradoras e por intermediários.
As cooperativas desse ramo têm entre seus objetivos: realizar extração,
pesquisar, industrializar, proceder às importações e exportações de minerais.
“Ramo Social ou Especial” é dedicado à organização de cooperativas
que visem fazer gestão e organização de serviços educativos e sociais, com
vistas a atender pessoas com deficiências ou que estejam em situação de
desvantagens e de vulnerabilidade; destina-se ainda ao atendimento de pessoas
que necessitam de tutela. Também existem as cooperativas formadas por
pessoas que queiram realizar ações no sentido de abonar a cidadania como
direito a todos, sobretudo para as pessoas com deficiência, além de tentar inserir
no mercado de trabalho e ou gerar renda para estas pessoas. Para a efetivação
desse objetivo, é muito importante o despertar da consciência crítica social das
pessoas com deficiência. As cooperativas desse ramo são especializadas no
atendimento de pessoas com deficiência, ex-presidiários, dependentes químicos,
adolescentes em idade aprendiz e ainda pessoas que foram condenadas a penas
alternativas (BRASIL, 1999). Enfim, as principais ações ocorrem no sentido de
promover cidadania e inclusão de pessoas no mercado de trabalho. Nesse tipo de
cooperativismo é permitida também a participação de cooperados profissionais de
97

saúde (psicólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos e outros) e pais ou


responsáveis, especialmente de pessoas que tenham deficiência metal ou física.
“Ramo de turismo e lazer” é passível de bastante ampliação,
especialmente em função das possibilidades existentes de realizar atividades de
turismo e lazer, e pelo vasto patrimônio turístico existente em diversos países. As
cooperativas desse ramo buscam realizar e/ou disponibilizar serviços de cunho
artístico, em eventos, de formação para trabalho em hotelaria, esportivo, de
turismo e também de entretenimento.
O “Ramo do Transporte” está entre os mais novos e as cooperativas
desse ramo têm demonstrado ser muito eficientes em função da rápida
estruturação e também pelo crescimento-aumento da frota de carros destinados a
este tipo de cooperativas. As cooperativas desse ramo realizam prestação de
serviços e também de transporte de passageiros
As cooperativas do “Ramo do Trabalho” estão entre as mais
abrangentes de todos os outros ramos, pois podem agregar trabalhadores de
áreas diversas. Para se integrar a uma dessas cooperativas, basta ter uma
ocupação profissional, ter o anseio de melhorar as condições de trabalho e,
consequentemente, a remuneração. Na maioria das vezes, são compostas por
trabalhadores autônomos que buscam se unir para potencializar a produção e
realizá-la, preferencialmente, em modos coletivos. Importante ressaltar que esses
ramos são significativamente novos e ainda encontram resistência no que tange à
regulamentação funcional em vários países.
Como averiguado, existem variados ramos de cooperativismo que
atuam no sentido de atender aos interesses e necessidades da sociedade. Os
ramos, os tipos de cooperativas se assemelham, porém, variam muito entre os
países, sobretudo em função das leis que são criadas para regulamentar as
atividades cooperativistas.
Alguns ramos do cooperativismo encontram mais resistência no
processo de implantação ou organização em relação a outros. Como fatores que
influenciam e justificam essa negatividade de conduta, citam-se a existência de
diversos casos e relatos de uso indevido do cooperativismo. Há situações em que
pessoas usufruem dos benefícios cooperativistas e usam a concepção de
organização como meio de explorar trabalhadores, de burlar as leis de
regulamentação do trabalho e como forma de transgredir, inclusive, os direitos
trabalhistas, além de não respeitarem e infringirem as orientações e princípios do
cooperativismo.
98

3.5 Elementos de análise parcialmente conclusivos

Especificou-se, nessa seção de caráter descritivo, algumas


contribuições na tentativa de recuperar elementos históricos da constituição do
pensamento cooperativista. Na atualidade as cooperativas, pelo menos uma parte
delas, são empresas. Acredita-se que essas referidas contribuições serviram nas
seções seguintes para caracterizar e analisar como se estabelece, como se
especializa e como se estrutura o cooperativismo no município de Iporá. Assim,
até o momento foi possível compreender melhor os princípios, as virtudes, a
simbologia e os valores do cooperativismo, de modo que a compreensão desses
elementos terá relevância para permitir também observar as cooperativas
existentes no município de Iporá. Diante disso, a descrição analítica das
características e conceitos que fundamentam o cooperativismo permite perceber
que o mesmo é um método ideológico e econômico bastante relevante, que foi
pensado ou criado com a intencionalidade de satisfazer os anseios sociais,
culturais, econômicos e políticos de um grupo, uma região ou segmento de
pessoas. Ficou ainda bastante evidente nessa seção que o cooperativismo se
baseia originariamente na solidariedade, na democracia e na ajuda mútua, é uma
possibilidade de atender aos anseios e/ou metas comuns de indivíduos de um
grupo.
Salienta-se que a análise crítica e submergida dos conceitos e
características que fundamentam o cooperativismo permite olhar para a
estruturação cooperativista no município de Iporá. Desse modo, buscou-se
enxergar as iniciativas cooperativistas no referido município a partir de dados e do
olhar empírico que leva em conta o contexto contemporâneo em que se insere
atualmente o cooperativismo. Assim sendo, evidencia-se que, ao olhar
especificamente para o cooperativismo contemporâneo, facilmente se percebe
que as ideias de liberdade, distribuição de renda, autonomia e redução de
desigualdades sociais continuam sendo promessas atrativas para a concepção
ideológica de cooperativismo. Porém, é salutar que por via de algumas
cooperativas se percebe certa conformidade com a flexibilidade atual do trabalho
e também com a ascensão da terceirização; situações que influenciam no
aumento da exploração, na precarização e na alienação trabalhista.
Nesse sentido já especificado e contextualizado nessa seção, percebe-
se que originalmente surgiu e emergiu um cooperativismo que atuou como
solução para a exploração do capitalismo. Trata-se de um cooperativismo nada
99

utópico, mas sim como proposição real, que se propôs como contraposição à
exploração capitalista.
Vivemos em uma sociedade organizacional (MORIN, 2003), nesse
sentido se evidencia que existem muitas organizações com capacidade de
influenciar e organizar culturas, modo de agir, assim como as relações sociais
vivenciadas no dia a dia. O cooperativismo vivenciado através das cooperativas é
um exemplo desse tipo de intervenção.
Não é difícil citar exemplos de cooperativas que atuaram ou continuam
atuando como agentes de organização da produção, como negociador, regulador
de preços, e como organizadora do espaço social. Citam-se algumas
cooperativas que inclusive podem ser classificadas como entre as maiores
cooperativas do mundo, a Crédit Agricole Group, Groupe Caisse D‟Epargne; no
Brasil se destaca a Copersucar, Coamo, Cocamar, Coopavel. Também
classificadas entre as maiores do Brasil e como referência de atuação no estado
de Goiás cita-se a Comigo e Unimed Goiânia (Cooperativa de Trabalho Médico).
O cooperativismo tem princípios bem definidos e que oferecem
significativo aporte para estruturação de ação para qualquer que seja a
cooperativa, independentemente do ramo de atuação. Fato esse verificado nessa
seção.
Porém, contraditoriamente por meio de algumas cooperativas se
constata no contexto atual que a prática e a atuação de muitas delas acabam por
servir como instrumento do capital. Existe, portanto, um significativo contingente
de trabalhadores que são agrupados por meio de diversas cooperativas para
oferecer força de trabalho subordinada aos interesses do capital; assim, acabam
se sujeitando ao aumento da exploração, o que demonstra a incapacidade de
promover resistência ao capital.
Ressalta-se ainda que esta realidade de exploração da força do
trabalho e submissão às regras do mercado, dentre outras contradições
constatadas no cooperativismo, nem sempre é visível e de fácil assimilação pelos
trabalhadores, pois a ilusão de não ser subordinado a um patrão e ser autônomo
colabora significativamente para que não se perceba a dependência e a
subordinação ao mercado, que, nesse caso, evidencia-se por meio de um
capitalista que admite ser comprador de serviços, livre de qualquer compromisso
trabalhista.
100
101

Não faltam pesquisas no Brasil e em diversos outros países que


comprovam que o cooperativismo tem exercido de forma relevante o papel de
promover e influenciar o desenvolvimento e a organização regional, auxiliando e
organizando produtores e trabalhadores nas questões sociais, econômicas,
culturais, políticas, dentre outras. Mesmo que ainda de forma meio imperceptível
por parte de alguns cooperados, e porque alguns governos resistem em
compreender ou aceitar a eficácia desse modelo organizacional, é notório e
facilmente comprovável, por meio de dados e pesquisas disponibilizados por
institutos, pesquisas acadêmicas e ONGs, que as cooperativas (cooperativismo)
fornecem ganhos significativos aos cooperados e à sociedade, por meio de
serviços prestados e de sua produção.
O crescente aumento do número de cooperativas e cooperados 5 é uma
forma de compreender a credibilidade e a relevância que o cooperativismo
adquiriu junto à sociedade. O mesmo tem obtido adesão em diversas áreas que
perpassam pela educação, transporte, moradia, crédito, agropecuária, saúde,
produção, infraestrutura, mineração, turismo e outras. De tal modo, tem atuado
como mecanismo de regulamentação de preços e mercado, sendo responsável,
também, pela geração de renda, emprego, oferta de bens e serviços, fomento e
comercialização de diversos produtos, em distintas regiões e cidades.
O cooperativismo tem sido responsável também pela geração de
riquezas; tem influenciado no desenvolvimento regional, atuando de forma
inteligente e criativa na união das pessoas, a fim de enfrentar adversidades
oriundas do mercado. Ao mesmo tempo, o mercado tem se tornado cada dia mais
competitivo, e nesse sentido o cooperativismo tem contribuído de forma relevante,
apresentando soluções e alternativas para atender às demandas atuais desse
mercado. Destaca-se que o cooperativismo tem atuado socialmente, ou seja,
junto aos cooperados nas questões relativas à formação, educação e cultura;
assim, tem conseguido oferecer aos cooperados bem-estar e mais qualidade de
vida.
Procura-se, por meio desta seção demonstrar que o cooperativismo é
uma das mais importantes formas de organização social. Para tanto, pondera-se
que a apresentação das bases teóricas que estruturam o cooperativismo é
importante para melhor compreendê-lo; além ainda, de contribuir

5
Destaca-se que 45,5% da população do continente europeu no contexto atual são cooperadas em uma
cooperativa. Já a Ásia conta atualmente com 1,9 milhão de cooperativas. E de cada sete pessoas que existem
no mundo, uma é cooperada em uma cooperativa. (CENSO GLOBAL, 2014).
102

significativamente para relacioná-lo com diversas ações relacionadas ao arranjo


organizacional de pequenos produtores. Salienta-se que a análise sobre a
estruturação do cooperativismo é importante para a compreensão da sua relação
no contexto regional e para também constatar a existência de influências junto a
organização sócio-espacial local.
Dentre os principais referenciais teóricos utilizados nessa seção para
sustentar a análise e a pesquisa reflexiva, destacam-se: Braverman (1980), em
“Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalhador no século XX”,
Brose (2012), em “Capacitação de executivos públicos e agentes sociais para a
gestão pública e do processo de desenvolvimento local/regional integrado”, Frantz
(2003), em “Caminhos para o Desenvolvimento pelo Cooperativismo”, Reis
(2006), em “Aspectos Societários das Cooperativas”, Souza (2006), em
“Capitalismo Contemporâneo: as cooperativas sob o comando do capital” e dados
disponibilizados pela Aliança Cooperativa Internacional, dentre outros.

4.1 Bases Estruturais do Cooperativismo

No período intenso de expansão capitalista industrial, tanto na França


como na Inglaterra, no século XIX, acendia o individualismo, porém, em
contraposição, muitos analistas, economistas e críticos socialistas apresentavam
como caminho o modelo de cunho cooperativista. As ideias de sociedade
igualitária já evoluíam nesse período; existiam, mesmo que de forma incipiente,
aqueles que almejavam uma sociedade fundamentada na propriedade coletiva,
em que os meios de produção fossem geridos de forma comum (BRAVERMAN,
1980; GUIRALDELLI, 2014).
O cooperativismo, no século XIX, exercia função importante de
organização dos trabalhadores, de modo que o período foi marcado por diversas
crises6 que assolavam a vida do trabalhador, como intensa alta dos preços,
especialmente de produtos básicos e essenciais para alimentação, uma
constância de desempregos e os trabalhadores não tinham acesso nem aos

6
As crises ocorridas no século XIX provocaram a degradação e a exploração do trabalhador; e se
evidenciaram através de formas variadas, dentre elas, cita-se: as condições insalubres, precárias e sub-
humanas ocorridas nas indústrias de transformação de produtos manufaturadas e de matéria-prima. Houve
ainda a incorporação de crianças e mulheres no ambiente trabalhista insalubre, sem garantias de proteção
social, e que ainda exigia extensas jornadas de trabalho, por uma oferta de baixíssimos salários
(GUIRALDELLI, 2004)
Trabalhadores viviam situação de muita pobreza, trabalhavam cerca de 17 a 18 horas diárias e viviam em
condições precárias; ainda pagando muito caro por vestes e alimentos (REISDORFER, 2014).
103

serviços de assistência básica. O incentivo à coletividade e à organização dos


trabalhadores para se ajudarem mutuamente foi uma das principais formas de
intervenção cooperativista.
Importante rememorar que, precisamente no ano de 1844, em
Rochdale7, na Inglaterra, surgiram interessantes iniciativas de organizações
cooperativistas. Mais precisamente, a Sociedade dos Probos Pioneiros de
Rochdale foi à primeira cooperativa a ser criada na Inglaterra, em Manchester 8.
Era composta por 28 operários e tinha entre seus principais objetivos proporcionar
uma melhor qualidade de vida aos seus cooperados através da produção de
tecidos, que seria viabilizada por meio do cooperativismo. A referida cooperativa
objetivava, ainda, facilitar os mecanismos de produção como, por exemplo,
viabilizando a aquisição e a distribuição de gêneros essenciais (REIS, 2006).
Constata-se que, desde o surgimento das primeiras cooperativas, as
mesmas já executavam um papel importante para organizar ações coletivas entre
os trabalhadores. Eram realizadas, através das cooperativas (formadas por
operários), ações e projetos para superar o desemprego, as exageradas jornadas
de trabalho e as baixas remunerações. Muitas cooperativas buscavam,
especialmente, combater as sequelas da pobreza e da fome vividas pelos
operários e familiares.
Não se tem um número preciso de cooperativas que surgiram
inicialmente, mas, de acordo com Sales (2010), Reisdorfer (2014) e Carneiro
(1981), constata-se que muitas delas surgiram como forma-meio de
enfrentamento da miséria, da pobreza9 e da exploração ocorrida em pleno vigor
da Revolução Industrial. A princípio, o cooperativismo foi concebido como forma
de promover ações de solidariedade e ajuda mútua entre os operários
trabalhadores e como modo de combater o individualismo oriundo dos ideais
iluministas, sendo entendido como uma forma de transformação social que se
contrapunha ao modelo capitalista. Esses conceitos e concepções teóricas sobre
cooperativismo, mesmo repletos de contradições, significavam uma forma de
organização que poderia controlar os meios de produção e as relações de
trabalho. Era uma possibilidade de os trabalhadores obterem melhores condições

7 É o principal município do Distrito metropolitano de Manchester, situado na Inglaterra.


8 Município que, de acordo com os dados das Organizações das Nações Unidas, no ano de 2011 contava com
510.746 habitantes. Trata-se de um relevante município situado na zona noroeste de Inglaterra e que obtém
registros históricos de que foi um dos principais centros têxteis do mundo.
9 Essa situação levou os operários a se unirem, com a finalidade de se protegerem contra o desemprego e se
manterem vivos através da organização de uma cooperativa que pudesse supri-los do básico para viver até
conseguirem um novo emprego (REISDORFER, 2014, p. 27).
104

de vida e de trabalho, o que se alinhava aos ideais socialistas, como o de que o


socialismo era uma nítida oposição ao individualismo. O modelo de organização
cooperativista dos pioneiros trabalhadores de Rochdale e dos Socialistas utópicos
como Buchez, Fourier, Blac e Owen foram base elementar de estruturação do
cooperativismo. Assim, a cooperação foi compreendida:

[...] como forma de unir as forças para um fim comum, em


oposição à competitividade e ao individualismo; a ajuda mútua,
com prestação de serviços, atividades coletivas e solidárias, em
oposição a atividades com fins lucrativos e concorrenciais.
Acreditavam que o capital colocado a serviço do homem permitiria
a organização de associações justas que promoveriam a reforma
social (ZEFERINO, 2010, p. 44).

Dentre as justificativas para organização dos trabalhadores em


cooperativas, pode-se destacar que a mesma era um espaço importante para os
trabalhadores se reunirem, refletirem e discutirem as dificuldades vivenciadas em
comum, além de ser espaço coletivo para pensarem alternativas de soluções, a
fim de enfrentarem as crises provenientes do capitalismo.
Prontamente para Marx (1975, p. 237-238, grifo do autor), “[...] as
sociedades cooperativas só têm valor na medida em que forem organizadas pelos
próprios trabalhadores, sem estarem vinculadas ao Estado e à burguesia”. Essa
afirmação proposta por Marx (1975) remete à compreensão de que para o
cooperativismo existir é necessário um evidente posicionamento de
independência e oposição à dominação imposta aos trabalhadores por parte de
quem detinha o poder, de modo que ainda é possível compreender que o modelo
praticado desde o início no cooperativismo, mesmo tendo ações e
posicionamentos que se alinhavam ao socialismo, não o coloca em condição de
oposição aos ideais capitalistas, ainda acrescenta Marx (1975, p. 237, grifo
nosso), que o partido operário alemão via as cooperativas como um “[...] meio
para solucionar o problema social, com a ajuda do Estado e sob o controle
democrático do povo trabalhador, e que delas pudesse surgir uma organização
socialista de todo o trabalho”. Para Marx (1975), trata-se de intenção cheia de
contradições, a começar pela própria ajuda do Estado, fato que pressupõe que o
Estado é quem está no poder e não o povo, impossibilitando qualquer “controle
democrático do povo trabalhador”. Ressalta-se, ainda, a evidência de que as
cooperativas, nesse formato, já conseguiam organizar e influenciar a ocorrência
socializada de produção; porém, a produção permanecia sendo trocada no
105

formato que não divergia do modelo capitalista. Nesse sentido especificado


verifica-se que o Estado representa os interesses da burguesia (MARX, 1975);
por isso a necessidade de independência do trabalhador para fins de obtenção do
real controle democrático.
O cooperativismo em princípio foi se adaptando às condições do
capitalismo, justificado em função da consolidação do capitalismo monopolista
ocorrido no fim do século XIX e início do século XX, que foi marcado pela
estruturação de um novo modelo de produção e pela crise estrutural do próprio
sistema capitalista. Assim, os congressos realizados pela Aliança Cooperativa
Internacional (ACI), bem como o Congresso Socialista
Internacional de Copenhague, realizado em 1910, foram fundamentais para o
entendimento dos princípios ideológicos do cooperativismo; destaca-se que um
entendimento que ficou bem evidenciado é que, ideologicamente, o
cooperativismo não se trata de um modelo que levaria ao socialismo, mesmo se
apropriando de diversos conceitos oriundos dele (PAGOTTO, 2004).
Independentemente do modelo a ser adotado, na produção capitalista
sempre vigorou como prioridade a lucratividade; desta maneira, o modelo de
produção cooperativista foi facilmente controlado pelo capital, que logo tratou de
criar mecanismos de regulamentação para que o cooperativismo servisse às
diversas necessidades advindas das empresas detentoras do capital. Já a partir
dos séculos XIX e XX, uma das necessidades para bem servir a produção foi a
terceirização, portanto, o cooperativismo era utilizado como forma de organizar a
força de trabalho. Assim, enquanto por um lado criava oportunidades para
combater o desemprego, possibilitando alternativas de ocupação de mão de obra
e geração de renda, por outro lado se evidenciava que o mesmo admitia o
subemprego, regularizado através de uma espécie de terceirização.
Um fato que também soa como conquista do trabalhador
cooperativista, mas ao mesmo tempo pode ser considerado como uma falsa
ilusão, é que, através do cooperativismo, o trabalhador é livre e não subordinado
a um patrão, ele é seu próprio patrão. Essa concepção fragiliza a percepção
identitária de classe, uma vez que o trabalhador se confunde com o burguês
(patrão). Nesse caso, a cooperação torna-se a representação da produção do
capital sem orientação-embasamento dos princípios cooperativistas, pois
subordina os trabalhadores de forma coletiva a servirem aos interesses do
capitalismo, seguindo a mesma lógica do lucro, da apropriação da mais valia e da
renda da terra.
106

De acordo com as bases ideológicas do cooperativismo, o mesmo


busca oferecer aos cooperados mais liberdade, autonomia, diminuição das
desigualdades sociais e distribuição de renda. Entretanto, na prática, também
existem muitas experiências que distorcem os princípios ideológicos. Há casos
em que as cooperativas necessitam se adequar ao mercado para conseguirem
sobreviver, precisam baixar ao máximo o custo da produção para se manterem no
mercado e para conseguirem obter competitividade. Nesses casos, os
trabalhadores deixam de ser assalariados para se tornarem os proprietários, mas
não conseguem se colocar ou se posicionar como oposição ao sistema capitalista
exploratório em vigor, o que faz com que acabem contribuindo na produção, de
acordo com o que o sistema capitalista (detentores do grande capital financeiro-
representado por grandes corporações) necessita. Desta forma, os trabalhadores
cooperados às vezes conseguem alcançar os índices financeiros pretendidos, que
se viabilizam por meio das sobras, porém, ficam expostos à mesma lógica de
exploração trabalhista.
Ao relacionar a conjuntura perceptível de exploração ocorrida em
períodos anteriores ao contexto atual, é possível se constatar que as adequações
às regras do capital têm se perpetuado. De modo que quando se relaciona os
trabalhadores a essa lógica de deturpação dos princípios cooperativistas, é
possível constatar ainda que as exigências de flexibilização impostas pelo
mercado, em diversos casos, continuam sendo consentidas através da
terceirização, muitas vezes regulamentadas por meio do cooperativismo. Nessas
condições citadas, percebe-se que o mesmo acaba por colaborar com a
continuidade da exploração do trabalho e das desigualdades sociais, que ocorrem
através da exploração do trabalho (de forma ainda mais intensa), por meio da
remuneração (salário), que é abaixo do valor padrão de mercado, e do
descomprometimento com as conquistas (obtidas no ardor de muitas lutas), que
são as obrigações trabalhistas (direito do trabalhador). Quanto a essa
emblemática, Souza (2006, p. 6) afirma que “A lógica da flexibilidade e suas
estratégias de exploração do sobre trabalho implicam em uma forma reatualizada
de cooperação do trabalho e, aliado a isto, a reafirmação imponente do trabalho
coletivo para a acumulação do capital na atualidade”. Portanto, o cooperativista
não deixa de ser trabalhador pelo simples fato de obter domínio do processo de
produção. O que tem ocorrido nesse modelo é que a relação entre trabalho-
capital passa a ser substituída pela relação empresa-empresa; a força de trabalho
107

passa a ser vendida de empresa para empresa e, assim, o trabalhador continua


produzindo a mais-valia, que é imprescindível para a reprodução do capital.
Portanto, verifica-se, pelo processo especificado no parágrafo anterior,
a exacerbação da exploração e da manipulação dos trabalhadores através do
sistema cooperativista, que se evidencia por meio do desvio de funcionalidade do
mesmo, com fins de atender a uma espécie de interesses neocapitalistas 10. Essa
constatação nos remete ao entendimento de que muitas cooperativas são usadas
para fins do mercado que contrariam os princípios e a lógica idealista do
cooperativismo.

4.2 O Cooperativismo no Processo de Organização Mundial

Transformações diversas, de cunho organizacional, social, econômico


e cultural, ocorreram em diferentes períodos geo-históricos vivenciados pela
humanidade. Algumas dessas transformações ocorreram de forma mais intensa
em espaçamentos de tempo ou período temporal não linear; uns mais longos e
outros mais curtos. Não faltam pesquisas e estudos, como o de Albuquerque
(2007), que confirmam que o homem, continuamente, viveu em constante
movimento, mesmo paralelamente à resistência, no sentido de permanecer do
jeito que se encontrava, todavia, a procura por melhorias nas condições de vida
sempre foi almejada. Assim sendo, a procura por usufruir dos recursos naturais e
transformá-los configura-se também como primordial neste processo de
transformação da sociedade e incremento nas condições de vida das pessoas.
Mas se faz relevante complementar que o ser humano através da apropriação e
da transformação dos recursos naturais pela via do trabalho socializa a
natureza11. Outra questão também importante é que a luta pela sobrevivência em
razão da ocorrência de adversidades naturais marcou profundamente a vida da
humanidade.
Partindo dessas colocações e fatos de cunho reflexivo, pode-se
perceber que as pessoas - a sociedade de forma mais genérica -,

10
Doutrina de cunho político e econômico que relaciona questões ou elementos do sistema capitalista a
questões-elementos de outros sistemas, ou seja, basicamente ajunta ao capitalismo políticas públicas de
cunho social, com objetividade de promover o bem-estar social.
11
No princípio da humanidade, havia uma unicidade orgânica entre o homem e a natureza, em que o ritmo de
trabalho e da vida dos homens associava-se ao ritmo da natureza. No contexto do modo de produção
capitalista, este vínculo é rompido, pois a natureza, antes um meio de subsistência do homem, passa a
integrar o conjunto dos meios de produção do qual o capital se beneficia. (OLIVEIRA, 2019, p. 5).
108

sucessivamente, enxergaram a necessidade de se organizarem e realizarem,


inclusive, ações coletivas para (sobre)viver.
No atual contexto, também muito importante no processo de
organização e desenvolvimento humano a ser considerado, encontram-se a
globalização dos mercados (LOPES, 1996) e o acesso às tecnologias, que estão
entre os fatores que se caracterizam como benefícios oriundos desse processo de
desenvolvimento econômico. É também notório que a marginalização social e a
exclusão das pessoas que não obtêm acesso ao mercado (capital financeiro)
compõem os aspectos negativos desse mesmo processo, de tal maneira que
poucas pessoas são beneficiadas com esse modelo de desenvolvimento
econômico, muito praticado atualmente.
O referido desenvolvimento econômico já especificado é comumente
controlado por grandes empresários, que detêm o controle das ações do governo;
os principais interesses defendidos, em regra, são os financeiros e comerciais.
Assim, os governos neoliberalistas à mercê desse modelo de desenvolvimento
atuam de forma a priorizarem a valoração do capital, deixando sempre a desejar
quanto às políticas voltadas para a coletividade e para a distribuição de renda.
As pessoas menos favorecidas financeiramente acabam ficando à
margem do acesso ao mercado e às tecnologias, tendendo, assim, a compor a
massa de trabalhadores desempregados, o que faz com que fiquem mais
vulneráveis, sendo os mais atingidos pelas consequências da exclusão social.
E, nesse cenário, constata-se que iniciativas cooperativistas sempre
existiram, mais precisamente a partir do século XVIII surgiram às primeiras
cooperativas. O cooperativismo originou-se como um movimento que possibilitaria
a organização da sociedade, para que fosse possível se viver de forma mais
inclusiva, sustentável e justa. Assim, o cooperativismo foi se desenvolvendo e se
fortalecendo, em razão de conseguir promover uma relação de desenvolvimento
econômico e bem-estar social. Precisamente, a ação cooperativista é praticada
nas cooperativas e tem seu surgimento embasado no ideal de organizar as
atividades de cunho socioeconômico; as cooperativas são originadas como
reação ou forma de enfrentamento à exploração a qual os trabalhadores eram
submetidos no processo de desenvolvimento do capitalismo industrial.
Nas últimas décadas, mais especificamente a partir do fim do ano de
2007 e início de 2008, período da atual crise ou a mais recente, alguns fatores,
como a falta de estabilidade financeira e o aumento do desemprego,
influenciaram muitas pessoas da sociedade a se organizarem por meio de
109

cooperativas como forma de enfrentarem as dificuldades adversas da crise.


Nesse sentido, constata-se o surgimento de novas cooperativas e a ampliação do
raio de atuação do cooperativismo voltado para o ramo agropecuário, de
produção e especialmente de crédito (financeiro). Este último ramo citado, de
acordo com Moreschi e Morás (2010, p.8), tem como “um dos principais objetivos
(...) o microcrédito, pelo uso de metodologias adequadas à realidade dos
pequenos, bem como agente de incentivo à responsabilidade, à auto-estima e à
auto-suficiência econômica das pessoas (...)”. Portanto, o aumento e/ou
crescimento do cooperativismo voltado para o setor econômico destaca-se no
cenário mundial, mas é importante salientar que o cooperativismo tem registrado
crescimento em todos os demais ramos, como se verifica na seção 7 desta
pesquisa.
Mesmo considerando as diversas formas de exploração e deturpação
dos princípios cooperativistas já especificadas anteriormente, torna-se relevante
ressaltar que o cooperativismo tem sido fundamental como arranjo organizacional
e operativo na luta pela inclusão social; o mesmo vem promovendo geração de
emprego, renda e melhoria da qualidade de vida. Um fato que evidencia a
importância do cooperativismo foi o Ano Internacional das Cooperativas, em 2012,
organizado pela Organização das Nações Unidas, uma forma de reconhecimento
de que as cooperativas têm sido um meio eficaz para melhorar a qualidade de
vida das pessoas, a geração de emprego e, consequentemente, a renda. Diante
disso, a sociedade tem visto no cooperativismo uma capacidade de promover o
bem-estar social aliado ao crescimento econômico, por isso, o mundo está cada
dia mais cooperativista, como se verifica na CAAL (2016): o cooperativismo já
atinge no mundo todo mais de um bilhão de pessoas; mais de cem países já
possuem cooperativas e têm gerando mais de cem milhões de empregos. A
valoração12 não só das sobras possíveis por meio das cooperativas, mas,
especialmente, da busca pela qualidade de vida, é vista com bons olhos para que
ocorra a expansão do cooperativismo pelo mundo todo.
Pode-se afirmar, então, que, no contexto organizacional e econômico,
o cooperativismo desponta como instrumento relevante e eficiente; o mesmo tem
sido bastante competente quando se procura promover o desenvolvimento de
forma sustentável, ou menos degradante. Usualmente, as cooperativas têm

12
Palavra semelhante, porém, diferente de valorização. Refere-se à atribuição de valor de algo ou de
reconhecimento. Também, pode ser entendida como a indicação de qualidade e/ou importância de alguma
coisa.
110

cumprido a função de gerar o empreendedorismo cooperativista 13, e, ao mesmo


tempo, conseguem ser comprometidas com as questões de caráter social.
A cooperativa empresa14, por exemplo, é um meio de organizar e
potencializar a produção de forma adequada às regras e exigências impostas pelo
mercado e, a partir desse modelo de cooperativa, é possível unificar a prática de
participação e solidariedade em uma gestão mais racionalizada. Desse modo, as
cooperativas mostram-se comprometidas com as comunidades atingidas,
promovendo uma espécie de economia colaborativa e simultaneamente
conseguem inserir as pessoas que estejam excluídas, ou que apresentam
dificuldades em se adequarem às regras de mercado.
O cooperativismo no contexto atual, obtido como empresa 15
cooperativista, tem buscado convergir às ações e práticas em doutrina
cooperativista. Assim, é possível: articular e buscar soluções de diversos
problemas de forma unificada; integrar coletivamente os interesses e anseios de
pequenos empresários; desenvolver-se a partir de princípios mais humanos, em
que exista potencialização da produção, com menos competitividade entre seus
sócios; tomar decisões a partir de princípios democráticos com ausência de
hierarquia; empoderar e potencializar os cooperados; conduzir os negócios e
empreendimentos de forma transparente, colaborativa e partilhada; otimizar os
investimentos de forma a reduzir a degradação ambiental, gerando uma economia
alternativa e sustentável. Salienta-se ainda que, de acordo com Sousa e outros
(2018, p.36), é preciso que seja ofertada também uma formação cooperativista
que prime “pela educação, formação e informação dos (...) cooperados, no intuito
de capacitá-los para assumirem a gestão e o controle democrático em tal

13
(...) empreendedorismo cooperativo refere-se ao processo em que sujeitos movidos por valores de mútua
ajuda e propensos a compartilhar os benefícios alcançados de maneira conjunta, promove a criação de um
empreendimento para construir soluções a problemas sociais e econômicos, que sejam afins aos membros
deste empreendimento, e fazem a gestão do mesmo com base nos princípios do cooperativismo (ZUCATTO;
SILVA, 2014, p.6).
Veja mais outros completos e outros pontos de vistas sobre empreendedorismo cooperativista em: Skurnik e
Vihriälä (1999), Mc Intyre, Bergonsi e Fortin (2004), Vanderlei e Gil (2006), Bijman e Doorneweert (2008) e
em Diaz-Foncea e Marcuello (2013).
14
Por cooperativa empresa ou empresa cooperativa entende-se que a mesma deve ser embasada “(...) em
valores de ajuda mútua, responsabilidade, solidariedade, democracia e participação. Tradicionalmente, os
cooperados acreditam nos valores éticos de honestidade, responsabilidade social e preocupação com o
próximo” (BRASIL, 2012, p.12); ressalta-se ainda que toda cooperativa tem o caráter de uma empresa de
domínio coletivo e deverá os cooperados ter controle sob a mesma de forma compartilhada e democrática.
Veja mais sobre cooperativa empresa em PANZUTTI e outros (2019) “Gestão cooperativa: eficiência
empresarial x associação de pessoas”; ver também em Sousa e outros (2018) “Temos que saber que a
cooperativa é uma empresa diferente”.
15
Trata-se de uma cooperativa que presa por resultados comuns a todos os cooperados, porém, o foco da
mesma é significativamente voltado para a gestão, para as possibilidades de produtividade e de ganhos
articulados.
111

organização.” Pode-se averiguar que o cooperativismo é contraído como uma


iniciativa atualizada e boa para a sociedade, de modo que o mesmo se apresenta
sempre como alternativa atual e inovadora (ANDRADE; SICSÚ, 2003), capaz de
proporcionar a livre concorrência de mercado, mas que não se pauta
exclusivamente pelo lucro, mas, sim, pela inclusão, pela solidariedade e pela
criação de oportunidades coletivas.

4.3 - O Cooperativismo em contexto de sua atuação

A globalização ocasionou muitos desafios para toda sociedade e trouxe


consigo muitas possibilidades de alteração social; uns dos principais elementos
que influenciaram a transformação foram às tecnologias 16 (CASTELLS, 2000). De
tal modo, a globalização influenciou significativamente o surgimento de novos
modelos de organização social (HOMEM; DELLAGNELO, 2006). As questões de
cunho econômico, político, educacional e trabalhista foram as que mais se
alteraram, e muitas adaptações e alternativas foram necessárias para que a
sociedade se adequasse às novas condições de vida.
Diante das alterações e desafios propostos decorrentes do processo de
globalização, o cooperativismo vem se mostrando como uma alternativa de
organização econômica e política para a sociedade (PAGOTTO, 2017); trata-se
de uma forma de superação das dificuldades e necessidades advindas dos
trabalhadores e produtores. O cooperativismo tem possibilitado a promoção de
organização social e econômica, geração de renda e emprego, além de contribuir
significativamente para uma melhor distribuição de renda, desenvolvendo, assim,
municípios, comunidades e outros (SILVA, 2017). Portanto, dentre tantas
interferências via cooperativismo, pode-se citar duas delas, essenciais para a vida
de qualquer cidadão, que são: a melhoria da qualidade de vida dos cooperados e
a expressiva transformação das relações de trabalho; lembrando que isso ocorre,
especialmente, em função de uma economia que é baseada, sobretudo, no
trabalho e não apenas no lucro, em que as necessidades e valores do ser
humano são preteridos ao invés da acumulação individualista de capital e a
competição não se sobressai diante da importância de se ajudarem mutuamente.

16
Modificação na sociedade decorrente da globalização não ocorre de forma padronizada e nem acontece em
todos os lugares simultaneamente; a remodelação da sociedade torna-se oriunda de como se domina ou se
utiliza as tecnologias, ou seja, de como se incorpora e se utiliza as mesmas (CASTELLS, 2000).
112

O cooperativismo atua em diferentes áreas de atividades econômicas e


coopera na estruturação econômica e social de diversos países, inclusive no
Brasil. Mostra-se como um meio de participação democrática e de promoção da
justiça; assim, muitos trabalhadores e pequenos produtores têm buscado o
mesmo como meio de se organizarem e de suprirem suas necessidades.
Portanto, o cooperativismo deve sempre se pautar em princípios de cidadania, a
fim de contribuir para um desenvolvimento mais humano, democrático e
igualitário.
As influências na organização do espaço e no desenvolvimento da
sociedade decorrentes do cooperativismo, em diversas regiões no mundo todo,
são notórias, conforme se depreende do Quadro 11:

Quadro 11 - Algumas influências do sistema cooperativista


32% da população do Canadá são cooperados em uma cooperativa, especialmente de
crédito. Atualmente esse país é o 8º do mundo em relação ao ramo do cooperativismo
de crédito financeiro. O mesmo obtêm 702 cooperativas de crédito, que movimentam
mais de 350 bilhões de dólares canadense.
As cooperativas de Mondragon da região Na Índia existem cerca de 500.000
de Basca na Espanha são os maiores cooperativas; e um total de mais de 230
fabricantes de eletrodomésticos e milhões de indianos cooperados. As
refrigerantes; também ocupam a 7ª cooperativas são responsáveis por 94%
colocação enquanto maior grupo de toda produção do setor lácteo do país.
empresarial da Espanha.
Com relação à produção brasileira e o Na Finlândia a maioria das residências
cooperativismo, verifica-se que o mesmo privadas foi construída por cooperativas,
apresenta importante participação nesse chegando a um total de quase 60%. “Las
segmento, sendo, portanto, responsável cooperativas finlandesas cuentan com
pela produção de cerca de 16% do milho, más de 3 millones de miembros. Si
40% do leite, 70% do trigo, mais de 40% de tenemos en consideración los seguros
toda a soja e quase 40% do algodão. mutuos, la cifra de sus membros
Possui ainda mais de 900 cooperativas de aumentaría en aproximadamente 6
crédito; e nenhuma das vinte maiores millones. Finlandia se ha ganado el honor
cooperativas do país fatura menos de um de ser reconocida como el país más
bilhão de reais por ano. cooperativo del mundo”.
En África occidental, por ejemplo, se ha creado el Crédit Mutuel du Senegal, que es
originalmente una entidad de micro financiación destinada a ayudar a las personas
tradicionalmente excluidas del sistema bancario tradicional. Surgió en 1988 en la región
de Kaolack y se llamó llamó “cajas populares de ahorro y crédito (CPEC)”. Outro
exemplo é o “El Sistema cooperativo para África (CoopAfrica) es un programa de
cooperación técnica de la OIT que cuenta con la financiación del Ministerio de
Desarrollo Internacional del Reino Unido (DFID). Desde su oficina ubicada en Dar es
Salaam (Tanzanía), CoopAfrica abarca a nueve países de África Oriental y Meridional.
CoopAfrica asiste a las cooperativas para que mejoren su gestión, eficiencia y
funcionamiento, a fin de fortalecer su capacidad de crear empleo, acceder a los
mercados, generar ingresos, reducir la pobreza, brindar protección social y dar a las
personas la posibilidad de participar activamente en la sociedad.”
FONTE: Borgström (2006, p.7); OCB (2010, 2020); OIT (2011, p.1); Veiga e Fonseca
(2001); Oliveira (2021).
113

Como se constata no quadro 11, o cooperativismo tem atuado de forma


a ocasionar a organização regional de diversas localidades e é um importante
mecanismo de participação popular que supre os interesses e as necessidades
da população de um determinado lugar. É, portanto, um fenômeno (meio) que
consegue resolver problemas referentes ao desenvolvimento social e econômico
local de uma região. Desse modo, o cooperativismo tem atuado como uma forma
desenvolvida de organizar a sociedade civil, proporcionando desenvolvimento
econômico e social aos cooperados, assim como à comunidade (MACEDO et al.,
2014).
Os principais beneficiários do cooperativismo geralmente são os
pequenos produtores e trabalhadores17 em geral, que são atraídos pelo
empoderamento e pelo aumento de ganhos oferecidos por uma cooperativa.
Comumente, o cooperativismo tem promovido o resgate da cidadania, por meio
da promoção da autonomia, da democracia e da liberdade, oriundas do processo
organizacional do trabalho e da economia (MINATEL; BONGANHA, 2015). É
importante ressaltar que as cooperativas têm influenciado e interferido na
organização social, econômica e política dos lugares.

4.4 Influências do Cooperativismo no processo local

Para abordar a relação de influência do cooperativismo no processo de


transformação social e econômica de um local, faz-se relevante memorar o
posicionamento de Souza (2013) no livro intitulado “Os conceitos fundamentais da
pesquisa sócio-espacial”, em que apresenta um importante conceito quanto ao
poder não heterônimo (autônomo); esse poder evidencia a participação coletiva
em condição de igualdade diante de uma situação, ou processo de decisão,
mediante a existência de regras na organização do espaço, inclusive com punição
a infratores que transgridem as referidas regras definidas pelo coletivo. Souza
(2013) ainda acrescenta que, como citado, o poder é exercido por meio de um
conjunto de regras advindas de um poder não heterônimo ou autônomo, o que
não significa a insuficiência-inexistência de poder. Completando, o exercício do
poder está relacionado ao fato de continuamente ter como desígnio um grupo
social acoplado a um espaço.

17
De acordo com Abreu et al. (2008), por meio de uma cooperativa é possível que tanto os cooperados como
também a comunidade se organizem e obtenham desenvolvimento econômico e social. Destaca-se ainda que
os principais beneficiários são as organizações associativas de produtores rurais, os produtores e também os
trabalhadores em geral.
114

Partindo dessa reflexão, destaca-se o papel do cooperativismo nesta


relação com o desenvolvimento sócio-espacial, que traz à memória as revoluções
industriais e as crises advindas do capitalismo. Assim, logo se constata que as
revoluções industriais proporcionaram alterações de caráter bastante negativas.
Consequentemente, as crises oriundas do capitalismo acarretaram muitas perdas
e prejuízos para a sociedade em geral, porém, de certa forma, verifica-se que o
cooperativismo teve significativa expansão, pois é nos momentos mais críticos
(trágicos) que as pessoas geralmente se solidarizam e buscam soluções mais
coletivas. E, no atual processo de globalização, a sociedade tem apresentado
novas exigências e tendências, como a criação de alternativas e novos arranjos
de organização social e produtiva, dentre eles, cita-se a alternativa de ação
pública com a economia social e a solidária (FRANÇA FILHO, 2002).
O cooperativismo é uma organização que obtêm diversas experiências
que se mostram modernas e ousadas, capazes de oferecer soluções para
resolver muitos problemas da sociedade (SNAC, 2016). Mesmo tendo passado
mais de 150 anos desde o surgimento das primeiras cooperativas, o
cooperativismo tem se mostrado como uma das formas mais avançadas e
modernas de organização social. Muitos aspectos do cooperativismo são
responsáveis pelo crescimento mais humanizado e pela expansão mais
solidarizada, dentre eles, pode-se destacar a filosofia de pensamento, de que ele
é uma maneira nova de produção e distribuição da economia, em que se visa ao
lucro, mas a base fundamental da economia deve ser sempre o trabalho (o
trabalhador), que possibilita a criação de mecanismos de participação do
mercado, permitindo concorrer com os capitais tradicionais, mas que privilegia a
ajuda mútua como prioridade (COOPERATIVISMO, 2016). Não obstante, os
valores e necessidades humanas devem ser sobrepostos aos interesses
individuais de acumulação financeira, diminuindo a exploração dos trabalhadores.
Muitas lideranças cooperativistas, como Ronaldo Scucato 18, Denilson
Protatz19, e pesquisadores, como Büttenbender et al. (2010) e Bialoskorski (2006),
veem o cooperativismo como alternativa e possibilidade de superar dificuldades
impostas pelos sistemas econômicos vigentes, inclusive como equilíbrio ao
sistema econômico de mercado. O cooperativismo, especialmente os
trabalhadores, é uma possibilidade de geração de emprego e renda, além de
viabilizar o desenvolvimento, a inclusão e a organização de diversos grupos

18
Vice-presidente da OCB
19
Diretor-presidente da Coopeavi – Cooperativa Agropecuária Centro Serrana
115

sociais. Desse modo, variados segmentos de produção e diferentes categorias de


profissionais concebem o cooperativismo como uma forma de desenvolver uma
direção autogestionada, com perspectiva de solucionar e superar dificuldades. É
importante destacar que o cooperativismo tem impactado e cooperado
expressivamente no desenvolvimento socioeconômico de muitos locais, regiões,
territórios, municípios e até estados.
Assim sendo, o cooperativismo tem relação direta com o
desenvolvimento local, pois, como já dito anteriormente, as cooperativas
originam-se das necessidades e interesses em comum das pessoas; geralmente,
sobrevêm da busca de soluções para superar dificuldades financeiras, ou seja, de
ordem econômica. Nesse contexto, os cooperados têm como principais objetivos
a organização da produção, a distribuição e a arrecadação financeira, porém, o
sentido econômico vem embutido em diversos elementos de cunho cultural,
político e social que estão introduzidos na natureza do local, pois, é através do
local que é possível associar o processo de desenvolvimento local ao modelo
funcional e organizacional de uma cooperativa. Por conseguinte, o local é
reorganizado de modo a atuar como alicerce do desenvolvimento através do
cooperativismo; essa reorganização ocorre especialmente por meio das
cooperativas, que buscam atender os anseios (sociais, econômicos e culturais) de
seus cooperados e operam de forma diversificada, ou seja, de acordo com o ramo
de atuação, podendo, portanto, fornecer recursos financeiros aos cooperados e à
comunidade, atuando ainda na compra e revenda de produtos por preços mais
acessíveis, oferecendo serviços diversos como: de abastecimento de água,
transporte, distribuição de energia elétrica, dentre outros.
O desenvolvimento econômico, social e cultural é algo que boa parte
da população, especialmente os gestores, têm se preocupado em promover,
entretanto, isso não ocorre por acaso, pois, qualquer que seja o processo de
desenvolvimento e/ou transformação só acontece com a estruturação e a
organização arranjada por diversas instituições e atores sociais. Destaca-se que
uma das formas de entender o desenvolvimento é percebendo que a geração de
renda e de trabalho deve sempre coexistir em função da melhoria da qualidade de
vida dos trabalhadores (da sociedade em geral). Também é bom que fique bem
entendido que desenvolvimento é diferente de crescimento econômico; enquanto
o crescimento econômico se relaciona mais pela dependência do consumismo e
pela exploração dos recursos naturais, o desenvolvimento está mais para o
fomento da diversificação produtiva e a pujança das empresas locais, prezando
116

pela inovação da produção e relações em redes, fomentando a criação de


políticas territoriais e consórcios entre municípios, considerando como elementar
o desenvolvimento regional com preservação do meio ambiente e fortalecimento
de programas sociais.
Particularidades como recursos naturais, identidade, cultura e história
de cada região é determinante para a ocorrência do desenvolvimento de cada
local. De tal modo, percebe-se o desenvolvimento local como um “conjunto de
iniciativas de origem comunitária ou municipal, que beneficiam diretamente as
pessoas e instituições envolvidas e que podem – ou não – alcançar uma
abrangência regional” (BROSE, 2002, p. 66, grifo nosso). O desenvolvimento local
e o cooperativismo têm fina proximidade, pois o desenvolvimento local é possível
tão-somente a partir de um intenso processo de alterações do que já está
colocado como habitual, ele requer mudanças, a fim de possibilitar melhorias na
qualidade de vida e dinamismo econômico para os grupos humanos. Isso remete
ao entendimento de que, para acontecer esse tipo de desenvolvimento, é
necessária a participação da sociedade interessada na definição dos rumos e
metas do desenvolvimento pretendido. Assim, entende-se que essa dinâmica
social pode ser cooperativista se a participação popular (dos grupos e ou da
comunidade) estiver centrada no desenvolvimento do ser humano e em princípios
cooperativistas.

4.4.1 Cooperativismo - um instrumento de desenvolvimento local

O cooperativismo, desde quando foi criado, continuamente se expandiu


pelo mundo (OCB, 2018; CENSO GLOBAL, 2014), especialmente em função da
possibilidade que as pessoas têm de se desenvolver através da cooperação
coletiva, o que justifica o aumento contínuo no número de adeptos. Destaca-se,
ainda, que o cooperativismo é muito relevante, inclusive pela capacidade que tem
de organizar ações, alterar comportamentos das pessoas e até de influenciar no
surgimento de novos hábitos, normativas, modo de se posicionar e pensar
(LOCATEL; LIMA, 2018).
O cooperativismo pode ser considerado como uma importante via de
organização e desenvolvimento de um local; contudo, quando se busca entender
se um local é desenvolvido ou não, deve-se considerar diversos fatores. Um deles
é o econômico, mas, se esse fator for elevado ao patamar de mais importante
para tal definição, é certo que a referida análise ficará frágil e míope. A análise
117

crua do produto interno bruto (PIB) pela via do aumento da produção e do


crescimento econômico, por muito tempo, foi utilizada como principal fator de
análise do desenvolvimento de um local, o que sempre resultou em diversas
análises conturbadas e imprecisas.
Assim, entender a relação de números obtidos através do PIB requer
relacionar diversos outros fatores, como as questões ambientais, a oportunidade
de emancipação e cidadania, a saúde, a educação, a liberdade política e de
opinião, o acesso à comunicação, a diminuição das desigualdades sociais e
combate à pobreza, dentre outros diversos aspectos. Salienta-se que considerar
os fatores citados para compreensão do que é desenvolvimento não diminui e
nem contrapõe a significância dos fatores econômicos para o desenvolvimento,
porém, abre-se a via de entendimento de que a equidade, a condição humana e a
cidadania são tão relevantes como o fator econômico para considerar o
desenvolvimento de um determinado local ou de um grupo de pessoas.
Outro problema na análise sobre desenvolvimento são as análises
macro ou também as análises gerais. Especialmente quando se consideram fatos
ou ações pontuais como acessíveis a todos e não o são, ou quando se atribui
uma Caracterização geral a partir de uma análise de uma região ou um país,
corre-se o risco de cometer erros de interpretação grotescos; o ideal é sempre
utilizar os dados gerais relacionados aos específicos, de forma que a análise de
um município ou local possa sempre ser considerada dentro um composto maior.
De tal maneira, o desenvolvimento de um local é comumente definido como algo
endógeno,

[...] registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos


humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a
melhoria da qualidade de vida da população. Representa uma
singular transformação nas bases econômicas e na organização
social em nível local, resultante da mobilização das energias da
sociedade, explorando suas capacidades e potencialidades
específicas (BUARQUE, 1998, p. 9-10, grifo do autor).

A partir dessa concepção de Buarque (1998), fica evidente que o bem-


estar social é uma das melhores maneiras de compreender o desenvolvimento.
Outra questão que se evidencia é que o desenvolvimento local está diretamente
ligado ao desenvolvimento global, o que muda é forma de organização, que passa
a ser mais consciente por melhor conhecer os arranjos produtivos e as
potencialidades locais, impulsionando ou levando à valorização ainda maior da
118

sustentabilidade, da produção cultural e identitária do local. Nesses casos, o


planejamento e a execução dessas ações, a fim de promover o desenvolvimento
do local, são comumente organizados pelas cooperativas, associações,
consórcios municipais, prefeituras e outros.
Essas organizações e/ou entidades têm fundamental importância no
processo de desenvolvimento de um local, um bairro, uma comunidade, um
município ou mesmo uma região20; O cuidado e a prudência por parte dos atores
influenciadores no desenvolvimento são essenciais, devendo-se sempre se ter o
cuidado para não confundir desenvolvimento com crescimento econômico.
Importante ressaltar que, para que ocorra desenvolvimento, nem sempre os
recursos naturais ou a posição geográfica são os fatores principais para que haja
a transformação e o desenvolvimento de um local. Fatores como a organização
social e humana, a habilidade e interferência dos gestores, os valores históricos e
culturais, somados à estrutura política, tornam-se tão relevantes quanto os já
citados anteriormente.
Ao considerar a necessidade de desenvolvimento econômico de um
local, é possível dizer que existem muitos caminhos e/ou estratégias possíveis de
serem utilizadas. No Quadro 12, destacam-se alguns:

Quadro 12 - Iniciativas de desenvolvimento econômico de um local


Maior valorização dos Superação das limitações Estabelecimento de
recursos endógenos de do enfoque assistencialista consórcios intermunicipais
cada âmbito territorial, com implícito nos fundos de a fim de incrementar a
atividades relacionadas à inversão social e nos eficácia e eficiência das
diversificação produtiva e programas de luta contra a atividades de
promoção de novas pobreza. desenvolvimento local.
empresas locais.
Organização de redes locais Promoção de novas Criação de novos
entre atores públicos e atividades de instrumentos de
privados, para promover a desenvolvimento científico financiamento para atender
inovação produtiva e e tecnológico no âmbito às micro e pequenas
empresarial no território. territorial. empresas locais.
Incorporação de políticas de Busca de novas fontes de Busca de acordos
promoção comercial de emprego e investimento estratégicos em relação
cidades para promover a para o local. aos bens ambientais e ao
competitividade sistêmica desenvolvimento regional.
territorial.
FONTE: Albuquerque (2007); Dallabrida e Büttenbender (2007, p.72). Organizado por:
Oliveira (2018).

Como bem define Albuquerque (2007), as estratégias de


desenvolvimento são diversas e bastante variadas, porém, é preciso que fique

20
Nesse caso específico refere-se a um recorte territorial composto por vários municípios.
119

bem claro que cada região ou local não são fechados em si, mas têm
características próprias, possuem uma cultura, um estrutura econômica, uma
política própria e uma história, sendo essas particularidades e identidade fatores
que exigem autenticidade e criação própria de meios ou mecanismos para se
desenvolverem, não sendo possível copiar ou utilizar um planejamento já aplicado
ou utilizado em outra região/localidade. Portanto, é imprescindível que os
agentes, lideranças e gestores de cada lugar conheçam bem as potencialidades e
fraquezas de cada local, para que possam planejar e agir no sentido de promoção
do desenvolvimento.
Portanto, o envolvimento de entidades, comunidades e atores locais no
processo de desenvolvimento do local é muito importante. Ressalta-se que eles
deverão sempre considerar os elementos ou aspectos culturais, históricos e
naturais no planejamento das ações e de alternativas de desenvolvimento.
Cabe aqui dizer que existem muitas e divergentes teorias de
desenvolvimento, porém, o desenvolvimento local é comumente percebido como
um processo que ocorre de dentro para fora, em que a população é impactada
pela melhoria da qualidade de vida e pelo dinamismo econômico. Portanto, o
mesmo ocorre a partir da ativa participação social – popular – em que,
frequentemente, as entidades locais, a exemplo das cooperativas, têm papel
fundamental no processo de organização e desenvolvimento, mostrando a
relação direta existente entre cooperativismo e desenvolvimento local.
Para que de fato ocorra o desenvolvimento de um local, a sociedade
precisa sempre ocupar a centralidade de uma possível transformação, no sentido
de que a mesma tem o ser humano como sujeito desse processo, e que é dotado
de possibilidades, interesses e anseios. A participação da comunidade também é
fator primordial na construção do desenvolvimento local; nesse caso, a
cooperatividade é muito importante na construção de qualquer processo de
desenvolvimento, porém, é evidente que o Estado, assim como os agentes
governamentais e a globalização, tem grande relevância na ascensão do
desenvolvimento de um local, contudo, deve-se destacar que os agentes civis,
privados e/ou cooperativos passam a ter muita significância ao se considerar
novas referências na interpretação do que é o desenvolvimento. Nesse sentido,
um dos principais propulsores do desenvolvimento é o capital social, que coexiste
a partir das relações sociais, solidificadas através da participação, das relações
de confiança, da democracia e também da cooperação. É bom lembrar que a
cooperação surgiu como predicado das relações sociais, que se evidenciaram por
120

meio da colaboração entre homens e mulheres, ratificada por ações como


trabalhar mutuamente, fazer trocas recíprocas e auxiliar no trabalho do outro.
Assim, a cooperação é essencial para a criação de uma cooperativa,
ou seja, essa sempre foi base fundamental na estruturação de uma cooperativa.
Por sua vez, uma cooperativa, quando criada, deve zelar pelos princípios
norteadores do cooperativismo, que são: Adesão Voluntária e Livre, Gestão
Democrática, Participação Econômica dos Membros, Autonomia e Independência,
Educação, Formação e Informação, Intercooperação e Interesse pela
Comunidade (ACI, 2005). Sem nenhuma generalização, é necessário destacar
que muitas cooperativas não conseguem seguir esses princípios, além disso,
muitas empresas privadas ainda se disfarçam de cooperativas para obterem
benefícios destinados exclusivamente às cooperativas.
Mesmo em meio a tantas fragilidades estruturais e ideológicas
existentes em várias cooperativas, é preciso evidenciar que o cooperativismo tem
sido um meio fundamental de organização de pequenos espaços sociais. Não
faltam estudos e pesquisas em nenhuma região brasileira que comprovem a
eficiência organizacional espacial através do cooperativismo nos municípios, entre
produtores rurais, nos grupos educacionais, de saúde, entre outros.
É bem verdade que o cooperativismo é atualmente mais utilizado como
meio de obtenção de ganhos, de modo que a maioria das pessoas quando
procura se inserir em uma cooperativa se mostra interessada em obter acesso às
sobras, ou mesmo em aumentar a renda pessoal. Mas, isso é perfeitamente
aceitável em uma cooperativa, pois, a obtenção de ganhos por meio das sobras
encaixa-se entre os princípios norteadores do cooperativismo. A exigência é que
os ganhos sejam divididos e ou coletivados.
Desse modo, percebe-se que as cooperativas podem ser consideradas
como um fenômeno que se origina da associação de pessoas, que por motivos
variados se identificam através de suas necessidades e interesses, e a partir daí
se articulam mutuamente para resolverem seus problemas e para se fortalecerem
na busca de resultados, especialmente econômicos (FRANTZ, 2003). De tal
modo, o cooperativismo se acentua como um acordo entre indivíduos que buscam
resolver problemas, especialmente de ordem econômica. As necessidades e
interesses mais comuns, geralmente, referem-se à produção e também à
distribuição de riqueza-bens; embutidos nesses interesses existem alguns
elementos muito importantes para o bem-estar social do ser humano, que são os
elementos culturais, políticos e sociais. É justamente a partir desses elementos
121

que deriva a natureza local, suficiente para possibilitar a relação do


desenvolvimento local com o cooperativismo.
Consequentemente, o local tem diversas possibilidades e caminhos
para se desenvolver, e uma das mais importantes vias propulsoras de
desenvolvimento e organização sócio-espacial é por meio do cooperativismo, que
possibilita, ao contrário do capitalismo, colocar o ser humano como prioridade
central da dinâmica econômica. Portanto, o cooperativismo se firma como uma
possível expressão de desenvolvimento do local e como possibilidade de
influenciar na organização sócio-espacial. Para melhor contribuir na interpretação
do desenvolvimento local nas próximas seções ainda elencaremos dados sobre
essa referida questão.
122
123

O ponto inicial do cooperativismo, como já especificado anteriormente,


incide em ser um ato concomitante que têm objetivos comuns. Importante
também rememorar que contribuir é um artefato da humanidade como também da
vivência das pessoas em sociedade. No Brasil, a cultura da colaboração é
entendida desde o momento da ocupação e colonização portuguesa, quando
eram percebidas várias atividades desenvolvidas em grupos feitas pelos povos
nativos, tais como pesca, caça, plantio e colheita, dentre outras atividades.
Observa-se que pode ser em momentos de dificuldades que as
pessoas se organizam em grupos para discussões sobre determinado assunto, e
assim surgem opiniões capazes de melhorar e até modificar algo. E do mesmo
modo foi com o cooperativismo. Movimento que se iniciou após a Revolução
Industrial por meio de grupos de pessoas trabalhadoras que se encontravam
descontentes pelo desemprego e pelos irrisórios salários recebidos pelas
empresas, por esse motivo os grupos procuraram alternativas que pudessem
reparar e atender às perspectivas da circunstância.
No entanto, no Brasil, as ações iniciais do cooperativismo originaram-
se no ano de 1841 embasadas nas ideias do francês Benoit Jules Mure, e
também embasado em um dos precursores do cooperativismo, Charles Fourier;
eles indicavam uma opção cooperativista na qual tinha a condição de que era
possível constituir uma sociedade realmente justa, o chamado Falanstérios, que
consiste em ser uma organização de produção, em que os trabalhadores vivam
em comunidade. Os benefícios obtidos pela comunidade estariam na condição da
repartição entre os componentes da mesma e os capitalistas que tivessem
designado dinheiro na construção das falanges. Dentre as cooperativas
idealizadas por Fourier está a Coopérative des bijoutiers, em Doré. O mesmo
almejava persuadir esses capitalistas a proporcionarem soluções financeiras
indispensáveis para a construção e/ou organização de comunidades
(SCHNEIDER, 1999).
Vale mencionar algumas das características dessa organização de
comunidades descritas no Dicionário Enciclopédico Hispano-Americano (1891,
p. 39, grifos do autor), o verbete Fourierismo que diz:

En lugar de los vastos centros que absorben las poblaciones, las


aldeas, los caseríos, arrojados al azar en el mapa, mal
catastrados, mal trazados sus límites, tan incoherentes en su
distribución general como en su organización particular, la
humanidad debe estar agrupada por comunidades, regulares por
el número de sus habitantes, por su orden interior y por las
124

condiciones de equilibrio en relación con otras comunidades,


obedeciendo todas a leyes análogas. En el orden combinado
o societario estas comunidades reciben el nombre
de falange, palabra que significa una idea de conjunto, de unidad,
de voluntad y de objeto. La falange debe estar compuesta de 400
familias (1.600 o 1.800 individuos, con arreglo a la densidad de las
familias de 4,5). Las bases de esta asociación son: 1º Todos los
habitantes de la comunidad, ricos y pobres, formarán parte de la
asociación; el capital social lo constituirán los inmuebles de todos
y los muebles y capitales aportados por cada uno a la sociedad. 2º
Cada asociado a cambio de lo que aporte, recibirá acciones que
representen el valor exacto de lo que haya entregado. 3º Toda
acción tendrá hipoteca sobre la parte de los inmuebles que
represente y sobre la propiedad general de la sociedad. 4º Todo
asociado (se es asociado aun cuando no se posean acciones ni
capital alguno) debe concurrir a la explotación del bien común, con
su trabajo y con su talento. 5º Las mujeres y los niños entran en la
sociedad con el mismo título que los hombres. 6º El beneficio
anual, después de satisfechos los gastos comunes, será repartido
proporcionalmente según las tres facultades productivas: capital,
trabajo y talento. Los fourieristas suponen que esta organización
producirá importantísimas y fecundas consecuencias, pues, por
ejemplo, las 400 familias reunidas hallarían una gran ventaja en
sustituir sus 400 hogares, que emplean a 400 mujeres, por una
buena cocina dirigida por unas cuantas personas hábiles en el
arte de cocinar; sus 400 graneros por uno bueno; sus 400
bodegas por una amplia y magnífica, &c., &c. La falange, o sea la
reunión de 400 casitas, vendría con el tiempo a reunirse en un
solo edificio; con 400 departamentos con dependencias comunes
y particulares, y este gran edificio unitario recibirá el nombre
de falansterio.

Percebe-se que esse modelo de organização e algumas dessas


características mencionadas têm afinidade e coadunam com o que já foi
mencionado no início desta tese, que se refere aos vários tipos de cooperativa e
afirma a mesma como uma agregação de pessoas que tem interesses comuns, e
é de maneira econômica constituída de forma democrática, quer dizer, uma
organização que conta com a participação acessível a todos e todas com respeito
aos direitos e deveres de cada membro cooperado, a quem proporciona serviços
sem fins lucrativos.
Favorável às ideias de Fourier, no ano de 1847, Jean Maurice Faivre
(médico francês) fundou, no estado do Paraná, Tereza Cristina, uma colônia
formada com bases cooperativas (AMARAL, 2001).
Porém, o surgimento da primeira cooperativa no Brasil foi no ano de
1889, com a fundação da Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos no
Estado de Minas Gerais, cidade de Ouro Preto, uma cooperativa de consumo
agrícola. No Estado de São Paulo, em 1891 foi fundada a Associação
Cooperativa dos Empregados da Companhia Telefônica de Limeira. Em 1895, no
125

Estado de Pernambuco, foi constituída a Cooperativa de Consumo de


Camaragibe. No ano de 1902, na cidade de Nova Petrópolis, no Rio Grande do
Sul, teve início à cooperativa de crédito Rural com opiniões sugeridas por
Theodor Amsad, padre jesuíta suíço. E quatro anos depois as primeiras
cooperativas agropecuárias começaram a se desenvolver no país. Já no ano de
1908 foi criada e constituída por estrangeiros italianos a Cooperativa Agrícola de
Rio Maior – Cooperprima na cidade Urassunga-SC (AMARAL, 2001).
Desde então, foram nascendo novas comunidades que se
desenvolveram no Brasil, em particular, na região Sul do País, estimuladas pelo
padre Theodor Amstad, o qual tinha como intenção tentar resolver as dificuldades
de consumo, crédito, produção e educação.

5.1 – Contribuições do padre Theodor Amstad para o surgimento do


cooperativismo no Brasil

Padre Theodor Amstad nasceu na Suíça, na cidade de Beckenried, no


ano de 1851. Estudou na Alemanha, Inglaterra, Holanda e assim teve a
oportunidade de conhecer o cooperativismo da Europa por volta de 1960 e 1970.
O mesmo estudou numa cidade próxima de Rochdale, no Noroeste da Inglaterra.
Tudo indica que Amstad conseguiu entender e abranger seu entendimento e
participação no cooperativismo por estar muito próximo às cidades que originaram
o cooperativismo. O cooperativismo na Europa se desenvolveu de forma
extremamente rápida, tendo como modelo que cada cidade tivesse sua
cooperativa. Dessa forma, o cooperativismo era de evolução acelerada
(AMSTAD, 1981).
Amstad, logo que foi ordenado Padre na Inglaterra, veio para o Brasil
no ano 1885. Portanto, sua experiência como padre foi no Brasil, onde percebeu
uma realidade diferente da Europa, pois na Europa ele achava que os alemães
eram pessoas desamparadas; e então, chegando ao país, pensava que as terras
brasileiras eram gratuitas, que possuíam infraestrutura, que havia escolas, porém,
as terras eram vendidas, não existia infraestrutura e nem escolas. Então, tiveram
que comprar terras, formá-las e organizar escolas, as pessoas que sabiam mais
em cada local viravam professores pelo conhecimento que tinham (RAMBO,
2000).
Amstad percebeu uma carência em vários sentidos e entendeu que por
ser um líder religioso tinha facilidade de aglomerar pessoas para falar de
126

associações e cooperativismo (Figura 6). O mesmo, enquanto vigário, empenhava


atividades pastorais e religiosas e percorreu por 12 anos as capelas do interior de
São Sebastião do Caí, por oito anos as de São José do Hortêncio e foi vigário-
cooperador na paróquia de Lajeado por quatro anos - de 1908 a 1912 -, passou
também a percorrer Novo Hamburgo, Dois Irmãos, Ivoti, Taquara, Montenegro e
Harmonia. Atendeu igualmente áreas de colonização italiana, pois, como suíço,
era ainda familiarizado com o italiano. Diante disso, frequentava e tinha interação
com a sociedade ítalo-brasileira de Caxias do Sul, Santa Lúcia do Piaí (distrito
rural de Caxias), Nova Petrópolis, Pedancino, Linha São Roque, Gramado, São
Francisco de Paula, Nova Pádua, Rolante, Conde d‟Eu, Alto Feliz e Carlos
Barbosa (RAMBO, 2000).

Figura 6 - Theodor Amstad foi reconhecido como patrono do cooperativismo


brasileiro

FONTE: Agência Senado (2019)

Além do exposto, Amstad destinou ainda um bom tempo para os


assuntos da promoção econômica e social dos produtores rurais familiares de
então.
Nas reuniões com milhares de pessoas passou a falar que sozinhos
não será possível ir adiante, que o viável era a união para o trabalho em conjunto.
Para ele, todos os segmentos eram importantes, tanto as escolas, quanto
127

hospitais, cooperativas, dentre outros. Portanto, não havia distinção de


importância, o ideal era ter uma comunidade perfeita em que as cooperativas
fizessem parte.
Segundo Schneider (2014), no ano de 1905-1906, enquanto padre da
paróquia de São José do Hortêncio, Amstad esteve por duas ocasiões em Cerro
Largo, seguindo também para a Província de Misiones - Argentina, com o objetivo
de acompanhar colonos alemães na formação e organização das “caixas rurais” -
cooperativas de crédito. O mesmo aconteceu em Cerro Largo, Capiovi, San
Alberto e Puerto Rico, como continuação da primeira cooperativa de crédito
brasileiro e da América Latina, constituída por Amstad e outros produtores
familiares em Linha Imperial, Nova Petrópolis, no dia 28 de novembro de 1902,
conhecido como “SICREDI PIONEIRA”.
Outra ação importante de Amstad foi em 1900, que significou o
incentivo à criação da Associação Gaúcha de Agricultores em Santa Catarina da
Feliz, a qual promoveu uma aliança ecumênica entre católicos e evangélicos em
benfeitoria do pequeno e médio produtor familiar. Assim sendo, de 1900 a 1909
líderes tanto católicos como evangélicos juntamente com padres e pastores
organizavam anualmente a “Semana Rural”, que tinha o intuito de discutir temas
referentes às dificuldades do desenvolvimento rural. Essas discussões eram feitas
com especialistas nos assuntos (RAMBO, 2000).
O Padre, em suas diversas cavalgadas em benefício da sociedade e
também em discursos de aprovação para criação da Associação de Agricultores,
caracterizou o país como sendo dependente de estrangeiro, principalmente da
região colonial, e se comprometeu com o país dizendo:

A dependência do estrangeiro na qual se encontra atualmente o


nosso Brasil, no que se refere à economia, representa o grande
gigante Golias, que zomba de nós todos os dias, como o fez com
Israel. Os frutos do trabalho pesado, os resultados do amargo
suor, o colono leva à casa de comércio no lombo de animais
carregados ou em carroças abarrotadas. O que consegue em
troca, porém, em tralha importada, carrega, sem maior esforço,
nos braços para casa. Por esta razão, escuta-se hoje a queixa
generalizada: „Pelos nossos produtos nada recebemos; por aquilo,
porém, que precisamos comprar, pagamos o dobro ou o triplo‟.
Todos concordarão comigo quando digo: a dependência em que
nos encontramos em relação aos países estrangeiros, no plano
econômico, na verdade, significa uma nova escravidão que
ameaça nosso País. E como significou para o Brasil um dever de
honra abolir a antiga escravatura, assim também representa, para
qualquer brasileiro autêntico, um dever de honra pôr mãos à obra
128

e, com determinação viril, manter afastada do nosso querido Brasil


essa nova forma de escravidão (RAMBO, 2011, p.66).

A mão de obra escrava era extremamente mais rentável no sentido de


auferir ganho. Portanto, o Padre expõe a realidade de pessoas que eram
arrancadas da sua família e de seus costumes para trabalharem à base da
violência, da mão de obra escrava. Um tipo de trabalho ambicioso que foi
desenvolvido por meio da violência. A agressão sobre uma etnia que acabou
sendo distinguida com o estereótipo de escravidão e que permeou por toda uma
sociedade regida com situações de atrasos, explorações, preconceitos e
desigualdade entre as pessoas. Aspectos muito importantes da história do país e
da nossa história atual. Desse modo, Amastad se comprometeu, relatando que o
Brasil não podia continuar nessa situação, que era necessário eliminar todo o
sistema opressor que prejudicava o povo brasileiro.
Desse modo, não somente a dependência prevalece na verificação dos
argumentos do Padre como também proporciona orientações concretas e ainda
motivação para que as pessoas possam inserir ações que ultrapassem essa
dependência, que se qualifiquem, expandindo e diversificando o cultivo
agropecuário.
Ainda em discussão no Congresso com a finalidade de aprovação e
criação da Associação de Agricultores, Amstad conclui que:

Como conclusão, quero restringir-me à pergunta: qual seria a


forma prática de concretizar as proposições? (...) A reflexão tem
que ser acompanhada pela ação. Um sem o outro nada resolve. E
quando se trata de resolver um problema muito sério, não basta
que se lute isoladamente.
Não basta que um só indivíduo ponha mãos à obra. Será a tarefa
de muitos em regime de cooperação. Assim, se quiserem mover
uma grande pedra e estiverem presentes vinte homens, e cada
um isoladamente tentar removê-la, nada se conseguirá. Se,
porém, os vinte homens agarrarem em conjunto, obedecendo a
um só comando, fizerem força ao mesmo tempo, levantarão com
facilidade a pesada carga. [...]. (RAMBO, 2011, p. 66)

Pode-se entender que o futuro pode ser bem mais promissor quando o
caminho é feito com união. As pessoas, os grupos organizados e as
comunidades em comunhão adquirem mais confiança e podem superar barreiras
em prol das conquistas dos objetivos almejados. Esse é o intuito do
cooperativismo discutido no Brasil, modelo socioeconômico que aspira ao
129

desenvolvimento e ao bem estar da sociedade e que pode transformar a


economia do país.
De acordo com Schneider (2014), no princípio da década de 1920,
Amstad verificou centenas de entidades associativas em variados municípios do
Rio Grande do Sul com dados de existência como também particularidades sobre
cada associação como, por exemplo, a data de fundação, a quantidade de
pessoas associadas, o intuito de cada associação, como também os resultados
positivos e negativos das mesmas. Dentre os municípios verificados, destaca-se
Santa Cruz, com 92 instituições, 46 em Venâncio Aires, 40 em Porto Alegre, 23
no Rio Pardo e Taquara, e 19 em São Lourenço. (RAMBO, 1988, p. 56-72)
Nas reuniões desenvolvidas nas comunidades e pelas associações,
Amstad desenvolvia tanto as suas atividades associativas como o seu trabalho
pastoral religioso:

(...) Seria errado pensar que, aceitando eu tais atividades


associativas, se tivessem vindo para mim os trabalhos na cura de
almas! O que procede é o contrário. Precisamente o trabalho na
„Sociedade União Popular‟ permitiu-me continuar as atividades
apostólico-pastorais. Cada visita a uma das secções associativas
também era uma visita de caráter pastoral para a respectiva
comunidade (AMSTAD, 1981, p. 198).

