Você está na página 1de 7

RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 4 –outubro de 2020

DESIGUALDADES – SELEÇÃO DE PROBLEMAS

Samuel Liló Abdalla


Sorocaba - SP

Nesse artigo é apresentada uma solução de sete problemas desafiadores sobre


desigualdades. Na sequência são apresentadas suas soluções, cuja leitura recomendamos
apenas depois de tentarem resolver os problemas por conta própria.

1) Sejam a, b e c números reais não inferiores a 1. Prove que


a 2bc b2ca c2ab 3
   .
bc  1 ca  1 ab  1 2

2) Sejam a, b, c, d números reais positivos. Prove que


a bcd 1 1 1 1
 3  3  3  3.
abcd a b c d

3) Sejam a, b e c números reais tais que  a  b    b  c    c  a   9. Prove que


3 3 3

1 1 1
   3 3.
(c  a) 2
(a  b) 2
(b  c) 2

 
4) Mostre que, se A, B, C estão no intervalo  0,  , então
 2
f  A, B, C   f  B, C, A   f  C, A, B   3, onde
4sen  x   3sen  y   2sen  z 
f (x, y, z)  .
2sen  x   3sen  y   4sen  z 

ˆ intersecta o círculo circunscrito ao triângulo


5) Suponha que a bissetriz do ângulo BAC
ABC em A1 (diferente de A). Sejam B1 e C1 definidos de maneira análoga. Prove que a
área do triângulo A1B1C1 é maior ou igual à área do triângulo ABC.

6) Prove que, se a, b, c  0, então


abc   a  b  c    a  b  c   4 3abc   a  b  c  .
2

7) Sejam a e b números positivos tais que a  b  1. Prove que


 a  12  b  2a  b  a b 
 min  ,  .
 b  1  a  2b  a 
2
b a 

A seguir estão as soluções detalhadas dos sete problemas propostos.


RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 4 –outubro de 2020

1) Proposto por Pedro Henrique O. PANTOJA, Universidade de Lisboa, Portugal.


a, b, c  1
 ab  1  c2 ab  1  2c2 ab  2  2c 2 ab  1  1
 ab  2c2 ab  1  1  2c2ab  ab  1  2c 2ab  ab  1
c2ab 1
 
ab  1 2
a 2bc 1 b2ca 1
De maneira análoga, obtemos  e  .
bc  1 2 ca  1 2
Somando as três desigualdades membro a membro, vem:
a 2bc b2ca c2ab 3
    C.Q.D..
bc  1 ca  1 ab  1 2

2) Olympiad Corner - 36th Austrian Math Olympiad 2005 - Part 2, Day 1 (June 8, 2005)
Sabendo que a média aritmética (MA) é maior ou igual à média geométrica (MG), então
1 1 1 1 1 1
   
a3 b3
c3  3 1 . 1 . 1  a 3 b3 c3  1
3 a 3 b3 c3 3 abc
1 1 1 3
 3 3 3
a b c abc
Analogamente, temos:
1 1 1 3
3
 3 3
a b c abc
1 1 1 3
  
a 3 b3 d3 abd
1 1 1 3
3
 3 3
a c d acd
1 1 1 3
  
b3 c3 d3 bcd
Somando as quatro desigualdades, resulta:
3 3 3 3 3 3 3 3
3
 3 3 3   
a b c d abc abd acd bcd
1 1 1 1 1 1 1 1
     3 3 3 3
abc abd acd bcd a b c d
abcd 1 1 1 1
  3  3  3  3  C.Q.D.
abcd a b c d

3) Revista Eureka – OBM


Vamos aplicar a identidade de Gauss:
RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 4 –outubro de 2020

x3  y3  z3  3xyx   x  y  z   x 2  y 2  z 2  xy  xz  yz 

 x  y  z   x  y 2   x  z 2   y  z 2 
1

2
Considerando x  a  b, y  b  c e z  c  a, temos:
 a  b 3   b  c 3   c  a 3  3  a  b  b  c  c  a  

  a  b    b  c    c  a    a  b    b  c      a  b    c  a      b  c    c  a   
1 2 2 2
2

  0   a  2b  c    2a  b  c    a  b  2c    0
1 2 2 2
2
Como  a  b    b  c    c  a   9, então
3 3 3

9  3 a  b  b  c  c  a   0   a  b  b  c  c  a   3.
Usando que a média geométrica (MG) é maior ou igual à média harmônica (MH) e usando
a igualdade anterior, temos:
3 (c  a) 2 (a  b) 2 (b  c) 2  3
1 1 1
 
