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Supervisor: Márcio Alessandro Neman do Nascimento
1 Estudante do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Rondonópolis;
2 Estudante do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Rondonópolis e Licenciado em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso;
3 Professor Adjunto do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Rondonópolis.
“Cada detento uma mãe, uma crença/ Cada crime uma sentença/ Cada sentença um Na primeira oficina também se pensou o diário como um conjunto de
motivo, uma história de lágrima”.
lembranças e um lugar de reflexão e resistência, o que se comprovou ao
– Diário de um detento, composição de Mano Brown interpretada pelos Racionais MC’s
longo dos meses, ao percebermos que os diários haviam se tornado não
APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS apenas um objeto para descrever o cotidiano, mas também um elemento
Este trabalho visa apresentar e discutir uma prática grupal de “escrita de si importante para a reflexão e elaboração de acontecimentos do passado,
em uma ala LGBT+ prisional, que teve como enfoque a Esquizoanálise, sobretudo àqueles ligados à trajetória do/da reeducando/a até a prisão, uma
posicionamento teórico-metodológico proposto por Gilles Deleuze e Félix trajetória marcada por escolhas e também por discriminações e opressões,
Guattari. Essa prática utiliza-se de um dispositivo que pode ser descrito como a LGBTfobia. Outra fala que nos chamou a atenção foi a de uma
como um agenciamento maquínico de linhas de saber, poder e reeducanda, que disse: “Eu sou uma pessoa negativa, o meu vai ter só coisa
subjetivação. Esse dispositivo, por meio do discurso, mapeia verticalidades negativa”. No entanto, a escrita dessa pessoa, para além de pintar o mundo e
e horizontalidades, sendo a horizontalidade pertencente ao campo do sua vida com tons de tristeza, também revelou as sutilezas e as
conteúdo e expressão (corporalidades e afecções) e a verticalidade, do particularidades de sua forma de ser e existir, o que rompe com o binário
campo da territorialização e desterritorialização (consolidação e positivo-negativo e nos leva a pensar a vida como um acontecimento. Ao
transmutação/criação). As atividades ocorreram durante o ano de 2019 em longo do processo, os diários fugiram às suas formas originais e muitas vezes
uma penitenciária masculina do Sul do Mato Grosso, apenas com recursos se materializaram como bilhetes entre celas, cartas de amor e recados à
próprios. instituição.
DESENVOLVIMENTO
autorizassem. REFERÊNCIAS
BUTLER, J. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Tradução de Rogério Bettoni. Belo Horizonte:
DISCUSSÃO Autêntica, 2015
DELEUZE, G. & GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia, Vols. 1 a 5. São Paulo: Ed. 34, 1995
DELEUZE, G. & GUATTARI, F. O Anti-Édipo. Rio de Janeiro: Imago, 1976. DELEUZE, G & GUATTARI, F. O que é
Durante as discussões após a leitura, algumas problematizações a Filosofia? São Paulo: Ed. 34, 1992
FRANK, Anne. (2007) O diário de Anne Frank. [Editado por Otto Frank e Miryam Pressler]. Rio de Janeiro:
importantes despontaram, como, por exemplo, o investimento afetivo no BestBolso
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade vol. III O cuidado de si. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 2007
diário. Isso se confirmou ao longo dos encontros, quando percebemos que HUR, D.U. (2012a). O dispositivo de grupo na Esquizoanálise: tetravalência e esquizodrama. Vínculo. 9(1), 51-69
NASCIMENTO, Márcio Alessandro Neman do; REIS, Jefferson Adria; DA SILVA, Eloize Marianny Bonfim. (Trans)
os diários haviam assumido uma função importante de conexão Ações entre devires e deveres: atendimento psicossocial ampliado com população LGBT em contexto de
privação de liberdade. Revista Brasileira de Estudos da Homocultura, v. 1, n. 4, 2018.
reeducando/a – escrita – reeducando/a e reeducando/a – escrita – RACIONAIS MC, Diário de um detento in: Sobrevivendo no inferno. 1998. Cosa Nostra. Disponível em:
<https://youtu.be/pK1viMNdYp0>
extensionistas.