Assim, é válido mencionar que o Padre era muito ativo em suas


funções, conseguia sempre conciliar as missas, o atendimento religioso com as
reuniões com diretorias, as conferências aos membros das associações, o
aprimoramento das tabelas de parceiros associados, balanços de contas e etc.
Ainda em suas contribuições para o cooperativismo brasileiro e para
que o povo tivesse uma vida justa e digna, Amstad, em ampla reunião popular,
fundou em fevereiro de 1912 a Sociedade União Popular (SUP), hoje conhecida
por Associação Theodor Amstad. Essa fundação, como várias outras com as
quais ele esteve envolvido diretamente e indiretamente, teve o intuito de promover
a vida comunitária aberta e ativa sob os princípios da adesão cristã, e que fosse
uma aliança entre os descendentes de imigrantes alemães, incentivando-os a um
desenvolvimento tranquilo e saudável da sociedade no que tange aos aspectos
político, religioso, social e econômico. O Padre foi secretário da SUP e assim foi
autorizado para dedicar-se totalmente a essa função, o que possibilitou ao mesmo
continuar intensamente suas cavalgadas e assim formar novas cooperativas de
crédito (AMSTAD, 1981, p. 173).
130

Desta forma, contribuiu para a fundação do Banco Agrícola Mercantil


(AGRIMER) (RAMBO, 2011, p. 159-161), o qual tinha como objetivo beneficiar os
médios e pequenos produtores rurais familiares com também dispor aos mesmos
condições de administração própria com maneiras de garantir renda adequada e,
ainda, tornar acessível o auxílio, por intermédio de juros possíveis, caso
necessário.
Em São Sebastião do Caí esteve junto à construção de um asilo
ampliado para Hospital São Sebastião do Caí, também esteve em outras ações,
como acompanhar a “Associação Beneficente para o Sustento do Asilo Sagrada
Família” de São Sebastião do Caí na arrecadação de dinheiro e ajudas em favor
da mesma (AMSTAD, 1981, p. 199).
No ano de 1923, em uma de suas montarias, sofreu um acidente que o
levou a viver durante anos em uma cadeira de rodas. Mesmo assim, continuou
contribuindo para a disseminação do associativismo e do cooperativismo. Amstad
colaborou com diversas publicações em revistas, jornais, memoriais, na criação
de mapas, na elaboração de livro sobre o Centenário da Imigração Alemã no
Brasil em 1924, teve também participação no Boletim Informativo Bauernfreund,
que significa “O amigo do Agricultor”, apresentando a coluna “O ABC do
Agricultor”, e foi frequente em publicações reflexivas sobre os fatos reais rurais e
familiares como também na exposição sobre os benefícios do cooperativismo e
do associativismo como ferramentas de auxílio recíproco em favor da satisfação,
da autonomia e da luta dos pequenos produtores da agricultura familiar
(AMSTAD, 1981, p. 201).
Padre Teodor Amstad faleceu em São Leopoldo no mês de
novembro de 1938 deixando marcas de sua vida religiosa e comunitária, bem
como diversas ações e obras de importante impulso social e com indicativos
relevantes para o aprendizado, a união, a comunhão, o trabalho mútuo, o
protagonismo, o crescimento e o fortalecimento da solidariedade e da
cooperação.
É possível conhecer sobre a história e as contribuições de Teodor
Amstad em várias obras, artigos publicados como também em museu-memorial.
Por exemplo: Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul, além de suas admiráveis
paisagens guarda a história do cooperativismo de crédito brasileiro. Apresenta
também que a colaboração, a união e o trabalho contíguo entre cooperativas por
meio de estruturas locais e também internacionais podem transformar realidades
e fortalecer r o movimento cooperativo.
131

Nova Petrópolis é conhecida como cidade que deu origem ao


cooperativismo por abrigar a primeira sede do cooperativismo de crédito
brasileiro, fundada no ano de 1902. Foi no ano de 2010 que a cidade recebeu o
título de capital nacional do cooperativismo, promovendo o resgate da importância
desse movimento. Nela surgiu a Sicred Pioneira, onde está o museu Sicred-
Memorial Padre Amsad, a pedra simbólica do cooperativismo, o monumento ao
padre e o monumento força cooperativo. No museu é possível perceber os
caminhos trilhados pelas cooperativas no Brasil e na América do Sul.
O Memorial Padre Amstad abriga informações do cooperativismo
brasileiro desde a imigração, em 1824, que foi antes das iniciativas do padre,
como também documentos, peças e imagens que resgatam a história do jesuíta
Padre Teodoro Amstad, que veio para o Brasil com o intuito de auxílio religioso e
entendeu que o povo tinha outras necessidades.
Portanto, o Memorial reúne as memórias dos primeiros passos do
cooperativismo brasileiro. Consiste em um local destinado à história em linha do
tempo, ou seja, como foram construídas as cooperativas, de que maneira o
cooperativismo se estabeleceu e se espalhou no Brasil, e de que forma o mesmo
se sustenta e vive até hoje. Possui também ilustrações desde a imigração alemã
à inauguração da Caixa Rural em 1954. Igualmente os fatos históricos que
marcaram a cidade.
São inúmeros os títulos e homenagens concedidos ao padre, como
nomes de associações e cooperativas. No ano de 2013, o governo gaúcho, por
meio de uma lei estadual, prestou ao mesmo o título de Patrono do
Cooperativismo em nível estadual, atualmente, mais precisamente no dia 27 de
agosto desse ano, o Senado Federal aprovou um Projeto de Lei nº 2.107/2019, de
responsabilidade do deputado Giovani Cherini (RS), o qual concede o título de
Patrono do Cooperativismo Brasileiro ao padre Theodor Amstad, portanto, o
Projeto segue para sanção da Presidência da República. Nesse contexto, é
possível perceber a referência que o cooperativismo ainda tem mediante a
atuação de Amstad na criação, desenvolvimento e fortalecimento do mesmo em
todo o país; também se verifica como foi e ainda é (Amstad) inspiração para
novas lideranças desse movimento.
A seguir se verifica a continuação do processo de disseminação do
cooperativismo no país; porém, busca-se por meio de recorte temporal avançar
nessa questão a partir de ações interventivas ocorridas através da Organização
das cooperativas brasileiras.
132

5.2 – A estruturação do cooperativismo a partir da OCB

Para melhor estruturação do cooperativismo, e consequentemente para


o mesmo dar certo e progredir, é necessário à combinação e o acompanhamento
dos princípios propostos, que o fundamenta; assim, ainda se combinado também
por atos de promoção de justiça e de compromisso com as pessoas, e com as
próximas gerações, tende a serem melhor ainda as possibilidades resultantes. No
Brasil, segundo dados disponibilizados pela OCB (2008) e no Anuário do
Cooperativismo Brasileiro (2019, p. 14), as cooperativas vêm crescendo em
número em vários âmbitos. No ano 2000 era 5.903, já em 2010 eram 6.652
cooperativas, enquanto em 2018 somavam 6.829 cooperativas atuantes entre os
13 ramos de atividades, como se verifica no gráfico 1.

Gráfico 1 - Aumento do número de cooperativas

7.000

6.800

6.600

6.400

6.200

6.000

5.800

5.600

5.400
2000 2010 2018

FONTE: Anuário OCB (2008 e 2019), organizado por Oliveira (2019).

Como se constata nesse gráfico, em um curto período, entre 2010 e


2018, inferior a uma década, o aumento do número de cooperativas no Brasil é
bastante expressivo, ultrapassando o total de 22 cooperativas por ano.
Aqui é válido mencionar que o Anuário do Cooperativismo Brasileiro, 1ª
edição de 2019, proporciona uma representação do cooperativismo brasileiro
com o intuito de mostrar os números, a dimensão, a força e os subsídios do
exemplo de negócios para o País. Consiste em dispor de dados que, segundo
Márcio Lopes de Freitas, Presidente do Sistema Organização das Cooperativas
133

Brasileiras, avigoram a acuidade do cooperativismo como algo de muita influência


para a transformação e o desenvolvimento. No documento estão presentes os
números de cooperativas no Brasil do ano de 2010, 2014 e 2018, dados esses
atualizados em 03 de julho de 2019; identificam as cooperativas de cada estado
brasileiro, além do significativo aumento de cooperados no País, como também os
números dos mesmos em cada estado e ainda mostra a distribuição de
cooperados por gênero. Mostra os dados de crescimento nas contratações de
empregados tanto geral, quanto na distribuição de gênero e número de
empregados em cada região. Na página 20 do Anuário do Cooperativismo
Brasileiro de 2019 são dispostos os números de cada ramo do cooperativismo
dos anos de 2017 e 2018 e, além disso, os dados das cooperativas, cooperados e
empregados de cada ramo que, relembrando, são: agropecuário, consumo,
crédito, educacional, habitacional, infraestrutura, mineral, produção, saúde,
trabalho, transporte e turismo e lazer. Ademais, é colocado todo o cenário de
cada ramo.
Ainda sobre os dados mencionados no documento, está o perfil e a
pirâmide do quadro de dirigentes geral e por distribuição de gênero, os
indicadores de desempenho no País, os números proporcionais de tributos e
despesas com pessoas a nível nacional, as regiões do país que mais conhecem o
cooperativismo, como também a percepção dos parlamentares sobre o mesmo,
dentre vários dados.
Para promover o desenvolvimento do cooperativismo junto ao Governo,
aos órgãos públicos, ao legislativo, às empresas privadas e à sociedade civil
organizada, foi criada, em 1969, a Organização das Cooperativas Brasileiras
(OCB), cujo registro só foi feito no ano de 1970. A OCB consiste em ser um
instrumento da sociedade civil, que não visa lucro e com imparcialidade religiosa
e política; pode ser visto também como um centro de inteligência estratégica,
responsável pela ascensão e defesa do sistema cooperativo em todos os
interesses, seja político ou institucional do Brasil e no Exterior (OCB, 2018). A
Organização agrega um princípio composto pela Confederação Nacional das
Cooperativas e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do cooperativismo. Tem a
ação de oferecer de forma estratégica produtos e serviços para os setores, como
também o cadastro e o registro do cooperativismo a fim de causar uma conexão e
defender as peculiaridades do segmento. Para garantir a sustentabilidade do
movimento, a OCB tem coordenação de representação institucional e política que
dispõe em apoio às organizações estaduais, visando criar soluções possíveis
134

para a realidade de cada estado e também consultoria no âmbito da


contabilidade, jurídico e tributário com o propósito de orientar e promover
capacitação às cooperativas e manifestar à sociedade os diferenciais de cada
setor. Para a busca de novas oportunidades de interesses e acrescentar mais
profissionalismo e qualidade às cooperativas, a Organização das Cooperativas
Brasileiras oferece apoio de Inteligência Comercial. Com a intenção de promover
o fortalecimento da identidade das cooperativas no mercado tem-se o Programa
Nacional de Conformidade e ainda o programa Cooperjovem, com a finalidade de
inserir o cooperativismo nas escolas do País.
Até este momento, os interesses do cooperativismo eram
representados e protegidos somente pela OCB nacional, a qual teve seu
surgimento demorado, uma vez que o sistema cooperativo foi tardio no que tange
à expansão pelo extenso País.
O registro em cartório da OCB em 1970 foi aprovado pela Assembleia
Geral - o Estatuto Social da OCB - e deu-se posse à diretoria para incumbência
até o ano de 1973. Porém, foi no ano de 1971 que se promulgou a Lei nº
5.764/71, avigorando a função da OCB como representante nacional do
cooperativismo, também se decidiu a Política Nacional de Cooperativismo e se
estabeleceu o regime jurídico das Cooperativas (OCB, 2018). O art. 105 desta lei
afirma o seguinte sobre a representação do cooperativismo brasileiro e suas
funções:

A representação do sistema cooperativista nacional cabe à


Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB, sociedade civil,
com sede na Capital Federal, órgão técnico-consultivo do
Governo, estruturada nos termos desta Lei, sem finalidade
lucrativa, competindo-lhe precipuamente: a) manter neutralidade
política e indiscriminação racial, religiosa e social; b) integrar todos
os ramos das atividades cooperativistas; c) manter registro de
todas as sociedades cooperativas que, para todos os efeitos,
integram a Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB; d)
manter serviços de assistência geral ao sistema cooperativista,
seja quanto à estrutura social, seja quanto aos métodos
operacionais e orientação jurídica, mediante pareceres e
recomendações, sujeitas, quando for o caso, à aprovação do
Conselho Nacional de Cooperativismo - CNC; e) denunciar ao
Conselho Nacional de Cooperativismo práticas nocivas ao
desenvolvimento cooperativista; f) opinar nos processos que lhe
sejam encaminhados pelo Conselho Nacional de Cooperativismo;
g) dispor de setores consultivos especializados, de acordo com os
ramos de cooperativismo; h) fixar a política da organização com
base nas proposições emanadas de seus órgãos técnicos; i)
exercer outras atividades inerentes à sua condição de órgão de
representação e defesa do sistema cooperativista; j) manter
135

relações de integração com as entidades congêneres do exterior e


suas cooperativas.

Desse modo, pode-se dizer que a OCB desempenha um papel


imprescindível tanto no princípio cooperativista como na luta pelos interesses das
cooperativas, no desenvolvimento e na promoção de novas lideranças e até
mesmo de gestores. Tem o papel também de proporcionar a ampliação e manter
vivo e ativo o movimento e ainda lutar nas negociações acopladas ao governo
com imparcialidade na busca de melhorias para o movimento.
Houve também importantes conquistas no ano de 1987. Neste ano, a
OCB, em Assembleia Geral, deliberou sobre os apoios para a formação da Frente
Parlamentar do Cooperativismo (Fencoop), que se constitui como um grupo
formado por deputados e senadores que têm o intuito de defender os interesses
das cooperativas no Congresso Nacional, e também incide em um dos
fundamentais caminhos de representação e negociação para o cooperativismo
(OCB, 2018). Esse grupo tem a responsabilidade de expor leis que sejam adeptas
ao cooperativismo e promover o diálogo com os poderes Executivo e Judiciário.
Com a finalidade de discutir o movimento e ainda buscar formas de
aprimorar e concretizar o cooperativismo, a OCB promoveu na década de 1980
inúmeros eventos por todo País. E, em 1988, como reforço para a comunidade
cooperativista filiou-se à Aliança Cooperativa Internacional (ACI), que é uma
organização mundial que possui como função principal preservar e proteger os
princípios cooperativistas, e assim o cooperativismo nacional acompanhou vários
eventos internacionais como também partilhou conhecimentos e ainda garantiu
participação nas definições das diretrizes do cooperativismo universal (OCB,
2018).
Portanto, nota-se que foi com a união com a cooperação que a OCB
promoveu o trabalho, pois, diante do exposto, percebe-se que a mesma tem a
confiança de que o cooperativismo é um dos caminhos para um futuro mais
promissor e ético, além de sustentável, de desenvolvimento econômico e
igualitário. Por igualitário pode–se recordar que entre os cooperativados e as
cooperativas não existe uma relação trabalhista como dos empregados celetistas,
isso pode ser percebido na Consolidação das Leis do Trabalho CLT-Decreto-lei nº
5452 de 1º de maio de 1943, Art. 442, parágrafo único, que diz: “Qualquer que
seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo
empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de
136

serviços daquela”, reforçando a ideia de que no cooperativismo não existe patrão


e funcionário, pois, caso a pessoa fosse angariada a ingressar numa cooperativa
para simplesmente prestar qualquer serviço e ficar sob a gerência de determinada
pessoa, de fato não seria uma cooperativa e sim uma prática de mão de obra, o
que se configura como uma irregularidade para o cooperativismo. Isso não quer
dizer que as cooperativas não possam ter empregados que prestem serviços, o
que não é regular são as pessoas que formam as cooperativas serem
empregadas, pois as mesmas devem ser cooperativadas.
Outra conquista em favor do cooperativismo em comunhão com a
Assembleia Nacional, durante o X Congresso Brasileiro do Cooperativismo, foi no
ano de 1988 em que houve a interrupção dos limites da Lei nº 5.764, de 1971,
que restringia a autonomia dos cooperados, intervindo na criação, funcionamento
e inspeção das instituições.
Essa interferência foi sanada com a Constituição Federal de 1988,
coibindo à ingerência do Estado, atribuindo as cooperativas à capacidade de se
auto administrarem, é o que pode se perceber no inciso XVIII do art. 5 da
Constituição Federal de 1988, que define: “a criação de associações e, na forma
da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a
interferência estatal em seu funcionamento”. Isso quer dizer que não é necessária
uma autorização do Estado para instituir uma associação ou uma cooperativa,
mas sim uma regulamentação legal sobre como criar uma cooperativa sem
apresentar algum tipo de autorização do Estado. Sendo assim, a administração
das cooperativas, como também das associações, é de responsabilidade dos
associados e dos cooperados. Um aspecto importante colocado no art. 5, inciso
XX da CF de 1988, é que a pessoa tem o livre-arbítrio de se associar ou ser
cooperada como também de não fazer parte das cooperativas ou associações,
sejam elas quais forem “ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
permanecer associado”.
O cooperativismo brasileiro foi ganhando mais autonomia no decorrer
dos anos. Após a Constituição Federal de 1988 o governo passa a dar apoio aos
movimentos cooperativistas através da atuação da Confederação Nacional do
Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e da Secretaria Nacional do
Cooperativismo (Senacoop). Essa primeira consiste em ser um instituto
sindicatário de um dos principais setores da economia do País. Já a Senacoop
era, nesse período, substituta do INCRA no papel de controlar o cooperativismo
(OCB, 2018).
137

Embora o cooperativismo tenha tido significativos avanços, carecia de


uma legislação particular para designar mecanismos de um conjunto de práticas
organizacionais que buscavam distribuir a autoridade, dando clareza de
responsabilidades e o máximo de autonomia a todo integrante da organização
cooperativista.
No ano de 1990, o principal ramo em atividade do cooperativismo
brasileiro foi o agropecuário e foi a partir dele que começaram a surgir novas
mudanças, pois estava em busca de liberação da economia e da diminuição da
interferência que o Estado tinha na agricultura (CHIARELLO, 2006). Nas
cooperativas deste ramo, os produtores rurais estavam endividados fazendo com
que a OCB e as direções cooperativistas brasileiras buscassem soluções a fim de
sanar a dificuldade, as soluções tinham o intuito de tornar o cooperativismo no
Brasil competitivo em uma economia de mercado. Desse modo, surgem
propostas de programas para que as cooperativas oferecessem projetos de nova
estruturação para torná-las com capacidade de se sustentarem através de seus
próprios meios, como também por intermédio de programas que pudessem
promover o gerenciamento de uma cooperativa pelos próprios participantes de
forma democrática.
No ano de 1997, foi eleito como presidente da Aliança Cooperativa
Internacional o brasileiro, produtor agrícola e professor, Roberto Rodrigues,
fazendo com que o cooperativismo no Brasil fosse reconhecido
internacionalmente.
Um ano depois se criou por meio da Medida Provisória nº 1.715 de 13
de setembro de 1998, o Programa de Revitalização das Cooperativas
Agropecuárias (Recoop), que tinha como um de seus objetivos buscar formas
para recuperar as finanças das cooperativas e agricultores, e também o Serviço
Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), com o intuito de
promover e realizar estudos, pesquisas e projetos pensados para o
desenvolvimento humano e a ascensão social, considerando os interesses das
associações, cooperativas e seus integrantes: “Dispõe sobre o Programa de
Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária - RECOOP, autoriza a
criação do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo - SESCOOP, e
dá outras providências.” (p. 01) . Esses Programas consolidaram ainda mais o
cooperativismo brasileiro.
Diante do exposto, pode-se perceber muitos acontecimentos em
relação ao cooperativismo como também pensamentos contínuos de
138

desenvolvimento, tanto de organização como de participação, que buscam


fortalecer o movimento. Em 2000, a OCB foi composta por três casas, que unidas
se empenharam pelo cooperativismo brasileiro: a Organização Nacional das
Cooperativas-OCB, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo-
Sescoop e a Confederação Nacional do Cooperativismo – CNCoop, que atuam na
concretização da cultura cooperativista (SESCOOP/GO, 2006). Assim, o sistema
cooperativista brasileiro fica organizado da seguinte maneira (ver fluxograma 3):

Fluxograma 3 – Redes de relações e estruturação do sistema cooperativista via


OCB

FONTE: OCB (2015).

Verifica-se nesse fluxograma, de forma evidente, a estrutura funcional


da OCB e parte de sua rede de relações, tanto de cunho interno como também
externo. Sequencialmente no ano de 2001, Mário Lopes de Freitas, graduado em
Administração de Empresa pela UnB-Universidade de Brasília, atualmente com
59 anos, agropecuarista e cooperativista há mais de trinta anos, tomou posse
como presidente da OCB. O mesmo, por crer no cooperativismo brasileiro,
defende os valores e princípios e ainda buscou na atividade cooperada uma
opção melhor de vida. Mário Lopes de Freitas teve e ainda tem diversa
participação direta no cooperativismo brasileiro. Desde o ano de 1994 tem
139

participação direta no cooperativismo. Foi presidente da Cooperativa de


Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec) e da Cooperativa de Crédito Rural
(Credicocapec). Entre 1997 e 2001, esteve na gestão da Organização das
Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp) e, enfim, foi presidente da OCB e
igualmente do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop).
No ano de 2005, assumiu a presidência da Confederação Nacional das
Cooperativas (CNCoop), que integra o Sistema OCB e consiste em uma instituto
sindical de nível superior também fundada em 2005 por três Federações:
Federação dos Sindicatos das Cooperativas do Distrito Federal e dos Estados de
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins (Fecoop CO/TO);
Federação dos Sindicatos das Cooperativas dos Estados de Alagoas, Bahia,
Espírito Santo, Minas Gerais e Santa Catarina (Fecoop/Sulene) e a Federação
dos Sindicatos e Organizações das Cooperativas dos Estados da Região
Nordesse (SESCOOP/GO, 2006). Ressalta-se que somente no ano de 2010 o
registro sindical da CNCoop foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) e em
2011 teve o registro oficial do Ministério do Trabalho.
Em 2009, o País, por meio do governo Lula, adotou voluntariamente o
compromisso com a redução das emissões de Gás Carbônico que afetam o Efeito
Estufa. Portanto, em outubro de 2010, a OCB e o Ministério do Desenvolvimento
Agrário firmaram acordo com o intuito de contribuir para implementação do
Programa Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que consiste em um dos
mecanismos de flexibilização instituídos pelo Protocolo de Kyoto para assessorar
o procedimento de redução de emissões de gases do efeito estufa por parte de
países como Alemanha, Japão, Países Baixos, Ucrânia, Rússia, Romênia, dentre
outros. As cooperativas atuantes no programa são as de produção, como carne,
leite, grãos e outros (OCB, 2018). As mesmas, junto com o Governo Federal,
discutiram um novo padrão de desenvolvimento no meio rural, a ideia seria as
pessoas fazerem manejos florestais, ou seja, plantar florestas nativas como
também consorciadas para obter recursos financeiros e contribuir com o
programa, que pretende alcançar o desenvolvimento sustentável em países em
desenvolvimento baseado na fundação de tecnologias mais limpas, e dar apoio
para que os países cumpram as metas de diminuição de emissão. Nesse sentido,
as cooperativas são importantes, pois são organizadas por milhares de
agricultores familiares e falam com o mundo da produção. Para que isso ocorra, o
Governo deve responder com políticas que contribuam pela via da assistência
140

técnica, da redução de taxas de juros e ainda no processo de industrialização de


madeiras, papelão, artesanato, dentre outros.
A ONU disseminou no dia 31/10/2011, o Ano Internacional das
Cooperativas, portanto, em 2012 foi declarado o Ano Internacional das
Cooperativas. Durante todo o ano, cooperativistas brasileiros se juntaram com o
objetivo de mostrar a função das cooperativas de serem incentivadoras de
desenvolvimento social, de inclusão e com capacidade de fortalecer a sociedade
por intermédio de serviços e geração de renda para o mundo afora.
Segundo Márcio Lopes de Freitas, Presidente do Sistema OCB, no
relatório de 2013, o modelo estruturado de governança seguido foi fortalecido
nesse período. Isso quer dizer que os institutos brasileiros de representação OCB,
como a CNCoop, que tem ação sindical, e ainda o Sescoop, que atua na
formação das cooperativas, estavam em harmonia com os interesses e
especialidades dos distintos ramos do cooperativismo em cada região do país.
Significou o lançamento do Programa “Cooptências”, que reúne
diversas ações com o intuito de ponderação profissional e desenvolvimento de
capacidades técnicas e gerenciais (Relatório Anual OCB, 2013, p. 78)
Ainda em 2013, a OCB em acordo com o SEBRAE lançou o Programa
Nacional de Desenvolvimento de Líderes e Executivos com o objetivo de oferecer
aos participantes oportunidades de experimentar conhecimentos de
aprimoramento técnico, de gestão e de governo, por meio de encontros,
congressos e visitas a órgãos do Poder Público e a institutos parceiros. (Relatório
Anual OCB, 2013, p. 81).
Segundo a OCB (2014), o número de associados às cooperativas
brasileiras representa mais de 5% da população, isso se comparado ao total de
habitantes no Brasil, demonstrando assim a expressiva significação para com a
inclusão social, econômica e cultural e também para com o desenvolvimento
sustentável das pessoas no País.
Conforme relatos do Presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de
Freitas, no Relatório de Gestão do ano de 2016, página 10, mesmo a política
partidária não tendo importância por ser uma organização que aglomera diversos
partidos, não se submete a nenhum deles; 2016 foi um ano de dificuldades, crises
e instabilidades tanto na política como na economia e na sociedade, mas houve
conquista no que tange à consolidação das cooperativas para com a população
brasileira. O presidente afirma a importância de a OCB possuir princípios de
ordem valorativa na sociedade:
141

Em meio a um ambiente de denúncias e debates acirrados sobre


a importância da ética, nos sobressaímos por termos mantido a
nossa integridade e os nossos valores intactos. Somos uma
sociedade de gente, não de capital. E por isso, nós inspiramos
confiança. Quem conhece nosso movimento sabe: o mundo pode
estar caindo, mas dentro de uma cooperativa estarão sempre
vigorando o espírito de colaboração, a ética, a busca pelo
crescimento conjunto e o respeito pelo próximo.

Percebe-se, diante do exposto, que fazer parte do cooperativismo


brasileiro é participar de desafios e também das soluções. Significa ter união no
trabalho para superar barreiras e compartilhar os resultados e as conquistas
obtidas.
Mesmo com dificuldades houve desenvolvimento em vários ramos do
cooperativismo, tanto no de crédito como no de transporte e ainda no
agropecuário. Portanto, em meio a toda a crise econômica vivenciada no Brasil,
no ano de 2017 também houve crescimento em números de cooperados.
Outro aspecto importante a nível internacional ocorrido em 2017 foi a
consideração da competência que as cooperativas do país possuem de causarem
efeitos e mudanças positivas na sociedade. O Brasil foi um dos quatro países
convidados a falar sobre a relevância do movimento para a sustentabilidade no
mundo. Nessa oportunidade, foi apresentado como exemplo, tanto na ONU como
na Assembleia Geral da Aliança Cooperativista Internacional, o Programa Dia de
Cooperar (Dia C), criado em 2009 pelo Sindicato e Organização das Cooperativas
do Estado de Minas Gerais-Ocemg, com a finalidade de cooperar, por meio de
voluntariado, com o desenvolvimento social das sociedades, e também com o
intuito de contribuir para a transformação de realidades, abrangendo a condição
de vida das pessoas, programa esse que, segundo Márcio Lopes de Freitas,
“funciona como um marco do nosso compromisso com a comunidade, garantindo
maior visibilidade às ações de responsabilidade social realizadas por nossas
cooperativas em todo o país.” (Relatório de gestão, OCB, 2017, p. 8).
As compras e os acordos públicos consistem em ser um negócio
promissor, porém, pouco explorado pelas cooperativas no País. Diante disso, no
ano passado, foi concretizado pela OCB o projeto de estratégia que tende a
amparar as cooperativas para conseguirem ter como cliente o Poder Público
brasileiro, e, para que isso acontecesse, foi lançada de forma gratuita uma
Plataforma precavida e que ensina as associações sobre os editais de mais
significados para cada ramo de atuação. Sendo assim, atualmente, os governos
142

da União, dos estados e dos municípios são os que mais compram produtos e
serviços no Brasil.
Em face do exposto, a OCB, para representar o cooperativismo
brasileiro, pauta seu desempenho em princípios importantes como trabalho
democrático, transparência, qualidade atribuída às atuações e ações do
movimento, focalizando os resultados e também a comunicação e a parceria com
diferentes organizações. Mesmo com dificuldades, conflitos, crises políticas,
sociais e econômicas, tende a prosseguir agindo de forma ética, participativa,
tentando impetrar sempre a importância e a contribuição do movimento para a
sociedade brasileira, bem como para o mundo e ainda conseguir a visão de que o
cooperativismo signifique pela sua competitividade, integridade e capacidade de
promover progressos e prosperidade aos cooperados.

5.3 Contextualizações inerentes ao Cooperativismo no Brasil

No cooperativismo as pessoas cooperadas não têm patrões, e isso que


dizer que, portanto, são responsáveis pelo negócio e têm autonomia para
proporcionar melhores condições e ainda preços mais justos. É o que se
estabelece no Capítulo II - Das Sociedades Cooperativas, da Lei nº 5.764, de 16
de dezembro de 1971, Art. 3°: “Celebram contrato de sociedade cooperativa as
pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o
exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de
lucro”.
Assim sendo, uma cooperativa consiste em ser uma associação civil e
comercial de pessoas que possuem interesses, os quais são comuns a todas. É
organizada economicamente de forma democrática a fim de oferecer serviços
sem fins lucrativos aos cooperados. E o que diferencia a mesma de uma empresa
tradicional é especialmente o fato de ser baseada nos princípios cooperativos.
Dentre os vários princípios estão a Gestão Democrática, ou seja, todas as
discussões e definições devem ser feitas de forma democrática, modelo esse que
busca resultados pretendidos aos interesses comuns, podendo ainda beneficiar
diretamente ou mesmo indiretamente a comunidade externa, ou seja, aqueles que
não são cooperados. Além dos princípios mencionados, o Art. 4º da Lei nº 5.764-
71 apresenta outras informações importantes e características de sociedades
cooperativas:
143

As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e


natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a
falência, constituídas para prestar serviços aos associados,
distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes
características:
I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados,
salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;
II - variabilidade do capital social representado por quotas-
partes;
III - limitação do número de quotas-partes do capital para
cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios
de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o
cumprimento dos objetivos sociais;
IV - incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros,
estranhos à sociedade;
V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais,
federações e confederações de cooperativas, com exceção das
que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da
proporcionalidade;
VI - quórum para o funcionamento e deliberação da
Assembleia Geral baseado no número de associados e não no
capital;
VII - retorno das sobras líquidas do exercício,
proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo
deliberação em contrário da Assembleia Geral;
VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência
Técnica Educacional e Social;
IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e
social;
X - prestação de assistência aos associados, e, quando
previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa;
XI - área de admissão de associados limitada às
possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de
serviços.

Da composição da conjuntura social e associados é válido mencionar


que: "O ingresso nas Cooperativas é livre a todos que desejarem utilizar os
serviços prestados pela mesma, desde que adiram aos propósitos sociais e
preencham as condições estabelecidas no estatuto ressalvado o disposto no
artigo 4º, item I, " (art. 29 da Lei 5.764/71).
As pessoas naturalmente aceitam a ideia do cooperativismo e assim as
cooperativas precisam se preocupar não só com o bem estar de um grupo, mas
também com as necessidades de toda a comunidade de forma ética, responsável
e que atenda a todos os itens mencionados acima.
Cada membro de uma cooperativa tem por iguais seus direitos e
deveres, como também a participação garantida na gestão e nas direções da
cooperativa, além disso, a participação integra a divisão dos ganhos advindos da
sociedade, portanto "É vedado às cooperativas o uso da expressão „Banco‟"
(Parágrafo único do Art. 5° da Lei nº 5.764-71). Os bancos permitem liberação de
144

créditos a um público em geral e detém uma clientela que não possui interferência
sobre os rumos da instituição, já nas cooperativas a liberação de créditos precisa
ser feita somente aos cooperados e são formadas por pessoas, as quais são
sócias e donas que compartilham das decisões de gestão.
Com relação aos órgãos sociais, nas cooperativas eles funcionam da
seguinte forma: a Assembleia Geral é o órgão superior de uma cooperativa,
sendo que todos os cooperados fazem parte de sua formação e têm direito a um
voto de importância igualitária. Dessa forma, os responsáveis por eleger a
diretoria, escolher os conselheiros e também definir as políticas de repartição dos
resultados são todos os cooperados.

A Assembléia Geral dos associados é o órgão supremo da


sociedade, dentro dos limites legais e estatutários, tendo poderes
para decidir os negócios relativos ao objeto da sociedade e tomar
as resoluções convenientes ao desenvolvimento e defesa desta, e
suas deliberações vinculam a todos, ainda que ausentes ou
discordantes. (Lei 5.764/71, art. 38)

A Assembleia Geral de cooperados escolhe cada um dos componentes


que participam da Diretoria ou do Conselho de Administração para cuidar do
aspecto estratégico da empresa.

A sociedade será administrada por uma Diretoria ou Conselho de


Administração, composto exclusivamente de associados eleitos
pela Assembléia Geral, com mandato nunca superior a 4 (quatro)
anos, sendo obrigatória a renovação de, no mínimo, 1/3 (um terço)
do Conselho de Administração. (Lei 5.764/71, art. 47)

É responsabilidade da Diretoria identificar riscos e oportunidades, bem


como definir os melhores caminhos a seguir. E, com apoio do Conselho Fiscal,
todas as atividades pensadas e desenvolvidas têm total transparência, ou seja, a
Diretoria precisa sempre prestar contas à Assembleia Geral de cooperados.
Já no cotidiano, as decisões administrativas e as metas comerciais
definidas são tomadas por uma equipe técnica formada por um presidente e por
diretores, que são profissionais escolhidos pelo Conselho de Administração ou
Diretorias. Essa estrutura existe para representar todos os cooperados e gerar
mais negócios e resultados. Portanto, no cooperativismo todos contribuem e se
beneficiam juntos.
Assim como no Estatuto Social das cooperativas, os cooperados se
configuram como um dos sócios das cooperativas e têm a responsabilidade de se
145

manterem conhecedores das instituições e de participarem da Assembleia Geral,


mantendo o espírito democrático ao votarem nas propostas eleitorais e acatando
as decisões conjuntas.
Além disso, as pessoas cooperadas necessitam partilhar
economicamente as sobras, ou seja, as sobras proporcionais dos resultados
positivos são também direitos dos cooperados uma vez que as cooperativas não
visam fins lucrativos. É importante que os cooperados participem por direito das
intervenções nas cooperativas, exponham e defendam ideias, analisem
documentos e ainda, se necessário, peçam esclarecimentos aos Conselhos de
Administração e até mesmo convoquem a Assembleia Geral.
Nesse sentido, pode-se dizer que as pessoas cooperadas são de suma
importância para as cooperativas, tendo em vista que a instituição permanece
exatamente para atender aos seus interesses.
E é com a participação desses cooperados que as cooperativas se
fortalecem e se desenvolvem sustentavelmente de maneira a alcançar benefícios
sociais e econômicos que venham beneficiar tanto os cooperados como contribuir
no desenvolvimento das comunidades em que estão alojadas.

5.4 – Dados que revelam o crescimento do cooperativismo brasileiro

Desde os mais longínquos tempos a sociedade está entendendo que o


trabalho em conjunto consiste em ser mais simples, especialmente quando se tem
os mesmos objetivos. Durante muito tempo, o homem vem estabelecendo sua
história até que surge uma nova modalidade de trabalho em cooperação, as
cooperativas. As cooperativas são classificadas em ramos de acordo com as
atividades dos associados. Porém com relação a essa questão mais específica, o
cooperativismo brasileiro se reorganizou a partir de 2019 através de uma
dinâmica de aglutinação desses ramos. Objetivando o fortalecimento
representativo do cooperativismo a OCB por meio de assembleia realizada em
março do referido ano, definiu se organizar a partir de sete ramos. Dentre os
principais argumentos para essa organização cita-se o de melhor uniformizar e
alinhar a comunicação e discurso; o que deveria remeter ao entendimento de que
tal organização melhor se adapta às aceleradas mudanças ocorridas junto ao
mercado e as inovações contemporâneas. Veja a seguir (fluxograma 4) como era
a organização antes da assembleia de 2019 e como ficou a partir da mesma:
146

Fluxograma 4: Organização do cooperativismo brasileiro por ramos

Antiga organização com 13 ramos


147

Mais recente organização com 7 ramos

FONTE: OCB 2013; Loturco (2019); organizado por Oliveira (2021).

Essa “(...) mudança levou em consideração a legislação societária e


específica, a regulação própria, o regime tributário, o enquadramento sindical e a
quantidade de cooperativas por ramo” (OCB, 2020, p. 5). Verifica-se que o
cooperativismo do Brasil tem passado por mudanças. Com relação ainda a sua
organização por ramos, nessa última alteração apenas os ramos agropecuária e
de crédito não passaram por nenhuma reformulação quanto ao tipo de
cooperativa que os compõem. Quais aos demais ramos todos passaram por
variadas alterações, se destacando o ramo de Produção de bens e serviços.
Todas as cooperativas são representadas pela OCB na esfera federal e
por suas organizações estaduais. As cooperativas precisam estar agregadas às
comunidades a que pertencem, promovendo educação, cultura e o
desenvolvimento tanto dos cooperados como de toda sociedade. As cooperativas
possuem intensa ação no cenário nacional, são milhares espalhadas pelo país,
148

determinando prosperidades e possibilitando melhor qualidade de vida não


apenas às pessoas associadas como também a milhões de pessoas beneficiadas
de forma direta e indireta. E, nesse sentido, é importante que as pessoas
raciocinem, entendam e atuem de forma integrada, respeitando continuamente os
princípios do cooperativismo brasileiro, os quais são baseados em práticas
fundamentadas na utilização de seus próprios meios intelectuais a fim de obter
seus objetivos como metas ou soluções de problemas de cunho emocional,
pessoal ou psicológico e também nos valores da auto responsabilidade,
democracia, igualdade e companheirismo.
Diante do exposto, é válido mencionar um Panorama do
cooperativismo brasileiro do ano de 2002 a 2018 observando a evolução do
número de cooperativas, cooperados e empregados. Os dados apresentados
(gráfico 2) são de cooperativas que possuem registros na Organização das
Cooperativas Brasileiras, que é a representante legal do Sistema Cooperativista
no País, segundo a Lei nº 5.764/71.

Gráfico 2 - Número de Cooperativas no Brasil

FONTE: Oliveira (2019) adaptado de OCB-GO (2019)

Esse gráfico oferece o número de cooperativas no Brasil nos anos já


citados, considerando as evoluções observadas nos últimos anos.
149

No ano de 2002 foram observadas 7.549 cooperativas. De 2006 a 2008


somavam-se 7.603 e 7682. Já em 2009, segundo dados apresentados no
panorama do cooperativismo brasileiro do ano de 2011, publicado pela Cescoop,
há uma diminuição de 421 cooperativas registradas na OCB, totalizando 7261
cooperativas. Essa diminuição foi mais acentuada nos dados de 2010, que se
resumiam em 6.652 cooperativas, ou seja, uma diminuição de mais 609
cooperativas. Ressalta-se que essa diminuição do número de cooperativas nesse
período citado não foi fator de impacto negativo para economia nacional; justifica-
se que essa diminuição ocorreu advinda da reorganização das cooperativas em
novos ramos do cooperativismo. E outro fator relacionado e muito importante foi à
ocorrência da unificação de algumas cooperativas. Com o novo formato
organizacional as mesmas agregaram mais potencial de participação no mercado
nacional e internacional, consequentemente aumentaram o volume de negócios.
No período de 2014 eram 6.582 com crescimento gradativo até 2018,
que somam 6.828 cooperativas filiadas ao sistema OCB.
É possível observar um crescimento no número de cooperativas
brasileiras de 2002 a 2008, e por sequência nos últimos anos, crescimento esse
que revela que o cooperativismo no País é de fundamental importância para a
economia e até mesmo para a geração de emprego, renda e ainda para o
cumprimento do papel social na comunidade em que as cooperativas estejam
localizadas.
Com as políticas públicas desenvolvidas pelo governo federal e
implementadas, com significativa ampliação nesse período mencionado, muitas
cooperativas se fortaleceram e muitos outros grupos de produtores passaram a se
organizar, inclusive criando novas cooperativas. Dentre os principais programas
cita-se: O Programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar –
PRONAF21; Trata-se de um programa criado alguns anos antes desse período de
maior crescimento do cooperativismo; mas que obteve vultosos investimentos do
Governo Federal especialmente quando o presidente Luís Inácio Lula da Silva
assumiu a presidência do Brasil. Outro programa importante nesse processo de
aumento das cooperativas, que inclusive antecede ao PRONAF em função de sua

21
Este programa foi criado pelo governo Federal do Brasil no ano de 1995. E tinha entre
seus objetivos oferecer melhor atendimento aos agricultores da agricultura familiar,
especialmente oferecendo crédito, para produção, com juros baixos e com melhor
carência.
150

origem, é o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE22, que se refere


ao repasse de verba de merenda para as escolas, ocorrendo atualmente de
acordo com o Censo escolar; o referido programa tem em suas diretrizes a
aquisição de 30% desse repasse destinado para a compra de produtos
alimentícios advindos da agricultura familiar. Outro programa também muito
importante nesse processo especificado é o Programa de Aquisição de Alimentos
– PAA23, que tem como definição a compra total de 100% de produtos advindos
da agricultura familiar. Por meio desse programa busca-se beneficiar pessoas que
convivem com a insegurança alimentar e ou que se encontram em condições de
baixa nutrição. Os alimentos são adquiridos no formato de compra direta e por
meio desse programa são doados para entidades de assistência que fazem esse
tipo de atendimento especificado.
Também muito importante para o aumento dos números de cooperativas
foi o incremento da produção e o aumento das exportações, principalmente de
produtos advindos da agricultura, que registrou um aumento nesse tipo de venda
variando no patamar de quase 2%, nesse referido período de aumento do número
de cooperativas no Brasil (OCB, 2015). Não menos importante foi à colaboração
do ramo voltado para o cooperativismo de crédito como se verifica no gráfico 3:

22
O referido programa de suplementação alimentar teve sua origem no ano de 1954, mas
precisamente no fim do governo de Getúlio Vargas. Porém seu registro ocorreu no ano
de 1955 através do Decreto de N° 37.106, que na ocasião se subordinava ao Ministério
da Educação – MEC; de acordo com o referido Decreto o mesmo foi denominado como
Campanha da merenda escolar. Já a denominação como PNAE ocorreu no ano de 1979.
Salienta-se que muitas alterações ocorreram no formato desse programa, o que inclusive
possibilitou definir uma margem de compra de alimentos oriundos da agricultura familiar.
23
Esse é um programa que teve dentre suas intencionalidades o atendimento ao
programa Fome Zero que buscava implantar um conjunto de políticas públicas, gerando
empregos, dinamizando o comércio local e aumentando a produção alimentícia. O PAA
foi, portanto, criado no ano de 2003, a partir da Lei 10.696, que data o dia 02 de julho,
citada no art. 19. Tendo como principal objetivo incentivar a produção de alimentos via
agricultura familiar e facilitar o acesso à alimentação.
151

Gráfico 3 – Evolução do coopertivismo de crédito entre os anos de 1990-2008


9.000

8.000

7.000

6.000

5.000

4.000

3.000

2.000

1.000

0
1990 1995 1997 2002 2008

FONTE: Ocb (2009)

Constata-se nesse gráfico que o aumento do número de cooperativas


nesse período foi superior a 100%. Números surpreendentes se comparados aos
demais ramos do cooperativismo. Salienta-se ainda que esse crescimento
expressivo em muito contribui para o aumento do número de cooperativas no
território brasileiro e continua ocorrendo até os dias atuais, especialmente no
ramo de crédito.
Pode-se perceber também uma brusca queda do número de
cooperativas entre os anos de 2006 a 2010. Verifica-se assim a diminuição do
número de cooperativas em alguns momentos, especialmente nesse citado; isso
se deu por vários motivos mencionados logo a seguir; dentre os quais se destaca
que as cooperativas também têm que confrontar-se com amplos desafios para
sobreviverem às transformações econômicas e sociais ocorridas nas últimas
décadas e a outros fatores desafiantes, como ingerência administrativa, o não
conhecimento sobre a missão, os princípios e os valores do cooperativismo
brasileiro (Leis e Estatutos), os quais definem os direitos, os deveres e as
responsabilidades dos cooperados, bem como as normas que são confirmadas
152

em assembleia geral e que, assim sendo, devem ser adotadas e respeitadas.


Ainda enfrentam ausência de discrição quanto ao nível de compreensão, conexão
e identificação com o espírito cooperativista, divergências entre sócios e diretores,
o não comprometimento com a transparência e a lealdade e também o
individualismo.
Outro desafio que causou também diminuição são as cooperativas de
trabalho. As mesmas eram submetidas à Lei nº 5764-71. Essa lei cuida de todos
os segmentos do cooperativismo brasileiro. Em 1994, foi incluído um parágrafo
único no artigo 442 da CLT que fala: “Qualquer que seja o ramo de atividade da
sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus
associados, nem entre estes e os tomadores de serviços daquela”. (Incluído pela
Lei nº 8.949, de 9.12.1994). Pela lei, a cooperativa não é o mesmo que uma
profissão e sim o agrupamento de pessoas para o desenvolvimento de
determinada atividade econômica que apresente proveito comum e sem o objetivo
de lucro. Pinho (1966) afirma que a doutrina do cooperativismo brasileiro
apresenta como princípio a conformidade do meio econômico e social,
empregando as cooperativas como instrumento. Portanto, a Nova Lei das
cooperativas de Trabalho, a Lei nº 12.690, de 19 de julho de 2012:

Dispõe sobre a organização das Cooperativas de Trabalho; institui


o Programa Nacional de Fomento às Cooperativas de Trabalho –
PRONACOOP; e revoga o parágrafo único do art. 442 da
Consolidação das Leis do Trabalho –CLT, aprovada pelo Decreto-
Lei nº 5.452, de 1ºde maio de 1943.

Essa Lei alterou o cenário das cooperativas, pois a Entidade do


cooperativismo foi mal utilizada por vários empresários e isso distinguiu muitas
cooperativas de trabalho no país, ou seja, as cooperativas eram utilizadas de
forma errada a fim de prover mão de obra subordinada, demitiam funcionários e
os recontratavam nas mesmas funções e com os mesmos salários como supostos
filiados a uma cooperativa. Assim, as empresas foram entendendo que se tratava
de uma ação fraudulenta pela nova lei que diz que a cooperativa não pode ser
utilizada para intermédio de mão de obra subordinada:

A constituição ou utilização de Cooperativa de Trabalho para


fraudar deliberadamente a legislação trabalhista, previdenciária e
o disposto nesta Lei acarretará aos responsáveis as sanções
penais, cíveis e administrativas cabíveis, sem prejuízo da ação
153

judicial visando à dissolução da Cooperativa. (Art. 18, Lei Nº


12.690, de 19 de julho de 2012).

Ressalte-se que, caso haja fraude, as cooperativas serão multadas


como é explicado:

A Cooperativa de Trabalho que intermediar mão de obra


subordinada e os contratantes de seus serviços estarão sujeitos à
multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) por trabalhador
prejudicado, dobrada na reincidência, a ser revertida em favor do
Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT. (Art. 17, § 1º da Lei
12.690).

Portanto, diante do exposto, é possível dizer que vários são os motivos


que justificam as dissoluções e diminuições do número de cooperativas no país,
ocorrido nesse período citado. Como se verifica acabamos de se exemplificar
alguns desses importantes motivos, podendo-se ainda acrescentar a esses
motivos justificativos outra questão não menos relevante, que foi à unificação de
muitas cooperativas ocorridas nesse período de diminuição registrada em gráfico
anterior.
Isso ocorreu em função praticamente das mudanças ocorridas no
mercado, especialmente internacional. Como muitas cooperativas já se
encontravam fragilizadas e tendo que se adequar às regras de um mercado mais
competidor, muitas dessas cooperativas tiveram que buscar alternativas de
enfrentamento à concorrência advinda especialmente de grandes empresas
privadas, inclusive das que já vinham atuando no mercado internacional. O
caminho encontrado foi o de realizar unificações.
Mas as referidas unificações de cooperativas também ocorreram em
sentido oposto à questão da fragilidade, ao qual acabamos de especificar,
explicando melhor, é possível dizer que muitas destas cooperativas buscaram o
caminho de unificação não porque se encontravam fragilizadas, mas também por
questão exclusiva de se criar condições de aumentar o potencial e a capacidade
de atuação, dessa forma a unificação de cooperativas possibilitavam também
maior capacidade de se inserção junto ao mercado internacional, obtendo assim
melhores condições de enfrentamento a concorrência advinda especialmente das
multinacionais. Assim se era possível obter maior capacidade de produção e com
melhoria na qualidade dessa produção.
Ainda no sentido de colaborar com as justificativas especificadas para
tais fatos, se faz interessante rememorar as observações que DENACOOP
154

(1996), utilizou como motivos que levam à fragilização ou dissolução de uma


cooperativa, dentre os quais se cita a: falta de capacitação gerencial,
metodologias inadequadas de qualificação, incompetência dos gestores ao
adquirirem funções, fragilidade dos processos de controle do sistema com relação
à estrutura que pode ser bastante sensível para acompanhar as exigências do
mercado de qualificação, diversificação e flexibilidade. Um dos fatores
determinantes dessa fragilidade procede dos problemas de ordem estrutural e da
ausência de percepção administrativa, que restringe o acesso a novos mercados
(MELLO; RICCI, 1996).
Mediante o que foi observado até agora, apesar de várias crises e
desafios verifica-se que a diminuição do número de cooperativas poderia induzir a
um entendimento de forma equivocada que trata de uma retração do movimento.
De fato, revela-se também uma dinâmica no ganho de produtividade e qualidade,
pois muitas cooperativas como acabamos de especificar se uniram e estão se
juntando em processos de dissolução e incorporação, a fim de aprimorar sua
competitividade no mercado.
Um bom exemplo de unificação de cooperativas é o caso do Sicoob
Metropolitano, que se unificou a Cooperativa de economia e crédito mútuo dos
empresários de Presidente Venceslau - Sicoob Crediaciprev. Com essa junção, o
primeiro que tinha atuação exclusiva em 22 municípios do estado do Paraná,
ampliou seu campo de atuação, passando atuar também no estado de São Paulo.
Outro bom exemplo de junção de cooperativas é o caso do SICOOB ES, que é
fruto de junção não de apenas uma cooperativa, mas de várias; o mesmo é
atualmente composto por sete cooperativas, que são: Sicoob Sul-Serrano, Sicoob
Sul-Litorâneo, Sicoob Sul, Sicoob Centro-Serrano, Sicoob Leste Capixaba, Sicoob
Norte e Sicoob Credirochas. Nesse mesmo sentido um bom exemplo de junção
de cooperativas ocorreu entre três rivais que competiam entre si no estado do
Paraná. As cooperativas Arapoti, Batavo, e Castrolanda fizeram uma junção a fim
de formar a chamada Cooperativa ABC. Juntas passaram a processar mais de 60
milhões de litros de leite por mês. Essa ação possibilitou aumentar a soma da
produção de leite de cada uma delas e consequentemente obter mais lucro com a
referida venda.
A partir do ano de 2014 o cooperativismo brasileiro volta a registrar um
ascendente aumento do número de cooperativas em todos os ramos. O seu
formato de atuação na sociedade, tem despertado significativo interesse, e tem
colaborado para a ocorrência de crescimento anual, de tal maneira tem se
155

tornando extremamente procurado pela população, pois a ideia do mesmo é


possibilitar que as pessoas se unam para objetivos em comum. O interesse por
ser um cooperado baseia-se na opção de que todos têm os mesmos direitos e
obrigações, as decisões são tomadas em conjunto e o resultado positivo é
compartilhado entre todos, abandonando a ideia de individualismo e admitindo
ações que levam a uma possibilidade de construir, desenvolver e viver em uma
sociedade que seja justa e que seja sustentada nos princípios de humanidade,
liberdade, equidade, solidariedade, racionalidade, dentre outros (MEINEN, 2002).
Por isso, mesmo com a diminuição de cooperativas em alguns momentos,
o número de pessoas cooperadas cresce a cada ano. É o que mostra o gráfico 4:

Gráfico 4 - Cooperados (associados) no Brasil

18000

16000

14000

12000

10000

8000

6000

4000

2000

0
2000 2002 2005 2010 2017 2019

FONTE: Organizado por Oliveira (2021), adaptado da OCB-GO (2004, 2011, 2019 e
2020).

Esse gráfico mostra a evolução do número de pessoas que aderiram à


ideia do cooperativismo e ocupam as cooperativas registradas na OCB. Sendo
assim, no ano de 2000 eram aproximadamente 4 milhões e meio de cooperados,
156

aumentando para quase 7 milhões em 2006. Sete anos depois esse número
aumentou muito, já atingindo mais de 11 milhões, somando-se mais de 13
milhões de pessoas cooperadas em 2017 e em apenas dois anos depois esse
número aumentou em mais de 2 milhões.
Sabendo que cooperativa consiste em ser uma forma de agregação de
pessoas independentes com objetivos e atividades comuns e que trabalha com a
finalidade de gerar benefícios iguais a todos/as os/as cooperados/as é que esse
número cresce ainda mais, chegando, portanto a mais de 15 milhões e meio de
cooperados no ano de 2019.
Nesse viés demonstrativo de crescimento, especialmente pela via do
aumento do número de cooperados. Verifica a seguir no mapa ilustrativo
disponibilizado no anuário 2020 da OCB, que os cooperados registrados na
referida organização já ultrapassaram o total de 15 milhões e meio. Veja o mapa
1:
157

Mapa 1: Número de cooperados de acordo com cada estado brasileiro

FONTE: OCB (2020, p.15)

Verifica-se nesse mapa ilustrativo que a maioria de concentração de


cooperados se localiza nas regiões do sul e sudeste do Brasil. Consequência
especialmente da maior concentração também do número de cooperativas; Se
rememorado os processos históricos e evolutivos do cooperativismo brasileiro,
verifica-se que essas regiões citadas são onde surgem também as primeiras
cooperativas e experiências desse fenômeno organizacional. Sequencialmente é
dado continuidade na progressividade do desenvolvimento de cooperativas, que
ocorrem praticamente sem interrupção no processo de crescimento do
cooperativismo. O aumento do número de cooperados no Brasil do ano de 2018
para o ano de 2019 foi de 14,6 milhões para 15,5 milhões.
158

5.5 – A inserção do cooperativismo

Os critérios específicos para se tornar um cooperado é definido no


estatuto de cada cooperativa; comumente o ramo de atuação é definido para
direcionar os objetivos de uma cooperativa e consequentemente para definir
quem poderá cooperar. De tal maneira, as regras gerais de orientação para
cooperar em uma cooperativa são importantes para delinear e organizar essa
questão. No Capítulo VIII da LEI Nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971 é
colocado como se dá a entrada em uma cooperativa:

Art. 29. O ingresso nas cooperativas é livre a todos que


desejarem utilizar os serviços prestados pela sociedade, desde
que adiram aos propósitos sociais e preencham as condições
estabelecidas no estatuto, ressalvado o disposto no artigo 4º, item
I, desta Lei. § 1° A admissão dos associados poderá ser restrita, a
critério do órgão normativo respectivo, às pessoas que exerçam
determinada atividade ou profissão, ou estejam vinculadas a
determinada entidade. § 2° Poderão ingressar nas cooperativas
de pesca e nas constituídas por produtores rurais ou extrativistas,
as pessoas jurídicas que pratiquem as mesmas atividades
econômicas das pessoas físicas associadas. § 3° Nas
cooperativas de eletrificação, irrigação e telecomunicações,
poderão ingressar as pessoas jurídicas que se localizem na
respectiva área de operações. § 4° Não poderão ingressar no
quadro das cooperativas os agentes de comércio e empresários
que operem no mesmo campo econômico da sociedade. Art. 30.
À exceção das cooperativas de crédito e das agrícolas mistas com
seção de crédito, a admissão de associados, que se efetive
mediante aprovação de seu pedido de ingresso pelo órgão de
administração, complementa-se com a subscrição das quotas-
partes de capital social e a sua assinatura no Livro de Matrícula.
Art. 31. O associado que aceitar e estabelecer relação
empregatícia com a cooperativa perde o direito de votar e ser
votado, até que sejam aprovadas as contas do exercício em que
ele deixou o emprego. Art. 32. A demissão do associado será
unicamente a seu pedido. Art. 33. A eliminação do associado é
aplicada em virtude de infração legal ou estatutária, ou por fato
especial previsto no estatuto, mediante termo firmado por quem
de direito no Livro de Matrícula, com os motivos que a
determinaram. Art. 34. A diretoria da cooperativa tem o prazo de
30 (trinta) dias para comunicar ao interessado a sua eliminação.
Parágrafo único. Da eliminação cabe recurso, com efeito
suspensivo à primeira Assembléia Geral. Art. 35. A exclusão do
associado será feita: I - por dissolução da pessoa jurídica; II - por
morte da pessoa física; III - por incapacidade civil não suprida; IV -
por deixar de atender aos requisitos estatutários de ingresso ou
permanência na cooperativa. Art. 36. A responsabilidade do
associado perante terceiros, por compromissos da sociedade,
perdura para os demitidos, eliminados ou excluídos até quando
aprovadas as contas do exercício em que se deu o desligamento.
Parágrafo único. As obrigações dos associados falecidos,
contraídas com a sociedade, e as oriundas de sua
159

responsabilidade como associado em face de terceiros, passam


aos herdeiros, prescrevendo, porém, após um ano contado do dia
da abertura da sucessão, ressalvados os aspectos peculiares das
cooperativas de eletrificação rural e habitacionais. Art. 37. A
cooperativa assegurará a igualdade de direitos dos associados
sendo-lhe defeso: I - remunerar a quem agencie novos
associados; II - cobrar prêmios ou ágio pela entrada de novos
associados ainda a título de compensação das reservas; III -
estabelecer restrições de qualquer espécie ao livre exercício dos
direitos sociais.

O processo de admissão para se tornar um cooperado não muda muito


de uma cooperativa para outra; o que geralmente mais muda são os critérios
definidos para atender o perfil de cooperados desejados. Nesse sentido se
verifica que são muitas as pesquisas e estudos que remetem a existência da
vontade de participar e de lutar por democracia; visivelmente se confere
principalmente entre as pessoas que integram movimentos de organização social,
uma vontade expressa por mais democracia, e para se ter voz ativa tanto na
política como no trabalho e no financeiro. Portanto, nas cooperativas os
associados podem e devem participar da administração, ou seja, decidem sobre a
distribuição dos resultados e outras questões, isso acontece nas assembleias em
que cada associado tem o direito a um voto. É na assembleia também que são
eleitos os representantes dos cooperados, os quais ficam como responsáveis pela
cooperativa e cabe a todos votarem em assuntos de interesse geral. Será
colocado em prática o que a maioria decidir, pois, nas cooperativas os
cooperados são considerados parte da mesma, o que possibilita o crescimento
em conjunto. É possível observar que os direitos dos cooperados são:

a) participar das Assembléias Gerais, discutindo e votando os


assuntos que nela forem tratados; b) propor ao Conselho de
Administração, ao Conselho Fiscal ou às Assembléias Gerais
medidas de interesse da cooperativa; c) solicitar o desligamento
da cooperativa quando lhe convier; d) solicitar informações sobre
seus débitos e créditos; e) solicitar informações sobre as
atividades da cooperativa e, a partir da data de publicação do
edital de convocação da Assembleia Geral Ordinária, consultar os
livros e peças do Balanço Geral, que devem esta à disposição do
cooperado na sede da cooperativa.
Marra (2021, p.205)

Assim como os cooperados têm seus direitos, igualmente possuem


seus deveres, que são:

A. subscrever e integralizar as quotas-partes do capital nos termos


desse estatuto e contribuir com as taxas de serviço e encargos
160

operacionais que forem estabelecidos; B. cumprir com as


disposições da lei, do estatuto e, se houver do código de ética,
bem como respeitar as resoluções tomadas pelo Conselho de
Administração e as deliberações das Assembléias Gerais; C.
satisfazer pontualmente seus compromissos com a cooperativa,
dentre os quais o de participar ativamente da sua societária e
empresarial; D. realizar com a cooperativa as operações
econômicas que constituam sua finalidade; E. prestar à
cooperativa informações relacionadas com as atividades que lhe
facultaram se associar; F. cobrir as perdas do exercício, quando
houver, proporcionalmente às operações que realizou com a
cooperativa, se o Fundo de Reserva não for para cobri-las; G.
prestar à cooperativa esclarecimentos sobre as suas atividades;
H. levar ao conhecimento do Conselho de Ética, se houver, ou ao
Conselho de Administração e/ou Conselho Fiscal a existência de
qualquer irregularidade que atente contra a lei, o estatuto e, se
houver, do código de ética; I. Zelar pelo patrimônio material e
moral da cooperativa. O cooperado responde subsidiariamente
pelos compromissos da cooperativa até o valor do capital por ele
subscrito e o montante das perdas que lhe couber. As obrigações
dos cooperados falecidos, contraídas com a cooperativa, e as
oriundas de sua responsabilidade como cooperado em face a
terceiros, passam aos herdeiros, prescrevendo, porém, após uma
ano do dia da abertura da sucessão. Os herdeiros do cooperado
falecido têm direito ao capital integralizado e demais créditos
pertencentes ao "de cujas", assegurando-se-lhes o direito de
ingresso na cooperativa.
Valor Consulting 24 (2018, p. 1)

Como já foi mencionado, muitos desses deveres foram e ainda podem


ser elementos desafiadores para que as cooperativas ganhem força e continuem
existindo, portanto, todos precisam se fazer presentes nas assembleias gerais,
nas reuniões propostas e nos compromissos assumidos com as cooperativas. Há
a necessidade de conhecer e cumprir com os documentos como o estatuto, os
regulamentos e as normas que são estabelecidas pela assembleia geral e
diretoria e ainda precisam zelar pelo nome e pela riqueza de sua cooperativa.
Segundo o art. 3º da CLT, “Considera-se empregado toda pessoa física
que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência
desse e mediante salário.” De acordo com Alexandrino e Paulo (2009), pessoa
física, não eventualidade, salário, pessoalidade e subordinação consistem em
subsídios efetivos que definem a palavra “empregado” e acrescentam que essas

24
Modelo de estatuto de sociedade cooperativa de acordo com código civil/2002,
aprovado pela lei nº 10.406/2002, bem como pela lei nº 5.764/1971. O mesmo foi
elaborado pelo Valor Consulting de acordo com orientação da Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo – Fiesp, pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo -
Ciesp, em parceria com escritório regional da Junta Comercial do Estado de São Paulo –
Jucesp.
161

são condições imprescindíveis para que as pessoas possam ser enquadradas


como funcionários. Em concordância, Delgado (2015, p. 377) afirma que
“empregado é toda pessoa natural que contrate, tácita ou expressamente, a
prestação de seus serviços a um tomador, a este efetuados com pessoalidade,
onerosidade, não eventualidade e subordinação”.
Entre tais definições, há uma caracterização quanto à expressão
“dependência” colocada na CLT em comparação com as outras. Percebe-se que
esse termo para os demais autores não é mais apropriado, sendo a designação
mais adequada “subordinação”. É o que mostra a definição de Martins (2015, p.
17) “A subordinação é o estado de sujeição em que se coloca o empregado em
relação ao empregador, aguardando ou executando ordens. A subordinação não
pode ser considerada um status do empregado”.
Diante dessa definição, é possível perceber também que as
cooperativas que possuem registro na OCB evoluem quanto ao número de
empregados. É o que mostra o Gráfico 5:

Gráfico 5 - Trabalhadores empregados nas cooperativas brasileiras


450

400

350

300

250

200
Empregados nas
cooperativas (em
150 milhares)

100

50

0
2002 2006 2010 2014 2018

FONTE: OCB-GO(2019), organizado por Oliveira (2020).

No ano de 2002 eram quase 160.000 empregados, passando para


205.000 em 2006. Em 2010 atingiu 298.000 empregados nas cooperativas
162

registradas na OCB, chegando em 2014 a um total de 361.000. A evolução foi


gradativa, ultrapassando pouco mais de 425.000 empregados no ano de 2018.
Perante estes números é possível afirmar que assim como houve
ampliação na quantidade de cooperados, passando de 14 milhões, também
ocorreu um crescimento quanto ao número de empregados, deixando evidente
que as cooperativas não somente oferecem representatividade e permitem
desenvolvimento em especial aos pequenos produtores, como também
possibilitam a diminuição do desemprego. E os empregados possuem os direitos
trabalhistas garantidos pela CLT.
Uma questão importante é com relação à participação das mulheres
nas cooperativas, e ao número de empregados quanto ao gênero.
As mulheres têm uma atuação importante quanto ao desenvolvimento
social e econômico:

As mulheres constituem também a maioria da força de trabalho


utilizada na agricultura, produzindo a maioria dos recursos
alimentares consumidos nos países em desenvolvimento e nas
economias de transição, e representam os principais agentes da
segurança alimentar, do bem-estar familiar e das comunidades
locais. (MARCONE, 2009a, p. 26)

Essa informação nos permite dizer que a ação das mulheres consiste
em ser um fator planejado quanto ao desenvolvimento social, pois a mulher vem
ocupando inúmeros espaços como o de constituir sustentação do bem estar das
famílias e das comunidades.
A participação de mulheres nas cooperativas tem ganhado força. Em
1995 a ACI Internacional constituiu o Programa de Ação Regional para as
Mulheres da América Latina e do Caribe. A partir de então, a ACI ressaltou a
relevância da atuação das mulheres no cooperativismo. Isso é determinante na
fala de Daller (2010), que assumiu a presidência da ACI em 1997, declarando
que: “A Aliança Cooperativa Internacional, consciente da importância do papel da
mulher nas atividades cooperativas, está agora empenhada em ampliar sua
participação em todas as categorias de cooperativas e no sistema cooperativista
mundial.”.
Ainda neste sentido, “promover a igualdade de gênero nas
cooperativas é e deve ser cada vez mais uma estratégia do mesmo
desenvolvimento cooperativo” (MARCONE, 2009b, p. 26).
163

Diante do exposto, com intermédio da ACI, é disseminada, em 2004,


no País pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Programa
Gênero e Cooperativismo – Coopergênero, que objetiva cooperar para a
edificação da igualdade/equilíbrio de gênero no setor do cooperativismo e
associativismo no Brasil. E, concordando com o exposto, o cooperativismo pode
ser capaz de colaborar para a inclusão das mulheres, pois as mesmas têm
objetivos sociais e participativos.
Sendo assim, é notória a atuação significativa das mulheres no que
tange a participação nas cooperativas. Entre os anos de 2014 e 2019, como
verificado no Anuário do Cooperativismo Brasileiro, publicado 2020 houve uma
alteração nesses números, evidenciado o aumento do número de mulheres
empregadas.
No referido anuário evidencia-se que em 2014 o número de
funcionários das cooperativas registradas na OCB era composto pela maioria de
homens, porém, os empregados do sexo feminino correspondiam a 33%. Já em
2019, o número de mulheres aumentou 2%, como se verifica na figura 7:

Figura 7 – Número de empregados do gênero feminino continua


aumentando

FONTE: Oliveira (2019) adaptado de OCB-GO (2020)

Verificamos nessa figura que a representação/participação feminina


tem sido gradativa, sempre aumentando. Como fatores explicativos para tal fato
destacam-se influências internas e externas ao cooperativismo. De tal maneira,
especialmente nessas duas últimas décadas a discussão de gênero, no sentido
de se evidenciar importância da participação da mulher, ganhou muita força entre
164

gestores políticos e especialmente junto a diversos segmentos organizados, como


igrejas, associações, cooperativas, escolas, universidades e muitos outros.
As ações de conscientização através de campanhas publicitárias,
reuniões de orientação, cursos de formação para o gênero contribuiu muito para
abertura da participação e ocupação de vagas por trabalhadoras do sexo
feminino. Tais ações foram determinantes também para o cooperativismo.
Internamente ao cooperativismo, muitas ações também foram realizadas nesse
mesmo sentido especificado a fim de valorizar a participação feminina.
Citam-se como importantes exemplos interventivos ações
diversificadas que foram na mesma linha do programa de gênero e
cooperativismo promovido pela ACI. Muitas palestras, cursos foram e continuam
sendo realizados por diversas cooperativas brasileiras. Dentre as referidas ações
cita-se o Fórum Nacional de Gênero, Cooperativismo e Associativismo, realizado
em Brasília-DF, onde o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
promoveu importantes debates sobre igualdade de gênero, sobre políticas
públicas destinadas à mulher, saúde da mulher, ainda sobre a Equidade de
Gênero na Autogestão Cooperativista, dentre outros temas pertinente à
emancipação e a valorização da participação da mulher. Outra ação importante foi
o “15º aniversário do encontro de mulheres cooperativas, de iniciativa do serviço
nacional de aprendizagem do cooperativismo de Santa Catarina. Esse referido
encontro nesses últimos 15 anos têm destacando o importante papel
desempenhado pelas mulheres no cooperativismo, nas famílias e na sociedade
em geral. Nesse mesmo viés muitos cursos têm sido realizados como, por
exemplo, o curso “doutrina e educação cooperativista”, realizado pelo
SESCOOP/SC, o mesmo buscou fomentar a cultura do cooperativismo e ainda
evidenciar a importância da participação feminina na comunidade e dentro de
uma cooperativa. EM Iporá município onde o cooperativismo é pesquisado, em
entrevista com um dos diretores de uma das cooperativas locais, o mesmo disse
que a cooperativa conseguiu um grande avanço quanto à participação de
mulheres e de jovens, pois foi “(...) definido em estatuto e aprovado em
assembleia a reserva de participação para jovens e mulheres”. A diretoria tem
30% das vagas reservadas para mulheres”. E nesse sentido o mesmo ainda
destacou que o cooperativismo “(...) se torna mais importante na medida em que
consegue avançar em todos os segmentos, homens, mulheres, jovens, negros e
outros. O cooperativismo vai muito além da questão da inclusão para renda, ele
165

possibilita mudança cultural”. Salientou ainda que quanto aos empregados da


cooperativa, 65% são mulheres.
Ainda nessa questão de gênero em relação ao cooperativismo, se
verifica que o perfil dos cooperados no território brasileiro tem sofrido uma brusca
alteração. No período compreendido entre os anos de 2014 e 2017, o aumento da
participação das mulheres enquanto cooperadas obteve um aumento de 3%,
subindo de 33% para 36% de acordo com os registros da OCB (2008). Mas a
participação feminina não se limitou somente à questão de se associar a uma
cooperativa, os dados da OCB (2008) demonstra que no período de um ano,
compreendido entre 2017 a 2018 a participação feminina no quadro de dirigentes
foi de 24% para 25%.
Ainda reforçando as explicações para esse aumento da participação
feminina no cooperativismo cita-se o crescente aumento de cooperativas do ramo
educacional. Esse ramo tem registrado crescimento anual, desde 2014, superior a
1%. Mas obviamente esse ramo especificado não abriga somente cooperados do
sexo feminino, porém, é relevante destacar que a participação feminina é
bastante evidente no mesmo. Recentemente muitas cooperativas a partir da
junção de pais e especialmente professoras graduadas em pedagogia foram
criadas. No Brasil atualmente já tem mais de 350 cooperativas educacionais e o
número de cooperados já ultrapassa o total de 60.000. (OCB, 2008, 2018, 2020).
Acredita-se ser também destacar que os demais ramos do cooperativismo
também têm dado importante contribuição para o aumento da participação das
mulheres. Bons exemplos são bastante evidentes também nos ramos de crédito e
da agricultura. Nesse último citado muito se evidencia a participação da mulher
cooperada conciliando os afazeres domésticos com a produção de hortifrútis,
criação de animais de pequeno porte e produção de conservas e queijos. Em
diversos casos indo bem mais além do especificado, produzindo, por exemplo,
artesanatos.
Em Iporá a COOPERCOISAS é uma referência dentre variados tipos
de produção, mas especialmente para o artesanato. Esse ramo é muito
importante para absorver mulheres para o cooperativismo. Em entrevista com
uma das cooperadas25, a mesma disse que a demanda por artesanato aumentou
muito, citou que “(...) falta pessoas, trabalhadoras para produção e com o trabalho
de organização e exposição realizado pela cooperativa, principalmente através

25
Produtora de artesanato, moradora rural, no município de Diorama. Entrevista concedida em 15 de janeiro
de 2021.
166

das feiras de economia solidária, já não dá mais para atender a demanda”. A


mesma ainda destacou que a cooperativa promoveu valorização da produção
artesanal, pois divulgou e promoveu conscientização através dos meios de
comunicação, e principalmente em grupos comunitários. Com isso “(...) a procura
aumentou inclusive por parte do comércio, que acabou abrindo as portas para os
produtos aqui da região”. Ela ainda disse que antes a renda obtida mensalmente
era em média R$ 200,00 a 300,00 por mês; pois vendia praticamente ovos
caipiras e algumas poucas conservas. Mas a partir do trabalho realizado por meio
da cooperativa, de exposição em feiras de economia solidária e através da
“barraca na festa de maio”, especialmente realizado entre os anos de 2015 a
2019 foi importante, pois possibilitou o aumento e consolidação das vendas, e
consecutivamente melhoria da renda. A mesma ressaltou ainda que a renda
obtida atualmente aumentou em mais de 300% e disse que só não aumenta mais
em função da pouca saúde, que a limita bastante para conseguir aumentar a
produção.
Em entrevista com esposa26 de um cooperado da COOMAFIR, a
mesma disse que ainda não se associou, mas tem pensado nessa possibilidade;
atualmente somente o esposo é cooperado. Salientou que ela produz conservas,
mas que não faz entregas dessa produção para a cooperativa e nem tem
intermediação da mesma para realizar tais vendas. Porém o fato da cooperativa
comprar toda a produção de leite e parte da produção de hortifrútis através de seu
esposo, já foi algo muito importante para a família e especialmente para ela, pois
possibilitou a obtenção de mais segurança quanto à venda da produção. De tal
maneira, essa segurança que se evidenciou através da compra e por meio do
pagamento de um preço melhor, assim as condições de renda da família
melhorou, “(...) a nossa renda era em torno de R$ 2.500,00 por mês, agora temos
uma renda que varia de R$ 3.500,00 a R$ 5.000,00. Isso sem contar com a parte
das conservas, que é sempre em torno de R$ 1.000,00 por mês”. Ela ressaltou
ainda que mesmo não vendendo suas conservas através da cooperativa, mesmo
assim, a referida produção de conserva tem relação com a cooperativa, pois foi a
partir de orientação obtida na cooperativa que a mesma despertou para esse tipo
de produção, e destacou ainda que o capital inicial para investir na produção de
conservas, assim como para aumentar a produção de hortifrútis, só foi possível
porque a cooperativa criou condições, como já especificado anteriormente.

26
Feirante esposa de cooperado da COOMAFIR; realiza venda de conservas em três feiras livres do
município e também na porta de casa. Entrevista concedida em 04 de junho de 2019.
167

Além dos exemplos citados relativos à participação da mulher em


cooperativas do município de Iporá, ressalta-se que existem muitos outros
exemplos dessa participação e intervenção feminina nas referidas cooperativas
do município em questão. Salienta-se ainda que nesse mesmo viés discutido,
tem-se ainda como exemplo, que a Presidente atual da COOPPERCOISAS, é
uma mulher.
Diante de todas as questões abordadas, é válido reafirmar que o
cooperativismo é um modelo que possibilita gerar emprego e renda para muitas
pessoas que buscam uma oportunidade no mercado de trabalho. E ainda quanto
à geração de emprego por meio do mesmo tem se possibilitado atender
independentemente de gênero um número expressivo de trabalhadores, porém,
especialmente nas últimas décadas, o mesmo tem sido um importante meio de
agregar e oferecer oportunidade de trabalho para as mulheres. Portanto, por meio
do cooperativismo é possível a promoção de direitos, dignidade e
empoderamento do trabalhador na gestão dos negócios, como também o
ingresso ao trabalho justo e decente.