(c  a) 2
(a  b) 2
(b  c) 2
3 3 1 1 1 3
 32     3
1

1

1 (c  a) 2
(a  b) 2
(b  c) 2
9
(c  a) 2
(a  b) 2
(b  c) 2

1 1 1
    3 3  C.Q.D.
(c  a) 2
(a  b) 2
(b  c) 2

4) Mathematical Excalibur (proposto por Mihaiela Vizental e Alfred Eckstein, Arad -


Romênia)
 
A, B,C   0,   0  sen A,sen B,sen C  1
 2
Usando que a média aritmética (MA) é maior ou igual à média harmônica (MH), então
9sen A  9sen B  9sen C

3
 2sen A  3sen B  4sen C    2sen B  3sen C  4sen A    2sen C  3sen A  4sen B 

3
3

1 1 1
 
2sen A  3sen B  4sen C 2sen B  3sen C  4sen A 2sen C  3sen A  4sen B
 1 1
  sen A  sen B  sen C   
 2sen A  3sen B  4sen C 2sen B  3sen C  4sen A
1 
   1  *
2sen C  3sen A  4sen B 
Seja, por absurdo, f  A, B, C   f  B, C, A   f  C, A, B   3, então
RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 4 –outubro de 2020

4sen A  3sen B  2sen C 4sen B  3sen C  2sen A 4sen C  3sen A  2sen B


  3
2sen A  3sen B  4sen C 2sen B  3sen C  4sen A 2sen C  3sen A  4sen B
4sen A  3sen B  2sen C 4sen B  3sen C  2sen A
 1 1
2sen A  3sen B  4sen C 2sen B  3sen C  4sen A
4sen C  3sen A  2sen B
 1  6
2sen C  3sen A  4sen B
6sen A  6sen B  6sen C 6sen B  6sen C  6sen A 6sen C  6sen A  6sen B
   6
2sen A  3sen B  4sen C 2sen B  3sen C  4sen A 2sen C  3sen A  4sen B
 1 1
  sen A  sen B  sen C    
 2sen A  3sen B  4sen C 2sen B  3sen C  4sen A
1 
   1 **
2sen C  3sen A  4sen B 
Considerando (*) e (**), chegamos a um absurdo, o que implica que a proposição inicial
é verdadeira. (C.Q.D.)

5) Mathematical Excalibur

Na figura, são indicados os ângulos inscritos iguais, pois determinam o mesmo arco no
círculo.
abc
Usando a fórmula de área SABC  , associada à lei dos senos
4R
a b c
   2R, temos:
sen A sen B sen C
abc 1
SABC     2R sen A    2R sen B   2R sen C   2R 2 sen Asen Bsen C.
4R 4R
Considerando os ângulos dos triângulos ABC e A1B1C1 indicados na figura e o fato de
ambos possuírem o mesmo círculo circunscrito de raio R, então
SABC  2R 2 sen  2  sen  2  sen  2 
SA1B1C1  2R 2 sen     sen      sen     
RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 4 –outubro de 2020

SABC sen  2  sen  2  sen  2 


 
SA1B1C1 sen      sen      sen     
No triângulo ABC, temos 2  2  2  180        90.
SABC 2sen  cos   2sen  cos   2sen  cos 

SA1B1C1 sen  90    sen  90    sen  90   
2sen  cos   2sen  cos   2sen  cos 

cos  cos  cos 
 8sen  sen  sen 
No intervalo  0,   a função f  x   sen x é estritamente côncava, então, pela
desigualdade de Jensen, temos
       sen   sen   sen   3
sen    sen   sen   sen   3sen   
 3  3 6 2
Considerando que a média aritmética e maior ou igual à média geométrica, temos:
3 sen   sen  sen   sen   sen   sen   1  3  1  sen   sen  sen   1 .
3 3 2 2 8
S 1
Assim, temos: ABC  8sen  sen  sen   8   1  SA1B1C1  SABC  C.Q.D.
SA1B1C1 8

6) Mathematical Excalibur
Lema 1 – Desigualdade de Padoa:
Se a, b, c  0, então abc   a  b  c  b  c  a  c  a  b .
Demonstração:
a bc
Fazendo a  z  y, b  x  z e c  x  y, então x  y  z  , o que implica
2
bca a cb a bc
x , y e z , e usando MA  MG, temos:
2 2 2
 y  z  2 yz  x  z  2 xz  x  y  2 xy
 abc  (y  z)(z  x)(x  y)  2 yz  2 xz  2 xy
 abc  8xyz  (a  b  c)(b  c  a)(a  c  b)
Aplicando a desigualdade de Padoa ao problema proposto, vem:
abc  a  b  c    a  b  c  b  c  a  a  c  b  a  b  c 
   2
  a  b   c   c   a  b     a  b  c  2 ab  c  a  b  2 ab 
2