5.6 Os Desafios do Cooperativismo no Brasil

O cooperativismo é muito importante. As cooperativas são ou podem


ser uma das maiores instituições que geram resultado positivo. Uma porcentagem
significativa da população brasileira depende direta ou indiretamente dos
negócios das cooperativas. As mesmas proporcionam empregos diretos a
milhares de brasileiros, portanto, vários são os desafios percebidos e
mencionados no decorrer de todo o trabalho que o cooperativismo brasileiro
enfrenta, porém, vale ressaltar alguns que são importantes e mais comuns no
cotidiano.
Princípios como autonomia, autogestão, democracia, participação e
solidariedade são difíceis de serem atingidos e desejados por todas as pessoas.
Para Cornforth e Thomas (1990), “na cultura individualista e materialista do
capitalismo, o apelo do trabalho em cooperativas, com o pressuposto da adesão
voluntária e com objetivos sociais e solidários é muito baixo”.
Essa cultura citada pelos autores nada tem a comungar com a ideia do
cooperativismo, pois ele surgiu justamente pela necessidade das pessoas de se
juntarem, porque individualmente os objetivos a serem alcançados podem se
tornarem mais difíceis do que viver em cooperação.
168

A demora de retorno financeiro é também um entrave à consecução de


uma cooperativa e isso pode ser um dos fatores que fazem com que muitas
pessoas abandonem o projeto cooperativo assim que obtêm outro emprego,
causando a própria dissolução da instituição.
Outro desafio é a eficiência. Toda e qualquer organização é composta
por pessoas que ocupam funções interdependentes, portanto, é importante que
cada pessoa cumpra sua função de maneira a ser competente, pois a ausência
de ações nitidamente definidas, como administrativas, de gestão, supervisão,
operação, vendas, dentre vários outras, contribui para práticas erradas e conflitos
estruturais. E muitas são as barreiras à eficiência como, por exemplo, a falta de
democracia e transparência em tomar as decisões conjuntas com todas as
pessoas que são sócias de uma cooperativa, princípios estes que possibilitam um
maior conhecimento, crescimento e participação das pessoas nas organizações.
A falta de participação efetiva de cooperados, a ingerência
administrativa, transformações econômicas, o desconhecimento e o desinteresse
das pessoas envolvidas no cooperativismo e até mesmo os conflitos entre sócios
e dirigentes são fatores enfrentados no cooperativismo brasileiro, que são
prejudiciais e que podem colidir com os interesses e objetivos das instituições.
Muitos são os desinteressados em conhecer os documentos que regem e dão
suporte e também possibilitam distinguir os direitos e deveres que existem para
com o cooperativismo, além disso, há também as pessoas que não conhecem a
fundo os princípios e os valores cooperativistas e ainda não participam das
reuniões, das assembleias e demais eventos que possibilitam um melhor
conhecimento e entendimento da realidade de suas cooperativas.
Embora o cooperativismo passe por diversos problemas e desafios, ele
é de suma importância para o crescimento de milhões de pessoas que possuem
impossibilidades de trabalhar e competir no mercado de forma individual e assim
procuram se integrar às cooperativas como meio de crescer e até mesmo de
buscar recursos para sobreviver às dificuldades.
O cooperativismo brasileiro busca gerar riquezas como também
compartilhar as mesmas. Nesse sentido, o importante não é somente buscar
lucros e sim adquirir bons resultados econômicos e sociais de forma
compartilhada para a instituição e seus associados. Portanto, é de se esperar que
a sociedade brasileira desperte cada dia mais para o cooperativismo, tendo
compromisso, participando ativamente de sua existência na sociedade
cooperativista e empresarial, bem como procurando ajuda mediante convênios
169

com entidades especializadas, sejam públicas ou privadas. É necessário


promover aperfeiçoamento especializado e capacitação profissional dos
associados e empregados por intermédio de encontros, cursos, palestras,
congressos, simpósios, workshops e vários outros momentos que possam
contribuir com o conhecimento e a formação.
Outras medidas que podem ser adotadas para prevenir possíveis
desafios e assim contribuir com os resultados positivos do cooperativismo são: a
transparência nas ações, ou seja, proferir sempre a verdade e agir de forma a
zelar pela imagem e realidade em que a cooperativa se encontra; melhorar as
práticas administrativas a fim de trazer união entre os associados; promover a
conexão entre cooperados e dirigentes; extinguir o individualismo e optar pelo
interesse coletivo. É necessário que os gestores busquem meios para que os
cooperados tenham consciência da necessidade de conhecer o cooperativismo e
também devem expor sobre os valores e princípios do mesmo e assim aprimorar
a comunicação e o entendimento para que todos possam se envolver de forma
objetiva, evitando possíveis falhas de diálogo. É de suma importância o estímulo e
o apoio às vendas das produções tanto nos comércios locais, como nacionais e
internacionais.
Sendo assim, é necessário administração, conhecimento,
envolvimento, informação, participação e troca de experiências de todos no que
tange às reuniões, às assembleias e ao dia a dia das cooperativas para que
possam acompanhar efetivamente todo o seu funcionamento e ainda identificar
precocemente alguma deficiência, podendo, dessa forma, tomar medidas
preventivas.

5.7 – Propostas para o Cooperativismo no contexto atual

Nesses últimos anos, muito se tem discutido sobre o cooperativismo,


especialmente no Brasil. O cooperativismo brasileiro tem sido um importante
fenômeno de análise em pesquisas acadêmicas e também por governos das mais
variadas esferas. Existem muitas controvérsias sobre o seu limite e potencial de
capacidade para promover desenvolvimento, melhoria nas condições de vida e de
atuação como organizador social, porém, é quase consensual que o mesmo tem
crescido rapidamente e ampliado a sua atuação desde o seu surgimento.
Entendendo que o cooperativismo tem sido importante no processo de
produção e de organização sócio-espacial do Brasil, e que esse é um importante
170

motivo para pensar o desenvolvimento da produção e articulação do território


brasileiro, é que se busca evidenciar elementos propositivos por meio do
cooperativismo para o atual contexto vivido. Nesse sentido, a Organização das
Cooperativas Brasileiras, definiu em documento intitulado “Propostas para um
Brasil mais Cooperado” rumos de desenvolvimento para que seja considerado
pelo Governo Federal.
De tal maneira, foram constituídos cinco pontos temáticos e vinte três
recomendações, as quais identificam o cooperativismo como algo que causa
mudanças econômicas e sociais através da geração de emprego, trabalho e
resultados positivos. Assim, as “Propostas para um Brasil Mais Cooperado” são
conduzidas para que o cooperativismo seja necessário e de relevância para o
desenvolvimento socioeconômico, reconhecendo seu valor e propostas para um
país mais justo, que promova o bem estar e com oportunidades para todos.
Verifica-se que a OCB teve como intenção produzir um documento com
propostas que garantam o desenvolvimento e a valorização das causas e
princípios dos variados ramos do cooperativismo, para que eles sejam um modelo
de negócio consolidado.
Salienta-se que o documento “Propostas para um Brasil Mais
Cooperado - Contribuições do cooperativismo para a Presidência da República
2019 a 2022” é decorrente de um procedimento participativo da organização
cooperativista. De acordo com o documento, foram ouvidas mais de 1,3 mil
lideranças cooperativistas através de pesquisa de opinião e de grupos focais que
consistem em um método qualitativo que congrega participantes em uma
entrevista, a qual mostra opiniões sobre produtos ou serviços. A pesquisa contou
com a representatividade de todas as vinte e sete unidades estaduais.
Foram definidos cinco eixos temáticos com propostas para a
Presidência da República, como se vê no quadro 13:

Quadro 13 - Propostas para o Cooperativismo brasileiro

1 - RECONHECIMENTO DA IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SOCIAL DAS


COOPERATIVAS: Esperamos que o próximo governo busque fortalecer o papel do
cooperativismo como parte da agenda estratégica do país, reconhecendo os
diferenciais das sociedades cooperativas e seu alto impacto para o desenvolvimento de
pessoas e comunidades. Isto não significa somente concordar com a sua importância,
mas que este fator seja o propulsor de ações efetivas para dar maior competitividade
às cooperativas, com destaque para a regulamentação do adequado tratamento
171

tributário ao ato cooperativo. Propostas: Adequado tratamento tributário ao ato


cooperativo; Legislações e políticas públicas de apoio e estímulo ao cooperativismo;
Espaços de representatividade e de participação.

2 - COOPERATIVISMO COMO MOTOR DE DESENVOLVIMENTO DO PAÍS:


Destacamos a importância de propostas que valorizem o papel das cooperativas para
combatermos a fome, alcançarmos a segurança alimentar e a melhoria da nutrição no
Brasil e no mundo, por meio de uma produção agropecuária sustentável. Também
consideramos fundamentais as políticas públicas que reforcem o papel das
cooperativas na inclusão financeira, desenvolvimento regional e redução das
desigualdades, bem como para superarmos os atuais desafios de transporte e logística
de escoamento da produção brasileira, promovendo o desenvolvimento econômico e
social do país. Propostas: Segurança alimentar, combate à fome e agregação de valor
nas cadeias produtivas; Inclusão financeira e desenvolvimento regional; Transporte e
logística de escoamento da produção; Fortalecimento da pequena mineração.

3 - COOPERATIVAS EM PROL DE CIDADES E COMUNIDADES MAIS


SUSTENTÁVEIS: Destacamos diversas propostas de como as cooperativas podem
contribuir, ainda mais, com o governo para prestação de serviços de interesse público
com maior dinamismo e eficiência, com foco na ampliação do atendimento de saúde da
população brasileira, no acesso à energia de alta qualidade no campo e nas cidades,
no avanço à educação inclusiva, equitativa e de qualidade e em diversos setores
econômicos onde as cooperativas atuam com destaque. Propostas: Acesso universal
aos serviços de saúde; Energia de qualidade no campo e nas cidades; Educação
inclusiva, equitativa e de qualidade; Mobilidade urbana; Aproveitamento do potencial
turístico e de lazer; Moradia própria e construção de unidades habitacionais.

4 - COOPERATIVISMO COMO PLATAFORMA DA ECONOMIA COLABORATIVA:


Pensar em cooperativismo é também refletir sobre políticas públicas de incentivo às
novas tendências de se trabalhar em rede, conectar pessoas e colocá-las no centro
das tomadas de decisão de seus próprios negócios, por meio do empreendedorismo
coletivo e da autogestão. Assim, sugerimos ao governo propostas de apoio às
cooperativas como opção sustentável para milhares de trabalhadores brasileiros
contarem com melhores condições de inserção de seus produtos e serviços no
mercado. Propostas: Geração de emprego e renda por meio do empreendedorismo
coletivo; Comércio justo e acesso a produtos e serviços; Inserção de cooperativas em
novos mercados.

5 - CRIANDO BASES PARA UM PAÍS DO FUTURO: Uma parte significativa dos


172

desafios para empreender no Brasil diz respeito à viabilização, por parte do governo,
de um ambiente de negócios favorável aos investimentos. Neste sentido, acreditamos
serem fundamentais as medidas de simplificação tributária, responsabilidade fiscal,
combate à corrupção, desburocratização das atividades econômicas e de retomada de
investimentos em infraestrutura e logística, dentre diversos outros desafios para a
recondução econômica do país. Propostas: Simplificação tributária e responsabilidade
fiscal; Desburocratização e melhoria do ambiente de negócios; Qualificação profissional
e promoção social; Investimento em infraestrutura e logística; Proteção e melhoria da
qualidade do meio ambiente; Estímulo a instituições eficazes, responsáveis e
transparentes; Segurança pública.

FONTE: OCB (2018), organizado por Oliveira (2019).

Diante do exposto, avalia-se que o sistema cooperativista brasileiro se


encontra em boas condições de dialogar com governo de qualquer que seja a
esfera. O mesmo se mostra estruturado para enfrentar as condições adversas
oriundas do capitalismo e ainda promover desenvolvimento e melhoria nas
condições de vida dos trabalhadores.
Ainda nesse sentido exposto é significativa a regulamentação em lei
complementar do tratamento tributário dos atos praticados pelas cooperativas.
Tendo em vista as peculiaridades das mesmas, é imprescindível uma tributação
diferenciada a fim de que o cooperativismo se desenvolva em melhores condições
no país. Para Suzin (2020, p.1):

O adequado tratamento tributário não configura benefício ou


isenção tributária, não representa imunidade, não é sinônimo de
tratamento privilegiado e sim, trata-se de não incidência na
cooperativa e incidência no cooperado. Trata-se do
redirecionamento da tributação incidente sobre as operações
praticadas da pessoa jurídica (cooperativa) para a pessoa física
ou jurídica do cooperado, uma vez que a fixação da riqueza se dá
na pessoa do cooperado e que na pessoa da cooperativa há
apenas os descontos dos custos. (...) O Sistema Cooperativo
Nacional vêm trabalhando assiduamente em defesa desse
adequado tratamento tributário nas mais diversas frentes de
atuação e em prol de todos os ramos do cooperativismo, pois este
é o momento de desmistificar conceitos equivocados desse tipo
societário que é tão relevante para a economia nacional e para a
sociedade.

É entendível que o que se busca não são privilégios, inclusive que


poderia fragilizar o estado, assim como muitas empresas privadas têm
pressionado o governo para abrir mão de parte da arrecadação. Não é isso, o que
173

se busca é parceria junto ao governo para se criar melhores condições de


atuação e consecutivamente promover uma economia mais colaborativa e mais
sustentável.
Ainda como políticas de incentivo e fortalecimento ao cooperativismo,
houve uma ação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
que é o “Programa Brasil Mais Cooperativo”, lançado em 4 de julho do ano de
2019. Foi assinada também a Portaria Nº 129 pela Ministra da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina Corrêa da Costa, com propostas de
apoio ao cooperativismo rural em todo país. Verifica-se que o intuito é oferecer
auxílio especializado, promover intercooperação e formação técnica, como
também proporcionar qualificação de ações de gestão, produção e venda nos
comércios institucionais e privados, isto é, aumentar o ingresso, por cooperativas,
às negociações privadas, como os grupos de cooperação que congregam
pequenos e médios supermercadistas com a finalidade de instituir diferencial
competitivo para os componentes, defendendo o bem-estar e a liberdade das
empresas integrantes, as chamadas redes supermercadistas, e dos comércios
institucionais, como, por exemplo, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e
o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Para que essas ações
aconteçam, é necessária a cooperação de trabalhos com entidades
governamentais e representantes do cooperativismo. O exposto pode ser
percebido na portaria, a qual estabelece a instrução de governo Brasil Mais
Cooperativo, delibera suas orientações, instrumentos de execução, interesses de
gestão, e oferece diversas providências. No seu Art. 1º:

Fica instituído o programa de governo Brasil Mais Cooperativo


tendo por objetivo apoiar o cooperativismo e o associativismo
rurais brasileiros, por meio da adoção, entre outras, das seguintes
medidas destinadas às cooperativas, singulares ou centrais, e às
associações de produtores rurais: I) promoção e fortalecimento da
organização social; II) apoio à intercooperação; III) ações de
formação e de assistência técnicas; IV) qualificação de processos
de gestão; V) organização da produção; VI) fomento e ampliação
da comercialização nos mercados privados e nas compras
governamentais; e VII) acesso aos mercados nacional e
internacional. (PORTARIA Nº 129, DE 4 DE JULHO DE 2019)

As orientações técnicas do programa Brasil Mais Cooperativo estão


presentes no Art. 2º que estabelece:
174

I - a qualificação da gestão e da organização da produção das


cooperativas e associações, preferencialmente as da agricultura
familiar;
II - promoção de intercooperação, por meio da integração,
formação de redes produtivas, beneficiadoras e de
comercialização, ou ainda de intercâmbios de conhecimento e de
experiências entre cooperativas e associações, considerando as
realidades regionais;
III - a ampliação do acesso aos diversos mercados, privado e de
compras governamentais, com prioridade às aquisições de
alimentos da agricultura familiar em compras públicas;
IV - a implantação de ações e de projetos de educação, de
formação e de capacitação em cooperativismo e associativismo
rurais, voltados para os técnicos, dirigentes, associados e
familiares dos associados; e
V - a promoção à internacionalização da produção de
cooperativas, preferencialmente as da agricultura familiar.
(PORTARIA Nº 129, DE 4 DE JULHO DE 2019)

Sobre os objetos de implementação do programa Brasil Mais


Cooperativo estão os de:

I - oferta de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural -


Ater para gestão, produção, comercialização e organização social
das cooperativas e associações;
II - ações e projetos de formação e capacitação técnica que
atendam às necessidades das cooperativas e associações rurais,
priorizando as da agricultura familiar;
III - celebração de termos de fomento, colaboração, acordos de
cooperação, convênios, termos de execução descentralizados,
entre outros instrumentos, realizados com entes governamentais,
ou instituições privadas, voltados para o fortalecimento do
cooperativismo e associativismo; e
IV - articulação de iniciativas de investimentos entre entes
governamentais e representantes do cooperativismo para
otimização dos recursos em prol do cooperativismo e
associativismo rurais. (PORTARIA Nº 129, DE 4 DE JULHO DE
2019)

O programa Brasil Mais Cooperativo é coordenado pela Secretaria de


Agricultura Familiar e Cooperativismo (SAF), através do Departamento de
Cooperativismo e Acesso a Mercados (DECAM), ambos têm o intuito de deliberar
as metas, os resultados e os indicadores a serem obtidos durante o período de
um ano por este programa de governo. E é responsabilidade do SAF proporcionar
a articulação das decisões e atuações as quais abrangem o apoio ao
cooperativismo rural no âmbito do MAPA.
De acordo com a Portaria Nº 129, de 4 de julho de 2019, os custos
para as atividades e projetos desenvolvidos por meio do Brasil Mais Cooperativo
se fazem através de fundos orçamentários da União registrados todos os anos
175

nas estimativas do MAPA, dos órgãos e das entidades participantes do Programa,


ressaltados os limites de movimentação, de comprometimento e de pagamento da
programação orçamentária consignada.
Neste sentido, o programa de governo Brasil Mais Cooperativo pode
potencializar as cooperativas, que são vistas como uma sociedade de importância
para os diversos segmentos produtivos, inclusive para a agricultura familiar que é
um dos principais núcleos de produção de alimentos no Brasil.
O cooperativismo é evidentemente muito importante para o Brasil,
especialmente pela função e ações desenvolvidas, que inclusive podem ser
representadas através dos principais índices obtidos, veja a seguir (fluxograma 5):

Fluxograma 5 – Índices atuais alcançados pelo cooperativismo do Brasil

FONTE: OCB (2018 e 2019), adaptado por Oliveira (2021).

Como se verifica neste fluxograma, o cooperativismo brasileiro tem


demonstrado sua atuação nas mais diversificadas áreas.
176

No ramo da saúde, já está presente em cerca de 85% de todo o


território do Brasil e já tem mais de 250.000 cooperados. Na economia são vários
fatores, mas um muito relevante é a atuação alcançada através das cooperativas
de crédito, principalmente oferecendo crédito e acesso a produtos através de
taxas e juros bem mais baixos do que nos bancos privados. Outro bom exemplo é
o cooperativo agropecuário, que já representa cerca de 11% do PIB agropecuário
do Brasil. Através das cooperativas de eletrificação rural quase 4% da população
do Brasil já obteve acesso a esse serviço.
Através das diversas ações realizadas por meio do cooperativismo se
verifica que o mesmo tem possibilitado uma melhor distribuição de renda, e de
forma justa tem distribuídos esses resultados da produção aos seus respectivos
cooperados. Não menos importante é a atuação do cooperativismo no sentido de
realizar ações socioambientais.
177
178

Inicialmente, são expostas breves considerações e características


referentes ao surgimento e à estruturação do município de Iporá, para tanto,
buscou-se, nesta seção, evidenciar os principais elementos que o constituem.
Acredita-se que a compreensão e a especificação da configuração espacial do
município em questão contribuem significativamente para melhor entender como
se organiza o cooperativismo e como o mesmo influencia no processo de
organização sócio-espacial.
O referido município nasce a partir da influência de diversas situações,
porém, destacam-se duas circunstâncias que se evidenciaram neste processo de
surgimento de Iporá. A primeira refere-se ao fato de que os rios e córregos de
Arraial de Pilões, que ficou conhecido como Distrito do Comércio Velho, ofereciam
muitas riquezas, pois tinham muito ouro e outras pedras preciosas. Essa riqueza,
bastante atrativa, despertou o interesse de muitos garimpeiros e garimpeiras, e
influenciou no processo de ocupação e povoamento do referido distrito (GOMIS,
1998). Muitas pessoas fizeram a opção de viver nesse local, que logo passou a
ser chamado de Itajubá, e posteriormente por município de Iporá. A segunda
circunstância que influenciou na origem do município tem relação com os
interesses políticos de Israel de Amorim e do governador de Goiás, Pedro
Ludovico Teixeira (1951-1955). Na ocasião, o então governador, em meio às
disputas de poderes políticos por Goiás, que se evidencia através da mudança da
capital de Goiás Velho para Goiânia, simultaneamente, buscava promover a
ocupação do território goiano; na mesma condição de interesses políticos,
encontrava-se Israel de Amorim, que procurava liderar o controle de Itajubá. De
tal modo, o bom relacionamento e a conjunção de interesses entre Israel de
Amorim e Pedro Ludovico facilitou o processo de emancipação do município de
Iporá. Salienta-se que pessoas como Mestre Osório27, os coronéis28 Quinca Paes
e Odorico e algumas outras pessoas também foram fundamentais, contribuíram
muito nesse processo emancipatório (GOMIS, 1998; SOUSA, 2015).
O município de Iporá é um dos 5.570 municípios que compõem o
território brasileiro; trata-se de um dos 246 municípios que formam o estado de
Goiás. Foi elevado à condição de município, emancipando-se no ano de 1948, no

27
Mestre Osório Raimundo de Lima era escrivão; foi morador do Distrito de Rio Claro e foi importante
articulador político; também foi quem lavrou a ata de criação do povoado conhecido por Itajubá, que logo
nos anos seguintes se tornou o município de Iporá.
28
Quinca Paes e Odorico eram coronéis, que tinham boa parte das terras onde está situado o município de
Iporá.
179

dia 19 de novembro, pela Lei Estadual nº 249. Nessa ocasião, já tinha um total de
14.043 habitantes e 1.220 eleitores aptos a votar; porém, a instalação do mesmo
só ocorreu no ano de 1949, no dia 01 de janeiro, ocasião em que foi
desmembrado do município de Goiás Velho29. Sequencialmente, nesse mesmo
ano, foi realizada a eleição para definição de quem seria prefeito e também para a
escolha dos vereadores (OLIVEIRA, 2014).
A superfície do município de Iporá tem uma área de 1026 km²,
entretanto, é salutar destacar que nem sempre essa foi à área territorial ocupada
pelo referido município. Até o ano de 1958 havia uma extensão bem maior, que
era de 2.490 km² (IBGE, 2020), como se verifica no mapa 2:

Mapa 2 - Comparativo da área territorial do município de Iporá antes e depois da


perda de território para criação de outros municípios

FONTE: Sistema Estadual de Geoinformação (SIEG, 1984). Organizado por Alves


(2013).

A área territorial sofreu uma significativa diminuição após a sequência


de insucessos e derrotas eleitorais vivenciadas por Israel de Amorim, que,
primeiro, em 1954 não conseguiu se eleger como deputado estadual pelo PSD, e,
em seguida, no ano de 1956, foi derrotado por um candidato muito jovem, de
apenas 22 anos, Manoel Antônio da Silva, da UDN (OLIVEIRA, 2014; SOUSA,

29
Atual Cidade de Goiás.
180

2015). Diante dos fatos citados, evidenciou-se o processo de alteração no sentido


de diminuir o território do município de Iporá.
A nova configuração do município de Iporá ocorreu em função do
descontentamento e da tentativa de manutenção do poder político de Israel de
Amorim, que tinha forte influência política junto ao governo do Estado de Goiás
em exercício, mas também ocorreu em função do processo sistemático de
aumento e emancipação de vários municípios do território brasileiro que
aconteceu devido, especialmente, às políticas de expansão e emancipação dos
municípios promovidas por Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil no período
de 1956 a 1961. Ressalta-se que, quando foi criado, o município de Iporá contava
com extensão territorial de 2.490 km², delimitando-se com os municípios de
Caiapônia, Ivolândia, Fazenda Nova, Goiás Velho (Cidade de Goiás) e também
com Aurilândia (OLIVEIRA, 2014). (Mapa 03)
181

Mapa 3 - Município de Iporá – 1948

FONTE: Sistema Estadual de Informação Geográfica (SEIG, 2000). Organizado por Alves
(2019)

Essa configuração territorial verificada nesse referido mapa, mudou


bastante após a desintegração de parte do território do município de Iporá para
criação de novos municípios. Assim, o referido município apresenta no contexto
atual a seguinte configuração (mapa 4): na parte Sul, limita-se com dois
municípios: Ivolândia e Amorinópolis; a Leste, limita-se com os municípios de
182

Moiporá e Ivolândia; ao Norte, limita-se com três municípios: Jaupaci, Israelândia


e Diorama.

Mapa 4 – Limites territoriais do município de Iporá - 2019

FONTE: Sistema Estadual de Informação Geográfica (SEIG, 2000). Organizado por Alves
(2019)
183

Iporá obtêm centralidade regional, não somente em relação à


localização territorial como se verifica no mapa 04, mas especialmente em relação
aos órgãos públicos e instituições instaladas no município, que oferecem
relevantes serviços à população.
Na relação proporcional entre os municípios limítrofes, verifica-se que
Iporá tem 31.499 habitantes e uma densidade demográfica de 30,47 hab./km, já
Arenópolis tem uma área total de 1.074 km², conta com uma população de 3.011
habitantes e a densidade demográfica é de 2,8 hab./km, o município de Diorama
tem uma Área total de 687 km², conta com uma população de 2.479 habitantes e
a densidade demográfica é de 3,61 hab./km, Jaupaci tem uma área total de
527 km², conta com uma população de 2.860 habitantes e a densidade
demográfica é de 5,69 hab./km, Israelândia tem uma área total de 577 km², conta
com uma população de 2.910 habitantes e a densidade demográfica é de
5 hab./km, Moiporá tem uma área total de 454 km² , conta com uma população de
1.501 habitantes e a densidade demográfica é de 3,83 hab./km, Ivolândia tem
uma área total de 1.262 km² , conta com uma população de 2.663 habitantes e a
densidade demográfica é de 2,1 hab./km e o município de Amorinópolis tem uma
área total de 408 km² , conta com uma população de 3.126 habitantes e a
densidade demográfica é de 7,7 hab./km (IBGE, 2010, 2019 e 2020). Como
verificado, em relação aos municípios limítrofes, Iporá não é o maior em extensão
territorial, porém é o que tem maior número de habitantes e também a mais alta
densidade demográfica da região. Proporcionalmente em números gerais o total
de habitantes da região é de 50.049, de tal maneira que Iporá tem 63% da
população regional.
A microrregião onde se localiza o município de Iporá é de clima
tropical, semiúmido, com duas estações bem definidas: uma é caracterizada pela
seca e refere-se ao outono e inverno, e ocorre entre os meses de abril a
setembro, a outra é úmida, relativa à primavera e ao verão, e ocorre entre os
meses de abril a setembro. Já as chuvas são mais comuns entre os meses de
outubro a março, mas a maior intensidade geralmente ocorre entre os meses de
novembro a janeiro. Quanto à temperatura, conta com uma média variável entre
18 °C a 34 °C (ALVES, 2011).
O município de Iporá tem temperatura média elevada se verificada a
média anual; a amplitude térmica tem média anual de 34 °C. Já a localização de
Iporá é a seguinte: A microrregião geográfica é a de Iporá, situada na
mesorregião Centro Goiano e está entre 16º 26‟ Latitude Sul e 51º 03‟ Longitude
184

Oeste. Conta com o Ribeirão Santa Marta e o Ribeirão Santo Antônio, com o
córrego Tamanduá e vários outros de menor porte. Ainda é banhado por dois
importantes rios, o Rio Caiapó e o Rio Claro. O município está localizado a 216
km de Goiânia (capital do Estado de Goiás) e tem como principal via de acesso à
capital a GO-060, tendo ainda outras significativas vias de acesso como: GO-174,
GO-221 e GO-320 (OLIVEIRA, 2014).
No mapa 5 são apresentadas as principais rodovias de acesso ao
município de Iporá em relação ao Estado de Goiás.
185

Mapa 5 - Rodovias que incidem em Iporá

FONTE: Sistema Estadual de Informação Geográfica (SEIG, 2000). Organizado por Alves
(2019)

Ao se verificar o mapa 5, percebe-se que Iporá conta com significativas


vias de acesso rodoviário, situação que coloca o município em condição
privilegiada em relação aos municípios limítrofes, pois, através das rodovias que
186

passam por Iporá, é possível obter importante acesso a várias direções do Estado
de Goiás, e consequentemente obter acesso a vários outros municípios situados
em outras regiões.

6.1 Caracterização demográfica do Município de Iporá

Quanto à demografia, pode-se destacar que Iporá contava com 31.274


habitantes (IBGE, 2010), mas a estimativa atual disponibilizada pelo IBGE
referente ao ano de 2018 é de que a população teve um leve aumento, atingindo
31.563 pessoas. Já a densidade demográfica atingiu 30,47 hab/Km² (Figura 8).

Figura 8 – Distribuição da população do Estado de Goiás e os atuais dados


demográficos do município de Iporá - 2020

FONTE: IBGE, 2010, 2018 e 2020; adaptado por Oliveira (2021).

Ao analisar a Figura 8, pode-se observar que o município de Iporá se


encontrada classificado entre os municípios de maior quantidade de população do
Estado de Goiás, entre os 246 municípios, a posição ocupada é a 34ª colocação,
e, com relação à microrregião, dentre os 10 municípios, a 1ª colocação fica para o
município de Iporá (IBGE, 2021). Esse dado populacional confirma a atração que
187

o mesmo obtêm em relação à microrregião, são números expressivos quando


comparado aos demais municípios. Para que o referido município chegasse a
essa condição atual de concentração populacional em relação aos demais
municípios citados, se verificou que tal fato decorreu de um processo lento, que
tem fatores diversos, que atuaram como importantes influenciadores, assim como
verificaremos a seguir nessa seção.
O processo de expropriação das pessoas que viviam no campo
também se evidenciou no município de Iporá, especialmente no período
compreendido entre os anos 1960 e 2000, e, contrário a esse fato, nesse mesmo
período, a zona urbana teve um expressivo aumento populacional. No caso de
Iporá, os principais fatores que contribuíram para esse tipo de ocorrência, pode-se
destacar o fato de que Iporá exerceu um papel atrativo junto aos moradores dos
municípios e distritos circunvizinhos, além ainda de atrair muitas pessoas de
outros estados que acreditavam na possibilidade de melhorar a vida ao virem
morar no município; cita-se como atrativos: A pavimentação asfáltica da Rodovia
GO-060, a localização que possibilitava acesso aos municípios limítrofes e
principalmente a chegada da energia elétrica, fato que marcou bastante, pois foi
o primeiro município dentre os citadas a receber esse benefício, contou também
com distribuição de terras e lotes comandada por Israel de Amorim, como já
exposto anteriormente. De acordo com ex-prefeito30 que exerceu mandato dentro
do período mencionado “(...) os dois marcos que mais influenciaram para
aumento da população e para Iporá se tornar mais atrativo foi a GO-060 e a
energia elétrica; dois principais benefícios que marcou a história”.
No Gráfico 6 é possível verificar essa alteração do número de
habitantes da zona urbana e também da zona rural e consecutivamente os
períodos de maior aumento populacional.

30
Segundo o entrevistado ele foi um dos prefeitos de Iporá que vivenciou o momento de
maior aumento da população do município e foi um dos articuladores para receber os
benefícios citados como importantes para Iporá atrair moradores de outros municípios.
Entrevista concedida em 05 de fevereiro de 2021.
188

Gráfico 6 – Desenvolvimento demográfico do município de Iporá

FONTE: IBGE (1940, 1960, 1970, 1980,1991, 2000, 2010); adaptado por Oliveira (2018).

De acordo com os dados do gráfico 6, a população da zona rural teve


um decréscimo de mais de 80% entre o período de 1960 e 2010. Evidencia-se
ainda o aumento populacional no município de Iporá principalmente no período
compreendido entre 1970 a 1980. Salienta-se que a microrregião de Iporá
apresenta baixos índices de ocupação populacional, pois com exceção de Iporá
os demais municípios, nenhum deles ultrapassou 10.000 habitantes; assim Iporá,
sempre apresentou diferença acentuada em relação ao número de habitantes se
comparado com os demais municípios da microrregião.
Desde o surgimento do município, o número de habitantes teve baixos
índices de crescimento, sempre apresentou crescimento não muito expressivo,
com exceção dos anos de 1970 a 1991, que tiveram o maior aumento
populacional se comparado a qualquer outro período existencial do município;
nesse período, o percentual de ocupação foi bastante elevado, aumento em
quase 58% a população.
Soma-se aos exemplos citados como justificativa para essa
significativa taxa de crescimento ocorrida especificamente nesse período, o fato
de que ocorreu um intenso processo migratório das pessoas que viviam na zona
189

rural e foram morar na zona urbana. De acordo com um dos moradores 31 de Iporá
que vive no município há quase 60 anos “(...) foi nesse período que a gente via
caminhões de mudança todos os dias chegando, o povo das cidades vizinhas
queria viver melhor, queria mais conforto e ter um emprego. Eles vinham da
cidade, mas a maioria vinha da roça”. Assim se verifica que muitas pessoas que
viviam na zona rural e principalmente em municípios vizinhos, se mudaram para a
zona urbana, mas, ao invés de fazerem esse processo de forma interna ao
município, fizeram a migração intermunicipal rural-urbano, ou seja, saída da zona
rural de seu município e foi para a zona urbana do outro município, no caso em
questão o município de Iporá. Mas sem esse tipo de especificação entre zona
urbana e rural pode-se dizer que o principal motivo então se deve ao fato de que
muitas pessoas deixaram de morar nas cidades circunvizinhas para irem morar
em Iporá, pois acreditavam que teriam melhores possibilidades de trabalhar e
consecutivamente obter uma vida melhor (OLIVEIRA, 2019). Verifique a seguir
(gráfico 7) os gráficos que detalham esse movimento populacional entre o período
de 1970-2020.

Gráfico 7 – Dados demográficos 1970 a 2020

31
Mudou-se para Iporá no ano de 1961, veio do município de Araguari, estado de Minas
Gerais; na ocasião veio acompanhado de sua esposa já falecida e seus nove filhos.
Entrevista concedida em 08 de março de 2021.
190

Demografia (estimativa) - 2020


Amorinópolis Diorama Córrego Fazenda Jaupaci Novo Moiporá Israelândia Ivolândia Iporá
do Ouro Nova Brasil
3.185 2.689 2.364 5.722 2.898 2.985 1.557 2.815 2.406 31.563

FONTE: IBGE (1970, 1980, 1991, 2000, 2010, 2018, 2019 e 2020); organizado por
Oliveira (2021) e adaptado dos dados do Instituto Mauro Borges (2018) e de Chagas
(2014).

Como se verifica nesse gráfico 7, com relação à demografia no ano de


1970, o município de Iporá já tinha o maior número de habitantes na microrregião.
Seguido do município de Córrego do Ouro e, consecutivamente, do município de
Israelândia. Esse último município era significativamente atrativo, especialmente
em função da grande quantidade de minerais preciosos, como o ouro.
Além dos fatores já relacionados se constata um deslocamento
regional, que provocou o aumento populacional do município de Iporá,
principalmente quando se trata do período entre 1970 e 1980; pode-se apresentar
como justificativa que a prefeitura doava lotes e pequenas parcelas de terras, e
191

ainda disponibilizava caminhões para buscar a mudança de pessoas que


quisessem se mudar para Iporá. Para um dos ex-prefeitos de Iporá “era
disponibilizado o caminhão para puxar a mudança porque se entendia que o
aumento populacional daria condições de mais dinamicidade ao município de
Iporá”, o mesmo acrescentou que “(...) a prefeitura tinha condições de fazer
doações de lotes urbanos, pois tinha uma grande quantidade de terrenos, e isso
ajudava muito aumentar as expectativas para se viver em Iporá”. Essa oferta ou
gentileza era bastante atrativa para muitas pessoas que moravam em municípios
vizinhos (CHAGAS, 2014; OLIVEIRA, 2014; SOUSA, 2015).
Sousa (2015, p. 105) completa essas justificativas expostas
acrescentando um elemento muito importante, que foi relevante para o aumento
da população; foram os incentivos e apoio do governo estadual para aumentar a
produção, o mesmo cita que: “(...) no ano de 1973, no Governo Estadual de
Leonino Caiado, foi criada a empresa Goiás Rural”, a mesma, por conseguinte
objetiva criar condições para que o produtor pudesse beneficiar as suas terras por
um custo mais baixo, obviamente obtendo melhor lucratividade. Sousa (2015, p.
107) ainda acrescenta que “Iporá foi um dos primeiros municípios a contar com
uma unidade do Goiás Rural. (...) os programas de incentivo limitaram-se com os
financiamentos do Banco do Brasil para o custeio agrícola e o desmatamento feito
pelos tratores do Goiás Rural”. Esses incentivos foram importantes para
especialmente aumentar a produção de grãos e para consequentemente atrair
novos moradores para Iporá.
A energia elétrica também foi um fator de grande atração para o
aumento da população, pois foi justamente nesse período que ocorreu a
instalação da rede elétrica em Iporá. De acordo com ex-prefeito32, que inclusive
teve dois mandatos, “a chegada da energia elétrica foi muito comemorada,
deixando muitos moradores eufóricos, e ainda atraiu muitos habitantes dos
municípios vizinhos, especialmente porque os referidos municípios não tinham
energia elétrica”. Segundo o ex-prefeito, a construção da GO-060, rodovia
responsável por interligar Iporá a Goiânia (capital do estado), foi outro fator muito
importante para o acelerado aumento populacional dessa década.
A partir do ano de 2000, o município de Iporá continuou tendo aumento
populacional, porém, esse crescimento foi bem pequeno, quase se estagnando.

32
Prefeito em dois mandatos não consecutivos. Entrevista concedida em 03 de maio de
1999.
192

Nesse mesmo período, a maioria das cidades vizinhas também apresentou


redução no número de habitantes. De acordo com o censo do IBGE (1996),
constatou-se um aumento de 4,7% em relação ao censo anterior de 1996. Na
sequência, no censo de 2000, a taxa de aumento foi de 0,6%, em 2007 voltou a
cair numa média de -0,7% e no censo de 2010 teve acréscimo novamente de
0,6%. De acordo com estimativas atuais, o número de habitantes continua
aumentado, pois, como constatado no Censo de 2010, Iporá tinha 31.274
habitantes e em 2018 se registrou acréscimo populacional, pois, conforme
estimativa do IBGE, o número de habitantes aumentou para 31.563.
Em entrevista com um dos vereadores33 do atual legislatura, tem três
importantes explicações para o aumento da população a volta do aumento da
população de Iporá nessa última década, o primeira refere-se “na educação
obtivemos a vinda do IF Goiano e também uma escola militar para atender alunos
do ensino médio e fundamental”. Segundo o mesmo, na educação ainda teve “a
UEG criou um novo curso, o de Direito e a FAI trouxe vários novos curso de
graduação na área da saúde”. A segunda explicação é referente ao
cooperativismo “as cooperativas daqui de Iporá se firmaram e estão fazendo um
excelente trabalho, inclusive de fixar o homem no campo, têm até jovens voltando
para a zona rural”, acrescentou ainda “além das outras cooperativas como
SICOB, SICRED, UNIMED, COMIGO e as outras, elas estão ajudando muito a
dinamizar o comércio e de criar condições de investir para aumentar a produção”.
E na terceira explicação é referente à expansão urbana, segundo mesmo “foi
aprovado o loteamento vários novos terrenos, só nesse período já chega a quase
10 novos loteamentos”, acrescentou ainda que “as imobiliárias e os devidos
proprietários criaram condições de parcelamento para aquisição dos lotes,
parcelado em até 200 meses, isso chamou atenção de muitas pessoas de
municípios vizinhos para vir morar em Iporá” e por fim o mesmo disse que “(...)
aqui de acordo com último levantamento que minha assessoria de gabinete fez,
tem mais de 90 construtores investidores; eles investem na construção da casa
própria para financiar pela CAIXA, e isso é o ótimo atrativo também”.
No município de Iporá não tem grandes indústrias e também não conta
com nenhum outro segmento que poderia servir como grande gerador de
empregos. Porém é notável que o comércio local, a produção por meio da
agricultura familiar, a articulação cooperativa, os segmentos de educação e

33
Vereador no mandato de 2016-2020 e reeleito para o mandato de 2021-2024.
Entrevista concedida em 14 de janeiro de 2021.
193

saúde, e, sobretudo a prefeitura e os diversificados órgãos públicos que oferecem


atendimento regional, têm sido importante como geradores de empregos.
Ressalta-se que os novos postos de trabalho não são em grande quantidade,
porém, são existentes com relativa frequência (Gráfico 8).

Gráfico 8 – Evolução do emprego em Iporá - 2018

FONTE: IMB (2018)

De acordo com os dados do gráfico 8, se constata que não houve


decréscimo em todo esse período verificado, entre os anos de 1999 a 2018. Em
1999 se registrou um total de 1.873, assim desse período para o ano de 2018, já
foi registrado um total de 4.947. Esses dados evidenciam que houve geração de
empregos por meio das instituições citadas anteriormente. Também são
importantes como uma das justificativas o fato de Iporá ser concebido como um
município que centraliza os serviços na microrregião. Logo a seguir se verificam
outros fatos e dados que melhor justificam e aprofundam essa afirmação.
Como se verificou muitas são as justificativas para esse suave
aumento da população de Iporá em período recente, nessa última década. Ao
analisar ainda essas as atividades citadas, acredita-se que elas tenham sido
importantes para que o município não tivesse, portanto decréscimo populacional,
uma vez que o crescimento observado é inferior ao crescimento vegetativo médio
no estado. Verifica-se também que existe contribuição do cooperativismo; que
inclusive tem sido reconhecido pelos gestores municipais e por lideranças de
diversos movimentos sociais. Esse reconhecimento é importante porque viabiliza
194

a ampliação dos negócios realizados por meio das cooperativas, inclusive


possibilitando a aceitação da produção realizada pelos cooperados.

6.2 Contextualizando alguns elementos do processo de estruturação de


Iporá

O município de Iporá tem parte da malha urbana relativamente bem


estruturada, especialmente a região do setor Central. Inicialmente, Israel de
Amorim contribuiu diretamente no processo de planejamento de ocupação tanto
da zona rural, quanto da zona urbana. O mesmo foi um dos responsáveis por
organizar o processo de demarcação de pequenas parcelas de terras na zona
rural, de planejamento e de loteamento da zona urbana (SOUSA, 2015). A seguir,
pode-se verificar na Figura 9, a planta do município de Iporá, feita em 1949, e
também a fotografia aérea do ano de 2014 da região Central, que corresponde à
referida planta.

Figura 9 - Planta municipal de Iporá no ano de 1949 e imagem fotografada em 2014


de parte da área Central que corresponde a referida planta
195

FONTE: Gomis (1998); Alves (2014); Oeste Goiano (2014).

Ao verificar essa figura é possível constatar ao comparar as duas


imagens que o traçado original projetado no ano de 1949 foi mantido. O processo
de ocupação do município de Iporá tem dois fatores bastante interessantes. O
primeiro deles refere-se ao fato de que alguns pesquisadores, como Gomis
(1998), afirmam que os municípios de Uberlândia-MG e Goiânia-GO serviram de
modelo para se fazer o traçado urbano de Iporá. Divergentes dessa informação,
existem alguns pesquisadores, como Sousa (2015), que dizem que o traçado
urbano de Iporá pode ter tido como modelo o município de Aquidauana-MS. Já
com relação à distribuição de terras, faz-se relevante dizer que Israel de Amorim,
no ano de 1926, teve um breve contato com Luís Carlos Prestes34, que acabou
por influenciar no processo de planejamento e distribuição de terras; cada parcela
de terra tinha em média de 10 a 20 alqueires, fato que possibilitou a Israel de
Amorim promover uma espécie de reforma agrária (OLIVEIRA, 2014; CHAGAS,
2014).

34
O mesmo ficou conhecido pelo seu posicionamento ideológico, pois era um militante político muito
influente e defensor da implantação do comunismo. Registra-se ainda que em 1920 ficou muito conhecido no
Brasil por liderar a Coluna Prestes.
196

Verifica-se, ainda nessa Figura 9, que o Setor Central é estruturado


com ruas largas e bem arborizadas. As ruas possibilitam boa circulação de carros
e pedestres, porém, deixam a desejar com relação à falta de ciclovias e quanto à
acessibilidade para circulação de pessoas com deficiência; a maioria das
calçadas são irregulares e carecem de sinalização. O Setor Central também é
desprovido de estacionamentos; durante os dias que compreendem de segunda-
feira à sexta-feira, os motoristas encontram muitas dificuldades para estacionarem
os veículos. Um fator significativo também é a falta de semáforos, pois existem
apenas seis pontos de semáforos em todo o perímetro urbano.
O município de Iporá tem pouquíssimas praças e as que existem não
oferecem boas condições de uso. A maioria delas encontra-se bastante
deteriorada e com carência de zelo. A maior praça, conhecida por Praça do
Trabalhador, é utilizada para estacionar carros, fato que dificulta a presença de
pedestres. O município de Iporá não conta com o serviço de transporte coletivo, o
que dificulta a locomoção e a circulação de pessoas no perímetro urbano,
especialmente dos moradores de bairros mais distantes, que ficam praticamente
em condições de isolamento, e só conseguem superar questões como essa
através do uso de transporte particular, comumente praticado por mototáxi e táxi
convencional.
Outro agravante com relação à questão de infraestrutura é que em
Iporá boa parte das ruas não têm pavimentação, principalmente os bairros e
setores mais afastados. Setores como Vila Brasília, Jardim Novo Horizonte II e I
são os locais que apresentam menor quantidade de asfalto. Já com relação às
casas, constata-se que elas possuem variados modelos e estruturas bastantes
diferentes umas das outras; o perímetro urbano se compõe de forma variada com
casas simples, velhas e também casas luxuosas. Há apenas um condomínio
fechado em fase inicial. A maioria das casas foi construída no modelo de casa
tipo americana, são as conhecidas casas de duas águas, que podem ser
construídas por um custo mais baixo, especialmente em função da simplicidade e
dos poucos detalhes.

6.3 Estrutura Funcional e Atrativos para Promover Atendimento Regional

A estrutura administrativa, comercial e do setor de serviços em geral


tornou-se fundamental para a manutenção do município de Iporá e para atender
às pessoas de municípios vizinhos. O município de Iporá se localiza na região do
197

Oeste Goiano, e é um dos mais atrativos por ter uma significativa quantidade de
hospitais, escolas, universidades, lojas, comércios, atividades culturais, dentre
outros. Conjecturas como as citadas remetem ao entendimento de que existe uma
relação intensa entre Iporá e os municípios de seu entorno; a referida relação
permite a Iporá a condição de centralidade, que é importante para a atuação
cooperativista, especialmente no sentido de acessar os municípios da referida
região.
Como já especificado, o município de Iporá ocupa certa centralidade
microrregional. Fato que também pode ser evidenciado a partir de fundamentação
embasada no IBGE, instituto que realizou no ano de 2007 um estudo sobre as
regiões de influência dos municípios brasileiros, estudo que ficou conhecido como
REGIC-2007, e que possibilita uma profunda análise sobre a hierarquia urbana
brasileira. Levou-se em conta variados fatores, dentre os quais se cita o nível de
estrutura hierárquica dos centros urbanos. Foram delimitados quatro níveis de
hierarquia urbana, com até três subníveis para cada, ficando assim definido:

Fluxograma 6 - Hierarquia urbana do Brasil segundo o IBGE

FONTE: Oliveira (2020), adaptado dos dados do IBGE (2007).


198

A partir da definição da hierarquia dos centros urbanos foi possível


também delimitar as regiões consideradas de influência. Essa definição permite
melhor identificar quais são as metrópoles brasileiras, as capitais regionais e o
nível de influência e de alcance das mesmas. Para melhor entender como foi
feita a classificação de cada uma, foi realizada uma criteriosa análise dos
serviços, dos fluxos de bens e dos mecanismos de gestão e se considerou a
oferta de serviços e equipamentos capazes de influenciar ou atrair pessoas de
uma localidade para outra. Um estudo como esse é bastante importante para
ajudar no planejamento e/ou na definição para implantação de uma empresa ou
de uma filial, de universidade ou de um hospital, de serviços públicos, dentre
outros.
O REGIC-2007 realizado pelo IBGE permitiu constatar que o município
de Iporá se classifica entre Centro Sub Regional B e Centro de Zona 35 A, estando
dessa forma ligado à metrópole, que é o município de Goiânia. Assim, Iporá ficou
classificado como centro sub-regional B e Centro de zona A, de modo que obtêm
influência sobre alguns municípios, que foram classificados como Centro Local,
dentre os quais cita-se (ver fluxograma 7):

35
O Brasil tem 556 cidades que são classificadas como Centro de Zona. Salienta-se que
elas têm menor porte de atuação, restringindo-se apenas a sua área imediata.
199

Fluxograma 7 - Centralidade do município de Iporá segundo o REGIC-2007

FONTE: Oliveira (2020), adaptado do IBGE (2007).

Como se verifica neste fluxograma, o município de Iporá tem


significativa influência sobre os municípios circunvizinhos, especialmente em
função da oferta de bens e serviços que os mesmos não possuem. Os órgãos
públicos que atendem no formato regional foram relevantes para que o município
de Iporá obtivesse a classificação já citada.
A seguir, apresenta-se brevemente um levantamento de órgãos e
instituições que ofertam serviços à população de Iporá e municípios
circunvizinhos. Destacam-se, inicialmente, os órgãos públicos de caráter regional
(Figura 10):
200

Figura 10 - Órgãos Regionais instalados em Iporá

FONTE: Oliveira (2020).

Estes órgãos verificados nessa Figura têm muita importância para a


realização do atendimento e da prestação de serviços à população; trata-se de
órgãos que prestam diariamente uma alta demanda de serviços aos populares da
região, buscam atender a necessidades diversas, tendo, portanto, significativa
relevância para a garantia de bem-estar e melhoria na vida da população por
meio dos serviços realizados. Verificou-se in loco através de visita realizada na
Regional de Saúde Oeste I, no NTE e na Coordenação Regional de Educação de
Iporá, que boa parte dos órgãos regionais é relevante no processo de execução
de muitas políticas públicas.
Veja na figura 11 a imagem de quatro desses órgãos e entidades de
serviços públicos de caráter regional:
201

Figura 11 – Imagens dos prédios de alguns órgãos públicos de caráter regional

FONTE: Rosa (2017); Oeste Goiano (2016). Organizado por Oliveira (2019).

Observa-se nessa Figura as fachadas do Vapt Vupt, da Previdência


Social (INSS), o pátio do Quartel da Polícia Militar e a fachada da OAB (Subseção
de Iporá). Ressalta-se que as referidas instituições desenvolvem um trabalho de
atendimento regional. Os prédios destacados nessa imagem são próprios dessas
instituições, com exceção do prédio do Vapt Vupt, que é alugado pela Prefeitura
Municipal de Iporá.
A seguir (figura 12), são apresentadas as instituições de caráter
cooperativo: Cooperativa Mista da Agricultura Familiar de Iporá e Região
(COOMAFIR); Cooperativa Mista da Agricultura Familiar da Região de Iporá
(COOPERCOISAS); Cooperativa dos Produtores de Leite (COOPROL);
Cooperativa de Crédito Rural do Sudoeste Goiano (SICOOB); Sistema de Crédito
Cooperativo (SICRED); Cooperativa de Transporte Escolar (COOPERTRÁS);
Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (COMIGO)
e Cooperativa de Trabalho Médico (UNIMED Oeste GO). Na Figura a seguir são
apresentadas algumas dessas cooperativas:
202

Figura 12 – Imagens referentes às Cooperativas de Iporá

FONTE: Oeste Goiano (2015, 2018), Arquivo prefeitura de Iporá (2018 e 2019);
Organizado por Oliveira (2021).

Evidencia-se, por meio das imagens, a exposição de alguns produtos


para comercialização, oriundos de cooperados da COOPERCOISAS. Também se
verifica nessa imagem a ocorrência de uma reunião no espaço interno da
COOPERCOISAS. Seguidamente, há a imagem de um micro-ônibus de um
cooperado da COOPERTRÁS, após se confere a fachada do SICOOB e do
SICREDI, que são estabelecimentos alugados, cujos prédios foram construídos
com fins de atendimento às necessidades de funcionamento dos mesmos.
O município de Iporá tem se tornando uma importante referência, como
município cooperativista do interior de Goiás; tal referência se deve ao fato de
que, tanto as cooperativas internas como também as cooperativas externas têm
conseguindo desenvolver um trabalho de envolvimento junto à comunidade. São
várias ações que ocorrem no sentido de atrair novos cooperados e de aproximar o
cooperativismo da comunidade. Através das cooperativas externas36 tem sido
explicitado que por meio das mesmas é possível fazer um atendimento
diferenciado, no formato mais aproximado e de mais valorização dos clientes. Já
nas cooperativas internas se destacam o trabalho de orientação e
acompanhamento prático aos produtores, especialmente da agricultura familiar.

36
De caráter estadual e nacional que vem de outros munícipios para atuar em Iporá.
203

Tais situações especificadas têm servido como importante referência


para a população da microrregião, inclusive tem incentivado a realização de
atividades e organizações similares. Salienta-se que na seção a seguir vamos
melhor abordar sobre o cooperativismo do município de Iporá.
As instituições de saúde também têm aumentado de forma acelerada no
município de Iporá, especialmente as clínicas especializadas. Relevante destacar
que entre os municípios limítrofes territorialmente somente Iporá conta com
hospitais regionais de caráter particular. Dentre todas as instituições, destacam-
se: Hospital Municipal de Iporá; Hospital São Paulo; Hospital Evangélico; Hospital
Cristo Redentor; Hemocentro; UPA; Laboratório Hemoclin; SAMU; Laboratório Bio
Análise; Laboratório Nucleolab; Laboratório Nossa Senhora Auxiliadora; Clínica
Amparo Saúde; Clínica Cardioimagem; CSI; Clínica da Saúde de Iporá; Clínica
Espaço Vida; Policlínica Iporá Ltda; Mobilize Fisioterapia; Plenitude; O Espaço da
Saúde; Clínica Olhos Psicotécnico; Núcleo Odontológico; Clínica Reabilitar;
Odonthos Iporá; Climed; Ortopress Clínica Med. e Odontologia; Clínica Revitalize
Estética; Vittore; IEO; Instituto de Estética e Odontologia; Clínica Art Dent;
ReVitalize; Clínica Victória; Banco de Sangue; Clínica de Hemodiálise
NEFROCENTER.
Verificou-se em visita realizada a sete estabelecimentos de saúde entre
os citados, que os mesmos não se organizam através de nenhuma cooperativa no
atual momento, mas que já existe a intenção. Notou-se ainda que muitos desses
estabelecimentos fazem atendimento por meio de parceria com cooperativas,
como a cooperativa médica UNIMED; além ainda de utilizar os serviços do Sicredi
e o Sicoob.
Salienta-se que esses segmentos de saúde voltados para a área
farmacêutica e odontológica já realizam frequentemente algumas atividades
coletivas no formato regional; dentre as atividades, um dos proprietários37 dos
estabelecimentos visitados destacou a realização de até duas atividades anuais
de formação, celebração e diálogo. Um dos farmacêuticos38 entrevistados disse
que “agora só falta caminhar para algo de cunho institucionalizado como o
cooperativismo”. Acrescentou ainda que já têm sido realizadas algumas reuniões
que tem pautado essa questão, “(...) muitos proprietárias de clínicas e farmácias
de Iporá nesses últimos anos acabaram se filiando em algumas redes, e os
37
Bioquímico e farmacêutico; é sócio de uma farmácia e de um laboratório de análise clínica. Entrevista
concedida em 10 de agosto de 2019.
38
Proprietário de duas farmácias, sendo uma em Iporá e outra em município limítrofe. Entrevista concedida
em 09 de agosto de 2019.
204

resultados têm sido satisfatórios”, se o trabalho e salientou ainda que “se a


parceria com essas redes tem dado certo, imagina se a gente conseguir criar a
nossa rede através de uma cooperativa, e melhor ainda se for a nível regional”.
Através dessa entrevista verificamos que existem muitos trabalhadores
locais ligados ao ramo de saúde, que com o tempo acabaram virando pequenos
empresários, adquirindo sociedade em empresas que já trabalhavam, e ou
mesmo alguns desses comprando inclusive a empresa que trabalhava. De acordo
com esse entrevistado, os pequenos empresários têm mais o perfil e interesse em
cooperar, apresentando pensamento de forma menos individualista; muitos deles
acreditam que através do cooperativismo é possível obter mais força de
negociação junto aos gestores da região, outro bom motivo é o de comprar
coletivamente e ainda poder fazer um marketing mais colaborativo e ampliado a
fim de atender todos os cooperados.
A seguir, na Figura 13 se verifica a imagem dos quatro hospitais de
Iporá:

Figura 13 – Fachada de hospitais do município de Iporá

FONTE: Oeste Goiano (2015); organizado por Oliveira (2021).

O segmento voltado para a área da saúde é muito importante para a


economia do município de Iporá e, obviamente, é relevante para atender os
205

pacientes da cidade e da região. Porém, esse atendimento não se restringe


somente às pessoas da região, mas, também, às pessoas de outros estados. O
município conta com boas clínicas médicas e com hospitais que oferecem uma
boa estrutura para atendimento, mas há algumas deficiências, muitas em função
da falta de investimento e outras em função de questões burocráticas. Em visita
ao proprietário39 de um desses hospitais, entrevistamos o mesmo, ele disse que:
“o sistema de saúde é muito burocrático, e a preocupação de quem está no poder
nem sempre é de zelar pela vida dos pacientes, mas sim em controlar ou
manipular para que algumas poucas pessoas ganhe muito dinheiro”; e explicou
que muitos serviços deixam de ser ofertados no interior porque existe muita
corrupção nesse ramo e, de tal maneira, muito políticos são financiados por
grandes empresários, explicou também que “eles controlam a regulação de
alguns serviços de saúde que temos plenas condições de ofertar; assim a oferta
ocorre em pequena escala e o valor dos procedimentos fica elevando”.
Ao analisar a área da saúde de Iporá, confirmou-se que existe
quantidade significativa de instituições na área da saúde e que elas contribuem
para diminuir o fluxo de pessoas que procuram o acesso à saúde ou a
tratamentos em Goiânia. Porém, nem sempre é possível atender a todas as
especialidades e necessidades na rede de saúde de Iporá, por não haver médicos
especializados em algumas áreas e por não se oferecer diversos serviços
oriundos desse ramo.
Através de pesquisa in loco verificamos que o Hospital Evangélico e o
Hospital Cristo Redentor contam cada um deles com mais de quinze médicos, o
hospital São Paulo tem disponível para atendimento mais de dez médicos, a
Policlínica com mais cinco médicos, e o hospital Municipal, juntamente com a
UPA contam com quase 15 médicos.
Mas verificamos que mesmo tendo essa quantidade de médicos nem
todas as especialidades médicas são ofertadas; averiguou-se também que
nenhum desses hospitais têm uma UTI, o que faz com que qualquer pessoa que
necessite desse tipo de serviço tenha que se deslocar de Iporá para outros
municípios, especialmente para Goiânia; de acordo com o proprietário do Hospital
Cristo Redentor esse hospital não tem uma UTI em função da dificuldade de
regulamentação e dos altos custos de manutenção, mas informou que há uma
Sala Vermelha com capacidade para atendimento de até quatro pacientes, disse

39
Proprietário de um dos maiores hospitais da microrregião; o mesmo vendeu algumas propriedades rurais
para investir no referido hospital. Entrevista concedida em 23 de março de 2020.
206

que a mesma tem a estrutura de uma UTI. E que para sanar definitivamente a
necessidade de uma UTI o hospital fez uma parceria com uma UTI no município
de São Luís de Montes Belos.
Com relação à atuação religiosa, a mesma é bastante expressiva na
vida da população de Iporá e dos demais municípios circunvizinhos. Muitas
pessoas participam de igrejas diversas, com intensa devoção. Algumas igrejas do
município de Iporá realizam eventos de grande porte, com muito potencial de
mobilização e junção de pessoas. Um exemplo disso é a Romaria de Nossa
Senhora Auxiliadora, que tradicionalmente ocorre sob a responsabilidade de
festeiros, famílias romeiras e grupos de pastorais. Num total de trinta noites é
celebrada essa devoção Mariana, em que se reza o terço e, em seguida, têm-se
leilões de “prendas” doadas pelos participantes. Comumente, participam mais de
mil pessoas por noite. Outro exemplo é a Assembleia de Deus de Iporá, que
realiza o Encontro da União de Mocidades das Assembleias de Deus
(UMADEGO). Esse evento reúne durante o período de carnaval cerca de 3.000
pessoas, dentre os mesmo a maioria são jovens, que vêm de mais de vinte e
cinco municípios da região do Oeste Goiano. A Figura 14 traz uma amostra de
alguns prédios e/ou templos religiosos e atividades correlatas.

Figura 14 – Imagens de igrejas e evento religioso

FONTE: Oeste Goiano (2015, 2018), organizado por Oliveira (2021).


207

Verifica-se, nessa Figura, a matriz da Paróquia Nossa Senhora


Auxiliadora; ao lado, uma imagem de uma das noites de Romaria. Na sequência,
vê-se o croqui da nova sede da Igreja Assembleia de Deus. De acordo com o
pastor presidente do campo das Assembleias de Deus, Ataul Alves Rosa, essa
será a Nave do templo, que servirá inclusive como cartão postal do município;
trata-se de um prédio com três pisos, que terá aproximadamente 6.000 m² e
comportará cerca de 1.800 pessoas. Ressalta-se que o referido prédio está em
construção, em fase avançada (OESTE GOIANO, 2015).
Dentre as igrejas existentes em Iporá, cita-se: Igreja Católica – 2
(duas) paróquias (Nossa Senhora Auxiliadora e João Paulo VI) e 15 (quinze)
comunidades; Assembleia de Deus - Campo de Iporá com 15 (quinze) templos e
2 (duas) catedrais; Igreja Batista; Igreja Presbiteriana do Brasil; Sociedade
Brasileira de Eubiose; Segunda Igreja Batista; Igreja Cristã Evangélica;
Congregação Cristã no Brasil; Igreja Pentecostal Deus é Amor; Igreja de Deus no
Brasil; Adventista do Sétimo Dia; Testemunhas de Jeová; Centro Espírita Ismael;
Centro Espírita Seara de Luz.
Quanto à religiosidade, é preciso destacar que existe uma
proximidade entre a religião e as cooperativas. Em visita in loco a quatro dessas
igrejas, evidenciou-se que as mesmas proporcionam a vivência coletiva entre
seus membros, realizam ações de cunho assistencial e solidário e realizam
atividades de formação que prezam pelos princípios da colaboração com o
próximo, inclusive de preservar o meio ambiente e cuidar dos animais. De acordo
com uma liderança40 de uma dessas igrejas visitadas, o mesmo disse que “muitos
membros de nossa igreja participa de grupos como associações e cooperativas;
Esse tipo de entidade ajuda demais na vida e no desenvolvimento. Aqui a nossa
vida é muito coletiva e aí eles acabam tendo facilidade para se envolver.”
Depoimentos como esse evidenciam que a forma de organização religiosa ajuda
no engajamento com as cooperativas. Entrevistou-se um romeiro41 e o mesmo
afirmou: “eu e minha esposa sempre fomos católico e a igreja sempre incentivou a
gente participar das organizações associativistas, mas como as associações

40
Participante de uma igreja localizada na comunidade do Taquari. É membro de uma associação e
recentemente se tornou cooperado. Entrevista concedida em 04 de maio de 2020.
41
O mesmo é cooperado, antes da cooperativa era associado na associação da Jacuba; o mesmo é também
romeiro. O mesmo se considera um romeiro, por fazer uma peregrinação católica anual; em Iporá ocorre
anualmente a Romaria de Nossa Senhora Auxiliadora com duração de 30 noites; em cada noite ocorre a
reza do terço com cantorias e orações, em seguida, os leilões que são doados pelos participantes.
Entrevista concedida em 23 de maio de 2020.
208

morreram veio à cooperativa que é bem melhor”. Em entrevista a um cooperado


da COOMAFIR42, ele disse “eu participava da CEBs 43 e esse movimento da igreja
foi muito importante, para muitos de nós cooperados, ajudou na nossa formação e
incentivou muito para participação na associação e agora consecutivamente na
cooperativa”.
O município de Iporá conta também com uma significativa estrutura
educacional, que tem recebido boa quantidade de investimentos tanto de ordem
pública, como também privada. O que não quer dizer que os investimentos têm
chegando em quantidade suficiente para atender às necessidades existentes.
Atualmente, muitas das instituições educacionais de Iporá atendem alunos do
próprio local, e também dos municípios vizinhos. Dentre as principais instituições
educacionais, destacam-se (ver quadro 14):

Quadro 14 – Estrutura educacional do município de Iporá


Universidades/faculdades UEG (Universidade do Estado de Goiás);
FAI (Faculdade de Iporá); Senac Goiás; IF
Goiano (Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano); UNIP virtual;
UNOPAR virtual; Uni-Anhanguera virtual;
Unigram.
Escolas municipais (educação Escola Municipal Jorcelino Alves Barbosa;
infantil) Escola Municipal Dona Ritinha; Escola
Municipal Valdivino Silva Ferreira; Escola
Estadual Evangélica Betel; Escola Estadual
Israel de Amorim; Escola Estadual Edmo
Teixeira; Escola Estadual Joaquim Berto do
Saber;
Colégios estaduais CEJA Dom Bosco; CECONJ Elias Araújo
Rocha; Colégio Estadual de Aplicação;
Colégio Estadual Odilon José de Oliveira;
Colégio Estadual Vereador Antônio
Laurindo; CEPI Osório Raimundo de Lima;
CEPMG Ariston Gomes da Silva.
Núcleos municipais de educação Núcleo Infantil Criança Cidadã; Núcleo
infantil (creche) Infantil Criança Feliz; Núcleo Infantil Dona
Carolina; Núcleo Infantil Edmê Falcão;
Núcleo Infantil Cida Paixão; Escola
Municipal de educação infantil (I), Núcleo
Infantil Cosme e Damião; Núcleo Infantil
Passinho.
Escolas particulares Colégio Exato; Colégio Engemed; Colégio
Integração; Educandário Tia Eliane; Escola
Balão Mágico.

42
Cooperado há quase seis anos. Foi militante da Pastoral da Juventude – PJ e também da CEB´s. Entrevista
concedida em 23 de maio de 2020.
43
Comunidades Eclesiais de Base trata-se de comunidades organizadas a partir da Igreja Católica que
surgiram especialmente a partir de 1970 e tinha como referência a Teologia da Libertação.
209

Outras Virtus Aprimoramento Intelectual, Cursinho


WR e PETI.
FONTE: Oliveira (2021)

Ao verificar esse quadro, constata-se que existe uma quantidade


significativa de instituições educacionais. Muitas delas são de caráter regional,
dentre elas tem-se: o CEPMG Ariston Gomes da Silva, que atualmente possui
alunos além de Iporá, de Diorama, Amorinópolis, Jaupaci e Israelândia. A
Universidade Estadual de Goiás conta atualmente com alunos vindos de 16
municípios circunvizinhos.
A Figura 15 evidencia algumas dessas instituições educacionais:

Figura 15 – Algumas instituições educacionais

FONTE: Oeste Goiano (2013, 2018); Arquivo UEG (2014, 2018). Organizando por
Oliveira (2019)

Observa-se nessa Figura a fachada da Faculdade de Iporá (FAI).


Trata-se de uma instituição privada, que conta atualmente com 11 cursos de
graduação presenciais, seis cursos tecnólogos, oito cursos técnicos, além ainda
dos cursos de especialização latu sensu. Ao lado, tem-se a imagem do portal de
entrada do IF Goiano; o mesmo, atualmente, oferece cursos de graduação,
especialização, extensão, tecnólogos e ensino médio profissionalizante. O
câmpus tem sede própria e conta ainda com a extensão de um câmpus na zona
210

rural, que é bastante utilizado para experimentos e práticas laboratoriais. Verifica-


se, ainda, na Figura 15 a imagem de uma sala de alunos estagiários do curso de
Geografia, na UEG, câmpus Iporá. A referida instituição conta com cinco cursos
de licenciatura, um curso de Direito, três especializações e vários cursos de
extensão44. Atualmente, a UEG conta com quase um mil alunos. Ao lado, está a
fachada do CEJA Dom Bosco; trata-se de um dos colégios tradicionais do
município de Iporá, que atende alunos do ensino regular e também da EJA.
Destaca-se também que muitas das instituições educacionais têm uma
proximidade relacional direta com cooperativismo da microrregião de Iporá.
Existem projetos ambientais, como o Plántio de Árvores nativas do Cerrado
realizadas por colégios como, o CEJA Dom Bosco, que atende diretamente
pequenos produtores cooperados. E principalmente a Universidade Estadual de
Goiás e IF Goiano que têm em execução alguns projetos de extensão voltados
para a recuperação de áreas degradadas, para o plantio de mudas nativas e de
assistência a alguns cooperados. De acordo com um cooperado 45 da COOMAFIR,
que é produtor na fazenda Buriti: “o plantio aqui carece muito de assistência
técnica; era melhor quando o professor do IF Goiano vinha aqui com os alunos
dele; sempre vinha ensinar e mim ajudou muito a corrigir o modo de produção, e
também como acabar com muitas pragas”.
Já outro cooperado46 da COOMAFIR, produtor na fazenda Taquari,
disse que: “com a assistência da cooperativa e também do IF foi possível fazer
muitas mudanças; atualmente não mexo só com leite do gado, mas produzo
mandioca, milho, abóbora e outras coisas, graças aos ensinamentos dos técnicos
e professores”. Também entrevistamos um cooperado 47, pequeno produtor e
criador de gado para engorda, ele disse: “meu filho está estudando na UEG
graças a Deus”, e, na sequência, acrescentou que os ensinamentos e os cursos
que o seu filho está fazendo têm criado muitas oportunidades e melhoria na
produtividade: “ele está cheio de ideias para mudar o jeito de produzir, e lá os
professores dele tem incentivado que nós se aproximemos da cooperativa, pois

44
Os cursos ou serviços citados são oferecidos na microrregião de Iporá de forma exclusiva no município de
Iporá. Com exceção do município de Caiapônia, os demais municípios limítrofes a Iporá também não contam
com a oferta de nenhum desses cursos.
45
Cooperado, membro de uma associação e participa na igreja católica rural. Entrevista concedida em 23 de
maio de 2020.
46
Cooperado, desde o início da criação da cooperativa COOMAFIR. Entrevista concedida em 20 de maio de
2020.
47
Cooperado produz exclusivamente leite. Entrevista concedida em 20 de maio de 2020.
211

poderemos valorizar ainda mais nossa produção e até melhorar o jeito de


produzir”.
Já uma cooperada48 da COPERCOISAS disse que ela participa, além
da cooperativa, de uma associação e da igreja, e que o envolvimento das
faculdades e das escolas na cooperativa poderia ser melhor, pois todas as vezes
que eles se envolvem na realização de alguma atividade, as possibilidades, o
aprendizado e a organização ganham mais força. Ela disse: “já tivemos muitas
coisas com a participação da UEG, da FAI do IF e até da Federal; eles já
ajudaram a realizar feiras solidárias e encontros de articulação, e sempre foi muito
produtivo”. Segundo essa mesma cooperada uma das coisas mais importantes
nas escolas e faculdades de Iporá é a oportunidade para os filhos estudarem
perto de casa; em seguida, acrescentou: “mas o trabalho que a faculdade e as
escolas fazem de melhoria na consciência das pessoas, para valorizar os
produtos artesanais e os alimentos sem veneno, é fundamental para o nosso
sustento e para a nossa produção”.
Existem diversas outras instituições que têm um caráter regional, ou
seja, que de alguma forma realizam um atendimento voltado para a população de
Iporá e municípios vizinhos. Dentre essas instituições, destacam-se: Fundação
Logosófica; Loja Maçônica União Iporá; Loja Paz e Trabalho nº 86 (Maçonaria);
Banco do Brasil; CAIXA; Bradesco; Itaú; AMOG; Associação de Muladeiros do
Oeste Goiano; CRI - Clube Recreativo de Iporá; AABB - Associação Atlética
Banco do Brasil; Clube da Saneago e servidores públicos; Acci – Associação de
combate ao câncer Iporá; CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas; SINTEGO -
Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás; Sindicato dos
Trabalhadores Rurais; Sindicato Rural; Associação do Cruzeirinho; Associação do
Buriti; SECIP - Sindicato dos Empregados do Comércio de Iporá; Rádio Rio Claro
AM; Rádio Felicidade FM; Rádio Nova Onda FM Comunitária; Rádio Educativa
FM Comunitária; Vila Vida Iporá; Casa Dos Deficientes De Iporá; Lar Bom
Samaritano; Lar São Vicente de Paulo. Na Figura 16, são apresentadas algumas
imagens que retratam ou se relacionam a algumas das instituições citadas:

48
Cooperada, produz artesanatos e cria animais de porte pequeno, participa da igreja e de uma associação.
Entrevista concedida em 25 de fevereiro de 2020.
212

Figura 16 – Instituições de influência regional

FONTE: Oeste Goiano (2017, 2018); organizado por Oliveira (2021);

Vê-se, nessa Figura, a imagem de uma das entradas do município de


Iporá. No ano de 2018, a Associação dos Muladeiros do Oeste Goiano
(AMOG) colocou monumentos em todas as entradas da cidade. A associação
buscou fixar momentos com a imagem de mula, pois lá ocorre anualmente o
maior encontro de muares do Brasil. Com a fixação desses monumentos, buscou-
se evidenciar que o município de Iporá é a capital dos muladeiros. De acordo com
o presidente da AMOG, senhor Corival de Souza Vieira, esse evento conta
anualmente com a participação de mais de oitenta comitivas, que vêm de cerca
de vinte estados do Brasil e algumas até do exterior. E a movimentação de
animais ultrapassa o número de três mil muares anualmente.
Ainda nessa figura, verifica-se a imagem de parte do clube da AABB,
que atende frequentadores associados e convidados oriundos de Iporá, da região
e de diversas partes do Brasil. Também se observa a imagem da fachada da
CAIXA49, única agência dessa instituição que atende na microrregião de Iporá.
Também se averiguou uma imagem de parte do estúdio da Rádio Rio Claro,

49
Trata-se de banco que oferece serviços que são exclusivos; de modo que essa é a única agência da
microrregião; o que remete ao entendimento de que a mesma colabora para a ocorrência de centralidade de
Iporá.
213

sendo que a emissora de comunicação já está no ar há quase 39 anos, e atinge


um alcance regional em um raio de 100 km do município de Iporá.
Além das instituições regionais citadas, o município de Iporá é bastante
privilegiado com relação às potencialidades turísticas e culturais. Dentre esses
atrativos, tem-se o lago artificial (Pôr do Sol), que se localiza no perímetro urbano,
o parque municipal Valdeson José de Lima (antiga cachoeirinha), local onde
funcionava a antiga usina de energia elétrica. Conta com um estádio de futebol
(Ferreirão) e com a reserva ecológica do Morro do Macaco, muito utilizada para
prática de esportes, como trilha de ciclistas, motocicletas e especialmente para
prática de voo livre. Possui ainda duas cachoeiras em propriedades privadas - a
cachoeira do Muxiba e a Cachoeira do Sr. Abel. Tem também um bom número de
atrativos, como pamonharias, bares, restaurantes, pit dog, sanduicherias,
pizzarias, pesqueiros (pesque e pague), salões de festas e eventos, boates,
dentre outros.
Com relação aos atrativos culturais, conta com um extenso calendário
festivo de cunho religioso e popular, dentre os quais, cita-se: os muladeiros; a
exposição agropecuária; as festividades de São João, que são realizadas no mês
de junho e se estendem até meados do mês de agosto; a festa de maio (Nossa
Senhora Auxiliadora); a festa anual dos idosos; a roda de violeiros; o carnaval de
rua (Carna Iporá); a exposição nacional de orquídeas; o VOZES pela vida (evento
musical com a presença de vários artistas do Brasil); o Iporá Festmusic (festival
de música); além de várias festas religiosas de padroeiros, congresso e eventos
de igrejas evangélicas, folias de Reis, dentre outras. Veja na Figura 17 alguns
desses atrativos turísticos e culturais:
214

Figura 17 – Imagens de atividades culturais e de lazer e também atrativos turísticos

FONTE: Cnr (2015, 2018). Oliveira (2021)

Destacam-se nessa Figura dois atrativos turísticos e dois eventos


culturais. A primeira imagem refere-se ao lago Pôr do Sol; trata-se de um
ambiente bastante utilizado para as práticas esportivas e para diversas atividades
de lazer. É utilizado para a realização de atividades de manifestação cultural e
para a comercialização de bebidas e algumas comidas, como peixe frito,
salgados, jantinha, sorvetes, água de coco, caldos e outros. Na imagem ao lado,
verifica-se o Morro do Macaco, que é uma reserva (área de preservação
permanente) muito utilizada para visitação e prática esportiva. Na imagem abaixo,
do lado esquerdo, observa-se o momento de uma das noites do Carna Iporá, o
carnaval de Iporá. Comumente, são realizadas quatro noites em que os foliões se
divertem com muitas músicas cantadas ao vivo; a participação varia em média de
dez mil pessoas por noite. E na outra imagem tem-se uma das partidas de futebol
realizadas no Estádio Ferreirão, que é bastante utilizado pelo time do Iporá
Esporte Clube, que disputa competições como campeonato goiano e campeonato
brasileiro. A média de público varia entre mil a quatro mil pessoas por partida.
Ainda muito importante com relação às manifestações culturais e
artísticas é o fato de que o município de Iporá conta com um número significativo
de artistas. Atualmente, o município tem mais de dez duplas sertanejas que
animam shows dançantes, tem um número significativo de cantores de MPB e
215

Gospel. Conta também com diversos grupos de dança, poetas, catireiros,


escritores, artesãos, dentre outros.
A centralidade regional do município de Iporá evidenciada a partir de
instituições como escolas, universidades, hospitais, bancos, universidades,
igrejas, e os elementos culturais confirmam a influência e o papel do município
como agente de organização social e política na região em que o mesmo se
encontra. Avançando nesse sentido, na tentativa de relacionar esses elementos
ao cooperativismo, é possível acrescentar que essa centralidade já especificada é
relevante e participativa na organização das cooperativas, pois as cooperativas
como COOMAFIR, COOPROL e COPERCOISAS se organizam com fixação de
sede e serviços a partir do município de Iporá, e as ações realizadas facilmente
extrapolam os limites municipais para outros municípios.
Nesse mesmo sentido, o cooperativismo de crédito representado em
Iporá pelo SICREDI e pelo SICOOB tem entre seus fatores para escolha de
atuação e expansão e para fixação de agências bancárias, as localidades que
obtêm alguma centralidade para atender a uma demanda regional. Em visita in
loco ao SICOOB, um dos funcionários50 informou que a referida cooperativa de
crédito “está obviamente em Iporá pela influência e relevância regional que se
obtêm”. E disse que o SICOOB tem buscando contribuir no desenvolvimento
sustentável da região e isso tem sido possível a partir da contribuição realizada
por meio do fortalecimento e do desenvolvimento do cooperativismo sustentável.
Foi perguntado como isso ocorre na prática, e ele explicou que é por meio de
maneiras diversas, dentre as quais poderia citar: “o trabalho de orientação e
formação educativa, direcionado para os quadros sociais e funcionais; onde se
promove o cooperativismo por meio de ajuda mútua e ainda, pela orientação
técnica para o uso de forma eficiente e adequada do crédito”. Por fim,
acrescentou que “Iporá concentra os municípios vizinhos, aqui é onde todos da
região precisam vir para obter acesso a algum tipo de serviço público”.
Em visita à COMIGO51, na loja sediada no município de Iporá, um dos
funcionários52 disse que “a COMIGO desde quando veio para Iporá ajudou muito
aos pequenos produtores, pois a maioria dos produtores da região faz suas

50
Funcionário do SICOOB e aluno egresso da UEG. Entrevista concedida em 30 de junho de 2021.
51
Essa cooperativa conta com participação de cooperados de Iporá e município limítrofes, mas tem atuação
marcante especialmente em função da loja de vendas aberta ao atendimento também de clientes não
cooperados.
52
Funcionário da COMIGO. Utiliza os serviços do SICOOB, da Unimed e pretende se tornar cooperado,
para entregar o leite da produção na COOMAFIR
216

compras aqui em Iporá e a COMIGO facilitou o acesso a muitos produtos, por


preços mais acessíveis” e acrescentou que “o fato da COMIGO ser e estar em
Iporá têm tudo a ver com a localização geográfica e com a centralidade regional,
pois aqui é onde os produtores tem que vir de seus municípios menores para
comprar e para resolver os seus negócios”. Adicionou ainda: “Muitos falam que
Iporá é capital do Oeste Goiano e acho que é mesmo; com certeza esse deve ser
um dos motivos para a COMIGO expandir os negócios por aqui nos últimos anos”.
De acordo com o mesmo, a atual loja está instalada em sede própria e sempre
tem realizado ações no sentido de valorizar e tornar o produtor rural mais
fortalecido salientou, ainda, que a COMIGO é muito importante para o
crescimento da economia do município de Iporá e dos municípios circunvizinhos,
além de ser relevante para o produtor, oferecendo orientações, formação e
gerando empregos.

6.4 Alguns indicadores do Município de Iporá

A Organização das Nações Unidas (ONU) utiliza o IDH Índice de


Desenvolvimento Humano (IDH) como uma forma de verificar as condições de
vida com relação à qualidade e também quanto ao nível de desenvolvimento
econômico que as pessoas têm em um local: em um município, estado ou país. O
IDH foi criado por Mahbub ul Haq53 no ano de 1990. Ele criou alguns critérios para
realizar essa avaliação: um deles é o de saúde, em que se verifica a expectativa
de vida; outro critério é o de renda, analisado a partir da renda nacional bruta,
embasada na paridade de poder de compra que cada habitante tem; outro critério
importante é o de educação, em que se verificam nas crianças os anos esperados
de escolaridade e nos adultos a média de anos de estudo. Importante ressaltar
que o IDH deve variar entre 0 e 1, e quanto mais próximo de 1, melhor é o grau
de desenvolvimento. A obtenção de um valor até 0,499 quer dizer que há um
índice de desenvolvimento baixo, já o desenvolvimento médio é representado por
valores que variam entre 0,500 a 0,799 e os valores entre 0,800 a 1 representam
um desenvolvimento bom.
O IDH, mesmo sendo bastante utilizado, recebe severas críticas quanto
à sua capacidade e eficiência para realmente medir o desenvolvimento de um
determinado lugar. Esse método de análise não é consensual, ou seja, recebe

53
Mahbub ul Haq é um economista paquistanês.
217

muitas críticas com relação às suas limitações e aos possíveis erros de cálculo.
Mas, mesmo assim, é importante dizer que o IDH é muito utilizado por governos
para direcionar recursos e para aferir em quais áreas deve concentrar
investimentos. É muito utilizado também por empresas para planejar
investimentos em um determinado local.
Partindo dessa breve contextualização sobre o IDH, entende-se que
existem diversos outros métodos de avaliação das condições de vida da
população de um local, porém, constata-se que mesmo sendo bastante criticado,
o método tem méritos relevantes para a função que foi criado. É ainda muito
utilizado, como falado anteriormente, e, além disso, é adotado por organismos
internacionais de grande relevância. Assim, a seguir (figura 18) apresenta-se uma
breve contextualização do município de Iporá a partir do IDH. Veja na Figura 18
um comparativo do IDH geral das últimas três décadas.
218

Figura 18 – Paralelo comparativo do IDH geral dos municípios brasileiros

FONTE: PNUD (2013), organizado por Oliveira (2018)


219

Ao analisar essa Figura 18, pode-se constatar que o município de Iporá


teve evolução dos seus índices. Em 1991, figuravam índices muito baixos,
situação semelhante à da maioria dos municípios brasileiros no referido período.
No ano 2000, houve alteração dos índices para uma condição bem melhor,
ficando entre os municípios que obtiveram índices de desenvolvimento médio. Em
2010, 33,9% dos municípios brasileiros, ou seja, um total de 1.889 obteve um
índice considerado alto, similar a eles, Iporá obteve novamente melhora nos
índices, passando a ser classificado como alto desenvolvimento humano, situação
que o colocou em condição diferente da maioria dos municípios da mesorregião
do Oeste Goiano.
Na Figura 19, é apresentado o IDH Renda:

Figura 19 – O IDHM Renda do município de Iporá

FONTE: PNUD (2013), organizado por Oliveira (2018).

Ao analisar essa Figura 19, observa-se que, diferentemente da


situação da maioria dos municípios que compõem a microrregião de Iporá, que
220

ficaram classificados como médios em desenvolvimento humano no IDH Renda,


Iporá ficou com o índice alto. Já com relação ao IDH Longevidade, conforme a
Figura 20, Iporá ficou entre os municípios brasileiros que obtiveram a maior nota.

Figura 20 – IDH Longevidade referente ao ano de 2010

FONTE: PNUD (2013), organizado por Oliveira (2018)

Como se evidencia na Figura 20, todos os municípios da microrregião


de Iporá obtiveram melhora, ou seja, aumento nesse índice, ficando acima de
0,800, portanto, muito alto desenvolvimento humano no IDH Longevidade. Esse
fator é o que apresentou melhor evolução dentre os municípios brasileiros,
promovendo um significativo aumento na expectativa de vida dos brasileiros, que
permitiu uma variação de 65 a 79 anos.
Já com relação ao IDH Educação, o índice não ficou tão alto, como se
verifica na Figura 21:
221

Figura 21 – IDH Educação referente ao ano de 2010

FONTE: PNUD (2013), organizado por Oliveira (2018)

O IDH Educação é o índice em que os municípios brasileiros


apresentam as mais baixas notas. O município de Iporá obteve um índice que
conferiu a classificação “médio” entre os municípios em desenvolvimento humano
em relação à educação. Nesse item, a região Centro Oeste tem 90% dos
municípios classificados nas faixas de baixo e médio desenvolvimento.
Ao se analisar os dados referentes ao processo de ocupação, as
alterações no número de habitantes ao longo das décadas, a localização
geográfica, a estrutura e acesso rodoviário, bem como o IDH do município de
Iporá, e fazer um paralelo entre esses dados em relação aos municípios
circunvizinhos, pode-se compreender melhor o alcance ou a influência regional
que Iporá possui. De acordo com Silveira e Barreira (2012), o município é um polo
da região Oeste. Porém, é possível confirmar que o mesmo tem relevância em
vários sentidos para a região, mas não deixa de ser um município que apresenta
222

muitas fragilidades de cunho social e econômico. Possui uma boa rede de


prestação de serviços, mas, concomitantemente, apresenta muitas fragilidades
estruturais e deficiências.
Ponderar sobre esses dados e a caracterização realizada sobre Iporá
tem fundamental relevância para esta pesquisa, visto que permite conhecer
melhor o município, que serve como local de fixação e estruturação do
cooperativismo, objeto de estudo desse estudo.
Finda-se esta seção com o entendimento de que o município de Iporá
ocupa certa centralidade microrregional. O fato de contar com todos os órgãos
citados anteriormente é condição que confere tal centralidade e atende ao papel
desempenhado no conjunto dos municípios da região.
A localização geográfica do município de Iporá também proporciona
uma centralidade relativa no acesso para diversos municípios, especialmente
para os limítrofes, de modo que a rede rodoviária é fator preponderante para essa
centralidade regional.
Destaca-se, ainda, que o processo de apropriação ocorrido no
município influenciou de forma significativa no acesso e/ou posse da terra e
também no modelo de produção que praticamente se perpetuou, inclusive no
contexto contemporâneo.
Verificou-se nesta seção que esse caráter de centralidade regional
obtido por Iporá é um importante facilitador para a ocorrência da ação
cooperativista em setores diversos capazes de aproveitar tal centralidade,
sobretudo por entender que a atuação das cooperativas com sede em Iporá não
se restringe ao município.
223
224

Para entender como se estrutura e/ou como se constitui o


cooperativismo no município de Iporá, busca-se apresentar, primeiramente,
alguns elementos e dados que se configuram como cooperativismo no Estado de
Goiás. Sequencialmente e em alguns momentos, simultaneamente, serão feitos
direcionamentos no sentido de abordar e caracterizar o município em questão,
campo de estudo desta pesquisa.
A partir dessas elucidações, faz-se importante destacar que a busca
por alternativas para superar as crises políticas, que muito dificultam o
desenvolvimento econômico, especialmente nessas últimas décadas, tem
ocupado boa parte da agenda dos gestores. A exclusão advinda das
desigualdades sociais, do desemprego e da miséria, no contexto histórico,
sempre atingiu um número enorme de pessoas, mas, após a iminência do
capitalismo54, os números aumentaram. A situação de exclusão vivenciada por
trabalhadores, de certa forma, leva à unificação de pessoas em busca da
obtenção de uma melhora de vida. Outra questão é que a competitividade
promovida pelo referido sistema também influencia produtores e pequenos
empresários a se juntarem para ampliarem seu potencial de competitividade.
Nesse sentido, o cooperativismo é apontado por diversos pesquisadores, como
Rios (2007) e Santos (2009), como uma solução eficiente para a promoção da
inclusão, da solidariedade e da distribuição de renda.

7.1 - Bases estruturais e originárias do Cooperativismo no Estado de Goiás

Colaboração, empenho, democracia, igualdade e desenvolvimento são


valores e princípios do cooperativismo, e em todo o mundo pessoas se juntam
cada vez mais com o intuito de produzir e compartilhar resultados positivos e
também a cultura cooperativista.
Segundo a OCB-GO, foi a partir do ano de 1949 que surgiram as
primeiras cooperativas em Goiás, originadas da vinculação ao procedimento de
ocupação e desenvolvimento da fronteira agrícola. O surgimento do
cooperativismo goiano foi associado ao procedimento de interiorização do País e
de inovação quanto à divisão do trabalho, objetivando a reconstrução de uma
economia pensada para um mercado interno. Assim, vieram para o estado

54
No Século XIII já se registra o surgimento do capitalismo que decorreu da formação de algumas
cidades de cunho comercial.
Relevante ainda salientar que o Brasil e seu território nunca estiveram sob outros modos
de produção que não o capitalismo.
225

imigrantes que além de povoarem a região contribuíram para o desenvolvimento


de novas metodologias para a produção agrícola em Goiás.
A princípio, foram três cooperativas na região goiana, as quais foram
formadas por estrangeiros italianos e poloneses. Em 1949, foi constituída a
Cooperativa Italiana de Técnicos Agricultores, que teve como finalidade assentar
cinco mil famílias em uma extensão de cento e cinquenta mil hectares. Nesse
mesmo período, foram estabelecidas outras duas cooperativas: a Cooperativa
Agropecuária de Itaberaí e a Cooperativa Rural de Córrego Rico, entre Inhumas e
Itaberaí, ambas fundadas por estrangeiros poloneses. As três cooperativas
tiveram pouca duração, a primeira durou apenas um ano e as demais oito anos.
Foram constituídas diversas cooperativas no ramo rural e de crédito na década de
1950 e as primeiras no ramo agropecuário e de consumo surgiram na década de
1960 (SILVA, 2017).
Quase no final de 1956 surgiu a União das Cooperativas em Goiás,
que significou um desempenho determinante na organização e no fortalecimento
das cooperativas do estado, inicialmente como associação, com as siglas UCG,
UCEG e OCG, até se consolidar na representação sindical, política e social do
que é atualmente a Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de Goiás
(OCB-GO), conhecida também como a Casa do Cooperativismo.
No entanto, o cooperativismo goiano vivenciou uma inovação na
década de 1970, provocada por uma renovação das cooperativas agrícolas, com
planos econômicos de organização da produção de grãos nas terras produtivas
do estado, em especial, as do sul e do sudoeste de Goiás.
Novas cooperativas em vários ramos foram surgindo na década de
1980 com sucesso e desafios. Nesse período, o sistema de ensino passava por
dificuldades, provocando o surgimento de cooperativas do ramo de ensino. Em
decorrência do anseio de produtores rurais em fundarem seu próprio banco
cooperativo ressurgiram, no final de 1980, as cooperativas do ramo de crédito
rural. Houve também um desenvolvimento significativo das organizações de
supermercado no Estado fazendo com que muitas cooperativas do ramo de
consumo desaparecessem. Ainda nessa mesma década surgiram as cooperativas
de trabalho constituídas por vários grupos profissionais, como médicos, taxistas e
outros.
Diante das dificuldades e preocupações que a sociedade enfrentou e
enfrenta com a saúde, a educação, a habitação, o desemprego, a condição social
e estrutural, as transformações econômicas e políticas e outras situações é que
226

surgiram os anseios para que as pessoas se organizassem de forma


cooperativista, e assim nasceram os variados ramos do cooperativismo. Portanto,
no final de 1980, o cooperativismo no estado de Goiás reuniu cerca de 90
cooperativas associadas.
O exposto se confirma por meio do Jornal A Redação, com a fala de
Joaquim Guilherme Barbosa de Souza, presidente no ano de 2015 do Sistema
OCB-GO:

Quando se tem uma área com uma certa deficiência para atender,
seja de serviços ou produtos, surge a necessidade da criação de
cooperativas. O que fomenta é a união das pessoas em cima de
uma ideia. Daria para fazer cooperativas em todas as áreas de
atividades. (MARINELLI; CASSIO, 2016, p. 1).

Sendo assim, um dos motivos do êxito do cooperativismo goiano foi a


adesão das pessoas em busca de um ideal coletivo.
No Estado de Goiás o cooperativismo tem atuação em vários ramos,
conforme mostra o fluxograma 8:

Fluxograma 8 – Ramos do cooperativismo goiano

FONTE: OCB Goiás (2019), organizado por Oliveira (2019).


227

As cooperativas goianas contam, desde o ano de 1955, com a OCB–


GO, que tem como objetivo representar, defender e promover o desenvolvimento
do cooperativismo e de seus associados. A OCB-GO atua politicamente e
proporciona serviços consultivos e especializados com o intuito de sanar dúvidas
e também sugerir aspectos quanto à composição social, o método gerencial ou
operacional, além de promover o empoderamento das cooperativas,
harmonizando suporte administrativo, consultoria contábil, suporte logístico de
natureza sindical ou organizacional e apoio técnico para instituir, registrar e filiar
as cooperativas, possibilitando que as mesmas recebam direcionamentos que as
auxiliem em seu desenvolvimento.
A seguir, é possível visualizar a representação do sistema de
organização do Cooperativismo goiano (Ver fluxograma 9):
228

Fluxograma 9 – Sistema representativo e relação organizacional da OCB-Goiás

FONTE: OCB-Goiás (2019), organizado por Oliveira (2019).

Como se verifica nesse Fluxograma, a OCB-Goiás se organiza em


rede com outras instituições de cunho cooperativista. A organização passa pela
relação interna dentro do estado, para, após, seguir a nível regional e também
internacional por meio da Aliança Cooperativa Internacional. A OCB-Goiás
oferece informações e acompanhamento sobre como fomentar e manter as
atividades das cooperativas e sobre a organização de novas cooperativas, ainda
promove consultorias e conferências no campo do cooperativismo e fornece apoio
técnico no desenvolvimento da gestão cooperativista.
A OCB também: disponibiliza visitas de analistas com a finalidade de
orientar e obter dados necessários e importantes para compor o censo do
cooperativismo goiano; proporciona consultoria jurídica para apoiar na tramitação
229

de documentação e acompanhar os avanços da legislação e também consultoria


contábil com o objetivo de manter as obrigações fiscais sempre atualizadas; e
disponibiliza em seus vários canais de comunicação vasto espaço para
publicação das ações, serviços e produtos de cooperativas.
Segundo informações do Censo do Cooperativismo Goiano de 2005, o
fim da década de 1990 trouxe o início de um novo período e desafios ao
cooperativismo no Estado. Foi instituído no Brasil o Serviço Nacional de
Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP), que é um instituto que tem sua
atuação no campo educacional e no desenvolvimento cooperativista de Goiás. É,
ainda, um instrumento instituído pelo Conselho Nacional ligado à OCB-GO nos
termos da Medida Provisória nº 1.715, de setembro de 1998, que: “Dispõe sobre o
Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária-
RECOOP, autoriza a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem do
Cooperativismo - SESCOOP, e dá outras providências”, e do Decreto nº 3.017, de
6 de abril de 1999, inserido de fato em 28 de outubro 1999. O SESCOOP/GO
também está ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego, e assumiu a formação
e a capacitação continuada de todas as pessoas associadas às cooperativas. Ele
inclui como objetivos:

Organizar, administrar e executar o ensino de formação


profissional, a promoção social dos empregados de cooperativas,
cooperados e de seus familiares, e o monitoramento das
cooperativas no Estado de Goiás; Operacionalizar o
monitoramento, a supervisão, a auditoria e o controle em
cooperativas, conforme sistema desenvolvido e aprovado em
Assembleia Geral da Organização das Cooperativas Brasileiras –
OCB; Assistir as sociedades cooperativas empregadoras na
elaboração e execução de programas de treinamento e na
realização da aprendizagem metódica e contínua; Estabelecer e
difundir metodologias adequadas à formação profissional e a
promoção social do empregado de cooperativa, do dirigente de
cooperativa, do cooperado e de seus familiares; Exercer a
coordenação, a supervisão e a realização de programas e de
projetos de formação profissional e de gestão em cooperativas,
para empregados, cooperados e seus familiares; Colaborar com o
poder público em assuntos relacionados à formação profissional e
à gestão cooperativista e outras atividades correlatas; Divulgar a
doutrina e a filosofia cooperativista como forma de
desenvolvimento integral das pessoas; Promover e realizar
estudos, pesquisas e projetos relacionados ao desenvolvimento
humano, ao monitoramento e à promoção social, de acordo com
os interesses das sociedades cooperativas e de seus integrantes.
(SESCOOP/GO, 2006, p.1)
230

Diante do exposto, o cooperativismo no estado se desenvolve ainda


mais, pois soma ao aspecto político da OCB-GO a concepção de novas
lideranças e o desenvolvimento da capacidade profissional dos cooperados,
proporcionando estímulo para a autoadministração das cooperativas.
Nesse intuito, as cooperativas goianas se expandiram no País e
surgiram novas necessidades de estruturação, tanto no âmbito político como no
econômico, no jurídico e no social. Mediante essas necessidades, a OCB-GO
dispôs, com apoio do Tribunal de Justiça do Estado, a organização de uma Corte
de Conciliação e Arbitragem e estabeleceu a Frente Parlamentar do
Cooperativismo (FRENCOOP), que é formada por parlamentares federais,
independentemente de partido e da integração da Federação, consistindo em
uma importante via de representatividade e negociação para o cooperativismo.
Também tem como função: defender os benefícios das cooperativas em todos os
seus ramos de atuação no Congresso Nacional; ser responsável por proporcionar
leis adequadas ao cooperativismo; e ampliar o diálogo com os poderes Executivo
e Judiciário.
No Estado, a OCB-GO esteve em parceria com o Governo para a
criação da Gerência Executiva de Cooperativismo da Secretaria do Planejamento,
que foi uma ferramenta considerável na preparação da lei própria do setor, o que
veio a ser real com a Lei Estadual Cooperativista nº 15.109, promulgada em
fevereiro de 2005, documento esse que mostra, em seu artigo 2º, as finalidades
da Política Estadual do Cooperativismo, que são:

I - criar instrumentos e mecanismos que estimulem o contínuo


crescimento das atividades cooperativista;
II - prestar assistência educativa e técnica às cooperativas
sediadas no Estado;
III - estabelecer incentivos financeiros para a criação e o
desenvolvimento do sistema cooperativo;
IV - facilitar o contato das cooperativas entre si e com seus
parceiros;
V - apoiar técnica e operacionalmente o cooperativismo em Goiás,
promovendo parcerias para o desenvolvimento do Sistema
Cooperativista Goiano;
VI - estimular a forma cooperativa de organização social,
econômica e cultural nos diversos ramos de atuação, com base
nos princípios gerais do associativismo e na legislação vigente;
VII - estimular a inclusão do estudo do cooperativismo nas
Escolas, visando a uma mudança de parâmetros de organização
da produção e do consumo;
VIII - criar mecanismos de triagem e qualificação da informalidade,
para implementação de novas sociedades cooperativas de
trabalho;
231

IX - divulgar as políticas governamentais em prol das sociedades


cooperativas do Estado de Goiás;
X - coibir a criação de Sociedades Cooperativas irregulares, que
tenham ou não intuito de fraudar as leis vigentes no País;
XI - organizar e manter atualizado um Cadastro Geral das
Sociedades Cooperativas no Estado de Goiás, através de
informações fornecidas pela JUCEG de todos os registros de
Sociedades Cooperativas. Goiás (2005, p.1)

Essas finalidades da Política Estadual do Cooperativismo são


importantes, necessárias e se configuram como um conjunto de orientações e
princípios direcionados para o apoio à atuação e ao desenvolvimento do
cooperativismo goiano e comungam com toda a representatividade já citada da
OCB-GO e com os objetivos da SESCOOP.
A OCB/SESCOOP-GO oferece às cooperativas goianas quatro
significantes programas como instrumentos de trabalho. O Programa de
Desenvolvimento Econômico-Financeiro (GDA) é um conjunto de informação com
atuação na internet e objetiva possibilitar aos gestores cooperativistas
informações necessárias quanto à avaliação, ao controle dos números e dos
resultados e ao desempenho das cooperativas. Para isso, as cooperativas podem
colocar dados financeiros controlados pelo administrativo e pelo setor de recursos
humanos, esses dados serão processados possibilitando à gestão acompanhar a
atuação de sua cooperativa e também dos empregados em tempo real.
O Sistema de Gestão do Desenvolvimento Humano (GDH) consiste em
uma ferramenta disponibilizada pela OCB Nacional também de atuação via
internet. Ele oferece uma relação das cooperativas do estado ao SESCOOP/GO
no que tange ao registro e ao acompanhamento das atividades efetivadas pelas
cooperativas no decorrer do ano, além da possibilidade de manter o histórico das
prestações de contas e de gerência das ações desenvolvidas pelas cooperativas
em comunhão com o SESCOOP/GO. Além disso, permite o acompanhamento de
todas as etapas das ações, como orçamento, planejamento, e inclusive o
encerramento da atividade, por meio de várias funcionalidades e com
probabilidade de gerência e parecer em tempo real. Assim, a SESCOOP/GO
consegue visualizar efetivamente as diversas atividades que são propostas e
desenvolvidas pelas cooperativas goianas anualmente.
O Programa de Desenvolvimento da Gestão das Cooperativas (PDGC)
consiste em um programa com questionários online baseado no ideal de
Excelência da Gestão® (MEG) da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), que é
um sistema para apreciação da condição de maturidade da gestão das
232

organizações. É disponibilizado nesse programa um questionário de Governança


com 23 questões de múltipla escolha com perguntas e respostas relacionadas à
situação das cooperativas. Ao responder ao questionário, é disponibilizado à
cooperativa um relatório assinalando as questões positivas ou o que precisa ser
melhorado diante das respostas a cada questão. Posteriormente às respostas às
questões de governança, tem-se o questionário de Gestão, composto por 46
pontos, a fim de avaliar a gestão da cooperativa. Assim como no questionário de
Governança também é disponibilizado relatório com apontamentos positivos ou
com oportunidade de melhoramento com base nas respostas a cada questão,
permitindo que a cooperativa conheça melhor sobre sua situação no que diz
respeito à gestão.
A ausência de cumprimento, a precária expressividade de participação
das cooperativas nos eventos e assembleias, o desconhecimento e a falta de
dados do cenário cooperativista fizeram com que a OCB-GO percebesse o
descontentamento das cooperativas diante do sistema e implantasse o Programa
de Visitas em Goiás, que consiste em uma tarefa de deslocamento de pessoas
técnicas da OCB-GO para as sedes das cooperativas do Estado, trabalho este
iniciado em 2006. Segundo a OCB-GO, são objetivos do Programa de Visitas:

(...) - Formatar um cadastro geral confiável do cooperativismo em


Goiás; - Levantar números econômicos, financeiros e sociais; -
Apresentar os serviços oferecidos pelo Sistema OCB/SESCOOP-
GO; - Colher impressões sobre a organização, por meio da auto
avaliação; - Reforçar os laços da Organização com suas
cooperativas registradas, colhendo sugestão para aprimorar os
serviços prestados pelo Sistema OCB/SESCOOP-GO.

Portanto, é finalidade do Sistema fazer com que as cooperativas


tomem conhecimento do comércio em geral e também dos órgãos públicos e dos
institutos que as representam e assim participem das intermediações e
discussões de importância para as instituições cooperativistas.
É também por meio das visitas que as cooperativas passam a serem
expressivas no Sistema OCB/SESCOOP-GO, sendo que o mesmo recebe
informações significativas das ações cooperativistas desenvolvidas e tem a
possibilidade de fazer um diagnóstico do setor no Estado de Goiás. São diversas
e importantes as informações adquiridas com o Programa de Visitas, informações
que resultaram no Censo do Cooperativismo Goiano, documento que apresenta
em suas publicações elementos de natureza cadastral, social e econômica das
cooperativas, ou seja, dispõe-se de números de cooperativas, cooperados,
233

empregados, quantidade de ativos, ingressos, capital social, fundos e reservas,


além de fichas com as informações particulares enviadas pelas cooperativas que
possuem registro na OCB-GO. O Censo do Cooperativismo Goiano é pioneiro no
Brasil e é referência para outros estados que desejam publicar algo semelhante.
Segundo o relatório de atividade da OCB-GO de 2005, a organização
sempre lutou por políticas públicas de melhorias para o cooperativismo, tanto na
esfera federal como estadual, como, por exemplo, a negociação da OCB-GO em
parceria com as cooperativas que conquistou a diminuição de impostos e a
abolição da bi-tributação atribuída a alguns ramos cooperativistas, como da saúde
e de trabalho da cidade Goiânia. Também significativo foi a publicação da Lei
Estadual do Cooperativismo nº 15.109/2005, que possibilitou a concretização das
políticas públicas do Estado para com o cooperativismo goiano já citadas.
Igualmente, promoveu a reativação do Conselho Estadual do Cooperativismo
(CECOOP), que é representado por membros do governo estadual, das
cooperativas por meio da OCB-GO, e dos institutos do setor produtivo. Foi
também um avanço para a política de incentivo cooperativista a autorização pelo
Ministério do Trabalho e Emprego e pela Caixa Economia Federal do registro
sindical da Federação dos Sindicatos das Cooperativas do Distrito Federal e dos
Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins (FECOOP Co-
To), que tem como objetivos de atuação:

(...) - Defender, coordenar e representar os direitos e interesses


gerais da categoria econômica das cooperativas e dos sindicatos
filiados, no âmbito administrativo, extrajudicial e judicial, na área
de sua base territorial, inclusive ajuizar ação de interesse da
categoria; - Designar representantes do cooperativismo sindical
para objetivos específicos; - Colaborar com o poder público em
suas diversas esferas, como órgão técnico, representativo ou
consultivo, no estudo e solução dos problemas que se relacionem
com o cooperativismo sindical e suas atividades no que tange ao
comportamento ético, técnico e doutrinário das sociedades
cooperativas juridicamente regulamentadas pela Lei 5.764, de
16.12.71, pela Lei 9.867, de 10.11.1999, pela Lei 10.406, de
10.01.2002, pela Lei Complementar 130, de 17.04.2009, pela Lei
12.690, de 19.07.2012 e demais normas aplicáveis às sociedades
cooperativas; - Fixar e receber as contribuições que lhe são
devidas por Lei, pelo Estatuto Social ou por deliberação da
Assembleia Geral; - Agir em colaboração com os Poderes
Públicos e com entidades a ela filiadas, visando a solidariedade
social, a integração e o aprimoramento da doutrina cooperativista;
- Manter serviços que lhes são inerentes à disposição dos filiados;
- Promover serviços de pesquisas, de informações e de incentivo
relativos aos interesses do Sistema Federativo de Representação
Sindical das Cooperativas; - Adotar medidas que concorram para
aprimoramento do ensino profissionalizante e para o
234

desenvolvimento do cooperativismo em seus diversos Ramos; -


Abster-se de qualquer propaganda de doutrinas incompatíveis
com a instituição e de candidaturas a cargos públicos eletivos,
salvo para cargos eletivos da própria Federação; - Impedir o
exercício de cargos eletivos cumulativamente com os de
empregos remunerados pela Federação; - Participar de órgãos
oficiais ou não de interesse do Sistema Federativo de
Representação Sindical das Cooperativas, ou quando solicitada,
podendo filiar-se ou manter relações com entidades regionais e
nacionais representativas do cooperativismo, e firmar
instrumentos com entidades públicas ou privadas, mediante
deliberação da Diretoria; - Firmar instrumentos de negociação
coletiva de trabalho; - Conciliar e mediar eventuais divergências
entre os entes que representa e, quando firmado Termo de
Compromisso Arbitral, atuar nessa condição, para dirimir
eventuais divergências entre os litigantes; - Realizar conferências,
seminários e reuniões similares sobre temas de interesse do
Sistema Federativo Sindical das Cooperativas, bem como celebrar
as datas que se constituam marcos na história do cooperativismo
sindical; - Receber dos Sindicatos filiados informações sobre
participação em órgãos colegiados, públicos ou privados de que
participem sem suas respectivas regiões. (OCB/SESCOOP-GO)

Diante dos objetivos da Federação dos Sindicatos das Cooperativas do


Distrito Federal e dos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Tocantins, observa-se que a mesma foi formada com o intuito de representar os
cooperados, contribuindo para a organização, a união e a estruturação de suas
ações nas solicitações de empenho coletivo, e também de sugerir métodos de
cooperação às associações filiadas, de modo a expandir ações sociais oferecidas
às cooperativas dos Estados.
Percebe-se que as organizações citadas tem um envolvimento positivo
nas políticas públicas de incentivo que asseguram um ambiente favorável para
que todos os ramos cooperativistas se consolidem enquanto modelo de comércio.

7.2 - Espacialização do cooperativismo em Goiás

A OCB-GO, através do Censo anual do cooperativismo goiano, que é


realizado desde o ano de 2005, têm mostrado que o cooperativismo é um meio
viável para geração de emprego, renda e para promover o desenvolvimento
econômico e social dos cooperados e da comunidade. Assim sendo, evidencia-se
que o cooperativismo é uma alternativa para o Estado de Goiás e para o Brasil
crescerem e superarem a atual crise econômica. A seguir, verifica-se alguns
dados que mostram que esse modelo (cooperativismo) de organização da
sociedade tem obtido ótimos índices de crescimento e possibilitado a unificação
de milhares de pessoas em torno de ideais comuns, a fim de promover a
235

participação, a inclusão, a competitividade, a distribuição de renda e a melhora


das condições de vida.
Para evidenciar essas informações é exposto, no quadro 15, o
aumento do número de cooperativas entre os anos de 2000 a 2016 no estado de
Goiás.

Quadro 15 - Crescimento do cooperativismo em Goiás


Ano Número de Número de Número de
cooperativas cooperados empregados
2000 129 - -
2006 193 87.941 6.336
2009 225 125.915 6.382
2012 219 189.794 8.910
2016 243 157.929 10.063
2017 205 173.205 10.230
2018 219 229.477 12.078
FONTE: OLIVEIRA (2020) organizado a partir de dados dos anuários da OCB-Goiás,
anos de: 2001, 2007, 2010, 2013, 2017 e 2018; e de dados Anuário do cooperativismo
brasileiro (2019).

Como se verifica no Quadro 15, no período de menos de duas décadas


houve um aumento de 90 cooperativas registradas na OCB. O aumento do
número de cooperativas em Goiás, se comparado proporcionalmente aos dados
nacionais, foi surpreendente. No Brasil, em 2005, havia 7.603 cooperativas, já no
ano de 2018 esse número caiu para 6.828. Como verificado, houve um
decréscimo nesse período a nível nacional. E quando se compara com os dados
do estado de São Paulo, que se trata de uma referência quanto ao número de
cooperativas, percebe-se que em São Paulo o aumento de cooperativas nas duas
últimas décadas foi baixo, sendo que no ano de 2005 havia 1.011 cooperativas,
enquanto em 2018 se registrou o número de 1.025; um aumento de apenas 14
cooperativas.
Verifica-se como explicações para tais fatos que esse período foi
marcado por muitas fusões de empresas e no cooperativismo isso também
ocorreu. Muitas cooperativas buscaram alternativas para se fortalecer e também
para ampliar a sua atuação no mercado, esse fato provocou momentaneamente
um decréscimo do número de cooperativas em nível nacional. Em Goiás isso não
foi diferente, houve também as chamadas fusões, mas isso não foi impactante o
suficiente para nivelar o aumento de cooperativas na média Federal, pois,
contraditoriamente, em Goiás houve um aumento médio bem superior ao da
média nacional. Registra-se um crescimento consecutivo em todos os ramos do
236

cooperativismo, mas o ramo de crédito e da agricultura foi destaque para tais


explicações.
Nos últimos cinco anos “em Goiás” foram ainda mais representativos o
crescimento no ramo de crédito, com relação aos ativos totais superou 160%, se
comparado à média nacional que foi também positiva, mas atingiu apenas 77%.
Nesse mesmo sentido, a movimentação financeira na média nacional ficou em
mais de 45%, em Goiás foi ainda superior, atingindo mais de 113%. O número de
cooperativas de crédito chegou a um total de 33 em Goiás, o que possibilitou a
obtenção de um pouco mais de 221 mil cooperados (OCB 2018, 2019).
Já com relação à quantidade de cooperados, na tabela exposta se
mostra que no ano de 2006 o estado de Goiás tinha 87.941 e em 2018 possuía
229.477, um aumento de 141.536 cooperados. Trata-se de um aumento do
número de cooperados bastante significativo, especialmente quando se verifica os
dados nacionais, pois facilmente se constata que o aumento do número de
cooperados em Goiás foi bastante similar à média de aumento de cooperados no
Brasil. Em 2005 eram 7.393.075 cooperados, já no ano de 2008 esse número
aumentou para 14.600.000. O Estado de São Paulo, em 2005, tinha 2.853.756 e
também registrou crescimento na média, passando para 3.093.354 cooperados
em 2018. Como se observa em números totais o estado de São Paulo obteve um
expressivo aumento, porém, se comparado às médias em porcentagem, o estado
de Goiás registra médias bem maiores.
Ao se analisar os dados relativos ao aumento do número de
cooperados se constatam que a média anual do estado de Goiás também é
superior à média nacional; tais resultados têm ligação direta com o aumento das
cooperativas, assim como foi exposto anteriormente. Ainda se faz relevante
destacar que, quanto a esse aumento do número de cooperados, Goiás em
relação à média nacional tem mantido constância, pois o referido estado tem
sustentado uma diferença média superior que varia entre 3 a 5% ao ano.
Semelhantemente ao período apresentado esses dados médios no contexto atual
têm se mantido; um bom exemplo confirmativo foi o ano de 2017, em que a média
nacional de aumento do número de cooperados foi de 6,8%, enquanto em Goiás
foi de 8,7% (OCB, 2018).
Também como explicação não menos relevante para esse aumento do
número de cooperados em Goiás, cita-se a importante participação do ramo da
agricultura, especialmente, do Núcleo da agricultura familiar. Esse ainda tem
237

conseguido contribuir significativamente para a geração de renda. De acordo com


Pegorini et al. (2020, p.1),

(...) A renda média na agricultura familiar, em Goiás, é de R$


82.566,35 por ano, com produtividade média de R$ 4.678,01 por
hectare ao ano e média de 2,44 empregados ou familiares
desenvolvendo atividades na propriedade. Em média, os
estabelecimentos têm 37,5 hectares, onde é gerada cerca de 97%
da renda do produtor, proveniente principalmente do
desenvolvimento da atividade agrícola (73,9%). A maioria dos
produtores (77%) reside nas propriedades, geralmente localizadas
no Centro Goiano. Dentre as características individuais dos
produtores, 84% são homens com idade média de 51,8 anos.
Outros atributos de destaque são a presença de cônjuge (70%) e
o baixo nível de escolaridade (50% não possuem o ensino
fundamental).

Os autores ainda destacam, em relação à renda dos cooperados


oriundos da agricultura familiar, que:

(...) quando os produtores são cooperados na agricultura familiar,


a renda média é superior, com aumento médio de R$ 14.423,64
sobre a renda bruta anual. Participar de cooperativas também
promove aumento de produtividade na ordem de R$ 768,61 por
hectare. (PEGORINI et al. 2020, p.1)

Já com relação ao aumento da renda média anual existem importantes


fatores e fatos que evidenciam esses resultados; dentre as explicações, cita-se
que por meio das cooperativas o acesso a serviços e à assistência técnica para
os cooperados é bem mais possível; outro fator diz respeito à compra de insumos,
que passa a ser mais vantajosa, especialmente pela possibilidade de comprar
coletivamente, com preços inferiores aos praticados no mercado convencional. E
também muito importantes são a orientação e as possibilidades de se obter
crédito para aumentar a produção.
Para melhor entender esses dados, a seguir (mapa 6) é apresentada
uma sequência de mapas em que são mostrados os municípios goianos que
compõem cada mesorregião, seguidos da tabela referente ao registro na OCB-
Goiás entre os anos de 2007 e 2017 de: cooperativas, número de cooperados e
empregados de cada mesorregião.
238

Mapa 6 – Distribuição de cooperativas por mesorregião em Goiás

2007 2009 2011 2016 2017


Cooperativas 113 115 109 96 104
Cooperados - 44.080 54.530 80.665 90.602
Empregados - 1.819 2.552 3.795 4.350

2007 2009 2011 2016 2017


Cooperativa 18 19 14 11 11
s - 1.022 2.716 18.096 22.442
Cooperados - 115 265 488 652
Empregados
239

2007 2009 2011 2016 2017


Cooperativas 5 6 11 13 13
Cooperados - 688 1.022 1.021 925
Empregados - 200 595 45 45

2007 2009 2011 2016 2017


Cooperativas 83 77 81 76 79
Cooperados - 78.353 96.975 71.522 78.643
Empregados - 4.202 4.898 5.821 6.024
240

2007 2009 2011 2016 2017


Cooperativas 3 8 6 9 8
Cooperados - 1.772 2.005 1.901 1.829
Empregados - 46 74 81 37
FONTE: OLIVEIRA (2020), organizado por ALVES (2020), adaptado a partir de dados
dos anuários da OCB-Goiás, anos de: 2001, 2007, 2010, 2013, 2017 e 2018; e de dados
Anuário do cooperativismo brasileiro (2019).

Vê-se que a mesorregião Centro Goiano, da qual o município de Iporá


faz parte, é a que tem a maior quantidade de cooperativas e cooperados, se
comparada às demais mesorregiões de Goiás. A que ocupa a segunda posição é
a mesorregião do Sul Goiano. Já com relação ao número de empregados, a
mesorregião do Sul Goiano é a que ocupa a primeira posição em Goiás, com um
total de 6.024. No Mapa 7‟, verifica-se em quais municípios se concentram as
maiores quantidades de cooperativas.
241

Mapa 7 – Distribuição de cooperativas no território goiano por Mesorregião

FONTE: IBGE (2020); Elaborado por Alves (2020)

Ao verificar o mapa 7, constata-se que a mesorregião do Noroeste


Goiano é a que apresenta a menor quantidade de cooperativas. Já a mesorregião
Centro Goiano é a que mais se destaca em quantidade de cooperativas; a mesma
possui 104 no total.
No Brasil existe o registro de treze55 ramos de cooperativismo, mas, no
estado de Goiás, apenas nove56 ramos do cooperativismo têm atuação de
cooperativas. O ramo agropecuário é o que mais se destaca em número de
cooperativas57; na sequência, vem o ramo de transporte, que apresenta o maior
aumento no registro de número de cooperativas no Estado de Goiás no período

55
Os treze ramos do cooperativismo brasileiro são: 1 - Cooperativas educacionais, 2 -
Cooperativas agrícolas ou agropecuárias, 3 - Cooperativa de crédito, 4 - Cooperativas de
consumo, 5 - Cooperativas habitacionais, 6 - Cooperativas de infraestrutura, 7 - Cooperativas de
Produção, 8 - Cooperativas de mineração, 9 - Cooperativas de saúde, 10 - Cooperativas sociais
ou Especiais, 11 - Cooperativas de trabalho, 12 - Cooperativas de turismo e lazer, 13 -
Cooperativas de Transporte.
56
No estado de Goiás são nove ramos atuantes: 1 - Cooperativas de Consumo, 2 - Cooperativas
de Crédito, 3 - Cooperativas Educacionais, 4 - Cooperativas habitacionais, 5 - Cooperativas de
produção, 6 - Cooperativas de saúde, 7 - Cooperativas de Trabalho, 8 - Cooperativas de
Transporte, 9 – Cooperativas Agrícolas.
57 De acordo com dados da OCB-GO (2017), as cooperativas agropecuárias juntas somam um
capital social de R$ 1,04 bilhão, têm 30.879 associados e empregam 5.296.
242

que compreende os anos de 2013 a 2017. No ano de 2017, foi contabilizado um


total de setenta e quatro cooperativas agropecuárias, três cooperativas de
consumo, trinta e seis de crédito, sete cooperativas do ramo educacional, quatro
habitacional, uma de produção, vinte e nove de saúde, treze de trabalho e
quarenta e oito de transporte. Já nos ramos especial, infraestrutura, mineral,
turismo e lazer não há nenhuma registrada (OCB, 2017). Como se constata junto
à OCB de Goiás, há o registro de um total de duzentas e quinze cooperativas na
ativa, funcionando de forma regularizada. Salienta-se que existem algumas
cooperativas atuando no estado de Goiás, mas que ainda não estão totalmente
regularizadas, além de existirem algumas que ainda estão em fase de
implantação e estruturação.
Com relação à quantidade de cooperados, evidencia-se que nos
últimos cinco anos o crescimento foi de 47,4%. O gráfico 9 apresenta esse
aumento de cooperados no Estado de Goiás:

Gráfico 9 – Número de cooperados em Goiás no período de 2013 a 2017


250.000

200.000

150.000

100.000

50.000

0
2006 2009 2016 2018

FONTE: OCB-GO (2018), dados do ano de 2017, organizado por Oliveira (2018).

Ao verificar o gráfico se constata que o número de cooperados entre os


anos de 2006 a 2018 foi constantemente crescente. É preciso dizer que o ramo
do cooperativismo que mais contribuiu para o aumento de cooperados foi o de
crédito, contabilizando quase sessenta e oito mil novos cooperados. Ao verificar
esse aumento de cooperados por gênero, foram obtidos os seguintes resultados:
cento e quatro mil e duzentos e noventa e sete homens cooperados, o que
243

equivale a 69,4%; em contrapartida, o número de mulheres cooperadas é de


quarenta e seis mil e quarenta e oito, o equivalente a 30,6%. A diferença do
número de cooperados homens em relação às cooperadas mulheres é de
cinquenta e oito mil e duzentos e quarenta e nove. Existem muitas explicações
que justificam essa diferença, uma delas é que o ramo que concentra o maior
número de pessoas cooperadas é o agropecuário, e essa atividade sempre
ocorreu com uma presença muito maior de homens.
Outra justificativa é que, historicamente, a cultura machista, patriarcal
prevaleceu dominante e enraizada entre os brasileiros/goianos por muitas
décadas, situação que excluía as mulheres de participação em instituições de
poder e decisão. Nesse sentido, o cooperativismo tem avançado
significativamente na superação desse tipo de desigualdade. Os números
apresentados no total geral mostram esse desnível entre gênero, mas o aumento
de mulheres cooperadas nesse período foi muito maior do que se comparado a
períodos anteriores: foi de 16.083 (OCB, 2018).

7.3 Um olhar para algumas caraterísticas físicas do município de Iporá na


relação com o cooperativismo

A seguir, destacam-se alguns dados oriundos das referidas


cooperativas, mas, antes disso, faz-se relevante abordar alguns elementos de
caracterização física do município de Iporá. Trata-se de características
importantes e influentes para a produção e consecutivamente para o movimento
cooperativista local. Será abordada a configuração do relevo, das rodovias de
acesso, da hidrografia, da altimetria, o uso e a ocupação territorial do referido
município.
Na sequência, verifica-se o Mapa de Uso e ocupação de Iporá (ver
mapa 8):
244

Mapa 8: Uso e ocupação do solo - Características de Iporá e algumas relações com


as cooperativas

FONTE: Alves (2021)

Observando as informações contidas no mapa constata-se que as


pastagens têm predomínio e o Cerrado que é mantido se mostra mais
concentrado nas partes mais onduladas, e onde estão especialmente localizados
as serras e os morros. De acordo com análise realizada por Sousa e Rodrigues
(2018, p.127), o relevo de Iporá tem a seguinte característica:

Suave ondulado a ondulado com topos convexos na maior parte


do município, geralmente onde predominan rochas do
embasamento cristalino, (711 km2). Altitude: 379 a 890 metros
Grau de dissecação do relevo: 3.3 (mediano). Grau de
entalhamento dos vales: 40 a 80 metros; Dimensão das vertentes:
150 a 350 metros; Densidade de drenagem: 3,54 km/km2;
Escoamento superficial/infiltração: Predomina escoamento
superficial.

Esse tipo de relevo é mais propício para a ocupação de pastagens e as


demais partes dos solos, consequentemente, são favoráveis à manutenção de
culturas do tipo permanente, e são nesses pontos que ocorrem maior
concentração de Cerrado, isso em função de se encontrarem mais protegidos.
Ainda se verifica que esse tipo de relevo é mais suscetível a erosões, tanto que
245

para se produzir no mesmo (gado, agricultura, ou qualquer outro tipo de


produção), é importante se ter bastante atenção para a aplicação de medidas de
preservação e também de conservação do solo.
A produção de gado é predominante no município de Iporá, e um dos
motivos para tal afirmação se deve ao fato de que,

As vegetações nativas no município são descontínuas e alteradas.


As pastagens ocupam cerca de 75% da área, enquanto a soma de
matas ciliares e reservas de um modo geral chegam a apenas
15% do território e as áreas agrícolas a aproximadamente 10%.
Some-se a isso o fato de que as pastagens apresentam-se em
sua maioria degradadas, influenciando no processo de
escoamento superficial e na perda de nutrientes dos solos.
(SOUZA; RODRIGUES, 2018, p.134).

Esse tipo de relevo apresentado no mapa é benéfico ao escoamento


ao invés de facilitar a infiltração. Assim, para produzir é preciso antes de tudo
considerar essa questão da água, tendo em vista que esse,

(...) relevo favorece mais o escoamento que a infiltração, e a


recarga do lençol freático é baixa, devido ao tipo de relevo e
rochas, que apresentam no município um sistema de juntas e
fraturas o que diminui a sua capacidade de
armazenamento/fornecimento de água subterrânea e para
perenização dos rios. Toda ação em relação ao meio físico no
município deverá apresentar criterioso planejamento, para não se
correr o risco de escassez de água, esgotamento dos solos e
perda da biodiversidade. (SOUZA; RODRIGUES, 2018, p.134)

Faz-se necessário destacar que a questão da água é elemento


fundamental para qualquer que seja o produtor brasileiro, mas, para os produtores
da agricultura Familiar, especialmente por terem recursos financeiros limitados, é
um elemento essencial. Por isso, é tão necessário que antes de começar a
produzir seja feito um bom planejamento considerando essas questões.
Ainda analisando a ocupação, verifica-se no quadro 16 que o solo de
Iporá já passou por intensa alteração a partir da intervenção para produção do
aumento de pastagens.
246

Quadro 16 – Utilização das terras do município


Utilização de terras - Estabelecimentos – Total (número) 1024
Utilização de terras em lavouras permanentes - Estabelecimentos (número) 41
Utilização de terras em lavouras temporárias - Estabelecimentos (número) 900
Utilização de terras em pastagens naturais - Estabelecimentos (número) 300
Utilização de terras em pastagens plantadas - Estabelecimentos (número) 825
Utilização de terras em matas naturais - Estabelecimentos (número) 835
Utilização de terras em matas plantadas - Estabelecimentos (número) -
Utilização de terras - Área total (ha) 88.945
Utilização de terras em lavouras permanentes - Área (ha) 95
Utilização de terras em lavouras temporárias - Área (ha) 2.251
Utilização de terras em pastagens naturais - Área (ha) 21.091

Utilização de terras em pastagens plantadas - Área (ha) 50.501


Utilização de terras em matas naturais - Área (ha) 13.204
FONTE: IMB (2018)

Constata-se também que essa área total disponibilizada para


pastagens evidenciada no mapa 8 se justifica em função da quantidade de
bovinos, que inclusive nas duas últimas décadas sempre foi crescente, o que
pode ser observado no gráfico 10.
Fica também evidente que o município de Iporá conta com um total de
1.024 propriedades, fato que reforça as explicações já apresentadas no que
concerne ao processo de ocupação e apropriação a partir de pequenas
propriedades. Sequencialmente, verifica-se também que o uso da terra em função
da produção de lavouras plantadas e também para pastagens plantadas é
bastante evidente. Essa questão é significativa para o cooperativismo de Iporá,
pois tal fato relaciona-se com a produção de leite, que é um dos principais
produtos utilizados pelas cooperativas locais, seguidamente da produção de
hortifrútis que também tem papel relevante para a ação interventiva,
especialmente da COOMARFIR.
Ainda com relação à ocupação rural no município de Iporá, se verifica a
existência da relação com fatos pontuais do processo histórico de apropriação e
ocupação. Como já especificado nesta pesquisa, tal fato decorreu a princípio pelo
uso de parte da propriedade de um dos latifundiários, pela intervenção direta e
política de Israel de Amorim, e em função de incentivos para ocupação do referido
município. Verifica sucessivamente se que o aumento populacional foi crescente;
247

fato evidenciado pela subdivisão das propriedades rurais. Esse processo se


estabilizou e se manteve somente a partir do ano de 2006.

Gráfico 10 – Unidades rurais em Iporá (1970-2006)

1200

1000

800

600

400

200

0
1970 1975 1980 1985 1995 2006

FONTE: Oliveira (2021), adaptado de (IBGE 2020) e (IMB, 2013, 2020

O município de Iporá conta atualmente com mais de mil propriedades


territoriais, distribuídas numa área total de 1.026,384 km². Se comparado aos
demais municípios da microrregião, verifica-se proporcionalmente que é o mesmo
têm a maior quantidade de propriedades rurais, e sucessivamente é o que obtêm
a maior quantidade de unidades territoriais. De tal modo se constata que o
município de Israelândia tem 294 unidades rurais, para uma área de 577 480 km²,
Ivolândia tem 476 para uma área de 1 263 km². Jaupaci tem 171 propriedades
rurais distribuídas em uma área de 527 103 km², Moiporá tem 229 em uma área
de 460 623 km², Novo Brasil tem 491 unidades rurais numa área de 649 954 km²,
Amorinópolis tem 284 numa área de 408 525 km², Cachoeira de Goiás tem 113
numa área de 415 730 km², Córrego do Ouro tem 368 e uma área de
462 302 km², e o município de Fazenda Nova tem 873 propriedades rurais
distribuídos na área total de 1.281,420 km².
Veja no gráfico 11 como se encontra distribuído à propriedade rural em
Iporá.
248

Gráfico 11 – Município de Iporá - Distribuição dos imóveis rurais de acordo com o


tamanho da propriedade - 2006

400

350

300

250

200

150

100

50

0
0-20 (MICRO) 21-50 (PEQUENA) área de 51-200 área de 201-1000 área de +1000
(MÉDIA) (GRANDE) (MUITO GRANDE)

FONTE: Oliveira (2021), adaptado de (IBGE 2020) e (IMB, 2013, 2020).

Como verificado mais de 61% das propriedades do município de Iporá


são classificadas como de porte micro ou pequena, atingindo no máximo 50
alqueires58. Fato que tem importância para organização do cooperativismo local,
especialmente para as cooperativas que trabalham com agricultura familiar. De tal
maneira ainda verificamos que a produção de hortifrútis, muito importante
especialmente para COOMAFIR, ocorre preferencialmente nesse tipo de
propriedade citada. Outro fator percebido é que essa ocupação permitiu o
desenvolvimento da criação de gado bovino, inclusive se tornando a principal
ocupação produtiva do município (ver gráfico 12):

58
A medida para alqueires a que se refere nessa pesquisa, refere-se ao alqueire goiano que equivale a 10.000
braças quadradas (4,84 hectares).
249

Gráfico 12 – Rebanho Bovino por cabeça no município de Iporá

FONTE: IMB (2018).

Ao verificar os dados do gráfico constata-se que o rebanho bovino em


Iporá e o número de vacas ordenhadas nessas duas últimas décadas também
foram crescentes. O que remete ao entendimento da necessidade de aumento de
pastagens para atender a essa necessidade. No ano de 1998 eram 92.000
cabeças, em 2018 esse número foi para 117.000 cabeças de gado bovino. Com
relação às vacas ordenhadas, observa-se que o aumento foi significativo, saindo
do total de 16.000 no ano de 1998, para 30.000 vacas ordenhadas. Se
comparado em proporção ao número de cabeças, constata-se que a margem de
aumento de vacas ordenhadas foi bem superior. Esse aumento cria uma
expectativa de substituição do manejo tradicional pela utilização de técnicas mais
avançadas e produtivas.
Ainda com relação ao relevo de Iporá, destaca-se que todas as
unidades geomorfológicas do município apresentam um relevo com ondulações.
O referido relevo tem formas convexas, apresentando, assim, formas aguçadas
em alinhamentos tanto de serras como também formas tabulares e/ou planas,
predominando as litologias das formações Furnas, Aquidauana e Ponta Grossa
(SOUSA; RODRIGUES, 2010), como pode ser verificado na citação a seguir:

(...) predominando relevo colinoso de topo convexo sobre rochas


graníticas e gnáissicas, relevo mais aplainado quando há terrenos
da Bacia do Paraná e relevo de topo aguçado onde predomina
terrenos vulcano-sedimentar ou da Província alcalina. Também as
elevações mais acentuadas estão associadas a corpos graníticos
intrusivos e rochas alcalinas da Província Iporá-Rio Verde, como é
250

o caso do Morro do Macaco a oeste da cidade de Iporá. (SOUSA;


RODRIGUES, 2010, p. 6)

Conforme foi descrito anteriormente, o relevo do município de Iporá é


ondulado, com presença de serras e morros. Esse fato é importante por motivos
diversos, sendo um deles a possibilidade de entender muitos aspectos relativos à
produção e consequentemente às possibilidades de organização da mesma.
Nesse sentido, uma boa comparação para entender essa especificidade e
caraterística do relevo de Iporá poderia ser o relevo presente na região sudoeste,
onde está concentrada a maior produção de grãos do estado de Goiás. Nessa
região predomina um relevo plano, oriundo do planalto setentrional da bacia do rio
Paraná, como mencionado por Nascimento (1992).
Nessa área adentrou a agricultura mecanizada na década de 1960,
oriunda do movimento da Revolução Verde, citado por Milton Santos no seu livro
“A urbanização brasileira”. Esse movimento contribuiu para a concentração das
commodities e de grandes latifúndios e mudou a dinâmica espacial na região
citada.
Já Iporá não viveu uma intensa modificação da dinâmica espacial e do
modo produtivo, principalmente em função das características do relevo, que não
favorecia a grande produção mecanizada naquele momento. No entanto, com a
falta de áreas para expandir a produção agrícola no sul e no sudoeste de Goiás,
houve o avanço da fronteira agrícola, e consequentemente as áreas da região de
Iporá que apresentam características favoráveis ao modelo produtivo já
implantado têm sido alvo de arrendatários com o objetivo de produzir grãos.
Com relação à geomorfologia, predominam em Iporá dois
compartimentos topográficos: Depressão do Araguaia e Planalto dos Guimarães
Alcantilados, e seis unidades, conforme demonstrado no mapa 9.
251

Mapa 9: Caracterização do relevo do município de Iporá

FONTE: Superintendência de Geologia e Mineração da Secretaria da Indústria e


Comércio (2006). Adaptado por Alves (2020).

As características e o tipo de relevo de Iporá são bastante benéficos ou


propícios a pastagens, o que induz mais ainda à produção e à criação de animais.
Fato é que,

Do ponto de vista estritamente físico, o município apresenta certa


fragilidade ao uso e ocupação, primeiro pelas condições de relevo
que merecem maior atenção devido à suscetibilidade erosiva,
necessitando de medidas preventivas e conservacionistas dos
solos. (SOUSA; RODRIGUES, 2018, p. 138)

O município de Iporá e os municípios limítrofes se encontram inseridos


na área drenada da Bacia Hidrográfica do Araguaia, que tem uma área total de
pouco mais de 86 mil km²; a referida área dessa bacia atinge 49 municípios.
Como referência de rio, o Araguaia é o principal; trata-se de um rio que percorre
2.115 km, nascendo na serra do Caiapó, precisamente na divisa dos estados de
Goiás/Mato Grosso, e desaguando no Rio Tocantins. Dentre os afluentes,
destacam-se: Rio Caiapó, Rio Crixás, Rio Babilônia, Rio do peixe I e II, Rio
Vermelho, Rio Matrinchã e Pintado. Portanto, o município de Iporá se encontra
drenado pelas bacias do Rio dos Bois, Ribeirão Santo Antônio, Ribeirão Santa
Marta, Ribeirão Lageado (SOUSA; RODRIGUES, 2018).
252

A criação de gado bovino se destaca como opção para esse tipo de


relevo encontrado em Iporá; tal fato tem relação direta com um dos principais
ramos do cooperativismo do município, pois é a criação de gado para produção
de leite que é tida como a principal ocupação pela maioria dos cooperados da
região.
A COOPROL tem como principal produto o leite. Já a COOMAFIR
possui uma maior diversidade de produção, incluindo os produtos hortifrútis e o
leite, mas, acredita-se ser relevante destacar que o leite ainda é o principal
produto da referida cooperativa, especialmente em razão do volume de negócios
que o mesmo representa no contexto atual se comparado aos demais produtos.
A COOPERCOISAS não trabalha diretamente com o leite, tendo,
portanto, como principais produtos os hortifrútis, o artesanato e outros; mas é
interessante especificar que muitos cooperados da mesma utilizam os derivados
do leite para produção de biscoitos, doces, queijos e outros.
Ainda com relação ao relevo e ao modo de produção verifica-se que as
variáveis como solos e clima são importantes para a apropriação desse tipo de
natureza. Destaca-se ainda que esse tipo de relevo é menos propício ao uso de
maquinários, especialmente de grande porte, de maneira que exige uma maior
presença do produtor no processo de cuidados com a terra e com a produção
realizada sobre a mesma. Aliado a essa questão, está o fato de que o município
de Iporá é composto predominantemente por pequenas propriedades rurais e que
a agricultura de modo familiar tem presença marcante na produção local. Ao
visitar as cooperativas estudadas se averigua que o formato de organização de
produção pelas vias da agricultura familiar está implicitamente enraizado no
discurso e na prática dos cooperados.
De acordo com o cooperado59 da COOMAFIR, morador da comunidade
do Cedro: “(...) todos os vizinhos da minha propriedade são pequenos
proprietários rurais, e todos vivem da produção de pequeno porte, que envolve
quase toda a família.” Depoimentos semelhantes a esse são comuns de se ouvir
da maioria dos cooperados visitados. São depoimentos que justificam afirmar que
a maioria dos cooperados pesquisados é oriunda da agricultura familiar. Ainda
para esse mesmo cooperado, a cooperativa: “(...) contribui muito no ganho
financeiro da produção de leite, e ajuda muito na organização da produção,

59
Cooperado da COOMAFIR, oriundo da agricultura familiar. Produz leite, mas também junto com
a esposa que não é cooperada produzem algumas verduras e ainda criam galinhas e porcos.
Entrevista concedida em 25 de setembro de 2020.
253

inclusive incentivando a produção de outras coisas, como galinha caipirinha e


algumas verduras”. Verifica-se o valor atual dos produtos comercializados pelo
referido cooperado, conforme descrito no Quadro 17:

Quadro 17 – Preço dos produtos disponíveis para venda


Produto Preço
Frango caipira vivo 30,00
Frango caipira limpo (cortado) 40,00
Suíno caipira 12,00/kg
Ovos/dúzia 10,00
Guariroba/peça De 10,00 a 15,00
Abobrinha verde/kg 5,00
Jiló 5,00
Quiabo 4,00
Abacate/unidade 2,00
Mandioca com casca 1,50
Mandioca sem casca 3,00
FONTE: Oliveira (2021), organizado a partir de entrevista concedida em 25 de setembro
de 2020.

De acordo com o cooperado, o trabalho na roça é bastante pesado,


mas é compensativo para quem tem a sua propriedade. O mesmo disse, ainda,
que só não produz mais, em função da limitação de tempo, especialmente porque
o cuidado com o gado exige boa parte do dia. E destacou que tem conseguido
essa variedade de produtos porque conta com a ajuda de sua esposa e do filho
que auxilia um pouco no fim da tarde. Para a venda desses produtos
especificados no quadro, disse que faz a Feira da Agricultura Familiar, mas que
não leva muita coisa para vender na feira, pois nos últimos meses a demanda
pelos produtos desse tipo aumentou muito, assim, boa parte das pessoas que são
“conhecidas”, e que são clientes “fixos” encomendam produtos por contato
telefônico. Nesse sentido, a Feira serve mais para fazer entregas. Com relação ao
leite, ele disse que nesse momento a renda aumentou, porque houve uma boa
valorização, mas o que fica mais caro na produção de leite é o trato animal, que
no momento representa cerca de 30% a 40% da renda da produção de leite.
O referido cooperado disse ainda que está iniciando a produção de
bananas para vender na cooperativa, que deverá ser entregue nas escolas.
Quanto a essa produção, ele afirmou que está ansioso para a volta das aulas,
porque tem a expectativa de vender boa parte de sua produção para a
cooperativa. E acrescentou ainda que é bem provável que irá entregar a
administração do gado para seu filho, porque o mesmo trabalha na cidade, mas o
salário é muito pouco, assim está planejando com o filho essa parceria na
produção de leite. Acredita que dessa forma terá mais tempo para a produção de
254

verduras e a cria de animais, como porco e galinha, e que assim poderá vender
esse tipo de produto também para a cooperativa. Esse depoimento se evidencia
como um aspecto interessante; pois se trata de uma pessoa com emprego na
cidade que está viabilizando sua permanência na propriedade rural com base em
uma atividade que dependerá diretamente da participação na cooperativa. Trata-
se, portanto de uma interferência na dinâmica sócio-espacial.
Também é relevante destacar nessas informações obtidas por meio do
referido cooperado que houve um aumento pela procura de produtos produzidos
por produtores da agricultura Familiar. Segundo o mesmo, muitos produtores já
não produzem mais como antigamente, disse ainda que há muitas pessoas sendo
resgatadas pela cooperativa para voltarem a produzir e para, inclusive,
produzirem com possibilidade de maior variedade. Verifica-se essa questão
abordada a partir da produção de aves e suínos (ver gráfico 13):

Gráfico 13 – Produção de Aves e suínos no município de Iporá

FONTE: IMB (2018)

Observa-se nesse gráfico que tanto o rebanho de aves como também


de suínos tiveram significativa diminuição de produção, fato abordado pelo
entrevistado cooperado anterior.
Evidencia-se que a produção de aves proporcionalmente foi mais
impactada do que a produção de suínos. No ano de 1998 eram produzidas 75.230
aves, já em 2018 totalizou 38.125. Com relação à produção de suínos, em 1998
eram 8.080 cabeças, em 2018 caiu para 5.500. Esses dados são importantes
255

para entender porque houve aumento de procura para esse tipo de produto; com
certeza, não existe apenas uma variável para essa explicação, porém, o fato de
ter reduzido a produção local é uma importante justificativa para o aumento da
demanda, ou seja, aumentou o número pessoas, enquanto a produção diminuiu.
Quanto à intervenção da cooperativa no sentido de incentivar o
aumento e a produção com mais variedade, vê-se que um argumento que tem
sido bastante utilizado junto aos produtores diz respeito aos programas
acessados pela cooperativa. O Programa do PNAE é um deles, a cooperativa tem
acesso à compra direto do produtor para fornecer às escolas. Nesse sentido, o
cooperado já inicia a produção com a certeza de quem é o comprador.
Analisando esses dados e especialmente os depoimentos anteriores
pode-se dizer que a referida cooperativa tem influenciado na prática de
organização dos produtores do município de Iporá. Além disso, tem utilizado a
agricultura familiar como modelo de estruturação e organização dos cooperados,
sequencialmente, tem organizado o processo de venda e de logística de produção
do leite dos cooperados, e ainda os influencia para que ocorra a produção de
hortifrútis e de animais de pequeno porte como forma de incremento de renda e
de variabilidade produtiva.
Verifica-se, a seguir (mapa 10), o mapa hidrográfico e altimétrica do
município de Iporá:
256

Mapa 10: Caracterização hidrográfica e altimétrica

FONTE: Superintendência de Geologia e Mineração da Secretaria da Indústria e


Comércio (2014). Adaptado por Alves (2020).

Observa-se, no mapa, a representação da drenagem de cursos d' água


perenes. E, de acordo com Sousa e Rodrigues (2018, p. 137), o município em
questão é especificamente:

(...) drenado por quatro microbacias: a do ribeirão Santo Antônio


que drena a parte central do município e deságua no rio Caiapó e
ocupa uma área de 397,3 Km2 ou 39,2% da área total do mesmo.
Ao leste tem-se a bacia do ribeirão Santa Marta que deságua no rio
Claro e desse, diretamente no Araguaia, esta bacia ocupa 313,68
km 2 ou 30,52% da área. Ao oeste, o município é drenado pela
bacia do ribeirão Lageado, que deságua no rio Caiapó, ocupando
uma área de 213,26 km2 ou 21,52% da área total. Ao norte tem-se
a bacia do rio dos Bois que deságua no Araguaia, e ocupa no
município uma área de 88,76 km2 ou 8,7%.

Iporá é banhado pelo Rio Claro e pelo Rio Caiapó, e por dois ribeirões,
sendo: Ribeirão Santo Antônio e Ribeirão Santa Marta; é cortado também por
pequenos córregos, como o Córrego Tamanduá.
O município de Iporá é bastante privilegiado do ponto de vista
hidrográfico; possui significativa quantidade de nascentes e de cursos de água,
especialmente perenes, com ótima distribuição por todo o território do referido
município. Esse fato é bastante significativo para a produção de hortifrútis e para
257

a criação de animais, atividades realizadas especialmente por cooperados


oriundos da agricultura familiar.
Já com relação à hipsometria do município, evidencia-se a variação de
507 a 669 metros. Em análise realizada por Alves (2014, p.63) se percebeu em
pesquisas realizadas por outros pesquisadores, como Macedo (2012), que
mesmo em diferenças altimétrica superiores a 100 metros, “(...) a altitude não foi
decisiva no registro dos valores máximos e mínimos de temperatura, mas, sim,
outros fatores, como as formas de uso do solo e a exposição das vertentes.”
Ainda em pesquisa intitulada “As interações espaciais e clima: O clima urbano de
Iporá-GO”, realizada por Alves no ano de 2014, verificou-se que as temperaturas
mais baixas foram registradas no município de Iporá no mês de julho e na zona
rural. Já as temperaturas mais elevadas foram registradas no mês de outubro.
Nota-se no município uma distribuição de chuva característica de
climas tropicais, marcada pela sazonalidade, em que os mais de 75% ocorrem no
período de outubro a março e cerca de 25% entre abril e maio, sendo que é
comum haver de três a quatro meses sem chuva na região, conforme
demonstrado no gráfico 14.

Gráfico 14 – Médias mensais de chuva em Iporá-GO

FONTE: Laboratório de Climatologia da UEG – Unidade de Iporá.

Importante destacar que esta questão se faz relevante para entender


como ocorre o processo produtivo durante o ano nas cooperativas locais. Essa
variação de temperatura, da distribuição mensal das chuvas e de estações do ano
impacta diretamente na quantidade, no manejo e nos tipos de produtos
produzidos pelos cooperados locais.
Diante disso, é importante aprofundar um pouco mais na relação
apresentada no mapa hidrográfico e altimétrica, no sentido de tentar entender a
258

importância dessas características do município de Iporá para as cooperativas


locais, ou melhor, para a organização produtiva dos cooperados. Destaca-se,
inicialmente, o depoimento de um dos cooperados da COOMAFIR, morador na
Fazenda Jacuba, que afirma: “a gente aqui na roça não entende muito dessas
coisas de técnicas estudadas nas faculdades, mas uma coisa é certa o
conhecimento da terra onde trabalhamos é essencial para a produção”; ele
acrescentou ainda: “aqui tem um clima bem definido, e isso influencia muito no
jeito de produzir, principalmente para quem tem poucos recursos financeiros”, por
fim, destacou que: “no ano passado veio um pessoal bem formado e ajudou o
fazendeiro aqui do lado para produzir soja, mas ele não se deu bem faltou
preparar melhor a terra e faltou conhecer melhor o nosso clima e a terra; o
prejuízo foi grande”.
Não raramente se verifica esse tipo de depoimento. Muitos cooperados
se enaltecem com o conhecimento popular, conhecimento que foi possível obter
pelo repasse hereditário e também por meio da prática. Outro fato evidenciado é o
modo tradicionalista e conservador de produção.
Os elementos físicos e também os aspectos culturais no processo de
organização e constituição das cooperativas locais têm bastante influência, pois a
produção tem relação direta com eles. A hidrografia local foi necessária para
planejar a produção, de acordo com o membro 60 da diretoria da COOPROL: “a
produção do leite tem influência total com o clima e com a questão hidrográfica”,
destacou também que “a cooperativa planeja as ações anuais a partir de critérios
ordenados por cada período do ano, pois tem época que a produção cai e nesse
momento basicamente é realizada a manutenção, ou seja, a conservação”, e
disse ainda que: “existe períodos que a cooperativa precisa assistir mais o
produtor, pois a seca castiga o bolso e muito”. Ele acrescentou ainda, com
relação à hidrografia: “(...) nós estamos numa região privilegiada, pois aqui tem
muita água, muitas nascentes, muitos pequenos córregos; a hidrografia daqui é
muito bem distribuída, propiciando um bom acesso aos nossos cooperados”.
Verifica-se que o acesso aos vários pequenos córregos contribui para a
produção e influencia no tipo da mesma; para a cooperada da COOMAFIR,
moradora61 na fazenda Jacuba, o acesso ao córrego foi definitivo para organizar a

60
O referido cooperado produz em média 200 litros de leite ao dia. É cooperado e membro da
diretoria da COOPROL e é associado também ao Sindicato Rural de Iporá, Diorama e Israelândia.
Entrevista concedida em 09 de agosto de 2020.
61
A referida cooperada mora em fazenda localizada a cerca de quase vinte quilômetros do
perímetro urbano de Iporá; trata-se de cooperada que tem produção bastante variada, de produtos
259

produção em sua propriedade, disse ainda que: “a criação de frangos caipiras,


porcos, peixes, bananeiras, abobrinha, quiabo, jiló e as folhagens tem total
influência do acesso ao córrego que passa pela sua propriedade”, e que: “a
cooperativa ajudou muito instruindo no manejo de organização da nossa
propriedade que é pequena, e também ajuda muito garantindo boa parte da
compra de nossa produção”. A moradora ainda falou que: “(...) a produção aqui
teve que ter um planejamento em razão do acesso a água e também por causa
de cada tempo de estação do ano; pois para cada tipo de tempo é necessário
uma forma para organizar a nossa produção”.
Nota-se que o acesso à água e a terra é condição para a produção de
grandes e pequenos produtores. Portanto, isso é o comum em qualquer lugar,
não é uma especificidade do município de Iporá. Mas, porém, não deixa de ser
relevante ressaltar que para essa cooperada entrevistada e para muitos outros,
esses elementos são essenciais para garantia da atual produção que se tem
realizado.
Evidenciou–se que em Iporá mais de 60% dos produtores de hortaliças
têm acesso misto à água, ou seja, à água de poço artesiano e também à água de
córrego; na zona urbana esse tipo de produção é realizado especialmente por
meio do acesso a um poço artesiano. Dos entrevistados, todos os produtores da
zona rural têm um poço artesiano. Através de entrevista a alguns produtores62 de
hortaliças, foram obtidos os seguintes resultados, conforme os gráficos que
seguem:
Ao analisar os dados do gráfico 15 (A, B e C) verifica-se no Gráfico A
que o acesso à água é um elemento de fundamental importância nesse tipo de
produção. Os produtores que possuem acesso facilitado a uma maior quantidade
de água são os que obtêm maior renda. Também se constatou que os que
produzem na zona rural são os que produzem em maior quantidade,
principalmente legumes. A partir do Gráfico B, observa-se que todos os
produtores entrevistados da zona rural alegaram ter a necessidade de vender na
cooperativa, pois em função da distância e da limitação de tempo disseram ter

como verduras, derivados do leite e animais caipira de pequeno porte. A mesma vende parte de
sua produção também na feira livre, realizada semanalmente na 4ª feira, localizada no setor Padre
Cícero. Entrevista concedida em 05 de agosto de 2021.
62
Definiu-se por entrevistar seis produtores de hortaliças. Sendo que três destes produzem na
zona rural e os outros três produzem no perímetro urbano; nem todos são cooperados. Cinco dos
entrevistados são do sexo masculino e uma do sexo feminino. O produtor que tem propriedade
mais distante da zona urbana está localizado a cerca de 20 km do perímetro urbano. Entrevista
realizada entre os dias 09 a 16 de abril de 2020.
260

dificuldades para vender no comércio. Os produtores da zona urbana têm mais


facilidade de realizar a venda na porta da horta.