  2 ab   a  b  c  2 ab   a  b  c   4ab   a  b  c 
2

abc  a  b  c    a  b  c   4ab   a  b  c    a  b  c 
2 2 2

 4ab   a  b  c  a  b  c  a  b  c  a  b  c 
 4ab  4c  a  b   4  ab  ac  bc 
 abc  a  b  c    a  b  c   4  ab  ac  bc 
2
(*)
RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 4 –outubro de 2020

Lema 2: x 2  y 2  z 2  xy  xz  yz
Demonstração:
 x  y 2   x  z 2   y  z 2  0  x 2  2xy  y2  x 2  2xz  z 2  y2  2yz  z 2  0
 2  x 2  y 2  z 2  xy  xz  yz   0  x 2  y 2  z 2  xy  xz  yz

Aplicando o lema 2 com x  ab, y  bc e z  ac, vem


 ab 2   bc 2   ac 2   ab  bc    ab  ac    bc  ac   abc  a  b  c 
 ab  ac  bc 2   ab 2   ac 2   bc 2  2abc  a  b  c   abc  a  b  c   2abc  a  b  c 
  ab  ac  bc   3abc  a  b  c   ab  ac  bc  3abc  a  b  c 
2
(**)
Substituindo (**) em (*), temos:
abc  a  b  c    a  b  c   4  ab  ac  bc   4 3abc  a  b  c   C.Q.D.
2

7) Mathematical Excalibur
Inicialmente, observemos que
0  a  b  1   a  b   12  a 2  2ab  b 2  1  a 2  b 2  1  1  a 2  b 2  0
2

Caso 1: a  b 
a
b
b a b a
 
 1   min ,  e a  b  b  a  0
a b a b
 a  12  b  2a  b a
Seja, por absurdo,  , então
 b  1  a  2b  a  b
2

 a  12  b  2a  b  a a 2  2a  1  2ab  b 2 a
  2  0
 b  12  a  2b  a  b b  2b  1  2ab  a 2 b
a 2 b  2ab  b  2ab 2  b3  ab 2  2ab  a  2a 2b  a 3
 0
b  a 2  b 2  1  2ab  2a  2b   2a  2a 2 
b  a  ab 2  a 2 b  a 3  b3  b  a   ab  b  a    a  b   a 2  ab  b 2 
 0 0
b  a  b  1  2a 1  a   b  a  b  1  2a 1  a  
2 2

 b  a  1  ab  a 2  ab  b 2   b  a  1  a 2  b 2 
 0 0
   2

b  a  b  1  2a 1  a       2

b  a  b  1  2a 1  a   
Note que o numerador é não negativo e o denominador é positivo. Portanto, chegamos a
um absurdo, o que implica que a proposição inicial é verdadeira.

Caso 2: b  a 
b
a
a a b b
 
 1   min ,  e b  a  a  b  0
b b a a
 a  12  b  2a  b b
Seja, por absurdo,  , então
 b  1  a  2b  a  a
2

 a  12  b  2a  b  b a 2  2a  1  2ab  b 2 b
  2  0
 b  12  a  2b  a  a b  2b  1  2ab  a 2 a
RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 4 –outubro de 2020

a 3  2a 2  a  2a 2 b  ab 2  b3  2b 2  b  2ab 2  a 2 b
 0
  
a  a  b  1  2ab  2a  2b  2a  2a 
2 2 2

a 3  b3  2  a 2  b2   3  a 2b  ab2   a  b
 0
   2
a  a  b  1  2a 1  a   

 a  b   a 2  ab  b2   2  a  b  a  b   3ab  a  b    a  b 
 0
a  a  b  1  2a 1  a 
2

 a  b   a 2  ab  b2  2a  2b  3ab  1
 0
a  a  b  1  2a 1  a 
2

 a  b   a 2  b 2  1  2ab  2a  2b   2ab 


 0
a  a  b  1  2a 1  a  
2

 a  b   a  b  12  2ab 


 0
   2

a  a  b  1  2a 1  a   
Note que o numerador é não negativo e o denominador é positivo. Portanto, chegamos a
um absurdo, o que implica que a proposição inicial é verdadeira.

Referências Bibliográficas:

KOROVKIN, P. P.; Desigualdades. Moscou: MIR, 1976.


LEE, Hojoo - Topics in Inequalities: theorems and techniques. Seul: 2006.
Mathematical Excalibur. Disponível em: https://www.math.ust.hk/excalibur/. Acesso em:
17/10/2020.
Revista Eureka! Disponível em: https://www.obm.org.br/revista-eureka/. Acesso em:
17/10/2020.

Você também pode gostar