Gráfico 15 – Perfil de produtores de hortaliças (%)


A
100 100
90
80
66,5 66,5 66,6
70
60 49,9 49,9
50
40
30
20
10
0
Produz vegetais Produz Produz no Produz na zona Utiliza água de Utiliza água de
legumes perímetro rural poço artesiano córrego
urbano

B
90 83,3 83,3 83,3
80 66,5 66,5
70
60
50
40 33,3
30
20
10
0
Vende para Vende em feiras Vende no Produz em Produz em Tem ajudante
cooperativa livres comércio local propriedade ou propriedade ou ou funcionário
(supermercados em terreno em terreno
e outros) próprio arrendado

C
70 66,5 66,5

60
49,9 49,9
50

40

30 23,3 23,3
20

10

0
Obtém renda Obtém renda Faixa etária Faixa etária Tempo de Tempo de
média de 1 a média de 4 a 41 a 50 anos 51 anos ou trabalho trabalho
3 salários 6 salários mais 10 a 20 anos 21 a 30 anos
mínimos por mínimos por
mês mês

FONTE: Produtores de hortaliças; entrevistas realizadas entre os dias 09 a 16 de abril de


2020. Organizado por Oliveira (2020)
261

Outro fator que precisaria ser considerado é a questão do acesso


rodoviário a Iporá. O município se limita com Ivolândia e Moiporá a leste, e com o
município de Arenópolis a Oeste, ao Norte se limita com Diorama, Israelândia e
Jaupaci; também com Amorinópolis e Ivolândia ao Sul. Tem ainda ligação com a
capital de Goiás (Goiânia) através da GO-060, ficando a quase 220 km de
distância da mesma. E têm também como acesso as seguintes vias: GO-221,
GO-174 e GO-320, conforme representado no mapa 11:

Mapa 11: Estrutura rodoviária de acessibilidade ao município de Iporá

FONTE: Agência Goiana de Transporte e Obras Públicas (2012). Adaptado por Alves
(2020).

Ao analisar o mapa de acesso rodoviário ao município de Iporá,


observa-se que ele possui uma localização que é bastante acessível, o que
facilita o escoamento de parte da produção para outros municípios como, por
exemplo, Goiânia, Anápolis, Trindade e Aparecida de Goiânia. Já pela GO-174 se
obtêm acesso ao município de Rio Verde e, a partir desse, para outros municípios
como Jataí, Uberlândia, São Paulo e outros. Pela GO-221 obtêm acesso à BR-
158, estando assim ligado aos municípios de Caiapônia, Jataí, Aparecida do
Taboado, Três Lagoas e outros. Pela GO-320 se tem acesso ao município de
Ivolândia, Aurilândia e outros. Pela GO-174 o acesso é possível ao município de
Montes Claros, registro do Araguaia. Também por meio da GO-060 é possível o
262

acesso ao município de Piranhas, e, a partir daí, à BR-158, que amplia a entrada


a municípios do estado do Mato Grosso, como Barra Garças.
Esse acesso facilitado permite uma melhor logística de escoamento de
produtos produzidos por cooperados. De acordo com um dos cooperados63 da
COOPERCOISAS, ele é produtor de mel de abelha e atualmente já conta com um
bom acesso aos mercados dos municípios de São Luís de Montes Belos, Goiânia,
Rio Verde e também em outros países.

Nos últimos 11 anos a produção de mel no município de Iporá


aumentou 111,5%. Em 2004, os apicultores de Iporá colheram
2.600 quilos de mel. No ano passado, essa produção chegou a
5.500 quilos. (...) Cerca de 10 apicultores estão em atividade com
colmeias que aproveitam a florada da vegetação do município
com duas colheitas ao ano: maio e setembro. O litro de mel custa
entre 30 e 40 reais. (OESTE GOIANO, 2016, p. 1)

Na referida reportagem é apresentado o potencial produtivo de mel em


Iporá, produção essa que é realizada por meio de pequenos produtores da
agricultura familiar; o produto atende ao mercado interno, mas boa parte do
mesmo é exportada e/ou vendida em municípios com os já citados anteriormente,
dentre outros.
De acordo com o produtor de mel entrevistado, já é possível vender
seus produtos e fazer entrega a diversos municípios no mesmo dia,
especialmente através de transportadoras que fazem esse translado aos
municípios já citados. Em entrevista com uma cooperada64 da COOMAFIR,
produtora de coelhos, ela afirmou que o seu maior mercado se concentra na
capital do estado. Existe um grande interesse pela produção de coelho e também
de rãs; no caso do acesso, o mesmo é facilitado pela rodovia GO-060; quase toda
a produção é vendida para consumidores externos a Iporá.
De acordo com uma cooperada65 da COOPERCOISAS, que também é
produtora de conservas, “(...) na cidade de Iporá passa muitas pessoas de outros
estados e outras regiões, essa facilidade de acesso e de locomoção ajuda
promover os nossos produtos, facilitando, inclusive a venda para lugares distantes

63
Produtor associado à COOPERCOISAS; é cooperado desde o início da referida cooperativa.
Entrevista concedida em 16 de janeiro de 2021.
64
A entrevistada é cooperada na COOMAFIR e faz parte da diretoria da mesma. A mesma tem
uma produção bastante diversificada, produz atualmente: frango caipira, ovos, queijo, leite, rãs,
coelhos e cultiva: seringueiras, guariroba, banana, dentre outros. Entrevista concedida em 03 de
junho agosto de 2020.
65
A entrevistada trabalha com a produção e a venda de conservas e o esposo também é
cooperado, só que em outra cooperativa. Entrevista concedida em 15 de outubro de 2020.
263

daqui”. A cooperada ainda salientou que: “(...) como Iporá é uma referência
regional, a quantidade de pessoas de municípios vizinhos por aqui é muito
grande, isso também facilita vender os nossos produtos”. E completou: “dizem até
que Iporá é a capital do Oeste Goiano, tem exagerados que fala em até capital do
universo”. Depoimentos como esses levam a entender porque entre os populares,
expressões como as citadas corriqueiramente, e entre os comerciantes a maioria
faz questão de oferecer tratamento especial aos moradores de municípios
circunvizinhos. E também porque existem inclusive livros e diversos artigos que
colocam o município de Iporá como uma referência regional.
Diante desse contexto, é possível afirmar que existem alguns
elementos que justificam o que foi citado anteriormente, porém, o que se tem de
mais concreto é que o acesso rodoviário é um facilitador de locomoção, de
distribuição e também de acesso. Tais fatores são importantes elementos para
justificar porque o município é considerado uma centralidade regional; claro que
esse não é o único fator. Em conclusão, salienta-se também que esses subsídios
físicos e culturais sempre foram e continuam sendo fundamentais para o
cooperativismo local. São ainda importantes para que se facilite a questão de
logística, e para a ampliação do acesso tanto de cooperados de outras regiões
como também do público possível de consumidores, pois, como foi exposto por
um dos cooperados66 da COOMAFIR, morador da Bugre: “Eu vendo muito para
Goiânia e para Barra do Garças”.
Acrescentou ainda “(...) vendo tapetes, queijos, frango e ovos caipira;
vendo quase tudo pra fora, pois tenho quem me ajuda com a venda nessas
cidades; sempre envio os produtos tudo pela transportadora ou pelo ônibus”. O
mesmo disse que os produtos são vendidos por um preço melhor nesses
municípios citados. E afirmou ainda que as pessoas que fazem transporte
particular são muitas, quando é necessário enviar com mais urgência, eles
entregam no local indicado. Verifica-se que as vendas externas são realizadas no
formato individual, nesse caso em específico tudo é organizado pelo próprio
produtor. Mas ele destacou que a renda aumentou consideravelmente após ter se
inserido na cooperativa. Antes de ser cooperado o mesmo tinha a média
renda/mensal de R$ 2.000,00 e passou para quase R$ 4.000,00 ao mês, após se
tornar cooperado. A principal justificativa se deve ao fato de que a cooperativa

66
Cooperado há quase quatro anos. Além de participar da cooperativa, participa também de uma
igreja na zona rural. Entrevista realizada em 05 de junho de 2020 e em 19 de janeiro de 2020.
264

passou a comprar parte de sua produção, segundo o mesmo, o correspondente a


cerca de 30% da produção, atingindo ainda em alguns períodos do ano até 50%.
Ainda com relação à questão de acesso rodoviário, fica evidente que
as rodovias estaduais cumprem com significativa relevância o papel de
facilitadoras de acesso ao referido município, e que são importantes
influenciadoras no processo de organização e logística para o município, bem
como para as cooperativas locais.
Nessa questão exposta e analisada se faz relevante ressaltar que o
município de Iporá não conta com nenhuma rodovia federal, não tem nenhuma
linha ferroviária e o aeroporto não é regulamentado para pousos. Mas essas
últimas questões são assunto para outra possível pesquisa.

7.4 Cooperativismo no Município de Iporá

Ao pesquisar o cooperativismo no Brasil, observa-se a ampliação


expressiva de pesquisas que evidenciam registros do aumento do número de
cooperativas criadas nessas últimas décadas. Não diferente desse aumento de
cooperativas no cenário nacional, as pequenas cidades também registram um
amplo aumento da presença do cooperativismo. Emergiram muitas cooperativas
que, por meio das atividades desenvolvidas, passaram a influenciar na dinâmica
de (re)organização desses municípios.
No município de Iporá registram-se algumas cooperativas que têm se
mostrado importantes para a organização social, cultural e econômica do
município. As mesmas possibilitam a evidenciação de que existem pessoas que
se identificam com o modelo de organização cooperativista, corroborando com a
afirmação de que há pessoas que querem se organizar de forma coletiva e mútua.
Além disso, oferecem respaldo para se tentar entender como o cooperativismo se
estrutura e como tem influenciado na organização sócio-espacial local.
Em Iporá se verifica a atuação de cooperativas internas e externas. Por
cooperativas internas se entende as que foram originadas, tendo sede no
município de Iporá. Porém, salienta-se que muitas destas desde a sua criação, já
surgiram com atuação a extrapolar os limites territoriais do referido município. Já
com relação às cooperativas externas, estas são as que sugiram em outros
municípios, e passaram a ter atuação local, junto ao município de Iporá; mas
comumente são cooperativas que atuam em diversos estados ou mesmo em nível
nacional.
265

A seguir, é exposta uma breve Caracterização das cooperativas


externas que têm importante atuação regional a partir do município de Iporá.

7.4.1 - SICREDI

O SICREDI foi a primeira instituição cooperativa de crédito a se


estruturar no Brasil. Tem atuação em 22 estados e no Distrito Federal, conta com
3,8 milhões de cooperados e possui mais de 1.600 agências bancárias. O
município de Iporá, no dia 1º de agosto de 2018, recebeu uma agência bancária
dessa instituição. De acordo com informações de um funcionário 67, o referido
banco tem livre admissão, ou seja, qualquer pessoa pode fazer parte do
SICREDI. Na agência Iporá é ofertada uma variedade de serviços, ou seja, os
mesmos que são ofertados pela rede bancária convencional. Porém, o
cooperativismo de crédito disponibilizado através do SICREDI tem muitos
diferenciais em relação aos bancos convencionais. Ele preza pela democracia, o
que permite ofertar um modelo de gestão que valoriza a participação, conferindo o
direito ao cooperado de contribuir nas decisões, inclusive votando.
Na Figura 22 tem-se o prédio do SICREDI:

67
Funcionário do SICREDI há quase 12 meses. Entrevista concedida em 14 de fevereiro de 2020.
266

Figura 22 – Nova sede do SICREDI

FONTE: Oeste Goiano (2018).

Como se verifica nessa figura, o prédio foi inaugurado recentemente,


no ano de 2019, é bastante moderno, especialmente se comparado ao antigo
escritório do SICREDI que já estava atuando em Iporá. O prédio tem 519 m2 e
oferece uma ótima estrutura para atendimento e prestação de serviços, inclusive
para reuniões.
O gerente da agência destacou ainda que o SICREDI tem uma atuação
diferenciada e bastante eficiente, prezando pela participação e pela presença na
comunidade, e isso é manifestado pela instituição por meio de apoio ao sindicato
rural, ao produtor rural, à comunidade e através de palestras de formação e
assessoria. De acordo com Zeir Ascari, presidente da cooperativa SICREDI
Cerrado de Rio Verde, o interesse da comunidade pelos serviços oferecidos pelo
SICREDI e a pujança da economia local foram fatores determinantes para ampliar
os serviços ofertados (OESTE GOIANO, 2018).
267

7.4.2 – A presença da COMIGO

A Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste


Goiano (COMIGO) está presente em Iporá por meio de uma loja localizada na rua
Catalão, no setor central. A cooperativa é oriunda do município de Rio Verde e foi
criada a partir das necessidades em comum de um grupo de produtores, ou seja,
os problemas relativos à produção que os mesmos enfrentavam eram
semelhantes e acabaram provocando a unificação de ideais. As primeiras
reuniões ocorreram em 1974 e foram se estruturando com a participação de 67
agropecuaristas. O ano de 1975 foi importante, pois foi quando ocorreu a
integralização ao capital social, porém, apenas 31 dos agropecuaristas se
integralizaram. Já no ano de 1976, houve uma ampliação do número de sócios
que deram início às atividades e à fundação da mesma (ALVES JÚNIOR, 2015;
SILVA, 2016).
A COMIGO tem presença marcante na vida da comunidade iporaense,
especialmente dos produtores agropecuários. A mesma tem uma loja ampla, que
oferece uma variedade de produtos voltados para atender à produção. De acordo
com um produtor rural68 da comunidade do Buriti: “a Comigo ajuda muito no dia a
dia; ela tem uma variedade de produtos que atende bem nossas necessidades e
o preço é bem melhor do que em outras lojas; depois que a COMIGO veio para
Iporá, até o preço de alguns produtos baixou nas lojas concorrentes”. Ao
conversar com produtores locais, muitos deles confirmam essa afirmação, pois
alegam que o jeito de comercializar da COMIGO é um pouco diferente das lojas
convencionais que existem em Iporá. Em entrevista com outro produtor 69,
morador da zona rural, da fazenda Jacuba (município de Amorinópolis), a
COMIGO oferece um diferencial, que é a formação, e o atendimento é mais
próximo dos produtores: “eu gosto muito dessa COMIGO, porque eles orientam e
tiram muitas dúvidas nossas sobre o jeito de produzir. Eles oferecem umas
atividades de formação que são muito importantes até para o aumento de
produtividade”. Salientou ainda que a referida cooperativa também nos últimos
anos tem incentivado a participação na Feira intitulada TecnoShow70, realizada

68
Produtor rural, mora na Fazenda Buriti. Entrevista concedida em 20 de março de 2021.
69
Produtor rural mora na fazenda Jacuba, município de Amorinópolis e tem propriedade também
na Fazenda Santa Marta. Segundo o mesmo, a esposa tem uma pequena propriedade no
município de Palestina, mas essa está alugada para produção de soja. Entrevista concedida em
14 de janeiro de 2020.
70
É uma feira de tecnologia direcionada para atender ao produtor rural. Atualmente, é considerada
a maior desse segmento no Centro-Oeste. É uma feira com mais de 40.000 metros quadrados,
268

anualmente no município de Rio Verde; disse que lá é lugar para se realizar


negócios e para verificar o que se tem de mais moderno em tecnologias para a
produção rural. E destacou que a loja de Iporá nos ano 2018 e 2019 até ônibus
para levar os produtores interessados em conhecer.
Como se constata, a atuação da COMIGO em Iporá é tida como
relevante para os produtores e também para a comunidade em geral.
Existem alguns fatos que evidenciam esse reconhecimento quanto à
atuação da COMIGO. Em eventos públicos em que a presença de produtores
rurais é mais consistente e através de entrevistas em emissoras de rádio locais, o
prefeito e alguns vereadores, intitulados vereadores da base do prefeito, têm feito
questão de destacar a atuação da cooperativa como muito importante para a
comunidade, pois ela tem contribuído na produção de novas vagas de emprego e
na ampliação de renda, e ainda possibilita assessoria para melhorar a produção
local. Outro fato que evidenciou bastante esse reconhecimento da atuação da
COMIGO foi a inauguração que ocorreu, no dia 04 de outubro de 2018, de uma
loja de venda de carros, a Calil Auto Center; na ocasião, o agropecuarista Antônio
Chavaglia, presidente da COMIGO, foi homenageado com o nome de uma
“FONTE dos desejos”, um local externo a loja, onde as pessoas podem jogar
moedas e fazer pedidos. Ressalta-se que as moedas jogadas na FONTE são
recolhidas e repassadas para a Associação de Combate ao Câncer de Iporá
(ACCI).
As atividades de formação ofertadas aos agricultores, a assistência
técnica e as ações como o Dia de Campo COMIGO são reconhecidas como
atividades relevantes para o desenvolvimento da produção. Em entrevista a um
cooperado71, ele nos disse: “(...) gosto de participar dos eventos da COMIGO, são
bons para a gente entender as novas práticas de produção e servem como auxílio
para produzirmos de forma mais sustentável. Essa formação que recebemos é
uma oportunidade para a gente ampliar nossa produção”.
Um fato também marcante para os produtores cooperados e para a
comunidade local foi à construção de novas instalações da COMIGO, em um
terreno com área de 2.8 alqueires 72, localizado próximo ao trevo da saída para

que conta com exposição de máquinas agrícolas, veículos variados, sementes modificadas
geneticamente, produtos para trato animal, dentre outras tecnologias. A mesma tem geralmente
duração de quase uma semana, e é realizada no município de Rio Verde-GO.
71
Cooperado, criador de gado para engorda e de gado leiteiro. Entrevista realizada em 22 de
2018.
72
Alqueires goiano.
269

Amorinópolis. Em visita a campo a um cooperado 73 que mora na Fazenda Santa


Marta, ele disse: “(...) se a COMIGO está crescendo, inclusive investiu em Iporá
com uma nova loja, isso deve ser porque ela vê alguma coisa boa, que gera
ganhos; porque ninguém investe onde não vai ter retorno”. Os investimentos na
construção atingiram quase sete milhões de reais. Na Figura 23 é mostrada a
visita de políticos de Iporá ao local de construção da COMIGO; visita ocorrida no
início da construção, seguido da imagem registrada em momento de homenagem
em loja de veículos e, sequencialmente, a imagem das novas instalações.

Figura 23 – Área de construção da COMIGO, homenagem ao presidente da COMIGO


e fachada da nova loja.

FONTE: Oeste Goiano (2018; 2019).

73
Criador de gado leiteiro e de peixes. Morador da Fazenda Santa Marta. Entrevista realizada em
22 de 2018.
270

Em visita a um cooperado74, morador do distrito de Goiaporá, ele disse


que: “A COMIGO realiza muitas ações que promovem a valorização das pessoas
do campo, fortalecendo os produtores. E essa nova loja representa um
crescimento do cooperativismo, quer dizer que o cooperativismo dá certo em
Iporá”. Constata-se que os cooperados são bastante otimistas quando se referem
à COMIGO e demonstram se sentir bem acolhidos na referida cooperativa.
A Comigo se estabeleceu em Iporá como uma cooperativa que oferece
produtos para o homem do campo, ou seja, visa atender as necessidades
relativas à produção rural. Segundo um dos clientes 75 da loja Comigo ele sempre
compra nesse local, pois os preços são bem mais em conta dos que os praticados
nas lojas convencionais, contou ainda que os produtos tem um preço menor
atingido até 30% inferior. Também acrescentou que os produtos de trato animal
são também melhores em relação ao preço e quanto à variedade.
A Comigo além de conseguir atender as necessidades básicas para
produção rural, também tem atuado junto aos produtores locais, aproximando os
mesmos para possibilidade de uso de novas tecnologias, disponibilizadas a
produção rural e ainda tem atuando na regulação de preço na região. De acordo
com um dos clientes76 ele teve a oportunidade de implantar o uso de tecnologias
avançadas na produção. “(...) Através da Comigo obtive instrução e orientação
para o uso. Fui ao encontro de campo e também na feira TecnoShow”; Contou
ainda que “desde quando a Comigo veio para Iporá, as lojas concorrentes
passaram a ter como base os preços praticados na cooperativa. Principalmente
para o alimento do gado”.

7.4.3 – A cooperativa de saúde: UNIMED

A Unimed Oeste Goiano atua no ramo da saúde. Em Iporá, está localizada


na avenida Goiás, no setor central. A cooperativa foi fundada no ano de 1993.

74
Morador no distrito de Goiaporá, município de Amorinópolis. Trata-se de produtor da agricultura
familiar, tem arredada uma chácara que se encontra no município de Iporá. Entrevista concedida
em 15 de agosto de 2019.
75
Médico, agropecuarista e cliente da Comigo há quase quatro anos. Entrevista concedida em 30
de novembro de 2020.
76
Agricultor familiar, morador na Fazenda Jacuba; disse que é cliente na loja Comigo desde
quando a mesma iniciou o atendimento em Iporá. Entrevista concedida em 10 de dezembro de
2020.
271

A seguir, é apresentada na Figura 24 a fachada do atual escritório de


atendimento.
Figura 24 – Unimed de Iporá

FONTE: Oeste Goiano (2019).

A referida cooperativa tem importante atuação em Iporá. Tem convênio


com todos os hospitais locais, além das clínicas e consultórios médicos
particulares. É filiada à Federação GO-TO-DF (Federação Centro Brasileira77) e
atua como prestadora parceira da Unimed Goiânia há mais de dezessete anos.
Verifica-se a seguir (Figura 25), os diretores que participaram de importante
reunião.

77
A mesma congrega a participação de 21 cooperativas Unimed, dentre elas, cita-se: Unimed
Oeste Goiano (Iporá), Unimed Cerrado, Unimed Palmas, Unimed Jataí, Unimed Rio Verde e
Unimed Goiânia.
272

Figura 25 – Reunião com diretores da Unimed

FONTE: Oeste Goiano (2018).

Nessa figura, está os diretores da Unimed Oeste Goiano e da Unimed


Goiânia em reunião para definição de metas, objetivos de estruturação e
alinhamento de atuação, e para também definirem parcerias entre as mesmas.

7.4.4 – A atuação do SICOOB em Iporá

A Cooperativa de Crédito Rural do Sudoeste Goiano (SICOOB)


também tem uma agência bancária e se encontra em pleno funcionamento. A
seguir, é apresentada a fachada da mesma e um quiosque instalado na Calil Auto
Center78 (ver figura 26):

78
Loja de manutenção e venda de carros de um dos cooperados do SICOOB e da COMIGO .
273

Figura 26 – Agência do SICOOB e Quiosque

FONTE: Oeste Goiano (2018).

A agência do SICOOB inicialmente foi instalada em um prédio alugado,


que se localiza em frente ao Banco do Brasil. Mas, posteriormente, necessitou
mudar de endereço, passando a utilizar novas instalações no ano de 2019; com
isso, foi possível oferecer mais conforto aos seus cooperados e melhor estrutura
física funcional. A referida agência bancária está localizada na Avenida Dr. Neto,
274

no setor Central. Continua em um prédio alugado, mas que atende melhor à atual
necessidade de uma agência de atendimento.
Em Goiás, o SICOOB conta com 109.858 cooperados e tem um total
de 2.697 agências espalhadas pelo Brasil. Em Iporá, o SICOOB tem realizado
ações significativas de marketing a fim de promover o aumento do número de
cooperados.

7.4.5 – COOPERTRÁS: Uma cooperativa local de transporte

Outra cooperativa que atua em Iporá é a Cooperativa de Transporte


Escolar, Passageiros e Cargas Ltda (COOPERTRÁS). Está situada em sede
própria, na rua Francisco Sáles, setor Central, e atua oferecendo o transporte
escolar de alunos e também de passageiros e cargas. A seguir, na Figura 27,
observa-se a fachada da sede e um dos veículos cadastrados na cooperativa.

Figura 27 – Fachada da sede e veículo cadastrado na COOPERTRAS


275

FONTE: Oliveira (2018).

A sede da COOPERTRAS é composta por um galpão, um escritório e


banheiros. Em horário comercial, tem uma secretária disponível para realizar
atendimentos pertinentes aos interesses da cooperativa.
Essa cooperativa tem foco no transporte escolar, mas realiza também
transporte no formato locação para festas, passeios, eventos e excursões.
Salienta-se que a cooperativa tem passado por dificuldades de
funcionamento existencial; a sua base de sustentação é o transporte escolar,
especialmente o rural. Mas, na última licitação que o município de Iporá realizou,
uma empresa privada ganhou, assim, a maioria dos proprietários de ônibus e
vans teve que se adequar às regras da nova empresa e passou a prestar serviços
para a mesma.
Como a base de sustentação dessa cooperativa sempre foi o
transporte de alunos do município de Iporá, ela ficou bastante fragilizada após a
perda do referido edital. Nesse sentido, no atual contexto a cooperativa se
encontra sem funcionamento de suas atividades.

7.5 - Os antecedentes das cooperativas locais

As características e os elementos peculiares do cooperativismo de


Iporá explicam como ocorre a organização ou até que ponto ela influencia as
cooperativas no espaço social local. Primeiramente, acredita-se que se deve
destacar que as cooperativas do município de Iporá têm suas raízes calcadas na
ascensão das políticas públicas, especialmente a partir do ano 2000, como se
verifica a seguir, e há também a importante participação interventiva das
organizações sociais de base, as conhecidas organizações de cunho comunitário.
276

A livre participação e a espontânea vontade de se inserir em uma


cooperativa foram percebidas nessa pesquisa por meio de depoimentos dos
cooperados e cooperadas, assim, as necessidades de cunho comum
impulsionaram a ação mútua de se criar cooperativas que prezasse pelo princípio
da participação democrática.
Em visita in loco há sete comunidades rurais, sendo quatro de cunho
religioso católico e três de cunho religioso evangélico, constatou-se a relação
dessas comunidades com o cooperativismo local.
Em visita a duas residências familiares de cada uma dessas
comunidades foram obtidos os seguintes dados (ver quadro 18):

Quadro 18 – Caracterização de algumas famílias de comunidades de base


N° Especificação
18 Entrevistados
18 São moradores da zona rural e produtores da agricultura familiar
09 São cooperados em uma cooperativa local
11 Tem a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar - DAP79
13 São cooperados mistos, em cooperativa local e externa.
05 São filiados a uma associação local
15 Participam de uma comunidade religiosa
01 Considera-se ateu, mas participa de uma cooperativa por incentivo da família e
pelas lideranças religiosas da comunidade que seus pais frequentam.
02 Não são cooperados, mas disse pretender ainda cooperar.
FONTE: Oliveira (2020).

Ao analisar esses dados notou-se que a participação dos moradores da


zona rural em uma comunidade de base religiosa é evidente e bastante intensa,
chegando a alcançar quase todos os cooperados entrevistados.
Observa-se que a religiosidade na vida desses entrevistados é
bastante intensa. Alguns elementos que serão mostrados a seguir explicam a
evidência da participação em uma comunidade religiosa e colabora para a
confirmação dos dados explicitados nesse quadro. Especifica-se que a referida
participação decorre especialmente da tradição cultural, da atração que a
instituição religiosa exerce e em muitas situações também do convencimento
realizado através das lideranças religiosas; outro fator é a tradição cultural
religiosa, repassada de pais para filhos.

79
Trata-se da Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar - PRONAF; é o documento de identificação do agricultor ou da agricultora familiar. O
mesmo pode ser obtido, por exemplo, através de uma cooperativa ou de qualquer outra instituição
que obtenha credenciamento junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Dentre as funções
empregadas, uma é a que a DAP serve para que o agricultor familiar tenha acesso às políticas
públicas de incentivo à produção e também a geração de renda. Além ainda de ser exigida no
INSS para concessão de aposentadoria ao referido produtor.
277

Em diálogo com um dos moradores80 da Fazenda Buriti, o mesmo


disse: “aqui não tem muitas opções de atividades, mas as que têm são as que
mais gosto. Praticamente o que tem aqui são as atividades da associação, da
igreja, futebol e festas familiares aqui em casa e nos vizinhos”. Já em conversa
com a esposa81 do morador, ela acrescentou que: “(...) a vida aqui é bastante
sossegada, mas muito interativa, porque aqui a gente participa de tudo, aqui
quase tudo é junto, é igreja, festas familiares, tudo junto mesmo”. Evidencia-se,
assim, o envolvimento com a religiosidade, verifica-se também que existe uma
integração de atividades na zona rural, e uma boa aproximação entre os
moradores desses locais. Depoimentos como os citados foram praticamente
similares em todas as residências visitadas. Com relação a essa questão da
integração social entre moradores rurais, para Candido (1987), a cooperação
ocorrida entre famílias é uma forma de sociabilidade e de suprir uma necessidade
de cunho econômico dos envolvidos. Com a dificuldade de mão de obra e a fim
de reduzir os custos produtivos, os favores recíprocos e as atividades religiosas
realizadas entre os moradores acabam suprindo tais necessidades.

Pode-se falar em autarquia, portanto, com referência ao bairro rural,


não às relações de família no sentido estrito. E um dos elementos
de sua caracterização era o trabalho coletivo. Um bairro poderia
desse ângulo, definir-se como um agrupamento territorial, mais ou
menos denso, cujos limites são traçados pela participação dos
moradores em trabalhos de ajuda-mútua. É membro do bairro quem
convoca e é convocado para tais atividades. A obrigação bilateral é
aí o elemento integrante da sociabilidade do grupo, que desta forma
adquire consciência de unidade e funcionamento. Na sociedade
caipira a sua manifestação mais importante é o mutirão, cuja
origem tem sido objeto de discussões (CÂNDIDO, 1987, p. 67).

Mesmo os moradores da zona rural estando relativamente dispersos


geograficamente, para Cândido (1987), os mesmos não deixam de estar
integrados entre a vizinhança. Nesse mesmo viés de entendimento, Queiroz
(1973) trata os agricultores familiares como camponeses, e, para ela, assim como
para Cândido (1987), o campesinato tem estrutura de bairro rural. A coesão
obtida nesses lugares se viabiliza por meio do sentimento de pertencimento à
comunidade, ou seja, ao lugar. E é justamente o referido sentimento que decorre

80
Cooperado, morador da zona rural, participante em comunidade religiosa. Entrevista realizada
em 12 de novembro de 2020.
81
Esposa de um cooperado, filiada na associação da comunidade rural, membro da coordenação
de comunidade religiosa. Entrevista realizada em 12 de novembro de 2020.
278

dos contornos do bairro rural, evidenciado a partir das atividades de ajuda mútua,
das reuniões religiosas e ainda das atividades folclóricas. Assim,

Cada bairro se compunha de famílias conjugais autônomas,


autárquicas, lavrando independente de suas roças quando e como
queriam, isto é, cada bairro se compunha de sitiantes tais como os
havia definido Nice Lecocq Müller; centralizado por uma capela e
uma vendinha, servia este núcleo de centro de reunião para a
vizinhança dispersa. Configuração igualitária entre a família, de
um lado, e de outro lado o arraial, ou a vila, ou a cidadezinha, o
bairro apresenta as formas mais elementares de sociabilidade da
vida rústica. Relativamente autônomos, não estão, no entanto, os
bairros desgarrados uns dos outros; pelo contrário, congregam-se
numa zona e conhecem que assim estão dispostos. Não estão,
pois, isolados; integram-se em conjuntos que se alargam em
diferentes graus: a) relações dos bairros entre si; b) relações com
a região; c) relações com o exterior (isto é, com tudo que
ultrapasse a região) (QUEIROZ, 1973, p.13).

Para Vasconcelos (2014), a pesquisadora Maria Isaura Pereira de Queiroz,


quando trata da discussão sobre bairros rurais, evidencia que por meio das
práticas folclóricas, mutirões e atividades religiosas se possibilita a integração e
evita o fechamento em si. De modo que:

[...] os grupamentos de vizinhança, embora dispersos


geograficamente, possuem a capela como centro que congrega
todas as instituições rústicas. Essa circunstância imprime um ritmo
de dispersão e reunião entre vizinhos que impossibilita ao grupo
se fecharem em si mesmo. As relações de compadrio também
não se dão somente entre aqueles que possuem uma ligação de
parentesco sanguíneo, podendo ser compadres os que mantêm
alguma relação instituída por meio das práticas religiosas,
folclóricas e também pelo mutirão. Aliás, para ela, o compadrio é a
relação que melhor define o modelo de conduta do camponês,
marcado pela lógica da reciprocidade de favores. A autora afirma
que todos esses fatores fazem do grupo de vizinhança um grupo
aberto, com um significativo raio de influência. (VASCONCELOS,
(2014, p.13)

A integração de atividades, assim como a própria realização em si,


oferece condições para a definição das organizações de cunho comunitário. O
que permite também a compreensão de que a relação ou a integração delas
possibilitam inclusive o surgimento de outras instituições, inclusive com
características comunitárias.
De acordo com o morador82 da comunidade do Cedro, a participação
na cooperativa ocorreu em função da igreja: “(...) comecei a participar da

82
Cooperado; produtor de leite (produz em média 140 litros ao dia). Também tem dois tanques de
produção de peixe, e ainda produz alimentos como: mandioca e banana. Cria alguns porcos e
279

cooperativa desde quando fizeram a reunião aqui na comunidade, veio o pessoal


que estava na direção da cooperativa e fez uma reunião aqui na igreja”. Em
diálogo com um produtor83, morador na comunidade do Taquari, ele disse algo
muito semelhante: “(...) aqui na igreja o padre sempre incentivou a importância de
viver em comunidade e de participação tanto na associação, como também na
cooperativa”. Acrescentou ainda: “(...) eu já era da igreja; meus pais também eram
rezadores de terço; depois logo entrei na associação assim que foi criada, e
depois fui também para cooperativa”. É evidente que existe uma integração
quanto à participação entre comunidades religiosas, associações e cooperativas.
A maioria das pessoas visitadas participa em mais de uma das instituições
citadas, fato que evidencia a integração entre elas.
Para a cooperada84, moradora da comunidade da Jacuba, “(...) a
participação na associação foi uma possibilidade de produção para as mulheres
aqui, depois logo veio à possibilidade de participar na cooperativa, foi algo meio
seguindo pela necessidade de organizar as vendas”. Ela ainda acrescentou que:
“(...) aqui sempre tem algumas rusgas entre vizinhos, isso é comum em todo
lugar; mas aqui as coisas são meio misturadas. Eu mesma sempre fui católica,
minha mãe ainda é, mas agora a quase quatro anos eu sou evangélica”. E ainda
disse: “(...) aqui tem mais ajuda do que em muitos lugares, aqui ainda tem muito
traição, o mutirão, aqui parece que tem mais solidariedade, isso que é das
cooperativas, parece que aqui a gente entende como é pesado o trabalho uns dos
outros”. Depoimentos como esses nos remetem ao entendimento de que muitas
práticas realizadas na tradição cultural de moradores da zona rural têm uma
significativa relação com os princípios cooperativistas. Assim, quando se alia
essas práticas aos objetivos do cooperativismo e às necessidades também de
adequação às regras para atender ao mercado, facilita-se a organização e o
surgimento do cooperativismo, especialmente local.
Para evidenciar a questão elencada, a moradora85 da fazenda Bugre,
cooperada da COOMAFIR e participante da comunidade católica local, disse: “(...)
à participação na cooperativa criou condições de vender nossos produtos, antes
só tinha como vender na feira, hoje a gente vende para cooperativa e ela faz a

galinhas, mas apenas para consumo próprio. É participante ativo da vida religiosa. Entrevista
realizada em 05 de novembro de 2020.
83
É líder comunitário e desenvolve função estratégica na igreja. Sempre participou da vida
religiosa; o mesmo é morador dessa comunidade citada há mais de 25 anos. É filiado na
associação e também é cooperado. Entrevista realizada em 29 de março de 2020.
84
É cooperada, já foi filiada na associação e é participante da igreja local, localizada na
comunidade onde mora. Entrevista realizada em 15 de outubro de 2020.
85
Cooperada e líder religiosa. Entrevista realizada em 10 de outubro de 2020.
280

distribuição”; e ainda acrescentou: “(...) a nossa participação, aqui de nossa


família, começou pela igreja, depois é que fomos convidados para a cooperativa;
mas aqui a gente gosta mesmo de participar, não tem muita divisão”. Quando a
mesma fala de participar de tudo, ela faz referência à integração dos moradores
na zona rural, para ela não há muita divisão, trata-se de uma referência à
condição de que uma pessoa participa de uma igreja, mas é convidada inclusive a
participar das festividades de outra igreja, e assim ocorre com a participação
também na cooperativa. Trata-se de inter-relação e da integralização entre igreja,
atividades coletivas e cooperativas.
De acordo com um membro86 da diretoria da COOMAFIR, a
cooperativa se organizou inicialmente a partir do incentivo advindo das políticas
públicas governamentais federais, mas foi a partir das comunidades de base que
se realizou a mobilização. Nesse sentido, as comunidades religiosas situadas
especialmente na zona rural foram fundamentais para a cooperativa. Esse fato
demonstra que os antecedentes influenciaram ou criaram condições para a
estruturação da cooperativa. Ele destacou que foram realizadas muitas reuniões
nas comunidades religiosas do município, inclusive que nove das primeiras
reuniões de mobilização foram realizadas nesse formato, e salientou que: “(...) as
igrejas e os salões comunitários foram utilizados para realização de reuniões e
cursos de formação, para divulgar o que é o cooperativismo”, e para a realização
dessas atividades foi necessário também dialogar e definir parcerias com as
lideranças religiosas, a fim de que mobilizassem a comunidade para essas
reuniões e/ou cursos.
Para um dos cooperados da COOPROL87, morador na Fazenda Pé de
Pato, as comunidades religiosas sempre foram importantes para a organização e
a mobilização, sobre isso, ele explicou: “(...) as coisas daqui, realizadas, sempre
começou pela comunidade, é ao redor da comunidade que tudo se estruturou,
coisas como: escola, laticínio, associação, bar, tudo”. Destacou ainda que: “o
padre Wiro foi quem saiu criando as comunidades em Iporá e a CEB´s 88, isso foi

86
Cooperado, já foi filiado à associação; já foi militante da Pastoral da Juventude e também do
movimento de Cebs. É também filiado partidário. Entrevista realizada em 20 de maio de 2020.
87
Cooperado, produtor da agricultura familiar. Produz 200 litros de leite em média por dia. Produz
também frutas como mexerica, banana, abacate, laranja e pequi. E tem uma pequena produção
de cana de açúcar, guariroba e mandioca. Entrevista realizada em 30 de março de 2020.
88
A CEBs (Comunidades Eclesiais de Bases) surgiu ligada ao alicerce da Igreja Católica por
incentivo da teologia da libertação. As décadas de 1970 e 1980 marcaram a evidenciação dessa
organização no Brasil e também na América Latina. A base de orientação é a utilização de leituras
bíblicas articuladas com a realidade vivida no que concerne às questões sociais, políticas e
culturais. A teoria de interpretação utilizada é o método Ver-Julgar-Agir. Cita-se ainda que a
conferência de Medellín em 1968 e a conferência de Puebla no ano de 1979 foram importantes
281

assim na cidade e na zona rural, e depois foram vindo as associações, e por


último as cooperativas”; e, ainda, ressaltou que: “(...) antigamente tinha
associação quase em todas as comunidades e bairros de Iporá; A CEB´s ajudou
nisso, até o PT foi beneficiando; ou talvez ajudou nesse rumo, porque surgiu junto
com a CEB´s, a PJ89, o PT90 e muitas associações”.
Esse depoimento é muito relevante para a pesquisa, porque explica
com muitos detalhes a importância dos antecedentes para a estruturação do
cooperativismo. Não se objetiva aqui dizer que esses antecedentes são os únicos
fatores exclusivos que influenciam o surgimento do cooperativismo, pois, se assim
se afirmasse, estar-se-ia cometendo um equívoco, porque é preciso conceber que
existem outras muitas influências relacionadas às questões econômicas,
externas, dentre outros precedentes que também são importantes ao processo de
estruturação do cooperativismo local.
Verifica-se que ao analisar dados relativos ao movimento de CEBs e da
Pastoral da Juventude, logo se constata que esses movimentos religiosos
perderam forças em meados da década de 2000, tanto em nível nacional, como
também na América Latina (SANTOS, 2006); mas é preciso que se saliente que
em Iporá os mesmos tiveram particularidades relacionadas ao movimento
religioso local. Tiveram uma ampla ascensão na década de 1970 e 1980,
posteriormente em Iporá, na década de 2000, obtiveram um evidente
ressurgimento e estruturação que tiveram duração por mais de uma década.

para fundamentar as bases de estruturação teológica da CEBs; as mesmas evidenciaram as


temáticas libertação e opção pelos pobres.
89
Pastoral da Juventude – PJ é uma organização pastoral da Igreja católica. A mesma teve como
base de estruturação diversificados movimentos sociais, a Conferência nacional dos bispos do
Brasil – CNBB, dentre outros cita-se especialmente as representações juvenis da igreja. Os
primeiro encontrados que viabilizaram inicialmente a construção da PJ, ocorreram na década de
1970, mas foi na década de 1980 que a mesma conseguiu se constituir em seus diversos ramos.
Ficando assim: Pastoral da Juventude - PJ, Pastoral da Juventude Estudantil - PJE, Pastoral da
Juventude Rural - PJR, Pastoral da Juventude do Meio Popular - PJMP e Pastoral Universitária -
PU. Essa última na década de 1990 deixou decompor como ramo, em função do entendimento de
que a mesma precisa congregar além de jovens estudantes universitária, professores, servidores
em geral, dentre outros. A metodológica utilizada foi a mesma adotada pela CEB´s, o método Ver-
Julgar-Agir, porém na década de 1990 foi incluindo ao referido método dois momentos, que são:
Revisar-Celebrar. Essa organização teve bastante evidência especialmente nos anos de 1980 e
1990, se expandido inclusive para vários países da América Latina. A base conceitual da PJ é a
formação progressiva, integral e libertadora e a pedagogia da ação idealizada por Paulo Freire foi
adotada como referência das práticas.
90 Partido dos Trabalhadores – PT trata-se de um partido político alinhado à esquerda que foi no
ano de 1980. Atualmente é um dos maiores partidos do Brasil e conta com mais de um milhão e
meio de filiados.
282

Nesse contexto, deve-se considerar que Padre Wiro91 (in memoriam)


foi uma importante liderança religiosa, que muito influenciou a estruturação e a
criação das comunidades eclesiais de base. O mesmo é definido como um
defensor da pedagogia da libertação e da organização da vida em comunidade.
Também foi influenciador da criação das comunidades de base. Enquanto pároco
da Paróquia nossa Senhora do Rosário, atualmente Paróquia Nossa Senhora
Auxiliadora e Paróquia Paulo VI, ele foi responsável por fundar mais de vinte
comunidades, inclusive estruturando as mesmas com construções de capelas e
salões comunitários, com parceria externa, por meio da obtenção de verbas de
entidades de outros países, como a Holanda.
O trabalho da CEBs, quase que concomitante com as ações da
Pastoral da Juventude (PJ), coordenada pelo padre Floris (Florisvaldo Saurin
Orlando92-in memoriam, fez parte significativa do arranjo organizacional do

91 Gerardus Adrianus Wiro Van Vliet (...), nascido na Holanda, na aldeia de Snelrewaard, na
cidade de Oudewater, província de Utrecht, em 13 de maio de 1927, Padre Wiro foi ordenado
sacerdote da Congregação São Paulo da Cruz no dia 7 de setembro de 1942, contexto de
conflitos no continente europeu em virtude da II Guerra Mundial (1939-1945).
A princípio, Padre Wiro veio morar em Anicuns e: “(...) no dia 07 de janeiro de 1964, vindo de
Anicuns, Padre Wiro se instalou em Iporá”. (...) Dono de grande inteligência e profundamente
comprometido com o viés social do evangelho, Padre Wiro se notabilizou pela disposição pastoral
em favor dos mais pobres e por sua capacidade de sintetizar, a partir de seu lugar religioso, as
dinâmicas sociais de um país que se preparava, ao longo da década de 1980, para ingressar em
uma nova ordem democrática”. “(...) Aqueles que conviveram com o Padre Wiro assinalam sua
amabilidade, seu ânimo conciliador e seu senso de justiça social”. Pertencente a um contexto
histórico e religioso particular, o da democratização e o da inscrição do pensamento social católico
no espaço público brasileiro, é possível acrescentar, com base nos boletins supracitados, que
Wiro foi um crítico dos arranjos sociais e de poder e certamente um indivíduo corajoso já que
algumas de suas publicações denunciavam episódios de violência, desigualdade e conflitos no
campo”. “O sacerdote dedicou grande parte de sua vida à formação de jovens católicos dotados
de uma espiritualidade socialmente engajada. Inspirado pela Teologia da Libertação, Padre Wiro
acreditava que a “opção pelos pobres” deveria sustentar uma identidade religiosa em afinidade
com as demandas da jovem democracia brasileira e com a realidade de Iporá e região, em
especial. Dono de uma personalidade afável, o sacerdote se notabilizou pelo cuidado com o
próximo e com aqueles que viviam em situação de vulnerabilidade. Wiro defendia uma
espiritualidade comunitária (...)”. (SILVEIRA, 2019, p.1)
92
Padre Florisvaldo Saurin Orlando (1952 – 1997), conhecido por Padre Floris. Dedicado
especialmente à juventude, Floris deixou uma importante marca nos corações daqueles com quem
conviveu. Sua atuação em nossa região aconteceu no contexto de esperança prodigalizada pela
redemocratização do Brasil, por volta da metade da década de 1980. Naquele tempo, os jovens de
nossa região também engendravam novas expectativas de vida a partir do que a modernidade de
melhor e mais substancial lhes oferecia, em especial, a educação, a cultura da participação
política e as artes. Artesão de uma espiritualidade criativa, que se orientava pela “opção
preferencial pelos pobres”, Floris se dedicou à formação de moças e moços da classe
trabalhadora de Goiás, inclusive de nossa região, e do Brasil. Sua preocupação era estimular
naquela juventude o cultivo de uma espiritualidade colaborativa, inclusiva, comunitária, alegre,
autônoma, disposta aos estudos e consciente de que a justiça social, tema corrente no contexto
da Assembleia Constituinte, tinha também um significado evangélico. “(...) Floris teve um
importante papel na modernização da mentalidade política, no âmbito da atuação popular e
democrática em nossa região. Como religioso, o sacerdote defendeu uma espiritualidade que ia
além do culto religioso e que fosse capaz enriquecer as relações sociais cotidianas e as
disposições políticas em favor do acolhimento e da valorização da dignidade das pessoas,
especialmente da classe trabalhadora”. (SILVEIRA, 2019, p.1)
283

movimento comunitário religioso; tanto a CEBs como a Pastoral da Juventude são


partes do movimento católico incentivado pela teologia da libertação. Ambas
tiveram surgimento entre os anos 1970 e 1980.
Os princípios pregados pela PJ e pela CEBs, especialmente difundidos
por suas respectivas lideranças, motivaram a organização da sociedade local em
associações. Na década seguinte houve o surgimento do Partido dos
Trabalhadores (PT) e de muitas associações, tanto na zona rural, como também
nos bairros urbanos de Iporá. Muitas lideranças participavam simultaneamente da
vida religiosa em comunidade, da pastoral, em associações e algumas até em
partidos políticos.
A partir dos dados e informações expostas verifica-se que em Iporá
ocorreu o seguinte processo de estruturação e de influência na constituição das
cooperativas locais (Fluxograma 10):
284

Fluxograma 10 – Os antecedentes para processo de estruturação das cooperativas


locais

FONTE: Oliveira (2021)

Como se nota no fluxograma, o movimento religioso com participação


das igrejas diversas, especialmente de cunho católico, e o movimento de Cebs,
seguido pela Pastoral da Juventude foram muito relevantes, especialmente para a
criação do associativismo das décadas de 1990 e 2000. Nesse período, muitas
associações foram criadas no município de Iporá. Somente as associações de
bairros e da zona rural somavam mais de vinte associações.
Em Iporá se atingiu um total de mais de cinquenta associações
registradas. “Aqui em Iporá parece até que era moda criar associação; tinha
285

associação para tudo”, afirma um dos contadores 93 do município de Iporá, que é


bastante conhecido por prestar serviços para cooperativas e associações.
Segundo o mesmo: “A maior quantidade de associações registradas foram as de
bairros e das comunidades rurais. Essas associações acreditavam muito na
solidariedade e na organização coletiva, como forma de organizar e superar as
dificuldades”. Para ele, as associações foram importantes para originar o atual
cooperativismo local, mas também para outros movimentos sociais, e salientou
que: “(...) as associações era lugar de reflexão e de planejamento de muitas lutas;
era lugar de organizar ações; lá surgiram as discussões para criar cooperativa e
para se filiar, ou criar sindicatos de talhadores”. Contou ainda que as associações:
“(...) eram bastante ligadas às igrejas, a CEB´s, a PJ, as comunidades rurais;
padres participavam de reuniões, e tinha até pastores que também participavam
de associações e incentivam”, e destacou que: “a maioria das associações de
bairros foram ficando fracas em função da perda dos objetivos originais e pelo uso
político partidário; inclusive muitos partidos se estruturam a partir do movimento
das associações”. Ao entrevistar o referido contador fica evidente que a relação
entre os movimentos religiosos e a estruturação das cooperativas locais tem
relação intermediada, principalmente, pelas associações e por sindicatos.
Na década de 1990, a CEBs e a PJ já se encontravam bastante
fragilizadas. Mas em compensação as comunidades católicas tanto na zona rural
quanto na urbana, e muitas igrejas evangélicas, especialmente a Assembleia de
Deus, já se encontravam bem estruturadas, com capelas, salões comunitários e
com boa participação de fiéis e ainda demonstravam evidências de crescimento.
Já no fim da década de 1990 e meados da década de 2000, a CEBS e a PJ
viveram um intenso período de restruturação, “muitos militantes que tinha
vivenciado o processo de formação embasado no método Ver-Julgar-Agir e
Rever, orientados especialmente pelo Padre Floris e Padre Wiro”, conta um ex
militante94 da PJ. Ele disse que realizaram uma sequência de ações estruturadas
a fim de retomar e reviver esses movimentos pastorais. Afirmou também que
“muitos que não estavam participando mais ativamente voltou realizando muitas
assessorias de formação e acompanhamento de novos grupos”, contou ainda que
“foi algo contagiante, logo surgiram muitas novas lideranças que deram sequência
nas ações”, e que simultaneamente muitos grupos e movimentos se

93
Contador, membro da igreja católica local. Entrevista concedida em 14 de janeiro de 2021.
94
Participou da Pastoral da Juventude, é ministro da eucaristia na igreja católica; é também
cooperado em cooperativa local e externa, e também é membro do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Iporá.
286

evidenciaram, nesse mesmo período, inclusive em nível diocesano. “Na Diocese


de São Luís de Montes Belos chegamos a ter mais de setenta grupos de jovens,
somente em Iporá eram cerca 15 grupos, as comunidades todas tinha lideranças
envolvidas na CEB´s”.
Verifica-se que esses movimentos religiosos citados prezavam muito
pela análise da realidade vivida pelos seus membros, sequencialmente, julgavam
a referida realidade a partir de orientações bíblicas 95. Logo em seguida, era
definida uma (ou mais) ações como forma de intervir na realidade e de criar
condições de uma vida melhor.
Não menos importantes foram também os sindicatos. Os sindicatos dos
trabalhadores rurais e o sindicato rural de Iporá, Diorama e Israelândia também
tiveram participação muito relevante no processo de estruturação das
cooperativas locais. Foram instituições que incentivaram a criação de
cooperativas, inclusive oferecendo espaço físico para a realização de reuniões e
até para funcionamento.
Acredita-se que os antecedentes expostos foram importantes fatores
que contribuíram para a origem e a estruturação do cooperativismo local, pois boa
parte dos cooperados e especialmente membros das diretorias de cooperativas
locais foram integrantes de um ou mais desses movimentos citados
anteriormente. E, consequentemente, passaram pelo significativo processo de
formação vivenciado nesses movimentos antecedentes.
Para se concluir esta análise dos antecedentes do cooperativismo
local, ressalta-se que os referidos grupos religiosos, sindicatos e associações
tiveram importância elementar no processo de constituição das atuais
cooperativas locais, mas esse fato não elimina a relevância que teve a ascensão
do cooperativismo em função da implementação das políticas públicas,

95
Verifica-se que o trabalho de formação nesse período foi bastante intenso. Era coordenado por
um grupo de assessores composto por quase 20 pessoas, e contavam também com cerca de 30
lideranças juvenis e comunitárias vindas das comunidades urbanas e rurais de Iporá, também de
municípios limítrofes. Nesse período, registrou-se a realização de duas escolas de formação para
jovens, duas escolas de formação para lideranças, encontros mensais de formação e de
articulação de lideranças comunitárias, duas escolas de educadores, e quatro tardes da juventude.
Também eram realizados anualmente encontros celebrativos como: Semana da Cidadania, Dia da
juventude, Dia do estudante, Campanha da fraternidade, Grito dos excluídos, dentre outros.
Salienta-se que todos esses encontros ou eventos celebrativos eram previamente
(antecipadamente) preparados com cerca de três a cinco encontros de formação. Em um desses
encontros, intitulado Dia da Juventude, foi realizada uma caminhada jovem em Iporá, na ocasião,
os jovens saíram em passeata pelas ruas da cidade carregando cartazes, faixas, entoando gritos e
palavras de ordem por mais direitos para a juventude e por justiça social para as pessoas mais
excluídas. O evento contou com a participação de mais de três mil jovens, conta o cooperado, ex
militante da PJ.
287

especialmente ocorridas a partir da década de 2000. Cita-se que todas as


cooperativas locais de Iporá surgiram a partir desse período.

7.6 – Considerações a partir das evidenciações apresentadas

Nesta seção, foi possível caracterizar alguns elementos que


demonstram o campo de estudo desta pesquisa e expõem as condições em que o
mesmo se estabelece em relação aos demais municípios de Goiás e do Brasil.
Também foi caracterizada a atual estrutura do cooperativismo no estado de Goiás
e no município de Iporá.
Em relação ao município de Iporá, foi possível demonstrar, de forma
breve, quais elementos evidenciam melhor a existência de organizações
cooperativistas, e também quais as ocorrências e/ou elementos que mais se
destacam no processo de estruturação e organização das cooperativas do
município em questão.
Entende-se que é possível confirmar a existência do cooperativismo no
município de Iporá, e que o mesmo tem significativa influência na lógica de
organização da produção, especialmente para os pequenos produtores. Mas o
detalhamento de dados para aferir essa afirmação será exposto logo na seção a
seguir.
É relevante reforçar, ainda, que as cooperativas locais que mais se
aproximam quanto ao ramo de produção e quanto às suas caraterísticas são:
COOMAFIR, COOPERCOISAS E COOPROL. As mesmas serão evidenciadas na
seção a seguir, pois se trata de importantes instituições para análise e
consecutivamente exposição de dados nesta pesquisa. Assim se ressalta que o
cooperativismo evidenciado por meio das cooperativas locais possibilita a análise
científica através do oportuno conhecimento obtido por meio das experiências
práticas decorridas da ação dessas cooperativas citadas.
288
289

Para constatação e análise de dados, verificou-se in loco e através de


análise documental a estrutura funcional das cooperativas do município de Iporá.
Assim, foi possível acessar os dados, para tal ação se definiu por fazer o recorte
espacial e a seleção de conteúdos para uma melhor averiguação e análise 96.
Destaca-se que as visitas in loco foram bastante satisfatórias, pois,
além de enriquecedoras, foi possível sempre realizar intensos momentos com
bastante relevância para a coleta de dados. A acolhida por parte de funcionários,
diretorias de cooperativas e cooperados foi uma das características marcantes na
realização desta pesquisa.
Uma das cooperativas em questão foi a COOMAFIR. E em entrevista
com um membro da diretoria, ele disse que a referida cooperativa “é muito
importante, pois representa um pouco dos anseios e objetivos de cada
cooperado, e que a mesma tem atingido seus objetivos possíveis, através da
soma de esforços e dedicação de cada membro cooperado".
No Brasil, as cooperativas agropecuárias representam o maior número
dentre todos os ramos cooperativistas; situação bastante similar ocorre no Estado
de Goiás. No município de Iporá esse mesmo ramo tem destaque, porém, possui
exclusividade em apenas uma das cooperativas internas, como se verifica no
fluxograma 11:

96
Tratam de cooperativas nascidas ou idealizadas a partir de movimentos locais e de
pessoas do local, em contraposição às que foram tratadas na seção anterior.
290

Fluxograma 11 – Ramo de atuação das cooperativas locais

FONTE: Oliveira (2021)

Constata-se que, de acordo com o fluxograma, as cooperativas


COOMAFIR e COOPERCOISAS são classificadas como mistas, a primeira citada
ligada aos ramos de: Agropecuária, Consumo e Trabalho, produção de bens e
serviços, já a segunda desenvolve atividade dos ramos de Trabalho, produção de
bens e serviços e Consumo. No caso da COOPROL, essa é classificada como
agropecuária. A classificação por ramos de trabalho explica a proximidade de
atividades que as três cooperativas possuem. Porém, especialmente no contexto
atual, os cooperados de cada uma se encontram melhor definidos e com
características peculiares que se relacionam mais aproximadamente com os
objetos e interesses de cada cooperativa com a qual se encontram filiados.
291

A COOPROL tem um grupo variado de produtores de leite como


filiados, porém, ao ser cooperado como os cooperados produtores de leite da
COOMAFIR, observa-se que os produtores da COOPROL têm porte maior com
relação ao tamanho da propriedade e quanto à quantidade de leite produzido por
produtor. Já comparando a COOPERCOISAS e a COOMAFIR, a proximidade
está na similaridade dos cooperados da agricultura familiar, que produzem
verduras e frutas. No entanto, o que mais diferencia o perfil dos cooperados é que
a primeira citada tem a maioria dos filiados ligados à produção de leite,
produzindo entre a média variável por produtos a quantidade de 50 a 100 litros. Já
a COOPERCOISAS não possui especificamente filiados que trabalham
exclusivamente com esse tipo de produto, a referida cooperativa atualmente tem
mais o perfil de produtores que produzem artesanatos, doces, queijos, conservas,
petas e biscoitos, mel, dentre outros.
Faz-se relevante lembrar que uma cooperativa para ser mista precisa
realizar múltiplas atividades, obviamente oriundas de ramos diversos. No Brasil, a
Lei n° 9.867/1999 é a que melhor se enquadra para tipificar esse tipo de
cooperativa.
Através de contato com uma cooperada da COOMAFIR, ela disse que
a cooperativa "atende anseios diversos, pois oferece espaço de participação
variada; a cooperativa inclui produtores de verduras e frutas, criadores de gado e
produtores de doces e pimentas". Acrescentou ainda que "as cooperativas de
Iporá foram importantes para resolver muitas coisas, mas que uma das principais
foi gerar empregos e combater o desemprego". O esposo dessa cooperada, que
também é cooperado, salientou que "a COOMAFIR ajuda até na compra de ração
para tratar o gado e na venda da produção advinda dos seus sócios cooperados;
e frequentemente ajuda até pessoas não cooperadas" De acordo com mesmo, os
principais benefícios que obtiveram em serem cooperados nessa cooperativa são
(ver quadro 19):
292

Quadro 19 – Vantagens em cooperar


A renda aumentou A esposa também A compra de torta de algodão gera
em quase 40%. passou a produzir e está uma economia em torno de R$ 25,00
contribuindo para o por saco.
aumento da renda.
A valorização Recebe atendimento Capacitação e assistência técnica
enquanto produtor da com igualdade entre para melhoramento da produção.
agricultura familiar todos da cooperativa.
melhorou.
Valorização de toda Compra garantida e Está criando possibilidades de
a produção. assistência quando falta produzir e criar animais para venda,
energia elétrica, dentre enquanto antes era apenas para o
outros apoios. consumo. Com isso espera-se mais
renda.
FONTE: Oliveira (2021); dados organizados a partir da entrevista.

Com relação à funcionalidade mista de atuação dessa cooperativa,


também confirmam a influência no processo de organização do trabalho, bem
como o papel social da mesma.
Esses fatos não se diferem nas demais cooperativas situadas no
município de Iporá, que também têm atuação relevante no sentido de se
viabilizarem com instrumento de desenvolvimento local e de distribuição de renda,
e ainda de promoção de bem estar social, como se verifica por meio de entrevista
a um dos cooperados da COOPERCOISAS, que disse: “Antes de entrar nessa
cooperativa as minhas condições financeiras e de minha família eram muito
inferiores; mas a partir da cooperativa obtive acesso à formação e melhor
preparo, para aperfeiçoar a minha produção e vendas”. Ele ainda acrescentou
que as condições de vida melhoraram com o aumento da renda mensal, que
consequentemente tem possibilitado a obtenção de mais “dignidade”. Veja a
seguir no fluxograma 12 algumas das principais ações interventivas da
cooperativa na vida dos cooperados:
293

Fluxograma 12 – A ação prática da cooperativa na vida do produtor

FONTE: Oliveira (2021); dados obtidos e organizados a partir de entrevista realizada em


13 de julho de 2020.

Dados como esses destacados no fluxograma demonstram que o


cooperativismo evidenciado por meio das cooperativas em Iporá tem sido
fundamental no sentido de organizar a sociedade local em diferentes setores
produtivos. São vários exemplos oriundos de agricultores familiares de que muitas
situações adversas e dificuldades vivenciadas por público de trabalhadores são
superadas por meio da participação em uma cooperativa.
O movimento cooperativista no município de Iporá realiza importante
contribuição, especialmente para auxiliar e organizar os produtores da agricultura
familiar, como se pode observar no Fluxograma 13:
294

Fluxograma 13 – Ações de intervenção e contribuições do cooperativismo local

FONTE: Oliveira (2021); Dados obtidos a partir de entrevistas realizadas com diretores e
cooperados em cooperativas locais. Entrevistas realizadas nos dias 05 de fevereiro de
2019, 24 de maio de 2020 e 14 de janeiro de 2021.

Verifica-se nesse fluxograma que a contribuição do cooperativismo


local tem sido importante para os produtores cooperados e também para a
comunidade. As variadas e diversificadas ações realizadas por meio das
cooperativas tem produzido importante impacto econômico, cultural e social na
vida, especialmente, dos cooperados.
Ressalta-se que os dados do fluxograma decorrem das ações
realizadas não somente por uma cooperativa em específico, mas advêm das três
cooperativas locais apresentadas nesta pesquisa. Para melhor explicar a
capacidade de intervenção realizada pelo cooperativismo em Iporá, a seguir no
fluxograma 14 se destaca dados elencados pelo programa ESSAS97, que, dentre

97
Programa economia solidária sustentável na América do sul
295

as principais contribuições da COOMAFIR para seus cooperados e para a


comunidade, ressaltou:

Fluxograma 14 – Algumas Contribuições e ações da COOMAFIR

FONTE: (APREIS, 2014, p.1)

De acordo com um dos cooperados da COOMAFIR, “ser cooperado é


certeza de um tratamento diferenciado, pois a nossa cooperativa promove o
desenvolvimento da economia local e regional e tem contribuído muito para o
fortalecimento da economia do município”. O referido produtor ainda acrescentou
que “as cooperativas daqui fazem um importante trabalho de conscientização
para as pessoas comprarem produtos de nosso local, com isso ocorre um maior
estímulo para geração de empregos e para incremento da renda de nossa
cidade”.
A fim de melhor evidenciar o cooperativismo no município de Iporá,
destaca-se que no atual momento há a atuação de oito instituições cooperativas.
Esse número é o suficiente para colocar o município com a maior quantidade de
cooperativas na microrregião de Iporá. Porém, faz-se relevante ressaltar que o
296

significativo número de cooperativas ocorre de forma externa, de modo que


surgem ou possuem a sede matricial estabelecida em outros municípios, são elas:
SICREDI, UNIMED, COMIGO e SICOOB.
Já as cooperativas originárias no próprio município correspondem a um
total de 50%. São elas: COOMAFIR, COOPERCOISAS, COOPERTRÁS e
COOPROL. No mapa 12 se verifica a localização atual de escritório de
funcionamento das mesmas no município.
297

Mapa 12 – Localização da sede das cooperativas do município de Iporá

FONTE: IBGE (2020), elaborado por Alves (2020).


298

Nota-se nesse mapa que duas dessas cooperativas têm sua sede de
funcionamento fixada no perímetro rural, enquanto as demais se encontram
localizadas no perímetro urbano, especialmente no setor Central da Iporá. De tal
maneira, verifica-se que o SICOOB e o SICRED são cooperativas de crédito,
portanto, a localização centralizada é um facilitador para o atendimento ao público
em ambas as agências bancárias.
A UNIMED também está localizada no setor central e similarmente às
duas anteriores, essa localização do escritório de atendimento ao público facilita o
acesso; além de se encontrar nas proximidades das clínicas, consultórios e
hospitais conveniados. A COOPROL e a COMIGO estão localizadas no perímetro
rural, mas muito próximas ao perímetro urbano; a distância do mesmo é de cerca
de apenas 3 km. O local atual de funcionamento são terrenos próprios, que
oferecem boa condição para atendimento aos fornecedores.
A COOMAFIR no momento ainda tem seu escritório de funcionamento
localizado no setor central; trata-se de uma casa alugada e adaptada para
funcionamento da cooperativa, porém, a mesma é bastante limitada quanto ao
espaço necessário para as atuais necessidades. Ressalta-se que logo nos
próximos dias já existe previsão de mudança de local, sendo que a mesma
deverá se estabelecer em sede própria, na saída para o município de Arenópolis.
O local de funcionamento é bastante amplo e oferece espaço para ampliação das
atividades.

8.1 – As funções e ações resultantes das cooperativas locais

Como forma de melhor dimensionar e aprofundar sobre o


cooperativismo de Iporá, como já especificado, foram escolhidas três
cooperativas, são elas: COOMAFIR, COOPERCOISAS e COOPROL. As mesmas
são cooperativas locais e que em diversos aspectos de produção e de atuação se
assemelham.
Para analisar o cooperativismo concebido no município de Iporá segue
o quadro 20 em que se evidenciam algumas informações que melhor demonstram
as cooperativas: COOPROL, COOMAFIR e COOPERCOISAS.
299

Quadro 20 – Principais características das cooperativas locais

Dados Cooperativa Cooperativa Cooperativa


Sigla COOPROL COOMAFIR COOPERCOISAS
Nome de registro Cooperativa dos Cooperativa Mista Cooperativa Mista
da cooperativa produtores Dos Agricultores da Agricultura
regionais de leite Familiares de Iporá Familiar da Região
e Região de Iporá
Quando iniciou as 14 de setembro de No ano de 2008 No ano de 2004
primeiras ações 2010
Ano de registro 25 de outubro de Em 2009 Em 2004
2010
Atuação/área/ramo Agropecuário, Agricultura, Produção de bens e
produção de bens agropecuário, serviços, consumo.
e serviços, hortifrútis, produção
consumo. de bens e serviços,
consumo.
Classificação de -Comércio -Comércio atacadista --Comércio atacadista
atividade de atacadista de leite e de leite e laticínios de produtos
acordo com a laticínios -Comércio atacadista alimentícios em
SEFAZ -Transporte de farinhas, amidos e geral
rodoviário de carga, féculas --Comércio atacadista
exceto produtos -Comércio atacadista especializado em
perigosos e de matérias-primas outros produtos
mudanças, agrícolas com alimentícios não
intermunicipal, atividade de especificados
interestadual e fracionamento e anteriormente
internacional acondicionamento
-Comércio associada
atacadista de -Comércio atacadista
mercadorias em de frutas, verduras,
geral, com raízes, tubérculos,
predominância de hortaliças e legumes
insumos frescos
agropecuários -Comércio varejista
-Comércio de hortifrutigranjeiros
atacadista de -Cultivo de mandioca
máquinas, -Cultivo de outras
aparelhos e plantas de lavoura
equipamentos para temporária não
uso agropecuário; especificadas
partes e peças anteriormente
-Horticultura, exceto
morango
-Cultivo de milho
-Criação de bovinos
para leite
-Criação de frangos
para corte
-Cultivo de arroz
-Cultivo de feijão
-Cultivo de banana
-Serviço de
preparação de
terreno, cultivo e
colheita
Diretoria - José Carlos - . Valdivino Dias de - Vicente Pinheiro
Ferreira Oliveira - Alberany Euclenio
300

- Wilson Junior - Valdeci Jose de da Silva


Guimaraes Alves Lima
- Cerivaldo Peixoto - Norma Lopes da
dos Santos Silva Rocha
- Davi Elkson de
Melo
Número de 6 10 0
funcionários/as
Número de 59 445 18
cooperados/as
2020
Origem dos Microrregião de Microrregião de Microrregião de
cooperados/as Iporá Iporá Iporá
Microrregião do
Sudoeste de Goiás
Microrregião de
Aragarças
Prestação de É acompanhada É realizada ao Na assembleia
contas pela diretoria e conselho fiscal
realizada mensalmente;
anualmente na depois de aprovada
assembleia. é encaminhada para
o contador; e
anualmente na
assembleia.
FONTE: Entrevista realizada com membros da diretoria das três cooperativas;
concedidas em 02 e 03 setembro de 2019, e 17 de março de 2020; Sefaz (2021).
Organizado por Oliveira (2020).

O quadro apresenta os principais dados de cada uma das três


cooperativas locais. A seguir, são ampliados esses dados, pois são
caracterizadas cada uma dessas cooperativas locais, seguidamente, são
especificados dados importantes para caracterização dos cooperados de cada
uma delas.
As informações do quadro revelam que a COOPERCOISAS foi à
primeira cooperativa a ser criada e a única das três pesquisadas que teve
participação direta do poder público local (da prefeitura) como interessada e com
compromissos para a fundação da mesma. Nesse sentido, essa cooperativa
surgiu a partir da vontade de lideranças locais, da necessidade dos produtores e
do interesse advindo dos gestores governamentais do município de Iporá.
A COOPROL nasceu de necessidades comuns relativas à venda do
leite, e a mesma deve ser considerada como uma cooperativa que já nasceu
grande, especialmente em razão da quantidade de leite captada logo de início e
em função também da quantidade de produtores filiados. No início da fundação
da cooperativa, ela tinha muitos cooperados considerados como os grandes
produtores de leite da microrregião de Iporá, ou seja, muitos desses produtores
produziam entre 1.000 e 3.000 litros de leite ao dia. Posteriormente, esses
301

maiores produtores deixaram a cooperativa, o que provocou considerável


desestabilização. Porém, nos últimos anos ela conseguiu se reorganizar e se
adaptar à nova conjuntura, especialmente influenciada pelas perdas obtidas.
A COOMAFIR teve o processo de criação diferente das demais, pois foi
criada a partir das bases comunitárias, especialmente por pequenos produtores
da Agricultura Familiar. Esse fato refletiu, gerando bases sólidas e consistentes.
É, portanto, a cooperativa local que conta com maior participação e integração
dos cooperados. E também tem se mostrado com potencial de crescimento para
os próximos anos.
A seguir, apresenta-se um detalhamento de cada uma dessas três
cooperativas locais.

8.2 – COOPROL: Cooperativismo organizador da produção do leite

Dentre as cooperativas locais em atuação, destaca-se a Cooperativa


dos Produtores de Leite da Região (COOPROL), que trabalha no ramo
agropecuário e está situada na GO-060, saída para Piranhas, ao lado da Escola-
Fazenda do IF Goiano. Na Figura 28 estão as imagens da sede administrativa e
do galpão de resfriamento de leite, do veículo e parte da área onde está instalada:

Figura 28 – Estrutura funcional da COOPROL


302

FONTE: Oeste Goiano (2015), organizado por Oliveira (2018).

A COOPROL está instalada numa área de um alqueire de terra. Conta


em sua estrutura física com uma casa para o zelador, três caminhões, quatro
tanques rodoviários, um galpão para o resfriamento de leite e uma sede
administrativa, com escritório, sala para secretaria, sala para diretoria, depósito,
varanda e outros. Conta ainda com 6 funcionários.
A referida cooperativa atualmente tem obtido muitos resultados
satisfatórios, um deles é a negociação do preço do leite. Quando o produtor
negocia individualmente o preço tende a ser bem inferior ao que é alcançado
coletivamente através da cooperativa, especialmente porque, de acordo com o
membro da diretoria da COOPROL, obter uma melhora no preço do leite é uma
das maiores dificuldades enfrentadas pelos produtores. Mas é preciso ressaltar
que muitas conquistas vêm sendo obtidas pela cooperativa, além de haver muita
expectativa de conseguir avançar na linha de produção. Nesse sentido, o mesmo
ainda destaca que também estão se “(...) esforçando para crescer cada dia mais e
a luta dos cooperados tem sido para conseguir criar um produto com a marca
COOPROL, para ser vendido diretamente no mercado”, como se verifica a seguir
no fluxograma 15:
303

Fluxograma 15: Projeto em andamento e projetos em perspectivas

FONTE: Oliveira (2021), adaptado dos dados da EasyCoop (2015), Oeste Goiano (2016)
e entrevista realizada em 27 de outubro de 2020.

A compra de produtos para higienização dos tanques e da torta de


algodão, usada como complementação na ração bovina, já está sendo realizada;
porém, os diretores da cooperativa avaliaram que a quantidade que vem sendo
adquirida precisa ser ampliada para atender ao aumento da demanda pelos
produtores. O produto que está sendo planejado é o leite “Barriga Mole”, ou seja,
o leite pasteurizado e embalado para ser comercializado em embalagem tipo
saquinho. Além disso, existe a expectativa de que a cooperativa seja estruturada
para conseguir produzir o queijo mussarela, mas, para isso, espera-se conseguir
primeiro a obtenção do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Outra meta que
inclusive já está em andamento, com a planta feita, é a construção de uma fábrica
de ração que atenderá aos cooperados.
A COOPROL completou dez anos de atuação desde a sua fundação.
Teve as primeiras reuniões para definição de organização e para planejar a
304

fundação na sede do Sindicato Rural dos Trabalhadores Rurais. A primeira


reunião contou com a participação de 49 produtores. A assembleia de
constituição foi realizada no mês de outubro de 2010, pouco mais de um mês da
primeira reunião em que foi pensada a estruturação da mesma. Essa agilidade
ocorreu em função da necessidade que se tinha de obter uma possibilidade de
melhor negociar o valor do leite, pois os produtores estavam insatisfeitos com o
preço do produto. Assim, o estatuto logo foi redigido, tendo como base de
referência o estatuto da COMIGO.
De acordo com um dos sócios cooperados fundadores, naquele
momento era consenso que o valor do litro de leite estava sendo vendido por um
preço muito baixo. Os produtores estavam com dificuldades para conseguir
melhores preços junto aos laticínios. Assim, foi definida a criação de uma
cooperativa, especialmente por que, de acordo com o cooperado entrevistado,
“(...) uma cooperativa se estrutura a partir do esforço e da necessidade de coisas
comuns a um grupo de pessoas”. O cooperado salientou ainda que: “(...) uma
coisa comum a todos os produtores era a dificuldade para vender melhor o leite”.
Para ele, “(...) a força capitalista dos laticínios estava nos explorando e tratando a
gente como boba, davam pouca importância, e a gente sabia da importância do
nosso trabalho e do nosso produto”. As necessidades e percepções comuns entre
os produtores foram importantes para a definição de se criar a COOPROL, os
laticínios estavam pagando o “preço do litro de leite bem inferior ao preço médio
do mercado naquele período, pagava até 0,30 centavos abaixo”. Claro que isso
dependia muito do perfil do produtor, produzia-se menos, especialmente abaixo
de 200 litros de leite, e a desvalorização era maior; já para aqueles que
produziam mais, em maior quantidade, havia perdas de valor inferiores aos
demais.
Em diálogo com o ex-cooperado, ele disse: “(...) leite é guerra, é uma
guerra de preço”. O mesmo foi cooperado entre os anos de 2012 e 2018.
Resolveu sair da cooperativa e negociar diretamente com o próprio laticínio, mas
acabou compreendendo que a cooperativa é importante, por isso resolveu voltar a
cooperar.
No período inicial de fundação da cooperativa não tiveram muitas
dificuldades, porque a maioria dos cooperados já era sindicalizada, e tinha a
prática de participar em uma instituição de cunho coletivo. Outro detalhe é que a
maior parte dos interessados em criar a cooperativa era composta por grandes
produtores de leite cooperados aos produtores de outras cooperativas da
305

microrregião, diante disso, quase não se tinha dificuldades orçamentárias para os


primeiros investimentos numa cooperativa.
A cooperativa teve seu início com um total de 83 cooperados, como se
verifica a seguir (Gráfico 16):

Gráfico 16- O número de cooperados

FONTE: Oliveira (2020).

Observa-se, pelo gráfico, que a COOPROL teve seu ápice em número


de cooperados no ano de 2013, atingindo um total de 104. Como os resultados
almejados foram satisfatórios desde a sua criação, o aumento do número de
cooperados ocorreu nos anos seguintes como reflexo disso. Para um dos
cooperados, logo nos anos iniciais foram conseguidos muitos avanços através da
cooperativa: “(...) além da melhoria no preço do litro de leite, passou se obter mais
segurança na venda e na coleta do leite, e também melhor facilidade na
negociação até do preço do trato do gado”.
Mas nem tudo foi somente satisfação na existência da cooperativa,
houve experiências que serviram para ensinar como melhor se organizar e se
remodelar ao cenário vivido. A cooperativa teve momentos de perdas, inclusive
com a gestão do transporte de coleta do leite, fato que contribuiu para que
ocorressem mudanças nesse modelo funcional e em outros que ainda serão
tratados a seguir. Teve também a experiência de se associar a outras instituições
externas, o que não foi tão bem sucedido como avalia um dos cooperados
membros da diretoria.
306

No atual momento, a cooperativa tem organizado a produção leite


advinda de seus filiados, que atinge uma média de 15.000 litros de leite por dia.
Conta com produtores de porte variado, sendo um dos maiores produtores, o que
tira mais de 1.700 litros de leite por dia, enquanto tem outro produtor que produz
pouco mais de 40 litros por dia. A coleta é realizada a cada 48 horas (veja mais
dados no gráfico 17).

Gráfico 17 – Paralelo comparativo da produção de leite

2021

2.010

0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000

FONTE: Oliveira (2021)

Verifica-se neste gráfico que houve uma significativa redução na


quantidade de leite coletado e organizado pela COOPROL. Tal fato se explica
pela saída dos maiores produtores que eram filiados à cooperativa. Colaborando
com essa explicação, observa-se no gráfico 18 a média por produtor:
307

Gráfico 18 – Comparação da média de leite /dia produzida por produtor

2018

2010

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

FONTE: Oliveira (2021)

Nesse gráfico foi considerado o volume de leite produzido e o número


de cooperados de acordo com cada período especificado. Assim, nota-se que nos
primeiros anos de funcionamento da cooperativa os cooperados atingiam uma
média de quase 800 litros de leite por dia, enquanto no contexto atual esse
volume reduziu para pouco mais de 250 litros de leite por produtor. Esse dado
colabora para evidenciar o impacto que a cooperativa sofreu com a saída desses
produtores citados. A partir desses dados, evidencia-se que no mercado de leite
para os produtores que produzem maior quantidade é pago um melhor preço; de
tal maneira, se eles não tiverem idealização suficiente do espírito cooperativista, e
se deixarem se conduzir por decisões de caráter individualista, dificilmente
conseguem permanecer em uma cooperativa.
De acordo com a auxiliar administrativa da COOPROL, nos primeiros
anos a cooperativa possuía muitos grandes produtores de leite, e chegava a
produzir cerca de 80.000 litros por dia. Mas a maioria dos grandes produtores
deixou a cooperativa, e praticamente ficaram os pequenos - os produtores
considerados como grandes em relação à produção de leite - os que ainda
continuam são aqueles que têm melhor entendimento do que é uma cooperativa e
da importância que a mesma tem para toda a comunidade, disse a entrevistada.
A cooperativa conta com 59 cooperados. O número de cooperados
aumentou durante os três primeiros anos e na sequência caiu bastante após o
ano de 2013. Fatores como os citados anteriormente influenciaram na diminuição
do número de cooperados. A perda de grandes produtores de leite foi impactante
308

inicialmente para a cooperativa, pois já havia uma estrutura de negociação para o


leite, especialmente porque se tinha um grande volume de leite/dia. Muitas das
pessoas que eram cooperadas se sentiram seduzidas pelas propostas que foram
recebendo diretamente dos representantes dos lacticínios, e como não se tinha
entendimento suficiente quanto à força que possuíam através da cooperativa,
muitos agiram de forma individualista e saíram da cooperativa. Os cooperados
que ficaram, especialmente a diretoria, tiveram que readequar o funcionamento
da cooperativa, e mudar as formas de negociação, pois como já especificado
passaram a negociar um valor bem menor de leite.
Assim, a cooperativa passou a oferecer um técnico para dar
assistência direta às propriedades; o mesmo faz assistência para melhoramento
da produção, da qualidade do leite e da higienização dos equipamentos de
ordenha. Foi importante também a continuidade da assistência para resolver
problemas de perdas do leite em função de falta de energia elétrica e a compra de
ração para completar a alimentação bovina, além disso, o bom relacionamento
por parte dos funcionários e da diretoria com os cooperados foi fundamental para
superar o momento de readaptação. Também foram estabelecidas novas
parcerias como, por exemplo, com a empresa Italac, que ofereceu mais
segurança nas negociações, e ainda passou a oferecer mais assistência técnica
aos cooperados da COOPROL.
A seguir no gráfico 19, é apresentada a variação de preço do litro de
leite:
309

Gráfico 19 - Preço médio do litro de leite pago ao produtor entre os anos de 2010 a
2021

FONTE: Oliveira 2021, adaptado de Canal Rural (2019), Cepea (2013), Scot consultoria
(2021).

No período especificado no gráfico 19, o preço médio do litro de leite


variou entre mínimo de 0,92 e máximo de R$ 1,21, registrado no ano de 2021.
Nesse momento, o preço médio em Goiás varia entre R$ 2,02 a R$ 2,33 (CEPEA,
2021). Trata-se do preço máximo obtido durante o período visualizado nesse
gráfico. Fator como demanda internacional, alto consumo interno e dólar em alta
fazem com que o preço da arroba do boi e do leite esteja em alta no mercado.
Evidencia-se ainda nesse gráfico que no período em que ocorreu a
fundação da COOPROL o preço do litro de leite estava em queda e em
depoimentos essa foi citada com a principal razão para a criação da cooperativa.
A partir de 2013 se registrou perda de cooperados, especialmente em razão de
passarem a negociar a venda do leite diretamente com os laticínios, ao verificar
esse período no gráfico 19 se vê que o preço do leite estava constantemente
aumentando, motivo que serviu de justificativa para produtores deixarem de
cooperar, por entenderem que não necessitavam mais da cooperativa nesse
processo de negociação do leite.
Outro fator destacado foi o valor da cota-parte, o valor que deve ser
pago para ser integralizado na cooperativa, ou seja, para se tornar um cooperado.
Esse valor já chegou a ser referente à R$ 3.000,00, e era visto por muitos
interessados como um empecilho para se tornar cooperado. Outra questão foi a
concorrência com outras cooperativas, que cobram um valor bem inferior para se
tornarem cooperados. Essas situações levaram a diretora da COOPROL a definir
um valor mais acessível da cota-parte, que passou a ser de R$ 1.550,00,
310

podendo ser dividido em dez parcelas, descontado direto na folha de pagamento


do mês.
Para outro membro da diretoria da COOPROL, a principal justificativa
para as perdas de cooperados é a concorrência, principalmente a concorrência
com os laticínios. A indústria de laticínios Piracanjuba é a principal concorrente;
os representantes regionais da mesma fazem propostas diretamente aos
produtores de leite, especialmente, aos maiores. Como eles produzem grande
quantidade diária de leite, conseguem negociar diretamente com os lacticínios
sem nenhum mediador. As condições de preço são bem melhores do que para os
produtores menores que tentaram negociar individualmente.
Para a assessora administrativa da cooperativa, tal fato decorre da
competitividade própria do mercado de leite, pois para a indústria de laticínios a
negociação direta com o grande produtor é entendida como mais vantajosa,
porque nesse caso não há a intervenção da cooperativa, e o laticínio possui
melhor controle do produtor, passando a ter mais controle inclusive da produção.
A cooperativa colocava o total da produção em negociação por meio da
CentroLeite (Cooperativa virtual que faz intermediação da venda de leite,
especialmente no mercado spot), que negociava em montante maior, ou seja, em
conjunto com outras cooperativas; assim o leite era disponibilizado para negociar
simultaneamente com vários compradores, nesse caso, o produto era mais
disputado, e comprava quem oferecia o melhor preço. Com a falta de
entendimento dos grandes cooperados, e consecutivamente com a saída desses,
a cooperativa teve que se readequar à realidade pós-saída dos mesmos; ficando
composta com produtores de menor capacidade de produção em relação à
quantidade. Nesse sentido, a parceria com a Italac foi importante, porque os dois
lados acabam ganhando. A Italac ofereceu segurança na negociação dessa
parceria, e a cooperativa ofereceu para a mesma uma significativa quantidade de
leite, a partir da organização dos cooperados por meio da cooperativa.
Assim, nem todos os lacínios são concorrentes, existem situações
importantes de parceria também. No caso do laticínio Italac existe uma parceria
com a cooperativa. O mesmo oferece boa estrutura de auxílio técnico e ainda é o
comprador exclusivo do leite. A cooperativa é um organizador dos produtores da
região para concentrar uma maior quantidade de leite e entregá-lo à Italac. Como
a experiência de coleta realizada pela própria cooperativa não foi bem sucedida e
a mesma decidiu inclusive vender seus caminhões, o que gerou perdas, definiu
311

por terceirizar a coleta do leite, que passou a ser realizada diretamente pela
própria Italac.
Ainda em diálogo com um dos funcionários da COOPROL, ele relatou
que a prestação de contas é algo tratado com bastante seriedade na cooperativa;
a diretoria é cuidadosa com relação a isso, pois sabe que tratar a questão
financeira com zelo é uma forma de obter crédito e confiabilidade junto aos
cooperados. A prestação de contas anual é realizada geralmente no mês de
março. As sobras somam ao incremento do capital da cooperativa e servem para
novos investimentos, porém, quando por acaso um cooperado resolve sair da
cooperativa ele obtêm o direito de assim que pedir desligamento acessar as suas
sobras e a cota investida, que são repassadas de forma parcelada de acordo com
o previsto em estatuto. Para uma das cooperadas da COPROL: “(...) é importante
essa forma de organização da cooperativa, para quê os cooperados sintam
confiança na mesma”. De acordo com a funcionária que cuida do setor
administrativo, “(...) quando um cooperado quer deixar à cooperativa, ele tem que
fazer uma carta pedindo a desfiliação e registrá-la no cartório. Feito isso é só
aguardar os procedimentos previstos no estatuto”.
Para a referida funcionária, esse processo organizado de entrada e de
saída na cooperativa é um importante princípio, pois, com isso se pretende
oferecer segurança aos cooperados. Para ela, o zelo para com os cooperados e
com a produção de leite é essencial. Disse que existem muitas possibilidades de
crescimento da cooperativa, mas tudo é realizado com bastante planejamento e
muita cautela, para que seja evitada a ocorrência de erros. Atualmente, a
cooperativa não tem nenhuma dívida e conta com dinheiro em caixa. Possui uma
sede (escritório) própria bem estruturada, ao lado há a casa para o zelador, tendo
também um galpão com quase 300 metros quadrados, e uma área territorial bem
localizada, muito próxima ao perímetro urbano, que se limita com a GO-060.
Existem alguns projetos em análise que podem aumentar a renda da cooperativa,
inclusive abrindo campo de atuação; um deles é a construção de um salão para
eventos, outro projeto é construção de uma fábrica de ração.
Para se tornar um cooperado na COOPROL, além da aquisição da
cota-parte para se integralizar, é preciso ser produtor de leite, e também precisa
ser o responsável pela produção vendida à cooperativa, pois são realizados
testes diários quanto à qualidade do leite, e caso seja detectada alguma suspeita
de irregularidade, é feita uma análise mais detalhada do produto, que inclusive é
passível de punição, caso se confirme irregularidade. A qualidade do leite é fator
312

decisivo para definição do preço pago por litro de leite. Nesse sentido, o valor
pago pelo litro de leite para o produtor é especificado com bastante clareza, para
que o mesmo entenda as regras para obtenção de um preço melhor.
O valor do leite é definido por três critérios na cooperativa, como se
verifica a seguir (Fluxograma 16):

Fluxograma 16 – Critérios que definem o valor do leite

FONTE: Oliveira (2020).

Quanto maior é a quantidade de leite, melhor é o preço ofertado por


cada litro. A logística também é fator essencial na composição do valor pago,
sendo consideradas a distância e as condições das estradas para o acesso na
coleta. E são utilizados critérios rigorosos para melhor definir a qualidade desse
produto. São realizados testes de coleta diários e testes gerais mais completos a
cada mês. Fatores como má higienização dos tanques ou higienização
inadequada, temperatura do leite, acidez do leite, água no leite e antibiótico são
os principais. Quando é encontrado, por exemplo, o antibiótico no leite, o mesmo
é condenado (desprezado total) e o produtor é penalizado. Reincidências podem
gerar até suspensão total do recebimento do leite, inclusive pelos laticínios e
demais cooperativas.
De acordo com o cooperado98 morador na Fazenda Pé de Pato, o
auxílio técnico e de orientação por parte da cooperativa é muito bom e não deixa
a desejar. Ele disse que: “(...) faço parte da cooperativa e vejo muitas vantagens,
o preço é uma delas, ganho até 0,10 centavos a mais por litro de leite e sempre
que recorro à cooperativa, eu sou bem atendido. Os funcionários são excelentes e
98
Entrevista realizada no dia 04 de junho de 2020.
313

a diretoria também”. E ainda que: “(...) o problema às vezes é da gente mesmo,


que poderia até participar mais; mas com a correria a gente acaba sendo meio
falho”. Para um dos membros da diretoria99, a cooperativa tem obtido bons
resultados e tem funcionado de forma adequada, mas falta envolvimento dos
cooperados, inclusive nas assembleias. Verifica-se que esse ganho citado pelo
cooperado e os serviços de assistência realizados pela cooperativa são
importantes para a permanência do produtor nas atividades citadas,
especialmente na produção de leite, e, de acordo com ele, essa é a principal fonte
de renda, logo tem um papel importante na organização espacial.
Observa-se que o fator participação é bastante destacado pela equipe
que compõe a diretoria e pelos funcionários da cooperativa. Para alguns, a pouca
participação dificulta a tomada de decisões, inclusive para composição ou
substituição da diretoria nas eleições.
A COOPROL tem atuação local, mas que extrapola os limites
territoriais do município de Iporá. Atualmente, conta com cooperados de seis
municípios, como se observa a seguir (Fluxograma 17):

99
Entrevista concedia em 10 de agosto de 2020.
314

Fluxograma 17: Cooperados da COOPROL

FONTE: Oliveira (2020).

A maioria dos cooperados é do município de Iporá, somando mais de


80%, de acordo com a funcionária100 do setor administrativo entrevistada, a
COOPROL conta com muitos cooperados que estão desde o início de sua
fundação, mas também com a presença de cooperados que vieram de outras
cooperativas, como: COOPRAMA, APROSANTA, COOMAFIR e outras.
Como a COOMAFIR foi à última a ser fundada das três cooperativas
locais aqui pesquisadas, verifica-se que os anos de 2010 a 2013 foram de
ascensão e aumento do número de cooperados, assim nesse período alguns
novos cooperados deixaram de cooperar em outras cooperativas para se filiarem
à COOPROL. Verifica-se também que alguns deles vieram através de convite de
membros da diretoria, que tinham boa relação com os mesmos, e que os referidos
cooperados advindos de outras cooperativas não são em número expressivo, pois
se trata de apenas cinco.
Ainda de acordo com a mesma, os principais serviços prestados pela
cooperativa são: “(...) a comercialização do leite, o fornecimento de produtos para
lavagem dos tanques, assistência técnica, o suporte físico para quando falta
energia elétrica e a torta de algodão negociada direto da fábrica”. Neste ano, o
saco de 30 kg de torta de algodão foi vendido pelo valor médio de R$ 40,00 no
comércio local, enquanto a cooperativa ofereceu esse produto aos seus
cooperados pelo valor de R$ 25,50. A última compra foi realizada em uma
indústria de Primavera do Leste-MT, onde foram compradas três carretas

100
Entrevista concedia em 10 de agosto de 2020.
315

carregadas com torta de algodão, cada uma com mais de 35.000 kg. Ao se
analisar esse dado se constata que esse aspecto é importante, pois impacta na
redução do custo, logo, poderia ser potencializado pela cooperativa para estimular
a adesão de novos cooperados. Neste sentido, a manutenção de ações como
essa pressupõe que poderá despertar interesse de produtores para se tornarem
cooperados.
Para um dos cooperados101 que está na cooperativa desde a sua
fundação, a mesma tem desenvolvido uma ação de intervenção muito importante
e ainda tem mostrado capacidade para crescer muito, porém, a sua atuação já é
muito significativa: “(...) essa cooperativa influência no modo e manejo de
produção; pois eles fazem um acompanhamento rigoroso da produção,
auxiliando, orientando e exigindo a melhoria da qualidade de nosso produto”. E
acrescentou que: “(...) o nosso local, o nosso espaço de produção foi e é
impactado pela organização da cooperativa, porque ela passou a ser decisiva
principalmente na negociação do preço do leite”. Para ele, há seis aspectos
fundamentais decorridos da cooperativa, que são (ver fluxograma 18):

101
Entrevista realizada no dia 07 de junho de 2020.
316

Fluxograma 18 – Intervenção da cooperativa junto ao cooperado

FONTE: Oliveira (2021), organizado a partir de entrevista realizada em 17 de setembro


de 2020.

Ao se analisar como se organiza a COOPROL e como é a sua atuação,


pode-se perceber que ela funciona aproximadamente no formato cooperativa-
empresa. Atua na defesa dos interesses econômicos dos produtores de leite e
busca satisfazer a necessidade econômica de vender por um melhor valor o leite
produzido pelos seus cooperados.
Existem interesses por parte de membros da diretoria, funcionários e
alguns cooperados de melhor dinamizar as ações da referida cooperativa, porém,
demonstram o receio de fazerem tais tentativas e essas não serem bem
sucedidas. Ainda se evidenciou que tanto os gestores como os cooperados
sabem que a cooperativa tem importante participação para intervir e promover
melhores condições de negociação e representação dos produtores cooperados
na venda de seu principal produto, que é o leite. Para a obtenção de um bom
317

resultado, a cooperativa precisou se adequar às regras sanitárias de


comercialização do produto. Tal fator é importante para que ela consiga controlar
melhor o manuseio da produção do leite advinda de seus cooperados.
Ainda de acordo com um dos cooperados 102: “(...) a assistência direta
de forma interventiva da cooperativa é fundamental para a garantia da produção”.
Atualmente, muitos produtores se encontra bastante descontentes com a
empresa ENEL, para ele, “(...) o preço subiu em mais de 70% e muitos produtores
chegam há ficar cinco dias sem energia elétrica; nessas horas a cooperativa logo
nos socorre”103.
Também se nota que a cooperativa de fato tem representado os
produtores nas negociações que lhes convêm, e ainda se tornou importante na
organização dos produtores e no processo de produção. Mas existe bastante
resistência cultural, especialmente relacionada aos tradicionais costumes de
produção. Um exemplo disso é que mais de 50% dos cooperados ainda resistem
em fazer uso da ordenha, de modo que realizam todo o processo de forma
manual.
Por meio da COOPROL também se evidencia a existência do benefício
aos seus cooperados de conjuntamente comercializarem seu produto (leite), e
ainda de obterem vantagens na compra de insumos para o trato animal por um
preço menor e com uma melhor condição. O trabalho dos cooperados segue o
modo cooperativo, em que cada um desenvolve de forma autônoma a função de
produtor de leite, mas obtêm o comum aproveitamento, inclusive de uma renda
melhor.
A COOPROL existe por pouco mais de uma década; passou por
diferentes estágios em sua organização; conseguiu se estruturar e com isso
também assumiu a função de organizadora de parte da produção do leite. A
mesma tem se dedicado a realizar assistência aos seus cooperados a fim de que
se aumente a produção e consequentemente se garanta a qualidade. Também
tem conseguido ser o elo entre cooperados e representante dos produtores nas
negociações diretas com o comprador. Ainda entre os produtores estabelece-se
uma relação de solidariedade e cooperação. Portanto, tem contribuído no
desenvolvimento social e econômico, e consecutivamente na organização sócio-
espacial.

102
Entrevista realizada no dia 04 de junho de 2020.
103
Nesse tipo de situação a cooperativa através de parceria com transporte terceirizando faz a coleta do leite.
318

8.3 – COOPERCOISAS: uma cooperativa com ações voltadas para práticas


solidárias

Outra cooperativa em Iporá é a Cooperativa Mista da Agricultura


Familiar da Região de Iporá (COOPERCOISAS). A mesma nasceu no ano de
2004, a partir das necessidades advindas de um grupo de pequenos produtores
que encontrava dificuldades para produzir e comercializar seus produtos. Entre as
atividades realizadas, ela comercializa produtos agrícolas e é responsável pela
gestão do Branco Comunitário PEQUI.
Quanto à possibilidade de se tornar um cooperado, a taxa de quota-
parte é equivalente ao valor de R$ 1.000,00. Mas, recentemente a cooperativa
não tem filiado novos cooperados. O valor de integralização é considerado alto
em relação a outras cooperativas locais. No contexto atual os projetos estão
momentaneamente paralisados. Situação que tem comprometido a organização e
o funcionamento da cooperativa.
Porém, essa cooperativa apresenta em sua estrutura elementos de sua
ação que são bastante representativos para o cooperativo local. Além de tudo tem
relativamente poucos cooperados, mas distribuídos em cinco municípios, isso por
si só já é uma característica que a diferencia das demais cooperativas locais.
A cooperativa trabalha com uma loja física na própria sede,
comercializa em feiras de agricultura familiar e de economia solidária; alguns de
seus cooperados trabalham com a venda de seus produtos também em feiras
livres que ocorrem em Iporá quase todos os dias da semana (terça-feira no Bairro
do Sossego, quarta-feira no BMT, quinta-feira na Feira do Agricultor, sexta-feira
na Feira do Bairro Umuarama, sábado na Feira da Vila Itajubá e domingo na feira
coberta). Trabalha com venda em supermercados e frutarias do município;
também há registros de atuação no Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) e PAA. Destaca-se ainda que a COOPERCOISAS tem entre seus
objetivos promover o desenvolvimento econômico e social dos cooperados e
também da comunidade.
A COOPERCOISAS está situada na avenida Dr. Neto, no setor Central,
conta com um escritório anexo ao Centro de Comercialização de Iporá, que
também é conexo à Feira Coberta.
Na figura 29 é apresentada a parte interna de seu escritório de
atendimento:
319

Figura 29 – Sede da COOPERCOISAS

FONTE: Oliveira (2018).

Nessa figura observa-se a realização de uma reunião ocorrida no salão


de exposição de produtos da cooperativa. Como exposto, o mesmo tem entrada
pela avenida Dr. Neto no anexo à Feira livre/coberta, o referido escritório tem
entrada pelas laterais na Rua Presidente Kennedy e Rua das Palmeiras, e na
frente pela Avenida Goiás. A sede da COOPERCOISAS fica nos fundos do
galpão do Centro de Comercialização. É nesse ambiente que se realizam as
atividades de comercialização, atendimento, reuniões e outros.
A partir do ano 2014 em reuniões com a presença de lideranças locais
e agricultores foi se pensando na perspectiva de se criar uma cooperativa; alguns
exemplos de outras cooperativas em evidência foram analisados, algumas dessas
lideranças locais fizeram contatos em outros municípios para entender melhor o
processo de criação e implantação de uma cooperativa, e partir dessas reflexões
se consolidou a proposta de criação de uma cooperativa em Iporá.
A proposta foi bem aceita logo de início, e, com a viabilidade da
mesma, a Prefeitura decidiu lançar um edital convidativo para a criação de uma
cooperativa. De acordo com uma cooperada, membro da diretoria, houve muita
sintonia e dedicação por parte dos pequenos produtores envolvidos; esse grupo
se mostrava bastante unido e alinhado na busca de objetivos comuns, inclusive
requerendo o apoio junto à Prefeitura Municipal de Iporá. Para muitos parecia um
sonho, a existência de uma esperança de construção coletiva e uma cooperativa
que deveria se pautar pelos princípios de uma economia mais solidária.
320

A referida cooperativa ficou estruturada da seguinte maneira (ver


quadro 21):

Quadro 21 - Os primeiros sócios


COOPERCOISAS
IDEALIZAÇÃO DA COOPERATIVA
João Augusto da Silva
Alberany Euclênio da Silva
Vilton Pereira da Silva
Wesley Rocha Silva
João batista Peres Junior
Alair Fernandes da Silva Mata
Orcelina Silva Damacena
Pablo Eugênio Barbosa
Valcely Alves da Silva
Wilma Santos da Silva
Sueli Alves Borges
Pedro Batista da Silva
DIRETORIA
Presidente: Luzia Luzinete Sousa
Vice-presidente: Luismar Lemes Siqueira
Secretário: Noildo Miguel Sobrinho.
Tesoureiro: Zildomar da Silva Magalhães
Vice-tesoureira: Luciana Ferreira Barbosa
SUPLÊNCIA DA DIRETORIA
Arlindo Martins de Oliveira
Maria Maura Morais
Valdion Januário Marques
FONTE: Oliveira (2011); organizado por Oliveira (2021).

Verifica-se, a partir dos nomes especificados, dentre os fundadores e a


partir de informações averiguadas junto aos entrevistados diretores da
COOPERCOISAS, que a maioria dos fundadores da mesma eram produtores da
Agricultura Familiar, porém, muitos deles atuavam em segmentos diferenciados,
com se nota seguir (Fluxograma 19):
321

Fluxograma 19 – Função trabalhista e tipo de produção dos cooperados


fundadores

FONTE: Oliveira (2021), dados organizados a partir de entrevista realizada no dia 23 de


agosto de 2020 e no dia 18 de janeiro de 2021.

Entende-se que antes da COOPERCOISAS, os produtores


especificados que se tornaram cooperados vendiam a produção no mercado
informal, não pagando impostos, sem emissão de notas, sem forma registrada e
sem funcionários registrados. A situação de comercialização da produção era
bastante precária. Não havia possibilidade de participarem das políticas públicas,
pois não tinham como vender; também não existia assistência e nem apoio do
poder público local, e também pouco existia colaboração produtiva entre esses
produtores, pois cada um produzia e comercializava de forma isolada.
Após a criação da cooperativa essas dificuldades foram sendo
superadas, especialmente porque a COOPERCOISAS ofereceu condições de
vender a produção na forma legalizada, criou meios para participar e acessar as
políticas públicas realizou ainda ações para promover o aumento da venda dos
produtos e a valorização dos mesmos e também buscou parcerias para capacitar
322

e melhorar a qualidade da produção, dentre outros muitos aspectos importantes


que também se somam a esses na contribuição para a referida cooperativa
organizar o espaço.
Ao conferir os nomes que compõem a lista de fundadores da
COOPERCOISAS se verifica que ainda prevalecem alguns deles na cooperativa;
mas também se constata que alguns foram importantes posteriormente para a
estruturação de outras cooperativas, associações e instituições sociais locais que
foram sendo criadas nos anos seguintes.
Analisando um pouco da história desta cooperativa, observa-se que a
mesma sempre prezou pelo desenvolvimento sustentável, precedido de garantia
de equilíbrio com a natureza. Muitas reuniões e cursos de formação realizados
em parceria com a COOPERCOISAS tiveram esse viés especificado, dentre os
quais se destacam (ver quadro 22):

Quadro 22 - Algumas ações e projetos


Projeto Protagonismo Juvenil para o Curso sobre cooperativismo e
Desenvolvimento Sustentável do Cerrado. economia solidária.
Congresso sobre meio ambiente e Dia de campo com cursos e oficinas
desenvolvimento sustentável do oeste goiano. destinados a comunidade e
cooperados.
Curso de Juristas Populares. Projeto de formação de jovens rurais.
Qualificação e acompanhamento de Curso de Agropecuária para
camponeses: Implantação de viveiro de plantas orientação com relação a estilo de
frutíferas do Cerrado. plantio que elimine o uso de
agrotóxicos.
Reuniões de articulação do território. Reuniões de articulação da Feira da
Economia Solidária.
Oficina de Capacitação e Planejamento em Encontro para formação e
Políticas Públicas. planejamento de ações.
FONTE: Oliveira (2021), organizado a partir de entrevista coletiva realizada com um
membro da diretoria e com dois cooperados concedidos em 18 de janeiro de 2021.

Salienta-se que, de acordo com os entrevistados, essas ações, cursos


e projetos foram importantes no processo de capacitação e formação para
consolidação da cooperativa. Foram realizadas muitas ações no sentido de
organizar o processo de produção local, sucessivamente os cooperados também
foram orientados para potencializarem o aumento produtivo e para produzirem
com mais qualidade, nesse caso, com menos uso de agrotóxicos e de maneira
menos prejudicial ao meio ambiente.
Com a fundação que data do ano de 2004 e com um total de 21
cooperados, a COOPERCOISAS foi criada por cooperados envolvidos no
processo de produção coletiva e colaborativa; eram principalmente produtores da
agricultura familiar que encontravam dificuldades para comercializar a sua
323

produção. Os cooperados, de acordo com uma das cooperadas, eram dos


seguintes municípios (Mapa 13):

Mapa 13 - A abrangência da cooperativa quanto à residência de seus cooperados

FONTE: Alves (2020).

Vê-se pelo mapa que a COOPERCOISAS foi criada por cooperados


dos municípios de Diorama, Arenópolis, Israelândia, Amorinópolis e,
principalmente, de Iporá.
324

Esses cooperados buscavam uma alternativa para obterem acesso ao


mercado local e para conseguirem comercializar por um valor melhor a sua
produção. De acordo com uma das cooperadas, logo que se organizaram através
da cooperativa: “conseguiram rapidamente viabilizar a atuação em diferentes
segmentos comerciais, como: Escolas, supermercados, entidades filantrópicas e
especialmente nas feiras livres”. Tal fato ocorreu especialmente em função dos
seguintes aspectos e acessos (ver fluxograma 20):

Fluxograma 20 – Os aspectos para inserção da cooperativa

FONTE: Oliveira (2021), organizando a partir de entrevista coletiva realizada com


membros da diretoria e com dois cooperados concedidos em 18 de janeiro de 2021.

Verifica-se neste fluxograma o importante envolvimento de lideranças


apoiando as ações e a estruturação da cooperativa, e acesso às políticas
públicas. Esse segundo item teve muita relevância para a cooperativa,
contribuindo tanto no processo inicial de estruturação das ações como na
solidificação da cooperativa nos anos seguintes. O entrevistado membro da
325

diretoria relembrou que a criação dessa cooperativa teve a participação do poder


público, pois, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura, inicialmente, e por
interesse dos gestores municipais, buscou-se viabilizar um projeto que criasse
condições legais para os pequenos agricultores venderem sua produção no
mercado local. A partir dessa iniciativa, foi criada uma marca intitulada “coisas de
Iporá” e todos os produtores poderiam comercializar seus produtos com um selo
que continha à referida marca de produção.
Salienta-se que a criação desse selo/marca partiu de elementos que se
entendia como agregadores. Um deles é que Iporá tem o maior comércio da
região, de tal maneira seria uma possibilidade de inserção nesse comércio; outro
aspecto se refere ao fato de Iporá centralizar cerca de sete municípios,
oferecendo serviços de cunho regional à população dos mesmos; dessa maneira,
notava-se uma identidade afetiva de moradores limítrofes. Ainda havia o aspecto
referente aos moradores que se mudaram de Iporá e de municípios vizinhos,
entendia-se que seria uma oportunidade ao apelo à saudade da terra natal, assim
se poderia alcançar outros públicos a partir dos filhos da terra que se
encontravam ausentes, ou seja, que estavam morando em outros municípios.
Também havia a perspectiva da realização de um trabalho de marketing para
valorização da produção local, portanto, o selo seria uma forma de identificação
desse tipo de produção. E, por último, havia uma relação de interesse político,
especialmente porque a COOPERCOISAS teve relação direta em sua criação
com o poder público do município de Iporá.
Outro princípio evidenciado é a busca de comercialização num formato
mais valorativo da produção da agricultura familiar, com o objetivo de melhorar a
vida dos cooperados, oferecendo uma vida mais digna aos mesmos e aos seus
respectivos familiares.
De acordo com um membro da diretoria da cooperativa, os produtos
comercializados são bastante diversificados, dentre eles, cita-se: doces, mel,
farinha de mandioca, verduras, rapadura, polvilho, milho verde, peta e artesanatos
confeccionados especialmente por mulheres. Observou-se também que,
atualmente, a cooperativa vem enfrentando muitos desafios, pois as políticas
públicas voltadas para o pequeno agricultor familiar são quase inexistentes, muito
diferente de períodos anteriores, em que o Governo Federal dava uma atenção
diferenciada. Havia programas e projetos que contribuíram muito com as
cooperativas, por exemplo, as Feiras de Economia Solidária. Assim, uma das
326

maiores dificuldades é a falta de políticas públicas para atender à economia


solidária que sempre serviu como base de orientação para a referida cooperativa.
Dentre os objetivos a serem alcançados, a mesma citou: estimular os
produtores a ampliarem a produção de maneira mais diversificada. Isso facilita a
disponibilização de uma maior variedade de produtos e o acesso ao mercado e
fomenta a possibilidade de melhoria nas condições de vida dos cooperados, que
são, na maioria, sitiantes e arrendatários de pequenas parcelas de terras. Outro
objetivo é despertar os cooperados para uma maior humanização e cooperação
entre os associados da cooperativa e comunidade. Uma meta também é
conseguir viabilizar novamente Projetos como o de Aquisição de Alimentos (PAA)
junto à Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). A produção de forma
sustentável também foi lembrada como importante princípio do cooperativismo e
da COOPERCOISAS. Segundo a entrevistada, a cooperativa é uma das
responsáveis por gerir a Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária e o
Banco Comunitário PEQUI.
Muitos projetos foram realizados desde a criação da COOPERCOISAS;
mas um dos mais importantes a serem mencionados foi à criação do centro de
comercialização. De acordo com um dos cooperados 104 fundadores, o centro foi
viabilizado através da gestão entre COOPERCOISAS e Prefeitura Municipal de
Iporá, e ainda com parceria de instituições como: “SEBRAE, EMATER, IF Goiano,
IBRACE, Fetraf, Fetaeg, Instituto Ouro Verde, Senar, FAI, CDL, Agrotec, SDT,
SEBRAE, Agrodefesa, IBAMA, ECOCUT, MDA”, e ainda Caixa, Banco do Brasil,
prefeituras, sindicatos e muitos outros. Para melhor funcionamento foi criado um
regimento interno e também um conselho de administração do centro de
comercialização. A principal função executada era organizar a comercialização da
produção dos cooperados, a fim de também atender às necessidades oriundas do
comércio.
Para um dos atuais membros da diretoria105, o período ápice, de maior
produção da cooperativa, ocorreu entre os anos de 2006 e 2013. Posterior a esse
período houve um decréscimo na produção em função principalmente da perda
de cooperados e pela dificuldade de articulação, dentre outros fatores.
Salienta-se que a articulação e a busca de parcerias sempre foram
bastante evidentes dentre as ações dessa cooperativa. Através das ações e dos

104
Entrevista realizada no dia 17 de julho de 2020.
105
Entrevista realizada no dia 19 de junho de 2020.
327

depoimentos obtidos se constata que a mesma sempre se mostrou aberta a


estabelecer parcerias, especialmente, a fim de criar condições para promover
formação e capacitação técnica à comunidade e aos cooperados. Os princípios
do cooperativismo e a busca pela consolidação de uma economia de caráter
solidário sempre foram almejados e buscados por meio da referida cooperativa.
Verifica-se também que para garantir a manutenção das despesas e o
funcionamento do escritório de atendimento da COOPERCOISAS foi definido que
a partir da produção comercializada de cada cooperado por meio da cooperativa
deve ser repassado um valor de coparticipação equivalente a 5%, recursos
obtidos por meio da disponibilização de produtos para atender aos programas
como PNAE, PAA e CONAB. Também se deve ressaltar que as parcerias e a
participação em projetos por meio do CONSEA e do MDA, Ministério do
Desenvolvimento Agrário, sempre foram importantes para a manutenção e para a
estruturação das ações de intervenção da referida cooperativa.
É relevante ressaltar que a SDT - Secretaria de Desenvolvimento
Territorial foi criada no ano de 2004 a partir de resolução do CONDRAF -
Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, com “(...) função de
formular e fomentar estratégias de desenvolvimento rural e de apoio à agricultura
familiar, sob a orientação do enfoque territorial”. Destaca-se que o mesmo foi
criado a partir da estrutura do MDA. Echeverri (2010, p. 88) especifica que o
MDA: “(...) tem função de implementar ações de apoio à Agricultura Familiar e têm
ainda a função de desenvolver e fomentar estratégias para o desenvolvimento
rural”.
No Brasil quem assumiu a responsabilidade de promover as políticas
públicas a partir dos territórios de cidadania foram os Territórios de Identidade e
os Territórios Rurais. A partir das ações oriundas desses territórios é que
posteriormente, no ano de 2003, houve a criação do Território Oeste Rio
Vermelho. Na sequência das ações de organização e estruturação dos territórios,
o Território Oeste Rio Vermelho foi dividido no ano de 2006, assim possibilitou a
criação do: Território Rural Médio Araguaia e do Território da Cidadania Vale do
Rio Vermelho. O Território Rural Médio Araguaia obteve posteriormente a sua
criação a inclusão dos municípios de Ivolândia, Aragarças, Caiapônia e Palestina
de Goiás; assim, o mesmo ficou composto por vinte e um municípios, incluindo
Iporá (SIQUEIRA, 2015).
A COOPERCOISAS realizou no formato integrado com outras
cooperativas e instituições muitas ações e projetos, salienta-se que os mesmos
328

foram viabilizados a partir do MDA, que articulado através do Território Rural


Médio Araguaia desenvolveu muitas ações, dentre as quais se destaca (ver
fluxograma 21):

Fluxograma 21 – Algumas ações do MDA no Território Rural Médio Araguaia por


meio da integração da COOPERCOISAS e outras instituições

FONTE: Oliveira (2021), organizado a partir de Siqueira (2015), Fernandes e Coelho


(2018), Silva e outros (2020)

Como se verifica nesse fluxograma essas ações e projetos


especificados, dentre outros que também foram realizados, foram importantes
para viabilização de acesso às políticas públicas para os cooperados da
agricultura familiar.
Salienta-se que o PROINF – Programa Nacional de apoio à
infraestrutura e serviços nos territórios foi também viabilizado por meio do MDA e
329

SDT – Secretaria de Desenvolvimento Territorial. Esse programa é outro exemplo


de importante política pública para a COOPERCOISAS, especialmente porque o
mesmo foi estabelecido em Iporá e nos municípios de Piranhas de Goiás e
Jussara, e possibilitou, por exemplo, aos cooperados da COOPERCOISAS
oriundos da agricultura familiar comercializar a sua produção.
Foi durante o governo de Luís Inácio Lula da Silva e no primeiro
mandato de Dilma Rousseff que a COOPERCOISAS conseguiu estabelecer maior
participação no processo de organização cooperativa e respectivamente implantar
importantes ações decorrentes das políticas públicas, que foram bastante
evidenciadas junto à agricultura familiar. E foi também nesse período que a
cooperativa conseguiu disponibilizar maior variedade de produtos ao comércio
local e também para os projetos apoiados. De acordo com um membro da
diretoria, nesse período eram comercializados os seguintes produtos advindos de
seus cooperados, conforme Quadro 23:

Quadro 23 - Produtos vendidos pela COOPERCOISAS


DOCES FRUTAS VERDURAS
Doce de mamão Mamão Couve
Doce de leite Abacaxi Cebolinha
Doce de banana Banana maçã Alface
Doce de Goiaba Banana marmelo Repolho
Doces cristalizados Banana prata Rúcula
Geleia de mocotó Coco verde Salsa
Doce de caju Melancia Coentro
Rapadura Tomate
Melado Limão
Laranja
LEGUMES ORIGEM VEGETAL ORIGEM ANIMAL
Vagem Feijão Mel
Beterraba Açúcar mascavo Ovo de codorna
Abobrinha Farinha temperada Iogurte pasteurizado
Guariroba Farinha de milho Ovo caipira
Mandioca Farinha de mandioca Porco caipira
Milho verde Açafrão Galinha caipira
Cenoura Popa de frutas
Quiabo Tempero
Pimenta Polvilho
DERIVADOS DE LEITE E OUTROS
Iogurte Queijo curado Requeijão
Queijo fresco Rosquinhas Pão caseiro
FONTE: Oliveira (2020).

Esse quadro de produtos exemplifica bem como o trabalho de


organização da cooperativa junto aos produtores surtiu efeito. A produção dos
cooperados aumentou em quantidade e variedade. Para uma das diretoras, a
variedade de produtos é um destaque da importância da cooperativa, pois a
330

variedade produtiva aumentou em um patamar de quase 40%. Isso demonstra o


papel de organizar e comercializar da cooperativa.
Para uma das cooperadas, os ideais da Economia Solidária são a
principal base de instrução para os cooperados da cooperativa; partindo dessa
referência, a COOPERCOISAS conseguiu se fixar como um empreendimento
cooperativo realizador de diversas atividades de cunho econômico, que possibilita
produzir individualmente e no formato coletivo, permitindo realizar
comercialização, enquanto se coopera. Esses princípios citados também se
materializaram por meio das Feiras de Economia Solidária e através da Barraca
de Mostra da Economia Solidária e Agricultura Familiar na Festa de Maio (Figura
30):

Figura 30 - Barraca da COOPERCOISAS na Festa de Maio

FONTE: Arquivo Coopercoisas (2009, 2011).

A exposição e a comercialização realizadas nas feiras sempre foram


abertas também para artistas e para produtores de artesanatos, como se verifica
nas imagens acima. Na cooperativa COOPERCOISAS, esse tipo de produção
sempre foi bem aceito, inclusive para as pessoas desses ramos era permitido
cooperar, independentemente de ser morador da zona rural e/ou da zona urbana.
Para um dos membros da diretoria, essas ações, como as feiras,
sempre foram importantes, pois: “servem como espaço de divulgação dos
produtos e das potencialidades produtivas dos cooperados. Também são
importantes espaços para fomentar a solidariedade e a integração entre
cooperados”. E ressaltou também que a cooperativa foi responsável, por muitos
anos seguidos, pela administração e outros importantes programas e projetos que
331

possibilitaram a geração de renda para os produtores da agricultura familiar e


também para a comunidade local e regional. Dentre esses programas, cita-se o
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o projeto de aquisição de alimentos
da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
Ele ainda destacou que a cooperativa sempre pensou de forma mais
ampla, no sentido de beneficiar a maior quantidade possível de produtores; a
mesma sempre possibilitou a venda não somente de produtos produzidos pelos
cooperados associados, mas também de muitos outros produtores não
cooperados. A COOPERCOISAS buscou estabelecer parcerias diversas e ao
mesmo tempo ampliar o mercado de cooperadores, e, de acordo com o mesmo,
conseguiu atingir o mercado de vinte e dois municípios, como se verifica seguir no
mapa 14:
332

Mapa 14 - Municípios compradores de produtos da COOPERCOISAS

FONTE: Alves (2020).

Observa-se, pelo mapa, que o mercado consumidor dos produtos


oriundos da COOPERCOISAS conseguiu exceder os limites do território de Iporá
e também dos municípios limítrofes. A comercialização atingiu os municípios da
Microrregião de Iporá. Inclusive chegou ao município de Itapirapuã, situado na
região intitulada Rio Vermelho.
333

Os principais produtos vendidos nesses municípios especificados no


mapa foram: para o PNAE – abacaxi, banana, mamão, tomate, couve, alface,
mandioca, milho verde, farinha de mandioca, ovo caipira; para o PAA – melancia,
abacaxi, banana, mamão, tomate, tomate, couve, alface, abobrinha verde, milho
verde, feijão, ovo caipira, queijo, mandioca; e para os Supermercados, frutarias e
outros – rapadura, doce de leite, doces cristalizados, doce de mamão, limão, coco
verde, pimenta, farinha de mandioca, açafrão, mel. O período que data a
continuidade de venda desses produtos, atingindo a maior quantidade de
municípios, ocorreu entre os anos de 2007-2011.
Um dos últimos projetos planejados e implementados pela cooperativa
foi a criação de uma moeda local, conforme evidenciado a seguir.

8.3.1 – Banco Comunitário Pequi e moeda social Pequi

Como já destacado, a COOPERCOISAS é responsável pela gestão do


Banco Comunitário PEQUI, cujo processo de formulação e estruturação teve
início no ano de 2012. O referido banco já ganhou destaque em vários meios de
comunicação, como rádios locais, jornal Oeste Goiano, jornal O Popular e outros.
De acordo com esse último meio de comunicação, em matéria exposta pelo
jornalista Ricardo César, no Brasil, há muitas iniciativas como essa; ao todo, são
104 bancos comunitários que fazem circular a moeda social.
Com relação ao Banco Comunitário e à moeda social Pequi, pesquisou-se
os precedentes para sua criação e se constatou que ambos foram pensados e
planejados a partir da idealização de lideranças locais, oriundas especialmente da
COOPERCOISAS e da OCA - Organização Cultural, Artística e Desportiva de
Iporá (ver fluxograma 22).
334

Fluxograma 22: A criação do Banco Comunitário

FONTE: Oliveira (2021) adaptado dos dados de Sousa (2016, p. 110 a 113).

Como se verifica neste fluxograma, o BCDs e o NESOL, através da


assessoria da Associação Ateliê de Ideias, desenvolveram em parceria com a
SENAES/MTE ações para criar empreendimentos de microcrédito e também para
fazer reformulações em empreendimentos solidários. Assim, a partir de
discussões e encaminhamentos por meio de lideranças que compunham o Fórum
goiano de Economia Solidária, coordenado por Deusdete José Oliveira: “na época
coordenador do Fórum Goiano de Economia Solidária e por membros da
COOPERCOISAS, entidade escolhida para ser gestora do Banco Pequi em Iporá
e por filiados da antiga Organizacional Cultural e Artística de Iporá-OCA”, foi que
se definiu a criação do referido banco comunitário. (SOUSA, 2016, p. 111)
O processo de formulação e estruturação do banco comunitário ocorreu
no dia 20 de dezembro de 2012, e contou com o auxílio da associação Ateliê de
Ideias. Salienta-se que a mesma, no ano de 2011, foi contemplada com um
335

projeto financeiro para desenvolver projetos dessa envergadura, assim como foi
citado anteriormente.
O Banco Comunitário Pequi tem como prioridade a realização de
empréstimo para a comunidade local, a juros bem baixos se comparados aos
bancos regulares. Outra prioridade é promover a circulação da moeda social que
tem circulação limitada ao município de Iporá. A seguir a figura 31 apresenta o
material de divulgação do Banco Pequi e as respectivas cédulas de moeda social,
o Pequi:

Figura 31 – Cartaz de divulgação do Banco Pequi

FONTE: Arquivo da COOPERCOISAS (2018).

A nota é impressa com marca d‟água em papel moeda e tem paridade


com a moeda brasileira, o real, assim, cada Pequi equivale a um Real. Importante
ressaltar que a Economia Solidária foi o princípio ideológico utilizado para
fomentar a criação dessa moeda social, que tem a função de estimular o comércio
local. Em Iporá, ela é aceita por alguns comércios que foram cadastrados e
336

também na Feira do Agricultor, que acontece às quintas feiras, no espaço do


Centro de Comercialização.
Destaca-se que o banco comunitário é importante para criar condições
de acesso e de chances, no sentido de melhorar as condições de vida dos
trabalhadores que vivem próximo à linha de pobreza, mas sobrevivem da
realização de seu próprio trabalho (ABRAMOVAY, 2004). Nesse sentido, uma
perspectiva que influenciou a criação do banco comunitário PEQUI foi o
entendimento de que a melhoria das condições de vida não deve ficar sob a
responsabilidade de patrões que vivem da exploração do trabalho.
Foi então criado um banco com especialidade de empreender
solidariamente, e com o intuito de apoiar as práticas que norteiam a economia
solidária, gerando uma articulação entre produtores, consumidores e prestadores
de serviços. A estrutura funcional do mesmo ficou organizada da seguinte forma
(ver fluxograma 23):
337

Fluxograma 23: Disposição funcional do Banco PEQUI

FONTE: Sousa (2016, p. 115) adaptado da Rede Brasileira de Bancos Comunitários.

A partir desse fluxograma se verifica que o Banco PEQUI em seu


projeto funcional prevê uma relação direta com a comunidade, devendo ser gerido
pela comunidade institucionalizada para atender à própria comunidade local,
oferecendo inclusive crédito para os trabalhadores: produtores, comerciantes e
prestadores de serviço.
O referido banco tem como prioridade a realização de empréstimo para
a comunidade local, a juros bem baixos se comparados aos bancos regulares.
338

Outra prioridade é promover a circulação da moeda social que tem circulação


limitada ao município de Iporá. Ainda com relação à moeda social, faz-se relevante
destacar que a mesma pode também ser chamada de moeda solidária ou mesmo
moeda local; é um tipo de moeda diferente da moeda oficial, especialmente em se
tratando de sua funcionalidade e objetivos; ela tem, dentre as principais
perspectivas, o intuito de estabelecer um mercado complementar ao convencional,
de modo a oferecer condições para efetivação de consumo e produção partir de um
circuito fechado e local.

Markets, government, and individuals are three of the pillars of


successful development strategy. A fourth pillar is communities,
people working together, often with help from government and
nongovernmental organizations. In many developing countries,
much important collective action is at the local level (STIGLITZ,
2007, p. 51).

Para Stiglitz (2007), as ações em nível local, especialmente se


realizadas no formato de coletivo de pessoas da comunidade, são uma relevante
estratégia de desenvolvimento. Como se verifica, os bancos comunitários, a
exemplo do Pequi, são um bom exemplo desse tipo de ação comunitária com
potencial de promoção do desenvolvimento.
Importante ainda destacar que o referido banco segue as normas
regulamentárias previstas para esse tipo de empreendimento no território brasileiro.
Trata-se de um banco comunitário que foi criado a partir da comunidade, tendo a
COOPERCOISAS como responsável por realizar a gestão do mesmo, porém, no
que concerne aos atos de regulação e de normativas, o Banco Pequi tem
independência institucional, nesse sentido, tem junto à cooperativa o vínculo de
amparo legal, pois a cooperativa é representante legítima, definida pela própria
comunidade.
Salienta-se que quanto à questão jurídica de regulação e autorização
para existência dos bancos comunitários no Brasil, o Projeto de Lei
complementar N° 93 do ano de 2007 prevê a regulamentação desse tipo de banco
e ainda define a instituição responsável por emitir a moeda social, de tal maneira
atribui essa responsabilidade ao Banco Central do Brasil, assim também o define
para a função de regulador das atividades realizadas pelos bancos comunitários.
Nessa mesma Lei, no art. 10º, é previsto que os bancos comunitários têm
autorização para “prestar os seguintes serviços financeiros, nas condições e limites
fixados pelo Conselho Nacional de Finanças Populares e Solidárias, e mediante
339

expressa autorização do mesmo: X - Operar moedas sociais de circulação adstrita


à sua área de atuação”.
Ao verificar os parâmetros de regulação desse tipo de instituição de
cunho comunitário se constata que o Banco Comunitário Pequi se apresenta de
acordo com essas normativas, e tem respaldo legal para promover a dinamização
da agricultura familiar e dos respectivos consumidores do município de Iporá.
Trata-se, portanto, de um banco criado para promover uma economia diferenciada,
de cunho solidário e sustentável.

8.3.2 – Centro de Comercialização de Iporá

Outra ação de cunho organizacional para a agricultura familiar foi a


criação do Centro e Comercialização de Iporá; e a exemplo de outras ações já
citadas, o mesmo tem relação direta com a COOPERCOISAS e com a
COOMAFIR, pois essas cooperativas interagiram em todo o processo de busca,
planejamento e implantação do mesmo.
O Centro de Comercialização de Iporá fica localizado na Avenida
Doutor Neto, setor Central, e está anexo à Feira Coberta. Foi edificado no ano de
2010 com a perspectiva de atender aos produtores da agricultura familiar do
município de Iporá e municípios da microrregião, organizando a produção,
incentivando a potencialização dessa produção e sucessivamente a
comercialização. A seguir, é apresentado o fluxograma de como ocorreu à
implantação do mesmo (ver fluxograma 24):
340

Fluxograma 24 – O processo de implantação do Centro de comercialização

FONTE: Oliveira (2021)

O MDA criou estratégias para implementação de políticas públicas, a


fim de combater a desigualdade social e a pobreza no Brasil; nesse viés, buscou-
se fortalecer a agricultura familiar e promover a inclusão produtiva. Assim, foi
criado o PROINF objetivando “a qualificação de processos produtivos e
econômicos da agricultura familiar nos Territórios Rurais” (MDA, 2014, p. 2).
Através de verbas do PROINF a prefeitura municipal de Iporá construiu o Centro
de Comercialização. Sequencialmente, por meio de um coletivo representado pelo
Conselho Municipal, pelas cooperativas e pelas associações rurais se definiu que
a COOPERCOISAS ficaria como gestora administrativa do Centro de
Comercialização.
O Centro cumpriu a função relevante de auxiliar especialmente no
processo de comercialização e como apoio físico ao produtor, mas nos anos
seguintes ocorreram algumas divergências de cunho político, especialmente entre
a cooperativa, que era gestora, e a administração do município, com relação às
despesas de operacionalização do mesmo. Com isso, nos anos seguintes o
Centro passou enfrentar muitas dificuldades de funcionamento, ficando a maior
parte do tempo fechado e quase inoperante.
341

Assim, no ano de 2015, “o Comitê Gestor do Território Médio Araguaia,


apoiados pelo Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial da
Universidade Federal de Goiás, o MDA e os empreendimentos solidários da
agricultura familiar” (SOUSA, 2016, p. 99), por entender que mesmo com as
dificuldades de funcionamento e os entraves vivenciados pelo Centro de
Comercialização, o mesmo continuava cumprindo de forma limitada a sua função,
portanto, ainda continuava tendo importância na assistência organizativa da
agricultura familiar. Tais fatos foram analisados e discutidos, provocando novos
direcionamentos, e se definiu que o mesmo deveria ser gerido no formato
compartilhando, como se verifica no Fluxograma 25:

Fluxograma 25 – Gestão compartilhada para o Centro de Comercialização

FONTE: Oliveira (2021)

A referida gestão passou a ser compartilhada também com


cooperativas dos municípios de Bom Jardim de Goiás, Diorama, Palestina de
Goiás e Caiapônia. Como resultado dessa nova estrutura, também foi feito
planejamento e readequação das atividades que já vinham sendo realizadas e
consecutivamente buscou-se avançar no sentido de estabelecer novas ações.
Como resultado da gestão compartilhada foi planejado a reestruturação
da Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária; outra ação também
342

importante foi a viabilização para vender para o PNAE. Através da assessoria da


UFG foi elaborado o referido projeto e,

(...) o Centro de Comercialização de Iporá, conseguiu viabilizar a


venda dos seus produtos para setenta escolas da subsecretaria
de educação de Piranhas e Jussara e Iporá, gerando um
montante R$ 116.556,00, atendendo praticamente 100% do
repasse do FNDE para estas escolas. (SOUSA, 2016, p. 101)

Como se evidencia, esse projeto foi importante para reforçar a


estruturação do Centro de comercialização, o que sucessivamente criou
condições de melhoria na renda de produtores da agricultura familiar e ainda
ofereceu mais visibilidade para o que se vinha produzindo na microrregião de
Iporá.
A gestão compartilhada foi importante também porque criou
possibilidades de integração entre as cooperativas envolvidas na execução das
ações e ainda reforçou a Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária.
No dia 03 de março de 2017, o prefeito municipal de Iporá, por meio do
Decreto nº 134/2017, definiu uma nova gestão para o Centro de Comercialização.
De acordo com o mesmo, no mês de dezembro de 2016 finalizou o Contrato de
cessão de uso com as cooperativas de produtores rurais, e assim especificou que
o Centro de Comercialização é de responsabilidade do município de Iporá.
Seguidamente, no Decreto definiu que a gestão continuará compartilhada, mas da
seguinte forma (ver fluxograma 26):
343

Fluxograma 26 – A nova gestão compartilhada

FONTE: Oliveira (2021)

O espaço de comercialização, de acordo com o Decreto, passou a ser


compartilhado, porém, ficando a cargo de duas cooperativas, sendo a
COOPERCOISAS e a COOMAFIR, com auxílio administrativo de um assessor
representante do município.
Na figura 32, apresenta-se o Decreto nº134/2017:
344

Figura 32 – Decreto de nomeação do responsável para o Centro de comercialização


de Iporá

FONTE: (EASYCOOP, 2017)

De acordo com o Decreto, as demais cooperativas - COOPERCAP,


COOPERGUIA e COOPERJARDIM - foram excluídas da gestão, definindo o
prefeito que as cooperativas que ficariam na gestão seriam somente as
345

cooperativas de Iporá. Salienta-se que esse Decreto continua valendo até o


momento atual, mas com previsão para um novo Decreto ainda no ano de 2021,
conta um vereador do município de Iporá (veja na figura 33 a ilustração do
referido centro de comercialização).

Figura 33 – O Centro de Comercialização

FONTE: Oeste Goiano (2018).

Vê-se, na parte superior dessa figura, o galpão do Centro de


Comercialização; do lado esquerdo, verifica-se a imagem de uma reunião ocorrida
na prefeitura de Iporá, com prefeito e representantes das cooperativas, para
definição da gestão e da administração do Centro. Do lado direito, há a imagem
do veículo que foi disponibilizado para auxiliar nas atividades do Centro de
Comercialização e para assistir às atividades da direção administrativa junto à
administração de Agricultura Familiar do município.
Salienta-se que este local de comercialização passou por vários
momentos conflitantes, sendo alvo de discórdias, pois sempre houve muitos
interessados em controlá-lo e administrá-lo.
Atualmente, o mesmo continua sobre a gestão que se acabou de
especificar, e a principal ação realizada nele é a Feira da Agricultura Familiar e da
346

Economia Solidária. Ele conta com um espaço para exposição e venda de alguns
produtos oriundos da agricultura Familiar. O referido espaço também abriga o
escritório da COOPERCOISAS e tem servido como local de apoio físico para
produtores.

8.3.3 – Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária

Ao analisar os aspectos sociais, econômicos e culturais do município


de Iporá se percebe a revelação de que as feiras fazem parte desse contexto.
Realizam-se feiras em quase todos os dias da semana, exceto na segunda-feira.
São feiras livres, em que predomina a venda de produtos da agricultura familiar,
panificados, artesanatos e salgados produzidos pelos próprios feirantes. Na
prática, a maioria dos vendedores são os próprios produtores, salvo algumas
exceções como, por exemplo, os revendedores de verduras adquiridas no CEASA
de Goiânia.

Em Iporá (GO) percebeu-se que as feiras também fazem parte da


cultura local e contribuem para a economia do município. Há
esforços coletivos para fortalecer estas experiências. Ações no
âmbito do Território Rural Médio Araguaia exemplificam a reunião
de militantes, pesquisadores, camponeses e camponesas diante
de alternativas para o fomento da agricultura familiar camponesa e
a geração de renda para as famílias. Propiciam parcerias com
universidades públicas, cursos de formação de base,
acompanhamento técnico, apoio e orientação ao acesso às
políticas públicas, reuniões e incentivos à economia solidária. Esta
política territorial cria elos com as bases locais de produção.
Fomenta um modelo de desenvolvimento que integra as pessoas
aos seus territórios. (GONÇALVES; COELHO, 2018, p.152)

Em consonância com o exposto por Gonçalves e Coelho (2018) é que se


criou uma feira pensada exclusivamente para atender aos artesãos e produtores
da agricultura familiar; trata-se da Feira da Agricultura Familiar e da Economia
Solidária, também conhecida como Feira do Produtor; ela se localiza na Avenida
Doutor Neto, no setor Central, anexo à Feira Coberta, mais precisamente no
Centro de Comercialização de Iporá.
A Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária nasceu junto
com o Centro de Comercialização, e advém de ações organizadas pelo
cooperativismo local, especialmente pela COOPERCOISAS. Assim, por meio das
cooperativas e em parceria com outras instituições sociais se criou condições de
estruturação da mesma, além das políticas públicas viabilizadas pelo MDA para
347

atender à agricultura familiar e à economia solidária, dentro das ações no


Território Médio Araguaia. A feira obteve suas primeiras ações no ano de 2012; a
princípio, contava com um total de 20 bancas, conforme a Rede COMSOL (2013).
A referida Feira ocorre semanalmente, às quintas feiras.
Passados os anos iniciais de funcionamento, como se verifica a seguir,
foram realizadas ações no sentido de avaliar as atividades e as funcionalidades
desempenhadas pela referida feira. Assim, com o objetivo de reestruturá-la a fim
de potencializar a sua capacidade de vendas e de alcance da comunidade foram
definidas algumas ações, dentre elas, foi realizada a reinauguração no dia 03 de
setembro de 2015.
A Figura 34 apresenta imagens de alguns setores da Feira.

Figura 34 – Feira da Agricultura Familiar


348

FONTE: Oeste Goiano (2018).

No contexto atual, na Feira da Agricultura Familiar e da Economia


Solidária são comercializados produtos advindos de quatro cooperativas, que são:
Coopercoisas, Coomafir, Coopercap e Cooperguia. Porém, de acordo com um
dos feirantes, a maioria dos agricultores, num total de mais de 90%, é, de fato, do
município de Iporá. Segundo uma das feirantes, “essa feira é muito importante
para geração de renda; depois que ingressei como feirante, minha vida obteve
muitas melhoras. Passei a vender alguns produtos de nossa chácara”. Ao
questionar qual era a proporção de ganho em relação à renda familiar, ela disse:
“olha, é quase um terço da renda familiar, que para mim é muito, porque a gente
não contava com esse dinheiro e agora tem ele. E para mim é tudo que eu ganho,
porque antes eu não tinha nenhuma renda”. Ao conversar com outros feirantes,
percebe-se que muitos deles têm a renda oriunda da feira como muito importante
para melhorar as condições de vida. É o caso de um dos feirantes, que explicou:
“eu sou aposentado com um salário mínimo, então a renda da feira proporciona
uma melhora de vida e ajuda no sustento da família, porque minha aposentadoria
é muito pouquinha para viver, mal dá para comprar os remédios”. Além da
importância da renda, um fator relevante é a conscientização para o consumo de
produtos de boa qualidade, como confirma uma das feirantes:

Essa feira é uma das coisas mais importantes que temos em


nossa cidade. É um espaço muito bom e agradável. Aqui tem um
público mais consciente. Os consumidores daqui sabem que é
importante consumir produtos saudáveis, livres de agrotóxicos e
produzidos de forma mais sustentável, que degrade menos o meio
ambiente.

Como se verifica na fala dessa feirante, a Feira da Agricultura Familiar


prioriza a produção baseada nos moldes do que propõem os valores do
cooperativismo. É uma feira em que os feirantes visam ganhar dinheiro, mas que,
349

além dessa intenção, têm consciência de que os valores relativos à produção


isenta de agrotóxicos, precedida de cuidados com o meio ambiente, são
importantes também.
Na referida feira é proibida a venda de produtos produzidos com
agrotóxicos, produtos industrializados ou vindos da CEASA, devendo priorizar os
produtores locais.
Essa feira é importante para fortalecer e potencializar a produção local
e também é um meio que permite acesso a produtos de melhor qualidade, e é
ainda uma possibilidade de comprar direto do próprio agricultor, por um preço
mais justo.
A Rede Brasileira de Comercialização Solidária, ou simplesmente Rede
ComSol, através de assessoria técnica desenvolvida no ano de 2013 junto aos
gestores da Feira e com representação direta também dos feirantes, fez um
diagnóstico institucional, buscando averiguar as fragilidades e possibilidades para
a Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária de Iporá.
O Diagnóstico institucional se realizou a partir de amplo debate com
envolvimento participativo dos representantes da feira e com lideranças de outras
instituições parceiras. Através do mesmo se buscou evidenciar as ameaças, as
forças e as oportunidades para a feira, conforme Quadro 24.

Quadro 24 – O Diagnóstico da Feira da Agricultura Familiar e da Economia


Solidária
Diagnóstico Institucional
FORÇAS OPORTUNIDADES
Ambiente Interno Ambiente Externo
Resistência dos feirantes; União dos Feira específica da agricultura familiar;
produtores; Diversidade de produtos; Ampliação das relações de amizade, respeito,
Vendas; Geração de renda; confiança; Integração do Centro de
Localização; Parcerias; Relação direta Comercialização com as cooperativas; Cessão
com o consumidor; Fidelidade do do espaço; Política territorial; Diferencial da
consumidor; Regimento interno; economia solidária; Mudança na qualidade de
Comissão da feira; Reconhecimento da vida dos feirantes; Políticas públicas sociais e
feira; Satisfação dos clientes. territoriais; Integração em rede; Fortalecimento
da economia solidária Fortalecimento do
coletivo.
Ameaças Fraquezas
Ambiente Externo Ambiente Interno
O uso dos agrotóxicos; Mudanças A entrada de produtos que não são da
climáticas; A falta de água; Conjuntura agricultura familiar; Falta de cooperação entre
econômica e política atual; Disputa os feirantes; Falta de consciência; Política de
entre as cooperativas. preço justo; Diálogos negativos;
Insustentabilidade econômica; A feira de troca
se perdeu; Falta de confraternização.
FONTE: Rede COMSOL (2013, p. 28-31) organizado por Oliveira (2021).
350

Esse diagnóstico permitiu entender o que estava dando certo na ação


da feira, e ao mesmo o que precisaria ser feito para que a mesma cumprisse
melhor a sua função. De tal maneira, caracterizou-se essa feira como um espaço
para comercialização de produtos alimentícios e de artesanato da economia
solidária e da agricultura familiar.
Ficou ainda definido, conforme o Quadro 25, os objetivos, a missão e
os valores da feira:

Quadro 25 – Os Objetivos, missão e valores da Feira


Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária
Objetivos

♦ Contribuir com o fortalecimento e organização da agricultura familiar do Território


Médio Araguaia; ♦ Expor e comercializar produtos que tenham em sua base produtiva a
mão de obra familiar e economia; ♦ Resgatar, preservar e promover a diversidade
produtiva da agricultura familiar e a biodiversidade do Cerrado; ♦ Promover a educação
ambiental e incentivar a preservação do meio ambiente; ♦ Estimular o aprimoramento
profissional e pessoal de seus expositores, por meio de parcerias com o poder público,
iniciativa privada e Organizações Sociais Civis (OSC‟s) nacionais e internacionais; ♦
Difundir e incentivar cooperativismo e o associativismo entre os expositores/feirantes;
♦ Promover a inclusão social e produtiva das famílias da agricultura familiar. ♦
Representar os conceitos acima mencionados também em exposições e
comercialização de produtos em eventos realizados fora do Centro de
Comercialização, na ocasião de feiras, congressos e similares.
Missão Valores

Nossa Missão Viabilizar a ♦ Autogestão; ♦ Solidariedade; ♦ Cooperação;


comercialização de produtos ♦ Sustentabilidade; ♦ Produtos de qualidade; ♦
saudáveis que contribua para a Reconhecimento da sociedade; ♦ Boa relação
divulgação e fortalecimento da com o consumidor.
agricultura familiar local e do Território
Médio Araguaia. Nossa Visão: Ser Visão
uma feira de Agricultura Familiar e
Economia Solidária reconhecida pelo Ser uma feira de Agricultura Familiar e
seu diferencial na oferta de produtos Economia Solidária reconhecida pelo seu
de qualidade, e na promoção do diferencial na oferta de produtos de qualidade,
desenvolvimento local. e na promoção do desenvolvimento local.

FONTE: Rede COMSOL (2013, p. 26-28) organizado por Oliveira (2021).

Com se verifica nesse quadro, a partir desse diagnóstico se definiu


realizar a reestruturação funcional da feira, inclusive se confirmou que a mesma
tem a função de contribuir para o desenvolvimento local, fortalecendo a
agricultura familiar do Território Médio Araguaia; assim, por meio da feira busca-
se promover ações de cunho formativo que reflitam na promoção de boas práticas
de produção, no sentido de preservar mais o meio ambiente, potencializando a
produção, com produtos de melhor qualidade.
351

Por meio de pesquisa em campo, foram aplicados questionários aos


feirantes, a fim de averiguar o perfil dos mesmos e para melhor entender essa
ação (a feira), que decorre da integração do cooperativismo local e de outros
parceiros, pois se entende que essa ação tem sido importante no processo de
organização social e espacial de Iporá, principalmente no que concerne aos
impactos promovidos na vida de alguns agricultores familiares, beneficiários da
referida feira.
Foram aplicados questionários a 23 feirantes que se encontravam
presentes no dia 23 de janeiro de 2021. A seguir no Gráfico 20, é apresentado o
gráfico da participação na feira a partir do gênero e da idade:

Gráfico 20 – Gênero e idade dos feirantes

FONTE: Oliveira (2021)

Ao analisar esse gráfico se observa que quase dois terços dos


feirantes são mulheres. Essas, além de venderem os produtos, também são as
principais produtoras dos mesmos, especialmente quando se trata dos produtos
que passaram pelo processo de fabricação, como por exemplo: queijos, doces,
tapetes, pano de prato bordado, artesanatos como balaio, temperos, farinha,
conservas, molhos, bolos e outros.
Além da predominância de mulheres na participação da feira, também
se verificou que a maioria dos feirantes tem entre 26 e 55 anos; e a participação
352

de jovens é baixa, sendo evidenciada através de três jovens: um homem e duas


mulheres.
Esses dados levam ao entendimento de que as mulheres produtoras
obtiveram acesso à renda e também a certa independência emancipatória por
meio da feira, pois muitas delas não obtinham nenhuma renda de forma
independente. De acordo com uma das feirantes: “antes eu era uma pessoa
totalmente dependente de meu esposo, tinha que pedir dinheiro para tudo que
queria fazer; meu esposo sempre me dava, mas quando comecei a ter o meu, eu
me senti empoderada”, acrescentou ainda: “isso não quer dizer, que não dependo
mais do meu esposo, mas o que sei, é que passei a me sentir melhor; parece que
a gente se sente meio humilhada quando não se tem capacidade de produzir algo
para ter independência”; a mesma disse também que: “a cooperativa através
da feira mudou muito minha vida, pois criaram condições para que eu tivesse
uma importância também para as pessoas da comunidade, produzindo meus
produtos para eles comer”.
Nota-se, portanto, que a feira viabilizou a participação das mulheres na
produção local, possibilitou acesso à renda, e consequentemente também elevou
a autoestima, fazendo as mulheres feirantes se sentirem mais valorizadas. O fato
de haver poucos jovens feirantes tem relação com a baixa presença dessa faixa
etária na agricultura familiar, e também com a ausência deles na zona rural,
inclusive tendo pouca participação na produção junto à família.
Apresenta-se a seguir no gráfico 21 verifica-se dados relativos à
procedência dos produtos vendidos na feira:
353

Gráfico 21 – Origem dos produtos

FONTE: Oliveira (2021)

Observa-se a predominância da produção de Iporá em relação aos


demais municípios apresentados no gráfico. Consta-se também que os produtos
in natura representam a maioria do que é vendido. Destaca-se que os principais
produtos comercializados são: cheiro verde, alface, couve, pimenta, repolho,
mandioca, tomate, milho verde, melancia, pepino, feijão verde, abóbora, maxixe,
quiabo, peixe, Polpas de frutas, doces, temperos, molhos, farinha, bolos, tapioca,
mel, farinha de mandioca, Rapaduras, caldos, biscoitos, carne defumada, linguiça
defumada, queijo de trança, queijo fresco, queijo mussarela, laranja, mexerica,
banana, abacate, frango caipira, carne de porco, artesanatos como bonecas de
pano, pano de prato bordado, tapetes e outros.
Tem uma banca que vende produtos da CEASA, de acordo com um
dos feirantes, a banca foi liberada em função de que ainda não tem conseguido
produzir toda a variedade necessária e inclusive tem dias que faltam alguns
produtos como milho e principalmente frutas. Assim, definiu-se liberar uma banca
com alguns produtos que não são produzidos na microrregião.
A classificação do tipo de produção que cada produtor realiza está
evidenciada no Gráfico 22.
354

Gráfico 22 – A produção a partir dos feirantes

FONTE: Oliveira (2021).

Dentre os entrevistados se verificou que predomina a presença de


produtores de animais, como porco, galinha, peixe e outros, seguindo de
produtores de verduras e hortaliças. Ainda quanto a esse aspecto, vê-se que a
realização desse tipo de produção específica, incluindo ainda a produção de
doces, queijos e panificados, tem participação em maioria das mulheres. Entre as
15 mulheres entrevistadas, somente três delas não realizam esse tipo de
produção. Também se observou alguns aspectos do processo de vendas,
inclusive o período de maior concentração de vendas, conforme o Fluxograma 27.
355

Fluxograma 27 – As vendas na feira

FONTE: Oliveira (2021).

Esse fluxograma explica aspectos importantes no processo de vendas


ocorrido na feira pesquisada. Salienta-se que os dias em que incide maior
ocorrência de vendas, são especialmente no período de pagamento dos
servidores públicos; eles tendem a frequentar a referida feira especialmente às
quintas feiras que coincidem com o pagamento do mês. Já quanto aos meses em
que ocorre a venda das maiores quantidades de produtos, isso se explica em
razão dos meses em que aumentam a produção e a variedade, como por
exemplo, os produtos sazonais, como pequi, milho e verduras não irrigadas,
feijão, frutas típicas do Cerrado, dentre outras.
Outro fator importante para essa questão é que “nesses meses ocorre
também uma grande concentração de festividades, como confraternizações em
empresas, nas igrejas, escolas e nas famílias, fazendo as pessoas procurar mais
os nossos produtos”, disse uma das feirantes.
Quanto ao aspecto referente à renda, observou-se que a maioria ganha
entre R$ 1.001,00 a 2.000,00, seguidos dos produtores que ganham entre 2.001 a
3.000. Juntos esses dois grupos de faixa de renda representam quase 60% dos
356

feirantes. Salienta-se que essa média renda mensal advém de complemento da


venda de produtos vendidos também fora da feira. O gráfico 23 apresenta a
renda mensal dos produtores:

Gráfico 23 - Renda mensal

FONTE: Oliveira (2021).

Nessa questão, ainda foi notado que os feirantes que ganham acima de
R$3.000,00 são os que também produzem leite como parte da renda. De acordo
com um dos feirantes, a renda dele teve uma boa melhora: “antes minha renda do
mês em torno de R$ 2.500,00, mas desde quando eu passei a vender as minhas
coisinhas aqui, eu aumentei a renda em quase R$ 1.000,000 por mês”,
acrescentou ainda que a esposa aumentou a produção de frango caipira e
também de ovos: “ela também venda mais de R$ 1.000,00 por mês”.
Quando à residência, vê-se que 55% dos entrevistados moram na zona
urbana, enquanto os demais moram na zona rural. Dentre os que moram na zona
urbana, 85% deles trabalham com a produção rural, na agricultura familiar. Ainda
de acordo com os entrevistados, 72% têm a feira como a principal fonte de
arrecadação.
A feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária tem ao todo em
média 25 bancas, sendo que em algumas bancas há a presença de mais de um
feireiro, na maioria dos casos, são cônjuges, em alguns casos, tem a presença de
um/a filho/a. Ainda com relação à origem, verifica-se que dois deles disseram ser
artesãos, os outros vinte e um se identificaram como agricultores familiares.
357

Finalizando o levantamento, observou-se como é a integração dos feirantes


em algumas instituições, conforme mostrado no gráfico 24:

Gráfico 24 – Participação dos feirantes

FONTE: Oliveira (2021).

O gráfico revela que a religiosidade é bastante presente na vida dos


feirantes, pois do total de 23 entrevistados, apenas três não frequentam uma
religião. Ainda quanto a esse item relativo à participação, verifica-se que alguns
deles não são cooperados, mas são associados a uma associação. A referida
associação é intitulada como “Viver da Terra” e foi criada para atender à demanda
e às necessidades dos feirantes. Muitos desses associados esperam que essa
associação seja alterada para a constituição de uma cooperativa. Mas enquanto
isso não ocorre, por enquanto preferem continuar sem se filiar a nenhuma das
cooperativas já existentes. Mais detalhes e dados dessa associação serão
apresentados nas próximas páginas.
Quanto aos participantes em cooperativas, vê-se pelo gráfico que mais de
50% dos feirantes já são filiados a uma cooperativa. “A cooperativa tem
importante função para minha família, pois criou condições de vender aqui na
feira, e ainda compra para os estudantes quase a metade da minha produção”,
contou um dos feirantes. Disse ainda que “só quem nunca foi membro de uma
cooperativa, não sabe a importância que ela tem. Na cooperativa a gente vive na
colaboração, olha o exemplo aqui da feira, a gente se cuida, a gente ajuda, a
gente quer o melhor para todos”.
Para os entrevistados, o que falta para a feira ser ainda melhor é uma
divulgação mais intensa, mais participação da comunidade e contribuição do
358

poder público. Portanto, para os produtores vinculados ao projeto da gestão


compartilhada do centro de comercialização de Iporá, a feira da economia
solidária é bem mais que um local de comercialização, é um espaço em que os
produtores se tornam visíveis aos olhos da comunidade iporaense, um espaço de
socialização, em que há troca de conhecimento entre produtores e consumidores
e de experiências entre os próprios produtores, demonstrando que a feira tem
relevância econômica, social e política.

8.3.4 – COOPERCOISAS: um exemplo aferido

Na caracterização e análise viabilizada através da COOPERCOISAS


evidenciou-se que a cooperativa teve importante contribuição para organização
da agricultura familiar e para promoção da Economia Solidária. Para Gonçalves e
Coelho (2018, p. 152-153),

A organização de cooperativas também expõe novas experiências


para estimular a agricultura familiar camponesa e a produção local
e regional em Iporá (GO). A COOMAFIR- Cooperativa Mista da
Agricultura Familiar de Iporá e Região e COOPERCOISAS -
Cooperativa Mista da Agricultura Familiar da Região de Iporá. O
investimento nestas cooperativas como expressão das estratégias
de desenvolvimento local significa a possibilidade de fomentar a
economia solidária, movimentar as trocas locais, geração de
renda para os trabalhadores e permanência das famílias
camponesas no campo.

De acordo com Gonçalves e Coelho (2018), investir nas cooperativas é


um caminho para promover o desenvolvimento de um local. E nesse mesmo viés,
decorrente de investimentos do MDA, para concessão de projetos viabilizados
para atender ações no Território Médio Araguaia, foi possível para a
COOPERCOISAS realizar muitas ações de caráter interventivo, no sentido de
promover distribuição de renda, fortalecendo a agricultura familiar e promovendo
ações que vão ao encontro da Economia Solidária.
Os exemplos de projetos já realizados identificam que a mesma interviu
na estrutura produtiva do município, inclusive atingindo os municípios também da
microrregião de Iporá.
Quanto a esses projetos que foram aqui explicitados se observou que
os mesmos não têm sido renovados, pois, atualmente, a referida cooperativa
encontra-se com dificuldade de organização, e vive certo retardo na realização
dos projetos objetivados e planejados.
359

Destaca-se que essa cooperativa no momento não tem participado de


programas como PAA e PNAE. Com relação ao Banco comunitário Pequi, esse
se encontra também com dificuldades quanto ao funcionamento. Porém, nem
tudo se encontra sem funcionamento; nesse sentido, as principais ações em
execução têm sido a administração compartilhada do Centro de Distribuição, e
também a realização da Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária.
Essa última continua em evidência, obtendo resultados bastante satisfatórios.
A referida cooperativa teve por quase uma década acesso a muitos
benefícios e projetos advindos especialmente do governo Federal. Os principais
projetos foram o PAA e o PNAE, além ainda da obtenção de acesso a verbas
através de edital para realização de Feiras de Economia Solidária.
A COOPERCOISAS tem enfrentado nessa última década, mas
especialmente nos últimos cinco anos, a perda de cooperados. Aspecto que
advém principalmente das fragilidades que a mesma vem enfrentando nesse
período. Citam-se como explicações para tais fatores os desentendimentos
pessoais entre cooperados, inclusive a diretoria, e outro fator foi a extinção de
novos editais para realização de eventos e atividades como, por exemplo, as
feiras de Economia Solidária. E os aspectos ainda mais relevantes foram o
falecimento de duas pessoas que eram fundamentais na articulação das ações da
cooperativa. Um deles foi Noildo Miguel Sobrinho, um dos fundadores da
cooperativa. Tratava-se de um cooperado bastante atuante nas áreas de
comunicação. Ele era jornalista, tinha uma rádio web intitulada “Pau Terra”,
também foi um dos criadores da Liga iporaense de futebol, contribuiu com a
criação da Associação de combate ao Câncer (ACCI) em Iporá e foi o primeiro
presidente da Associação de Comunicadores do Estado de Goiás. Além de tudo
isso, foi articulador e incentivador na criação de várias associações locais e de
cooperativas goianas.
Posteriormente, Deusdete José de Oliveira veio a falecer, tratava-se de
um assessor de movimentos juvenis e sociais; ele era bastante envolvido em
diversas causas sociais. Foi um importante articulador das políticas do território e
defensor dos direitos da juventude. Ele foi coordenador da Casa da Juventude
Padre Burnier em Goiânia, e foi um militante bastante atuante na Pastoral da
Juventude, no Partido dos Trabalhadores, na CEBs e nas Escolas Bíblicas do
CEBI, no Centro de Estudo Bíblico. Também foi “(...) educador da Escola Centro-
Oeste de Formação Sindical da CUT Apolônio de Carvalho (ECO-CUT) e
articulador para o desenvolvimento sustentável na zona rural” (LIMA, 2013, p.1).
360

Ele era ainda muito experiente para articular projetos para a cooperativa. E
quando faleceu estava envolvido na execução de diversos projetos ligados ao
governo Federal, além disso, “(...) atuava incentivando a troca de experiências
entre os agricultores familiares. Era ainda facilitador na promoção de debate
sobre a organização e comercialização dos produtos da agricultura familiar”
(LIMA, 2013, p. 1). Seguia a linha da teologia da libertação e era um defensor da
Economia Solidária como forma de organizar a sociedade, especialmente a
Agricultura Familiar, e com esse posicionamento ideológico orientava e
influenciava o caminhar da COOPERCOISAS.
Salienta-se que esses aspectos citados são as principais explicações
para a fragilização da COOPERCOISAS; nesse mesmo sentido, a perda de
cooperados também foi ruim para a continuidade das ações e projetos da
cooperativa. Mas, em oposição, nem tudo foram perdas, pois dos cooperados que
saíram, a maioria contribuiu muito para a organização de novas cooperativas e
também para a estruturação de muitas instituições sociais.
Ao analisar as informações e os dados referentes à atuação da
COOPERCOISAS, entende-se que a criação de um rótulo ou selo como forma de
demarcar os produtos dos seus cooperados foi estrategicamente importante para
o fortalecimento e a expansão comercial, e obviamente importante para o
aumento das vendas concomitante com a agregação de valor.
Já com relação ao envolvimento de cooperados, especialmente para
assumirem tarefas comuns, esse é atualmente bastante frágil. Mas é importante
ressaltar que muitos cooperados têm possibilidade de contribuir muito assumindo
as funções necessárias, pois se trata de uma cooperativa que muito investiu em
formação e capacitação, especialmente por meio de parcerias como já bem
especificado. Muitos dos membros dessa cooperativa possuem qualificação
necessária e suficiente para resgatar e também implementar novos projetos.
Como confirmado, contatou-se que a COOPERCOISAS teve e tem
potencial, inclusive evidenciado anteriormente, para contribuir na organização do
espaço produzido em Iporá.
Entende-se, ainda, que a mesma tem como principais contribuições
para a organização do espaço: * a produção de hortifrútis através dos cooperados
oriundos da agricultura familiar, * a produção de artesanato e cultura por meio de
artesãos e artistas, * tem o local de apoio e fomento para exposição e vendas de
produtos da agricultura familiar, * as parcerias para realização de cursos para
formação e capacitação de seus cooperados, e também para a comunidade não
361

cooperada. O espaço organizado pela referida cooperativa se evidencia


especialmente por meio do: *Centro de Comercialização, * Banco Comunitário
Pequi, * Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária, dentre outros já
especificados.
Portanto, conclui-se esse item especificamente que a
COOPERCOISAS tem ações realizadas e atuação na organização espacial de
Iporá e também de municípios limítrofes.

8.4 – COOMAFIR: uma cooperativa que influencia no processo de


organização do espaço

A Cooperativa Mista da Agricultura Familiar de Iporá e Região


(COOMAFIR) está sediada na Rua Inhumas, no setor Central, próxima ao CPMG
Ariston Gomes; trata-se de uma casa alugada, com escritório de atendimento aos
cooperados, sala de recepção, área utilizada para reuniões, escritório para
controle contábil e arquivos, dentro outros. A seguir, é apresentada a imagem da
mesma na figura 35:
362

Figura 35 – Escritório da COOMAFIR

FONTE: Sousa (2016, p.81)

A cooperativa iniciou suas atividades em 30 de julho de 2009, por


intermédio de um grupo de agricultores familiares que resolveu se organizar a fim
de viabilizar a comercialização de seus produtos e também para obter acesso ao
mercado de Iporá.
As primeiras discussões na perspectiva de se criar uma cooperativa
ocorreram entre produtores oriundos da agricultura familiar, que estavam
inseridos em algumas instituições organizadas, dentre as quais se cita: Sindicato
dos Trabalhadores Rurais, Associação do Taquari, Associação do Buriti,
comunidades rurais ligadas à igreja, especialmente a igreja católica.
A partir de momentos de reflexão e diálogo vivenciados nessas
instituições citadas, houve um entendimento de que eles se encontravam
contrariados, em razão da desvalorização de sua produção. Os mesmos
avaliavam que os produtos eram vendidos por valor muito baixo. E como solução
acreditava que se organizassem um grupo, coletivamente, poderiam se fortalecer
e obter melhores condições para produzirem e participarem de forma mais justa
no mercado.
363

Assim, esses produtores sugeriram como solução a criação de uma


cooperativa. Nesse sentido, alguns desses produtores começaram no ano de
2018 a se reunir, pois havia o entendimento de que as intenções e as
necessidades vividas por eles convergiam. De tal maneira, começaram a buscar
informações sobre como organizar e formalizar uma organização cooperativa.
Já em 2009, esse grupo de produtores da agricultura familiar,
intitulados como precursores da cooperativa formalizaram a criação da
COOMAFIR. A princípio, eles eram de três comunidades rurais, conforme o
fluxograma 28:

Fluxograma 28 - Os agricultores familiares que fomentaram a criação da


cooperativa

FONTE: Oliveira (2021), dados obtidos a partir de entrevistas realizadas com diretores da
COOMAFIR. Entrevista concedida nos dias 05 de 14 de junho de 2020.

A COOMAFIR foi fundada no dia “30 de julho de 2009, por um grupo de


agricultores familiares advindas de diferentes comunidades, como já exposto no
fluxograma anterior. A Cooperativa atende a Lei 5.764/71 que possui o cadastro
nacional de pessoa jurídica e brasileira” (SILVA, 2016, p. 100). Os anos iniciais
foram importantes como experiência, mas houve muitas dificuldades no processo
de estruturação e planejamento das ações.
364

A cooperativa contava com cooperados vindos de comunidades


diferentes, havia, entre eles, alguns com boa experiência de vivência em grupos
sociais, inclusive vindos de outras cooperativas e associações, mas, mesmo
assim, nada foi muito fácil. Um dos principais problemas é que vivemos em uma
sociedade muito imediatista, com isso, as pessoas querem resultados imediatos,
e nem sempre tais resultados são obtidos, como conta um dos fundadores.
Assim, nota-se ainda que o desenvolvimento de projetos e estabelecer parcerias
confiáveis nem sempre foi tão rápido; nesse sentido, essa organização
cooperativa chega ao atual momento colhendo importantes resultados, mas tudo
isso foi resultado de um longo processo, precedido de bastante persistência.
De acordo com a ex-presidente da cooperativa, em entrevista ao jornal
Oeste Goiano, edição de 30/07/2014, “a Coomafir surgiu com a iniciativa de 36
membros fundadores. À frente, Adão Nascimento, como ferrenho defensor do
cooperativismo. Ele relembra que houve dificuldades”. Ela conta ainda que no
registro de fundação da cooperativa eram “36 fundadores muitos desistiram''. A
Coomafir chegou a ficar somente com sete membros. Hoje, tem 140 cooperados
e ninguém fala em sair.” Salienta-se que desse período citado para o contexto
atual esse número de cooperados aumentou em mais de 90%; diminuindo por
tanto somente o número de sócios fundadores, que no início eram trinta e seis,
desses atualmente apenas nove continuam na cooperativa. Porém se verificou
que a maioria dos que não faz mais parte da cooperativa se deve a motivos como:
falecimento, mudança de municípios e ou por interesse particulares.
Essas situações especificadas fazem parte da particularidade da
COOMAFIR, mas salienta-se que não raramente fatos similares a esse ocorrem
em diversas outras cooperativas, especialmente, no processo de estruturação
inicial. A dificuldade em entender o que é o sistema cooperativista, como se deve
organizar a cooperativa e a dificuldade em compreender os princípios do
cooperativismo são motivos para divergências entre os cooperados,
principalmente, entre cooperados e diretoria; tais fatores comumente dificultam as
ações de uma cooperativa.
De acordo com Frantz (2012), muitas pessoas procuram uma
cooperativa sem obterem conhecimentos necessários para entenderem a
essência do que é o cooperativo, não conhecem os fundamentos e nem a origem
desse sistema, e não sabem a complexidade que é uma organização
cooperativista. Ainda há alguns que aderem a uma cooperativa somente pela
necessidade de resolverem os problemas econômicos, ou mesmo, pela atração
365

do acesso aos incentivos das políticas públicas. Assim, mesmo sendo uma meta
do cooperativismo a melhoria de vida de seus cooperados e da comunidade, não
se pode limitar tal intencionalidade ou meta à mera questão econômica, pois uma
cooperativa oferece bem mais do que isso.

8.4.1 – A memória do processo de mobilização

Para mobilização de possíveis cooperados, foi realizada uma


importante parceria com a FETAEG. A primeira reunião foi realizada no Sindicato
dos Trabalhadores rurais; assim, a organização foi se concretizando
sequencialmente a partir de reuniões que eram realizadas nas associações e na
igreja. Inicialmente, foram realizados cursos sobre cooperativismo em nove
comunidades e um total de nove reuniões nas comunidades religiosas situadas na
zona rural. Salienta-se que dentre os cooperados sócios fundadores, muitos já
participavam de uma associação ou do sindicato dos trabalhadores rurais.
Para um dos membros da diretoria, um grande sonho era que: “(...) a
cooperativa chegasse à condição de comercializar 15.000 litros de leite por dia.
Meta que foi batida e bem superada”. De acordo com o mesmo, a cooperativa já
conta em sua estrutura com um caminhão próprio e com seis caminhões
terceirizados para realizar a coleta de leite. Passados mais de dez anos da
fundação, a COOMAFIR já tem faturado uma média anual de R$ 15 milhões, que
são tributados no município de Iporá.
A cooperativa possui duas principais frentes de trabalho, uma voltada
para a produção de leite e outra voltada para a produção de produtos hortifrútis
(ver Fluxograma 29):
366

Fluxograma 29 - Os produtos comercializados

FONTE: Silva (2016), Sousa (2016), Oeste Goiano (2014) e através de entrevista
realizada com um dos fundadores da COOMAFIR. Entrevista concedida em 19 de janeiro
de 2021.

Verifica-se, nesse fluxograma, que atualmente a COOMAFIR consegue


comercializar uma variedade significativa de produtos; essa variedade tem
relação direta com a intervenção da cooperativa no processo de organização do
espaço produtivo realizado pelos agricultores familiares, pois muitos deles foram
inserindo o uso de novas técnicas de produção e de novas variedades de
produtos, de acordo com as orientações e/ou a demanda da cooperativa.
De acordo com um dos cooperados fundadores, a cooperativa surgiu a
partir da necessidade de organizar os produtos e criar condições de
comercialização da produção. Constata-se que a mesma administra e influencia
boa parte da produção regional, especialmente, em função de desenvolver essas
duas frentes de trabalho já citadas. Também se verifica que a COOMAFIR tem
367

direcionado inclusive o manejo produtivo, pois com orientação e fiscalização


acaba definindo o processo de produção.
A COOMAFIR tem dentre seus objetivos: “(...) promover a
comercialização de produtos da agricultura familiar e oferecer assistência técnica,
no intuito de baratear custos e aumentar a renda dos seus cooperados”. (SOUSA,
2016, p. 80). Ela possui as seguintes características que a definem, conforme
descrito no Quadro 26:

Quadro 26 – Caracterização da COOMAFIR


COOMAFIR
COOPERATIVA MISTA DA AGRICULTURA FAMILIAR DE IPORÁ E REGIÃO
Natureza e Tipos de atividades Objetivos/funcionamento
Comercialização de produtos oriundos A COOMAFIR tem como objetivo promover o
da Agricultura Familiar; desenvolvimento socioeconômico de seus
comercialização do leite produzido cooperados e da comunidade onde está
pelos cooperados; Oferecer inserida, através da comercialização de
assistência técnica necessária para o produtos oriundos da agricultura familiar e da
aumento da produtividade e da assistência técnica, no intuito de promover o
lucratividade. aumento da produtividade e da diversificação
dos produtos, garantindo o aumento da renda
e o desenvolvimento do capital social.
Regime jurídico e institucional Recursos
A COOMAFIR está inscrita no A COOMAFIR é gerida com recursos
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, próprios, podendo também participar de
na Junta Comercial do Estado de editais sucedidos de implementação de
Goiás, conforme exige a Lei 5.764 /71; políticas públicas, emendas parlamentares e
também é cadastrada na OCB parcerias estabelecidas.
(Organização das Cooperativas
Brasileiras).
Ação e intervenção da COOMAFIR quanto ao desenvolvimento socioeconômico
viabilizado aos seus cooperados e para a comunidade em geral
Sociais: Realiza mutirões sociais, Ambientais: Incentiva a preservação e
programas de inclusão digital, doações de reflorestamento do meio ambiente;
alimentos, oferece cursos para os realiza cursos de capacitação para
cooperados e para a comunidade, realiza viabilizar produção orgânica e
atividades de vivência, interage nos eventos sustentável; orienta e intervém no
e atividades realizados por outras sentido de produzir utilizando boas
instituições que tenham também o objetivo práticas para amenizar os impactos
de valorizar e incentivar a produção através ambientais, para conservação do
da agricultura familiar. Cerrado e para o bem estar animal.
Econômicos: Novas oportunidades de mercado para seus cooperados, treinamento
técnico de jovens, gerenciamento de propriedades, contribuindo para o aumento da
renda familiar, consequentemente gerando poder de consumo e influenciando a
economia de Iporá e microrregião.
Dificuldades do desenvolvimento das atividades
Falta de participação de agentes locais; pouco incentivo do poder público; falta de
políticas municipais de fomento à economia solidária para que ela se torne sustentável,
dentre outros.
Contribuição coletiva e cooperativa Contribuição social, cultural para a
comunidade local
Melhoria da autoconsideração dos Empregos locais diretos e induzidos;
cooperados; reforço do capital social valorização dos saber-fazer populares
(capacidade de ação individual ou coletiva e locais; reforço da interculturalidade
368

de cooperação com atores institucionais e local; desenvolvimento das ligações


não institucionais); desenvolvimento de entre empreendimentos solidários;
estruturas sustentáveis de comércio trocas de informações e de boas
solidário; auto estimativa dos atores da práticas com atores locais da economia
economia solidária; fomento de rede junto a solidária; ligações cooperativas formais
outros atores da economia solidária e/ou informais organizadas com os
(Formação de uma rede econômica segmentos da cadeia profissional local
solidária); melhoria da qualidade produtiva e (restaurantes, produtores, artesãos,
melhoramento dos produtos; reconhecimento transportadores, alojadores e outros);
sociopolítico; inclusão social produtiva; crescimento das colaborações entre
incentivo e apoio aos pequenos produtores; organizações civis locais;
incentivo à produção com variedade; disponibilização de alimentos mais
valorização do agricultor familiar e de sua saudáveis.
produção.
FONTE: Apreis (2014), Silva (2016) e Sousa (2016). Organizando por Oliveira (2021).

Ao analisar o quadro, é possível constatar que a COOMAFIR


conseguiu superar as principais dificuldades encontradas no início de sua
estruturação, e sequencialmente realizar ações que viabilizaram o seu
crescimento e desenvolvimento. Conseguiu ainda implementar projetos de
intervenção junto à comunidade e aos produtores cooperados. A partir desse
quadro já se verifica que essa cooperativa vem intervindo na organização
produtiva local, inclusive influenciando lideranças de outras localidades.

8.4.2 – Algumas contribuições para organização do espaço e outros


aspectos que identificam o perfil da COOMAFIR/cooperados

Faz-se saber ainda que na COOMAFIR para se tornar um cooperado é


preciso ser produtor. No estatuto da cooperativa é evidenciado que um grande
produtor pode ser cooperado, porém, também é definido que 70% dos
cooperados devem ser oriundos da agricultura familiar, tendo que ter a declaração
de aptidão ao Pronaf (DAP). Melhor especificamente, é uma declaração que
identifica quem é produtor familiar.
Ainda para se tornar cooperado na COOMAFIR é preciso fazer a
integralização da quota-parte, valor esse que é pago quando se entra numa
cooperativa. Atualmente, na COOMAFIR o valor é de R$ 500,00, que pode ser
pago de forma parcelada, dividido em até dez vezes.
A COOMAFIR inicialmente foi pensada e planejada a partir de
perspectivas vividas por cooperados de comunidades do município de Iporá; mas,
como as necessidades, os desejos e os objetivos das mesmas convergiam entre
si ou similarmente com as de pequenos produtores de outros municípios, logo
eles foram sendo integrados ao cooperativismo que se constituía em Iporá. Nesse
369

sentido, essa cooperativa sempre contou com a participação de cooperados de


municípios circunvizinhos, mesmo que em menor número se comparados aos do
município de Iporá.
No contexto atual, a COOMAFIR conta com cooperados de nove
municípios, como se verifica no fluxograma 30:

Fluxograma 30 - Municípios de onde são os cooperados da COOMAFIR

FONTE: Oliveira (2020).

De acordo com o membro da diretoria da cooperativa em questão, os


dados de registro de 2020 quanto aos cooperados apresentam que pouco mais
de 70% de seus cooperados são do município de Iporá, seguidos de quase 10%
vindos de Caiapônia. E o restante distribuído entre os demais municípios,
contando ainda também com um cooperado do município de Montividiu. O
entrevistado salientou ainda que esses dados deverão passar por leve alteração,
em função da atualização cadastral que será realizada ainda nesse início de ano.
Como se pode notar a seguir (figura 36), a COOMAFIR tem cooperados de
três microrregiões, de acordo com a divisão do IBGE:
370

Figura 36 – As microrregiões alcançadas pela COOMAFIR

FONTE: IBGE (2017), Elaboração: Instituto Mauro Borges/Segplan/GO; organizado por Oliveira (2021)
371

Observa-se que os municípios de Iporá, Israelândia e Jaupaci


pertencem à microrregião de Iporá, já Palestina de Goiás, Caiapônia e Montividiu
são da microrregião do Sudoeste de Goiás, e Diorama e Montes Claros
pertencem à microrregião de Aragarças. Ainda em entrevista com membros da
diretoria, evidenciou-se que não existe uma previsão de limites do raio de atuação
para a cooperativa, e que possivelmente a mesma ainda poderá atingir muitas
outras regiões, inclusive outros estados brasileiros.
Atualmente, a COOMAFIR conta com a participação de quase 620
pessoas, especialmente porque algumas pessoas começaram a fornecer parte da
produção ainda antes de se tornar cooperados e como a inclusão de novos
cooperados deve ser referendada em assembleia, no atual momento a mesma
conta com um total de 445 cooperados registrados, número bastante elevado,
especialmente quando se compara ao início de sua fundação, e, sobretudo,
quando comparado ao período do ano de 2011, que foi quando a mesma teve o
menor número de cooperados. A seguir, esses dados são apresentados no
Gráfico 25:

Gráfico 25 – Evolução do número de cooperados 2009-2021

FONTE: Oliveira 2020, adaptado de Silva (2016), Sousa (2016), e através de entrevista
com membro da diretoria atual. Entrevista concedida em 19 de janeiro de 2021.

O gráfico evidencia a queda dos números de cooperados nos anos


iniciais, como já destacado nesta pesquisa anteriormente; sucessivamente,
observa-se que a partir do ano de 2012 foi quando se registrou um leve aumento
372

do número de cooperados se comparado aos números atuais, porém, para aquele


momento esse aumento foi extremamente importante e expressivo, pois significou
um aumento superior a 200%.
Concomitante a esse aumento do número de cooperados, entende-se
que há COOMAFIR nos anos seguintes continuou registrando altas taxas de
aumento de cooperados, chegando a ultrapassar a margem de até 80% de
aumento de um ano para o outro. Verificamos junto à diretoria106 dessa
cooperativa que “já a partir do ano de 2012 a cooperativa começou a
experimentar altos índices de crescimento, tanto número de cooperados, como
também em ações”, ainda o ano de 2016 “foi marcante para a cooperativa, pois,
por consequência dos bons resultados que se vinha obtendo, foi definido ainda a
estruturação de ações estratégicas para vida da cooperativa”.
No ano de 2016 foi feito um “planejamento estratégico” para
implantação de ações nos anos de 2017 e 2018. De acordo com um dos
membros da diretoria, as metas e perspectivas almejadas nesse planejamento
foram superadas já no ano de 2017. Naquele momento se buscou principalmente
trazer produtores de leite para cooperar. Especialmente porque os primeiros cinco
anos de atividade da cooperativa foram dedicados exclusivamente para a
comercialização do leite. Mas o aumento do número de cooperados também teve
relação direta com o acesso aos programas de políticas públicas como o PNAE e
o PAA.
Verifica-se ainda relacionado às ações do referido planejamento, que o
mesmo possibilitou criar uma dinâmica de visita às propriedades para fazer
orientação a produtores de leite que ainda não eram cooperados; ainda quanto a
esse aumento do número de cooperados estão diversas ações, como se
evidencia no fluxograma 31:

106
Membros da diretoria atual. Entrevista concedida em 12 de fevereiro de 2021.
373

Fluxograma 31 – Ações que contribuíram para o crescimento da COOMAFIR

FONTE: Oeste Goiano (2014); Sousa (2016); e através de entrevista com membro da
diretoria atual. Entrevista concedida em 19 de janeiro de 2021.

Como se constata nesse fluxograma, muitas foram às ações realizadas


pela cooperativa. Não dá para avaliar qual ação foi a mais importante, ou qual
delas mais influenciou o aumento do número de cooperados, porém, é possível
evidenciar que a venda através dos programas PAA e PNAE contribuiu em vários
aspectos. O primeiro aspecto se refere ao movimento que os programas criaram
na cooperativa, o segundo se refere ao aumento de renda dos cooperados, o
terceiro diz respeito ao fato de que a cooperativa ganhou mais evidência
enquanto instituição com capacidade de celebrar convênios e ainda contribuir
com a comunidade, oferecendo acesso aos referidos programas e entregando
alimentos de boa qualidade; e o quarto aspecto refere-se à elevação da condição
374

de produtor da agricultura familiar e consecutivamente a obtenção de certo nível


de empoderamento, que possibilitou a elevação da autoestima do cooperado.
Já no contexto atual para obter um crescimento mais acentuado, de
acordo com membro107 da diretoria “Quando a cooperativa obtiver condição de
comprar toda produção do cooperado é possível que isso vai possibilitar envolver
mais pessoas da família no processo de produção e de participação na
cooperativa”, acrescentou ainda que tal fator tem importância pois “a maioria dos
conjugues, filhos e outros dos cooperados ainda não são cooperados, com a
atuação da cooperativa nesse sentido exposto, muitos desses familiares citados
vão querer cooperar também”. E por fim contou que a COOMAFIR em parceria
com o SEBRAE e com o IF Goiano “vai avançar na realização de ações de
planejamento individual com cada cooperado, especialmente os mais resistentes,
para planejar a produção a partir da realidade de cada cooperado, e assim obter
aumento da produção e da variedade”.
Tem um aspecto ainda pouco discutido nas cooperativas que é sobre a
participação das mulheres. Recentemente, essa temática tem ganhado mais
visibilidade, especialmente porque tem se percebido que com a participação da
mulher o cooperativo pode ganhar mais força e ainda crescer muito.
Sobre esse aspecto, verifica-se que ele também tem muita importância
no meio cooperativista de Iporá. As cooperativas locais, principalmente nesses
últimos anos, têm obtido maior participação das mulheres, comprovando inclusive
o aumento do número de cooperados. Claro que isso não quer dizer que antes
não havia nenhuma mulher nessas cooperativas, mas a questão é que nas
fundações das cooperativas locais, em Iporá, raramente se via a participação das
mulheres.
Também vale ressaltar que as mulheres estão ocupando mais os
espaços de participação e gestão, isso praticamente em todas as esferas, tanto
sociais, quanto culturais, econômicas e políticas. Tal fato é evidenciado também
nas cooperativas brasileiras; a inserção da mulher tem ocorrido em todos os
ramos do cooperativismo, especialmente no Ramo de Produção de Bens e
Serviços, que passou a incluir a educação, o ramo de crédito e o de agropecuária.
Esse último tem crescido bastante, influenciado, por exemplo, pela inserção de
mulheres no campo. E elas têm se constituído não apenas como mão-de-obra,
mas, sobretudo, como força de trabalho (GUIMARÃES, 1990). Olhando ainda

107
Entrevista com membros da diretoria atual. Concedida em 11 de fevereiro de 2021.
375

para o cooperativismo, já se tem o entendimento de que é preciso criar condições


para as mulheres participarem e compreender que elas são importantes e
capazes de cooperar, é preciso que a mulher perceba, sinta e compreenda,

(...) o sentido econômico da cooperativa, porque é a gestora da


economia no lar em toda família brasileira e em muitos outros
países. Temos de acessar a mulher em todo o território nacional,
falando para ela sobre a importância em entender o
cooperativismo em seu dia a dia. A hora em que isso for feito, o
cooperativismo deslancha no Brasil e atinge patamares próximos
aos dos outros países” (RODRIGUES, 2018, p. 52).

E nesse viés de entendimento de que o cooperativismo pode crescer


por meio da inserção da mulher nas cooperativas, que se buscou verificar a
participação da mulher na COOMAFIR.
Quanto a esse aspecto, a COOMAFIR preza pela participação da
mulher enquanto cooperada, e também na gestão da cooperativa. O conselho
administrativo em sua formação se estrutura com 30% das vagas reservadas para
as mulheres. A cooperativa conta atualmente com 445 cooperados, e desses já
se tem um número bastante relevante de participação feminina, conforme o
gráfico 26:

Gráfico 26 - Cooperados da COOMAFIR por gênero

Homens
Mulheres

FONTE: Arquivo da COOMAFIR (2019). Organizado por Oliveira (2020).

Nota-se, a partir do gráfico, que a maioria dos cooperados é do gênero


masculino, totalizando, enquanto as mulheres são 66. O que se percebe com
376

esses dados quando relacionados às demais cooperativas atuantes em Iporá é


que a participação por gênero, especialmente nessa última década, passou a
contar com boa presença de mulheres, mas o número ainda é bem inferior ao de
cooperados do sexo masculino. A situação se reflete também nas diretorias das
cooperativas que são formadas por uma grande maioria de cooperados do sexo
masculino.
Outra questão importante que foi observada através de visitas em
campo, é que, entre os cooperados, a maioria das esposas não é filiada em uma
cooperativa. Porém, ressalta-se que mesmo as esposas dos cooperados não
estando ainda cooperando como sócias na cooperativa, muitas delas
demonstraram participar de forma bastante ativa na produção familiar, inclusive
produzindo produtos para serem entregues à cooperativa.
Evidencia-se que muitas delas ajudam diretamente na lida diária, como
na produção de hortifrútis e inclusive no ato de tirar leite. Em muitas visitas se
constatou que quem faz a gestão financeira da produção são elas também. Outro
fator a se destacar é que a maioria delas tem jornada duplicada, porque
comumente são as responsáveis por realizar as tarefas domésticas da casa e por
cuidar do quintal, efetuando as tarefas de zelar dos animais do terreiro e de
pequenas hortas. Mas essa questão é um assunto que não será discutido nesta
pesquisa, podendo ser mais bem aprofundado em outro estudo futuro.
Muitos jovens têm procurado se tornar cooperados na COOMAFIR e
muitos deles já tem participação significativa na produção. Para um dos membros
da diretoria: “(...) a participação dos jovens é muito importante. A cooperativa
busca ser um espaço eclético de oportunidades para todos, inclusive para jovens
e para as mulheres”.
Verifica-se no gráfico 27 a proporção do número de jovens em relação
ao total de cooperados da COOMAFIR.
377

Gráfico 27 – Jovens que são cooperados

FONTE: Oliveira (2021), adaptado dos dados da COOMAFIR (2021)

A participação dos jovens tem sido estimulada na COOMAFIR,


principalmente por parte de membros da diretoria. As visitas às comunidades
religiosas e em associações são os principais locais de ação para buscar novos
cooperados, especialmente jovens. Mas como poucos jovens vivem atualmente
na zona rural da microrregião e por terem que irem morar na zona urbana em
função da necessidade de estudar, sobretudo em um curso de graduação, essas
situações têm agido como um empecilho para atração de jovens na cooperativa.
Constatamos ainda que mesmo com baixo número de jovens como cooperados,
muitos dos atuais filiados da cooperativa se filiaram na mesma ainda quando
eram jovens. Verifica-se no gráfico 28 que a referida cooperativa já conta com 25
jovens cooperando.
O mesmo membro108 da diretoria da cooperativa ainda destacou que:
“boa parte da produção é oriunda de cooperados que utilizam do modelo de
meeiros; e tem também muitos que arrendam pequenas parcelas de terra para
plantar”. Como se observa ter uma propriedade privada não é critério para se
tornar cooperado na COOMAFIR, mas é necessário ser produtor da agricultura
familiar.

108
Membros da diretoria atual. Entrevista concedida em 11 de janeiro de 2021.
378

Dentre as características do perfil dos cooperados da COOMAFIR,


junto às informações de dados obtidos através da diretoria da COOMAFIR
constatamos que quase 60% dos cooperados são da faixa etária de 36 a 55 anos
e que mais de 80% obtêm apenas o ensino fundamental completo, e que quase
5% são analfabetos. Com relação à renda média, 80% dos cooperados obtêm
ganhos mensais que variam entre R$ 1.000,00 e 3.000,00.
Esses dados são reveladores, pois evidenciam que a cooperativa foi
um meio de incluir pessoas que se encontravam à margem da sociedade, ou que
convivia com muitas dificuldades para se inserir no processo de comercialização
da produção. Inclusive muitos desses cooperados antes se inserir na cooperativa
nem produziam o que se tem produzido no atual contexto (ver fluxograma 32):

Fluxograma 32 – A cooperativa na organização da produção dos cooperados

FONTE: Oliveira (2021). Dados obtidos através de entrevistas com membros da diretoria
atual. Entrevista concedida em 11 de janeiro de 2021.
379

Analisando os dados desse fluxograma, se constata que a COOMAFIR


cumpre o papel de organizar a produção local e consequentemente os
cooperados. A mesma não atende exclusivamente os pequenos agricultores, mas
esse é o principal público atendido.
O aumento do número de cooperados se justifica também pela
oportunidade que a cooperativa tem sido para a viabilização de incluir os
agricultores que produzem em menor quantidade, ou seja, que não produzem em
escala. Salienta-se ainda que 96% dos cooperados residem na zona rural.
Ainda com relação à questão do acesso a terra, verificamos o seguinte
perfil dos cooperados (ver gráfico 28):

Gráfico 28 – Acesso a terra para produção

FONTE: Oliveira (2021); Dados obtidos através de entrevistas com membros da diretoria
atual. Entrevista concedida em 11 de fevereiro de 2021.

A maioria dos cooperados tem uma propriedade privada de terra, que tem
o tamanho variável entre 3 e 4 alqueires. De acordo com membro 109 da diretoria
da COOMAFIR esse perfil representa cerca de 60% dos cooperados. Verificamos
in loco que também existe entre os cooperados alguns que preferem arrendar a
terra, primeiro por não ter condições de comprar e segundo em razão de que não

109
Entrevista com membros da diretoria atual; concedida em 11 de fevereiro de 2021.
380

precisam ficar muitos anos na mesma terra, condição que possibilidade sempre
procurar uma terra que esteja em boas condições de produzir.

8.4.3 – Organização e ações no contexto da COOMAFIR

Na COOMAFIR tem-se definida a taxa de operacionalização, que é


utilizada para manutenção física, estrutural e para pagamento de funcionários,
dentre outros. De modo que para o leite é definido um valor fixo em centavos por
litro de leite e, ao transformá-lo em porcentagem, verifica-se que o referido valor
corresponde em média a 2% do valor de cada litro de leite, já para os demais
produtos essa taxa é de 10%.
A cooperativa conta atualmente com sete trabalhadores efetivos. E
para melhor gerir e subdividir as funções optou-se por manter três diretores
executivos, sendo: um diretor gestor de ativos, um diretor financeiro administrativo
e um diretor operacionalizador de projetos. Salienta-se que todas as funções
citadas são remuneradas.
De acordo com um dos diretores atuais, quando se fala de participação
por parte dos cooperados, faz-se necessário destacar que a cooperativa ainda
encontra dificuldade de envolvimento, e assume que é preciso intensificar as
ações de conscientização entre os cooperados. Com relação à participação da
equipe de gestão, essa tem atingido quase sempre a totalidade. “Na cooperativa,
a partir de experiências vivenciadas, percebeu-se que a possibilidade de
remunerar toda a equipe poderia ser uma estratégia para garantir uma melhor
participação”. E assim foi definido. Atualmente, os Conselhos Fiscal e
Administrativo se reúnem uma vez por mês e de forma extra, quando necessário,
de maneira que cada membro desses conselhos é remunerado pela participação
por cada seção. Trata-se de um modelo próprio, pensado pelos diretores com o
objetivo de obter mais dedicação dos representantes desses conselhos. Esse
formato de contribuição foi também pensado como uma forma de cobrir gastos
com combustível para deslocamento e também para alimentação.
É repassado para cada membro do Conselho Fiscal o valor de R$
300,00 por seção, e para cada membro do Conselho Administrativo o valor de R$
200,00 por cada seção. O diretor contou ainda que, a partir da implementação
dessa decisão, as dificuldades quanto às ausências foram sanadas e a
participação passou a ser efetiva, sempre com a presença de todos os
conselheiros.
381

Ao analisar em específico a questão desse repasse em dinheiro aos


membros dos conselhos, foi constatado que o valor dessa diária por reunião se
refere a uma espécie de ajuda de custo para cobrir despesas referentes à
alimentação, ao transporte e, se necessário, à estadia. Como já verificado
anteriormente, nem todos os membros desses Conselhos especificados são do
município de Iporá, e mesmo os que são a maioria mora na zona rural e alguns
com relativa distância do perímetro urbano, sendo assim mantém-se a
necessidade de cobrir despesas como combustível, alimentação e outros.
Avalia-se que essa experiência de fazer esse tipo de contribuição, essa
ajuda de custo, tem sido positiva, e possibilitou criar melhores condições de
participação dos conselheiros. Portanto, o depoimento referente a essa
experiência vivenciada na cooperativa remete ao entendimento de que a
estratégia de melhor adequar a gestão de uma cooperativa com remuneração dos
envolvidos para suprir gastos já especificados é um caminho possível de solução
para resolver as dificuldades de participação.
Para um dos membros da diretoria, um dos principais desafios na
cooperativa: “(...) ainda é o de organizar os produtores para ter produção de forma
contínua; sabemos que já avançamos muito nesse sentido, mas isso ainda é um
grande desafio”. E ainda destacou que: “não faltam evidências para afirmar a
importância da cooperativa para melhoria das condições de vida dos cooperados
e também para os não cooperados, como para a comunidade local e regional”.
Para o mesmo, a cooperativa: “ajuda a regular o preço, oferece condições de
comprar ração por um preço bem melhor, e é um importante suporte para evitar
as perdas do leite”.
De acordo com o cooperado morador da Fazenda Santa Marta, a sua
produção se iniciou com o objetivo de atender a uma necessidade demandada
pela cooperativa. E afirmou: “(...) estou produzindo diversificados produtos, e fui
incentivado pela cooperativa; havia uma necessidade e ninguém estava
produzindo, e eu fui provocado para assumir essa produção”, acrescentando
ainda que: “(...) a partir desse início eu fui aumentando a variedade de produtos.
O tempo para produzir e vender é pouco, mas eu sempre tive o compromisso de
compra pela cooperativa”. Para o mesmo, “(...) eles sempre compram parte da
produção, isso me dá segurança”.
A seguir, o Quadro 27 apresenta como aumentou a variedade
produzida por ele:
382

Quadro 27: Influência da Cooperativa na organização produtiva


No ano de 2010 - Não era cooperado.
Morava na zona urbana e trabalhava como segurança/vigia em empresa privada.
Morava de aluguel e ganhava dois salários mínimos. Valor que equivale atualmente R$
2.220,00
Em 2015 (mês de fevereiro)
Arrendou uma chácara com três alqueires (goiano) de terra e se mudou para a zona
rural.
Começou a produzir milho, mandioca, abóbora e a criar animais como frango e suínos.
A renda variava em torno de R$ 200,00 a 300,00 por semana; mas esse valor é
referente à venda do excedente do que era produzido.
No ano de 2016 se filiou à cooperativa.
Começou a vender milho e mandioca para a cooperativa.
A renda já aumentou em quase 100%.
Em 2018
A cooperativa o incentivou a produzir banana para merenda escolar.
Em seguida começou a fazer a feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária.
No ano de 2019
Mudou-se para outra terra, também arrendada; mas com sete alqueires.
Adquiriu inicialmente seis vacas e posteriormente, cinco meses depois comprou mais
cinco vacas.
O leite produzido é para consumo e para produção de queijo.
2020
Tem uma renda mensal que varia entre R$ 2.500,00 a 5.000,00. Depende da época do
ano.
Ampliou o acesso disponível através da produção a diversos gêneros alimentícios
produzidos na propriedade.
Passou a obter melhores condições sociais; inclusive oferendo aos familiares acesso a
bens.
FONTE: Oliveira (2021); organizando a partir de entrevista concedida em 18 de janeiro
de 2021.

Como verificado por meio desse quadro, as informações obtidas


através dessa entrevista evidenciam importante participação da cooperativa na
melhoria das condições de vida do cooperado, e também deixam claro que a
mesma influenciou no tipo de produção e no aumento da variedade produtiva
desse cooperado. O entrevistado disse ainda que não melhorou somente a renda,
mas as condições relativas à alimentação e ao conforto de moradia; afirmou
também que melhorou tanto que não tem como nem comparar com as condições
que ele e a família viviam antes da cooperativa.
Destaca-se, entre os objetivos atuais da cooperativa, o de promover o
desenvolvimento para os cooperados e a comunidade. Através de assistência
técnica, busca-se fomentar a diversificação da produção e, consequentemente,
aumentar a produtividade.
Ao analisar a questão quanto a oferecer assistência aos cooperados e
também incentivar e investir no melhoramento da qualidade da produção, além de
financiar novas técnicas produtivas, conferiu-se que a cooperativa já realizou
muitas ações no sentido que do que foi exposto. Vê-se junto à cooperativa que
383

não faltam exemplos sobre esse tipo de ação, assim, dentre os vários exemplos
conferidos, foram selecionados três deles, que evidenciam essa questão,
conforme Figura 37:

Figura 37 – Algumas evidências da intervenção da COOMAFIR


384

FONTE: COOMAFIR (2014); EMBRAPA (2014); Oeste Goiano (2017). Organizado por
Oliveira (2021)

Os recortes visualizados nessa figura se referem à postagem oficial na


página da cooperativa, seguidos de parte de uma matéria publicada pela
EMBRAPA e de uma matéria publicada em jornal regional. Ambas evidenciam as
ações da COOMAFIR no sentido de estabelecer possibilidades de capacitar os
cooperados para melhorar a produtividade e consecutivamente os lucros.
Também se observa a intervenção da cooperativa financiando produtores, a fim
de obter melhoramento de técnicas e também garantir variedade produtiva.
Por meio de entrevista junto a um dos gestores da COOMAFIR e a
partir de visita a cinco famílias de cooperados, observou-se que a cooperativa tem
influenciado na mudança do uso da terra. Especialmente através de convênios
firmados para compra da merenda escolar, como o PAA (programa de Aquisição),
o produtor cooperado, ao participar de programas como esse, tem certa garantia
de venda de boa parte da produção, pois a cooperativa faz o compromisso de
comprar cerca de até 50% de toda a produção.
385

De acordo com um dos cooperados que tem produção na região da


fazenda Buriti:

Antes eu trabalhava apenas com plantação de mamão, mas não


tinha certeza da venda. Já cheguei a perder até 80% da produção.
Mas a COOMAFIR foi muito importante, passei a ter uma certeza
da venda de 50% da produção. Dessa forma aumentei minha
produção para vender no comércio de Iporá; além dessa
oportunidade passei a produzir Jiló, abobrinha, quiabo e pimentas.
Hoje minha produção é diversificada, Graças a essa cooperativa.
Assim passei a ter ganho de diferentes formas de produção.

Esse cooperado disse ainda que a segurança de compra por parte da


cooperativa foi importante para ele, pois passou a ter condições de plantar outras
variedades de produtos que antes ele não produzia. Com o aumento da produção
e da variedade, os ganhos também aumentaram. Ele conseguiu pagar faculdade
particular para as duas filhas; as mensalidades de cada uma delas eram no valor
aproximado de R$ 700,00. Outro fator destacado é que o referido produtor
sempre faz a opção de não receber mensalmente da cooperativa, pois o
necessário para o seu sustento ele tira da parte não vendida para a cooperativa,
para tanto, ele recebe acumulado em parcela única, no fim de cada ano. Disse
que prefere nesse formato por dois motivos: o primeiro se refere à confiança que
ele tem na cooperativa e o segundo diz respeito à possibilidade que tem de juntar
dinheiro. Para ele, é como se fosse uma poupança ou um consórcio anual.
Atualmente, ele tem recebido uma quantia média por ano equivalente a R$
25.000,00.
Depoimentos como esse e exemplos como os da figura anterior
demonstram e confirmam que a cooperativa tem se empenhado e buscado
constantemente promover o aumento de renda e qualificação dos cooperados e,
consequentemente, a ampliação também do capital social.

8.4.4 – As parcerias são importantes para as ações da COOMAFIR

A cooperativa sempre se mostrou ligada às possíveis melhorias e


oportunidades, por exemplo, estabelecendo parcerias com instituições locais e
também com órgãos e instituições externas, inclusive com outras cooperativas. A
figura 38 apresenta algumas dessas parcerias estabelecidas:
386

Figura 38 – Mosaico com os principais parceiros da COOMAFIR

FONTE: Oliveira (2020); organizado a partir de dados obtidos por meio de entrevista
realizada com sócio fundador e membro da diretoria. Entrevista concedida nos dias 05 de
14 de junho de 2020.

Dentre as parcerias estabelecidas, cita-se a CENTROLEITE. A


COOMAFIR viabilizou essa parceria através do processo de associação ocorrido
no ano de 2014. Salienta-se que a CENTROLEITE atualmente é composta por 18
cooperativas goianas e tem a função principal de negociar o valor do leite para
venda junto aos grandes laticínios. Nesse sentido, é definido o preço a partir de
uma maior quantidade de leite. Após a definição de preço, ela envia para as
cooperativas a confirmação de venda. Esse processo é realizado a cada 15 dias.
O modelo de negociação do leite realizado pela CENTROLEITE é a
comercialização no mercado spot, para melhor entendimento, essa é uma forma
de negociação realizada entre empresas, ou entre os laticínios. Existe um
entendimento entre os comerciantes de leite de que a comercialização no
mercado spot é bem mais dinâmica e oferece melhores condições de ganho ao
produtor.
387

A cooperativa faz a negociação do leite no mercado Spot, mais


comumente conhecido como leite cru ou in natura. As negociações seguem uma
periodicidade quinzenal. De acordo com um dos delegados da CENTROLEITE, “o
leite Spot é colocado para negociação com vários compradores e a tendência
sempre é de obter um melhor preço”, segundo ele: “o fato de a cooperativa utilizar
esse meio para negociação é relevante, pois impacta diretamente a definição do
preço e isso é bom demais para as cooperativas filiadas, porque elas negociando
juntas ganham força para negociar”. E ainda destacou que: “o mercado de leite
spot é inovador e muito mais dinâmico”.
De acordo com o responsável pelo setor de vendas da cooperativa, por
esse serviço é pago o valor de 0,8% de cada litro de leite para a CENTROLEITE.
Atualmente, a COOMAFIR paga em média R$ 8.000,00 por mês para a mesma.
Fazer parte dessa cooperativa regional foi muito importante, pois possibilitou
melhores condições de negociação, e também garantiu mais segurança, pois
quando não eram membros dela a situação era bem mais complicada, haja vista
que tinham que negociar isoladamente e com uma menor quantidade de leite,
com isso, também não conseguiam obter uma segurança do preço do litro para
retornarem ao produtor de leite.

8.4.4.1 – A CENTROLEITE, cooperativa externa como parte de cooperativa


local, atuando como influenciadora na venda da produção interna

Por meio de pesquisa de campo junto à Cooperativa Central de


Laticínios de Goiás (CENTROLEITE) constatou-se que a mesma tem
desenvolvido o papel de negociadora de parte da produção local de leite.
A referida cooperativa tem cunho externo, mas para existir é imbricada
com outras cooperativas, inclusive no atual momento tem a COOMAFIR como
uma filiada. No quadro 28 apresenta-se o Histórico da CENTROLEITE.

Quadro 28 - Histórico da CENTROLEITE


(...) nasceu em 1997 da aspiração de lideranças cooperativistas e do apoio do Sindicato
e Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de Goiás - OCB-GO e da
Federação da Agricultura do Estado de Goiás - FAEG, que vislumbraram a central como
fator decisivo na defesa dos interesses das cooperativas e seus associados. Surge,
então, a CENTROLEITE com o objetivo de canalizar a produção leiteira e de forma
eficiente colocar no mercado consumidor o leite e seus derivados. A persistência e o
desejo de ter seus objetivos concretizados reforçaram a necessidade de firmar grandes
parcerias com cooperativas e indústrias. (...) a CENTROLEITE está estruturada no
mercado, prestando serviços de intermediação comercial na venda do leite in natura,
representando no âmbito nacional suas (...) cooperativas filiadas ativas, com mais de
388

3.800 produtores e uma produção de mais de 217 milhões de litros de leite no ano de
2017. Com seus 22 anos de vida a CENTROLEITE se projeta entre as maiores empresas
de captação e comercialização de leite do país, ocupando a nona posição no ranking das
"Maiores Empresas de Laticínios - Brasil 2014". (FONTE: LEITE BRASIL, CNA/Decon,
OCB/CBCL e EMBRAPA/Gado de Leite). Sua proposta de trabalho é moderna e
inovadora, desempenhando o papel de empresa "virtual". Sua força e seu sucesso
ultrapassam as estruturas de concreto e a sofisticação dos equipamentos de
processamento de leite. Estão plantados na determinação e na união das cooperativas e
seus associados que acreditaram no sucesso desta parceria e hoje podem vislumbrar os
resultados.
FONTE: Arquivo da CENTROLEITE (2020).

Como se pode verificar, a cooperativa tem a função de negociar o valor


do leite. Com a união de várias cooperativas, ela tem significativo poder decisório
de negociação, especialmente porque faz negociação de um grande volume do
leite produzido no estado de Goiás.
De acordo com o supervisor administrativo, a CENTROLEITE se
originou no mês de maio do ano de 1997, com a participação de sete
cooperativas filiadas; hoje, esse número é bem maior, atingindo um total de 18
cooperativas. Na ocasião não contava com nenhuma cooperativa de Iporá. A
seguir, verifica-se as cooperativas filiadas à CENTROLEITE, com exceção de três
delas, que ainda não possuem slogan definido (ver figura 39):
389

Figura 39: Cooperativas filiadas à CENTROLEITE

FONTE: Oliveira (2020).

Vê-se que as quatro cooperativas filiadas à CENTROLEITE da região


que possui mais proximidade com o município de Iporá são oriundas dos
municípios de Diorama, Piranhas, Córrego do Ouro e Doverlândia.
Importante destacar que na estrutura funcional da CENTROLEITE a
participação de cada cooperativa é essencial. De maneira que, com relação à
organização estrutural, a CENTROLEITE se organiza a seguinte forma (ver
fluxograma 33),
390

Fluxograma 33: Estrutura funcional da cooperativa

FONTE: Oliveira (2020).

Percebe-se, nesse fluxograma, que a CENTROLEITE tem em sua


estrutura administrativa um total de oito funcionários e conta ainda com um
Conselho Administrativo, um Conselho Fiscal e Delegados, cujos representantes
são todos eleitos ou indicados pelas próprias cooperativas filiadas.
Como já evidenciado nesta pesquisa, apenas duas cooperativas locais
em Iporá trabalham com leite. Delas, somente a COOMAFIR é filiada à
CENTROLEITE. Já a COOPROL também esteve filiada, mas acabou optando por
cancelar a filiação. Para o supervisor administrativo da CENTROLEITE, nem
todas as pessoas conseguem entender bem o que é cooperativismo, falta espírito
cooperativista.
Segundo o supervisor, é preciso partir da ideia de comunidade, em que
se busca trazer o outro para unificar e não para agir de forma isolada. Ainda
salientou que: “a satisfação das necessidades devem ocorrer dentro do espírito
de solidariedade, de cooperar para somar forças. Assim se consegue unificar os
objetivos e interesses comuns, para crescer juntos, seguindo os princípios do
391

cooperativismo”. Para ele, na CENTROLEITE cada cooperativa coopera com as


outras, e assim todas conseguem obter resultados e fortalecimento mútuo.
Ressalta-se que a questão da desfiliação da COOPROL tem relação
também com a concorrência. Existem parceiros que são concorrentes, além ainda
de alguns dos representantes dessas empresas que agem de forma a
desaglutinar as parcerias estabelecidas, lamentavelmente acabam agindo de
modo individualista e seduzindo pela promessa de se obter maiores ganhos.
Outro elemento evidente nesse processo é que a COOPROL é uma cooperativa
que trabalha quase que exclusivamente com um único produto, que é o leite. A
partir dessa questão, é possível entender que a referida cooperativa tem um grau
elevado de conhecimento qualificação quanto ao domínio da produção de leite,
inclusive quanto às possibilidades de negociação do mesmo.
Outro fator importante é que a cooperativa, a princípio, trabalhava com
uma quantidade bem maior de captação de leite do que a atual, nesse sentido, as
condições de negociações eram diferentes. Assim, através de avaliação realizada
pela diretoria e a partir de critérios técnicos foi que se decidiu sobre a
necessidade da cooperativa se reorganizar pela desfiliação da cooperativa
CENTROLEITE.
Segundo o supervisor administrativo da CENTROLEITE, atualmente a
cooperativa trabalha com dez compradores, dentre esses, cinco são de porte
nacional e os outros cinco de porte regional; dentre os maiores estão:
Piracanjuba, Italac e Itambé. Mas sempre é possível incluir novos compradores
após análise das condições financeiras do interessado. Para ele, esses
compradores são parceiros da CENTROLEITE.
Mas, como disse anteriormente, esses compradores parceiros também
promovem a concorrência; o caso da saída da COOPROL foi nesse sentido.
Segundo o cooperado, a informação foi de que: “um gerente de compras da Italac
propôs a diretoria da cooperativa para que passassem a negociar diretamente
com a empresa, sem intermédio da CENTROLEITE”, e assim foi feito: “(...) por
que os diretores da cooperativa entenderam que deixando de pagar a taxa
operacionalização para a CENTROLEITE, seria uma economia, uma vez que a
proposta para eles era de compra do leite pelo mesmo valor”. Diante da situação,
a COOPROL se desfiliou, mas, na prática, para ele nem sempre é mantido o valor
negociado conjuntamente, pois, a partir do desligamento, não existe mais repasse
de informações; assim, a cooperativa em questão teve que prosseguir com a
venda do leite de forma isolada.
392

Para se filiar à CENTROLEITE é necessário homologar a decisão em


assembleia e, na sequência, proceder com o registro na junta comercial. A
desfiliação também deve seguir o mesmo procedimento, sendo também
necessária a integralização de cota capital referente ao valor de R$ 22.500,00.
Esse valor deve ser pago 30% à vista e o restante, 70%, pode ser parcelado a
partir de proposta formalizada pela diretoria da cooperativa interessada.
A cooperativa faz a negociação do leite no mercado Spot, mais
comumente conhecido como leite cru ou in natura. As negociações seguem uma
periodicidade quinzenal. De acordo com um dos delegados da CENTROLEITE, “o
leite Spot é colocado para negociação com vários compradores e a tendência
sempre é de obter um melhor preço”, segundo ele: “o fato de a cooperativa utilizar
esse meio para negociação é relevante, pois impacta diretamente a definição do
preço e isso é bom demais para as cooperativas filiadas, porque elas negociando
juntas ganham força para negociar”. E ainda destacou que: “o mercado de leite
spot é inovador e muito mais dinâmico”.
Para o superintendente administrativo da CENTROLEITE, existem dois
modelos que definem a forma de negociar o leite. Um deles é o contrato de
fornecimento formal, em que é feito um contrato; já o outro modelo é o do leite
spot, em que não se tem nenhum contrato formal. Esse último modelo se mostra
mais dinâmico, o que permite fazer negociação para definição do preço a cada 15
dias. Melhor exemplificando: a cooperativa negocia o valor do leite sempre no
último dia útil de cada quinzena; o valor passa a valer para a quinzena seguinte.
Para definição do preço do litro é feita uma criteriosa pesquisa de
mercado, em que são considerados fatores como: o preço dos industrializados
derivados do leite, a safra produzida no período, dentre outras questões. De
acordo com o superintendente administrativo, existem seis itens fundamentais
para definir o preço do litro de leite, como se verifica no quadro 29.

Quadro 29: Os fatores para definição do preço do leite


Preço do leite
Fatores influenciadores
Preço do produto industrializado derivado do leite Preço de campo (oferta direta
ao produtor)
Oferta e procura A sazonalidade produtiva
Importação para produção de Commodities lácteas, Cotação do dólar
como leite em pó e outros.
FONTE: Oliveira (2020).
393

Ressalta-se que existem muitos outros fatores não expostos nesse


quadro que podem influenciar no valor do litro de leite, porém, os apresentados
são considerados os mais importantes e decisivos. Constata-se que a oferta e a
procura são também decisivas, especialmente em período de baixa produção. E a
sazonalidade é também muito relevante. Segundo o superintendente
administrativo da cooperativa, há períodos do ano em que é certo que vai ocorrer
a diminuição do preço do litro de leite.
Ele destacou que essa variação do preço também é parte da
consequência do volume produzido em cada período do ano. Ainda com relação
ao volume produzido e comercializado pela cooperativa, verificou-se junto aos
relatórios de 2019 (arquivo da referida cooperativa) que a média de produção
comercializada diariamente por meio da CENTROLEITE é de seiscentos e oitenta
mil litros, o que corresponde a 8,35% de todo o leite comercializado no estado de
Goiás; esse valor equivale a 0,88% do leite comercializado no território brasileiro.
Enfim, o que se percebe é que a parceria celebrada entre
CENTROLEITE e COOMAFIR tem sido importante para essa segunda, no sentido
de que ela obteve acesso a melhores condições de participação no mercado do
leite. Consequentemente, as informações e a assessoria realizada pela
CENTROLEITE são importantes para garantia da melhor negociação possível,
conta um dos diretores da COOMAFIR.
Através de levantamento de dados em campo, verificamos 110 que a
média do valor pago ao cooperado da COOMAFIR no litro de leite em janeiro de
2021 variou entre R$ 1,55 a 2,00; a média geral ficou em torno de R$ 1,80.
Critérios como qualidade, logística e quantidade são fatores elementares para
definição do preço do litro de leite. Ainda de acordo com membro da diretoria da
COOMAFIR, para o cooperado que produz menor quantidade, menos que 100
litros a condições de negociação com os lacticínios são muitos ruins e para
aqueles que moram mais distante é pior ainda, pois o valor pago no litro de leite
atinge até 50% menos do valor pago pela cooperativa.
Com a referida parceria a COOMAFIR conseguiu, além de obter melhor
preço no litro de leite, condições de oferecer mais segurança quanto ao preço e à
venda do leite aos seus cooperados, fato importante inclusive para atração de
novos cooperados.

110
Entrevista com membros da diretoria atual; concedida em 11 de janeiro de 2021.
394

8.4.5 – Outras parcerias e ações

As parcerias de cunho político e institucionais também foram


importantes para a COOMAFIR nesses seus quase 12 anos de existência.
Destaca-se que muitas parcerias foram realizadas, por exemplo, com a OCB e a
com a CECAF (conforme Figura 40).

Figura 40 - Nota oficial emitida pela COOMAFIR sobre as parcerias estabelecidas

FONTE: Arquivo COOMAFIR (2014)

Parcerias não menos importantes foram às celebradas com alguns


deputados e prefeituras, dentre as quais se cita: com a prefeitura de Iporá e com
o deputado federal Rubens Otoni. Por meio desse deputado, por exemplo, foi
possível obter acesso à emenda parlamentar.
395

FIGURA 41 – Reunião com o Deputado Rubens Otoni

FONTE: Arquivo da COOMAFIR (2018).

A imagem mostra uma das reuniões realizadas com o deputado citado,


a fim de estabelecer parcerias e para apresentar demandas da cooperativa. Uma
das demandas atendidas foi para realizar a compra de um caminhão, como
mostra a figura 42:

Figura 42 – Automóvel adquirido através de parceria – Emenda parlamentar

FONTE: Sousa (2016)

Observa-se que a compra desse caminhão foi realizada a partir da


emenda parlamentar viabilizada pelo deputado federal Rubens Otoni (PT); o
mesmo destinou a emenda equivalente ao valor de R$ 200.000,00; em
contrapartida, a COOMAFIR também celebrou parceria com a prefeitura municipal
396

de Iporá, que acrescentou o valor de R$ 20.000,00. E, para completar o valor do


veículo, a COOMAFIR acrescentou o valor de R$ 40.000,00. A seguir (figura 43),
é apresentada a carta pública emitida pela cooperativa para agradecer ao
deputado Rubens Otoni:

Figura 43 – Carta de agradecimento

FONTE: Arquivo COOMAFIR; carta publicada nas redes sociais oficiais da cooperativa.

Outra parceria importante foi realizada através de edital lançado pelo


BNDES e a Conab. O acesso a esse edital permitiu a compra de um automóvel
para suporte nas atividades diárias da cooperativa, inclusive para realização de
assistência aos cooperados (ver figura 44).
397

Figura 44 – Veículo Fiat Strada adquirido através de parceria

FONTE: Sousa (2016)

Nota-se que o automóvel foi viabilizado após ser contemplado em


edital do BNDES/Conab. O veículo foi apresentado à comunidade e aos
cooperados no mês de junho de 2016.
Também foi comprado por meio da parceria entre BNDES/Conab um
freezer para o acondicionamento de produtos dos cooperados. O referido edital,
contemplado viabilizou um recurso total de R$ 50.000,00 para a COOMAFIR.
No informativo de celebração dos cinco anos da COOMAFIR também
foram evidenciadas muitas ações que contribuem para a organização sócio-
espacial a partir de Iporá e municípios alcançados pela cooperativa. O informativo
foi amplamente divulgado, inclusive nos meios de comunicação local e também
nas redes sociais. São apresentados, a seguir, alguns recortes referentes às
ações e aos convênios celebrados, expostos nesse informativo (ver figura 45):
398

Figura 45 – Parcerias e convênios estabelecidos junto a COOMAFIR


399

FONTE: Oeste Goiano (2014); Arquivo da COOMAFIR (2014).

Foram estabelecidos vários convênios que possibilitaram o aumento da


produção, a ampliação da variedade de produtos e o acesso a diferentes
mercados. Tais ações, realizadas a partir de convênios e editais, possibilitaram
ampliar a atuação da COOMAFIR. A mesma foi atingindo mercados
consumidores não somente do município de Iporá, mas, também, dos municípios
de Diorama, Israelândia, Amorinópolis, Goiânia e outros.
Ainda em busca de ampliar a sua atuação e a renda dos cooperados, a
cooperativa seguiu o caminho já realizado pela COOPERCOISAS, estabelecendo
convênios também com diversas instituições por meio de políticas públicas, como
PAA e PNAE (Figura 46).
400

Figura 46 – O primeiro convênio com o PAA


401

FONTE: Oeste Goiano (2014)

Como se observa por meio da figura, o programa foi importante para a


cooperativa, pois criou condições para que a mesma pudesse vender em um
mercado que tanto ela quanto os seus cooperados não tinham acesso. De
acordo com Sousa (2016, p. 94):

A COOMAFIR fez tanto do PAA, quanto do PNAE um meio para a


criação de um mercado de comercialização antes inexistente,
suscitando também a comercialização de produtos que antes
eram direcionados apenas para o consumo próprio ou não
possuíam uma demanda elevada pelos consumidores finais, como
é o caso do mamão e de outros gêneros perecíveis. Segundo
colaboradores da COOMAFIR, os índices positivos foram gerados
primeiramente pela credibilidade que a cooperativa possui com os
seus cooperados, pelo acompanhamento técnico voltado para
produtores, pela disseminação do conhecimento sobre
cooperativismo na comunidade, que tem feito com que a
população aproxime-se mais da cooperativa e o esforço de
402

diretores, cooperados e colaboradores em manter os cooperados


unidos e a cooperativa sustentável.

Vê-se, portanto, que a cooperativa utilizou esses programas também


como meio de fortalecer a produção da agricultura familiar, e como forma de
evidenciar para a comunidade a importância do papel do cooperativismo local,
especialmente vivenciado através da COOMAFIR. Salienta-se ainda que logo nos
primeiros anos de participação nesses programas se reconheceu a relevância dos
mesmos, sobretudo pela valorização da produção, como por exemplo, pagando o
valor pelo produto superior ao que se pagava no mercado convencional (conforme
Figura 47):

Figura 47 - Valores pagos pelo PNAE comparado aos valores pagos no CEASA/GO
e produção disponibilizada ao PAA.

Preço relação CEASA x PNAE

Produção comercializada junto ao PAA

FONTE: CEASA (2014); COOMAFIR (2014); Sousa (2016).

A COOMAFIR, além de participar dessas políticas públicas


especificadas, também se beneficiou da experiência adquirida por meio delas,
fato que ajudou a entender as regras e as possibilidades para renovação de
concessão de novos editais nos anos seguintes, e ainda favoreceu a participação
403

também em outros diferentes programas e editais. Os aspectos e os resultados


admitidos como positivos a partir da participação nesses programas mencionados
foram muitos, como se verifica no Fluxograma 34, a seguir:

Fluxograma 34 – Aspectos vivenciados pela COOMAFIR através do PAA

FONTE: Oliveira (2021) adaptado dos dados de: (SOUSA 2016); COOMAFIR (2014) e
por meio de entrevista realizada com membro da diretoria atual. Entrevista concedida em
19 de janeiro de 2021.

Por meio dos dados nota-se que esse programa no edital do ano de
2013 permitia o limite de vendas por unidade familiar equivalente a R$ 4.500,00;
já no ano seguinte, no novo edital, esse valor foi reajustado para R$ 6.000,00; em
2019, o valor atingiu R$ 8.000,00. A partir desse período não houve novos
reajustes. Ressalta-se que a cada alteração desse valor muito se é comemorado,
especialmente por parte dos produtores da agricultura familiar.
Ainda de acordo com esse fluxograma, e a partir especificamente
dessa única ação, evidencia-se a intervenção da COOMAFIR em diversos
404

aspectos que contribuem no processo de organização espacial local. Dentre os


quais se cita: o aumento do volume produzido pelos agricultores familiares, a
ampliação da variedade alimentícia produzida, a inclusão das mulheres no
processo produtivo local, as estratégias de acesso às políticas públicas para
incluir os cooperados, o beneficiamento para a comunidade atingida, o aumento
da renda familiar dos cooperados, o fomento da produção em locais e em grupos,
muitas vezes segregados, dentre outros.

8.4.6 – A COOMAFIR em contexto atual

A busca por novos projetos e para ampliar a atuação da cooperativa se


intensificou, criando perspectivas de se atingir novos mercados para potencializar
a produção e também se buscou implementar o trabalho com outros novos
produtos. Um bom exemplo quanto a essa questão foi à comercialização de leite,
que logo ao ser inserido como produto comercializado pela cooperativa, criou
perspectivas de organização e crescimento para a mesma.
Atualmente, cerca de 80% do volume de produtos comercializados na
cooperativa advêm de um único produto, que é o leite. Esse produto é vendido
para três laticínios, que são: Italac, Lactosul e JM Laticínios. Os mesmo foram
definidos através de negociação via CentroLeite. A definição de vender para mais
de um comprador ocorreu após experiência de ficarem reféns de apenas um
único comprador. Nesse sentido, os membros da diretoria da cooperativa
avaliaram que estavam perdendo quanto à possibilidade de obterem um preço
melhor. Ressalta-se que a comercialização do leite pela cooperativa teve início no
ano de 2014.
Para um dos gestores da cooperativa, muitas ações tiveram que ser
implementadas para que a cooperativa conseguisse organizar todo o processo a
fim de atender aos cooperados quanto à produção, à aquisição e à venda do leite.
Destacou ainda que nos primeiros anos de atividade a cooperativa fazia a coleta
do leite, inclusive com caminhões que foi adquirindo. Mas concluíram que o
processo administrativo para essa ação não era rentável, e decidiram terceirizar
todo o procedimento da coleta.
De acordo com um membro da diretoria da cooperativa, as parcerias
foram importantes para o processo inicial de estruturação da cooperativa e
continuam sendo, ou seja, são fundamentais para uma cooperativa. A
COOMAFIR conta com muitos parceiros. Para ele: “(...) as parcerias têm
405

contribuído no crescimento e desenvolvimento da cooperativa”. Uma parceria


importante são as prefeituras que têm comprado muitos produtos para a merenda
escolar. E para atendê-las a prioridade da cooperativa é sempre comprar
produtos da agricultura familiar. Caso não tenha todos os produtos ou a
quantidade necessária, são feitas parcerias com outras cooperativas e também
com assentamentos para suprir as necessidades. Para ele: “(...) o mercado quer
comprar e está aberto para as cooperativas, mas o desafio de produzir em escala
é grande e desafiador”.
Conforme um dos membros da diretoria da COOMAFIR, a cooperativa
tem crescido muito e de forma bastante eficiente, pois todo o crescimento é muito
bem planejado, inclusive tem conseguido obter um crescimento na produção de
hortifrútis, e atualmente já estão alcançando um total de onze municípios,
especialmente por contarem com a parceria do Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), que é bastante conhecido e muito bem aceito,
principalmente por cumprir o objetivo de fornecer para escolas e colégios públicos
alimentos oriundos da agricultura familiar.
O programa antes da pandemia estava atendendo por meio da
COOMAFIR a onze municípios como especificado, mas, nesse período estão
sendo atendidos apenas dois municípios. Um dos principais motivos que
justificam essa realidade é que as escolas e colégios não estão tendo aulas
presenciais, e, portanto, não estão realizando a compra desses produtos.
Observou-se que a venda para esse tipo de aquisição tem chegado normalmente
mesmo com a pandemia, mas o dinheiro está sendo devolvido por conta da não
realização da compra.
De acordo com um membro da diretoria da COOMAFIR, como as
verbas para as compras continuam regularizadas, as escolas poderiam continuar
realizando as compras, pois estariam ajudando os produtores e ao mesmo tempo
poderiam continuar fornecendo esses alimentos para os seus alunos, porém, está
faltando interesse e disposição por parte dos gestores das escolas e por parte dos
representantes das secretarias de educação. Nesse momento de pandemia
apenas um município circunvizinho e uma escola de Iporá continuam comprando
regularmente.
Para o responsável pelos projetos da COOMAFIR, o que permite um
melhor preço nos produtos adquiridos dos cooperados são basicamente três
quesitos elementares: a negociação da venda com variedade e maior quantidade,
a logística e o processo de negociação, inclusive com outros parceiros, como é o
406

caso do leite. Ele destacou ainda que o valor pago pelos produtos hortifrútis é
bem melhor do que o valor pago na CEASA. A diferença chega a ser assustadora,
conta o mesmo, e disse que o PNAE paga uma média de 100% a 300% a mais do
que se é pago na CEASA/GO.
Ainda de acordo com o mesmo, o PAA permitiu vivenciar boas
experiências no processo de organização dos produtores locais e
respectivamente da comercialização. A COOMAFIR foi beneficiária desse
programa por aproximadamente cinco anos; durante a efetivação do mesmo, se
constatou (ver fluxograma 35):

Fluxograma 35 – O programa PAA a partir da COOMAFIR

FONTE: Oliveira (2021); Dados obtidos a partir de entrevista realizada com dois
cooperados beneficiários do PAA; entrevista concedida em 03 de janeiro de 2021. E
através de entrevista realizada com membros da diretoria da COOMAFIR; entrevista
concedida em 11 de fevereiro de 2021.
407

Como se verifica nesse fluxograma, a maioria dos resultados obtidos a


partir da participação no PAA é avaliada como positiva. O mesmo possibilitou a
obtenção de resultados que criou condições para aumentar a filiação de novos
cooperados e ampliou o atendimento de beneficiários que se enquadram nas
normativas de acolhimento previstas pelo referido programa. Um fato também
muito importante foi à ampliação da relação entre cooperativa e a comunidade;
pois com a entrega de alimentos para as mesmas, foi reforçado a importância da
cooperativa para a comunidade local.
Através do programa do PNAE também foi possível atingir resultados
surpreendentes. Salienta-se que esse programa continua contemplando através
de edital a participação da COOMAFIR no contexto atual. Atuação da cooperativa
através do PNAE tem permitido a ampliação da atuação, inclusive dos municípios
atendidos (ver fluxograma 36):

Fluxograma 36 – Municípios atendidos pela COOMAFIR através do PNAE no ano de


2019

FONTE: Oliveira (2021); Dados obtidos a partir de entrevista realizada com dois
cooperados beneficiários do PAA; entrevista concedida em 03 de janeiro de 2021. E
através de entrevista realizada com membros da diretoria da COOMAFIR; entrevista
concedida em 11 de fevereiro de 2021.
408

Como verificado no fluxograma onze municípios foram atendidos;


sendo Iporá o que permitiu atingir a maior quantidade de estabelecimentos
educacionais, totalizando nove, enquanto em Jussara foi atendido oito escolas.
Em Fazenda Nova foram atendidas quatro escolas. Nos demais, variou entre uma
a duas escolas.
Nos anos de 2020 e 2021 surgiram muitos novos desafios; a
COOMAFIR teve que realizar muitas adequações em função da pandemia
(CONVID-19) para continuar participando do PNAE. A princípio a entrega dos
produtos passou a ocorrer no formato concentrado. Cada edital permite a
destinação de R$ 9,00 mensais por aluno, totalizando R$ 27,00 trimestral. E como
os alunos não têm aulas no formato presencial, a cooperativa teve que alterar o
formato anterior de entrega, que se organizava, sendo semanalmente para o
município de Iporá e quinzenalmente para os demais municípios; assim esse valor
27,00 trimestral por alunos, passou a ser entregue concentrado no formato de
cestas básicas. De acordo com membro da diretoria111 da cooperativa, essa
“dinâmica de organização dificultou muito o trabalho, e logo se percebeu ser
totalmente inviável para a cooperativa, de tal maneira, negociou-se com as
escolas a entrega concentrada, mas sem a separação das cestas”.
Sendo assim o mesmo disse que “a situação foi sanada, a cooperativa
passou a entregar em caixas os produtos, juntamente com as embalagens; assim
a organização das cestas de produtos passou a serem realizadas pelos
funcionários das escolas”. Mas segundo o mesmo o empecilho de concentrar a
produção também se evidenciou de tal maneira “a cooperativa passou a ter que
esporadicamente negociar com as escolas a alteração ou remanejamento dos
produtos a serem entregues”. Os principais produtos entregues através do PNAE
foram (ver fluxograma 37):

111
Entrevista realizada com membros da diretoria da COOMAFIR; entrevista concedida em 11 de
fevereiro de 2021.
409

Fluxograma 37 – A venda de hortifrútis através da COOMAFIR e do PNAE

FONTE: Oliveira (2021); dados obtidos a partir de entrevista realizada com membros da
diretoria da COOMAFIR; concedida em 11 de fevereiro de 2021.

Os dados desse fluxograma são importantes para entender o papel da


COOMAFIR na articulação dos produtores locais; também servem para revelar a
capacidade de intervenção da cooperativa na produção e comercialização,
especialmente junto ao PNAE.
Salienta-se ainda que as expectativas de continuidade de crescimento
da cooperativa no ano de 2021 são grandes devido ao início da construção da
nova sede e à agroindústria. Depois de concluída essa construção existe o
interesse entre membros da diretoria da cooperativa em aumentar para até 1.500
cooperados. Dentre as ações a se realizar para atingir essa expectativa, estão
(ver fluxograma 38):
410

Fluxograma 38 – Ações e perspectivas

FONTE: Oliveira (2021), organizado a partir de dados obtidos em entrevista realizada


com cooperado, sócio fundador e membro da diretoria atual; entrevista concedida em 19
de janeiro de 2021.

O referido entrevistado ainda afirmou que a cooperativa tem


desempenhado um papel importante na vida dos cooperados. Disse ainda que a
mesma tem conseguido contribuir no processo de organização da produção, e
incentivado o aumento da produção, inclusive através da realização de cursos, dia
de campo e de assistência técnica oferecida aos produtores. Além disso, tem
ainda influenciado e contribuído para que o produtor consiga obter uma produção
com custo mais baixo e garantido o melhoramento da qualidade dos produtos
produzidos pelos cooperados.
411

A figura 48 apresenta algumas atividades e cursos desenvolvidos:

Figura 48 – Algumas atividades como exposições, cursos e eventos


412

FONTE: Arquivo COOMAFIR (2014, 2016); Oeste Goiano (2018); Organizado por
Oliveira (2021).

Como se vê, são eventos e cursos variados que buscam sempre ir ao


encontro da qualificação dos produtores e, com isso, viabiliza-se o aumento da
renda deles, melhorando as condições de participação e valorização da
agricultura familiar. Tais ações evidenciam a consonância com os princípios que
fundamentam o cooperativismo, e organizam o espaço produzido.
Ainda dentre os projetos em que a mesma está inserida, citam-se o
Pró-Leite e o Balde Cheio. São projetos que possibilitam a qualificação produtiva
e também contribuem para atender outros aspectos importantes que envolvem
esse tipo de produção. Em entrevista a três cooperados que já participaram
desses projetos, eles destacaram (Quadro 30):

Quadro 30 – Depoimentos a partir de participantes dos projetos Pró-Leite e Balde


Cheio
Avaliações a partir da percepção dos cooperados participantes
Ajudou muito, pois eu já pensava em Ajudaram a olhar diferente a produção, para
desistir da produção. evitar perdas e prejuízos.
Minha maior dificuldade é com esses Eu aprendi os caminhos para organizar a
estudos, tipo de faculdade, é difícil de minha produção. E agora sei também que
compreender, mas na prática é que eu posso pedir orientação sempre que preciso.
gostei mais do curso.
Minha produção aumentou; hoje produzo Uma das primeiras coisas que muda depois
quase 200 litros. Antes eram apenas 60 da capacitação é o jeito de administrar a
litros. E sei que ainda posso aumentar. produção.
413

Saber planejar e organizar a produção é Antes eu não parava para pensar direito
muito importante; isso eu aprendi bem. sobre o preço que custa a produção; às
Até para saber controlar melhor o tempo, vezes eu tinha prejuízos e não sabia fazer o
para não ficar só trabalhando. cálculo.
Eu consegui perceber que mesmo minha É uma forma de preparar melhor o produtor
propriedade sendo pequena é possível para produzir; é uma forma de capacitar.
produzir muito mais.
Foi possível entender que a gente que é Os ensinamentos são bons pra gente
mais roceiro, mais simples, também tem entender como usar esses equipamentos
valor. Que a nossa produção é de novas tecnologias. Eles necessitam de
importante para todos, até para continuar muitos cuidados, mas ajuda muito na
a vida. produção.
Fonte: Oliveira (2021); dados obtidos a partir de entrevista concedida em 17 de janeiro
de 2021.

Verifica-se que os cooperados demonstram estar confiantes nas


possibilidades de crescimento e consequentemente no aumento da produção; um
deles até evidenciou que já tem obtido um crescimento superior a 200% quanto à
produção de leite. Nesse sentido, entende-se que a cooperativa tem acertado em
realizar cursos e projetos no regime de parcerias, pois essas atividades são
importantes para o melhoramento da produção, para aumentar a renda dos
cooperados e também para o crescimento da cooperativa.
Ainda com relação a esse produto, o leite, faz-se importante citar que
quando a cooperativa começou a trabalhar com ele, teve que convencer os
produtores sobre as possibilidades de melhoria, caso começassem a cooperar e a
vender o leite através dela. De início não foi nada muito fácil, pois há muito tempo
já havia grandes laticínios comprando a produção local, conta o membro da atual
diretoria. Ele ainda disse que tudo começou de forma bem simples, na base do
convencimento e da honestidade. Foram realizadas visitas aos pequenos
produtores, e tudo começou justamente a partir desses; a média de produção
deles era de 20 a 30 litros por dia; havia algumas poucas exceções.
Mas, de acordo com entrevistado, a disputa na comercialização do leite
foi relevante, pois a cooperativa obteve êxitos nas negociações e influência para
definição do valor do produto, tendo em vista que nesse período a cooperativa
conseguiu se firmar como representantes dos cooperados nas negociações do
leite, passando a disputar com alguns laticínios que há muito tempo já dominavam
o mercado regional.
De acordo com o diretor financeiro da cooperativa: “(...) os laticínios
sempre jogaram de forma desleal; quando a cooperativa estava pagando, por
exemplo, o valor de R$ 1,30 no litro de leite, eles vinham e pagava R$ 1,40 para o
cooperado entregar pra eles e deixar à cooperativa”. Mas eles faziam isso
414

somente para tomar o produtor de leite e não ofereciam nenhuma segurança: “(...)
por que só era mantido esse preço por apenas em média de uns três meses, em
seguida já rebaixa o valor, e muitas vezes começavam a pagar muito menos”.
Outra situação praticada era: “(...) quando o tanque de leite já estava cheio e não
cabiam mais, eles condenavam a qualidade do leite, somente para não levar o
leite”. Diante dessas situações foi feito um acompanhamento mais intenso aos
cooperados no intuito de orientá-los sobre essa concorrência desleal e
irresponsável. E também foi se evidenciado que os lacticínios não cuidavam dos
produtores, por exemplo, quando as estradas ficavam ruins, principalmente em
época de chuva, logo eles eram abandonados. Já a cooperativa tem o
compromisso de buscar o leite, independente da situação, inclusive quando
ocorre falta de energia elétrica.
Buscou-se também junto à cooperativa mais alguns dados que
evidenciam a participação da mesma na organização sócio-espacial, incluindo a
participação de controle na questão do leite, a exemplo do que foi especificado
anteriormente. Obteve-se, a partir disso, acesso à folha de pagamento referente
ao período de janeiro a maio de 2019, e assim se evidenciam os dados referentes
à produção de leite (ver gráfico 29):

Gráfico 29 - Leite recolhido pela COOMAFIR 2019 (Mil litros/dia)

FONTE: Arquivo COOMAFIR (2019), organizado por Oliveira (2020).


415

Como mostrado no gráfico, à produção média de litros de leite por dia


supera 30.000 litros; em períodos de chuva um dos membros da diretoria disse
que a produção chega a 40.000 litros por dia. E a receita média (bruta) do leite da
cooperativa varia na média de um milhão e duzentos mil a um milhão e trezentos
mil reais por mês.
Ao analisar os dados da evolução de comercialização do leite, nota-se
que anualmente sempre houve significativo aumento da mesma na cooperativa,
conforme o gráfico 30:

Gráfico 30 – Evolução da produção de leite – (mil litros leite/mês) - COOMAFIR


2011-2019

FONTE: Oliveira (2021), adaptado dos dados de Sousa (2016); Silva (2016), COOMAFIR
(2020).

Pelos dados do gráfico, evidencia-se que a COOMAFIR teve o


aumento da comercialização de leite registrado entre os anos de 2013 a 2019,
período em que similarmente foi registrada a maior inserção de novos cooperados
na cooperativa.
Salienta-se que a COOMAFIR comercializava a média de pouco mais
de 41.000 litros de leite por mês no ano de 2011, já no ano de 2019 estava
comercializando quase 920.000 litros ao mês. Com esse aumento pode-se inferir
que a cooperativa tem impactado sobre a pecuária municipal, tanto no aumento
da produtividade como no próprio rebanho. Ainda se constatou que a pecuária é
uma atividade predominante no município, portanto à cooperativa está crescendo
apoiada nessa atividade, considerada como consolidada. Dessa forma, fica
416

evidente que a organização da cooperativa e sua forma de organizar os


cooperados estabelecem uma relação recíproca na organização espacial.
Para um dos membros112 da diretoria da cooperativa existem muitos
exemplos de ações decorridas da cooperativa que impactou e alterou as
condições da produção e do modo de produção dos cooperados. Um exemplo é a
orientação que a cooperativa fez a um produtor da fazenda Cedro. Em parceria
com a EMATER foi realizado orientação e planejamento para esse cooperado. O
mesmo produzia 40 litros de leite dia. Após a implementação desse projeto de
intervenção, o mesmo selecionou as vacas que estavam em boas condições de
produção, comprou novas vacas, fez um galpão com canalização do leite
produzido, comprou ordenha, fez curso para entender o processo de
administração da produção e alimentação do gado. Após adaptação ao planejado
o mesmo conseguiu obter aumentos da produção de leite. O mesmo saiu do
patamar inicial que estava produzindo e passou a produzir uma média de 700
litros de leite ao dia. Somente no mês de dezembro a folha do mesmo foi de R$
45.000,00.
Ainda quando se fala em crescimento da cooperativa, constata-se,
através de relatórios anuais da COOMAFIR, de depoimentos da diretoria e
inclusive de depoimentos de muitos cooperados, que existe atualmente uma boa
consonância e entendimento nesse sentido. Um exemplo disso é a destinação
das sobras.
Para um dos diretores da COOMAFIR: “as sobras tem definição de
como serão utilizadas, na assembleia, onde geralmente o conselho deliberativo
apresenta uma proposta. A integralização de cotas é realizada de acordo com a
produção e ou participação”.
Nos dois últimos anos a principal destinação das sobras tem sido para
construção da agroindústria e da sede própria. De acordo com esse membro da
diretoria, o referido investimento além de ter gerado muitas expectativas positivas,
também deverá influenciar na expansão da cooperativa. Para ele, não faltam
exemplos de que a cooperativa tem vivenciado um constante crescimento, sendo
que nos anos de 2017 a 2019 se registram as principais evidências dessa
afirmação. Fato exposto inclusive no relatório anual da COOMAFIR (2019, p. 1),
como se verifica no trecho do mesmo:

112
Entrevista com membros da diretoria atual. Entrevista concedida em 11 de fevereiro de 2021.
417

Finalizamos o ano de 2019 com um crescimento de 29% em


relação aos números de produtores cooperados e com um
faturamento de R$ 13.827.700,17. Números bastante expressivos
considerando o período difícil passado pelas empresas,
decorrente da crise econômica e política do país, que causou uma
das maiores baixas de preços na comercialização do leite nos
últimos tempos.

Foi possível notar junto à gestão que no período de 2017 a 2019 a


COOMAFIR foi contemplada com importantes projetos de incentivo à produção,
como o PAA e o PNAE, além de outras situações e ações que podem ser
consideradas importantes para o seu crescimento.
Importante também citar que as ações de integração e participação
direta em atividade na comunidade são fundamentais para dar visibilidade à
cooperativa, e também para expor seus produtos e comercializá-los. A figura 49 a
seguir evidencia um desses momentos de integração e participação, são imagens
referentes à exposição e à comercialização de produtos na Festa de Exposição
Agropecuária de Iporá:

Figura 49 – Stand da COOMAFIR em uma das maiores festividades da microrregião

FONTE: Arquivo da COOMAFIR (2018).

Entre as várias atividades desenvolvidas pela cooperativa, estão


também às participações e exposições para divulgação e fins comerciais em
418

feiras livres, Festa de Exposição Agropecuária de Iporá, barraca compartilhada na


Festa de Maio de Iporá e gestão do Centro de Comercialização de Iporá.
De acordo com o membro da diretoria da COOMAFIR, o crescente
aumento do número de cooperados é decorrente do crescimento da cooperativa,
ela tem ampliado o acesso a novos cooperados. A mesma tem obtido avanços no
sentido de fomentar o aumento da produção de hortifrútis, inclusive da variedade.
Quanto ao leite também tem obtido números expressivos de aumento da
produção negociada, mas o maior empecilho é o valor do leite, que é um produto
muito variável e passível de quedas de preço; quando tem muita oferta o preço
também cai muito. Ele explicou que uma das principais preocupações é o baixo
valor do leite, que contraria muito os produtores, e para resolver essa situação
está sendo trabalhado em parceria com outras cooperativas um projeto que
possibilite agregar valor ao leite. Informou também que almejam um projeto
grande e audacioso, que é o de estruturar um sistema de agroindústria para
pasteurizar o leite. O que se pretende é resfriar o leite e envasar o mesmo em
uma embalagem conhecida como “Barriga Mole” para comercialização. Para
viabilizar esse projeto, buscaram parceria através dos serviços de assessoria do
SEBRAE para fazer o projeto de estruturação da agroindústria de pasteurização
do leite. A COOMAFIR conseguiu ganhar do poder público do município de Iporá
uma área de 2.860 m2, que se localiza no perímetro urbano, na GO-060, saída
para o município de Piranhas. Dentre as funcionalidades que se dará para esse
local está a construção dessa agroindústria.
Para um dos diretores da COOMAFIR, atualmente a mesma tem
importante participação na composição da renda de seus cooperados. Para
alguns deles, a cooperativa já é responsável por toda a renda. Mas se sabe bem
que ainda existe muito a ser realizado, e a cooperativa tem potencial para isso.
Ainda de acordo com ele, uma das mais importantes ações que a COOMAFIR
realiza é criar condições para que os cooperados consigam diversificar a
produção, e, consequentemente, obter melhor renda, inclusive não ficando
dependentes exclusivamente dela.
Para ele, a referida cooperativa tem realizado acompanhamento aos
cooperados no sentido de diminuir ao mínimo possível o uso de agrotóxicos em
todo o processo produtivo (ver fluxograma 39); e salientou que medidas como
essa têm sido muito bem aceitas, pois os consumidores procuram alimentos de
melhor qualidade e de preferência livres do uso de agrotóxicos.
419

Fluxograma 39 – Orientação aos cooperados para evitar o uso de agrotóxicos na


produção

FONTE: Oliveira (2021); organizado a partir de dados obtidos em entrevista realizada


com cooperado, sócio fundador e membro da diretoria atual; entrevista concedida em 05
de maio de 2020.

Ele evidenciou ainda que: “(...) se objetiva por meio da cooperativa


obter um planejamento de produção de grande escala. Pois até o momento a
mesma tem trabalhado mais com projetos institucionais”. E acrescentou que
atualmente “(...) já organizamos boa parte da produção de frutas e verduras;
conseguimos aumentar a variedade produtiva e compramos parte significativa da
produção, mas objetivamos ainda colocar a produção à disposição do mercado
convencional”.
Outra ação destacada pelo mesmo é o processo de industrialização do
leite, que está previsto ainda para o corrente ano. Inicialmente, pretende-se
utilizar apenas 10% do leite recolhido pela cooperativa. Esse leite será utilizado
para a produção do leite barriga mole, ou seja, leite de saquinho-pasteurizado,
420

que é aquecido em alta temperatura com o objetivo de eliminar bactérias, em


seguida, é resfriado e colocado em saquinho. Nesse tipo de leite não são
colocados conservantes, por isso, o prazo de validade é curto, e enquanto é
vendido deve ser conservado resfriado.
Ele destacou também que em seguida pretendem produzir mussarela,
iogurte e manteiga. Objetiva-se produzir quantidade suficiente para colocar à
disposição no mercado local e para abastecer as escolas.
Para um dos membros da diretoria da COOMAFIR, a construção de
uma agroindústria tem muita relevância, pois “permitirá agregar valor à produção
e irá criar condições e melhoramento da dinamicidade produtiva”. Inclusive, nesse
momento, está em fase avançada à construção da nova sede da cooperativa, já
em estágio de conclusão, o que permitirá a mudança da sede logo no início do
ano de 2021. De acordo com o membro da diretoria: “(...) toda a obra está sendo
construída com recursos próprios; para isso a cooperativa não ficará devendo
nada e assim que concluir essa construção, logo ocorrerá à construção da
agroindústria”. A mesma será ao lado da sede da cooperativa, e deverá ser
construído a partir da ampliação do antigo entreposto do mel.
A Figura 50, a seguir, apresenta a imagem desse empreendimento:
421

Figura 50: Nova sede da COOMAFIR em fase de acabamento e ao lado o local onde
será a agroindústria

FONTE: (CNR, 2020).

Essa construção fica localizada na GO-060, saída para o município de


Piranhas-GO. O investimento evidencia que a cooperativa tem projetos que
poderão ainda influenciar muito mais no processo de produção e comercialização.
Outros exemplos de intervenção na organização da produção e dos cooperados
realizados por meio de serviços prestados pela cooperativa podem ser
visualizados no quadro 31:
422

Quadro 31 - A intervenção da COOMAFIR

Suporte técnico oferecido ao Orientação para recuperação de nascente


cooperado para melhoria da com intervenção prática.
qualidade do leite.
Registro e documentação procedida Triagem do leite com objetivo de aferir
de declaração para acesso ao BPC qualidade ao produto para possibilitar a
aos cooperados venda.
Assistência técnica ao produtor para Cursos de formação por meio de parcerias
melhoramento da criação de animais externas para qualificar os produtores
e produção de hortifrútis. inclusive a fim de realizar boas práticas na
criação e tiragem do leite.
FONTE: Oliveira (2020)

Essas são algumas das principais ações interventivas no processo


produtivo e organizacional do espaço local, mas, de acordo com uma das
cooperadas, moradora da região do Jacinópolis existe muitas parcerias realizadas
pela COOMAFIR que possibilitam um melhor atendimento das necessidades dos
cooperados, por exemplo, cita-se o Sebrae e o Banco do Brasil. Não menos
importante também são as atividades como: “Dia de campo, orientação sobre uso
de piquetes, semi confinamento, visita em outras cidades, em eventos como o
Balde Cheio, assistência com zootecnista e muitas outras coisas”.
Conforme o relatório anual administrativo da COOMAFIR (2019, p.1),
foi garantindo:

(...) aos cooperados através de programas institucionais com


PNAE, a comercialização de produtos da agricultura familiar para
alimentação escolar. Fortalecendo seus negócios no campo e
garantindo a sustentação do produtor. (...) iniciamos nosso projeto
participando de todos editais de chamadas públicas das redes de
ensino estaduais e municipais de Iporá, Israelândia, Jaupaci,
Montes Claros de Goiás, Diorama, Amorinópolis, Fazenda Nova,
Novo Goiás, Novo Brasil e Jussara, ampliamos a capacidade de
coleta de leite nas propriedades, melhoramos o fluxo de entrega
de produção dos cooperados. E consequentemente de nossa
cidade, região, estado e país. Crescer e consolidar faz parte de
nosso objetivo.

A participação em editais, como já explicitado, é muito importante para


a ampliação das vendas; muito relevante também é a construção de parcerias e a
participação em muitos eventos que criam alguma condição de expansão da
cooperativa e oportunidades aos seus cooperados.

Durante o ano de 2019 a COOMAFIR realizou diversas atividades


(...), com destaque no campo tecnológico, COOMAFIR/SEBRAE,
IF (Instituto Federal Goiano), através da realização do projeto de
boas práticas no campo melhorando assim a qualidade do leite e
bonificando os produtores pelos resultados obtidos; Com o
423

objetivo de melhorar as características produtivas, sociais e


econômicas desses produtores.
Outro ponto encontrado é a dificuldade do produtor em ter acesso
ao mercado de comercialização de seus produtos. Por isso a
cooperativa através da participação com projetos em todos editais
de chamada pública dos municípios da microrregião, com êxito em
todas as escolas estaduais e municipais que foi apresentado.
Ampliamos a comercialização de produtos para o Programa de
Alimentação Escolar (PNAE), expandindo as vendas através de
projetos junto às prefeituras da região, resultando em 04 novos
contratos com as prefeituras de Iporá, Jaupaci, Fazenda Nova e
Montes Claros de Goiás. Além das escolas estaduais de 11
municípios; totalizando 57 estabelecimentos educacionais, sendo
29 escolas estaduais, 28 escolas municipais e núcleos infantis.
Reafirmamos parcerias com: Instituto Federal Goiano Câmpus de
Iporá, Prefeitura Municipal de Iporá, Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB), Emater-GO, SEBRAE, CENTROLEITE,
CECAF, Câmara de Vereadores de Iporá, Banco do Brasil e
outras entidades e movimentos.
Entendendo que é através das parcerias que todos podemos nos
fortalecer e crescer no campo social, econômico, político e
cultural. Firmamos novas parcerias com SEBRAE e EMATER para
novos projetos. Através de várias reuniões e negociações junto a
CENTROLEITE e diretores de laticínios, estamos ampliando os
trabalhos junto aos produtores para melhoramento da qualidade
do leite, no instituto de agregar valor ao produto com maior
bonificação. Reuniões junto a CENTROLEITE e laticínios sobre a
política de preços. Formamos parceria com a empresa San
Lourenço na comercialização de rações para os cooperados com
preços e condições mais acessíveis. Através de visitas dos
diretores às propriedades e assentamentos, ampliamos o número
de cooperados em 34%, aumentando consideravelmente o
volume de leite e diversificando de forma organizada a produção.
(RELATÓRIO ANUAL ADMINISTRATIVO DA COOMAFIR, 2019,
p. 1-2).

Constata-se que a lista de prestação de serviços, de parcerias e ações


é bastante extensa e muito importante para os cooperados, fato confirmado junto
aos mesmos. Verifica-se ainda que a cooperativa fornece aos cooperados
produtos muito relevantes para a alimentação de animais, especialmente para o
gado, que são a torta de algodão e a casquinha de soja. A cooperativa faz o
intermédio para compra desses produtos diretamente da fábrica, o que garante
uma boa redução do preço para o cooperado.
424

8.4.7 – COOMAFIR: uma possibilidade de organização solidária atual sobre a


construção do espaço local

Percebe-se, com relação à COOMAFIR, que ela é na atualidade uma


das cooperativas locais, que se encontra melhor estruturada. O êxito com relação
à obtenção de envolvimento e participação tanto por parte dos cooperados como
por parte da diretoria ficou bastante evidenciado. Ressalta-se que os cooperados
demonstram muita satisfação em fazer parte da cooperativa.
O formato de gestão se mostra eficiente, porém, teve que ser
remodelado para aproximação com uma empresa-cooperativa. Fato que não
descaracterizou a essência dos princípios cooperativistas.
A COOMAFIR promove bem o princípio da cooperação, mas também
se constatou que ainda existe limitação para realizar formação para os
cooperados, especialmente no sentido de melhor evidenciar os princípios do
cooperativismo. Isso seria uma ação importante até que obtivessem mais avanços
na prática de ações solidárias.
As ações interventivas realizadas através da COOMAFIR deixam claro
que a mesma cumpre a importante função de organizadora da produção,
intervindo diretamente no manejo produtivo, na compra e nas vendas.
Não é reguladora de preço, mas faz parte como cooperativa imbricada
na cooperação externa; assim, consegue ter influência na definição e na
negociação do preço do litro de leite. Com relação a esse produto ainda consegue
atuar como reguladora do modo de produção e como suporte tanto para
diminuição dos custos da produção, como também para o aumento da produção e
do preço obtido.
Com relação à produção de hortifrútis, a cooperativa também não é
reguladora de preço, mas é importante influenciadora no processo de valorização
da produção. É aquisitora e gerenciadora de projetos que promovem compras de
alimentos advindos da agricultura familiar. Para a agricultura familiar ela tem sido
fundamental na organização e na dinamização da produção, influenciando para
que ocorra melhoria na qualidade da produção e o aumento da mesma, inclusive
com variedade de produtos desse segmento.
425

8.5 – O cooperativismo evidenciado através das cooperativas

Faz-se relevante especificar que é necessário que se evidencie o


entendimento do processo por meio das ações continuadas, realizadas através
das cooperativas procedentes do município de Iporá, mas também é necessário
destacar que as referidas ações se materializam por meio de formas espaciais,
decorrentes do tempo ou de mudanças.
Entende-se que as cooperativas analisadas tiveram registro de
surgimento a partir de movimentos sociais previamente existentes e
especialmente pelas vias de incentivos originadas das políticas públicas.
Verificou-se nesta pesquisa que o primeiro aspecto citado é bastante interessante
para o cooperativismo local, pois é um fator de influência, que inclusive contribui
para conferir especificamente o cooperativismo local.
Por exemplo, a COOPROL teve as primeiras reuniões de estruturação
realizadas no Sindicato Rural, e no espaço físico dessa mesma instituição foi que
se materializou o funcionamento das primeiras ações. De acordo com um dos
cooperados dessa cooperativa: “(...) o Sindicato Rural teve papel extremamente
importante no processo de criação da cooperativa; e foi a partir da difícil situação
vivenciada pelos sindicalizados é que foi possível perceber as necessidades
comuns”.
O referido cooperado ainda destacou que a vivência em uma instituição
como o sindicato contribuiu para melhor compreender como se organizar em uma
cooperativa. Já a cooperativa foi uma ação de continuação das discussões que já
eram realizadas anteriormente por meio do sindicato, e também foi decorrente da
necessidade de obter condições de melhor participar do mercado, realizando a
venda do leite produzido.

8.5.1 – A organização cooperativista

Ao analisar as cooperativas COOPROL, COOMAFIR e


COOPERCOISAS, buscou-se apresentar dados que evidenciam como se
organizam, ou como se formam as cooperativas, de modo que o olhar para o
cooperativismo do município de Iporá foi focado para a maneira como ocorre o
arranjo cooperativista, que possibilita uma construção espacial.
426

O processo de formação dessas cooperativas teve particularidades


decorrentes: das pessoas interessadas, das influências do período vivido, das
necessidades convergentes, dentre outros.
Elas se formaram a partir de um grupo de pessoas que possuíam
interesses comuns, ou similares. Tiveram de forma evidente na sua organização
originária as garantias de participação igualitária e democrática. Outro elemento
importante que propiciou a formação das cooperativas locais foi a inserção livre a
todos que demonstraram interesse. A princípio, houve participação de um número
de interessados até maior do que o que se registrou nas primeiras atas, porém, o
princípio previsto no art. 29, que se refere à Lei n° 5.764/71º, foi zelado e
garantido por todos.
Já com relação aos sete princípios universais, ou seja, os princípios
cooperativistas que sempre serviram como linhas de orientação para se praticar
os valores cooperativistas, esses ficaram conhecidos também como as regras de
ouro criadas pela sociedade cooperativa de Rochdale. É preciso destacar que
muitos deles são praticados nas cooperativas especificadas e analisadas, porém,
verificou-se também que os cooperados delas têm pouco acesso a um processo
formativo, especialmente sobre valores ou princípios do cooperativismo.
De acordo com uma das cooperadas, moradora da Fazenda Santa
Marta, ela ingressou na cooperativa exclusivamente pelo interesse em vender por
um melhor preço o leite produzido.
Conforme uma das funcionárias de uma das cooperativas, existe muita
dificuldade para mobilizar os cooperados para fazerem formação, especialmente
com caráter mais teórico, e para, de fato, levá-los a entender que o
cooperativismo vai muito além de somente vender os seus produtos. Ainda
acrescentou que o processo de formação para o cooperativismo acaba ficando
muito restrito aos dirigentes e a alguns poucos cooperados que se interessam.
Em contradição a esse dado, em entrevista a um membro da diretoria de outra
cooperativa, ele disse que “as atividades de formação realizadas pela cooperativa
sempre obtêm ótima participação; os cooperados são interessados”, acrescentou
ainda que “os encontros de formação sempre desperta muito a atenção dos
cooperados, mas sempre é preciso focar mais na prática”, salientou que a parte
prática sempre desperta mais interesse. O mesmo ainda disse que “como a
maioria dos cooperados são da agricultura familiar eles de certa forma
apresentam muito interesse em obter conhecimentos, sobre o cooperativismo e
principalmente para melhoramento da produção”.
427

Ao analisar esses dados obtidos a partir das referidas entrevistas,


entende-se que a forma de organização e de mobilização difere de uma
cooperativa para outra, pois cada uma delas possui características e
especificidades próprias.
Observa-se também que não somente a formação para cooperativismo
deve ocorrer no formato de cursos, ou seja, para algumas cooperativas isso pode
dar certo, mas para outras esse processo de formação deve ocorrer em outro
modelo que tenha condições de despertar o interesse dos cooperados. Nesse
sentido, compreende-se que formas de mobilização práticas, como verificado, que
ocorrem nas três cooperativas já são uma forma de politização. São, portanto,
relevantes para mostrar aos cooperados a força da mobilização e servem também
para expor a capacidade de atuação das cooperativas.

8.5.2 – A função das cooperativas

A geração tanto de trabalho como de renda é uma das principais


referências das cooperativas COOPROL, COOMAFIR e COOPERCOISAS. Essas
cooperativas vêm cumprindo o papel importante de incluir no mercado muitos
produtores familiares que tinham dificuldade ou nem participavam do mesmo.
O produtor familiar e morador na fazenda Santo Antônio Relatou que
antes da cooperativa houve muitas perdas de leite, principalmente em decorrência
da falta de energia elétrica. Mas, com a cooperativa acabaram as perdas, pois
ela, além de organizar os pequenos produtores, deu oportunidade de vender o
leite por um preço bem melhor e ainda oferece a segurança logística para escoar
sua produção; quando chega a faltar energia, a cooperativa envia o transporte
para socorrer e leva o leite para uma segunda opção de venda. Já uma das
cooperadas que faz artesanatos na fazenda Buriti disse que a função principal da
cooperativa foi divulgar os produtos no comércio local, regional e até em nível
nacional. Dessa forma, a cooperativa possibilitou a abertura de mercado e a
melhor aceitação da produção.
Um fato também evidenciado nesta pesquisa foi que as cooperativas
analisadas têm desempenhado a função de melhorar a economia local do
município de Iporá e também de municípios limítrofes. Além do aumento de renda
propiciou aos cooperados o resgate da cidadania. Assim, os cooperados
conseguiram acessar direitos que antes jamais tiveram e ainda passaram a
participar de forma decisiva e influenciadora, por exemplo, nos processos
428

eleitorais, especialmente a nível municipal. De acordo com um dos cooperados


entrevistados113, uma das coisas importantes que ele passou a ter acesso foi
participar de forma mais ativa do governo municipal. Disse que “(...) antes o
prefeito nem atendia, agora tudo mudou, depois da cooperativa, as portas da
prefeitura se abriram, o prefeito passou a atender aos pedidos de manutenção
das estradas rurais (...)”; Acrescentou ainda que o mesmo também nomeou uma
pessoa para cuidar e dar assistência aos produtores da agricultura familiar de
Iporá.
Analisando a função das cooperativas de Iporá pode-se evidenciar que
um desafio a ser enfrentado por elas é o fato de conseguirem envolver mais a
comunidade, não que isso não ocorra, mas pelo motivo de que o envolvimento da
comunidade é uma possibilidade de surgimento de novos possíveis cooperados,
de criação de novas cooperativas e de obtenção de reconhecimento da relevância
da cooperativa na vida da comunidade. Outro desafio é buscar melhor envolver os
associados cooperados, pois a dinâmica de participação é um princípio básico e
essencial na existência de uma cooperativa, e logicamente a participação
possibilita mais ação, mais transformação e mais inclusão da comunidade.

8.5.3 – Estrutura das cooperativas

Ao analisar as cooperativas oriundas do município de Iporá, verificou-


se como as mesmas se encontram organizadas, como ocorre o processo de inter-
relação entre os cooperados, entre as cooperativas e a comunidade, entre cada
cooperativa e outras organizações cooperativas ou mesmo similares.
Observa-se que as cooperativas COOPROL, COOMAFIR e
COOPERCOISAS são autogestionárias, de modo que as decisões são definidas
especialmente por meio de assembleias, em que os cooperados têm direito de
participação em condições de igualdade, ou seja, o voto de cada cooperado tem o
mesmo peso. Constata-se que a estrutura de organização dessas cooperativas é
prevista no Estatuto Social é definida por meio de aprovação via cooperados,
através do formato de participação democrática.
De acordo com membro da diretoria de uma dessas cooperativas, a
participação dos cooperados é elemento muito importante no processo de
estruturação de uma cooperativa. Ele ressaltou que no Brasil: “(...) existem leis

113
Cooperado há quase oito anos. Produtor de leite e verduras. Entrevista concedida em 10 de junho de 2020.
429

específicas que definem o que é uma cooperativa, e essas leis são importantes
também para a estrutura da cooperativa”. Adicionou ainda que: “(...) as leis
nacionais principais são a medida provisória de 24.08.2002, de número 2.168-40,
a Lei de número 5.764 que define a política nacional de cooperativismo e os
artigos 1093 a 1096 do código Civil brasileiro”. Para o mesmo, conhecer essas
leis e agir de acordo com elas é importante para o desenvolvimento da
cooperativa.
Ainda se evidenciou que a estrutura funcional de cada cooperativa
pesquisada demonstrou ter relação direta com a capacidade de prestação de
serviços, e que o número de cooperados registrados em cada cooperativa
também tem relação com essa questão já citada. Outro ponto relevante é a
similaridade entre as cooperativas pesquisadas no que se refere ao interesse em
realizar prestação de serviços relacionada à produção que se obtêm e de melhor
estruturar o modo de produção, venda e distribuição de produtos oriundos dos
cooperados atendidos.
Salienta-se, ainda, que os resultados obtidos via cooperativas pelos
cooperados é sempre proporcional ao valor da operação, da realização individual
por cada cooperado. Por exemplo, cada cooperado ganha de acordo com o que
produz. Já com relação ao capital social, esse é diferente, tem sempre o caráter
coletivo, como em qualquer outra cooperativa. A definição quanto ao uso das
sobras também é por meio do formato coletivo, todos participam na decisão,
geralmente realizada nas assembleias.
De acordo com um dos cooperados da COOPROL, e morador na
Fazenda Pé de Pato, a cooperativa tem uma ótima estrutura para atender aos
cooperados, disse ainda que sempre teve um bom atendimento por parte dos
funcionários e diretores da cooperativa; acrescentou ainda que na cooperativa ele
sempre encontrou atendimento e orientação diferenciada de qualquer outro local,
diferente demais até das empresas locais.
Enquanto isso, a agricultora familiar, cooperada da COOPERCOISAS,
disse que: “(...) a cooperativa teve um papel fundamental para viabilizar um
melhor relacionamento social e humano entre os cooperados”. Também foram
realizadas várias ações importantes, como as Feiras de economia solidária, que
permitiram, além da exposição de produtos, uma ampliação do acesso da
cooperativa à comunidade.
Compreende-se assim que o cooperativismo local em Iporá é um
importante organizador do espaço e que o mesmo continua se evidenciado por
430

meio de outras ações, que demonstram a construção do processo para se chegar


a uma cooperativa. A seguir, são apontados esses elementos.

8.5.4 – Associação Viver da Terra e Feira ZAP como parte do processo de


organização sócio-espacial do município

O potencial influenciador para o surgimento de novas cooperativas é


muito considerável no município de Iporá. Os fatores relacionados a esse tipo de
possibilidade são bastante diversificados. O fato da existência de algumas
cooperativas é um deles, também a necessidade de regulamentação é outro, e as
divergências ideológicas no formato de como conduzir as cooperativas existentes
se soma a esses fatores.
Partindo dessas considerações é que tem se estruturado a Associação
Viver da Terra. De acordo com uma associada, houve dificuldade de acessar
outras cooperativas locais para melhor subsidiar e solidificar as atividades que a
associação tem realizado. Salienta-se que muitos dos associados desta
associação já foram membros de outras cooperativas, inclusive das que estão
sendo pesquisadas nesta tese. De modo que a vivência e a experiência obtidas
através dessas cooperativas são importantes para a origem de outras novas
organizações associativas ou mesmo cooperativas.
Destaca-se este viés de demonstrar que o cooperativismo evidenciado
por meio das cooperativas locais de Iporá possibilita o surgimento de novas
instituições, ou organizações, que aos poucos vão se solidificando e contribuindo
para a organização social, cultural e consequentemente do espaço local, e até
mesmo regional.
Para a construção de algo institucionalizado é preciso sempre se ater
aos princípios originários e culturais do que se pretende referenciar, no caso em
questão, o cooperativismo tem se materializado como uma possibilidade de
organização por meio de uma nova cooperativa que, a princípio, está
primeiramente sendo organizada através da Associação Viver da Terra.
De acordo com a articuladora dessa associação: “(...) nessa
associação que em breve deverá se transformar numa cooperativa, os princípios
cooperativistas devem ser mais bem zelados (...)”, tais como os de uma gestão
democrática e participativa, de mais investimento no processo de formação e
educação dos cooperados, e os de relacionamento com outras instituições,
inclusive com outras cooperativas e também com a comunidade. Ela disse ainda
431

que o fato de não se criar logo de forma direta uma cooperativa é por entender
que o processo de organização e estruturação da associação vai melhor qualificar
e preparar os membros da mesma para se inserirem em um novo processo, que é
o de transformação e fundação de uma cooperativa.
Nessa mesma perspectiva de entender as relações cooperativistas do
município de Iporá, em diálogo com uma das articuladoras Também da referida
associação, a mesma disse que: “a Associação Viver da Terra já tem uma
diretoria e os associados colaboram mensalmente uma contribuição no valor de
R$ 10,00. Mas essa contribuição atualmente está suspensa em função da
pandemia.” Relatou que a associação ainda não se encontra registrada em
cartório, mas possui inclusive livro de ata, e tem registradas as primeiras
iniciativas realizadas no ano de 2017. Disse também que a prestação anual de
contas é realizada nas assembleias e que tem muitos projetos importantes em
andamento. Um dos mais importantes é a Feira ZAP, que surgiu a partir de uma
feira física, a Feira da Agricultura Familiar e da Economia Solidária, que é
realizada semanalmente às quintas feiras, como se constata na Figura 51:

Figura 51 - A Feira semanal

FONTE: Oeste Goiano (2017), Central de Notícias Regional (2020).


432

A Feira ZAP foi criada com a função de potencializar as vendas da feira


física, ou seja, a referida Feira nasceu vinculada. De acordo com a articuladora da
Feira ZAP, os preços praticados são os mesmos. Atualmente, todos os membros
da associação podem fazer vendas e entregas, mas a maioria das vendas se
concentra em duas pessoas vendedoras, sendo uma associada e moradora do
município de Iporá e outro um associado do município de Caiapônia.
Para melhor organização, a articuladora disse que: “(...) as vendas
ocorrem de segunda a quarta-feira, a recepção dos produtos acontece na quinta-
feira; as entregas são realizadas na sexta-feira e no sábado”. Ainda acrescentou
que o prefeito do município de Iporá queria que a Feira fosse exclusiva para
Feirantes do município, mas a proposta foi refutada e houve resistência, pois a
concepção dessa Feira foi uma construção a partir das políticas do Território
Médio Araguaia.
Ressaltou que inclusive a edificação do anexo à Feira coberta foi uma
emenda parlamentar obtida por meio de iniciativas das políticas do território, que
bem definiu que a Feira teria a função de atender a produtores da agricultura
familiar de toda a região. Salienta-se que a referida feira foi pensada e organizada
como uma articulação do território Médio Araguaia para ser um momento de troca
e de articulação, patrocinado pelo NEDET.
Sucessivamente se criou a Feira ZAP como já especificado. A referida
Feira ZAP tem uma maior concentração de vendas no período mais chuvoso. Já
no período de estiagem as vendas virtuais caem significativamente, mas, de
acordo com a articuladora, a mesma tem um papel muito importante de divulgar
os produtos e a feira física. Salientou que: “(...)10% de todas as vendas são
repassadas para o vendedor a fim de cobrir as despesas logísticas, (...) e após a
criação da Feira ZAP, as vendas aumentaram muito na Feira da quinta-feira”.
Segundo ela, atualmente, a produção dos associados é insuficiente para atender
toda a demanda.
Existe uma articulação no sentido de dialogar com os feirantes
produtores sobre uma dinâmica de produção para que se tenha na Feira uma
maior quantidade e variedade de produtos. E quem melhor assumiu toda essa
articulação e gestão, tanto da Feira da Agricultura Familiar e Economia Solidária,
quanto da Feira ZAP, foi a Associação Viver da Terra. Para a referida articuladora
da Feira: “(...) houve muitos embates e disputas de poder para definir quem
deveria controlar a Feira, mas essa Feira é uma construção que vai muito mais
além das questões físicas, existe uma construção sociocultural”. Assim, os
433

principais articuladores e gestores da Feira são os próprios feirantes, que são


produtores e a grande maioria associados na associação.
Uma das maiores dificuldades para um dos membros, que faz parte da
coordenação da Feira, é a falta de organização entre os produtores e a
dificuldade de obter uma maior variedade de produtos. Mas, mesmo com tais
dificuldades, ela disse que a associação está vivendo um momento muito
interessante e de bastante crescimento. Salientou ainda que as maiores
dificuldades momentâneas têm relação com a pandemia da COVID-19, mas
especificou que tem servido também de processo educativo, pois mesmo
forçadamente as pessoas tiveram que repensar hábitos e foram forçadas a fazer
uma construção coletiva. Assim, “(...) muitas ações coletivas e criativas tiveram
que ser criadas”. Com isso, a associação teve que fazer muitas adaptações no
modo de se organizar.
Algumas parcerias foram realizadas no sentido de uma melhor
estruturação das ações da associação e consequentemente da Feira. Uma das
parcerias foi realizada com o Instituto Federal Goiano-Câmpus de Iporá, que
através da FAPEG decidiu incubar a Feira ZAP; tal parceria tem gerado bastante
expectativa.
Existem outras parcerias realizadas com a Universidade Federal de
Goiás, obtidas através de emenda parlamentar via deputado federal Rubens
Otoni. Segundo uma das gestoras de projetos da associação, foram quatro
emendas destinadas para a associação. A verba obtida tem propiciado estruturar
três frentes de trabalho, que são “ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA voltada para a
agroecologia; PROCESSAMENTO para atender a manipulação de leite e frutas; e
COMERCIALIZAÇÃO”.
Para agilizar e estruturar os projetos e ações foi contratado um
agrônomo para prestar assessoria direta ao produtor, a fim de se conseguir uma
produção livre de agrotóxicos e sustentável. Ainda para a fase de construção dos
projetos foram contratados para assessoria um engenheiro químico e um
especialista em projetos alternativos. Para complementar essa estrutura de
articulação se contratou uma jornalista com o objetivo de visibilizar as ações
realizadas e também um agrônomo para fazer pesquisa de mercado.
A parceria com a Universidade Federal de Goiás tem também sido
importante, pois possibilitou desenvolver o projeto Energia das Mulheres da Terra,
financiado pelo Fundo Social da CAIXA; e também permitiu a contratação de uma
fundação para fazer a execução orçamentária de verbas obtidas.
434

Conforme um dos membros da coordenação da Associação Viver da


Terra, “(...) 70% dos associados são de Iporá, e o restante se divide pelos
municípios de Caiapônia, Palestina, Diorama, Moiporá e Amorinópolis”.
Acrescentou que atualmente contam com 34 associados, mas no início havia 26
associados. E o maior período de crescimento da associação tem relação com a
criação da Feira ZAP. Foi nesse período que houve uma melhor divulgação da
associação e mais pessoas se interessaram em se associar. Disse que para se
tornar membro da associação existe o requisito de serem feirante e produtor da
agricultura familiar. Ela ainda acredita que a associação tem oferecido muitos
benefícios para a população, especialmente: “ampliação do acesso a produtos
obtidos diretamente do agricultor e com boa qualidade”. Já para os feirantes a
associação trouxe muitos benefícios como: “a ampliação do mercado para vender
seus produtos, melhorou a comunicação e relação interna entre os feirantes;
ajudou ainda no processo de conscientização e de valorização da produção local”.

8.5.5 – Cooperativa do Álcool

Essa cooperativa ainda está em processo de gestação, pois não foi


registrada. De acordo com um dos articuladores da mesma, o projeto de criação
dessa cooperativa surgiu a partir de discussões realizadas em outras duas
instituições, que são: o Sindicato das Agricultoras e Agricultores da Agricultura
Familiar e a Associação dos Pequenos Produtores da Região do Taquari", de
Iporá-GO.
Uma pergunta que se evidencia ao analisar essa nova cooperativa é:
qual relação ela tem com as demais cooperativas locais pesquisadas nesta tese?
Essa é uma questão que não se faz difícil de responder, pois, através de pesquisa
campo, verificou-se que existem muitos cooperados dessa cooperativa que já
foram cooperados em outras cooperativas locais; outro fator muito importante é a
possibilidade de cooperação dos membros dela em outra cooperativa já
existente.
O processo de articulação e criação dessa cooperativa ainda se
encontra em fase de conclusão, mas já está definido que ela terá como principal
produto de manipulação a cana de açúcar. A partir da cooperativa será realizada
a retirada do caldo para o processamento de três produtos: o álcool, o açúcar
mascavo e a cachaça.
435

De acordo com o articulador da referida cooperativa: “(...) o álcool será


exclusivo para consumo próprio do cooperado e não deverá ser comercializado. E
o bagaço da cana será retornado para o cooperado, para uso na alimentação dos
animais”. Ele ainda disse que: “foram realizadas quatro reuniões iniciais; onde
houve uma ótima participação. E a cooperativa começou com um grupo de
dezesseis cooperados, mas a meta logo inicialmente foi de ampliar esse número
para no mínimo vinte cooperados”.
Verificou-se que, do total de cooperados, seis deles não possuem terra
própria, mas terra arrendada. O fato de seis cooperados não terem propriedade
privada impulsionou a unificação deles para arrendar terra e fazerem plantação de
modo coletivo, de maneira que esse grupo fez uma plantação de um alqueire,
como se verifica na figura 52:

Figura 52 - Plantação de cana de açúcar realizada em um alqueire de terra


436

FONTE: Oliveira (2020).

As mudas de cana de açúcar utilizadas nessa plantação foram obtidas


por meio de doação. E as despesas de produção inicial foram divididas
igualmente entre os cooperados. Esse custo total inicial ficou em R$ 6.000,00 e
foi destinado ao consumo de adubos, defensivos agrícolas e aluguel de trator. E,
para melhor articular as próximas despesas, esse grupo de produtores está
fazendo mensalmente uma contribuição no valor de R$ 50,00.
De acordo com um dos articuladores da cooperativa, que também é
membro do sindicato das Agricultoras e Agricultores da Agricultura Familiar: “(...)
recentemente foi realizado uma visita a uma pequena usina de álcool, muito
similar ao que se pretende se instalar em Iporá”, também disse que: “o grupo de
cooperados buscou auxílio junto a um engenheiro, para serem orientados no
processo de construção do projeto, compra da usina e instalação da mesma”, e
acrescentou que sequencialmente foi definida a compra de uma usina nova, que
inclusive já foi orçada pelo valor total de R$ 85.000,00. Dos maquinários que irão
compor a mesma, alguns já foram comprados, sendo: “(...) dois alambiques, um
de 100 litros e um de 300 litros, um engenho e duas taxas”. O galpão deverá ser
instalado nas proximidades do galpão da fábrica de farinha (Figura 53) da
Associação dos Pequenos Produtores da Região do Taquari, onde, inclusive, o
terreno para construção do galpão e instalação da usina já foi definido.
437

Figura 53 - Galpão da fábrica de farinha do Taquari

FONTE: Oeste Goiano (2016)

O terreno se encontra localizado a pouco mais de 18 km do perímetro


urbano. Para um dos outros cooperados, articulador da cooperativa, morador
atualmente na zona rural e membro também da associação, há algumas regras
que ainda estão sendo discutidas e deverão ser definidas nas próximas reuniões;
uma delas é de que “a cooperativa assim que iniciar a fabricação, deverá
contratar dois funcionários para trabalhar diretamente na usina”. Outra questão é
que “cada cooperado, produtor familiar, não poderá ultrapassar o limite máximo
de plantação de cana de açúcar equivalente a um alqueire”. E outra definição é
sobre a porcentagem que ficará para a cooperativa, a previsão é de que seja de
10 a 15% de toda a produção. Ainda segundo o cooperado, “atualmente o
sindicato tem 100 sindicalizados, a associação tem 30 associados e a
cooperativa, já conta com dezesseis cooperados”, além disso, destacou que a
expectativa é de um aumento rápido do número de cooperados logo nos próximos
dias, inclusive porque poderão vir cooperados de outros municípios circunvizinhos
que não fazem parte nem da associação e nem do sindicato.
A previsão de funcionamento efetivo da indústria que será gerida pela
cooperativa é para o mês de maio de 2021. A previsão para fazer as plataformas
e a construção do galpão é para os primeiros meses do próximo ano. Também
está em processo de registro a cooperativa, porém, existe uma perspectiva de
retomada de uma cooperativa que no momento praticamente não está em
438

atividade; prevê-se que essa decisão de registro da cooperativa deverá ocorrer já


nos próximos dias. Mas, enquanto não se resolvem essas questões burocráticas
de documentação, as outras questões de cunho mais prático continuam sendo
realizadas sem perda de tempo.

8.5.6 – Uma síntese sobre as cooperativas locais

Além de variadas questões pertinentes para o entendimento do


processo de estruturação cooperativista no município de Iporá, verificou-se
também que as cooperativas locais conseguem intervir diretamente no processo
de organização sócio-espacial do município de Iporá. Elas intervêm diretamente
na negociação dos produtos, buscando meios de valorização da produção local,
também realizam ações no sentido de organizar os produtores e
consequentemente a forma de produzir.
É a partir da organização das cooperativas que se estimula a
organização produtiva em alguns setores como, por exemplo, o leite, a produção
de alimentos, artesanatos e mesmo de consumos, pois ampliou a disponibilidade
de produtos, com melhor qualidade. A aproximação de produtores e
consumidores é, sem dúvida, um dos ganhos advindos da organização
cooperativa. Essas interações produtor/consumidor criam e fortalecem os laços
sociais em uma sociedade. Assim, mais do que um empreendimento econômico,
as cooperativas contribuem para o desenvolvimento de uma sociabilidade vis-à-
vis, condição fundamental para a construção de um espaço mais horizontal e
menos segregado.
Observou-se também como as referidas cooperativas obtiveram
influências externas para se organizarem e se originarem. Diante disso,
pesquisou-se como é a relação vivenciada pelos cooperados através do
cooperativismo local, e como essas cooperativas pesquisadas se relacionam com
as bases que fundamentam os princípios cooperativistas.
Na sequência desta pesquisa busca-se destacar alguns outros dados e
evidências que levam à constatação e ao entendimento de que ainda existem
outras questões locais, e outras evidências que surgem consequentemente a
partir do cooperativismo local, e sucessivamente a partir também das influências
de cooperativas locais que se encontram em atividade.
Ainda em tempo, Dias (2015, p. 15), em pesquisa com amostragem de
257 produtores de Iporá, constatou que os mesmos dependem: “(...) em grande
439

parte da produção de leite para o sustento das suas famílias e enfrentam


dificuldades no acesso ao mercado por estarem desarticulados, além de
dependerem de muitos insumos externos à produção de alimentos”. O mesmo
ainda acrescentou que 31,5% são filiados em uma associação e 41,2% são
filiados em uma cooperativa.
Dados como esses evidenciam a tendência de participação em uma
cooperativa no município de Iporá, especialmente das pessoas da zona rural.
Reforçando ainda mais tal informação, acrescenta-se que Iporá está na região
brasileira classificada como a segunda do Brasil em que a população mais
conhece o cooperativismo, ou seja, através de pesquisa realizada pela OCB
(2018) se verificou que 54% da população do Centro Oeste possui relativamente
conhecimento sobre o cooperativismo.
A análise do cooperativismo é vista como complexa em razão da
diversidade de conceitos relativos ao que seja cooperativismo proposto por
diferentes pesquisadores, também se faz complexa pela estruturação e pelas
adaptações ocorridas ao longo do tempo. No município de Iporá a complexidade
que existe é relativa às caraterísticas próprias e às especificidades do
cooperativismo no local.
De tal modo, analisar como o cooperativismo se estabelece no
município de Iporá, como as cooperativas locais conseguem organizar seus
cooperados, o processo de produção e comercialização, e ainda as influências
desse na comunidade é possível a partir de diversos caminhos, porém, um deles
é pela via da análise empírica. E esse é um dos caminhos percorridos nesta
pesquisa, como se verifica.
Essa definição especificada levou ainda à busca por respaldo em
conceitos elementares que possibilitam uma melhor explicação para se entender
a espacialização do cooperativismo em Iporá.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise a partir do cooperativismo local e sequencialmente das


cooperativas COOMAFIR, COOPERCOISAS e COOPROL possibilitou o
entendimento proposto sobre as relações sociais, culturais e espaciais
vivenciadas por meio do fenômeno cooperativista, que foi analisado no município
de Iporá.
440

Verificou-se que para criar uma cooperativa é preciso, antes de tudo,


estudar e pesquisar o que de fato ela é e como deve ser a sua funcionalidade.
Faz-se necessário saber quais são os princípios e o que se deve esperar de uma
organização cooperativa, dentre outros elementos não menos importantes citados
no decorrer desta pesquisa.
Na análise realizada por meio das cooperativas locais se constatou que
a maioria dos cooperados entrevistados não tem conhecimento sobre o
cooperativismo da forma como mencionado no parágrafo anterior. Também se
observou que muitos dos diretores e demais gestores dessas cooperativas não
possuem conhecimento suficiente sobre as bases essenciais que fundamentam a
doutrina cooperativista. Porém importante se destacar que tais constatações não
se aplicam de forma generalizada a todos os cooperados e gestores. Pois é
factível destacar que o cooperativismo ocorre nessas cooperativas pesquisadas
por uma fiel intencionalidade. Foi portando se constituindo a partir de elementos
intencionais oriundos de anseios, expectativas experiências vivenciadas
anteriormente.
Diante de tais constatações, faz-se importante destacar que,
diferentemente do que foi especificado no parágrafo anterior, existe também uma
quantidade considerável de cooperados que conseguem entender bem as bases
estruturais e os princípios do cooperativismo.
Verificou-se que mesmo muitos cooperados possuindo poucos
conhecimentos teóricos sobre as bases de fundamentação cooperativista,
conseguem vivenciar na prática os propósitos requeridos para que uma
cooperativa exista.
Confirmou-se que a maioria dos diretores das cooperativas
pesquisadas destaca como uma das principais fragilidades vivenciadas na relação
entre cooperado e cooperativa à falta de comprometimento, de envolvimento e de
conhecimento sobre o cooperativismo. Mas essa realidade constatada não se
solidifica com a implementação de ações para ser resolvida ou ao menos
amenizada. O cooperativismo aparece para muitos cooperados como uma
possibilidade, no entanto, mas para uma parcela dos cooperados e gestores
pesquisados o cooperativismo se trata de um ideal.
A concepção de que para o cooperativismo dar certo é preciso gostar e
querer uma alternativa, um novo modelo para vivenciar se faz bastante presente
nas cooperativas locais. Diante disso, verificou-se que existe um entendimento de
que no cooperativismo é preciso que todos os cooperados trabalhem.
441

Nas cooperativas em que as suas lideranças e seus diretores têm


melhor conhecimento sobre a concepção ideológica do cooperativismo, em que
ocorre maior participação dos cooperados e se tem melhor cuidado para realizar
ações planejadas, as possibilidades de sucesso são mais reais. Mas é claro que
existem muitas outras questões que podem ser citadas como requisitos para o
crescimento de uma cooperativa, porém, essas estão entre as principais.
Entre as cooperativas locais não é possível dizer que uma ou outra
está melhor gerida ou que tem maior significância, porque cada uma delas possui
suas particularidades e relevância, assim como foi exemplificado nesta pesquisa.
Porém, é possível dizer que a COOMAFIR tem conseguido se destacar dentre as
demais cooperativas locais.
Os fatos que justificam isso são relativos aos principais dados
apresentados. Entre as cooperativas locais, a COOMAFIR é a que apresenta
atualmente o maior número de filiados cooperados, que consegue captar a maior
quantidade de leite e simultaneamente a que comercializa a maior quantidade de
produtos hortifrútis. Também é a cooperativa que nessa última década mais
conseguiu aprovação de projetos para venda de produtos da agricultura familiar e
ainda a que mais conseguiu acesso a emendas parlamentares.
Para melhor se estabelecer internamente e para acessar recursos
externos, as parcerias são fundamentais. No caso da COOMAFIR parcerias com
SENAR, SEBRAE, Banco do Brasil, UEG, IF Goiano, prefeituras, CENTROLEITE,
dentre outros, são muito importantes para o crescimento e a estruturação.
Salienta-se que a relação dessas parcerias tem vínculo estabelecido
especialmente através do engajamento ocorrido por meio da ação dos
cooperados vivida oportunamente através das cooperativas analisadas.
As parcerias com os laticínios, especialmente para a COOPROL e para
a COOMAFIR, também são importantes no processo de venda do leite e captação
do mesmo. Porém, verificou-se que os laticínios, além de serem parceiros,
também são concorrentes. As empresas de laticínios se beneficiam dos serviços
das cooperativas.
A articulação e a organização dos pequenos agricultores e,
consequentemente, de sua produção são realizadas diretamente pelas
cooperativas, e o produto, o leite, é vendido depois de reunido em grande
quantidade concentrada para as empresas de laticínios; dessa maneira, verifica-
se que fica mais fácil para os laticínios comprarem toda essa produção que já
está organizada e reunida.
442

Mas são concorrentes principalmente porque atraem os maiores


produtores ofertando um melhor preço pelo leite. Consequentemente, a maioria
dos grandes produtores de leite, por não se importar muito em cooperar e/ou por
achar que a cooperativa não tem muito valor, acaba deixando a mesma para
negociar a sua produção diretamente com as empresas de laticínios.
Por meio das cooperativas pesquisadas observou-se que o
cooperativismo é um meio para melhorar a vida dos trabalhadores cooperados;
também é uma forma de dinamizar as relações trabalhistas. Verifica-se que entre
os trabalhadores, a maioria já está acostumada, inclusive em função da tradição
cultural de ser mandado por alguém, por um patrão. Mas muitos demonstram
claramente querer algo diferente, de modo que gerir o próprio negócio, uma
cooperativa, especialmente para as pessoas que não querem ser empregados,
tem sido visto como uma possibilidade para quem quer ter seu próprio negócio.
Reforça-se que os cooperados entendem que o fato de participar de uma
cooperativa lhes confere a possibilidade de gerir o próprio negócio no formato
mais coletivo; entendem que a cooperativa é uma forma de organização que
demanda a renúncia das vontades particulares em detrimento das vontades
coletivas. E que, portanto a ação coletiva via cooperativa ainda lhes possibilitam
acessar oportunidades que antes não conseguiam.
Outra constatação importante é o fato de que nas cooperativas a
produção acontece num formato mais sustentável; assim a garantia do respeito
ao trabalhador e ao meio ambiente é mais bem assegurada.
No que se refere às condições de respeito e cuidado com o
trabalhador, constatou-se essa preocupação junto à diretoria das três
cooperativas pesquisadas. A pesquisa mostrou depoimentos diversificados, mas
que sempre promoviam esse tipo de entendimento, assim, foram ouvido falas
como: “(...) aqui na cooperativa o jeito de trabalhar é diferente da maioria das
empresas; aqui o cooperado é que auto se organiza a partir de um consenso
coletivo” e “(...) que oferece oportunidade de definir como fazer sua rotina de
acordo com a suas necessidades e conveniência”, também foi dito: “(...)
queremos que cada cooperado faça seu trabalho com satisfação. Pois o
trabalhador merece ser respeitado e tratado com zelo”, e foram apresentados
depoimentos como este: “(...) produzir em família, de forma compartilhada é muito
melhor. Cada um cuida mais do outro” e ainda: “(...) aqui ninguém busca o
enriquecimento individualista, aqui as nossas sobras são divididas”. E
completando: “(...) então todos trabalham para produzir, tem seu ganho particular
443

de acordo com seu esforço e necessidade, e a sobra desse resultado coletivo é


dividida, é investido para todos e todas”.
De acordo com um dos cooperados [1]: “(...) a vida na cooperativa é
diferente de muita coisa, aqui acontece um resgate de valores. Parece que a
gente fica mais solidário. Cuida mais da natureza, dos animais e dos vizinhos”.
Outro cooperado disse: “eu planto de forma diversificada, mas parte da produção
das frutas, cerca de 20% eu deixo sobrar nos pés de plantas para os animais se
alimentar”. Em visita a outro cooperado [2], o mesmo explicou: “Eu sempre
compro um pouco a mais de ração para os bichos; pois os bichos da natureza
também precisam de se alimentar, o espaço deles foi destruído por nós
humanos”. E ainda citou: “(...) a gente voltou a fazer treição. O compartilhamento
de carne e frutas voltou a ser praticado no dia a dia, e a confraternização familiar
sempre é estendida para participação dos vizinhos. Até isso a cooperativa
incentivou”.
Além dos cuidados com a natureza e do jeito solidário de viver,
também se verificou que, para muitos cooperados das cooperativas locais, existe
algo em comum, que é a necessidade de trabalhar coletivamente, especialmente
em razão das condições frágeis de cada um deles. A maioria deles possui
propriedades de terras bem pequenas, de no máximo cinco alqueires114, e
muitos são meeiros ou arrendatários de terras. Assim, a produção no formato
coletivo possibilitou estabelecer parcerias entre os mesmos, viabilizou acesso a
mercados onde não conseguiam chegar, e ainda, por meio da cooperativa,
obtiveram a segurança da compra de parte total ou parcial da produção.
Outro fator bastante comum de se constatar em diálogos realizados
com os cooperados são as condições precárias de trabalhador que eles
vivenciavam. O trabalho na condição de lavrador diarista foi uma prática muito
comum entre muitos dos cooperados locais. Nesse tipo de trabalho se praticava
uma jornada extensa e bastante exaustiva. Em depoimentos ouviu-se que
trabalhar coletivamente apresenta dificuldades, inclusive divergências de ideias,
mas que as possibilidades de se conseguir um bom resultado são bem maiores.
De maneira que sair das condições de trabalhador diarista para trabalhador
empreendedor não foi algo simples, ou muito fácil. Assim, ainda se constatou que
trabalhar de forma cooperativa requer a padronização de ações para que se
alcance um padrão exigido pelo mercado. E nesse aspecto foi que a organização

114
1 alqueire goiano = 4,84 hectares
444

por meio das cooperativas visivelmente possibilitou viabilizar novas formas de


produção.
Também se constatou que a baixa escolaridade se faz presente entre a
maioria dos cooperados. E essa questão compromete significativamente a
possibilidade de empreender, inclusive em uma cooperativa. Para um dos
membros[3] da diretoria de uma das cooperativas, “(...) é preciso ter muita
cautela, dedicação e paciência para orientar e explicar muitas vezes para cada
cooperado”. Acrescentou ainda que: “regulamentar a produção de acordo com as
leis e conforme as exigências para colocar o produto no mercado é desafiador. Os
cooperados têm muita vontade e disposição, mas tem muita limitação”. Tal fato
nos remeteu ao entendimento de que as ações articuladas realizadas via
cooperativismo em Iporá demonstram evidências de enfrentamento aos desafios
citados, e que simultaneamente têm conseguido demonstrar capacidade de
superação, pois o acompanhamento com o intuito de orientação e de formação
realizado em parceria com instituições externas tem conseguido superar
relativamente bem essa questão da pouca formação e da baixa escolaridade dos
cooperados.
Ainda para obtenção de tais avanços no cooperativismo local,
evidenciou-se que por meio das cooperativas é possível conhecer melhor a
condição de produção e as necessidades de cada cooperado. Essa aproximação
obviamente permite uma intervenção por parte dos gestores de cada cooperativa.
Relacionado a esse fato também se cita a necessidade de compreensão dos
processos produtivos e das potencialidades locais para se conseguir fomentar a
produção local e para melhor articular a cooperativa.
Através das cooperativas pesquisadas, especialmente a COOMAFIR,
observou-se uma realidade bastante comum ocorrida entre outras cooperativas. O
fato é que os cooperados demonstram que além das diversas possibilidades que
obtiveram quando começaram a cooperar, tiveram mais segurança, pois deixaram
de ter como principal preocupação a venda, em função de que a cooperativa
oferece essa segurança, por comprar boa parte da produção e ainda aumentar as
condições de venda em diversificados mercados. Assim, a principal preocupação
foi substituída pela de colher para entregar à cooperativa; mas claro que no
formato a atender aos parâmetros exigidos pelo mercado.
A cooperativa passou a ser intermediadora das vendas, e ainda
possibilitou a valorização dos produtos. E, como já foi especificada nesta
445

pesquisa, a cooperativa tem conseguido comprar boa parte da produção,


chegando a comprar até 100%.
Através das cooperativas locais pode-se constatar que vender
coletivamente é mais viável do que vender individualmente. A possibilidade de
obter ganhos melhores e as condições de segurança oferecidas ao produtor são
significativamente maior. Também se verificou que o processo conjunto de
produção possibilita melhorar as condições de produção e a qualidade do que é
produzido, ocorrendo, consequentemente, a melhoria do valor pago pela
produção, tendo em vista que nesse formato de organização produtiva de vendas
o produtor vende diretamente ao consumidor sem ter atravessador, porque ele é
parte da cooperativa.
Com relação à participação com direito de igualdade, compreende-se
que nem todos os cooperados são ativos nas reuniões e assembleias, mas para
os cooperados que participam essa condição de igualdade e de direito de voto
com o mesmo peso é algo bastante valorizado, segundo um dos cooperados [4]
locais: “(...) a melhor forma de contribuir na cooperativa é participando, e as
condições de direito igual é muito importante, pois transborda o sentimento de
pertencimento e isso faz dar mais vontade de ver novas conquistas”. Para as
cooperativas, garantir a participação com direito de voto em igualdade é
fundamental, pois se trata de um dos princípios que fundamentam e estruturam o
cooperativismo.
Evidenciou-se, por meio desta pesquisa, a existência da relação
cooperativa-empresa, ou seja, uma cooperativa ser gerida similarmente a uma
empresa. Tal fato provocou a discussão e incitou a busca pelo entendimento,
inclusive por comparações. Em Iporá percebeu-se, dentre as três cooperativas
locais, que duas delas apresentam essa relação de cooperativa-empresa. Mas, ao
analisar a atuação de cada uma delas concluiu-se que esse fato não
desconfigurou os princípios do cooperativismo; muitos elementos levaram a essa
conclusão, mas, especialmente o fato de que as cooperativas não deixaram de se
organizar como uma estrutura cooperativista e também se mantiveram como uma
associação de pessoas, que apenas ganhou funções empresariais, inclusive esse
fator é o que confere às referidas cooperativas um tratamento tributário
diferenciado.
Conclui-se a pesquisa acreditando que foi evidenciada a existência do
cooperativismo no município de Iporá e também que esse cooperativismo não se
encontra isolado, pois ele ocorre no formato do externo para o interno e também
446

ao contrário. Verificou-se ainda que existam cooperativas locais e que cada uma
delas apresenta particularidades específicas oriundas das condições locais e
também advindas de sua própria organização. E que essas cooperativas, além de
organizarem parte significativa do processo de produção local, têm
desempenhado importante função de organização dos produtores em seu espaço,
assim como de suas relações.
Observou-se que por meio das referidas cooperativas sucedeu
importante mudança na forma de produzir e também nas relações de trabalho
entre os seus cooperados. Ainda se constatou que as lideranças, ou seja, os
gestores das cooperativas locais conhecem as bases que fundamentam o
cooperativismo, mas que existe, de forma evidente, a necessidade de melhor
zelar pelos princípios cooperativistas, pois eles são parte importante das garantias
de melhoria do processo de produção.
Através das cooperativas locais se constatou o acesso oferecido a
muitos cooperados para obtenção de formação para qualificação do modo
produtivo; nesse caso, houve melhorias que foram precedidas de boas práticas
com base na sustentabilidade, mas não somente com relação à questão
econômica, porém, também, relacionadas aos princípios de cuidar melhor do
próximo, de promover mais solidariedade e de conservar o meio ambiente. Vale
então lembrar que esses resultados têm relação direta com o modelo de produção
e organização ocorrido por meio da Agricultura Familiar e esta, por sua vez, tem
relação com o modo de ocupação e apropriação ocorrido especificamente no
município de Iporá, principalmente, nos primeiros anos de municipalização. Esses
fatos foram detalhados anteriormente na pesquisa.
O cooperativismo evidenciado no município de Iporá não traz
benefícios somente para os cooperados, mas para a sociedade em geral. De
acordo com uma das visitantes [5] da feira da Agricultura Familiar e da Economia
Solidária: “(...) comprar direto do produtor, esses produtos que tem a marca das
cooperativas é muito relevante. Pois aqui não se compra somente o produto, mas
um valor agregado”. Acrescentou ainda: “a produção coletiva realizada pelas
cooperativas nos oferece mais segurança de um alimento de melhor qualidade e
a certeza de que estamos investindo nosso dinheiro em toda a comunidade”. E
disse: “(...) cinco pontos é exclusivamente reflexo das cooperativas, a melhoria da
qualidade dos produtos, as novas formas de produção, o jeito de organizar a
produção e os produtores, o preço dos produtos e a estruturação das vendas”.
447

Não é difícil verificar depoimentos como esses entre moradores de


Iporá, mas também se observa que mesmo sendo muitos os benefícios gerados
por meio das cooperativas, nem sempre todos da comunidade local, inclusive
muitos cooperados, conseguem ter a mesma percepção, ou seja, compreender
todo o potencial de uma cooperativa e dos benefícios gerados por ela.
Assim, pode-se constatar que o cooperativismo ocorrido em Iporá é
bem aceito, e a atuação das referidas cooperativas é importante para toda a
comunidade, inclusive, ressalta-se que estas têm obtido reconhecimento por parte
dos políticos municipais, mas, mesmo com toda essa aceitação é necessário
ainda divulgar mais as ações cooperativistas realizadas localmente e tentar
envolver mais pessoas do município para vivenciarem esse cooperativismo.
Deve-se ainda reforçar que o cooperativismo verificado e pesquisado é
um importante diferencial social para a vida das famílias dos cooperados. Como já
foi dito, nem todos os membros da família de cada cooperado são também
cooperados em uma cooperativa, mas o processo cooperativista promovido pelas
cooperativas locais demonstra envolvimento dos familiares de cada cooperado.
De tal maneira, pode-se afirmar que se verificou a existência de um
sistema de economia, que é o cooperativismo, que através das cooperativas
consegue gerir parte da base produtiva e de distribuição, inclusive distribuindo
renda. E ainda se constou que esse movimento socioeconômico, que é o
cooperativismo, consegue unificar bem estar social e desenvolvimento. Trata-se
de um movimento evidenciado por meio das cooperativas locais que ainda poderá
se desenvolver muito, e que terá que ir melhor se organizando e buscando
fortalecer as suas bases de sustentação. Mas, da forma como se encontra
estabelecido em Iporá, esse movimento por meio das cooperativas tem
conseguido obter resultados surpreendentes, já promoveu transformações na
economia do município, e com maior impacto vem conseguindo transformar as
condições de vida de muitas pessoas, especialmente dos cooperados.
Como verificado nessa pesquisa, se destacam como fatos
comprovatórios da ação das cooperativas analisas: A reorganização dos modelos
de produção, o aumento da produção e diversificação através de assistência e
assessoria técnica, o aumento de renda, a inclusão de mais membros da família
no acesso produtivo e a renda, e a dinamização das feiras e do mercado local.
Esta tese, apesar das limitações decorrentes de um trabalho de
pesquisa e também do próprio pesquisador, buscou verificar qual é a capacidade
de influência do cooperativismo na organização sócio-espacial do município de
448

Iporá. Para atingir os objetivos propostos foram analisados os vários caminhos


possíveis, e se concluiu que seria necessário realizar a pesquisa a partir de um
contexto caracterizador da origem do cooperativismo. De tal maneira, assim se
procedeu. E se acredita que, respaldado com dados especialmente oriundos das
cooperativas locais e por meio de um criterioso levantamento de informações
empíricas, é que se conseguiu melhor demonstrar como atua cada cooperativa, e
como cada uma delas tem influenciado na organização social, cultural e espacial
do município em questão.
Acredita-se que esta tese possibilitou a inclusão de diversos outros
temas para o rol de novas pesquisas desse mesmo caráter. Melhor
especificamente, têm-se aqui boas provocações e condicionamento para
ampliação e aprofundamento de diversos outros fatores inerentes ao
cooperativismo, sendo possível, em pesquisas futuras, verificar como as
cooperativas locais têm atuado e influenciado na organização da produção nos
municípios limítrofes a Iporá. É possível ainda verificar como atuam as redes de
cooperativas externas no município de Iporá. Outra questão também bastante
relevante é entender o que os gestores, especialmente prefeitos da microrregião
de Iporá, consideram como possibilidade de organização e desenvolvimento
municipal pela via do cooperativismo. Não menos relevante ainda pode ser a
realização de uma análise detalhada dos ganhos diretos e indiretos dos
cooperados das cooperativas locais.

[1] Cooperado da COOMAFIR. Morador na Fazenda Taquari. Entrevista realizada em 05 de


novembro de 2020.
[2] Cooperado da COOMAFIR. Morador na Fazenda Buriti. Entrevista realizada em 05 de
novembro de 2020.
[3] Cooperado; membro da diretoria; mora na Fazenda Buriti. Entrevista realizada em 05 de
novembro de 2020.
[4] Cooperado; morador no povoado da Jacuba. Entrevista realizada em 04 de novembro de 2020.
[5] Feirante. Entrevista concedida em 26 de novembro de 2020.
449

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